Audiodescrição de fotografias como material didático para o estudo

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Audiodescrição de fotografias como material didático para o estudo
Audiodescrição de fotografias como material didático para o estudo da
paisagem por deficientes visuais
Jeani Delgado Paschoal Moura (Universidade Estadual de Londrina) [email protected]
Resumo:
O objetivo deste artigo é discutir a audiodescrição aplicada às imagens estáticas, mais
especificamente às fotografias, apresentadas na forma de texto escrito. A audiodescrição foi usada
como um recurso didático de acessibilidade comunicacional para leitura de paisagens, uma das
categorias-chave para o ensino de Geografia. Este recurso auxilia na descrição, interpretação e
leitura de paisagens, favorecendo a mobilização do pensamento e a imaginação criadora, além de
promover a afetividade por meio das relações interpessoais que se manifestam no momento da
aprendizagem. Diante da necessidade de se discutir a inclusão social no contexto escolar, este
trabalho está sendo desenvolvido com professores de Geografia em formação inicial e continuada,
visando subsidiar o docente no desenvolvimento de sua ação pedagógica junto a alunos com
deficiência visual ou com baixa visão. A metodologia de trabalho se pautou em dinâmicas interativas
e trabalhos de campo para a realização de ensaios fotográficos e a posterior audiodescrição, ou seja,
tradução da imagem em texto, escrito de forma coletiva. Como resultado preliminar desta pesquisa
em educação geográfica inclusiva, constatou-se que a audiodescrição se constitui em um recurso
didático de mediação pedagógica, possibilitando aos professores e aos seus alunos maior
comunicação mediante acesso à linguagem imagética, ampliando as suas possibilidades de leituramundo.
Palavras chave: Audiodescrição, Paisagem, Fotografia.
Audio description of photographs as teaching material for the study of
the landscape visually impaired
Abstract
The purpose of this article is to discuss audio description applied to still images, more specifically to
the photographs presented in the form of written text. Audio description was used as a teaching
resource for reading accessibility communicational landscape, one of the key categories for teaching
Geography. This feature assists in the description, interpretation and reading of landscapes, favoring
the mobilization of thought and creative imagination, and promote affection through interpersonal
relationships that arise when training. Faced with the need to discuss social inclusion in the school
context, this work is being developed with teachers of Geography in initial and continuing training,
aiming to support the teacher in developing their pedagogical action with students with visual
impairments or low vision. The methodology was ruled in interactive dynamics and fieldwork to
conduct photo shoots and subsequent audio description, ie, image translation text, written collectively.
As a result of this preliminary research in geographical education inclusive, it was found that audio
description constitutes a didactic resource mediation training, allowing teachers and students greater
access to communication through imagery language, expanding the possibilities of reading-world
Key-words: Audio description, Landscape, Photography.
1 Introdução
Vivemos em uma sociedade imagética, em que se constata a presença marcante da
cultura visual, a qual tem sido levada para a escola como um recurso didático essencial a ser
trabalhada em diferentes disciplinas. Na Geografia a imagem é de uso frequente, sendo
imprescindível abordar um conteúdo mediante linguagem imagética que o represente. Diante
do crescente uso da imagem na sala de aula pelo seu potencial educativo, verificou-se a
necessidade de criação de materiais didáticos alternativos, no âmbito da formação docente,
para a inclusão de pessoas com deficiência visual ou baixa visão no processo de ensino e
aprendizagem de conceitos geográficos.
Objetivamos discutir a audiodescrição como recurso de acessibilidade comunicacional
para leitura de paisagens, uma das categorias-chave do ensino de Geografia, por meio de
imagens estáticas, mais especificamente de fotografias, apresentadas na forma de textos
escritos para serem reproduzidos verbalmente no momento da aula. A audiodescrição como
um recurso de comunicação verbal foi utilizada como um meio para descrever e caracterizar
os elementos essenciais presentes nas fotografia produzidas pelos docentes em formação
inicial e continuada, permitindo que os mesmos vivenciassem dinâmicas interativas para
produzirem materiais alternativos para que pessoas com deficiência visual ou com baixa visão
possam se apropriar mentalmente de seu conteúdo e reelaborá-lo significativamente.
Assim,
apresentamos
um
recurso
didático
de
mediação
pedagógica
(VASCONCELLOS, 1992) que possibilita aos sujeitos terem acesso à linguagem imagética,
ampliando as suas possibilidades de observação, sensibilização, interpretação, análise e
compreensão do mundo vivido. Diante da necessidade de se discutir a inclusão social no
contexto escolar, este trabalho visa subsidiar o docente no desenvolvimento de sua ação
pedagógica, preparando o mesmo para a aplicação de uma educação geográfica inclusiva.
2 Audiodescrição: uma conceituação
A Lei Federal nº 10.098, promulgada em 19 de dezembro de 2000 e regulamentada
pelo Decreto Federal 5.296, de dezembro de 2004, prevê a acessibilidade comunicacional
como uma estratégia fundamental para garantir às pessoas com deficiência sensorial o acesso
à sociedade de forma a exercer a sua cidadania plena. Conforme consta na referida lei:
Art. 17. O Poder Público promoverá a eliminação de barreiras na comunicação e
estabelecerá mecanismos e alternativas técnicas que tornem acessíveis os sistemas
de comunicação e sinalização às pessoas portadoras de deficiência sensorial e com
dificuldade de comunicação, para garantir-lhes o direito de acesso à informação, à
comunicação, ao trabalho, à educação, ao transporte, à cultura, ao esporte e ao lazer.
(BRASIL, Lei Federal nº. 10.098/2000)
Em atendimento à lei supracitada desenvolvemos um trabalho na perspectiva de
acessibilidade comunicacional, como recurso fundamental na preparação do professor para a
educação geográfica escolar inclusiva. Compreende-se que a percepção do “o quê” e do
“como” audiodescrever, bem como a preparação do seu roteiro para a produção das
fotografias audiovisuais, são etapas que permitem a interlocução, sendo uma experiência
criativa tanto para o sujeito que produz o audiovisual, quando para aquele que o utiliza como
meio de leitura e compreensão da realidade estudada. Conforme Vasconcellos (1992, s/p)
orienta, no contexto escolar
[...] não se trata apenas da existência de algo que pode ser ensinado, dito, revelado a
alguém; a questão central é a atividade do sujeito sobre o objeto, o estabelecimento
de relações na representação, a (re)descoberta, enfim, a construção do
conhecimento. O educando deve construí-lo, pois só assim este passará a fazer parte
dele; caso contrário é sempre algo que lhe "dizem", que não se lhe incorpora, que
não é assimilado.
Para atingir os objetivos do ensino escolar inclusivo, com base em Lima, Guedes e
Guedes (2013, p.97), compreendemos que a “áudio-descrição deve ser construída a partir de
uma linguagem clara, simples, objetiva e acessível para que a compreensão do conteúdo
assistido não seja prejudicada e que, ao invés de promover comunicação, se construa novas
barreiras comunicacionais através da escolha da linguagem”. A audiodescrição, como um
recurso de comunicação, é compreendida como uma:
modalidade de tradução audiovisual intersemiótica onde as imagens, ou sinais
visuais, são descritas em áudio, ou sinais acústicos, entre os diálogos. Ela otimiza a
compreensão de produtos audiovisuais pelo público com deficiência visual e
intelectual. A audiodescrição também se aplica a imagens estáticas, como pinturas,
fotos, esculturas e slides de apresentação. Portanto, podemos encontrar a
audiodescrição na TV, no cinema, no teatro, nos museus, em audiolivros,
conferências e nas salas de aula. Ela pode ser pré-gravada (em filmes de TV,
cinema, nos audioguias de exposições e nos audiolivros); ao vivo (em espetáculos de
teatro e dança, conferências e salas de aula) ou simultânea (ex. em programas de TV
ao vivo, que não possibilitam a elaboração de um roteiro anterior ao programa,
portanto, neste caso, a AD é feita “na raça”). A audiodescrição também é definida
como um recurso de tecnologia assistiva porque promove a acessibilidade para um
público específico. (TRAMAD, 2013)
A audiodescrição tem o objetivo de estudar e promover a acessibilidade audiovisual
por meio da tradução de imagens em palavras, de produtos culturais audiovisuais e visuais
(filmes, peças de teatro, espetáculos de dança, fotos, pinturas, esculturas, instalações, etc) para
o público com deficiência visual e intelectual, conforme anunciado no site Tramad (2013), um
caminho para a acessibilidade.
A cultura visual que permeia a sociedade contemporânea leva à reflexão sobre as suas
possibilidades pedagógicas para o trabalho em sala de aula, em diferentes disciplinas. A
oferta de textos de diferentes gêneros é essencial para ampliar o universo de informações
sobre a humanidade e seus mundos (MONTEIRO, 2008), gerando vínculos entre o leitor e o
mundo vivido. Mas, como o deficiente visual ou de baixa visão poderá se beneficiar deste
momento de aprendizagem se lhe falta o instrumento essencial para apreender esta cultura
visual em que está inserido? Como desenvolver um trabalho pedagógico em educação
geográfica dos “olhos”, atendendo a demanda crescente por uma educação inclusiva, a qual
necessita de um trabalho individualizado, de qualidade, como um direito para o exercício da
cidadania? Como trabalhar o conceito de paisagem com este público, considerando por
definição que paisagem é tudo aquilo que a visão alcança (SANTOS, 1996)?
Para responder estas questões é que se optou por desenvolver um material didático
com fotografias em audiodescrição como meio de observação, descrição, leitura,
interpretação, análise e síntese dos conceitos de paisagem, categoria operacional essencial
para a compreensão do espaço geográfico – objeto de estudo da Geografia. Pois “a ausência
da visão não anula a função que as imagens exercem na vida da pessoa com deficiência
visual. Exemplo disso são as obras com audiodescrição, recurso de acessibilidade que vem
ganhando espaço e popularidade para esse público” (Blog da Audiodescrição, 2013).
3 A audiodescrição das paisagens fotografadas
A visualização de paisagens por meio de fotografias educativas constitui-se em
imensurável valor formativo, vez que possibilita a reeducação do olhar no contexto da
educação geográfica. O potencial didático-pedagógico das imagens fotográficas para a leitura
de paisagens no ensino de Geografia é o ponto de partida desta produção didática. Como
metodologia de ensino, estudamos as categorias de análise geográfica, com ênfase na
paisagem, compreendida “[...] como ponto de partida para aproximação de seu objeto de
estudo que é o espaço geográfico, contendo ao mesmo tempo uma dimensão objetiva e uma
subjetiva” (CAVALCANTI, 1998, p. 98). Como dimensão objetiva a paisagem foi estudada,
conceitualmente, para compreender o seu real significado e na dimensão subjetiva, a
paisagem foi captada pelos sentidos (visão, tato, audição, olfato e paladar) que permitiram aos
professores se comunicarem com o mundo exterior para percebê-lo de acordo com os seus
próprios referenciais. Sobre o conceito de paisagem é importante lembrar ainda que
Hoje, a idéia da paisagem [...], depende muito da cultura das pessoas que a percebem
e a constroem. Ela é, assim, um produto cultural resultado do meio ambiente sob
ação da atividade humana. O aspecto cultural tem desempenhado um papel
importante na determinação do comportamento das pessoas em relação ao ambiente.
Determinadas paisagens apresentam, na sua configuração, marcas culturais e
recebem, assim, uma identidade típica. A problemática ambiental moderna está
ligada à questão cultural e leva em consideração a ação diferenciada do homem na
paisagem. Desta forma, a transformação da paisagem pelo homem representa um
dos elementos principais na sua formação. (SCHIER, 2003, p. 80)
O uso da fotografia para leitura da paisagem tem o potencial de instigar a compreensão
para além da localização e da quantificação dos fenômenos estudados na mesma. Andrade
(2002) afirma que a fotografia permite ver com olhos livres porque ainda não se cegaram para
o comum ou o banal e, por isso, estes “olhos” conseguem transformar a realidade em obra
artística e não um exercício meramente técnico. Para Bordieu (2003) a fotografia cumpre a
função social de representar a sociedade e ser por ela representada; tem a capacidade de
estimular a memória daqueles que estiveram em determinado local e viveram momentos da
infância ou de outra fase da vida permitindo a inserção de olhares subjetivos sobre um mesmo
espaço.
A audiodescrição de paisagens fotografadas foi um exercício proposto durante um
ensaio fotográfico em uma caminhada no Campus da Universidade Estadual de
Londrina/UEL e outra experiência aplicada em professores da Universidade Federal de Juiz
de Fora/MG, cuja ação intencional, buscou captar paisagens destes campus e mapear, na
linguagem imagética, “reflexos da realidade”, pautados na percepção sensitiva (TUAN,
2012). Em ambas as experiências, propomos caminhadas em duplas, com papéis definidos
entre cada uma: no trajeto um professor foi o guia e o outro o cego. Para simular a cegueira,
os olhos foram vendados e o desafio foi explorar a paisagem por alguns minutos para percebêla de outra forma, sentindo diferentes odores, sons e texturas dos elementos naturais e
culturais dispostos nos espaços percorridos. Para o professor guia, ficou reservado o papel de
escolher os caminhos a serem percorridos pelo cego, ajudando-o a experimentar o mundo
sensitivo. Ao final do passeio, o guia fotografa algumas imagens da paisagem explorada pelo
“cego” e dialoga com o mesmo sobre as suas percepções in loco. Ao retornar para a sala de
aula, ambos, “o guia e o cego”, de posse das imagens fotografadas, escrevem sobre as
mesmas, um contribui na descrição dos seus aspectos visíveis pela experiência possibilitada
pela visão e o outro explora os aspectos percebidos pelos outros sentidos (tato, audição, olfato
e paladar) ao percorrer o trajeto, pois lhe foi ocultada a visão.
Como resultados desta metodologia, as descrições foram livres, contando com a
imaginação criadora e criativa dos professores e com as suas vivências em relação às
paisagens percorridas e fotografadas. Ao final da produção dos textos escritos, as imagens
foram reveladas aos professores que representavam o papel dos “cegos”, os quais depois das
experiências sensitivas, compartilharam as suas sensações e descobertas
ao terem que
imaginar a paisagem pelo invisível aos olhos. Assim, esta experiência permitiu a troca de
papéis em que os professores foram desafiados a se colocar no lugar do deficiente visual ou
com baixa visão e dar sentido às imagens das paisagens, refletindo sobre: - Como seria o
mundo se fôssemos cegos? - Que outros sentidos podemos aguçar para conhecer a paisagem
eliminando a possibilidade de “enxergar” com os nossos olhos carnais? – Como significar
aquilo que é invisível aos nossos olhos?
Após esta dinâmica, os professores fizeram a impressão das imagens para a montagem
de álbuns temáticos contendo as paisagens fotografadas acompanhadas dos textos produzidos
coletivamente, configurando-se em técnica de audiodescrição (Figura 1), fruto de um trabalho
tecido no limite do visível e do invisível aos olhos.
Figura 1: Álbuns Temáticos de fotografias audiodescritas
Foto: MOURA, J.D.P. (2012)
A seguir, apresentamos um dos produtos fotográficos audiovisuais, utilizados para
exemplificar o trabalho realizado na formação de professores, como um caminho para a
mediação pedagógica inclusiva. Apesar dos textos produzidos serem livres, algumas questões
norteadoras foram delineadas para o início do exercício de leitura e interpretação de paisagens
por meio de audiodescrição de fotografias: - Onde se localiza esta paisagem? - Quando se
produziu esta imagem? - Quais são as suas principais características?- Como descrevê-la?
Figura 2: Primavera no Campus/UEL
Foto: MOURA, J.D.P. (2012).
Descrição da Foto: Esta paisagem foi captada na região leste do Campus da Universidade
Estadual de Londrina, em Londrina, Paraná, Brasil, no mês de setembro de 2012, onde se
fixou o olhar nas características de um Ipê branco, florido, que trazia uma luz diferente para a
paisagem do local. Um dia ensolarado, com a ausência de ventos e a presença constante de ar
fresco, com cheiro suave de ervas, terra úmida devido a uma pancada de chuva passageira. O
silêncio é interrompido pelos motores de carros e caminhões que trafegam ao longe na
rodovia que corta o campus, na direção leste-oeste. O Ipê, ao centro da foto, rouba a cena, é
ele o protagonista da imagem que anuncia a chegada da primavera no campus. A sua sombra
projetada no chão mostra que o sol a pino se passou e, neste momento, em seu movimento
aparente caminha para o oeste, anunciando que tem pressa do entardecer. 14horas foi o
horário da cena, que não contou com transeuntes, apenas bancos de concretos solitários à
espera de estudantes em seu momento de lazer, de descanso ou de mais um instante de estudo.
O gramado contrasta com as calçadas e as árvores que entornam o Ipê são os panos de fundo
da paisagem, pois o Ipê se impõe e briga com o céu azul para ser ele o grande destaque. Eis a
chegada da primavera no campus.
Figura 3: Juiz de Fora, Zona da Mata Mineira.
Foto: MOURA, J.D.P (2010)
Descrição da Foto: Esta paisagem se localiza no município de Juiz de Fora, no Estado de
Minas Gerais (Brasil), em uma região integrante da Zona da Mata Mineira. A imagem desta
paisagem foi captada em 2010, em que o fotógrafo se posicionou em um ponto alto da
Universidade de Juiz de Fora, tendo uma visão privilegiada no momento de seu “clic”
fotográfico. Captou uma imagem surpreendente, uma visão panorâmica da cidade, construída
em uma baixada, com seus prédios e casas espalhadas sem uniformidade. Observa-se que a
natureza pouco aparece em meio ao concreto da cidade, as árvores estão dispersas, em meio
às casas e prédios. Ao estender o olhar para além da baixada onde se formou a cidade, é
possível observar “mares de morros”, os quais se misturam com o azulado céu, não podendo
se estabelecer com precisão os limites do céu azul, cheio de nuvens, com os dos morros, quase
verdes. O branco predominante do concreto, com o azul que chama para o céu e o verde dos
morros cobertos por vegetação compõem o visual desta linda cidade. Podemos chamar esta
paisagem de Juiz de Fora, Zona da Mata Mineira.
4 Considerações Finais
Este trabalho possibilitou uma reflexão sobre a importância de práticas inclusivas de
ensino desenvolvidas no âmbito da formação inicial e continuada de professores de Geografia,
cujo objetivo foi abordar o conceito de paisagem explorando a sensibilidade e a percepção
visual por meio de ensaios fotográficos. O exercício fotográfico permitiu transitar entre o
campo sensitivo (sentidos e percepção) e o intelectivo (pensamento e conceito); para Moreira
(2007) a paisagem é o ponto de partida para “ver e pensar” em Geografia, pois o método de
estudo daquilo que é geográfico, inicia-se na descrição do visível da paisagem (plano do
sensível) para se alcançar a compreensão da estrutura invisível do espaço (plano do
inteligível).
Assim, instigamos os professores a realizarem a leitura crítica da paisagem,
entendendo que “a compreensão do texto a ser alcançada por uma leitura crítica implica a
percepção das relações entre o texto e o contexto” (FREIRE, 1982, p. 1-2). Se considerarmos
que todo objeto cultural seja verbal ou não, em que está implícito o exercício de um código
social para organizar sentidos, é um texto, compreendemos que a fotografia é um texto que
permite a “leituramundo” na medida em que possibilita fazer inter-relações entre o texto
(registro fotográfico) e o seu contexto (realidade).
Dessa forma, realizamos a caminhada fotográfica no Campus da Universidade
Estadual de Londrina e da Universidade de Juiz de Fora/MG, em que foi proposto o registro
fotográfico de paisagens resultando numa prática pedagógica diferenciada, pois, através da
expressão fotográfica e da análise de imagens foi possível demonstrar o valor pedagógico da
fotografia na superação de uma leitura fragmentada da realidade, propiciando um olhar mais
atento e crítico sobre as paisagens.
Em síntese, por meio deste trabalho, foi possível aplicar uma dinâmica reflexiva sobre
o papel desempenhado pela fotografia na formação de leitores críticos da paisagem - categoria
fundamental na análise geográfica, tendo a audiodescrição como uma técnica inclusiva
incorporada para a descrição, interpretação e leitura de paisagens para deficientes visuais e de
baixa visão, favorecendo a mobilização do pensamento e a imaginação criadora, além de
promover a afetividade por meio das relações interpessoais que se manifestam no momento da
aprendizagem.
No âmbito da formação inicial e continuada de professores de Geografia esta
ferramenta didática foi essencial, vez que permitiu um trabalho diferenciado, capaz de
promover a socialização, a interação e a troca de conhecimentos, que são fundamentais para
se alcançar a inclusão social no contexto das práticas educativas escolares. Conclui-se que a
fotografia pode ser uma linguagem visual para não visuais uma vez que ao transformar a
realidade em obra, apresenta outras possibilidades de leitura-mundo além do funcional e
racional, permite
viajar no mundo imaginário, apostando na capacidade subjetiva de
significar a paisagem indo além de sua mera descrição.
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