que pode ser acessada por aqui - Faculdade de Comunicação e

Transcrição

que pode ser acessada por aqui - Faculdade de Comunicação e
Por causa da infestação
de roedores na Região
Noroeste, a dona de casa
Rosane Oliveira recorreu
a um gato para se livrar
da praga. Página 4
PÂMELLA RIBEIRO
PÂMELLA RIBEIRO
LUÍZA FERRAZ
Em palestra, na PUC
Minas, o ministro Celso
Amorim destaca as
“particularidades” da
política externa do
Governo Lula. Página 7
Os moradores da Rua
Prados, no Bairro Carlos
Prates, reivindicam
melhorias na segurança e
pavimentação da via.
Página 5
marco
jornal
Ano 37 • Edição 269
LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas•LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas•LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas
Outubro • 2009
MAÍRA CABRAL
nestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaedição
Pai da Turma da
Mônica relembra
carreira em BH
O quadrinista Mauricio de Sousa, que
está comemorando seus 50 anos de carreira, esteve em Belo Horizonte participando do 6º Festival Internacional de
Quadrinhos, realizado no Palácio das
Artes. Ele aproveitou a oportunidade
para autografar o livro MSP 50, que o
homenageia com desenhos de artistas
famosos e outros promissores. A presença de Maurício levou pessoas de
todas as idades ao FIQ que, além de
enfretarem longas filas para chegar ao
artista, declararam o gosto por revistas
em quadrinhos. Em entrevista exclusiva
ao MARCO, Maurício falou sobre seu
novo projeto “Máquina de Quadrinhos”, um editor on-line gratuito de
histórias em que o visitante pode criar
seu próprio enredo com personagens da
Turma da Mônica e que pode ajudar na
descoberta de talentos. Página 16
SÍLVIA ESPESCHIT
GUARDIÃO
DE NASCENTES
Três nascentes compõem os fundos da da casa de Alírio
Santos. Dedicando seu tempo integralmente a cuidar da
água que brota em seu terreno, no Bairro Engenho
Nogueira, na Região Noroeste de Belo Horizonte, o exvendedor procurou se aprimorar na tarefa que assumiu.
Ele fez cursos para o uso de plantas na manuntenção do
solo, além de recorrer à leitura de diversas publicações
voltadas para o meio-ambiente. Alírio conta com o auxílio
da professora de biologia Sônia Ferreira, que monitora a
qualidade da água de córregos da região para a ONG SOS
Mata Atlântica. Segundo a especialista, a nascente é limpa,
embora não seja potável, pois seu solo está contamidado.
Ela constatou, na última análise, que a água da mina está
transparente, livre de lixo, coliformes e espuma. Página 15
A tradição dos Problemas com a
escoteiros em BH Avenida Ressaca
PÂMELLA RIBEIRO
Respeito à natureza, compromisso com o meio ambiente e prática dos bons costumes são alguns dos valores
pregados pelo escotismo. Passado de geração para geração,
o 46º Grupo de Escoteiros Lagoa do Nado foi fundado há
22 anos na Escola Municipal Lídia Angélica, a partir da
mobilização dos moradores locais para evitar a transformação do parque em um conjunto habitacional. São 136
jovens cadastrados no projeto e há uma grande lista de
espera de interesados em ingressar no grupo. Página 13
Memórias de uma
eleição decisiva
Jornalistas de diferentes veículos de
comunicação do Brasil relembram a
cobertura da eleição direta de 1989, a
primeira após longo período de regime
militar. Histórias inusitadas de um
momento em que o país teve 22 candidatos disputando a vaga à Presidência da República. A briga acirrada deu
origem a comícios que reuniam milhares de eleitores nas ruas lutando pela
confirmação do retorno da democracia.
A importância de se comemorar estes
20 anos de eleição é ressaltada pelos
repórteres e fotojornalistas, que
demonstram o desejo de nunca mais
retornar aos anos de chumbo do Brasil.
Página 9
MARCELO PRATES
Política não atrai
jovens eleitores
O grande número de denúncias que relacionam a política aos atos ilegais tem desestimulado adolescentes a participar das decisões eleitorais do país. Fato é que, em
agosto de 2009, apenas 1751 dos 1.779.190 eleitores de
Belo Horizonte, tiraram seu título de eleitor aos 16 anos.
Apesar desses números, há pessoas menores de 18 anos
que ainda acreditam no poder da política. Página 10
Devido a obras na avenida, uma das principais vias do
Bairro Coração Eucarístico, na Região Noroeste da capital, os já insatisfeitos usuários da linha 4110 e 4111 tiveram mais um transtorno. A mudança no itinerário causou
ainda mais demora no trajeto dos ônibus, que passam por
diversos bairros de Belo Horizonte. Os moradores também estão insatisfeitos com as intervenções realizadas
pela BHTrans, uma vez que muitos redutores de velocidade, mais conhecidos como quebra-molas, foram instalados, e o semáforo reivindicado pela população local, não
foi colocado. Página 3
nestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaedição
2 Comunidade
jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas
Outubro • 2009
EDITORIAL
editorialeditorialeditorialeditorialeditorialeditorialeditorialeditorial
Parceria com o leitor
revigora o MARCO
a cada nova edição
FALTAM LIVRARIAS NO
CORAÇÃO EUCARÍSTICO
Moradores e estudantes do Coreu lamentam ter que sair do bairro em busca de lojas especializadas no comércio de livros
PÂMELLA RIBEIRO
n
DANIELA REZENDE,
n
BÁRBARA CAMPOS,
JOYCE SOUZA,
3º PERÍODO
4° PERÍODO
Ao longo de seus 37 anos o MARCO tem divulgado em
suas páginas informações de interesse do seu público
alvo, que é formado principalmente pelos moradores
do entorno do Campus da PUC Minas, no Coração
Eucarístico, e, mais recentente, no São Gabriel. Isso
não significa que o jornal não possa buscar pautas em
outras regiões de Belo Horizonte e, até mesmo, fora
dos limites da capital mineira. Muitas vezes um problema que aflige o morador do Dom Cabral ou do
Ouro Minas, não é diferente daquele que afeta a vida
dos residentes em outros cantos da cidade.
Muitos moradores contam com matérias do MARCO
para ajudá-los a resolver pendências junto aos órgãos
responsáveis. Essas pessoas apostam no “poder” da
imprensa como forma de pressão. Ao abordar temas
de interesse da comunidade o MARCO entende que
ajuda a dar voz a uma parte significativa da população que, muitas vezes, se sente desamparada pelo
Estado e seus representantes.
Nesta edição, por exemplo, publicamos matéria
sobre um problema enfrentado pelos moradors da
Rua Prados, no Bairro Carlos Prates. Eles se sentem
inseguros e buscam soluções para a falta de iluminação e segurança. Além disso, reclamam a falta de
pavimentação da via e lamentam a desatenção da
Prefeitura de Belo Horizonte aos pedidos de ajuda.
Já a infestação de ratos, outro tema de matéria da
edição 269 do MARCO é o tipo de matéria que não
gostaríamos nunca de publicar. Infelizmente, no
entanto, é necessário. Essa praga se alastra na capital mineira e ameaça à saúde de muita gente. Sem
controle, resta aos habitantes afetados, buscar
soluções criativas. É o caso de uma moradora do
Padre Eustáquio, Rosane Oliveira, que “contratou” um
gato para conter os roedores que invadiram sua casa.
A questão do trânsito, assunto cada vez mais frequente nas conversas dos belo-horizontinos, também está presente no nosso jornal. Uma obra na
Avenida Ressaca virou tema de discussão entre os
moradores do Coração Eucarístico, Minas Brasil e
de motoristas que transitam pelo local.
Divergências são causadas e muitos aprovam e
desaprovam as mudanças realizadas como a
implantação de canteiros centrais e redutores de
velocidade. O ônibus da linha 4111 também é
questionado por usuários, que reclamam da demora no percurso até a região da Savassi.
Mas o MARCO não vive só das coisas de BH. Por
isso, voltamos a falar dos 20 anos da primeira eleição
direta para presidente da República, abordando
dessa vez, a cobertura daquele pleito que entrou
para a história do país. Ao mesmo tempo, o jornal
fala da atitude dos jovens frente à política, constantado um desinteresse, mas procurando despertar a
consciência de que essa realidade pode mudar. O
leitor vai conferir também uma reportagem especial
com o desenhista Mauricio de Sousa que, em 2009,
comemora 50 anos de carreira.
Independente dos temas tratados, o fundamental
é a sintonia existente entre MARCO, repórteres e,
especialmente nossos leitores, o que que contribui
para a permanente renovação do nosso jornal.
EXPEDIENTE
expedienteexpedienteexpedienteexpedienteexpedienteexpediente
jornal marco
Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas
www.pucminas.br . e-mail: [email protected]
Acesse o jornal MARCO em: www.fca.pucminas.br/embriao
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Diretora da Faculdade de Comunicação e Artes: Profª. Ivone de Lourdes Oliveira
Chefe de Departamento: Profª. Glória Gomide
Coordenador do Curso de Jornalismo: Profa. Maria Libia Araújo Barbosa
Coordenadora do Curso de Comunicação / São Gabriel: Profª. Daniela Serra
Editor: Prof. Fernando Lacerda
Subeditor: Profa. Maria Libia Araújo Barbosa
Editor Gráfico: Prof. José Maria de Morais
Editor de Fotografia: Prof. Eugênio Sávio
Monitores de Jornalismo: Clarisse Souza, Daniela Rezende, Diana Friche, Isabella
Lacerda, Renata Marinho, Sílvia Volpini, Thaís Maia, Bianca Araújo (São Gabriel)
Monitores de Fotografia: Maíra Cabral e Pâmella Ribeiro
Monitor de Diagramação: Renard Campolina
Fotolito e Impressão: Fumarc . Tiragem: 12.000 exemplares
As pessoas que passam
pelas ruas do Bairro
Coração Eucarístico encontram facilmente padarias, farmácias, lojas de
roupas e calçados e os
barzinhos que fazem a
fama da região, mas não
livrarias. Quem mora
nesse bairro da Região
Noroeste da capital sabe
que, quando quer ler um
livro, precisa ir longe, aos
shoppings, e até mesmo
em outros bairros para
comprar. Mas, afinal,
onde estão as livrarias do
famoso Coreu? A resposta
é simples. Não existem
livrarias, pelo menos não
no centro comercial ou
nas principais ruas do
bairro.
Há cerca de três anos,
um comerciante se arriscou e conseguiu manter
uma livraria no bairro por
cerca de um ano e meio. A
livraria ficava na garagem
de um supermercado do
bairro, bem escondida. O
proprietário do imóvel
onde funcionava a papelaria e morador do bairro, Demétrio Menta,
conta que mesmo o local
não favorecendo, os antigos
proprietários
da
livraria "corriam atrás”
dos livros que os clientes
pediam. “Mas isso não foi
suficiente para manter o
estabelecimento aberto
por muito tempo", observa
Demétrio.
Ainda
segundo ele, a região, que
já tem um comércio tão
diversificado
e
uma
Universidade que é referência, precisa de uma
livraria urgente.
Apesar disso, muitas
pessoas acham que o
comércio de livros não
prospera porque não há
demanda dos próprios
moradores do bairro, que
preferem comprar livros e
até material escolar nas
livrarias dos shoppings. É
o caso de Lucília Campos,
ex-proprietária da papelaria Unipaper. "As pessoas
não procuram por livros.
Acho que não compensa
abrir uma livraria porque
não há procura. E olha
que além da PUC têm
escolas na redondeza",
afirma.
Lucília acredita que
talvez se existisse no
Coreu uma papelaria que
fosse ao mesmo tempo
livraria, poderia dar certo.
Nos tempos em que era
proprietária da papelaria
que ficava na avenida
principal do bairro, alguns
moradores faziam pedidos
de livros por encomenda
na Unipaper, metade do
valor do livro era dado
como sinal e Lucilía,
então, procurava as obras
em editoras ou em outras
livrarias.
Para Antônio Carlos
Moreira,
gerente
da
locadora Cristal, que vive
no bairro, de fato não há
interesse por parte dos
moradores. "As pessoas
deste bairro são desinteressadas. Procuram apenas
Livros destinados
aos universitários
Dentro da Puc Minas,
campus Coração Eucarístico
funciona
a
Livraria
Universitária,
que surgiu a partir de
uma iniciativa do DCE e
do atual proprietário,
Marcelo Ribeiro, há 10
anos. Marcelo conta que
trabalhava entregando
livros em uma outra
livraria e avalia como
ótima, a oportunidade
que teve de abrir seu
próprio negócio em uma
área que já atuava.
Segundo ele, a livraria é
"familiar", já que trabalham nela apenas parentes. Marcelo é contrário ao
argumento dado por
muitos que a comunidade
é desinteressada e não
procura por livros. Para ele
existem dois públicos
diferenciados, a classe A
que compra livros e o
restante do público formado por alunos e moradores
do bairro que visitam a
biblioteca da PUC Minas,
que possui excelente estrutura e supre a carência por
leitura.
Para Marcelo, a maior
dificuldade de se manter
uma livraria no bairro, é a
sazonalidade da Universidade.
"Durante
os
meses de férias muitos
alunos viajam para o
interior e o comércio se
torna inviável. Não são
todos que conseguem
manter o negócio com
esta mudança brusca.
Nós reservamos capital
para o período em que
ficamos fechados", explica Marcelo.
O proprietário ainda
conta que apesar de a
PUC ter cerca de 30 mil
alunos, é "um sonho pensar que todos vão comprar livros". Durante os
meses de férias, a livraria
fecha junto com a PUC.
Marcelo afirma que não
divulga a livraria para a
comunidade pois as
instalações não comportam um grande número
de pessoas, mas explica
que está negociando com
o DCE para aumentar a
unidade. A dificuldade de
concretização do projeto,
segundo ele, é a falta de
espaço dentro da PUC.
Baixo movimento da livraria no Coreu fez Willian só vender sob encomenda
os best sellers, aqueles que
todo mundo lê. Nada cultural aqui funciona. O
Coração Eucarístico é apenas um bairro familiar",
afirma Antônio Carlos.
ESCONDIDAS Sim, elas
existem. Mas poucos ou
quase nenhum morador do
Coreu sabe que, em pontos
escondidos ou distantes dos
principais locais de acesso
do bairro, funcionam
pequenas livrarias que tentam resistir à concorrência
desleal dos xerox e da falta
de interesse de muitos pela
leitura. William Gomes é a
prova disso. Ele é dono da
livraria Willian Livros, que
existe desde 1995. Segundo
o livreiro, não há muita
demanda, porque principalmente o xerox atrapalha o
comércio de livros. A
livraria ocupava uma das
lojas do primeiro piso do
famoso Shopping Rosa,
mas depois mudou-se para
o andar de cima devido ao
encarecimento do aluguel.
E a mudança de local dificultou ainda mais a divulgação do estabelecimento.
O proprietário afirma que a
mudança de local atrapalhou as vendas e hoje o
lugar serve apenas como
depósito de livros. Willian
vende exemplares sob
encomenda: "as pessoas
entram em contato comigo
e pedem o livro".
Copiadora deseja
ampliar o negócio
Atualmente ela funciona apenas como uma
copiadora e papelaria. Mas os proprietários da
Cópia e Arte têm planos de utilizar um espaço já
existente na loja para a criação de uma futura
livraria. Getúlio Bartolomeu Dias explica que a
copiadora também vende obras literárias, mas o
acervo é pequeno, cerca de 250 exemplares.
"Apesar de vendermos livros, a Cópia e Arte
ainda não tem uma livraria oficial", esclarece
Getúlio, que assumiu a loja em novembro de 2007.
A idéia é justamente lançar mão do público que já
freqüenta o local e incrementar a copiadora com
mais computadores para que os clientes tenham a
disposição mais utilidades.
Getúlio acredita que é importante agregar mais
funções a futura livraria e oferecer serviços variados
que contemplem um público maior e diversificada.
Coisa o nome disso
n
DANIELA REZENDE,
3º PERÍODO
'Coisa o nome disso' é o nome
do jornal mural desenvolvido pelo
professor de filosofia Haroldo
Marques. Estão sendo afixados
50 jornais pelo campus da PUC
Coração Eucarístico, nos corredores, salas dos professores e secretarias dos prédios. "É um jornal que faz o casamento entre a
imagem e o texto, é a chamada
poesia visual", aponta Haroldo.
O conteúdo do jornal mural é
poesia e o texto se transforma em
desenho, unindo imagem e poemas. Nonada também é um trabalho editado pelo professor
Haroldo Marques. "Em formato
de revista, reúne e divulga não só
a cultura e a arte, mas também o
entretenimento", afirma o professor. Ao contrário do Nonada, que é
patrocinado pela PUC, as quatro
primeiras edições do jornal mural
foram patrocinadas pelo DA de
Arquitetura. São distribuídos
novos jornais murais a cada 15
dias. Confira, 'Coisa o nome disso'!
Comunidade
Outubro • 2009
3
jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas
AVENIDA RESSACA DIVIDE OPINIÕES
PÂMELLA RIBEIRO
Via, na Região Noroeste de Belo Horizonte, está recebendo obras que visam melhorar seu
trânsito. Porém, muitos moradores estão insatisfeitos com as intervenções realizadas no local
n
GABRIEL DUARTE,
4º PERÍODO
As obras realizadas na
Avenida Ressaca e em seu
entorno estão dividindo a
opinião de comerciantes e
moradores dos bairros
Coração Eucarístico e
Minas Brasil, e também de
motoristas que trafegam
pelo local. Além da implantação de canteiros centrais e
redutores de velocidade na
via principal, a BHTrans,
órgão responsável pelas
modificações no trânsito em
Belo Horizonte, modificou
o sentido de circulação em
várias ruas dos dois bairros.
A intervenção, que teve
um custo total de R$100
mil, foi dividida em duas
etapas. A primeira foi executada no ano passado, entre a
Avenida dos Esportes e Rua
Dona Ana, com a implantação de redutores de velocidade, mais conhecidos
como quebra-molas, e placas de advertência. A outra
foi concluída na primeira
quinzena de outubro deste
ano, entre as ruas Dona Ana
e Monte Líbano. Segundo a
BHTrans, as obras foram
realizadas em resposta a
uma demanda da população dos dois bairros.
Porém, uma reivindicação
feita pela Associação dos
Moradores do Coração
Eucarístico (Amacor) não
foi concretizada: a implantação de semáforos.
De acordo com José
Celso Lara, gerente de projetos de Transporte e
Trânsito da BHTrans, o
estudo feito pelo órgão não
apontou a necessidade de
semáforos na região, mas
sim a implantação de redutores de velocidade. O gerente de projetos explica
qual deve ser a finalidade
dos quebra-molas no local.
"Redutores de velocidade
estão sendo colocados para
manter o uso da via e o
fluxo de pedestres seguros",
diz.
Para a dona de casa,
Maria José Higino, as
mudanças ocorrem em boa
hora. Ela, que passa todos os
dias pela Avenida Ressaca
para levar seus filhos à escola, acredita que com os redutores de velocidade a segurança dos pedestres irá
aumentar, mas integra o
coro por semáforos na
região. "Eu acho que deveriam colocar também um
sinal", opina.
No entorno da avenida,
uma das ruas de maior
movimentação de carros,
segundo a BHTrans, é a
Monte Líbano. Seu sentido
de circulação passa a ser de
mão única, sendo possível
apenas seguir em direção ao
Bairro Padre Eustáquio.
Com a mudança, motoristas
que antes viravam a Rua
Jacutinga para chegar à
Avenida Ressaca, terão
agora que contornar a Praça
Capela Nova para seguir
pela avenida.
O aposentado Ruy
Teixeira Xavier comemorou
a mudança, pois sentia dificuldade em atravessar a Rua
Monte Líbano, além de já
ter presenciado vários acidentes no local. "Os
motoristas vinham com
uma velocidade alta e agora
eles não vêm mais. Foi
muito boa a mudança de
direção na Monte Líbano,
pois à tarde era terrível",
relata.
Nem todos os moradores
ficaram satisfeitos com as
mudanças. A reportagem do
MARCO observou Vanderlei Jangrossi, residente na
Avenida Ressaca, reclamando com agentes da BHTrans
de como iria entrar na
garagem de seu edifício. "Eu
não tenho outras alternativas para sair nem para
entrar em meu prédio", afirmou Jangrossi, um dia antes
da validação das modificações, às 22h.
Jangrossi explica que
chegava ao bairro descendo
a Rua Itamarati e que depois
precisava virar a Avenida
Ressaca para entrar na
garagem do seu prédio.
Agora, com a mudança de
circulação nas ruas Lorena e
Itamarati, o morador precisará ir até o final da Avenida
Ressaca e retornar no outro
sentido da via. "Infelizmente, a BHTrans não
pensou na situação dessas
famílias (moradoras do prédio)", lamenta.
Segundo o presidente da
Amacor, Iraci Firmino da
Silva, a associação não
reclamou formalmente com
o órgão de trânsito, porém
recebeu, segundo ele,
inúmeras reclamações de
moradores do bairro. "Não
adianta reclamar com eles
(BHTrans), a gente faz o
pedido, mas eles fazem estes
estudos e não resolvem",
critica o presidente.
COMÉRCIO Para José
Geraldo Barros, proprietário de uma padaria na
Avenida Ressaca, as intervenções não trouxeram
nenhum benefício. "Estou
achando isto ruim porque
eles não colocaram os
retornos e isto atrapalha
bastante as vendas", conta.
Barros diz esperar significativa queda em suas
vendas com a proibição de
retornos na avenida. "Já
reclamei com a BHTrans,
mas eles não deram ideia",
conta.
Já
para
Maurício
Augusto Oliveira, proprietário de uma restaurante
na Rua Monte Líbano, as
intervenções trarão benefícios a seu estabelecimento. Segundo ele, a
diminuição do fluxo de
veículos irá trazer mais
tranquilidade
a
seus
clientes. "É bom porque
diminuiria o trânsito e
assim melhora a vida de
meus clientes", afirma.
Depois da reforma da Avenida Ressaca, moradores têm reclamado dos vários quebra-molas em sequência no local
Linhas mudam itinerário
Usuários de algumas linhas de ônibus,
que transitam pela região, também já
perceberam as modificações na Avenida
Ressaca. A linha 4110 – Dom
Cabral/Belvedere – e Suplementar 41 –
Conjunto Califórnia/Prado – tiveram
seus itinerários modificados. Agora, o
4110 segue até a Praça Capela Nova e
sobe a Rua Professor Tito Novais, para
chegar ao Bairro Padre Eustáquio.
Para chegar ao Dom Cabral, a linha
também fará o mesmo itinerário, trecho
igual ao cumprido pela linha 4111. Já
para o ônibus suplementar, que chegava
à Avenida Ressaca pela Rua Itamarati, o
novo itinerário é virar à Rua Lorena para
pegar a Avenida.
Mais duas ruas no Bairro Minas
Brasil tiveram seu sentido de circulação
modificados. As ruas Padre Paulo
Fernandes e Padre Nóbrega, em parte de
suas extensões, passam a ter mão única.
Já a Rua Kátia Teodoro de Aguiar passa
a ser de mão única em toda sua extensão.
Segundo José Celso Lara, passam em
média pela região, por dia, 13 mil veículos entre as 6h e 22h. As modificações,
segundo o gerente de projetos, foram
feitas visando reduzir os movimentos
nas vias de interseção com a Avenida
Ressaca. Além de melhorar a circulação
de veículos e pedestres na região.
Para solicitar uma intervenção no
trânsito, o morador deve entrar em contato com a Comissão Regional de
Transporte e Trânsito (CRTT). O telefone de contato é 33795538
Ônibus da linha 4111 desagrada seus usuários
n
CÍNTHIA RAMALHO,
2º PERÍODO
A professora aposentada
Antônia Lara, 66 anos, olha o
relógio, que marca 13h exatamente, enquanto está assentada
no ponto de ônibus da Avenida
Dom José Gaspar, 867, em frente
à Pontifícia Universidade Católica (PUC Minas), à espera do
ônibus 4111. Ela precisa ir até a
Região da Savassi e já se prepara,
pois sabe que o caminho até o
seu destino será longo: mais de
40 minutos de viagem.
Assim como Antônia, muitas
pessoas fazem o uso desta linha.
Aposentados, trabalhadores e
estudantes, apesar da diversidade, quase todos concordam em
um aspecto: a viagem é demorada e cansativa. Assim, vale tudo
para fazer o tempo passar mais
rápido, ler, dormir, comer, falar
ao celular. "A viagem se torna
enjoativa, de tanto tempo que
você passa dentro do ônibus.
Tem hora que é melhor ir à pé",
comenta o pasteleiro Wiliam
Nonato da Silva Gomes, 33
anos.
Além do longo percurso que o
4111 faz para chegar até a
Savassi, passando antes pelo
Bairro Padre Eustáquio e pelo
centro da cidade, outros fatores
como os constantes atrasos e a
superlotação dos veículos também incomodam os usuários.
Mesmo assim, o número de pessoas que tomam esse ônibus é
elevado, já que é a única opção
direta que liga o Bairro Coração
Eucarístico à Savassi."Eu prefiro
outro (ônibus) porque eu acho
que ele (4111) demora muito a
passar e quando vem, vem um
atrás do outro, ele anda mais
cheio", afirma Antônia. "Hoje eu
não tenho outra opção, tenho
que tomar só ele. Mas tendo
outra opção eu pego outro",
acrescenta.
PÂMELLA RIBEIRO
Usuários do 4111 enfrentam filas e tumultos para conseguirem entrar no ônibus.
Por conta desses incômodos,
em 2004, usuários da linha 4111
criaram uma comunidade em um
site de relacionamentos, que já
tem 1268 membros, e nela são
discutidos os problemas e as possíveis soluções encontradas pelos
usuários para a linha, como um
abaixoassinado pedindo a revisão
do quadro de horários, além da
criação de uma nova linha alternativa Dom Cabral/Anchieta.
Para a estudante Clarissa
Godinho Prates, 20 anos, que
pegava o coletivo na Savassi para
chegar à universidade, esta seria
uma forma prática de se resolver
todos os problemas que permeiam o itinerário do 4111, pois
reduziria o tempo de viagem,
dando um maior conforto a
todos os usuários. A estudante
ainda completa que por causa do
longo trajeto, sempre tinha que
acordar muito cedo para não se
atrasar para a aula.
Para se livrar dos atrasos, constantes para quem anda no 4111,
a professora Maria de Fátima
Barbosa, 52 anos, aposta em um
trajeto diferente. Ao invés de
pegar o 4111, ela opta pelo 5401
– Dom Cabral/São Luís –, que
para na Avenida Amazonas com
Avenida do Contorno. Lá ela
pega um táxi lotação e assim,
segue para a Savassi. "Apesar de
gastar um pouco mais, compensa, pois além de um conforto
maior, o tempo da viagem reduz
em pelo menos 20 minutos", afirma.
Mesmo sabendo da insatisfação
dos usuários quanto ao ônibus
4111, a BHTrans, por meio de sua
assessoria de comunicação, informa que uma mudança de itinerário é algo muito difícil de fazer,
pois é necessária uma análise de
ambiente, juntamente com a
aprovação da nova rota pela
empresa responsável pela frota. A
solução seria a divisão da linha, o
que geraria outros problemas,
como a necessidade de pegar mais
de um ônibus para chegar a determinados locais.
Em contrapartida, Antônio
Rodrigues, gerente de tráfego da
Viação Anchieta, companhia que
gerencia a linha 4111, afirma que
o maior problema para a mudança
de itinerário é a própria BHTrans,
uma vez que não aprova os projetos que são enviados. "Tentei
mexer no itinerário do 4111, mas
recusaram dois projetos. Sem
autorização, nada feito", justifica.
4 Comunidade
jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas
Outubro • 2009
REGIÃO NOROESTE SOFRE COM RATOS
Com o objetivo de combater os roedores que têm infestado suas residências, principalmente nos bairros Carlos Prates, Caiçara e Padre Eustáquio, moradores buscam soluções inusitadas
PÂMELLA RIBEIRO
n
ISABELLA LACERDA,
4º PERÍODO
Rosane Oliveira, moradora da Rua Coronel José
Benjamim, no Bairro Padre
Eustáquio, Região Noroeste de Belo Horizonte,
teve uma ideia curiosa para
solucionar os problemas
que estava tendo com os
ratos arrumou um gato
para morar em sua casa.
Segundo ela, o problema
com roedores começou
porque, ao lado de onde
mora, havia um lote abandonado com rede de esgoto aberto. "Os ratos vinham mesmo para minha
casa. Quando começou a
obra, os ratos pareciam
que tinham acostumado a
ficar aqui. Rato normalmente não fica onde tem
gente, mas esses já ficavam
junto com a gente, iam
para a cozinha", explica.
O Bairro Padre Eustáquio, onde Rosane
reside, assim como Caiçara
e Carlos Prates, localiza-se
em uma região onde a
infestação de roedores está
acontecendo em maiores
proporções, como reconhece a Prefeitura de Belo
Horizonte (PBH).
De acordo com Rosane,
esse incômodo já ocorria
há muitos anos e foi
aumentando progressivamente. "Chamei a prefeitura diversas vezes e, quando
vinham, colocavam venenos mixurucas que não
adiantavam nada. Eu estava tão desesperada com a
situação que eu consegui
até chumbinhos para colocar. O problema é que você
consegue matar um rato e
parece que vêm dez para o
velório e ficam na sua
casa", conta Rosane.
PBH auxilia população
a combater roedores
A ex-comerciante Rosane Oliveira e seu gato Severino Mingau, adquirido para eliminar os ratos de sua casa
ALTERNATIVAS A excomerciante comenta que a
ideia do gato já estava
sendo cogitada há mais
tempo, mas que antes tentou outras soluções, como
colocar coisas debaixo da
porta para barrar a entrada
deles, o que, segundo ela,
não adiantava porque eles
roíam tudo. "Mas o caso já
estava tão grave, já tinha
tanto rato e a prefeitura já
não vinha mais aqui em
casa, que eu consegui que
meu irmão arrumasse um
gato para mim nas Centrais
de Abastecimento de
Minas Gerais (Ceasa
Minas)", afirma.
Ela completa dizendo
que, quando chegou, o
gato estava doente e não
tinha tomado nenhuma
vacina. "Eu achei que a
ideia do gato já ia furar,
até que, com menos de
uma semana, só a presença dele já fez desaparecer os ratos. E ai fui
cuidando do gato e ele foi
virando um xodó. Ele já
tem até nome: Severino
Mingau", revela Rosane.
Os ratos são responsáveis pela transmissão
de algumas doenças,
como a leptospirose.
Essa era uma das principais preocupações de
Rosane, uma vez que em
sua casa mora sua mãe,
dona Juvencina Lara, de
85 anos. "Quando falei
com o médico da minha
mãe ele mandou dar um
jeito de acabar com os
ratos, pelo perigo dela
pegar uma doença e
acabar morrendo por
causa disso. Tinha dias
que desciam 30, 40 ratos
pela parede do meu
quintal", lembra.
Rosane revela que o
gato foi a solução para os
problemas com os ratos,
mas que muitos de seus
vizinhos estão passando
pelo mesmo problema
que ela e que
estão
adotando os procedimentos domésticos, como remédios, venenos,
ratoeiras. Ela ainda
relembra que outras pessoas aderiram à sua
ideia. "Depois que coloquei o gato, minha tia
Maria
de
Lourdes
Oliveira, que também
mora no Padre Eustáquio, arrumou um gatinho para resolver o
problema dela com os
ratos", conta.
A Prefeitura de Belo
Horizonte está realizando ações de combate a roedores na capital, principalmente em
bairros com maior
número desses animais,
como Caiçara, Carlos
Prates e Padre Eustáquio, todos na Região
Noroeste. De acordo
com
Sérgio
Leão
Magalhães, técnico em
zoonoses da Regional
Noroeste, o aumento
desses roedores está
ocorrendo, em geral,
em todo o município,
entretanto, algumas
regiões acabam sofrendo mais com isso. "Na
Região Noroeste, por
exemplo, é por causa
das grandes obras, que
acabam mexendo muito com as galerias de
esgoto, local onde os
ratos costumam ficar.
Assim, eles tendem a
procurar outros abrigos. Obras como na
Avenida Antônio Carlos, na Pedreira Prado
Lopes, e na Avenida
Pedro II, que é uma
grande galeria, ajudam
na saída desses ratos
para esses bairros",
explica.
O técnico conta que
estão sendo feitas ações
programadas nas vilas e
que, nas áreas formais
da cidade, as demandas
são atendidas a partir
de ligações para o 156
ou para o Serviço de
Atendimento ao Cliente (SAC). "O atendimento consiste, primeiramente, na orientação
e diagnóstico dos locais
que solicitam o serviço,
dando orientações para
evitar o acesso desses
roedores às casas, evitar
a exposição de alimentos que os atraem e a
formação de abrigos
para esses animais nas
casas. Em seguida, aplica-se o raticida nesses
locais", pontua.
Segundo Sérgio, nesse período de chuva a
incidência de roedores
aumenta, pois a água
mexe com o habitat
deles, que é o esgoto.
Entretanto, Sérgio afirma que o importante é
que todas as pessoas
adotem certas medidas
para evitar que eles
invadam as casas, como
não deixar abrigos para
os ratos, lixo e comida
expostos para esses animais.
Outro aspecto ressaltado pelo técnico é
que não se deve usar o
famoso 'chumbinho'.
"O chumbinho é um
veneno proibido, pois é
um risco para os animais e para as próprias
pessoas. Isso é muito
perigoso. A melhor
solução é chamar a
prefeitura ou alguma
firma especializada",
acrescenta Sérgio.
Nova Rodoviária permanece sem decisão oficial
MAÍRA CABRAL
n
SÍLVIA VOLPINI,
3° PERÍODO
A não conclusão do estudo
que vai avaliar a manutenção do
Terminal Rodoviário Governador Israel Pinheiro (Tergip) no
hipercentro de Belo Horizonte
ou sua transferência para o
Bairro Calafate tem desagradado
os moradores dessa região. Esse
diagnóstico encomendado pelo
prefeito Márcio Lacerda, logo
após a sua posse no início deste
ano, vai embasar a prometida
conversa com a comunidade da
área cotada para receber a nova
rodoviária. O adiamento do diálogo entre prefeitura e comunidade que definirá a execução
do projeto contribui para a não
oficialização de qualquer esclarecimento sobre o assunto.
Conforme publicado pelo
Jornal MARCO na edição de
março deste ano, a Prefeitura de
Belo Horizonte (PBH) previu o
desfecho do estudo para maio de
2009. Mas, segundo a assessoria
da BHTrans, empresa responsável por gerenciar o transporte e
trânsito da capital mineira, a
avaliação dos impactos será con-
cluída somente neste trimestre
do ano, possivelmente no mês de
novembro.
EXPECTATIVA Para Guilherme
Neves, presidente da SOS
Bairros, associação representante
dos bairros Calafate, Prado,
Gutierrez e Barroca, este novo
estudo só vai confirmar o que o
antigo, formulado em 2005, já
havia constatado. "O antigo estudo já mostrava que o Bairro
Calafate é contraindicado para a
instalação da rodoviária. Se há
quatro anos o trânsito aqui já
não comportaria o fluxo de
veículos que demanda uma
rodoviária, hoje em dia, os
números devem estar muito
maiores", observa.
Guilherme também protesta
contra a demora de uma posição
definitiva da prefeitura, alegando que o espaço em que a
rodoviária seria instalada e está
atualmente inutilizado, poderia
ser locado para outros fins. "A
área já poderia estar recebendo
um tratamento de urbanização
adequado, mas continua sendo
um terreno sem destinação.
Poderia ser a sede da Guarda
Municipal ou do GATE (Grupo
de Ações Táticas Especiais),
soluções que não atacariam a
região como a rodoviária", sugere.
Quanto às ações assumidas
pela comunidade, Guilherme
conta que os moradores do
Bairro Calafate compartilham
uma postura de oposição à transferência do Tergip para o local.
"Nós da SOS Bairros instruímos
os cidadãos para pressionar a
prefeitura. Essa conversa teve
início em 12 de outubro de
2007, quando foi lançado o protocolo da lei. Está demorando
muito", afirma.
A assessoria da BHTrans
ainda explica que o Bairro
Calafate é previsto como a possível área para abrigar o novo
terminal rodoviário por se tratar
de uma região estratégica, que
permite saídas para o anel
rodoviário, a BR-040 e a rodovia
Fernão Dias. Guilherme Neves
discorda que o Calafate seja a
região mais apropriada para receber o Tergip. "Uma rodoviária no
Calafate é impossível. A não ser
que se desapropriem os bairros
Prado e Calafate. E isso só vai
Mesmo com transferência já discutida, ainda há dúvidas sobre a nova instalação do Tergip
agravar a situação do tráfego,
além de tornar a região uma
porta aberta para pessoas de outros estados que vêm mal intencionadas e se instalam próximo à
rodoviária. O bairro será transformado em uma área de risco,
sem conforto, com poluição e
ruído", desabafa.
Ainda que nenhuma decisão
oficial tenha sido divulgada, a
associação se mantém atenta a
qualquer novidade. "Estamos
aguardando as decisões para
tomarmos as devidas providências. Falta planejamento e bom
senso para fazer uma coisa justa
para a população", acrescenta
Guilherme.
Comunidade
Outubro • 2009
5
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PÂMELLA RIBEIRO
FALTA POLÍCIA E
SOBRA DEGRAU
NA RUA PRADOS
Moradores da região afirmam que o local tem sido frequentado por maus elementos.
Falta de iluminação e calçamento são problemas enfrentados pelos moradores da área.
n
CLARISSE SOUZA,
4° PERÍODO
Todos os dias, Solange
Carvalho Leite sai de sua
casa às 5h da manhã, na
Rua Prados, localizada no
Bairro Carlos Prates, rumo
ao seu trabalho. A saída,
ainda na escuridão, é acompanhada por uma sensação
de medo ao descer a longa
escadaria que liga sua casa à
parte asfaltada da via. O
principal motivo para este
sentimento é a ocupação do
local por parte de usuários
de droga, que segundo ela,
aproveitam as más condições da rua para esconder
entorpecentes ou se refugiarem da polícia.
Situada na Região Noroeste de Belo Horizonte, a
Rua Prados incomoda os
moradores por diversos
motivos. A via, que tem em
suas extremidades a Avenida Tereza Cristina e a
Rua Padre Eustáquio, é
interrompida na altura do
número 820 por um grande
barranco, o que torna
impossível o trânsito de
veículos e muito complicada
a
circulação
de
moradores e transeuntes no
local. A única forma de
acesso disponível é uma
longa escada que, segundo
o
segurança
Magno
Pantaleão da Luz, de 51
anos, foi construída pela
Companhia Urbanizadora
de Belo Horizonte (Urbel),
quando a empresa realizou
obras no local, considerado
como área de risco de
desabamento.
Mas não é apenas o
cansaço provocado pelo
grande número de degraus
da escadaria que gera reclamações entre os moradores
da Rua Prados. A frequência de furtos, roubos e atos
de vandalismo vêm causando revolta entre a população do local. Magno lembra as inúmeras vezes que
presenciou da janela de sua
casa cenas de perseguição a
suspeitos de envolvimento
em crimes. Segundo ele, a
rua é local estratégico para
fugas, pois está posicionada
em um ponto alto do bairro, o que permite aos fugitivos ou traficantes uma
ótima visão do entorno.
"Eles sentam na escada com
um binóculo e ficam olhando se a polícia está vindo",
revela Magno.
Moradora do local desde
seu nascimento, há mais de
48 anos, Solange conta que
diversos objetos são arremessados por vândalos
sobre sua casa, assustando-a, além de amedrontar
também suas filhas e sua
irmã. "Sobem no telhado,
jogam coisas, quebram
vidro, telha, antena", reclama. A falta de um homem
em casa a preocupa.
"Somos quatro mulheres e é
muito perigoso para nós.
Fica muito sem defesa", diz
Solange, ao recordar o dia
em que o portão da
garagem foi arrancado do
muro de seu lote. Ela conta
que registrou ocorrência,
mas como não houve flagrante, nada foi feito.
POLICIAMENTO A ausência
de policiamento na rua preocupa
os
moradores.
"Polícia não resolve nada.
Vem aqui muito pouco. Só
quando está dando ronda",
conta Solange. A demora
no
atendimento
às
chamadas é o principal
problema, de acordo com
Magno. "Quando você
chama a polícia aqui, dá
tempo de o malandro
tomar um cafezinho, ir
embora, para depois a polícia chegar", afirma.
Segundo o major Idzel
Fagundes, a área da 9ª
Companhia da Polícia
Militar abrange 23 bairros
da capital, cerca de 180 mil
moradores e um fluxo de 1
milhão de pessoas. "Não
tem como ter policiamento
fixo em todas as regiões",
justifica.
O major Fagundes explica que a região do Bairro
Carlos Prates fica em uma
área central da cidade, com
grandes corredores, como a
Avenida Tereza Cristina e a
Rua Padre Eustáquio. "Isso
facilita a fuga", explica. O
major ressalta que quando
os índices de violência são
altos em alguma determinada região, direciona-se um
policiamento maior e mais
frequente naquele local.
Mas no caso da Rua Prados,
e em todo o Bairro Carlos
Prates, não há números relevantes de criminalidade
no local, o que não significa
que eles não existam. O
problema, segundo ele, é
que muitos moradores não
registram ocorrências quando ocorre algum crime.
Durante a noite o clima
de medo é maior, explica
Magno, pois além da visibilidade ruim devido à
escuridão do período, a iluminação da rua é precária,
facilitando ainda mais a
camuflagem de pessoas na
rua. Além da escada, que é
usada como esconderijo,
existe o problema do crescimento da vegetação no
decorrer do barranco.
Solange conta que o serviço
Magno Pantaleão, morador da Rua Prados há 51 anos, reclama da falta de atenção da PBH para os problemas locais
de limpeza no local, prestado pela Prefeitura de Belo
Horizonte (PBH), só é realizado uma vez por ano.
"Minha irmã que capina em
frente à minha casa. O resto
vai crescendo até ficar bem
alto", revela.
Para que haja uma
diminuição da ação de
crimes violentos "a ilumi-
nação é fundamental", alerta o major. São necessárias
medidas por parte dos
moradores para melhorar a
iluminação, manter o local
limpo, além de adotar comportamentos de prevenção",
salienta.
O major alerta para a
importância do registro das
ocorrências para que a PM
fique ciente da real situação
de violência na região, realizando um policiamento
mais ostensivo.
Ele aconselha ainda que
a população tenha um contato maior com a PM, conhecendo os profissionais
que atuam em sua região e
procurando conhecer melhor também os vizinhos.
Falta de asfalto gera problemas
Subir a escadaria da Rua Prados é
um exercício impossível para
Raimundo Fernandes dos Santos, um
aposentado de 80 anos que reside na
via há quatro anos. Com uma doença
que afeta suas pernas, dificultando
sua locomoção, a única forma de
chegar à parte alta da rua é solicitando os serviços de um taxista.
Solange Carvalho Leite revela as
dificuldades pelas quais sua família
passa devido à inexistência de pavimentação no local. Sua irmã é paraplégica e quando necessita de atendimento médico, precisa ser carregada
no colo por sua filha, pois não há possibilidade de chegar à residência utilizando a cadeira de rodas.
O segurança Magno Pantaleão da
Luz diz já ter visto um morador idoso
cair da escada. Para ele, o local é
muito perigoso para qualquer transeunte. "Só um jato de concreto já aju-
dava", acredita.
Solange conta que nos períodos
chuvosos a situação é ainda pior, pois
a escada fica localizada ao lado
esquerdo da rua, fazendo com que os
moradores do lado direito tenham
que passar no meio da terra. "Quando
chove, tem que sair no meio do
barro", reclama. Para ela, a construção
de uma nova escada no lado direito
da rua já contribuiria para a entrada e
saída dos moradores de suas casas.
De acordo com Renata Matta
Machado, gerente de comunicação
social da Regional Noroeste, as informações que constam na Gerência de
Manutenção é que a Rua Prados "possui pavimentação, do tipo poliédrica
(calçamento de pé-de-moloque)", contrariando a real situação da via. Além
disso, ela afirma que a "coleta de lixo é
feita três vezes por semana e também
é realizada varrição periódica".
Burocracia emperra obras na Praça São Vicente
MAÍRA CABRAL
n
THAÍS MAIA,
3º PERÍODO
Com OP aprovado desde 2008, Praça São Vicente ainda não está em obras
A dona de casa Julieta
Drummond Antunes, de
66 anos, mora na Avenida
Abílio Machado, no Bairro
Padre Eustáquio, Região
Noroeste de Belo Horizonte e costumava caminhar todas as manhãs pela
Praça São Vicente, que fica
perto de sua casa. Hoje em
dia, não anda mais por
causa da poluição sonora
causada pelo trânsito da
região. "O barulho das buzinas e o constante trânsito
carregado me desanimam.
Eu votei pela obra no OP
digital, isso foi em 2008 e
até hoje, quase um ano
depois, nada aconteceu",
lamenta a dona de casa.
Além de Julieta, mais de
48 mil pessoas que votaram
pelas obras da Praça São
Vicente até hoje não viram
nada acontecer. "Acho que
essa obra nunca vai ser concluída. Aliás, acredito que
ela nem vá começar; desde
2008 estamos esperando. A
situação é caótica e revoltante", afirma a aposentada Henriqueta Fonseca,
de 63 anos.
Aprovadas em dezembro
de 2008 pelo Orçamento
Participativo digital da
Prefeitura Municipal de
Belo Horizonte, as obras na
Região da Praça São
Vicente, no Bairro Padre
Eustáquio,
conseguiram
112.837 votos pela internet
e 11.483 pelo telefone, mas
não começaram a ser realizadas até o fechamento
desta matéria. A assessoria
da Superintendência de
Desenvolvimento da Capital (Sudecap) informa
que as obras não tiveram
início por causa de um
licenciamento ecológico que
ainda não foi liberado.
De acordo com a assessoria da PBH, R$ 39 milhões
serão investidos para mudar
o trânsito na região, que
concentra todo o tráfego
vindo das Avenidas Ivaí e
Abílio Machado, além da
Rua Pará de Minas e das
pistas marginais do Anel
Rodoviário. O planejamento da obra prevê a implantação de uma continuação
dessas pistas e a construção
de dois novos viadutos
sobre a Rua Pará de Minas.
A BHTrans calcula que
serão implantadas, ainda,
duas novas trincheiras que
possibilitarão retornos sem
utilizar as vias locais já existentes.
Para o taxista Mauro
Lúcio de Andrade, 46 anos,
a burocracia prejudica o
desenvolvimento das obras.
"Dizem que o investimento
vai ser alto, mas até agora
nada aconteceu e eu acredito que seja problema de
licenciamento, essas coisas
burocráticas. É difícil para
os motoristas, é difícil para
os pedestres. É difícil ficar
esperando".
Ainda segundo a assessoria da Prefeitura Municipal
de Belo Horizonte, as obras
beneficiarão 90 mil veículos
e 5 mil ônibus, além dos
pedestres, que passam pelo
local diariamente.
"Acho que as autoridades
deveriam ficar um tempo
aqui para ver o caos que é
essa região. Para nós,
moradores, a situação é horrível,
de
convivência
mesmo. Convivência com
essa baderna. Seria muito
bom que a voz do povo
fosse ouvida de verdade.
Nós votamos, ganhamos e
não recebemos", observa
Julieta Antunes.
6 Comunidade
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Outubro • 2009
MAÍRA CABRAL
PROJETO ESCOLA
INTEGRADA CHEGA
AO DOM BOSCO
Escola Municipal Dom Bosco, localizada na Região Noroeste da capital mineira, oferece
aos alunos, além da educação básica, oficinas de leitura e interpretação de texto,
esporte, lazer e informática. O projeto é uma inciativa da Prefeitura de Belo Horizonte
n
RÚBIO FIRMINO,
8º PERÍODO
Os alunos da Escola
Municipal Dom Bosco, na
Região Noroeste de Belo
Horizonte, tem uma rotina
diferenciada da maioria das
demais instituições de ensino, por ficaram envolvidos
nove horas em atividades
escolares. Este período
divide-se em aulas na sala
em um turno e oficinas em
outro, intercalados pelo
almoço lanches servidos na
cantina. O estabelecimento
pertence desde abril do ano
passado ao projeto Escola
Integrada desenvolvido
pela prefeitura, por meio
da Secretaria de Educação,
que beneficia 50 instituições da rede municipal de
ensino da capital.
A educação integrada
não se resume apenas ao
tempo em que os alunos
estão sobre responsabilidade da escola, também diz
respeito à integração entre
escola e espaços comunitários - professores e
moradores.
Eustáquio Lopes Júnior,
responsável pelo apoio às
coordenações, explica as
características da escola
integrada. "Ela é integrada
porque atende os alunos
em tempo integral, integra
a escola a outros espaços
comunitários e interagem
professores com outros
atores da sociedade", diz.
O apoio e a participação
de pessoas influentes na
comunidade como padres,
pastores, presidentes de
associações de bairro, pais,
comerciantes e vizinhos,
juntamente com os professores, são a engrenagem
que fazem com que o proje-
to de integração escola comunidade seja possível.
As oficinas são realizadas
por professores que cedem
parte de seu tempo para o
projeto e por monitores que
guiam as crianças nas atividades de para casa, alfabetização e letramento, linguagem de sinais (libra),
leitura e interpretação de
texto, esporte e lazer, jogos
e brincadeiras, matemática
lúdica, intervenção urbana
e informática. O projeto
beneficia também alunos
de outras escolas de bairros
da região como Dom
Bosco, Califórnia, Vila
Califórnia, Vila 31 de
Março e Ipanema.
ALÉM MURO A escola
integrada não se limita a seu
espaço físico, suas atividades
vão além de suas dependências, boa parte das oficinas
Alunos da Rede Municipal no Bairro Dom Bosco praticam esportes e realizam atividades escolares em tempo integral
são realizadas fora, "caindo"
assim os muros que "dividem" a escola da comunidade.
Os locais das oficinas não
podem ficar a um raio superior a um quilômetro da
escola, por isso o deslocamento não é um problema.
Outra preocupação é com o
transporte de material, para
evitar que os alunos carreguem mochilas muito
pesadas, as crianças só levam
o material específico de cada
tarefa.
Além da própria escola,
são diversos os espaços cedidos por pessoas e setores da
sociedade que colaboram
com o projeto, como a
Paróquia São João Bosco, a
igreja evangélica Arca da
Aliança, a Associação da Vila
31 de Março e até mesmo
um lugar onde funcionava
um bar é utilizado para realização de atividades.
A coordenadora do programa Escola Integrada,
Anapaula Athadeu Costa,
diz que o objetivo é ser escola modelo. "O nosso objetivo
de trabalho é ser a primeira
em Belo Horizonte, depois a
primeira em Minas Gerais e
expandindo para ser a melhor do Brasil em referência
de escola integrada", enfatiza.
Daniela Santos Souza,
de 11 anos, é aluna da
escola desde o ano passado
e elogia muito a merenda.
"Gosto de feijoada, frango
xadrez, maionese e arroz
com strogonof", diz a
menina. Já Ana Flávia
Souza, 13, diz que gosta
das atividades de horta e
educação física, e aponta
suas preferências em sala
de aula. "A matéria que eu
mais gosto é ciências e a
que acho mais difícil é a
matemática", afirma.
A
agente
cultural
Dulciléia Pereira da Silva
participa desde o início e
destaca o diferencial da
proposta. "É um projeto
muito interessante que
visa integrar comunidade e
escola, o que mais me satisfaz é não estar presa a
uma grade curricular, a
educação aqui vai além do
convencional, é sucesso
total", relata.
Proteção reforçada com Olho Vivo no Coreu
n
DANIELA REZENDE,
3º PERÍODO
O Bairro Coração
Eucarístico está protegido
pelo projeto Olho Vivo,
que inicialmente foi
implantado no centro da
capital e cresceu para outras regionais, chegando à
noroeste.
São
cinco
câmeras distribuídas pelo
bairro, além de uma localizada no Dom Cabral.
Além destas, serão instaladas mais três câmeras
em locais com alto índice
de criminalidade, segundo
o major André Leão,
comandante da 9ª companhia do 34º batalhão.
Essas três câmeras serão
instaladas no Bairro
Coração Eucarístico e
fazem parte de um acordo
realizado entre PUC e
Ministério Público. "É um
termo de ajustamento de
conduta, para compensar
o número de veículos estacionados na região", diz o
major. "Diariamente, cerca
de dois a três mil veículos
ficam estacionados nas
ruas próximas à faculdade", completa.
Pedro
Henrique
Cardoso, 18 anos, que trabalha na clínica de
fisioterapia Fisiotec há
dois meses na esquina que
será instalada uma das
câmeras, e comenta que
ela trará maior segurança à
rua. "Às vezes aparecem
pessoas estranhas aqui,
ficam pedindo água. Não
que sejam pessoas de má
índole, mas às vezes atrapalha, gera insegurança",
explica. "Acho que essas
pessoas continuarão passando, mas a câmera é
uma segurança a mais",
completa. Pedro sugere
que o trânsito no local
poderá melhorar com o
monitoramento do estacionamento indevido na
esquina, onde o ônibus da
linha 9410 vira. "Essa
câmera pode ajudar quanto aos carros que param
em local proibido. Na
esquina não podem parar
carros porque os ônibus
não conseguem virar.
Sempre tem algum parado
e o ônibus fica o dia
inteiro buzinando", conta.
Na Região Noroeste, o
monitoramento das câmeras é realizado por
quinze pessoas, um supervisor e um militar. "Civis
são treinados para o monitoramento, são quatro
turnos e geralmente por
turno, estão presentes três
responsáveis", esclarece o
major
André
Leão.
Quando algum problema é
detectado dentro do quar-
MAÍRA CABRAL
Monitores acompanham as câmeras do projeto Olho Vivo que fazem a segurança da cidade de Belo Horizonte
Funcionamento das câmeras
A câmera fica parada no modo
automático, alcançando 380º de visão
na horizontal e 180º na vertical. Se
detectar algum movimento suspeito,
ela passa para o modo manual para
que os responsáveis pelo monitoramento possam visualizar com mais
precisão o que está acontecendo no
tel, eles entram em contato com a viatura mais
próxima e os policiais vão
ao local para averiguar o
que está acontecendo.
RESULTADOS
Dona
Ninita Castilho, como é
conhecida, é moradora há
aproximadamente 20 anos
e comenta que a violência
diminuiu, mas não o suficiente. "O índice de violência no bairro era bem
maior, já melhorou um
pouco. A Rua Dom José
Gaspar, principalmente, é
muito perigosa. Já instalaram o suporte na
esquina, mas não colocaram a câmera ainda",
afirma.
O
morador
Antônio Carlos Teixeira,
73 anos, que reside na
região há aproximadamente 45 anos, também
cita que a violência
diminuiu. "A segurança
melhorou um pouco, as
câmeras que estão aqui
são suficientes", aponta.
Segundo dados disponibilizados pelo major
André Leão, a criminalidade no Coreu está controlada. "De janeiro a
local. "A câmera pode aproximar, com
imagem nítida, até 250 metros do
local onde ela está instalada", assegura
o major André Leão. Uma única
câmera do Olho Vivo, com todas as
instalações necessárias para o seu funcionamento, custa em torno de R$ 40
a R$ 60 mil.
setembro de 2009 houve
um decréscimo de 19,7%
comparado ao ano passado. No mês de setembro
deste ano, comparado a
setembro de 2008, os
crimes violentos decresceram 31,6% em grande
parte da Região Noroeste",
pontua. "O problema é a
falta de prevenção, a vítima distraída e o criminoso
motivado", argumenta. A
9ª companhia é a segunda
que mais baixou a criminalidade em Belo Horizonte. "Nosso índice
hoje é o de 11 anos atrás",
conclui o major.
Kênia Ferrari, vendedora da loja Kripton, na pracinha da PUC, diz que a
solução para o problema
dos assaltos seria a maior
presença da Polícia Militar
no bairro. "Acho que a
solução seria um policiamento maior, colocando
policiais aqui na praça.
Quando eles ficam aqui, a
gente nota que desaparecem essas pessoas que
ficam pedindo esmolas nas
lojas", observa.
O major acrescenta que
a Polícia Militar está
fazendo o policiamento
das ruas e avenidas do
bairro, mas o cidadão deve
tomar os devidos cuidados.
"Não adianta a pessoa pensar que a câmera vai salvála. A responsabilidade é de
todos, a pessoa também
deve ficar alerta", conclui
André Leão. "O principal
problema próximo a Católica são os roubos de
celulares", diz o major, que
reafirma o cuidado que as
pessoas devem ter ao
andar pela região. "A
Polícia Militar está fazendo sua parte. Não deixar o
veículo em qualquer lugar,
não sair conversando no
celular e qualquer desconfiança ligar para a PM são
uma das alternativas que
os moradores têm", indica.
O vigilante da PUC
Minas, Antônio Miranda,
que trabalha na universidade há dois anos, diz que
com a instalação das
câmeras, os assaltos, principalmente com motoristas, diminuíram bastante.
"Antes roubavam muitos
carros aqui na porta. Tem
tempo que não vejo falar
nada", afirma.
Campus . Comunidade
Outubro • 2009
7
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MINI-ONU RECEBE PRESENÇA ILUSTRE
LUÍZA FERRAZ
O ministro das Relações Exteriores,Celso Amorim, participou da décima edição do Modelo
Itercolegial da Organização das Nações Unidas, realizado pela PUC Minas, e destacou o
clima e a desigualdade como os grandes desafios da política internacional atualmente
n
PATRÍCIA SCOFIELD,
8º PERÍODO
"Acho que você já fez a
avaliação da política externa do Brasil: é um país
pacífico e tem cadeira
cativa no Conselho de
Segurança da ONU". Com
a afirmação sucinta e um
sorriso calmo esboçado no
rosto, o ministro das
Relações Exteriores, Celso
Amorim, resume, com
paciência e à sós por
alguns segundos com a
repórter
do
Jornal
MARCO, a conjuntura
das relações internacionais do país, durante a
abertura da décima edição
do Modelo Intercolegial
da
Organização
das
Nações Unidas (MiniONU).
Em palestra ministrada
no Auditório Topázio,
Minascentro, ao público
de 1.500 pessoas envolvidas com o projeto da PUC
Minas, entre alunos do
ensino médio de 87 escolas do Brasil, professores e
convidados,
Amorim
destacou que a política
externa do governo do
presidente Luís Inácio
Lula da Silva apresenta
particularidades
em
relação "à maneira de executar e à ênfase, mas as
formas (das políticas
externas dos governos em
geral) são as mesmas".
Para o ministro, a marca
dessa política brasileira é a
"ponte entre a tensão permanente do interesse
nacional e a solidariedade
com outros países". "A
razão é fundamental na
política externa, mas o
coração não pode faltar
nem ficar alheio", conclui
o embaixador.
Isso explica, por exemplo, a defesa constante
feita por ele em relação
aos vizinhos do Brasil na
América do Sul. "Eu moro
na América do Sul, por
isso a defendo. O Brasil
tem fronteira com dez
países", justifica. No governo Lula, o embaixador
diz ser apenas um funcionário que contribui
com a maneira de executar
as relações políticas internacionais da atual gestão
do
Poder
Executivo
brasileiro.
A solidariedade ressaltada pelo ministro transparece
quando,
ao
começar a proferir a
palestra, Amorim cita que
naquela tarde de 9 de outubro um avião caíra no
Haiti,
deixando
11
uruguaios e jordanianos
feridos.
Não
havia
brasileiros no voo. "Esse
fato demonstra que lutar
pela paz se faz com sacrifício, muitas vezes, da
própria vida", pondera,
mencionando também a
morte
do
diplomata
brasileiro Sérgio Vieira de
Mello em 2003, no
Iraque.
PAZ Destacando o papel
da
Organização
das
Nações Unidas (ONU),
cujo modelo é simulado
no Mini-ONU organizado
pelo curso de Relações
Internacionais da PUC
Minas, o ministro das
Relações Exteriores ponderou que a criação deste
órgão no período pós
Segunda Guerra Mundial
teve como objetivo acabar
com os conflitos diretos e
garantir a paz, "cujo valor
só se nota quando nos
falta, assim como o ar e a
liberdade". "Períodos de
paz são excepcionais ao
longo da história da
humanidade",
afirma
Amorim.
Para o embaixador
brasileiro, a importância
da existência de uma organização como a das
Nações Unidas está na
possibilidade da troca de
ideias: "Falta percepção
para quem fala mal da
ONU. Verbalizar problemas já é um grande mérito". E para negociar a
busca por soluções pacíficas e a encontrar soluções,
segundo Amorim, é pre-
Celso Amorim, um dos ministros do governo Lula, comentou sobre a política internacional praticada pelo Brasil
ciso "ver o ponto de vista
do outro". Ou seja, nas
palavras do ministro:
"Fazer o nosso interesse
vitorioso sem humilhar,
sem causar perda para os
fracos, especialmente".
DESAFIOS No contexto da
política internacional, o
embaixador
ressaltou
grandes desafios para a
humanidade discutir e
enfrentar, como o clima, a
igualdade racial e a de
gêneros. "Temos que
influir no curso dos acontecimentos, ter a consciência de que política nos diz
respeito e que só participando dela poderemos
melhora-la", complemen-
ta.
Sobre a atuação dos
cidadãos na política tanto
nacional quanto global,
Amorim destacou que não
há realidade que não influencie no cotidiano das pessoas. Como exemplo, o ministro citou um hipotético
conflito sangrento, o qual
determina variações no
preço do barril de petróleo,
que por sua vez atinge a
taxa de inflação (desvalorização da moeda) na
economia brasileira e chega
ao dia-a-dia até mesmo de
quem não se interessa pela
política, por não ver relação
direta de sua vida com um
acontecimento em outra
parte do mundo.
O embaixador Celso Luiz
Nunes Amorim foi indicado, no início de outubro
deste ano, como o melhor
chanceler do mundo pela
revista
estadunidense
Foreign Policy, ligada ao
Washington Post e à
Newsweek. O especialista
em política externa David
Rothkopf, colunista da
revista, intitula o ministro
das Relações Exteriores
como "autor intelectual da
transformação do papel do
Brasil no mundo que é
quase sem precedentes na
história moderna", no texto
do site da publicação intitulado "The world's best foreign minister".
Dulu comemora gravação do seu primeiro DVD
n
RENATA MARINHO,
6º PERIODO
Em meio a aplausos animados
que refletiam a ansiedade da
platéia, o cantor Luciano Paulo
da Silveira, conhecido como
Dulu, subiu ao palco no dia 20
de outubro para a gravação do
seu primeiro DVD, no Palácio
das Artes. Mineiro de Passos, no
sudoeste do estado, deixou sua
família e amigos para ir atrás de
um sonho. Morando em Belo
Horizonte desde 2002, o músico
investiu em sua carreira, e após
ter gravado dois cds o tão desejado áudio-visual se tornou uma
realidade.
No primeiro cd lançado em
2004, todas as faixas são músicas
inéditas compostas por Dulu. Em
2008, o cantor lançou seu segundo álbum, com composições
suas, e algumas versões de músicas conhecidas de outros artistas.
Na gravação do DVD, o artista
reproduziu releituras de cantores
conhecidos como Cazuza e Zeca
Balero, além de seus maiores
sucessos, do primeiro e segundo
cd.
Para o fotógrafo Wolfgang
Wagner, que foi contratado para
cobrir o evento, a organização do
show foi competente, o que
segundo ele possibilita um
espetáculo bom de se ver. "A
expectativa em relação a gravação
do DVD é a melhor possível,
porque pelo que eu vi antes
PÂMELLA RIBEIRO
O cantor Dulu gravou, no Palácio das Artes, seu primeiro DVD, no dia 20 de outubro
mesmo de abrir para o pessoal
entrar, a equipe que está trabalhando com ele, é competente.
Eu que já trabalhei em vários
shows, a gente nota esse tipo de
coisa com facilidade. Tanto na
parte técnica, quanto na parte
artística", observa Wolfgang.
RECONHECIMENTO "O trabalho do Dulu é um trabalho Pop,
ele visa um público jovem e ele
tem alcançado um publico relativamente grande em BH, porque
Belo Horizonte dá espaço para
esse tipo de cultura. Eu acho que
ele tem grandes possibilidades de
alcançar vôos mais altos, e a
gente apóia ele", analisa.
Ricardo Lemos, que trabalha
como segurança, diz ter conhecido Dulu na noite, em Betim, na
Região Metropolitana de Belo
Horizonte, nos barzinhos que o
cantor faz shows. "Eu acho ele
um cara batalhador, guerreiro, me
identifiquei muito com ele, uma
pessoa bacana, que corre atrás do
que quer, tem um objetivo na
vida. Eu estou aqui marcando
presença, porque é o primeiro
DVD dele que vai sair, e minha
torcida é para o sucesso dele. Eu
espero que o show seja bacana,
eu acredito que é um sonho que
esta se realizando na vida dele,
torço muito por ele", afirma
Ricardo.
O policial civil Douglas
Eduardo Silva Lambertuce diz
que Dulu tem muito talento, e
que ele merece que tudo dê certo.
"Desde o começo eu acompanho
ele, que toca na noite, então eu já
tive o prazer de prestigiar meu
amigo", conta.
A relação de Dulu com a música começou como a de muitos
jovens do interior, montar uma
banda para tocar em garagens.
"Eu comecei tocando em banda
de baile, aí depois vieram os barzinhos, que deu uma reforçada
na vida financeira. Atualmente
eu venho trabalhando na noite, é
meu ganha pão eu vivo como
músico", explica Dulu.
NA TV Segundo ele as coisas
vêem acontecendo gradativamente em sua carreira. No
começo de 2009, o cantor enviou
novamente seu trabalho para o
programa Raul Gil, e em maio a
produção do programa entrou em
contato com ele. "Você vai lá,
apresenta uma música própria, e
fica uma comissão julgadora que
julga a produção do cd em si. Aí
no dia lá, a brincadeira do quadro
era ou vai pra boca do povo, que
era positivo, ou vai pra boca do
forno, e isso no caso não seria
legal. Mas comigo foi legal,
porque foi para a boca do povo, e
teve uma repercussão muito boa,
através disso as portas se abriram
muito mais", garante Dulu. Ele
ainda fala sobre a visibilidade que
esta apresentação no programa
Raul Gil lhe rendeu, "Está pintando o interesse de empresários,
pintou agora um produtor musical que inclusive está me dando
uma grande força, da NeoRecord,
tanto é que ele que produziu o
show para o Palácio das Artes",
conclui.
Para Dulu sua maior alegria
em relação à música foi à
gravação de seu primeiro cd. "Foi
na época que eu mudei para cá, aí
logo depois eu consegui gravar
meu cd que foi um sonho
mesmo, era um objetivo que eu
almejava muito, todas as músicas
minhas". Segundo o cantor, assim
como em qualquer trajetória
profissional, as dificuldades são
muitas, e o que faz a diferença é
a motivação e o amor pela profissão. "Em qualquer profissão existem altos e baixos. Acho que
tudo depende de motivação, e
todo ser humano tem seu
momento de fraqueza. O fato de
você estar tocando direto, não é
só o dinheiro que você ganha que
mantém um artista com a chama
acesa, são vários fatores" conta.
O músico conta que seu pai
era seu maior incentivador, embora toda a família o apóie. "Meu
pai sempre foi meu maior incentivador, ele faleceu em 2000. A
minha família toda sempre me
incentivou muito. Na época que
eu mudei para BH, rolou um
desconforto, mas nada de mais,
era só o coração de mãe desesperado, sabendo que o filho ia se
mudar para uma capital", explica.
Dulu ressalta que "às vezes os
pais sonham com outras profissões para seus filhos, seja médico,
ou alguma outra profissão bonita,
mas enfim minha mãe tomou
consciência que não é por aí,
cada um nasce com um dom
especial".
8 Cidade
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Outubro • 2009
MAÍRA CABRAL
MICOS PASSEIAM
POR ÁRVORES E
FIOS NA CAPITAL
Animais, popularmente conhecidos como mico-estrela, atraem os olhares de quem passa
pela Região Central de Belo Horizonte, dispertando a curiosidade de pedestres no local
n
SÍLVIA VOLPINI,
3° PERÍODO
Alguns micos da espécie
Callithrix penicillata, popularmente conhecidos como
mico-estrela, têm sido vistos nas proximidades do
Fórum de Belo Horizonte,
situado à Região do Barro
Preto.
Serafim Silva, dono do
restaurante Hortelã Pimenta, localizado à Avenida Barbacena, conta que
esses animais fazem visitas
periódicas à região. "De vez
em quando eles aparecem e
ficam
passeando
nas
árvores. Mas é bastante
curioso, porque ver uns
bichos desses aqui no centro, é bem difícil", diz.
Serafim também afirma
que não costuma alimentar
os micos. "Eu não dou
comida, porque senão eles
vão criar um vínculo com o
meu restaurante que eu não
quero", revela.
Segundo a bióloga Marina Duarte, mestranda do
programa de pós-graduação
em zoologia dos vertebrados, cuja dissertação investiga o comportamento dos
micos da cidade, alimentar
esses animais não é uma atitude correta. “Ao alimentar
os micos, a pessoa vai interferir na dieta natural desses
animais, que comem os
gomos das árvores, frutos e
insetos", explica.
RISCOS Marina ainda
aponta os riscos que os
micos correm ao serem alimentados pelos seres
humanos. "Alimentos doces
podem causar cáries. Além
disso, os micos, quando
superalimentados, têm sua
taxa de reprodução afetada.
Outro problema são as possíveis doenças infecciosas.
Se uma pessoa que tem herpes morde um alimento e
dá o resto para um mico,
pode passar um vírus fatal a
ele", afirma a estudiosa do
assunto.
Os micos-estrela medem
cerca de 25 centímetros na
idade adulta, chegando a
pesar 300 gramas. Segundo
a bióloga Marina Duarte,
esta é uma espécie que se
adapta muito bem aos
ambientes urbanos, e por
isso é comum vê-los por
toda a cidade, principalmente em locais arborizados. Mas a presença desses
pequenos animais no centro
é sempre motivo de admiração e curiosidade para os
transeuntes da redondeza.
Pedro Paulo Santos, segurança da Unimed situada à
Rua dos Guajajaras, conta
que, geralmente, vê três ou
quatro micos andando pela
copa das árvores e atravessando os fios da rede elétrica.
"O pessoal acha interessante
e 'bonitinho'. Mas eu ainda
estou vendo o dia que um
deles vai tomar um choque e
cair duro aí!", brinca.
Serafim caminha entre as árvores da Avenida Barbacena, na Região Central de BH, onde os micos costumam aparecer
ADEQUAÇÃO Quanto aos
riscos que a rede elétrica
pode oferecer a esses animais, Carlos Alberto Souza,
coordenador do Programa
Especial
de
Manejo
Integrado de Árvores e
Redes (PREMIAR) da
Companhia Elétrica de
Minas Gerais (CEMIG),
afirma que um projeto de
adequação ambiental tem
sido implantado para minimizar os conflitos entre a
área arborizada e a rede
elétrica. "O programa prevê
a substituição das atuais
redes por um sistema de
alta qualidade com fiação
protegida e isolada, o que
trará mais segurança para
esses animais", diz. Segundo
Carlos Alberto, o programa
está sendo instalado nas
regiões da Pampulha,
Centro-Sul e em alguns
bairros de Contagem.
De acordo com a bióloga
Marina Duarte, não se pode
explicar com exatidão a
ocorrência dessa espécie de
micos na região central de
Belo Horizonte. "É difícil
identificar o que eles buscam. Existem várias hipóteses. Infelizmente, há pessoas que ainda criam micos
em casa, e acabam soltando
por que não conseguem
cuidar deles direito. Pode,
também, haver pessoas alimentando esses animais
naquele local ou eles podem
estar vindo de outros parques em busca de alimentos
ou recursos que favoreçam
sua sobrevivência ali",
supõe.
Apesar dos riscos que o
contato com o homem pode
trazer aos micos, Marina
acredita que essa interação
deve ser vista de maneira
positiva. “Os micos vivem
bem na cidade. As pessoas
devem aprender a interagir
sem oferecer nenhum perigo a eles. É fundamental
haver equilíbrio nessa
relação", observa.
Reclamações de ônibus geram multas de trânsito
n
ANDERSON MENDES,
4° PERÍODO
Imagine a seguinte situação:
você está aguardando seu ônibus
depois de um intenso dia de trabalho ou estudo. Ele surge, você
se alegra, dá sinal para embarque
e ele não para, devido à excessiva quantidade de pessoas a
bordo. O que você faria?
Entenderia que não era possível
embarcar e esperaria pelo próximo ou ligaria para a BHTrans e
reclamaria do motorista que não
parou no seu ponto? Se você
pensou na segunda opção, saiba
que esta atitude tem gerado
reclamações e insatisfação por
parte dos trabalhadores do transporte coletivo da capital.
Segundo eles, multas vindas de
situações como esta não dependem do funcionário para serem
evitadas. Assim, segundo o que
afirmam, eles pagam pelo que
não são culpados.
Um motorista da Viação Auto
Omnibus Floramar que prefere
não se identificar, informa que já
passou por episódios desse tipo.
"Meu carro estava com 80 pessoas e eu não podia parar no
ponto. Não tinha espaço. Eu
segui viagem e depois de um
tempo chegou uma multa para
mim" afirma o funcionário, que
trabalha há 12 anos na empresa.
Segundo ele, o passageiro não
entende que o ônibus cheio
impossibilita a parada no ponto.
"Ele liga para a BHTrans, informa o horário e a linha do ônibus
e a gente recebe a multa", conta.
João Neto, 52, motorista da
Plena Transportes, também
acredita que haja falta de compreensão por parte dos passageiros, mas discorda do colega
no que diz respeito às multas.
"As pessoas dão sinal fora do
ponto e a gente não pode parar,
pois pode ser multado. Mas além
disso, a gente não para porque
fora do ponto a pessoa corre
riscos de ser atropelada, por
exemplo", explica Neto.
Sobre o pagamento das multas, o funcionário afirma que a
responsabilidade tem que ser do
próprio motorista. "Se a empresa
for pagar as multas dos empregados, ela vai quebrar. Eu sei que
vai comprometer o salário, mas
se eu errei, eu tenho que pagar
pelo meu erro", informa o
motorista que, em 21 anos de
empresa, nunca foi multado.
"Se (o ônibus) tá lotado, não
dá para entrar e nem para parar
no ponto. Não tem sentido você
ligar para a BHTrans e reclamar
disso. Talvez reclamar da quantidade de ônibus que é pequena, já
que estão lotados. Mas não
reclamar do motorista", afirma o
estudante de Administração,
Bruno Campos, 23, passageiro
da linha 2215.
René Chaves, responsável pelo
setor de multas da empresa de
ônibus Auto Omnibus Floramar,
explica que a reclamação do passageiro perante a BHTrans não
implica na aplicação de multa.
"O trocador, por exemplo, tem
como dever inibir o comércio
dentro do ônibus. Essa é uma
norma. Se um fiscal estiver dentro do veículo e perceber que ele
nem tentou inibir, aí sim o funcionário levará uma multa. O
mesmo acontece com os motoristas, que só são multados se um
agente da BHTrans flagrar o
momento em que o ele não parou
no ponto", afirma Chaves.
Sobre as multas que os
motoristas reclamaram ser
excessivas e injustas, a Empresa
de Transportes e Trânsito de
Belo Horizonte (BHTrans)
informou em nota que as autuações são passíveis de recurso na
Junta
Administrativa
de
Recursos
de
Infração
(JARI/MG), caso a empresa não
concorde com a mesma. A
BHTrans afirma ainda que, no
acordo firmado com as empresas
de ônibus em 2008, ficaram
definidas as normas para a
padronização do serviço de
transporte. Dentre elas, está o
uso do cinto de segurança, a
proibição de leitura de jornais e
a disponibilização, por parte da
empresa de ônibus, do número
suficiente de carros para que o
intervalo máximo entre viagens,
o número máximo de pessoas
em pé (lotação) e a distância
máxima de caminhamento para
acesso à rede de transporte seja
cumprido.
ANDERSON MENDES
Hábitos de trocadores são questionados
Para W. S., 24, trocador da Viação Progresso,
a leitura de um jornal não deveria ser motivo de
multa. "Ler um jornal não atrapalha meu trabalho. Enquanto o ônibus está parado no sinal, eu
poderia dar uma olhada no jornal, sem deixar de
atender aos passageiros. Mas eles acham errado",
afirma o trocador, há 2 anos na empresa.
Para Luciana Paes, 38, passageira da linha
8207, essa norma não altera a qualidade do
atendimento. "Se o trocador lê o jornal em
momentos adequados, sem deixar de atender
com educação e prontidão os passageiros, não há
mal na minha opinião", afirma a assistente
administrativo.
Para Vagner Santos, 28, trocador há 7 meses
Reclamações de passageiros geram problemas para motoristas e trocadores de ônibus de BH
na Viação Zurick, o cinto de segurança é importante, mas insuficiente. "O motorista tem que ser
multado se não usar o cinto. Mas não só ele tem
que ser obrigado a usar. Por que não é obrigatório
que todos usem? Inclusive os passageiros", questiona.
Em relação aos cintos de segurança, a BHTrans
esclarece que, de acordo com o Código de Trânsito
Brasileiro, serviços de transporte que levem passageiros em pé, não são obrigados a disponibilizar
o equipamento. Quanto à leitura de jornais e outras normas, a BHTrans informa que a definição
de que regras deverão ser seguidas foi feita pelo
sindicato da categoria em parceria com as empresas de ônibus do transporte coletivo.
Especial
Outubro • 2009
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APRENDIZADOS DE UMA COBERTURA
3º, 4º E 5º PERÍODOS
A primeira eleição direta,
ocorrida em 1989, após mais
de 20 anos de ditadura militar, foi uma novidade não só
para grande parte dos
cidadãos como também da
imprensa. Muitos jornalistas
ainda não haviam participado da cobertura de uma
eleição presidencial e, por
isso, muitos a consideram
como um dos principais trabalhos realizados em suas
carreiras. "Como outros
grandes momentos da redemocratização do país, aquele
foi um momento de reflexão
para a gente que fazia cobertura política, porque era
aquele momento em que
você luta pela isenção
necessária no jornalismo e
uma questão de fundo
importantíssimo na política
do país", lembra a jornalista
Lúcia Helena Gazzola.
Trabalhando à época
como repórter de política do
Jornal do Brasil, Lúcia
Helena passou por situações
marcantes na história da
política brasileira. Uma
delas, ocorrida na cobertura
de
uma
palestra
na
Faculdade
de
Ciências
Médicas,
em
Belo
Horizonte, quando o então
candidato à Presidência
Paulo Maluf falava sobre
suas propostas para o país.
"Era tarde da noite, o público
estudantil estava presente
juntamente com jornalistas
de vários veículos do Brasil,
quando o Maluf disse a frase
'está com vontade sexual,
estupra, mas não mata'. Na
hora que escutei levei um
susto que até deixei o
gravador cair", recorda. Ela
conta ainda que não acreditou que havia escutado aquilo, uma vez que os jornalistas
que estavam no local não
tiveram reação com a fala.
A declaração de Maluf
v i r o u
P
manchete F :M
do Jornal
do Brasil.
"Foi muito
prazeroso
poder pegálo
numa
gafe desse
tamanho e
conseguir
e s t a r
naquele
momento, por sorte, em um
jornal que comprou a briga e
publicou. Ele (Maluf) negou,
disse que era uma coisa de
uma jornalista comunista de
Minas Gerais, mas nós tínhamos a prova", lembra Lúcia
Helena. Para ter a prova da
fala do então candidato a
presidente, a repórter foi até
a Faculdade de Ciências
Médicas, onde obteve a
cópia da gravação feita pela
OTOS
ARCELO
RATES
organização do evento.
"Passamos as gravações para
o resto da imprensa, aí todo
mundo deu e foi acachapante, porque além de falar
essa tremenda idiotice, ele
ainda passou como mentiroso porque negou que
tivesse dito", recorda Lúcia
Helena, que atualmente possui uma empresa de comunicação e consultoria em São
Paulo.
Maurício Lara, que à
época também trabalhava
como repórter do Jornal do
Brasil, diz ter se sentido privilegiado por estar naquele
veículo naquele
momento histórico. "Eu tinha a
impressão de que,
já que a gente vestia
muito
a
camisa, a gente
saía com muita
coragem. Era um
privilégio
estar
naquele momento
naquele jornal. E
eu acho que foi
mesmo, pela importância que
o JB tinha naquela época",
revela.
O jornalista, que é autor
do livro "Campanha de Rua A cobertura Jornalística de
uma Eleição Presidencial"
que trata do período eleitoral
de 1989, acredita que os
meios de comunicação tiveram papel fundamental na
eleição de Collor. "A imprensa deixou-se enganar pelo
Uma campanha presidencial
vista “de dentro para fora”
MA
RC
EL
O
PR
AT
E
S
O jornalista Luiz Carlos
Bernardes, o Peninha, atual
consultor de Imprensa da
Ordem dos Advogados do
Brasil de Minas Gerais
(OAB/MG), comentarista da
Rádio Band News e da TV
Band, era, em 1989, ano das
eleições diretas, presidente do
Sindicato dos Jornalistas de
Minas Gerais quando foi convidado para coordenar o setor
de comunicação da campanha
em Minas de Luíz Inácio Lula
da Silva. Ele aceitou o convite
e pediu licença de 90 dias de
seu cargo para viajar pelo estado, realizando esse trabalho.
"Foi interessante porque eu
pude ver a campanha por dentro. Dessa vez eu vi uma campanha de dentro para fora,
achei interessante. A gente
discutia muitas coisas, inclusive as decisões nacionais. O
programa (eleitoral) de TV
(do PT) foi
muito
criativo.
Chamava-se 'Rede Povo', e a
vinheta era igualzinha a do
Jornal Nacional. Era uma
brincadeira", lembra Peninha.
O jornalista recorda de um
momento marcante da campanha que ocorreu quando
Lula foi acusado de ter pedido
para sua ex-namorada realizar
um aborto. "No dia que o
Collor fez a acusação ele
(Lula) estava muito triste.
Dizia que aquilo não era verdade. Fez um comício na
Praça da Estação meio para
baixo e, no dia seguinte, teve o
debate, aquele último debate,
em que ele estava também de
baixo astral", conta.
Para Peninha, a vitória de
Collor, no segundo turno, não
foi uma surpresa tão grande,
uma vez que a imprensa monitorou e impulsionou o resultado. "O Lula significou um partido moderno, de esquerda, um
sindicalista na política. Eu
achava também que o Lula
falava muito bem, era
muito autentico,
como é até hoje. Então naquela época impressionava. Houve
sim uma surpresa, mas essa
surpresa tem suas explicações.
Do lado do Collor, o apoio de
canais de TV, outros veículos
de comunicação foram na trilha da Globo", opina.
Luiz Carlos Bernardes
exemplifica a influência da
mídia nesse resultado. "A Veja
fez uma capa importante,
com o Collor, e o titulo era 'O
Caçador de Marajás', que foi o
slogan dele. Então outros
embarcaram", ilustra.
"Eu acho fundamental
(comemorar os 20 anos de
diretas) para minha geração. É
muito importante a gente lembrar que é uma vitória da
sociedade. Não é uma vitória
do partido A ou B. Tudo isso é
reflexo
do
esforço
da
sociedade, do esforço dos que
foram torturados, foram mortos na luta, das pessoas que
saíram às ruas. O 89, para mim
e para muita gente, tinha esse
sabor. Eu me lembro que na
hora de votar eu chorei.
Foi uma emoção
muito acumulada", finaliza
emocionado.
Fernando Collor de Mello contou com o apoio da mídia e conseguiu agradar a boa parte do eleitorado
impeachment teve além
desse combustível inflamável
que foi a questão do PC
Farias, essa coisa do Collor
de querer governar acima do
congresso e acima dos partidos", analisa.
O fotojornalista
Marcelo
Prates, que em
1989 trabalhava
para o jornal O
Globo, revela que
aquele
veículo
apoiava o candidato Fernando
Collor de Melo,
mas que esse era o
candidato
que
rendia as fotos
mais polêmicas, o que tornava difícil a publicação das
mesmas. "A agência Globo
colocava as minhas fotos
para vender, mas as que o
Collor estava em situação
que não agradava a política
do O Globo, eles não colocavam para vender", explica.
Para ter suas fotografias
publicadas, Marcelo passou a
enviá-las diretamente aos jornais. "Em um comício de
Collor em Cataguases a praça
da cidade estava lotada e o
pessoal do
PDT e do PT
estava vaiando e xingando. Ele, uma
pessoa muito
autoritária,
não gostou e
cochichou
com o chefe
da
segurança, que
cochichou
com outros
seguranças, e eu observei que
os caras saíram e eles foram
por trás e fizeram um
arrastão, espalhando o bolo
(de pessoas) para poder
atacar essas pessoas que
estavam vaiando. Então foi
uma correria danada, uma
gritaria, pisotearam meninos,
e um dos seguranças que era
um touro de tão grande correu para uma rua lateral. Só
que quando ele correu o pessoal correu atrás dele, que
ficou cercado. Deram rasteira
e o chefe da segurança teve
que intervir com uma pistola
automática. Eu fotografei
isso tudo, eu mesmo distribuí
para a galera e as fotos
rodaram o país todo", conta.
O fotojornalista, que
atualmente é editor de
fotografia do Jornal Hoje em
Dia, acredita que a imprensa
fez uma cobertura interessante das eleições, exceto a
Rede Globo que fez a edição
do último debate, antes do
dia da votação para o segundo turno, favorável ao Collor.
Segundo pesquisas publicadas na época, os dois candidatos encontravam-se tecnicamente empatados, o que
mudou após a veiculação do
debate presidencial na televisão. "Quinze dias antes do
debate, o fotógrafo da Veja
Claudio Versiani sabia das
minhas fotos e pediu para eu
passá-las para ele, para que
passasse para a assessoria do
Lula. O Lula as mostrou no
debate, mas como o regulamento não permitia mostrar
essas coisas, ele mostrou de
longe. Dava para
ver,
mas
se
mostrasse
no
detalhe
dava
para ver melhor",
recorda Marcelo
Prates.
L i n d e n b e rg ,
que atualmente é
diretor
de
redação do jornal
Hoje em Dia
conta que, no dia
do debate, estava
na redação de O Globo, em
São Paulo, quando assistiu ao
que estava acontecendo, juntamente com pessoas que
eram muito politizadas.
Depois, assistiu no dia
seguinte a exibição da
matéria editada sobre o
debate pela Rede Globo. “As
pessoas estavam muito nervosas com a manipulação",
recorda o jornalista.
Uma história de democracia
O jornalista Maurício Lara
acredita que a democracia é o
principal ganho do Brasil com
a eleição presidencial de 1989.
"A eleição ensina a democracia.
É uma coisa tão simples!
Porque a gente ficou tão emocionado? Porque para nós era
um coisa diferente e hoje não,
é uma coisa simples. Mas esses
20 anos foram um avanço, o
que me faz acreditar que a
gente não volta para trás mais
não. Quando a gente vê hoje as
pessoas assistindo depoimentos de CPI, entrevista de político, o cidadão prestando
atenção, cobrando, isso é legal
demais. Ainda temos muito
para avançar, mas já avançou
muito nesses 20 anos", opina.
"É comemorar a realização de um sonho. A gente
recuperou no Brasil o
direito de existir, de
ser respeitado,
de ter e
expres-
sar a opinião sem que isso te
levasse a tortura, a prisão ou a
morte. Para mim democracia é
o valor mais fundamental de
uma sociedade", opina Lúcia
Helena Gazzola, quando questionada sobre a importância de
se comemorar os 20 anos dessa
data.
Carlos Lindenberg lembra
que o período de ditadura,
apesar de ter sido benéfico
para alguns setores do país,
como a economia, foi muito
ruim para as pessoas e para as
famílias, atrasando o Brasil
social e politicamente. "É
importante então que
se lembre desse
passado para
que realmente ele não volte
nunca mais. Para que essa e as
próximas gerações não sofram
o que a minha e outras gerações sofreram, enfrentando
sistemas autoritários", ressalta.
De acordo com Marcelo
Prates, cobrir esse momento
foi mais que uma experiência
jornalística. "Vivi esse clima e o
clima emocional meu de, não
só ser eleitor, mas de ser testemunha ocular desse momento
da vida brasileira. Minhas
fotos estão na história", celebra.
ES
n
THAÍS MAIA,
CLARISSE SOUZA,
ISABELLA LACERDA,
DIANA FRICHE,
canto da sereia dele e de
achar que era um representante das elites. Mas hoje, se
a gente for pensar também, o
que seria um governo Lula
naquela época? Não sei se
seria um governo legal",
comenta.
Carlos
Lindenberg,
que à época
era editor
da sucursal
mineira do
jornal
O
Globo, afirma que deu
para perceber que os
veículos da
imprensa não foram críticos
quanto ao candidato que
seria eleito. "Não perceberam
e não conseguiram avaliar o
perfil psicológico do Collor.
Ficaram todos empolgados
com aquela imagem impetuosa, com sua juventude, ao
enfrentar situações de conflito de peito aberto. A imprensa em nenhum momento
chamou a atenção para aquilo", analisa o jornalista.
Lindenberg
completa
dizendo que a imprensa não
teve o cuidado de advertir
para o que o candidato
Collor representava e em
seguida, ela acabou se voltando contra ele. "Ela devia ter
feito isso lá atrás, na campanha eleitoral. Mas não,
resolveu comprar o discurso
do Collor. Cansamos de ver a
Rede Globo fazendo matérias
calçando os discursos de caça
aos marajás do Collor", aponta.
O jornalista acredita que o
principal erro de Collor, além
do envolvimento em corrupção, foi buscar apoio
exclusivamente no povo. "O
Collor não conseguiu trabalhar o congresso, eleito por
um partido pequeno, nanico,
o PRN. Ele não teve experiência necessária, maturidade política, para fazer uma
costura no congresso e fazer
um governo de coalizão. O
MARCELO PRAT
Os jornalistas que participaram da eleição de 1989, um marco na redemocratização do
país, relembram momentos que os tornaram testemunhas da história política do Brasil
Atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva superou Brizola e fez um 2º turno equilibrado na eleição de 89
10Política
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Outubro • 2009
JOVENS SEM INTERESSE POR POLÍTICA
Adolescentes não acreditam no poder do voto, desconfiam dos políticos que fazem promessas em véspera de eleição e só tiram título de eleitor por causa da obrigatoriedade imposta
MAÍRA CABRAL
n
GIULIANO PEIXOTO,
LUANA CRUZ,
PRISCILA ANÍZIO,
8º PERÍODO
A jovem Anne Caroline, de 17 anos, não acredita na política, pois, para ela, os governantes buscam interesses próprios
Título obtido pela internet
A falta de crença nos políticos faz com
que alguns jovens se decidam por não
tirar o seu título de eleitor antes de ser
obrigado por lei. Claubenice Lemos
Pimenta, por exemplo, só pretende votar
nas eleições quando tiver 18 anos, pois
assim, segundo ela, será inteiramente
responsável por suas escolhas e seus atos.
Nem mesmo o Título NET, site criado
pelo TSE, muda suas intenções.
O Título NET oferece ao cidadão a
possibilidade de requerer o título, pedir
transferência de sua zona eleitoral ou
fazer evisão de sua situação com a
Justiça Eleitoral por intermédio da internet. Essa nova ferramenta poderá motivar os jovens a pensarem no voto como
forma de construção da democracia e se
anteciparem à obrigatoriedade da lei.
Para Lorrayne de Morais Peregrini,
de 16 anos, que já possui o título de
eleitor e espera que seu voto possa fazer
a diferença, essa nova ferramenta do
TSE tem tudo para ajudar na decisão
dos jovens para tirarem seus títulos.
"Ninguém nunca tem tempo para pensar nisso, mas quando assisti o jornal
falando sobre o Título NET, achei que
aí estava uma boa maneira para que
todos votem", observa.
O sistema de solicitação do título
pela Internet começou a ser implantado
no início de agosto deste ano e já está
disponível em todos os estados e no
Distrito Federal. Em Minas Gerais os
eleitores começaram a usar o serviço
oficialmente no dia 17 de agosto.
O funcionamento é simples. Depois
de preencher o formulário pela internet,
o eleitor comparece a um cartório
eleitoral, em até cinco dias, para comprovar as informações e concluir o
atendimento. O objetivo é trazer mais
comodidade ao eleitor que será atendido de maneira mais organizada, com
data e hora marcadas na unidade de
atendimento da Justiça Eleitoral.
A opinião dos jovens
sobre política indica que
alguns buscam a cidadania
e acreditam que as eleições
podem afetar não só a vida
deles, mas de toda a população do país. Essa, no
entanto, não é a realidade
da adolescente Claubenice
Lemos Pimenta, de 16
anos, que não acredita no
poder do seu voto como
resolução da política
nacional. Ela vive com a
sua família no aglomerado
da
Barraginha,
em
Contagem, na Região
Metropolitana de Belo
Horizonte, e diz estar
exausta dos políticos e de
suas promessas de campanhas. "Nenhum político
resolve os nossos problemas. Onde eu moro foi
feita a promessa da construção
de
prédios
habitacionais para todos
da favela, mas até agora
nada foi feito", afirma.
A participação dos
jovens nas decisões do
Brasil não é evidenciada
apenas por sua falta de
interesse na política, mas
também pela desconfiança
que a maioria deles tem
devido aos escândalos. De
acordo
com
Jacques
Mateus Vieira, também
de 16 anos, todas as informações sobre política
obtidas pelos meios de
comunicação são sobre
corrupção. Para ele, a
única maneira de mudar
isto é por meio do voto
consciente. "A política
brasileira tem muita corrupção, mentira e roubo,
mas a eleição pode mudar
essa realidade, por que se
cada um escolher um bom
candidato, com um bom
trabalho, isso ajuda a
mudar a sociedade e o
Brasil", constata.
Anne Caroline Azevedo
Soares, de 17 anos, por
sua vez, acredita que a
participação da população
nas demandas do governo
do país não é importante e
chega até ser inútil,
porque ela pensa que os
governantes só se preocu-
pam com seus próprios
interesses e que usam seus
cargos para atingir seus
objetivos pessoais.
Alguns parlamentares
encaram a participação
dos jovens na política
como decisiva, sobretudo,
porque eles se mantêm
bem informados para
optarem pelas melhores
propostas que seus representantes têm para oferecer. "Penso que a juventude brasileira vem resgatando o interesse em
manter-se 'antenada' com
o que ocorre no país, por
estar
adquirindo
a
consciência da importância da sua participação
neste processo", comenta o
deputado estadual Jayro
Lessa (DEM), referindo-se
a temas como política e
economia. Ele acredita
que os jovens têm muita
representatividade
nos
processos eleitorais e
podem
decidir
uma
eleição, com seus votos e
opiniões.
Outra opinião parecida
é a da deputada Maria
Tereza Lara (PT) que vê
um número significativo
de jovens mais informados. Segundo ela, é importante investir nesses
jovens e a mídia tem papel
fundamental nisso. "Nós
temos que incentivar mais
os jovens a votarem, principalmente a partir dos 16
anos. Não é obrigatório,
mas nós temos que incentivar, inclusive porque
muitos deles estão assumindo papéis de liderança
hoje. Eles trazem ideias
novas", ressalta a parlamentar.
O vereador Adriano
Ventura (PT) concorda
que quanto mais os jovens
participarem do momento
político, melhor, porque é
possível garantir uma
política mais cidadã. Ele
acredita que há uma
descrença do jovem por
esse assunto, justamente
porque o processo político
está muito desgastado. "O
adolescente está em formação dos 16 aos 21 anos.
É complicado, porque
tudo que ele escuta, computa", diz. Ele afirma que
se os jovens escutam que
políticos só servem para
roubar, eles ficam desmotivados e continuam alheios
ao processo político. O
que há de negativo nisso é
que se o jovem não se
interessa pela política,
outras pessoas vão se
interessar.
Segundo
Ventura, quando alguém
se candidata a algum cargo
é porque essa pessoa tem
interesses. O que se espera
é que sejam interesses dignos, mas nem sempre são.
"O voto jovem pode
garantir políticos com
mentalidade mais jovem",
afirma Adriano Ventura.
Segundo ele, a juventude
precisa ter mais consciência política, saber o papel
de cada parlamentar e
tomar conhecimento da
importância do voto, pois
em última instância o
povo é patrão dos políticos. O vereador acha que o
envolvimento dos jovens
com a política deve
extrapolar a retirada antecipada do título e o voto
consciente nas eleições. "O
que impede um jovem de
se candidatar? Ele tem valores que um político mais
velho não tem", sugere
Ventura quando fala sobre
a construção da situação
democrática do país.
De acordo com o
Tribunal
Superior
Eleitoral (TSE), o município de Belo Horizonte
tinha cadastrados, em
agosto
de
2009,
1.779.190 eleitores em
uma população estimada
de 2.452.617 habitantes.
Desses eleitores, apenas
1.751 têm 16 anos e
8.348 têm 17 anos. Estes
dados
mostram
que
poucos jovens estão solicitando o cadastramento na
Justiça Eleitoral e que,
portanto, aguardam a
obrigatoriedade do voto.
No mês de agosto do ano
passado, mesmo não
podendo mais votar nas
eleições de outubro de
2008, o número de adolescentes que retiraram o
título foi bem maior que
este ano. Eram 4.547
jovens de 16 anos e
11.113 de 17 anos que já
possuíam o título.
Placa causa polêmica ao ser retirada do DCE
n
DANILO GIRUNDI,
ISABELLA LACERDA,
4º PERÍODO
Em 1984 foi anexada pela
gestão “Cio da Terra” do
Diretório Central dos Estudantes
(DCE) da PUC Minas, no
Coração Eucarístico, uma placa
intitulada "Inimigos da História",
com o nome de 12 deputados
mineiros que se abstiveram da
votação que aprovaria a emenda
Dante de Oliveira, permitindo a
volta de eleições diretas ao Brasil.
Após uma reforma no local, no
entanto, feita pela nova gestão do
DCE "Voz dos Estudantes" essa
mesma placa foi retirada. Após
protestos de muitos alunos, o
diretório acabou retornando com
a placa para seu local de origem.
Frederico Alves Lopes, estudante de ciências sociais e um dos
responsáveis pelo movimento a
favor do retorno da placa, conta
que os integrantes do DCE disseram que a tirariam e em seu
lugar colocariam uma deles para
marcar a nova gestão do diretório.
"Conversamos com pessoas do
DCE, íamos lá todo dia. Tentei
falar com o presidente e ele nos
disse que na hora não queria.
Tentamos marcar uma reunião,
mas depois ele disse que não queria conversar", explica.
Ele completa dizendo que as
lideranças do diretório dos estudantes afirmaram que a colocariam na sala de cartazes e que a
placa só não foi parar no lixo
porque o aluno João Paulo
Martins, do curso de História, a
pegou. Ele conta que foi ao
diretório devido a importância
dos "Inimigos da História".
"Fui lá no DCE porque essa
placa tem uma história muito
importante e na sala de cartazes
ninguém conseguiria vê-la. Fui
nervoso conversar lá falando que
não podiam tirá-la. A história da
placa representa a mobilização
dos estudantes", opina.
Segundo ele, o que fez com
que levasse a placa para o
Diretório Acadêmico (DA) de
Geografia, onde trabalha, foi a
vontade de preservar uma parte
da memória do movimento estudantil.
Segundo João Paulo, diversas
questões envolvem essa discussão. "Essa discussão quanto a
placa é uma questão de ego muito
grande. A minha ideia era que a
placa voltasse para um lugar visível, mas muitas pessoas queriam
que ela voltasse para o mesmo
lugar. A galera ainda queria fazer
panelaço, mas eu não achei legal
isso porque eles disseram que
voltariam com ela", explica.
Para o estudante, a atual
gestão do DCE não fez isso de má
vontade, pelo menos não todo
mundo. "É que muita gente não
sabia do sentimento das pessoas
quanto a isso. É uma memória do
movimento estudantil", completa.
O presidente da gestão do
DCE "Voz dos Estudantes",
Leandro Alves Lima, explica que
a placa foi retirada sim, mas por
causa da reforma na sede do DCE
para que não a danificasse. "Ao
tirá-la quisemos colocá-la na sala
de cartazes, que fica dentro do
DCE, onde guardamos toda a
memória do DCE", justifica.
Entretanto, segundo ele, com
essa decisão, alguns alunos insatisfeitos, como o João Paulo,
tomaram posse da placa dizendo
que na sala de cartazes ela não
ficaria visível.
"Levamos a
decisão para o conselho de DAs,
que é um órgão de deliberação
maior que o DCE, e eles decidiram que a colocaríamos de volta",
esclarece.
Leandro Lima lembra que
chegaram até a falar em
perseguição política por parte dos
integrantes do diretório. "Não
existe
essa
história
de
perseguição. Falaram até que
éramos a favor da ditadura, o que
não é verdade", ressalta.
Frederico Alves acredita que o
fato de terem espalhado panfletos
e levado para fora da PUC essa
questão facilitou a volta da placa.
Para Leandro, a luta é válida, mas
é por uma causa pobre. "A preocupação deveria ser com o que a
placa representa. Tinham pessoas
reclamando da retirada, mas que
nem sabiam o que ela significava,
a história dela, porque foi colocada", salienta.
DEBATE O aluno de ciências
sociais acredita ser muito importante que movimentos como esse
sejam feitos pelos estudantes.
"Acho legal fazermos esses movimentos para mostrar que quando
estudantes lutam por alguma
coisa, eles conseguem conquistar
o que querem", afirma.
Por outro lado, o presidente do
DCE diz ficar triste quando o
debate é realizado dessa maneira.
"Isso gera tristeza em mim pelo
modo como as coisas estão sendo
feitas. Não parece que foi em
prol da memória da placa. Acho
que o debate tinha que ser muito
maior", observa Leandro Lima.
Ele propõe que haja um debate
mais fortuito, mais fomentado.
Saúde
Outubro • 2009
11
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PÂMELLA RIBEIRO
LIBRAS PARA OS
PROFISSIONAIS DA
ÁREA DA SAÚDE
O curso é uma parceria entre a Prefeitura de Belo Horizonte e a Confederação Brasileira de
Surdos, com a finalidade de facilitar a comunicação com pacientes portadores de surdez
n
BRUNA FONSECA DE BARROS
2° PERÍODO
A dentista Suzana
Bernes de Oliveira, 51
anos, sentia muita dificuldade de se comunicar com
os pacientes surdos que
procuram o centro de
saúde Bom Sucesso, no
Barreiro, onde ela trabalha. Após saber da criação
de um curso de libras
voltado para profissionais
da área de saúde, iniciativa da Prefeitura de Belo
Horizonte em parceria
com a Confederação
Brasileira de Surdos
(CBS), logo pediu a sua
gerente para que a
inscrevesse. Foram 15
aulas e os resultados já
aparecem, segundo ela. "A
princípio fiquei com medo
de usar o que eu tinha
aprendido no curso, mas à
medida que eu fui conversando com eles (pacientes
surdos) fiquei mais animada, porque eu vi que eles
me entendiam e eu os
entendia", conta.
O curso de libras, iniciado em maio deste ano,
está em sua terceira fase.
Ao todo, são 200 alunos
divididos em três blocos
de manhã ou à tarde,
sendo que as turmas dos
dois primeiros já se for-
maram. As aulas, que
duram quatro horas, são
divididas em cinco partes:
teoria, diálogos, intervalo,
revisão da primeira parte
e, por fim, teatro em libras
e brincadeiras.
Os dois professores, que
são surdos, se revezam.
Assim, cada turma pode
ter contato com diferentes
métodos
de
ensino.
"Qualificando estes profissionais em libras, o atendimento aos surdos vai melhorar, além disso, fico
muito feliz em ver que
todos querem aprender
libras para se comunicar e
atender a necessidade dos
outros", explica Carlos
José Nunes Sayão, 46
anos, professor indicado
pela CBS, de onde é diretor financeiro, além de
funcionário público do
Tribunal de Justiça de
Minas Gerais e vice-presidente da Sociedade dos
Surdos de Belo Horizonte
(SSBH). Sayão, que ficou
surdo após um acidente,
acredita que iniciativas
como o curso gratuito de
libras para os profissionais
dos centros de saúde, são
essenciais, mas considera
que o projeto deveria ser
estendido a todos os
órgãos públicos. "Isso
depende da boa vontade
dos governantes", afirma.
Os alunos recebem uma
apostila da CBS com linguagem básica de sinais e
já na primeira aula põem
em prática o que aprenderam, pois é permitido
falar somente com as
mãos. É nesse cenário de
uma sala em que todos
estão conversando, mas
não se ouve voz alguma,
que pessoas como Aldinea
Maria de Oliveira, 46
anos, auxiliar de enfermagem da Unidade de
Pronto
Atendimento
(UPA Oeste), se esforçam
para aprender o mais rápido esse novo "idioma". "O
primeiro impacto foi
grande, não sabia que o
professor era surdo mudo,
eu pensei: ele não vai
entender o que eu falo.
Me assustei um pouco,
mas depois vi que é um
curso que a gente aprende
brincando", explica. Já
Cibeli Torres Passos, 38
anos, assistente social do
centro de saúde de Serra
Verde Piratininga, disse
que se sentiu mais segura
com o fato dos professores
serem surdos, pois, segundo ela, isso facilita o
aprendizado. "Como ele
tenta entrar no nosso
mundo, nós tentamos
entrar no mundo dele",
Funcionárias do Núcleo de Apoio à Inclusão (NAI) usam a libras para facilitar a comunicação entre os alunos especiais
completa.
Após a aprovação da
licitação feita pela Secretaria Municipal, a CBS foi
a instituição pública escolhida para participar. Já a
escolha da área da saúde
se deve, segundo Evely
Najjar Capdeville, 46,
coordenadora do curso de
libras, formada em psicologia e filosofia, a pedidos
no
Conselho
Municipal de Saúde.
"Muitas vezes, quando o
portador de deficiência
auditiva chega ao centro
de saúde, ele tem muita
dificuldade de ser atendido, ninguém entende o
que ele está sentindo e,
quando entende, não consegue explicar bem o que
ele deve fazer ou como
tomar os remédios", diz.
Evely ainda ressalta que
o curso de linguagem de
sinais também traz benefí-
cios para o aluno, pois é
um diferencial na formação profissional. "E o
pessoal que participa
percebeu isso, alguns já
formados se reúnem aos
sábados para praticar
libras. Se você não praticar
perde, é como aprender
outra língua, se você para
de se comunicar você
esquece", observa. Assim
como a coordenadora, a
assistente social Cibeli
Passos concorda que o
curso é eficiente e deve ter
continuidade.
Outra crítica feita foi a
questão do número de
vagas. "Eu estou na
prefeitura há 23 anos e ela
tem investido mais na
capacitação profissional,
mas, ainda falta um
pouco, por exemplo, são
poucas vagas e eu acho
que deve ter uma continuidade",
afirma
Sócrates Moreira Leal, 56
anos, enfermeiro do centro
de saúde de Venda Nova e
o único homem de uma
das turmas.
A seleção dos alunos é
feita em primeiro lugar,
entre
aqueles
que
demonstram interesse
pessoal para aprender
libras. Em segundo lugar,
é preciso que seja um
profissional concursado
e, por último, mas não
sendo uma exigência,
profissionais que trabalhem oito horas por dia,
para que pudessem ir às
aulas podendo ainda trabalhar mais quatro horas
na unidade de saúde. "O
mais importante é dar ao
surdo a chance de ter um
serviço que ele tem o
direito na área da saúde,
isso é fundamental", conclui Evely.
Amor e solidariedade com mães doadoras de leite
n
MARINA MARÇAL,
REBECA PENIDO,
2º PERÍODO
Todos os dias, Luciana
Aparecida Silva vai ao Hospital
Municipal Odilon Behrens para
doar leite. Mãe de Giovana, que
nasceu prematura de 29 semanas,
ela é uma das 24 doadoras fixas de
leite e assim como muitas, costuma chegar às 8h e sair às 17h.
"Acho muito importante para o
desenvolvimento da minha filha.
Eu estou percebendo que cada dia
mais ela está se desenvolvendo por
causa do leite materno", afirma.
O banco de leite do Hospital
MAÍRA CABRAL
Mulher se dirige ao Banco de Leite do Hospital Odilon Behrens para retirar o leite.
Odilon Behrens, um dos oito existentes no estado, até fevereiro
deste ano contava com cinco
doadoras fixas, mas desde que foi
iniciada a veiculação de uma campanha pelo Ministério da Saúde
conscientizando sobre a importância de se doar leite humano, este
número tem crescido. "A gente
tem conseguido doadores mesmo,
mas com a campanha da mídia
que tem ajudado. Sem essa campanha a gente não teria a mínima
condição", observa a coordenadora do banco de leite, Marzi Roque
de Abreu.
Essencial para a boa nutrição
dos bebês, uma vez que é composto por vitaminas, minerais, gorduras, açúcares e proteínas, o leite
também contém anticorpos que
são responsáveis por proteger o
trato gastrointestinal das crianças,
atuando como uma espécie de
capa protetora contra infecções.
Além disso, ele consegue atender
às necessidades específicas dos
recém-nascidos, pois, o leite destinado a um bebê prematuro é mais
rico em gorduras do que aquele
consumido por um bebê a termo,
já que o prematuro precisa ganhar
peso.
Antes da doação, as mulheres
devem responder a um ques-
tionário sobre seu histórico de
saúde, onde precisam apresentar
os exames feitos durante o prénatal, como os de VDRL (sífilis) e
HIV. Além de comprovar que não
recebeu transfusão de sangue há
menos de cinco anos, a doadora
também não pode fazer uso de
medicamentos nem consumir drogas, entre elas cigarro e álcool.
Após a entrevista, ocorre a coleta do leite, que geralmente dura
meia hora e que pode ser feita em
qualquer horário. A doadora pode
ir tanto ao banco de leite quanto
coletar em casa. Deve-se usar uma
touca e lavar mãos e braços até a
altura dos cotovelos. Em seguida,
o leite cru é armazenado em um
recipiente estéril e é levado para o
congelador. Por volta do 10º ao
12º dia, uma equipe buscará o
pote para pasteurizar o leite.
A retirada através de bombas,
cujo envoltório seja emborrachado, não é recomendada devido ao
risco de contaminação. Existem
algumas mais indicadas no mercado já próprias para esterilizar, mas
o seu uso só é indicado caso a mãe
esteja muito bem orientada. Por
isso, a massagem com a própria
mão é considerada uma técnica
mais eficiente.
A prioridade do leite coletado é
para o bebê da doadora, entretanto, existem mães cuja mama ainda
fica cheia de leite depois de amamentarem seus bebês. Marzi
conta que há casos em que a mães
só consegue doar 1 ml, mas que
também existem mães que colhem
seis potes de 400 ml por semana.
Quando a quantidade de leite
existente nos bancos não é suficiente para a alimentação dos
bebês, costuma-se utilizar o leite
pasteurizado para completar a
dieta.
Além da diferença de cada
organismo, ela aponta que o
apoio do núcleo familiar faz a
diferença porque a mulher não
amamenta sozinha, a participação dos pais e dos avós faz com
que eles também se sintam
responsáveis e importantes nos
cuidados com os bebês e por isso
deve ser incentivada. "Hoje a
gente não trabalha mais dissociados do núcleo familiar. A doadora precisa de apoio. Se ela não
tem apoio dentro de casa, ela precisa de ajuda da família, às vezes
até mesmo da vizinha. Nós
temos tido bons resultados.
Nossa ideia hoje é fazer parcerias
até com os centros de saúde",
conta Marzi. Informações sobre
doação de leite: (31) 3277-6137
12Esporte . Cidadania
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Outubro • 2009
PÂMELLA RIBEIRO
ESPORTE E EDUCAÇÃO
JUNTOS EM ESCOLAS
Projetos como "Bom de Bola, Bom de Escola" e "Acelerando pra Vencer" unem convívio escolar com atividades físicas
n
GABRIELA DE SOUZA,
3º PERÍODO
Instituições públicas e
privadas, localizadas em
Belo Horizonte, resolveram
aproveitar os benefícios do
esporte, que se revela
importante para melhorar
o relacionamento e o convívio escolar. Na Escola
Estadual Donato Werneck
de Freitas, na Região Norte
de Belo Horizonte, o diretor Adédison Vaz, 35 anos,
formado em matemática
pela Universidade Federal
de Minas Gerais (UFMG)
revela que na ausência de
uma iniciativa oficial do
estado para a criação de
torneio esportivo, a própria
instituição, por intermédio
de seus professores e da
coordenação, organizou o
projeto "Bom de Bola, Bom
de Escola". Os alunos se
inscrevem em competições
de Futsal, Vôlei ou Xadrez,
mas precisam manter notas
regulares para integrarem
os torneios.
São competições internas e os campeões recebem
como bonificação um final
de semana em um sítio com
piscina, campo de futebol e
quadras de peteca e vôlei.
Mateus Caldeira Brant, de
14 anos, aluno do "Projeto
Acelerando pra Vencer"
(PAV 1), uma concepção
didática dos colégios estaduais, diz adorar participar
dos torneios. "Eu participo
das equipes de xadrez e futsal do PAV 1. Ano passado
eu ganhei e fui pra um
clube que tinha uma piscina enorme... ficamos jogando queimada e brincando o
dia todo", conta.
O professor de educação
física Helbert Richard Brey
Gil, 25 anos, disse que a criação desses projetos tornouse fundamental, pois a esco-
la sofre por receber alunos
com problemas sócio-culturais. "É de extrema
importância para melhorar e
aprimorar a formação social
dos alunos que continuemos
a investir em esporte,
porque é a partir dele que
conseguimos nortear o
aluno a trabalhar em equipe,
ter disciplina, respeito aos
adversários e principalmente saber lidar com
vitórias e derrotas", explica.
No Colégio Marista
Dom Silvério, situado na
Região Sul de Belo
Horizonte, o professor de
educação
física
Luiz
Eduardo Araújo Santana,
52 anos, revela que o colégio criou uma secretaria
especializada, separada da
disciplina educação física
só para organizar e treinar
os times. Segundo ele, o
esporte possui espaço privilegiado na rede de ensino e isso já virou uma
tradição na escola, com a
realização há 37 anos dos
Jogos Internos Marista
(JIM). As competições são
realizadas em junho ou
setembro, e o colégio para
por uma semana. No
Maristinha, destinado às
crianças, o JIM tem
caráter lúdico.
E os Jogos Escolares da
Amizade (JEA), organizados
há seis anos, segundo Luiz
Eduardo, é uma competição
que contempla tudo o que a
instituição acredita que deve
ser o esporte na escola. "Os
alunos ficam um sábado
inteiro nas dependências do
Marista e participam de
todas as modalidades, sendo
obrigatório o rodízio. Não há
vencedores e todos ganham
medalha", observa o pósgraduado em educação física escolar e em marketing
esportivo.
A estudante de educação
física
Flávia Batista
O professor de educação física Helbert Richard incentiva a prática de esportes
Ferreira, 22 anos, afirma
que em sua graduação, pôde
participar de várias competições escolares e aprender que a educação física
escolar pode trazer muitos
benefícios para o jovem que
a pratica. "Entender que o
esporte proporciona às crianças e jovens mais um
grupo de convivência, portanto garante a integração e
socialização, agregando valores como compromisso,
disciplina, respeito às regras
e aos outros, superação de
limites, trabalho com metas
e objetivos, saber ganhar e
perder e principalmente o
trabalho em equipe, que se
torna o grande desafio em
esportes coletivos”, comenta.
Projeto abre oportunidade no tênis para jovens
n
RHAÍSSA MELO,
3º PERÍODO
Está em andamento o projeto
"Caça talentos no tênis", promovido pela escolinha do
Pampulha Iate Clube (PIC), que
tem como um de seus organi-
zadores o técnico de tênis Hugo
Daibert, 34 anos.
Com a aprovação do projeto
em Brasília, "Caça talentos no
tênis" conta com o apoio da fabricante de artigos esportivos,
Head, da TV Alterosa, do Banco
BMG e da Prefeitura de Belo
Horizonte. O programa registrou
PÂMELLA RIBEIRO
Integrantes do projeto “Caça talentos no tênis” acreditam no potencial dos novos atletas
seis mil inscrições de crianças
entre seis e 12 anos, moradoras
de aglomerados e estudantes de
escolas públicas e particulares.
Na primeira fase do processo,
240 crianças foram selecionadas,
a partir de testes físicos de velocidade, coordenação, força, entre
outros. Durante os testes, os participantes foram submetidos a
exames de velocidade (corrida de
35 metros), salto horizontal,
deslocamento lateral, deslocamento do "t" e o "8”, todas essas
modalidades visando um possível
aproveitamento delas numa partida de tênis.
Já para a segunda fase, estão
sendo avaliadas mentalmente
aspectos cognitivos, através de
um moderno e inovador método
científico, por ser este um esporte
considerado individual, que
requer do jogador maturidade
para tomar suas próprias
decisões. Sendo assim restarão
50 crianças, que integrarão a
equipe de tênis do PIC.
As crianças selecionadas serão
todas amparadas com auxílio
transporte, alimentação, material
esportivo e preparação física.
Para o organizador do evento
Hugo Daibert, um dos principais
objetivos do projeto, é abrir portas, dar oportunidade às crianças
carentes e tentar retirar o rótulo
de que o tênis seja um esporte
elitizado. Com toda a sua experiência no tênis, que como
jogador teve início aos nove anos
e durou até os 17, envolvendo
depois especialização profissional
na Argentina, Espanha e Estados
Unidos, Hugo percebe uma
maior valorização no tênis por
parte das crianças carentes. Ele
presume que isso seja algo distante da realidade delas.
O
programa
"Esportista
Cidadão", realizado no Parque das
Mangabeiras, atende a 700 crianças
de sete à 16 anos, moradores das
vilas que compõem o Aglomerado
da Serra. O trabalho feito através de
atividades planejadas de educação,
esporte, cultura, integração com o
meio ambiente e cidadania, tem
destaques como Douglas Prezott,
14 anos, Diele Rodrigues, 15 anos,
e Felipe Henrique Caetano, 14
anos, que foram convidados por
Hugo para fazerem parte da equipe
de tênis do PIC.
Se tornar profissional, ganhar
bolsa universitária no exterior e se
formar em educação física são
metas unânimes entre os três adolescentes. "Acho muito legal esse
projeto, é uma oportunidade que
as crianças da comunidade estão
tendo", afirma Douglas, que treina
há seis anos. Já Felipe, acredita que
este projeto será bom, porque tira
os meninos do tráfico. "Existem
muitos meninos bons, só que não
percebem isso", observa.
Apesar de importante, talento
não é tudo. O trabalho realizado
por cada um, o esforço, a vontade e
a garra demonstrada em quadra,
podem garantir a vitória. "Tem que
gostar muito", enfatiza Diele. Uma
das exigências para se manter na
equipe é ser bom aluno, por isso
há um acompanhamento das
notas, frequência e disciplina.
O talento artístico que supera as dificuldades
n
CLARISSE SOUZA,
4° PERÍODO
Com os instrumentos à mão, Cláudio
Antônio da Silva chega ao Clube da
Caixa todos os sábados às 10h para dar
aulas de percussão. Deficiente físico,
Kláudio Munheca, como é popularmente
conhecido, toca seu instrumento musical
e orienta um grupo de alunos com uma
animação que os contagia. Sem uma das
mãos, a deficiência não o impede de tirar
o máximo do instrumento. Nascido no
dia 21 de setembro, dia nacional de luta
e combate ao preconceito e a discriminação à pessoa com deficiência, Kláudio
Munheca revela-se apaixonado pela arte,
em especial pela música, desde muito
cedo. "Eu acredito que foi desde quando
eu nasci, porque a gente é acostumado
com a nossa etnia negra, então eu sou
uma pessoa que veio a conhecer a música
através de um terreiro de candomblé",
recorda.
Autor de mais de 600 músicas registradas, Kláudio procura, atualmente,
apoio para a divulgação de seu trabalho.
"Eu encontro dificuldade para expor o
meu trabalho, porque hoje não existe
uma política pública honesta, franca e
verdadeira à pessoa com deficiência",
reclama. Com um trabalho voluntário
que ensina percussão, ele pretende formar um grupo carnavalesco para homenagear o centenário de Dom Hélder
Câmara e, para isso, vem buscando apoio
na faculdade de mesmo nome e em outras instituições.
O músico busca por meio das aulas de
percussão, realizar um trabalho de
responsabilidade social. "Eu quero ver a
diversidade cultural, a oportunidade que
dá para o artista com deficiência, sem
essa coisa de assistencialismo e paternalismo. Eu quero mostrar a qualidade do
meu trabalho", salienta Kláudio.
Além disso, o artista participa também
do projeto PIDA (Preconceito – uma
maior inclusão; Discriminação – uma
maior acessibilidade), que visa, através da
gravação de CD e da criação de uma entidade carnavalesca, promover uma campanha de conscientização da sociedade
quanto ao papel das pessoas com deficiência.
Em relação às políticas públicas
voltadas para os deficientes físicos, ele
acredita que houve uma grande evolução.
Kláudio lembra que há alguns anos, para
se disputar uma vaga de emprego, não
bastava ter as mesmas habilidades que os
demais candidatos sem deficiência, era
preciso ser melhor. Atualmente, ele já
observa mudanças nesse aspecto. "Hoje já
houve uma melhoria muito grande, mas
na verdade, ainda está anos - luz da realidade", observa.
Apesar das dificuldades de exposição
de seu trabalho artístico e dos obstáculos
encontrados na sociedade por ser um deficiente físico, Kláudio Munheca ignora a
ideia de pensar em desistir de seu trabalho
como músico. "A melhor coisa que eu sei
fazer na minha vida é música. Engano
tudo que for possível, mas música eu sei
que eu sei fazer", garante. Segundo ele, o
apoio vem principalmente de sua família.
Sua falecida esposa sempre lhe deu incentivo e seus filhos, embora não tenham
seguido carreira artística, herdaram o talento do pai e dão total ajuda quando o
assunto é divulgar o seu trabalho.
Aos 53 anos, Kláudio Munheca não
vê em sua deficiência física nenhum
empecilho para realizar suas atividades
como músico e digitador. "A pessoa com
deficiência, naturalmente, já é toda
diferente. Ela só precisa aceitar que ela é
diferente, mais nada. Não importa que o
outro não te aceite, você se aceitando,
tudo bem", diz.
Comportamento
Outubro • 2009
13
jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas
BONS VALORES COM O ESCOTISMO
O grupo, que se reúne no Bairro Planalto, foi fundado há 22 anos na Escola Municipal Lídia Angélica. Repeito pela natureza e compromisso com o meio ambiente são os princiapis ensinamentos
MARIA LÚCIA ADORNO
n
MARIA LÚCIA ADORNO,
2º PERÍODO
O 46º Grupo de
Escoteiros Lagoa do Nado
(46 GELAN) que desenvolve suas atividades
todos os sábados à tarde,
no Parque Lagoa do Nado,
no Bairro Planalto, coloca
em prática, desde sua criação, um dos objetivos da
União dos Escoteiros do
Brasil (UEB) que é o
respeito pela natureza e o
compromisso com o meio
ambiente.
O atual diretor técnico
Jorge
Rodrigues
de
Oliveira, 51 anos, representante comercial, há 15
anos no grupo, relembra
que o 46 GELAN foi fundado há 22 anos na Escola
Municipal Lídia Angélica,
época em que a comunidade do bairro estava se
organizando para que o
parque não se transformasse num grande conjunto habitacional. O 46,
como é chamado, incorporou essa luta e passou,
desde então, a funcionar
no parque com o intuito
de preservá-lo.
"O Parque Lagoa do
Nado e o 46 estão intrinsecamente ligados, hoje
contamos com 136 jovens
cadastrados e nossa lista
de espera é grande, o que
talvez não aconteça com
outros grupos que funcionam em colégios, pois
o contato com a natureza
atrai crianças e jovens da
redondeza e de outros
bairros", esclarece o chefe
Jorge. Esta denominação
"Chefe" que foi atualizada
para escotista, mas pouco
utilizada, vem da constituição do Movimento
Escoteiro que foi criado
pelo tenente-general do
exército
Robert
Stephenson
Smyth
Baden-Powell,
na
Inglaterra em 1907. As
primeiras notícias sobre o
escotismo chegaram ao
Brasil em 1909 e em 1924
foi fundada a União dos
Escoteiros
do
Brasil
(UEB). Segundo Jorge, o
escotismo tem um projeto
educativo e que o principal objetivo é formar
cidadãos.
Todos os componentes
do 46, a começar pelo
chefe Jorge, são unânimes
em afirmar que entraram
porque algum familiar ou
amigo já freqüentava o
grupo. Ele se envolveu ao
inscrever seus dois filhos
como Lobinhos. Hoje um
deles é pioneiro e o outro,
que estava na função de
assistente, se encontra
afastado temporariamente
por causa dos estudos universitários. A esposa se
tornou a chefe Zilca.
O escotismo, normalmente, passa de geração
para geração. É o caso de
Ângelo Ryal & Ryal, 69
anos, rádio-amador, que
veio de São Paulo só para
assistir à promessa de
escoteiro do neto Miguel,
de 10 anos. "Sou do
Grupo 10 de São Paulo,
iniciei-me em 1948 no
Rio de Janeiro, também
fiz parte do grupo 39 no
Santo Agostinho aqui em
Belo Horizonte e passei
por várias funções. O
escotismo foi muito bom
para mim. Por isso quis
que meus três filhos, Ana
Paula (mãe do Miguel),
Mônica Cristina e Ângelo
Júnior também tivessem
esta
experiência.
A
Mônica chegou a ser
Akelá, chefe de Lobinhos,
no 39 do Santo Agostinho
O diretor técnico Jorge Rodrigues de Oliveira explica que o escotismo tem um projeto educativo com o intuito de formar cidadãos mais conscientes para a sociedade
e parou para se dedicar à
carreira de medicina e o
Ângelo Júnior é Chefe de
Tropa no grupo 10 de São
Paulo. Ao ver hoje o
Miguel fazer sua promessa
vou retroagindo e lembrando-me da que ele fez
quando
se
tornou
Lobinho e das que eu fiz,
principalmente aquela de
servir a União dos
Escoteiros do Brasil e que
penso estar cumprindo
lealmente", afirma.
Ana Paula conta que
pelo fato de Miguel ter
vindo de uma família com
histórico de escoteiros, foi
aceito com menos de sete
anos e chegou a Lobinho
Cruzeiro do Sul que é a
maior
graduação
de
Lobinho. O trabalho que
Prática ensina bons costumes
"As pessoas de mais caráter, melhor
conduta e com as quais eu tinha
afinidades estavam ligadas de alguma
forma ao Movimento Escoteiro". Com
esta afirmação, a chefe da Tropa de
Sêniores, Princia Mara Figueiredo
Machado, 32 anos, secretária executiva, há cinco anos no 46, justifica o fato
de ter retornado ao Escotismo após
ficar afastada dos 11 aos 23 anos.
Quando voltou ao Movimento, já com
idade para a função de chefia, fez os
cursos: Preliminar, Básico e Avançado.
Ao longo do tempo foi complementando sua formação com cursos extras,
como os de técnicas escoteiras,
história da Jungle, entre outros, o que
a faz ser reconhecida pelos colegas
chefes como uma das mais bem
preparadas escotistas. Para chefe
Princia, os cursos proporcionam, além
do aprendizado, trocas de idéias e
experiências entre variados grupos
escoteiros, num clima de grande interação.
Os encontros podem ser regionais,
nacionais e internacionais, como o
Jamboree, por exemplo, que aconteceu
em janeiro deste ano em Foz de Iguaçu
e envolveu 5 mil participantes do
Brasil e de alguns países vizinhos. "O
Escotismo é fantástico, e o 46 é um
lugar em que eu quero permanecer.
Aqui percebemos claramente que o
exemplo, muito mais do que as orientações que passamos para os jovens,
são seguidos, como quando você pega
um papel no chão e quando olha para
trás vê muitas crianças fazendo o
mesmo. A gente brinca que o escoteiro
entra com sete anos e permanece
ecoteiro até depois que morre, quando então vai para o Grande
Acampamento”. As aprendizagens
específicas como as pioneirias (fabricação de móveis utilitários com bambu
e cisal) estimulam a criatividade dos
jovens e os preparam para acampar
com segurança e excelentes condições.
"Ser escoteiro não é o que a mídia
mostrava como vender biscoito, atravessar velhinhas e desarmar armadilhas de urso. As pessoas quando nos
veem uniformizados ainda têm essa
ideia. É muito mais. É algo muito bom
para gente. Tem a parte séria, tem o
convívio, o crescimento mental e espiritual e também a diversão", afirma a
estudante e guia Cecília Bispo Pedrosa,
17 anos, que há seis está no 46 e teve
oportunidade de participar do IV
Jamboree, que diz ter sido uma experiência inesquecível.
A estudante e Lobinha Tiffany
Costa Pessoa, 10 anos, demonstra
entusiasmo com o escotismo. “Aqui a
gente brinca e aprende muitas coisas
que a escola não ensina", garante.
o escotismo faz é muito
rico, desenvolve as múltiplas inteligências e estimula a criança a se desenvolver em outras áreas. No
escotismo há o manual de
especialidades, a criança
escolhe a que ela quer e
para ganhar o distintivo é
avaliada por especialistas
na área escolhida. O
Miguel já tirou especialidades de colecionador,
rádio-escuta, artes-marciais e natação.
"Vale a pena trazer o
meu filho, pois aqui ele
aprende a amar um pouco
mais o Brasil, o que as
escolas não estão ensinando mais", afirma Ezio
Barroso, orgulhoso do
desempenho do filho
Miguel.
A estudante Daniela
Pedrosa, oito anos, que é
pioneira, veio conhecer o
46 a convite da irmã
Cecília (Guia). "Com
minha tia Márcia (assistente de chefe) e minha
prima Cinayra (Lobinho)
somos quatro da mesma
família no 46", conta.
O escotismo também
está presente na família do
diretor administrativo do
46,
Sérgio
Augusto
Silvério, 55 anos, há sete
no grupo. Ele tinha dois
filhos que frequentavam o
46, até que o mais velho
faleceu. “Para que o filho
mais novo permanecesse
no grupo eu entrei. O meu
filho acabou saindo, mas
eu fiquei porque adoro o
trabalho que nós fazemos
aqui, me deixa muito feliz!
O crescimento que obser-
Ramo
vo nos jovens é impressionante, entram tímidos, às
vezes sem limites e tornam-se diferentes", afirma.
"Acho importante no 46
principalmente os valores
que são passados. O grupo
faz um trabalho muito
bonito nesse sentido. Os
adultos que trabalham no
Movimento Escoteiro são
todos voluntários dispostos
a dar o melhor de si" afirma
a pedagoga Tânia Maria
Adorno Anconi, 51 anos,
que é assistente de chefe e
há seis frequenta o 46. Ela
também iniciou-se no
movimento por causa dos
filhos e se encantou com as
atividades desenvolvidas.
Hoje estão no 46 os filhos
Débora (guia) e Mateus
Adorno (sênior). O mais
velho, Daniel (pioneiro)
integra outro grupo.
ESPAÇO "O que mais
gosto é conhecer as pessoas
boas, o mais importante são
as amizades, conheço pessoas aqui há mais de 10
anos que são os meus mais
velhos e melhores amigos",
afirma Diego Tassinari, de
19 anos, que é estudante de
agronomia em Lavras. Ele
considera que o escotismo
reproduz a vida, pois é uma
sucessão de etapas. "Você
não fica preso. Com o passar da idade você vai sentindo necessidade de mudar de
etapa e conhecer coisas
novas", acrescenta. A mãe
do Diego, chefe Eunice,
também se dedica com
entusiasmo ao escotismo e
participa ativamente do 46
junto com o filho.
Denominação
Quanto às expectativas
para o futuro, o que o 46
mais precisa, nas palavras
do chefe Jorge, é “espaço
físico” no Parque Lagoa do
Nado. “Não temos local
para reuniões, atendimento aos pais e nem para
guardar todos os materiais
de
acampamento.
Utilizamos um quartinho
onde mal cabe parte desse
material. Outra parte fica
na minha casa, outra na
casa do chefe Sérgio e
outra na casa da presidente do 46, a Jaqueline.
Nosso sonho é conseguir
um espaço melhor aqui
dentro, que nos permita
oferecer condições mais
adequadas aos que se
encontram no grupo e
abrir possibilidade para
formar mais adultos que
futuramente
possam
colaborar no Projeto
Educativo do Movimento
Escoteiro”, comenta.
O Grupo 46 não recebe
ajuda financeira, mantendo-se com a colaboração
simbólica de R$10 mensais
dos que estão matriculados.
Todos os recursos financeiros para cobrir os gastos
com materiais para desenvolvimento das atividades,
compra de barracas, gastos
com transportes para os
locais de acampamento, são
levantados pelo próprio
grupo através de rifas, bingos e dos tradicionais eventos. Um deles, o Festival de
Macarrão, acontecerá em 8
de Novembro, na Escola
Municipal José Maria dos
Mares Guia, no bairro
Heliópolis.
Faixa etária
Alcatéia
Lobinhos e Lobinhas
07 a 10 anos
Tropa Escoteiro
Escoteiros e Escoteiras
11 a 14 anos
Tropa Sênior
Sêniors e Guias
15 a 17 anos
Clã Pioneiro
Pioneiro e Pioneiras
18 a 21 anos
14Comportamento
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Outubro • 2009
CAÍQUE PINHEIRO
INICIATIVA ALIA
BOA COMIDA E
SOLIDARIEDADE
Projeto “Me empresta sua mãe?” promove refeições beneficentes em restaurante de Belo
Horizonte e arrecada fundos para a Associação dos Leucêmicos do Estado de Minas Gerais
n
CAÍQUE PINHEIRO,
2º PERÍODO
Quinzenalmente,
o
chefe Gustavo Lavalle
divide o espaço de sua
cozinha, no bar La
Tosqueria, na Savassi, na
Zona
Sul
de
Belo
Horizonte, com a mãe de
alguns dos freqüentadores, que é convidada
para preparar um prato
inédito no cardápio da
casa. "Me empresta sua
mãe?" é o nome do projeto idealizado por Robson
Bezerra, D.J. e co-proprietário do espaço, que tem
como pano de fundo a
beneficência em prol de
portadores de câncer.
Em um jantar com amigos, Robinho, como o D.J.
é conhecido, convidou a
anfitriã, cujos caldos lhe
agradaram, a prepará-los
em seu bar. Combinou
ainda que o dinheiro
arrecadado com a venda
desses pratos seria doado,
e o bom resultado da
experiência culminou no
projeto que, iniciado em
15 de julho, continua
firme. "A idéia é que comida de mãe é sempre a melhor. Você pega essa comida, leva pra um bar, esse
bar leva a renda para uma
campanha", explica.
Ao custo de R$ 14,90,
as porções, com rendimento para três pessoas, de
carne de sol com purê de
abóbora e couve frita,
preparadas por Elisângela
Felício, mãe convidada
para a sexta edição, em 30
de setembro, começaram a
ser servidas por volta de
19h20.
Ás
20h40,
Elisângela retornou à cozinha para preparar mais
porções. Mais tarde, de
improviso, preparou outro
prato, uma vez que o
"sonho dourado", como o
chamou uma cliente,
havia esgotado. "Pesquisei
um prato com custo barato, diferenciado, que as
pessoas consumam", diz
Elisângela. Robinho acrescenta que as pessoas vão
ao bar para comer o prato
da mãe. Os custos dos
pratos variam de acordo
com
os
ingredientes
necessários para sua elaboração, o mais caro até a
edição custou R$19,90.
Uma das instituições
para a qual a verba
arrecadada através do projeto se destina é a
Associação dos Leucêmicos
do Estado de Minas Gerais
(Leuceminas), presidida
por Antônio Firmino de
Matozinhos, um dos fundadores, que há 20 anos
trabalha na instituição. A
Leuceminas tem sede em
Elisângela foi a mãe convidada a cozinhar no final de setembro. À sua direita o idealizador do projeto Robson Bezerra
Belo Horizonte e funciona
como hospedaria para
pacientes leucêmicos que se
tratam na cidade. A casa
tem acomodações para 82
pacientes.
Além disso, atualmente
presta auxílio a 390 pessoas
com alimentação, vestuário,
medicação, que, no caso do
Glivec 400 mg, chega a custar mais de R$ 8 mil a caixa
com 30 comprimidos. Todo
o apoio necessário aos
pacientes assistidos pela
instituição são conseguidos
por meio de doações, uma
vez que a associação não
recebe ajuda de nenhuma
organização governamental. "Todo tratamento é
feito no hospital, aqui é
mais uma casa de apoio",
esclarece Matozinhos.
Ele diz que o projeto é
inovador no sentido de que,
em busca de diversão, é oferecida a oportunidade de
ajudar alguém, e acredita
que outros bares, botecos e
afins irão reproduzir a iniciativa. "Tem uma série de
casas que precisam de
empreendimentos
desse
tipo", diz.
O artista plástico Murilo
Pagani esteve na edição do
"Me empresta sua mãe?" no
qual Elisângela Felício cozinhou e avaliou que a
doação por esse projeto se
dá de uma forma mais pessoal que as feitas em função
de pedidos através do
serviço de Telemarketing.
Por outro lado, uma cliente
disse que a contribuição
feita desse modo, indireto, é
melhor, uma vez que ela não
sente que tem estrutura
psico-emocional para acompanhar um leucêmico em
processo de tratamento. De
um modo ou de outro,
Matozinhos enfatiza que o
projeto já está ajudando o
Leuceminas.
Ajuda para quem sofre com o vício de comer
n
GABRIEL DUARTE,
SÍLVIA ESPESCHIT,
4º PERÍODO
Ansiedade, angústia e
'ataques' à geladeira no
meio da noite, quando
isolados, podem ser
entendidos como comportamentos
normais.
Porém, quando fazem
parte de um quadro clínico constante, devem ser
tratados como uma enfermidade. Segundo a presidente da Associação
Médica de Psiquiatria de
Minas
Gerais
(AMMG),Sandra
Carvalhaes, há 16 anos a
alimentação compulsiva é
considerada doença pela
Organização Mundial da
Saúde (OMS).
Segundo ela, uma pes-
soa pode ser considerada
comedora
compulsiva
quando perde a capacidade de saber quando
parar de comer e assim
perde
a
noção
de
saciedade. "A pessoa sabe
que comeu, tem uma
certa saciedade, mas não
para de comer", explica
Sandra Carvalhaes.
Para contornar esta
situação, as pessoas em
geral,
primeiramente,
procuram ajuda de profissionais de nutrição e até
mesmo psiquiatras. "Já
passei por tudo quanto é
médico. Resolvia na
hora", conta Carla, 54
anos, identificada por
nome fictício, assim como
os demais comedores
compulsivos entrevistados. Ao perceber que os
MAÍRA CABRAL
Os doces são um dos maiores vilões para quem é um comedor compulsivo
tratamentos
convencionais não ofereciam
resultados satisfatórios,
ela procurou o grupo
Comedores Compulsivos
Anônimos (CCA), em
Belo Horizonte e, em seis
meses, perdeu 31 quilos.
O CCA é uma entidade
sem fins lucrativos, criada
há 50 anos e que há 23
está em Belo Horizonte.
Ela atua através do grupo
Fênix, sendo auto-sustentável, pois se mantém
pelas doações opcionais
feitas pelos integrantes. Os
comedores compulsivos
não recebem cardápio para
seguirem uma dieta. Esta
medida serve, segundo a
entidade, para conscientizar a pessoa de que ela
mesma é a responsável por
sua boa alimentação.
No caso de Beatriz, 60
anos, hoje com 78 kg,
entrar para o CCA foi sua
última tentativa de perder
peso, que felizmente deu
certo. Ela, que chegou ao
grupo aos 41 anos de idade
pesando 106 kg e já havia
tentado de tudo, exceto
cirurgia de redução de estômago, assume que comia
apenas uma vez ao dia: "da
hora que acordava até ir
dormir". "Carregar um peso
além da sua condição não é
fácil", comenta Beatriz,
sobre o passado.
A recuperação dos integrantes é feita através de
três níveis: físico, emocional e espiritual, sendo
este último independente
da religião. As reuniões
acontecem em três dias:
às segundas-feiras (às 19
horas), terças-feiras (14
horas e 19 horas) e às
quintas-feiras (às 13h30),
à Rua Goitacazes, número
333, sala 1003, no
Centro. Elas são divididas
em dois momentos. O
primeiro é destinado à
leitura dos 12 passos e
das 12 tradições, que são
baseadas na atuação dos
Alcoólicos
Anônimos
(AA). Na segunda parte,
as participantes falam
sobre suas experiências e
tentam
encontrar
soluções para suas compulsões.
Segundo
Sandra
Carvalhaes,
os
Comedores Compulsivos
Anônimos são muito
importantes. "De uma
maneira geral, elas (entidades) ajudam muito as
pessoas, explicando a
condição delas", revela. É
o caso de Luciana, que
conta ter ficado sabendo
do CCA pelo Jornal do
Ônibus, e logo quis fazer
parte. Luciana diz que o
maior problema enfrentado, até agora, é não conseguir se controlar à
noite. "Tenho um problema muito sério com disciplina, e preciso de ajuda",
conclui a participante.
A
médica
ainda
esclarece que este problema não acomete só
pessoas adultas, como
pode
acontecer
em
todas as faixas etárias.
As mulheres, segundo
ela, têm maior tendência a este problema e
geralmente são pessoas
entre 20 a 40 anos.
"Desde que entrei na
menopausa
comecei
assim", conta a participante do CCA, Luciana.
As causas para o
comer
compulsivo,
Compulsivos tentam
não cair em tentação
A conduta do CCA de não sugerir cardápios e
nem realizar pesagem de seus freqüentadores,
reforça o objetivo de auto-responsabilidade do
comedor compulsivo. Recaídas são freqüentes,
principalmente quando se está só, e com o intuito de evitá-las, o grupo sugere algumas ferramentas como telefone e escrita.
Por meio do telefone, o comedor compulsivo
tem a possibilidade de falar com outro companheiro de CCA, compartilhando o problema
com quem mais o entende e evitando tentadoras reincidências, principalmente no caso de
membros com problemas de disciplina como
Luciana. "Sou de família de história de obesidade mórbida e estou indo para o mesmo caminho. Estou precisando de ajuda constante",
desabafa Luciana.
Quando não se tem o telefone à mão, ou a
tentação vem no meio da noite, outra solução
apontada pelo grupo é a escrita, que tem a vantagem de independer de outro indivíduo. "O
açúcar é meu grande vilão. Aí escrevi uma carta
pra ele ser meu amigo, mas que a gente precisa
ficar distante", conta Carla sobre uma estratégia
que a ajudou muito.
segundo
Sandra
Carvalhaes, podem estar
ligadas a vários fatores.
"Há sempre um aspecto
psicológico
presente.
Geralmente é a pessoa
mais ansiosa que tenta
preencher o vazio. Além
disso, há causas biológicas, como a própria
obesidade. As causas
sociais e históricas também podem contribuir",
explica.
O tratamento para
esta doença, segundo ela,
deve ser feito em conjun-
to, com profissionais de
diferentes áreas atuando.
"Deve ser feito um tratamento multidisciplinar.
Um profissional da psicoterapia, que faça uma
associação com tratamento com remédio para
diminuir a compulsão,
outro para a ansiedade.
Ter um acompanhamento de uma endocrinologista, para ver se não
teve nenhum problema
no digestivo e ter um
apoio de um nutrólogo",
relata.
Meio Ambiente
Outubro • 2009
15
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ÁGUAS PRESERVADAS NO QUINTAL
n
DANIELA GARCIA,
6º PERÍODO
Para entrar na casa, nada de campainha
ou interfone, o jeito é bater palmas e gritar: "Seu Alírio". Lá do portão, já se escuta o barulho da água. No fundo da casa,
dá para ver uma mina nada convencional.
A água cai de um cano de PVC, que
desemboca em uma banheira, e depois
segue por um sistema de drenagem que
passa pelos 3 mil m² de terreno. Mas, essa
não é a única. No sítio de Alírio Santos,
no Jardim Montanhês, brotam três
nascentes do córrego Engenho Nogueira,
que fica na Região Noroeste de Belo
Horizonte.
"Dá trabalho preservar, viu?", adverte
Alírio, que dedica o seu tempo integralmente para cuidar das minas d'água e da
vegetação do local. Caçula de três irmãos,
Alírio nasceu e vive ali há mais de 40
anos, mas foi a partir de 2004 que deixou
o trabalho de vendedor e buscou especialização para conservar a área. Ele conta ter
feito cursos para o uso de plantas medicinais e manutenção do solo. O estudo continua. Sobre a mesa – abaixo de um ninho
de passarinho - ficam revistas que tratam
de meio-ambiente, jardinagem e paisagismo.
À margem das nascentes estão água-pés
e samambaias, de acordo com Alírio, plantas que melhoram a oxigenação da água.
As libélulas também estão presentes ali, o
que ele aponta como importante, já que
são insetos considerados bioindicadores
de qualidade da água. A preservação das
minas d'água está em "boas mãos", afirma
a engenheira ambiental Simone Novi.
"Em torno das nascentes devem sempre
ter plantas. E, qualquer uma, porque toda
planta gosta de água. Isso permite que a
chuva infiltre no solo e faça a recarga do
aquífero", explica.
O tanque da casa de Alírio não tem
torneira. A água corrente vem da mina
por uma mangueira que chega a transbor-
dar no balde de Maria Aparecida Santos,
mãe de Alírio, que há 69 anos vive e lava
roupas e pratos com a nascente. Aos 80
anos, diz já não aguentar torcer tanta
roupa e sonha ganhar um presente dos filhos. "Já passou da hora de eu ter uma
máquina de lavar, né?", brinca.
Aparecida se lembra de quando mudou
para o sítio. "Mudei para cá em setembro
de 1960. Aqui nasceram três filhos meus.
Antes de vir eu tinha perdido três.
Quando a gente chegou, a água corria por
cima da terra", conta. Ela também não se
esquece como o marido comprou o terreno. "Ele pediu dinheiro emprestado no
colégio que trabalhava e ainda deu um
rádio da marca Invicto como pagamento
do lote", conta. Naquele ano, a primeira
árvore que plantou foi uma mangueira,
que até hoje dá frutos. Além das mangas
na área, agora, se cultivam frutas como
pitanga, mexerica, goiaba e até cacau. E,
mais de 80 plantas medicinais que são
regadas com a água da mina.
A nascente é limpa, afirma Sônia
Ferreira, professora de Biologia que há
sete meses faz monitoramento das águas
do córrego Engenho Nogueira para a
ONG SOS Mata Atlântica. "Mas não é
potável, não passou por tratamento. O
solo daqui está muito contaminado",
observa. Ela alerta que só não dá para
beber água da mina.
Para Sônia, o sítio é um lugar de referência em conservação. Na última análise
de setembro, ela constatou que a água
estava transparente, livre de lixo, coliformes e espuma. E, que havia 6% de
oxigênio dissolvido, quando o mínimo
exigido para qualidade é de 4%, além de
encontrar nutrientes como fosfato e nitrato. Sônia afirma que a água é segura, ao
contrário do afluente Antônio Henrique
Alves que está completamente poluído e
fica há quatro quarteirões de lá.
A professora, uma vez ao mês, leva
alunos da Escola Estadual Eliseu Laborne
para visitar as nascentes. Seis crianças são
Alírio Santos deixou, em 2004, seu trabalho como vendedor para cuidar exclusivamente
das três nascentes que brotam nos fundos de sua casa. Como resultado de seu cuidado,
elas apresentam alto nível de qualidade em plena Região Noroeste da capital mineira
MAÍRA CABRAL
Alírio Santos, mais conhecido como “Seu Alírio”, fez cursos de especialização voltados para o cuidado do meio ambiente
escolhidas por um sorteio para ir à casa de
Alírio, que já passou por maus bocados
com os estudantes. "Tem menino que
pisoteia nas plantas e ainda joga papel de
bala na nascente", lembra. Sônia diz que
conhecer as minas d'água é algo novo para
seus alunos. "É uma riqueza tão grande
que é desconhecida de gente que mora até
lá perto", observa.
Alírio diz que já recebeu crianças de
quatro escolas públicas e não cobrou
nada. Conta ainda, que os estudantes perguntaram por que ele não tinha torneira
Orquidário Roberto Burle
Marx conscientiza visitantes
n
LAURA ZSCHABER,
2º PERÍODO
Dia 23 de setembro, início da primavera. Não
poderia haver melhor data
para a inauguração do
orquidário Roberto Burle
Marx. Localizado no
Parque das Mangabeiras,
na Zona Sul de Belo
Horizonte, ele abriga cerca
de 290 mudas que foram
arrancadas criminosamente
de parques municipais da
capital. O viveiro, que traz
no nome uma homenagem
ao centenário de quem
criou o projeto paisagístico
do parque, tem caráter
pedagógico e pretende ser
um apelo à consciência
ambiental da população.
De acordo com o chefe
do Departamento Operacional e Ambiental do
Parque das Mangabeiras,
Saulo Henrique Ataíde, os
roubos de orquídeas aconteciam em semanas alternadas, geralmente às quintas ou sextas-feiras. "Por
terem sido roubadas nesses
dias, em que é comum
acontecerem feiras de flores
e plantas na cidade, supomos que as mudas roubadas
já eram encomendadas por
alguém", afirma ele.
PÂMELLA RIBEIRO
Saulo é responsável pelas orquídeas e cuida da sobrevivência das mesmas
O
monitoramento
eletrônico e a parceria da
segurança do parque com a
Polícia Militar foram fatores
importantes para a detenção
das pessoas que estavam
roubando
as
mudas.
"Através das câmeras, identificamos indivíduos com
caixas e sacolas e ficamos
monitorando. Quando eles
tentaram sair do parque, a
polícia foi acionada, as pessoas presas e as orquídeas
apreendidas", revela.
Além de ser responsável
pelas orquídeas roubadas,
Saulo também deve cuidar
e assegurar a sobrevivência
das espécies dentro do parque. A idéia de criar um
mini-orquidário surgiu da
necessidade de abrigar as
mudas em um lugar mais
reservado e seguro e que ao
mesmo tempo contribuísse
para a educação ambiental.
"Como os parques ainda
não têm vigilância 24 horas,
era necessário criar um lugar
para garantir que as espécies
não fossem roubadas novamente. Escolhemos construir o orquidário na Praça das
Águas, porque é uma área
que tem constante movimento de pessoas e é bem
vigiada também", conta.
"Além disso, ele foi construído com uma cerca maior e
aproveitando o relevo do
local para dificultar a entrada de pessoas. Quando os
parques tiverem a segurança
devida, poderemos devolver
as orquídeas para seu habitat natural", acrescenta.
Segundo Saulo, um dos
principais objetivos do
orquidário é conscientizar a
população. "Com ele cumprimos nossa missão de
cuidar do meio ambiente e
de propor uma reflexão
sobre a preservação das
espécies", completa.
Um sinal de que as plantas estão se adaptando bem,
são as novas mudas que
estão brotando. "Na replantação, tentamos deixar as
plantas o mais natural possível, recriando o solo pobre
e raso em que vivem com
areia, terra e material
orgânico. Algumas foram
amarradas nas árvores e
outras apenas colocadas
sobre a superfície. Já se
pode notar folhas novas e
brotos. Pelo visto a área foi
bem escolhida", diz Saulo.
De acordo com o chefe
operacional, um grupo de
pesquisa de uma faculdade
particular da capital ficou
interessado em estudar as
orquídeas, mas a proposta
ainda não foi aceita. "Ainda
estamos analisando o convite, mas é interessante
porque dependemos de
estudos para a identificação
das espécies. Com certeza
terão variedades aqui já em
em extinção, o que nos dá a
possibilidade de manter um
banco de mudas para repro-
no tanque e como saíam borbulhas da
terra. Dúvidas que são resolvidas, segundo Aparecida. "Esses meninos chegam
aqui e não sabem de onde vem o arroz ou
o feijão. Têm na sua mesa, mas não sabem
de onde veio", constata. Para ela, a preservação da água é "boa", mas admite que
quem faz o trabalho no sítio é Alírio. A
mãe vive a sonhar com a máquina de
lavar e conhecer o mar de Fortaleza.
Enquanto o filho espera preservar às
águas que brotam da sua terra, em Belo
Horizonte.
Lei contribui para a
conservação ambiental
Criada em 12 de fevereiro de 1998, pelo então
presidente Fernando Henrique Cardoso, a lei da
natureza ou lei de crimes ambientais (Lei nº 9.605)
trouxe melhorias para a questão ambiental já que
define como infrações as atividades consideradas
lesivas ao meio ambiente e define penas para as
mesmas. A lei incide sobre crimes de poluição, ordenamento urbano, patrimônio cultural, fauna, flora,
extração de recursos minerais, entre outros. Na legislação está previsto, por exemplo, que furtar plantas em unidades de conservação é crime ambiental.
dução de híbridas", explica.
A Escola Municipal
Vinícius de Moraes usou o
viveiro de mudas, como ferramenta para despertar o
interesse dos alunos. "A
ideia foi ótima porque eu
nunca tinha visto uma
orquídea de perto e fica
mais legal a gente estudar
vendo a natureza de pertinho", disse a estudante
Jéssica Barbosa.
HABITAT Segundo a bióloga, especialista em botânica,
Valéria de Souza, a maior
parte das espécies
de
orquídeas está espalhada
pelo mundo todo devido à
grande capacidade de adaptação destas plantas. "Elas
vegetam em diversos ecossistemas, sendo encon-
tradas em florestas, campos,
cerrados, dunas, restingas,
tundras e até mesmo em
margens de desertos. Em
geral, vivem em árvores ou
sobre as pedras nas regiões
tropicais e nas zonas temperadas são terrestres”, diz.
"As orquídeas são geralmente cultivadas pela
beleza, exotismo e fragrância de suas flores. Porém
hoje em dia, as pessoas não
respeitam a natureza e não
conseguem admirar sem ter
em casa”, comentou Valéria,
que destaca a necessidade
de preservação. “É importante para a cidade ter um
orquidário como esse,
porque além de se conservar as espécies, é um apelo à
consciência ambiental da
população", acrescenta.
O Orquidário Roberto Burle Marx está aberto ao público de terça-feira a domingo, e em feriados, no horário de 8h
às 18h. Informações: 3277-8277 /3277-9698
16Cultura
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n
SÍLVIA ESPESCHIT,
4º PERÍODO
Em 1959, um jovem
repórter policial do jornal
paulista Folha da Manhã
decidiu se arriscar a ganhar menos do que recebia e realizar um sonho
antigo: desenhar quadrinhos. Sua obra já consagrada, que começou com tirinhas do cãozinho Bidu,
teoricamente destinadas
inicialmente ao público
adulto, hoje lhe rende
domínio de mais de 80%
do mercado de quadrinhos brasileiro, com a
"Turma da Mônica", bem
como o mundial no
gênero japonês mangá, já
que a "Turma da Mônica
Jovem", segundo seu
autor, é hoje o mais vendido da espécie no mundo.
Só dessa nova publicação,
a média é de 400 mil
exemplares vendidos em
inúmeros países. "É um
massacre, eu sei, mas o
que eu vou fazer?",
diverte-se o desenhista
Mauricio de Sousa com o
sucesso alcançado por sua
criação.
Comemorando seus 50
anos de carreira bem-sucedida, Mauricio de Sousa
participou,
em
Belo
Horizonte, em 8 de outubro, do 6º Festival
Internacional
de
Quadrinhos (FIQ), realizado no Palácio das
Artes e Parque Municipal.
Marcando presença em
uma maratona de participações no evento, o desenhista começou à tarde
num bate-papo com cerca
de 1300 estudantes de
escolas publicas e particulares da capital no Grande
Teatro do Palácio das
Artes, no qual, mais tarde,
disse ter se emocionado
com o coro de "Parabéns
para você", entoado pelas
crianças presentes, em
homenagem ao cinquentenário.
O dom que levou a esse
êxito nem sempre foi uma
certeza para o quadrinista.
Por viver em um ambiente
50 ANOS DE CARREIRA
DE MAURICIO DE SOUSA
O quadrinista participou, em Belo Horizonte, do 6º Festival Internacional de Quadrinhos, onde comemorou, com
cerca de 1300 estudantes, seus 50 anos de carreira com o lançamento do livro “MSP 50 - Mauricio de Sousa por
50 artistas”, além do sucesso da sua nova publicação “Turma da Mônica Jovem”, feita no estilo de mangá japonês.
SÍLVIA ESPESCHIT
Mauricio de Sousa conta, em palestra no Palácio das Artes, histórias dos seus bem-sucedidos 50 anos de carreira com os personagens da Turna da Mônica
cercado mais de música do
que de desenho, Mauricio
estudou piano quando
adolescente, o que o levou
ao dilema entre música e
quadrinhos. "Não tinha
muito recurso para estudar, se fosse para estudar
piano", conta ele sobre o
motivo que influenciou a
decisão pelo desenho.
Além disso, ele brinca que
outro motivo é que "é
muito mais fácil carregar
um lápis do que um
piano".
Adolescentes e adultos,
público crescido, também
não deixaram de prestigiar
seu ídolo, comparecendo à
sessão de autógrafos de
Mauricio de Sousa, destinada aos 100 primeiros
que retirassem sua senha
em um balcão na entrada
do Palácio das Artes.
Revistas antigas, recentes,
camisetas e pedaços de
papel dividiram espaço
com o livro "MSP 50 Mauricio de Sousa por 50
artistas", que o homenageia por esta data,
através de desenhos de
outros artistas, conhecidos
ou promissores. Ao telefone, um fã respondia à
mãe a pergunta de onde
estava, dizendo "estou
fazendo uma coisa muito
importante, mãe", sem
mais
declarações.
Escutando o comentário
do colega de fila, Mateus
Lima, 22 anos, comentava
que não poderia contar à
sua mãe onde estava, pois
correria o risco de ela
querer para si o autógrafo
que ganharia em alguns
instantes.
O artista plástico Nino
Caimi conta que a sua
primeira formação política
foi obtida por meio de
Mauricio de Sousa, com a
história "Mônica e os Azuis",
na qual a personagem ia para
um mundo paralelo, onde
todos eram azuis, e sofria
Projetos para TV e cinema
O desenhista também não deixa de
confirmar seu famoso bom humor
durante conversa com jornalistas no
FIQ, mesmo tratando de temas delicados. Sobre a televisão atual e seu conteúdo, Mauricio brincou, arrancando
risadas da imprensa: "Televisão? O quê
que é televisão mesmo? Aquela caixinha preta?", perguntou entre risos.
Levando a pergunta mais a sério,
defendeu ser um veículo feito pelo
público. "Se nós tivéssemos um
pouquinho mais de consciência, de
aprender a desligar a televisão quando
está acontecendo alguma coisa ruim lá
na telinha, a gente conseguiria mudar
um pouco esse planeta", afirmou. Para
ele, falta interação mais agressiva
entre o público e o veículo.
Por outro lado, Mauricio de Sousa
diz que essa conscientização tem que
partir também do outro lado, dos que
comunicam. Contudo, admite que é
um processo difícil, já que "vem o
poder econômico, vem os anúncios,
vem a grade, e a televisão também é
um veículo que custa caro".
Para ele, isso é necessário em um
país como o Brasil que, para continuar
a se desenvolver, deve cuidar da saúde,
educação, meio ambiente, tudo que
Mauricio de Sousa diz já colocar nas
suas revistas, mas que ainda anseia
tratar na televisão brasileira, o que diz
não ter conseguido ainda. "Há quatro
ministros da educação que eu não
consigo fazer o projeto educacional
pela televisão no Brasil. Eu estou
fazendo na China, estou me preparando para fazer na Coréia, no Vietnã, na
Indonésia, e no Brasil ainda estamos
conversando", expõe.
QUADRINHOS Já no seu suporte
principal, a revista, a preocupação
com bons ensinamentos e virtudes,
passados pelas historinhas da Turma,
são constantes para Maurício de
Sousa e constituem sua contribuição
para "mudar o planeta". "No que você
joga para a criançada, você contamina,
no bom sentido, a família, a
sociedade", é o efeito que segundo ele,
sua mensagem consegue causar ao
transpor a barreira do público alvo.
"Nas nossas histórias, os personagens, todos, não vão dormir com um
problema", diz ele sobre situações de
conflito criadas nas histórias, característica atribuída por Mauricio à técnica de narrativa criada por ele, de
começo, meio e fim. Essa técnica
subentende que os problemas que surgirem devem necessariamente ser
resolvidos, ou então dissolvidos em
meio à narrativa. Para ele, na vida real
nós deveríamos tratar os problemas da
mesma forma, seja encontrando
soluções mais tarde, ou deixando-os
"diluir". "A solução tem que vir, como
tem que vir na vida real também", diz.
EXTERIOR Além de projetos educa-
cionais veiculados pela televisão de
diversos países, Mauricio também
expande os horizontes da Turma da
Mônica através da criação de personagens mundialmente famosos, como
Ronaldinho Gaúcho, já presente em
32 diferentes idiomas. "Os americanos
não tão entendendo porque futebol
vende tanto no mundo", comenta
sobre a bem-sucedida empreitada.
Segundo ele, o objetivo com a criação
de personagens como Ronaldinho, e
até o Pelezinho de antigamente, não é
imortalizar os ídolos, mas sim a proposta filosófica que trazem com eles.
A busca por mercado internacional,
segundo Sousa, tímida por parte da
Editora Panini, já começa a se movimentar, principalmente por questões
de orçamento para novos projetos,
como o novo filme do personagem
Horácio, que segundo o desenhista
deve ficar entre R$ 10 e 12 milhões.
preconceito por ser colorida.
Para Caimi, as histórias da
Turma da Mônica, além de
divertidas, são muito próximas da nossa realidade. "A
Turma da Mônica é a sua
colega de sala, a sua colega
de bairro. E eu sou do interior, então brincava na rua
igual aos personagens do
Mauricio de Sousa", conta o
artista plástico, fã de outras
histórias. Ele diz que aprendeu a ler com "O Fantasma",
um dos integrantes da sua
vasta coleção de quadrinhos,
iniciada
em
1979.
"Contando Mônica e também quadrinho americano e
europeu, tenho entre 4.500
Outubro • 2009
e 5 mil revistas hoje. Sou
muito apaixonado", assume
o artista.
MÔNICA JOVEM A
necessidade de atingir um
público que já estava
"escapando pelos dedos",
através do recente projeto
da Mauricio de Sousa
Produções, publicado pela
Editora Panini, a "Turma
da Mônica Jovem" abarca
essa faixa etária de fãs que
já passaram da infância, e
que compareceram ao
FIQ. Deleite para alguns e
receio para fãs saudosistas, a revista, que segundo
Mauricio é hoje o mangá
mais vendido no mundo,
acaba gerando certo
debate. "Os personagens
apenas cresceram, são os
mesmos", tranquiliza o
autor, sobre uma das
maiores
preocupações
demonstradas pelo público: o de descaracterizar
aqueles que os acompanharam por toda infância.
"A garotada estava se tornando jovem cada vez mais
cedo, e abandonando as
revistas infantis. Quando
eu comecei a desenhar
revistas, o pessoal com 15
anos estava lendo e achando tudo legal. A infância
começou a decrescer, a cair,
e com dez anos a criança já
chega e fala 'isso aqui é
coisa de criança'", diz
Mauricio de Sousa, ao
explicar a necessidade da
nova publicação, para não
perder público para a nova
preferência dos adolescentes: o mangá japonês.
Segundo ele, foram
muitos anos de estudo para
concluir a proposta de juntar essa tendência com a
Turma da Mônica, que teve
que crescer para se adequar
à proposta. Hoje, 50% do
público do mangá está na
faixa de dez a 16 anos. "Era
o que eu queria. Dessa vez
eu acertei", comemora
sobre o projeto que ele
acredita que não teria
acontecido em outras editoras, que não a atual,
Panini, especializada em
quadrinhos.
Máquina de fazer
quadrinhos on-line
Exclusivamente para o Jornal MARCO,
Mauricio de Sousa comentou sobre o projeto
"Máquina de Quadrinhos", um editor on-line gratuito de histórias em quadrinhos. Por meio do portal www.maquinadequadrinhos.com.br, o visitante
pode criar sua própria história com personagens da
Turma da Mônica, e até vê-la publicada na revista,
se for bem votada pelo público. Em comentário
recente pelo Twitter, Mauricio disse ser uma boa
ferramenta para encontrar novos talentos. "Serve
para tudo. Para eu achar talentos mas também pra
desabrochar talentos. Eu sei, eu tenho consciência
de que eu estou criando concorrência ali, mas é
assim a vida. Nós temos que realmente estar abertos à concorrência, estar abertos para que haja
vento novo, aragem nova", comenta.
O estúdio de Mauricio de Sousa, que hoje conta
com cerca de 150 profissionais, evita ao máximo
plataformas somente eletrônicas. Segundo ele, a
arte final por computador começa a ser estudada
agora. "Nenhuma máquina vai substituir a criação,
o traço livre, criativo", defende. Contudo, o artista
vê no novo projeto um ponto de partida também
para a possibilidade de enriquecer o expediente de
seus estúdios. "Os bons que aparecerem lá, eu vou
tentar contratar. Lógico. Tem duas coisas: é concorrência que vai surgir? É. Mas é gente que eu
posso contratar? Melhor ainda, eu estou precisando de gente", ressalta.