desenhos animados contemporâneos e a aprendizagem da leitura
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desenhos animados contemporâneos e a aprendizagem da leitura
ISSN: 1981-3031 DESENHOS ANIMADOS CONTEMPORÂNEOS E A APRENDIZAGEM DA LEITURA/ESCRITA NA EDUCAÇÃO INFANTIL RESUMO Leide Daiane de Melo Brito1 Maria Izabella Brasil de Almeida Martins2 O presente artigo resulta do desdobramento de uma pesquisa realizada ao longo do Curso de Licenciatura em Pedagogia da Universidade Federal de Alagoas-UFAL. Objetiva-se investigar como os desenhos animados contemporâneos podem ser utilizados como recurso metodológico no aprendizado da escrita e da leitura de crianças de 4 e 5 anos, na Educação Infantil. Faz-se um estudo acerca dos fatores que contribuem para o desenvolvimento da escrita e da leitura na contemporaneidade, a influência dos desenhos animados contemporâneos neste processo e o papel do educador como mediador entre o sujeito, a escola e o entorno. A base teórica da temática desenvolvida apresenta contribuições de Amarilha (1997), Cagliari (1989), Mendes (2000), Tardif (2002), entre outros. A partir do presente estudo, pode-se compreender a importância da apropriação pelo educador/escola de dados que se presentificam no cotidiano infantil e que atuam como catalisadores nos primeiros contatos com a escrita e a leitura na Educação Infantil. Palavras-chave: Prática Pedagógica - Aprendizagem de Escrita e Leitura - Desenhos Animados Contemporâneos - Educação Infantil 1 2 Graduada em Pedagogia, [email protected], Universidade Federal de Alagoas. Graduada em Pedagogia, [email protected], Universidade Federal de Alagoas. 2 INTRODUÇÃO O artigo aqui apresentado é resultado de um projeto, realizado no Curso de Licenciatura em Pedagogia da UFAL, embasado no processo de ensino e de aprendizagem da escrita e da leitura na Educação Infantil em crianças de 04 e 05 anos, mediado pelos desenhos animados contemporâneos. Uma suscitação nos foi colocada a partir do estudo realizado ao analisar a experiência na prática pedagógica, através da mediação do educador considerando o trabalho docente como um espaço de descobertas a partir do interesse das crianças pelas narrativas presentes nos desenhos animados contemporâneos, e a relação que fazem com o aprendizado da escrita e da leitura. Diante do interesse das crianças pelas narrativas contemporâneas, buscamos discutir e compreender o desenvolvimento do aprendizado das crianças mediado pelas narrativas trazidas nos desenhos contemporâneos que estão presentes cotidianamente e, inevitavelmente, “entram” na escola e interferem na prática pedagógica do ensino da escrita e da leitura. Nesta situação apresenta-se o professor como intermediador no processo de ensino e de aprendizagem. A partir do contato com os livros, com os desenhos animados e com o mundo que a cerca, a criança realiza, através do lúdico, uma leitura visual que serve como base para um posterior aprendizado da escrita e da leitura. Assim, este estudo contribui ao oferecer subsídios para os que acreditam que a Educação Infantil pode ser mediada por recursos metodológicos próximos da realidade infantil e que colaborem com o processo de aprendizagem. Observa-se que, nas narrativas dos desenhos animados contemporâneos, esta mediação se dá pela construção do entendimento das crianças por meio da criatividade e da fantasia que envolvem as ficções, fazendo-se uma relação com a realidade infantil. Verifica-se que a imaginação é um fator inerente ao processo de desenvolvimento da criança e sua utilização no ambiente escolar oferece aos professores um meio de apresentar os princípios da escrita e da leitura. Sendo assim, ponto importante para este estudo foi investigar a relação dos desenhos animados contemporâneos e seu significado para as crianças frente ao seu aprendizado, focando a maneira como as narrativas contemporâneas mobilizam a aprendizagem da escrita e da leitura para as crianças na Educação Infantil. 3 DESENHOS ANIMADOS CONTEMPORÂNEOS E A APRENDIZAGEM DA LEITURA/ESCRITA NA EDUCAÇÃO INFANTIL O educador tem um papel fundamental no processo de ensino e aprendizagem e este processo envolve uma nítida relação entre identidade e afetividade, quando falamos da Educação Infantil. Desta forma, buscamos discutir e compreender, a partir do desdobramento de uma pesquisa realizada ao longo do Curso de Licenciatura em Pedagogia da UFAL, o desenvolvimento da escrita e da leitura na Educação Infantil mediado pelos desenhos animados contemporâneos. A Educação Infantil não tem como princípio básico alfabetizar. No entanto, os primeiros contatos com a leitura e a escrita podem ser vivenciados nesta fase, mediados pelo lúdico. As Diretrizes Curriculares Nacionais, no que se refere ao atendimento na Educação Infantil, Lei n° 9.394/96, no art. 29 afirma que, Do ponto de vista legal, a Educação Infantil é a primeira etapa da Educação Básica e tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de zero a cinco anos de idade em seus aspectos físico, afetivo, intelectual, linguístico e social, complementando a ação da família e da comunidade (2009, p. 3). O despertar para o prazer da leitura e da escrita pode estar inserido neste importante momento do aprendizado através dos mais variados meios lúdicos que interagem no cotidiano da prática pedagógica, sendo o professor o (inter) mediador e figura fundamental para o aprendizado, o qual ocorre pela via do desejo. Ou seja, o aprendizado pode acontecer de maneira prazerosa, pensando-se as leituras, brincadeiras e atividades que permeiam este processo como repleta de significado, sendo a atividade imaginaria uma sustentação para a apreensão do novo. É importante destacar o desenvolvimento do aprendizado das crianças mediado pelas narrativas dos desenhos animados contemporâneos que estão presentes cotidianamente e, inevitavelmente, “entram” na escola e interferem na prática pedagógica do ensino da escrita e da leitura, a saber, escrita e leitura entendendo-se os seus ensaios, garatujas, desenhos, rabiscos e leitura visual, como afirma Cagliari(1989,p. 155) “Uma leitura pode ser ouvida, vista ou falada. Um texto escrito pode ser decifrado e decodificado por alguém que traduz o escrito numa realização de fala”. Neste processo, o trabalho docente deve ser pautado numa relação de aprendizagem mútua, onde o educador, com um olhar sensível e apurado, pode acolher e utilizar novos recursos como instrumento pedagógico. 4 Os livros, filmes, desenhos animados, entre outras formas de apresentação das narrativas são, geralmente, caracterizados com cores diversas, imagens, animações, musicalidade e ilustrações que prendem a atenção da criança. Quando estão em contato direto com estes recursos, as crianças fazem, inicialmente, uma leitura visual, por se relacionarem com as imagens das cenas apresentadas. Atualmente, as narrativas ganham nova roupagem e prestígio nas páginas da Internet, nos DVD’s, nos jogos eletrônicos e em outros recursos presentes na contemporaneidade, com histórias de ficção atravessadas pelos valores sociais. Assim como relata Amarilha em sua obra: [...] gostaria de lembrar que o conceito de ficção é extensivo a todas as formas culturais que se utilizam da representação para criar um mundo paralelo ao mundo factual. Assim sendo, incluem-se no mundo da ficção: a literatura, o cinema, os quadrinhos, os desenhos animados, etc. [...] as crianças estão formando o conceito de história, ficção, personagem e outros referentes ficcionais através dos quadrinhos e da televisão. A literatura é um veículo pouco expressivo diante do impacto desses outros meios. No entanto, o conhecimento advindo dessas linguagens pode bem ser a base para a leitura literária (1997, p.84 - 85). É possível considerar as narrativas atuais como um produto social, e por este motivo, é aceitável compreendê-las como uma forma de afirmação da realidade atual, com temas como: violência, novas estruturas familiares, novas tecnologias, globalização, diversidade musical, poderes alienígenas e as relações entre a cultura oriental e ocidental. As narrativas apresentam valores e ideologias da contemporaneidade, na educação das crianças, considerando que, através da educação, os valores se propagam neste sentido Mendes (2000, p. 54) traz em sua obra a seguinte informação “(...) a burguesia viu na educação dos pequenos a oportunidade de que necessitava para perpetuar sua ideologia, e na literatura infantil, a melhor forma de realizar esse intento”. O ato de educar aparece como uma forma de moldar o sujeito de acordo com a cultura, passando para as futuras gerações os valores que se deseja disseminar. Conforme afirma Mendes: E foi aí que a ideologia burguesa viu a preciosa oportunidade de usar as histórias do povo como material de educação das crianças. Tanto os filhos dos donos do capital como os filhos dos donos da mão-de-obra deveriam ter, em narrativas cheias de encanto, os exemplos do conformismo necessário à manutenção da nova ordem social que se instalava (2000, p. 58). O herói, a magia, a luta do bem contra o mal, a busca da virtude, da honestidade, da obediência estão presentes nas narrativas contemporâneas, mas não necessariamente na figura de príncipes, princesas, fadas, bruxas, bosques encantados e castelos. Hoje o cenário pode ser 5 urbano, espacial ou onde a imaginação permitir. Uma criança pode receber poderes não de uma varinha de condão manuseada por uma fada, mas de seres alienígenas. Esta realidade vivida nos dias atuais é representada claramente nas ações infantis através das brincadeiras, dos diálogos e dos desenhos animados que influenciam todo o contexto da vida cotidiana das crianças que estão construindo seu aprendizado. Diante do desenvolvimento do aprendizado da criança é possível considerar que atividades planejadas com embasamento lúdico contribuem no processo de construção dos princípios da aquisição da leitura e da escrita ainda na Educação Infantil, onde deve estar presente o ideal de desenvolver o sujeito, proporcionando-lhe uma leitura do mundo. Segundo Amarilha: [...] leitura lúdica é leitura compreendida e leitura compreendida é leitura lúdica. Não existe prazer onde não há compreensão e, sem compreensão, não é possível desfrutar do prazer. Decorre então que, na relação criança e ficção, o caminho do lúdico é o acesso seguro na elaboração do significado textual. O lúdico é uma forma de como a comunicação textual se dá, estimulando a memória semântica do leitor, que é essencial à aprendizagem formal (1997, p. 91). Apresentar a leitura e a escrita sem proporcionar interesse e significado ao que se ensina resulta no processo de exclusão, seja ela entre o professor, os colegas ou até mesmo do ambiente escolar, uma vez que o sujeito, quando não interage com o meio no qual está imerso, exclui-se como também é excluído pela sociedade letrada que o cerca. No aprendizado que acontece na Educação Infantil, todas as representações das crianças devem ser consideradas, sejam elas as garatujas, os desenhos e rabiscos estão cheios de significado e representações significativas a aprendizagem. Portanto, quando essas representações não são levadas em consideração pelo educador podem ser perdidas valiosas oportunidades de promover o aprendizado. Saber ouvir é um dos mecanismos que favorece a relação entre, o educador e a criança constituindo uma forte ligação, uma vez que pode ocorrer uma transferência entendo aqui a transferência como uma manifestação do inconsciente onde a criança vai buscar na figura do professor o que lhe encanta. Neste sentido Kupfer (1989, p. 88), trás a seguinte contribuição, “(...) um professor pode tornar-se a figura a quem serão endereçados os interesses de seu aluno porque é objeto de uma transferência”. A formação da identidade infantil passa pela necessidade do sujeito se espelhar em um adulto, e a figura do professor se enquadra nitidamente neste processo. 6 Como também o ambiente favorável, harmônico e acolhedor é fator importante no ato de educar e no desenvolvimento da criança. Neste sentido, Tardif traz a seguinte reflexão a respeito do trabalho docente mostrando os caminhos que o permeia: Uma boa parte do trabalho docente é de cunho afetivo, emocional. Baseia-se em emoções, em afetos, na capacidade não somente de pensar nos alunos, mas igualmente de perceber e de sentir suas emoções, seus temores, suas alegrias, seus próprios bloqueios afetivos (2002, p. 130). Permitir que a criança explore o mundo que está ao seu redor num procedimento de investigação e construção do conhecimento, nesta fase do seu desenvolvimento, é primordial e deve ser auxiliada no desenrolar da ação educativa. Os profissionais que fazem a escola devem exercer papel educativo, considerando que a educação não se dá apenas dentro da sala, mas em todos os espaços, pois uma Instituição de Educação Infantil tem o papel de cuidar e educar, e deve expressar um ideal humanizador e socializador, além de desenvolver na criança habilidades que possibilitem a construção do conhecimento e dos valores necessários à conquista da cidadania plena, como propõe a Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB (Lei 9.394/96). Neste sentido, a utilização dos recursos contemporâneos pode ser um mecanismo favorável a aprendizagem infantil, uma vez que seja pautado pelo planejamento pedagógico, estruturado e respeitado, contemplado pelo prazer de ensinar e aprender. É de suma importância para o educador compreender a forma como a criança desenvolve suas potencialidades mentais, em especial na Educação Infantil, onde a identidade da criança está sendo construída. Deve-se pensar em atividades lúdicas não subestimando a capacidade da criança em aprender. Como observa Kraemer: Se em tudo é necessário criatividade, imagine-se o professor em sala de aula, diante de alunos que possuem um mundo cheio de atrativos fora da escola.[...] Aulas “diferentes”, criativas e atividades atraentes ajudam a conquistar os alunos. Ao substituir aulas monótonas por atividades lúdicas educativas, o professor desperta nos alunos o interesse pela aprendizagem num clima descontraído e criativo. O professor é o espelho dos seus alunos e deve ser o grande estimulador da aprendizagem, porém não existem fórmulas mágicas. O que deve existir é um professor com visão atualizada no que diz respeito ao ensino e que ouse utilizar novas técnicas de aprendizagem nas quais o aprender torne-se uma atividade agradável (2007, p. 15-16). 7 O imaginário infantil é surpreendente e o contato com a leitura e a escrita contribui para sua formação. Esta formação está em constante desequilíbrio cognitivo devido a criança sempre se deparar com o novo. Pode-se pensar que a criança busca, nas narrativas, uma resposta para compreender algo não entendido e, a partir daí, refletir sobre o que deseja resolver neste processo de construção da identidade; ela mobiliza para buscar o conhecimento através do brincar, escutar, criar, pensar e fantasiar. Saber identificar momentos como esses requer um olhar aguçado do educador o que garante êxito no seu trabalho para o desenvolvimento de cada criança, visto que as histórias infantis e as narrativas contemporâneas aparecem como baluarte para as práticas pedagógicas. As histórias infantis envolvem afetividade, trazem nos textos o que a criança necessita para elaborar seus conflitos, seus medos e outros sentimentos. Desta forma, acontece um rico auxílio no processo de aprendizagem. Segundo Cezar: [...] um dos motivos que levam a criança a ler ou permanecer escutando uma história é a produção de prazer envolvida. Pode promover a elaboração de conflitos, o acesso a processos de simbolização, a satisfação imaginária de desejos e fantasias. Pode satisfazer desejos por identificação com o personagem e com o conteúdo da história. Tanto mais fácil, pois o que acontece é com o personagem, não com ela (2005, p. 82). As crianças não se satisfazem em ouvir apenas uma vez determinada história, ou seja, o pedido do (re)conto ocorre muitas vezes na busca de encontrar respostas a constantes questionamentos, a fim de compreender o meio, demonstrando o desejo que está imerso em uma ação com o intuito de resolver algo que não ficou bem claro.É fato que as crianças se envolvem com as narrativas contemporâneas e as trazem para seu dia a dia, fazendo delas uma companhia nas conversas entre familiares e amigos e, como consequência, a escola é um ambiente no qual essa divulgação acontece. As crianças relacionam sua vivência com as personagens e, como não poderia ser diferente, elas adentram nos muros da escola por meio do imaginário infantil, nos matérias escolares, nas roupas, calçados, brinquedos e até mesmo nos alimentos. Desta forma, não se pode isolar tais interferências da escola, já que quem está inserido nela é um sujeito social imerso em sua subjetividade. Neste sentido, pode-se dizer que o “faz de conta” é inerente ao processo do desenvolvimento cognitivo infantil. A criança desenvolve sua imaginação e se coloca no lugar do outro, sendo este o herói, constituindo-se um ser único, capaz de usar de suas habilidades para ser reconhecido como tal. 8 Para tanto, a aprendizagem é um processo formador, o qual vai se fundindo na medida em que o sujeito lança mão de artifícios que possibilitam uma reflexão do seu próprio mundo. O educador pode ser o mediador desta rica e fértil relação, conduzindo o aprendizado mediado pela via do desejo entre os sujeitos que comungam da prática pedagógica, a saber, os sujeitos que fazem a instituição escolar. Segundo Tardif: O docente raramente atua sozinho. Ele se encontra em interação com outras pessoas, a começar pelos alunos. [...] Ela é realizada concretamente numa rede de interações com outras pessoas, num contexto onde o elemento humano é determinante e dominante e onde estão presentes símbolos, valores, sentimentos, atitudes, que são passíveis de interpretação e decisão, interpretação e decisão que possuem, um caráter de urgência. Essas interações são mediadas por diversos canais: discurso, comportamentos, maneiras de ser, etc. (2002, p. 49-50). A infância e a fantasia estão intimamente ligadas em um processo essencial ao desenvolvimento da inteligência da criança. Através de tal processo a criança entra no mundo do “faz de conta”, utilizando uma identidade que não é sua. Porém, tal identidade pode ser usada para a criança representar, atuar nas mais diversas situações que a imaginação possa chegar. Assim, por meio das narrativas a criança desenvolve seu imaginário, curiosidade, elaboram questões emocionais e resolve conflitos possibilitando uma melhor inserção no mundo. 9 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao final da pesquisa, percebemos o quanto estudos voltados para o aprendizado infantil, mediados pelos recursos contemporâneos, são valiosos na busca de uma sólida ação pedagógica. O estudo despertou o desejo de entender o interesse das crianças pelas narrativas contemporâneas e sua clara relação com o aprendizado, permitindo a inserção, nas práticas pedagógicas, do desenho como recurso que permita o desenvolvimento da leitura e da escrita, ainda na Educação Infantil. Verifica-se que as crianças se envolvem com as narrativas contemporâneas por meio da identificação. Sendo a escola um ambiente que acolhe a subjetividade, é inevitável que essas narrativas estejam presentes nos diálogos das crianças. Foi possível compreender que a apreensão dos primeiros contatos com a escrita e a leitura, pode ser mediada pelo lúdico. Desta forma, as produções realizadas na infância, ou seja, os primeiros ensaios da escrita e da leitura são uma forma de utilizar a ludicidade presente nos desenhos, nas leituras visuais, nas brincadeiras e na relação com o outro e com o entorno. Assim, o processo educativo escolar deve considerar que as crianças trazem, do mundo no qual estão inseridas, uma rica experiência de aprendizado que pode ser associado ao que a escola busca. As experiências trazidas pelas crianças podem ser aproveitadas e adaptadas à prática pedagógica. Do contrário, o que se deseja transmitir não terá significado e não despertará nas crianças o desejo pela busca e aquisição de novos conhecimentos. Consideramos que não devemos separar a Educação Infantil das narrativas contemporâneas, pois a criança é um sujeito social inserido nas duas experiências: a da escola e das narrativas contemporâneas. A identificação das crianças com o que assistem, nos desenhos contemporâneos, remete ao modelo atual de vida que elas conhecem, por isto essa relação é tão significativa. Estudar a influência do interesse infantil pelas narrativas contemporâneas e a relação com o aprendizado reforçou o quanto se faz necessário refletir acerca da prática pedagógica diante desses novos recursos e sua utilização na Educação Infantil. Ressalta-se que as questões aqui apresentadas não esgotam o tema em questão e apontam para a necessidade de novas e instigantes pesquisas. 10 REFERÊNCIAS AMARILHA, Marly. Estão mortas as fadas? Literatura infantil e prática pedagógica. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 1997. BRASIL. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9394/96. Brasília, 1996. BRASIL. Conselho Nacional de Educação / Câmara de Educação Básica. Parecer CNE/CEB 20/2009. Revisão das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. 11 de novembro de 2009. CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização e linguística. São Paulo: Scipione, 1989. CEZAR, Luciana Oltramari. Os contos infantis no divã – pela estrada afora com Chapeuzinho Vermelho. In: SANTOS FILHO, Francisco Carlos; ARRUDA Rosistela (org.) Um enlace entre psicanálise e literatura infantil. Passo Fundo: UPF, 2005. KRAEMER, Maria Luiza. Quando brincar é aprender... São Paulo: Loyola, 2007. KUPFER, Maria Cristina Machado. Freud e a educação: o mestre do impossível. São Paulo: Scipione, 1989. MENDES, Mariza B. T. Em busca dos contos perdidos. O significado das funções femininas nos contos de Perrault. São Paulo: UNESP, 2000. TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.