Esclerose Lateral Amiotrófica: sua manifestação no Brasil
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Esclerose Lateral Amiotrófica: sua manifestação no Brasil
Neurociências Volume 14 – no 2 – suplemento - 2006 www.unifesp.br/dneuro 1 ISSN – 0104-3579 versão eletrônica exclusiva Anais do V Simpósio Brasileiro de DNM/ELA “Esclerose Lateral Amiotrófica: sua manifestação no Brasil” e I Simpósio Verde Vida Saúde “Saúde com Equilíbrio” 2006 Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. Neurociências 2 Editorial: Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) A Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), conhecida na França como Doença de Charcot, e nos Estados Unidos da América como Doença de Lou Gehrig (em homenagem ao famoso jogador de beisebol americano) é uma das doenças raras que tem desafiado a área da saúde para o seu entendimento e tratamento. A ELA compartilha várias características com outras doenças raras: não existem dados absolutos que estabeleçam sua prevalência (número de pacientes / 100.000 pessoas) exatas; seu diagnóstico definitivo exige um envolvimento multidisciplinar intenso e contínuo. Sendo uma doença de difícil diagnóstico e rara, a indústria farmacêutica não considera esta doença de rentabilidade para o desenvolvimento e comercialização de novos medicamentos. Talvez, isto explique que desde a sua descrição original por Charcot, em 1874, tão pouco tenha sido desenvolvido em medicamentos. Somente em 1994, demonstrou-se que algum medicamento poderia alterar a história natural da doença. O Riluzol, medicamento antiglutamatérgico, que diminui o processo de excitoxicidade do neurônio motor, possibilitou o prolongamento da vida daqueles com ELA em alguns meses. Esta foi uma descoberta importante, mas ainda insuficiente. A doença permanece a progredir. A fraqueza muscular, generalizada, continua avançando com aparecimento das múltiplas dificuldades: para movimentar-se; comunicar-se; alimentar-se; respirar. O inconformismo com esta evolução, estimulou em um grupo de profissionais brasileiros o desejo de fundar uma associação para o combate a ELA. Assim, em 1998, foi fundada a ABRELA, com sede em São Paulo. Desde então, esta associação tem desenvolvido reuniões periódicas com profissionais da saúde, pacientes, familiares e cuidadores com vários objetivos: informação; orientação; intercâmbio de conhecimento e experiência; identificação da prevalência da doença no Brasil; estimulo a acesso a medicamentos e recursos para melhoria de qualidade de vida; estimulo à autoridades da Saúde para criação de mecanismos de proteção e desenvolvimento de medicamentos ou equipamentos, mesmo para as doenças órfãs. O V Simpósio de ELA, ocorrido em 19 e 20/05/2006 foi muito frutífero. Ele contou com a presença de 200 congressistas, incluindo-se profissionais da área de saúde, das mais diversas partes do país, pacientes, familiares e cuidadores. Esta jornada possibilitou um maior engajamento político para o conhecimento da doença, além de termos a certeza que conhecemos um pouco mais a respeito da etiopatogenia, da fisiopatologia, das manifestações clínicas e, sobretudo, com maior dignidade e respeito. Esta jornada permitiu, ainda, mantemos a esperança para um futuro melhor e mais rápido, para a sua possível cura. A terapia gênica e a célula-tronco, há um tempo só esperança, já estão se tornando realidade. A história de cada paciente estimula dentro de nós o sentimento do desafio, o desafio de fazer o hoje mais fácil, mais produtivo, mais digno. Acary Souza Bulle Oliveira Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. Neurociências 3 Índice Epidemiologia: ELA no Mundo – Roberto Dias Batista Pereira.......................................... 09 Histórico da ELA no Brasil – Abrahão Augusto Juviniano Quadros..................................... 14 Eletroneuromiografia: Estimativa do número de unidades motoras na ELA – Mário Emilio Dourado...................................................................................................................... 24 Etiopatogenia da ELA: causa única ou várias causas? – Helga CA Silva.............................. 35 Aspectos Genéticos da ELA – Monize Lazar......................................................................... 43 Modelos Animais para doenças neuromusculares humanas – Mariz Vainzof ...................... 48 Drogas com maior potencial de uso na ELA – Carlo Domenico Marrone............................ 52 Avaliação das atividades da ABRELA: orientações oferecidas, expectativas atingidas? Isabela P Anequini.................................................................................................................. 57 Fisioterapia Motora na ELA – Martina A Duran.................................................................. 65 Uso da tecnologia para pacientes com Esclerose Lateral Amiotrófica – Adriana N Klein........................................................................................................................................ 70 Suplementação nutricional em pacientes com doença do neurônio motor / ELA – Patrícia Stanich.................................................................................................................................... 72 Assistência integrada: paciente-cuidador-terapeuta-voluntário – Paulo E Ramos............... 76 Medicina Tradicional Chinesa – Gislane Cristina Abe.......................................................... 80 Terapia Gênica: futuro tratamento para ELA – Miguel Mitne-Neto...................................... 86 Sessão de Posters.................................................................................................................... Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 91 Neurociências Editor Chefe / Editor in Chief Gilmar Fernandes do Prado, MD, PhD, São Paulo, SP Editora Executiva / Executive Editor Luciane Bizari Coin de Carvalho, PhD, São Paulo, SP Editor Administrativo / Manager Editor Marco Antonio Cardoso Machado, SSD, PhD, São Paulo, SP Co-editor / Co-editor José Osmar Cardeal, MD, PhD, São Paulo, SP. Editores Associados / Associate Editors Alberto Alain Gabbai, MD, PhD, São Paulo, SP Esper Abrão Cavalheiro,MD, PhD, São Paulo, SP Fernando Menezes Braga, MD, PhD, São Paulo, SP Corpo Editorial / Editorial Board Desordens do Movimento / Movement Disorders Chefe / Head Henrique Ballalai Ferraz, MD, PhD, São Paulo, SP Membros / Members Francisco Cardoso, MD, PhD, Belo Horizonte, MG Sônia Maria Cézar de Azevedo Silva, MD, PhD, São Paulo, SP Egberto Reis Barbosa, MD, PhD, São Paulo, SP Maria Sheila Guimarães Rocha, MD, PhD, São Paulo, SP Vanderci Borges, MD, PhD, São Paulo, SP Roberto César Pereira do Prado, MD, PhD, Aracajú, SE Epilepsia / Epilepsy Chefe / Head Elza Márcia Targas Yacubian, MD, PhD, São Paulo, SP Membros / Members Américo Ceike Sakamoto, MD, PhD, São Paulo, SP Carlos José Reis de Campos, MD, PhD, São Paulo, SP Luiz Otávio Caboclo, MD, PhD, São Paulo, SP Alexandre Valotta da Silva, MD, PhD, São Paulo, SP Margareth Rose Priel, MD, PhD, São Paulo, SP Henrique Carrete Jr, MD, PhD, São Paulo, SP Neurofisilogia/Neurophysiology Chefe / Head João Antonio Maciel Nóbrega, MD, PhD, São Paulo, SP Membros / Members Nádia Iandoli Oliveira Braga, MD, PhD, São Paulo, SP José Fábio Leopoldino, MD, Aracajú, SE José Maurício Golfetto Yacozzill, MD, Ribeirão Preto, SP Francisco José Carcchedi Luccas, MD, São Paulo, SP Gilberto Mastrocola Manzano, MD, PhD, São Paulo, SP Carmelinda Correia de Campos, MD, PhD, São Paulo, SP Reabilitação / Rehabilitation Chefe / Head Sissy Veloso Fontes, PhD, São Paulo, SP Membros / Members Jefferson Rosa Cardoso, PhD, Londrina, PR. Márcia Cristina Bauer Cunha, PhD, São Paulo, SP Ana Lúcia Chiappetta, PhD, São Paulo, São Paulo, SP Carla Gentile Matas, PhD, São Paulo, SP Fátima Abrantes Shelton, MD, PhD, Edmond, OK, USA Sandro Luiz de Andrade Matas, MD, PhD, São Paulo, SP 4 Luci Fuscaldi Teixeira-Salmela, PhD, Belo Horizonte, MG Fátima Valéria Rodrigues de Paula Goulart, PhD, Belo Horizonte, MG Patricia Driusso, PhD, São Paulo, SP Distúrbios do Sono / Sleep Disorders Chefe / Head Lucila Bizari Fernandes do Prado, MD, PhD, São Paulo, SP Membros / Members Maria Ligia Juliano, SSD, São Paulo, SP Flávio Aloe, MD, São Paulo, SP Stela Tavares, MD, São Paulo, SP Dalva Poyares MD, PhD, São Paulo, SP Ademir Baptista Silva, MD, PhD, São Paulo, SP Alice Hatsue Masuko, MD, São Paulo, SP Maria Carmen Viana, MD, PhD, Vitória, ES Virna Teixeira, MD, PhD, São Paulo, SP Geraldo Rizzo, MD, Porto Alegre, RS Rosana Cardoso Alves, MD, PhD, São Paulo, SP Robert Skomro, MD, FRPC, Saskatoon, Canadá Sílvio Francisco, MD, São Paulo, SP Doenças Cerebrovasculares / Cerebrovascular Disease Chefe / Head Ayrton Massaro, MD, PhD, São Paulo, SP. Membros / Members Aroldo Bacelar, MD, PhD, Salvador, BA Alexandre Longo, MD, PhD, Joinvile, SC Carla Moro, MD, PhD, Joinvile, SC Cesar Raffin, MD, PhD, São Paulo, SP Charles Andre, MD, PhD, Rio de Janeiro, RJ Gabriel de Freitas, MD, PhD, Rio de Janeiro, RJ Jamary de Oliveira Filho, MD, PhD, Salvador, BA Jefferson G. Fernandes, MD, PhD, Porto Alegre, RS Jorge Al Kadum Noujain, MD, PhD, Rio de Janeiro, RJ Márcia Maiumi Fukujima, MD, PhD, São Paulo, SP Mauricio Friedirish, MD, PhD, Porto Alegre, RS Rubens J. Gagliardi, MD, PhD, São Paulo, SP Soraia Ramos Cabette Fabio, MD, PhD, São Paulo, SP Viviane de Hiroki Flumignan Zétola, MD, PhD, Curitiba, PR Oncologia / Oncology Chefe / Head Suzana Maria Fleury Mallheiros, MD, PhD, São Paulo, SP. Membros / Members Carlos Carlotti Jr, MD, PhD, São Paulo, SP Fernando A. P. Ferraz, MD, PhD, São Paulo, SP Guilherme C. Ribas, MD, PhD, São Paulo, SP João N. Stavale, MD, PhD, São Paulo, SP Doenças Neuromusculares / Neuromuscular disease Chefe / Head Acary de Souza Bulle de Oliveira, MD, PhD, São Paulo, SP Membros / Members Edimar Zanoteli, MD, PhD, São Paulo, SP Helga Cristina Almeida e Silva, MD, PhD, São Paulo, SP Leandro Cortoni Calia, MD, PhD, São Paulo, SP Luciana de Souza Moura, MD, PhD, São Paulo, SP Laboratório e Neurociência Básica / Laboratory and Basic Neuroscience Chefe / Head Maria da Graça Naffah Mazzacoratti, PhD, São Paulo, SP Membros / Members Beatriz Hitomi Kyomoto, MD, PhD, São Paulo, SP Célia Harumi Tengan, MD, PhD, São Paulo, SP Maria José S. Fernandes, PhD, São Paulo, SP Mariz Vainzof, PhD, São Paulo, SP Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. Iscia Lopes Cendes, PhD, Campinas, SP Débora Amado Scerni, PhD, São Paulo, SP João Pereira Leite, MD, PhD, Ribeirão Preto, SP Luiz Eugênio A. M. Mello, MD, PhD, São Paulo, SP Líquidos Cerebroespinhal / Cerebrospinal Fluid Chefe / Head João Baptista dos Reis Filho, MD, PhD, São Paulo, SP. Membros / Members Leopoldo Antonio Pires, MD, PhD, Juiz de Fora, MG Sandro Luiz de Andrade Matas, MD, PhD, SãoPaulo, SP José Edson Paz da Silva, PhD, Santa Maria, RS Ana Maria de Souza, PhD, Ribeirão Preto, SP Neurologia do Comportamento / Behavioral Neurology Chefe / Head Paulo Henrique Ferreira Bertolucci, MD, PhD,São Paulo, SP. Membros / Members Ivan Okamoto, MD, PhD, São Paulo, SP Thais Minetti, MD, PhD, São Paulo, SP Rodrigo Schultz, MD, PhD, São Paulo, SP Sônia Dozzi Brucki, MD, PhD, São Paulo, SP Neurocirurgia / Neurosurgery Chefe / Head Mirto Nelso Prandini, MD, PhD, São Paulo, SP Membros / Members Fernando Antonio P. Ferraz, MD, PhD, São Paulo, SP Antonio de Pádua F. Bonatelli, MD, PhD, São Paulo, SP Sérgio Cavalheiro, MD, PhD, São Paulo, SP Oswaldo Inácio de Tella Júnior, MD, PhD, São Paulo, SP Orestes Paulo Lanzoni, MD, São Paulo, SP Ítalo Capraro Suriano, MD, São Paulo, SP Samuel Tau Zymberg, MD, São Paulo, SP Neuroimunologia / Neuroimmunology Chefe / Head Enedina Maria Lobato, MD, PhD, São Paulo, SP. Membros / Members Nilton Amorin de Souza, MD, São Paulo, SP Dor, Cefaléia e Funções Autonômicas / Pain, Headache and Autonomic Function Chefe / Head Deusvenir de Souza Carvalho, MD, PhD, São Paulo, SP Membros / Members Angelo de Paola, MD, PhD, São Paulo, SP Fátima Dumas Cintra, MD, São Paulo, SP Paulo Hélio Monzillo, MD, São Paulo, SP José Cláudio Marino, MD, São Paulo, SP Marcelo Ken-It Hisatugo, MD, São Paulo, SP Interdisciplinaridade e história da Neurociência / Interdisciplinarity and History of Neuroscience Chefe / Head Afonso Carlos Neves, MD, PhD, São Paulo, SP Membros / Members João Eduardo Coin de Carvalho, PhD, São Paulo, SP Flávio Rocha Brito Marques, MD, São Paulo, SP Vinícius Fontanesi Blum, MD, São Paulo, SP Rubens Baptista Júnior, MD, São Paulo, SP Márcia Regina Barros da Silva, PhD, São Paulo, SP Eleida Pereira de Camargo, São Paulo, SP Dante Marcello Claramonte Gallian, PhD, São Paulo, SP Neuropediatria / Neuropediatrics Chefe / Head Luiz Celso Pereira Vilanova, MD, PhD, São Paulo, SP Membros / Members Marcelo Gomes, São Paulo, SP 5 V SIMPÓSIO BRASILEIRO DE DNM/ELA Esclerose Lateral Amiotrófica: “Sua manifestação no Brasil” (5TH MND/ALS BRAZILIAN SYMPOSIUM ON MND/ALS “Amyotrophic Lateral Sclerosis: Its manifestation in Brazil”) e (and) I SIMPOÓSIO VERDE VIDA SAÚDE “Saúde com Equilíbrio” st (1 SYMPOSIUM GREEN LIFE HEALTH “Health with balance”) 19 e 20 de maio de 2006 (May 19-20, 2006) (São Paulo, Brazil) Assembléia Legislativa de São Paulo - ALESP (Place: Legislative Assembly of São Paulo) DIREÇÃO: (Symposium President) Prof. Dr. Acary Souza Bulle Oliveira COORDENAÇÃO: (Organizers:) Ft. Ms. Abrahão Augusto Juviniano Quadros SS.Elica Fernandes Profa. Dra. Helga Crisitna Almeida da Silva Ft. Roberto Dias Batista Pereira Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 6 REUNIÃO PRÉ-CONGRESSO (18/05/06 – quinta-feira) 18:00 – 20:00h – Discussão de cunho científico – 3º estudo epidemiológico de ELA (características clínicas) 20:00h – Jantar de confraternização (19/05/06 – sexta-feira) Mestre de Cerimônia: Sr. Rodrigo Castanheira 9:00h-9:30h – ABERTURA: Dr. Alberto A Gabbai, Dr. Acary SB Oliveira, Deput. Célia Leão, Sr. Afonso C Pucci, Ft.Ms. Abraão AJ Quadros, Dra. Helga CA Silva. Módulo 1 – EPIDEMIOLOGIA 9:00 – 10:00h – Epidemiologia Mundial da ELA: Atualizações 9:15 – 9:30h – ELA no mundo – Ft. Roberto Dias Batista Pereira 9:30 – 9:45h – Histórico da ELA no Brasil – Ft. Ms. Abrahão A.J. Quadros a) o início; b) anos 90 9:45 – 10:45h – Atualidades – Experiência nos principais centros do país: UNIFESP – Dr. Marco Antonio Chiéia Santa Casa – Maria Elizabeth Ferraz Ballalai HC Ribeirão Preto – Dr. Wilson Marques RS – Dr. Varlo Domenico Marrone RN – Dr. Mario Emílio T. Dourado RJ – Dr. Cláudio Heitor Tvares Gress MG – Dr. Facundo Burgos Ruiz Jr. SJRP – Dra. Maria da Penha Ananias Morita Módulo 2 – ASPECTOS CLÍNICOS 10:45 – 11:00h – Quando penso em ELA? – Dr.Wilson Marques 11:00 – 11:15h - Fasciculação é ELA? Como realizo o diagnóstico – Dra. Luciana M. Alves 11:15 – 11:30h – Eletroneuromiografia - Dr. Mario Emilio T. Dourado 11:30 – 11:45h – Exames Marcadores – Dr. Antonio Rocha 11:45 – 12:00h – Principais diagnósticos diferenciais – Dr. Marco Antonio Chiéia 12:00 – 12:15h – Pode ser ELA: digo X não digo - Dr. Acary SB Oliveira, Dr. Carlo D. Marrone 12:15 – 12:30h – Participação com a platéia Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 7 Módulo 3 – ETIOPATOGENIA 14:00 –14:20h – Causa única? Ou várias causas? – Dra. Helga Crisitna A. da Silva 14:20 – 14:40h - Aspectos genéticos – Dra. Monize Lazar 14:40 – 15:00h - O meio ambiente e ELA - Dr. Anthony Wong Módulo 4 – TERAPÊUTICA 5:00 – 15:20h – O que é um ensaio clínico? – Dr. Isac de Castro 15:20 – 15:40h - Modelos animais – Dra. Mariz Vainzof 15:40 – 16:00h - Drogas em Estudo – Dr. Marco Antonio Chiéia 16:00 – 16:20h - Drogas de maior potencial de uso – Dr. Carlo Domenico Marrone 16:20 – 16:40h - Tratamento atual: o que usamos? Como usamos? Desde quando introduzimos? – Dr. Acary S.B. Oliveira 16:40 – 17:30h – Platéia (20/05/06 – sábado) Módulo 5 – TERAPIA E REABILITAÇÃO 08:30 – 08:45h – Serviço Social – Orientação e disponibilização de recursos – Recursos utilizados? – Élica Fernandes 08:45 – 09:00h – Justiça ou injustiça – Dra. Silvana Alves Scarance 09:00 – 09:15h - Respirar, sempre – Ft. Ms. Maria Clareane Berto Hayashi 09:15 – 09:30h – Eu mexo – Fisioterapia – Ft. Martina Duran 09:30 – 09:45h – Eu mexo – Terapia Ocupacional – T.O. Adriana Klein 09:45 – 10:00h – Eu falo – Fga. Ms. Adriana Leico Oda 10:00 – 10:15h – Estou nutrido – Nut. Ms. Patricia Stanich 10:15 – 10:30h – Assistência Domiciliar Integrada – Público X Privada – Enf.Ms. Ana Paula Guarnieri 10:30 – 10:45h – Eu sinto, penso e existo – Psicol. Vânia de Castro Assistência Integrada: paciente – cuidador – terapeuta – voluntário 10:45 – 11:00h – Verde Vida – Ft. Paulo Ramos – Presidente 11:00 – 11:15h – Medicina Tradicional Chinesa – Dra. Gislaine C Abe – Coordenadora do curso Verde Vida Saúde 11:15 – 11:30h – Psicologia – Profa. Dra. Ligia Masagão Vitali 11:30 – 11:45h - Arte Psic. – Dra. Gracinda Rodrigues Tsukimoto 11:45 – 12:30h – Oficinas Externas: Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 8 Diretor de Estratégia do Verde Vida Saúde – José Peixoto Corpo Mole – Nilcéia Noli do Amaral e Noeme Alves Barreto Ócio Inútil – Renata Souza Teles e Leonilda Cardoso Santana Ócio Gostoso – Dilson Nunes Machado e Josiane Lopes Projeto Tutor – Psic. Ms. Antonio Geraldo A. Filho e Psic. Ana Luiza F. Steiner Módulo 6 – NOVIDADE 14:00 – 14:30h – Terapia Gênica – Dr. Miguel Mitne Neto 14:30 – 15:00h – Célula-Tronco – Dr. Luiz Eugenio de Mello 15:00 – 15:30h – Terapia Nova: tentar sempre X esperar é bom – Dr. Julio Voltarelli e Dr. Gabriel Wolf Oselka 15:30 – 16:30h – O que tem de novo no pedaço? Representantes de Associações: Brasil Parkinson – Sr. Samuel Grossman – Presidente ABRELA – Abrahão Augusto J. Quadros – Presidente ABDIM – Dra. Ana Lucia Langer – Diretora Clínica ABRASSPP – Luiz Baggio – Presidente 16:30 – 17:30h – Representantes Políticos Assembléia Legislativa de São Paulo – Deputada Célia Leão Secretaria Municipal da Saúde - Dra. Maria Cristina Cury Secretaria Estadual da Saúde – Dr. Roberto Barradas Barata Secretaria Especial da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida - Srta. Mara Gabrilli Dinâmica Saúde e Equilíbrio – Prof. Dr. Jou El Jia REALIZAÇÃO: ABRELA - Associação Brasileira de Esclerose Lateral Amiotrófica UNIFESP/EPM/HSP – Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de Medicina/Hospital São Paulo ABN – Academia Brasileira de Neurologia PATROCÌNIO: SANOFI-AVENTIS Ltda. PRÓ FÓRMULA APOIO: ALESP – Assembléia Legislativa de São Paulo PROJETO VERDE VIDA SAÚDE CERTIFICAÇÃO PELA AMB – Associação Médica Brasileira – 08 créditos CURSO OFICIAL PELA COMISSÃO NACIONAL DE ACREDITAÇÃO – CNA da AMB Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 9 Epidemiologia: ELA no Mundo Epidemiology: ALS in World Roberto Dias Batista Pereira Vice-Presidente da Associação Brasileira de Esclerose Lateral Amiotrófica – ABRELA. Mestrando em Ciências da Saúde pela Escola Paulista de Medicina / Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP. Acredita-se que a incidência da Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) seja a mesma em todo o mundo, contudo, não há um estudo comparativo bem conduzido da ELA entre populações diferentes, grupos étnicos ou área geográfica definida fora da Europa e da América do Norte. No mundo a prevalência (número de casos existentes) é de 3 - 8 casos por 100.000 habitantes, e tem uma incidência por ano (número de novos casos) de 2/100.000. Entretanto, estudos isolados mostram que existem variações. Algumas seletas regiões no mundo chamam a atenção quanto à taxa de incidência por serem mais elevada, como na ilha de Guam, em Nova Guiné ocidental, e na península de Kii no Japão. Nos Estados Unidos a epidemiologia é bem conhecida devido ao grande número de trabalhos científicos realizados. Sabe-se que 5.000 novos casos são diagnosticados com ELA a cada ano, correspondendo, aproximadamente, a 13 novos casos por dia, incidência de 2/100.00. A metade de todos os pacientes afetados vivem pelo menos 3 anos ou mais após o diagnóstico. Em torno de 20% vivem 5 anos ou mais, e até 10 % sobrevivem mais de 10 anos. A maioria encontra-se entre 40 e 70 anos. Acomete geralmente mais homens do que mulheres, embora, trabalhos mais recentes mostram que ambos os sexos estão sendo afetados de forma semelhante. Relatos do aumento no número de casos de ELA em mulheres podem estar relacionados a melhor identificação da população com estudos já realizados, a efeitos de uma exposição ambiental recente não identificada, e/ou mudanças no estilo de vida, fazendo com que estas sejam expostas à potenciais tóxicos, associando historicamente com os homens (fumo, exposições ocupacionais). Referente aos países europeus foi realizado uma pesquisa a qual foram selecionados 26 estudos europeus e 28 não-europeus, apresentando uma incidência de ELA variando de 1,7(Itália) a 2,4 (Finlândia média) por 100.000/ano na Europa e de 0,31 (China) a 1,98 Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 10 (Estônia) por 100.000/ano fora da Europa. Outros países e regiões com estudos de ELA no mundo (Tabela 1). Tabela 1. Países países e regiões com estudos de ELA. Regiões Incidência Prevalência (por 100.000 habitantes) (por 100.000 habitantes) Ano Publicação Guam 3,9 2004 Líbia 3,4 2005 Austrália 2,9 2005 Irlanda 2,8 4,7 1999 Japão * 2,5 11,31 * Wakayama 2005 Finlândia 2,4 EUA * 2,0 3-8 2004 Canadá * 2,0 6,7 2005 Estônia 1,9 2006 Noruega 1,9 2005 Inglaterra 1,7 2001 Itália * 1,7 Brasil 1,5 1998 França * 1,5 2000 Grécia 1,3 2005 Polônia 0,8 2005 Chile 0,5 2005 México 0,4 2005 China 0,3 2006 2006 4,03 2005 * Média da incidência dos trabalhos realizados no país. Nos EUA dois trabalhos de incidência e três em mortalidade sugerem um risco maior para ELA entre brancos quando comparados aos brancos latino-americanos e aos afroamericanos, entretanto, 0,61 maior em negros do que em brancos, 2,08 maior em espanos e asiáticos em relação a outros brancos. Outros fatores chamam a atenção, como a exposição ao choque elétrico severo, atividade física extenuante, soldados que serviram na primeira guerra do Golfo, e jogadores de futebol profissional (soccer). Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 11 Um estudo recente realizado na Irlanda discutindo a relação da ELA com a atividade física extenuante, identificou nas maratonas na cidade de Dublin (1980-2002) maratonistas irlandeses com diagnóstico de ELA. Num total de 59.604 maratonistas, 14.443 eram irlandeses, destes 661 eram acometidos com ELA, diagnosticados entre os anos de 1993 – 2002. Esse trabalho, ainda em continuidade, representa o primeiro estudo epidemiológico a fim de determinar o risco de ELA entre um largo “cohort” de indivíduos envolvidos em exercícios vigorosos não-profissionais. Em relação aos veteranos da guerra do Golfo, o risco relativo de morrer de ELA é de 1,5 vezes maior que nos homens que não serviram. O aumento na mortalidade de ELA foi observado entre os homens que serviram o exército ou a guarda nacional (RR = 1.54), marinha (RR = 1.87), força aérea (RR = 1.54), e guarda costeira (RR = 2.24); nenhum aumento no risco foi encontrado nos homens que serviram o corpo de fuzileiros navais, embora houvesse somente 13.670 homens neste grupo. Os números mostraram que 281.874 homens que serviram as forças armadas dos EUA, 217 morreram de ELA, comparado a 63 dos 126.414 que não serviram. Quanto aos jogadores de futebol profissional na Itália, 18 casos com ELA foram identificados dentre 7.000 jogadores. Cientistas sugerem diversas explanações, nenhuma delas com certeza. Talvez a ELA esteja relacionada ao exercício físico pesado, e conseqüentemente não relacionado particularmente ao futebol, ou talvez envolvendo o trauma principal em cabecear a bola, ou a repetição dos traumas que envolvem os membros inferiores, sejam os fatores relacionados. As drogas terapêuticas ilegais ou legais podem também estar envolvidas, e é possível que as toxinas ambientais como os fertilizantes ou os herbicidas usados nos campos de futebol tenham a sua influência. A mortalidade mundial da ELA ainda não está bem definida, todavia, pode-se destacar os principais dados encontrados na literatura. Nos EUA as taxas totais da mortalidade de Doença do Neurônio Motor (DNM) aumentaram de 1.25 para 1.82/100.000, representando um aumento de 46% durante o período de 30 anos (1969-1998). As taxas entre as mulheres aumentaram 60% e continuam aumentando. As taxas entre homens cresceram 35% durante esse período. As taxas de mortalidade entre afro-americanos e hispânicos foi aproximadamente 50% mais baixas do que Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 12 as taxas entre brancos não-hispânico. As taxas de mortalidade da DNM variam de 2.22 (1.89 a 2.55) no noroeste, e 1.57 (1.44 a 1.71) no sudeste. Já na França foram analisados 9.005 mortes de ELA entre os anos de 1968 e 1982. As taxas totais de mortalidade eram 1.45/100.000 para homens e 0.90/100.000 para mulheres. Foi encontrado um aumento substancial na mortalidade de ELA sobre o tempo: as taxas ajustadas (por 100.000) no período de 1968 a 1971 eram 1.11 para homens e 0.63 para mulheres. No período 1979 a 1982, correspondem respectivamente entre 1.92 e 1.12. O aumento foi principalmente em pacientes abaixo de 55 anos de idade e afetados na maior parte em mulheres identificadas nos primeiros anos (1968 a 1978). Nos anos mais recentes há um aumento similar em ambos os sexos. Estudos na Noruega mostram que a mortalidade anual de ELA dobrou em um estudo, elevando-se de 1.38 a 2.54 por 100.000 habitantes no fim do estudo. Esta mortalidade aumentou na população acima de 60 anos de idade, com um pico no grupo de idade entre 80 a 84 anos. O aumento era maior nas mulheres do que nos homens, e a relação entre os sexos foi de 1.32. Os autores relataram que há um aumento na mortalidade de ELA na Noruega. Embora o aumento da mortalidade seja restrito à população com 65 anos ou mais, isto não pode ser explicado somente por um aumento da idade da população em geral. A ELA sempre foi conhecida como uma doença “rara”, entretanto, mundialmente chama a atenção pelo número crescente de novos casos, mesmo isolados. Sendo assim, estima-se que a incidência mundial esteja em um crescente como um todo. Referências Bibliográficas 1. Noonan CW, White MC, Thurman D, Wong LY. Temporal and geographic variation in United States motor neuron disease mortality, 1969–1998. Neurology 2005;64:1215-1221. 2. Seljeseth YM, Vollset SE, Tysnes OB. Increasing mortality from amyotrophic lateral sclerosis in Norway? Neurology 2000;55:1262-1266. 3. Durrleman S, Alperovitch A. Increasing trend of ALS in France and elsewhere: are the changes real? Neurology, 39(6):768-773. 4. Kurtzke JF. Epidemiology of amyotrophic lateral sclerosis. 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Motor neuron disease: Ethnic diversity in ALS – a metaanalysis. 16th Meeting of the European Neurological Society, 2006. 16. Cronin S, Hardiman O, Traynor BJ. Motor neuron disease: Risk of ALS in Irish marathon runners. 16th Meeting of the European Neurological Society, 2006. Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 14 História da Esclerose Lateral Amiotrófica no Brasil History of Amyotrophic Lateral Sclerosis in Brazil Abrahão Augusto Juviniano Quadros Fisioterapeuta, Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina. Presidente da ABRELA – Associação Brasileira de esclerose Lateral Amiotrófica A esclerose lateral amiotrófica ainda é pouco conhecida no Brasil, mesmo após 97 anos da primeira descrição da doença em nosso país. Embora sendo considerada como uma doença rara a ELA não afeta somente a pessoa com a doença. Ela causa um grande impacto social e econômico na família e na comunidade. Esta abordagem apresenta três momentos da a história da ELA no Brasil: 1) Os primeiros estudos - de 1909 até 1935, 2) Estudos epidemiológicos – de 1983 até 2002 e, 3) Atuação da Associação Brasileira de Esclerose Lateral Amiotrófica - ABRELA. 1 - Os Primeiros Estudos – 1909 a 1935 Este período é caracterizado por estudos de casos clínicos, que proporcionaram as primeiras contribuições para o entendimento da manifestação da ELA em nosso meio. Os estudos se concentraram nos Estados do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo, conforme mostrado na tabela 1. A primeira descrição da esclerose lateral amiotrófica no Brasil coube ao Dr. Cypriano de Souza Freitas, professor de anatomia e fisiologia patológica da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Conhecedor na época de quatro casos de ELA. Escolheu para apresentar no IV Congresso Médico Latino Americano na cidade do Rio de Janeiro em agosto 1909, observações e comentários sobre um caso de ELA e em novembro do mesmo ano publicou no Brazil-Médico com o título “Sobre um caso de esclerose lateral amyotrophica”, um caso clínico definido por ele como assas interessante, pela: 1) Raridade da afecção entre nós; 2) Idade de início dos sintomas; 3) Dificuldade de formular, desde o começo, um diagnóstico preciso, assumindo os fenômenos de uma forma frustra, bem diversa da forma clássica. Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 15 Tratava-se de paciente do sexo masculino, branco, 73 anos de idade, sem antecedentes hereditários dignos de referência. Trabalhava em especulações financeiras e praticava atividade física sendo definido como “bom andador”. Começou a sentir ligeiro enfraquecimento da mão direita, sobretudo dos dedos. A fraqueza evoluiu gradualmente acompanhada de atrofia dos músculos da mão. Examinado quatro meses após o início dos sintomas, apresentava paresia bem acentuada do membro superior direito. Atrofia muitíssimo acentuada na região tenar e acentuada na região hipotenar e dos interósseos. Apresentava também atrofia na musculatura do antebraço, braço e cintura escapular, fasciculação nas regiões atrofiadas, leve espasticidade e movimentos espasmódicos nas mãos. A musculatura do membro superior direito, da face, pescoço, tronco, e membros inferiores estava íntegra e com força normal. O reflexo estava vivo no membro afetado e normal nos outros segmentos. A sensibilidade estava normal em todo o corpo. Os sentidos intactos, inteligência perfeita, sem dificuldade para comer e digerir e função esfincteriana normal. Reavaliado, três meses mais tarde, apresentava atrofia nos músculos da mão esquerda com presença de fasciculação, sensibilidade normal e reflexos ora se mostravam vivos tanto nos membros superiores como os patelares, mas sem sinal de Babinski. Referiu que as vezes tinha embaraço na pronúncia das palavras. Ao exame apresentava os movimentos de lábios e língua perfeitos, véu do palato simétrico, reflexo faríngeo normal, porém o reflexo masseterino estava vivo. Um mês mais tarde, sofreu um forte ataque de gripe e ficou acamado por muitos dias. Após a recuperação da gripe, apresentava agravamento dos sintomas da ELA, com aparecimento de atrofia nos músculos do tronco e paresia nos membros inferiores, reflexos patelares exaltados (maior à direta), continuando a ausência do sinal de Babinski. Apareceram também dificuldade para deglutir, fasciculação de língua, impossibilidade de assobiar, insuficiência respiratória e acessos de sufocação, sobretudo a noite. O período de avaliação foi de oito meses, de janeiro a agosto de 1909. Após a primeira avaliação clínica, o Dr. Cypriano confirma o diagnóstico de ELA com o seguinte comentário: “A vista da amiotrofia e da insignificância dos fenômenos espásticos, que exigem procurados, poder-se-ia supor que nos achávamos diante de um caso de atrofia muscular do tipo AranDuchenne. Mas, atendendo que a paresia não guardava relação com a atrofia e, sobretudo, Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 16 tendo em conta a vivacidade dos reflexos, fiz o diagnóstico de Moléstia de Charcot, de tipo amyotrophico”. A partir da descrição do Dr. Cypriano Freitas, vários casos foram registrados na literatura médica nacional que contribuíram para o conhecimento da manifestação da ELA em nosso meio. Em julho de 1913, Eduardo Monteiro, apresentou “um caso de esclerose lateral amyotrophica” na Gazeta Clínica de São Paulo onde registra que o início da afecção se deu no membro superior direito. O Dr. Aloysio de Castro, professor de clínica médica da Universidade do Rio de Janeiro. Publicou, em 1914, o “Tractado de Semiótica Nervosa” que apresenta a descrição da Esclerose Lateral Amyotróphica (Mal de Charcot). Em 1915, o Dr. Gonçalves Vianna escreveu suas observações “A respeito de um caso de Mal de Charcot (Typo Mixto)”, na Revista dos Cursos da Faculdade de Medicina de Porto Alegre. O primeiro caso de ELA bulbar foi apresentado, em 1916, pelo Dr. Raul Moreira da Silva em sua tese, aprovada com distinção, intitulada “Mal de Charcot (A Respeito de Um Caso de Início bulbar)” apresentada a Faculdade de Medicina de Porto Alegre/RS. Tratava-se de Paciente do sexo masculino, 56 anos de idade, branco, europeu natural de Duppau (Boemia), residente na cidade de Porto Alegre/RS, exercia a profissão de Farmacêutico. Os sintomas iniciaram com o sentir certa dificuldade em deglutir os alimentos, em novembro de 1914. Os Doutores Luiz Guedes e Ney Cabral apresentaram, em 1918, um “Caso Clínico de Aspecto de E.L.A” em Porto Alegre/RS. Revista dos Cursos da Faculdade de Medicina de Porto Alegre. Ainda do Rio Grande do Sul, em 1919, o Dr. Odino Lelio Pinós Duarte apresentou sua tese sobre a dissertação de “Em torno de um caso de Esclerose Lateral Amyotrophica (forma paraplegica)” à Faculdade de Medicina de Porto Alegre/RS. Em 1924, os Doutores C. Trétiakoff e Moacir F. Amorim publicaram em francês no jornal Memórias do Hospicio Juquery – São Paulo, “Um cas de sclérose latérale amyotrophique pseudo-polynevritique, observée chez une alienée, atteinte de turbérculose intestinale” (Um caso de esclerose lateral amiotrófica pseudo-polineuritica, observado em uma Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 17 alienada, portadora de tuberculose intestinal), em que apresentam os estudos de “autopsia e exame histopatológico” do Sistema Nervoso Central. O Dr. Gonçalves Vianna, professor catedrático de anatomia e fisiologia patológica da Faculdade de Medicina de Porto Alegre, publicou no livro Clínica Neurológica, em 1925, “Em tôrno de dois casos de esclerose lateral amyotrophica (Molestia de Charcot)”. Trata-se de dois estudos realizados na Faculdade de Medicina de Porto Alegre, em 1915 e 1916, o primeiro publicado na revista da faculdade e o segundo estudo realizado com alunos do quinto ano de medicina, que resultou na tese de Raul Moreira da Silva. Em 1926, o Dr. Carlos da Motta Rezende apresenta sua tese de livre docência a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, intitulada “Contribuições ao estudo da esclerose lateral amyotrophica (Doença de Charcot)”. No mês de outubro de 1927, o jornal Brazil-Médico publica o artigo dos Doutores F. Espozel e Teixeira Mendes – “Sobre um caso de esclerose lateral amyotrophica de início pseudo-polyneurítico” ocorrido na cidade do Rio de Janeiro. Os autores chamam a atenção para “a errônea noção de que a doença de Charcot é rara entre nós”. Também em 1927, o Dr. Paulino W. Longo apresenta sua tese à Faculdade de Medicina de São Paulo, sob o título de “Contribuições ao estudo da esclerose lateral amyotrophica”, em que registra oito casos, e discute a natureza infecciosa da ELA. Pela importância do estudo, a Sociedade de Medicina e Cirurgia conferiu-lhe a medalha de ouro “Dr. Sergio Meira”. Dois trabalhos foram publicados em 1929: O primeiro em fevereiro no Arquivo Brasileiro de Medicina, “Doença de Charcot” dos Doutores Waldomiro Pires e Aloizio Marques. O segundo em agosto no Jornal Brasil-Medico, o relatório que foi apresentado em, junho do mesmo ano, no Congresso de Neurologia, Psiquiatria e Medicina Legal, no centenário da Academia Nacional de Medicina, dos conceituados professores da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, Antonio Austregesilo e F. Esposel – “Contribuições Brasileiras ao Estudo de Esclerose Lateral Amyotrophica” em que tecem comentários sobre a “etiologia, pathogenia e physiologia pathologica”, sobre os trabalhos publicados no Brasil e apresentam quatro casos clínicos. Afirmam em suas conclusões: “1. A opinião de raridade da esclerose amyotrophica no Brasil desapareceu com o apuro diagnóstico e a multiplicidade e publicações a respeito. 2. Apezar dos autores clássicos dizerem que não há alterações da sensibilidade na E.L.A., as contribuições brasileiras e americanas referem-nas, sobretudo na fórma pseudo-polyneuritica. Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 18 3. A anatomia pathologica revela varias lesões que ultrapassam os systemas motores, o que explica o facto acima referido. 4. A observação brasileira não apura a hereditariedade, o elemento familiar, nem até agora determinou o agente causal da doença.” Em 1930, o Prof. Dr. Antonio de Moraes Austregesilo (Austragesilo Filho), apresenta sua tese de livre docência a congregação da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, intitulada “Alterações da sensibilidade na doença de Charcot” onde apresenta seis casos clínicos, desses, quatro casos já publicados, em 1929. No ano de 1935, é publicada a segunda edição do livro Semiótica Nervosa do Professor Aloysio de Castro. A ELA é apresentada de forma ilustrada no capítulo Semiotica das Atrofias Musculares - Amyotrophias Deuteropathias. Tabela 1 – Contribuições brasileiras ao estudo da ELA – número de casos por Estado de 1909 a 1935. Ano 1909 1913 1915 1916 1918 1919 1924 1925 1927 1929 1930 Total Rio de Janeiro casos 01 São Paulo casos Rio Grande do Sul casos 01 01 01 01 01 01 01 04 04 08 02 10 10 06 2 – Estudos Epidemiológicos Os estudos epidemiológicos aparecem na literatura médica nacional somente a partir da década de 1980. Até o momento atual foram realizados seis estudos epidemiológicos regionais e um estudo nacional, conforme apresentamos a seguir. a) Estudos Epidemiológicos Regionais: 1 – O primeiro estudo - Aspectos epidemiológicos da esclerose lateral amiotrófica na cidade do Rio de Janeiro, foi realizado em 1983, pelo Dr. José Mauro Braz Lima e colaboradores. O estudo foi baseado nos dados de morbidade e mortalidade do Instituto de Neurologia Deolindo Couto (INDC/UFRJ), correspondentes a um período de 15 anos (1963 a 1977) de 136 pacientes com ELA. 92 homens (67.6%) e 44 mulheres (32.2%) uma taxa de 2:1. Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 19 A média de Idade foi de 48,38 anos, sendo que 51,14% tinham idade menor que 50 anos. A maioria eram brancos (63,97%), seguidos de 20,58% de pardos e 15,44% de negros. O Coeficiente de Mortalidade 1965 – 1974 (10 anos), variou de 0,3 – 0,9/100,000. Os sintomas iniciais começaram nos membros superiores em 50,73% dos pacientes, nos membros inferiores em 34,55% e, disartia e disfagia em 14,70%. As formas clínicas do início da doença são mostradas na tabela 2. Tabela 2 – Formas clínicas de 136 pacientes com ELA no Instituto Deolindo Couto no período de 1963 a 1977. Formas Clínicas No Homens (%) Mulheres (%) Espinhal 106 75 (55,14) 31 (22.79) Bulbar 20 11 (8,08) 9 (6.61) Pseudo-Polineuritica 10 6 (4,41) 4 (2.94) TOTAL 136 92 44 Os demais estudos são mencionados pela ordem do ano de publicação, são eles: 2 – Realizado no Rio de Janeiro - RJ em 1991, abrangendo um período de 7 anos (1979 – 1986), por Gomes M. M. – Envelhecimento e o aumento das doenças amiotróficas: Epidemiologia das doenças (crônicas) das células do corno anterior da medula. 3 – Realizado em São Paulo - SP em 1998, abrangendo um período de 6 anos (1991 – 1997), por Moraes L, Goldbaum M, Silva HCA, Callegaro D. – Taxa de incidência de esclerose lateral amiotrófica na cidade de São Paulo. 4 – Realizado em Fortaleza – CE em 1999, abrangendo um período de 9 anos (1980 – 1999), por Castro-Costa CM, Oriá RB, Machado-Filho JA et al. – ELA. Análise clínica de 78 casos de Fortaleza (nordeste do Brasil). 5 – Realizado em Salvador – BA em 2000, abragendo um período de 2 anos (1997 – 1999), por Antônio de Souza Andrade e colaboradores – Perfil clínico do paciente com esclerose lateral amiotrófica na Bahia – Brasil. 6 – Realizado em Curitiba – PR em 2002, abrangendo um período de 14 anos (1977 – 2001), por Lineu César Werneck e colaboradores – Estudo clínico-epidemiológico de 226 casos de ELA. Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 20 b) Estudo Epidemiológico Nacional: O único estudo epidemiológico nacional foi realizado em 1998 por iniciativa da ABRELA e Aventis Farma, com a participação dos principais centros de referência e de 168 neurologistas de várias regiões do país. Os autores deste trabalho foram: Flávia Dietrich-Neto, Dagoberto Callegaro, Elza Dias Tosta, Helga Almeida Silva, Maria Elizabeth Ferraz, José Mauro Braz Lima, Acary Souza Bulle Oliveira. O tema: Esclerose Lateral Amiotrófica no Brasil: registro nacional, 1998. Foram incluídos no trabalho 443 pacientes de várias regiões do Brasil, sendo 259 homens (58,5%) e mulheres 184(41,5%), com uma taxa de 1.4/1. A média de idade foi 52 anos ±13, e a mediana 52 anos de idade. A forma clínica inicial mais freqüente encontrada no estudo foi a espinhal. Apresentamos a tabela 3 com as formas clínicas e as demais características da maneira como aparece no artigo. Os autores concluem que, as características epidemiológicas da doença são semelhantes a dos estudos internacionais, exceto para a idade dos primeiros sintomas (pacientes brasileiros são mais jovens). Tabela 3 – Distribuição do sexo de acordo com as Formas Clínicas, tempo do primeiro sintoma até o diagnóstico, idade de início e sobreviventes. Características Forma Clínica* Bulbar Apendicular Generalizada Tempo do primeiro sintoma até o diagnóstico (meses): Média (± SD) Mediana Máximo e mínimo Idade de início (anos) Média (± SD) Mediana Sobreviventes (23 pacientes) (meses) Média (± SD) Máximo e mínimo Homens N (%) 38 (15)** 187 (73) 32 (12) Mulheres N (%) 44 (24)** 118 (65) 20 (11) Num. Total N (%) 82 (18.5) 306 (69.1) 52 (11.7) 17 (30) 10 0 a 332 20 (25) 12 0 a 210 18 (28) 11 0 a 332 50 (13) 51 54 (13) 54 52 (13) 52 N = 13 N = 10 49 (46) 7 a 60 33 (18) 9 a 191 *Dados ignorados de 3 pacientes ** p< 0,05 Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 42 (37) 7 a 191 21 3 – Atuação da Associação Brasileira de Esclerose Lateral Amiotrófica – ABRELA Em 1998, Acary Souza Bulle Oliveira, neurologista e responsável pelo Setor de Investigação de Doenças Neuromusculares da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina (UNIFESP-EPM), idealizou implantar no Brasil um modelo de suporte ao paciente com ELA/DNM, já existente nos Estados Unidos. Essa idéia mobilizou um grupo de neurologistas que reunidos deram o primeiro passo para a criação da ABRELA: iniciativa pioneira de mobilizar a sociedade civil, científica e política da importância de conhecer a doença, sua manifestação na população brasileira e a necessidade de usar todos os recursos disponíveis de efeito comprovado para o tratamento. A proposta era que a ABRELA tivesse uma atuação em todo o território nacional de informação e orientação. Ainda em 1998, a ABRELA, participou do primeiro estudo epidemiológico brasileiro, visando fazer conhecidas às características da doença no nosso país e desde então tem participado de todos os eventos que envolvem a esclerose lateral amiotrófica. Em 2001, a ABRELA participou, pela primeira vez, do Simpósio Internacional de ELA/DNM e, desde então, tem apresentado para a comunidade científica internacional vários estudos realizados no Brasil, e tem publicado por meio da parceria com a Sanofi-Aventis o resumo do simpósio internacional para divulgação no Brasil. O primeiro Simpósio Brasileiro de ELA/DNM foi realizado pela ABRELA em 2002, com a participação dos Doutores José Mauro de Braz Lima, Acary de Souza Bulle, Mamede de Carvalho, Helga Cristina Almeida da Silva e Wilsom Marques Júnior. A ABRELA realiza simpósios, anualmente, visando mobilizar a comunidade científica e profissionais da saúde. Hoje a ABRELA é membro da Aliança Internacional das Associações de ELA/DNM e da Associação Internacional de ELA/DNM, e está em fase de expansão de suas atividades, com a criação das ARELAS (Associação Regional de ELA) – ARELA/RS (Associação Regional de ELA do Estado do Rio Grande do Sul) já implantada e ARELA/MG (Associação Regional de ELA do Estado de Minas gerais) em implantação, o objetivo é beneficiar um número maior de pacientes. Referências Bibliográficas 1.Freitas CS. Sobre um caso de esclerose lateral amyotrophica. Brazil-Medico, anno XXIII, num 42, pag. 421-22, 8 de novembro de 1909. Publicado também no Arch Bras Psychiatr Neurol Med Legal 1910: 71. Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 22 2.Monteiro E. Um caso de esclerose lateral amyotrophica. Gazeta Clínica de São Paulo, 1913, p.144. 3.Castro A. Tractado de Semiótica Nervosa: Semiótica das formas exteriores e das desordens motoras. Rio de Janeiro: F. 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Email: [email protected] INTRODUÇÃO Passados 132 anos da descrição do quadro clínico da Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) por Charcot infelizmente a história natural desta enfermidade não se modificou. É a degeneração dos neurônios motores, cerebral e espinhal, responsável pelos principais sinais e sintomas da doença, que leva a perda progressiva da função e ao óbito, em média, cinco anos após o diagnóstico. Nos últimos anos, entretanto, houve um grande avanço no entendimento desta enfermidade, tornando-se um exemplo de doença neurodegenerativa como modelo para testes terapêuticos.1 Vários fatores têm sido implicados na sua patogênese, tais como a deficiência de fatores tróficos, os defeitos no transporte axonal, disfunção dos receptores androgênicos, infecções virais, autoimunidade, fatores tóxicos exógenos, excitotoxocidade endógena, mutações genéticas e anormalidades nas mitocôndrias.1 A possibilidade de novos tratamentos tornou o diagnóstico correto e precoce da ELA de grande importância. Portando, pesquisadores têm se esforçado para identificar biomarcadores, substâncias biológicas que podem ser usadas para identificar a presença ou o início de uma doença, bioquímicos, patológicos e genéticos na ELA. Entretanto, na ausência de um marcador biológico ideal, o diagnóstico continua baseado em aspectos clínicos, tendo a eletroneuromiografia como exame fundamental para a caracterização do diagnóstico, demonstrando o envolvimento do segundo neurônio motor (espinhal).2 Faz-se necessário, também, marcadores da progressão da doença. Vários marcadores de progressão são utilizados: força muscular, escalas funcionais, eletroneuromiografia, Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 25 biopsia muscular, estimulação magnética transcraniana, ressonância magnética espectroscopia, biomarcadores.3 Se o número de axônios motores inervando um músculo pudesse ser estimado de forma reproduzível, isto teria um interesse fundamental em quantificar a desnervação, monitorar a progressão e acessar a eficácia do tratamento nos processos neurógenos. Há 35 anos, a primeira técnica de estimativa do número de unidades motoras (ENUM) foi publicada por McComas e colaboradores.4 Posteriormente, várias outras técnicas foram criadas. Nos últimos anos, o interesse para a utilização da ENUM na ELA tem ressurgido. O objetivo desta publicação é fazer uma breve revisão das técnicas de ENUM e apresentar resultados de um estudo piloto com cinco pacientes portadores de ELA. Para um aprofundamento do assunto recomendamos a leitura dos resumos do primeiro simpósio internacional de Motor Unit Number Estimation, publicado na Supplements to Clinical Neurophysiology, volume 55, Elsevier, 2003. Revisão das técnicas O princípio básico em todos os métodos é o mesmo, o número de unidades motoras é calculado dividindo a amplitude do potencial de ação composto muscular – onda M, obtido por estímulo supra-máximo de um nervo motor, pela estimativa de um tamanho médio dos potenciais de ação de unidade motora. As várias técnicas de ENUM se diferenciam pela forma de medir a amplitude de uma unidade motora. Técnica de Incremento Em um dia de 1967, Dr Alan McComas, trabalhando no Johns Hopkins Hospital, lhe ocorreu provar se o sistema de registro era capaz de detectar o potencial de uma unidade motora individual, usando eletrodos de superfície na região hipotênar. A intensidade do estímulo era reduzida até a resposta tornar-se “tudo ou nada”. Neste momento se obteve a estimulação de um axônio motor.5 Em 1971, McComas, agora com a colaboração de Roberto Sica, Peter Fawcett e Malcolm Campbell, publica a primeira técnica de ENUM, chamada técnica de incremento.4 Obtêm-se o PACM, com estímulo supramáximo, do nervo fibular no tornozelo e registra-se no músculo extensor curto dos dedos. Para calcular o potencial de uma unidade Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 26 motora, estimula-se sublimiarmente até obter a resposta “tudo ou nada”. Esta é a principal suposição da técnica, ou seja, a resposta tudo ou nada representa o potencial de unidade motora individual. A partir daí, neste mesmo ponto, se incrementa discretamente a intensidade do estímulo até 11 sucessivas. A cada incremento assume-se que uma nova unidade motora foi adicionada. A amplitude resultante é dividida pelo número de incrementos, tendo aqui a estimativa de amplitude de uma unidade motora. Dividindo a amplitude do PACM pela a estimativa da amplitude de unidade motora individual vamos ter a ENUM. Neste estudo a média de ENUM era 199 +ou- 60. Posteriormente, este método foi adaptado para o nervo mediano e ulnar, com médias de ENUM de 250 a 420.6,7 O maior problema desta técnica, que pode levar falsos resultados, é o fenômeno denominado pelos anglo-saxões de alternation. Alternation é o resultado de várias possíveis configurações da resposta da unidade motora individual com axônios que apresentam o mesmo limiar de excitabilidade. Por exemplo, se duas unidades motoras (A e B) têm limiar de excitabilidade similar com estímulo de intensidade constante, três configurações são possíveis: recrutamento da unidade A, recrutamento da unidade B ou recrutamento simultâneo das unidades A e B. Portanto, em uma das etapas de incremento de intensidade pode haver o recrutamento de vários axônios com mesmo limiar, consequentemente haverá uma subestimação da média do potencial de uma unidade motora e superestimação do número de unidades motoras. Outro problema da técnica á subjetividade inerente do método. É difícil ter certeza que a diferença da amplitude após o incremento representa o recrutamento de uma nova unidade motora individual.5 Estímulo em múltiplos pontos Para evitar alternation Doherty e Brown (1993) criaram o método de estimulação em múltiplos pontos.8 Esta técnica consiste em estimular o nervo mediano em múltiplos pontos entre a porção distal do antebraço e o ponto motor do nervo mediano e entre o cotovelo e axila para coletar 10 ou mais potenciais de unidades motoras individuais. Em cada ponto só um potencial, “tudo ou nada”, é selecionado. Para calcular a ENUM, a amplitude do PACM é dividida pela média da amplitude dos potenciais de unidades motoras individuais. O método é aplicado para músculos distais. Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 27 Para assumir que a resposta obtida com estímulo sublimiar seja de uma unidade motora deve haver falta de decomposição deste potencial, ou seja, uma segunda resposta deve apresentar a mesma morfologia. A presença ocasional de onda F, de forma e tamanho idêntico a resposta direta, é mais uma evidência que foi estimulada uma unidade motora individual. O relativo número de potenciais de unidade motora de diferentes tamanhos e latências obtidas pelo EMP sugerem que os axônios de pequenos e grandes diâmetros eram excitados com estímulos limiares, proporcionando uma amostra imparcial de unidades motoras individuais.8 A ENUM obtida pela técnica de EMP se correlaciona com estudos histológicos e é a técnica mais utilizada.9,10 Entre as vantagens do EMP estão à ausência de alternation e o fato de que a média do potencial de unidade motora é derivada de uma “verdadeira” unidade motora e não de uma estimativa do tamanho de unidades motoras. Outra vantagem é que a técnica pode ser realizada em qualquer máquina de eletromiografia. As desvantagens do método é a dependência da experiência do examinador e a impossibilidade de estudar músculos proximais. Por exemplo, precisa-se de habilidade do examinador para posicionar e pressionar o estimulador a fim de obter potencial de unidade motora.11 Com a finalidade de incrementar a velocidade de aquisição do potencial de unidade motora, Wang e Delwaide (M/N 1995) adaptaram a técnica de EMP combinando com a técnica incremental descrita por McComas. 12,13 O nervo mediano era estimulado em diferentes pontos. Entretanto, em cada ponto o estímulo é incrementado para obter o primeiro e o segundo e algumas vezes o terceiro potencial de unidade motora individual subseqüente elucidado da maneira “tudo ou nada”. Com esta variação pode-se limitar o teste para 4 a 10 pontos de estímulos e registrar 10 a 20 unidades. Técnica de onda F Ondas F obtidas por estímulo supramáximo são compostas de uma ou várias respostas superpostas de unidades motoras. Mas, com estimulação submáxima aumenta-se a chance de obter onda F de uma unidade motora.14 A ENUM é obtida dividindo a amplitude do PACM com a média da amplitude do pool de ondas F representantes da resposta de uma unidade motora individual As vantagens da técnica são: não invasiva, requer pouca habilidade do Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 28 operador e pouca colaboração do pacientes. Entre as desvantagens estão à necessidade de software específico, pode ser demorada e não avalia músculos proximais. Promediação de pontenciais de ação de unidades motoras com um trigger Esta técnica se diferencia das outras pela maneira de obter os potenciais de unidades motoras. Durante uma contração voluntária leve do indivíduo, a resposta de uma unidade motora é obtida com agulha concêntrica ou de fibra única, e o eletrodo é posicionado para que uma única unidade motora seja captada. Concomitantemente, potenciais de superfície são registrados; a descarga de uma unidade motora é usada como um gatilho, de forma que uma média de potenciais de superfície seja obtida. Ao alterar a posição da agulha será captada nova unidade motora, uma nova amostra de potenciais de superfície será gerada, e média da amplitude calculada. O cálculo do EMNE é similar às outras técnicas baseando-se na razão da amplitude (ou área) do potencial de ação muscular composto após estímulo supramáximo dividindo pela média da amplitude (ou área) do potencial de superfície uma unidade motora.15 Tandan e col utilizaram a técnica com marcadores de progressão em um ensaio terapêutico com aminoácidos para ELA.16 A vantagem desta técnica é a possibilidade de estudar músculos proximais e a ausência de alternation. O método necessita da cooperação do indivíduo testado, de software específico e da habilidade do examinador para disparar somente uma unidade motora.17 Técnica estatística (Poisson) Daube escreveu, em 1995, a técnica estatística para calcular EMNE. Nesta técnica, mediante uma análise estatística baseada na distribuição de Poisson, se calcula a amplitude média das unidades motoras individuais integrantes do potencial composto muscular, e a partir daí, e tendo em conta a voltagem deste último, a EMNE é calculada. A estimulação das unidades motoras individuais é feita por estimulação elétrica e o registro com eletrodos de superfície. Na análise estatística de Poisson o tamanho de uma unidade motora é igual à variação de séries de respostas, constituídas de uma ou mais unidades. Breve resumo da técnica: se obtém o PACM máximo e o potencial limiar. Entre estas respostas, o sistema identifica quatro janelas; em cada uma delas se fará estímulos repetidos, de mesma intensidade, registrando potenciais submáximos de amplitudes levemente variáveis. Após a Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 29 análise de 30 potenciais o sistema para automaticamente e exibe o valor da variação do potencial que representa o valor de uma unidade motora individual. A análise se repetirá pelo menos mais quatro vezes. O método é rápido, reproduzível e não sofre interferência do examinador. Há necessidade de software específico só disponível por um fabricante.15,19 Recentemente a técnica estatística foi utilizada no estudo multicêntrico com creatina para ELA, e detectou perda de 23% de unidades motoras em seis meses.20 Estudo piloto de ENUM em indivíduos com ELA Nós realizamos, num período de seis meses, pelo menos três estudos de ENUM em quatro indivíduos com ELA. A técnica escolhida foi a versão adaptada de estímulo em múltiplos pontos. 12,13 Resumo da técnica: utilizei eletrodos descartáveis auto-adesivos; o eletrodo ativo foi colocado na porção média da eminência tênar e o eletrodo de referência sobre a falange proximal do dedo do polegar; o eletrodo de terra posto no dorso da mão. Todos os estudos foram realizados no equipamento NihonKoden. Estimulei o nervo mediano em diferentes pontos entre o punho e cotovelo. O estímulo, um potencial de onda quadrada, teve a duração de 0,05ms. Entretanto Em cada ponto o estímulo foi incrementado, de 0,1 a 0,5mV, para obter o primeiro, e o segundo e, algumas vezes, o terceiro potencial de unidade motora individual subseqüente, obtido de maneira “tudo ou nada”. Com esta variação pode-se limitar o teste para 4 a 10 pontos de estímulos e registrar 10 a 20 unidades. O potencial de unidade motora individual era registrado com ganho de 50-100uV/divisão. Para evitar alternation, o axônio motor deve ser recrutado com diferente limiar, de maneira ordenada e reproduzível sem fracionamento da resposta motora por estímulos sucessivos. Para o cálculo do número de unidades motoras dividiu-se a amplitude (ou área) do potencial de ação muscular máximo com a média da amplitude (ou área) dos diferentes potencias de unidades motoras. Exceto pelo primeiro potencial de unidade motora individual evocado num determinado ponto, a precisa morfologia dos demais não é visualizada, pois representa a superposição de dois ou mais potenciais de unidades motoras. Teoricamente é possível registrar o mesmo potencial de unidade motora individual duas vezes, já que sua morfologia pode não ser reconhecida. Entretanto, a morfologia deste potencial pode ser reconstituída por Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 30 subtração da resposta do componente muscular pela sua precedente obtida no mesmo local e a baixa intensidade. Nos gráficos 1 e 2 estão apresentados os valores de ENUM, calculados por amplitude e área, respectivamente. Observa-se um decréscimo do número de unidades motoras com o tempo nos cinco pacientes. Nos gráficos 3 e 4 estão plotados os resultados das amplitudes e áreas dos potenciais de unidades motoras individuais. A reinervação colateral, mais acentuada no início da doença, explica o aumento da amplitude e da área dos potenciais de unidades motoras individuais. Gráfico 1: ENUM (amplitude) em cinco indivíduos com ELA seguidos durante 6 meses ENUM ENUM amplitude 400 350 300 250 200 150 100 50 0 1 2 3 Tem po Gráfico 2: ENUM (área) em cinco indivíduos com ELA seguidos durante 6 meses ENUM - área 600 ENUM 500 400 300 200 100 0 1 2 3 Tem po Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 31 Gráfico 3: amplitude média dos potenciais de unidades motoras individuais Amplitude média potencial UM Amplitude média (uV) 600 500 400 300 200 100 0 1 2 3 Tempo Gráfico 4: área média dos potenciais de unidades motoras individuais Área média potencial UM 1600 Área média (uV) 1400 1200 1000 800 600 400 200 0 1 2 3 Tempo CONCLUSÃO O método adaptado de estimulação em múltiplos pontos é confiável, não invasivo, não é desconfortável para o paciente, rápido e facilmente realizável em qualquer equipamento de eletromiografia. Nossos resultados preliminares demonstram a perda de unidades motoras com o tempo (gráficos 1 e 2) e a reinevação (gráficos 3 e 4) nos indivíduos portadores de ELA, similares aos publicados. 13 A ENUM é única forma em vida de determinar o número de unidades motoras. Por esta razão sua utilização é de grande interesse na avaliação da história natural das doenças Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 32 neurogênicas, em especial a ELA. Outra importante aplicação clínica é determinar a perda de neurônios motores com a evolução da doença e correlacionar este resultado com a progressão clínica. Como a velocidade de progressão da ELA varia grandemente entre os pacientes, a ENUM pode estratificar pacientes segundo a velocidade de progressão clínica, sendo um forte indicador de sobrevida.21,22 Estudos seriados de ENUM na ELA mostram que a redução do número de unidades motoras é exponencial, e mais acentuado no início da doença. Aproximadamente, 70% das unidades motoras são perdidas no primeiro ano de doença.23,24 Em modelos animais de ELA estudos com ENUM mostram que a perda de unidades motoras acontece antes do início dos sinais clínicos aparecerem.15 Recentemente, várias publicações e apresentações em simpósios internacionais demonstram que a ENUM é mais sensível para detectar o declínio mensal de unidades motoras comparando com outros biomarcadores,.25-29 o que justifica, também, sua utilização para monitorar o efeito de novos medicamentos.20,30 Ainda, não há um consenso sobre qual a melhor técnica de ENUM. Os diversos métodos mostram resultados similares. Fatores práticos tais como o conforto, a duração do exame e dificuldade técnica são importantes em determinar o método a ser utilizado. Algumas técnicas necessitam de software específicos. Entretanto outras técnicas, de incremento e a de estímulos em múltiplos pontos, são realizadas em qualquer máquina de eletromiografia. Espera-se, nos próximos anos, que a utilização das técnicas de ENUM saia dos laboratórios de pesquisas para a prática clínica diária. Referências Bibliográficas 1.Shaw PJ. Molecular and cellular pathways of neurodegeneration in motor neurone disease. J Neuro Neurosurg Psychiatr 2005;76:1046-1057. 2.Brooks BR. El Escorial World Federation of Neurology criteria for the diagnosis of amyotrophic lateral sclerosis. J Neurol Sci 1996;124:96-107. 3.Cudkowicz M, Qureshi M, Shefner J. Measures and markers in amyotrophic lateral sclerosis. NeuroRx 1 2004;273-283. 4.McComas AJ, Fawcett PRW, Campbell MJ, Sica REP. Electrophysiological estimation of the number of motor units within a human muscle. J Neuro Neurosurg Psychiat 1971;34:121-131. 5.Sica R, McComas A. Review of MUNE over 30 years. Suppl clin neurophysiol 2003;55:3-13. Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 33 6.Brown WF. 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ALS etiopathogeny: unique cause or multiple causes? Helga Cristina Almeida da Silva Médica neurologista, Doutora, Professora afiliada e orientadora da Pós-graduação da UNIFESP. Rua Pedro de Toledo, 377. São Paulo - SP. Tel.: 5579-2668. e-mail: [email protected] 1. O sistema motor normal A realização de movimentos voluntários pressupõe a integridade anatômica e funcional do sistema nervoso e a interação harmoniosa dos vários sistemas relacionados ao movimento. De forma simplificada, o sistema motor voluntário se inicia no neurônio motor superior (primeiro neurônio ou cortical) localizado no córtex motor primário do giro précentral. Esses neurônios ligam-se por meio dos seus axônios (trato cortico-espinal ou piramidal) ao neurônio motor inferior (segundo neurônio) localizado nos núcleos motores do tronco encefálico ou na porção ventral da coluna cinzenta da medula espinal. A sinapse que une os dois neurônios motores tem o glutamato como neurotransmissor. Por sua vez, esses neurônios espinais fazem parte da unidade motora, onde cada neurônio liga-se por meio do seu axônio (raízes motoras e nervos motores) às fibras musculares por ele inervadas, em região especializada denominada junção neuromuscular, onde a acetilcolina é o mediador. 2. Doença do neurônio motor Doença do neurônio motor (DNM) refere-se às doenças que afetam primariamente o neurônio motor (ou motoneurônio) superior e/ou inferior. O protótipo desse grupo é a esclerose lateral amiotrófica (ELA), doença degenerativa caracterizada pela perda progressiva de motoneurônios ao nível de medula espinal, tronco encefálico e córtex motor. O pico de incidência ocorre na sexta década, com ligeiro predomínio do sexo masculino. A maior parte dos casos é esporádica (somente uma pessoa afetada na família), mas 5 a 10% correspondem à forma familiar. O quadro clínico é caracterizado por fraqueza e atrofia muscular progressivas e generalizadas, com evolução para paralisia de quatro membros, disfagia, Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 36 disfonia, dispnéia. O óbito ocorre em média 3 anos após o início dos sintomas, por insuficiência respiratória. Há formas de doença do neurônio motor que afetam primariamente os neurônios motores inferiores (atrofia muscular espinal - AME) ou os neurônios motores superiores (esclerose lateral primária - ELP) e que apresentam etiopatogenias específicas. No caso da AME, por exemplo, ocorre mutação no gene da sobrevivência do neurônio motor (SMN). 3. O neurônio motor na ELA O estudo anatomopatológico mostra perda neuronal nas áreas motoras (giro pré-central, núcleos motores de nervos cranianos e corno anterior da medula espinal), gliose e esclerose do trato piramidal. A análise dos neurônios sobreviventes mostra áreas de acúmulo anormal, como os corpos de Bunina, descritos em 1962, e os corpos de Lewy. Outras inclusões são formadas por agregados variados, compostos de ubiquitina, periferina, neurofilamentos ou superóxidodismutase (SOD). 4. Genética na ELA A mutação da enzima SOD é rara em casos esporádicos de ELA (1%), sendo encontrada em cerca de 20% dos casos familiares de ELA. Já foram descritas mais de 73 mutações no gene da SOD (www.alsod.org), havendo desde formas agressivas (evolução rápida de até 18 meses) até formas benignas (evolução lenta de até 18 anos). Nos outros 80% de casos familiares, já foram descritas várias outras mutações (cromossomos 2, 9, 15, 16, 18, 20, X e DNA mitocondrial), mostrando que mesmo nos casos familiares de ELA há grande heterogeneidade genética e, seguramente, variados mecanismos etiopatogênicos. Além disso, há evidências sugerindo que, mesmo quando se estuda um grupo com a mesma mutação, pode haver variação individual decorrente de fatores modificadores. Assim, o quadro clínico da ELA poderia ser modificado por alteração na expressão de outras substâncias, tais como neurofilamentos, VEGF (fator crescimento endotelial vascular), APEX (endonuclease apurínica/apirimídica - enzima reparadora de DNA), Apo E, CNTF (fator neurotrófico ciliar) e LIF.SOD. Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 37 O acúmulo da enzima SOD resulta de mutações no gene que codifica a proteína SOD, situado no cromossomo 21. Essa proteína normalmente é responsável pela neutralização de radicais livres produzidos pelo metabolismo oxidativo neuronal. Assim, o defeito genético levaria à morte neuronal por perda da função normal da enzima SOD (ESTRESSE OXIDATIVO POR AÇÃO DOS RADICAIS LIVRES), mas também por ganho tóxico de função (PROTEÍNA SOD TÓXICA). Estresse oxidativo por ação dos radicais livres Normalmente a SOD age sobre o radical livre superoxido (O2-), produzindo água oxigenada (H2O2), que sofrerá então a ação da catalase, para produção de água (H2O). Quando a SOD não atua de forma adequada, os radicais livres produzem estresse oxidativo e morte neuronal, com ativação da via da apoptose; os mecanismos envolvidos vão desde a lesão mitocondrial por peroxidação das membranas, até acúmulo de ubiquitinina e neurofilamentos por modificação protéica. Proteína sod tóxica A ação tóxica da SOD ocorreria por mecanismos diversos, tais como: a) aumento de ligação da ubiquitinina (proteína que marca proteínas defeituosas destinadas à destruição) à proteína SOD defeituosa (ubiquitinação protéica), com formação de agregados intracelulares que prejudicam o metabolismo celular; b) alteração de proteassomos (sistema responsável por destruição de proteínas anormais, entre elas a SOD mutada); c) efeito amilóide (acúmulo de proteína insolúvel); d) lesão secundária de mitocôndrias. 5. ELA esporádica Os aspectos anatômicos e clínicos da ELA sofreram poucas modificações desde a descrição original por Charcot no século 19. Entretanto, o conhecimento sobre a causa da ELA e os mecanismos da doença tem se ampliado de forma impressionante, sem entretanto ter permitido ainda a total compreensão da ELA e a sua cura. Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 38 Acredita-se que a ELA esporádica possua mecanismo etiopatogênico multifatorial, em função das múltiplas alterações encontradas nos modelos animais de DNM e em pacientes. Entre as etiologias sugeridas, a principal é a excitoxidade pelo neurotransmissor glutamato. Mas também há evidências sugerindo participação da morte celular programada (apoptose), do acúmulo de neurofilamentos, da deficiência de fatores neurotróficos, de alterações da imunidade, de traumas físicos, de infecções virais persistentes (Poliovírus, Enterovírus, Retrovírus murino), do processo de envelhecimento com deficiência relativa de vitamina E, e até mesmo de fatores ambientais químicos (como contato com inseticidas na lavoura) e físicos (radiações resultantes de explosões nucleares). 6. Excitoxidade pelo glutamato Para o adequado funcionamento da sinapse glutamatérgica entre os motoneurônios superior e inferior, é preciso que o excesso de glutamato seja recaptado pelas células astrocíticas, por meio dos receptores GLT1 (transportador de glutamina específico da astroglia). Evidências indiretas sobre a ação tóxica do glutamato sobre os motoneurônios provêm da DNM no Latirismo, onde a lesão está associada à ingestão de vegetais ricos em BOAA (ß N oxalyl amino L alanina), similar ao glutamato. Da mesma forma, estudos em modelos animais de DNM têm mostrado melhora da evolução com o uso de antagonista do receptor glutamatérgico não-NMDA do motoneurônio inferior. Em pacientes com ELA há aumento dos níveis séricos e liquóricos de glutamato, além de diminuição da concentração tecidual - por diminuição de captação astrocítica. Finalmente, na ELA ocorre diminuição da concentração e inibição de receptores astrocíticos GLT1. O excesso de estímulo glutamatérgico leva ao aumento dos níveis intracelulares de cálcio, com conseqüente ativação de sistemas enzimáticos dependentes de cálcio (calpaínas, endonucleases, fosfolipases, proteinoquinase C, sintase do óxido nítrico), degradação proteica, peroxidação lipídica e morte celular por apoptose. 7. Apoptose A apoptose do motoneurônio na ELA é a via final comum de múltiplos mecanismos etiopatogênicos, tais como menor atividade da SOD, ação tóxica da SOD mutada e aumento Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 39 de radicais livres. A resultante clivagem do DNA desencadeia então a morte celular programada. Moléculas pró-apoptóticas (bax, caspases) estão aumentadas na ELA, bem como há diminuição de moléculas anti-apoptóticas (proto-oncogene bcl2). 8. Neurofilamentos Neurofilamentos são vitais para o transporte bidirecional de organelas. O acúmulo de neurofilamentos pode ser uma lesão secundária, como a que ocorre após a axonotomia experimental. Por outro lado, existe um modelo animal de camundongo transgênico com DNM por mutação do gene que codifica os neurofilamentos de cadeia pesada (NFH). O acúmulo de neurofilamentos tem sido descrito na ELA esporádica, bem como em família com ELA por mutação do gene NFH, do cromossomo 11. 9. Neurotrofinas Neurotrofinas são peptídeos expressos em várias regiões do sistema nervoso e que atuam por ligação a receptores específicos. Geralmente o seu nível está normal ou aumentado na ELA. Esse aumento pode ser decorrente da tentativa de preservar os neurônios sobreviventes. Entretanto, há um modelo animal de DNM associado à diminuição da produção de CNTF. 10. Imunidade O papel da imunidade na ELA ainda é controvertido. Não se sabe, ainda, se a imunidade é um fator etiológico, fator de propagação ou simplesmente um epifenômeno. O aumento da imunidade na ELA foi sugerido por evidências tais como a presença de infiltração de macrófagos e linfócitos nos locais de lesão, ativação de microglia e marcadores MHC-I e II / HLA-DR. Além disso, foram detectados anticorpos com ação antineuronal, anti canal de cálcio (L / P) e anti GM1, capazes, em estudos “in vitro”, de aumentar a corrente de cálcio intracelular e provocar citoxicidade. A ELA tem sido associada a paraproteinemias, linfomas e tireoidopatias. Finalmente, há um modelo animal experimental de DNM autoimune. Entretanto, até o momento, tentativas de inibir a imunidade na ELA não resultaram em cura da doença Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 40 11. Trauma Estudos clínicos mostram que a atividade física extenuante, como aquela dos trabalhadores braçais, é um fator de risco para a ELA. Uma possível explicação para essa associação vem do exemplo do modelo animal de morte do neurônio motor resultante de axonotomia de ratos jovens; nesse caso, possivelmente a agressão ocorre em uma época da vida em que a ação protetora dos fatores neurotróficos ainda não é completa, resultando na morte do neurônio cujo axônio foi seccionado. 12. Seletividade da lesão Além de conhecer a causa e o mecanismo da ELA, é importante saber porque a lesão é seletiva - para o sistema nervoso e para o neurônio motor. A seletividade da lesão no sistema nervoso está relacionada à sua alta taxa oxidativa, à menor quantidade de sistemas anti-oxidativos e proteínas de ligação ao cálcio (calbindina, calmodulina, parvalbumina) e à propensão de acúmulo de íons metálicos. A seletividade para a lesão do neurônio motor relaciona-se ao maior tamanho do seu pericário, à maior quantidade e extensão de dendritos - axônios - citoesqueleto (neurofilamentos), à concentração de colina acetil transferase e à menor quantidade de receptores para cálcio, andrógenos e neurotrofinas. 13. Autosustentabilidade da lesão Outro ponto a considerar na etiopatogenia da ELA é a questão da continuidade da morte neuronal, com permanência da lesão após a agressão inicial. Possivelmente, uma agressão inicial, como por exemplo o estresse oxidativo resultante da mutação da SOD, se propaga ao longo do tempo para um número cada vez maior de neurônios por meio da excitoxidade e se dissemina no espaço por meio dos mediadores liberados por cada neurônio que morre. Por outro lado, se consideramos a excitoxidade como agressão inicial, é possível que essa agressão gere um círculo vicioso de aumento de cálcio intracelular, seguido de aumento de radicais livres com estresse oxidativo e finalmente lesão mitocondrial, que em conjunto levam à morte celular. Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 41 14. Lesão inicial A definição do tipo de agressão inicial e do local da lesão primária na ELA é difícil de precisar, visto que no momento do início dos sintomas clínicos já houve perda de 50% dos motoneurônios. Assim, como a agressão inicial ocorreu no passado, torna-se difícil a sua investigação precisa. Por esse motivo, também é discutível o local da lesão inicial: córtex motor, interneurônios, neurônio motor espinhal ou neuroglia. A teoria cortico-motoneuronal postula que a ELA começa com a disfunção do neurônio motor superior e defeito da transmissão glutamatérgica. A teoria interneuronal sugere que a disfunção dos interneurônios não piramidais com ação inibitória poderia levar ao excesso de liberação de glutamato. Na teoria neuroglial, essas células poderiam iniciar o processo da morte do neurônio motor por mecanismos variados, como produção de substâncias tóxicas, diminuição de captação de glutamato ou diminuição de produção de neurotrofinas. Na visão tradicional a ELA sempre foi considerada como doença somatocêntrica, ou seja, resultante de lesão primária do corpo (ou soma) do neurônio. Entretanto, novas evidências sugerem que alguns casos de DNM podem ser resultantes de lesão primária do axônio (doença axonocêntrica), com morte do neurônio secundária. Ainda, tanto em modelos animais de DNM como em pacientes com ELA, foi descrita perda precoce e seletiva na placa mioneural que precedeu as outras alterações. O impacto das descobertas sobre a etiopatogenia da ELA é evidente ao se verificar o número crescente de estudos com novas drogas para essa doença. Cada vez mais prevalece a teoria de que a ELA é uma doença com muitas causas, assim cada paciente é único e o tratamento ideal seria feito com múltiplas medicações. Referências Bibliográficas 1.Brown RH. Amyotrophic lateral sclerosis. Arch Neurol 1997; 54:1246-1250. 2.Cluskey S, Ramsden DB. Mechanisms of neurodegeneration in amyotrophic lateral sclerosis. J Clin Pathol: Mol Pathol 2001; 54:386-392. 3.Fischer LR, Culver DG, Tennant P, Davis AA, Wang M, Castellano-Sanchez A, et al. Amyotrophic lateral sclerosis is a distal axonopathy: evidence in mice and man. Exp Neurol 2004; 185(2):232-40. 4.Hand CK, Rouleau GA. Familial amyotrophic lateral sclerosis. Muscle Nerve 2002; 25:135-159. 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Professora titular de Genética Humana e Coordenadora do Centro de Estudos do Genoma Humano, Departamento de Genética e Biologia Evolutiva, Instituto de Biociências, Universidade de São Paulo Os distúrbios neurodegenerativos, que se caracterizam por afetar múltiplos sistemas do corpo humano em decorrência de problemas nos neurônios sensoriais e/ou motores, incluem diversas doenças crônicas progressivas, entre elas, as doenças do neurônio motor (DNM), assim denominadas por acometer, especialmente, os neurônios efetores. O comprometimento das células nervosas tem como conseqüência a degeneração muscular, que se agrava com maior ou menor intensidade dependendo do distúrbio em questão. As doenças do neurônio motor apresentam características distintas de acordo com o grupo de células acometidas: quando os neurônios motores inferiores estão afetados, podem resultar em um quadro característico de atrofia espinhal progressiva (AEP) ou de atrofia muscular espinobulbar (doença de Kennedy), por exemplo; nos casos em que o problema se encontra nos neurônios motores superiores, manifesta-se um dos diversos tipos de paraplegias espásticas ou a esclerose lateral primária, entre outras doenças; e, por fim, quando ambos os grupos de células nervosas encontram-se envolvidos, pode ser observado um quadro de esclerose lateral amiotrófica (ELA), por exemplo. A ELA (ou doença de Lou Gehrig), descrita por Jean-Martin Charcot em 1869, é a forma mais comum de DNM, com uma incidência de 1-2 a cada 100.000 indivíduos. Constitui um grupo extremamente heterogêneo de doenças, que se caracterizam pela morte dos neurônios motores localizados no córtex cerebral, tronco encefálico e medula espinhal. Os pacientes podem apresentar uma gama bastante ampla de sintomas: câimbras, fasciculações, atrofia e fraqueza musculares progressivas, podendo haver até mesmo a paralisia de alguns músculos. Pode ocorrer também o comprometimento bulbar ou do trato piramidal dos Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 44 afetados, quando surgem a disfagia, a disartria e a sialorréia, entre outros sintomas. Em geral, esses indivíduos falecem em decorrência de complicações respiratórias em um intervalo de três a cinco anos após a manifestação dos primeiros sintomas. Os casos de ELA podem ser divididos em familiais (correspondem a cerca de 10% do total de relatos) e esporádicos (aproximadamente os 90% restantes). Até o presente momento, foram descritas onze formas de ELA familial, sendo duas de herança autossômica recessiva, uma com padrão de herança ligada ao sexo e as demais de herança autossômica dominante. Entretanto, somente cinco genes foram identificados para essa doença. Esclerose lateral amiotrófica tipo 1 (ELA1) A ELA 1 (MIM 105400) foi a primeira forma a ser descrita e agrupa os casos da doença relacionados a mutações no gene SOD 1, que se localiza no cromossomo 21q22.1 1 e codifica a proteína Cu/Zn superóxido dismutase, expressa em todos os tecidos do corpo. Tal proteína, presente no citossol, no núcleo, em peroxissomos e no espaço existente entre as membranas externa e interna da mitocôndria, tem a função de transformar os radicais superóxido em oxigênio molecular e peróxido de hidrogênio, menos nocivos à célula do que os primeiros. Uma hipótese explicativa para a lesão neuronal causada pela Cu/Zn superóxido dismutase quando mutada seria decorrente da aquisição de uma função tóxica à vida celular, que levaria ao acúmulo de radicais superóxido no seu interior, comprometendo, inicialmente, suas funções e, em um segundo momento, levando-a à morte. Os casos de ELA1 têm idade de início e progressão variáveis e, predominantemente, herança autossômica dominante, havendo, na literatura, uma única mutação descrita com padrão de herança autossômica recessiva2 . Esclerose lateral amiotrófica tipo 2 (ELA2) A ELA 2 (MIM 205100) constitui uma forma da doença com herança autossômica recessiva, que se manifesta durante a fase juvenil e apresenta progressão lenta. Encontra-se associada a mutações no gene da alsina, localizado no cromossomo 2q33 3,4, que codifica uma proteína de mesmo nome, expressa em diversos tecidos do corpo. Essa proteína parece estar Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 45 envolvida com o tráfego de moléculas de sinalização, essenciais para o desenvolvimento e o funcionamento corretos do neurônio motor5. Mutações nesse mesmo gene foram associadas à esclerose lateral primária3,4 e à paraplegia espástica6,7. Esclerose lateral amiotrófica tipo 4 (ELA4) A ELA 4 (MIM 602433) é uma forma com padrão de herança autossômica dominante, que se inicia ao longo da fase juvenil do indivíduo e apresenta progressão relativamente lenta. Manifesta-se em decorrência de mutações no gene da senataxina (SETX), localizado em 9q34 8 . Esse gene codifica para uma proteína que apresenta um domínio DNA/RNA helicase, mas pouco se conhece sobre sua atividade específica no interior da célula. Proteínas com esse domínio são responsáveis por desempenhar importantes funções como o reparo, a replicação e a transcrição do DNA, assim como o processamento e a tradução do RNA. Esclerose lateral amiotrófica tipo 8 (ELA8) Nosso grupo descreveu mais uma variante da doença, caracterizada por herança autossômica dominante9. As primeiras manifestações ocorrem já na fase adulta – entre a terceira e a quinta décadas de vida – e a progressão é considerada extremamente lenta quando comparada aos outros tipos de ELA. Esse distúrbio afeta igualmente homens e mulheres e, até o presente momento, não há evidências de antecipação clínica. Constitui uma forma atípica de esclerose lateral amiotrófica, uma vez que ocorrem alterações fenotípicas peculiares, como, por exemplo, o tremor postural, que não se apresenta nas outras modalidades dessa doença. A mutação correlacionada com a DNM em questão foi identificada no gene VAPB (vesicle associated-associated protein B), que se localiza em 20q13.3 e é responsável pela codificação da proteína VAPB, assim denominada por se associar à proteína VAMP/sinaptobrevina, encontrada na membrana de vesículas de secreção. As alterações características de ELA8 resultam da substituição de uma citosina por uma timina na posição 166 do exon 2 do VAPB, o que provoca a entrada de uma serina em lugar de uma prolina no códon 56 10 . Nishimura e cols. em 2005, identificaram um efeito fundador para essa mutação. Possivelmente, essa mutação proporciona uma alteração do padrão de ligação da VAPB com outras proteínas no interior da célula (comunicação oral). Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 46 A VAPB está localizada nas membranas do retículo endoplasmático e das estruturas que conectam essa organela ao complexo de Golgi11; expressa-se em todos os tecidos do corpo, apesar de a mutação Pro56Ser só comprometer os neurônios motores, sem afetar, aparentemente, outros tipos celulares. Esclerose lateral amiotrófica associada a Doença de Parkinson e Demência frontotemporal (ELA - DP/DFT) A ELA – DP/DFT (MIM 600274) é uma forma que se inicia durante a fase adulta do indivíduo e que apresenta padrão de herança autossômica dominante. Foi relacionada a mutações no locus 17q21, mais precisamente no gene que codifica a proteína Tau associada a microtúbulos (MAPT – microtubule associated protein tau). A proteína tau mutada forma inclusões filamentosas e agregados insolúveis que estão ligados ao processo neurodegenerativo5. Considerações finais Embora a ELA seja a DNM mais freqüente, pouco se conhece sobre sua etiologia. Com cinco genes já identificados para as formas familiais, quase nada se sabe sobre os processos celulares que desencadeiam a degeneração e, posteriormente, a morte dos neurônios motores em cada um dos casos. Novas perspectivas no campo de estudos das DNM incluem o uso de modelos animais que possibilitem a compreensão do processo neurodegenerativo, bem como a utilização de novas drogas que retardem a degeneração neuronal. Referências Bibliográficas 1 - Rosen DR, Siddique T, Patterson D, Figlewicz DA, Sapp P, Hentati A, et al. Mutations in Cu/Zn superoxide-dismutase gene are associated with familial amyotrophic-lateral-sclerosis. Nature 1993; 362:59–62. 2.Al-Chalabi A, Andersen PM, Chioza B, Shaw C, Sham PC, Robberecht W, et al. Recessive amyotrophic lateral sclerosis families with the D90A SOD 1 mutation share a common founder: evidence for a linked protective factor. Hum Molecul Genet 1998; 7(13):2045-2050. Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 47 3.Yang Y, Hentati A, Deng HX, Dabbagh O, Sasaki T, Hirano M, et al. 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Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 48 Modelos animais para doenças neuromusculares humanas Animal models for human neuromuscular diseases Mariz Vainzof1, Patrícia M Kossugue1, Danielle Ayub1, Paula CG Onofre1, Dinorah Zilberztajn1, Karen Sell1, Lydia U Yamamoto1, Poliana CM Martins1, Lucas S Maia1, Mayana Zatz1, Helga CA Silva1, Maria A Miglino2, Carlos E Ambrosio2, José Xavier Neto3 1.Centro de Estudos do Genoma Humano, IBUSP; 2.FMVZ, USP; 3.Incor, FMUSP. Auxílio financeiro: FAPESP-CEPID, CNPq, ABDIM. As afecções neuromusculares humanas constituem um grupo heterogêneo de doenças genéticas caracterizadas por degeneração muscular progressiva, levando ao desenvolvimento de fraqueza muscular e perda de capacidade motora. Na última década foram identificadas mutações em vários genes, resultando na deficiência ou perda de função de diversas proteínas musculares de importância significativa para o bom funcionamento do músculo. Estudos bioquímicos e imunohistológicos têm localizado estas proteínas nos diversos compartimentos da fibra muscular. Associadas à membrana sarcolemal, encontram-se a distrofina, as 4 sarcoglicanas, disferlina e caveolina 3; na matriz extracelular, a α2-laminina e colágeno VI; nos sarcômeros, a teletonina, miotilina, titina, actina e tropomiosina; no citosol muscular, canal de Cálcio (receptor de rianodina), a calpaina 3, FRPR, TRIM32, miotubularina; e nos núcleos, a emerina, lamina A/C, proteína SMN. Algumas das doenças associadas a alterações nestas proteínas são as distrofias musculares progressivas e as miopatias congênitas. Estudos clínicos e neurológicos em animais com fraqueza muscular têm ajudado a identificar alguns modelos animais tais como camundongos, cães e gatos, deficientes para diferentes proteínas musculares. Os estudos realizados nestes animais são cruciais para aumentar nossos conhecimentos a respeito de doenças genéticas humanas e para a investigação de terapias experimentais. A facilidade com que o genoma murino pode ser manipulado faz do camundongo uma ferramenta bastante utilizada em testes moleculares e na avaliação de complexos protéicos musculares. Dentre os modelos murinos, o camundongo Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 49 mdx, apresenta uma mutação de ponto no gene da distrofina, e uma ausência total da proteína no músculo, constituindo um modelo molecular e protéico para a distrofia muscular de Duchenne humana (DMD). O camundongo dy/dy, é o modelo murino para a distrofia muscular congênita com deficiência de α2-laminina, e apresenta fraqueza clinica significativa. Diversos camundongos transgênicos e knockout para as proteínas sarcoglicanas, caveolina e disferlina já foram gerados, e estão ajudando no estudo dos mecanismos de composição e funcionamento destes complexos protéicos nos animais afetados. Alem disso, existem modelos diversos para outras doenças genéticas, tais como o modelo porcino, com mutação no gene RYR1, que apresenta os sinais clínicos observados na crise de Hipertermia Maligna. Devido à deficiência da proteína distrofina, como em pacientes com DMD, o músculo de camundongos mdx é afetado por degeneração e necrose. Entretanto, o camundongo mdx exibe um curso clínico mais brando. Além disso, a fraqueza muscular não é característica e o tempo de vida não é reduzido. Esse camundongo também apresenta um grande número de fibras revertentes (2-3%), que passam a sintetizar novamente de forma espontânea a distrofina. Como a presença natural destas fibras dificulta a análise de terapias que visam a expressão de distrofias, outros modelos murinos de DMD foram experimentalmente induzidos. Embora o camundongo mdx seja um bom modelo molecular, não é um bom modelo clínico, por não apresentar fraqueza muscular significativa, dificultando o seu uso na avaliação clínica da eficácia de triagens terapêuticas. Neste sentido, a identificação do modelo canino da raça Golden Retriever com deficiência de distrofina trouxe novas perspectivas, uma vez que apresenta fraqueza muscular significativa, simulando a distrofia humana. A patogênese do GRMD tem manifestação in utero com o desenvolvimento de lesões musculares linguais. Extensas necroses dos músculos dos membros, tronco e pescoço podem ser identificadas já ao nascimento. Assim como na doença humana e no modelo mdx, as concentrações da enzima creatino quinase sérica estão também extremamente elevadas desde o nascimento. Em seis meses, desenvolvem-se fibrose muscular e contraturas nas junções. Além disso, cães jovens com GRMD podem também morrer por falha cardíaca ou respiratória, embora alguns sobrevivam e alcancem muitos anos de vida. Diversos estudos de terapia gênica e celular estão em andamento no modelo canino da distrofia de Duchenne. Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 50 O desenvolvimento de ferramentas moleculares possibilitou a geração de animais transgênicos que expressam a proteina gfp, proteína naturalmente presente em um tipo de água viva marinha. Desta forma todas as células (somáticas e tronco-embrionárias) geradas a partir destes animais expressam esta proteína, e podem ser identificadas por sua fluorescência verde. Esta é uma ferramenta poderosa no rastreamento destas células, quando injetadas em animais com doenças genéticas diversas. A identificação e caracterização de modelos animais com deficiências musculares semelhantes às descritas nas doenças humanas constituem importante ferramenta para a avaliação fisiopatológica do respectivo defeito molecular primário. Além disso, podem ter um papel significativo como modelo bioquímico e clínico para ensaios terapêuticos. Neste sentido, estudos em andamento visam testar o potencial de diversas células-tronco adultas e embrionárias de se diferenciar nas células do tecido afetado, e produzir a proteína nele deficiente. Desta forma, espera-se que a reposição da proteína ausente ou deficiente possa corrigir o quadro decorrente do processo degenerativo. Quanto à Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), até o momento foram criados por técnicas de transgenia pelo menos tres modelos murinos diferentes. Duas linhagens transgênicas apresentam mutações diferentes no gene SOD1 (G93A e G37R), e o terceiro modelo consiste em camundongo com superexpressão da proteína dinamitina, que também resulta em quadro típico de ELA. Estes modelos vem sendo utilizados em diferentes tentativas terapêuticas, dentre elas o tratamento com inibidor de ciclooxigenase-2 (COX2), superexpressão de SOD1, injeção de fator de crescimento endotelial vascular (VEGF) e utilização de RNAi inibindo o alelo mutado do gene SOD1. Referências Bibliográficas 1.Allamand V, Campbell KP. Animal models for muscular dystrophy: valuable tools for the development of therapies. Human Mol Genet 2000; 9:2459-2467. 2.Barone V, Bertocchini F, Bottinelli R, Protasi F, Allen PD, Franzini Armstrong C, et al. Contractile impairment and structural alterations of skeletal muscles from knockout mice lacking type 1 and type 3 ryanodine receptors. 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A patogênese da Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) não está definida, tendo como principais possibilidades, a excitotoxicidade glutamatérgica sobre os neurônios motores, a disfunção mitocondrial, o estresse oxidativo, a agregação proteica, o déficit de transporte axonal, aliado a inflamação peri-neuronal, sinalização aberrante de fatores de crescimento e, provavelmente outras causas ainda não aventadas ou menos “votadas”. Portanto, com inúmeras hipóteses, a ciência neurológica não sabe, verdadeiramente, a(s) causa(s) da ELA. Para uma adequada terapêutica, o conhecimento das causas da enfermidade seria fundamental. Como visto acima, a etiologia não está definida, assim, está sendo necessário lançar mão de algumas estratégias para tentar novas terapêuticas. Entre estas estratégicas está a indução de animais mutantes com características clínicas semelhantes às da ELA humana, em especial a deficiência da enzima superóxido dismutase I, encontrada em uma forma de ELA familiar. Desta forma pode-se realizar estudos pré-clínicos na tentativa de desenvolver medicamentos com base nas teorias etiológicas acima expostas. Outra estratégia para se encontrar outras drogas é a de, após escolhido o mecanismo causador a ser estudado, geralmente de forma prévia por estudos em animais, verifica-se no mercado se já há drogas existentes e licenciadas que se enquadrem no perfil de combate a possível etiologia em estudo. Desta forma pode-se iniciar testes clínicos com maior rapidez e grande economia. Para exemplificar tal estratégia, pode-se tomar como base a seguinte premissa: a redução do nível de glutamamto ns sinpases se deveria ao aumento da captação dessa substância por células nervosas (astrócitos e gliócitos). Isso é mediado pela expressão de um transportador de glutamamto (EAAT2). Assim, foram avaliados 1040 compostos aprovados Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 53 pelo FDA (Food and Drug Administration – Estados Unidos), sendo que 15 antibióticos apresentavam tal ação, iniciando-se estudos clínicos. Em relação aos ensaios clínicos, vale a pena relembrar de forma sucinta que existem 04 fases para avaliar a droga em estudo. A fase I que verifica a tolerância e o metabolismo do fármaco. A fase 2 que procura doses adequadas, geralmente com poucos pacientes, uma espécie de estudo piloto. A fase III que determina, em um número bem maior de enfermos a eficácia e a segurança através da comparação e, posteriormente ao lançamento no mercado, a farmacovigilância, sendo a fase 4 (nem sempre realizada) Foi assim com o Riluzole® que, mesmo com todas as limitações que não cabe aqui discutir, tenta diminuir a excitotoxicidade do Glutamato e a progressão da morte neuronal. Tal medicamento não será alvo de discussão nesta revisão. A lista de novos fármacos que tentam auxiliar no combate a ELA é imensa, praticamente cada semana surge uma idéia nova. Para exemplificar, foi tomado como base 04 medicamentos seguindo as estratégias já referidas (vide tabela 1). COMPOSTO FASE Minociclina III Tamoxifen II / III Arimoclomol I / II Fenilbutirato Sódico I ALVO Neuro-Inflamação Tox. Glutamato Indução “Heat-Shock Proteins” Inibição “Morte celular” Tabela 1. Exemplo de 04 drogas com potencial de uso na ELA. Minociclina A minociclina é um antibiótico (tetraciclina) com alta penetrabilidade no sistema nervoso central, podendo ser tomado por via oral, tendo passados por estudos fase I e II Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 54 (Neurology, 62,May, 2004 e Neurogical Science, 26, 2005), estando em fase III de ensaio clínico com cerca de 400 pacientes. Tem como alvo a inibição a morte através da redução da ativação de enzimas pró-apoptose (redução da ação das caspases) e de enzimas próinflamação (redução da sintase do óxido nítrico e da COX-2). Foi encontrado retardo no início da patologia e o aumento da sobrevida em modelos animais de ELA. Teria uma excelente aplicabilidade na ELA, pois é bem tolerado pelos pacientes, poderia agir sinergicamente com o Riluzole, porém no estudo fase III, infelizmente não está sendo demonstrado a eficácia dos estudos pré-clínicos. Tamoxifeno Este medicamento é usado há muito tempo para tratamento de câncer de mama, competindo com receptores de estrogênio, além de inibir a Proteina-Kinase (PKC). Essa enzima é age em uma das vias da excitotoxicidade do glutamato e foi constatado que sua ação está anormalmente aumentada na medula de pacientes com ELA. Pode ser utilizado por via oral, estando em fase II, mostrando, em resultados preliminares, que doses de 20 mg/dia, a sobrevida em 02 anos era de 73% , contra 48% com doses menores. Está sendo indicado, mesmo que ainda não tenha sido estudo fase III (ex.: vide boletim informativo da Associação Brasileira de Esclerose Lateral Amiotrófica - ABRELA). Arimoclomol É uma droga que estimula a ação da “Chaperonas”, que por sua vez são proteínas citoplasmáticas que agem na interação de proteína com proteína, fazendo com que haja prevenção de agregação proteica indesejável. Isso se dá por adequada conformação proteica, evitando agrupamento e enovelamento as mesmas. Portanto estimulam a reparação celular natural (Nature Neuroscience 2005;6:11-22). Além disso foi comprovado que a ação das “Heat Shock Proteins” ( que fazem parte da resposta corporal ao estresse) são ativadas com dificuldade pelos motoneurônios, assim fazendo que haja mais um fator de vulnerabilidade na ELA. O Arimoclomol ativaria o mecanismo de citoproteção das células sob estresse e retarda a progressão e aumenta a sobrevida em ratos mutantes SOD1, mesmo após iniciada a doença. Pode ser administrado por via oral, estando em fase II (Nature Medicine 2004;10:402-405). Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 55 Em estudos pré-clínicos foi encontrado melhora na função muscular e aumento na sobrevida do motoneurônio em 22%. Fenilbutirato Sódico É um fármaco utilizado em erros inatos do metabolismo (anti-hiperamoníaco), tendo um mecanismo de ação “multi-alvo”, regulando a expressão gênica. Isso se deve ao fato de inibir a enzima histona deacetilase (que controla o “empaotamento”do DNA). A medicação seria uma espécie de “Chaperona química”, promovendo ou modificando a estabilidade proteica. Em animais (ratos SOD1) há uma lentificação da progressão da doença pela regulação de proteína anti-apoptótica (Bcl-2), sendo administrado por via oral. Tem estudos fase I e II, existindo dados a favor contra conforme os estudos ou americanos ou europeus. Como foi mencionado que os ensaios clínicos são realizados após terminados estudos em modelos animais, deve-se ter em mente que, para a ELA, tais modelos são baseados principalmente em ratos SOD1, portanto um tipo de ELA familiar. A ELA familiar corresponde a menos de 10% da ELA em humanos (Esporádica - 90%). Além disso, os tratamentos nos estudos pré-clinicos, iniciam antes da doença estar instalada, o que não ocorre na ELA esporádica, pois não sabemos quem terá ELA. Consequentemente, devemos tomar cuidado com as extrapolações dos resultados dos estudos com animais para humanos. Para concluir, mesmo que no momento não exista uma forma eficaz de tratar medicamentosamente a doença ELA, a tendência é de se utilizar multi-terapias (multi-drogas, terapia gênica, etc.). Com tal abordagem poderiam ser enquadrados múltiplos mecanismos patogênicos, tendo ação sobre vários alvos, podendo trazer benefícios sinérgicos. Caso funcionasse esse tipo de estratégia, teríamos uma dúvida sobre realmente qual dos tratamentos estaria realmente beneficiando, o que, em termos de ELA, do ponto de vista prático para os pacientes, não teria tanta importância, pois o que se quer é melhor ou pelo menos parar a progressão da patologia. No momento atual, o cuidado do doente de uma forma ampla e multidisciplinar (médicos, enfermeiros, terapêutas ocupacionais, fisioterapêutas, nutricionistas, psicólogos, assistentes sociais, etc.) parecer ser mais importante que tratar somente a doença. Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 56 Referências Bibliográficas 1.Gordon PH, Moore DH, Gelinas DF, Qualls C, Meister ME, Werner J, et al. Palcebo controlled phase I / II studies of minocycline in amyotrophic lateral sclerosis. 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Isabela P Anequini, Juliana B Pallesi, Élica Fernandes, Francis M Fávero, Sissy V Fontes4, Abrahão AJ Quadros5, Helga CA Silva6, Acary SB Oliveira7. 1 Fisioterapeutas – UNIFESP/EPM, 2Assistente social, mestranda – UNIFESP/EPM, 3Fisioterapeuta, mestre – UNIFESP/EPM, 4Fisioterapeuta, doutora – UNIFESP/EPM, 5Fisioterapeuta, mestre – UNIFESP/EPM, presidente da ABRELA, 6Professora doutora – UNIFESP/EPM, 7Doutor, responsável pelo setor de Neuromuscular – UNIFESP/EPM A Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) é uma doença neuromuscular caracterizada pela degeneração progressiva dos neurônios motores superiores (NMS) e inferiores (NMI). Apesar das inúmeras hipóteses propostas sua etiologia ainda permanece incerta. O diagnóstico normalmente é clínico e, até o momento, não existem testes laboratoriais disponíveis para confirmar um diagnóstico de ELA. Pode-se considerar várias formas de apresentação da doença: a) dependendo das regiões acometidas (bulbar, cervical, medula torácica e medula lombar); b) dependendo da história: esporádica (forma clássica), familiar e do Pacífico Oeste. Quanto à subclassificação pode-se considerar como definida/típica (NMI + NMS em 3 ou mais regiões), provável (NMI + NMS em 2 regiões), possível (NMI + NMS em 1 região ou NMS em 2 ou 3 regiões) ou suspeita (MNS em mais de 1 região ou NMI em pelo menos 2 regiões). A forma esporádica isto é, quando não ocorrem outros casos na família, é a mais comum, acometendo cerca de 90% dos casos no mundo. Verifica-se que o sexo masculino é mais acometido que o feminino em uma proporção de 1,5:1 a 2:1 e os brancos são mais afetados que os negros, instalando-se normalmente após os quarenta anos. O óbito ocorre geralmente em torno de 2 a 5 anos após o início da doença. Segundo Scanlan 2000, 80% dos pacientes morrem em 5 anos de doença. Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 58 A incidência mundial está em torno de 1 a 3 por 100.000 habitantes enquanto que a prevalência é de 4 a 6 por 100.000 habitantes. Estima-se que a incidência no Brasil é de 1,5 casos/100.000 pessoas, ou seja, 2.500 pacientes/ano. A fadiga ou a perda de resistência a exercícios é a queixa mais comum entre os pacientes com ELA. Em pelo menos 70% dos casos a fraqueza muscular inicia nos membros superiores pela região dos dedos, mãos, antebraço e braço, respectivamente. Progredindo, posteriormente, para a musculatura da garganta, tronco e membros inferiores, nestes, ela geralmente afeta os dorsiflexores antes dos flexores plantares, resultando na queda progressiva do pé. Sua evolução causa debilidade e atrofia progressiva da musculatura respiratória e dos membros, espasticidade, transtornos do sono, estresse psico-social e sintomas de origem bulbar como disartria e disfagia, podendo resultar em morte ou ventilação mecânica permanente, conservando na maioria das vezes sua capacidade intelectual. Sabe-se, porém, que a progressão da doença pode variar consideravelmente entre os pacientes. O tratamento por meio de uma equipe multidisciplinar torna-se necessário para auxiliar paciente e família na luta diária contra as múltiplas perdas proporcionadas pela doença, entre elas fala, deglutição, respiração, movimentação e realização das atividades de vida diária (AVD´s). A depressão, raiva, negação, hostilidade, desesperança, incertezas são características presentes na vida destes pacientes; portanto, os diversos profissionais devem avaliá-los em cada estágio, direcionando seu tratamento para suprir a necessidade atual do paciente/familiar. A fisioterapia motora e respiratória deve ter inicio desde os estágios iniciais da doença, a fim de reduzir os índices de quedas, as contraturas, as dores articulares, os efeitos da imobilização e os problemas respiratórios, além de prevenir a atrofia por desuso e os danos por excesso de uso, possibilitando a função motora e maior independência nas atividades de vida diárias. Apesar de todas as controvérsias quanto à correta intervenção fisioterapêutica, indicase a realização de exercícios de alongamentos globais, exercícios leves de intensidade submáxima nos grupos musculares sem fraqueza intensa, além de terapias manuais, Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 59 facilitação neuromuscular proprioceptiva, estimulação elétrica transcutânea – TENS e técnicas de relaxamento. Nas fases mais avançadas da doença, a prevenção das complicações respiratórias e a avaliação da necessidade da ventilação mecânica são os focos principais do tratamento da ELA. Desta forma, por ser uma doença degenerativa de evolução progressiva, incurável, para qual, até o momento, só estão disponíveis tratamentos paliativos e/ou que retardem o processo da perda funcional, faz-se necessária a disponibilização de recursos de apoios financeiros, informativos, humanos e material a fim de minimizar o sofrimento, melhorando e ampliando a qualidade de vida. Os recursos informativos contêm explicações sobre a doença, os diretos do paciente com ELA e orientações gerais sobre cuidados. Dentre os recursos humanos estão os profissionais da área da saúde que podem auxiliar aliviando os sintomas tais como: assistentes sociais, neurologistas, enfermeiros, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, nutricionistas, psicólogos, terapeutas ocupacionais. O recurso material é diretamente relacionado com as necessidades e limitações impostas pela doença, como, por exemplo, camas hospitalares, sondas, fraldas descartáveis, cadeiras de rodas e de banho, colchão caixa-de-ovo, gastrostomia-endoscóspica percutânea, medicação, entre outros. A ABRELA – Associação Brasileira de Esclerose Lateral Amiotrófica, fundada em 1998, iniciou seu atendimento nas dependências do ambulatório de Neuromuscular da UNIFESP/EPM/HSP, a partir de 1999. É uma entidade sem fins lucrativos, com a missão de “promover uma melhor qualidade de vida aos pacientes com ELA, por meio de informação, orientação e apoio social ao paciente e familiar, bem como divulgar informações à sociedade e aos profissionais interessados na doença e em seu tratamento”. A ABRELA oferece orientação aos cadastrados por telefone, fax, e-mail e site; disponibiliza material informativo impresso aos pacientes, familiares e interessados; oferece empréstimo de material durável e doação de material não durável; realiza reuniões bimestrais sobre assuntos de interesse direto dos pacientes e familiares, inclusive com novidades em pesquisa e tratamento. Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 60 Outras associações mundiais foram criadas com intuito de promover uma consciência mundial da ELA, tendo como objetivo: favorecer intercâmbios de informações; investir e estimular a formação de novas associações; investigar novos tratamentos; dar suporte por meio de redes de apoio e melhorar a qualidade de vida dos pacientes, entre elas está a Aliança Internacional das Associações de ELA, fundada em 1992. A Associação Espanhola de Esclerose Lateral Amiotrófica – ADELA, além de desenvolver projetos com atendimento domiciliar de profissionais fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais, auxilia na criação e manutenção de instituições como a Associação Peruana de ELA (APELA) e da Associação de ELA no Chile (ADELAICH). Este estudo visou caracterizar em um grupo de pacientes atendidos pela ABRELA se as informações dadas permitem acesso aos recursos disponíveis (informativos, humanos, de suporte e material). Ainda, se as expectativas atenderam as necessidades dos pacientes; além de verificar se há diferença de acesso aos recursos entre São Paulo e outros Estados. Dentre os pacientes cadastrados na ABRELA 30 foram selecionados sendo 15 do Estado de São Paulo e 15 dos demais estados brasileiros, obedecendo aos seguintes critérios: • Inclusão: diagnóstico de ELA segundo os critérios de El Escorial World Federation of Neurology e ter o diagnóstico confirmatório há pelo menos 1 ano. • Exclusão: pacientes com a forma paralisia bulbar progressiva. A avaliação foi realizada por meio de questionário semi-estruturado contento perguntas de identificação pessoal do paciente (sexo, idade, estado civil e estado onde reside); questões sobre a doença (tempo de diagnóstico, quem são os cuidadores, se conhecia a doença antes de receber o diagnóstico, se ao ser diagnosticado recebeu orientações esclarecedoras sobre a doença, qual era a expectativa ao ser indicado para a ABRELA, se a expectativa foi atendida, qual expectativa não foi atendida e se a associação proporcionou alguma mudança em sua vida e qual) e, questões pertinentes ao acesso a recursos (se possui algum suporte da comunidade e qual, quais assistências terapêuticas têm acesso, qual das assistências existentes considera a mais importante e qual a menos importante, se existe alguma assistência terapêutica que não tem acesso e gostaria de ter e qual recurso material a que tem acesso). O questionário foi aplicado por telefone pelos pesquisadores responsáveis, diretamente com o paciente ou com cuidador/familiar responsável. Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 61 Os entrevistados receberam por correio um termo de consentimento livre esclarecido de acordo com as normas do comitê de ética da UNIFESP/EPM. As questões relacionadas ao acesso aos recursos terapêuticos e material foram ainda avaliadas sob o ponto de vista da localização do paciente. Confrontando-se, assim, os dados obtidos dos pacientes do estado de São Paulo, onde se localiza a ABRELA com os dos pacientes do restante do país. A maioria dos entrevistados (86,7%) não conhecia a doença antes de receber o diagnóstico. As orientações no momento do diagnóstico foram esclarecedoras em 56,7% dos casos. Quando questionados quais as expectativas em relação a ABRELA, as respostas mais citadas foram o conhecimento sobre a doença por meio de informações e orientações (30,2%) e a busca de informações de tratamento e profissionais (26,4%); seguidos pelo recebimento de medicamentos (9,4%); colaboração com a associação e conhecer outros pacientes (7,6%); ajuda por meio de apoio, carinho, dedicação e atenção (7,6%); melhora da qualidade de vida (5,7%); participação de congressos (3,7%) e confirmação de diagnóstico (3,7%). Entretanto, 5,7% não relataram expectativas. As expectativas não atingidas foram em sua maioria referentes ao acesso a ABRELA (comunicação paciente/associação, sede regional) com 50%; seguido das novidades de tratamento com 25%. Outras necessidades citadas foram auxílio ao transporte para tratamento, orientação sobre a doença e tratamento com células-tronco, com 8,3% cada. A grande maioria (73,3%) relatou que a ABRELA proporcionou alguma mudança em suas vidas, destacando-se: orientações sobre os cuidados com os doentes (30%); informações gerais sobre a doença (20%); melhor forma de enxergar a doença e conviver com a mesma, com apoio e esperança (16,7%); disponibilização de recurso material (13,3%); informações sobre pesquisas científicas e tratamentos (6,7%); possibilidade de conhecer outros pacientes (6,7%) e possibilidade de contribuir com a associação (3,3%). Não souberam responder a questão 3,3%. O auxilio de outras instituições e da comunidade esteve presente em 80% dos casos. Em relação à assistência terapêutica mais importante, 26,3% responderam ser a fisioterapia neurológica e 21,1% responderam que todas as assistências são importantes. Seguidos de fisioterapia respiratória (18,4%); fonoaudiologia (7,9%); outras assistências como acupuntura, hidroterapia e psiquiatria (7,9%); nutrição (5,3%) e tratamento medicamento/médico (5,3%). Uma pessoa não soube responder. Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 62 Ao questionarmos qual a assistência menos importante, 71,4% responderam que todas são importantes, 17,9% não souberam responder, 7,1% responderam fonoaudiologia e 3,6%, fisioterapia neurológica.Dos entrevistados, 76,7% relataram que gostariam de ter acesso a assistências terapêuticas que não possuem no momento, enquanto 20% encontravam-se satisfeitos com as assistências atuais e 3,3% não souberam responder. Dentre os entrevistados, 55,6% relataram ter suas expectativas atingidas. Dentre os 44,4% que não tiveram as expectativas atingidas, 75% residiam fora do estado de SP. Referências Bibliográficas 1.Zanoteli E, Perez ABA, Oliveira ASB, Gabbai AA. Biologia molecular nas doenças do neurônio motor. Rev Neurociências 2004;12:1-8. 2.Cassemiro CR, Arce CG. Comunicação visual por computador na esclerose lateral amiotrófica. Arq Bras Oftalmol 2004;67(2):1-12. 3.Delisa JA, Bruce MG. 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Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 65 Fisioterapia Amiotrófica Motora na Esclerose Lateral Physical Therapy in Amyotrophic Lateral Sclerosis Martina Araújo Durán Fisioterapeuta, Escola Paulista de Medicina / Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP A Esclerose Lateral Amiotrófica caracteriza-se por uma doença degenerativa, que afeta o corno anterior da medula, tronco cerebral e célula de Betz do córtex motor, causando morte no corpo celular do neurônio motor de maneira crônica e rapidamente progressiva com óbito em torno de 03 a 05 anos após o início da sintomatologia.O envolvimento dos neurônios motores superiores leva a espasticidade, clônus e hiperreflexia, enquanto a alteração dos neurônios motores inferiores resulta em fasciculação, atrofia, fraqueza e hiporreflexia. Somando a isso, podem-se presenciar sinais bulbares, incluindo disartria, disfagia, e labilidade emocional. O tratamento destes pacientes exige uma atenção multidisciplinar com múltiplas orientações a fim de contribuir na melhora da qualidade de vida. O tratamento fisioterápico é essencial para o portador de ELA, e a abordagem permeará durante toda a evolução da doença. A conduta é baseada na prevenção e no quadro clínico atual do paciente.E, apesar do tratamento ser específico e individualizado, é possível estabelecer diretrizes gerais para a reabilitação. O fisioterapeuta busca avaliar e prescrever exercícios para a manutenção da amplitude de movimento, para otimizar a função muscular ainda existente e para prevenir as complicações decorrentes do desuso e da lesão, para a manutenção do tônus muscular, e prevenção de possíveis quadros álgicos e edemas. São propostas duas a três sessões semanais com duração aproximada de 45 minutos realizadas por um profissional, em conjunto com um programa de exercícios diários realizados pelos cuidadores.São indicados exercícios de moderada para baixa resistência onde a prescrição é feita de acordo com o quadro apresentado pelo paciente determinando intensidade, duração e repetições apropriada para cada situação, buscando evitar quadros de fadiga e dor, mobilização passiva das articulações, técnicas Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 66 neuromusculares proprioceptivas de facilitação e de relaxamento muscular, exercícios de equilíbrio postural e dinâmico, alongamentos e massagem. Devido ao quadro de rápida evolução e conseqüente perda de funcionabilidade, o terapeuta tem que dispor de recursos auxiliares para a reabilitação e melhora das atividades de vida diária.A prescrição de órteses e equipamentos como: tornozeleira antieqüino, talas, andadores, bengalas e muletas podem ser indicadas como estratégias para otimizar a deambulação. É indicado colar cervical macio para a fase inicial de fraqueza muscular de pescoço e, posteriormente, o semi-rígido para os casos de “drop head”. Também a utilização de talas e goteiras para prevenção da instalação de possíveis retrações ou deformidades em membros superiores ou inferiores, assim como de colchões e almofadas adequadas para prevenção de úlceras de decúbito e finalmente em conjunto com a equipe da Terapia Ocupacional a indicação de cadeira de roda adaptada prescrita em uma fase anterior à perda de marcha, como um recurso de conservação de energia. É papel também do fisioterapeuta monitorar as habilidades funcionais dos pacientes, determinar modos eficientes e efetivos para realizar suas atividades de vida diárias, explicar a mecânica corporal com o intuito de facilitar as trocas posturais, ensinar as técnicas de transferências para o paciente e cuidadores, avaliar o domicílio e solicitar mudanças no ambiente com intuito de proporcionar ao paciente maior liberdade de movimentos seguros. Independente do momento que se encontra o tratamento abrir um diálogo sincero e objetivo com o paciente e familiares,aliar-se a eles para poder proporcionar o melhor atendimento, ensinar e esclarecer dúvidas são atos que, além de trazer benefícios reais ao tratamento, aumentam a confiança e o respeito da família pelo fisioterapeuta, pois demonstram não só o profissionalismo mas também humanidade e solidariedade para com eles. Tratamento Hidroterápico na ELA É indiscutível a sensação de bem estar que a água provoca às pessoas em geral. Desde a nossa origem no útero materno, até o simples prazer de um banho. Atualmente a hidroterapia tem sido bastante prestigiada, especialmente na reabilitação de pacientes portadores de doenças neurológicas através de métodos mais modernos como Bad Ragaz , Halliwick e Watsu. Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 67 A hidroterapia é uma forma de terapia realizada em piscina aquecida, com a temperatura oscilando de 32 a 34 °C. A piscina terapêutica tem de ser adaptada com rampas, escadas, corrimões com profundidades diferentes, assim como uma boa acessibilidade para os pacientes portadores de deficiências físicas. A água nos proporciona efeitos físicos que nos favorecem em vários aspectos: a flutuação nos auxilia a dar uma maior amplitude de movimentos, o empuxo nos proporciona menor resistência aos movimentos, a pressão hidrostática por igual em todas as partes do corpo auxilia a sustentação do mesmo em diversas posições, assim como o calor nos proporciona efeitos fisiológicos favoráveis aos nossos objetivos. Na ELA o hidroterapeuta tem que trabalhar em conjunto com o médico e a equipe da fisioterapia respiratória para monitoração da capacidade vital dos pacientes (acima de 50% de perda da capacidade vital do paciente é contra-indicada a hidroterapia devido à pressão hidrostática ocasionada na caixa torácica causando desconforto respiratório). Além das facilidades relacionadas acima para o tratamento da ELA, a água nos fornece outros benefícios tais como: 1) Efeitos terapêuticos: alívio da dor, relaxamento, manutenção e aumento das amplitudes de movimentos, manutenção muscular, melhora das condições funcionais da marcha, estímulos de movimentos não realizados fora da água, estímulo do equilíbrio. 2) Efeitos psicológicos: sucesso e senso de realização, liberdade de movimentos, desenvolvimento da independência, sensação de bem-estar, oportunidade de extravasamento emocional e criativo, sociabilização e recreação. O tempo de duração de uma sessão é de aproximadamente 45 min. com freqüência de 2 vezes semanais. A terapia se divide em três fases: aquecimento, exercícios específicos e relaxamento. O tratamento consiste em exercícios ativos, ativos-assistidos e passivos com baixas repetições, mobilização das articulações, exercícios de alongamento, massagens e exercícios para relaxamento. Os cuidados e precauções que o hidroterapeuta deve ter são: avaliação médica e respiratória prévia à adaptação do paciente ao meio líquido, temperaturas da água e ambiente adequados e contra-indicação para pacientes com doenças dermatológicas e distúrbios cardiovasculares. O fisioterapeuta tem que acreditar nos benefícios causados pelos exercícios, mas não descartar a possibilidade da fraqueza e degeneração das fibras musculares serem Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 68 aceleradas por excesso de exercícios e cargas. Estar sempre atento a sinais de fadiga muscular, moldando sua terapia tentando evitá-la. Referências Bibliográficas 1.ALS SOCIETY OF CANADA. Resources for ALS Healthcare Providers. 1st ed. Canada:ALS Society of Canada, 1994. 2.Bates A, Hanson N. Exercícios Aquáticos Terapêuticos. 1ed. São Paulo: Manole, 1998. 3.Borasio G, Miller R. Clinical Characteristics and Management of ALS. Sem Neurol 2001; 21(2): 155-166. 4.Campion MR. Hidroterapia princípios e prática. 1ed. São Paulo: Manole, 2000. 5.Campion MR. Hydrotherapy in Pediatrics. Oxford: Heinemann Medical Books, 1985. 6.Campion MR. Adult Hydrotherapy: a practical approach. Oxford: Heinemann medical Books, 1990. 7.Caromano FA, Themudo MR, Candeloro JM. Efeitos fisiológicos da imersão e do exercício na água. Fisioter Bras 2003; 4(1): 60-65. 8.Chan & Sinaki. Rabilitation Management of ALS Patient. In Belsh JM, Schiffman PL. Amiotrophic Lateral Sclerosis, Diagnosis and Management for the clinican. Futura Publishing Company,Inc.,1996. 9.Haas VD, Kloss AD, Mitsumoto II. Physical Therapy for a Patient Through Six Stages of Amyotrophic Lateral Sclerosis. Phys Ther 1998,78(12)1312-1324. 10.Drory VE, Goltsman E, Reznik JG, Mosek A, Korczyn AD. The value of muscle exercise in patients with amyotrophic lateral sclerosis. J Neurol Sci 2001; 191:133-137. 11.Johnson CR. Aquatic therapy for an ALS patient. Am J Occup Ther 1988;42(2):115-120. 12.Mendonza M, Rafter E. Functioning when your mobility is affected. 2nd ed, California: ALS Association, 2005. 13.Mitsumoto H, Munsat T. Amyotrophic Lateral Sclerosis: A guide for patients and families. 2nd ed., New York: Demos, 2001. 14.Mc Carthy J. A manual for people living with ALS. 3rd ed., Toronto: Amyotrophic Lateral Sclerosis Society of Canada, 2005. 15.Norm A, Hanson B. Exercícios Aquáticos Terapêuticos. São Paulo: Manole, 1998. 16.Oliveira ASB, Gabbai AA. Doenças Neuromusculares. In: Prado FC. Atualização Terarapêutica. São Paulo: Art. Médicas, 2001. 17.Stokes M. Neurologia para Fisioterapeutas. 1º ed, São Paulo: Premier, 2000. 18.Sinaki & Mulder. Reabilitation in Amyotrophic Lateral Sclerosis. V.53. Mayo Clinic Proceding,1978. Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 69 19.Williams D, Windebank A. Motor Neuron Disease (Amyotrophic Lateral Sclerosis). In: Mayo Clinic Proc 1991; 66:54-82. Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 70 Uso da Tecnologia para pacientes com esclerose lateral amiotrófica. Assistive Technology for patients with amyotrophic lateral sclerosis Adriana Nathalie Klein Terapeuta ocupacional, Especialista em Reumatologia e Doenças Neuromusculares pela UNIFESP Nas primeiras manifestações da Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), os pacientes poderão apresentar pequenas dificuldades em simples atividades cotidianas, como, por exemplo, abotoar uma blusa, virar uma chave na porta, utilizar uma faca para cortar alimentos entre outros, até progressivamente perder a capacidade de exercer cuidados pessoais, como higiene, vestuário e alimentação. Entre os profissionais envolvidos com a reabilitação dos pacientes com ELA, está o terapeuta ocupacional, que por meio de uma avaliação da capacidade funcional dos membros superiores (MMSS) e do levantamento das principais dificuldades nas atividades de vida diária (AVD’s) e de vida prática (AVP’s) que este virá apresentar, poderá fazer uso de recursos de tecnologia assistiva. A tecnologia assistiva tem sido cada vez mais utilizada na reabilitação, no entanto trata-se de recursos (órteses, adaptações e sistema de adequação postural em cadeiras de rodas, entre outros) que exigem um alto custo financeiro, e ainda é restrita a uma pequena parcela da população. No Brasil acaba-se utilizando diversos tipos de materiais alternativos e com menor custo como, por exemplo, conduites de construção civil para substituir os onerosos adaptadores de talheres. Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 71 O terapeuta ocupacional deve propor uma ampla intervenção, partindo de simples orientações de técnicas de conservação de energia, para evitar a fadiga desnecessária em atividades do dia-a-dia, a indicação de dispositivos de adaptação para maximizar a função em determinadas tarefas, a confecção de órteses de membros superiores com a finalidade de potencializar certos movimentos e também prevenir/amenizar as deformidades das mãos e a prescrição adequada de um sistema de adequação postural em cadeira de rodas para amenizar o desequilíbrio muscular de tronco e pescoço. Referências Bibliográficas 1. Bello-Hass VD, Kloos AD, Mitsumoto H. Phisical therapy for a patient througt six stages of amyitrophic lateral sclerosis. Phis ther 1998,78: 1312-14. 2. Levy AJ, Oliveira AS. Reabilitação em doenças neurológicas – Guia terapêutico prático. São Paulo: Atheneu, 2003. 3. Lianza S. Medicina de reabilitação. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1989. 4. Miller RG, Sufit R. New approaches to the treatment of ALS. Neurology 1997; 41/48: S28-S32. 5. Sinaki M, Murder D W. Reabilitation techniques for patients with ALS. Mayo Clin 1978; 53: S173-178. 6. Teixeira E, Sauron F, Santos L, Oliveira M. Terapia ocupacional na reabilitação física. São Paulo: Roca, 2003. 7. Weber M, Eisen A, Stewart H, Horota N. The split hand in ALS has a cortical basis. J Neurol Sci 2000; 180:66-70. 8. Willard & Spackman. Terapia Ocupacional. 9o edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002. 9. ABRELA – Associação Brasileira de Esclerose [email protected] , site www.abrela.com.br Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. Lateral Amiotrófica - e-mail: 72 Suplementação nutricional em pacientes com doença do neurônio motor/ esclerose lateral amiotrófica Nutritional supplements in patients with motor neurone disease/ amyotrophic lateral sclerosis Patrícia Stanich Nutricionista - Mestre em Neurologia/Neurociências UNIFESP A prevenção de complicações secundárias, como a deficiência nutricional e a desidratação, decorrentes da evolução da doença, requer cuidados especiais e uma avaliação precisa da capacidade funcional do sistema estomatognático. O ato de alimentar-se, além de proporcionar prazer ao ser humano, traz consigo a tarefa de suprir algumas necessidades fundamentais ao organismo, dentre elas a aquisição de substratos energéticos para manter os processos fisiológicos. O gasto energético basal (GEB) associado aos fatores térmicos da atividade física e dos alimentos determina o gasto energético necessário nas 24 horas para suprir as necessidades nutricionais individuais. A manutenção do peso corporal dentro dos padrões de normalidade tem-se constituído em busca constante. Tal comportamento justifica-se pela clara relação entre o peso corporal e a doença. É possível compreender o peso corporal como o resultado da relação entre a ingestão de energia e o gasto energético, caracterizando o balanço energético em: negativo (perda ponderal), positivo (ganho ponderal) ou neutro (manutenção do peso corporal)1. A utilização de um parâmetro nutricional isolado pode não caracterizar a condição real do paciente, sendo necessários a associação de vários indicadores para melhor precisão e acurácia do diagnóstico nutricional. A avaliação do estado nutricional, além de permitir a identificação de distúrbios nutricionais, cria a possibilidade de intervenção adequada, de forma a auxiliar na recuperação e/ou manutenção do indivíduo. Até o presente momento, são limitadas as informações sobre o papel da alimentação na etiologia, seu efeito protetor e progressão da ELA. Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 73 Dos poucos estudos realizados, podemos citar o trabalho de Nelson et al2. O objetivo do estudo foi avaliar a alimentação dos pacientes com ELA e sua possível relação com o desenvolvimento da doença. Eles analisaram a ingestão total de calorias, macronutrientes – proteínas, lipídes e carboidratos –, com ênfase em alguns aminoácidos, micronutrientes (Vitaminas A, C e E, zinco e cobre) e fibras alimentares. Os resultados demonstraram diferença significativa apenas para o total de gordura, fibras solúveis e glutamato ingeridos. Para a ingestão de gordura, dados semelhantes foram encontrados em outra doença neurodegenerativa (Doença de Parkinson). Quanto à ingestão de fibras solúveis, as relações ainda são desconhecidas. Porém, os resultados encontrados quanto à ingestão de glutamato só vêm reforçar a existência de estreita relação entre a ingestão alimentar e o efeito excitatório desse aminoácido na ELA, conforme achados de estudos anteriores. Em relação ao metabolismo de carboidratos na ELA, alguns estudos sugerem a presença de intolerância à glicose e diminuição nos valores de insulina. A alteração na taxa de glicose é inversamente proporcional à gravidade da doença; sugerindo que o antagonismo da insulina não é a primeira anormalidade da ELA, mas pode estar relacionado à inatividade física presente nas doenças progressivas3. Não é incomum observarmos elevação abrupta dos valores séricos de lipídeos. Observamos a presença de hipercolesterolemia em alguns pacientes nos estágios iniciais da doença, e hipertrigliceridemia em vários pacientes terminais. A respeito do metabolismo de proteínas, estudos observaram alteração na absorção e nos níveis séricos de arginina, enquanto outros sugerem elevação sérica de outros aminoácidos na ELA, entre eles tirosina, lisina e leucina4. Algumas outras alterações bioquímicas se fazem presentes na ELA, assim como em outras doenças neuromusculares, alterações essas que resultam em destruição muscular .Dentre elas, observamos alterações nos valores séricos de creatina, refletindo diretamente sobre a síntese protéica e na excreção de creatina, enxofre, potássio, magnésio e zinco. Vários fatores determinam diminuição da ingestão alimentar na ELA. Dentre elas: inapetência, disfagia, fraqueza, dispnéia e depressão2,4,5. Dos comprometimentos bulbares da ELA, a disfagia é o sintoma mais comum, apresentando-se em 10% dos casos como o primeiro sintoma da doença. Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 74 O reconhecimento clínico da disfagia orofaríngea da ELA nem sempre é correlacionado com a diminuição da ingestão alimentar. Em estudo realizado por Karsarskis & Neville, em 1996, foi observada diminuição da ingestão alimentar em pacientes com ELA, porém sem a concomitância da diminuição da ingestão protéica e de micronutrientes. Vale ressaltar que a diminuição da ingestão alimentar não ocorre somente nos estágios terminais da doença, podendo ser um sinal clínico da ELA. A perda de peso corpóreo, associado às alterações bulbares (disfagia e respiração), demonstra a necessidade de cuidado nutricional precoce e específico a cada estadio da doença6. A perda de 10% do peso corpóreo total é um bom indicador de risco nutricional4. A progressiva atrofia muscular pode mascarar o aumento da demanda metabólica, característica essa das doenças progressivas. Uma vez que as energias estão canalizadas para a manutenção da ventilação pulmonar, justifica-se o aumento do gasto energético basal dos pacientes com ELA5,7. Slowie4 et al, concluiram em seu estudo que o suporte nutricional pode retardar a perda de peso e a atrofia muscular. O suporte nutricional compreende a precoce detecção da diminuição da ingestão alimentar, principalmente em quilocalorias, a modificação da consistência da dieta e a indicação precoce de via alternativa de alimentação. As vias alternativas de alimentação para os pacientes com ELA incluem sondas ou ostomias (gastrostomia ou jejunostomia). MazziniI et al.8, comparando a utilização de nutrição enteral via sonda nasogástrica e gastrostomia endoscópica percutânea (PEG) em pacientes com ELA, observaram diferença significativa no índice de massa corpórea (IMC) dos pacientes com PEG em relação aos com sonda nasogástrica, além da melhor aceitação social e, conseqüentemente, da qualidade de vida dos pacientes estudados. Complementando o estudo de Mazzini et al., em 1995, outros estudos relatam as necessidades mínimas para a indicação com sucesso da PEG. A capacidade vital em torno de 50% do predito seria uma delas. Na presença de valores inferiores a esse, existem riscos de hipóxia durante o procedimento9. A PEG representa uma opção no tratamento sintomático do paciente com ELA, proporcionando nutrição adequada, estabilização da perda de peso e uma alternativa para a administração de medicamentos. Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 75 Na vigência de alimentação por via oral, em estudo realizado por Karsarskis & Neville5, foi observada diminuição da composição corpórea (massa magra e gorda), força muscular e balanço nitrogenado, e aumento do gasto energético basal em doentes com ELA na fase terminal. A média de ingestão alimentar variou entre 84 e 126% em relação às recomendações dietéticas, demonstrando que esses pacientes apresentam ingestão calóricoproteica abaixo do recomendado. Esse fato, associado ao aumento da demanda metabólica, sugerem necessidade de suplementação nutricional nos pacientes com ELA. Estudando o estado nutricional com um fator prognóstico de sobrevida em pacientes com ELA, Desport et al.7, observaram desnutrição com piora da sobrevida em 16,4 % dos 55 pacientes estudados, sugerindo que a vigilância nutricional deve fazer parte do tratamento dos pacientes com ELA. Diante das evidências citadas, como ingestão calórico-proteica inadequada e aumento da demanda metabólica, é possível que a suplementação nutricional possa trazer benefícios sobre a desnutrição em pacientes com ELA. Referências Bibliográficas 1.ADA’s . Definitions for nutrition scienning and nutrition assessment. J Am Diet Assoc 1994 ; 94 (8): 838-839. 2.Nelson LM, Matkin C, Longstreth WT, Mcguire V. Population - based case - control study of amyotrophic lateral sclerosis in Western Washington State. Am J Epidemiol 2000;151(2):164-173. 3.Hubbard RW, Will AD , Peterson MD, Sanchez A, Gillan WW, Tan SA. Elevated plasma glucacon in amyotrophic lateral sclerosis. Neurology 1992;42:1532-1534. 4.Slowie LA, Paige MS, Antel JP. Nutritional Considerations in the management of patients with ALS amyotrophic lateral sclerosis. J Am Diet Assoc 1983;83(1):44-47. 5.Karsarskis EJ, Neville HE. Management of ALS. Neurology 1996;47(2 Suppl):S118-S120. 6.Kasarskis EJ, Berryman S, Vanderleest JG, Schneider AR, McClain CJ. Nutritional status of patients with amyotrophic lateral sclerosis: relation to the proximith of death. Am J Clin Nutr 1996;63(1):130137. 7.Desport JC, Preux PM, Truong TC, Vallat JM, Sautereau D, Couratier P. Nutrition status is a prognostic factor fou survival in ALS patients. 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Verde Vida Saúde atua na sala de espera do ambulatório do setor de investigações de doenças neuromusculares - Escola Paulista de Medicina, com atividades recreativas, lúdicas e de autoconhecimento, tornando o tempo ocioso de pacientes e cuidadores em uma reflexão à vida. Acreditando que para promover a saúde integral, é necessário um conjunto de situações que contribuem diretamente e indiretamente no processo de recuperação de pacientes, que por um momento de sua vida encontra se doentes. Com esta visão foram incorporadas algumas das ações na rotina do ambulatório através de ações de voluntários e alunos de especialização junto a pacientes e na recepção do setor a exemplo: Ikebana, medicina tradicional chinesa, atividades nos parques públicos, esporte adaptado, arte terapia e cão terapêutico. O setor de doenças neuromusculares tem por perfil um total de 37 (trinta e sete) ambulatórios, sendo que dividido em: 16 (dezesseis) ambulatórios de médicos; 19 (dezenove) equipes multidisciplinares (fisioterapeutas, nutricionistas, fonodiologos, terapeuta ocupacional, enfermeiros, educadores físicos e psicólogos); 02 procedimentos (biopsia muscular e pulsoterapia). O fluxo de pacientes atendido por ano: Em 2003 foram atendidos pelo setor 8.079; Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 77 Em 2004 foram atendidos pelo setor 8.216; Em 2005 foram atendidos pelo setor 12.000. Estima-se que em 2006 este número chegue à casa de 12.500 pacientes anos, ou seja, em média um fluxo de aproximadamente 300 pacientes por semana. Dentre os procedimentos realizado pelo setor, os processo de alto custo representa 80% das tarefas realizadas, sendo que antes do envolvimento dos voluntários e alunos de especialização do Verde Vida Saúde, os mesmo procedimentos sofriam com questão burocráticas, levando muitas vezes ao cuidador, representante da família retornar até 03 vezes no setor para conseguir um determinado procedimento, e, destes 80% não se concluía sua totalidade, após implantação de ações de qualidade total este percentual chegou a quase 100%, sendo que os implicativos foram cadastros incompleto e perda de informações (documentos) de pacientes. Atualmente este procedimento se da com uma única ida ao setor e, o tempo de espera que era de 15 minutos/pacientes passou para 05 minutos /pacientes. Estas ações implicaram em muito na melhora do atendimento no setor, facilitando ao cuidador a possibilidade de evitar os gastos financeiros decorrente das varias investida para que determinada ação pudesse ser concluída, permitindo um tempo a mais com o ente querido que se encontre em momento de aflição e a questão da dispensa dos serviços para tal fim. Isto resultou em qualidade total, e acima de tudo, mesmo com todas as dificuldades que qualquer repartição de saúde pública. O paciente, cuidador e familiar sentiu se respeitado pelo setor, sentindo valer se seu direito de cidadão. Objetivos alcançados: 1. Economia financeira; 2. Atitude de afetividade na abordagem do paciente, cuidador e familiar; 3. Melhora no convívio social dentro do setor; 4. Respeito pelo paciente, cuidador e familiar; 5. Saúde integral. Além da questão da gestão na abordagem dos pacientes no momento da recepção, se tratando da questão administrativa, foram realizadas atividades na sala de espera a fim de Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 78 ocupar o tempo ocioso dos pacientes durante a espera de atendimento médico ou da equipe multidisciplinar através de atividades lúdico/terapêutica e de autoconhecimento, através de 03 oficinas: Ócio Gostoso Através de atividades como jogos, arte terapia, arranjos de ikebana, dobradura, pintura, música; associando conceito da filosofia oriental, proporcionando ao paciente/cuidador uma reflexão à vida e um introspecção a si mesmo. Corpo Mole Através de atividades de exercícios físicos, automassagem e meditação, proporcionando ao paciente/cuidador momentos de relaxamento e consciência corporal, com conceitos simples e de aplicabilidade para o quotidiano, despertando possibilidades de ver de forma nova a situações do dia-dia. Cultura Inútil Através de atividades de leitura, conto de estórias, bate papo e dinâmicas de grupo, promovendo a interação de paciente, cuidadores e equipe profissional, valorizando as relações humanas, tornando assim a sala em um ambiente agradável e descontraído. O objetivo destas ações é de promover uma qualidade no atendimento, a qual se traduz pelo respeito pelo paciente, oferecer atividades de autoconhecimento que possibilite ao paciente, cuidador, familiar e equipe de saúde a promover a cultura da saúde. Tornar o ambiente hospitalar em um local de alegria e mais humano. Estas ações foram possível através de capacitações das equipes envolvidas através de cursos de empreededorismo, qualidade de vida, medicina tradicional chinesa aplicada à sala de espera e gestão em sala de espera. Referências Bibliográficas 1.Almeida F. Como Ser Um Empreendedor de Sucesso. Belo Horizontr: Editora Leitura, 2001. 2.Anderson NB. Longevidade Emocional. 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Para isso é essencial a difusão de informações, fazendo-se necessário um constante “movimento” em relação aos hábitos e costumes. A abordagem de cada paciente é global, envolvendo corpo, mente, espírito, e ambiente. Filosofia Baseada no budismo, taoísmo, e confucionismo, que são os pilares filosóficos da MTC. As doenças são apenas caminhos onde o objetivo é a TRANSFORMAÇÃO PESSOAL. Atualmente existe ênfase em pesquisas ligadas ao mecanismo de ação da acupuntura, meditação e práticas físicas. A modernização de equipamentos utilizados em diagnóstico permitiu o entendimento parcial das técnicas, o que possibilitou a inclusão da acupuntura como especialidade médica em 1999. Desde então, muitos métodos foram desenvolvidos no ocidente, e incorporados às técnicas antigas, devido à inovação tecnológica. A associação com a medicina ocidental é vista como sendo o ideal, possibilitando que os profissionais tenham uma visão mais abrangente, e com maior número de ferramentas visando a saúde integral do indivíduo. Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 81 Mecanismo neuroimunohumoral Atualmente a ação da acupuntura é explicada por mecanismo neuroimunohumoral. As demais técnicas da MTC possivelmente atuam da mesma forma, mas ainda estão em estudo. Estruturação Particular O homem é visto tendo três componentes básicos: Energia ( Chi) Matéria (Jin) Mente (Shen) A terapêutica pode ser feita através da atuação em qualquer um deles, isoladamente ou em associação. As técnicas da MTC são: acupuntura, dietoterapia, fitoterapia, meditação, exercícios físicos, e toque, sendo que as três últimas (grifadas) são as utilizadas na sala de espera. Fisiopatologia Alterações da fisiologia podem ter causas internas, externas e “mistas”(nomenclatura utilizada pelas escolas de MTC no Brasil). Causas internas são emoções: raiva, mágoa, tristeza, preocupação, alegria. Causas externas são fatores climáticos, variações de temperatura, vírus, e bactérias. Causas “mistas”são traumatismos, picaduras, envenenamento, alimentação. Cada indivíduo apresenta uma predisposição peculiar, seja por fatores familiares, temperamento, ambiente, astrológicos, espirituais, etc. Nada é definitivo ou impossível. A DOENÇA significa que MUDANÇAS SÃO NECESSÁRIAS. Como ela é encarada como um processo, não como fato isolado, é essencial que o indivíduo modifique alguns hábitos e costumes que possam ter contribuído para o adoecimento. IMPORTANTE: a associação de técnicas é vista como benéfica porque o tratamento não deve ser isolado. Ele deve ser incorporado em vários aspectos da vida cotidiana para que novas rotas físicas e mentais sejam formadas para romper o processo de adoecimento. Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 82 Aplicação de técnicas da MTC na sala de espera A atividade desenvolvida na sala de espera foi resultado de um processo, que incluiu a preparação de alunos através de cursos de extensão e especialização. Esses cursos tiveram início em 2004, e passaram pelas seguintes fases: adaptação dos profissionais e alunos: todos eram de áreas profissionais diferentes, e traziam conhecimentos diversos para serem adaptados à sala de espera. adaptadação ao público alvo, e à sala de espera. Os profissionais envolvidos não tinham experiência com atuação nesse ambiente, principalmente levando em consideração o setor, que atende doenças muito especificas, e com necessidades peculiares. as práticas foram escolhidas de acordo com tipo de doença. Dentro da MTC existe uma grande variedade de técnicas, com finalidades especificas. Foi levado em consideração: o tipo de dificuldade física, o tipo de doença, praticidade, e facilidade de execução. as técnicas possibilitam a inclusão do cuidador nas atividades A participação é opcional, sendo feito um CONVITE aos pacientes e cuidadores. A prática é realizada no ambulatório de MTC. Dificuldades: Tempo – nem sempre o tempo de espera é suficiente. Por isso enfatizamos atividades mais rápidas. Conscientização dos pacientes e cuidadores – a “prática consciente” deve ser estimulada, baseada no princípio zen do autoconhecimento, e do aqui e agora. É a base do pensamento corpo, mente, espírito integrados. A prática deve ser regular. Atividades esporádicas propiciam bem estar, mas o efeito é fugaz. Atividades desenvolvidas: 1. Meditação Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 83 Características: Aplicada em grupos que aguardavam a aplicação de acupuntura e seus cuidadores Benefícios comprovados pela medicina, mas NÃO ESPECIFICAMENTE PARA ELA Sem contra indicações. Fácil execução. Pode ser feita em posição sentada, deitada, de pé (andando) Várias técnicas são utilizadas. No setor optamos pelo “Sorriso interno” 2. Toque Características: Feita com uma leve pressão com intuito de circular energia estagnada, sem comprometer a musculatura. Objetivo: estimular circulação geral Propicia uma sensação de bem estar 3. Chi Kung: Características: Nomenclatura usada para exercícios executados em sincronia com respiração Movimentos específicos, mas podem ser adaptados. Na China existem mais de 2 mil tipos para diversas finalidades Objetivo: aumento energético, equilíbrio Estudos científicos em andamento Fácil execução, mas requer treino regular. Assim como a meditação, não funciona se feito esporadicamente Pode ser executado por pacientes e cuidadores. Objetivo das atividades: MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA Concluindo 2 anos de trabalho, pudemos chegar às seguintes conclusões e reflexões: Os métodos oferecem ferramentas para que as pessoas passem a cuidar de si próprias. Embora não validada pela ciência moderna (com exceção da acupuntura), a MTC é consagrada há milhares de anos através das práticas difundidas entre a população dos Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 84 países asiáticos, mais especificamente a CHINA. Observamos que a incidência de ELA na China é 0,3/ 100.000 habitantes. Em relação a outros países, é uma incidência muito baixa. O Japão, Brasil e Estados Unidos da América apresentam a incidência, respectivamente, de 2,5; 1,5; e 1,9/100.000 habitantes. Se os dados divulgados pela China estiverem corretos, podemos pensar que algum fator da região os diferencia do restante do mundo, sendo necessário conhecer, entender, e praticar. Os métodos são simples, rápidos e gratuitos. Pode ser feito por pacientes e cuidadores. Referências Bibliográficas: 1.Anderson NB. Longevidade Emocional. Rio de Janeiro: Editora Best Seller, 2005. 2.Carter R. O Livro de Ouro da Mente. Rio de janeiro: Ediouro, 2003. 3.Cleary T. Meditação Taoísta – Métodos para Cultivar a Saúde da Mente e do Corpo. Brasília: Editora Teosófica, 2000. 4.Dantas EHM. Psicofisiologia. Rio de Janeiro: Sharpe, 2001. 5.Gazzaniga MS. Ciência Psicológica: mente, cérebro e comportamento. Porto Alegre: Artmed, 2005. 6.Gil R. Neuropsicologia. 2ª ed. São Paulo: Santos, 2003. 7.Goswami A. A Física da Alma. São Paulo: Aleph, 2005. 8.Hsing Y. Sutra do Buda da Medicina: Introdução, comentários e preces. Tradução de Luciana Franco Piva. São Paulo: Mirian Paglia Editora de Cultura Ltda., 2004. 9.Hyams J. O Zen nas Artes Marciais. São Paulo: Pensamento, 1996. 10.Hyams J. O Zen nas Artes Marciais. São Paulo: Pensamento, 1979. 11.Huai CN. TAO Transformação da Mente e do Corpo. São Paulo: Editora Pensamento, 1993. 12.Jia JE. Ch’an Tao. Medicina Tradicional Chinesa – conceitos básicos 1ª ed.. São Paulo: editora Ícone, 2004. 13.Jung CG. O Segredo da Flor de Ouro. Silva DF, Appy ML (trad.). 7ª ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1992. 14.Li D. O Qi Gong Meridiano - Transporte da Energia pelo Meridiano. São Paulo: Editora Ícone, 1987. 15.Lie T. Tratado do Vazio Perfeito. São Paulo: Landy, 2001. 16.Lima LMS. Caminhando para uma nova (?) consciência: uma experiência de introdução da Arte Marcial na Educação. Campinas, 1999. 17.Lima LMS. O Tao da Educação: a filosofia oriental na escola ocidental. São Paulo: Agora, 2000. Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 85 18.Maciocia G. A Prática da Medicina Chinesa Tratamento de Doenças com Acupuntura e Ervas Chinesas. São Paulo: Editora Roca, 1996. 19.Ross J. Combinações dos pontos de acupuntura. 1ª ed. São Paulo, 2002. 20.Silvia G. Budismo, psicologia do auto conhecimento. São Paulo: Editora Pensamento, 2002. 21.Thich NH. Aprendendo a Lidar com a Raiva – Sabedoria para a Paz Interior. Rio de Janeiro: Editora GMT, 2003. 22.Thich NH. Aprendendo a Lidar com a Raiva – Sabedoria para a Paz Interior. Rio de Janeiro: Sextante, 2003. 23.Wang HY. The Origins of Chinese Characters. Beijing: Sinolingua, 1994. 24.Wang HY. The Origins of Chinese Characters. Beijing: Sinolingua, 1994. 25.Wong E. As Artes Taoístas da Saúde, da Longevidade e da Imortalidade – Os Ensinamentos dos Imortais Chung e Lü. São Paulo: Landy, 2003. 26.Wu JC. A Alquimia do Movimento. 4ª ed. Rio de Janeiro: Mauad, 1998. 27.Yudelove ES. 100 Dias para Melhorar a Saúde, a Atividade Sexual e ter Vida Longa. São Paulo: Editora Érica, 1999. Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 86 Terapia Gênica: Futuro tratamento para a Esclerose Lateral Amiotrófica? Gene Therapy: Treatment Future for Amyotrophic Lateral Sclerosis? Miguel Mitne-Neto1, Mayana Zatz1 1 Biólogo do Centro de Estudos do Genoma Humano, Instituto de Biociências, Universidade de São Paulo – USP, 2 Coordenadora do Centro de Estudos do Genoma Humano do Instituto de Biociências, Universidade de São Paulo – USP A Terapia Gênica envolve uma série de procedimentos, que tem como objetivo a transferência de material genético para as células de um indivíduo, na tentativa de gerar algum benefício para este. Na década de 1960 começaram as primeiras especulações à cerca do potencial terapêutico ligado à manipulação genética, ou, terapia gênica. Porém, os primeiros ensaios com essa abordagem em seres humanos só vieram a ocorrer na década de 1990 nos Estado Unidos1. A terapia gênica envolve os processos de injeção de material genético exógeno (transgene) no indivíduo; o direcionamento deste material para o(s) tecido(s) alvo(s), seguido da sua entrada nestas células (transfecção); em alguns casos, incorporação do transgene no genoma do indivíduo; geração do produto gênico proveniente da transfecção e posterior correção da anormalidade alvo1. Potencialmente a transferência gênica pode se dar de várias formas, que diferem de acordo com sua eficácia e estratégia de terapêutica. Injeção de DNA nu: o DNA purificado (vetor plasmidial) é injetado diretamente no músculo podendo manter uma expressão continuada do transgene in vivo. Sua eficiência é baixa, porém tem sido utilizada para o desenvolvimento de vacinas de DNA, capazes de desenvolver resposta imune celular e não apenas humoral. Lipossomos: os lipossomos são constituídos de uma bicamada lipídica que tem como principal característica a formação de micelas. Essas estruturas mantêm uma fase aquosa na porção interior da bicamada, onde pode ser inserido o fragmento de DNA. Sua eficiência é Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 87 muito baixa, porém, o tamanho das seqüências que eles podem carregar, a ausência de resposta imune e seu baixo custo, justificam as tentativas de sua utilização. Vetores virais: São vírus modificados, nos quais os genes responsáveis pela produção de proteínas prejudiciais ao hospedeiro foram substituídos pela seqüência do transgene. Vários tipos de vírus têm sido empregados: Vetores Adenovirais – podem ser obtidos com altas titulações, são eficientes na infecção de vários tecidos e possuem genoma com DNA dupla fita, o que permite a inserção de grandes seqüências de DNA exógeno. Suas desvantagens são causadas pelo fato de não integrarem o transgene ao genoma do hospedeiro, gerando apenas uma expressão transiente e por induzirem resposta imune celular1. Vetores Adeno- Associados: podem, também, ser obtidos com altas titulações, possuem DNA simples fita e integram seu DNA ao material do hospedeiro, permitindo expressão prolongada do transgene. No entanto, necessitam de co-transfecção com um vírus auxiliar devido à sua incapacidade de infectarem as células sozinhos1. Vetores retrovirais - são os mais utilizados em protocolos de terapia gênica atualmente. Sua grande vantagem está na inserção de seu material ao genoma do hospedeiro, por serem vírus de RNA1 e em teoria, ser necessária apenas uma injeção do vetor. Possuem capacidade de carregar seqüências de tamanho médio e induzem resposta inflamatória mínima2. Nesta classe estão inclusos os lentivírus. Esses são derivados principalmente do vírus da imunodeficiência humana 1 (HIV-1)1. Os lentivírus são os vetores de maior promessa para o tratamento de doenças neurodegenerativas2. Terapia Gênica: Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) A ELA é uma doença neurodegenerativa, resultante da morte seletiva dos neurônios motores superiores e/ou inferiores3. Cerca de 90% dos casos são esporádicos enquanto aproximadamente 10% são hereditários. Desses últimos, 20% devem-se a mutações no gene SOD1. Ele é responsável pela produção da enzima Superóxido Dismutase, que está envolvida na metabolização do íon superóxido, um dos radicais livres mais reativos que ataca tanto o material genético quanto membranas e proteínas. A atividade incorreta, decorrente de mutações nessa enzima pode levar à morte dos neurônios motores devido à toxicidade. As mutações no SOD1 levam a formação de enzimas que passam a exercer uma função que não Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 88 realizavam anteriormente, (ganho de função), ao invés de apenas perder sua atividade natural. Ela passaria a exercer uma função tóxica nas células, sendo os neurônios motores especialmente sensíveis a estas variações. As tentativas de terapia gênica em ELA têm tido como principal alvo a correção da atividade defeituosa da superóxido dismutase. Esses experimentos só foram possíveis após o desenvolvimento de modelos animais. Eles são transgênicos que na maior parte dos trabalhos expressam o gene SOD1 contendo a mutação G93A e apresentam fenótipo que é clínica e patologicamente semelhante ao humano. Como previamente descrito as mutações neste gene expressam proteínas com um ganho de função. Desta forma atualmente algumas terapias têm tentado inibir a ação da proteína mutante, ou seja, diminuir sua expressão ao invés de apenas tentar fazer a reposição da proteína normal. A principal ferramenta de correção desta atividade tem sido a utilização de RNA de interferência (RNAi). Os RNAis estão envolvidos em um processo inato, conservado evolutivamente, de silenciamento pós-transcricional, ou seja, diminuição dos níveis de determinado RNAm, induzido pela presença de RNA dupla fita3. O RNA dupla fita é usado para direcionar os complexos Dicer e RISC na clivagem do RNAm que possui seqüência complementar a este RNA dupla fita. Dessa forma, o RNAm não é traduzido em proteínas e, portanto, sua ação fica silenciada. Para exemplificar os usos de RNAi podemos citar o trabalho de Ralph et al3. Neste os autores, utilizaram um vetor do tipo Lentivirus, mais especificamente vírus da anemia infecciosa eqüina (EIAV), e mostraram que a injeção desses vetores via intramuscular é capaz de conduzi-los aos neurônios da coluna espinhal e do córtex motor por meio de transporte retrógrado, ou seja, passando dos músculos para os neurônios. Esses vetores continham seqüências específicas do gene SOD1, que quando transcritas formavam uma estrutura em dupla fita ligada por um “grampo” (RNA dupla fita). Pela ação desse RNAi os animais transgênicos usados neste estudo, tinham dificuldades em expressar a Superóxido Dismutase mutante. Estudos que utilizaram RNAi para o silenciamento do SOD1 mutante, demonstraram um aumento da sobrevivência dos neurônios motores vulneráveis na espinha dorsal e córtex motor. Este silenciamento aumentou a performance dos animais tratados resultando em considerável retardo do início dos sintomas e aumento significante da sua sobrevivência3. Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 89 Outra estratégia, proposta por Xia et al4 é o silenciamento tanto do SOD1 mutante quanto selvagem, com concomitante expressão de SOD1 exógeno resistente a esse RNAi. O RNAm resistente foi gerado por uma mutação de troca de base, sem modificação do aminoácido e transfectado para as células em cultura. Os resultados demonstram a diminuição da expressão da Superóxido Dismutase mutante e selvagem, bem como a expressão da Superóxido Dismutase de origem exógena. Estes experimentos ainda necessitam de comprovação in vivo. Recentemente foi demonstrado que níveis reduzidos do fator de crescimento endotelial (VEGF) predispõem humanos e camundongos ao desenvolvimento de ELA. O VEGF é um fator indispensável à angiogênese e parece estar envolvido com a neuroproteção5. A partir desses dados Azzouz et al5 basearam-se no aumento da expressão de VEGF como forma de proteção aos neurônios em camundongos transgênicos, portadores da mutação G93A. Eles demonstraram que a aplicação de vetores de lentivírus, carregando a seqüência que codifica o VEGF, por transporte retrógrado, em determinadas musculaturas levou ao aumento na idade de início dos sintomas bem como à diminuição da progressão da doença nesses camundongos. Chama a atenção que o VEGF manteve suas características de neuroproteção, mesmo quando o tratamento foi iniciado após o início dos sintomas, especificamente neste caso quando metade dos neurônios motores já havia morrido. Este tipo de terapia para as doenças neuromusculares promete grandes avanços nos próximos anos, entretanto vários obstáculos precisam ainda ser vencidos; como a grande quantidade de vetores necessários para eficácia do tratamento; o direcionamento dos vetores exclusivamente para os neurônios motores, a expressão contínua e não apenas transiente dos transgenes; a correção dos defeitos sem efeitos colaterais tóxicos e a aplicação dessas terapias às diferentes formas de Doença do Neurônio Motor e ELA, não se limitando apenas a alguns modelos. Referências Bibliográficas 1.Nance BN, Ventura AM. Terapia Gênica. Mir L (org.) Genômica. São Paulo: Atheneu, 2004, cap. 30. 2.Federici T, Boulis NM. Gene-based treatment of motor neuron diseases. Muscle Nerve. 2006;33(3):302-323. Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 90 3.Ralph GS, Radcliffe PA, Day DM, Carthy JM, Leroux MA, Lee DC, et al. Silencing mutant SOD1 using RNAi protects against neurodegeneration and extends survival in an ALS model. Nat Med. 2005;11(4):429-433. 4.Xia XG, Zhou H, Zhou S, Yu Y, Wu R, Xu Z. An RNAi strategy for treatment of amyotrophic lateral sclerosis caused by mutant Cu, Zn superoxide dismutase. J Neurochem. 2005;92(2):362-367. 5.Azzouz M, Ralph GS, Storkebaum E, Walmsley LE, Mitrophanous KA, Kingsman SM, et al. VEGF delivery with retrogradely transported lentivector prolongs survival in a mouse ALS model. Nature. 2004;429(6990):413-417. Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 91 SESSÃO DE POSTERS Estudo comparativo da função e fadiga antes e após o tratamento fisioterápico na Esclarose Lateral Amiotrófica. Chaves ACX, Duran MA, Conceição ECG, Silva TM, Cunha MCB, Oliveira ASB. Setor de Doenças Neuromusculares da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina UNIFESP/EPM Introdução: A Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) é uma doença neuromuscular de caráter progressivo, decorrente da degeneração dos neurônios motores superior e inferior. A fraqueza muscular causa problemas clínicos associados a ELA, como diminuição da função física, mobilidade, e performance das atividades de vida diária. Clinicamente a fadiga pode ser avaliada através de escalas subjetivas. Estudos prévios mostram que os pacientes com ELA experimentam a fadiga motora ou periférica. Objetivo: Analisar estatísticamente a fadiga e a funcionalidade dos pacientes com ELA, antes e após um período de tratamento, em clínicas de fisioterapia multicêntricas. Material e Método: Foram avaliados 20 pacientes (12 homens e 08 mulheres) com diagnóstico de ELA definida e idade entre 30 e 83 anos (média de idade de 53 anos), pela equipe da fisioterapia motora do ambulatório de ELA no Setor de Doenças Neuromusculares da UNIFESP/EPM. Foram aplicadas as seguintes escalas: Escala de Funcionalidade (FRS) e Escala de Severidade de Fadiga (FSS) antes e após 04 meses de tratamento fisioterápico multicêntrico. Os dados foram analisados pelo método estatístico “Wilcoxon Matched – Pair Signed – Ranks Test”. Resultados: De acordo com a análise das escalas usando um nível de significância de 0,05, a fadiga apresentou uma melhora de 1,15 e a funcionalidade houve uma piora de 2,72. Desta forma a escala de fadiga não mostrou diferença significativa antes e após um período de 4 meses de tratamento fisioterápico, já na escala de funcionalidade houve uma diferença significante entre os dois períodos. Conclusão: Os resultados obtidos com a aplicação das escalas FRS e FSS mostraram que a fadiga teve uma melhora, porém estatisticamente sem significância, ao passo que a funcionalidade apresentou uma piora, compatível com o quadro clínico por se tratar de uma doença degenerativa e de rápida progressão. Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 92 Principais orientações da fisioterapia motora no ambulatório de Esclerose Lateral Amiotrófica da UNIFESP/EPM Durán MA, Klein AN, Conceição ECG, Silva TM, Chaves ACX, Labronici RHDD, Cunha MCB, Oliveira ASB. Setor de Doenças Neuromusculares da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina UNIFESP/EPM Introdução: A Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) caracteriza-se por uma doença neuromuscular progressiva decorrente da degeneração dos neurônios motores superior e inferior. Durante a evolução da ELA há um declínio das habilidades do paciente e perda de força muscular global, fazendo com que este tenha que permanecer no leito ou cadeira de rodas, com total dependência. O tratamento destes pacientes exigem uma atenção multidisciplinar com múltiplas orientações afim de contribuir na melhora da qualidade de vida destes pacientes, assim como nas atividades de vida diária dos mesmos. Objetivo: Identificar as tendências de orientações fisioterapêuticas aos pacientes com ELA em um serviço ambulatorial. Casuística e Método: Foram avaliados 120 pacientes (65 homens e 55 mulheres), com diagnóstico de ELA segundo critérios do El Escore, durante 03 anos. As orientações prédeterminadas foram divididas em 04 grupos: grupo 1 (exercícios domiciliares), grupo 2 (conservação de energia), grupo 3 (posicionamento e transferência) e grupo 4 (indicações de órteses e adaptações). Com a intenção de manter as amplitudes de movimentos, alívio de dor e manutenção muscular, são propostos exercícios domiciliares diários como tratamento conjunto a fisioterapia. A conservação de energia é um conceito utilizado na reabilitação para analisar, planejar e realizar as atividades do cotidiano do paciente, com propósito de minimizar a fadiga. As orientações de posicionamentos adequados são propostos para evitar as alterações posturais e, as transferências facilitam na realização das atividades de vida diária. As órteses e adaptações são indicadas para evitar deformidades e facilitar a qualidade de vida do paciente. Resultados: Verificamos que o percentual de pacientes que receberam uma orientação foi de 64,8% (43,2% de exercícios domiciliares, 14,4% de conservação de energia, 3,6% de posicionamentos e transferências e 3,6% de órteses e adaptações); percentual de duas Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 93 orientações foi de 44,4% (5,9% de Exercícios Domiciliares + Conservação de Energia, 7,9% de Exercícios Domiciliares + Posicionamentos e Transferências, 9,6% de Exercícios Domiciliares + Órteses e Adaptações, 7,06% de Conservação de Energia + Posicionamentos e Transferências, 5,9% de Conservação de Energia + Órteses e Adaptações, 8,08% de Posicionamentos e Transferências + Órteses e Adaptações); o percentual de três orientações foi de 26,4% (9,35% de Exercícios Domiciliares + Conservação de Energia + Posicionamentos e Transferências, 6,76% de Exercícios Domiciliares + Conservação de Energia + Órteses e Adaptações e 10,29% de Órteses e Adaptações + Posicionamentos e Transferências + Conservação de Energia) e 8,4% dos pacientes receberam todas as orientações. Discussão e Conclusão: Verificamos que as orientações mais indicadas foram para realização de exercícios domiciliares e conservação de energia, já que são necessárias em todas as fases da doença; o que não ocorre com as orientações sobre posicionamento e transferências e órteses e adaptações, que são mais necessárias quando o paciente passa a precisar de auxílios para suas atividades. A baixa percentagem das orientações sobre órteses e adaptações também pode ser atribuídas ao longo período de adaptação e ao alto custo da confecção da órtese e fabricação de uma adaptação, visto que o tempo de uso por um paciente é limitado devido à rápida progressão da doença. A importância da recreação na sala de espera abulatorial Santana LC1, Moreira JM1, Macário MF2 1-Educadora Física voluntárias do Verde Vida Saúde 2-Assistente Social da ABRELA Setor de Doenças Neuromusculares da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina UNIFESP/EPM Introdução: É notório que quando uma pessoa vem procurar um ambulatório médico que trata de especialidades como doenças do sistema Neuromuscular, ela já esta com um nível de estresse e ansiedade alterados, pois a busca desesperadora por informações sobre a sua patologia em que em muitos casos não foi dado a devida atenção o deixa com sua auto estima baixa. Objetivo: O objetivo do lazer é elevar o estado de espírito do paciente, pois este tempo ocioso que fica na sala de espera deve ser trabalhado o lúdico (diversão, alegria e entretenimento) Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 94 dentro de suas limitações, pois as atividades lúdicas devem permitir que a pessoa se expresse, se sinta útil, alegre gratificada, que possa desenvolver as situações de forma criativa sentindo o prazer pela atividade. Método: Formas de atividades: jogos de dama adaptados, dominó com ajuda de um monitor ou cuidador, confecções de sacos para jogar as Cinco Marias (pelas mulheres), pinturas em madeiras, leituras, jogos de construção, jogos cooperativos. Materiais utilizados para as atividades: jogos de encaixe ou similares, papéis diversos, fita crepe, lápis de cor, giz de cera, guache, tinta para tecido e madeira, EVA e TNT, materiais alternativos como garrafas plásticas, tampinha, madeiras rolos de papel, palitos de sorvete, bolas de meia, copinhos plásticos, jornais, revistas, tecidos coloridos. Muitos dos materiais foram trazidos pelos próprios pacientes. Resultados. Segundo Winniicott, (1975) brincar é o fazer em si um fazer que requer tempo e espaço próprio, um fazer que constitui de experiências culturais que é universal da própria saúde porque facilita o crescimento e conduz aos relacionamentos grupais podendo ser uma forma de comunicação consigo mesmo (a criança) e o outro. Benefícios alcançados – Depoimentos dos pacientes e familiares: Sujeito l “O meu marido ia fazer uma traqueostomia e estava muito nervoso e relutante, após um simples jogo de dominó (com ajuda dos monitores) ele relaxou e até esqueceu por um período de tempo o que iria fazer, coisa que a família não conseguia convencê-lo.” Sujeito 2 “Para mim os benefícios que trouxe foi uma melhora na qualidade de vida, uma integração social, alegria do paciente de poder participar de atividades com outros pacientes (semelhantes).” Sujeito 3 “Quanto a atuação da recreação no ambulatório na vida do meu filho, só teve a acrescentar coisas boas. Hoje ele chega e já quer vir para os fundos pega os brinquedos como se fossem dele, conhece todos e cuida com carinho isto lhe trouxe muitos benefícios mentais, físicos, afetivos e sociais. Sujeito 4 “Quando falo que venho na Neuromuscular o meu filho que vir comigo por causa das tias e das brincadeiras para mim foi uma mudança de atitude tremenda.” Na confecção dos saquinhos das Cinco Marias os participantes trocavam experiências de vida recordando suas infâncias muitas lembravam do tempo em que faziam roupas para Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 95 suas bonecas sendo que algumas se tornaram costureiras lembrando com saudade do tempo que que as mãos obedeciam melhor (antes dos primeiros sintomas de ELA), pois aquelas em que não podiam mais costurar ajudavam cortar o encher o saquinho com grão de feijão. Conclusão: O trabalho atingiu suas metas, pois apesar da limitação dos monitores em lidar com estas patologias houve o auxilio dos diversos profissionais que atuam no setor uns atuando na manutenção da saúde (condicionamento físico), minimizando o estresse, recuperando psicossomaticamente o ser e promovendo os desenvolvimentos educacionais, sociais, morais e afetivos, conquistando assim o bem estar e integrando os pacientes nas fases do tratamento, a vida normal e ao seu antigo cotidiano, que certamente sofreu algumas modificações após o agravamento da sua doença. Os monitores geralmente, atuam em equipe com médicos, fisioterapeutas, nutricionistas, assistente social e demais profissional dos serviços do setor. Com o presente estudo constatou-se a necessidade da formulação de um programa de atividades lúdicas recreativas, para que haja uma modificação na rotina dos indivíduos de todos nos ambulatórios, mesmo não existindo um local específico para isto, utilizando as áreas abertas e salas que estas instituições possuem. Projeto Tutor Abreu Filho AG¹, Steiner ALF², Quadros AAJ³, Silva HCA³, Tardivo LC4 1- UNIFESP - Laboratório APOIAR-USP, 2- Laboratório APOIAR-USP, Instituto de Psicologia-USP. 3- ABRELA – UNIFESP, 4- O projeto Tutor teve seu início a partir da parceria estabelecida em 2002, entre a Associação Brasileira de Esclerose Lateral Amiotrófica (ABRELA), presidido atualmente pelo fisioterapeuta Abrahão Quadros e o Laboratório de Saúde Mental e Psicologia Clínica Social – no Projeto APOIAR do Departamento de Psicologia Clínica, do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IPUSP), sob a coordenação da Profa. Livre Docente Leila Salomão de La Plata Cury Tardivo. Esta parceria surgiu em decorrência da preocupação que se tem com o sofrimento psíquico gerado pela doença tanto para os pacientes como para os cuidadores, familiares e profissionais que lidam com a ELA. Tem como base a busca de intervenções amplas , além das intervenções ligadas à saúde física propriamente, que possam dar conta deste sofrimento a todos que lidam diretamente ou não com a doença. Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 96 Tardivo (2004) desenvolveu a idéia que em Psicologia Clínica, as atividades de pesquisa e intervenção estão sempre integradas, pois têm como finalidade atender a grande demanda de atenção psicológica gerada pelo sofrimento humano causado pelas condições da vida contemporânea. Portanto nossa parceria e os serviços daí decorrentes buscam integrar ensino, pesquisa e prática clínica, oferecendo estágio supervisionado a alunos de graduação, pós-graduação e colaboradores, proporcionando campo de investigação clínica para trabalho acadêmico de pós-graduados e para articulações teóricas de docentes e pesquisadores. (Tardivo, 2003). A fundamentação teórica dos projetos do APOIAR, se baseia em teorias psicodinâmicas, em especial, com inspiração winnicottiana, visando compreender manifestações do sofrimento humano, como essas, e partir daí, a busca de enquadres diferenciados para atender às distintas demandas (Winnicott, 1984). Os atendimentos são pensados como encontros inter-humanos, onde é possível acontecer o acolhimento e a sustentação necessários à retomada do amadurecimento pessoal em um ambiente humano suficientemente bom, que favoreça a valorização do viver.(Tardivo, 2003). O projeto TUTOR , fruto da parceria ABRELA e APOIAR já atendeu em torno de dez pacientes com a participação de quase trinta alunos de Psicologia da Universidade de São Paulo e de Enfermagem da UniFMU - Faculdades Metropolitanas Unidas - no decorrer do processo, desde 2003. Atualmente contamos com alunos de ambos os curso de graduação em Psicologia, Enfermagem, bem como pós-graduandos e colaboradores que estão subdivididos em três níveis: Tutor nível 1, 2 e 3. O Tutor nível 1 é composto por alunos e colaboradores que estão ingressando no Projeto; passam por um curso de extensão denominado Curso de Tutores da ABRELA, recebendo informações através de aulas com a equipe multiprofissional, envolvendo neurologistas, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, nutricionistas, assistentes sociais, psicólogos, advogados, etc, objetivando um conhecimento da doença, bem como da atuação dos profissionais envolvidos na equipe. Após essa aula, assinam um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, submetem-se à aplicação de alguns instrumentos psicológicos antes e após o contato com os pacientes, com o propósito de se ver se houve, ou não, mudanças tanto Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 97 na visão de como concebiam tal doença, como da postura frente a esses pacientes. Semanalmente, durante seis meses, os alunos vão em duplas à casa dos pacientes, ficando sessenta minutos com os mesmos, atendendo as demandas feitas pelos próprios pacientes, como, por exemplo, ler um livro, jornal, assistir a um filme, dar uma volta na rua se ainda estiverem em condições de andar, sem qualquer tipo de interferência, apenas acolhem as demandas feitas pelos pacientes. Recebem supervisão dos responsáveis pelo Projeto, dos atendimentos semanalmente feitos em grupo, para que se possa discutir como foram os atendimentos, entender as posturas dos pacientes, bem como as suas próprias. Depois de seis meses, caso o paciente demonstre interesse em continuar sendo atendido, a dupla de estudantes prontifica-se a dar continuidade por mais seis meses às visitas domiciliares, agora podendo acontecer pequenas intervenções mediante as demandas dos pacientes, no sentido de convidá-los a pensar o que os levou a propor determinada atividade, ou coisas que tais, sempre tendo em vista a questão do apoio, procedimentos que constitui o Projeto Tutor de nível 2. O Tutor nível 3, após ter vivenciado os dois níveis anteriores, sempre com supervisão dos atendimentos, continuam participando dos encontros semanais de supervisão e após análise de como desempenharam suas funções de tutores durante os períodos de atendimentos com os pacientes, terão a oportunidade agora de auxiliar na formação de novos tutores, ou seja, daqueles estudantes e colaboradores que ingressarem no projeto para percorram o caminho dos tutores níveis 1 e 2, havendo com isso multiplicação desta função. Enfim este projeto tem se desenvolvido de modo bastante dinâmico pois tem sempre como base a qualidade e o amadurecimento . Até o presente momento, podemos observar o amadurecimento profissional crescente por parte dos alunos, assim como a mudança do olhar e a da escuta. Estas mudanças foram observadas no decorrer do processo através das discussões clínicas feitas semanalmente e dos contatos com os pacientes e seus cuidadores que colocam o quanto é importante este trabalho. Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 98 Medicina Tradicional Chinesa (MTC) – ATIVIDADES EM SALA DE ESPERA: PROJETO VERDE VIDA SAÚDE/ UNIFESP – EPM Abe GC Neuropediatra, Acupunturista, Assistente do curso de pós-graduação em MTC do HSPM, e Faculdade de Medicina de Jundiaí. Responsável pelo ambulatório de MTC no setor de doenças neuromusculares da UNIFESPEPM. Conceitos básicos. A Medicina Tradicional Chinesa (MTC) tem seus primeiros registros datados de 5000 a.C. São livros antigos, com informações codificadas, muitas vezes em forma de poesia, música, imagens. São conceitos diferentes que implicam numa mudança do estilo de vida, onde se ressalta como papel fundamental a prevenção. Para isso é essencial a difusão de informações, fazendo-se necessário um constante “movimento” em relação aos hábitos e costumes. A abordagem de cada paciente é global, envolvendo corpo, mente, espírito, e ambiente. Filosofia. Baseada no budismo, taoísmo, e confucionismo, que são os pilares filosóficos da MTC. As doenças são apenas caminhos onde o objetivo é a TRANSFORMAÇÃO PESSOAL. Atualmente existe ênfase em pesquisas ligadas ao mecanismo de ação da acupuntura, meditação e práticas físicas. A modernização de equipamentos utilizados em diagnóstico permitiu o entendimento parcial das técnicas, o que possibilitou a inclusão da acupuntura como especialidade médica em 1999. Desde então, muitos métodos foram desenvolvidos no ocidente, e incorporados às técnicas antigas, devido à inovação tecnológica. A associação com a medicina ocidental é vista como sendo o ideal, possibilitando que os profissionais tenham uma visão mais abrangente, e com maior número de ferramentas visando a saúde integral do indivíduo. Mecanismo Neuroimunohumoral. Atualmente a ação da acupuntura é explicada por mecanismo neuroimunohumoral. As demais técnicas da MTC possivelmente atuam da mesma forma, mas ainda estão em estudo. Estruturação Particular. O homem é visto tendo três componentes básicos: Energia ( Chi); Matéria (Jin); Mente (Shen). A terapêutica pode ser feita através da atuação em qualquer um deles, isoladamente ou em associação. As técnicas da MTC são: acupuntura, dietoterapia, fitoterapia, meditação, exercícios físicos, e toque, sendo que as três últimas (grifadas) são as utilizadas na sala de espera. Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 99 Fisiopatologia. Alterações da fisiologia podem ter causas internas, externas e “mistas”(nomenclatura utilizada pelas escolas de MTC no Brasil). Causas internas são emoções: raiva, mágoa, tristeza, preocupação, alegria. Causas externas são fatores climáticos, variações de temperatura, vírus, e bactérias. Causas “mistas”são traumatismos, picaduras, envenenamento, alimentação. Cada indivíduo apresenta uma predisposição peculiar, seja por fatores familiares, temperamento, ambiente, astrológicos, espirituais, etc. Nada é definitivo ou impossível. A DOENÇA significa que MUDANÇAS SÃO NECESSÁRIAS. Como ela é encarada como um processo, não como fato isolado, é essencial que o indivíduo modifique alguns hábitos e costumes que possam ter contribuído para o adoecimento. IMPORTANTE: a associação de técnicas é vista como benéfica porque o tratamento não deve ser isolado. Ele deve ser incorporado em vários aspectos da vida cotidiana para que novas rotas físicas e mentais sejam formadas para romper o processo de adoecimento. Aplicação de técnicas da MTC na sala de espera A atividade desenvolvida na sala de espera foi resultado de um processo, que incluiu a preparação de alunos através de cursos de extensão e especialização. Esses cursos tiveram início em 2004, e passaram pelas seguintes fases: adaptação dos profissionais e alunos: todos eram de áreas profissionais diferentes, e traziam conhecimentos diversos para serem adaptados à sala de espera. adaptadação ao público alvo, e à sala de espera. Os profissionais envolvidos não tinham experiência com atuação nesse ambiente, principalmente levando em consideração o setor, que atende doenças muito especificas, e com necessidades peculiares. as práticas foram escolhidas de acordo com tipo de doença. Dentro da MTC existe uma grande variedade de técnicas, com finalidades especificas. Foi levado em consideração: o tipo de dificuldade física, o tipo de doença, praticidade, e facilidade de execução. as técnicas possibilitam a inclusão do cuidador nas atividades A participação é opcional, sendo feito um CONVITE aos pacientes e cuidadores. A prática é realizada no ambulatório de MTC. Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 100 Dificuldades. Tempo – nem sempre o tempo de espera é suficiente. Por isso enfatizamos atividades mais rápidas. Conscientização dos pacientes e cuidadores – a “prática consciente” deve ser estimulada, baseada no princípio zen do autoconhecimento, e do aqui e agora. É a base do pensamento corpo, mente, espírito integrados. A prática deve ser regular. Atividades esporádicas propiciam bem estar, mas o efeito é fugaz. Atividades desenvolvidas: 4. Meditação Aplicada em grupos que aguardavam a aplicação de acupuntura e seus cuidadores Benefícios comprovados pela medicina, mas NÃO ESPECIFICAMENTE PARA ELA Sem contra indicações. Fácil execução. Pode ser feita em posição sentada, deitada, de pé (andando) Várias técnicas são utilizadas. No setor optamos pelo “Sorriso interno” 5. Toque Feita com uma leve pressão com intuito de circular energia estagnada, sem comprometer a musculatura. Objetivo: estimular circulação geral Propicia uma sensação de bem estar 6. Chi Kung: Nomenclatura usada para exercícios executados em sincronia com respiração Movimentos específicos, mas podem ser adaptados. Na China existem mais de 2 mil tipos para diversas finalidades Objetivo: aumento energético, equilíbrio Estudos científicos em andamento Fácil execução, mas requer treino regular. Assim como a meditação, não funciona se feito esporadicamente Pode ser executado por pacientes e cuidadores. Objetivo das atividades: MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 101 Concluindo 2 anos de trabalho, pudemos chegar às seguintes conclusões e reflexões: Os métodos oferecem ferramentas para que as pessoas passem a cuidar de si próprias. Embora não validada pela ciência moderna (com exceção da acupuntura), a MTC é consagrada há milhares de anos através das práticas difundidas entre a população dos países asiáticos, mais especificamente a CHINA. Observamos que a incidência de ELA na China é 0,3/ 100.000 habitantes. Em relação a outros países, é uma incidência muito baixa. O Japão, Brasil e Estados Unidos da América apresentam a incidência, respectivamente, de 2,5; 1,5; e 1,9/100.000 habitantes. Se os dados divulgados pela China estiverem corretos, podemos pensar que algum fator da região os diferencia do restante do mundo, sendo necessário conhecer, entender, e praticar. Os métodos são simples, rápidos e gratuitos. Pode ser feito por pacientes e cuidadores. Exercício de baixa intensidade na água em pacientes com DNM/ Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) Quadros AAJ, Durán MA, Berto MC, Labronice RHDD, Oliveira ASB, Gabbai AA. Universidade Federal de São Paulo / Escola Paulista de Medicina – UNIFESP/ EPM. Departamento de Neurologia e Neurocirurgia – Setor de Doenças Neuromusculares Introdução: A Escçerose Lateral Amiotrófica (ELA) é uma doença do neurônio motor caracterizada por fraqueza muscular progressiva, atrofia e espasticidade, causada pela degeneração do neurônio motor na medula espinha, no tronco cerebral e córtex motor. Se a atividade física aumenta os riscos ou promove a progressão da degeneração do neurônio motor na ELA ainda é debatido. Entretanto, estudos mostram que um programa de exercício físico regular tem um pequeno efeito positivo na deficiência dos pacientes de ELA e pode ser recomendado. A hidroterapia é reconhecida como um bom recurso da fisioterapia para ser usado no tratamento de muitas das doenças neuromusculares, pelos efeitos físicos e terapêuticos da água aquecida como, a diminuição da força da gravidade permite menor descarga axial nas articulações, promove liberdade de movimento, relaxa e aquece a musculatura. Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 102 Objetivos: Verificar, os efeitos gerais do exercício de baixa intensidade na água aquecida em pacientes com ELA. Método: Foram incluídos pacientes atendidos no setor de doenças neuromusculares da UNIFESP/EPM, com diagnóstico de ELA provável ou definitiva de acordo com El Escorial. Foi realizado um estudo piloto com tratamento prospectivo em piscina terapêutica em seis pacientes, num período de dez meses, com sessões de 40 minutos duas vezes por semana. O programa era realizado em três etapas: aquecimento, treinamento e relaxamento. Os exercícios envolvendo os grandes grupos musculares dos quatro membros e tronco, foram ministrados e assistidos individualmente por fisioterapeutas. Os instrumentos de avaliação utilizados foram: teste de força muscular manual (MMT), escala de funcionalidade (ALS FRS), escala visual analógica de dor (EVA-dor), escala de severidade de fadiga (FSS), questionário de qualidade de vida (ALSQoL40), pressão inspiratória máxima (PImax), pressão expiratória máxima (PEmax) e capacidade vital forçada (CVF). Resultados: Os dados demográficos dos pacientes são mostrados na tabela 1. E os resultados das escalas são mostrados na figura 01. O tempo de treinamento foi de dez meses com aderência de 75%, não foram vistos efeitos negativos. Três pacientes tiveram dificuldade para realizar a avaliação pulmonar pela incapacidade da oclusão labial. A função pulmonar mostraram PImax (-42, -60, -66), PEmax (54, 48, 36 cmH2O) e CVF (2.2, 2.74, 3.84 L). Tabela 1 – Dados demográficos dos pacientes Grupo de Tratamento (n = 06) Sexo Raça Branco Negro Amarelo Idade Média de idade do início da doença (anos) Tempo de doença (anos) Início bulbar 03 homens (50%) 04 (66%) 01 (17%) 01 (17%) 45 – 67 (58.5 ± 7.9) 48 – 66 (57.0 ± 7.5) 02 (33%) Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. FIGURE - 01 103 35 FRS FATIGUE PAIN SCORE 30 25 20 15 10 5 0 1 2 3 4 EVALUATION FIGURE - 02 ADL Mobility Psych Feeding 25 SCORE 20 15 10 5 0 1 2 3 4 EVALUATION Conclusão: Um programa de exercício de baixa intensidade na água aquecida tem um impacto positivo na qualidade de vida do indivíduo com ELA. Todos pacientes com CVF de 1.51L, sem sinais clínicos de dispnéia podem ser submetidos a hidroterapia. O programa foi bem tolerado, (nem um efeito adverso foi observado) e pode ser recomendado para ser realizado em grupo de pacientes. Agradecimentos: ABRELA – Associação Brasileira de Esclerose Lateral Amiotrófica CNPq – Conselho Nacional Científico e Tecnológico Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 104 Laboratório Sanofi Aventis LTDA CEMAFE – Centro de Medicina da Atividade Física e do Esporte Perfil nutricional de pacientes com Doença do Neurônio Motor / Esclerose Lateral Amiotrófica Stanich P, Dinalli B, Chiappetta ALML, Yahashi MCB, Oliveira ASB, Gabbai AA. Universidade Federal de São Paulo / Escola Paulista de Medicina – UNIFESP/ EPM. Departamento de Neurologia e Neurocirurgia – Setor de Doenças Neuromusculares Introdução: A Esclerose Lateral Amiotrófica (E.L.A.) é uma doença degenerativa do sistema nervoso que afeta a motricidade de forma generalizada, irreversível e progressiva. Dentre os comprometimentos, destaca-se a disfagia, que induz diminuição de massa corporal, desidratação e desnutrição. Associada à diminuição da ingestão alimentar , observa-se aumento da taxa de metabolismo basal e das necessidades nutricionais, que determinam perda ponderal nos indivíduos com E.L.A . Reconhecer o perfil nutricional e intervir precocemente pode ser um diferencial no tratamento . Objetivo: O objetivo deste estudo consistiu em descrever o perfil nutricional dos pacientes e as mudanças alimentares que ocorrem durante o curso da doença. Métodos: Foram estudados 20 pacientes com diagnóstico de E.L.A., nos meses de Maio e Junho de 2003 , que faziam acompanhamento multiprofissional periodicamente ,sob protocolo rígido, incluindo-se esquema terapêutico pré-estabelecido. Para avaliação nutricional foi utilizado o índice de massa corpórea (IMC) associado`a avaliação nutricional subjetiva global (ANSG), proposta por DETSKY,1984. Para análise da ingestão alimentar, foi utilizado o recordatório de 24horas e a frequência de alimentos, comparados com a pirâmide alimentar proposta por PHILIPPI em 1999, sendo os cálculos efetuados através de programa específico. Resultados: A faixa etária estudada variou de 36 a 70 anos, com mediana de idade de 49,9 anos, sendo 12 indivíduos do sexo masculino e 8 do sexo feminino. Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 105 Gráfico 1 – IMC 26 Resposta 25 24 23 22 21 20 19 0 2 Tempo 4 6 Gráfico 2 – Relação massa magra/gorda 7 6 Resposta 5 4 3 2 1 0 0 2 Tempo 4 Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 6 106 Gráfico 3 – Ingestão Caloria 7 6 Resposta 5 4 3 2 1 0 0 2 4 6 Tempo Gráfico 4 – Ingestão Proteina 140 Resposta 120 100 80 60 40 20 0 0 2 4 6 Tempo Conclusões: Observamos aumento espontâneo na ingestão de calorias e proteinas em 80% dos casos Manutenção da relação massa magra/gorda A depleção do estado nutricional evoluiu mais rapidamente nos indivíduos com Paralisia Bulbar Progressiva (P.B.P.) Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 107 O suplemento alimentar foi o veículo utilizado para melhor aceitação das orientações multiprofissionais. Associação Brasileira de Esclerose Lateral Amiotrófica (ABRELA): Relato do Serviço Social Fernandes E, Macario MF, Quadros AJQ, Silva HCA, Oliveira ASB. ABrELA – Associação Brasileira de Esclerose Lateral Amiotrófica A ABRELA – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESCLEROSE LATERAL AMIOTRÓFICA, foi fundada em 28.06.99, por médicos interessados na doença e seu tratamento, tendo em vista a dificuldade do paciente e família para o enfrentamento da doença. É uma organização sem fins lucrativos, que tem como objetivo principal a conscientização da sociedade sobre a importância e a emergência da doença no Brasil. Tem como Missão: “ Promover uma melhor qualidade de vida aos portadores de esclerose lateral amiotrófica, através da informação, orientação e apoio social ao paciente e familiar, bem como divulgar informações à sociedade e aos profissionais interessados na doença e seu tratamento.” O Serviço Social iniciou seu trabalho na ABRELA em março de 2000, implantando e sistematizando o atendimento social, bem como a captação de recursos e formação de banco de dados de recursos da comunidade. Realizou também, aliança com o Serviço Social do Hospital São Paulo/UNIFESP/EPM, facilitando assim, o acesso à rede de recursos da comunidade UNIFESP aos pacientes e a troca de informações com os profissionais da rede. O que é ELA? A esclerose lateral amiotrófica (ELA) é uma doença degenerativa do neurônio motor que provoca fraqueza e atrofia muscular progressiva, levando o paciente à morte em média após 3 anos do diagnóstico, por falência respiratória. Objetivo do Serviço Social: Executar ações que promovam a concretização da missão institucional. Atender paciente e familiar, bem como profissionais da saúde, por meio de orientação, informação e apoio social. Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 108 O que o Serviço Social da ABRELA tem feito? Coordenação da Associação; Reuniões Bimestrais para orientação e informação a pacientes, familiares, cuidadores, profissionais e pessoas interessadas; Pesquisa qualitativa junto ao público alvo; Participação em congressos de neurologia nacionais e internacionais, feiras de reabilitação e outros eventos para divulgação do trabalho e sensibilização da sociedade; Participação em congressos, simpósios e cursos de Serviço Social, Cuidados Paliativos e 3º Setor; Levantamento das necessidades do paciente e família, para auxiliá-los na busca de recursos de apoio e atendimento tais como: (psicólogos, fisioterapeutas, locais para realização de exames), incluindo equipamentos de apoio (cadeiras de rodas e de banho, andadores, respiradores, órteses, fraldas descartáveis,etc.) entre outros materiais por eles utilizados, Atendimento em parceria com a equipe multiprofissional da UNIFESP/EPM.; Visitas domiciliares, em conjunto com equipe ou isoladamente; Orientação e informação ao paciente e família sobre a doença e tratamento, por meio de material informativo, telefone, pessoalmente, por carta ou e-mail. Doações e empréstimos de materiais e equipamentos necessários à sobrevida do paciente e auxílio à família; Coordenação de voluntariado para captação de recursos para a ABRELA e pacientes, por meio de eventos: bazares, exposições de artes, chás, jantares e outros. Parcerias com outras instituições, tais como: farmácia de manipulação, universidades e empresas; Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 109 Resultados: Atendimentos Período: 2000 – 2001 – 2002 - 2003 2000 2001 2002 2003 TOT. Pacientes 088 215 230 490 1023 Familiares 324 915 905 1612 3756 126 179 375 1280 1960 47 080 085 174 386 585 1389 1595 3556 7125 Profissionais Outras Pessoas (amigos, interessados) TOTAL EVENTOS REALIZADOS 2000 2001 Reunião Informativa 06 06 Festa de Confraternização --- 2002 04 02 2003 03 02 Captação de Recursos 01 05 06 01 Simpósio -- -- -- 02 Feira 3º Setor -- 01 02 01 Parcerias efetivadas: UNIFESP/EPM – uso do espaço para sede da ABRELA, no ambulatório de neuromuscular; PRÓ FÓRMULA - farmácia de manipulação para doação de medicamentos; USP – Universidade de São Paulo/Projeto Apoiar : atendimento psicológico no domicílio; FMU – atendimento de enfermagem no domicílio. Conquistas sociais: - Portaria nº 141 - regulamentando a distribuição gratuita do Riluzol/Rilutek – jul/2002 Custo: R$ 1.100,00; - Acordo com Secretaria de Saúde de São Paulo – 2003 – para fornecimento gratuito do BIPAP – respirador (Ventilação Mecânica Não Invasiva) – Custo: R$ 18.000,00; Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 110 Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA): o uso da entrevista aberta e do TAT num enquadre de consulta terapeutica na avaliação do impacto psicológico das possíveis perdas das funções motoras através do estudo de caso Abreu Filho AG1, Steiner AL1, Quadros A2, Silva HCA2, Tardivo LC3 1.Laboratório Apoiar – USP. 2. ABRELA - Associação Brasileira de Esclerose Lateral Amiotrófica. 3. Psicóloga - Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP). Apresentação: A partir da parceria entre o Projeto Apoiar do Laboratório de Saúde Mental e Psicologia Clínica Social do Departamento de Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo e ABRELA - Associação Brasileira de Esclerose Lateral Amiotrófica, está sendo desenvolvido um amplo projeto com pacientes acometidos por ELA e seus familiares, num enfoque interdisciplinar. Introdução: A Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) é definida como sendo uma doença progressiva e degenerativa. Caracteriza-se pela degeneração progressiva dos neurônios motores do cérebro e da medula espinhal, não havendo até o presente momento prognóstico de cura. A partir deste contexto, foi realizado Estudo de Caso de um paciente portador de ELA através da aplicação do TAT, teste projetivo, de forma interventiva, seguindo um embasamento de consultas terapêuticas (Winnicott, 1984), com enfoque psicanalítico. O TAT foi empregado como uma proposta de se realizar um Psicodiagnóstico Compreensivo (Trinca, 1984) e ao mesmo tempo como instrumento de intervenção clínica no momento da aplicação, sendo assim possível compreender a vivência da evolução da doença ELA, especificamente das repercussões das perdas gradativas das funções motoras e das possíveis repercussões psicológicas, afetivas e emocionais, e ao mesmo tempo fornecer um ambiente de escuta e continência para essa dor. Objetivo: Entrar em contato com a percepção que o paciente portador de ELA tem de si mesmo, da evolução do processo da sua doença e de como esta é percebida e vivenciada, e ao mesmo tempo intervir, acolhendo o sofrimento decorrente de toda a experiência. Método: Clínico – estudo de caso, com instrumentos: entrevista aberta e aplicação do TAT. Resultados: Os resultados finais apontaram para mecanismos de negação e cisão bem acentuados, além de nível elevado de angústia. No contexto de consulta terapêutica observamos que houve um holding adequado que permitiu que o paciente entrasse em contato com seu sofrimento e vivenciasse a relação terapêutica como algo possível de sustentar e expressar seu sofrimento psíquico. Esses dados Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 111 foram sendo devolvidos à medida que ocorria a entrevista e a aplicação das pranchas. Notouse um alívio e uma sensação de ser compreendido em sua dor, ao mesmo tempo em que ainda lhe sobram recursos. Conclusões: Por meio desse trabalho pode-se constatar que a partir da enfermidade (ELA) o paciente pôde trazer outros elementos de sua vida, sendo, nesse caso, a doença, uma possibilidade de se iniciar esse contato e esse acesso. No decorrer tanto da entrevista, quanto da aplicação do TAT, mais do que a doença, apareceu o ser humano com sua história de vida, refletindo suas fragilidades e conseqüentes defesas empregadas de seu funcionamento psíquico. Mais uma vez se constata a necessidade do trabalho interdisciplinar, cabendo ao psicólogo na equipe o olhar para a sustentação para o sofrimento psíquico. Mais ainda se evidencia a existência e a presença do ser humano com todas as suas condições que, mesmo enfrentando uma patologia fatal, não se reduz a ela. Palavras Chaves: Esclerose Lateral Amiotrófica; Sofrimento Humano, TAT, Mecanismos de Defesa, Funções Motoras. ANÁLISE DO TEMPO DE PERDA DE MARCHA EM PACIENTES COM ESCLEROSE LATERAL AMIOTRÓFICA Conceição ECG, Durán MA, Silva TM, Chaves ACX, Cunha MCB, Labronici RHDD, Oliveira ASB. Setor de Doenças Neuromusculares da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina UNIFESP/EPM Introdução: A Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) caracteriza-se por uma doença neurodegenerativa com acometimento dos neurônios motores inferior (NMI) e superior (NMS), que causa alterações motoras graves levando a níveis progressivos de incapacidade funcional, incluindo a perda de marcha. Objetivo: Realizar uma análise do tempo de progressão de perda da marcha em pacientes com ELA definida, com comprometimento bulbar e apendicular. Casuística e Método : Foram acompanhados durante 03 anos, 54 pacientes, sendo 42 com diagnóstico de ELA definida apendicular (28 homens e 14 mulheres), com idades entre 28 e 83 anos (média – 55.5 anos), e 12 com diagnóstico de ELA bulbar (2 homens e 10 mulheres), com idades entre 53 e 75 anos (média - 64 anos), sem alterações na marcha na avaliação Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 112 inicial. A avaliação foi realizada pela equipe da fisioterapia motora do Ambulatório de ELA, no Setor de Doenças Neuromusculares da UNIFESP/EPM. Na avaliação fisioterapêutica, foi aplicado somente o item H, referente à marcha, da escala de funcionalidade (Amyotrophic Lateral Sclerosis Functional Rating Scale - FRS). Foi analisado o tempo de início das primeiras adaptações, com uso de tornozeleira anti-eqüino, bengala, muleta e andador e a progressão para perda total da marcha. Resultados: Foi verificado que o tempo médio após o diagnóstico, para o início do uso de adaptações foi de 15 meses, e o tempo para perda de marcha foi de 24 meses, com média de 9 meses de progressão entre o uso de adaptações e a perda total da marcha (Gráficos 1, 2 e 3). Relacionado ao tempo de progressão do uso das primeiras adaptações foi verificado uma média de 11 meses para mulheres e 14 meses para homens, progredindo para a perda da marcha com média de 11 meses para as mulheres e 8 meses para os homens (Gráfico 4). Nos pacientes com acometimento bulbar foi verificado que 7 indivíduos não apresentaram alteração na marcha, 2 utilizaram algum tipo de adaptação e 3 progrediram para a perda da marcha (Gráfico 5). Conclusão: Foi verificado que o tempo médio de perda da marcha nos pacientes avaliados é de 24 meses, sendo que o tempo para a utilização das primeiras adaptações é mais rápido em mulheres do que em homens, porém, na progressão de perda da marcha, os homens apresentaram menor tempo em relação as mulheres. Relacionado aos pacientes com acometimento bulbar, foi verificado que estes não apresentam um grau de severidade no comprometimento da marcha, comparados aos pacientes com acometimento apendicular. ATIVIDADES RECREATIVAS COMO PROPOSTA DE UTILIZAÇÃO DO TEMPO DE ESPERA EM CONSULTAS MÉDICAS UNIFESP / EPM / HSP Macário MF1, Amaral NN2, Oliveira RG3, Moreira VC4, Alves ACL3, Barreto NA3, Cervera F2, Fávero AA5, Federicci DCC6, Franco MF3, Gomes RK2, Gomes IS3, Gonzaga RM3, Miranda TAO3, Mucciolo LS2, Silva ZL7, Vital CB3, Oliveira ASB, Gabbai AA. 1. Assistente Social – ABRELA e Setor de Doenças Neuromuscular da UNIFESP / EPM / HSP. 2. Fisioterapeutas Motoras – Voluntários do Verde Vida Saúde. 3. Educadores Físicos – Voluntários do Verde Vida Saúde. 4. Psicóloga da ABRELA e Setor de Doenças Neuromuscular da UNIFESP / EPM / HSP. 5. Psicóloga – Voluntária do Verde Vida Saúde. 6. Terapeuta Ocupacional – Voluntária do Verde Vida Saúde. 7. Bióloga – Voluntária do Verde Vida Saúde. Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 113 Introdução: Iniciado em Fevereiro de 2004, no Setor de Doenças Neuromusculares, um trabalho inovador de atividades recreativas para a utilização do tempo de espera dos pacientes, cuidadores e familiares. O objetivo é proporcionar lazer, recreação e interação social. O trabalho é realizado por integrantes do projeto Verde Vida, composto por professores e alunos do curso de especialização “Saúde Integrativa em Indivíduos com Afecções Músculo- Esquelética”. Os participantes são graduados em Biologia, Educação Física, Fisioterapia, Psicologia, Serviço Social e Terapia Ocupacional. Material e Método: População: Pacientes, de ambos os sexos e de todas as idades e acompanhantes. Instrumentos: Jogos recreativos, dinâmicas de grupos, desenhos, leitura de estórias infantis e revistas informativas e práticas corporais. Procedimentos: Os especializandos, citados, formam grupos com média de 12 participantes, programam atividades mensalmente e atuam nos períodos da manhã e tarde, de segunda à sexta-feira, no Setor de Doenças Neuromusculares e às terças-feiras (tarde), no Setor de Ginecologia e Obstetrícia (GO) da UNIFESP. Os integrantes de cada grupo revezam-se na atividade de abordagem da população alvo, detalhando a proposta do Projeto e oferecendo as diversas atividades do período, convidando-os a participarem e procedendo a execução das mesmas. Resultados: Entre Fevereiro e Junho de 2004, foram realizados 604 atendimentos, dos quais 556 na Neuromuscular e 48 na GO. Houve considerável crescimento sendo o primeiro mês: 39 atendimentos e no último mês: 153, motivando a Equipe do Verde Vida a entusiasmar-se, ainda mais, com a proposta que demonstra estar vencendo as primeiras barreiras procedentes do próprio paciente/familiar que no contato inicial evidenciam medo de afastar-se do recinto ambiental e perder a consulta agendada. Nossa atuação tem sido, para a população alvo, um mecanismo facilitador de recebimento de diagnósticos e orientações. Conclusão: 1- Aceitação do público alvo de atividades de lazer em “sala de espera”; 2Diminuição de angústia e ansiedade para a consulta médica; 3-Facilitação para recebimento de orientações e diagnósticos, incluindo-se “bad-news”. PROJETO VERDE VIDA: ATIVIDADES MULTIPROFISSIONAIS EM AMBULATÓRIOS DA UNIFESP / EPM / HSP Macário FM, Amaral NN, Oliveira RG, Moreira VC, Abe GC, Ramos PE, Costa MO, Oliveira ASB, Gabbai AA. Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 114 Setor de Doenças Neuromusculares da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina UNIFESP/EPM Introdução: O Projeto Verde Vida teve início em fevereiro de 2004, no Setor de Doenças Neuromusculares, estendendo-se ao Setor de Ginecologia e Obstetrícia da UNIFESP/EPM. O objetivo é formar indivíduos capacitados a realizar atividades em equipes multiprofissionais com o intuito de utilizar criativamente o tempo de pacientes e acompanhantes que aguardam a consulta previamente agendada. Material e Método: População: alunos graduados e graduandos (Biologia, Educação Física, Fisioterapia, Psicologia, Serviço Social e Terapia Ocupacional), supervisores e coordenadores do Projeto Verde Vida; de ambos os sexos; com idade entre 19 e 50 anos; pacientes e acompanhantes que comparecem aos referidos setores. Instrumentos: jogos recreativos, relaxamento, leitura de histórias e revistas, desenhos, dinâmicas grupais e práticas corporais. Procedimento: 1. Tomando-se por base a visão integral do ser humano é ministrado um curso de especialização e extensão “Saúde Integrativa em Indivíduos com Afecções MusculoEsqueléticas”. 2. Os alunos do curso dividem-se em grupos de até 12 participantes e realizam a parte prática do Projeto Verde Vida desenvolvendo atividades com os pacientes e acompanhantes, de segunda à sexta-feira, nos períodos da manhã e tarde, nos referidos setores. Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 115 ATENDIMENTO AMBULATORIAL DO ANO DE 2004 214 225 210 195 180 165 150 135 120 105 90 75 60 45 30 15 0 172 153 116 69 M B TE SE A G O ST O O JU LH H O JU N IO M A R IL A B Ç O M A R O R O 39 39 R EI R FE VE 171 Resultados: 1. Entre fevereiro e junho de 2004, foram realizados em média 120,8 atendimentos / mês atingindo um total de 604 atendimentos. 2. Formação de 5 equipes cada uma sob a supervisão de um profissional. 3. A média de 15 horas semanais de atenção aos pacientes e acompanhantes. 4. Um total de 85 pessoas envolvidas entre professores e alunos. 5. Participação de professores e alunos em 6 atividades extracurriculares, como simpósios, feiras, cursos e visitas à Estação Especial da Lapa. Conclusão: Formação e motivação do profissional de saúde para uma relação afetiva, lúdica, criativa, reflexiva e instrutiva com pacientes e acompanhantes no período de espera da consulta. Valorização da saúde em detrimento da doença. Humanização das relações na área da saúde. Análise dos Instrumentos de Avaliação da Qualidade de Sono em pacientes com Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA). Rezende MM, Ghezzi SR, Fontes SV, Fukujima MM, Carvalho LBC, Fávero FM, Oliveira ASB, Prado GF. Setor de Doenças Neuromusculares da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina UNIFESP/EPM Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 116 Introdução: A esclerose lateral amiotrófica (ELA) é uma doença neurodegenerativa que leva a morte seletiva dos neurônios motores superiores (NMS) e neurônios motores inferiores (NMI), promovendo fraqueza muscular progressiva. Em conseqüência a fraqueza dos músculos respiratórios pode ocorrer hipoventilação, principalmente durante o sono, que pode implicar em disfunções respiratórias nesta fase e conseqüentes distúrbios do sono. A privação do sono pode causar disfunções cognitivas, depressão, ansiedade e, portanto, alterações na qualidade de vida dos pacientes com ELA. O objetivo deste estudo foi analizar qual das escalas de sono Stanford Sleepiness Scale (SSS), Epworth Sleepiness Scale (ESS), Mini-Sleep Questionnaire (MSQ) possui maior correlação entre elas, e entre as escalas de psicológicas Beck Depression Inventory (BDI) e State-Trait Anxiety Inventory (STAI I-II) quando aplicados a pacientes com ELA. Método: Foram avaliados 53 pacientes com ELA (39 homens e 14 mulheres), atendidos no ambulatório de Doenças Neuromusculares da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina (UNIFESP-EPM), com média de 54,79 anos. Todos foram submetidos a aplicação das escalas de sono: SSS, ESS, MSQ; e de avaliação psicológica BDI e STAI I-II. Foram utilizados para a análise dos resultados o teste do quiquadrado, para as proporções das variáveis categóricas como sexo, história de distúrbio do sono, uso de BIPAP, história de depressão, ELA familiar; teste de Mann-Whitney para as variáveis classificadas como ordinais, SSS, STAI I domínio 8, STAI II domínio 6, STAI II domínio 2, STAI II domínio 8; teste de Pearson para correlação entre pares de variáveis escalares e ordinais. Para todos os testes considerou-se um p<0,05 (5%) como indicador de significância estatística. Resultados: Houve correlação significante entre SSS e ESS, SSS e MSQ, SSS e BDI, SSS e o domínio 8 do STAI I, BDI e a idade, BDI e MSQ, BDI e ESS, ESS e Mini-mental, e MSQ com STAI II. Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 117 Tabela. Relação das correlações entre as escalas (valor de r). idade Mine mental Mini mental -0,452* SSS ESS MSQ BDI STAI I STAI II -0,237 -0,282 -0,045 -0,14 0,071 -0,214 0,107 0,322* -0,195 -0,093 0,345* 0,001 0,323* -0,19 0,15* -0,031 ESS 0,119 -0,282* 0,431* MSQ 0,194 -0,045 0,374* 0,107 BDI 0,294* -0,135 0,323* 0,322* 0,345* STAI I-8 0,081 0,171 0,283* -0,107 -0,101 -0,06 0,383* STAI II 0,317* -0,214 0,232 -0,093 0,323* 0,15 0,101 Conclusão: A SSS foi a escala de sono que apresentou melhor correlação com as demais escalas de sono (ESS e MSQ). A escala de avaliação de depressão (BDI) apresentou correlação com todas as escalas de sono. Avaliação dos Distúrbios do Sono em pacientes com Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA). Rezende MM, Ghezzi SR, Fontes SV, Fukujima MM, Carvalho LBC, Fávero FM, Oliveira ASB, Prado GF. Setor de Doenças Neuromusculares da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina UNIFESP/EPM Introdução: A esclerose lateral amiotrófica (ELA) é uma doença neurodegenerativa do sistema nervoso central que leva a morte seletiva dos neurônios motores superiores (NMS) e neurônios motores inferiores (NMI), promovendo comprometimento motor (fraqueza muscular progressiva), e não motor (prejuízo cognitivo). A fraqueza dos músculos respiratórios leva a hipoventilação, principalmente durante o sono, que pode implicar disfunções respiratórias nesta fase. A privação do sono pode causar disfunções cognitivas e alterações na qualidade de vida dos pacientes com ELA. É importante considerar a depressão e a ansiedade, pois, ambos podem ser fatores preditores de distúrbios do sono. O objetivo deste estudo foi avaliar se pacientes com ELA apresentam maior predisposição a distúrbios do sono do que indivíduos sem ELA. Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 118 Método: Foram avaliados 53 pacientes com ELA (39 homens e 14 mulheres), atendidos no ambulatório de Doenças Neuromusculares da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina (UNIFESP-EPM), com média de 54,79 anos, e um grupo controle com 27 indivíduos pareados em relação a idade e o sexo. Todos foram submetidos à aplicação das escalas de sono: SSS, ESS, MSQ; e de avaliação psicológica BDI e STAI I-II. Foram utilizados para a análise dos resultados o teste do quiquadrado, para as proporções das variáveis categóricas como história de distúrbio do sono, uso de BIPAP, história de depressão, ELA familiar; teste de Mann-Whitney para as variáveis classificadas como ordinais, SSS, STAI I domínio 8, STAI II domínio 6, STAI II domínio 2, STAI II domínio 8; T de Student para comparação das médias das variáveis escalares, idade, Mini-Mental, ESS, MSQ, BDI, STAI I, STAI II; teste de Pearson para correlação entre pares de variáveis escalares e ordinais no grupo de portadores de ELA. A homogeneidade dos grupos foi analisada pela comparação das médias das idades e das proporções dos sexos. Para todos os testes considerou-se um p<0,05 (5%) como indicador de significância estatística. Resultados: Comparado com o grupo controle houve diferença significante nos domínios 2 e 8 do STAI II, e nos escores do Mini- Mental, MSQ, BDI, STAI I, sendo, em todos, maior no grupo com ELA. O grupo com ELA apresentou maior porcentagem de distúrbios do sono em todas as escalas. Todos os pacientes que apresentaram depressão também apresentaram distúrbio do sono em pelo menos duas das três escalas. Tabela. Comparação das porcentagens de distúrbios do sono nos grupos com e sem ELA. Grupo ELA Grupo Controle SSS 30% 18% ESS 35,80% 22,20% MSQ 73,50% 51,90% Conclusão: Foi encontrada maior porcentagem de distúrbios do sono nos indivíduos com ELA comparados aos sem ELA, mostrando uma maior predisposição destes indivíduos às alterações do sono. Os distúrbios do sono apresentam grande relação com a depressão, sendo, no entanto difícil identificar se o distúrbio do sono causa da depressão, ou a Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 119 depressão leva ao distúrbio do sono, necessitando de um estudo mais específico para identificá-los. Relação entre degeneração do trato córtico-espinhal, através de Ressonância Magnética, e Escala Funcional (ALSFRS) em pacientes com Esclerose Lateral Amiotrófica. Garcia LN, Silva AV, Carrete Jr. H, Fávero FM, Fontes SV, Moneiro MT, Oliveira ASB Setor de Doenças Neuromusculares da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina UNIFESP/EPM Introdução: A Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) é uma doença neurodegenerativa progressiva, associada à perda de neurônios motores do córtex cerebral, tronco encefálico e medula espinhal, afetando as fibras do trato córtico-espinhal (TCE). A escala funcional de avaliação em esclerose lateral amiotrófica (Amyotrophic Lateral Sclerosis Functional Rating Scale - ALSFRS) quantifica e avalia as lesões motoras dos pacientes com ELA, funcionando como um indicativo prognóstico. A imagem de ressonância magnética (RM) por tensor de difusão (diffusion tensor imaging - DTI) é atualmente o método mais sensível para avaliar a integridade das fibras da substância branca. O grau de deterioração das fibras pode ser quantificado pelo índice “fractional anisiotropy” (FA). O objetivo do presente estudo foi determinar se existe correlação entre a pontuação obtida através da ALSFRS e a degeneração do TCE através da RM por DTI em diferentes regiões de interesse. Método: No presente estudo, pacientes com ELA definida foram avaliados pela ALSFRS e imediatamente submetidos à DTI. O diagnóstico de ELA foi definido segundo os critérios do El Escorial (Brooks et al. 2000), sendo excluídos pacientes com ELA bulbar e pacientes com sintomas avançados. Os critérios de exclusão para a realização da RM foram: claustrofobia, desconforto respiratório grave, ventilação mecânica assistida diurna, marcapasso e próteses metálicas. O estudo foi realizado com sete pacientes (três mulheres e quatro homens), com idade média de 54,7 ± 11,1 anos e duração média dos sintomas de 33,8 ± 23 meses. No dia da realização da ressonância magnética, cada um dos pacientes respondeu ao questionário de funcionalidade (ALSFRS), usado para avaliar o grau de gravidade da doença. Para a análise da RM, as imagens dos pacientes (N=7) foram comparadas àquelas obtidas de indivíduos saudáveis (N=10), utilizando o teste t não pareado. A FA foi medida ao longo do trato corticoespinhal de ambos os hemisférios cerebrais. Cinco regiões de interesse foram Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 120 selecionadas do grupo de pacientes e de controles, a saber: braço posterior da cápsula interna (CI), parte média do pedúnculo cerebral (PC), substância branca subjacente à área motora primária (M1), substância branca subjacente à área motora secundária (M2) e substância branca subjacente à área somestésica (SI) de ambos os lados. Os resultados da RM e da ALSFRS foram posteriormente comparados para verificar a possível relação entre os parâmetros adquiridos (Teste de Sperman). Resultados: Os pacientes apresentaram valores de FA significantemente menores que os controles em todas as regiões, exceto na área motora secundária (M2), com uma maior diferença nas áreas inferiores (pedúnculo cerebral e cápsula interna) e uma tendência a maior redução no hemisfério direito (Tabela 1). Houve ainda redução estatisticamente significante de FA na área somestésica direita dos pacientes, quando comparados com os controles (p = 0,009). Em relação à ALSFRS, os pacientes apresentaram valores variando de 8 a 28, com pontuações menores nos itens referentes à escrita, alimentação, mobilidade no leito e subir escadas. O tempo dos sintomas da doença varia de 13 a 84 meses. Observamos correlação estatisticamente significante entre a ALSFRS e o FA nas regiões do pedúnculo cerebral e cápsula interna à esquerda. Observamos ainda uma tendência à correlação entre o tempo dos sintomas e os valores de FA na área motora primária (Tabela 2). Conclusão: De um modo geral, nossos resultados sugerem que a ALSFRS não guarda relação direta com o dano estrutural nas porções encefálicas do TCE. Além disso, o presente trabalho reforça a hipótese da degeneração caudo-cefálica do TCE em pacientes com ELA e aponta, pela primeira vez, um possível envolvimento da área somestésica na fisiopatologia dessa doença. Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 121 Tabela 1. Valores de FA de diferentes regiões em pacientes e controles. Pacientes Controles P XC Pedúnculo cerebral D E DXE 0,65±0,05 0,67±0,05 p =0,6 0,76±0,04 0,74±0,04 p =0,3 p =0,001** p =0,01* Cápsula interna D E DXE 0,62±0,03 0,6±0,05 p =0,3 0,7±0,03 0,69±0,03 p =0,1 p =0,0002*** p =0,007* Área motora secundária D E DXE 0,5±0,12 0,49±0,07 p =0,8 0,54±0,08 0,55±0,08 p = 0,5 p =0,44 p =0,13 Área motora primária D E DXE 0,49±0,07 0,46±0,05 p = 0,5 0,58±0,06 0,53±0,07 p =0,01* p = 0,02* p = 0,04* Área Somestésica D E DXE 0,37±0,09 0,44±0,07 p =0,2 0,5±0,05 0,49±0,1 p =0,8 p = 0,009* p = 0,21 Legenda: D: direito; E: esquerdo; P: pacientes; C: controles; (*): significante; (**) muito significante; (***) extremamente significante. Analise estatística: Pacientes X Controles: Teste t não pareado; Lado direito X Lado esquerdo: Teste t pareado. Tabela 2. Correlação linear entre os parâmetros clínicos (ALSFRS score e tempo de sintomas) e os valores de FA em diferentes regiões de interesse. FA X ALSFRS score Pedúnculo cerebral Cápsula interna Área motora secundária Área motora primária Área Somestésica D E D E p =0,85 p = 0,04* p = 0,57 p = 0,02* D E D E D E p = 0,96 p = 0,6 p = 0,98 p = 0,15 p = 0,53 p = 0,14 FA X Tempo de sintomas p = 0,1 p = 0,9 p = 0,43 p = 0,53 p = 0,53 p = 0,41 p = 0,052 p = 0, 49 p = 0,78 p = 0,64 Legenda: D: direito; E: esquerdo; (*): significante; (**) muito significante; (***) extremamente significante. Analise estatística: Teste de Correlação Linear de Pearson. Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 122 Proposta de um protocolo para avaliação fisioterapêutica neurofuncional do paciente com Esclerose Lateral Amiotrófica Fávero FM, Dupont GAF, Aguiar IC, Fontes SV, Quadros AAJ, Castro I, Oliveira ASB Universidade Federal do Estado de São Paulo – Escola Paulista de Medicina (Unifesp – EPM) – Depto. De Neurologia/Neurocirurgia Resumo: A Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) é uma doença neuromuscular degenerativa com acometimento do Sistema Nervoso Central e alterações motoras. Esta expressa por sinais progressivos e disseminados de neurônios motores superiores e inferiores. Manifesta-se com inicio de fraqueza muscular assimétrica, posteriormente problemas na deglutição, mastigação, fala e comprometimento da musculatura respiratória. Aliado as estes fatores há ainda o aspecto de alterações nutricionais, psicológicas e do sono. Mas, no entanto, a multiplicidade das complicações que a doença apresenta, é necessário que seu acompanhamento se já feito por uma equipe multidisciplinar. Objetivo: Proposta de um protocolo para uma avaliação neurofuncional do paciente com Esclerose Lateral Amiotrófica, para o Setor de Investigação em Doenças Neuromusculares na Disciplina de Neurologia Clínica, Departamento de Neurologia/Neurocirurgia da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina (UNIFESP/ EPM). Método: Foram utilizadas dez escalas adaptadas para o paciente com Esclerose Lateral Amiotrófica, englobando todos os aspectos das alterações nestes pacientes. Resultado: Foi elaborada uma proposta de um protocolo neurofuncional para o Setor de Investigação em Doenças Neuromusculares na Disciplina de Neurologia Clínica, Departamento de Neurologia / Neurocirurgia da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina (UNIFESP/ EPM). Conclusão: A elaboração deste protocolo tem como objetivo facilitar o processo avaliativo e obter informações que possa levar um diagnóstico precoce de Esclerose Lateral Amiotrófica. Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006. 123 NORMAS PARA PUBLICAÇÃO A Revista Neurociências é voltada à Neurologia e às ciências afins. Publica artigos de interesse científico e tecnológico, realizados por profissionais dessas áreas, resultantes de estudos clínicos ou com ênfase em temas de cunho prático. São aceitos artigos em português, inglês e espanhol. Os artigos devem ser inéditos e fica subentendido que serão publicados exclusivamente nesta revista, com o que se comprome em seus autores. O Corpo Editorial da revista reserva-se o direito de avaliar, aceitar ou recusar artigos. Quando aceitos, sugerir modificações para aprimorar seu conteúdo, se necessário, aperfeiçoar a estrutura, a redação e a clareza do texto. Para publicação, será observada a ordem cronológica de aceitação dos artigos. Os artigos são de responsabilidade de seus autores. Submissão do artigo: os artigos devem ser encaminhados ao Editor Chefe em disquete mais três cópias do texto original digitado ou via e-mail e poderão ser utilizados editores de texto “Word”, alternativamente no formato “doc”. Adotar as recomendações abaixo. Título: em português e em inglês ou espanhol e em inglês, sintético e restrito ao conteúdo, mas contendo informação suficiente para catalogação. A Revista prefere títulos informativos. Autor(es): referir nome(es) e sobrenome( s) do modo como preferir para indexação, seu grau e posição. Referir a instituição em que foi feita a pesquisa que deu origem ao artigo. Referir o título maior de cada autor ou grupo de autores, ex.: 1- Professoradjunto, 2- Pós-graduando, 3- Residente. Identificar o autor e endereço para correspondência. Resumo e Summary Summary: devem permitir uma visão panorâmica do trabalho, contendo objetivos, métodos, resultados e conclusões. Não exceder 200 palavras. Orientamos os autores a produzirem resumos estruturados. Unitermos e Keywords: Máximo de 6 (seis), referir após o Resumo e o Summary, respectivamente. Como guia, consulte descritores em ciências da saúde (http://decs.bireme.br). Texto: apresentar a matéria do artigo seqüencialmente: introdução, material (casuística) e método, resultados, comentários (discussão e conclusões), referências bibliográficas, eventualmente agradecimentos, suporte financeiro. Não repetir no texto dados que constem em tabelas e ilustrações. Quadros, Gráficos e Tabelas: até cinco, apresentadas em páginas separadas e no final do texto. Em cada uma, devem constar seu número de ordem, título e legenda. Figuras: até duas ilustrações com tamanho não superior a 6 cm x 9 cm cada uma. Fotos em preto e branco bem contrastadas; eventuais detalhes com setas, números ou letras. Identificar cada ilustração com seu número de ordem, nome do autor e do artigo, com etiqueta colada no verso e nela marcada na parte superior. Não grampear e nem colar as ilustrações, embalar cada uma em separado. Encaminhar separadamente as respectivas legendas. Ilustrações reproduzidas de textos já publicados devem ser acompanhadas de autorização de reprodução, tanto do autor como da publicadora. Ilustrações em cores podem ser publicadas; dado seu custo elevado, será de responsabilidade dos autores, assim como o custo por número de tabelas e ilustrações acima dos mencionados e desde que sua publicação seja autorizada pela editora. O material recebido não será devolvido aos autores. Manter os negativos destas. Referências: Até cerca de 30 (para artigos originais ou de atualização), restritas á bibliografia essencial ao conteúdo do artigo. Para artigos de revisão, até 100 referências. Todos os autores e trabalhos citados no texto devem constar na listagem de referências bibliográficas. No texto, as citações devem seguir o sistema numérico, isto é, são numerados por ordem de sua citação no texto, utilizando-se números arábicos sobrescritossegundo o estilo Vancouver(www.icmje.org). Por exemplo: “....o horário de ir para a cama e a duração do sono na infância e adolescência6-12,14,15.” As referências devem ser ordenadas consecutivamente na ordem na qual os autores são mencionados no texto. Listar todos os autores no máximo de 6, quando forem 7 ou mais, listar os 3 primeiros seguidos de “et al.”. a) Artigos: Autor(es). Título do artigo. Título do periódico (abreviados de acordo com o Index Medicus) ano; volume: página inicial – final. Ex.: Wagner ML, Walters AS, Fisher BC. Symptoms of attention-deficit/hyperactivity disorder in adults with restless legs syndrome. Sleep 2004; 27: 1499-504. b) Livros: Autor(es) ou editor(es). Título do livro. Edição, se não for a primeira. Tradutor(es), se for o caso. Local de publicação: editora, ano, total de páginas. Ex.: Ferber R, Kriger M. Principles and practice of sleep medicine in the child. Philadelphia: W.B. Saunders Company, 1995, 253p. c) Capítulos de livros: Autor(es) do capítulo. Título do capítulo. In: Editor(es) do livro. Título do livro. Edição, se não for a primeira. Tradutor(es), se for o caso. Local de publicação: editora, ano, página inicial e página final. Ex.: Stepanski EJ. Behavioral Therapy for Insomnia. In: Kryger MH; Roth T, Dement WC (eds). Principles and practice of sleep medicine. 3rd ed. Philadelphia: W.B. Saunders Company, 2000, p.647-56. d) Resumos: Autor(es). Título. Periódico ano; volume (suplemento e seu número, se for o caso): página(s). Quando não publicado em periódico: Título da publicação. Cidade em que foi publicada: editora, ano, página(s). Ex.: Carvalho LBC, Silva L, Almeida MM, et al. Cognitive dysfunction in sleep breathing disorders children. Sleep 2003; 26(Suppl):A135. e) Comunicações pessoais só devem ser mencionadas no texto entre parênteses. f) Tese: Autor. Título da obra, seguido por (tese) ou (dissertação). Cidade: instituição, ano, número de páginas. Ex.: Fontes SV. Impacto da fisioterapia em grupo na qualidade de vida de pacientes por AVCi (Tese). São Paulo: UNIFESP, 2004, 75p. g) Documento eletrônico: Título do documento. Endereço na Internet, data e hora do acesso. Ex.: Agentes dopaminérgicos no tratamento da Síndrome das Pernas Inquietas. Diponível no site: http:// www.sindromedaspernasinquietas.com.br, acessado em 10/05/2005, às 14h. Categoria: O próprio autor deve indicar a qual categoria pertence seu texto. a) artigo original b) artigo de revisão c) artigo de atualização d) relato de caso Endereço para submissão de artigos para revista Neurociências: Prof.Dr. Gilmar Fernandes do Prado – Editor Chefe R: Cláudio Rossi, 394 – Jardim da Glória São Paulo - SP - Brasil CEP: 01547-000 Telefone/fax: 5081-6629 E-mail: [email protected] http://www.unifesp.br/dneuro Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.
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