espaço incentivador da gentileza
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espaço incentivador da gentileza
Prezado leitor: E m 2009, a Escola Educação Criativa completa seus 25 anos. É um tempo de muitas histórias, experiências, desafios, descobertas, parcerias, inovações, aprendizado... Traçamos nosso percurso e nele, caminhamos para a construção e o fortalecimento de nossa identidade. A s datas comemorativas contribuem para pontuar, no tempo, as nossas transformações e também perceber o que se mantém. Assim, este ano, celebraremos nossas marcas temporais, trazendo a sensação da juventude e a convicção da maturidade. Aos 25 anos, a Escola tem o vigor do jovem e a experiência do adulto, características essas que, em equilíbrio, conduzem, ao mesmo tempo, a um caminhar ousado e seguro. A primeira edição da revista (foto acima) foi publicada quando a Escola completou 15 anos. Nesta segunda edição da Revista Percurso, traze- mos relatos e reflexões sobre as experiências de nossos passos e trajetória, no decorrer deste tempo. Desejamos a todos uma boa leitura e esperamos estreitar ainda mais os laços com todos aqueles que são importantes para nossa história. Expediente Revista Percurso - Publicação comemorativa dos 25 anos Jornalista responsável: Fernanda Lima Lopes (MTB 87678 JP-MG) Colaboração: Ivana Alves Ferreira Esquírio, Lívia Rithiele da Silva, Luciene Souza Castro, Nayara Cristina S. Figueirêdo, Renata da Costa Oliveira, Uelma Magalhães Leite, Verônica Pacheco de Oliveira Azeredo e Zélia Aparecida Alves. Endereço: Rua Visconde de Mauá, 108 - Cidade Nobre - Ipatinga MG Fotos: Arquivo Educação Criativa Diagramação: Cid Malta Corrêa e Fernanda Lima Lopes Apoio/revisão: Adiôsta Comunicação 2 Índice Sala de aula: espaço incentivador da gentileza ... pág. 4 e 5 Inglês criativo: língua estrangeira e interdisciplinaridade ... pág. 6 Alfabetizar letrando: conhecimento e uso da língua escrita ... pág. 7 Postura de educador: do cuidador ao pesquisador ... pág. 8 Escola e comunicação: estratégias organizacionais e ímpeto comunicativo ... pág. 9 Filosofia: caminho para o pensamento cuidadoso ... pág. 10 Geração Criativa: um projeto de educação e cidadania ... pág. 11 O jogo: fonte de aprendizado e diversão ... pág. 12 e 13 Linha do tempo: momentos dos nossos 25 anos ... pág. 14 e 15 3 Sala de aula: espaço incentivador da gentileza Neste atual cotidiano dos “sem-tempo”, em que há pouca disponibilidade para o outro, faz-se necessário chamar a atenção de nossas crianças para uma virtude que está um pouco esquecida: a gentileza. Esse é o tema que toda a Escola Educação Criativa trabalha durante a quarta etapa do ano letivo. Assim, cada educador conduz sua prática sob um olhar observador e analítico, com o intuito de que suas atividades possam culminar em ações efetivas ao crescimento individual e coletivo. Materializei o tema da Campanha com o 3º ano do ensino fundamental, trabalhando o lema “Gentileza gera gentileza” e fazendo com que os próprios alunos educassem uns aos outros. Segundo o dicionário Houaiss, gentileza é uma palavra de origem latina, vem do radical gens (gentis, no genitivo) que significa o agrupamento familiar composto de indivíduos livres de nascimento, ou seja, livre de maus hábitos. Segundo Gabriel Chalita (2007), a palavra gentileza está na raiz do inglês gentleman (cavalheiro, homem gentil) e na evolução da noção latina da palavra gentilis (aquele que pertence a uma família). “Ser gentil depende do conhecimento; é uma qualidade do espírito refinado pela educação, e especialmente pelo exemplo.” (Chalita, 2007). Gentileza e solidariedade Partindo desses princípios, aproveitei todos os momentos propícios para gerar mudança e intensificar atitudes gentis, mostrando que escola é lugar de educação (de educar a ação). A primeira atitude gentil trabalhada foi a maneira de circular pela Escola. Percebe-se que os “sem-tempo” contagiam até as crianças, que parecem querer “ganhar” tempo com a correria. Reforcei, então, a necessidade e a importância de se andar devagar e de se formar fila em alguns ambientes, como os laboratórios. Procurei desmistificar a ideia de que fila é um arranjo tradicional e autoritário, explicando que ela, além de ser uma forma de organização, é uma maneira de esperar o tempo do outro para andar, comprar, pagar, passar pelo semáforo... Todos aceitaram com boa vontade essa organização. Para variar a ordem, sempre esta- Zélia Alves Pós-graduada em Psicopedagogia e professora de E. Fundamental belecíamos um critério diferente para saber quem iniciaria a fila. Em sala de aula, uma proposta de “monitoria” estimulou a colaboração entre alunos que terminavam mais rápido suas atividades e outros que demoravam mais. Assim que concluíam, os mais ágeis já caminhavam pela sala e se aproximavam de quem precisava, oferecendo ajuda. Com essa atitude gentil, de saber dividir conhecimentos e habilidades, adquirimos mais uma qualidade de espírito: saber reconhecer que há pluralidade no mundo e que todos podem viver em harmonia. O momento também foi oportuno para ensinar sobre a necessidade de saber ouvir; de saber respeitar a opinião diferente e de saber se colocar no lugar do outro. Solução de conflitos Foram intensificadas ações para resolver conflitos. Em ocasiões de tensão, era comum se ouvir: “Ele(a) começou”, “Mas não foi só eu”. “Eu fiz isso porque ele(a) me irritou”, e diferentes justificativas típicas dessa etapa de desenvolvimento social da criança (7 a 8 anos), na qual ela começa a estabelecer reciprocidade. A criança percebe o seu erro, mas ainda não tem maturidade para assumi-lo, pois necessita da ajuda do adulto para buscar alternativas. 4 Ciente da relevância de minha intervenção, empenhava-me para que os alunos entendessem que, cabe às partes envolvidas, reconhecerem o erro e encontrar, com o diálogo, a melhor solução. Eles até conseguiam fazer isso, mas no fundo, ainda ficava o ressentimento, a vontade de ver o(a) colega(a) em situação difícil. Para mudar essa perspectiva, levei para a sala de aula textos que estimulassem a capacidade dos alunos de se colocarem no lugar do outro. Usei também outras estratégias, incluindo uma atividade com um crachá intitulado: “Queroquero gentilezas”. Todas essas ações para a gentileza surtiram efeito, a aceitação por parte dos alunos foi maior que minhas expectativas. A cada dia traziam informações sobre o tema, sugeriam várias formas de sermos gentis, tornavam-se convictos da importância cotidiana de palavras como “por favor, com licença, boa tarde, obrigada(o)...”; falavam sobre atitudes gentis praticadas em casa e gostavam de agradar aos colegas e à professora. Percebi significativas mudanças: falavam com mais frequência as palavras “mágicas”, ao saírem da sala faziam questão de levar a garrafinha do(a) colega para repor a água, quando uma criança se machucava, em vez de rirem, perguntavam se ela precisava de ajuda... Respeito Outra grande lição foi o reconhecimento dos alunos, que começaram a perceber que, uma opinião pode ser diferente da outra, sem gerar constrangimentos. Notaram que é possível defender uma ideia, sem menosprezar o ponto de vista do próximo, e que uma crítica construtiva, faz bem para o crescimento pessoal e coletivo. Reconheceram também que, em determinadas situações, dizer não também é um ato gentil. No livro “Invista no Poder da Gentileza”, Rosana Braga afirma que, muitas vezes, a pessoa associa a palavra “não” à raiva ou à falta de gentileza, quando, na verdade, essa palavra transmite apenas uma resposta, tão cabível quanto o “sim”. A autora explica que falar não em situações pertinentes é tão gentil quanto inteligente, desde que dito com sinceridade e respeito, e que seja coerente com o motivo pelo qual se está dizendo “não”. Nossos estudos mostraram que gentileza é muito mais do que usar palavras bonitas ou fazer gestos de delicadeza para o outro, mas inclui, ao mesmo tempo, a ética e o respeito sincero. Imbuídos de todas essas informações, os alunos apresentaram um resumo para as turmas do 1º ao 5º ano. Durante a apresentação, perceberam que atitudes poderiam ter sido mais gentis e pediram uma segunda chance, para explanar melhor os conhecimentos adquiridos e relatar as práticas adotadas. Sabemos que muitas chances ainda serão pedidas e deverão ser oferecidas, pois reafirmo que as crianças estão na fase heterônoma, na qual todas as atitudes que promovem o bem-estar individual e coletivo devem ser reforçadas pelo adulto, até se tornarem hábito. Ações refinadas devem fazer parte da infância e retroalimentadas pela educação. Compreendemos que, nossos alunos e filhos, são meninos e meninas de hoje, porém homens e mulheres de amanhã. Eles levarão consigo a necessidade e o compromisso de provocarem mudanças em prol de uma sociedade em que as pessoas manifestem ações em benefício da felicidade compartilhada. Referências Bibliográficas: CHALITA, Gabriel. Gentileza. Editora Gente, 2007. BRAGA, Rosana. Invista no Poder da Gentileza. Editora Minuano, 2007. 5 Inglês criativo: língua estrangeira e interdisciplinaridade No mundo contemporâneo, marcado por uma comunicação mundial, é inevitável perceber o inglês como língua predominante. Antes do século XVIII, o Brasil tinha uma grande influência da língua francesa, mas com o poderio econômico da Inglaterra, derivado da Revolução Industrial, e depois, com o destaque político-militar dos Estados Unidos, após a II Guerra Mundial, a língua inglesa sobrepôs o francês. Desde então, com os processos da globalização e as demandas da modernidade, aprender inglês é uma exigência que tem começado cada vez mais cedo. É sabido que crianças e adolescentes possuem capacidade auditiva superior a dos adultos, isso pode explicar o motivo marcante da superioridade infantil no processo de assimilação e aquisição de uma outra língua. Porém, só isso não basta. É preciso também motivação, a partir de fatos concretos, para que possam ser vivenciados e consolidados pela própria criança. É interessante ainda, explorar, além do material didático convencional, as habilidades específicas de cada faixa etária. As turmas de 2º ao 5º ano, que incluem crianças entre 7 e 9 anos, estão mais aptas a assimilar palavras, enquanto os alunos a partir do 6º ano já conseguem promover articulação de ideias mais complexas. Assim, na Educação Criativa, a facilidade típica dos jovens para o aprendizado de novas linguagens é estimulada de maneira criativa e envolvente. A partir de temas transversais e trabalhos interdisciplinares, a língua inglesa deixa de ser apenas “mais uma disciplina” e vai adquirindo espaço e interesse entre os aprendizes. Em nossa Escola, o foco das aulas de inglês abrange tanto a aquisição de vocabulário quanto a leitura, compreensão e produção de textos. Isso é feito de maneira interdisciplinar e aproveitando os temas amplamente trabalhados nas quatro campanhas realizadas durante o ano letivo. A criatividade do professor e a inclusão de recursos extras ajudam a assimilação do conteúdo. A seguir, são listadas algumas atividades interessantes, as quais são realizadas com as diferentes séries na Escola. Por exemplo, o estudo dos espaços físicos de nossa cidade, juntamente com a construção de maquetes, levam os alunos a travarem diálogos em inglês e apri- Uelma Leite pós-graduada em língua inglesa e língua espanhola e professora de língua inglesa morarem seu vocabulário. Vários jogos são inseridos nas aulas de inglês e isso serve de motivação para estudar temas mais globais, que são parte da educação integral que a Escola preza. Isso se reflete na atividade sobre boas maneiras (“good manners”), que incentiva o uso de palavras em inglês e a prática de regras construídas ao longo do ano. As turmas do 3º ano do ensino fundamental estudam os bons hábitos de alimentação, enquanto aprendem os nomes das frutas. O trabalho é concluído com uma saborosa “fruit salad” (salada de frutas). Já os alunos no 4º e 5º anos, têm um contato inicial com a literatura da língua inglesa, apresentando trabalhos sobre os livros lidos. E, os alunos do 6º e 7º anos, tratam do tema do “bullying”, termo de origem inglesa que se refere a comportamentos de agressão e falta de respeito, que podem ocorrer muito comumente entre crianças e adolescentes. A abordagem interdisciplinar e o aproveitamento da superioridade das crianças e adolescentes em assimilar uma outra língua continuam até o último ano do ensino fundamental e prosseguem, inclusive, no ensino médio. Além da literatura, outras formas de arte estimulam o aprendizado do inglês. Os estudantes do 6º ao 9º ano do ensino fundamental e 1º ano do ensino médio apresentam trabalhos sobre música, teatro e poemas das culturas inglesa e britânica, contextualizando os mesmos nos momentos históricos. Tendo em vista o contexto contemporâneo e as demandas do mundo atual, a Escola trabalha o ensino da língua inglesa com crianças e adolescentes, com uma abordagem interdisciplinar, e uma construção motivada e concreta do conhecimento. 6 Alfabetizar letrando: conhecimento e uso da língua escrita Desde pequenas, as crianças entram em contato com diversos tipos de textos: histórias infantis e revistas que os pais leem para elas; os letreiros e as imagens da televisão, publicidade, embalagens, jogos... Essa relação entre a criança e o mundo letrado vai se intensificando ao longo de sua trajetória. Ao ingressar na escola, a maior expectativa dos pais é, normalmente, em relação à alfabetização da criança, apesar de se esperar que ela também desenvolva outras habilidades. Nesse processo, é importante alfabetizar letrando, ou seja, “ensinar a ler e escrever no contexto das práticas sociais de leitura e escrita, de modo que o indivíduo se torne, ao mesmo tempo, alfabetizado e letrado”. (Soares, 2004, p.47). Tal prática tem como objetivo a apropriação do ler e do escrever, com leituras e atividades de escrita reais e significativas para os alunos. No decorrer do ano, desenvolvemos com os alunos leituras variadas, contemplando a maior diversidade textual possível, aprimorando habilidades para: codificar e decodificar mensagens, sistematizar os textos com sequência lógica, expor ideias e pensamentos, desenvolver a criatividade, registrar sentimentos e fatos, traçar letras de forma legível, empregar a pontuação adequada, organizar o texto em parágrafos e automatizar a ortografia das palavras, entre outros. Primeiro, apresentamos aos alunos o gênero textual a ser trabalhado, com suas respectivas características. Na sequência, os alunos produzem seus próprios textos, utilizando os conhecimentos de que já dispõem. Já foram Nayara Figueirêdo professora de e. fundamental experimentados diferentes modos de conduzir essa atividade, organizando os estudantes individualmente, coletivamente, ou em duplas. Após a escrita do texto, eles realizam a releitura, e a correção é conduzida pelo professor. O momento da correção educa para um Letramento, de acordo com a norma culta da Língua Portuguesa, observando aspectos gramaticais, ortográficos, pontuação e concordância. Proporcionar ao educando um ambiente alfabetizador e letrador também é de fundamental importância. Certamente, a leitura é estimulada pela frequência à biblioteca e o contato com os livros, mas há inúmeros outros materiais que são parte do cotidiano do aluno e que também se inserem no espaço de alfabetização e letramento, tais como: o próprio alfabeto, calendários, rótulos e embalagens de produtos, jornais, revistas, jogos, cartazes e outros. Na Educação Criativa, os educadores conduzem uma prática que permite que, o próprio aluno, obtenha um contato com a escrita, pensando, questionando, argumentando, refletindo, interpretando o mundo e sua própria ação sobre ele. Isso é feito com as atividades e aulas, na dinâmica equilibrada de produção de textos e comparação de sua escrita com a impressa em outros materiais. Referência: SOARES, Magda. Alfabetização e Letramento. São Paulo: Contexto, 2004. 7 Postura de educador: do cuidador ao pesquisador O senso comum costuma considerar o professor de Educação Infantil como aquele que tem um conjunto de brincadeiras nas mangas, prontas a serem realizadas, e que sabe algumas músicas a serem “ensinadas” a seus alunos. Contudo, ele não se resume a isso. Aliás, o bom educador deve adotar posturas que ultrapassam o papel de cuidador. A realidade educacional dos dias de hoje tem exigido desse profissional uma conduta de pesquisador, que saiba fazer interface com o que tem respaldo científico e o que deve ser contemplado para o desenvolvimento das habilidades cognitivas nas crianças. No mundo científico, é cada vez mais comum a associação entre diferentes áreas de conhecimento: a medicina aborda questões no âmbito filosófico, as engenharias se apropriam de conhecimentos históricos e, no campo educacional, não seria diferente. Assim, contribuições de diversos campos têm sido adotadas na teoria e prática pedagógica. Uma dessas áreas é a Neuropsicologia. A educação se depara com questões do tipo: “como exigir de uma criança com comprometimentos cognitivos o mesmo desempenho de outra com as funções cerebrais intactas?”, ou mesmo, “como nivelar alunos com superdotação com aqueles de desenvolvimento mediano?” A Neuropsicologia tem se configurado como ciência que busca resposta para perguntas como essas e, dessa maneira, interfere de forma direta na práxis educativa. A aplicação dos conhecimentos desse campo ultrapassam o espaço da educação escolar. Ao buscar entender a máquina mais engenhosa da humanidade – o cérebro – traz à tona paradigmas que tanto incomodam pais, alunos Lívia Rithiele da Silva pós-graduanda em neuropsicologia professora de e. infantil e professores, dentro e fora do ambiente da escola. Um exemplo claro está relacionado à simbolização e conceituação de acontecimentos. Para que seja capaz de conceituar fatos, a criança passa por estágios mentais que têm uma certa interdependência. Isso se inicia na sensação do estímulo (visual, auditivo, motor...) passa pela percepção e conhecimento desse estímulo, formação de imagens mentais e, por fim, a organização de símbolos e conceitos. Existem patologias que podem interromper alguns desses estágios. A surdez, por exemplo, interfere desde o início, já que sequer há produção do estímulo sensorial. Outros aspectos também devem ser levados em conta nesse processo. O conhecimento prévio ou o quanto a criança foi ou não estimulada são fatores que interferem na construção dos símbolos e conceitos, tanto quanto patologias congênitas ou adquiridas. Fato inegável é que, uma criança, que desde a mais tenra idade recebe os mais diversos estímulos, tem um rol de informações/ vivências superior àquelas que ficam isoladas do convívio em sociedade. Verificam-se os benefícios da socialização e maturidade para as crianças que têm a oportunidade de começar a frequentar a escola desde o maternal. Ela recebe estímulos adequados para o desenvolvimento de suas habilidades motoras, cognitivas, sociais e afetivas. Uma criança que, desde cedo, está inserida em um espaço educativo, saberá lidar com conflitos de uma forma muito mais saudável do que outra que foi privada disso. A Educação Infantil, sob essa perspectiva, deixa de ser encarada como apenas “brincadeiras e musiquinhas” e torna-se um verdadeiro desafio para o educador. Por fim, educar crianças exige cada vez mais uma visão diferenciada de educação, saindo do senso comum. A postura de pesquisador é imprescindível a esse profissional, que deve buscar conhecer, nas mais diversas áreas de estudo, caminhos para conduzir seus educandos ao conhecimento. 8 Escola e Comunicação: estratégias comunicacionais e ímpeto educativo O ambiente escolar é um lugar em que a comunicação se faz presente de forma incomparável, e isso inclui processos comunicativos de diversos âmbitos, a começar pelo próprio ato de ensinar. A Educação, há muito tempo, deixou de ser encarada como transmissão de conhecimento de professor para aluno. A comunicação educativa se faz com gestos, palavras, textos, imagens e todo tipo de signos. Além disso, o processo comunicativo ocorre também fora da sala de aula. A escola, com seus diversos espaços de sociabilidade e comunicação, oferece ao educador inúmeras possibilidades de incrementar o ensino e ampliar os canais para se ouvir, falar, ler, pensar, refletir, criar... Comunicação Organizacional Além de falar aos alunos, a escola estabelece contato com os pais, funcionários e a comunidade. O profissional de comunicação – jornalista, publicitário ou relações públicas – encontra, no cotidiano escolar, um vasto universo de processos comunicativos que, sob seu ponto de vista, podem ser estratégicos. As ferramentas de marketing e comunicação de uma assessoria de comunicação são capazes de deixar mais fluidos os fluxos comunicativos da escola com seu público, tornando as relações escola-família-comunidade mais transparentes e eficientes. Desde 2007, na Educação Criativa, há um setor chamado Central de Informação e Comunicação (CIC). Profissionais com formações variadas desempenham tarefas informativas e comunicativas de diferentes tipos, trabalhando com suportes impresso, audiovisual, digital e fotográfico. Além do suporte de profissionais de comunicação, responsáveis pelas publicações (notícias online, informativo e outros). O setor abrange também serviços informacionais mais técnicos, como digitação, produção de documentos e operações de sistema informático. Entre os produtos derivados da Comunicação estão o site, atualizado pelo menos uma vez por semana, com novidades sobre as atividades escolares; o InformATIVO Educação Criativa, publicação anual direcionada aos pais de alunos, livros escritos por profissionais da Escola e ilustrados pelos estudantes, cartões, entre outros. Esses materiais são importantes, pois Fernanda Lopes doutoranda em Comunicação e jornalista representam momentos e espaços de visibilidade da imagem da Escola, além de servirem de canal de diálogo com todos os públicos que se vinculam, de algum modo, à Educação Criativa. Ímpeto educador Ainda que a comunicação tenha se tornado mais sistematizada com os trabalhos de uma profissional de comunicação, desde 2004, e com a criação do CIC, em 2007, é interessante notar o quanto os fluxos comunicacionais de maior importância dentro de uma escola são profundamente dependentes dos outros profissionais que ali trabalham, sobretudo dos educadores. Nesse sentido, urge se considerar o trabalho da área de comunicação no ambiente escolar, como também um trabalho educativo, e não como mero acessório de marketing empresarial ou de promoção da imagem da instituição. A existência do CIC só tem sentido porque está comprometido com as práticas de ensino. Promover e auxiliar os fluxos comunicativos da Escola são atividades que ganham aliados quando todos os educadores passam a ser, acima de tudo, comunicadores. E os comunicadores profissionais devem ser igualmente educadores, cientes de que o serviço que prestam deve servir à promoção do ser humano e da vida social. Tal ímpeto deve permear, portanto, os jornalistas e outros profissionais de comunicação que trabalham em escolas, que devem compreender a amplitude da comunicação nesse espaço. 9 A Filosofia e os cuidados com o pensamento Luciene Castro Graduada em Pedagogia Especializada em Gênero e Diversidade Professora E. Fundamental Nas aulas de filosofia do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental, temos refletido sobre o verdadeiro sentido das ações humanas em relação aos seus valores e ao meio ambiente. Para nossos estudantes, a filosofia não é algo enigmático, abstrato e muito distante da realidade. A cada etapa, eles aprimoram sua capacidade de elaborar perguntas e investigar alternativas de soluções para os diversos problemas debatidos. A criança necessita compreender a si mesma e o meio à sua volta. Nessa busca constante de significados, a filosofia conduz cada questionamento a um pensamento mais crítico e mais linear. O conhecimento se amplia quando promovemos situações que permitem um estranhamento entre diferenças culturais. O estudante precisa incomodar-se com a histórica ignorância humana e com seu permanente desejo de verdade, de imaginação e de experiência. A dúvida estimula as pessoas a buscarem fundamentos para os fatos e acontecimentos. Isso acontece também com nossos alunos, que são instigados, nas aulas de filosofia, a desenvolverem o pensamento cuidadoso, por meio de discussões, debates, novelas de livros literários e jogos. A filosofia está presente na ciência, na arte, no mito, na religião, no cotidiano, enfim, nas mais diversas manifestações do homem. Ela valoriza o pensamento a partir das inferências, dos raciocínios, das razões, dos questionamentos, das formulações de hipóteses e respostas, e das conclusões desenvolvidas com o diálogo. A iniciação filosófica para crianças, a educação para o pensar, a preparação para uma cidadania responsável, são objetivos concretos da prática filosófica dos dias de hoje. Através da educação escolar e familiar, podemos desenvolver o potencial criativo, desafiando o pensamento de nossas crianças, conduzindo-as a uma análise cuidadosa e dando-lhes oportunidade de formularem suas próprias conclusões. A capacidade do homem de perceber e de inferir faz com que ele pense melhor sobre a capacidade cognitiva do outro. Por isso, a filosofia tem contribuído com o desenvolvimento do conhecimento em todas as áreas. O filósofo Mathew Lipmam (LIPMAN, 1995, pp. 31-32, 342) acredita que ela é a disciplina que contribui com o desenvolvimento da compreensão e análise lógica das crianças. A ferramenta para o pensamento cuidadoso é o diálogo, meio pelo qual nossas crianças se pronunciam diante das demais, criam regras e combinados, consolidam ou modificam atitudes e ações, respeitam os diferentes pontos de vista, deparam-se com ideias diferentes e semelhantes às suas. Contudo, nossa vida e as nossas ações estão condicionadas ao nosso pensamento, logo: “Quem pensa bem, vive bem. Quem pensa mal, vive mal”. Através do desenvolvimento da maneira de pensar, nossas crianças aprimoram, cada vez mais, o conhecimento, partindo das habilidades de comparar, contrastar, estabelecer semelhanças e diferenças, inferir, supor, resumir, buscar e dar razões, dar ideias, concluir... Qualquer tema elas retratam e abordam, cuidadosamente, fazendo analogias, considerando a vivência e as experiências. Nossa comunidade de investigação produz muitos significados, conhecimentos, transforma comportamentos e opiniões. Quem cuida do pensamento cuida de si, do meio e contribui com o pensamento do outro. Invista em você, pensando melhor! 10 GERAÇÃO CRIATIVA: um projeto de educação e cidadania A Educação Criativa alicerça suas ações no modelo de currículo Reconstrucionista Social, cujos objetivos são a ascensão social e promoção da cidadania responsável. Fundamentandose nesse modelo curricular, a Escola acredita que, as mudanças sociais só se concretizam quando os sonhos pessoais e coletivos são compartilhados e envolvem equipes comprometidas para torná-los realidade. Em sua essência, a palavra cidadania significa proporcionar a uma pessoa a legítima condição de membro de um Estado, gozando, dessa forma, dos direitos e deveres criados e preservados em uma sociedade. É, portanto, a condição para que o membro da sociedade possa participar da vida política de seu grupo. No entanto, as injustiças sociais, econômicas e educacionais acabam por restringir essa cidadania. Assim, o espaço educacional tem o dever de contribuir para que a promoção humana seja restabelecida e preservada. Partindo desses princípios e com base em diagnósticos que identificavam as necessidades da comunidade, a Educação Criativa procurou ampliar sua atuação junto aos moradores da Vila da Paz, que também pertence ao bairro Cidade Nobre. Deste modo, com o gesto solidário do Professor Rildo Silvestre (Educação Física), dos pais, alunos e dos demais profissionais da Escola, em 1998, nasceu o Projeto Geração Criativa. O Projeto iniciou suas atividades com 20 crianças e adolescentes, moradores da Vila da Paz. Ao longo dos anos, ganhou visibilidade e credibilidade de muitos colaboradores. Atualmente, são 140 alunos que participam de aulas de informática, esporte, arte, filosofia e ciências. A motivação inicial era viabilizar a prática esportiva como disciplina formadora de bons hábitos e valores morais. Os educadores, cientes da responsabilidade de organizar um programa de curso que contemplasse os diversos saberes conceituais, procedimentais e atitudinais, estabeleceram prioridades a serem vencidas semestralmente. Ao longo dos primeiros anos, foram implantadas as práticas esportivas, incluindo momentos de diálogos e reflexões bem contextualizadas às faixas etárias e, em conformidades Verônica Pacheco Professora de Filosofia no Unileste Mestre em estética e filosofia de arte com a planilha financeira da Educação Criativa. Gradativamente, foi conquistada a convivência respeitosa dentro dos ambientes educativos, disponibilizados pela Escola. Outro passo bastante significativo foi o início da construção de uma base de dados para ampliar e socializar as informações. Para dar clareza aos relatórios, criaram-se procedimentos para arquivar fotos, pautas de reuniões e outros documentos. A sistematização dos fatos, que fazem a memória do Projeto, permite mensurar e dimensionar as melhores decisões em relação aos novos investimentos e processos. A união do conhecimento, da sensibilidade e da ação gerou o progresso efetivo. Esta combinação permitiu fazer mais e melhores ações para alcançar objetivos do campo social e especialmente, do campo cognitivo, com eventos relacionados à arte, cultura e meio ambiente. Os alunos do Projeto são convidados a se apresentarem em festividades, revelando competências e habilidades em diferentes áreas. Atualmente, são oferecidas aos pais e familiares desses alunos, palestras que contemplam questões sobre saúde, convivência, afetividade e educação. Trabalhos efetuados na Escola permitem a integração entre escolafamília-comunidade, ampliando a responsabilidade e o compromisso com a convivência, além do resgate da identidade dos moradores. Dentro dessa proposta, a Educação Criativa tem trabalhado com a compreensão de que, para que a justiça e a fraternidade imperem, é fundamental que o Projeto estimule a reflexão crítica, a partilha e a busca permanente pelo bem comum. Reconhecer o próximo, como um outro em nós mesmos, é educar para o respeito pela diversidade e dignidade humana. Consequentemente, devemos nos empenhar para que a educação liberte o homem da ignorância e da injustiça social. Promovendo a esperança, a criatividade e autonomia, garantiremos, dessa forma, os propósitos da cidadania. 11 O JOGO: fonte de aprendizado e diversão Renata da Costa Oliveira Especialista em Fisiologia Humana e professora de Ed. Física Ivana Esquírio Especialista em Didática e professora do E. Fundamental Para os educadores, o jogo é uma brincadeira que exige regras estruturadas. Durante um jogo, observa-se o confronto de ideias, elaboração de solução de problemas, competição e cooperação entre os participantes e o desenvolvimento da autonomia. Além do desenvolvimento motor, que utiliza os músculos e os sentidos, que auxiliam no desenvolvimento do corpo e da mente. O jogo na sala de aula Apesar de ser um interessante instrumento da prática didática, ainda existe uma resistência ao jogo na sala de aula. Um dos motivos que justificam isso, é que ele foge do padrão de disciplina, do controle que caracteriza a ordem instituída pela escola ou pela sociedade. A alegria do brincar pode assustar, desestruturar os que não foram preparados para o ambiente de jogo. Contudo, não podemos nos deixar levar por alguns padrões impostos pela cultura, e devemos insistir na importância desses recursos. Vygostsky (1989) afirma que o jogo influencia, diretamente, no desenvolvimento da criança. Através do lúdico, sua curiosidade e autoconfiança são estimuladas, o que proporciona o desenvolvimento da linguagem, do pensamento e da concentração. Os jogos geram um sentimento de prazer e, ao mesmo tempo, consolidam ações dos participantes. Algumas mudanças de hábitos são necessárias para que o aparecimento do jogo, na sala de aula, aconteça. Consciente disso, o professor deve estar atento a todos os elementos à sua volta, para garantir um planejamento de atividades dirigidas, que proporcionem um autêntico exercício cognitivo - motor e social. Os materiais devem ser acessíveis, para também instigarem a vontade de se jogar. As atividades necessitam ser organizadas por ordem de idade, de modo que as crianças possam dar significado ao jogo dirigido. O professor é quem coor- dena o andamento da atividade. Faz parte da dinâmica que, os participantes determinem e cumpram seus “combinados”. Após o jogo, é necessário um tempo para que a criança e o professor possam socializar o que foi vivenciado, avaliando todos os aspectos. É bastante produtivo, do ponto de vista pedagógico, que se faça um paralelo entre os combinados orientados e os adotados durante a brincadeira. O educador é elemento integrante nessas práticas, ora como organizador, ora como observador, ora como elo entre as crianças e os objetos, ora como personagem que explica, questiona e enriquece o desenrolar da brincadeira. O jogo na Educação Física Na Educação Física, os jogos são atividades em que nos exercitamos brincando, distraindo-nos, de maneira alegre e prazerosa, até mesmo sem perceber. “Praticados de modo despreocupado pelas pessoas, os jogos permitem um descanso dos centros nervosos, contribuindo para diminuir qualquer tipo de tensão” (Teixeira, 2000, p.33). O jogo pode ter duas funções: a lúdica e a função educativa, pois complementa os alunos em seus saberes, conhecimentos e vivências. Nas crianças, os jogos proporcionam liberação das energias acumuladas, que precisam ser gastas, além de contribuir para 12 aspectos importantes da formação da personalidade. Por meio da diversão, elas descobrem suas emoções e a existência do outro, suas possibilidades e limitações. A cooperação, a imaginação, a criatividade, a autoestima e o autocontrole são elementos que podem ser aprimorados com as brincadeiras, os brinquedos e os jogos. O jogo dá margem à liberação de impulsos, como acontece, por exemplo, no jogo de “queimada”: ao mesmo tempo que se divertem, as crianças utilizam os músculos e os sentidos, o que auxilia o desenvolvimento do corpo. Correr, pular, pegar e lançar são movimentos que precisam ser vivenciados desde a infância. Os jogos têm a função de nos ensinar a viver em grupo, pois implicam trocas, partilhas, confrontos e negociações. Jogando, eles aprendem que é preciso respeitar as normas estabelecidas para a brincadeira funcionar. Desenvolvem conceitos de justiça e injustiça, o que contribui na formação do caráter. A afetividade envolvida nessa ação pode passar por variações de harmonia e conflitos. Para que o resultado seja o melhor, o adulto deve se colocar como mediador, mas sem apresentar soluções. Além disso, é necessário que o professor de Educação Física ajuste a atividade às condições climáticas; enriqueça-a, introduzindo novos personagens ou novas situações; permita a repetição de jogos e esteja atento ao espaço físico e aos materiais. A cognição também pode ser trabalhada, até nos momentos difíceis dos conflitos. Nessas ocasiões, o educador deve, primeiro, observar com atenção os atritos existentes, intervindo, quando necessário, para resolvê-los, ensinando a criança a pensar com lucidez para chegar aos acordos. É interessante, ainda, possibilitar a interação entre meninos e meninas; estimulando o autoconhecimento e a identidade. O crescimento e a autonomia são valorizados quando se dá responsabilidade às crianças para elaborarem e cumprirem as regras estabelecidas, bem como quando o professor motiva o desenvolvimento da iniciativa, dando chance e inspirando confiança, para cada um dizer o que pensa. Por fim, os jogos durante a Educação Física, devem ser acompanhados do respeito às preferências de cada criança, compreendendo os interesses e as necessidades individuais, de forma a não forçá-la a realizar determinada atividade ou participar de um jogo coletivo. O trabalho torna-se muito mais frutífero quando é apresentada a importância de determinada atividade, contextualizando, o máximo possível, suas características. Finalizando, os jogos desempenham um importante papel social e psicológico: eles representam uma das maneiras que a humanidade encontrou para transmitir papéis, valores culturais e éticos às gerações futuras, além de ser um grande aliado na prática pedagógica. No contexto escolar, comprova-se que, o brincar e o jogar, transformados em instrumentos na educação, favorecerem à formação da criança, para cumprir bem o seu papel social e intelectual quando adulto. Assim, mais ganhos de aprendizagem e sociabilidade entre os educandos serão alcançados, à medida em que alguns educadores e instituições, ainda subjugados por uma cultura restritiva, consigam promover a mudança de hábitos. Referências Bibliográficas: VYGOSTSKY, Lev. PIAGET, Jean. 13 Linha do tempo 25 anos 1984 Fundação da Escola A Escola iniciou suas atividades neste ano com 17 crianças. 1985 Aquisição de terreno próprio A Escola adquiriu um terreno próprio: mais conforto e espaço para os alunos. 1990 Passa a oferecer ensino de 1° ao 5° ano A Escola passa a oferecer, gradativamente, o ensino de 1° ao 5° ano do ensino fundamental. 1995 Implementação gradativa de turmas de 6° ao 9° ano Ampliação dos espaços educacionais, valorizando a continuidade do desenvolvimento escolar. Lançamento dos livros “Um Número Diferente” e “Guabiju”, das professoras Rosemar e Edna. 14 1998 Início do Projeto Geração Criativa Início das atividades do grupo junto às famílias do bairro Vila da Paz. (Reflexões, oficinas e atividades). 2000-2008 Início das atividades do Ensino Médio Preparação dos alunos para uma educação integral, que contempla a preparação para os vestibulares. 2009 25 anos da Escola Um ano de comemorações, reflexões e aprimoramento dos conceitos de família, escola e sociedade. Futuro Sonhos.... Planos... Esperança. Construção de um novo percurso, alinhado aos fundamentos: valores morais, éticos e interdisciplinares, valorizando a criatividade, o aprendizado e o desenvolvimento dos estudantes. 15 Mensagem 25 anos Presenças e Presentes Alunos, Pais, Equipe de trabalho e Amigos foram e ainda são as presenças mais importantes nesses 25 anos da Educação Criativa. Presentear é doar o que se tem de melhor! Fomos e somos presenteados a cada dia, com sua dedicação, presença e apoio. Obrigada por fazerem parte da nossa história! A Direção.