Edição número 07 - Revista o Professor

Transcrição

Edição número 07 - Revista o Professor
Entrevista: O geógrafo Aziz Ab´Saber fala sobre meio ambiente, aquecimento
global e critica membros do IPCC
SINPRO - Sindicato dos Professores do ABC
setembro/outubro de 2007 edição no 07
Violência nas Escolas
Agressões a professores, alunos e
funcionários levam medo para dentro das
instituições de ensino
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
1
2
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
SINPRO - Sindicato dos Professores do ABC
ENTREVISTA
5
Aziz Ab´Saber
Mudanças climáticas,
aquecimento global e meio
ambiente em pauta
setembro/outubro de 2007 edição no 07
NACIONAL
26 A Vale é nossa
População se mobiliza pela
reestatização da Cia Vale do Rio
Doce
INTERNACIONAL
12
A Carta da Terra
ESPECIAL
16
ARTIGO
28 Implementação de coleta
seletiva nas escolas
Por Pedro Marcio Munhoz
Educação a Distância
Informática invade as salas de aula e
coloca em debate o sistema de ensino
a distância
EDUCAÇÃO
Cursos que oferecem bolsa
no ProUni têm desempenho
ruim no Enade
EDUCAÇÃO
20 Violência nas escolas
30
SINDICAL
SALA DE AULA
31 100 anos da História de Cuba
Casos assustam profissionais,
alunos e toda a sociedade
23
Sindicalização no Brasil
O sobe-desce dos números no
país
CULTURA
24
Javier Guerrero: mosaicos e
militância
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
Por Cibele Vieira Machado
SAÚDE
32 Corpo, movimento e saúde
Por Wilson Kraciunas
3
editorial
Vote SIM pela VIDA!!!
A modernidade traz consigo inúmeras novidades, algumas positivas, outras ... nem tanto! A revista do Professor, nesta
edição, aborda alguns temas que merecem uma reflexão mais aprofundada. Nossa matéria de capa remete para a
discussão sobre a violência nas escolas, que assusta a população, invade as salas de aula e amedronta os educadores,
alunos e familiares, problema em que a amplitude tem se acentuado e tem dificultado a ação pedagógica nas unidades
escolares. A violência mostra-se através de muitas outras facetas em nossa sociedade...
Apresentamos uma alternativa à agressividade com que estamos destruindo nossa casa-mãe. A Carta da Terra é um
documento elaborado coletivamente, com a participação de 46 países e mais de 100 mil pessoas, cuja origem remonta à
Rio-92 e que apresenta algumas possibilidades de enfrentamento dos desvarios humanos contra o Planeta, apontando
para a necessidade de respeito e cuidado com a comunidade da vida, do despertar de uma integridade ecológica, da
implementação de políticas geradoras de justiça social e econômica, de posturas éticas e democráticas e da construção
de uma cultura de não violência e paz. Um documento que valoriza a vida, em todas as suas manifestações, priorizando
uma política de proteção e conservação dos recursos naturais.
Na mesma linha de pensamento, apresentamos uma entrevista com o professor Aziz Ab’Saber sobre as alterações
climáticas e aquecimento global, preocupações constantes em meio a tantas catástrofes naturais, conseqüências das
ações do homem contra o meio ambiente.
Apresentamos, ainda, um projeto de coleta seletiva nas escolas, tendo em vista a vital importância de implementar um
trabalho de preservação ambiental.
E, já que o assunto é violência, discutimos a falta de políticas trabalhistas relacionadas à implementação da EaD,
onde cada escola cria suas regras, não levando em conta os direitos profissionais da categoria. Finalizando a temática,
abordamos os sabores e dissabores da sindicalização no Brasil.
Finalmente, ampliamos a discussão sobre a privatização da Vale do Rio Doce, passamos pela análise do PROUNI,
apresentamos uma sugestão de leitura: A Revolução Cubana e a Questão Nacional (1868 – l963), objetivamos dúvidas
sobre saúde e postura corporal, bem como, presenteamos a categoria com os belíssimos mosaicos que desenvolvem
a temática da luta pela liberdade na América Latina na Agenda do Professor - 2008.
Boa Leitura, e até a próxima edição.
expediente
Revista do Professor - Ano II - Número 7 - setembro/outubro 2007 - SINPRO ABC - Sindicato dos Professores do ABC - Gestão 2004/2007
Diretoria Executiva: Aloisio Alves da Silva, Célia Regina Ferrari, Denise Filomena L. Marques, José Carlos Oliveira Costa, José Jorge Maggio, Paulo Cardoso de Souza,
Paulo Ostroski e Paulo Roberto Yamaçake • Presidente: Aloisio Alves da Silva • Diretora de Imprensa: Denise Filomena L. Marques - Edição e reportagem: Mayra
Monteiro - Mtb 47135 • Projeto Gráfico: Imprensa SINPRO ABC • Capa: Israel Barbosa • Tiragem: 4.000 exemplares • ISSN 1807-7994.
SINPRO ABC - Rua Pirituba, 61/65 - Bairro Casa Branca - Santo André - CEP 09015-540 - São Paulo
www.sinpro-abc.org.br • [email protected]
4
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
entrevista
Ab´Saber: “Não dá para
confiar no pessoal do
IPCC”
A
os 83 anos, o geógrafo Aziz Ab'Saber exibe em
seu discurso uma vitalidade invejável. Um dos
maiores estudiosos dessa área no planeta, a
capacidade de análise o deixa bastante à vontade para, por
exemplo, confrontar especialistas como os que fazem parte do
Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC):
"Não sabem nada, são pessoas da Física, engenheiros e
outros. Não dá para confiar neles", ataca.
Na entrevista abaixo, concedida na sala no Instituto
de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA/
USP), o professor falou sobre meio ambiente, as soluções
hídricas para o sertão nordestino, e não poupou o presidente
da República.
Muito se discute hoje que, para frear o processo
de aquecimento global, a única alternativa que de fato
resolveria seria optar por uma mudança de matriz
energética. Nesse caso, pelas condições do país, a escolha
seria a energia hidrelétrica mesmo?
Aziz Ab' Saber - A mais limpa e saudável alternativa é a
energia hidrelétrica, mas estamos em um dilema. Ou fazemos
essas usinas, ou caminhamos de novo para a energia nuclear,
como outros países do mundo vão ser obrigados a fazer. Nem
todo país tem os recursos hídricos que o Brasil tem. Aqui,
são 78% de drenagens abertas para o mar e perenes. Nossa
situação de usar primeiramente as barragens para geração
elétrica é favorável do ponto de vista ambiental. Mas, do ponto
de vista biológico, no caso da ictiofauna fluvial, vamos ter
problemas, mas não dá para resolver tudo. Os ambientalistas
que lutam contra essas usinas não estão fazendo o balanço
das vantagens da usina. Há desvantagens, mas não é com isso
que eles trabalham, e sim com as dificuldades de preservação
da fauna fluvial no trecho a montante da barragem.
Outro problema para a população ocorre quando não
retiram a madeira. Em Tucuruí, por exemplo, aconteceu
isso...
Ab'Saber - Mas são obrigados. São obrigados. No
projeto, se não houver a remoção lateral da madeira vai ser
um problema infernal que você não pode imaginar. É preciso
ter ido a um lugar como esse para saber o que é o mau cheiro.
Se vai realmente construir a usina, tem que deixar um espaço
limpo na floresta. Aí entra outra questão: a área desmatada
é muito grande, não é simples. Além disso, é uma área que
tem ainda alguns agrupamentos indígenas pequenos, mas
extremamente bravios em termos de uso de seu espaço florestal
por atividades inundadoras. Mas ao observar o rio Madeira,
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
Entrevista concedida à Revista Fórum, edição de julho/2007.
Por Anselmo Massad, Glauco Faria e Mouzar Benedito. Fotos de
Gerardo Lazzari
entre os confins das terras ligeiramente mais acidentados e
os grandes tabuleiros florestados, não é muito fácil encontrar
lugares para fazer barragens com certeza de que vai haver
sucesso. As empreiteiras não querem saber disso, já há algum
tempo pensam fazer dinheiro com essas obras. E o governo
faz de conta que não há problemas.
É complicado, não sigo diretamente a linhagem de
argumentação dos ambientalistas rígidos, que se fixam um
pouco demais na piracema do Madeira. Sabe-se que o rio
está muito poluído por causa da exploração de ouro e o uso
de uma série de produtos químicos perigosos. O rio já tem
problemas, e a barragem vai se somar a eles. E, ao mesmo
tempo, há outros processos que não serão atendidos no
projeto de construção, como a questão da distância. A usina do
Madeira fica muito longe do Centro-Sul do país, o que exigiria
obras grandes de transmissão, muito custosas. Acontece que
o governo sempre quer fazer obras gigantescas, faraônicas.
Quer transpor as águas do São Francisco, fazer barragens no
Madeira, que nem conhece direito, nem sabe a distância, tem
pouco conhecimento geográfico.
O presidente Lula, que viajou tanto com o senhor,
modificou a visão que tinha a respeito do país?
Ab'Saber - Nem quero falar nisso, o Lula está em
um momento de vaidade tão grande que pensa apenas no
currículo do político que ele é para o futuro. "Todo mundo
falou em transpor as águas do São Francisco, mas eu fiz as
5
Os outros rios, assim como o São Francisco, também estarão
mais baixos, secos até, precisarão de mais água.
A transposição tiraria água do São Francisco para
levar a outras regiões, mas há projetos da Companhia de
Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf)
que já retiram água do rio em volumes consideráveis para
loteamentos, no modelo de Petrolina e Juazeiro. Há uma
série em funcionamento e outros em construção, mas...
Ab'Saber - O de Petrolina é muito bom, é o único que
deu certo, mas não atende socialmente à população. Isso eles
escondem. Não dizem quem teve vantagens socioeconômicas
com a irrigação de Petrolina. E, por outro lado, no caso do
Jaguaribe, que conheço bem, há dois açudes. Vão levar a
água para o alto para descer até o Jaguaribe, que é o principal
do eixo Leste, o resto é invenção para mostrar que se pode
atender áreas mais remotas. E a água vai cair no açude de
Orós, que está salinizado. Águas poluídas em um açude
salinizado somente podem ser usadas para irrigação. O
discurso de "água para todos", usado para tapear a população
sertaneja, é uma mentira.
obras. "É muito complexo. Escrevi muito sobre o assunto na
minha coluna na Scientific American. O governo fala que não
é a transposição do rio, mas de águas, só que não diz que as
águas do São Francisco estão poluídas devido à descarga de
tudo à beira do rio - inclusive ao que atende a. região de Belo
Horizonte [rio das Velhas], e os resíduos sídero-metalúrgicos.
Tudo vai para o São Francisco.
Descobriram isso tardiamente e decidiram "revitalizar" o
rio. Vocês que conhecem a região de São Paulo sabem que tudo
o que foi feito para "revitalizar" o Tietê tem sido uma brincadeira
de péssimo gosto e demonstra a incapacidade de entender a
poluição hídrica. Lá, é pior ainda, são 2 mil quilômetros desde
a serra da Canastra até o ponto onde vão se fazer as primeiras
obras para a transposição de águas. E há mais uma coisa. O
sistema climático é o mesmo da área de cerrado. Quem vai a
Brasília sabe: tem um inverno em que chove muito pouco e,
depois, um verão em que chove muito. No Nordeste, durante o
inverno astronômico, é muito quente, a água evapora, os rios
ficam intermitentes. As chuvas são muito poucas, um quinto
das do Brasil central. Elas refrescam o conjunto cheio de calor
do sertão, então a população local inverte o nome. O tempo
seco é verão, e o de chuvas é inverno. Não é o primeiro lugar
no mundo onde isso acontece, no Norte da África também é
assim.
Um dia desses, falei que o período em que se precisaria
de mais água para além-Araripe é exatamente aquele em que
o São Francisco está mais baixo. E é preciso manter um nível
mínimo para fornecer água para as hidrelétricas de Paulo
Afonso, Itaparica e Xingó. Sabe o que o Ciro Gomes disse? Que
é exatamente o contrário do que eu disse, porque ele usou os
nomes regionais [riso irônico]. Mas não é: astronomicamente,
o período de inverno é de muito calor e evaporação e perda
de perenidade dos rios. São rios de intermitência sazonária,
seis meses para cada um dos períodos bem contrastados.
6
A estratégia mais correta seria a de pequenos
açudes?
Ab'Saber - Não sou eu quem deve estabelecer os
pequenos e médios projetos para isso. O governo tinha que
pensar na área como um todo. Não ia falar nisso, mas você
perguntou. Quando o Lula assumiu, fiz uma carta muito grande,
à mão - escrevo à mão, por causa dos olhos -e mandei para
ele. Resposta zero. Alguém jogou fora. Nela, eu dizia como
atender a regiões de um conjunto territorial muito grande. Para
a Amazônia fiz esta proposta: quando o governo assumir,
deve reunir em Brasília técnicos, cientistas e pesquisadores
honestos e bem-preparados para discutir a floresta. A comissão
tem que organizar um método de trabalho para conhecer todas
as partes da área. Tinha feito um mapinha no Instituto, com 23
células espaciais da floresta, esquecendo estados, com certa
homogeneidade e dentro de um quadrante mais ou menos
bem posicionado. Seria organizado um método de trabalho
para as pessoas que formariam de quatro a seis equipes
para visitar três células espaciais diferentes, para comparar
as realidades. Não dá para dizer que a realidade do Alto Rio
Negro e o rio Uaupés [noroeste do Amazonas] seja igual ao
que está acontecendo na área dos fazendeiros, madeireiros
para o Centro-Sul do Pará.
Depois, se reuniram, não em Brasília, nem em capital
para não sofrer influências dos governadores, para discutir
propostas variadas e diferenciadas para cada local, levando
em conta as formuladas pela própria população, durante as
enquetes. Gastando menos e fazendo mais. Trabalhei uma
semana para escrever uma carta desse tipo [risos]. A gente
que trabalha na universidade tem que contestar os cretinos.
Dividi a carta em quatro partes e publiquei na minha coluna
na Scientific American. Quando ele souber que a carta está
publicada, vai ficar p. da vida [risos]. Azar dele.
Outros intelectuais reclamam também por não serem
ouvidos. O governo não oferece canais de diálogo?
Ab'Saber - O Lula é um grande esperto. Para poder se
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
reeleger, fez várias reuniões com intelectuais. Uma no Rio de
Janeiro foi uma coisa séria. Trouxe todos os intelectuais a um
restaurante muito rico, todos favoráveis. Depois, "até logo". Só
serviu para dar voto. Fez isso na primeira eleição. Na segunda
reuniu também muitos intelectuais.
pelo homem. São 500 quilômetros quadrados somados de
devastação da Amazônia. É equivalente a duas vezes o estado
de São Paulo. Não tem sentido falar das mudanças climáticas
e esquecer do que os homens estão fazendo "savanizando"
tudo.
Na questão do aquecimento global, o senhor deu
entrevistas falando do Optimum Climático...
Ab'Saber - Optimum Climático é o período há 6 ou 5 mil
anos, em que o calor aumentou muito e degelou muita massa
de gelo dos pólos, e o mar subiu até três metros. Isso está bem
representado nas áreas praianas brasileiras. Há uma costeira
que não encosta no nível da água de hoje, formada quando o
mar estava três metros acima.
Mas o relatório aponta o desmatamento como um
problema, em termos de emissão de gases do efeito
estufa.
Ab'Saber - Sim, no caso brasileiro são dois fatores.
O industrial do Sudeste, com Cuba tão, Votorantim, Volta
Redonda e outros lugares, juntamente com o excesso de
veículos. O outro é a queimada na Amazônia.
O senhor tem uma visão discordante do IPCC sobre
o aquecimento global...
Ab'Saber - É porque eles ficam dizendo que quando o
mar subir vai derruir a Amazônia e entrar o cerrado etc. Não
sabem nada, são pessoas da Física, engenheiros e outros.
Não dá para confiar neles. Mesmo porque, quando o mar
estava mais alto três metros, não destruiu a floresta, pelo
contrário, houve mais evaporação, mais calor e mais umidade
para a Amazônia e muito mais para o Brasil Tropical-Atlântico,
sem o que, aqueles redutos de mata, que resistiam apesar do
clima frio, não teriam se ampliado e se emendado. É a teoria
dos redutos e refúgios. Tenho moral para falar isso, porque
sou autor da teoria dos redutos e o [Paulo] Vanzolini da dos
refúgios.
As florestas estavam se reduzindo e as caatingas se
estendendo muito, então a fauna foi se concentrando. E com
excesso de fauna numa área pequena, houve processos
evolutivos de formação de subespécies. Depois, durante a
retropicalização, de 10 mil anos para cá, essas florestas se
emendaram e constituíram as matas atlânticas. E as correntes
quentes que estiveram a leste do Brasil desde há 11 mil anos
favoreceram o ambiente da tropicalidade. Basta dizer que,
quando estava o mar mais alto, a corrente quente foi até o
Rio Grande do Sul e favoreceu a implantação complexa da
floresta da serra Gaúcha, de Taquara até Santa Maria da Boca
do Monte.
O principal ponto de sua crítica ao relatório do IPCC
são as correntes marítimas?
Ab'Saber - Correntes marítimas, periodicidades
climáticas - falaram apenas, mas não levaram bem em conta,
de fenômenos como o El Nino - nem os jogos das massas de ar
- equatorial- continental, tropical-atlântica, polar, polar-atlântica.
Correntes marítimas, zero. Puseram nos jornais um mapinha
de como iria ficar com o aquecimento global sem considerar
dois fatos essenciais. Primeiro, em quanto tempo vai ficar
assim? Em 50, 200, 300, mil anos? Não levaram em conta a
temporização. Segundo, não levaram em conta a periodicidade
climática atual. As discussões todas foram feitas em dias muito
quentes, no período do verão, até chamei a atenção para isso.
É uma estupidez levar em conta um momento do clima ao longo
do ano. Estou pouco ligando por ter criticado um físico da USP
que, bobalhão, entrou nessa história de que os cerrados vão
aumentar esquecendo as formas de devastação promovidas
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
A pergunta é se o senhor, então, concorda com
a premissa de que a emissão desses gases promove o
aquecimento global?
Ab'Saber - Claro, está havendo aquecimento global,
não discordo disso. Minhas razões são diferentes das deles.
Eles não entendem bem o que é metabolismo urbano. É um
conceito que apareceu nos Estados Unidos, na década de
1960, e que não foi usado como método nem lá. Estabeleceram
que, no metabolismo urbano, há problemas de entradas,
fluxos e saídas. Numa cidade grande como São Paulo, entram
carros, ônibus, caminhões, treminhões, passam pelo território
e se reúnem com o que já está na atmosfera. A massa que vai
para o ar é muito grande. Mas também levei em conta coisas
mais amplas.
Fui a Cubatão falar com o pessoal da Petrobrás,
conhecidos meus. Ficaram meio quietos, porque não
querem que se diga que eles fazem poluição. Mas olhe bem,
em Cubatão, a pluma vai a 1.500 metros de altitude. Isso
registrado por eles, sem querer me contaram. O vento do
leste e do sudeste empurra para dentro do
planalto
Paulista. Aí, o ABC tem uma emissão
verticalizada para cima, que se reúne com
a de Cubatão. Depois vem a do Centro
Expandido de São Paulo, que é uma
tragédia do ponto de vista de emissão de
gases. Tudo isso vai bater na Cantareira.
A Cantareira tem problemas muito sérios
para resistir como ecossistema florestal
serrano. Tudo o que subiu - os gases
de Cubatão, ABC, cidade etc. - vai até a
troposfera, não consegue passar para
a estratosfera, e descai para os
lados. Chama-se "domo
de poluição".
Pois bem,
no
relatório
do IPCC, não
se fala nisso,
não se entra
em
casos
especiais desse
fenômeno
como é o de
São Paulo e de
outros locais,
7
mais interiores. Buenos Aires tem menos esse problema,
porque está numa posição perto do rio da Prata e do mar. O
domo existe em São Paulo, muito violento, e menos no médio
vale do Paraíba, onde as cidades estão se emendando. Na
zona costeira, as chuvas o os ventos eliminam. Mesmo em São
Paulo, as chuvas violentas fazem baixar a poluição, o domo
é desfeito, o que tampouco é dito pelo IPCC. No começo do
século XX, a temperatura média em São Paulo era de 18,6°C,
correspondente ao centro expandido. Hoje, é 22,7°C dentro do
domo. Levando em conta a área mais ampla, dá 21,8°C.
O relatório do IPCC é feito por pessoas das mais diferentes
partes do mundo, vaidosas por terem ido a Paris e a outros
lugares, e não grandes conhecedores. O maior climatologista
dinâmico do Brasil é o Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro.
Ele não é chamado para discutir, mas apenas físicos sem
saber nada de efeito estufa nem metabolismo urbano nem
nada. A questão de periodicidade climática, vocês teriam de
destacar...
Um dos físicos a que se refere é o Paulo Artaxo...
Ab'Saber - Não falei nomes, você que falou.
Sim, mas ele, quando confrontado, diz que o modelo
considerado pelo IPCC trabalhava de forma acoplada,
tanto com a área de oceano quanto de atmosfera.
Ab'Saber - A tese do João Dias da Silveira parte do
princípio de que as baixadas litorâneas quentes e úmidas são
as do leste, do outro lado da América do Sul, há a corrente fria
de Humboldt, que determina os semidesertos de toda costa do
Chile e do sul do Peru. Como pensar o oceano em conjunto? A
corrente marítima quente vem do Atlântico e se divide em dois
braços. Vem para o sul, e até Santa Catarina tem influência
grande. No Optimum Climático, ela ia até o Rio Grande do
Sul e favoreceu o adensamento das florestas nas serras. Por
que ficaram lá depois que as correntes deixaram de chegar?
Porque ali tem o melhor solo de todo o Rio Grande do Sul,
oriundos da decomposição dos basaltos.
É uma mentira dizer que o pessoal do IPCC considera
tudo ao mesmo tempo. Não considera nem as duas faces
da América do Sul. E outra coisa, o perigo que criaram para
as pessoas é muito grande. Na véspera de uma reunião em
Ribeirão Preto, o Carlos Nobre estava gritando na televisão
que ia derruir a Amazônia e ia entrar o cerrado. Ele não tem
capacidade para dizer isso, porque não conhece. A história
do Optimum Climático é muito séria. Porque o aquecimento
para subir três metros o mar foi muito grande e não derruiu
nada. Geleiras muito grandes e volumosas faziam crescer
o nível do mar. Na hora em que o mar estava descendo, a
corrente fria estava subindo da linha subtropical de hoje para
o Nordeste. A maior prova disso é que encontrei, na Bahia,
solos de clima tropical úmido, vermelhos, "de cobertura", em
cima de chão de pedra, formados em outro período. Descobri
isso em três lugares. Ao lado de Campina Grande há a mesma
coisa, uma das ilhas de umidade que mantiveram pequenas
florestas. Foram essas ilhas que me fizeram pensar na teoria
dos refúgios, que outras pessoas também apontaram. O que o
Artaxo pode falar dessas coisas se não conhece? O esquema
que há no Nordeste foi o da fragmentação em redutos.
8
Dá para prever em termos históricos as
conseqüências do aquecimento atual?
Ab'Saber - É isso que eles não discutem. Alarmaram
a população, mas não falam sobre questões importantes.
As coisas são tão feias no que está sendo transmitido para
a imprensa, que os jornalistas escolhem os que acham que
compreendem mais as coisas. Então, reproduzem coisas boas
e muitas bobagens. Essa de que a Amazônia vai ser derruída e
os cerrados vão entrar, note bem a gravidade. Os cretinos dos
fazendeiros agropecuaristas da região, se alertados de que vai
haver esse fenômeno pelo aquecimento global, vão dizer: "se
é assim, vamos derrubar mais, a nosso favor!". E saiu em um
caderno agrícola de um jornal paulista um produtor de milho
que dizia que o aquecimento global tinha prejudicado a safra
dele [risos]. É preciso dizer isso. As previsões de quanto o
nível do mar subiria foram muito diferentes. Um falou de um
milímetro por ano, outro falou de 34, outro de 64 milímetros.
Um último, estupidamente, apontou um centímetro por ano.
Em dez, 50 e 100 anos, a partir daí, é uma incógnita, porque
não haveria continuidade plana, mas vamos imaginar mais,
por curiosidade. Em 50 anos, muitos dos que vivem hoje
continuarão vivos, e os prédios altos vão estar de pé, mesmo
que haja inundações. Se os prefeitos de cidades litorâneas
seguirem o que dizem esses técnicos, não aprovariam prédios
altos e pesados na planície. Se fosse subir um milímetro
por ano, 34 ou 64, não seria tão grave. Acontece hoje de o
mar subir e entrar pelas ruas de cidades beira-mar, mas em
média, não seria grave. Se fosse um centímetro por ano, é um
desastre completo, em 100 anos, é um metro. Se continuasse
assim, no ritmo Bush, em 200 anos Ubatuba viraria Veneza,
o que exigiria adaptações caríssimas. Para mil, 10 mil ou 20
mil, se o aquecimento continuasse indefinidamente, sempre
subindo, as geleiras iriam ser todas fundidas, entrar pelo mar e
destruir todas as costas do mundo.
Eu era estudante quando vi isso em uma revista de
literatura, meio fantástica, sobre a Guerra Fria. Dizia que os
Estados Unidos descobriram que os russos estariam subindo
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
as cidades para lugares mais altos.
Começaram a pensar, e descobriram que os russos
poderiam bombardear o Pólo Norte e o Sul e fazer subir
rapidamente o nível do mar [risos]. Nunca me esqueci disso.
É uma coisa de ficção, mas na hora foi feito esse cálculo. E
sabe quantos metros subiria o mar se todas as geleiras se
derretessem? Seriam 34 metros, o equivalente a um prédio de
11 andares, que seriam todos inundados.
E quanto ao biodiesel?
Ab'Saber - Vamos falar do biodiesel. A questão depende
de saber o que foi o Protocolo de Quioto. Os países pobres
achavam que os ricos tinham de pagar alguma coisa por
poluírem e incentivarem o aquecimento global. O resultado
é que os Estados Unidos não quiseram assinar o documento
por uma série de argumentos. Mas o Protocolo era uma coisa
também errada. Porque eles pretendiam que os poluidores
pagassem para os não-poluidores e que ficasse tudo a mesma
coisa, emitindo dióxido de carbono e tudo. Aí os dirigentes vão,
pegam um dinheirinho para fazer obras por vaidades.
O Bush quis inventar alguma coisa para diminuir essas
críticas fantásticas que se fizeram aos Estados Unidos. Algumas
pessoas do Banco Mundial falaram que uma mitigação tem
que ser feita, seja país pequeno, seja médio, seja grande,
industrializado ou não. Depois, falou-se em adaptações. O
pessoal daqui ficou furioso com o termo. É que, na medida
em que o aquecimento pudesse provocar problemas nas
áreas costeiras, teria que se pensar, ao longo do tempo, em
obras planejadas para evitar o pior. É obrigatório que se faça
mitigação por todos os processos possíveis e, do outro lado,
adaptações, em função de cada caso invadido pelo mar etc.
O que faz o Bush? Percebeu que o Brasil está avançado há
muito tempo em biocombustíveis, no caso, o álcool, e veio ao
país. Mas não foi a Brasília, mas a São Paulo. Nas imagens
de satélite, a área do interior onde só havia café, hoje, só tem
cana. Fantástica a transformação da paisagem rural lá. Ele
está visando a obter ampliações da produção de cana e etanol
e outros subprodutos para justificar a estupidez dele de não
querer nem discutir o Protocolo de Quioto e não ter assinado.
Por isso ele veio a São Paulo, onde tem as maiores extensões
contínuas de canaviais. Ribeirão Preto, Sertãozinho, São
Carlos. O problema é mitigar, segundo a expressão do Banco
Mundial. É uma critica grande aos Estados Unidos, que fazem
emissões muito grandes de dióxido de carbono. É isso que
tenho para dizer, não quero falar mais sobre o assunto.
No Sul do Maranhão, Sul do Piauí, Rondônia e
Roraima, a soja avança com desmatamento. Além da
exportação, há o biodiesel...
Ab'Saber - Isso é em função do incentivo que o Lula
está dando, que falou que os canavieiros são heróis. Acho
que os heróis são os cortadores de cana, talvez um milhão
de pessoas que saem de suas regiões só para cortar cana,
num país que não tem emprego. Mas alguém vai dizer que
os canavieiros são heróis por terem mantido o corte braçal. É
verdade, em alguns locais, fazem uso de maquinário de cortes
especiais, mas deixam um trecho grande para os cortadores,
porque senão seria uma crise socioeconômica muito grande.
Outra questão é que, se os usineiros são heróis, então o
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
espaço principal é o da cana. Onde vão ficar o feijão, o milho,
a mandioca e outras coisas? Eles são tão pretensiosos que
dizem que se não houver áreas aqui, vão à Amazônia. Entra
um fator a mais. Temos os agropecuaristas, fazendeiros,
madeireiros, loteadores.
Não sei se vocês conhecem esse tema. Há várias
estradas que cortam a selva Amazônica. Em pouco tempo,
elas foram sendo dominadas, invadidas, com áreas depois
registradas como propriedades deles etc. Eram espaços
públicos. Depois, de cada rodovia, vêm os ramais, que cortam
a floresta. Depois os sub-ramais, e a mesma coisa. Muitos dos
que trabalham numa empresa na construção compram um
terreno para si. Os lote adores são os homens mais perigosos
do Brasil. Vão desenhando quarteirões, fazendo trilhas e vão
vendendo para os incautos que não sabem nada da Amazônia.
Não é só o pessoal do IPCC que é idiota. Vão vendendo os
pedacinhos. As pessoas compram e pensam que vão instalar
uma fazendinha, mas não conseguem chegar até lá, porque o
preço para se chegar até lá é maior do que o pago pelo terreno.
Forma-se o que os amazônicos chamam de "espingüela de
peixe". Se vocês vissem as imagens de satélite de áreas
iniciais disso, onde o loteamento aconteceu há algum tempo,
não há mais nada, apenas árvores isoladas.
Fora isso, os mais espertos fazem os linhões e cortam
uma enorme área de floresta para instalar agropecuária,
buscam gente na estrada para trabalhar. O sujeito se muda para
a região e, dois meses depois, não tem mais onde trabalhar.
Alguns têm aeroportos para chegar de São Paulo, Paraná e
Minas Gerais até lá. E há os capatazes, independentes, para o
controle geral. E vendem o espaço na hora de desmatar para
os madeireiros. Há áreas que haviam sido reservadas para, um
dia, favorecer a exploração auto-sustentável. Só que as áreas
foram reservadas quando tudo era floresta, agora, é estupidez
fazer concessões para uso. Uma pessoa inteligente vai dizer "o
que se separou no passado deve ser transformado em áreas
de proteção integradas". E a Marina Silva manda, por meio
do (João Paulo] Capobianco, um enviado à Suíça para
oferecer concessões para as ONGs estrangeiras.
Devo dizer, para vocês que são jornalistas, que
esse negócio de ONGs estrangeiras foi a maior bizarrice
do mundo. Deram um jantar para a Marina Silva antes
da eleição, na alameda Santos. Só ONGs. Eu e minha
esposa não sabíamos. O [senador Eduardo] Suplicy,
que gosta muito dela, também estava. Como respeito
muito ele, achei que era sério. Ela passou um vídeo
sobre sua trajetória no Senado. Pagamos mais
pelo jantar para sustentar a campanha. Aí, foi
reeleita, e nomeada ministra. Ela chamou todas
as ONGs para Brasília e nenhum pesquisador,
nenhum cientista, nenhum
técnico. E o
seu Lula, muito quieto.
Nomeoua dos Estados Unidos,
onde ela estava. O
pessoal gostou muito
da fala dela, muito
simplória, bonitinho,
lá do Acre, com
origem do sertanejo.
Mas não entende de
outras coisas.
9
notas
Rede federal tecnológica vai contratar
2.533 professores e técnicos
O Ministério da Educação autorizou, em junho, 99 instituições
federais de educação tecnológica a realizar concursos públicos
para contratação de professores dos ensinos fundamental e
médio e servidores técnico-administrativos. São 1.170 vagas
para professores e 1.363 para técnicos. Os concursos podem
ser realizados até o final deste ano.
As vagas são destinadas aos centros federais de educação
tecnológica (Cefets), escolas agro técnicas federais (EAFs), escolas
técnicas vinculadas às universidades federais, entre outras.
A região Sudeste, que possui o maior número de escolas
na rede federal, ficou com 789 vagas, assim distribuídas:
Espírito Santo, 74; Minas Gerais, 304; São Paulo, 120; e Rio
de Janeiro, 291. O Sul recebeu 523 vagas: Paraná, 142; Santa
Catarina, 174; e Rio Grande do Sul, 207.
Fonte: MEC
Professor de São Paulo ganha 39%
menos que do Acre
Os professores em início de carreira da rede estadual
paulista recebem salário 39% menor do que os do Acre.
Enquanto um docente com formação superior e piso inicial
de São Paulo ganha R$ 8,05 por hora, o colega acreano
recebe R$ 13,16. Se levado em conta que o custo de vida
lá é menor, a diferença aumenta para 60%. O ranking dos
salários do país mostra que o Acre lidera a lista dos Estados
que pagam melhor os professores em início de carreira,
seguido por Roraima, Tocantins, Alagoas e Mato Grosso.
São Paulo vem em oitavo lugar, apesar de ter o maior
Orçamento do país. Pernambuco tem o pior salário.
A remuneração acreana, porém, ainda não é a ideal
para especialistas. "O baixo salário dos docentes é uma
questão histórica no país. Basta ver o de outros países da
América Latina, como Chile e Argentina, que são maiores",
afirma Célio da Cunha, assessor especial da Unesco no
Brasil. Para ele, o salário baixo é uma das explicações
para a má qualidade do ensino. "Um salário justo motiva
os professores."
"Um docente bem pago trabalha melhor, sem dúvida",
diz a professora da Faculdade de Educação da USP
Lisandre Maria Castello Branco. Para ela, os governos
continuam mais preocupados em melhorar a estrutura das
escolas do que em investir no docente.
Fonte: FSP
10
Especialista alerta para "apagão" na
formação de professores
O país corre o risco de sofrer um "apagão" na formação
de professores, alertou, dia 5 de julho, o diretor-executivo do
movimento “Todos pela Educação”, Mozart Neves Ramos.
Durante audiência pública, promovida pela Comissão de
Educação (CE), ele informou que hoje existe um déficit
calculado em 250 mil professores, quando apenas 41% dos
jovens na idade adequada estão matriculados em instituições
de ensino médio.
“Se o déficit hoje já é grande, imagine-se quando os jovens
chegarem à idade correta ao ensino médio, como desejamos.
Fala-se muito do apagão de energia, mas o apagão de gente
também é muito grave, pois com ele muitos jovens não terão
direito a alcançar a ascensão social”, afirmou Mozart.
Durante a terceira reunião do ciclo de debates sobre
Idéias e Propostas para a Educação Brasileira e o Plano de
Desenvolvimento da Educação (PDE), presidida pelo senador
Cristovam Buarque (PDT-DF), os debatedores concordaram
com a necessidade de investimentos na formação - e na
atualização- dos professores, especialmente do ensino
básico.
Fonte: Agência Senado
Alunos do 3º ano têm nota de 8ª série
Quase a metade dos estudantes do Estado de São Paulo
termina o ensino médio (antigo colegial) com conhecimentos
em escrita e leitura esperados para um aluno de oitava série.
Dados inéditos extraídos do último SAEB (Sistema de
Avaliação da Educação Básica), realizado em 2005, revelam
que 43,1% dos alunos do 3º ano tiveram notas inferiores a 250,
patamar fixado como o mínimo para a 8ª série pela secretária de
Estado da Educação de São Paulo, Maria Helena Guimarães
de Castro. Ou seja, eles não conseguem, por exemplo,
compreender o efeito de humor provocado por ambigüidade
de palavras ou reconhecer diferentes opiniões em um mesmo
texto. Outros 15,2% dos alunos tiveram desempenho ainda
pior, similar ao desejado para crianças da quarta série do
ensino fundamental (antigo primário).
O quadro seria ainda mais dramático se os alunos da rede
privada fossem retirados da conta, uma vez que a média dos
estudantes das escolas públicas estaduais é 21,2% inferior
à dos alunos das particulares. Talita Lima de Araújo, 18, que
estudou em uma escola estadual na Pompéia (zona oeste de
SP), reclama da precariedade do ensino público. "Quando
você termina o ensino médio, só percebe um vazio. Não
temos chance no vestibular." Os dados no Saeb comprovam
a impressão de Talita. A média da oitava série da rede privada
(285,8) é maior que a do terceiro ano do ensino médio da rede
estadual (253,6).
Fonte: FSP
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
País terá mais 70 escolas
técnicas em 2008
O Brasil ganhará, no próximo ano, 70 escolas técnicas.
As obras devem começar em janeiro, quando também serão
realizados os concursos, e as aulas, no segundo semestre.
O Ministério da Educação vai investir R$ 750 milhões na
construção de escolas, até 2010, em 150 municípios. Todos os
estados e o Distrito Federal serão contemplados na segunda
fase do Plano de Expansão da Rede Federal de Educação
Profissional e Tecnológica. Haverá ainda a destinação de mais
R$ 500 milhões, por ano, para custeio e salários de professores
e funcionários.
Segundo o Ministério da Educação, serão concentrados
esforços para implantar 70 unidades em 2008, outras 50 em
2009 e deixar apenas 30 para 2010.Para que isso ocorresse,
os municípios apresentaram contrapartidas ao MEC, que
exigiu apenas a doação do terreno. Com isso, especialistas em
diversas áreas analisaram as propostas e criaram um ranking
por estado para definir o cronograma de implantação.
A partir do dia 3 de setembro, as prefeituras terão 120
dias para discutir as áreas nas quais serão oferecidos
cursos e concretizar as propostas. Em 31 de dezembro,
será encerrado o prazo para que as contrapartidas dos
municípios sejam apresentadas aos centros federais de
educação profissional e tecnológica (Cefets), aos quais
caberá a implantação das escolas.
O ministro da Educação, Fernando Haddad, considera a
criação das 150 escolas até 2010 uma das ações estratégicas
mais importantes do plano. “Vamos construir pelo menos um
instituto federal de educação, ciência e tecnologia por estado.
Uma das missões é fortalecer a educação pública no País,
sobretudo no que diz respeito ao ensino médio”, afirmou.
Educação é 2º fator de desigualdade
social, diz Ipea
A educação é o segundo fator para a desigualdade entre
ricos e pobres no Brasil - perde apenas para o acesso à
cultura. A conclusão é do estudo “Gasto e Consumo das
Famílias Brasileiras Contemporâneas”, divulgado no final
de junho, pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(Ipea).
O trabalho aponta que as famílias mais ricas gastam
30% a mais que as mais pobres e que, quanto maior a renda
per capita e o nível de escolaridade dos chefes de família,
maior a parcela das despesas com educação.
Enquanto no biênio 1987/88 as despesas das famílias
mais ricas brasileiras eram 11,9 vezes superiores às das
mais pobres, em 2002/03 essa diferença cresceu para 24,5
vezes, sobretudo pelo aumento com gastos nos cursos
regulares - de 13,9 para 44,5 vezes. Em 2002/03, os itens
que apontam maior desigualdade de despesas entre as
classes sociais brasileiras são os cursos de pós-graduação e
os de idiomas, seguidos pelos de ensino superior e médio.
De acordo com o estudo, os gastos com cursos de pósgraduação são praticamente nulos entre as famílias mais
pobres do Brasil. Outro indicador de desigualdade é que as
despesas das famílias mais ricas com cursos de idiomas
superam em até 800 vezes as das mais pobres.
A pesquisa aponta ainda que educação foi o item
que mais cresceu no orçamento das famílias: os gastos
passaram de 3,16% em 1987/88 para 4,26% em 1995/96,
e para 5,50% em 2002/03.
Fonte: Agência Brasil
Fonte: MEC
Só 62 escolas têm nível de país desenvolvido
Em apenas 62 escolas públicas do país, de 18.653 avaliadas (0,33%), os alunos de 5ª a 8ª séries têm uma educação do
mesmo nível da média dos países desenvolvidos. Esses colégios são os únicos que alcançaram ou superaram a nota 5,5 no
Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), valor considerado pelo Ministério da Educação como padrão dos países
desenvolvidos - e a meta a ser alcançada por essas séries, em 2022.
O Ideb é calculado a partir dos resultados da Prova Brasil e do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica), ambos
aplicados pelo ministério nas redes de todo o país, e das taxas de aprovação (que consideram a repetência).
Os números dos primeiros anos do ensino fundamental - 1ª a 4ª série - não são melhores. Apenas 166 escolas, de um total
de 27.951 - o equivalente a 0,59% -, obtiveram nota 6. A maior parte delas está localizada no Sudeste: 70 em Minas Gerais, 46
em São Paulo e 17 no Paraná.
As duas piores, com nota 0,1 no Ideb, são a Escola Municipal Esfinge, que fica em Lauro de Freitas, na Bahia, e a Monteiro
Lobato, na cidade de Reserva do Iguaçu, no Paraná.
A melhor é a Guiomar Gonçalves Neves, na cidade de Trajano de Moraes, no Rio de Janeiro, Estado que tem também a
segunda colocada, em São Sebastião do Alto.
Fonte: Folha de São Paulo
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
11
internacional
A Carta da Terra
“(...) Deves ensinar a teus filhos que o chão debaixo de seus pés são as cinzas de nossos
antepassados; para que tenham respeito ao país, conta a teus filhos que a riqueza da terra são
as vidas da parentela nossa. Ensina a teus filhos o que temos ensinado aos nossos: que a terra
é nossa mãe. Tudo quanto fere a terra - fere os filhos da terra. Se os homens cospem no chão,
cospem sobre eles próprios. De uma coisa sabemos. A terra não pertence, ao homem: é o homem
que pertence à terra, disso temos certeza. Todas as coisas estão interligadas, como o sangue que
une uma família. Tudo está relacionado entre si. Tudo quanto agride a terra, agride os filhos da
terra. Não foi o homem quem teceu a trama da vida: ele é meramente um fio da mesma. Tudo o
que ele fizer à trama, a si próprio fará (...)”
Cacique Seattle para o presidente dos Estados Unidos, em 1855
E
stamos diante de um momento crítico na história
da Terra, numa época em que a humanidade deve
escolher o seu futuro. À medida que o mundo tornase cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta,
ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para
seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma
magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma
família humana e uma comunidade terrestre com um destino
comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade
sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos
direitos humanos universais, na justiça econômica e numa
cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que
nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade
uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e
com as futuras gerações.
Histórico
Em 1992, durante a Rio-92, houve a proposta de uma
Carta da Terra discutida mundialmente por Organizações Não
Governamentais e Governos. Na época, não houve consenso
entre os Governos, pois o texto não estava suficientemente
maduro. No lugar, foi adotada a Declaração do Rio de Janeiro
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento.
A Cruz Verde Internacional e Conselho da Terra, apoiadas
pelo governo holandês, assumiram o desafio de elaborar
uma Carta da Terra. No ano de 1995, no encontro de 60
representantes de diversas áreas em Haia, na Holanda, foi
criada a Comissão da Carta da Terra para organizar uma
consulta mundial durante 2 anos.
12
Em 1997, sob a coordenação de Maurice Strong (ONU) e
Mikhail Gorbachev (Cruz Verde Internacional), foi redigido o 1º
esboço da Carta da Terra. Nos anos de 1998 a 1999, houve um
amplo debate e discussão em todos continentes e em todos os
níveis, de escolas primárias a ministérios). Ao todo, 46 países
e mais de 100.000 pessoas estavam envolvidas. O segundo
esboço foi escrito por Steven Rockfeller, em 99. Entre 12 e 14
de março de 2000, a Carta da Terra foi ratificada.
Leonardo Boff é o representante da América Latina na
Comissão da Carta da Terra.
A Carta da Terra - Princípios
I. RESPEITAR E CUIDAR DA COMUNIDADE DA VIDA
1. Respeitar a Terra e a vida em toda sua diversidade.
a. Reconhecer que todos os seres são interligados e cada
forma de vida tem valor, independentemente de sua utilidade
para os seres humanos.
b. Afirmar a fé na dignidade inerente de todos os seres
humanos e no potencial intelectual, artístico, ético e espiritual
da humanidade.
2. Cuidar da comunidade da vida com compreensão,
compaixão e amor.
a. Aceitar que, com o direito de possuir, administrar e usar
os recursos naturais vem o dever de impedir o dano causado
ao meio ambiente e de proteger os direitos das pessoas.
b. Assumir que o aumento da liberdade, dos conhecimentos
e do poder implica responsabilidade na promoção do bem
comum.
3. Construir sociedades democráticas que sejam justas,
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
Fusão com pintura de Michelangelo
participativas, sustentáveis e pacíficas.
a. Assegurar que as comunidades em todos níveis
garantam os direitos humanos e as liberdades fundamentais e
proporcionem a cada um a oportunidade de realizar seu pleno
potencial.
b. Promover a justiça econômica e social, propiciando a
todos a consecução de uma subsistência significativa e segura,
que seja ecologicamente responsável.
4. Garantir as dádivas e a beleza da Terra para as atuais e
as futuras gerações.
a. Reconhecer que a liberdade de ação de cada geração é
condicionada pelas necessidades das gerações futuras.
b. Transmitir às futuras gerações valores, tradições e
instituições que apóiem, em longo prazo, a prosperidade das
comunidades humanas e ecológicas da Terra.
Para poder cumprir estes quatro amplos compromissos, é
necessário:
II. INTEGRIDADE ECOLÓGICA
5. Proteger e restaurar a integridade dos sistemas
ecológicos da Terra, com especial preocupação pela
diversidade biológica e pelos processos naturais que
sustentam a vida.
a. Adotar planos e regulamentações de desenvolvimento
sustentável em todos os níveis que façam com que a
conservação ambiental e a reabilitação sejam parte integral de
todas as iniciativas de desenvolvimento.
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
b. Estabelecer e proteger as reservas com uma natureza
viável e da biosfera, incluindo terras selvagens e áreas
marinhas, para proteger os sistemas de sustento à vida da
Terra, manter a biodiversidade e preservar nossa herança
natural.
c. Promover a recuperação de espécies e ecossistemas
ameaçadas.
d. Controlar e erradicar organismos não-nativos ou
modificados geneticamente que causem dano às espécies
nativas, ao meio ambiente, e prevenir a introdução desses
organismos daninhos.
e. Manejar o uso de recursos renováveis como água, solo,
produtos florestais e vida marinha de forma que não excedam
as taxas de regeneração e que protejam a sanidade dos
ecossistemas.
f. Manejar a extração e o uso de recursos não-renováveis,
como minerais e combustíveis fósseis de forma que diminuam
a exaustão e não causem dano ambiental grave.
6. Prevenir o dano ao ambiente como o melhor método de
proteção ambiental e, quando o conhecimento for limitado,
assumir uma postura de precaução.
a. Orientar ações para evitar a possibilidade de sérios ou
irreversíveis danos ambientais mesmo quando a informação
científica for incompleta ou não conclusiva.
b. Impor o ônus da prova àqueles que afirmarem que a
atividade proposta não causará dano significativo e fazer com
que os grupos sejam responsabilizados pelo dano ambiental.
13
c. Garantir que a decisão a ser tomada se oriente pelas
conseqüências humanas globais, cumulativas, de longo prazo,
indiretas e de longo alcance.
d. Impedir a poluição de qualquer parte do meio ambiente e
não permitir o aumento de substâncias radioativas, tóxicas ou
outras substâncias perigosas.
e. Evitar que atividades militares causem dano ao meio
ambiente.
7. Adotar padrões de produção, consumo e reprodução
que protejam as capacidades regenerativas da Terra, os
direitos humanos e o bem-estar comunitário.
a. Reduzir, reutilizar e reciclar materiais usados nos
sistemas de produção e consumo e garantir que os resíduos
possam ser assimilados pelos sistemas ecológicos.
b. Atuar com restrição e eficiência no uso de energia e
recorrer cada vez mais aos recursos energéticos renováveis,
como a energia solar e do vento.
c. Promover o desenvolvimento, a adoção e a transferência
eqüitativa de tecnologias ambientais saudáveis.
d. Incluir totalmente os custos ambientais e sociais de bens
e serviços no preço de venda e habilitar os consumidores a
identificar produtos que satisfaçam as mais altas normas
sociais e ambientais.
e. Garantir acesso universal à assistência de saúde que
fomente a saúde reprodutiva e a reprodução responsável.
f. Adotar estilos de vida que acentuem a qualidade de vida
e subsistência material num mundo finito.
8. Avançar o estudo da sustentabilidade ecológica
e promover a troca aberta e a ampla aplicação do
conhecimento adquirido.
a. Apoiar a cooperação científica e técnica internacional
relacionada a sustentabilidade, com especial atenção às
necessidades das nações em desenvolvimento.
b. Reconhecer e preservar os conhecimentos tradicionais
e a sabedoria espiritual em todas as culturas que contribuam
para a proteção ambiental e o bem-estar humano.
c. Garantir que informações de vital importância para
a saúde humana e para a proteção ambiental, incluindo
informação genética, estejam disponíveis ao domínio público.
III. JUSTIÇA SOCIAL E ECONÔMICA
9. Erradicar a pobreza como um imperativo ético, social e
ambiental.
a. Garantir o direito à água potável, ao ar puro, à
segurança alimentar, aos solos não contaminados, ao abrigo
e saneamento seguro, distribuindo os recursos nacionais e
internacionais requeridos.
b. Prover cada ser humano de educação e recursos
para assegurar uma subsistência sustentável, e proporcionar
seguro social e segurança coletiva a todos aqueles que não
são capazes de manter-se por conta própria.
c. Reconhecer os ignorados, proteger os vulneráveis,
servir àqueles que sofrem, e permitir-lhes desenvolver suas
capacidades e alcançar suas aspirações.
10. Garantir que as atividades e instituições econômicas
em todos os níveis promovam o desenvolvimento humano
de forma eqüitativa e sustentável.
14
a. Promover a distribuição eqüitativa da riqueza dentro das
e entre as nações.
b. Incrementar os recursos intelectuais, financeiros,
técnicos e sociais das nações em desenvolvimento e isentálas de dívidas internacionais onerosas.
c. Garantir que todas as transações comerciais apóiem o
uso de recursos sustentáveis, a proteção ambiental e normas
trabalhistas progressistas.
d. Exigir que corporações multinacionais e organizações
financeiras internacionais atuem com transparência em
benefício do bem comum e responsabilizá-las pelas
conseqüências de suas atividades.
11. Afirmar a igualdade e a eqüidade de gênero como prérequisitos para o desenvolvimento sustentável e assegurar
o acesso universal à educação, assistência de saúde e às
oportunidades econômicas.
a. Assegurar os direitos humanos das mulheres e das
meninas e acabar com toda violência contra elas.
b. Promover a participação ativa das mulheres em todos
os aspectos da vida econômica, política, civil, social e cultural
como parceiras plenas e paritárias, tomadoras de decisão,
líderes e beneficiárias.
c. Fortalecer as famílias e garantir a segurança e a
educação amorosa de todos os membros da família.
12. Defender, sem discriminação, os direitos de todas
as pessoas a um ambiente natural e social, capaz de
assegurar a dignidade humana, a saúde corporal e o bemestar espiritual, concedendo especial atenção aos direitos
dos povos indígenas e minorias.
a. Eliminar a discriminação em todas suas formas, como
as baseadas em raça, cor, gênero, orientação sexual, religião,
idioma e origem nacional, étnica ou social.
b. Afirmar o direito dos povos indígenas à sua espiritualidade,
conhecimentos, terras e recursos, assim como às suas práticas
relacionadas a formas sustentáveis de vida.
c. Honrar e apoiar os jovens das nossas comunidades,
habilitando-os a cumprir seu papel essencial na criação de
sociedades sustentáveis.
d. Proteger e restaurar lugares notáveis pelo significado
cultural e espiritual.
IV.DEMOCRACIA, NÃO VIOLÊNCIA E PAZ
13. Fortalecer as instituições democráticas em todos os
níveis e proporcionar-lhes transparência e prestação de
contas no exercício do governo, participação inclusiva na
tomada de decisões, e acesso à justiça.
a. Defender o direito de todas as pessoas no sentido
de receber informação clara e oportuna sobre assuntos
ambientais e todos os planos de desenvolvimento e atividades
que poderiam afetá-las ou nos quais tenham interesse.
b. Apoiar sociedades civis locais, regionais e globais e
promover a participação significativa de todos os indivíduos e
organizações na tomada de decisões.
c. Proteger os direitos à liberdade de opinião, de expressão,
de assembléia pacífica, de associação e de oposição.
d. Instituir o acesso efetivo e eficiente a procedimentos
administrativos e judiciais independentes, incluindo retificação
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
c. Evitar ou eliminar ao máximo possível a captura ou
destruição de espécies não visadas.
16. Promover uma cultura de tolerância, não violência e
paz.
a. Estimular e apoiar o entendimento mútuo, a solidariedade
e a cooperação entre todas as pessoas, dentro das e entre as
nações.
b. Implementar estratégias amplas para prevenir conflitos
violentos e usar a colaboração na resolução de problemas para
manejar e resolver conflitos ambientais e outras disputas.
c. Desmilitarizar os sistemas de segurança nacional até
chegar ao nível de uma postura não provocativa da defesa
e converter os recursos militares em propósitos pacíficos,
incluindo restauração ecológica.
d. Eliminar armas nucleares, biológicas e tóxicas e outras
armas de destruição em massa.
e. Assegurar que o uso do espaço orbital e cósmico
mantenha a proteção ambiental e a paz.
f. Reconhecer que a paz é a plenitude criada por relações
corretas consigo mesmo, com outras pessoas, outras culturas,
outras vidas, com a Terra e com a totalidade maior da qual
somos parte.
O caminho adiante
e compensação por danos ambientais e pela ameaça de tais
danos.
e. Eliminar a corrupção em todas as instituições públicas
e privadas.
f. Fortalecer as comunidades locais, habilitando-as a cuidar
dos seus próprios ambientes, e atribuir responsabilidades
ambientais aos níveis governamentais onde possam ser
cumpridas mais efetivamente.
14. Integrar, na educação formal e na aprendizagem ao
longo da vida, os conhecimentos, valores e habilidades
necessárias para um modo de vida sustentável.
a. Oferecer a todos, especialmente a crianças e jovens,
oportunidades educativas que lhes permitam contribuir
ativamente para o desenvolvimento sustentável.
b. Promover a contribuição das artes e humanidades,
assim como das ciências, na educação para sustentabilidade.
c. Intensificar o papel dos meios de comunicação de massa
no sentido de aumentar a sensibilização para os desafios
ecológicos e sociais.
d. Reconhecer a importância da educação moral e espiritual
para uma subsistência sustentável.
15. Tratar todos os seres vivos com respeito e
consideração.
a. Impedir crueldades aos animais mantidos em sociedades
humanas e protegê-los de sofrimentos.
b. Proteger animais selvagens de métodos de caça,
armadilhas e pesca que causem sofrimento extremo,
prolongado ou evitável.
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
Nossa diversidade cultural é uma herança preciosa, e
diferentes culturas encontrarão suas próprias e distintas
formas de realizar essa visão. Devemos aprofundar e expandir
o diálogo global gerado pela Carta da Terra, porque temos
muito que aprender a partir da busca iminente e conjunta por
verdade e sabedoria.
A vida, muitas vezes, envolve tensões entre valores
importantes. Isso pode significar escolhas difíceis. Porém,
necessitamos encontrar caminhos para harmonizar a
diversidade com a unidade, o exercício da liberdade com o
bem comum, objetivos de curto prazo com metas de longo
prazo. Todo indivíduo, família, organização e comunidade
têm um papel vital a desempenhar. As artes, as ciências, as
religiões, as instituições educativas, os meios de comunicação,
as empresas, as organizações não-governamentais e os
governos são todos chamados a oferecer uma liderança
criativa. A parceria entre governo, sociedade civil e empresas é
essencial para uma governabilidade efetiva.
Para construir uma comunidade global sustentável, as
nações do mundo devem renovar seu compromisso com as
Nações Unidas, cumprir com suas obrigações respeitando os
acordos internacionais existentes e apoiar a implementação
dos princípios da Carta da Terra com um instrumento
internacional legalmente unificador quanto ao ambiente e ao
desenvolvimento.
Que o nosso tempo seja lembrado pelo despertar de
uma nova reverência face à vida, pelo compromisso firme de
alcançar a sustentabilidade, a intensificação da luta pela justiça
e pela paz, e a alegre celebração da vida.
Material disponível no site oficial do
Ministério do Meio Ambiente
15
especial
Escola virtual
Informática invade as escolas e coloca em
debate o tema Educação a Distância
imagem do robô: www.esab.pt
16
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
Q
uem poderia imaginar que as novas tecnologias
poderiam interferir na forma de ensinar? Não
falamos apenas como uma ferramenta para
complementar o aprendizado, mas como forma, propriamente
dita, de ministrar aulas.
O famoso e tradicional quadro negro, o giz de
lousa, o hábito de ir à escola e desfrutar da companhia dos
colegas de sala perderam espaço para o computador. Junto
a isso, os professores foram obrigados a se adaptar ao novo
processo de composição das aulas, montando-as para serem
disponibilizadas de forma on-line, multiplicando, assim, o
tempo de trabalho. Resultado? Horas extras não remuneradas
devidamente, sobrecarga de tarefas e, em alguns casos,
insatisfação de alunos e docentes.
Para esclarecer dúvidas sobre o tema ‘Educação a
Distância’, o Sindicato dos Professores do ABC promoveu
para a categoria o Seminário EaD, no dia 29 de setembro.
“O SINPRO ABC busca formas para regularizar a questão
trabalhista no segmento a distância”, diz a diretora da entidade,
professora Célia Regina Ferrari, na abertura do evento. “Além
disso, procuramos sempre melhorar as condições de trabalho
dos profissionais na modalidade educação a distância. Por se
tratar de algo novo, nosso objetivo é a construção de cláusulas
trabalhistas que atendam às necessidades desse segmento da
educação”, continua a professora. “Queremos construir uma
Convenção Coletiva mais aprimorada para o ano de 2008”,
finaliza Célia.
Convidado
para
palestrar no seminário, o
professor Carlos Straccia, da
Universidade Metodista, falou
aos presentes sobre o atual
cenário da educação. “Hoje
em dia, podemos dividir em
quatro as formas de trabalho:
presencial (quando os alunos
estão presentes na sala de
aula), semipresencial (as aulas
são mescladas entre presencial
e virtual), totalmente on-line
(a distância) e tele-aula (aula
via satélite, pela televisão)”,
contextualizou Straccia, que dá
aulas semipresenciais desde
2005.
Entre
tantos
questionamentos, o professor
ressalta a necessidade de se
ater à qualidade do ensino, para
que o aluno a distância não
tenha prejuízos. “Dentro de uma
modalidade de EaD não se pode
perder na qualidade pedagógica
e didática, o que de certo
modo tem acontecido com as
instituições. Não se pode pensar
somente na questão técnica,
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
trabalhista ou no lucro, porque, senão, quem sairá prejudicado
é aquele que mais precisa: o aluno”, salienta Carlos Straccia.
Quais as vantagens e desvantagens
do ensino a distância?
Para Straccia, as modalidades de educação a distância,
assim como em todas as áreas de atuação, têm os lados
positivos e negativos. Um ponto positivo salientado pelo docente
é a facilidade de acessar o material da aula, de qualquer local.
Por outro lado, conta Straccia, os alunos sentem falta da ajuda
presencial do professor, que, em alguns casos, ocorre a cada
15 dias ou, dependendo do curso, as dúvidas são esclarecidas
apenas virtualmente. Outra vantagem que Straccia ressalta é
a disciplina desenvolvida pelo aluno desse sistema. “Ao meu
ver, esse é o ponto mais importante na questão pedagógica.
O aluno que se disciplina a assistir a aula virtual e participar
desse processo tem um ganho muito significativo”.
Entretanto, nem toda facilidade atinge os alunos. Falta
de estrutura das universidades para comportar as aulas e a
baixa conexão na internet nas residências podem prejudicar
o andamento das aulas. Para o universitário Hugo Minzoni,
que tem na grade curricular aula semipresencial, o sistema a
distância é válido, mas destaca: “Muitos colegas de sala não
têm acesso à internet com conexão banda larga e as aulas
acabam não sendo proveitosas. As páginas demoram a
17
carregar devido aos recursos multimídia como áudio, vídeos e
animações, e isso faz com que os colegas percam a paciência
na espera da visualização do conteúdo e, às vezes, nem
as assistem”, comenta o estudante. “Além disso, nem todo
professor acessa diariamente os e-mails e nossas dúvidas
não são esclarecidas na mesma hora, como ocorre em sala de
aula”, finaliza Minzoni.
Para o presidente do Sindicato dos Professores do
ABC, professor Aloísio Alves da Silva, a grande negativa do
sistema de ensino a distância é justamente a falta do contato
entre docentes e estudantes. “Como professor, entendo que
a principal desvantagem da EaD é a falta de interação entre
alunos e professores”, avalia Aloísio. “Num mundo capitalista,
em que se valoriza cada vez mais o indivíduo, em prejuízo do
coletivo, entendo que as novas tecnologias reforçam ainda
mais essa questão”, completa o presidente do SINPRO ABC.
Questão trabalhista
Professor a distância igual descanso a distância?
“Costumo brincar com meus alunos que um professor a
distância dá aula 24 horas por dia, todos os dias. Ele está
sempre presente”, relata o professor Straccia. Sendo assim,
faz-se necessária (e urgente) a regulamentação do trabalho,
que é a principal bandeira de luta do SINPRO nessa questão.
“Como sindicalista, aponto vários problemas relacionados
à precarização das relações de trabalho, especificamente à
jornada de trabalho. Os trabalhadores, no geral, deveriam ter
uma jornada de trabalho cada vez menor, mas tem ocorrido
o inverso e sem remuneração justa”, denuncia o professor
Aloísio, do SINPRO ABC.
Pesando os prós e contras, o professor Straccia aponta,
ainda, como desvantagem o tempo de preparação do material
a ser disponibilizado. Com essa nova modalidade de aulas,
os professores ampliaram a jornada profissional, uma vez que
todo conteúdo deve ser detalhadamente redigido e repassado
ao computador, o que demanda mais tempo. Além disso, fica
sob responsabilidade do docente preparar fóruns de debates
e outros materiais de apoio, sem falar de preparação de links
de interatividade. Para uma aula, cerca de 20 a 50 horas são
gastas, entre elaboração de conteúdo e desenvolvimento
técnico.
No ensino a distância não dá para imaginar apenas o
professor dando uma aula. Por trás de tudo que é disponibilizado
na internet, há uma equipe técnica multidisciplinar, que envolve
desde a redação de conteúdo, passando pelo técnico que
dará forma visual ao curso. Há casos em que o professor
desempenha todas essas funções. “A questão do tempo de
preparo de aula é absurdamente grande. Fala-se em 40, 50
horas para preparar uma única aula, que depois será usada
para milhares de alunos. E a remuneração? Com esse sistema,
a exploração nunca se fez tão grande na educação”, critica o
presidente do SINPRO ABC, professor Aloísio.
É fato que, para se adaptar ao novo sistema de aula,
o docente tenha que se qualificar e aprender o manuseio de
novas ferramentas. Nesse momento, cabe à instituição de
ensino que emprega esse profissional oferecer a capacitação
desse trabalhador. Se a universidade exige, ela deve dar o
respaldo para isso, de forma que nem o aluno, nem o professor
sejam prejudicados pelo ensino a distância. “Até onde tenho
conhecimento, o respaldo aos professores, por parte das
instituições, é zero. Todo o trabalho, inclusive técnicas ficam
sob responsabilidade do professor”, afirma Aloísio.
No caso da EaD, para os professores, a instituição
deverá proporcionar o acesso a cursos e orientações técnicas.
“Certa vez tentei colocar uma aula na internet, mas, por horas,
o sistema não aceitou minha senha de usuário. Se tivesse um
suporte técnico para me assistir, não teria tido problema. Não
foi o que aconteceu”, comenta Straccia. Com o suporte ao
professor, a garantia de aula ao aluno é mantida.
A voz dos alunos
Em recente publicação da Folha de São Paulo, os alunos do curso de Psicologia da Unicsul (Universidade Cruzeiro do
Sul) reclamaram do sistema de aulas on-line, imposto pela instituição, o Blackboard.
De acordo com a reportagem, os alunos se mostraram insatisfeitos com o sistema de aula semipresencial que não
foi discutido, mas imposto a eles. Uma das principais reclamações gira em torno da falta de estrutura da universidade para
comportar os estudantes nos laboratórios. Em mensagem enviada a um portal de educação, os alunos contam que, durante uma
aula, o professor tentou promover um fórum, mas diversos problemas desenrolaram durante a tentativa: textos desconfigurados,
dificuldade para acessar o chat, confirmar a presença e participar da discussão, informações mal organizadas, links inacessíveis,
entre outros.
18
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
Próximos passos
O tema é recente, mas já está presente no dia-a-dia de
grande percentual das instituições de ensino superior do Grande
ABC. Para formalizar e debater as principais questões de EaD,
o SINPRO projeta a criação de uma comissão específica sobre
essa modalidade de ensino. A grande preocupação é preservar
a qualidade de ensino e garantir as condições de trabalho dos
profissionais. “Não acredito que as mantenedoras, ao adotar
o sistema da EaD, estejam preocupadas com a qualidade
de ensino, mas com o lucro. Descobriram mais um meio de
transformar educação em mercadoria”, encerra o presidente
Aloísio.
Professor, participe dos debates promovidos pelo
SINPRO, uma vez que é o seu trabalho que está em pauta.
Sua participação é fundamental para garantir melhorias nas
condições trabalhistas. Fortaleça sua categoria!
SP veta docente com
formação a distância
Uma demonstração de que a garantia de
qualidade na educação a distância ainda está
longe de ser consensual entre os educadores foi
dada em junho deste ano pelo Conselho Municipal
de Educação de São Paulo, que recomendou
à prefeitura que não admitisse professores
formados por essa modalidade de ensino.
O principal argumento dos conselheiros
contra a educação a distância foi que, no
município, não haveria a necessidade de
contratar professores por essa modalidade, já
que há número suficiente de docentes formados
em cursos presenciais.
Concorrência
Os relatores José Augusto Dias e Rubens
Barbosa de Camargo argumentaram em seu
relatório que, no caso da cidade de São Paulo,
os últimos concursos para contratação de
professores tiveram concorrência de mais de 25
candidatos por vaga.
Afirmam ainda que, mesmo nas disciplinas
em que há mais carência de professores no Brasil
-como geografia, física e matemática-, houve
número mais do que suficiente de candidatos em
São Paulo.
Para eles, a contratação de professores
a distância se justifica em casos emergenciais,
o que não se verificaria na capital paulista.
No entender dos membros do conselho, no
caso da formação de professores, quando se
pode escolher, o melhor é optar pela formação
presencial.
Inapropriado
"Do ponto de vista pedagógico, não é
apropriado falar em educação a distância para
a formação de docentes. Os meios eletrônicos
podem transmitir preciosos conhecimentos,
mas a educação não se faz apenas com
conhecimentos. Há valores essenciais a uma
educação completa que somente é possível
adquirir pela convivência", diz o relatório.
Folha de São Paulo, 10 de setembro de 2007
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
19
educação
Medo na escola
Casos de violência assustam professores, alunos, pais e
funcionários
Foto: Israel Barbosa
Q
uem nunca ouviu dizer que a escola é o
segundo lar de todo aluno? Antigamente,
zelar pela preservação dos espaços, obedecer
professores e funcionários - como fazemos com nossos pais
- e respeitar o local que outras pessoas também usufruem
eram ações comuns entre os alunos. Mas, atualmente, essas
prerrogativas parecem não se encaixar mais com a realidade
vivida nas escolas.
Zelar se transformou em destruir, respeitar não tem
mais o mesmo significado e docentes têm medo de repreender
alguns alunos, temendo o que possa acontecer. Por que isso
ocorre? Para a psicóloga Graça Martin, um dos fatores que
pode explicar a agressividade nas crianças e jovens é o intenso
contato com jogos eletrônicos de conteúdo violento ou filmes
de lutas e assassinatos. “Dentro de casa, a criança tem acesso
a esse tipo de material e, muitas vezes, pela necessidade
dos pais trabalharem e ficarem distantes durante o dia, eles
não observam o teor das atividades de distração dos filhos”.
Mas essa hipótese não caminha de forma isolada. Com as
20
evoluções e revoluções da sociedade, o que se observa, nos
dias atuais, é que tanto os homens quanto as mulheres sentem
necessidade de trabalhar fora, para que possam arcar com
as despesas da família. Sendo assim, passam mais tempo
longe de casa e dos filhos, conseqüentemente, o tempo de
contato e atenção ficam reduzidos. Nesse cenário, muitos pais
desaprendem a dizer “não” e os filhos ficam sem limites. Quem
paga por essa “liberdade” são os professores nas escolas,
que passam a maior parte do tempo com essas crianças e
adolescentes.
Na opinião da professora da rede pública Marisa,
nos últimos anos houve uma inversão de responsabilidades
e coube às escolas a missão de educar. “Nós, professores,
deveríamos alfabetizar, mas nos deparamos com certas
situações que nos obrigam a educar”. A professora leciona há
18 anos e, em entrevista à Revista do Professor, conta que
já vivenciou casos de violência na escola onde atua. “Já vi
aluno desrespeitar professor porque não aceitava nenhum tipo
de repressão”, relata, “se dentro de casa ele age como bem
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
entende, na escola faz o mesmo”, completa.
No passado, os casos registrados davam conta
de depredações, pichações ou outros tipos de danos aos
prédios escolares. Hoje em dia, as vítimas são professores,
funcionários e colegas de classe.
Entre os meses de junho e agosto deste ano, diversos
casos de violência escolar foram registrados no Estado de
São Paulo. No início de junho, em Votorantim, uma professora
teve os dentes quebrados após levar um chute na boca. O fato
ocorreu na sala da oitava série e os dois alunos agressores
foram transferidos da escola.
No dia 18 do mesmo mês, outro fato assustou os
docentes de Suzano. Um aluno, também da oitava série, deu
socos no rosto e no pescoço da professora. Segundo relatos
da vítima, a discussão teve início quando a professora definira
um grupo para participar de um evento e, por conta do mau
comportamento, o agressor teria ficado de fora da seleção.
“Ele me segurou pelo avental, pegou minha cabeça e começou
a dar socos por cima”, lembrou a professora, em entrevista à
imprensa. “Eu tentei reagir, mas não consegui porque o garoto
é mais alto do que eu. Nem sei como desci as escadas para ir
à direção”. Assim como no caso anterior, o aluno foi transferido
e a professora foi afastada.
Em São José do Rio Preto, no dia seguinte ao ocorrido
em Suzano, um aluno de 14 anos colocou fogo no cabelo da
professora. "A primeira coisa que eu senti no momento foi uma
impotência, uma humilhação muito grande porque durante
todos os anos da minha profissão eu não esperava passar por
isso”, disse a professora em entrevista ao portal G1.
No início de julho, alunos do terceiro ano do ensino
médio passaram cola de secagem rápida na cadeira da
professora de biologia, em Macatuba. A “brincadeira” causou
lesões na pele da docente, que teve, ainda, as roupas
danificadas. Em Piraju, a diretora de uma escola pública teve
o carro incendiado por dois alunos. O ato seria uma forma de
vingança, pois a diretora havia denunciado ambos à polícia.
Segundo relato da vítima, os alunos, de 15 e 16 anos, pularam
o muro da casa onde mora e atearam fogo na garagem.
No ABC não foi diferente...
Os casos registrados em São Paulo não se limitaram
ao interior. No Grande ABC, alguns casos chamaram a
atenção por conta da gravidade das ocorrências. No dia 27
de junho, a professora Eunice Martins dos Santos teve a
ponta do dedo indicador decepada por um aluno, que fechou
a porta do banheiro em sua mão. Professora há 28 anos,
Eunice contou ao jornal Agora que estava organizando a fila
dos alunos, na Escola Municipal de Ensino Básico Marineira
Meneghelli de Luca, em São Bernardo do Campo, quando
o agressor passou correndo pelo pátio, empurrando-a e os
demais alunos. Ao observar o comportamento do menino, que
não era seu aluno, a professora o seguiu até o banheiro, onde
o jovem se escondera. Na tentativa de construir um diálogo, a
professora teve a mão presa pelo garoto na porta e a ponta do
dedo arrancada. De acordo com a direção da escola, o aluno
Aluna vai cumprir 6 meses de pena
Uma estudante de 14 anos foi condenada pela Justiça a cumprir pena de prestação de serviços à comunidade, por seis meses,
por ter agredido a professora dentro da sala de aula. A adolescente é estudante da 8ª série de uma escola municipal, em
Fernandópolis, Interior do Estado. Pela agressão, ela também ficará sob liberdade assistida e enfrentará restrição de horário
em lugares públicos pelo mesmo período.
A agressão ocorreu no início de agosto, quando a professora de história Sílvia Regina Marques, 44 anos, chamou a atenção da
aluna por estar sem uniforme escolar. As duas discutiram e, ao se defender de uma agressão da aluna, Sílvia bateu o braço na
lousa e fraturou um osso da mão direita. Por causa da fratura, Sílvia ficou afastada do trabalho.
A punição foi determinada pelo juiz da Infância e da Juventude de Fernandópolis, Ivan Pelarin. Segundo ele, a garota vai prestar
os serviços na própria escola. As tarefas serão escolhidas pela diretoria da unidade que, por enquanto, decidiu colocar a garota
para limpar salas de aulas e biblioteca. Além disso, um grupo de psicólogos e assistentes sociais vai se reunir semanalmente
com a garota e sua família durante seis meses.
Pelo mesmo período, a adolescente está proibida de permanecer em lugares públicos depois das 22h. Se não cumprir as
punições, a pena será aumentada e ela pode ser internada numa unidade de regime de semiliberdade.
ECA
A garota não tem passagens anteriores por infrações na polícia ou no Conselho Tutelar, apenas reclamações de atos de
indisciplina na escola municipal. De acordo com Pelarin, a punição nada mais é do que a aplicação rigorosa de medidas
socioeducativas previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). “Temos de acabar com essa imagem falsa de que
o ECA serve para proteger delinqüente juvenil ou passar a mão na cabeça de menor infrator. Precisamos tirar o aspecto da
impunidade que parece dar ao menor infrator”, comentou.
A rígida aplicação do ECA não é novidade em Fernandópolis, diz o juiz. A adoção de punições socioeducativas, segundo ele, foi
estabelecida num acordo entre o Ministério Público, o Poder Judiciário, escolas e Conselho Tutelar, há dois anos.
De acordo com o juiz, a adoção das medidas reduziu a violência escolar e o vandalismo nas ruas.
Fonte: APEOESP
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
21
possui casos de agressões anteriores, como bater em colegas,
na mãe e dar cabeçada no rosto da vice-diretora.
Em Santo André, uma estudante de 14 anos mordeu
e arrancou um pedaço da orelha de uma colega de 12
anos, durante uma briga. O motivo da discussão teria sido
a desclassificação do campeonato interno de queimadas,
promovido pela escola. Outra razão fútil foi alegada para o
espancamento de uma adolescente, em Mauá. A menina
de 12 anos foi cercada por um grupo de seis jovens, que a
agrediram por julgá-la “metida” e por usar roupas mais caras
que os demais.
Professores pedem por segurança
Indignados com todos os casos ocorridos e com o
cenário inseguro vivido dentro das escolas, os professores
e diretores da rede pública de São Paulo participaram de
um protesto, em frente à Secretaria Estadual de Educação,
no final do mês de junho. Na ocasião, o governo do Estado
revelou balanço sobre violência contra a categoria. No ano
passado, segundo a pesquisa, 217 professores foram vítimas
de agressões por alunos. Mas, para o presidente do Sindicato
dos Professores do Estado de São Paulo (Apeoesp), Carlos
Ramiro de Castro, “o número é bem maior, só que a Secretaria
faz os cálculos sobre os boletins de ocorrências. E a violência
sofrida pelo professor do portão para fora? Não conta?”.
De acordo com o portal da Apeoesp, Paulo Neves,
que é professor de escola pública em São Bernardo, também
discordou dos dados divulgados. “É mentira. Só em São
Bernardo tivemos 20 professores agredidos desde março. A
violência banalizou-se e o governo não está se dando conta
da gravidade”.
Para a psicóloga, Graça Martin, além das ações do
governo para combater a violência, é necessário reintegrar a
família à vida dos alunos, além do apoio aos professores no
que diz respeito a acompanhamento psicológico, suporte das
diretorias de ensino e investimentos nas escolas. Já para a
professora Marisa, falta assistência das Delegacias de Ensino,
uma vez que elas punem os profissionais mais severos, mas
não prestam tanto suporte nos casos de violência. “Se o
professor segura o braço de um aluno para repreendê-lo, a
DE dará alguma punição. Mas, se o jovem agride o docente,
na grande maioria das vezes, nada acontece”, desabafa a
educadora.
A importância da família é novamente abordada. “Os
pais precisam participar mais das atividades pedagógicas”,
explica a professora Marisa. “Em dias de reunião, os pais dos
alunos com mais dificuldade ou problemas de comportamento
não comparecem, o que dificulta o acompanhamento”,
completa.
Para lidar com os jovens envolvidos em casos de
violência, a psicóloga Graça indica: “Punição é palavra que
leva ao trauma. O que essas crianças precisam é aprender
que, pela lei de causa e efeito que rege o universo, toda ação
tem uma reação natural”. “Isso precisa ser ensinado, porque,
pela falta desse aprendizado, vemos tantos adultos tomando
atitudes que os levam ao desequilíbrio por não terem tido esse
aprendizado”, finaliza Graça.
Com informações da APEOESP
Pesquisa da Apeoesp revela que 87% dos professores já presenciaram
algum tipo de violência na escola
No fim do ano passado, a Apeoesp entrevistou 684 profissionais da educação para avaliar a percepção da categoria sobre a
violência. Confira os números sobre situações vividas:
- Agressão verbal foi citada por 96% dos professores;
- Atos de vandalismo foram apontados por 88,5% dos entrevistados;
- Agressão física foi citada por 82% dos docentes;
- 76,4% dos profissionais mencionaram casos de furto nas escolas;
- 70% afirmou ter presenciado tráfico e consumo de drogas dentro da unidade escolar.
Em 25% dos casos de agressões verbais e físicas contra os educadores da rede estadual, são os parentes dos estudantes os
autores das ameaças, tapas e xingamentos.
Para as causas, os resultados apontam:
76% - Conflito entre alunos;
63% - Consumo de drogas e álcool;
60% - Falta de funcionários;
45,6% - Pobreza generalizada.
Sobre a sensação de segurança, a pesquisa apontou que:
39% dos professores acreditam que os alunos se sentem inseguros a ponto de deixar de ir para a aula;
29% responderam que os professores se sentem inseguros a ponto de deixar de lecionar.
O resultado positivo da pesquisa, segundo a Apeoesp, é que, para 38,8% dos entrevistados, a violência diminuiu, com relação a
2005. Para 31,5% aumentou, 11,5% respondeu que permaneceu igual e 2,3% não soube avaliar.
22
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
sindical
O sobe-desce da
sindicalização no Brasil
Participação sindical cresceu entre mulheres e trabalhadores rurais, de 1995 a 2005,
enquanto, no mesmo período, a situação masculina caminhou na contramão
P
esquisa* recente, realizada sob supervisão
do economista Marcio Pochmann, analisou as
variações dos índices de sindicalização no país
nas últimas décadas. Segundo o estudo, entre os anos de 1992
e 2002, a taxa de sindicalização no Brasil caiu cerca de 18%.
De acordo com a pesquisa, no período de 1995 a 1998
é registrada a maior queda na taxa nacional de sindicalização.
Em 98, por exemplo, essa taxa foi de 1,8% menos que a do
ano de 1995, “o que indicou o pior momento do associativismo
dos trabalhadores ocupados em relação às entidades oficiais
de representação”, conclui o documento.
Nesses anos, para o aumento de 2,8 milhões de novos
ocupados, somente 227,4 mil se tornaram novos associados.
Ou seja, a cada 100 trabalhadores, apenas 8 se tornaram
sindicalizados.
A partir de 1999 acontece a recuperação da taxa
nacional. Em 2005, o índice foi 15,7% superior a 98. Durante
esses anos, “houve expansão de 13,7 milhões de novos
ocupados acompanhada do adicional de 4,2 milhões de novos
sindicalizados”, afirma o estudo. Com isso, a cada 100 novos
trabalhadores, 31 se tornaram associados.
Neoliberalismo
Um fator que influenciou os números da sindicalização
no Brasil foi a política neoliberal, adotada pelo governo na
década de 90. No período entre 1989 e 1999, segundo
Pochmann, os índices caíram significativamente. Aponta
a pesquisa que “com a redução da filiação do conjunto dos
ocupados sindicalizados em 42,5%, o sindicalismo foi perdendo
a importância relativa que havia obtido na representação do
conjunto dos interesses do mundo do trabalho”. Na análise,
observa-se que, nessa década, houve um conjunto de políticas
mais favoráveis à estabilização monetária e à liberalização e
flexibilização do trabalho, como tentativa de socializar os riscos
de produção e estimular tanto o investimento privado como o
controle das finanças públicas.
Nesse cenário, o Brasil registrou o pior desempenho
em termos de evolução da taxa de sindicalização. Traçado
um comparativo a outros 12 países pesquisados, o Brasil
teve a maior queda do quadro de associados (-18%), seguido
pelo Japão (-14,5%), Coréia do Sul (-9,6%), Taiwan (-8,5%),
Suécia (-5,2%) e Estados Unidos (-5%). No sentido contrário,
Cingapura foi o país que registrou a maior elevação na taxa
de sindicalização (77,0%), seguida da China (29,8%), Turquia
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
(20,8%), Noruega (13,8%) e Finlândia.
Entre 1992 e 2002, o Brasil vivenciou o avanço da
privatização do setor produtivo estatal e da terceirização no
interior do setor público, o que abalou uma das bases da
sindicalização no país. Trecho da pesquisa dá conta de que, no
setor privado, “o movimento de internacionalização de parcela
significativa das atividades produtivas (estatais e privadas),
acompanhado da mudança na composição do emprego, com
o enxugamento da grande empresa e a expansão dos micro
e pequenos negócios, tornou mais arriscada a estabilidade
no emprego por conta do envolvimento dos ocupados com
as ações sindicais. Não sem motivo, a maior flexibilização da
legislação social e trabalhista no período terminou por favorecer
o comportamento mais reativo de parte dos sindicatos”.
Mesmo com esse quadro nacional, os reflexos foram
sentidos de diferentes formas nas regiões brasileiras. Nos anos
de 95 a 99, Nordeste e Norte apresentaram elevação na taxa
(7,6% e 0,8%, respectivamente), enquanto as demais partes
do país registraram queda dos índices: Sul, com baixa de 8,6%, seguida do Sudeste (-1,2%) e Centro-Oeste (- 0,8%).
Mais mulheres e trabalhadores rurais
“A ampliação da presença feminina no mercado de
trabalho tem sido sucedida da maior adesão aos sindicatos”,
aponta a pesquisa. Na década entre 1995 e 2005, houve
avanço contínuo da taxa de sindicalização entre as mulheres,
enquanto a situação masculina percorria caminho oposto.
Os trabalhadores rurais também ocuparam mais espaço no
quadro associativo, com expansão mais intensa a partir de 99.
Dados da pesquisa indicam que os números da elevação são
decorrentes dos “avanços obtidos pelos trabalhadores rurais
após a aprovação da Constituição Federal de 1988, seja pela
ação da previdência e assistência social, seja pela política
agrícola e fundiária diferenciada às pequenas propriedades,
com destaque especial ao Pronaf (Programa Nacional de
Fortalecimento da Agricultura Familiar), cuja participação dos
sindicatos tem sido uma realidade importante”.
Para ler a íntegra da pesquisa, que aborda todo o
contexto da sindicalização no Brasil no decorrer do século,
acesse o site do SINPRO ABC www.sinpro-abc.org.br.
* "SINDEEPRES 15 anos: A Sindicalização no Emprego Formal
Terceirizado no Estado de São Paulo" - Pesquisa encomendada pelo
SINDEEPRES – Sindicato dos Empregados em Empresas de Prestação de
Serviços a Terceiros
23
cultura
Guerreiros por Guerrero
“Homens e Mulheres da nossa América” é tema de exposição de
artista equatoriano, que retrata guerrilheiros do continente
C
arlos Marighella, Margarida Alves, Ernesto Che
Guevara, Violeta Parra, Emiliano Zapata, Simon
Bolívar, Túpac Amaru, Victor Jara, Camilo
Torres, Raul Sendic entre outros guerreiros das Américas,
foram retratados pelo artesão e ex-guerrilheiro Javier Horacio
Guerrero Meza e comporão o tema da Agenda do Professor
2008, produzida pelo Sindicato dos Professores do ABC.
O material da composição é simples, como pedras e
cacos de louça quebrados, mas não diminuem a expressividade
de cada retrato. Além de ilustrar a agenda, os mosaicos em preto
e branco fazem parte da exposição "Os homens e mulheres
da nossa América", lançada por Guerrero na semana de 1º de
maio de 2007. Os personagens retratados são rebeldes que
fizeram parte da história do continente americano e, de alguma
forma, da vida do artesão.
O equatoriano de Riobamba, residente no Brasil desde
1989, é neto do pintor José Enrique Guerrero Portilla, "El pintor
de Quito", e busca inspirações para compor as obras em cenas
do cotidiano e, segundo próprias palavras, em seu "Pedacito
de América Andina".
Elisandro Dalcin
Javier apresenta as obras. Ao fundo, mosaicos de Victor Jara, Margarida Alves e Carlos Marighella
24
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
Che Guevara
Mães da Praça de Maio Camilo Torres
Tupac Amaru II
Raul Sendic
Emiliano Zapata
Violeta Parra
Os guerreiros de Guerrero
Para Javier Guerrero, o argentino Ernesto Che Guevara
e o brasileiro Carlos Marighela são tidos como principais
referências de vida e exemplos a serem seguidos. “Marighela
e Guevara não são mitos, mas realidades no dia-a-dia, falo
em realidade porque quero ser como eles e me esforço para
isso. Os dois são uma presença constante na minha vida”. Em
entrevista à Revista do Professor, Javier explica os motivos que
o levaram a retratar esses personagens: “Por que Marighela?
Porque Marighela é o melhor homem que este país pariu. Ele
está no mesmo patamar do Che, mas, infelizmente, a esquerda
faz questão de esquecê-lo. Bolívar, Camilo Torres, Micaela
Bastidas, Eloy Alfaro são figuras amadas profundamente por
mim”, conta Guerrero.
Simón Bolívar
aproximadamente 300 jovens - que criou a organização
clandestina “Alfaro Vive Carajo”. O objetivo da AVC era
reacender as ideologias do equatoriano Eloy Alfaro já que,
segundo o artesão, a revolução iniciada pelo compatriota, um
século antes, havia ficado incompleta.
No final dos anos 80, o grupo alfarrista de Javier foi
destruído. Em 88, Javier ficou preso por quatro meses. “Depois
do presídio nunca mais a minha vida voltou a ser normal, eu
não encontrava emprego. Me sentia órfão, porque vivia pela
organização”, revela.
No ano seguinte, Javier Guerrero veio morar no Brasil
e militou no PT, mas ficou decepcionado com algumas atitudes
de membros do partido e adotou a prática anarquista.
Hoje, se dedica ao artesanato e dá cursos em presídios
no sul do país.
Militância
Na década de 80, Javier fez parte do grupo - com
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
Com informações do jornal Brasil de Fato
25
nacional
A Vale de volta
População participa de plebiscito para anular a privatização da Companhia Vale do
Rio Doce e responde: “A Vale deve continuar nas mãos do capital privado?”
V
ocê venderia a sua casa que custa, em
simulação, R$ 900 mil, por apenas R$ 30 mil?
A idéia pode parecer absurda, mas foi o que
aconteceu com a Companhia Vale do Rio Doce.
Entenda o caso: Em maio de 1997, durante o governo
Fernando Henrique Cardoso, a mineradora Vale do Rio Doce
foi a leilão. Na época, a maior parte das ações foi “vendida” (ou
“doada”) por pouco mais de R$ 3 bilhões, quando, segundo
especialistas, o valor de mercado superava os R$ 90 bi. O
Comitê Nacional da Campanha pela Vale aponta como outra
irregularidade a participação indireta do banco Bradesco no
leilão: “Ele não podia participar porque esteve presente no
processo de avaliação da empresa. O banco já possuía 17,9%
do capital votante da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN)
que, por sua vez, montou o consórcio comprador da maior fatia
das ações da Valepar (o atual controlador acionário da Vale).
Uma verdadeira negociata!”, denuncia o site do Comitê.
Com base nessas falcatruas, mais de 100 ações
populares questionaram, na Justiça, a venda da empresa
e pediram a nulidade do leilão. No final de 2005, o Tribunal
Regional Federal de Brasília determinou que mais de 60 dessas
ações deveriam ser julgadas. Nos processos, são citados como
réus o ex-presidente do Brasil, Fernando Henrique Cardoso, a
União, o BNDES, entre outros.
Em outubro de 2005, a desembargadora federal,
Selene Maria de Almeida, ingressou na Justiça com ação
solicitando a anulação do leilão. A partir daí, com apoio
judicial, os movimentos sociais, populares e sindicais deram
continuidade à luta para anular a venda da mineradora.
Por que reestatizar?
Em 28 de setembro de 2007, a Vale, pela primeira vez
na história, ultrapassou o valor de mercado da Petrobrás e se
tornou a maior empresa brasileira, com valor de R$ 286,62 bi,
enquanto a petrolífera valia R$ 285,33 bi. Outras informações
divulgadas recentemente comprovam que a Vale do Rio Doce
passou o lucro Petrobrás, considerada a maior empresa
brasileira, e, em julho deste ano, se tornou a empresa com
a ação mais negociada da América Latina. Além disso, atua
em 14 estados do país, tem 9 mil quilômetros de estrada de
ferro, está presente em cinco continentes e é proprietária de
10 portos. Na Vale, riquezas que são encontradas somente
em solo brasileiro são exportadas para o mundo todo, como,
por exemplo, nióbio, urânio, ouro e manganês. Solo brasileiro,
riquezas brasileiras e o lucro brasileiro? Não. O lucro vai
diretamente para o capital estrangeiro, que enriquece polpudas
cifras, enquanto o povo "chupa o dedo".
Motivos não faltam para que o povo lute pela devolução
desse patrimônio a quem é de direito: os brasileiros.
O povo fala
Na primeira semana de setembro de 2007, a população
pôde manifestar opinião no plebiscito popular, organizado
e apoiado por pastorais e movimentos sociais como MST,
Movimento de Pequenos Agricultores, Marcha Mundial de
O que é ação popular?
Todo eleitor, em dia com a Justiça eleitoral, pode ingressar com ação popular.
Segundo a Constituição Federal, artigo 5º, LXXIII, "qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular
ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao
patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência".
A ação popular proporciona ao brasileiro (ou estrangeiro em situação regular) o direito de exercer a cidadania, agindo como fiscal
de dirigentes, servidores ou representantes públicos.
26
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
Mulheres, Central de Movimentos Populares, Central Única dos
Trabalhadores, Grito dos Excluídos, Conlutas e Coordenação
dos Movimentos Sociais. O Sindicato dos Professores do
ABC, que também apóia a volta da Vale como estatal, também
participou da votação com urna na sede da entidade.
Documento publicado pela CUT, assinado pelo
secretário geral, Quintino Severo, e pelo tesoureiro, Antonio
Carlos Spis, ressalta a bandeira pela retomada do patrimônio
público: "Nossas lutas e posições históricas contra as
privatizações das empresas estatais e pelo fortalecimento
dos instrumentos estatais de promoção e financiamento do
desenvolvimento". Aponta, ainda, que “nesta luta pela defesa
da soberania nacional e dos interesses do povo brasileiro,
conseguimos que o Tribunal Regional Federal, em Brasília,
acatasse a nulidade da avaliação do valor da venda da Vale
(...) A ação judicial é um elemento que revigora a campanha
para reverter o assalto e anular o leilão da maior produtora e
exportadora de minério de ferro do mundo, essencial para o
desenvolvimento nacional (...) É um grande desafio enfrentar
e derrotar os interesses econômicos, a manipulação e o
silêncio erguidos por amplos setores da mídia e das forças
conservadoras. Cabe aos companheiros e companheiras da
Central Única dos Trabalhadores somarem força e consciência
nesta campanha do plebiscito, organizando-o nos locais de
trabalho e nas ruas, esclarecendo e debatendo com toda a
população e buscar o maior número possível de votos".
Resultados
A população foi às urnas e respondeu: “Em 1997, a
Companhia Vale do Rio Doce – patrimônio construído pelo
povo brasileiro – foi fraudulentamente privatizada. Ação
que o governo e o Poder Judiciário podem anular. A Vale
deve continuar nas mãos do capital privado?”.
Ao todo, foram registrados mais de 3,7 milhões de
votos, sendo que 96% (dos votos válidos) com a opção NÃO.
O relatório com o resultado final do plebiscito foi divulgado
no dia 8 de outubro. Dois dias depois, o Comitê Nacional das
entidades organizadoras do plebiscito (foto abaixo), composto
por Julio Turra (diretor Executivo da CUT), Lúcia Stumpf
(presidente da UNE), membros do Movimento dos Atingidos
por Barragens (MAB) e da Rede Jubileu Sul, foi recebido, em
Brasília, pelo secretário nacional de Articulação Social, Antônio
Roberto Lambertucci, que representou o ministro Luiz Dulci, da
Secretaria Geral da Presidência da República. Após a conversa
com os membros do Comitê, Lambertucci se comprometeu a
entregar o documento ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O presidente da Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia,
também se reuniu com os representantes do Comitê, juntamente
com a ex-deputada do Paraná, Dra. Clair, autora de uma ação
popular contra a privatização da mineradora.
"Os resultados do plebiscito popular 'A Vale é Nossa'
são extremamente positivos e até surpreendentes, levandose em conta que a preparação teve tempo bem menor, se
comparado com consultas anteriores sobre a Dívida Externa
(2000) e a Alca (2002)”, avalia Julio Turra. “Houve uma divisão
entre as entidades organizadoras sobre que perguntas formular
(alguns setores trabalharam com 4 ou 5 questões diferentes),
além do boicote da mídia. Ainda assim, 3.729.538 pessoas
votaram na questão da Vale (quase 1 milhão a mais do que
nas outras questões), com mais de 3,5 milhões de votos pela
retomada para a nação”, conta Turra. Sobre a participação da
Central Única dos Trabalhadores e dos sindicatos associados,
entre eles o SINPRO ABC, Julio Turra comenta: “Além da
Central, outras 64 entidades participaram do plebiscito. Do
total de votos, a CUT centralizou 908 mil (96% pelo Não) o que
constituiu uma parcela muito importante, cerca de 1/4 do total
de votos recolhidos em todo o Brasil".
Salu Parente/Ag. Câmara
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
27
artigo
Implementação de coleta
seletiva em escolas
Por Pedro Marcio Munhoz*
Porque reciclar?
A reciclagem dos resíduos sólidos é uma alternativa
viável para propiciar a preservação de recursos naturais, a
economia de energia, a redução de área que demanda dos
aterros sanitários, a geração de emprego e renda, assim como
a conscientização da população para questões ambientais
(O´leary et al., 1999 apud SIMONETTO e BORENSTEIN,
2006). Assim, é de vital importância que se implante um
sistema de coleta seletiva nas escolas, industrias etc, no qual
os recicláveis sejam separados antecipadamente. Nas escolas,
muitos professores motivados a preservar o meio ambiente,
iniciam um projeto de implantação de coleta seletiva, porém,
como não são especialistas na área ambiental, não atingem os
objetivos e o projeto é abandonado.
Para que um projeto de coleta seletiva seja
adequadamente implantado em uma escola, deve-se, em
primeiro lugar, verificar que fator está motivando a escola a
executar essa tarefa. GARCIA, sd, afirma que os fatores são:
· econômicos,
· ambientais e
· sociais
Se o responsável pela implantação da coleta seletiva
na escola identifica que a motivação para implantação é
econômica, este deve segregar os resíduos recicláveis de
modo a obter um maior lucro na venda desses resíduos,
por exemplo, o responsável pela segregação dos resíduos
recicláveis não deve apenas separar o papel dos demais
resíduos, mas, também, deve separar o papel branco do papel
colorido e do papelão, pois, esses têm valores diferenciados
da venda. Para se executar uma segregação adequada dos
resíduos, é necessário conhecer, algumas características dos
resíduos recicláveis serão fornecidas neste artigo.
Os principais materiais recicláveis
Para implementar um processo de coleta seletiva há
necessidade, preliminarmente, de conhecer, pelo menos de
forma resumida, quais os materiais mais comuns que podem
ser reciclados dentro de uma escola (GARCIA, sd).
qMetais
Deve-se evitar a mistura de vários tipos de metais
dentro do coletor, pois, pode-se formar pilhas eletroquímicas
28
que aceleram o processo de corrosão dos metais e, em alguns
casos, dificultam o uso para funções nobres. Contaminação
com matéria orgânica, excesso de umidade, plásticos, vidros e
areias dificultam sua recuperação, assim uma lavagem antes
do descarte deve ser recomendada. As tintas de estamparia
de embalagem são destruídas nos fornos de fundição durante
o reprocessamento e, portanto, não atrapalham a reciclagem,
os coletores devem ter a cor amarela (GARCIA, sd).
qPlásticos
Algumas resinas são de fácil identificação visual, mas,
na maioria das vezes, a seleção de plásticos é feita através
de símbolos padronizados adotados pelos fabricantes. Os
principais contaminantes dos plásticos são gorduras, restos
orgânicos, alças metálicas e etiquetas. Impurezas desse
tipo reduzem o preço de venda e exigem maior cuidado na
lavagem antes do reprocessamento, os coletores devem ter a
cor vermelha (GARCIA, sd).
qPapel
O produto de maior valor no mercado é aquele que
segue a especificação de matéria prima. Essas especificações
excluem ou limitam a presença de fibra de madeira e papel
colorido. Não podem conter metais, vidros, cordas, pedras,
areia, clips, elásticos e outros materiais que dificultam o
reprocessamento do papel usado. Tecnologias de limpeza do
papel permitem que sejam utilizados papéis plastificados e
contaminados com gordura. O papel não pode ser reciclado
indefinidamente, pois as fibras celulósicas quebram cada vez
que o papel é reciclado, delimitando assim, em sete ciclos
de reciclagem. Os coletores de papel devem ter a cor azul
(GARCIA, sd).
qVidro
Os vidros encaminhados para reciclagem não podem
conter pedaços de cristais, espelhos, lâmpadas e vidro
plano usados em automóveis e construção civil. Por terem
composição química diferente, esses vidros causam trincas e
defeitos nas embalagens. No entanto, algumas indústrias de
vidro incorporam percentuais de vidro plano na produção de
vidros para embalagens. Os cacos não devem estar misturados
com terra, cerâmicas e louças: como esses materiais não são
fundidos com o vidro, acabam formando pedras no produto final,
provocando sua quebra espontânea. Plásticos em excesso
podem gerar bolhas durante o reprocessamento e alterar a cor
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
da embalagem de vidro, o mesmo problema se verifica quando
há contaminação por metais. Portanto, as tampas plásticas e
metálicas devem ser segregadas nos coletores de plásticos e
de metais respectivamente. O coletor de vidro dever ter a cor
verde (GARCIA, sd).
qÓleos
lubrificantes,
solventes,
Lâmpadas fluorescentes, pilhas e baterias
Esses resíduos não devem ser segregados com os
demais resíduos recicláveis, pois são considerados perigosos
e devem ser destinados conforme normas estabelecidas.
Os recipientes de coletas desses resíduos devem ter a cor
laranja.
Projeto de coleta seletiva de resíduos
recicláveis
Muitos dos projetos de coleta seletiva nas escolas são
abandonados, ou não funcionam devido a falta de planejamento.
A seguir será dada uma sugestão de planejamento para a
implementação de um projeto de coleta seletiva em uma
escola.
Para obter sucesso na implementação de um projeto
de coleta seletiva é necessário que se desenvolva um
estudo detalhado de diversas fases do projeto e, durante a
implementação, devem ser considerados fatores ambientais,
econômicos e sociais, não esquecendo das exigências legais,
fatores que darão sustentabilidade ao projeto (GARCIA, sd).
Para identificar se um projeto ambiental terá uma resposta
positiva, devemos observar dois aspectos:
· É possível quantificar a melhoria? e
· Respeita normas e legislação?
O quadro abaixo apresenta uma sugestão sobre
as principais ações que devem ser tomadas nas fases de
desenvolvimento do projeto de coleta seletiva. De forma
simplificada, o processo de implementação pode ser separado
em quatro etapas, que segundo GARCIA, sd, são:
1.O conhecimento da situação;
2.A definição do projeto de implementação;
3.A implementação do projeto e
4.o monitoramento
O responsável em planejar, deve definir indicadores e
metas para a coleta seletiva em uma escola. Se implementar
a coleta seletiva com planejamento, terá uma probabilidade
maior de ver o projeto permanecer funcionado por tempo
indeterminado, melhorando assim o meio ambiente por um
tempo indeterminado, e evitando a decepção dos alunos em
relação a um projeto ambiental que veio a fracassar por falta
de planejamento. Agora, mãos à obra e bom trabalho!
O meio ambiente merece!
*Pedro Marcio Munhoz é Professor da Faculdade SENAI
de Tecnologia Ambiental, engenheiro químico com mestrado
em tratamento de efluentes e atuante na área de educação
Fase 1: Diagnóstico da situação
O professor deve verificar a situação da escola antes da implantação do projeto, para executar a verificação, sugere-se que
obtenha a resposta para as perguntas:Quais são os tipos de resíduos sólidos gerados? Quais são os pontos de geração? Onde os
resíduos recicláveis serão armazenados? Qual tratamento será dado aos resíduos não recicláveis? Qual o custo do projeto? Qual
a quantidade de resíduos? Como será feita a destinação final? A entidade que comprará os resíduos tem um compromisso com o
meio-ambiente?
Fase 2: Planejamento
O professor deve definir objetivos, indicadores e metas. Para definir isso, procure responder as seguintes perguntas:· Atende
a legislação? Como está o mercado de recicláveis? É possível fazer algum tipo de parceria? Alguém já fez isso antes? Quanto
resíduo é gerado para cada aluno? Com que freqüência esses resíduos são gerados? Qual objetivo quer-se atingir? Como será
feito para atingir o objetivo pré-estabelecido?
Fase 3: Implementação
O professor deve iniciar o processo de execução. Para isso, deve responder as seguintes perguntas: Qual metodologia será
utilizada? Quais são os responsáveis?
Fase 4: Monitoramento
O professor deve verificar se o projeto de coleta seletiva levará a escola a atingir os objetivos e metas pré-estabelecidos. Essa
verificação deve ser feita e registrada por meio de: Avaliação de indicadores através de documentos de controle e relatórios de
acompanhamento.
Referências Bibliográficas
CANTO, Eduardo Leite. Plástico: Bem Supérfluo ou Mal Necessário? Editora Moderna São Paulo, p79, 1995
GARCIA, Ricardo Lopes. Coleta Seletiva e Reciclagem de Excedentes Industriais Federação e Centro das Indústrias do Estado de São Paulo
SIMONETTO, Eugênio de Oliveira; BORENSTEIN, Denis. Operational management of solid waste selective collection: an approach using decision support system.
Gest. Prod. , São Carlos, v. 13, n. 3, 2006 . Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-530X2006000300008&lng=en&nrm=iso>.
Acesso em: 25 Aug 2007
O'LEARY, P. R. et al.. Decision Maker's Guide to Solid Waste Management. v. 2. Washington DC: U.S. Environmental Protection Agency, 1999.
CEMPRE em http://www.ambientebrasil.com.br/composer.php3?base=residuos/index.php3&conteudo=./residuos/reciclagem/pet.html acessado em: 21 Aug 2007
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
29
educação
De olho no ProUni
Cursos que recebem bolsistas do ProUni são avaliados como insatisfatórios
em prova do Enade
U
m alerta aos bolsistas do Programa
Universidade para Todos, o ProUni: Cursos com
desempenho insatisfatório no Exame Nacional
de Desempenho dos Estudantes, o Enade, oferecem bolsas
no programa. As instituições que recebem os bolsistas ficam
isentas de impostos, que, segundo estimativas, somariam R$
126 milhões, este ano.
Recente levantamento realizado pelo jornal O Estado
de São Paulo mostra que “462 dos 923 cursos com as notas
mais baixas do exame estão oferecendo bolsas via ProUni para
o segundo semestre de 2007”. Tais cursos são avaliados desde
o extinto Provão e sempre foram reprovados. No balanço, a
previsão era de que seriam concedidas 1.110 bolsas em 87
cursos jamais aprovados em ambas as avaliações. No total,
os cursos mal avaliados atingem 8% dos 5,8 mil oferecidos no
primeiro semestre deste ano.
De acordo com a lei nº 11.906, de 13 de janeiro de
2005, “o Ministério da Educação desvinculará do ProUni o
curso considerado insuficiente, sem prejuízo do estudante já
matriculado, segundo os critérios de desempenho do Sistema
Nacional de Avaliação da Educação Superior – SINAES -, por
3 (três) avaliações consecutivas”. Como os resultados dessas
avaliações serão divulgados apenas em 2009, fica o alerta para
que os atuais e futuros universitários busquem informações
sobre o curso e instituição em que pretendem estudar ou já
estão matriculados.
Os interessados em saber mais sobre o desempenho
das universidades no mais recente exame do Enade podem
acessar www.inep.gov.br e conferir o resultado completo.
O ProUni
O Programa Universidade para Todos tem como
objetivo conceder bolsas de estudos integrais e parciais a
estudantes de baixa renda, em cursos que vão da graduação à
especialização, em instituições privadas de educação de nível
superior. O governo oferece, em contrapartida, a isenção de
alguns tributos às instituições que aderirem ao programa.
Segundo o site oficial do ProUni, no primeiro processo
seletivo foram oferecidas 112 mil bolsas em 1.142 instituições
de ensino superior de todo o país e, para os próximos quatro
anos, o programa deverá oferecer 400 mil novas bolsas
de estudos. Mas, para isso, o SINPRO ABC acredita que
o Ministério da Educação deva avaliar quais instituições
possam continuar como beneficiárias da isenção tributária. O
MEC precisa se ater à qualidade de ensino oferecida pelas
faculdades para que os bolsistas não sejam prejudicados pelo
nível insatisfatório já comprovado pelo Enade.
O que diz a legislação?
Lei nº 11.906, de 13 de janeiro de 2005
(...) Art. 7o As obrigações a serem cumpridas pela instituição de ensino superior serão previstas no termo de adesão
ao ProUni, no qual deverão constar as seguintes cláusulas necessárias:
§ 4o O Ministério da Educação desvinculará do ProUni o curso considerado insuficiente, sem prejuízo do estudante
já matriculado, segundo os critérios de desempenho do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior - SINAES,
por 3 (três) avaliações consecutivas, situação em que as bolsas de estudo do curso desvinculado, nos processos seletivos
seguintes, deverão ser redistribuídas proporcionalmente pelos demais cursos da instituição, respeitado o disposto no art. 5o
desta Lei. (...)
30
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
sala de aula
Publicado livro que narra quase
100 anos da História de Cuba
Por Cibele Vieira Machado*
Foto: Israel Barbosa
N
os últimos anos, a imprensa brasileira e os
trabalhos acadêmicos não têm poupado
munição para atacar intermitentemente Fidel
Castro, a Revolução Cubana e suas conquistas. A informação
que nos chega diariamente via jornais, televisão, revistas e
teses defendidas nas universidades, sempre objetiva pintar,
para Cuba, um cenário pouco pior do que o do inferno
no imaginário medieval. Cada artigo que lemos pode ser
tranqüilamente ilustrado com uma figura do Presidente cubano
com rabo e chifres, empurrando para o fogo eterno os pobres
pecadores desertados do Regime. Muito se fala sobre Cuba,
muito se escreve sobre Cuba, muito se condena e se exalta
Cuba, mas muito, muito poucos se dedicam a estudar a fundo
a História de Cuba.
Na contramão dessa tendência, A Revolução Cubana e
a Questão Nacional (1868-1963), tese de Doutorado defendida
no Departamento de História Econômica da USP e lançado em
livro neste agosto de 2007, traz ao leitor um estudo profundo
e apaixonado dos principais acontecimentos históricos que
marcaram a Ilha por quase 100 anos anteriores à Revolução.
Com riqueza de detalhes são narrados no livro fatos ignorados
pelo grande público, tais como a Primeira e a Segunda Guerras
de Independência, as constantes intervenções militares e
políticas dos EUA, a contradição crescente entre a burguesia
açucareira - tão subserviente ao capital estrangeiro - e os
trabalhadores cubanos - tão ávidos por liberdade.
Além da abundância de informação sobre a História
da Ilha, algo difícil de se encontrar na bibliografia até hoje
publicada no Brasil, outro elemento que torna o livro precioso
para o leitor comum é a forma como o historiador relaciona
os principais episódios históricos de Cuba com a trajetória de
vários de seus heróis. Impossível não se emocionar com a
tenacidade do poeta José Martí que, apesar do corpo franzino,
fez questão de lutar no campo de batalha da Segunda Guerra
de Independência; ou com a morte de Antonio Guiteras,
assassinado após uma covarde delação; ou ainda com os
sempre eloqüentes discursos de Fidel Castro e sua brava
atuação frente ao grupo de guerrilheiros que até hoje encanta
os jovens revolucionários de toda a América Latina. No livro,
que pode ser comparado a um verdadeiro poema épico, o herói
individualizado aos poucos cede lugar ao povo cubano que,
em Playa Girón e nas Brigadas de Alfabetização se transforma,
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
Professor José Rodrigues Máo Junior, autor do livro
como um todo, no maior e mais honrado herói de sua pátria.
Ao contrário de outras teses aprovadas pela academia,
que tanto se orgulham de cultivar uma linguagem hermética,
para não dizer pedante, o autor de A Revolução Cubana e a
Questão Nacional (1868-1963) busca o entendimento do leitor
e sai vitorioso de seu intento. Com exceção do primeiro capítulo,
no qual é apresentado um panorama das diferentes posições
sobre a questão nacional entre os marxistas, o restante do livro
é de fácil leitura para o grande público, pois possui ritmo e
fluência elogiáveis.
Pela coragem de se colocar ao lado de Cuba - e não de
Miami - neste momento crucial da História da Ilha, pela riqueza
de detalhes, pela profundidade da pesquisa e pela linguagem
elaborada, porém acessível, o livro A Revolução Cubana
e a Questão Nacional (1868-1963), sem dúvida, é obra de
leitura obrigatória para todos os que se interessem por aquela
fascinante Ilha do Caribe.
*Cibele Vieira Machado é professora de português e
francês, licenciada em Letras pela USP
Título: A Revolução Cubana e a Questão Nacional (18681963)
Autor: José Rodrigues Máo Júnior
Editor: Núcleo de Estudos d’O Capital
Número de páginas: 406
Preço: R$29,90
Vendas pelo site: www.mamadeiramolotov.com
31
saúde
Aquecimento
Global...
Corpo, movimento
e saúde
Para esclarecer dúvidas sobre saúde do professor ou enviar sugestões, escreva para [email protected].
br, aos cuidados do professor Wilson Kraciunas
Por Wilson Kraciunas*
Vamos começar pedindo que você faça um pequeno
teste para perceber algumas transformações que ocorrem no
corpo: Feche sua mão e aperte como se estivesse tentando
esmagar algo. Conte lentamente até trinta, mantendo sua mão
fechada e apertando. Agora, pare de apertar e lentamente
tente abrir sua mão.
"Se você fez corretamente teve dificuldade em abrir
sua mão".
Isso acontece pela permanência em contração dos
músculos responsáveis por fechar a mão, localizados na
parte anterior do antebraço, punho e mão. A permanência na
mesma posição e/ou movimentos repetitivos diários, não só
na mão, mas em qualquer parte do corpo, pode causar, com
o decorrer do tempo, processos inflamatórios caracterizados
pela dor, desconforto e dificuldade de movimentação que
serão variáveis de acordo com a intensidade e tempo de
permanência do esforço.
Voltando ao exemplo prático, imagine a situação de um
digitador, de um dentista na apreensão do objeto de trabalho, etc.
Vamos ao assunto
Neste artigo falaremos das tensões nos ombros
e pescoço. Aulas, planejamento, provas, recuperação,
indisciplina, atividades extraclasse, atendimento aos pais,
atualização profissional, duzentos dias letivos, preenchimento
de papéis e o acúmulo de responsabilidades é tão grande que
o professor duplica a jornada de trabalho com as tarefas que
realiza em casa.
Para complicar, patrões se negam a remunerar horasextras e/ou aumentar o percentual de hora atividade. E, para
completar, o medo que temos, como todo brasileiro, de perder
nosso emprego nos faz "engolir" tudo isso.
É professor. Vida Dura !!!! Com esse nível de tensão é
impossível não se sobrecarregar.
Normalmente descarregamos essas tensões contraindo
os ombros e o pescoço. Dali a pouco, até a cabeça dói.
Toda tensão parece se materializar e "colar" na coluna
cervical (pescoço). A postura errada também contribui. Os
músculos, como vimos na introdução, são as primeiras vítimas.
Se você não percebe ou não faz nada para amenizar essa
tensão na musculatura, fatalmente poderá se transformar num
processo inflamatório caracterizado pela dor. Pior, a tensão
nessa região pode comprimir nervos e irradiar a dor para o
trajeto que esses nervos percorrem.
O alongamento muscular é a melhor maneira de
32
prevenir esse processo. A percepção do início do processo e a
conscientização corporal são fatores que também contribuem
para tentar relaxar a musculatura.
Uma postura esquisita ou mesmo o nervosismo do
dia-a-dia podem contrair demais a musculatura. Ela, então,
comprime os nervos, que pedem socorro ao cérebro: é a dor.
Se a postura ou tensão por nervosismo é constante
as vértebras mal posicionadas facilitam o deslocamento de
amortecedores existentes entre elas - os discos. Esse escape
é a famosa hérnia, que comprime ainda mais os nervos
causando dor no seu trajeto.
Veja abaixo alguns exercícios de alongamento para
a região estudada que podem ser utilizados preventivamente.
Mas, cuidado! Caso o alongamento provoque dores tão fortes
que impeçam a realização do exercício, está na hora de
procurar um médico.
Permaneça na posição de alongamento durante 30
segundos aproximadamente.
1- Sente-se ou permaneça em pé, com seu braço
esquerdo flexionado por trás de suas costas.
2- Agarre o cotovelo por trás com a mão oposta e puxe
seu cotovelo em direção ao meio de suas costas.
3- Expire e incline sua cabeça lateralmente na direção
do ombro direito.
4- Segure o alongamento e relaxe.
5- Você deve sentir o alongamento na parte lateral do
pescoço.
6- Faça o exercício do outro lado
Nota: Se não estiver apto a segurar o cotovelo (não
alcançar) segure e puxe pelo antebraço ou punho.
...uma questão para ser pautada!
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
Variação do primeiro exercício, retirando-se a
inclinação lateral do seu pescoço.
1- Sente-se ou permaneça de pé.
2- Coloque sua mão esquerda no lado direito superior
de sua cabeça.
3- Expire e lentamente puxe o lado esquerdo de sua
cabeça para seu ombro esquerdo.
4- Segure o alongamento e relaxe.
5- Você deve sentir o alongamento na parte lateral do
pescoço.
6- Faça o exercício do outro lado.
1- Deite no solo com ambos os joelhos flexionados.
2- Segure com as duas mãos a parte de trás da
cabeça.
3- Expire e puxe sua cabeça na direção do tórax
mantendo os ombros no chão.
4- Segure o alongamento e relaxe.
5- Você deve sentir o alongamento na região posterior
do pescoço.
Nota: O mesmo exercício (anterior) pode ser feito em
pé. No entanto, ao sair da posição de alongamento, suba a
cabeça lentamente.
1- Sente-se ou permaneça de pé com um braço erguido
até a altura do ombro.
2- Flexione seu braço sobre o ombro oposto.
3- Agarre seu cotovelo erguido com a mão oposta.
4- Expire e puxe seu cotovelo em direção às costas.
5- Segure o alongamento e relaxe.
6- Você deve sentir o alongamento na região lateral e
posterior do ombro.
7- Faça o exercício do outro lado.
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
1- Gire o pescoço, mas atenção, muito lentamente.
2- Tanto para um lado como para o outro.
A quantidade de repetições dependerá de sua
disponibilidade. Recomenda-se 3 repetições de cada
exercício.
* Professor Wilson Kraciunas
Secretaria de Assuntos Culturais, Educacionais, Mulher
e Saúde do Trabalhador do SINPRO ABC
33
34
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
SINDICATO DOS PROFESSROES DO ABC
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
35
Rede credenciada em todo Brasil
Sócios do SINPRO ABC têm
descontos de 10% até 30%
Atibaia - SP
Bal. Camboriú - SC
Búzios - RJ
Águas de Lindóia - SP
Foz de Iguaçu - PR
36
Santo Antonio do Pinhal - SP
Natal - RN
Centrais de reservas e atendimentos: (11) 4330-8996 - São Bernardo do Campo
(11) 4125-0480 - Santo André - (11) 5595-8645 - São Paulo
Centrais online: [email protected] ou [email protected]
Na internet: www.sisnatucard.com.br
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
Horário de atendimento: segunda a quinta-feira das 9h até às 18h

Documentos relacionados