A natureza como linguagem e arte

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A natureza como linguagem e arte
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A natureza como linguagem e arte
Mariana Tereza Athayde Bordallo da Silva 1
RESUMO: Este artigo pretende observar o desenvolvimento do conceito de natureza ao
longo da História, identificar a representação dos conceitos de Natureza nas Artes, em
pinturas, esculturas ou quaisquer manifestações artísticas dos períodos históricos analisados,
tendo como referência para a análise desses períodos, os fatos históricos que marcaram
transições significativas para a humanidade: a evolução do pensamento do homem através da
filosofia, o desenvolvimento político e social da humanidade, as consequências e riscos do
desenvolvimento científico e tecnológico, assim como, o desenvolvimento das artes, as escolas
e os movimentos artísticos em cada período. Para essa discussão foram utilizadas as teorias de
Gombrich (1995) e Grof (1987).
PALAVRAS-CHAVES: Homem. Arte. Natureza. Ambiente.
Introdução
O homem, desde sempre, busca resposta que expliquem a sua existência. Procura
compreender porque se tornou distinto da natureza e um predador por excelência. Não obstante,
o poder que o homem adquiriu através do conhecimento e da tecnologia está levando-o a uma
posição muito delicada com relação ao planeta. O avanço científico trouxe benefícios à
humanidade, mas, trouxe também muita dor e risco de destruição. Não a destruição da vida, pois
a vida transcende ao homem, mas, a destruição da natureza como a conhecemos.
A visão que o homem tem de si mesmo determina a qualidade de sua relação com seus
semelhantes, com os animais, com o ambiente e como ele irá lidar com esse processo.
Em todos os momentos da civilização humana encontramos arte. Mesmo nos objetos
feitos para serem usados, observamos uma noção estética ou o cuidado com o belo.
Se
considerarmos que a arte revela as emoções, a história, a visão sobre si mesmo e sobre o mundo
onde vive (cultura), podemos analisar os produtos artísticos para compreendermos a evolução do
pensamento humano e inferir os conceitos de natureza nos diversos períodos históricos.
Mas, é necessário contextualizar o homem em seu tempo: compreender como se
relaciona com a natureza e com a ciência, quais fatos históricos demonstram essa relação e as
mudanças de perspectiva. A natureza refletida na arte reproduz sempre o próprio espírito do artista, suas
predileções, seus prazeres e, portanto, seu estado de ânimo. (GOMBRICH, 1995, p. 430)
Compreender os conceitos de natureza desenvolvidos ao longo da evolução biológica,
mental e tecnológica do homem é compreender a relação que mantemos hoje com a natureza. A
Graduada em Língua Inglesa pela Universidade Federal do Pará – UFPA; especialista em Informática Educativa
pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS; especialista em Sociologia e Educação Ambiental pela
Universidade Estadual do Pará – UEPA. [email protected]
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fim de desenvolvermos um novo olhar sobre a natureza, escolhemos analisar os conceitos de
natureza expressos nas Artes, pois a contemplação nos leva à reflexão, à medida que
reelaboramos novos significados. Repensar a relação homem x natureza, mudando a perspectiva
que temos hoje para uma visão mais sistêmica, é o que propomos neste trabalho.
A Pré-História
Nos primórdios da humanidade, a vida era multissensorial. O homem sentia o mundo
através dos sentidos e a natureza era um grande mistério. Os vulcões, as enchentes, os trovões
deviam assustá-lo e enchê-lo de inquietações.
No Paleolítico (2.5 milhões a.C. a 10.000 a.C), as hordas viviam da coleta de frutos e
raízes, da pesca e da caça. Moravam em cavernas, eram nômades, enfrentavam os rigores do
clima e os predadores. Controlavam o fogo, criaram instrumentos de pedra, de madeira, de ossos
e de marfim1.
Dentre os fenômenos naturais, por certo, o mais importante, estava a reprodução.
Magicamente a vida surgia de plantas, dos animais e da mulher. Aos olhos dos nossos ancestrais, o elo
comum era o conceito mágico (ou intuição) da força sagrada ou mana, como é chamada na cultura tribal da
Melanésia (FEUERSTEIN, 1994, p. 65-66). A mulher tinha o poder de gerar a vida, o
conhecimento sobre os mistérios da reprodução e das plantas com finalidade de cura. Dela
provinha magia e sabedoria.
A força mágica feminina da natureza: O desenvolvimento cerebral, ocorrido no final do
Paleolítico, permitiu ao homem maior complexidade de pensamentos, dando-lhe a inteligência
moderna, a linguagem e a arte. Nas cavernas de Lascaux, no Sul da França, ele criou pinturas e
rabiscos, acredita-se que, com finalidades xamânicas. He painted fantastic murals of reindeer, bison, and
bulls in these resonant caverns that flickered with stone candles and smelled of the acrid aroma of animal fat where
rituals were performed. A magic theater of the senses2. (Ele pintou fantásticos murais de renas, bisões e
búfalos nessas cavernas ressonantes que cintilavam com o fogo e cheiravam a um aroma ácrido
de gordura animal onde rituais eram realizados. O teatro mágico dos sentidos – T/A).
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Fig. 1 – Salão principal da Caverna de Lascaux na França (15.000 a.C.)
O ambiente da caverna e a natureza ameaçadora criavam uma atmosfera ideal para a
concretização do pensamento mágico. Ali, ele aprisionava magicamente o animal que pretendia
caçar e, possivelmente, dramatizava essas caçadas antes de realizá-las. É impossível entender esses
estranhos começos se não procurarmos penetrar na mente dos povos primitivos e descobrir qual é o gênero de
experiência que os faz pensar em imagens como algo poderoso para ser usado e não como algo bonito para
contemplar (GOMBRICH, 1995, p. 40).
Grupos sociais primitivos atuais ainda acreditam que o aprisionamento da imagem
representa o aprisionamento da alma do indivíduo. Gombrich (1995, p.40) cita a preocupação
dos habitantes de uma aldeia africana quando um artista europeu fez os desenhos de seus animais
domésticos: Se levar consigo nosso gado, do que iremos viver?
A pintura representada nas cavernas expressa a energia vital da natureza, a força de
criação e a de destruição. E, como representante desse conceito mágico, a ancestral primitiva
mais antiga, aquela que representava o início do clã e da vida, era a deusa venerada. O conceito de
“criador da vida humana” era um princípio feminino (FEUERSTEIN, 1994, p. 61). Desse
período, foram encontradas representações estilizadas da figura feminina relacionada ao conceito
de fertilidade.
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Fig. 02: Vênus de Tan-Tan (Marrocos, 300 – 200.000 a.C.), a estatueta mais antiga que se tem
conhecimento
O princípio masculino destrona a Mãe Terra: No Neolítico (10.000 a.C. a 4.000 a.C.), houve o
aprimoramento dos instrumentos de pedra; o início da agricultura e a fixação do homem ao solo;
a criação das cidades e a organização social; a domesticação dos animais e a divisão do trabalho.
Também surgiram: a família, o conceito de propriedade e valores morais, o uso do ferro, a
produção de peças de cerâmica para armazenar alimentos e a troca da produção excedente
(comércio).
O homem, que se tornara um camponês, não precisava mais ter os sentidos apurados do caçador do
Paleolítico, e o seu poder de observação foi substituído pela abstração e racionalização 3. A prática da agricultura
e o trabalho coletivo permitiam mais tempo para a observação. Ele passou a compreender os
ciclos naturais, as estações, o calendário, a posição dos astros no céu. A natureza, ainda que o
assombrasse, começava a ser assimilada através do simbolismo que a linguagem suficientemente
desenvolvida lhes permitia construir.
Desse período, o Santuário de Stonehenge, no sul da Inglaterra (Fig. 07), é um exemplo da
nova relação entre homem e natureza. Construído em madeira, foi substituído, na Idade do
Bronze, por uma arquitetura em pedras, indicando o ponto exato onde o sol nasce no solstício de
verão.
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Fig. 03 – Stonehenge.
Não se sabe ao certo a razão de sua existência, mas, a forma com que foi construído
indica observação de fenômenos astronômicos4, finalidades rituais de um culto ao sol com
objetivo de obter melhores colheitas e fartura de alimentos. Sua construção demonstra a
sofisticação do pensamento do homem com relação à natureza e elaboração de sistema de
crenças e rituais.
No Neolítico o homem já havia compreendido o mistério da fecundação e assim a mulher
perdeu sua posição privilegiada como geradora da vida e detentora dos mistérios. A antiga Mãe
Terra foi destronada por um novo deus, masculino e provedor da energia geradora da vida: o sol.
A natureza deixou de ser uma força exclusivamente feminina e, a partir do momento em
que o homem começou a compreender a natureza, deixou de se sentir dominado por ela e passou
a tentar dominá-la, assim como à mulher.
Antiguidade Clássica
A civilização humana se inicia com a criação da escrita cuneiforme pelos sumérios na
Babilônia em meados do IV milênio a.C. A técnica da escrita permitiu a construção de raciocínios muito
mais abrangentes e complexos. Inaugurou o que chamamos hoje de pensamento analítico. Ao contrário da fala, um
texto escrito pode ser visto e corrigido inúmeras vezes5.
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Até então, as explicações para a origem do universo eram conhecidas através da poesia e
dos deuses primordiais. É possível interpretar a teogonia grega antiga como uma cosmogonia mítica e préracional, ou seja, como poesia que narra, a partir da metáfora dos deuses, a origem de cada elemento do universo e
de suas relações recíprocas (GONÇALVES, 2006, p. 12).
Os filósofos pré-socráticos (VI a.C.) na Grécia investigavam questões referentes à physis
(natureza ou realidade em transformação) e sobre a substância primordial (arché) que origina e
move todas as coisas. (GONÇALVES, 2006, p. 13). Surgem então várias explicações: a ideia de
número e dos opostos (Pitágoras); a transformação do ser e do não-ser (devir) como processo
organizador e harmonizador da natureza (Heráclito); as partículas que se “engatam”, dando
forma às coisas (atomismo) e a ideia de causas naturais substituindo a ideia de “força misteriosa”
(Demócrito de Abdera).
Os pré-socráticos foram seguidos pelo foco no próprio homem. Sócrates concluiu que,
“o homem é sua alma”. Sendo a alma (psyché), a sede racional e operante, é o que lhe dá
personalidade única. O mundo, segundo Platão, não é mais animado pelos deuses, mas, por uma
alma própria: a alma do mundo, ou inteligência capaz de governar todas as coisas
(GONÇALVES, 2006, p.15). Para Aristóteles, a natureza é o conjunto de todas as qualidades
originais dos seres organizadas por um logos. Ao diferençar a natureza das coisas particulares, Aristóteles
constrói uma visão de mundo organizado hierarquicamente, de modo que cada ente tem seu lugar próprio, do qual
se pode afastar por algum tempo, mas para o qual sempre tenderá naturalmente (GONÇALVES, 2006, p.
18).
O pensamento mítico sobre a origem do universo mantinha a unidade entre o espírito e
a natureza. A passagem para o pensamento racional determinou um estranhamento. Ainda que
houvesse um caráter complementar entre o pensamento mítico e o pensamento filosófico, esse
foi o primeiro afastamento entre o pensamento racional e as percepções sensíveis, ou, entre o
homem e a natureza. (GONÇALVES, 2006 p. 12, 23).
Os deuses humanos da mitologia grega: Os gregos, com sua fantasia, povoaram o céu e a terra, os mares
e o mundo subterrâneo de divindades principais e secundárias (MITOLOGIA, 1973, vol. I, p. 2). A Terra
era uma deusa e Urano, o céu estrelado, fecundava-a incessantemente. Assim, natureza se
confunde com deuses. A representação da força mágica primitiva, numa tentativa de explicar
metaforicamente os acontecimentos naturais. Imaginados com características humanas, tinham os
mesmos sentimentos de que o homem é capaz. E, o mais importante, habitavam a terra junto ao
homem. Igual é o gênero dos homens ao dos deuses, pois todos tiramos a vida da mesma mãe; apenas, uma força
completamente diferente distingue os deuses (Pindaro in MITOLOGIA, 1973, vol. I, p. 2). Na renascença,
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vários pintores voltaram-se aos temas da mitologia grega. Nessa volta aos valores da Grécia
Antiga, Botticelli representa o nascimento de Afrodite, a mais bela dentre as deusas.
Fig. 04: O Nascimento de Vênus (Botticelli – 1480)
A unidade corpo e mente: Para os gregos a perfeição do corpo era tão importante quanto o
desenvolvimento da mente e Sócrates, reconhece a unidade entre corpo e mente, sendo um, o
reflexo do outro. Sabemos por um dos seus discípulos ser isso o que o grande filósofo Sócrates, que fora ele
mesmo treinado como escultor, exortava os artistas a fazer. Deviam representar a “atividade da alma”, observando
minuciosamente o modo como “os sentimentos afetam o corpo em ação (GOMBRICH, 1995, p. 94).
Fig. 05: Discóbolo, cópia do Museo Nazionale Romano (Mirón – cerca de 450 a.C.)
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A Relatividade: Heráclito anunciava que tudo depende do ângulo pelo qual se observa.
Uma subida pode ser igualmente uma descida. No quadro intitulado Relatividade de Escher,
pintor holandês nascido em 1898, a realidade é como uma ilusão de ótica, representa vários
planos de uma mesma realidade.
Fig. 06: Relativity – Escher (1953)
O Atomismo: A ideia do átomo voltou ao palco da ciência e o desenvolvimento da energia
atômica possibilitou a criação da bomba. O sentimento de perplexidade diante da utilização
destrutiva do poder do átomo, no final da II Guerra Mundial, levou Salvador Dali a criar uma
obra que expressa o assombro diante desse poder.
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Fig. 07: A Desmaterialização, próximo ao nariz de Nero – Salvador Dali, 1947.
Idade Média
Com a desintegração do Império Romano do Ocidente, a Igreja Católica manteve o que
restou dos tratados científicos da antiguidade clássica em seus Mosteiros. O homem instruído era
o clérigo e o conhecimento dos clássicos gregos era uma parte importante de sua formação. Os
filósofos medievais, mais preocupados com a fé e a salvação das almas, adequaram o pensamento
filosófico à prática da fé cristã.
Santo Agostinho acreditava que existiam duas naturezas: Natura naturans: espelho onde se
reflete a imagem de Deus (imago Dei); e, Natura naturata: o Livro Sagrado, fonte de sabedoria a
quem souber interpretar. A sagrada escritura é a palavra divina, por meio da qual se alcança a verdade; para
interpretá-la, porém, é preciso possuir determinado conhecimento, o que supõe uma capacidade prévia para
reconhecer o verdadeiro. (GONÇALVES, 2006, p. 25). Essa contradição entre “é preciso conhecer
para se chegar ao conhecimento” justifica a intermediação da Igreja no acesso ao saber.
Agostinho surge como inovador afirmando que através da contemplação da natureza se pode
chegar à iluminação da verdade. A Bíblia é a palavra de Deus e a natureza, as imagens desse livro.
Santo Tomás de Aquino, maior expoente da Escolástica, apresenta a mais racional
possível idéia de natureza. Diferenciou natura naturans (imagem de Deus) e natura naturata (a
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criação divina) estabelecendo como relação entre elas o princípio da causalidade. Portanto, a
metáfora do livro da natureza, ou seja, da natureza como imagem das verdades de Deus e fonte
de sabedoria, é eliminada e os fenomenos físicos ganham explicação causal de acordo com o
princípio de continuidade. Os seres são novamente hierarquizados, cujo topo é Deus, o ens
perfectissimum (GONÇALVES, 2006, p. 23-28).
O conceito de natureza desse período se baseia na visão da Igreja sobre o mundo “das coisas
sensíveis”. A busca concentra-se em adequar as verdades bíblicas à razão. Santo Agostinho
defende uma subordinação da razão à fé e Santo Tomás de Aquino pondera certa autonomia da
razão, mas, não chega a negar sua subordinação à fé. A origem e a causa de todas as coisas não
podem ser especuladas. Tudo deve ser explicado pela Providência Divina - há um retorno às
explicações dogmáticas a partir das escrituras. Tudo se inicia e tem como causa primeira: Deus, o
criador, a inteligência que origina e a causa de todas as coisas. Deus está acima de todos os seres.
Mas, o homem (principal criação divina) está acima da natureza.
A natureza só existe em função do homem e para atender suas necessidades. Daí à
redução da matéria a algo que não existe por si só, mas, para servir ao homem (Stanilas Breton in
BOURG; 1993; p. 150). A natureza toma um sentido meramente instrumental.
A Natureza a serviço dos homens e a Arte a serviço da religião: A concepção de mundo era
dominada pela figura de um Deus, centro do universo e medida de todas as coisas. A intenção da
arte era a mensagem religiosa transmitida pelos sermões e pelas imagens claras e didáticas das
pinturas sacras. Como a maioria da população era iletrada, as artes visuais adquiriram uma grande
importância e a Igreja recorria a elas para contar as histórias bíblicas ou comunicar valores
religiosos aos fieis.
Dessa maneira, quase todas as figuras que se aglomeram nos pórticos das grandes catedrais góticas estão
assinaladas por um emblema permitindo que seu significado e mensagem possa ser entendido e meditado pelos fiéis
(GOMBRICH; 1995; p. 190). Nesse período, a arte teve um papel fundamental na formação de
um conceito simbólico sobre o mundo, as coisas e a vida. Nas pinturas o aspecto simbólico era
mais importante que a realidade. Assim, as pessoas eram retratadas maiores ou menores de
acordo com a sua importância no contexto, sem preocupação com a realidade fotográfica.
O criacionismo serviu como teoria científica que pretendia responder aos
questionamentos humanos sobre sua origem, a origem da natureza e o princípio do mundo.
Assim, Michelangelo (1475-1564) criou belas imagens bíblicas na Capela Sistina, representando as
mensagens que a Igreja Católica queria transmitir a seus fiéis.
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Fig. 08: A criação de Eva (Michelangelo – 1509-1510)
Natura naturans e natura naturata: os conceitos de natureza como espelho de Deus e como
Livro Sagrado, através do qual podemos chegar a verdade, iniciado com Santo Agostinho na
Idade Média, tem um apelo tão forte e tão intuitivo que ainda hoje podemos encontrá-los. Nesta
poesia do início do século XX, observamos o lirismo e a convicção religiosa do autor bragantino
(Pará) Sebastião José da Silva de que Deus é a origem de tudo e que seu poder está em todas as
coisas.
Na Praia
“Jandira, vamos comigo
ao morro brando da ponta
ver o sol quando desponta
surgir das águas do mar.
Daí, então, verás como
o mar sereno se estende
como um lençol que se prende
nas fíbreas de um áureo altar.
Verás... que quadro sublime,
como se enfeita o horizonte:
ora um altar, ora um monte,
como cordeirinhos de nuvens
- um quadro assaz deslumbrante
que não cansa a nossa vista.
Digno de um pincel de artista
de gênio como foi Rubens.
“Depois de tudo, Jandira,
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graças a Deus renderemos:
pois, o que, na terra, vemos,
Deus bondoso é quem nos dá
Nas matas, no mar, no espaço,
nas praias ou nas campinas,
nas coisas mais pequeninas
o poder de Deus está!...”
A poesia do cearense Patativa do Assaré (1909-2002) transmite a noção que na natureza
se pode sentir a presença de Deus e ainda, de que ela é um livro pelo qual se pode aprender a
verdade natural das coisas.
Eu nasci ouvindo os cantos
das aves da minha serra
e vendo os belos encantos
que a mata bonita encerra
foi ali que eu fui crescendo
fui vendo e fui aprendendo
no livro da natureza
onde Deus é mais visível
o coração mais sensível
e a vida tem mais pureza.
Sem poder fazer escolhas
De livro artificial
Estudei nas lindas folhas
Do meu livro natural
e, assim, longe da cidade
lendo nessa faculdade
com esses estudos meus
que tem todos os sinais
aprendi a amar a Deus
na vida dos animais.
Quando canta o sabiá
sem nunca ter tido estudo
eu vejo que Deus está
por dentro daquilo tudo
aquele pássaro amado
no seu gorjeio sagrado
nunca uma nota falhou
na sua canção amena
só canta o que Deus ordena
só diz o que Deus mandou.
Empirismo: valorização dos sentidos: São Tomás de Aquino acreditava que o conhecimento
deveria advir da experiência proporcionada pelos sentidos, mas, a essência das coisas só poderia
ser percebida pelo intelecto. Portanto, a natureza sendo essencialmente “sensível” (percebida
através dos sentidos), não poderia, levar à verdade, pois, faltaria a Razão para complementar o
processo de “conhecer a verdade”.
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Os castelos de pedra, frios no inverno, precisavam de algo que mantivesse o calor interno.
Então, além da pintura, a tapeçaria teve um papel importante nesse período.
Fig. 09: A senhora e o Unicórnio: “A Visão” – Série de Tapeçaria francesa do século XV que tem
como tema os sentidos.
Idade Moderna
A partir do século XIV, as transformações políticas, econômicas, sociais e científicas na
Europa marcaram o início de uma nova era. O absolutismo modificou a relação entre o senhor e
o vassalo (direitos e deveres recíprocos), suplantada pela ideia de soberania (GRANDE
HISTÓRIA UNIVERSAL, 1976, v. II, p. 258). Na Idade Média, o homem submisso, aceitava e
lutava até a morte, se necessário, pelas verdades impostas pela Igreja. Entretanto, esses ideais
“não davam mais um sentido à vida, tal como esta era vivida e sentida pelo homem do Renascimento”
(GRANDE HISTÓRIA UNIVERSAL, 1976, p. 275).
As novas invenções permitiram a disseminação de idéias e informações. A melhoria na
qualidade de vida nas cidades e as dificuldades da vida no campo levaram à preferência pela vida
urbana e à ascensão de outras camadas sociais. O novo mundo era fonte de matéria-prima, o que
garantiu grande prosperidade e o surgimento do Capitalismo.
A burguesia, ansiosa por explicações concretas para argumentos abstratos, vinha aos
poucos derrubando o poder dos senhores feudais, na sua maioria membros do clero e,
consequentemente, o poder exercido pela Igreja.
Michelangelo, Rafael, Dürer, Botticelli e Leonardo da Vinci pintavam e construíam um
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novo humanismo: a Renascença (GÊNIOS DA PINTURA, 1974, v. I, fasc. 2, p. 6).
O Humanismo consistia essencialmente no estudo das ciências que tinham por objeto a
felicidade e a perfeição do homem, e impunha-se à teologia, na qual o homem morre para fazer
viver Deus. A nova imagem do homem leva também a uma concepção renovada da vida. O
homem não existia apenas em função de Deus, mas também, e, sobretudo, em função de si
próprio, tinha possibilidades ilimitadas porque era livre.
René Descartes, Cartesius, deu início ao Racionalismo, corrente filosófica que afirma que
a Razão é a única fonte de conhecimento, em detrimento da intuição ou sensibilidade. Utilizando
o ceticismo como método científico, questionava todo conhecimento, concluindo que apenas
poderia ter certeza de que duvidava: cogito ergo sum (penso, logo existo). E assim, buscava provar a
existência do eu e até mesmo de Deus.
Ele acreditava que a matéria era simplesmente material bruto que ocupava o espaço.
Deus criou o universo como um mecanismo perfeito que funcionava deterministicamente sem
outras intervenções. Assim, dividiu a realidade em res cogitans (mente) e res extensa (matéria). A
visão de Descartes unida aos conceitos de Newton, de um universo de matéria sólida composta
de partículas pequenas e indestrutíveis (átomos), fez surgir o paradigma mecanicista newtoncartesiano e uma concepção de mundo como máquina, ou relógio.
O Conceito de natureza: O capitalismo deu ao homem a certeza de sua supremacia sobre a
natureza. O acúmulo de bens materiais justificava o uso indiscriminado da natureza a fim de
obter matéria-prima para seu consumo. O estabelecimento do método científico por René
Descarte foi decisivo para esse conceito, uma vez que, para se observar o objeto seria necessário
o total afastamento do observador, assim como se isso fosse possível: O artista do Renascimento não
vê mais o homem como simples observador do mundo que expressa a grandeza de Deus, mas como a expressão
mais grandiosa do próprio Deus. E o mundo é pensado como uma realidade a ser compreendida cientificamente, e
não apenas admirada6. Assim, a natureza era meramente um plano de fundo para os
acontecimentos humanos, ou, ainda, divinos. O foco central é sempre a figura humana ou divina.
A natureza como cenário para os acontecimentos humanos: Considerada um momento de
transição na humanidade por seus novos conceitos e técnicas pictóricas, a valorização do ser
humano como indivíduo, a dualidade mente e corpo, e a capacidade de refletir, determinou
definitivo afastamento entre homem e natureza.
A Brunelleschi se deve a perspectiva; Leonardo da Vinci inovou com a técnica de sfumato;
o estudo do corpo humano nos ateliês de Donatello e Jan van Eyck, convertendo a arte em
espelho do mundo visível, aperfeiçoou as técnicas pictóricas inventando a pintura a óleo
(GOMBRICH, 1995, p.39 e 226).
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Na Mona Lisa de Leonardo a natureza passa despercebida. A personagem Gioconda
toma toda a atenção do observador.
Fig. 10: Mona Lisa (Leonardo da Vinci - (1503-1507)
O mesmo pode ser notado nas obras de Bosch e Brueghel. Os quadros de Bocsh devem
ser “lidos” e não “vistos”. Suas imagens surrealistas obrigam a mente a buscar além da coisa
representada. Ele trasladou para suas telas muito do temor coletivo do inferno, da morte
iminente e da punição dos pecados (GÊNIOS DA PINTURA, 1974, v.IV, fasc. 39). Em
Brueghel, enquanto o foco está numa cena do cotidiano (o homem e o arado), Ícaro se afoga sem
ser notado. A natureza compõe o quadro, mas não interage com os personagens.
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Fig. 11: Landscape with the Fall of Icarus (Pieter Brueghel–1558) -
Mens Sana in Corpore Sano: o homem novo volta à Grécia antiga7. O foco principal é mesmo o
homem, os detalhes do corpo e a perfeição nos movimentos. É a expressão mais grandiosa do próprio
Deus e não mais um observador passivo. Assim, David de Michelangelo, a representação de um
homem tranquilo e confiante, mas, com todos os seus músculos prontos para a explosão do
combate numa apologia à beleza do corpo humano em mármore. O homem é o senhor absoluto
da vida terrena e da natureza.
Fig. 12: David (Michelangelo – 1501-1504)
Idade Contemporânea
O Iluminismo, movimento intelectual que culminou com a Revolução Francesa e
independência nas Américas, herdaram do Renascimento e do Humanismo a valorização do
homem e da Razão, influenciou os acontecimentos que originaram o período da história atual.
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Baseado em um conceito mecanicista de mundo, a tecnologia melhorou a qualidade de
vida e o conhecimento comprovou hipóteses científicas. Porém, a fragmentação do
conhecimento e a objetividade desvinculavam valores humanos. O consumismo e a cultura do
descartável dirigiu o homem à coisificação da natureza e à exploração de outros seres, inclusive
humanos. Tudo em nome do progresso. A ciência ocidental, a partir da Revolução Industrial, alcançou
sucesso estrondoso, tornando-se uma força poderosa na moldagem da vida de milhões de pessoas. Suas orientações
materialistas e mecanicistas substituíram a teologia e a filosofia como guias principais da existência humana, e
transformaram de modo inimaginável o mundo em que vivemos (GROF, 1987, p. 1).
Mas, a física quântica e o relativismo de Einstein provocaram profunda ruptura com o
pensamento racional newton-cartesiano e tornaram essencial a criação de novo paradigma ... ( )
a estrutura conceitual derivada do paradigma newtoniano-cartesiano perdeu seu poder revolucionário
transformando-se num sério obstáculo para o progresso da pesquisa científica. (GROF, 1987, p. 12). Nesse
contexto, a teoria bootstrap (G. Chew) representa o rompimento com a abordagem ocidental da
ciência. Capra (1995, p. 42) reflete sobre essa nova visão: O universo material é concebido como uma rede
ou teia dinâmica de eventos inter-relacionados. Nenhuma das propriedades de qualquer parte dessa rede é
fundamental; todas decorrem das propriedades das outras partes, e a consciência global de suas inter-relações
determina a estrutura da rede toda.
Após duas guerras mundiais e a possibilidade do homem destruir o planeta, havia uma
grande sensação de insegurança – a vida se tornou descartável. Na revolução cultural dos anos
sessenta, valores voltaram a ser questionados. A cultura ocidental sofreu um grande golpe com a
invasão da cultura oriental hindu trazida pelos hippies. Eles renegavam as desigualdades, a
segregação racial e o poder econômico-militar. Defendiam a volta da vida na natureza e,
frequentemente, abandonavam o conforto de seus lares para viver em pequenas comunidades
rurais, dispensando o exaltado American way of life (CAPRA, 1995, p. 17).
O Conceito de natureza: da vida que contava o tempo pelas fases da lua ou pelas estações do
ano, nada restou. Entre a pena e o computador o homem transformou sua maneira de se
relacionar com a natureza muitas vezes e os conceitos que surgiram neste período podem ser tão
diversos quanto são os pensadores.
O movimento hippie trouxe um novo conceito de natureza e Capra, em um ensaio
intitulado “Bootstrap e o budismo”, se refere à relação entre o antigo e o novo conceito: A redução
da natureza aos seus aspectos fundamentais é basicamente uma atitude grega, surgida na filosofia grega ao lado do
dualismo espírito/matéria, ao passo que a visão do universo com uma rede de inter-relações é característica do
pensamento oriental (in CAPRA, 1995, p. 43).
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Desta forma, surgiu uma visão de natureza nova e transgressora. No século XXI, a Terra
passa a ser vista como um grande organismo, onde o todo é maior que a soma das partes. A vida,
uma grande teia e seus elementos são igualmente necessários à sua existência. O homem não é a
grande criação de Deus, mas uma das grandes criações, não necessariamente a mais importante.
A natureza volta ao foco: Os estudos sobre a luz, que tiveram como consequência a
fotografia e o cinema, chamaram a atenção dos artistas que se reuniam no estúdio fotográfico de
Nadar em Paris. Eles deixaram o atelier e foram para o ar livre observar as nuances de luz e
sombra sobre os objetos e explorar ao máximo o potencial da luz pintando ao ar livre.
Claude Monet e outros jovens realizaram a exposição que marcou o início do movimento
(1874). Mas, o grupo recebeu críticas severas e foi chamado “impressionistas”, uma ironia ao
quadro Impressão: nascer do sol de Claude Monet. A expressão usada inicialmente de forma
pejorativa acabou sendo assumida pelos artistas que passaram a se autodenominar
“impressionistas”.
Fig. 14: Impression: Soleil levant – Claude Monet – 1873
Sob o domínio do paradigma cartesiano, a ciência e o mundo estavam se fragmentando
em especializações. Na arte, essa tendência se manifestou através dos movimentos que se
seguiram ao impressionismo: o cubismo, o surrealismo e a arte abstrata, dentre outras. E, após a
Segunda Guerra Mundial (1939-1945): A arte pop volta-se preferencialmente para os objetos
estandardizados da sociedade de massas e para os ícones do mundo da mídia8. Andy Warhol (1928-1987)
foi o grande representante da Pop Art.
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Fig. 16: Mickey Mouse (Andy Warhol)
A natureza foi parcialmente esquecida pelos artistas, chocados com a guerra e a natureza
humana. Enquanto a Pop Arte busca novas perspectivas para os objetos do dia a dia, o hiperrealismo se volta para os sentimentos humanos e cenas banais em busca de novos significados e
de compreensão da vida9.
Os hippies produziram a estética psicodélica com cores fortes e desenhos caleidoscópicos.
No seio da cultura rock de meados dos anos 60 em S. Francisco nasceu uma forma de design gráfico radicalmente
nova, influenciada pela experiência psicodélica (literalmente: "reveladora da mente"). Era uma nova forma de arte
com o objectivo de anunciar concertos de dança produzidos pelos empresários Bill Graham e Chet Helms entre
1965 and 197110.
Fig. 19: Avalon Ballroom, 25/11/1966 – Autor:Victor Moscoso.
No final do século XX e início do século XXI, a arte tomou novos rumos. Tanto pode
estar voltada ao homem quanto à natureza. Tanto pode celebrar os fatos da vida, quanto assumir
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papel social denunciando os problemas humanos no ambiente urbano (solidão, velhice, traumas),
ou o descaso com o ambiente natural.
Fig. 17: In Bed, 2000 (Ron Muëck)
As esculturas de Krajcberg (1921) produzidas a partir de troncos mortos refletem sua
constante preocupação com o ambiente. Ele é um representante autêntico do conceito de
natureza oriundo de uma visão holística e não fragmentada, da ideia de arte inserida num
arcabouço mais amplo do pensamento, que vê no egoísmo e no materialismo dos homens, a
fonte de falta de respeito às árvores, aos rios e aos animais. Ele tem como matéria-prima a
própria natureza e faz dela um argumento em defesa do ambiente, da terra e da vida.
Fig. 20: Sculptures, 1973 (Franz Krajcberg)
Conclusão
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As primeiras especulações filosóficas sobre a natureza ocorreram na Grécia Antiga em
razão da busca por um princípio fundamental que justificasse a existência das coisas. Mas, o
caminho que esse pensamento tomou, em alguns momentos avança em direção às concepções
modernas acerca da natureza, em outros momentos regride, ou parece voltar aos tempos das
explicações míticas sobre os fenômenos naturais.
O homem pré-histórico percebia que o mana, a força mágica da natureza, estava em tudo
e se sentia parte também. O homem histórico, na Grécia antiga, já não aceitava mais explicações
míticas ou mágicas para os fenômenos naturais. Ele se sentia diferente dos outros seres da
natureza e buscou na filosofia respostas para a origem da vida. Na Idade média, o pensamento
cristão levou ao retorno das explicações dogmáticas não mais atribuídas a deuses desconhecidos,
mas, a um Deus único, postado em um trono no paraíso distante. O homem, baseado na Razão,
buscou explicações para a Fé e concluiu que ele era a maior das criações de Deus e que a natureza
existia para servi-lo. Descartes estabeleceu regras para o que era válido ou científico e o homem
teve que fazer uma escolha entre Deus e a Ciência. E aquele pensamento inicial do homem
possuído pelo mana, foi se transformando numa posição antropocêntrica onde deuses e natureza
deveriam estar a serviço do homem.
No período contemporâneo, as descobertas da física quântica levaram o homem de volta
às filosofias tradicionais do oriente. Eram necessários novos conceitos e linguagens diferentes
para descrever a realidade (natureza) nos níveis subatômicos.
O conjunto de valores e conceitos que cultivamos define como tratamos os semelhantes,
os animais e o ambiente. Um conceito mais espiritualizado nos coloca numa posição de iguais,
enquanto que um conceito antropocêntrico leva o homem a colocar o próximo e a natureza a
serviço de seus interesses. O ser humano não é um ser isolado, assim como nada o é, somos uma
teia de conexões, de relações que se completam, como as notas de um acorde musical que produz
uma harmonia rica e bela no planeta terra.
Mas, as transformações da sociedade dependem de transformações individuais. Não basta
mudar o paradigma científico, é necessário mudar os conceitos que determinam nossas relações.
Mas, Quaisquer planos para mudar a situação do mundo são de valor problemático, a não ser que incluam um
esforço metódico para mudar a condição humana causadora da crise. Sabendo-se que a mudança evolucionária da
consciência é um pré-requisito vital para o futuro do mundo, o resultado desse processo depende da iniciativa de
cada um de nós (GROF, 1987, p. 310). A falta de uma visão de mundo espiritualizada, ou seja, que
nos dê a noção de que nós e a terra somos um só organismo interdependente, tem sido a causa
de catástrofes que afetam a todos indistintamente. Torna-se evidente que a única esperança de uma
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solução política e social só pode resultar de uma perspectiva transpessoal que transcenda a desesperante psicologia do
“nós versus eles”, produzindo ocasionais mudanças oscilantes em que os protagonistas trocam entre si os papéis de
opressores e oprimidos (GROF, 1987, p. 309). Somos todos responsáveis pela mudança.
Esperamos que com estas reflexões, possamos contribuir para uma transformação mais
profunda sobre os conceitos e comportamentos quanto à natureza, assim como, sobre o mundo
que deixaremos para as próximas gerações.
Notas:
PAVC – Parque Arqueológico do Vale do Côa/Paleolítico, acesso em 11.12.2006;
OMNISPACE/ Caverna de Lascaux, acesso em 12.01.2006;
MARTINS, S. R. e IMBROISI, M. H./www.História da Arte.com. br/Pré-história, acesso 11.11.2006;
WIKPEDIA – Enciclopédia Livre/Stonehenge, acesso em 12.01.2006.
Revista de Informação e Tecnologia CCUEC/ UNICAMP. A evolução da tecnologia intelectual primeira parte. Marcelo Franco.
< http://www.ccuec.unicamp.br/revista/infotec/educacao/educacao3-1.html > acesso em 12.12.2006;
6. MARTINS, Simone R.; IMBROISI, Margaret H. Idade Moderna,
< http://www.historiadaarte.com.br/linha/default.html > acesso em 23.03.2007;
7. Mente sã em corpo são: citação Latina (WIKIPÉDIA/ Mens Sana in corpore sano, acesso em 09.04.2007);
8. ITAU CULTURAL/Artes Visuais/Enciclopédia/Termos e Conceitos/ Hiper-Realismo, acesso em
16.04.2007;
9. WIKIPÉDIA/Hiper-Realismo, acesso em 18.04.2007;
10. VILAR DE MOUROS 1971/Movimento Hippie, acesso em 16.04.2007.
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Referências
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BOURG, D. (direção). Os Sentimento da Natureza. Lisboa. Instituto Piaget, p. 150; 1997.
CAPRA, F. Sabedoria Incomum, São Paulo/SP: Cultrix, p. 17, 26, 42, 43, 1995.
FEUERSTEIN, G. A Sexualidade Sagrada. São Paulo: Siciliano, p. 61, 65-66; 1994.
GÊNIOS DA PINTURA (Coleção). São Paulo: Abril, vol. I, fasc. 2, p. 06, vol II, p. 04 e IV.,
1974.
GOMBRICH, E. H. A História da Arte. Rio de Janeiro: LTC, p. 39, 40, 94, 190, 226, 430;1995.
GONÇALVES, M., Filosofia da Natureza. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., p. 9, 12, 13, 15, 18,
23, 25, 28, 2006
GRANDE HISTORIA UNIVERSAL (Coleção). RJ: Bloch, v. II, p. 275, 258, 1976.
GROF, S. Além do Cérebro: Nascimento, Morte e Transcendência em Psicoterapia, SP:
McGraw-Hill, p. 01, 12, 309, 310, 1987.
MITOLOGIA (coleção), SP: Abril Cultura, v. I, p.2, 1973.
ABSTRACT: This article aims to observe the development of the concept of nature
throughout history, seeking to identify representations of the concepts of nature expressed in
paintings, sculptures or any other artistic manifestations of the analyzed periods (Prehistoric,
Classical Antiquity, Middle Ages, Early Modern and Contemporary Age), having as reference
to the analyses of these periods, the historical facts that marked significant transitions for
humanity: the evolution of man's thought through philosophy, political and social
development of humanity, the consequences and risks of scientific and technological
development, as well as the development of the arts, schools and artistic movements in each
period. . For this discussion were used the theories Gombrich (1995) e Grof (1987).
KEY WORDS: Human being. Art. Nature. Environment.
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