Escola Secundária Professor José Augusto Lucas
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Escola Secundária Professor José Augusto Lucas
DANIEL PENNAC mágoas da escola JORGE PALMA voo nocturno LAURENT CANTET a turma A Escola guarda sempre um futuro É UMA GRANDE RESPONSABILIDADE ESCREVER SOBRE ALGO QUE EXISTE JÁ HÁ MAIS TEMPO QUE NÓS. É uma ainda maior responsabilidade fazê-lo com o intuito de celebrar a vivência que esse algo já teve. NÃO ESTIVE PRESENTE E NÃO POSSO CONTAR AS HISTÓRIAS MAGNÍFICAS, MARCANTES, INTERESSANTES, INSPIRADORAS, QUE POR AQUI SE PASSARAM. Nada disso me pertence e, no entanto, tudo isso me pertence sem que eu dê por isso. Está nas Beatriz Pinto paredes, nos azulejos, nos canteiros. Tudo isso é a escola, aquele edifício velho que, disfarçado de tintas novas já antigas, vai fazendo parte da nossa vida tal como nós acabamos por ser, todos os anos, renovados de esperanças, ideias e desilusões, a sua única e plena alma. NÓS, A ALMA, CHEGAMOS DE MANSINHO SEM NOS APERCEBERMOS DA HISTÓRIA DO SÍTIO, DA IMPORTÂNCIA DE TUDO AQUILO, DE TODOS OS PORMENORES. Vamos porque nos querem formados e porque nos querem, talvez, também educados. No início não passa muito disso, estamos ali para aprendermos as disciplinas. Para concluirmos mais uma etapa do nosso ensino obrigatório e depois optar se queremos ir para o secundário, para a universidade, para o mercado de trabalho, para ter uma reforma e para no fim descansar. Mas seria triste se fosse só isso, se fosse tudo tão mecânico. Não é assim, nunca é assim tão certo. Aquela enorme biblioteca de pessoas e experiências não nos dá só certezas, dá-nos tantas mais incertezas quanto rumos a seguir, porque nos acolhe de uma forma que sentiríamos falta se não a tivéssemos, porque nos vai tecendo o conhecimento feito de sentimentos, amizades e inimizades, porque vai apresentando realidades e porque nos dá a oportunidade de escolhermos aquela que queremos inventar. E inventamos mesmo. ENTRAMOS NA ESCOLA MIÚDOS E SAÍMOS DELA, SE TUDO CORRER BEM, VERDADEIROS GAIATOS PARA A VIDA. Somos, no resto do percurso, aquilo que fomos na escola, porque ela fez parte do início do nosso próprio caminho, tal como nós fizemos parte de mais uma gaveta das memórias que o edifício velho, disfarçado e sorridentemente tosco, vai guardando. POR ISSO TODOS OS ANOS QUE CELEBRARMOS, não lhe ponhamos tijolos pesados com idade em cima, ponhamos sim a certeza de que mais do que um passado a escola guarda sempre um futuro. Ilustração de Beatriz Pinto CRÍTICA # ANO 11 # N.º 23 # 2009/2010 Revista da Escola Secundária Professor José Augusto Lucas – Av. Carolina Michaelis, 2795 – 052 Linda-a-Velha, Tel. 21 419 14 72, Fax 21 419 06 32 Concebida e elaborada por alunos das turmas: 7.ºA, 7.ºC, 7.ºE, 8.ºA, 8.ºB, 9.ºC, 9.ºD, 10.ºD, 10.ºE, 10.ºF, 11.ºC, 11.ºE, 11.ºF, 11.ºG, 11.ºH, 12.ºA, 12.ºB, 12.ºD e 12.ºF Coordenação: Prof. Francisco Morais – Tiragem: 400 exemplares – Maio 2010 EDITORIAL O que dirias se te perguntassem onde vives? Em Casa, claro, onde está o meu pai, a minha mãe e o meu irmão! 06 07 Esmiuçando de A a Z 10 11 O Projecto TurmaMais 14 15 de ESLAV a ESPJAL 22 23 Voo Nocturno 24 25 A Turma 26 27 A Nossa Escola Não será a Escola, no entanto, um Sara Encarnação espaço onde passas grande parte da tua vida, a tua segunda casa? Essas paredes velhas, essas cadeiras riscadas e essas árvores altas são também a tua casa. Assim como são, também esses professores que tentam que algo fique retido dentro de ti, os teus pais. E esses teus colegas, os teus grandes amigos do futuro, os teus irmãos. Durante três décadas passaram pela ESPJAL milhares de alunos, milhares de vidas, milhares de histórias que por aqui ainda andam e, sim, muita coisa mudou. Muitos espaços estão diferentes, muitas pessoas desapareceram, mas as suas marcas vivem em cada um de nós e em cada um dos que estão para vir. Comemoremos assim a nossa Casa, conhecendo as memórias de quem por cá andou, aprendendo o que alguém, lá no fundo do passado, fez por nós, abrindo a nossa mente para outras formas de ensinar pois é na escola que não só nos apercebemos da enorme infinidade do universo como do que se passa na mais pequena bactéria. É aqui que nos ensinam a pôr o mundo na ponta do lápis e a contar contas sem fim, também é aqui que nos relacionamos, que crescemos e aprendemos a SER. Abra-se o champanhe e apaguem-se as velas que a nossa casa faz anos! 30 já passaram, mais virão! “O Professor José Augusto Lucas (…) sempre acreditou na juventude, (…) defendendo sempre... perguntámos... ANDRÉ JORGE Aluno do 11º Ano Século XXI. Horários de trabalho exigentes, competitividade e o ritmo acelerado do quotidiano associado ao desenvolvimento tecnológico fizeram com que a escola suplementasse a família e se tornasse, para a grande maioria das crianças e jovens, o principal espaço para o desenvolvimento das suas capacidades. A concepção da escola, como um espaço destinado exclusivamente à aquisição de conhecimentos e desenvolvimento de competências intelectuais onde uns ensinam e outros aprendem, uns “passam” e outros “chumbam”, é redutora e insuficiente. Esta é muito mais do que isso, é um local de interacção social que potencia experiências e relacionamentos que ajudam a conhecer e a definir o “eu”. É nesse sentido que entendo a inteligência emocional como parte integrante de uma escola vocacionada para as exigências da sociedade moderna, uma escola que forme indivíduos e cidadãos equilibrados. Auto-conhecimento emocional, controlo emocional, auto-motivação e capacidade de interagir socialmente, todos estes conceitos se relacionam, todos eles integram aquilo que denominamos de inteligência emocional, todos eles são fundamentais no mundo em que vivemos. Numa escola em que o insucesso, o abandono escolar, o bullying, os contrastes sociais e os comportamentos de risco são uma realidade existem algumas questões que se impõem. Como posso alcançar o sucesso sem autoconfiança e sem motivação? Como posso integrar-me se não sei relacionar-me com os outros? Como posso mudar quando determinam o meu futuro com rótulos de “aluno problemático”? Será então que a inteligência emocional reserva em si a resposta? A inteligência emocional é um conceito relativamente recente e, talvez por isso, não esteja em cima da mesa quando falamos de escola ou de educação. No entanto a sua natureza, indissociável do ser humano e o facto de poder ser desenvolvida e treinada, tornou a inteligência emocional alvo de atenção de muitos especialistas e curiosos. A inteligência emocional é o cinzento de uma inteligência concebida a preto e branco. ... uma escola pública, de qualidade, de afectos, democrática e inclusiva.” 04 05 CRÍTICA CARLOS GUERREIRO Director da ESPJAL No dia 17 de Dezembro de 2009 simultaneamente comemorámos os trinta anos da Escola Secundária de Linda-a-Velha e prestámos homenagem ao nosso querido amigo e antigo presidente do Conselho Executivo, professor José Augusto Lucas, que passará a ser o patrono da Escola. Fundada em 17 de Dezembro de 1979, em pleno momento de explosão democrática do ensino, a Escola tem sido palco e protagonista de um percurso complexo de aprendizagens e experiências, vivido com um espírito de inquietação e procura de que nos orgulhamos. Acompanhando as alterações do tecido social da freguesia e do concelho, que se reflectem na população discente, a Escola tem vindo a adaptar o seu Projecto Educativo e Curricular a esta transição. Inicialmente foi definido como nosso lema “Uma Escola de Todos para Todos”, procurando dar resposta às necessidades de integração de uma população discente em grande medida oriunda de bairros degradados (Pedreira dos Húngaros, Alto de Santa Catarina, Barronhos, entre outros), que chegou a atingir, no Ensino Básico a percentagem de 32%. Com a alteração do tecido social da freguesia e do concelho (fruto de Programas de Realojamento a cargo da Câmara Municipal de Oeiras e de construção de habitação de qualidade), dando conta de uma outra realidade, o nosso lema passa a ser “Ensinar e Aprender com Qualidade”, não esquecendo que a diversidade social, étnica e cultural permanece ainda como uma característica importante dos alunos. 30 anos é muito tempo e pela ESLAV passaram milhares de pessoas, que viveram as várias transformações pelas quais a Escola passou. Começando pelas instalações, estas foram feitas de acordo com normativos da época diferentes dos actuais, e apresentam algumas deficiências que urge reparar, nomeadamente as que dizem respeito à segurança e à saúde. Embora a comunidade escolar considere o espaço da escola como um elemento positivo, refira-se que o equipamento e mobiliário se encontra muito degradado e desactualizado, necessitando também de urgente substituição. Acompanhando também a transformação da população da zona, passámos de uma escola com elevada percentagem de alunos oriundos dos PALOPs, para uma escola com maior diversidade cultural e étnica, com alunos vindos também do leste da Europa, Brasil (maioritário em relação às outras comunidades), China, etc. A Escola Secundária de Linda-a-Velha sempre se caracterizou por uma grande dinâmica a nível de projectos e actividades extracurriculares. Assim, a par da grande preocupação com a qualidade das aprendizagens curriculares dos alunos, sempre desenvolvemos iniciativas visando o enriquecimento cultural, social e cívico dos alunos. Ao longo dos anos, a Associação de Pais e Encarregados de Educação tem sido activa, colaborando eficazmente com a escola. Também existe uma forte articulação com a autarquia com participação regular na vida da escola, quer a nível institucional, quer através da colaboração em recursos e apoios aos vários projectos da escola. Como é obvio uma das grandes preocupações, expressa nos sucessivos projectos educativos, tem sido a promoção do sucesso escolar que, para a escola, e passo a citar, “integralmente atingido, implica a aquisição de conhecimentos, o desenvolvimento de competências, bem como o domínio de instrumentos, para uma plena inserção social e pleno exercício da cidadania”. O desempenho da escola tem vindo a melhorar a todos os níveis nomeadamente nas subidas das taxas de progressão e nas médias dos exames. Também se verifica uma descida na taxa de abandono, fruto de um trabalho de prevenção desenvolvido pelos Directores de Turma e pelo Serviço de Psicologia e Orientação, em articulação com a Comissão de Protecção de Crianças e Jovens de Oeiras. No âmbito da filosofia da promoção de mais e melhor sucesso educativo a escola aderiu este ano ao projecto Turma mais, aplicado às turmas do 7.º ano de escolaridade. Embora a Escola não tenha meios objectivos de avaliação do impacto da sua acção educativa, há um dado que nos permite apurar os resultados dessa acção: as listas de colocação dos alunos no Ensino Superior revelam que a grande maioria ingressa no ensino superior e, muitos deles, na primeira escolha, em cursos como Medicina, Engenharia Aeroespacial, Engenharia Civil, Arquitectura e outros. Apesar de não haver um conhecimento sistemático do percurso escolar e ou profissional após a saída da escola, há algum conhecimento, em regra satisfatório, pois são muitos os alunos que, depois de saírem, vêm à Escola, para assistirem a actividades realizadas, como convidados para sessões, ou simplesmente para visitar a escola. O melhor exemplo é a fundação da Associação dos Antigos Alunos da Escola Secundária de Linda-a-Velha, concretização de um sonho antigo perfilhado também pelo professor Lucas, cujos dirigentes colaboraram activamente na comemoração dos 30 anos da ESLAV. Orgulhosos do nosso passado, trabalhando para melhorar o presente e perspectivar o futuro, continuamos a valorizar, de entre os princípios orientadores que constam do nosso projecto educativo, a defesa de uma escola inclusiva e plural, onde as diferenças são encaradas como riqueza e não como constrangimento, e a valorização dos afectos que possibilitem a construção de universos pessoais sem violência. Esta foi a herança deixada pelo professor José Augusto Lucas e que a escola quer continuar a honrar. Toda a escola ainda hoje se orgulha da forma digna, profissional e solidária como soube gerir e anular conflitos e tensões. O Professor José Augusto Lucas é uma referência para os alunos e professores presentes e vindouros. É uma referência porque sempre acreditou na juventude, lutando para que lhe fossem oferecidas, na escola, para além das condições pedagógicas, outras de alcance cultural, formativo e desportivo, defendendo sempre uma escola pública, de qualidade, de afectos, democrática e inclusiva. É uma referência porque sempre colocou em primeiro lugar a escola, dedicando-se totalmente a esta causa, que abraçou até ao último dia da sua vida. “Para agrado de todos, esperamos... escola Depois de uma semana verdadeiramente de loucos, em que tivemos dança, futebol, concertos, karaoke e muito, muito despique entre as listas S e J, eis que acabou. Para infelicidade nossa, mas para descanso dos protagonistas desta semana frenética… A vencedora?… A LISTA S. Pretendemos, com esta entrevista ao Presidente João Mota e ao vice-presidente André Jorge, saber todo o processo e o que levou a lista S a vencer estas eleições. E, claro está, o que é que nos vão trazer de novo! ESMIUCEMO-LOS ENTÃO… POIAR OS ALUNOS – “Todas as propostas que nós apresentámos no nosso programa de actividades servem para isso mesmo, apoiar os alunos, e é isso que nós queremos que vocês (alunos) sintam ao longo deste nosso mandato”. ATTLES – “O nosso principal Tomás Frischknecht objectivo era mobilizar os alunos, já que esta é uma das poucas coisas por que se interessam quando se fala de listas ou de eleições. A lista S tinha os seus contactos e a J tinha outros. Falámos com o presidente da lista J e ele achou boa ideia. E assim surgiu todo aquele “espectáculo”. ONCERTOS – “Nós, durante a campanha, trouxemos um guitarrista, para entreter os alunos e para lhes mostrar aquilo que podemos fazer nesta área. Podemos substituir um pouco as festas por um ou outro concerto, porque conhecemos um ex-aluno aqui da ESPJAL, que não se importa de cá vir tocar. Era giro…” IVERSÃO – “Nós contamos com o apoio de duas produtoras, a GoNight e a CGV, para nos ajudar a realizar festas aqui na escola. Essas produtoras disponibilizam -nos também DJ’s e podemos arranjar entradas à borla numa ou noutra festa. Afinal de contas é disto que os alunos gostam!” MPENHO – “Temos, de certeza ABSOLUTA!” A B C D E F AZER – Garantem que a palavra FAZ parte do vocabulário desta associação… G H ULOSEIMAS – Muitas voaram ao longo da campanha. Nós alunos só podemos agradecer. INO DA ESCOLA – “Temos dois amigos a trabalhar para a lista que percebem de música e nos estão a ajudar neste aspecto. Mas não é uma prioridade, neste momento Tia- Ferreira inicial.” Falou-se num concurso entre os alunos, quem sabe… CARTAZ – “É um cartaz com informação de cinema, desporto, CD’s, filmes… Mas ouvimos falar de um grupo de alunas que, para a disciplina de Área de Projecto vai fazer um trabalho parecido, por isso ainda não sabemos bem. Vamos ver o que é que dá!” A LISTA ADVERSÁRIA – “Nós ganhámos e pronto! Preferimos não fazer grandes comentários à campanha deles.” (risos) IMITAÇÕES – “A nossa única limitação é a preguiça do nosso presidente.” (risos) ATRECOS – “Muita gente achava que o que tínhamos escrito sobre os matraquilhos, no nosso programa de actividades, era mentira. Bem, mas aqui está a nossa resposta, já estão a 20 cêntimos!” OVIDADES – “A nossa maior novidade é realmente fazer alguma coisa! Essa vai ser mesmo a nossa novidade para todos.” RGULHO – “Mais do que orgulhosos, agora queremos estar orgulhosos no final do ano por tudo o que fizemos!” I J L M N O ... que se realizem todas as propostas feitas!” P ROGRAMA DE ACTIVIDADES – “Nós procurámos elaborar um programa de actividades que abrangesse o maior número de aspectos que considerámos importantes para uma associação fazer, ao longo do seu mandato. Penso que nos saímos bem!” UAL A PRIMEIRA COISA QUE JÁ FIZERAM? – “Dar uma tremenda arrumação no espaço que nos foi destinado e pôr os matraquilhos a 20 cêntimos.” ÁDIO DA ESCOLA – “Já temos a rádio, mais ou menos em funcionamento, não tanto quanto desejamos mas pelo menos já conseguimos passar alguma música durante os intervalos, para os alunos descomprimirem das aulas. O próximo objectivo é passar géneros de música mais variados. Só não nos peçam para passar Fado!” (risos) OLIDARIEDADE – “Nós pensámos em ajudar os cães e outros animais, arranjando-lhes comida. Não somos só nós (humanos) que precisamos deste tipo de ajuda...” ORNEIOS DESPORTIVOS – “Pretendemos realizar o mais rápido possível este tipo de torneios. Teremos que primeiro resolver uma ou outra questão, mas depois disso esta é uma actividade que vai, certamente, para a frente.” Fica a promessa para os desportistas… M POR TODOS E TODOS POR UM – “Sim, esperemos que esta seja uma associação marcada pela união e pelo bom trabalho realizado por toda a nossa equipa.” OTA S – Muito barulho fizeram eles! Q R S T U V X EQUE-MATE – “Se for em relação aos torneios de xadrez, então respondemos que estão em marcha, mas se for em relação à lista J preferimos não entrar por aí!” (risos) Z IMBORA” TRABALHAR NO DURO! 06 07 CRÍTICA De 16 a 20 de Novembro de 2009 decorreram as eleições para a nossa Associação de Estudantes, com duas listas concorrentes, designadas pelas letras S e J. Os primeiros dois dias foram somente dedicados à Lista S, mas segundo a lista J fazia tudo parte do “plano”! Nessa semana, as duas listas estiveram em confronto com uma campanha eleitoral bastante atractiva. Por parte da Lista J houve boa Madalena Frischknecht música, jogos de futebol da playstation, karaoke e o show de malabarismo. A Lista S não teve tanta diversão (excluindo o barulho dos tambores), mas sim a apresentação de mais propostas e propaganda às mesmas. Com alguma rivalidade, realizou-se também um mini jogo de futebol, Joana Freire ganho pelos jogadores e representantes da lista S. Para que conste os candidatos a presidentes foram, pela Lista S, o João Mota, e, pela Lista J, a Inês Belo. Depois de uma semana de “árduo trabalho” realizou-se, no dia 23 de Novembro, a esperada eleição. A Lista S venceu com 395 votos contra 271 da Lista J, dos 683 votos entrados nas urnas. Com esta vitória, a lista S não perdeu tempo para pôr em prática algumas das propostas feitas como: os torneios semanais de “Magic the Gathering”, os famosos e tão falados matraquilhos a vinte cêntimos e a rádio com melhor música, ao gosto de todos. Para agrado de todos, esperamos que se realizem todas as propostas feitas! “O Sr. César gostou muito de frequentar a escola... escola Sónia Oliveira Beatriz Gonçalves E que tal saber a opinião de um pai? E se esse pai já tiver sido antigo aluno da nossa Escola? Decidimos, por isso, entrevistar um ex-aluno da ESLAV, que partilhou connosco a sua ideia acerca da Escola e sobre outros temas.... ENCONTRÁMO-NOS À ENTRADA DA NOSSA ESCOLA com o antigo aluno César Oliveira (pai duma das entrevistadoras), numa tarde de um sábado, do mês de Dezembro. Frequentou a Escola Secundária de Linda-aVelha (ESLAV) de 1981 a 1984, entre os 14 e os 17 anos. Considerava-se muito bom aluno, embora tenha tido algumas pequenas dificuldades de adaptação, porque os seus pais tinham-se mudado para o Zaire, permanecendo lá quase toda a sua infância. Quando veio para Portugal, não teve que repetir nenhum ano e continuou a frequentar o 9.º ano. O Sr. César acha que a actual Escola Secundária Professor José Augusto Lucas (ESPJAL) sofreu grandes alterações desde a sua altura de estudante. Quando ele a frequentava, não havia Biblioteca nem, por exemplo, computadores. O Polivalente era, nessa época, um espaço muito simples, e não existiam os pavilhões E e F. O Ginásio estava ainda inacabado, a meio da sua construção. Por outro lado, havia algo que agora causaria uma tremenda contestação: aulas ao Sábado. Existia também, nessa altura, pouco controlo e vigilância por comparação com a situação actual. Gostava muito do campo de futebol onde ia muitas vezes jogar com os amigos. … e, por isso, matriculou a sua filha aqui.” Em geral, simpatizava com os professores e costumava dar-se muito bem com os funcionários, especialmente com a D. Nazaré, uma simpática funcionária que ainda há pouco tempo se reformou. Nessa altura, tinha alguns pequenos problemas em relação às suas escapadas furtivas da escola. Como o pai do Sr. César trabalhava numa mercearia perto do recinto escolar, ele conhecia alguns dos funcionários, nomeadamente o porteiro. Assim, tinha alguma dificuldade em sair da escola sem os pais se aperceberem. Então tinha que ficar na escola, e não podia ir fazer outros “programas” com os amigos, ou então tinha que ir logo para casa. Recorda-se também que a sua mãe nunca o deixava almoçar no Refeitório e ele não gostava muito disso. Contou-nos que, até há pouco tempo, existia mesmo junto à escola um bairro intitulado de “Pedreira dos Húngaros”, com habitações muito degradadas (barracas) e onde viviam pessoas que não tinham tantas possibilidades económicas. Havia diversos assaltos a alunos, professores ou pessoas que passavam ali perto. O Sr. César diz que foi óptimo terem retirado as pessoas dali para outro lugar onde tivessem uma casa. 08 09 CRÍTICA Referiu-nos que gostava bastante do período do Carnaval passado na escola. Havia guerras de ovos e de balões de água onde todos se divertiam, muito embora ache que algumas brincadeiras eram perigosas e acabava sempre alguém magoado. As eleições para a Associação de Estudantes tinham um grande impacto e, nesse momento, havia muito entusiasmo. As listas eram apoiadas por alguns partidos políticos, faziam-se e colocavam-se muitos cartazes e distribuíam-se muitas ofertas pelos estudantes para caçar o voto. Por essa altura, havia sempre música nos intervalos e ping-pong no Polivalente. O Sr. César gostou muito de frequentar a escola e, por isso, matriculou a sua filha aqui. Quem sabe se a sua filha não fará exactamente o mesmo?... “Esperemos que esta nova experiência diminua o insucesso... escola Nós não sabíamos o que era o Projecto TurmaMais e, numa sexta-feira do final do 1.º Período, fomos falar com a professora Paula Varela para descobrir… Ficámos a saber que é uma experiência que dá aos alunos a oportunidade de melhorar a sua aprendizagem. SEGUNDO NOS FOI INFORMADO PELA PROFESSORA COORDENADORA DESTE PROJECTO, PAULA VARELA, a ideia inicial surgiu há cerca de 8 anos na Escola Secundária com 3.º ciclo Rainha Santa Isabel, em Estremoz, e a partir daí foi sendo adoptada por outras escolas. Actualmente, existem cerca de 70 escolas a implementar o projecto. Mónica Coutinho O objectivo do projecto é melhorar o sucesso e a auto-estima de TODOS os alunos envolvidos. O projecto na nossa escola começou a funcionar este ano lectivo com 6 turmas do 7.º ano. As turmas estão divididas em dois grupos de três turmas. As turmas A C e E formam a TurmaMais G, por sua vez, as turmas B, D e F formam a TurmaMais H. Cada um dos grupos de 3 turmas é leccionado pela mesma equipa pedagógica de professores. De acordo com a nossa entrevistada “temos observado que os alunos se sentem mais confiantes e mais à vontade para participar na aula e esclarecer as suas dúvidas, melhorando assim a sua aprendizagem”. Rita Albuquerque ... continuando a melhorar as capacidades dos alunos.” “Eu adorei este Projecto. Adorava poder continuar nesta turma o resto do ano pois conheci pessoas muito simpáticas e até reencontrei outros amigos. Adorava que este Projecto continuasse no 8.º ano, pois foi das iniciativas mais proveitosas em que pude colaborar.” João Tiago Gonçalves 7.ºC Também segundo a Coordenadora “até agora, a reacção dos alunos a frequentar a TurmaMais foi bastante positiva”. A professora Paula Varela afirma que “cada vez mais se nota a evolução dos alunos”. A ideia global é, por enquanto, positiva. Contudo, segundo nos afirmou “infelizmente o Projecto apenas abrange 6 disciplinas (Língua Portuguesa, Matemática, Inglês, Francês, História e Geografia)”. No entanto, os professores que integram o Projecto esperam que, para o próximo ano lectivo, sejam integradas todas as outras disciplinas. Esperemos que esta nova experiência diminua o insucesso, continuando a melhorar as capacidades dos alunos. 10 11 CRÍTICA “Este Projecto permite aos alunos melhorar as notas. Gosto de estar na TurmaMais pois estamos todos a trabalhar ao mesmo ritmo e é mais fácil. As vantagens é os alunos com mais ou menos os mesmos resultados, de turmas diferentes, estarem a trabalhar todos juntos. As desvantagens é que, por exemplo, no meu caso, as minhas amigas não vieram para a TurmaMais e é difícil estar com elas, mas ao fim de tudo até foi interessante estar na turma…” Andrea Monteiro 7.ºE “Acho que este Projecto foi bastante interessante, apesar de ter começado demasiado cedo, mas até me adaptei bem. O ambiente de trabalho é totalmente diferente e assim até conheci colegas novos e fiz novos amigos. Adorei a experiência.” Nuno Galhofo 7.ºA “Eu acho que este Projecto até funcionou bem, mas tem o problema de que a turma de origem quase nunca está junta. Tem vantagens na aprendizagem. Não fiquei tão à-vontade como gostaria, mas foi bom, ensinoume algumas coisas… Tive mais atenção nas aulas e compreendi as matérias.” Carla Duarte 7.ºC “(...) uma merecida homenagem tanto ao cinema... escola No dia 16 de Dezembro de 2009, como habitualmente, às quartas-feiras no Clube de Cinema, juntaram-se no anfiteatro amantes de cinema – desde meros curiosos a absolutos fanáticos – para celebrar uma vez mais a sétima arte. POR OCASIÃO DA COMEMORAÇÃO DOS 30 ANOS DA ESCOLA e genialmente sugerido pela Professora Ana Páscoa preparávamo-nos para ver Apocalypse Now, um épico do cinema de 1979 (também com 30 anos), brilhantemente realizado por Francis Ford Coppola. Toda a jornada, que acaba por se centrar na subida de um rio, permite-nos olhar de dentro e de forma lúcida a guerra do Vietname, ver as mais terríveis atrocidades e, por isso, duvidar Assim, juntaram-se os habituais membros do do Homem enquanto ser racional, Maria Nunes questionando até que ponto somos capazes de Clube de Cinema, muitos outros professores, alguns funcionários e outros tantos alunos, o que suprimir o nosso instinto animal e mais constituiu um grupo muito simpático, de pessoas selvático. Vamos acompanhando a complexa interessantes, de olhares curiosos e atentos, prontas para construção das personagens e partimos numa viagem, se deleitar, vendo ou revendo e revivendo, na minha mais que física, espiritual, de procura da essência do opinião, uma das melhores obras cinematográficas de ser. sempre. Mas há que fazer um pequeno aparte. Lamentar a falta de afluência dos alunos da escola, a sua falta de Em seguida, deu-se a discussão. Uma conversa aberta adesão. Pois esta não era, de forma alguma, uma sessão e acesa como deve ser, onde se apresentaram entediante, antes uma comemoração do cinema e, por diferentes perspectivas e se reconheceu a qualidade da extensão, uma celebração da vida. Enfim, o filme fotografia, a predominância de cores como o verde e o começou num ambiente silencioso e quase cerimonial. negro e se debateu todo o simbolismo inerente. Apocalypse Now é o resultado de uma adaptação do conto de Joseph Conrad Heart of Darkness e a acção tem lugar no Vietname, em plena guerra. Willard (Martin Sheen) é um capitão norte-americano que parte numa missão incumbido de matar um tal de coronel Kurtz (Marlon Brando), uma personagem non grata ao regime. Como fã incondicional de cinema que sou só poderia dizer que, apesar do frio, chuva e desconforto, esta foi uma tarde muitíssimo bem passada, onde foi feita uma merecida homenagem tanto ao cinema como a uma escola que já faz 30 anos. … como a uma escola que já faz 30 anos.” 12 13 CRÍTICA "This is the end"Com estas palavras, cantadas pela voz de Jim Morrisson, o eterno vocalista dos The Doors, poeta e “Rei Lagarto”, começou o filme Apocalypse Guilherme Santos Now de Francis Ford Coppola, o filme escolhido para comemorar os 30 anos da Escola Secundária de Linda-a-Velha. Escolhido pela Professora Ana Páscoa, professora de Filosofia e Psicologia, o filme foi seleccionado por dois motivos: a sua data, 1979, ano em que a ESLAV também foi fundada; e a sua qualidade, atestada por dois Óscares e seis nomeações para a mesma estatueta dourada. Presentes na sessão estavam 34 pessoas, na sua maioria professores. Após a exibição do filme, que durou duas horas e trinta e dois minutos, a Professora Ana Páscoa iniciou o debate, explicando por que tinha escolhido o filme. Prosseguiuse então a discussão entre professores e alunos, sobre os temas do filme como a guerra e o efeito que a derrota desastrosa teve para os Estados Unidos, assim como a análise mais subtil à natureza humana e à reacção do Homem perante a barbárie e o brutalmente surreal. A discussão foi sempre muito interessante, contando com participações da maioria do auditório, passando por professores e também alunos. Trinta anos depois, o filme "Apocalypse Now" envelheceu como um bom vinho do Porto, mantendo a sua qualidade e a sua mensagem actuais. Lançamento do Livro “30 e Tal Olhares” - uma colectânea de textos de alunos, professores, funcionários, encarregados de educação e ex-alunos da Escola sobre os filmes mais significativos dos últimos 30 anos. “O Prof. José Augusto Lucas (…) ,durante toda a sua carreira, combateu o abandono escolar e ... escola Exactamente no dia 17 de Dezembro de 2009, a Escola fez 30 anos. Nada melhor, portanto, que iniciar as Comemorações da antiga ESLAV com a já consagrada Corrida da Escola e esperar que, pelo dia fora, vá surgindo a nova... ESPJAL A PARTIR DAS 10H00 COMEÇOU A SER REALIZADA A CORRIDA DA ESCOLA que, desta vez, reuniu professores, funcionários e alunos, num acontecimento desportivo anual que pretende Miguel Moreira incentivar à prática de exercício físico. Depois da preparação física, às 14h30, decorreu finalmente o acontecimento mais importante das Comemorações dos 30 anos da ESLAV. Estas tiveram lugar no Polivalente, que sofreu uma transformação radical para albergar um evento desta dimensão. Vários alunos, juntamente com professores, empenharam-se para embelezar o lugar, com sucesso. Foi então que, por volta das 15h00 horas, foi aberta a Sessão Solene. Inicialmente, o Director da Escola, Professor Carlos Guerreiro, brindou toda a plateia de funcionários, professores, alunos e ex-alunos da ESLAV com um discurso sobre os momentos importantes da história da Escola. Mereceu especial referência o percurso do Professor José Augusto Lucas até chegar a Presidente do Conselho Executivo da Escola, não tendo sido poupados elogios a este que, durante toda a sua carreira, combateu o abandono escolar e ajudou pessoalmente todos os alunos da ESLAV, no seu percurso académico. … ajudou pessoalmente todos os alunos da ESLAV, no seu percurso académico.” 14 15 CRÍTICA No dia 18 de Dezembro, sexta-feira (e último dia de aulas), devido às Comemorações dos 30 anos da Escola, realizaram-se também várias actividades. Seguiu-se um breve discurso do Director Regional da Educação, representante da Ministra da Educação, que não pode marcar presença neste acontecimento. Este frisou alguns assuntos referidos anteriormente, mas aproveitou a oportunidade para lembrar que a ESPJAL está inserida num programa para a recuperação de instalações escolares. Esta cerimónia findou com o discurso da representante da Câmara Municipal de Oeiras. Seguiu-se a cerimónia de atribuição da nova designação oficial à ESLAV, que passou a chamar-se Escola Secundária Professor José Augusto Lucas, em homenagem ao antigo Presidente do Conselho Executivo. Nesta cerimónia é de realçar a presença do Presidente da Câmara Municipal de Oeiras, Sr. Isaltino Morais e dos filhos do Prof. José Augusto Lucas. Durante a manhã, no Pavilhão G, de Educação Física, realizaram-se actividades de carácter lúdico e desportivo, neste caso râguebi e tiro ao alvo que mobilizaram grande parte dos alunos. João Albuquerque Ao longo do dia foram decorrendo outras actividades, como a inauguração da Exposição do Clube de Cinema, no Pavilhão E, o lançamento do livro “30 e Tal Olhares” (ver página 13), a plantação de uma Oliveira e a realização de um Pedipaper. Além de vários momentos de Poesia, Musicais e da inauguração da Exposição “1979 – 30 Livros em Português”, as actividades da manhã foram encerradas com um lanche com oferta de livros da Editora Gradiva à comunidade escolar e uma animação com antigos alunos trajados com a roupa do ano de 1979. Foi um dia bastante activo, tanto para professores como para alunos. CRÍTICA: Já foi professora nesta escola. Como foi essa experiência? Gostou do tempo em que leccionou na Secundária de Linda-a-Velha? ROSA BARBOSA: Eu vim para aqui em 81/82, um ano depois da escola ter sido inaugurada. Estava nessa altura no Conselho Directivo a Prof.ª Teresa Garcia Nunes e o Prof. Carlos Gonçalves, de Educação Física. Foram eles que me receberam quando me vim apresentar. Esta será sempre a minha escola. Eu fui 4 anos para a Escola Joaquim Carvalho, na Figueira da Foz, e embora gostasse, não tinha nada a ver. Eu acho que o que caracteriza esta escola é, por um lado, a enorme diversidade de alunos, o que dá uma riqueza espantosa às turmas; Por outro lado, existe também um certo “espírito de escola” para o qual penso que, de certo modo, também contribuí um bocadinho, na altura que estive por cá. Começou aí, mas felizmente com o Prof. Lucas as coisas caminharam num sentido absolutamente espantoso de integração, de abertura e de uma sempre disponibilidade para todas as coisas que nos lembrávamos de trazer fora do “dar aulas”. E foi isso que Sara Encarnação C: Durante o tempo em que esteve na escola exerceu um cargo mais administrativo no Conselho Executivo. Como foi exercer esse cargo? Recorda-se de alguma experiência em especial? R.B.: Em 83/85 fizemos uma lista e fomos para o Conselho Directivo durante dois anos, que foram terríveis nesta escola, porque foi quando se deu a explosão demográfica escolar nesta zona e surgiu a Secção (anexo existente até 1998). A escola do primeiro ano ao segundo cresceu de tal forma que de um momento para o outro tínhamos 34 turmas de 7.º e 8.º anos sem sala. Estavam as turmas formadas, os professores colocados e não havia espaços. Foi quando começaram a construir os pavilhões da Secção, na Rua dos Lusíadas. Eu nunca mais me esqueço do primeiro ano em que aqui estive. Fiquei horrorizada ao ver o Polivalente completamente cheio de gente... e o Inspector Pedagógico que veio à escola ver como é que as coisas se estavam a processar, por causa das brincadeiras de Carnaval, vinha de blazer azul e resolveu ir enfrentar a multidão de alunos para o C: Há dois anos fez uma palestra aqui na escola sobre a “inteligência do coração”. Poderia explicar, sucintamente, em que consiste este tipo de inteligência? R.B.: No fundo consiste em desenvolver uma série de capacidades que têm sido subalternizadas. Até agora, capacidades que são centradas no hemisfério esquerdo, como a memória, a inteligência dita pura racional, a lógica, o pensamento sequencial de causa-efeito são aquelas que normalmente a escola privilegia e que mede em termos quantitativos. O que a inteligência emocional pretende é que se desenvolvam, por um lado, o auto-conhecimento da própria pessoa, das suas emoções, do que a pessoa pensa e porque é que sente isso em determinada situação, o que dará possibilidade a um autocontrolo, a uma auto-gestão dessas emoções. Depois há o que as escolas têm hoje, é o que eu sinto do que oiço dizer. Promovemos uns dias de actividades livres, organizadas pelos alunos e apoiadas por nós e a primeira festa de Carnaval, que se fez nesta escola, foi nesse ano, 1984! No ano em que a Escola Secundária de Linda-a-Velha (de agora em diante Escola Secundária Professor José Augusto Lucas) comemora uns grandiosos 30 anos, fomos conversar com Rosa Barbosa, antiga Professora de Filosofia da nossa escola. Recordámos os primórdios, o verdadeiro começo desta aventura, os momentos menos bons e os excelentes, sempre em paralelo com o assunto da inteligência emocional, sobre o qual a Professora Rosa se tem debruçado. Porque recordar é viver, é a relembrar que mantemos viva a memória do Professor Lucas e também lembrámos um jovem Professor Carlos (actual Director). Este é um belo testemunho das vivências nesta escola, do que fez da ESPJAL a escola que é hoje, na voz informal e divertida da Professora Rosa. tema de k C: Como é que a inteligência emocional poderá ser ensinada, em termos práticos, nas nossas escolas? R.B.: É muito complicado, já tenho pensado muito nisso. Por exemplo, estamos perante uma turma pela primeira vez, uma das coisas que eu acho que dava resultado era não querer saber nada relativamente ao percurso escolar. Não querer saber se traziam ou não boas... Porque isso condiciona as nossas expectativas como professores e isso faz com que, relativamente àqueles alunos, não haja tanta aposta em todos. O importante é conseguir fazê-los acreditar e sentir que o que é importante é o agora e daqui para a frente. É evidente que não é tanto assim porque há coisas vividas atrás que marcam as pessoas. de encontrar formas de me ocupar mais profundamente do que as pequenas coisas que tinha. “O Lucas, não tinha idade para isso, mas era quase como um filho (…) Era uma pessoa C: E do Professor Carlos Guerreiro? Guarda algumas memórias? R.B.: O Carlos era muito jovem, mas era um indivíduo muito dinâmico. Ele era responsável pelo sector das tecnologias, que a maioria dos professores não percebia nada. Ele era a nossa salvação para tudo o que havia ligado a máquinas e computadores, a laboratórios e aos pavilhões! Mas não era só isso, ele era e é um indivíduo muito inteligente. Nas nossas reuniões era muito tímido, era sempre o último a falar, mas nós insistíamos e lá saía a sua opinião. Não era uma pessoa que ficasse à margem, de maneira nenhuma! E ajudou-nos bastante naquela altura! C: Que ligações e memórias tem do Professor Lucas? R.B.: Ainda hoje é muito difícil falar sobre isso. O Lucas, não tinha idade para isso, mas era quase como um filho e eu conhecio novinho ainda. Era uma pessoa muito interessante: cheio de humanidade e nunca tinha certezas. Eu acho que ele, realmente, corporiza o “espírito” que eu acho que marca esta escola: a abertura às diferenças, a capacidade de ouvir mas também a capacidade de cortar a direito quando é preciso. Não era impunemente que os jovens, quando havia algum problema diziam “Vai chamar o professor Lucas!”. Era porque ele andava por aí pelos recreios, falava com todos, olhava, via o que estava a acontecer e quando havia qualquer problema ia lá direito ao foco da situação e enfrentava-a. Agarrava neles, levava-os para o Conselho Executivo e conversava com eles. Eu assisti a algumas situações e era engraçadíssimo a forma como ele dava a volta a jovens muito complicados. nunca mais encontrei... C: Falou das coisas mais difíceis, mas teve com certeza boas experiências quando esteve a exercer o cargo de Presidente do Conselho Directivo? R.B.: Houve claro coisas interessantes. Promovemos algumas acções em que chamámos algumas pessoas para falar com os professores. Havia sempre aqueles problemas, aquelas fricções, mas o que algumas pessoas que estavam cá me têm dito agora, à distância, é que houve um certo tipo de coisas novas que surgiram a partir dessa gestão e depois continuaram. Por exemplo a abertura à realização de projectos que os professores apresentavam. Havia professores muito activos (e sempre houve nesta escola), muito dinâmicos e com ideias muito interessantes para projectos autenticamente interdisciplinares. Tínhamos também mais liberdade do que a Polivalente. Subiu para cima de uma cadeira. O senhor era Professor de Educação Física e trazia um apito, resolveu apitar. Ficou coberto de ovos da cabeça até aos pés e a Prof.ª Teresa Garcia Nunes tentava limpar-lhe o casaco. Foi de morrer a rir! C: Como entrou em contacto com este assunto? R.B.: A minha área de formação é Filosofia. Durante muitos anos dei poucas vezes, muito poucas, Psicologia. Não era uma coisa que me interessasse por aí além, para ser franca! Interessava-me muito mais a Filosofia, o lado mais sociológico das coisas. A única coisa que fiz foi, depois de estar reformada, começar a ler coisas que não tinha tido tempo de ler antes. Nessa altura pediram-me para fazer um curso de formação sobre um tema novo que era a inteligência emocional. Aquilo foi um desafio, foi uma coisa que eu tive muito medo de aceitar, não me sentia minimamente preparada mas ao mesmo tempo era mesmo isto! Eu estava a precisar problema da motivação que é um problema fundamental, da empatia e da competência social: a capacidade de liderar e de trabalhar em grupo. Esse tipo de capacidades são fundamentais numa sociedade. Nalguns países que já começa a ser mais evidente que noutros. Portanto são esse tipo de características que têm a ver com as tais competências relacionais... C: Um professor pode muitas vezes fazer uma grande diferença na vida de uma aluno, para melhor ou para pior. Dos alunos a quem já deu aulas, sentiu que tenha marcado algum em especial? R.B.: Há uma coisa que me marcou. Num primeiro teste que fiz coloquei um texto do Almada Negreiros sobre Filosofia. No fim, tinha uma frase que dizia qualquer coisa como “o género humano não suporta muito a realidade” e uma jovem que estava a ler aquilo, a dada altura comecei a vêla toda encolhida sobre o teste e dou conta de que ela estava a chorar, mas a chorar profundamente! Fiquei assustadíssima a pensar “o que é que se passa?”. Fui lá ao pé dela, ela não conseguia dizer nada e dizia “Não consigo, não consigo” e saiu porta fora. Eu chamei uma empregada e disse “Olhe, veja lá, vá com ela ao bar comer qualquer coisa mas depois veja se me vem dizer ou se manda cá alguém, esteja com ela, não a deixe sozinha” e ela lá foi. Aquilo passou e no fim a aluna veio falar comigo. Tivemos uma enorme conversa, ela lá se abriu e a partir dali foi uma das alunas mais espantosas que eu tive. Nunca mais me esqueci dela, aquele caso marcou-me de tal modo que ainda hoje me comovo quando penso nisso, na conversa que tive com ela. Foi um momento fulcral para ela. a muito interessante: cheio de humanidade e nunca tinha certezas.” 16 17 CRÍTICA “Aquele estilo de vida “Esta em que é sempre... se está... uma manhã com... Por ocasião do trigésimo aniversário da ESLAV, a Crítica entrevistou Rosa Barbosa, antiga Professora e membro do Conselho Executivo da nossa escola, agora reformada. AO CAMINHARMOS ATÉ À SALA K AZUL E, FINADA A ENTREVISTA, percorrendo o caminho oposto, foi com surpresa que vimos vários docentes e funcionários cumprimentarem a professora com alegria e satisfação. Pareceu-nos óbvio que tínhamos convidado a pessoa certa! Começa a entrevista e nem são precisas as perguntas. Como um longo pergaminho que desenrolamos e que nos revela todo o saber de outros tempos, assim a Professora Rosa se abriu connosco e contou histórias e histórias sem rol. O entusiasmo era visível nos seus olhos, vibrantes da emoção, mas o pesar nostálgico dos anos passados, esse pressentíamo-lo nos seus dedos, que agarravam com força uma pilha de revistas e a contorciam nervosamente. texto fotos João d’Eça Sara Meess ... em … a minha comunhão escola!” com a natureza” Da confissão peremptória de que esta escola, não sendo a única em que trabalhara, era a única que lhe ocupava o coração, à lembrança dos tempos mais conturbados, em que havia mais de trinta turmas sem sala e em que os professores eram alvo de ovos e outras brincadeiras de Carnaval, às descrições humanas e compassivas do professor Lucas, ficámos maravilhados com tudo o que desconhecíamos sobre esta escola que, apesar de ser já trintona, consegue atrair ainda tantos jovens, de tantos locais diferentes. Falou-se também sobre o papel dos professores hoje em dia e sobre os métodos de ensino ultrapassados, nomeadamente a excessiva valorização da inteligência racional e pura em detrimento da inteligência emocional. Nesse aspecto, a escola foi pioneira pois, desde cedo, incentivou projectos interdisciplinares, como o projecto “Clave de Sol”, como actividades culturais 18 19 CRÍTICA de integração na escola, lembrando a “Semana Africana”, e promoveu projectos extra-curriculares como o Clube de Jardinagem, o Clube de Dança, o Clube de Fotografia, o Clube de Teatro e, mais recentemente, o Clube de Cinema. Mais de vinte minutos depois do tempo inicialmente planeado para a entrevista, a Professora Rosa despediu-se de nós e acompanhámo-la quase até ao Polivalente. Consigo, levava uma caixa de queijadas e pastéis de Tentúgal, um velho hábito seu, interrompido aquando da trágica morte do professor Lucas, há dois anos. Mas neste dia em que regressava à escola para contar o seu longo percurso profissional e para rever os seus amigos e conhecidos, decidira também retomar a tradição. “Esta é sempre a minha escola!” Professora Rosa “O autor trata o cábula com dignidade. Motiva-o e este acaba por conseguir libertar-se... leituras Nem mais, um autêntico cábula... Ocorrer-te-ia alguma vez que o escritor deste livro tenha sido, ao longo da sua vida escolar, um cábula? E que esse mesmo cábula seja hoje professor? DANIEL PENNAC era um rapaz que vivia angustiado face às suas dificuldades constantes e permanentes de nada conseguir aprender na escola. O tempo passava sem que conseguisse alterar a sua capacidade de conseguir aprender Raquel Ramos simplesmente qualquer coisa. É da problemática do ser mau aluno, do ponto de vista efectivo de um ex-mau aluno, que nos fala esta obra. De forma simples, o autor relata a vida e as dificuldades de um aluno cábula (que era ele próprio). Relata acontecimentos vividos na escola, no seio familiar, entre amigos e colegas, das suas dificuldades, anseios, angústias, da sua enorme e profunda dor, perturbadora e permanente, com prognósticos perpétuos e aterrorizadores, simplesmente porque era um cábula. Mas o que mais o aterrorizava e afligia era a impotência sentida face à ignorância e abandono que era consagrado, sem que nada pudesse fazer para inverter ou alterar tais sentimentos injustos, que inundavam o cérebro de quem o rodeava, colegas, pais, irmãos, amigos, professores e até do mais ignorado cidadão. Era simplesmente aterrorizador. E era aterrorizador e preocupante porque ninguém tentava perceber porque é que esse mau aluno não aprendia. Os outros, OS BONS, pais, colegas, irmãos, professores e cidadãos incógnitos eram verdadeiros sábios, logo deveriam tentar perceber o que lhe ia na alma… Mas não. Ignoravam que ele existia e que também tinha problemas, ignoravam que ele era mais que um simples CÁBULA. Mágoas da Escola Autor: Daniel Pennac Tradução: Isabel St. Aubyn Porto Editora 253 págs. O autor, com esta sua obra, pretende alertar para as dificuldades vividas pelos maus alunos dentro e fora da escola, para o ser estigmatizado e rotulado. Alerta também para os actuais métodos de ensino que nem sempre vão de encontro às suas dificuldades, nem acompanham as suas motivações. Pennac, que foi professor durante mais de vinte anos, dá a importância devida ao mau aluno, tirando-o do abatimento psicológico a que foi sujeito, percebendo os verdadeiros motivos por que NADA aprende, concluindo: O autor trata o cábula com DIGNIDADE. MOTIVA-O e este acaba por conseguir libertar-se do estigma do mau aluno e consegue aprender e sentir-se PESSOA. ... do estigma do mau aluno e consegue aprender e sentir-se PESSOA.” Tenho doze anos e meio e não fiz nada. Os nossos «maus alunos» (alunos considerados sem futuro) nunca vão sozinhos para a escola. O que entra na sala de aula é uma cebola: algumas camadas de tristeza, de medo, de inquietação, de rancor, de raiva, de desejos insatisfeitos, de renúncias furiosas, acumuladas sobre um fundo de passado humilhante, de presente ameaçador, de futuro condenado. Reparem, vejam-nos chegar, o corpo em transformação e a família dentro da mochila. A aula só poderá começar realmente depois de pousarem o fardo no chão e descascarem a cebola. É difícil de explicar, mas às vezes basta um olhar, uma palavra amiga, um comentário de adulto confiante, claro e estável, para dissolver estas mágoas, aliviar os espíritos, instalá-los num presente rigorosamente indicativo. Como é natural, o bem estar será provisório, a cebola voltará a formar-se à saída e será com certeza necessário recomeçar no dia seguinte. Mas ensinar é isso mesmo: é recomeçar até ao nosso necessário desaparecimento como professores. Se não conseguirmos instalar os nossos alunos no presente do indicativo da nossa aula, se o nosso saber e o gosto de o levar até eles não pegarem nesses rapazes e nessas raparigas, no sentido botânico do verbo, a sua existência descambará para as fendas pantanosas de uma carência indefinida. Não teremos sido nós com certeza os únicos a escavar essas galerias ou a não saber colmatá-las, mas esses homens e essas mulheres terão ainda assim passado um ou vários anos da sua juventude, ali, sentados à nossa frente. E já é muito, um ano de escolaridade perdido: é a eternidade numa redoma. Excerto do capítulo II Evolução do livro Mágoas da Escola 20 21 CRÍTICA DANIEL PENNAC é um escritor francês nascido em 1944 em Marrocos e é hoje considerado um dos mais importantes e populares autores da literatura francesa. Tornou-se professor após estudar em Nice. Começou a escrever para crianças. Escreveu uma série de livros sobre a família “Malaussène” (O Paraíso dos Papões, A Fada Carabina, A Vendedora de Prosa, O Senhor Malaussène e A Paixão Segundo Thérèse), escrita bem-humorada e imaginativa. Escreveu também Como Um Mariana Dionísio Romance, um ensaio sobre a leitura que se transformou num livro de culto. Mágoas da Escola obteve o Prémio Renaudot, em 2007, depois de ter estado mais de 50 semanas nos tops de vendas franceses. Traduzido em 24 países, vendeu, só em França, mais de 800 mil exemplares. Em 2008, Daniel Pennac obteve, pelo conjunto da sua obra, o Prémio Metropolis Bleu, anteriormente atribuído a escritores como Margaret Atwood, Carlos Fuentes, Paul Auster ou Norman Mailer. Informações retiradas de www.wook.pt “Jorge Palma já se tornou uma referência na música portuguesa, influenciando... músicas Jorge Palma contagia-nos de novo. Desta vez com Voo Nocturno, o seu 13.º álbum, nome provavelmente associado à sua vida de sonhador. Teresa Cardosa Manuela Fonseca VOO NOCTURNO DE JORGE PALMA começa com o já famoso “Encosta-te a Mim” em que levitamos ao som da philicorda e da guitarra acústica ou “Rosa Branca” que nos incentiva a dançar e a viver sem perder tempo. Somos logo levados a comprar o CD pela sua capa contraditória, por um lado transmite tristeza pela cor negra e por outro alegria e emoção através da mistura das cores de fogo que formam um voador nocturno, tal como Jorge Palma. A sua voz transmite-nos conforto e sabedoria. As letras são muito realistas, talvez reflexo de uma vida repleta de paixões e desilusões. Ironicamente diz o que pensa e diverte-nos com as suas rimas. Sem receios. Jorge Palma já se tornou uma referência na música portuguesa, influenciando assim muitos jovens no início da sua carreira musical. Voo Nocturno foi mais um álbum de sucesso, tendo-se mantido por mais de 6 meses nos Tops de Portugal. É, de certo, um álbum muito pessoal e especial para Jorge Palma, porque foi ao som de uma das suas músicas, “Encosta-te a Mim”, que ele casou com Rita Tomé, a sua namorada de longa data, em Las Vegas. Através deste álbum, podemos sentir o seu grande amor e dedicação à música, tendo começado aos seis anos de idade no Conservatório onde estudava piano. Mais tarde, já durante a sua adolescência, descobriu a sua paixão pela guitarra, através do rock n’ roll e da música popular americana e inglesa. A sua música tem, desde sempre, vindo a ser influenciada por cantores como Bob Dylan, Lou Reed e a famosa banda Led Zeppelin. Apesar de estar envolvido nalgumas salutares polémicas, a sua boa música continua a contagiar pessoas de todas as idades. Apelamos assim a todos para que oiçam a música de um dos nossos grandes artistas, Jorge Palma. ... assim muitos jovens no início da sua carreira musical.” 22 23 CRÍTICA JORGE MANUEL DE ABREU PALMA nasceu em Lisboa, no dia 4 de Junho de 1950. Aos seis anos de idade, ao mesmo tempo que aprendia a ler e a escrever, Jorge aprendia também a tocar piano. Teve a sua primeira audição no Conservatório Nacional, com oito anos, altura em que era aluno da conceituada professora Maria Fernanda Chichorro. Voo Nocturno Agora já não vejo o sol nem o seu reflexo lunar levo as asas nos bolsos e o coração a planar neste voo nocturno não sei onde vou aterrar Sinto as nuvens nos meus pulsos e o leme sempre a consentir são sempre os mesmos ossos que eu insisto em partir neste voo nocturno só quero mesmo resistir Neste voo nocturno sou mais leve do que o ar neste voo nocturno não sei onde vou acordar Em baixo há manchas no canal mas eu não as quero ver o aeroplano está frio e os hélices a ferver o nariz do avião só obedece a quem quiser Agora não existe nada o meu motor “ao ralenti” Vou revendo em surdina tudo o que eu vivi neste voo nocturno a madrugada vem aí Letra e Música: Jorge Palma Estudou no Liceu Camões e num colégio interno perto de Abrantes. Durante a adolescência e a par da formação erudita, começa a interessar-se pelo rock’n’roll e, de um modo geral, pela música popular americana e Isabel Valente inglesa. A sua primeira experiência profissional surgiu aos 17 anos, quando integrou o grupo Black Boys, onde tocava órgão. Mas a sua estreia a solo só veio a acontecer em 1972, ano em que lança o seu primeiro single, “The Nine Million Names of God”. A partir daqui torna-se premente a necessidade de aprender a escrever letras em português. Fernando Tordo leva-o ao encontro do famoso poeta português José Carlos Ary dos Santos, que o ajuda a aperfeiçoar a sua escrita poética e nasce o disco chamado “A Última Canção”. Em 1975, participa no Festival da Canção com “O Pecado Capital” e fica qualificado em 7.º lugar num total de 10 canções concorrentes. Nesse ano grava também o seu primeiro LP, chamado “Com uma Viagem na Palma da Mão”, com canções escritas durante o seu exílio (para fugir à Guerra Colonial) em Copenhaga. O seu entusiasmo, nos anos 80, é enorme e especialmente inspirador editando os álbuns “Acto Contínuo”, “Asas e Penas”, “Lado Errado da Noite”, “Quarto Minguante” e “Bairro do Amor”. A nata das suas músicas sairá destes trabalhos. A década de 90 é marcada por muitos concertos e trabalhos, facto que não muda ao entrar no novo milénio. Em 2002, é nomeado para os Globos de Ouro, evento promovido pela SIC, pelo seu álbum “Jorge Palma”, lançado em 2001. Mais recentemente, em 2007, lançou o seu disco “Voo Nocturno” numa viagem que só terminará quando a música acabar. “Afinal, a culpa é dos alunos... filmes João d’Eça Se o cinema é a verdade vinte e quatro vezes por segundo, como disse Godard, então o filme A Turma (Entre Les Murs), de Laurent Cantet, é a verdade duzentas e quarenta vezes por segundo, que nos embrulha e entontece com o seu ritmo alucinante e a sua terrível representação da mais importante instituição que a sociedade conhece: A ESCOLA. OS DIÁLOGOS MORDAZES DE “A Turma” e as suas situações incríveis têm o poder ambíguo de nos comoverem pelos “enfants terribles” e ao mesmo tempo de desejarmos a sua repressão. As cenas são magistralmente filmadas em estilo semi-documental e expõem-nos os comportamentos de uma turma intercultural num bairro suburbano de Paris. O professor de Francês, protagonista da história, é o Director da Turma, cujos esforços para transformar os seus alunos em cidadãos respeitáveis se vêem constantemente frustrados, quer pelo sistema repressivo da escola, quer pelos próprios alunos, oriundos de classes baixas e pouco educadas ou de famílias emigrantes. São muitos os alunos que nem o francês dominam e um deles intriga os restantes ao esquecer o seu país de origem e escolher a França como a sua selecção de futebol. É um filme bastante interessante na sua reflexão sobre vários dos problemas contemporâneos que afectam, não só aquele país, mas também o nosso e muitos outros, como a discriminação racial, a formação de um sistema de ensino responsável pela exclusão dos indivíduos com menos capacidades e a ausência de estímulo da inteligência emocional que conduz as camadas mais jovens pelo caminho fácil que, a longo prazo, se revela inevitavelmente como o mais árduo. Afinal, a culpa é dos alunos, ou da Escola? Sobre o final explosivo, que nos remete para outras obras cinematográficas como “Sementes de Violência”, (Blackboard Jungle, 1962), de Richard Brooks, e que nos mostra a expulsão de um aluno e o consequente fracasso do professor e da escola na sua integração, tenho a dizer que era o fim esperado numa obra que tem o dom de surpreender mesmo com o que à partida nos parece óbvio. … ou da Escola?”. A Turma Entre les Murs Realização: Laurent Cantet Argumento Original: François Bégaudeau França, 2008, 128 min. Principais intérpretes: François Bégaudeau (François Marin), Nassim Amrabat (Nassim), Esmeralda Ouertani (Esmeralda), Franck Keïta (Souleymane), E não se pode esquecer a cena em que uma das alunas diz que nada aprendeu na escola, mas sim em casa, onde leu “A República”, de Platão, por livre iniciativa. 24 25 CRÍTICA Laurent Cantet, o realizador de “A Turma”, admitiu que o seu filme podia ser visto quase como um documentário sobre a escola pública da actualidade. Depois de ter visto este filme, várias vezes, acho que concordo com ele. “A Turma” é um relato bastante realista do que é e como funciona a Escola nos dias de hoje, passando pela relação professor-aluno, pelos problemas disciplinares de integração social e da imigração. É realista não só pela forma como está filmado e concebido, mas também pela escolha das personagens – que eram meros alunos, e não actores. É também importante destacar o fabuloso argumento (galardoado com um César no festival César Awards, em França), escrito pelo próprio actor André Vieira que faz de professor no filme. Tal como em “O Clube dos Poetas Mortos” (Dead Poets Society, 1989) fala-se do papel da Escola, da Educação e, mais concretamente, do papel do Professor. O mundo evolui, as mentalidades mudam, as pessoas pensam de outra forma. Como não poderia deixar de ser, a Escola também tem que acompanhar essa evolução constante. É inevitável. Quem acha que a Escola devia continuar a ser como há 40 ou 50 anos atrás e que os alunos deviam continuar a levar reguadas é irrealista e ingénuo. Um bom professor deve estar a par dessas mudanças e saber adaptar-se às circunstâncias. Um professor que dê aulas, por exemplo, no Colégio São João de Brito, não pode ensinar da mesma forma que um professor de uma Escola na Buraca ou da Amadora. Sempre existiram e sempre existirão alunos problemáticos e, admitindo que não podemos simplesmente pô-los de parte, há que criar métodos para chegar a eles, conseguir motiválos e ajudá-los a se interessarem minimamente em aprender. E mesmo que não aprendam nada em Matemática, Física ou História, mesmo que não saibam os nomes dos países e das cidades, dos reis e das rainhas, já é bom que pelo menos saiam de lá bem preparados, mais crescidos como homens e cidadãos, a saber lidar com os outros e a viver em sociedade. “Na escola se molda o menino fazendo dele um homem.” Esta é a citação que está gravada numa placa mesmo à entrada da minha antiga escola, e que acho que diz tudo. Quem disse que é fácil ser professor? “Todos os locais que percorremos (que guardaremos na memória) são também ... passeios A Escola Secundária de Linda-a-Velha, (actualmente Escola Secundária Professor José Augusto Lucas) completou, no passado dia 17 de Dezembro de 2009, os seus 30 anos. Neste sentido, o nosso “passeio” foi, desta vez, num local mais familiar – a Nossa Escola. COMEÇÁMOS POR PENSAR NOS LOCAIS que mais marcaram o nosso percurso escolar e dos quais nos lembraremos daqui a 30 anos. Iniciámos o nosso itinerário pelo espaço exterior realizando algumas paragens para apreciar o local e conversar com alguns alunos ali presentes. Ana Martins As bancadas (junto aos campos de jogos) foram o nosso primeiro destino. Aí, perguntámos a alguns alunos a razão de terem escolhido aquele local para passar algum do seu tempo livre. As respostas foram semelhantes: todos gostam deste local por ser agradável e bastante solarengo. A paisagem cativa os olhares: além do Cristo Rei e da Ponte 25 de Abril que vemos lá ao fundo, também os colegas a jogar futebol no campo. Prosseguimos então pelo campo até chegarmos à zona atrás do Pavilhão de Educação Física, onde encontrámos alguns graffitis interessantes... Parando junto das escadas em caracol encontrámos sentadas, no seu topo, duas alunas que nos explicaram preferir estar neste local por ser mais isolado (contrariamente às bancadas, este é um local com bastante sombra). Daí passámos para a esplanada onde actualmente se encontram os matraquilhos; esta é uma zona que poderia ser bastante mais aproveitada. Comentámos depois acerca da nova “varanda dos professores”: espaço este que nos parece agradável, uma Catarina Saldanha vez que é bastante florido. Continuámos o nosso caminho até ao pátio em frente ao Pavilhão D, um dos espaços exteriores mais frequentados nos intervalos. Para alguns é apenas um espaço de passagem para os pavilhões enquanto outros preferem ficar por lá, sentados nos bancos, especialmente em dias de sol. Perto deste espaço encontramos ainda dois bebedouros, renovados, no âmbito da disciplina de Área de Projecto, por um grupo de alunos do 12.º do ano lectivo anterior, cujo tema era “Por Água Abaixo”. Íamos deslocar-nos para o espaço traseiro do pavilhão E quando, subitamente, outra zona nos captou a atenção: as escadas que se encontram junto ao Pavilhão B e com vista para a entrada da escola. Neste local passámos bastante tempo enquanto alunas do ensino básico. Actualmente, especialmente de manhã, este espaço é ocupado por alunos de outros anos. ... espaços de aprendizagem que nos moldam ao longo dos anos.” Retomámos o nosso caminho até ao Pavilhão E, cuja zona traseira era antigamente um espaço não muito recomendado… porém, hoje em dia, encontramos grupos de amigos a jogar, a ouvir música ou ainda namorados… Preparávamo-nos para passar aos espaços interiores, quando nos apercebemos que existe ainda outro sítio que pode ser considerado uma zona “lá fora, cá dentro” – referimo-nos ao jardim que se encontra no centro do pavilhão D. Este espaço é cuidado pelo Clube de Jardinagem, contudo acaba por ser outro dos espaços que consideramos pouco aproveitados – visto que na maioria das vezes o seu acesso se encontra vedado (a porta está fechada). Infelizmente, só podemos contactar com este espaço na presença de um professor. Ao lado, encontrase a Biblioteca, o local para onde nos dirigíamos. Aqui, encontrámos alunos realizando as mais diversas actividades: desde estudar, ler, estar no computador ou simplesmente conversar. Actualmente, a Biblioteca é um dos espaços que se encontra em renovação. Terminámos o nosso passeio quando, finalmente, atingimos o lugar que é efectivamente o mais frequentado da escola quer por alunos, professores, funcionários e quer por outros membros da comunidade escolar - o Polivalente. Este é definitivamente um local que ficará na memória de todos os alunos que passaram/passarão pela ESLAV porque é, inegavelmente, um espaço muito abrangente. 26 27 CRÍTICA Neste espaço os intervalos são passados ao som das músicas pouco diversificadas escolhidas pela Associação de Estudantes, contrariamente às actividades que aí se podem realizar. Observando atentamente este espaço encontramos pessoas que conversam, estudam, jogam cartas Magic, jogam ping-pong, comem, observam exposições (como a que actualmente verificamos do concurso dos postais de Natal) ou trabalhos de projectos expostos pelos alunos, entre outras actividades. Quando saímos do Polivalente pela zona das casas de banho, o nosso olhar caiu sobre o placard que existe nessa zona e no qual se anunciam eventos associados ao Desporto Escolar, assim como a abertura de um espaço de exposições (associado ao Clube de Cinema) no pavilhão E. Terminado este “passeio” e enquanto nos dirigíamos para a saída da escola, o Professor Francisco ia-nos perguntando o nome de algumas plantas ou árvores que nos rodeavam. Respondendo a algumas destas questões, apercebemo-nos de que aquilo que aprendemos na escola não se restringe às quatro paredes da sala de aula. Todos os locais que percorremos (que guardaremos na memória) são também espaços de aprendizagem que nos moldam ao longo dos anos. “(...) a relação de saber é também uma relação de afectos, daí que seja fundamental... ex-alunos Na tarde de um sábado, 28 de Novembro, encontrámo-nos com Susana Santos e Sérgio Mimoso na pastelaria “A Padeira”, em Carnaxide. Assistimos a um reencontro entre a “calma” e o “caos”! Sara Vilaças Catarina Nunes A SUSANA decidiu escolher a ESLAV devido à influência da mãe (Prof.ª Guida Santos, que leccionava Inglês neste estabelecimento) e dos irmãos mais velhos que, na altura, eram alunos da escola. Inscreveu-se no curso da área das Ciências Físicas e Tecnológicas e tinha como sonho ser astronauta. Recorda-se da ESLAV como uma escola com professores exigentes, que faziam tudo para dar uma boa formação aos alunos. Foi uma aluna aplicada e muito exigente consigo própria no que toca aos estudos. Falou-nos em especial do seu Professor de ITI, “uma pessoa com quem gostava muito de conversar”, e as professoras Gilda Rosa e Teresa Antunes. Actualmente, enquanto acaba a sua tese, lecciona no ISCTE (Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa) e tem por objectivo prosseguir para o Doutoramento na mesma escola. Transmitiu-nos a sua paixão pela política e a prova disso é o facto de ser Secretária Geral da JSD (Juventude Social Democrática), em Algés/Carnaxide. Na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Lisboa, foi directora do Jornal dos Estudantes e recorda-se de ter escrito um texto sobre a inteligência emocional (ver pág. ao lado). “Estava a ler um livro sobre esse assunto. Achei que faria sentido esse artigo”. Mas a sua opinião sobre o tema é bastante clara, “trata-se apenas de um tema de marketing, apesar de a nível científico ser muito estudado”. A conversa então avançou para a diferença entre os “bons” e os “maus” alunos. Admitiu que na sua actual função de professora, por vezes, faz essa distinção. Uma das razões para essa distinção é o facto de os professores se sentirem seduzidos pelos melhores alunos. Revelou-se uma pessoa simples e muito modesta em relação a tudo o que faz. Quanto a nós, temos a mesma opinião do seu colega Sérgio Mimoso: “Um dia ainda vamos ouvir falar muito da Susana Santos”! Ficamos à espera. … que o professor considere as necessidades afectivas dos seus alunos.” 28 29 CRÍTICA A INTELIGÊNCIA EMOCIONAL VAI À ESCOLA Quando nos deparamos com a palavra educação, quase automaticamente, a primeira revelação que temos remete para uma apreensão cognitiva. Na realidade, hoje sabemos que o acto de educar ultrapassa bastante esta concepção tradicional predominantemente cognitiva, integrando também outros objectivos como ajudar a construir a identidade do(s) outro(s), com o intuito de estimular também as competências emocionais, afectivas e sociais dos alunos. Cada vez mais esta concepção holística e ecléctica da educação faz sentido, uma vez que a população de alunos deste novo milénio apresenta características relacionais bem diferentes, que precisam também de receber o interesse dos professores, dos psicólogos e dos agentes intervenientes em contexto escolar. A relação pedagógica adquire as características de uma relação de transmissão de saberes, na qual o professor é agente de emissão de saber enquanto que o educando é agente assimilador. Este intercâmbio de saber só é possível quando existem factores de natureza emocional e afectiva na relação, como a empatia, a motivação, a autonomia ou a auto-estima. Os factores emocionais são determinantes pois deles depende o sucesso ou o insucesso das interacções professor -aluno e, consequente, os resultados do processo de ensino-aprendizagem. Deste modo, a relação de saber é também uma relação de afectos, daí que seja fundamental que o professor considere as necessidades afectivas dos seus alunos. O processo de aprendizagem não inclui somente factores de natureza cognitiva mas necessita também das emoções e da acção.(…) Susana Santos Jornal dos Estudantes de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Lisboa Abril 2006 O SÉRGIO, mais conhecido por Mimoso, admite ser um rapaz do tipo “não pontual” e “relax”, mas que coloca os amigos sempre em primeiro lugar. Escolheu a ESLAV por uma razão muito simples: indo para uma escola que não estivesse perto de casa teria que adquirir um passe de autocarro – o que lhe daria imensa liberdade! Sente saudades da ESLAV, “foram os melhores anos da minha vida”, tanto no campo escolar, “era uma turma porreirinha”, como no campo emocional, “consegui namorar com a rapariga mais bonita da turma!”. Segundo a Susana, sua colega de turma, era visto pelos colegas como “um amigo que estava sempre por perto”. “Ao pé dele era impossível não rir!” Nunca se sentiu à parte na turma embora ele fosse um dos piores de uma turma de excelentes alunos, só... tinha média de 15. Recorda com saudade e alegria o Clube do Mar a que ambos pertenciam. Este Clube, com aulas de canoagem e vela, era uma boa oportunidade para o convívio e descontracção com os colegas. Terminado o Secundário, entrou na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Lisboa. Quando acabou o curso esteve a trabalhar com jovens em situação de risco, na zona de Chelas. Aí conseguiu a experiência suficiente para, actualmente, se sentir bastante à vontade no exercício de Técnico de Educação Especial, numa Escola Primária em Mem-Martins. Nela, dá acompanhamento a alunos e famílias mais desfavorecidas. “Costumo estar no recreio a conversar e a conviver com os alunos. Quero que me vejam como um amigo com quem podem falar e desabafar”. Numa conversa mais a sério, confessou-nos que o seu trabalho por vezes consegue ser muito duro, mas que gosta do que está a fazer, pois conseguiu juntar as duas componentes que aprecia: educação e ciências na área da psicologia. Em relação à diferença entre alunos “bons” e “maus”, explicou que o “rótulo” ainda existe. É inevitável, faz parte do dia-a-dia de toda a gente e a solução está em os alunos saberem dar a volta por cima. Foi muito específico na opinião sobre o que é a Inteligência Emocional: “é saber lidar com as emoções e compreendê-las”. Revelou-se ser uma pessoa muito fácil de se gostar e mostrou-nos que tudo pode vir a ser simples se não o complicarmos antes. Mágoas da Escola Peço o título emprestado a Daniel Pennac e ao seu livro, que acaba de ser publicado em Portugal. É um romance-ensaio que todos os professores deveriam ler. Ao contrário de outras obras que insistem em "estratégias", "metodologias" ou "sistemas" para vencer o insucesso, Mágoas da Escola parte do mal-estar do aluno. Durante anos, os meninos do insucesso interiorizaram a ideia de que valem zero - a classificação que obtiveram em diversas avaliações ao longo dos seus estudos. É daí que Pennac parte - da própria noção de fracasso dos estudantes para a pôr em causa e avançar para uma nova leitura do que é ser "mau estudante". Encontrei neste livro o reforço da minha ideia de que todo o trabalho com crianças e adolescentes deve partir não só da observação e escuta activa das suas necessidades, como também da desconstrução dos preconceitos de que são alvo. Um deles, muito frequente, é a expectativa negativa que muitos professores têm sobre a "má turma" e o "mau aluno", baseada no rótulo afixado aos estudantes, às vezes desde o início do seu percurso escolar. O "diagnóstico" (muitas vezes formulado sem qualquer avaliação rigorosa) do aluno "problemático", transportado como uma segunda pele desde o 1.° ano de escolaridade, é a versão moderna das "orelhas de burro" da primeira metade do séc. XX, porque serve o mesmo propósito: desqualificar, estigmatizar, excluir. Perante este rótulo, muitos professores desanimam à partida. Falam de turmas "terríveis", de alunos "desmotivados", de famílias "disfuncionais". Caminham para a sala de aula como quem vai para o manicómio, sem esperança nem alegria: afinal contactam todos os dias com a indisciplina, o abandono e o insucesso, no fundo as marcas visíveis do seu fracasso docente. A culpa, contudo, não é dos professores. Protagonistas de uma escola sem rumo, todos os dias esmagados pela burocracia ministerial, fazem o melhor que podem. E, em muitos casos, conseguem salvar vidas de gente nova, à custa de um grande esforço pessoal ou de uma melhor organização da escola. Pennac inverte esta leitura. É a partir da própria definição de mal-estar estudantil que se olha para a realidade e se reconstrói a aprendizagem, com a utilização de instrumentos agora tidos como antiquados, por exemplo o ditado e a memorização de textos. Tudo se consegue numa interacção muito viva com os alunos, redefinindo as suas posições desanimadas e co-construindo um novo relacionamento com os livros e a escola. Mágoas da Escola subverte a noção tradicional de que as "bases" são o essencial e que sem elas pouco se poderá fazer, como tantas vezes ouvimos a professores: na ânsia de diminuírem a sua própria ansiedade com o fracasso das crianças a seu cargo, esses docentes empurram a culpa para os que os precederam e demitem-se de lutar, até porque lá está a "disfunção" da família ou a desorganização da escola anterior para tudo justificar. Tal como Pennac, ele mesmo um menino de insucesso que triunfou, muitos dos alunos que hoje têm más avaliações poderão ter melhor futuro, se alguém for capaz de os escutar com atenção e partir do seu "insucesso" para a descoberta de novos caminhos, que passam sempre por aproveitar qualquer coisa que está dentro deles. Lia eu Mágoas da Escola quando me chegou mais uma notícia do nosso Ministério da Educação (ME). Estará a sua equipa dirigente mesmo preocupada com o insucesso ou a formação dos professores? Estará hierarquizada a formação docente, de modo a garantir menos indisciplina na escola? Parece que não. De outra forma, como compreender o interesse da formação dos professores em crianças "índigo", creditada e a custo a cem euros? Perante as mágoas, o ME prefere o esoterismo e o ensino sobre coisas que ninguém sabe muito bem o que é. Um professor assim poderá perscrutar essas crianças "especiais", em vez de se preocupar com os meninos "zero". Para que conste. Daniel Sampaio Revista Pública 19 Abril 2009 (Tipo de letra: Verdana) Para o Lucas Estás sentado à tua secretária, um pouco inclinado como quem acabou de chegar ou está prestes a levantar-se ou ainda como se esperasses que alguém entrasse no teu gabinete sempre aberto para nos acolher. Estás no pátio da escola caminhas por entre os alunos olhas para cada um deles e sabes o seu nome e sabes melhor que qualquer um de nós que os sonhos jovens e as loucuras jovens e as mágoas jovens são para escutar atentamente porque são os jovens que enchem de energia o nosso mundo e nos ajudam a colher o dia, a luz de cada dia. Talvez por isso tenhas permanecido sempre naquele lugar improvável e difícil da eterna juventude. Estás numa festa da escola - em todas as festas da escola e o teu olhar ilumina-se de ternura paterna (ou será fraterna?) o teu olhar abraça-nos de alegria de viver. Caminhas por entre os alunos e não sabes ainda que os teus passos hão-de ficar gravados aqui para sempre e que nos dias de luz mais inquieta os seguiremos para nos sentirmos menos sós. Estás no canteiro em frente à porta é quase noite, já todos partiram e tu cortas a relva distraidamente como quem sacode o tapete depois da festa ou antes da nova festa que é como queres cada dia na tua casa-escola. É cedo para sabermos da grandeza de tudo aquilo que aprendemos contigo e a saudade que vai crescendo enterrou já o que em ti por vezes nos exasperava: a tua insegura teimosia, a tua obstinada procura de consenso e sobretudo o teu sorriso de menino melancólico que sempre nos desarmou. Se tu soubesses da metade da falta que nos fazes talvez não tivesses partido assim tão cedo e sem despedida. Ainda assim queremos dizer-te que cuidaremos de tudo aquilo que na pressa da partida deixaste connosco. Deixaremos abertas as portas do coração saberemos de cor a cor dos nomes de cada um escutaremos o mais pequeno rumor do território dos jovens afectos e não desistiremos da utopia de uma escola de todos e para todos. E, podes crer, cortaremos a relva do teu canteiro. Elisa Costa Pinto Linda-a-Velha, 21 de Novembro de 2007 (Tipo de letra: Arial Rounded MT Bold) OUVI DIZER QUE NA PRÓXIMA SEMANA VAMOS TER UMA NOVA DISCIPLINA RELACIONADA COM A “INTELIGÊNCIA EMOCIONAL”... Mariana Amor “INTELIGÊNCIA EMOCIONAL”? O QUE É ISSO? ...E VAMOS COMEÇAR COM UM TESTE... … E CLARO QUE TAMBÉM SE “BOM, SEGUNDO A MINHA TRATA DE SABERMOS PESQUISA A “INTELIGÊNCIA RELACIONARMO-NOS COM NÓS EMOCIONAL” É A MESMOS E COM OS OUTROS... “CAPACIDADE DE FAZERMOS ESCOLHAS RAZOÁVEIS, QUANDO CONFRONTADOS MAS AINDA NÃO PERCEBI COM SITUAÇÕES COMO VÃO VÃO TORNAR A COMPLEXAS”... “INTELIGÊNCIA EMOCIONAL NUMA DISCIPLINA... OK, SÓ UMA PERGUNTA... DIZ?... ??? MAS AFINAL, QUAL É A MATÉRIA QUE VEM PARA O TESTE???.