religião e saúde

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religião e saúde
RELIGIÃO E SAÚDE
JOÃO BATISTA LIBÂNIO
Quando mais analisarmos os dois elementos corpo e alma, espírito e matéria, em separado, mais
somos inclinados a se intervenções espirituais, sobrenaturais, de fora, na nossa realidade.
É precisamente essa visão tão comum de que forças espirituais podem ser invocadas para
interferirem na nossa vida humana que está por trás dessa cenas de multidões à busca de cura
sobrenatural.
Há duas visões fundamentais da relação entre Deus e mundo, espírito e matéria, corpo e alma.
Uma visão acentua a distinção, a separação, a distância. Criam-se como que dois mundos opostos. O
mundo de Deus, do espírito, da alma, de um lado, e, de outro, o mundo das criaturas, da matéria do
corpo.
Outra visão da realidade tende par a união, a proximidade, a relação profunda e íntima entre os
dois pólos, percebidos de maneira antagônica na perspectiva acima indicada.
Essa distinção é importante para entender a relação entre Religião e Saúde. Quando mais se
pensam os dois elementos corpo e alma, espírito e matéria, separadamente, mais se é inclinado a ver
intervenções espirituais, sobrenaturais, de fora, na nossa realidade. É precisamente essa visão tão
comum de que forças espirituais podem ser invocadas para interferirem na nossa vida humana que está
por trás dessas cenas de multidões à busca de cura sobrenatural. Com efeito, pessoas enfermas invocam
com muita fé essas forças para que elas as curem. E se acontecem melhoras ou mesmo curas, essa visão
se confirma ainda mais.
Mas podemos entender o fenômeno de outra maneira que corresponde tanto a uma compreensão
mais atualizada da ciências quanto a uma teologia mais esclarecida a respeito da ação de Deus.
Com efeito, as ciências biológicas e a filosofia entendem os ser humano numa unidade muito
profunda de tal maneira que o corpo e a alma se relacionam intimamente. As atitudes de alma, como
alegria ou tristeza, vigor e depressão, coragem e desânimo, atuam profundamente sobre o corpo quer
curando-o de doenças quer tornando-o mais frágil às investidas das bactérias, vírus ou outros inimigos
de nossa saúde, respectivamente. Não precisa invocar nenhuma influência sobrenatural para explicar
muitas curas. Sem dúvida, a é com que a pessoa se apresenta diante de uma pessoa dotada de
qualidades extraordinárias predispõe seu corpo para reagir ativamente contra as doenças.
Evidentemente, há limites. Ninguém nunca viu, por exemplo, uma pessoa sem braços que foi a
um desses lugares de cura e voltou com o braço. Nesse caso, certamente não poderíamos recorrer a
nenhuma explicação pela vida da relação profunda entre corpo e alma.
Mas, a questão encontra luzes na maneira de entender a criação. Facilita uma crença exagerada
em milagres imaginar um deus que criou o mundo lá naqueles inícios e que vem, de tempo em tempo,
corrigir desajustes como doença ou outros males. Daí a necessidade de pedir loucamente para que ele
faça milagres. E buscam-se avidamente esses milagres lá onde alguém parece realizá-los.
Diferentemente procedemos se cremos que o ato criativo de Deus é permanente. Ele habita esse
nosso mundo. Em tudo que depende dele, procura nosso bem. Toca-nos, isso sim, fazer tudo de nossa
parte para que sua força criadora e salvadora atue o máximo para o nosso bem. Então em vez de ir à
cata de milagres, procuraremos viver a caridade, o amor no dia-dia, a responsabilidade em relação aos
outros. Então acontecerão os verdadeiros milagres do amor, da justiça, da responsabilidade social.
Basta lembrar o maravilhoso milagre que foi toda a vida de Tereza de Calcutá, sem que ela precisasse
fazer nenhuma cura extraordinária.
Pe. João Batista Libânio é professor do CES da Companhia de Jesus e autor de várias obras.
PATORAL DA SAÚDE NA AMÉRICA LATINA E CARIBE
PE. LÉO PESSINI
Alguns apontamento a partir do
III Encontro Latino-Americano e do Caribe de Pastoral da Saúde
(Santo Domingo – República Dominicana, 16/02/1998)
A presença da Igreja na área da saúde, em terras Latino-americanas e caribenhas, vem desde o
início do descobrimento e colonização deste continente. Se olharmos na perspectiva de uma ação
Pastoral da Saúde planejada, coordenada e inserida no contexto da pastoral orgânica, com diretrizes
claras e precisas, percebemos imediatamente que é algo ainda muito novo, característica dos últimos
anos do século XX, não obstante a Igreja já ter uma história de cinco séculos nestas terras.
Rememoramos neste trabalho os eventos de Pastoral da Saúde mais significativos realizados
pelo DEPAS-CELAM (Departamento de Pastoral Social do Conselho Episcopal Latino Americano)
até o momento presente, com destaque especial para o mais recente, o encontro de Santo Domingo
(República Dominicana, 6-20 de setembro de 1998) que nos dão um perfil da ação eclesial no mundo
da saúde ma região.
Nossa exposição constará de quatro passos:
I)
O terceiro Encontro Latino-Americano e do Caribe de Pastoral da Saúde (doravante
abreviado por PS).
II)
Uma radiografia da situação da OS na América Latina e região do Caribe.
III)
O início do processo de elaboração de um guia pedagógico de formação para os agentes
de PS.
IV)
Plano de ação e coordenação da PS a nível de CELAM.
I)
O TERCEIRO ENCONTRO LATINO AMERICANO E DO CARIBE DE PASTORAL DA
SAÚDE
O terceiro Encontro Latino Americano e do Caribe de Pastoral da Saúde, foi realizado em Santo
Domingos (república Dominicana) d e16-20 de setembro de 1998. Contou com a participação de 75
pessoas, representantes de 14 das 22 conferências episcopais dos países da região. Foi convocado pelo
Departamento de Pastoral Social (DEPAS) do CELAM, juntamente com a Comissão Episcopal de
Pastoral Social da República Dominicana e Universidade Católica de Santo Domingo. Como
representantes da Coordenação Nacional da Pastoral da Saúde – CNBB, participaram do encontro o Dr.
Dalton L. Ramos (Odontologia social daUSP) e o Pe. Léo Pessini ( Centro Universitário São Camilo),
ambos membros da comissão técnico-científica da PS- CNBB.
O encontro teve como objetivo principal” elaborar um guia pedagógico pastoral sobre a
formação dos Agentes de PS.
A partir deste horizonte temático foram delineados cinco objetivos específicos assim
identificados:
Objetivo1- examinar a situação da saúde e da Pastoral da Saúde na perspectiva da formação dos
agentes de Pastoral da Saúde;
Objetivo2- Aprofundar a perspectiva teológica-pastoral das dimensões (humana, doutrinal,
espiritual e pastoral) da formação dos Agentes de Pastoral da Saúde;
Objetivo3- Partilhar de experiências de formação de Agentes de PS
Objetivo 4- Elaborar um guia pedagógico-pastoral para a formação dos Agentes de Pastoral da
Saúde;
Objetivo 5- Desenhar um plano de ação para fortalece a Pastoral da Saúde na América Latina e
Caribe.
II)
UMA RADIOGRAFIA DA SITUAÇÃO DA PASTORAL DA SAÚDE NA AMÉRICA
LATINA E CARIBE
Aqui apenas selecionamos os itens de maior importância, destacando as contribuições dos
vários países. Dos 22 países, 12 responderam aos dados de uma pesquisa preparatória do encontro
levantando dados sobre a situação da PS proporcionando uma visão da situação dos trabalhos e,
andamento.
1) A nível organizacional:
Os relatórios recebidos informaram, que a Pastoral da Saúde (sob a responsabilidade de um
Bispo) faz parte da Conferência Episcopal em 11 países e em 10 está estreitamente vinculada ao setor
Pastoral Social e/ou Cáritas. Existe uma tensão forte em alguns países no sentido de se reivindicar
autonomia da PS da Pastoral Social e/ou Cáritas, com identidade e autonomia própria (“carta de
cidadania própria”) para não perder a especificidade de sua ação. Um plano nacional de Pastoral da
Saúde com diretrizes claras e precisas, existe somente em 6 países. Constata-se a existência uma
riqueza imensa de material (livros, revistas, folhetos, cartazes, etc.) produzindo nos vários países, que
procuram responder criativamente aos desafios na área da saúde a partir das necessidades locais.
2) A respeito da situação da saúde na região constata-se:
Profunda crise social e econômica; transição demográfica; passagem de medicina curativa para
a preventiva, valorização da medicina tradicional e indígena; privatização dos serviços de saúde
(mercantilização) e crise dos sistemas públicos de saúde (SUS-Brasil; Seguro social em outros países).
3) Em relação aos desafios que a PS enfrenta foram lembrados:
Sensibilização da hierarquia da Igreja; média alta de idade dos membros das Congregações
Religiosas que trabalham na saúde formação de agentes leigos de PS; Integração como profissionais da
saúde; maior presença diocesana e paroquial; maior número de voluntários; mais organização,
formação e criatividade; encontro nacional das equipes para elaborar linhas comuns de ação; escassa
preparação teológica e técnico-científica.
Necessidade de estudar política e legislação e, saúde; Estudo, análise e reflexão obre os seguinte
temas: indústria farmacêutica, saúde, cultura e desenvolvimento; medicina alternativa (medicina
natural); maiores esclarecimentos e aprofundamentos a respeito do crescimento demográfico, AIDS,
saúde comunitária e educação em saúde; necessidade de mais recursos econômicos, humanos e
infraestruturais; desenvolvimento de trabalho coordenação em questões complexas tais como: droga,
suicídio, velhice, luto. Superação de uma mentalidade sacramentalista por uma perspectiva mais
evangelizadora; assumir as três dimensões da PS: solidária, comunitária e político0institucional;
profeticamente denunciar todas as manipulações da vida; problema frente à desumanização das
instituições de saúde; acesso aos meios de comunicação.
4) No capítulo das prioridades da PS foram apontadas:
Formação de líderes da equipes (leigos); os profissionais da saúde, prevenção, promoção,
cuidado e recuperação da saúde; saúde comunitária. AIDS, medicina natural; formação e capacitação
de Capelães Hospitalares; estruturação e nível diocesano e paroquial; organização e coordenação,
assessoria, seguimento e acompanhamento.
5) Em relação aos programas elaborados:
Formação de Agentes de Pastoral, encontros, centros de capacitação, escolas de Pastoral,
revista, congressos nacionais de PS e bioética. Encontros para capelães, seminários e cursos para
religiosas(os), programas de rádio, programas a distância, cursos de auxiliares para paramédicos,
farmácia comunitária; formação de Ministros da Eucaristia.
6) Dificuldades encontradas:
Pouca motivação e dinamismo dos pastores; falta de criatividade; escassa formação nos
seminários para os futuros sacerdotes; pouca presença de profissionais cristãos; ausência de unidade de
critérios e sistematização das atividades; car6encia de recursos humanos e econômicos; pouca atenção
para a PS suburbana e rural; enormes dist6ancias geográficas; recuperação da medicina natural e
indígena; dificuldade de diálogo com órgãos governamentais; pouca disponibilidade dos responsáveis
nacionais e diocesanos da PS; coordenação precária entre os organismos de saúde da Igreja e PS sem
identidade própria e estrutura em muitos países.
7) Em relação às conquistas da PS elenca-se:
Existência de diretrizes (diretório) nacionais de PS emanadas a partir da Conferência episcopal
(Argentina, Brasil, Equador, Colômbia); A organização e identidade própria (ser PS com carta de
cidadania); a coordenação com a Pastoral Social e/ou Cáritas; criação de comissões diocesanas;
encontros nacionais com os responsáveis da PS; visão do novo conceito de saúde como qualidade de
vida e cultivo de estilos saudáveis de vida; cooperação com as Faculdades de Teologia; rede nacional
de saúde alternativa; a participação de leigos e profissionais da saúde; formação de agentes de PS que
capacita promotores e voluntários em saúde; equipes paroquiais de visitadores dos enfermos;
publicações e programas de rádio; convênio com o Estado (assistência religiosa em hospitais); criação
de associações de profissionais da saúde católicos (médicos, enfermeiros, dentistas, etc.).
III)
O PROCESSO DE ELABORAÇÃO DE UM GUIA PEDAGÓGICO DE FORMAÇÃO PARA
OS AGENTES DE PS
Enfatizou-se muito que formação não se faz de um dia para outro, é um processo complexo que
exige se levar em conta níveis diversificados (popular, rural, urbano, científico, básico, avançado, etc.)
da realidade de saúde na AL e Caribe; a elaboração de um guia como um instrumento valioso no
processo de formação.
A realização do encontro de Santo Domingo privilegiando a temática da formação dos agentes
de PS é o início de um processo que vai requerer a contribuição de todos os envolvidos na área da PS
na região. Os trabalhos em grupo e discussões em assembléia, levantaram os elementos fundamentais a
serem trabalhados por uma equipe de peritos do CELAM para elaboração de um documento que
brevemente será encaminhado a todas as Conferências Episcopais para as complementações,
acréscimos e correções que se fizerem necessárias. Nesta apresentação recolhemos o resultado das
contribuições dos grupos de trabalho do encontro em cinco pontos fundamentais para a elaboração de
guia de formação como seguem.
1) Objetivos
Capacitar para uma visão integral e Saúde; promoção da Saúde e prevenção das enfermidades;
despertar para a importância do trabalho multidisciplinar; capacitação e valorização do ser humano;
conhecimento da realidade de Saúde; aprofundar uma espiritualidade encarnada de sabor samaritano;
fornecer elementos de ajuda para enfrentar os novo desafios ligados com a Saúde tais como: cultura,
economia e globalização, bioética e espiritualidade; evangelização das estruturas de Saúde.
2) Princípio fundamentais:
Foram identificados quatro:
a) sacralidade da vida – como dom precioso de Deus;
b) Saúde como germem de salvação – novo conceito de saúde que abarca a dimensão da
espiritualidade);
c) Jesus, o Bom Samaritano (“eu vim para que todos tenham vida e tenham em abundância”),
modelo para o agente;
d) Comunidade eclesial que continua a missão de Jesus na promoção e cuidado da saúde
preferencialmente junto aos excluídos.
3) Eixos temáticos.
a) Antropológico-teológico
- Pessoa humana como ser integral: bio-psico-social e espiritual;
- Condição humana: vida, enfermidade e morte; cultura; família.
b) Ético.
- Direito à vida e à saúde, questões de bioética;
c) Doutrinal.
- conceito de saúde iluminado pela revelação (salvação), Bíblia e saúde documentos da Igreja,
Páscoa Cruz e Ressurreição.
d) Pastoral.
- Aconselhamento, relação de ajuda, espiritualidade, sacramentos;
e) Sócio-político.
- Conhecimento da realidade da saúde e os elementos entervenientes no processo (político,
ecologia, economia, etc.)
f) Técnico-médico.
- AIDS, saúde mental, estruturas organizacionais e legislação em saúde;
g) Litúrgico.
- Dimensão celebrativa da vida que envolve os sacramentos e celebrações;
h) Liderança.
- Identidade do agente de PS;
i) Metodologia.
- Ativa e participativa; técnica de comunicação.
4) Perfil do agente de Pastoral da Saúde
Retoma-se basicamente o que o documento do encontro e Quito (1994) diz a respeito, quanto à
urgência de uma capacitação e formação adequada em três níveis fundamentais a saber:
a) Nível humano: maturidade humana e psicológica, auto-estima, capacidade de diálogo,
escuta e relacionamento com os outros.
b) Nível cristão: ser pessoa de oração e silêncio, conhecedor da palavra de Deus, pessoa de
Jesus e dos documentos da Igreja. Viver os valores evangélicos da compaixão,
solidariedade, respeito, amor e serviço.
c) Nível técnico-proissional: conhecer da realidade da saúde; capacitado para promoção da
saúde e prevenção das enfermidade; capaz de utilizar as ciências humanas e sociais, tais
como psicologia, sociologia, medicina, etc.
Foi lembrada também a Carta do Cardeal. Fiorenzo Angelini sobre a formação dos Agentes de
Pastoral da Saúde, elaborada por ocasião do encontro de Quito (1994) que sublinha algumas
características do Agente de Pastoral: uma inteligência animada pelo coração; entrega total; um grande
sentido sobrenatural e uma sincera piedade mariana.
IV)
PLANO DE AÇÃO E COORDENAÇÃO DA PS A NÍVEL DE CELAM
Foram eleitos os novos coordenadores regionais em número de seis. São sempre os
coordenadores nacionais de PS de um determinado país: Cone sul (Argentina, Uruguai, Paraguai, Chile
e Brasil) – Pe. Mateo Bautista Pe. Evangelista Moisés de figueiredo. Bolívia, Peru, Equador, Colômbia
e Venezuela: Pe. Adriano Tarraran. Note-se que o Brasil ocupa um lugar singular pela sua extensão
territorial e passa a ter representação própria. No entanto não foi definido um coordenador continental,
o CELAM deverá indicar brevemente um entre os representantes regionais da PS.
O Próximo Encontro, Latino Americano e do Caribe de Pastoral da Saúde, que acontece sempre
de 4 em 4 anos, está previsto para o ano 2002, num país ainda a ser definido pelo DEPAS-CELAM, as
preferências são pela Venezuela ou Brasil). Já surgiram a partir do trabalho dos grupos, alguns
sugestões de temas: Teologia da Pastoral da Saúde, Pastoral da Saúde e Bioética, Globalização e PS;
Paróquia e PS; Espiritualidade na Pastoral da Saúde.
Concluindo estas notas fragmentárias, ficaríamos em dívida se não registrássemos, o quanto de
bem a Pastoral da Saúde tem feito a nível de promoção de vida e saúde e cuidado dos doentes, neste
continente da esperança, mas fortemente golpeado pela “cultura de morte”, através de milhares de
Agentes, Voluntários e Leigos, verdadeiros samaritanos anônimos, que neste limiar de um novo tempo,
continuam o mandato evangélico de “pregar o evangelho e curar os doentes”. O anseio de todos ao
pensarmos no futuro da PS no Continente ficou muito bem claro numa das contribuições: Optamos por
uma Pastoral de Saúde Nacional e diocesana, dinâmica, audaz e aberta à mudança, que revitalize nossa
presença missionária, a razão de ser no mundo da saúde em sentido evangelizador”.
Nesta perspectiva, no encerramento do encontro, foi redigida uma mensagem de estímulo e
esperança, a quantos trabalham como agentes na área da saúde e que será brevemente enviada a todos
as coordenações nacionais de PS do Continente.
Nunca é tarde lembrar, que os desafios e as necessidades de saúde, as diferenças e
características culturais, políticas, econômicas, sociais e religiosas, quer no âmbito regional ou
nacional, dão um matiz profundamente rico e diversificado da ação da Igreja no mundo da saúde na
América Latina e Caribe.
A RAIVA
QUERER ALGO E NÃO CONSEGUIR
DORIS UNDERWOOD
A raiva aparece quando quero alguma coisa e não estou conseguindo ou penso que não vou
conseguí-la.
Basicamente o que mais desejo é ser amado e respeitado pela pessoa que sou. Quero sentir-me
com forças para ter controle sobre minha vida.
Em qualquer situação quando sinto que alguém está me espezinhando ou diminuindo os outros,
quando me sinto incapaz e sem controle de nada, fico com raiva. A raiva é um dom de Deus. Ela me
energiza de tal forma que tenho uma orça extra para lutar pelo que desejo para mim ou para os outros.
Conseguindo o que desejo a raiva termina. Eu já não preciso dela.
Atrás da Raiva existe um desejo.
Maria gastou uma porção de tempo e energia em preparar a refeição favorita para o seu marido.
Ela o esperou um a hora e nada do marido. Ela está com raiva. “Gostaria que ele me aviasse quando
não vai chegar na hora”.
Jorge redigiu uma série de princípios que aumentariam a eficiência da companhia. Seu chefe
simplesmente não deu bola. Jorge está com raiva. “Quero que meus princípios sejam levados a sério”.
Carlos esperou muito tempo na fila para conseguir o ingresso. Alguém furou a fila à sua frente.
“Aquele rapaz está no meu lugar. Quero que ele saia daqui”.
TRÊS MANEIRAS DE LIDAR COM A RAIVA:
- ACUSAR,
- ABSORVER,
- IMPOR-SE.
Maria ataca culpando. Ela transforma a raiva em lamentação, quando seu marido chega em casa tarde
para o jantar. “A janta está ria e a culpa é sua”. Procedendo desta forma, a raiva dela não leva a nada.
Ela precisava ir direto ao que realmente quer e levar ao conhecimento do marido. “Sou importante.
Gostaria que você me respeitasse informando-me em tempo quando atrasa”.
Jorge absorve a raiva: A úlcera se exaspera. O melhor remédio para Jorge seria enfrentar o que
ele realmente quer, ir até o patrão e dizer: “senhor Patrão, gastei uma porção de tempo em elaborar
estes princípios e gostaria que o senhor desse uma apreciação sobe eles”.
Carlos impõe-se. Ele raivosamente diz ao intruso. “Todos nós esperamos pela nossa vez.
Gostaríamos que você fizesse o mesmo”. Quem sabe, sua atitude colabora ordem na situação.
- Lidar com raiva acusando
A raiva se manifesta desatenciosamente algumas vezes. É sempre uma tentação atacar a outra
pessoa quando estou numa situação difícil. Somente se ele(a) mudasse seu jeito para comigo, eu me
sentiria melhor. Se penso que você é a causa do meu aborrecimento, então tento enfrentar você –
acusando-o. Minha vida supostamente deveria melhorar ou deveria usar outros métodos de reação.
Isso é auto-derrotar-se. Tentar derrotar os outros, cai-se numa espiral de uma raiva mais
profunda.
Uma pessoa raivosa sempre está pronta para perseguir alguém mais fraco que ela. Então a mãe
(que se sente pisada pelo patrão) grita com o filho (a) mais velho. Ele (a) descarrega no irmão menor
que por sua vez atira pedras no cachorro. Esta forma de descarregar a raiva está longe de ser
construtiva.
- Lidar com a raiva engolindo-a
Reprimir ou “engolir” certos sentimentos pode causar até doenças físicas e emocionais. Posso
me prejudicar muito a mim mesmo guardando a raiva dentro de meu íntimo ao invés de expressá-la. De
fato, antes de “ficar na fossa”, a raiva expressa-se em meu comportamento. Ela pode se manifestar sob
a forma de sarcasmo, ou poderia crescer e chegar a explodir. Estas maneiras de lidar com a raiva
prejudicam a mim e aos outros.
- Lidar com a raiva positivamente
A raiva pode ser útil em ajudar-me a obter o que quero caso saiba o que quero, e então me
imponho. Em algum lugar, no profundo do eu uma parte de mim sabe: “Sou um ser muito especial.
Nasci desta forma”.
A raiva pode ser usada criativamente para proteger-se. Para isto é preciso:
Estar ciente quando se está com raiva. Andamos tão condicionados a reprimir a raiva, que
podemos até não nos dar conta de que a estamos experimentando.
Entrar com o móvel que está por trás da raiva. Preciso perguntar-me: “O que realmente estou
querendo agora? Basicamente o que desejo é que os outros me tratem com o respeito que mereço.
Quando isto não acontecer ou penso que não acontece, fico com raiva.
Perguntar-se a si mesmo: “Neste caso particular será que posso arriscar me impor?
Caso decido impor-me, devo dizer à pessoa: “Isto é o que quero”, ou então agir de alguma outra
forma.
- Pensando numa situação de raiva
Uma maneira para descobrir como gostaria de superar uma situação de raiva é encará-la num
caso concreto. Poderia escrever da seguindo forma:
Quando fico com raiva? O que eu realmente quero? Sou objetivo? O que planejo dizer ou fazer?
- Interromper comportamentos destrutivos
É realmente importante tomar uma atitude se o comportamento da outra pessoa é destrutivo.
Não é interessante para mim nem para ela tal comportamento continuar.
- Objetividade nem sempre funciona
O que fazer então?
A objetividade nem sempre funciona porque a outra pessoa pode estar numa posição de
superioridade. Se este é o caso e ele (a) recusa mudar o comportamento, não existe muita coisa que eu
possa fazer. A raiva aumenta quando não vejo caminho de saída. Sinto-me impotente e preso. É
importante eu ter uma visão sobre o que está acontecendo. É bom saber que existem outras saídas.
- Existem 3 fatores sujeitos a mudanças.
- A outra pessoa
- A situação
- Eu mesmo.
Se a mudança não acontecer a outra pessoa, talvez ainda haja a possibilidade de eu mudar a
situação ou mudar meu critério. Por exemplo:
- Mudança na situação
Posso reduzir a raiva e frustração mudando de lugar, trabalho, companheiro ou amigos.
Substituir uma nova situação por uma velha pode ser a melhor opção em casos particulares.
- Mudança em si mesmo
Uma mudança em mim poderia ajudar a diminuir a intensidade de meus desejos e expectativas.
Em vez de querer e esperar uma pessoa gastar a maio parte do seu comigo, poderia me contentar com
um tempo menor.
Na busca do descobrir outras opções para lidar com a raiva através de mudanças em si mesmo,
uma olhada no processo da raiva poderia ser útil.
1.
2.
3.
4.
Quatro estágios no processo da raiva
SITUAÇÃO
INTERPRETAÇÃO
SENTIMENTO
EXPRESSÃO
- 1º estágio: Situação
Percebo pelos sentidos. Vejo e ouço você se comportando de uma determinada forma. A
expectativa é importante aqui. Geralmente vejo ou ouço o que espero.
- 2º estágio: Interpretação
Trazemos dentro de nossa mente lembranças de situações em que nos sentimos feridos como
uma criança. Freqüentemente uma nova situação “apertará o botão” que acionará a gravação de nossa
velha ferida. Isto acontece tão rápido que ficamos inconscientes e interpretamos a situação da mesma
maneira que fazíamos quando éramos crianças. A cura da ferida precisa começar antes que possamos
olhar para a interpretação e fazer uma nova. Chorar, alar ou outra expressão de sentimentos inicia o
movimento do processo de cura. A antiga interpretação da impotência pode ser olhada e substituída por
uma interpretação mais real.
Uma vez que o sentimento foi liberado, sou capaz de olhar para a realidade. Talvez agora eu
seja capaz de ver que foi um erro meu de interpretação que fez seu comportamento parecer indelicado
para mim.
Por outro lado ainda penso que seu comportamento me parece indelicado. Então necessito
distinguir suas ações de sua pessoa. Posso direcionar a raiva criativamente por suas ações, não para ele.
Preciso ver você basicamente como uma pessoa amável (todos somos) que está se livrando de sua
raiva. A verdade é que sua atitude indelicada comigo é devido a sua própria dor. Ajuda muito quando
descubro que sua conduta inamistoso é uma exposição sobre você, não sobre mim. Revela que você
está se sentindo ferido e que fui indelicado com ele que eu não seja amável. Se perceber isto, posso
ainda ter raiva dele não obstante seu comportamento inamistoso.
Auto-estima é um importante fator. Se me sinto bem comigo, tenho mais capacidade de me
manter afastado da situação e não me sentir pelo seu comportamento. Posso olhar para ele como um
“Problema seu” desde que seja uma pessoa de caráter superior independentemente de como ele me
trate.
Lembrar isto me capacitará a ter controle sobre minha vida. Ele não pode me desequilibrar por
nada do que você disser ou fizer se eu não permitir. Mas se eu me melindrar ou me doer com suas
atitudes comigo, então estou lhe cedendo o controle sobre mim.
Quando não estou mais em ação, a raiva certamente não acompanhará.
- 3º estágio: Sentimento
O sentimento decorre da interpretação que faço sobre a conduta do outro. Se eu me sentir
ofendido, comprometo minhas capacidades de avaliação. Então poderei fazer uma nova interpretação
que provavelmente será acompanhada de sentimentos mais positivos. Caso tivesse com raiva ela
poderia desaparecer.
Quando meu estado interior e depois analiso o que sinto, então estou fazendo uma abordagem
eficaz.
Caso os sentimentos negativos perdurem, é importante que eu não me “auto-puna” por isso.
Geralmente por nossa formação aprendemos que “não deveríamos ter aqueles sentimentos”, quando
estamos com raiva. Se reforço mais a culpa em mim quando já estou me sentindo tão mal, só faço é
piorar minha situação. Esta não é uma forma apropriada de lidar com meu sentimento de raiva.
Aceitando o ato, a maneira como o sinto posteriormente analisando meus sentimentos, essa é
uma abordagem mais eficaz. Contrariamente ao que muito de nós aprendemos, estar Ok e ter todos os
sentimentos, mesmo os negativos. Se aceito estes sentimentos, estou me aceitando. Auto-aceitação é
um remédio poderosíssimo para curar sentimentos feridos.
- 4º estágio: Expressão
Pessoas que foram condicionadas a não expressar os sentimentos diretamente, chorando, rindo,
tremendo, etc. freqüentemente expressam a raiva indiretamente. Uns escolhem bater bola, varrer,
cortar a grama, tocar piano, pintar, escrever, etc.
As crianças podem se incentivadas a expressar a raiva através de jogos. No livro de Virgínia
Aline, “A procura de si mesmo”, Dibs tem muita raiva contra seus pais. Ele tem raiva por que não
consegue portar-se como criança de 5 anos, embora seja inteligente. Virgínia Aline programou uma
sessão terap6eutica por semana. Neste ambiente ele se livra de todas as formas da raiva. Encontra-se
num lugar seguro com uma pessoa de confiança. Isto o liberta do medo a tal ponto que ele pode
encarar sua raiva e livrar-se dela. Ele pode enfrentar a vida ao invés de retrair-se dela.
As pessoas normalmente têm medo de sua própria raiva. Elas estão inconscientemente
medrosas; por isso embravessem o suficiente em desejar algumas coisas a alguém e que seus
pensamentos poderiam levar a tais acontecimentos. Ou então têm medo de agredirem alguém, se
permitirem a expressão de sua raiva. É necessário reconhecer que me prejudicarei se alimento
pensamentos e sentimentos negativos. A raiva precisa se expressa, e pode ser eito de uma forma sadia.
- Expressar a raiva por palavras
As palavras que uso quando expresso a raiva são significativas. Posso desenvolver uma
linguagem que ajudarão ao invés de culpar. Posso fazer da melhor maneira entrando em contato com
o sentimento que está atrás da raiva. A raiva é uma “reação de luta” a alguma espécie de ferimento. Um
sentimento doloroso de constrangimento, desapontamento ou medo pode parecer um primeiro lugar.
Assim pergunto a mim mesmo: “Qual é a ferida que está atrás da minha raiva?” Quando decido
então posso usar aquela palavra, clarificar meus sentimento sobre o comportamento (não a pessoa).
Estou constrangido por todas essas interrupções quando falo com meu amigo. Por exemplo, a minha
reação diz respeito ao comportamento e não é diminuir a pessoa. “Você é uma praga” é uma afirmação
sobre a pessoa e tende a causar sentimentos feridos.
Não preciso falar num tom calmo de voz. Não convenceria se meu tom de voz não corresponde
ao que sinto. Até gritar pode ser certo. O grito que é importante.
É uma boa idéia expor o problema, obter a ajuda do outro (criança, adulto) e entrever uma
solução: “O cachorro não está sendo alimentado no horário certo. Não gostaria de vê-lo com fome, mas
não quero ser eu aquele que lhe dá comida. O que você sugere que eu faça?”
Algumas vezes faz-se necessário estabelecer um plano de ação. “Se você continuar a caminhar
pelas lojas, sairemos daqui sem termos comprado nenhum sapato ( para a criança) ou “Se você não
consertar a torneira, vou chamar o encanador na próxima semana”.
Poderia pedir à pessoa com quem estou lidando que me ajude com um pleno de ação. Isto
poderia ser feito perguntando: O que você pensa? Qual seria a melhor ação a tomar se o meu pedido é
negado?
- Acompanhe um plano de ação
É importante que se siga um plano de ação, caso a situação não melhore. De outra maneira
minha posição fica reduzida a uma simples ameaça. Fica melhor, se o plano engloba uma conseqüência
natural, tal como: não comprar sapatos se a criança não pode parar para prová-los antes que lhe seja
aplicada uma punição (espancamento, por exemplo).
- Prevenindo raivas inconvenientes
Preciso aprender a dizer “não” para as pessoas e coisas que me roubam tempo, energia e outros
valores sem me ajuda a crescer. Se não fizer isto terei ressentimentos e raiva contra mim mesmo e as
outras pessoa.
- Raiva canalizada criativamente
A raiva é valiosa quando a transformo numa forma criativa que me capacita a defender-me
como pessoa e valor. Sou importante.
Os outros são importantes para mim. Não vejo que os outros passem sobre mim, nem, eu quero
me impor. Quando necessário, não tenho que ser medroso, ansioso ou uma pessoa brava. Posso dar
atenção a todas as áreas de minha vida inclusive a raiva.
PASTORAL DA SAÚDE JOVEM
A Pastoral da Saúde jovem tem por objetivo conscientizar os jovens dos seus direitos e deveres
em relação à saúde própria e dos outros. Saúde física, psicológica e espiritual. Valores que são
esquecidos em algumas ocasiões pela sociedade.
O projeto PSJ nasceu em meio a este segmento da sociedade, onde se percebe grande
necessidade de alar sobre o assunto. Não só falar por falar, mas sim acompanhar o jovem num
discernimento de vida. Assim o grupo ultrapassa a idéia de participar simplesmente de uma reunião ou
encontro, para se transformar em um lugar de experiências, unindo teoria e prática.
Como Camiliano e atuando na Pastoral da Juventude, sempre percebi essa carência de ação nos
jovens. Foi na convivência com os grupos que passei a buscar algumas respostas para a problemática
que eles enfrentavam.
Não é fácil articular-se com um amigo da mesma idade e com os mesmos direitos, às vezes à
margem da sociedade, subestimado por motivos insuficientes: falta de condições financeiras, falta de
estudos, portador de problemas psicológicos, por exclusão familiar, etc...
As faltas que mais excluem são de ordem social, econômica, física, psicológica e espiritual.
Foi dentro dessa realidade que pensei na possibilidade de formar um grupo de Pastoral da Saúde
Jovem, ligado diretamente ao jovem, na sua realidade comunitária e pessoa. Acredito no testemunho do
jovem para o jovem. Como eu mesmo tive esse testemunho e me valeu muito, penso que podemos
despertar muitos moços para esse engajamento, que só poderá acontecer quando bem planificado;
Jovens para o desenvolvimento desse trabalho é o que não faltam; só falta despertá-los através de uma
boa formação.
Nesse ano de 1998, começamos a colocar esse projeto em andamento. Somo um grupo de 14
elemento e atuamos no Hospital Amparo Maternal. O Hospital desempenha duas atividades: uma é
atendimento das pessoas que não têm onde ficar ou que precisam de acompanhamento médio; o outro é
a maternidade que atende as gestantes do social e da comunidade local.
Nos dois setores a maior parte dos voluntários são jovens. Esse contato lhes serve como escola
de aprendizado: aos poucos eles vão entrando no mundo do sofrimento, com uma atuação direta junto
aos que mais precisam, numa pastoral dinâmica, unida à oração e ação.
Outros objetivos, de grande aceitação, é que essa experiência no hospital se torne escola de
trabalho na pastoral dos grupos de jovens junto à comunidade. Que esses jovens, agentes de saúde,
sejam incentivos para os demais e mostrem o valor da Pastoral da Saúde.
O trabalho junto aos grupos deve se desenvolver através da dinâmica ou encontros de saúde
quer para o próprio grupo como para toda a comunidade jovem da paroquia. Poderá ser dinamizado
pelo grupo responsável da Pastoral da Saúde Jovem, que dará andamento à idéia de formar uma equipe
paroquial, visando articular o trabalho nas paróquias e também promover encontros regionais ou
estaduais.
A formação do grupo responsável pela Pastoral da Saúde Jovem será um trabalho paralelo à
Pastoral da Juventude e à Pastoral da Saúde da Paróquia. O ideal é que estas duas pastorais trabalhem
harmoniosamente, visando sempre o bem da saúde. E que tenhamos a presença de Jesus: Sadio,
Saudável e Terapeuta.