Revista IESS 2 - Hospital da Luz

Transcrição

Revista IESS 2 - Hospital da Luz
INFORMAÇÃO DA ESPÍRITO SANTO SAÚDE
iess
Leve-a
consigo!
INFORMAÇÃO DA ESPÍRITO SANTO SAÚDE
HOSPITAL DA ARRÁBIDA | CASAS DA CIDADE | PROF. MIGUEL GOUVEIA | ADVANCECARE | CISCO
Suplemento
Um novo conceito
residencial
Tratamento da obesidade mórbida
Vida saudável
Conselhos de saúde
para toda a família
Exemplos de vida
A coragem
de Rita Ressano Garcia
Hospital
da Arrábida
Primavera 2008
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
iesspro
Casas da Cidade
Ampliação duplica área
e vai trazer novas especialidades
2
Esta
revista é sua.
N.o 2
Primavera
Abril | Junho 2008
Centro de Ritmo Cardíaco
Casos clínicos
editorial
Ambição e orgulho
Volvido
um ano sobre a inauguração do Hospital da Luz, em Lisboa,
e a entrada em funcionamento da Clínica Parque dos Poetas, em Oeiras, a
Espírito Santo Saúde fecha um ciclo
estratégico de elevado investimento,
cujo objectivo foi, num período de sete
anos, constituir-se como um operador
privado de referência a nível nacional,
reconhecido pela prática de uma medicina de excelência e inovação.
O crescimento espectacular verificado no último ano em todas as unidades do Grupo, de norte a sul do País, é
um forte estímulo para a continuação
de um projecto empresarial cuja missão
última é prestar os melhores cuidados
de saúde que o talento, a ciência e a
profunda dedicação aos nossos doentes
podem proporcionar.
E é para saudar a renovação diária
desse compromisso nas unidades do
Grupo que a revista Iess existe. Porque
temos a ambição da excelência e o orgulho nos resultados.
Neste segundo número dá-se
uma relevância especial ao Hospital
da Arrábida, em Vila Nova de Gaia.
Unidade hospitalar de referência do
Grupo no Norte do País, verá durante
os anos de 2008 e 2009 a sua dimensão
duplicar e a sua influência estender-se
ao Porto, num projecto de expansão
que envolve um investimento global de
cerca de 40 milhões de euros. A grande
ambição do Grupo neste projecto é a
resposta natural à confiança depositada
pelos clientes nos serviços desta unidade, bem visível pela procura crescente
e consistente nos últimos sete anos.
É também um agradecimento reconhe-
ISABEL VAZ
PRESIDENTE DA COMISSÃO EXECUTIVA
DA ESPÍRITO SANTO SAÚDE
cido a todos os seus profissionais, que
acreditaram desde a primeira hora que
seríamos um Grupo ganhador e para isso têm contribuído com muito trabalho,
dedicação inexcedível e competência
exemplares.
A nível clínico, destaque para o
tema da obesidade, verdadeiro flagelo
de saúde pública nos países desenvolvidos, e cujo tratamento nas unidades
do Grupo Espírito Santo Saúde se assume, a par da excelência técnica dos
seus profissionais e da multidisciplinaridade da abordagem terapêutica, como
um verdadeiro compromisso médico
para a vida.
Também numa das mais importantes áreas de desenvolvimento actual da
cardiologia, o Centro de Ritmo Cardíaco do Hospital da Luz, por via da elevada diferenciação e dedicação da sua
equipa médica e da disponibilização
da mais recente tecnologia, é hoje um
dos mais sofisticados centros de arritmologia da Europa, com especial
destaque para a Clínica de Fibrilhação
Auricular. Com resultados já demonstrados e recentemente apresentados
no Lisbon Arrhythmia Meeting – uma
das comunicações, da autoria do Prof.
Doutor Pedro Adragão e do Dr. Diogo
Cavaco, foi seleccionada como uma
das melhores do Congresso Português
de Cardiologia e aceite para apresentação no Congresso da Heart Rhythm
Society, que terá lugar em S. Francisco
em Maio deste ano – o trabalho de todos os profissionais do Centro honra
o compromisso do Grupo na inovação
e na oferta aos seus doentes da melhor
abordagem terapêutica que os avanços
científicos e tecnológicos permitem.
Por fim, mas mais importante que
tudo, o testemunho dos nossos doentes.
Com eles aprendemos a melhorar, a
superarmo-nos a nós próprios nesta
profissão que escolhemos e que exige
não só uma fortíssima competência
técnica, seja ela médica ou de gestão,
mas também um profundo espírito de
missão e dedicação aos outros. Por isso não podia deixar de falar aqui da
Rita Ressano Garcia. Por ter sido um
exemplo de coragem para todos os que
a acompanharam de perto, porque há
pessoas que nos deixam como herança
testemunhos que nos dão alento para
viver a vida como ela merece ser vivida.
Até ao fim.
Primavera 2008
iess 3
Sumário
3
Editorial
Nota de abertura de Isabel Vaz, presidente da comissão executiva do Grupo
Espírito Santo Saúde
6
Sala de espera
Os eventos que acontecem nas unidades da Espírito Santo Saúde
8
ESS em movimento
As novidades das unidades da Espírito Santo Saúde
24 Parceiro
A AdvanceCare acredita que os seguros de saúde vão continuar a crescer
28 FacESS
Os rostos dos nossos colaboradores
36 Parceiro tecnológico
Carlos Brazão, director-geral da Cisco, salienta a visão da conjugação da
tecnologia com a actividade clínica que encontrou na Espírito Santo Saúde
INFORMAÇÃO DA ESPÍRITO SANTO SAÚDE
iess
Esta
revista é sua.
Leve-a
consigo!
INFORMAÇÃO DA ESPÍRITO SANTO SAÚDE
iesspro
HOSPITAL DA ARRÁBIDA | CASAS DA CIDADE | PROF. MIGUEL GOUVEIA | ADVANCECARE | CISCO
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Um novo conceito
residencial
Tratamento da obesidade mórbida
Centro de Ritmo Cardíaco
Casos clínicos
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Conselhos de saúde
para toda a família
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de Rita Ressano Garcia
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DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
Ampliação duplica área
e vai trazer novas especialidades
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Vista interior do Hospital da Arrábida
iesspro
OBESID
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RBIDA
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CENTRO DE RITMO CARDÍACO
Uma nova forma de tratar
a arritmologia no Hospital da Luz
CASOS CLÍNICOS
Síndrome de Wolff-Parkinson White neonatal
Trombose venosa craniana
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Primavera 2008
OBE
S
ESTE SUPLEMENTO É PARTE INTEGRANTE DA REVISTA IESS – INFORMAÇÃO DA ESPÍRITO SANTO SAÚDE
Onde encontrar as unidades da Espírito Santo Saúde
Ficha técnica iess Informação da Espírito Santo Saúde
INFORMAÇÃO DA ESPÍRITO SANTO SAÚDE
iess
A história de coragem de Rita Ressano Garcia testemunhada por familiares
e profissionais do Hospital da Luz
64 Passatempos
66 Contactos
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4
56 Exemplos de vida
João Cid dos Santos arriscou a mudança da escola portuguesa de angiologia
e de cirurgia vascular
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Tratamento multidisciplinar
na Espírito Santo Saúde
Os melhores conselhos de saúde para toda a família dados por especialistas
59 Histórias da medicina
A coragem
OBESIDADE
MÓRBIDA
41 Vida saudável
PROPRIEDADE ESPÍRITO SANTO SAÚDE - SGPS, S. A.
E-mail [email protected]
Director João Paulo Gama | [email protected]
Conselho Editorial Isabel Vaz, Maria de Lurdes Ventura,
Marisa Morais e Mário Ferreira
Colaboram nesta edição Amílcar Aleixo, Carlos Neto
Braga, Carlos Nunes Rodrigues, Cristina Pestana,
Estúdio João Cupertino, Germano do Carmo,
Henrique Nabais, Isabel Galriça Neto, João Carlos Silva,
José Damião Ferreira, Lia Ramos, Luís Sá, Nuno
Rodrigues, Mário Ferreira, Marta Ferreira,
Palmira Simões e Prof. Américo Dinis da Gama
Infografia Anyforms Design
Contactos Espírito Santo Saúde – SGPS, S. A.
Edifício Amoreiras Square, Rua Carlos Alberto
da Mota Pinto, 17, 9.º, 1070-313 Lisboa
Tel.: (+351) 213.138.260
Fax.: (+351) 213.530.292 | Internet: www.essaude.pt
Contribuinte n.º 504.885.367
Registo n.º 125.195 de 23-05-2007 na Entidade
Reguladora para a Comunicação Social.
Projecto editorial Espírito Santo Saúde
Projecto gráfico e produção Divisão de Customer
Publishing da Edimpresa
A IESS – Informação da Espírito Santo Saúde
é uma publicação trimestral da Espírito Santo Saúde
que integra o suplemento IESS Pro
Tiragem 17.500 exemplares
12 Em foco
O Hospital da Arrábida duplica a área, melhora a qualidade do serviço e apresenta
novas especialidades. Em 2009, já aqui vão nascer bebés
20 Entrevista
Miguel Gouveia defende
a oferta diversificada
de cuidados de saúde
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Um novo desafio
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Doença que pode ser curável
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Vacinar é fundamental
Os pólenes e a rinite alérgica
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Prevenção da osteoporose
na idade pós-fértil
HPV: vacinar é uma boa solução
41 Vida saudável
Bons conselhos de saúde
e bem-estar para toda a família
30 Em foco
Junto ao Hospital da Luz, as Casas da Cidade são um empreendimento
que responde às necessidades das pessoas com mais de 64 anos
Primavera 2008
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sala de espera
Os mais novos
deliraram com
as imagens
do corpo humano
na Imagiologia
do Hospital da Luz
Escolas visitam Hospital da Luz
Desde que iniciou o projecto de visitas das escolas, em
Novembro último, com as turmas do 1.º ano do Colégio
Príncipe Carlos, em Lisboa, o Hospital da Luz já acolheu
dez estabelecimentos de ensino primário dos concelhos
de Lisboa, Cascais e Barreiro, que, além de visitarem algumas áreas do Hospital (imagiologia, pediatria, medicina
dentária), recebem também conselhos de vida saudável,
ALUNOS DA UNIVERSIDADE
DE AVEIRO NA LUZ
CERCA DE 30 ALUNOS DO 1.º ANO
dos Cursos de Gerontologia, Radiologia,
Fisiatria e Terapia da Fala da Escola
Superior de Saúde da Universidade
de Aveiro tiveram, em visita que decorreu
no dia 19 de Fevereiro, oportunidade
de contactar de perto com profissionais da
sua área no Hospital da Luz, uma das mais
recentes unidades do Grupo Espírito Santo
Saúde, em Lisboa. O Hospital prossegue,
assim, a sua política de portas abertas
a profissionais e futuros profissionais
de saúde, contribuindo para a sua formação
e aperfeiçoamento profissional.
6
iess
Primavera 2008
como os cuidados de higiene oral ou a importância da
vacinação. Em Abril e Maio são esperadas as visitas da
Escola Secundária Luísa de Gusmão, Colégio Miramar,
da Ericeira, Escola Primária n.º 3 do Montijo e Colégio
Maria Pia, de Lisboa. O projecto está a ser muito bem
recebido pelos mais novos e a prova são algumas cartas
que os mais jovens dirigem ao Hospital.
sala de espera
CASA DOS LEÕES PROMOVE
ACTIVIDADES CULTURAIS
O Clube de Repouso Casa dos Leões, em Carnaxide, continua a
incentivar uma série de actividades de carácter cultural, recreativo
e ocupacional visando não só a manutenção das capacidades
pessoais como também a promoção do bem-estar psico-emocional
dos seus residentes. Entre as diversas actividades desenvolvidas,
o plano diário conta com ginástica e grupo coral (2.as feiras), sessão
de movimento “Terça em movimento” e musicoterapia “À volta da
música” (3.as feiras), saídas ao exterior, dinâmicas de grupo “Roda
viva” e sessão de leitura (4.as feiras), ateliers de pintura e de artes
plásticas (5.as feiras), Tai-chi e passagem de filme temático (6.as
feiras), sessão sobre temas musicais “Tempo de música” (quinzenal,
aos sábados) e passagem de filme generalista “Tarde de cinema”
(domingos). Além destas actividades, outras são desenvolvidas
pontualmente, como as palestras culturais e diversos workshops,
tais como aulas de Informática, a criação do Espaço@ no Bar do
Clube e o arraial de Verão, estes dois últimos em fase de projecto.
CLIPÓVOA DE CERVEIRA ASSINALA
DIA INTERNACIONAL DA MULHER
Foi no Fórum Cultural de Cerveira que no dia 8 de Março a Clipóvoa –
Clínica de Cerveira, comemorou o Dia Internacional da Mulher, com
o apoio da câmara municipal local. Com o objectivo de promover a
saúde da mulher e dos adolescentes, a população cerveirense foi
convidada a apostar na prevenção, colocando ao seu dispor médicos
das mais diversas áreas, desde ginecologia/obstetrícia, genética,
endocrinologia, nutrição, anestesiologia e cardiologia, capazes de
responder às dúvidas sobre os mais diversos temas da actualidade.
As sessões informativas focaram-se na mulher e debateu-se a
alimentação, o cancro do colo do útero, o aumento da longevidade, a
pílula, a menopausa, os malefícios do tabaco, entre outros.
Simultaneamente, a equipa de enfermagem da Clipóvoa de Vila Nova
de Cerveira realizou gratuitamente 1050 exames de rastreio às
centenas de pessoas que compareceram no Fórum local para analisar
o colesterol, diabetes, triglicerídeos, pressão arterial e índice de
massa corporal.
HUMOR por Mário Foz
Então, Sr. Aladino vem ao hospital,
conte lá o que se passa…
… sai sempre um génio da lâmpada…
… mas ela nunca se acende.
Primavera 2008
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ESS em movimento
Central de negociação define estratégia de aquisição
A Direcção Central de Negociação da Espírito
Santo Saúde promoveu, entre os dias 27 e 29
de Fevereiro último, na sede da holding, uma
reunião de trabalho com os responsáveis de
área da Gestão de Materiais e das Farmácias
de todas as unidades do Grupo. A Central de
Negociação contou ainda com o apoio dos vários responsáveis do corpo clínico médico e de
enfermagem.
O encontro, além da definição de uma estratégia
de reformulação do catálogo da Espírito Santo
Saúde, da centralização de fornecedores e de
aquisição de consumíveis comuns a todas as
unidades do Grupo, teve como grande objectivo
o lançamento do primeiro concurso abrangendo
a globalidade de todos os consumíveis e fármacos a utilizar por todas as unidades do Grupo.
Refira-se ainda que entre os dias 11 e 12 de
Março decorreram novas reuniões de trabalho
com todos estes responsáveis no Hospital da
Luz, em Lisboa.
Relativamente ao concurso de fármacos, as reuniões, visando idênticos objectivos, tiveram
AMARANTE:
CLIPÓVOA RENOVADA
Findas as obras de renovação que ao longo de 2007
mudaram por completo toda a estrutura interna
da clínica, a Clipóvoa de Amarante apresenta agora
um espaço moderno e acolhedor ao dispor de todos
os clientes. Assim, iniciaram-se os exames de
Ressonância Magnética, e está em fase implementação
o serviço de Ginecologia e Obstetrícia que compreende
o investimento na aquisição de novos equipamentos
e também o alargamento do corpo clínico do serviço.
É já também possível a realização de ecografias
morfológicas, ecografias 3/4D e vão ter início
as práticas invasivas como complemento
ao diagnóstico pré-natal.
Refira-se ainda que desde Abril e atendendo à enorme
procura, a Clipóvoa de Amarante alargou o período de
atendimento ao público durante todo o dia de sábado.
8
iess
Primavera 2008
lugar nos dias 17 e 18 de Março, com a presença
dos farmacêuticos responsáveis pelas farmácias
das unidades da Espírito Santo Saúde.
De acordo com Gabriela Valido, directora da
central de negociação da Espírito Santo Saúde,
o Grupo lançou durante o mês de Março, 39
concursos para a aquisição de consumíveis clínicos, que representarão mais de 5600 artigos, e
25 outros concursos para a compra de fármacos,
envolvendo cerca de 1700 produtos distintos.
Os resultados destes concursos estarão em vigor
durante os dois próximos anos.
As reuniões
envolveram
todos os
responsáveis
de negociação
do Grupo
Espírito Santo
Saúde, bem
como
os responsáveis
das farmácias
e do corpo clínico
médico e de
enfermagem
ESS em movimento
AMBULATÓRIO RENOVADO NA
CLIPÓVOA DA PÓVOA DE VARZIM
HOSPITAL DE SANTIAGO
TEM NOVA ÁREA DE CONSULTAS
O Hospital de Santiago, em Setúbal, irá ter em breve uma nova área de
consultas no 4.º piso. Estão em curso obras de beneficiação nesse último
piso do hospital e que visam alargar a actividade da unidade, aumentando
a oferta e a qualidade com mais 11 consultórios médicos e uma nova sala
para exames. Para além dos gabinetes de consulta, irá passar a funcionar no
mesmo piso uma cafetaria e um auditório, dotado de moderno equipamento
multimédia, com capacidade para 45 pessoas.
De referir ainda que o Hospital de Santiago passou a oferecer uma
nova consulta da especialidade de ortopedia, subespecialidade do
pé e tornozelo. Nesta consulta, os clientes têm acesso a exames de
podografia computorizada estática e dinâmica, da responsabilidade
do ortopedista Virgílio Severino. A podografia computorizada permite
perceber com exactidão zonas de maior e menor pressão da planta do pé,
ajudando no diagnóstico e tratamento de metatarsalgias, talagias, pés
planos e pés cavos, por exemplo.
10
iess
Primavera 2008
A zona de consultas do piso 0 da Clipóvoa – Hospital
Privado, na Póvoa de Varzim, foi alvo de uma
intervenção profunda, tendo sido completamente
renovados os consultórios, incluindo o mobiliário.
A renovação permitiu não só dar uma imagem mais
moderna e confortável indo ao encontro
das expectativas dos clientes, assim como permite
melhorar a prestação de cuidados de saúde.
O próximo desafio será a renovação dos pisos
de internamento.
Também o serviço de oftalmologia da Clipóvoa
deu um importante salto ao adquirir, recentemente,
um equipamento de última geração (PentaCam),
que permite realizar, com a melhor qualidade,
sem tocar no olho e em apenas alguns segundos,
exames como paquimetria, densitometria
do cristalino, topografia corneana e análise
em terceira dimensão da câmara anterior do olho.
Tais resultados podem revelar-se de extrema
utilidade para as diferentes subespecialidades
da oftalmologia como a cirurgia refractiva
e de cristalino, glaucoma, córnea (detecção
de ceratocone) e alterações do segmento
anterior do olho.
Com a aquisição deste aparelho inovador,
a Clipóvoa marca uma importante posição
de diferenciação face à oferta da região,
constituindo o seu serviço de oftalmologia,
cada vez mais, uma referência.
Já para o bloco operatório, a Clipóvoa adquiriu
uma torre de laparoscopia de alta definição,
que permitirá aos cirurgiões realizarem cirurgia
laparoscópica avançada com qualidade acrescida.
Passou ainda a existir aparelhagem de vanguarda
para artroscopia, cada vez mais uma técnica de
eleição para tratamento das lesões intrarticulares.
em foco
Novo Arrábida
em marcha
Para responder à elevada procura, o Hospital vai duplicar a área,
melhorar (ainda mais) a qualidade do serviço e apresentar novas
especialidades. Em 2009 tudo estará a postos para o nascimento
dos primeiros bebés no Arrábida
Texto João Paulo Gama Fotografias Estúdio joão Cupertino
INTEGRADO NO Grupo Espírito
Santo Saúde desde 2000, o Hospital
da Arrábida, localizado paredes-meias com o centro comercial Arrábida Shopping, em Vila Nova de
Gaia, prepara-se para uma nova fase
da sua existência, com o arranque
das obras que irão permitir a duplicação da sua dimensão actual, num
investimento total que rondará 15
milhões de euros.
12
iess Primavera 2008
A Espírito Santo Saúde adquiriu
um espaço contíguo ao Hospital,
cuja resultante será o aumento da
área actual do Hospital da Arrábida
(5000 metros quadrados) para o dobro
(10.000 metros quadrados). Com as
obras aprazadas para Junho próximo
e com o prazo de conclusão estipulado para o final do ano, o renovado e
ampliado Arrábida verá a luz do dia
no início de 2009, tendo como uma
das principais novidades uma nova
unidade de obstetrícia e ginecologia
com internamento, bloco de partos
com três salas e uma unidade de neonatologia, áreas que vão permitir a
realização, em superiores condições
de excelência, de cerca de 700 partos
no primeiro ano de actividade, número que deverá ascender, de acordo
com as previsões dos responsáveis do
Hospital, a 1200 partos no prazo de
em foco
Manuel Krug de Noronha, director-geral
(à esquerda), e António Lima Cardoso,
administrador do Hospital da Arrábida
tante é que iremos conseguir uma
melhoria significativa dos nossos
serviços.” No caso da ginecologia e
obstetrícia, diz António Lima Cardoso, “vamos ter a possibilidade de,
num piso inteiramente dedicado à
saúde da mulher, seguir na íntegra as senhoras que aqui vêm ter
as suas consultas de ginecologia e
que poderão, se assim quiserem, ser
acompanhadas durante a gestação
e até ao parto”.
A ampliação do Hospital irá
também contemplar a construção
de dois pisos inteiramente dedicados ao ambulatório, com uma
clara separação de circuitos entre
ambulatório e internamento. A este
propósito, António Lima Cardoso
destaca a área de cirurgia ambulatória, construída de raiz e com excelentes condições em termos técnicos: com melhores zonas de espera,
com muito mais conforto para os
doentes em ambulatório: “Vamos ter
mais camas de internamento, o que
permitirá, naturalmente, aumentar a
capacidade de internamento, com o
consequente acréscimo da qualidade
do serviço.”
um ano após a entrada em funcionamento da unidade, que vai ser, sem
dúvida, a melhor maternidade privada do Norte, admite António Lima
Cardoso, administrador do Hospital
da Arrábida.
Para este responsável não restam
dúvidas: “Acreditamos que no final
deste ano teremos a obra finalizada e
em Janeiro de 2009 estaremos a funcionar em pleno, mas o mais impor-
INTERESSE PELO CLIENTE
FAZ A DIFERENÇA
A grande motivação para a expansão do Hospital da Arrábida
foi determinada pela procura que
não tem cessado de crescer desde
que o Grupo Espírito Santo Saúde
adquiriu a unidade, em 2000.
Consequentemente, o Hospital
tem de expandir-se e a verdade é
O HOSPITAL DA
ARRÁBIDA EM NÚMEROS
Atendimento médico permanente:
24h00, 365 dias/ano
Número de clientes por dia útil
no ambulatório: 1000
Número de cirurgias por dia útil:
25
Número de colaboradores directos
e indirectos: 210
Número de quartos: 36 (actual);
61 (após expansão)
Número de consultórios: 30 (actual);
46 (após expansão)
Número de salas de operações:
cinco (actual); sete (após expansão)
Número de salas de parto:
três (após expansão)
Lugares de estacionamento:
aproximadamente 3000, partilhados
com o Arrábida Shopping
Especialidades disponíveis:
• Anestesiologia
• Cardiologia
• Cirurgia
cardiotorácica
• Cirurgia geral
• Cirurgia
maxilofacial
• Cirurgia plástica
reconstrutiva
e estética
• Cirurgia vascular
• Dermatologia
• Endocrinologia
• Gastrenterologia
• Ginecologia-obstetrícia
• Imuno-alergologia
• Imuno-hemoterapia
• Medicina física
e de reabilitação
• Medicina dentária
• Medicina geral
e familiar
• Medicina interna
• Nefrologia
• Neurocirurgia
• Neurologia
• Neurorradiologia
• Nutrição
• Oftalmologia
• Oncologia médica
• Ortopedia
• Otorrinolaringologia
• Pediatria
• Pneumologia
• Psicologia clínica
• Psiquiatria
• Radiodiagnóstico
• Reumatologia
• Urologia
Primavera 2008
iess 13
em foco
que o redimensionamento do espaço
físico vai permitir também oferecer
melhores condições de conforto a
todos os clientes.
Manuel Krug de Noronha, director-geral do hospital, coloca o acento
tónico no ponto fulcral: “Vamos aumentar a área para o dobro e, em termos de actividade, diria que vamos
crescer 50%, ou seja, vamos melhorar
em muito a qualidade do serviço que
prestamos, o que para o Hospital da
Arrábida é fundamental.” António
Lima Cardoso acrescenta, por seu
turno, que a ampliação do Hospital
implica a admissão de mais quadros,
prevendo-se que os colaboradores
A sala de hemodinâmica está
apetrechada com a mais recente
tecnologia médica
A EXPECTATIVA DOS PROFISSIONAIS
Professor Manuel Guerreiro
Director clínico do Hospital da Arrábida
Para o director clínico do Hospital,
a expansão do mesmo justifica-se pelo
crescimento da procura. “A sul do Douro,
não há um hospital como este, bem
equipado, com excelentes profissionais
e com uma administração que apoia
os seus colaboradores”, afirma o Prof.
Doutor Manuel Guerreiro, para o qual o Hospital da Arrábida
tem condições para continuar a crescer: “A procura vai continuar
a aumentar, pois, apesar de estarem a abrir outras unidades,
não creio que esta vá ser afectada. O Hospital da Arrábida já é
conhecido e a opinião dos nossos clientes é muito satisfatória”, diz.
Com a ampliação do Hospital ficam criadas, segundo o mesmo
responsável, condições para incrementar as boas práticas
médicas e para oferecer novas especialidades médicas que
ainda não existem por falta de espaço.
A abertura de mais consultórios irá levar à diminuição
do tempo de espera das consultas para algumas
especialidades. Vai ampliar-se o espaço para a execução
de exames de cardiologia, gastrenterologia, imagiologia
e outras. Serão criadas condições para oferecer tratamentos
mais completos a doentes do foro oncológico. Os benefícios
na área do bloco operatório irão traduzir-se em maior
funcionalidade e rendibilidade. Será aberta uma área nova,
destinada à mulher para a prática da ginecologia
– em crescimento – e da obstetrícia, com bloco de partos
e internamento no mesmo piso.
Perante a proximidade da remodelação do Hospital,
é natural o entusiasmo e a confiança que o corpo clínico
tem vindo a manifestar, aguardando com grande expectativa
a concretização do projecto.
14
iess Primavera 2008
Professor Damião da Cunha
Coordenador da unidade de cardiologia
De acordo com o Prof. Doutor Damião da Cunha,
a cardiologia é uma das áreas em que o Hospital
da Arrábida está bem apetrechado. “Existem
todas as técnicas de ponta, como a ressonância
cardíaca, laboratório de hemodinâmica, tomografia
coronária e electrofisiologia”, afirma. As perspectivas que se abrem
com a ampliação do Hospital passam por permitir que a cardiologia
possa trabalhar ainda com melhores condições, maior funcionalidade,
qualidade e eficiência: “O que vai acontecer é a possibilidade de tratar,
com a devida ponderação, doentes agudos, esse é o nosso maior
anseio.” Com a ampliação também deverá aumentar a procura, mas este
cardiologista está convicto de que com as novas instalações e com a
motivação das pessoas a aposta será ganha.
Leal da Silva
Responsável pela unidade de oncologia médica
No Norte, a oncologia médica teve o seu arranque
na Espírito Santo Saúde no Verão de 2007,
e Leal da Silva diz que excedeu as melhores
expectativas, tendo em conta que a oncologia
médica tem características que dificultam muito
a sua implantação, por exigir uma perfeita interligação com outras
especialidades e a sua correcta implementação obrigar a elevados
níveis de qualidade. Para este oncologista, a abordagem do doente
oncológico é baseada na multidisciplinaridade: “Para o correcto
tratamento do doente oncológico, é imprescindível o envolvimento
de outras áreas médico-cirúrgicas, ou seja, o doente não deve ser
orientado apenas por uma especialidade oncológica.” Com a ampliação
do Hospital da Arrábida para breve é óbvio para este responsável que
este Hospital terá as melhores condições e deverá investir na expansão
da oncologia médica. Trata-se de investir na qualidade pela qualidade.
em foco
permanentes devam aumentar entre
40% a 50%.
E se o Hospital da Arrábida não é a
única oferta hospitalar privada na sua
área de influência, os seus responsáveis mostram-se tranquilos, ancorados nos factores diferenciadores da
unidade, como demonstra António
Lima Cardoso: “O Hospital da Arrábida já ganhou uma visibilidade e uma
reputação na zona Norte do País que
faz com que venham aqui pessoas de
Aveiro, de Trás-os-Montes e de outras
regiões do interior. Não estamos muito
preocupados com a concorrência, pois
a imagem do Hospital junto da comunidade é muito boa. Naturalmente, a
José Manuel Teixeira
Ortopedista do Hospital da Arrábida
Para este médico, a ampliação do Hospital irá
permitir melhorar a qualidade de prestação
de serviço, nomeadamente no ambulatório. “Em
termos cirúrgicos, a nossa equipa realizou 700
cirurgias em 2007 e a procura das técnicas mais
modernas e cientificamente comprovadas no tratamento da patologia
ortopédica tem sido uma constante por parte da equipa”, diz.
O Hospital tem vindo a apostar na cirurgia minimamente invasiva nas
diferentes patologias ortopédicas, aposta que tem permitido baixas
taxas de internamento, com a cirurgia em ambulatório a permitir que os
doentes tenham uma alta precoce. “Em artroplastias, a nossa unidade já
faz práticas em termos de cirurgia da coluna, ombro, anca, joelho, mão
e tornozelo/pé que estão ao nível das mais avançadas do mundo”, diz .
António Alves
Coordenador da un. de ginecologia e obstetrícia
Para este ginecologista, a ampliação do Hospital
irá permitir que o serviço de ginecologia
e de obstetrícia, já existente, seja complementado
com um núcleo de partos e de internamento para
as utentes que queiram ter os seus partos
na instituição. “Essa é uma necessidade que existia há algum tempo,
e finalmente vamos poder dar esse salto. Será também, além
da obstetrícia e da assistência ao parto e da gravidez, criado um núcleo
de infertilidade. O Hospital da Arrábida será a primeira unidade privada
com um núcleo de infertilidade com uma retaguarda hospitalar para dar
apoio aos casais com problemas de infertilidade, ou seja, poderemos
acompanhar os casais desde a concepção medicamente assistida
até ao parto”, acrescenta. António Alves é optimista relativamente
às expectativas da ampliação do Hospital: “Penso que iremos
ultrapassar a curto prazo as melhores expectativas.”
António Marinho
Director da unidade de oftalmologia
O serviço de oftalmologia do Hospital da Arrábida
iniciou-se em 2002 com cinco oftalmologistas
e hoje conta com nove. “Este crescimento, que
nos enche de orgulho, deve-se à competência
e dedicação dos profissionais e à sempre atenta
colaboração da administração do Hospital no apetrechamento
do serviço de oftalmologia das mais modernas tecnologias.”
Para António Marinho, como projectos para o futuro imediato,
é intenção da unidade desenvolver as seguintes áreas: cirurgia
refractiva e corneana com laser de Fentosegundo e injecções
intravítreas de antiangiogénicos. Perante tal crescimento,
as instalações tornaram-se exíguas, pelo que a ampliação
do Hospital é também aguardada com expectativa.
Fernanda Nascimento
Enfermeira-directora do Hospital da Arrábida
e da Clipóvoa do Porto
A responsável da enfermagem do Hospital
da Arrábida é peremptória em relação às
expectativas da equipa que dirige relativamente
à ampliação do Hospital: “Gostaríamos que nas
novas instalações pudesse existir mais condições para melhorar
o acolhimento aos doentes, que houvesse mais zonas de espera,
mais quartos. Temos a expectativa de melhorar o atendimento
ao doente, para que o nosso trabalho também seja mais rentável
e para que possamos dar uma melhor resposta ao doente”, diz.
De acordo com Fernanda Nascimento, a equipa de enfermagem
gosta de trabalhar no Hospital e ‘veste a camisola’. “A relação com
os doentes é excelente, tal como traduzem os inquéritos
de satisfação efectuados após a alta médica, nos quais,
de um modo geral, as pessoas se mostram satisfeitas”, conclui.
Primavera 2008
iess 15
em foco
Intervenção cirúrgica numa
das salas do bloco
operatório do Hospital
da Arrábida
16
iess Primavera 2008
em foco
Quarto de internamento
Sala da Unidade de Cuidados Intensivos
do Hospital da Arrábida
concorrência obriga-nos a estar atentos
e a fazer sempre melhor.”
Manuel Krug de Noronha acrescenta, a propósito, que “o que diferencia
este dos outros hospitais e que faz
com os clientes nos prefiram é o nosso interesse pelo doente, pelas pessoas
que aqui vêm. Isso faz parte da nossa
cultura, enquanto hospital, os nossos
colaboradores mostram interesse em
resolver os problemas das pessoas.”
António Lima Cardoso complementa: “Por exemplo, se um doente chegar com determinadas necessidades,
por exemplo, de fazer uma TAC, uma
ecografia, pode fazer tudo isso e está
sempre acompanhado nesse circuito
por um assistente; as pessoas não ficam desacompanhadas … É óbvio que
a concorrência pode fazer o mesmo,
mas a nossa vantagem é já termos esse
tipo de serviço, sendo certo que vamos
aperfeiçoar, fazer melhor, procurando
estar um passo à frente”, diz.
Manuel Krug de Noronha sublinha
também um facto importante: “Não se
gera este número de clientes se não tivermos um bom serviço. Note que este
crescimento de clientes funcionou muito através de passa-palavra, sem publicidade. Por exemplo, começámos a fazer
um procedimento em gastrenterologia
com anestesista e recobro. Isso, claro,
gerou um grande movimento, pois
Primavera 2008
iess 17
em foco
as pessoas são bem tratadas, recuperam e vão bem para casa. Isso é muito
importante, é a melhor publicidade.
O feedback que temos é que cada cliente
gera um cliente novo.”
Ambos os responsáveis salientam
ainda um serviço que funcionou muito
bem e que vai ser reactivado em breve,
que é não mais do que um follow up
do internamento, “ou seja, decorridos oito a dez dias, telefonamos para
todas as pessoas que estiveram em
internamento para saber como estão.
É feito um seguimento e tentamos
perceber o que correu bem e menos
bem…”, diz António Lima Cardoso.
PROFISSIONAIS APOIADOS
Empenhada em melhorar sempre a
qualidade do serviço prestado, forma
de marcar a diferenciação do Hospital,
a administração está a investir forte em
programas de formação avançada dos
colaboradores, principalmente na parte
de atendimento, não só para colmatar
eventuais falhas mas, de acordo com
António Lima Cardoso, “para melhorar
ainda mais o nível de serviço de todos os
Zona de espera de consultas
do Hospital da Arrábida
ELECTROFISIOLOGIA EM DESTAQUE
Situado no piso 3 do e partilhando as modernas instalações com
o Laboratório de Hemodinâmica, encontra-se o Laboratório
de Electrofisiologia, área onde se estudam e resolvem
problemas de ritmo cardíaco. Aí são efectuados procedimentos
de cateterismo cardíaco e coronariografia diagnóstica,
tratamento de doença coronária por angioplastia com
colocação de stent intracoronário, exames electrofisiológicos
diagnósticos, electrofisiologia de intervenção com ablação
por radiofrequência, implantação de pacemakers definitivos e
implantação de cardioversores-desfibrilhadores. De acordo com
cardiologista João Primo, “há que considerar que o tratamento
de arritmias por ablação por cateter é uma técnica com início
na década de 90 e que conheceu um desenvolvimento muito
importante até hoje, mas subsistem algumas arritmias em que o
tratamento ainda está em desenvolvimento, o que acontece com
a fibrilhação auricular e outras em que a variabilidade individual
é muito grande, sendo o tratamento pensado em função de um
doente específico”.
18
iess Primavera 2008
em foco
O que diferencia
o Hospital da Arrábida
dos concorrentes
é o interesse em resolver
os problemas dos clientes
colaboradores, desde os enfermeiros aos
administrativos, aos técnicos, aos médicos. Saber interactuar com os clientes
é fundamental e parte do sucesso desta
unidade”, afirma, peremptório.
Também por esse facto os profissionais do Hospital da Arrábida sabem que contam com o apoio da administração em proporcionar-lhes as
melhores condições em termos das
tecnologias médicas mais recentes e
em melhorar as instalações, aspecto
que irá ser grandemente beneficiado
com a ampliação do Hospital. “Existe
uma relação aberta de proximidade entre a administração e as pessoas que cá
trabalham. Por outro lado, se os clientes são bem tratados, tendem a voltar, e
isso também é bom para os médicos”,
afirma António Lima Cardoso.
Com efeito, de acordo com os seus
responsáveis, o Hospital da Arrábida
tem hoje uma boa carteira de clientes, funcionando mesmo como uma
âncora do centro comercial a que está
agregado, ligação que vai ficar mais
evidente com a futura nova entrada da
unidade, junto à entrada principal do
centro comercial, no piso 0, onde irá
surgir uma moderna e espaçosa recepção, dotada de 30 postos de check in
para registo dos clientes, muitos dos
quais estão expectantes em relação
ao novo Arrábida.
Futura
entrada
da nova ala
do Hospital
da Arrábida,
no piso 0
do centro
comercial
Arrábida
Shopping
CRESCIMENTO IMPARÁVEL
Adquirido pelo Grupo Espírito Santo Saúde em 2000, o Hospital da Arrábida iniciou
uma nova fase da sua existência no começo de 2002, com a renovação e a expansão
do 5.º piso de internamento, experiência que se revelou um sucesso. A actividade mais
do que triplicou, o Hospital não parou de crescer em especialidades e em clientes,
e em 2003 já apresentou resultados positivos, passando de 7,2 (em 2002) para mais
de 27 milhões de euros de facturação em 2007. Foi realizado um grande investimento
em qualidade, foram contratados novos médicos e alargado o corpo clínico. “Investimos
em especialidades que então eram impensáveis em unidades privadas. Por exemplo,
este Hospital foi a primeira unidade do Norte do País a dispor de cirurgia cardiotorácica
e começámos aqui a realizar cirurgias de grande diferenciação”, lembra António
Lima Cardoso. Desde há poucos meses, o Hospital passou a dispor de um serviço de
oncologia médica que permite o tratamento de doentes oncológicos em condições de
qualidade, que seguem as boas práticas das melhores unidades, com a intervenção de
equipas multidisciplinares.
De acordo com o mesmo responsável, existe no Hospital da Arrábida “tudo o que os
clientes necessitam em condições de excelência, tendo o Hospital firmado convenções
com praticamente todas as seguradoras e subsistemas de saúde existentes no mercado”.
Primavera 2008
iess 19
entrevista
“Para pessoas diferentes,
soluções diferentes”
Para o economista Miguel Gouveia, uma oferta diversificada na prestação dos cuidados
de saúde, ao ter em conta que as pessoas são muito heterogéneas, é a situação ideal
para melhor satisfazer as suas necessidades
Texto Palmira Simões/iess Fotografias Estúdio João Cupertino
O ACTUAL sistema de saúde é
adequado às características da população portuguesa? Se pensarmos em
termos históricos, a forma como o
sistema de saúde português cresceu
nas primeiras seis décadas do século
XX foi através de Caixas de Previdência (Empregados de Escritório,
Pescadores, Jornalistas, etc.), financiadas pelos descontos que os trabalhadores faziam sobre os salários.
E era através delas que os diferentes
grupos da população iam obtendo
as respostas às suas necessidades
que consideravam mais importantes.
O que deveríamos ter feito em Portugal depois de 1974, se não fosse a
precipitação característica das revoluções, era agarrar nesses pequenos
sistemas e alargá-los de maneira a ter
uma boa e bem conseguida cobertura
da população. Escusava de ser desta
forma completamente centralizada e
220
iess
Primavera 2008
uniforme, em que toda a gente tem
o mesmo, e geralmente mau.
“Na sequência
da reforma da saúde,
os subsistemas têm
vindo a desaparecer”
Mas se a abordagem à saúde em Portugal está a funcionar mal, porque razão a sua eficácia ainda não foi posta
em causa? Estou convencido de que a
maioria dos portugueses e até mesmo
dos políticos não consegue perceber
que não é preciso ter um Serviço Nacional de Saúde estatizado e centralizado
para se ter cobertura universal da população. Essa é uma ideia errada, mas
que a maioria das pessoas assume. Por
isso é que o Serviço Nacional de Saúde
(SNS) é uma espécie de “vaca sagrada”. Defender o seu fim significaria
para essas pessoas perder a protecção
na saúde, o que obviamente não faz
qualquer sentido.
A verdade é que há cada vez menos escolha. Na sequência da reforma
da saúde, os subsistemas têm vindo a
entrevista
“A maioria dos
portugueses
não consegue
perceber
que não é
preciso ter
um Serviço
Nacional
de Saúde
estatizado e
centralizado
para se ter
cobertura
universal da
população”
PROFESSOR MIGUEL GOUVEIA
COORDENADOR
do Curso de Gestão de Unidades de Saúde
da Universidade Católica
Primavera 2008
iess 21
entrevista
desaparecer (embora ainda subsistam
alguns)…
Havia de facto uma questão delicada
do ponto de vista de financiamento: será que as pessoas que estavam nesses
sistemas não estariam a gastar o dobro
das outras? Gastavam pelo SNS porque
todas eram cidadãos portugueses mas
depois detinham privilégios acrescidos. Essa situação, tal como estava,
talvez não fosse a mais correcta, mas,
22
iess
Primavera 2008
no meu entender, mais do que “matar”
os subsistemas deveria era propiciar-se um sistema onde os mais pequenos
começassem a ser alternativas, ou seja,
pequenos serviços de saúde, onde as
pessoas pudessem ter aquilo que precisam. Enriquecia-se assim o sistema
português com alguma diversidade.
E o que está a ser feito é precisamente
o oposto. É uma solução errada, que a
longo prazo está a comprometer a possibilidade de termos a opção de poder
voltar ao sistema diversificado. Neste
momento pouca gente defende estes sistemas descentralizados, mas, na minha
opinião, serão a solução para o futuro
do sistema de saúde português.
“As despesas do sistema
têm vindo a crescer
de tal maneira que tem
de haver algum controlo”
entrevista
NOTA BIOGRÁFICA
Miguel Gouveia
Professor associado, doutorado em
Economia (University of Rochester),
mestre em Economia (UNL), licenciado
em Economia (Universidade Católica
Portuguesa), onde é coordenador do
Curso de Gestão de Unidades de Saúde,
do Programa Avançado de Gestão para
Farmacêuticos e do Curso de Pós-Graduação em Gestão de Unidades
de Saúde/Ordem dos Médicos, onde
lecciona Economia da Saúde, Análise
Económica das Políticas Sociais e
Economia Pública na licenciatura em
Economia. Foi presidente da Comissão
de Avaliação dos Hospitais SA e co-autor
do Livro Branco da Segurança Social.
LIBERDADE DE ESCOLHA
Quais são as alternativas? Os seguros de
saúde? Sim, mas dentro de certas condições. Como disse, as pessoas deveriam
ter liberdade de se associar e formar
subsistemas de saúde. Alguns poderiam
ser baseados em instituições já existentes há dezenas de anos, “ressuscitandoas” se for caso disso; noutros casos seria
necessário criar novas instituições, que
poderiam perfeitamente ser privadas
e geridas como um seguro de saúde.
Há diferentes tipos de seguros: os de
reembolso e os de prestação (managed
care). Os primeiros, historicamente,
têm levado a grandes desperdícios e a
sistemas de saúde extraordinariamente
caros. Portanto, seguros de saúde convencionais (financeiros) não me parecem que possam ser uma resposta para
criar alternativas ao SNS. Já os de saúde
gerida, que têm uma visão de sistema
onde há alguma coordenação entre a
parte de financiamento e a prestação
efectiva de cuidados de saúde, têm
condições para ser alternativa.
Como vê a realidade actual do SNS?
O Serviço Nacional de Saúde é efec-
tiva e extraordinariamente caro e,
apesar da má reputação das medidas
economicistas, as despesas do sistema
têm vindo a crescer de tal maneira
que tem de haver algum controlo para
garantir a sua sustentabilidade a longo
prazo. Mas a questão de fundo, no
meu ponto de vista, é outra: será que
vale a pena estar a tentar salvar o SNS
exactamente como está? Os graus de
afinidade para as pessoas se agruparem em esquemas de protecção de
saúde podem ter as mais diversas razões (preferências, zona do País, afiliações profissionais…), mas um sistema
diversificado, e no seguimento do que
disse atrás, teria, no meu entender,
duas grandes vantagens: como era um
sistema que estava perto das pessoas,
estas sentir-se-iam também mais responsáveis e se houvesse necessidade
de tomar medidas de racionalização
de recursos estes seriam muito mais
fáceis de explicar para a população
em causa, que podia aceitá-las melhor
por poder optar. Num serviço tal como
ele se apresenta actualmente, quando é preciso racionalizar os recursos,
os cortes são feitos de uma maneira
completamente “cega”. Isto é, em vez
de cortar adequando-se às preferências das pessoas, fá-lo de igual modo
para todos, e isso gera insatisfação.
Sistemas mais diversificados permitiriam que o grau de racionalização
que precisamos de ter no sistema de
saúde – inquestionável e desagradável – tivesse um impacto menor no
bem-estar da população.
Além da criação/manutenção destes
subsistemas, que outras medidas deveriam ser instituídas no futuro para
que a população tivesse uma efectiva
liberdade de escolha em questões de
saúde? Deviam ser criadas condições
financeiras para que as pessoas pudessem agarrar numa capitação, ou
seja, no seu quinhão dos direitos que
têm por serem cidadãos portugueses e
terem direito a fazer despesas no SNS,
e utilizar esses recursos para pagarem
esses subsistemas (públicos, sociais ou
privados), que constituem uma verdadeira alternativa ao SNS. Esta seria
uma forma de financiamento para se
dar o primeiro passo para a criação
dessas alternativas.
Primavera 2008
iess 23
parceiro
Credibilidade
é fundamental
Para o director-geral da AdvanceCare, os seguros
de saúde irão manter um índice de crescimento acima da média
do sector segurador e, por conseguinte, serão um ramo atractivo
e dinâmico nos próximos anos
Texto João Paulo Gama Fotografias Estúdio João Cupertino
PARA Luís Drummond Borges, director-geral da AdvanceCare, empresa
gestora de seguros de saúde, a qualidade dos prestadores é, acima de tudo,
premiada pela afluência dos utentes,
pois são eles quem, no sistema privado, seleccionam as entidades que
melhor vão ao encontro das suas expectativas: “são os utentes que desempenham o papel regulador da qualidade dos serviços prestados, permitindo
a amortização adequada dos investimentos”, afirma.
Para quem pretende fazer um seguro
de saúde, as vantagens e os aspectos a
valorizar prendem-se, na opinião deste
responsável, com a razão da existência
de um seguro, isto é, com o facto de alguém assumir financeiramente o risco
de um imprevisto que possa acontecer
a qualquer pessoa: “Acresce ainda uma
maior facilidade de acesso à saúde, face
à possível circunstância de incapacidade de resposta do Serviço Nacional
de Saúde e à possibilidade de acesso a
uma rede nacional credenciada que pode satisfazer as necessidades dos clientes num período de tempo adequado e
a custos controlados”, acrescenta.
24
iess
Primavera 2008
Assim, quando é chegado o momento de optar por um seguro de saúde,
o cliente deverá valorizar, na opinião
deste responsável, a instituição promotora e a relação que ele (cliente) tem
com a mesma, mas também a rede de
prestadores que lhe está associada, o
desenho (tipo) do produto que está a
adquirir, e deverá ainda prestar atenção aos limites da cobertura, aos períodos de carência, às exclusões, à data
para efeito de preexistências, ao serviço de apoio ao cliente e, finalmente, ao preço.
Neste contexto, o que diferencia a
AdvanceCare de outras seguradoras
de saúde é, segundo Luís Borges, a sua
credibilidade. Sem a mesma, afirma,
“não teríamos 11 clientes institucionais
que confiam a gestão de saúde dos seus
utentes à nossa organização”. Mas na
verdade, acrescenta, “quem se diferencia no mercado são diversas marcas dos nossos clientes, ou seja, a BES
Saúde e BES Sanitas, Empresarial, HospitAll, MedicAll, PlurAll e BPI, Generali + Saúde, Help, Help Executive
e Victoria Cartão Saúde (Reembolso),
Imed, Salutare, Saúde + Real, Saúde
Tranquilidade/Sanos e Vitalplan e Vitalplan Corporate, Dr. Saúde e Plano
de Saúde Privado”, enumera.
A VANTAGEM
DA COMPLEMENTARIDADE
Na opinião de Luís Borges, os seguros
de saúde funcionam actualmente como sistemas suplementares ou complementares ao Serviço Nacional de
Saúde, pelo que neste momento ainda
parceiro
não poderão ser – salvo em pequenas
excepções (produtos especiais de elevado preço) – considerados uma solução integral. “Enquanto não se debater
de forma clara soluções de opting out
e/ou de livre escolha e se separar no
sistema de saúde os financiadores, os
pagadores e os prestadores, os seguros
de saúde irão continuar a aplicar exclusões, bem como preexistências e períodos de carência, de forma a poderem
Luís Drummond Borges,
director-geral da AdvanceCare
obter rácios combinados e/ou rentabilidades aceitáveis para o prémio per
capita actual”, justifica este responsável, para acrescentar que deve “atender-se ao que se encontra descrito na
Constituição da República Portuguesa,
artigo 64.º: ‘Todos têm direito à protecção da saúde e o dever de a defender
e promover …’, abrindo caminho para
um mercado que seja inteligentemente
regulado e supervisionado, onde existam entidades com um papel claro de
cliente/pagador e de fornecedor/prestador e onde as referidas entidades sejam
indiferentemente privadas ou públicas, com igualdade de oportunidades
Primavera 2008
iess 25
parceiro
e que sejam apenas diferenciadas pela
sua competência”.
Falar em competências é falar também no aparecimento de hospitais
muito diferenciados, que acabam por
ter impacto no mercado de seguros
de saúde. Luís Borges distingue esse
impacto de duas formas: “Em regiões
com maturidade em seguros de saúde, onde existe um número elevado
de utentes e prestadores, o aparecimento de uma unidade de referência
tem um impacto pouco significativo
no crescimento do número de utentes;
já em regiões com pouca maturidade
em seguros de saúde (fraco número
de utentes), o aparecimento de uma
unidade de referência tem impacto no
crescimento do número de utentes e
no volume de prémios.”
Mas há, de acordo com este responsável, outros factores que influenciam também o crescimento de pessoas seguras e prémios que poderão
ser conjugados com os anteriormente expostos, como a capacidade e a
qualidade percebidas dos prestadores do SNS a operarem na região e a
capacidade e qualidade percebidas
dos prestadores privados a operarem
na região.
A resultante, em regiões com maturidade em seguros de saúde, será
um efeito migratório dos utentes entre
unidades privadas, em busca das que
possuam melhores serviços.
DIFERENCIAÇÃO
PELA QUALIDADE
Mas a busca por serviços mais diferenciados e, porventura, mais onerosos por
parte dos utentes pode conduzir a uma
situação de prémios (seguros) mais elevados. Luís Borges considera, a propósito, que as unidades de referência com
preços mais elevados tenderão a ajustar
os prémios, mas não são um factor único
na definição dos mesmos, pois o crescimento sistémico e a competitividade
do sector, materializado nas quotas das
seguradoras a operar no mercado, têm
um papel determinante.
O ramo de seguros
de saúde irá manter
um índice de crescimento
acima da média do sector
segurador
Neste contexto, o director-geral da
AdvanceCare pensa que o mercado não
está a caminhar no sentido de uma diferenciação entre redes de prestadores,
tendo, por exemplo, uma mais diferenciada e com prémios mais elevados:
“Entendo que a diferenciação será pela via da qualidade e serão os utentes
a fazê-la de uma forma natural, dado
não existirem hoje elementos e meios
capazes de determinar a qualidade dos
prestadores. O preço terá de ser um
elemento consensual e adequado, estabelecido entre as partes. As entidades
pagadoras estão dispostas a articular
preços diferentes, mas justos, porquanto os serviços sejam de satisfação dos
nossos clientes e dos nossos serviços,
isto é, exista uma vontade conjunta de
agilizar processos, procedimentos e políticas”, defende Luís Borges.
Já sobre a forma como a AdvanceCare
avalia e premeia a qualidade entre prestadores e como compatibiliza tal avaliação com a adopção de tabelas nacionais
aplicadas em casos onde existem grandes diferenças de qualidade entre equipamentos e equipas clínicas que fazem
os mesmos procedimentos, Luís Borges
ADVANCECARE E ESPÍRITO SANTO SAÚDE: PARCERIA EXEMPLAR
Para Luís Borges, a parceria com a Espírito Santo Saúde tem-se
desenvolvido de forma exemplar, respeitando os papéis que ambas
as organizações desempenham no sector, com profissionalismo,
independência e defesa dos interesses de cada organização.
A AdvanceCare possui parcerias com todos os concorrentes
da Espírito Santo Saúde e é fornecedora de serviços de gestão
de sistemas de saúde a 11 unidades de negócio, desde grandes
players locais a internacionais, a subsistemas de
auto-financiamento, cujos interesses representa há vários anos.
“O desenvolvimento da nossa parceria será certamente
representado pelos nossos utentes, tendo a AdvanceCare vindo
a assistir a um significativo aumento de acesso às unidades da
Espírito Santo Saúde. Este facto é de total mérito da ESS”, afirma
este responsável, que acrescenta não conceber, na conjuntura
actual do sistema privado, a possibilidade de não possuir uma
26
iess
Primavera 2008
parceria com a Espírito Santo Saúde: “Numa conjuntura de sistema
português de saúde diferente e ou em novas áreas de negócio,
acreditamos que poderão existir outros modelos que possam
ser equacionadosm, sempre privilegiando os interesses dos
clientes das nossas organizações”, diz.
Segundo este profissional, a AdvanceCare olha para o Grupo
Espírito Santo Saúde como um player de capital importância para
o sector de saúde em Portugal, com um dinamismo de referência
e com uma vontade intrínseca de fazer a diferença; em suma,
“um investidor sério que espera poder contribuir para um melhor
sistema de saúde em Portugal”, afirma, para concluir: “Acreditamos
que ambas as organizações poderão contribuir de forma mais
activa na melhoria do sistema de saúde em Portugal, tendo como
base a sua esfera de acção nesse mesmo sistema e a dimensão
que ocupam nos seus mercados específicos.”
parceiro
A CAMINHO
DOS 750 MIL CLIENTES
Através dos diversos produtos
do seu portefólio de serviços, a
AdvanceCare gere 701.724 utentes.
Em 2007, processou cerca de
1.500.000 sinistros, analisou 27.400
pedidos de intervenção cirúrgica
para efeito de emissão de termos
de responsabilidade e foram
atendidas e efectuadas cerca de
470.000 chamadas no seu call
center. A AdvanceCare gere 5950
planos de saúde diferentes, possui
uma rede médica nacional com cerca
de 11.400 locais de atendimento
para as pessoas seguras dos seus 11
clientes institucionais: seguradoras e
outros sistemas de saúde privados.
Da carteira de 701.724 utentes que
possui, 410.000 são clientes com
acesso directo à rede convencionada,
ou seja, Managed Care, sendo os
mesmos mais visíveis por parte dos
prestadores de saúde. De notar que
em 2007 a AdvanceCare teve sob
sua responsabilidade um volume
equivalente a prémios de cerca
de 122.700.000 euros.
Para Luís Borges, quem se diferencia
no mercado são as diversas marcas
dos clientes da AdvanceCare, como,
por exemplo, a Tranquilidade e a BES Saúde
afirma que actualmente as entidades pagadoras pagam, para determinados actos,
valores ajustados à oferta dos diferentes
prestadores e têm uma noção clara dos
valores que são praticados fora de Portugal, sendo também os mesmos valores
de referência. “Cabe também aos prestadores a definição de valores adequados
à oferta e à procura e a análise dos seus
investimentos com base nesses valores
de referência”, afirma.
De acordo com o director-geral da
AdvanceCare, o sistema de saúde tem
de deixar de ter uma visão de que tudo é pagável, de que basta trazer uma
nova tecnologia de referência, que inevitavelmente deverá garantir uma melhor prática clínica, e as entidades pagadoras terão de assumir estes novos
custos. Esta visão de “alguém há-de
pagar” é um dos drivers centrais do
crescimento dos custos de saúde, que
não beneficia somente os utentes finais”, defende.
Em jeito de conclusão, Luís Borges acredita que o ramo de seguros
de saúde irá manter um índice de
crescimento acima da média do sector segurador e, por conseguinte, será um ramo atractivo e dinâmico nos
próximos anos, ainda que com um
crescimento inferior a dois dígitos
percentuais.
Primavera 2008
iess 27
facESS
ANA CATARINA BRAGA
RECEPCIONISTA
Clipóvoa – Clínica de Cerveira,
em Vila Nova de Cerveira
Para a Ana, há sete anos a
trabalhar na Clipóvoa de Vila
Nova de Cerveira, a melhoria
das instalações veio beneficiar
as condições de acolhimento.
Aconselhar os clientes, mantê-los
informados, mas também ouvir
pacientemente, principalmente
os mais idosos, são atitudes
que a Ana, natural de Seixas,
onde nasceu há 27 anos, toma
diariamente no desempenho das
suas funções, com grande simpatia.
ANA CRISTINA GONÇALVES
COORDENADORA DOS SERVIÇOS
ADMINISTRATIVOS E DE APOIO GERAL
Hospital da Arrábida,
em Vila Nova de Gaia
A função desempenhada pela
Ana tem como objectivo assegurar
um elevado grau de satisfação do
cliente no contacto que estabelece
com todos os serviços integrados
no Hospital. Na sua actividade
diária, tem de propor e tomar as
medidas imediatas e de fundo
necessárias ao bom funcionamento
dos serviços, instalações,
equipamentos e serviços de
enfermagem para que os clientes se
sintam sempre satisfeitos.
28
iess
Primavera 2008
facESS
CIDÁLIA MARTINS
TÉCNICA DE IMAGIOLOGIA
Hospital da Luz, em Lisboa, e Clínica
Parque dos Poetas, em Oeiras
Como técnica de imagiologia,
a Cidália assume um papel
preponderante na diminuição
da ansiedade e do receio de
algo desconhecido – o exame e
o diagnóstico – para o doente.
Esta é, sem dúvida, uma fase
determinante no processo clínico,
pois estabelece-se uma colaboração
com os restantes grupos
profissionais a partir do resultado
dos exames, nomeadamente na
radiografia simples, tomografia
computorizada, ressonância
magnética, mamografia,
densitometria óssea e angiografia.
MIGUEL HENRIQUES
RESPONSÁVEL DE TURNO
Clínica Parque dos Poetas, em Oeiras
Nos últimos 12 meses a Clínica
Parque dos Poetas tem vindo
a aumentar a sua actividade,
pelo que a satisfação dos clientes
é um pilar fundamental neste
crescimento. O Miguel tenta
contribuir com dinamismo,
entusiasmo e dedicação, colocando
os interesses do cliente acima
de todos os outros. Por outro lado,
tem sempre presente que servir
os clientes com excelência
é um acto de sobrevivência.
Naturalmente, faz todos os
possíveis para incutir este espírito
à sua equipa e colegas.
Primavera 2008
iess 29
em foco
Casas da Cidade:
viver melhor é possível
Junto ao Hospital da Luz, a Espírito Santo Saúde apresenta
um empreendimento residencial concebido e dotado
de um conjunto de serviços para responder às necessidades
de pessoas acima dos 64 anos de idade
Texto João Paulo Gama Fotografias João Cupertino e IESS
30
iess Primavera
Outono 2007
2008
em foco
INSERIDAS no Complexo Integra-
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS
As 115 unidades habitacionais
dividem-se entre três tipologias:
• 30 unidades T0, com áreas úteis
privativas que variam entre
39 e 83 m2
• 63 unidades T1 , com áreas úteis
privativas que variam entre
64 e 95 m2
• 22 unidades T2, com áreas úteis
privativas que variam entre
88 e 132 m2
No que respeita às principais áreas
comuns disponíveis para utilização
pelos residentes e seus convidados,
estas incluem, para além de dois
jardins interiores amplos com cerca de
1400 m2, o seguinte:
• Zona de entrada/recepção
• Zona de restauração com três salas
de refeições independentes
• Uma cafetaria/bar
• Zonas de esplanada
• Quatro salas de estar/multiusos
• Cabeleireiro e gabinete de podologia
• Ginásio
• Área de saúde, composta por gabinete
médico e gabinete de enfermagem
• Diferentes zonas de estar distribuídas
ao longo do edifício, nas zonas
de circulação de acesso às unidades
habitacionais
• Estacionamentos cobertos
Para maior comodidade, segurança
e apoio aos residentes, são
disponibilizados diversos tipos
de serviços a nível hoteleiro, de lazer
e de acompanhamento de saúde.
Os principais serviços disponíveis são:
• Restauração (de acordo com o pacote
de alimentação pretendido)
• Limpeza das unidades habitacionais
e áreas comuns
• Serviços de segurança permanente
• Serviços de recepção e telefonista
• Tratamento de roupa
• Cabeleireiro e serviços de podologia
• Actividades ocupacionais e culturais
• Acompanhamento médico regular
do de Saúde da Luz, um campus que
integra o Hospital da Luz, as Casas
da Cidade – Residências Sénior são
um empreendimento residencial, dirigido a pessoas com idade superior
a 64 anos, composto por apartamentos especificamente concebidos para responder às necessidades destes
clientes e um conjunto significativo
de áreas comuns para utilização por
parte dos residentes, seus familiares
e convidados.
De acordo com Miguel Carmona,
administrador das Casas da Cidade,
esta solução residencial, composta por
apartamentos T0, T1 e T2, está particularmente vocacionada para pessoas independentes ou com um pequeno grau
de dependência, com a conveniência
de, na eventualidade de situações de
maior dependência física ou de necessidade de cuidados mais diferenciados,
se conseguir uma resposta rápida no
Hospital da Luz, dada a integração com
esta unidade, que está apetrechada e
tem equipas clínicas preparadas para
responder às diferentes situações que
possam surgir.
A grande vantagem da integração
num complexo de saúde é a de permitir oferecer aos residentes um suporte e uma continuidade ímpares
de cuidados de saúde ao longo da
sua vida, desde o momento em que
entram nas Casas da Cidade até à fase
• Suporte de enfermagem regular
• Suporte efectuado por assistentes
especializados nas actividades de vida
diária
• Ginástica e actividades de
manutenção física
Jardim interior das Casas da Cidade
Primavera 2008
iess 31
em foco
em que poderão necessitar de apoio
para realização de uma ou mais actividades diárias, como, por exemplo,
higiene pessoal, vestir e comer, ou até
de cuidados específicos de saúde.
“Esta integração de cuidados disponibilizada pela oferta que a Espírito Santo Saúde tem em Lisboa
constitui um factor único e distintivo
a nível nacional. A importância deste
aspecto é ainda maior se tivermos em
conta que grande parte das pessoas
desta faixa etária não tem seguros
de saúde, pelo que a garantia de um
acesso preferencial e em condições
especiais a todo o tipo de cuidados de
saúde é verdadeiramente relevante”,
destaca Miguel Carmona.
É de salientar que o empreendimento apresenta um conjunto de
áreas e de serviços de apoio e de
lazer que podem ser utilizados pelos
residentes quando estes pretenderem, destinando-se, essencialmente,
a tornar o seu dia-a-dia mais cómodo,
confortável e seguro, sem prejuízo
da privacidade e da autonomia de
cada residente.
Panorâmica de um apartamento T2
Esplanada da sala de refeições
Pelo conceito que representa, um
condomínio residencial com serviços
como as Casas da Cidade dirige-se,
sobretudo, às classes média e média/
alta. O residente típico é uma pessoa
que mantém um padrão de vida activo
e independente. É uma pessoa que valoriza a sua autonomia e privacidade
e que procura uma solução que lhe
COMO ADERIR
Fundamentalmente, existem duas formas de aderir
às Casas da Cidade, de modo a responder aos diversos
objectivos que os clientes poderão ter. Podem, por exemplo,
optar por residir temporária ou definitivamente.
A forma mais comum de adesão ao empreendimento consistirá
na contratação de um direito de utilização, que permitirá ao
residente utilizar o apartamento de forma vitalícia (direito
de utilização vitalícia – DUV). Este direito pode ser adquirido
pagando um valor de admissão (de acordo com o apartamento
pretendido e tendo em conta o escalão etário do residente)
e as mensalidades de utilização subsequentes.
Para as situações de utilização temporária (períodos
a partir de uma semana), poderá ser contratado um direito
32
iess Primavera 2008
de utilização temporário (DUT), que prevê o pagamento
de mensalidades de utilização (ou fracções das mesmas),
de acordo com as necessidades de cada pessoa
(ver quadro nestas páginas).
Embora o montante da mensalidade varie de acordo com
o leque de serviços pretendidos, os residentes pagarão um valor
de mensalidade que engloba um conjunto de serviços base,
tais como a limpeza diária dos apartamentos, a alimentação
(de acordo com o pacote de refeições diárias contratado),
o tratamento de roupa, o apoio médico e de enfermagem
de rotina, os consumos médios de electricidade, água e energia
térmica, a utilização dos espaços comuns e a participação
em eventos ocupacionais organizados pelo empreendimento.
em foco
As salas dos apartamentos são decoradas
em tons suaves e mobiliário contemporâneo
A jhvjhjh,
khgkvgll
ghgggghh
aaaaaaaa
gjhgjhjlul
khgfflgflflufuly jkhfjlfg
jkfjujjljlj
gfjhfgfghfgh
fgfghfhfhf
garanta uma vida confortável e segura,
que gosta de saber que existe um apoio
e um backup se este for preciso, sobretudo em termos de saúde, e, em geral,
valoriza a possibilidade de usufruir,
sempre que deseje, de momentos de
convívio e de actividades culturais
como forma de preenchimento dos
seus tempos livres”, destaca Miguel
Carmona.
Por outro lado, a localização urbana das Casas da Cidade garante que
os residentes continuam inseridos
na comunidade em que sempre viveram, por exemplo, perto não só da
sua família como também de pólos
Ginásio apetrechado com todos
os equipamentos adequados
culturais e comerciais, e, como tal,
a poder manter o mesmo padrão de
vida activo que sempre tiveram.
SEGURANÇA E CONFORTO
As 115 unidades habitacionais que
constituem o complexo foram arquitectonicamente concebidas para facilitar
a vida dos residentes e situações de
eventual dependência física. Assim,
alguns espaços de cada apartamento
encontram-se dotados de equipamentos que visam conferir um bom nível
de segurança, como, por exemplo, ao
nível das instalações sanitárias.
De referir o nível de acabamentos
VALORES DO DIREITO DE UTILIZAÇÃO VITALÍCIA
Tipologia
Área privativa (m )
2
Direito de utilização vitalícia (DUV)
65+ anos
70+ anos
75+ anos
Médio
48,00
90.800 €
81.700 €
72.600 €
Mínimo
38,60
78.000 €
70.200 €
62.400 €
53.000 €
Máximo
82,40
128.800 €
115.900 €
103.000 €
87.600 €
61.700 €
Médio
69,60
127.200 €
114.500 €
101.800 €
86.500 €
Mínimo
63,50
115.400 €
103.900 €
92.300 €
78.500 €
Máximo
94,60
144.300 €
129.900 €
115.400 €
98.100 €
T1
T2
Médio
VALORES DAS MENSALIDADES PARA 2008
Tipologia
80+ anos
T0
106,30
193.900 €
164.800 €
145.400 €
116.300 €
Mínimo
87,60
161.000 €
136.900 €
120.800 €
96.600 €
Máximo
132,30
232.000 €
197.200 €
174.000 €
139.200 €
e de equipamentos existentes, como, por exemplo, os acabamentos
em madeira – forte componente de
carpintaria a nível de armários, roupeiros e estantes na sala – ou o aquecimento central e o ar condicionado,
que proporcionam conforto acrescido
em qualquer época do ano.
E embora o conceito das Casas
da Cidade assente na utilização das
Mensalidade DUV *
Pacote 1
Pacote 2 Pacote 3
Mensalidade DUT **
Pacote 1
Pacote 2 Pacote 3
T0
1.º residente
1.500 €
1.370 €
1.220 €
2.170 €
2.040 €
1.860 €
2.º residente
900 €
822 €
732 €
900 €
822 €
732 €
1.º residente
1.680 €
1.550 €
1.400 €
2.610 €
2.480 €
2.300 €
2.º residente
1.008 €
930 €
840 €
1.008 €
930 €
840 €
1.º residente
1.800 €
1.680 €
1.530 €
3.230 €
3.100 €
2.920 €
2.º residente
1.080 €
1.008 €
918 €
1.080 €
1.008 €
918 €
T1
T2
Notas: Pacote 1: duas refeições ligeiras (pequeno-almoço e lanche) + duas refeições completas (almoço e jantar).
Pacote 2: duas refeições ligeiras (pequeno-almoço e lanche) + uma refeição completa (almoço ou jantar).
Pacote 3: duas refeições ligeiras (pequeno-almoço e lanche).
* DUV: direito de utilização vitalícia. ** DUT: direito de utilização temporária.
Primavera 2008
iess 33
em foco
salas de restauração e dos respectivos serviços de alimentação disponíveis, todos os apartamentos têm
kitchenettes totalmente equipadas,
de modo a permitir aos residentes,
se assim o desejarem, maior comodidade e flexibilidade, em particular
na preparação de refeições ligeiras.
Saliente-se que todos os apartamentos dispõem também de um espaço
de arrecadação localizado no piso -1
do empreendimento.
A grande maioria dos apartamentos tem varandas próprias, sendo que
as localizadas no piso térreo têm
também logradouros privativos, e
algumas unidades localizadas no
primeiro piso contam com terraços
privativos.
PRIVACIDADE ASSEGURADA
Resumidamente, Miguel Carmona
diz ser possível dividir o conceito
Casas da Cidade em três áreas principais no tocante aos serviços que
presta – área hoteleira, lazer e saúde.
“Basicamente, estabelecemos com as
pessoas um contrato de utilização
dos apartamentos, que poderá ser
34
iess Primavera 2008
Miguel Carmona, administrador
das Casas da Cidade
vitalício ou para utilizações temporárias. Os clientes podem, se quiserem,
trazer o seu mobiliário ou adquirir o
nosso mobiliário-padrão, ou ainda
conjugar o seu mobiliário com as
nossas propostas. Obviamente, isso
é muito importante, pois permite recriar os espaços à imagem do que as
pessoas têm nas suas actuais casas”,
afirma o mesmo responsável.
Todos os residentes possuem o seu
espaço privativo, que podem utilizar
como entenderem, tendo de respeitar,
como em qualquer condomínio, um
conjunto de regras de boa convivência. Miguel Carmona destaca ainda
o facto de os moradores poderem
receber os seus familiares e convidados e também utilizar as várias
áreas comuns existentes.
O complexo integra um espaço de
1300 m2 de áreas comuns, com zonas
de estar, de restauração, bar e cafeta-
ria, ginásio, cabeleireiro com gabinete de podologia, zonas de esplanada
e dois amplos jardins com cerca de
1400 m2.
Existe depois um conjunto de serviços hoteleiros que garantem segurança e conforto, onde questões como
a limpeza, o tratamento de roupas e
a manutenção do apartamento são
solucionadas pelos serviços do empreendimento. As Casas da Cidade
contam ainda com uma recepção que
funciona 24 horas por dia.
Segurança é, aliás, outra das palavras-chave nas Casas da Cidade,
não só a segurança física das pessoas
mas também a que resulta do acompanhamento do estado de saúde dos
residentes. Miguel Carmona explica:
“Fazemos duas coisas nesta área: uma
é o acompanhamento periódico, para o qual contamos com uma equipa
médica, a qual funciona como um
médico de família. Dessa forma conseguimos ter o conhecimento de todo o
historial clínico dos nossos residentes
e acompanhar de forma pró-activa
todo o seu processo de saúde.”
Existe, por outro lado, acrescenta
este responsável, o acompanhamento
efectuado pela equipa de enfermagem,
que faz um controlo de sintomatologia
– medição de tensão arterial, testes de
glicémia, verificação e organização da
medicação, se necessário. Miguel Carmona realça ainda o papel das auxiliares no acompanhamento diário, pois
“são elas que, em última instância,
fazem o interface com os residentes,
que os ouvem e os auxiliam no seu
dia-a-dia em coisas tão simples como
a marcação de uma refeição para um
convidado até ao conjunto de serviços
relacionados com as chamadas actividades de vida diária, para as pessoas
que necessitem desse tipo de apoios
mais dedicados”.
parceiro tecnológico
Parceria em rede
A Cisco assume-se como empresa com um papel determinante na
convergência para as redes Internet e considera que encontrou na
Espírito Santo Saúde um conjunto de decisores que combinam na
sua visão, a conjugação da tecnologia com a actividade clínica
Texto João Paulo Gama Fotografias João Carlos Silva
PARCEIRA TECNOLÓGICA do avançadas que o Grupo pretendia
Grupo Espírito Santo Saúde, a Cisco
é, a nível mundial, o maior fabricante
mundial de equipamentos de comunicações, e não só é a maior empresa em
termos de facturação como a maior em
termos de capitalização bolsista.
Pioneira há 23 anos no desenvolvimento de módulos fundamentais das
redes de Internet, ou seja, de routers,
de switches e de toda uma panóplia
de tecnologias adicionais que cada vez
mais potenciam as redes de banda larga,
a Cisco assume-se como empresa com
um papel determinante na convergência para as redes Internet em tudo o que
são comunicações e suas aplicações,
sendo, de acordo com Carlos Brazão, o
seu director-geral em Portugal, “natural
beneficiária da cada vez maior largura
de banda que existe nas redes”, para
registar com agrado que em Portugal se
verifica uma evolução muito superior
ao que seria esperado na posição no
mercado europeu da Cisco.
O know-how e as competências da
Cisco foram desde cedo encaradas pela
Espírito Santo Saúde como mais-valias para as unidades tecnologicamente
36
iess Primavera 2008
implementar, o que levou ao desenvolvimento de soluções específicas,
que acabaram por se tornar standards
da Cisco para a indústria da saúde.
A esse propósito, Carlos Brazão destaca: “É justo dizer que encontrámos
na Espírito Santo Saúde um conjunto
de decisores que, no fundo, são aquilo
que aspiramos encontrar nos clientes,
ou seja, pessoas que combinam na sua
visão, a conjugação da tecnologia com a
actividade clínica, e por isso podemos
dizer que tivemos muita sorte.” Naturalmente, acrescenta este responsável,
tudo isso tornou o relacionamento e a
busca de soluções inovadoras muito
mais fácil.
VIVA A BANDA LARGA
Segundo este responsável, cada vez
mais as redes de Internet de banda larga
funcionam como suportes de aplicações, como veículos de transmissão de
dados cada vez mais complexos e com
uma componente crescente de wireless
(sem fios). Tal gera, naturalmente, campos de possibilidades enormes no que
se pode fazer em termos de aplicações
“Encontrámos na
Espírito Santo Saúde
um conjunto de
decisores que,
no fundo, são aquilo
que aspiramos
encontrar nos clientes”
parceiro tecnológico
Carlos Brazão, director-geral
da Cisco Portugal
dentro de um hospital, defende Carlos
Brazão.
“Em concreto, no Hospital da Luz,
desenvolvemos um conjunto de soluções que são mesmo muito inovadoras,
como por exemplo, o suporte a todas
as aplicações de imagens geradas na
imagiologia. Hoje em dia grande parte
dos equipamentos recolhem imagens
que podem ser digitalizadas com grande
fiabilidade e serem transmitidas por
meio de uma rede centralizada, ficando
disponíveis imediata ou quase imediatamente onde são necessárias e isto de
uma forma permanente”, afirma o director-geral da Cisco para acrescentar que
no Hospital da Luz a empresa trabalhou
muito no desenvolvimento em matéria
de suporte de aplicações em vídeo e em
imagiologia.
Ainda relativamente ao potencial
das tecnologias wireless em ambiente
hospitalar, Carlos Brazão lembra que,
cada vez mais, os aparelhos de diagnóstico são altamente sofisticados e… wireless: “hoje todos esses equipamentos
permitem automática e remotamente,
através da transmissão permanente
de dados (e com cobertura wireless)
a monitorização em permanência de
um doente”.
Outra aplicação interessante, assegura este responsável, é a geolocalização.
Com efeito, através de antenas wireless
espalhadas pelo hospital, é possível,
Primavera 2008
iess 37
parceiro tecnológico
pelo efeito de triangulação do sinal das
antenas, detectar a localização exacta
de um determinado equipamento, com
uma margem de erro de um metro. “Se
se tiver em conta, de acordo com um
estudo, que 30% dos equipamentos
médicos hospitalares podem estar em
local desconhecido, é fácil perceber as
vantagens da interactividade de comunicação entre os aparelhos e a rede de
comunicações wireless do hospital.”
LUZ DÁ GRANDE VISIBILIDADE
Carlos Brazão enfatiza o novo mundo
de possibilidades que hoje se abrem em
termos de redes internas de comunicação que permitem, de uma maneira automática, fluida e expedita, fazer coisas
que não eram possíveis num ambiente hospitalar tradicional. “Felizmente,
na Espírito Santo Saúde falámos com
pessoas que percebem da actividade
clínica, que percebem de tecnologia e
sabem muito como as conjugar, e, como têm o objectivo de fazer diferente,
melhor e diferenciador, essa atitude
encaixou-se perfeitamente na actuação
da Cisco”, reafirma.
Carlos Brazão tem a perfeita noção
de que a utilização intensiva deste
novo tipo de aplicações no Hospital
da Luz tem sido muito visível: “Neste
momento, o Hospital da Luz tem sido utilizado como referência da Cisco
para outros hospitais internacionais
com grande reputação de utilização de
tecnologias e que vêm ver o que se faz
na Luz. Existem já dois casos de unidades e de organizações hospitalares do
Norte da Europa que vieram a Portugal
“Há organizações hospitalares do Norte
da Europa que vieram a Portugal para ver
a realidade do Hospital da Luz – uma da
Noruega, outra da Holanda”, diz Carlos Brazão
para ver a realidade do Hospital da Luz;
uma da Noruega – o Hospital de Santo
Olavo, uma referência internacional – e
outra da Holanda – o grupo de gestão
hospitalar holandês Orbis –, que vieram ver como o Hospital da Luz está a
funcionar. Isto, claro, dá uma imagem
diferente do nosso País, e isso é também, achamos nós, muito positivo para
a Espírito Santo Saúde.”
E de tal forma a Cisco olha para o
Grupo Espírito Santo Saúde e para o
Hospital da Luz que estuda a hipótese de fazer do Hospital o que poderá
chamar-se de projecto “Lighthouse”
(farol), ou seja, acrescenta Carlos
Brazão, “um projecto de referência
para outros no tocante à utilização de
tecnologias de informação inovadoras
no meio hospitalar”.
As vantagens da parceria entre
as duas empresas são evidentes para
Carlos Brazão: “Por um lado, vamos
ganhando experiência mútua na utilização de novas soluções e na aplicação de
novas tecnologias em ambiente hospitalar e também, tendo o Grupo Espírito
Santo Saúde novos investimentos na
calha, define novas iniciativas do que
pretende fazer nas novas unidades.”
SOLUÇÕES PIONEIRAS
Relativamente à intensificação da relação entre a Espírito Santo Saúde e a
Cisco, Carlos Brazão destaca o facto de
a colaboração existir desde há alguns
anos e, como já referiu, em muito facilitou a circunstância de a Espírito Santo Saúde ter pessoas que aliam bem
uma boa visão das potencialidades da
tecnologia e de como a mesma pode
ser aplicada no ambiente hospitalar.
“É óbvio que hoje tudo o que se designa por plataformas de redes IP está
a aumentar as suas capacidades mês
após mês. Hoje é possível estabelecer
a comunicação entre salas remotas e
38
iess Primavera 2008
parceiro tecnológico
“Algumas das soluções que estamos a aplicar
no Hospital da Luz são pioneiras em toda
a Europa”, destaca o director-geral da Cisco
Portugal
com a sensação de as pessoas estarem
ao pé umas das outras, a chamada telepresença… Pensamos neste tipo de
tecnologias aplicadas ao meio clínico
e estamos convictos de que os seus
benefícios serão visíveis rapidamente”, defende este profissional, segundo
o qual as redes de comunicações se
tornaram tão potentes em termos de
velocidade e de inteligência que se
torna possível colocar nelas um semnúmero de aplicações.
“Repare que algumas das soluções
que estamos a aplicar no Hospital da
Luz são pioneiras em toda a Europa,
pelo que consideramos que tem sido
uma parceria excelente, com aprendizagem mútua.”
Mas, além do Hospital da Luz,
também o Hospital Residencial do
Mar, junto ao Parque das Nações, e a
Clínica Parque dos Poetas, em Oeiras,
empregam soluções de plataformas de
redes com todas as componentes de
routing, de switching, de data center,
wireless e toda a componente de segurança, a qual em ambiente hospitalar
é crucial: “Hoje, as redes têm mesmo
a capacidade de ser o primeiro veículo de segurança. As redes actuais
podem ter mecanismos de segurança
comportamental, por exemplo, um
facto tão simples como um computador infectado que começa a denotar
um comportamento estranho – envia
1000 e-mails por segundo –, a rede
tem mecanismos que automaticamente
podem isolar (colocar em quarentena)
HÉRCULES É PORTUGUÊS
A Cisco é uma empresa que factura 10 mil milhões de dólares por trimestre e apresenta
todos os indicadores financeiros bastantes saudáveis. Em Portugal, a evolução tem sido
muito superior ao que seria esperado, com taxas de crescimento muito boas.
O volume de vendas nos últimos 4,5 anos foi multiplicado por 2,6. A tal quadro não
será alheio o facto de Portugal ter adoptado as novas tecnologias de forma massiva,
o que reforçou a credibilidade da filial portuguesa dentro do universo Cisco. Aliás, foi
graças a esse reforço e também ao espírito de colaboração das entidades oficiais que
foi possível trazer para Portugal um investimento da Cisco na Europa, uma componente
fundamental, o centro de suporte a processos de negócios, chamado Hércules.
“Obviamente isso desencadeou uma série de coisas novas na Cisco em Portugal,
e uma delas é o facto de estarmos nesta nova sede onde estamos a investir, só no
recondicionamento do edifício, seis milhões de euros, fora equipamentos, além do próprio
Hércules, que representa um investimento entre 24 e 36 milhões de euros a três anos.”
um ponto com um comportamento
anómalo e fazer soar alarmes…”, destaca Carlos Brazão.
Por todo este conjunto de razões,
o director-geral da Cisco considera
que tanto a sua empresa como a Espírito Santo Saúde procuram liderar
através de inovação, qualidade, novos
serviços, novas ofertas, criando diferenciação, porque essa é, diz, a única
maneira de ganhar de forma sustentada
no mercado: “Penso que, cada uma no
seu campo de actuação, Cisco e Espírito Santo Saúde tem um ADN semelhante, querem vencer, estabeleceram
uma parceria que tem sido de sucesso
e assim vai continuar a ser. Acho que
nunca é de mais reafirmar que trabalhamos numa multinacional mas
temos sempre em mente que somos
portugueses e temos sempre um duplo
prazer quando conseguimos destacar
o nome de Portugal. O facto de termos
conseguido fazer um trabalho tão bom
no Hospital da Luz, em conjunto com
a equipa da Espírito Santo Saúde, que
chamou a atenção a empresas internacionais, encheu-nos, naturalmente, de
orgulho”, conclui.
Primavera 2008
iess 39
Vida saudável
Comorbilidade
Um novo desafio
Cancro do cólon e do recto
Doença que pode ser curável
Crianças
Vacinar é fundamental
Os pólenes e a rinite alérgica
Mulher
Prevenção da osteoporose
na idade pós-fértil
HPV: vacinar é uma boa solução
vida saudável | geral
O cancro do cólon
e do recto pode ser curável
O cancro do cólon e do recto (CCR) é o tumor maligno mais frequente
do tubo digestivo. A sua incidência só é ultrapassada pelos cancros
da próstata e do pulmão, no sexo masculino, e da mama, na mulher
JOSÉ DAMIÃO FERREIRA
A FREQUÊNCIA de cancro do cólon e do recto Destas, destaca-se a colite ulcerosa, sobretudo quan(CCR) está a aumentar, encontrando-se de alguma
forma relacionada com o desenvolvimento sócio-económico. A prevalência da doença é maior em
países mais industrializados, como nos EUA e na
Europa Ocidental, e menor em África ou na América do Sul. Em Portugal, o número de diagnósticos
anuais tem registado um crescimento exponencial,
sendo responsável por elevada mortalidade. Estima-se que 3% a 4% dos indivíduos, tanto do sexo
masculino como do feminino, desde o nascimento
até aos 70 anos de idade, serão atingidos por CCR,
situando-se o pico máximo de incidência na sexta
década da vida (> 50 anos).
Na grande maioria dos casos, o CCR evolui a
partir de uma lesão precursora pré-maligna, o adenoma, lesão benigna resultante de uma perturbação
da proliferação das células da mucosa colo-rectal.
ALIMENTAÇÃO, A GRANDE PREVENÇÃO
Vários são os factores implicados no desenvolvimento
do CCR: ambientais, doenças pré-malignas e genéticos.
A dieta rica em gorduras, pobre em fibra, com baixo
consumo de fruta e de vegetais, é considerada como a
causa mais importante na ocorrência de CCR. Do mesmo modo se responsabilizam a obesidade e o excesso
no consumo de bebidas alcoólicas e de tabaco.
As doenças inflamatórias do cólon e do recto
também condicionam um risco aumentado de CCR.
42
iess
Primavera 2008
do se apresenta com uma evolução igual ou superior
a dez anos.
Uma pequena franja dos CCR (1% a 3%) depende
de predisposição genética. Assume, assim, importância a história familiar sobre o risco individual – cerca
de 2/3 vezes maior que o padrão normal quando um
familiar do 1.º grau tem CCR. Famílias com história
de polipose intestinal ou de carcinoma hereditário
não polipóide situam-se neste grupo.
A forma mais eficaz de combate a qualquer doença, maligna ou não, é a prevenção. Daí a importância
do conhecimento dos factores relacionados com a
incidência do CCR, obrigando a alteração ou criação
de novos hábitos alimentares e sociais.
Uma dieta rica em fibra, fruta e vegetais, exercício
físico, abstinência de consumo de álcool e de tabaco
formam um conjunto de atitudes que tenderão a
diminuir o risco de desenvolvimento de CCR.
No entanto, e porque mais de 90% dos casos são
de origem adquirida, não hereditária, torna-se importante conhecer e valorizar alguns sinais de alerta.
A perda de sangue pelo ânus é dos mais frequentes. Vivo ou escuro, isolado ou misturado com as
fezes, espontâneo ou só durante a defecação. Muitas
vezes, para justificar esta hemorragia, há a tendência
para o auto-diagnóstico de hemorróidas, que, mesmo
quando correcto, deverá obrigar à exclusão de outra
causa. As doenças podem coexistir!
vida saudável | geral
Uma dieta rica
em fibra, fruta
e vegetais,
exercício físico,
abstinência
de consumo
de álcool e de
tabaco formam
um conjunto
de atitudes
que tenderão
a diminuir
o risco de
desenvolvimento
do cancro do
cólon e do recto
ATENÇÃO AOS SINAIS
A alteração dos hábitos intestinais, períodos de
obstipação alternados com episódios de diarreia,
particularmente se precedidos de cólica abdominal, e a sensação de falsa vontade de evacuar ou
de defecação incompleta são outros dos sintomas
característicos do CCR. Episódios de dor abdominal, emagrecimento, anemia (por perda de sangue
crónica e invisível), constituem outras formas de
apresentação desta doença, que é curável quando
diagnosticada precocemente.
Sinais e sintomas como os descritos deverão
conduzir com celeridade a consulta com médico assistente para se conseguir um diagnóstico atempado
com a doença em fase inicial.
São vários os exames complementares para o
diagnóstico de CCR:
1. Colonoscopia total – É o exame de excelência.
Através de endoscopia, observa-se directamente
todo o cólon e recto.
2. Recto-sigmoidoscopia flexível – Exame endoscópico de fácil preparação e realização. A observação limita-se à porção terminal do intestino
grosso, sigmóide e recto, onde se localizam mais
de metade dos CCR.
3. Clister opaco com duplo contraste – Realiza-se
através da utilização de raios X após a introdução
via rectal de um produto de contraste radiopaco.
Tem a vantagem de localizar o tumor e de avaliar o
seu grau de obstrução.
4. Colonoscopia virtual – Exame recente, em que por
TAC ou ressonância magnética se obtêm imagens
tridimensionais do cólon e do recto. Contudo, não
diagnostica lesões de dimensão inferior a 10 mm e
não permite biópsia.
Em conclusão, justifica-se um programa de
rastreio do cancro do cólon e do recto, que permite
o diagnóstico e tratamento de lesões precursoras
ou da doença maligna em estádio inicial, conduzindo a maior taxa de cura e, consequentemente,
menor mortalidade.
Cirurgião geral do Hospital da Luz.
Primavera 2008
iess 43
vida saudável | criança
Vacinar é fundamental
Com a introdução de esquemas regulares de vacinação,
proporciona-se às crianças um melhor início de vida.
Cumprir um plano de vacinação é um factor decisivo
LIA RAMOS
NÃO RESTAM dúvidas de que a imunização E O QUE É UM ANTICORPO?
contra as principais doenças é fundamental para
a sobrevivência infantil. Com a introdução de esquemas regulares de vacinação, o número global de
mortes de crianças com idade inferior a cinco anos
tem vindo a diminuir progressivamente, proporcionando às mesmas um melhor início de vida, o que
é fundamental para que possam crescer com saúde
e desenvolver todo o seu potencial.
MAS O QUE É UMA VACINA?
Uma vacina é uma substância derivada de um agente
infeccioso ou quimicamente semelhante a um agente
infeccioso causador de uma doença. Quando um
indivíduo é vacinado, o seu sistema imunitário reage como se tivesse sido infectado pelo dito agente,
passando a produzir anticorpos contra a doença.
Os anticorpos são glicoproteínas produzidas por
células do nosso organismo e que atacam os agentes
estranhos que possam vir a causar uma doença, e
desta forma permitem a defesa do organismo. Esta
resposta de produção de anticorpos é memorizada
pelo sistema imunitário, o que faz com que, no futuro, o sistema imunitário do indivíduo, caso entre
em contacto com um agente infeccioso contra o qual
foi previamente vacinado, responda mais rápida e
eficazmente para o proteger da doença.
Algumas vacinas conferem uma protecção total. Nesse caso, o indivíduo vacinado não sofrerá a
doença mesmo que entre em contacto com o agente
infeccioso. Outras não são capazes de prevenir a
doença, mas conferem maior segurança, sendo capazes de prevenir as suas formas mais graves. Contudo,
convém ter presente que em qualquer dos casos
os riscos de administração da vacina são sempre
menores que os perigos da infecção que podem ser
evitados com a vacina.
QUANTOS TIPOS DE VACINAS EXISTEM?
Existem, basicamente, três tipos:
• As vacinas inactivas ou inertes, que desactivam
o agente bacteriano ou viral, deixando-o incapaz
de multiplicar-se, mantendo, no entanto, todas as
suas componentes e a capacidade de estimular o
sistema imunitário;
44
iess
Primavera 2008
vida saudável | criança
• As vacinas “vivas” ou atenuadas, nas quais o agente
infeccioso, obtido a partir de um indivíduo infectado, é enfraquecido, resultando numa forma que,
quando inoculada num indivíduo saudável, pode
multiplicar-se sem causar doença, estimulando o
sistema imunológico;
• As vacinas produzidas por recombinação genética,
que são obtidas por técnicas modernas de engenharia
genética e biologia molecular.
QUANDO SE ADMINISTRAM AS VACINAS?
A maior parte das vacinas requer
a administração de várias doses, devendo
respeitar-se ao máximo o esquema
de vacinações recomendado pelo médico
A maior parte das vacinas requer a administração
de várias doses, devendo respeitar-se o esquema de
vacinações recomendado. Intervalos superiores aos
estabelecidos no calendário de vacinas não reduzem
a concentração final de anticorpos, pelo que a interrupção do calendário de vacinas apenas requer que
se complete o esquema estabelecido.
Por outro lado, a administração de vacinas com
intervalos menores que os mínimos recomendados
pode diminuir a resposta imunológica e pode ainda
aumentar o número de reacções adversas.
De notar que algumas vacinas podem ser administradas simultaneamente, pois não interferem
com a resposta imunológica de outras. Já no caso de
vacinas vivas é diferente, visto que a resposta imunológica pode ser comprometida, pelo que devem
administrar-se no mesmo dia ou ser administradas
com um intervalo não inferior a quatro semanas.
Finalmente, todas as vacinas podem causar
efeitos secundários leves, temporários e, algumas
vezes, efeitos secundários maiores. Segundo as experiências clínicas, os efeitos secundários são muito
menores que os efeitos benéficos protectores, pelo
que se recomenda vacinar amplamente a população infantil com os esquemas aprovados em cada
país, respeitando doses e intervalos sugeridos pelos
fabricantes.
Pediatra do Departamento de Pediatria da Clipóvoa –
Hospital Privado da Póvoa de Varzim.
Primavera 2008
iess 45
vida saudável | criança
Os pólenes
e a rinite alérgica
É importante o seguimento em consulta de imunoalergologia
para que se institua uma terapêutica apropriada para
o alívio dos sintomas
CARLOS NETO BRAGA
NOS ÚLTIMOS anos tem-se verificado um au- QUANTO MAIS LEVES, PIOR…
mento significativo na prevalência das doenças alérgicas. A rinite alérgica a pólenes é uma inflamação
da mucosa nasal desencadeada pela exposição a
pólenes existentes, em indivíduos susceptíveis.
Os sintomas característicos são: obstrução nasal,
espirros, corrimento nasal aquoso e comichão no
nariz, que também pode envolver os ouvidos e a
garganta. Nestes doentes, é frequente a existência
de conjuntivite associada, a qual se manifesta por
olhos vermelhos, lacrimejar e comichão nos olhos.
É também frequente a associação com asma brônquica, que se caracteriza por dificuldade respiratória,
tosse seca e pieira.
Estes sintomas podem ter intensidade suficiente
para perturbar o sono e as actividades do dia-a-dia,
limitando a qualidade de vida dos doentes.
É nos meses de Fevereiro a Outubro que existem maiores concentrações de pólenes, com picos
entre Maio e Julho. Consequentemente, os doentes
alérgicos a pólenes têm sintomas apenas ou predominantemente neste período do ano.
A localização no tempo, a duração e a intensidade
dos sintomas dependem dos ciclos de polinização
específicos e têm variações geográficas que dependem da flora própria de cada região. Dependem
também das condições atmosféricas, agravando-se
com o vento, a temperatura elevada e o tempo seco
e melhorando com a chuva.
46
iess
Primavera 2008
Os pólenes de ervas, das árvores e dos arbustos são
habitualmente os maiores responsáveis por sintomas
alérgicos. O pólen de flores muito coloridas raramente
está implicado, uma vez que tem peso e dimensões
muito elevados, que dificultam a sua dispersão na
atmosfera. Normalmente, é o seu odor muito intenso
que provoca sintomas que podem ser interpretados
como alergia. Em Portugal, os pólenes mais frequentes como causa de alergia são os seguintes:
Gramíneas: Vulgarmente conhecidas como fenos,
existem em todo o território nacional, nas áreas urbanas e rurais, e a polinização ocorre habitualmente
de Março a Junho;
Parietária: Conhecida como alfavaca-de-cobra,
cresce junto a muros e paredes, tem um período
de polinização longo, com pico em Abril e Maio,
estendendo-se até Outubro;
Artemísia: Mais frequente no interior do País, com
pico de polinização de Maio a Julho;
Plantago: Vulgarmente conhecida como tanchagem,
com período de polinização em Abril e Maio;
Chenopodium: Conhecido como pé-de-ganso, mais
frequente no interior, com polinização de Abril a
Outubro;
Oliveira: Largamente distribuída em Portugal, com
polinização de Maio a Julho;
Plátano: Muito frequente em áreas urbanas, com
polinização em Março e Abril;
vida saudável | criança
Os pólenes de ervas, das árvores e dos arbustos
são habitualmente os maiores responsáveis
por sintomas alérgicos
• Se for possível, manter-se dentro de casa e manter
porta e janelas fechadas quando as contagens de
pólenes forem elevadas ou em dias de vento forte,
quentes e secos;
• Usar filtros de partículas de grande eficácia nos
carros e viajar com as janelas fechadas;
• Usar óculos escuros fora de casa;
• Evitar praticar desportos ao ar livre, campismo,
caça ou pesca em períodos de grande concentração
de pólenes;
• Evitar caminhar em grandes espaços relvados ou
cortar relva;
• Os motociclistas deverão usar capacete integral.
DIFÍCEIS DE EVITAR
Bétula: Também conhecida como vidoeiro, muito
frequente em zonas urbanas, tem o seu período de
polinização de Março a Maio;
Cipreste: Com polinização de Dezembro a Março;
Fagáceas: Incluem o carvalho, a azinheira, o sobreiro
e o castanheiro. com polinização de Março a Julho;
Pinheiro: Com polinização de Março a Maio.
Os testes cutâneos de alergia permitem identificar os pólenes responsáveis pelo quadro clínico e a
evicção do agente desencadeante dos sintomas faz
parte integrante do tratamento da doença alérgica. No
que respeita à protecção contra os pólenes, algumas
medidas podem ser úteis, a saber:
• Evitar áreas de elevada polinização;
• Reduzir a actividade em ambiente exterior de manhã muito cedo, quando se verifica maior libertação
de pólenes;
Para implementar estas medidas é importante conhecer os boletins de polinização, os quais podem ser
consultados de forma contínua através da Internet
nos portais www.spaic.pt ou www.rpaerobiologia,
ou com ou durante a Primavera através de alguns
media, como, por exemplo, a rádio TSF, o jornal
Diário de Notícias ou a RTP1.
Algumas destas medidas são susceptíveis de
causar grande limitação no quotidiano dos pacientes
e, como tal, são difíceis de pôr em prática, pelo que
não é possível uma evicção completa dos pólenes.
Assim, é importante o seguimento em consulta de
imuno-alergologia, para que se institua uma terapêutica apropriada para o alívio dos sintomas.
Em resumo, a rinite alérgica a pólenes é uma patologia muito frequente e que se manifesta predominantemente na Primavera. Existem medidas de evicção úteis, mas algumas são difíceis de implementar.
O seguimento em consulta da especialidade permite
um diagnóstico correcto e a prescrição de um plano terapêutico eficaz e seguro com o objectivo de
reduzir os sintomas e minimizar o seu impacto na
qualidade de vida dos doentes.
Pediatra especialista em imuno-alergologia do Hospital de Santiago,
em Setúbal.
Primavera 2008
iess 47
vida saudável | mulher
HPV: vacinar
é uma boa solução
Acredita-se que 70%-80% das mulheres sexualmente activas
irão estabelecer contacto, em algum momento, com o vírus
do papiloma humano. A vacinação é um bom método preventivo
HENRIQUE NABAIS
O HPV (Human PapillomaVirus ou vírus do papilo- decisivo naquele processo, como seja a associação a
ma humano) é um vírus DNA de cadeia dupla. São
conhecidos mais de 200 genótipos, dos quais cerca de
40 infectam o aparelho genital inferior humano. Dentro destes, consideram-se dois grupos, o de alto risco
oncogénico e o de baixo risco oncogénico, de acordo
com a sua capacidade de se associar ao cancro.
Os HPV-AR (alto risco) são hoje 15, sendo os
genótipos 16 e 18 os mais frequentes e responsáveis
por cerca de 71% dos casos de cancro do colo do
útero. O HPV também pode ser responsável por
cancro em outras localizações (por exemplo, vulva/vagina: 40%; pénis: 40%; ânus: 90%; boca: 3%,
e orofaringe:12%). Dentro do grupo dos HPV-BR
(baixo risco), o 6 e o 11 são responsáveis por 90%
dos condilomas genitais.
A infecção por HPV é a infecção sexualmente
transmissível com maior prevalência no mundo
inteiro. O preservativo é a única medida que previne
a transmissão durante a relação sexual, embora esta
protecção não seja completamente eficaz.
Acredita-se que 70%-80% das mulheres sexualmente activas irão estabelecer contacto, em algum
momento, com o vírus e sabe-se hoje que 99,7%
dos cancros do colo do útero estão associados à
infecção por HPV-AR, embora se acredite que esta
percentagem seja mesmo de 100%.
Esta infecção é um factor necessário, mas, note-se,
não suficiente para o aparecimento do cancro. Considera-se que existem co-factores que terão um papel
48
iess
Primavera 2008
outras infecções sexualmente transmissíveis, alguns
factores genéticos e tabagismo, entre outros.
PROCESSO LONGO
Em Portugal, a prevalência deste cancro ronda as
16-17/100.000 mulheres e a taxa de mortalidade
é de 6-7/100.000. Na verdade, esta doença é uma
complicação grave, mas felizmente rara, da infecção
HPV-AR.
A história natural da infecção-doença, isto é, o
intervalo de tempo que medeia entre a infecção e
o aparecimento do cancro, passando pela doença
O HPV é a infecção sexualmente
transmissível com maior
prevalência em todo o mundo.
O preservativo previne
a transmissão mas não
é completamente eficaz
vida saudável | mulher
pré-neoplásica, tem uma duração que é, de uma
forma geral, de 20 a 30 anos.
Hoje, felizmente, existem várias armas no combate a esta doença, em termos de prevenção primária
e secundária. A prevenção primária envolve, por
exemplo, a informação da população e a promoção
do uso do preservativo, o início mais tardio da vida
sexual, a redução do número de parceiros sexuais
e, claro, a vacina.
A prevenção secundária envolve o diagnóstico
precoce da infecção-doença pré-neoplásica/neoplásica e a instituição da conduta terapêutica
mais adequada.
A colpocitologia (teste de Papanicolau) é o exame
utilizado habitualmente no rastreio, tendo demonstrado, nos países em que foi instituído em termos de
rastreio organizado, um sucesso enorme na redução
da taxa de incidência deste cancro.
Actualmente estão comercializadas duas vacinas,
uma quadrivalente (16, 18, 6 e 11) e outra bivalente
(16 e 18). Estas vacinas demonstram uma eficácia
de 100% na prevenção da infecção pelos genótipos
a que se destinam e ainda uma protecção cruzada
(que não é de 100%, note-se!) contra alguns outros
genótipos que são filogeneticamente mais semelhantes aos da vacina.
Assim, tendo em conta que a vacina não protege
contra todos os HPV-AR e que a sua eficácia, em
termos de saúde pública, só começará a fazer sentir-se ao fim de 10 a 20 anos após a sua administração
massiva, obriga a que o rastreio organizado tenha de
ser efectuado a todas as mulheres, inclusivamente
às que foram vacinadas.
Ginecologista do Dep. de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital da Luz.
Primavera 2008
iess 49
vida saudável | mulher
Prevenção da osteoporose
na mulher em idade pós-fértil
A osteoporose é uma doença caracterizada por aumento
da porosidade do esqueleto, que provoca fragilidade óssea
(diminuição da massa óssea) e aumento do risco de fracturas
LUÍS SÁ
CERCA DE 30% das mulheres pós-menopáu- SEDENTARISMO PREJUDICA
sicas na Europa têm osteoporose, e, destas, pelos
menos 40% irão desenvolver fracturas osteoporóticas.
O esqueleto é um tecido vivo, com células
bastante activas (osteoblastos, osteoclastos e
osteócitos), constantemente renovado ao longo
da vida – calcula-se que o esqueleto do adulto é
inteiramente renovado a cada dez anos.
Os 206 ossos que compõem o esqueleto humano estão totalmente desenvolvidos aos 20 anos de
idade e é entre os 16 e os 25 anos que se atinge
o pico da massa óssea – 60% a 80% deste pico
são determinados por factores genéticos e entre
20% e 40% são de origem ambiental.
A perda de massa óssea é uma consequência
do envelhecimento, começa por volta dos 40-45
anos, acelera na altura da menopausa e continua
ao longo da vida do indivíduo.
Vários estudos demonstram que maximizar o
pico da massa óssea é uma estratégia importante
na prevenção da osteoporose – se se conseguir aumentar o pico da massa óssea em 10%, atrasa-se o
aparecimento da osteoporose 13 anos e reduz-se em
50% o risco de fracturas depois da menopausa. Os
homens atingem picos de massa óssea superiores às
mulheres e têm perdas menores ao longo da vida,
pelo que só uma pequena percentagem de homens
(muito) idosos irão ter osteoporose.
50
iess
Primavera 2008
Para aumentar o pico da massa óssea, deve o feto
ainda in utero receber uma adequada porção de
cálcio, pelo que se as grávidas não consumirem
leite ou derivados e alimentos ricos em cálcio
deve ser-lhes prescrito um suplemento de cálcio.
Depois as crianças e os adolescentes, para além de
diariamente consumirem alimentos ricos em cálcio
e um aporte proteico adequado, devem ter uma
actividade física regular, pois para estimular os osteoblastos (formadores de osso) a actividade física
é indispensável – factores ambientais responsáveis
por 20%-40% do pico de massa óssea.
Cerca de 30% da massa óssea da mulher podem
ser perdidos nos dez anos a seguir à menopausa,
porque o défice de estrogénios que caracteriza
esta fase da vida da mulher leva a uma maior actividade dos osteoclastos (que reabsorvem osso)
relativamente aos osteoblastos.
A perda de massa óssea que é consequência
do envelhecimento é explicada pela menor absorção de cálcio pelo intestino, por alterações do
metabolismo da vitamina D, por algum grau de
insuficiência renal e pela vida mais sedentária.
A osteoporose não dá sintomas, ou melhor, quando dá já é bastante tarde, pois houve uma fractura,
muitas vezes sem qualquer traumatismo, pelo que é
importante verificar se há risco de osteoporose, e para
isso é necessário efectuar exames de diagnóstico.
vida saudável | mulher
O exame a solicitar (a partir dos 50 anos ou antes,
se houver factores de risco maior para a osteoporose)
é a densitometria óssea da coluna lombar e fémur,
que classifica o doente em normal – se a densidade
mineral óssea (DMO) está idêntica ao valor médio
para um adulto jovem; osteopenia – se houver entre 1 e 2,5 desvios standard (DS) relativamente ao
valor médio para um adulto jovem, e osteoporose,
se o DS for maior que 2,5 (Organização Mundial de
Saúde, 1994).
O doente com osteopenia deve ser aconselhado a
modificar o seu estilo de vida (alimentação rica em
cálcio e vitamina D ou uso de suplementos – cálcio 1200 mg/dia, vitamina D 800 UI/dia; actividade
física regular – caminhadas e musculação; deixar
de fumar e moderar o consumo de álcool, pois estas substâncias são tóxicas para os osteoblastos); a
mulher pós-menopáusica deve efectuar tratamento
hormonal para combater o défice de estrogénios (se
não houver contra-indicações) e como a osteoporose aumenta muito o risco de fracturas (da anca, da
coluna vertebral e do punho) é necessário efectuar
terapêutica com bifosfonatos, raloxifeno, ranelato
de estrôncio ou teriparatida, a individualizar em
consulta adequada – que bem pode ser durante a
consulta de ginecologia.
Em conclusão, as fracturas osteoporóticas têm
uma incidência anual superior aos enfartes de mio-
A osteoporose não dá sintomas, ou melhor,
quando dá já é bastante tarde, pois houve
uma fractura, muitas vezes sem qualquer
traumatismo
cárdio, aos acidentes vasculares cerebrais e ao cancro
da mama, e, além de reduzirem significativamente a
qualidade de vida de quem as sofre, aumentam o risco
de mortalidade – 20% das mulheres que fracturam
a anca morrem um ano após a fractura.
Com o aumento da longevidade, estima-se que
haverá um aumento significativo destas fracturas
nos próximos anos.
Ginecologista obstetra da Cliria – Hospital Privado de Aveiro.
Primavera 2008
iess 51
vida saudável | sénior
Comorbilidade,
um novo desafio
Como comorbilidade ou multipatologia entende-se a presença
simultânea de múltiplas doenças numa mesma pessoa.
A sua prevalência aumenta à medida que se avança na idade
AMÍLCAR ALEIXO
O ENVELHECIMENTO da população a que se OBJECTIVOS EM VEZ DE PROBLEMAS
assistiu nos países desenvolvidos teve como reflexo
o aparecimento de um novo padrão de morbilidade.
As pessoas passaram a confrontar-se principalmente
com problemas crónicos, frequentemente múltiplos
e com implicações psicossociais.
Também o aparecimento de novas técnicas e
instrumentos diagnósticos levam a que as doenças
crónicas e degenerativas sejam detectadas cada vez
em maior número e mais precocemente, o que leva
ao aumento de tempo entre a data do diagnóstico
e o desenlace.
Estas doenças crónicas interagem e potenciam-se, conferindo a estes clusters vida própria, resultando numa dinâmica em que frequentemente o
todo é maior do que a soma das partes.
É o que acontece, por exemplo, com o risco
cardiovascular à medida que se somam factores
de risco/problemas de saúde, como diabetes, hipertensão, dislipidémia, obesidade, tabagismo, entre outros.
Em comorbilidade, o curso natural e as intervenções terapêuticas de uma doença influenciam
o curso das outras doenças.
Com a comorbilidade, a polifarmácia torna-se
quase sempre uma inevitabilidade, com aumento
da probabilidade de iatrogenia e de interacções medicamentosas que só a gestão global e integrada dos
problemas de saúde poderá minimizar.
52
iess
Primavera 2008
As doenças crónicas tendem a ocupar uma parte
substancial da actividade clínica diária. Os pacientes recorrem à consulta por queixas várias,
aumentando tendencialmente o seu número com
a idade. A resposta simultânea a várias exigências torna necessária uma gestão hierarquizada
dos problemas, levando em conta tanto as prioridades do paciente como as do médico, numa
abordagem que compreenda a comorbilidade como um padrão e não tanto como um conjunto de
diagnósticos.
A saúde começa a ser abordada, não por problemas, mas por objectivos. Foi o surgir, o desenvolver
e o reconhecer da medicina centrada na pessoa, em
oposição à medicina centrada na doença.
As idiossincrasias das pessoas que nos consultam, bem como a essência do sofrimento ou do malestar, dificilmente se encerram dentro de uma qualquer categoria taxonómica.
A saúde, entendida no modelo centrado no
paciente, promove uma abordagem em que explora tanto a doença como a experiência de doença.
Procura compreender a pessoa de forma global,
encontrar um terreno comum para a gestão dos
problemas, incorporando a prevenção da doença
e a promoção da saúde.
A obtenção do compromisso terapêutico do paciente e a promoção da autonomização na gestão
vida saudável | sénior
As novas técnicas e instrumentos
diagnósticos levam a que as
doenças crónicas e degenerativas
sejam detectadas mais
precocemente e em maior número
dos seus problemas crónicos implicam exigentes
aptidões relacionais por parte do médico.
A gestão eficiente da comorbilidade das doenças
crónicas, além de estar ligada aos próprios pacientes
e aos médicos, também está ligada ao modelo de organização e à orientação dos cuidados de saúde.
Este novo paradigma leva-nos a perceber que,
apesar da imensa oferta de cuidados de saúde existentes, a medicina geral e familiar é uma mais-valia
neste ecossistema devido aos aspectos generalista e
pluripotencial que suporta a sua prática.
Novas questões levam a novos desafios científicos, pelo que se deve incentivar a investigação e
promover debates sobre os problemas éticos e deontológicos que esta realidade suscita.
Devemos todos, profissionais de saúde, gestores
e políticos, embarcar na Argus, a nau da mitologia grega que contra ventos e marés navegava incessante e empenhada na procura da verdade e
do conhecimento.
Médico de medicina geral e familiar do Hospital da Luz.
Primavera 2008
iess 53
vida saudável | perguntas e respostas
É sempre bom saber
Com esta nova rubrica pretendemos responder a dúvidas,
a anseios que, por vezes, os nossos clientes colocam aos médicos,
pelas mais variadas razões, durante as consultas, antes ou depois
de intervenções cirúrgicas, antes até de fazer um simples exame.
Nesta edição começamos com questões relacionadas com
anestesias e hábitos de vida
CRISTINA PESTANA E NUNO RODRIGUES
Anestesia: medos e dúvidas
SERÁ QUE VOU TER DOR?
Hoje, as técnicas disponíveis para o alívio da
dor são multimodais e preventivas, ou seja, a utilização de diversos fármacos por diferentes vias
(endovenosa, intramuscular, oral,
epidural), actuando nos vários níveis do circuito da dor, diminuem
a possibilidade de dor significativa
no pós-operatório.
SERÁ QUE VOU DESPERTAR
A MEIO DA ANESTESIA?
Este receio é hoje pouco provável, pois, para além da monitorização
clínica da profundidade anestésica,
existem técnicas de monitorização
instrumental (índice biespectral)
que nos dão uma informação mais
sensível do nível de hipnose, o que
permite ajustar a administração dos
fármacos às necessidades quer do doente quer da
cirurgia a que está a ser submetido.
SERÁ QUE NÃO VOU ACORDAR
NO FINAL OU QUE VOU ACORDAR COM
ALGUM DÉFICE FÍSICO OU PSÍQUICO?
Tal como a questão do medo de acordar durante a anestesia, a monitorização da profundidade
anestésica assegura uma melhor titulação do tipo
e dose de fármacos administrados, o que, simul54
iess
Primavera 2008
taneamente com a manutenção da estabilidade
dos parâmetros vitais durante a anestesia, torna
a hipótese de não acordar ou de acordar com défice
muito remota.
A ANESTESIA DO NEUROEIXO
(EPIDURAL OU OUTRA)
TEM RISCOS DE LESÃO
NEUROLÓGICA?
O médico anestesiologista conhece a anatomia e os locais de punção e a concentração e o volume de
fármacos a administrar, bem como
as patologias associadas e as medicações paralelas que o doente faz e
que contra-indicam a técnica. O seu
anestesiologista respeitará as regras
de segurança, pelo que a possibilidade de lesão é quase nula.
COMO E QUANDO RECORRER
A UM ANESTESIOLOGISTA?
A necessidade de ser convenientemente avaliado pré-operatoriamente pelo seu anestesiologista
justifica uma consulta de anestesia. Nesta será avaliada a sua condição de saúde; será optimizada se
necessário e ser-lhe-ão explicados todos os procedimentos.
Médicos anestesiologistas do Hospital da Luz.
perguntas e respostas | vida saudável
justos até à alvorada será indispensável e mais do
que merecido.
E A ALIMENTAÇÃO?
MÁRIO FERREIRA
Mais vale prevenir
Essa é uma das saborosas sabedorias que nos arriscamos a perder em Portugal. A dieta mediterrânica
dos nossos avós, com variedade de leguminosas e
proteínas vegetais em ricas sopas, o peixe fresco
temperado com azeite cru, a diversidade de frutos e
de cereais em múltiplas refeições diárias, partilhadas
sem pressas e a horas certas com amigos ou família,
parece-nos já um sonho distante. Essa era a exacta
poção mágica da saúde.
MAIS INFORMAÇÃO SOBRE
AS DOENÇAS DO COMPORTAMENTO
MAIS VALE PREVENIR QUE REMEDIAR?
Sim. Os pesados custos dos meios auxiliares de SERÁ O SUFICIENTE?
diagnóstico, terapêutica e técnicas de reabilitação
de qualquer patologia não alcançam a eficácia de
algumas atitudes simples que previnem a doença e
nos permitem até melhorar a nossa saúde. Designase habitualmente essa nova conduta como estilo de
vida saudável.
Apenas mais informação não bastará. Será ainda necessário o saber – um produto mais elaborado
AS DOENÇAS QUE CARACTERIZAM
O DESENVOLVIMENTO HUMANO SÃO
ASSIM TÃO GRAVOSAS?
Se a fome, o paludismo ou a disenteria continuam
a ser flagelos em vastas regiões da Terra, paradoxalmente a obesidade, o sedentarismo, o consumo de
substâncias tóxicas e as doenças cardiovasculares,
cérbero-vasculares e oncológicas que lhes estão associadas são as que atingem mais frequentemente os
habitantes nas áreas de maior riqueza económica.
As perturbações psíquicas e emocionais ligadas
à solidão são também outros dos actuais flagelos das
sociedades ocidentais.
O EXERCÍCIO FÍSICO CONSTA DAS NOVAS
FORMAS DE PREVENÇÃO?
Sim, praticado de forma quotidiana e adaptado a cada fase da nossa vida. Meia hora de marcha
diária poderá ser a receita. Aliás, o exercício e o
repouso que o completam: uma breve sesta no início
da tarde parece já uma utopia, mas um sono dos
que apuramos em conversas e em actos de todos os
dias, uns com os outros. E preferiremos sempre a
sedução por uma vida saudável e saborosa ao constrangimento perante as tábuas de uma fastidiosa lei
de negações.
Médico de medicina geral e familiar do Hospital da Luz.
Primavera 2008
iess 55
exemplos de vida
Rita Ressano
Garcia com
o marido,
Cristóvão
Andersen
Leitão
A coragem de Rita
O relato sucinto deste caso de uma doente seguida ao longo de quase quatro meses pela equipa
da Unidade de Cuidados Paliativos do Hospital da Luz pretende ser, em primeiro lugar, e na pessoa
da Rita Ressano Garcia, pelo exemplo de grandeza e coragem que nos deu, uma homenagem
a todos os nossos doentes; depois, uma homenagem à sua família, aos profissionais que
dela cuidaram e a todos os que, com ciência, humanismo e persistência, lutam pela dignidade
dos que estão em fim de vida
Texto Isabel Galriça Neto (coordenadora da Unidade de Cuidados Continuados e Paliativos do Hospital da Luz)
e Carlos Nunes Rodrigues (enfermeiro com pós-graduação em Cuidados Paliativos)/IESS
56
iess
Primavera 2008
exemplos de vida
A RITA recorreu a uma primeira
seríamos capazes de lhe oferecer...
Depois de um período de duas semanas de razoável controlo sintomático no domicílio, a segunda consulta
médica ocorre por novo agravamento do estado geral. Após a segunda
consulta, Rita dirigiu-se ao hospital
“por achar que precisava de outro
tipo de ajuda. Estou mesmo muito
cansada...“. Apresentava-se abatida
e revoltada.
Realizou vários exames no hospital, que evidenciavam terem aparecido metástases pulmonares. O primeiro
internamento da Rita na unidade decorreu em Abril de 2007, em virtude do seu
estado se ter complicado bastante. Fo-
consulta de cuidados paliativos no
Hospital da Luz em Março de 2007,
porque as terapias alternativas se manifestaram ineficazes e existia franco
desconforto a nível sintomático, sobretudo da dor, alguma falta de ar e
cansaço agravado.
Apesar de estar informada da
evolução da doença e da gravidade
do prognóstico, apresentava expectativas irrealistas quanto à evolução
da mesma. Pediu ajuda para melhorar a qualidade de vida, mas referia
não estar preparada para morrer já.
Estava claramente a tentar perceber
que tipo de apoio, a vários níveis,
RITA RESSANO GARCIA NA PRIMEIRA PESSOA
São da reportagem televisiva, já exibida
na TVI, algumas das palavras mais
significativas da Rita.
Na primeira pessoa.
“A minha família é extraordinária,
acompanha-me, mas porventura precisa
de apoio, pois são raivas, são zangas,
são frustrações…” (Rita)
“Caiu assim, estou com um cancro!
Disseram-me que tinha pouco tempo
de vida, semanas… Vinha preparada para
me entregar; tive medo da morte, pânico,
queria era viver…” (Rita)
“O meu marido está a sobreviver que nem
um náufrago… tem sido a minha bengala,
o meu apoio diário. Sem ele, nada disto
era possível…” (Rita)
“Preferia 1000 vezes terem-me dito
que iria morrer do que mentirem-me.” (Rita)
“O mais importante é não ter dor física,
e eles, aqui, têm um carinho especial que
é acabar com a dor espiritual…, tem uma
parte fantástica, o carinho, a dedicação,
eles não se esquecem de nós…” (Rita)
“Aqui, não nos obrigam a nada. Se quero
ir para casa, vou para casa, mas naqueles
momentos em que nos sentimos mais
abandonados, com mais sofrimento, eles
dão-nos aquele abraço, que é o que nós
precisamos. Foi assim que aqui entrei.
A precisar desesperadamente
de um abraço…” (Rita)
“Para mim, a eutanásia está fora de questão.
Felizmente hoje, aqui, posso não sofrer,
tiram-me a dor…” (Rita)
Cristóvão Andersen Leitão (marido da Rita):
“É muito doloroso… as pessoas, à volta,
estão todas à espera da morte…
Não sei se é melhor chegar a casa
e receber a notícia de que a mulher
ou a filha morreram num desastre
de automóvel se receber a notícia
de que se está com metástases
– é o primeiro processo – e que
depois alguma coisa vai acontecer…
O luto começa em vida.”
“A minha mãe diz-me: a mãe é que vê uma
filha a morrer primeiro. E diz-me: quem
me dera estar eu a partir…” (Rita)
Emília Ressano Garcia (mãe da Rita):
“Tenho um profundo orgulho na Rita.
Ela surpreende-me permanentemente
com a sua capacidade de lutar,
com a sua boa disposição, com as suas
decisões…”
“Os meus irmãos estão cá e o que
me interessa é que estejam. Já não
me interessam grandes conversas,
interessa-me que estejam cá, apetece-me
estar, apetece-me saborear…” (Rita)
Ana Ressano Garcia (irmã da Rita):
“É uma pessoa maravilhosa, com quem
cresci, e sobretudo ultimamente tem-me
ajudado a crescer e a ver que, de facto, vale
a pena viver, mesmo com a doença dela, vale
a pena viver com dignidade, com força, prá
frente. A Rita é uma pessoa muito genuína,
maravilhosa…”
Frederico Ressano Garcia (irmão da Rita):
“É um misto de saudades, mas ao mesmo
tempo de ver que já não dava mais. A Rita
estava no limite das forças e sabíamos que
para ela tinha chegado a hora.”
Ana Ressano Garcia: “A Rita adora o mar, o
mar é a cara dela…”
Emília Ressano Garcia: “A Rita irradia
alegria, boa disposição, riso, leveza…”
“Aprendi que a vida é um dom, é a coisa mais
maravilhosa que existe”. (Rita)
“Não gosto de dizer morrer, prefiro dizer
partir. Vou partir...” (Rita)
Primavera 2008
iess 57
exemplos de vida
ram iniciados novos tratamentos, com
outro tipo de medicamentos, para ajudar
a controlar os sintomas. A família recebeu também apoio da equipa, tendo-se
realizado várias conferências familiares
com vista a esclarecimento de dúvidas
e a promover a adaptação à situação de
deterioração física da Rita.
Apesar do razoável controlo sintomático, a doente mantinha elevado
nível de dependência de terceiros, estava ciente da proximidade da morte e
queria ir passar os últimos tempos de
vida a casa dos pais.
Regressou ao domicílio com apoio
e supervisão da equipa e o apoio de um
médico local. Esteve em casa durante
cerca de 75 dias, mantendo uma vida
activa (pintava, escrevia, saía com os
amigos, ia às compras e à praia e jogava
golfe com o marido).
Em Junho registou-se internamento
de urgência na unidade por ocorrência
de uma crise de sintomas mais intensa
relacionada com o avançar da doença.
Nessa altura, Rita dizia-se então já muito cansada de “esticar a corda”, não
pretendia voltar a casa, ela e a família
referiram frequentemente sentirem-se em casa na unidade, uma vez que a
equipa fazia já parte da história da família. Faleceu no dia 2 de Julho. Depois
da sua morte, a família recebeu ainda
apoio no luto por parte da equipa.
Rita com os enteados
e sobrinhos
A RAZÃO DOS CUIDADOS PALIATIVOS
58
especialidades, podem oferecer-se ao longo de semanas, meses
ou anos, e não devem ser deixados apenas para uma fase tardia da
doença, quando o doente está moribundo.
Aqui ficam algumas reflexões sobre o caso da Rita....
O que são os cuidados paliativos?
São uma intervenção técnica activa na globalidade do sofrimento
das pessoas com doença grave e/ou incurável e avançada, seja
ela oncológica ou não. Essa intervenção tem de ser exemplar a
nível do controlo sintomático, mas também a nível do sofrimento
existencial, da utilização de estratégias promotoras da dignidade
e no apoio à família. São cuidados interdisciplinares que têm
por base um plano de cuidados comum e correspondem a um
investimento na promoção da qualidade de vida, no respeito
pela autonomia do doente e no estabelecimento de uma
aliança terapêutica. Não recorrem a medidas terapêuticas
desproporcionadas e fúteis e não encurtam nem prolongam
a vida. Podem e devem coexistir com a intervenção de outras
Onde se praticam cuidados paliativos?
Os cuidados paliativos constituem essencialmente uma prática
diferenciada, em equipa, que depende muito mais de uma
formação especializada de vários grupos profissionais e da
disponibilidade de fármacos específicos do que da existência
de qualquer estrutura física. Podem, por isso, ser prestados
em internamento ou no domicílio, sendo possível acompanhar
o doente também em consulta externa. O internamento estará
indicado em crises major de descontrolo sintomático, agudização
do sofrimento existencial e/ou exaustão dos cuidadores.
Maria Aparício (enfermeira), Susana Alves (enfermeira), Isabel Galriça
Neto (médica e coordenadora da Unidade de Cuidados Continuados e
Paliativos), Carlos Rodrigues (enfermeiro), Cristina Rodrigues (psicóloga)
e Magda Periquito (enfermeira).
Porquê cuidados paliativos no Hospital da Luz?
Nos hospitais mais modernos de vários países avançados, a
existência de serviços de cuidados paliativos, nas suas diversas
vertentes, constitui hoje uma prática corrente e um barómetro da
qualidade assistencial. Este facto revela também a preocupação
da Espírito Santo Saúde com a excelência de cuidados, não apenas
a nível curativo mas também aos que não se podem curar e/ou
têm situações de marcado sofrimento existencial associado à
doença. Apesar de termos apenas cerca de um ano de existência,
temos já mais de 100 doentes paliativos seguidos. Tem sido um
privilégio trabalhar com os colegas da equipa e de diferentes áreas
do Hospital, que vão – para citar alguns – desde a neurologia à
medicina geral e familiar, à oncologia, à medicina interna, à cirurgia,
à urologia, à radiologia, à medicina nuclear e à anatomia patológica.
A todos agradecemos os ensinamentos e o que fizeram para
contribuir para a qualidade de vida dos nossos doentes.
iess
Primavera 2008
histórias da medicina
Cid, o inovador
A escola portuguesa de angiologia e de cirurgia vascular deve
a médicos que tiveram a coragem de arriscar e inovar, pioneiros
como Egas Moniz, Reynaldo dos Santos e João Cid dos Santos
GERMANO DO CARMO
TERÃO existido momentos que, líquidos de contraste, a tolerância dos cimento da anátomo-fisiopatologia
sabemos agora, foram determinantes
da nossa existência, momentos que
gostaríamos de ter vivido, partilhado.
Quem, como eu, apenas ouve, empenhadamente, os relatos desses tempos,
retém somente um prazer nostálgico
dessa vivência imaginária. Um cirurgião vascular português, com a minha
idade, não pode deixar de sentir todas
essas sensações.
Vem esta introdução a propósito
da comemoração do centenário do
nascimento do Professor João Cid dos
Santos, que terá sido, juntamente com
Egas Moniz e Reynaldo dos Santos, um
dos pioneiros da angiologia e cirurgia
vascular moderna.
Egas Moniz, nascido em 1874, licenciado em Medicina em 1900 pela
Universidade de Coimbra e doutorado
em 1901, embora nomeado professor de
Neurologia da Universidade de Lisboa
em 1911, só aos 50 anos iniciou a sua
aventura na investigação. Em Junho de
1927, depois de um plano de estudo
bem desenhado, no qual investigou os
tecidos a estes (através da injecção em
animais), as técnicas de injecção e a
definição da anatomia vascular normal
(efectuando angiografias em cadáveres),
conseguiu realizar a primeira arteriografia cerebral, fazendo o diagnóstico
de um tumor da glândula pituitária.
Nos sete anos seguintes fez mais
de 1000 arteriografias, tendo contribuído indelevelmente para o conhe-
da circulação cerebral, diagnóstico
topográfico dos tumores cerebrais e
de lesões e malformações vasculares
diversas.
Recebeu, como todos sabemos, o
Prémio Nobel da Medicina em 1949,
não por esta enorme descoberta mas
pelo tratamento cirúrgico de algumas
doenças psiquiátricas através da leucotomia pré-frontal.
AVANÇO EXTRAORDINÁRIO
Professor
Reynaldo
dos Santos
Também Reynaldo dos Santos nasceu
em 1874, licenciando-se em Medicina
pela Universidade de Lisboa em 1903,
e foi designado professor de Cirurgia e
Urologia em 1907.
Filho de médico, teve um percurso insólito, pois no ano seguinte à
sua formatura viajou para Paris, onde
encontrou Theodore Tuffier, que terá
sido um marco na sua formação e
postura e, posteriormente, contrariamente ao espírito da época quando os
americanos vinham à Europa apreender os conhecimentos mais recentes,
Angiologista e cirurgião vascular do Hospital da Luz.
Primavera 2008
iess 59
João Cid dos
Santos, em 1935,
em Estrasburgo,
com outros
prestigiados
médicos
Aortografia, exame efectuado pela primeira
vez pelo Prof. Reynaldo dos Santos
Reynaldo dos Santos deslocou-se aos
EUA, como que prevendo o início
da montagem da medicina moderna.
Aí relacionou-se com a comunidade
médica e aproximou-se de variadíssimas personalidades, entre as quais
se contam Carrel e Cushing.
Regressado a Lisboa, dedicou-se
com distinção à cirurgia, e, pelo que
consta, a sua vibração impulsionava
todos em seu redor. Paralelamente,
frequentava círculos intelectuais,
onde convivia com personalidades
como Aquilino Ribeiro, Almada Negreiros, Afonso Lopes Vieira, Eugénio de Castro, Jaime Cortesão, Raul
Brandão, Raul Lino e Viana da Mota,
entre outros.
Após a Guerra Mundial de 191460
iess
Primavera 2008
-1918, período em que esteve mobilizado em França, Reynaldo dos
Santos empenhou-se na enorme revolução que se esboçava na cirurgia.
Eram os primórdios da cirurgia que
corrige, que recupera, os primeiros
passos ténues da cirurgia da dor e da
cirurgia vascular.
Em 1928, estimulado pelo impulso dado pelos estudos realizados por
Egas Moniz e percebendo as suas potencialidades, que não se limitavam
à circulação encefálica, realizou a
primeira arteriografia dos membros,
e imediatamente a seguir, num gesto
ousado, pois a aorta era considerada até então intocável, a primeira
aortografia translombar. Um avanço
extraordinário!
A partir desse momento, toda a
circulação arterial podia ser visualizada, uma série de patologias compreendidas e estratégias cirúrgicas de
João Cid dos Santos
reconstrução desenhadas. Em 1937
foi condecorado por Rudolph Matas
com a Violet Heart Fund Medal, por
ter sido “[…] o cirurgião que mais
contribuiu para o avanço da cirurgia
vascular […]”.
histórias da medicina
ARRISCAR E GANHAR
João Cid dos Santos, filho de Reynaldo, nasceu em Lisboa em 1907, tendo
crescido num ambiente de intelectuais, amigos do seu pai, que nesse período dominavam os seus campos de
acção.
Licenciou-se em Medicina na Universidade de Lisboa, em 1933, e dois
anos depois ruma a Estrasburgo, por
convite de René Leriche, amigo do pai
desde os tempos da I Guerra Mundial.
Leriche – que descreveu a síndrome
de impotência sexual, claudicação glútea e ausência de pulso nos membros
inferiores (doença arterial oclusiva
aorto-ilíaca) e foi o primeiro a conceber a simpaticectomia lombar como
uma possibilidade para incrementar
o fluxo nas artérias dos membros em
quadros de isquemia crónica – era uma
das grandes referências da cirurgia
vascular mundial, como professor e
cirurgião.
Em Estrasburgo, Cid dos Santos
conviveu com a nata dos seus pares,
nomeadamente Jean Kulin (primeiro
bypass com enxerto venoso), Fontaine (classificação dos quadros de
A endarteriectomia,
técnica inventada
em 1946 por João
Cid dos Santos, difundiu-se pelo mundo e continua
a ser o procedimento
de eleição quando
existem lesões obstrutivas
ou oclusões segmentares
nas artérias
isquemia crónica), Arnulf, Jung e
Michael E. DeBakey, este o artífice
maior da cirurgia vascular actual,
que concebeu e realizou, além de
instrumentos cirúrgicos e próteses
sintéticas, um número indeterminável de procedimentos e técnicas de
cirurgia arterial reconstrutiva.
Em 1944, Cid dos Santos apresenta a tese de doutoramento intitulada “Patologia geral da isquemia dos
membros”, sendo nomeado professor
de Cirurgia na Universidade de Lisboa em 1949.
Na sequência dos trabalhos de
Egas Moniz e de seu pai, Cid dos
Santos expandiu as técnicas angiográficas, aplicando-as pela primeira
vez às veias dos membros inferiores.
Realizou a primeira flebografia em
1933 e nos 14 anos seguintes efectuou mais de 12.000 exames, descrevendo cerca de 80 técnicas distintas,
contribuindo decisivamente para o
conhecimento da anatomia, fisiologia
e patologia da circulação venosa dos
membros inferiores.
Em 1946 desafiou os conceitos estabelecidos e aceites por toda a comunidade cirúrgica, cometendo o ‘sacrilégio’
de remover um trombo antigo e a placa
de ateroma com a íntima da artéria, de
forma a conseguir a sua desobstrução,
deixando exposta a camada média,
muscular, do vaso. Era presumido que
esta exposição levaria inevitavelmente
à retrombose da artéria. Cid dos Santos usufruiu da experiência clínica de
Gordon Murray com a utilização da
heparina, medicamento anticoagulante
Primavera 2008
iess 61
histórias da medicina
Para lá do trabalho notável na investigação e criação
médico-científica, João Cid dos Santos era um homem
de cultura. Iniciava uma aula sobre tumores renais
e acabava a dissertar sobre Gil Vicente
descoberto anos antes por Jay McClean,
presumindo que esta impediria a formação de trombo local. Estava certo!
A endarteriectomia, como é denominada a técnica, difundiu-se pelo mundo, passou e continua a ser
o procedimento de eleição quando
existem lesões obstrutivas ou oclusivas segmentares nas artérias. Um
dos exemplos óbvios é a endarte-
riectomia da bifurcação carotídea,
técnica utilizada universalmente
quando existem lesões estenosantes
significativas da origem da artéria
carótida interna.
VISÃO HUMANISTA
Para lá do trabalho notável na investigação e criação médico-científica,
João Cid dos Santos era um homem
de cultura. Alguém com tamanho
fascínio que, como me referiu o meu
pai, que foi seu aluno, iniciava uma
aula sobre tumores renais e acabava
a dissertar sobre Gil Vicente, o teatro
vicentino e a custódia de Belém.
Era um extraordinário conferencista, que emprestava uma visão humanista e filosófica aos temas que
abordava. Basta olharmos para os
títulos de algumas das suas palestras
para termos essa percepção: “Saber
perder tempo”; “Garfos, facas e colheres ou a adaptação do espírito à
investigação clínica”; “As oliveiras
de Sócrates e os plátanos de Hipócra-
A MINHA RELAÇÃO COM JOÃO CID DOS SANTOS — DEPOIMENTO DE UM DISCÍPULO
AMÉRICO DINIS DA GAMA
O PROFESSOR AMÉRICO DINIS DA GAMA
foi o mais directo e brilhante discípulo
de João Cid dos Santos. Para a Espírito
Santo Saúde e, em particular, para
o Hospital da Luz, é motivo de grande
orgulho contar com a colaboração de um
grande senhor da medicina portuguesa.
É, por isso, um enorme privilégio apresentar
o depoimento do Professor
Dinis da Gama evocando o seu mestre,
João Cid dos Santos.
João Cid dos Santos foi uma figura
incontornável da história da medicina
do século XX pela projecção que tiveram
as suas duas grandes descobertas:
a flebografia e a endarteriectomia.
Granjeou fama e reconhecimento nacional
e internacional e é efectivamente um dos
founding fathers da nossa especialidade. Já
tudo ou quase tudo foi dito e escrito a seu
respeito, muito particularmente no decurso
das recentes cerimónias de celebração
do centenário do seu nascimento.
Para mim, que tive o privilégio de usufruir
do seu convívio e amizade e de ele me
ter aberto as portas do Novo Mundo e a
possibilidade de trabalhar com as maiores
figuras da cirurgia cardiovascular do século
XX, o que me transformou radicalmente,
como médico e como homem, estou-lhe
eternamente grato e nunca o esquecerei,
tal como não esqueço a sua personalidade,
a riqueza da sua cultura baseada no estudo
dos autores clássicos, o melómano e pianista
exímio, o conferencista emérito e o seu
acutilante e irreverente sentido de humor.
De todos os atributos da sua individualidade,
aquele que me tem acompanhado e inspirado
ao longo da vida e que mais prezo é a
independência de espírito, que demonstrava
à saciedade e que cultivava, à semelhança
do que sucedera com seu pai, Reynaldo dos
Santos, outra figura distinta da medicina
do século XX. João Cid dos Santos foi notável
na medicina, mas estou convicto de que
ele seria igualmente uma personalidade
eminente em qualquer outro campo de
actividade que tivesse escolhido, fosse a
literatura, a música, a poesia ou as artes.
Conheci o Prof. Cid dos Santos em 1966,
quando fui seu aluno no 6.º ano da Faculdade
de Medicina da Universidade de Lisboa, onde
leccionava a disciplina de Clínica Cirúrgica.
No exame final, fui classificado com 19
valores, o que consagrava, a meu ver, uma
paixão que desde sempre dedicava à cirurgia
e que o Professor, homem inteligente
e sensível, de imediato reconheceu. A tese
de licenciatura, uma componente do plano
curricular então vigente, foi realizada, por sua
sugestão, no seu serviço e intitulava-se
“O patch na cirurgia arterial directa”
e permitiu-me estabelecer um primeiro
contacto com aquela que viria a ser a devoção
da minha vida profissional: a cirurgia vascular.
Foi classificada com 20 valores, uma nota
que, segundo ele, atribuía pela primeira vez.
Em Abril de 1967, quando me preparava
para concorrer às provas de admissão ao
internato dos Hospitais Civis de Lisboa (HCL),
fui surpreendido com um honroso convite
do Prof. João (como lhe chamávamos) para
Cirurgião Vascular do Hospital da Luz, Prof. Catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa
62
iess
Primavera 2008
histórias da medicina
tes”; “A Medicina: última profissão
romântica do mundo”…
Refugiava-se com frequência na
música, no seu piano, que tocava
diariamente por alguns minutos e
tinha, facto incontornável, grandes
dotes culinários…
Conta-se que frequentemente, após
um dia de trabalho, quando se deslocava ao Belcanto, restaurante situado
junto ao Teatro de S. Carlos, ia para a
cozinha e confeccionava o seu próprio
jantar. Ainda hoje, no cardápio desse
restaurante existe um prato designado
por “Ovos mexidos à Professor”, uma
reminiscência dessa sua prática.
Por último, soube ter a clarividência
de proporcionar ao seu último discípulo,
mais distinto, o Professor Dinis da Gama,
o contacto e a formação com DeBakey,
Crawford e Morris, expoentes da cirurgia
vascular, de forma que a Escola de Angiologia e Cirurgia Vascular Portuguesa
pudesse recriar-se e evoluir.
integrar o seu grupo de colaboradores, o que
me encheu de alegria e me levou a desistir
de enveredar por uma carreira nos HCL.
Optei pelo internato do Hospital de Santa
Maria e repartia essa actividade com a de
assistente do Prof. João, ficando responsável
pela revisão da sua casuística cirúrgica, tendo
em vista a edição de um livro sobre a técnica
da endarteriectomia, que havia criado e que
infelizmente e para seu desgosto jamais
se viria a concretizar.
De Outubro de 1967 a Abril de 1971,
a prestação do serviço militar obrigatório
em Moçambique, vivida nas mais duras
e difíceis condições que se possa conceber,
interrompeu o nosso relacionamento
próximo. Regressado a Portugal, retomei
as minhas funções como interno do Hospital
de Santa Maria e assistente do Professor,
nesta circunstância,como bolseiro
do Instituto de Alta Cultura, no Centro
de Angiologia Reynaldo dos Santos,
que ele fundara e dirigia.
Em finais de 1973 exprimi ao Professor
o desejo de realizar um estágio em Inglaterra,
para aperfeiçoamento técnico e também para
a realização de uma tese de doutoramento.
O Professor acolheu bem a ideia, mas
sugeriu-me, em contrapartida, a hipótese
de o realizar em Houston, sob a direcção
de Michael Ellis DeBakey, seu amigo
de longa data. O Professor escreveu uma
carta a DeBakey, que de imediato respondeu
prontificando-se a receber-me no seu
serviço, sendo obrigatório, porém, realizar
previamente o exame do Educational Council
for Foreign Medical Graduates (ECFMG),
sem o qual não poderia trabalhar em hospitais
norte-americanos.
Aprovado com distinção, rumei a Houston,
acompanhado da minha mulher e de duas
filhas, de dois e três anos, para a que seria
uma experiência que me marcou decisiva
e profundamente para o resto da vida.
Em Houston mantive correspondência regular
com o Professor. Em Junho de 1975 ele foi
distinguido e objecto de uma homenagem
pela Society for Vascular Surgery, feita
pelo seu presidente, Andrew Dale, que
o consagrou como um dos grandes pioneiros
da cirurgia vascular contemporânea.
Escreveu-me, nessa altura, uma carta,
que guardo religiosamente, onde, entre várias
reflexões, dizia: “[…] escrevi hoje ao Dale
a agradecer-lhe a sua Presidential Address.
Creio que é a primeira vez, e já não é sem
tempo, que a endarteriectomia é colocada
no seu lugar por um estranho […)”
Quando regressei definitivamente
a Portugal, em Setembro de 1975,
grandes e graves perturbações sociais
atingiam a sociedade portuguesa
e o Professor sofria profundamente
com o clima de insubordinação e desrespeito
que atingia também a vida hospitalar
e universitária.
Na noite de 3 de Novembro de 1975,
o Professor sofreu um brutal enfarte
do miocárdio. Internado nos Cuidados
Intensivos de Cardiologia (UTIC) do Hospital
de Santa Maria, fui chamado para lhe colocar
um cateter na veia subclávia. Ao iniciar
o procedimento, abriu os olhos, sorriu
e disse-me: “Olá, menino! (era a forma
carinhosa como me tratava…) Desta vez
é a sério!...” Foram as últimas palavras que
proferiu. Morreria na madrugada seguinte.
Nos anos que se seguiram comecei
a defrontar-me com o mundo de “portas
fechadas” ao qual o Professor aludiu
um dia, ‘portas’ que tive que ‘arrombar’
com a força do meu trabalho, da minha
tenacidade e das minhas convicções
– e também com muito sofrimento
e algumas alegrias. Espero não ter
defraudado as expectativas do Professor
e as esperanças que em mim depositou e
asseguro-lhe que o futuro e a continuidade
da sua escola estão garantidos pelos
25 cirurgiões vasculares que me orgulho
de ter formado, no decurso das últimas
décadas, entre os quais se destaca,
naturalmente, Germano do Carmo. Termino
esta evocação sobre a minha relação com
o meu mestre e, inspirado no seu percurso
de vida e do que me foi dado conhecer,
evoco a citação de William Shakespeare
transcrita na sua notável peça Twelveth
Night: “... Some people are born great […]”
João Cid dos Santos
e Dinis da Gama,
em Barcelona, em 1973
Primavera 2008
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• 18 de Maio é o Dia
Internacional dos Museus.
• Em Junho celebram-se
os Santos Populares.
• O dia 1 de Junho é o Dia
Internacional da Criança.
• A 5 de Junho celebra-se o
Dia Mundial do Ambiente.
• A 8 de Junho comemora-se o Dia Mundial dos
Oceanos
• O Dia de Portugal é a
10 de Junho.
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