issue #5 | jun 2013 - Portugal Fashion MAG
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PT PORTUGAL FASHION MAG ISSUE #5 | JUN 2013 04 06 08 10 12 14 16 18 21 23 25 27 29 32 34 37 39 41 LUÍS ONOFRE MULHERES A CORES OS NOVOS PROJETOS DE FOB FARFETCH ATRAI GIGANTES O MENINO BONITO DA MODA HOMENS A CORES NICOLA FORMICHETTI NA SEGUNDA LINHA UM GUARDA-ROUPA DE FERRO CRIATIVIDADE ACIMA DE TUDO SOB O SIGNO DO 4 DIVERSIFICAR PARA GANHAR GHIBI PÕE OS PÉS LÁ FORA LISBOA DE PÉ NO CHINELO IMPETUS AUMENTA MOBILIDADE REGRESSO À CASA DE PARTIDA 25 ANOS DE MIGUEL VIEIRA PAULA BORGES APOSTA NO LUXO PORTUGALFASHIONMAG 43 45 47 50 52 54 56 59 62 64 66 68 70 72 75 77 79 81 MDS À VOLTA DO MUNDO A FORÇA DA UNIÃO DENIM REGRESSA ÀS ORIGENS DA DETERIORAÇÃO À CRIAÇÃO A CULTURA DO PUNK WOMEN’SECRET NO AMOREIRAS TROIKA DE CORES AQUECE VERÃO LARANJINHA O NEGÓCIO DA MODA FATOS DE BANHO INVERNO GLAMOUROSO ISABEL MARANT NA H&M O HOMEM DA FLORESTA O MUNDO SEGUNDO KARL JASON WU NA BOSS A VEZ DA UNIÃO O FETICHISMO NA MODA HOMEM PERDE O MEDO PORTUGALFASHIONMAG LUÍS ONOFRE ATRAVESSA ATLÂNTICO PORTUGAL FASHION MAG A América do Sul é o destino da próxima viagem do criador de calçado e acessórios, que pretende levar a sua marca epónima a países como o Chile e a Colômbia. Empenhado em crescer além-fronteiras, Luís Onofre tem procurado mercados alternativos para a sua marca própria, que, há muito, é conhecida em Portugal pela sua elegância. Mas face à situação atual do mercado interno, é para o estrangeiro que se voltam as baterias. «Felizmente temos a possibilidade de exportar e temos mercados alternativos», explica o criador. A nova investida de Luís Onofre passa, assim, pelo outro lado do Oceano Atlântico. «Vamos fazer uma viagem grande de prospeção de mercado, até já com umas marcações com alguns clientes, e vamos estar quase um mês e meio na América do ISSUE #5 | JUN 2013 Sul a batalhar», revela o criador de calçado e acessórios. Já em “avançado” estado está um projeto na Colômbia, em Bogotá e Medellín, «onde vamos praticamente fazer uma loja monomarca. Penso que provavelmente será ainda nesta estação de verão», anuncia. Um projeto em parceria, até porque, como reconhece Luís Onofre, «tento sempre ligar-me a parceiros que estejam vocacionados para o segmento comercial, porque o meu trabalho é criativo». E criatividade não falta na coleção, com 300 modelos, que o criador levará na bagagem para mostrar nestes novos mercados. Para o outono-inverno, Luís Onofre faz o elogio do preto, em vários tons que resultam da combinação de diferentes materiais – como camurça, boxcalf, croco e pelo. «O preto era um pouco o estado de espírito com que estava quando comecei. Depois as coisas foram-se dissipando, para cores mais suaves como o castanho, o mel, o bordeaux, o verde e terminamos com o pérola-branco», enumera. Em termos de modelos, Onofre explorou o tema da equitação. «As botas de montar são, sem dúvida, o must da coleção», afirma o criador, que desenhou ainda stilettos com salto «vertiginoso» e sapatos de salto raso. Já as carteiras, maioritariamente rígidas, crescem e atingem «dimensões inesperadas», combinando diversos tons e materiais. 5 MULHERES A CORES PORTUGAL FASHION MAG A estação pode ser fria, mas as cores que a vão pintar são quentes, de acordo com o WGSN. é transposto para o denim. As cores mais fortes, como o enxofre e o verde, ficam reservados aos detalhes. No vestuário casual paar o outonoinverno 2014/2015, os tons azuis ganham nova vida quando sobrepostos com o vermelho primário e o laranjatailandês. Os tons frios minerais são usados como base, e o cinza-azulado Já o vestuário formal pinta-se de tons mais escuros, com o ébano – o novo preto – a dominar a paleta de cores, juntamente com o azul-pavão e o carmesim. ISSUE #5 | JUN 2013 Para as ocasiões especiais, o azul, o vermelho escuro e os tons metálicos preenchem a paleta de cores do vestuário feminino, pontuados por tons mais claros, como o rosa e o laranja. As cores misturam-se em peças de vestuário que conjugam estampados, adornos e fortes brilhos. 7 OS NOVOS PROJETOS DE FOB PORTUGAL FASHION MAG Depois de ter ganho o prémio em 2002, Felipe Oliveira Baptista é agora o presidente do júri do prestigiante Festival d’Hyères, que se realiza no final do mês. Para o criador português, o regresso à cidade de Hyères é, sem dúvida, um dos momentos altos da sua carreira. «O Festival d’Hyères foi importante, simbolizou para mim o princípio. Acho que voltar ao festival este ano – e sou o primeiro ex-vencedor a presidir ao júri –simbolicamente também é importante», considera. Este não é, contudo, o único novo projeto para 2013 de Felipe Oliveira Baptista. «Estou também a preparar uma exposição em Lisboa, no Mude, no fim de outubro, que coincide com os 10 anos da marca»», anuncia,. No entanto, ressalva, «não é tanto uma ISSUE #5 | JUN 2013 retrospetiva, mas naturalmente vai-se falar dos 10 anos da marca». Criada em 2003, a marca Felipe Oliveira Baptista é direcionada para uma mulher que «procura algo de especial, de singular, e também qualidade, mas ao mesmo tempo que seja algo que ela possa usar e não que a use a ela», descreve. Atualmente é vendida um pouco por todo o mundo, da Europa, em países como França, Inglaterra, Espanha, Itália, à Ásia, EUA e Médio Oriente. Curiosamente, Portugal fica de fora deste mapa, pelo menos diretamente. «Tenho consumidoras cá e hoje em dia acho que um quarto dos nossos clientes tem serviço online, pelo que essas barreiras já são mais facilmente ultrapassáveis». No entanto, confessa, «entristece-me», embora acredite que seja «uma questão de tempo». A par com a sua coleção própria para o outono-inverno 2013/2014, que teve «uma reação bastante boa a nível mundial», Felipe Oliveira Baptista é ainda, desde 2010, o diretor criativo da Lacoste, onde tem vindo a somar adeptos estação após estação. «A receptividade à última coleção foi ótima, a crítica foi unânime e as vendas da linha do desfile em Nova Iorque subiram 100% em relação ao ano passado, o que é muito bom», revela. Quanto ao seu futuro na marca, «é um trabalho contratual. Estou agora a chegar ao fim do primeiro contrato e estamos a pensar na segunda fase», conclui. 9 FARFETCH ATRAI GIGANTES PORTUGAL FASHION MAG O negócio on-line de moda Farfetch, fundado pelo empresário português José Neves, continua a atrair as atenções internacionais. A gigante do mundo editorial Condé Nast International (que detém, entre outras, a revista Vogue) acaba de investir 20 milhões de dólares (cerca de 15,4 milhões de euros) na Farfetch, com os atuais investidores – a Advent Venture Partners, a Index Ventures e a e.ventures – a fazerem igualmente parte da angariação de fundos. Este novo investimento irá alimentar «a entrada em novos mercados, ao mesmo tempo que sustenta o crescimento nos mercados atuais», revela o fundador e CEO da Farfetch, José Neves. «O nosso objetivo de criar um franchise mundial na moda de designer on-line está vários passos mais próximo graças ao envolvimento excitante da Condé Nast», acrescenta Neves. ISSUE #5 | JUN 2013 O negócio atraiu a Condé Nast porque, como revela o diretor-executivo da empresa, Jonathan Newhouse, «a Farfetch tem uma posição única, ligando lojas em todo o mundo através do comércio eletrónico, para consumidores de moda sofisticados como os leitores das nossas revistas e utilizadores do website». A notícia do investimento surge na mesma altura em que a especialista em comércio eletrónico de moda está a selecionar o melhor conceito multimarca, com oito lojas atualmente a competir pelo título de “superloja” do ano, na qual os utilizadores do site poderão em breve votar. Um painel com oito celebridades da moda e do retalho fez a lista inicial, que contempla a loja parisiense de vestuário de homem Void, assim como a concept store Kostas Murkudis, em Berlim, fundada por Alexey Shumekyo e Gregory Delos, que oferece uma seleção de marcas como Yohji Yamamoto, Silent by Damir Doma, Alexandre Plokhov e The Viridi-Anne. A loja vencedora terá um corner gratuito na Farfetch.com durante um ano e os utilizadores do site que votarem habilitam-se a um vale de compras para a loja vencedora, assim como uma viagem à cidade onde a mesma se localiza. Com vendas estimadas em 129 milhões de dólares em 2012 (um aumento de 145% em comparação com 2011), a Farfetch, com apenas cinco anos de existência, tem atualmente mais de 150 mil clientes em 140 países e oferece mais de 82 mil produtos de 2.000 marcas de luxo e cerca de 250 lojas de moda independentes. 11 O MENINO BONITO DA MODA PORTUGAL FASHION MAG Com apenas 22 anos, João Melo Costa é, cada vez mais, um valor seguro da moda portuguesa, que depois da nomeação para os Fashion Awards tem os olhos postos em Paris. Na última edição dos Fashion Awards, no final do ano passado, João Melo Costa foi surpreendido com uma nomeação para a categoria de Novo Talento. «A minha primeira coleção sem ser concurso foi logo selecionada. Não estava à espera», admite o jovem criador, que considera que «foi bom para as pessoas começarem a ouvir o meu nome e prestarem mais atenção». No último ano, o criador tem crescido na moda, embora não sem pressões. «Foi um ano para me libertar de algumas prisões criativas que sentia que me podiam começar a dominar. As expectativas das pessoas e o facto de apostar no Bloom – comecei a pensar se teria de adaptar o trabalho a um registo que parecia ser mais do Bloom. Estava a começar e não sabia muito bem o que estava a fazer. Foi um ISSUE #5 | JUN 2013 ano para me descobrir, para perceber aquilo que eu gosto de fazer», explica. O resultado pode ser visto na passerelle, com uma coleção pessoal sobre o luto. «As minhas coleções têm sempre muito a ver comigo, com a minha vida, e a minha vida para já passa-se em Portugal. Gosto imenso do mar, das redes velhas do mar, as pessoas a trabalhar nas redes», aponta. As redes fazem, por isso, parte dos coordenados, que contam uma história que começa com otimismo e depois acaba com o desaparecimento e morte no mar – uma realidade bem conhecida dos portugueses. sublinha. Por isso, Paris é um dos objetivos. «Gostava imenso que o Portugal Fashion me levasse a Paris para a próxima coleção, acho que seria bom para todos. Sou jovem, tenho uma imagem fresca, nova e que vai mostrar lá fora que a moda portuguesa tem futuro», conclui João Melo Costa. O ano trouxe ainda a parte comercial, com a loja do Bloom no Centro Comercial Península, no Porto. «Vendi duas peças criadas especialmente para o público do Península», revela. Quanto ao futuro, a ambição do jovem criador passa pela internacionalização. «Acho que o meu trabalho tem qualidade para se validar lá fora», 13 HOMENS A CORES PORTUGAL FASHION MAG Os cinzentos e os azuis invadem a paleta de cores da moda masculina para o outono-inverno 2014/2015. Nem tudo é frio, contudo, nas previsões do gabinete de tendências WGSN, que aponta ainda os tons ricos e fortes para aquecer a estação fria do próximo ano. Na moda formal, mais clássica, os tons ajustam-se à função, com o cinzaazulado e o verde-asteroide a terem a primazia. Mas o verde-amarelado do ISSUE #5 | JUN 2013 chartreuse é a cor-chave, sobretudo quando usado em sobreposição com o camel-escuro e o vermelho-vinho. O lápis-lazúli e o vermelho acrescentam emoção às cores dos detalhes, onde competem ainda o ferrugem e o verdeazeitona, assim como o cinzento lunar. intermédios de cinza-azulado. Os tons mais claros de chartreuse e vermelhocórdova unem-se ao laranja-tijolo, azul-ciano e azul-gelo para colorir os detalhes. No vestuário casual, são os tons quentes e escuros que dominam, do ébano ao uva-passa, passando pelo índigo-escuro, o verde-azeitona e o cinzento mineral. O ferrugem e o jade destacam-se juntamente com os tons 15 NICOLA FORMICHETTI NA DIESEL PORTUGAL FASHION MAG A Diesel contratou o jovem criador italo-japonês Nicola Formichetti para revolucionar a marca italiana de jeanswear. Apartirdo outono-inverno 2013/2014, Formichetti será responsável pela direção de todas as atividades criativas da linha principal da Diesel, incluindo as áreas de produto, comunicação e design de interior. «Finalmente conheci alguém que é tão louco como eu», afirma Renzo Rosso, que controla a marca. «O Nicola partilha da mesma visão e considero extremamente estimulante trabalhar ISSUE #5 | JUN 2013 com ele: dois planetas criativos que colidem para gerar ideias frescas e loucas. Com a sua participação, quero quebrar mais regras e trazer a verdadeira marca Diesel a uma nova geração», acrescentou. Também Nicola Formichetti, que saiu no início do mês da Thierry Mugler, onde esteve dois anos, considera que «a Diesel e eu somos feitos um bocado dos mesmos ideais. Sem regras. Tratase de ser poderoso, trata-se de ser livre. É uma revolução positiva. Nós vamos reiniciar. Vamos refrescar. Esse é o nosso primeiro projeto: estamos a rasgar tudo para depois construirmos algo maior. E quero que jovens criativos de todo o mundo façam parte desse processo». Um processo que o criador tinha já implementado na Mugler. Sob a direção de Formichetti, as coleções de pronto-a-vestir da Mugler ganharam uma nova vida e chegaram a novos públicos, sendo agora vendidas em lojas como a Opening Cerimony e a Lane Crawford. O criador ítalo-japonês também introduziu com sucesso uma linha de carteiras na Mugler e, mais recentemente, lançou a sua marca própria, Nicopanda, que está a ser vendida um pouco por todo o mundo. 17 DESIGNERS DE PRIMEIRA NA SEGUNDA LINHA PORTUGAL FASHION MAG Há cada vez mais criadores de moda a conquistar, com uma segunda marca, o promissor mercado das linhas ditas “contemporâneas”, que oferecem glamour a preços mais comedidos. Aproveitando este estado de graça, Zac Posen e as criadoras da Marchesa acabam de anunciar o lançamento para o outono de uma segunda linha. «Quero oferecer as minhas criações a um público mais vasto sem comprometer a conceção, os materiais e a abordagem estilística», explica Posen, celebrizado pelos seus sumptuosos vestidos de noite. Depois de ter lançado no final de 2009 a Z Spoke, uma linha mais acessível para um público jovem, com sucesso incerto, Posen resvalou para «o sector da criação contemporânea» ISSUE #5 | JUN 2013 que mantém, segundo ele, apesar dos preços mais convidativos, «a sensibilidade da criação “couture”». Como Marc Jacobs com a Marc by Marc Jacobs ou Donna Karan com a DKNY, Zac Posen ofereceu à sua marca bis um nome facilmente identificável, ZAC Zac Posen, utilizando a atratividade da linha de gama alta. A faixa de preços continua elevada, mesmo sem atingir os 10 mil euros do requintado vestido preto em organza assinada por Posen que a atriz January Jones envergou nos últimos Emmy Awards, variando entre 400 euros para um simples vestido e 1.300 euros para um vestido de noite. «É um pouco como conduzir um Toyota e um dia passar para um Lexus», o 19 PORTUGAL FASHION MAG topo de gama do construtor japonês, resume Hal Rubinstein, fundador da InStyle Magazine. Além do custo, o “contemporâneo” também oferece um guarda-roupa quotidiano mais vestível durante o dia para uma mulher moderna. «A nossa primeira linha é um pouco especial com os seus códigos fortes, o que provavelmente não é para todos», considera Giovanni Pungetti, que dirige a mítica anti-marca Martin Margiela e lançou na última semana de moda em Nova Iorque a urbana MM6. «Quando se alarga o alvo, é para chegar a mais pessoas (…) e também para fazer mais negócio», justifica. Também ISSUE #5 | JUN 2013 os pequenos designers exploram cada vez mais este mercado, enfatizando a qualidade e a originalidade para competir com os gigantes do pronto-a-vestir como a espanhola Zara ou a sueca H&M. «Criar um vestido por 400 euros, para nós, significa fazer algo de muito especial», advoga Tory Burch, popularizada pelo seu estilo que casa cortes clássicos com detalhes ousados. Igualmente na vanguarda desta área designada no passado como intermediária estão Rebecca Minkoff, Nanette Lepore, Tracy Reese ou ainda Jenna Lyons para a J Crew. Quase todas estas marcas têm a Primeiradama norte-americana, Michelle Obama, como cliente, o seu melhor argumento de marketing. 20 UM GUARDA-ROUPA DE FERRO PORTUGAL FASHION MAG Única mulher a comandar os destinos políticos do Reino Unido, Margaret Thatcher usou a moda para forjar a sua imagem num mundo dominado por homens. Admirada por uns, odiada por outros, Margaret Thatcher, que foi descrita, pelo ex-Presidente francês François Mitterrand como tendo «os lábios de Marilyn Monroe e os olhos de Calígula», criou um estilo que misturou vestir-se para o poder com feminilidade. A sua peça de referência era a famosa carteira que gerou medo nos corações de ministros, mas os fatos de saia em azul e com ombreiras, as pérolas e o seu cabelo tornaram-se icónicos. Não foi, por isso, uma surpresa ver Anya Hindmarch, a designer de acessórios de moda da qual Thatcher era cliente, na lista de convidados do ISSUE #5 | JUN 2013 funeral da Dama de Ferro na Catedral de São Paulo. Enquanto primeira mulher líder política no ocidente, Thatcher viu o seu visual mais escrutinado do que qualquer outro político antes dela. E as escolhas dela expressaram precisamente o ponto em que estava o feminismo nos anos 80, com as mulheres trabalhadoras a usarem sapatos de salto baixo e fatos clássicos que eram uma carapaça de proteção num mundo que era ainda muito masculino. Com o seu próprio estilo e pouco dada a piadas, Margaret Thatcher poderia ter ignorado os comentários sobre como se vestia, sobretudo os que faziam troça dos laços e da sempre presente carteira. Porém, uma vez comentou com a reputada jornalista de moda Suzy Menkes que ser eleita para a Lista Internacional dos Mais Bem Vestidos em 1988 – enquanto modelo com influência da «elegância clássica» – foi «um dos melhores momentos da minha vida». 22 CRIATIVIDADE ACIMA DE TUDO PORTUGAL FASHION MAG Face às dificuldades, a moda portuguesa está mais forte do que nunca, com a afirmação dos nomes consagrados e a emergência de novos talentos. Dos designers consagrados aos talentos emergentes, em busca de afirmação no mercado e notoriedade para as suas marcas, ousadia é a palavra que impera na moda portuguesa de hoje, que enfrenta as dificuldades da conjuntura com muita criatividade. novos produtos à busca por afirmação em novas geografias. E estão mais arrojados também comercialmente. Um pouco por todo o país têm aberto novas lojas, desde os recentes pontos de venda em Lisboa de Os Burgueses, Nuno Gama e Alexandra Moura, à segunda loja na Foz, no Porto, de Luís Buchinho. «É um período difícil mas é um período criativo. Temos de tirar partido destes maus tempos e dar a volta e é isso que os jovens criadores fazem muito bem», sustenta Miguel Flor, coordenador do Espaço Bloom do Portugal Fashion, a plataforma de jovens criadores que tem dado asas aos sonhos dos novos talentos. «O negócio está a correr bem, tanto a nível da loja como mesmo ao nível de vendas internacionais. A marca tem dado pulos e tem-se consolidado muito. Acho que estou com um público muito fiel, que está muito atento ao que eu estou a fazer e que quer estar perto da marca», revela Luís Buchinho, presente não só nas duas passerelles nacionais e em Paris (com o apoio do Portugal Fashion), mas também em feiras internacionais, como a Who’s Next. Os nomes consagrados estão igualmente a absorver esta mudança e têm “inundado” o mercado com projetos diferentes, desde o lançamento de O mercado internacional tem ainda aberto as suas portas através das apostas online, sobretudo por parte dos jovens criadores. «Os jovens criadores ISSUE #5 | JUN 2013 têm de ser mais empreendedores, olhar mais para aquilo que estão a construir, encontrar parceiros, as feiras, o showroom, o relações públicas ideal – se não têm dinheiro para isso, devem usar a web o mais possível para que o negócio possa fluir», considera Miguel Flor. E com nomes como Felipe Oliveira Baptista – que vende em mercados da Europa à Ásia, assim como no Médio Oriente e nos EUA –, Fátima Lopes, Luís Buchinho ou Miguel Vieira a liderar aquela que é, até agora, provavelmente a geração portuguesa mais bem sucedida no mundo da moda, o futuro tem de ser encarado, necessariamente, com otimismo. 24 SOB O SIGNO DO 4 PORTUGAL FASHION MAG estamos a trabalhar com mercados muito exigentes, com mercados que são muito rigorosos nos timings e, portanto, absorvem-nos muito no nosso dia a dia», revela. A parceria de Alexandra Moura com a Goldmud continua de pedra e cal e, à quarta coleção, dá provas de ter pés para andar. «As primeiras duas coleções foram experimentais para ambas as partes. Fomos consolidando as bases para esta parceria se firmar», sustenta Alexandra Moura, que tem ainda uma marca epónima de vestuário. A nova coleção da criadora para a marca de calçado, que foi apresentada no Portugal Fashion, partiu do número 4 e da forma geométrica do quadrado. «É quase o voltarmos às origens. A coleção tem uma carga quase que primitiva – as texturas de animal, crocodilo, os metais que já vêm da pré-história, os próprios saltos que foram trabalhados por nós e são completamente originais», destaca a criadora. À venda na sua loja própria – Alexandra Moura Mais – no Príncipe Real, em Lisboa, a linha de calçado ISSUE #5 | JUN 2013 Os mercados asiáticos são, atualmente, os principais adeptos das criações de Alexandra Moura, que tem um agente em Hong Kong e realizou os primeiros contactos comerciais no Japão. A Europa começa também, lentamente, a render-se ao estilo da criadora. «O cliente europeu é muito cuidadoso e demora muito tempo até se conquistar o comprador. Mas há uma procura, no sentido de quererem perceber a nova coleção, os materiais que usamos, quais são os preços», aponta. começa a calcorrear também os mercados internacionais, tal como tem vindo a acontecer com as suas coleções de vestuário. «Esta parte da internacionalização estános a ocupar muito tempo, porque Os mercados nórdicos – nomeadamente Dinamarca, Islândia e Suécia – serão a próxima prioridade. «Há uma identificação muito engraçada com a nossa estética. Portanto, acho que seria um mercado que, com certeza, iria corresponder também às nossas expectativas», conclui. 26 DIVERSIFICAR PARA GANHAR PORTUGAL FASHION MAG que se está a lançar igualmente nas vendas online. Transversal e universal, a moda vai além do vestuário, uma tendência que está a ser aproveitada pelos criadores nacionais. «Acho que também devia fazer algo associado à lingerie, porque sou tão feminina e gosto tanto de tecidos… Não digo que vá ser já, mas vou tentar assediá-la de alguma maneira, sem dúvida», refere. Miguel Vieira foi um dos pioneiros, tendo desde cedo apostado no design de calçado. Seguiu-se-lhe Fátima Lopes, que depois de canetas, porcelanas e outras incursões em novos universos, acaba de lançar um perfume com a sua assinatura. Mas a tendência está a tornar-se transversal a muitos criadores. É o caso de Katty Xiomara, como revelou no seu mais recente desfile no Portugal Fashion. «Fizemos um apontamento no calçado, em parceria com a Only to You, e também nos óculos, que são design nosso em parceria com a Shamir e a Silhuette, nas armações», explica. «O objetivo é sempre crescer e ser mais abrangente, não só na nossa área de trabalho, mas também em termos de mercados», destaca a criadora, que, além de Portugal, vende também em Espanha, EUA e Kuwait. ISSUE #5 | JUN 2013 Já Anabela Baldaque está a apostar nos têxteis-lar, com um novo projeto em parceria com uma empresa de catering de Carregal do Sal. «Foram concebidas quatro linhas de toalhas de mesa para banquetes: Sushi, Frutos Silvestres, Pata Negra e Suspiro», enumera. Uma aventura que pode não se ficar por aqui para a criadora, Já Nuno Baltazar tem os olhos noutros horizontes, com a sua primeira linha de óculos. «É uma extensão natural de uma linha de pronto-a-vestir. É um acessório fundamental que cada vez faz mais sentido e há alguma avidez por novas propostas de óculos menos massificadas», justifica o criador, que conta também com uma linha de mobiliário em parceria com a Munna. A seguir aos óculos, Nuno Baltazar está a ponderar outro segmento, a pensar nas mais pequenas. «Estou com vontade de desenvolver uma linha para menina. Faz sentido no meu universo, que é muito feminino», conclui. 28 GHIBI PÕE OS PÉS LÁ FORA PORTUGAL FASHION MAG Depois de ter convertido a calçado de andar por casa num ícone de moda e estilo, a Ghibi está agora a lançar uma linha de calçado de exterior. A Ghibi, uma marca de calçado direcionada para «uma mulher entre os 25 e os 50 anos, que gosta de estar bem, mesmo em casa, tem cuidado consigo própria, gosta de tratar da imagem mas sem descurar o conforto», como explica Teresa Oliveira, diretorageral da Houspring, que detém a marca, acaba de lançar uma nova coleção de calçado de exterior capaz de agradar até às consumidoras mais exigentes. «Desenvolvemos uma gama diferenciada, com recurso à técnica ISSUE #5 | JUN 2013 de vulcanização e que privilegia os detalhes cuidados e os materiais de qualidade», garante a responsável da marca. No entanto, realça, «ambas as linhas [interior e exterior] têm a mesma filosofia na medida em que acabamos por ter no produto um fio condutor que o cliente já identifica, ou seja, oferecer produtos confortáveis, com boa imagem, detalhes cuidados, glamour». Na primeira coleção da linha de exterior, para o próximo outonoinverno, a camurça e veludo estão em destaque, enquanto para a primaveraverão 2014 «privilegiámos os tecidos de linho e de juta. A paleta de cores é composta essencialmente por tons 30 PORTUGAL FASHION MAG neutros com detalhes vivos, como por exemplo uma fita em rosa fúcsia. Em termos de padrões, os estampados animais continuam em alta. Mas há muitas novidades, como é o caso de uma gama stone wash», revela a diretora-geral. A apresentação oficial desta nova linha foi feita no salão de moda parisiense Who’s Next, que garantiu novos clientes para a marca. «Esta abordagem internacional fez-nos perceber que a gama tem capacidade para existir as duas estações, quente e fria. Em menos de um ano já ganhou vida própria», considera Teresa Oliveira. El Corte Inglés, em cadeias de retalho, distribuidores de calçado, lojistas de pequena dimensão e department stores, não só em Portugal mas também em países como Espanha, Itália, Grécia, Reino Unido, Alemanha, Dinamarca, Suécia, Suíça, Rússia, Turquia, Japão e EUA. Atualmente, a marca está à venda no ISSUE #5 | JUN 2013 31 LISBOA DE PÉ NO CHINELO PORTUGAL FASHION MAG O verão chegou mais cedo a Lisboa, com a abertura da nova loja Havaianas, a primeira na capital portuguesa. «Já há três anos que tínhamos planeada a abertura desta loja, no entanto, por querermos uma localização muito específica (a Rua Garrett), tivemos que esperar o tempo necessário até encontrarmos o local adequado disponível», revela Marta Lima, country manager da marca em Portugal. Um desejo antigo que viu agora a luz do sol com objetivos bem definidos. «A abertura de uma loja em Lisboa vem ao encontro do desejo dos nossos consumidores de conhecerem tudo o que a Havaianas tem para lhes oferecer e, numa loja 100% dedicada à marca, obviamente que a gama de produtos disponível é muito mais ampla do que num retalhista multimarca», justifica. lCom 40 m2, o espaço contempla mais de 200 opções de havaianas, entre modelos, cores e padrões, que dão um colorido inusitado ao espaço, a fazer lembrar o Brasil natal da marca que se tornou uma referência em todo ISSUE #5 | JUN 2013 o mundo. E o produto pode ainda ser personalizado, com o serviço Make Your Own Havainas (MYOH), «que permite à consumidora construir as suas Havaianas Slim únicas, com a combinação de cores desejada e colocação de pins e cristais Swarovsky», anuncia a country manager. Este ponto de venda pretende ainda «ajudar os clientes retalhistas a fazerem crescer o seu negócio, uma vez que vão poder ver o resultado de diversas apostas aparentemente mais arriscadas mas que vamos poder provar como sendo um sucesso através da nossa experiência», acrescenta. Sendo o principal consumidor de Havaianas na Europa, os poucos dias de existência da nova loja mostraram a apetência dos lisboetas, e não só, pela marca. «Os nossos consumidores têm acudido em massa ao novo espaço Havaianas e as reações têm sido muito positivas, tanto no que se refere ao ambiente de loja como à coleção exposta», afirma Marta Lima. lE nem a crise afasta os portugueses da compra dos míticos flip-flops ou das suas versões em sandálias, alpercatas, sabrinas, ténis e até galochas. «Portugal continua a ser o país europeu com maior venda de Havaianas per capita e, felizmente, podemos dizer que a crise não tem tido grande influência no nosso negócio: em 2012 fechámos o ano a crescer as nossas vendas em 10% e o plano para 2013 é conseguir 15% de crescimento em relação ao ano anterior», destaca a country manager. Com esta nova loja, a segunda em território nacional, já que a marca tem um ponto de venda próprio em Portimão, a Havaianas conclui os projetos de novas aberturas para este ano em Portugal, mas a ambição de continuar a evoluir mantém-se. «Queremos continuar a aumentar as nossas vendas e sobretudo a nossa relação emocional com os consumidores, para que a marca Havaianas possa celebrar os próximos 50 anos com tanto êxito como celebrou o seu meio século em 2012», conclui Marta Lima. 33 IMPETUS AUMENTA MOBILIDADE PORTUGAL FASHION MAG As novas tecnologias invadiram a Impetus e a marca portuguesa tornou-se pioneira no lançamento de duas aplicações de realidade aumentada, que permitem ver a roupa interior com outros olhos. «Com as duas aplicações desenvolvidas para múltiplas plataformas móveis, o cliente Impetus poderá vivenciar uma experiência inovadora e apelativa permitindo que em qualquer lugar aceda a conteúdos especialmente desenvolvidos para criar empatia com a marca e relacionamento emocional com o produto, podendo ainda partilhar essa experiência única nas redes sociais», explica Fernando Figueiredo, responsável de comunicação da Impetus. ISSUE #5 | JUN 2013 A realidade aumentada – a integração de informações virtuais a visualizações do mundo real – divide-se em duas aplicações na Impetus (disponíveis para download no website da marca): a primeira, denominada Impetus Catwalk, foi desenvolvida para a coleção beachwear 2013 e permite aos utilizadores visualizar um desfile dos modelos da coleção e interagir com eles em tempo real, e a segunda, a Impetus Augmented Reality, mostra hologramas digitais dos vários modelos das quatro linhas (Young, Trendy, Timeless e Seamless). «Ao apontar a câmara do smartphone para os marcadores de realidade aumentada, os utilizadores deparam-se com cenas quotidianas originais e interativas», indica o responsável de comunicação. O objetivo é «ter uma comunicação a 360º, que o público conheça a marca, interaja com os nossos produtos, passe bons momentos a “brincar” com o seu tablet ou smartphone», justifica Fernando Figueiredo. «Com esta inovação associamos também a marca à inovação e tecnologia, uma característica que está presente em diferentes linhas da Impetus, consolidando desta forma a imagem inovadora [da marca] no mercado global», acrescenta. Disponíveis há pouco mais de um mês no mercado, estas duas aplicações têm sido bem recebidas pelos clientes, tanto retalhistas como consumidores finais. «No caso do retalho, o feedback é que se trata de algo “fantástico 35 PORTUGAL FASHION MAG e original” que querem incorporar nas suas montras como elemento de promoção da marca e da própria loja», revela. Entre os elogios está o do El Corte Inglés, que é, de resto, o ponto de partida para «uma ação de promoção da marca com esta aplicação no El Corte Inglés de Barcelona, onde somos a marca número um em termos de vendas», anuncia Fernando Figueiredo. da coleção outono-inverno 2013/14, onde iremos colocar novos conteúdos, desta vez com a incorporação dos markers nas embalagens da Impetus e quem sabe também com ativação desta tecnologia dentro do ponto de venda», desvenda o responsável de comunicação. A aplicação das novas tecnologias não se fica, contudo, por aqui, com a Impetus a planear novas iniciativas. «Para já, temos previsto o lançamento de um vídeo viral destinado às redes sociais, que esperemos que se torne num buzz. A atualização destas aplicações será feita com o lançamento ISSUE #5 | JUN 2013 36 REGRESSO À CASA DE PARTIDA PORTUGAL FASHION MAG os anteriores vencedores, incluindo Felipe Oliveira Baptista, atual diretor criativo da Lacoste, construíram a sua carreira a partir de Hyères. Numa edição presidida pelo português Felipe Oliveira Baptista, que venceu o concurso em 2002, o Festival d’Hyères premiou o imaginário da finlandesa Satu Maaranen. Felipe Oliveira Baptista presidiu a 28.ª edição do Festival d’Hyères, onde tudo começou para o criador de moda português há 11 anos. A finlandesa Satu Maaranen foi consagrada vencedora com a surpreendente coleção “Garments in Landscape”, onde se destacaram os chapéus sobredimensionados que tiveram grande impacto na passerelle. «Quis conjugar a paisagem natural [da Finlândia] com a alta-costura, por oposição», explica a criadora. «O que nos chamou a atenção na Satu foi a força do seu imaginário, que abre uma nova dimensão. Ficamos particularmente sensibilizados pelo tratamento que dá à cor, trabalhada de forma artesanal, assim como à riqueza ISSUE #5 | JUN 2013 dos materiais e das texturas», afirma Floriane de Saint-Pierre, headhunter e um dos membros do júri. Satu Maaranen, que trabalhou com a Marimekko, leva para casa uma bolsa de 15 mil euros e a sua coleção irá ser apresentada no salão profissional Première Vision em Paris e em Nova Iorque, assim como nas Galerias Lafayette. Mas mais do que o prémio financeiro, é o reconhecimento do seu talento a principal recompensa, até porque «Não há apenas um caminho e, apesar de alguns terem criado uma marca própria, como Felipe Oliveira Baptista, muitos outros jovens talentos conseguiram bons cargos junto de marcas», explica Philippe Pasquet. A mais recente história de sucesso saída de Hyères é a de Anthony Vaccarello, que venceu em 2006, e só se lançou a solo após um contrato com a Fendi, a marca italiana dirigida por Karl Lagerfeld. O júri galardoou ainda o trabalho da criadora chinesa Shanshan Ruan com o Prix Public de la Ville d’Hyères e a holandesa Yvonne Poei-Yie Kow com o Prix Public du Palais de Tokyo. O Prix Chloé, que premeia a forma clássica e o estilo francês, foi entregue à suíça Camille Kunz. 38 25 ANOS DE MIGUEL VIEIRA PORTUGAL FASHION MAG Figura incontornável da moda portuguesa, Miguel Vieira conseguiu associar o seu nome ao luxo e reunir uma base fiel de clientes ao longo de um quarto de século. Na coleção para o outono-inverno 2013/2014, o número 25 esteve em destaque, a lembrar uma carreira de sucesso que há muito cruzou as fronteiras nacionais. «A coleção é uma homenagem que faço à mulher. Inicialmente pensei em trazer para os desfiles apenas a coleção de mulher – foi assim que eu comecei há 25 anos, só com mulher – depois é que tive homem e, desde há dois anos, criança», explica o criador. Uma coleção luxuosa, repleta de materiais nobres, «direcionada para um público que não tem crise, que aprecia, que mal começa a estação vai logo comprar – não sou contra outros públicos, mas é para esse público que trabalho», assume Miguel Vieira. Já presente um pouco por todo o ISSUE #5 | JUN 2013 mundo, quer com a sua coleção de vestuário para homem, senhora e criança, quer na linha de calçado e até mobiliário, o criador de São João da Madeira continua a querer explorar novos mercados. «Queria muito expandir-me no Brasil. Já tenho nacionalidade brasileira – porque sou filho de mãe brasileira – e é um mercado que me interessa muito. É um país onde estou a apostar forte e, a partir dali, podemos expandir para a América Latina toda, que é algo também que me seduz bastante», refere. profissão, tinha muitas portas à minha frente e vários caminhos. A porta que abri foi a que se chamava moda e essa porta tinha uma escadaria muito grande, que nunca mais acaba. Lentamente comecei a subir alguns degraus e nem sequer vou a meio, porque ainda falta fazer muito», sustenta. «Mas se voltasse atrás, tornaria a subir o mesmo degrau, a entrar naquela porta, porque realmente é algo que gosto muito de fazer», conclui Miguel Vieira. Um próximo passo para uma carreira plena de vitórias do criador, que destaca, nestes últimos 25 anos, «todos os momentos em que consegui ter mais um produto novo, porque ficava mais autónomo, sem estar dependente de mais ninguém. Acho que isso é que faz sentido numa marca», afirma. Mas o percurso vai ainda a meio. «Quando tive de optar pela minha 40 PAULA BORGES APOSTA NO LUXO PORTUGAL FASHION MAG As mudanças na conjuntura e nos seus principais mercados – nomeadamente o ibérico – levaram a Paula Borges a reequacionar a estratégia. Sem abandonar a marca própria – que representa 30% da produção – a empresa familiar, com mais de 40 anos de história, está a apostar no saber-fazer para conquistar clientes de luxo no private label. «Estamos a crescer no private label, que nos está a dar sustentabilidade e outro tipo de conhecimento, para além de maiores benefícios financeiros. E essa vai ser a nossa aposta», explica Paulo Faria, diretor comercial da empresa. Quantidades pequenas, com grande valor acrescentado, são os princípios que regem a oferta da empresa, que emprega 52 pessoas. «São produtos de elevadíssima qualidade, de gama muito alta», sublinha o diretor comercial. «Ao fazer isso, abrimos o leque de clientes que nos podem procurar, porque com este tipo de produto não se aprovisionam tanto a Ásia nem os países de Leste», refere. ISSUE #5 | JUN 2013 E a julgar pelo rol atual de clientes, esta é já uma aposta ganha. «Trabalhamos com um bom leque de clientes internacionais. Estamos com um projeto interessantíssimo há um ano e meio com a Victoria Beckham, que tem vindo a crescer estrondosamente e tem sido uma belíssima surpresa – ela está contente com Portugal e nós também estamos felizes, porque está a crescer connosco. Temos ainda a Prada, Gucci, Max Mara, Alexander McQueen, Stella McCartney…», enumera. «Estas casas procuram Portugal. O que nós temos é de ter arcaboiço humano para lhes responder. O segredo é resolver os problemas. Eles querem que lhes seja proposto tecidos, técnicas novas, conceitos diferentes e é isso que nós portugueses temos que chegue para oferecer», acredita Paulo Faria. essencialmente ao “passa a palavra”, já que as feiras não fazem parte dos projetos. «Tem sido um percurso a solo. Às vezes, não menosprezando o trabalho que é feito por diversas entidades, acho que mais vale pôr os pés ao caminho e mais rapidamente chegamos lá. É a minha opinião. E temos tido algum sucesso nesse sentido», justifica. Entre as novas apostas geográficas está o mercado sul-americano, nomeadamente a Colômbia, o México, o Chile e a Argentina. «Há também um contacto para o mercado asiático, o Japão, que acho que é um país interessante para o nosso nível de produto», acrescenta o diretor comercial. Esta capacidade de resposta tem permitido à Paula Borges ganhar novos clientes noutras latitudes, graças 42 MDS À VOLTA DO MUNDO PORTUGAL FASHION MAG É, no entanto, em Portugal que a MDS tem a sua maior base de clientes, sendo vendida em mais de 250 pontos de venda, e é onde mantém o centro de decisão e a produção das suas coleções. «A nossa política é essa e é isso que passamos ao cliente: um produto 100% produzido em Portugal», sublinha. Da Europa de Leste à Colômbia, a marca portuguesa MDS está a levar a sua moda jovem aos quatro cantos do mundo. Para o outono-inverno 2013/2014, o ADN da marca mantém-se, com a coleção “Mixed Memories” a juntar diferentes tendências. «É uma coleção com muitos tecidos, com várias estampas, alguns tecidos mais nobres, como veludos, sedas, vestidos curtos. Temos peças que podem ser conjugadas de diferentes formas, quase com dupla personalidade, porque vai depender muito de quem comprar», explica Daniel Simões, diretor de marketing e responsável pela coleção, juntamente com Alexandrine Cadilhe. É com esta coleção que a MDS (acrónimo de Mad Dragon Seeker) vai continuar a explorar os mercados internacionais. Para já, a Europa de Leste é, sem dúvida, a principal aposta, com um reforço da presença na República Checa, Roménia e Polónia, a que se deverá juntar este ano a Lituânia. ISSUE #5 | JUN 2013 Mas «neste momento já estamos a trabalhar com a França e a fazer alguns trabalhos pontuais, por exemplo, para a Suíça. O mercado francês está a ser uma agradável surpresa», indica Daniel Simões. Vocacionada para «atravessar gerações», apesar do público-alvo se concentrar sobretudo nos 18 aos 35 anos, a MDS tem ainda um outro objetivo: «ter um desfile individual no Portugal Fashion», assume Daniel Simões. O continente sul-americano está igualmente na mira da marca portuguesa, nomeadamente com uma primeira incursão numa feira profissional na Colômbia. 44 A FORÇA DA UNIÃO PORTUGAL FASHION MAG Os novos projetos conjuntos da indústria com os designers portugueses de moda têm ganho projeção em Portugal e além-fronteiras. Júlio Torcato, por seu lado, continua a sua ligação com a marca Red Oak e Alexandra Moura também não se arrepende da junção de forças com a marca de calçado Goldmud que, desde há quatro estações atrás, lhe permitiu alargar o seu universo criativo. A parceria da Meam com Ricardo Preto é atualmente um dos exemplos mais paradigmáticos de sucesso. O criador tem elaborado as coleções desta linha, apresentadas regularmente no Portugal Fashion, e com isso aprendido não só a técnica, mas também a abertura comercial para explorar novas possibilidades. «Esta parceria tem sido importantíssima. Tenho crescido e acho que isso se nota na passerelle. A mais recente coleção é de alguém que já ganhou mais experiência em fazer roupa para massas. É uma parceria vital», admite o criador, que está ainda a aproveitar esta “escola” industrial para tirar lições para a sua marca em nome individual. «Neste momento, queremos pôr a primeira linha tão forte quanto a Meam by Ricardo Preto. Por isso, vamos começar por fazer uma feira em Paris», anuncia. ISSUE #5 | JUN 2013 A coleção Alexandra Moura + Goldmud é apresentada no Portugal Fashion e também na ModaLisboa, onde complementa as coleções de vestuário que a criadora apresenta em nome próprio, e está à venda igualmente na loja de Alexandra Moura, no Príncipe Real. Um desenvolvimento natural para acompanhar um mundo em evolução constante, como refere o criador. «Faz-se mudanças, pensa-se em novas filosofias, em novas maneiras de estar. Isso sempre aconteceu. A moda é quase um filtro da sociedade», sublinha. Os projetos da criadora passam ainda pelos mercados internacionais, estando já a explorar Hong Kong e a dar os primeiros passos no Japão. «O meu grande projeto é a internacionalização», indica. 46 DENIM REGRESSA ÀS ORIGENS PORTUGAL FASHION MAG segmento de mercado, maior em termos de volume, os especialistas em denim procuram acrescentar valor. A Santanense – para se distinguir dos básicos mas conservar preços razoáveis – propõe duplas faces para o outono-inverno 2014/2015. Os jeans, puros e duros, tomam conta do outono-inverno 2014/2015. Após uma avalanche de cores, o regresso anunciado do denim autêntico, que se deverá fazer sentir já a partir da próxima estação fria, é uma boa notícia para a fileira. Prova desta vontade para com o verdadeiro denim são as várias propostas de tecidos selvedge (produzidos em teares especiais com larguras mais pequenas e de gama mais alta), que traduzem também a vontade de propor um tecido Premium. É na moda de homem que esta vontade é mais forte, com tecidos bem construídos, em pesos um pouco maiores mas que continuam sofisticados em termos visuais e de toque. «Estas qualidades direcionamse sobretudo para as marcas de criador e inscrevem-se numa corrente slow fashion, que queremos apoiar», indica Rinza Koopmans, consultor da US Denim, que propõe este tipo de tecido. Os tecidos são escuros, índigo, com ar ISSUE #5 | JUN 2013 Igualmente ilustrativo da vontade de diferenciação, a microencapsulação gasto e, sobretudo, um efeito “sujo”, especialmente quando se voltam para os tons cinza. «No homem, regressamos a construções mais densas, mais construídas. É o fim do estilo dandy», revela Thomas Dislich, diretor da Vicunha Europe. Para senhora, o denim fantasista e colorido continua em alta. Para este 48 PORTUGAL FASHION MAG chega à US Denim, que lança um programa batizado Cosmo-Body Care Denim, com tecidos com propriedades antibacterianas, aromáticas e anticelulite garantidas durante 20 lavagens. Tanto para homem como para mulher, a estação fria do próximo ano traz toques mais suaves, uma tendência ilustrada pela Calik Denim, Vicunha ou Santanense. «Os nossos clientes pedem-nos qualidades mais fáceis de confecionar. Com este acabamento muito suave, evitam as lavagens e reduzem assim o seu consumo de água», resume Annette Walkers, responsável de grandes contas da Santanense. ISSUE #5 | JUN 2013 49 DA DETERIORAÇÃO À CRIAÇÃO PORTUGAL FASHION MAG no London College of Fashion. “Fragmented Oxidation” deu o mote à quarta coleção de Susana Bettencourt, pensada para vestir o outono-inverno 2013/2014 com muito estilo. Antes de iniciar a sua marca própria, cujas peças foram já usadas na tournée “Born This Way” de Lady Gaga, Susana Bettencourt trabalhou com Fátima Lopes e Alexandra Moura, duas colaborações «fundamentais» e onde «aprendi imenso», assim como com a britânica Brooke Roberts. Para as suas propostas para a próxima estação fria, a jovem designer inspirouse «na ideia de deterioração dos objetos como ponto de partida para a criação», explica. «Decomposição, fragmentação e transformação para criar o novo», acrescenta. “Fragmented Oxidation” foi a primeira coleção a pisar a passerelle montada no espaço Carpe Diem Arte e Pesquisa, em Lisboa, na última edição do Portugal Fashion, com as modelos a desfilarem vestidos, casacos, camisolas e calças justas predominantemente em malhas jacquard e malhas racladas, com aplicação de técnicas de crochet e padrões ousados. Bege, ocre, azul-esverdeado e cinzaarroxeado são os tons dominantes das novas propostas da criadora de origem açoriana, retirados «do processo de oxidação». ISSUE #5 | JUN 2013 As malhas são, assumidamente, a grande paixão da jovem designer, que se licenciou em Design de Moda com especialização em malhas na reputada Central Saint Martins e concluiu, com distinção, o mestrado em Moda Digital Apesar de se mostrar satisfeita pela atenção conseguida com celebridades – que além de Lady Gaga, incluem a cantora, atriz e modelo Sarah Harding, a radialista da BBC Radio e apresentadora dos MTV Charts Jane Crawford e a cantora inglesa Tatiana –, o objetivo da jovem criadora é, acima de tudo, ter uma marca e um negócio sustentável. «É bom ter pedidos de celebridades, mas preciso de transformar essa exposição em vendas», refere, motivo pelo qual apresenta, desde outubro de 2011, as suas coleções no Portugal Fashion. 51 A CULTURA DO PUNK PORTUGAL FASHION MAG e Gianni Versace, a mostra abrange o estilo do mais ao menos refinado. «Acho que é fantástico – o abraçar da abrangência e do respirar de uma cultura, como na arte», afirma Thomas P. Campbell, diretor do MET, enquanto Andrew Bolton, curador da exposição “Punk: Chaos to Couture”, fala da «promessa, objetivo e prospeção» de um estilo de rua que cresceu de uma cultura de «não futuro». A nova exposição do Metropolitan Museum of Art mostra como o punk influenciou criadores como Vivienne Westwood e Balenciaga. Depois de 40 anos de existência, o punk é o tema de uma exposição do Metropolitan Museum of Art (MET). Com um cenário de roupas rasgadas e com alfinetes de segurança, incluindo t-shirts de Vivienne Westwood com Malcolm McLaren e coordenados mais requintados de Zandra Rhodes ISSUE #5 | JUN 2013 A exposição, que abriu a 9 de maio, traça a fusão pouco provável de um movimento conhecido por música primitiva, abuso de drogas e gritos contra os cânones sociais e o mundo cheio de brilho da moda de luxo. As galerias do METencheram-se, assim, de vestuário de gama alta inspirado no punk. Um vestido de noite da Versace da coleção primavera-verão de 1994 exibe enormes alfinetes de dama. Um minivestido Balenciaga, drapeado com correntes, do outono- inverno de 2004, encontra-se perto de um vestido Givenchy em seda de chiffon rosa com fechos dourados, pertencente à coleção para a estação quente de 2011. Moda Punk_28maio2013_Interior3A cena parece longe da banda sonora da exposição, com as músicas dos Sex Pistols a clamar pela necessidade de “chocar as pessoas” e ser “obsceno e escusado quanto possível”. Contudo, como sublinha a curadoria da exposição, a comercialização e a moda nunca estiveram longe da experiência punk. 53 WOMEN’SECRET NO AMOREIRAS PORTUGAL FASHION MAG O Amoreiras Shopping, em Lisboa, foi o local escolhido para a marca espanhola de roupa interior inaugurar uma nova loja em Portugal. O novo ponto de venda da women’secret, o 39.º da marca em Portugal, abre no próximo dia 31 de maio com as propostas da coleção para este verão. O conceito de design de interiores, numa área de 70 m2, caracteriza-se por detalhes muito femininos, começando pelas cores escolhidas em tons pastel – como o verde água, creme e rosa – conjugadas com elementos em madeira e cromados para um efeito retro, ao estilo women’secret. ISSUE #5 | JUN 2013 O mobiliário é flexível, constituído por painéis amovíveis que delimitam o espaço da loja e criam diferentes zonas de exposição para as diferentes coleções de lingerie, sleepwear, swimwear e todos os acessórios que completam os visuais desta temporada. A coleção de verão da women’secret integra sete linhas sexy e femininas para a estação mais quente do ano. Especialmente a pensar nos programas de praia, piscina, passeios de barco ou no próximo destino de férias, a marca do Grupo Cortefiel criou uma coleção de banho completa, com diferentes modelos de biquínis e fatos de banho, disponíveis em vários padrões e materiais, que favorecem a silhueta feminina graças ao sistema “perfect fitting”. A women’secret apresenta ainda uma vasta coleção de vestidos, túnicas e acessórios para o verão. «A women’secret é uma marca especialista no universo feminino, uma marca criada por mulheres e para mulheres. No ano em que celebra o 20.º aniversário, sabemos que fazemos parte da vida da mulher atual e com esta nova loja, pretendemos inspirar ainda mais o dia a dia da mulher portuguesa», afirma Alexandre Mendes, diretor de marketing e serviços do Grupo Cortefiel Portugal. 55 TROIKA DE CORES AQUECE VERÃO PORTUGAL FASHION MAG irão “assentar como uma luva”. O verão pode ainda não ter chegado, mas as tendências não se compadecem das temperaturas e os gabinetes e designers estão já com os olhos postos nas cores da primavera-verão… mas do próximo ano. O vermelho-lava, aponta o WGSN, é fundamentalmente uma cor para atualizar o vestuário típico do escritório, sobretudo os vestidos estruturados ou as camisas em seda com botões. Pode ainda ser usado em peças de vestuário com blocos de cor, em combinação com o rosa Hothouse, nomeadamente em vestuário em malha, como camisolas, ou em painéis em vestidos. O tom é ainda indicado para tingir couro – uma tendência em termos de materiais da estação –, dando corpo à inspiração punk que parece ter vindo para ficar. Os estampados animais irão assumir igualmente o lava como forma de atualização dos padrões mais tradicionais. Vermelho-lava, azul-tinta e verdealga são as três tonalidades chave que vão pintar o vestuário de senhora em 2014, segundo as previsões de cor apresentadas pelo gabinete de tendências WGSN. O azul-tinta (Pantone 19-3940) funciona como uma modernização do azul-marinho clássico, realçando uma vez mais a importância dos tons índigo fortes. Já o vermelho-lava (Pantone 18-1561) é uma espécie de continuação dosvermelhos alaranjados das passerelles do outono-inverno 2013/2014, enquanto o verde-alga (Pantone 17-6212) funciona como um ótimo verde casual, tanto para vestuário em malha como em tecido, refere o WGSN. ISSUE #5 | JUN 2013 O gabinete de tendências vai, contudo, mais longe na sua análise aos tons que vão marcar a estação quente do próximo ano, destacando algumas peças onde estas três cores tendência Já o azul-tinta assume-se como uma alternativa ao azul-marinho e ao preto, indicado pelo WGSN como cor de fundo dos básicos, como jerseys. O visual neste tom ascende ao luxo quando aplicado em artigos em pele, 57 PORTUGAL FASHION MAG como o tão na moda blusão perfecto. Entre as tendências de estampados, os efeitos borrão de tinta orgânico assim como tradicional ombré misturado com branco são a combinação perfeita para este tom de azul. Vestuário de exterior com toques de sportswear, com uma parka ou um anoraque, poderão igualmente ser atualizados com esta cor. Apesar de estar naturalmente associado ao verdadeiro casualwear, na estação quente do próximo ano o verde-alga surge também em áreas um pouco mais formais, em camisolas jersey com adornos, malhas luxuosas, vestidos de seda estampados ou mesmo camisas de noite. O verde-alga – no fundo uma versão mais leve do caqui e complementar aos tons bege – constitui, por seu lado, uma atualização para as peças de vestuário de inspiração militar, como as parkas ou as calças cargo. ISSUE #5 | JUN 2013 58 LARANJINHA APOSTA NA DIFERENCIAÇÃO PORTUGAL FASHION MAG queixar», afirma Luís Pinto Leite. E o investimento no mercado espanhol continua a velocidade de cruzeiro. «Ainda este ano ou no próximo abriremos mais corners em Espanha, no El Corte Inglés», assegura, quase um ano depois da estreia no El Corte Inglés em Madrid. Fazendo valer a sua reputação, a marca infantil Laranjinha continua a apostar na excelência do produto para construir uma relação de confiança com o consumidor. Mesmo nos momentos mais difíceis – sobretudo económicos –, a marca não deixa de apostar na diferenciação que a fez subir ao Olimpo das preferências das mães, em Portugal e no mundo. «Sempre que lançamos uma coleção, procuramos inovar, embora não seja possível apresentar em todas as coleções peças totalmente inovadoras», assume Luís Pinto Leite, responsável comercial da marca. Para o outono-inverno 2013/2014 «temos, em concreto, um novo grupo com malha polar. De resto, continuamos a apostar na linha de bambu e nos tricotados sem costuras, entre outras peças mais elaboradas que, embora não sejam novidade, são sempre inovadoras», acrescenta. Espanha (seguida de Itália e da Inglaterra) continua a ser o principal mercado estrangeiro da Laranjinha, ISSUE #5 | JUN 2013 Já lojas próprias – contabiliza cinco, uma das quais em Espanha – não estão nos planos atuais da Laranjinha. «Pretendemos abrir novos mercados, não através de lojas próprias, mas sim através dos representantes nos países e a trabalhar com multimarcas», sublinha o responsável comercial. onde é «praticamente tão conhecida como em Portugal» e, apesar de todos os problemas experienciados no mercado, “nuestros hermanos” continuam a comprar as propostas para bebé e criança da marca. «Tivemos uma ligeira quebra em Espanha, mas quando comparada com outras marcas, acabou por não ser tão acentuada. Não nos podemos Atualmente, a a presença da marca estende-se um pouco por todo o mundo. «Temos importadores nos EUA e na Austrália, mas vendemos também em países onde não temos representação, através de retalhistas – é o caso de França, da Suíça e alguns clientes na Alemanha…Começámos agora a trabalhar com o mercado belga com um representante e também 60 PORTUGAL FASHION MAG com a Irlanda», revela. A África do Sul é outro ponto de paragem recente. «Acreditamos que é um mercado com potencial porque, embora seja um país de extremos em termos de equidade social, não deixa de ser rico e com potencial. Além disso, temos um importador que nos inspira muita confiança», indica Luís Pinto Leite. Com uma quota de exportação superior a 60% de, as perspetivas da Laranjinha para 2013 são, contudo, pautadas pela prudência. «Temos de assumir sempre uma postura otimista, mas com perfeita consciência que a nossa exportação está essencialmente nos mercados europeus e numa Europa em recessão, vai ser um ano difícil. Mas pensamos que, no limite, vamos conseguir manter o nível de faturação», conclui. ISSUE #5 | JUN 2013 61 O NEGÓCIO DA MODA PORTUGAL FASHION MAG pode funcionar muito bem. Vou fazer agora um teste através do Facebook, para ver se as pessoas aderem, como reagem à coleção e à forma de venda online, e se resultar, irei avançar», anuncia. A nova geração de criadores nacionais está a afirmar o seu nome no mercado e a vender, efetivamente, as suas coleções. Viver da moda é um sonho cada vez mais próximo para os novos talentos da moda portuguesa, que têm aproveitado diferentes iniciativas e uma maior abertura do mercado para crescerem comercialmente. Estelita Mendonça, que venceu o prémio de Melhor Novo Talento nos Fashion Awards 2012, tem as suas coleções à venda na loja pop-up do Espaço Bloom no Centro Comercial Península, no Porto – uma iniciativa do Portugal Fashion que tem sido a rampa de lançamento de vários novos talentos em termos comerciais. A jovem promessa realizou ainda, recentemente, um projeto com a Volvo. «Com o prémio do Fashion Awards veio uma proposta da Volvo para “vestir” o novo Volvo V40 para um roadshow», revela. As vendas online são outro projeto na calha, um dos pontos em comum com outros criadores desta nova geração. ISSUE #5 | JUN 2013 A marca Klar – um novo projeto de Alexandre Marrafeiro, Andreia Oliveira e Tiago Carneiro – passou das intenções à ação e tem já a loja online, inaugurada no mesmo dia em que apresentou a segunda coleção no Espaço Bloom, em março passado. «Inicialmente surgiu por uma questão prática e por uma opinião em comum sobre a perspetiva nacional da moda», explica Alexandre Marrafeiro. «A nossa aposta é mesmo online e lá fora, de preferência», acrescenta Tiago Carneiro. Carla Pontes, por seu lado, vende já na Muuda no Porto e em Viseu e na Ivo Maia Designers, em Santa Maria da Feira, e está também a ponderar enveredar, em breve, pelo comércio eletrónico. «Estou a pensar na parte online, porque acho que As perspetivas internacionais são, de resto, um denominador comum. «Quero continuar a trabalhar a marca e estou focada no estrangeiro», revela Diana Matias, cuja coleção estará à venda numa loja temporária em Troia, entre junho e setembro. 63 FATOS DE BANHO PARA 2014 PORTUGAL FASHION MAG O próximo ano vai ficar marcado pelo regresso em força do fato de banho, com novos cortes e detalhes que atualizam a intemporalidade de uma peça que nunca sai de moda. Pormenores femininos, como laços, e formas influenciadas pelos gregos fazem parte das tendências do swimwear de uma peça para o verão de 2014, segundo o WGSN. Os detalhes são simples e os cortes conservadores, ideais para quem não dispensa a sensualidade discreta de um fato de banho. Algumas opções integram mangas, a cobrir os ombros ou descaídas, até efeitos mais arrojados de rede larga para uma consumidora mais ousada. Um corte abaixo da área do peito, permitindo um vislumbre da pele, é uma diferenciação das formas austeras que pautam os fatos de banho para 2014, enquanto as variantes com cordões que prendem nas costas, tal como os biquínis, beneficiam todas as formas corporais. ISSUE #5 | JUN 2013 Um dos estilos que atrai as mais diferentes mulheres é o grego, associado ao glamour típico dos clubes sociais com piscinas de luxo. Os decotes profundos, especialmente adequados para tecidos leves, integram-se nestas propostas inspiradas no mundo helénico, assim como os fatos de banho que cruzam à frente, acima do peito, e ostentam uma cintura subida. Os decotes em V médios são outra das grandes tendências do próximo ano, conjugados com efeitos dupla camada e tecidos estampados. monocromática popular na estação quente deste ano, faz parte das opções, assim como painéis contrastantes, que definem os contornos de uma silhueta e podem criar um ponto central, acentuando a cintura ou o busto. A forma em S, um estilo assimétrico que segue os contornos do corpo, é cuidadosamente equilibrada e assenta da mesma forma que se ajusta um biquíni: os cordões e painéis fluídos criam a ilusão de um visual desequilibrado. Uma moda mais arriscada que funciona para coleções mais vanguardistas. A inserção de franjas e laços laterais acrescenta textura e dimensão, sobretudo apelativos para as mais novas, e a cintura é acentuada através de drapeados ligeiros ou cintos. As estruturas suaves, inexistentes ou escondidas, marcam igualmente a estação. Um visual gráfico e sofisticado, que pode ser atrativo para vários mercados e que se enquadra na tendência 65 INVERNO GLAMOUROSO PORTUGAL FASHION MAG e inovação continuada dos nossos processos de conceção, mostrando de um modo claro o nosso ADN face à realidade e com o futuro sempre focalizado neste processo», sublinha o criador, que trabalha, há mais de 25 anos, em conjunto com José Manuel Gonçalves. Os anos glamourosos da Hollywood dos anos 40 e 50, retomados pela mão da dupla Alves/Gonçalves, estão de volta para o outono-inverno 2013/2014. «É a continuação do nosso trabalho, que tem a ver com a vulnerabilidade e com o lado mais intimista, o lado mais frágil da mulher», justifica Manuel Alves em relação às novas propostas para a próxima estação fria. Uma carreira que permitiu consolidar um estilo que apelidam de «moda de autor de espírito couture» e levá-los a cidades como Nova Iorque, São Paulo, Paris, Barcelona e Milão para apresentar as suas coleções. Uma coleção onde predominam silhuetas amplas e estruturadas, a lembrar as décadas de 40 e 50, com cinturas marcadas por cintos em couro preto, por cima de casacos e vestidos que variaram entre o preto, por vezes com apontamentos de azul forte, e o vermelho, mas também o dourado, o camel, o verde tropa e o rosa-velho. Os tecidos opacos e de aspeto natural jogam com outros com texturas e brilhos mais sofisticados e técnicos, numa associação de acabamentos manuais e artesanais. ISSUE #5 | JUN 2013 Propostas onde «o nosso gosto pela arquitetura e pelo cinema estão sempre visíveis neste discurso, num ambiente de intensidade urbana e emotiva» e que mostram «a renovação 67 ISABEL MARANT NA H&M PORTUGAL FASHION MAG A H&M juntou mais um nome de peso à lista de designers convidados: a francesa Isabel Marant é a senhora que se segue. A gigante sueca de moda anunciou que Isabel Marant é a designer convidada para a coleção de outono, que irá, certamente, trazer o chique parisiense para a H&M. Para homem e senhora, a coleção, que estará disponível nas lojas a partir de meados de novembro, é a mais recente do programa de designers convidados da H&M, que começou em 2004 com Karl Lagerfeld e já contou com Stella McCartney, Versace, Lanvin, Comme des Garçons e Jimmy Choo. ISSUE #5 | JUN 2013 Segundo Marant, a coleção será «algo real que as mulheres queiram usar nas suas vidas no dia a dia, com uma certa descontração que, acredito, é muito parisiense. Vestir bem, mas não dar demasiada atenção e, ainda assim, estar sensual. A coleção está infundida com esse tipo de atitude». Já a H&M afirma ter escolhido Marant para a sua mais recente colaboração com designers pela sua combinação de «atitude urbana, elegância boémia e espírito rock’n’roll», com «um genuíno ar francês». antes de começar a estudar no conhecido Studio Berçot, em Paris, no final dos anos 80. Fundou a sua marca epónima em 1990 e desfilou em Paris pela primeira vez apenas cinco anos depois. Venerada pelas mulheres com trinta e poucos anos e elogiada pela imprensa, Isabel Marant tem atualmente várias lojas em todo o mundo, incluindo Paris, Nova Iorque, Los Angeles e Pequim. Isabel Marant começou a sua incursão na moda a customizar as suas roupas ainda enquanto estudante e mesmo 69 O HOMEM DA FLORESTA PORTUGAL FASHION MAG “Forest”, uma reflexão sobre a relação entre a natureza e os espaços urbanos, é o conceito da nova coleção de Hugo Costa. O designer, natural de São João da Madeira, criou camisolas e casacos com formas fluídas e masculinas, assim como as calças, que ficam, por vezes, acima do tornozelo. Da natureza refletem-se as cores, os brilhos das florestas densas e os tons próximos mas tão diferentes. Nos espaços urbanos destaca-se a necessidade do sentido prático e da identidade. ter abandonado o curso de Engenharia de Computadores pelo de Design de Moda e Têxtil na Escola Superior de Artes Aplicadas de Castelo Branco, Hugo Costa tem vindo a crescer a cada estação, especializando-se na moda masculina direcionada para um público «urbano» e «cosmopolita». Transparências, camadas e jogos de opacidades fazem parte do ADN da sua marca, assim como a predominância do preto e outras tonalidades escuras. portuguesas de vestuário e calçado, o designer estagiou com Ricardo Dourado e Ricardo Andrez, e em dezembro do ano passado apresentou o seu trabalho no Matadero – Centro de Creación Contemporánea de Madrid, com o apoio do Portugal Fashion. Atualmente a trabalhar na sua marca própria, assim como para várias marcas Daqui resulta uma coleção com «influências claras do streetwear, transformado e interpretado no vestuário clássico masculino. A cor é apresentada como bloco, sobressaindo as diferentes tonalidades através dos reflexos dos tecidos, com destaque para a textura em detrimento das combinações cromáticas», explica o criador. Na moda desde os 19 anos, depois de ISSUE #5 | JUN 2013 71 O MUNDO SEGUNDO KARL PORTUGAL FASHION MAG Karl Lagerfeld passará certamente aos anais da moda não só como histórico diretor criativo da casa Chanel, mas também pela peculiar forma de encarar a vida e o sector. Por isso, a editora francesa Flammarion vai lançar em setembro um livro, intitulado “The World According To Karl”, que reúne os seus melhores aforismos, com textos de Jean-Christophe Napias e ilustrações de Charles Ameline. «A minha vida consiste em esquecer o passado», explica o “kaiser” da moda no “The World According To Karl”, uma espécie de bíblia própria que compila comentários de Lagerfeld sobre o luxo, o estilo, a fama, o desenho e, obviamente, a moda, entre muitos outros temas. Se a posteridade é algo vazio para este alemão «ultramoderno», como é definido no livro, o trabalho e o esforço são todavia importantes. O designer alemão de idade incerta – diz não recordar quando a sua mãe o trouxe ao mundo – deixa frases inesquecíveis em cada uma das suas entrevistas, embora assegure no livro que é um «amnésico» do passado reticente a escrever as suas próprias memórias. No entanto, a sua conceção da vida laboral está longe de ser normal, como aliás frisa. Lagerfeld não está interessado em «ser normal», pois a base do seu talento não está somente na qualidade dos seus desenhos mas também numa personalidade única que não se sabe se é intrínseca ao próprio criador de moda ou se é ISSUE #5 | JUN 2013 somente uma falsa construção para ganhar «cash». Por trás dos seus óculos escuros, que são a sua «burka», esconde-se a verdadeira pessoa, a que se sente obcecada por livros, fotografia e moda. «Atuo as 24 horas do dia, toda a minha vida é uma pantomima», refere a publicação, que reproduz frases vitais de Lagerfeld proferidas em documentários, jornais e livros. O designer só bebe coca-cola e é um perfeccionista, embora outras manias completem o retrato deste filho de todos os tempos, estilosos na sua forma de usar luvas, pregadeiras, gravatas e fatos de xadrez, mordaz e controverso. Por exemplo, compra sempre três livros: um para ler, outro 73 PORTUGAL FASHION MAG para recortar e um terceiro para guardar na sua enorme biblioteca, seu reduto de paz. A solidão não o assusta, pelo contrário, dá-lhe prazer: «nunca me sinto só, a solidão é um luxo», diz este ser tão especial que lança opiniões férreas sobre quase tudo. O politicamente incorreto é a sua debilidade e a provocação a lei com que rege a sua vida: «faço sempre o que supostamente não deveria fazerse», sentencia Lagerfeld numa das freses do livro. A moda que cria para a Chanel, com quem partilha a ideia de que o único que permanece é «o estilo», nasce do mais recôndito dos seus sonhos – tem sempre um caderno de desenho ISSUE #5 | JUN 2013 na mesa-de-cabeceira – e foge dos fundamentos intelectuais. A conversa erudita provoca-lhe repulsa e os seus desenhos defendem a arte pela arte e a beleza do efémero. «O objetivo da moda é que as pessoas se sintam bem, não se trata de expressar o sofrimento e a desgraça com tafetás». Paris, Milão e Nova Iorque testemunham muitas vezes o trabalho de Karl Lagerfeld, um homem que ronda os 80 anos, mas que conserva a tirania e o fervor dos adolescentes. Desafia a máxima de que qualquer tempo passado foi melhor e a sua única âncora é o presente: «não tenho arquivos», afirma no livro. 74 JASON WU NA BOSS PORTUGAL FASHION MAG A casa de moda de luxo Hugo Boss nomeou Jason Wu como diretor artístico do vestuário de senhora da Boss. Nascido em Taiwan, Wu, de 30 anos, é conhecido pelos seus designs femininos. Em 2007 fundou a sua marca epónima em Nova Iorque mas foi o vestido marfim usado por Michelle Obama no primeiro baile de tomada de posse de Barack Obama, em 2009, que o catapultou para a fama. Jason Wu também desenhou o vestido vermelho usado pela PrimeiraDama no baile da segunda tomada de posse de Obama, em fevereiro deste ano. Para a Hugo Boss, o criador já afirmou, em comunicado, que planeia «desenvolver uma coleção de ISSUE #5 | JUN 2013 vestuário de senhora feminino e forte que reproduza a autoridade da marca em vestuário de homem». A primeira coleção de Wu para a marca alemã será apresentada em Nova Iorque numa antevisão do outono de 2014 e o seu primeiro desfile na passerelle será na semana de moda de Nova Iorque, em fevereiro do próximo ano. Embora vá trabalhar com a equipa de design sediada em Metzingen, na Alemanha, Wu vai manter-se em Nova Iorque, num gabinete criado pela Boss, que permite, assim, que o designer possa manter o trabalho nas suas coleções de pronto-a-vestir e acessórios em nome próprio. Entre as fãs do seu trabalho estão as atrizes Emma Stone, Diane Kruger e Emily Blunt, além de Michelle Obama. «Estamos absolutamente satisfeitos por termos um talento extraordinário como Jason Wu na equipa», afirmou o CEO da Hugo Boss, Claus Dietrich Lahrs. «Isto irá gerar uma afirmação poderosa e criativa para a Boss Womenswear e mostrar o nosso empenho para nos centrarmos ainda mais no lado feminino da marca», concluiu. 76 A VEZ DA UNIÃO PORTUGAL FASHION MAG Na abertura do período dedicado à moda masculina, Londres afirmouse, com a terceira edição da London Collections: Men a mostrar-se mais forte do que nunca. Em termos de estilo, emergiram na passerelle duas tendências distintas, ambas em perfeita simbiose com a herança britânica que é conhecida por ser tanto formal como experimental. Àterceira é devez.ALondon Collections: Men confirmou definitivamente o seu papel de trendsetter à terceira edição, com 30 desfiles e quase tantas apresentações a mostrarem que Paris e Milão têm uma rival de peso. As marcas de Savile Row juntaram-se para uma apresentação espetacular de 100 modelos no campo de cricket de Lord’s, com o apoio da Woolmark. A marca veterana Gieves & Hawkes – cujo principal ponto de venda continua a ser a flagship em Savile Row – revelou uma coleção casual rica com acessórios para o cavalheiro dos dias de hoje. Com nomes como Burberry, Alexander McQueen e Paul Smith, Londres está a enviar uma mensagem de força para o mundo da moda. «De Saville Row aos punks, inventamos tudo», afirma Dylan Jones, editor da revista GQ da Grã-Bretanha e presidente do evento desde a sua criação. Burberry, Tom Ford, Rag & Bone e Alexander McQueen optaram por espaços mais pequenos em Londres em vez da grande exposição em Milão ou Nova Iorque para apresentarem as suas propostas para a primavera-verão 2014. ISSUE #5 | JUN 2013 Sportswear, estampados e logomania foram algumas das principais tendências mostradas pelos jovens designers, que na sua maioria beneficiam do apoio da Topman, eBay e FashionEast. Na passerelle desfilaram fatos de treino com detalhes em renda de Astrid Andersen, tecidos transparentes de Shaun Samson e Sibling e acessórios desportivos imaginativos de Nasir Mazhar. Entre as peças-chave, o blusão é o “rei” dos casacos para o próximo verão, adotando cores ousadas como o verde-alface na coleção de Jonathan Saunders, ou combinado com calções, numa versão mais fresca do fato. Os calções, pelos joelhos e largos, foram igualmente preferidos por muitos dos criadores, como Lou Dakton e Christopher Raeburn, a que se juntam os fatos de treino e os macacões ou boiler suits de inspiração militar ou mecânica. Nas cores, o branco dominou (Pringle of Scotland, Nicole Fahri), juntamente com o azul-água e o rosa (Burberry Prorsum), numa verdadeira lufada de ar fresco na moda masculina. 78 O FETICHISMO NA MODA EM PAPEL PORTUGAL FASHION MAG O novo livro de Lidewij Edelkoort, “Fetichism in Fashion” explora a evolução do gosto, revelando um pouco do que pode ser o futuro do estilo e da cultura. Um fetiche é normalmente entendido como um interesse pouco comum, muitas vezes de carácter sexual, num objeto ou material, enquanto o fetichismo é a atividade que envolve esse mesmo material ou interesse. Publicado pela Frame e editado por Philip Fimmano, “Fetischism in Fashion” explora como diferentes fetiches, desde o comum fetiche por sapatos a um interesse por animais ao mais arriscado “bondage” revela algo sobre os laços que nos ligam enquanto seres humanos. Da autoria da famosa trend forecaster, Lidewij Edelkoort, a obra analisa a evolução do gosto desde o nascimento até a idade adulta, a psicologia da marca, o poder da cor preta, os objetos fetiche, a interação da arquitetura, moda e corpo. ISSUE #5 | JUN 2013 Fetishism in Fashion_26junho2013_ Interior3Edelkoort acredita que os nossos fetiches nos dizem algo sobre um «futuro instintivo para o estilo e a cultura», cujas origens podem ser encontradas nas nossas primeiras interações. «Muitas das nossas fantasias e aspirações são incorporadas logo na infância e são muitas vezes revisitadas, tornando-se num fascínio por sopa, veludo ou sapatos, por exemplo», explica Edelkoort no livro. Com artigos, ensaios e entrevistas de vários autores, incluindo Valerie Steele e Alice Rawsthorn, ilustrados por imagens de Leigh Bowery e Erwin Olaf, “Fetishism in Fashion” promete tornar-se um livro de referência, sendo descrito como pertencendo a «uma nova era de experimentação». Elementos fetichistas do trabalho de, por exemplo, Alexander McQueen, Iris van Herpen, Bart Hess e Formamfantasma são analisados, levando o leitor numa viagem estética através de alguns fatores subliminares que influenciam a moda. 80 HOMEM PERDE O MEDO DA FEMINILIDADE PORTUGAL FASHION MAG Em Milão, os criadores usaram pormenores femininos e trouxeram uma brisa de frescura e fantasia à moda de homem. Uma brisa ligeira percorreu as passerelles milanesas durante a semana de moda consagrada ao homem, graças à frescura e fantasia das coleções de pronto-a-vestir para a primavera-verão 2014. O sportswear perdeu agressividade para se tornar mais usável, mantendo a elegância mesmo sem recurso ao fato. É um sportswear chique, depurado de detalhes demasiado técnicos, para o dia a dia na cidade. Um clássico revisitado e muito informal. «O casaco tradicional está fora de moda», como afirmou Giorgio Armani ISSUE #5 | JUN 2013 após o seu desfile, marcado por muitas malas para homem e modelos que desfilaram com um sorriso na cara. «Esta é a nova moda. Tento pôr coisas que normalmente são identificadas com mulheres», refere o criador, que apresentou ainda a linha mais jovem Emporio Armani. Neste novo guarda-roupa masculino, as bermudas estiveram em destaque, com cortes largos, por vezes extralargos. As t-shirts oversized, em diferentes matérias-primas, substituem as camisas. A inspiração náutica fez uma aparição nas propostas de Andrea Incontri e Salvatore Ferragamo, com cortaventos leves em poliamida japonesa, que se torna uma peça incontornável do verão do próximo ano. Os materiais 82 PORTUGAL FASHION MAG tornaram-se funcionais, os botões desaparecem, os fechos multiplicamse. Vivienne Wetswood sugeriu um ambiente étnico-chique, que combina o esplendor da Índia dos Marajás com a perfeição da alfaiataria dos especialistas de Savile Row. «Acho que os homens gostam realmente de expressar a sua personalidade feminina. Adoram um pouco de brilho», considera a criadora britânica. Outra tendência saída das passerelles milanesas foram os efeitos gráficos, para valorizar t-shirts, blusões e casacos. Os fatos são feitos com tecidos estampados com micromotivos, com a parte de cima e a parte de baixo conjugadas com desenhos diferentes. ISSUE #5 | JUN 2013 Miuccia Prada, a grande maestrina da moda milanesa foi mais uma vez aplaudida com uma apresentação digna de um filme de Humphrey Bogart: o fato super-chique com um ar casual graças a sapatos em tecido, complementados com o exotismo de camisas hipercoloridas com motivos florais ou geométricos. «Os homens estão a mudar a forma como compram, têm mais liberdade», considera Miuccia Prada. coleções da Trussardi e Diesel Black Gold, por exemplo, e a paleta de cores retoma alguns tons outonais das coleções de inverno, como o bordeaux, verde-garrafa e azul-acinzentado, embora o branco tenha também um lugar de destaque, assim como os tons fluorescentes, em pormenores. A Dolce & Gabbana optou pelo tema da mitologia grega na Sicília, com imagens de templos em ruínas e imagens de esfinges de deuses estampados em calções, malhas e casacos. Apesar do espírito sportswear, as matérias-primas são sofisticadas, com o couro a ser a grande estrela nas 83 PORTUGALFASHIONMAG.com