o papel do papel

Transcrição

o papel do papel
FOLHA DE S.PAULO MAIO 2012
PAPEL
ARTE POR ADRIANA KOMURA
53
“Dead Angels”
52
Obra do dinamarquês Peter
Callesen, cujas meticulosas
esculturas funcionam como
uma espécie de positivo
dos negativos recortados
GRÉGOIRE ALEXANDRE
França
O PAPEL DO PAPEL
SERAFINA APRESENTA 12 ARTISTAS DE VÁRIAS PARTES DO MUNDO QUE
TRANSFORMAM FINAS FOLHAS EM ESTRUTURAS COMPLEXAS E FASCINANTES
“Na minha fotografia, o principal é
a escala das coisas. E o papel, em
grande escala, não reage da mesma
forma com que reage quando é pequeno (no origami, por exemplo). Por
isso, estou interessado no potencial
de diversos tipos de papel para poder manipular e fotografar.”
PAPEL
ARTE
FOLHA DE S.PAULO MAIO 2012
54
55
ANNE TEN DONKELAAR
CLAIRE BREWSTER
“Sou fascinada pela natureza e por quão frágeis e minúsculas as coisas podem ser. Ao usar
esses objetos que encontro, um pedaço de planta ou um inseto, sou muito cuidadosa para que
não se desfaçam no processo. Quando comecei a mexer com papel, demorei até encontrar o
melhor jeito de preservá-lo sem que perdesse as cores e a estabilidade dentro do quadro.”
Inglaterra
RICHARD SWEENEY
BRIAN DETTMER
Inglaterra
EUA
“Gosto de descobrir como as coisas são
construídas, sejam elas prédios, pontes,
flores ou árvores –tudo tem um arranjo
particular de materiais e uma geometria única. Tento extrair essa essência
estrutural e expressá-la. Com o papel,
o desafio é ver o que funciona quando
você multiplica as dobras, transforma
em curvas, cria novos componentes e
junta tudo.”
“Tento usar como inspiração objetos
não artísticos para manter a perspectiva fresca e as ideias originais. Mas
acho que o dadaísmo e o movimento de
colagem dos anos 1930 aos anos 1960
têm grande influência no meu trabalho.
Quando começo a esculpir, não tenho
ideia do que vai emergir a seguir. Trabalhar com papel exige muito foco, tempo
e repetição.”
A escritora em seu apartamento nos
Jardins, em SP
“Flower Construction #6”
“M.R.H.”, da série “Desmemórias”
“Wagnalls Wheel”
“I am serene”
“Sou apaixonada por papel. É um material que sempre amei manipular. Já
tentei outros, mas nunca gostei tanto
quanto do que produzo usando páginas de livros ou revistas. Faço bastante
pesquisa na internet para encontrar
histórias interessantes sobre pássaros
que possam servir de inspiração para
as peças que construo.”
“Icosahedron”
Holanda
LUCAS SIMÕES
Brasil
“No meu trabalho, a materialidade do suporte é importante. Esse processo é feito por meio
de experiências, como queimar, cortar, distorcer, borrar, diluir, o que pode destruir o objeto.
No papel, a dificuldade é controlar as áreas de queimadura quando uso fogo no processo.”
PAPEL
57
56
ALEXANDER KORZERROBINSON Alemanha
“Há uns cinco anos, comecei a fazer
construções de papel encaixotadas,
usando diversos materiais, livros entre
eles. Foi um passo para começar a
utilizar os livros como a própria caixa
e a recortar o seu conteúdo original.
Mas levou um ano de tentativas e
erros para que chegasse à técnica
de corte que aplico hoje. E que é o
resultado de muita experimentação.”
Da esq. para dir.: “Family Book”, “Childhood´s End” e “Day of the Dead”
Alemanha
“Comecei a trabalhar com
colagem de papel aos 17, quando
era grafiteiro. Gosto de usar esse
material porque é fácil de encontrar
em qualquer lugar e é muito barato,
em relação a outros usados em arte.
Isso permite que eu não me importe
caso resolva jogar tudo fora ou
deixar por aí, em qualquer lugar.”
Breve história do papel-arte
VALERIE SCAVONE especial para a Serafina
Dentre as várias possibilidades do uso do papel, o artesanato se
destaca pela sua trajetória intimamente ligada à difusão desse
material pelo mundo, começando alguns séculos após o primeiro
papel ser produzido.
Os primeiros registros do surgimento do papel vêm da China, do
ano 105. A arte de manusear a matéria-prima data do século 7,
depois de monges e budistas levarem o método da fabricação para
diversos países.
No século 8, as dobraduras (origamis) faziam parte das cerimônias
xintoístas, nas quais era proibido cortar ou colar as folhas, em
respeito absoluto aos espíritos que davam vida ao papel.
Com o passar dos séculos, as técnicas foram tomando um
formato menos religioso. Surgiu o kirigami, no qual corta-se o
papel a fim de dar a ele uma forma, resultando em uma folha
com partes vazadas. E seguiu-se com o kirikomiorigami, no qual
a cola podia ser utilizada.
No Japão, até o século 19, a dobradura era restrita aos adultos
devido ao alto custo do papel. Mas, na primeira metade do
século passado, o origami já começava a fazer parte do ensino
nas escolas japonesas.
Nos anos 1980, surgiu o termo criado pelo arquiteto e designer
japonês Masahiro Chatani: origami arquitetônico. A arte, que
combina elementos tradicionais do origami e do kirigami, consiste
na transformação de objetos inicialmente bidimensionais em tridimensionais, por meio da manipulação de cortes e dobras, dando a
sensação visual de “edificação” da figura.
A riqueza dos detalhes é tamanha que, além de obra de arte, a técnica passou a ser utilizada por arquitetos para produzir maquetes.
Atualmente, o artesanato de papel é conhecido e difundido no
mundo todo. São várias as artes que utilizam o material e seus
derivados como objeto de criação. Vide os exemplos destas páginas.
Valerie Scavone, do site IdeaFixa
CHRISSIE MACDONALD
Inglaterra
“Gosto do quão imediato é o trabalho
com papel e cartolina, sem necessidade de depender de nenhum outro
processo. Como uso isso há anos,
desenvolvi uma série de técnicas
pessoais, apesar de ser sempre interessante incorporar materiais com
os quais estou menos familiarizada,
como acrílico, metal e madeira, já que
eles ajudam a introduzir diferentes
desafios e resultados.”
Arte para o encarte do disco “Made of Bricks”, de Kate Nash. Foto John Short
“Disorder”
CLEMENS BEHR
FOLHA DE S.PAULO MAIO 2012
58
YULIA BRODSKAYA
Rússia
“Não quero usar nada além de papel (pelos menos, no futuro próximo) e fico muito animada quando
encontro uma folha interessante.
Pode ser boa em termos de textura, cor, espessura etc. Estou
sempre na batalha para encontrar
novos tipos de papel.”
“Na escola, comecei a misturar materiais, imprimindo, pintando, desenhando, colando, recortando, costurando. Isso me abriu uma nova
perspectiva, ao cortar pedacinhos,
adicionar ou subtrair partes. Sou
muito comprometida com o papel,
mas também uso material reciclado,
o que traz um sensação de desconhecido para as peças.”
“Oceanic Drift #3”
VAL BRITTON EUA

Documentos relacionados

Geometria com Dobraduras

Geometria com Dobraduras (LEM) da Faculdade de Ciências Exatas e Naturais (FANAT), e também em algumas escolas Públicas de Mossoró e regiões circunvizinhas. Para tanto, utilizou-se como recurso didático, a arte de dobrar p...

Leia mais

o origami arquitetônico em ambientes de aprendizagem

o origami arquitetônico em ambientes de aprendizagem (dobradura) e o kirigami (cortes de figuras). A expressão arquitetônico surgiu do emprego da técnica para representar elementos da arquitetura. Como a técnica permite explorar uma grande variedade ...

Leia mais