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Visite mulhermagnetica.com.br Visite mulhermagnetica.com.br 1 Visite mulhermagnetica.com.br 3 5 Para ser bem sincero, eu acho que a Vanessa não existe. Acho que ela é puro fruto da minha imaginação. Mais do que isso, ela é fruto da sua própria imaginação. A grande questão é saber quem está por trás de tudo isso, ou seja, quem imaginou a Vanessa, que por fim acabamos nós todos também por imaginar? Lendo o Diário de Marise acabei encontrando algumas pistas. Pistas em forma de labirinto que, com extremo prazer, vou perseguindo. Quero ver aonde vai chegar isso, quero ver quem vou encontrar no fim desse percurso. Assim, leio e releio este Diário por inteiro, comparando o que foi escrito, comparando a mulher do papel, feita de palavras, vírgulas, parágrafos e capítulos com a mulher que conheci ao vivo. Descobri, nesse processo, que a Vanessa escritora é, na verdade, o personagem. A criadora é a criatura disfarçada. Isso poderia ser óbvio, já que se trata de um diário, de uma autobiografia, mas há sutilezas aí que precisam ser reveladas. A Vanessa profissional da carne, da noite, do dia, da sauna, da hora contada no relógio, da meia arrastão, da peruca ruiva, das roupas de enfermeira, do vibrador é simplesmente um disfarce. A escritora criou este personagem com tanto talento que o personagem criou vida própria, assim como no filme de Woody Allen, em que o personagem sai da tela e vai viver a vida real. A Vanessa real é a Vanessa escritora, anterior à garota de programa. A Vanessa escritora passou a vida toda tão ocupada em imaginar, que se esqueceu de viver. Marise, a personagem, a criatura, tomou conta da criadora e saiu pela vida fazendo e acontecendo, aprontando, se virando, até que um dia, de tanto sofrer, Vanessa acordou. A dor despertou a escritora, que decidiu dar uma basta naquela fantasia toda e viver. E ser o que nasceu pra ser, uma TALENTOSA ESCRITORA. Mas aí o livro acaba. Nesse momento, a Vanessa nos deixa no ar, na expectativa do próximo lance da sua vida, na criação do seu próximo livro, se daqui pra frente ela será santa, louca ou puta. Quem viver, lerá. Antônio Costa Neto Visite mulhermagnetica.com.br PREFÁCIO 8 O dinheiro foi feito para as mulheres. De que ele serviria, se elas não existissem? Visite mulhermagnetica.com.br Onassis 9 “Tu és o arquiteto do teu próprio destino. Trabalha, espera e ousa.” Ella Wheeler Wilcox Eu vivi muitas coisas, algumas ruins, outras boas. Resolvi escrever este diário como forma de terapia, e também porque, assim, não me esquecerei de fatos que já aconteceram comigo. São tantas as coisas que acontecem, e elas vêm de maneira tão rápida, que é difícil guardar todos os detalhes. São acontecimentos ricos e muito interessantes. Existem coisas, inclusive, que eu prefiro não lembrar, mas é impossível. Então, o negócio é virar a página. Às vezes, eu me pergunto até que ponto eu reescreveria a minha história. Será que, se eu começasse de novo, faria tudo diferente? Eu não sei... Penso que sou decidida sobre o tipo de vida que eu gostaria de ter. Sinto falta de uma vida mais tranqüila, segura e equilibrada. Mas, ao mesmo tempo, tudo isso me parece muito sem graça. Por que eu procuro viver de maneira tão intensa? Por que preciso tanto de liberdade? Por que tenho medo do amor? Por que faço tantas coisas ao mesmo tempo? E como, dentro de tanta intranqüilidade, eu me sinto feliz? Eu vivo em indagações sobre quem eu sou, sobre a vida, as mulheres, os homens, o que os torna tão diferentes, e reflito bastante sobre minhas atitudes. Surpreendo-me, cada dia mais, com a capacidade de ser o que antes eu não era. Por que será? Minhas maiores preocupações, hoje, são em relação a minha filha, Yumi. Eu queria poder suprir todas as suas necessidades de afeto e carinho. Sinto-me incompetente; afinal, faço tantas coisas ao mesmo tempo, que percebo que não sobra muito para ela. Estou pensando sobre isso e, agora, quando ela voltar das férias de julho da casa da minha mãe, vou procurar estar mais próxima. Se o pai dela dividisse os cuidados comigo, tudo seria mais fácil e melhor para ela. Outra preocupação minha é a questão financeira: eu nunca sei se, amanhã, terei dinheiro suficiente. Estou cursando a faculdade de enfermagem, mas não tenho bem certeza se essa seria a profissão adequada para mim. No futuro, eu não me vejo pobre, nem um pouco. Eu me vejo até bem Visite mulhermagnetica.com.br Balneário Camboriú, 5 de julho de 2003. 10 CAPÍTULO II KITY HOUSE Visite mulhermagnetica.com.br demais, com saúde e fazendo as coisas de que gosto. Porém, não consigo me ver no amor. Eu tenho a impressão de que talvez eu não encontre um grande amor, algo sincero, bonito e verdadeiro. Quando eu era adolescente, tinha esses pensamentos, de que ninguém um dia gostaria de mim. Espero que eu esteja enganada. A vida tem tantas surpresas, sabe-se lá o que ela reserva para mim. Tenho medo de sofrer por amor e de amar quem não me ama. Por que será? Meu nome é Vanessa, mas a maioria das pessoas que conheço me chama de Marise, a garota de programa ruiva. Eu nasci morena, mas costumo dizer que a minha alma é ruiva. Sempre digo isso. Neste momento, estou em uma fase bastante difícil. Tenho 27 anos, estou trabalhando nesta profissão há mais de um ano e tento superar os últimos acontecimentos do meu relacionamento com o Fausto (achei que não iria nem conseguir escrever o seu nome, dói tanto ainda). Minhas amigas me dão força, principalmente a Rosemara (Ro) e a Cris. Elas são especiais, e sinto que gostam muito de mim. Estou em férias da faculdade e passando, agora, uns dias na Boate Kity House, uma casa de programas na cidade de Jaraguá do Sul. Preciso juntar um dinheiro antes de voltar às aulas. Meu projeto de vida é me formar (no máximo, em dois anos) e, depois, ir para os EUA. Trabalhar, me estabilizar e voltar ao Brasil para morar no litoral, em algum lugar lindo e quente o ano todo, que tenha bastante natureza, mar, sol, areia, alegria; um lugar seguro... Eu fico, aqui, só imaginando uma areia bem branquinha, um mar lindo, um barulho suave de ondas, uns coqueiros enormes, verdes, eu, a minha filha Yumi e a praia... 11 “Ou nós encontramos um caminho, ou abrimos um.” Aníbal Esta noite, sonhei que eu abria um buraco no chão, cavava um túnel e ia tentando passar por ele. Abri os olhos me sentindo angustiada. Devo ter levantado lá pelas 11 da manhã. O café é servido na casa só a partir das 12h; então, fiquei rolando na cama. Eu era uma das primeiras a acordar, e tinha garota, ali, que só lá pelas 16h se levantava da cama. Muitas bebiam tudo o que podiam. Para algumas, isso já era alcoolismo; para outras, a ânsia de ganhar uns trocados a mais da comissão que recebemos pela dose paga pelo cliente. Ainda tem aquelas que bebem para criar coragem de estar ali. Eu não conseguia mais dormir, porque estava acostumada com a faculdade. Não que eu chegasse às sete e meia, mas nunca depois das 11h. Alguns professores reclamavam, mas nunca cheguei a repetir cadeira, porque as notas eram boas. Só uma vez que tive que fazer três vezes a mesma disciplina, por falta de freqüência. Meu problema sempre foram as faltas na faculdade, porque eu não consigo acordar, trabalho até tarde. Ontem foi uma noite movimentada na Boate Kity House, tem muitas meninas aqui. Algumas delas eu já conheço da Boate Privê, de Blumenau; aliás, foram elas que me trouxeram para cá. Viemos num arrastão só. O Henrique, dono da boate de lá, atrasou os pagamentos de algumas, não pagou outras e colocou um gerente incompetente, um tal de Bianco, no comando da Boate. Ele pagou algumas garotas com cheques roubados, que ele comprava de uns assaltantes. Eu mesma recebi dele um de 180 reais... FILHO DA PUTA!!! SAFADO E SEM VERGONHA!!! Mas se vê todo tipo de gente nessa vida, e olha que tem uma louca, lá, que está grávida desse gerente trambiqueiro. Mas como tem mulher burra neste mundo, meu Deus! Essa não é garota de programa, não, porque, se fosse, tinha se cuidado; ela trabalha na parte de bebidas da Boate. É bonita, mas não faz programa, porque acha isso indecente. Mas bem que parte do salário dela vem das meninas que trabalham ali: ela ganha comissão pelo pedido de bebidas, feito por nós e servido por ela. Logo, indiretamente, o salário dela Visite mulhermagnetica.com.br Jaraguá do Sul, 22 de julho de 2003. tem uma boa contribuição da prostituição. O Bianco é casado, e ela transa com ele sem camisinha. Lógico que ela não é garota, porque, se fosse, só usaria preservativo. Bem, ela é decente segundo as suas concepções, mas indecente, segundo as minhas. Sentamos para tomar café eu, a Duda, a Rose, a Adriana e a Alessandra. Todas nós viemos da falida Privê. A Alê não recebeu do Bianco; pegou um uísque e disse que iria levar como pagamento. Ele falou que não deixaria, e o segurança veio, para retirar a garrafa da mão dela. Essa cena foi de filme, porque ela espatifou a garrafa na prateleira de vidro das bebidas, e o prejuízo do Bianco foi bem maior. Estávamos, todas nós, ferradas nas contas, e viemos para cá decididas a dar a volta por cima. Para isso, precisamos trabalhar muito. Queremos aproveitar o dia também, só que a Boate só funciona à noite. A Leila, dona da casa, não nos deixa trabalhar em outro estabelecimento ao mesmo tempo, e quem mora aqui só sai mediante acerto do cliente. Resolvemos transpor as regras. Adoro isso! Transgredir barreiras é comigo, e, com as meninas, não é diferente. Eu estava com meu velho e bom Landau – milagre ele não estar quebrado, porque, na semana passada, ficou cinco dias na oficina –, as meninas patrocinaram a gasolina, e fomos em direção ao centro, procurar uma sauna ou uma casa de massagem que nos abrigasse durante o dia. Foi difícil: horas procurando, e nada. Tivemos que voltar, e, ainda por cima, ganhei uma multa: não sabia que Jaraguá do Sul tinha esses controladores eletrônicos de velocidade. Fui percebendo, no caminho, que a cidade era muito vazia e sem vida; acho que as únicas coisas legais de lá eram o Parque da Malwee e a Kity House, mesmo, por isso ela enchia tanto de cliente. Quando chegamos à Boate, o Luiz, barman, veio me comunicar que um cliente meu do dia anterior, Jorge, tinha ligado, dizendo que não poderia vir naquela noite, porque tivera que voltar para Curitiba, mas que, na semana que vem, estaria de volta. Pensei: “Lá se foram mais alguns reaizinhos. Mas não há de ser nada, hoje ganho mais”. O Jorge é um moço bem apresentável, deve ter uns 35 anos, bonito. Tinha vindo a negócios e, como todo marido longe de casa, resolveu dar uma passadinha em alguma boate da cidade. Ele chegou e ficou bebendo numa mesa. Quando entrei no salão, o vi e, como sempre faço, fui lá bater um papo, antes que outra fosse. Conversa vai e conversa vem, mãozinhas vão e mãozinhas vêm, dose de bebida para cá e para lá, dou uma voltinha, viro o meu copo na pia do banheiro, passo pelo Luiz e digo: “Vê se coloca mais gelo no meu copo, da próxima vez”. Sentei-me, peguei a mão do cliente e coloquei debaixo da Visite mulhermagnetica.com.br 12 minha blusa. Então, fiz a pergunta fatal: “Vamos para o quarto?” A resposta veio, imediata: “Vamos, sim, só que para o quarto do meu hotel”. Ele acertou com a Leila a minha saída, mas me pagou bem pouco pelo programa, 80 reais. E olha que a minha saída da Boate, à noite, são 50 reais. Que coisa, não? Mas eu estou bem precisada de dinheiro, e disposta a juntar os dois mil reais de que preciso para refazer a matrícula da faculdade. Fomos de táxi. No hotel, foi tudo bem tranqüilo. Eu até aproveitei um pouco. Depois, conversamos por alguns minutos, e eu fui embora. Ele disse que tinha gostado de mim e que voltaria, na próxima noite. Falei para ele: “Se gostou de mim, então me paga mais”. Não sei se ele era pão-duro ou pobre mesmo, estou em dúvida; só sei que, daquele mato, não tirei mais nenhum coelho. Com isso, eu fico um pouco indignada, pois, se gostam tanto assim da gente e ficam falando, por que é que não pagam bem, então? Não há de ser nada, a noite de hoje há de ser melhor. Deus tira de um lado, e o diabo dá de outro... Depois de jantar, fui me arrumar. Hoje coloquei uma roupa bem simples. Não faço o estilo piranha fatal no momento, só de vez em quando. Coloquei calça jeans e blusinha de um ombro só, deixei o cabelo solto, e só passei um batonzinho e um lápis preto, para realçar o verde dos olhos, que, às vezes, está meia-boca. Fui para o salão. O horário para as meninas estarem prontas é 21h; nisso, sou bem pontual. Se fosse de manhã, estava ferrada. O Luiz serve para a gente uma dose de vinho, Martini ou uísque, gratuita; é a primeira da noite, para que se pegue o embalo. Resolvi tomar uma dose de Martini, pois o vinho de ontem só me dera sono. Eu e a Adriana (uma morena alta, de cabelos bem compridos) nos sentamos no sofá, bebendo, para conversar. O sofá fica bem em frente à porta de entrada. Apareceram dois amigos, e eu já a convidei para irmos até eles. Ela me explicou que o maior tinha uma namorada na casa. O menor, ela não conhecia, mas disse que me ajudaria. Assim que nos aproximamos, cumprimentei, com o maior sorriso do mundo: “Oi!” Meu alvo era o mais novo, porque era o “solteiro”. Disse se chamar Roberto, embora seu amigo o chamasse, o tempo todo, de Daniel. Usei meu nome de guerra de sempre, Marise. Sentamo-nos para conversar, e conversamos muito, um papo bem divertido, mesmo. Eu percebia que ele estava gostando, e que as chances de rolar o programa eram grandes. Só para provocar e antecipar os fatos, comecei a beijar o pescoço dele e fui fazendo carinho. Depois de muito acariciar, pedi uma dose; afinal, eu preciso receber alguma coisa, meus afetos em horário de expediente não são gratuitos. Ele perguntou se eu iria explorá-lo. Eu disse que gostava de uísque com energético (custa 30 reais, Visite mulhermagnetica.com.br 13 dos quais cinco são meus, de comissão), mas que, se não desse, poderia ser uísque puro, mesmo (15 reais, dos quais três são meus). Mereci ganhar uísque com energético, e, não demorou muito, ele me convidou para o programa. Não perguntou o preço, e seu amigo ficou muito feliz em vê-lo saindo comigo, em direção aos quartos da Boate. Eu havia me esquecido do seu nome e perguntei novamente. Ele respondeu: “É Carlos.” Lembrei-me e pensei: mas não era Roberto? A Leila trabalha no caixa, é a dona e faz o controle dos quartos, também. Ela é uma morena bonita de rosto, e tem um corpo do tipo que chama a atenção dos homens, bastante quadril e seio. É alta e bem esperta. Leva todo cliente chorão no papo e na simpatia. Sabe se impor: ninguém chega até ela agarrando-a, e não existe a palavra “desconto” no vocabulário dela. Primeiro, o cliente passa pelo caixa e marca, no cartão da sua consumação, o uso do quarto e o programa. A Leila me cadastrou como a garota nº 27 da casa. Todas nós temos um número, sob o qual ficam registrados os programas da semana, para recebermos no final da madrugada de sexta-feira, juntamente com a comissão das bebidas. Quando ela foi alcançar a chave do quarto, pedi o de número 2, que é onde eu durmo. Não consigo entender essa relação de eu querer usar as mesmas coisas. Tenho essa mania: sempre compro pão na mesma padaria, uso os mesmos sapatos, o perfume não mudou nos últimos 12 anos, a mesma depiladora, as mesmas amigas, há anos; enfim, tinha que ser o mesmo quarto. Aquele cliente era legal. Ele era do tipo ingênuo, nem sabia direito o que fazer. Falei para ele que colocaria uma roupinha especial, de enfermeira, e me tranquei no banheiro. Ele pensou que eu colocaria luva, jaleco e roupa toda branca, até o pescoço. Quanta ingenuidade! Saí de lá seminua, com uma calcinha e um sutiã transparentes e um sinalzinho vermelho enfeitando, umas luvinhas branquinhas, de renda, e um chapeuzinho, desses que se usam em desenho animado de enfermeira. O cliente babou! Subi para cima dele e apelidei-o de bebê, porque, a cada hora, ele trocava de nome; acho que até ele esquecia. Ele era tão, mas tão ingênuo, que acabou nem conseguindo transar: aquele não era o mundo dele. Fiquei ainda mais surpresa quando ele passou a querer inverter os papéis, e quem estava ali, recebendo todas as atenções e os carinhos, era eu. Por mim, tudo bem: cliente paga, cliente manda, ainda mais se não vai doer. Mas ele fazia tudo, meu Deus, tudo errado! Como ele era ruim no oral, mas tão ruim, que só fingindo, mesmo. Simulei descaradamente, e ainda disse para ele não encostar mais em mim, que eu estava sensível, de tão bom que o orgasmo tinha sido. Deitei ao seu lado e começamos a Visite mulhermagnetica.com.br 14 conversar. Foi nessa hora que entrei em sua vida privada e perguntei sobre o casamento e a esposa. Ele me falou que ela é muito fria, brava, e que não se beijavam há dias. Ela tinha sido a sua primeira mulher, conheceram-se quando ela tinha 14 anos. Depois de seis anos de namoro, ela engravidou, e eles casaram. Não demorou muito para vir o segundo filho. Ele não tinha terminado ainda a história morna do seu casamento, quando se ouviu um interfone tocar no quarto. Era a Leila, comunicando que a hora havia terminado. Ele foi tomar banho sem orgasmo e, mesmo assim, estava feliz da vida. Depois que ele acertou a conta no caixa, me perguntou se o deixaria ali. Eu disse que não o largaria no salão, sozinho, até que ele tivesse que ir embora. Nós nos divertimos até as duas e meia da manhã, dançando no salão. É costume sair do programa do quarto com o cliente e deixá-lo sozinho, saindo à procura de um outro, mas, por algum motivo, eu não consegui fazer isso com ele. O amigo dele estava ainda mais feliz. Ele sempre dizia que o Daniel, Roberto, Carlos ou sei lá que outro nome tinha que arranjar uma segunda mulher. Como já disse, esse amigo era casado e namorava uma garota da Kity House chamada Priscila, que, nesse dia, não estava. Ele contratou outra e saiu da casa com a Juliana. A Juliana tem o mesmo estilo da Camila Pitanga: é magra, alta, morena, um pezinho na África, com um rosto bonito, e bem simpática. Seus pais não sabem que ela faz programa, e ela mora com eles. O bebê parecia o homem mais realizado do salão. Escrevi-lhe um bilhete de recordação, deixei um monte de marcas de batom nele, e, agora, ele se sentia um homem forte, viril e desejado. Tudo aquilo que ele queria ser para a esposa dele. Eu só pensava: “que bom, esse ainda volta...” Fui levá-lo até o carro, e combinamos de sair na próxima tarde, para passear. A Leila fez um superdesconto (30 reais), pela minha saída não ser à noite, e eu cobrei os 100 reais básicos de sempre. Despedi-me do bebê, do seu amigo e da Juliana: existe um limite, e não podemos passar do toldo da entrada. Ele fechou a porta do carro e, quando viraram o portão, parou, à minha frente, um táxi que estava de saída com um cliente, bem bêbado, já. Ele mal conseguia falar, nem sei como abriu a janela do táxi. Apenas me disse: “Quer ir embora comigo?” Respondi: “Vamos conversar!” Acertou a minha saída da Boate com a Leila e deixou pago meu programa. Depois de algum mal-entendido, por causa da bebedeira e do taxista, fomos parar no Hotel Etalan: ele estava hospedado lá. Seu nome era Barbosa, e ele era de Curitiba. O taxista me reconheceu; disse que havia me visto no Hotel San Sebastian, na noite anterior, com um cliente. Foi no quarto que eu percebi a real situação em que me encontrava. Eu Visite mulhermagnetica.com.br 15 me via em perigo. O homem que estava comigo tinha sérios problemas: estava bastante fora de si, dizia coisas desconexas, era psicótico e usava drogas, pelo jeito. Parece que ficava agressivo. Dizia-me para não ter medo dele, caminhava de um lado para outro e queria trocar de quarto, dizendo: “Vem para este quarto aqui, que é melhor”, mas acabava apontando para uma mesa de canto. Maluco! Ele tirou a roupa e ficou só de cueca. Ordenou que eu tirasse a roupa; fiz isso e fiquei só de calcinha. Ele caminhava, batia um pouco nas coisas, esbravejava algo ininteligível. Eu sentei na cama e comecei a pensar no que fazer, no que fazer, meu Deus? Calma, só tentava ficar calma. Puxei conversa e comecei uma sem fio, sem intervalo: qual seu nome? De onde você é? Faz o quê? Que interessante, hein? Como você é inteligente, tem bastante experiência de vida, pelo jeito, e blá, blá, blá. Ele se sentou na cama e começou a relatar a vida dele. Piscava, meio que caía para um dos lados, parecia que ia apagar e recobrava a consciência. Disse que havia passado por nove casamentos, já. Que coisa de louco! Não existia uma seqüência definida de fatos nas histórias que ele contava, e eu lá, ouvindo e me fazendo de entendida de tudo. Às vezes, ele repetia a metade de uma frase que dizia, como se afirmasse, junto com ela, uma opinião. Minha esperança era a de que ele dormisse. Sem chances. Passou-se uma hora e meia, e ele ali, ligado. Sugeriu que deitássemos. Pensei, na hora: “Que seja breve enquanto dure”. Foi então que a situação ficou complicada mesmo: além de transtornos mentais, ele tinha transtornos sexuais. Literalmente, interpretava um bebê. Que sina, a minha, hein? Eu, para me salvar de qualquer situação que o pudesse contrariar e deixar mais louco ainda, comecei a dar uma de mamãe. Mas, então, ele ficou mais pervertido: começou a implorar que eu evacuasse na cama. Mas, de jeito nenhum! Vi-me aflita, naquela situação. Só dizia que eu jamais conseguiria, e eu nem queria aquilo! Então, ele queria anal. Nem sei o que era pior! Depois, pediu que eu urinasse na cama. Fui levando o homem na conversa. Quanto tempo já devia ter passado? Eu devia estar na Kity House, a Leila dá ordem de voltar em duas horas, no máximo. Agora, já não queria mais que eu urinasse na cama: para minha surpresa, era nele, no seu rosto. Ele insistiu tanto, muito, mas tanto, que me deixou quase paranóica também. Pegava-me pelo braço e me fazia sentar na cama, toda vez que eu tentava levantar. Juntou minhas roupas e colocou dentro do armário. Ainda bem que não trancou, não havia chaves naquelas portas. Ufa! Uma hora, não agüentei tanta loucura dentro daquele quarto, insistência repetitiva, socos na mesa, e mais a minha angústia em sair de lá, e disse: Tá Visite mulhermagnetica.com.br 16 bom!!! Deita aí, vai!!! Sentei na cara dele e, de raiva, mas de raiva mesmo, fiz xixi. Fiquei pasma: pensei que era só molhar. Não!! Ele abriu, bem grande, a boca, e tomou tudo, evitou ao máximo o desperdício, ainda por cima bochechou, e disse que o meu gosto era bom. URGH!!! Insuportavelmente nojento. Pronto, acabou o programa. Eu estava exausta, psicologicamente. Deitei na cama ao lado, para descansar, antes de tentar sair: a cama que usamos estava com alguns resquícios da atividade pervertida. Ele veio deitar-se ao meu lado. Ai, meu Deus! Abraçou-me para dormir e ficou lá, interpretando um bebê, e eu, a mamãe. Penso que ele não sabe quem é, e eu estou ainda a tentar me entender. Passaram-se uns 15 minutos, e eu achava que ele havia dormido. Nada: ele começou a se mexer e a colocar a mão em mim. Dei uns gritinhos e disse: mamãe mandou dormir! Ele dormiu. Comecei a ver o dia clarear pela janela, deviam ser seis da manhã. Que droga, já devia ter caído fora há um tempão. De uma hora para outra, ele levantou. Queria continuar, disse que pagava mais. A minha angústia era muita; sentia a mesma coisa quando o Fausto me sufocava, sugava, extrapolava. Queria ir embora, só isso. Ele disse que queria só mais um xixizinho. Eu não tinha mais condições; primeiro, porque o meu psicológico estava abaladíssimo; segundo, que não existia mais água naquele corpo e, portanto, nada de fabricar xixi. Falei que eu mandava mais uma amiga, se ele quisesse. Fechado, ele queria. Do seu celular, liguei para o táxi que sempre atendia à Boate, o táxi do André. Só que quem estava guiando era uma motorista, a Eliana. Conversamos durante a volta. Ela me falou que tem dois empregos, e por isso se levanta, todos os dias, às três da manhã. Essa é das que batalham, Virgem Maria! Quando cheguei, estavam todas dormindo. Fui ao alojamento e entrei de quarto em quarto, procurando a Duda. Ela era a mais ferrada nas contas. “Duda, o cara é louco, mas você arrisca?” Contei a ela o que ele queria. “Sim, é claro que vou. Já estou acostumada com isso, tenho um cliente em Blumenau que é assim também, me leva para o motel e traz galão de água para eu beber.” O táxi estava lá fora, esperando eu encontrar alguém para voltar, e, enquanto ela se arrumava e ia, eu ia pensando sobre a Duda e a vida difícil que ela tinha. Ela era uma menina bem legal, sofrida pela vida, loira, olhos azuis, uns 24 anos, magra, alta, estilo européia. Na infância, seu pai era alcoólatra e batia na família. Ela viu um de seus irmãos morrer de espancamento pelo pai. Não pôde fazer nada: era menor e estava acuada num canto. Ela nunca fala da sua vida. Contou-me isso num breve momento de desabafo, na cozinha, há dois dias. Na noite anterior, tinha levado um soco, no olho, da Visite mulhermagnetica.com.br 17 Nathália, sem muitas explicações. Havia sido apenas uma discussão boba, de demora no banheiro. Estávamos comendo na cozinha, no intervalo das duas da manhã, quando tem sempre um lanchinho nos esperando – afinal, os corpos não são de ferro. Eu lhe dei a minha opinião sobre a atitude da Nathália: que, se ela havia feito aquilo, podia ser por complexo de inferioridade; que ela devia ser revoltada, mesmo. “Olha, Marise, eu tenho motivos de sobra, na vida, para ser revoltada, mas não saio por aí batendo nos outros, à toa.” Penso que a Duda apanhou muito e se acostumou a não se defender. A maioria das meninas, ali no salão, teria quebrado a cara da Nathália. Às vezes, penso que a Duda é um pouco parecida comigo, nesse sentido. A Duda se foi, e eu fui descansar um pouco, para, depois, me arrumar e esperar o bebê Carlos, Daniel, Roberto, ou sei lá qual é o nome verdadeiro da criatura. Coloquei exatamente a cor de roupa de que ele disse que gostava. Também escrevi mais uma cartinha amorosa, com data da madrugada, para que ele pensasse que eu havia escrito antes de dormir – assim, era mais romântico. Bem, na minha opinião, toda estratégia vale, para ganhar um cliente. É um jogo sadio; a ilusão vale, aqui, porque se está pagando para isso mesmo. Ele chegou à uma e meia da tarde. Até achei que não viria mais, mas a primeira coisa que disse, ao abraçá-lo, foi “eu tinha certeza de que você viria.” Eu sempre penso em mim como uma mulher sincera, verdadeira, mas minto tanto aos clientes, e, às vezes, nem tem necessidade. Nem sempre me reconheço. Quem é sincera, não deveria ser sempre? Fui com o meu carro, e ele, com o dele, que deixamos estacionado na garagem do seu edifício (a esposa estava viajando há alguns dias). Ele subiu no meu velho Landau, e partimos, para passear no Parque da Malwee. Eu já conhecia o parque, mas me fiz de surpresa: quis que ele se sentisse feliz por fazer alguém feliz. Caminhamos de mãos dadas, passeamos pelo labirinto das plantas; tudo lá é, realmente, muito lindo. Eu estava tendo uma tarde normal, como parte de um casal de namorados convencionais. Então, flagrei-me em pensamentos sobre o Fausto e fiquei a me questionar sobre por que não tínhamos uma vida normal e sobre quantas coisas legais tinham se perdido. Comparei o comportamento dos dois, cliente e Fausto. Percebi que aquele cliente me tratava muito melhor, com respeito, consideração, e ninguém ali havia falado em sexo. O Fausto, naquele horário da tarde, já devia estar querendo a terceira relação do dia. E todos os nossos dias eram iguais, sexo e sexo e mais sexo, às vezes cinco, seis, até nove vezes por dia. O Fausto era ninfomaníaco. Visite mulhermagnetica.com.br 18 Só depois de muito passear, ele me perguntou se iríamos a um motel. Falei que, se ele quisesse, tudo bem. Então, ele retornou a pergunta, dizendo: “Se você quiser, então, sim, está tudo bem.” Eu quis. Ele nem me forçou, por isso eu quis. Sentia-me bem com ele, e fomos parar no Mistérius Motel, bonzinho. Ele já foi enchendo a hidromassagem, IUUUUPIII!!! Colocou bastante espuma, e eu me atirei ali dentro, comendo chocolate e tomando Smirnoff Ice. Fiquei umas duas horas ali, estendida. O prazer dele consistia em me ver feliz. Depois, ele saiu da banheira, enrolou-se numa toalha e, tomando cerveja, ficamos conversando todas, rindo muito. Foi uma tarde bem divertida. Estranhei a falta de sexo e concluí que nem todos os homens são como o Fausto. Até transamos, foram nem 15 minutos de sexo. Ele me disse que seria rápido. Por mim, tudo bem: fingi outro orgasmo. O único problema é que esse era um pouco diferente do primeiro. Acho que gritei no primeiro, não lembro mais. Será que colou? Já na hora de irmos embora, tocou uma música e nós dançamos, bem abraçadinhos. Deu uma vontade de chorar! As lágrimas caíram, mesmo. Era a música “Os cegos do castelo”, e o intérprete cantava: “Eu cuidarei do seu jantar, do céu e do mar, de você e de mim...”. Se ele percebeu o choro, fez de conta que não viu. Sou muito sensível à música; sou capaz de chorar pelos ouvidos. Na volta, ele colocou gasolina para mim. Deixei-o em casa. Hoje, dormiria mais feliz do que nunca. Ele ficou com o número do meu celular, ligaria no sábado. Quando cheguei à Kity House, perguntei à Duda: “E daí? Tudo bem?” Ela me levou lá para fora e disse: “Tudo mal”. Realmente, o cara era louco. Não tinha rolado nada, e ela ainda teve que arcar com o táxi. A Duda está com azar. Fiquei chateada, porque quero que ela se dê bem. À noite, a Leila veio falar comigo. Disse que, depois que eu tinha saído da casa com aquele cliente, tinha lhe batido uma opressão no peito, e ela não conseguia dormir. Contatou os meninos, e eles disseram que não tinham o número do meu celular. Ela falou que estava pressentindo que algo não estava bem e tinha começado a rezar em casa. Jaraguá do Sul, 24 de julho de 2003. Passei o dia no quarto 2. O Luiz veio me falar que era um pouco estranho, Visite mulhermagnetica.com.br 19