- Programa de Pós

Transcrição

- Programa de Pós
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOLOGIA
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: GEOLOGIA COSTEIRA E SEDIMENTAR
OS EFEITOS DO APORTE DE SEDIMENTO NA VITALIDADE DOS
RECIFES DE CORAIS DE ABROLHOS, BAHIA
LEO XIMENES CABRAL DUTRA
Salvador – Bahia
Setembro -2003
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOLOGIA
OS EFEITOS DO APORTE DE SEDIMENTO NA VITALIDADE DOS RECIFES DE CORAIS DE
ABROLHOS, BAHIA
por
Leo Ximenes Cabral Dutra
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Submetida em satisfação parcial dos requisitos ao grau de
MESTRE EM CIÊNCIAS
GEOLOGIA
à
Câmara de Ensino de Pós-Graduação e Pesquisa
da
Universidade Federal da Bahia
Aprovado:
Comissão Examinadora:
.................................................................................
Dra. Zelinda M.A.N. Leão - IGEO/UFBA
Orientadora
.................................................................................
Dr. Ruy Kenji P. de Kikuchi – IGEO/UFBA
Co-orientador
.................................................................................
Dr. Francisco Barros – IBIO/UFBA
Grau conferido em: ...../...../.....
Data da Aprovação: ...../...../.....
RESUMO
O aporte de sedimento na água do mar é um processo natural o qual pode ser intensificado através de
ações antrópicas como, por exemplo, o desmatamento e a dragagem e ele é um dos principais fatores que
limitam o crescimento e o desenvolvimento dos recifes de corais. Neste trabalho foram avaliados os efeitos
das taxas de acumulação de sedimento na vitalidade dos recifes da região de Abrolhos, no litoral sul do
estado da Bahia. Foram medidos a cobertura viva de corais, o número, a altura e o diâmetro das colônias, o
número de espécies e a quantidade de recrutas. Para medir a taxa do sedimento acumulado foram utilizadas
armadilhas submersas por cerca de 30 dias, em cinco estações Pedra de Leste (LES), Timbebas (TIM), recife
da Lixa (LIX), recife da Pedra Grande Sul (PGS) e Parcel de Abrolhos (PAB), durante os meses de
outubro/2001 e março/2002. Para cada estação foram registradas a profundidade média e a sua distância da
linha de costa. Para a coleta dos dados bióticos foi aplicada a metodologia descrita no protocolo AGRRA
(Atlantic and Gulf Rapid Reef Assessment), onde foram estendidos seis transectos em banda com 10 m de
extensão por 1 m de largura. As colônias maiores que 20 cm foram identificadas e medidas, e todas as
espécies de corais presentes nos transectos foram registradas. A contagem dos recrutas foi feita em cinco
quadrados com 25 cm de lado, posicionados a cada 2 m nos transectos. Foi adaptada uma metodologia de
solos para calcular o percentual de CaCO3 presente no sedimento acumulado nas armadilhas. Para se
estabelecer uma relação de causa-efeito entre os parâmetros abióticos e bióticos, foi utilizada a correlação de
Pearson. As taxas de acumulação influenciaram o percentual de cobertura viva de corais, o diâmetro médio
das colônias de corais e do hidrocoral Millepora alcicornis, o número de colônias maiores que 20 cm e o
número das colônias de M. alcicornis, assim como o número total de recrutas e o número dos recrutas das
espécies Favia gravida e Siderastrea stellata. O valor da taxa de sedimento acumulado de 15 mg.cm-2.dia-1
parece se constituir como um limite crítico para a sobrevivência dos corais, uma vez que a partir deste valor
há uma tendência inversa significativa dos valores dos parâmetros bióticos medidos. A localização dos
recifes em relação à linha de costa é a principal causa da exposição dos corais aos efeitos do aporte de
sedimento, as estações mais próximas do continente (LES e LIX) apresentam os maiores valores para a taxa
de acumulação de sedimento. O percentual de sedimento siliciclástico parece influenciar, de forma negativa,
a vitalidade dos recifes. Existe uma clara transição na deposição de material terrígeno para sedimentos
carbonáticos a partir da estação LES em direção costa-afora, coincidente com o aumento, na mesma direção,
dos valores indicativos das condições vitais dos recifes.
ABSTRACT
Sediment influx in sea water is a natural process that can be intensified through anthropic actions as
deforastation and dredging and it is one of the main factors limiting development and growth of coral reefs.
This work evaluates the effects of sediment accumulation on reef corals from the Abrolhos area, at the south
coast of of the state of Bahia. The biotic parameters measured were: live coral cover, number, height and
diameter of the coral colonies, species diversity and coral recruits. To measure sediment accumulation we
used sediment traps, submerged for 30 days in five stations: Leste reef (LES), Timbebas reef (TIM), Lixa
reef (LIX), Pedra Grande Sul reef (PGS) and Abrolhos reefs (PAB), in October/2001 and March/2002.
Average depth and distance from the coastline were recorded in all stations. To collect biotic data the
AGGRA (Atlantic and Gulf Rapid Reef Assessment) protocol was applied, extending six band transects (10
m x 1 m). Colonies larger than 20 cm were identified and measured and all coral species present in the
transects were recorded. Recruit counting was done in five quadrats (25 cm), placed in every 2 m along the
transects. A soil methodology was adapted to calculate the carbonate percentage accumulated in sediment
traps. To establish a cause-effect relationship between biotic and abiotic the data Pearson´s correlation was
used. Sediment accumulation influenced live coral cover, average coral diameter and diameter of Millepora
alcicornis colonies, number of coral colonies larger than 20 cm, and the colonies of M. alcicornis, total
number of recruits and of recruits of Favia gravida and Siderastrea stellata. The sediment accumulation rate
of 10 mg.cm-2.day-1 seems to constitute a critical limit for coral survival, because above to this value there is
a significative inverse tendency of the measured biotic parameters. The distance of the reefs from the
coastline is the main factor that exposes corals to the effects of sediment influx. The stations closest to the
continent (LES and LIX) show the higher values of sediment accumulation rates. Siliciclastic sediments
seems to influence vitality of the reefs. There is a clear transition in the deposition of terrigenous material to
carbonate sediments from LES to the outer reefs (PAB), coincident with the pattern of the indicative values
of reef vitality.
AGRADECIMENTOS
Este trabalho contou com a ajuda e a colaboração direta e indireta de diversas pessoas. Em primeiro
lugar gostaria de agradecer a minha família Marconi, Diva, Igor e Tiago, pelo carinho, apoio e incentivo que
sempre me foram conferidos. A professora Zelinda Leão pelo constante entusiasmo com que trata o objeto
principal deste estudo, os recifes de corais e que, em conjunto com o professor Ruy Kikuchi, me deram a
oportunidade de trabalhar nesta área fascinante.
À equipe de diagnóstico e monitoramento dos recifes de corais, coordenada pelos professores Zelinda e
Ruy: Antonio Bonici Neto, Bertran Miranda Feitosa, Cláudio “Buia” Luís Sampaio e Saulo Spanó que
acabaram se tornando uma família durante os trabalhos de campo. Eles foram fundamentais para a aquisição
dos dados essenciais sobre os recifes da região de Abrolhos, solucionando os problemas que sempre ocorrem
no planejamento e na execução das expedições de campo, assim como levando alegria nos longos períodos
de embarque.
Gostaria de agradecer também aos mestres e marinheiros que conduziram as embarcações utilizadas
durante este trabalho: Mestre Odário “Baixinho” e marinheiro Zacarias da Lancha ISLA, Mestre Bira e
marinheiros Wilson e César da traineira TOMARA. Eles fizeram com que chegássemos onde queríamos,
com toda segurança e conforto possíveis.
A CAPES pela bolsa de Mestrado a mim concedida e ao CNPq, MCT/UFBA/IGEO/CPGG pelo
financiamento conferido através dos projetos dos professores Zelinda Leão e Ruy Kikuchi.
A professora Rita Nano e a bolsista de Iniciação Científica Silvia Regina S. Rocha, do Núcleo de
Estudos Ambientais do IGEO/UFBA, pela imensa ajuda no desenvolvimento da metodologia adequada para
a quantificação do CaCO3.
Ao amigo Eduardo Lacreta Leoni pelos esclarecimentos sobre a utilização das correlações de Pearson e
as constantes dúvidas estatísticas, sempre respondidas com rapidez e paciência.
Ao Dr. Francisco Barros por me ajudar a visualizar melhor as minhas planilhas com os dados de campo
e a prepará-las para as análises estatísticas.
Aos professores Abílio Bittencourt, Guilherme Lessa, José Maria Landim Dominguez, Lêda de SantaIsabel e aos colegas, Ana Clara, Cleodon, Juzenilda, Érica, Marta, Rian, Rita e Suzana que, de diversas
maneiras, contribuíram para a realização deste trabalho.
i
ÍNDICE
AGRADECIMENTOS.........................................................................................................................................i
ÍNDICE...............................................................................................................................................................ii
1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................................................1
1.1. Objetivos.........................................................................................................................................4
2. DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO .......................................................................................................6
2.1.Localização .....................................................................................................................................6
2.2. Clima ..............................................................................................................................................6
2.3. Parâmetros Oceanográficos ............................................................................................................8
2.4. Os recifes de corais da região de Abrolhos ..................................................................................10
2.4.1. Morfologia ....................................................................................................................10
2.4.2. Sistemática e descrição das espécies de corais observadas durante o período de
amostragem (uma revisão) .....................................................................................................12
2.4.3. Sistemática e descrição das espécies de hidrocorais observados nas estações de
amostragem (uma revisão) .....................................................................................................18
2.5. Caracterização do sedimento inter-recifal .........................................................................................19
3. MATERIAL E MÉTODOS .........................................................................................................................29
3.1. Trabalho de campo ............................................................................................................................29
3.1.1. Avaliação da vitalidade dos recifes .............................................................................29
3.1.2. Avaliação do teor do sedimento acumulado ................................................................31
3.1.2.1. Medida da taxa de acumulação do sedimento ..............................................31
3.2. Análises de laboratório ......................................................................................................................33
3.2.1. Análise do sedimento acumulado nas armadilhas ........................................................33
ii
3.2.2. Avaliação do equivalente de carbonato de cálcio no sedimento – método adaptado da
EMBRAPA (1997) .................................................................................................................33
3.3. Trabalho de escritório ........................................................................................................................37
3.3.1. Planejamento ................................................................................................................37
3.3.2. Tratamento estatístico dos dados ..................................................................................37
4. RESULTADOS ............................................................................................................................................45
4.1.Parâmetros Bióticos .......................................................................................................................45
4.1.1. Número de colônias, abundância relativa e freqüência de ocorrência das espécies de
corais e hidrocorais observados nas estações de estudo .........................................................45
4.1.2. Cobertura viva de corais ...............................................................................................49
4.1.3. Espécies observadas em cada estação ..........................................................................50
4.1.4. Recrutas de corais e de hidrocorais ..............................................................................51
4.1.5. Altura e diâmetro médio das colônias ..........................................................................54
4.2. Parâmetros abióticos ....................................................................................................................58
4.2.1. Distância da costa, profundidade média e taxa de acumulação de sedimento .............58
4.2.2. O equivalente de carbonato de cálcio das amostras .....................................................60
4.3. Resultados das correlações de Pearson ........................................................................................62
5. DISCUSSÃO ................................................................................................................................................66
5.1. O sedimento acumulado no topo dos recifes .....................................................................................66
5.2. Os efeitos do aporte de sedimento sobre a vitalidade dos corais construtores dos recifes estudados
....................................................................................................................................................................68
6. CONCLUSÕES ............................................................................................................................................76
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .........................................................................................................78
iii
1. INTRODUÇÃO
O aporte de sedimento nas águas costeiras é um dos fatores que mais afetam a distribuição dos recifes de
coral, a estrutura das comunidades recifais e o crescimento e o recrutamento dos corais. O aumento desta
carga de sedimento pode resultar de processos naturais e/ou antrópicos. Os processos naturais incluem a
descarga fluvial, a descarga de sedimento terrígeno após períodos de chuvas intensas, a erosão da linha de
costa e a ressuspensão do sedimento de fundo durante tempestades (Loya, 1976; Rogers, 1990). Entre os
fatores antrópicos destacam-se os efeitos da dragagem e da ocupação humana na região costeira (Dodge &
Vaisnys, 1977; Hodgson & Dickson, 2000; van Katwijk et al., 1993).
De acordo com Woolfe & Larcombe (1999), o conceito de aporte de sedimento não estaria ainda bem
definido, uma vez que seria importante distinguir entre o suprimento de sedimento para a linha de costa, o
fluxo de sedimento na plataforma continental e a acumulação de sedimento nas áreas recifais. Este é, ainda,
um problema existente na bibliografia sobre os processos de acumulação de sedimento nos ambientes
recifais, pois não há uniformidade conceitual no que diz respeito a este fenômeno. Muitas vezes os termos
sedimentação, acumulação, ressedimentação e ressuspensão do sedimento são utilizados para descrever o
mesmo processo: medir, usando armadilhas de sedimento, a quantidade de material de origem sedimentar
que é acumulado no seu interior.
Dodge & Vaisnys (1977) e Aller & Dodge (1974) utilizam o termo ressuspensão de sedimento. Acevedo
& Morelock (1988) utilizam o termo influxo de sedimento para descrever o soterramento das colônias de
corais por sedimentos terrígenos em Porto Rico. O termo sedimentação é utilizado por Babcock & Davies
(1991) para experimentos de fixação das larvas plânulas dos corais em laboratório. Hodgson (1993) também
usa o termo sedimentação quando, na verdade, ele mediu a acumulação de sedimento em armadilhas.
Sedimentação e ressuspensão de sedimento são termos utilizados por Abdel-Salam & Porter (1988) para
descrever os efeitos fisiológicos da rejeição do sedimento pelos corais. Edinger et al. (1998) usam o termo
sedimentação para exemplificar o estresse crônico nos recifes de coral da Indonésia. Cortés & Risk (1985)
preferem usar o termo siltação para descrever o aumento de influxo de sedimento fino de origem continental
em recifes de corais, associado ao desflorestamento.
Nos trabalhos de Dodge & Vaisnys (1977), Larcombe & Woolfe (1999) e Woolfe & Larcombe (1999)
os termos sedimentação, turbidez e acumulação de sedimento parecem estar definidos de maneira mais
apropriada. Assim, tentando melhor definir os termos a serem usados neste trabalho, o Dicionário de
Geologia Sedimentar de autoria de K. Suguio (1998) foi consultado, de onde foram extraídos os principais
conceitos envolvendo os processos de geração, transporte e acumulação de sedimento no ambiente marinho,
os quais dizem respeito a:
2
Acumulação de sedimento
Ação ou efeito do empilhamento de material sedimentar, de qualquer natureza, por um agente qualquer
(natural ou antrópico). Segundo Larcombe & Woolfe (1999), este fenômeno descreve o aumento na
espessura de um corpo sedimentar, causado pela adição de material em seu topo.
Sedimentação
Deposição de partículas minerais ou orgânicas em meio subaquoso ou subaéreo sob condições físicoquímicas normais, isto é, próximas às da superfície terrestre. O material transportado pode ser derivado de
rochas preexistentes ou originado por processos biológicos. O processo tem início quando a força
transportadora é sobrepujada pelo peso das partículas, ou quando a água torna-se supersaturada em solutos
(sedimentação química) ou pela atividade ou morte de organismos (sedimentos orgânicos ou bioquímicos).
Segundo Hodgson (1993), o processo de sedimentação pode ser definido como um processo natural que
resulta da erosão continental e o transporte do solo até o mar, ou a partir da ressuspensão do sedimento
previamente depositado ao longo das costas ou no fundo marinho.
Ressedimentação (redeposição)
Mecanismo pelo qual o sedimento inconsolidado pode ser retrabalhado por corrente aquosa,
deslizamento subaquático ou corrente de turbidez, sendo transportado para depositar-se em um sítio diferente
daquele de sua origem. É um processo muito ativo em locais com desenvolvimento de correntes de turbidez.
É usado também como sinônimo de retrabalhamento.
Ressuspensão
Fenômeno pelo qual sedimentos pelíticos (silte e argila), recém depositados, podem ser retrabalhados
por intensificação da velocidade do fluxo ou da intensidade de turbulência de um meio aquoso. Resulta na
retomada do transporte do sedimento.
Turbidez
Segundo Dodge & Vaisnys (1977), a turbidez é o resultado da diminuição da luz devido à presença de
partículas de sedimento na coluna d’água, que reduz a iluminação, uma fonte vital de energia para os corais.
É um fenômeno oceanográfico transitório que é temporal e espacialmente variável porque está amplamente
relacionado com os fatores físicos que atuam no fundo marinho, como ventos, ondas e correntes, por isso, o
papel da turbidez na distribuição dos recifes de coral é espacialmente variável. A turbidez é, em parte,
controlada pelos locais de acumulação de sedimento lamoso (Larcombe & Woolfe, 1999) e geralmente, em
águas costeiras, o teor do material particulado em suspensão (turbidez) está correlacionado com as taxas de
ressuspensão (Cortés & Risk, 1985).
3
Em experimentos realizados com armadilhas, o termo mais adequado a ser empregado é
ACUMULAÇÃO DE SEDIMENTO (termo utilizado neste trabalho), já que na armadilha todos os processos
citados anteriormente ocorrem em conjunto. Não é possível fazer a distinção entre o material produzido no
próprio lugar, o material ressedimentado e/ou ressuspenso, como também saber a exata origem dos mesmos,
isto é, as armadilhas de sedimento podem acumular material ressedimentado, ressuspenso e, em parte, pode
acumular sedimento transportado de origem continental. Tanto a origem do sedimento como a turbidez,
representam um grande problema às comunidades coralinas em decorrência, sobretudo, da redução da
disponibilidade de luz para as espécies bentônicas, afetando-as através de mecanismos letais e/ou sub-letais,
os quais estão na dependência da taxa de influxo de sedimento e do ciclo de vida dos organismos. Entre os
mecanismos de efeitos letais e sub-letais, podemos citar:
Asfixia – ocorre quando o sedimento na superfície da colônia inibe os corais para que realizem as trocas
de oxigênio, dióxido de carbono e outros metabólitos com o meio aquoso, levando-os à morte (Abdel-Salam
& Porter, 1988);
Redução nas taxas de crescimento – ocorre quando o crescimento do esqueleto do coral (que é o
resultado final de vários processos fisiológicos) é alterado quer pela deficiência de luz necessária para os
endossimbiontes realizarem a fotossíntese e acelerar a deposição do carbonato de cálcio no esqueleto
coralino (Rogers, 1990), ou devido à energia excessiva gasta pelo coral para remover o sedimento de sua
superfície (Abdel-Salam & Porter, 1988; Rogers, 1990);
Abrasão – quando o movimento do sedimento, em decorrência da ação das ondas e/ou correntes na
superfície dos corais, causa lesões aos seus tecidos (Rogers, 1990);
Inibição do recrutamento – quando as larvas dos corais, que requerem substratos duros e estáveis para
se fixarem (Rogers, 1990) encontram, apenas, substratos moles, móveis onde a erosão pode debilitar,
remover ou matar os corais juvenis antes que eles se estabilizem (Woolfe & Larcombe, 1999). Quando as
larvas plânulas encontram altos níveis de sedimento, elas permanecem livre-natantes, podem morrer sem
chance de escapar (Te, 1992).
Redução na cobertura viva e na diversidade das espécies de corais – devido à inibição do recrutamento,
à redução do crescimento do esqueleto e a posterior morte dos corais, a presença de sedimento reduz a
cobertura viva de corais (Rogers, 1990). O número de espécies também diminui, isto devido à ineficiência
que certas espécies têm para rejeitar sedimento e a habilidade que outras poucas possuem em sobreviver em
ambientes onde existem altas taxas de acumulação de sedimento e turbidez (Kleypas, 1996; Rogers, 1990).
Maior número das colônias de corais com menores tamanhos – em geral o tamanho médio das colônias
de corais em um recife particular pode dar pouca indicação da influência da sedimentação (Rogers, 1990),
4
porém Loya (1976) observou que colônias pequenas, associadas a ambientes de alta sedimentação são mais
abundantes, isto, muito provavelmente, devido à sua maior eficiência em rejeitar sedimento;
Dominância de colônias grandes – em alguns casos altas taxas de sedimentação podem limitar o
recrutamento, o que gera uma mudança nas categorias de tamanho da população de corais. Isto quer dizer
que as colônias grandes foram mais eficientes nos ambientes de alta turbidez e sedimentação, e que seus
recrutas não conseguiram se fixar em tais condições (Rogers, 1990);
Mudança na zonação dos corais - com o aumento da sedimentação e da turbidez pode haver uma
mudança com deslocamento em direção ao topo, na zonação de profundidade em decorrência da diminuição
da luminosidade na água, que também reduz as taxas de fotossíntese (Rogers, 1990). Essa migração das
espécies em direção ao topo, em busca de luz, é uma estratégia que evita que elas morram devido à quebra da
relação simbiótica com as zooxantelas e,
Maior abundância de formas ramosas - formas ramosas têm provado serem mais resistentes à presença
de sedimento na água (Rogers, 1990), pois além de serem mais eficientes na remoção do sedimento, suas
formas de crescimento dificultam a acumulação na superfície das colônias.
Diversos trabalhos sobre as áreas recifais do Estado da Bahia (Kikuchi & Leão, 1998; Leão, 1996; Leão
et al., 1997; Leão & Kikuchi, 1999 e Leão et al., 2004) têm sugerido que o provável aumento do aporte de
sedimento nas áreas recifais costeiras é de origem natural, em decorrência da regressão do nível do mar que
ocorreu no final do Quaternário, aproximando a linha da costa dos recifes. Estes trabalhos sugerem, também,
que este processo deve ter aumentado no Presente, muito provavelmente devido ao desmatamento nas zonas
costeiras, acarretando efeitos negativos para a vitalidade dos recifes.
1.1 Objetivo
Considerando tais observações, a pesquisa realizada neste trabalho teve como objetivo principal
comparar o estado vital de cinco recifes da região de Abrolhos, com a taxa de sedimento acumulado sobre o
seu topo recifal. A medida do grau de vitalidade dos recifes baseou-se nas condições da comunidade de
corais – os principais construtores dos recifes, medindo-se os seguintes parâmetros: taxa de cobertura viva,
diversidade, número e dimensões das colônias, taxa de mortalidade e número de recrutas.
Pretendeu-se, ainda, estabelecer uma possível relação entre os fatores bióticos e os abióticos,
aumentando o leque de informações sobre as interações entre o aporte de sedimento e os recifes de coral. Os
resultados obtidos irão contribuir tanto para o melhor entendimento do funcionamento dos recifes brasileiros
como, também, para subsidiar programas de manejo e conservação das áreas recifais, particularmente
daquelas mais próximas do continente.
5
É importante salientar que os dados oriundos deste trabalho foram coletados anteriormente ao início das
operações de dragagem que estão sendo efetuadas na desembocadura do rio Caravelas, próximo às áreas dos
recifes costeiros. Desta maneira, os resultados aqui apresentados poderão servir para avaliações futuras de
possíveis efeitos destas dragagens sobre os recifes da região.
O texto desta dissertação está dividido em sete capítulos. Neste capítulo da introdução foram
apresentadas as várias definições que caracterizam os diversos processos relacionados com o aporte de
sedimento para a zona costeira, assim como uma descrição dos principais efeitos que o sedimento pode
provocar sobre o estado vital dos corais. O segundo e o terceiro capítulos descrevem, respectivamente, a área
de estudo e a metodologia aplicada. Os capítulos seguintes se referem aos resultados obtidos, uma discussão
sobre os mesmos, as conclusões elaboradas a partir da minha interpretação e, finalmente, a lista das
referências citadas no texto.
2. DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
2.1. Localização
A área de estudo localiza-se entre os municípios de Alcobaça e Caravelas, no extremo sul do estado da
Bahia, a cerca de 700 km distante da cidade de Salvador. Cinco grupos de recifes foram selecionados para
estudo (Figura 1), os quais, de acordo com sua localização em relação à linha de costa são: o recife da Pedra
de Leste, distante 12,4 km da costa, o recife de Timbebas, distante 18 km da costa, o recife da Lixa, 19,9 km,
um recife na ponta sul do Recife da Pedra Grande (Parcel das Paredes), a 31,7 km da costa e um recife no
Parcel de Abrolhos, região mais distante, a 58,8 km da costa (Tabela 1).
Tabela 1. Código e nome das estações de estudo, suas localizações e distâncias da costa.
Código da
estação
LES
TIM
LIX
PGS
PAB
Nome da estação
Latitude (S)
Longitude (W)
Pedra de Leste
Recife de Timbebas
Recife da Lixa
Pedra Grande Sul
Parcel de Abrolhos
17º 47,173’
17º 30,150’
17º 41,036’
17º 54,028’
17º 57,550’
039º 02,935’
039º 00,908’
038º 57,914’
038º 55,225’
038º 39,359’
Distância da
costa (km)
12,4
18,0
19,9
31,7
58,8
2.2.Clima
Na estação meteorológica da ilha Santa Bárbara, no arquipélago de Abrolhos, de acordo com informação
da Diretoria de Hidrografia e Navegação do Ministério da Marinha do Brasil (DHN 1993), as temperaturas
mais amenas são observadas entre os meses de junho a setembro (Tabela 2), com médias inferiores a 24ºC.
Os meses mais quentes são os de dezembro a abril, com médias superiores a 25ºC. A precipitação média
anual na estação de Caravelas é de 1.392 mm (canaldotempo.com, 2003) e as médias mensais variam de 66
mm (fevereiro e agosto) a 175 mm (novembro) (Tabela 2).
7
Figura 1. Localização das estações estudadas. LES – Estação da Pedra de Leste; TIM – Estação de
Timbebas; LIX – Estação do recife da Lixa; PGS – Estação do Recife da Pedra Grande Sul; PAB – Estação
do Parcel de Abrolhos.
8
Durante o verão, as massas equatorial Atlântica (zona dos alísios de SE do anticiclone do Atlântico Sul) e
tropical Atlântica (forma-se na região marítima quente do Atlântico Sul, recebendo muito calor e umidade na
superfície) tangenciam a porção leste do litoral do Brasil, com ventos alísios de NE a NW, na região de
Abrolhos. Os alísios de NE do anticiclone do Atlântico norte (massa equatorial norte), sob o efeito do grande
aquecimento terrestre, são aspirados para o interior do continente, formando a monção de verão do norte do
Brasil. Esta monção fortalece a massa equatorial continental a qual se estende por quase todo o território
brasileiro sem, contudo, alcançar a região nordeste, que permanece sob domínio dos ventos alísios de NE e
de E (massa Equatorial Atlântica) (Nimer, 1989).
Os dados sobre a intensidade e a direção dos ventos da estação de Abrolhos (DHN, 1993) indicados na
Tabela 2 mostram que existe mais de 38% de chance de ventos dominantes de NE, com velocidades variando
de 7 a 16 nós, ocorrerem de outubro a fevereiro e ventos de E, com intensidade de 4 a 10 nós, soprarem nos
meses de março a setembro.
No inverno não existe uma depressão continental no Brasil, permitindo que o anticiclone do Atlântico,
com pressão máxima, avance sobre o continente, trazendo as frentes frias. O anticiclone frio da Antártica tem
suas pressões aumentadas, enquanto a zona depressionária circumpolar alcança a latitude média de 35ºS. O
anticiclone norte continua a tangenciar o continente, mas desaparece a monção da estação quente (Nimer,
1989). A Tabela 2 mostra que existe um aumento no percentual de ventos de S e SE entre os meses de março
a setembro, caracterizando a chegada de frentes frias na região de estudo, com velocidades médias dos
ventos variando entre 7 e 21 nós.
2.3. Parâmetros Oceanográficos
Parâmetros Físicos
Os dados dos parâmetros físicos e hidrológicos da plataforma foram descritos baseando-se em
Bittencourt et al. (2000), DHN (1993), Leão (1982) e Sailing Directions (enroute) (2001).
A maior corrente oceânica ao longo da região de estudo é a Corrente do Brasil, braço sul da Corrente
Equatorial, que flui para sul com velocidade média anual de cerca de 0,7 nós (DHN, 1993). As correntes de
maré são regulares, a menos que sejam influenciadas pela força e direção dos ventos, com velocidades
médias de 1,0 a 1,5 nós (Sailing Directions (enroute), 2001). A amplitude das marés é de cerca de 2 m nas
marés de sizígia e de 0,5 m durante as marés de quadratura (DHN, 2003 – dados para o Porto de Ilhéus).
9
Tabela 2. Temperaturas médias (Temp. ºC), precipitação média (mm) (canaldotempo.com, 2003), percentual
de ventos por octante (% ventos), intensidade de ventos por octante (Força) (em escala Beaufort) e
percentual de calmaria durante o ano. Série histórica de 1951-73 para a estação meteorológica de Abrolhos
(DHN, 1993).
Variáveis
Jan
Fev
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Temp. (ºC)
26,0
25,1
27,1
26,1
24,8
24,0
23,3
23,5
24,0
24,8
24,8
25,3
Precipitação
média (mm)
127
66
112
145
119
97
112
66
86
147
175
140
% ventos N
6,0
4,5
7,0
3,0
4,0
7,0
3,0
4,0
4,5
9,5
14,0
10,0
% ventos NE
48,0
44,0
29,0
15,0
8,5
13,0
17,0
22,0
34,0
38,0
49,0
40,0
% ventos E
32,0
38,0
42,0
34,0
33,0
44,0
46,0
47,0
42,0
28,0
21,0
24,0
% ventos SE
9,0
3,0
9,0
16,0
24,0
16,0
16,0
10,0
12,0
8,0
7,0
8,5
% ventos S
5,0
4,5
10,0
26,0
26,0
15,0
14,0
14,0
7,5
15,0
9,0
13,0
% ventos SW 0,0
2,0
2,0
2,0
1,5
2,0
2,0
1,5
0,0
1,5
0,0
2,5
0,0
2,0
1,0
2,0
1,5
1,5
2,0
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
% ventos NW 0,0
2,0
0,0
2,0
1,5
1,5
0,0
1,5
0,0
0,0
0,0
2,0
% ventos W
Força N
4
4
4
3
3
3
4
4
4
4
4
5
Força NE
3
3
3
3
3
3
3
3
4
4
4
4
Força E
3
2
2
3
2
3
3
3
3
3
3
3
Força SE
3
3
3
4
3
4
4
4
4
4
4
3
Força S
3
4
4
4
5
4
5
4
5
4
5
4
Força SW
0
4
4
4
4
3
2
3
0
2
0
3
Força W
0
3
2
3
4
3
2
0
0
0
0
0
Força NW
0
3
0
3
2
3
0
2
0
0
0
4
% Calmaria
2,0
4,0
4,0
3,0
2,0
3,0
3,0
1,0
1,0
2,0
3,0
2,0
A temperatura das águas da superfície do mar varia de cerca de 28º no verão a 24ºC no inverno. Na
coluna d´água esta temperatura não varia muito (cerca de no máximo 2ºC entre a superfície e o fundo), não
apresentando uma estratificação muito acentuada. A salinidade também é um parâmetro relativamente
constante, oscilando entre 36,5 e 36,7 ao redor dos recifes (DHN, 1993).
Na região estudada as frentes-de-onda de NE e E começam a interferir com o fundo marinho a uma
profundidade aproximada de 20 m, enquanto as que vêm de SE e SSE começam a partir dos 35 m
(Bittencourt et al., 2000). Os padrões de refração de onda mostram que as frentes-de-onda que chegam de SE
e SSE refratam mais intensamente que aquelas que vêm de NE e E, devido ao fato das mesmas interferirem
10
com o fundo primeiro que as últimas. Em uma escala de 1:300.000 Bittencourt et al. (2000) mostram que a
região de estudo é normalmente caracterizada por baixos níveis de energia de onda, com regiões de sombra
de onda e grandes trechos de divergência de raios-de-onda, que são locais de enorme dispersão de sedimento.
Tal fato está associado à grande concentração de recifes que amortecem a energia destas ondas.
2.4. Os recifes de corais da região de Abrolhos
2.4.1. Morfologia
A região de Abrolhos possui os recifes de corais mais bem desenvolvidos de toda a costa brasileira
(Castro & Pires, 2001; Laborel, 1969a; Leão, 1982;). Eles são principalmente constituídos por bancos
recifais, paralelos à linha de costa, dispostos ao longo de um arco interno que está sofrendo os efeitos de
processos que atuam no continente, e de um arco externo, menor e mais afastado da linha de costa, que é
continuamente alimentado pela corrente do Brasil (Knoppers et al., 1999). De acordo com Leão & Kikuchi
(1999) (Figura 2), os recifes de coral desta região podem ser classificados em quatro tipos diferentes: (i)
bancos recifais adjacentes à praia, que são estruturas descontínuas com forma variável, mas sempre
alongados e usualmente paralelos à linha de costa; (ii) bancos recifais isolados afastados da costa (Figura
3A), com variados tamanhos (< 10 m até mais de 20 km de extensão) e formas (alongadas, circulares, semiarcos) que, devido à descontinuidade lateral de suas estruturas, os fazem muito diferentes dos exemplos
clássicos de recifes em barreira; (iii) recifes em franja, mais ou menos contínuos, formados pela incrustação
de organismos calcários nos afloramentos rochosos que bordejam as costas das ilhas presentes na região e;
(iv) pináculos coralinos isolados de mar aberto, que são chapeirões gigantes que crescem a partir do fundo e,
usualmente alcançam a superfície (Figura 3B).
Os recifes estudados são classificados em dois dos tipos recifais descritos. As estações de LES e LIX
abrangem bancos recifais isolados, com dimensões na ordem de quilômetros. Eles estão localizados a menos
de 20 km da costa o que faz com que eles possam funcionar como uma barreira, bloqueando o fluxo de água
oriunda do mar aberto e agindo como armadilhas de sedimento (Figura 3A). As outras estações de estudo
(TIM, PGS e PAB) são constituídas por chapeirões isolados, onde a água circula mais livremente (Figura
3B).As figuras 4A e 4B ilustram, em fotos aéreas, estes dois tipos de recifes estudados neste trabalho.
11
Figura 2. Principais tipos de recifes da região de Abrolhos (Leão & Kikuchi, 1999).
Figura 3. Morfologia dos recifes das estações estudadas. A) Os recifes de LES e LIX formando grandes
bancos recifais que funcionam como armadilhas de sedimento. B) Os recifes das estações TIM, PGS e PAB,
com forma de chapeirões isolados, os quais permitem que a água circule mais livremente.
12
2.4.2. Sistemática, descrição e distribuição das espécies de corais observadas durante o
período de amostragem (uma revisão)
Doze espécies de corais e duas espécies de hidrocorais foram observadas nos transectos das cinco
estações estudadas. A classificação sistemática destas espécies está de acordo com Laborel (1969b), e as
descrições têm como base às informações contidas em Amaral et al. (2000), Amaral et al. (2002), Hetzel &
Castro (1994), Laborel (1969b) e Leão (1986).
Classe Anthozoa
Ordem Scleractinia (Bourne, 1990)
Sub-ordem Fungiina Verril, 1865
Superfamília Agariciicae Gray, 1847
Família AGARICIIDAE Gray, 1842
Agaricia agaricites (Linné) humilis Verrill
Família SIDERASTRIDAE Vaughan & Wells, 1943
Siderastrea stellata Verril, 1868
Superfamília Poriticae Gray, 1842
Família PORITIDAE Gray, 1842
Porites branneri Rathbun, 1888
Porites astreoides Lamarck, 1816
Sub-ordem Faviina Vaughan & Wells, 1943
Superfamília Faviicae Gregory, 1900
Família FAVIIDAE Gregory, 1900
Sub-família Faviniinae Gregory, 1900
13
Favia gravida Verrill, 1868
Favia leptophylla Verrill, 1868
Sub-família Montastreinae Vaughan & Wells, 1943
Montastrea cavernosa (Linné) 1766
Família MEANDRINIDAE Gray, 1857
Meandrina braziliensis (Milne Edwards & Haime), 1848
Família MUSSIDAE Ortmann, 1890
Mussismilia harttii (Verrill) 1868
Mussismilia braziliensis (Verrill) 1868
Mussismilia hispida (Verrill) 1868
Scolymia wellsi Laborel 1967
Agaricia agaricites: Esta espécie forma colônias com forma e tamanho variados, incrustantes com uma
forma foliar ou com bordas estreitas e livres que quase sempre aderem ao substrato. O tamanho dos cálices
varia de 1,0 a 1,6 mm (Figura 5) e eles apresentam uma média de 16 septos formando vales profundos,
pequenos e irregulares. A columela é profunda e pouco visível. A forma da colônia pode variar a depender
da agitação das águas e da luminosidade, podendo ser mais reticulada (forma de rede) ou mais globosa. As
maiores colônias e mais raras podem alcançar 15 cm de diâmetro. Sua cor varia entre o marrom claro e o
marrom esverdeado e é comum em regiões rasas, de águas quentes e muita luz. É uma espécie recifal fotófila
e apresenta uma certa sensibilidade às variações ambientais com relação ao grau de luminosidade e de
energia das águas. A espécie está descrita para Fernando de Noronha, Atol das Rocas e do Cabo de São
Roque até a região de Abrolhos.
Siderastrea stellata é uma espécie endêmica do Brasil. Sua colônia é maciça, mais ou menos esférica
(Figura 6), muito semelhante às espécies caribenhas, porém com os septos mais delicados e os espaços
interseptais mais largos. Sua morfologia pode variar entre as colônias de águas mais rasas daquelas de águas
14
mais profundas. Em locais mais rasos as colônias desta espécie são geralmente pequenas (5 a 10 cm de
diâmetro), possuem os cálices com diâmetros variando entre 2 e 3 mm, arredondados, profundos e o quarto
ciclo de septos é incompleto. As colônias encontradas em águas mais profundas têm uma coloração
amarelada, possuem diâmetros maiores (superiores a 20 cm e podem atingir mais de 1,5 m) e os cálices têm
diâmetro em torno de 5 mm, são mais abertos, pouco profundos, aproximadamente hexagonais, podendo
apresentar um quinto ciclo de septos pequenos, soldados ao ciclo antecedente. Sua coloração é variada,
sendo comuns os tons de amarelo e rosa. São comuns em poças de maré, em águas com temperatura e
turbidez elevadas. Está descrita desde os recifes de Fernando de Noronha, Atol das Rocas e ao longo de todo
o litoral brasileiro, desde o Ceará até o norte do Rio de Janeiro.
Porites branneri – as colônias desta espécie são incrustantes, raramente maciças, com uma cor
amarronzada e ligeiramente pálida (Figura 7A). Podem atingir até 15 cm de diâmetro e apresentam a
superfície ligeiramente ondulada, acompanhando a topografia do substrato onde são fixas. Os cálices são
muito pequenos, com 1,0 a 1,5 mm de diâmetro e são caracterizados pela presença de cinco minúsculas
“estacas” formando um anel central que substitui a columela (Figura 7B)
Esta espécie tem preferência por áreas bem iluminadas. No Brasil a espécie Porites branneri está
registrada em Fernando de Noronha, e ao longo do litoral, desde o Rio Grande do Norte até o norte do Rio de
Janeiro. Esta espécie ocorre também no sul da Flórida, nas Bahamas, estando distribuída em todo o Caribe.
Porites astreoides – esta espécie apresenta as colônias inicialmente incrustantes (Figura 8A), porém
quando maiores formam massas sólidas e globosas de tamanhos variados. As maiores colônias desta espécie
atingem 50 cm de diâmetro, apresentando uma forma maciça com pequenas protuberâncias arredondadas. No
Brasil são registradas duas populações distintas: (i) uma de Fernando de Noronha, Abrolhos e em várias
localidades da costa do estado de Pernambuco, onde as colônias são maciças com coloração amarela viva e
(ii) nas costas continentais do nordeste, com as águas mais calmas e mais turvas dos recifes da Base Aérea e
Tamandaré (PE) e Maceió, onde as formas são mais leves, menos densas, geralmente foliáceas e em forma
de disco muito delgado. Cracas parasitas são comumente encontradas nas colônias desta espécie. P.
astreoides possui uma coloração tipicamente amarela, podendo, entretanto, apresentar uma cor amarronzada
ou esverdeada. Ela é encontrada no topo ou nas paredes laterais dos recifes em áreas bem iluminadas,
podendo resistir bem a uma turbidez moderada. Ocorre ao longo do litoral brasileiro desde a costa do estado
do Rio Grande do Norte até o Espírito Santo, em Fernando de Noronha e no Atol das Rocas. É uma espécie
observada também nas Bermudas, Flórida, Bahamas e Caribe.
15
Favia gravida – esta espécie é endêmica do Brasil. As colônias podem ser sólidas, incrustantes, esféricas
e hemisféricas. Geralmente medem menos de 10 cm de diâmetro. Sua coloração varia de marrom claro a
amarelo claro, sendo que podem ser encontrados pólipos verdes. Existem muitas variações morfológicas nos
cálices das colônias de Favia gravida, que podem ser equidimensionais, mais ovalados e pouco alongados e
podem ter um alongamento acentuado com uma forte meandrinização. Eles variam de irregulares a
arredondados (Figura 9), ovais ou alongados, medindo de 2,5 a 5,0 mm de diâmetro. A columela possui
longas séries com 4 a 6 centros. É uma espécie bastante resistente às variações ambientais, particularmente
com respeito à temperatura, salinidade e turbidez das águas. É um dos corais mais comuns nas poças rasas do
topo emerso dos recifes de corais costeiros e mesmo nos substratos não recifais que afloram ao longo das
praias. Ocorre em Fernando de Noronha, atol das Rocas, ilha de Trindade e ao longo do litoral, do Ceará ao
Espírito Santo.
Favia leptophylla – Possui poucas variações morfológicas e se separa perfeitamente das outras espécies
do gênero Favia do oceano Atlântico. Suas colônias são maciças, mais ou menos esféricas, com tamanhos
que variam de 10 cm a 1 m de diâmetro (Figura 10A). Os cálices são irregulares e apresentam paredes
laterais bem desenvolvidas (Figura 10B). Apresentam três ciclos de septos completos e um quarto
incompleto. A columela é ausente e a ornamentação dos coralitos consta de grânulos pontudos. Os dentes
septais são muito pequenos e a parte superior do septo se projeta muito alto e desce verticalmente em direção
ao interior do cálice. A cor da colônia viva é de um amarelo esverdeado a bege claro. Esta espécie
geralmente ocorre em áreas de baixa profundidade e alta incidência de luz. Ela possui características com
grande afinidade com as espécies Eocênicas do Caribe. É uma espécie endêmica do Brasil, estando registrada
atualmente no litoral sul da Bahia e no Parcel de Manuel Luiz. Hartt (1870) a descreveu, também para a
costa da ilha de Itaparica, Bahia.
Montastrea cavernosa - apresenta colônias maciças com pequena variação morfológica em relação à
profundidade das águas. As formas das zonas rasas são freqüentemente hemisféricas e às vezes colunares
(Figura 11A). As formas encontradas nas paredes laterais dos recifes, em profundidades superiores a 5 m
adquirem uma forma franjada e, a partir dos 20 m tornam-se achatadas e incrustantes (Figura 11B). Suas
colônias chegam a atingir 2 m de diâmetro. Os coralitos são regulares com paredes laterais espessas
(coenosteum) medindo 5,5 a 6,5 mm de diâmetro. Esta espécie mostra preferência por águas claras e calmas.
Possuem coloração variando entre o verde e o marrom. Nas colônias localizadas em zonas mais sombreadas
a cor se torna mais escura em tom de marrom arroxeado.
16
No Brasil esta espécie ocorre em Fernando de Noronha, atol das Rocas e ao longo do litoral desde o
estado de Pernambuco até o Espírito Santo. Montastrea cavernosa está também registrada nas Bermudas, no
sul da Flórida, nas Bahamas e no Caribe.
Meandrina braziliensis – esta espécie difere de todos os outros corais pétreos pela forma ovalada de suas
colônias, com os cálices em forma de vales sinuosos (Figura 12), podendo atingir comprimentos de cerca de
15 a 20 cm. A colônia é hemisférica baixa ou elíptica alongada com coralito meandróide medindo 11 a 13
mm de comprimento (Figura 12C). Podem ocorrer fixas no substrato duro (Figura 12A) ou sobre fundos
móveis muito variados, como planícies de algas coralinas, entre 30 e 80 m de profundidade em fundos de
maerls ou de fanerógamas marinhas ou diretamente sobre a areia (Figura 12B). Possuem coloração marromamarelada e as colônias que vivem em profundidades abaixo de 10 m apresentam um tom mais escuro.
Meandrina braziliensis tem preferência por águas claras e calmas, distribuindo-se no Brasil, desde a costa do
estado do Ceará até o Espírito Santo e é também registrada no Caribe e na Flórida.
Mussismilia harttii – esta espécie apresenta os cálices separados de forma dicotômica, sem formar ramos
laterais (Figura 13A). Os pólipos são isolados na extremidade dos ramos e os cálices são irregulares. Seus
coralitos são arranjados de forma facelóide a subplocóide medindo 12 – 30 mm de diâmetro (Figura 13B).
Sua coloração varia entre tonalidades de cinza, amarelo e verde. É uma espécie recifal fotófila ocupando
posição entre 2-3 m e 15-20 m, muitas vezes competindo com Mussismilia braziliensis por espaço. É uma
espécie que suporta bem uma certa turbidez das águas. Foram registradas colônias a até 80 m de
profundidade. Apresenta características arcaicas tendo afinidade com espécies presentes no período Terciário
da bacia sedimentar do Mediterrâneo. É uma espécie endêmica do litoral brasileiro, sendo registrada em
Fernando de Noronha, Atol das Rocas e ao longo do litoral brasileiro, desde o Rio Grande do Norte até o
Espírito Santo.
Mussismilia braziliensis – esta espécie forma colônias maciças, comumente cogumelares (Figura 14A),
podendo ocorrer também com formas hemisféricas, fortemente presas ao substrato, atingindo até mais de 1m
de diâmetro. Os cálices são pequenos (8-10 mm) e poligonais, geralmente submeandróides (Figura 14B) e
com a columela reduzida. Os septos são delicados e o quarto ciclo é incompleto. Sua coloração pode variar
entre o cinza, amarelo, verde, podendo ter tons misturados destas cores. Podem também adquirir uma
coloração esbranquiçada. Esta espécie é encontrada preferencialmente em águas limpas e rasas, com maior
penetração de luz, em profundidades inferiores a 10 m. Esta espécie possui preferência por topos recifais
17
com angulações de cerca de 45º, o que pode ser bom para colaborar com o êxito de fixação da colônia (Segal
& Castro, 2000).
Possui características arcaicas, próximas às espécies de idade miocênica da bacia do Mediterrâneo. É
uma espécie endêmica das águas brasileiras e possui um grande confinamento geográfico, pois é registrada
apenas na costa do estado da Bahia (Laborel, 1969a).
Mussismilia hispida - espécie polimórfica, onde as populações de cada região possuem características
morfológicas próprias. A colônia pode ter forma hemisférica baixa com diâmetro máximo atingindo 30 cm e
é pouco aderente ao substrato. Existem registros de indivíduos com até 1 m de diâmetro, mas estes são raros.
M. hispida possui pólipos plocóides a subcerióides e uma columela bem desenvolvida. O diâmetro e a forma
dos cálices, o número e a espessura dos septos, o tamanho e a forma dos dentes septais são variáveis, mas são
sempre maiores que em M. braziliensis, com cerca de 15 mm de diâmetro (Figura 15). Sua coloração pode
ter um padrão listrado e pode variar entre tonalidades de amarelo, creme, cinza claro e verde.
Laborel (1969b) dividiu esta espécie em duas sub espécies: Mussismilia hispida ssp. hispida, distribuída
entre a região da Bahia e São Sebastião (SP) e M. hispida ssp. tenuisepta, com septos mais delicados e
habitando os recifes de Fernando de Noronha, atol das Rocas, e os recifes da costa do estado do Rio Grande
do Norte até Sergipe. M. hispida é endêmica do litoral brasileiro e possui afinidades com espécies
miocênicas européias. É registrada em Fernando de Noronha, Atol das Rocas e ao longo do litoral do Brasil,
do Rio Grande do Norte até São Paulo.
Scolymia wellsi é uma espécie não colonial com pólipo simples de forma variável: discóide, cilíndrico
ou turbinado. O cálice é circular, elíptico ou deformado, atingindo um diâmetro máximo de 7 cm e é muito
profundo (Figura 16). A columela é bem desenvolvida, formada pelo entrelaçamento dos dentes da borda
interna dos septos. Os septos são numerosos (5 ciclos completos por um diâmetro de 4 a 5 cm). O sexto ciclo
é incompleto. Os três primeiros atingem a columela e os seguintes se soldam aos primeiros. Os dentes septais
são numerosos (12 a 15), muito altos, em forma de minúsculos bastonetes verticais. Os dentes e septos são
cobertos por fortes grânulos cônicos. Sua coloração varia entre tons de verde, marrom e cinza arroxeado, mas
alguns pólipos podem apresentar mais de uma cor. É uma espécie de águas mais sombreadas, de
luminosidade moderada ou baixa. Geralmente ocorrem nas paredes laterais dos recifes, mas já foram
encontrados indivíduos a até 100 m de profundidade. Esta espécie ocorre no litoral brasileiro, desde o estado
de Pernambuco até o Espírito Santo e também no sul da Flórida, Bahamas e Caribe.
18
2.4.3. Sistemática, descrição e distribuição das espécies de hidrocorais observados nas estações
de amostragem.
A classificação sistemática está de acordo com Laborel (1969b), e as descrições têm como base às
informações contidas em Amaral et al. (2000), Amaral et al. (2002), Hetzel & Castro (1994), Laborel
(1969b) e Leão (1986).
Ordem Milleporina Hickson, 1901
Família MILLEPORIDAE Fleming, 1928
Gênero Millepora (Linné, 1758)
Millepora alcicornis Linné 1758
Millepora nitida Verril 1868
Millepora alcicornis - é uma espécie que cresce em agrupamentos de colônias. A pouca profundidade,
observa-se geralmente que seus ramos são dispostos em um plano perpendicular à direção das vagas e são
finos, longos e com terminações pontiagudas. É uma espécie fotófila, localizada na parte superior das
formações coralinas. Forma colônias comumente ramosas (Figura 17) ou, mais raramente, incrustantes,
apresentando coloração amarelo-amarronzada. M. alcicornis pode atingir mais de um metro de diâmetro,
formando seqüências que cobrem grandes áreas do topo recifal. Esta espécie pode ser observada a
profundidades inferiores a 15 m sendo um importante construtor dos recifes brasileiros. Ocorre desde o
Caribe até Arraial do Cabo (RJ).
Millepora nitida – esta espécie tem as colônias robustas, com ramos curtos e em forma de forquilha com
pontas arredondadas (Figura 18). Seu tamanho é geralmente pequeno e o seu esqueleto é denso e compacto
com coloração rosada ou marrom. É uma espécie endêmica, registrada no litoral da Bahia e Maceió (AL)
(Amaral et al., 2002).
19
2.5. Caracterização do sedimento inter-recifal
Sedimento em suspensão
De acordo com as descrições contidas em Knoppers et al. (1999), o sedimento em suspensão da região
no entorno dos recifes de Abrolhos possui diferenças em relação às regiões imediatamente adjacentes à costa
e as zonas costeiras mais afastadas do continente.
Na desembocadura do rio Caravelas, a água é caracterizada por possuir as maiores frações de opalina
(diatomáceas) biogênica e minerais argilosos. As argilas caoliníticas, parcialmente cobertas por óxidos de
ferro, que são abundantes em toda a região de Abrolhos, são especialmente mais comuns na desembocadura
do rio Caravelas, que é caracterizado pela presença de material ressuspenso de depósitos de sedimentos
terrígenos mais antigos.
O sedimento em suspensão do arco interno e do canal de Abrolhos é caracterizado pela presença de
partículas orgânicas de carbonatos e opalina, oriundos de fragmentos esqueletais de origem autóctone e
conchas siliciclásticas de organismos bentônicos e planctônicos.
As águas da plataforma continental interna apresentam concentrações de material em suspensão muito
baixas, principalmente compostas por conchas carbonáticas planctônicas (Coccolithophoridae) e uma
pequena fração de argila mineral transportada de regiões diversas, como de mar aberto.
Sedimento de fundo
De acordo com Leão (1982), o sedimento de fundo da região dos recifes de Abrolhos é caracterizado por
apresentar uma transição de sedimentos siliciclásticos dominantes ao longo da região costeira para
sedimentos puramente carbonáticos nas plataformas média e externa. Nas regiões mais próximas da costa, o
sedimento de fundo possui de 30 a 70% de constituintes siliciclásticos e, na região do Parcel de Abrolhos o
percentual de siliciclastos é inferior a 10% (Figura 19). De acordo com Leão & Ginsburg (1997), quartzo,
mica, raros feldspatos e os argilo-minerais caolinita e ilita são os principais constituintes dos sedimentos de
origem terrígena. Os grãos de quartzo são abundantes ao longo das praias e mica e argilo-minerais
acumulam-se preferencialmente nas áreas mais profundas ao redor dos recifes costeiros. Estes sedimentos
são originados de duas fontes principais: (i) material retrabalhado originado da erosão de falésias costeiras
(sedimentos terciários do Grupo Barreiras) e (ii) aporte fluvial transportado para a área por correntes ao
longo da costa (Leão & Ginsburg, 1997; Leão et al., 2004).
Os constituintes biogênicos são predominantemente esqueletais. Parte deste material possui uma origem
detrítica e parte é formada por grãos formados in situ pelos vários organismos da fauna e flora recifais
20
associadas. O material de origem detrítica é formado pela quebra da estrutura recifal, sendo mais comuns os
fragmentos de alga coralina que alcançam sua máxima ocorrência no topo e nas áreas que bordejam os
recifes. Os grãos gerados in situ são constituídos por partes esqueletais dos organismos que vivem próximo
às áreas recifais e incluem algas calcárias (Halimeda, Penicillus, Udotea, Padina e Amphiroa), moluscos,
foraminíferos, briozoários, ostracodes, dentre outros (Figura 19) (Leão, 1982; Leão & Ginsburg, 1997 e Leão
et al., 2004).
Na base dos recifes predominam as areias e lamas carbonáticas, representando, na sua maioria, mais de
50% do total dos grãos. Os sedimentos siliciclásticos possuem pouca importância nestes locais, não
alcançando mais de 20% do total dos grãos (Figura 20). Leão (1982) e Leão & Ginsburg (1997) discutem a
coexistência do crescimento recifal e uma ativa sedimentação siliciclástica em Abrolhos, sugerindo estar este
fato relacionado a: (a) ausência de grandes descargas fluviais em frente aos recifes, (b) serem eventos de
curto prazo, a ressuspensão dos sedimentos finos do fundo marinho e, (c) a adaptação funcional da fauna
coralina à presença de sedimento lamoso.
21
Figura 4. Vista aérea de dois diferentes tipos de recifes da região de Abrolhos. A) Bancos recifais
do Parcel das Paredes e B) Chapeirões isolados do Parcel de Abrolhos. (Fotos Ruy Kikuchi e
Zelinda Leão)
Figura 5. Detalhe dos pólipos de Agaricia agaricites, ilustrando os tentáculos expandidos.
22
Figura 6. A) Colônias da espécie Siderastrea stellata. B) Detalhe dos cálices de S. stellata.
Figura 7. A) Detalhe da colônia de Porites branneri. B) Esquema do coralito, mostrando a distribuição das
cinco “estacas” que substituem a columela.
Figura 8. (A) Colônia incrustante de Porites astreoides; B) Ilustração do detalhe do coralito com a columela
central aparente (em cinza).
23
Figura 9. Detalhe da forma dos coralitos de uma colônia de Favia gravida: ovalados, sinuosos e
formando meandros.
Figura 10. A- A espécie Favia leptophylla. B- Detalhe dos cálices irregulares com paredes bem
desenvolvidas.
24
Figura 11. A) Colônia de Montastrea cavernosa com forma colunar, no topo do recife. B)
Colônia incrustante de M. cavernosa na parede lateral do recife. C) Detalhe dos pólipos de M.
cavernosa, com os tentáculos expandidos.
Figura 12. A) Meandrina braziliensis fixa no substrato recifal. B) Colônia de M. braziliensis sobre o
fundo arenoso. C) Detalhe da colônia de M. braziliensis, ilustrando os cálices em forma de vales
sinuosos.
25
Figura 13. A) Colônia de Mussismilia harttii no topo de um recife de coral, vendo-se ao fundo uma colônia
de Millepora alcicornis. B) Detalhe ilustrando o pólipo facelóide do coral M. harttii, com os tentáculos
expandidos.
Figura 14. A) Exemplo da forma cogumelar de uma colônia do coral Mussismilia braziliensis. B)
Detalhe dos cálices com forma submeandróide.
Figura 15. A) Aspecto geral da colônia de Mussismilia hispida. B) Detalhe dos cálices
arredondados de M. hispida.
26
Figura 16. A) Dois exemplares de Scolymia wellsi com formas circulares (indicadas pelas setas em
branco). B) Detalhe de parte do pólipo com forma elíptica.
Figura 17. A) Colônia de Millepora alcicornis. B) Detalhe das terminações dos ramos em formato
pontiagudo
Figura 18. A) Colônia de Millepora nitida com seus ramos robustos e curtos. B) Detalhe da
extremidade arredondada dos ramos em forma de forquilha.
27
Figura 19. Distribuição do sedimento de fundo da área dos recifes de Abrolhos, ilustrando a transição de
sedimentos siliciclásticos mais próximos da costa para sedimentos carbonáticos costa afora (de acordo com
Leão, 1982).
28
Figura 20. Composição do sedimento acumulado na base dos recifes da região de Abrolhos (de acordo com
Leão et al., 2004).
3. MATERIAL E MÉTODOS
Os trabalhos para esta pesquisa se desenvolveram durante três etapas distintas: (a) as coletas das
amostras e dos dados no campo; (b) as análises de laboratório das amostras coletadas e (c) os trabalhos de
escritório, que compreenderam a parte de planejamento, confecção de mapas, seleção das estações de estudo,
avaliação dos métodos a serem empregados e tratamento e análise estatística dos dados coletados.
3.1. Trabalho de campo
Os dados da vitalidade dos recifes (cobertura e diversidade das espécies de corais, tamanho e altura
máximos das colônias e número de recrutas de corais) e a profundidade da água foram medidos durante os
cruzeiros realizados durante todo o mês de março de 2002.
Os dados referentes às taxas de acumulação de sedimento foram coletados nos meses de outubro (24 de
setembro a 25 de outubro) de 2001 e março (28 de fevereiro a 01 de abril) de 2002, quando as armadilhas
permaneceram submersas durante cerca de 30 dias em pontos localizados nas estações de Pedra de Leste
(LES), Timbebas (TIM), recife da Lixa (LIX), Parcel das Paredes (PAR) e Parcel de Abrolhos (PAB).
3.1.1. Avaliação da vitalidade dos recifes
A avaliação do estado da “saúde” dos recifes de corais foi medida através dos parâmetros definidos no
protocolo do Programa AGRRA (Atlantic and Gulf Rapid Reef Assessment – Ginsburg et al., 1998),
disponibilizado no endereço eletrônico: http://www.coral.noaa.gov/agra, acessada em 9 de agosto de 2003.
Em cada estação de amostragem foram estendidos seis transectos em banda, medindo 10 m x 1 m (Figuras
21 e 22), onde foram quantificados os dados de cobertura de corais vivos, diâmetro e altura das colônias,
percentual de morte antiga e recente e de branqueamento. Foram também lançados cinco quadrados de 25 x
25 cm a cada 2 m ao longo dos transectos, onde foram identificados e contados os recrutas de corais (recrutas
= colônias de corais com menos de 2 cm de diâmetro) (Figura 21).
30
Figura 21. Desenho esquemático do transecto usado para avaliar as condições dos corais (ao longo da
banda) e contagem de recrutas (dentro dos quadrados).
Para os resultados de altura máxima, diâmetro máximo, percentual de morte antiga, percentual de morte
recente e branqueamento de corais, foram amostradas somente colônias maiores que 20 cm, um critério prédefinido no protocolo. Não foi utilizado qualquer limite de tamanho das colônias para avaliar a diversidade
de espécies de corais.
Os parâmetros medidos:
Cobertura viva de corais - em cada estação foram estendidas seis transectos de 10 m cada, onde foram
contados os segmentos ocupados (em metros) na linha, por colônias vivas de corais. O resultado foi expresso
em percentual de cobertura viva dos corais.
Diversidade de espécies – dentro do espaço abrangido pelo transecto em banda (medindo 10 x 1 m),
foram identificadas e contadas todas as espécies de corais observadas.
Tamanho máximo das colônias de corais - Para cada colônia de coral maior que 20 cm, foram medidas,
com auxílio de uma régua graduada, o seu diâmetro máximo e a sua altura da base ao topo.
Percentual de morte recente e antiga - a morte recente é aquela em que ainda é possível visualizar os
coralitos, onde estes ainda se encontram com o aspecto esbranquiçado, podendo estar, algumas vezes,
cobertos por algas filamentosas (Figura 23). A morte antiga é caracterizada quando não é possível a
visualização dos coralitos, pois, geralmente eles estão recobertos por organismos incrustantes, como por
exemplo, algas coralináceas.
Percentual de branqueamento das colônias - em todas as colônias registradas, foi observado se havia
algum sinal de branqueamento. Nas colônias que apresentaram esta característica, foi estimado o seu
percentual em relação ao restante da colônia, em estado normal.
31
Número de recrutas – dentro dos cinco quadrados medindo 25 cm e espaçados de 2 metros ao longo de
cada transecto, foram efetuadas a identificação e contagem dos recrutas de corais (colônias com diâmetro
inferior a 2 cm).
3.1.2. Avaliação do teor do sedimento acumulado
3.1.2.1. Medida da taxa de acumulação do sedimento
A acumulação de sedimento é normalmente medida usando-se armadilhas cilíndricas que quantificam o
fluxo de descida das partículas a partir da superfície oceânica (Gardner & Zhang, 1997). Quando usadas
corretamente, elas medem o fluxo descendente das partículas na água circundante às armadilhas (Hargrave,
1979). As variáveis mais importantes na determinação da eficiência de coleta do sedimento na armadilha
são: (i) a relação do aspecto da armadilha (altura/diâmetro); (ii) o número Reynolds da armadilha (Re = uD/v;
onde u = velocidade de aproximação da boca da armadilha; D = diâmetro da armadilha e v = viscosidade
cinemática do fluido); e (iii) a relação da velocidade do fluxo e da velocidade de queda da partícula (Gardner
et al., 1997). Inicialmente as partículas de sedimento entram nas armadilhas através de um processo de
mudança do fluido em redemoinhos, os quais são gerados no topo das armadilhas (Gardner & Zhang, 1997).
O mecanismo da captura de partículas por armadilhas cilíndricas pode ser dividido em três etapas: (a) na
boca da armadilha; (b) na região central da armadilha; e (c) no fundo da armadilha, conhecida como “região
tranqüila” (Gardner et al., 1997).
Na boca da armadilha - as armadilhas obstruem o fluxo natural das águas, causando a aceleração de sua
velocidade ao redor da armadilha. Esta aceleração do fluxo sobre o topo de uma armadilha aberta resulta em
uma diminuição da pressão nessa região, produzindo escape de água da armadilha em sua porção ‘montante’
em relação à corrente, e permitindo a entrada de água na armadilha em sua porção ‘jusante. Esse movimento
gera um redemoinho. As regiões por onde a água entra e sai não são iguais em área, o que implica que as
velocidades normais ao plano da armadilha devem ser variáveis para manter a conservação de massas.
Na região central da armadilha - o fluxo dentro da armadilha depende de sua geometria. A
profundidade média de penetração de um redemoinho no topo da armadilha é uma função do diâmetro da
armadilha e o número de Reynolds (Re = uD/v; onde u = velocidade de aproximação da boca da armadilha;
D = diâmetro da armadilha e v = viscosidade cinemática do fluido) e o grau de turbulência nesta porção da
armadilha é muito maior que o fluido que se aproxima fora dela. Na parte inferior desta porção, girando em
sentido oposto, de modo parcial ou completo, uma segunda porção pode se formar. A partir desta segunda
célula as parcelas do fluido se desprendem intermitentemente e movem-se mais para o fundo dentro da
armadilha.
32
No fundo da armadilha - as partículas são transferidas do corpo da armadilha para uma “região
tranqüila” através da mudança de fluido ou do assentamento gravitacional. As partículas podem ser
ressuspensas desta zona se Re for grande o suficiente para ressuspendê-las ou se a relação altura/diâmetro é
pequena o bastante para permitir que fortes redemoinhos revolvam o fundo ou, se ressurgências ciclônicas
em grandes Re elevem as partículas do fundo.
A quantificação do sedimento acumulado nas áreas recifais selecionadas foi feita através da medida da
massa do sedimento retido em armadilhas colocadas em cada um dos recifes estudados. O procedimento
desta fase do trabalho de campo constou de:
Confecção das armadilhas – Elas foram confeccionadas com tubos e reduções em PVC (Figura 24).
Neste trabalho foi utilizado um tipo de armadilha com uma redução de diâmetro em sua extremidade
superior (Figura 24). A sua base foi confeccionada com um tubo de PVC de 26 cm de altura, por 6 cm de
diâmetro e uma redução para um diâmetro de 4 cm, onde foi inserido e soldado um tubo em PVC com 10 cm
de altura. Para facilitar a remoção do sedimento dessa armadilha, na sua extremidade inferior foi colocada
uma tampa com rosca, vedada com fita veda-rosca.
Instalação das armadilhas – Foram confeccionadas três réplicas para cada experimento, colocando-se as
armadilhas nos topos dos chapeirões, em profundidades variando entre 0,70 m e 7,60 m, procurando-se
acompanhar a topografia natural do recife, para evitar a criação de vórtices e microssistemas de correntes
que, por ventura, pudessem mascarar os resultados, isto é, aumentando ou diminuindo as taxas de
acumulação do sedimento. As profundidades foram corrigidas para o menor nível da baixa-mar, de acordo
com o horário em que as armadilhas foram instaladas.
A fixação das armadilhas foi feita durante mergulhos autônomos, quando foi inserido, na superfície do
topo do recife, um vergalhão recoberto com uma camada de cobre, com o auxílio de uma marreta de 0,5 kg
(Figura 25). Os vergalhões foram posicionados de forma triangular, distantes cerca de 3 m uns dos outros e
conectados por um cabo de polipropileno de 3 mm de espessura para facilitar a sua localização quando do
retorno ao campo para sua retirada. Em cada vergalhão foram fixadas as armadilhas, com o auxílio de
braçadeiras de latão, de forma que todas as suas aberturas superiores ficassem à mesma distância da
superfície do topo do recife, cerca de 45 cm.
Retirada das armadilhas - as armadilhas foram deixadas no topo dos recifes por cerca de trinta dias,
durante os meses de outubro/2001 (após a temporada do inverno) e março/2002 (após o período do verão).
No momento da coleta as extremidades superiores das armadilhas foram fechadas com tampas de PVC e
todo o experimento (inclusive os vergalhões) foi retirado do topo dos recifes. Dentro da embarcação as
armadilhas foram liberadas dos vergalhões e acondicionadas em uma caixa de isopor para protegê-las contra
impactos físicos.
33
3.2. Análises de laboratório
3.2.1. Análise do sedimento acumulado nas armadilhas (Standard Methods, 1980).
Filtragem - no laboratório as armadilhas de sedimento foram abertas, no máximo sete dias após a
retirada das mesmas da água. A água e o sedimento acumulado foram filtrados com o auxílio de filtros
qualitativos de celulose (Figura 26A), previamente secos e pesados, acoplados em um funil ligado a uma
bomba de vácuo. Em seguida a água foi novamente filtrada, desta vez usando-se filtros de fibra de vidro de
45µ (Figura 26B), acoplados em um conjunto de filtragem MILLIPORE. Estes filtros foram trocados quando
seus poros encontravam-se totalmente colmatados.
Secagem - os filtros foram colocados em estufa para secagem em temperatura variando entre 103 e 105º
C durante 2 a 3 horas. O aspecto geral das membranas de fibra de vidro e de celulose, após a filtragem e
secagem, está ilustrado na Figura 26. Quando retirados da estufa os filtros foram colocados em dissecador
com sílica gel, onde foram deixados até atingirem a temperatura ambiente.
Pesagem - os filtros foram pesados utilizando-se uma balança analítica (g) com quatro casas decimais.
Foram realizadas entre duas a três pesagens de cada amostra, até que a diferença entre os pesos fosse inferior
a 5% (Figura 27).
3.2.2. Avaliação do equivalente de carbonato de cálcio no sedimento – método adaptado da EMBRAPA
(1997)
Para a análise do teor de carbonato de cálcio das amostras do sedimento acumulado nas armadilhas, foi
utilizado o método do equivalente de carbonato de cálcio da EMBRAPA (1997), proposto para análise de
solos e que sofreu algumas adaptações para as amostras de sedimento marinho, as quais encontram-se
descritas a seguir.
O princípio do método de determinação do equivalente de carbonato de cálcio constitui no ataque da
amostra com excesso de solução padrão de HCl e titulação do excesso de ácido com solução de NaOH
padrão. A diferença entre os cmolc/L adicionados e os titulados representa a massa de CaCO3 da amostra.
O procedimento para isto consiste no seguinte: a) o sedimento é pesado e colocado em beckers de 250
ml, onde é adicionado 50 ml de HCl 0,5N por meio de pipeta volumétrica; b) a mistura é aquecida durante 5
minutos ou colocada em banho Maria durante 15 minutos; c) após o resfriamento das amostras coloca-se
água destilada e deionizada para lavagem das paredes do Becker, onde são adicionadas três gotas do
indicador fenolftaleína, e d) a amostra é titulada com solução de NaOH 0,25N.
34
A massa do total de carbonato de cálcio contida na amostra foi calculada a partir do seguinte
procedimento matemático:
mCaCO3= (VHCl – (Nb x Volb)) x 50 x Na
Na
Onde:
mCaCO3 = massa do carbonato de cálcio
VHCl= volume do HCl
Nb = normalidade do NaOH
VolB = volume do NaOH
Na = normalidade HCl
Apesar da normalidade das soluções de HCl e NaOH indicadas no método serem de 0,50 e 0,25, quando
elas são preparadas não é possível atingir uma precisão de 100%. Ou seja, o valor real nas normalidades é
calculado novamente através da utilização de soluções padrões, já que existe esta diferença entre os valores
teóricos e os valores reais. A solução de hidróxido de sódio é, então, titulada em uma solução contendo 0,9 g
de biftalato de potássio (KHC8H4O4) em 50 ml de água destilada e deionizada em três réplicas, cada uma
delas contendo três gotas do indicador fenolftaleína.
O ácido clorídrico é padronizado com a própria solução de NaOH, onde o ácido é titulado em 25 ml de
NaOH com três gotas de fenolftaleína.
A padronização do NaOH seguiu o seguinte roteiro:
Eq(NaOH) = N(NaOH x V(NaOH)).
N(NaOH x V(NaOH) = m/204,22
N(NaOH) = m/204,22 x V(NaOH)
Eq = equivalente
N = normalidade
V = volume
M = massa
35
A padronização do HCl foi feita da seguinte forma:
N(HCl) x V(HCl) = N(NaOH) x V(NaOH)
N = normalidade
V = volume
A partir dos valores de normalidade obtidos para o NaOH e para o HCl, deve-se tirar uma média que é
multiplicada por 0,5. Este será o fator (F) de conversão utilizado para os reagentes. A normalidade real será
igual à normalidade teórica multiplicada pelo fator de conversão (F).
F = média normalidade x 0,5
N(real) = normalidade teórica x F
Testes de eficiência do método para altos valores de massa de CaCO3 - para se verificar a eficiência do
método foram realizados testes de recuperação de CaCO3 puro, onde foram previamente pesadas massas de
carbonato de cálcio com intervalos de massa de 0,1 g (Tabela 3) (Figura 27). É importante notar que o limite
máximo de recuperação do CaCO3 utilizando 50 ml de ácido é de 1,250 g de carbonato de cálcio. Quando se
adiciona mais ácido este limite aumenta progressivamente. Para se obter o limite de detecção do método para
volumes diferentes de HCl utilizou-se o seguinte procedimento de cálculo:
mCaCO3limite= (VHCl ) x 50 x Na
mCaCO3limite = Limite máximo de massa do carbonato de cálcio
Onde:
VHCl= volume do HCl
Na = normalidade HCl
Todos os valores de recuperação de massa foram maiores que 90%, mas os maiores percentuais de
recuperação foram obtidos quando se utilizou massa de carbonato acima de 0,8 g até 1,0 g. Então, para se
obter valores mais precisos, é aconselhável que as amostras a serem analisadas possuam massas de carbonato
próximas a estes valores. Para tanto, é necessária a realização de testes com as amostras, para se ter uma
idéia da massa de carbonato contida em cada uma das amostras.
36
Tabela 3. Valores de massa e percentual de recuperação do CaCO3 puro em intervalos de 0,1g.
# Becker
1
Massa de CaCO3
inicial (g)
0,1024
Volume
NaOH (ml)
92,60
Volume
HCl (ml)
50,00
Massa CaCO3
recuperada (g)
0,0977
% Carbonato
recuperado
95,37
2
0,2018
84,90
50,00
0,1921
95,20
3
0,3036
77,85
50,00
0,2786
91,77
4
0,4003
69,60
50,00
0,3798
94,88
5
0,5005
63,00
50,00
0,4608
92,06
6
0,6019
54,15
50,00
0,5693
94,59
7
0,7041
46,15
50,00
0,6675
94,80
8
0,8033
37,50
50,00
0,7794
97,03
9
0,9016
29,70
50,00
0,8739
96,93
10
1,0013
21,60
50,00
0,9720
97,07
Utilizando amostras reais - para a realização do teste de massa de carbonato de cálcio contido nas
amostras, foi pesada cerca de 1,0 g da amostra e realizado todo o procedimento descrito anteriormente para
se obter o valor da massa de CaCO3 da amostra. Depois de ter realizado esta análise calculou-se quanto da
amostra foi utilizada para que esta possua valores de carbonato de cálcio acima de 0,8 g e menores que 1,2 g.
Titulação das amostras - no momento em que se adicionou HCl nas amostras foi possível se ter uma
idéia geral da quantidade de carbonato de cálcio através da efeverscência da amostra (Figuras 28 A e B).
Após o aquecimento das amostras por 5 minutos (Figura 28 C) em placa de aquecimento a temperaturas
inferiores a 100ºC, foi necessário esperar a amostra esfriar e, depois se adicionou de 3 a 4 gotas do indicador
fenolftaleína.
O indicador fenolftaleína muda a coloração da amostra de transparente para rosa assim que o NaOH se
encontra em excesso durante a titulação (ponto de virada) (Figura 29). O ponto de virada (a mudança do
transparente para o rosa) ocorre quando a amostra adquire uma coloração de rosa bem fraco e mantém esta
coloração por cerca de 30 segundos. É bom chamar a atenção que a amostra pode reagir com o CO2
atmosférico e dar origem ao ácido carbônico (H2CO3) após este período de tempo e ai ela pode voltar a ter o
aspecto transparente inicial. A mudança da coloração é bastante tênue, o que exige atenção no momento da
titulação.
É difícil a observação da mudança de cor (“ponto de virada”) quando se utiliza amostras de sedimento,
já que a coloração da solução a ser analisada pode variar de marrom a cinza devido à presença do sedimento
que está em suspensão. Durante a titulação é necessária a agitação manual ou magnética da solução, para que
37
o NaOH reaja igualmente em toda a amostra. De vez em quando é necessário parar a titulação por um
pequeno período de tempo para que a amostra possa decantar e seja possível visualizar a cor da solução. Um
fato importante que ajuda na determinação do ponto de virada é que próximo a ele, a solução começa a
flocular (Figura 30). A partir desse momento é possível visualizar melhor a mudança de cor, pois o tempo de
espera da decantação das partículas é reduzido e a floculação se torna evidente.
3.3. Trabalho de escritório
3.3.1. Planejamento
O planejamento da localização das estações para instalação das armadilhas de sedimento foi feito a
partir da observação de imagens de satélite para visualizar possíveis plumas de material em suspensão, com
diferentes intensidades de cores, as quais pudessem representar diferentes teores de turbidez e,
provavelmente, diferentes taxas de acumulação de sedimento.
Após a conclusão dos trabalhos de campo e das análises de laboratório, todos os resultados obtidos
foram tabulados em planilhas de dados no formato Microsoft Excel. Foram feitos tratamentos estatísticos
adequados com estes dados, relacionando as taxas de acumulação de sedimento com o grau de vitalidade dos
recifes estudados.
3.3.2. Tratamento estatístico dos dados
Para análise dos dados abióticos foram comparadas as médias das taxas de acumulação de sedimento e o
percentual de carbonato de cálcio das amostras, a profundidade média de cada transecto e a distância de cada
estação da linha de costa.
Para os dados bióticos, analisou-se a abundância relativa dos corais, a taxa de cobertura viva de corais, o
número de espécies, o número de colônias de cada espécie, o diâmetro e a altura das colônias e o número de
recrutas de cada espécie. A mortalidade recente e o branqueamento de corais não foram observados nas
colônias analisadas nos recifes estudados.Todos estes dados foram comparados através da análise de
correlação linear de Pearson (Bakus, 1990).
Abundância relativa - As espécies encontradas foram classificadas de acordo com a escala progressiva
de abundâncias relativas (modificada de Margalef por Peixinho & Peso-Aguiar, 1989) a partir da fórmula:
Abundância = (Σ número total de colônias da mesma espécie)/(Σ número total de colônias observado)
38
Onde:
1,00 – 0,61 – “Muito Abundante”
0,60 – 0,31 – “Abundante”
0,30 – 0,11 – “Numerosa”
0,10 – 0,02 – “Pouco Numerosa”
0,01 – 0,005 – “Escassa”
< 0,005
– “Rara”
Freqüência de ocorrência - a freqüência de ocorrência (Fo) foi calculada a partir da fórmula descrita
abaixo, utilizando-se o critério de Neuman-Leitão (1994):
Fo = (Σ do número de estações em que a espécie foi encontrada)/(Σ número total de estações de
amostragem)
Onde:
> 70%
- Muito freqüente
70 – 40% - Freqüente
40 – 10% - Pouco freqüente
< 10%
- Esporádica
Correlação entre os dados abióticos e os bióticos – Foram realizadas análises de correlação de Pearson
entre as variáveis bióticas e abióticas através do programa STATISTICA ’99 Edition. Para tal, foi feito o
pareamento dos transectos (a partir de um total de 6, foram criados 3, através de sorteio), para que o número
de armadilhas (3) fosse igual ao número de réplicas dos parâmetros bióticos. Foi sorteado também qual
grupo de transectos iria ser testado com que armadilha. Desta forma, para todas as estações, foram pareados
os transectos 1-2, 3-5 e 4-6 que foram testados com as armadilhas da seguinte maneira:
Armadilha 1 - Transectos 3-5
Armadilha 2 - Transectos 1-2
Armadilha 3 - Transectos 4-6
Análise de variância - para realização do teste de análise da variância (ANOVA), foi necessária à
satisfação dos pressupostos de normalidade, homocedasticidade e a correlação entre média-desvio padrão
39
(correlação). Um dendograma dos procedimentos para a realização dos testes estatísticos está ilustrado na
Figura 31. Foi utilizado o programa STATISTICA ’99 Edition para a realização destes testes.
A curva da normalidade é uma distribuição de variáveis contínuas, as quais podem assumir qualquer
valor matemático. Esta curva é também chamada de curva do sino, curva de Gauss ou curva de De Moivre
(Bunchaft & Kellner, 1999). A distribuição normal é simétrica em torno da média e admite uma única
ordenada máxima (pico), situada na média. Os valores concentram-se em torno da média e, à medida que se
afastam desta, qualquer que seja o seu sentido, tendem a se tornar mais raros, quer positiva ou
negativamente. Nos testes realizados neste trabalho foram indicados os valores de p que, para este teste, é
aceito quando p > 0,05.
A homocedasticidade é também conhecida como homogeneidade das variâncias. Se existem valores de
três ou mais amostras e são computadas as variâncias de cada uma, então se pode testar a hipótese de que
todas as amostras são provenientes de populações com valores de variância idênticos (Zar, 1999). A
homocedasticidade é medida através do teste específico disponível no programa STATISTICA 99’Edition.
Este pressuposto é aceito quando o valor de p > 0,05.
A correlação média-desvio padrão é também um pressuposto exclusivo da análise de variância. Se os
valores da correlação forem r > 0,8 ou r < -0,8 o pressuposto não é aceito.
Caso um dos pressupostos não seja satisfeito, é feita a transformação dos dados através de dois métodos
(ambos utilizados para aumentar a normalidade):
Log10 (x+1)
4
√x
Com todos os pressupostos satisfeitos, é aplicada a análise de variância, onde as hipóteses a serem
testadas são as seguintes:
Ho: Não existem diferenças significativas entre as estações (p > 0,01)
Hi: Existem diferenças significativas entre as estações (p < 0,01)
Análise post-hoc - Se for registrada diferença significativa entre as estações, é realizada a análise de
grupos homogêneos no próprio programa STATISTICA’99 Edition, que faz a ordenação dos dados, ou seja,
onde os valores são iguais ou diferentes entre as estações através do teste de Newman-Keuls.
40
Correlação simples de Pearson
Segundo Bunchaft & Kellner (1998), o coeficiente de correlação de Pearson (r) é utilizado para avaliar o
grau de inter-relação entre duas variáveis. Uma análise de regressão simples de Pearson foi feita entre os
dados bióticos e abióticos, sempre confrontando em pares (fator biótico com abiótico) em cada estação para
se verificar a significância que, para ser aceita, deverá exceder 95%.
41
Figura 22. Mergulhador realizando medidas da
vitalidade dos recifes através da metodologia
proposta no protocolo AGRRA (Atlantic and
Gulf Rapid Reef Assessment – Ginsburg et al,
1998).
Figura 23. Morte recente em colônias de coral.
A) Nas bordas do coral Mussismilia
braziliensis, tipo bastante comum em colônias
desta espécie. B) Em M. harttii, onde é possível
se observar os septos ainda em perfeito estado
nos coralitos e, na parte inferior esquerda da
foto ainda se vê parte do pólipo vivo.
Figura 24. Armadilhas de captura de sedimento,
confeccionadas com tubos de PVC. À esquerda
Armadilha com redução de seu diâmetro, e à
direita, armadilha sem a redução do dia-metro,
mostrada aqui apenas para efeito comparativo
(altura=36 cm; diâmetro=6 cm).
Figura 25. Instalação das armadilhas realizada
durante mergulhos autônomos. Em cada estação
(recife) foram instaladas três réplicas do
experimento.
42
Figura 26. A) a membrana de celulose após a
secagem em estufa a 101ºC. B) Aspecto da
membrana de fibra de vidro após a secagem em
estufa a 101ºC. A diferença de coloração
observada em A e B é devido aos diferentes
materiais utilizados nas membranas.
Figura 27. Balança analítica (4 decimais) usada
para pesagem da massa de carbonato de cálcio nos
testes de eficiência do método, com intervalo de
0,1g.
Figura 28. A e B) Ilustração da efervescência das amostras durante o ataque com HCl. A amostra da figura
A borbulha muito mais que a amostra da figura B, o que significa que esta possui uma massa maior de
carbonato de cálcio. C) Ilustração do aquecimento das amostras durante 5 minutos.
43
Figura 29. Ilustração da mudança de coloração (“ponto de virada”) durante a titulação. A) A amostra
transparente significa que ainda é possível continuar a titulação. B) Quando a amostra adquire uma coloração
rosa (exagerada nesta foto para facilitar a visualização) é sinal que a titulação deve ser encerrada, pois já
existe um excesso de hidróxido de sódio na solução.
Figura 30. A) Sedimento floculando pouco antes de mudar a cor, o que facilita a observação do
“ponto de virada” de cor da amostra em B.
44
Figura 31. Esquema do procedimento utilizado para a análise de variância (ANOVA) entre as estações de
amostragem.
4. RESULTADOS
4.1. Parâmetros Bióticos
4.1.1. Número de colônias, abundância relativa e freqüência de ocorrência das espécies de corais e
hidrocorais observadas nas estações de estudo.
Quatrocentos e noventa e oito colônias de corais foram contadas nas cinco estações amostradas (Figura
32) e há diferença significativa (ANOVA - p=0,000035) do número de colônias entre as estações. O recife de
Pedra de Leste (LES) é o que apresenta o menor número (64), enquanto que no recife do Parcel de Abrolhos
(PAB) foi contabilizado o maior número de colônias (147) (Tabela 4).
Número total de colônias
160
140
120
100
80
60
40
20
0
LES
TIM
LIX
PGS
PAB
Estações
Figura 32. Número total de colônias de corais nas estações amostradas.
A espécie mais abundante é Mussismilia braziliensis, considerada como “Abundante” (0,44) e com
freqüência de ocorrência de 100% (“Muito freqüente”). Analisando cada uma das estações separadamente,
esta espécie só não foi considerada “Abundante” na estação de Pedra de Leste (LES), onde ela pertence à
categoria “Numerosa” (0,15).
As espécies do coral Mussismilia harttii e do hidrocoral Millepora alcicornis são “Numerosas” de
acordo com a classificação de Peixinho & Peso Aguiar (1989), com abundâncias de 0,19 e 0,20,
respectivamente e são também “Muito freqüentes” (100%). Na estação do Parcel de Abrolhos (PAB) a
46
espécie M. harttii se mostra “Pouco numerosa” (0,10). M. alcicornis é “Pouco numerosa” nas estações do
recife da Lixa (LIX) e Parcel de Abrolhos (PAB) (0,04 e 0,10, respectivamente).
Nota-se ainda que Siderastrea stellata (freqüência de 80%), Porites astreoides (20%) e Montastrea
cavernosa (100%) são espécies “Pouco numerosas” (0,06, 0,02 e 0,07 respectivamente). A maior abundância
relativa de S. stellata ocorre na estação do recife de Timbebas (TIM), registrada como uma espécie
“Numerosa”. A espécie M. cavernosa é “Numerosa” em Timbebas (TIM) e no recife da Lixa (LIX)
(abundância de 0,16 e 0,14 respectivamente). Na estação do Parcel de Abrolhos (PAB), S. stellata é uma
espécie “Pouco numerosa” e é também a única estação em que P. astreoides foi registrada, com um total de
11 colônias sendo considerada também como uma espécie “Pouco numerosa”. No Parcel de Abrolhos
(PAB), M. cavernosa é uma espécie “Escassa” (0,01) e no recife da Lixa (LIX) e recife da Pedra Grande Sul
(PGS) a espécie S. stellata também é “Escassa”, estando ausente em Pedra de Leste (LES). M. cavernosa é
“Escassa” nas estações PGS e LES.
As colônias do coral Mussismilia hispida (0,002) e do hidrocoral Millepora nitida (0,004) maiores que
20 cm são “Raras” e “Pouco freqüentes” (20%). A primeira é registrada apenas na estação PAB e a seguinte
na estação LES.
Apenas duas espécies de corais (Mussismilia harttii e Mussismilia braziliensis) e uma de hidrocoral
(Millepora alcicornis) são responsáveis por 83% do número de colônias das espécies registradas nas estações
estudadas. Desta forma, foi feita uma análise de variância para verificar se houve diferença significativa
entre o número total de colônias contabilizadas durante este estudo e o número de colônias de cada uma
dessas espécies mais representativas nas estações amostradas (Tabela 5).
A Figura 33 mostra o número de colônias das três espécies de corais mais abundantes (Mussismilia
braziliensis, M. harttii, e o hidrocoral Millepora alcicornis). O número de colônias da espécie de coral M.
harttii e do hidrocoral M. alcicornis é constante em todas as estações, pois não há diferença significativa
entre o número de colônias destas espécies em cada uma das estações de estudo (ANOVA – p=0,86 e p=0,10
respectivamente). Foi observada diferença significativa no número de colônias do coral M. braziliensis nas
estações amostradas (ANOVA – p=0,000003).
Foi feita a análise post-hoc da ANOVA, que mostrou inconsistência estatística para a análise do número
total de colônias de corais. A análise post-hoc para o número de colônias de M. braziliensis, mostra que
existe um número significativo menor de colônias no recife da Pedra Grande Sul (PGS), um número igual de
colônias nas estações de Pedra de Leste (LES), recife da Lixa (LIX) e recife de Timbebas (TIM) e o maior
número de colônias desta espécie no Parcel de Abrolhos (PAB).
Tabela 4. Número de colônias >20 cm observadas, abundância relativa e freqüência de ocorrência de cada espécie de coral em cada estação de
amostragem. Ab. relativa. - Abundância relativa; Freq. ocorrência – Freqüência de Ocorrência. Classificação da abundância relativa: R – Rara; E –
Escassa; PN – Pouco Numerosa; N – Numerosa; A – Abundante. Classificação da freqüência de Ocorrência: PF – Pouco freqüente; MF – Muito
freqüente.
Espécies
Siderastrea
Porites
Favia
Montastrea
Mussismilia
Mussismilia
Mussismilia
Millepora
Millepora
stellata
astreoides
leptophylla
cavernosa
harttii
braziliensis
hispida
alcicornis
nitida
# colônias
0
0
2
2
16
28
0
14
2
Ab. relativa (%)
0,0
0,0
0,03
0,03
0,25
0,44
0,0
0,22
0,03
# colônias
11
0
1
14
16
44
0
4
0
Ab. relativa (%)
0,12
0,0
0,01
0,16
0,18
0,49
0,0
0,04
0,0
# colônias
1
0
0
15
21
48
0
26
0
Ab. relativa(%)
0,01
0,0
0,0
0,14
0,19
0,43
0,0
0,23
0,0
# colônias
1
0
2
3
26
13
0
41
0
Ab. relativa (%)
0,01
0,0
0,02
0,03
0,30
0,15
0,0
0,48
0,0
# colônias
15
11
1
2
15
88
1
14
0
Ab. relelativa (%)
0,10
0,07
0,01
0,01
0,10
0,60
0,01
0,10
0,0
Total
28
11
6
36
94
221
1
99
2
Abundância relativa geral
0,06
0,02
0,01
0,07
0,19
0,44
0,002
0,20
0,004
Classificaão ab. relativa
PN
PN
E
PN
N
A
R
N
R
Freq. ocorrência (%)
80
20
80
100
100
100
20
100
20
Classificação freq. ocorrência
MF
PF
MF
MF
MF
MF
PF
MF
PF
Estações
LES
TIM
LIX
PGS
PAB
Total
64
90
111
86
147
498
48
Número total de colônias
Número total de colônias das três espécies mais
abundantes
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
M. braziliensis
M. harttii
M. alcicornis
LES
TIM
LIX
PGS
PAB
Estações
Figura 33. Número de colônias das três espécies mais abundantes em
cada uma das estações de amostragem.
Tabela 5. Pressupostos, análises de variância (ANOVA) das espécies de corais presentes nas estações de
estudo: Todas Juntas – número total de colônias observadas; Normalização – indica a forma para normalizar
os dados; Norm. – Pressuposto de normalidade; Homoc. – Pressuposto de Homocedasticidade; MédiasVariâncias – Pressuposto de correlação entre as médias e variâncias.
Espécies
de corais
Normalização
Norm
Homoc.
Médiasvariâncias
ANOVA
Significado
Diferença significativa no número
de colônias de todas as espécies
Todas as
espécies
-
0,53
0,78
0,20
0,000035
entre as estações. LES – Menor
número de colônias; PAB – Maior
número de colônias de corais.
Não existe diferença significativa
Mussismilia
harttii
-
0,14
0,08
0,68
0,86
no número de colônias desta
espécie entre as estações.
Existe diferença significativa no
Mussismilia
braziliensis
Log10(x+1)
0,26
0,36
-0,23
0,000003
número de colônias desta espécie
entre as estações:
PGS<(LES=LIX=TIM)<PAB
Não existe diferença significativa
Millepora
alcicornis
4
√x
0,08
0,27
0,08
0,10
no número de colônias desta
espécie entre as estações.
49
4.1.2. Cobertura viva de corais
A cobertura viva de corais variou bastante tanto entre as cinco estações de amostragem como nos
transectos de cada estação conforme ilustrado na Tabela 6. A cobertura viva de corais é significativamente
diferente entre as estações (ANOVA p=0,008). O percentual de cobertura média variou de 5,3% em Pedra de
Leste (LES) a 14,4% no Parcel de Abrolhos (PAB) (Figura 34). Os pressupostos de normalidade (p=0,96),
homocedasticidade (p=0,37) e a correlação entre as médias e variâncias (r=0,54) foram satisfeitos.
Percentual médio de cobertura viva de corais
20
18
16
14
12
(%)
10
8
6
4
2
0
LES
TIM
LIX
PGS
PAB
Estações
Figura 34. Percentual de cobertura de corais vivos em cada estação amostrada.
Tabela 6. Percentual de cobertura viva de corais nas estações de amostragem. Não existem dados para os
transectos 2 e 6 da estação PGS, devido a perda da planilha das mesmas.
Transectos
LES (%)
TIM (%)
LIX (%)
PGS (%)
PAB (%)
1
5,7
11,1
9,3
9,6
13,5
2
6,3
9,2
5,7
-
16,8
3
3,3
11,7
4,7
7,2
7,2
4
7,6
10,7
14,9
12,7
11,2
5
7,3
15,4
13,0
13,2
13,8
6
1,6
14,8
8,6
-
23,6
Média
5,3
12,2
9,4
10,7
14,4
50
A análise post-hoc de Newmann-Keuls do percentual da cobertura de corais vivos em cada estação
mostra que há inconsistência estatística.
4.1.3. Espécies observadas em cada estação
A Tabela 7 relaciona as espécies de corais e de hidrocorais observadas nas estações durante o período de
amostragem onde a escala de 0 a 6 corresponde ao número de transectos em que a espécie ocorre em cada
estação. As espécies Mussismilia harttii e M. braziliensis ocorreram em todos os transectos em todas as
estações investigadas. Já Agaricia fragilis só ocorreu em um transecto na estação LIX. A espécie Millepora
nitida só ocorreu nos transectos da estação LIX e em dois transectos da estação LES. A figura 35 mostra o
número total das espécies de corais em cada uma das estações. As estações mais afastadas do continente
(PGS e PAB) apresentam um número menor de espécies que aquelas mais próximas da linha de costa (LES,
TIM e LIX).
Foi testada se há diferença entre o número médio das espécies de corais por transecto observadas em
cada estação. Os pressupostos da análise de variância foram satisfeitos (Normalidade – p=0,01;
homocedasticidade – p=0,50 e correlação entre médias e desvios padrão – r=-0,51) e o resultado da ANOVA
(p= 0,000007) mostra que existe diferença significativa entre o número de espécies nas estações de
amostragem.
A figura 35 mostra que as estações mais costeiras (LES, TIM e PGS) possuem um maior número de
espécies de corais que as estações mais afatsadas da costa (PGS e PAB).
Tabela 7. Freqüência de ocorrência das espécies de corais observadas nos transectos das estações de
amostragem. AA – Agaricia agaricites; AF – A. fragilis SS – Siderastrea stellata; PB – Porites branneri; PA
– P. astreoides; FG – Favia gravida; FL – F. leptophylla; MC – Montastrea cavernosa; MEA – Meandrina
braziliensis; MHAR – Mussismilia harttii; MB – Mussismilia braziliensis; MHIS – M. hispida; SW –
Scolymia wellsi; MA – Millepora alcicornis; MN – M. nitida. Os números de 0 a 6 correspondem à
quantidade de transectos em que a espécie ocorre em cada estação.
Estações
AA AF SS PB PA FG FL MC MEA
MHAR
MB MHIS
SW MA MN
LES
4
0
6
1
5
6
1
6
3
6
6
6
0
5
2
TIM
6
0
6
4
6
6
3
6
3
6
6
6
4
5
0
LIX
6
1
6
6
2
6
0
6
5
6
6
5
3
5
6
PGS
6
0
4
0
1
6
1
3
0
6
6
6
0
6
0
PAB
6
0
6
0
6
6
2
4
3
6
6
5
3
5
0
51
Número de espécies
Número total de espécies de corais
16
14
12
10
8
6
4
2
0
LES
TIM
LIX
PGS
PAB
Estações
Figura 35. Número total de espécies de corais em cada uma das estações de amostragem.
4.1.4. Recrutas de corais e de hidrocorais
Foram contabilizados duzentos e noventa e cinco recrutas de corais, os quais pertencem a nove espécies
diferentes (Tabela 8). Não foi possível a identificação em campo até o nível de espécie para os recrutas do
gênero de coral Mussismilia e do gênero do hidrocoral Millepora.
O maior número de recrutas pertence à espécie Agaricia agaricites, com 114 colônias, seguida
respectivamente por Favia gravida (88 colônias) e Siderastrea stellata (41 colônias). O maior número de
recrutas foi contabilizado para a estação PGS, com um total de 81 e o menor número de recrutas ocorreu na
estação LES, com 40 colônias.
Os pressupostos para o teste de análise de variância foram satisfeitos (Normalidade - p=0,27;
Homocedasticidade - p=0,19 e correlação entre as médias e os desvios padrão - r=0,47), e o teste da ANOVA
mostra que não existe diferença significativa (p=0,21) no número de recrutas entre as estações de
amostragem. De acordo com a Tabela 8, no que diz respeito à abundância relativa geral dos recrutas, A.
agaricites é considerada como “Abundante” (0,39) e os recrutas das espécies F. gravida e S. stellata são
considerados como “Numerosos” (abundâncias de 0,30 e 0,14, respectivamente). Estas três espécies
representam 83% de todos os recrutas observados nas estações de estudo e foi feita a análise de variância
para verificar se houve diferença significativa no número de recrutas destas espécies entre as estações. A
Figura 36 mostra o número de recrutas destas espécies nas estações de amostragem e a Figura 37 indica o
número total de recrutas. As estações LES e IX apresentam os menores números de recrutas.
Tabela 8. Número de recrutas, abundância relativa e freqüência de ocorrência de cada espécie de coral em cada estação de amostragem. Ab.relativa =
Abundância relativa; Freq. ocorrência = Freqüência de Ocorrência. Classificação da abundância relativa: R = Rara; E = Escassa; PN = Pouco Numerosa;
N = Numerosa; A = Abundante. Classificação da freqüência de Ocorrência: PF = Pouco freqüente; F = Freqüente; MF = Muito freqüente.
Espécies
Estações
Agaricia
Siderastrea
Porites
Porites
Favia
Montastrea
Meandrina
Mussismilia
Millepora
agaricites
stellata
astreoides
branneri
gravida
cavernosa
braziliensis
spp.
spp.
Total
6
6
0
0
21
1
0
6
0
40
0,15
0,15
0
0
0,53
0,02
0
0,15
0
1,00
11
9
2
7
17
0
0
2
15
63
0,17
0,14
0,03
0,12
0,27
0
0
0,03
0,24
1,00
14
4
2
8
15
0
1
1
5
50
0,28
0,08
0,04
0,16
0,30
0
0,02
0,02
0,1
1,00
46
6
0
0
26
0
0
2
2
82
0,56
0,08
0
0
0,32
0
0
0,02
0,02
1,00
26
17
0
0
18
0
0
0
0
61
0,42
0,28
0
0
0,30
0
0
0
0
1,00
Total
103
42
4
15
97
1
1
11
22
296
Abundância relativa geral
0,35
0,14
0,01
0,05
0,33
0,005
0,005
0,04
0,07
1,00
A
N
E
PN
A
R
R
PN
PN
MF
MF
PF
PF
MF
PF
PF
MF
F
LES
# recrutas
Ab. relativa (%)
TIM
# recrutas
Ab. relativa (%)
LIX
# recrutas
Ab. relativa(%)
PGS
# recrutas
Ab. relativa (%)
PAB
# recrutas
Ab. relelativa (%)
Classificaão ab. relativa
Classificação freq. ocorrência
53
Número de recrutas
Número total de recrutas das três espécies de
corais mais abundantes
50
40
Agaricia agaricites
30
Favia gravida
20
Siderastrea stellata
10
0
LES
TIM
LIX
PGS
PAB
Estações
Figura 36. Número total de recrutas das três espécies mais abundantes (Agaricia
agaricites, Favia gravida e Siderastrea stellata).
Número de recrutas
Número total de recrutas
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
LES
TIM
LIX
PGS
PAB
Estações
Figura 37. Número total de recrutas nas estações amostradas.
Os recrutas da espécie F. gravida foram os mais abundantes em três das cinco estações de amostragem
(LES=0,53; TIM=0,27; LIX=0,30). É uma espécie “Abundante” em PGS e PAB (0,32 e 0,30,
respectivamente). Foi feito o teste de análise de variância para verificar se há diferença entre o número de
54
recrutas desta espécie nas estações de estudo. Os pressupostos da ANOVA foram satisfeitos (Normalidade p=0,01; Homocedasticidade - p=0,61; Correlação entre as médias e os desvios padrão - r=-0,29) e o resultado
(ANOVA - p= 0,56) mostra que não existe diferença significativa entre o número de recrutas de F. gravida
nas estações de amostragem.
Os recrutas de A. agaricites foram mais abundante em PGS (0,56) e PAB (0,42). É uma espécie
“Numerosa” nas demais estações (LES=0,15; TIM=0,17; LIX=0,28). Para a realização da análise de
variância, o pressuposto de normalidade não foi satisfeito e foi feita a transformação dos dados usando o
log10(x+1), sendo então, satisfeitos (Normalidade - p=0,06; Homocedasticidade - p=0,77 e; Correlação entre
as médias e os desvios padrão - r=0,43). O resultado da ANOVA mostra que existe diferença significativa
entre o número de recrutas desta espécie nas estações de estudo (ANOVA - p=0,003). A análise post-hoc de
Newmann-Keuls mostra que a estação LES possui o menor número de recrutas desta espécie e a estação PGS
possui o maior número.
LES<TIM~LIX~PAB<PGS
Os recrutas de Meandrina braziliensis e Montastrea cavernosa só ocorrem em uma das estações. A
primeira em LIX e a seguinte em LES, sendo considerados como “Raros”. Já os recrutas do gênero
Mussismilia são considerados de uma forma geral, como “Pouco numerosos” (abundância de 0,04). Nas
estações TIM, LIX e PGS os recrutas deste gênero são também considerados como “Pouco numerosos”. O
recruta da espécie Meandrina braziliensis foi registrado apenas na estação LIX. Foi contado apenas um
recruta de Montastrea cavernosa na estação LES, o que faz com que esta seja uma espécie tida como “Rara”
no contexto geral e “Pouco numerosa” nesta estação. Da espécie P. astreoides foram observados dois
recrutas na estação TIM (0,03) e dois na estação LIX (0,04). Este número representa uma abundância de 0,01
no total das estações, o que a faz classificada como uma espécie “Escassa”. Os recrutas de P. branneri
ocorrem em duas das cinco estações (TIM e LIX), como “Numerosa” (TIM=0,12; LIX=0,16), mas no geral
esta é uma espécie “Pouco numerosa” (0,05).
Os recrutas dos hidrocorais do gênero Millepora possuem uma freqüência de 60%, ocorrendo nas
estações TIM, LIX e PGS e sua abundância varia de “Pouco numerosa” (0,02) em PGS a “Numerosa” (0,24)
em TIM. No geral esta é uma espécie classificada como “Pouco numerosa” (0,07).
4.1.5. Altura e diâmetro médio das colônias
Como ilustrado na Tabela 9, o diâmetro e a altura das colônias dos corais variam em função da estação
de estudo. A espécie S. stellata mostra uma variação de diâmetro que oscila entre 20 cm (PGS) a 31 cm
(LIX) e suas alturas médias variam de 1 cm (LIX) a 4,9 cm (PAB). Não foram observadas colônias maiores
55
que 20 cm na estação LES. Já F. leptophylla possui diâmetros médios oscilando entre 22 cm (PGS) e 35 cm
(PAB) e suas alturas variam de 4 cm (PGS) a 40 cm (PAB). A espécie de coral M. cavernosa mostra valores
de seus diâmetros médios variando de 25,7 cm (TIM) a 36 cm (PGS) e suas alturas não são superiores a 13
cm (PGS). M. harttii mostra seus menores diâmetros na estação LIX, com 28,5 cm, e os maiores em PAB,
com uma média de 42,1 cm. O coral Mussismilia. braziliensis possui diâmetros variando entre 28,1 cm (LIX)
e 35,6 cm (LES). A única colônia da espécie M. hispida maior que 20 cm foi observada em PAB, com 21 cm
de diâmetro por 3 cm de altura. O hidrocoral M. alcicornis possui a menor média de diâmetro com 42,1 cm
em LES e a maior média (61,1 cm) na estação PGS. A única colônia da espécie M. nitida com diâmetro
superior a 20 cm foi observada na estação LES, com um diâmetro médio de 22 cm por 5 cm de altura.
Diâmetros médios - A análise de variância foi realizada com o objetivo de detectar diferenças
significativas entre os diâmetros médios das colônias dos corais e dos hidrocorais mais abundantes (Tabela
9), que são as espécies M. harttii, M. braziliensis e M. alcicornis. Os pressupostos desta análise para o
diâmetro da espécie de coral M. harttii não foram satisfeitos, mesmo com a transformação dos dados para
log10(x+1) e 4√x. Eles foram satisfeitos para os diâmetros médios da espécie M. braziliensis (Normalidade –
p=0,06; Homocedasticidade – p=0,48 e correlação entre médias e desvio padrão – r=0,77). O resultado da
ANOVA (p=0,52) mostra que não existe diferença significativa entre os diâmetros deste coral nas estações
de estudo.
Para o hidrocoral Millepora alcicornis o pressuposto da correlação entre média e desvio padrão não foi
satisfeito e os dados foram transformados utilizando-se log10(x+1). Com esta transformação os pressupostos
foram satisfeitos (Normalidade – p=0,24; Homocedasticidade – p=0,72 e a correlação entre médias e desvio
padrão – r=0,56). O resultado da ANOVA (p=0,31) mostra que não há diferença significativa nos diâmetros
desta espécie entre as estações de estudo.
De uma forma generalizada que pode ser observada no gráfico da figura 38, as estações LES e LIX
mostram uma menor média dos diâmetros das espécies Mussismilia harttii e Millepora alcicornis.
Alturas médias – A análise de variância para se detectar diferenças significativas na altura das colônias
dos corais e do hidrocoral mais abundantes (Tabela 13) mostrou o seguinte: para o teste com a espécie M.
harttii, não foi possível aplicar a ANOVA devido a não satisfação de pressupostos, mesmo com a
transformação dos dados para log10(x+1) e 4√x. Para a espécie M. braziliensis, os pressupostos foram
satisfeitos (Normalidade – p=0,60; Homocedasticidade – p=0,53 e; Correlação média-desvio padrão –
r=0,56) e o teste da ANOVA (p=0,14) confirma que não há diferença significativa entre a altura das colônias
desta espécie de coral.
56
Tabela 9. Diâmetros médios e alturas médias das espécies de corais e hidrocorais observadas nos transectos
das estações de amostragem. SS = Siderastrea stellata; PA = Porites astreoides; FL = F. leptophylla; MC =
Montastrea cavernosa; MHAR = Mussismilia harttii; MB = M.braziliensis; MHIS = M. hispida; MA =
Millepora alcicornis; MN = M. nitida. Os valores de diâmetro e altura das colônias são expressos em cm.
LES
TIM
LIX
PGS
PAB
Espécies Diâmetro Altura Diâmetro Altura Diâmetro Altura Diâmetro Altura Diâmetro Altura
SS
-
-
22,5
4,3
31,0
1,0
20,0
3,0
25,0
4,9
PA
-
-
-
-
-
-
-
-
29,1
2,7
FL
23,5
14,5
25,0
19,0
-
-
22,0
4,0
35,0
40,0
MC
33,5
5,5
25,7
6,8
26,3
4,9
36,0
12,8
26,5
5,0
MHAR
32,4
8,2
33,2
8,0
28,5
8,5
32,6
8,9
42,1
10,1
MB
35,6
31,3
33,1
23,5
28,1
23,8
33,3
33,3
31,3
33,9
MHIS
-
-
-
-
-
-
-
-
21,0
3,0
MA
42,1
26,5
52,3
40,0
42,9
29,9
61,1
30,7
53,5
38,9
MN
22,0
5,0
-
-
-
-
-
-
-
-
Diâmetro médio (cm)
Diâmetro médio dos corais e hidrocoral mais
abundantes
100
80
60
Mussismilia
harttii
40
Mussismilia
braziliensis
20
Millepora
alcicornis
0
LES
TIM
LIX
PGS
PAB
Estações
Figura 38. Diâmetro médio (cm) das colônias de corais e do hidrocoral mais
abundantes nas estações de estudo, Mussismilia harttii, Mussismilia braziliensis e
Millepora alcicornis.
57
Para o hidrocoral M. alcicornis, seus pressupostos foram satisfeitos (Normalidade – p=0,06;
Homocedasticidade – p=0,56; Correlação média-desvio padrão – r=0,52) e a análise revelou que não existe
diferença significativa entre a altura das suas colônias nas estações amostradas (ANOVA – p=0,28).
Altura média dos corais e hidrocoral mais
abundantes
Altura média (cm)
60
50
Mussismilia
harttii
Mussismilia
braziliensis
Millepora
alcicornis
40
30
20
10
0
LES
TIM
LIX
PGS
Estações
PAB
Figura 39. Altura média (cm) das colônias dos corais e do hidrocoral mais
abundantes nas estações de estudo, Mussismilia harttii, Mussismilia
braziliensis e Millepora alcicornis.
Analisando o gráfico da figura 39, é possível observar que as menores alturas médias da espécie M.
alcicornis são encontradas nas estações LIX e LES, semelhante ao que ocorre com o diâmetro médio de suas
colônias (ver figura 38).
A Figura 40 mostra os parâmetros mais expressivos da vitalidade dos recifes da região de estudo. De
uma forma geral, o percentual de cobertura viva dos corais, o número de colônias e de recrutas de corais é
maior quanto mais se distancia da linha de costa a exceção da estação TIM. E o oposto acontece em relação
ao número de espécies de corais.
58
Cobertura viva, número total de espécies, de
colônias e de rcrutas de corais
20
Cobertura corais (%)
15
Número de espécies
10
Total de colônias (x10)
Total de recrutas (x10)
5
0
LES
TIM
LIX
PGS
PAB
Estações
Figura 40. Percentual de cobertura, número de espécies e número de
colônias e recrutas dos corais na região amostrada.
4.2. Parâmetros abióticos
4.2.1. Distância da costa, profundidade média das águas e taxa de acumulação de sedimento.
A estação mais próxima da linha de costa é a de Pedra de Leste (LES), distante 12,4 km e a estação mais
afastada é a do Parcel de Abrolhos (PAB) (58,8 km). As profundidades médias do topo dos recifes oscilam
entre 0,8 m (LES) e 5,6 m (PAB) (Tabela 10) (Figura 41).
59
Tabela 10. Distância da costa (km), profundidade média (m) de cada estação e taxa de acumulação de
sedimento (em mg.cm-2.dia-1) durante os meses de outubro de 2001 e março de 2002, e a média entre os dois
períodos.
Estações
de
Taxa de
Taxa de
Média da taxa de
Acumulação
Acumulação
acumulação de
Outubro/2001
Março/2002
sedimento (mg.cm-2.dia-1)
(mg.cm-2.dia-1)
(mg.cm-2.dia-1)
Distância da Profundidade
costa (km)
(m)
amostragem
LES
12,40
0,8
20,06
11,26
15,66
TIM
18
2,2
8,40
6,15
7,28
LIX
19,9
3,1
27,24
11,86
19,55
PGS
31,7
3,9
6,20
5,79
6,0
PAB
58,8
5,6
9,23
8,64
8,94
Distância/Profundidade
Profundidade média (m) e distância da costa (km)
das estações estudadas
80
60
Profundidade média x
10-1(m)
40
Distância da costa (km)
20
0
LES
TIM
LIX
PGS
PAB
Estações
Figura 41. Distância da costa e profundidade das estações amostradas.
Os dados de profundidade satisfazem os pressupostos da ANOVA após a sua transformação para
log10(x+1) (Normalidade – p=0,90; homogeneidade – p=0,10; correlação entre médias e variâncias – r=0,05).
O resultado da ANOVA (p<0,000001) mostra que existe diferença significativa entre as profundidades das
estações onde, após a análise post-hoc de grupos homogêneos de Newman-Keuls, pode ser observado o
seguinte padrão, ilustrado na Tabela 11:
LES < TIM < (LIX = PGS) < PAB
60
Onde a profundidade média de LES é menor que em TIM que é menor que as estações de LIX e PGS
(com profundidades semelhantes) e estas possuem menores profundidades que PAB.
Na tabela 10 e na figura 42, observa-se que as estações LIX e LES mostram valores de taxas de
acumulação de sedimento cerca de duas vezes maiores no período de outubro/2001 quando comparados com
março/2002 as médias são superiores a 15 mg.cm-2.dia-1. Não houveram grandes variações nas taxas de
mg.cm-2.dia-1
acumulação de sedimento entre os dois períodos de amostragem nas demais estações (TIM, PGS e PAB).
35
30
Taxas de acumulação de sedimento em Outubro
de 2001, Março de 2002 e a média entre os dois
períodos
Outubro/2001
25
20
15
10
Março/2002
Média
5
0
LES
TIM
LIX
PGS
PAB
Estações
Figura 42. Taxas de acumulação de sedimento nos meses de outubro/2001,
março/2002 e a média entre os dois períodos (mg.cm-2.dia-1).
4.2.2. O equivalente de carbonato de cálcio das amostras
Através de testes anteriores para se determinar a massa de amostra a ser pesada em função do teor de
CaCO3, foi determinada que esta seria de 1,4 g para que fossem obtidas cerca de 0,8 g de CaCO3 e, desta
forma, o volume de HCl fosse constante para todas as amostras. Além do mais, esta massa de 1,4 g de
amostra seria suficiente para que fosse digerida uma massa de CaCO3 (cerca de 0,8 g) dentro da faixa de
melhor eficiência do método. Os resultados estão indicados na Tabela 11.
O percentual de carbonato de cálcio aumenta de acordo com a distância da costa, como mostra a Figura
43. O maior percentual de carbonato de cálcio nas amostras foi obtido na estação do recife da Pedra Grande
Sul (PGS), com quase 70%, seguido pela estação do Recife da Lixa (LIX) (63,85%) e Timbebas (TIM)
(61,11%). Os dados da estação Parcel de Abrolhos (PAB) (94,00%), foram compilados de Leão (1982). A
estação de Pedra de Leste (LES) apresentou o menor teor de carbonato de cálcio, com pouco menos de 50%.
61
Tabela 11. Massa da amostra total, de CaCO3 e do percentual de CaCO3 nas amostras. LES = Estação de
Pedra de Leste; TIM = Estação de Timbebas; LIX = Estação do recife da Lixa; PGS = Estação do Recife da
Pedra Grande Sul; PAB = Recife do Parcel dos Abrolhos. Os números 1 e 2 se referem ao número da
armadilha. Teor de CaCO3 da estação PAB extraído de Leão (1982) em amostra de sedimento acumulado na
base do recife.
Estação
Massa de
Volume
Volume
Massa
sedimento
NaOH (ml)
HCl (ml)
CaCO3 (g)
% CaCO3 % CaCO3
Médio
inicial (g)
LES 1
1,4003
44,55
50
0,6940
49,56
TIM 1
1,4049
31,90
50
0,8472
60,31
TIM 2
1,4058
30,00
50
0,8703
61,90
LIX 1
1,4008
28,50
50
0,8884
63,42
LIX 2
1,4003
27,55
50
0,8999
64,27
PGS 1
1,4017
22,10
50
0,9659
68,91
PGS 2
1,4006
19,90
50
0,9926
70,87
49,56
61,11
63,85
69,89
94,00
PAB
Percentual de carbonato de cálcio
100
80
60
40
20
0
LES
TIM
LIX
PGS
PAB
Estações
Figura 43. Percentual de CaCO3 nas estações de amostragem. LES = Pedra de
Leste; TIM = Recife de Timbebas; LIX = Recife da Lixa; PGS = Recife da Pedra
Grande Sul; PAB = Parcel de Abrolhos (o valor do percentual de CaCO3 para a
estação PAB foi extraído de Leão (1982) em amostras do sedimento acumulado
no fundo recifal).
62
4.3. Resultados das correlações de Pearson
A Tabela 12 mostra os resultados das correlações lineares entre os parâmetros abióticos e as medidas da
vitalidade dos recifes. Oito parâmetros bióticos (cobertura viva e número de espécies de corais, diâmetro
médio das colônias, número de colônias de Millepora alcicornis, presença da espécie Meandrina
braziliensis, presença do hidrocoral Millepora nitida, número de recrutas de Favia gravida e o número total
de recrutas) em um total de 46 analisados foram influenciados pelos parâmetros abióticos estudados: (a) a
taxa de acumulação de sedimento; (b) o percentual de CaCO3 presente no sedimento acumulado; (c) a
profundidade das estações e; (d) a distância das estações da linha de costa.
Taxa de acumulação de sedimento – é o fator que mais limita os parâmetros bióticos, com um total de
quatro correlações significativas. Este parâmetro possui uma correlação significativa com o número de
espécies dos corais observados em cada uma das estações (r=0,68; p=0,03), com o diâmetro médio das
colônias dos corais, o qual diminui com o aumento das taxas de acumulação de sedimento (r=-0,66; p=0,04)
(Figura 44) e com a presença das espécies Meandrina braziliensis (r=0,89; p=0,000) e Millepora nitida
(r=0,75; p=0,01) que ocorrem em maior número nas estações com maiores taxas de acumulação de
sedimento.
60
Taxa média de acumulação de sedimento,
número total de espécies e diâmetro médio das
colônias
Taxa média de acumulação de
sedimento (mg.cm-2.dia-1)
50
Número de espécies
40
30
diâmetro médio (cm)
20
10
0
LES
TIM
LIX
PGS
PAB
Estações
Figura 44. Taxa de acumulação (mg.cm-2.dia-1), número de espécies de corais e
diâmetro médio das colônias (cm) nas estações amostradas.
63
Percentual de CaCO3 contido no sedimento acumulado – Este parâmetro influencia diretamente o
percentual de cobertura viva dos corais (r=0,75; p=0,01) e o número de colônias do hidrocoral Millepora
alcicornis (r=0,64; p=0,04) (Figura 45).
Percentual de carbonato de cálcio, cobertura de
corais e número de colônias de M. alcicornis
20
15
% CaCO3 (x10)
Cobertura corais (%)
10
M. alcicornis (x10)
5
0
LES
TIM
LIX
PGS
PAB
Estações
Figura 45. Percentual de CaCO3, cobertura viva de corais e número de colônias
do hidrocoral Millepora alcicornis (x10). O valor do percentual de CaCO3 para a
estação PAB foi copilado de Leão (1982) em amostra de sedimento lamoso
acumulado no fundo marinho próximo ao recife.
Profundidade – A profundidade do topo dos recifes, onde foi feita a coleta dos dados de campo,
correlaciona-se diretamente com os parâmetros cobertura viva dos corais (r=0,62; p=0,05) e o número de
recrutas (r=0,68; p=0,03) (Figura 46). O teor de CaCO3 correlaciona-se com este parâmetro, pois ele diminui
à medida que a profundidade também diminui (r=0,96; p=0,000).
Distância das estações da linha de costa – Quatro são os parâmetros bióticos influenciados diretamente
por este fator. A cobertura viva de corais (r=0,65; p=0,04), o diâmetro médio das colônias de corais (r=0,75;
p=0,01), o número de colônias do hidrocoral Millepora alcicornis (r=0,69; p=0,03) e o número de recrutas
do coral Favia gravida (r=0,70; p=0,03). À medida que se afasta da linha de costa os valores das taxas de
acumulação de sedimento diminuem, enquanto que o percentual de carbonato de cálcio e as profundidades
aumentam.
64
Profundidade média do topo dos recifes,
cobertura viva de corais e número total de
recrutas
25
20
Profundidade média (m)
15
10
Cobertura corais (%)
5
0
LES
TIM
LIX
PGS
PAB
Número de recrutas
(x10)
Estações
Figura 46. Profundidade do topo dos recifes (m), percentual de cobertura viva de
corais e número total de recrutas (x10).
65
Tabela 12. Valores de correlação de Pearson (r) e de significância (p) das análises de regressão entre as taxas
de acumulação de sedimento, o percentual de carbonato de cálcio (% CaCO3), a profundidade do topo dos
recifes e a distância da costa, com os fatores bióticos e abióticos investigados. * - Correlações significativas
com p<0,05.
%CaCO3
Taxa de
Profundidade (m) Distância da
costa (km)
Acumulação
(mg.cm-2.dia-1)
r
p
r
p
r
p
r
p
Distância da Costa
-0,76*
0,01*
0,89
0,000
0,87*
0,01*
1,00
---
Taxa de Acumulação
1,00
---
-0,58
0,08
-0,46
0,19
-0,76*
0,01*
%CaCO3
-0,58
0,076
1,00
---
0,96*
0,000*
0,91*
0,000*
Profundidade
-0,46
0,18
0,96*
0,000* 1,00
---
0,87*
0,001*
Cobertura
-0,47
0,17
0,74*
0,01*
0,62*
0,05*
0,65*
0,04*
Número de espécies
0,68*
0,03*
-0,29
0,42
-0,24
0,51
-0,61
0,06
Diâmetro médio
-0,66*
0,04*
0,49
0,15
0,50
0,14
0,76*
0,01*
0,087
-0,64*
0,04*
0,49
0,14
0,69*
0,03*
# colônias M. alcicornis -0,57
Presença
0,89*
0,000* -0,37
0,30
-0,27
0,45
-0,57
0,08
0,75
0,01
-0,37
0,29
-0,27
0,45
-0,57
0,08
-0,48
0,16
0,60
0,07
0,55
0,10
0,70*
0,03
-0,55
0,10
0,52
0,08
0,68*
0,03*
0,24
0,40
Meandrina braziliensis
Presença
Millepora nitida
# Recrutas
F. gravida
# Recrutas
Total
5. DISCUSSÃO
5.1. O sedimento acumulado no topo dos recifes
A diferença encontrada nos valores das taxas de sedimento acumulado nos dois períodos
amostrados - neste trabalho foram medidas as taxas de acumulação de sedimento em dois períodos
distintos, nos meses de outubro de 2001 e março de 2002. A diferença nos resultados encontrados
está, muito provavelmente, associada às diferenças nos regimes de ventos e de precipitação
pluviométrica registrados nestes dois períodos. Em outubro ocorre um maior percentual de ventos
de origem sul (15%) quando comparado com março (10%), de acordo com a série histórica de
1951-73 para a estação meteorológica de Abrolhos (DHN, 1993) e os ventos de origem sul estão
comumente associados às frentes frias chuvosas que chegam à região de Caravelas. As chuvas que
caem com maior intensidade em outubro contribuem para um aporte maior de sedimento para o
mar, proveniente de descargas fluviais, aumentando, dessa forma, o teor de sedimento acumulado
nas áreas recifais mais próximas da costa. Já no mês de março a precipitação pluviométrica é
menor, resultando em uma menor descarga fluvial e, conseqüentemente, com menores taxas de
acumulação de sedimento nos recifes estudados.
A diferença das taxas de acumulação de sedimento entre os recifes amostrados –
comparando os resultados encontrados nas cinco estações estudadas, verifica-se que os recifes mais
costeiros LES e LIX são aqueles que apresentam os maiores valores para as taxas de acumulação de
sedimento (média entre os períodos seco e chuvoso acima de 15 mg.cm-2.dia-1, enquanto que nos
demais recifes esta média não ultrapassa 9 mg.cm-2.dia-1) e, juntamente com a estação TIM
mostram os maiores teores de sedimento de natureza siliciclástica (LES=50%, TIM=39% e
LIX=36%, enquanto que nas estações mais afastadas da costa os valores são inferiores a 30%).
Tanto no que diz respeito aos valores das taxas de acumulação do sedimento quanto aos teores de
siliciclastos, observa-se que há uma nítida diminuição destes valores à medida que se afasta da
costa.
No que diz respeito à composição do sedimento desta área de Abrolhos, este mesmo padrão
de predominância de siliciclastos nas proximidades do continente e maiores teores de carbonato a
medida que se afasta da costa foi descrito e analisado por Leão (1982) e Leão & Ginsburg (1997),
para os sedimentos do fundo das áreas interrecifais, cujos valores dos teores de siliciclásticos
67
variaram entre 40-70% no entorno dos recifes costeiros e menos de 10% nas regiões dos recifes do
Parcel dos Abrolhos. Padrões semelhantes estão descritos também para outras áreas de recifes no
estado da Bahia, a exemplo do entorno dos recifes do litoral norte (Nolasco & Leão, 1986; Nolasco,
1987; Kikuchi, 2000) e da ilha de Itaparica, na Baía de Todos os Santos (Araújo, 1985; Leão et al.
1988).
Esta é mais uma prova que a fonte do sedimento de natureza siliciclástica está nos aportes
fluviais e na erosão dos afloramentos rochosos localizados ao longo da costa. O padrão dos ventos
predominantes de NE no verão e de SE durante as tempestades de inverno dão origem a ondas que
atingem a linha de costa diagonalmente, promovendo a formação de correntes ao longo da linha de
costa, as quais contribuem para a dispersão de sedimento de granulometria mais grossa, proveniente
do continente (o sedimento siliciclástico), paralelamente à linha de costa (Bittencourt et al., 2000)
alcançando apenas os recifes costeiros. O sedimento de granulometria mais fina, que chega até a
plataforma continental interna, flocula e é depositado nas partes mais profundas dos canais que
separam estas estruturas recifais costeiras. Segundo Knoppers et al. (1999), este sedimento lamoso
siliciclástico que chega até a plataforma interna é, também, bloqueado na região interna do arco
costeiro de recifes devido à barreira hidrodinâmica formada pelas correntes paralelas à costa.
Embora o recife das Timbebas (estação TIM) esteja localizado a uma distância do continente
semelhante as estações LES e LIX, ela apresenta valores muito mais baixos (< 8,4 mg.cm-2.dia-1)
para a taxa de acumulação de sedimento. Isto deve estar, muito provavelmente, relacionado ao fato
deste recife ser formado por estruturas recifais separadas entre si, e de menores dimensões,
favorecendo, assim, a ação das ondas e correntes costeiras na remoção do sedimento que provém do
continente e alcança os recifes.
O valor crítico da taxa de acumulação de sedimento para a vitalidade dos recifes - neste
trabalho foi constatado que nas estações onde a média das taxas de acumulação de sedimento entre
as estações seca e chuvosa foi superior a 15 mg.cm-2.dia-1 (estações LES e LIX), houve, de uma
forma geral, uma redução dos valores de alguns dos parâmetros biológicos analisados, por exemplo:
a) percentual da cobertura viva de corais; b) o diâmetro médio das colônias do hidrocoral Millepora
alcicornis; c) o número de colônias dos corais maiores que 20 cm e das colônias de M. alcicornis, e
d) o número total dos recrutas de corais, assim como dos recrutas das espécies Favia gravida e
Siderastrea stellata.
68
A influência de um valor crítico de acumulação de sedimento para a vitalidade dos recifes de
corais tem sido definido para outras áreas recifais. O valor definido como crítico neste trabalho, de
uma média entre as estações seca e chuvosa de 15 mg.cm-2.dia-1, está de acordo com os valores
estabelecidos por vários outros autores, a exemplo de Rogers (1990), que faz referência a taxas de
acumulação de sedimento acima de 10 mg.cm-2.dia-1, as quais são críticas para o bom
desenvolvimento dos recifes; de Loya (1976) que se reporta a redução da cobertura viva e da
diversidade dos corais em ambientes com taxas de acumulação de sedimento superiores a 15
mg.cm-2.dia-1; de Aller & Dodge (1974) que observaram nos recifes da Jamaica que índices de
ressuspensão de sedimento de 19 mg.cm-2.dia-1 inibem a fixação e o crescimento dos corais; de
Hodgson (1993) que observou níveis potenciais de danos aos corais a partir de taxas superiores a 20
mg.cm-2.dia-1, e de Cortés & Risk (1985) que, para os recifes da Costa Rica, relatam que as
estruturas expostas a taxas de sedimento em suspensão superiores a 30 mg.cm-2.dia-1, apresentaram
redução na cobertura viva, na diversidade e no crescimento das colônias de corais.
5.2. Os efeitos do aporte de sedimento sobre a vitalidade dos corais construtores dos recifes
estudados
O crescimento das colônias de corais - foi registrada uma correlação negativa significativa
(r=-0,66; p=0,04) entre as taxas de acumulação de sedimento e o diâmetro médio das colônias dos
corais observadas nas estações de estudo. Como está ilustrado na figura 47, os menores valores dos
diâmetros do hidrocoral M. alcicornis, ocorrem justamente nas estações com as maiores taxas de
acumulação de sedimento (LIX e LES). Os trabalhos de Dodge et al. (1974) nos recifes das
Bermudas e de Cortés & Risk (1985) no recife de coral de Cauhita (Costa Rica), registraram o
mesmo fato, isto é, onde as taxas de crescimento dos corais são reduzidas em áreas com altas taxas
de ressuspensão de sedimento, devido ao fato de que os corais passam a gastar mais energia para a
remoção do sedimento do que para o seu crescimento. Nos recifes de Castle Harbour, nas
Bermudas, Dodge & Vaisnys (1977) observaram que houve uma redução no crescimento do
esqueleto dos corais que habitam o interior do porto em comparação com os corais da região
externa. Eles associaram esta diminuição no crescimento dos corais às obras de dragagem do porto
para a construção de uma pista de pouso em 1941. Estes autores informam que as colônias que
viviam dentro da área do porto e que possuíam dimensões > 1 m de diâmetro morreram após a
dragagem e não são mais observadas neste local e, com o passar do tempo, as colônias com
dimensões maiores que 10 cm morreram em decorrência, muito provavelmente, do aumento
69
contínuo do aporte de sedimento na zona portuária, uma vez que os efeitos da dragagem perduraram
por um longo período de tempo.
Taxa média de acumulação de sedimento,
cobertura viva de corais e diâmetro médio de M.
alcicornis
30
25
20
15
10
5
0
Taxa média de acumulação de
sedimento (mg.cm-2.dia-1)
Cobertura corais (%)
M. alcicornis (cm) (x10)
LES
TIM
LIX
PGS
PAB
Estações
Figura 47 – Gráfico ilustrativo da relação entre as taxas de acumulação de
sedimento (média entre as estações seca e úmida) com os parâmetros
biológicos: cobertura viva de corais e diâmetro médio das colônias de M.
alcicornis.
Rogers (1990), discute que o crescimento dos corais é o resultado final de diversos
processos fisiológicos que podem ser alterados por condições ambientais. Ela chama a atenção que
não está claro, ainda, o que faz com que o coral deixe de crescer na presença do excesso de
sedimento, mas uma mudança registrada nas dimensões dos corais pode ser um bom indicativo dos
efeitos do incremento de aporte de sedimento. Os trabalhos relacionados na Tabela 13 são exemplos
evidentes de que o aporte de sedimento tem efeito negativo sobre o crescimento das colônias de
corais.
A cobertura viva de corais – este parâmetro é sempre menor nas estações LES (<6%) e LIX
(<10%) (Figura 47) as quais apresentam os valores médios mais altos de taxa do sedimento
acumulado (> 15 mg.cm-2.dia-1). Vários trabalhos relacionam o decréscimo da cobertura viva de
corais com o aporte de sedimento (ver Tabela 14) e dentre eles salientamos o de Acevedo &
Morelock (1988) no qual eles reportam a mesma situação em um recife em Porto Rico, onde a
redução da cobertura de corais ocorreu de forma mais acentuada próxima às fontes de sedimento
70
terrígeno, reduzindo dos originais 30 a 40% para menos de 3%; Cortés (1993) registrou uma
redução na cobertura viva de corais entre 1981 e 1993 associada, também, ao aumento do aporte de
sedimento em Cauhita (Costa Rica); Hodgson (1993) observou uma redução na cobertura viva de
corais na baía Bacuit, nas Filipinas, associada a um aumento nas taxas de acumulação de sedimento,
e este mesmo fato foi observado por Edinger et al. (2000) no recife de Sulawesi na Indonésia e por
Loya (1976) em Porto Rico.
Tabela 13. Estudos relacionando os efeitos do aporte de sedimento sobre o crescimento dos corais
Resultados encontrados
Espécies estudadas
Local
Referência
Índices de ressuspensão de sedimento
de até 19 mg.cm-2.dia-1 inibem a
fixação e o crescimento de espécies
Aller &
Montastrea annularis
Jamaica
Dodge
(1974)
filtradoras, reduzem a diversidade
infaunal e o crescimento de corais.
Diminuição das taxas de crescimento
em decorrência da sedimentação
Montastrea annularis
Porto Rico
O crescimento de corais foi afetado
pelo aporte do sedimento em
Diploria strigosa e D.
decorrência de dragagem que ocorreu labyrinthiformis
os valores de ressuspensão de
sedimento e o crescimento de corais
Montastrea annularis e
Stephanocoenia sp.
2001
Dodge &
Bermudas
Vaisnys
(1977)
36 anos antes do estudo.
Tendência inversa significativa entre
Torres,
Jamaica
Dodge et al.
(1974)
Baixa cobertura viva e diversidade de
corais, diâmetros médios elevados
das colônias e baixo crescimento de
Costa Rica
corais em um recife com altas taxas
Cortés &
Risk (1985)
de ressuspensão de sedimento.
Millepora alcicornis diminui o
Tamanho das colônias onde a média
da taxa de acumulação de sedimento
é maior que 15 mg.cm-2.dia-1.
Siderastrea stellata, Porites
astreoides, Favia leptophylla,
Abrolhos,
Montastrea cavernosa, Mussismilia
Bahia,
harttii, M. braziliensis, M. híspida,
Brasil
Millepora alcicornis, M. nitida.
Este estudo
71
A cobertura média de corais calculada neste trabalho coincide com os resultados
encontrados por Segal & Castro (no prelo) onde a cobertura viva de corais no Arquipélago de
Abrolhos varia entre 6,6% e 31,7% e por Kikuchi et al. (2003) que mediram coberturas vivas de
corais variando de 3,5% a 20% nos recifes do Arquipélago e do Parcel de Abrolhos.
Com relação ao número de colônias de corais, Dodge & Vaisnys (1977) sugerem que altos
valores para a turbidez e a taxa de sedimentação reduzem a abundância de corais e isto pode agir de
forma indireta na redução da taxa de cobertura dos corais. Do mesmo modo, Rogers (1990), salienta
que onde há inibição do recrutamento, redução do crescimento dos corais e posterior morte das
colônias, causada pela sedimentação, pode haver uma redução na cobertura viva dos corais.
A diversidade de corais – neste trabalho verificou-se que as estações sob maior estresse de
aporte de sedimento mostram incremento no número de espécies de corais, mas que, entretanto, não
é significativo. A fauna coralina recifal brasileira é caracterizada por um alto grau de endemismo e
uma baixa diversidade (18 espécies de corais pétreos e 4 de hidrocorais – Laborel, 1969b; Amaral et
al., 2002). Entre as espécies endêmicas existem algumas com afinidades com as formas do Caribe e
outras relacionadas a uma fauna fóssil datada do período Terciário (Laborel, 1969b). E são estas
espécies arcaicas as mais comuns nos recifes modernos estudados. Leão (1982) sugere que a baixa
diversidade da fauna coralina dos recifes do Brasil pode ser uma resposta aos efeitos da alta
turbidez das águas costeiras, pois somente formas de corais possuidoras de pólipos grandes (a
maioria das espécies endêmicas) são capazes de resistir a este tipo de estresse, pelo fato delas
possuírem um sistema ciliar mais eficiente, o qual facilita a remoção do sedimento (Dodge et al.,
1974; Logan, 1988; Hodgson, 1993).
Assim, considerando que a baixa diversidade coralina dos recifes brasileiros é devido aos
efeitos do aporte de sedimento siliciclástico, como explicar que nos recifes estudados onde as taxas
de acumulação de sedimento e os teores de siliciclásticos são maiores, o número de espécies de
corais é, também, maior?
A hipótese dos distúrbios intermediários, proposta por Connel (1978), talvez possa explicar
este fato. Esta hipótese sugere que a diversidade é maior quando os distúrbios são intermediários
nas escalas de freqüência e intensidade, e mais baixa quando a freqüência e a intensidade dos
distúrbios são muito elevadas ou muito baixas. E a diversidade pode ainda ser reduzida se o
distúrbio se mantém freqüente, porque um competidor que é mais eficiente para explorar recursos
72
limitados poderá dominar, ocupando a maioria dos espaços e, assim, bloquear as invasões dos
outros competidores.
No caso dos recifes estudados, nas estações de TIM, PGS e PAB, o aporte de sedimento não
sofre grandes variações (taxas de sedimento acumulado menores e mais constantes entre as estações
seca e úmida) – o que pode ser considerado como um distúrbio freqüente de baixa intensidade –
observa-se um menor número de espécies e a dominância de uma sobre as outras. Em TIM e PAB o
coral endêmico Mussismilia braziliensis representa, respectivamente, 50% e 60% das colônias de
corais, e em PGS o hidrocoral Millepora alcicornis domina com 50% das colônias observadas.
Já nas estações LES e LIX, as quais exibem as maiores diferenças entre as taxas de
acumulação de sedimento nos períodos seco e chuvoso – um distúrbio de maior intensidade –
observa-se um maior número de espécies e não há domínio de uma determinada forma. Em LES, M.
braziliensis tem 44% de ocorrência, M. harttii 25% e Millepora alcicornis 22%. Em LIX, a estação
com os maiores valores para as taxas de acumulação de sedimento, três espécies de corais ocorrem
com freqüências mais ou menos equivalentes, M. alcicornis com 23%, M. harttii com 19% e
Montastrea cavernosa com 14%. Seria esta a resposta para o fato de que os recifes com as mais
elevadas taxas de acumulação de sedimento são os que apresentam um número mais elevado de
espécies de corais? Contrariando, assim, o que é reportado para outras áreas de recifes de corais,
como pode ser observado na tabela 19.
Os recrutas dos corais – à semelhança de vários outros parâmetros biológicos, o número
total dos recrutas (Figura 48), assim como dos recrutas das espécies Favia gravida e Siderastrea
stellata, diminui nas estações onde a média das taxas de acumulação de sedimento é superior a 15
mg.cm-2.dia-1, (estações LES e LIX). Este fato foi observado, também, em outras áreas de recifes de
corais, como consta da Tabela 15. Pelo fato das larvas plânulas dos corais necessitarem de um
substrato duro para se fixarem, a presença de sedimento fino, móvel, inibe este processo de fixação.
Segundo Babcock & Davies (1991) uma das estratégias que as larvas utilizam para se fixarem em
recifes onde as taxas de sedimentação são elevadas, é a preferência pelas partes mais altas dos
recifes, isto é, as superfícies mais afastadas do fundo, quando ocorre um aumento da sedimentação.
73
Tabela 14. Estudos relacionando os efeitos do aporte de sedimento sobre a cobertura viva e a
diversidade de corais.
Resultados encontrados
Espécies estudadas
Local
Referência
Porto
Acevedo &
Rico
Morelock
Montastrea annularis, M. cavernosa,
Cobertura viva e a diversidade
de corais foram reduzidas em
recifes localizados próximos a
fontes de sedimento terrígeno.
Estes parâmetros aumentaram
com a distância da costa.
Agaricia agaricites, A. lamarcki, Porites
astreoides, Siderastrea siderea,
Meandrina meandrites, Colpophylla
natans, Diploria strigosa, D.
labyrinthiformis, Stephanocoenia
(1988)
michelini, Madracis decactis,
Mycetophyllia ferox, M. lamarcki,
Acropora cervivornis
Cobertura viva e diversidade
Montastrea cavernosa, Siderastrea
diminuíram com taxas de
radians, S. siderea, Diploria strigosa e
acumulação > 15 mg.cm-2.dia-1.
Meandrina meandrites.
Cobertura de corais moles é maior
que a de corais vivos em recifes
Goniastrea retiformis, Porites cf.
expostos ao aporte de sedimentos
australiensis e Acropora spp.
terrígenos
Porto
Rico
Quênia
(Oceano
Índico)
Loya (1976)
van Katwijk et
al. (1993)
Redução de 30 a 50% da
diversidade de espécies de corais
nos recifes expostos à
Diversas espécies
Indonésia
sedimentação e/ou poluição
Edinger et al.
(1998)
continental.
Redução na cobertura viva e na
diversidade dos corais nos recifes
Diversas espécies
com altas taxas de ressuspensão
Costa
Rica
Redução na cobertura e diversidade
com o aumento das taxas de
Diversas espécies
Filipinas
acumulação de sedimento.
Redução da cobertura viva onde a
taxa de acumulação média de
sedimento é maior que 15 mg.cm2
.dia-1
Cortés (1993);
Cortés & Risk
(1985)
Hodgson
(1993)
Siderastrea stellata, Porites astreoides,
Favia leptophylla, Montastrea
Abrolhos,
cavernosa, Mussismilia harttii, M.
Bahia,
braziliensis, M. hispida, Millepora
Brasil
alcicornis, M. nitida.
Este estudo
74
Tabela 15. Estudos relacionando os efeitos do aporte de sedimento sobre o recrutamento coralino.
Resultados encontrados
Espécies estudadas
Local
Referência
Baixo recrutamento, grande
abundância de invertebrados
herbívoros, filtradores e causadores Porites lobata, Pocillopora spp.
México
de erosão onde o aporte de
Ochoa-Lopes
et al. (1998)
sedimento é maior.
Altas taxas de sedimentação (0,5 a
325 mg.cm-2.dia-1) em experimentos de laboratório reduziram o
Acropora millepora
número de larvas que se fixam nas
Experimento
Babcock &
in vitro
Davies (1991)
superfícies superiores dos aquários.
Reversão de metamorfose das
larvas plânulas em concentrações
Pocillopora damicornis
de sedimento de 100 e 1.000 mg/l.
O número total de recrutas diminui
Agaricia agaricites, Siderastrea
nas estações onde a média da taxa
stellata, Porites astreoides, P.
de acumulação de sedimento entre
branneri, Favia gravida, Montastrea
as estações seca e chuvosa é
cavernosa, Meandrina braziliensis,
-2
-1
superior a 15 mg.cm .dia .
Mussismilia spp e Millepora spp.
Experimento
in vitro
Abrolhos,
Bahia, Brasil
Te (1992)
Este estudo
75
Relação entre a taxa de acumulação média, o
número de colônias >20 cm, número de colônias
de M. alcicornis e o número total de recrutas de
corais
50
40
30
20
10
0
Taxa de acumulação
de sedimento média
Total de colônias (x10)
Colônias de M.
alcicornis
LES
TIM
LIX
PGS
PAB
Total recrutas (x10)
Estações
Figura 48 – Gráfico ilustrativo da relação entre as taxas de acumulação de
sedimento (média entre as estações seca e úmida) com os parâmetros
biológicos: número total de colônias de corais (x10), número de colônias
do hidrocoral M. alcicornis e o número de recrutas (x10).
6. CONCLUSÕES
Este trabalho avaliou os efeitos do aporte de sedimento sobre os recifes de coral da região de
Abrolhos, comparando os valores das taxas do sedimento acumulado em armadilhas localizadas no
topo recifal, com os dados da vitalidade dos principais corais e hidrocorais construtores dos recifes,
em cinco estações localizadas a distâncias variadas da linha de costa.
Muito embora existam referências de que a fauna coralina recifal brasileira esteja adaptada a
condições de águas periodicamente túrbidas, a análise dos resultados encontrados, durante a
realização desta pesquisa, nos leva a concluir o seguinte:
• O valor médio entre as estações seca e chuvosa da taxa de acumulação de sedimento, de 15
mg.cm-2.dia-1, parece se constituir como um limite crítico para a manutenção das condições vitais
dos corais e dos hidrocorais recifais de Abrolhos. Nos recifes expostos a taxas de acumulação de
sedimento iguais e/ou superiores a este valor (estações LES e LIX), observa-se uma tendência
inversa, significativa, entre os valores das taxas de sedimento acumulado e de alguns dos
parâmetros biológicos analisados, a saber: o percentual da cobertura viva dos corais e o diâmetro
médio do hidrocoral Millepora alcicornis (Figura 47) e das colônias dos corais (correlação de
Pearson significativa: r=-0,66; p=0,04 – Tabela 12), o número de colônias maiores que 20 cm
(Figura 39) e das colônias de M. alcicornis (Figura 37), e o número total de recrutas e dos recrutas
das espécies Favia gravida e Siderastrea stellata (Figura 48).
• A localização dos recifes em relação à linha de costa é a principal causa da exposição dos
corais aos efeitos do aporte de sedimento. As estações LES e LIX, as mais próximas do continente,
apresentam os maiores valores para a taxa de acumulação de sedimento. Estas estações estão
localizadas no lado dos recifes voltado para o continente, em zonas que estão parcialmente
protegidas da ação da energia das ondas pela presença das estruturas recifais, as quais constituem
uma barreira evitando a dispersão do sedimento proveniente do continente, em direção ao mar
aberto.
• A morfologia e a localização dos recifes das Timbebas são, muito provavelmente, os fatores
responsáveis pelos valores mais baixos para a taxa de acumulação de sedimento observada ai, em
relação à das estações LES e LIX. Embora os recifes das Timbebas tenham sua localização em
77
relação à linha de costa semelhante às estações LES e LIX, eles são constituídos por estruturas
recifais, mais ou menos isoladas, as quais favorecem a ação das ondas e correntes na remoção do
sedimento acumulado. Associado a este fato, os recifes das Timbebas estão posicionados ao norte
da zona de influência do rio Caravelas, cujos aportes, embora não muito elevados, são carreados em
direção sul pelas correntes paralelas à costa.
• O alto teor de sedimento siliciclástico parece influenciar, de forma negativa, a vitalidade dos
recifes. Existe uma clara transição na deposição de material terrígeno para sedimentos carbonáticos
a partir da estação LES (a mais próxima do continente) na direção costa-afora, coincidente com o
aumento, na mesma direção, dos valores indicativos das condições vitais dos recifes. A correlação
positiva observada entre o teor de carbonato e, por exemplo, o percentual da cobertura viva dos
corais na estação PAB (a mais afastada da costa), reforça este argumento.
• Duas espécies, uma de coral (Agaricia fragilis) e outra de hidrocoral (Millepora nitida)
ocorreram apenas nas estações LES e LIX, onde a taxa de sedimento acumulado alcançou os
valores mais elevados – 20,06 mg.cm-2.dia-1 e 27,24 mg.cm-2.dia-1, respectivamente – um fator de
alto estresse. Poderiam estas espécies serem, assim, consideradas como espécies oportunistas? Em
caso positivo podemos citar dois fatos que dão reforço a esta hipótese. O primeiro se refere a uma
outra espécie do gênero Agaricia, que foi considerada como oportunista quando ocupou o espaço
deixado pela morte em massa da espécie Acropora cervicornis, nos recifes de Belize (Aronson et
al., 1998). E o segundo é que o hidrocoral Millepora nitida só foi identificado, fora da região de
Abrolhos, nos recifes da costa da cidade de Maceió (Amaral et al., 2002), uma área de recifes
exposta a um elevado estresse em decorrência da alta turbidez de suas águas e, sobretudo, o uso
inadequado dos recifes, os quais estão localizados em área urbana (Correia, 1997).
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABDEL-SALAM, H.A. & PORTER, J.W. 1988. Physiological effects of sediment rejection on
photosynthesis and respiration in three Caribbean reef corals. Proceedings of the 6th Int. Coral
Reef Sym., Australia, vol. 2: 285-292.
ACEVEDO, R.J. & MORELOCK, J. 1988. Effects of terrigenous sediments on coral reef zonation
in Southwestern Puerto Rico. Proceedings of the 6th Int. Coral Reef Sym., Australia, vol. 2:
189-199.
ALLER, R.C. & DODGE, R.E. 1974. Animal-sediment relations in a tropical lagoon. Discovery
Bay, Jamaica. Journal of Marine Research 32(2):209-231.
AMARAL, F.D.; HUDSON, M.M. & COURA, M.F. 2000. New findings on corals and hydrocorals
from the Marine State Park of the Manuel Luiz Parcel (Maranhão state). Abstracts of the 9th
Int. Coral Reef Sym., Bali, p.294.
AMARAL, F.D.; BROADHURST, M.M.; CAIRNS, S.D. & SCHLENZ, E. 2002. Skeletal
morphometry of Millepora species from Brazil. Proc. Biol. Soc. Washington, 115(3): 681695.
ARAÚJO, T.M.F. 1985. Morfologia, composição, sedimentologia e história evolutiva do recife de
coral da ilha de Itaparica, Bahia. Tese de Mestrado, Instituto de Geociências, Universidade
Federal da Bahia, 90p.
ARONSON, R.B.; PRECHT, W.F. & MACINTYRE, I.G. 1998. Extrinsic control of species
replacement on a Holocene reef in Belize: the role of coral disease. Coral Reefs 17(3):223230.
BABCOCK, R. & DAVIES, P. 1991. Effects of sedimentation on settlement of Acropora
millepora. Coral Reefs 9:205-208.
BITTENCOURT, A.C.S.P.; DOMINGUEZ, J.M.L.; MARTIN, L. & NASCIMENTO, I.R. 2000.
Patterns of sediment dispersion coastwise the state of Bahia – Brazil. An. Acad. Bras. Ci.
72(2): 271-287.
79
BUNCHAFT, G. & KELLNER, S.R.O. 1998. Estatístca sem mistérios. Volume 3. Editora Vozes,
221p.
BUNCHAFT, G. & KELLNER, S.R.O. 1999. Estatístca sem mistérios. Volume 2. Editora Vozes,
2ª edição, 303p.
CANALDOTEMPO.COM. 2003. Médias e registros mensais para a cidade de Caravelas, Bahia.
http://br.weather.com/weather/local/BRXX0062?x=0&y=0.
CASTRO, C.B. 1994. Corais do sul da Bahia. In: B. Hetzel & C.B. Castro (Eds.), Corais do Sul da
Bahia. Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro, pp. 161-176.
CASTRO, C.B. & PIRES, D.O. 2001. Brazilian coral reefs:what do we already know and what is
still missing. Bull. Mar. Sci., 69(2):357-371.
CONNEL,
J.H.
1978.
Diversity
in
tropical
rain
forests
and
coral
reefs.
Science, vol. 199: 1302-1310.
CORREIA, M.D. 1997. Distribuição espacial dos organismos marobentônicos no recife de coral da
Ponta Verde, Maeió, Alagoas, Brasil. Tese de Doutorado. Instituto de Biociências da
Universidade de São Paulo, 194p.
CORTÉS, J. & RISK, M.J. 1985. A reef under siltation stress: Cauhita, Costa Rica. Bulletin of
Marine Science, 36(2):339-356.
CORTÉS,
J.
Colloquium
Rosentiel
1993.
A
reef
on
global
School
of
under
aspects
Marine
siltation
of
and
coral
stress:
reefs:
Atmospheric
a
decade
health,
Science,
of
hazard
University
degradation.
and
history.
of
Miami,
p. 240-246.
COURA, M.F. 1994. Contribuição ao plano de manejo do Parque Estadual Marinho do Parcel de
Manuel Luiz, MA – Brasil. Monografia, Departamento de Geociências, Universidade Federal
do Maranhão, 55p.
DHN. 1993. Atlas de cartas piloto. Diretoria de Hidrografia e Navegação. 2ª edição. Rio de Janeiro,
24p.
DHN. 2003. Tábua de maré do Porto de Ilhéus, Bahia. www.mar.mil.br
80
DODGE, R.E.; ALLER, R.C. & THOMSON, J. 1974. Coral growth related to resuspension of
bottom sediment. Nature 247:574-577.
DODGE, R.E. & VAISNYS, J.R. 1977. Coral populations and growth patterns: responses to
sedimentation and turbidity associated with dredging. Journal Mar.Res. 35:715-730.
EDINGER, E.N.; JOMPA, J.; LIMMON, G.V.; WIDJATMOKO, W. & RISK, M. 1998. Reef
degradation and coral biodiversity in Indonesia: Effects of land-based pollution, destructive
fishing practices and changes over time. Mar. Poll. Bull., vol. 36, No. 8, pp. 617-630.
EDINGER, E.N.; LIMMON, G.V.; WIDJATMOKO, W.; KEIKOOP, J.M. & RISK, M. 2000.
Normal coral growth rates on dying reefs: are coral growth rates good indicators of reef
health? Mar. Poll. Bull, Vol. 40, No. 5, pp. 404-425.
EMBRAPA. 1997. Manual de métodos de análise do solo. Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária, Ministério da Agricultura, 2ª edição, Rio de Janeiro, 212p.
GARDNER, W.D.; BISCAYE, P.E. & RICHARDSON, M.J. 1997. A sediment trap experiment in
the Verna channel to evaluate the effect of horizontal particle fluxes on measured vertical
fluxes. Journal Mar.Res., 55:995-1028.
GARDNER, W.D. & ZHANG, Y. 1997. The effect of brine on the collection efficiency of
cylindrical sediment traps. Journal Mar.Res., 55: 1029-1048.
GINSBURG, R.N.; KRAMER, P.A.; LANG, J.C.; SALE, P. & STENECK, R.S. 1998. Atlantic and
Gulf rapid reef assessment (AGRRA) – Revised rapid assessment protocol (RAP).
http://coral.aoml.noaa.gov/agra/, última revisão: 18/02/2000.
HARGRAVE, B.T. 1979. Assessment of sediment trap collection efficiency. Limnol Oceanogr.,
24(6):1124-1136.
HARTT, C.F. 1870. Geology and Physical Geography of Brazil. Scientific results of a journey to
Brazil by Louis Agassiz. Boston, Fields Osgood & Co., 620p.
HETZEL, B. & CASTRO, C.B. 1994. Corais do sul da Bahia. Editora Nova Fronteira, Botafogo,
RJ, 189p.
81
HODGSON, G. 1993. Sediment damage to reef corals. Colloquium on global aspects of coral reefs:
Health, hazard and history, Rosentiel School of Marine and Atmospheric Science, University
of Miami, pp. 298-303.
HODGSON, G. & DIXON, J.A. 2000. El Nido revisited: Ecotourism, logging and fisheries, pp. 5567. In: Collected essays on the economics of coral reefs. CORDIO. Herman S.J. Cesar Editor,
244p.
KIKUCHI, R.K.P. & LEÃO, Z.M.A.N. 1998. The effects of sea level fluctuation on reef
development and coral community structure, northern Bahia, Brazil. An. Acad. Bras. Ci.
70(2), 159-171.
KIKUCHI, R.K.P.; LEÃO, Z.M.A.N.; TESTA, V.; DUTRA, L.X.C.; SAMPAIO, C.L.S.; SPANÓ, S. &
TELLES, M.D. 2003. AGRRA indicators of Abrolhos reefs, EASTERN BRAZIL. Atoll Research
Bulletin, mp. 496, p. 172-187. In: Lang, J.C. (ed.) Status of Coral Reefs in the Western Atlantic:
Results of Initial Surveys, Atlantic andGulf Rapid Reef Asssessment (AGRRA) Program. Atoll
Research Bulletin, 496, National Museum of Natural History, Smithsonian Institution, Wasington,
D.C., July, 2003, 630p.
KIKUCHI, R.K.P.; LEÃO, Z.M.A.N.; TESTA, V.; DUTRA, L.X.C. & SPANÓ, S. 2002. Rapid
assessmeent of the Abrolhos reefs, eastern Brazil (Part 1: Stony corals and algae). Atoll
Research Bulletin, Washington, v.X, no prelo.
KLEYPAS, J.A. 1996. Coral reef development under naturally turbid conditions: fringing reefs near
Broad Sound, Australia. Coral Reefs 15:153-167.
KNOPPERS, B. MEYERHOFER, M.; MARONE, E.; DUTZ, J.; LOPES, R.; LEIPE, T. &
CAMARGO, R. 1999. Compartments of the pelagic system and material exchange at the
Abrolhos Bank coral refs, Brazil. Arch. Fish. Mar. Res., 47(2/3), 285-306.
LABOREL, J. 1969a. Les peuplements de madréporaires des côtes tropicales du Brésil. Annales de
l´Université d´Abidjan. Serie E – II, fascicule 3, 260p.
LABOREL, J. 1969b. Madreporaires et hydrocoralliaires récifaux dês cotes brésiliennes.
systematique, écologie, répartition verticale et géographique. In XXXVI Campagnes de la
Calypso au large dês côtes Atlantiques de l´Amerique du Sud (1961-1962). Résultats
scientifiques des campagnes de la “Calypso”, fascicule IX, 229p.
82
LARCOMBE, P.W. & WOOLFE, K.J. 1999. Increased sediment supply to the Great Barrier Reef
will not increase sedimeent accumulation at most coral reefs. Coral Reefs 18:163-169.
LEÃO, Z.M.A.N. 1982. Morphology, geology and development history of the southernmost coral
reefs of Western Atlantic, Abrolhos, bank, Brazil. PhD thesis, University of Miami, Miami,
Florida, 216p.
LEÃO, Z.M.A.N. 1986. Guia para identificação dos corais do Brasil. Programa de Pesquisa e Pósgraduação em Geofísica. Instituto de Geociências,57p.
LEÃO, Z.M.A.N.; ARAÚJO, T.M.F.; NOLASCO, M.C. 1988. The coral reefs off
the coast of Eastern Brazil. In: Proc 6th Int Coral Reef Sym (3):339-347.
LEÃO, Z.M.A.N. 1996. The coral reefs of Bahia: morphology, distribution and the major
environmental impacts. An. Acad. Bras. Ci. 68(3), pp. 439-452.
LEÃO, Z.M.A.N. & GINSBURG, R.N. 1997. Living reefs surrounded by siliciclastic sediments:
The Abrolhos coastal reefs, Bahia, Brazil. Proceedings of 8th Int. Coral Reef Sym. 2:17671772.
LEÃO, Z.M.A.N.; KIKUCHI, R.K.P.; MAIA, M.P. & LAGO, R.A.L. 1997. A catastrophic coral
cover decline since 3.000 years B.P., Northern Bahia, Brazil Proceedings of 8th Int. Coral Reef
Sym. 1:583-588.
LEÃO, Z.M.A.N. & KIKUCHI, R.K.P. 1999. The Bahian coral reefs – from 7.000 years B.P. to
2.000 years A.D. Ciência e Cultura, 51(3/4):262-273.
LEÃO, Z.M.A.N.; DUTRA, L.X.C. & SPANÓ, S., 2004. The characteristic of bottom sediments. In:
ALLEN, G.R. DUTRA, G. and WERNER, T.B. (Eds.). A rapid biodiversity assessment of the
Abrolhos Bank, Brazil. Washington D.C.: Conservation International (no prelo).
LOGAN,
coral
A.
1988.
Scolymia
Sediment
cubensis
shifting
(Milne,
capability
Edwards
and
in
Haime)
the
from
recent
solitary
Bermuda.
Bull
Mar Sci 43:241-248.
LOYA, Y. 1976. Effects of water turbidity and sedimentation on the community structutre of Puerto
Rican corals. Bull. Mar. Sci., 26(4):450-466.
83
NEUMANN-LEITÃO, S. 1994. Impactos antrópicos na comunidade zooplanctônica estuarina.
Porto de Suape – PE – Brasil. Tese (doutorado). Escola de Engenharia de São Carlos,
Universidade de São Paulo, 273p.
NIMER, E. 1989. Climatologia do Brasil. 2ª edição, IBGE, Rio de Janeiro. Departamento de
Recursos Naturais e Estudos Ambientais, 422p.
NOLASCO, M.C. & LEÃO, Z.M.A.N. 1986. The carbonate buildups along the northern coast of
the Statee of Bahia, Brazil. In: J. Rabassa (Ed.) Quaternary of South America and Antarctic
Peninsula, Balkema Pub., pp 159-190.
NOLASCO, M.C. 1987. Construções carbonáticas da costa norte do estado da Bahia (Salvador a
Subaúma). Tese de Mestrado, Curso de Pós-Graduação em Geologia, Instituto de Geociências,
Universidade Federal da Bahia, 143p.
OCHOA-LÓPES, E.; REYES-BOILLA, H. & KETCHUM-MEJIA, J. 1998. Daños por
sedimentación a las comunidades coralinas del sur de la isla Socorro, Archipelago de
Revillagigedo, México. Ciencias Marinas, 24(2):233-240.
PEIXINHO, S. & PESO-AGUIAR, M.C. 1989. Marine sponges as biomonitors: an approach at
Todos os Santos Bay, Bahia, Brazil. In: Proceed. Inter.Workshop on Biomonitors. MARC
UFBA, Dec. MARC. Ed., London.
ROGERS, C.S. 1990. Responses of coral reefs and reef organisms to sedimentation. Marine Ecol.
Prog. Series, 62:185-202.
SAILING DIRECTIONS (ENROUTE). 2001. East coast of South America. National imagery and
mapping agency, eighth edition, 269p.
SEGAL, B. & CASTRO, C.B. 2000. Slope preferences of reef corals (cnidaria, scleractinia) in the
Abrolhos Archipelago, Brazil. Bol. Mus. Nac., .S., Zool., Rio de Janeiro, n. 418, pp.1-10.
SEGAL, B. & CASTRO, C.B. no prelo. Community structure at the Abrolhos Archipelago, Brazil.
Proceedings of the 9th Int. Coral Reef Sym.
STANDARD METHODS. 1980. Standard methods for the examination of water and wastewater.
15th edition. APHA-AWWA-WPCF. Pp94, 1134p.
84
SUGUIO, K. 1998. Dicionário de geologia sedimentar e áreas afins. BCD União Editoras S.A. Rio
de Janeiro, RJ, 1217p.
TE, F.T. 1992. Response to higher sediment loads by Pocillopora damicornis planulae. Coral Reefs
11:131-134.
TORRES, J.L. 2001. Impacts of sedimentation on the growth rates of Montastrea annularis in
Southwest Puerto Rico. Bull. Mar. Sci., 69(2):631-637.
Van KATWIJK, M.M.; MEIER, N.F.; van LOON, R.; HOVE, E.M.; GIESEN, W.B.J.T.; van der
VELDE, G. & den HARTOG, C. 1993. Sabaki river sediment load and coral stress:
correlation between sediments and condition of the Malindi-Watamu reefs in Kenya (Indian
Ocean). Mar Biol 117, 675-683.
WOOLFE, K.J. & LARCOMBE, P. 1999. Terrigenous sedimentaion and coral reef growth: a
conceptual framework. Mar. Geol. 155:331-345.
ZAR, J.H. 1999. Biostatistical analysis. Simon & Schuster/A Viacom Company, New Jersey. 4th
Edition, 633p.

Documentos relacionados