LEIA AQUI - Universo IPA

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Jornal impresso do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista IPA | Ano 1 | Edição 3 | Outubro de 2006 | www.ipametodista.edu.br/sites/universoipa
Gabriela Casartelli
Ilha sem
água
Camelôs preferem praça
Marluci Stein
Mais de 850 ambulantes estão instalados no centro da Capital dos gaúchos. A prefeitura tenta fazer com que os passeios
sejam desobstruídos e lança o projeto de criação do Centro
Popular de Compras, previsto para 2007, na Praça Ruy Barbosa. Os ambulantes não aceitam e preferem ficar na praça.
Página 3
Problemas antigos
Marco Júnior
De cara nova, a emergência do Conceição está funcionando desde abril. O novo local, mais amplo e organizado, ainda
enfrenta problemas comuns entre os hospitais que atendem
pelo Sistema Único de Saúde. A modernização das instalações não esconde reclamações de superlotação, falta de espaço e demora nas consultas.
Página 7
Moradores da Ilha dos Marinheiros sofrem com a falta de água
encanada e de vias pavimentadas. Como conseqüência, falta
saneamento básico, um pré-requisito fundamental para a população. As ruas, após as chuvas, ficam intransitáveis, pois o saibro,
colocado pela prefeitura, se transforma em barro.
A Ilha não possui infra-estrutura, dificultando o dia-a-dia dos
moradores que, inconformados, vêm lutando há 30 anos para
que tenham acesso aos seus direitos básicos de cidadãos. As
histórias que os moradores da Ilha têm para contar ilustram cada
uma das suas dificuldades.
Página 4
Prazer à venda
Eles trocam o dia pela noite. Dizem para a família que trabalham como garçons, seguranças ou abusam da criatividade para forjar supostas profissões noturnas que não despertem a desconfiança alheia. A vida de um garoto de programa
não é nada fácil. Além de enfrentar a ira e as reclamações de
alguns moradores, agem nas noites frias e chuvosas.
Página 17
cidadania
Aline Torres
Terra da infância roubada
Fome de quê?
Daniel Freire
Nas calçadas da rua da Praia, nos pilares do Mercado Público, entre
os corredores da Praça da Alfândega ou nas marquises da Catedral Metropolitana crianças e adolescentes têm a infância roubada. São vítimas
do abandono, da violência física e psicológica, da exploração do trabalho
infantil e da omissão da sociedade e seus representantes. Todavia, há
quem faça da responsabilidade social e da cidadania ativa sua fonte de
transformação. São os porta-vozes dos meninos de rua.
Página 10
Trabalho infantil à noite
Freqüentemente, crianças são encontradas nas ruas da Cidade Baixa,
à noite, vendendo flores, figurinhas, panos de prato e engraxando sapatos
dos clientes dos bares ao ar livre. Apesar de haver uma lei que proíbe o
trabalho infantil e órgãos competentes para a fiscalização, a situação permanece. Conselho Tutelar e Serviço de Educação Social de Rua foram
procurados, mas ambos não souberam responder à questão, afirmando
que o problema é de vontade política e da Justiça.
Página 11
Morador de rua de Porto Alegre busca na leitura o seu
“alimento” e o afugento para a dor ocasionada pela dura rea­
lidade que se apresenta à sua volta. Diante das adversidades
que o cercam, consegue, ainda assim, sonhar e acreditar num
futuro melhor graças ao hábito da leitura, obtendo, a partir
desse exercício, novos conhecimentos.
Página 18
Opinião
outubro de 2006 Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista IPA
editorial
Ao lançar esta edição do
Universo IPA, os estudantes
do segundo semestre do curso de Jornalismo superaram
mais um desafio: criar um jornal impresso com notícias referentes à região metropolitana de Porto Alegre. Tudo bem
que as turmas, matutina e noturna, já tinham feito um jornal
no primeiro semestre, mas
este era temático. Pela primeira vez eles escreveram sobre assuntos do cotidiano, em
diferentes editorias - política,
economia, geral, polícia, cultura, comportamento, cidadania e esporte.
Depois de muito esforço
coletivo, o resultado superou
as expectativas. Com isso, a
terceira edição do Universo
IPA entra para a história como a primeira mídia que aproxima a população da Capital
dos trabalhos desenvolvidos
pelos estudantes de Jornalismo. Estes, aliás, com certeza
não verão mais os pontos positivos e negativos com os
mesmos olhos. Incentivados
a analisar com ética e senso
crítico o que estava ao seu
redor, as turmas conseguiram escrever sobre assuntos
que geralmente são ignorados pelas grandes mídias.
Com intuito de preencher
essa lacuna, o Universo IPA
traz um caderno especial de
Cidadania, o qual mostra que
a força de vontade vence
qualquer obstáculo. Além disso, foi criado nesta página um
espaço destinado aos leitores. Qualquer pessoa pode
opinar, sugerir pautas, reclamar de problemas no bairro,
elogiar as ações que valem a
pena... Será o retorno dos leitores que fará o jornal conseguir o seu objetivo principal:
com ética, estimular o conhecimento e o desenvolvimento
da sociedade.
flagrante
O Universo IPA presenciou, no dia 27 de julho, na
avenida João Pessoa, Cidade Baixa, uma cena inusitada. Um morador de rua sem
inibições faz suas necessidades em plena luz do dia. No
flagra, o morador se limpa
com jornal. Na falta de algo
melhor, o jornal assume função dupla: além de informar,
é papel “higiênico”. De acordo com a coordenadora dos
Direitos Humanos da Prefeitura de Porto Alegre, Leila
Schaan, nestes casos a população deve acionar a Brigada Militar, já que estar nú
na rua é atentado ao pudor.
coluna do leitor
por Adriana Gusmão
“Meu nome é Maria de Lourdes, moro na avenida Bastian, próximo à avenida Praia de Belas, bairro Menino Deus, em Porto Alegre. Tem uma obra de reforma ao lado de minha casa e eles ficam
trabalhando até tarde da noite. Faz muito barulho que incomoda e
está prejudicando a mim e minha família. Qual a medida que posso tomar? Desde já, grata”.
Adriana Gusmão
Onde estão os nossos heróis?
Luisa Aranha
Quando eu era criança
meu pai e minha mãe eram
meus heróis. Depois He-Man,
She-Ra e outros ocuparam
este lugar na minha vida. Na
adolescência os Menudos fizeram de meus sonhos e ideais mais coloridos. Hoje não
tenho heróis.
Meus pais e tios comentam
de movimentos políticos e culturais. Contam de seus ídolos,
seus revolucionários, seus líderes. Contam de seus movimentos, de suas lutas por liberdade, de suas batalhas
pessoais e informais para mudar, para tentar construir algo
melhor para as futuras gerações. Contam de seus heróis.
Onde estão os nossos?
Minha geração não encontra
mais referências, não encontra mais líderes, mais ídolos.
Não tem mais ideais, está
alheia às lutas. Está perdida.
Onde estão nossos Getúlios,
nossos Brizolas, nossos Bentos Gonçalves? Onde estão
os nossos líderes?
Não existe ânimo de votar,
não existe interesse político,
por Tarsila Pereira
Tarsila Pereira
IPA - Instituto Porto Alegre da Igreja Metodista
bispo assistente: Adriel de Souza Maia • conselho diretor: Presidente, Sergio Marcus Nogueira Tavares; Vice-presidente, Laan Mendes de Barros
secretário: Nelson Custódio Fer • conselheiros: Márcia Flóri Maciel de
Oliveira Canan, Lorenz Richard Koch, Luis de Souza Cardoso, Henrique
de Mesquita Barbosa Corrêa, Ricardo Hidetoshi Watanabe e Alexandre
Magno Caldeira Figueiredo.
Centro Universitário Metodista IPA
Adriana Menelli de Oliveira • pró-reitor acadêmico: Francisco
Cetrulo Neto • pró-reitor administrativo: Marcelo Jorge Sonneborn
reitora:
Jornal elaborado por estudantes do
2º semestre do curso de Jornalismo IPA
professores(as)
Ana Paula Megiolaro, Laura Glüer, Lisete Ghiggi, Maricéia Benetti,
Michele B. S. Limeira, Pierre Bedin, Rogério Soares e Sander Neves.
projeto experimental ii e produção e planejamento editorial e gráfico ii
editores chefes: Sander Neves e Michele Limeira • editores: Aline Marques,
Aline Torres, Bernardo Dias, Carlos Daniel Macedo, Carlos Ismael Moreira,
Cleidi Pereira, Eliane Silva Costa, Daniel Freire, Evandra Jaques, Eduardo
Iribarrem, Gabriela Casartelli, Júlia Ramos, Lisiane Assis, Luiza Aranha,
Manoel Canepa, Marco Antonio Júnior, Marluci Stein, Priscila Bitencourte, Stéphanie Perrone e Tarsila Pereira.
ajor - agência experimental de jornalismo
finalização e montagem: Carlos Tiburski • distribuição: Jonathan Gonçalves
revisão: Amanda Porterolla, Ana Paula Megiolaro e Tiago Dias • contato ajor:
Cel. Joaquim Pedro Salgado, 80 - Rio Branco - Porto Alegre/RS - 51 3316.1269
e [email protected] • impressão: Zero Hora (5.000 exemplares).
não existe liderança de um
povo. Será que nossa geração que um dia ouviu em sala de aula que era o futuro do
Brasil, ficou sem futuro? Sem
esperanças?
O cenário político atual desanima, mas desanima ainda
mais a falta de motivação, a
falta de responsabilidade, a falta de interesse de meus amigos. Entristece saber que nossos pais lutaram pelo futuro de
nossa geração e que agora
pensamos que política é uma
coisa de velho, que é careta.
Estamos alheios, votamos
por votar, votamos em quem
nossos pais votam, ou então
votamos em quem nossos
pais não votam por rebeldia.
Talvez a política do país seja
velha, esteja ultrapassada.
Talvez nossos políticos não
estão sabendo nos cativar.
Talvez, talvez. Mas talvez
também nós não sabemos
cativar a política, talvez nós
estejamos errados não buscando líderes. Um povo sem
líderes é um povo sem caminho. Nossa geração está per-
dendo o caminho. Será que
nossos pais eram assim? Será que tantas lutas foram em
vão? Temos muitos questionamentos e poucas respostas, justamente porque não
temos líderes.
Não quero um país assim,
nem pra mim, nem para meus
filhos. Não quero toda essa
sujeira e hipocrisia no comando do meu futuro, porque
meu futuro depende do futuro
do país. Meu futuro depende
das eleições, das decisões
do povo, e principalmente
das decisões (ou não) dos
políticos escolhidos por nós.
Quando vamos crescer
como seres humanos, evoluir
e perceber que estamos todos nos mesmo barco? Um
barco que está quase a deriva
e que precisa de toda a força
pra não naufragar. Um barco
que precisa de um novo motor, que precisa de novos rumos e novos comandantes. E
comandantes capazes de levar toda a nossa tripulação.
Mas me esqueci... Nós
não temos mais heróis.
Infância em família
Daniel Freire
É impressionante a quantidade de casos de barbárie humana que rondam os noticiários, nos conduzindo à dura
realidade de um mundo ”cão”.
São casos de todas as espécies: pais matando filhos; e vice e versa; mães que espancam até a morte os filhos; cárcere privado; trabalhos forçados; violência infantil... tudo
isso, caro leitor, em pleno século 21, século este, visto como o período do desenvolvimento e da modernidade.
Reconheço a grandiosa
evolução técnico-científica, as
grandes descobertas nas mais
diversas áreas. Mas o maior
questionamento é o de que a
modernidade, contrapõe-se a
um quadro alarmante de saúde psíquica que assola o nosso quadro social.Estaríamos,
assim, então, numa escala
evolutiva? O não cuidar da
mente e da alma não deve ser
compreendido como um atraso no nosso caminhar?
Temos que avançar é no
quesito amabilidade, na solidariedade, no refinamento das relações. Isso é ganho real.Com
a ausência desses conceitos, o
caos existencial se instala e
conduz, muitas vezes, ao caminho das drogas, legais e não
legais; ao flagelo de milhares de
famílias e, infelizmente, ao ceifar
de vidas.Claro que outros fatores mais devem ser considerados.O meio em que se vive, por
exemplo, pode arrastar os homens para esse precipício.Mas
a problemática do abandono
de sentimentos nas relações
precisa ser pensada, discutida
e trabalhada como uma anomalia social que desestrutura,
fragiliza e condena a grandes
percalços pela vida à fora.
As “grandes feridas”, geralmente, surgem na infância e
são difíceis de cicatrizar. Muitos pais põem o amor em segundo plano, voltam toda a
atenção somente ao prover
das coisas materiais, esquecendo-se do lado sentimental
e das carências e necessidades que toda criança possui.
Pura inversão! É na infância
que absorvemos de forma definitiva, as lições transmitidas,
e onde começamos a desenvolver peculiaridades, como a
personalidade e o caráter. Dependendo das ações que são
desencadeadas na vida de
uma criança, as tendências
começam a se manifestar e,
no futuro, direcionarão esses
seres angelicais para um caminho de flores ou espinho.
Nessa fase mágica e encantadora da existência, somos todos iguais. Tempo da pureza,
da inocência e onde o ser humano revela-se na sua forma
mais delicada.Portanto, seja
você pai ou mãe, agora ou no
futuro, tenha sempre a certeza
inapelável de que o amor, o carinho e a atenção que você vier
a oferecer ao(s) seu(s) filho(s),
independente do poder aquisitivo, da classe social à qual faça
parte, contribuirá decisivamente para o fortalecimento da estrutura interior deles.
Segundo a Secretaria Municipal de Obras e Viação
(SMOV), pode ser feita uma denúncia em relação à obra no
setor de Fiscalização. Através de um processo administrativo, é constatado, via perícias, qualquer tipo de irregularidade
que possa haver e, se for o caso, medidas serão tomadas.
Conforme o advogado e consultor jurídico, Eduardo Loureiro
Winter, “estamos frente à figura jurídica denominada Abuso
de Direito”. Sendo assim, recomenda o advogado, deve-se
observar a possibilidade de embargo da obra, que pode ser
encaminhada ao Poder Judiciário através de um representante legal. “A indenização também é cabida como última via à
satisfação do ato ilícito abusivo”, acrescentou.
Este espaço foi reservado para os leitores do Universo IPA.
Quem quiser sugerir um assunto deve mandar uma carta para
Agência de Jornalismo do IPA (AJor), localizada na rua Cel. Joaquim
Pedro Salgado, 80, Rio Branco, Porto Alegre/RS. CEP: 90420-060. Ou
enviar a reclamação para o e-mail: [email protected]
enquete
por Jonathan Gonçalves
O que você faria se fosse o(a) presidente do Brasil?
Fotos: Jonathan Gonçalves
Lara Colognese,
educadora física, 32 anos
“É necessário acabar com a
desigualdade social em nosso
país. O acesso à educação é
fundamental para formarmos
profissionais qualificados em
todas as áreas”.
João Luis Lourenço,
vigilante, 37 anos
“Primeiramente, eu apresentaria
um projeto para a melhoria
da renda das classes mais
necessitadas e também
incentivaria, através de projetos,
a inclusão dos jovens na política”.
Vera Lúcia, auxiliar
administrativa, 41 anos
“Eu investiria em empregos e
habitação para a população,
pois com renda e um lugar
decente para morar as pessoas
podem conseguir outras coisas,
como segurança, saúde e lazer”.
Sirlei Silveira,
massoterapeuta, 65 anos
“Eu investiria, primeiramente,
em educação, para que tenhamos
melhores profissionais. Também
corrigiria a injustiça com o
aposentados, que recebem
muito pouco do governo”.
Vilson Roberto,
motorista, 49 anos
“Eu iria combater a corrupção,
pois o dinheiro roubado serviria
para construir hospitais,
por exemplo. E também
construiria mais escolas para
que não faltasse lugar para
as crianças estudarem”.
Cristiano Teixeira, auxiliar
adminstrativo, 33 anos
“Mudaria as leis na parte da
segurança, pois elas estão
facilitando a ação da criminalidade.
É necessário também baixar os
impostos para que as empresas
invistam em nosso país, assim
aumenta o número de empregos”.
Política
Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista IPA outubro de 2006
Criação do Centro Popular, em 2007, desagrada a maioria dos 850 ambulantes do Centro de Porto Alegre
Camelô rejeita proposta da Prefeitura
C
Marluci Stein
Marluci Stein
centro - Tumulto e gritaria
fazem parte da rotina de quem
passa pelo Centro de Porto
Alegre. Cerca de 850 ambulantes estão instalados no local, o
que acaba sendo motivo de reclamações pelo fato de obstruirem os passeios públicos.
Devido ao problema, a Secretaria Municipal da Produção,
Indústria e Comércio (SMIC)
faz fiscalizações e propôs a
construção do Centro Popular
de Com­pras (CPC), onde os
ambulantes terão um local
apropriado para trabalhar.
Segundo o secretário da
SMIC, Idenir Cecchim, o CPC
será a melhor alternativa para
os ambulantes do centro da
Capital. “Eles, que estão na
rua, irão para um local apropriado, com intenso fluxo de
pessoas, infra-estrutura e segurança”, ressalta.
Apesar dos aspectos positivos apontados pela prefeitura, a maioria dos ambulantes
não aceita a proposta. João
Araújo é um dos que não
apóiam o projeto. “Lugar de
camelô é na rua e não dentro
de um shopping”, revela. Ele
lembra que o cliente dele é o
eventual que está passando
em frente ao camelô.
O CPC será construído na
praça Ruy Barbosa e deve
abrigar de 800 a 900 camelôs.
Com um custo estimado em
R$ 12 milhões, deve ser viabilizado pelas Parcerias PúblicoPrivadas ou pelo processo de
concessão, por tempo determinado, previsto para 2007.
“Esse projeto é produto de
uma engenharia democráti-
ca”, garante o prefeito José
Fogaça (PPS).
Na plataforma de 10 mil
metros quadrados, cada comerciante irá ocupar um box
com pontos de luz, água, esgoto e telefone. Para usufruir
desta estrutura, os camelôs terão de pagar um aluguel estimado em R$ 300. Eles não
vêem vantagem na idéia. “Hoje, não temos gastos com aluguel”, comparou Araújo.
Fiscalização
Outra reclamação dos ambulantes é a forma com que a
SMIC chega até eles. “Os fiscais vêm até nós, que somos
regularizados e temos alvará,
porque somos mais fracos do
que os informais, que muitas
vezes até os agridem”, conta
um dos ambulantes, que preferiu não se identificar.
Segundo o Diretor de Fiscalização da SMIC, Léo Bulling,
a fiscalização visa a desobstruir calçadas e ruas. Há mais
de 70 profissionais, que trabalham a partir de uma base no
Mercado Público. “Nossa relação com os ambulantes regulares é boa, não gostamos é
dos informais”, garante. A fiscalização olha a licença do ambulante e, caso haja irregularidade, os produtos são recolhidos. Além disso, é dada uma
multa de R$ 100.
Nenhum comércio pode
funcionar sem licença prévia. É
proibido depositar ou expor à
venda mercadorias sobre as
calçadas ou utilizar paredes e
marquises. É o que diz o artigo
29 da lei nº 12, de 1975.
Ambulantes que ocupam passeios da capital deverão ir para Centro Popular de Compras no início de 2007
População diverge sobre a questão
Embora o comércio alternativo seja criticado, principalmente por ocupar grande área
das calçadas, parte da população ainda compra em camelôs. Segundo a dona de uma
pensão, Mara Lucia da Silva,
de 41 anos, os produtos de
ambulantes são bem mais baratos e os vendedores precisam sobreviver. “Antes de expulsarem os ambulantes, de-
veriam oferecer um emprego
melhor a eles”, opina.
O estudante de Ciências
Sociais, Marcelo de Castro,
29, está totalmente a favor dos
ambulantes. “Sou a favor da
pirataria”, justifica, sem levar
em conta a atual legislação.
Para ele, a pressão dos falsificados deveria fazer com que o
preço do original fi­casse mais
acessível para que todos pu-
dessem comprar.
Mas nem todo mundo
pensa como o estudante. A
massoterapeuta Helena Righetto, 55, não gosta de comprar nos camelôs visto que
não tem segurança nos produtos vendidos. “Quando
compro em uma loja, ganho
garantias e até consigo trocar
quando tem defeito; nos ambulantes não”, pondera.
Patrimônio nacional, em
Viamão, pede melhorias
Nova família
Para Mansur Ferreira, 52
anos, ser camelô é a única
chance que tem para sustentar a família. Há mais de 15
anos trabalhando no comércio
alternativo, Ferreira é conhecido entre os fregueses que lhe
cumprimentam e até o chamam pelo nome.
Junto com mais dois filhos,
Mansur vende principalmente
produtos eletrônicos trazidos
do Paraguai por “freteiros”,
que vêm para Porto Alegre.
“São poucos os que ainda
viajam”, afirma. Segundo ele,
que foi açougueiro e motorista, a profissão de camelô o
atraiu pela escassez de emprego. “Não tive outra opção.
Estava difícil conseguir trabalho e não havia mais nada para fazer”, justifica.
Entre os colegas há sempre muito respeito e companheirismo, como afirma o
ambulante João Carlos Araújo, 61. Há cerca de 36 anos
no ramo, ele é um dos ambulantes mais antigos do Centro. “So mos uma fa mí lia.
Sempre ajudamos uns aos
outros, afinal de contas estamos no mesmo barco”, ressalta ele.
Ele trabalhava antes com
vigilância e, quando ficou desempregado, resolveu ir para
o comércio alternativo. Trabalhando junto com o neto,
afirma que pretende continuar ali até morrer. “Não posso
mudar, esta é a minha vida”,
afirma. Como ponto positivo,
ele destaca que ali não tem
patrão, mas “os únicos que
incomodam são os fiscais”.
Natasha Montier
Natasha Montier
Viamão - Construída no século 18, a Igreja Nossa Senhora
da Conceição, matriz de Viamão, é um dos monumentos
históricos do município. Todavia, o orgulho também é motivo
de revolta. Moradores do centro
de Viamão reclamam que a igreja, tombada em 20 de julho de
1938 pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
(Iphan), precisa de reformas.
Alguns culpam a prefeitura
pelo descaso, comparando
que foram investidos R$ 280
mil na reconstrução da praça
Cônego Bernardo Machado
Santos. “Deveriam ter usado
esse dinheiro todo com reformas na igreja, que é tão bonita
e representa tão bem a nossa
história”, criticou Marta Soares, 44 anos.
De acordo com o secretá-
rio de Cultura de Viamão, Hélio Hortiz, como a igreja é tombada pelo Iphan, a responsabilidade é do Ministério da
Cultura. Para ele, a demora da
con­clusão do projeto arquitetônico está na burocratização
das leis Rouanet e Lei de Incentivo à Cultura.
A superintendente regional
do Iphan, Ana Lúcia Goelzer
Meira, explica que quando um
prédio é tombado não significa
que o Iphan seja o único responsável pela restauração. Ela
afirma que o prédio continua
pertencendo à Igreja.
Segundo Meira, entre 2003
e 2005, foram investidos na
restauração da Igreja cerca de
R$ 300 mil. Meira esclarece
que, na avaliação do Iphan, esse valor é significativo, diante
da realidade orçamentária. Se-
gundo ela, a superintendência
regional é responsável por cem
bens em todo estado, contando com um orçamento de R$
5 milhões. Por isso, na sua
avaliação, a partir de agora, os
responsáveis pela Paróquia
devem elaborar um projeto para captar recursos junto à iniciativa privada. “Acreditamos
que continuar investindo nesta
Igreja não é a melhor política.
A Paróquia deve buscar recursos. Nós daremos as orientações necessárias. Não podemos ficar bancando sempre a
restauração”.
Para o padre Rogério Luiz
Flores, a parte mais complicada é reunir todo o material necessário para a efetivação do
projeto. “O trabalho é feito pelos funcionários da Secretária
de Cultura”, explicou.
A população de Viamão está ansiosa pela restauração completa da Igreja Matriz, construída no século 18
Metas não são atingidas
Investimento preserva igreja de Viamão
Diante da importância da
Igreja para a cidade, foi lançada, em outubro de 2004, uma
campanha em parceria com a
prefeitura de Viamão, que tinha
como meta arrecadar R$ 200
mil. A campanha não atingiu
seu objetivo, porque só foram
arrecadados R$ 20 mil.
Com isso, ao invés da pintura, foram realizadas melhorias na sonorização, com a
compra de caixas acústicas,
Mesmo diante das reclamações da população, a Igreja vem sendo restaurada com
o auxílio da Paróquia, do
Iphan, além de contar com o
apoio da Prefeitura e de empresas privadas. A parceria,
idealizada em 2004, foi responsável pela fixação dos altares que estavam com problemas de cupins. Houve a
descupinização, troca do assoalho do presbitério e sacris-
microfones e os armários de
som.
A moradora Ana Lúcia Lemos, 27 anos, diz que não percebeu nenhuma mudança na
Igreja matriz da cidade, após a
campanha. “Foi a primeira
campanha que vi sendo efetuada para melhorar a Igreja.
Acho que a paróquia está tentando arrumar a Igreja, mas
sem resposta do governo”,
constata Lemos.
tia. “Quando cheguei aqui,
em janeiro de 1999, o assoalho tinha verdadeiros buracos”, lembra o padre Rogério
Luiz Flores.
Para ele, duas obras foram fundamentais para a igreja: a colocação de placas de
metal entre o forro e o telhado
para fazer o escoamento da
chuva, com investimento de
R$ 196 mil, recursos do Ministério da Cultura; e a troca
do assoalho de salão da Igreja. “Trocaram toda a parte elétrica, prepararam a parte externa para o projeto iluminotécno, que trará à Igreja uma
iluminação indireta”, explica o
pároco. O Iphan, contou ele,
concluiu todo o projeto arquitetônico. O pároco informa
que essas reformas culminaram em gastos de cerca de
R$ 250 mil vindos do Ministério da Cultura.
Perspectivas
Diante da expectativa da
comunidade, o padre Rogério
Flores prevê que a restauração
da Igreja Matriz de Viamão esteja completa em 4 ou 5 anos.
“É importante seguir essas etapas certinho, não dá para fazer
a toque de caixa”, esclarece. O
pároco diz que a Matriz está em
atividade constante, “por esta
razão, o andamento das obras
se torna mais demorado”.
Política
outubro de 2006 Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista IPA
Políticos descumprem as promessas que fazem em relação à melhoria da estrutura na Ilha dos Marinheiros
Sobram promessas, faltam realizações
I
Fotos: Gabriela Casartelli
Gabriela Casartelli
Ilha dos Marinheiros
- Ilha, de acordo com o dicionário Aurélio, é “uma terra menos extensa que os continentes e cercada de água por todos os lados”. Em Porto Alegre, no lago Guaíba, se encontram 30 ilhas que formam o
Arquipélago do Delta do Jacuí.
Uma delas é a Ilha Grande dos
Marinheiros que, ironicamente,
não tem água encanada. Ela
tampouco possui ruas pavimentadas que evitem lama em
dias de chuva e poeira em dias
ventosos de verão.
Os problemas na Ilha Grande dos Marinheiros não são
novidades e são alvos de constantes promessas dos políticos. Em 1976, houve superpovoação da Ilha, quando a Free­
way foi construída onde antes
se localizava uma vila. A alternativa encontrada por muitas
famílias, para não ficarem na
rua, foi migrar para a Ilha.
Passados 30 anos, nada
de concreto foi feito para tentar
reverter a situação. Porém, em
2005, uma nova esperança de
melhoria da infra-estrutura da
Ilha dos Marinheiros surgiu.
Antes disso, a ilha era parte da
Reserva Ambiental do Delta do
Jacuí onde não era permitido
instalar qualquer rede de saneamento, nem pavimentar as
vias interiores.
Esperança
A partir desta data, foi criada por lei a Área de Proteção
Ambiental (APA). A proposta,
que foi aprovada pelo Conselho Estadual de Meio Ambiente, pela Câmara Técnica Per-
manente do Fundo Estadual do
Meio Ambiente e pela Fundação Estadual de Meio Ambiente, extingue o Parque Estadual
Delta do Jacuí e cria em seu
lugar a APA Delta do Jacuí.
Assim, as áreas de ocupação urbana são definidas e separadas da reserva ecológica
para que aconteça a instalação de redes de saneamento.
A possibilidade de criação
destas redes é esperada com
expectativa pelos cerca de
quatro mil moradores da Ilha.
O local, hoje, é abastecido por
caminhões pipa de duas a três
vezes por semana.
Morador da ilha há 56 anos,
o presidente da Associação de
Moradores e de Veteranos do
local e empregado da Escola
Estadual Alvarenga Peixoto,
Adelino Saldanha, conta os
dias e sonha com a possibilidade de ter água encanada.
Segundo ele, “é fato histórico
a água encanada, pois vindo a
água vem a urbanização. A rede de esgoto tem que vir”.
Apesar de os problemas
sócio-ambientais enfrentados,
a população se mantém inconformada com a situação do
dia-a-dia, que se arrasta há
mais de 30 anos. Os moradores reclamam dos políticos,
principalmente em tempos de
eleição, que os enchem de esperança com promessas jamais cumpridas. O governo
municipal e os representantes
da Ilha discutem sobre a APA,
desde 2004. Todavia, passados cerca de dois anos, ainda
não foram vistos resultados
significativos nem mudanças.
A precária situação da infra-estrutura da Ilha deixa os cerca de quatro mil moradores indignados
Lama e poeira
A Ilha dos Marinheiros se
divide em lado sul e norte. As
ruas, tanto em uma metade
quanto na outra, não possuem pavimento, com exceção da avenida João Inácio
da Silveira, na metade sul. Ela
foi pavimentada pelos moradores de alta renda com o auxílio da prefeitura para colocação da brita.
Quando chove, no restante
da Ilha, as ruas ficam intransitáveis, sem condições dos mo­
radores saírem ou chegaram
em casa. Quem se arrisca, aca­
ba sujando os calçados e as
roupas. O “dia do barro”, como
é chamado ironicamente pelos
moradores, acontece sempre
após as chuvas. A situação
obriga as pessoas a andarem
com botas-de-borracha, na
tentativa de pelo menos reduzirem a sujeira.
Ruim para os pedestres,
pior ainda para os motorista.
Nos períodos de chuva, os
carros atolam com facilidade.
“Tiraram os porcos, agora os
porcos somos nós”, reclama
Pedro Rolim, outro morador da
Ilha, se referindo ao tempo que
a Ilha dos Marinheiros era local
de criação de porcos.
Para Ilda Rejane e Eliane de
Fátima Faleiro, proprietárias de
um mini-mercado no local, o
problema vai além do barro insuportável nos dias de chuva.
Elas explicam que, no verão,
por ser muito seco, há excesso
de poeira.
A alternativa para amenizar
o problema, segundo os moradores, é colocar cascalho ou
brita nas ruas da Ilha.
Autoridades respondem as críticas
SMOV garante que não há nada de concreto para reverter o problema
O responsável pelo planejamento da Ilha, na Secretaria
Municipal de Obras e Viação
(SMOV), Ernani Mário Pereira,
concorda que o problema das
ruas é complexo, mas que não
há nada que se possa fazer
além de colocar “saibro, sempre saibro”. Segundo ele, a
prefeitura só trabalha com saibro, pois a brita, além de ser
cara, é material particular e não
resolveria o problema.
O representante da SMOV,
que garante fazer vistorias periódicas na Ilha Grande dos
Marinheiros, alega problemas
de irregularidade para acabar
– ou pelo menos reuzir – a situação de calamidade. Pereira
afirma que, em virtude de os
moradores serem ilegais, há
dificuldade de iniciar um trabalho de base na ilha.
Policiamento
Além da melhoria na pavimentação das ruas, as irmãs
Lei ajuda a preservar patrimônio
Faleiro reclamam do pouco
policiamento na Ilha, pois seu
estabelecimento já foi invadido
duas vezes e uma delas foi assaltada à mão-armada.
Segundo o Major Antônio
Nei da Silva Jr., Comandante
da 4º Cia do 9º Batalhão da
Brigada Militar (BM), “a delinqüência convive com os entornos humanos desde que o
homem é homem”. A BM tem
uma patrulha especial que
atua principalmente nas ilhas,
onde o Major Silva Jr. já fez
“várias apreen­sões”.
Por outro lado, os moradores da Ilha Grande dos Marinheiros comemoram que as
questões ecológicas, que anteriormente atrapalhavam o
desenvolvimento da Ilha, não
são mais empecilhos para
criação de uma estrutura de
água e de esgoto. Por isso
eles questionam: o que ainda
falta para a resolução dos
problemas?
Renato Brasil
Renato Brasil
Moinhos de Vento - Os
moradores novos e antigos do
bairro Moinhos de Vento vivem um paradoxo. De um lado, famílias que ocupam os
prédios recém-construídos,
comemoram as vantagens de
morar em um imóvel novo.
Mas do outro, existe uma fatia
de moradores cujos imóveis
resistiram à escalada dos chamados “espigões”, tendo seus
imóveis tombados como patrimônio histórico-cultural pela
Equipe do Patrimônio Histórico e Cultural (EPAHC).
No corredor de casas que
cercam a última quadra da
rua Fêlix da Cunha, por exemplo, houve a primeira manifestação de um grupo de moradores que solicitaram o tombamento dos imóveis. A iniciativa dos moradores era
preservar o patrimônio da cidade, porque o casario estava começando a ruir. Porém,
com as regras estipuladas pela EPAHC, alguns moradores
tiveram prejuízo com as mudanças que tiveram de fazer
nos imóveis. A dona-de-casa
Neuza Azambuja, 65 anos,
teve que retirar suas luminárias que enfeitavam a fachada
da casa, além de abrir mão do
ar-condicionado que nela estava instalado.
Para o comerciante Plínio
César, 26, foi solicitada a retirada do letreiro que divulgava o
nome da loja dele. “Isto é muito
ruim para nós, lojistas, pois
pessoas que passam por ali
acabam não percebendo que
existe uma loja. Fora o gasto
que tivemos para construir a
placa do letreiro”, reclama.
Regras
O diretor da EPAHC, Osório Queiroz Júnior, afirma que
estas regras são impostas para não desmanchar e descaracterizar o visual histórico do
imóvel. “O imóvel pode sim sofrer uma adequação de acordo
com o que a cidade está vivendo em relação à sustentabilidade de uso e atividade”, ressalta Queiroz. Devem ser retirado do imóvel pla­cas publicitárias, luminárias e ar-condicionado, porém deve-se manter, caso possível, o mesmo
estilo de porta de entrada e garagem. Quanto à pintura, o
proprietário tem o direito apenas de escolher as cores em
tons pastéis, para não fugir da
história do casario, e deverá
ser encaminhado um pedido
de licença para a SMOV.
Segundo Queiroz, existem muitas solicitações de
comunidades que querem
ter imóveis e espaços reconhecidos como patrimônio
histórico-cultural, incluindo
ruas e avenidas. Todavia, para que isto ocorra existem critérios avaliados como a arquitetura, a identificação da
escola e da linguagem arquitetônica, questão morfológica que se relaciona do bem
deste imóvel ou deste prédio,
a paisagem, a estética e a
questão histórica. Os pedidos de tombamento são feitos diretamente na EPAHC.
Deverá ser preenchida uma
ficha de inscrição com informações sobre o imóvel.
Leia a matéria na íntegra em
www.ipametodista.edu.br/sites/universoipa
Casario da rua Felix da Cunha no bairro Moinhos de Vento
Política
Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista IPA outubro de 2006
cospe fogo
Que sacanagem é essa?
Aline Torres
Teu desejo é desvendar o mundo das algemas e cintaligas? Incorporar personagens como fetiche? Enlouquecer seu parceiro com posições do Kama Sutra? Contribuir
com a visitação em sites pornô? Sim ou não? Sim! Então,
sinto decepcioná-lo. Aqui, a sacanagem é outra. Trata-se,
da acomodação da maioria dos jovens diante da possibilidade de transformação política e social do país. Eis um
livro em branco como nosso único legado.
Vês alguma luta organizada pela juventude? Passea­
tas, manifestações, bandeiras erguidas? Pois elas existem. Estão nos registros do passado. No tempo em que
sair às ruas e crer na transformação significava sobreviver à violência do Dops, dar adeus aos amigos e, mesmo assim, não havia resignação. Juventude cidadã que
fez sua parte na construção de um país melhor. Se,
para Caetano faltava documento, para nós falta conscientização. Quanto aos caras pintadas, espere até a
próxima Copa do Mundo!
Mas existem pessoas envolvidas em mobilizações! É
o que pensas? Sendo assim, tens razão. Inumeráveis são
as manifestações. Poucos os participantes. Aplausos, para minoria... Porém, na questão da luta jovem, a presença
não é efetiva. Os movimentos são fragmentados. Não há
organização no zelo pelos nossos direitos e deveres. A
juventude não tem voz ativa. E daí? Diz a grande maioria
que, aos 16 anos, abdica seu direito ao voto. Por acaso,
lembras dos que morreram pela democracia? Pois é.
Há esperança? Não responda agora. Antes ouça a
reação conjunta daqueles que questionam a Brasíliacircense e os espetaculares representantes do povopalhaço. “Que país é esse? É a porra do Brasil!”, cantam, vibram, aplaudem. Enfim, desempenham com mérito sua função. O que fazer? Somos jovens-palhaços
em terra de pouco pão e muito circo. Aguardar o momento de integrar a elite do picadeiro? Escandalizar o
povo com a mágica multiplicação dos dólares? E, ao
invés de cartolas, usamos cuecas! Promover strip-tease
nos cofres públicos? Transformar a ignorância da população em nossa perpetuação no poder? E, com simples
giro na capa, fazer hospitais, escolas e o futuro da Maria virarem pó? Errou, novamente. O grito não calou. Ele
desperta sempre que a história exige.
É a hora. Basta de discussões fervorosas sobre corruptos, negligentes, mensaleiros e sanguessugas em
mesas de bar. A não ser que sirvam de trampolim para o ativismo. Culpar os três poderes pelas mazelas
sociais são as algemas que nos impedem de construir
um Brasil melhor. Cobrir-se com véu da descrença é
castrador. Limita a ânsia revolucionária movida pelo
espírito da democratização, que transgride ao voto e
amplia todos setores de nossa sociedade, garantindo
aos brasileiros seus direitos básicos. Como “pão, paz”
e, tudo bem, prazer!
Votar para se proteger
Marluci Stein
Em pleno século 21, é quase inadmissível que milhões de pessoas ainda pensem que o país só irá se
recuperar com governantes que saibam o que fazer para
o bem da população. Alguns podem até achar que este
é um pensamento pessimista. Entretanto, é apenas um
conselho realista para que, nós brasileiros, pensemos no
que fazer para melhorar o lugar em que vivemos.
Uma nação não se constrói a partir de um político, e
sim dos atos de todos os cidadãos que o escolheram. O
voto é uma das armas que ajudariam (e muito) a melhorar a realidade brasileira, tão penada pela ganância e
pelo poder exacerbado de parte dos governantes. Políticos que pensam apenas no próprio bem, sem se lembrar da população sofrida, das crianças nas ruas com
fome e frio, da miséria que tanto assusta. É este o país
que queremos? A resposta é simples: não! Basta de
desleixo e corrupção. O país precisa de mais, precisa
de eleitores que saibam o que estão fazendo para melhorar a sociedade e não apenas em se livrar de um
compromisso: o voto.
A população deveria ficar indignada com o que
acontece no Brasil. Pesquisas recentes apontam que a
maioria dos brasileiros não sabe em quem votou nas
últimas eleições para deputado e senador. Como é que
alguém vai reivindicar por seus direitos na sociedade,
se não sabe nem de quem cobrar as promessas feitas?
Votar é muito mais do que ir às urnas. O voto é uma
questão de honra e de amor à pátria. Se todos pensassem que ao anulá-lo estaríamos ao mesmo tempo eliminando políticos corruptos, a sociedade estaria totalmente desmoralizada. Muito pelo contrário, anulando o
voto, o cidadão acaba submisso à minoria, que pode
eleger qualquer um que julgue “menos pior”. Este é o
grande problema dos brasileiros. Convém lembrar que
um país só se faz com políticas éticas, e que a ponte
para isso é o eleitor.
Em ano de eleição, todo cuidado é pouco. Políticos
chegam com discursos infundados, prometendo “mundos e fundos”. A população, então, cai no erro e confunde quem é governista de quem é estadista. Para
isso, podemos diferenciar governistas, que pensam
apenas nos resultados das próximas eleições, de estadistas, que pensam no futuro das gerações.
Contradição entre a Lei Federal e Municipal contra o fumo gera dúvida
É ou não proibido fumar?
Manoel Canepa
Manoel Canepa
P
Porto Alegre - Cena de
bar: um cliente fumante acende um cigarro, sem nenhuma
preocupação se está ou não
incomodando as pessoas da
mesa ao lado. Estaria correto
o não-fumante reclamar da fumaça para o dono do estabelecimento? Será que o fumante não está simplesmente
exercendo seu direito de fazer
o que quer? O comerciante fica de que lado?
As dúvidas são muitas, principalmente com as contradições até mesmo na legislação.
De acordo com a Lei Federal,
nº 9.294, o responsável pelo
produto, ou seja, a pessoa que
fumar em um recinto fechado
público ou privado, pode ser
considerado infrator, sob as penas cabíveis, que vão da retenção da carteira de cigarros até
a aplicação de uma multa.
A Lei Municipal, que foi
sancionada em julho deste
ano, não define o fumante como infrator. A Lei Complementar nº 555, da prefeitura de
Porto Alegre, prevê como infrator o responsável pelo recinto, cabendo a ele as penalidades como multas e até o cancelamento do alvará de funcionamento. De acordo com o
sistema legislativo brasileiro, o
poder municipal é parcial e hierarquicamente inferior ao poder federal, que, no caso de
discordância, é magno.
Mesmo entre os fumantes
há controvérsias. Para muitos,
a lei – seja Federal ou Municipal
- fere o direito de liberdade do
cidadão, já que a comercialização do produto é legalizada.
Um deles é Paulo César, que
acredita que as leis acabam limitando o direito do fumante.
“Acho este discurso anti-tabagismo muito moralista. Até entendo a questão do fumante
passivo, mas não vejo na proibição a saída”, diz.
Em compensação, outros
acham que a lei beneficia os
fumantes no combate ao vício. Glênio Gil Lobato, por
exemplo, diminuiu o uso com
a proibição em lugares que
freqüenta. “Acabei me acostumando, não vou deixar de ir
aos lugares onde eu gosto por
não poder fumar”, pondera.
Fumante é barrado na porta de lanchonete, porém no interior do local há o expositor para vendas cigarros
Determinação diverge comerciantes
Os donos de bares fechados de Porto Alegre adotaram
a Lei Municipal de combate ao
fumo. É o caso de uma danceteria da rua João Alfredo, no
bairro Cidade Baixa, e de uma
tradicional lanchonete do Bom
Fim. O funcionário deste estabelecimento, Adilar Deriva,
acredita que para quem trabalha com comida a lei é boa.
Ele confessa que o movi-
mento tradicional diminuiu um
pouco, porém acabou trazendo outras pessoas que deixavam de ficar ali por causa da
fumaça excessiva. “Inclusive
sei de clientes que deixaram de
fumar ou diminuíram o uso desde que saiu a lei”, conta ele.
Contudo, nem todos os lugares estão aplicando a Lei,
seja Municipal ou Federal, principalmente os que não têm a
comida como principal atrativo. É o caso do dono de um
outro estabelecimento da Cidade Baixa, que não quis se
identificar. “Cada lugar tem o
seu perfil. Aqui, por exemplo,
as pessoas vêm tomar uma
‘cervejinha’, bater-papo, fumar
um cigarro... Com a proibição,
sem dúvida, perderia mais da
metade da fluência”, prevê,
sem fazer valer a lei.
Só 20% do comércio cumpre a lei
Segundo o vereador João
Carlos Nedel (PP), autor da lei
na capital gaúcha, o projeto
original previa penas aos fumantes e não aos comerciantes, mas a proposta foi rejeitada pelos demais vereadores.
Nedel pensa em alterações,
reconhecendo dificuldades
apontadas pelo Sindicato dos
Hotéis, Restaurantes, Bares e
Similares de Porto Alegre
(SHRBS).
O vereador admite que só
20% dos lugares cumprem as
normas, que 60% reservam
áreas para fumantes que não
se adequam à lei, e outros 20%
ainda a descumprem completamente. Até o fechamento
desta edição ninguém recebeu
multa, apenas notificação.
A assessora jurídica do
SHRBS, Clarissa Longoni, diz
que as modificações da legislação devem levar em conta três
principais problemas enfrentados pelos comerciantes. O pri-
meiro seria a dificuldade que os
pequenos estabelecimentos teriam para disponibilizar a área
restrita para os fumantes. Outro
é como se daria de fato o ambiente “destinado exclusivamente para o consumo de fumígenos, devidamente isolados e
com arejamento conveniente”,
como estabelece a lei. E, por
fim, a responsabilidade de fiscalizar que passa a ser do comerciante, gerando conflito
com os clientes.
Smic promete fiscalizar postos
Betina Shünke
Os jovens de Porto Alegre
encontraram um local, no mínimo, inusitado onde se reúnem nas noites de quinta-feira
a sábado. São os postos de
combustíveis que possuem loja de conveniência. Segundo
eles, o local foi escolhido por
ter uma boa infra-estrutura, iluminação, além de ser seguro.
Todavia, em virtude dos
acidentes causados por motoristas embriagados, entrou em
vigor, em junho deste ano, a lei
de nº 9.996, que proíbe a consumação de bebida alcoólica
em postos da capital gaúcha.
Aprovada por unanimidade
pela Câmera de Vereadores,
no dia 10 de maio, foi sancionada pelo prefeito em exercício
Eliseu Santos (PTB), no dia 19
de junho. No dia seguinte, publicada no Diário Oficial.
O texto reza que “fica proibido o consumo de bebidas
alcoólicas nas dependências
dos postos de gasolina, estacionamentos e similares, inclusive nos que têm estabelecimentos que servem bebidas
em balcões, mesas e lojas de
conveniência”. De acordo com
a vereadora Clênia Maranhão
(PPS), autora da lei, o objetivo
é reduzir os acidentes de trânsito. Para ela, a maioria deles
vem da combinação entre bebidas alcoólicas e volantes de
automóveis.
“É uma medida pouco eficiente, porque as pessoas
compram nos postos e acabam tomando em outro lugar”,
afirma o jovem Marcos Neumann. A gerente de uma loja
de conveniência na rua Casemiro de Abreu, Andréia Silva,
confirma. Segundo ela, é proibido o consumo no interior
das lojas e não a venda de bebidas. Com isso, os jovens
compram o produto e só atravessam a rua para consumir
livremente. “Seria impossível
pegar as pessoas pelo braço
e tirá-las à força do posto.
Nossa parte, estamos fazendo, agora, o problema é que,
se as pessoas não obedecem
a lei, nós é que pagamos a
multa”, afirma Silva.
Rigor
A fiscalização está sob a
responsabilidade da Secretaria Municipal da Indústria e Comércio (Smic). Os estabelecimentos ficam obrigados a fixar
cartazes com a lei e a frase
“Proibido o consumo de bebidas alcoólicas”.
Além da multa de cerca de
R$ 400, os postos que não estiverem cumprindo com a lei poderão ser interditados e até perder o alvará de funcionamento.
Segundo a Smic, a maioria
dos estabelecimentos está seguindo as determinações previstas na lei. São cerca de seis
os locais que estão causando
problemas com venda e consumo ilegal de bebidas alcoólicas. O secretário da Smic,
Idenir Cecchim, afirma que a
fiscalização será intensificada:
“O período de conscientização
já terminou. Os proprietários
de postos já tiveram tempo suficiente para conhecer a lei.
Agora, quem estiver desrespeitando-a será multado”.
Colaborou: Cristiano Fornari
Serviço
Denúncias e irregularidades podem ser encaminhadas
à Smic pelo telefone (51) 32891760 ou pelo e-mail: [email protected].
Economia
outubro de 2006 Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista IPA
Cobrança de R$ 5,10 na RS-040 está prejudicando comércio, educação e saúde de Viamão e seus distritos
Pedágio prejudica a economia local
V
Viamão - O Pedágio na RS040 vem atrasando o desenvolvimento do município de
Viamão e principalmente do
distrito de Águas Claras. Mesmo considerando que a praça
de pedágio de Viamão, responsável pela estrada, esteja
cumprindo com as suas obrigações de conservar e dar assistência aos que nela trafegam, a cobrança de R$ 5,10
de ida e vinda vem afugentando novos moradores, turistas
e investimentos.
A polêmica do pedágio em
Águas Claras está correndo
há mais de oito anos. Na gestão do governo do Rio Grande
do Sul de 1998, foi dada a
concessão para empresa Univias até 2013. Na época em
que o pedágio se instalou,
Águas Claras se caracterizava
como uma zona em franco desenvolvimento. Os anos foram
passando e o pedágio começou a ficar mais caro, cobrando não só a ida como também
a volta. Isso acarretou problemas no progresso desse distrito, que vinha registrando
Fotos: Alexandre Soares Pinto
Alexandre Soares Pinto
elevado nível de crescimento,
em função dos investimentos
em andamento.
A emancipação de Águas
Claras poderia ser a solução?
Para a diretora da Escola Apolinário Alves do Santos, Hení
Gontow, atualmente este não
é o caminho. “A emancipação
do distrito mostra-se inviável,
pois necessita de uma infraestrutura básica para tornar-se
uma cidade auto-suficiente, e
a administração não tem demonstrado interesse em investir”, afirma ela.
Hoje, 100% dos moradores que vivem na zona sem
hospitais, bancos, entre outros serviços, têm a isenção
do pedágio, garante a administração do Departamento
Autônomo de Estradas e Rodagem (DAER). Na realidade,
tanto os caminhões que atendem os comerciantes de
Águas Claras e até mesmo os
ônibus de linha pagam por utilizar a via, o que acresce no
valor das mercadorias. Conforme a proprietária de uma
casa de produtos coloniais,
Dirce Herbertz, as vendas para fora da região são difíceis
de ocorrer por causa dessa
cobrança.
Os comerciantes vêm sofrendo com a queda no número de clientes e de mão-deobra. É o que afirma Herbertz,
ao explicar os prejuízos que o
pedágio está ocasinando. Ela
relata que teve que despedir
nove dos 15 funcionários. O
corretor de imóveis, Samir
Zacca, também revela o que
está acontecendo no Distrito.
Segundo ele, “após a polêmica do pedágio, anunciada nos meios de comunicação, a procura por sítios diminuiu 90%, enquanto o número de imóveis para vender
aumentou em 200%”. Zacca
explica que “as famílias, que
antes moravam em Águas
Claras, preferem vender a
propriedade em que viviam
ou tinham um sítio a preços
irrisórios para buscar, em outros lugares, melhores condições de emprego, livrando-se
da carga tributária imposta
pelo pedágio”.
Praça de Pedágio localizada na RS 040, a 12 km do centro de Viamão
Justificativa
da prefeitura
O secretário de Desenvolvimento Econômico de Viamão,
Ataíde Nunes, assume que o
pedágio inibe os investimentos
na região, bem como a presença de profissionais da área de
saúde e educação. É o que
ocorre nas escolas locais, onde
os professores não querem pagar pedágio para ir trabalhar. No
posto de saúde, os médicos
preferem atender apenas uma
ou duas vezes na semana para
economizar.
As empresas que estão instaladas e outras, que poderão
também se instalar, estão embutindo o custo do pedágio em
seus produtos. “Como sempre,
isso se transfere ao bolso do
consumidor”, diz o secretário.
Apesar do problema, Nunes explica que o município é muito
grande, por isso requer altos investimentos. “Conseguimos
descentralizar a burocracia
criando sub-prefeituras nos distritos da região rural”, contrapõe
o secretário, tentando justificar
a presença do pedágio.
Cobrança está entre zonas urbanas
Na entrada do distrito de
Águas Claras, a placa “Início
do perímetro urbano de Águas
Claras”, indica que essa região, a qual o pedágio corta,
divide duas zonas urbanas.
Para a prefeitura de Viamão,
Águas Claras é uma zona urbana, porém para o DAER, a
zona não tem infra-estrutura
necessária para ser considerada como urbana.
Placas que indicam o início do perímetro urbano localizadas a 5 km do pedágio e a 17 km do Centro
Outro problema é o acostamento. Conforme a diretora da
escola Apolinário Alves dos
Santos, Heni Gontow, o acostamento da via RS-040 é usado como tráfego de pedestres.
Ele está esburacado. Segundo
a administração do DAER, o
cuidado com o acostamento
não está no contrato. “O pedágio investe em melhorias no
acostamento, mas não é uma
obrigação da Univias”, alegam.
Tanto para população quanto
para a prefeitura são boas as
melhorias que o pedágio trouxe para a via. Mas, o pedágio
da RS 040 provoca critica e
continua inibindo emprego e
renda para a sociedade que
vive no local, segundo Nunes.
O veraneio começa e mais um
ano de manifestações e críticas virão.
Grandes empresas levam Emprego se torna vilão
suas filiais para os bairros
Daiane Pajares
Graziele Corrêa
zes, eram até 15 dias úteis de
espera. “Hoje com a loja perto
de casa o recebimento do produto é mais rápido e também
mais barato”, comparou.
CONCORRÊNCIA
O comerciante da microempresa, Gelson Antônio, que
inaugurou sua loja no bairro há
quatro meses, diz que não se
sente nenhum pouco prejudicado com a concorrência.
“Desde que abri a loja tenho tido um bom número de clientes,
dou um atendimento personalizado, e procuro ter produtos
de qualidade. Essas atitudes
ajudam a manter os clientes”,
garantiu o comerciante, acrescentando que confia na propaganda boca-a-boca.
Para o gerente Oseias Oli-
veira Santos, que trabalha em
uma loja de grande porte instalada no bairro há cinco anos,
essa concorrência entre pequenos e grandes não existe. Ele
garante que cada loja tem o seu
público, e que a concentração
de pequenas e microempresas
ajuda no movimento do bairro.
O presidente da CDL, Wilson Noer, admite que as lojas
de pequeno porte correm o perigo de ter as portas fechadas,
pois é difícil concorrer com empresas maiores. A CDL realiza
cursos para os seus associados, como de noções de contabilidade, criativida de e alto
desempenho em vendas.
Leia a matéria na íntegra em
www.ipametodista.edu.br/sites/universoipa
Graziele Corrêa
Porto Alegre - O foco
dos locais para abertura de novas filiais no comércio de Porto
Alegre tem mudado nos últimos anos. As empresas de
grande porte (comércio com
mais de 99 empregados) têm
optado pela instalação das lojas em lugares mais afastados
do Centro, em busca de novos
consumidores, bem como ampliar as facilidades de compra.
A constatação é da Câmara
dos Dirigentes Lojistas (CDL).
Um dos bairros que tem
sentido esta movimentação é o
Sarandi, localizado na zona norte da cidade. O bairro que antes
se caracterizava por ser uma região para empresas de pequeno porte (comércio que emprega de dez a 49 empregados) e
microempresas (comércio com
até nove empregados), hoje tem
empresas de grande porte.
Quem ganhou com a nova
concorrência foram os moradores do bairro e arredores,
como opina a auxiliar de serviços gerais, Rosa Fernandes.
Ela comenta que antes tinha
que se deslocar até o Centro
para pesquisar preços, e que
agora o acesso ficou mais fácil.
Outra vantagem é na entrega
dos produtos.
O auxiliar de produção Ma­
teus Marques lembra que
quando comprava em lojas
distantes do bairro a entrega
era sempre demorada, às ve-
Moradores da Zona Norte se deparam com o novo método de comércio
Viamão - A economia de
Viamão está vivendo um período de altos e baixos. Enquanto sobe a cotação da
cidade no que se refere à arrecadação de impostos, principalmente, em virtude da instalação de grandes indústrias,
por outro lado falta emprego
para a população dos distritos
da cidade, como Águas Claras, Capão da Porteira e Morro Grande.
O município de Viamão obteve um crescimento relevante
nos últimos dez anos. De acordo com dados da Secretaria
do Desenvolvimento, em 1996
o município estava na 50ª posição na arrecadação de Imposto sobre Circulação de
Mercadorias e Serviços –
ICMS, entre as cidades com
mais de 100 mil habitantes no
Rio Grande do Sul. Neste ano,
passou para o sétimo lugar.
Segundo o secretário de
Desenvolvimento Econômico
de Viamão, Ataíde Nunes, a
arrecadação de ICMS teve um
salto muito grande e mudou o
perfil do município com a chegada de empresas de grande
porte. “A zona rural de Viamão
é uma região em franco crescimento. Em breve uma fábrica de gelo estará se instalando junto às duas empresas,
todas estas atraídas pela qualidade da água”, garantiu.
Com extensão territorial de
1.494 quilômetro quadrado, a
cidade de Viamão é habitada
por 265 mil habitantes e ape-
Alexandre Soares Pinto
Empresa de embalagens não gerou empregos em Águas Claras
nas 5% da população ocupa
a zona rural, constituída por
83% do município; enquanto
os outros 95% residem nos
17% do território urbano.
Contribuindo de forma significativa no orçamento do município, a zona rural de Viamão
tem como principal atividade
econômica a agro-pastoril.
Somando à produção de
alimentos, em 1999 uma
companhia de bebidas se
instalou na região. Em 2002,
segundo dados do setor de
Relações Humanas, por motivos de estratégia logística e
proximidade à empresa de
bebidas, uma fábrica produtora de latas e embalagens
também ocupou seu espaço
em Águas Claras.
Mesmo com a aparente
tranqüilidade econômica, Viamão e seus distritos ainda têm
problemas com o desempre-
go. Com a experiência de 20
anos de residência no distrito,
o aposentado Valmir Ferreira
diz que a chegada das empresas não mudou o perfil de
Águas Claras, pois não existe
um retorno ativo de verbas e
de serviços prestados à comunidade.
As duas empresas instaladas nos últimos anos teriam
gerado centenas de empregos, mas poucas vagas foram ocupadas por pessoas
da localidade. “Muitas pessoas foram trazidas de Viamão e de outras cidades devido à necessidade de mãode-obra treinada e qualificada”, comenta a moradora
Luciani Stankowski. A comerciante Daniela Gauterio
afirmou que a instalação das
fábricas não influenciou no
comércio local e nem aumentou o número de clientes.
Saúde
Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista IPA outubro de 2006
Moradores do Cristo Redentor comemoram melhorias no Hospital Conceição, mas reclamam da superlotação
Nova emergência, velhos problemas
Marco Júnior
Marco Júnior
C
Cristo Redentor - A
nova emergência do Hospital
Conceição, localizada no bairro Cristo Redentor, inaugurada
no dia 19 de abril deste ano,
está perto de completar cinco
meses de funcionamento.
Mesmo com a modernização
da instituição, quem precisa
ser atendido no local reclama
de problemas antigos como
superlotação, falta de espaço
para acomodar quem espera
por atendimentos e demora
nas consultas. A direção do
hospital contesta as reclamações, afirmando que 80% dos
casos são atendidos em menos de uma hora.
A doméstica Suzana Correa, que procurou o Conceição
por estar há uma semana sofrendo com oscilações na sua
pressão arterial, aponta dois
problemas que teve de enfrentar: a demora de uma hora e 45
minutos e o mau atendimento
por parte dos médicos. “Isso
faz com que a nova estrutura
seja comprometida. O que mudou foram apenas as instalações”, critica, com a segurança
de quem procura a instituição
freqüentemente desde os tempos da antiga emergência.
O autônomo Edemilson
Braga reclama da falta de ar e
dor nas costas que, segundo
ele, não o deixavam dormir direito há três dias. O paciente
confirma a demora, mas elogia
a qualidade do atendimento:
“sempre fui bem atendido por
todos desde os recepcionistas, passando pelos profissionais de enfermagem e chegando aos médicos”.
SERVIÇOS
• O Hospital Conceição fica
localizado na avenida
Francisco Trein, nº 596,
bairro Cristo Redentor.
Telefone: 3357-2000.
• O atendimento é
exclusivamente pelo
Sistema Único
de Saúde (SUS).
• O acesso a pacientes a
pé ou de carro é feito pela
parte frontal do Conceição.
• Procure sempre levar
consigo um documento
de identificação.
• Chegando ao local,
identifique-se no balcão
de acolhimento.
• As linhas 617 – Iguatemi,
652 – Ipiranga hospital,
T 7, passam na frente
do hospital.
Fontes: Da Redação e Enfermeira
Viviane Domingues.
Os pacientes reclamam da demora no atendimento, da superlotação e da falta de espaço no Conceição. A direção do hospital contesta
Diretor contesta reclamações de usuários
Desde 2002 gerenciando
a área de emergência, o médico Luiz Ronaldo Huber contesta as reclamações de demora nas consultas. Ele garante que, após o início da
sua gestão, 80% dos casos
são atendidos em no máximo
uma hora. Todavia, admite
que “devido à alta procura em
determinados dias esta espe-
Filas: as vilãs
Sabrina Pitol
Bom Jesus e lomba
do pinheiro - Os portoalegrenses, assim como o
resto da população do país,
têm direito a desfrutar do Sistema Único de Saúde (SUS).
Cerca de 70% dos moradores da Zona Leste de Porto
Alegre têm esse serviço como único acesso ao tratamento de doenças. Dados
como esses levaram à formação da rede que conta com
espaços para atender ao Programa da Saúde Familiar
(PSF), Unidade Básica de
Saúde (UBS) e Pronto Atendimento (PA), o que deveria diminuir a demanda de pacientes nas filas das emergência
dos hospitais. Entretanto, as
filas continuam grandes.
Na Zona Leste, Maria
Cristina dos Santos, 25 anos,
que aguardava por volta de
duas horas em um pronto
atendimento no Posto 24
Horas, como é conhecido,
diz que freqüentemente sofre
de crises de asma, doença
pulmonar, e muitas vezes
procura atendimento do
SUS. “Não tenho condições
de custear um plano de saúde”, ressalta.
Marina Dias, 60 anos, que
sofre de bronquite, hipertensão e pressão arterial alta,
conta que em inúmeras ocasiões necessitou do serviço e
teve atendimento rápido.
“Recebo os remédios do
posto. Até hoje, sempre que
precisei, fui atendida”.
Zona Leste
O médico e coordenador
da rede de postos de saúde
familiar da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Sati Jaber Mahmud, explica que para melhorar é importante que
os pacientes se cadastrem
no SUS, através do Cartão
SUS, que é nacional, gratuito,
facilita o atendimento e combate o tempo de espera. O
PSF atende as comunidades
de 500 pessoas e funciona
das 8 às 17 horas, com distribuição de fichas diárias.
Clara Martins da Silva, 28
anos, residente do bairro Lomba do Pinheiro, conta que
quando soube da gravidez,
aos 16 anos, obteve atendimento no posto mais próximo
de casa e, posteriormente, foi
encaminhada para o hospital.
Nos casos de emergências após às 20 horas, existe
o PA, que funciona 24 horas.
Existem duas unidades na
Zona Leste: Bom Jesus e
Lomba do Pinheiro, com capacidade para atender em
torno de 1,5 mil pacientes.
Nos PAs e em toda a rede de
saúde, as farmácias dispõem
no estoque de medicamentos a lista básica definida pelo Ministério da Saúde, que
complementa o tratamento
médico nos casos em que o
paciente não tem recursos.
O médio orienta que “em
casos de emergências o PA
o mais próximo deve ser procurado”, completa.
ra pode aumentar”. Ele afirma
que os problemas são de conhecimento da administração, que está trabalhando para melhorias.
O problema do espaço das
acomodações, por exemplo,
será resolvido com a disponibilização de mais 20 lugares
para acompanhantes e pacientes que aguardam consul-
tas e exames. “As pessoas
que procuram pelo serviço
devem levar apenas um acompanhante”, orienta.
Sobre o problema da superlotação, que acaba influenciando no tempo de espera
das consultas, ele credita ao
motivo cultural, como “a falta
de crédito e conhecimento por
parte da população dos servi-
ços prestados pelos postos de
saúde”. Segundo Huber, os
postos são capazes de resolver patologias mais simples,
deixando para a emergência
do Hospital apenas os casos
mais graves. “A conscientização não será tão fácil no Brasil,
pois as pessoas acham que os
postos servem apenas para
prevenção”, analisa.
Novidades
Com uma área de 1.420
metros quadrados, o espaço
do Hospital Conceição continua oferecendo 50 leitos, como acontecia com a antiga
emergência. Porém, o número
de consultórios para clínica
médica aumentou. Antes, havia um consultório, que se assemelhava a um galpão, onde
cinco médicos realizavam
atendimentos simultâneos.
Agora eles elevaram para nove, aumentando a privacidade
na consulta. Além disso, há
duas salas para pequenos procedimentos, serviço de diagnóstico por imagem com raiosX, ecografia e eletrocardiograma, sala de medicação e coleta de exames laboratoriais.
Atendem na instituição, durante 24 horas, oito clínicos
gerais, dois dentistas, dois cirurgiões gerais e um ginecologista. Segundo Huber, o hospital é considerado o maior
setor de emergência do Rio
Grande do Sul. Por isso, disponibiliza um novo modelo de
atendimento por classificação
de risco, no qual pacientes que
apresentam mais gravidade
em seus casos terão preferência. Este modelo veio substituir
o antigo, que funcionava por
ordem de chegada.
De acordo com a enfermeira Viviane Domingues, nos primeiros 120 dias de funcionamento da nova emergência,
foram realizados uma média
de 80 mil consultas, com cerca de 46 mil exames laboratoriais e 24 mil diagnósticos por
imagem, com um custo mensal de R$ 350 mil.
Atendimento demorado no
Hospital São Camilo em Esteio
Amanda Porterolla
Amanda Porterolla
Esteio - O atendimento no
Hospital Municipal São Camilo
tem gerado reclamações entre
os residentes de Esteio. Segundo moradores e pacientes,
quem procura ajuda no local
acaba sofrendo com uma assistência demorada e com um
número insuficiente de médicos e enfermeiros. O hospital
alega que a demora se dá porque a estrutura é direcionada a
urgências e emergências.
A dona de casa Lisandra
José Nunes, que acompanhava uma moça com ameaça de
aborto, relatou que o atendimento demorou duas horas e
meia. “A gente vem porque é
obrigado, pois levam dez anos
pra atender”, ironizou. O hospital conta com uma clínica
obstétrica terceirizada. “O
acordo que nós temos com a
clínica é que ela atenda toda
a demanda 24 horas. Se é alguma coisa de risco, eles
atendem de imediato, estão
ali pra isso”, afirma o gerente
administrativo do hospital,
Mar­­celino Anflor.
O gerente justifica a demora pelo fato da estrutura ser
direcionada a urgências e
emergências. “Os casos que
não são urgentes ficam em espera um tempo maior”, admitiu. O hospital esteve lotado
durante todo o inverno. “Em 24
de agosto, com a capacidade
de 16 leitos, estávamos com
34 pacientes. Isso complica e
também cai um pouco da qualidade no atendimento”, recorda. Mesmo diante das dificuldades, Anflor considera justa a
reclamação pela demora.
Os pacientes, também, reclamam do tratamento que recebem dos médicos e enfermeiros. “Há um descaso com
o paciente. Os enfermeiros são
debochados. Faltam enfermeiros atenciosos”, reclama a
Insuficiência de médicos e enfermeiros dificultam o atendimento
operadora de turismo, Karen
Guisso, que levava a filha para
retirar o gesso. Para tentar reverter esse quadro, Anflor afirma que o hospital está iniciando um trabalho de humanização junto aos funcionários. Os
médicos nomearam um repre-
sentante para o grupo. “O paciente do Sistema Único de
Saúde (SUS) vem para um
atendimento pelo qual ele já
pagou trabalhando a vida inteira, não é obrigação de ninguém, e sim um direito do cidadão”, pondera o gerente.
Reformas visam melhorias no atendimento
A unidade de emergência e
ambulatório do Hospital Municipal São Camilo conta com
quatro médicos por plantão de
24 horas, que atendem em média 250 pessoas por dia pelo
SUS e por convênios. “Se aumentar o número de médicos,
não tem consultório para eles
atenderem. Não tem estrutura
física”, afirma o gerente.
O hospital passou por reformas de 5 a 24 de agosto
último. Houve reforma na área
administrativa e aumento de
espaço na unidade de emergência. “A gente vai implantar
o Sistema de Acolhimento como é feito hoje em outros hospitais. O pessoal do acolhi-
mento faz a triagem e encaminha os casos mais urgentes para o atendimento”, explica Anflor.
Um ponto negativo é que,
em função das obras, os bancos da unidade de traumatologia foram retirados temporariamente, fazendo com que os
pacientes esperassem em pé.
O hospital tem 90% dos
atendimentos feitos pelo SUS.
Segundo o gerente, os convênios é que equilibram os gastos do SUS. “Nossa meta é
não reduzir o atendimento pelo SUS, mas melhorar e ampliar o atendimento de convênios e particulares para buscar
equilíbrio financeiro”, relata.
Meio Ambiente
outubro de 2006 Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista IPA
Projeto Ecoturismo Acessível para Todos mostra as belezas do ecossistema de áreas isoladas de Porto Alegre
Deficientes fazem passeios turísticos
P
Stéphanie Perrone
Porto Alegre - Os portadores de deficiência física
têm a oportunidade de conhecer, a partir do projeto “Ecoturismo Acessível para Todos”,
as belezas do ecossistema e
apreciar uma bela vista da cidade de Porto Alegre. Mensalmente, a Organização NãoGovernamental (ONG) Caminhadores organiza passeios
turísticos e de ecoturismo no
Parque Natural do Morro do
Osso. Para idealizar este sonho, a entidade conta com a
colaboração de voluntários para auxiliar no transporte e cuidados com os “aventureiros”.
A idéia surgiu em meio a um
grupo de amigos que participavam de atividades escoteiras. Eles viajaram e acamparam em muitos lugares, mas
sempre tiveram a sensação
que havia uma parcela da população que não tinha acesso
a essas atividades. Em 2003,
inspirados em um grupo de
montanhistas franceses, fundaram a ONG Caminhadores
para proporcionar aos portadores de deficiência física a
chance de ver e sentir as emoções de completar uma trilha
ecológica. “Ele se sente parte
do contexto, se sente ecoturista”, disse o guia de turismo e
coordenador da ONG, Rotechild Prestes, 40 anos.
O Parque Natural do Morro
do Osso é localizado em uma
área de fácil acesso, tendo toda a segurança e infra-estrutura necessária para apreciarem
as belezas desse ecossistema. Dispondo de uma cadeira
de rodas fabricada especialmente para os passeios, com
apenas uma roda e amortecedores, o deficiente recebe todo
o apoio possível durante o percurso do passeio.
Mariluh Fer nandes, 47
anos, e a filha Michelle Fernandes Prevedello, 25, portadora
de Síndrome Londonkleff, participam sempre que possível
dos passeios promovidos pela
ONG. Para Mariluh Fernandes,
essa iniciativa é importante,
pois mostra os lugares através
de um novo ângulo, o que nem
sempre é possível com a rotina
do dia-a-dia.
Noeda Regina da Rosa Brito, 49 anos, deficiente visual há
seis anos, leva uma vida normal. Estuda braile, participa de
um grupo de convivência e faz
aulas de teatro. Para elas as
atividades turísticas são uma
fonte de conhecimento, uma
forma de saber sobre assuntos
que talvez não teriam a oportunidade de aprender.
Integrante do projeto há
dois anos, o voluntário Silvio Tedesco Engel, 51, se interessou
pela causa desde a primeira vez
que participou de uma caminhada com deficientes visuais.
“Me encantei com a alegria deles por estar no morro”, diz. O
número de voluntários varia em
cada passeio, de acordo com a
disponibilidade dos mesmos.
Mesmo com dificuldades financeiras, os idealizadores do
projeto pretendem expandí-lo
para outro ponto turístico da
capital. A partir de outubro, a
intenção é realizar passeios de
barco pelo Guaíba. Mais informações sobre o projeto podem ser obtidas no site www.
caminhadores.org.
Stéphanie Perrone
Horta une a comunidade
Carlos Daniel
Canoas - Respira em Canoas, no bairro Mathias Velho, uma horta comunitária
que nasceu com as Frentes
de Trabalho em 1984, desenvolveu-se com o coletivo
de famílias em 1986 e se
consolidou como associação sem fins lucrativos em
1996. A horta sobrevive com
a dedicação de voluntários e
parceiros e compartilha suas
terras com 35 famílias, as
quais plantam verduras e legumes em benefício próprio.
Além do plantio, a associação é entidade executora
de projetos desenvolvidos
pelo Consórcio Social da Juventude (CJS) para aproximadamente 100 jovens entre16 à 24 anos e sustenta
uma Creche Comunitária
que atende 25 crianças com
vulnerabilidade social.
Conforme registros constatados pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento,
cerca de 500 famílias dependem economicamente da
produção rural, em Canoas.
A Houcouno, segundo a vice-presidente da Associação Diva Fiorotti, não tem
fins lucrativos. “As famílias
plantam, mas não é para comercializar, é para subsistência”, ressalta. O local disponibiliza estrutura e terra
para plantio, entretanto, não
restringe a atuação ao plantio de verduras e hortaliças.
As sementes
A Houcouno planta, colhe e cuida de suas “sementes”. No interior do terreno
existe uma cheche comunitária que atende em média
25 crianças da comunidade.
Um facilitador para muitas
mães trabalhadoras do bairro Mathias Velho. “É uma alternativa para dar conta da
criançada”, resume a atendente voluntária da creche,
Lucy Lopes de Oliveira.
A creche, que não recebe auxílio financeiro do go-
Carlos Daniel
Em Canoas, projeto de horta comunitária, Houcouno, abriga creche que atende 25 crianças
verno, a não ser a bolsa Mesa Brasil (projeto ligado ao
Fome Zero), conta com a
ajuda financeira das mães e
doação de alimentos. “Comecei cuidando as crianças
da vizinha, hoje são 25”, orgulha-se a atendente.
Entidade executora do
CJS, a Horta Comunitária
União dos Operários desenvolve trabalho social de suma importância à comunidade. Em parceria com a Associação dos Moradores Vila
União e da Paróquia Imaculada do Rio Branco, são aten­
didos em média cem jovens
dos bairros Mathias Velho,
Rio Branco, Guajuviras e
Santo Operário.
O objetivo é qualificar os
jovens do bairro e inseri-los
no mercado. São integrados
à Hocouno cursos pré-profissionais de jardinagem,
ajustador mecânico, atendimento ao público e varejista.
“Nos cursos oferecidos o jovem tem chance de entrar
no mercado de trabalho”,
salienta o presidente Alcindo
Rodrigues Pereira.
Plantando o futuro junto
à juventude de Canoas
O CSJ destina aos jovens da comunidade 400
horas de curso, 100 horas
de trabalho voluntário em
projetos comunitários e
uma bolsa auxílio de R$ 150
mensais.
Se depender da estudante do primeiro ano do
ensino médio, Naiara Carlos
de Almeida, 16 anos, muito
será cultivado. “Quando a
gente for entrar no mercado
de trabalho vai estar mais
preparada”, salienta. E ainda
sonha: “quero fazer faculdade de medicina”.
A vice-presidente da Hocouno, única instituição a
participar em 2005, Diva Fiorotti, explica que além de formar mão-de-obra, o trabalho busca desenvolver noções de cidadania e solidariedade. “A importância de
ser voluntário é ter cosciência de estar trabalhando com
a vida do outro”, destaca.
O projeto
Para melhorar as condições do local, a Hocouno
cadastrou um projeto de reestruturação no Portal Social. A entidade objetiva mudar a infra-estrutura da horta, substituindo parcialmente a atual rede de irrigação.
Com as mudanças, a entidade garante uma maior
produtividade para as 35 famílias que ali plantam e a
melhora da estrutura para a
aplicação dos programas do
CSJ. Etapa fundamental do
projeto, segundo a direção
da instituição, é concretizar
a creche como jardim de infância e adquirir laboratórios
de informática.
O projeto pode ser visto
no site do Portal Social www.
portalsocial.org.br. Informações ou doações podem ser
feitas na sede da hocouno:
rua 18 de novembro, 400,
Mathias Velho.
Rotechild, coordenador da ONG, e Michelle, que participa do projeto
Natureza e moradores pedem socorro no Petrópolis
Rodrigo Pires
Petrópolis - Se há algumas décadas praça pública
era um local para famílias e
amigos se reunirem para bater
papo ou aproveitar a natureza, animais e fazer ginástica,
atualmente os locais estão
sendo pontos de ação para
marginais. A praça Nações
Unidas, localizada no bairro
Petrópolis, principalmente à
noite pode ser considerada
uma área de risco.
Na Nações Unidas, o último crime que abalou os moradores foi o assassinato de um
jovem que estava dentro de
seu carro, na rua Artigas. Fazendo jus ao nome da praça,
a vizinhança se uniu para fazer
um abaixo-assinado, como
conta o taxista Fernando Almeida, 44 anos, que trabalha
próximo ao local desde 1992.
“Agora se vê mais policiais por
aqui, quase sempre a cavalos,
mas de vez em quando de carro ou à pé também”, alivia-se.
O taxista Tadeu Medeiros, 56
anos, ressalta a importância
da iluminação. “Após essa tragédia a prefeitura melhorou a
iluminação, colocando mais
postes de luz e cortou as árvores para iluminar melhor a praça”, emenda.
Segundo a arquiteta da
Sessão Urbana de Praças da
Prefeitura, Ângela Bolsson
Moraes, a parte da iluminação
foi uma “parceria com os moradores das cercanias da praça, pois temos pouca gente e
pouco recurso para tal”. Ela
explica que foi criado o programa “Diálogo na Praça” para
casos como esse.
A poda de árvores está
sendo feita em parceria com a
prefeitura. Existe o “Termo de
Compensação Vegetal (TCV)”,
uma autorização para supres-
são de espécie vegetal, mas
com retorno garantido. “No local, a compensação será a rea­
lização de obras como a cobertura da cancha de bocha,
substituições dos bebedouros
e melhorias nos equipamentos
de ginástica na praça Nações
Unidas”, garante Moraes.
Sujeira
Outro problema são os moradores de rua, que sujam a
praça e contribuem para o
afastamento dos visitantes.
Morador da rua Artigas, George Royer, 21 anos, acha a praça bonita e agradável, “mas é
mal cuidada e suja, devido aos
moradores de rua”.
A Secretaria Municipal do
Meio Ambiente (SMAM) fez
parceria com a Fundação de
Assistência Social e Cidadania
(FASC) para a retirada dos indigentes, mas ainda é possível
encontrá-los por lá.
Rodrigo Pires
Contraste na Praça Nações Unidas: natureza divide espaço com o perigo
Segurança
A sargento Cláudia Almeida,
da 1° Companhia do 11° BPM,
garante que a condição atual da
praça “melhorou com um efetivo maior”. Disse que o problema mais freqüente “são os usuários de droga, como da maconha, e não o tráfico”. A sargento falou também que os moradores que cercam a praça ajudam informando quando há
pessoas estranhas ou com atitudes suspeitas. “Isso ajuda no
bom convívio entre polícia e
moradores”, comenta.
Para evitar os crimes, a Brigada trabalha, com escalas diárias de oficiais, motorizada,
montada e a pé. Em alguns fins
de semana, há o posto móvel
da Brigada, onde se pode fazer
ocorrências no local, e a Força
de Emprego Tático (FET), uma
polícia fardada que ajuda no
efetivo da BM.
Evandra Jacques
Cidadania
caderno
Outubro de 2006 Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista IPA
“Penso que todos somos co-responsáveis, não apenas os órgãos públicos”
Sociólogo Honor de Almeida Neto
Daniela Quadros
Comunidade busca projetos para ajudar juventude
Jovens sem apoio
Priscila Bittencourte
Z
Zona Leste - A Zona Leste de Porto Alegre está carente de projetos governamentais para adolescentes de baixa renda. Falta estrutura para
desenvolver atividades como
oficinas de teatro, música,
dança e cursos profissionalizantes que os insiram na sociedade. Entretanto, apesar
das dificuldades, a própria comunidade se mobiliza para realizar um trabalho de inclusão
social, no intuito de desviar os
adolescentes dos vícios e da
criminalidade, além de formar
cidadãos aptos para enfrentar
o mercado de trabalho.
Na associação de moradores do bairro Partenon, o coordenador Darlan Antônio Oliveira
reclama que as principais dificuldades em desenvolver esses projetos estão na falta de
verba para a construção de espaços educativos e o descaso
das autoridades. O coordenador conta que entrou em contato com a Secretaria Municipal
da Juventude (SMJ) e expôs as
necessidades enfrentadas pela
comunidade, porém não obte-
ve resposta. “Inclusive, na Semana da Juventude, evento
promovido pela Secretaria, os
jovens da nossa região que já
estavam inscritos para a realização dos cursos não foram
inseridos”, relata.
O secretário da SMJ Mauro
Zaquer respondeu aos questionamentos dizendo que “faltam condições orçamentárias
para a realização desses projetos, mas na medida do possível
atenderemos a todas as associações”. Em relação aos cursos realizados na Semana da
Juventude informou que existe
um limite máximo de inscritos,
por isso faltam vagas.
Reclamação
De acordo com os dados
fornecidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), existem atualmente
5.876 jovens entre 14 e 20 anos
que residem no Partenon. O coordenador da associação diz
que a maioria dos jovens não
tem acesso a projetos sociais.
É o caso de Jolenara Canto
Lima, de 17 anos, que reside
do bairro. Ela comenta que a
ausência de projetos de inclusão social facilita a inserção
dos adolescentes nas drogas.
“Falta estímulo para os jovens,
que vivem ociosos e sem perspectiva de mudança. Sem
apoio dos pais, se deixam influenciar por aqueles ditos
‘amigos’”, acrescenta.
Essa realidade também se
reflete na vida da diarista Adai
Martins Lopes. Ela tem um filho
que começou a consumir maconha e cocaína com aproximadamente 18 anos de idade.
Desde então, ele vende tudo
que encontra dentro de casa
para sustentar os vícios. “Meu
filho não estaria nesta situação
se existissem projetos aqui no
bairro que estimulassem os jovens a aprender um ofício e a
estudar”, acredita a mãe.
Lopes diz também que esse trabalho deveria ser acrescido de um acompanhamento
psicológico, tanto para os pais
como para os adolescentes. “É
importante a orientação de um
profissional para auxiliar na
convivência familiar”, explica.
Adolescentes conquistam espaço
Priscila Bittencourte
Presidente do Força Jovem e MJC
O Força Jovem e o Movimento Jovem Cidadão (MJC)
nasceram com o objetivo de
integrar na sociedade os jovens
menos favorecidos. São projetos que estão em expansão e
tiveram suas origens através
do trabalho da Igreja Universal
do Reino de Deus. Com a ajuda
da comunidade, essas atividades vêm crescendo, resgatando jovens das drogas e propiciando a eles uma vida de qualidade e mais digna.
O responsável do Força Jovem no Rio Grande do Sul, pastor Luiz Cláudio de Almeida, diz
que o projeto trata do lado espiritual, resgatando a auto-estima dos jovens. Também procura inserir os adolescentes a grupos de esporte, lazer e cultura.
Já o MJC é uma associação
beneficente que se iniciou através de jovens que abandonaram os vícios e a marginalidade,
e que agora estão interessados
em ajudar ao próximo.
Em plena luz do dia, jovens consomem drogas na praça da Intercap, zona leste da região metropolitana
Psicóloga defende projetos sociais
Uma das principais causas de os jovens entrarem nas
drogas e na marginalidade é
a falta de uma rede de apoio
nas comunidades. A professora e doutora do programa
de Pós-Graduação em Psicologia do Desenvolvimento da
Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS), Débora Dell’ Aglio, observa que
a própria comunidade onde
esse jovem reside é respon-
sável pela escolha que ele irá
fazer. “Adolescentes que vivem em famílias sem estrutura psicológica e material são
os mais prejudicados”, alerta
a psicóloga.
A doutora diz que são necessários projetos sociais que
trabalhem em conjunto com
pais e adolescentes. Com a
inserção, o jovem busca sua
identidade. Dessa forma, é
possível perceber os aspec-
tos relevantes que ajudam na
auto-estima e valorização de
si mesmos. Entre eles, estão
questões que envolvam cooperação, respeito mútuo, saber perder e ganhar. “Com o
grupo, ele aprende a trabalhar
o lado psicológico no sentido
de resolver certas questões”,
observa a doutora. A psicóloga orienta que é preciso estímulo para se descobrir o potencial do jovem.
Atividades gratuitas para todos
Os projetos do Força Jovem e do MJC realizam vários eventos, como o Ação
Social, que leva até as localidades a Caravana da Solidariedade. O trabalho oferece, gratuitamente, corte de
cabelo, medição de pressão
e atendimento jurídico. Paralelo a essas atividades, acontecem também eventos com
cantores, balés e teatro, nos
quais a própria comunidade
participa.
O último evento, realizado
no bairro Partenon, teve a participação de 500 jovens. Sandro Roberto dos Santos, de 28
anos, é um dos voluntários que
compõem o grupo que realiza
as atividades na região. “Antes
de participar desses projetos
vivia com más companhias,
consumia drogas, e já não
acreditava que pudesse existir
solução para os meus problemas”, confessa.
Karoline Mello, de 19 anos,
também participa dos eventos e diz que todo jovem que
entra para o projeto recebe
amparo e incentivo. Mello finaliza dizendo, que “considero o Força Jovem como a minha família”.
O Força Jovem acontece
todos os sábados às 15 horas,
na avenida Bento Gonçalves,
3627, bairro Partenon, Porto
Alegre. Mais informações através do site: www.forcagaucha.
com.br.
Um sonho começa a se materizalizar na Zona Leste
Rani Vargas
Rani Vargas
Morro Santana - A partir
de um sonho, institui-se no Morro Santana, Zona Leste da capital, a Casa de Cuidados Madre
Teresa de Jesus – Casinha. Inicialmente, era apenas uma mulher solidária prestando serviços
sociais à comunidade, de forma
simples. Hoje, está em pleno
crescimento e buscando apoio
no bairro.
Cleci Teresinha Cesar Sauer
fazia almoço em uma pequeno
barraco alugado e servia em
viandas para crianças do bairro Morro Santana. O projeto foi
registrado na prefeitura de Porto Alegre no dia 10 de agosto
de 2005 e, em 30 de setembro
do mesmo ano, Sauer, precursora do projeto, morreu.
Mas, a caminhada da comunidade não parou. A diretora administrativa da instituição, Sandra Regina Castilhos
Silveira, tem as 150 crianças,
com faixa etária entre um e 14
anos, como filhos, e busca incansavelmente o apoio da comunidade do Morro Santana
e Zona Leste em geral, para
doações de alimentos, a fim
de manter as refeições servi-
das na Casa de Cuidados.
“Não podemos parar com o
sonho de Cleci. Nós continuamos aqui e precisamos manter a Casinha crescendo cada
vez mais. Não quero piedade,
quero formar cidadãos”, diz
Silveira.
Convicta de que muito ainda pode fazer, completa: “Se
Deus quiser, futuramente,
prestaremos serviços nas áreas de esportes e lazer”.
Todos recebem plano de
ação social individual e suporte
familiar, além de ser oferecida,
também, oficina de trabalhos
manuais às mães. Vera Lucia
Lopes, mãe de 4 filhos, incluindo a pequena Marisa (2 anos),
conta a felicidade de ver a saúde de sua filha, que estava
subnutrida, melhorada após o
início das atividades na Casa
de Cuidados. “Aqui meus filhos têm, muitas vezes, a única
refeição do dia. A Casinha ajudou meus filhos a ter uma educação e saúde melhores.”
O p ro j e t o c o m u n i t á r i o
agrega pessoas físicas e jurídicas para prestar apoio à comunidade do Morro. Promove
cidadania, educação, saúde
e demais cuidados para as
crianças.
A Casa de Cuidados conta
com o apoio da Pastoral da
Criança de Porto Alegre. A líder
da Pastoral, Ana Aparecida
Monteiro, leva consigo o lema
de que toda obra de Deus tem
um pouco de sofrimento. “Foi,
certamente, um chamado de
Deus, poucos são escolhidos
para uma missão destas. Independente de classe social, raça, ou qualquer outra diferença, todos devem abraçar a
causa”, relata, emocionada
com os benefícios proporcionados pelo projeto.
O projeto procura seguir o
carisma de Madre Teresa de
Jesus, fundadora das Irmãs
Escolares de Nossa Senhora,
que saiu de casa aos 12 anos,
com o intuito de educar.
A Casinha atende as crianças em três dias da semana.
Segunda, quarta e sexta-feira
são oferecidos o almoço e reforço escolar. No sábado, são
disponibilizadas oficinas às
mães e um projeto alfabetizante aos adultos.
Doação de terreno dá início à construção da Casa de Cuidados
Hora da ação
Inicialmente, a casa de cuidados funcionava na própria
casa de Cleci Sauer, que servia os almoços em viandas.
Após um tempo, ela acabou
cedendo um espaço em sua
garagem para melhor acomodação dos pequenos. Ainda
por falta de espaço, foi construído um telheiro em um terreno emprestado para improvisar um refeitório, onde a alimentação era feita por etapas.
Logo depois, já com aproximadamente cem crianças beneficiadas, a doação de um
terreno deu início à construção
da casa dos sonhos.
A construção da sede da
Casa de Cuidados sustenta-se
com doações. A obra tem valor estimado em R$ 183 mil e
está em andamento desde
abril de 2006, com prazo de
inauguração previsto para o
dia 1º de dezembro de 2006.
A sede da Casa de Cuidados
Madre Teresa de Jesus está
localizada na rua Alfazema,
692, no bairro Morro Santana
e atende 150 crianças de famílias carentes.
10
Cidadania
outubro de 2006 Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista IPA
Drogas, prostituição e criminalidade compõem o cotidiano de crianças e adolescentes no centro da Capital
Meninos de rua dão adeus à infância
C
Tarsila Pereira
Aline Torres
Centro - Em algumas ruas
do centro de Porto Alegre,
crianças e adolescentes têm a
infância roubada. São vítimas
do abandono, da violência física e psicológica, exploração
do trabalho infantil e omissão
da sociedade e seus representantes, o que acaba ferindo os
direitos assegurados pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Em seu artigo 5º, o ECA reza que “nenhuma criança ou
adolescente será objeto de
qualquer forma de negligência,
discriminação, exploração,
violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei
qualquer atentado, por ação
ou omissão, aos seus direitos
fundamentais”. “Dentre todos
Estatutos, o ECA é campeão
em desrespeito”, denuncia a
responsável pelo jornal Boca
de Rua, Rosina Duarte, que
trabalha com adultos e crianças em situação de rua.
“A rua é como uma teia. Parece que a pessoa está livre,
mas está presa. Têm muitas
coisas que dificultam um guri
ou uma guria de sair da rua. A
principal é não ter para onde
ir”, relata uma das crianças
que colabora com o jornal Bo­
ca de Rua.
G. de Souza, 16 anos, trabalha como engraxate no Mercado Público. Sua infância carrega o peso da vida nas ruas.
Ele admite que usou cocaína,
loló, maconha, lança-perfume
e LSD. “A pessoa, na rua, se
sente muito solitária. As drogas tiram esse efeito”, argumenta. Como engraxate, ele
também se sente discrimina-
do. “As pessoas olham e nos
mandam trabalhar, nos chamam de vagabundos. Mas é
isso que estamos fazendo, trabalhando. Não é crime nem
vergonhoso estar com uma
caixa”, fala indignado.
“Piche”, como é conhecido,
tem 9 anos e fala com naturalidade sobre a fome, sua companheira diária. “Fome é triste
a gente briga por causa dela, a
barriga dói e a gente fica irritado”. Mesmo em situação difícil
ele sonha com o fim da miséria
no Brasil. “Não vou pensar em
ser rico porque daí só eu seria
feliz. Vou pensar em todos”.
Praça da alfândega
Um dos locais onde o problema é mais visível é a Praça
da Alfândega. Segundo relatos
de uma das artesãs, que trabalham diariamente no local,
“a rotina das crianças e adolescentes da praça está ligada
ao crime, às drogas e à exploração sexual”, afirma, preferindo não se identificar. “Elas ficam na praça o dia inteiro. Os
meninos trabalham para os
donos do ponto (traficantes)
distribuindo drogas”, conta.
Já as meninas, a partir dos
oito anos, relata ela, começam a se prostituir. “Elas atendem todos os tipos de cara
nos banheiros. A maioria delas não tem futuro, morrem
cedo por causa do crack. Às
vezes, pensar nisso dá uma
tristeza”, desabafa. A artesã
acrescenta ainda que os menores vendem drogam e assaltam os visitantes da praça.
“Essas crianças são os futuros marginais”, conclui.
Aline Torres
Na rua Riachuelo, morador de rua descansa em meio a sacos de lixo
Autoridades se explicam
Segundo o Major Rogério
Maciel, do 9° Batalhão da Polícia Militar (9° BPM), a Praça da
Alfândega é um dos lugares
que eles mais fazem abordagens. “Temos três camêras do
Centro Integrado de Segurança
Pública, e um policial militar vigiando a Praça”, explica o Major. Ele também alega que no
9°BPM todas denúncias de
“crianças em situação de risco”
são investigadas e depois encaminhadas para Fasc ou para
o Conselho Tutelar. “Essa é
uma questão social. Somos
apenas o band-aid sobre o
câncer”, compara.
Conforme as palavras dos
conselheiros tutelares da microrregião-centro, Marcelo
Dierchxs, Marília Fidel e Fábio
Valente, o órgão atende as
denúncias que são feitas e,
se for constatado algo, encaminha para o Ministério Público, que é incumbido de abrir
os processos e fazer as verificações. “O Conselho não é
um órgão de assistência e
sim de encaminhamento”,
esclarecem. Sobre as denúncias de prostituição infantil na
Praça da Alfândega, o conselheiro tutelar Marcelo Dierchxs diz que “prostituição
não é crime, e sim crianças
sendo prostituídas”.
sociologia
Para o sociólogo Honor de
Almeida Neto, essa triste realidade expressa a decadência
da sociedade. O problema,
para ele, está ligado ao aumento da repressão, retorno
de preconceitos e abandono
de ideais ligados a direitos humanos. “Penso que todos somos co-responsáveis, não
apenas os órgãos públicos”,
alerta. Honor mostra que esse
é um problema difícil de ser
solucionado. “A gênese desse
problema é a raiz econômica.
Desemprego, desestrutura familiar e, logo, ausência de valores básicos”.
K. é uma das vítimas da negligência política e social. Aos nove anos, faz das calçadas sua casa, no Mercado Público de Porto Alegre
Cidadania ativa transforma vidas
Nesse contexto, há inúmeras pessoas preocupadas em
exercer sua responsabilidade
social e fazer da cidadania ativa sua fonte de transformação.
É o caso da Agência Livre para
a Informação de Cidadania e
Educação (Alice). Ela incentiva
discussões sobre o papel da
imprensa na sociedade e incentiva projetos sociais ligados
à comunicação. Há sete anos,
a Alice faz a publicação e a supervisão trimestral do jornal
Boca de Rua, produzido (fotos,
textos, ilustrações) por moradores de rua. O projeto foi ampliado com a criação do Boqui-
nha, que conta com a participação de 15 crianças. Elas
moram em abrigos e recebem
uma bolsa-auxílio ao mês de
R$ 40 para mantê-las longe do
trabalho infantil e ajudar no
sustento das famílias.
O Conselho Municipal dos
Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA), em parceria com a Associação Cristã de
Moços (ACM), desenvolveu o
Projeto Sorrindo, Brincando e
Saindo da Rua (SoBreSair). A
equipe do projeto acompanha
195 casos de criança e adolescente em situação de risco.
Conforme dados da Fun-
dação de Assistência Social e
Cidadania (Fasc), 637 crianças
e adolescentes estão nas ruas.
“Trabalhamos através da criação de espaços lúdicos e reflexivos, a reorganização das famílias e, se necessário, espaços de proteção ou famílias
substitutas, entre outros”, diz a
psicóloga e assessora técnica
do projeto SoBreSair, Cristina
Sefton. A solução, segundo a
psicóloga, é o trabalho em conjunto com a criação e articulação de políticas públicas nas
diferentes áreas (saúde, educação, assistência social, esporte
e cultura).
Rosina Duarte, do Boca de
Rua, não acredita em fórmulas
para solucionar o problema.
Para ela, o caminho é trabalhar
junto, acolhê-los e conectar os
espaços, governo, sociedade,
imprensa. “Essas crianças sobrevivem ao que nós não sobreviveríamos. Eles são inteligentes, têm percepção aguçada e criatividade. Não podemos
ter como única perspectiva para esses meninos que eles sejam pedreiros ou empacotadores de supermercado. Se for
escolhas deles, tudo bem, mas,
não podemos condená-los a
nossas escolhas”, indigna-se.
Aline Torres
T. é vítima do descaso social. A presença da mãe e a barriga cheia a alegram: a pequena ainda não tem consciência do mundo desigual em que vive
Cidadania
Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista IPA outubro de 2006
11
Trabalho infantil é proibido pela Constituição Federal, mas ocorre livremente pelos bares e ruas da Capital
Criança troca a diversão pelo trabalho
c
Luísa Aranha
Luísa Aranha
cidade baixa - Nos bares
da Cidade Baixa, à noite, crianças circulam vendendo flores,
figurinhas, panos de prato e
engraxando sapatos. Elas vêm
dos pontos mais variados de
Porto Alegre. A maioria é menor de 13 anos e trabalha naquela zona devido ao movimento dos bares com mesas
ao ar livre. “A gente não pode
entrar nos bares e aqui tem um
monte de mesinhas na rua, então é mais fácil de vender”,
conta uma menina de sete
anos que vende flores.
Algumas trabalham para
ajudar no sustento da família,
outras para sustento próprio,
como conta um menino de 10
anos, que vende figurinhas.
“Eu moro ali pelo viaduto; em
abrigo não dá pra ficar porque
a gente é maltratado, então
uso o dinheiro para comer”.
Os relatos de maus-tratos
são contestados pelo Conselho
Tutelar. “A própria questão de
horários e imposição de regras
são vistos como maus-tratos”,
contrapõe o conselheiro tutelar
José de Freitas, 39 anos.
lei x realidade
De maneira geral, as crianças não atrapalham o comércio dos bares, mas muitos
clientes acham inconveniente
e outros ficam revoltados porque ninguém toma providência. “Essas crianças deveriam
estar em casa brincando, é direito delas”, indigna-se Maria
Santos, 29, funcionária pública e freqüentadora de bar na
Cidade Baixa.
Há lei que prevê essa pro-
teção às crianças. Segundo o
artigo 60 do capítulo quinto
do Estatuto da Criança e
Adolescente (ECA), “é proibido qualquer trabalho a menores de quatorze anos e após
essa idade somente na condição de aprendiz”. O artigo
sete, inciso 33, da Constituição Federal, reforça a proibição do trabalho infantil noturno, insalubre ou perigoso.
Pais x drogas
O garçom de um dos bares
mais freqüentados do bairro,
que não quis se identificar,
conta que os pais controlam o
trabalho de seus filhos. “Cuidado que se eles te virem vão
querer saber o que tu quer
com as crianças”, alertou à reportagem.
De acordo com o ECA, os
exploradores do trabalho infantil têm como punição multa
ou pena de três meses a seis
anos de prisão. “Como as famílias não têm dinheiro e a prisão só faz com que a pouca
renda que ganham páre, os juizes dão penas alternativas”,
afirma o conselheiro tutelar,
Fábio Valentte, 39.
“Os que não têm pai ficam, depois que a locadora
fecha, sentados ali na frente
cheirando loló e, algumas vezes, fumando maconha”, denuncia um morador da rua da
República há 40 anos. “As
drogas são uma forma de fuga da realidade, a pessoa deixa de sentir frio, fome e outros
fatores que a incomodam”,
esclarece o psiquiatra Reinaldo Alves, 45.
Denuncie a exploração e os maus tratos a crianças
# Procuradoria do Trabalho 4ª região: 3228-6544
# Delegacia do Trabalho: 3227-3124 ou 0800 610101
# Conselho Tutelar, microregião 8: 3226-5788
# Serviço de Educação Social de Rua: 3221-2024
Menino de cinco anos trabalha vendendo balas de goma nos bares da Cidade Baixa, na noite de Porto Alegre
Como agem os orgãos competentes
Moradores, comerciantes
e freqüentadores dos bares
locais afirmam que nunca assistiram a uma ação do Conselho Tutelar na região de bares da Cidade Baixa. “Quintafeira passada eles andaram
por aí, mas não fizeram nada
com as crianças; elas continuaram trabalhando normalmente”, criticou o garçom
Mateus F., 28. “Existe o Ser-
viço Social de Rua, órgão responsável por fazer a abordagem das crianças na rua. Eles
fazem o primeiro contato,
criam vínculos e fazem o encaminhamento”, justifica o
conselheiro tutelar, José de
Freitas, 39.
O Serviço de Educação
Social de Rua trabalha com
denúncias feitas por telefone
ou abordagens sistemáticas,
que são mapeamentos de
zonas problemáticas. “A Cidade Baixa está nessa abordagem sistemática, pois estamos a par das situações de
trabalho infantil, mas apesar
de todos os esforços, as
crianças acabam retornando
para a rua”, admite a coordenadora do Serviço de Educação Social de Rua, Maria Juracema Viegas, 56.
Faltam ações
Conforme moradores e trabalhadores dos bares e comér­
cio da região, o número de cri­
an­ças cresce cada vez mais.
Eles afirmam que ligam seguidamente para o Conselho Tutelar informando que as crianças estão trabalhando e se
drogando. “Eles passam com
a Kombi por aqui, olham e vão
embora”, relata o funcionário
de um bar que pediu para não
ser identificado.
O conselheiro tutelar Fábio
Valente argumenta que a entidade “tem o dever de zelar pela garantia das leis do ECA,
também cobrando uma ação
da sociedade”. Todavia, a apuração de uma denúncia é feita
por um conselheiro e um motorista. “Se tem uma multidão
de crianças, precisamos da
ajuda da Brigada Militar e, normalmente, eles fogem ao ver a
kombi pois sabem que vamos
voltar”, conta.
O Conselho Tutelar, ao receber uma denúncia, verifica
sua veracidade e faz os encaminhamentos necessários, dependendo de cada
caso. Esses encaminhamentos variam desde atendimentos especializados como médicos, psicólogos e escola,
até envio do caso ao Ministério Público.
O trabalho do Serviço de
Educação Social de Rua é
pouco divulgado. “Fizemos
uma vez um trabalho de conscientização para que as pessoas não comprassem nada
de menores nem dessem esmola. Isto estimula a volta às
ruas”, recorda Viegas.
Projeto leva menores de vila para festival na França
Evandra Jacques
Evandra Jacques
Cachoeirinha - Talento
não tem idade, tampouco é
privilégio da classe alta. A
maior prova disso é a realização do sonho de oito crianças
que participaram, em junho,
da abertura do Festival Charivarue, na região de Cherboug,
na França. O convite da “École
de Cirque Sol’air” nasceu em
virtude do trabalho desenvolvido pelos alunos da Associação
Rede do Circo, organização
sem fins lucrativos que funciona na Vila Fátima, em Cachoeirinha. Na sede da associação, cerca de 120 crianças
entre 7 e 18 anos aprendem
lições de cidadania através de
técnicas circenses.
Voaram para Europa oito
alunos e três professores que,
entre o dia 24 de junho e 9 de
julho, realizaram um intercâmbio. No festival, as crianças de
uma das vilas mais pobres de
Cachoeirinha apresentaram o
espetáculo “Uma família para
Antoniel”. A peça conta a história de um menino que tem
dificuldades para se integrar
na sociedade, até que se apaixona por uma bailarina e passa
a integrar o circo onde ela mora. O roteiro foi desenvolvido
pelas próprias crianças, inspiradas na história do clássico
“Patinho Feio”.
Anderson Luis, 16 anos, é
um dos primeiros alunos da Associação Rede do Circo, tanto
que hoje também atua como
monitor. Descrevendo-se co-
mo um apaixonado por artes
cênicas, ele afirma que “tudo”
na viagem para a França foi
“excitante”: as apresentações,
a hospedagem na residência
dos alunos franceses e até
mesmo a dificuldade encontrada na comunicação. “Mas o
que me marcou foi a união do
grupo em consolar uns aos outros para não se sentirem sozinhos longe de casa”, diz.
Para o ator principal da peça apresentada no Festival
Charivarue, Toniel Meneses,
16, a expectativa era grande.
Afinal, como seria a reação do
público? “Felizmente, todos
adoraram as apresentações e
todas as preocupações ficaram minúsculas diante das
amizades conquistadas e do
carinho com que fomos recebidos”, disse, agradecendo ao
apoio das famílias. Tainara
Machado, 12, complementa
que a viagem foi a “materialização de um sonho e uma
conquista de todos que trabalham na associação”.
Agora, a Associação Rede
do Circo pretende firmar parcerias com empresas privadas, com intuito de possibilitar um novo intercâmbio com
os alunos franceses. Entretanto, desta vez, o objetivo é
trazer os talentos franceses
para se apresentar e conhecer o Brasil. Para tentar viabilizar o projeto, a intenção é
fazer um convênio com a Escola Nacional de Circo.
Depois de mostrar seu talento na França, alunos da Rede do Circo apresentam espetáculos gratuitos nas comunidades carentes de Cachoeirinha
Na volta ao Brasil, a consagração
De volta ao Brasil, o talento
de alunos e professores está
sendo reconhecido pelo público gaúcho. Tanto que a peça
está sendo apresentada para
comunidades, tornando-se
um espetáculo itinerante em
Cachoeirinha e região.
A Associação Rede do Circo, que existe há quatro anos,
beneficia cerca de 120 crianças
carentes. Na sede, elas fazem
oficinas de acrobacia aérea e
de solo, malabares, artesanato,
arte em metais (serralheria e escultura), hip-hop, música e teatro, todas ministrados por artistas e educadores.
Segundo a vice-coordenadora da Instituição, Lígia
Araújo, também é desenvolvido um trabalho com as famílias das crianças e adolescentes, visando proporcionar um
ambiente sem violência física
e psicológica. “Temos um
grande cuidado para que o
jovem não substitua o lugar
da família pela associação,
pois esse não é o nosso objetivo”, garante.
A Rede do Circo tem como
parceiro o Centro Infanto-Juvenil Luiz Itamar. Ele foi criado
há 18 anos, a partir da idéia
em comum de dois amigos de
ajudar crianças e adolescentes. O centro, desde então,
conta com o apoio do Movi-
mento da Fraternidade Cristã
com sede em Paris.
Ana Marie Crosville, uma
das fundadoras do Centro, informa que o projeto beneficia
180 crianças com idade entre
3 e 18 anos. São desenvolvidas na sede do centro várias
oficinas como marcenaria, serralheria, informática e padaria,
visando fazer uma ponte entre
os jovens formados com o
mercado de trabalho.
12
Cidadania
outubro de 2006 Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista IPA
A Via Pró Doações e Transplantes (ViaVida) existe desde 2000 e atualmente conta com 60 voluntários
Doar órgãos: uma vida que continua
Tarsila Pereira
Tarsila Pereira
E
Petrópolis - Esperar na
lista de transplantes por mais
de um ano e fazer hemodiálise três vezes por semana. Essa foi a dura realidade de Edinaldo Barbosa, 13 anos, que,
há dois meses, fez um transplante de rim. Vindo da cidade de Santana, no Amapá,
para Porto Alegre, ele está
hospedado na Pousada Solidariedade, da Via pró Doações e Transplantes (ViaVida)
desde dezembro de 2005.
Acompanhado de sua tia,
Deuzangela Barbosa, 23
anos, eles cruzaram o país
atrás de esperança. “No Amapá, não têm transplantes, não
tem banco de órgãos, viemos
em busca do transplante”, explica Barbosa. Ela conta que
quando chegou no Sul, Edinaldo não pôde continuar com
os estudos devido às sessões
de hemodiálise, mas teve
apoio pedagógico na Pousada. “Tinha que fazer as sessões três vezes por semana e
ficar quatro horas na máquina,
era cansativo para ele ir à escola”, lembra.
No dia 20 de junho, Edinaldo fez o transplante de
rim, a espera havia acabado.
Hoje, ele está em observação. A tia acredita que, em
outubro, volte para a sua terra natal. “Valeu a pena lutar”,
conclui, emocionada. Edinaldo faz parte de um dos 160
hóspedes que a Pousada
abrigou desde sua abertura,
em 2003, até o final de junho
deste ano. Todos são ajudados por voluntários de Porto
Alegre.
A ViaVida, caracterizada como organização não-governamental, tem como finalidade
prestar assistência social às
pessoas que esperam a doação de órgãos. Fundada em 29
de junho de 2000, a ViaVida
abriga, em sua Pousada da Solidariedade, pessoas que não
têm condições financeiras de
se hospedar em Porto Alegre
até concretizar o sonho de fazer
um transplante de órgãos.
Na pousada, os voluntários
são responsáveis pela alimentação, assistência psicológica
e pedagógica dos pacientes.
Além disso, realizam oficinas
de arte, artesanato, inglês e
computação. Contando atualmente com 60 voluntários, a
ViaVida se sustenta apenas
com doações da iniciativa privada, empresas, cidadãos,
bem como promovendo brechós e venda de artesanatos.
Edinaldo na frente da Pousada Solidariedade, onde está hospedado desde dezembro do ano passado
fique por dentro
Legislação - Para você ser doador de órgãos, deve comunicar a sua família sobre o seu desejo, pois será ela
que se definirá a favor ou contra a doação dos órgãos. Isto é, a informação de ser doador ou não registrada no
documento de identidade não tem mais valor. Já o doador vivo deve ser maior de idade e capaz juridicamente para
doar órgãos a seus familiares, não sendo necessário uma autorização judicial prévia.
O que doar - De um doador vivo podem ser retirados um dos rins, parte do fígado, parte da medula e parte dos
pulmões. O médico deve avaliar, em todos os casos, o potencial do doador, como a história clínica da pessoa, doenças
prévias e a compatibilidade sanguínea. Também há testes especiais para selecionar o doador que apresentar uma
maior chance de sucesso. De um Doador não vivo podem ser obtidos os seguintes órgãos: rins, coração, pulmão,
pâncreas, fígado e intestino. Tecidos: córneas, válvulas, ossos, músculos, tendões, pele, veias e artérias. Para ser
um doador não vivo, a pessoa deve apresentar morte encefálica, que é irreversível.
Fonte: www.santacasa.org.br
Sopão beneficia morador de rua
Nathalia Crivellaro
Nathalia Crivellaro
Menino Deus - Uma longa
fila se forma em frente à Sociedade Espírita Ramiro D’Ávila.
São cerca de 300 moradores
de rua que procuram o local e
dependem da “sopa do pobre”, chamada também de Sopão, criada pelo presidente e
fundador da Sociedade Espírita, Gedeon Leite.
São preparados 350 litros
de sopa, de segunda a sábado, e servidos em um refeitório
que comporta 86 pessoas por
vez. “Eu venho aqui todos os
dias, a sopa é boa”, diz Emerson Silva. Muitos dos beneficiados vivem em praças e pontes da capital e dependem do
chamado Sopão, que para
muitos é a única refeição do
dia. Muitos deles se conhecem
de longa data e freqüentam o
local há alguns anos. “Aqui eu
encontro meus amigos e me
alimento, as pessoas nos tratam bem”, diz João Cleber.
Um grupo de voluntários se
reveza auxiliando os moradores de rua na hora de servir a
sopa. O grupo conta com moradores, em sua maioria, do
Menino Deus. “Me satisfaz interiormente”, diz Alba Aquino,
65 anos. Ela conta que na sua
idade é muito difícil conseguir
um emprego, por isso começou a trabalhar voluntariamente há dez anos.
O Sopão acontece através de doações. “No início do
ano, estávamos precisando
de alimentos, anunciamos na
Saiba o que é a ViaVida
Doações
Hoje, a ViaVida necessita
de doações de material de limpeza, alimentos perecíveis e
alguns materiais para oficinas
de artesanato. Em abril deste
ano, foi lançado o livro Sim­
plesmente Doar, que vendeu,
aproximadamente, 500 cópias.
O livro contou com vários colaboradores que escreveram sobre o sentido de “doar-se”. A
renda obtida com a venda dos
exemplares é revertida para a
manutenção da pousada.
A presidente da ViaVida,
Lucia Elbern, explica que a
missão da ViaVida é promover
a conscientização sobre a importância da doação de ór-
gãos e tecidos, através de informação e orientação aos cidadãos. “As pessoas não se
dão conta que têm mais possibilidades de serem receptoras do que doadoras de órgãos e tecidos”, alerta.
Elbern conta que a lista de
espera por transplantes vem
aumentando cerca de 30% ao
ano. Ela acredita que o Rio
Grande do Sul é um estado privilegiado por ter bons profissionais.
voluntariado
A voluntária Rosana Ughni, 50, presta serviços à ViaVida há dois anos. Para ela, a
melhor recompensa do voluntariado é poder ajudar as pessoas que estão passando por
uma fase difícil. Ughni conta
que esse é o segundo lugar
onde ela faz voluntariado. Anteriormente, já havia feito no
Asilo Padre Cacique. Ela diz
que o voluntariado lhe mostrou que as pessoas humildes
são as mais solidárias.
A ViaVida precisa de mais
voluntários. Aqueles que desejam colaborar e tem interesse
em conhecer mais sobre o trabalho desenvolvido, devem ir à
Pousada Solidariedade, que
se localiza na rua Professor
Langendonck, 117, no bairro
Petrópolis, ou entrar em contato pelo telefone (51)
3333.4519, pelo e-mail via@
viavida.org.br ou acessar o site
http://www.viavida.org.br.
Através desses contatos
pode ser adquirido o livro Sim­
plesmente Doar. O dinheiro da
venda é revertido à instituição.
Esperança no
voluntariado
Amanda Martins
Moradores de rua almoçam, de segunda a sábado, no refeitório do Centro Espírita Ramiro D’Ávilla
rádio Gaúcha e estamos até
hoje recebendo doações”,
diz a coordenadora do Sopão, Marli Dullius.
Na composição da sopa,
são usados, diariamente, cerca de 130 quilos de alimentos
como: carne, frango, legumes,
arroz e massa. A refeição é
acompanhada de pão e água
fresca. “A sopa é muito nutritiva”, diz Dullius.
FIQUE POR DENTRO
Localizada na avenida Getúlio Vargas, a Sociedade Es-
pírita Ramiro D’Ávila, fundada
em 1932, vem, desde então,
realizando esse trabalho. A sopa é distribuída de segunda a
sábado, das 10h30 às 12h.
A instituição conta com
uma estrutura de cozinha, refeitório e um frigorífero, onde
são armazenados os alimentos. “A preparação da sopa
começa sempre no dia anterior”, conta o zelador Altair Delfo da Silva, responsável pela
preparação da sopa. Cada freqüentador pode comer o
quanto necessitar, não há um
limite de quantidade.
A Sociedade Espírita Ramiro D’Ávila, também, oferece
serviço odontológico e conta
com dentistas voluntários, que
atendem junto ao refeitório.
Em outra sede da Sociedade, na avenida Carlos Barbosa, em Porto Alegre, foi instalada, em 1996, a Creche
Gotas de Esperança, que
atende crianças carentes de 2
a 6 anos. A creche conta com
nutricionistas, recreacionistas
e cozinheiras, e é mantida pela Sociedade.
Sarandi - Desemprego,
fome e frio. Essa era a realidade de moradores de vilas,
em Porto Alegre, como a Asa
Branca e Dique. Contudo,
um grupo voluntário se juntou à Pastoral da Ação Social para oferecer auxílio para
famílias carentes. O grupo
atua na Igreja Santa Catarina, no bairro Sarandi, há cerca de 35 anos.
As pessoas beneficiadas
pela entidade não param de
comemorar. Como é o caso
de Clara Fátima, 48 anos. Ela
passava fome, frio e muitas
dificuldades para conseguir
criar nove filhos. Porém, encontrou em seu caminho o
grupo disposto a dar um sopro de esperança para pessoas que, como ela, passavam por dificuldades.
A coordenadora do grupo
de voluntários, Vera Souza,
50, já viu essa história se repetir. “A Pastoral foi criada
porque necessitados de vilas
procuravam a Igreja Santa
Catarina em busca de ajuda”, lembra Souza.
Com o passar dos anos,
a iniciativa começou a dar resultados positivos. “A vida,
antes de receber as doações, era difícil. Eu tinha nove
crianças pequenas, não tinha muito o que comer e o
que vestir, mas agora está
bom”, conta Fátima.
Em média, 50 a 80 famílias vão à Igreja todas as
quartas-feiras em busca de
doações e ocupação com os
trabalhos manuais oferecidos. E saem de lá satisfeitos.
“Estou há 10 anos vindo aqui.
Depois que vim para cá, melhorou bastante porque tem
o café da tarde, tem o rancho, têm as roupas e os acolchoados que a gente faz”,
alegra-se a beneficiada.
Todas as quartas-feiras,
no salão de festas da Igreja,
são arrumadas grandes mesas para a confecção de
acolchoados, bonecas de fuxico, tapetes de retalhos e
costura. Trabalhos com a comunidade ajudam a fazer
com que essas pessoas sintam-se úteis, importantes.
doações
A Ação Social atua, somente, com doações da comunidade. Uma vez por mês,
é doado o rancho e roupas
para as famílias. Por isso, é
importante que a comunidade continue fazendo doações de alimentos pela campanha do quilo e de roupas.
As famílias doadoras são visitadas pela Pastoral, que faz
um cadastro.
As doações devem ser
entregues na Paróquia Santa
Catarina, na avenida Souza
Melo, 277.
Educação
Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista IPA outubro de 2006
13
Obra parada há três anos é retomada, mas a insegurança não tem data prevista para acabar no Fabíola
Insegurança marca a rotina da escola
H
Higienópolis - A entrada
é um corredor estreito. Depois
de alguns passos, chega-se
numa área aberta, escura, um
breu. Árvores, galhos baixos e
iluminação precária. Pavilhões
e prédios abandonados. Assim é a entrada de uma escola
localizada em uma das regiões
mais nobres de Porto Alegre,
que apresenta uma dificuldade
maior ainda: a insegurança.
A Escola Estadual de Ensino Fundamental Fabíola Pinto
Dornelles (Eduardo Chartier,
1192) fica no bairro Higienópolis, Zona Norte da capital. Ilhada por uma área valorizada, a
instituição passa despercebida pelo mato que a consome
na esquina com a avenida Plínio Brasil Milano. O verde que,
durante o dia, propicia aos alunos uma natureza ímpar para
estudar, à noite, traz o temor
da escuridão e da insegurança
para cerca 400 pessoas, entre
Fotos: Júlia Ramos
Júlia Ramos
alunos e professores.
Os problemas começam
pelo atraso de uma obra iniciada há três anos para a construção de um novo prédio, que
servirá de salas de aula para as
turmas de 5º a 8º séries e também para os alunos do Ensino
para Jovens e Adultos (EJA).
Depois de um ano parada, a
obra reiniciou em agosto deste
ano, após um protesto organizado pelo Conselho de Pais e
Mestres (CPM), que percorreu
as ruas do bairro com faixas e
cartazes. A vice-diretora do
noturno, Regina Candiota Duarte, afirma que a reforma é
fundamental. “A nossa biblioteca e a nossa cozinha foram
desativadas. Transferimos os
alunos da pré-escola para o
ginásio de esportes porque um
pavilhão também foi desativado. Precisamos da obra”, argumenta a professora que trabalha há 10 anos no local.
Por causa da falta de estrutura, o medo faz parte do diaa-dia dos alunos e funcionários
do Fabíola. “Todos os dias, antes de vir para cá, peço ajuda
ao meu anjo da guarda” confessa Duarte. A vice-diretora passou por momentos complicados em meados de agosto depois que dois alunos, integrantes de gangues rivais, começaram a brigar com pedras em
frente à escola. Logo, membros
das facções cercaram o colégio
e ameaçaram invadir o local.
A diretoria da instituição afirma que enviou à Secretaria Estadual de Educação (SEC) uma
série de ocorrências policiais registradas na escola, como furto
de pertences de alunos, invasão
de criminosos e menores de rua
e confusões. Foi solicitada uma
medida de segurança para conter a criminalidade no entorno e
dentro da escola. Mesmo assim
a insegurança continua.
Devido à precária infra-estrutura, a direção da escola está tendo de improvisar espaços para as atividades
Improviso é alternativa
Monique Hoffelder
Morro Santana - O esporte ajuda crianças e adolescentes a encontrarem uma
forma de se livrar do mundo
das drogas e da criminalidade. Estimula a competitividade, proporciona melhoria da
auto-estima e da vontade de
vencer de quem pratica. E,
sem dúvida, não há lugar melhor para praticar esporte do
que em uma escola. Todavia,
nem todas as escolas de Porto Alegre contam com infraestrutura adequada, como é
o caso da Escola Estadual
Porto Alegre, que não tem
quadra de esportes.
Localizada no Morro Santana, atende 780 alunos da
pré-escola à oitava série. O pátio da escola, onde os alunos
fazem as aulas de Educação
Física, é de chão batido e disforme. No lugar da quadra de
cimento, há restos de piso de
construções anteriores. Quan-
do chove, as crianças e adolescentes não podem praticar
esporte por causa do barro
acumulado no pátio. Para passar o tempo, as atividades se
resumem ao xadrez e à
música.“Imagina a quadra
grande e fechada para fazer
aula na rua”, diz a aluna da 7ª
série, Daiane Fausto, 15 anos.
improviso
O professor de Educação
Física, Marcelo Tentardini, afirma que os alunos usam as praças Ravena e do condomínio
Piratini, que ficam próximas à
escola, durante as aulas. A iniciativa demonstra jogo-de-cintura e apoio da vizinhança, mas
não é vista como ideal nem pelos estudantes. “A escola é pequena, se tivesse pelo menos
uma quadra boa seria o ideal”
diz Luan Barbosa, estudante
da 7ª série.
Para a vice-diretora Môni-
ca Kroth, 36, a verba que a
escola recebe para manutenção e merenda não é suficiente para construção de uma
quadra. A direção da escola,
conta Kroth, entrou em contato com a Secretaria de Obras
do Estado, que é responsável
pelas construções. Lá, recebeu a informação de que as
obras acontecerão somente
com a liberação da Secretaria
da Educação.
Já a coordenadora Regional da Educação Estado, Cleci Maria Jurach, 53, confirma
que a verba enviada é para
manutenção, e que a prioridade é sala de aula. “Não é prioridade da Secretaria de Educação a construção da quadra de esporte. Ela deve ser
conquistada via Plano de Participação Popular, concorrendo com todos os projetos do
estado. Esta é nossa posição”, explica.
‘Não é obrigação construir quadras’
A coordenadora Regional
da Educação do Rio Grande
do Sul, Cleci Maria Jurach,
admite a falta de recursos.
Segundo ela, a escola nunca
encaminhou um projeto para
quadra esportiva, porque
“sabe que o Estado não vai
fazer”. Ela ressalta que não é
obrigação do Estado construir quadra de esporte. “Nada impede as pessoas de
praticar esportes. Podem
praticar esportes em qualquer lugar, seja dentro do
escritório ou em um terreno
de chão batido”, afirmou.
Para a coordenadora,
falta iniciativa por parte da
escola. “É necessário envolvimento da comunidade
para arrecadar verbas para
construção da quadra. Foise o tempo em que o Estado fazia tudo pela população”, alertou.
Resta saber se a explicação não fere o Estatuto da
Criança e do Adolescente
(ECA) que, em seu artigo 4º,
diz: “é dever da sociedade
em geral e do poder público
assegurar, com absoluta
prioridade, a efetivação dos
direitos referentes à vida,
saúde, alimentação, educação, esporte, lazer, profissionalização, cultura, dignidade, respeito e liberdade”.
Obra, prevista para acabar em quatro meses, garantirá salas de aula, cozinha e biblioteca para estudantes
SEC garante monitores ao Fabíola
O caso da Escola Fabíola
não é o único. Levantamento
da própria Secretaria de Educação aponta que 12% das
escolas gaúchas já foram alvo
de violência este ano, o que
representa 334 estabelecimentos. Constam no documento invasões, furto de equipamentos, depredações, pichações, agressões entre alunos e vítimas de violência nos
arredores das instituições.
Para a escola do Higienópolis, a coordenadora da 1º
Coordenadoria Regional de
Educação (CRE), Clecí Medeiros, disse que não existe o
cargo de agente de seguran-
ça preterido pela escola, mas
que um monitor é possível.
“Verificamos o quadro de funcionários e descobrimos que
há sobras na carga horária.
Vamos orientar esses profissionais para realizar o trabalho de monitoria, auxiliando
na segurança dos alunos”,
afirmou Clecí Medeiros.
Um reforço policial também foi solicitado “Pedimos
também uma atenção especial da Brigada Militar nessa
área para minimizarmos essa
situação de invasão da escola
e a tentativa de furtos”, garante a coordenadora. Para Medeiros, a obra vai resolver o
problema da insituição. “Em
quatro meses, a obra estará
concluída, então desmancharemos o pavilhão e veremos
que tipo de cercamento poderá ser feito para aumentar a
segurança”, finalizou.
Por meio de nota, o 11° batalhão da Brigada Militar afirmou que já é realizado um trabalho de patrulhamento das
escolas na região onde se localiza Escola Estadual de Ensino Fundamental Fabíola Pinto
Dornelles. Entretanto, salienta
que em casos de ocorrências
os professores devem ligar diretamente para o batalhão de sua
área e não para o 190.
Gravataí busca primeira
escola técnica estadual
Maria Cristina Dornelles
Maria Cristina Dornelles
Gravataí - Mais de 3,7 mil
jovens com idade entre 16 e 18
anos de Gravataí enfrentam dificuldades com a falta de escolas profissionalizantes estaduais. A cidade que possui 243
anos de fundação não tem nenhuma escola técnica na região. Somente uma fundação
e instituições particulares.
Segundo a assessora técnica, Aura Regina Montin, da
28º Coordenadoria Regional
de Educação (CRE), a única
escola que possui projeto em
andamento é a Escola Estadual Barbosa Rodrigues. O projeto já foi encaminhado para a
Superintendência da Educação Profissional (Suepro/RS) e
aguarda aprovação do Conselho Estadual. De acordo com a
assessora pedagógica, Olvania Grasselli, a diretora pedagógica Maria Helena Silveira,
da Suepro/RS, não dispunha
horário para atender a reportagem do Universo Ipa.
O coordenador pedagógico da 28º CRE, Ubirajara Gomes, explica que o projeto é
encaminhado pela escola,
passando a dar corpo ao processo, instruindo-o a partir da
legislação vigente e encaminha-o à 28ª CRE. Esta examina o processo e complementa-o com as peças que são de
sua competência, como laudos técnicos, parecer da Coordenadora. Depois de atendidos todos os requisitos, é encaminhado à Suepro/RS que,
Gerso Schoen, diretor da Escola Estadual Barbosa Rodrigues
por sua vez, envia-o ao Conselho Estadual de Educação, instância competente para dar o
parecer final.
O diretor da Escola Estadual Barbosa Rodrigues, Gerso Schoen, que enviou o projeto recentemente para a
aprovação do Conselho Estadual, afirma que a implantação do ensino profissionalizante depende somente das
escolas, de buscar a verba
através da comunidade e do
Processo de Participação Popular (PPP). “É a escola quem
opta por implantar o ensino
profissionalizante, claro, com
a aprovação de leis e processos da Suepro/RS”.
Schoen explica que, desde 1999, a escola vem batalhando pela aprovação do estado, que, por burocracia,
tem sido demorada. “Junto
com a direção, teve épocas
que quase nos fizeram desistir do projeto por falta de apoio
da 28º CRE. A troca de governo atrasa mais o processo”.
Ela explica que o projeto retornou por diversas vezes da
28º CRE: “A nossa proposta
era começar esse ano, tanto
é que temos três salas vazias”.
A ex-aluna de escola estadual Carlos Bina, Claudia Carvalho, declara: “quando terminei o ensino médio estava estagiando, e não possuía condições financeiras de fazer um
curso profissionalizante”. A estudante teve de dormir duas
noites em uma instituição particular para retirar a ficha de
inscrição e fazer sua matrícula,
na tentativa de conseguir bolsa. Claudia diz que “o ensino
técnico possibilita ao estudante condições financeiras, para
entrar numa universidade”.
14
Esporte
outubro de 2006 Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista IPA
Mais de 50 pessoas freqüentam as quadras do Parque Montaury para praticar tênis gratuitamente
Ações levam esporte para população
Bernardo Dias
Bernardo Dias
P
Porto Alegre - Com o
mesmo objetivo, incentivar e
difundir o esporte à população,
diferentes iniciativas são implementadas. Nas quadras do
Parque Tenístico José Montaury, a prática de tênis é uma
realidade acessível a todos,
sem custos. O lugar é pioneiro
na América Latina, tendo sido
o primeiro jardim de recreio público com esporte na época,
segundo a dissertação Lazer e
cidade na Porto Alegre do sé­
culo 20: institucionalização da
recreação pública, de Eneida
Feix. Hoje, o local oferece aulas gratuitas a todas idades e
classes sociais.
Abertas diariamente, as
três quadras do Parque Montaury são freqüentadas por 55
alunos. Todavia, há uma lista
de espera de 40 pessoas querendo se matricular. A estudante Elisa Darsi, 15 anos, diz
que adora jogar tênis. Elisa não
pretende seguir carreira. “Uso
o tênis apenas como atividade
física e para me distrair um
pouco”, explica. Raquel Suertegary é outro exemplo de
quem joga apenas por diversão. A psicóloga de 27 anos
voltou a praticar o esporte há
pouco tempo: ”As aulas de
graça foram um grande incentivo para mim, pois não teria
condições de pagar um professor particular”.
Para aqueles que gostam
de competir, são organizados
dois torneios por semestre no
próprio parque. A iniciativa é
da Secretaria Municipal de Esportes, através do professor
Gilberto Bisso, 45 anos, que
Parque Tenístico José Montaury é opção para quem quer aprender a jogar tênis, sem precisar pagar pelo uso das quadras esportivas
ministra as aulas gratuitas. O
professor conta que tem alunos de nove até 80 anos, classificados nas aulas por nível.
“Para quem não possui material para jogar, nós emprestamos”, observa. Ciente da importância do projeto, ele reclama da falta de apoio tanto dos
órgãos públicos como da iniciativa privada para evolução
do esporte no Brasil. Na sua
opinião, se houvesse mais iniciativas, como a do Parque Tenístico José Montaury, a base
do esporte cresceria e a chance de surgirem novos talentos
aumentaria.
O gerente geral da Secretaria Municipal de Esporte, Gilberto Machado, conhecido como
Betinho, afirma que o Parque
Tenístico José Montaury deverá
receber qualificações. As canchas, segundo ele, ganharão
iluminação e melhorias no piso.
Atualmente, a segurança e o
paisagismo do Parque Montaury são feitos por uma instituição bancária da capital.
Opções
Outro lugar para praticar o
esporte em Porto Alegre gratuitamente é o Parque Germânia. Inaugurado há pouco
mais de três meses, no bairro
Jardim Ipiranga, o parque público conta com infra-estrutura para diversos esportes, inclusive para tênis. Das quadras do local, duas são destinadas a esse esporte. O horário disponível para jogar é
das 9 às 18 horas, com tempo máximo de uma hora por
pessoa. A Secretaria Municipal do Esporte, conforme Betinho, pretende implementar
aulas gratuitas também nas
quadras públicas do Parque
Germânia.
Sobre a construção de novas quadras, Betinho afirma
que é preciso disponibilizar
um professor para atuar no local, além de haver uma negociação com os órgãos responsáveis. Ele acredita que o
apoio da iniciativa privada é
fundamental.
Torcedores gaúchos: entre a paz e a guerra
Tafael Medeiros
Camisa 12, torcida organizada do Inter, tem cerca de 18 mil sócios
Tafael Medeiros e Taffarel Marinho
As torcidas organizadas vivem entre a paz e a guerra.
Com espetáculos nos jogos,
ajudam o time dentro e fora de
campo. Por outro lado, convivem com as brigas, destruição
de patrimônios e enfrentamentos com a Brigada Militar.
A violência entre torcidas
organizadas virou fato comum
no Brasil. Os torcedores se
mostram organizados a ponto
de marcar ações via Internet. A
polícia, através do site de relacionamento Orkut, está indiciando os envolvidos.
No sul, após o Grenal do
último dia 30 de julho, no qual
torcedores do Grêmio queimaram banheiros químicos no
Beira-Rio, estádio do Internacional, as torcidas organizadas
passaram a ser alvo de discussão. Dos torcedores, 11, com
idades entre 20 e 30 anos, foram indiciados por terem ateado fogo em banheiros.
Segundo assessoria gremista, agora, além de ser vetado qualquer material de torcida
organizada no estádio, em jogos, a entrada ao complexo do
Estádio Olímpico só é permitida mediante a apresentação
de documento de identidade
ou da carteira de sócio. As visitas são fiscalizadas por seguranças do Clube. Uma roleta
com identificação digital está
sendo testada na entrada do
portão e a tendência é que
apenas associados possam
acompanhar os treinamentos.
Uma das maiores torcidas
organizadas do Grêmio é a Super Raça, fundada em 1981.
Hoje, tem cerca de 4 mil sócios. A Camisa 12, do Inter,
segundo o presidente Miguel
Dagnino, tem cerca de 18 mil
sócios. Dagnino afirma que a
Camisa 12 controla com rigidez o cadastro dos integrantes. Ele ressalta que gostaria
de retirar a má impressão vinculada às torcidas organizadas. Uma alternativa para driblar a obrigatoriedade do cadastramentos de membros
das torcidas organizadas junto
à Brigada Militar são as torcidas independentes, como a
Geral, do Grêmio, e a Popular,
do Inter.
Na torcida, opiniões divergentes
Sócio do Grêmio há 10
anos e torcedor Charles Souza
de Almeida disse que, após os
acontecimentos do último Grenal, a segurança no estádio
melhorou, com um efetivo
maior de seguranças, inclusive
a paisana, infiltrados na torcida. O torcedor apóia a proibição de torcidas organizadas
no estádio em dia de jogos. Almeida encerrou salientando
que a justiça deveria condenar
o clube de alguma outra maneira, mas não proibindo a torcida e, principalmente, os sócios de irem ao estádio. Ele
defende uma punição severa
àqueles que mancharam a
imagem do clube no Brasil.
Já o colorado Marco Rocker é a favor da entrada das
torcidas organizadas nos estádios, desde que os integrantes
assinem um termo de responsabilidade. Rocker acredita
que a proibição não resolverá
o problema, porque essas
pessoas entrarão no estádio
de outro modo.
Taffarel Marinho
Podium
As iniciativas que visam difundir o esporte continuam
surgindo. Uma delas está sendo projetada pelo campeão
mundial de Judô, João Derly.
Aos 25 anos, ele pretende realizar um outro sonho. Inspirado no projeto Reação, desenvolvido pelo amigo e medalhista olímpico (bronze), Flávio
Canto, na favela da Rocinha
no Rio de Janeiro, que ensina
o Judô e noções de cidadania
a crianças, Derly está implantando o projeto social denominado “Instituto Podium”, em
Porto Alegre. Ele orgulha-se
de poder atender crianças carentes: “A criança precisa do
ídolo. Alguém em quem ela
possa se espelhar”. O nome
foi extraído de uma referência
que Viviane Senna - irmã de
Ayrton Senna - fez na entrega
do Prêmio Brasil Olímpico, citando que no pódio do esporte só existe lugar para os três
primeiros colocados, mas que
no pódio da vida existe lugar
para toda e qualquer pessoa
que trilhe o caminho da humildade, da perseverança e do
bom caráter. “Quero formar,
antes de qualquer coisa, campeões da vida”, projeta o judoca. Segundo o judoca, as atividades do projeto devem começar em seguida. O local já
está definido: será no Centro
de Desenvolvimento Comunitário (Cedeco), no bairro Morro Santana. Agora, conforme
Derly, falta apenas as crianças
se inscreverem.
Colaborou: Daniel Freire,
Lucas Cardoso e Rodrigo Pires
Tênis
gaúcho
Bernardo Dias
Colorados enfretam barulhos dos gremistas em dia de jogo no Olímpico
O convívio com o rival
O gaúcho é apaixonado
por futebol. Vestir a camisa do
time, ir ao estádio e, é claro,
zombar dos torcedores de clubes rivais fazem parte do diaa-dia. Até então nenhuma novidade, mas situações inusitadas são vividas por torcedores
colorados que moram ao lado
do Estádio Olímpico. Ou, ao
contrário, quando um tricolor
mora do lado do Beira-Rio.
Em enquete realizada ao
redor do Estádio Olímpico, de
dez torcedores, seis são colorados. É o caso de Leonardo
Carvalho, que nos dias de jogo
do Grêmio enfrenta muito barulho dos torcedores rivais.
Mas, a presença do “inimigo”
tão próxima não é alvo apenas
de reclamações. Têm muitos
que se aproveitam da vizinhança de um estádio para ganhar
uma grana extra. Como faz Ismael Oliveira, um colorado que
criou um estacionamento perto do Olímpico. Ele cobra R$
10 para carros e R$ 5 de cada
moto que fica no quintal da sua
casa, durante os jogos do arqui-rival.
Já em uma enquete feita ao
redor do Beira-Rio, ficou constatado que dos dez torcedores
entrevistados, apenas dois
eram gremistas. Parte da minoria, o torcedor Renato Borges Sant’anna, 21 anos, mora
em frente ao Beira-Rio. Apesar
de reclamar do barulho, admite que a situação é normal,
pois quando ele vai ao Olímpico assistir aos jogos do Grêmio, os torcedores das imediações também sofrem com o
barulho. “Tirando os dias de
jogos, tudo é tranqüilo”.
Segundo colocado no
ranking brasileiro e quarto no
sul-americano da sua idade,
o gaúcho Eduardo Moreira
Dischinger, de 14 anos, treina para se tornar um jogador
profissional. Ele joga tênis
desde os 7 anos, e viaja pelo Brasil e pelo mundo para
disputar torneios.
Dudu, como é chamado
pelos amigos, tem cerca de
60 troféus e acumula títulos
como: Campeão Brasileiro
em 2004 e Campeão SulAmericano por equipes,
defendendo o Brasil. Recentemente, o tenista voltou de uma série de torneios na Europa, entre eles
o Mundial na República
Tcheca. “Foi uma grande
experiência que me ajudou
muito na melhoria do meu
nível de tênis, pois lá vi que
estou no mesmo nível dos
melhores do mundo na minha idade”, alegra-se.
Treinado pelo ex-tenista
Eduardo Frick, Dudu é patrocinado por uma marca
gaúcha que lhe fornece roupas e outra que lhe fornece
raquetes. Ele lamenta não
ter apoio para as viagens,
pois os custos com passagem e hospedagem quase
sempre são bancados pelos
pais. “O tênis me trouxe coisas boas como ter amizades por todo o Brasil, experiência e amadurecimento”.
Polícia
Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista IPA outubro de 2006
15
Assaltos nos transportes coletivos da capital aumemtam em 11%. Número assusta a população gaúcha
Afinal, o transporte coletivo é seguro?
P
Claudia Jobin
Claudia Jobim
Porto Alegre - Andar de
ônibus em Porto Alegre, a partir das 20 horas, tem representado uma ameaça para a população. O turno da noite tornou-se alvo para os salteadores, registrando mais de 50%
dos assaltos aos coletivos nos
últimos meses, segundo a Brigada Militar (BM).
“Me passa tudo o que tu
tem de valor sem dar um pio ou
te cravo bala”. Essas são as
palavras que até hoje não saem da memória da funcionária
pública R.S., de 48 anos, vítima de assalto na linha 473,
Jardim Carvalho/Salso. Eram
23h30 quando um homem
sentou-se ao seu lado e empunhou-lhe a arma na cintura.
Depois de tê-la roubado, o homem desceu do ônibus como
se nada tivesse acontecido. Ao
fazer queixa para o cobrador,
ela ficou chocada com a resposta: “Minha senhora, não
posso fazer nada, o importante
foi que a senhora não reagiu,
pois uma morte causaria problemas para empresa”.
Um dos motivos para o cobrador agir dessa forma foi porque a BM dá instruções para
funcionários dos transportes
coletivos de como agir em caso
de assaltos, mas não de como
auxiliar os passageiros. De
acordo com A.L., motorista de
transporte urbano há sete anos,
“a população tem que andar na
fé e na sorte, principalmente
durante a noite, quando o policiamento não é intensivo, facilitando a ação dos bandidos”.
Assim aconteceu com o auxiliar administrativo e estudante
de administração, P. C., de 24
anos, que estava voltando da
faculdade durante a noite e foi
assaltado na linha T4 por dois
rapazes, que levaram o celular,
o tênis e uma jaqueta, além do
dinheiro dos demais passageiros e do cobrador. “Desde então, tenho voltado de microônibus para casa, ainda não me
sinto totalmente seguro, pois
na avenida Antônio de Carvalho
não há policiamento, e passar
por ali durante a noite é muito
perigoso”. Ele conta que o pai
dele morreu durante uma tentativa de assalto na linha Cefer
2. O estudante diz que segurança existe, o que falta é organização das autoridades no
combate à violência.
No consórcio Unibus, o número de assaltos registrados
esse ano até agosto foi de 107.
Houve redução de quase 45%
em relação ao ano passado.O
gerente operacional da empresa, Eduardo Bleurer, acredita
que até o fim do ano esse número não ultrapassará 120.
“Toda a nossa frota é equipada
com cofres e, a cada retorno,
o cobrador deve prestar contas. Andar com a caixa cheia é
atrativo para os assaltantes”.
Segundo Bleurer, é preciso
fazer o rodízio de motoristas e
cobradores em todas linhas a
cada 15 dias, para que não haja
envolvimento dos passageiros
com os funcionários e também
não facilite a ação dos assaltantes em determinados horários.
A Cia. Carris Porto Alegrense não retornou o contato feito
pela reportagem até o fechamento dessa edição.
Somente no mês de julho desse ano, mais de 80 assaltos a ônibus foram registrados pela Brigada Militar
estatísticas
No período de 2004, foram registradas 318 ocorrências de assaltos em transportes coletivos, envolvendo
43 bairros de Porto Alegre. Partenon e Navegantes são os locais de maior incidência, apresentando 26,72% dos
assaltos. Até março de 2005, houve uma redução de 21%, com 80 casos registrados. O Navegantes lidera, com
11,25% de assaltos.
Porto Alegre conta hoje com 1.593 transportes coletivos. Desses, 1.270 são de empresas privadas e 323 da
empresa pública Cia. Carris Porto Alegrense. Até agosto desse ano, foram registrados 942 assaltos, indicando um
aumento de 11% em relação ao ano passado. Os principais pontos de ataque são as linhas T3, T6 e 473. O 20º
Batalhão de Policia Militar registrou que na Zona Leste, bairros como Morro Santana, Rubem Berta, Lindóia e Vila
Safira apresentaram um índice de 37,80% dos assaltos desse ano. A empresa Conorte totalizou 32,94% dos assaltos a coletivos, principalmente na linha Protásio/Humaitá com 8,75% no índice.
Fontes: ATP/EPTC/BM
Assalto aflige moradores
Simone Freitas
Simone Freitas
Floresta - Quatro carros
roubados e uma casa arrombada. Este é o saldo diário da
violência em um dos bairros
mais antigos de Porto Alegre:
o Floresta. Conhecido também
pela concentração histórica de
prostituição, o bairro ocupa o
sexto lugar na lista dos mais
violentos. O número assusta,
mas como o bairro já foi o segundo mais violento ainda há
esperança de melhoras.
Moradores e comerciantes
do bairro estão preocupados
com a ação dos marginais.
Maurício Souza, funcionário há
quatro anos de uma casa lotérica, conta que nesse período a
loja onde trabalha foi assaltada
sete vezes. “Em apenas uma
das sete vezes os culpados foram pegos”, desabafa. Já a moradora Paula Garcia, que mora
no bairro há 22 anos, teve a casa arrombada seis vezes. “Em
uma das vezes, os bandidos
me prenderam no quarto enquanto levavam minha televisão
e outras coisas”, lembra.
“O pior problema aqui são
os assaltos”, declara Janaina
Martinez, que mora no bairro
há cinco anos. Ela também reclama dos arrombamentos,
como o que aconteceu na casa da tia dela há um mês. Entre
os moradores, é comum a opinião de que falta policiamento.
“Acho que o problema dos assaltos e roubos seria resolvido
se colocassem mais policiais
na rua”, acredita Martinez.
DICAS DE
SEGURANÇA
•M
antenha
distância de
no mínimo 20 metros
de suspeitos;
•E
steja
atento às pessoas
e aos locais onde transita;
•E
vite
ser surpreendido;
•O
lhe
nos olhos e nas mãos
do possível delinqüente;
•À
noite, não ande na calçada
e sim pelo meio da rua;
•M
antenha diálogo com
os vizinhos e informe
sobre mudanças;
•P
are
longe do semáforo,
caso esteja fechado;
•T
ranque
•A
nde
bem as portas;
em grupos à noite;
•A
qualquer sinal de possível
abordagem, se houver a
distância mínima de 20
metros, volte para trás
e saia correndo;
•S
e
for abordado por
um criminoso, não reaja.
Bairro Floresta é o sexto mais violento da capital gaúcha
PARCERIA
Para tentar reverter esse
quadro, a Associação Cristóvão Colombo, junto com os
moradores, vem tomando atitudes para melhorar a vida no
bairro. “Uma das nossas buscas é uma maior circulação
preventiva da Brigada Militar
(BM)”, afirma o presidente da
Associação, Beto Rigotti. A
Associação se reúne uma vez
por ano com a prefeitura, para
discutir os problemas e buscar
soluções. Esse ano foram discutidas alternativas para aca-
bar com a insegurança e também com a prostituição. Além
disso, outra alternativa iniciada
pela Brigada Militar é o Brigada
Cidadã, responsável por reuniões para auxiliar os moradores
na prevenção de ocorrências.
Segundo a BM, não é possível estar em todos os lugares ao mesmo tempo. “A Brigada não é estática. Quando
há uma solicitação, precisamos atender as ocorrências,
desde acidentes de trânsito a
assaltos, e isso tira os policiais da rua”, explicou o Major
Fonte: Brigada Militar
Antônio Ney da Silva Júnior,
que comanda a 4º Companhia do 9º Batalhão da Brigada Militar, responsável pela
segurança da região.
A Companhia também é
responsável por um programa deconscientização dos
moradores, no qual são apresentados os maiores problemas da região e dadas dicas
de como se proteger da violência. Segundo o Major, é
preciso se dar conta que a criminalidade vem aumentando
muito em toda parte.
Contra-ataque
Mensalmente são realizadas reuniões entre representantes das empresas de ônibus da grande Porto Alegre e
o comando geral da BM. O
objetivo dos encontros é solucionar os problemas de segurança nos coletivos. O trabalho é feito pelo Centro Integrado Operacional de Segurança Pública (CIOSP). São
avaliadas as medidas policiais
específicas, tanto no policiamento ostensivo, quanto investigativo, dando prioridade
nos locais apontados nas
reuniões.
Com o estudo que mostra
os locais mais perigosos, pode-se desarticular esses assaltos, através da identificação e prisão dos assaltantes.
A BM está com uma atuação
mais concentrada nas seguintes áreas e linhas: Partenon, Navegantes, Sarandi,
Centro, Rubem Berta, São
Geraldo, Petrópolis e São
João; T3 e T6 da Cia Carris
Porto Alegrense.
Em julho deste ano, numa
ação conjunta da Unibus
com o 20º BPM, foi efetuado
um flagrante seguido de prisão, antes mesmo de ocorrer o assalto próximo à avenida Manoel Elias.
O gerente operacional da
Unibus, Eduardo Bleurer, estava seguindo a linha informando pelo rádio a viatura do
20º BPM e também o motorista do ônibus. “Prendemos o
rapaz, antes dele colocar os
pés dentro do ônibus, com
uma arma, pronto para efetivar o assalto”.
Furtos são
transtornos
Jerônimo Pires
Zonas Norte e leste
- “Crime que consiste na
subtração de coisa alheia
móvel, para si ou para outrem sem o consentimento
de seu legítimo dono”. Essa
é a definição de furto descrita no artigo 155, do Código
Penal Brasileiro. Conforme
dados apresentados pelo
20° Batalhão da Brigada Militar (responsável pelos bairros Sarandi, Rubem Berta,
Morro Santana, entre outros), os furtos são os crimes mais comuns nessa região da Capital.
Os números oficiais mostram um índice de furtos elevado em relação ao 19º Batalhão, responsável pelos
bairros Santo Antônio, Partenon, Agronomia, entre outros. Só em março, foram
117 furtos, entre qualificados e simples. No 19° BPM,
o número entre furtos qualificados e simples chega a
93. Isto é, na área do 20º
BPM os furtos são cerca de
26% a mais.
A estudante Letícia Leal
comenta que os furtos na faculdade são constantes. “Eu
sempre venho com meu irmão, ou com meu namorado, senão é muito perigoso”.
Já outro estudante, Gustavo
Reischak, discorda. “Eu ando à noite no Morro Santana
e não sinto perigo”, afirma. O
garoto que se sente seguro
diz que sua residência já foi
alvo de furto. “Já entraram
aqui em casa e levaram uma
bicicleta, essa sensação é
ruim”. Ele acrescenta: “apesar de não achar o bairro perigoso, fiquei impressionado
com o número de furtos”.
A Brigada Militar, representada pelo soldado Caucano, diz que a polícia procura fazer um policiamento
estratégico. “Colocamos policiais a pé e viaturas em pontos base, mas somos poucos. O nosso efetivo é o
mesmo número de 1972. O
déficit é gritante”, explica. Ele
também comenta que nas
proximidades da faculdade,
na avenida Manoel Elias, “teria que se por uma viatura
permanente, mas não temos
equipamento nem pessoal
para isso”. O soldado afirma
que com essas providências
a insegurança e o número de
furtos diminuíriam.
A região conta com duas
delegacias, situadas nos
bairros Sarandi (12ª Delegacia de Polícia) e Rubem Berta
(22ª Delegacia de Polícia).
Para fazer denúncias de crimes, os telefones das delegacias são: 3347-7270, do
bairro Sarandi, e 3319-1657,
do bairro Rubem Berta.
16
Polícia
outubro de 2006 Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista IPA
Alvorada sofre com o número de homicídios; moradores pedem providência, mas falta estrutura na Brigada
BM tem defasagem de 150 servidores
A
Eliane Costa
Eliane Costa
Alvorada - O alto número
de homicídios em Alvorada está gerando reclamações entre
os moradores. Conforme dados da Brigada Militar (BM), em
2005, foram 85 assassinatos,
ou seja, sete mortes por mês.
Somente até agosto deste ano,
foram registradas mais de 60
mortes. O 24° Batalhão de Polícia Militar considera que o crime de homicídio tem uma incidência elevada na cidade e que
o número de policiais está abaixo do necessário, mas acredita
que controla a criminalidade.
O medo tem tirado as noites de sono de pais dos jovens
e adolescentes, principais vítimas dessa modalidade de crime. Como é o caso da donade-casa Helena Silva, moradora do bairro Maria Regina. “Tenho medo. Quando meus filhos
saem à noite, não consigo dormir enquanto eles não chegam”, confessa.
Morador do bairro Americana, o comerciário Rodrigo Gomes, assume que a cidade sofre com problemas na segurança, mas reclama que a mídia
faz alarde além do necessário.
“Isso forma uma idéia que só
existem marginais em Alvorada”. Indignado, o comerciante
conta que já se sentiu constrangido, pois foi alvo de piadas
por ser morador de Alvorada.
Limitações
O comandante do 24°
BPM, tenente coronel Sérgio
Roberto de Abreu, afirma que
a maioria dos assassinatos na
cidade tem endereço certo.
“Não são homicídios aleató-
rios”, disse, ligando os assassinatos ao tráfico de drogas.
“Muitos jovens viciados não
conseguem fazer o pagamento. Em conseqüência disso,
são assassinados como uma
forma de castigo”, afirma.
Entretanto, o tráfico não é o
único problema de Alvorada.
Abreu informou que a Brigada
conta hoje com 200 servidores,
dos quais 160 estão ativos para
o policiamento. Conforme comandante, o número adequado seria de 300 policiais. “Hoje,
temos uma defasagem de 150
colaboradores, mas o efetivo
está adequado a proporcionar
um estado de controle da criminalidade. Um aumento do efetivo é necessário, é uma meta a
ser atingida”, projeta.
Outra situação complicada
refere-se aos veículos. A BM
conta com cinco viaturas para
atendimento a chamados, três
viaturas para operações táticoespeciais – patrulhas mais preparadas - e três no pelotão especial – grupo preparado para
enfrentar situações em qualquer nível de gravidade. “Mas a
disponibilidade de viaturas depende do estado de conservação, pois problemas mecânicos podem reduzir este número”, admitiu o comandante.
Talvez a solução para redução da criminalidade seria a
distribuição de postos de polícia pela cidade. Contudo, Alves acredita que é contra-indicado, porque os recursos são
escassos. “Se nós tivéssemos
uma fartura de viaturas, de
pessoal, seria ótimo. Mas isso
é inviável”, conclui.
Solano César Carboni: saudades do irmão Luiz Alberto, assassinado em janeiro desse ano, em Alvorada
Vida e Paz
O coordenador do Movimento Alvorada Vida e Paz,
Solano César Carboni, concorda que o tráfico é o grande responsável pela violência
na cidade. Mas alerta que
inocentes também perderam
a vida. O irmão dele, por
exemplo, foi assassinado no
início do ano. Luiz Alberto
Carboni foi vítima de um assalto no Jardim Aparecida e
morreu na frente da mulher e
dos filhos.
Após a morte do irmão,
Carboni conta que amigos e
familiares reuniram-se e formaram o movimento com a
finalidade de cobrar um posicionamento para conter a onda de violência e buscar justiça. O movimento fez encontros com autoridades – por
exemplo, com o chefe da Casa Civil do Estado e com o
superintendente regional da
Polícia Federal - para reivindicar a melhoria da segurança
pública.
Em abril desse ano, também houve uma audiência pública na Assembléia Legislativa do RS. Estavam presentes
representantes do Ministério
Público e da Secretaria de Segurança do Estado, do comandante da BM da cidade e
da Região Metropolitana, o
prefeito de Alvorada e outras
autoridades. “Mas até agora
não vi muita coisa”, frustra-se
Carboni. Segundo ele, as mudanças significativas foram a
troca do comando da Brigada
Militar no município e uma
operação da Polícia Federal,
no final de julho.
Cresce denúncia de abuso à mulher Ligação perigosa
Camila Jacques
Camila Jacques
Porto Alegre - A violência contra as mulheres está
deixando a sociedade cada
vez mais preocupada. De
acordo com dados da Delegacia de Mulher de Porto Alegre,
somente no primeiro semestre
de 2006 foram registradas
4.067 queixas desse tipo de
violência, somente no Distrito
da Mulher da capital.
No último semestre do
a n o p a s s a d o , o c o r re r a m
aproximadamente três mil
ocorrências. Vale ressaltar
que há 24 Distritos Policiais
distribuídos na Região Metropolitana. No Rio Grande do
Sul, há nove Delegacias de
Polícia que contam com atendimento especializado para a
mulher.
Mesmo ultrapassando as
quatro mil queixas, a violência contra a mulher pode ser
ainda maior, pois muitas dessas vítimas não procuram as
autoridades. “Por medo de
continuarem sendo agredidas aceitam a situação e na
maioria das vezes não comparecem à delegacia com
medo do que irá acontecer
com seus maridos”, diz a titular da Delegacia da Mulher
de Porto Alegre, Adriana Regina da Costa. Ela também
relata que os motivos da violência se dão na maioria das
vezes em famílias desestruturadas, em que os homens
são alcoólatras e consomem
entorpecentes.
meses a um ano, poderá ser
triplicada. O agressor também
poderá ser preso em flagrante,
e a vítima só poderá retirar a
queixa perante o juiz. “Esta nova medida intimidará o agressor”, acredita a delegada.
Delegacia da Mulher recebeu mais de quatro mil denúncias
TIPOS DE VIOLÊNCIA
A violência física contra a
mulher é só um dos tipos de
agressão, existe também a física, sexual, psicológica e
moral. “Nem imaginava que
quando meu marido me obrigava a transar era um ato de
violência”, disse a empresária
N.R, 28 anos, moradora de
um bairro de classe média.
Ela é violentada freqüentemente, por isso preferiu não
se identificar.
Um problema da população
é não conhecer as leis que vi-
goram no Brasil. Manter relações sexuais com o marido não
é uma obrigação matrimonial.
No momento em que a mulher
é sujeitada a trocar intimidades
com seu marido mediante
ameaça de violência passa a
ser considerado estupro, segundo a Cartilha da Mulher, da
Delegacia para a Mulher.
Uma nova legislação, a lei
n° 11.340, assinada pelo presidente do Brasil, chamada de
Maria da Penha, ajudará e
apoiará as vítimas de violência.
A pena, que antes era de três
REAÇÃO
É importante salientar que
o primeiro passo que as mulheres devem dar é ir à Delegacia de Mulheres. É preciso
explicar o que aconteceu,
pois para cada caso há um
direcionamento. Existem casos que se resolvem logo,
mas, na maioria das vezes,
são longos e duradouros. As
vítimas que se livram de seus
agressores são conduzidas
ao Centro de Referência, que
oferece gratuitamente às mulheres acompanhamento social e psicológico.
“O Centro é essencial. É
muito difícil ‘voltar ao mundo’
depois de tudo o que aconteceu”, admite B.M, 34 anos.
Depois de ser espancada pelo companheiro, durante seis
anos, ela está conseguindo
se reabilitar, freqüentando o
local. O acompanhamento é
extremamente importante,
pois as conseqüências podem ser gravíssimas, desde o
estresse ao suicídio, conforme a Cartilha da Mulher. Existe também um lugar que abriga as vítimas que precisam
fugir do agressor. É a Casa
Abrigo Viva Maria. O endereço não é divulgado por motivo
de segurança.
Adriana Gusmão
Os cidadãos estão cada
mais inseguros. Reféns da
própria sorte, são vítimas
constantes da criatividade
dos criminosos. Antes, o perigo estava na rua ou dentro
de casa, agora os bandidos
estão indo além. A nova “modalidade” de crime acha a
pessoa onde quer que ela
esteja, basta que a vítima em
potencial possua um telefone. É a chamada “extorção
por telefone”.
A.J. passou por essa situação. A vítima lembra que o
filho, de nove anos, atendeu a
ligação. Disseram que havia
ocorrido um acidente com um
homem de sua família. “Por
isso, a criança passou para os
criminosos o número de celular, meu nome completo, modelo do meu carro, tudo que
me indentificasse”, contou.
Com os dados, os criminosos ligaram para A.J., dizendo que o filho dele havia
sido seqüestrado. A vítima
tentava ligar para casa, mas o
número estava ocupado. “Me
pediram R$ 5 mil e disseram
que, se eu não depositasse o
dinheiro em uma hora, matariam meu filho. Por sorte, eu
estava na rua e fui até em casa, não havia sequestro nenhum. Não passava de um
trote”, relatou.
O golpe
O criminoso liga para a vítima normalmente com a des-
culpa de ter havido um acidente de trânsito. Geralmente, se identifica como policial
militar ou civil. Usa também o
disfarce de operadoras de
cartões de crédito ou de cadastro de lojas. Conversa até
possuir informações suficientes para agir. “De posse desses dados, liga novamente
para a mesma pessoa ou para o parente que conseguiu
informações e simula um seqüestro”, explicou o delegado
do Departamento Estadual
de Investigação Criminal, Heliomar Franco. Em geral, o valor da extorsão varia entre R$
1 mil e R$ 10 mil, pedidos para serem depositados em
uma conta corrente de outro
estado. Os marginais também pedem senhas de cartões pré-pagos de celular.
As ligações rastreadas pela Polícia Civil de Porto Alegre
indicam que são feitas de telefones celulares de presos
que cumprem pena em Bangú 3, na cidade do Rio de Janeiro. “É muito importante
alertar a sociedade sobre esse tipo de golpe. Já atendemos pessoas aqui na delegacia que chegam falando no
celular com os criminosos. A
nossa instrução, quando a
pessoa recebe esse tipo de
ligação, é sempre pedir um
telefone fixo do órgão de onde
o indivíduo se identifica e ligar
para confirmar a versão”, ensina o delegado Franco.
Comportamento
Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista IPA outubro de 2006
17
Eles fazem da rua seu local de trabalho, mas os esforços compensam: alguns ganham em torno de R$ 3 mil
Os ‘Dom Juans’ da rua José Bonifácio
B
Fotos: Cleidi Pereira
Cleidi Pereira
BOM Fim - A rua José Bonifácio (JB), em Porto Alegre,
apresenta múltiplas faces. No
início da semana, durante o
dia, é um local bem movimentado: mulheres passeiam com
seus cães, homens correm pelo parque, crianças se divertem
na pracinha. Nas manhãs e tardes de domingo, acontece o
Brique da Redenção. É o dia
com maior movimento. Casais
passeiam de mãos dadas, famílias reunidas tomam chimarrão, vendedores e artesãos estão por todos os lados e tribos
de vários estilos se reúnem.
Mas é com a aproximação
do final de semana que o movimento noturno aumenta. Saem as famílias e surge a figura
do “michê” (garoto de programa), considerado pelos moradores um problema da região.
A maioria deles
esconde a profissão dos familiares; alguns por vergonha,
outros por medo. Josué, Júnior e Marcelo, identificados
por nomes fictícios, são garotos de programa que possuem
histórias de vida distintas.
Loiro, alto, bem vestido e
charmoso. Josué, 29 anos,
trabalha como garoto de programa na rua JB. Esse é seu
único emprego. Decidiu se
prostituir porque a “grana” vem
com facilidade e por gostar da
noite, mas não do seu trabalho.
Escolheu a JB “pelo fato de ser
um lugar livre, por não precisar
pedir permissão para ninguém
e poder andar pela rua sozi-
nho”. Ele ganha aproximadamente R$ 3 mil por mês. Com
o dinheiro adquirido ao longo
de seis anos de trabalho conseguiu comprar uma casa.
É solteiro, tem quatro filhos
e a família desconhece sua profissão. Atende geralmente casais. Homossexuais e mulheres
também o procuram. “Às vezes, vem cara casado com mulher bonita, não entendo! Vem
‘coroa’ com carro legal, podendo ‘pegar’ umas mulheres.
Acho que é fantasia. Cada um
é cada um”, presume.
Estatura média, cabelos cacheados cobertos por um boné e barba para fazer. Marcelo,
37 anos, é mais procurado por
casais. Ele é solteiro, concluiu
o Ensino Médio
e se prostitui há
quase dois anos.
Cobra R$ 30 por
programa e também trabalha
como motoboy.
Ganha aproximadamente
R$ 1,5 mil por mês.
Marcelo cita como principal
dificuldade ter que sair com
pessoas com más intenções.
“Colegas meus já apanharam.
Já aconteceu de chegarem em
três, fingir que queriam fazer
um programa, mas na verdade
queriam mesmo era ‘sacanear’ o cara”. Ele não se envergonha da profissão, mas a esconde por respeito à mãe, com
receio de decepcioná-la. Marcelo é viciado em cocaína e
conta que a maioria dos seus
colegas e clientes também é.
Mas ainda pretende sair dessa
vida e cursar hotelaria.
“Às vezes vem
cara casado com
mulher bonita,
não entendo!”
Termômetro marca 8°C, mas os “michês” da JB aguardam clientes
Adolescente na noite da JB
Júnior não tem voz e nem
corpo de homem, mas é procurado por homens de todas as
idades. Ainda é um adolescente, porém mora sozinho e paga
suas contas. Nasceu em Florianópolis. Saiu de casa cedo e
com 16 anos começou a se
prostituir. Hoje, tem 17. Estudou
até o primeiro ano do ensino
médio e não pretende continuar.
A mãe dele sabe do trabalho,
mas não se importa.
A dificuldade de conseguir
um emprego e a influência de
amigos que trabalham no local
fizeram com que ele migrassepara a vida de garoto de programa. Cobra entre R$ 40 e R$ 50,
dependendo do tempo que fica
com o cliente. Consegue ganhar
por mês R$ 600. Júnior não vê
nenhuma vantagem e não se
envergonha da profissão.
Vizinhança indesejada
Semiramis Gorini, 62 anos,
mora há quase 30 anos na José Bonifácio. Ela conta que
apesar da presença de garotos de programa não trocaria a
rua por nada, pois gosta do local onde vive. Quando se mudou, havia poucos michês na
região. O auge da concentração no local ocorreu na década de 90 e agora a presença
deles começa a diminuir. “Eles
já foram em maior número,
mas acho que as ações de repreensão que a polícia realizava ajudou a afastá-los e também pelo fato de que muitos já
morreram devido ao HIV”.
Gorini conta que os moradores que não deixaram a rua
tiveram de adaptar-se à presença dos michês no local. “Tenho
vizinhos que não saem à noite,
a maioria dos edifícios colocou
grades”, afirma. Segundo ela,
idosos e famílias sentem-se
agredidos, pois, na tentativa de
vender seu corpo, alguns dos
garotos tiram a roupa, abordam
os carros e até os namorados
de moradoras da José Bonifácio. “Existem os discretos e os
mais extravagantes. Estes fa-
zem de tudo para chamar a
atenção de quem passa”. Para
a moradora, o grande problema
não é a presença deles em si,
mas o fato de atraírem oportunistas como traficantes ou assaltantes infiltrados.
Até mesmo alguns garotos
de programa admitem que há
exageros. Josué, por exemplo,
diz possuir uma relação tranqüila com os moradores da região. Porém, alguns colegas
mais “audaciosos” incomodam a vizinhança. “Têm vários
garotos que tiram a roupa no
meio da rua para atrair a clientela, acho que isso deve incomodá-los”, comenta.
O presidente da Associação dos Amigos do Bairro Bom
Fim, Jairo Miguel Verba, conta
que já foi realizado um movimento para a retirada dos michês da rua. Mas foi em vão. “A
atividade desses garotos prejudica os moradores, pois eles
são obrigados a conviver com
atos de exibicionismo, atentado ao pudor, às vezes, sexo em
público e, em alguns casos, situações de violência”, afirma o
presidente da Associação.
José Bonifácio é o ponto da prostituição masculina em Porto Alegre
Garotas de programa têm lucros de até R$ 2,5 mil
Carlos Ismael
Carlos Ismael Moreira
Centro - Apesar das dificuldades e perigos, principalmente em relação à saúde física e mental, a prostituição tem
se mostrado um negócio lucrativo. Profissionais do sexo,
como a “Bruna Surfistinha”,
chegam a lançar livros (O Doce
Veneno do Escorpião, pela
editora Panda Books) e “se
aposentar” antes de completar
25 anos de idade. Em Porto
Alegre, parece não ser diferente. Em entrevistas, pedindo
para se identificar com pseudônimos, prostitutas contam
histórias que revelam como é
o seu dia-a-dia.
Mônica, 24 anos, trabalha
em uma esquina da avenida
Farrapos. Ela diz que encontrou na prostituição a oportunidade de pagar suas contas.
O tratamento da doença da
mãe obrigou Mônica a contrair dívidas que ela não tinha
previsto. “Depois que comecei a fazer programas, estou
conseguindo pagar minhas
dívidas. Conforme o movimento, consigo faturar mais
de R$ 2,5 mil reais por mês”,
afirma. No entanto, ela diz que
irá largar a prostituição logo
que pagar seus credores. “Assim que der vou parar de fazer
programas. Tenho um pouco
de medo, por isso trabalho até
as 22 horas, no máximo”,
confessa Mônica.
Susana, 42, trabalhou como secretária e caixa-operadora. Quando ficou desem-
pregada, procurou a prostituição. E não se arrepende. Depois que começou a fazer programas, ela nunca faturou
menos de R$ 1 mil por mês.
“Enquanto tiver um homem
que pague pelos meus programas, vou continuar trabalhando”, confirma.
Até mesmo menores de
idade recorrem à profissão.
Priscila, que hoje tem 28 anos,
admite que entrou na prostituição aos 17. Devido a brigas
familiares, saiu de casa e percebeu na prostituição uma forma de sobreviver vendendo o
corpo na avenida Farrapos. Ela
mostra uma cicatriz nas costas, que “ganhou” em uma briga com outras prostitutas. Segundo Priscila, a disputa por
espaço de trabalho é uma das
dificuldades enfrentadas pelas
profissionais do sexo.
Porém, com seu trabalho,
Priscila conseguiu comprar
duas casas – uma delas na
praia – e concluiu a formação
superior em Letras. Já nas casas noturnas de Porto Alegre,
o valor dos programas não sai
por menos de R$ 150. Estimase que as garotas chegam a
ganhar mais de R$ 5 mil reais
por mês. No entanto, Priscila
acha que trabalhar por conta é
mais vantajoso. “Quando a
gente trabalha sozinha o dinheiro é só nosso. Nas casas
de prostituição, às vezes metade do dinheiro fica para o
dono”, explica.
Na rua ou em casas de prostituição, mulheres encontram na venda do corpo a renda para pagar suas contas mensais
Prostituição é reconhecida como profissão
Se há algum tempo prostituta era sinônimo de mulher
desocupada, infame e semvergonha, hoje em dia essa situação tem mudado de figura.
A maior parte da sociedade
desconhece, mas a prostituição já é reconhecida como atividade profissional pelo Ministério do Trabalho e faz parte da
Classificação Brasileira de
Ocupações (CBO).
Em 2003, o Ministério do
Trabalho definiu característi-
cas e inclui na CBO a ocupação de Profissional do Sexo.
Esse trabalho foi realizado em
parceria com a Rede Brasileira
de Prostitutas e as demais associações de prostitutas do
país – dentre elas, o Núcleo de
Estudos da Prostituição de
Porto Alegre (NEP). “Essa foi
uma conquista para as prostitutas, pois a partir dessa classificação, se contribuírem ao
INSS, terão o benefício da
aposentadoria e direito a trata-
mentos de saúde ”, informa
uma das fundadoras do NEP,
Tina Taborda Rovira.
No entanto, com a inclusão
na CBO, a prostituição passou
a ser reconhecida apenas como profissão informal, porque
existem artigos no código penal (228, 229 e 231) que impedem a regulamentação como
atividade profissional formal.
Dessa forma, as prostitutas
não têm direitos trabalhistas
assegurados. O deputado Fer-
nando Gabeira (PV) apresentou, em 2003, um projeto de lei
(98/2003) que determina a regulamentação de pagamento
por serviços de natureza sexual e propõe a revogação desses artigos. Com isso, os empresários que mantém casas
de prostituição sairiam da ilegalidade e ficariam obrigados
a pagar direitos trabalhistas às
prostitutas que empregam. O
projeto ainda está em tramitação no Congresso Nacional.
18
Comportamento
outubro de 2006 Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista IPA
Daniel Freire
Leitura atua como um alimento para a alma e traz
sentido à vida de um morador de rua da Capital
Intelectual de rua
R
Rio Branco - Na avenida
Protásio Alves, entre as ruas
Vicente da Fontoura e Santa
Cecília, no bairro Rio Branco,
sob a marquise pequena de
uma portaria desativada, um
senhor de aparência simples,
carregando marcas que denotam o abandono social, improvisa seu espaço para dormir na
fria noite de Porto Alegre. A cena seria só mais uma entre tantas que revelam a dura realidade de pessoas que vivem à
margem da sociedade, se por
trás dessa atmosfera lúgubre e
indecente não existisse um ser
faminto por leitura.
Paulo Roberto Soares, 51
anos, é o que se pode chamar
de erudito da fatia social sem
voz e desesperançado, produto do desequilíbrio entre as
classes no Brasil. Esse senhor, que na adolescência encantou-se pela publicidade e
tentava representar o mundo
através dos desenhos – sem
esquecer sua primeira paixão,
a leitura –, sonhava em ser
publicitário. Hoje, porém,
passa os dias a procura de
biscates e encara os dissabo-
Daniel Freire
res das ruas sempre na companhia dos livros, revistas e
jornais que o ajudam a suavizar o dia-a-dia.
Mas como surgiu o fascínio pela leitura na vida desse
homem? Ele conta que, ainda
na infância, sua mãe e também a tia davam revistas em
quadrinhos de Walt Disney
para o então garoto que iniciara o processo de alfabetização. Esforçou-se para adquirir, o mais depressa possível,
o domínio sobre a leitura para
que não dependesse de outras pessoas e hoje reconhece o papel relevante da escola em seu aprendizado. Aponta a dificuldade financeira da
família e a necessidade de trabalhar como fatores que o tiraram das salas de aula. Confunde-se quando perguntado
sobre até que série cursou,
mas acha que chegou a concluir o 1º grau.
Carrega um certo orgulho
de ter influenciado positivamente a vida de um primo,
mais novo do que ele, que era
sempre submetido aos caprichos da leitura. O primo agora
é jornalista – Paulo Ricardo de
Moraes –, trabalha no setor de
comunicação social da prefeitura de Porto Alegre e escreveu um livro de destaque sobre o ícone da Revolta das
Chibatas, João Cândido (“O
Almirante Negro”). Infelizmente, o jornalista não foi localizado para se pronunciar sobre o
fato, pois está de licença do
cargo e o seu celular estava
desabilitado.
Literatura clássica
Soares, esse ilustre morador de rua, gosta de literatura
clássica brasileira, dos estilos
de Machado de Assis e José
de Alencar. Está lendo no momento “Memórias de um Sargento de Milícias”, de Manuel
Antônio de Almeida. Ele destaca um dos melhores livros
que leu: “A Ilha”, de Fernando
Morais – sobre Cuba e seu
regime de governo. Demonstra conhecimento sobre os
mais variados assuntos e
consegue com segurança
dialogar a respeito de Política, História, Meio Ambiente e
Geografia.
Livros ajudam na fuga da realidade
O morador de rua credita o
seu conhecimento à leitura, a
qual classifica como uma forma
de manter-se antenado com o
mundo e um alento à vida. “A
leitura proporciona conhecimento e informação, abertura
do pensamento, além de te dar
possibilidade de conhecer culturas diferentes nos mais longínquos lugares sem sair do
lugar de onde se lê. E, no meu
caso, se afastar, esquecer a
dura realidade”, definiu. Para
ele, quem lê viaja para “dentro”
da história. “Nas histórias que
falam sobre banquetes, comida, fartura, sinto-me personagem também e sacio, em parte, a minha fome”, diz.
Quando o assunto é a família, ele se retrai. Apenas disse
que tem dois filhos, não conheceu o pai e teve pouco contato
com a mãe, que viveu muito
tempo trabalhando como empregada doméstica em Santos
(SP). Após o retorno da mãe a
Porto Alegre e a reaproximação
que começava a recompor o
laço afetivo, teve duas grandes
decepções: a morte da mãe e
o término de seu casamento.
O intelectual das ruas, Paulo Roberto Soares, 51 anos, é um apaixonado pelo ato da leitura
Secretaria disponibiliza obras
O coordenador do Livro e
Literatura, da Secretaria Municipal de Cultura, Baiard Brocker, realça o poder transformador da leitura e sua funcionalidade como exercício mental fundamental para o desenvolvimento de nossas capacidades. “A partir das imagens
criadas pela leitura que se faz
de um texto, todo esse construto mental é que possibilita
crescer, seguir em frente”.
Brocker frisa que quanto
menos instruídas as pessoas
são, menos exercício da leitura
praticam. Como conseqüência, aponta, elas são fáceis de
se manipular e não conseguem
reivindicar seus direitos, porque não têm clareza do que
acontece em volta delas.
Questionado acerca da
viabilidade de algum projeto
que pudesse trabalhar a potencialidade de Soares, o morador de rua que ama a leitu-
ra, o coordenador afirmou
que o processo de inclusão é
“complexo” e há a necessidade de um acompanhamento
estratégico de uma equipe
multidisciplinar.
Não obstante, apresentou a
idéia de disponibilizar uma urna
com um pequeno acervo por
parte da Biblioteca Pública Municipal Josué Guimarães, renovado a cada 15 dias. As obras
literárias seriam administradas
por Soares e serviriam como
uma forma de aproximação a
atividades de leitura entre as
pessoas do convívio dele. Para
o coordenador, essa iniciativa
pode gerar bons frutos.
Resta saber se o morador
de rua Paulo Roberto Soaresconseguirá convencer os outros moradores de rua a buscar na leitura uma forma de
combater, ou, pelo menos, esquecer, temporariamente, do
descaso da sociedade.
Rompimento
A doutora em Antropologia Social, Cláudia Turra, explica que ocorre uma sucessão crescente e cumulativa
de rompimentos que vão se
processando na trajetória das
pessoas até que elas se instalem na rua. Esses rompimentos
vão dos mais visíveis como a
perda do emprego, a exclusão
da escola e a destruição dos
laços conjugais e familiares;
até rompimentos mais sutis e
invisíveis, os quais implicam
na perda da partilha simbólica, na partilha de sentidos e no
reconhecimento social de sua
existência.
Para Turra, o direito à cultura fornece condições para
preencher um vazio social e
é capaz de contribuir para a
aproximação e o respeito entre indivíduos ou segmentos
sociais pertencentes a classes distintas.
Mercado Público: retrato do outro lado do balcão
Fotos: Aline Marques
Aline Marques
CENTRO - Erva-mate a granel. Cuias de porongo penduradas à altura dos olhos. Versos do gerente-poeta ecoando pelo Bar Naval. Gente tranqüila. Gente apressada. Venda de vale-transporte no portão. Executivos na escada
rolante. Um cadeirante comprando revistas. Conversas.
Risos. Gritos. Sotaque paulista, sotaque argentino. Cheiro
de peixe. Cafezinho. Almoço.
Barulho. Barulho... Esse é o
cotidiano do Mercado Público, um importante ponto comercial da capital.
Diariamente, 150 mil pessoas circulam por essa construção de alvenaria que foi a
primeira a ocupar um quarteirão inteiro de Porto Alegre.
Desde 1869, é cenário de inúmeras histórias vividas por
quem compra, vende ou só
passa pelo local. Alguns circulam anônimos, mas as histórias de quem está do outro lado do balcão comprovam que
muita gente faz do Mercado o
seu segundo lar.
Paulo Naval, 70 anos, em
janeiro de 2007, completará
50 anos de trabalho no Mercado. Além de gerente de bar,
Naval é poeta. Ele atende os
fregueses com os versos na
ponta da língua. Têm livros
publicados, mas confessa
que sua maior paixão é a rotina do Mercado. “Aqui é o
meu segundo domicílio. Aqui
falo com os meus amigos e
Disque-peixe
Ele acorda às 5 horas. Todos os dias, Carlos Cézar de
Andrade Vasconcelos repete a
mesma rotina. Sai de sua casa
em Sapucaia do Sul e pega o
trem, em direção à Feira do
Peixe. Ele é o gerente de uma
peixaria, onde trabalha há 26
anos. Andrade revela que na
Feira do Peixe se ganha o freguês no grito. “Quem chega
procurando tainha, corvina,
anjo ou salmão, ouve ofertas
por todos os lados”, afirma.
Curiosamente, a peixaria
faz muitas vendas pela teleentrega e, por essa razão, o
gerente tem alguns fregueses
há anos e nem sequer os conhece. Como exemplo cita
sua relação com o proprietário
de uma churrascaria de Canoas. “Falo com o ‘Seu Camilo’
por telefone, mas nunca o vi.
Brinco que não sei se ele é
amarelo ou branco, baixo, alto...”, diverte-se.
Atrás dos balcões das diversas bancas do Mercado Público, existem muitas histórias que dão vida ao antigo prédio localizado no centro da Capital
estou em atividade. Pego o
sorriso de um e de outro, faço
uma brincadeira e o tempo
passa mais rápido”. Ele lembra saudoso da época em
que Lupicínio Rodrigues freqüentava o bar. “Em 1957, ele
costumava vir aqui depois da
boemia. Sentava sempre em
uma mesa no fundo e me pedia um papelzinho e um lápis.
Assim ficava. Entre um gole e
outro, escrevia”.
De Quintana a Gaúcho da Fronteira
“Mario Quintana, também,
era freqüentador daqui”, lembra Fiorino de Miranda, que
trabalha há 26 anos em uma
banca do Mercado e orgulhase de tê-lo servido. ‘Seu Fiorino’ recorda, inclusive, que em
1930 a banca era o único lugar
da capital que servia sorvete.
“A criançada ficava alegre
quando o pai prometia trazer
para passear aqui”.
Turistas costumam ser público freqüente por lá. Pensando nesse nicho, Roberto Groff,
que trabalha há 18 anos em
uma loja no Mercado, criou o
Kit de Lembrança. “O kit foi feito especialmente para o turista. Contém uma cuia, uma
bomba e uma bandeira do Rio
Grande do Sul. Quem compra
leva um pouco da nossa cultura”, garante. Pessoas conhecidas, como os cantores nativistas Gaúcho da Fronteira e Berenice Azambuja, também,
costumam visitar a loja. “Quando eles vêm ao Mercado, sempre passam por aqui”.
HISTÓRIA
O prédio de 137 anos passou por três incêndios. Ele sobreviveu, mas conserva marcas como uma placa no portão
central que mostra a altura da
água na enchente que alagou
Porto Alegre, em 1941. O Mercado foi tombado como Patrimônio Histórico Cultural de
Porto Alegre, em 1979. A restauração foi em 1991 e hoje
abriga 107 estabelecimentos.
Cultura
Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista IPA outubro de 2006
19
População se rende à música e ao estilo das bandas de vilas da capital, que reclamam da discriminação
Talento e cultura emergem da periferia
P
Lucas Cardoso
Lucas Cardoso
Porto Alegre - A musicalidade da periferia de Porto
Alegre está em evidência.
Além de conquistar um público cada vez maior e fiel, as
bandas formadas em favelas
e vilas ganham espaço nas
grandes mídias. Exemplo disso é uma grande emissora de
televisão brasileira, que criou
o Programa Central da Periferia. Por ironia, as próprias
bandas se sentem discriminadas por uma parcela do
público das classes mais altas, bem como por alguns
empresários que contratam
os shows.
De fato, as bandas cativam o público com estilos como pagode, funk, hip-hop,
samba, entre outros, mas o
que parece contar mesmo
para uma fatia da sociedade
são as origens dos artistas e
de como o público irá interpretá-los. “Estamos diante de
uma situação que pensávamos não existir mais, mas o
que se vê é que, por mais que
isso esteja sendo reduzido
em grande escala, o preconceito racial e de classes ainda
vigora, o que acaba dificultando para bandas que estão
iniciando agora a busca por
seu espaço”, diz Tiago, do
Grupo Perifa.
Na pele
Quem confirma a discriminação é o Grupo Louca Sedução, que possui suas raízes no morro da Maria da
Conceição, bairro Partenon,
uma das comunidades mais
pobres de Porto Alegre. Se-
gundo eles, o grupo está
acostumado a ver esse tipo
de coisa acontecer para várias bandas, principalmente
as que estão iniciando ou que
são de comunidades parecidas com a do Morro Maria da
Conceição.
Público
O público manifesta orgulho ao ver que os artistas dessas comunidades mais pobres
estão ganhando espaço na
mídia. O aposentado Marco
Antônio Silva, 58 anos, e 47
morando no morro Maria da
Conceição, diz que viver na favela requer uma luta diária.
“Temos que ‘matar um leão
por dia’, tanto para conseguir
um trabalho como para mostrar que não é porque somos
da favela que temos que ser
bandidos”, esclarece. Silva
acrescenta que, no morro também há trabalhadores como
os artistas, “por isso temos
mesmo é que aplaudir e dar
todo nosso apoio”.
Uma coisa é certa: geralmente, as pessoas preferem
se relacionar com outras que
têm os mesmos níveis sociais. Porém, conforme avalia
o Secretário de Cultura de
Porto Alegre, Sergius Gonzaga, é necessário informar que
se pode sim ter uma festa
com todos os tipos de pessoas. “O ponto principal que determina o público freqüentador é a questão geográfica,
ou seja, o local que vai ocorrer
tal festa é o fator determinante do público que vai comparecer”, comenta.
As gravações ocorreram no Morro da Maria da Conceição. O enfoque foi em temas sobre as origens do grupo de pagode de Porto Alegre
Rompendo barreiras com a música
Preconceitos à parte, a música do Rio Grande do Sul tem
ganhado respeito em várias
partes do Brasil. Tanto que o
Programa Central da Periferia,
apresentado por Regina Casé,
compareceu a Porto Alegre,
abordando vários segmentos
da música da Capital.
Na ocasião, apresentou
para todo o país artistas que
já fazem sucesso dentro de
suas esferas sociais menos
favorecidas, que não são reconhecidas pela exposição na
mídia. “O intuito do programa
não é o de fazer com que esses grupos tenham sucesso
em todos os lugares, e sim divulgar que existe música e
projetos de qualidade aqui em
Porto Alegre, e não todo mun-
Oficina leva cultura ao Humaitá
Eduardo Iribarrem
Eduardo Iribarrem
Humaiá - Levar a arte aos
bairros da periferia de Porto
Alegre. É com este objetivo que
foi criado, há quatro anos, o
projeto Descentralização na
Cultura. O Grêmio Esportivo
Ferrinho, localizado no bairro
Humaitá, sedia a Oficina de Teatro que integra o projeto organizado pela Prefeitura. Além de
participar como atores, os alunos têm a oportunidade de
participar do processo de
construção dos roteiros das
peças de teatro.
“Um grupo de teatro desenvolvido na comunidade se torna
mais forte na cidade. Nossa preocupação é viabilizar a arte para
a comunidade”, afirma o aluno
Elidson Lucas, de 19 anos.
O Descentralização da Cultura promove periodicamente
eventos nos quais a comunidade dos bairros pode participar,
e se inscrever em oficinas de
músicas, ballet, literatura, teatro, entre outras. Durante o 13º
Porto Alegre em Cena, o projeto
desenvolveu a apresentação de
algumas peças nacionais nos
bairros, como “Chega de História”, estrelada por Tônia Carreiro
e que foi levada ao Humaitá.
o início
O projeto começou em
2002, quando Vera Mesquista
deu aulas de interpretação e
montou “Zé”, cujo texto foi escrito em conjunto com os próprios alunos da oficina. Em
2003, com a chegada do dire-
Ravena Dutra do Humaita é uma das estrelas do espetáculo Andy/Edie
tor da Terreira da Tribo, Paulo
Flores, os integrantes da oficina
formaram o Grupo Trilho e
montaram, entre outras peças,
“A Invasão”, baseada na obra
homônima de Dias Gomes.
Atualmente, as aulas de interpretação são coordenadas
pelo diretor João Ricardo, fundador da Cia. Espaço em Branco. Nas aulas, o diretor trabalha
a forma de expressão corporal
e emocional com alunos de idades entre 12 e 29 anos. “O
João mudou minha vida na história do teatro. Trouxe uma pro-
posta inovadora no que se refere à descoberta do corpo. Ele
faz as pessoas expressarem o
que realmente são”, afirma a
aluna Ravena Dutra, 19 anos.
Dutra está se dando tão
bem na oficina que foi levada ao
Teatro de Arena, onde acontece
o espetáculo dirigido por João
Ricardo Andy/ Edie. “Agora que
estou em uma Cia. as pessoas
pensam que sou uma profissional. Mas para mim, apesar de
ter uma mídia maior das outras
coisas que fiz, é como qualquer
outro trabalho”, refere.
do andando a cavalo e de
bombacha pelas ruas escutando somente música gaudéria”, disse a diretora do
Central da Periferia Patrícia
Guimarães.
A afirmação vai ao encontro do que diz o vocalista da
banda Louca Sedução, Leandro Antunes. “Nossa intenção
não é sair da periferia, mudar o
nosso público e sim ter uma
resposta melhor de todos. Até
mesmo porque quando escrevemos as letras de nossas músicas, não buscamos um público-alvo, e sim fazer um samba de qualidade com letras
consistentes”, revela. Ele garante que faz shows em locais
onde todos se divertem, independente da classe social.
Ampliação
Projeto fomenta
a cultura juvenil
Outro projeto idealizado
por Andy pretende colocar todo o elenco do Grupo Trilho
em um espetáculo sobre o
amor. A proposta é usar fragmentos de diferentes textos,
de variados dramaturgos que
tenham em comum o tema
amor, construindo um só ambiente, buscando a total interação entre o público e os
atores em cena. Até a concretização do espetáculo, o Grupo prepara para outubro a
estréia de “A mais valia vai
acabar, Seu Edgar”, de Vianinha Filho, com a direção de
Paulo Flores.
Para o aluno Elídson Lucas, de 19 anos, “a idéia da
Descentralização é muito
boa, mas peca por não dar
continuidade no processo.
Cada ano é um oficineiro diferente, e isso quebra o processo de construção de grupos que é a nossa verdadeira
intenção”.
Além de aluno da Oficina,
Elídson também cuida da parte administrativa e de desenvolvimento do Grupo Trilho e
conta que um processo para
transformar o Grêmio Esportivo Ferrinho, que fica na Rua
Dona Teodora, 1250, em
Centro Cultural já está em andamento.
Outras informações sobre
a programação do projeto podem ser obtidas através do telefone 3212-5979.
Centro - Desenvolver a
capacidade, a inteligência e
o potencial de cerca de 190
crianças e adolescentes carentes de Porto Alegre. Esse
é o objetivo principal do Projeto Abrindo Horizontes, idealizado pela Casa de Cultura
Mário Quintana, em 2004.
Além de realizar diferentes
oficinas, o projeto tem como
iniciativa pioneira trazer crianças e adolescentes para
dentro da Casa de Cultura,
ao invés de deslocar as ações
nas vilas da cidade.
As oficinas oferecidas pela
Casa de Cultura Mário Quintana estão dando uma nova
perspectiva de vida para os assistidos. De acordo com as
adolescentes K. V. e J. O., ambas com 15 anos e freqüentadoras da oficina de literatura, o
projeto ajuda a progredir na escola, incentiva a leitura, torna
os jovens mais criativos e ainda
oportuniza novas amizades.
O Abrindo Horizontes, que
foi fundado em 2004, já começou a dar resultados. Segundo a oficineira Djine Klein,
crianças e adolescentes chegam agitadas e desrespeitando umas as outras. “Todavia,
passando o período de sociabilização, que dura cerca de
30 dias, atitudes negativas
vão sendo substituídas pelas
positivas. Os jovens se tornam
mais educados e há uma me-
Laura Karnas
lhora significativa em suas
concentrações”, garantiu.
De acordo com o funcionário e também monitor da
Fundação de Atendimento
Sócio-Educativo do Rio
Grande do Sul (FASE), Eduardo Souto, o projeto é muito
importante, pois ajuda os
adolescentes a serem reintroduzidos na sociedade e a
conviver com as outras pessoas novamente. O diretor
da Casa de Cultura, Sérgio
Napp, comenta que o objetivo maior é fazer com que as
crianças ajudem a si próprias. “Nós emprestamos as
ferramentas, mas elas têm
que se ajudar”concluiu.
O projeto
O projeto Abrindo Horizontes realiza oficinas que
acontecem de terças às sextas-feiras, na Casa de Cultura,
e permite que os participantes
tenham acesso a aulas de literatura, dança de rua, capoeira, música, informática, teatro, fotografia, artes plásticas,
origami, fábrica de brinquedos e ludoterapia. Além de
poderem usufruir as salas de
cinema e teatro.
A Casa de Cultura Mario
Quintana recebe cerca de 190
jovens, carentes, em situações de risco e idade entre
sete e 17 anos, que buscam
o seu lugar ao sol.
20
Cultura
outubro de 2006 Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista IPA
Reprodução de Camila de
Moraes, fotos cedidas por
Maria Noelci e Irene Santos
Bairro Rio Branco foi um reduto que
abrigou milhares de pessoas negras na
metade do século 19 até os anos 40
Colônia Africana:
um marco na
história de POA
Camila de Moraes
R
Rio Branco - Existe em
Porto Alegre um local que tem
uma história marcante para a
sociedade gaúcha. Na metade
do século 19 até os anos 40 do
século 20 consolidou-se um
Território Negro Urbano nas mediações dos bairros Rio Branco,
Bom Fim e Mont’Serrat. A história foi contada em publicações
feitas em meados dos anos 80
e 90 do século passado sobre a
Colônia Africana, como ficou
conhecido o reduto de pessoas
negras. Estima-se que a população girava entre 20 e 30 mil
pessoas.
O atual bairro Rio Branco,
onde havia uma pedreira, era
habitada por diversos quilombos e, como era a parte mais
alta da Colônia, no local se
concentravam alguns terreiros. “Um conjunto de famílias
negras desenvolviam intensamente os cultos e hábitos característicos da cultura africana”, comenta Pedro Cunha, 72
anos, que na sua juventude foi
freqüentador do local.
Seu Pedro, como é conhecido, ainda conta com orgulho
que a trajetória de vida desse
povo é de resistência. A maioria
da população trabalhava como
pedreiro, alfaiate, empregadas
e assim conseguia ter uma vida
integrada à comunidade. Algumas vias da Colônia ganharam
calçamento graça a alguns jovens “arruaceiros” que, para
não ficarem detidos na delegacia, tinham que calçar alguns
metros das ruas. O trecho da
rua Casemiro de Abreu entre a
rua Mariante e o Instituto Porto
Alegre da Igreja Metodista (IPA)
receberam seu calçamento
nessas circunstâncias.
Nilo Feijó, 73 anos, que morou na Colônia Africana até os
10 anos de idade, comenta que
o local era tomado por chalés
de madeiras, pois naquela época não existiam edifícios como
os que têm hoje. “Por várias décadas, esse foi um reduto onde
os negros se reuniam e confraternizavam juntos, havia uma
amizade e união de todos que
pertenciam a essa grande família”, recorda Feijó.
Valorização ou
desvalorização?
Mas a grande família não
durou muito tempo. “Devido à
crescente valorização imobiliária do local, os grandes empresários, em troca dos terrenos
baratos, conseguiram tomar
posse da área”, conta o jorna-
lista e videomaker
Paulo Ricardo Soares.
Não foram encontrados documentos oficiais manuscritos sobre a Colônia Africana, pois na época as autoridades costumavam queimar
tudo. “Mas isso não faz com
que não se conheça a história,
porque é tradição do povo negro falar sobre sua vida e transmitir oralmente os fatos ocorridos”, relata Soares.
é remanescente da
Colônia Africana”, garante.
O descaso da sociedade
em relação aos negros, mais
de um século depois da abolição da escravatura, ainda
existe. Ao deixar as áreas
mais nobres de Porto Alegre,
essas pessoas são encontradas nas vilas e periferias do
município. O advogado Osvaldo Reis conta que, apesar
de todas as dificuldades, a vi-
Osvaldo Reis, 43 anos, neto do “animador social” Júlio
Ferreira (Seu Pretinho, como
ficou conhecido), relata que os
negros da Colônia Africana
vendiam suas casas logo após
a morte do “chefe da família” e
depois os familiares dividiam o
dinheiro. Então, estes se deslocavam à Vila Jardim, que naquela época era só mato e um
lugar distante do Centro de
Porto Alegre. “A maioria da população deste local ainda hoje
A Colônia Africana também ficou conhecida pelas
suas manifestações culturais.
Nela, foram criados inúmeros
grupos carnavalescos e times
de futebol.
Aconteciam alguns bailes
no Salão do Rui, na esquina da
rua Esperança, atual Casemiro
de Abreu. Era ponto de encontro dos jovens que se preocupavam com a aparência pois,
se vestir bem significava status
e elevava a auto-estima dos
negros. Com a formação de
uma orquestra, o som que se
tocava nos bailes era o Jazz.
Outro ponto de encontro da
Lisiane de Assis
Lisiane de Assis
a rua proporciona. Outro ponto
positivo indicado é o contato
direto com o público, além de
ser mais rentável trabalhar por
conta. É o caso do ex-artista
circense, Marcelo Dias, 28, que
há 12 faz performances de perna-de-pau e estátua viva. “É
dessa forma que mantenho minha família”, afirma.
Na rua, o artista divulga seu
trabalho e recebe convites para
subir aos palcos. Como relata
Paulinho da Gaita, que se apresenta nos arredores do Mercado Público com seu parceiro
João Freitas. “Aqui o povo me
ouve. A loja passa e compra
meus discos e os patrões de
CTG nos contratam. A rua, para quem começa, é um ótimo
trabalho de mídia”, ensina. Foi
dessa forma que os atores do
espetáculo Tangos e Tragédias
conheceram e convidaram o
artista de rua, Zé da Folha, para
fazer a abertura de espetáculo
deles. “O artista de rua representa a expressão artística mais
espontânea, pois não precisa
de teatro, produção ou patrocínio para se apresentar”, comentam Hique Gomez e Nico
Nicolaievisky.
Para eles, a cidade que tem
artistas na rua tem cultura, porque é arte ao alcance de quem
queira ver. Para o espectador
diário de artistas de rua, Ângelo
de Souza, surgem grandes talentos nas ruas “e como isto
existe no mundo inteiro, nossa
cidade também tem que ter essas figuras folclóricas”.
trema importância que a população conheça”, afirma.
Próximo aos bairros, outras referências assinalam a
presença marcante dos negros. Uma delas está estampada no nome de um dos
principais pontos turísticos
da Capital. O Parque da Redenção, também conhecido
como Parque Farroupilha,
tem essa denominação por
ter sido o abrigo dos negros
após a abolição.
A comunidade negra
Ruas e parques agora são palcos
centro - Quem circula pela
região central de Porto Alegre
certamente já se deparou com
artistas de rua. O público reage
de maneira diversa. Alguns param para apreciar a arte ao ar
livre; outros passam indiferentes. Mas pelo menos em um
ponto os diferentes públicos
parecem ter a mesma opinião:
ninguém sabe “quem é” ou como definir “o que é” a arte feita
fora dos palcos.
As idades e atividades dos
artistas de rua variam. Vão desde o malabarista, de 23 anos,
até a desenhista, de 60. Muitos
encontram no trabalho das ruas
o único meio de ganhar a vida.
Geralmente, estudaram até o
ensino médio. Alguns concluíram, outros não. Mas há quem
siga estudando, como Carlos
Eduardo, 23. Ele conta que cursa Técnico em Enfermagem
graças ao que ganha nos malabares. Mesmo depois de formado, pretende seguir exercendo a atividade de malabarista. “Porém, não mais na sinaleira, e sim nos eventos e festas
em que, eventualmente, sou
convidado a animar”, projeta.
Alguns tornaram-se artistas
de rua por falta de opção. Como André Rojo, 33, que, há
quatro, representa uma estátua
viva. “Não dá para trabalhar só
com o que se gosta. Eu adoraria dar aulas de dança, de teatro, mas não dá”, confessa.
Por outro lado, a maioria
desses artistas diz ter feito essa
escolha devido à liberdade que
da na Colônia Africana era
mais saudável. Mesmo com a
jornada de trabalho de até 12
horas, eles ainda tinham disposição de ir aos bailes no sábado à noite. “Todos se divertiam, mas também existia a
necessidade de passar o tempo juntos”, recordou. Na Colônia Africana, conta Reis,
existia um respeito entre as
crianças, os adultos e os velhos. “Como essa história faz
parte da sociedade é de ex-
comunidade era a Igreja da
Piedade, na rua Cabral, aos
domingos e dias de missas.
A indiferença social também chegava ao esporte. Os
times de futebol não podiam
disputar os jogos da Liga Porto-alegrense. Para resolver esse problema foi criado a Liga
Canela Preta, um campeonato
que promovia disputas apenas
entre equipes de negros. “Tudo para nós tem um significado, uma força sobrenatural”,
diz ‘Seu Pedro Cunha’.
Hoje, ainda há grupos de
resistência. Um deles é o Caixa
Preta, formado por atores ne-
Homens de terno para os bailes
gros que usam a arte para fazer o que gostam. Todos os
remanescentes estão e continuarão sobrevivendo e resgatando a sua história. Seu Pedro
comenta que na “batida da
pulsação da África Mãe, o negro é força, o negro é graça” e
tem o dever de contar a verdadeira história para a sociedade
brasileira.
Cidade Baixa:
bairro boêmio
Daniela Xavier
O público pára e paga para ver o corajoso salto entre facas no Centro
Incômodo para ambos
Apesar de muitos considerarem a atividade do artista de
rua louvável, há quem se sinta
incomodado. É o exemplo de
Renan Souza, morador do bairro Bom Fim, que não considera
a atividade uma forma de arte.
Para ele, estes personagens
despertam nas pessoas um
sentimento de pena. Enfatiza
ainda que para o artista de rua
se considerar um ator deve estudar um papel, se dedicar,
procurar uma peça.
Por outro lado, os artistas
reclamam do desrespeito do
público. Damião Ferreira, 42,
que pratica saltos entre arcos
e facas, com mais quatro companheiros, queixa-se das pessoas que param para falar mal
de seu trabalho.
André Rojo acha que o trabalho do artista de rua está
muito desvalorizado. Ele reclama de pessoas que passam e
lhe batem nas costas ou fazem cócegas.
Cidade Baixa - O bairro
Cidade Baixa hoje se caracteriza pela quantidade de
bares e é conhecido por ser
lar de boêmios da cidade.
Pode-se, em todas as noites da semana, aproveitar a
madrugada, principalmente, as ruas General Lima e
Silva, República e João Alfredo. A situação também
deixa os moradores descontentes, por causa do barulho e da bagunça.
Para a estudante e moradora, Juliana Trindade, a
principal dificuldade que os
moradores enfrentam é conseguir separar a vida noturna
do bairro “familiar”. A moradora acredita que caso a prefeitura realizasse algum tipo
de fiscalização, talvez resolvesse o problema.
Embora descontentes
com os fatos, alguns moradores gostam de viver no
bairro, que fica perto de tudo
do Centro e de supermercados, por exemplo. A moradora do bairro há mais de 25
anos, Zélia Heinzelmann, diz
que o fato de muitos bares se
localizarem ali não atrapalha
sua rotina. Mas tem consciência de que algumas pessoas ficam incomodadas com
o barulho e a baderna. O que
a deixa insatisfeita é que a
Praça Garibaldi está repleta
de moradores de rua.
Ela lembra do tempo que
a Praça Garibaldi era cercada
e estava sempre limpa, pois
no centro da Praça havia uma
gruta, local que era visitado
por muitas pessoas. “Nos finais de tarde os moradores
sentavam-se em frente suas
casas para conversar”, lembra, nostálgica.
Para não perder contato
com o passado, Heinzelmann
procura não mexer na estrutura de sua casa, que foi tombada como patrimônio da cidade. Aliás, parte das casas
que ainda restam na Cidade
Baixa são antigas, tipo sobrados. “Essas residências deixam o bairro mais bonito, mais
aconchegante”, afirma.
Empurra-empurra
A reportagem entrou em
contato com a Prefeitura, no
dia 13 de setembro, para falar sobre a fiscalização dos
bares na Cidade Baixa. A indicação foi que o retorno seria dado pela Secretaria Municipal Produção e Comércio
(Smic). Na Smic, a reportagem informou que o assunto
deveria ser tratado com a
Secretaria Municipal do Meio
Ambiente (Sman), que informou que o contato deveria
ter sido feito com a Smic. Em
nova ligação, a Smic disse
que não havia ninguém para
falar sobre o assunto.