GIL FILHO, S. F. Colônia Polonesa e o Processo de

Transcrição

GIL FILHO, S. F. Colônia Polonesa e o Processo de
ii
AGRADECIMENTOS
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
Instituto de Geociências e Ciências Exatas
Firmo o registro de agradecer a Profª Drª Helena Köhn
Campus Rio Claro
Cordeiro por envidar os maiores esforços na orientação deste
trabalho de pesquisa, assim como o incentivo e apoio em momentos
cruciais de sua realização.
COLÔNIA POLONESA E O PROCESSO DE METROPOLIZAÇÃO DE
CURITIBA:
Reconheço
com
gratidão
a
continuidade
do
trabalho
de
orientação realizado pela Profª Drª Silvana Pintaudi que com a
maior boa vontade encaminhou a fase final desta dissertação,
IMPACTOS ESPACIAIS DA MODERNIDADE
fato este motivado pela grande perda que foi o falecimento da
Profª Drª Helena Köhn Cordeiro no início de 1994.
Cumpro
competência
Sylvio Fausto Gil Filho
o
da
dever
também
Coordenação
de
de
reconhecer
Pós-graduação
a
do
organização
Instituto
e
de
Geociências e Ciências Exatas da UNESP/ campus Rio Claro na
figura de seus professores e funcionários em fornecer toda a
Orientação: Profª Drª Helena Köhn Cordeiro
Profª Drª Silvana Pintaudi.
infraestrutura
necessária
ao
pleno
desenvolvimento
do
curso.
Cabe lembrar a concessão da bolsa de estudo e amparo a pesquisa
fornecida pela CAPES sem a qual a conclusão do curso estaria
Dissertação de Mestrado apresentada junto ao
Curso de Pós-Graduação em Geografia - Área de
Concentração em Organização do Espaço, para
obtenção do Título de Mestre em Geografia.
comprometida.
Devo destacar a atenção dos colegas: Prof Nilson Antonio
de
Morais
(IAP),
Nora
Thaerzadeh
(IAP),
a
historiadora
Neda
Mohtadi Doustdar (IPARDES), o companheiro de curso Prof. Paulo
Rio Claro (SP)
Roberto Rodrigues Soares (Departamento de Geociências da FURG),
Débora Novas (estagiária de Geografia do IAP), Prof Henrique
1994
iii
Firkowski
(Departamento
de
Geociências
da
UFPR)
e
aos
iv
RESUMO
companheiros de trabalho do Departamento de Geografia da UFPR.
Em especial agradeço o apoio da Profª Ana Helena Corrêa
de Freitas Gil (Escola Técnica da UFPR) minha querida esposa, ao
grande amigo e velho companheiro Hercílio Josef pela ajuda com a
tradução do Resumo para o inglês e ao meu sobrinho Daniel de
Freitas Channe responsável pelo trabalho gráfico da maioria dos
cartogramas.
Esta dissertação sob o título de Colônia Polonesa e o
Processo de Metropolização de Curitiba foi construída a partir
das questões relativas a identificação de relações presentes no
processo de reestruturação espacial a antiga Colônia Polonesa de
Tomás Coelho no município de Araucária em face às transformações
da Região Metropolitana de Curitiba (PR), assim como a
verificação
dos
padrões
de
modernidade
envolvidos
neste
processo. Partimos do pressuposto que o choque existente entre o
espaço de produção tradicional e o espaço de produção moldado
pelo capitalismo industrial monopolista representam o cerne
desta realidade. Neste contexto elaboramos a hipótese de que as
características
tradicionais
da
Colônia
Polonesa
sofreram
impactos devido ao processo urbano-industrial responsável pela
marginalização do núcleo colonial e sua desarticulação. Para
implementar a nossa análise partimos da configuração de
estrutura espacial baseada em SANTOS (1985) e o conflito entre o
tradicional e o moderno com base em LIPIETZ (1988). No que tange
as aspectos intrínsecos à Colônia tomamos como base principal os
estudos de WACHOWICZ (1976 - 1981). Quanto aos procedimentos
metodológicos buscamos duas dimensões na coleta de dados: a
primeira em relação a própria colônia em que foi utilizado uma
amostragem de 20 (vinte) propriedades em levantamento realizado
pelo Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social
(IPARDES) em 1985 pouco antes da inundação destas terras por
causa da construção da Barragem do Rio Passaúna; em segundo
lugar coletamos dados relativos a Região Metropolitana de
Curitiba (RMC) através da análise do Plano de Desenvolvimento
Integrado da Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba
(COMEC) e os dados de desempenho econômico dos setores da
economia da RMC que referendaram a dinâmica urbano-industrial da
região coletados da Secretaria da Fazenda do estado do Paraná.
De acordo com os procedimentos adotados concluímos que o solo
que pertencia a Colônia está sendo ocupado pelo setor industrial
e o próprio avanço da malha urbana. Evidencia-se o fato de que a
marginalização econômica da Colônia e sua tradução territorial
comprovam
as
hipóteses
levantadas.
A
perpetuação
do
tradicionalismo por parte dos colonos poloneses marcou uma
profunda ruptura com a natureza do sistema capitalista hodierno
e suas estruturas espaciais. Houve a consumação de um processo
de desarticulação espacial da Colônia Polonesa de Tomás Coelho
que não se apresenta como caso isolado porém, como as próprias
incongruências do sistema hegemônico.
v
vi
ABSTRACT
This essay under the title of Poland Colony and the Metropolization Process of
Curitiba was built from the questions related to identifications of relations present in the spatial
restructuration of the old Poland Colony of the Metropolitan Region of Curitiba (Pr), in that way
like the verification of the modernity patterns involved in this process. We begin buy the
standing of the hypothesis that the chock existing between the space of industrial and
monopolist capitalism represents the main of this reality. In this context we elaborate the
hypothesis that the traditional characteristics of the Poland Colony suffered impacts due to the
urban industrial process responsible buy marginalization of the colonial centre and its
desarticulation. To implement our analysis we start from the configuration of spatial structure
based in SANTOS (1985) and conflict between the traditional and the modern based in LIPIETZ
(1988). In which refers to intrinsical aspects to the Colony we take as main base the studies of
WACHOWICZ (1976-81). Talking about the methodological procedures we search two
dimensions in collecting information: the first relative to the own colony in which was utilised a
sample of 20 (twenty) properties in collecting information it was made by Paraná Institute of
Economical and Social Development (IPARDES) in 1985 before the flood of these land because
of the construction barrage Passaúna river ; in the second place we collected information related
to the Metropolitan Region of Curitiba (RMC) we what concerns the analysis of the
Development and Integrated Plan of Coordination of Metropolitan Region of Curitiba
(COMEC) and the economical performace of the sectors of the economy of the RMC which
confirmed the dynamic of the urban industrial of the region collected from the Financial
Secretary of the State of Paraná. According to the procedures adopted we conclude that the
ground which belonged to the Colony is being occupied by the industrial sector and the own
advance of the urban area. It’s evident the fact that the economical marginalization of the
Colony and it’s territorial effect comprove the hypothesis. The perpetuation of traditionalism by
the polish colonisers marked a deep rupture with the nature of the modern capitalist system and
it’s spatial structures. There was the consummation of a process of spatial desaticulation of the
Poland Colony of Tomás Coelho which does not present itself as an isolated case never the less
like the own incongrucies of hegemonic system.
SUMÁRIO
Introdução___________________________________________________________________i
Apresentação da Problemática ______________________________________________________ 5
Bases Teóricas _____________________________________________________________ 13
Revisão Bibliográfica sobre a colônia polonesa de Tomás Coelho_____________________ 27
Procedimentos Metodológicos _________________________________________________ 28
Capítulo 01 __________________________________________________________________
Modernidade e Reestruturação do Espaço da colônia de Tomás Coelho ________________ 34
Capítulo 02 __________________________________________________________________
Sociedades Tradicionais: Resistência e Modernidade_______________________________ 55
Capítulo 03 __________________________________________________________________
Processo de Metropolização de Curitiba e a Organização do Espaço da Colônia Tomás
Coelho ____________________________________________________________________ 78
3.1 O Processo de Urbanização no Brasil ____________________________________________ 78
3.2 O Processo de Metropolização de Curitiba _______________________________________ 84
3.3 Estrutura do Espaço da Colônia Polonesa de Tomás Coelho ________________________ 118
CAPÍTULO 04 _______________________________________________________________
Caracterização da Área de Pesquisa e Amostragem _______________________________ 157
CAPÍTULO 05 _______________________________________________________________
Tomás Coelho, Modernidade, Resistência e Marginalidade _________________________ 167
À Guisa de Conclusão ______________________________________________________ 176
Referências Bibliográficas ___________________________________________________ 179
Bibliografia _______________________________________________________________ 192
vii
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
viii
LISTA DE TABELAS
01 POPULAÇÃO URBANA DOS MUNICÍPIOS DA RMC ENTRE 1940 E 1991.................88
BADEP - BANCO DE DESENVOLVIMENTO DO PARANÁ
02 POPULAÇÃO POLONESA NO PARANÁ POR COLÔNIA EM 1884.............................. 125
CIAR - CENTRO INDUSTRIAL DE ARAUCÁRIA
CIC
03 NÚCLEOS COLONIAIS POLONESES NA REGIÃO METROPOLITANA DE
- CIDADE INDUSTRIAL DE CURITIBA
COMEC - COORDENAÇÃO DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA
04 COMPOSIÇÃO DA POPULAÇÃO DE TOMÁS COELHO EM 1877 SEGUNDO
COPEL - COMPANHIA PARANAENSE DE ENERGIA
DNOS - DEPARTAMENTO NACIONAL DE OBRAS E SANEAMENTO
IAP
ORIGEM ÉTNICO-CULTURAL.......................................................................................... 128
- INSTITUTO AMBIENTAL DO PARANÁ
05 PRODUÇÃO DOS 792 ESTABELECIMENTOS AGRÍCOLAS DO MUNICÍPIO DE
IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA
IPARDES
ARAUCÁRIA EM 1920 ........................................................................................................ 130
- INSTITUTO PARANAENSE DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E
06 PROPRIEDADES AGRÍCOLAS NO PARANÁ POR CATEGORIA EM HECTARES NO
SOCIAL
IPPUC - INSTITUTO DE PESQUISA E PLANEJAMENTO URBANO DE CURITIBA
- PLANO DE DESENVOLVIMENTO INTEGRADO DA RMC
MUNICÍPIO DE ARAUCÁRIA NO ANO DE 1987............................................................ 156
PETROBRÁS - PETRÓLEO DO BRASIL SOCIEDADE ANÔNIMA
PLAMEC
ANO DE 1920 ........................................................................................................................ 136
07 DISTRIBUIÇÃO DE TERRAS ENTRE OS PROPRIETÁRIOS DE TOMÁS COELHO NO
ITCF - INSTITUTO DE TERRAS, CARTOGRAFIA E FLORESTAS
PDI
CURITIBA............................................................................................................................. 127
08 CONDIÇÃO DE POSSE E ÁREA DO IMÓVEL EM TOMÁS COELHO NO MUNICÍPIO
- PLANO METROPOLITANO DA RMC
DE ARAUCÁRIA NO ANO DE 1987 ............................................................................... .. 159
PMA - PREFEITURA MUNICIPAL DE ARAUCÁRIA
REPAR-REFINARIA PETROLÍFERA DE ARAUCÁRIA OU REFINARIA PRESIDENTE
MUNICÍPIO DE ARAUCÁRIA NO ANO DE 1987 .............................. ............................. 160
GETÚLIO VARGAS
10 SITUAÇÃO OCUPACIONAL DOS HABITANTES DE TOMÁS COELHO NO
RMC - REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA
SANEPAR - COMPANHIA DE SANEAMENTO DO PARANÁ
MUNICÍPIO DE ARAUCÁRIA NO ANO DE 1987.......................................... ................. 165
SEDU - SECRETARIA DE ESTADO DO DESENVOLVIMENTO URBANO E MEIO
AMBIENTE DO PARANÁ
SINPAS/FUNRURAL - SISTEMA NACIONAL DE PREVIDÊNCIA E ASSISTÊNCIA
SOCIAL /
FUNDO RURAL
SUREHMA - SUPERINTENDÊNCIA DOS RECURSOS HÍDRICOS E MEIO
DO ESTADO DO PARANÁ
TELEPAR - TELECOMUNICAÇÕES DO PARANÁ SOCIEDADE ANÔNIMA
09 ESTRUTURA ETÁRIA DA POPULAÇÃO AMOSTRA DE TOMÁS COELHO NO
AMBIENTE
ix
LISTA DE FIGURAS
01 REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA —ESTADO DO PARANÁ 1975.. ........ .... 02
02 TOMÁS COELHO: LIMITES ORIGINAIS...... ................................................ .................... 21
03 REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA 1992.... .......................................... ............ 23
04 ARAUCÁRIA - LIMITES POLÍTICO — ADMINISTRATIVOS............... ......................... 46
05 TOMÁS COELHO: DISTRIBUIÇÃO DE LOTES........... .......................................... .......... 65
06 REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA 1989........... ...................................... .......... 84
07 EXTENSÃO DAS ÁREAS URBANAS DA RMC ENTRE 1953 E 1976 - MUNICÍPIOS
SELECIONADOS..................................................................................................... .............. 86
08 ARAUCÁRIA - QUADRO URBANO......................... ................................................. ........ 91
09 CENTRO INDUSTRIAL DE ARAUCÁRIA............ ............................................. ............... 94
10 ÁREA URBANA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA 1955..................... .. 97
11 ÁREA URBANA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA 1965..... .................. 98
12 ÁREA URBANA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA 1975...................... . 99
13 ÁREA URBANA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA 1985..................... 100
14 EVOLUÇÃO DA PARTICIPAÇÃO RELATIVA NO VALOR ADICIONADO POR
SETOR DA ECONOMIA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA SOBRE O
TOTAL DO ESTADO DO PARANÁ 1975/1986.............................................................. .. 107
15 PARTICIPAÇÃO DOS SUBSETORES NA COMPOSIÇÃO DO VALOR ADICIONADO
NO ESTADO DO PARANÁ EM 1975..................... ................................................... ........ 108
16 PARTICIPAÇÃO DOS SUBSETORES NA COMPOSIÇÃO DO VALOR ADICIONADO
DO ESTADO DO PARANÁ EM 1980...................... ................................................... ....... 109
x
2
FIGURA: 01
INTRODUÇÃO
REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA - PARANÁ - 1975
Em
meados
dos
Poloneses pode Morrer"
anos
80
manchetes
como:
"Colônia
de
(Jornal do Estado 07 de fevereiro de
1984 ) ou "A Morte Líquida" ( Folha de Londrina 24 de abril de
1985 ) demonstravam a preocupação e certa perplexidade dos meios
de comunicação em massa do Paraná sobre o destino da cultura
imigrante polonesa tradicional do Estado.
No
inundação
centro
de
uma
desta
polêmica
parcela
residia
considerável
o
das
fato
da
eminente
propriedades
que
constituíam a colônia agrícola original de Tomás Coelho,1 em
conseqüência da construção da barragem de captação de água do
rio
Passaúna,
implementada
pelo
Governo
Federal,
a
fim
de
abastecer a Região Metropolitana de Curitiba (fig. 01 p. 02).
O Projeto do Passaúna decorreu de estudos desenvolvidos
sobre a necessidade de água tratada na área metropolitana de
Curitiba. O pleno aproveitamento dos recursos hídricos depende
da formação de reservas para compensar a diminuta vazão dos rios
1A origem do núcleo colonial remonta a meados do século XIX. A crise do
sistema fundiário brasileiro desencadeado pela escassez de mão-de-obra e alta
de preços dos gêneros alimentícios fez com que o então presidente da
Província do Paraná, Lamenha Lins, implementasse um projeto de assentamento
de colonos europeus nos arredores da capital da província, com base na
experiência obtida em outras colônias e no intuito de suprir Curitiba da
carência de produtos alimentícios. Tomás Coelho distinguia-se de outras
colônias implantadas no Brasil, onde os colonos não tinham a posse da terra
que trabalhavam. No caso de Tomás Coelho o assentamento baseava-se na pequena
propriedade e assim foram estabelecidos 270 lotes com uma área estimada em
1665,4 hectares, localizadas à 17 Km da capital.
3
4
demarcação das terras a serem inundadas a partir da cota de 892
existentes
suas
na
região,
nascentes.
A
formadores de
construção
da
bacias
hidrográficas
barragem
foi
atribuição
nas
m, acima do proposto pelo levantamento de 1980.
Houve necessidade, para garantir a qualidade da água, da
do
Governo Federal através do DNOS. A desapropriação da área ficou
remoção
a cargo do Governo Estadual. O acordo foi definido em 1977,
correspondente
porém somente em 1982 começou a ser realizado.
preliminar
Segundo
o
Plano
Diretor
de
Abastecimento
de
Água
e
a
indicação
do
rio
Passaúna
como
reserva
para
o
cobertura
foi
ao
vegetal
futuro
da
lago
estabelecido
área
de
artificial.
que
seriam
cota
No
873
m
levantamento
desapropriadas
179
propriedades.
Mesmo antes das devidas indenizações serem efetivamente
Controle de Poluição da Região Metropolitana de Curitiba de 1976
houve
da
realizadas a empreiteira contratada pelo Governo Federal invadiu
abastecimento de água para a região, com vazão regularizada em
a
2,2 m³/s. Já em 1977 recomendaram 3,0 m³, levando em conta a
indenizações geraram protestos e revolta por parte dos colonos
vazão média de 3,25 m³/s de longo período no local da barragem.
poloneses
Em 1980 outros estudos desenvolvidos fixaram um volume útil de
desarticulação
48 x 10Å m³, delimitados entre o nível mínimo de 879,5 m e o
existência e identidade cultural.
nível normal de 887,2 m ( Plano Geral de Água/Esgoto da Região
área.
A ação
inábil
atingidos.
final
do
Governo
Esta
de
Estadual
realidade
Tomás
Coelho
no
foi
no
que
pagamento
o
marco
tange
a
das
da
sua
Este contexto é o clímax de vários impactos de tradução
espacial imediata que a colônia polonesa sofreu no seu processo
Metropolitana de Curitiba - SANEPAR ).
Embora as controvérsias entre os relatórios hidrológicos,
a obra foi declarada de utilidade pública através do Decreto
espaço-temporal que justificam vários estágios de mudança.
Ao
nos
reportarmos
ao
estudo
dos
impactos
na
4291 de dezembro de 1977, tendo sido desapropriados 10.000 m² de
reestruturação do espaço do núcleo colonial o nosso interesse
terras na bacia do rio Passaúna. Com o término do prazo do
pelo tema foi decisivamente estimulado.
Decreto anterior, novo Decreto é sancionado, o de número 3031 de
junho
de
1984.
Este
novo
decreto
corrobora
o
primeiro
e
recomenda urgência para a formação do reservatório de água.
O
Governo
do
Estado
acionou
os
órgãos
auxiliares,
autorizando a SUREHMA, a realizar as desapropriações e ao ITCF,
hoje reunidos sob a denominação de IAP, para elaborar a
Assim, no ano de 1985, na iminência da formação do lago
artificial da represa do rio Passaúna, desenvolvemos um trabalho
de pesquisa a nível de graduação, com o objetivo de estudar
aspectos relativos a cultura polonesa ali radicada. No âmbito da
Geografia Humanista-Cultural escolhemos então a estruturação
do
espaço
mítico
e
sagrado
como
objetivo
fundamental
5
6
da
ao reconhecimento do caráter tradicional do núcleo colonial ou
pesquisa.
No
seja, sociedade cujo vínculo essencial é a tradição (ELIADE,
ano
de
1989
retomamos
os
estudos
sobre
o
núcleo
1972)
cujas
colonial porém, sob nova abordagem, na tentativa de explicar o
estudos
impacto
(1990).
da
refinaria
estava
lógica
de
industrial
petróleo
estimulada
REPAR, a
redimensionando
o
partir
caráter
pela
da
implantação
década
tradicional
de
da
70,
da
que
colônia.
de
A
características
WACHOWICZ
produção
específicas
(1976/1981);
perpetua-se
são
KERSTEN
nos
destacadas
(1983)
moldes
e
nos
DOUSTDAR
ancestrais
com
resistências acirradas ou esparsas às inovações tecnológicas e a
Caracterizando a lógica industrial no município de Araucária e
padrões
Curitiba buscávamos explicar o avanço espacial deste fato em
especificidades que delineiam uma tradição cultural transmitida
detrimento ao espaço tradicional da Colônia Polonesa de Tomás
através
Coelho.
conhecimento, valor e moral. Interessa-nos salientar que esta
Esta
segunda
monografia
a
nível
de
especialização
de
modernidade.
das
realidade
Entendemos
gerações
compõe
um
com
corpo
por
padrão
características
cristalizado
na
cultural
as
próprias
de
construção
da
provocou uma série de questões não respondidas. Havia de fato a
sociedade no que se refere ao modo como se organiza no espaço
consumação de um processo de reestruturação espacial, ao qual
geográfico.
cabia uma análise mais aprofundada, além dos limites endógenos
ao núcleo colonial.
A
junto
a
meta
outro
entendimento
do presente estudo é
outras,
De
o
que
envolve
retomar essas
o
impacto
de
questões
padrões
e
de
lado,
dos
não
menos
denominados
importante,
padrões
de
refere-se
ao
modernidade.
Reconhecemos modernidade como um todo constituído de uma força
autônoma:
a
tecnologia,
em
última
análise,
responsável
pela
modernidade, recuperar a análise em uma nova dimensão: o patamar
operacionalidade, difusão e evolução do sistema (SANTOS, 1985).
da nova realidade sob uma visão diacrônica da estruturação do
Sob este prisma os fenômenos de urbanização e industrialização
espaço.
perpassam as diversas instâncias do espaço total ora difundindo,
gerando ou resistindo, em termos de processos aos padrões de
APRESENTAÇÃO DA PROBLEMÁTICA
modernidade.
A síntese que se apresenta através do impacto de novas
Nesta
dissertação
dois
aspectos
se
interpõem
para
a
compreensão dos seus fundamentos: de um lado o aspecto que tange
tecnologias, a partir de novas formas de produção inerentes ao
sistema
capitalista,
nega
a
dicotomia
tradicional/moderno.
A
7
8
negação resultante deste conjunto de processos é a metamorfose
da organização espacial.
a) Quais são as relações existentes na reestruturação do
O processo de modernização, em que fluem os padrões de
modernidade,
atinge
a
organização
espacial
perpassando
as
espaço do núcleo colonial polonês de Tomás Coelho em face às
transformações da Região Metropolitana de Curitiba?
diversas instâncias da sociedade.
O espaço apresenta formas cristalizadas de momentos de
b) Qual a ação dos agentes dos padrões de modernidade
produção econômica diferenciados no plano histórico. O espaço
processo
apresenta-se
Tomás Coelho?
como
mosaico
de
estruturas
construídas
em
reestruturação
do
de
reestruturação
do
espaço
da
colônia
polonesa
no
de
diferentes períodos históricos (SANTOS, 1982).
No
espaço
entanto,
ocorre
em
cabe
uma
ressaltar
seqüência
que
de
esta
momentos
históricos
e
é
A
partir
desta
preocupação
definimos
os
seguintes
objetivos específicos:
assimilada pela superestrutura política e cultural em períodos
não sincrônicos. No que tange ao caráter cultural dos núcleos
coloniais
o
padrão
de
modernidade
é
quase
um
arquétipo
de
renovação a nível superestrutural.
Contextualizando
os
impactos
1 - Caracterizar a estrutura espacial do núcleo colonial
polonês de Tomás Coelho, enquanto parte integrante do sistema
metropolitano
espaciais
relevantes
ao
de
Curitiba,
no
decorrer
do
seu
processo
histórico.
processo de modernização podemos obter uma visão mais adequada
dos
mecanismos,
segundo
os
quais
ocorrem
novos
arranjos
2 - Identificar o processo e os elementos dos padrões de
espaciais. O locus central de assimilação destes impactos são os
modernidade
sistemas
metropolitano de Curitiba.
metropolitanos.
Os
núcleos
coloniais
limítrofes
ou
a
partir
dos
anos
70
presentes
no
sistema
presentes nos sistemas metropolitanos interagem com os impactos
de novos padrões de modernidade.
A partir deste contexto indagamos:
3 - Selecionar
relevantes
na
os agentes
reestruturação
dos padrões de modernidade
recente
colonial polonês de Tomás Coelho.
do
espaço
do
núcleo
9
10
2ª Hipótese
Para situar o objeto de pesquisa, assumimos o pressuposto
de que o choque existente entre o espaço de produção tradicional
e
o
espaço
monopolista
de
produção
representa
a
moldado
pelo
capitalismo
síntese
mais
adequada
da
industrial
realidade
Considerando o processo mencionado explicitamos a segunda
hipótese:
A desarticulação recente do núcleo colonial polonês de
espacial. Acreditamos que esta abordagem supera não apenas a
clivagem
tradicional/moderno,
cidade/campo.
Esta
superação
mas
também
de caráter
a
dicotomia
conceitual percebe
a
organização espacial diferenciada, primordialmente sob o ponto
Tomás
Coelho
e
a
reestruturação
do
espaço
socioeconômico
demonstram uma marginalização da colônia imigrante em relação ao
processo de modernização.
de vista da produção antes que pela organização social (MITRANY,
1957).
Concomitante
ao
processo
de
marginalização
podemos
diagnosticar também a dissolução do caráter fechado da sociedade
1ª Hipótese
colonial imigrante em relação ao macro contexto metropolitano
Assim, levantamos a primeira hipótese:
através do processo de descaracterização cultural.
As
características
tradicionais
do
núcleo
colonial
Integramos,
em
nossa
análise,
a
polonês em questão sofreu impactos devido ao processo urbano-
questão
industrial da Região Metropolitana de Curitiba o que resultou na
distintivos das sociedades tradicionais:
sua desarticulação.
Núcleo Colonial Polonês estão afetos ao avanço territorial da
Para
tanto
cabe
ressaltar
do
espaço
alguns
à
aspectos
(i) O espaço sociocultural de caráter tradicional rompe
com
Entre outros fatores, a recriação e a desarticulação do
cultural.
produção
a
tendência
de
homogeneização
do
sistema
capitalista
moderno, reforçando o contraste que permite reconhecê-lo.
(ii)
A
projeção
da
cultura
na
organização
do
espaço
lógica urbano-industrial que se contrapõem à lógica camponesa
revela-se como um pólo de referência. O espaço torna a cultura
tradicional.
algo legível e neste ponto passa a ser o plano de execução das
formas representativas da organização social.
(iii)
No
que
se
refere
às
sociedades
arcaicas,
organização social é como um espelho de projeções culturais da
a
12
11
práxis
da
tradição
e
do
modo
como
a
produção
econômica
se
realiza.
Levando em conta a exposição anterior consideramos que a
(iv) A tradição além de dar razão de ser à vida ordenada
reestruturação do espaço do núcleo colonial polonês de Tomás
em sociedade, transcende esta aparência e atinge a consciência e
Coelho foi realizada no plano histórico através de sucessivos
concretude do estilo de vida. A tradição viva se realiza na
patamares de equilíbrio espaço-organizacionais da metrópole que
dinâmica social, como uma gama de escolhas excludentes. Ou seja,
referendam a situação atual.
a práxis social de tarefas, a visão e a classificação do mundo
No âmbito político e cultural o processo de modernização
são reproduzidas sob regras fixas (MATTA, 1981). Regras fixas
é
estabelecidas
assimilação
dentro
de
uma
forma
de
temporalidade
e
reproduzido
pelos
agentes
Aceleram-se
os
processos
de
modernização
incompletos.
A
processos
de
e
como elemento determinante da variável cultural e ideológica,
modernização
atuam, acentuam
principalmente na realidade dos núcleos coloniais poloneses.
territorial (SANTOS, 1988 b).
possibilidade
de
sistema
sucessivos
capitalista
níveis
nos
de
remete
a
equilíbrios
organizacionais.
Ao visualizar a Metrópole como estrutura podemos
ressaltar que o ajustamento das diversas instâncias
do espaço metropolitano sofrem um processo de
interações
nos
diversos
níveis:
econômico,
político/administrativo
,
cultural/ideológico
e
territorial que justificam os estágios de equilíbrio
de sua existência (SANTOS, 1988). O novo arranjo
espacial desenvolvido em cada fase sofre várias
disfunções e quando nos referimos a um Núcleo
Colonial como parte desta estrutura não olvidamos
suas especificidades.
sua
diferenciada.
disparidade
do
a
é
à reprodução dos padrões de modernidade. Consideramos a tradição
distintas
entanto,
sociedade
contrapartida
lógicas
No
pela
concretizadas em formas espaciais configuram-se como obstáculos
No que tange ao nosso objeto de pesquisa o embate entre
hegemônicos.
Todavia
a
a
seletividade
o
com
de
evolução/involução
reagem
modo
vínculos
e
sociais
os
empobrecimento
dialética
de
que
territoriais
em
e a segregação
modernidade/tradicionalismo,
especial
mais
em
sociedades
radicais
devido
de
às
características culturais próprias.
Podemos identificar duas formas de ação dos agentes dos
padrões de modernidade em relação às sociedades arcaicas: a) Sob
um aspecto o fato dos vínculos socioculturais serem mais fortes,
podem
configurar
inovação
uma
resistência
tecnológica
tradicional
vigente;
que
b)
por
tenaz
comprometa
outro
lado,
a
a
qualquer
forma
estrutura
pode
ocorrer
de
social
que
a
própria configuração social facilite a assimilação e reprodução
de novos padrões de modernidade.
13
A
realidade
dos
núcleos
coloniais
poloneses
revela
14
a
Munidos dos elementos
essenciais à pesquisa
procuramos
reprodução dos padrões ancestrais de produção, sustentada pelas
concatenar o trabalho de modo que sua estrutura apresente um
características culturais e ideológicas dos imigrantes.
tratamento crítico ao tema.
Podemos diagnosticar certas resistências à modernidade, a
partir
dos
(1983).
métodos e em referência à coleta de dados, consideramos que a
Resgatando a categoria analítica cultural a fim de explicar os
opção teórico-metodológica não compromete as bases e as metas
impactos da gestão e difusão de novos padrões de modernidade,
propostas,
verificamos
expostas.
social,
estudos
que
não
os
de
WACHOWICZ
câmbios
acompanham
no
que
(1981)
diz
e
KERSTEN
Conscientes dos possíveis vazios, dada a aplicação dos
respeito
necessariamente
as
à
dinâmica
transformações
tecnológicas.
assim
avalia
satisfatoriamente
as
hipóteses
Como procuramos diagnosticar mutações na estruturação do
espaço, reconhecemos a dinâmica social como determinante deste
A realidade cultural do núcleo colonial polonês de Tomás
processo, insuflado pelas vias do capital hegemônico.
Coelho não se harmoniza com a tendência de homogeneização do
Segundo LIPIETZ (1988):
capitalismo reinante na metrópole e, por conseguinte, representa
Toda prática, toda relação social se inscreve em uma
totalidade concreta sempre já dada, que a determina
como sua condição de existência, condição que, à
medida que é material, tem dimensão espacial. (p. 25)
resistência à assimilação de padrões de modernidade.
BASES TEÓRICAS
A
partir
utilizadas.
Familiarizados
como
área
bem
o
espaço
aqui
é
um
aspectos
Procuramos
espaço é um fator da evolução social e que contém uma instância
confrontar os dados endógenos e exógenos à Colônia Polonesa a
da sociedade, uma instância econômica, uma cultural-ideológica e
fim de obtermos os elementos da nova realidade da região sempre
outra
no sentido de um processo dialético das formas espaciais.
níveis revelam a realidade da dinâmica espacial.
Polonesa.
como
(1985),
concepções
que se manifestam através de processos, funções e formas. O
Colônia
estudo
SANTOS
as
bibliografia existente, abordaremos a temática em separado dos
sistema
de
comenta
definimos
conjunto de formas representativas de relações sociais presentes
ao
a
Conforme
premissa
a
endógenos
com
desta
político-institucional.
As
diversas
interações
destes
Segundo a mesma fonte podemos considerar que a estrutura
espacial
ampliado,
como
caráter
referendando
social,
a
tende
a
possibilidade
reproduzir-se
de
demonstrar
de
a
modo
sua
15
qualidade
de
dominante
em
detrimento
de
outras
16
estruturas
Ainda, no dizer de LIPIETZ, as relações sociais atuais
preexistentes. O espaço organizado pelo homem revela, como as
são
outras
estruturas
sociais,
uma
as
que
estruturam
ou
reestruturam
o
tecido
social,
relação
distribuindo assim os lugares enquanto localização.
subordinação/subordinadora. Através da progressão espacial estas
Na
relações
são
apresentadas
de
acordo
com
o
transformação
das
relações
sociais
condições
herdadas
do
utilizam-se
por
condicionantes
matéria
prima
as
passado.
Quando
uma
espaciais.
sociedade
O
espaço,
como
fator
social,
apresenta
uma
arcaica
desarticular-se
a
partir
dos
seus
valores
realidade
sociais e da desintegração de sua atividade produtiva, estamos
objetiva pois representa um produto da ação humana, ou seja,
diante da subversão das forças produtivas por uma nova lógica de
pode tornar-se conhecido pela produção. Como o espaço é uma
acumulação capitalista. O produtor tradicional recria-se sob o
condição necessária à mudança ele é um fator social. Porque as
capital ou é obrigado a perder a condição de dono dos meios de
formas
espaciais
são
resultantes
de
processos
passados
e
produção na medida em que o espaço que domina é cobiçado pela
condições para processos futuros. O espaço também é parte de uma
produção
estrutura
social
quando
é
determinado
pelos
aspectos
moderna
industrial
capitalista.
Esta
desarticulação
da
possui necessariamente uma dimensão espacial.
organização social.
Existe,
Consideramos
assim
que
a
localização
é
um
momento
por
certo,
um
choque
entre
a
chamada
lógica
do
industrial que compreende a forma avançada do capitalismo e a
movimento dialético do mundo e o lugar, este sim, é um conjunto
lógica camponesa de produção identificada como um arcaísmo.
fixo de objetos. Pela razão de que a localização é resultado da
O modo de produção dominante apropria-se e desarticula as
dinâmica de um fluxo de forças sociais. É por este fato que
formas arcaicas que resistem; dentro deste contexto as relações
temos
de
considerar
a
periodização,
ou
seja,
a
variável
entre exploradores e explorados atingem uma dimensão espacial
temporal.
propriamente dita.
Segundo LIPIETZ (1988):
Quando observamos que o espaço é um fator importante na
É preciso compreender bem que o espaço socioeconômico
concreto
se
apresenta,
ao
mesmo
tempo,
como
articulação dos espaços analisados, como um produto,
um reflexo da articulação das relações sociais e,
enquanto
espaço
concreto
já
dado,
com
um
constrangimento
objetivo
que
impõem
ao
desenvolvimento dessas relações sociais. Diremos que
a sociedade recria seu espaço concreto, sempre já
dado, herdado do passado.(pp.24-25).
evolução social estamos também partindo do pressuposto de que a
realidade da dinâmica espacial não pode ser analisada fielmente
se não considerarmos a dinâmica social que o estrutura.
Como
constante
produto
da
transformação
ação
o
social
que
o
17
18
dinâmico
em
A fim de compreendermos melhor esta realidade do espaço
heterogeneidade
do
espaço
justifica
a
é
espaço habitado.
total
é
necessário
elementos.
Como afirma SANTOS (1988):
Os
realizar
elementos
que
um
processo
se
dispõem
de
no
fragmentação
espaço
em
estão
em
constante relação em sua própria dimensão e entre um e outro.
Podemos categorizar estes elementos em algumas dimensões
Uma das características do espaço habitado é pois, a
sua heterogeneidade, seja em termos da distribuição
numérica entre continentes e países ( e também dentro
destes), seja em termos de sua evolução.
básicas:
i) o trabalho do homem enquanto materialidade;
Aliás, essas duas dimensões escondem e incluem a
outra: a enorme diversidade qualitativa sobre a
superfície da terra, quanto a raça, cultura, credos,
níveis de vida, etc. (p. 40)
As
várias
especificidades
alocadas
no
espaço
ii) o plano das idéias e das legitimações e normas;
iii) a base física do território modificado.
que
em
O
última análise lhe concedem o próprio caráter, não podem ser
interações
analisadas desarraigando-as da totalidade.
Entendemos
que
uma
visão
holística
da
realidade
e
as
relações
resultantes
do
sociais
estão
movimento
de
cristalizadas
macro
forças
são
nosso
extrapolam
uma
compreendida
espaço
Não é ambição deste trabalho recuperar integralmente este
micro
estrutura
devidamente explorado.
espaciais.
que
contexto,
e
a
redutibilidade
das
para
das
condições
colônia
identificada
se
evidenciará
quando
enfocarmos
a
peculiar
Quando
O lugar apresenta-se como uma combinação de variáveis de
o
as
a
análise
por
polonesa,
um
lugar.
No
será
que
melhor
tange
a
interação dos diferentes componentes do capital apresentam uma
aspecto, mas tentaremos oferecer um enfoque que ainda não foi
diferentes
fornecerão
e
realidade específica, a combinação de técnicas diferentes e a
análise regional limitada.
idades
dimensões
A totalidade do espaço e sociedade onde está inserido o
e
no
que
nos
das
estruturas como colocaremos a seguir.
contradições que se manifestam na produção e conseqüentemente
nas
intercâmbio
social
do
trabalho
anteriormente
possuidor
apresentamos
o
especificidades
espacial são sistemas dispostos em estruturas.
elementos
primeiro
homólogos
elementos
momento
que
a
mantém
que
compõem
estrutura
laços
as
formas
como
fator
devemos
capitalista industrial. As relações entre as variáveis vão ao
um
os
espaço
consideração
Em
que
materializa
colônia polonesa de Tomás Coelho diante das forças da lógica
encontro de um contexto global.
de
de
que
de
levar
a
espacial
em
totalidade
apresenta
hierarquia
com
a
demografia,
economia
e
setor
financeiro.
No
segundo
19
20
momento
sínteses que por sua vez serão novamente negadas gerando novas
possui elementos não-homólogos de diferentes classes com laços
sínteses que superam as anteriores.
relacionados se apresentando como uma estrutura complexa.
Nesta análise partimos da premissa de que os elementos
Assim, podemos considerar que a estrutura espacial pode
ser
considerada
a
partir
das
seguintes
subestruturas:
cedem lugar a outros elementos de mesma categoria porém mais
modernos.
Ainda
outros,
elementos
resistirão
ao
processo
de
demográfica, de produção, de renda, de consumo e de classes.
inovação. Neste caso, elementos novos e arcaicos coexistem ao
Além dos arranjos específicos de técnicas organizadas definindo
mesmo tempo. No dizer de SANTOS (1985) o espaço se apresenta
as relações de produção presentes. A interação entre a realidade
como um mosaico de elementos de diferentes períodos históricos,
social e o espaço.
que
Segundo SANTOS (1985) a evolução das estruturas seguem
três princípios básicos:
uma evolução exógena do sistema;
O
subsistemas
segundo
e
é
representado
subestruturas
o
que
pelo
intercâmbio
representa
uma
de
evolução
elementos do sistema isoladamente, interna e endógena.
das
lado
a
evolução
da
sociedade
e
de
outro,
expressa situações da atualidade. O espaço não pode ser isolado
Consideramos
estruturas
que
o
sistema
temporal
coincide
com
o
dividimos a evolução da colônia polonesa no seguinte sistema
temporal:
1ª
c) O terceiro é a evolução particular de cada parte ou
evolução
um
período histórico. No que se refere ao nosso contexto de estudo
interna ou endógena;
A
de
da variável temporal.
a) O primeiro é representado pela ação externa, ou seja
b)
indica
aparece
como
um
dos
criando
Etapa
novas
-
implantação
áreas
de
da
expansão
colônia
agrícola
a
partir
de
1876,
circunstanciais
à
economia da época.
pontos
2ª
Etapa
-
desenvolvimento
da
organização
do
espaço
chaves para a compreensão da transformação das formas espaciais
socioeconômico da colônia polonesa em relação às transformações
da colônia polonesa de Tomás Coelho.
da economia agrícola e o choque da economia urbano-industrial de
Como já analisamos, a questão dos elementos e estruturas
espaciais,
apresentaremos
da
3ª Etapa - impactos marcantes a partir dos anos 70 do
periodização, variável temporal
que é a linha pela qual se
processo de industrialização e expansão da ocupação urbana do
desenvolve
das
espaço e o impacto decisivo da construção da barragem de
o
movimento
o
terceiro
dialético
ponto:
a
realidades
questão
caráter hegemônico.
espaciais.
A
contraposição entre formas passadas e as presentes resultando
21
FIGURA: 02
captação de água do rio Passaúna (fig. 02 p.22).
A
sucessão
dos
períodos
presos
às
circunstâncias
da
política institucional nacional vincularam uma série de mutações
no
espaço
da
Colônia
internacional e
Polonesa.
nacional
As
macro
articulam-se
no
relações
plano
a
nível
da totalidade
espacial às mutações do micro contexto da colônia polonesa de
Tomás Coelho.
Na
medida
em
que
o
capitalismo
recria-se,
transforma
rapidamente as relações sócio-espaciais que sofrerão direta ou
indiretamente
o
impacto
destas
transformações.
O
diagnóstico
atual a partir da verificação das inovações define-se como:
... o resultado do equilíbrio entre os fatores de
dispersão e de concentração em um dado da história do
espaço.
No
presente
período,
os
fatores
de
concentração
são
essencialmente,
o
tamanho
das
empresas , a indivisibilidade das inversões e as
economias e externalidades urbanas e de aglomeração
necessárias para implantá-las. Tudo isto contribui
para
a
concentração
em
uns
poucos
pontos
privilegiados do
espaço, das condições para a
realização de atividades mais importantes. (SANTOS,
1985: 29)
As
inovações
apresentam-se
sob
várias
formas,
22
porém
podemos
destacar as estruturas viárias e de comunicações que são formas
induzidas no plano institucional e também serão vias para a
circulação das inovações provenientes dos pólos mais avançados.
TOMÁS COELHO - LIMITES ORIGINAIS
23
24
FIGURA: 03
Na medida em que a circulação desenvolve-se e conduz as
novas
exigências
necessariamente
do
capital,
readaptadas
as
formas
adquirindo
espaciais
novas
são
dimensões
e
aspectos em relação a nova lógica que se impõem. Este é o caso
da RMC (fig. 03 p.24), bem como das suas áreas camponesas.
Ao
encontro
desenvolvimento
sociedades
do
da
segunda
conceito
marginais.
A
hipótese,
de
espaços
fixação deste
baseamo-nos
no
organizacionais
conceito
realiza-se
de
em
tese na teoria da marginalidade, enquanto espaços locais.
Espaço social marginal refere-se ao limite da assimilação
de padrões de modernidade, no que tange à área metropolitana de
Curitiba.
Este
processo
de
marginalização
ocorre
também
em
termos de produção do espaço, a lembrança de LIPIETZ (1988):
Mas, mais profundamente, são as relações sociais que,
a medida que têm uma dimensão espacial, "polarizam" o
espaço social. A "região" aparece assim como produto
das relações inter-regionais
e estas como uma
dimensão das relações sociais. Não há "região pobre",
há apenas regiões de pobres, e, se há regiões de
pobres, é porque
há regiões de ricos e relações
sociais que polarizaram riqueza e pobreza e as
dispõem diferentemente no espaço.(p. 29).
A
distância
destacar
econômica
grupos
entre
entre
grupos
específica.
sociais
as
classes
culturais
Os
marginais
pólos
de
de
sociais,
característica
hegemônicos
outro
também
de
concretizam
um
o
podemos
social
lado
e
e
os
processo
de
modernização incompleta e involução como custo de adaptação ao
sistema vigente (SANTOS, 1988).
REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA - 1992
25
26
responsável pela distribuição de papéis sociais em meios nãoO
processo
de
imigração
no
Brasil
agravou
a
formação
de
periferias das grandes cidades ou bairros marginais. No entanto,
o processo de favelamento ou bairros de precárias condições de
industriais
propriamente
ditos.
(
APTER,
D.
apud
KOWARICK,
1977).
O
processo
de
modernização
desencadeia
rupturas
e
vida demonstram apenas uma faceta da realidade. Dentro de uma
desorganiza quadros sociais preexistentes, assim como origina
abordagem funcionalista da marginalidade a questão de integração
descontinuidades
social é considerada fundamental. Nesta colocação as dualidades
incorporados por indivíduos e grupos que sofreram impactos pela
tradicional/moderno
metamorfose social ( DURKHEIM apud KOWARICK, 1977).
ou
marginal/integrado
são
vistas
a
nível
macro-sociológico em termos estruturais (KOWARICK, 1977).
as
oposições
conceito
de
exército
entre
explorados
industrial
de
e
exploradores
reserva
tateiam
um
ponto
relação
à
produção
econômica
e
cultural
mais
inserção
e
essencial
e
no
reconhecendo
reconhecidos
tradicionais rurais.
da
problemática
em
outra
supra
estrutural,
espaço
o
das
caráter
instâncias
peculiar
de
partir de tal concepção teórica.
algumas
colonial em assimilar os padrões modernos, que são
a
sociedades tradicionais coloniais, viabilizaremos a análise a
Retomando
padrões
Nas palavras de SANTOS (1985):
econômica
a
os
apenas
enquanto sistema cultural.
Considerando
e
como formas modelares urbano-industriais antagônicas às formas
questão. Assim, reconhecemos duas formas de marginalidade: uma
em
sociocultural
o
A falta de identificação de um grupo social à cultura
atinge
padrão
ou
realidade que tentamos explicar.
dominante
o
A marginalidade decorre da dificuldade de uma sociedade
Encarando , mesmo dentro de uma aproximação de caráter
Marxista
entre
das
colocações
da
Teoria
Em
cada
período,
o
sistema
procura
impor
modernizações características, operações que procede
do centro para a periferia. Não se trata de uma
operação ao acaso. Os espaços atingidos são aqueles
que respondem, em um momento dado, às necessidades de
crescimento ou de funcionamento do sistema, em
relação ao seu centro.
As modernizações criam novas atividades ao responder
a novas necessidades.(...) a modernização local pode
representar adaptação de atividades já existentes a
um novo grau de modernismo. O fato de que a cada
momento nem todos os lugares são capazes de receber
todas as modernizações explica porque: 1) certos
espaços não são objetos de todas as modernizações; 2)
existem demoras, defasagens, no aparecimento desta ou
daquela variável modernizante; e isto ocorre em
diferentes escalas. (pp. 31 e 32).
da
O aumento das disparidades de assimilação dos padrões de
Modernização
que
podem
espelhar
questões
de
caráter
local,
modernidade no decorrer do processo histórico retrata graus de
assumimos que a problemática, em termos analíticos, passa pela
marginalidade à lógica urbano-industrial enquanto reestruturação
consideração
do
surgimento
de
uma
"lógica do
industrialismo"
do espaço e avanço em termos de território.
27
28
Coelho por se basear nos registros do SINPAS/FUNRURAL, revela
uma
reflexão
interessante
para
a
realidade
do
colono
polaco
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA SOBRE A COLÔNIA POLONESA DE TOMÁS COELHO
diante do sistema capitalista. Já o trabalho de DOUSTAR de 1990
demonstra
No
que
tange
a
bibliografia
utilizada
destacamos
outra
faceta
da
realidade
do
imigrante
polonês
os
enfrentamento
do
os
aspectos
tradicionais
de
sua
cultura
e
o
seguintes autores que trabalharam a questão da migração polonesa
sentimento
anti-polonês
no
Brasil.
A
análise
do
preconceito
e que serviram de base para a presente análise:
enfrentado pelo polonês no Brasil é o plano de reflexão de sua
A obra de Romão WACHOWICZ (1975) conhecida como a Saga de
pesquisa.
Araucária
revela
em
outras
questões
a
luta
do
imigrante
na
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
implantação das colônias, o trabalho da terra e as possíveis
relações com os aspectos míticos e religiosos de suas vidas.
Trata-se
de
um
transparecendo
trabalho
o
lado
básico,
romântico
descritivo
da
história
e,
por
vezes,
da
colonização
polonesa no município de Araucária.
diante das fontes. Antes, buscamos a pluralidade como meio de
Sob o ponto de vista acadêmico de maior interesse foram
os
trabalhos
de
Ruy
Chistovam
WACHOWICZ:
Tomás
Coelho
uma
Comunidade Camponesa de 1976 e O Camponês Polonês no Brasil de
1981.
Apoiado
historiador,
em
referências
constrói
o
originais
referencial
Não nos limitamos à rigidez de uma atitude preconcebida
que
em
polonês,
explica
a
construir a síntese mais próxima da realidade. Assumimos uma
postura crítica diante da análise dos dados e não discriminamos
os autores que tomamos como base teórica .
como
saída
do
Quanto ao quadro teórico buscamos a reflexão dialética.
De acordo com a probabilidade de resposta à problemática da
migrante polonês do século XIX na Europa e a difícil adaptação
dissertação,
muitas
na
sistêmico
tratamento
realidade
brasileira.
A
apreensão
da
história
do
colono
no
vezes,
dos
torna-se
dados
para
necessário
posterior
o
resgate
análise
de
polaco, principalmente no Paraná passa necessariamente por suas
caráter crítico. Mesmo porque não escapamos totalmente à lógica
pesquisas.
formal
na
qual
estamos
imersos.
Como
afirma
Hegel
na
sua
Dentre as pesquisas mais recentes, especialmente sobre a
Fenomenologia do Espírito: “O que há de mais fácil é julgar o
Colônia Polonesa de Tomás Coelho, destacam-se os trabalho de
que possui conteúdo e densidade. Mais difícil é apreendê-lo e o
Márcia S. de Andrade KERSTEN e Neda M. DOUSTAR. O trabalho de
mais difícil é produzir a sua exposição, que unifica a ambos”
KERSTEN de 1983, embora restrito à análise da população de Tomás
(Os Pensadores vol II 1992). Confrontando, a ver da história,
29
não
existe
regra,
epistemologia,
embora
que
não
plausível
seja
e
bem
violada
em
fundamentada
algum
30
na
a) as características culturais específicas;
momento.
b) a questão da produção e existência econômica.
(FEYERABEND, 1977).
Uma
postura
racionalidade
estática
fundamenta-se
de
em
uma
uma
teoria
concepção
à
inerte
da
revelia
da
O desenvolvimento da pesquisa a partir dos objetivos específicos.
1º Objetivo
situação social do homem.
Para
a
caracterização
espacial
do
Núcleo
Colonial
de
Coleta de Dados
Tomás Coelho no decorrer do seu processo histórico, consideramos
Distinguimos quatro categorias para a coleta de dados:
os seguintes momentos:
1ª - De caráter exploratório e bibliográfico referente às
bases teóricas conforme delineada no item anterior.
2ª
-
Refere-se
aos
trabalhos
específicos
do IPARDES, IAP, dados da Prefeitura Municipal de Araucária a
relativos
à
colonização polonesa em escala local.
de
Curitiba
enquanto
partir
seu
departamento
de
urbanismo.
Também
levamos
em
afetos
à
problemática
em
KERSTEN (1983) e DOUSTDAR (1990), assim como GIL (1985/1989), ou
seja, nossos estudos anteriores.
questão.
3) Levantamento a partir dos 71 laudos de desapropriação
4ª
-
organização
A
colônia
espacial.
Tomás
Para
Coelho
tanto
em
si
em
consideramos
termos
a
de
seguinte
subdivisão:
a)
do
consideração os estudos históricos e etnográficos específicos de
3ª - Trata-se dos trabalhos referentes ao processo de
metropolização
1) Levantamento feito a partir dos estudos mais recentes
a
colonização
polonesa
no
plano
histórico
da
sua
responsável
desapropriadas
de
proporcionaram
em
ocasião
captação
o
pela
de
universo
da
avaliação
formação
água
de
do
nossa
rio
das
do
terras
lago
e
serem
artificial
Passaúna.
pesquisa
a
a
Os
da
laudos
partir
dos
mesmos o reconhecimento dos produtores agrícolas da colônia de
b) a colonização polonesa em seu caráter recente.
os
estudos
de
caso
no
âmbito
circunstancial
Tomás Coelho. No que tange a análise destes laudos, partimos dos
da
desestruturação da colônia.
Duas
ITCF
barragem
origem.
c)
do
variáveis
primordiais
estudos do IPARDES (1987), onde foi selecionado uma amostra de
propriedades para o trabalho de campo que se desenvolveu. Os
foram
consideradas
objetivos relativos à organização do espaço em estudo:
nos
critérios utilizados nesta seleção se estabeleceram na seguinte
forma:
31
32
a) Verificou-se que dos 71 laudos do ITCF apenas 61 eram
4) Levantamento do IAP a partir de fotografias aéreas de
correspondentes a lotes propriamente rurais. Dos lotes rurais
1992 que reconstituíram o uso do solo da região nos fornecendo a
alguns eram improdutivos e não faziam parte da dinâmica social
realidade
da colônia.2
colônia de Tomás Coelho.
b)
As
proprietários
propriedades
o
que
restantes
restringiu
nosso
pertenciam
universo
à
a
28
A
poucos
famílias
imagem
atual
partir
após
a
destes
concreta
da
inundação
dados
dinâmica
das
nos
propriedades
foi
possível
socioeconômica
da
antiga
produzir
responsável
uma
pela
residentes sendo que nove dentre elas faziam apenas a guarda dos
reestruturação espacial constante do local concatenando estas
lotes que na verdade pertenciam a outros. Diante deste fato a
características
amostra, a mesma que utilizamos em nossa análise, limitou-se a
cultural.
as
especificidades
da
supra
estrutura
2º Objetivo
20 famílias.3
Para identificar o processo e os elementos agentes dos
Neste levantamento considerou-se as seguintes variáveis
específicas:
com
padrões
de
modernidade
a
partir
dos
anos
70
na
área
3.1 - origem cultural do proprietário;
metropolitana de Curitiba nos detivemos nas características do
3.2 - área estimada da propriedade em hectares;
processo
3.3 - forma de produção do solo;
analisamos
3.4 - condição de posse do imóvel;
principalmente, o setor secundário responsável pela gestão da
3.5 - forma de aquisição do imóvel;
modernidade.
de
metropolização.
a
expansão
Para
de
tanto
sistemas
identificamos
dinâmicos
e
como,
3.6 - pauta de produtos;
Neste intuito consideramos os seguintes dados:
3.7 - base técnica das unidades de produção;
1) Levantamento do aglomerado industrial do município de
3.8 - volume de produção;
Araucária
a
partir
dos
dados
da
Prefeitura
Municipal
de
3.9 - formas de comercialização da produção e
Araucária e as organizações presentes no Centro Industrial de
3.10 - padrão de vida da população residente.
Araucária (CIAR). Em plano secundário os dados correspondentes a
Cidade Industrial de Curitiba (CIC).
2) Levantamento dos dados da expansão urbana e industrial
2
Algumas áreas improdutivas pertenciam a Rádio Cidade de Araucária e outros
lotes pertenciam a empresa de cerâmica Klemtz e também as propriedades da
Indústria e Comércio de Desidratados Ltda.
3Dessas famílias foi considerado, uma que fazia apenas guarda do lote porém,
comercializava parte da produção.
da
RMC
encontrados
nos
planos
da
Coordenação
da
Região
Metropolitana de Curitiba (COMEC). Cabendo ressaltar o Plano de
33
Desenvolvimento Integrado (PDI) e o Plano Metropolitano da RMC
34
CAPÍTULO 01
(PLAMEC) que referenda o comportamento do valor adicionado do
setor secundário e terciário da RMC de 1974 a 1986. Além destes,
MODERNIDADE
E
REESTRUTURAÇÃO
DO
ESPAÇO
DA
COLÔNIA
DE
TOMÁS
consultamos o Plano de Desenvolvimento Urbano do município de
COELHO
Araucária (New Plan) do departamento de Urbanismo da Prefeitura
Municipal de Araucária.
A análise dos processos motivadores da reestruturação do
3)
Levantamento
específico
em
relação
à
construção
da
espaço
da
antiga
Colônia
de
Tomás
Coelho
pressupõe
a
barragem de captação de água do rio Passaúna a partir do Plano
caracterização do que entendemos por modernidade e a relação
Geral de Água e Esgoto da RMC da SANEPAR.
desta com a evolução da organização do espaço em questão.
4) Levantamento da descrição ambiental da bacia do rio
A antiga colônia polonesa corresponde , em relação a sua
Passaúna a partir de relatório técnico de 1990 da SUREHMA. Além
área remanescente, à região situada entre o quadro urbano do
das características próprias dos efeitos ambientais da barragem,
município
o
uso
do
solo
na
área
específica
da
colônia
com
o
de
Araucária
e
a
sua
fronteira
ao
norte
com
o
devido
município de Curitiba e Campo Largo (fig. 03 p. 24). Conforme o
mapeamento.
quadro teórico exposto na introdução, a evolução com as devidas
3º Objetivo
transformações espaciais da antiga colônia de Tomás Coelho pode
Selecionamos os agentes dos padrões de modernidade mais
ser melhor compreendida através das figuras concretas que se
atuantes
no
processo
de
metropolização
de
Curitiba
e
que
cristalizam no espaço e testemunham a sucessão de épocas e as
motivaram o processo de desarticulação que a Colônia Polonesa
práticas produtivas. Estas mudanças se reconhecem na medida em
vem sofrendo. Para tanto explicitamos a expansão espacial urbana
que
analisamos
o
processo
de
metropolização
de
Curitiba
e
em detrimento das antigas áreas rurais. Este processo está afeto
relacionamos a sua dinâmica com a expansão urbano-industrial da
ao crescimento industrial da região. Esta corresponde à síntese
região.
A
metrópole
desempenha
o
papel
de
área
receptora
e
em resposta à problemática da pesquisa.
propagadora de padrões de modernidade dependendo da sua condição
hierárquica na rede urbana nacional.
Tomando
por
base
simultaneamente reflexo
e
CORRÊA
condição
(1989),
a
da divisão
rede
urbana
é
territorial
do
trabalho. No interesse do nosso argumento a lógica de acumulação
35
36
capitalista suscita o aumento da escala de produção, assim como
permanente, tende a reunir o inconciliável; assim rompe com os
o progresso técnico e a conseqüente expansão do território onde
padrões tradicionais de culturas específicas, amalgamando-as em
se realiza. Isto possibilita a valorização de determinadas áreas
uma única
em detrimento de outras.
próprio passado.
Entendemos
a produção e dinamizadas no plano das relações sociais e das
desenvolvimento do modo de produção capitalista. Em um de seus
idéias
do
trabalhos mais recentes HARVEY (1992), explica referindo-se a
conservadorismo representado por formas de produção arcaicas e
Marx como um dos primeiros a analisar o processo de modernização
relações
do
sociais
e
políticas
prática
restritas
da
a
a
tendência
o
estrutural, ou seja o processo de modernização articulado ao
a
modernidade
fragmentando
facilidade na aceitação e adoção de novas práticas relacionadas
contrapõem
de
contínua,
Porém não podemos desvincular a modernidade do seu âmbito
se
padrões
de transformação
à
que
por
dinâmica
tradição
uma
etnia
e
ou
uma
nacionalidade específica.
uma
conceitual
interessante.
A
diversidade
série
agricultura.
advento
assim
atribui
a
burguesia
a
de
de
transformações
Porém,
uma
tudo
economia
relacionadas
feito
do
a
um
dinheiro
alto
à
indústria
custo
dissolve
os
e
à
social.
O
vínculos
e
relações próprias das comunidades tradicionais. A manutenção da
lucratividade própria do sistema tende ao esfacelamento de modos
arcaicos considerados avessos às transformações que a tendência
homogeneizante do capitalismo impõe.
A
"novo"
modernidade
que
espacial
de
se
revela
sobrepõe
signos
ao
próprios
constantemente
"velho",
da
a
experiência
adornando
modernidade
em
a
das
experiências relacionadas à modernidade tendem a romper com o
do
realidade
contraste
signos tradicionais.
Ao relacionar a modernidade ao modo de vida, BERMAN, nos
saída
Sendo
a par da sujeição da natureza humana a um complexo maquinário e
Existe um tipo de experiência vital - experiência de
tempo e espaço, de si mesmo e dos outros, das
possibilidades
e
perigos
da
vida
que
é
compartilhada por homens e mulheres em todo o mundo,
hoje. Designarei esse conjunto de experiências como
"modernidade". Ser moderno é encontrar-se em um
ambiente
que
promete
aventura,
poder,
alegria,
crescimento, auto transformação e transformação das
coisas em redor - mas ao mesmo tempo ameaça destruir
tudo o que temos, tudo que sabemos, tudo o que somos.
A experiência ambiental da modernidade anula todas as
fronteiras geográficas e raciais, de classe e
nacionalidade,
de
religião
e
ideologia:
nesse
sentido, pode-se dizer que a modernidade une a
espécie humana. Porém, é uma unidade paradoxal, uma
unidade de desunidade: ela nos despeja a todos num
turbilhão de permanente desintegração e mudança, de
luta e contradição de ambigüidade e angústia. Ser
moderno é fazer parte de um universo no qual, como
diz Marx, "tudo o que é sólido desmancha no ar". (p.
15).
uma
capitalista.
criação de um internacionalismo relacionado ao mercado mundial,
Segundo BERMAN (1987):
aponta
sistema
Segundo GOMES & COSTA (1988):
(...) a modernidade é um tempo de conflitos entre o
moderno e tradicional, mas também entre as visões do
novo e a imprevisibilidade das transformações, entre
aos
37
as versões proclamadas da mudança
efetivamente vividos. (p. 50).
e
os
38
processos
Quando,
A difusão da modernidade entra em conflito com diversas
modernização
rompe
meados
deste
com
limites
torna-se
os
visível
na
século,
o
processo
territoriais
periferia,
esta
dos
de
países
resistências e é um processo que possui diversas ambigüidades. O
centrais
resultado destes conflitos está impresso no espaço geográfico.
configuração diferenciada pela temporalidade (BERMAN, 1987).
O espaço é veículo e testemunha da dinâmica dos padrões
e
em
atinge
uma
Entendemos que o modo de vida moderno reduz o passado a
de modernidade. No espaço encontram-se os signos da permanência
fragmentos
porém,
absolutamente
não
o
apaga.
Deste
modo,
as
e da mudança (GOMES & COSTA, 1988).
sociedades tradicionais são testemunhas de um rompimento com a
Propondo a modernidade como articuladora de um processo
modernidade e uma recrudescência da tradição. Sua resistência a
de direcionamento da dinâmica metropolitana não queremos afirmar
padrões de modernidade está na essência da explicação do modo de
que
vida da comunidade dita tradicional.
a
modernidade
seja
a
única
responsável.
No
entanto
o
conjunto dos diversos processos que a compõem é significativo e
preponderante em relação a outros.
Existe
de
fato
uma
lógica
moderna,
por
assim
dizer,
articulada ao desenvolvimento capitalista, na razão direta em
O
peculiar
de
dimensão
uma
da
produção
massiva.
modernidade,
A
produção
concretiza-se
no
massiva
espaço
de
modernização,
capital,
repercute
enquanto
no
caráter
produtiva,
o que se refere ao conflito inerente do choque de
Na medida em que a contradição entre a dinâmica social e
o
caráter
privado
sucessivos
cristalizam-se
períodos
de
no
espaço,
características
conjunto dos processos articuladores do capitalismo industrial e
determinada formação social (LIPIETZ, 1988).
GOMES & COSTA (1988) afirmam que:
O espaço metropolitano é extremamente enfático na
medida em que revela as múltiplas conexões dos
sentidos atribuídos à espacialidade e incorpora
sinteticamente a mudança e a permanência, o caos e a
ordem, sem os justapor, congregando-os em uma
dinâmica comum que constitui, em certo sentido, a
própria natureza dos processos de metropolização. (p.
56).
prática
padrões de modernidade a uma realidade tradicional.
transformações
como expressões concretas da modernidade.
da
à
do
metropolitano e nos caminhos de sua expansão urbana. Encaramos o
suas implicações nas relações sociais e no espaço geográfico
articulado
acumulação
que ela gera novas diretrizes em termos de relações sociais
dinamizadoras
processo
A
reconhecidas
divisão
social
através de uma estrutura
e
são
peculiares.
conseqüências
econômica
do
reconhece-se
da
espaço
evolução
As
de
reproduz-se
já existente que determina a ação dos
agentes econômicos.
As
características
de
uma
sociedade
tradicional
se
evidenciam em Tomás Coelho. A estrutura econômica da colônia
baseia-se
em
uma
pequena
produção
onde
os
excedentes
são
comercializados a nível regional. Possuem tradições arraigadas
39
40
ser equiparada a estas populações agrícolas locais.
Os poloneses, apesar de seu atraso, com relação aos
moldes
da
Europa
Ocidental,
sentiram
sua
superioridade técnica, e isto os satisfez em seu
orgulho. Onde quer que as populações agrícolas
nativas brasileiras entrassem em concorrência, os
poloneses se impuseram na agricultura. (p. 12).
que mantém a prática produtiva aos moldes arcaicos típicos de
uma
fase
anterior
ao
capitalismo
industrial.
Esta
realidade
demonstra a oposição de uma lógica moderna à outra tradicional.
A
lógica
industrial,
cuja
dinâmica
é
típica
da
modernidade,
Até
meados
do
nosso
século,
as
características
tende a romper com a pequena produção agrícola tradicional, na
eminentemente
agrícola
tradicional
da
colônia
polonesa
não
medida em que ela atende às necessidades de produção massiva
sofreram mudanças marcantes. No entanto, a Região Metropolitana
contrapondo aos níveis de acumulação do capital industrial. A
de Curitiba sofreu o impacto das novas condições agrárias que se
reprodução desta realidade tem origem no próprio desenvolvimento
evidenciavam no país, o que possibilitou um incremento da rede
do capitalismo; a própria criação de um proletariado reside no
urbana nacional devido ao processo de modernização.
fato
da
desintegração
social
e
econômica
da
comunidade
de
A realidade agrícola tradicional da colônia polonesa se
pequenos
produtores
(DOBB,
1987).
A
comparação
de
pequenos
perpetuou desde a sua fundação, porém sofreu algumas mudanças em
produtores feudais com os colonos poloneses de meados do século
relação a inserção do colono polonês na economia de mercado que
XIX é válida na medida em que os últimos apresentavam condições
se
sociais
e
econômicas
pré-capitalistas,
avançando
apenas
desenvolvia
no
Brasil
nos
anos
50.
O
processo
de
no
industrialização tardio que se desenvolveu no Brasil, repercutiu
comércio de excedentes.
sensivelmente na Grande Curitiba. Já nos anos 70 os limites da
Em
Curitiba,
como
capital
provincial,
desenvolveu-se
capital alcançaram a colônia polonesa. Neste período o município
através
de
uma
diversificação
de
serviços.
A
política
de
contribuir
à
de Araucária começa a industrializar-se. O capital industrial de
instalação
de
imigrantes
poloneses
visava
caráter
monopolista
referenda
uma
transformação
profunda
da
necessidade de abastecer de gêneros alimentícios a capital. A
lógica reinante, culminado com a progressiva desarticulação de
realidade do Brasil do século XIX apresentava-se plena de formas
espaços tradicionais.
arcaicas de vida quando comparamos à Europa.
O
colono
polonês
e
seus
descendentes
apresentaram-se
Segundo WACHOWICZ (1981):
conservadores e apegados às formas tradicionais que herdaram de
No
Brasil,
os
imigrantes
poloneses
encontraram
também, predominando na sociedade, as formas arcaicas
de
vida.
O
Brasil
novo
apenas
iniciava
sua
emergência, as formas arcaicas ainda predominavam. As
populações
agrícolas
locais,
constituídas
de
escravos, libertos e caboclos eram bem diferentes das
populações agrícolas européias. A população polonesa
aportada ao Brasil, maciçamente camponesa não poderia
sua origem na Europa Central.
Segundo WACHOWICZ (1981), na década de 70, ficou claro a
superação
imigrantes
na
concorrência
apresentaram
em
que
os
relação
luso-brasileiros
ao
colono
e
outros
polonês.
As
41
42
características da produção da colônia, baseada na subsistência
Com base em OLIVEIRA (1982) a economia cafeeira baseada
e no comércio de excedentes agrícolas se demonstrou resistente à
no
inovações.
circulação internacional
A
partir
condiciona
causado
a
pela
da
premissa
produção
dinâmica
do
de
que
espaço
do
nos
sistema
os
sistema
o
capitalista
características
brasileiro
produtivos
Brasil,
do
capital
desenvolvimento
reportamos
ao
impacto
Praticamente
capitalista
no
processo
de
repercutem
e
uma
As
em
percebemos
em
que
reelaboração
a
várias
transformações
uma
urbano
até
os
embora
gere
um
primeiro
produto
de
de mercadorias, no que interessa ao
nacional
anos
20
foi
esta
de
caráter
realidade
abortivo.
perpetuou-se,
a
exemplo de São Paulo que até este período não tinha expressão na
rede urbana nacional.
apresenta-se
próprias.
compulsório,
ditames
reestruturação da colônia polonesa.
Considerando
trabalho
etapas
do
reorganização
das
relações
evolução
e
quadro
dos
entre
do
com
geral
setores
capital
Sob
difícil
de
prisma
acontecer
a
industrialização
pois
esta
se
apoia
do
no
Brasil
seria
desenvolvimento
urbano. De fato o que vai ocorrer é que a nossa industrialização
forçará uma urbanização sem precedentes.
e
trabalho.
este
Os imigrantes poloneses que se estabeleceram no Brasil de
meados do século XIX encontraram uma realidade diferente daquela
Três
estágios
da
evolução
do
capital
nacional
de onde vieram. Curitiba era uma pequena vila em uma realidade
desenvolvem-se a par com o processo histórico da formação da
estritamente
colônia polonesa de Tomás Coelho.
estabelecimento
O primeiro estágio —— da hegemonia do capital comercial —
agrícola.
dos
A
política
colonos
do
poloneses
Estado
Brasileiro
caracterizava-se
no
pela
pequena propriedade rural dando preferência à tradição agrícola
, devido as monoculturas de exportação, onde destaca-se o café
do
como
economia de caráter comercial, sendo que os mesmos desfrutaram
principal
programa
de
gerador
destes
estabelecimento
de
capitais,
colônias
contemporâneo
imigrantes
na
do
então
colono.
Em
Curitiba
o
colono
polonês
de uma certa autonomia em relação à
se
insere
em
uma
produção e à venda dos
província do Paraná. Na segunda metade do século XIX o Brasil se
excedentes na cidade. No caso, ao colono polonês foi garantido a
caracteriza por uma economia cuja lucratividade se baseava na
posse da terra que o diferenciava do camponês nativo.
exploração da mão-de-obra escrava, na manutenção dos latifúndios
Nota-se que
a
economia primário-exportadora
possuía um
com a produção destinada ao mercado externo. Porém, a economia
único elemento autônomo para o crescimento de renda, sendo o
cafeeira já demonstrava sinais visíveis de esgotamento. É neste
setor externo o centro dinâmico da economia (MELLO, 1982).
contexto que os programas de imigração européia se intensificam.
43
O
café
investimento
que
de
gerados
e
colono
polonês
na
verdade
capitais
reinvestidos
diretamente,
não
nacionais,
na
expansão
está
elemento
capitais
da
integrado
produção
à
que
são
cafeeira.
produção
posteriormente
será
base
do
O segundo estágio se apresenta com transição da economia
agro
exportadora
para
uma
economia
industrial.
Também
para
cafeeira
de
que
capitalismo industrial que se consolidará no Brasil.
O
cafeeira
capitalista
mercado interno.
produção
produção
propriamente
deste período á a transposição do modelo de uma autarquia rural
a
a
estes
do
alimentícios para a sua subsistência e a venda de excedentes no
é
realidade
principal
reconhecida como a fase concorrencial. A característica peculiar
entanto
sua
o
gêneros
No
sendo
era
44
que
dinamiza
a
uma
autarquia
industrial.
Para
OLIVEIRA
(1982),
as
indústrias que nascem, em um processo avançado de acumulação,
modernização do país, pois são os capitais gerados com o café
serão
que
processo produtivo em uma divisão social do trabalho anterior
possibilitaram
capitalista.
Ou
seja,
o
a
pleno
massa
desenvolvimento
de
capital
da
gerado
com
lógica
o
café
completamente
autárquicas
desde
que
não
apoiavam
seu
que as ligassem ao campo. A industrialização que sediava-se nas
transformou-se em capital industrial possibilitando a formação
cidades,
de mão-de-obra assalariada (MAZZEO, 1988).
encontrar uma divisão social do trabalho que possibilitasse a
Segundo MELLO (1982):
Na
que
do
capital
comercial,
não
vai
a
organização
de
uma
primeira
metade
do
nosso
século
estabelece-se
no
Brasil um processo de industrialização que está fundamentado no
aumento do lucro em um espaço rápido de tempo pela debilidade da
concentração
de
capitais
e
as
condições
de
mercado
(CARLOS,
1988).
Brasil
MELLO
(1982)
foi
imposto
sugere
pela
que
o
capitalismo
colonização
estruturado
européia.
Deste
modo
no
o
próprio desenvolvimento do sistema guarda em seu bojo padrões
estruturados no período colonial que se perpetua na fase inicial
da
importante
burocráticos
formação de unidades produtivas de pequeno porte.
O período que se estende de 1888 a 1933 marca,
portanto, o momento de nascimento e consolidação do
capital
industrial.
Mais
que
isto,
o
intenso
desenvolvimento
do
capital
cafeeiro
gestou
as
condições de sua negação, ao engendrar os prérequisitos
fundamentais
para
que
a
economia
brasileira pudesse responder criativamente à “Crise
de 29”. De um lado, constituem-se uma agricultura
mercantil de alimentos e uma indústria de bens de
consumo assalariado capazes de, ao se expandirem,
reproduzir ampliadamente a massa de força de trabalho
oferecida no mercado de trabalho, que já possuía
dimensões significativas; de outro forma-se um núcleo
de indústrias leves de bens de produção (...) e,
também, uma agricultura mercantil de matérias-primas
que, ao crescerem, ensejariam a reprodução ampliada
de
fração
do
capital
constante
sem
apelo
às
importações. (p. 109).
Parece
centros
industrialização brasileira.
Como
exemplo
podemos
citar
a
economia
estrutura
baseada no trabalho assalariado, marca o início de uma economia
autárquica,
a
reprodução
e
manutenção
de
grandes
45
46
unidades produtivas. Nesta fase a lógica era a substituição de
concentração deve-se à aglomeração dos meios de produção e da
importações.
gestão
A
produção
do
espaço
da
colônia
de
Tomás
Coelho,
a
despeito das transformações da economia nacional, se manteve nos
moldes ancestrais com poucas modificações no processo produtivo.
por parte
das metrópoles.
Acentua-se a
especialização
produtiva do espaço junto com as transformações dos meios de
comunicação e transportes.
Nesta
fase
de
despontava como principal centro. O impacto da industrialização
Curitiba na década de 70. A expansão da lógica industrial na
se torna mais substancial na década de 50 já no início da fase
região relaciona-se a articulação do capital multinacional e o
do capitalismo industrial monopolista, principalmente pela ação
Estado tende, em sua expansão territorial, a encampar setores de
estatal.
produção tradicional como Tomás Coelho no município de Araucária
2º
pós-guerra
impõe
a
produção
região, como por exemplo a formação da Cidade Industrial de
o
relação
de
que o processo produtivo nacional vivenciava e onde São Paulo
estágio
em
espaço
brasileiro,
terceiro
transformações
do
Curitiba e região, na verdade, ficaram à margem das modificações
No
ocorrem
redimensionamento
Curitiba
e
uma
(fig. 04 p. 47). A concentração, a formação dos conglomerados e
reorganização da economia mundial. Esta realidade referendou a
empresas multinacionais revelam uma nova lógica organizacional
mudança na forma de exploração por parte dos países centrais em
que se evidencia a nível espacial.
relação aos países periféricos. Anteriormente os investimentos
no
exterior
aberturas
concentravam-se
de
filiais
no
controle
manufatureiras
e
Neste
de
matérias-primas,
espacial
a
disseminação
espacial.
de
estágio
anterior
Neste
a
ponto
a
desarticulação
reestruturação
a
as empresas com poder de operar no exterior e a luta pelos
privados
mercados
equipamentos coletivos e planejamento.
para
produção
dentro
dos
países
periféricos
(MAZZEO, 1988).
grandes firmas e o espaço deixa de ser organizado pela indústria
como simples unidade produtiva. Processa-se uma articulação de
hierárquico
multinacionais
uma
espaço
atitude
da
uma
visa
por
parte
concreta
na
organização
nova
lógica
amenizar
dos
as
agentes
produção
de
Nesta articulação do Estado com os agentes do Capital
Segundo CARLOS (1988), a fase monopolista centra-se nas
modo
de
do
de
Estatal
insuficiências
através
alocação
ação
operações bancárias internacionais. Posteriormente ampliaram-se
passou
na
e
ocorre
que
através
se
do
instalam
capital,
no
Brasil
caso
das
nos
anos
empresas
50.
Esta
industrial
monopolista,
as
facilidades
do
acesso
ao
solo
metropolitano por parte do capital hegemônico torna-se evidente.
47
48
A urbanização do Brasil, enquanto articulada pelo Estado
FIGURA: 04
e
as
forças
do
capitalismo
industrial
monopolista,
fixa
um
ARAUCÁRIA - LIMITES POLÍTICO-ADMINISTRATIVOS
período de intensa ocupação do espaço outrora rural.
A princípio, reconhecemos, com base em OLIVEIRA (1982),
uma
certa
incapacidade
da
iniciativa
privada
nacional
para
oferecer padrões de acumulação de capital necessários à dinâmica
industrial. A articulação entre o Estado Nacional e as empresas
multinacionais pode ser colocada como conseqüência da debilidade
da iniciativa privada nacional. A intervenção estatal resgata a
possibilidade de redirecionar a política rural e urbana do país
a fim de atender emergentes interesses do capital internacional.
O impacto inicial da lógica industrial sobre a Colônia
polonesa
de
Tomás
Coelho
redimensiona
as relações
econômicas
essencialmente mercantis que desde a sua fundação vigorava.
Segundo
KERSTEN
(1983)
o
camponês
fora
redimensionado
pelo capital, já que a posse do meio de produção dependia da
venda de produtos agrícolas na cidade. A vinculação ao mercado
no modo do capitalismo mercantil criara portanto, uma profunda
dependência do colono que tinha que saldar o custo de produção e
a manutenção da posse da terra.
Para melhor caracterizar a forma de produção camponesa e
o porquê de atribuir um caráter quase pré-capitalista à sua
dinâmica citamos CHAYANOV (1981):
O camponês ou artesão que dirige sua empresa
trabalho pago recebe, como resultado de um ano
trabalho, uma quantidade de produtos que depois
trocada no mercado, representa o produto bruto de
sem
de
de
sua
49
unidade
econômica.
Deste
produto
bruto
devemos
deduzir uma soma correspondente ao dispêndio material
necessário no transcurso do ano: resta-nos então o
acréscimo em valor dos bens materiais que a família
adquiriu com o seu trabalho durante o ano ou, para
dizê-lo de outra maneira, o produto de seu trabalho.
Este produto do trabalho familiar é a única categoria
de renda (da terra) possível, para uma unidade de
trabalho familiar camponesa ou artesanal, pois não
existe
maneira
de
decompô-la
analítica
ou
objetivamente. Dado que não existe o fenômeno social
dos salários, o fenômenos social de lucro líquido
também está ausente. Assim é impossível aplicar o
cálculo capitalista do lucro.(p. 138)
A
partir
da
década
de
70,
o
capitalismo
50
modificam as regras de funcionamento da totalidade
social. (p. 23).
O
antagonismo
antes
do
mesmo
cuja
síntese
Considerando
industrial
de
produção
industrial
entanto,
um
novo
modo
de
vida
e
a
uma
intensa
supra
valorização do solo.
A situação de assédio do capital industrial em relação ao
solo ocupado por colonos poloneses na grande Curitiba reflete as
verificamos
a
condição
que
concretiza
cada
uma
numa
momento
relação
participando
contraditória,
configuração
histórico
se
espacial.
destaca
pela
arcaicas.
anteriores
mesmo
que
estrutural,
Estas
na
tentativa
permaneça
ou
reproduzem
seja,
o
técnicas
de
auto
caráter
cultural
e
de
períodos
preservação.
No
tradicional
no
plano
político,
no
plano
modernidade.
As transformações , muitas vezes, seguem a via econômica
antes de afetar as relações propriamente sociais.
pela expansão do espaço industrial e urbano.
contexto,
se
acarretará
distintas,
estrutural ou econômico pode haver assimilação de padrões de
novas relações de produção próprias da modernidade engendrados
Neste
espaço,
lógicas
podemos reconhecer a descontinuidade que representam as formas
históricos
a
duas
manifestação de sistemas dominados por técnicas diferenciadas,
monopolista renova as relações de dependência, pois a produção
reverte
de
do
dominado
A mudança tecnológica impõe uma reestruturação que afeta
em
relação ao dominante materializados no desmantelamento de uma
a
organização espacial agrícola tradicional e a reestruturação sob
parte de um sistema urbano. Cumpre-se um papel funcional no
formas avançadas do capitalismo industrial.
contexto
Para LIPIETZ (1988):
A análise revelará, assim, por exemplo, o antagonismo
de uma lógica industrial, correspondendo às formas
avançadas do capitalismo, oposta a uma lógica
fundiária , própria aos modos arcaicos; mas o estudo
concreto mostrará o funcionamento de um sistema único
e coerente, possuindo características originais,
àquelas que a análise tem precisamente por finalidade
explicar.
Enfim,
as
próprias
modalidades
da
articulação devem ser compreendidas como um processo,
onde o modo dominante domina, dissolve, integra o
modo dominado segundo fases sucessivas nas quais se
sociedade
tradicional
principalmente
metropolitano, assim
como
na
quando
divisão
esta
torna-se
territorial
do
trabalho. Esta realidade justifica as próprias transformações
organizacionais no seio destas sociedades.
As transformações ensejadas pela assimilação de padrões
de modernidade ocorrem em uma realidade concreta preexistente.
Toda prática, toda relação social se inscreve nesta realidade
concreta cuja premissa é a própria condição de existência, pois
51
52
É como se a dimensão temporal da modernidade
envolvesse, através do e com o espaço, um fluxo
multifacetado alternando pelo menos três segmentos:instabilidade (crise), em que são contestadas as
formas vigentes e gerados os caminhos para o novo; luta pela imposição de um desses caminhos, aglutinada
entre dois veios: o das propostas macropolíticas
normatizadoras e o da recriação de micropolíticas
diferenciadoras;
relativa
estabilidade
e
enraizamento do amálgama por essa luta. (p. 59).
esta como é material necessariamente também é espacial (LIPIETZ,
1988).
A resistência à nova lógica organizacional e produtiva
torna-se efêmera, na medida em que a lógica capitalista moderna
em expansão, sob diversas formas, reivindica território.
Os
proprietários
Estado,
A presença da produção do espaço em moldes tradicionais
objetivando a acumulação de capital e reprodução da força de
oferece-se como obstáculo a políticas organizacionais próprias
trabalho,
da modernidade. Em particular a resistência do modo de vida do
direcionam
dos
os
meios
de
processos
produção
sociais
e
que
o
organizam
e
reorganizam o espaço (CORRÊA, 1989). Neste ponto a categoria
colono
analítica espaço adquire significado, pois não podemos conceber
modernidade revela-se acentuadamente no contexto de Curitiba e
a
região.
sobrevivência
de
uma
sociedade
desvinculada
do
meio
das
relações socioeconômicas, o espaço. As transformações sociais e
econômicas
decorrentes
do
impacto
de
novas
tecnologias
deixa
testemunho na organização espacial.
A
estruturação
da
lógica
de
modo
algum
é
de
Tomás
Coelho
à
assimilação
de
padrões
de
Ao observar a metrópole como sistema podemos ressaltar,
com base em SANTOS (1988), que o ajustamento das diversas partes
do
capitalista
polonês
sistema
urbano
no
político-administrativa,
que
concerne
cultural
às
e
instâncias
econômica,
territorial
sofrem
um
sucessivos
níveis
de
homogênea, mesmo em um contexto metropolitano quando da expansão
processo
quase que tentacular da metrópole sobre diversas áreas e, mesmo
equilíbrio, que justificam os diversos estágios de existência e
apesar do planejamento imposto, criam-se vazios ou hiatos que
dinâmica
rompem
de
entanto, não é pleno, sofre várias disfunções. Se, por um lado,
produção referendam esta realidade. Para GOMES & COSTA (1988)
os agentes hegemônicos, no âmbito social e econômico, político e
contrapondo-se a uma homogeneização globalizante o processo de
cultural
expansão de influência de uma metrópole revela uma crescente
reproduzem, de outro aceleram-se os processos de modernização
diferenciação
e
segmentação
incompleta.
Esta
dualidade
modernidade.
A
heterogeneidade
medida
que
é
a
continuidade.
O
testemunho
na
de
modos
assimilação
é
própria
de
e
arcaicos
padrões
de
fundamental
de
da
se
em
inter-relação,
realidade
alimentam
gerando
metropolitana.
destes
processos
torna-se
decorrente
Este
da
cada
novo
arranjo,
inovadores
vez
mais
seletividade
e
díspar
com
que
no
os
na
a
característica do processo de modernização. Ainda segundo GOMES
modernização
& COSTA (1988):
dominantes, tanto novas burguesias como novas classes médias,
é
assimilada
e
reproduzida.
Classes
sociais
53
54
são geradas e estimuladas pelo processo. Também se acentua, na
centros de produção e reprodução de inovações recebem um impacto
maior parte da população urbana, o empobrecimento e o processo
mais direto dos mesmos.
de
segregação
territorial.
Esta
dialética
de
evolução
e
involução assume características específicas quando se trata de
sociedades
tradicionais
presentes
dentro
da
influência
da
metrópole. Não podemos descurar do fato de que uma sociedade
tradicional apresenta um vínculo mais forte com o território do
que aqueles presentes na sociedade urbana-moderna como um todo.
Existem
duas
formas
principais
em
que
o
processo
de
modernização interage com sociedades arcaicas. Sob um aspecto, o
fato
dos
vínculos
socioculturais
serem
mais
profundos
podem
configurar uma resistência tenaz a qualquer forma de inovação
tecnológica que comprometa a estrutura social tradicional. Por
outro
lado,
pode
ocorrer
que,
a
própria
configuração
desta
sociedade facilite a assimilação e até reprodução de inovações.
No âmbito econômico a assimilação incompleta das ondas de
modernidade
na
metrópole
da
periferia
cria
e
assegura
como
sustentação empregos mal pagos e subempregos para grande parte
da população. Este fato ocorre porque a Grande Cidade é o centro
da ação de uma gama considerável de tipos de capitais que em
tese,
proporcionam
trabalho
para
grande
massa
da
população
empobrecida (SANTOS, 1988).
As
sociedades tradicionais agrícolas
próximas às áreas
metropolitanas são assimiladas devido a oferta de novos empregos
por parte da metrópole. A proximidade é um dado fundamental
nesta análise. Sociedades tradicionais localizadas próximas a
55
CAPÍTULO O2
56
execução
das
Porque
organização
a
culturais
da
formas
práxis
representativas
social
da
é
como
tradição
e
da
um
do
organização
espelho
modo
de
como
social.
projeções
a
produção
SOCIEDADES TRADICIONAIS: RESISTÊNCIA E MODERNIDADE
econômica de determinada sociedade se realiza.
A
resistência
à
dinâmica
de
renovações
advindas
do
A partir da análise dos impactos espaciais do processo de
processo de modernização encontra obstáculo no vínculo social.
modernização
na
Metrópole
e
a
implicação
em
estruturas
Esta realidade se apresenta quando os padrões de modernidade de
tradicionais que coexistem territorialmente, podemos delinear as
certa forma comprometem a perpetuação da tradição.
principais características da reorganização espacial e de uma
A tradição além de dar razão de ser à vida ordenada em
reestruturação econômica e sócio-cultural.
sociedade, transcende esta aparência e atinge a consciência do
Cabe
ressaltar
alguns
aspectos
distintivos
no
que
se
estilo de vida. A tradição viva se realiza na dinâmica social
refere
às
sociedades
tradicionais.
A
peculiaridade
da
como uma gama de escolhas excludentes. Ou seja, a prática social
organização
sociocultural
específica
cristaliza-se
em
formas
de tarefas, a visão e classificação do mundo são reproduzidas
concretas no espaço.
sob regras fixas. Estas regras estabelecidas dentro de uma forma
Neste contexto a organização sociocultural apresenta-se
de temporalidade e concretizadas em formas espaciais configuramcomo
uma
determinante
de
como
uma
sociedade
tradicional
se como obstáculos à práxis da modernidade.4
relaciona-se com o padrão organizacional da metrópole.
Ao
O
contraste
distingue
o
espaço
sociocultural
resgatar
a
categoria
analítica
cultural,
a
fim
de
das
explicar os impactos da gestão e difusão de novas tecnologias,
sociedades arcaicas. Este contraste permite identificá-las no
verificamos que os câmbios no que diz respeito às sociedades
espaço metropolitano.
acompanham necessariamente as transformações tecnológicas.
Como explica DURKHEIM ( apud BETTANINI, 1982):
A práxis social implica a constituição das formas
sensíveis
privilegiadas
às
quais
estamos
permanentemente prontos para referir todas as nossas
experiências espaciais subjetivas. (p. 93).
A projeção da cultura na organização do espaço revela-se
como
um
pólo
inteligível
e
de
referência.
neste
ponto
o
O
espaço
espaço
torna
passa
a
a
ser
cultura
o
algo
plano
de
4 Quando nós vivemos sob regras sobre as quais percebemos que não temos
controle, por serem inflexíveis, nos sentimos como numa prisão. Nestas
condições são as regras que nos vivem impedindo modificações. O autor compara
a um jogo onde o bom jogador pode atualizar com precisão as regras em que
joga; um prisioneiro passa pela prisão sem poder desenvolver sua vivência
mais básica (MATTA 1981). No plano da sociedade tradicional onde há uma
reificação da tradição esta aponta como prisão obstruindo mudanças na
dinâmica social, sendo esta a forma mais concreta de resistência às inovações
impostas pelo sistema metropolitano.
57
58
Por certo que não somente a modernização é seletiva em
Assim como a alta tecnologia prescinde do trabalho menos
termos
de
classe
assimilada
na
social,
instância
mas
também
tecnológica possui outras dimensões e não está reduzida apenas à
uma nova marginalização e segregação espacial estão dentro das
explicação
principais conseqüências desta transformação no modo de produção
características
do
No
momento
processo
de
entanto,
a
especializado, do mesmo modo, a produção nos moldes tradicionais
não encontra mais condição para sua perpetuação. Sendo assim,
nível.
No
diferencialmente
mudança
neste
cultural.
é
histórico
atual
transformação
as
tecnológica
representam uma nova forma de produção que está relacionada à
dinâmica
de
responsável
informações,
por
novo
de
patamar
de
decisão
e
conhecimento
a
polarização
social
decorrente
deste
novo
impacto tecnológico identificamos, além do que podemos conceber,
um acirramento desta disparidade sem paralelo nas metrópoles dos
1985). Ocorre uma reestruturação econômica a partir de novas
países periféricos. Embora esta polarização social esteja sendo
tecnologias
incrementada, ela não produz um novo processo de formação de
estas
ensejam
uma
produtividade
Retomando
(CASTELLS,
e
um
tomada
capitalista.
nova
divisão
territorial
do
trabalho, tanto em escala local como global.
classes sociais, mas repercute significativamente em uma nova
Na escala local, no âmbito da Metrópole, a nova divisão
territorial
do
trabalho
sociedades
no bojo do sistema hegemônico que rearticula e torna complexa a
tradicionais. A própria reestruturação do capitalismo redefine e
organização espacial metropolitana. Existem relações específicas
redistribui os papéis funcionais, podendo sociedades arcaicas
em constante adaptação às novas condições econômicas e sociais.
serem recriadas sob o capital ou completamente desarticuladas,
Com base em SANTOS (1988), verifica-se o que o autor considera
se
de
como um novo subsistema hegemônico determinante responsável pela
tecnologia"
redefinição direta e indireta da nova realidade metropolitana.
considerarmos
modernização
(CASTELLS,
e
as
o
1985)
novas
que
onde
redimensiona
é
o
o
papel
características
definido
papel
da
como
das
divisão social do trabalho. Estamos diante de um novo elemento
do
"alta
informação
no
processo
processo
de
produção é fundamental.
Reconhecemos que o terreno mais fértil à penetração da
alta tecnologia localiza-se justamente nas áreas onde o trabalho
se encontra politicamente organizado e mais preparado na disputa
com o capitalismo.
Este novo subsistema é a modernidade que neste período histórico
se caracteriza por ser um fato irrecusável. Por ser não optativa
como era há quarenta anos atrás, seu impacto é definitivo e sem
retorno.
A modernidade irrecusável se apresenta como um elemento
inerente à lógica do capitalismo industrial no seu estágio atual
monopolista. A oposição deste padrão às sociedade tradicionais
59
60
reside no fato de que estas são regidas por regras rígidas de
ideológico. Todo este processo de mudança nas diversas esferas
comportamento.
da sociedade implica em um processo paralelo de desorganização
capitalista
No
que
entanto,
toda
considera-se
sociedade
possui
patente
uma
no
sistema
aspiração
a
se
modernizar. Este paradoxo resulta da convicção de que não há
com
diversos
antes
existentes.
A
à
Para EISENSTADT (1969):
Esses
processos
têm
dois
aspectos
íntimos
relacionados: o da desorganização propriamente dita
dos padrões existentes da vida dos vários grupos, e o
da
crescente
inter
conexão
entre
grupos
que
experimentam tais processos, sua reunião em quadros
comuns e seus impactos recíprocos. (p. 36).
As ditas sociedades modernas se desenvolvem a partir de
tradicionais
resistência
é parte integrante da modernização.
sociedade tradicional.
estruturas
da
Deste modo, ocorre que esta desorganização e deslocamento
que nem sempre existe uma meta clara de desenvolvimento para uma
diversas
resultantes
transformação.
desenvolvimento possível sem a adoção de inovações próprias de
padrões de modernidade. O diagnóstico desta pesquisa nos aponta
conflitos
partir
desta premissa a marginalidade de uma sociedade tradicional em
O
relação
à
assimilação
de
novos
padrões
relacionados
impacto
considerável
do
processo
de
modernização
no
à
comportamento social deixa suas marcas nas figuras concretas do
modernidade pode ser atestada diante de como a superestrutura
espaço geográfico. Cada vez mais os padrões hegemônicos próprios
cultural, que justifica o comportamento tradicional, responde ao
do sistema prevalecem sobre padrões arcaicos .
caráter fechado de uma sociedade.
DEUTSCH (1961) afirma que ocorre uma mobilização social
Segundo EISENSTADT (1969) o processo de modernização das
quando
a
erosão
e
ruptura
de
antigas
vinculações
sociais,
diversas sociedades tradicionais possuem contornos peculiares ao
econômicas
e
psicológicas
tornam
os
indivíduos
disponíveis
à
longo de seu desenvolvimento.
assimilação de novos padrões de socialização.
A
ruptura
ou
desarticulação
de
determinados
padrões
Podemos reconhecer que a produção do espaço é fruto das
sociais
antigos
disponibilidade
representa,
para
novos
em
padrões
certo
de
sentido,
uma
comportamento
diversas
interações
compondo
vários
de
elementos
que
se
relacionam
entre
si
que
subsistemas
de
relações
que
nos
remete
à
evidenciam novas práticas sociais e econômicas. O contraponto
totalidade social (SANTOS, 1985 ). Esta concepção evidencia-se
desta dinâmica verifica-se em sucessivas reestruturações espaçoem
organizacionais
que
se
articulam.
nas
diversas
A
modernização
depende
um
processo
temporal
de
articulações
e
desarticulações
de
sociais; de estruturação e reestruturação espacial.
mudanças
contínuas
instâncias
tanto
a
nível
A
econômico
como
a
nível
político-administrativo
e
urbanização
em
detrimento
de
sociedades
rurais
culturaltradicionais age como destruidora de padrões antigos de trabalho
61
e
produção
tornando,
industrial,
várias
sob
o
ponto
habilidades
de
vista
plenamente
de
uma
lógica
supérfluas
o
que
acarreta uma diminuição da segurança da estrutura tradicional.
Para
EISENSTADT
(1969),
esses
processos
62
lançam
O
processo
de
vínculo
social
na
colônia
polonesa
contribui para a preservação e manutenção das tradições. Para
MATTA (1981), a tradição concede consciência ao estilo de vida
as
de
determinada
sociedade.
Ter
consciência
é
poder
ser
populações de sociedades tradicionais em uma gama de incertezas
socializado, isto é, ter uma situação diante de uma lógica de
de mercado de trabalho criando desemprego e subemprego, problema
inclusões e exclusões fundamentais, um diálogo entre o que somos
típico de uma realidade industrial.
e aquilo que outros são, o que necessariamente não devemos ser.
Sob
atávicas
este
dos
prisma,
colonos
de
as
características
Tomás
Coelho,
socioculturais
simples
e
fechada,
proporcionou uma mobilização social resistente à um processo de
A consciência de regras e normas próprias da tradição é uma
forma de presença social em comportamentos bem marcados pelo
grupo social.
modernização local. Ou melhor, não se produziu mecanismos que
viabilizassem
lado
a
um
processo
cristalização
de
de
modernização
determinadas
efetiva. Por
práticas
outro
econômicas
e
A tradição proporciona um paradigma ao comportamento. A
tradição
viva
e
a
consciência
social
subtendem
responsabilidades. O que significa fazer uma série de escolhas
sociais entraram em choque com interesses hegemônicos do capital
seletivas
industrial monopolista em sua expansão territorial.
pressupõe escolhas que excluem formas de realização de tarefas e
Tomás
Coelho,
paralelo
as
demais
colônias
de
origem
que
determinam
uma
ação
sobre
o
real.
A
tradição
classificação do mundo.
polonesa, não foi vitimada pelo processo de industrialização,
Tradição
significa
vivenciar
regras
e
opções
quanto ao desenvolvimento por parte dos colonos de uma vocação
conscientemente em determinado processo temporal. No entanto, a
industrial. Houve de fato a reprodução de uma típica comunidade
tradição pode ser restritiva como uma prisão, ou seja, quando as
camponesa onde a pequena propriedade é característica.
regras
Embora os colonos tivessem um vínculo com o mercado da
capital,
a
identidade
étnica-cultural
reforçou
um
caráter
vivem
pelas
pessoas
e
não
elas
pelas
regras.
Nas
tradições culturais este processo é dialético, há uma ação e
reação entre o grupo social e o conjunto das regras na prática
fechado onde diversas famílias foram se entrelaçando através de
social.
Podemos
diagnosticar
que
nesse
processo
relacional
casamentos, mantendo assim uma certa relação de parentesco entre
chegamos ao ponto de o grupo social se sentir possuidor de uma
os diversos moradores de origem polonesa.
tradição cultural.
63
64
A condição fechada de Tomás Coelho contempla a interação
devido ao próprio isolamento das colônias imigrantes no decorrer
com a tradição e a auto preservação cultural. No entanto, os
do seu processo histórico.
padrões da lógica do capitalismo industrial se opõem a esta
realidade
diversa
e
pouco
vida
concentradas, organização esta, que não se configurou no Brasil.
tradicional, assim como lhe oferece uma nova direção que se
Particularmente, a colônia de Tomás Coelho se organizou de modo
revelará
linear, o que significou um rompimento na articulação social dos
fundamental
a
na
pouco
subverte
compreensão
o
modo
do
de
No seu país de origem as residências dos aldeões eram
processo
de
desarticulação do núcleo colonial.
Caracterizando
melhor
a
colonos.
cultura
imigrante
polonesa
reconhecemos entre outros aspectos distintivos o fato de que a
religião
praticada
pelos
colonos
revela
a
relação
que
laços
decorrência
desta
obstáculos
inserção
imigrante
do
em
diversas
reconhecer
colônias
e
que
realidades
a
não
gregária
mantiveram
na
Polônia
sobretudo
nas
atividades
religiosas que em grande parte serão reproduzidas no Brasil.
A
concretude
organizacional
da
paróquia
e
a
repercute
da
nas
polarização
práticas
social,
a
tradição
socioeconômicas,
figura
as
condições de reprodução da cultura polonesa no Brasil.
O
recrudescimento
catolicismo
fatores,
a
polonês
identidade
da
tradição
conservador
cultural.
aliada
a
assegurava,
Esta
prática
entre
realidade
a
Polônia
à
e
a
cultura
assimilação
decorrentes
novas
práticas
os
Coelho,
a
polonesa.
Estes
dois
da
pela
cultura
estrutura
dominante.
cultural
Os
imigrante
produtivas
arcaísmos
que,
responsáveis
no
nosso
pela
entender,
ruptura
com
a
Todavia, não é somente a práxis cultural que reserva a
peculiaridade
religiosa
satisfazendo
Tomás
modernidade.
concreta da capela centraliza a dinâmica cultural da colônia.
Além
em
dificultam a incorporação de novos padrões comportamentais assim
como
revela
com
barreiras
abalarão a natureza gregária do camponês polonês. Esta natureza
se
que,
aspectos revelam que a estrutura cultural na colônias mantinham
certas
podemos
para
Configura-se através da prática religiosa uma manutenção
significativo na composição da imigração polonesa no Brasil. Em
característica
contribui
mais amplos e radicais.
dos
Tomando por base WACHOWICZ (1981) o elemento aldeão é
fato
prática religiosa e a tradição polonesa obtivessem significados
o
imigrante sustenta na sua dinâmica social e esta com o solo.
Este
da
resistência
do
colono
polonês
em
relação
a
assimilação de padrões de modernidade; aliada à mesma está o
sentimento nacional polonês. O aldeão imigrante, na preservação
da tradição e identidade, reproduzirá o nacionalismo polonês no
de
um
outros
acentuou-se
Brasil.
Estas
sociedade
características
imigrante,
ou
seja,
reforçam
uma
o
ruptura
caráter
isolado
progressiva
com
da
a
65
dinâmica
capitalista
dominante
principalmente
nas
últimas
décadas.
baluarte
dos
vínculos
prática
colono
com
a
terra
natal
de
seus
religiosa
católica
tradicional
e
o
Para WACHOWICZ (1981):
sentimento
Na Polônia, o sacerdote era o líder inquestionável e
absoluto dos aldeões. No Brasil, sua figura ainda
permanecia forte e acatada. Porém novos fatores
conjunturais
vieram
abalar
esta
liderança
inquestionável. Inicialmente, a própria oposição do
clero a emigração dos seus paroquianos para o Brasil
veio corroborar a perda dessa liderança monolítica.
Sua ligação com os grandes proprietários, bem como a
defesa de seus interesses contra as aspirações dos
camponeses, alterou a confiança ilimitada no seu
vigário. No Brasil, devido ao próprio tipo de
organização paroquial, excessivamente extensa com a
imposição por parte da hierarquia de paróquias
territoriais e não étnicas como nos Estados Unidos,
os padrões poloneses viram-se obrigados a atender
também os elementos de outras nacionalidades como
brasileiros, italianos, alemães, sendo obrigados a
pelo menos aprender a língua portuguesa. (pp. 107108).
nacionalista combinam-se em uma sociedade social e espacialmente
isolada.
A não aptidão da superestrutura cultural a transformações
inviabilizaram um novo equilíbrio espaço-organizacional imposto
pela metrópole. Ou melhor, as pressões sofridas pela colônia
polonesa a nível estrutural não repercutiram na supra estrutura
cultural
do
ancestrais.
Com melhor delineamento do argumento podemos inferir que
a
66
cuja
marginalidade
e
desarticulação
são
resultados
evidentes.
A estrutura da sociedade imigrante se apresentava como
imagem da organização religiosa. A paróquia era o núcleo em
A paulatina perda do poder político da igreja entre os
torno do qual a dinâmica social vingava. Neste sentido para
imigrantes não comprometeu particularmente a dinâmica social de
melhor
Tomás Coelho, mesmo porque a escola e o ambiente recreativo da
compreendermos
esta
realidade
há
necessidade
de
entendermos a estrutura política da paróquia, de sua função em
comunidade
eram
relação a comunidade imigrante.
confluência
do
A paróquia tinha que ser a expressão da comunidade, pois
a mesma precisava ser um meio de afirmação do colono.
de
poder
certo
modo
religioso
controlado
não
era
pelo
apenas
clero.
funcional
A
mas
territorial.
A disposição das propriedades de forma linear ao longo de
A presença de um padre polonês foi sempre considerada
vias onde se deslocavam as carroças polonesas, distavam entre si
imprescindível pois era um meio de, inclusive, manter viva a
de 500 a 1000 metros (fig. 05 p. 67). No decorrer do processo
língua polonesa. Com o passar do tempo e a sucessão de gerações
histórico a tendência de adensamento de propriedade cada vez
o domínio da língua vai se tornando cada vez mais fraco. O papel
mais se aproximou da área onde foi construída a igreja.
político
do
padre
na
liderança
da
comunidade
referendava
a
manutenção da polonidade. A religião se tornou o maior e último
A igreja só foi edificada após o ano de 1879, ou seja
três anos depois da fundação da colônia. Ainda no período do
67
68
FIGURA: 05
Império
TOMÁS COELHO - DISTRIBUIÇÃO DE LOTES
foi
construída
uma
pequena
capela
na
localidade
denominada Campina dos Ausentes. O estado precário da capela fez
com que 100 chefes de famílias se reunissem para uma reforma e a
vinda de um sacerdote polonês. Na República a capela passou a se
chamar Capela de São Miguel e centralizou a prática religiosa e
a vida comunitária.
Em 1903 passam a integrar o núcleo colonial os sacerdotes
da
congregação
São
Vicente
de
Paula,
que
estabeleceram
uma
escola para os filhos dos colonos. A figura sacerdotal não era
apenas para a administração dos sacramentos da Igreja Católica
Romana mas também um censor que fazia a manutenção dos costumes
e a razão de ser do colono, ou seja, sua identidade cultural
polonesa.
Como
centro
comunitário
a
igreja
também
desempenhou
o
papel de fórum político dos problemas da colônia, assim como
ponto
de
convívio
social
que
permitia
casamentos
entre
os
religioso
se
colonos e seus descendentes.
Observação: O intuito ao se reproduzir este mapa foi apenas
demonstrar a distribuição original dos lotes. Apontamos que esta configuração
contígua porém linear contribuiu para a não formação de centros urbanos,
mesmo de pequeno porte.
O original é de 1910 e encontra-se reproduzido no livro Tomás Coelho:
Uma Comunidade Camponesa (WACHOWICZ, 1976).
A
dinâmica
social
revelada
pelo
centro
manteve no decorrer das décadas e se reproduz no dia a dia dos
colonos.
Os símbolos religiosos estão sempre presentes na figura
de santos nas casas, na bênção do alimento, na partilha da broa
de centeio , nos textos religiosos reproduzidos nas vigas das
casas e na oração em família.
69
70
A religião revela a própria nacionalidade e o culto da
tradição.
Mantém
os
vínculos
ao
mesmo
tempo
que
impõe
uma
O
manhã,
cotidiano
no
preparo
das
mulheres
da
1ª
inicia-se
refeição.
às
Depois
cinco
elas
horas
vão
para
da
o
disciplina à prática social assim como um isolamento cultural
trabalho agrícola voltando a tempo de preparar a 2ª refeição. No
peculiar.
período
Originários de clima frio porém seco, o colono passou por
algumas
dificuldades
na
nova
realidade,
impondo
um
As
eram
madeira
feitas
com
troncos
realiza
a
mesma
seqüência
de
são responsáveis por todos os trabalhos domésticos.
Aos domingos a missa é o principal evento e, mesmo nesta
ocasião,
de
se
os
grupos
se
organizam
por
idade
e sexo,
a
saber:
de
próximo à entrada lateral ficam as mulheres idosas; adiante os
pinheiros encaixados nas extremidades, sem pregos, com telhados
maridos; no pátio interno as moças e jovens senhoras; do lado de
amplos, mais tarde rendilhados de madeira, com varandas, jardins
fora, junto à construção os homens maduros conversam; apenas as
e pomares.
crianças
desde
construções
também
afazeres e o preparo da última refeição do dia. Além disso, elas
redimensionamento da prática dos costumes que serão reproduzidos
pelas gerações subseqüentes.
vespertino
circulam
A nível familiar a distinção social dos sexos é mantida
reproduzida
a
radioteledifusão
infância.
Considera-se
o
menino
como
o
principal
por
todas
inclusive
no
as
interior
alterou
capela.
alguns
esta razão o homem deveria receber uma educação melhor, prática
casos, a própria divisão social do trabalho.
estrutura
da
submissão
educação
organização
O
impacto
comportamentos
tradicionais,
A
a
da
Esta
herdeiro da propriedade da família e o continuador da mesma. Por
e formal. À mulher era destinado o papel de mãe. O trabalho mais
inclusive
partes.
da
mulher
formal
ficou
e,
a
é
da
mais
em
alguns
cargo
da
pesado é reservado aos homens, no entanto, a preparação da terra
congregação São Vicente de Paula que construiu a escola próxima
com
à igreja. As freiras que eram professoras falavam e ensinavam o
o
arado,
mulheres
e
o
plantio
crianças.
O
e
a
colheita
trabalho
com
são
realizados
tratores,
pelas
transporte
e
comércio é somente realizado por homens.
As
primeiros
meninas
anos
do
interrompem
1º
grau
e
os
são
estudos
exploradas
polonês,
em
1930
foi
proibido
pelo
governo
federal
o
ensino de línguas estrangeiras. Havia uma preocupação por parte
geralmente
pela
família
nos
no
do governo em uma assimilação efetiva das colônias imigrantes e
também a vazão da ideologia nacionalista do governo.
trabalho doméstico, enquanto a mãe e os irmãos estão no trabalho
agrícola.
porém
O
catolicismo
atávico
apresentado
pelos
colonos,
reintegrou uma distintiva cultura cristã, associada ao idioma, e
à
prática
agrícola
de
caráter
tradicional.
Fazem
parte
71
72
integrante da cultura polonesa uma série de mitos e crenças
A bênção dos alimentos, segundo a crença dos poloneses,
aliadas
às
batizados,
festas
religiosas
casamentos
e
da
Páscoa,
enterros.
Os
do
Natal,
habitantes
além
de
dos
origem
cultural polonesa ainda falam o idioma de seus antepassados,
mesmo os mais jovens.
Os
produtos
resguarda a boa digestão dos mesmos durante o sábado.
A água também é levada para a bênção e depois espalhada
nas casas e nas plantações.
Os enterros reservam um ritual que mantém características
da
alimentação
básica
dos
colonos
são
próprias. Além do velório são servidos alimentos típicos para a
produzidos no próprio local. A exemplo da batata-inglesa, milho,
ocasião.
centeio, feijão, cebola, aveia, cevada, couve, ervilha, repolho,
A
dimensão
religiosa
está
presente
no
dia
a
dia
do
batata-doce, verduras em geral e algumas frutas. O preparo dos
colono, nos casamentos, nos batizados e revelam a cultura do
alimentos ainda segue os princípios de elaboração da culinária
imigrante polonês e seu apego aos costumes de seus antepassados.
tradicional polonesa junto à outros pratos comuns no Brasil.
Mesmo na construção das casas, que inicialmente eram feitas de
A
atividade
culinária
é
reservada
às
mulheres
que
aprendem pratos típicos desde jovem.
A
Coelho
preservação
através
da
da
tradição
observância
é
de
troncos
transversais,
determinada fase
efetiva
costumes
na
e
colônia
com
Tomás
estes,
os
valores dos seus antepassados.
sem
pregos,
com
a
madeira
cortada
em
da lua para evitar pragas e os lambrequins nas
varandas, se revelam aspectos religiosos e míticos.
A cultura polonesa é a ruptura distintiva que nos permite
reconhecer
a
dinâmica
do
espaço
social
de
sociedades
ditas
A festa de Páscoa representa a separação de um ciclo de
tradicionais. A própria distinção no plano da organização social
tempo onde se desenvolvem certas tarefas como, por exemplo, a
cristalizado pela cultura específica apresenta-se na formação
pintura das casas realizada pelas mulheres da colônia durante a
espacial.
Quaresma.
Sob este prisma, a organização sócio cultural representa
Outra festa religiosa de especial importância
é o sábado
um determinante rompendo com o padrão organizacional autóctone
de Aleluia onde se desenvolve a cerimônia do Swiçconka - bênção
dando uma nova fisionomia ao espaço. O contraste distingue o
dos
espaço sócio cultural de sociedades tradicionais.
alimentos.
Também
no
sábado
se
comemora
a
festa
de
ressurreição de Jesus Cristo de maior importância nas tradições
polonesas conhecido como Wielkanocac.
Para CLAVAL (1979) as sociedades arcaicas não dispõem de
memória objetiva, o que explicaria a perpetuação indefinida da
reprodução de seus padrões organizacionais. Sob outro aspecto,
necessariamente,
vários
níveis
o
processo
sociais.
de
Embora
aculturação
se
controversa
a
73
74
desenvolve
em
A transição do aldeão polonês do século XIX, que vivia na
perpetuação
de
padrões organizacionais são lastreados pela tradição.
condição
servil,
fatalismo
sobre
na
sua
diversas
terra
natal,
vicissitudes
da
onde
apresentava
vida,
ou
seja
um
"uns
Em 1985, na eminência da formação do lago da barragem de
nasceram para mandar outros para obedecer", se depararam com uma
captação de água do rio Passaúna onde parte significativa da
outra condição de vida a de colono com liberdade de ação e de
colônia
de
Tomás
bisneta
de
poloneses,
Coelho
foi
retrata
inundada,
bem
a
a
declaração
importância
do
de
uma
apropriação do espaço. Tal circunstância gerou um conflito de
que
ora
identidade
expomos.
sanar
este
conflito
o
colono
apegou-se
cultura polonesa não se dissipasse e deste modo o espaço sagrado
Toda essa estrutura será rompida (estrutura social
dos colonos, N.A.). O lago, formado pela barragem,
vai separar as terras, vão chegar outras pessoas e
aquela unidade, amizade e entendimento acabará. Será
muito difícil deixar casas que já têm mais de 100
anos e mudar-se para outro local, viver entre pessoas
desconhecidas, que não falam o polonês, não entendem
as tradições. Para os mais velhos - existem pessoas
de mais de 90 anos - isso será fatal. Elas jamais se
acostumarão a rezar em outra igreja, conviver com
outras pessoas que não falam o polonês, mesmo porquê,
os mais idosos, mal falam o português. Além disso, a
terra da Colônia é ótima para o cultivo e será
impossível encontrar outra igual, mesmo recebendo uma
boa indenização. (Folha de Londrina 24/04/85).
Em vários momentos concretos antes e depois dos ofícios
religiosos observamos o convívio entre os colonos onde parentes
e vizinhos discutem seus problemas e os assuntos da semana. Os
símbolos religiosos estão presentes no dia a dia do colono em
casas,
na
colheita,
no
plantio.
Nos
episódios
significativos da vida do colono a dimensão do sagrado está
sempre presente.
A
para
tenazmente à tradição e a religião. Este fato fez com que a
Segundo entrevista de Lídia Lucaski:
suas
e
religião
os
manteve
unidos
sentimento do nacionalismo polonês.
e
também
manteve
aceso
e mítico assumiu uma importância peculiar.
Como comenta ELIADE (1972) a função principal do mito é
de revelar os modelos de todo os ritos e atividades dos homens,
torná-las significativas. Essa concepção não perde a importância
na compreensão do próprio homem de sociedades tradicionais.
A própria vinda dos aldeões poloneses para o Paraná foi
envolvida em uma atmosfera mítica, mito este que colocava o
Paraná como um paraíso revelado pela Divindade, que retiraria o
polonês
de
sua
condição
difícil
para
uma
vida
melhor
principalmente, teria acesso fácil á terra.
Segundo relato de Gil Castelo BRANCO (1984):
No século passado, quando da "febre brasileira das
migrações européias", o nome do Paraná foi envolvido
em uma lenda, surgida pelas aldeias polonesas na qual
manifestava-se a mentalidade simples do camponês,
amplamente
influenciado
pelo
jogo
político
estrangeiro, o qual procurava tirar-lhe a própria
terra. Uma gente também profundamente marcada pelas
tradições cristãs. Diz a lenda que o Paraná até então
encoberto
por
névoas
e
que
ninguém
sabia
a
existência. Era a terra em que corria leite e mel.
Então a Virgem Maria, madrinha e protetora da
Polônia, ouvindo os apelos que o sofrido camponês
e,
75
polonês
lhe
dirigia,
dispersou
o
nevoeiro
e
predestinou-lhe o Paraná. Tal decisão da Virgem Maria
havia sido comunicada ao Papa, o qual, sensibilizado
pelo destino da cristandade polonesa, solicitou ao
Imperador brasileiro que distribuísse essas terras
aos poloneses, para que tivessem a fartura e ali
pudessem viver felizes, expandido seu cristianismo.
(mimeogr.).
76
O
homem
religioso
estrutura
o
espaço
de
uma
maneira
qualitativamente diferente e assim o colono polonês recupera sua
identidade quando vivencia a dimensão do sagrado.
Em 1985, mantinham-se certas características de cultura
O sagrado se revela nas manifestações vitais, expressas
polonesa nas diversas edificações existentes na colônia. Porém o
na dinâmica social reproduzidas na Colônia. Através da projeção
uso dos cômodos das casas mudaram e também detalhes próprios de
do
uma construção moderna que se mesclam com o tradicional.
mito,
o
homem
de
sociedades
tradicionais
encontra
a
A
justificativa de uma transformação do seu cotidiano social e de
espaço
sua própria vida.
O Padre Tadeu Kolodziejczyk (vigário da colônia de Tomás
Coelho
até
1986)
acentuou
que
os
colonos
são
extremamente
Colônia.
igreja
Em
é o
nosso
centro
privilegiado
diagnóstico
anterior
do
social
o
fato
da
desapropriação
de
terras,
propriedades
da
sobre
Colônia
a
Tomás
ocupação
Coelho
do
pela
o espaço construído se organiza.
em
1985
na
diversidade
já
apressado considerar apenas um determinado tipo de construção
mas
também
isolamento de colonos remanescentes do acesso à própria igreja.
o
edificações
presentes
na
colônia
e
seria
A casa de troncos, embora existente muitas vezes, não é
utilizada para moradia, mas sim em outra função. Além disso,
novos tipos de construções são edificadas nas propriedades.
A evolução espaço-temporal de determinadas propriedades
Assim como assevera CRIPPA (1975):
A dimensão sagrada do espaço apresenta-se como uma
possibilidade radical na constituição do mundo e dos
entes mundanos. A localização no espaço é vital. Nada
pode o homem entender, nem realizar, sem sentir-se
localizado. Fora do espaço, tudo se dilui em
distâncias imperceptíveis e todas as significações
perdem-se num além interminável.(p. 128).
das
como padrão.
do rio Passaúna romperia com a articulação social dos colonos.
só
realizadas
da
prevíamos que a formação do lago da barragem de captação de água
Não
algumas
pesquisas
A preocupação de revelar o caráter típico polonês esbarra
espaço
realizado
de
de
Secretaria Estadual da Cultura podemos caracterizar de que modo
religiosos e freqüentam a igreja todos os domingos.5
A
partir
demonstram
edificações
geralmente
de
madeira,
funcionalmente
dispostas ao redor de um pátio gramado onde se acha o poço e
onde
vivem
os
animais
domésticos.
O
pátio
é
importante
na
circulação e distribuição de atividades. Este micro espaço é a
contrapartida do macro espaço da colônia como um todo, onde a
função central da igreja integraliza vários contatos sociais que
norteiam a prática social e econômica dos colonos.
5
Entrevista com o Padre Tadeu Koloziesczyk no dia 08/11/85.
77
Como se depreende do exposto, a Colônia de Tomás Coelho é
representativa
dimensão
do
mítica
fato
e
que
sagrada
a
resistência
perpassa
a
que
se
realidade
realiza
do
78
CAPÍTULO 03
na
espaço
PROCESSO DE METROPOLIZAÇÃO DE CURITIBA E A ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO
concreto e revela obstáculos aos padrões de modernidade.
DA COLÔNIA TOMÁS COELHO
3.1 O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO NO BRASIL
Considerar
a
urbanização
no
Brasil
sob
a
égide
do
capitalismo industrial monopolista relaciona-se diretamente com
a
questão
de
fixar
o
período
em
que
a
industrialização
desenvolveu-se.
Como afirmava GEIGER (1963):
Há, evidentemente, uma relação entre os fatos da
história urbana e os fatos da história econômica. As
transformações que ocorreram na estrutura urbana
brasileira acompanham a substituição do sistema
econômico colonial por um sistema de economia
nacional. Por sua vez, o crescimento da população
urbana é fator de expansão do mercado interno, causa
de transformações na economia brasileira.(p. 61).
Embora
existam
muitas
descontinuidades
na
industrialização brasileira, podemos considerar o impulso neste
processo com maior clareza no 2º pós-guerra mundial. No entanto,
nos anos 20 e 30
intensificou-se a modernização nas principais
cidades brasileiras com certa ênfase à concentração industrial
em algumas áreas, como São Paulo, e os insumos adquiridos com a
imigração européia no sul do país.
As
circunstâncias
da crise
pós
1ª guerra mundial
e
79
80
a
contexto que a intervenção estatal se fez presente a fim de
depressão norte-americana de 1929, anos mais tarde forneceram
oferecer
algumas
desenvolvimento
condições
para
a
intensificação
das
indústrias
no
Brasil. A partir da acumulação de recursos provindos da produção
do
para
a
capitalismo
estruturação
das
bases
industrial
país
(OLIVEIRA,
no
do
1982) citado anteriormente.
cafeeira e a transferência destes para as cidades formou-se o
excedente base para o desenvolvimento industrial.
condições
Através de um papel controlador, o Estado modificou a
ação política referente às oligarquias agrícolas que até então
Porém, não podemos asseverar que houve a formação de um
exerciam o poder político e procedeu à implantação de infra-
pleno capitalismo industrial neste período; o que nos remete a
estruturas e políticas viáveis à ação do capitalismo no espaço
premissa anterior, o 2º pós guerra.
nacional.
Todavia,
a
vinculação
direta
da
urbanização
à
industrialização possui seus problemas.
Porém, a expansão do capitalismo industrial monopolista
não se fez apenas por ação do Estado Nacional, mas também devido
Conforme SANTOS (1982):
às condições ditadas nos países centrais que ampliaram o seu
Há muito se vem tentando estabelecer uma relação
entre urbanização e industrialização, considerada
está última simultaneamente num sentido restrito e
num sentido mais amplo, levando-se em conta o que
ocorreu nos países atualmente desenvolvidos. Com
efeito, pode-se indubitavelmente constatar um certo
paralelismo na evolução desses países. Até mesmo a
defasagem do fenômeno da industrialização entre
diversos países coincide com a defasagem de sua
urbanização.
espectro para os países periféricos através das multinacionais.
Para DAVIDOVICH (1984) o espaço econômico a nível mundial
sofreu certas restrições com a expansão socialista após a 2ª
Grande Guerra, o que pressionou o processo de industrialização
da
periferia.
Os
países
centrais
encontraram
condições
favoráveis na periferia como o baixo custo de matéria-prima e
É difícil estabelecer relações tão sistemáticas nos
países subdesenvolvidos, pois neles temos de lidar
com
pelo
menos
três
dados:
modernização,
industrialização
e
urbanização.
A
modernização,
fenômeno reflexo das transformações dos países mais
adiantados, pode provocar a urbanização, sem contudo
criar uma industrialização imediata. (p. 55).
mão-de-obra. Neste contexto o Brasil foi privilegiado para a
expansão da empresa transnacional entre os anos de 50 e 70.
A ação do Estado nesta fase articulado com as grandes
empresas multinacionais, foi determinante na industrialização e
Resgatando a perspectiva histórica, um ponto fundamental
modernização
na
compreensão
da
afirmação
do
capitalismo
do
Brasil.
Este
fato
caracteriza
a
fase
do
industrial
capitalismo industrial monopolista. A nova dinâmica implicou na
monopolista no Brasil está ligado, de certa forma, à dificuldade
hegemonia
do
estilo
que a iniciativa privada nacional tinha em oferecer padrões de
terciário da economia.
acumulação
necessários
à
nova
dinâmica
industrial.
É
neste
urbano
de
vida
e
a
expansão
do
setor
81
82
O palco urbano torna-se, sem dúvida, centro das funções
Este modelo gerou uma grande disparidade social na medida
relativas à circulação de capital e de mercadorias assim como a
em
localização
processo, que acabou concentrando ainda mais a riqueza nas mãos
dos
sistemas
institucionais
públicos,
empresas
privada e a organização comercial e industrial do país.
que
a
massa
cafeeira
da
infra-estruturas
vai
aumentar
ainda
mais
as
não
participou das
benesses
do
O redimensionamento da urbanização passou pela expansão
estilo urbano de vida é fato relevante desse período. A ascensão
média
população
de poucos.
O advento das classes médias como pivô da expansão do
classe
da
disparidades
de
com
sua
conseqüente
decorrentes
acumulação
da
ação
de
do
riqueza
Estado
no
e
pelas
final
do
concentração de riquezas no país, na medida em que estas são um
século passado e meados deste século. As condições econômicas
apoio ideológico sem precedentes às classes dominantes.
que
Com
aspectos
base
em
DAVIDOVICH
estruturais
(1984)
importantes
podemos
neste
inferir
período.
Em
alguns
primeiro
lugar a expansão dos contingentes administrativos impulsionada
pelo
padrão
multinacionais
classes
organizacional
que
médias.
foram
Em
das
pontos
seguida
a
empresas
primordiais
adoção
nacionais
da
de
um
estrangeiro
no
Brasil
em
(1979)
meados
do
a
entrada
século
XX
guiavam
as
diretrizes
da
expansão
urbana no país. Esta expansão foi base para a acumulação de
capital
fixo
nas
cidades
proporcionando
condições
para
a
expansão industrial.
expansão
das
social do trabalho que a cidade propiciou de modo mais complexo,
modelo
de
assim como foi palco da expansão do mercado interno.
Esta
trabalho
JÚNIOR
configuravam,
O fato que gostaríamos de assinalar refere-se à divisão
porém, pelo poder estatal.
PRADO
se
e
desenvolvimento para uma modernização acelerada do país imposta
Segundo
ora
de
capital
equilibrou
as
vantagens
realidade
na
medida
proporcionou
em
locacionais
distintas.
A
que
a
a
rede
diferenciadas
hierarquia
urbana
e
territorial
articula-se
com
urbana
pressupõe
forma
consideramos
a
do
com
valorizações
especificidades
contas externas do país e proporcionou um aparelhamento material
funcionais concretas.
e uma sensível progressão do padrão de vida nacional. Infra-
brasileira como condição para um redimensionamento territorial
estruturas portuárias e ferroviárias cresceram rapidamente e,
do trabalho.
especialmente,
bases
os
energéticas
transportes
para
desenvolvimento urbano.
a
rodoviários;
progressão
inauguraram-se
industrial
e
as
o
Desta
divisão
a
rede urbana
Como afirma CORRÊA (1989):
A cidade em suas origens constitui-se não só em uma
expressão
da
divisão
entre
trabalho
manual
e
intelectual, como também em um ponto no espaço
geográfico que, através da apropriação de excedentes
agrícolas, passou de certo modo a controlar a
produção rural. Este papel de condição é mais tarde
83
transmitido à rede urbana: sua gênese e evolução
verificam-se na medida em que, de modo sincrônico, a
divisão
territorial
do
trabalho
assumia
progressivamente, a partir do século XVI, uma
dimensão mundial. (p. 49).
Quanto
à
configuração
da
urbanização
em
84
DAVIDOVICH (1984) coloca que:
Na última década ..., o crescimento urbano mostrou-se
ainda importante, apresentando uma taxa de 4,5% ao
ano que suplantou por larga margem a de um incremento
nacional da população da ordem de 2,5% anuais. (pp.
19-20).
termos
territoriais observamos que o maior crescimento populacional se
deu na região Sudeste. Esta região foi o locus principal do
A metropolização e a maior articulação na rede urbana com
processo de urbanização do país assim como, a maior concentração
centros mais distantes do território engendrados pelo Estado são
da ação empresarial do Estado e dos setores privados nacionais e
características marcantes da urbanização brasileira no período
multinacionais.
recente.
O
período
de
1939
a
1960
caracterizou-se
pelo
Esta realidade tende a uma totalidade no sentido em que
desenvolvimento de bens de produção localizados na porção centro
envolve
mudanças
de
caráter
sócio-espacial
rompendo
as
sul do país.
limitações
especificamente
regionais
e
promovendo
GEIGER (1963) comenta que:
redimensionamento da estrutura social do país. Estamos diante do
Capitais estrangeiros passam a interessar-se mais
pela produção industrial no Brasil e todas as
circunstâncias se conjugavam em prol da concentração
no Centro-Sul. Aí era mais lucrativo instalar
indústrias, principalmente em São Paulo que ganhara a
fama de dispor de mão-de-obra mais eficiente. As
grandes metrópoles, como Rio e São Paulo, ampliam seu
espaço urbano, englobam novos subúrbios. Em Belo
Horizonte, Contagem aparece como satélite industrial.
Grande parte do incremento da população urbana
observado entre os recenseamentos de 1940 e 1950
deve-se à evolução industrial, inclusive o gigantismo
crescente das duas metrópoles nacionais. (p. 439).
reflexo
das
características
e
da
dinâmica
do
capitalismo
industrial monopolista estruturado no país.
3.2 O PROCESSO DE METROPOLIZAÇÃO DE
CURITIBA
O processo de metropolização e urbanização de Curitiba
O
incremento
da
cabeça
da
hierarquia
da
rede
urbana
estão articulados a uma gama de transformações do macro contexto
brasileira redimensionou as metrópoles regionais da região Sul
do Brasil e da América Latina. Este processo se encontra no bojo
que sofreram um desenvolvimento industrial a partir da imigração
da nova urbanização da América Latina e das diversas políticas
européia e agora sofriam as conseqüências desta expansão.
urbanas implementadas pelo Estado Nacional.
A década de 1970 a 1980 demonstrou uma aceleração sem
A
interpretação
detalhada
desta
realidade,
reside
por
precedentes no processo de urbanização do país.
assim dizer, em uma compreensão diferenciada do papel do Estado
85
86
e a sua ação planejada. Como afirma LOJKINE (1977), uma análise
grande e médio portes. O setor terciário desenvolve-se nestas
científica
áreas
de
diferenciada
uma
do
política
Estado
e
urbana
da
reside
política,
numa
no
modo
interpretação
de
produção
devido
(1986)
explicitou,
com
infra-estruturas
propriedade,
que
a
continentes. O fato de que, a exceção de apenas quatro países
questões distintas.
demais
apresentam
a
maioria
de
sua
população em áreas urbanas, endossa esta problemática.
O
processo
de
metropolização
revela
mercado.
As
atividades
em um diagnóstico preliminar pareça corroborar às afirmações de
SINGER
os
o
No que se refere a área metropolitana de Curitiba, embora
urbanização latino-americana é prodigiosa e supera a dos demais
latino-americanos,
e
financeiras também tendem a se agruparem nestas mesmas áreas.
capitalista, em especial o estágio atual monopolista.
SANTOS
a
(1985),
a
análise
mais
apurada
nos
indica
algumas
Em primeiro lugar houve no Brasil uma ação institucional
através da lei complementar nº 14 de 08 de junho de 1973, onde o
descontinuidades
governo
federal
estabeleceu
do
do
Curitiba. Esta mesma lei definiu os municípios integrantes de
de
metropolização
revela
uma
deterioração da qualidade de vida urbana, restringe os recursos
cada
naturais,
infra-
Conselhos
estrutura de serviços e, inclusive, problematiza o mercado de
estadual.
intensifica
o
uso
do
solo,
compromete
a
trabalho.
Em
região
Deliberativos
Até
termos
Consultivos,
formalizados
era
eminentemente
um
país
em
dos
lei
rural.
trabalho cada vez mais complexa.
radicalmente
institucionalização
das
áreas
estudo
existirem
atribuições
vivia no meio rural. Em menos de uma década esta realidade foi
um
de
Brasil
as
metropolitanas em um país implica em uma divisão espacial do
em
fato
o
estabeleceu
Belo
Segundo dados do IBGE, nesta época 54,5% da população do país
(1985),
o
1960,
e
e
Paulo,
áreas
SINGER
gerais,
metropolitana
São
da
Horizonte, Porto Alegre, Recife, Salvador, Belém, Fortaleza e
processo
de
164
embates entre o poder local e a comunidade regional. Na análise
o
metropolitanas
artigo
Constituição,
(1975)
regiões
forma
espaciais e por que não dizer funcionais, gerando uma série de
IPPUC
as
na
contemporâneo
metropolitanas
no
Brasil,
a
transformada,
da
superior
muitos
já
Unidos e França.
países
sendo
o
centrais,
nosso
como
crescimento
por
exemplo
urbano
Estados
referendava a realidade de que determinadas funções industriais,
Porém, neste contexto a cidade de Curitiba e região não
comerciais e financeiras cabem às áreas metropolitanas. O setor
apresentava a maturação urbana, nem mesmo o grau de polarização
secundário como conjunto de atividades eminentemente urbanas,
típico de áreas metropolitanas desenvolvidas, o que nos leva a
predominam em áreas metropolitanas, principalmente indústrias de
acreditar, com base nos estudos do IPPUC e da COMEC, que, na
87
verdade,
é
a
colocação
em
prática
de
políticas
urbanas
de
88
FIGURA: 06
desenvolvimento, principalmente em relação às infra-estruturas e
ocupação
intensiva
do
solo,
que proporcionaram
uma maturação
progressiva da RMC (fig. 06 p. 88).
Por certo na medida em que o processo de metropolização
de Curitiba se desenvolve duas conseqüências básicas de natureza
diversa se apresentam:
i) Junto ao processo em questão é reconhecível uma série
de
problemas
evidenciam
a
decorrentes
incapacidade
do
do
crescimento
poder
municipal
demográfico
de
garantir
que
os
meios necessários à uma vida urbana de qualidade, o aumento da
demanda
de
serviços
públicos
e
também
as
dificuldades
na
absorção de mão-de-obra por parte da iniciativa privada.
ii) Por outro, lado, devido a expansão e aperfeiçoamento
dos meios de transporte e comunicação a região apresenta sinais
do progressivo desenvolvimento de tecnologias próprias e padrões
de modernidade. Verificamos que a distância entre o local de
moradia e de trabalho se ampliou. Articuladas à expansão dos
eixos de transportes estruturou-se a ocupação de áreas devolutas
que se encontravam no caminho de ligação de determinados núcleos
urbanos e o centro metropolitano.
REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA 1989
89
Os
estudos do IPPUC,
reconhecem
a
extrapolação
sobre o
avanço
dos limites
da
malha
municipais
e
90
urbana,
posterior
aglutinação de atividades econômicas específicas próprias de um
processo de metropolização que atualmente se intensifica (fig:
07 p.90).
A região metropolitana se estrutura por um sistema de
cidades
que,
ao
mesmo
tempo
que
polariza
algumas
atividades
econômicas, possibilita a dispersão de outras.
Segundo SANTOS (1988 b), o processo de metropolização do
terceiro mundo é contemporâneo à mundialização da economia e da
sociedade. Significa que o mesmo é resultado da seletividade com
que
os
padrões
de
modernidade
se
estruturam
no
espaço,
resultando uma ação desigual onde se privilegiam certas parcelas
Fonte: COMEC
do território em detrimento de outras.
Trata-se
metropolitana
instâncias
ideológica
portanto,
como
um
econômica,
em
escala
em
sistema
se
de
considerar
articulação
político-administrativa
aberta,
porque
gesta
e
a
das
e
faz
região
diversas
culturalcircular
informações , novos capitais e padrões de modernidade que, ao
serem
incorporados
pela
sociedade
metropolitana,
atingem
diferentes e sucessivos patamares de mudança e reestruturação
econômica.
Com base no Plano de Desenvolvimento Integrado da COMEC
existem fontes exógenas de mudança na região metropolitana de
Curitiba
que
se
configuram
nos
fluxos
migratórios,
eixos
de
transporte
e
comercialização
dos
produtos
paranaenses.
91
92
Assim
Em um segundo nível situam-se os municípios de Araucária,
como existem as fontes endógenas como os serviços urbanos e as
locus
fundamental
de
indústrias com seus padrões organizacionais.
Almirante Tamandaré e Piraquara6.
Podemos descrever a região metropolitana de Curitiba, em
relação a ocupação do solo, como uma crescente expansão
malha
urbana
primário
da
periféricas
em
economia.
pelo
metropolitana
detrimento
O
quadro
identifica
das
áreas
processo
urbano
a
ocupadas
de
dos
ocupação
municípios
problemática
em
setor
de
áreas
discussão
região
neste
trabalho.
Ainda segundo a COMEC o conjunto das cidades pertencentes
à região metropolitana de Curitiba sofreram um crescimento maior
a partir da década de 50 e 60. Alguns níveis de incremento
urbano
são
identificáveis,
e
é
possível
classificar
os
municípios em determinados patamares hierárquicos (Tabela. 01 p.
92).
No
primeiro
nível
classificam-se
os
municípios
de
São
José dos Pinhais e Campo Largo. Na década de 90 consolida-se a
conurbação entre o município de Curitiba e São José dos Pinhais.
Já Campo Largo desenvolve-se com uma certa autonomia através do
crescente
incremento
da
indústria
cerâmica
local.
Estes
municípios destacam-se pela importância econômica em relação aos
demais.
pesquisa,
Rio
Branco
do
Sul,
TABELA Nº 01
da
pelo
da
nossa
POPULAÇÃO URBANA DOS MUNICÍPIOS DA RMC ENTRE 1940 E 1991
Almirante
Tamandaré
Araucária
Balsa Nova
Bocaiúva do Sul
Campina G. do
Sul
Campo Largo
Colombo
Contenda
Curitiba
Mandirituba
Piraquara
Quatro Barras7
Rio Branco do Sul
S.
José
dos
Pinhais
1940
779
1950
799
1960
1080
1970
3857
1980
27193
1991
59038
763
437
325
233
1439
503
346
143
3846
559
671
301
5103
635
734
319
27435
1279
2399
3834
54074
2431
3239
12709
2195
631
468
101488
690
1238
------431
1628
3076
423
775
171222
608
1267
------715
3238
7915
1365
892
351259
657
2244
------1934
7574
15402
1092
1047
584481
792
4141
719
5041
21184
37775
55187
3534
1052147
7265
61475
3531
14517
58235
53767
110161
4813
1313094
26225
91347
8122
23671
111915
Fonte: IBGE
A classificação deste segundo nível considera o processo
de industrialização de Rio Branco do Sul e, principalmente, o de
Araucária que, recentemente, começa a demonstrar características
próprias
do
primeiro
nível.
Almirante
Tamandaré
e
Piraquara
possuem pouca autonomia e fazem parte da periferia imediata do
município de Curitiba.
6 O município de Piraquara está sendo considerado neste segundo nível pois o
estudo em questão não considera a emancipação do distrito de Pinhais em 1991,
onde situam-se os setores mais dinâmicos da economia local.
7Município emancipado após o censo de 1960.
93
94
totalmente
Não podemos nos esquecer que no Brasil a industrialização
dependentes de Curitiba onde as atividades econômicas de maior
é típica dos países periféricos, ou seja, tardia, e sofrendo
dinamismo são raras8.
impactos, por modernizações seletivas.
O
terceiro
O
se
desenvolvimento
(utilizadas
ajuda
nível
no
como
base
compõe
de
para
reconhecimento
dos
forças
esta
da
municípios
autônomas
e
classificação
difusão
e
gestão
As
dinâmicas
da
COMEC)
nos
de
padrões
de
pressões
aglutinação
e
ação
articulação
do
Estado
das
como
forças
co-responsável
produtivas
próprias
estatal
através
de
políticas
urbanas
pode
ser
seletividade
da
Segundo JAMARILLO & CUERTO (1990):
O crescimento das cidades de nossos países continua
até aumenta, não só em conseqüência da aceleração do
ritmo vegetativo associado a mecanismos demográficos
(...)
como
devido
a
impactos
verificados
na
organização social do campo. Tanto a desintegração
direta do sistema agrário tradicional em algumas
zonas com impacto direto em outras, a partir da
permealização dos circuitos trabalhistas, da difusão
de práticas mercantis, das mudanças institucionais e
assim por diante, desembocam no surgimento de uma
super população relativa considerável que flui em
massa para as cidades, (...) (p. 109).
na
da
modernidade nos utilizamos da demonstração de LOJKINE (1981).A
ação
a
cuja realidade local não está ausente.
monopolista.
a
devido
modernização, se fazem no contexto dos países periféricos e de
modernidade que estão articuladas à fase atual do capitalismo
Retomando
populacionais,
melhor
compreendida sob três dimensões:
i) a dimensão de planificar;
Na
ii)
o
caráter
operacional
onde
as
práticas
reais
apreciação
do
autor
supra
citado
o
processo
de
do
industrialização, embora tenha um crescimento apreciável, não
Estado Central se evidenciam através da ação local dos aparelhos
consegue
regular-se
com
a
sua
capacidade
de
incorporação
ao
estatais a nível financeiro e jurídico, intervindo sobremaneira
mercado de trabalho da crescente população urbana, produzindo
na organização
do espaço urbano;
também um considerável excedente populacional nas cidades.
iii) a terceira dimensão materializa e mede os efeitos
No
sociais
no
espaço
das
ações
de
planificação
e
operações
contexto
local
do
município
de
Araucária
(fig.
08
de
p.95),
urbanismo.
A metropolização em questão possui aspectos diferenciados
no que tange ao impacto do processo de modernização, onde o
processo de industrialização da região é o vetor principal.
8 Note-se que com exceção de Colombo, os outros centros urbanos estão
geograficamente mais distanciados de Curitiba, formando uma linha no mapa de
municípios onde as atividades agrícolas são ainda predominantes.
os
processos
de
industrialização
e
modernização
95
96
FIGURA: 08
ARAUCÁRIA - QUADRO URBANO
proporcionam uma intensa ocupação urbana através de loteamentos,
que visam suprir a demanda de moradias na região. Não poderia
ser de outro modo na medida em que o Estado viabilizou as infraestruturas, as facilidades financeiras e jurídicas na captação
do grande capital privado através da implantação de um parque
industrial.
Esta realidade revela o Estado como protagonista central
e o primeiro mentor do destino dos processos em discussão. Como
explica BARRIOS (1977), o Estado é o responsável pela tomada de
decisões tanto a nível de uma formação social com domínio sobre
um
território,
como
também
representa
as
classes
sociais
dominantes através da manutenção da ordem estabelecida.
A
urbanização
de
Araucária
é
extensão
do
processo
de
urbanização de Curitiba. Este processo possui uma força motriz
própria no que diz respeito a tendência e definição de estrutura
e dinâmica.
Seria difícil isolar para análise a questão da metrópole,
pois
a
dinâmica
das
periferias
e
da
formação
social
que
a
estrutura estão intimamente ligadas.
Sendo assim, a urbanização da área pode ser considerada
como síntese da ação do Estado e poder articulador da indústria
em cujo bojo encontra-se a própria modernidade.
A lembrança de CORRÊA (1993) sobre o espaço urbano no
mundo capitalista nos parece relevante. O autor comenta que o
97
98
espaço urbano no mundo capitalista se apresenta fragmentado e
Segundo a COMEC, a área em questão demonstrou um surto de
implica
em
condicionantes
sociais,
com
símbolos
e
lutas.
Ou
seja, é um produto social resultante de diversas atitudes que se
acumulam
no
tempo
histórico
onde
o
espaço
é
produzido
e
consumido. Dentro desta dinâmica é que aparecem os conflitos e
contradições.
A
estruturação
e
reestruturação
do
espaço
através
das
vias do capital nos demonstram que tanto a realidade rural como
a urbana e a síntese de ambas, nada mais são que criações e
recriações do próprio sistema capitalista.
A colônia Tomás Coelho no município de Araucária, pesando
o fato da expansão urbano-industrial recente, não apresentou uma
transformação da produção agrícola tradicional para uma produção
moderna comercial ou mesmo industrial própria das tendências de
reestruturação espacial na região específica.
O
crescimento
da
população
urbana
e
a
ampliação
do
perímetro urbano tornou-se significativo nas décadas de 70 e 80,
lembrando
que
deslocamentos
o
no
município
âmbito
não
da
está
condicionado
metrópole,
mas
sim,
apenas
a
à
uma
reestruturação econômica na qual os investimentos concretos do
capital, industrial, através do CIAR (fig. 09 p. 97) e do CIC,
cristalizam-se espacialmente.
Todo
este
contexto
apoia
a
especulação
imobiliária
e
diminui a qualidade de vida de parte significativa da população,
sempre vitimada pelo baixo poder aquisitivo em decorrência dos
desequilíbrios da distribuição de renda no país.
crescimento urbano notável, admitindo a presença da REPAR
99
100
FIGURA: 09
como o indutor principal do processo.
CENTRO INDUSTRIAL DE ARAUCÁRIA
As contradições verificadas no processo de urbanização da
área são marcantes. O território adquire novas formas espaciais
resultante de um complexo de fatores endógenos e exógenos ao
sistema. A síntese que concretamente se apresenta dinamiza-se
devido a variável modernidade.
Contrapondo
o
avanço
da
malha
urbana
na
Região
Metropolitana de Curitiba em detrimento de áreas de produção
agrícola ou áreas verdes naturais, podemos reconhecer a expansão
da lógica urbana. Esta expansão representa, ao nosso entender,
um conjunto de processos econômicos e sociais típicos de atos
produtivos próprios da modernidade.
Esta realidade esta ligada à seguinte afirmação teórica
de
GIDDENS
(1991),
ao
analisar
as
conseqüências
sociais
da
modernidade:
Nas sociedades pré-modernas, espaço e tempo coincidem
amplamente, na medida em que as dimensões espaciais
da vida social são, para a maioria da população, e
para
quase
todos
os
efeitos,
dominadas
pela
"presença"- por atividades localizadas. O advento da
modernidade arranca crescentemente o espaço do tempo
fomentando
relações
entre
outros
"ausentes",
localmente distantes de qualquer situação dada ou
interação face a face. Em condições de modernidade, o
lugar se torna cada vez mais fantasmagórico: isto é,
os locais são completamente penetrados e moldados em
termos de influências sociais bem distantes deles. O
que estrutura o local não é simplesmente o que está
presente na cena; a "forma visível" do local oculta
as relações distanciadas que determinam sua natureza.
(p. 27).
Reconhecendo que a questão da malha urbana da metrópole
marca em sua essência uma reestruturação da produção do espaço
101
podemos
inferir
algumas
proposições
que
nos
ajudarão
compreender as tendências de expansão da lógica urbana
Metropolitana
concentração
de
de
circunstância
é
Curitiba.
A
excedentes
e,
socialmente
lógica
de
urbana
algum
definido.
Os
em
na
cada
excedentes
são
produzidos socialmente e garantem a manutenção de determinado
modo
de
produção.
superposição
de
Para
formas
HARVEY
sociais
(1980)
a
metrópole
construídas
que
é
espelham
uma
a
reciprocidade, redistribuição e mercado de troca.
A
lógica
implica
em
uma
circulação
de
excedentes,
ou
seja, bens, serviços e movimento de pessoas. Sendo assim, na
medida em que a expansão da malha urbana se concretiza implica a
submissão de outras formas de ocupação e produção do espaço a
esta forma dominante.
A partir da observação das fotografias aéreas da malha
urbana
de
Curitiba
em
momentos
históricos
diferentes,
consideramos que a partir das estruturas viárias delineia-se a
expansão.
núcleos
Verifica-se
urbanos
das
uma
cidades
distância
satélites
considerável
e
o
quadro
entre
os
urbano
do
município de Curitiba, principalmente no que diz respeito às
décadas de 50 e 60. Já a interação e compactação da malha urbana
da Região Metropolitana é mais acentuada nas décadas de 70 e 80
(figs. 10, 11, 12 e 13 pp. 102 a 105).
Segundo a COMEC é a partir da década
FIGURA: 10
da Área
implica
modo,
a
102
de 70 que Curitiba
assume a forma compacta e verificamos o processo de conurbação
em relação ao município Pinhais (antes de 1991 distrito do
ÁREA URBANA RMC 1955
103
104
FIGURA: 11
FIGURA: 12
ÁREA URBANA RMC 1965
ÁREA URBANA RMC 1975
105
106
FIGURA: 13
município de Piraquara). Já a construção da CIC proporcionou a
ÁREA URBANA RMC 1985
expansão da malha urbana em direção à oeste, município de Campo
Largo e a sudoeste município de Araucária.
Nota-se
década
que
de
município
o
crescimento
80
à
congemina-se
de
Araucária.
sudoeste
à
que
expansão
Esta
relação
se
intensifica
na
urbano-industrial
do
determina
um
avanço
significativo da lógica urbano-industrial em áreas de produção
agrícola remanescente da colônia polonesa de Tomás Coelho. De um
lado
o
crescimento
implantação
da
industrial
Refinaria
REPAR
de
na
Araucária
década
de
motivado
70
que
pela
também
estimulou uma série de políticas urbanas municipais que criaram
o CIAR e os demais loteamentos entre o quadro urbano central da
Araucária e a CIC de Curitiba. De outro, a expansão de áreas
urbanas
na
Região
Metropolitana
de
Curitiba
revelam
uma
descontinuidade considerável entre as áreas ocupadas em 1953 e
1976. A década de 70 foi o marco definitivo da expansão urbana
no que tange a estruturação concreta da lógica urbana. Esta
evolução é significativa para a nossa análise pois reforça o
pressuposto de que a reestruturação do espaço do núcleo colonial
Tomás
Coelho
esta
articulado
com
os
sucessivos
estágios
de
equilíbrio espaço-organizacionais da metrópole.
A década de 70 marca para o município de Araucária a
expansão urbano-industrial e ,concomitantemente, a fase onde se
intensifica a desarticulação da colônia polonesa.
107
108
Nota-se que a área ocupada em hectares pela malha urbana
feitos e estratégias concretas. Podemos considerar os agentes
de Araucária era em 1963 de 267 ha e em 1976 passou para 1410
ha, no mesmo período Curitiba apresentou um crescimento da malha
urbana de 12192 ha para 22615 ha. O total da ocupação da malha
como sendo os seguintes:
(i)
Os
grandes
proprietários
(ii) os proprietários fundiários;
hectares. (fig. 07, p. 90).
(iii) os promotores imobiliários;
a
evolução
da
ocupação
urbana
da
região
(v) os grupos sociais marginalizados.
pp.
Consideramos
a
políticas
105)
verifica-se
urbanas
o
argumento
governamentais
da
indução
causaram
que
as
vis-à-vis
a
descontinuidade apresentada no processo.
Para
região
apreciar
metropolitana
melhor
de
a
Curitiba
é
da
lógica
necessário
urbana
verificar
na
o
desenvolvimento da estrutura econômica da região. Para tanto,
lançamos mão da análise comparativa de dados fornecidos pelo
LIPIETZ
uma
espacialidade
(1988),
de
CORRÊA
(1993)
consideramos
as
ou
as
de
formas
ação
mais
diferenciada.
avançadas
do
Como
afirma
capitalismo
Os grandes proprietários industriais e das grandes
empresas comerciais são, em razão da dimensão de suas
atividades,
grandes
consumidores
de
espaço.
Necessitam
de
terrenos
amplos
e
baratos
que
satisfaçam requisitos locacionais pertinentes às
atividades de suas empresas - junto ao porto, às vias
férreas ou em locais de ampla acessibilidade à
população
etc.
A
terra
urbana
tem
assim,
em
princípio, um duplo papel: o de suporte físico e o de
expressar
diferencialmente
requisitos
locacionais
específicos às atividades. (p. 13).
seguintes
condições de reestruturação do espaço urbano:
— sendo o espaço urbano fruto fragmentado de uma produção
social onde agentes hegemônicos possuem papel preponderante, ele
hegemônicos,
Segundo CORRÊA (1993):
contrapartida imediata na reestruturação do espaço. Tomando por
estudos
agentes
o processo de valorização do capital.
Partimos do pressuposto que a dinâmica econômica revela
os
os
caracterizam-se por uma separação entre o processo do trabalho e
SEDU e pela COMEC.
base
primeiramente
seja, os grandes proprietários industriais, que em muitos casos
possuem
expansão
os
(iv) o Estado; e
metropolitana da Curitiba de 1955 a 1985 (figs.10, 11, 12 e 13,
102
e
controladores dos meios de produção em geral;
urbana da região metropolitana de Curitiba em 1976 era de 31715
Conforme
industriais
A
articulação
da
ação
dos
grandes
proprietários
também traduz em sua organização a cristalização da complexidade
industriais
de ação e o conflito entre os diversos agentes sociais, portanto
políticas governamentais ditam o compasso da lógica do espaço
os agentes que fazem e refazem este espaço urbano desempenham
urbano capitalista.
e
comerciais,
os
proprietários
fundiários
e
as
faz
a
109
110
Deste modo a expansão do setor secundário e terciário se
Admite-se o fato de que a realidade agrária presente no sistema
nível
financeiro
e
dos
mercados,
mas
também
a
nível
metropolitano comparticipa de uma valorização intensiva do solo,
territorial urbano. Esta realidade justifica a relação entre o
próprio
crescimento
quantidade
do
setor
terciário
e
secundário
e
a
expansão
territorial urbana.
De
fato
valorização
a
diversas
especulação
excessiva
do
imobiliária
espaço
urbano
que
pressiona
conflita
com
do
de
urbano,
trabalho
utilizações
pois,
humano
em
aí
se
aplicado.
localizações
encontra
Assim,
grande
segundo
diferenciadas,
o
as
espaço
a
absoluto é suplantado pelos atributos relativos. A localização
a
de determinada parcela de solo permite uma série de vantagens
necessidade dos setores hegemônicos de expansão territorial. Tal
desde
realidade revela uma articulação entre o Estado capitalista que
vantajosa.
deve garantir a desapropriação de terras e infra-estruturas e os
interesses dos agentes hegemônicos.
baixar
A
os
custos
retenção de
ou
terras
mesmo
explorar
gera em
em
ocasião
contrapartida
a
mais
alta
de
preços, o que possibilita uma ampliação da renda do solo. Aos
Cabe lembrar que os proprietários fundiários possuem um
bem restrito que é a terra,
contexto
condição de existência e que não
proprietários fundiários interessa
potencial de
que o uso do solo seja de um
valorização cada vez maior. Na medida em que o
pode ser reproduzida. A posse privada de determinada parcela do
solo urbano valoriza mais do que o solo rural interessa aos
espaço permite ao seu proprietário extrair uma renda absoluta ou
proprietários
de monopólio (HARVEY, 1980).
transformação do solo em mercadoria se verifica pela razão de
O
proprietário
pode
extrair
lucro
na
exploração
da
propriedade através de uso próprio ou de locação. A propriedade
do solo, segundo MARX no volume 6 de "O Capital" (1991), baseiase no monopólio de determinada classe social.
fundiários
a
expansão
da
malha
urbana.
A
que os proprietários fundiários estão mais interessados no valor
de troca do que no valor de uso.
Neste contexto a capacidade de influência política dos
agentes hegemônicos possibilita pressionar o Estado na criação
A partir dessa premissa consideramos como base estrutural
de infra-estruturas em áreas de valor de uso baixo, como o caso
o valor econômico como determinante do processo de valorização
das áreas rurais, para realocar grandes indústrias e grandes
do
espaço.
condições
O
poder
econômicas
de
uso
do
solo
específicas,
a
depende
revelia
diretamente
de
atacadistas.
da
de
loteadas para uso residencial ou comercial.
vontade
decisão Em toda forma de renda a sua apropriação é a forma
econômica da realidade de posse de determinada parcela do solo.
As
áreas
ocupadas
por
estes
O solo urbano é regulado enquanto
alto e melhor uso futuro (HARVEY, 1980).
anteriormente
são
valor pelo seu mais
111
112
GAFFNEY (apud HARVEY, 1980) considera que muitas decisões
verificou-se um acentuado grau de concentração das atividades
sobre
a
alocação
de
terrenos
são
tomadas
a
partir
da
econômicas na região.
possibilidade de aumentos eminentes no valor do solo, o que
acarreta
uma
progressão
a
nível
de
território
em
áreas
concêntricas.
A participação da região metropolitana de Curitiba
de 16,66% para 32,06% no total do Paraná entre 1975 e 1986 (fig.
14).
A partir do mecanismo de reestruturação do espaço urbano
Neste
meios
de
produção
na
expansão
urbana
e
em
especial
à
No intuito de compreender melhor as nuances do processo
região
atuais
das
metropolitana
atividades
de
Curitiba
econômicas
da
reconhecemos
região.
Para
os
1985.
Os
dados
partem
da
evolução
da
economia
o
setor
secundário
em
sua
padrões
tanto,
nos
utilizamos de indicadores de valor adicionado no período de 1975
à
destaca-se
Figura: 14 - Evolução da participação
relativa no valor adicionado por setor da
economia da Região Metropolitana de Curitiba
sobre o total do Estado do Paraná 1975/1986
(em %)
dinâmica da metropolização.
na
quadro
preponderância em relação a atividade comercial.
apresentado reconhecemos o papel preponderante dos proprietários
dos
passa
70
60
paranaense
50
publicadas
pela
Secretaria
da
Fazenda
do
Estado
do
Paraná
(1988).
40
PRIMÁRIO
INDÚSTRIA
Considera-se valor adicionado no setor secundário e na
COMÉRCIO
30
atividade comercial a diferença entre os valores das operações
financeiras de saída de mercadorias em relação aos de entrada.
TOTAL
20
Inclui-se o consumo intermediário de serviços como transporte,
10
energia e despesas diversas. No setor primário não se deduziu os
Considerando
a participação
da região
85
84
83
82
86
19
19
19
19
19
80
79
78
81
19
19
19
19
76
75
77
19
19
ou seja, apenas se levou em conta a parcela comercializada.
0
19
insumos e a parcela da produção destinada para o auto consumo,
metropolitana de
Curitiba na composição do valor adicionado do estado do Paraná,
Fonte: Secretaria Estadual de Finanças (1975-1978) e Secretaria
Estadual da Fazenda (1979-1986)
113
Dentre
os
setores
da
economia
o
que
mais
114
apresentou
Figura: 16 - Participação dos subsetores na
composição do valor adicionado do Estado do
Paraná 1980
desenvolvimento foi a indústria de transformação (figs. 15, 16 e
17
pp
113
implantação
extrativa,
e
114).
do
por
CIC
A
e
supremacia
do
exemplo,
CIAR
do
setor
justifica-se
principalmente.
representa
uma
A
parcela
pela
indústria
mínima
na
16%
18%
participação do valor adicionado.
2% 0%
Segundo o PLAMEC convém levar em conta que as medidas
Indústria Extrativa
1%
recessivas a nível conjuntural, que se fazem sentir no fim da
Indústria de Transformação
63%
década de 70 junto ao impacto do preço do petróleo e alta de
Outras atividades Industriais
Comércio Varejista
juros
a
nível
capacidade
de
internacional,
investimento
implicaram
do grande
em
uma
capital.
restrição
Esta
à
Comércio Atacadista
Outras Atividades
realidade
alterará substancialmente o comportamento do valor adicionado da
Figura: 17 - Participação dos subsetores na
composição do valor adicionado do Estado do Paraná
em 1985
região.
Figura: 15 - Participação dos subsetores na
composição do valor adicionado do Estado do
Paraná em 1975
20%
Indústria Extrativa
19%
5%0%
24%
18%
Indústria de
Transformação
1%
Outras Atividades
Industriais
51%
Indústria Extrativa
Indústria de Tranformação
61%
Comércio Varegista
1%
0%
Outras Atividades Industriais
Comércio Varejista
Comércio Atacadista
Comécio Atacadista
Outras Atividades
Fonte (figs 15 e 17): Secretaria de Estado da Fazenda (1979Fonte:Secretaria Estadual de Finanças (1975-1978) e Secretaria
Estadual da Fazenda (1979-1986)
1986)
115
Já o setor comercial, embora sofra consideravelmente com
a conjuntura econômica, se comportará com uma sensível evolução
116
Figura: 18 - Participação por setor no total do valor
adicionado de municípios selecionados da Região
Metropolitana de Curitiba e do Estado do Paraná em 1986
do comércio no atacado e varejo, principalmente nos produtos
manufaturados de maior consumo na região.
A nível específico do município de Araucária locus de
nossa
pesquisa
se
reconhece
que
a
participação
da
indústria
local no valor adicionado do total da Região Metropolitana de
100%
90%
80%
Curitiba é significativa só perdendo para o município central de
Curitiba (figs. 18 e 19 pp 115 116).
São José dos Pinhais
Rio Branco do Sul
Piraquara
Curitiba
Colombo
Campo Largo
Bocaiúva do Sul
Araucária
70%
60%
50%
40%
30%
Almirante Tamandaré
20%
10%
0%
Agricultura
Indústria
Comércio
Fonte: Secretaria de Estado da Fazenda (1979-1986)
117
118
Figura: 20 - Evolução do Valor Adicionado
do município de Curitiba entre 1974 e
1986 (Em %)
Figura: 19 - Participação no total do valor
adicionado de municípios selecionados da
Região Metropolitana de Curitiba e do Estado
do Paraná em 1986
90
80
70
100%
60
90%
50
80%
Industrial
10
Agrícola
Colombo
Campo Largo
Bocaiúva do Sul
Araucária
Almirante Tamandaré
0%
Participação no total do
valor do Estado
86
85
19
84
19
83
19
82
19
81
19
80
19
79
19
78
19
19
77
Comercial
76
10%
Participação na RMC
0
74
20%
19
30%
Participação no valor total
da RMC
20
30
19
40%
Piraquara
Curitiba
75
50%
40
19
60%
19
70%
São José dos Pinhais
Rio Branco do Sul
Fonte: Secretaria de Estado da Fazenda (1979-1986)
A indústria é o setor preponderante na economia local,
esta
realidade
industriais
em
está
ligada
detrimento
de
à
expansão
das
áreas
rurais
evolução
do
onde
áreas
se
urbanoinclui
a
colônia de Tomás Coelho.
Nota-se
no
quadro
da
valor
adicionado
do
município de Araucária que é a partir de 1977 que a produção
agrícola
regride
em
seu
valor
adicionado
sensivelmente
e
a
indústria assegura o patamar de crescimento significativo (figs.
20 e 21 p.117).
Fonte (Figs 20 e 21): Secretaria de Estado da Fazenda (19791986)
119
120
da Criméia interrompia o fluxo de cereais procedentes da Rússia
e que agora abastecia o exército russo.
3.3 ESTRUTURA DO ESPAÇO DA COLÔNIA
O segundo impulso migratório está ligado ao renascimento
POLONESA DE TOMÁS COELHO
de epidemias de tifo e cólera que assolaram a região que já
sofria com o problema de fome endêmica.
O processo de migração e colonização eslava no Paraná
Esta
situação
provocará
a
migração
para
a
América
e,
está diretamente ligado à uma conjuntura emigratória da primeira
conseqüentemente, o primeiro contingente de poloneses silesianos
metade do século XIX, principalmente no que tange a emigração
para o sul do Brasil.
alemã. Esta relação aponta para algumas questões importantes na
A presente explicação visa separar a migração polonesa da
explicação do processo migratório e colonizador do Brasil na
migração ucraniana e russa, pois a primeira foi dominante em
segunda metade do século XIX.
termos de representatividade Católica Romana o que diferencia em
A emigração alemã se relaciona com a emigração polonesa
por
razões
realidade
de
teve
ordem
social
e
repercussões
econômica
comum
importantes
no
a
ambas.
Tal
processo
de
colonização do Brasil meridional.
prática
religiosa
eminência
e
Católica
diferenciação
entre
cultural
Ortodoxa
os
o
contingente
Oriental,
impulsos
além
emigratórios,
ucraniano
da
em
de
própria
face
da
conjuntura prussiana do século XIX, abordada anteriormente. Este
O primeiro impulso emigratório, com base na análise de
WACHOWICZ (1981), trata-se de um contingente significativo de
argumento é válido em que pese o fato dos povos mencionados
serem de origem eslava.
poloneses que habitavam territórios ocupados pela Prússia entre
Além dos poloneses silesianos e prussianos muitos vieram
1840 e 1860. A região da Silésia assim como a Polônia Prussiana
da Galícia, no entanto, o que os identifica e une é a prática
revelava
religiosa e o sentimento nacionalista que perdurará nas colônias
na
época
uma
decadência
econômica
associada
a
um
processo de discriminação social que os poloneses sofriam em
estabelecidas no Brasil.
relação aos prussianos. Havia, por parte do governo prussiano,
Trata-se de uma migração permanente onde os laços com o
uma política de descaracterização do nacionalismo polonês e a
país de origem se perpetuam no plano cultural-ideológico e onde
ocupação do outrora solo polonês por populações germânicas. Além
novas relações com um ambiente totalmente novo trazem problemas
destes
sérios
fatos,
as
intempéries
climáticas
prejudicavam
sistematicamente as colheitas nesta parte da Europa e a guerra
nesta
de
assimilação
e
adaptação.
nova
realidade
se
apresenta,
A
adequação
talvez,
do
menos
imigrante
traumática
121
122
quando se dá através do estabelecimento de comunidades com seus
comuns.
Trata-se
de
um
grupo
de
pessoas
com
determinada
articulação cultural e social que se insere numa determinada
No
quadro
da
dinâmica
de
formação
de
colônias
no
espacialidade.
Sob
o
ponto
de
vista
social,
possui
laços
povoamento do Paraná, faz-se necessário levar em consideração
próprios de cunho histórico e cultural que estruturam o espaço
alguns aspectos de ordem teórica no que diz respeito à análise
concreto das colônias. Estas relações revelam a apropriação do
temporo-espacial que nos propomos realizar. A leitura de caráter
espaço estabelecendo os limites de sua territorialidade que se
histórico que desenvolvemos não é mera historiografia mas sim,
confundem com a própria identidade cultural.
uma Geografia das realidades passadas e presentes através da
Ao
se
defrontarem
com
uma
realidade
diferenciada,
os
análise dos lugares e de suas múltiplas relações. Como comenta
colonos apreendem o sentimento de ser diferente em relação à
SILVA (1986) pode-se estudar o passado, o presente e o futuro
sociedade dominante. Assim se inscreve a ruptura, a nível da
lendo a Geografia com o espaço do tempo presente no espaço.
supra-estrutura cultural, que permite a identificação do caráter
A
política
Primeiro
de
Planalto
proporcionou
uma
estabelecimentos
do
Paraná,
estrutura
em
de
colonos
meados
fundiária
de
do
europeus
século
pequenas
e
no
da colonização polonesa.
XIX,
médias
Os
colonos
resguardam
poloneses
seus
articulam
religiosos
de
a
marginalização
do
polonês
Todavia, a produção do espaço do imigrante polonês em Curitiba,
dominante
se
consolidou
revela também a figura do colono "polaco" com suas relações
repercussão na desintegração da colônia polonesa de Tomás Coelho
atávicas com a terra e seu comportamento conservador diante da
na década de 80.
década
de
70,
já
abrangia
outras
localidades.
modernidade ditada pela metrópole.
Consideramos
espaço
o
organizacional
grupo
Tomás
imigrante
característico
que
polonês
e
com
distintivo,
culturalmente diferenciado dos demais grupos.
um
ou
padrão
seja,
Coelho
é
a
se
explica
agricultor
no
diante
início
revelação
do
concreta,
um
do
é esta a única escala de mercado. A produção da batata-inglesa,
contexto,
contra
diante
antipolonês revelado em vários momentos da história do processo
Neste
proteção
nacionais
onde
décadas se consolida no mercado de Curitiba e região. Porém, não
colonização.
e
e
comunidades
processo
da
assimilação
em
propriedades com a produção de gêneros alimentícios. Nas últimas
partir
de
valores
se
o
sentimento
processo
da
século
de
sociedade
e
teve
particular
e
irredutível do grupo de origem polonesa na Região Metropolitana
de
Curitiba.
Diante
desse
problema
se
faz
necessário
na
compreensão do processo a análise da sobreposição do aspecto
cultural ao aspecto espaço-organizacional.
123
124
de
O colono polonês radicado em Curitiba e região preserva
migração vai além da passagem de uma determinada população de
autonomia própria pela sua situação eminentemente camponesa com
uma
relações
De
fato,
localidade
como
assegura
para
outra
MARTINS
mas
sob
(1975),
outro
o
aspecto
processo
implica
na
culturais
extremamente
catolicismo
vinculado
conservador
transição
que
nacionalista. A religião e a ordem sócio cultural são recriadas
indivíduos e grupos vivenciem para poder operacionalizar suas
nas colônias sob uma nova dimensão política. Objetivava garantir
próprias
o pleno sentimento de segurança e identidade cultural do colono
identidades.
determinada
Este
articulação
fato
do
de
caráter cultural
reverte
espaço
também
social
em
coisificado
uma
na
Sob
GOTTDIERNER
(1993)
as
relações
comunitárias
ligadas por parentesco e valores culturais, com certas reservas,
espaço
a
nível
de
uma
categoria
de
ação
sócio-espacial
originada dessas relações.
esta
perspectiva,
partimos
para
uma
leitura
das
estruturas espaciais elaboradas historicamente a fim de melhor
compreendermos um processo de colonização já secular.
podem ser recuperadas para análise em termos de valores de uso
do
sentimento
dentro desta nova realidade permeada de contradições.
organização do espaço.
Segundo
ao
e
engendrado
elementos
um
caráter
transição de uma sociedade para outra. Sob este ponto de vista a
social considera
por
de
A
fim
necessidade
de
de
justificar
um
resgate
esta
análise
diacrônico
da
cabe
ressaltar
realidade
quando
a
se
trata de compreendermos um processo.
Concluí-se que nos deparamos diante de um fenômeno de
O processo migratório no Brasil se realiza em um contexto
ordem sócio-espacial em que os padrões da sociedade de origem e
temporal característico, um período de grandes transformações
a sociedade de adoção são tão gerais que fazem brotar, de um
econômicas e sociais do Brasil.
lado, as possíveis diferenças ou semelhanças entre as sociedades
e de
outro
as
disparidades
internas
em
cada um
dos
padrões
espaço-organizacionais.
de
discriminação
ordem
sofrida
remontam
Revolução
Sob este prisma, a heterogeneidade do Brasil impele à
conflitos
As
social
pelo
e
cultural
polonês
como
distintamente
a
de
própria
origens
uma
da
nova
Francesa
também
as
Europa
com
ruptura
condição
e
diversas
destaque
sua
da
que
base
revoluções
as
estrutura
parece
vinculada
ideológica
liberais
transformações
feudal
em
na
na
a
Europa
própria
libertadora.
várias
Prússia
Assim
partes
como,
da
por
outros
exemplo, a luta entre operários e militares em Berlim em 1848, a
imigrantes, como os alemães, espanhóis e italianos, mais aptos
implantação da economia do Zollverein que favoreceu a formação
ao modo de produção capitalista gestado na metrópole a partir
de um mercado comum alemão e em 1862 a unificação alemã. A
das transformações sofridas neste século.
influência destas transformações repercutiam na áreas polonesas
ocupadas
pela
Prússia
e
no
sentido
amplo
contribuíram
125
126
como
caso trata-se de delimitar secções temporais que, de certo modo,
motivadores das migrações transcontinentais.
dirigem uma determinada variável de significância. Em cada um
Para PETRONE (1982) a realidade européia do século XIX
propiciou , em conseqüência de diversos fatores, uma quebra de
vínculos
de
possibilitou
grupos
a
e
indivíduos
aventura
de
com
migrar
seu
além
solo
mar,
pátrio
o
buscando
dos períodos existem um conjunto articulado de ações que revelam
a evolução dos espaços em questão.
que
Sob
novos
relacionar
horizontes e oportunidades melhores de vida.
As migrações transoceânicas assim como o êxodo rural são
este
os
as
distribuição
espacial
dispersão
disponíveis e melhores condições de vida.
organização
da
a
possibilitam
contingentes
de
imigrantes
marcados
pela
pobreza, falta de trabalho e do acesso à propriedade fundiária.
Todavia,
as
migrações
transoceânicas,
não
são
que
processava.
O
fluxo
migratório
desempenha
um
papel
de
adaptação a uma nova realidade social e econômica dos países de
de
ocupação
grupos
padrões
produção
e
história,
de
do
culturais
de
as
solo
capaz
de
formas
de
brasileiro,
a
característicos,
a
cultura,
as
formas
de
articulação
do
espaço.
A
se
pode
falar
apontar
de
sistemas
caminhos
espaço-temporais
analíticos
que
propriamente
em Curitiba e região compreende dois períodos fundamentais:
i)
O
período
da
lógica
Agrícola
Mercantil,
que
se
desenvolve desde a implantação das colônias em meados do século
XIX até as transformações verificadas no início da década de 70.
origem e de adoção das populações migrantes.
Pela questão anteriormente levantada
própria
é
A evolução espaço-organizacional da colonização polonesa
estão ligadas ao desenvolvimento do capitalismo industrial que
se
de
periodização
geográficos.
apenas
resultado do mecanismo de repulsão e atração de população, mas
de
a
Com base em SANTOS (1985) analogamente à estes argumentos
é
grandes
da
políticas
espacial
sul associado às condições de transporte da época possibilitaram
de
vista,
periodização revela também as diferenças entre os lugares.
Europa e as fronteiras abertas da América tanto no norte como no
vinda
de
elementos
colonização,
motivados por razões próximas, ou seja, a procura de terras
Havia grandes desequilíbrios demográficos e econômicos na
ponto
ii) O período da lógica Industrial, que se estabelece
se faz
necessário
fundamentar a periodização do processo migratório e colonizador
e, dentro deste quadro, destacar a migração polonesa.
após
a
década
de
70
com
a
intensificação
do
processo
de
urbanização e industrialização na região.
Os
dois
períodos
considerados
se
justificam
porque
A nível geral podemos conceber que cada sistema temporal
buscamos um recorte temporal de uma realidade camponesa em face
coincide com determinado período histórico (SANTOS, 1985). Nesse
a metrópole. A colônia de Tomás Coelho em Araucária representa
em
seu
desenvolvimento
mudanças
que
só
se
127
128
tornaram
A mudança legal que permitiu a comercialização de terras
significativas em relação à metrópole na década de 70, ou seja,
consideradas
da apropriação do espaço por parte do colono polonês do século
migratório.
XIX até a década de 70 não houve transformações profundas das
imigrantes, em 1880 mais de 527.000 e em 1890 atingiu-se a casa
relações com a metrópole no que concerne a uma reestruturação do
de 1.200.000 pessoas.
espaço.
devolutas
A
partir
possibilitou
de
1850
um
aquecimento
adentraram
no
do
país
fluxo
117.000
Na segunda metade do século XIX a vinda de imigrantes
A perpetuação da colônia polonesa se deve a um processo
comunitário
cujo
lastro
é
a
tradição,
onde
grandes
mudanças
brancos foi estimulada em detrimento de outras raças; havia a
preocupação
de
desenvolver
um
processo
de
"branqueamento"
do
podem significar a destruição da identidade cultural e o próprio
Brasil. As diferenças e preconceitos manipulados politicamente
auto reconhecimento enquanto comunidade.
estão estreitamente relacionados à expansão do capitalismo na
No caso de Curitiba e região o ponto referencial foi a
época.
construção da Refinaria REPAR no município de Araucária. O poder
O primeiro assentamento de imigrantes poloneses no Paraná
indutor da implantação da refinaria abriu as portas ao capital
se realiza sob este quadro conjuntural. Porém este assentamento
industrial na região que culmina na construção da CIC e o CIAR.
apresenta
Este período avança na década de 80 com a construção da barragem
autonomia das colônias onde foi assegurado a posse da terra
de captação de água do rio Passaúna que marca a desarticulação
assim como a liberdade na produção.
do último foco colonial tradicional polonês na Grande Curitiba.
A
concretude
do
processo
imigratório
brasileiro
No
certas
diferenças,
Primeiro
principalmente,
planalto
paranaense
onde
no
que
tange
localiza-se
a
o
se
planalto de Curitiba, em 1871, se instalam na região de Curitiba
realiza, principalmente a partir de 1840, ligado à expansão das
conhecida como Pilarzinho 78 imigrantes poloneses. Estes eram
fazendas de café em São Paulo e Rio de Janeiro. A mão-de-obra
reimigrantes advindos de Santa Catarina (KERSTEN, 1983).
imigrante foi utilizada em larga escala na economia cafeeira.
Contudo
o
Paraná
demonstrava
uma
economia
até
então
Não
se
significativo
verifica
na
neste
economia
do
primeiro
Paraná
que
momento
se
um
mantém
impacto
até
as
diferenciada dependendo muito mais da extração e beneficiamento
primeiras décadas deste século apoiada na erva-mate e madeira,
da madeira e da erva-mate. Este fato junto ao esgotamento do
produtos estes ligados ao mercado do Rio de Janeiro e da região
trabalho escravo expressa a realidade econômica do século XIX.
do Prata. A economia local era controlada por algumas famílias
129
130
tradicionais do Paraná que enriqueceram muito com a exportação
técnicas agrícolas mais modernas em relação aos nativos além de
da erva-mate (OLIVEIRA, 1982).
dominarem uma estrutura de produção agrícola superior.
As colônias que prosperaram se encontravam próximas às
vias
de
comunicação,
então
sendo
construídas
no
Estado.
Os
O
relação
colono
ao
polonês
agricultor
neste
primeiro
nativo
por
momento
este
se
aspecto,
impõe
em
formando,
acessos à Curitiba, que já era centro de decisões políticas do
inclusive, uma classe de pequenos proprietários de terras que se
Paraná,
perpetuou através de seus descendentes.
faziam
parte
das
políticas
de
ação
do
governo
provincial.
A dinâmica social das colônias se realizava de modo a não
A distribuição dos lotes coloniais de modo disperso e
formar um proletariado rural como em outras partes do Brasil. A
linear exigia uma rede de comunicações mais razoável. O problema
mão-de-obra familiar garantia a estrutura produtiva e a mesma
de
foi preservada até recentemente.
transporte
das
safras
agrícolas
implicou,
inclusive,
a
desistência de muitos imigrantes.
São
os
núcleos
coloniais
A
os
responsáveis
pela
diversificação da produção de gêneros alimentícios e com certeza
As
de
subsistência
e
o
regime
de
pequena
propriedade são as características mais marcantes da colonização
polonesa no Paraná.
constituíam a maior parte da mão-de-obra dedicada à atividade
agrícola.
agricultura
Estima-se que em 1884 existiam 6500 poloneses no Paraná
concentrando-se em Curitiba e região, sendo que 150 famílias
colônias
se
estabeleceram
em
terras
consideradas
pobres no Estado. A passagem destas áreas para novas regiões
junto a expansão demográfica repercutiu em diversos conflitos
com a população nativa.
estabeleceram-se
em
propriedades
particulares
(Tabela.
02
p.
129).
Tomás Coelho destaca-se como a maior Colônia da região de
Curitiba, contudo o tamanho dos lotes era reduzido devido ao
A maioria dos lotes coloniais não passavam de 20 a 30
número de famílias. A região, na época conhecida como Freguesia
hectares no Estado e em Curitiba e região não ultrapassava 08
do Iguaçu e mais tarde emancipada com o nome de município de
hectares. Este fato impulsionou novas alternativas na produção
Araucária, ainda contava com outras três colônias menores: 1) a
de caráter mais intensivo e diversificado.
Colônia
Esperava-se
que
a
estrutura
agrária
do
Paraná
de
Santa
Cristina
com
uma
área
de
434
hectares
fosse
distribuídos em 59 lotes com uma população de 294 colonos; 2) a
alterada pela colonização européia, pois os europeus possuíam
Colônia Costeira (antiga Barão de Taunay) que tratava-se de uma
colônia
mista
de
poloneses
e
italianos
sendo
que
logo
131
prevaleceram
apenas
os
poloneses
com
uma
população
de
132
255
colonos, 51 lotes totalizando 3940 hectares e 3) a Colônia Alice
com 48 colonos, 9 lotes em uma área de 63,9 hectares.
Os
imigrantes
desagregação
significativa
do
poloneses
trabalho
chegam
escravo,
transformação
na
o
ao
que
sociedade
Paraná
com
corresponde
tanto
a
a
a
uma
nível
do
processo produtivo, como também um impacto cultural relevante.
TABELA: 02
O maior contingente de poloneses vieram após a abolição
POPULAÇÃO POLONESA NO PARANÁ POR COLÔNIA EM 1884
Colônia
Habitantes
Nº de lotes
Área por lote (hectares)
Lamenha
800
139
06
Santa Cândida
350
64
09
Santo Inácio
400
70
05
Órleans
350
65
12
Riviera
500
97
15
D. Pedro
120
25
14
Dona Augusta
200
36
05
Tomás Coelho
1400
270
04
Muricy
380
12
06
Insp. Carvalho
190
34
08
Abranches
360
94
05
Zacarias
140
30
13
Pilarzinho
150
30
05
da
habitantes
que
1887
Iguaçu, 1071 moravam em Tomás Coelho.
viviam
no
vale
do
rio
Iguaçu,
próximos de Curitiba.
A
dedicavam
maioria
a
dos
outras
imigrantes
atividades
eram
agricultores,
econômicas.
Segundo
poucos
se
WACHOWICZ
(1981) a política imigratória no Brasil priorizou o aumento da
produção de subsistência, por está razão a opção por camponeses
em vez de trabalhadores urbanos.
O núcleo colonial de Tomás Coelho foi implantado no ano
de 1876, como parte da política de assentamento de imigrantes,
no caso poloneses numa área próxima a Curitiba, Paraná (Tabela
03 p. 132).
A Colônia foi implantada nos vales dos rios Barigüi e
Passaúna, com 180 lotes rurais que foram ampliados para 270
lotes
Brasileiro-Polonesa, 1:125, 1970.
3871
localizando-se
diferentemente dos primeiros grupos que se localizaram bem mais
Fonte: Gazeta Polska, 03, 22/06/1893. Anais da Comunidade
Dos
escravatura,
na
Freguesia
do
rurais. A
área
total
da
antiga
colônia
era de
1665,4
hectares, sendo cada lote de 06 a 07 hectares (Fig. 02 p. 21).
133
134
iii) Nossa Senhora das Dores e
TABELA Nº 03
iv) Barigüi Correio (WACHOWICZ, 1976). (fig. 22 p. 134).
NÚCLEOS COLONIAIS POLONESES NA REGIÃO METROPOLITANA DE
CURITIBA
A
população,
poloneses
Núcleo Colonial
Data da Fundação
Município
Santa Cândida
1875
Curitiba
Orleans
1875
Curitiba
Santo Inácio
1876
Curitiba
D. Augusto
1876
Curitiba
Lamenha
1876
Curitiba
Tomás Coelho
1876
S. José dos Pinhais9
advindos
em
de
1877,
chegava
diversas
a
regiões
1071
habitantes
conforme
Tabela
com
04,
abaixo.
TABELA Nº 04
COMPOSIÇÃO DA POPULAÇÃO DE TOMÁS COELHO EM 1877 SEGUNDO
ORIGEM ÉTNICO-CULTURAL.
Fonte: Wachowicz (1976)
Dentre
polonesa,
as
características
destacamos
o
fato
de
locacionais
que
o
da
loteamento
Nacionalidade
Número de Habitantes
Poloneses Galicianos
883
Poloneses Silesianos
178
Poloneses Prussianos
10
Total
1071
colônia
teve
uma
Fonte: Wachowicz (1976)
distribuição espacial que veio a dificultar o estabelecimento de
um
único
um
Sob o ponto de vista da produção agrícola destacavam-se
obstáculo no intercâmbio social da comunidade. A distribuição
as culturas agrícolas do centeio a princípio, além do milho,
dos lotes manteve uma disposição linear. Em conseqüência, neste
feijão e da batata inglesa.
primeiro
centro.
período
Posteriormente
verificamos
a
esta
realidade
existência
de
seria
quatro
centros
principais:
Não
podemos
afirmar,
no
entanto,
que
a
produção
dos
núcleos coloniais poloneses acarretou uma acumulação de capital
i) Capela Velha;
que poderia posteriormente financiar um processo de modernização
ii) São Miguel;
agrícola
9 A Antiga Freguesia do Iguaçu foi em 11/02/1889, por decreto estadual de nº
40, emancipada como município denominado Araucária, sendo Tomás Coelho
incorporado ao mesmo. Fonte: WACHOWICZ, R. C. (1976) p. 10.
ou
mesmo
industrial,
colonização alemã e italiana.
característica
peculiar
da
135
136
FIGURA: 22
Notamos que a evolução da produção do espaço, na colônia
ARAUCÁRIA - NÚCLEOS DISTRITAIS
polonesa, o centeio perde a importância para outros produtos. Já
a partir da década de 20 não estará entre os principais cultivos
da
região.
mercado
e
O
centeio
será
quase
apresentará
que
dificuldade
abandonado
pelos
de
entrada
colonos
no
conforme
Tabela 05 que segue.
TABELA Nº 05
PRODUÇÃO DOS 792 ESTABELECIMENTOS AGRÍCOLAS DO MUNICÍPIO
DE ARAUCÁRIA EM 1920
Produto
Milho
Feijão
Batata
Trigo
Arroz
Nº de estab.
783
688
582
76
01
Prod./tonel.
6727
785,2
2120
71,3
02,9
Fonte: Censo Agropecuário de 1920 IBGE
Na década de 40, segundo CRAVO (1982), o incremento da
produção através da Cooperativa Agrícola de Cotia levou a batata
inglesa à maior produção do município de Araucária. A partir
desta mudança, constatamos que os condicionantes do mercado que
proporcionaram
apontam
para
o
a
deslocamento
preocupação
das
que
oferecidas pelo sistema econômico.
prioridades
havia
quanto
às
de
produção
alternativas
137
138
Todavia, as características da conformação espacial e as
relações
de
produção
não
demonstravam
transformações
Figura: 23 - Porcentagem de
estabelecimentos rurais do município de
Araucária sobre o total geral entre 1940 a
1975 por categoria em hectares
que
pudessem por em risco a existência do núcleo colonial.
As
modificações
criadas
pela
alteração
e
adaptação
ao
70
mercado não comprometiam de modo algum a manutenção do modo de
60
vida tradicional e os arcaísmos da produção agrícola encontradas
50
entre os imigrantes poloneses.
40
Tomando
por
base
os
censos
agropecuários
de
1940
até
%
30
1975, observamos a reprodução do sistema fundiário de pequenas e
20 a 50 ha
10
relações
capitalistas
de
produção
presentes
50 a 100 ha
100 a 1000 ha
comercial ora decadente (figs. 23, 24 e 25 pp. 137 e 138).
As
até 20 ha
20
médias propriedades e das relações próprias de um capitalismo
0
1940
na
1950
1960
1970
1975
dinâmica do núcleo colonial demonstram apenas modificações de
cunho
superficial,
ou
seja,
alterna-se
produtos
Figura: 24 - Porcentagem da área dos
estabelecimentos rurais do município de
Araucária sobre o total geral entre 1940 a
1975 por categoria em hectares
agrícolas
cultivados por motivo de várias adaptações ao mercado, mas não
se
modifica
a
essência
da
relação de
produção
que
mantém
a
50
reprodução da práxis social dos agentes de produção e do produto
45
final.
40
35
Os estabelecimentos agrícolas mantiveram o padrão de área
30
sem grandes mudanças, excetuando-se a fragmentação dos lotes em
conseqüência de heranças.
%
25
20
15
Mesmo que a partir de 1975 se note um decréscimo sensível
da área destinada à produção agrícola, verifica-se que o colono
até 20 ha
20 a 50 ha
50 a 100 ha
100 a 1000 ha
10
5
0
polonês continua mantendo as relações socioeconômicas e práxis
1940
1950
1960
social tradicionais.
Fonte (Figs 24 e 25): IBGE
1970
1975
139
140
Esta diferenciação é observável pelas formas e técnicas
agrícolas aplicadas próprias à produção familiar em relação ao
Figura: 25 - Comparação entre o número de
estabelecimentos rurais e a área ocupada no
município de Araucária entre 1940 e 1975
posterior
impacto
da
produção
industrial
no
município
de
Araucária.
No início da produção agrícola polonesa na região havia
45000
2500
um padrão técnico superior à configuração arcaica da produção
40000
2000
nativa. A partir do desenvolvimento do Capitalismo Industrial no
35000
30000
1500
25000
Nº
Paraná a produção colonial polonesa passa a ser o impedimento à
ha
tendência
20000
1000
15000
10000
500
5000
0
0
Número de
Estabelecimentos
Rurais
de
homogeneização
do
Capitalismo
Industrial
Monopolista que se expande territorialmente.
A contrapartida, em termos de transformações no processo
Total de Área ocupada
em hectares
produtivo, realizada pelos poloneses se baseava inicialmente na
1940 1950 1960 1970 1975
introdução por parte dos colonos de métodos e técnicas agrícolas
avançadas em comparação à realidade brasileira da época, meios
Fonte: IBGE
de circulação diferenciados, técnicas de construção de casas,
O camponês polonês dominava uma técnica agrícola superior
além da forma de aproveitamento do solo.
O objetivo da política de colonização européia da época
em relação ao luso-brasileiro. Contudo, este padrão trazido da
Polônia em comparação ao da Europa Ocidental já era considerado
era
arcaico ( WACHOWICZ, 1981).
compensando
O
domínio
de
técnicas
diferenciadas
unidas
às
características culturais produziam uma ruptura na configuração
a
transformação
o
atraso
da
e
estrutura
a
pouca
agrícola
produtividade
paranaense,
do
trabalho
agrícola nativo (WACHOWICZ, 1981).
Na
realidade,
com
a
própria
estabelecimento
estrutura
das
fundiária
pequenas
e
foi
espacial anterior. A produção do espaço nestes moldes representa
transformada
médias
uma descontinuidade em relação à produção nativa.
propriedades que se contrapunham aos latifúndios dos fazendeiros
Parece-nos que a diferenciação da produção do espaço de
de gado da região. Outra característica interessante está no
Tomás Coelho manterá esta peculiaridade até meados da década de
fato dos poloneses cercarem suas terras, prática desconhecida
70.
entre
os
fazendeiros
nativos
e
que
propiciaram
141
142
diversos
dispunha ocupados por proprietários de terras particulares que
conflitos locais.
se
As terras que foram cedidas para os colonos se juntaram a
um processo de compra de propriedades que se evidenciou nas
dedicavam
ou
à
agricultura
ou
pecuária.
Dos
19.989.700
hectares, 5.302.709 estavam ocupados por 30.951 propriedades,
Tabela 06.que segue.
novas gerações. A opção dos descendentes dos primeiros colonos
Através do Governo
(colonização
oficial), os poloneses
foi de se interiorizar em direção a oeste e não em direção à
receberam 6.434 lotes com extensão média de 20 ha representando
capital.
assim
O urbano não foi opção para os colonos; muitas terras
foram adquiridas dos nativos e assim povoaram praticamente todo
128.680
ha.
Some-se
deste
processo
podemos
citar
as
localidades
de
Redondo,
Miguel,
etc..
Ipiranga,
Além
Campina
destas,
das
Pedras,
do
município
fora
Rio
de
Verde,
aos
lotes
adquiridos
área média de 60 ha, correspondendo à área total de 460.020 ha.
TABELA: 06
Roça
PROPRIEDADES AGRÍCOLAS NO PARANÁ POR CATEGORIA EM
HECTARES NO ANO DE 1920.
Velha, Roça Nova, Costeira, Palmital, Rio Abaixo, Boa Vista,
Campo
lotes
posteriormente, até 1920, o que perfaz 7.667 propriedades com
o município de Araucária na Região Metropolitana de Curitiba. A
exemplo
estes
São
Araucária,
Propriedade
em Nº
de %
de Superfície em %
ocuparam parte do município de Campo Largo, estendendo-se à Lapa
ha
Propriedades
Propriedades
ha
Superfície
em Serrinha e Catanduva que hoje formam o município de Contenda
menos de 40
17.284
56
350.000
7
(Fig. 01 p. 02).
40 a 100
7.276
24
500.000
8
100 a 1000
5.677
18
1.600.000
30
Largo atingiram terras do município de Palmeira na localidade de
1000 a 25000
714
2
2.850.000
55
Papagaios
Total
30.951
100
5.300.000
100
Os colonos de Tomás Coelho, além de penetrarem em Campo
famílias
Novos
foram
e
São
para
Pedro,
Irati.
principalmente.
Assim,
Tomás
Também
Coelho,
em
algumas
45
anos
Fonte: GLUCHOWSKI (1927) apud WACHOWICZ (1981).
chegou a ocupar dez vezes mais terras do que a Colônia original.
Praticamente os colonos poloneses povoaram todo o vale
O diagnóstico de GLUCHOWSKI (apud WACHOWICZ, 1981) é de
o
Paraná
apresentava,
em
1920
,
27%
os
poloneses
e
seus
descendentes
tínhamos
um
total de 14.101 propriedades ou seja 588.700 ha. Considerando as
médio do rio Iguaçu junto com os ucranianos.
que
Contando
das
terras
de
que
143
144
duas primeiras categorias da Tabela 06 podemos inferir que os
colonos
poloneses
e
seus
descendentes
possuíam
57,5
%
das
propriedades até 100 ha disponíveis no Paraná.
das
terras
estavam
nas
mão
dos
poloneses
e
seus
descendentes.
Já
as
comércio
a
influência
polonesa
praticamente
não
existe; no modo de ver do colono as atividades comerciais eram
Considerando a terceira categoria , ou seja até 1000 ha
12,3%
No
inferiores e provavelmente a origem desta visão está ligada a
vários estereótipos medievais que estavam presentes na cultura
e, conseqüentemente, na formação do colono. (WACHOWICZ, 1981).
terras
acima
de
1000
ha
correspondem
aos
No
entanto,
pouco
a
pouco
nas
Colônias
o
comércio
latifúndios, onde encontramos casos isolados de descendentes de
varejista começa a ficar nas mãos dos poloneses, sendo este
colonos como proprietários.
pouco especializado e restrito às colônias.
O que podemos constatar a partir dos dados deste período
é
que
a
estrutura
fundiária,
baseada
na
pequena
e
A partir da década de 40 a produção agrícola por parte
média
dos poloneses de Curitiba e região direciona-se principalmente
propriedade, está diretamente ligada a colonização polonesa no
na produção da batata-inglesa. Os colonos passam destacadamente
Paraná.
a produzir batata-inglesa objetivando o mercado. A inserção do
Entre os anos 20 e 30 podemos caracterizar a produção
polonesa sob dois aspectos:
camponês no mercado estabelece um redimensionamento no processo
produtivo e nas próprias relações sociais das Colônias.
(i) A atividade agrícola continua sendo prioritária e é
Segundo MARTINS (1939) a economia do Paraná era quase
responsável pela subsistência do colono assim como sua renda,
exclusivamente baseada na produção agrícola e esta realidade só
sendo a criação de animais muito reduzida.
vai mudar nos anos 70 com o processo de industrialização.
(ii) Nas profissões consideradas artesanais, o trabalho
dos
poloneses
merece
certo
destaque
pois
era
apreciado
por
fazendeiros e colonos de outras nacionalidades.
No município de Araucária, de colonização eminentemente
polonesa, destaca-se o fato de que 93,9% das propriedades serem
individuais
Em relação a profissões de caráter artesanal e urbano os
e
89,7%
eram
explorados
pelo
proprietário
diretamente
poloneses que se dedicavam a serviços de sapataria, construção e
Tomando por base o censo agropecuário de 1940 verificamos
carpintaria de modo geral embora requisitados, logo perderam a
que
importância
ultrapassam 50 hectares, o que reafirma uma estrutura fundiária
devido
a
concorrência
com
nacionalidades e muitos se proletarizaram.
imigrantes
de
outras
77,7
%
dos
estabelecimentos
rurais
baseada na pequena e média propriedades.
do
município
não
145
146
Quando observamos os censos agropecuários entre 1940 e
entre 1980 e 1991 de 0,90% no Paraná enquanto o país crescia a
1975 a variação nesta estrutura é pouco significativa. Há um
uma taxa de 1,89%.
pequeno aumento no número de estabelecimentos até 20 hectares e
um decréscimo na área ocupada.
A realidade agrícola tradicional da colônia polonesa se
perpetuou desde a sua fundação, porém sofreu algumas mudanças no
Na década de 80 observamos um radical decréscimo de áreas
rurais e o avanço das áreas industriais e urbanas.
que tange a inserção do colono polonês na economia de mercado
que
A instalação da REPAR e a demarcação do Centro Industrial
de Araucária marca transformações brutais na Grande Curitiba.
se
desenvolvia
no
Brasil
nos
anos
50.
O
processo
de
industrialização tardio que se desenvolveu no Brasil, repercutiu
sensivelmente na Grande Curitiba. Já nos anos 70 os limites da
Segundo GERMER (1982) houve uma acentuada concentração de
capital alcançaram a colônia polonesa. Neste período o município
terras no Paraná a partir da década de 80. Essa concentração
de Araucária começa a industrializar-se. O capital industrial de
está relacionada à expulsão do campo de pequenos proprietários,
caráter
arrendatários, parceiros e ocupantes. A Região Metropolitana de
lógica reinante, culminado com a progressiva desarticulação de
Curitiba se afigura como centro industrial do Estado.
espaços tradicionais.
Sob
este
aspecto,
o
processo
de
urbanização
e
monopolista
O
colono
referenda
polonês
e
uma
seus
transformação
descendentes
profunda
da
apresentaram-se
industrialização desencadeia uma progressão da valorização do
conservadores e apegados às formas tradicionais que herdaram de
solo, induzindo a venda deste por parte dos colonos.
sua origem na Europa Central.
Todavia
é
na
região
da
monocultura
da
soja
que
a
WACHOWICZ (1981) afirma que nos anos 70, ficou clara a
concentração de terras se acentua de forma radical. Associado a
superação
na
concorrência
esta nova estrutura fundiária estão as mudanças de ordem técnica
imigrantes
na agricultura como a mecanização. A conseqüência direta desta
características
da
nova realidade foi o Estado do Paraná apresentar uma das menores
agricultura
subsistência
taxas de crescimento populacional do Brasil. Com uma emigração
agrícolas
apresentaram
de
que
em
os
relação
produção
das
e
no
luso-brasileiros
ao
colono
colônias,
comércio
e
outros
polonês.
baseadas
de
As
na
excedentes
demonstrou-se decadente.
de 911.544 habitantes ,com uma taxa de crescimento demográfico
O surgimento do Brasil moderno industrial e urbano rompe
entre 1970 e 1980 de 0,97% no Estado enquanto a população do
com a realidade camponesa do polonês de Tomás Coelho. Tornou-se
país
patente
crescia
tendência
se
a
uma
repete
taxa
com
de
uma
2,48%.
taxa
de
Na
última
crescimento
década
esta
demográfico
quão
conservadora
era
a
mentalidade
dos
colonos
147
poloneses
que
passaram
a
ser
superados
pela
concorrência
148
de
luso-brasileiros, alemães e italianos.
A industrialização que se estrutura na região de Curitiba
Segundo WACHOWICZ (1981):
marca assim uma nova fase na ocupação do espaço, transformando
radicalmente a composição urbano/rural da RMC.
O camponês foi localizado no Brasil em terras
devolutas, ou nas terras vendidas pelos grandes
proprietários
luso-brasileiros.
Seu
regime
de
propriedade é o homestead, como o denominam os norteamericanos. A classe dos pequenos proprietários
sobrevive, propiciando na região o surgimento de uma
numerosa
classe
média
agrícola,
composta
fundamentalmente pelos descendentes de poloneses que
repelem o latifúndio. Nas regiões de colonização
polonesa é o latifúndio que se extingue e o homestead
sai
vitorioso.
Entretanto,
esta
classe
média
agrícola,
quando
posteriormente
muitos
de
seus
membros abandonam o campo e dirigem-se `a cidade,
proletariza-se de preferência, e tem dificuldades em
desvincular-se de seus padrões de comportamento
arcaico,
não
compatível
com
a
vida
urbana
desenvolvida. O polonês ou seu descendente, já
estabelecido na cidade e fazendo parte das classes
médias
ou
superiores,
vai
envergonhar-se
do
comportamento de seus patrícios proletários. O fato
de
dedicarem-se
os
imigrantes
poloneses
predominantemente à agricultura de subsistência,
atividade esta considerada não essencial e mesmo algo
depreciativa desde os tempos coloniais, vai também
levar os elementos de origem polonesa emergentes na
sociedade brasileira, a manifestarem reticências
quanto à origem polonesa, o que equivalia a admitir a
procedência das mais baixas camadas sociais. ( p.
13).
Neste
Metrópole
se
reproduz
na
ideologia
do
progresso,
base
REPAR
no
município
de
Araucária
marco
da
de
município
Curitiba,
de
Araucária,
sofreu
o
parte
impacto
da
da
nova
nesta nova fase recria o camponês polonês sob outra orientação
no
seu
início
agrícola
e
local,
logo
após
altera
principalmente
drasticamente
pela
a
expansão
realidade
urbana
e
a
instalação de diversas indústrias. Em poucos anos verificamos
"ilhas agrícolas" cercadas pelo crescimento urbano-industrial da
metrópole, tanto no município de Curitiba como no de Araucária.
Sob
expansão
esta
do
base
capital
de
argumentação
monopolista
na
podemos
região
dizer
vai
que
a
explorar
o
camponês, alterando o espaço agrícola com loteamentos e áreas
reservadas a produção industrial. A personagem do camponês na
medida que desenvolve sua atividade produtiva, altera-se sob o
do
discurso estatal da década de 70 que justificará a instalação da
Refinaria
Regional
o
realidade que se apresentava no país. A expansão capitalista
A marginalização que a agricultura de subsistência irá
apresentar
contexto,
capital, ou seja, há uma transformação em termos qualitativos na
produção do espaço do núcleo colonial, influenciado diretamente
pelo sistema.
A
passagem
propriedade
privada
da
terra
determina
esta
relação
definitiva para o período industrial e de expansão urbana na
social: o camponês não é um proprietário rural apenas pelo fato
região.
de
ser
dono
da
terra.
Para
sê-lo
necessita
apropriar-se
da
produção econômica da terra. Como ele não se apropria desta
produção, passa a ser proprietário decorativo, subordinado ao
real
proprietário
dos
meios
de
produção,
às
149
150
instituições
A cumplicidade do estado com o capital monopolista é uma
governamentais e as empresas que estas instituições patrocinam.
Podemos
agricultura
ao
econômica
do
O CIAR foi criado sob este contexto, ou seja, através de
capital, só distinto da indústria como setores diferentes na
diretrizes municipais a fim de oferecer base de infra-estrutura
articulação do sistema. Compreendendo esta relação fundamentamos
à lógica capitalista industrial.
sistema
considerar
capitalista
que
a
vinculação
transforma-a
numa
da
realidade que não podemos desprezar no que se refere também ao
vertente
município de Araucária.
a idéia de que a expropriação do camponês não é, na verdade, uma
realidade
social
representante
produção
intocada,
eminente
alterado pela
a
assediada
indústria,
gênese
do
pela
mas
modernidade
sim,
um
próprio sistema
e
espaço
Lançando mão da infra-estrutura viária já instalada foi
seu
escolhida a área de Tomás Coelho e Barigüi. O CIAR surge após o
de
estabelecimento da refinaria REPAR, ponto chave, indutor desta
capitalista
nova lógica organizacional.
brasileiro.
De
acordo
com
a
Prefeitura
Municipal
de
Araucária10
a
No diagnóstico das transformações espaciais decorrentes
REPAR impulsionou o que denominou de "progresso municipal" ou,
da estruturação de uma nova ordem organizacional verificamos que
em outras palavras, ponto atrativo para a injeção de capital
a
industrial.
análise
está
no
âmbito
das
redes
de
relações
que
se
cristalizam no espaço.
Para ESTRADA (1986):
Ora, a tentativa de analisar esses processos pelo
âmbito das redes de relações que se estruturam no
espaço ou com ele revela que o espaço sofre uma ação
deformadora, destruidora e desorganizadora quando
considerado sob a ótica das características até então
existentes. As formas de ocupação do espaço vão sendo
afetadas como resultado das novas modalidades de
produção econômica que aí se desenvolvem. Isso produz
uma aparente desorganização do espaço. Aparente
porque o que está em curso é uma mudança que exige a
visão do problema por uma nova ótica, imposta pelo
avanço do capital industrial monopolista nessas
áreas. Aí também, o Estado é compelido a agir através
de seus técnicos e planejadores para produzir as
condições necessárias à manutenção da harmonia social
e instauração de uma nova ordem. Essa busca de uma
outra ordem guia a ação do planejador e o leva a
analisar a realidade objetiva como desordem. (p. 71)
A REPAR foi o impulso importante no desenvolvimento do
modo de produção do sistema hegemônico que traz em seu bojo a
modernidade como processo.
O espaço resulta da incorporação do processo de ocupação
que o transforma segundo as necessidades do sistema hegemônico
(ESTRADA, 1986).
Consideramos uma redução justificar a instalação da REPAR
baseando-se na alegação de que a maior facilidade e o menor
10
Uma série de informações sobre a ação da Prefeitura Municipal de Araucária
foi publicada em um caderno especial no Jornal da Indústria e Comércio do
Paraná em 15/07/78 no momento do “boom” industrial da região. Este artigo foi
intitulado "Araucária: Em cinco anos, da batata à chaminé" uma alusão
interessante às radicais transformações do município — de grande produtor
agrícola de batata inglesa para a atual realidade industrial.
151
152
custo de transporte do petróleo e seus derivados são fatores
industrial
determinantes.
Relações Públicas da REPAR justifica a opção de mão-de-obra,
O discurso político ligado a ideologia do progresso dos
sem
precedentes
no
município.
O
Departamento
de
energia elétrica e água; extensão e configuração adequadas ao
anos 70 tornou o argumento anterior aceito por muitos, ou seja,
conjunto
as
satisfatórios para a recepção do óleo cru e a distribuição de
infra-estruturas
presentes
no
município
de
Araucária
industrial
sua
amplidão,
seus
recriação
esgotamento dos resíduos industriais.
o
próprio
sistema
realiza
para
justificar
sua
expansão espacial.
Os
preço
à
viabilizariam a presença da refinaria. Trata-se, no caso, da
que
derivados,
e
conveniente
do
assim
terreno
e
como
meios
condições
de
As vias de comunicação correspondem a extratos do capital
estados do Paraná
e
Santa
Catarina eram,
antes da
REPAR, abastecidos de petróleo por um sistema misto, utilizando-
concretizados e relacionados à dinâmica dominante onde o lucro
constitui o critério principal.
se de parte da produção das refinarias Alberto Pasqualini (RS),
Presidente Bernardes e Paulínia (SP), e Duque de Caxias (RJ).
Como analisa GALBRAITH (apud MANZAGOL 1985):
A REPAR foi construída entre 1973 e 1976 e desde sua
implantação
está
"progresso",
industrial
em
assim
pleno
como
na região.
funcionamento.
a
hegemonia
Todavia,
este
Trouxe
definitiva
o
O
primeiro
traço
do
sistema
dominante
é
uma
capacidade crescente de adaptar-se; de modelar o
meio. Ele é dotado de uma estrutura coerente de um
alto grau de organização e de grande aptidão para
captar
e
tratar
a
informação.
Isto
implica
restrições:
funciona
melhor
onde
o
meio
é
sofisticado. Sua capacidade criativa é notável: novos
métodos e produtos, inovações de toda ordem.(p. 153).
chamado
da
lógica
processo carrega
consigo
diversas seqüelas ambientais e sociais.
As
características
do
parque
industrial
de
Araucária,
concreta
da
lógica
A situação referenda o que LIPIETZ (1988) diagnosticou
além
da
refinaria,
são
a
expressão
do
sobre a evolução do sistema capitalista que, na articulação dos
sistema. De certo modo o CIAR é uma extensão da CIC pois ambos
modos de produção, tende a substituir um bloco tradicional por
localizam-se em áreas contíguas. O CIAR foi criado a partir da
um bloco modernista. A refinaria e seu poder indutor representam
ação
esse
bloco
dito
moderno,
pois
carregam
consigo
a
Estado
organizacional
industrial
representante
da
governamental
através
das
secretarias
responsáveis
do
lógica
modernidade
e
dos
órgãos
de
controle
e
empresas
estatais
como
o
sob
IPARDES, COMEC, SUREHMA, TELEPAR, COPEL, SANEPAR, BADEP e vários
diversas formas.
agentes financeiros de capital privado. Segundo reportagem de
Utilizando-se
as
novas
vias
concretas
do
capital
e
GREIN NETO (1988) o CIAR é composto da seguinte forma:
incentivos
governamentais
estruturou-se
um
adensamento
153
No Ciar l, estão em atividade 55 empresas, em fase de
terraplenagem
ou
em
construção
outras
18,
em
elaboração
de
projeto
04
e
paralisadas
06,
proporcionando um total de 83 indústrias, 5.839
empregos. No CIAR 2, estão em atividade 2 empresas,
gerando 212 empregos. No CIAR 3, são
sete
indústrias em atividade uma em fase de terraplenagem,
duas em elaboração de projeto - e o número de
empregados é de 465. Na área urbana, existem em
atividade 38 empresas e duas estão paralisadas
gerando 566 empregos. Na área rural existem 9
empresas, uma em fase de construção e uma paralisada,
sendo o total de empregos 127. Em números gerais são
11 empresas em atividade, 20 em fase de terraplenagem
ou em construção, 6 em elaboração de projeto e 9
paralisadas. O total de 146 empresas gera 7.209
empregos. (Estado do Paraná 11/12/88)
154
CIAR 3. A terceira porção, ou o CIAR 3, abrange 11 milhões e 700
mil metros quadrados localizando-se acima do rio Passaúna, até a
região conhecida como Guajuvira. Na totalidade o CIAR ocupa uma
área de 4.614 hectares, da qual a maior parte possuía, ainda que
potencialmente, uma produtividade agrícola satisfatória.
Em Araucária, os processos de industrialização (via da
modernidade)
conjunto
de
empresas
possuem
um
processo
de
ocupação
urbana
intensiva, que visa suprir a crescente demanda de moradia para a
população
Este
viabilizam
atraída
pela
realidade
industrial.
Este
processo
atividades
decorre,
principalmente,
da
ação
do Estado
responsável
pelos
diversificadas desde o refino e distribuição dos derivados de
destinos da ocupação diferenciada do solo em detrimento de um
petróleo, até artefatos de cerâmica e concreto para construção,
contexto agrícola tradicional.
artefatos
metálicos,
equipamentos
industriais,
perfumes
e
O Estado como responsável pela tomada de decisões a nível
cosméticos,
produtos
para
cozinha,
ferramentas
de
precisão,
de domínio territorial evidencia ações políticas de determinadas
carcaça
para
componentes
eletrônicos,
máquinas
para
classes sociais que nele se inserem. Tal fato visa a reprodução
recauchutagem de pneus, siderurgia, artigos de camping, material
das relações de produção dominantes (BARRIOS, 1986).
avícola e apícola, motores elétricos, compensados de madeira e
A urbanização de Araucária e a colônia de Tomás Coelho
derivados,
indústrias
químicas,
manutenção
industrial
e
são extensões do processo de metropolização da Grande Curitiba.
automotiva,
embalagens
plásticas,
tecidos
de
polietileno,
Seria difícil isolar para análise a questão da metrópole, pois a
artefatos esportivos, indústrias de alimentos, malhas, calçados,
dinâmica
das
periferias
e
da
formação
socioeconômica
estão
carvão, alumínio e produtos para escritórios.
intimamente ligadas ao macro contexto regional e nacional.
A ocupação do solo do Centro Industrial de Araucária foi
A
urbanização
da
região
se
apresenta
como
síntese
da
dividido em três porções. A primeira porção chamada de CIAR l,
superposição
de
uma
lógica
industrial
à
uma
lógica
agrícola
perfaz 22 milhões e 437 mil metros quadrados de área incrustado
camponesa. A taxa de crescimento da população urbana da RMC em
quase integralmente ao espaço pretérito da colônia polonesa. O
comparação ao Paraná e ao resto do Brasil nas últimas décadas
CIAR 2, a segunda porção, ocupa 31 milhões de metros quadrados
demonstram esta condicionante ( fig. 26 p. 154).
localizados próximo à estrada da adutora, entre o CIAR 1 e o
155
A RMC apresentou uma taxa de crescimento anual superior a
escala do estado do Paraná da Região Sul e a média do Brasil. A
expansão populacional denota que a expansão de ocupação de áreas
periféricas é um fato bastante significativo.
156
principalmente
entre
as
décadas
de
70
e
80
e
continuou
a
desenvolver-se na década de 90 (fig. 27).
A região não está condicionada apenas por deslocamentos
internos, mas, sobremaneira, pela quantidade de investimentos
A estruturação e reestruturação do espaço nas sociedades
financeiros concretizados através do CIAR e do CIC.
capitalistas nos demonstram que tanto a realidade rural como a
A especulação imobiliária e a diminuição da qualidade de
urbana e seus antagonismos, são criados e recriados pelo próprio
vida da população foi incentivada por este contexto. A COMEC
sistema capitalista. Não houve uma passagem da produção agrícola
admite em seu Plano Diretor um surto de crescimento urbano na
tradicional
região da Grande Curitiba e destaca Araucária devido ao efeito
para
a
concentração
fundiária
e
a
produção
comercial.
indutor da REPAR.
Figura: 26 - Comparação das Taxas de
Crescimento Anual da População entre a
RMC, Paraná, Região Sul, Brasil nas duas
últimas décadas
Figura: 27 - Evolução da População
Urbana do município de Araucária entre
1940 a 1991 (em nº de habitantes)
60000
100%
50000
80%
40000
60%
40%
Brasil
Região Sul
Paraná
30000
20%
RMC
20000
0%
1970-80
10000
1980-91
0
Fonte: IBGE
1940
O
ampliação
crescimento
do
da
população
perímetro
urbano
urbana
do
de
Araucária
município
e
a
ocorreu
Fonte: IBGE
1950
1960
1970
1980
1991
157
158
CAPÍTULO 04
As
são
contradições expressas pelo processo
marcantes.
O
território
em
questão
de urbanização
adquire
novas
formas
CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE PESQUISA E AMOSTRAGEM
espaciais resultante de um complexo de fatores dentro e fora do
próprio
sistema.
As
formas
espaciais
suplantadas
e
as
novas
Dentro do quadro das transformações espaciais da Colônia
formas
que
se
cristalizam
são
evidentes
na
paisagem.
Esta
de Tomás Coelho devemos ressaltar que a área original instituída
síntese do concreto dinamiza-se através do desenvolvimento de
em 1876 de 16654 Km², que se estendia ao longo da Estrada de
padrões de modernidade.
Ferro Paraná
até a Serra de S. Luís no município de Campo
A incidência do processo de modernização é um reflexo de
Largo, foi sensivelmente modificada pela própria expansão urbana
fenômenos exógenos ao sistema local. Provoca em muitos casos,
que Curitiba sofreu ao longo deste período até a atualidade.
uma urbanização não vinculada
ao processo de industrialização
Nossa pesquisa considera o centro de São Miguel de Tomás
local. O processo de modernização é seletivo no que se refere à
Coelho
como
o
mais
característico,
principalmente
por
ter
sociedade, ou seja não ocorre em todas as camadas sociais, ele
sofrido, em meados da década de 80, o impacto da construção da
se processa diferencialmente. As classes dominadas assimilam os
barragem de captação
de água do rio Passaúna (fig. 28 p. 158).
diversos padrões de modernidade de modo incompleto. O processo
Segundo relatório de impacto ambiental desenvolvido pela
de
modernização
é
dinâmico
e
realiza-se
no
plano
econômico
Superintendência de Recursos Hídricos e Meio Ambiente (SUREHMA)
através da história.
em julho de 1990, o uso e ocupação da bacia do rio Passaúna
insere-se no processo de desenvolvimento da região metropolitana
de Curitiba, onde áreas rurais propriamente ditas cedem espaço à
expansão urbano-industrial a partir dos anos 70.
Desde o começo de sua ocupação a área correspondente a
bacia
do
rio
Passaúna
caracteriza-se
pela
predominância
da
atividade agrícola. Porém o próprio zoneamento dos municípios
causará mudanças a este aspecto.
159
FIGURA: 28
160
A bacia do Passaúna, onde se localiza São Miguel, situa-se à
montante da represa na fronteira do município de Curitiba com o
NÚCLEOS CENTRAIS DE TOMÁS COELHO E BARRAGEM
município
de
Almirante
Tamandaré
e
caracteriza-se
por
uma
ocupação de alternância de faixas agrícolas na nascente do rio e
áreas
urbanizadas
em
Almirante
Tamandaré,
destacando-se
loteamentos de Santa Cecília e Boa Vista com 516 lotes em uma
área
de
285,5
Km².
Ainda
nesta
área
há
um
processo
de
favelamento e também áreas ocupadas pelo prolongamento do bairro
de Santa Felicidade.
No compartimento médio da bacia do rio Passaúna, a leste
de Curitiba encontramos uma pequena zona rural além de alguns
loteamentos margeando a BR 277, no município de Campo Largo, a
colônia polonesa de Orleans e os bairros de Três Marias e São
Braz, no município de Curitiba. Na seqüência da BR
Ferraria
encontram-se
os
loteamentos
em
Campo
277 até
Largo
e
Vila
Cirene, Vila Xina, Parque Bom Jesus, Vila Glacy, Vila Torres I e
Vila Torres II, localizados na margem esquerda do rio Passaúna.
No compartimento inferior da bacia verifica-se intensa atividade
industrial com o quadro urbano do município de Araucária e a
Cidade
Industrial
correspondentes
de
aos
Curitiba.
limites
da
Tomás
Coelho
bacia
dos
incluía
rios
áreas
Passaúna
e
Barigüi, sendo que a sua maior área se insere no compartimento
inferior da bacia do rio Passaúna.
O presente estudo partiu de dois levantamentos realizados
na área de São Miguel:
161
162
1º Os laudos de desapropriação realizados pelo ITCF feito
terras de terceiros que varia de 0,6 a 24,2 hectares, sendo que
por ocasião da construção da barragem de captação de água do rio
Passaúna.
São
71
laudos
sendo
que
61
correspondem
a
lotes
rurais.
a maioria arrenda terras na própria colônia.
Dentre os proprietários sete possuem também outras áreas
que são consideradas na área total mobilizada para a produção.
2º O levantamento socioeconômico da área realizado pelo
IPARDES que considerou que dos 61 lotes rurais descritos no
(Tabela nº 07,).
As
condições
de
arrendamento
de
terra
não
obedecem
a
laudos do ITCF apenas 28 famílias eram residentes, sendo uma
laços de parentesco e nem de etnia. Os dois ocupantes estão na
família
restantes
condição de "chacreiros" e nada pagam ao proprietário da terra.
apenas 20 foram consideradas produtivas. ( Sendo consideradas
Sendo assim existe concentração de terras na região considerando
produtivas as propriedades que comercializam pelo menos parte de
o contexto local, embora em relação ao Estado do Paraná como um
sua produção).
todo não sejam consideradas grandes propriedades (figs. 29 e 30
em
cada
propriedade.
Das
28
propriedades
Para a nossa análise partimos da caracterização de Tomás
pp. 162).
Coelho conforme dados do IPARDES.
TABELA Nº 07
Consideramos que as diversas influências que a área em
questão foi
e é vítima corresponde a uma realidade heterogênea
em termos de produção do espaço e dinâmica social. A ênfase
DISTRIBUIÇÃO DE TERRAS ENTRE OS PROPRIETÁRIOS DE TOMÁS
COELHO NO MUNICÍPIO DE ARAUCÁRIA NO ANO DE 1987 (PESQUISA DE
CAMPO)
corresponderá à caracterização econômica e estrutura fundiária.
Faixa de Área (ha)
Nº de Proprietários
Área Ocupada (ha)
%
0,2 - 4,3
03
5,7
3,6
4,8 - 8,5
05
30,2
19,0
9,6 - 17,0
03
38,7
24,3
24,2 - 31,2
03
84,7
53,1
Total
14
159,3
100
A condição de posse dos vinte lotes rurais considerados
distribui-se da seguinte maneira: 14 lotes rurais são ocupados
pelos próprios proprietários, 04 lotes são arrendados e os 02
restantes estão sob administração de ocupantes.
Considerando
os
proprietários
de
terra,
apenas
três
possuem uma área equivalente a 84,7 hectares de terra o que
Fonte: IPARDES
corresponde a 53,1% da área total produtiva do conjunto dos
quatorze proprietários. Sete dos proprietários ainda arrendam
163
164
Tomás Coelho apresenta-se como uma colônia eminentemente
Figura: 29 - Concentração de Terras entre os
Proprietários de Tomás Coelho por categoria
de área no município de Araucária no ano de
1987.
polonesa. Na área considerada, 75% dos lotes rurais pertencem ou
são ocupados por descendentes de poloneses e 25% por brasileiros
de outras origens culturais. Dos 14 proprietários considerados
90
64% conseguiram as terras por herança e o restante adquiriu por
80
compra (Tabela nº 08 p.164).
70
60
50
40
0,2-4,3
30
4,8-8,5
20
9,6-17,0
10
24,2-31,2
0
Área Ocupada em Hectares
Figura: 30 - Número de Proprietários por
faixa de área em hectares de Tomás Coelho no
município de Araucária em 1987.
5
4,5
4
3,5
3
2,5
2
0,2-4,3
4,8-8,5
9,6-17,0
1,5
1
0,5
24,2-31,2
0
Nº de Proprietários
Fonte (Figs. 29 e 30): IPARDES
165
166
TABELA Nº 08
CONDIÇÃO DE POSSE E ÁREA DO IMÓVEL EM TOMÁS COELHO NO
MUNICÍPIO DE ARAUCÁRIA NO ANO DE 1987
Cond.
Posse
de
Área do
Imóvel (ha)
Área do
Outro
Imóvel (ha)
Prop. 01
31,5
9,7
Prop.
Prop.
Prop.
Prop.
Prop.
Prop.
07
Prop.
02
03
04
05
06
29,0
24,2
16,9
12,1
9,7
8,5
08
7,3
Prop. 09
Prop. 10
Prop. 11
Prop. 12
Prop. 13
Prop. 14
Arrend.0
1
Arrend.0
2
Arrend.0
3
Arrend.0
4
Ocup 01
Ocup. 02
Área Total
Mobilizada
(ha)
Participaçã
o no total
em %
Origem Cultural
Forma
de
Aquisição
41,2
12,5
Polonesa
29,0
60,4
20,5
12,1
24,2
9,9
8,8
18,2
6,2
3,7
7,3
3,0
Polonesa
Polonesa
Polonesa
Polonesa
Polonesa
Polonesa
Herança
e Compra
Herança
Herança
Herança
Compra
Compra
Herança
7,3
2,2
Polonesa
Herança
32,6
12,1
5,8
4,9
1,8
0,2
30,0
10,0
3,7
2,0
1,4
0,5
0,1
9,0
Polonesa
Polonesa
Japonesa
Brasileira
Polonesa
Brasileira
Brasileira
Compra
Herança
Compra
Compra
Herança
Herança
19,4
19,4
5,8
Brasileira
3,6
3,6
1,0
Polonesa
1,9
1,9
0,6
Polonesa
10,9
2,4
227,5
10,9
2,4
330,3
3,3
0,7
100
Polonesa
Polonesa
4,8
4,8
4,8
4,3
1,2
0,2
30,0
Total:20
Fonte: IPARDES
Área
Arrendada
(ha)
12,0
24,2
3,6
4,8
9,7
1,4
2,4
7,3
Parceri
a com o
14
25,4
1,0
0,6
0,6
Meeiro
36,9
65,9
Quanto às famílias mais da metade é composta de cinco a
seis membros perfazendo um total de 91 pessoas (Tabela nº 09,
conforme que segue).
TABELA Nº 09
ESTRUTURA ETÁRIA DA POPULAÇÃO AMOSTRA DE TOMÁS COELHO NO
MUNICÍPIO DE ARAUCÁRIA NO ANO DE 1987
Faixa de Idade
Nº de Indivíduos
Menos de 01 ano de Idade
01
1a5
09
6 a 10
08
11 a 15
14
16 a 20
11
21 a 30
12
31 a 40
06
41 a 50
17
51 a 60
04
61 a 70
06
Mais de 70 anos de idade
02
Total
91
Fonte: IPARDES
(0bservação: Os dados da presente Tabela não foram divididos por
sexo pela própria fonte).
A presente caracterização da área de pesquisa nos permite
confirmar o pressuposto, que a Colônia Polonesa de Tomás Coelho
167
continuava sendo uma comunidade camponesa onde a imensa maioria
168
CAPÍTULO 05
da população se dedicava ao trabalho agrícola sob a forma da
produção tradicional familiar.
TOMÁS COELHO, MODERNIDADE, RESISTÊNCIA E MARGINALIDADE
A partir da hipótese de que a desarticulação recente do
núcleo colonial de Tomás Coelho e a reestruturação do espaço
socioeconômico
demonstram
uma
marginalização
da
colônia
imigrante em relação ao processo de modernização construímos a
presente análise.
Dois aspectos foram considerados: a produção do espaço e
a questão cultural. Integramos a questão estrutural da produção
do espaço às linhas da questão cultural. Cabe ressaltar que as
denominadas
sociedades tradicionais
apresentam características
distintas em relação à sociedade moderna. Esta realidade resulta
do
fato
de
tendência
que
a
produção
homogeneizante
do
tradicional
modo
de
não
produção
combina
com
dominante
a
da
modernidade.
Tomando
por
base
o
levantamento
do
IPARDES/ITCF
por
amostragem de propriedades rurais em São Miguel, pertencente à
antiga
colônia
de
Tomás
Coelho,
diagnosticamos
o
caráter
tradicional da colônia imigrante.
A produção do espaço baseia-se, desde o estabelecimento
das propriedades, na produção agrícola nos moldes da mão-de-obra
familiar onde se destaca a cultura da batata inglesa. A referida
cultura é hegemônica tanto na área de plantio como na tonelagem
de produção. A produção destina-se tanto ao consumo interno da
169
170
propriedade como para a comercialização. No período de dezembro
arrendadas. Tanto crianças, em suas horas disponíveis, como as
de 1984 a maio de 1985 foram comercializadas 9.925 sacas de 60
mulheres trabalham na lavoura.
Kg cada o que não era mais significativo mesmo em relação a
própria RMC.
Dentre
apenas
A segunda cultura da região é a do milho e 56% desta
produção destina-se a manutenção de pequenos animais domésticos.
A terceira cultura é a do feijão e é a segunda mais
três
a
população
pessoas
da
amostra
dedicam-se
a
podemos
trabalho
constatar
que
assalariado
na
indústria e outras duas como professoras na escola local. Dentre
as pessoas que trabalham na indústria todas são de origem lusobrasileira.
comercializada, seguida da cultura da cebola (em boa parte é
As de origem propriamente polonesa dedicam-se quase que
destinada a comercialização), do pimentão e do alho, além do
exclusivamente ao trabalho agrícola. Entre os arrendatários de
tomate e batata-doce. Em menor escala, planta-se o centeio e o
origem luso-brasileira apenas os homens trabalham na agricultura
trigo sarraceno denominado por eles de tartaco.
enquanto as mulheres dedicam-se ao serviço doméstico. No caso
Em termos de maquinário e insumos o mínimo é utilizado, o
que referenda a incipiente adoção de inovações tecnológicas na
dos poloneses costuma-se mobilizar toda a família.(Tabela 10 p.
170).
produção agrícola e em conseqüência pouco incremento (IPARDES,
1987).
As
resistências
características
à
assimilação
denotam
de
o
padrões
fato
de
de
que
modernidade
existe
que
se
apresentam como testemunho local.
A diferença em termos da divisão social do trabalho entre
os de origem luso-brasileira e polonesa se deve, entre outras
razões,
à
própria
construção
étnico-social
de
costumes
das
famílias polonesas. Neste caso o elemento cultura repercute em
A produção se mantêm nos padrões ancestrais sendo que a
formas diferenciadas de produção do espaço local.
pouca utilização de inovações tecnológicas referenda este fato;
A maioria dos produtores são proprietários de terra ou
todavia devemos lembrar que a utilização de maquinário e insumos
seja, detêm os meios de produção e também constituem a própria
requer, em primeira instância, um aumento substancial no custo
força
de produção que em muitos casos invibializa a própria produção.
tradicionais.
de
trabalho.
No
Esta
entanto,
realidade
esta
é
própria
das
característica
sociedades
transforma-se,
A situação apresentada pelos dados do IPARDES demonstra
apesar das resistências, pois, cada vez mais, o produtor colono
que a produção agrícola de Tomás Coelho é mantida pela força de
polonês depende de condições externas para perpetuar o seu modo
mão-de-obra
de
familiar
tanto
na
propriedade
como
em
áreas
produção
e
sua
própria
sobrevivência.
Evidencia-se
um
processo de proletarização crescente onde a produção tradicional
cede
lugar
à
necessidade
de
buscar
recursos
extras
171
172
para
em questão. Esta ruptura na homogeneidade do sistema fundiário
manutenção da vida.
demonstra o processo de metamorfose da colônia. Verificamos que
a resistência à assimilação de padrões de modernidade tendem,
cada vez mais, a manifestar-se por um processo de desarticulação
TABELA Nº 10
da colônia polonesa.
SITUAÇÃO OCUPACIONAL DOS HABITANTES DE TOMÁS COELHO NO
MUNICÍPIO DE ARAUCÁRIA NO ANO DE 1987 .9
Categoria
Área
Mobilizada
em hectares
Tamanho
da
Família Residente
Ocupação
no
Setor Primário da
Economia
Prop.01
Prop.02
Prop.03
Prop.04
Prop.05
Prop.06
Prop.07
Prop.08
Prop.09
Prop.10
Prop.11
Prop.12
Prop.13
Prop.14
Arrend.01
Arrend.02
Arrend.03
Arrend.04
Ocup.01
Ocup.02
Total: 20
41,2
29,0
60,4
20,5
12,1
24,2
9,9
7,3
32,6
12,1
5,8
4,9
1,8
0,2
30,0
19,4
3,6
1,9
10,9
2,4
330,3
6
9
5
3
6
4
6
1
6
3
5
3
2
5
8
5
3
2
4
5
91
3
2
2
3
5
3
3
1
3
3
2
2
2
1
3
2
2
2
2
1
47
Ocupação
no
Setor Secundário
da Economia
Ocupação
no
Setor
Terciário
da Economia
O que fundamenta o nosso argumento é que a produção do
espaço de Tomás Coelho fica à margem dos padrões de modernidade
que circundam e que são criados na metrópole, porém está além
1
das condições de adoção de inovações tecnológicas na produção
1
agrícola.
Ou
seja,
o
próprio
emprego
de
força
de
trabalho
1
evidencia uma realidade marginal na produção quase que em moldes
pré-capitalistas.
Segundo dados do levantamento do IPARDES (1987), observase que seis proprietários empregam mão-de-obra temporária tanto
3
no plantio como na colheita correspondendo a 42%. A mão-de-obra
aplicada é em média de dois a três trabalhadores em um período
de seis a quinze dias. A área total utilizada é de 162,4 ha
3
aproximadamente.
1
4
explicado
pelo
O
emprego
volume
de
de
capital
mão-de-obra
que
está
assalariada
nas mãos
de
é
seis
Fonte: IPARDES
proprietários mencionados anteriormente.
Contrapondo-se à situação dos pequenos produtores rurais
Embora a concentração de terras não seja contrastante em
de
Tomás
Coelho
se
encontram
três
proprietários
que
vão
se
relação ao contexto do município existe de fato uma concentração
afirmando na hegemonia da produção local e que detêm 53% da área
de capital que viabiliza a mobilização de mão-de-obra externa.
9
Na situação ocupacional não foram consideradas as crianças e as mulheres
que trabalham exclusivamente no lar. Somente foram consideradas como
trabalhadoras rurais àquelas que se dedicam exclusivamente ou dispendem a
maior parte do tempo no trabalho agrícola ou externo. No caso do proprietário
nº 12 também realiza trabalhos de marcenaria para completar a renda.
No
caso
esta
propriedade
corresponde
a
49%
da
área
total
utilizada na produção. A diferenciação que representa estes seis
produtores em relação aos demais produtores de São Miguel de
173
174
Tomás Coelho pressupõe que exista uma relação com o mercado que
meios de produção se realiza, como fato recente, através da
justifica o emprego e a dinâmica de uma mão-de-obra externa ao
venda das terras no mercado imobiliário.
contexto familiar.
As
O camponês inserido nesta realidade econômica passa a ser
colônia
condições
de
Tomás
de
organização
Coelho
do
perpetua-se
espaço
nos
produtivo
moldes
da
tradicionais
um vetor do capital. Recria as relações capitalistas mercantis
mesmo em condições de expansão da lógica espaço-organizacional
que assim podem ser analisadas.
urbano industrial representante do processo de modernização.
Consideramos que a estruturação do espaço de Tomás Coelho
caracteriza-se
vinculada
ao
processo
imediata
de
expressão econômica da propriedade. Ou seja, a não posse da
teoria
renda fundiária capitalista sob a forma em que está subordinada
capitalista são aplicáveis à produção realizada na colônia. O
a manipulação e a transferência da renda para outros setores
camponês necessita do capital para manter sua auto-suficiência.
econômicos fora do controle do colono.
mercado
de
Curitiba.
por
uma
excedentes
Reconhecemos
sociedade
agrícolas
a
tradicional
A expropriação do colono apresenta-se na verdade como um
para
priori
a
que
as
região
bases
da
O colono necessita de produtos que não é capaz de produzir.
O
concreto
sistema
marginalização
mantêm
então
estabelecidas.
Cabe
lembrar
que
estas
pretende
pequena
manter
posse
da
propriedade
populacional fixado no campo. Porém, esta fixação acontece de
até
que
a
não
produtos e insumos de que necessita.
familiar
em
incentiva
da
camponesa
regional, étnico e cultural influem nas relações de trabalho
medida
e
diante
Sendo assim, transforma sua produção em capital e a reverte em
Estas relações atreladas às particularidades do contexto
na
de
um
contingente
forma marginal no espaço produtivo.
MESQUITA
produção
que
(1988)
revelam
comenta
sua
que
existem
transformação,
espaços
o
que
em
re-
inclui
a
relações são responsáveis pela manutenção da produção agrícola
dissolução das estruturas anteriores, mesmo que parcialmente.
na colônia.
Este processo renova a emergência de novas estruturas. Sob este
As relações capitalistas penetram nas relações sociais do
aspecto
os
espaços
reproduzidos
sociedade
diferentes, diversas das pretéritas.
tradicional.
As
formas
espaciais
transformam-se na medida em que novas relações se intensificam.
Atualmente,
usos
caracterizam
núcleo colonial e aos poucos subvertem o que entendemos por uma
camponesa
para
se
após
diferenciados
a
formação
do
por
e
estarem
com
lago
sendo
valorizações
artificial
da
Não existe de fato uma total proletarização do colono nas
barragem de captação de água do rio Passaúna, a ocupação do solo
circunstâncias atuais. O processo de expropriação do colono dos
se mostra diferenciada. É o processo de reestruturação do espaço
175
que está em pleno desenvolvimento, é o que podemos constatar com
REPAR
abriu
possibilidade
para
dezenas
de
outros
empreendimentos ligados principalmente a manufatura. O perfil
econômico do município de Araucária foi alterado. Configurava-se
uma área de confluência cujos limites são representados pela
CIC, REPAR, Rodovia do Xisto e a sede municipal de Araucária. É
neste
conjunto
infra-estrutural
que
o
Centro
Industrial
de
Araucária é instalado e, com as políticas de facilidades ao
grande capital industrial, logo se consolida e se amplia. Ora,
com um parque industrial considerável a arrecadação do município
aumentou substancialmente, pois o comércio de produtos agrícolas
geralmente, realizados fora do município, nem ICM arrecadava.
A
nova
investimentos
conjuntura
públicos
no
econômica
setor
reforçou
um
incremento
em
secundário
em
detrimento
do
setor primário da economia. De fato, este quadro demonstra o
quanto a supra-estrutura política-institucional está subordinada
aos interesses do grande capital. A reestruturação do espaço de
Tomás Coelho é expressão concreta de práticas políticas e do
conflito de classes.
FIGURA: 31
TOMÁS COELHO - OCUPAÇÃO DO SOLO - 1992
o mapa síntese de uso do solo atual da área (fig. 31 p. 175).
A
176
ÁREA PESQUISADA
177
178
À GUISA DE CONCLUSÃO
a)
De
fato
o
avanço
urbano-industrial
provocou
um
processo de revalorização de áreas pertencentes a colônia de
Tomás Coelho. Acentuadamente verificamos que o uso do solo, como
O presente estudo partiu de uma problemática concreta,
o avanço desta lógica moderna, apresentou o maior impacto. O
devido ao alagamento de uma colônia polonesa centenária pela
resultado
foi
a
desarticulação
da
ordem
espacial
pretérita
barragem de captação de água do rio Passaúna. Esta colônia era
tradicional representada por Tomás Coelho.
Tomás
Coelho.
Utilizamos
desta
realidade
para
demonstrar
o
b)
O
processo
de
marginalização
da
colônia
de
Tomás
choque entre lógicas espaço-organizacionais diferenciadas.
Coelho
A
conjuntura
de
desarticulação
social,
política
evidenciou-se
Metropolitana
econômica
pela
dinâmica
econômica
Nesta
realidade
da
Região
e
de
Curitiba.
sociedades
de Tomás Coelho está afeta a inoperância do Estado em
tradicionais com pouca participação no mercado e pouco acúmulo
implementar
planos
de
expansão
urbano-industriais
que
de capital representam um obstáculo a melhor utilização futura
considerassem aspectos de valor cultural ou mesmo étnico. Além
do
solo
por
parte
do
capital,
principalmente
industrial
do mais, a relutância do Estado em pagar, aos desapropriados, a
hegemônica.
justa indenização por suas terras.
c)
Quanto
à
evolução
do
processo
de
reestruturação
Sob este aspecto tentamos responder a todo um processo de
espacial do núcleo colonial notamos que o denominado equilíbrio
formação
e
desarticulação,
expansão
e
destruição
que
se
organizacional de interação do mesmo com a metrópole rompeu-se
desenvolvem dialéticamente no espaço geográfico.
devido
Partimos
do
pressuposto
teórico
de
que
a
a
marginalização
da
colônia
no
processo
de
produção
lógica
capitalista.
hegemônica urbano-industrial representa a tese da modernidade e
d) A perpetuação do tradicionalismo por parte da dinâmica
a lógica camponesa a negação da primeira, o tradicionalismo.
produtiva de Tomás Coelho demonstrou uma profunda ruptura em
Para
poder
responder
às
relações
existentes
na
relação a evolução da Região Metropolitana de Curitiba. Isto
estruturação do espaço do núcleo colonial de Tomás Coelho nos
ocorreu devido a incongruência que existe na natureza do sistema
reportamos a dinâmica metropolitana. Esta dinâmica representa a
capitalista que, ao manter o moderno e o tradicional juntos no
geração e a força dos padrões de modernidade. Neste sentido
mesmo
espaço,
demonstra
sua
própria
contradição.
Embora
a
levantamos duas hipóteses como resposta a está problemática que
desarticulação da colônia polonesa seja um fato consumado ainda
foram analisadas no decorrer deste estudo.
existem manchas de produção tradicional na região. No entanto,
Chegamos aos seguintes resultados:
179
180
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
não mais existe a articulação do espaço social que nos permita
identificar a colônia polonesa.
Toda esta realidade, que representa a síntese objeto de
01
ALVES, Sílvia. Colônia de Poloneses pode Morrer. Jornal do
nosso estudo, demonstra que embora o sistema capitalista tenha
Estado. Curitiba: 07 de Fevereiro de 1984.
uma
tendência
concreto,
ela
a
só
homogeneização,
é
atingida
enquanto
produção
parcialmente.
A
do
espaço
realidade
da
02
ANAIS DA COMUNIDADE BRASILEIRO-POLONESA Curitiba: IMPRIMAX,
dinâmica cultural própria dos grupos sociais diferenciados, como
v. 1, 1970. 130p.
os colonos poloneses, é redimensionada e permanece dispersa na
dinâmica metropolitana.
03
Esta
imanência
do
tradicional
no
espaço
ARAUCÁRIA: Em Cinco Anos, da Batata à Chaminé. Jornal da
geográfico
Indústria e Comércio do Paraná. Curitiba: 15 de Julho de
coexiste com a lógica moderna em seus sinais mais concretos.
1978.
Tomás Coelho representa esta totalidade. Não é apenas um caso
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