issue #5 | jun 2013 - Portugal Fashion MAG

Transcrição

issue #5 | jun 2013 - Portugal Fashion MAG
PT
PORTUGAL
FASHION
MAG
ISSUE #5 | JUN 2013
04
06
08
10
12
14
16
18
21
23
25
27
29
32
34
37
39
41
LUÍS ONOFRE
MULHERES A CORES
OS NOVOS PROJETOS DE FOB
FARFETCH ATRAI GIGANTES
O MENINO BONITO DA MODA
HOMENS A CORES
NICOLA FORMICHETTI
NA SEGUNDA LINHA
UM GUARDA-ROUPA DE FERRO
CRIATIVIDADE ACIMA DE TUDO
SOB O SIGNO DO 4
DIVERSIFICAR PARA GANHAR
GHIBI PÕE OS PÉS LÁ FORA
LISBOA DE PÉ NO CHINELO
IMPETUS AUMENTA MOBILIDADE
REGRESSO À CASA DE PARTIDA
25 ANOS DE MIGUEL VIEIRA
PAULA BORGES APOSTA NO LUXO
PORTUGALFASHIONMAG
43
45
47
50
52
54
56
59
62
64
66
68
70
72
75
77
79
81
MDS À VOLTA DO MUNDO
A FORÇA DA UNIÃO
DENIM REGRESSA ÀS ORIGENS
DA DETERIORAÇÃO À CRIAÇÃO
A CULTURA DO PUNK
WOMEN’SECRET NO AMOREIRAS
TROIKA DE CORES AQUECE VERÃO
LARANJINHA
O NEGÓCIO DA MODA
FATOS DE BANHO
INVERNO GLAMOUROSO
ISABEL MARANT NA H&M
O HOMEM DA FLORESTA
O MUNDO SEGUNDO KARL
JASON WU NA BOSS
A VEZ DA UNIÃO
O FETICHISMO NA MODA
HOMEM PERDE O MEDO
PORTUGALFASHIONMAG
LUÍS ONOFRE
ATRAVESSA ATLÂNTICO
PORTUGAL FASHION MAG
A América do Sul é o destino da próxima
viagem do criador de calçado e acessórios,
que pretende levar a sua marca epónima a
países como o Chile e a Colômbia.
Empenhado em crescer além-fronteiras,
Luís Onofre tem procurado mercados
alternativos para a sua marca própria, que,
há muito, é conhecida em Portugal pela
sua elegância. Mas face à situação atual
do mercado interno, é para o estrangeiro
que se voltam as baterias. «Felizmente
temos a possibilidade de exportar e temos
mercados alternativos», explica o criador.
A nova investida de Luís Onofre passa,
assim, pelo outro lado do Oceano Atlântico.
«Vamos fazer uma viagem grande de
prospeção de mercado, até já com umas
marcações com alguns clientes, e vamos
estar quase um mês e meio na América do
ISSUE #5 | JUN 2013
Sul a batalhar», revela o criador de
calçado e acessórios.
Já em “avançado” estado está um
projeto na Colômbia, em Bogotá e
Medellín, «onde vamos praticamente
fazer uma loja monomarca. Penso
que provavelmente será ainda nesta
estação de verão», anuncia. Um
projeto em parceria, até porque,
como reconhece Luís Onofre,
«tento sempre ligar-me a parceiros
que estejam vocacionados para o
segmento comercial, porque o meu
trabalho é criativo».
E criatividade não falta na coleção,
com 300 modelos, que o criador
levará na bagagem para mostrar
nestes novos mercados. Para o
outono-inverno, Luís Onofre faz o
elogio do preto, em vários tons que resultam
da combinação de diferentes materiais –
como camurça, boxcalf, croco e pelo.
«O preto era um pouco o estado de espírito
com que estava quando comecei. Depois
as coisas foram-se dissipando, para cores
mais suaves como o castanho, o mel, o
bordeaux, o verde e terminamos com o
pérola-branco», enumera.
Em termos de modelos, Onofre explorou
o tema da equitação. «As botas de montar
são, sem dúvida, o must da coleção», afirma
o criador, que desenhou ainda stilettos
com salto «vertiginoso» e sapatos de salto
raso. Já as carteiras, maioritariamente
rígidas, crescem e atingem «dimensões
inesperadas», combinando diversos tons e
materiais.
5
MULHERES
A CORES
PORTUGAL FASHION MAG
A estação pode ser fria, mas as cores
que a vão pintar são quentes, de
acordo com o WGSN.
é transposto para o denim. As cores
mais fortes, como o enxofre e o verde,
ficam reservados aos detalhes.
No vestuário casual paar o outonoinverno 2014/2015, os tons azuis
ganham nova vida quando sobrepostos
com o vermelho primário e o laranjatailandês. Os tons frios minerais são
usados como base, e o cinza-azulado
Já o vestuário formal pinta-se de tons
mais escuros, com o ébano – o novo
preto – a dominar a paleta de cores,
juntamente com o azul-pavão e o
carmesim.
ISSUE #5 | JUN 2013
Para as ocasiões especiais, o azul, o
vermelho escuro e os tons metálicos
preenchem a paleta de cores do
vestuário feminino, pontuados por
tons mais claros, como o rosa e o
laranja. As cores misturam-se em
peças de vestuário que conjugam
estampados, adornos e fortes brilhos.
7
OS NOVOS
PROJETOS
DE FOB
PORTUGAL FASHION MAG
Depois de ter ganho o prémio em
2002, Felipe Oliveira Baptista é agora
o presidente do júri do prestigiante
Festival d’Hyères, que se realiza no
final do mês.
Para o criador português, o regresso
à cidade de Hyères é, sem dúvida, um
dos momentos altos da sua carreira.
«O Festival d’Hyères foi importante,
simbolizou para mim o princípio. Acho
que voltar ao festival este ano – e
sou o primeiro ex-vencedor a presidir
ao júri –simbolicamente também é
importante», considera.
Este não é, contudo, o único novo
projeto para 2013 de Felipe Oliveira
Baptista. «Estou também a preparar
uma exposição em Lisboa, no Mude,
no fim de outubro, que coincide com
os 10 anos da marca»», anuncia,. No
entanto, ressalva, «não é tanto uma
ISSUE #5 | JUN 2013
retrospetiva, mas naturalmente vai-se
falar dos 10 anos da marca».
Criada em 2003, a marca Felipe
Oliveira Baptista é direcionada para
uma mulher que «procura algo de
especial, de singular, e também
qualidade, mas ao mesmo tempo que
seja algo que ela possa usar e não que
a use a ela», descreve. Atualmente é
vendida um pouco por todo o mundo,
da Europa, em países como França,
Inglaterra, Espanha, Itália, à Ásia, EUA
e Médio Oriente.
Curiosamente, Portugal fica de fora
deste mapa, pelo menos diretamente.
«Tenho consumidoras cá e hoje em
dia acho que um quarto dos nossos
clientes tem serviço online, pelo que
essas barreiras já são mais facilmente
ultrapassáveis». No entanto, confessa,
«entristece-me», embora acredite que
seja «uma questão de tempo».
A par com a sua coleção própria para
o outono-inverno 2013/2014, que
teve «uma reação bastante boa a nível
mundial», Felipe Oliveira Baptista é
ainda, desde 2010, o diretor criativo
da Lacoste, onde tem vindo a somar
adeptos estação após estação. «A
receptividade à última coleção foi
ótima, a crítica foi unânime e as
vendas da linha do desfile em Nova
Iorque subiram 100% em relação ao
ano passado, o que é muito bom»,
revela.
Quanto ao seu futuro na marca, «é
um trabalho contratual. Estou agora
a chegar ao fim do primeiro contrato
e estamos a pensar na segunda fase»,
conclui.
9
FARFETCH ATRAI GIGANTES
PORTUGAL FASHION MAG
O negócio on-line de moda Farfetch,
fundado pelo empresário português
José Neves, continua a atrair as atenções
internacionais. A gigante do mundo
editorial Condé Nast International (que
detém, entre outras, a revista Vogue) acaba
de investir 20 milhões de dólares (cerca
de 15,4 milhões de euros) na Farfetch,
com os atuais investidores – a Advent
Venture Partners, a Index Ventures e a
e.ventures – a fazerem igualmente parte
da angariação de fundos.
Este novo investimento irá alimentar «a
entrada em novos mercados, ao mesmo
tempo que sustenta o crescimento nos
mercados atuais», revela o fundador e
CEO da Farfetch, José Neves. «O nosso
objetivo de criar um franchise mundial
na moda de designer on-line está
vários passos mais próximo graças ao
envolvimento excitante da Condé Nast»,
acrescenta Neves.
ISSUE #5 | JUN 2013
O negócio atraiu a Condé Nast porque,
como revela o diretor-executivo da
empresa, Jonathan Newhouse, «a Farfetch
tem uma posição única, ligando lojas
em todo o mundo através do comércio
eletrónico, para consumidores de moda
sofisticados como os leitores das nossas
revistas e utilizadores do website».
A notícia do investimento surge na
mesma altura em que a especialista em
comércio eletrónico de moda está a
selecionar o melhor conceito multimarca,
com oito lojas atualmente a competir
pelo título de “superloja” do ano, na qual
os utilizadores do site poderão em breve
votar. Um painel com oito celebridades
da moda e do retalho fez a lista inicial,
que contempla a loja parisiense de
vestuário de homem Void, assim como
a concept store Kostas Murkudis, em
Berlim, fundada por Alexey Shumekyo e
Gregory Delos, que oferece uma seleção
de marcas como Yohji Yamamoto, Silent
by Damir Doma, Alexandre Plokhov e
The Viridi-Anne.
A loja vencedora terá um corner gratuito
na Farfetch.com durante um ano e
os utilizadores do site que votarem
habilitam-se a um vale de compras para a
loja vencedora, assim como uma viagem
à cidade onde a mesma se localiza.
Com vendas estimadas em 129 milhões
de dólares em 2012 (um aumento de 145%
em comparação com 2011), a Farfetch,
com apenas cinco anos de existência,
tem atualmente mais de 150 mil clientes
em 140 países e oferece mais de 82 mil
produtos de 2.000 marcas de luxo e cerca
de 250 lojas de moda independentes.
11
O MENINO
BONITO DA MODA
PORTUGAL FASHION MAG
Com apenas 22 anos, João Melo Costa
é, cada vez mais, um valor seguro
da moda portuguesa, que depois da
nomeação para os Fashion Awards
tem os olhos postos em Paris.
Na última edição dos Fashion Awards,
no final do ano passado, João Melo
Costa foi surpreendido com uma
nomeação para a categoria de Novo
Talento. «A minha primeira coleção
sem ser concurso foi logo selecionada.
Não estava à espera», admite o jovem
criador, que considera que «foi bom
para as pessoas começarem a ouvir o
meu nome e prestarem mais atenção».
No último ano, o criador tem crescido
na moda, embora não sem pressões.
«Foi um ano para me libertar de
algumas prisões criativas que sentia
que me podiam começar a dominar.
As expectativas das pessoas e o facto
de apostar no Bloom – comecei a
pensar se teria de adaptar o trabalho
a um registo que parecia ser mais do
Bloom. Estava a começar e não sabia
muito bem o que estava a fazer. Foi um
ISSUE #5 | JUN 2013
ano para me descobrir, para perceber
aquilo que eu gosto de fazer», explica.
O resultado pode ser visto na
passerelle, com uma coleção pessoal
sobre o luto. «As minhas coleções
têm sempre muito a ver comigo, com
a minha vida, e a minha vida para já
passa-se em Portugal. Gosto imenso
do mar, das redes velhas do mar,
as pessoas a trabalhar nas redes»,
aponta. As redes fazem, por isso, parte
dos coordenados, que contam uma
história que começa com otimismo e
depois acaba com o desaparecimento
e morte no mar – uma realidade bem
conhecida dos portugueses.
sublinha. Por isso, Paris é um dos
objetivos. «Gostava imenso que o
Portugal Fashion me levasse a Paris
para a próxima coleção, acho que seria
bom para todos. Sou jovem, tenho
uma imagem fresca, nova e que vai
mostrar lá fora que a moda portuguesa
tem futuro», conclui João Melo Costa.
O ano trouxe ainda a parte comercial,
com a loja do Bloom no Centro
Comercial Península, no Porto. «Vendi
duas peças criadas especialmente
para o público do Península», revela.
Quanto ao futuro, a ambição do jovem
criador passa pela internacionalização.
«Acho que o meu trabalho tem
qualidade para se validar lá fora»,
13
HOMENS
A CORES
PORTUGAL FASHION MAG
Os cinzentos e os azuis invadem a
paleta de cores da moda masculina
para o outono-inverno 2014/2015.
Nem tudo é frio, contudo, nas
previsões do gabinete de tendências
WGSN, que aponta ainda os tons
ricos e fortes para aquecer a estação
fria do próximo ano.
Na moda formal, mais clássica, os tons
ajustam-se à função, com o cinzaazulado e o verde-asteroide a terem
a primazia. Mas o verde-amarelado do
ISSUE #5 | JUN 2013
chartreuse é a cor-chave, sobretudo
quando usado em sobreposição com
o camel-escuro e o vermelho-vinho. O
lápis-lazúli e o vermelho acrescentam
emoção às cores dos detalhes, onde
competem ainda o ferrugem e o verdeazeitona, assim como o cinzento lunar.
intermédios de cinza-azulado. Os tons
mais claros de chartreuse e vermelhocórdova unem-se ao laranja-tijolo,
azul-ciano e azul-gelo para colorir os
detalhes.
No vestuário casual, são os tons
quentes e escuros que dominam, do
ébano ao uva-passa, passando pelo
índigo-escuro, o verde-azeitona e o
cinzento mineral. O ferrugem e o jade
destacam-se juntamente com os tons
15
NICOLA FORMICHETTI
NA DIESEL
PORTUGAL FASHION MAG
A Diesel contratou o jovem criador
italo-japonês
Nicola
Formichetti
para revolucionar a marca italiana de
jeanswear.
Apartirdo outono-inverno 2013/2014,
Formichetti será responsável pela
direção de todas as atividades criativas
da linha principal da Diesel, incluindo
as áreas de produto, comunicação e
design de interior.
«Finalmente conheci alguém que é
tão louco como eu», afirma Renzo
Rosso, que controla a marca. «O Nicola
partilha da mesma visão e considero
extremamente estimulante trabalhar
ISSUE #5 | JUN 2013
com ele: dois planetas criativos que
colidem para gerar ideias frescas
e loucas. Com a sua participação,
quero quebrar mais regras e trazer a
verdadeira marca Diesel a uma nova
geração», acrescentou.
Também Nicola Formichetti, que saiu
no início do mês da Thierry Mugler,
onde esteve dois anos, considera que
«a Diesel e eu somos feitos um bocado
dos mesmos ideais. Sem regras. Tratase de ser poderoso, trata-se de ser
livre. É uma revolução positiva. Nós
vamos reiniciar. Vamos refrescar. Esse
é o nosso primeiro projeto: estamos a
rasgar tudo para depois construirmos
algo maior. E quero que jovens criativos
de todo o mundo façam parte desse
processo».
Um processo que o criador tinha
já implementado na Mugler. Sob a
direção de Formichetti, as coleções de
pronto-a-vestir da Mugler ganharam
uma nova vida e chegaram a novos
públicos, sendo agora vendidas em
lojas como a Opening Cerimony e a
Lane Crawford. O criador ítalo-japonês
também introduziu com sucesso uma
linha de carteiras na Mugler e, mais
recentemente, lançou a sua marca
própria, Nicopanda, que está a ser
vendida um pouco por todo o mundo.
17
DESIGNERS DE PRIMEIRA
NA SEGUNDA LINHA
PORTUGAL FASHION MAG
Há cada vez mais criadores de moda a
conquistar, com uma segunda marca,
o promissor mercado das linhas ditas
“contemporâneas”, que oferecem
glamour a preços mais comedidos.
Aproveitando este estado de graça,
Zac Posen e as criadoras da Marchesa
acabam de anunciar o lançamento para
o outono de uma segunda linha. «Quero
oferecer as minhas criações a um
público mais vasto sem comprometer a
conceção, os materiais e a abordagem
estilística», explica Posen, celebrizado
pelos seus sumptuosos vestidos de
noite. Depois de ter lançado no final
de 2009 a Z Spoke, uma linha mais
acessível para um público jovem, com
sucesso incerto, Posen resvalou para
«o sector da criação contemporânea»
ISSUE #5 | JUN 2013
que mantém, segundo ele, apesar
dos preços mais convidativos, «a
sensibilidade da criação “couture”».
Como Marc Jacobs com a Marc by Marc
Jacobs ou Donna Karan com a DKNY,
Zac Posen ofereceu à sua marca bis
um nome facilmente identificável, ZAC
Zac Posen, utilizando a atratividade da
linha de gama alta. A faixa de preços
continua elevada, mesmo sem atingir
os 10 mil euros do requintado vestido
preto em organza assinada por Posen
que a atriz January Jones envergou nos
últimos Emmy Awards, variando entre
400 euros para um simples vestido e
1.300 euros para um vestido de noite.
«É um pouco como conduzir um Toyota
e um dia passar para um Lexus», o
19
PORTUGAL FASHION MAG
topo de gama do construtor japonês,
resume Hal Rubinstein, fundador da
InStyle Magazine.
Além do custo, o “contemporâneo”
também oferece um guarda-roupa
quotidiano mais vestível durante o dia
para uma mulher moderna. «A nossa
primeira linha é um pouco especial
com os seus códigos fortes, o que
provavelmente não é para todos»,
considera Giovanni Pungetti, que dirige
a mítica anti-marca Martin Margiela e
lançou na última semana de moda em
Nova Iorque a urbana MM6. «Quando
se alarga o alvo, é para chegar a mais
pessoas (…) e também para fazer mais
negócio», justifica.
Também
ISSUE #5 | JUN 2013
os
pequenos
designers
exploram cada vez mais este
mercado, enfatizando a qualidade e
a originalidade para competir com os
gigantes do pronto-a-vestir como a
espanhola Zara ou a sueca H&M. «Criar
um vestido por 400 euros, para nós,
significa fazer algo de muito especial»,
advoga Tory Burch, popularizada pelo
seu estilo que casa cortes clássicos
com detalhes ousados.
Igualmente na vanguarda desta
área designada no passado como
intermediária estão Rebecca Minkoff,
Nanette Lepore, Tracy Reese ou ainda
Jenna Lyons para a J Crew. Quase
todas estas marcas têm a Primeiradama norte-americana, Michelle
Obama, como cliente, o seu melhor
argumento de marketing.
20
UM GUARDA-ROUPA
DE FERRO
PORTUGAL FASHION MAG
Única mulher a comandar os destinos
políticos do Reino Unido, Margaret
Thatcher usou a moda para forjar a
sua imagem num mundo dominado
por homens.
Admirada por uns, odiada por outros,
Margaret Thatcher, que foi descrita,
pelo ex-Presidente francês François
Mitterrand como tendo «os lábios de
Marilyn Monroe e os olhos de Calígula»,
criou um estilo que misturou vestir-se
para o poder com feminilidade.
A sua peça de referência era a famosa
carteira que gerou medo nos corações
de ministros, mas os fatos de saia em
azul e com ombreiras, as pérolas e o
seu cabelo tornaram-se icónicos.
Não foi, por isso, uma surpresa ver
Anya Hindmarch, a designer de
acessórios de moda da qual Thatcher
era cliente, na lista de convidados do
ISSUE #5 | JUN 2013
funeral da Dama de Ferro na Catedral
de São Paulo.
Enquanto primeira mulher líder política
no ocidente, Thatcher viu o seu visual
mais escrutinado do que qualquer outro
político antes dela. E as escolhas dela
expressaram precisamente o ponto
em que estava o feminismo nos anos
80, com as mulheres trabalhadoras a
usarem sapatos de salto baixo e fatos
clássicos que eram uma carapaça de
proteção num mundo que era ainda
muito masculino.
Com o seu próprio estilo e pouco dada
a piadas, Margaret Thatcher poderia
ter ignorado os comentários sobre
como se vestia, sobretudo os que
faziam troça dos laços e da sempre
presente carteira. Porém, uma vez
comentou com a reputada jornalista
de moda Suzy Menkes que ser eleita
para a Lista Internacional dos Mais
Bem Vestidos em 1988 – enquanto
modelo com influência da «elegância
clássica» – foi «um dos melhores
momentos da minha vida».
22
CRIATIVIDADE ACIMA DE TUDO
PORTUGAL FASHION MAG
Face às dificuldades, a moda
portuguesa está mais forte do que
nunca, com a afirmação dos nomes
consagrados e a emergência de novos
talentos.
Dos designers consagrados aos
talentos emergentes, em busca de
afirmação no mercado e notoriedade
para as suas marcas, ousadia é a palavra
que impera na moda portuguesa de
hoje, que enfrenta as dificuldades da
conjuntura com muita criatividade.
novos produtos à busca por afirmação
em novas geografias. E estão mais
arrojados também comercialmente.
Um pouco por todo o país têm aberto
novas lojas, desde os recentes pontos
de venda em Lisboa de Os Burgueses,
Nuno Gama e Alexandra Moura, à
segunda loja na Foz, no Porto, de Luís
Buchinho.
«É um período difícil mas é um período
criativo. Temos de tirar partido destes
maus tempos e dar a volta e é isso que
os jovens criadores fazem muito bem»,
sustenta Miguel Flor, coordenador do
Espaço Bloom do Portugal Fashion, a
plataforma de jovens criadores que
tem dado asas aos sonhos dos novos
talentos.
«O negócio está a correr bem, tanto
a nível da loja como mesmo ao nível
de vendas internacionais. A marca
tem dado pulos e tem-se consolidado
muito. Acho que estou com um público
muito fiel, que está muito atento ao
que eu estou a fazer e que quer estar
perto da marca», revela Luís Buchinho,
presente não só nas duas passerelles
nacionais e em Paris (com o apoio do
Portugal Fashion), mas também em
feiras internacionais, como a Who’s
Next.
Os nomes consagrados estão
igualmente a absorver esta mudança e
têm “inundado” o mercado com projetos
diferentes, desde o lançamento de
O mercado internacional tem ainda
aberto as suas portas através das
apostas online, sobretudo por parte dos
jovens criadores. «Os jovens criadores
ISSUE #5 | JUN 2013
têm de ser mais empreendedores,
olhar mais para aquilo que estão a
construir, encontrar parceiros, as
feiras, o showroom, o relações públicas
ideal – se não têm dinheiro para isso,
devem usar a web o mais possível para
que o negócio possa fluir», considera
Miguel Flor.
E com nomes como Felipe Oliveira
Baptista – que vende em mercados
da Europa à Ásia, assim como no
Médio Oriente e nos EUA –, Fátima
Lopes, Luís Buchinho ou Miguel Vieira
a liderar aquela que é, até agora,
provavelmente a geração portuguesa
mais bem sucedida no mundo da
moda, o futuro tem de ser encarado,
necessariamente, com otimismo.
24
SOB O SIGNO DO 4
PORTUGAL FASHION MAG
estamos a trabalhar com mercados
muito exigentes, com mercados que
são muito rigorosos nos timings e,
portanto, absorvem-nos muito no
nosso dia a dia», revela.
A parceria de Alexandra Moura com a
Goldmud continua de pedra e cal e, à
quarta coleção, dá provas de ter pés
para andar.
«As primeiras duas coleções foram
experimentais para ambas as partes.
Fomos consolidando as bases para
esta parceria se firmar», sustenta
Alexandra Moura, que tem ainda uma
marca epónima de vestuário.
A nova coleção da criadora para a
marca de calçado, que foi apresentada
no Portugal Fashion, partiu do
número 4 e da forma geométrica do
quadrado. «É quase o voltarmos às
origens. A coleção tem uma carga
quase que primitiva – as texturas de
animal, crocodilo, os metais que já
vêm da pré-história, os próprios saltos
que foram trabalhados por nós e são
completamente originais», destaca a
criadora.
À venda na sua loja própria –
Alexandra Moura Mais – no Príncipe
Real, em Lisboa, a linha de calçado
ISSUE #5 | JUN 2013
Os mercados asiáticos são, atualmente,
os principais adeptos das criações de
Alexandra Moura, que tem um agente
em Hong Kong e realizou os primeiros
contactos comerciais no Japão. A
Europa começa também, lentamente,
a render-se ao estilo da criadora. «O
cliente europeu é muito cuidadoso e
demora muito tempo até se conquistar
o comprador. Mas há uma procura, no
sentido de quererem perceber a nova
coleção, os materiais que usamos,
quais são os preços», aponta.
começa a calcorrear também os
mercados internacionais, tal como
tem vindo a acontecer com as
suas coleções de vestuário. «Esta
parte da internacionalização estános a ocupar muito tempo, porque
Os
mercados
nórdicos
–
nomeadamente Dinamarca, Islândia e
Suécia – serão a próxima prioridade.
«Há uma identificação muito engraçada
com a nossa estética. Portanto, acho
que seria um mercado que, com
certeza, iria corresponder também às
nossas expectativas», conclui.
26
DIVERSIFICAR
PARA GANHAR
PORTUGAL FASHION MAG
que se está a lançar igualmente nas
vendas online.
Transversal e universal, a moda vai
além do vestuário, uma tendência que
está a ser aproveitada pelos criadores
nacionais.
«Acho que também devia fazer algo
associado à lingerie, porque sou tão
feminina e gosto tanto de tecidos…
Não digo que vá ser já, mas vou tentar
assediá-la de alguma maneira, sem
dúvida», refere.
Miguel Vieira foi um dos pioneiros,
tendo desde cedo apostado no
design de calçado. Seguiu-se-lhe
Fátima Lopes, que depois de canetas,
porcelanas e outras incursões em
novos universos, acaba de lançar um
perfume com a sua assinatura. Mas a
tendência está a tornar-se transversal
a muitos criadores.
É o caso de Katty Xiomara, como
revelou no seu mais recente desfile
no Portugal Fashion. «Fizemos um
apontamento no calçado, em parceria
com a Only to You, e também nos
óculos, que são design nosso em
parceria com a Shamir e a Silhuette,
nas armações», explica. «O objetivo é
sempre crescer e ser mais abrangente,
não só na nossa área de trabalho, mas
também em termos de mercados»,
destaca a criadora, que, além de
Portugal, vende também em Espanha,
EUA e Kuwait.
ISSUE #5 | JUN 2013
Já Anabela Baldaque está a apostar
nos têxteis-lar, com um novo projeto
em parceria com uma empresa de
catering de Carregal do Sal. «Foram
concebidas quatro linhas de toalhas
de mesa para banquetes: Sushi, Frutos
Silvestres, Pata Negra e Suspiro»,
enumera. Uma aventura que pode
não se ficar por aqui para a criadora,
Já Nuno Baltazar tem os olhos noutros
horizontes, com a sua primeira linha
de óculos. «É uma extensão natural
de uma linha de pronto-a-vestir. É um
acessório fundamental que cada vez
faz mais sentido e há alguma avidez
por novas propostas de óculos menos
massificadas», justifica o criador, que
conta também com uma linha de
mobiliário em parceria com a Munna.
A seguir aos óculos, Nuno Baltazar
está a ponderar outro segmento, a
pensar nas mais pequenas. «Estou
com vontade de desenvolver uma
linha para menina. Faz sentido no
meu universo, que é muito feminino»,
conclui.
28
GHIBI PÕE OS PÉS
LÁ FORA
PORTUGAL FASHION MAG
Depois de ter convertido a calçado de
andar por casa num ícone de moda e
estilo, a Ghibi está agora a lançar uma
linha de calçado de exterior.
A Ghibi, uma marca de calçado
direcionada para «uma mulher entre
os 25 e os 50 anos, que gosta de estar
bem, mesmo em casa, tem cuidado
consigo própria, gosta de tratar da
imagem mas sem descurar o conforto»,
como explica Teresa Oliveira, diretorageral da Houspring, que detém a marca,
acaba de lançar uma nova coleção de
calçado de exterior capaz de agradar
até às consumidoras mais exigentes.
«Desenvolvemos
uma
gama
diferenciada, com recurso à técnica
ISSUE #5 | JUN 2013
de vulcanização e que privilegia os
detalhes cuidados e os materiais de
qualidade», garante a responsável da
marca. No entanto, realça, «ambas
as linhas [interior e exterior] têm a
mesma filosofia na medida em que
acabamos por ter no produto um fio
condutor que o cliente já identifica, ou
seja, oferecer produtos confortáveis,
com boa imagem, detalhes cuidados,
glamour».
Na primeira coleção da linha de
exterior, para o próximo outonoinverno, a camurça e veludo estão em
destaque, enquanto para a primaveraverão 2014 «privilegiámos os tecidos
de linho e de juta. A paleta de cores
é composta essencialmente por tons
30
PORTUGAL FASHION MAG
neutros com detalhes vivos, como por
exemplo uma fita em rosa fúcsia. Em
termos de padrões, os estampados
animais continuam em alta. Mas há
muitas novidades, como é o caso
de uma gama stone wash», revela a
diretora-geral.
A apresentação oficial desta nova linha
foi feita no salão de moda parisiense
Who’s Next, que garantiu novos
clientes para a marca. «Esta abordagem
internacional fez-nos perceber que
a gama tem capacidade para existir
as duas estações, quente e fria. Em
menos de um ano já ganhou vida
própria», considera Teresa Oliveira.
El Corte Inglés, em cadeias de retalho,
distribuidores de calçado, lojistas de
pequena dimensão e department
stores, não só em Portugal mas
também em países como Espanha,
Itália, Grécia, Reino Unido, Alemanha,
Dinamarca, Suécia, Suíça, Rússia,
Turquia, Japão e EUA.
Atualmente, a marca está à venda no
ISSUE #5 | JUN 2013
31
LISBOA DE PÉ NO CHINELO
PORTUGAL FASHION MAG
O verão chegou mais cedo a Lisboa,
com a abertura da nova loja Havaianas,
a primeira na capital portuguesa. «Já
há três anos que tínhamos planeada
a abertura desta loja, no entanto, por
querermos uma localização muito
específica (a Rua Garrett), tivemos
que esperar o tempo necessário
até encontrarmos o local adequado
disponível», revela Marta Lima, country
manager da marca em Portugal.
Um desejo antigo que viu agora a luz
do sol com objetivos bem definidos.
«A abertura de uma loja em Lisboa
vem ao encontro do desejo dos nossos
consumidores de conhecerem tudo o
que a Havaianas tem para lhes oferecer
e, numa loja 100% dedicada à marca,
obviamente que a gama de produtos
disponível é muito mais ampla do que
num retalhista multimarca», justifica.
lCom 40 m2, o espaço contempla
mais de 200 opções de havaianas,
entre modelos, cores e padrões, que
dão um colorido inusitado ao espaço,
a fazer lembrar o Brasil natal da marca
que se tornou uma referência em todo
ISSUE #5 | JUN 2013
o mundo. E o produto pode ainda ser
personalizado, com o serviço Make
Your Own Havainas (MYOH), «que
permite à consumidora construir
as suas Havaianas Slim únicas, com
a combinação de cores desejada e
colocação de pins e cristais Swarovsky»,
anuncia a country manager.
Este ponto de venda pretende ainda
«ajudar os clientes retalhistas a
fazerem crescer o seu negócio, uma
vez que vão poder ver o resultado
de diversas apostas aparentemente
mais arriscadas mas que vamos poder
provar como sendo um sucesso através
da nossa experiência», acrescenta.
Sendo o principal consumidor de
Havaianas na Europa, os poucos dias
de existência da nova loja mostraram
a apetência dos lisboetas, e não só,
pela marca. «Os nossos consumidores
têm acudido em massa ao novo
espaço Havaianas e as reações têm
sido muito positivas, tanto no que se
refere ao ambiente de loja como à
coleção exposta», afirma Marta Lima.
lE nem a crise afasta os portugueses
da compra dos míticos flip-flops ou das
suas versões em sandálias, alpercatas,
sabrinas, ténis e até galochas. «Portugal
continua a ser o país europeu com
maior venda de Havaianas per capita
e, felizmente, podemos dizer que a
crise não tem tido grande influência
no nosso negócio: em 2012 fechámos
o ano a crescer as nossas vendas em
10% e o plano para 2013 é conseguir
15% de crescimento em relação ao ano
anterior», destaca a country manager.
Com esta nova loja, a segunda em
território nacional, já que a marca tem um
ponto de venda próprio em Portimão,
a Havaianas conclui os projetos de
novas aberturas para este ano em
Portugal, mas a ambição de continuar
a evoluir mantém-se. «Queremos
continuar a aumentar as nossas
vendas e sobretudo a nossa relação
emocional com os consumidores, para
que a marca Havaianas possa celebrar
os próximos 50 anos com tanto êxito
como celebrou o seu meio século em
2012», conclui Marta Lima.
33
IMPETUS AUMENTA
MOBILIDADE
PORTUGAL FASHION MAG
As novas tecnologias invadiram
a Impetus e a marca portuguesa
tornou-se pioneira no lançamento
de duas aplicações de realidade
aumentada, que permitem ver a roupa
interior com outros olhos. «Com as
duas aplicações desenvolvidas para
múltiplas plataformas móveis, o
cliente Impetus poderá vivenciar uma
experiência inovadora e apelativa
permitindo que em qualquer lugar
aceda a conteúdos especialmente
desenvolvidos para criar empatia com
a marca e relacionamento emocional
com o produto, podendo ainda partilhar
essa experiência única nas redes
sociais», explica Fernando Figueiredo,
responsável de comunicação da
Impetus.
ISSUE #5 | JUN 2013
A realidade aumentada – a integração
de informações virtuais a visualizações
do mundo real – divide-se em duas
aplicações na Impetus (disponíveis
para download no website da marca):
a primeira, denominada Impetus
Catwalk, foi desenvolvida para a
coleção beachwear 2013 e permite
aos utilizadores visualizar um desfile
dos modelos da coleção e interagir
com eles em tempo real, e a segunda,
a Impetus Augmented Reality, mostra
hologramas digitais dos vários modelos
das quatro linhas (Young, Trendy,
Timeless e Seamless). «Ao apontar
a câmara do smartphone para os
marcadores de realidade aumentada,
os utilizadores deparam-se com cenas
quotidianas originais e interativas»,
indica o responsável de comunicação.
O objetivo é «ter uma comunicação a
360º, que o público conheça a marca,
interaja com os nossos produtos,
passe bons momentos a “brincar”
com o seu tablet ou smartphone»,
justifica Fernando Figueiredo. «Com
esta inovação associamos também
a marca à inovação e tecnologia,
uma característica que está presente
em diferentes linhas da Impetus,
consolidando desta forma a imagem
inovadora [da marca] no mercado
global», acrescenta.
Disponíveis há pouco mais de um mês
no mercado, estas duas aplicações
têm sido bem recebidas pelos clientes,
tanto retalhistas como consumidores
finais. «No caso do retalho, o feedback
é que se trata de algo “fantástico
35
PORTUGAL FASHION MAG
e original” que querem incorporar
nas suas montras como elemento
de promoção da marca e da própria
loja», revela. Entre os elogios está o
do El Corte Inglés, que é, de resto, o
ponto de partida para «uma ação de
promoção da marca com esta aplicação
no El Corte Inglés de Barcelona,
onde somos a marca número um em
termos de vendas», anuncia Fernando
Figueiredo.
da coleção outono-inverno 2013/14,
onde iremos colocar novos conteúdos,
desta vez com a incorporação dos
markers nas embalagens da Impetus
e quem sabe também com ativação
desta tecnologia dentro do ponto de
venda», desvenda o responsável de
comunicação.
A aplicação das novas tecnologias
não se fica, contudo, por aqui, com a
Impetus a planear novas iniciativas.
«Para já, temos previsto o lançamento
de um vídeo viral destinado às redes
sociais, que esperemos que se torne
num buzz. A atualização destas
aplicações será feita com o lançamento
ISSUE #5 | JUN 2013
36
REGRESSO À CASA DE PARTIDA
PORTUGAL FASHION MAG
os anteriores vencedores, incluindo
Felipe Oliveira Baptista, atual diretor
criativo da Lacoste, construíram a sua
carreira a partir de Hyères.
Numa edição presidida pelo português
Felipe Oliveira Baptista, que venceu o
concurso em 2002, o Festival d’Hyères
premiou o imaginário da finlandesa
Satu Maaranen.
Felipe Oliveira Baptista presidiu a
28.ª edição do Festival d’Hyères,
onde tudo começou para o criador
de moda português há 11 anos.
A finlandesa Satu Maaranen foi
consagrada vencedora com a
surpreendente coleção “Garments in
Landscape”, onde se destacaram os
chapéus sobredimensionados que
tiveram grande impacto na passerelle.
«Quis conjugar a paisagem natural
[da Finlândia] com a alta-costura, por
oposição», explica a criadora.
«O que nos chamou a atenção na
Satu foi a força do seu imaginário, que
abre uma nova dimensão. Ficamos
particularmente sensibilizados pelo
tratamento que dá à cor, trabalhada de
forma artesanal, assim como à riqueza
ISSUE #5 | JUN 2013
dos materiais e das texturas», afirma
Floriane de Saint-Pierre, headhunter e
um dos membros do júri.
Satu Maaranen, que trabalhou com a
Marimekko, leva para casa uma bolsa
de 15 mil euros e a sua coleção irá
ser apresentada no salão profissional
Première Vision em Paris e em Nova
Iorque, assim como nas Galerias
Lafayette.
Mas mais do que o prémio financeiro,
é o reconhecimento do seu talento
a principal recompensa, até porque
«Não há apenas um caminho e, apesar
de alguns terem criado uma marca
própria, como Felipe Oliveira Baptista,
muitos outros jovens talentos
conseguiram bons cargos junto de
marcas», explica Philippe Pasquet. A
mais recente história de sucesso saída
de Hyères é a de Anthony Vaccarello,
que venceu em 2006, e só se lançou
a solo após um contrato com a Fendi,
a marca italiana dirigida por Karl
Lagerfeld.
O júri galardoou ainda o trabalho da
criadora chinesa Shanshan Ruan com
o Prix Public de la Ville d’Hyères e a
holandesa Yvonne Poei-Yie Kow com
o Prix Public du Palais de Tokyo. O Prix
Chloé, que premeia a forma clássica e
o estilo francês, foi entregue à suíça
Camille Kunz.
38
25 ANOS
DE MIGUEL
VIEIRA
PORTUGAL FASHION MAG
Figura incontornável da moda
portuguesa, Miguel Vieira conseguiu
associar o seu nome ao luxo e reunir
uma base fiel de clientes ao longo de
um quarto de século.
Na coleção para o outono-inverno
2013/2014, o número 25 esteve
em destaque, a lembrar uma carreira
de sucesso que há muito cruzou as
fronteiras nacionais. «A coleção é
uma homenagem que faço à mulher.
Inicialmente pensei em trazer para os
desfiles apenas a coleção de mulher
– foi assim que eu comecei há 25
anos, só com mulher – depois é que
tive homem e, desde há dois anos,
criança», explica o criador.
Uma coleção luxuosa, repleta de
materiais nobres, «direcionada para
um público que não tem crise, que
aprecia, que mal começa a estação vai
logo comprar – não sou contra outros
públicos, mas é para esse público que
trabalho», assume Miguel Vieira.
Já presente um pouco por todo o
ISSUE #5 | JUN 2013
mundo, quer com a sua coleção de
vestuário para homem, senhora e
criança, quer na linha de calçado
e até mobiliário, o criador de São
João da Madeira continua a querer
explorar novos mercados. «Queria
muito expandir-me no Brasil. Já tenho
nacionalidade brasileira – porque
sou filho de mãe brasileira – e é um
mercado que me interessa muito. É
um país onde estou a apostar forte e,
a partir dali, podemos expandir para
a América Latina toda, que é algo
também que me seduz bastante»,
refere.
profissão, tinha muitas portas à minha
frente e vários caminhos. A porta que
abri foi a que se chamava moda e essa
porta tinha uma escadaria muito grande,
que nunca mais acaba. Lentamente
comecei a subir alguns degraus e
nem sequer vou a meio, porque ainda
falta fazer muito», sustenta. «Mas se
voltasse atrás, tornaria a subir o mesmo
degrau, a entrar naquela porta, porque
realmente é algo que gosto muito de
fazer», conclui Miguel Vieira.
Um próximo passo para uma carreira
plena de vitórias do criador, que
destaca, nestes últimos 25 anos,
«todos os momentos em que consegui
ter mais um produto novo, porque
ficava mais autónomo, sem estar
dependente de mais ninguém. Acho
que isso é que faz sentido numa
marca», afirma.
Mas o percurso vai ainda a meio.
«Quando tive de optar pela minha
40
PAULA BORGES
APOSTA NO
LUXO
PORTUGAL FASHION MAG
As mudanças na conjuntura e nos seus
principais mercados – nomeadamente
o ibérico – levaram a Paula Borges
a reequacionar a estratégia. Sem
abandonar a marca própria – que
representa 30% da produção – a
empresa familiar, com mais de 40
anos de história, está a apostar no
saber-fazer para conquistar clientes
de luxo no private label. «Estamos a
crescer no private label, que nos está
a dar sustentabilidade e outro tipo de
conhecimento, para além de maiores
benefícios financeiros. E essa vai ser
a nossa aposta», explica Paulo Faria,
diretor comercial da empresa.
Quantidades pequenas, com grande
valor acrescentado, são os princípios
que regem a oferta da empresa, que
emprega 52 pessoas. «São produtos
de elevadíssima qualidade, de
gama muito alta», sublinha o diretor
comercial. «Ao fazer isso, abrimos
o leque de clientes que nos podem
procurar, porque com este tipo de
produto não se aprovisionam tanto a
Ásia nem os países de Leste», refere.
ISSUE #5 | JUN 2013
E a julgar pelo rol atual de clientes, esta
é já uma aposta ganha. «Trabalhamos
com um bom leque de clientes
internacionais. Estamos com um
projeto interessantíssimo há um ano
e meio com a Victoria Beckham, que
tem vindo a crescer estrondosamente
e tem sido uma belíssima surpresa –
ela está contente com Portugal e nós
também estamos felizes, porque está
a crescer connosco. Temos ainda a
Prada, Gucci, Max Mara, Alexander
McQueen,
Stella
McCartney…»,
enumera.
«Estas casas procuram Portugal. O que
nós temos é de ter arcaboiço humano
para lhes responder. O segredo é
resolver os problemas. Eles querem
que lhes seja proposto tecidos,
técnicas novas, conceitos diferentes
e é isso que nós portugueses temos
que chegue para oferecer», acredita
Paulo Faria.
essencialmente ao “passa a palavra”,
já que as feiras não fazem parte dos
projetos. «Tem sido um percurso a
solo. Às vezes, não menosprezando
o trabalho que é feito por diversas
entidades, acho que mais vale pôr os
pés ao caminho e mais rapidamente
chegamos lá. É a minha opinião. E
temos tido algum sucesso nesse
sentido», justifica.
Entre as novas apostas geográficas
está o mercado sul-americano,
nomeadamente a Colômbia, o
México, o Chile e a Argentina. «Há
também um contacto para o mercado
asiático, o Japão, que acho que é um
país interessante para o nosso nível
de produto», acrescenta o diretor
comercial.
Esta capacidade de resposta tem
permitido à Paula Borges ganhar novos
clientes noutras latitudes, graças
42
MDS
À VOLTA DO
MUNDO
PORTUGAL FASHION MAG
É, no entanto, em Portugal que a MDS
tem a sua maior base de clientes,
sendo vendida em mais de 250
pontos de venda, e é onde mantém
o centro de decisão e a produção
das suas coleções. «A nossa política é
essa e é isso que passamos ao cliente:
um produto 100% produzido em
Portugal», sublinha.
Da Europa de Leste à Colômbia, a
marca portuguesa MDS está a levar a
sua moda jovem aos quatro cantos do
mundo.
Para o outono-inverno 2013/2014,
o ADN da marca mantém-se, com a
coleção “Mixed Memories” a juntar
diferentes tendências. «É uma
coleção com muitos tecidos, com
várias estampas, alguns tecidos mais
nobres, como veludos, sedas, vestidos
curtos. Temos peças que podem ser
conjugadas de diferentes formas, quase
com dupla personalidade, porque vai
depender muito de quem comprar»,
explica Daniel Simões, diretor de
marketing e responsável pela coleção,
juntamente com Alexandrine Cadilhe.
É com esta coleção que a MDS
(acrónimo de Mad Dragon Seeker)
vai continuar a explorar os mercados
internacionais. Para já, a Europa de
Leste é, sem dúvida, a principal aposta,
com um reforço da presença na
República Checa, Roménia e Polónia,
a que se deverá juntar este ano a
Lituânia.
ISSUE #5 | JUN 2013
Mas «neste momento já estamos a
trabalhar com a França e a fazer alguns
trabalhos pontuais, por exemplo, para
a Suíça. O mercado francês está a ser
uma agradável surpresa», indica Daniel
Simões.
Vocacionada
para
«atravessar
gerações», apesar do público-alvo
se concentrar sobretudo nos 18 aos
35 anos, a MDS tem ainda um outro
objetivo: «ter um desfile individual
no Portugal Fashion», assume Daniel
Simões.
O continente sul-americano está
igualmente na mira da marca
portuguesa, nomeadamente com
uma primeira incursão numa feira
profissional na Colômbia.
44
A
FORÇA
DA
UNIÃO
PORTUGAL FASHION MAG
Os novos projetos conjuntos da
indústria com os designers portugueses
de moda têm ganho projeção em
Portugal e além-fronteiras.
Júlio Torcato, por seu lado, continua
a sua ligação com a marca Red Oak
e Alexandra Moura também não se
arrepende da junção de forças com a
marca de calçado Goldmud que, desde
há quatro estações atrás, lhe permitiu
alargar o seu universo criativo.
A parceria da Meam com Ricardo Preto
é atualmente um dos exemplos mais
paradigmáticos de sucesso. O criador
tem elaborado as coleções desta
linha, apresentadas regularmente no
Portugal Fashion, e com isso aprendido
não só a técnica, mas também a
abertura comercial para explorar
novas possibilidades.
«Esta parceria tem sido importantíssima.
Tenho crescido e acho que isso se
nota na passerelle. A mais recente
coleção é de alguém que já ganhou
mais experiência em fazer roupa para
massas. É uma parceria vital», admite
o criador, que está ainda a aproveitar
esta “escola” industrial para tirar lições
para a sua marca em nome individual.
«Neste momento, queremos pôr a
primeira linha tão forte quanto a
Meam by Ricardo Preto. Por isso,
vamos começar por fazer uma feira
em Paris», anuncia.
ISSUE #5 | JUN 2013
A coleção Alexandra Moura + Goldmud
é apresentada no Portugal Fashion
e também na ModaLisboa, onde
complementa as coleções de vestuário
que a criadora apresenta em nome
próprio, e está à venda igualmente na
loja de Alexandra Moura, no Príncipe
Real.
Um desenvolvimento natural para
acompanhar um mundo em evolução
constante, como refere o criador.
«Faz-se mudanças, pensa-se em
novas filosofias, em novas maneiras
de estar. Isso sempre aconteceu. A
moda é quase um filtro da sociedade»,
sublinha.
Os projetos da criadora passam
ainda pelos mercados internacionais,
estando já a explorar Hong Kong
e a dar os primeiros passos no
Japão. «O meu grande projeto é a
internacionalização», indica.
46
DENIM
REGRESSA ÀS
ORIGENS
PORTUGAL FASHION MAG
segmento de mercado, maior em
termos de volume, os especialistas
em denim procuram acrescentar valor.
A Santanense – para se distinguir
dos básicos mas conservar preços
razoáveis – propõe duplas faces para
o outono-inverno 2014/2015.
Os jeans, puros e duros, tomam conta
do outono-inverno 2014/2015. Após
uma avalanche de cores, o regresso
anunciado do denim autêntico, que
se deverá fazer sentir já a partir da
próxima estação fria, é uma boa notícia
para a fileira. Prova desta vontade
para com o verdadeiro denim são as
várias propostas de tecidos selvedge
(produzidos em teares especiais com
larguras mais pequenas e de gama mais
alta), que traduzem também a vontade
de propor um tecido Premium.
É na moda de homem que esta
vontade é mais forte, com tecidos
bem construídos, em pesos um
pouco maiores mas que continuam
sofisticados em termos visuais e de
toque. «Estas qualidades direcionamse sobretudo para as marcas de
criador e inscrevem-se numa corrente
slow fashion, que queremos apoiar»,
indica Rinza Koopmans, consultor da
US Denim, que propõe este tipo de
tecido.
Os tecidos são escuros, índigo, com ar
ISSUE #5 | JUN 2013
Igualmente ilustrativo da vontade de
diferenciação, a microencapsulação
gasto e, sobretudo, um efeito “sujo”,
especialmente quando se voltam
para os tons cinza. «No homem,
regressamos a construções mais
densas, mais construídas. É o fim do
estilo dandy», revela Thomas Dislich,
diretor da Vicunha Europe.
Para senhora, o denim fantasista e
colorido continua em alta. Para este
48
PORTUGAL FASHION MAG
chega à US Denim, que lança um
programa batizado Cosmo-Body Care
Denim, com tecidos com propriedades
antibacterianas, aromáticas e anticelulite garantidas durante 20
lavagens.
Tanto para homem como para mulher,
a estação fria do próximo ano traz
toques mais suaves, uma tendência
ilustrada pela Calik Denim, Vicunha
ou Santanense. «Os nossos clientes
pedem-nos qualidades mais fáceis de
confecionar. Com este acabamento
muito suave, evitam as lavagens e
reduzem assim o seu consumo de
água», resume Annette Walkers,
responsável de grandes contas da
Santanense.
ISSUE #5 | JUN 2013
49
DA
DETERIORAÇÃO À
CRIAÇÃO
PORTUGAL FASHION MAG
no London College of Fashion.
“Fragmented Oxidation” deu o mote à
quarta coleção de Susana Bettencourt,
pensada para vestir o outono-inverno
2013/2014 com muito estilo.
Antes de iniciar a sua marca própria,
cujas peças foram já usadas na
tournée “Born This Way” de Lady
Gaga, Susana Bettencourt trabalhou
com Fátima Lopes e Alexandra Moura,
duas colaborações «fundamentais» e
onde «aprendi imenso», assim como
com a britânica Brooke Roberts.
Para as suas propostas para a próxima
estação fria, a jovem designer inspirouse «na ideia de deterioração dos
objetos como ponto de partida para
a criação», explica. «Decomposição,
fragmentação e transformação para
criar o novo», acrescenta.
“Fragmented Oxidation” foi a primeira
coleção a pisar a passerelle montada
no espaço Carpe Diem Arte e Pesquisa,
em Lisboa, na última edição do Portugal
Fashion, com as modelos a desfilarem
vestidos, casacos, camisolas e calças
justas predominantemente em malhas
jacquard e malhas racladas, com
aplicação de técnicas de crochet e
padrões ousados.
Bege, ocre, azul-esverdeado e cinzaarroxeado são os tons dominantes das
novas propostas da criadora de origem
açoriana, retirados «do processo de
oxidação».
ISSUE #5 | JUN 2013
As malhas são, assumidamente, a
grande paixão da jovem designer, que
se licenciou em Design de Moda com
especialização em malhas na reputada
Central Saint Martins e concluiu, com
distinção, o mestrado em Moda Digital
Apesar de se mostrar satisfeita pela
atenção conseguida com celebridades
– que além de Lady Gaga, incluem
a cantora, atriz e modelo Sarah
Harding, a radialista da BBC Radio e
apresentadora dos MTV Charts Jane
Crawford e a cantora inglesa Tatiana
–, o objetivo da jovem criadora é,
acima de tudo, ter uma marca e um
negócio sustentável. «É bom ter
pedidos de celebridades, mas preciso
de transformar essa exposição em
vendas», refere, motivo pelo qual
apresenta, desde outubro de 2011, as
suas coleções no Portugal Fashion.
51
A CULTURA DO
PUNK
PORTUGAL FASHION MAG
e Gianni Versace, a mostra abrange o
estilo do mais ao menos refinado.
«Acho que é fantástico – o abraçar
da abrangência e do respirar de uma
cultura, como
na arte», afirma Thomas P. Campbell,
diretor do MET, enquanto Andrew
Bolton, curador da exposição “Punk:
Chaos to Couture”, fala da «promessa,
objetivo e prospeção» de um estilo
de rua que cresceu de uma cultura de
«não futuro».
A nova exposição do Metropolitan
Museum of Art mostra como o punk
influenciou criadores como Vivienne
Westwood e Balenciaga.
Depois de 40 anos de existência, o
punk é o tema de uma exposição do
Metropolitan Museum of Art (MET).
Com um cenário de roupas rasgadas e
com alfinetes de segurança, incluindo
t-shirts de Vivienne Westwood com
Malcolm McLaren e coordenados
mais requintados de Zandra Rhodes
ISSUE #5 | JUN 2013
A exposição, que abriu a 9 de maio,
traça a fusão pouco provável de um
movimento conhecido por música
primitiva, abuso de drogas e gritos
contra os cânones sociais e o mundo
cheio de brilho da moda de luxo.
As galerias do METencheram-se, assim,
de vestuário de gama alta inspirado
no punk. Um vestido de noite da
Versace da coleção primavera-verão
de 1994 exibe enormes alfinetes de
dama. Um minivestido Balenciaga,
drapeado com correntes, do outono-
inverno de 2004, encontra-se perto
de um vestido Givenchy em seda de
chiffon rosa com fechos dourados,
pertencente à coleção para a estação
quente de 2011.
Moda Punk_28maio2013_Interior3A
cena parece longe da banda sonora
da exposição, com as músicas dos Sex
Pistols a clamar pela necessidade de
“chocar as pessoas” e ser “obsceno e
escusado quanto possível”. Contudo,
como sublinha a curadoria da
exposição, a comercialização e a moda
nunca estiveram longe da experiência
punk.
53
WOMEN’SECRET NO AMOREIRAS
PORTUGAL FASHION MAG
O Amoreiras Shopping, em Lisboa,
foi o local escolhido para a marca
espanhola de roupa interior inaugurar
uma nova loja em Portugal.
O novo ponto de venda da
women’secret, o 39.º da marca em
Portugal, abre no próximo dia 31 de
maio com as propostas da coleção
para este verão. O conceito de design
de interiores, numa área de 70 m2,
caracteriza-se por detalhes muito
femininos, começando pelas cores
escolhidas em tons pastel – como o
verde água, creme e rosa – conjugadas
com elementos em madeira e
cromados para um efeito retro, ao
estilo women’secret.
ISSUE #5 | JUN 2013
O mobiliário é flexível, constituído
por painéis amovíveis que delimitam
o espaço da loja e criam diferentes
zonas de exposição para as diferentes
coleções de lingerie, sleepwear,
swimwear e todos os acessórios que
completam os visuais desta temporada.
A coleção de verão da women’secret
integra sete linhas sexy e femininas
para a estação mais quente do ano.
Especialmente a pensar nos programas
de praia, piscina, passeios de barco ou
no próximo destino de férias, a marca
do Grupo Cortefiel criou uma coleção
de banho completa, com diferentes
modelos de biquínis e fatos de banho,
disponíveis em vários padrões e
materiais, que favorecem a silhueta
feminina graças ao sistema “perfect
fitting”. A women’secret apresenta
ainda uma vasta coleção de vestidos,
túnicas e acessórios para o verão.
«A women’secret é uma marca
especialista no universo feminino,
uma marca criada por mulheres e para
mulheres. No ano em que celebra
o 20.º aniversário, sabemos que
fazemos parte da vida da mulher atual
e com esta nova loja, pretendemos
inspirar ainda mais o dia a dia da
mulher portuguesa», afirma Alexandre
Mendes, diretor de marketing e
serviços do Grupo Cortefiel Portugal.
55
TROIKA DE CORES
AQUECE VERÃO
PORTUGAL FASHION MAG
irão “assentar como uma luva”.
O verão pode ainda não ter chegado,
mas as tendências não se compadecem
das temperaturas e os gabinetes e
designers estão já com os olhos postos
nas cores da primavera-verão… mas
do próximo ano.
O vermelho-lava, aponta o WGSN,
é fundamentalmente uma cor para
atualizar o vestuário típico do escritório,
sobretudo os vestidos estruturados ou
as camisas em seda com botões. Pode
ainda ser usado em peças de vestuário
com blocos de cor, em combinação
com o rosa Hothouse, nomeadamente
em vestuário em malha, como
camisolas, ou em painéis em vestidos.
O tom é ainda indicado para tingir
couro – uma tendência em termos de
materiais da estação –, dando corpo à
inspiração punk que parece ter vindo
para ficar. Os estampados animais
irão assumir igualmente o lava como
forma de atualização dos padrões
mais tradicionais.
Vermelho-lava, azul-tinta e verdealga são as três tonalidades chave
que vão pintar o vestuário de senhora
em 2014, segundo as previsões de
cor apresentadas pelo gabinete de
tendências WGSN.
O azul-tinta (Pantone 19-3940)
funciona como uma modernização
do azul-marinho clássico, realçando
uma vez mais a importância dos tons
índigo fortes. Já o vermelho-lava
(Pantone 18-1561) é uma espécie de
continuação dosvermelhos alaranjados
das passerelles do outono-inverno
2013/2014, enquanto o verde-alga
(Pantone 17-6212) funciona como
um ótimo verde casual, tanto para
vestuário em malha como em tecido,
refere o WGSN.
ISSUE #5 | JUN 2013
O gabinete de tendências vai, contudo,
mais longe na sua análise aos tons
que vão marcar a estação quente do
próximo ano, destacando algumas
peças onde estas três cores tendência
Já o azul-tinta assume-se como uma
alternativa ao azul-marinho e ao
preto, indicado pelo WGSN como cor
de fundo dos básicos, como jerseys.
O visual neste tom ascende ao luxo
quando aplicado em artigos em pele,
57
PORTUGAL FASHION MAG
como o tão na moda blusão perfecto.
Entre as tendências de estampados, os
efeitos borrão de tinta orgânico assim
como tradicional ombré misturado
com branco são a combinação perfeita
para este tom de azul. Vestuário de
exterior com toques de sportswear,
com uma parka ou um anoraque,
poderão igualmente ser atualizados
com esta cor.
Apesar de estar naturalmente
associado ao verdadeiro casualwear,
na estação quente do próximo ano o
verde-alga surge também em áreas
um pouco mais formais, em camisolas
jersey com adornos, malhas luxuosas,
vestidos de seda estampados ou
mesmo camisas de noite.
O verde-alga – no fundo uma versão
mais leve do caqui e complementar
aos tons bege – constitui, por seu
lado, uma atualização para as peças de
vestuário de inspiração militar, como
as parkas ou as calças cargo.
ISSUE #5 | JUN 2013
58
LARANJINHA
APOSTA NA DIFERENCIAÇÃO
PORTUGAL FASHION MAG
queixar», afirma Luís Pinto Leite. E o
investimento no mercado espanhol
continua a velocidade de cruzeiro.
«Ainda este ano ou no próximo
abriremos mais corners em Espanha,
no El Corte Inglés», assegura, quase
um ano depois da estreia no El Corte
Inglés em Madrid.
Fazendo valer a sua reputação, a
marca infantil Laranjinha continua a
apostar na excelência do produto para
construir uma relação de confiança
com o consumidor. Mesmo nos
momentos mais difíceis – sobretudo
económicos –, a marca não deixa de
apostar na diferenciação que a fez
subir ao Olimpo das preferências das
mães, em Portugal e no mundo.
«Sempre que lançamos uma coleção,
procuramos inovar, embora não
seja possível apresentar em todas
as coleções peças totalmente
inovadoras», assume Luís Pinto Leite,
responsável comercial da marca. Para
o outono-inverno 2013/2014 «temos,
em concreto, um novo grupo com
malha polar. De resto, continuamos
a apostar na linha de bambu e nos
tricotados sem costuras, entre outras
peças mais elaboradas que, embora
não sejam novidade, são sempre
inovadoras», acrescenta.
Espanha (seguida de Itália e da
Inglaterra) continua a ser o principal
mercado estrangeiro da Laranjinha,
ISSUE #5 | JUN 2013
Já lojas próprias – contabiliza cinco,
uma das quais em Espanha – não
estão nos planos atuais da Laranjinha.
«Pretendemos abrir novos mercados,
não através de lojas próprias, mas
sim através dos representantes nos
países e a trabalhar com multimarcas»,
sublinha o responsável comercial.
onde é «praticamente tão conhecida
como em Portugal» e, apesar de
todos os problemas experienciados
no mercado, “nuestros hermanos”
continuam a comprar as propostas
para bebé e criança da marca.
«Tivemos uma ligeira quebra em
Espanha, mas quando comparada
com outras marcas, acabou por não
ser tão acentuada. Não nos podemos
Atualmente, a a presença da marca
estende-se um pouco por todo o
mundo. «Temos importadores nos
EUA e na Austrália, mas vendemos
também em países onde não temos
representação, através de retalhistas
– é o caso de França, da Suíça e alguns
clientes na Alemanha…Começámos
agora a trabalhar com o mercado belga
com um representante e também
60
PORTUGAL FASHION MAG
com a Irlanda», revela. A África do Sul
é outro ponto de paragem recente.
«Acreditamos que é um mercado
com potencial porque, embora seja
um país de extremos em termos de
equidade social, não deixa de ser rico
e com potencial. Além disso, temos
um importador que nos inspira muita
confiança», indica Luís Pinto Leite.
Com uma quota de exportação
superior a 60% de, as perspetivas da
Laranjinha para 2013 são, contudo,
pautadas pela prudência. «Temos de
assumir sempre uma postura otimista,
mas com perfeita consciência que a
nossa exportação está essencialmente
nos mercados europeus e numa
Europa em recessão, vai ser um ano
difícil. Mas pensamos que, no limite,
vamos conseguir manter o nível de
faturação», conclui.
ISSUE #5 | JUN 2013
61
O NEGÓCIO DA MODA
PORTUGAL FASHION MAG
pode funcionar muito bem. Vou fazer
agora um teste através do Facebook, para
ver se as pessoas aderem, como reagem
à coleção e à forma de venda online, e se
resultar, irei avançar», anuncia.
A nova geração de criadores nacionais
está a afirmar o seu nome no mercado e
a vender, efetivamente, as suas coleções.
Viver da moda é um sonho cada vez
mais próximo para os novos talentos da
moda portuguesa, que têm aproveitado
diferentes iniciativas e uma maior
abertura do mercado para crescerem
comercialmente.
Estelita Mendonça, que venceu o prémio
de Melhor Novo Talento nos Fashion
Awards 2012, tem as suas coleções à
venda na loja pop-up do Espaço Bloom
no Centro Comercial Península, no Porto
– uma iniciativa do Portugal Fashion
que tem sido a rampa de lançamento
de vários novos talentos em termos
comerciais. A jovem promessa realizou
ainda, recentemente, um projeto com
a Volvo. «Com o prémio do Fashion
Awards veio uma proposta da Volvo
para “vestir” o novo Volvo V40 para um
roadshow», revela. As vendas online são
outro projeto na calha, um dos pontos
em comum com outros criadores desta
nova geração.
ISSUE #5 | JUN 2013
A marca Klar – um novo projeto de
Alexandre Marrafeiro, Andreia Oliveira
e Tiago Carneiro – passou das intenções
à ação e tem já a loja online, inaugurada
no mesmo dia em que apresentou a
segunda coleção no Espaço Bloom, em
março passado. «Inicialmente surgiu por
uma questão prática e por uma opinião
em comum sobre a perspetiva nacional
da moda», explica Alexandre Marrafeiro.
«A nossa aposta é mesmo online e lá
fora, de preferência», acrescenta Tiago
Carneiro.
Carla Pontes, por seu lado, vende já na
Muuda no Porto e em Viseu e na Ivo Maia
Designers, em Santa Maria da Feira, e
está também a ponderar enveredar, em
breve, pelo comércio eletrónico. «Estou a
pensar na parte online, porque acho que
As perspetivas internacionais são, de
resto, um denominador comum. «Quero
continuar a trabalhar a marca e estou
focada no estrangeiro», revela Diana
Matias, cuja coleção estará à venda numa
loja temporária em Troia, entre junho e
setembro.
63
FATOS DE BANHO
PARA 2014
PORTUGAL FASHION MAG
O próximo ano vai ficar marcado pelo
regresso em força do fato de banho,
com novos cortes e detalhes que
atualizam a intemporalidade de uma
peça que nunca sai de moda.
Pormenores femininos, como laços,
e formas influenciadas pelos gregos
fazem parte das tendências do
swimwear de uma peça para o verão
de 2014, segundo o WGSN.
Os detalhes são simples e os cortes
conservadores, ideais para quem não
dispensa a sensualidade discreta de
um fato de banho. Algumas opções
integram mangas, a cobrir os ombros
ou descaídas, até efeitos mais arrojados
de rede larga para uma consumidora
mais ousada.
Um corte abaixo da área do peito,
permitindo um vislumbre da pele, é
uma diferenciação das formas austeras
que pautam os fatos de banho para
2014, enquanto as variantes com
cordões que prendem nas costas, tal
como os biquínis, beneficiam todas as
formas corporais.
ISSUE #5 | JUN 2013
Um dos estilos que atrai as mais
diferentes mulheres é o grego,
associado ao glamour típico dos
clubes sociais com piscinas de luxo.
Os decotes profundos, especialmente
adequados para tecidos leves,
integram-se
nestas
propostas
inspiradas no mundo helénico, assim
como os fatos de banho que cruzam
à frente, acima do peito, e ostentam
uma cintura subida.
Os decotes em V médios são outra das
grandes tendências do próximo ano,
conjugados com efeitos dupla camada
e tecidos estampados.
monocromática popular na estação
quente deste ano, faz parte das opções,
assim como painéis contrastantes, que
definem os contornos de uma silhueta
e podem criar um ponto central,
acentuando a cintura ou o busto.
A forma em S, um estilo assimétrico
que segue os contornos do corpo,
é cuidadosamente equilibrada e
assenta da mesma forma que se
ajusta um biquíni: os cordões e
painéis fluídos criam a ilusão de um
visual desequilibrado. Uma moda mais
arriscada que funciona para coleções
mais vanguardistas.
A inserção de franjas e laços laterais
acrescenta textura e dimensão,
sobretudo apelativos para as mais
novas, e a cintura é acentuada através
de drapeados ligeiros ou cintos. As
estruturas suaves, inexistentes ou
escondidas, marcam igualmente a
estação.
Um visual gráfico e sofisticado, que
pode ser atrativo para vários mercados
e que se enquadra na tendência
65
INVERNO
GLAMOUROSO
PORTUGAL FASHION MAG
e inovação continuada dos nossos
processos de conceção, mostrando
de um modo claro o nosso ADN face
à realidade e com o futuro sempre
focalizado neste processo», sublinha
o criador, que trabalha, há mais de 25
anos, em conjunto com José Manuel
Gonçalves.
Os anos glamourosos da Hollywood
dos anos 40 e 50, retomados pela
mão da dupla Alves/Gonçalves,
estão de volta para o outono-inverno
2013/2014.
«É a continuação do nosso trabalho,
que tem a ver com a vulnerabilidade e
com o lado mais intimista, o lado mais
frágil da mulher», justifica Manuel
Alves em relação às novas propostas
para a próxima estação fria.
Uma carreira que permitiu consolidar
um estilo que apelidam de «moda de
autor de espírito couture» e levá-los
a cidades como Nova Iorque, São
Paulo, Paris, Barcelona e Milão para
apresentar as suas coleções.
Uma coleção onde predominam
silhuetas amplas e estruturadas, a
lembrar as décadas de 40 e 50, com
cinturas marcadas por cintos em couro
preto, por cima de casacos e vestidos
que variaram entre o preto, por vezes
com apontamentos de azul forte, e o
vermelho, mas também o dourado, o
camel, o verde tropa e o rosa-velho.
Os tecidos opacos e de aspeto natural
jogam com outros com texturas e
brilhos mais sofisticados e técnicos,
numa associação de acabamentos
manuais e artesanais.
ISSUE #5 | JUN 2013
Propostas onde «o nosso gosto pela
arquitetura e pelo cinema estão
sempre visíveis neste discurso, num
ambiente de intensidade urbana e
emotiva» e que mostram «a renovação
67
ISABEL MARANT
NA H&M
PORTUGAL FASHION MAG
A H&M juntou mais um nome de
peso à lista de designers convidados:
a francesa Isabel Marant é a senhora
que se segue.
A gigante sueca de moda anunciou que
Isabel Marant é a designer convidada
para a coleção de outono, que irá,
certamente, trazer o chique parisiense
para a H&M.
Para homem e senhora, a coleção, que
estará disponível nas lojas a partir de
meados de novembro, é a mais recente
do programa de designers convidados
da H&M, que começou em 2004 com
Karl Lagerfeld e já contou com Stella
McCartney, Versace, Lanvin, Comme
des Garçons e Jimmy Choo.
ISSUE #5 | JUN 2013
Segundo Marant, a coleção será «algo
real que as mulheres queiram usar
nas suas vidas no dia a dia, com uma
certa descontração que, acredito, é
muito parisiense. Vestir bem, mas não
dar demasiada atenção e, ainda assim,
estar sensual. A coleção está infundida
com esse tipo de atitude».
Já a H&M afirma ter escolhido Marant
para a sua mais recente colaboração
com designers pela sua combinação
de «atitude urbana, elegância boémia e
espírito rock’n’roll», com «um genuíno
ar francês».
antes de começar a estudar no
conhecido Studio Berçot, em Paris,
no final dos anos 80. Fundou a sua
marca epónima em 1990 e desfilou
em Paris pela primeira vez apenas
cinco anos depois. Venerada pelas
mulheres com trinta e poucos anos e
elogiada pela imprensa, Isabel Marant
tem atualmente várias lojas em todo o
mundo, incluindo Paris, Nova Iorque,
Los Angeles e Pequim.
Isabel Marant começou a sua incursão
na moda a customizar as suas roupas
ainda enquanto estudante e mesmo
69
O HOMEM DA
FLORESTA
PORTUGAL FASHION MAG
“Forest”, uma reflexão sobre a relação
entre a natureza e os espaços urbanos,
é o conceito da nova coleção de Hugo
Costa.
O designer, natural de São João da
Madeira, criou camisolas e casacos
com formas fluídas e masculinas, assim
como as calças, que ficam, por vezes,
acima do tornozelo. Da natureza
refletem-se as cores, os brilhos das
florestas densas e os tons próximos
mas tão diferentes. Nos espaços
urbanos destaca-se a necessidade do
sentido prático e da identidade.
ter abandonado o curso de Engenharia
de Computadores pelo de Design de
Moda e Têxtil na Escola Superior de
Artes Aplicadas de Castelo Branco,
Hugo Costa tem vindo a crescer a
cada estação, especializando-se na
moda masculina direcionada para um
público «urbano» e «cosmopolita».
Transparências, camadas e jogos de
opacidades fazem parte do ADN da sua
marca, assim como a predominância
do preto e outras tonalidades escuras.
portuguesas de vestuário e calçado,
o designer estagiou com Ricardo
Dourado e Ricardo Andrez, e em
dezembro do ano passado apresentou
o seu trabalho no Matadero – Centro
de Creación Contemporánea de
Madrid, com o apoio do Portugal
Fashion.
Atualmente a trabalhar na sua marca
própria, assim como para várias marcas
Daqui resulta uma coleção com
«influências claras do streetwear,
transformado e interpretado no
vestuário clássico masculino. A cor é
apresentada como bloco, sobressaindo
as diferentes tonalidades através dos
reflexos dos tecidos, com destaque
para a textura em detrimento das
combinações cromáticas», explica o
criador.
Na moda desde os 19 anos, depois de
ISSUE #5 | JUN 2013
71
O MUNDO
SEGUNDO
KARL
PORTUGAL FASHION MAG
Karl Lagerfeld passará certamente aos
anais da moda não só como histórico
diretor criativo da casa Chanel, mas
também pela peculiar forma de
encarar a vida e o sector. Por isso, a
editora francesa Flammarion vai lançar
em setembro um livro, intitulado “The
World According To Karl”, que reúne
os seus melhores aforismos, com
textos de Jean-Christophe Napias e
ilustrações de Charles Ameline.
«A minha vida consiste em esquecer o
passado», explica o “kaiser” da moda
no “The World According To Karl”, uma
espécie de bíblia própria que compila
comentários de Lagerfeld sobre o
luxo, o estilo, a fama, o desenho e,
obviamente, a moda, entre muitos
outros temas. Se a posteridade é algo
vazio para este alemão «ultramoderno»,
como é definido no livro, o trabalho e
o esforço são todavia importantes.
O designer alemão de idade incerta
– diz não recordar quando a sua mãe
o trouxe ao mundo – deixa frases
inesquecíveis em cada uma das suas
entrevistas, embora assegure no livro
que é um «amnésico» do passado
reticente a escrever as suas próprias
memórias.
No entanto, a sua conceção da vida
laboral está longe de ser normal,
como aliás frisa. Lagerfeld não está
interessado em «ser normal», pois a
base do seu talento não está somente
na qualidade dos seus desenhos
mas também numa personalidade
única que não se sabe se é intrínseca
ao próprio criador de moda ou se é
ISSUE #5 | JUN 2013
somente uma falsa construção para
ganhar «cash».
Por trás dos seus óculos escuros,
que são a sua «burka», esconde-se
a verdadeira pessoa, a que se sente
obcecada por livros, fotografia e
moda. «Atuo as 24 horas do dia, toda
a minha vida é uma pantomima»,
refere a publicação, que reproduz
frases vitais de Lagerfeld proferidas
em documentários, jornais e livros.
O designer só bebe coca-cola e é
um perfeccionista, embora outras
manias completem o retrato deste
filho de todos os tempos, estilosos na
sua forma de usar luvas, pregadeiras,
gravatas e fatos de xadrez, mordaz
e controverso. Por exemplo, compra
sempre três livros: um para ler, outro
73
PORTUGAL FASHION MAG
para recortar e um terceiro para
guardar na sua enorme biblioteca, seu
reduto de paz.
A solidão não o assusta, pelo
contrário, dá-lhe prazer: «nunca
me sinto só, a solidão é um luxo»,
diz este ser tão especial que lança
opiniões férreas sobre quase tudo.
O politicamente incorreto é a sua
debilidade e a provocação a lei com
que rege a sua vida: «faço sempre o
que supostamente não deveria fazerse», sentencia Lagerfeld numa das
freses do livro.
A moda que cria para a Chanel, com
quem partilha a ideia de que o único
que permanece é «o estilo», nasce
do mais recôndito dos seus sonhos –
tem sempre um caderno de desenho
ISSUE #5 | JUN 2013
na mesa-de-cabeceira – e foge dos
fundamentos intelectuais.
A conversa erudita provoca-lhe repulsa
e os seus desenhos defendem a arte
pela arte e a beleza do efémero. «O
objetivo da moda é que as pessoas se
sintam bem, não se trata de expressar o
sofrimento e a desgraça com tafetás».
Paris, Milão e Nova Iorque
testemunham muitas vezes o trabalho
de Karl Lagerfeld, um homem que
ronda os 80 anos, mas que conserva
a tirania e o fervor dos adolescentes.
Desafia a máxima de que qualquer
tempo passado foi melhor e a sua
única âncora é o presente: «não tenho
arquivos», afirma no livro.
74
JASON WU
NA BOSS
PORTUGAL FASHION MAG
A casa de moda de luxo Hugo Boss
nomeou Jason Wu como diretor
artístico do vestuário de senhora da
Boss.
Nascido em Taiwan, Wu, de 30 anos,
é conhecido pelos seus designs
femininos. Em 2007 fundou a sua
marca epónima em Nova Iorque
mas foi o vestido marfim usado por
Michelle Obama no primeiro baile de
tomada de posse de Barack Obama,
em 2009, que o catapultou para a
fama. Jason Wu também desenhou o
vestido vermelho usado pela PrimeiraDama no baile da segunda tomada de
posse de Obama, em fevereiro deste
ano.
Para a Hugo Boss, o criador já
afirmou, em comunicado, que
planeia «desenvolver uma coleção de
ISSUE #5 | JUN 2013
vestuário de senhora feminino e forte
que reproduza a autoridade da marca
em vestuário de homem».
A primeira coleção de Wu para a marca
alemã será apresentada em Nova
Iorque numa antevisão do outono
de 2014 e o seu primeiro desfile na
passerelle será na semana de moda de
Nova Iorque, em fevereiro do próximo
ano.
Embora vá trabalhar com a equipa
de design sediada em Metzingen,
na Alemanha, Wu vai manter-se em
Nova Iorque, num gabinete criado
pela Boss, que permite, assim, que
o designer possa manter o trabalho
nas suas coleções de pronto-a-vestir
e acessórios em nome próprio. Entre
as fãs do seu trabalho estão as atrizes
Emma Stone, Diane Kruger e Emily
Blunt, além de Michelle Obama.
«Estamos absolutamente satisfeitos
por termos um talento extraordinário
como Jason Wu na equipa», afirmou
o CEO da Hugo Boss, Claus Dietrich
Lahrs. «Isto irá gerar uma afirmação
poderosa e criativa para a Boss
Womenswear e mostrar o nosso
empenho para nos centrarmos ainda
mais no lado feminino da marca»,
concluiu.
76
A VEZ DA
UNIÃO
PORTUGAL FASHION MAG
Na abertura do período dedicado à
moda masculina, Londres afirmouse, com a terceira edição da London
Collections: Men a mostrar-se mais
forte do que nunca.
Em termos de estilo, emergiram na
passerelle duas tendências distintas,
ambas em perfeita simbiose com a
herança britânica que é conhecida por
ser tanto formal como experimental.
Àterceira é devez.ALondon Collections:
Men confirmou definitivamente o
seu papel de trendsetter à terceira
edição, com 30 desfiles e quase tantas
apresentações a mostrarem que Paris
e Milão têm uma rival de peso.
As marcas de Savile Row juntaram-se
para uma apresentação espetacular
de 100 modelos no campo de cricket
de Lord’s, com o apoio da Woolmark.
A marca veterana Gieves & Hawkes
– cujo principal ponto de venda
continua a ser a flagship em Savile
Row – revelou uma coleção casual
rica com acessórios para o cavalheiro
dos dias de hoje.
Com nomes como Burberry, Alexander
McQueen e Paul Smith, Londres está
a enviar uma mensagem de força
para o mundo da moda. «De Saville
Row aos punks, inventamos tudo»,
afirma Dylan Jones, editor da revista
GQ da Grã-Bretanha e presidente do
evento desde a sua criação. Burberry,
Tom Ford, Rag & Bone e Alexander
McQueen optaram por espaços mais
pequenos em Londres em vez da
grande exposição em Milão ou Nova
Iorque para apresentarem as suas
propostas para a primavera-verão
2014.
ISSUE #5 | JUN 2013
Sportswear, estampados e logomania
foram
algumas
das
principais
tendências mostradas pelos jovens
designers, que na sua maioria
beneficiam do apoio da Topman, eBay
e FashionEast. Na passerelle desfilaram
fatos de treino com detalhes em
renda de Astrid Andersen, tecidos
transparentes de Shaun Samson
e Sibling e acessórios desportivos
imaginativos de Nasir Mazhar.
Entre as peças-chave, o blusão é
o “rei” dos casacos para o próximo
verão, adotando cores ousadas como
o verde-alface na coleção de Jonathan
Saunders, ou combinado com calções,
numa versão mais fresca do fato. Os
calções, pelos joelhos e largos, foram
igualmente preferidos por muitos
dos criadores, como Lou Dakton e
Christopher Raeburn, a que se juntam
os fatos de treino e os macacões ou
boiler suits de inspiração militar ou
mecânica.
Nas cores, o branco dominou (Pringle
of Scotland, Nicole Fahri), juntamente
com o azul-água e o rosa (Burberry
Prorsum), numa verdadeira lufada de
ar fresco na moda masculina.
78
O FETICHISMO NA
MODA EM PAPEL
PORTUGAL FASHION MAG
O novo livro de Lidewij Edelkoort,
“Fetichism in Fashion” explora a
evolução do gosto, revelando um
pouco do que pode ser o futuro do
estilo e da cultura.
Um fetiche é normalmente entendido
como um interesse pouco comum,
muitas vezes de carácter sexual,
num objeto ou material, enquanto o
fetichismo é a atividade que envolve
esse mesmo material ou interesse.
Publicado pela Frame e editado
por Philip Fimmano, “Fetischism in
Fashion” explora como diferentes
fetiches, desde o comum fetiche por
sapatos a um interesse por animais ao
mais arriscado “bondage” revela algo
sobre os laços que nos ligam enquanto
seres humanos.
Da autoria da famosa trend forecaster,
Lidewij Edelkoort, a obra analisa a
evolução do gosto desde o nascimento
até a idade adulta, a psicologia da
marca, o poder da cor preta, os objetos
fetiche, a interação da arquitetura,
moda e corpo.
ISSUE #5 | JUN 2013
Fetishism in Fashion_26junho2013_
Interior3Edelkoort acredita que os
nossos fetiches nos dizem algo sobre
um «futuro instintivo para o estilo e
a cultura», cujas origens podem ser
encontradas nas nossas primeiras
interações. «Muitas das nossas
fantasias e aspirações são incorporadas
logo na infância e são muitas vezes
revisitadas, tornando-se num fascínio
por sopa, veludo ou sapatos, por
exemplo», explica Edelkoort no livro.
Com artigos, ensaios e entrevistas
de vários autores, incluindo Valerie
Steele e Alice Rawsthorn, ilustrados
por imagens de Leigh Bowery e Erwin
Olaf, “Fetishism in Fashion” promete
tornar-se um livro de referência,
sendo descrito como pertencendo a
«uma nova era de experimentação».
Elementos fetichistas do trabalho de,
por exemplo, Alexander McQueen,
Iris van Herpen, Bart Hess e
Formamfantasma são analisados,
levando o leitor numa viagem estética
através de alguns fatores subliminares
que influenciam a moda.
80
HOMEM PERDE O MEDO
DA FEMINILIDADE
PORTUGAL FASHION MAG
Em Milão, os criadores usaram
pormenores femininos e trouxeram
uma brisa de frescura e fantasia à
moda de homem.
Uma brisa ligeira percorreu as
passerelles milanesas durante a
semana de moda consagrada ao
homem, graças à frescura e fantasia
das coleções de pronto-a-vestir para
a primavera-verão 2014.
O sportswear perdeu agressividade
para se tornar mais usável, mantendo a
elegância mesmo sem recurso ao fato.
É um sportswear chique, depurado
de detalhes demasiado técnicos, para
o dia a dia na cidade. Um clássico
revisitado e muito informal.
«O casaco tradicional está fora de
moda», como afirmou Giorgio Armani
ISSUE #5 | JUN 2013
após o seu desfile, marcado por muitas
malas para homem e modelos que
desfilaram com um sorriso na cara.
«Esta é a nova moda. Tento pôr coisas
que normalmente são identificadas
com mulheres», refere o criador, que
apresentou ainda a linha mais jovem
Emporio Armani.
Neste novo guarda-roupa masculino,
as bermudas estiveram em destaque,
com cortes largos, por vezes
extralargos. As t-shirts oversized,
em
diferentes
matérias-primas,
substituem as camisas.
A inspiração náutica fez uma aparição
nas propostas de Andrea Incontri
e Salvatore Ferragamo, com cortaventos leves em poliamida japonesa,
que se torna uma peça incontornável
do verão do próximo ano. Os materiais
82
PORTUGAL FASHION MAG
tornaram-se funcionais, os botões
desaparecem, os fechos multiplicamse.
Vivienne Wetswood sugeriu um
ambiente étnico-chique, que combina
o esplendor da Índia dos Marajás
com a perfeição da alfaiataria dos
especialistas de Savile Row. «Acho
que os homens gostam realmente
de expressar a sua personalidade
feminina. Adoram um pouco de
brilho», considera a criadora britânica.
Outra tendência saída das passerelles
milanesas foram os efeitos gráficos,
para valorizar t-shirts, blusões e
casacos. Os fatos são feitos com tecidos
estampados com micromotivos, com
a parte de cima e a parte de baixo
conjugadas com desenhos diferentes.
ISSUE #5 | JUN 2013
Miuccia Prada, a grande maestrina
da moda milanesa foi mais uma vez
aplaudida com uma apresentação
digna de um filme de Humphrey
Bogart: o fato super-chique com um
ar casual graças a sapatos em tecido,
complementados com o exotismo de
camisas hipercoloridas com motivos
florais ou geométricos. «Os homens
estão a mudar a forma como compram,
têm mais liberdade», considera Miuccia
Prada.
coleções da Trussardi e Diesel Black
Gold, por exemplo, e a paleta de cores
retoma alguns tons outonais das
coleções de inverno, como o bordeaux,
verde-garrafa e azul-acinzentado,
embora o branco tenha também um
lugar de destaque, assim como os tons
fluorescentes, em pormenores.
A Dolce & Gabbana optou pelo tema da
mitologia grega na Sicília, com imagens
de templos em ruínas e imagens de
esfinges de deuses estampados em
calções, malhas e casacos.
Apesar do espírito sportswear, as
matérias-primas são sofisticadas, com
o couro a ser a grande estrela nas
83
PORTUGALFASHIONMAG.com

Documentos relacionados