arqueologia da paisagem industrial

Transcrição

arqueologia da paisagem industrial
XI CONGRESO INTERNACIONAL DE REHABILITACIÓN DEL PATRIMONIO ARQUITECTÓNICO Y EDIFICACIÓN
471
MODULO 1
ARQUEOLOGIA DA PAISAGEM INDUSTRIAL: “ESCAVANDO” AS ORIGENS DA INDÚSTRIA
MINERADORA EM MINAS GERAIS
(1)
R.A. Rodrigues da Silva
Departamento de Administração. Instituto de Ciências Econômicas e Gerenciais – ICEG. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.
Campus Coração Eucarístico,
Belo Horizonte, 30535-901, Minas Gerais, Brasil
(1)
[email protected]
RESUMO
Este artigo apresenta os conceitos de patrimônio industrial
e patrimônio cultural a partir das relações estabelecidas
entre a vida social e econômica da sociedade mineira
(Estado de Minas Gerais – Brasil). A perspectiva principal é
o
desenvolvimento
de
paisagens
industriais
organizacionais como paisagem cultural, concebidas a
partir de uma visão integrada da sociedade segundo uma
teia de interligações que convergem para os conceitos do
patrimônio e cultura. As relações estabelecidas e os
aspectos da memória cultural e social visam abordar estes
conceitos,
proporcionando-lhes
uma
natureza
interdisciplinar. É necessário destacar uma "específica"
paisagem social-industrial que determina sua própria
identidade e torna possível conhecer uma região, um
espaço geográfico e um tempo em que se experimenta
transformações e reflexões sobre as condições de vida e
trabalho dos indivíduos. Os fatores específicos ligados à
arqueologia e ao patrimônio industrial definem, assim, a
construção da identidade, memória e cultura e explicam
algumas questões sociais, cujas expectativas e limitações
determinam a própria sociedade contemporânea. O
entrelaçamento dos conceitos constitui-se em uma
possibilidade de compreensão das relações de trabalho e
XI CONGRESO INTERNACIONAL DE REHABILITACIÓN DEL PATRIMONIO ARQUITECTÓNICO Y EDIFICACIÓN
472
MODULO 1
PALAVRAS CHAVE: Patrimônio Industrial; Arqueologia
Industrial; Patrimônio Cultural
Ao final, o que se pretende é fomentar e discutir propostas
para a valorização, a preservação e o incremento das
principais idéias que levam a desenvolver conceitos
relacionados à importância dos métodos arqueológicos
para o entendimento do desenvolvimento tecnológico e
também sócio-econômico, além de possibilidades de
percepção da formação social e cultural do Estado de
Minas Gerais como parte de uma memória viva.
1. INTRODUÇÃO
2.
PATRIMÔNIO
INDUSTRIAL
da sociedade, entrelaçadas às conseqüências sócioeconômicas e culturais. Expande-se, dessa maneira, o
conceito de patrimônio e se constitui em desafio a sua
compreensão a partir da memória e da história culturalindustrial.
Tem-se como característica principal do trabalho,
apresentar alguns princípios a partir da compreensão dos
ciclos de desenvolvimento da indústria mineira no Estado
de Minas Gerais. A proposta está baseada na importância
da indústria de metalurgia, siderurgia e dos minerais em
geral para a formação da memória e da história do Estado.
Assim, a idéia de construir uma relação entre a memória da
técnica e a arqueologia industrial adotando-se os conceitos
metodológicos de prospecção arqueológica, patrimônio
industrial e memória cultural. Recorre-se, assim, aos
princípios do desenvolvimento da indústria mineira, desde
as proto-indústrias do Ciclo do Ouro nas primeiras décadas
do século XVIII até sua evolução e adaptação junto ao
mercado no início do século XX.
CULTURAL
E
PATRIMÔNIO
Os conceitos desenvolvidos para descrever patrimônio
vêm, a cada ano, sendo ampliados, sendo que agregado
ao conceito tradicional atrelado à patrimonialidade material
se tem pensado na natureza e diversidade. Estes dois
fatores determinaram nos últimos anos uma ampliação
conceitual que busca englobar desde as ciências humanas,
já tradicionais, como as exatas (patrimônio tecnológico e
material) e as da saúde e biológicas (patrimônio genético).
Além destas novas formas de ‘pensar’ o patrimônio
emergem também com maior intensidade o patrimônio
imaterial e o patrimônio intangível (ABREU e CHAGAS,
2003)[1].
Entretanto a preocupação com o patrimônio imaterial e
urbano atrelado ao patrimônio industrial tem tido pouca
473
XI CONGRESO INTERNACIONAL DE REHABILITACIÓN DEL PATRIMONIO ARQUITECTÓNICO Y EDIFICACIÓN
MODULO 1
atenção. Alguns casos podem ser apresentados os quais
buscam desenvolver estudos por iniciativas brasileiras,
públicas ou privadas, se tem uma grande concentração na
preocupação com o patrimônio histórico e industrial, não se
ressaltando a importância do estudo das variáveis
humanas e sociais implicadas no processo de construção
da história industrial. O que se observa a partir dos
entroncamentos e interconexões entre os conceitos de
patrimônio, cultura e indústria, entre a materialidade e o
imaterial é um desafio à interdisciplinaridade do ‘patrimônio
cultural’ amplo. Nele se tem uma ampliação e ‘globalização’
do conceito que permite desenvolver a memória e a história
cultural as quais possibilitam um maior entendimento da
presença contínua entre passado-presente-futuro (BURITY,
2002)[2].
Para Ferreira e Orrico (2002)[3], as várias formas de se
articular cultura e memória, história e sociedade, passado e
presente definem de infinitas maneiras novas fronteiras e
articulações que identificam uma linguagem nacional
própria, identidade e memória sociais que muitas vezes
são significantes e trazem significado a algumas questões
que inquietam os estudiosos e apaixonados pela memória
cultural.
2.1. Arqueologia Industrial e Patrimônio Industrial
As origens da arqueologia industrial podem ser descritas a
partir da Idade Moderna, com a utilização de diversos
meios de intensificação da produção, os quais começam a
ser utilizados com uma vinculação aos processos de
industrialização e uma reordenação morfológica dos
edifícios produtivos durante os séculos XVIII e XIX de
acordo com os modos de exploração e tecnologia
aplicados. Estes fenômenos são perceptíveis com a
desapropriação do conhecimento e das técnicas produtivas
que são repassadas dos homens às empresas, junto a uma
maior individualização do trabalho e à especialização
produtiva (TORRÓ, 1994)[4].
Os movimentos de construção da arqueologia industrial
estão intimamente ligados aos processos de promoção e
conservação, inventário, documentação, investigação e
valorização do patrimônio industrial. Além destas formas,
tem-se também o fomento ao ensino destes aspectos como
um objetivo a suscitar as pessoas e as organizações para a
importância e revalorização do patrimônio industrial, suas
implicações nos processos de vida do homem e de
construção do atual estado da sociedade (BERGERON,
1995)[5]. Através de uma construção da memória industrial,
a partir da importância do administrador ou gestor das
empresas acompanhados de uma equipe interdisciplinar,
XI CONGRESO INTERNACIONAL DE REHABILITACIÓN DEL PATRIMONIO ARQUITECTÓNICO Y EDIFICACIÓN
474
MODULO 1
pode-se reconstruir a história das empresas e de seus
processos que determinaram ou sofreram influências em
seu desenvolvimento.
Com isso, a (re)construção destas atividades, as situações
reais de trabalho, os contextos em que se desenvolveram e
a recuperação da memória histórica permitem a
contextualização
das
práticas
espontâneas
ou
administrativas, os métodos de valoração e exploração do
trabalho. Suas formas de desenvolvimento ou de
expressão são extremamente variáveis e o equilíbrio
empresa-sociedade está em conformidade com as
possibilidades locais e, principalmente, os contextos sóciopolíticos, econômicos e culturais.
Os conceitos de arqueologia superam aqueles percebidos
pela maioria das pessoas, de uma ciência que possui uma
conceituação caracterizada por uma metodologia
específica, centrada nos problemas históricos ou
sociedades antigas. Para Gutiérrez Lloret (1994)[6] não se
pode constituir um conceito único para uma arqueologia
genérica, e sim, deve-se desenvolver várias articulações
que dêem conta dos temas englobados pelo termo e que
têm como propósito o desenvolvimento do termo. O
conceito de arqueologia industrial está imbricado ao
desenvolvimento das sociedades capitalistas ou industriais
em que constituem as atividades caracterizadoras de uma
nova
estrutura
econômica
das
sociedades
contemporâneas. Complementando, a perspectiva de
conceitualização do campo de atuação da arqueologia
industrial tem na análise de Santacreu Soler (1992)[7] sua
centralidade na idéia de uma construção fatorial dos
conhecimentos aplicada aos fatores de produção em
direção a uma orientação mais social. Ela se compõe de
empresários e de funcionários protagonistas dos processos
de produção ou de técnicos administrativos e de gestão.
Segundo López Garcia (1992)[8], as transformações
provocadas pela inserção de empresas e/ou indústrias em
um dado momento da vida social de um determinado
espaço ou lugar, além de suas características, tendem a
transformá-las ou modificá-las de alguma forma. As
mudanças estruturais das organizações são elementos de
transformação de uma instalação industrial, seja a respeito
da história do trabalho ou das técnicas adotadas em um
certo espaço de tempo. O estudo dos impactos sociais da
indústria em um determinado lugar pode ser determinante
para a construção de uma história social que envolva
desde a busca da harmonia até a da contradição em
relação aos espaços pré-existentes.
Com isso, pode-se observar que o contexto em que se
encontra a arqueologia industrial apresenta-se amplo e tem
como princípio a abordagem da história industrial e
475
XI CONGRESO INTERNACIONAL DE REHABILITACIÓN DEL PATRIMONIO ARQUITECTÓNICO Y EDIFICACIÓN
MODULO 1
econômica do modelo de sociedade moderna. Tal fato
ocorre a partir dos registros escritos ou do conjunto de
estruturas desenvolvidos através dos últimos dois séculos.
Inclui, também, o estudo das características sócioambientais que permitam um olhar crítico ao
desenvolvimento e às influências das empresas segundo o
entorno que elas abarcam.
3. UMA BREVE HISTÓRIA DA INDÚSTRIA DAS MINAS
GERAIS
A história do Estado de Minas Gerais se desenvolve e está
entrelaçada ao desenvolvimento da indústria minera. O
próprio nome do Estado – “Minas Gerais” – leva à intuição
de grandes reservas dos vários minerais por sua extensão.
O descobrimento de grandes quantidades de ouro no
século XVIII foi o ponto de partida para o desenvolvimento
da indústria mineira que até os primeiros anos do século
XX seguiu sendo um de seus pontos de referência.
Entretanto, depois de quase três séculos de influência
mineira, a importância dos minerais transferiu-se do ouro
para a extração de ferro. Nos últimos anos do século XX, a
importância da indústria mineira foi relacionada ao turismo
com a recriação da Estrada Real e a busca de um turismo
cultural em torno da mesma. Assim, as possibilidades de
tornar mais visível a importância de a indústria mineira ao
Estado e também ao País tornar-se fundamental quando se
pretende desenvolver a arqueologia, a história e a memória
deste caminho.
Especificamente em Minas Gerais, a memória ou história
da indústria mineira se faz a partir da última década do
século XVII e no século XVIII. A formação das primeiras
proto-indústrias ou centros de exploração dos minerais se
faz presente nas políticas econômicas do domínio
português e continua até os primeiros anos do século XIX.
A partir deste momento, se tem um novo ciclo que
permanece inalterável no período do Império brasileiro até
os primeiros anos do século XX quando começa a
preocupação de se constituir um parque tecnológico que
pudesse desenvolver o país e propiciar a implantação de
empresas industriais brasileiras.
Com isso, se tem a trajetória histórica da indústria mineira
em que no há explicitamente uma preocupação com sua
importância histórica e social, não menos com a
preocupação patrimonial e cultural disseminada na
sociedade das Minas Gerais. Ao final do século XX e os
primeiros anos do século XXI se tem uma preocupação
turística em desenvolver a principal via de transporte e
comércio desde o século XVIII até os primeiros anos do
século XX, a Estrada Real. Mas, não se tem uma
XI CONGRESO INTERNACIONAL DE REHABILITACIÓN DEL PATRIMONIO ARQUITECTÓNICO Y EDIFICACIÓN
476
MODULO 1
preocupação centrada na manutenção da cultura e história
da indústria mineira, e sim em fazer dele um novo caminho
para o turismo ecológico e rural. As discussões propostas
pretendem desenvolver um convite às possibilidades e
apresentar algumas possibilidades de (re)criar este
patrimônio ao longo da Estrada Real que outrora foi
importante para o desenvolvimento da indústria mineira e
de toda a região das Minas Gerais.
3.1. Das Pequenas Fundições às Primeiras Indústrias
O período em que começa a busca pelas minas no estado
de Minas Gerais compreende as primeiras décadas do
século XVIII, também denominado “Ciclo do Ouro” ou
“Surto de Mineração”. Com isso, a partir das descobertas
das jazidas de ouro, também foram encontrados outras de
vários minerais, principalmente pedras preciosas ou
semipreciosas.
Os
processos
migratórios
e
o
desenvolvimento dos grandes jazidas determinaram os
movimentos sociais e de trabalho durante o século XVIII.
Ainda sob a dominação do Império Português, o estado foi
considerado o mais importante na colônia brasileira e o
período do ouro foram condicionantes e determinantes
para mudar os processos sócio-econômicos a partir de seu
crescimento, auge e decadência (1693 a 1770) e a
considerável proto-indústria do ouro. (BARBOSA, 1979[9];
COSTA, 1978[10]).
A característica da população e da economia brasileira, até
o período anterior, se havia centrado na região costeira e
na agricultura. Com isso, se percebe um fluxo populacional
e a nova dimensão do território, em que se tem a formação
das principais cidades, de centros comerciais e de toda
uma economia anteriormente inexistente (ANTONIL,
1982)[11].
Os principais anos de exploração dos minerais,
principalmente o ouro, têm a realização das lavras nas
bordas dos rios, nas áreas denominadas de aluvião nos
leitos dos rios. Mas, devido a sua rápida escassez e à
necessidade em utilizar técnicas mais desenvolvidas de
exploração, também foram mudados e desenvolvidos os
processos que determinaram a busca por economias
alternativas a indústria mineira no último quarto do século
XVIII. Estes processos vão mudar de direção com a
chegada da Real Família Portuguesa ao Brasil em 1808 e a
transferência da sede de Corte para o Rio de Janeiro. Com
isso, mudam os processos de extração dos minerais e
também se faz importante desenvolver novos processos e
agora a considerada Era do Aço.
Tais fatores levam à criação de empresas e às primeiras
indústrias e fundições que se tornam fatores essenciais
477
XI CONGRESO INTERNACIONAL DE REHABILITACIÓN DEL PATRIMONIO ARQUITECTÓNICO Y EDIFICACIÓN
MODULO 1
para entender as novas dimensões da indústria mineira
para, na época, a Província de Minas e o Brasil. Pode-se
considerar, dessa maneira, que a origem da siderurgia nas
Minas Gerais ocorre com uma produção artesanal ao final
do século XVIII que se amplia até o século XIX. (LIBBY,
1984, 1988)[12][13]
Entre os períodos de crise do ouro e o crescimento da
indústria mínero-siderúrgica, as micro-regiões da província
se dedicaram ao desenvolvimento de áreas específicas,
pois, em geral, elas tinham alguma especialidade,
considerada essencial para o desenvolvimento da
economia aurífera, mas tiveram que se restabelecer e se
reestruturar para a produção de gêneros alimentícios. O sul
se tornou importante área de produção da cultura do café e
o norte da cultura do algodão. (LENHARO, 1979)[14].
Dentre os fatos que determina tais mudanças nos rumos da
mineração no Brasil e principalmente em Minas Gerais
tem-se a reabertura da Real Fábrica de Diamantes no ano
de 1808, além da construção da estrada de ferro no Serro
do Frio, em Morro do Pilar. No ano de 1811 é criada a
empresa Patriótica, empreendimento sob a cotização de
Sociedade por Ações que inicia a fabricação de ferro na
cidade de Congonhas do Campo. Entre as empresas
criadas no período expansionista da siderurgia em Minas
Gerais se pode apresentar algumas das principais na
tabela 01 a seguir:
XI CONGRESO INTERNACIONAL DE REHABILITACIÓN DEL PATRIMONIO ARQUITECTÓNICO Y EDIFICACIÓN
MODULO 1
Ano
Empresa
1819 Sociedade Mineralógica (extração de ouro da Mina de Passagem
1824 Imperial Brazilian Mining Association (extração de ouro da Mina Gongo
Soco)
1827 Fábrica de Ferro de Jean Monlevade (engenheiro de minas)
1828
1830
1834
1862
1862
1862
1864
1873
1876
1880
1880
1886
General Mining Association (quatro minas)
St. John d’el Rey Mining Company, Limited (Mina do Morro Velho)
Serra da Candonga Gold Mining Company, Limited
Santa Bárbara Gold Mining Co., Ltd (Mina de Pari no Rio Piracicaba)
Dom Pedro North d'El Rey Gold Mining Company (mina de ouro no
Morro Santa Ana & Maquiné)
Anglo-Brazilian Gold Mining Company, Ltd. (Mina de Passagem)
Roça Grande Brazilian Gold Mining Company (mina de ouro)
Brazilian Consols Gold Mining Company (obtém a propriedade de
Taquara Queimada, na Serra de Ouro Preto)
Pitanguy Gold Mines, Ltd. [extração de ouro em Jacutinga]
Brazilian Gold Mines Company (extração na Mina da Descoberta)
Ouro Preto Gold Mines Company, Ltd. (Mina da Passagem)
São José d'El Rey Gold Mining Co., Ltd. (Caçula)
Tabela 01: Empresas no Século 19 – Minas Gerais (Brasil)
Sources: Adaptado de Ferrand, L’Or à Minas Gerais;
Cidade
Vila Rica (atual Ouro Preto)
Santa Bárbara
São Miguel do Piracicaba (atual João
Monlevade)
São José del'Rei (atual Tiradentes).
Nova Lima
São Miguel e Almas (atual Serro)
Santa Bárbara
Mariana
Mariana
Caeté
Mariana
Santa Bárbara
Caeté
Ouro Preto
Tiradentes
478
479
XI CONGRESO INTERNACIONAL DE REHABILITACIÓN DEL PATRIMONIO ARQUITECTÓNICO Y EDIFICACIÓN
MODULO 1
Leonardos, Geociências no Brasil, Rodolphe Jacob,
Minas Geraes no XX século, Rio de Janeiro: Gomes e
Simões, 1911. IN British Enterprise in Brazil: The St.
John D'el Rey Mining Company and the Morro Velho
Gold Mine, 1830-1960, Marshall Craig Eakin, Duke
University Press, 1989, p.17.
processos de importação estabelecidos ao final do século
XIX. As mudanças produzidas pela instalação do regime
presidencialista no Brasil, em 1889, e pelo surto do
desenvolvimento industrial ao final do século XIX levaram
ao surgimento de dois setores industriais: a indústria do
aço e a do cimento.
Durante o período que compreende o século XIX até o final
do Império, em 1889, se pode considerar uma importância
particular da expansão da indústria minera na província de
Minas Gerais. A criação das empresas de exploração dos
diversos minerais, frente a cri da Associação Brasileira de
Mineração em 1874 e vários grupos de investigação e
desenvolvimento culmina com a fundação da Escola de
Minas de Ouro Preto, em 12 de outubro de 1876, por
Claude-Henri Gorceix, seu primeiro diretor.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A importância e consolidação da indústria mineira em
Minas Gerais e no Brasil ocorre, assim, de maneira
embrionária até o final do século XIX. Depois desse
período tem-se, principalmente no século XX, a criação das
grandes empresas de siderurgia e mineração, além da
expansão capitalista do país, a formação dos grandes
centros industriais e da economia industrial que permitem o
fortalecimento das primeiras grandes indústrias e sua
expansão a partir do incremento das ferrovias e dos
Dentre os importantes processos considerados para a
formação das cidades brasileiras no século XX não se
pode desconsiderar a formação cultural, a industrialização
e seus desdobramentos compreendem parte de uma
realidade que se faz crescente e presente durante todo o
período recente da economia brasileira. Entretanto, o
processo industrial, geralmente, é percebido sob olhares
das estruturas macro e microeconômicas, sob as
características da gestão e crescimento e desenvolvimento
das empresas e também o caráter estrutural e tecnológico.
Uma percepção das influências sociais, das relações
estabelecidas entre organização, sociedade e Governo, e a
importância ou influencia da mesma nos processos sociais
e culturais de uma sociedade são temas se não
inexplorados, em alguns casos, pelo menos incipientes ou
embrionários.
XI CONGRESO INTERNACIONAL DE REHABILITACIÓN DEL PATRIMONIO ARQUITECTÓNICO Y EDIFICACIÓN
480
MODULO 1
Em alguns casos, os desdobramentos das vilas operárias e
suas funções são percebidos não somente sob o aspecto
do desenvolvimento social-urbano, mas também a partir
das perspectivas de reprodução, manutenção e construção
de modelos sociais que venham a garantir uma certa
estabilidade e perenidade do modelo social e industrial
vigente. Esta visão, estabelecida desde os séculos XVIII e
XIX, nos primórdios da industrialização, através de Robert
Owen e a Fábrica New Lanark, visa, em primeiro lugar, a
reprodução e garantia das relações capital-trabalho e
porque não as relações sociais estabelecidas.
Para Micklethwait e Wooldridge (2003)[15], os estudos
relativos à história empresarial e econômica, sobre a
arquitetura industrial, a ocupação geográfica, a complexa
estrutura empresarial, a psicologia social, a sociologia do
trabalho dentre outros têm importância impar para a
manutenção e o desenvolvimento da memória empresarial
e
industrial
brasileira
se
realizados
estudos
interdisciplinares que privilegiem não somente os fatores
financeiros-econômicos, mas também os sócio-culturais.
Ao incorporar a este conteúdo o entorno social, com as
vilas operárias e seus desdobramentos tem-se a
possibilidade de tornar visível todo um contexto sócioprodutivo que outrora tornou possível o desenvolvimento
econômico e a evolução da comunidade e atores
envolvidos. Estabelecer estas relações e descobrir a
importância delas para a sociedade brasileira torna-se um
importante passo para a ampliação do conceito de
memória cultural, pois se pode entender também como
patrimônio cultural de um país, região ou local a história
dos empreendimentos feitos e as relações por ele
estabelecidas com a sociedade.
A recuperação da história industrial e cultural apresenta a
possibilidade de conhecimento de uma época vivida e de
seu entorno. As mudanças organizacionais segundo as
transformações organizativas nas empresas com reflexos
nas as condições de vida e trabalho das pessoas, nas
demandas de qualificação requeridas pelos processos
produtivos, na orientação general e possibilidades de ação
do “trabalhador coletivo”, têm sido pouco consideradas na
hora de explicar as mudanças sociais e as expectativas e
limitações da sociedade contemporânea. Apesar da
importância e da relevância da história organizacional e de
suas influencias na visa social e político-econômica, uma
adequada “síntese organizacional” torna-se pluralista e
complexa a partir do ponto de vista apresentado e de como
são percebidas e descritas as histórias organizacionais.
(TOLLIDAY, 2000)[16].
481
XI CONGRESO INTERNACIONAL DE REHABILITACIÓN DEL PATRIMONIO ARQUITECTÓNICO Y EDIFICACIÓN
MODULO 1
Referencias
[1] R. Abreu, M. Chagas (orgs.), “Memória e patrimônio: ensaios
contemporâneos”, Rio de Janeiro, DP&A, 2003.
[2] J. A. Burity (org.), “Cultura e identidade: perspectives
interdisciplinares”, Rio de Janeiro, DP&A, 2002.
[3] L.A.A. Ferreira, E.G.D. Orrico (orgs.), “Linguagem, identidade e
memória social”, Rio de Janeiro, DP&A, 2002.
[4] J. Torró. “Arqueología, trabajo y capital. Algunas
consideraciones a propósito do II Congrés d´Arqueología Industrial
do País Valencià”, Revista Sociología del Trabajo. Nova Época, nº
22, 1994,pp. 47-62.
[5] L. Bergeron, “Arqueología industrial, pasado e presente”,
Revista de Historia Industrial, nº 7, 1995, pp.169-195
[6] S. Gutiérrez Lloret, “La arqueología después de la Edad Media:
El Registro Arqueológico en la Historia Moderna y
Contemporánea”, en Jornadas de Arqueología Valenciana, Alfaz
del Pi, Alicante, 1994.
[7] J.M. Santacreu Soler, “Una visión global de la arqueología
industrial en Europa. Casos concretos en regiones concretas”,
Ábaco Revista de Cultura e Ciências Sociais. Gijón: Nova Época,
nº 1, 1992, pp. 13-28.
[8] M. López García, “El concepto de patrimonio: el patrimonio
industrial o la memoria del hogar”, Ábaco Revista de Cultura e
Ciencias Sociales. Gijón: 1992, Nova Época, nº 1, pp. 9-12.
[9] W.A. Barbosa, “História de Minas Gerais”, Belo Horizonte, Ed.
Comunicação, vol. 1, 1979.
[10] I.N. Costa, “As populações das Minas Gerais no século XVIII:
um estudo de demografia histórica”, São Paulo, FEA/USP, 1978.
[11] A.J. Antonil, “Cultura e opulência do Brasil”, Belo Horizonte,
Itatiaia/Edusp, 3ª. Edição, 1982.
[12] D.C. Libby, “Trabalho escravo e capital estrangeiro no Brasil: o
caso de Morro Velho”. Belo Horizonte, Itatiaia, 1984.
[13] D.C. Libby, “Transformação e trabalho em uma economia
escravista: Minas Gerais no século XIX”, São Paulo, Brasiliense,
1988.
[14] A. Lenharo, “As tropas da moderação: o abastecimento da
Corte na formação política do Brasil – 1808-1842”, São Paulo,
Símbolo, 1979.
[15] J. Micklethwait, A. Wooldridge, “A companhia: breve história de
uma idéia revolucionária”, Rio de Janeiro, Objetiva, 2003.
[16] S. Tolliday, “Beyond the “organizational synthesis”: paradigm
and theory in recent American business history”, T. Szmrecsányi,
R. Maranhão, “História de empresas e desenvolvimento
econômico”, São Paulo, EDUSP/HUCITEC, 2000, pp. 3-46.

Documentos relacionados