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Por causa da infestação de roedores na Região Noroeste, a dona de casa Rosane Oliveira recorreu a um gato para se livrar da praga. Página 4 PÂMELLA RIBEIRO PÂMELLA RIBEIRO LUÍZA FERRAZ Em palestra, na PUC Minas, o ministro Celso Amorim destaca as “particularidades” da política externa do Governo Lula. Página 7 Os moradores da Rua Prados, no Bairro Carlos Prates, reivindicam melhorias na segurança e pavimentação da via. Página 5 marco jornal Ano 37 • Edição 269 LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas•LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas•LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas Outubro • 2009 MAÍRA CABRAL nestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaedição Pai da Turma da Mônica relembra carreira em BH O quadrinista Mauricio de Sousa, que está comemorando seus 50 anos de carreira, esteve em Belo Horizonte participando do 6º Festival Internacional de Quadrinhos, realizado no Palácio das Artes. Ele aproveitou a oportunidade para autografar o livro MSP 50, que o homenageia com desenhos de artistas famosos e outros promissores. A presença de Maurício levou pessoas de todas as idades ao FIQ que, além de enfretarem longas filas para chegar ao artista, declararam o gosto por revistas em quadrinhos. Em entrevista exclusiva ao MARCO, Maurício falou sobre seu novo projeto “Máquina de Quadrinhos”, um editor on-line gratuito de histórias em que o visitante pode criar seu próprio enredo com personagens da Turma da Mônica e que pode ajudar na descoberta de talentos. Página 16 SÍLVIA ESPESCHIT GUARDIÃO DE NASCENTES Três nascentes compõem os fundos da da casa de Alírio Santos. Dedicando seu tempo integralmente a cuidar da água que brota em seu terreno, no Bairro Engenho Nogueira, na Região Noroeste de Belo Horizonte, o exvendedor procurou se aprimorar na tarefa que assumiu. Ele fez cursos para o uso de plantas na manuntenção do solo, além de recorrer à leitura de diversas publicações voltadas para o meio-ambiente. Alírio conta com o auxílio da professora de biologia Sônia Ferreira, que monitora a qualidade da água de córregos da região para a ONG SOS Mata Atlântica. Segundo a especialista, a nascente é limpa, embora não seja potável, pois seu solo está contamidado. Ela constatou, na última análise, que a água da mina está transparente, livre de lixo, coliformes e espuma. Página 15 A tradição dos Problemas com a escoteiros em BH Avenida Ressaca PÂMELLA RIBEIRO Respeito à natureza, compromisso com o meio ambiente e prática dos bons costumes são alguns dos valores pregados pelo escotismo. Passado de geração para geração, o 46º Grupo de Escoteiros Lagoa do Nado foi fundado há 22 anos na Escola Municipal Lídia Angélica, a partir da mobilização dos moradores locais para evitar a transformação do parque em um conjunto habitacional. São 136 jovens cadastrados no projeto e há uma grande lista de espera de interesados em ingressar no grupo. Página 13 Memórias de uma eleição decisiva Jornalistas de diferentes veículos de comunicação do Brasil relembram a cobertura da eleição direta de 1989, a primeira após longo período de regime militar. Histórias inusitadas de um momento em que o país teve 22 candidatos disputando a vaga à Presidência da República. A briga acirrada deu origem a comícios que reuniam milhares de eleitores nas ruas lutando pela confirmação do retorno da democracia. A importância de se comemorar estes 20 anos de eleição é ressaltada pelos repórteres e fotojornalistas, que demonstram o desejo de nunca mais retornar aos anos de chumbo do Brasil. Página 9 MARCELO PRATES Política não atrai jovens eleitores O grande número de denúncias que relacionam a política aos atos ilegais tem desestimulado adolescentes a participar das decisões eleitorais do país. Fato é que, em agosto de 2009, apenas 1751 dos 1.779.190 eleitores de Belo Horizonte, tiraram seu título de eleitor aos 16 anos. Apesar desses números, há pessoas menores de 18 anos que ainda acreditam no poder da política. Página 10 Devido a obras na avenida, uma das principais vias do Bairro Coração Eucarístico, na Região Noroeste da capital, os já insatisfeitos usuários da linha 4110 e 4111 tiveram mais um transtorno. A mudança no itinerário causou ainda mais demora no trajeto dos ônibus, que passam por diversos bairros de Belo Horizonte. Os moradores também estão insatisfeitos com as intervenções realizadas pela BHTrans, uma vez que muitos redutores de velocidade, mais conhecidos como quebra-molas, foram instalados, e o semáforo reivindicado pela população local, não foi colocado. Página 3 nestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaedição 2 Comunidade jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas Outubro • 2009 EDITORIAL editorialeditorialeditorialeditorialeditorialeditorialeditorialeditorial Parceria com o leitor revigora o MARCO a cada nova edição FALTAM LIVRARIAS NO CORAÇÃO EUCARÍSTICO Moradores e estudantes do Coreu lamentam ter que sair do bairro em busca de lojas especializadas no comércio de livros PÂMELLA RIBEIRO n DANIELA REZENDE, n BÁRBARA CAMPOS, JOYCE SOUZA, 3º PERÍODO 4° PERÍODO Ao longo de seus 37 anos o MARCO tem divulgado em suas páginas informações de interesse do seu público alvo, que é formado principalmente pelos moradores do entorno do Campus da PUC Minas, no Coração Eucarístico, e, mais recentente, no São Gabriel. Isso não significa que o jornal não possa buscar pautas em outras regiões de Belo Horizonte e, até mesmo, fora dos limites da capital mineira. Muitas vezes um problema que aflige o morador do Dom Cabral ou do Ouro Minas, não é diferente daquele que afeta a vida dos residentes em outros cantos da cidade. Muitos moradores contam com matérias do MARCO para ajudá-los a resolver pendências junto aos órgãos responsáveis. Essas pessoas apostam no “poder” da imprensa como forma de pressão. Ao abordar temas de interesse da comunidade o MARCO entende que ajuda a dar voz a uma parte significativa da população que, muitas vezes, se sente desamparada pelo Estado e seus representantes. Nesta edição, por exemplo, publicamos matéria sobre um problema enfrentado pelos moradors da Rua Prados, no Bairro Carlos Prates. Eles se sentem inseguros e buscam soluções para a falta de iluminação e segurança. Além disso, reclamam a falta de pavimentação da via e lamentam a desatenção da Prefeitura de Belo Horizonte aos pedidos de ajuda. Já a infestação de ratos, outro tema de matéria da edição 269 do MARCO é o tipo de matéria que não gostaríamos nunca de publicar. Infelizmente, no entanto, é necessário. Essa praga se alastra na capital mineira e ameaça à saúde de muita gente. Sem controle, resta aos habitantes afetados, buscar soluções criativas. É o caso de uma moradora do Padre Eustáquio, Rosane Oliveira, que “contratou” um gato para conter os roedores que invadiram sua casa. A questão do trânsito, assunto cada vez mais frequente nas conversas dos belo-horizontinos, também está presente no nosso jornal. Uma obra na Avenida Ressaca virou tema de discussão entre os moradores do Coração Eucarístico, Minas Brasil e de motoristas que transitam pelo local. Divergências são causadas e muitos aprovam e desaprovam as mudanças realizadas como a implantação de canteiros centrais e redutores de velocidade. O ônibus da linha 4111 também é questionado por usuários, que reclamam da demora no percurso até a região da Savassi. Mas o MARCO não vive só das coisas de BH. Por isso, voltamos a falar dos 20 anos da primeira eleição direta para presidente da República, abordando dessa vez, a cobertura daquele pleito que entrou para a história do país. Ao mesmo tempo, o jornal fala da atitude dos jovens frente à política, constantado um desinteresse, mas procurando despertar a consciência de que essa realidade pode mudar. O leitor vai conferir também uma reportagem especial com o desenhista Mauricio de Sousa que, em 2009, comemora 50 anos de carreira. Independente dos temas tratados, o fundamental é a sintonia existente entre MARCO, repórteres e, especialmente nossos leitores, o que que contribui para a permanente renovação do nosso jornal. EXPEDIENTE expedienteexpedienteexpedienteexpedienteexpedienteexpediente jornal marco Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas www.pucminas.br . e-mail: [email protected] Acesse o jornal MARCO em: www.fca.pucminas.br/embriao Rua Dom José Gaspar, 500 . CEP 30.535-610 Bairro Coração Eucarístico Belo Horizonte Minas Gerais Tel: (31)3319-4920 Sucursal PucMinas São Gabriel: Rua Walter Ianni, 255 CEP 31.980-110 Bairro São Gabriel Belo Horizonte MG Tel:(31)3439-5286 Diretora da Faculdade de Comunicação e Artes: Profª. Ivone de Lourdes Oliveira Chefe de Departamento: Profª. Glória Gomide Coordenador do Curso de Jornalismo: Profa. Maria Libia Araújo Barbosa Coordenadora do Curso de Comunicação / São Gabriel: Profª. Daniela Serra Editor: Prof. Fernando Lacerda Subeditor: Profa. Maria Libia Araújo Barbosa Editor Gráfico: Prof. José Maria de Morais Editor de Fotografia: Prof. Eugênio Sávio Monitores de Jornalismo: Clarisse Souza, Daniela Rezende, Diana Friche, Isabella Lacerda, Renata Marinho, Sílvia Volpini, Thaís Maia, Bianca Araújo (São Gabriel) Monitores de Fotografia: Maíra Cabral e Pâmella Ribeiro Monitor de Diagramação: Renard Campolina Fotolito e Impressão: Fumarc . Tiragem: 12.000 exemplares As pessoas que passam pelas ruas do Bairro Coração Eucarístico encontram facilmente padarias, farmácias, lojas de roupas e calçados e os barzinhos que fazem a fama da região, mas não livrarias. Quem mora nesse bairro da Região Noroeste da capital sabe que, quando quer ler um livro, precisa ir longe, aos shoppings, e até mesmo em outros bairros para comprar. Mas, afinal, onde estão as livrarias do famoso Coreu? A resposta é simples. Não existem livrarias, pelo menos não no centro comercial ou nas principais ruas do bairro. Há cerca de três anos, um comerciante se arriscou e conseguiu manter uma livraria no bairro por cerca de um ano e meio. A livraria ficava na garagem de um supermercado do bairro, bem escondida. O proprietário do imóvel onde funcionava a papelaria e morador do bairro, Demétrio Menta, conta que mesmo o local não favorecendo, os antigos proprietários da livraria "corriam atrás” dos livros que os clientes pediam. “Mas isso não foi suficiente para manter o estabelecimento aberto por muito tempo", observa Demétrio. Ainda segundo ele, a região, que já tem um comércio tão diversificado e uma Universidade que é referência, precisa de uma livraria urgente. Apesar disso, muitas pessoas acham que o comércio de livros não prospera porque não há demanda dos próprios moradores do bairro, que preferem comprar livros e até material escolar nas livrarias dos shoppings. É o caso de Lucília Campos, ex-proprietária da papelaria Unipaper. "As pessoas não procuram por livros. Acho que não compensa abrir uma livraria porque não há procura. E olha que além da PUC têm escolas na redondeza", afirma. Lucília acredita que talvez se existisse no Coreu uma papelaria que fosse ao mesmo tempo livraria, poderia dar certo. Nos tempos em que era proprietária da papelaria que ficava na avenida principal do bairro, alguns moradores faziam pedidos de livros por encomenda na Unipaper, metade do valor do livro era dado como sinal e Lucilía, então, procurava as obras em editoras ou em outras livrarias. Para Antônio Carlos Moreira, gerente da locadora Cristal, que vive no bairro, de fato não há interesse por parte dos moradores. "As pessoas deste bairro são desinteressadas. Procuram apenas Livros destinados aos universitários Dentro da Puc Minas, campus Coração Eucarístico funciona a Livraria Universitária, que surgiu a partir de uma iniciativa do DCE e do atual proprietário, Marcelo Ribeiro, há 10 anos. Marcelo conta que trabalhava entregando livros em uma outra livraria e avalia como ótima, a oportunidade que teve de abrir seu próprio negócio em uma área que já atuava. Segundo ele, a livraria é "familiar", já que trabalham nela apenas parentes. Marcelo é contrário ao argumento dado por muitos que a comunidade é desinteressada e não procura por livros. Para ele existem dois públicos diferenciados, a classe A que compra livros e o restante do público formado por alunos e moradores do bairro que visitam a biblioteca da PUC Minas, que possui excelente estrutura e supre a carência por leitura. Para Marcelo, a maior dificuldade de se manter uma livraria no bairro, é a sazonalidade da Universidade. "Durante os meses de férias muitos alunos viajam para o interior e o comércio se torna inviável. Não são todos que conseguem manter o negócio com esta mudança brusca. Nós reservamos capital para o período em que ficamos fechados", explica Marcelo. O proprietário ainda conta que apesar de a PUC ter cerca de 30 mil alunos, é "um sonho pensar que todos vão comprar livros". Durante os meses de férias, a livraria fecha junto com a PUC. Marcelo afirma que não divulga a livraria para a comunidade pois as instalações não comportam um grande número de pessoas, mas explica que está negociando com o DCE para aumentar a unidade. A dificuldade de concretização do projeto, segundo ele, é a falta de espaço dentro da PUC. Baixo movimento da livraria no Coreu fez Willian só vender sob encomenda os best sellers, aqueles que todo mundo lê. Nada cultural aqui funciona. O Coração Eucarístico é apenas um bairro familiar", afirma Antônio Carlos. ESCONDIDAS Sim, elas existem. Mas poucos ou quase nenhum morador do Coreu sabe que, em pontos escondidos ou distantes dos principais locais de acesso do bairro, funcionam pequenas livrarias que tentam resistir à concorrência desleal dos xerox e da falta de interesse de muitos pela leitura. William Gomes é a prova disso. Ele é dono da livraria Willian Livros, que existe desde 1995. Segundo o livreiro, não há muita demanda, porque principalmente o xerox atrapalha o comércio de livros. A livraria ocupava uma das lojas do primeiro piso do famoso Shopping Rosa, mas depois mudou-se para o andar de cima devido ao encarecimento do aluguel. E a mudança de local dificultou ainda mais a divulgação do estabelecimento. O proprietário afirma que a mudança de local atrapalhou as vendas e hoje o lugar serve apenas como depósito de livros. Willian vende exemplares sob encomenda: "as pessoas entram em contato comigo e pedem o livro". Copiadora deseja ampliar o negócio Atualmente ela funciona apenas como uma copiadora e papelaria. Mas os proprietários da Cópia e Arte têm planos de utilizar um espaço já existente na loja para a criação de uma futura livraria. Getúlio Bartolomeu Dias explica que a copiadora também vende obras literárias, mas o acervo é pequeno, cerca de 250 exemplares. "Apesar de vendermos livros, a Cópia e Arte ainda não tem uma livraria oficial", esclarece Getúlio, que assumiu a loja em novembro de 2007. A idéia é justamente lançar mão do público que já freqüenta o local e incrementar a copiadora com mais computadores para que os clientes tenham a disposição mais utilidades. Getúlio acredita que é importante agregar mais funções a futura livraria e oferecer serviços variados que contemplem um público maior e diversificada. Coisa o nome disso n DANIELA REZENDE, 3º PERÍODO 'Coisa o nome disso' é o nome do jornal mural desenvolvido pelo professor de filosofia Haroldo Marques. Estão sendo afixados 50 jornais pelo campus da PUC Coração Eucarístico, nos corredores, salas dos professores e secretarias dos prédios. "É um jornal que faz o casamento entre a imagem e o texto, é a chamada poesia visual", aponta Haroldo. O conteúdo do jornal mural é poesia e o texto se transforma em desenho, unindo imagem e poemas. Nonada também é um trabalho editado pelo professor Haroldo Marques. "Em formato de revista, reúne e divulga não só a cultura e a arte, mas também o entretenimento", afirma o professor. Ao contrário do Nonada, que é patrocinado pela PUC, as quatro primeiras edições do jornal mural foram patrocinadas pelo DA de Arquitetura. São distribuídos novos jornais murais a cada 15 dias. Confira, 'Coisa o nome disso'! Comunidade Outubro • 2009 3 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas AVENIDA RESSACA DIVIDE OPINIÕES PÂMELLA RIBEIRO Via, na Região Noroeste de Belo Horizonte, está recebendo obras que visam melhorar seu trânsito. Porém, muitos moradores estão insatisfeitos com as intervenções realizadas no local n GABRIEL DUARTE, 4º PERÍODO As obras realizadas na Avenida Ressaca e em seu entorno estão dividindo a opinião de comerciantes e moradores dos bairros Coração Eucarístico e Minas Brasil, e também de motoristas que trafegam pelo local. Além da implantação de canteiros centrais e redutores de velocidade na via principal, a BHTrans, órgão responsável pelas modificações no trânsito em Belo Horizonte, modificou o sentido de circulação em várias ruas dos dois bairros. A intervenção, que teve um custo total de R$100 mil, foi dividida em duas etapas. A primeira foi executada no ano passado, entre a Avenida dos Esportes e Rua Dona Ana, com a implantação de redutores de velocidade, mais conhecidos como quebra-molas, e placas de advertência. A outra foi concluída na primeira quinzena de outubro deste ano, entre as ruas Dona Ana e Monte Líbano. Segundo a BHTrans, as obras foram realizadas em resposta a uma demanda da população dos dois bairros. Porém, uma reivindicação feita pela Associação dos Moradores do Coração Eucarístico (Amacor) não foi concretizada: a implantação de semáforos. De acordo com José Celso Lara, gerente de projetos de Transporte e Trânsito da BHTrans, o estudo feito pelo órgão não apontou a necessidade de semáforos na região, mas sim a implantação de redutores de velocidade. O gerente de projetos explica qual deve ser a finalidade dos quebra-molas no local. "Redutores de velocidade estão sendo colocados para manter o uso da via e o fluxo de pedestres seguros", diz. Para a dona de casa, Maria José Higino, as mudanças ocorrem em boa hora. Ela, que passa todos os dias pela Avenida Ressaca para levar seus filhos à escola, acredita que com os redutores de velocidade a segurança dos pedestres irá aumentar, mas integra o coro por semáforos na região. "Eu acho que deveriam colocar também um sinal", opina. No entorno da avenida, uma das ruas de maior movimentação de carros, segundo a BHTrans, é a Monte Líbano. Seu sentido de circulação passa a ser de mão única, sendo possível apenas seguir em direção ao Bairro Padre Eustáquio. Com a mudança, motoristas que antes viravam a Rua Jacutinga para chegar à Avenida Ressaca, terão agora que contornar a Praça Capela Nova para seguir pela avenida. O aposentado Ruy Teixeira Xavier comemorou a mudança, pois sentia dificuldade em atravessar a Rua Monte Líbano, além de já ter presenciado vários acidentes no local. "Os motoristas vinham com uma velocidade alta e agora eles não vêm mais. Foi muito boa a mudança de direção na Monte Líbano, pois à tarde era terrível", relata. Nem todos os moradores ficaram satisfeitos com as mudanças. A reportagem do MARCO observou Vanderlei Jangrossi, residente na Avenida Ressaca, reclamando com agentes da BHTrans de como iria entrar na garagem de seu edifício. "Eu não tenho outras alternativas para sair nem para entrar em meu prédio", afirmou Jangrossi, um dia antes da validação das modificações, às 22h. Jangrossi explica que chegava ao bairro descendo a Rua Itamarati e que depois precisava virar a Avenida Ressaca para entrar na garagem do seu prédio. Agora, com a mudança de circulação nas ruas Lorena e Itamarati, o morador precisará ir até o final da Avenida Ressaca e retornar no outro sentido da via. "Infelizmente, a BHTrans não pensou na situação dessas famílias (moradoras do prédio)", lamenta. Segundo o presidente da Amacor, Iraci Firmino da Silva, a associação não reclamou formalmente com o órgão de trânsito, porém recebeu, segundo ele, inúmeras reclamações de moradores do bairro. "Não adianta reclamar com eles (BHTrans), a gente faz o pedido, mas eles fazem estes estudos e não resolvem", critica o presidente. COMÉRCIO Para José Geraldo Barros, proprietário de uma padaria na Avenida Ressaca, as intervenções não trouxeram nenhum benefício. "Estou achando isto ruim porque eles não colocaram os retornos e isto atrapalha bastante as vendas", conta. Barros diz esperar significativa queda em suas vendas com a proibição de retornos na avenida. "Já reclamei com a BHTrans, mas eles não deram ideia", conta. Já para Maurício Augusto Oliveira, proprietário de uma restaurante na Rua Monte Líbano, as intervenções trarão benefícios a seu estabelecimento. Segundo ele, a diminuição do fluxo de veículos irá trazer mais tranquilidade a seus clientes. "É bom porque diminuiria o trânsito e assim melhora a vida de meus clientes", afirma. Depois da reforma da Avenida Ressaca, moradores têm reclamado dos vários quebra-molas em sequência no local Linhas mudam itinerário Usuários de algumas linhas de ônibus, que transitam pela região, também já perceberam as modificações na Avenida Ressaca. A linha 4110 – Dom Cabral/Belvedere – e Suplementar 41 – Conjunto Califórnia/Prado – tiveram seus itinerários modificados. Agora, o 4110 segue até a Praça Capela Nova e sobe a Rua Professor Tito Novais, para chegar ao Bairro Padre Eustáquio. Para chegar ao Dom Cabral, a linha também fará o mesmo itinerário, trecho igual ao cumprido pela linha 4111. Já para o ônibus suplementar, que chegava à Avenida Ressaca pela Rua Itamarati, o novo itinerário é virar à Rua Lorena para pegar a Avenida. Mais duas ruas no Bairro Minas Brasil tiveram seu sentido de circulação modificados. As ruas Padre Paulo Fernandes e Padre Nóbrega, em parte de suas extensões, passam a ter mão única. Já a Rua Kátia Teodoro de Aguiar passa a ser de mão única em toda sua extensão. Segundo José Celso Lara, passam em média pela região, por dia, 13 mil veículos entre as 6h e 22h. As modificações, segundo o gerente de projetos, foram feitas visando reduzir os movimentos nas vias de interseção com a Avenida Ressaca. Além de melhorar a circulação de veículos e pedestres na região. Para solicitar uma intervenção no trânsito, o morador deve entrar em contato com a Comissão Regional de Transporte e Trânsito (CRTT). O telefone de contato é 33795538 Ônibus da linha 4111 desagrada seus usuários n CÍNTHIA RAMALHO, 2º PERÍODO A professora aposentada Antônia Lara, 66 anos, olha o relógio, que marca 13h exatamente, enquanto está assentada no ponto de ônibus da Avenida Dom José Gaspar, 867, em frente à Pontifícia Universidade Católica (PUC Minas), à espera do ônibus 4111. Ela precisa ir até a Região da Savassi e já se prepara, pois sabe que o caminho até o seu destino será longo: mais de 40 minutos de viagem. Assim como Antônia, muitas pessoas fazem o uso desta linha. Aposentados, trabalhadores e estudantes, apesar da diversidade, quase todos concordam em um aspecto: a viagem é demorada e cansativa. Assim, vale tudo para fazer o tempo passar mais rápido, ler, dormir, comer, falar ao celular. "A viagem se torna enjoativa, de tanto tempo que você passa dentro do ônibus. Tem hora que é melhor ir à pé", comenta o pasteleiro Wiliam Nonato da Silva Gomes, 33 anos. Além do longo percurso que o 4111 faz para chegar até a Savassi, passando antes pelo Bairro Padre Eustáquio e pelo centro da cidade, outros fatores como os constantes atrasos e a superlotação dos veículos também incomodam os usuários. Mesmo assim, o número de pessoas que tomam esse ônibus é elevado, já que é a única opção direta que liga o Bairro Coração Eucarístico à Savassi."Eu prefiro outro (ônibus) porque eu acho que ele (4111) demora muito a passar e quando vem, vem um atrás do outro, ele anda mais cheio", afirma Antônia. "Hoje eu não tenho outra opção, tenho que tomar só ele. Mas tendo outra opção eu pego outro", acrescenta. PÂMELLA RIBEIRO Usuários do 4111 enfrentam filas e tumultos para conseguirem entrar no ônibus. Por conta desses incômodos, em 2004, usuários da linha 4111 criaram uma comunidade em um site de relacionamentos, que já tem 1268 membros, e nela são discutidos os problemas e as possíveis soluções encontradas pelos usuários para a linha, como um abaixoassinado pedindo a revisão do quadro de horários, além da criação de uma nova linha alternativa Dom Cabral/Anchieta. Para a estudante Clarissa Godinho Prates, 20 anos, que pegava o coletivo na Savassi para chegar à universidade, esta seria uma forma prática de se resolver todos os problemas que permeiam o itinerário do 4111, pois reduziria o tempo de viagem, dando um maior conforto a todos os usuários. A estudante ainda completa que por causa do longo trajeto, sempre tinha que acordar muito cedo para não se atrasar para a aula. Para se livrar dos atrasos, constantes para quem anda no 4111, a professora Maria de Fátima Barbosa, 52 anos, aposta em um trajeto diferente. Ao invés de pegar o 4111, ela opta pelo 5401 – Dom Cabral/São Luís –, que para na Avenida Amazonas com Avenida do Contorno. Lá ela pega um táxi lotação e assim, segue para a Savassi. "Apesar de gastar um pouco mais, compensa, pois além de um conforto maior, o tempo da viagem reduz em pelo menos 20 minutos", afirma. Mesmo sabendo da insatisfação dos usuários quanto ao ônibus 4111, a BHTrans, por meio de sua assessoria de comunicação, informa que uma mudança de itinerário é algo muito difícil de fazer, pois é necessária uma análise de ambiente, juntamente com a aprovação da nova rota pela empresa responsável pela frota. A solução seria a divisão da linha, o que geraria outros problemas, como a necessidade de pegar mais de um ônibus para chegar a determinados locais. Em contrapartida, Antônio Rodrigues, gerente de tráfego da Viação Anchieta, companhia que gerencia a linha 4111, afirma que o maior problema para a mudança de itinerário é a própria BHTrans, uma vez que não aprova os projetos que são enviados. "Tentei mexer no itinerário do 4111, mas recusaram dois projetos. Sem autorização, nada feito", justifica. 4 Comunidade jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas Outubro • 2009 REGIÃO NOROESTE SOFRE COM RATOS Com o objetivo de combater os roedores que têm infestado suas residências, principalmente nos bairros Carlos Prates, Caiçara e Padre Eustáquio, moradores buscam soluções inusitadas PÂMELLA RIBEIRO n ISABELLA LACERDA, 4º PERÍODO Rosane Oliveira, moradora da Rua Coronel José Benjamim, no Bairro Padre Eustáquio, Região Noroeste de Belo Horizonte, teve uma ideia curiosa para solucionar os problemas que estava tendo com os ratos arrumou um gato para morar em sua casa. Segundo ela, o problema com roedores começou porque, ao lado de onde mora, havia um lote abandonado com rede de esgoto aberto. "Os ratos vinham mesmo para minha casa. Quando começou a obra, os ratos pareciam que tinham acostumado a ficar aqui. Rato normalmente não fica onde tem gente, mas esses já ficavam junto com a gente, iam para a cozinha", explica. O Bairro Padre Eustáquio, onde Rosane reside, assim como Caiçara e Carlos Prates, localiza-se em uma região onde a infestação de roedores está acontecendo em maiores proporções, como reconhece a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). De acordo com Rosane, esse incômodo já ocorria há muitos anos e foi aumentando progressivamente. "Chamei a prefeitura diversas vezes e, quando vinham, colocavam venenos mixurucas que não adiantavam nada. Eu estava tão desesperada com a situação que eu consegui até chumbinhos para colocar. O problema é que você consegue matar um rato e parece que vêm dez para o velório e ficam na sua casa", conta Rosane. PBH auxilia população a combater roedores A ex-comerciante Rosane Oliveira e seu gato Severino Mingau, adquirido para eliminar os ratos de sua casa ALTERNATIVAS A excomerciante comenta que a ideia do gato já estava sendo cogitada há mais tempo, mas que antes tentou outras soluções, como colocar coisas debaixo da porta para barrar a entrada deles, o que, segundo ela, não adiantava porque eles roíam tudo. "Mas o caso já estava tão grave, já tinha tanto rato e a prefeitura já não vinha mais aqui em casa, que eu consegui que meu irmão arrumasse um gato para mim nas Centrais de Abastecimento de Minas Gerais (Ceasa Minas)", afirma. Ela completa dizendo que, quando chegou, o gato estava doente e não tinha tomado nenhuma vacina. "Eu achei que a ideia do gato já ia furar, até que, com menos de uma semana, só a presença dele já fez desaparecer os ratos. E ai fui cuidando do gato e ele foi virando um xodó. Ele já tem até nome: Severino Mingau", revela Rosane. Os ratos são responsáveis pela transmissão de algumas doenças, como a leptospirose. Essa era uma das principais preocupações de Rosane, uma vez que em sua casa mora sua mãe, dona Juvencina Lara, de 85 anos. "Quando falei com o médico da minha mãe ele mandou dar um jeito de acabar com os ratos, pelo perigo dela pegar uma doença e acabar morrendo por causa disso. Tinha dias que desciam 30, 40 ratos pela parede do meu quintal", lembra. Rosane revela que o gato foi a solução para os problemas com os ratos, mas que muitos de seus vizinhos estão passando pelo mesmo problema que ela e que estão adotando os procedimentos domésticos, como remédios, venenos, ratoeiras. Ela ainda relembra que outras pessoas aderiram à sua ideia. "Depois que coloquei o gato, minha tia Maria de Lourdes Oliveira, que também mora no Padre Eustáquio, arrumou um gatinho para resolver o problema dela com os ratos", conta. A Prefeitura de Belo Horizonte está realizando ações de combate a roedores na capital, principalmente em bairros com maior número desses animais, como Caiçara, Carlos Prates e Padre Eustáquio, todos na Região Noroeste. De acordo com Sérgio Leão Magalhães, técnico em zoonoses da Regional Noroeste, o aumento desses roedores está ocorrendo, em geral, em todo o município, entretanto, algumas regiões acabam sofrendo mais com isso. "Na Região Noroeste, por exemplo, é por causa das grandes obras, que acabam mexendo muito com as galerias de esgoto, local onde os ratos costumam ficar. Assim, eles tendem a procurar outros abrigos. Obras como na Avenida Antônio Carlos, na Pedreira Prado Lopes, e na Avenida Pedro II, que é uma grande galeria, ajudam na saída desses ratos para esses bairros", explica. O técnico conta que estão sendo feitas ações programadas nas vilas e que, nas áreas formais da cidade, as demandas são atendidas a partir de ligações para o 156 ou para o Serviço de Atendimento ao Cliente (SAC). "O atendimento consiste, primeiramente, na orientação e diagnóstico dos locais que solicitam o serviço, dando orientações para evitar o acesso desses roedores às casas, evitar a exposição de alimentos que os atraem e a formação de abrigos para esses animais nas casas. Em seguida, aplica-se o raticida nesses locais", pontua. Segundo Sérgio, nesse período de chuva a incidência de roedores aumenta, pois a água mexe com o habitat deles, que é o esgoto. Entretanto, Sérgio afirma que o importante é que todas as pessoas adotem certas medidas para evitar que eles invadam as casas, como não deixar abrigos para os ratos, lixo e comida expostos para esses animais. Outro aspecto ressaltado pelo técnico é que não se deve usar o famoso 'chumbinho'. "O chumbinho é um veneno proibido, pois é um risco para os animais e para as próprias pessoas. Isso é muito perigoso. A melhor solução é chamar a prefeitura ou alguma firma especializada", acrescenta Sérgio. Nova Rodoviária permanece sem decisão oficial MAÍRA CABRAL n SÍLVIA VOLPINI, 3° PERÍODO A não conclusão do estudo que vai avaliar a manutenção do Terminal Rodoviário Governador Israel Pinheiro (Tergip) no hipercentro de Belo Horizonte ou sua transferência para o Bairro Calafate tem desagradado os moradores dessa região. Esse diagnóstico encomendado pelo prefeito Márcio Lacerda, logo após a sua posse no início deste ano, vai embasar a prometida conversa com a comunidade da área cotada para receber a nova rodoviária. O adiamento do diálogo entre prefeitura e comunidade que definirá a execução do projeto contribui para a não oficialização de qualquer esclarecimento sobre o assunto. Conforme publicado pelo Jornal MARCO na edição de março deste ano, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) previu o desfecho do estudo para maio de 2009. Mas, segundo a assessoria da BHTrans, empresa responsável por gerenciar o transporte e trânsito da capital mineira, a avaliação dos impactos será con- cluída somente neste trimestre do ano, possivelmente no mês de novembro. EXPECTATIVA Para Guilherme Neves, presidente da SOS Bairros, associação representante dos bairros Calafate, Prado, Gutierrez e Barroca, este novo estudo só vai confirmar o que o antigo, formulado em 2005, já havia constatado. "O antigo estudo já mostrava que o Bairro Calafate é contraindicado para a instalação da rodoviária. Se há quatro anos o trânsito aqui já não comportaria o fluxo de veículos que demanda uma rodoviária, hoje em dia, os números devem estar muito maiores", observa. Guilherme também protesta contra a demora de uma posição definitiva da prefeitura, alegando que o espaço em que a rodoviária seria instalada e está atualmente inutilizado, poderia ser locado para outros fins. "A área já poderia estar recebendo um tratamento de urbanização adequado, mas continua sendo um terreno sem destinação. Poderia ser a sede da Guarda Municipal ou do GATE (Grupo de Ações Táticas Especiais), soluções que não atacariam a região como a rodoviária", sugere. Quanto às ações assumidas pela comunidade, Guilherme conta que os moradores do Bairro Calafate compartilham uma postura de oposição à transferência do Tergip para o local. "Nós da SOS Bairros instruímos os cidadãos para pressionar a prefeitura. Essa conversa teve início em 12 de outubro de 2007, quando foi lançado o protocolo da lei. Está demorando muito", afirma. A assessoria da BHTrans ainda explica que o Bairro Calafate é previsto como a possível área para abrigar o novo terminal rodoviário por se tratar de uma região estratégica, que permite saídas para o anel rodoviário, a BR-040 e a rodovia Fernão Dias. Guilherme Neves discorda que o Calafate seja a região mais apropriada para receber o Tergip. "Uma rodoviária no Calafate é impossível. A não ser que se desapropriem os bairros Prado e Calafate. E isso só vai Mesmo com transferência já discutida, ainda há dúvidas sobre a nova instalação do Tergip agravar a situação do tráfego, além de tornar a região uma porta aberta para pessoas de outros estados que vêm mal intencionadas e se instalam próximo à rodoviária. O bairro será transformado em uma área de risco, sem conforto, com poluição e ruído", desabafa. Ainda que nenhuma decisão oficial tenha sido divulgada, a associação se mantém atenta a qualquer novidade. "Estamos aguardando as decisões para tomarmos as devidas providências. Falta planejamento e bom senso para fazer uma coisa justa para a população", acrescenta Guilherme. Comunidade Outubro • 2009 5 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas PÂMELLA RIBEIRO FALTA POLÍCIA E SOBRA DEGRAU NA RUA PRADOS Moradores da região afirmam que o local tem sido frequentado por maus elementos. Falta de iluminação e calçamento são problemas enfrentados pelos moradores da área. n CLARISSE SOUZA, 4° PERÍODO Todos os dias, Solange Carvalho Leite sai de sua casa às 5h da manhã, na Rua Prados, localizada no Bairro Carlos Prates, rumo ao seu trabalho. A saída, ainda na escuridão, é acompanhada por uma sensação de medo ao descer a longa escadaria que liga sua casa à parte asfaltada da via. O principal motivo para este sentimento é a ocupação do local por parte de usuários de droga, que segundo ela, aproveitam as más condições da rua para esconder entorpecentes ou se refugiarem da polícia. Situada na Região Noroeste de Belo Horizonte, a Rua Prados incomoda os moradores por diversos motivos. A via, que tem em suas extremidades a Avenida Tereza Cristina e a Rua Padre Eustáquio, é interrompida na altura do número 820 por um grande barranco, o que torna impossível o trânsito de veículos e muito complicada a circulação de moradores e transeuntes no local. A única forma de acesso disponível é uma longa escada que, segundo o segurança Magno Pantaleão da Luz, de 51 anos, foi construída pela Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte (Urbel), quando a empresa realizou obras no local, considerado como área de risco de desabamento. Mas não é apenas o cansaço provocado pelo grande número de degraus da escadaria que gera reclamações entre os moradores da Rua Prados. A frequência de furtos, roubos e atos de vandalismo vêm causando revolta entre a população do local. Magno lembra as inúmeras vezes que presenciou da janela de sua casa cenas de perseguição a suspeitos de envolvimento em crimes. Segundo ele, a rua é local estratégico para fugas, pois está posicionada em um ponto alto do bairro, o que permite aos fugitivos ou traficantes uma ótima visão do entorno. "Eles sentam na escada com um binóculo e ficam olhando se a polícia está vindo", revela Magno. Moradora do local desde seu nascimento, há mais de 48 anos, Solange conta que diversos objetos são arremessados por vândalos sobre sua casa, assustando-a, além de amedrontar também suas filhas e sua irmã. "Sobem no telhado, jogam coisas, quebram vidro, telha, antena", reclama. A falta de um homem em casa a preocupa. "Somos quatro mulheres e é muito perigoso para nós. Fica muito sem defesa", diz Solange, ao recordar o dia em que o portão da garagem foi arrancado do muro de seu lote. Ela conta que registrou ocorrência, mas como não houve flagrante, nada foi feito. POLICIAMENTO A ausência de policiamento na rua preocupa os moradores. "Polícia não resolve nada. Vem aqui muito pouco. Só quando está dando ronda", conta Solange. A demora no atendimento às chamadas é o principal problema, de acordo com Magno. "Quando você chama a polícia aqui, dá tempo de o malandro tomar um cafezinho, ir embora, para depois a polícia chegar", afirma. Segundo o major Idzel Fagundes, a área da 9ª Companhia da Polícia Militar abrange 23 bairros da capital, cerca de 180 mil moradores e um fluxo de 1 milhão de pessoas. "Não tem como ter policiamento fixo em todas as regiões", justifica. O major Fagundes explica que a região do Bairro Carlos Prates fica em uma área central da cidade, com grandes corredores, como a Avenida Tereza Cristina e a Rua Padre Eustáquio. "Isso facilita a fuga", explica. O major ressalta que quando os índices de violência são altos em alguma determinada região, direciona-se um policiamento maior e mais frequente naquele local. Mas no caso da Rua Prados, e em todo o Bairro Carlos Prates, não há números relevantes de criminalidade no local, o que não significa que eles não existam. O problema, segundo ele, é que muitos moradores não registram ocorrências quando ocorre algum crime. Durante a noite o clima de medo é maior, explica Magno, pois além da visibilidade ruim devido à escuridão do período, a iluminação da rua é precária, facilitando ainda mais a camuflagem de pessoas na rua. Além da escada, que é usada como esconderijo, existe o problema do crescimento da vegetação no decorrer do barranco. Solange conta que o serviço Magno Pantaleão, morador da Rua Prados há 51 anos, reclama da falta de atenção da PBH para os problemas locais de limpeza no local, prestado pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), só é realizado uma vez por ano. "Minha irmã que capina em frente à minha casa. O resto vai crescendo até ficar bem alto", revela. Para que haja uma diminuição da ação de crimes violentos "a ilumi- nação é fundamental", alerta o major. São necessárias medidas por parte dos moradores para melhorar a iluminação, manter o local limpo, além de adotar comportamentos de prevenção", salienta. O major alerta para a importância do registro das ocorrências para que a PM fique ciente da real situação de violência na região, realizando um policiamento mais ostensivo. Ele aconselha ainda que a população tenha um contato maior com a PM, conhecendo os profissionais que atuam em sua região e procurando conhecer melhor também os vizinhos. Falta de asfalto gera problemas Subir a escadaria da Rua Prados é um exercício impossível para Raimundo Fernandes dos Santos, um aposentado de 80 anos que reside na via há quatro anos. Com uma doença que afeta suas pernas, dificultando sua locomoção, a única forma de chegar à parte alta da rua é solicitando os serviços de um taxista. Solange Carvalho Leite revela as dificuldades pelas quais sua família passa devido à inexistência de pavimentação no local. Sua irmã é paraplégica e quando necessita de atendimento médico, precisa ser carregada no colo por sua filha, pois não há possibilidade de chegar à residência utilizando a cadeira de rodas. O segurança Magno Pantaleão da Luz diz já ter visto um morador idoso cair da escada. Para ele, o local é muito perigoso para qualquer transeunte. "Só um jato de concreto já aju- dava", acredita. Solange conta que nos períodos chuvosos a situação é ainda pior, pois a escada fica localizada ao lado esquerdo da rua, fazendo com que os moradores do lado direito tenham que passar no meio da terra. "Quando chove, tem que sair no meio do barro", reclama. Para ela, a construção de uma nova escada no lado direito da rua já contribuiria para a entrada e saída dos moradores de suas casas. De acordo com Renata Matta Machado, gerente de comunicação social da Regional Noroeste, as informações que constam na Gerência de Manutenção é que a Rua Prados "possui pavimentação, do tipo poliédrica (calçamento de pé-de-moloque)", contrariando a real situação da via. Além disso, ela afirma que a "coleta de lixo é feita três vezes por semana e também é realizada varrição periódica". Burocracia emperra obras na Praça São Vicente MAÍRA CABRAL n THAÍS MAIA, 3º PERÍODO Com OP aprovado desde 2008, Praça São Vicente ainda não está em obras A dona de casa Julieta Drummond Antunes, de 66 anos, mora na Avenida Abílio Machado, no Bairro Padre Eustáquio, Região Noroeste de Belo Horizonte e costumava caminhar todas as manhãs pela Praça São Vicente, que fica perto de sua casa. Hoje em dia, não anda mais por causa da poluição sonora causada pelo trânsito da região. "O barulho das buzinas e o constante trânsito carregado me desanimam. Eu votei pela obra no OP digital, isso foi em 2008 e até hoje, quase um ano depois, nada aconteceu", lamenta a dona de casa. Além de Julieta, mais de 48 mil pessoas que votaram pelas obras da Praça São Vicente até hoje não viram nada acontecer. "Acho que essa obra nunca vai ser concluída. Aliás, acredito que ela nem vá começar; desde 2008 estamos esperando. A situação é caótica e revoltante", afirma a aposentada Henriqueta Fonseca, de 63 anos. Aprovadas em dezembro de 2008 pelo Orçamento Participativo digital da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, as obras na Região da Praça São Vicente, no Bairro Padre Eustáquio, conseguiram 112.837 votos pela internet e 11.483 pelo telefone, mas não começaram a ser realizadas até o fechamento desta matéria. A assessoria da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) informa que as obras não tiveram início por causa de um licenciamento ecológico que ainda não foi liberado. De acordo com a assessoria da PBH, R$ 39 milhões serão investidos para mudar o trânsito na região, que concentra todo o tráfego vindo das Avenidas Ivaí e Abílio Machado, além da Rua Pará de Minas e das pistas marginais do Anel Rodoviário. O planejamento da obra prevê a implantação de uma continuação dessas pistas e a construção de dois novos viadutos sobre a Rua Pará de Minas. A BHTrans calcula que serão implantadas, ainda, duas novas trincheiras que possibilitarão retornos sem utilizar as vias locais já existentes. Para o taxista Mauro Lúcio de Andrade, 46 anos, a burocracia prejudica o desenvolvimento das obras. "Dizem que o investimento vai ser alto, mas até agora nada aconteceu e eu acredito que seja problema de licenciamento, essas coisas burocráticas. É difícil para os motoristas, é difícil para os pedestres. É difícil ficar esperando". Ainda segundo a assessoria da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, as obras beneficiarão 90 mil veículos e 5 mil ônibus, além dos pedestres, que passam pelo local diariamente. "Acho que as autoridades deveriam ficar um tempo aqui para ver o caos que é essa região. Para nós, moradores, a situação é horrível, de convivência mesmo. Convivência com essa baderna. Seria muito bom que a voz do povo fosse ouvida de verdade. Nós votamos, ganhamos e não recebemos", observa Julieta Antunes. 6 Comunidade jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas Outubro • 2009 MAÍRA CABRAL PROJETO ESCOLA INTEGRADA CHEGA AO DOM BOSCO Escola Municipal Dom Bosco, localizada na Região Noroeste da capital mineira, oferece aos alunos, além da educação básica, oficinas de leitura e interpretação de texto, esporte, lazer e informática. O projeto é uma inciativa da Prefeitura de Belo Horizonte n RÚBIO FIRMINO, 8º PERÍODO Os alunos da Escola Municipal Dom Bosco, na Região Noroeste de Belo Horizonte, tem uma rotina diferenciada da maioria das demais instituições de ensino, por ficaram envolvidos nove horas em atividades escolares. Este período divide-se em aulas na sala em um turno e oficinas em outro, intercalados pelo almoço lanches servidos na cantina. O estabelecimento pertence desde abril do ano passado ao projeto Escola Integrada desenvolvido pela prefeitura, por meio da Secretaria de Educação, que beneficia 50 instituições da rede municipal de ensino da capital. A educação integrada não se resume apenas ao tempo em que os alunos estão sobre responsabilidade da escola, também diz respeito à integração entre escola e espaços comunitários - professores e moradores. Eustáquio Lopes Júnior, responsável pelo apoio às coordenações, explica as características da escola integrada. "Ela é integrada porque atende os alunos em tempo integral, integra a escola a outros espaços comunitários e interagem professores com outros atores da sociedade", diz. O apoio e a participação de pessoas influentes na comunidade como padres, pastores, presidentes de associações de bairro, pais, comerciantes e vizinhos, juntamente com os professores, são a engrenagem que fazem com que o proje- to de integração escola comunidade seja possível. As oficinas são realizadas por professores que cedem parte de seu tempo para o projeto e por monitores que guiam as crianças nas atividades de para casa, alfabetização e letramento, linguagem de sinais (libra), leitura e interpretação de texto, esporte e lazer, jogos e brincadeiras, matemática lúdica, intervenção urbana e informática. O projeto beneficia também alunos de outras escolas de bairros da região como Dom Bosco, Califórnia, Vila Califórnia, Vila 31 de Março e Ipanema. ALÉM MURO A escola integrada não se limita a seu espaço físico, suas atividades vão além de suas dependências, boa parte das oficinas Alunos da Rede Municipal no Bairro Dom Bosco praticam esportes e realizam atividades escolares em tempo integral são realizadas fora, "caindo" assim os muros que "dividem" a escola da comunidade. Os locais das oficinas não podem ficar a um raio superior a um quilômetro da escola, por isso o deslocamento não é um problema. Outra preocupação é com o transporte de material, para evitar que os alunos carreguem mochilas muito pesadas, as crianças só levam o material específico de cada tarefa. Além da própria escola, são diversos os espaços cedidos por pessoas e setores da sociedade que colaboram com o projeto, como a Paróquia São João Bosco, a igreja evangélica Arca da Aliança, a Associação da Vila 31 de Março e até mesmo um lugar onde funcionava um bar é utilizado para realização de atividades. A coordenadora do programa Escola Integrada, Anapaula Athadeu Costa, diz que o objetivo é ser escola modelo. "O nosso objetivo de trabalho é ser a primeira em Belo Horizonte, depois a primeira em Minas Gerais e expandindo para ser a melhor do Brasil em referência de escola integrada", enfatiza. Daniela Santos Souza, de 11 anos, é aluna da escola desde o ano passado e elogia muito a merenda. "Gosto de feijoada, frango xadrez, maionese e arroz com strogonof", diz a menina. Já Ana Flávia Souza, 13, diz que gosta das atividades de horta e educação física, e aponta suas preferências em sala de aula. "A matéria que eu mais gosto é ciências e a que acho mais difícil é a matemática", afirma. A agente cultural Dulciléia Pereira da Silva participa desde o início e destaca o diferencial da proposta. "É um projeto muito interessante que visa integrar comunidade e escola, o que mais me satisfaz é não estar presa a uma grade curricular, a educação aqui vai além do convencional, é sucesso total", relata. Proteção reforçada com Olho Vivo no Coreu n DANIELA REZENDE, 3º PERÍODO O Bairro Coração Eucarístico está protegido pelo projeto Olho Vivo, que inicialmente foi implantado no centro da capital e cresceu para outras regionais, chegando à noroeste. São cinco câmeras distribuídas pelo bairro, além de uma localizada no Dom Cabral. Além destas, serão instaladas mais três câmeras em locais com alto índice de criminalidade, segundo o major André Leão, comandante da 9ª companhia do 34º batalhão. Essas três câmeras serão instaladas no Bairro Coração Eucarístico e fazem parte de um acordo realizado entre PUC e Ministério Público. "É um termo de ajustamento de conduta, para compensar o número de veículos estacionados na região", diz o major. "Diariamente, cerca de dois a três mil veículos ficam estacionados nas ruas próximas à faculdade", completa. Pedro Henrique Cardoso, 18 anos, que trabalha na clínica de fisioterapia Fisiotec há dois meses na esquina que será instalada uma das câmeras, e comenta que ela trará maior segurança à rua. "Às vezes aparecem pessoas estranhas aqui, ficam pedindo água. Não que sejam pessoas de má índole, mas às vezes atrapalha, gera insegurança", explica. "Acho que essas pessoas continuarão passando, mas a câmera é uma segurança a mais", completa. Pedro sugere que o trânsito no local poderá melhorar com o monitoramento do estacionamento indevido na esquina, onde o ônibus da linha 9410 vira. "Essa câmera pode ajudar quanto aos carros que param em local proibido. Na esquina não podem parar carros porque os ônibus não conseguem virar. Sempre tem algum parado e o ônibus fica o dia inteiro buzinando", conta. Na Região Noroeste, o monitoramento das câmeras é realizado por quinze pessoas, um supervisor e um militar. "Civis são treinados para o monitoramento, são quatro turnos e geralmente por turno, estão presentes três responsáveis", esclarece o major André Leão. Quando algum problema é detectado dentro do quar- MAÍRA CABRAL Monitores acompanham as câmeras do projeto Olho Vivo que fazem a segurança da cidade de Belo Horizonte Funcionamento das câmeras A câmera fica parada no modo automático, alcançando 380º de visão na horizontal e 180º na vertical. Se detectar algum movimento suspeito, ela passa para o modo manual para que os responsáveis pelo monitoramento possam visualizar com mais precisão o que está acontecendo no tel, eles entram em contato com a viatura mais próxima e os policiais vão ao local para averiguar o que está acontecendo. RESULTADOS Dona Ninita Castilho, como é conhecida, é moradora há aproximadamente 20 anos e comenta que a violência diminuiu, mas não o suficiente. "O índice de violência no bairro era bem maior, já melhorou um pouco. A Rua Dom José Gaspar, principalmente, é muito perigosa. Já instalaram o suporte na esquina, mas não colocaram a câmera ainda", afirma. O morador Antônio Carlos Teixeira, 73 anos, que reside na região há aproximadamente 45 anos, também cita que a violência diminuiu. "A segurança melhorou um pouco, as câmeras que estão aqui são suficientes", aponta. Segundo dados disponibilizados pelo major André Leão, a criminalidade no Coreu está controlada. "De janeiro a local. "A câmera pode aproximar, com imagem nítida, até 250 metros do local onde ela está instalada", assegura o major André Leão. Uma única câmera do Olho Vivo, com todas as instalações necessárias para o seu funcionamento, custa em torno de R$ 40 a R$ 60 mil. setembro de 2009 houve um decréscimo de 19,7% comparado ao ano passado. No mês de setembro deste ano, comparado a setembro de 2008, os crimes violentos decresceram 31,6% em grande parte da Região Noroeste", pontua. "O problema é a falta de prevenção, a vítima distraída e o criminoso motivado", argumenta. A 9ª companhia é a segunda que mais baixou a criminalidade em Belo Horizonte. "Nosso índice hoje é o de 11 anos atrás", conclui o major. Kênia Ferrari, vendedora da loja Kripton, na pracinha da PUC, diz que a solução para o problema dos assaltos seria a maior presença da Polícia Militar no bairro. "Acho que a solução seria um policiamento maior, colocando policiais aqui na praça. Quando eles ficam aqui, a gente nota que desaparecem essas pessoas que ficam pedindo esmolas nas lojas", observa. O major acrescenta que a Polícia Militar está fazendo o policiamento das ruas e avenidas do bairro, mas o cidadão deve tomar os devidos cuidados. "Não adianta a pessoa pensar que a câmera vai salvála. A responsabilidade é de todos, a pessoa também deve ficar alerta", conclui André Leão. "O principal problema próximo a Católica são os roubos de celulares", diz o major, que reafirma o cuidado que as pessoas devem ter ao andar pela região. "A Polícia Militar está fazendo sua parte. Não deixar o veículo em qualquer lugar, não sair conversando no celular e qualquer desconfiança ligar para a PM são uma das alternativas que os moradores têm", indica. O vigilante da PUC Minas, Antônio Miranda, que trabalha na universidade há dois anos, diz que com a instalação das câmeras, os assaltos, principalmente com motoristas, diminuíram bastante. "Antes roubavam muitos carros aqui na porta. Tem tempo que não vejo falar nada", afirma. Campus . Comunidade Outubro • 2009 7 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas MINI-ONU RECEBE PRESENÇA ILUSTRE LUÍZA FERRAZ O ministro das Relações Exteriores,Celso Amorim, participou da décima edição do Modelo Itercolegial da Organização das Nações Unidas, realizado pela PUC Minas, e destacou o clima e a desigualdade como os grandes desafios da política internacional atualmente n PATRÍCIA SCOFIELD, 8º PERÍODO "Acho que você já fez a avaliação da política externa do Brasil: é um país pacífico e tem cadeira cativa no Conselho de Segurança da ONU". Com a afirmação sucinta e um sorriso calmo esboçado no rosto, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, resume, com paciência e à sós por alguns segundos com a repórter do Jornal MARCO, a conjuntura das relações internacionais do país, durante a abertura da décima edição do Modelo Intercolegial da Organização das Nações Unidas (MiniONU). Em palestra ministrada no Auditório Topázio, Minascentro, ao público de 1.500 pessoas envolvidas com o projeto da PUC Minas, entre alunos do ensino médio de 87 escolas do Brasil, professores e convidados, Amorim destacou que a política externa do governo do presidente Luís Inácio Lula da Silva apresenta particularidades em relação "à maneira de executar e à ênfase, mas as formas (das políticas externas dos governos em geral) são as mesmas". Para o ministro, a marca dessa política brasileira é a "ponte entre a tensão permanente do interesse nacional e a solidariedade com outros países". "A razão é fundamental na política externa, mas o coração não pode faltar nem ficar alheio", conclui o embaixador. Isso explica, por exemplo, a defesa constante feita por ele em relação aos vizinhos do Brasil na América do Sul. "Eu moro na América do Sul, por isso a defendo. O Brasil tem fronteira com dez países", justifica. No governo Lula, o embaixador diz ser apenas um funcionário que contribui com a maneira de executar as relações políticas internacionais da atual gestão do Poder Executivo brasileiro. A solidariedade ressaltada pelo ministro transparece quando, ao começar a proferir a palestra, Amorim cita que naquela tarde de 9 de outubro um avião caíra no Haiti, deixando 11 uruguaios e jordanianos feridos. Não havia brasileiros no voo. "Esse fato demonstra que lutar pela paz se faz com sacrifício, muitas vezes, da própria vida", pondera, mencionando também a morte do diplomata brasileiro Sérgio Vieira de Mello em 2003, no Iraque. PAZ Destacando o papel da Organização das Nações Unidas (ONU), cujo modelo é simulado no Mini-ONU organizado pelo curso de Relações Internacionais da PUC Minas, o ministro das Relações Exteriores ponderou que a criação deste órgão no período pós Segunda Guerra Mundial teve como objetivo acabar com os conflitos diretos e garantir a paz, "cujo valor só se nota quando nos falta, assim como o ar e a liberdade". "Períodos de paz são excepcionais ao longo da história da humanidade", afirma Amorim. Para o embaixador brasileiro, a importância da existência de uma organização como a das Nações Unidas está na possibilidade da troca de ideias: "Falta percepção para quem fala mal da ONU. Verbalizar problemas já é um grande mérito". E para negociar a busca por soluções pacíficas e a encontrar soluções, segundo Amorim, é pre- Celso Amorim, um dos ministros do governo Lula, comentou sobre a política internacional praticada pelo Brasil ciso "ver o ponto de vista do outro". Ou seja, nas palavras do ministro: "Fazer o nosso interesse vitorioso sem humilhar, sem causar perda para os fracos, especialmente". DESAFIOS No contexto da política internacional, o embaixador ressaltou grandes desafios para a humanidade discutir e enfrentar, como o clima, a igualdade racial e a de gêneros. "Temos que influir no curso dos acontecimentos, ter a consciência de que política nos diz respeito e que só participando dela poderemos melhora-la", complemen- ta. Sobre a atuação dos cidadãos na política tanto nacional quanto global, Amorim destacou que não há realidade que não influencie no cotidiano das pessoas. Como exemplo, o ministro citou um hipotético conflito sangrento, o qual determina variações no preço do barril de petróleo, que por sua vez atinge a taxa de inflação (desvalorização da moeda) na economia brasileira e chega ao dia-a-dia até mesmo de quem não se interessa pela política, por não ver relação direta de sua vida com um acontecimento em outra parte do mundo. O embaixador Celso Luiz Nunes Amorim foi indicado, no início de outubro deste ano, como o melhor chanceler do mundo pela revista estadunidense Foreign Policy, ligada ao Washington Post e à Newsweek. O especialista em política externa David Rothkopf, colunista da revista, intitula o ministro das Relações Exteriores como "autor intelectual da transformação do papel do Brasil no mundo que é quase sem precedentes na história moderna", no texto do site da publicação intitulado "The world's best foreign minister". Dulu comemora gravação do seu primeiro DVD n RENATA MARINHO, 6º PERIODO Em meio a aplausos animados que refletiam a ansiedade da platéia, o cantor Luciano Paulo da Silveira, conhecido como Dulu, subiu ao palco no dia 20 de outubro para a gravação do seu primeiro DVD, no Palácio das Artes. Mineiro de Passos, no sudoeste do estado, deixou sua família e amigos para ir atrás de um sonho. Morando em Belo Horizonte desde 2002, o músico investiu em sua carreira, e após ter gravado dois cds o tão desejado áudio-visual se tornou uma realidade. No primeiro cd lançado em 2004, todas as faixas são músicas inéditas compostas por Dulu. Em 2008, o cantor lançou seu segundo álbum, com composições suas, e algumas versões de músicas conhecidas de outros artistas. Na gravação do DVD, o artista reproduziu releituras de cantores conhecidos como Cazuza e Zeca Balero, além de seus maiores sucessos, do primeiro e segundo cd. Para o fotógrafo Wolfgang Wagner, que foi contratado para cobrir o evento, a organização do show foi competente, o que segundo ele possibilita um espetáculo bom de se ver. "A expectativa em relação a gravação do DVD é a melhor possível, porque pelo que eu vi antes PÂMELLA RIBEIRO O cantor Dulu gravou, no Palácio das Artes, seu primeiro DVD, no dia 20 de outubro mesmo de abrir para o pessoal entrar, a equipe que está trabalhando com ele, é competente. Eu que já trabalhei em vários shows, a gente nota esse tipo de coisa com facilidade. Tanto na parte técnica, quanto na parte artística", observa Wolfgang. RECONHECIMENTO "O trabalho do Dulu é um trabalho Pop, ele visa um público jovem e ele tem alcançado um publico relativamente grande em BH, porque Belo Horizonte dá espaço para esse tipo de cultura. Eu acho que ele tem grandes possibilidades de alcançar vôos mais altos, e a gente apóia ele", analisa. Ricardo Lemos, que trabalha como segurança, diz ter conhecido Dulu na noite, em Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, nos barzinhos que o cantor faz shows. "Eu acho ele um cara batalhador, guerreiro, me identifiquei muito com ele, uma pessoa bacana, que corre atrás do que quer, tem um objetivo na vida. Eu estou aqui marcando presença, porque é o primeiro DVD dele que vai sair, e minha torcida é para o sucesso dele. Eu espero que o show seja bacana, eu acredito que é um sonho que esta se realizando na vida dele, torço muito por ele", afirma Ricardo. O policial civil Douglas Eduardo Silva Lambertuce diz que Dulu tem muito talento, e que ele merece que tudo dê certo. "Desde o começo eu acompanho ele, que toca na noite, então eu já tive o prazer de prestigiar meu amigo", conta. A relação de Dulu com a música começou como a de muitos jovens do interior, montar uma banda para tocar em garagens. "Eu comecei tocando em banda de baile, aí depois vieram os barzinhos, que deu uma reforçada na vida financeira. Atualmente eu venho trabalhando na noite, é meu ganha pão eu vivo como músico", explica Dulu. NA TV Segundo ele as coisas vêem acontecendo gradativamente em sua carreira. No começo de 2009, o cantor enviou novamente seu trabalho para o programa Raul Gil, e em maio a produção do programa entrou em contato com ele. "Você vai lá, apresenta uma música própria, e fica uma comissão julgadora que julga a produção do cd em si. Aí no dia lá, a brincadeira do quadro era ou vai pra boca do povo, que era positivo, ou vai pra boca do forno, e isso no caso não seria legal. Mas comigo foi legal, porque foi para a boca do povo, e teve uma repercussão muito boa, através disso as portas se abriram muito mais", garante Dulu. Ele ainda fala sobre a visibilidade que esta apresentação no programa Raul Gil lhe rendeu, "Está pintando o interesse de empresários, pintou agora um produtor musical que inclusive está me dando uma grande força, da NeoRecord, tanto é que ele que produziu o show para o Palácio das Artes", conclui. Para Dulu sua maior alegria em relação à música foi à gravação de seu primeiro cd. "Foi na época que eu mudei para cá, aí logo depois eu consegui gravar meu cd que foi um sonho mesmo, era um objetivo que eu almejava muito, todas as músicas minhas". Segundo o cantor, assim como em qualquer trajetória profissional, as dificuldades são muitas, e o que faz a diferença é a motivação e o amor pela profissão. "Em qualquer profissão existem altos e baixos. Acho que tudo depende de motivação, e todo ser humano tem seu momento de fraqueza. O fato de você estar tocando direto, não é só o dinheiro que você ganha que mantém um artista com a chama acesa, são vários fatores" conta. O músico conta que seu pai era seu maior incentivador, embora toda a família o apóie. "Meu pai sempre foi meu maior incentivador, ele faleceu em 2000. A minha família toda sempre me incentivou muito. Na época que eu mudei para BH, rolou um desconforto, mas nada de mais, era só o coração de mãe desesperado, sabendo que o filho ia se mudar para uma capital", explica. Dulu ressalta que "às vezes os pais sonham com outras profissões para seus filhos, seja médico, ou alguma outra profissão bonita, mas enfim minha mãe tomou consciência que não é por aí, cada um nasce com um dom especial". 8 Cidade jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas Outubro • 2009 MAÍRA CABRAL MICOS PASSEIAM POR ÁRVORES E FIOS NA CAPITAL Animais, popularmente conhecidos como mico-estrela, atraem os olhares de quem passa pela Região Central de Belo Horizonte, dispertando a curiosidade de pedestres no local n SÍLVIA VOLPINI, 3° PERÍODO Alguns micos da espécie Callithrix penicillata, popularmente conhecidos como mico-estrela, têm sido vistos nas proximidades do Fórum de Belo Horizonte, situado à Região do Barro Preto. Serafim Silva, dono do restaurante Hortelã Pimenta, localizado à Avenida Barbacena, conta que esses animais fazem visitas periódicas à região. "De vez em quando eles aparecem e ficam passeando nas árvores. Mas é bastante curioso, porque ver uns bichos desses aqui no centro, é bem difícil", diz. Serafim também afirma que não costuma alimentar os micos. "Eu não dou comida, porque senão eles vão criar um vínculo com o meu restaurante que eu não quero", revela. Segundo a bióloga Marina Duarte, mestranda do programa de pós-graduação em zoologia dos vertebrados, cuja dissertação investiga o comportamento dos micos da cidade, alimentar esses animais não é uma atitude correta. “Ao alimentar os micos, a pessoa vai interferir na dieta natural desses animais, que comem os gomos das árvores, frutos e insetos", explica. RISCOS Marina ainda aponta os riscos que os micos correm ao serem alimentados pelos seres humanos. "Alimentos doces podem causar cáries. Além disso, os micos, quando superalimentados, têm sua taxa de reprodução afetada. Outro problema são as possíveis doenças infecciosas. Se uma pessoa que tem herpes morde um alimento e dá o resto para um mico, pode passar um vírus fatal a ele", afirma a estudiosa do assunto. Os micos-estrela medem cerca de 25 centímetros na idade adulta, chegando a pesar 300 gramas. Segundo a bióloga Marina Duarte, esta é uma espécie que se adapta muito bem aos ambientes urbanos, e por isso é comum vê-los por toda a cidade, principalmente em locais arborizados. Mas a presença desses pequenos animais no centro é sempre motivo de admiração e curiosidade para os transeuntes da redondeza. Pedro Paulo Santos, segurança da Unimed situada à Rua dos Guajajaras, conta que, geralmente, vê três ou quatro micos andando pela copa das árvores e atravessando os fios da rede elétrica. "O pessoal acha interessante e 'bonitinho'. Mas eu ainda estou vendo o dia que um deles vai tomar um choque e cair duro aí!", brinca. Serafim caminha entre as árvores da Avenida Barbacena, na Região Central de BH, onde os micos costumam aparecer ADEQUAÇÃO Quanto aos riscos que a rede elétrica pode oferecer a esses animais, Carlos Alberto Souza, coordenador do Programa Especial de Manejo Integrado de Árvores e Redes (PREMIAR) da Companhia Elétrica de Minas Gerais (CEMIG), afirma que um projeto de adequação ambiental tem sido implantado para minimizar os conflitos entre a área arborizada e a rede elétrica. "O programa prevê a substituição das atuais redes por um sistema de alta qualidade com fiação protegida e isolada, o que trará mais segurança para esses animais", diz. Segundo Carlos Alberto, o programa está sendo instalado nas regiões da Pampulha, Centro-Sul e em alguns bairros de Contagem. De acordo com a bióloga Marina Duarte, não se pode explicar com exatidão a ocorrência dessa espécie de micos na região central de Belo Horizonte. "É difícil identificar o que eles buscam. Existem várias hipóteses. Infelizmente, há pessoas que ainda criam micos em casa, e acabam soltando por que não conseguem cuidar deles direito. Pode, também, haver pessoas alimentando esses animais naquele local ou eles podem estar vindo de outros parques em busca de alimentos ou recursos que favoreçam sua sobrevivência ali", supõe. Apesar dos riscos que o contato com o homem pode trazer aos micos, Marina acredita que essa interação deve ser vista de maneira positiva. “Os micos vivem bem na cidade. As pessoas devem aprender a interagir sem oferecer nenhum perigo a eles. É fundamental haver equilíbrio nessa relação", observa. Reclamações de ônibus geram multas de trânsito n ANDERSON MENDES, 4° PERÍODO Imagine a seguinte situação: você está aguardando seu ônibus depois de um intenso dia de trabalho ou estudo. Ele surge, você se alegra, dá sinal para embarque e ele não para, devido à excessiva quantidade de pessoas a bordo. O que você faria? Entenderia que não era possível embarcar e esperaria pelo próximo ou ligaria para a BHTrans e reclamaria do motorista que não parou no seu ponto? Se você pensou na segunda opção, saiba que esta atitude tem gerado reclamações e insatisfação por parte dos trabalhadores do transporte coletivo da capital. Segundo eles, multas vindas de situações como esta não dependem do funcionário para serem evitadas. Assim, segundo o que afirmam, eles pagam pelo que não são culpados. Um motorista da Viação Auto Omnibus Floramar que prefere não se identificar, informa que já passou por episódios desse tipo. "Meu carro estava com 80 pessoas e eu não podia parar no ponto. Não tinha espaço. Eu segui viagem e depois de um tempo chegou uma multa para mim" afirma o funcionário, que trabalha há 12 anos na empresa. Segundo ele, o passageiro não entende que o ônibus cheio impossibilita a parada no ponto. "Ele liga para a BHTrans, informa o horário e a linha do ônibus e a gente recebe a multa", conta. João Neto, 52, motorista da Plena Transportes, também acredita que haja falta de compreensão por parte dos passageiros, mas discorda do colega no que diz respeito às multas. "As pessoas dão sinal fora do ponto e a gente não pode parar, pois pode ser multado. Mas além disso, a gente não para porque fora do ponto a pessoa corre riscos de ser atropelada, por exemplo", explica Neto. Sobre o pagamento das multas, o funcionário afirma que a responsabilidade tem que ser do próprio motorista. "Se a empresa for pagar as multas dos empregados, ela vai quebrar. Eu sei que vai comprometer o salário, mas se eu errei, eu tenho que pagar pelo meu erro", informa o motorista que, em 21 anos de empresa, nunca foi multado. "Se (o ônibus) tá lotado, não dá para entrar e nem para parar no ponto. Não tem sentido você ligar para a BHTrans e reclamar disso. Talvez reclamar da quantidade de ônibus que é pequena, já que estão lotados. Mas não reclamar do motorista", afirma o estudante de Administração, Bruno Campos, 23, passageiro da linha 2215. René Chaves, responsável pelo setor de multas da empresa de ônibus Auto Omnibus Floramar, explica que a reclamação do passageiro perante a BHTrans não implica na aplicação de multa. "O trocador, por exemplo, tem como dever inibir o comércio dentro do ônibus. Essa é uma norma. Se um fiscal estiver dentro do veículo e perceber que ele nem tentou inibir, aí sim o funcionário levará uma multa. O mesmo acontece com os motoristas, que só são multados se um agente da BHTrans flagrar o momento em que o ele não parou no ponto", afirma Chaves. Sobre as multas que os motoristas reclamaram ser excessivas e injustas, a Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans) informou em nota que as autuações são passíveis de recurso na Junta Administrativa de Recursos de Infração (JARI/MG), caso a empresa não concorde com a mesma. A BHTrans afirma ainda que, no acordo firmado com as empresas de ônibus em 2008, ficaram definidas as normas para a padronização do serviço de transporte. Dentre elas, está o uso do cinto de segurança, a proibição de leitura de jornais e a disponibilização, por parte da empresa de ônibus, do número suficiente de carros para que o intervalo máximo entre viagens, o número máximo de pessoas em pé (lotação) e a distância máxima de caminhamento para acesso à rede de transporte seja cumprido. ANDERSON MENDES Hábitos de trocadores são questionados Para W. S., 24, trocador da Viação Progresso, a leitura de um jornal não deveria ser motivo de multa. "Ler um jornal não atrapalha meu trabalho. Enquanto o ônibus está parado no sinal, eu poderia dar uma olhada no jornal, sem deixar de atender aos passageiros. Mas eles acham errado", afirma o trocador, há 2 anos na empresa. Para Luciana Paes, 38, passageira da linha 8207, essa norma não altera a qualidade do atendimento. "Se o trocador lê o jornal em momentos adequados, sem deixar de atender com educação e prontidão os passageiros, não há mal na minha opinião", afirma a assistente administrativo. Para Vagner Santos, 28, trocador há 7 meses Reclamações de passageiros geram problemas para motoristas e trocadores de ônibus de BH na Viação Zurick, o cinto de segurança é importante, mas insuficiente. "O motorista tem que ser multado se não usar o cinto. Mas não só ele tem que ser obrigado a usar. Por que não é obrigatório que todos usem? Inclusive os passageiros", questiona. Em relação aos cintos de segurança, a BHTrans esclarece que, de acordo com o Código de Trânsito Brasileiro, serviços de transporte que levem passageiros em pé, não são obrigados a disponibilizar o equipamento. Quanto à leitura de jornais e outras normas, a BHTrans informa que a definição de que regras deverão ser seguidas foi feita pelo sindicato da categoria em parceria com as empresas de ônibus do transporte coletivo. Especial Outubro • 2009 9 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas APRENDIZADOS DE UMA COBERTURA 3º, 4º E 5º PERÍODOS A primeira eleição direta, ocorrida em 1989, após mais de 20 anos de ditadura militar, foi uma novidade não só para grande parte dos cidadãos como também da imprensa. Muitos jornalistas ainda não haviam participado da cobertura de uma eleição presidencial e, por isso, muitos a consideram como um dos principais trabalhos realizados em suas carreiras. "Como outros grandes momentos da redemocratização do país, aquele foi um momento de reflexão para a gente que fazia cobertura política, porque era aquele momento em que você luta pela isenção necessária no jornalismo e uma questão de fundo importantíssimo na política do país", lembra a jornalista Lúcia Helena Gazzola. Trabalhando à época como repórter de política do Jornal do Brasil, Lúcia Helena passou por situações marcantes na história da política brasileira. Uma delas, ocorrida na cobertura de uma palestra na Faculdade de Ciências Médicas, em Belo Horizonte, quando o então candidato à Presidência Paulo Maluf falava sobre suas propostas para o país. "Era tarde da noite, o público estudantil estava presente juntamente com jornalistas de vários veículos do Brasil, quando o Maluf disse a frase 'está com vontade sexual, estupra, mas não mata'. Na hora que escutei levei um susto que até deixei o gravador cair", recorda. Ela conta ainda que não acreditou que havia escutado aquilo, uma vez que os jornalistas que estavam no local não tiveram reação com a fala. A declaração de Maluf v i r o u P manchete F :M do Jornal do Brasil. "Foi muito prazeroso poder pegálo numa gafe desse tamanho e conseguir e s t a r naquele momento, por sorte, em um jornal que comprou a briga e publicou. Ele (Maluf) negou, disse que era uma coisa de uma jornalista comunista de Minas Gerais, mas nós tínhamos a prova", lembra Lúcia Helena. Para ter a prova da fala do então candidato a presidente, a repórter foi até a Faculdade de Ciências Médicas, onde obteve a cópia da gravação feita pela OTOS ARCELO RATES organização do evento. "Passamos as gravações para o resto da imprensa, aí todo mundo deu e foi acachapante, porque além de falar essa tremenda idiotice, ele ainda passou como mentiroso porque negou que tivesse dito", recorda Lúcia Helena, que atualmente possui uma empresa de comunicação e consultoria em São Paulo. Maurício Lara, que à época também trabalhava como repórter do Jornal do Brasil, diz ter se sentido privilegiado por estar naquele veículo naquele momento histórico. "Eu tinha a impressão de que, já que a gente vestia muito a camisa, a gente saía com muita coragem. Era um privilégio estar naquele momento naquele jornal. E eu acho que foi mesmo, pela importância que o JB tinha naquela época", revela. O jornalista, que é autor do livro "Campanha de Rua A cobertura Jornalística de uma Eleição Presidencial" que trata do período eleitoral de 1989, acredita que os meios de comunicação tiveram papel fundamental na eleição de Collor. "A imprensa deixou-se enganar pelo Uma campanha presidencial vista “de dentro para fora” MA RC EL O PR AT E S O jornalista Luiz Carlos Bernardes, o Peninha, atual consultor de Imprensa da Ordem dos Advogados do Brasil de Minas Gerais (OAB/MG), comentarista da Rádio Band News e da TV Band, era, em 1989, ano das eleições diretas, presidente do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais quando foi convidado para coordenar o setor de comunicação da campanha em Minas de Luíz Inácio Lula da Silva. Ele aceitou o convite e pediu licença de 90 dias de seu cargo para viajar pelo estado, realizando esse trabalho. "Foi interessante porque eu pude ver a campanha por dentro. Dessa vez eu vi uma campanha de dentro para fora, achei interessante. A gente discutia muitas coisas, inclusive as decisões nacionais. O programa (eleitoral) de TV (do PT) foi muito criativo. Chamava-se 'Rede Povo', e a vinheta era igualzinha a do Jornal Nacional. Era uma brincadeira", lembra Peninha. O jornalista recorda de um momento marcante da campanha que ocorreu quando Lula foi acusado de ter pedido para sua ex-namorada realizar um aborto. "No dia que o Collor fez a acusação ele (Lula) estava muito triste. Dizia que aquilo não era verdade. Fez um comício na Praça da Estação meio para baixo e, no dia seguinte, teve o debate, aquele último debate, em que ele estava também de baixo astral", conta. Para Peninha, a vitória de Collor, no segundo turno, não foi uma surpresa tão grande, uma vez que a imprensa monitorou e impulsionou o resultado. "O Lula significou um partido moderno, de esquerda, um sindicalista na política. Eu achava também que o Lula falava muito bem, era muito autentico, como é até hoje. Então naquela época impressionava. Houve sim uma surpresa, mas essa surpresa tem suas explicações. Do lado do Collor, o apoio de canais de TV, outros veículos de comunicação foram na trilha da Globo", opina. Luiz Carlos Bernardes exemplifica a influência da mídia nesse resultado. "A Veja fez uma capa importante, com o Collor, e o titulo era 'O Caçador de Marajás', que foi o slogan dele. Então outros embarcaram", ilustra. "Eu acho fundamental (comemorar os 20 anos de diretas) para minha geração. É muito importante a gente lembrar que é uma vitória da sociedade. Não é uma vitória do partido A ou B. Tudo isso é reflexo do esforço da sociedade, do esforço dos que foram torturados, foram mortos na luta, das pessoas que saíram às ruas. O 89, para mim e para muita gente, tinha esse sabor. Eu me lembro que na hora de votar eu chorei. Foi uma emoção muito acumulada", finaliza emocionado. Fernando Collor de Mello contou com o apoio da mídia e conseguiu agradar a boa parte do eleitorado impeachment teve além desse combustível inflamável que foi a questão do PC Farias, essa coisa do Collor de querer governar acima do congresso e acima dos partidos", analisa. O fotojornalista Marcelo Prates, que em 1989 trabalhava para o jornal O Globo, revela que aquele veículo apoiava o candidato Fernando Collor de Melo, mas que esse era o candidato que rendia as fotos mais polêmicas, o que tornava difícil a publicação das mesmas. "A agência Globo colocava as minhas fotos para vender, mas as que o Collor estava em situação que não agradava a política do O Globo, eles não colocavam para vender", explica. Para ter suas fotografias publicadas, Marcelo passou a enviá-las diretamente aos jornais. "Em um comício de Collor em Cataguases a praça da cidade estava lotada e o pessoal do PDT e do PT estava vaiando e xingando. Ele, uma pessoa muito autoritária, não gostou e cochichou com o chefe da segurança, que cochichou com outros seguranças, e eu observei que os caras saíram e eles foram por trás e fizeram um arrastão, espalhando o bolo (de pessoas) para poder atacar essas pessoas que estavam vaiando. Então foi uma correria danada, uma gritaria, pisotearam meninos, e um dos seguranças que era um touro de tão grande correu para uma rua lateral. Só que quando ele correu o pessoal correu atrás dele, que ficou cercado. Deram rasteira e o chefe da segurança teve que intervir com uma pistola automática. Eu fotografei isso tudo, eu mesmo distribuí para a galera e as fotos rodaram o país todo", conta. O fotojornalista, que atualmente é editor de fotografia do Jornal Hoje em Dia, acredita que a imprensa fez uma cobertura interessante das eleições, exceto a Rede Globo que fez a edição do último debate, antes do dia da votação para o segundo turno, favorável ao Collor. Segundo pesquisas publicadas na época, os dois candidatos encontravam-se tecnicamente empatados, o que mudou após a veiculação do debate presidencial na televisão. "Quinze dias antes do debate, o fotógrafo da Veja Claudio Versiani sabia das minhas fotos e pediu para eu passá-las para ele, para que passasse para a assessoria do Lula. O Lula as mostrou no debate, mas como o regulamento não permitia mostrar essas coisas, ele mostrou de longe. Dava para ver, mas se mostrasse no detalhe dava para ver melhor", recorda Marcelo Prates. L i n d e n b e rg , que atualmente é diretor de redação do jornal Hoje em Dia conta que, no dia do debate, estava na redação de O Globo, em São Paulo, quando assistiu ao que estava acontecendo, juntamente com pessoas que eram muito politizadas. Depois, assistiu no dia seguinte a exibição da matéria editada sobre o debate pela Rede Globo. “As pessoas estavam muito nervosas com a manipulação", recorda o jornalista. Uma história de democracia O jornalista Maurício Lara acredita que a democracia é o principal ganho do Brasil com a eleição presidencial de 1989. "A eleição ensina a democracia. É uma coisa tão simples! Porque a gente ficou tão emocionado? Porque para nós era um coisa diferente e hoje não, é uma coisa simples. Mas esses 20 anos foram um avanço, o que me faz acreditar que a gente não volta para trás mais não. Quando a gente vê hoje as pessoas assistindo depoimentos de CPI, entrevista de político, o cidadão prestando atenção, cobrando, isso é legal demais. Ainda temos muito para avançar, mas já avançou muito nesses 20 anos", opina. "É comemorar a realização de um sonho. A gente recuperou no Brasil o direito de existir, de ser respeitado, de ter e expres- sar a opinião sem que isso te levasse a tortura, a prisão ou a morte. Para mim democracia é o valor mais fundamental de uma sociedade", opina Lúcia Helena Gazzola, quando questionada sobre a importância de se comemorar os 20 anos dessa data. Carlos Lindenberg lembra que o período de ditadura, apesar de ter sido benéfico para alguns setores do país, como a economia, foi muito ruim para as pessoas e para as famílias, atrasando o Brasil social e politicamente. "É importante então que se lembre desse passado para que realmente ele não volte nunca mais. Para que essa e as próximas gerações não sofram o que a minha e outras gerações sofreram, enfrentando sistemas autoritários", ressalta. De acordo com Marcelo Prates, cobrir esse momento foi mais que uma experiência jornalística. "Vivi esse clima e o clima emocional meu de, não só ser eleitor, mas de ser testemunha ocular desse momento da vida brasileira. Minhas fotos estão na história", celebra. ES n THAÍS MAIA, CLARISSE SOUZA, ISABELLA LACERDA, DIANA FRICHE, canto da sereia dele e de achar que era um representante das elites. Mas hoje, se a gente for pensar também, o que seria um governo Lula naquela época? Não sei se seria um governo legal", comenta. Carlos Lindenberg, que à época era editor da sucursal mineira do jornal O Globo, afirma que deu para perceber que os veículos da imprensa não foram críticos quanto ao candidato que seria eleito. "Não perceberam e não conseguiram avaliar o perfil psicológico do Collor. Ficaram todos empolgados com aquela imagem impetuosa, com sua juventude, ao enfrentar situações de conflito de peito aberto. A imprensa em nenhum momento chamou a atenção para aquilo", analisa o jornalista. Lindenberg completa dizendo que a imprensa não teve o cuidado de advertir para o que o candidato Collor representava e em seguida, ela acabou se voltando contra ele. "Ela devia ter feito isso lá atrás, na campanha eleitoral. Mas não, resolveu comprar o discurso do Collor. Cansamos de ver a Rede Globo fazendo matérias calçando os discursos de caça aos marajás do Collor", aponta. O jornalista acredita que o principal erro de Collor, além do envolvimento em corrupção, foi buscar apoio exclusivamente no povo. "O Collor não conseguiu trabalhar o congresso, eleito por um partido pequeno, nanico, o PRN. Ele não teve experiência necessária, maturidade política, para fazer uma costura no congresso e fazer um governo de coalizão. O MARCELO PRAT Os jornalistas que participaram da eleição de 1989, um marco na redemocratização do país, relembram momentos que os tornaram testemunhas da história política do Brasil Atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva superou Brizola e fez um 2º turno equilibrado na eleição de 89 10Política jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas Outubro • 2009 JOVENS SEM INTERESSE POR POLÍTICA Adolescentes não acreditam no poder do voto, desconfiam dos políticos que fazem promessas em véspera de eleição e só tiram título de eleitor por causa da obrigatoriedade imposta MAÍRA CABRAL n GIULIANO PEIXOTO, LUANA CRUZ, PRISCILA ANÍZIO, 8º PERÍODO A jovem Anne Caroline, de 17 anos, não acredita na política, pois, para ela, os governantes buscam interesses próprios Título obtido pela internet A falta de crença nos políticos faz com que alguns jovens se decidam por não tirar o seu título de eleitor antes de ser obrigado por lei. Claubenice Lemos Pimenta, por exemplo, só pretende votar nas eleições quando tiver 18 anos, pois assim, segundo ela, será inteiramente responsável por suas escolhas e seus atos. Nem mesmo o Título NET, site criado pelo TSE, muda suas intenções. O Título NET oferece ao cidadão a possibilidade de requerer o título, pedir transferência de sua zona eleitoral ou fazer evisão de sua situação com a Justiça Eleitoral por intermédio da internet. Essa nova ferramenta poderá motivar os jovens a pensarem no voto como forma de construção da democracia e se anteciparem à obrigatoriedade da lei. Para Lorrayne de Morais Peregrini, de 16 anos, que já possui o título de eleitor e espera que seu voto possa fazer a diferença, essa nova ferramenta do TSE tem tudo para ajudar na decisão dos jovens para tirarem seus títulos. "Ninguém nunca tem tempo para pensar nisso, mas quando assisti o jornal falando sobre o Título NET, achei que aí estava uma boa maneira para que todos votem", observa. O sistema de solicitação do título pela Internet começou a ser implantado no início de agosto deste ano e já está disponível em todos os estados e no Distrito Federal. Em Minas Gerais os eleitores começaram a usar o serviço oficialmente no dia 17 de agosto. O funcionamento é simples. Depois de preencher o formulário pela internet, o eleitor comparece a um cartório eleitoral, em até cinco dias, para comprovar as informações e concluir o atendimento. O objetivo é trazer mais comodidade ao eleitor que será atendido de maneira mais organizada, com data e hora marcadas na unidade de atendimento da Justiça Eleitoral. A opinião dos jovens sobre política indica que alguns buscam a cidadania e acreditam que as eleições podem afetar não só a vida deles, mas de toda a população do país. Essa, no entanto, não é a realidade da adolescente Claubenice Lemos Pimenta, de 16 anos, que não acredita no poder do seu voto como resolução da política nacional. Ela vive com a sua família no aglomerado da Barraginha, em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, e diz estar exausta dos políticos e de suas promessas de campanhas. "Nenhum político resolve os nossos problemas. Onde eu moro foi feita a promessa da construção de prédios habitacionais para todos da favela, mas até agora nada foi feito", afirma. A participação dos jovens nas decisões do Brasil não é evidenciada apenas por sua falta de interesse na política, mas também pela desconfiança que a maioria deles tem devido aos escândalos. De acordo com Jacques Mateus Vieira, também de 16 anos, todas as informações sobre política obtidas pelos meios de comunicação são sobre corrupção. Para ele, a única maneira de mudar isto é por meio do voto consciente. "A política brasileira tem muita corrupção, mentira e roubo, mas a eleição pode mudar essa realidade, por que se cada um escolher um bom candidato, com um bom trabalho, isso ajuda a mudar a sociedade e o Brasil", constata. Anne Caroline Azevedo Soares, de 17 anos, por sua vez, acredita que a participação da população nas demandas do governo do país não é importante e chega até ser inútil, porque ela pensa que os governantes só se preocu- pam com seus próprios interesses e que usam seus cargos para atingir seus objetivos pessoais. Alguns parlamentares encaram a participação dos jovens na política como decisiva, sobretudo, porque eles se mantêm bem informados para optarem pelas melhores propostas que seus representantes têm para oferecer. "Penso que a juventude brasileira vem resgatando o interesse em manter-se 'antenada' com o que ocorre no país, por estar adquirindo a consciência da importância da sua participação neste processo", comenta o deputado estadual Jayro Lessa (DEM), referindo-se a temas como política e economia. Ele acredita que os jovens têm muita representatividade nos processos eleitorais e podem decidir uma eleição, com seus votos e opiniões. Outra opinião parecida é a da deputada Maria Tereza Lara (PT) que vê um número significativo de jovens mais informados. Segundo ela, é importante investir nesses jovens e a mídia tem papel fundamental nisso. "Nós temos que incentivar mais os jovens a votarem, principalmente a partir dos 16 anos. Não é obrigatório, mas nós temos que incentivar, inclusive porque muitos deles estão assumindo papéis de liderança hoje. Eles trazem ideias novas", ressalta a parlamentar. O vereador Adriano Ventura (PT) concorda que quanto mais os jovens participarem do momento político, melhor, porque é possível garantir uma política mais cidadã. Ele acredita que há uma descrença do jovem por esse assunto, justamente porque o processo político está muito desgastado. "O adolescente está em formação dos 16 aos 21 anos. É complicado, porque tudo que ele escuta, computa", diz. Ele afirma que se os jovens escutam que políticos só servem para roubar, eles ficam desmotivados e continuam alheios ao processo político. O que há de negativo nisso é que se o jovem não se interessa pela política, outras pessoas vão se interessar. Segundo Ventura, quando alguém se candidata a algum cargo é porque essa pessoa tem interesses. O que se espera é que sejam interesses dignos, mas nem sempre são. "O voto jovem pode garantir políticos com mentalidade mais jovem", afirma Adriano Ventura. Segundo ele, a juventude precisa ter mais consciência política, saber o papel de cada parlamentar e tomar conhecimento da importância do voto, pois em última instância o povo é patrão dos políticos. O vereador acha que o envolvimento dos jovens com a política deve extrapolar a retirada antecipada do título e o voto consciente nas eleições. "O que impede um jovem de se candidatar? Ele tem valores que um político mais velho não tem", sugere Ventura quando fala sobre a construção da situação democrática do país. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o município de Belo Horizonte tinha cadastrados, em agosto de 2009, 1.779.190 eleitores em uma população estimada de 2.452.617 habitantes. Desses eleitores, apenas 1.751 têm 16 anos e 8.348 têm 17 anos. Estes dados mostram que poucos jovens estão solicitando o cadastramento na Justiça Eleitoral e que, portanto, aguardam a obrigatoriedade do voto. No mês de agosto do ano passado, mesmo não podendo mais votar nas eleições de outubro de 2008, o número de adolescentes que retiraram o título foi bem maior que este ano. Eram 4.547 jovens de 16 anos e 11.113 de 17 anos que já possuíam o título. Placa causa polêmica ao ser retirada do DCE n DANILO GIRUNDI, ISABELLA LACERDA, 4º PERÍODO Em 1984 foi anexada pela gestão “Cio da Terra” do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da PUC Minas, no Coração Eucarístico, uma placa intitulada "Inimigos da História", com o nome de 12 deputados mineiros que se abstiveram da votação que aprovaria a emenda Dante de Oliveira, permitindo a volta de eleições diretas ao Brasil. Após uma reforma no local, no entanto, feita pela nova gestão do DCE "Voz dos Estudantes" essa mesma placa foi retirada. Após protestos de muitos alunos, o diretório acabou retornando com a placa para seu local de origem. Frederico Alves Lopes, estudante de ciências sociais e um dos responsáveis pelo movimento a favor do retorno da placa, conta que os integrantes do DCE disseram que a tirariam e em seu lugar colocariam uma deles para marcar a nova gestão do diretório. "Conversamos com pessoas do DCE, íamos lá todo dia. Tentei falar com o presidente e ele nos disse que na hora não queria. Tentamos marcar uma reunião, mas depois ele disse que não queria conversar", explica. Ele completa dizendo que as lideranças do diretório dos estudantes afirmaram que a colocariam na sala de cartazes e que a placa só não foi parar no lixo porque o aluno João Paulo Martins, do curso de História, a pegou. Ele conta que foi ao diretório devido a importância dos "Inimigos da História". "Fui lá no DCE porque essa placa tem uma história muito importante e na sala de cartazes ninguém conseguiria vê-la. Fui nervoso conversar lá falando que não podiam tirá-la. A história da placa representa a mobilização dos estudantes", opina. Segundo ele, o que fez com que levasse a placa para o Diretório Acadêmico (DA) de Geografia, onde trabalha, foi a vontade de preservar uma parte da memória do movimento estudantil. Segundo João Paulo, diversas questões envolvem essa discussão. "Essa discussão quanto a placa é uma questão de ego muito grande. A minha ideia era que a placa voltasse para um lugar visível, mas muitas pessoas queriam que ela voltasse para o mesmo lugar. A galera ainda queria fazer panelaço, mas eu não achei legal isso porque eles disseram que voltariam com ela", explica. Para o estudante, a atual gestão do DCE não fez isso de má vontade, pelo menos não todo mundo. "É que muita gente não sabia do sentimento das pessoas quanto a isso. É uma memória do movimento estudantil", completa. O presidente da gestão do DCE "Voz dos Estudantes", Leandro Alves Lima, explica que a placa foi retirada sim, mas por causa da reforma na sede do DCE para que não a danificasse. "Ao tirá-la quisemos colocá-la na sala de cartazes, que fica dentro do DCE, onde guardamos toda a memória do DCE", justifica. Entretanto, segundo ele, com essa decisão, alguns alunos insatisfeitos, como o João Paulo, tomaram posse da placa dizendo que na sala de cartazes ela não ficaria visível. "Levamos a decisão para o conselho de DAs, que é um órgão de deliberação maior que o DCE, e eles decidiram que a colocaríamos de volta", esclarece. Leandro Lima lembra que chegaram até a falar em perseguição política por parte dos integrantes do diretório. "Não existe essa história de perseguição. Falaram até que éramos a favor da ditadura, o que não é verdade", ressalta. Frederico Alves acredita que o fato de terem espalhado panfletos e levado para fora da PUC essa questão facilitou a volta da placa. Para Leandro, a luta é válida, mas é por uma causa pobre. "A preocupação deveria ser com o que a placa representa. Tinham pessoas reclamando da retirada, mas que nem sabiam o que ela significava, a história dela, porque foi colocada", salienta. DEBATE O aluno de ciências sociais acredita ser muito importante que movimentos como esse sejam feitos pelos estudantes. "Acho legal fazermos esses movimentos para mostrar que quando estudantes lutam por alguma coisa, eles conseguem conquistar o que querem", afirma. Por outro lado, o presidente do DCE diz ficar triste quando o debate é realizado dessa maneira. "Isso gera tristeza em mim pelo modo como as coisas estão sendo feitas. Não parece que foi em prol da memória da placa. Acho que o debate tinha que ser muito maior", observa Leandro Lima. Ele propõe que haja um debate mais fortuito, mais fomentado. Saúde Outubro • 2009 11 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas PÂMELLA RIBEIRO LIBRAS PARA OS PROFISSIONAIS DA ÁREA DA SAÚDE O curso é uma parceria entre a Prefeitura de Belo Horizonte e a Confederação Brasileira de Surdos, com a finalidade de facilitar a comunicação com pacientes portadores de surdez n BRUNA FONSECA DE BARROS 2° PERÍODO A dentista Suzana Bernes de Oliveira, 51 anos, sentia muita dificuldade de se comunicar com os pacientes surdos que procuram o centro de saúde Bom Sucesso, no Barreiro, onde ela trabalha. Após saber da criação de um curso de libras voltado para profissionais da área de saúde, iniciativa da Prefeitura de Belo Horizonte em parceria com a Confederação Brasileira de Surdos (CBS), logo pediu a sua gerente para que a inscrevesse. Foram 15 aulas e os resultados já aparecem, segundo ela. "A princípio fiquei com medo de usar o que eu tinha aprendido no curso, mas à medida que eu fui conversando com eles (pacientes surdos) fiquei mais animada, porque eu vi que eles me entendiam e eu os entendia", conta. O curso de libras, iniciado em maio deste ano, está em sua terceira fase. Ao todo, são 200 alunos divididos em três blocos de manhã ou à tarde, sendo que as turmas dos dois primeiros já se for- maram. As aulas, que duram quatro horas, são divididas em cinco partes: teoria, diálogos, intervalo, revisão da primeira parte e, por fim, teatro em libras e brincadeiras. Os dois professores, que são surdos, se revezam. Assim, cada turma pode ter contato com diferentes métodos de ensino. "Qualificando estes profissionais em libras, o atendimento aos surdos vai melhorar, além disso, fico muito feliz em ver que todos querem aprender libras para se comunicar e atender a necessidade dos outros", explica Carlos José Nunes Sayão, 46 anos, professor indicado pela CBS, de onde é diretor financeiro, além de funcionário público do Tribunal de Justiça de Minas Gerais e vice-presidente da Sociedade dos Surdos de Belo Horizonte (SSBH). Sayão, que ficou surdo após um acidente, acredita que iniciativas como o curso gratuito de libras para os profissionais dos centros de saúde, são essenciais, mas considera que o projeto deveria ser estendido a todos os órgãos públicos. "Isso depende da boa vontade dos governantes", afirma. Os alunos recebem uma apostila da CBS com linguagem básica de sinais e já na primeira aula põem em prática o que aprenderam, pois é permitido falar somente com as mãos. É nesse cenário de uma sala em que todos estão conversando, mas não se ouve voz alguma, que pessoas como Aldinea Maria de Oliveira, 46 anos, auxiliar de enfermagem da Unidade de Pronto Atendimento (UPA Oeste), se esforçam para aprender o mais rápido esse novo "idioma". "O primeiro impacto foi grande, não sabia que o professor era surdo mudo, eu pensei: ele não vai entender o que eu falo. Me assustei um pouco, mas depois vi que é um curso que a gente aprende brincando", explica. Já Cibeli Torres Passos, 38 anos, assistente social do centro de saúde de Serra Verde Piratininga, disse que se sentiu mais segura com o fato dos professores serem surdos, pois, segundo ela, isso facilita o aprendizado. "Como ele tenta entrar no nosso mundo, nós tentamos entrar no mundo dele", Funcionárias do Núcleo de Apoio à Inclusão (NAI) usam a libras para facilitar a comunicação entre os alunos especiais completa. Após a aprovação da licitação feita pela Secretaria Municipal, a CBS foi a instituição pública escolhida para participar. Já a escolha da área da saúde se deve, segundo Evely Najjar Capdeville, 46, coordenadora do curso de libras, formada em psicologia e filosofia, a pedidos no Conselho Municipal de Saúde. "Muitas vezes, quando o portador de deficiência auditiva chega ao centro de saúde, ele tem muita dificuldade de ser atendido, ninguém entende o que ele está sentindo e, quando entende, não consegue explicar bem o que ele deve fazer ou como tomar os remédios", diz. Evely ainda ressalta que o curso de linguagem de sinais também traz benefí- cios para o aluno, pois é um diferencial na formação profissional. "E o pessoal que participa percebeu isso, alguns já formados se reúnem aos sábados para praticar libras. Se você não praticar perde, é como aprender outra língua, se você para de se comunicar você esquece", observa. Assim como a coordenadora, a assistente social Cibeli Passos concorda que o curso é eficiente e deve ter continuidade. Outra crítica feita foi a questão do número de vagas. "Eu estou na prefeitura há 23 anos e ela tem investido mais na capacitação profissional, mas, ainda falta um pouco, por exemplo, são poucas vagas e eu acho que deve ter uma continuidade", afirma Sócrates Moreira Leal, 56 anos, enfermeiro do centro de saúde de Venda Nova e o único homem de uma das turmas. A seleção dos alunos é feita em primeiro lugar, entre aqueles que demonstram interesse pessoal para aprender libras. Em segundo lugar, é preciso que seja um profissional concursado e, por último, mas não sendo uma exigência, profissionais que trabalhem oito horas por dia, para que pudessem ir às aulas podendo ainda trabalhar mais quatro horas na unidade de saúde. "O mais importante é dar ao surdo a chance de ter um serviço que ele tem o direito na área da saúde, isso é fundamental", conclui Evely. Amor e solidariedade com mães doadoras de leite n MARINA MARÇAL, REBECA PENIDO, 2º PERÍODO Todos os dias, Luciana Aparecida Silva vai ao Hospital Municipal Odilon Behrens para doar leite. Mãe de Giovana, que nasceu prematura de 29 semanas, ela é uma das 24 doadoras fixas de leite e assim como muitas, costuma chegar às 8h e sair às 17h. "Acho muito importante para o desenvolvimento da minha filha. Eu estou percebendo que cada dia mais ela está se desenvolvendo por causa do leite materno", afirma. O banco de leite do Hospital MAÍRA CABRAL Mulher se dirige ao Banco de Leite do Hospital Odilon Behrens para retirar o leite. Odilon Behrens, um dos oito existentes no estado, até fevereiro deste ano contava com cinco doadoras fixas, mas desde que foi iniciada a veiculação de uma campanha pelo Ministério da Saúde conscientizando sobre a importância de se doar leite humano, este número tem crescido. "A gente tem conseguido doadores mesmo, mas com a campanha da mídia que tem ajudado. Sem essa campanha a gente não teria a mínima condição", observa a coordenadora do banco de leite, Marzi Roque de Abreu. Essencial para a boa nutrição dos bebês, uma vez que é composto por vitaminas, minerais, gorduras, açúcares e proteínas, o leite também contém anticorpos que são responsáveis por proteger o trato gastrointestinal das crianças, atuando como uma espécie de capa protetora contra infecções. Além disso, ele consegue atender às necessidades específicas dos recém-nascidos, pois, o leite destinado a um bebê prematuro é mais rico em gorduras do que aquele consumido por um bebê a termo, já que o prematuro precisa ganhar peso. Antes da doação, as mulheres devem responder a um ques- tionário sobre seu histórico de saúde, onde precisam apresentar os exames feitos durante o prénatal, como os de VDRL (sífilis) e HIV. Além de comprovar que não recebeu transfusão de sangue há menos de cinco anos, a doadora também não pode fazer uso de medicamentos nem consumir drogas, entre elas cigarro e álcool. Após a entrevista, ocorre a coleta do leite, que geralmente dura meia hora e que pode ser feita em qualquer horário. A doadora pode ir tanto ao banco de leite quanto coletar em casa. Deve-se usar uma touca e lavar mãos e braços até a altura dos cotovelos. Em seguida, o leite cru é armazenado em um recipiente estéril e é levado para o congelador. Por volta do 10º ao 12º dia, uma equipe buscará o pote para pasteurizar o leite. A retirada através de bombas, cujo envoltório seja emborrachado, não é recomendada devido ao risco de contaminação. Existem algumas mais indicadas no mercado já próprias para esterilizar, mas o seu uso só é indicado caso a mãe esteja muito bem orientada. Por isso, a massagem com a própria mão é considerada uma técnica mais eficiente. A prioridade do leite coletado é para o bebê da doadora, entretanto, existem mães cuja mama ainda fica cheia de leite depois de amamentarem seus bebês. Marzi conta que há casos em que a mães só consegue doar 1 ml, mas que também existem mães que colhem seis potes de 400 ml por semana. Quando a quantidade de leite existente nos bancos não é suficiente para a alimentação dos bebês, costuma-se utilizar o leite pasteurizado para completar a dieta. Além da diferença de cada organismo, ela aponta que o apoio do núcleo familiar faz a diferença porque a mulher não amamenta sozinha, a participação dos pais e dos avós faz com que eles também se sintam responsáveis e importantes nos cuidados com os bebês e por isso deve ser incentivada. "Hoje a gente não trabalha mais dissociados do núcleo familiar. A doadora precisa de apoio. Se ela não tem apoio dentro de casa, ela precisa de ajuda da família, às vezes até mesmo da vizinha. Nós temos tido bons resultados. Nossa ideia hoje é fazer parcerias até com os centros de saúde", conta Marzi. Informações sobre doação de leite: (31) 3277-6137 12Esporte . Cidadania jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas Outubro • 2009 PÂMELLA RIBEIRO ESPORTE E EDUCAÇÃO JUNTOS EM ESCOLAS Projetos como "Bom de Bola, Bom de Escola" e "Acelerando pra Vencer" unem convívio escolar com atividades físicas n GABRIELA DE SOUZA, 3º PERÍODO Instituições públicas e privadas, localizadas em Belo Horizonte, resolveram aproveitar os benefícios do esporte, que se revela importante para melhorar o relacionamento e o convívio escolar. Na Escola Estadual Donato Werneck de Freitas, na Região Norte de Belo Horizonte, o diretor Adédison Vaz, 35 anos, formado em matemática pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) revela que na ausência de uma iniciativa oficial do estado para a criação de torneio esportivo, a própria instituição, por intermédio de seus professores e da coordenação, organizou o projeto "Bom de Bola, Bom de Escola". Os alunos se inscrevem em competições de Futsal, Vôlei ou Xadrez, mas precisam manter notas regulares para integrarem os torneios. São competições internas e os campeões recebem como bonificação um final de semana em um sítio com piscina, campo de futebol e quadras de peteca e vôlei. Mateus Caldeira Brant, de 14 anos, aluno do "Projeto Acelerando pra Vencer" (PAV 1), uma concepção didática dos colégios estaduais, diz adorar participar dos torneios. "Eu participo das equipes de xadrez e futsal do PAV 1. Ano passado eu ganhei e fui pra um clube que tinha uma piscina enorme... ficamos jogando queimada e brincando o dia todo", conta. O professor de educação física Helbert Richard Brey Gil, 25 anos, disse que a criação desses projetos tornouse fundamental, pois a esco- la sofre por receber alunos com problemas sócio-culturais. "É de extrema importância para melhorar e aprimorar a formação social dos alunos que continuemos a investir em esporte, porque é a partir dele que conseguimos nortear o aluno a trabalhar em equipe, ter disciplina, respeito aos adversários e principalmente saber lidar com vitórias e derrotas", explica. No Colégio Marista Dom Silvério, situado na Região Sul de Belo Horizonte, o professor de educação física Luiz Eduardo Araújo Santana, 52 anos, revela que o colégio criou uma secretaria especializada, separada da disciplina educação física só para organizar e treinar os times. Segundo ele, o esporte possui espaço privilegiado na rede de ensino e isso já virou uma tradição na escola, com a realização há 37 anos dos Jogos Internos Marista (JIM). As competições são realizadas em junho ou setembro, e o colégio para por uma semana. No Maristinha, destinado às crianças, o JIM tem caráter lúdico. E os Jogos Escolares da Amizade (JEA), organizados há seis anos, segundo Luiz Eduardo, é uma competição que contempla tudo o que a instituição acredita que deve ser o esporte na escola. "Os alunos ficam um sábado inteiro nas dependências do Marista e participam de todas as modalidades, sendo obrigatório o rodízio. Não há vencedores e todos ganham medalha", observa o pósgraduado em educação física escolar e em marketing esportivo. A estudante de educação física Flávia Batista O professor de educação física Helbert Richard incentiva a prática de esportes Ferreira, 22 anos, afirma que em sua graduação, pôde participar de várias competições escolares e aprender que a educação física escolar pode trazer muitos benefícios para o jovem que a pratica. "Entender que o esporte proporciona às crianças e jovens mais um grupo de convivência, portanto garante a integração e socialização, agregando valores como compromisso, disciplina, respeito às regras e aos outros, superação de limites, trabalho com metas e objetivos, saber ganhar e perder e principalmente o trabalho em equipe, que se torna o grande desafio em esportes coletivos”, comenta. Projeto abre oportunidade no tênis para jovens n RHAÍSSA MELO, 3º PERÍODO Está em andamento o projeto "Caça talentos no tênis", promovido pela escolinha do Pampulha Iate Clube (PIC), que tem como um de seus organi- zadores o técnico de tênis Hugo Daibert, 34 anos. Com a aprovação do projeto em Brasília, "Caça talentos no tênis" conta com o apoio da fabricante de artigos esportivos, Head, da TV Alterosa, do Banco BMG e da Prefeitura de Belo Horizonte. O programa registrou PÂMELLA RIBEIRO Integrantes do projeto “Caça talentos no tênis” acreditam no potencial dos novos atletas seis mil inscrições de crianças entre seis e 12 anos, moradoras de aglomerados e estudantes de escolas públicas e particulares. Na primeira fase do processo, 240 crianças foram selecionadas, a partir de testes físicos de velocidade, coordenação, força, entre outros. Durante os testes, os participantes foram submetidos a exames de velocidade (corrida de 35 metros), salto horizontal, deslocamento lateral, deslocamento do "t" e o "8”, todas essas modalidades visando um possível aproveitamento delas numa partida de tênis. Já para a segunda fase, estão sendo avaliadas mentalmente aspectos cognitivos, através de um moderno e inovador método científico, por ser este um esporte considerado individual, que requer do jogador maturidade para tomar suas próprias decisões. Sendo assim restarão 50 crianças, que integrarão a equipe de tênis do PIC. As crianças selecionadas serão todas amparadas com auxílio transporte, alimentação, material esportivo e preparação física. Para o organizador do evento Hugo Daibert, um dos principais objetivos do projeto, é abrir portas, dar oportunidade às crianças carentes e tentar retirar o rótulo de que o tênis seja um esporte elitizado. Com toda a sua experiência no tênis, que como jogador teve início aos nove anos e durou até os 17, envolvendo depois especialização profissional na Argentina, Espanha e Estados Unidos, Hugo percebe uma maior valorização no tênis por parte das crianças carentes. Ele presume que isso seja algo distante da realidade delas. O programa "Esportista Cidadão", realizado no Parque das Mangabeiras, atende a 700 crianças de sete à 16 anos, moradores das vilas que compõem o Aglomerado da Serra. O trabalho feito através de atividades planejadas de educação, esporte, cultura, integração com o meio ambiente e cidadania, tem destaques como Douglas Prezott, 14 anos, Diele Rodrigues, 15 anos, e Felipe Henrique Caetano, 14 anos, que foram convidados por Hugo para fazerem parte da equipe de tênis do PIC. Se tornar profissional, ganhar bolsa universitária no exterior e se formar em educação física são metas unânimes entre os três adolescentes. "Acho muito legal esse projeto, é uma oportunidade que as crianças da comunidade estão tendo", afirma Douglas, que treina há seis anos. Já Felipe, acredita que este projeto será bom, porque tira os meninos do tráfico. "Existem muitos meninos bons, só que não percebem isso", observa. Apesar de importante, talento não é tudo. O trabalho realizado por cada um, o esforço, a vontade e a garra demonstrada em quadra, podem garantir a vitória. "Tem que gostar muito", enfatiza Diele. Uma das exigências para se manter na equipe é ser bom aluno, por isso há um acompanhamento das notas, frequência e disciplina. O talento artístico que supera as dificuldades n CLARISSE SOUZA, 4° PERÍODO Com os instrumentos à mão, Cláudio Antônio da Silva chega ao Clube da Caixa todos os sábados às 10h para dar aulas de percussão. Deficiente físico, Kláudio Munheca, como é popularmente conhecido, toca seu instrumento musical e orienta um grupo de alunos com uma animação que os contagia. Sem uma das mãos, a deficiência não o impede de tirar o máximo do instrumento. Nascido no dia 21 de setembro, dia nacional de luta e combate ao preconceito e a discriminação à pessoa com deficiência, Kláudio Munheca revela-se apaixonado pela arte, em especial pela música, desde muito cedo. "Eu acredito que foi desde quando eu nasci, porque a gente é acostumado com a nossa etnia negra, então eu sou uma pessoa que veio a conhecer a música através de um terreiro de candomblé", recorda. Autor de mais de 600 músicas registradas, Kláudio procura, atualmente, apoio para a divulgação de seu trabalho. "Eu encontro dificuldade para expor o meu trabalho, porque hoje não existe uma política pública honesta, franca e verdadeira à pessoa com deficiência", reclama. Com um trabalho voluntário que ensina percussão, ele pretende formar um grupo carnavalesco para homenagear o centenário de Dom Hélder Câmara e, para isso, vem buscando apoio na faculdade de mesmo nome e em outras instituições. O músico busca por meio das aulas de percussão, realizar um trabalho de responsabilidade social. "Eu quero ver a diversidade cultural, a oportunidade que dá para o artista com deficiência, sem essa coisa de assistencialismo e paternalismo. Eu quero mostrar a qualidade do meu trabalho", salienta Kláudio. Além disso, o artista participa também do projeto PIDA (Preconceito – uma maior inclusão; Discriminação – uma maior acessibilidade), que visa, através da gravação de CD e da criação de uma entidade carnavalesca, promover uma campanha de conscientização da sociedade quanto ao papel das pessoas com deficiência. Em relação às políticas públicas voltadas para os deficientes físicos, ele acredita que houve uma grande evolução. Kláudio lembra que há alguns anos, para se disputar uma vaga de emprego, não bastava ter as mesmas habilidades que os demais candidatos sem deficiência, era preciso ser melhor. Atualmente, ele já observa mudanças nesse aspecto. "Hoje já houve uma melhoria muito grande, mas na verdade, ainda está anos - luz da realidade", observa. Apesar das dificuldades de exposição de seu trabalho artístico e dos obstáculos encontrados na sociedade por ser um deficiente físico, Kláudio Munheca ignora a ideia de pensar em desistir de seu trabalho como músico. "A melhor coisa que eu sei fazer na minha vida é música. Engano tudo que for possível, mas música eu sei que eu sei fazer", garante. Segundo ele, o apoio vem principalmente de sua família. Sua falecida esposa sempre lhe deu incentivo e seus filhos, embora não tenham seguido carreira artística, herdaram o talento do pai e dão total ajuda quando o assunto é divulgar o seu trabalho. Aos 53 anos, Kláudio Munheca não vê em sua deficiência física nenhum empecilho para realizar suas atividades como músico e digitador. "A pessoa com deficiência, naturalmente, já é toda diferente. Ela só precisa aceitar que ela é diferente, mais nada. Não importa que o outro não te aceite, você se aceitando, tudo bem", diz. Comportamento Outubro • 2009 13 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas BONS VALORES COM O ESCOTISMO O grupo, que se reúne no Bairro Planalto, foi fundado há 22 anos na Escola Municipal Lídia Angélica. Repeito pela natureza e compromisso com o meio ambiente são os princiapis ensinamentos MARIA LÚCIA ADORNO n MARIA LÚCIA ADORNO, 2º PERÍODO O 46º Grupo de Escoteiros Lagoa do Nado (46 GELAN) que desenvolve suas atividades todos os sábados à tarde, no Parque Lagoa do Nado, no Bairro Planalto, coloca em prática, desde sua criação, um dos objetivos da União dos Escoteiros do Brasil (UEB) que é o respeito pela natureza e o compromisso com o meio ambiente. O atual diretor técnico Jorge Rodrigues de Oliveira, 51 anos, representante comercial, há 15 anos no grupo, relembra que o 46 GELAN foi fundado há 22 anos na Escola Municipal Lídia Angélica, época em que a comunidade do bairro estava se organizando para que o parque não se transformasse num grande conjunto habitacional. O 46, como é chamado, incorporou essa luta e passou, desde então, a funcionar no parque com o intuito de preservá-lo. "O Parque Lagoa do Nado e o 46 estão intrinsecamente ligados, hoje contamos com 136 jovens cadastrados e nossa lista de espera é grande, o que talvez não aconteça com outros grupos que funcionam em colégios, pois o contato com a natureza atrai crianças e jovens da redondeza e de outros bairros", esclarece o chefe Jorge. Esta denominação "Chefe" que foi atualizada para escotista, mas pouco utilizada, vem da constituição do Movimento Escoteiro que foi criado pelo tenente-general do exército Robert Stephenson Smyth Baden-Powell, na Inglaterra em 1907. As primeiras notícias sobre o escotismo chegaram ao Brasil em 1909 e em 1924 foi fundada a União dos Escoteiros do Brasil (UEB). Segundo Jorge, o escotismo tem um projeto educativo e que o principal objetivo é formar cidadãos. Todos os componentes do 46, a começar pelo chefe Jorge, são unânimes em afirmar que entraram porque algum familiar ou amigo já freqüentava o grupo. Ele se envolveu ao inscrever seus dois filhos como Lobinhos. Hoje um deles é pioneiro e o outro, que estava na função de assistente, se encontra afastado temporariamente por causa dos estudos universitários. A esposa se tornou a chefe Zilca. O escotismo, normalmente, passa de geração para geração. É o caso de Ângelo Ryal & Ryal, 69 anos, rádio-amador, que veio de São Paulo só para assistir à promessa de escoteiro do neto Miguel, de 10 anos. "Sou do Grupo 10 de São Paulo, iniciei-me em 1948 no Rio de Janeiro, também fiz parte do grupo 39 no Santo Agostinho aqui em Belo Horizonte e passei por várias funções. O escotismo foi muito bom para mim. Por isso quis que meus três filhos, Ana Paula (mãe do Miguel), Mônica Cristina e Ângelo Júnior também tivessem esta experiência. A Mônica chegou a ser Akelá, chefe de Lobinhos, no 39 do Santo Agostinho O diretor técnico Jorge Rodrigues de Oliveira explica que o escotismo tem um projeto educativo com o intuito de formar cidadãos mais conscientes para a sociedade e parou para se dedicar à carreira de medicina e o Ângelo Júnior é Chefe de Tropa no grupo 10 de São Paulo. Ao ver hoje o Miguel fazer sua promessa vou retroagindo e lembrando-me da que ele fez quando se tornou Lobinho e das que eu fiz, principalmente aquela de servir a União dos Escoteiros do Brasil e que penso estar cumprindo lealmente", afirma. Ana Paula conta que pelo fato de Miguel ter vindo de uma família com histórico de escoteiros, foi aceito com menos de sete anos e chegou a Lobinho Cruzeiro do Sul que é a maior graduação de Lobinho. O trabalho que Prática ensina bons costumes "As pessoas de mais caráter, melhor conduta e com as quais eu tinha afinidades estavam ligadas de alguma forma ao Movimento Escoteiro". Com esta afirmação, a chefe da Tropa de Sêniores, Princia Mara Figueiredo Machado, 32 anos, secretária executiva, há cinco anos no 46, justifica o fato de ter retornado ao Escotismo após ficar afastada dos 11 aos 23 anos. Quando voltou ao Movimento, já com idade para a função de chefia, fez os cursos: Preliminar, Básico e Avançado. Ao longo do tempo foi complementando sua formação com cursos extras, como os de técnicas escoteiras, história da Jungle, entre outros, o que a faz ser reconhecida pelos colegas chefes como uma das mais bem preparadas escotistas. Para chefe Princia, os cursos proporcionam, além do aprendizado, trocas de idéias e experiências entre variados grupos escoteiros, num clima de grande interação. Os encontros podem ser regionais, nacionais e internacionais, como o Jamboree, por exemplo, que aconteceu em janeiro deste ano em Foz de Iguaçu e envolveu 5 mil participantes do Brasil e de alguns países vizinhos. "O Escotismo é fantástico, e o 46 é um lugar em que eu quero permanecer. Aqui percebemos claramente que o exemplo, muito mais do que as orientações que passamos para os jovens, são seguidos, como quando você pega um papel no chão e quando olha para trás vê muitas crianças fazendo o mesmo. A gente brinca que o escoteiro entra com sete anos e permanece ecoteiro até depois que morre, quando então vai para o Grande Acampamento”. As aprendizagens específicas como as pioneirias (fabricação de móveis utilitários com bambu e cisal) estimulam a criatividade dos jovens e os preparam para acampar com segurança e excelentes condições. "Ser escoteiro não é o que a mídia mostrava como vender biscoito, atravessar velhinhas e desarmar armadilhas de urso. As pessoas quando nos veem uniformizados ainda têm essa ideia. É muito mais. É algo muito bom para gente. Tem a parte séria, tem o convívio, o crescimento mental e espiritual e também a diversão", afirma a estudante e guia Cecília Bispo Pedrosa, 17 anos, que há seis está no 46 e teve oportunidade de participar do IV Jamboree, que diz ter sido uma experiência inesquecível. A estudante e Lobinha Tiffany Costa Pessoa, 10 anos, demonstra entusiasmo com o escotismo. “Aqui a gente brinca e aprende muitas coisas que a escola não ensina", garante. o escotismo faz é muito rico, desenvolve as múltiplas inteligências e estimula a criança a se desenvolver em outras áreas. No escotismo há o manual de especialidades, a criança escolhe a que ela quer e para ganhar o distintivo é avaliada por especialistas na área escolhida. O Miguel já tirou especialidades de colecionador, rádio-escuta, artes-marciais e natação. "Vale a pena trazer o meu filho, pois aqui ele aprende a amar um pouco mais o Brasil, o que as escolas não estão ensinando mais", afirma Ezio Barroso, orgulhoso do desempenho do filho Miguel. A estudante Daniela Pedrosa, oito anos, que é pioneira, veio conhecer o 46 a convite da irmã Cecília (Guia). "Com minha tia Márcia (assistente de chefe) e minha prima Cinayra (Lobinho) somos quatro da mesma família no 46", conta. O escotismo também está presente na família do diretor administrativo do 46, Sérgio Augusto Silvério, 55 anos, há sete no grupo. Ele tinha dois filhos que frequentavam o 46, até que o mais velho faleceu. “Para que o filho mais novo permanecesse no grupo eu entrei. O meu filho acabou saindo, mas eu fiquei porque adoro o trabalho que nós fazemos aqui, me deixa muito feliz! O crescimento que obser- Ramo vo nos jovens é impressionante, entram tímidos, às vezes sem limites e tornam-se diferentes", afirma. "Acho importante no 46 principalmente os valores que são passados. O grupo faz um trabalho muito bonito nesse sentido. Os adultos que trabalham no Movimento Escoteiro são todos voluntários dispostos a dar o melhor de si" afirma a pedagoga Tânia Maria Adorno Anconi, 51 anos, que é assistente de chefe e há seis frequenta o 46. Ela também iniciou-se no movimento por causa dos filhos e se encantou com as atividades desenvolvidas. Hoje estão no 46 os filhos Débora (guia) e Mateus Adorno (sênior). O mais velho, Daniel (pioneiro) integra outro grupo. ESPAÇO "O que mais gosto é conhecer as pessoas boas, o mais importante são as amizades, conheço pessoas aqui há mais de 10 anos que são os meus mais velhos e melhores amigos", afirma Diego Tassinari, de 19 anos, que é estudante de agronomia em Lavras. Ele considera que o escotismo reproduz a vida, pois é uma sucessão de etapas. "Você não fica preso. Com o passar da idade você vai sentindo necessidade de mudar de etapa e conhecer coisas novas", acrescenta. A mãe do Diego, chefe Eunice, também se dedica com entusiasmo ao escotismo e participa ativamente do 46 junto com o filho. Denominação Quanto às expectativas para o futuro, o que o 46 mais precisa, nas palavras do chefe Jorge, é “espaço físico” no Parque Lagoa do Nado. “Não temos local para reuniões, atendimento aos pais e nem para guardar todos os materiais de acampamento. Utilizamos um quartinho onde mal cabe parte desse material. Outra parte fica na minha casa, outra na casa do chefe Sérgio e outra na casa da presidente do 46, a Jaqueline. Nosso sonho é conseguir um espaço melhor aqui dentro, que nos permita oferecer condições mais adequadas aos que se encontram no grupo e abrir possibilidade para formar mais adultos que futuramente possam colaborar no Projeto Educativo do Movimento Escoteiro”, comenta. O Grupo 46 não recebe ajuda financeira, mantendo-se com a colaboração simbólica de R$10 mensais dos que estão matriculados. Todos os recursos financeiros para cobrir os gastos com materiais para desenvolvimento das atividades, compra de barracas, gastos com transportes para os locais de acampamento, são levantados pelo próprio grupo através de rifas, bingos e dos tradicionais eventos. Um deles, o Festival de Macarrão, acontecerá em 8 de Novembro, na Escola Municipal José Maria dos Mares Guia, no bairro Heliópolis. Faixa etária Alcatéia Lobinhos e Lobinhas 07 a 10 anos Tropa Escoteiro Escoteiros e Escoteiras 11 a 14 anos Tropa Sênior Sêniors e Guias 15 a 17 anos Clã Pioneiro Pioneiro e Pioneiras 18 a 21 anos 14Comportamento jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas Outubro • 2009 CAÍQUE PINHEIRO INICIATIVA ALIA BOA COMIDA E SOLIDARIEDADE Projeto “Me empresta sua mãe?” promove refeições beneficentes em restaurante de Belo Horizonte e arrecada fundos para a Associação dos Leucêmicos do Estado de Minas Gerais n CAÍQUE PINHEIRO, 2º PERÍODO Quinzenalmente, o chefe Gustavo Lavalle divide o espaço de sua cozinha, no bar La Tosqueria, na Savassi, na Zona Sul de Belo Horizonte, com a mãe de alguns dos freqüentadores, que é convidada para preparar um prato inédito no cardápio da casa. "Me empresta sua mãe?" é o nome do projeto idealizado por Robson Bezerra, D.J. e co-proprietário do espaço, que tem como pano de fundo a beneficência em prol de portadores de câncer. Em um jantar com amigos, Robinho, como o D.J. é conhecido, convidou a anfitriã, cujos caldos lhe agradaram, a prepará-los em seu bar. Combinou ainda que o dinheiro arrecadado com a venda desses pratos seria doado, e o bom resultado da experiência culminou no projeto que, iniciado em 15 de julho, continua firme. "A idéia é que comida de mãe é sempre a melhor. Você pega essa comida, leva pra um bar, esse bar leva a renda para uma campanha", explica. Ao custo de R$ 14,90, as porções, com rendimento para três pessoas, de carne de sol com purê de abóbora e couve frita, preparadas por Elisângela Felício, mãe convidada para a sexta edição, em 30 de setembro, começaram a ser servidas por volta de 19h20. Ás 20h40, Elisângela retornou à cozinha para preparar mais porções. Mais tarde, de improviso, preparou outro prato, uma vez que o "sonho dourado", como o chamou uma cliente, havia esgotado. "Pesquisei um prato com custo barato, diferenciado, que as pessoas consumam", diz Elisângela. Robinho acrescenta que as pessoas vão ao bar para comer o prato da mãe. Os custos dos pratos variam de acordo com os ingredientes necessários para sua elaboração, o mais caro até a edição custou R$19,90. Uma das instituições para a qual a verba arrecadada através do projeto se destina é a Associação dos Leucêmicos do Estado de Minas Gerais (Leuceminas), presidida por Antônio Firmino de Matozinhos, um dos fundadores, que há 20 anos trabalha na instituição. A Leuceminas tem sede em Elisângela foi a mãe convidada a cozinhar no final de setembro. À sua direita o idealizador do projeto Robson Bezerra Belo Horizonte e funciona como hospedaria para pacientes leucêmicos que se tratam na cidade. A casa tem acomodações para 82 pacientes. Além disso, atualmente presta auxílio a 390 pessoas com alimentação, vestuário, medicação, que, no caso do Glivec 400 mg, chega a custar mais de R$ 8 mil a caixa com 30 comprimidos. Todo o apoio necessário aos pacientes assistidos pela instituição são conseguidos por meio de doações, uma vez que a associação não recebe ajuda de nenhuma organização governamental. "Todo tratamento é feito no hospital, aqui é mais uma casa de apoio", esclarece Matozinhos. Ele diz que o projeto é inovador no sentido de que, em busca de diversão, é oferecida a oportunidade de ajudar alguém, e acredita que outros bares, botecos e afins irão reproduzir a iniciativa. "Tem uma série de casas que precisam de empreendimentos desse tipo", diz. O artista plástico Murilo Pagani esteve na edição do "Me empresta sua mãe?" no qual Elisângela Felício cozinhou e avaliou que a doação por esse projeto se dá de uma forma mais pessoal que as feitas em função de pedidos através do serviço de Telemarketing. Por outro lado, uma cliente disse que a contribuição feita desse modo, indireto, é melhor, uma vez que ela não sente que tem estrutura psico-emocional para acompanhar um leucêmico em processo de tratamento. De um modo ou de outro, Matozinhos enfatiza que o projeto já está ajudando o Leuceminas. Ajuda para quem sofre com o vício de comer n GABRIEL DUARTE, SÍLVIA ESPESCHIT, 4º PERÍODO Ansiedade, angústia e 'ataques' à geladeira no meio da noite, quando isolados, podem ser entendidos como comportamentos normais. Porém, quando fazem parte de um quadro clínico constante, devem ser tratados como uma enfermidade. Segundo a presidente da Associação Médica de Psiquiatria de Minas Gerais (AMMG),Sandra Carvalhaes, há 16 anos a alimentação compulsiva é considerada doença pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo ela, uma pes- soa pode ser considerada comedora compulsiva quando perde a capacidade de saber quando parar de comer e assim perde a noção de saciedade. "A pessoa sabe que comeu, tem uma certa saciedade, mas não para de comer", explica Sandra Carvalhaes. Para contornar esta situação, as pessoas em geral, primeiramente, procuram ajuda de profissionais de nutrição e até mesmo psiquiatras. "Já passei por tudo quanto é médico. Resolvia na hora", conta Carla, 54 anos, identificada por nome fictício, assim como os demais comedores compulsivos entrevistados. Ao perceber que os MAÍRA CABRAL Os doces são um dos maiores vilões para quem é um comedor compulsivo tratamentos convencionais não ofereciam resultados satisfatórios, ela procurou o grupo Comedores Compulsivos Anônimos (CCA), em Belo Horizonte e, em seis meses, perdeu 31 quilos. O CCA é uma entidade sem fins lucrativos, criada há 50 anos e que há 23 está em Belo Horizonte. Ela atua através do grupo Fênix, sendo auto-sustentável, pois se mantém pelas doações opcionais feitas pelos integrantes. Os comedores compulsivos não recebem cardápio para seguirem uma dieta. Esta medida serve, segundo a entidade, para conscientizar a pessoa de que ela mesma é a responsável por sua boa alimentação. No caso de Beatriz, 60 anos, hoje com 78 kg, entrar para o CCA foi sua última tentativa de perder peso, que felizmente deu certo. Ela, que chegou ao grupo aos 41 anos de idade pesando 106 kg e já havia tentado de tudo, exceto cirurgia de redução de estômago, assume que comia apenas uma vez ao dia: "da hora que acordava até ir dormir". "Carregar um peso além da sua condição não é fácil", comenta Beatriz, sobre o passado. A recuperação dos integrantes é feita através de três níveis: físico, emocional e espiritual, sendo este último independente da religião. As reuniões acontecem em três dias: às segundas-feiras (às 19 horas), terças-feiras (14 horas e 19 horas) e às quintas-feiras (às 13h30), à Rua Goitacazes, número 333, sala 1003, no Centro. Elas são divididas em dois momentos. O primeiro é destinado à leitura dos 12 passos e das 12 tradições, que são baseadas na atuação dos Alcoólicos Anônimos (AA). Na segunda parte, as participantes falam sobre suas experiências e tentam encontrar soluções para suas compulsões. Segundo Sandra Carvalhaes, os Comedores Compulsivos Anônimos são muito importantes. "De uma maneira geral, elas (entidades) ajudam muito as pessoas, explicando a condição delas", revela. É o caso de Luciana, que conta ter ficado sabendo do CCA pelo Jornal do Ônibus, e logo quis fazer parte. Luciana diz que o maior problema enfrentado, até agora, é não conseguir se controlar à noite. "Tenho um problema muito sério com disciplina, e preciso de ajuda", conclui a participante. A médica ainda esclarece que este problema não acomete só pessoas adultas, como pode acontecer em todas as faixas etárias. As mulheres, segundo ela, têm maior tendência a este problema e geralmente são pessoas entre 20 a 40 anos. "Desde que entrei na menopausa comecei assim", conta a participante do CCA, Luciana. As causas para o comer compulsivo, Compulsivos tentam não cair em tentação A conduta do CCA de não sugerir cardápios e nem realizar pesagem de seus freqüentadores, reforça o objetivo de auto-responsabilidade do comedor compulsivo. Recaídas são freqüentes, principalmente quando se está só, e com o intuito de evitá-las, o grupo sugere algumas ferramentas como telefone e escrita. Por meio do telefone, o comedor compulsivo tem a possibilidade de falar com outro companheiro de CCA, compartilhando o problema com quem mais o entende e evitando tentadoras reincidências, principalmente no caso de membros com problemas de disciplina como Luciana. "Sou de família de história de obesidade mórbida e estou indo para o mesmo caminho. Estou precisando de ajuda constante", desabafa Luciana. Quando não se tem o telefone à mão, ou a tentação vem no meio da noite, outra solução apontada pelo grupo é a escrita, que tem a vantagem de independer de outro indivíduo. "O açúcar é meu grande vilão. Aí escrevi uma carta pra ele ser meu amigo, mas que a gente precisa ficar distante", conta Carla sobre uma estratégia que a ajudou muito. segundo Sandra Carvalhaes, podem estar ligadas a vários fatores. "Há sempre um aspecto psicológico presente. Geralmente é a pessoa mais ansiosa que tenta preencher o vazio. Além disso, há causas biológicas, como a própria obesidade. As causas sociais e históricas também podem contribuir", explica. O tratamento para esta doença, segundo ela, deve ser feito em conjun- to, com profissionais de diferentes áreas atuando. "Deve ser feito um tratamento multidisciplinar. Um profissional da psicoterapia, que faça uma associação com tratamento com remédio para diminuir a compulsão, outro para a ansiedade. Ter um acompanhamento de uma endocrinologista, para ver se não teve nenhum problema no digestivo e ter um apoio de um nutrólogo", relata. Meio Ambiente Outubro • 2009 15 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas ÁGUAS PRESERVADAS NO QUINTAL n DANIELA GARCIA, 6º PERÍODO Para entrar na casa, nada de campainha ou interfone, o jeito é bater palmas e gritar: "Seu Alírio". Lá do portão, já se escuta o barulho da água. No fundo da casa, dá para ver uma mina nada convencional. A água cai de um cano de PVC, que desemboca em uma banheira, e depois segue por um sistema de drenagem que passa pelos 3 mil m² de terreno. Mas, essa não é a única. No sítio de Alírio Santos, no Jardim Montanhês, brotam três nascentes do córrego Engenho Nogueira, que fica na Região Noroeste de Belo Horizonte. "Dá trabalho preservar, viu?", adverte Alírio, que dedica o seu tempo integralmente para cuidar das minas d'água e da vegetação do local. Caçula de três irmãos, Alírio nasceu e vive ali há mais de 40 anos, mas foi a partir de 2004 que deixou o trabalho de vendedor e buscou especialização para conservar a área. Ele conta ter feito cursos para o uso de plantas medicinais e manutenção do solo. O estudo continua. Sobre a mesa – abaixo de um ninho de passarinho - ficam revistas que tratam de meio-ambiente, jardinagem e paisagismo. À margem das nascentes estão água-pés e samambaias, de acordo com Alírio, plantas que melhoram a oxigenação da água. As libélulas também estão presentes ali, o que ele aponta como importante, já que são insetos considerados bioindicadores de qualidade da água. A preservação das minas d'água está em "boas mãos", afirma a engenheira ambiental Simone Novi. "Em torno das nascentes devem sempre ter plantas. E, qualquer uma, porque toda planta gosta de água. Isso permite que a chuva infiltre no solo e faça a recarga do aquífero", explica. O tanque da casa de Alírio não tem torneira. A água corrente vem da mina por uma mangueira que chega a transbor- dar no balde de Maria Aparecida Santos, mãe de Alírio, que há 69 anos vive e lava roupas e pratos com a nascente. Aos 80 anos, diz já não aguentar torcer tanta roupa e sonha ganhar um presente dos filhos. "Já passou da hora de eu ter uma máquina de lavar, né?", brinca. Aparecida se lembra de quando mudou para o sítio. "Mudei para cá em setembro de 1960. Aqui nasceram três filhos meus. Antes de vir eu tinha perdido três. Quando a gente chegou, a água corria por cima da terra", conta. Ela também não se esquece como o marido comprou o terreno. "Ele pediu dinheiro emprestado no colégio que trabalhava e ainda deu um rádio da marca Invicto como pagamento do lote", conta. Naquele ano, a primeira árvore que plantou foi uma mangueira, que até hoje dá frutos. Além das mangas na área, agora, se cultivam frutas como pitanga, mexerica, goiaba e até cacau. E, mais de 80 plantas medicinais que são regadas com a água da mina. A nascente é limpa, afirma Sônia Ferreira, professora de Biologia que há sete meses faz monitoramento das águas do córrego Engenho Nogueira para a ONG SOS Mata Atlântica. "Mas não é potável, não passou por tratamento. O solo daqui está muito contaminado", observa. Ela alerta que só não dá para beber água da mina. Para Sônia, o sítio é um lugar de referência em conservação. Na última análise de setembro, ela constatou que a água estava transparente, livre de lixo, coliformes e espuma. E, que havia 6% de oxigênio dissolvido, quando o mínimo exigido para qualidade é de 4%, além de encontrar nutrientes como fosfato e nitrato. Sônia afirma que a água é segura, ao contrário do afluente Antônio Henrique Alves que está completamente poluído e fica há quatro quarteirões de lá. A professora, uma vez ao mês, leva alunos da Escola Estadual Eliseu Laborne para visitar as nascentes. Seis crianças são Alírio Santos deixou, em 2004, seu trabalho como vendedor para cuidar exclusivamente das três nascentes que brotam nos fundos de sua casa. Como resultado de seu cuidado, elas apresentam alto nível de qualidade em plena Região Noroeste da capital mineira MAÍRA CABRAL Alírio Santos, mais conhecido como “Seu Alírio”, fez cursos de especialização voltados para o cuidado do meio ambiente escolhidas por um sorteio para ir à casa de Alírio, que já passou por maus bocados com os estudantes. "Tem menino que pisoteia nas plantas e ainda joga papel de bala na nascente", lembra. Sônia diz que conhecer as minas d'água é algo novo para seus alunos. "É uma riqueza tão grande que é desconhecida de gente que mora até lá perto", observa. Alírio diz que já recebeu crianças de quatro escolas públicas e não cobrou nada. Conta ainda, que os estudantes perguntaram por que ele não tinha torneira Orquidário Roberto Burle Marx conscientiza visitantes n LAURA ZSCHABER, 2º PERÍODO Dia 23 de setembro, início da primavera. Não poderia haver melhor data para a inauguração do orquidário Roberto Burle Marx. Localizado no Parque das Mangabeiras, na Zona Sul de Belo Horizonte, ele abriga cerca de 290 mudas que foram arrancadas criminosamente de parques municipais da capital. O viveiro, que traz no nome uma homenagem ao centenário de quem criou o projeto paisagístico do parque, tem caráter pedagógico e pretende ser um apelo à consciência ambiental da população. De acordo com o chefe do Departamento Operacional e Ambiental do Parque das Mangabeiras, Saulo Henrique Ataíde, os roubos de orquídeas aconteciam em semanas alternadas, geralmente às quintas ou sextas-feiras. "Por terem sido roubadas nesses dias, em que é comum acontecerem feiras de flores e plantas na cidade, supomos que as mudas roubadas já eram encomendadas por alguém", afirma ele. PÂMELLA RIBEIRO Saulo é responsável pelas orquídeas e cuida da sobrevivência das mesmas O monitoramento eletrônico e a parceria da segurança do parque com a Polícia Militar foram fatores importantes para a detenção das pessoas que estavam roubando as mudas. "Através das câmeras, identificamos indivíduos com caixas e sacolas e ficamos monitorando. Quando eles tentaram sair do parque, a polícia foi acionada, as pessoas presas e as orquídeas apreendidas", revela. Além de ser responsável pelas orquídeas roubadas, Saulo também deve cuidar e assegurar a sobrevivência das espécies dentro do parque. A idéia de criar um mini-orquidário surgiu da necessidade de abrigar as mudas em um lugar mais reservado e seguro e que ao mesmo tempo contribuísse para a educação ambiental. "Como os parques ainda não têm vigilância 24 horas, era necessário criar um lugar para garantir que as espécies não fossem roubadas novamente. Escolhemos construir o orquidário na Praça das Águas, porque é uma área que tem constante movimento de pessoas e é bem vigiada também", conta. "Além disso, ele foi construído com uma cerca maior e aproveitando o relevo do local para dificultar a entrada de pessoas. Quando os parques tiverem a segurança devida, poderemos devolver as orquídeas para seu habitat natural", acrescenta. Segundo Saulo, um dos principais objetivos do orquidário é conscientizar a população. "Com ele cumprimos nossa missão de cuidar do meio ambiente e de propor uma reflexão sobre a preservação das espécies", completa. Um sinal de que as plantas estão se adaptando bem, são as novas mudas que estão brotando. "Na replantação, tentamos deixar as plantas o mais natural possível, recriando o solo pobre e raso em que vivem com areia, terra e material orgânico. Algumas foram amarradas nas árvores e outras apenas colocadas sobre a superfície. Já se pode notar folhas novas e brotos. Pelo visto a área foi bem escolhida", diz Saulo. De acordo com o chefe operacional, um grupo de pesquisa de uma faculdade particular da capital ficou interessado em estudar as orquídeas, mas a proposta ainda não foi aceita. "Ainda estamos analisando o convite, mas é interessante porque dependemos de estudos para a identificação das espécies. Com certeza terão variedades aqui já em em extinção, o que nos dá a possibilidade de manter um banco de mudas para repro- no tanque e como saíam borbulhas da terra. Dúvidas que são resolvidas, segundo Aparecida. "Esses meninos chegam aqui e não sabem de onde vem o arroz ou o feijão. Têm na sua mesa, mas não sabem de onde veio", constata. Para ela, a preservação da água é "boa", mas admite que quem faz o trabalho no sítio é Alírio. A mãe vive a sonhar com a máquina de lavar e conhecer o mar de Fortaleza. Enquanto o filho espera preservar às águas que brotam da sua terra, em Belo Horizonte. Lei contribui para a conservação ambiental Criada em 12 de fevereiro de 1998, pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso, a lei da natureza ou lei de crimes ambientais (Lei nº 9.605) trouxe melhorias para a questão ambiental já que define como infrações as atividades consideradas lesivas ao meio ambiente e define penas para as mesmas. A lei incide sobre crimes de poluição, ordenamento urbano, patrimônio cultural, fauna, flora, extração de recursos minerais, entre outros. Na legislação está previsto, por exemplo, que furtar plantas em unidades de conservação é crime ambiental. dução de híbridas", explica. A Escola Municipal Vinícius de Moraes usou o viveiro de mudas, como ferramenta para despertar o interesse dos alunos. "A ideia foi ótima porque eu nunca tinha visto uma orquídea de perto e fica mais legal a gente estudar vendo a natureza de pertinho", disse a estudante Jéssica Barbosa. HABITAT Segundo a bióloga, especialista em botânica, Valéria de Souza, a maior parte das espécies de orquídeas está espalhada pelo mundo todo devido à grande capacidade de adaptação destas plantas. "Elas vegetam em diversos ecossistemas, sendo encon- tradas em florestas, campos, cerrados, dunas, restingas, tundras e até mesmo em margens de desertos. Em geral, vivem em árvores ou sobre as pedras nas regiões tropicais e nas zonas temperadas são terrestres”, diz. "As orquídeas são geralmente cultivadas pela beleza, exotismo e fragrância de suas flores. Porém hoje em dia, as pessoas não respeitam a natureza e não conseguem admirar sem ter em casa”, comentou Valéria, que destaca a necessidade de preservação. “É importante para a cidade ter um orquidário como esse, porque além de se conservar as espécies, é um apelo à consciência ambiental da população", acrescenta. O Orquidário Roberto Burle Marx está aberto ao público de terça-feira a domingo, e em feriados, no horário de 8h às 18h. Informações: 3277-8277 /3277-9698 16Cultura jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas n SÍLVIA ESPESCHIT, 4º PERÍODO Em 1959, um jovem repórter policial do jornal paulista Folha da Manhã decidiu se arriscar a ganhar menos do que recebia e realizar um sonho antigo: desenhar quadrinhos. Sua obra já consagrada, que começou com tirinhas do cãozinho Bidu, teoricamente destinadas inicialmente ao público adulto, hoje lhe rende domínio de mais de 80% do mercado de quadrinhos brasileiro, com a "Turma da Mônica", bem como o mundial no gênero japonês mangá, já que a "Turma da Mônica Jovem", segundo seu autor, é hoje o mais vendido da espécie no mundo. Só dessa nova publicação, a média é de 400 mil exemplares vendidos em inúmeros países. "É um massacre, eu sei, mas o que eu vou fazer?", diverte-se o desenhista Mauricio de Sousa com o sucesso alcançado por sua criação. Comemorando seus 50 anos de carreira bem-sucedida, Mauricio de Sousa participou, em Belo Horizonte, em 8 de outubro, do 6º Festival Internacional de Quadrinhos (FIQ), realizado no Palácio das Artes e Parque Municipal. Marcando presença em uma maratona de participações no evento, o desenhista começou à tarde num bate-papo com cerca de 1300 estudantes de escolas publicas e particulares da capital no Grande Teatro do Palácio das Artes, no qual, mais tarde, disse ter se emocionado com o coro de "Parabéns para você", entoado pelas crianças presentes, em homenagem ao cinquentenário. O dom que levou a esse êxito nem sempre foi uma certeza para o quadrinista. Por viver em um ambiente 50 ANOS DE CARREIRA DE MAURICIO DE SOUSA O quadrinista participou, em Belo Horizonte, do 6º Festival Internacional de Quadrinhos, onde comemorou, com cerca de 1300 estudantes, seus 50 anos de carreira com o lançamento do livro “MSP 50 - Mauricio de Sousa por 50 artistas”, além do sucesso da sua nova publicação “Turma da Mônica Jovem”, feita no estilo de mangá japonês. SÍLVIA ESPESCHIT Mauricio de Sousa conta, em palestra no Palácio das Artes, histórias dos seus bem-sucedidos 50 anos de carreira com os personagens da Turna da Mônica cercado mais de música do que de desenho, Mauricio estudou piano quando adolescente, o que o levou ao dilema entre música e quadrinhos. "Não tinha muito recurso para estudar, se fosse para estudar piano", conta ele sobre o motivo que influenciou a decisão pelo desenho. Além disso, ele brinca que outro motivo é que "é muito mais fácil carregar um lápis do que um piano". Adolescentes e adultos, público crescido, também não deixaram de prestigiar seu ídolo, comparecendo à sessão de autógrafos de Mauricio de Sousa, destinada aos 100 primeiros que retirassem sua senha em um balcão na entrada do Palácio das Artes. Revistas antigas, recentes, camisetas e pedaços de papel dividiram espaço com o livro "MSP 50 Mauricio de Sousa por 50 artistas", que o homenageia por esta data, através de desenhos de outros artistas, conhecidos ou promissores. Ao telefone, um fã respondia à mãe a pergunta de onde estava, dizendo "estou fazendo uma coisa muito importante, mãe", sem mais declarações. Escutando o comentário do colega de fila, Mateus Lima, 22 anos, comentava que não poderia contar à sua mãe onde estava, pois correria o risco de ela querer para si o autógrafo que ganharia em alguns instantes. O artista plástico Nino Caimi conta que a sua primeira formação política foi obtida por meio de Mauricio de Sousa, com a história "Mônica e os Azuis", na qual a personagem ia para um mundo paralelo, onde todos eram azuis, e sofria Projetos para TV e cinema O desenhista também não deixa de confirmar seu famoso bom humor durante conversa com jornalistas no FIQ, mesmo tratando de temas delicados. Sobre a televisão atual e seu conteúdo, Mauricio brincou, arrancando risadas da imprensa: "Televisão? O quê que é televisão mesmo? Aquela caixinha preta?", perguntou entre risos. Levando a pergunta mais a sério, defendeu ser um veículo feito pelo público. "Se nós tivéssemos um pouquinho mais de consciência, de aprender a desligar a televisão quando está acontecendo alguma coisa ruim lá na telinha, a gente conseguiria mudar um pouco esse planeta", afirmou. Para ele, falta interação mais agressiva entre o público e o veículo. Por outro lado, Mauricio de Sousa diz que essa conscientização tem que partir também do outro lado, dos que comunicam. Contudo, admite que é um processo difícil, já que "vem o poder econômico, vem os anúncios, vem a grade, e a televisão também é um veículo que custa caro". Para ele, isso é necessário em um país como o Brasil que, para continuar a se desenvolver, deve cuidar da saúde, educação, meio ambiente, tudo que Mauricio de Sousa diz já colocar nas suas revistas, mas que ainda anseia tratar na televisão brasileira, o que diz não ter conseguido ainda. "Há quatro ministros da educação que eu não consigo fazer o projeto educacional pela televisão no Brasil. Eu estou fazendo na China, estou me preparando para fazer na Coréia, no Vietnã, na Indonésia, e no Brasil ainda estamos conversando", expõe. QUADRINHOS Já no seu suporte principal, a revista, a preocupação com bons ensinamentos e virtudes, passados pelas historinhas da Turma, são constantes para Maurício de Sousa e constituem sua contribuição para "mudar o planeta". "No que você joga para a criançada, você contamina, no bom sentido, a família, a sociedade", é o efeito que segundo ele, sua mensagem consegue causar ao transpor a barreira do público alvo. "Nas nossas histórias, os personagens, todos, não vão dormir com um problema", diz ele sobre situações de conflito criadas nas histórias, característica atribuída por Mauricio à técnica de narrativa criada por ele, de começo, meio e fim. Essa técnica subentende que os problemas que surgirem devem necessariamente ser resolvidos, ou então dissolvidos em meio à narrativa. Para ele, na vida real nós deveríamos tratar os problemas da mesma forma, seja encontrando soluções mais tarde, ou deixando-os "diluir". "A solução tem que vir, como tem que vir na vida real também", diz. EXTERIOR Além de projetos educa- cionais veiculados pela televisão de diversos países, Mauricio também expande os horizontes da Turma da Mônica através da criação de personagens mundialmente famosos, como Ronaldinho Gaúcho, já presente em 32 diferentes idiomas. "Os americanos não tão entendendo porque futebol vende tanto no mundo", comenta sobre a bem-sucedida empreitada. Segundo ele, o objetivo com a criação de personagens como Ronaldinho, e até o Pelezinho de antigamente, não é imortalizar os ídolos, mas sim a proposta filosófica que trazem com eles. A busca por mercado internacional, segundo Sousa, tímida por parte da Editora Panini, já começa a se movimentar, principalmente por questões de orçamento para novos projetos, como o novo filme do personagem Horácio, que segundo o desenhista deve ficar entre R$ 10 e 12 milhões. preconceito por ser colorida. Para Caimi, as histórias da Turma da Mônica, além de divertidas, são muito próximas da nossa realidade. "A Turma da Mônica é a sua colega de sala, a sua colega de bairro. E eu sou do interior, então brincava na rua igual aos personagens do Mauricio de Sousa", conta o artista plástico, fã de outras histórias. Ele diz que aprendeu a ler com "O Fantasma", um dos integrantes da sua vasta coleção de quadrinhos, iniciada em 1979. "Contando Mônica e também quadrinho americano e europeu, tenho entre 4.500 Outubro • 2009 e 5 mil revistas hoje. Sou muito apaixonado", assume o artista. MÔNICA JOVEM A necessidade de atingir um público que já estava "escapando pelos dedos", através do recente projeto da Mauricio de Sousa Produções, publicado pela Editora Panini, a "Turma da Mônica Jovem" abarca essa faixa etária de fãs que já passaram da infância, e que compareceram ao FIQ. Deleite para alguns e receio para fãs saudosistas, a revista, que segundo Mauricio é hoje o mangá mais vendido no mundo, acaba gerando certo debate. "Os personagens apenas cresceram, são os mesmos", tranquiliza o autor, sobre uma das maiores preocupações demonstradas pelo público: o de descaracterizar aqueles que os acompanharam por toda infância. "A garotada estava se tornando jovem cada vez mais cedo, e abandonando as revistas infantis. Quando eu comecei a desenhar revistas, o pessoal com 15 anos estava lendo e achando tudo legal. A infância começou a decrescer, a cair, e com dez anos a criança já chega e fala 'isso aqui é coisa de criança'", diz Mauricio de Sousa, ao explicar a necessidade da nova publicação, para não perder público para a nova preferência dos adolescentes: o mangá japonês. Segundo ele, foram muitos anos de estudo para concluir a proposta de juntar essa tendência com a Turma da Mônica, que teve que crescer para se adequar à proposta. Hoje, 50% do público do mangá está na faixa de dez a 16 anos. "Era o que eu queria. Dessa vez eu acertei", comemora sobre o projeto que ele acredita que não teria acontecido em outras editoras, que não a atual, Panini, especializada em quadrinhos. Máquina de fazer quadrinhos on-line Exclusivamente para o Jornal MARCO, Mauricio de Sousa comentou sobre o projeto "Máquina de Quadrinhos", um editor on-line gratuito de histórias em quadrinhos. Por meio do portal www.maquinadequadrinhos.com.br, o visitante pode criar sua própria história com personagens da Turma da Mônica, e até vê-la publicada na revista, se for bem votada pelo público. Em comentário recente pelo Twitter, Mauricio disse ser uma boa ferramenta para encontrar novos talentos. "Serve para tudo. Para eu achar talentos mas também pra desabrochar talentos. Eu sei, eu tenho consciência de que eu estou criando concorrência ali, mas é assim a vida. Nós temos que realmente estar abertos à concorrência, estar abertos para que haja vento novo, aragem nova", comenta. O estúdio de Mauricio de Sousa, que hoje conta com cerca de 150 profissionais, evita ao máximo plataformas somente eletrônicas. Segundo ele, a arte final por computador começa a ser estudada agora. "Nenhuma máquina vai substituir a criação, o traço livre, criativo", defende. Contudo, o artista vê no novo projeto um ponto de partida também para a possibilidade de enriquecer o expediente de seus estúdios. "Os bons que aparecerem lá, eu vou tentar contratar. Lógico. Tem duas coisas: é concorrência que vai surgir? É. Mas é gente que eu posso contratar? Melhor ainda, eu estou precisando de gente", ressalta.