Cronicas e contos

Transcrição

Cronicas e contos
CALL
LITERATURA BRASILEIRA
VESTIBULAR 2013 - UFRN
PROFESSORES: ANA CLAUDIA E MARCO AURÉLIO
ANTOLOGIA DE CONTOS BRASILEIROS CONTEMPORÂNEOS
1- Uma leitura comparativa dos contos Luz sob a porta, do escritor Luiz Vilela, e Clínica de repouso, de Dalton
Trevisan permite que se afirme:
A) Em ambos os textos encontra-se a negligência da família em relação ao idoso, a ponto de abandoná-lo em
asilos.
B) Dona Candinha, personagem de Clínica de repouso, abandonada pela filha, encontra consolo em uma última
companheira: a mosca. A mãe de Nelson, de Luz sob a porta, mata sua solidão com a companhia dos filhos.
C) Os textos mostram a desvalorização das matriarcas por seus filhos, exceto Nelson, de Luz sob a porta, que não
esquece da mãe , e a apoia em momento de insegurança.
D) Em ambos os textos as mães são renegadas por seus filhos, numa clara inversão dos papéis familiares.
2- O trecho a seguir faz parte do conto Clínica de repouso, de Dalton Trevisan – escritor brasileiro que inúmeras
vezes retratou em seus textos as tensas relações entre o ser humano e a sociedade.
[…]
“– Vá-se embora – respondeu docemente a velha.
– Desapareça da minha vista. Você mais o dente de ouro. De dia o rádio ligado a todo o volume. À noite, a gritaria
furiosa das lunáticas. Sentadinha na cama, distraise a velha a espiar uma nesga de céu. Com paciência, amansa
uma mosca das grandes, que vem comer na sua mão arrepiada de cócegas. Há três dias afeiçoada à velhinha, não
foge a mosca por entre as grades da janela.”
TREVISAN, Dalton. “Clínica de repouso”. In: LADEIRA, Julieta de Godoy (org.). Contos brasileiros contemporâneos.
São Paulo: Ática, 1994.
A partir do todo do conto e de seus conhecimentos, é correto afirmar que a afeição entre dona Candinha e a
mosca caracteriza-se como
A) uma comparação com as relações da velhinha para com seus familiares, uma vez que o genro discordava do
tratamento que sua mulher dava à mãe.
B) uma metáfora da relação estabelecida entre a velha e uma enfermeira, a qual, durante o dia, a cobria de
atenções que minimizavam a solidão sentida pelo abandono da filha.
C) uma ironia, pois, ainda que nutrisse sentimentos de piedade e amor pela mãe, Maria decidiu interná-la, em
razão do estranho comportamento apresentado.
D) um contraste sarcástico com as relações pessoais existentes no texto, principalmente quanto ao descaso da
filha para com a velhinha.
3-Sobre o conto de Dalton Trevisan, marque a alternativa incorreta:
A)Clínica de Repouso, de Dalton Trevisan, é um conto narrado em terceira pessoa, cuja construção das
personagens focaliza, dentre outros temas, a falta de sensibilidade e de comunicação nas relações interpessoais.
B)O ambiente hostil do asilo sinaliza a precariedade tanto das condições físicas para atender os enfermos: “Nunca
entrava sol no pavilhão, a umidade escorria da parede, o chão de cimento.”, quanto da forma de relacionamento
com os mesmos: “Quem reclama – era o sistema do doutor Alô – ganha choque! [...] Olhe a injeção na espinha!
Olhe a insulina na veia!”
C)O título do conto sinaliza uma metáfora das relações familiares e mitifica o cuidado clínico representado no
zelo filial.
D)A internação no asilo é um traço de abandono, de isolamento, de ingratidão, que fortalece a ideia de como o
ser humano reage diante de suas experiências, já que Maria não vacila em momento algum quando sente a
presença da mãe como um empecilho ao seu relacionamento com João.
4- A coesão textual é elemento facilitador para a compreensão do texto, mas é a coerência que lhe dá sentido.
Leia o texto que segue e analise.
Circuito Fechado (1) – Ricardo ramos
Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água, espuma, creme de barbear, pincel,
espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha. Creme para cabelo, pente. Cueca, camisa,
abotoaduras, calça, meias, sapatos, gravata, paletó. Carteira, níqueis, documentos, caneta, chaves, lenço, relógio,
maço de cigarros, caixa de fósforos. Jornal. Mesa, cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres, guardanapo.
Quadros. Pasta, carro. Cigarro, fósforo. Mesa e poltrona, cadeira, cinzeiro, papéis, telefone, agenda, copo com
lápis, canetas, bloco de notas, espátula, pastas, caixas de entrada, de saída, vaso com plantas, quadros, papéis,
cigarro, fósforo. Bandeja, xícara pequena. Cigarro e fósforo. Papéis, telefone, relatórios, cartas, notas, vales,
cheques, memorandos, bilhetes, telefone, papéis. Relógio. Mesa, cavalete, cinzeiros, cadeiras, esboços de
anúncios, fotos, cigarro, fósforo, bloco de papel, caneta, projetor de filmes, xícara, cartaz, lápis, cigarro, fósforo,
quadro-negro, giz, papel. Mictório, pia, água. Táxi. Mesa, toalha, cadeiras, copos, pratos, talheres, garrafa,
guardanapo, xícara. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Escova de dentes, pasta, água. Mesa e poltrona, papéis,
telefone, revista, copo de papel, cigarro, fósforo, telefone interno, externo, papéis, prova de anúncio, caneta e
papel, relógio, papel, pasta, cigarro, fósforo, papel e caneta, telefone, caneta e papel, telefone, papéis, folheto,
xícara, jornal, cigarro, fósforo, papel e caneta. Carro. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Paletó, gravata.
Poltrona, copo, revista. Quadros. Mesa, cadeiras, pratos, talheres, copos, guardanapos. Xícaras. Cigarro e fósforo.
Poltrona, livro. Cigarro e fósforo. Televisor, poltrona. Cigarro e fósforo. Abotoaduras, camisa, sapatos, meias,
calça, cueca, pijama, chinelos. Vaso, descarga, pia, água, escova, creme dental, espuma, água. Chinelos. Coberta,
cama, travesseiro.
(RAMOS, Ricardo. Circuito fechado. In: LADEIRA, Julieta de Godoy (org). Contos brasileiros contemporâneos. São
Paulo: Moderna 1994.
Acerca do texto, considere as seguintes afirmações:
I - É estruturado a partir de enumerações, o que dispensa os elementos coesivos e apresenta uma coerência
global.
II - Apresenta coerência resultante da não-contradição, cada segmento constitui um pressuposto do segmento
seguinte, garantindo a concatenação.
III - O autor construiu o texto dispensando os elementos coesivos tradicionais, entretanto, a pontuação corrobora
com a construção de pequenas unidades de sentido.
IV - O texto é construído pela enumeração que evoca uma série de situações cotidianas na vida de um homem de
negócios.
Estão corretas:
A) Somente I, II, e III.
B) Somente I, II e IV.
C) Somente II, III e IV.
D) I, II, III e IV.
5- Em relação ao texto pode-se afirmar que a
A) inexistência de termos coesivos faz com que o texto não possa ser considerado literário.
B) avalanche de vocábulos desconexos transmite ao leitor a loucura e alienação do autor.
C) pontuação torna o texto de difícil leitura e entendimento.
D) coerência é estabelecida pela relação semântica entre os vocábulos.
6 - A intenção do autor do texto – Circuito fechado – ao construir seu texto utilizando vocábulos pertencentes a
uma mesma classe gramatical é
A) forçar o leitor a usar a imaginação e divagar.
B) tornar a leitura leve e de fácil assimilação.
C) marcar a rotina, sem quebra de continuidade.
D) reunir palavras desconexas para mostrar o caos em que vivemos.
7- Ainda com base no texto assinale a alternativa CORRETA.
A) O autor do texto focaliza cenas do dia-a-dia de um homem na cidade, preso a atividades de rotina.
B) Ricardo Ramos pretende chamar a atenção do leitor para os problemas causados pelo cigarro.
C) Circuito fechado é um texto publicitário que anuncia produtos de higiene pessoal.
D) Pode-se deduzir que o texto descreve o dia de um cidadão não-fumante.
8-Em relação ao conto, assinale a alternativa correta.
A) Emprega substantivos em sequência, sem estabelecer uma significação coerente.
B) Refere-se à rotina de um homem, desde que nasce até o momento de sua morte.
C) O conto representa uma vida restrita a um espaço privado, onde não há contato com a realidade externa.
D) O sentido do fragmento acima é construído pelo preenchimento das relações entre as palavras e pelo
conhecimento de mundo do leitor.
9- O conto Guardador, de João Antonio, como narrativa simples, tematiza a vida de um guardador de carros,
desde a manhã até ao anoitecer, quando se recolhe no oco de uma figueira na praça, e se estende em análises
filosóficas sobre a natureza dos tipos humanos, que circulam pelas ruas e praças da cidade do Rio de janeiro.
Sobre o conto marque a alternativa Correta:
A) O incidente que move o conto “Guardador” (1986) relaciona-se à resignação de Jacarandá diante dos
motoristas que estacionam na rua e não pagam a gorjeta.
B) A narrativa é entrecortada pelo monólogo interior, através do qual o velho guardador rumina a revolta diante
de liberdades que os motoristas tomam em desculpas para não pagarem o serviço de vigia.
C) O guardador revela-se um homem com consciência crítica e vontade de potência, se bem que a vida incerta o
acompanha pelo mundo, nas suas constantes mudanças, ora ébrio, ora sóbrio. Ao libertar-se da bebida, assume
um emprego digno.
D) O narrador idealiza um sujeito que apesar de arriscar a si próprio nas andanças pelos botequins, quando sóbrio
guarda dinheiro e investe em outro modo de vida.
A praça aninhava um miserê feio, ruim de se ver. A praça em Copacabana tinha de um tudo. De igreja à viração
rampeira de mulheres desbocadas, de ponto de jogo de bicho a parque infantil nas tardes e nas manhãs. Pivetes
de bermudas imundas, peitos nus, se arrumavam nos bancos encangalhados e ficavam magros, descalços,
ameaçadores. Dormiam ali mesmo, à noite, encolhidos como bichos, enquanto ratos enormes corriam ariscos ou
faziam paradinhas inesperadas perscrutando os canteiros. Passeavam cachorros de apartamento e seus donos
solitários e, à tarde, velhos aposentados se reuniam e tomavam a fresca, limpinhos e direitos. Também candinhas
faladeiras, pegajosas e de olhar mau, vestidas fora de moda, figuras de pardieiro descidas à rua para a fuxicaria,
de uma gordura precoce e desonesta, que as fazia parecer sempre sujas e mais velhas do que eram, tão mulheres
mal amadas e expostas ao contraste cruel do número imenso das garotinhas bonitas no olhar, na ginga, nos
meneios, passando para a praia, bem dormidas e em tanga, corpos formosos, enxutos, admiráveis no todo...
também comadres faladeiras, faziam rodinhas do ti-ti-ti, do pó-pó-pó, do diz-que-diz-que novidadeiro e da
fofocalha no mexericar, à boca pequena, chafurdando como porcas gordas naquilo que entendiam e mal como
vida alheia, falsamente boêmia ou colorida pelo sol e pela praia, tão aparentemente livre mas provisória, precária,
assustada, naqueles enfiados de Copacabana. Rodas de jogadores de cavalos nas corridas noturnas se
misturavam a religiosos e a cantorias do Nordeste. Muito namoro e atracações de babás e empregadinhas com
peões das construtoras.
Batia o tambor e se abria a sanfona nas noites de sábado e domingo. Ou o couro do surdo cantava solene na
batucada, havia tamborim, algum ganzá e a ginga das vozes mulatas comiam o ar. Aquilo lhe bulia - se a gente
repara, a batida do pandeiro é triste. Ia-lhe no sangue. Os niquelados agitavam o ritmo, que o tarol e o tamborim
lapidam na armação de um diálogo.
O vento vindo do mar varria a praia e chegava manso ao arvoredo noturno. Refrescava.
Os olhos brilhavam, quanto, ficavam longe, antigos e quase infantis numa lembrança ora peralta, ora magnífica.
O samba. Era como se ele soubesse. Lá no fundo. O que marca no som e o que prende e o que importa é a
percussão. Mas meneava a cabeça, como se dissesse para dentro: “deixa pra lá”.
10-O fragmento acima pertence ao conto “Guardador’, de João Antonio. Sobre o texto é correto afirmar:
A)ao autor interessa mostrar uma praça em Copacabana, Rio de Janeiro, cumprindo uma orientação de que a
literatura teria que mostrar os grandes centros e exaltá-los aos olhos do leitor.
B)ao mostrar a miséria numa praça de um famoso bairro do Rio de janeiro, o autor desvia o olhar da burguesia e
mostra os marginalizados, pessoas que foram mostradas como personagens secundárias em textos do século XIX.
C)o neorrealismo das imagens reside na força da linguagem que, para denunciar, apresenta-se rebuscada.
D) o texto alinha-se com o naturalismo ao defender a tese de que o homem é movido por instintos animalescos,
daí a comparação “chafurdando como porcas gordas”.
11-Leia os fragmentos abaixo e marque aquele cuja figura de linguagem é adequada:
A) O vento vindo do mar varria a praia e chegava manso ao arvoredo noturno. Refrescava. - HIPÉRBOLE
B) o couro do surdo cantava solene - METONÍMIA
C) chafurdando como porcas gordas - METÁFORA
D) Dormiam ali mesmo, à noite, encolhidos como bichos - COMPARAÇÃO
CRÔNICAS DE ORIGEM = CÂMARA CASCUDO
Perto da Sé existe a Biblioteca Publica. É neste prédio que o Instituto Histórico e Geográfico se reúne...
quando se reúne. A revista sai quando estamos encomendando as exéquias. Sinteticamente, como Instituto,é nulo.
Pessoalmente, cada sócio vale. Alguns, como o dr. Nestor Lima, valem muito. A nulidade do Instituto cifra-se na
abstenção à vida das sociedades congêneres.
Quatro ou cinco teses seríssimas de Historia atinentes ao próprio Estado passam em branca nuvem pelo
nosso augusto e único sodalício.
Ainda não li uma decisão decretada pelo Instituto para estudar este ou aquele problema. Na questão de
Grossos foi o Instituto o detentor das glorias ou aqueles esforçados que "ex-officio" lutaram? O Instituto nada fez
que desse impulso aos srs. Tavares de Lyra, Meira e Sá, Vicente de Lemos e Antônio de Souza. Se algum trabalha,
muito bem. Escreveu livro e falou da historia, ótimo. O Instituto glorifica o denodado escrevendo o nome na ata
etc, etc.
12-Na crônica “Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte”, Luís da Câmara Cascudo:
A)reverencia a importância dos trabalhos feitos por essa entidade para preservar a memória histórica e cultural
dos potiguares.
B)critica a falta de apoio do Governo estadual para a manutenção desse instituto.
C)considera os membros do Instituto pessoas não capacitadas para o desempenho da função lhes confiada.
D)expõe a falta de atuação dessa entidade no tocante à sua real função dentro da História, da Geografia e da
Cultura do estado potiguar.
Leia o fragmento abaixo retirado da crônica “Carnaval, carnaval” :
O (carnaval) de Natal desaparece. Os bailes de clubes e passeios vagarosos de auto mataram o Entrudo
patuscador e o Carnaval de antanho com os seus aliados inseparáveis na carraspana e no berro. É a voz do lança
perfume. Os confetes que fizeram sua entrada nos dois últimos anos do século XIX, levou-se o vento. Vem a
serpentina já europeia, fingindo chiquismo delicado entre nós, saudosas do banho num figurão circunspecto. Ah!
tanta lata dágua que está pedindo costado gravebundamente conselheira!! O tempo passou. Só o Zé Pereira é que
vive, rebentando tímpanos e peles de bombos, zabumbando doido. Zig-zig-zig-bum! Zig-bum-bum!...
CASCUDO, Câmara. “Carnaval!carnaval” in Crônicas de origem, p.129.natal; EDUFRN,2005.
13-A seguir as afirmações sobre o fragmento e associações que se podem depreender dele e assinale a
INCORRETA:
A) o cronista lamenta a perda pelo gosto da cultura popular.
B) são utilizadas criatividade linguística e onomatopeia.
C) há semelhança temática saudosista com a crônica “Taça florida”.
D) em Proteção da alegria popular , o autor expõe outro ponto de vista: a cultura popular não dasaparece.
14-Crônicas como O Doutor Antunes, Ângelo Roselli e Junqueira Ayres, revelam:
A) o interesse do autor em considerar figuras consagradas na memória popular.
B) a necessidade que o cronista tem de regastar do esquecimento figuras importantes sócio-politicamente da
cidade e do Estado.
C)a antipatia( e o despeito) que o cronista nutria por personalidades celebradas pelo Estado.
D)a veia satírica do autor contra desafetos que lhe criticaram publicamente.
Leia o fragmento abaixo:
Andava como se levasse o andor do Nosso Senhor dos Passos. Andava lento, majestoso, pisando como se tomasse
conta do chão. Era uma criatura seríssima. E malcriadissima. Nesse tempo inda não tinham dado nome a
neurastenia. Vestia-se de preto, casacão comprido, colete abotoado até o pescoço, colarinho grande, bem
esticado, gravata negra, fininha, tesa como se estivesse pintada no gogó de Sua Excelência. Magro, ossudo,
esgalgado, narigudo, olhinhos de lambeôio, bigode de granadeiro, boca de lábios estreitos e apertados como
abertura de mealheiro. Na cabeça um chapéu do tamanho duma chaminé. Tal era o 40° Presidente da Província
do Rio Grande do Norte.
15-Nesta crônica, o autor narra com sátira , com humor cheio de notações anedóticas e descrições caricaturais,
um vulto histórico-político do estado:
A) O Doutor Antunes.
B) Ângelo Roselli
C)Junqueira Ayres
D)O livro das velhas figuras ( Larico Pellado)
16-Segundo as palavras de Câmara cascudo, a partir de 1904, “ Natal perdeu por assim dizer, repentinamente,
costumes que pareciam inveterados, não encontrando, entretanto, sucedâneos em harmonia com as necessidades
espirituais de seus habitantes”. Um desses costumes está em:
A) A NOITE EM NATAL, a qual descreve como eram as noites natalenses antes da modernização da cidade.
B) O LIVRO DAS VELHAS FIGURAS ( LARICO PELLADO) em que aparece o povo e seu respeito aos governantes.
C) E A NOSSA UNIVERSIDADE POPULAR, crônica que expõe o ensino público do Estado.
D) A TAÇA FLORIDA, crítica a falta de jardins particulares ( ricos ou pobres), deixando a cidade sem beleza e sem
perfumes,diferentes do passado.
Dispensa o comentário. Basta anunciar. Natal a noite. Estamos vendo uma cidade quieta como se aprendesse
o movimento com as múmias faraônicas. Sob a luz (quando ha) das lâmpadas amarelas arrastam, meia dúzias de
criaturas magras, uma "pose" melancólica de Byrons papa-gerimúns.
Depois, um "film" no Royal ou Rio Branco ou poker sonolento do Natal clube.
Estive uns tempos inquirindo de como alguns amigos meus passavam as primeiras horas da noite. As
respostas ficam todas catalogadas em três classes. Indolência. Ficam em casa e tentam ler. Saem e não havendo
(desde que morreu Parrudo) nada de novo entre nós, deixam-se ficar madorrando numa praça silenciosa. Instinto de
elegância. Natal clube Aí está como vive a noite um rapaz nesta terra de vates e de enchentes.
CASCUDO, Câmara. A Noite em Natal In: Crônicas de origem, p.93. Natal:EDUFRN,2005
17-A noite natalense é tema da crônica acima. Sobre esse tema, o cronista:
A) aponta a diversidade bem variada de entretenimento noturno à época.
B) aproveita o assunto sobre a pouca opção de entretenimento e critica a falta de salões onde se possa conversar
sobre temas variados sem a discussão comum nos brasileiros.
C) sugere a participação da sociedade nos eventos culturais populares na cidade.
D) denuncia a falta de saraus poéticos em uma cidade de tantos poetas ilustres.
A Taça Florida
Publicado em A República, em 7 de fevereiro de 1929.
Natal é uma cidade sem flores. Falta d’água. Terra de tabuleiro muito mais para mangaba que para flor. Brisa quente
do mar. Sopro do rio salgado. Lagoas no meio da cidade que infiltravam salubridades. Não há flores. Melhor é dizer
que já não há. Lembro-me de Natal cheia de jardins. Uma quase obrigação de cultivar os palmos de terrinha que se
estendiam depois do portão. Era um encanto andar em certas ruas. As cercas vestidas de jasmim branco davam
vontade de fazer soneto. E toda a tradição das flores nortistas, as velhas flores cantadas pelos nossos poetas de
outrora: surgiam Bolas de Ouro, Glórias de Dijon, Rosa chá, Todo-Ano, as Estronda-Mundo espetaculosas, as RosasMeninas delicadas e tímidas, os Paul Neron rubros, os Coração de Homem em sangue vivo, as Rosa-Amélia em nácar,
as La France em porcelana, e Buquê-de-noiva em cachos, as Margaridas em bandos, todas as flores pediam um passo
demorado para olhar a beleza silenciosa de sua presença. E o crisântemo multipetalado, indolente e heráldico como
se estivesse no brasão do Mikado? E Dálias serenas, inumeráveis e lindas? Todo o pequeno quintal possuía seu
jardinzinho. Resedás estonteantes! Cravos brancos de cheiro forte, cravinas singelas, amarantos encarnados como
cabeças de camiranga. Estefanotes trepadores, os alvos Boa-Noite, os Boca-de-Leão, os Jasmins de São José e do
Cabo, os Jasmins de Laranja que caíam como uma chuva de perfume quando se passava debaixo, os Bem-Casados
juntinhos, aos pares simbólicos, as Nuvens-do-Céu azuladas e franzinas, os Miosótis rasteiros, as Perpétuas inodoras
e eternas, as clássicas Sempre-Vivas, não faziam inveja aos mais pobres que por sua miséria não tivessem as magras
Espirradeiras, os Cravos-de-Defunto, as Maravilhas simples perto das latas do alecrim e do mastruz, da erva-cidreira
e da manjerona. A vida apressou o ritmo e essas flores desapareceram. Não falo em begônias, em violetas, em
orquídeas, em parasitas de trato e flores de luxo. As nossas, aquelas cujos nomes sabemos de cor, invariáveis nos
nossos terreiros de mancha e boca-de-ferro, essas cuja presença denunciava o lar e eram tratadas por doce mão de
mulher recatada, dessas é que tenho saudade.(...)
CASCUDO, Luís da Câmara. “A taça florida”, in “Crônicas de origem”
18-Considerando o fragmento da crônica “Taça Florida” exposto no Texto III, pode-se afirmar que:
A)o clima da cidade do Natal não é propício ao cultivo de flores, por isso a ausência dessas desde sempre na
paisagem potiguar.
B)há um saudosismo pela paisagem florida da cidade do Natal, pois no presente (do texto) não se cultiva mais a
jardinagem.
C)o cronista conhece bem a botânica das flores e reverencia a sua beleza contraposta ao progresso que a preteriu.
D)há um tom irônico do cronista, ao referir-se ao provincianismo da antiga Natal e o descaso dela com o progresso.
19-Nas duas crônicas sobre O novo plano da cidade (a cidade e máster plan), percebe-se um autor:
A)preocupado quanto a possível destruição do antigo em favorecimento do novo.
B)entusiasmado pela imagem urbana e progressista que a cidade apresentaria, compatível com cidades do sul do
país.
C)descrente quanto a qualquer visão de metrópole que a cidade do Natal poderia ter, já que não há uma população
aberta às novidades.
D)enaltecedor de um plano que modernizará a cidade, preservando a sua linha do passado, durante a gestão do Sr.
Omar O’Grady.