Enzinado 2 edição
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Enzinado 2 edição
Junho | 2016 [email protected] www.rockamazonense.com #2 ROCKABILLY | METAL | PUNK | HARDCORE | SKA | REGGAE | INDIE | BLUES | JAZZ | HARD ROCK | SURF MUSIC | POP ROCK | CLASSIC ROCK | HQ’S CARNICERIA NOS TRÓPICOS, CONFUSÃO E UM GRAND FINALE CAROL MAGNANI E HENRIQUE MAGNANI A PRÉ-ESTREIA DE PINK FLOYD THE WALL EM MANAUS JORGE BANDEIRA 20 ANOS DE FLY KINTAL ZINE SÉRGIO FIGUEIREDO PRIMEIRA BANDA PUNK DE MANAUS VOMITER KARIDY ABREU UM ROLÊ PARA TODOS MARCOS EFRAIM NÁUFRAGO ESPACIAL HQ GILMAL MÁRIO ORESTES BANDA FLASH | O PASSADO REVISITADO GENECY DE SOUZA ARTANIA EHUD ABENSUR TU TÁ CHEIRADO, É? BRUNO F. CASTRO O DIA QUE KURT COBAIN MORREU EM MANAUS MARCELO ARAÚJO SHOW DO SEPULTURA EHUD ABENSUR CRISE E DESCRISE JOSÉ AMARILDO ROCK MANAUARA PRODUÇÕES, ESCÂNDALO FÔNICO E SENTA PUA FRANK ROOSEVELT CARNICERIA NOS TRÓPICOS, CONFUSÃO E UM GRAND FINALE Por CAROL MAGNANI e HENRIQUE MAGNANI Nos anos 1990 éramos adolescentes, estávamos no colégio. Embalados pelo auge da MTV, ouvíamos punk rock, conhecemos bandas alternativas brasileiras, comprávamos muitos CDs e sempre que podíamos, íamos aos shows em Manaus. O ano era 1998, não lembramos a data exata. Soubemos que haveria show do Ratos de Porão, da turnê do disco Carniceria Tropical. O show aconteceria na quadra do Dom Pedro. Compramos ingresso com antecedência e, no dia do show, pegamos o ônibus rumo ao local. Chegando lá, achamos estranha a pouca movimentação de gente e parecia que não haveria show nenhum ali. Ficamos na praça esperando os próximos acontecimentos. Foi quando parou um ônibus muito bonito, com ar condicionado (daqueles que fazem passeios turísticos) e falamos empolgados “caramba chegou o Ratos, vamos lá ver”. Observamos que desceram duas pessoas e ficaram em pé na porta do ônibus, quando nos aproximamos disseram “o local foi alterado, o secretário de esportes não autorizou show de rock na quadra, viemos buscar as pessoas que estão com ingresso na mão”. Ficamos meio cabreiros de dar nosso ingresso e entrar em um ônibus assim do nada. Pagamos pra ver, entregamos nosso ingresso e entramos no ônibus que já estava repleto de caras “malvados” do rock. Fomos levados pro Coração Blue que era localizado próximo a Ponta Negra. Um bar aberto com um palco pequeno. Momentos após a chegada do público ao novo local entra a banda de abertura. Uma banda chamada Vanadium. Logo de cara mandaram vários clássicos dos Ramones, foi a primeira vez que pogamos ao som de Ramones ao vivo e, para nós, a abertura já havia valido o ingresso. Infelizmente depois não ouvimos mais falar da banda. Fim do show de abertura restava esperar pela atração principal. Nesse intervalo tinha um cara fazendo a discotecagem e só tocava metal. Lembro que fomos falar com ele para pedir umas músicas de punk rock e ele respondeu enfático “deixa rolar”. O show demorou a começar, pois disseram que o Ratos estava dando entrevista na rádio. A cerveja estava custando R$ 0,50, mas não bebíamos álcool na época, somente água e refrigerante. Após uma longa espera finalmente o Ratos sobem ao palco. Ficamos impressionados com a competência de Jão, Boka e Pica-Pau. Nunca tínhamos visto tanta energia em uma banda. Sem contar João Gordo, que estava muito simpático e comunicativo nesse dia. Disse que eles haviam perdido ou quebrado a guitarra de Jão, e Herbert Vianna o presenteou com uma Gibson Les Paul que inclusive estava sendo estreada nesse show. Em um dos momentos memoráveis, Gordo entoa a clássica frase "será que beber até morrer é a solução?” na sequência destruiu uma latinha de cerveja na própria testa e o pau desgalhou no pogo infernal. Por algumas vezes mandou o tal secretário de esportes tomar no cu, pelo preconceito que ele teve com o rock ao vetar o show na quadra. Mas as surpresas não terminaram por aí. No meio do show vimos um cara grandão pogando solitário ao nosso lado. Estava com a camisa branca suja de terra e pirava muito. Era nada menos que nosso professor de informática. Um cara nerd, que nas aulas falava baixo e andava lentamente. Ele não nos viu e não comentamos nada na escola, foi aí que vimos que o rock vai além das aparências e que não precisamos provar nada pra ninguém. Após o show fomos pra casa, lanchamos e fomos dormir. Na segunda feira João Gordo agradece ao público de Manaus em seu programa na MTV. E nos sentimos realizados pois estávamos lá. Esse foi nosso primeiro show de punk, tivemos nosso primeiro contato com o underground e isso foi fundamental para que carregássemos a simplicidade e a energia dos 3 acordes conosco. E cremos que será assim sempre. A PRÉ-ESTREIA DE PINK FLOYD THE WALL EM MANAUS Por JORGE BANDEIRA Eu não lembro do mês, mas o ano era 1983. Cine Claplin da Joaquim Nabuco, que o agitador cultural Joaquim Marinho mantinha antes dos shoppings centers arrasarem com tudo e deixarem tudo uma merda só: Tudo parecido e sem graça, anódino e passivo. Na época, eu estava na doidice do Coagri, o antigo colégio agrícola hoje IFAM, lá no bairro de São José II. Era uma sessão noturna, creio que dez da noite e os malucos e fãs já faziam fila para assistir a histórica sessão alardeada como uma notável préestreia, onde Manaus e Rio de Janeiro seriam as únicas cidades brasileiras contempladas com esta avant premiere. A fachada do Chaplin tinha se transformado num muro ao estilo da capa do álbum do Pink Floyd, com aquelas letras e desenhos do Gerard Scarffe, reproduzidas exemplarmente pelo artista Marius Bell. Eu lembro de uma sessão lotada, muito agitada, onde os rolos se partiram em alguns trechos do filme, em meio a uma fumaça bobmarleyana que vigorava durante todo o filme. A turma estava fumegante mesmo, e na verdade, quando a projeção era interrompida poucos eram os apupos, a moçada estava concentrada na viagem do filme, ou na sua viagem particular. Foi algo monumental para mim, que em 1983 estava no auge dos meus 15 anos, um adolescente que curtia aquilo tudo, e que a força daquelas imagens se potencializavam em minha mente. Alucinante era aquilo, o filme, o público, a fumaceira toda, o som do Pink Floyd, as imagens do Alan Parker, o Bob Geldorf, era tudo envolvido com uma forte carga emotiva para os meus sentidos. Eu tinha ido só ao cinema, acho eu. O Joaquim Marinho ainda entregava uns brindes para o público antes da sessão, e eu fui presenteado por um lindo pôster do álbum The Final Cut, inclusive naquele 1983 o The Wall na verdade já era passado e o Pink Floyd já estava sob a chancela do Roger Waters, sem o David Gilmour. Nada disso importava, só sei que naquele dia, naquela sessão, o Pink Floyd reinou em Manaus, com um público extasiado com tudo que rolou no Cine Chaplin, e aqui temos que prestar deferências ao Joaquim Marinho. Manaus precisa urgente de um cara como o Marinho para agitar a pasmaceira destes cinemas dos shoppings centers, onde o luxo pode até imperar, mas o cinema fica sendo uma panaceia de bobagens sem fim. Aquela sessão, enfim, foi inesquecível pra mim, pra muitos. Alguém aí assistiu naquele dia e horário o Pink? Jorge Bandeira - Patafísico e Satrapa do Colleghyo Pataphyzyko AmazonenSY. 20 ANOS DE FLY KINTAL ZINE Por SÉRGIO FIGUEIREDO O Fly Kintal Zine (FKZ) surgiu no ano de 1995, no mês de Outubro, com o intuito de dar apoio as bandas do cenário alternativo/underground do Brasil, sempre seguindo a linha do ecletismo, apoiando bandas dos estilos death, thrash, heavy, gore, grindcore, alternativo, punk, hardcore, doom, atmospheric, gótico, speed, black, etc. Sua primeira edição foi lançada na data de 18/10/1995 apenas com colagens de flyers de bandas, selos e distros de todo o pais. Essa edição era apenas uma folha de oficio dobrada ao meio, logo mais foram saindo outras edições e tivemos a satisfação de ter em nossas páginas bandas como: MX, Headhunter Death Cult, Olhos Imaculados, Pentacrostic, além de tantas outras bandas do cenário underground. O zine tempos atrás, teve apoio de algumas empresas na tiragem de suas edições, mas, infelizmente, essas parcerias duraram por pouco tempo. Mesmo assim continuamos nossa jornada a serviço do underground nacional. O FKZ completou 20 anos de atividade ininterrupta e sendo assim um dos poucos zines da década de 1990 em atividade. Sempre lançando suas edições no formato tradicional impresso, e com isso, lançamos nossa primeira compilação em CD-R com bandas de Manaus e de Curitiba. O zine está aqui pra somar com o cenário nacional. UM ROLÊ PARA TODOS Por MARCOS EFRAIM É comum irmos a um rolê de hardcore em Manaus e percebermos que 100% das bandas do line-up são formadas exclusivamente por pessoas do sexo masculino. Quem frequenta os eventos (e até quem não frequenta) chega a dizer que os rolês do HC baré é exclusividade dos “machos de plantão”, que as minas não podem participar, que é um “clube do Bolinha” e outros absurdos que nem vale a pena comentar, levando uma generalização machista àqueles que tentam de alguma forma manter a chama da cena acesa. A verdade é que os rolês organizados pela crew hardcore manauara é aberto a todos os gêneros (homem, mulher, homossexuais, etc.). Ninguém é considerado melhor que ninguém ou tão pouco superior a alguém. E, assim, tentamos tornar o cenário de nossa cidade melhor, valorizando a diversidade e as escolhas de cada indivíduo. Não queremos nos isolar em um mundinho em que ninguém mais entra. Não queremos que os rolês se prendam a um único gênero. Não queremos as mesmas bandas só de garotos e tampouco os mesmos artistas em cima do palco. Também não precisamos diminuir o valor do ingresso das meninas no intuito de fazê-las aparecer em maior quantidade. Não precisamos e nem queremos esse tipo de estratégia em nossos eventos. Queremos, sim, que elas se façam mais presentes, mas que seja de forma ativa e não simplesmente ir por ir ou por estar acompanhando seu namorado que vai tocar. Claro que a ajuda delas comprando ingressos e prestigiando as bandas é de muita importância, e não se pode negar que isso ajuda bastante a cena local. Estamos aqui para somar com o rock em Manaus e, de alguma forma, agregar valor. Então, você, que é mulher, gay ou qualquer um que se encaixe no termo “minorias”, e que tenha algo para acrescentar, seja com um zine, uma palestra, uma banda, fotografando, expondo um curta ou alguma ideia legal para o rolê que a crew organiza, é só chegar com a gente que estaremos sempre de portas abertas para recebê-lo, e até ajudar a tirar sua ideia do papel e pô-la em prática. Isso com certeza nos deixaria bem felizes, pois a ideia é crescer... Em gênero, número e grau. TU TÁ CHEIRADO, É? Por BRUNO F. CASTRO Certa vez, estávamos: Lare, eu, Ralze e tinha mais um amigo... Que não lembro direito, mas acho que era o Thiago "Amigo Gordo", provavelmente, em um bar/lanche que frequentávamos e que ficava na vizinhança do Núcleo 15, Cidade Nova(Nóia), que tinha por nome Lanche do Big John, o Big, para os mais íntimos, que eram aqueles que iam lá para comer um lanche, beber umas cervejas, tocar violão, matar tempo e trocar uma ideia com ele escutando flashbacks e dando uns tecos no banheiro. E toda noite era a mesma coisa lá... Diversão! O Lare se divertiu muito lá, e eu também! Mas ele foi o recordista de nós, haha. Estávamos lá pelo Big, certa noite, ainda era de madrugada cedo, estávamos porres, mas, de boa e tal, quando decidimos que iríamos para a casa de um outro brother, o Isaac Palheta, vulgo "Isaacolation" ou "Isaacochaça" que era como o chamávamos carinhosamente, para continuarmos a beber até mais tarde, como é de costume. Fomos caminhando, conversando, não havia ninguém na rua, apenas nós, até o momento em que avistamos um sujeito à nossa frente, surgindo da escuridão da noite, resmungando consigo mesmo, visivelmente chapado de várias coisas, doidão, e quando chegamos um pouco mais perto o reconhecemos, porque ele era nosso vizinho de núcleo, era um cara mais velho que a gente meio metido a galeroso, lembro que ele era gaiatão e fingia que era bom de briga para os outros, mas só que não era haha. Ele estava bem atravessando a rua principal, falando alto, quando de repente um carro em boa velocidade freia bruscamente quase em cima dele. IIIHHHNNN!! Eles, o motorista e o noiado gritam um com o outro, daí o sujeito que quase foi atropelado grita: "Tu tá cheirado, é, caralho?!" Foi engraçado, mas nessa hora o motorista que era uma porra de um bombado, saiu do carro e com um movimento rápido acertou o rosto do infeliz com um tapão. Ploft!! Foi certeiro. O outro não teve nem reação. Foi tudo muito rápido. O motorista ainda disse uns xingamentos pro cara, entrou no carro e foi embora. Fiquei pensando nessa bronca que rolou, e no dia seguinte compus a bela canção "Tu tá cheirado" que, é uma música que muita gente curte, mas não sabia da história real. E sim, gosto bastante de tocá-la nos shows podres. Rs. VOMITER Por KARIDY ABREU Bom, pra essa segunda edição do Enzinado, falarei da banda Vomiter do meu amigo André Vomiter (foto acima), a qual era formada pelo próprio nos vocais e baixo, Agnaldo na guitarra e Mário na bateria. Banda de death metal com influências de Ânsia de Vômito, Krisium, Sarcasmo, The Endoparasited, Cannibal Corpse, Morbid Angel, além de heavy e thrash metal antigo. A banda tem três demos gravadas: a primeira em 1991, Rotness com 4 músicas próprias; a segunda em 1995, Imortality com 5 músicas próprias; e a terceira em 1998 com 18 covers de bandas thrash que adaptaram na versão death. Atualmente a banda está desativada infelizmente, pois era uma puta banda com um vocal fudidaço do André, o qual hoje em dia está sem tempo até pra tomar uma cervejinha com os velhos amigos hehehehehe... Já o Agnaldo infelizmente faleceu em um acidente em SP ano passado, o Mário de vez em quando nos esbarramos por aí. Então é isso, a amizade e o rock na veia continuam sempre entre nós! Até mais amigos! Até a próxima! PRIMEIRA BANDA PUNK DE MANAUS SHOW DO SEPUTURA No final da década de 1980, mais precisamente no ano de 1987, eu estava totalmente fascinado pelo punk rock. Em pleno vigor de 16 anos de idade, ficava eufórico com o ímpeto de rebeldia sincera que caracterizava aquele estilo urgente e identificável com todo adolescente questionador. Eu era uma espécie de “mascote” da banda Anestesia (lendária banda de thrash metal manauara que fez muito sucesso na cena local naqueles anos, ainda atuante hoje, mas sem o mesmo glamour de outrora) por conhecer os membros, frequentar os ensaios e compartilhar as “diversões”. Com o ambiente propício, não demorei pra conversar com vários e montar minha primeira banda. Para representar o grupo tinha de ser um nome repugnante, punk. Depois de alguma especulação chegamos em “Pústula Cerebral”. A formação constava com Augusto (vulgo Pacú) na bateira, Clinton no contrabaixo, Klinger Magalhães (contrabaixista do Anestesia) na guitarra e eu (Mário Orestes) como vocalista. O primeiro ensaio se deu na aparelhagem e local de ensaio do Anestesia. Eles concordaram em ceder esse espaço e não pude perder a oportunidade. Ensaiamos apenas um hard core autoral de 7 segundos de duração chamado “Muda Brasil” e tinha a seguinte letra: “Porra, caralho, muda essa merda. Vocês prometeram, mas mudaram pra pior”. Só isso mesmo. O ensaio durou apenas 10 minutos e surpreendeu o pessoal do Anestesia por ser rápido demais. Não precisávamos de mais tempo pra fazer aquilo. Posteriormente mudamos nossos ensaios para a casa de Lincon onde já ensaiava a banda Anezy e passamos a contar com Sérgio na guitarra, substituindo Klinger. Fizemos alguns shows pela cidade, mas a banda sobreviveu somente de setembro de 1989 a março de 1990. Éramos todos muito jovens, não nos levávamos a sério. Só tocávamos alucinados e nossos ensaios eram porres certos. Antes de nós existiram duas bandas punks na cidade. A “Prisão Perpétua” e a “Vômito”, mas nenhuma das duas chegariam a se apresentar ao vivo, de forma que nós acabamos por levar o título de primeiros de Manaus no estilo. Nossos únicos registros se resumem ao mitológico (porém existente) vídeo “Rock In Acapulco” (registro, sem nenhuma qualidade, em VHS de um Festival com várias bandas locais nas ruínas de uma casa noturna) e as fotos da apresentação no “Crossover Festival” (outro Festival com várias bandas locais numa quadra esportiva do bairro Japiim em dezembro de 1989). Destas fotos, Clinton até hoje as mantêm a sete chaves. Abaixo a única que ficou em meu poder. A vinda do Sepultura em 1988 a Manaus foi um grande marco para o metal na cidade, pois, nunca imaginaríamos que nossa terra receberia um grande evento desse porte. Para mim, integrante da Anestesia, ter o privilégio de participar da abertura do show e dessa história também foi realmente inesquecível. Dividimos o camarim improvisado no Olímpico Clube, que era a sala da direção, se não me engano. Tive a oportunidade de conhecer todos os integrantes que a meu ver eram tão magrinhos que nem pareciam os caras do álbum esquizofrenia kkkkkk... De todos eles, os mais comunicáveis foram o Andreas, recém-chegado na banda e o Paulo, ambos, foram muito atenciosos conosco, enquanto que o Max e Igor já eram mais fechados, posso estar engando viu kkkkk... Lembro que foram a esse show em torno de duas mil pessoas misturadas, tinha gente que curtia realmente metal e gente curiosa que foi ao show. Confesso que éramos imaturos ainda (Klinger – Serjão – Wlad – Marden – Ehud) e fizemos um show regular, pois, tentamos produzir quatro músicas as vésperas e elas não saíram como o esperado, além de algumas falhas no som que não permitiram um excelente show, mas nada que tirasse o brilho daquela noite. As filmagens completas dos pré-shows se perderam pelo tempo, mas, as lembranças ficaram eternizadas na mente de nosso povo, pois saíram matérias na revista da época Rock Brigade e uma dedicatória no álbum Beneth The Remains para Anestesia e Insanus, álbum esse que rodou o mundo, isso numa época que não existiam redes sociais foi realmente demais. É bom sempre lembrar esses momentos. Por MÁRIO ORESTES CRISE E DESCRISE Por JOSÉ AMARILDO | A vida noturna em Manaus está cada vez mais monótona devido à crise financeira que afeta o país. Portanto, ainda existem opções de baixo custo, que são bares com preços em conta, boa música e regado a churrasquinho para tira-gosto, entre eles o Bar do Braga, situado na Rua Belo Horizonte, onde pessoas que gostam de rock and roll e de um bom papo pra troca de ideias podem se reunir para tal fato. Por EHUD ABENSUR ARTANIA Por EHUD ABENSUR Lá vai mais uma história... Fui para um show de rock no clube Ideal – antiga Moranguinho – e fui com umas dez pessoas penduradas num fusquinha de meu amigo Marcos, e o carro se chamava Trovão Azul. Chegando na Moranguinho, tive o prazer de ver a banda Artania, formada pelo lendário Beto Lee, Marcio Pasta, Chico Lima e o vocalista Marcinei, tocando Mistreated, Paranoid, Smoke on the Water, Were gonna taket it, NIB e muitos outros sucessos da época. Também passei a conhecer várias figuras imortais do rock como: Galo, Erótico, Batman e Tadeu Tapuru. Desde então, nunca mais perdi shows de rock algum, fui ver o Beto Rock tocando no Noturno no Parque 10 e depois no Espaço Aberto, voltei a ver a Artania no Bosque Clube, tocando também Iron Maiden. Na época com 17 anos não imaginava que o movimento rock em Manaus já começava a crescer muito. Foi uma época memorável onde não havia redes sociais e o povo comparecia de qualquer forma, sinto que éramos muito unidos. São boas lembranças. ROCK MANAUARA PRODUÇÕES, ESCÂNDALO FÔNICO E SENTA PUA Por FRANK ROOSEVELT A RM (Rock Manauara Produções) está realizando as últimas edições do projeto Rock Series. A ideia é iniciar um novo projeto acústico, mas ainda em planejamento. Por outro lado, a produtora está fazendo a produção do show de lançamento do 2º CD da banda Escândalo Fônico. Para isso, criou uma página no face para os fãs da banda acompanharem justamente os preparativos deste show, promoções e outras campanhas em prol da banda. O público também pode acompanhar pela página da produtora e também da própria Escândalo Fônico. Já a banda Senta Pua está em processo de produção das últimas músicas do novo CD e já iniciou a gravação do mesmo. O álbum deve conter em torno de 8 a 10 faixas. Algo que ainda está sendo definido, por causa do processo de produção mesmo. BANDA FLASH | O PASSADO REVISITADO Por GENECY DE SOUZA Muito se tem falado a respeito do rock autoral e de produção independente, especialmente em Manaus, cidade tradicionalmente distante dos grandes centros roqueiros do sul do país. Todavia, um diferenciador trabalha em favor da cena rock manauara: a tecnologia. Hoje, qualquer um pode gravar um CD. E, havendo um pouco mais de cash, os mais abonados podem requisitar os serviços de estúdios melhor estruturados, afinal de contas, money talks, here and everywhere. Nada é 'de grátis', mesmo que você não precise abrir a carteira para curtir aquele festival patrocinado pelo Governo - qualquer que seja ele, às vezes fazendo uso da velhíssima política panis et circenses, que ainda funciona muito bem, se é que me entendem. Mas, é a grana (ou a falta dela) que nos obriga a olhar através do espelho retrovisor para saber que as coisas não eram assim não faz muito tempo. Gravar um disco, ainda que fosse um prosaico compacto, exigia uma carga de trabalho que incluía convencer um patrocinador a investir uma grana na produção do disco, adular um radialista para rodar o disco e... rezar para que ele maneirasse no preço do jabaculê -- jabá, para os íntimos --. Valia também contar com a ajuda dos amigos. Hoje, qualquer Youtube da vida, zilhões de web rádios e outros milagres da internet se encarregam da divulgação. Quanto a qualidade dos trabalhos, bem, aí já são outros quinhentos. E foi mais ou menos nesse modus operandi pré-internet que a banda Flash lançou nos idos de 1988, o EP Vozes do Inferno, hoje um raro item de colecionador. O feito merece todas as considerações positivas, haja vista, as circunstâncias da época. Passados quase 30 anos, as faixas “Vozes do Inferno”, “Quero ser Eleito”, “Vooe” e “Escravos do Sexo” não escondem o forte teor setentista das músicas, ou seja, o hard rock inspirado em bandas gringas como Deep Purple e Black Sabbath, bem como nas brasucas Made in Brazil, Tutti Frutti e, quem sabe, Patrulha do Espaço e similares. A Flash tinha como integrantes Beto Rock (guitarra e vocal), Sérgio W. Gailey (bateria e vocal), Beto Lee (baixo) e Ali Assi Filho (teclados), cujo entrosamento fez com que as quatro músicas apresentem letras bem sacadas, irreverentes e até mesmo ousadas, haja visto que o regime militar havia oficialmente terminado três anos antes, de maneira que a odiosa censura ainda dava as cartas, daí a existência da frase "Liberado pela Censura Federal" na contracapa, que servia, também, como um incentivo à compra do álbum, já que tudo que é proibido é mais gostoso. Contudo, o disco foi um fracasso comercial, cabendo ao tempo fazer-lhe justiça. Esse tempo há de vir. Por fim, o rock da Flash envelheceu com certa dignidade. Se a banda existisse nos tempos que correm, ela seria classificada como retrô, mas livre de qualquer ranço pejorativo. É chique ser retrô, mas é só para quem pode. O DIA QUE KURT COBAIN MORREU EM MANAUS Por MARCELO ARAÚJO Não se pode negar o universo maravilhosamente trágico das coincidências. Entre as preparações exaustivas que sucedem as produções de eventos e manutenção de espaços dedicados as ações culturais, pairam os ‘acasos’ e ‘encontros’ do tempo e das pessoas, que muitas vezes permanecem mergulhados na exclusividade de algumas memorias. Dentre as últimas investidas culturais que fizemos, surgiu a Base Espacial 981. Lugar agradável que apareceu como uma opção diferente no circuito de bares do centro e, fundamentalmente com o intuito reunir artistas e produtores, bem como difundir a arte e a música produzida na cidade. A empreitada era encabeçada pelo grupo de amigos, os alienígenas Marcelo Araújo, Pablo Henrique, Albenizio Júnior que permitiram se aventurar numa experiência domiciliar e comercial, mas mais que do isso: uma amizade convivida e compartilhada dos mesmos sonhos. Naquela semana, acordamos com a sensação que deveríamos fazer algo diferente, assim como a proposta do espaço sempre nos exigia, e de imediato emergiu a lembrança de um especial Nirvana que rolou dentro d’O Alienígena em 2013. Decidimos contatar os músicos Thomaz Campos (Infâmia) e Bruno Maurício (Seaside) que foram responsáveis pelas infinitas “porradas” do grunge na cidade e são verdadeiros especialistas quando o assunto é Nirvana. No entanto, precisava ser diferente e não poderia ser ‘porrada’, pois seria muita emoção para os idosos das redondezas, então pensamos em reproduzir o universo melancólico do Acústico MTV do Nirvana. Para isso, precisávamos do ambiente daquele show, daí convidamos o alienígena Jorge Bandeira e sua companheira Sunny Petiza para assinar a cenografia. Em uma noite amena de sábado, juntaram-se em uma casa na rua Luiz Antony, de nome ‘Base Espacial 981’, no centro da cidade de Manaus, os amantes da banda de Seattle em um especial acústico que reproduziu as mesmas características do fúnebre show, e consequentemente do registro que marcaria a despedida de uma das maiores bandas de todos os tempos, e do ícone de uma geração, Kurt Cobain. A cada acorde éramos transportados em viagem musical aos anos 1990, em um ambiente com flores, velas acesas e quadros. Entre cigarros e cervejas, o desejo unanime de que o tempo poderia ser a repetição daquele show interminável, onde os próprios músicos não conseguiam parar de tocar; até que alguns aviõezinhos de papel aterrissaram no público anunciando que a última música seria tocada, era o fim. O que ninguém sabia (Organizadores e o Público), é que naquele noite o “fim” representaria mais do que a passagem de um dia normal de evento: Foi o último show da casa, o último dia de funcionamento, o último encontro de amigos e clientes da Base. Dias depois, fomos forçados a encerrar a vida breve e pulsante da Base, assim como a curta e meteórica história do Nirvana. Sem saber, homenageamos o FIM do Nirvana com o nosso FIM. Foi naquela noite de sábado que Kurt Cobain morreu em Manaus com a Base espacial 981. FIM.