Ianne Santana Zavarise - Secretariado Executivo Trilíngue
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Ianne Santana Zavarise - Secretariado Executivo Trilíngue
UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE LETRAS O SECRETÁRIO EXECUTIVO E A PARADIPLOMACIA: A POSSIBILIDADE DE ATUAÇÃO DO PROFISSIONAL NA INSERÇÃO INTERNACIONAL DOS GOVERNOS NÃO-CENTRAIS IANNE SANTANA ZAVARISE VIÇOSA / MG Novembro de 2008 UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE LETRAS O SECRETÁRIO EXECUTIVO E A PARADIPLOMACIA: A POSSIBILIDADE DE ATUAÇÃO DO PROFISSIONAL NA INSERÇÃO INTERNACIONAL DOS GOVERNOS NÃO-CENTRAIS Monografia apresentada ao Departamento de Letras da Universidade Federal de Viçosa, como parte das exigências do curso de Secretariado Executivo Trilíngüe, tendo como orientador o Professor Ricardo Corrêa Gomes, do Departamento de Administração, e como conselheira a Mestra em Relações Internacionais Carmen Juçara da Silva Nunes, técnica em Planejamento na Secretaria do Planejamento e Gestão do Rio Grande do Sul. IANNE SANTANA ZAVARISE – 51581 VIÇOSA / MG Novembro de 2008 LL Ianne Santana Zavarise O SECRETÁRIO EXECUTIVO E A PARADIPLOMACIA: A POSSIBILIDADE DE ATUAÇÃO DO PROFISSIONAL NA INSERÇÃO INTERNACIONAL DOS GOVERNOS NÃO-CENTRAIS Monografia apresentada ao Departamento de Letras da Universidade Federal de Viçosa, como parte das exigências do curso de Secretariado Executivo Trilíngüe. Aprovada em 20 de novembro de 2008. Prof. Odemir Vieira Baêta – DLA/UFV Examinador Profa. Luciana de Oliveira Miranda Gomes – DAD/UFV Examinadora Prof. Ricardo Corrêa Gomes – DAD/UFV Orientador Carmen Juçara da Silva Nunes – SEPLAG/RS Conselheira Viçosa / MG Novembro de 2008 Nota: ______ LLL Dedico este trabalho a todos os entes subnacionais que já enveredaram ou hão de enveredar pelos caminhos da paradiplomacia, nas pessoas daqueles que tornam esta inserção possível LY AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus por todos os obstáculos até aqui colocados, obstáculos estes que me provaram ser capaz de vencê-los. A meus pais, por suas orações e apoio incondicional e por serem a minha maior motivação ao buscar crescimento. Registro aqui meus mais sinceros agradecimentos: • Ao meu orientador in loco, professor Ricardo Corrêa Gomes e à minha conselheira, Carmen Juçara da Silva Nunes, que proporcionou orientação a distância mais presente que se possa imaginar; • Aos meus antigos professores, que dividiram comigo seus conhecimentos e, o que é mais importante, me ensinaram a aprender sozinha; • Às senhoras Hanne Hall e Astrid Lang, que me proporcionaram os primeiros contatos com o universo da paradiplomacia; • Aos funcionários que atuam junto às cidades-irmãs abordadas por minha pesquisa, pelo seu valoroso trabalho e pelo apoio à minha causa. Em especial, devo mencionar a querida Elza Delage, da prefeitura de São José dos Pinhais/PR, pela atenção dispensada e interesse especial em me ajudar a levantar respondentes para a presente pesquisa; • A Jussara Feitosa de Santana Gomes, por ter me ensinado há muito tempo que mais importante do que saber uma resposta é saber onde encontrá-la; • A todos os meus amigos que sempre acreditaram em mim, muito mais que eu mesma. Y Jedenfalls ist in den letzten Jahrzehnten immer offensichtlicher geworden: Wenn der Staat ein Haus mit einer Tür ist, dann haben die Leute es sich zur Gewohnheit gemacht, durch die Fenster zu steigen“ (Phillip Blair, 1991) Uma coisa se tornou extremamente óbvia nestas últimas décadas: Se o Estado é uma casa com apenas uma porta, tornou-se hábito pular as janelas. (Phillip Blair, 1991) YL ZAVARISE, Ianne Santana. O Secretariado Executivo e a Paradiplomacia: A possibilidade de atuação do profissional na inserção internacional dos governos não-centrais. Universidade Federal de Viçosa -Viçosa – MG. 2008. 82 p. Monografia (Bacharelado em Secretariado Executivo Trilíngüe) – Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG, 2008. RESUMO ABSTRACT O trabalho ora apresentado tem por objeto o levantamento do perfil dos profissionais envolvidos no processo de inserção internacional de entes municipais conhecido como irmanação entre cidades (CidadesIrmãs). Sendo tal evento uma das manifestações do instituto chamado paradiplomacia, fez-se necessária sua explicação, abordando seu conceito, entraves jurídicos e formas de ocorrência. O foco principal da pesquisa foi o funcionário envolvido nas atividades relacionadas à irmanação em prefeituras de cidades de pequenos e médios portes, levantando seu perfil pela aplicação de questionários semiestruturados e comparando-o mais tarde com o perfil do Profissional em Secretariado Executivo, para confirmar a semelhança de perfis e conseguinte possibilidade de atuação do Secretário Executivo nas irmanações entre cidades. Concluiu-se ser o profissional extremamente apto a desenvolver as atividades relacionadas às irmanações, graças a seu perfil multifuncional, semelhante àquele levantado pela análise dos dados obtidos a partir dos questionários. This work focuses on building up the profile of the professionals involved in the process of international engagement of municipal entities known as city twinning (SisterCities). As this event constitutes one of the manifestations of the so called paradiplomacy, a better comprehension on the theme was required, addressing its concept, legal barriers and the way paradiplomacy happens. The main focus of this work was the municipal professional involved in the activities generated by the twinning in small and medium sized towns, tracking their profile through semistructured questionnaires and comparing it later with the profile of Secretarial Science professionals, to confirm the possibility of participation of the last mentioned in the city twinning processes. The conclusion reached was that the Secretarial Science professional is perfectly capable of developing the activities related to the town twinning, due to the professional’s multifunctional profile, very similar to the one sketched based on the analysis of the answers given in the questionnaires. Palavras-chave: Paradiplomacia, CidadesIrmãs, Secretariado Executivo, Inserção Internacional de Unidades Subnacionais. Key Words: Paradiplomacy, Sister-Cities, City Twinning Secretarial Science, International Engagement of Subnational governments. vii SUMÁRIO 1. APRESENTAÇÃO......................................................................................................... 1.1. INTRODUÇÃO........................................................................................................... 1.2. JUSTIFICATIVA........................................................................................................ 1.3. OBJETIVOS................................................................................................................ 2. PARADIPLOMACIA..................................................................................................... 2.1. ORIGEM E CONCEITUAÇÃO................................................................................. 2.2. OS ENTES NÃO-CENTRAIS E SEU PODER DE INSERÇÃO NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS....................................................................................... 2.3. PARADIPLOMACIA: UMA AMEAÇA À SOBERANIA NACIONAL?................ 2.4. A PARADIPLOMACIA NO BRASIL....................................................................... 2.5. MOTIVAÇÕES PARA A INSERÇÃO INTERNACIONAL DOS MUNICÍPIOS... 2.6. FERRAMENTAS PARADIPLOMÁTICAS.............................................................. 2.7. A IRMANAÇÃO ENTRE CIDADES........................................................................ 3. PERFIL PROFISSIONAL DO SECRETÁRIO EXECUTIVO................................. 4. METODOLOGIA........................................................................................................... 4.1. POPULAÇÃO E AMOSTRA..................................................................................... 4.2. MÉTODO DE COLETA DE DADOS........................................................................ 4.3. MÉTODO DE ANÁLISE DE DADOS...................................................................... 4.4. LIMITAÇÕES DO MÉTODO.................................................................................... 5. ANÁLISE E DISCUSSÃO DE DADOS....................................................................... 5.1. COMPARAÇÃO DE PERFIS: PERFIL LEVANTADO X PERFIL DO SECRETÁRIO EXECUTIVO.............................................................................................. 6. CONCLUSÃO................................................................................................................. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................... 8. SITES CONSULTADOS................................................................................................ 9. APÊNDICE..................................................................................................................... 9.1. QUESTIONÁRIO …………………………………………………………………. 10. ANEXOS……….……………………………………………………………………... 10.1. LEI Nº 7.377, DE 30 DE SETEMBRO DE 1985 ..................................................... 10.2. RESOLUÇÃO Nº 3, DE 23 DE JUNHO DE 2005 .................................................. 10.3. CÓDIGO DE ÉTICA DO PROFISSIONAL DE SECRETARIADO ...................... YLLL 11 11 13 13 15 15 18 19 20 21 22 23 27 34 34 35 36 37 38 50 53 57 61 62 62 71 71 74 79 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 - Áreas de atuação dos profissionais envolvidos nas atividades relacionadas à irmanação.............................................................................................................................. Gráfico 2 - Tempo de atuação dos profissionais nas relações de irmanação....................... Gráfico 3 - Escolaridade dos respondentes........................................................................ Gráfico 4 - Freqüência de acontecimento de atividades relacionadas às irmanações.......... L[ 40 40 41 49 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Áreas de formação dos respondentes.................................................................. Tabela 2 - Áreas de pós-graduação dos respondentes........................................................ Tabela 3 - Classificação de importância de conhecimentos para desenvolvimento das atividades relacionadas às irmanações.................................................................................. Tabela 4 - Demais conhecimentos considerados indispensáveis aos profissionais atuantes nas irmanações........................................................................................................ Tabela 5 - Classificação da importância das características interpessoais para desenvolvimento das atividades relacionadas às irmanações............................................... Tabela 6 - Línguas utilizadas para comunicação com as cidades-irmãs.............................. Tabela 7 - Serviços relacionados à irmanação de cidades geralmente terceirizados pelas prefeituras............................................................................................................................. Tabela 8 - Dificuldades na manutenção das relações entre as cidades irmãs...................... Tabela 9 - Tipos de atividades desenvolvidas relacionadas às irmanações entre cidades... [ 41 42 43 44 45 46 47 48 50 1. APRESENTAÇÃO 1.1. Introdução Tradicionalmente, os governos centrais exercem a diplomacia, encarregando-se da visão global de um país perante o mundo. Ao observar a atuação cada vez maior dos entes não-centrais no cenário internacional, motivada pela necessidade de atenção mais próxima às suas necessidades locais, surge um novo termo no jargão das Relações Internacionais: a Paradiplomacia. O jargão é novo, mas o fenômeno da paradiplomacia é antigo. Sendo uma de suas práticas mais reconhecidas segundo Ribeiro (2007), a irmanação entre cidades tem seus primeiros casos registrados no período pós II Guerra Mundial, quando cidades européias de países diferentes se declararam cidades-irmãs com objetivos de reconciliação (MENEGHETTI NETO, 2005). A irmanação entre cidades, foco maior do presente trabalho, trata de uma cultura bastante difundida na Europa, porém ainda não tão arraigada no Brasil. Para a maioria das pessoas, o significado do termo “cidades-irmãs” é desconhecido ou passa despercebido. A profissão de Secretariado Executivo, por sua vez, trata de uma carreira dedicada à assessoria nas mais diversas áreas, caracterizando um profissional polivalente e multifuncional. Tal profissional apresenta grande potencial para atuação nas relações internacionais, graças à sua preparação polivalente, seu amplo domínio de idiomas e grande capacidade comunicativa. Prova disso é a freqüente atuação de profissionais da área em empresas multinacionais ou em empresas brasileiras efetuando relações de comércio com outros países. Na administração pública, a participação do Secretário Executivo também se faz presente, seja no âmbito municipal, estadual ou federal. Ao perceber a crescente inserção internacional dos municípios, esboça-se a idéia de uma possível participação do Secretário Executivo nas relações provenientes desta inserção. O presente trabalho objetiva confirmar ou retificar esta idéia, por uma análise comparativa do próprio perfil do Secretário Executivo, já explorado academicamente, com aquele do profissional atuante nas relações de irmanação entre cidades, ainda desconhecido. Num primeiro momento, o presente trabalho proporcionará uma visão geral do conceito da paradiplomacia, de seu significado no Brasil e no mundo, dos seus entraves jurídicos e da forma como ela normalmente se dá no Brasil, com destaque para sua ferramenta mais corrente: a irmanação entre municípios. Logo após, é apresentada uma breve discussão sobre o perfil do Secretário Executivo, para embasamento da comparação com o perfil levantado pela análise de dados. Duas perguntas-problema motivaram este trabalho: Quem são os indivíduos responsáveis pelas atividades geradas pelos acordos de irmanação entre cidades? Assemelham-se seus perfis com o perfil do profissional em Secretariado Executivo? Buscando responder a estas perguntas, apresenta-se no capítulo 3 um breve perfil do profissional em Secretariado Executivo. O perfil dos funcionários públicos municipais de cidades-irmãs de pequeno e médio portes foi levantado pela análise e discussão dos dados obtidos com eles. Tais dados foram levantados pela aplicação de questionários semi-estruturados. O ápice da pesquisa foi atingido no momento da comparação entre estes dois perfis. 1.2. Justificativa Em prefeituras de pequeno e médio portes, onde a contratação de funcionários designados para funções específicas nem sempre é possível, surge a necessidade de profissionais com conhecimento variado, capazes de realizar distintas tarefas e preparados para lidar com as mais diversas situações. No caso das prefeituras de cidades com acordos de irmanação vigentes com cidades no exterior, essa necessidade inclui aptidões ainda mais raras, como lidar com culturas diferentes e dominar línguas estrangeiras. A análise do perfil dos profissionais que atuam nestas prefeituras, trabalhando diretamente com os intercâmbios e sua comparação com o perfil do egresso do curso de Secretariado Executivo, confirmará ou negará a possibilidade de atuação deste profissional como facilitador das relações entre cidades-irmãs. Levando em consideração que o Brasil começa a descobrir os benefícios da Paradiplomacia e, portanto, cada vez mais prefeituras enveredam pelos caminhos da inserção internacional, a descoberta dos profissionais sustentadores das relações internacionais entre governos não centrais se faz necessária. A abordagem do tema paradiplomacia sob uma perspectiva alheia às áreas que tradicionalmente se dedicam ao assunto contribuirá também para sua introdução em outras áreas do conhecimento, neste caso, especialmente entre os profissionais e estudantes de Secretariado Executivo. 1.3. Objetivos Esta pesquisa tem como objetivo geral verificar a possibilidade de atuação do Secretário Executivo nas atividades paradiplomáticas de prefeituras de pequeno e médio portes praticantes de acordos de irmanação. Para tanto, buscou-se atingir os seguintes objetivos específicos: • Traçar o perfil dos profissionais atuantes nas relações paradiplomáticas de prefeituras de pequeno e médio portes que possuem relações de irmanação com cidades estrangeiras. • Comparar o perfil obtido com o perfil do profissional em Secretariado Executivo, visando a detectar se tal profissional teria condições de desempenhar as mesmas funções e que contribuições ele poderia dar aos processos da paradiplomacia. 2. PARADIPLOMACIA 2.1. Origem e Conceituação Diferentemente da atuação externa dos entes subnacionais, o termo paradiplomacia, usado na teoria das relações internacionais para definir esse fenômeno, é relativamente novo. Como ensina Lessa (2007), um dos maiores estudiosos brasileiros na área, o termo é utilizado de forma casual desde o início dos anos oitenta e foi trazido ao meio acadêmico por Panayotis Soldatos para definir a atuação externa realizada por entes não centrais de diversos países. Ivo Duchacek teria adotado e divulgado o termo (LESSA, 2007). Segundo Castelo Branco (2008, p. 58), a definição sempre citada por diversos autores e considerada a mais aceita é a dada por Noé Cornago Prieto: A paradiplomacia pode ser definida como o envolvimento de governo subnacional nas relações internacionais, por meio do estabelecimento de contatos, formais e informais, permanentes ou provisórios (‘ad hoc’), com entidades estrangeiras públicas ou privadas, objetivando promover resultados socioeconômicos ou políticos, bem como qualquer outra dimensão externa de sua própria competência constitucional (2004, p. 251). Ainda conforme Prieto (2004), a existência da paradiplomacia não impossibilita a chamada diplomacia federativa, que consiste numa maior participação subnacional no processo da política externa com maior ligação ao departamento de relações exteriores de governos centrais, assim como não impede o papel cada vez maior dos governos subnacionais nas estruturas para a governança regional ou mundial. O presente trabalho se atém principalmente à paradiplomacia exercida pelas unidades subnacionais de poder municipal. Evitando, no entanto criar uma visão restrita, vale ressaltar a posição de alguns autores que afirmam que a paradiplomacia pode ser exercida pelas mais diversas instituições. Silva (2007, p. 47) identifica como estes novos atores internacionais as “[...] unidades de poder estatal desprovidas de personalidade jurídica de direito internacional (estados federados, distritos e municípios), organismos internacionais, empresas multinacionais/transnacionais, ONGs, indivíduos e igrejas”. Se o termo paradiplomacia é relativamente recente na teoria das relações internacionais, sua existência como fenômeno é mais antiga e pode ser notada já na primeira metade do século XX. Existem diversos registros históricos de manifestações datadas do período pós Segunda Guerra Mundial que se encaixam no conceito da paradiplomacia. Numa Europa traumatizada pelas duas então recentes guerras, cidades européias se inseriram na cooperação internacional pela prática de irmanações1 com cidades de outros países anteriormente inimigos de guerra, com objetivos de reconciliação e promulgação da paz. Também nos anos 60, após as campanhas de descolonização, ocorreram irmanações entre cidades de países africanos com cidades de seus expaíses colonizadores (GHERZOULI, 2008). Outros casos isolados são identificáveis em várias 1 Por mero critério de constância, escolheu-se para uso neste trabalho o termo “irmanação”, utilizado por autores como Carmen Nunes, Mónica Salomón e Maria Clotilde Ribeiro. Há, no entanto, autores que utilizam o termo “irmanamento”. Pesquisadores portugueses preferem o termo “geminação”, que acaba aparecendo também em trabalhos brasileiros. Vale citar também as nomeações que estas ações levam em outros idiomas, pois os municípios brasileiros por vezes nomeiam suas irmanações no idioma da cidade-irmã. Em inglês, o termo é “twinning”, em espanhol, “Hermanamiento”, em francês “Jumelage”, em alemão “Städteparterschaften” e em italiano, “Gemellagio”. regiões do mundo ao longo do século. Porém, só nas últimas décadas do século XX o fenômeno se tornaria tão notável a ponto de estimular discussões e estudos na área. Nunes (2005) chama a atenção para o fato de que esta intensificação das manifestações paradiplomáticas ocorreu no final do século passado em função das mudanças no cenário mundial com o fim da Guerra Fria e das transformações econômicas e políticas nos países devidas à globalização da economia. A autora afirma ainda que já nos anos oitenta a paradiplomacia foi impulsionada em alguns Estados Federais desenvolvidos como na Alemanha, Austrália e Canadá. Só nos anos noventa a paradiplomacia viria a se tornar mais proeminente em países em desenvolvimento como Brasil, Argentina, México e China. Esta recente inserção explica o ainda reduzido interesse acadêmico pelo assunto no Brasil em comparação com países como Alemanha, Austrália, Bélgica, Canadá, Estados Unidos e Suíça, onde alguns governos não-centrais têm importante atuação no cenário internacional, refletindo-se na literatura acadêmica. Para o contexto brasileiro, Nunes ressalva que, embora o fenômeno da paradiplomacia tenha ganhado mais força apenas nos anos noventa, ele começara lentamente ainda na década de oitenta, tendo os estados do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul como pioneiros. Estes estados foram os primeiros a criar estruturas específicas voltadas ao âmbito internacional em suas administrações, tendo como estímulo a descentralização política e administrativa proveniente da redemocratização ocorrida no país naquela década. Já nos anos noventa, a política de abertura econômica adotada pela presidência despertou nos governos não-centrais brasileiros o interesse em atrair investimentos estrangeiros e promover exportações. Ressalta ainda que os estados que fazem limite com países do Mercosul, caso do Rio Grande do Sul, se sentiram especialmente estimulados no desenvolvimento de relações paradiplomáticas, já que agora suas fronteiras não os separavam mais, e sim os integravam. 2.2. Os entes não-centrais e seu poder de inserção nas relações internacionais As relações internacionais sempre foram consideradas monopólio do Estado Central, que seriam feitas pela diplomacia. Lessa (2007) ensina que, segundo princípios do Direito das Gentes, somente estados soberanos, organizações intergovernamentais e algumas entidades de personalidade internacional reconhecida - Santa Sé, Comitê Internacional da Cruz Vermelha e Autoridade Palestina - seriam capazes de manter relações diplomáticas com o exterior. Tratados Internacionais seriam, segundo definição da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados, acordos entre Estados Nacionais regidos pelo direito internacional. No artigo 1o da Convenção de Havana, no entanto, lê-se que: Artigo 1º - Os tratados serão celebrados pelos poderes competentes dos Estados ou pelos seus representantes, segundo o seu direito interno respectivo. Cada país conta com suas leis e, por isso, o modo como ocorrem a paradiplomacia e sua validade pode variar de país para país. Nunes (2007) conclui que, uma vez previsto no direito interno do país que seus estados federados podem se envolver nas relações com o exterior, estes estados poderão desenvolver a paradiplomacia, estando, assim, segundo o direito internacional, representando o Estado Soberano, único que pode realmente se obrigar internacionalmente. Cezário e Andrade (2008) ensinam que a maioria dos raros doutrinadores do Direito que estudam a paradiplomacia no Brasil entende que a Constituição Federal limita a ação internacional dos entes não-centrais brasileiros. Tal afirmação é conclusão da análise do conteúdo do art. 21 da Constituição, que atribui à União o poder de manter relações com Estados estrangeiros e participar de organismos internacionais; e do art. 84, VIII, que restringe ao presidente da república, com aprovação do Congresso Nacional, a capacidade de celebrar tratados, convenções e atos internacionais. Castelo Branco (2008, p. 41- 42) aponta o fato de que, na Constituição de 1988, “o número de competências destinadas à União em detrimento dos Estados e municípios é gritante”, fazendo do Brasil um país altamente centralizado. Ele atribui esta característica ao fato de o nosso Estado Federal ter surgido a partir de um Estado Unitário. Mesmo sendo a lei brasileira falha no sentido de tornar a paradiplomacia uma instituição legalmente reconhecida na constituição nacional, a paradiplomacia ocorre no país nas mais diversas formas e cresce a cada dia tanto em número de ocorrências quanto em importância. Sua validade legal pode ser alvo de discussão, mas as contribuições que a atuação internacional de entes não-centrais podem trazer às comunidades que a praticam são claras: intercâmbios culturais, desenvolvimento do comércio, atração de investimentos, recursos técnicos e trocas de conhecimento, entre outras contribuições, fazendo com que entes subnacionais cada vez mais se insiram no cenário internacional. 2.3. Paradiplomacia: Uma ameaça à soberania nacional? Um dos objetos de constante discussão quando se trata de paradiplomacia é a ameaça que ela poderia representar para a soberania do estado central. A partir do momento em que governos não-centrais passam a conduzir suas próprias relações internacionais, a soberania dos Estados Centrais poderia estar ameaçada, já que essa soberania está associada à sua capacidade de manter relações diplomáticas com o exterior. Projetos dos entes não-centrais que se chocassem com os do Estado Maior poderiam gerar intensos distúrbios (CEZÁRIO; ANDRADE, 2008). Vigevani (2006) ressalta que, apesar deste risco potencial, conflitos com o Estado Central ocorrem apenas quando há crises no sistema federativo, como no Canadá nos anos sessenta; ou quando há regiões num país com objetivos separatistas por motivos étnicos, lingüísticos, nacionais, dentre outros, como na ex-Iugoslávia nos anos noventa. O autor coloca que, no caso do Brasil, assim como na maioria dos países onde se observa a paradiplomacia, as ações paradiplomáticas executadas estão ligadas estritamente à chamada low politics, que se relaciona às necessidades locais de cada região e que, apesar de interferir na estratégia internacional do país, não se relaciona com temas vitais para sua sobrevivência. . Estes temas são do âmbito da high politics, que trata de temas estratégicos e de segurança do país e constitui encargo da diplomacia tradicional. 2.4. A Paradiplomacia no Brasi Na atual organização política brasileira, não se tem notícia de movimentos de caráter separatista ou de outros que poderiam levar o Governo Central a temer que a atuação internacional dos entes não-centrais comprometa a ordem nacional. Por esta razão, a paradiplomacia continua ocorrendo no país apesar de que isso possa ser considerado pelos juristas um desrespeito ao pacto federativo. Considerando os entraves legais apontados por esses juristas, a busca pela legalidade da paradiplomacia é ativa e pode ser exemplificada pelo Projeto de Lei do Senado (Complementar) nº. 8 de 2006, que dispõe sobre a aplicação de normas internacionais no Brasil e dá outras providências. A proposta legislativa busca fixar regras no que diz respeito à eficácia e aplicabilidade de tratados no Brasil, chamando atenção para divergências doutrinárias e jurisprudenciais em relação à celebração de tratados no ordenamento jurídico brasileiro, além de outros assuntos relativos à inserção internacional (CASTELO BRANCO, 2008). O projeto se encontra até a presente data (29/09/2008) em fase de tramitação. Acontece que as motivações que levam municípios a se inserir nas relações internacionais e que serão explicadas no capítulo 2.5 deste trabalho, são urgentes demais para esperar o complexo processo que possivelmente levará ao respaldo legal da paradiplomacia. Além do mais, a pressão causada pelo fato de a paradiplomacia ocorrer mesmo sem respaldo legal é a força motriz que faz a busca pelo respaldo legal existir. Cabe também ressaltar que a inquietude quanto ao viés legal da paradiplomacia é quase exclusivamente dos juristas. A paradiplomacia entre municípios é estimulada por entidades civis de renome, como a Confederação Nacional de Municípios (CNM). A CNM conta com uma área dedicada à inserção internacional de municípios brasileiros: a CNM Internacional. No Institucional de sua página na internet, a CNM Internacional (2008) destaca como imperativa a inserção internacional dos municípios brasileiros, justificando essa afirmação pelo fato de que municípios são grandes mecanismos de desenvolvimento e de que até as Nações Unidas já reconhecem a necessidade de engajamento dos governos locais para que as Metas do Milênio2 sejam alcançadas. Comparado a países com maior tradição paradiplomática, o Brasil ainda é pouco desenvolvido neste assunto. Salomón e Nunes (2007, p. 117) afirmam que: “todos os governos centrais e regionais com atividade internacional significativa dispõem de uma estrutura institucional que coordena ou trata de coordenar as relações exteriores”. Este não é o caso dos municípios, ou pelo menos não dos municípios de pequeno e médio portes. Mas a inserção internacional destes municípios mesmo assim vem ocorrendo. Exemplo disso é a cidade de São Vendelino, no Rio Grande do Sul, que, mesmo com seus apenas 1794 habitantes, mantém relações de irmanação com a cidade de Sankt Wendel, na Alemanha. Como é de se esperar de uma prefeitura de pequeno porte, não há nenhum órgão ou secretaria específico para lidar com as questões internacionais. A secretaria de turismo da cidade se encarrega dos contatos. 2.5. Motivações para a Inserção Internacional dos Municípios As formas e as motivações com que os governos locais têm se inserido no cenário internacional são as mais diversas. Dentre as principais motivações pelas quais os municípios se envolvem nesta empreitada estão a busca por recursos internacionais e a procura de instrumentos de desenvolvimento da coletividade cidadã em geral (SALOMÓN; NUNES, 2007). Como exemplos destes instrumentos de desenvolvimento, Prado (2007, p. 6) cita: “Troca de experiências bem-sucedidas relacionadas à temática de desenvolvimento social e econômico; 2 “Até 2015, todos os 191 Estados Membros das Nações Unidas assumiram o compromisso de: 1. Erradicar a extrema pobreza e a fome; 2. Atingir o ensino básico universal; 3. Promover a igualdade entre os sexos e a autonomia da mulher; 4. Reduzir a mortalidade infantil; 5. Melhorar a saúde materna; 6. Combater o HIV/AIDS, a malária e outras doenças; 7. Garantir a sustentabilidade ambiental, 8. Estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento” (PNUD BRASIL, 2008). combate à exclusão e desigualdade. social; democracia participativa; meio ambiente e gestão pública eficiente”. Lessa (2007) atribui a busca pela inserção internacional por parte dos entes não-centrais ao julgamento de que os governos centrais não têm condições de atender às suas demandas, seja por falta de interesse ou de estrutura. Para ele, as motivações econômicas que levam governos subnacionais a atuar internacionalmente são a busca por promoção de investimentos, ampliação de mercados, transferência e absorção de tecnologias e estímulo do turismo. As razões políticas são as aspirações nacionalistas, seja por um maior reconhecimento internacional, como seria o caso da Catalunha, na Espanha, e a aspiração à independência política, como seria o caso de Quebec, no Canadá. Por fim, as motivações culturais por vezes se devem às minorias étnicas estabelecidas no local, que abordam paradiplomaticamente suas regiões de origem, como é o caso do sul e sudeste brasileiros, que estabelecem relações com suas origens européias e japonesas. 2.6. Ferramentas Paradiplomáticas As ferramentas paradiplomáticas para inserção internacional das unidades subnacionais são múltiplas. No caso de governos municipais, Salomón cita, por exemplo: “[...] as irmanações entre municípios de países diferentes, conferências internacionais de prefeitos, acordos comerciais geridos por autoridades locais, redes de cidades dedicando-se a projetos de cooperação com o Terceiro Mundo, criação de organizações de poderes locais etc.”3 (SALAMÓN, 1993, p. 128, tradução nossa). Segundo Ribeiro (2008), há no Brasil uma forte predominância de três tipos de ações para os governos locais: participação em redes 3 “[...] hermanamientos entre dos municipios de diferentes estados, conferencias de alcaldes, acuerdos comerciales gestionados por autoridades locales, redes de ciudades ricas embarcadas em proyectos de cooperación con el Tercer Mun1do, creación de organizaciones de poderes locales, etc.” transnacionais como a Rede Mercocidades4; participação em conferências internacionais; e a celebração de acordos de cooperação e convênios de irmanação. Para evitar confusão, vale ressaltar que não são raros os casos de acordos de irmanação de municípios brasileiros dentro do próprio país (ex.: Manaus-AM/ Goiânia-GO, BelémPA/Campinas-SP, Aracati-CE/Pelotas-RS etc.), porém este trabalho se interessa apenas por relações de irmanação entre municípios brasileiros com governos locais de outros países, pois relações de municípios de mesmo país nada têm a ver com inserção internacional e, portanto, não caracterizam paradiplomacia. 2.7. A irmanação entre cidades Escolhida como foco principal deste trabalho, a irmanação ou geminação entre cidades – “acordos de cooperação bilaterais com conteúdo diverso entre dois governos locais, é possivelmente a prática paradiplomática mais tradicional e reconhecida”(RIBEIRO, 2008, p. 103). Na Europa pós Segunda Guerra Mundial, a idéia da irmanação entre cidades surgiu com o objetivo de estreitar os laços entre as nações européias e favorecer a reconciliação entre elas. “O propósito foi reunir as populações das cidades de forma mais fraterna e íntima, pois estavam separadas até então por rivalidades que vinham de muitos séculos”. Segundo Meneghetti Neto (2005), os países europeus que mais se destacaram na cultura das irmanações foram sem dúvida a Alemanha e a França, responsáveis por mais da metade das irmanações celebradas. A irmanação entre as cidades de Ludwigsburg na Alemanha e Montbeliard na França é reconhecida como a 4 “A Rede Mercocidades é uma organização que reúne cidades pertencentes aos países que compõem o Mercosul e busca promover a integração em vários aspectos, entre os quais, o econômico, o tecnológico e o cultural. O Brasil é o país que conta com o maior número de participantes, 28, seguido da Argentina, com 21 municípios. Outras cidades brasileiras também já manifestaram interesse em ingressar na Mercocidades”. mais velha irmanação franco-alemã (WOESER, 2007). Meneghetti Neto não duvida de que as irmanações celebradas entre Alemanha e França foram grandes responsáveis pela reconciliação dos dois países. Embora se reconheça na Alemanha e na França a “força motriz do crescimento” das irmanações, vínculos com outros países como Escócia, Irlanda, Portugal, Espanha, Itália e Grécia também têm sido estimulados. Köhle (2008), estudioso austríaco do Instituto de Geografia e Pesquisa da Universidade de Viena, ensina que, quando duas municipalidades decidem participar de um acordo de irmanação, ocorre uma cerimônia formal em que o acordo é assinado. Por meio deste acordo, as cidadesirmãs se comprometem a trabalhar juntas seus objetivos. Assim também funciona normalmente no Brasil. No caso austríaco, há ainda um juramento, em que tais intenções são repetidas, mas tais rituais costumam também variar de acordo com os costumes dos países das cidades-irmãs. Köhle (2008, p. 13) cita ainda os objetivos mais freqüentes e gerais das irmanações entre cidades: a) b) c) d) e) f) g) Compreensão mútua; Troca de experiências em assuntos municipais; Tolerância entre grupos diferentes; Compartilhamento de habilidades para solução de problemas; Fortalecimento da autonomia local; Iniciativas nas áreas de emprego e conservação; e Manutenção de costumes e cultura5. (tradução nossa) A definição de Barbosa (2008) para a idéia de irmanação traduz bastante bem seus objetivos: 5 "Wenn sich zwei Kommunen dazu entschließen eine partnerschaftliche Verbindung miteinander einzugehen, gipfelt dies in einer formalen Zeremonie in der ein Partnerschaftsvertrag unterzeichnet und ein Eid geleistet wird. Hierbei verpflichten sich die Partner gemeinsam Rahmenbedingungen zu gewährleisten die folgende Entwicklungen fördern: a) Gegenseitiges Verständnis; b) Erfahrungsaustausch in kommunalen Angelegenheiten; c) Toleranz zwischen verschiedenen Gruppen; d) Teilen von Problemlösungskompetenz; e) Stärkung lokaler Autonomie; e) Start von Initiativen in Gebieten wie Beschäftigung und Erhaltung; und f) Pflegen von Brauchtum und Kultur”. A idéia de irmanação [...] é uma forma mais suave, menos articulada de conscientização dos habitantes de uma cidade de que existem outras pessoas, noutras terras, que compartilham com eles a vivência urbana e um mínimo bem querer. [...] as irmanações de cidade corporificam expressões de boa vontade, podendo também implicar manifestações de vontade paralelas no sentido de ação conjunta, concertada ou compatível. Habitualmente, os respectivos acordos prevêem, em termos genéricos, a futura realização de intercâmbios culturais, de promoções turísticas recíprocas, de eventual assistência técnica ou de troca de experiências (BARBOSA, 2008, p. 11). Barbosa (2008) nos esclarece ainda que nos casos dos acordos de irmanação, não há a existência de obrigações e direitos entre as cidades irmanadas, ou pelo menos não há vínculo jurídico entre as partes. É óbvio, no entanto, que cada cidade tem de mostrar reciprocidade para usufruir dos benefícios da irmanação. Assim, o que ocorre é “um entendimento entre partes ex honoribus vel utilitate6, que se apóia na boa vontade ou na recíproca utilidade do paralelismo de atuação, não um negócio jurídico bilateral” (BARBOSA, 2008, p. 11). O próprio Lessa ressalta que o Ministério das Relações Exteriores vê a tradição da irmanação entre cidades com transigência, dada a “inexistência de paralelismo com tratados internacionais, seu caráter em parte simbólico e sua esfera de restrita aplicação”(LESSA, 2007, p. 97). O autor português Ribeiro (2007), ao dissertar sobre o assunto, menciona as dificuldades que as irmanações encontram ao se relacionar com cidades de continentes diferentes, em razão da distância, maiores custos associados e das necessidades de cooperação. Para ele, em solo continental há o benefício da proximidade geográfica, cultural e organizacional, facilitando as relações de irmanação. O autor refere-se, no entanto, ao continente europeu, onde as distâncias entre países são de fato menores devido ao tamanho do continente. No âmbito da América Latina, por exemplo, a distância é um fator agravante que continua a existir mesmo intracontinentalmente. 6 Por honra ou utilidade (Tradução Nossa). Concebidas na Europa, as irmanações entre cidades ainda são monopólio europeu. Woesler (2007) afirma que existem no mundo hoje cerca de 15.000 acordos de irmanação entre cidades, dos quais 12.000 são na Europa. Destas irmanações, 6.000 têm participação de cidades alemãs. Não existem fontes precisas sobre o número exato de municípios brasileiros que possuem acordos de irmanação devido à não existência de um órgão centralizador das atividades paradiplomáticas, como o Itamaraty para as atividades diplomáticas. O governo federal possui registros das ações que realiza, mas não das atividades paradiplomáticas dos demais entes da federação. As motivações na escolha da cidade irmã são as mais diversas possíveis e não há um critério fixo para esta seleção. Interesses comuns, características comuns - desde nome até número aproximado de habitantes - proveniência de imigrantes, cidade natal do fundador da cidade e, por vezes, até simpatia do prefeito atual por motivos pessoais (proveniência de sua família ou viagem saudosa, por exemplo) pela cidade em questão. Quando as irmanações são baseadas nesses motivos pessoais, os riscos de que elas sejam esquecidas com o fim da gestão do prefeito instaurador da idéia são grandes, caracterizando um problema comum na administração pública. Essa “mortalidade” proveniente da descontinuidade administrativa dificulta ainda mais uma listagem confiável dos acordos de irmanação vigentes em um país com as proporções do Brasil. O estado da arte mostra que não existem até o presente momento estudos conhecidos que se interessam pelos indivíduos que trabalham para garantir a manutenção das relações entre cidades-irmãs, não existindo, portanto, dados que descrevam o perfil profissional necessário para atuar nas atividades que resultam das irmanações entre cidades. Quem seria esse profissional? Motivado pela falta de literatura que responda a essa pergunta, o presente trabalho pretende respondê-la buscando conhecer esses profissionais e levantando seu perfil. 3. PERFIL PROFISSIONAL DO SECRETÁRIO EXECUTIVO Nas últimas décadas, ocorreram mudanças no mercado de trabalho que mudaram o perfil de várias profissões, levando à extinção de umas, ao surgimento de outras e a intensas mudanças em terceiras. O Secretariado Executivo foi uma destas profissões intensamente afetadas. Conforme afirma Alonso (2002), a aparência adequada, anteriormente tão valorizada num profissional em Secretariado Executivo, é hoje apenas um fator de desempate no caso de dois candidatos de igual capacitação técnica. Na era do conhecimento, além do próprio conhecimento, a forma como as pessoas se relacionam, seu equilíbrio emocional e “jogo de cintura” são características admiradas. A Lei nº 7.377, de 30 de setembro de 1985, regularizou a profissão de Secretário Executivo. Onze anos mais tarde, a Lei nº 9.261, de 10.1.1996 alteraria a redação daquela, considerando Secretários Executivos todos os indivíduos com formação superior em Secretariado Executivo ou em quaisquer outros cursos superiores, desde que com comprovação de 36 meses de experiência exercendo as atribuições da profissão. A lei brasileira auxilia a traçar do perfil deste profissional, ao declarar como atribuições do Secretário Executivo as seguintes: Art. 4º São atribuições do Secretário Executivo: I - planejamento, organização e direção de serviços de secretaria; II - assistência e assessoramento direto a executivos; III - coleta de informações para a consecução de objetivos e metas de empresas; IV - redação de textos profissionais especializados, inclusive em idioma estrangeiro; V - interpretação e sintetização de textos e documentos; VI - taquigrafia de ditados, discursos, conferências, palestras de explanações, inclusive em idioma estrangeiro; VII - versão e tradução em idioma estrangeiro, para atender às necessidades de comunicação da empresa; e VIII - registro e distribuição de expedientes e outras tarefas correlatas; IX - orientação da avaliação e seleção da correspondência para fins de encaminhamento à chefia; X - conhecimentos protocolares. É fato que o profissional em Secretariado Executivo ainda tem de conviver com velhos clichês sobre a profissão, tendo seu trabalho por vezes subestimado e reduzido somente às chamadas práticas secretariais (atendimento telefônico, recepção, digitação, gerenciamento de agenda, dentre outras) que, apesar de não terem deixado de ser responsabilidade do Secretário Executivo, constituem apenas uma pequena parte das atribuições do profissional. As técnicas secretariais como recepção, gerenciamento de agenda, telefone e redação empresarial continuam sendo atribuições do Secretário Executivo, mas num contexto totalmente diferente, modificado pelas constantes atualizações tecnológicas. Sabino e Rocha (2004) afirmam que, neste contexto, a tecnologia deve ser admitida como parte essencial das técnicas secretariais, ou seja, há a necessidade do domínio de novas tecnologias e da capacitação constante para manter-se atualizado. A atual conjuntura mundial não deixa espaço nas organizações para profissionais restritos. Como afirmam Grion e Paz (2007), não se buscam mais profissionais dedicados a uma atividade específica. Preza-se o profissional polivalente, que domina várias áreas do saber e está sempre pronto a aprimorar seus conhecimentos para se adaptar às mudanças tecnológicas. Visando a formar um profissional capaz de atender às demandas do mundo globalizado, o Conselho Nacional de Educação estabelece, na Resolução Nº 3, de 23 de junho de 2005, as Diretrizes Curriculares para o Curso de Graduação em Secretariado Executivo, constando que os profissionais da área devem contar com uma: [...] sólida formação geral e humanística, com capacidade de análise, interpretação e articulação de conceitos e realidades inerentes à administração pública e privada, aptos para o domínio em outros ramos do saber, desenvolvendo postura reflexiva crítica que fomente a capacidade de gerir e administrar processos e pessoas, com observância dos níveis graduais de tomada de decisão, bem como capaz para atuar nos níveis de comportamento microorganizacional, mesoorganizacional e macroorganizacional. Sales et al. (2004, p.10) elaboram uma lista de conhecimentos que devem fazer parte da temática dominada pelo profissional em Secretariado Executivo: Informática Instrumental, Métodos e Técnicas de Pesquisa, Ciência da Religião, Técnicas Secretarias, Língua Portuguesa, Língua Espanhola, Língua Inglesa, Relações Públicas e Cerimonial, Teoria Geral da Administração, Instituições de Direito Público e Privado, Redação Técnica, Introdução ao Marketing, Arquivística, Administração de Recursos Humanos, Matemática Financeira, Estatística, Filosofia, Gestão Executiva e Planejamento Estratégico, Contabilidade e Gestão de Custos, Sociologia, Psicologia Aplicada, Finanças e Mercado e Geografia Política e Econômica. A lista de Sales et al. (2004) é extensa, mas não exaustiva, podendo ainda ser aprimorada e completada. Aos itens “Língua Inglesa” e “Língua Espanhola” pode ser acrescentado o item “Língua(s) Estrangeira(s), segundo o contexto organizacional”. Decerto que a língua inglesa é língua franca da ciência e das instituições internacionais, e vários autores concordam em nomeála língua universal (FORATTINI, 1997), porém, mesmo diante da possibilidade de comunicação com o mundo inteiro que ela oferece, é claro o interesse de empresas multinacionais por profissionais que dominem a língua de seus países de origem. Tal afirmação pode ser confirmada ao se consultar vagas de colocação na área que exigem conhecimentos de línguas como alemão, francês e chinês, além do inglês ou sem mesmo mencioná-lo. O conhecimento da língua francesa, ainda considerada a língua da diplomacia por excelência, pode contar como um importante diferencial na busca por uma colocação. Em posição de mediador de informações entre as diversas camadas hierárquicas de uma organização, o Secretário Executivo deve contar com uma boa capacidade de comunicação, tanto verbal como escrita. Segundo Alonso (2002), um gestor gasta a maior parte de seu tempo se comunicando e o Secretário executivo é, portanto, um importante canal de informação. Possuir uma boa capacidade de comunicação, aliada ao interesse constante de estar sempre aberto para receber novas informações, transformando-as em conhecimento produtivo, é uma das exigências do mercado profissional. A comunicação é um novo e importante ingrediente para o sucesso das pessoas e das empresas [...] (ALONSO, 2002, p. 36). Alonso (2002) ensina ainda que, para uma comunicação satisfatória, deve-se atender às constantes trocas de paradigmas que ocorrem nos âmbitos profissional e pessoal. Aponta como fatores importantes para o processo de comunicação globalizada a flexibilidade, a facilidade e o interesse em sempre aprender características culturais, usos e costumes. Segundo a autora, é especialmente difícil a comunicação entre as diversas culturas, em função de seus diferentes valores e costumes. Por este motivo é importante buscar conhecer as diferenças culturais para saber respeitá-las. No caso de Secretários Executivos bilíngües e trilíngües, esta capacidade se torna especialmente importante, pois as dificuldades já inerentes à comunicação têm o agravante dos possíveis choques culturais. Por estas e outras razões, Pinheiro (2005) aponta como competência indispensável ao Secretário Executivo a conscientização intercultural, que levará conseqüentemente a uma melhor comunicação, ao aprendizado compartilhado e a melhores resultados nos relacionamentos entre indivíduos em grupos ou organizações multinacionais. Por estar diretamente envolvida com organizações de eventos, Alonso (2002) ainda acrescenta a necessidade do conhecimento de cerimonial e protocolo, palavras muito mencionadas no mundo social e nas relações internacionais, quando uma regulamentação das boas maneiras se faz necessária. Posicionamento de autoridades à mesa, utilização das bandeiras, entre outras observações, são convencionados de acordo com regras de cerimonial e protocolo e são detalhes que interferem diretamente no fechamento de negócios. Este extenso rol de conhecimentos nos remete à noção de multifuncionalidade tão presente ao descrever as características desejáveis a um profissional em Secretariado Executivo. O profissional multifuncional seria aquele “capaz de atuar em diversas áreas, de modo a suprir carências em todos os setores” (Breunig, s.d.). No entanto, mesmo sendo exaustiva a lista de conhecimentos recomendada, observa-se que o conhecimento por si só ainda não é suficiente para caracterizar o profissional em Secretariado Executivo de acordo com as exigências do mercado. Num profissional multifuncional identificam-se também características interpessoais que vêm atuar junto a seus conhecimentos. Competências humanas ou sociais são imprescindíveis e desempenham um papel tão ou mais importante que o conhecimento no sucesso profissional de um Secretário Executivo. Afinal seu trabalho é lidar com o humano, por mais que para tanto se valha de ferramentas de trabalho. Segundo Sabino e Rocha (2004), exemplos destas competências seriam: a comunicação, a responsabilidade, a liderança e o aperfeiçoamento. Sabino e Rocha (2004, p. 94) afirmam que o terceiro milênio traçou um novo perfil para o Secretariado Executivo, atribuindo-lhe as características de: • • • Assessor: Por atuar junto a órgãos deliberativos; Gestor: por aplicar técnicas secretariais que auxiliam na organização, planejamento, controle e avaliação dos trabalhos. Empreendedor: Por promover e implantar soluções que otimizam o trabalho no âmbito individual e coletivo; • Consultor: Por analisar e compreender a cultura identificando pontos críticos e sugerindo melhorias. organizacional, Os supracitados autores ressaltam que, para acumular as características acima mencionadas, o profissional em Secretariado Executivo deve ser: • • • • • • • Profundo conhecedor das técnicas secretariais; Comprometido com a organização; Polivalente; Negociador; Programador de soluções; Proativo; e Participativo (SABINO; ROCHA, 2004, p. 95). Costa e Azevedo (2002) citam ainda a atualização, a pesquisa, o trabalho em equipe, a autonomia, a criatividade e a iniciativa como características para o profissional em Secretário Executivo. A ética profissional também constitui um grande tema ao se tratar do perfil do Secretário Executivo. Em 7 de julho de 1989, foi publicado no Diário oficial da União o Código de Ética da Profissão Secretarial, estabelecendo os direitos e deveres da classe no Brasil. O capítulo quarto deste código foi inteiramente dedicado ao sigilo profissional, extremamente importante na profissão pelo fato de o Secretário Executivo lidar diretamente com assuntos e documentos de alta confidencialidade. Eventuais deslizes éticos de um profissional em Secretariado Executivo poderiam trazer conseqüências desastrosas para uma instituição, além de influenciar negativamente na visão que se tem do profissional. Sabino e Rocha (2004) ressaltam, porém, que, nos últimos anos, o tema ética deixou de ser apenas um conjunto de normas disciplinares de conduta e passou a ser um tema interligado à responsabilidade social das organizações. As organizações, após um longo tempo de interesse restrito nos lucros, primam hoje pela conduta ética em seus objetivos e missões. Espera-se do Secretário Executivo, como figura “elo” entre a alta administração e o restante da organização, uma contribuição para a conduta ética como um todo. Após esta visão geral do perfil do Secretário Executivo, surge a pergunta: Há características comuns entre o profissional em Secretariado Executivo e o servidor atuante nas prefeituras de cidades-irmãs? Seria o profissional formado em Secretariado Executivo dotado das características necessárias à atuação de sucesso nestas prefeituras? Tal pergunta será respondida após a análise do perfil dos profissionais relacionados às irmanações e a devida comparação com o perfil do Secretário Executivo. 4. METODOLOGIA O presente estudo se caracteriza como exploratório quanto a seus objetivos específicos. Segundo Cervo e Bervian (2006, p.69): “tais estudos têm por objetivo familiarizar-se com um fenômeno ou obter uma nova percepção do mesmo e descobrir novas idéias”. O estado da arte mostrou que não existem pesquisas conhecidas que explorem o perfil do profissional envolvido nas relações de irmanação entre cidades, sendo esta pioneira em tal objetivo. Cervo e Bervian (2006) recomendam o estudo exploratório em tais casos. 4.1. População e Amostra A população englobou servidores da administração pública brasileira de prefeituras de pequeno e médio portes, atuantes nas relações de irmanação com cidades do exterior. Partindo de uma lista de 95 cidades brasileiras que supostamente teriam cidades-irmãs no exterior, fez-se um esforço para identificar estes servidores visando a abordá-los para que respondessem ao questionário semi-estruturado elaborado para a pesquisa. O cálculo de uma amostragem se torna impossível neste caso, já que não se tem o número exato da população, isto é, de todas as prefeituras de pequeno e médio portes que se envolvem em processos de irmanação, nem de quantos servidores se ocupam de assuntos relacionados às irmanações. Tal evento se deve ao fato da falta de um órgão que centralize as operações paradiplomáticas e que seja capaz de fornecer dados sobre as prefeituras que se envolvem ou se desligam dos processos de irmanação (SALOMON; NUNES, 2007). 4.2. Método de Coleta de Dados Os dados foram coletados pela aplicação de questionários semi-estruturados via e-mail a servidores públicos ocupados em processos do dia-a-dia de prefeituras de pequeno e médio portes que possuem geminações com municípios internacionais, atuando diretamente com a paradiplomacia. Foi impossível o cálculo de uma amostragem satisfatória, devido ao desconhecimento do número exato da população. O trabalho foi elaborado com os dados dos questionários retornados. O questionário semi-estruturado foi construído reunindo dezessete questões objetivas e subjetivas que buscavam traçar o perfil dos profissionais atuantes nas irmanações, colhendo informações gerais quanto ao perfil acadêmico-profissional dos respondentes, assim como sobre os conhecimentos e características interpessoais necessárias ao cumprimento de suas funções relacionadas à irmanação entre cidades. Para elaboração das questões, utilizou-se o embasamento teórico sobre os conhecimentos e características interpessoais do Secretário Executivo. O objetivo da pesquisa que consistia em comparar o perfil dos respondentes com o perfil do Secretário Executivo foi omitido durante a pesquisa, pois tal informação poderia influenciar o respondente a dar respostas que confirmassem ou retificassem a semelhança ou diferença entre seu perfil e o perfil ao qual seria comparado. Nas questões de múltipla escolha em que tal providência foi considerada necessária, deixou-se espaço para interferência do respondente, para o caso de as opções dadas serem consideradas insuficientes. A aplicação de questionário foi escolhida por algumas de suas vantagens, apontadas por Marconi e Lakatos (2007, p. 98-99): “economizar tempo, viagens e obter grande número de dados, menor risco de distorção pela não influência do pesquisador e mais tempo para responder, e em hora mais favorável”. O levantamento de potenciais respondentes para a pesquisa apresentou dificuldades, dada a falta de informações disponíveis sobre casos de irmanações no Brasil. Uma lista de cidades irmãs na América do Sul, disponível em sítio virtual, foi utilizada como guia para contato com os sujeitos de pesquisa. O grau de atualização assim como a confiabilidade da listagem utilizada eram passíveis de dúvida, já que não existe um órgão que controle todas as irmanações no Brasil. Só a existência de tal órgão garantiria a disponibilidade de uma listagem atualizada que acompanhasse os surgimentos e desaparecimentos constantes das irmanações. As proporções continentais do Brasil impossibilitaram o levantamento de uma tal lista especialmente para tal pesquisa, já que o tempo e a verba disponíveis para esta pesquisa seriam insuficientes para permitir o contato de todas as cidades brasileiras de pequeno e médio portes, a fim de checar informações sobre possíveis relações de irmanação. No entanto, sendo a listagem utilizada somente para guiar a pesquisa das cidades com relações de irmanação, tal lista foi satisfatória. Dados possivelmente incorretos não retornariam questionários ou seriam desmentidos ao longo da pesquisa, à medida que cidades abordadas se declarassem não participantes de acordos de irmanação. Não houve, portanto, riscos de que a proveniência e/ou possível desatualização da lista comprometesse a confiabilidade científica da atual pesquisa. 4.3. Método de Análise de Dados O presente trabalho utiliza-se de duas técnicas de análise de dados, cuja combinação concede ao estudo o caráter qualitativo-quantitativo. Uma delas, de caráter quantitativo, trata da estatística descritiva, que, como o nome já diz, se preocupa em descrever as diversas características dos dados obtidos (CAVANHA FILHO, 2008). Alguns dados foram padronizados e resumidos para serem apresentados por meio de tabelas, que, segundo Pagano (2004), são a maneira mais simples de resumir um conjunto de informações. Nos casos de dados com menor grau de detalhes, optou-se pela sua representação gráfica. A segunda técnica de análise de dados, desta vez de caráter qualitativo, trata da análise de conteúdo. Segundo Bardin, a análise do conteúdo compreende: […] um conjunto de técnicas de análise das comunicações, visando a obter, por procedimentos, sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitem a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) dessas mensagens. (BARDIN, 1977, p.42) Os dados obtidos fornecerão informações sobre o perfil dos profissionais observados, para então compará-los com as habilidades características do profissional em Secretariado Executivo. 4.4. Limitações do Método A aplicação de questionários via internet apresenta como principal viés a baixa taxa de retorno, pois os sujeitos da pesquisa nem sempre mostram interesse em colaborar com pesquisas, além do fato de que os endereços de e-mail disponibilizados nos sites de prefeituras nem sempre estão atualizados ou são checados. Markoni e Lakatos (2006:99) já apontavam a baixa percentagem de retorno de questionários como desvantagem deste método. Considerando estes empecilhos, questionários foram enviados a todos os endereços de prefeituras que atendem às características e que puderam ser levantados, visando a um retorno de questionários que garantissem a confiabilidade dos resultados. 5. ANÁLISE E DISCUSSÃO DE DADOS O levantamento de sujeitos para aplicação de questionários apresentou sérias dificuldades, já que, apesar de 96,8% (92) das cidades apontadas pela listagem disponível apresentarem um website, apenas uma delas disponibilizava informações sobre as irmanações em seu website, caracterizando uma amostra pouco maior que 1%, o que impossibilitou um contato direto com os responsáveis pela manutenção de tais irmanações. O próximo passo foi, então, o contato com as prefeituras pelos endereços de e-mail disponibilizados solicitando os contatos dos indivíduos responsáveis pelas atividades relacionadas às irmanações. Deu-se preferência aos endereços de email dos gabinetes dos prefeitos, das secretarias de cultura e turismo, por critério de disponibilidade. Em caso de sua indisponibilidade, enviaram-se e-mails para os endereços disponíveis. Das 92 cidades dotadas de website, 13 não apresentavam quaisquer formas de contato eletrônico, e 19 a opção “Fale Conosco” na própria página. Por conseguinte, foram abordadas 60 prefeituras por meio dos endereços de e-mail disponíveis. Houve casos de e-mails que não atingiram o destinatário, conforme mensagem do provedor acusando erro no endereço. Das 60 prefeituras alcançadas ou supostamente alcançadas (já que não se pode ter certeza de que alguém efetivamente tenha lido os e-mails ou as mensagens deixadas no “Fale Conosco”), 20 responderam fornecendo informações sobre as irmanações ou o contato direto com os indivíduos visados pela pesquisa. Três destes 20 e-mails (15%) forneceram respostas informando que as cidades-irmãs perderam contato com a troca de gestão de prefeitos e um (5%) informou não saber informar nada sobre irmanação de sua cidade com alguma do exterior. Questionários foram enviados às 16 prefeituras de cidades-irmãs com acordos ainda vigentes, tendo sido possível detectar servidores enquadráveis no perfil e, portanto, aptos a responder aos questionários. O retorno de questionários foi satisfatório, totalizando 17 questionários, já que em alguns casos houve mais de um respondente por prefeitura. As primeiras perguntas do questionário identificavam as cidades dos respondentes e as cidades com as quais elas mantêm relações de irmanação. Tal dado não se faz necessário para a traçagem do perfil profissional e será omitido por identificar indiretamente respondentes, aos quais foi garantido sigilo de identidade. Tais respostas foram, no entanto, levadas em consideração em determinados momentos da análise. É importante considerar que, das cidades brasileiras cujos funcionários participaram da pesquisa, 88,24% possuem irmanações com mais de uma cidade no exterior e, nestes casos, os indivíduos envolvidos atuam nas atividades relacionadas a mais de uma destas cidades-irmãs. A pesquisa constatou que nenhum dos respondentes tem um cargo exclusivamente voltado a atender às relações de irmanação. São, na verdade, indivíduos que possuem cargos nos mais diversos setores da administração pública. As atividades relacionadas às irmanações são, portanto, apenas algumas das atribuições destes cargos. Dos indivíduos respondentes, 23,53% têm cargos relacionados às secretarias de Assuntos Internacionais. Tal dado indica que, das cidades envolvidas em relações de irmanação, nem todas possuem um órgão ou secretaria voltada para assuntos internacionais. O Gráfico 1 indica as atuações gerais dos indivíduos respondentes, tendo sido considerados os setores de atuação e não o cargo em si: Gráfico 1. Áreas de atuação dos profissionais envolvidos nas atividades relacionadas à irmanação. Fonte: Dados da Pesquisa – Elaboração Própria. O tempo de atuação nas relações de irmanação foi sempre maior que um ano, indicando compromisso com a causa e baixa taxa de desligamento das atividades. O Gráfico 2 mostra o tempo de atuação dos respondentes nas atividades relacionadas às irmanações: Gráfico 2. Tempo de atuação dos profissionais nas relações de irmanação. Fonte: Dados da Pesquisa – Elaboração Própria. Quanto à escolaridade dos respondentes, Gráfico 3, houve um empate na porcentagem de profissionais com Ensino Superior Completo e daqueles com Pós-Graduação (41,18%). O menor grau de escolaridade apresentado foi Ensino Médio Completo, para apenas um dos respondentes (5,88%), o que mostra um grau de preparação elevado da maioria dos profissionais atuantes, e a necessidade de boa formação acadêmica-técnica para desempenho das funções relacionadas às atividades de irmanação. Gráfico 3. Escolaridade dos Respondentes. Fonte: Dados da Pesquisa – Elaboração própria. Houve uma grande variação nas áreas de formação dos respondentes, como mostra a Tabela 1. O único respondente de nível médio apresenta formação tecnológica em escola internacional em Cerimonial Público e Empresarial. Os dezesseis respondentes que apresentam formação superior apontaram as seguintes áreas: Tabela 1: Áreas de formação dos respondentes. Curso Número de Ocorrências Administração 2 (12,5%) Biologia 1 (6,25%) Ciências Contábeis 2 (12,5%) Direito 2 (12,5%) Letras em Inglês/Português 3 (18,75%) Relações Internacionais 1 (6,25%) Relações Públicas 1 (6,25%) Secretariado Executivo Bilíngüe 1 (6,25%) Sociologia 1 (6,25%) Turismo 2 (12,5%) Fonte: Dados da Pesquisa – Elaboração Própria. A diversidade das formações pode ser explicada pelo fato de as pessoas envolvidas nas atividades relacionadas às irmanações não se encontrarem na prefeitura exclusivamente para tais atividades. As formações estão, portanto, associadas a seus cargos nas prefeituras e não especificamente às atribuições geradas pelas irmanações. É interessante ressaltar que o curso de maior incidência é Letras em Inglês/Português, o que leva à associação do domínio de língua estrangeira como característica importante para participação nas atividades relacionadas às irmanações. A Tabela 2 mostra a diversidade de áreas nas pós-graduações, sendo os respondentes pósgraduados nas seguintes áreas: Tabela 2. Áreas de pós-graduação dos respondentes. Área de Pós-Graduação Número de Casos Administração Universitária 1 Direito Internacional 1 Gerenciamento do Desenvolvimento em Turismo 1 Gestão em Marketing 1 Interdisciplinaridade e Supervisão Escolar 1 Sociologia 1 Turismo e Administração de Eventos 1 Fonte: Dados da Pesquisa – Elaboração Própria Questionaram-se aos respondentes os conhecimentos requeridos para desenvolvimento das atividades relacionadas às irmanações. Deixou-se claro no questionário o interesse pela classificação dos conhecimentos baseado no trabalho desenvolvido junto às irmanações, e não nas atribuições gerais dos indivíduos na prefeitura. A Tabela 3 detalha a classificação de importância destes conhecimentos, segundo os respondentes: Tabela 3. Classificação de importância de conhecimentos para desenvolvimento das atividades relacionadas às irmanações Classificação Número de Conhecimentos Respondentes Indispensável Interessante Inútil Administração de Recursos 31% (5) 50% (8) 18% (3) 16 Humanos Arquivística 31% (5) 37% (6) 31% (5) 16 Ciência da Religião 13% (2) 60% (9) 26% (4) 15 Contabilidade e Gestão de Custos 20% (3) 60% (9) 20% (3) 15 Estatística 28% (4) 57% (8) 14% (2) 14 Filosofia 12% (2) 56% (9) 31% (5) 16 Finanças e Mercado 14% (2) 71% (10) 14% (2) 14 Geografia Política e Econômica 43% (7) 37% (6) 18% (3) 16 Gestão Executiva e Planejamento 31% (5) 56% (9) 12% (2) 16 Estratégico Informática 31% (5) 50% (8) 18% (3) 16 Instituições do Direito Público 31% (5) 43% (7) 25% (4) 16 e/ou Privado Língua Estrangeira 25% (4) 56% (9) 18% (3) 16 Marketing 25% (4) 56% (9) 18% (3) 16 Matemática Financeira 31% (5) 50% (8) 18% (3) 16 Métodos e Técnicas de Pesquisa 53% (8) 40% (6) 6% (1) 15 Protocolo e Cerimonial 6% (1) 93% (14) 0% (0) 15 Psicologia Aplicada 25% (4) 62% (10) 12% (2) 16 Redação Técnica 26% (4) 66% (10) 6% (1) 15 Relações Públicas 26% (4) 60% (9) 13% (2) 15 Sociologia 25% (4) 68% (11) 6% (1) 16 Técnicas Secretariais 37% (6) 50% (8) 12% (2) 16 Teoria Geral da Administração 37% (6) 43% (7) 18% (3) 16 Fonte: Dados da Pesquisa – Elaboração Própria. Nota-se que a maioria dos conhecimentos constantes na lista foi classificada como “interessante”, exceto por dois casos (Geografia Política e Econômica e Métodos e Técnicas de Pesquisa) classificados pela maioria como “indispensáveis”. Acredita-se que a maioria dos respondentes considere conhecimentos de Geografia Política e Econômica indispensáveis pelo fato de que o lidar com terras estrangeiras exija um mínimo de conhecimento sobre o território e a população de seu próprio país, para bem representá-lo, e do país da cidade-irmã, para melhor compreendê-lo. A classificação do item Métodos e Técnicas de Pesquisa como indispensável foi um dado surpreendente à primeira vista, sendo, no entanto esclarecido ao questionar as atividades que os respondentes exercem, que incluem coordenação de projetos e organização de eventos. Nenhum conhecimento listado foi considerado “inútil”. Alguns conhecimentos que à primeira vista pareciam indispensáveis foram classificados pela maioria apenas como interessantes. Exemplos são os conhecimentos de Língua Estrangeira e de Protocolo e Cerimonial. Acreditavase ser o domínio de uma língua estrangeira um conhecimento indispensável para a atuação na área de relações internacionais, já que, devido à pequena difusão da língua portuguesa em países não lusófonos, a comunicação muitas vezes precisa ocorrer numa segunda língua. Atribui-se esta classificação possivelmente à possibilidade de terceirização de serviços de tradução e interpretação, já que foram apontados como serviços usualmente terceirizados num outro momento da pesquisa. Esperava-se a classificação como indispensável também dos conhecimentos de Protocolo e Cerimonial, já que se tem consciência do importante papel que estes conhecimentos desempenham em negociações entre países diferentes. As respostas mostraram, no entanto, que a maioria considera estes conhecimentos interessantes, porém não indispensáveis, talvez pelo fato da possibilidade de terceirização destes serviços, talvez por um possível desconhecimento do papel do protocolo e cerimonial no estreitamento das relações internacionais. Foi dado espaço aos respondentes para o acréscimo de quaisquer conhecimentos que se acreditassem indispensáveis ou interessantes ao desenvolvimento das atividades relacionadas às irmanações (Tabela 4). Oito dos dezessete respondentes (47%) se manifestaram, adicionando os seguintes conhecimentos: Tabela 4. Demais conhecimentos considerados indispensáveis aos profissionais atuantes nas irmanações. Conhecimento Cultura Geral do País da cidadeirmã História Relações Internacionais Classificação Número de Menções Indispensável 4 Indispensável Indispensável 3 1 Turismo Fonte: Dados da Pesquisa – Elaboração Própria. Indispensável 4 Nas características interpessoais consideradas necessárias para desenvolvimento das atividades houve uma tendência unânime para a classificação “indispensável”. Todas as características propostas foram consideradas indispensáveis por mais de 50% dos respondentes, o que denota claramente que características interpessoais são consideradas fatores mais importantes no desenvolvimento das atividades que o conhecimento em si (Tabela 5). Tabela 5. Classificação de importância das características interpessoais para desenvolvimento das atividades relacionadas às irmanações. Características Interpessoais Indispensável Classificação Interessante Inútil Número de Respondentes 35% (6) 0% (0) 17 12% (2) 0% (0) 16 11% (2) 0% (0) 17 35% (6) 0% (0) 17 41% (7) 0% (0) 17 47% (8) 0% (0) 17 35% (6) 18% (3) 41% (7) 17% (3) 17% (3) 0% (0) 0% (0) 0% (0) 0% (0) 0% (0) 17 16 17 17 17 31% (5) 0% (0) 16 18% (3) 17% (3) 0% (0) 0% (0) 16 17 35% (6) 0% (0) 17 Boa capacidade de comunicação 64% (11) escrita Boa capacidade de comunicação 87% (14) verbal Busca constante por 88% (15) aperfeiçoamento Capacidade de análise e 64% (11) interpretação Capacidade de gerenciar 58% (10) processos e pessoas Capacidade de negociar e de 52% (9) mediar conflitos Comprometimento com a causa 64% (11) Formação geral e humanística 81% (13) Iniciativa 58% (10) Liderança 82% (14) Paciência 82% (14) Polivalência (capacidade de desempenhar as mais variadas 68% (11) atividades) Postura reflexiva crítica 81% (13) Responsabilidade 82% (14) Sensibilidade cultural 64% (11) (capacidade de conviver com diferenças culturais) Fonte: Dados da Pesquisa – Elaboração Própria. Quanto à língua utilizada para tornar a comunicação entre as cidades irmãs possível, notase uma predominância do inglês e do português. A predominância do inglês como língua de comunicação é um dado interessante, pois nem todos os respondentes que a assinalaram como língua de comunicação têm relações com cidades de países prioritariamente anglófonos. Tal dado remete à afirmação de Forattini (1997) de que a língua inglesa é a língua franca da comunicação internacional, portanto, utilizada mesmo em relações entre países não-anglófonos. É necessário ressaltar que a grande incidência do português como língua de comunicação entre os indivíduos envolvidos no processo se deve ao fato de que várias das cidades pesquisadas possuem relações de irmanação com cidades lusófonas. No entanto, nem todos os indivíduos que mencionaram o português como língua utilizada nas comunicações atuam junto a cidades de língua portuguesa. Este dado indica a provável existência de profissionais que dominam o idioma português como língua estrangeira nas prefeituras das cidades irmãs, ou que serviços terceirizados de tradução são requeridos. A Tabela 6 relaciona as línguas mencionadas e a porcentagem de respondentes que as indicaram. Tabela 6. Línguas utilizadas para comunicação com as cidades-irmãs. Línguas Português Inglês Japonês Espanhol Alemão Italiano Francês Tcheco Polonês Fonte: Dados da Pesquisa – Elaboração Própria. Porcentagem 23.08% 23.08% 12.82% 10.26% 10.26% 10.26% 5.13% 2.56% 2.56% Alguns dos respondentes mencionaram uso da língua inglesa além da língua mãe da cidade irmã, atestando mais uma vez a afirmação de Forattini (1997) e denotando a necessidade de recorrência ao inglês. Tal fato se deve provavelmente ao fato de que nem todas as prefeituras contam com colaboradores que sejam fluentes nas línguas maternas das cidades-irmãs, recorrendo por vezes à tradução, conforme mencionado ao perguntar quais atividades relacionadas às irmanações eram normalmente terceirizadas. A maioria dos respondentes (58,82%) informou que existe terceirização de diversas atividades relacionadas aos processos de irmanação. Deste grupo, 41,18% dos respondentes mencionaram a tradução como atividade geralmente terceirizada. Crê-se impossível que todos os mínimos contatos com a cidade irmã sejam repassados a tradutores, e supõe-se que no caso de comunicação mais corriqueira ou menos oficial haja a recorrência à língua inglesa percebida nos dados. Além da tradução, há menção de cerimonial como atividade normalmente terceirizada. Tal dado é uma das possíveis explicações para a classificação dos conhecimentos de cerimonial e protocolo como interessantes, ao invés de indispensáveis. Os respondentes que o classificaram como interessantes acreditam que tal conhecimento não seja indispensável devido à possibilidade de terceirizá-lo. A Tabela 7 mostra uma relação completa das atividades realizadas por terceiros. Tabela 7. Serviços relacionados à irmanação de cidades geralmente terceirizados pelas prefeituras. Serviço Número de Ocorrências Tradução e/ou Interpretação 7 (41,18%) Cerimonial 4 (23,53%) Gastronomia 2 (11,76%) Fonte: Dados da Pesquisa – Elaboração Própria A terceirização considerável dos serviços de tradução e de cerimonial denota, além da sua necessidade, a falta de profissionais capacitados para executá-los dentro de algumas das prefeituras. Enquanto 70% (11) dos respondentes trabalham em grupo nas atividades relacionadas às irmanações, 30% (6) dos respondentes se ocupam sozinhos dos assuntos que a elas se referem, o que exige um grande rol de conhecimentos e dedicação por parte deles, remetendo ao conceito de multifuncionalidade ensinado por Breunig (s.d.), que seria a capacidade de atuar em diversas áreas de modo a suprir carências. Os profissionais respondentes foram convidados a apontar as dificuldades apresentadas na manutenção das relações entre suas cidades e as cidades-irmãs no exterior, limitando-se às cinco dificuldades mais evidentes. A Tabela 8 mostra as dificuldades mais apontadas pelos participantes. Tabela 8. Dificuldades na manutenção das relações entre as cidades-irmãs. Problemas Apontados Falta de Verbas Mudança no representante do Poder Executivo Falta de Intelectualidade do Poder Executivo Desinteresse da Comunidade Distância entre as cidades-irmãs Idioma Falta de Motivações/Interesses comuns entre as cidades-irmãs Falta de Metas Estabelecidas Falta de Pessoal Falta de Sistematicidade nos Contatos Fonte: Dados da Pesquisa – Elaboração Própria. Número de Ocorrências 8 6 4 3 3 3 2 2 2 1 As dificuldades apontadas por si só explicam por que tantas irmanações se perdem ao longo do tempo, como se percebeu ao se tentar levantar cidades brasileiras que praticam tais intercâmbios. Dos problemas mencionados, alguns são característicos da administração pública em geral, como a falta de verbas, falta de pessoal e a mudança de representante do Poder Executivo. A falta de intelectualidade do Poder Executivo também não é um dado surpreendente, já que nem todos os representantes eleitos possuem formação desejável. Outras dificuldades, no entanto, podem ser atribuídas ao surgimento obscuro das irmanações, sem objetivos claros e por vezes motivados apenas pela simpatia do prefeito instaurador pela cidade escolhida como cidadeirmã, sem motivações mais profundas. Exemplos destas dificuldades são as faltas de metas estabelecidas, falta de interesses comuns entre as cidades-irmãs e a falta de sistematicidade nos contatos, pouco motivados quando não existem interesses comuns. O desinteresse da comunidade pelas irmanações pode ser explicado pelo fato de que a comunidade não vê nas irmanações a objetividade necessária, nem identifica seus benefícios, muitas vezes indiretos. A distância entre as cidades-irmãs é um problema já esperado em casos de irmanações entre continentes diferentes, como já mencionava Ribeiro (2007), problema este que seria minimizado com maior atribuição de verbas para despesas de viagens. A diferença de idioma poderia ser superada se todas as prefeituras contassem com profissionais que dominassem o idioma de contato. Ao serem indagados sobre a sistematicidade das relações entre as cidades-irmãs, percebeu-se que nem todas as cidades mantêm contato contínuo com suas respectivas cidadesirmãs, como demonstrado no Gráfico 4. &ƌĞƋƵġŶĐŝĂĚĂƐĂƚŝǀŝĚĂĚĞƐ ϲй Ϯϵй ^ĞŵĂŶĂůŵĞŶƚĞ DĞŶƐĂůŵĞŶƚĞ ŝŵĞƐƚƌĂůŵĞŶƚĞ ^ĞŵĞƐƚƌĂůŵĞŶƚĞ ŶƵĂůŵĞŶƚĞ ZĂƌĂŵĞŶƚĞ ϰϭй ϲй ϲй ϭϮй Gráfico 4. Freqüência de acontecimento de atividades relacionadas às irmanações. Fonte: Dados da Pesquisa – Elaboração Própria. Embora a maioria dos respondentes (41,18%) afirme manter contato semanal com as cidades irmãs, o segundo maior grupo mantém relações anuais com suas cidades irmãs. e 11,76% mantêm relações mensais, enquanto contatos semestrais, bimestrais e raros (menos de uma vez por ano) são feitos por 5,88% dos respondentes, respectivamente. O levantamento de tal dado leva a mais uma explicação para a alta mortalidade das irmanações, que acabam caindo no esquecimento com o passar do tempo e com a mudança dos representantes do poder executivo municipal. O questionário pediu um breve resumo das atividades desenvolvidas pelos indivíduos pesquisados que estavam relacionadas aos processos de irmanação. Os dados obtidos por esta pergunta não foram cem por cento satisfatórios, pois três dos respondentes (17,65%) informaram dados históricos das atividades entre as cidades-irmãs, retornando dados alheios aos objetivos deste trabalho. Tais dados foram, portanto, ignorados. Tal falha traz à tona uma das desvantagens da aplicação do questionário apontadas por Marconi e Lakatos (2006): a impossibilidade de ajudar o respondente em questões mal compreendidas. Assim, apenas 82,35% dos dados retornados foram considerados válidos e são mostrados na Tabela 9. Tabela 9. Tipos de atividades desenvolvidas relacionadas às irmanações entre cidades. Atividade Ciceroneamento Organização de eventos Contatos com a prefeitura das cidades-irmãs Elaboração de Correspondências Tradução/Interpretação Representação da Cidade-irmã brasileira nas visitas ao exterior Redação de atas em reuniões referentes ao convênio Coordenação de Projetos Negociações com Investidores Estrangeiros Fonte: Dados da Pesquisa – Elaboração Própria Número de Menções 9 7 5 4 2 1 1 1 1 Uma vez levantado o perfil do profissional atuante nas relações de irmanação, será feita uma comparação com o perfil levantado e aquele do profissional em Secretariado Executivo, para detectar uma possível atuação deste último nas atividades relacionadas às irmanações. 5.1. Comparação de Perfis: Perfil Levantado X Perfil do Secretário Executivo A pesquisa mostrou que a maioria dos profissionais envolvidos nos processos de irmanação possui formação superior, sendo este o primeiro ponto em comum do perfil levantado com o perfil do Profissional em Secretariado Executivo. A Lei regularizadora da profissão de Secretário Executivo considera Secretários Executivos todos os indivíduos com formação superior em Secretariado Executivo ou em quaisquer outros cursos superiores desde que com 36 meses de experiência comprovada na área. A lista de conhecimentos disponibilizada no questionário para classificação, segundo sua aplicação nas atividades relacionadas às irmanações, foi confeccionada a partir de uma adaptação da lista de conhecimentos indispensáveis ao Secretário Executivo, elaborada por Sales et al. (2004, p. 10). Desta lista, os itens língua portuguesa, língua inglesa e língua espanhola foram substituídos pelo item língua estrangeira, dando-se abertura ao respondente para acrescentar itens considerados interessantes ou indispensáveis a seu trabalho. A lista de conhecimentos disponibilizada no questionário teve 90,90% de seus itens classificados como “interessantes” para a execução das atividades relacionadas à irmanação, enquanto os itens restantes, 9,09%, foram classificados como “indispensáveis”, apontando características comuns ao Secretário Executivo e ao perfil profissional levantado. Novos itens que surgiram da interveniência dos respondentes que acrescentaram conhecimentos considerados importantes para suas funções, que foram cultura geral do país da cidade-irmã, história, relações internacionais e turismo. A lista de características interpessoais consideradas necessárias para desenvolvimento das atividades relacionadas às irmanações foi elaborada a partir de afirmações de diversos autores sobre características indispensáveis ao profissional em Secretariado Executivo. Todos os itens foram classificados com unanimidade como “indispensáveis” pelos respondentes, o que demonstra mais uma vez a semelhança de perfis, mais perceptível no caso de características interpessoais que no de conhecimentos. A boa capacidade de comunicação escrita e verbal remete à afirmação de Alonso (2002) e Sabino e Rocha (2004) sobre a importância da boa comunicação para o profissional em Secretariado Executivo. Sabino e Rocha (2004) apontam ainda a busca constante por aperfeiçoamento, a capacidade de negociação, a liderança e a responsabilidade. Costa e Azevedo (2002) foram os autores que mencionaram o espírito de liderança e as próprias Diretrizes Curriculares do Curso consideram indispensável desenvolver no aluno de Secretariado Executivo a capacidade de análise e interpretação, a capacidade de gerenciar processos e pessoas e a postura reflexiva crítica. Outras características adicionadas às opções e não apontadas previamente por nenhum autor na área de Secretariado Executivo foram o comprometimento com a causa, considerada cabível pelo fato de os profissionais envolvidos nas atividades das irmanações não serem contratados para tal fim e a sensibilidade cultural, que aqui se refere à capacidade de conviver com diferenças culturais. A unanimidade das respostas reforça a importância de todas essas características no trabalho dos respondentes. Breunig (s.d.) define a multifuncionalidade, característica altamente desejável ao profissional em Secretariado Executivo, como a capacidade de atuar em diversas áreas e suprir carências numa organização. Considerando a definição de Breunig (s.d.), pode-se atribuir à multifuncionalidade uma característica dos servidores cujo perfil foi levantado, já que eles trabalham executando as tarefas relacionadas às irmanações para suprir as necessidades neste âmbito, não sendo esta sua única função na prefeitura. A tradução e os conhecimentos protocolares, duas das atividades normalmente terceirizadas pelas prefeituras de cidades que possuem acordos de irmanação, constituem atribuições do profissional em Secretariado Executivo, segundo a lei brasileira de regulamentação da profissão. A terceirização destas atividades em algumas prefeituras demonstra que há nelas uma falta de profissionais capacitados para tais atividades, reforçando mais uma vez a possibilidade do uso dos conhecimentos do profissional em Secretariado Executivo para agregar valor às relações de irmanação. Dotado da maioria dos conhecimentos e características interpessoais necessárias aos desempenhos das atividades relacionadas às irmanações, o Secretário Executivo tem plenas condições de exercer a posição de mediador de contatos entre cidades-irmãs. 6. CONCLUSÃO O presente trabalho partiu da formulação de um objetivo geral e dois objetivos específicos. O objetivo geral compreendia a verificação da possibilidade de atuação do Secretário Executivo como facilitador das relações entre cidades brasileiras e internacionais que possuem acordos de irmanação. Para tanto, fazia-se necessário o cumprimento de dois objetivos específicos: levantar o perfil dos profissionais envolvidos nas atividades relacionadas às irmanações entre cidades para então compará-lo com o perfil do profissional em Secretariado Executivo. Ambos os objetivos específicos foram plenamente cumpridos pela análise dos dados obtidos junto aos profissionais envolvidos nas informações e sua comparação com a teoria sobre o perfil do Secretariado Executivo. O estado da arte mostrou que nenhum trabalho prévio se interessou pelo perfil dos profissionais atuantes nas relações entre cidades-irmãs, talvez pelo fato de a inserção internacional de entes não centrais (paradiplomacia) ainda ser um tema recente e incipiente, com diversas facetas ainda não abordadas em trabalhos científicos. No entanto, o crescimento do interesse acadêmico pela paradiplomacia é claramente visível e espera-se, por conseguinte, que tais facetas sejam cada vez mais exploradas. Notou-se durante o desenvolvimento da pesquisa que a cultura de irmanações no Brasil está ainda muito longe de ser tão valorizada quanto na Europa, continente berço deste fenômeno. A taxa de natalidade de irmanações é pequena, e a taxa de mortalidade das irmanações que chegam a ocorrer é grande, devido possivelmente ao desconhecimento quanto aos benefícios que podem trazer aos envolvidos. Apesar disso, identificaram-se casos em que as irmanações sobreviveram e deram certo. Nestes casos notou-se uma grande dedicação à causa por parte dos servidores envolvidos nos contatos, o que leva a crer ser esta dedicação um dos diferenciais para a sobrevivência e o sucesso das irmanações. Aprendeu-se, durante o levantamento de dados para esta pesquisa, que nem sempre os indivíduos encarregados da manutenção das irmanações estão diretamente ligados às prefeituras. Conheceram-se casos de pessoas à frente de associações culturais, universidades e mesmo empresas privadas que representam suas cidades junto às cidades-irmãs. Estas pessoas não representaram objetos de estudo deste trabalho, que se propunha a traçar o perfil de funcionários da administração pública que se envolviam nas relações entre cidades-irmãs. A identificação destes profissionais auxiliou, no entanto, a compreender um pouco melhor o universo das relações entre cidades-irmãs e suas particularidades de caso para caso. Os profissionais identificados na manutenção dos relacionamentos entre as cidades-irmãs, além de uma grande boa-vontade em contribuir com a literatura acadêmica na área de paradiplomacia do Brasil, apresentaram perfil bastante semelhante ao do profissional em Secretariado Executivo, tanto nas qualificações técnicas quanto nas características interpessoais, delimitando o espaço de atuação destes profissionais como possível campo de atuação para o Secretário Executivo. A constatação desta semelhança nos leva a concluir que a atuação do Secretariado Executivo junto às irmanações é plenamente possível, alcançando, assim, o objetivo geral desta pesquisa. É importante ressaltar que a possível atuação de um Secretariado Executivo nos contatos entre cidades-irmãs não representa a geração de um novo campo de trabalho para este profissional, já que as atividades relacionadas às irmanações geralmente são apenas atribuições de profissionais locados em outras funções dentro da prefeitura. Não havia em nenhum dos casos observados cargos específicos para cuidar das relações entre cidades-irmãs. A paradiplomacia e as diversas formas como ela ocorre é um tema amplo e ainda pouco explorado pela literatura acadêmica. A irmanação entre cidades de países diferentes, mais especificamente, merece bastante atenção por ser a forma mais tradicional de paradiplomacia, e mesmo assim ainda um fenômeno pouco explorado no Brasil. Uma pesquisa que analisasse mais profundamente as causas pelas quais estas irmanações acontecem e por que elas muitas vezes se perdem ao longo do tempo se faz necessária. Os profissionais por trás da manutenção das irmanações “sobreviventes” são provavelmente a chave para seu sucesso, e pesquisas mais aprofundadas que os focasse seriam positivas. Estudos de casos sobre as irmanações de mais longa data são especialmente necessários, pois forneceriam às cidades que agora se lançam ou pretendem se lançar ao mundo da paradiplomacia informações que a teoria existente sobre o tema não aborda e, portanto, não seria capaz de oferecer. Outra lacuna interessante para futuras pesquisas seria a investigação da possível necessidade e viabilidade de contratação de servidores que se dedicassem exclusivamente às atividades relacionadas à irmanação, pois a existência de alguém inteiramente concentrado nos contatos entre as cidades irmãs certamente estaria especialmente motivado a levá-los em frente, impedindo que as irmanações caíssem no esquecimento. As irmanações que ocorrem entre municípios do mesmo país também caracterizam um interessante tema para pesquisas, pois estas, apesar de não inserirem no rol das ferramentas paradiplomáticas, constituem uma interessante forma de cooperação. Para conclusão deste trabalho, considera-se oportuna uma retomada à epígrafe que deu abertura ao mesmo e que resume oportunamente o significado da paradiplomacia. De autoria de Philip Blair, a frase em questão se trata de um argumento rebatendo a famosa metáfora dita em meados do século XX pelo jurista internacional Ernst Wolgast. Wolgast afirmava ser o Estado uma casa de apenas uma porta no que dizia respeito à atividade internacional, referindo-se ao fato de que o direito interno da maioria dos países prevê que apenas o Estado Soberano pode se obrigar internacionalmente. Já em 1991, ano da autoria do rebate de Blair, a afirmação de Wolgast se tornara ultrapassada, devido às manifestações internacionais de entes subnacionais que vinham se intensificando desde a década anterior. A esta inserção internacional dos entes não centrais, Blair chamou de “pular as janelas”, numa metáfora cada dia mais atual. Enquanto os juristas concentram seus esforços na construção de portas secundárias de acesso “à casa”, governos locais e regionais buscam integração com o resto do mundo, ganhando cada vez mais destaque no cenário internacional. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALONSO, Maria Ester Cambréa. A arte de assessorar executivos. São Paulo: Pulsar, 2002. AZEVEDO, Ivanize; COSTA, Sylvia Ignácio da. 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APÊNDICE 9.1. Questionário Universidade Federal de Viçosa Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes Pesquisa - Perfil do Profissional atuante nas irmanações de cidades Atenção! Questões marcadas com um * (asterisco) são de preenchimento indispensável. Este questionário tem por objetivo traçar o perfil dos profissionais envolvidos nos processos de irmanação de municípios brasileiros, de pequeno e médio portes, com municípios no exterior. Ao responder as questões sobre habilidades profissionais e pessoais, favor ater-se às atividades relacionadas aos intercâmbios de irmanação e não ao seu trabalho na prefeitura como um todo. Os objetivos desta pesquisa são estritamente acadêmicos e os participantes não serão sob hipótese alguma identificados. Os resultados serão repassados aos participantes assim que tabulados. Pede-se encarecidamente repassar o e-mail com este link a outras pessoas que estejam envolvidas nas atividades relacionadas à(s) irmanação(ões) em sua prefeitura. Quanto mais dados, maior a confiabilidade de uma pesquisa . Grata, Ianne Zavarise/ UFV. 1. Por favor, informe: * Seu município: Cidade(s)-irmã(s) de seu município: Cidade(s) com A(s) qual(is) você atua diretamente: 2. Nomeie seu cargo na prefeitura em que trabalha. * 3. Há quanto tempo está neste cargo? * 4. Há quanto tempo está envolvido nas atividades relacionadas à(s) irmanação(ões)? * ( ) de 0 a 1 ano ( ) de 1 a 3 anos ( ) de 3 a 5 anos ( ) de 1 a 10 anos ( ) mais de 10 anos 5. Indique seu grau de escolaridade. * ( ) Ensino Fundamental ( ) Ensino Médio ( ) Superior Incompleto (Indicar formação na próxima questão) ( ) Superior Completo (Indicar formação na próxima questão) ( ) Pós-Graduação (Indicar título(s) na próxima questão) 6. Indique sua formação acadêmica e titulação. * 7. Faça um breve resumo das atividades que você desenvolve e que estão relacionadas ao(s) processo(s) de irmanação. * 8. Com que regularidade acontecem os contatos, eventos e intercâmbios com a cidade irmã de seu município? * ( ) Semanalmente, sempre tenho algo a tratar sobre esse assunto. ( ) Mensalmente. ( ) Bimestralmente ( ) Semestralmente ( ) Anualmente ( ) Raramente 9. Quantas pessoas além de você estão envolvidas nas atividades relacionadas à(s) irmanação(ões)? (Desconsiderar Prefeito). * 10. Das atividades relacionadas ao(s) processo(s) de irmanação, existe(m) alguma(s) que normalmente é (são ) terceirizada(s)? (Ex.: Cerimonial, Tradução/Interpretação etc.) ( ) Não ( ) Sim. Quais? 11. Você exerce outras atividades na prefeitura além daquelas relacionadas à(s) irmanação(ões)? * ( ) Não. ( ) Sim. Favor citar as atividades. 12. Em que língua acontecem os contatos que você realiza com a(s) cidade(s)-irmã(s) no exterior? * ( ) Português ( ) Inglês ( ) Espanhol ( ) Alemão ( ) Italiano ( ) Francês ( ) Japonês ( ) Outra(s). Qual(is)? 13. Quais são as principais dificuldades, no seu entender, para a manutenção do relacionamento entre o seu Município e a(s) sua(s) cidade(s)-irmã(s)? Cite, no máximo, cinco dificuldades. 1. 2. 3. 4. 5. 14. Como você classifica esses conhecimentos quanto à importância nas atividades que você desenvolve com a(s) cidade(s)-irmã(s) de seu Município? (Marque um x no campo correspondente) Indispensável Interessante Finanças e Mercado Técnicas Secretariais Inútil Marketing Métodos e Técnicas de Pesquisa Língua Estrangeira Relações Públicas Contabilidade e Gestão de Custos Arquivística Informática Estatística Ciência da Religião Protocolo Cerimonial e Administração de Recursos Humanos Matemática Financeira Geografia política e econômica Gestão Executiva e Planejamento Estratégico Psicologia Aplicada Redação Técnica Instituições do Direito Público e/ou Privado Sociologia Filosofia Teoria Geral Administração da 15. Existe(m) outro(s) conhecimento(s) que você acrescentaria como indispensável ou interessante à lista anterior? Favor classificar como indispensável ou interessante. 16. Classifique as seguintes características interpessoais quanto à sua importância em suas atividades. Indispensável Interessante Capacidade de gerenciar processos e pessoas Responsabilidade Iniciativa Liderança Formação geral e humanística Postura crítica reflexiva Busca constante por aperfeiçoamento Inútil Boa capacidade de comunicação escrita Comprometimento com a causa Paciência Boa capacidade de comunicação verbal Capacidade de negociar e mediar conflitos Polivalência (capacidade de desempenhar as mais variadas atividades) Sensibilidade cultural (capacidade de conviver com as diferenças culturais) Capacidade análise interpretação de e 17. Existe(m) outra(s) característica(s) que você acrescentaria como indispensável ou interessante à lista anterior? Favor classificar como indispensável ou interessante. MUITO OBRIGADA POR SUA PARTICIPAÇÃO! 10. ANEXOS 10.1. - Lei nº 7.377, de 30 de setembro de 1985 Dispõe sobre o exercício da profissão de Secretário e dá outras providências (Alterada pela LEI Nº 9.261, de 10.01.96, á inserida no texto) O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1º - O exercício da profissão de Secretário é regulado pela presente Lei. Art. 2º - Para os efeitos desta Lei, é considerado: I - Secretário Executivo: a) o profissional diplomado no Brasil por curso superior de Secretariado, legalmente reconhecido, ou diplomado no exterior por curso superior de Secretariado, cujo diploma seja revalidado na forma da lei; (Redação da LEI Nº 9.261, DE 10 DE JANEIRO DE 1996) b) portador de qualquer diploma de nível superior que, na data de início de vigência desta Lei, houver comprovado, através de declarações de empregadores, o exercício efetivo, durante pelo menos trinta e seis meses, das atribuições mencionadas no art. 4º desta Lei;(Redação da LEI Nº 9.261, DE 10 DE JANEIRO DE 1996) II - Técnico em Secretariado: a) o profissional portador de certificado de conclusão de curso de Secretariado, em nível de 2º grau;(Redação da LEI Nº 9.261, DE 10 DE JANEIRO DE 1996) b) o portador de certificado de conclusão do 2º grau que, na data da vigência desta Lei, houver comprovado, através de declaração de empregadores, o exercício efetivo, durante pelo menos trinta e seis meses, das atribuições mencionadas no art. 5º desta Lei.(Redação da LEI Nº 9.261, DE 10 DE JANEIRO DE 1996) (Redação anterior) - I - Secretário Executivo o profissional diplomado no Brasil por curso superior de Secretariado, reconhecido na forma da Lei, ou diplomado no exterior por curso superior de secretariado, cujo diploma seja revalidado no Brasil, na forma da Lei; II - Técnico em Secretariado o profissional portador de certificado de conclusão de curso de secretariado, em nível de 2º grau. Art. 3º É assegurado o direito ao exercício da profissão aos que, embora não habilitados nos termos do artigo anterior, contem pelo menos cinco anos ininterrupto ou dez anos intercalados de exercício de atividades próprias de secretaria, na data da vigência desta Lei.(Redação da LEI Nº 9.261, DE 10 DE JANEIRO DE 1996) (Redação anterior) - Art. 3º - Fica assegurado o direito ao exercício da profissão aos que, embora não habilitados nos termos do artigo anterior, contem, pelos menos, 5 (cinco) anos ininterruptos, ou 10 (dez) intercalados, de exercício em atividades próprias de secretaria, na data de início de vigência desta Lei, e sejam portadores de diplomas ou certificados de alguma graduação de nível superior ou de nível médio. Art. 4º - São atribuições do Secretário Executivo: I - planejamento, organização e direção de serviços de secretaria; II - assistência e assessoramento direto a executivos; III - coleta de informações para a consecução de objetivos e metas de empresas; IV - redação de textos profissionais especializados, inclusive em idioma estrangeiro; V - interpretação e sintetização de textos e documentos; VI - (VETADO) - (Redação da LEI Nº 9.261, DE 10 DE JANEIRO DE 1996) (Redação anterior) VI - taquigrafia de ditados, discursos, conferências, palestras de explanações, inclusive em idioma estrangeiro; VII - versão e tradução em idioma estrangeiro, para atender às necessidades de comunicação da empresa; VIII - registro e distribuição de expedientes e outras tarefas correlatas; IX - orientação da avaliação e seleção da correspondência para fins de encaminhamento à chefia; X - conhecimentos protocolares. Art. 5º - São atribuições do Técnico em Secretariado; I - organização e manutenção dos arquivos de secretaria; II - classificação, registro e distribuição da correspondência; III - redação e datilografia de correspondência ou documentos de rotina, inclusive em idioma estrangeiro; IV - execução de serviços típicos de escritório, tais como recepção, registro de compromissos, informações e atendimento telefônico. Art. 6º - O exercício da profissão de Secretário requer prévio registro na Delegacia Regional do Trabalho do Ministério do Trabalho e far-se-á mediante a apresentação de documento comprobatório de conclusão dos cursos previstos nos incisos I e II do art. 2º desta Lei e da Carteira de Trabalho e Previdência Social - CTPS. Parágrafo único. No caso dos profissionais incluídos no art. 3º, a prova da atuação será feita por meio de anotações na Carteira de Trabalho e Previdência Social e através de declarações das empresas nas quais os profissionais tenham desenvolvido suas respectivas atividades discriminando as atribuições a serem confrontadas com os elencos especificados nos art. 4º e 5º."(Redação da LEI Nº 9.261, DE 10 DE JANEIRO DE 1996) (Redação anterior) - Parágrafo único - No caso dos profissionais incluídos no art. 3º desta Lei, a prova de atuação será feita por meio das anotações da Carteira de Trabalho e Previdência Social ou por qualquer outro meio permitido em Direito. Art. 7º - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Art. 8º - Revogam-se as disposições em contrário. Brasília, em 30 de setembro de 1985;164º da Independência e 97º da República. JOSÉ SARNEY\ Almir Pazzianoto 10.2. - Resolução nº 3, de 23 de junho de 2005 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO CÂMARA DE EDUCAÇÃO SUPERIOR RESOLUÇÃO Nº 3, DE 23 DE JUNHO DE 2005 (*) (**) (***) Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de graduação em Secretariado Executivo e dá outras providências. O Presidente da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação, no uso de suas atribuições legais, com fundamento no art. 9º, § 2º, alínea “c”, da Lei nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961, com a redação dada pela Lei nº 9.131, de 25 de novembro de 1995, tendo em vista as diretrizes e os princípios fixados pelos Pareceres CES/CNE 776/97 e 583/2001 e considerando o que consta dos Pareceres CES/CNE 67/2003 e 102/2004, homologados pelo Senhor Ministro de Estado da Educação, respectivamente, em 2/6/2003 e 12/4/2004, resolve: Art. 1º A presente resolução institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de graduação em Secretariado Executivo, bacharelado, a serem observadas pelas Instituições de Ensino Superior em sua organização curricular. Art. 2º A organização do curso de graduação em Secretariado Executivo, observadas as Diretrizes Curriculares Nacionais e os pareceres desta Câmara, indicará claramente os componentes curriculares, abrangendo o perfil do formando, as competências e habilidades, os conteúdos curriculares e a duração do curso, o regime de oferta, as atividades complementares, o sistema de avaliação, o estágio curricular supervisionado e o trabalho de curso ou de graduação, ambos como componentes opcionais da instituição, sem prejuízo de outros aspectos que tornem consistente o projeto pedagógico. § 1º O projeto pedagógico do curso, além da clara concepção do curso de graduação em Secretariado Executivo, com suas peculiaridades, seu currículo pleno e sua operacionalização, abrangerá, sem prejuízo de outros, os seguintes elementos estruturais: ______________________________________________________________________________ (*) Resolução CNE/CES 3/2005. Diário Oficial da União, Brasília, 27 de junho de 2005, Seção 1, p. 79 (**) Republicada no Diário Oficial da União, Brasília, 4 de julho de 2005, Seção 1, p. 20 (***) RETIFICAÇÃO Resolução CNE/CES 3/2005. Diário Oficial da União, Brasília, 14 de julho de 2005, Seção 1, p. 22: Na RESOLUÇÃO CNE/CES 3, DE 23 DE JUNHO DE 2005, republicada no Diário Oficial da União de 4/7/2005, Seção 1, página 20, “onde se lê: “(*) Republicada por ter saído no DOU de 10/6/2005, Seção 1, página 38, com incorreção no original.”, leia-se: “(*) Republicada por ter saído no DOU de 27/6/2005, Seção I, página 79, com incorreção no original.” I - objetivos gerais do curso, contextualizados em relação às suas inserções institucional, política, geográfica e social; II - condições objetivas de oferta e a vocação do curso; III - cargas horárias das atividades didáticas e da integralização do curso; IV - formas de realização da interdisciplinaridade; V - modos de integração entre teoria e prática; VI - formas de avaliação do ensino e da aprendizagem; VII - modos da integração entre graduação e pós-graduação, quando houver; VIII - incentivo à pesquisa, como necessário prolongamento da atividade de ensino e como instrumento para a iniciação científica; IX - concepção e composição das atividades de estágio curricular supervisionado, suas diferentes formas e condições de realização, observado o respectivo regulamento; X - concepção e composição das atividades complementares. § 2º Os projetos pedagógicos do curso de graduação em Secretariado Executivo poderão admitir linhas de formação específicas, nas diversas areas relacionadas com atividades gerenciais, de assessoramento, de empreendedorismo e de consultoria, contidas no exercício das funções de Secretário Executivo, para melhor atender às necessidades do perfil profissiográfico que o mercado ou a região exigirem. Art. 3º O curso de graduação em Secretariado Executivo deve ensejar, como perfil desejado do formando, capacitação e aptidão para compreender as questões que envolvam sólidos domínios científicos, acadêmicos, tecnológicos e estratégicos, específicos de seu campo de atuação, assegurando eficaz desempenho de múltiplas funções de acordo com as especificidades de cada organização, gerenciando com sensibilidade, competência e discrição o fluxo de informações e comunicações internas e externas. Parágrafo único. O bacharel em Secretariado Executivo deve apresentar sólida formação geral e humanística, com capacidade de análise, interpretação e articulação de conceitos e realidades inerentes à administração pública e privada, ser apto para o domínio em outros ramos do saber, desenvolvendo postura reflexiva e crítica que fomente a capacidade de gerir e administrar processos e pessoas, com observância dos níveis graduais de tomada de decisão, bem como capaz para atuar nos níveis de comportamento microorganizacional, mesoorganizacional e macroorganizacional. Art. 4º O curso de graduação em Secretariado Executivo deve possibilitar a formação profissional que revele, pelo menos, as seguintes competências e habilidades: I - capacidade de articulação de acordo com os níveis de competências fixadas pelas organizações; II - visão generalista da organização e das peculiares relações hierárquicas e inter-setoriais; III - exercício de funções gerenciais, com sólido domínio sobre planejamento, organização, controle e direção; IV - utilização do raciocínio lógico, critico e analítico, operando com valores e estabelecendo relações formais e causais entre fenômenos e situações organizacionais; V - habilidade de lidar com modelos inovadores de gestão; VI - domínio dos recursos de expressão e de comunicação compatíveis com o exercício profissional, inclusive nos processos de negociação e nas comunicações interpessoais ou intergrupais; VII - receptividade e liderança para o trabalho em equipe, na busca da sinergia; VIII - adoção de meios alternativos relacionados com a melhoria da qualidade e da produtividade dos serviços, identificando necessidades e equacionando soluções; IX - gerenciamento de informações, assegurando uniformidade e referencial para diferentes usuários; X - gestão e assessoria administrativa com base em objetivos e metas departamentais e empresariais; XI - capacidade de maximização e otimização dos recursos tecnológicos; XII - eficaz utilização de técnicas secretariais, com renovadas tecnologias, imprimindo segurança, credibilidade e fidelidade no fluxo de informações; e XIII - iniciativa, criatividade, determinação, vontade de aprender, abertura às mudanças, consciência das implicações e responsabilidades éticas do seu exercício profissional. Art. 5º Os cursos de graduação em Secretariado Executivo deverão contemplar, em seus projetos pedagógicos e em sua organização curricular, os seguintes campos interligados de formação: I - Conteúdos básicos: estudos relacionados com as ciências sociais, com as ciências jurídicas, com as ciências econômicas e com as ciências da comunicação e da informação; II - Conteúdos específicos: estudos das técnicas secretariais, da gestão secretarial, da administração e planejamento estratégico nas organizações públicas e privadas, de organização e métodos, de psicologia empresarial, de ética geral e profissional, além do domínio de, pelo menos, uma língua estrangeira e do aprofundamento da lingual nacional; III - Conteúdos teórico-práticos: laboratórios informatizados, com as diversas interligações em rede, estágio curricular supervisionado e atividades complementares, especialmente a abordagem teórico-prática dos sistemas de comunicação, com ênfase em softwares e aplicativos. Art. 6º A organização curricular do curso de graduação em Secretariado Executivo estabelecerá expressamente as condições para a sua efetiva conclusão e integralização curricular, de acordo com os seguintes regimes acadêmicos que as instituições de ensino superior adotarem: regime seriado anual; regime seriado semestral; sistema de créditos com matrícula por disciplina ou por módulos acadêmicos, observada a pré-requisitação, que vier a ser estabelecida no currículo, atendido o disposto nesta resolução. Art. 7º O estágio supervisionado é um componente curricular obrigatório, indispensável à consolidação dos desempenhos profissionais desejados inerentes ao perfil do formando, devendo cada instituição, por seu colegiado superior acadêmico, aprovar o correspondente regulamento, com suas diferentes modalidades de operacionalização. § 1º O estágio de que trata este artigo poderá ser realizado na própria instituição, mediante laboratórios que congreguem as diversas ordens práticas correspondentes às diferentes concepções das funções e técnicas secretariais. § 2º As atividades de estágio poderão ser reprogramadas e reorientadas de acordo com os resultados teórico-práticos gradualmente revelados pelo aluno, até que os responsáveis pelo acompanhamento, supervisão e avaliação do estágio curricular possam considerá-lo concluído, resguardando, como padrão de qualidade, os domínios indispensáveis ao exercício da profissão. § 3º O regulamento do estágio de que trata este artigo, aprovada pelo seu colegiado superior acadêmico, conterá, obrigatoriamente, critérios, procedimentos e mecanismos de avaliação, observado o disposto no parágrafo precedente. Art. 8º As atividades complementares são componentes curriculares que possibilitam o reconhecimento, por avaliação, de habilidades, conhecimentos e competências do aluno, inclusive adquiridas fora do ambiente escolar, abrangendo a prática de estudos e atividades independentes, transversais, opcionais, de interdisciplinaridade, especialmente nas relações com o mundo do trabalho, com as peculiaridades das organizações e com as ações de extensão junto à comunidade. Parágrafo único. As atividades complementares se constituem componentes curriculares enriquecedores e implementadores do próprio perfil do formando, sem que se confundam com estágio curricular supervisionado. Art. 9º As instituições de ensino superior deverão adotar formas específicas e alternativas de avaliação, internas e externas, sistemáticas, envolvendo todos quantos se contenham no processo do curso, observados os aspectos considerados fundamentais para a identificação do perfil do formando. Parágrafo único. Os planos de ensino, a serem fornecidos aos alunos antes do início do período letivo, deverão conter, além dos conteúdos e das atividades, a metodologia do processo de ensino-aprendizagem, os critérios de avaliação a que serão submetidos e a bibliografia básica. Art. 10. O Trabalho de Conclusão de Curso – TCC é um componente curricular opcional da instituição que, se for adotado, poderá ser desenvolvido nas modalidades de monografia, projeto de iniciação científica ou projetos de atividades centrados em areas teórico-práticas e de formação profissional relacionadas com o curso, na forma disposta em regulamento próprio. Parágrafo único. Optando a instituição por incluir no currículo do curso de graduação em Secretariado Executivo Trabalho de Conclusão de Curso – TCC, nas modalidades referidas no caput deste artigo, deverá emitir regulamentação própria, aprovada pelo seu Conselho Superior Acadêmico, contendo, obrigatoriamente, critérios, procedimentos e mecanismos de avaliação, além das diretrizes técnicas relacionadas com a sua elaboração. Art. 11. A duração do curso de graduação em Secretariado Executivo será estabelecida em Resolução específica da Câmara de Educação Superior. Art. 12. Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário. EDSON DE OLIVEIRA NUNES Presidente da Câmara de Educação Superior 10.3. - Código de ética do profissional de Secretariado Capítulo I Dos Princípios Fundamentais Art.1º. - Considera-se Secretário ou Secretária, com direito ao exercício da profissão, a pessoa legalmente credenciada nos termos da lei em vigor. Art.2º. - O presente Código de Ética Profissional tem por objetivo fixar normas de procedimentos dos Profissionais quando no exercício de sua profissão, regulando-lhes as relações com a própria categoria, com os poderes públicos e com a sociedade. Art.3º. - Cabe ao profissional zelar pelo prestígio e responsabilidade de sua profissão, tratando-a sempre como um dos bens mais nobres, contribuindo, através do exemplo de seus atos, para elevar a categoria, obedecendo aos preceitos morais e legais. Capítulo II Dos Direitos Art.4º. - Constituem-se direitos dos Secretários e Secretárias: a) garantir e defender as atribuições estabelecidas na Lei de Regulamentação; b) participar de entidades representativas da categoria; c) participar de atividades públicas ou não, que visem defender os direitos da categoria; d) defender a integridade moral e social da profissão, denunciando às entidades da categoria qualquer tipo de alusão desmoralizadora; e) receber remuneração equiparada à dos profissionais de seu nível de escolaridade; f) ter acesso a cursos de treinamento e a outros Eventos/Cursos cuja finalidade seja o aprimoramento profissional; g) jornada de trabalho compatível com a legislação trabalhista em vigor. Capítulo III Dos Deveres Fundamentais Art.5º. - Constituem-se deveres fundamentais das Secretárias e Secretários: a) considerar a profissão como um fim para a realização profissional; b) direcionar seu comportamento profissional, sempre a bem da verdade, da moral e da ética; c) respeitar sua profissão e exercer suas atividades, sempre procurando aperfeiçoamento; d) operacionalizar e canalizar adequadamente o processo de comunicação com o público; e) ser positivo em seus pronunciamentos e tomadas de decisões, sabendo colocar e expressar suas atividades; f) procurar informar-se de todos os assuntos a respeito de sua profissão e dos avanços tecnológicos, que poderão facilitar o desempenho de suas atividades; g) lutar pelo progresso da profissão; h) combater o exercício ilegal da profissão; i) colaborar com as instituições que ministram cursos específicos, oferecendo-lhes subsídios e orientações. Capítulo IV Do Sigilo Profissional Art.6º. - A Secretária e o Secretário, no exercício de sua profissão, deve guardar absoluto sigilo sobre assuntos e documentos que lhe são confiados. Art.7º. - É vedado ao Profissional assinar documentos que possam resultar no comprometimento da dignidade profissional da categoria. Capítulo V Das Relações entre Profissionais Secretários Art.8º. - Compete às Secretárias e Secretários: a) manter entre si a solidariedade e o intercâmbio, como forma de fortalecimento da categoria; b) estabelecer e manter um clima profissional cortês, no ambiente de trabalho, não alimentando discórdia e desentendimento profissionais; c) respeitar a capacidade e as limitações individuais, sem preconceito de cor, religião, cunho político ou posição social; d) estabelecer um clima de respeito à hierarquia com liderança e competência. Art.9º. - É vedado aos profissionais: a) usar de amizades, posição e influências obtidas no exercício de sua função, para conseguir qualquer tipo de favoritismo pessoal ou facilidades, em detrimento de outros profissionais; b) prejudicar deliberadamente a reputação profissional de outro secretário; c) ser, em função de seu espírito de solidariedade, conivente com erro, contravenção penal ou infração a este Código de Ética. Capítulo VI Das Relações com a Empresa Art.10º. - Compete ao Profissional, no pleno exercício de suas atividades: a) identificar-se com a filosofia empresarial, sendo um agente facilitador e colaborador na implantação de mudanças administrativas e políticas; b) agir como elemento facilitador das relações interpessoais na sua área de atuação; c) atuar como figura-chave no fluxo de informações desenvolvendo e mantendo de forma dinâmica e contínua os sistemas de comunicação. Art.11º. - É vedado aos Profissionais: a) utilizar-se da proximidade com o superior imediato para obter favores pessoais ou estabelecer uma rotina de trabalho diferenciada em relação aos demais; b) prejudicar deliberadamente outros profissionais, no ambiente de trabalho. Capítulo VII Das Relações com as Entidades da Categoria Art.12º. - A Secretária e o Secretário devem participar ativamente de suas entidades representativas, colaborando e apoiando os movimentos que tenham por finalidade defender os direitos profissionais. Art.13º. - Acatar as resoluções aprovadas pelas entidades de classe. Art.14º. - Quando no desempenho de qualquer cargo diretivo, em entidades da categoria, não se utilizar dessa posição em proveito próprio. Art.15º. - Participar dos movimentos sociais e/ou estudos que se relacionem com o seu campo de atividade profissional. Art.16º. - As Secretárias e Secretários deverão cumprir suas obrigações, tais como mensalidades e taxas, legalmente estabelecidas, junto às entidades de classes a que pertencem. Capítulo VIII Da Obediência, Aplicação e Vigência do Código de Ética Art.17º. - Cumprir e fazer cumprir este Código é dever de todo Secretário. Art.18º. - Cabe aos Secretários docentes informar, esclarecer e orientar os estudantes, quanto aos princípios e normas contidas neste Código. Art.19º. - As infrações deste Código de Ética Profissional acarretarão penalidades, desde a advertência à cassação do Registro Profissional na forma dos dispositivos legais e/ou regimentais, através da Federação Nacional das Secretárias e Secretários. Art.20º. - Constituem infrações: a) transgredir preceitos deste Código; b) exercer a profissão sem que esteja devidamente habilitado nos termos da legislação específica; c) utilizar o nome da Categoria Profissional das Secretárias e/ou Secretários para quaisquer fins, sem o endosso dos Sindicatos de Classe, em nível Estadual e da Federação Nacional nas localidades inorganizadas em Sindicatos e/ou em nível Nacional. Publicado no Diário Oficial da União de 7 de julho de 1989.