SOUTH PARK, ÉTICA E EDUCAÇÃO: ANALISE APLICAÇÃO E
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SOUTH PARK, ÉTICA E EDUCAÇÃO: ANALISE APLICAÇÃO E
SOUTH PARK, ÉTICA E EDUCAÇÃO: ANALISE APLICAÇÃO E COMPARAÇÃO DE UM EPISÓDIO DO DESENHO EM ESCOLAS DE NÍVEL MÉDIO REGULAR E NÍVEL MÉDIO TÉCNICO Victória Gabriela Martins 1 - IFPR Grupo de Trabalho: Didática: Teorias, Metodologias e Práticas Agência Financiadora: Não contou com financiamento RESUMO South Park é um desenho estadunidense de gênero sitcom, que explora o cotidiano dos moradores de uma pequena cidade do interior, com foco em 4 crianças com sérias dúvidas sobre a sociedade. O desenho foi criado por Trey Parker e Matt Stone, para uma matéria da faculdade, utilizaram a técnica de stop motion. Para a realização da pesquisa, foi aplicado um questionário em alunos de ensino médio técnico e ensino médio regular. Primeiro foi realizado a pesquisa, de forma anônima nos alunos, o do Lado A, que continha perguntas sobre conceitos socioeconômicos e conhecimentos prévios sobre South Park e outros desenhos animados. O Lado B foi aplicado após uma intervenção sobre ética e cotidiano em desenhos animados. Foi escolhido o episódio Question For Ratigs, por conter uma história que ironiza programas jornalísticos que faltam com a ética para com o espectador, que muitas vezes não questiona o conteúdo assistido. A pesquisa foi aplicada em duas etapas, para que os estudantes pudessem fazer essa relação, após a mediação. Essa aula de caráter experimental e interdisciplinar, busca como objetivo demonstrar que South Park e outros desenhos animados são fontes de conhecimento escolar. Os dados gerados serviram para comparar as duas escolas, criando o conteúdo desse trabalho. Os resultados apontam diferenças entre elas, principalmente em relação a ética. Estes dados gerados mostram que a utilização deste tipo de didática pode contribuir para o aprendizado do aluno. Deste modo, pode-se entender a importância de mais pesquisas relacionadas, a fim de buscar maior aprofundamento na área. Palavras-chave: South Park. Ética. Educação. Introdução South Park é um desenho animado estadunidense criado em 1997 2 por Trey Parker e Matt Stone. É uma animação cheia de metáforas e críticas sociais disfarçadas de humor 1 Estudante de Especialização em Educação Profissional do Instituto Federal Do Paraná (IFPR). Formada em Licenciatura em História na Universidade Tuiuti Do Paraná (UTP). Pesquisadora de desenho animado, educação e linguagem ([email protected]) ISSN 2176-1396 7284 politicamente incorreto. Essa linguagem pode ser observada durante a abertura, onde há a afirmação do desenho ser de péssima qualidade, com linguagem vulgar e grosseira (figura 1). As histórias giram em torno de 4 personagens principais (figura 2): Stan Marsh, a criança normal, viciado em jogos eletrônicos; Kyle Broflovski, o judeu que preocupa-se com as atitudes dos adultos; Eric Cartman o menino gordinho que odeia hippies; e Kenny McCormick a criança mais pobre da escola, que estranhamente morre em quase todos os episódios3 Os meninos têm entre 8 a 9 anos e vivem na cidade montanhosa e gelada de South Park no Colorado, EUA. Estudam juntos e compartilham as mais variadas histórias em cada um dos episódios. FIGURA 1 – ABERTURA DE SOUTH PARK FIGURA 2 – EM ORDEM: CARTMAN, STAN, KENNY E KYLE Disponível em: http://i.ytimg.com/vi/hCYIUoTosTo/hq default.jpg acesso 11 de jun 2015 Disponível em: http://podcastloschicos.com.br/wpcontent/uploads/2015/07/south_park_02.jp eg acesso 11 de jun 2015 Na pesquisa, o desenho South Park foi objetivo de analise para identificar, de modo interdisciplinar, a possibilidade de alunos do 3º ano de ensino médio compreenderem conteúdos éticos, presentes no programa. Foram selecionadas 2 escolas diferentes, uma de ensino médio regular e outra com ensino técnico integrado ao ensino médio. Após conversa 2 A década de 1990 foi um momento de rever problemas que estavam sendo arrastados das Grandes Guerras. Em 1991 houve a dissolução da URSS terminando de modo político com Guerra Fria e o Mundo Bipolar. Ainda nesse ano, a Guerra do Golfo foi transmitida com um “jogo de vídeo game” nas televisões, a população nunca havia antes acompanhado a transmissão ao vivo de conflitos como esse. Nos Estados Unidos, em 1997 o presidente Bill Clinton havia acabado de ser reeleito, mais tarde recusou assinar o Protocolo de Quioto, a economia parecia mais importante que as questões ambientais. Na música bandas como Korn e Marilyn Manson estavam no auge e carregavam fãs que não se ajustavam com as imposições da sociedade. O status quo não estava bem, pois é neste contexto que South Park e outros desenhos de gênero sitcom surgem, Os Simpsons, por exemplo, estavam completando 10 anos e a o canal de desenhos animados para crianças, Cartoon Network, transmitia vários desenhos infantis desse gênero, como A Vaca e o Frango(1995), O Laboratório de Dexter (1996), Eu sou o Máximo (1997), Jonny Bravo (1997) e As Meninas Super Poderosas (1998). Ver mais em: ESSINGER, Silvio. Almanaque anos 90: lembranças e curiosidades de uma década plugada. Rio de Janeiro: Agir, 2008. 3 Kenny chegou a ficar algumas temporadas morto, voltando na temporada seguinte. A sua morte e ressureição são explicada no episódio13 Temporada 14. 7285 com os diretores dos colégios, houve contato com os professores que concederam 2 aulas para a pesquisa. O episódio analisado foi o 11ª da 8ª temporada, intitulado “Question for Ratings”4. Na primeira aula os estudantes assistiram o episódio e preencheram, de forma anônima, o Lado A do questionário. Após esse processo, ocorreram explicações sobre South Park e o uso de desenhos animados em sala de aula. Então os educandos foram orientados a preencher o Lado B da pesquisa, servindo para a análise e comparação essencial para o desenvolvimento desse projeto. Contextualizando South Park O desenho não possui o público infantil como alvo, pois as considerações são intelectuais e de críticas sociais a sociedade de classe média estadunidense. South Park possui o gênero sitcom5, que brinca com os problemas e conceitos da cultura cotidiana. O programa apresenta linguagem imprópria para a televisão, e entre os temas abordados estão o uso de drogas, eutanásia, prostituição, pedofilia e outros assuntos delicados de abordar, pois são questões que a maior parte da mídia preferem não discutir 6. South Park foi ao ar pela primeira vez em 1997, pelo canal Comedy Central, não foi bem recebido pelo público e com críticas negativas da imprensa. Mas o desenho passou por intervenções, mudando a forma de ser produzido 7, mas a linguagem humorística do desenho não mudou, ficando mais elaborada após a produção do longa metragem8. No ano de 2002 South Park chegou a faturar 500 milhões de dólares, e até o ano de 2010 havia sido indicado ao Emmy 9 vezes. O fato de receber prêmios importantes para a televisão demonstrou que o programa não é apenas um desenho de entretenimento, possuindo qualidade de produção e conteúdo. 4 Tradução livre da autora: Busca pela classificação O nome Sitcom é uma abreviatura do termo Situation Comedy, ou Comédia de Situação. Trata-se do ponto de vista humorístico, daquela situação nas quais nos envolvemos diariamente que no momento nos parece trágicas, mas vistas por alguém de fora, ou por nós mesmos após algum tempo do fato ocorrido, são engraçadas. FURQUIM, Fernanda. Sitcom: Definição e História. Porto Alegre: FCF Editora, 1999. p.8 6 Segundo o Ministério da Justiça brasileira South Park é: inadequado para menores de 16 anos, pois desvirtua gravemente os valores éticos e possui temática adulta atenuada. Disponível em: http://portal.mj.gov.br/ClassificacaoIndicativa/jsps/DadosObraForm.do?select_action=&tbobra_codigo=6997. Acesso em 22 ago 2015 7 Apesar do desenho possuir uma linguagem ofensiva gerando pouca aceitação pela maior parte do público, a maior mudança em South Park foi a produção, ou seja a técnica em que o desenho era gravado, passando de Stop Motion (que consiste em cortes de papéis e fotografados muitas vezes para dar ilusão de ótica), para animação gráfica computadorizada. 8 O filme chama-se South Park: Bigger, Longer & Uncut e foi para os cinemas em 1999. 5 7286 A Ética e o humor em South Park O estudo da ética tornou-se importante para a compreensão da sociedade. Ética é a normativa do cotidiano dos indivíduos em um determinado momento histórico, ela não oficializa o comportamento, mas a organiza: Tradicionalmente ela é entendida como um estudo o uma reflexão, cientifica ou filosofia, e eventualmente até teológica, sobre os costumes ou sobre as ações humanas. Mas também chamamos de ética a própria vida, quando conforme aos costumes considerados corretos. A ética pode ser o estudo das ações ou costumes, e pode ser a própria realidade de um tipo de comportamento (VALLS, 1994. p.7). Na visão de Valls (1994) a ética é compreendida como um conjunto de valores culturalmente construídos, que podem ser entendidos como ideais positivos, assim, tudo que está à margem do ético é considerado hediondo. Muitas vezes, o humor está neste contexto: voltado ao marginal e íntimo dos indivíduos. Em South Park a linguagem é politicamente incorreta, errada e debochada, não agradando a maioria popular dos espectadores. Mas essa é a forma de mediação que os produtores encontraram para estarem em contato com o público, fazendo-o criticar e discutir sobre os assuntos abordados: Entretendo, se, ao longo do tempo, esse gênero da linguagem esteve ligado à profanação, ao caos, a injuria, à virulência, “ao baixo”, subtraindo-se pelo viés critico impulsionando por tais características, atualmente, em nossa sociedade humorística [...](GRUDA, 2011.p.4). O discurso do politicamente incorreto descrito por Gruda (2011) caracteriza um período complexo da história, pois parece que atualmente tudo é policiado, onde qualquer discurso pode ser censurado. É um período complexo, onde as pessoas não sabem o que é certo ou errado: Atualmente [...] tudo está “vigiado” pelo politicamente correto, o qual julgamos ser um tipo de discurso muito fascista do que àqueles ligados a censura imposta por ditadores, por exemplo. Pois, ao contrário do discurso dos regimes ditatoriais onde se ordena de forma explicita como as coisas devem/podem ou não devem/podem ser, o que possibilita identificar, driblar e combater as opressões sofridas, o politicamente correto impõe ao permear sub-repticiamente todas as práticas sociais e discursivas, o que acaba por inviabilizar e condenar previamente quaisquer comportamentos ou falas que não estejam de acordo com os moldes que este estabelece (GRUDA, 2011.p.4-5). Para o autor (2011) o ético e o correto podem ser vistos como preconceituoso e higienista, pois tira dos indivíduos o poder de fazer escolhas e racionalizar. Diferente da visão de Gruda, que caracteriza o politicamente incorreto como uma forma de “prisão” aos 7287 indivíduos, em entrevista para o documentário O riso dos Outros, o professor Idelber Avelar (2012) acredita na necessidade de discussão sobre o que é ético ou não no humor, declarou: Vivemos ainda uma situação brutal de total desigualdade na qual as pequenas conquistas dos grupos excluídos não podem ser apresentadas como uma espécie de nova ditadura ou nova ortodoxia [...] é um termo [o politicamente incorreto] que designa uma relação fantasmática de uma camada social dominante com uma suposta opressão vinda de baixo que na verdade nunca teve realidade nenhuma. (Avelar, 2012, 32min. grifo nosso) Os dois autores, compreendem o politicamente incorreto de formas diferentes, o que sugere a dificuldade de produção em que South Park encontra, pois utiliza o humor para criticar as falhas da sociedade de classe média estadunidense. Para combater as críticas negativas, ao desenho animado à sociedade preocupada e vigente, Oliveira (2013) sugere: Sejam melhores pais, sejam melhores cidadãos, sejam melhores pessoas. A única maneira de derrotar programas como South Park, se esse é o objetivo, é tornando-se pessoas que eles acreditam faltar no mundo. Num mundo cheio de modelos éticos positivos, um programa como South Park se tornaria irrelevante. (OLIVEIRA,2013. p,47) Portanto, a linguagem, a temática e o desenvolvimento do desenho é voltado para a parcela da sociedade que julga o conteúdo de desenho animado. A ética e o humor em South Park são desenvolvidos para fazer o espectador racionalizar sobre os problemas sociais, não para ignora-los como foi feito em boa parte da história do desenvolvimento da cultura social. O episódio escolhido para análise O desenho escolhido para o experimento em sala de aula foi o episódio 11ª da 8ª temporada, intitulado Question for Ratings. Esse episódio exibido no dia 17 de novembro de 2004. Os personagens do episódio em ordem de apresentação são: Jimmy Valmer, Eric Cartman, Stan Marsh, Butters Stotch, Token Black, Kyle Broflovski, Sr. Meryl e Craig Tucker. Outros personagens aparecem no episódio, mas nenhum com interferência direta no desenho. A história do episódio analisado O episódio inicia com os meninos em uma bancada jornalística (figura 3), para uma matéria extracurricular, mas pela baixa audiência e pela concorrência com o Show de Craig, o professor responsável pretende cancelar o programa. 7288 O programa do Craig chama-se Clouse-Ups De Animais Com Lentes De Ângulo Aberto (figura 4), é uma filmagem de animais divertindo-se com uma música alegre no fundo. Para não ser cancelado, os garotos mudam o programa para algo mais chamativo, que chama-se Sexy Action News. A qualidade das notícias é questionável, pois os garotos fazem de tudo para chamar a atenção e mentindo sobre os assuntos. Apesar de todas as mudanças, o professor insiste em querer cancelar o jornal, pois o Craig havia renovado o seu show. Os meninos compreendem que para atrair o público deveriam ter um programa de qualidade, por isso, eles se reúnem e tentam ter alguma ideia para melhorar o jornal. Para terem pensamentos criativos, Kyle sugere que todos deveriam tomar remédio de tosse, pois isso poderia os fazer terem ideias. Eles vão a farmácia escolher o remédio e o farmacêutico os ajuda a escolher o melhor xarope. Na sala de gravação do jornal, todos tomam muito xarope e estão com caneta e papel na mão para anotar as novas ideias. Stan é o primeiro a ter alucinação causada pelo medicamento. Tudo se passa na visão desse personagem. Ao acordar eles percebem que não tiveram nenhuma ideia e ainda assistem ao Show concorrente. Eles percebem que só haviam gostado após usarem o xarope como entorpecente e que apenas por isso a escola toda dava audiência do Show de Craig, pois estavam todos drogados. FIGURA 3 – EM ORDEM; TOKEN, ERIC, JIMM, STAN, BUTTERS E KYLE Disponível em: 8ªtem., ep.11. EUA, (10min30seg) acesso em: http://southpark-zone.blogspot.com. Acesso em: 02 abr 2015. FIGURA 4 - O SHOW DE CRAIG, COUSE-UP DE ANIMAIS COM LENTES DE ÂNGULO ABERTO Disponível em: 8ªtem, ep. 11. EUA, (5min36seg) acesso em: http://southparkzone.blogspot.com. Acesso em: 02 abr 2015. Esse fato foi o grande furo e os meninos fazem um programa investigativo, mudando o nome do jornal para Sexy Action School News e falam tudo sobre o uso excessivo do xarope. No jornal eles exibem várias filmagens denunciando o uso e venda de remédios para crianças, o que levou a prisão do farmacêutico. Os meninos são parabenizados por todos, inclusive pelo seu professor Sr. Meryl, que os concede mais 27 programas para produzirem. O Show de Craig é cancelado, pois perdeu a audiência. Para produzir os novos episódios, os meninos 7289 voltam a se reunir, mas não tem nenhuma ideia nova e criativa para continuarem com o programa. O episódio termina com eles desistindo do jornal. South Park: análise por estudantes de ensino regular e técnico O episódio Question for Ratings foi apresentado e analisado pela autora para duas escolas, em turmas de 3º ano. O método de aula experimental e interdisciplinar 9 foi o mesmo para todas as turmas. Os alunos preencheram a um questionário (Anexo 1) de forma anônima para o conteúdo dos dados. Nem todas os dados foram utilizados. Foram escolhidas duas escolas: a primeira foi o Colégio Estadual João Paulo I, de nível médio regular, localizada no bairro Boa Vista, na cidade de Curitiba, Paraná. Foram entrevistados 47 alunos, de duas turmas de 3º ano. A aula e a pesquisa foram realizadas nos dias 14 e 15 de julho de 2015; A segunda escola foi o Centro Estadual de Educação Profissional Dr. Brasílio Machado, de nível técnico integrado, localizada no centro da cidade de Antonina, Paraná. Foram entrevistados 19 alunos, de uma turma de 3º ano do curso técnico em Meio Ambiente. A aula e a pesquisa foram realizadas no dia 21 de julho de 2015. Aula e metodologia da pesquisa Primeiramente os estudantes receberam algumas orientações, depois assistiram ao episódio escolhido de South Park. Após, eles preencheram o Lado A da pesquisa, contendo perguntas socioeconômicas e sobre o episódio assistido. Depois desse processo, houve uma intervenção: foram feitos análise sobre alguns desenhos 10 com temáticas diversas, que podem ser utilizados em sala de aula como conteúdo; Ocorreram explicações sobre South Park e conceitos de ética. Após esse método, os entrevistados responderem o Lado B da pesquisa, que continha algumas questões iguais a primeira parte. Para facilitar a leitura das figuras com gráficos e na analises ao longo do texto, os nomes das escolas foram abreviados11. 9 Interdisciplinar, pois a aula possui o objetivo também de demonstrar que desenhos animados podem ser utilizados em qualquer disciplina escolar, dependendo apenas da visão dos professores sobre esse objeto de estudo. 10 Por conta do caráter interdisciplinar do trabalho, foram 6 desenhos apresentado, na seguinte ordem: Bob Esponja, calça quadrada; Apenas um Show; As Meninas Super Poderosas; Samurai X; Shrek e Os Simpsons. Todos os desenhos citados podem ser trabalhados em sala de aula por vários eixos de pesquisa. Esse conceito foi trabalhado com os alunos para que eles percebessem o quando desenhos animados possuem conteúdo e conceitos críticos ao cotidiano. 11 Colégio Estadual João Paulo I como JP nos gráficos e CEJPI no texto; Centro Estadual De Educação Profissional Dr. Brasilio Machado nos gráficos como BM e no texto CEEPBM 7290 Perfil socioeconômico O perfil socioeconômico dos discentes de ambas as escolas é muito parecido, não apresentando variações relevantes para a pesquisa. Todos os estudantes têm entre 16 e 19 anos (figura 5), essa pergunta foi feita para não ultrapassar a classificação indicada para assistir ao desenho, que é de 16 anos. Em relação a reprovação escolar, a maioria dos estudantes, em ambas as escolas, responderam nunca terem repetido de ano (figura 6). FIGURA 5 – IDADE DOS ALUNOS FIGURA 6 – ALUNOS QUE JÁ REPETIRAM O ANO ESCOLAR Fonte: a autora Fonte: a autora Dos entrevistados, a maioria classificou-se de cor branca, apresentando uma porcentagem média de pardos nas duas escolas. Pretos apareceram apenas no CEJPI, e indígenas e amarelos apareceram apenas no CEEPBM (figura 7). Figura 7: Figura como os alunos identificam-se enquanto a cor da pele e/ou etnia Fonte: a autora A renda mensal apresentou grande variação, boa parte dos alunos tem renda familiar entre R$1.000,00 e R$2.000,00 reais nas duas escolas, mas há outras situações significativas (figura 8). 7291 Figura 8 – renda mensal das famílias dos alunos Fonte: a autora Desenho animado no cotidiano do aluno A maioria dos entrevistados responderam que assistem desenhos animados, 82,9% dos alunos do CEJPI e 89,4% do CEEPBM (figura 9). Os programas são variados, podendo ser voltado ao público infantil ou adulto12. Portanto, desenho animado não é uma linguagem incomum para os estudantes. Figura 9 – alunos que assistem desenho animado Fonte: a autora A pesquisa demonstrou que a maioria dos entrevistados, em ambas as escolas, entendem que desenhos podem ser utilizados em sala de aula como recurso para o aprendizado (figura 10), por ser uma linguagem compreendida no cotidiano. Os dados apontaram que poucos professores utilizaram esse recurso na vida escolar dos estudantes (figura 11). 12 Os alunos tiveram espaço para explicar quais desenhos eles assistiam e que os faziam pensar sobre o cotidiano, os desenhos animados apontados foram: Os Simpsons; Death Note; South Park; Kick Butovisk; Capitão Planeta; Fudêncio e Seus Amigos; O Incrível Mundo De Gumball; American Dad; Family Guy; Padrinhos Mágicos; Angel Beats; Peppa Pig, Fairy Tail e Bob Esponja, calça quadrada. Vale destacar que a maioria dos programas apontados pelos estudantes são voltados para o público adulto. 7292 Figura 10 – alunos que acreditam em desenhos animados como recurso para aprendizado Fonte: a autora Figura 11 – alunos sobre outros professores terem utilizado desenho animado em sala de aula Fonte: a autora South Park no cotidiano do aluno As questões colocadas sobre South Park foram para determinar se os alunos possuíam conhecimentos prévios sobre o desenho. Uma pequena parcela dos entrevistados não conhecia o programa (17% do CEJPI e 21% do CEEPBM) (figura 12), porém quando questionados sobre já terem assistido ao desenho, 31,9% dos educandos do CEJPI e 42,1% do CEEPBM, responderam nunca terem visto o programa (figura 13). Figura 12 – Alunos que conheciam South Park Figura 13– Alunos que haviam assistido South Park anteriormente Fonte: a autora Fonte: a autora 7293 O episódio escolhido analisado pelos alunos Os gráficos das figuras 14,15,16,17 e,18 apresentam dados referentes as questões feitas antes e depois da mediação. Quando perguntados se o desenho causou algum incômodo, a minoria respondeu que sim (10% antes, 8,5% depois do CEJPI e 5,2% antes e depois do CEEPBM) (figura 14), devido a palavras de baixo calão. Essa pergunta foi selecionada para identificar se o desenho seria apropriado para apresentar em sala de aula. Figura 14 – Alunos que sentiram-se incomodados com o desenho apresentado Fonte: a autora Questionados se o desenho apresentado possuía algum conteúdo ético (figura 15), os dados são diferentes entre as escolas. No CEJPI, 80,8% dos estudantes responderam que o desenho tem conteúdo ético, após a interferência esse número aumentou para 95,7%. Enquanto no CEEPBM a porcentagem foi mais baixa, no primeiro momento, 78,9% dos alunos responderam sim, após intervenção o número diminuiu para 73,6%. Figura 15– Alunos sobre o conteúdo de ética no desenho assistido Fonte: a autora 7294 Quando perguntados sobre a relação de South Park e os conceitos críticos (figura 16), no CEJPI a maioria dos estudantes responderam que sim, ocorrendo um pequeno aumento após mediação (95,7% antes e 97,8% depois), no CEEPBM 100% dos alunos responderam sim antes e depois da interferência. Figura 16 – Alunos sobre o conteúdo critico em desenhos animados Fonte: a autora Questionados se algum desenho os havia feito pensar sobre o cotidiano (figura 17), no CEJPI, antes da intervenção, 53,1% dos entrevistados, ou seja, um pouco mais da metade, responderam que já haviam pensando sobre o cotidiano após assistirem algum desenho animado, após a interferência esse número aumentou de modo considerável para 80,8%. Enquanto no CEEPBM, antes atingiu 52,6% dos estudantes que nunca haviam feito essa análise, e após mediação esse número diminui para 26,3%. Figura 17 – Alunos sobre desenhos animados e o cotidiano Fonte: a autora 7295 A última questão que os entrevistados responderam perguntava sobre o conteúdo do desenho assistido, podendo escolher uma ou mais opções de resposta. O questionário apresentava 15 opções, classificadas de A a O 13, com embasamento no episódio assistido, além de questões não apresentadas no episódio (figura 18). A opção mais assinalada em ambas as escolas foi a letra C, antes da interferência. Porém, após as considerações, houve uma diminuição desse índice, passando de 96,6% para 89,3% no CEJPI e 78,9% para 68,4% no CEEPBM. Figura 18 – Opinião dos alunos sobre o conteúdo apresentado no episódio de south park Fonte: a autora As opções que tiveram maior destaque devido ao aumento da sua porcentagem nas duas escolas foram a letra I e G. Na primeira (letra I), o CEJPI passou de 51% para 76,5%, enquanto o CEEPBM passou de 31,5% para 42,1%, após a mediação. Na letra G ocorreu um aumento maior que 100%, em ambas as escolas, passando de 21,2% para 44,6% na CEJPI e 15,7% para 52,6% na CEEPBM, após a mediação. Porém algumas questões mostram padrões diferentes entre as escolas, como é o caso da letra D o CEJPI passou de 72,3% para 85,1%, 13 A) Machismo; B) Xenofobia; C) Luta pela audiência; D) Ética jornalística; E) Exclusão social; F) Política na televisão; G) Crítica ao cotidiano; H) O uso de drogas legalizadas; I) Ética e moral dos personagens; J) Desentendimento entre professor e aluno; K) Relações inter-raciais L) O fácil acesso de drogas em farmácias; M) Inclusão de minorias; N Exclusão de minorias; O) Outros. (o quê). 7296 enquanto o CEEPBM passou de 57,8% para 52,6%, após a intervenção. A letra L também apresentou o mesmo padrão. Considerações finais Esse artigo surgiu da necessidade em trazer para o meio acadêmico novos conceitos: da forma de desenvolver conteúdos, de utilizar novos recursos midiáticos em sala de aula e criar conhecimento utilizando o cotidiano. A escola deve ser vista como um meio cientifico ideal para a produção de pesquisa acadêmica diversificando, pois está junto a adolescentes que estão aprendendo a serem cidadãos críticos e pensantes. Quando planejado esse trabalho, a principal ideia era aplicar a aula experimental apenas em alunos de nível médio técnico, para perceber suas visões críticas sobre ética e cotidiano. Porém o método foi ampliado para uma análise individual e comparativa entre escolas de ensino médio técnico e de nível médio regular. Como a observação dos gráficos das figuras, pode-se criar um padrão único de aluno para ambas as escolas. Esse perfil consiste em um aluno que assiste desenho animado e acredita que essa mídia deve ser utilizada para o aprendizado, porém não teve este contato em outras aulas. Os alunos conheciam e haviam assistido South Park anteriormente, não sentindose incomodados com seu conteúdo, além de considera-lo ético e crítico. Esse perfil apresenta regularidade, variando ao serem questionados sobre o desenho e cotidiano, além disso, as escolas não são unanimes quando perguntados sobre o conteúdo apresentado no episódio. É exatamente essa diferença nas respostas que tem grande relevância a para esta pesquisa. No CEEPBM diminuiu a porcentagem dos alunos que assinalaram ética como um conceito presente no episódio analisado (figura 15), o que pode sugerir alguns fatores: a) os entrevistados não sabem ou não compreenderam os conceitos voltados a ética; b) houve uma falha de comunicação entre a pesquisadora e os estudantes; c) os alunos não prestaram atenção no desenho reproduzido; d) o não entendimento entre a relação de ética e criticidade cotidiana; e) o não entendimento de linguagem metafórica. Outro fator considerável, pode ser visto na figura 18 que pontua o assunto abordado no desenho. Dentro das várias opções possíveis podem ser agrupar 3 conceitos para análise: O primeiro conceito, com as opções: C, H, L e J, não eram temas de crítica social ou de análises sobre ética, e sim assuntos primários, colocados em programas sitcoms para “camuflar” o conteúdo real transmitido. Essas eram opções de senso comum e não precisam de muita análise; Já as opções: A, B, E, M e N, possuem crítica social e comportamento ético, 7297 e servem para esconder o real assunto do episódio, ao apresentarem conceitos mais racionalizados; Por fim, o terceiro conceito aborda as questões: D, F, G e I aponta o verdadeiro conteúdo do desenho, pois ao assinalarem essas alternativa, demonstram que os espectadores, compararam a história do desenho com o seus cotidianos. Essas alternativas, tiveram um aumento após a intervenção, sugerindo que uma maior parcela criou conceitos novos produzido em sala de aula. A opção I- Ética e moral dos personagens, foi o ponto em que os estudantes mais concordaram sobre ética nas duas escolas. Depois da intervenção, ambas as turmas compreenderam relevância da questão, pois os personagens do desenho, mesmo sendo crianças, compreendem o que ético e moral e não fizeram questão de utilizar esses conceitos para produzir o jornal. A alternativa G – Critica ao cotidiano, também apresenta dados significativos, pois jornais, de modo geral, são produtos midiáticos que podem manipular informações de acordo com a ideologia dos seus produtores. Os meninos em South Park compreenderam esse conceito assim que começaram a produzir o jornal, fato observado ao longo do episódio, ao mudarem a abertura 3 vezes, para aumentarem a audiência. Os entrevistados não haviam percebido essa informação logo após assistirem ao desenho, mas depois da intervenção, com as informações necessárias os estudantes mudam sua opinião a respeito. O que pode sugerir um aprendizado de conteúdo, relacionado com seus cotidianos. Desenhos animados são arte e não devem ser vistos apenas como puro entretenimento, precisando ser analisado. South Park não foge à regra, pois não está na televisão apenas para divertir, ele surge, com um dos ideais o chocar, barbarizar e provocar o espectador. O desenho existe para denunciar os defeitos da sociedade, sendo mais que uma representação, pedindo ao espectador: pense, questione e não siga os padrões. O tema e a pesquisa necessitam de continuidade, pois o conteúdo é vasto e trabalhar com desenhos animados em sala de aula é importante para a formação de alunos. REFERENCIAS ABERTURA DE SOUTH PARK (figura 1). Disponível em: <http://i.ytimg.com/vi/hCYIUoTosTo/hqdefault.jpg> acesso em:11 jun 2015 AVELAR, I. O riso dos Outros. Tv Câmera. Direção: Pedro Arantes. Documentário, (51min). Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/tv/materias/DOCUMENTARIOS/429921-ORISO-DOS-OUTROS.html> Acesso em: 17 set 2015. 7298 ESSINGER, Silvio. Almanaque anos 90: lembranças e curiosidades de uma década plugada. Rio de Janeiro: Agir, 2008. FURQUIM, Fernanda. Sitcom: Definição e História. Porto Alegre: FCF Editora, 1999. GRUDA, Mateus Pranzette P. Os discursos do politicamente incorreto na atualidade. 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