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EPISTEME
Revista Científica da Faculdade Católica Salesiana do Espírito Santo
Diretor Geral
Pe. Oscar de Faria Campos
Diretor Executivo
Dr. Jolmar Luis Hawerroth
CORPO EDITORIAL
Editor
Claudia Câmara de Jesus Weindler
Conselho Editorial
Alessandra Rodrigues Garcia dos Santos
Alexandre Aranzedo
Elisangela Maria Marchesi
Fábio Venturim
Fernanda Tonini Gobbi
Hugo Luiz de Souza
João Luiz Coelho de Faria
Márcia Valéria Gonçalves
Marisa Marqueze
Paulo Cesar Delboni
Rodrigo Alves do Carmo
Conselho Científico
Cynthia Ditchfield (Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos – USP / Pirassunga)
Geovani Medina (UDESC – Santa Catarina)
Juarez Jonas Thives Junior (Grupo Estácio de Sá – Santa Catarina)
Lídio de Souza (Programa de Pós-graduação em Psicologia; Dept. de Psicologia Social e do Desenvolvimento – UFES)
Marcos Tomasi (UDESC – Santa Catarina)
Washington Luiz Silva Gonçalves (Dept. de Fisiologia – UFES)
Zenólia Christna Campos Figueiredo (Centro de Educação Física e Desportos – UFES)
ISSN 2179-2380
EPISTEME
Revista Científica da Faculdade
Católica Salesiana do Espírito Santo
Vitória-ES, 2013, vol. 02, nº. 01
Capa
Setor de Comunicação Integrada
Revisão Geral
Ana Lúcia de Carvalho
Editoração
Camila Câmara de Jesus
Diagramação
Setor de Comunicação Integrada
Impressão
GM Gráfica
Editora
FCSES
ISSN
2179-2380
Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca da Faculdade Católica Salesiana do Espírito Santo
Bibliotecária Responsável Janine Silva Figueira CRB6:429
E64
Episteme: Revista Científica da Faculdade Católica Salesiana do Espirito Santo. - v.2, n1
(jan./dez. 2013). - Vitória, ES: Faculdade Católica Salesiana do Espirito Santo, 2013.
104p. ; 18,0 X 26,5cm
Anual.
ISSN 2179-2380
1. Conhecimento Multidisciplinar - Periódico. l . Faculdade Católica Salesiana do Espírito Santo
CDU 001.2(05)
Tiragem: 500 exemplares / Periodicidade: ANUAL
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO........................................................................................................................................7
CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
Abordagens biotecnológicas para o controle de viroses em plantas
Paolla Mendes do Vale de Abreu; João Gilberto Zanotelli Piccin;
Silas Pessini Rodrigues; José Aires Ventura e Patricia Machado Bueno Fernandes..................................9-16
Ocorrência de enteroparasitas em mãos de escolares de ensino fundamental, Vitória, ES
Ger F. Couto; Gabriela C. Zamprogno ; Viviane C. Meneguzzi..................................................................17-22
EDUCAÇÃO FÍSICA
O se-movimentar na educação física e as experiências de ser criança
Victor José Machado de Oliveira; David Gomes Martins; Dr. Nilton Poletto Pimentel..............................23-29
ENFERMAGEM
Avaliação da percepção do usuário sobre a atuação das equipes de saúde da
família no município de Santa Teresa
Ana Paula Peroni; Bruno Walter Ramalho Novelli; Carina Babler; Maria José Foeger ............................30-36
FARMÁCIA
Bioprocessos e bioprodutos em uma era sustentável
Filipe Dalla Bernadina Folador; Helber Barcellos da Costa; Mauricio da Silva Mattar .............................37-42
Histórico da homeopatia e sua representação social no cenário capixaba
Cecília Paula Candida Pereira da Silva; Sarah Martins Barbosa;
Helber Barcellos da Costa; Mauricio da Silva Mattar ...............................................................................43-48
Nanotecnologia Aplicada a Fármacos
Bárbara Mathias Fahning; Elyomar Brambati Lobão; Mauricio da Silva Mattar;
Helber Barcellos da Costa ........................................................................................................................49-57
FILOSOFIA
Pensando Deus, o humano e as virtudes cristãs – análise do poema de Cordel
Os Martírios de Genoveva
Dr. Carlos Cariacás ....................................................................................................................................58-66
FISIOTERAPIA
Análise ergonômica intervencional em uma equipe de auxiliares de serviços gerais
Jania Jacob Amâncio Miranda; Letícia Costa Santos; Mariana Mariano Alves Nogueira;
Celine Cristina Raimundo Pedrozo ...........................................................................................................67-73
NUTRIÇÃO
Avaliação nutricional em crianças do projeto “Caminhando Juntos”
Taísa Sabrina Silva Pereira; Paula Regina Campos; Alessandra Garcia ....................................................74-82
PSICOLOGIA
Religiosidade/espiritualidade e sua relação com a saúde mental
Andréa Campos Romanholi; Lisiane Fernanda Ferreira; Márcio Fernandes de Oliveira;
Welison Dias de Sousa ............................................................................................................................83-89
Pastoral da criança: contexto de desenvolvimento infantil
Lusineide Cardoso de Melo; Christyne Gomes Toledo de Oliveira ............................................................90-95
SERVIÇO SOCIAL
Programa Bolsa Família: autonomia ou legitimação da pobreza?
Ms. Alaísa de Oliveira Siqueira..................................................................................................................96-104
NOTAS AOS COLABORADORES................................................................................................................106
APRESENTAÇÃO
A Faculdade Católica Salesiana do Espírito Santo busca dar um importante passo em direção à
organização administrativa e acadêmica planejada para 2014, alcançar o status de Centro Universitário.
Mesmo que a Legislação educacional brasileira não obrigue as faculdades e centros universitários ao exercício
da iniciação e pesquisa científicas, a comunidade acadêmica da Católica, por meio dos seus representantes
nos Conselhos Superiores e Colegiados de Curso, acredita na importância dessa estratégia para um processo
de ensino-aprendizagem de excelência que não tenha por base somente a reprodução do conhecimento ou
a realidade que a cerca.
Por isso, desde 2003 os esforços voltados para a publicação docente são uma realidade na Instituição,
com a veiculação da Revista Capixaba de Filosofia e Teologia (REDES), que vem corroborar a qualidade
acadêmica alcançada no curso e coroar as ações desenvolvidas por meio do convênio com o Instituto de
Filosofia e Teologia de Vitória (IFTAV).
Em 2008, a Faculdade concretizou mais um investimento no incentivo à produção docente com o
lançamento de Editais internos anuais de financiamento, com recursos próprios, de projetos voltados ao
desenvolvimento de iniciação e Pesquisas Científicas. Dessa forma, a Instituição almeja permitir a qualificação
docente e do ensino de graduação por meio da prática sistemática da investigação científica. Surgiu, então,
mais um veículo de publicação, a Episteme: Revista Científica da Faculdade Católica Salesiana do Espírito
Santo, que não se destina somente às publicações dos segmentos internos da IES, já que a ideia é construir
um instrumento que priorize a construção e divulgação do conhecimento.
Recentemente, foram lançadas as revistas com as produções científicas apresentadas na X Semana de
Ensino, Pesquisa e Extensão – A Produção do Conhecimento no Contexto Universitário. A Revista Eletrônica
– X Sepex foi dividida nas categorias TCC, Estágio, Projeto Integrador, Projeto de Extensão, Temas Livres e
Iniciação Científica e é fruto do empenho de nossos alunos e professores. Em sua décima edição, o evento,
que é semestral, teve 152 trabalhos inscritos, afirmando cada vez mais seu caráter de integração acadêmica
e focos na prática acadêmica e interdisciplinaridade.
Entregamos agora à comunidade acadêmica mais uma edição da Episteme, um instrumento
multidisciplinar de divulgação da iniciação e pesquisa científicas, nas versões impressa e on-line, que está
aberta às contribuições advindas das comunidades científicas regional e nacional.
Estamos dando um grande passo para potencializar os processos educacionais, o que certamente
permitirá à Instituição não somente diferenciar ainda mais os serviços prestados à Sociedade, mas também
consolidar a excelência acadêmica requerida em seu planejamento estratégico e necessária ao alcance do
status de Centro Universitário em 2014.
Parabenizo a comunidade acadêmica por mais esta publicação para a divulgação dos novos
conhecimentos gerados a partir da indissociabilidade entre o ensino, iniciação e pesquisa científicas e a
extensão.
Jolmar Luis Hawerroth
Diretor Executivo da Faculdade Católica Salesiana do Espírito Santo.
CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
Abordagens biotecnológicas para o controle de viroses em plantas
Paolla Mendes do Vale de Abreu, João Gilberto Zanotelli Piccin, Silas Pessini Rodrigues;
José Aires Ventura e Patricia Machado Bueno Fernandes1
Núcleo de Biotecnologia, Universidade Federal do Espírito Santo. Av. Marechal Campos, 1468, 29040-090, Vitória, ES, Brasil.
e-mail: [email protected]. Tel. 55.27. 3335-7348 / Fax. 55.27.2122-7275
RESUMO
As viroses são problemas importantes para a agricultura moderna e o seu controle
representa um desafio para o manejo de áreas cultivadas. As principais estratégias de
resistência das plantas a vírus se baseiam em mecanismos naturais ou em engenharia
genética. Recentemente, a maior compreensão dos mecanismos moleculares envolvidos
na resistência da planta facilitou o desenvolvimento de novas estratégias antivirais. Plantas
modificadas geneticamente, em particular aquelas apresentando a via de silenciamento de
RNA, são alvo de interesse crescente e representam a possibilidade de estratégias futuras
mais efetivas. Neste trabalho são discutidos aspectos relacionados à resistência a viroses em
plantas.
Palavras-chave: Resistência. Silenciamento do RNA. RNA de interferência.
ABSTRACT
Virus diseases are significant threats to modern agriculture and their control remains
a challenge to Cultivation management. Main virus resistance strategies are based on
natural resistance or engineering virus-resistant plants. Recent progresses in understanding
the molecular mechanisms underlying the roles of resistance genes has promoted the
development of new anti-virus strategies. Engineered plants, in particular those who RNAsilencing via, have bean increasingly important and are likely to provide more effective
strategies in future. A general discussion on the biotechnology of plant responses to virus
infection is followed.
Keywords: Resistance. RNA silencing. Interference RNA.
1 Introdução
Em geral, danos à barreira composta de
parede celular e membrana plasmática permitem
Os vírus estão entre os mais importantes a propagação de alguns vírus dentro de uma célula
patógenos de plantas. As conseqüências de viável da planta, um processo conhecido como
infestações virais em áreas cultivadas vão desde a inoculação (RODRIGUES et al., 2009). Se uma
redução da qualidade à completa devastação das interação compatível acontecer entre o vírus e a
culturas vegetais.
planta, ocorre a replicação das partículas virais e
Para o gerenciamento de uma doença causada a propagação destas no hospedeiro por meio dos
por vírus é necessário um extenso conhecimento plasmodesmos e dos feixes vasculares (LOUGH;
sobre a infecção viral e seus efeitos na planta LUCAS, 2006; SCHOLTHO, 2005). A intensidade
hospedeira de modo a permitir um procedimento desses processos pode variar entre cada sistema
correto de controle. A redução de perdas das culturas planta versus vírus específico.
está baseada no controle da disseminação do vírus As plantas, por sua vez, apresentam um
e não no tratamento das plantas infectadas, como arsenal de respostas de defesa, com o objetivo de
normalmente é utilizado em doenças bacterianas ou reduzir a replicação do vírus. Em alguns casos, o
fúngicas (VENTURA et al., 2004).
uso de cultivares com elevados níveis de resistência
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CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
afetado durante a infecção viral, alterando a
alocação de recursos celulares bem como dos sinais
de comunicação (BIEMEL; SONNEWALD, 2006), que
são importantes para o desenvolvimento vegetal
e a resistência à doença (HAYWOOD et al., 2005;
MALDONADO et al., 2002).
Após a replicação viral e a propagação
das partículas virais na planta hospedeira, muitas
partículas estão disponíveis para serem transmitidas
para outra planta, por exemplo, através de um vetor,
2 COMO OS VÍRUS SE PROPAGAM DENTRO DO iniciando assim um novo ciclo de vida. O hospedeiro,
entretanto, não é passivo – durante esses processos
HOSPEDEIRO?
a planta pode se defender contra a infecção se
Os vírus promovem a infecção em hospedeiros ela possuir genes de resistência, que são efetivos
suscetíveis através de uma série de estratégias. contra o vírus invasor, ou se mecanismos gerais de
Essas estratégias envolvem modificações bem resistência são ativados (BAKER et al., 1997). Tais
documentadas nas células das plantas hospedeiras respostas podem ser gerais ou específicas e o seu
conhecimento detalhado é valioso na implementação
que potencializam a infecção.
Em um hospedeiro suscetível, os vírus de medidas preventivas apropriadas.
de planta frequentemente induzem alterações
fisiológicas, como a queda nas taxas de fotossíntese, ¹Plasmodesmos são canais responsáveis pela conexão citoplasmática
entre células vizinhas, possibilitando a troca de moléculas funcionais
aumento da respiração celular e acúmulo de e estruturais. Eles podem atuar ainda no transporte a longa distância
compostos nitrogenados (OPARKA, 2004; WATSON, pela associação com o floema.
2005; SCHOLTHO, 2005). Também pode ocorrer no
é o tecido responsável pela translocação de nutrientes
hospedeiro a interferência na regulação do ciclo ²Floema
orgânicos, especialmente açúcares produzidos pela fotossíntese,
celular (GUTIERREZ, 2000) e no tráfego de moléculas característico pela capacidade de translocar uma grande quantidade
entre as células (CRAWFORD; ZAMBRYSKI, 1999). de material muito rapidamente.
Entretanto, os mecanismos responsáveis por essas
³Tamanho limite de exclusão de um plasmodesmo corresponde ao
alterações fisiológicas ainda são pouco conhecidos. tamanho máximo das moléculas capazes de atravessar o plasmodesmo
Isso se deve, em parte, ao fato de que diferentes e está relacionado diretamente ao diâmetro do canal e à afinidade com
infecções virais podem induzir diferentes alterações as proteínas que revestem o canal.
fisiológicas nas plantas. Não se sabe ao certo em que
3 COMO AS PLANTAS SE DEFENDEM CONTRA
momento os vírus passam a se replicar e quando
VIROSES?
eles começam a se movimentar entre as células,
tornando-se capazes de alterar a fisiologia da célula
MODELO DE RESISTÊNCIA R VERSUS AVR
hospedeira, o que dificulta identificar os eventos
O sistema imune natural da planta baseia-se
que levam ao desenvolvimento da doença (CULVER;
em genes de resistência dominantes e recessivos.
PADMANABHAN, 2007).
Nesse modelo, plantas com genes de resistência
Os plasmodesmos¹ e os vasos do floema²
dominante (R) interagem com gene de avirulência
podem ser usados para permitir que partículas virais
do patógeno (Avr) em um relacionamento genético
se movam dentro do corpo do hospedeiro. Para isso, os
vírus codificam proteínas de movimento (moviment alelo-específico (PARKER et al., 2007; JONES; DANGL,
protein – MP) (THOMPSON, 2006), capazes de 2006). Uma forma localizada de morte celular
alterar a permeabilidade dos plasmodesmos e o programada, chamada de resposta hipersensitiva
tamanho limite de exclusão³ . A MP de Tobacco (RH), é freqüentemente observada nesse tipo de
mosaic virus (TMV), por exemplo, se associa a fibras interação. Embora isso não previna a invasão do
de actina na região do desmotúbulo derivado do hospedeiro pelo patógeno, a RH pode limitar a
retículo endoplasmático. Essa associação promove o expansão da região afetada.
aumento do tamanho limite de exclusão, permitindo Em geral, todos os genes dominantes (R)
que partículas virais se movimentem através do conhecidos foram agrupados em oito classes com
desmotúbulo do plasmodesmo (MAULE, 2008). base em sua estrutura protéica predita. Muitas das
Como consequência, o transporte de carboidratos, proteínas que esses genes codificam possuem uma
pequenos RNAs e proteínas pode ser diretamente cauda zipper de leucina N-terminal (LZ) ou outra
representa uma estratégia viável para reduzir a
perda na colheita. Alternativamente, estirpes virais
podem ser utilizadas para aumentar a resposta de
defesa, agindo, portanto, como uma vacina. Avanços
no entendimento da bioquímica de infecções virais,
tal como o silenciamento de RNA, têm resultado
em novos métodos potenciais para eficientemente
limitar doenças causadas por vírus (BUCHON; VAURY,
2005; BERKHOUT; HAASNOOT, 2006).
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Episteme - Revista Científica da Faculdade Católica Salesiana do Espirito Santo
MODELO DE RESISTÊNCIA POR PEQUENOS RNAs
A resistência derivada do patógeno (PDR)
é possível por meio da expressão de sequências
de RNA virais. A aquisição de resistência, assim,
é dependente do RNA transcrito. Essa resistência
viral mediada pelo RNA pode ser considerada um
exemplo de silenciamento do gene pós-transcricional
(PTGS) em plantas (GOLDBACH, et al., 2003). Napoli
e colaboradores (1990) primeiramente mostraram o
fenômeno de PTGS em Petunia hybrida expressando
transgenicamente o gene para a enzima chalcona
sintase. Eles observaram uma inativação coordenada
e recíproca do gene do hospedeiro e do transgene
codificando o mesmo RNA. Esse processo foi
chamado de silenciamento do RNA ou interferência
do RNA (RNAi) (DING; VOINNET, 2007). Mais tarde, o
processo foi demonstrado ocorrer em uma variedade
de organismos eucariotos (ULLU et al., 2004).
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O processo de silenciamento envolve
diferentes moléculas pequenas de RNA. A clivagem
de uma dupla fita de RNA (dsRNA) precursora em
pequenos RNAs (21-26 nt) por uma enzima que
tem domínio RNase III (DICER), gera pequenos
RNAs, que são conhecidos como pequenos RNAs de
interferência (small interfering RNAs - siRNA) (Figura
1) (SOOSAAR et al., 2005).
Figura 1: Representação esquemática da formação de siRNAs
pela clivagem da Dicer. Em A, um longo precursor de dsRNA é
clivado em um passo dependente de ATP pela enzima DICER em
duplexes de 21-24 nt. Em B, um outro passo também dependente de ATP, os siRNAs são extraídos, provavelmente por uma
RNA helicase, tornando-se fita simples. Depois, complexos de
ribonucleoproteína são rearranjados no complexo de silenciamento induzido por RNA (RISC), que inclui uma proteína Argonaute que se liga a fita simples do siRNA. Em C, a RISC se liga e
cliva o RNA alvo complementar no meio da região pareada. Por
fim, os siRNAs específicos são produzidos e liberados.
Fonte: INVITROGEN BY LIFE TECHNOLOGIES (2010).
siRNAs podem se originar de longos dsRNAs,
de sequências repetidas codificadas no genoma, de
transposons4 ou como produtos da atividade celular
da RNA polimerase dependente de RNA (RdRp). As
moléculas de siRNA também surgem de fontes exógenas, tais como vírus (Figura 2) (SOOSAAR et al.,
2005).
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CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
seqüência espiralada de aminoácidos, uma seqüência
de sítios de ligação de nucleotídeos localizada
centralmente (NBS) e repetições ricas em leucina
C-terminal (LRR), de vários tamanhos (MARTIN et al.,
2003). Todos os genes R que conferem resistência
a viroses pertencem à classe NBS-LRR (TAO et al.,
2003). Genes R que conferem RH podem reconhecer
subunidades de RNA polimerase, movimento
de proteínas, cápsula protéica (CP) e segmentos
genômicos como fatores de avirulência.
Um mecanismo para explicar a genética
de genes Avr-R de resistência a doenças é que
produtos do gene R servem como receptores
diretos de proteínas Avr codificadas pelo patógeno
(CHISHOLM et al., 2006; PARKER et al., 2007). Um
mecanismo alternativo é aquele em que proteínas
R poderiam formar complexos para reconhecer
moléculas do patógeno no estágio inicial de invasão.
A ligação às moléculas do patógeno poderia induzir
uma seqüência de eventos celulares e constituir
na resposta de defesa, inibindo o crescimento do
patógeno (JONES; DANGL, 2006; PARKER et al., 2007).
Pouco conhecimento existe sobre a resposta
da planta controlada por genes recessivos de
resistência. Essa resistência poderia ser o resultado
de um mecanismo passivo em que fatores específicos
do hospedeiro requeridos pelo vírus para completar
seu ciclo de vida estão ausentes ou presentes na
forma mutada (DIAZ-PENDON et al., 2004). Uma
mutação no fator eIF4Ep em pimenta (KANG et al.,
2005), alface (NICAISE et al., 2003) e pêra (GAO et al.,
2004), por exemplo, prejudica o ciclo de infecção do
potivírus por meio de um mecanismo não conhecido.
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Episteme - Revista Científica da Faculdade Católica Salesiana do Espirito Santo
CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
Uma segunda classe de pequenos RNAs,
microRNAs (miRNAs), são produtos endógenos. Os
miRNAs são expressos inicialmente como RNA primário
(primiRNA) e são posteriormente processados pelas
enzimas Drosha e Dicer em precursores de miRNA
(premiRNA) de aproximadamente 70 nucleotídeos e
miRNA maduro de 21-25 nucleotídeos, respectivamente.
Somente uma das fitas do miRNA maduro, a fita guia,
é levada ao complexo de silenciamento induzido por
RNA (RNA induced RNA silencing - RISC) para guiar a
clivagem de mRNA homólogo (Figura 2) (BERKHOUT;
HAASNOOT, 2006).
Ambos, siRNA e miRNA, guiam a RISC e
se tornam capazes de reconhecer e destruir fitas
simples de RNAs complementares (BAULCOMBE,
2004 ; MEISTER; TUSCHI, 2004) (Figura 3).
Adicionalmente, foi demonstrado que os siRNAs
(24-26 nt) levam à metilação de DNA homólogo
causando o remodelamento da cromatina e o
consequente silenciamento de genes no nível
transcricional (transcriptional gene silencing - TGS).
Em contrapartida, os miRNAs causam a inibição da
tradução pelo pareamento específico de base com o
RNAm alvo. miRNAs celulares são importantes para a
regulação de genes celulares, mas existem evidências
de que eles podem também ter como alvo o material
genético de vírus invasores (BERKHOUT; HAASNOOT,
2006).
O silenciamento do RNA foi primeiro
reconhecido como um mecanismo antiviral
que protegia organismos contra vírus de RNA
(WATERHOUSE et al., 2001). Entretanto, um papel
geral do silenciamento do RNA na regulação da
expressão do gene se tornou evidente. Muitos
genes de miRNA são evolutivamente conservados.
Sua função nas plantas é principalmente clivar uma
seqüência complementar localizada dentro da região
3’ não traduzida do RNAm alvo (MEISTER; TUSCHI,
2004).
O silenciamento de RNA em planta parece ser
mais diverso em comparação com outros organismos.
Alguns aspectos do silenciamento são comuns a
todos os organismos eucarióticos (por exemplo, o
requerimento das proteínas Dicer e Argonaute). A
metilação de uma seqüência específica de DNA (RNA
directed DNA methilation – RdDM) pode ser induzida
por moléculas de dsRNA em vários sistemas de planta
(CAO et al., 2003). Já se sugeriu que RdDM também
ocorre em mamíferos (KAWASAKI; TAIRA, 2004), mas
não em fungos (FREITAG et al., 2004). O silenciamento
em plantas é sistemicamente transmitido dentro do
corpo da planta (HIMBER et al., 2003). Um processo
similar parece estar ausente em mamíferos e insetos,
mas ocorre em C. elegans (BAULCOMBE, 2004).
Além disso, o tamanho dos siRNAs pode
variar de 21 a 25 nt em diferentes espécies. Em
plantas são encontrados siRNAs com 21 nt e 24 nt
(TANG et al., 2003), mas somente dois tamanhos,
21 nt e 25 nt, estão presentes no fungo Mucor
circinelloides (HAMILTON et al., 2002), enquanto que
somente fragmentos de 21 nt de siRNAs parecem
estar presentes em animais (PRINS et al., 2008).
Uma estratégia empregada para aumentar
Figura 2: Diferentes vias do RNAi. Em A, a defesa antiviral por
siRNAs e em 2, a formação de miRNAs e a regulação da expressão
gênica realizada por eles. Em A, uma molécula de dsRNA, que
pode ser de origem viral, é processada pela enzima DICER no
citoplasma em pequenas moléculas de RNA dupla-fita (siRNA).
Uma das fitas do siRNA é guiada pela RISC em associação com
a proteína AGO
Transposons são sequências de DNA que podem se mover para
diferentes posições dentro do genoma da célula, um processo conhecido
como transposição. Nesse processo, eles podem causar mutações. São
também chamados de “jumping genes”, e são exemplos de elementos
genéticos móveis.
clivada, impedindo a replicação e a propagação viral. Em B, as moléculas
de miRNA são primeiramente expressas no núcleo como moléculas
primárias de miRNA (pri-miRNA), que são processadas pela enzima
DROSHA em precursores de miRNA (pre-miRNA). Estes são levados
ao citoplasma, pelo auxílio de proteínas de exportação presentes na
membrana nuclear, como a proteína Exportin 5. No citoplasma os premiRNAs são processados pela DICER em moléculas maduras de miRNA,
de aproximadamente 21-25 nt. Uma das firas do miRNA é guiada pela
RISC em associação com a enzima AGO a uma molécula de RNAm
alvo complementar, onde a RISC se liga a região 3’ não traduzida,
promovendo, assim, a inibição da tradução. As moléculas de miRNA,
portanto, são responsáveis pela regulação da expressão gênica.
4
Figura 3: Mecanismo de transitividade. Na célula (a) dsRNAs são
reconhecidos pela via do RNAi e clivados por uma Dicer para
formar siRNAs. Esses siRNAs procuram e destroem RNAs alvo
homólogos na célula em que foram gerados. Um sinal móvel
permite que a via de silenciamento do RNAi seja ativada em
células adjacentes (b), onde a RdRp pode gerar novos siRNAs
para reiniciar o RNAi, amplificando do sistema. Esse fenômeno
é conhecido como transitividade.
Fonte: (a) Modificado de INVITROGEN BY LIFE TECHNOLOGIES
(2010); (b) Modificado de BUCHON; VAURY (2005).
A
Vias de silenciamento do RNA
Três vias de silenciamento do RNA foram
descritas em plantas (Figura 4) (BAULCOMBE, 2004).
Estas são: o silenciamento de siRNA citoplasmático,
importante nas células infectadas por vírus, o silenciamento de RNAm endógeno por miRNA e uma terceira via associada com a metilação do DNA e supressão da transcrição.
Uma diferença no comprimento dos siRNAs
têm sido observadas: normalmente siRNAs têm de
21-22 nucleotídeos de comprimento. Os siRNAs resultantes de um passo de amplificação, entretanto,
são de 24-26 nucleotídeos de comprimento. Essas
descobertas destacam uma complexidade inesperada das pequenas moléculas de RNA envolvidas na via
do RNAi (HAMILTON, 2002).
B
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13
CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
a eficiência do RNAi é amplificar a quantidade de
moléculas chave que agem no processo de RNAi, por
exemplo siRNAs. Esse mecanismo de amplificação,
chamado transitividade, significa que novas
seqüências homólogas do siRNA são sintetizadas
(BUCHON; VAURY, 2005). Esses novos siRNAs podem,
então, procurar ou destruir algum RNAm homólogo. Estudos iniciais feitos em plantas e nematodos
relataram que a RdRp poderia estar envolvida na
geração de siRNAs secundários homólogos a todo o
comprimento do RNAm alvo (FORREST et al., 2004).
Dois modos de ação têm sido propostos. Primeiro,
RdRp é ativa para gerar novamente siRNAs. Segundo,
RdRp usa o siRNA como um primer para extensão, e
sintetiza novos longos dsRNAs (MAKEYEV; BAMFORD,
2004). Esses RNAs novamente sintetizados são
capazes de reiniciar o RNAi e então amplificar o
sistema (Figura 3).
CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
Figura 4: Vias de silenciamento do RNA. Em A, a
clivagem de RNA mensageiro específico por miRNAs
ou siRNAs. Em B, a repressão específica da tradução
por miRNAs ou siRNAs. Em C, o silenciamento
transcricional por siRNAs que se anelam à
heterocromatina, tornando-a inativa.
Estas vias todas se iniciam com a produção
de transcritos de RNA do genoma do organismo
com complementaridade ou complementaridade
próxima de 20 a 25 pares de bases (pb), que podem
formar alça de dsRNA (MEISTER; TUSCHI, 2004).
Tais transcritos são considerados precursores de
miRNA. Seu processo de amadurecimento envolve
proteínas como a Dicer que possuem atividade de
endonuclease da RNase tipo III dsRNA específico e
domínio de ligação ao dsRNA. O processo, que se
inicia pela enzima Drosha, ocorre no núcleo da célula
e o precursor do miRNA é então exportado para o
citoplasma por meio de exportadores nucleares tal
como a proteína exportin 5 (LUND et al., 2004). No
citoplasma, os precursores de miRNA são em seguida
processados pela Dicer produzindo miRNA duplafita com cerca de 21nt de comprimento (ELBASHIR
et al., 2001). Moléculas de dsRNA também podem
ser derivadas da polimerização, pela RdRp, de RNA
de origem viral e pela hibridização de transcritos
com sequências repetidas, como um transgene ou
transposon (MEISTER; TUSCHI, 2004). Além disso,
moléculas de dsRNA podem ser artificialmente
introduzidas. Tais dsRNAs induzem a produção de
siRNAs, que geralmente guiam a degradação do
RNAm alvo e a modificação da cromatina.
Os pequenos RNAs (siRNA e miRNA)
produzidos se associam à RISC. No mínimo um
membro da família das proteínas AGO está presente
na RISC, provavelmente interagindo diretamente
com o RNA alvo no complexo. O domínio PAZ da AGO
especificamente reconhece o término da hélice de
bases pareadas do siRNA e miRNA dupla-fita (MA et
al., 2004). Proteínas AGO se ligam preferencialmente
a pequenos RNAs de uma seqüência específica. Os
pequenos RNAs na RISC guiam a degradação de
uma seqüência específica de complementaridade ou
complementaridade próxima do RNAm alvo.
A primeira evidência da regulação da
tradução guiada por miRNA foi em C. elegans,
onde o miRNA complementar para um gene
específico reduziu a síntese protéica sem afetar
os níveis de RNAm (MAKEYEV; BAMFORD, 2002).
Processos similares também ocorrem em plantas.
Embora os mecanismos da repressão da tradução
14
sejam pobremente entendidos, miRNAs parecem
bloquear o alongamento da tradução ou o seu início
(SEGGERSON et al., 2002).
Quatro diferentes genes da Dicer são relatados
em plantas, com cada Dicer preferencialmente
processando dsRNA de uma fonte específica. Por
exemplo, DCL1 e DCL4 processam precursores de
miRNA, enquanto DCL2 e DCL3 estão envolvidos no
processamento de siRNAs de vírus de planta e de
seqüências repetidas respectivamente (MEISTER;
TUSCHI, 2004).
Muitos trabalhos mostram que a planta, ao
entrar em contato com um dsRNA exógeno, silencia
sequências homólogas de RNA, sejam elas da própria
planta ou de organismos invasores. Dessa maneira,
é possível construir linhas de plantas transgênicas
que expressem um dsRNA capaz de induzir o
silenciamento de uma sequência específica de RNA
viral, o que as tornaria resistentes a esse vírus. Raízes
de beterraba, por exemplo, foram transformadas
com Agrobacterium rhizogenes expressando dsRNA
do gene da replicase de Beet necrotic yellow vein
virus (BNYVV), o que conferiu resistência à doença
causada por este (PAVLI et al., 2010). Também, plantas
transgências de tomate transformadas com o dsRNA
do gene AC4 de Tomato leaf curl virus produziram
um pool de siRNAs efetivos no silenciamento desse
gene (PRAVEEN et al., 2010). Isso mostra, portanto,
que a via de silenciamento de RNA é uma alternativa
potencial para o controle das doenças virais em
plantas.
4 CONCLUSÃO
Os vírus são capazes de se replicar dentro
de uma célula viável e se propagar para as demais
células da planta utilizando proteínas de movimento.
As plantas, no entanto, apresentam um arsenal
de respostas de defesa para tentar impedir a
replicação viral e o progresso da infecção - a via de
silenciamento do RNA ou RNA de interferência é
um caminho para resistir às infecções virais. Para
escapar desse mecanismo de defesa, os vírus são
capazes de produzir proteínas que agem suprimindo
enzimas e outras moléculas que estão envolvidas nas
diferentes vias de silenciamento do RNA. É possível,
no entanto, que plantas se tornem resistentes a
vírus pela aplicação da biotecnologia, que permite a
geração de plantas geneticamente modificadas, com
superexpressão de genes envolvidos nessa via do
RNA de interferência.
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16
Episteme - Revista Científica da Faculdade Católica Salesiana do Espirito Santo
Ger F. Couto1; Gabriela C. Zamprogno2 ; Viviane C. Meneguzzi3
Faculdade Salesiana de Vitória, Av. Vitória, 950, Forte São João. Vitória, ES. CEP: 29017-950, e-mail: [email protected].
Universidade Federal do Espírito Santo, Departamento de Ciências Biológicas, Laboratório de Malacologia, Av. Marechal Campos
1468, Vitória, ES. CEP: 29.040-090, e-mail: [email protected]; [email protected].
RESUMO
Esse estudo objetivou avaliar a freqüência de ovos de helmintos e cistos de protozoários
em mãos de escolares através do isolamento, identificação e quantificação de parasitos
das amostras antes e após a orientação de lavagem correta das mãos. Foi desenvolvido em
uma Escola de Ensino Fundamental da rede pública Municipal em Vitoria, ES. As coletas
foram realizadas em alunos de 5 turmas em abril de 2010. Em cada turma foram escolhidos
aleatoriamente 15 alunos. Realizou-se a coleta do material das mãos dos alunos utilizandose o método de Graham (1941). As lâminas foram examinadas em microscopia óptica.
Posteriormente, foi feita uma orientação sobre a correta lavagem das mãos, foi solicitada
a realização desse procedimento aos estudantes e uma nova coleta foi realizada. Utilizouse um questionário dirigido aos alunos, contendo questões relacionadas aos hábitos de
higiene e saneamento básico. Dentre os 75 alunos examinados nas coletas das mãos, 20
estavam contaminados com parasitas, perfazendo um total de 27%. Foram identificados
ovos dos helmintos Ascaris lumbricoides (52% de frequência), Enterobius vermicularis (24%)
e Trichuris trichiura (5%) e cistos do protozoário Entamoeba coli (19%). Poliparasitismo
ocorreu em um aluno (A. lumbricóides e E. vermiculares). Observou-se que com o aumento
do nível de escolaridade houve uma diminuição de positividade das amostras. Após a
orientação correta da lavagem das mãos não foi registrado nenhum parasito, evidenciando
a importância da educação em saúde bem como a melhoria do ensino.
Palavras-chave: Parasitoses. Escolares. Mãos.
ABSTRACT
This study aimed to evaluate the frequency of helminth eggs and protozoan cysts in hands
of schoolchildren through the isolation, identification and quantification of parasites before
and after the guidance of proper hands washing. It was developed in a school in Vitoria,
ES. The samples were taken in students from five classes in April 2010. In each class were
randomly selected 15 students. Students hands material were sampled using the method
of Graham (1941). The laminas were examined using optical microscopy. After the direction
on the proper washing of hands It was requested to conduct this procedure to students
and a new Sample was taken. Was performed a questionnaire to students with questions
related to hygiene and sanitation. Among the 75 students surveyed in the collections of
the hands, 20 were infected with parasites, making a total of 27%. We identified helminth
eggs of Ascaris lumbricoides (52% of frequency), Enterobius vermicularis (24%) and Trichuris
trichiura (5%) and cysts of protozoan Entamoeba coli (19%). Polyparasitism occurred in one
student (A. lumbricoides and E. vermiculares). It was observed that with increasing education
level was a decrease of positive samples. After the correct orientation of hand washing has
not registered any parasite, indicating the importance of health education and improving
education.
Keywords: Parasites. Students. Proper hands washing.
Vitória-ES, 2013, vol.02, nº1, p.17-22
17
CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
Ocorrência de enteroparasitas em mãos de escolares de ensino
fundamental, Vitória, ES
CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
1 INTRODUÇÃO
As parasitoses intestinais assumem um
importante papel para a saúde pública, uma
vez que podem ocasionar perdas econômicas
pela ausência ao trabalho ou diminuição da
produtividade, deficiências no rendimento escolar,
gastos com serviços médicos e paramédicos (Bloch,
1981). Condições precárias de higiene, dificuldades
econômicas e desconhecimento sobre medidas
preventivas são fatores que contribuem para que
as populações menos favorecidas e, em especial as
crianças, se tornem o alvo preferido para a incidência
das parasitoses intestinais, o que constitui um dilema
nacional, cuja solução se torna difícil por envolver
variáveis diversas, como o ambiente, condições
sociais, econômicas e culturais dos afetados.
A alimentação dentro de padrões higiênicosanitários satisfatórios é uma das condições
essenciais para a manutenção e promoção da saúde.
Além da obtenção de alimentos seguros, a deficiência
higiênica é um dos fatores responsáveis pela
ocorrência de surtos de doenças transmitidas por
alimentos (DTA’s). O aspecto de maior preocupação
é a higienização incorreta.Pedrazzani et al. (1990)
mostraram a importância de práticas educativas
como melhores fomentadoras de informações e
formadoras de opiniões para melhoria da qualidade
de vida (Pedrazzani et al. 1990). Para Belinelo et al.
(2006) a erradicação das verminoses requer melhoria
das condições socioeconômicas, saneamento básico
e, principalmente, na educação em saúde. Práticas
educativas são de fundamental importância para as
crianças, pois contribuem para o desenvolvimento da
responsabilidade perante o seu próprio bem-estar e
na manutenção de um ambiente saudável (ANVISA,
2006).
Neste contexto, os educadores têm como
compromisso transmitir corretamente aos seus
alunos informações sobre o assunto, devido a sua
grande importância em saúde pública (Heukelbach
et al. 2003). É notória a necessidade de medidas
simples de educação em saúde, tais como lavagem
das mãos e alimentos ou uso de calçados em
escolares. A microbiota transitória coloniza a camada
mais superficial da pele e sua remoção mecânica é
proporcionada pela higienização das mãos com água
e sabão, sendo eliminada com mais facilidade com a
utilização de solução anti-séptica (ANVISA, 2006). Enfim, ações de higiene que promovam a
integração dos hábitos de saúde individuais, coletivos
e ambientais são eficazes no combate às diversas
18
infecções. As atividades de educação em saúde
são consideradas importantes instrumentos para a
garantia de melhores condições de vida.
A ocorrência de parasitoses intestinais em
idade infantil, especialmente na idade escolar,
consiste em um fator agravante da subnutrição,
podendo levar à morbidade nutricional, geralmente
acompanhada de diarréia crônica (Macedo, 2005).
Esses fatores podem refletir diretamente no
rendimento escolar, justificando assim a importância
de se avaliar os estudantes e a educação em saúde na
escola.
A higiene pessoal e domiciliar, incluindo uma
grande quantidade de medidas, tem sido investigada
como fator de risco de doença redutível pelo
saneamento. Dentre todos os fatores avaliados por
estudos sobre o tema, o ato de higiene pessoal mais
estudado tem sido a lavagem das mãos. Feachem
& Koblinsky (1984) desenvolveu uma extensa
avaliação do efeito da higiene pessoal e domiciliar
sobre o controle da diarréia infantil, a partir de
estudos realizados em hospitais, centros de saúdes e
comunidade. O autor avaliou casos mais significativos,
para a inferência de valores quantitativos: o primeiro
em Bangladesh, o segundo nos Estados Unidos,
ambos analisando lavagem das mãos, e o terceiro
na Guatemala, este referente à melhoria e diversos
aspectos da higiene doméstica e pessoal. Esrey et al.
(1991) concluíram por meio da relação de hábitos
de higiene, incluindo a lavagem das mãos, uma
redução esperada de 33% na morbidade por diarréia,
mediante o aperfeiçoamento das práticas higiênicas.
Neste sentido, o presente estudo objetivou
identificar a ocorrência de ovos de helmintos e cistos
de protozoários em mãos de alunos de uma escola da
rede pública de ensino municipal de Vitória, estado
do Espírito Santo (ES), com a finalidade de fornecer
subsídios para o desenvolvimento de ações e medidas
de controle, visando à orientação e o esclarecimento
sobre os riscos que as parasitoses causam na saúde
dessas crianças.
2 MATERIAIS E MÉTODOS
O presente trabalho foi desenvolvido em
uma Escola de Ensino Fundamental da rede pública
Municipal em Vitoria, ES.
As coletas foram realizadas em alunos de
5 turmas distintas: 5ª, 6ª, 7ª A, 7ª B e 8ª séries. As
coletas foram realizadas no período entre 12 a 16 de
abril de 2010. Para cada turma selecionada, foram
escolhidos aleatoriamente 15 alunos para cada
Episteme - Revista Científica da Faculdade Católica Salesiana do Espirito Santo
Deste total, poliparasitismo ocorreu em
apenas um aluno da 5ª série (2%), que apresentou
ovos de Ascaris lumbricoides e de Enterobius
vermiculares concomitantemente.
Dados apresentados no presente estudo
corroboram com informações na literatura de que A.
lumbricoides é o helminto mais freqüente nos países
pobres, sendo sua estimativa de prevalência de
aproximadamente 30% (Zaiden et al., 2008). Diversos
fatores interferem na prevalência desta parasitose,
tais como: grande quantidade de ovos produzidos
e eliminados, viabilidade do ovo infectante por até
um ano e fácil dispersão, condições precárias de
saneamento básico e conceitos equivocados sobre a
transmissão da doença e hábitos de higiene (Zaiden
et al., 2008). Este parasito é transmitido através de
água ou alimentos contaminados com ovos.
Assim como a ascaridíase, a helmintíase
provocada pelo parasito E. vermiculares tem alta
prevalência nas crianças em idade escolar devido
aos fatores: somente a espécie humana parasitada
por essa espécie, fêmeas deste helminto eliminam
grande quantidade de ovo na região anal, os ovos
em poucas horas se tornam infectantes e podem
resistir até três semanas em ambiente doméstico
(Zaiden et al., 2008). A doença provoca prurido anal
e inflamação no ceco e apêndice.
Outra essa espécie parasitária que também
apresenta elevada prevalência em crianças é Trichuris
trichiura. Os ovos deste parasita contaminam o
ambiente em áreas que apresentam deficiências
em saneamento básico, e, por serem extremamente
resistentes, são facilmente disseminados pelo vento,
contaminando os alimentos (Zaiden et al., 2008).
A tricuríase pode causar sintomas como dores de
cabeça, dor epigástrica e no baixo abdômen, diarréia,
náusea e vômitos (Zaiden et al., 2008). A transmissão
ocorre através de água e alimentos contaminados,
também podendo ser disseminado por vetores
3 RESULTADOS
3.1 AVALIAÇÕES DAS MÃOS ANTES DA mecânicos, tais como moscas domésticas.
A única espécie de protozoário identificada
LAVAGEM
Dentre os 75 alunos examinados nas coletas nos resultados apresentados foi E. coli, que é
das mãos, 26% apresentaram as mãos contaminadas transmitida através da ingestão de cisto maduros,
presentes em alimentos ou água sem tratamento.
com parasitas intestinais (Figura 1a).
De forma geral, foram identificados cistos do No entanto, essa espécie não é patogênica ao ser
protozoário Entamoeba coli e ovos dos helmintos humano (Zaiden et al., 2008).
Enterobius vermicularis, Ascaris lumbricoides e
Trichuris trichiura.
Ascaris lumbricoides foi o parasito de maior
ocorrência (52% das amostras positivas), presente
em 11 amostras. Enterobius vermiculares ocorreu
em 24% das amostras positivas, Entamoeba coli em
19% e Trichuris trichiura em 5% (Figura 1b).
Vitória-ES, 2013, vol.02, nº1, p.17-22
19
CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
turma, selecionando-os a partir da lista de freqüência
da escola, totalizando 75 alunos.
Para verificar a ocorrência de parasitos
foi realizada a coleta do material das mãos dos
alunos utilizando-se o método de Graham (1941).
Esta técnica consiste em colar uma fita adesiva
transparente de 6 cm por cinco ou seis vezes sobre
cada mão de cada aluno e, posteriormente, fixála longitudinalmente sobre lâmina devidamente
identificada. As lâminas foram examinadas em
microscopia óptica. As coletas em cada criança foram
realizadas antes do processo de lavagem das mãos.
Posteriormente, foi feita uma orientação sobre a
correta lavagem das mãos e foi solicitada a realização
desse procedimento aos estudantes. Após a lavagem
das mãos, foi realizada uma nova coleta nos alunos
selecionados anteriormente.
Para a lavagem das mãos foi utilizada a
metodologia descrita e recomendada pela ANVISA
(2006) sobre higienização simples das mãos com
a finalidade de remover os microorganismos que
colonizam as camadas superficiais da pele, assim
como o suor, oleosidade e as células mortas, retirando
a sujidade propícia à permanência e à proliferação de
microorganismos.
Além dessa metodologia, para complementar
a higienização, foi solicitada ao aluno a utilização de
álcool gel nas mãos.
Para definir possíveis fatores de risco
na transmissão de parasitoses, utilizou-se um
questionário dirigido aos alunos, contendo questões
relacionadas aos hábitos de higiene e saneamento
básico. Foi solicitada a autorização dos pais.
Para verificar a existência de correlação
entre a ocorrência de parasitos e a idade dos alunos
foi realizado do teste de Spearman, com nível de
significância de 5%.
CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
Figura 1 - Positividade das amostras obtidas das mãos dos
alunos antes da lavagem das mãos (a); Ocorrência de parasitos
nas mãos dos alunos antes da lavagem das mãos (b).
A Figura 2 apresenta a porcentagem de amostras
positivas por série/turma. Observa-se que com
o aumento do nível de escolaridade houve uma
diminuição de positividade das amostras, indicando
melhores hábitos de higienização.
alunos que bebem água diretamente da torneira
representam a maior parte da amostra (superior a
50%). Já nas turmas 7ª A e 8ª A, a maioria dos alunos
utiliza água filtrada (Figura 4a). Quanto à lavagem das
frutas antes do consumo, acima de 85% dos alunos
responderam que realizam a lavagem prévia (Figura
4B). Quanto à lavagem das mãos antes das refeições,
as turmas 7ª A e 8ª A apresentaram os maiores valores
percentuais quanto a resposta negativa (33% e 27%,
reespectivamente) (Figura 4c). Segundo a resposta
dos alunos, a maioria (acima de 80%) mantém as
unhas limpas e bem cortadas (Figura 4d).
Figura 2 - Porcentagem de amostras positivas e negativas por
série/turma obtidas nas mãos dos alunos.
Houve
uma
correlação
negativa
estatisticamente significante (r = -0,87) entre a
freqüência de parasitos encontrados nos estudantes
e a idade média, ou seja, quanto maior a idade da
criança, menor a frequência de parasitos (Figura 3).
Figura 3 - Correlação entre a frequência de parasitos e a idade
média dos estudantes. O valor do teste de Spearman o valor de
p estão inseridos na figura.
A Tabela 1 apresenta a distribuição
dos parasitas encontrados por série/turma. A.
lumbricoides apresentou a maior ocorrência em
todas as turmas, exceto na 7a b, onde A. lumbricoides,
E. vermicularis e E. coli apresentaram o mesmo
porcentual (33,33%).
3. 2 ANÁLISE DOS FATORES DE RISCO ASSOCIADOS
Segundo as respostas dos alunos aos
questionários, nas turmas 5ª A, 6ª A e 7ª B os
20
Episteme - Revista Científica da Faculdade Católica Salesiana do Espirito Santo
Vitória-ES, 2013, vol.02, nº1, p.17-22
21
CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
A. lumbricoides (Zaiden et al., 2008), explicando
a predominância desse parasitos em estudos com
crianças.
Pelo presente estudo, pode-se sugerir que com
maior escolaridade maior o conhecimento quanto
aos hábitos de higiene pessoal e, consequentemente,
3.3 AVALIAÇÃO DAS MÃOS APÓS A LAVAGEM
menor a ocorrência de parasitoses intestinais.
De acordo com o questionário aplicado nesse
Após a orientação correta da lavagem das mãos não foi registrado nenhum parasito nas mãos estudo, mais da metade das crianças examinadas
das crianças, evidenciando a importância da educação utilizam água diretamente da torneira, o que pode ser
em saúde. A higienização das mãos é a medida uma fonte importante de infecção, especialmente se
individual mais simples e menos dispendiosa para estiver relacionada à baixa qualidade de tratamento
prevenir a propagação das infecções relacionadas da água (Costa et al., 2009). Em relação aos demais
à assistência à saúde (6). As mãos constituem a hábitos de higiene citados no questionário, segundo
principal via de transmissão de microorganismos, a maioria dos alunos existe a prática de hábitos
pois a pele é um possível reservatório de diversos saudáveis por parte deles.
Foi evidenciado também que a lavagem
microorganismos, que podem se transferir de uma correta
das mãos permitiu a remoção total de
superfície para outra, por meio de contato direto ou
parasitos anteriormente identificados. Medidas
indireto (objetos contaminados) (6).
simples de higiene como a lavagem das mãos com
água e sabão permitem a remoção de grande parte
4 DISCUSSÃO
da microbiota transitória, permitindo um maior
Zaiden et al. (2008), em estudo realizado em controle na disseminação desses microorganismos,
material fecal de crianças em uma creche na cidade diminuindo a probabilidade de desenvolver uma
de Rio Verde, GO, verificaram que 40% das amostras infecção ou de veicular esses microorganismos para
foram positivas para protozoários e/ou helmintos. Da outros indivíduos (Rodrigues et al., 2006).
Os resultados dessa pesquisa demonstram
mesma forma, Costa et al. (1999), encontraram um a
necessidade
da melhoria na qualidade do ensino
percentual de 35%. No presente trabalho, o índice de
resultados positivos para parasitos para as mãos dos de educação em saúde. Por meio da educação em
estudantes foi de 27%. Com isso podemos concluir saúde, permite-se o exercício pleno da cidadania,
que a porcentagem obtida é preocupante, pois se sendo fundamental para as crianças, pois ajuda a
trata de mãos, onde normalmente espera-se uma desenvolver nelas a responsabilidade perante o
menor incidência de parasitas, comparando-se com seu próprio bem estar, a praticar hábitos saudáveis
o material fecal. A ocorrência de poliparasitismo, e contribuir para a manutenção de um ambiente
embora em apenas um estudante, também reforça preservado (Makiyama & Tschurtschenthaler, 2010).
essa preocupação quanto à saúde pública.
A predominância de Ascaris lumbricoides foi AGRADECIMENTOS
também encontrada em estudos desenvolvidos com
À professora Maria José Leão pela
crianças menores em creches de São Paulo (Coelho et al., 1999; Costa et al., 2009). A infecção por esse colaboração durante as coletas. Ao Laboratório
helminto está associada a fatores sociais, econômicos Biolife, pela utilização dos equipamentos para as
e culturais que proporcionam condições favoráveis à análises microscópicas. À Escola municipal onde as
sua expansão, sobretudo em regiões onde os fatores amostragens foram realizadas, pela autorização e
ambientais são apropriados (Zaiden et al., 2008). A contribuição à pesquisa realizada.
educação em saúde para criança é uma importante
medida para controle das helmintoses, especialmente REFERÊNCIAS
considerando as características da doença durante
a infância: alta prevalência, alta porcentagem de BELINELO, M. I. G.; LOPES, J. A.; ANDRADE, D. A.;
resistência ao tratamento, alta taxa de eliminação DOMICIANO, C. F.; CALAIS, F. A.; ALMEIDA, M. B.
de ovos e alto nível de infecção (Zaiden et al., 2008). Prevalência de verminoses nos bairros São Cristóvão,
Todos esses fatores indicam que as crianças têm Marambaia e Aeroporto na cidade de Muriaé-MG.
uma papel importante na manutenção do ciclo de Veterinária Ser., Espírito Santo, 3, p. 4-8, 2006.
Figura 4 - Respostas dos alunos aos questionários aplicados
quanto à: Procedência de água utilizada para beber nos
domicílios (a); Hábito de lavar as frutas antes da ingestão (b);
Hábito de lavar a mãos antes das refeições (c); Hábito de manter
as unhas limpas e bem cortadas (d).
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22
Episteme - Revista Científica da Faculdade Católica Salesiana do Espirito Santo
O se-movimentar na educação física e as experiências de ser
criança
Victor José Machado de Oliveira¹, David Gomes Martins², Coautor: Dr. Nilton Poletto Pimentel
EDUCAÇÃO FÍSICA
Faculdade Católica Salesiana do Espírito Santo, Av. Vitória, 950, Forte São João, 29.017-950, Vitória, ES, Brasil.
¹[email protected], ²[email protected].
RESUMO
Este estudo é fruto das atividades desenvolvidas no Estágio Curricular Supervisionado I e
tem por objetivo traçar um diálogo reflexivo sobre o processo educacional da Educação
Física na Educação Infantil no contexto de uma creche na cidade de Vitória/ES, a partir do
enfoque teórico da semiótica e fenomenologia. A metodologia pautou-se numa pesquisa
de cunho qualitativo que utilizou das seguintes ferramentas metodológicas: revisão de
literatura, observação e coparticipação nas aulas de Educação Física e a Análise de Conjuntura
Educacional. Tomando como objeto de estudo o Se-movimentar fomentou-se entender como
se configuram as aulas de Educação Física no cotidiano da educação infantil, para então (re)
pensar uma práxis pedagógica que atendesse à formação das crianças, entendendo-as em
suas singularidades/alteridades.
Palavras-chave: Educação Física infantil; Semiótica; Fenomenologia.
ABSTRACT
This study is based on Supervised Pratices I activities and aims to draw a reflective dialogue
about the educational process of Physical Education in Early Childhood Education in the
context of a Day care center of Vitoria/ES, from the theoretical approach of semiotics and
phenomenology. A qualitative study was performed using the following methodological
tools: literature reviewing, observation and co-participation in classes of Physical Education
and Situation Analysis of Education. The self-movement subject leaded to understand
how to configure the Physical Education classes routine of the childhood education, and
then thinking/rethinking a pedagogical praxis that reaches the formation of the children,
understanding them in their singularities/alterities.
Keywords: Physical Education for children; Semiotics; Phenomenology.
1 INTRODUÇÃO
As últimas décadas desvendam uma maior
preocupação com a Educação Infantil brasileira, o
surgimento de legislações vinculadas à faixa etária
que corresponde à infância tem aumentado no
decorrer do tempo. Sabe-se que “até 1930 não havia
nenhuma iniciativa do governo brasileiro em prol da
educação infantil” (SOBREIRA, s/d, s/p). A Educação
Infantil começa a ganhar espaço de preocupação
quando é reconhecida na Constituição Federal de
1988. Em decorrência dessas conquistas, outros
apoios vieram através da criação do Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA) (BRASIL, 1990) e
da Lei de Diretrizes e Bases Nacionais da Educação
Vitória-ES, 2013, vol.02, nº1, p.23-29
Nacional (LDB) (BRASIL, 1996). Outro documento que
traz contribuições é o Referencial Curricular Nacional
para Educação Infantil (RCNEI), ao afirmar que o
trabalho a ser realizado na Educação Infantil deve
ter por finalidade desenvolver integralmente nas
crianças os aspectos físicos, psicológicos, intelectual,
social e afetivo (BRASIL, 1998).
Desvendando um estudo de Go Tani (2001),
uma inquietação surgiu. Uma vez com o surgimento
de várias abordagens em educação física na década
de 80, “era de esperar transformações significativas
na prática pedagógica da educação física escolar”
(TANI, 2001, p. 110). Em outras palavras: era
esperada uma pragmática que, de certa forma, não
ocorreu, distanciando-se do empirismo na aplicação
dessas abordagens, que muito se detiveram somente
23
EDUCAÇÃO FÍSICA
aos discursos/âmbitos acadêmicos, assim pouco
chegando de fato no cotidiano das aulas de educação
física.
Eis a necessidade de buscar uma práxis
pedagógica que atenda a formação das crianças
enquanto sujeitos capazes, produtoras de saberes,
de cultura e de linguagens. Inicialmente o problema
levantado concerne na possibilidade de conceber
uma prática pedagógica na Educação (Física) Infantil
que leve em conta as crianças, seus repertórios/
experiências singulares, assim como seus pontos de
vista baseados, de fato, no princípio da alteridade
(SILVA et al, 2007).
'Junto a esse entendimento ainda devemos
atentar a singularidade estrutural e funcional da
Educação Infantil. Como nos aponta Libâneo et al
(2009) mediante a resolução CNE/CEB nº 1, de 7 de
abril de 1999 que institui as Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educação Infantil (BRASIL, 1999)
as instituições que atendem esse nível de ensino
devem promover “práticas de educação e cuidados,
possibilitando a integração entre os aspectos físicos,
emocionais, afetivos, cognitivos/linguísticos e sociais
da criança, entendendo que ela é um ser completo,
total e indivisível (art. 3º, inciso III)” (LIBÂNEO et al,
2009, p. 253).
Percebe-se que esforços têm sido feitos
para trazer essas abordagens à prática cotidiana,
levando em conta os fatores que perpassam este
tempo-espaço. Aqui também é o caso, por isso o
objetivo desse texto está em entender a prática
pedagógica da Educação Física na Educação Infantil
estabelecendo diálogos com a fenomenologia e
semiótica, assim refletindo o processo educacional
de uma práxis pedagógica para crianças neste nível
de ensino, e desta forma compreender a relação
empírica e teórica desse tempo-espaço, obtidas a
partir das/nas experiências do Estágio Curricular
Supervisionado I¹ (ECS I). Desta forma elegemos
como objeto de estudo o Se-movimentar nas
aulas da Educação Física na Educação Infantil sob
a perspectiva semiótico-fenomenológica (SILVA et
al, 2007; BETTI, 2007), pois entendemos que essa
abordagem tem muito a contribuir na percepção
empírica das teorias expostas até aqui, percebendo
seus limites e possibilidades, assim denotando uma
práxis pedagógica ressignificada das mesmas.
Pretendendo desenvolver um trabalho que atendesse
a excelência da formação acadêmica, através da
instrumentalização teórico-científica, a pesquisa
de campo e levantamento de dados da instituição
e do bairro o qual está localizada, o contato com
os funcionários – porteiro, cozinheiras, auxiliares
de serviço geral, professores (as), coordenadora, e
diretora –, com as crianças e a observação sistemática
de aulas, orientaram a construção do relatório final
de estágio e uma proposta de intervenção para
este tempo-espaço, e que muito contribuíram para
a estruturação das reflexões contidas nesse texto
sobre as atividades desenvolvidas.
O campo de estágio compreendeu a Creche
Menino Jesus, localizada no Centro da cidade de
Vitória/ES. A creche foi fundada em 07 de outubro de
1935 pelas filhas de caridade de São Vicente de Paula,
do antigo colégio do Carmo. Em 2010 atendeu a 112
crianças (1 à 6 anos) em tempo integral nos turnos
matutino e vespertino. A instituição apresenta um
diferencial das demais do sistema público de ensino,
não tendo fins lucrativos e apresentando duas
direções – uma administrativa ligada à mantenedora
(Associação Brasileira de Cultura Popular) e uma
pedagógica ofertada pela Prefeitura Municipal de
Vitória.
Os sujeitos de nossas observações e
coparticipações nas aulas de Educação Física foram
as crianças do Grupo 6. A turma é mista, sendo
composta por 21 crianças sendo 10 do sexo masculino
e 11 do sexo feminino, todos tendo completos os 6
anos de idade, muitas dessas crianças provém das
comunidades ao redor do centro e dos morros que
ficam no entorno.
Quanto ao caminho metodológico traçado,
este foi pautado em três momentos. Na primeira
etapa estivemos reunidos em pontos de encontros
na Faculdade Católica Salesiana do Espírito Santo,
onde fizemos leituras analíticas e debates de temas
relacionados à prática pedagógica da Educação Física
Escolar. A segunda etapa foi marcada pela ida a
campo, conformando-se numa Análise da Conjuntura
¹ O Estágio Curricular Supervisionado I – estágio obrigatório –
é uma atividade formativa da graduação em Licenciatura em
Educação Física da Faculdade Católica Salesiana do Espírito
Santo. Nossa experiência se deu numa creche da cidade de
Vitória, ES, no período letivo de 2010/2.
2 CAMINHOS PERCORRIDOS: O CAMPO DE ESTÁGIO,
OS SUJEITOS E A ANÁLISE DE CONJUNTURA
Este estudo configurou-se a partir das
atividades realizadas no ECS I, onde estivemos
envolvidos no campo de estágio através da
proposta de observação, análise e coparticipação.
Educacional. Nesta fase aconteceu a análise dos
espaços e materialidade – do bairro e da creche
–; entrevistas com os funcionários, professores e
crianças; também tivemos acesso ao Plano Pedagógico
o que nos permitiu uma aproximação com a realidade
24
Episteme - Revista Científica da Faculdade Católica Salesiana do Espirito Santo
3 ANÁLISE DE CONJUNTURA EDUCACIONAL:
CONSIDERAÇÕES SOBRE O CAMPO
Historicamente a Educação Infantil foi vista
de forma assistencialista e higienizadora. Segundo
Krieger (s/d, p. 2) “as creches são produto da
revolução industrial”. Isso ocorreu de fato com a
intensa urbanização, a participação da mulher no
mercado de trabalho e consequentes mudanças na
estrutura familiar (BRASIL, 1998, p. 11).
A Constituição Federal (BRASIL, 1988)
assegura a Educação infantil como dever do estado
e direito da criança. Porém esse direito deve estar
atrelado no comprometimento com os padrões
de qualidade, tanto quanto os aspectos políticopedagógicos, quanto os aspectos físico-estruturais,
como nos aponta Zilma Oliveira (2008, p. 47) “no
sentido de garantir o bem-estar das crianças”.
Confirmando esse pensamento o Referencial
Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI)
aponta que “a estes princípios cabe acrescentar
que as crianças têm direito, antes de tudo, de viver
experiências prazerosas nas instituições” (BRASIL,
1998, p. 14). Ainda segundo o RCNEI
Vitória-ES, 2013, vol.02, nº1, p.23-29
A busca da qualidade do atendimento envolve
questões amplas ligadas às políticas públicas, às
decisões de ordem orçamentária, à implantação de
políticas de recursos humanos, ao estabelecimento
de padrões de atendimento que garantam espaço
físico adequado, materiais em quantidade e
qualidade suficientes e à adoção de propostas
educacionais compatíveis com a faixa etária
nas diferentes modalidades de atendimento,
para as quais este Referencial pretende dar sua
contribuição (BRASIL, 1998, p. 14).
Percebendo o comprometimento da Creche
Menino Jesus, logo quando chegamos, vê-se uma
grande placa com as propostas e valores da instituição. Esse é um marco que se faz referenciar pelas
frases pedagógicas e religiosas a respeito da formação humana, educação infantil, e concepção de
criança.
Quanto ao espaço físico e recursos materiais
o RCNEI aponta que:
A estruturação do espaço, a forma como os
materiais estão organizados, a qualidade e
adequação dos mesmos são elementos essenciais
de um projeto educativo. Espaço físico, materiais,
brinquedos, instrumentos sonoros e mobiliários
não devem ser vistos como elementos passivos,
mas como componentes ativos do processo
educacional que refletem a concepção de
educação assumida pela instituição. (BRASIL,
1998, p. 68)
Desta forma percebemos a importância da
qualidade estrutural para esse momento em que as
crianças passam ali. Segundo a Proposta Pedagógica
da Creche baseada na legislação vigente (LDB/96,
ECA, Constituição Federal) a instituição “tem por
finalidade desenvolver integralmente em seus
alunos os aspectos físicos, psicológicos, intelectual
e social” (SBCP – CRECHE MENINO JESUS, 2010,
p. 5). Subsequente a essa proposta é inexorável
a constituição de espaços físico/estruturais que
atendam a demanda das crianças atendidas de forma
que realmente possam desenvolver-se integralmente.
É forte a relação entre a aprendizagem e os
espaços físico/estruturais e os materiais utilizados
nesse momento, uma vez que, é na interação com o
objeto que as crianças constroem mecanismos mais
gerais de funcionamento da inteligência (adaptação,
organização, assimilação e acomodação). Quanto
ao processo da construção do conhecimento o
RCNEI destaca que “as crianças se utilizam das mais
diferentes linguagens exercem a capacidade que
possuem de terem idéias e hipóteses originais sobre
25
EDUCAÇÃO FÍSICA
institucional. A Análise da Conjuntura Educacional
busca compreender inicialmente o contexto social
de forma ampla, integrada e indissociável, assim
superando as visões/percepções limitadas do sensocomum. Neste momento poder-se-á estabelecer
uma articulação dos elementos que compõe essa
conjuntura: os sujeitos/atores, os acontecimentos/
fatos, os cenários/espaços, registros documentais, as
correlações de forças que se colocam num patamar
de disputas, bem como a relação entre conjuntura e
estrutura (SOUZA apud PINTO, 2003).
Concomitante a esse processo ocorreu a
terceira etapa onde observamos/participamos
de seis aulas de educação física. Neste momento
realizamos relatórios referentes às aulas, no intuito
de se aproximar do grupo podendo conhecê-lo
melhor, assim analisando as práticas e peculiaridades
envolvidas neste contexto. Uma vez obtidos os dados
colhidos nos momentos supracitados, elaboramos
uma proposta de intervenção pedagógica – plano
de unidade temática – orientando estratégias,
delimitando
objetivos,
metas,
conteúdos,
cronogramas de intervenção e avaliação que
atendesse a realidade da turma.
EDUCAÇÃO FÍSICA
aquilo que buscam desvendar” (BRASIL, 1998, p.
21). Em vista destas colocações entende-se que é de
suma importância oferecer uma boa estrutura, pois a
mesma influenciará na construção do conhecimento
no processo de ensino-aprendizagem.
Na medida em que “[...] é preciso que o
espaço seja versátil e permeável à sua ação, sujeito
às modificações propostas pelas crianças e pelos
professores em função das ações desenvolvidas”
(BRASIL, 1998, p. 69), notamos que inicialmente a
creche consegue atender a essa demanda. Porém
percebemos que a estrutura não foi pensada para
atender uma instituição de ensino, tendo que
ser feita mudanças na composição de uma casa
antiga para abrigar uma instituição oferecedora de
serviços educacionais. Isso fica claro em perceberse a diferença nos tamanhos das salas, sendo umas
maiores e outras menores. Segundo a professora
isso acaba comprometendo num primeiro momento
quando a cada ano trocam-se as crianças das turmas.
Por exemplo, um grupo que estava numa sala maior
passa para uma menor, formando uma problemática
para o trabalho com essas crianças. De fato em todos
os momentos em que estivemos na instituição não
percebemos falta de organização por parte dos
espaços. Essa divisão do ambiente, das salas de
aula, entre os outros “[...] são mais indicados para
estruturar espaços para crianças pequenas ao invés
de grandes áreas livres” (BRASIL, 1998, p. 69).
A extensa gama de materiais que a instituição
apresenta denotam as potencialidades na construção
da qualidade das atividades desenvolvidas dentro
das aulas de educação física. Portanto não queremos
com isso dizer que uma aula alcançará o objetivo da
qualidade da construção do conhecimento somente
com os materiais e os espaços. Até mesmo a utilização
de materiais alternativos mostra-se também fiel
na conquista dos objetivos de uma aula. Para tal é
necessário a conjugação de outros fatores e sujeitos
como o professor, os alunos, o “estado de espírito”
destes, e as subjetivações de cada indivíduo segundo
sua realidade. Mas é importante ressaltar que bons
materiais é o mínimo que se pode oferecer neste e
em qualquer nível de ensino.
26
Como aponta o RCNEI os
Recursos materiais entendidos como mobiliário,
espelhos, brinquedos, livros, lápis, papéis, tintas,
pincéis, tesouras, cola, massa de modelar, argila, jogos
os mais diversos, blocos para construções, material
de sucata, roupas e panos para brincar etc. devem
ter presença obrigatória nas instituições de educação
infantil de forma cuidadosamente planejada. (BRASIL,
1998, p. 69-71).
A instituição apresenta os recursos materiais
em consonância com o trabalho desenvolvido.
E também de forma acessível e segura como
propõe o RCNEI. Conforme isso aconteça poderse-á proporcionar as crianças nesse momento que
“usar, usufruir, cuidar e manter os materiais são
aprendizagens importantes nessa faixa etária”
(BRASIL, 1998, p. 71).
Um espaço importante que percebemos
foi a brinquedoteca. Segundo Krieger (s/d, p. 3)
“a brincadeira para a criança é um espaço de
investigação e conhecimento de si mesma e do
mundo”. Em conformidade o RCNEI aponta que “os
brinquedos constituem-se, entre outros, em objetos
privilegiados da educação das crianças” (BRASIL,
1998, p. 71). Então ter contato com uma gama de
brinquedos possibilita á criança dar significados
as suas relações interpessoais, e corrobora na
construção sócio-afetivo-emocional, tanto quanto no
processo ensino-aprendizagem.
Quanto à Educação Física, esta se configura
como momento importante na educação básica.
Ela deve ter autonomia e atuação como qualquer
outra disciplina na escola, e ainda mais, deve ser
uma disciplina da e para a escola, sem se tornar
auxiliar em detrimento de outras. Neste instante
percebemos que na Creche Menino Jesus a Educação
Física não toma características de disciplina auxiliar –
se é possível dizer que a Educação Infantil é composta
por disciplinas. Porém de fato percebe-se que a ampla
diversidade de materiais destinados às atividades da
Educação Física caracterizam sua importância nesse
momento da formação das crianças atendidas pela
creche.
A instituição apresenta uma gama de
materiais que possibilitam desenvolver aulas
significativas às crianças, conforme apontam os
órgãos competentes que pensam essa faixa etária e
momento de ensino. Pensar os espaços e materiais
é parte do processo de construção do plano de
ensino, e da organização didático-metodológica
das atividades de aprendizagem. Isso tem que ver
com a qualidade do ensino prestado neste âmbito,
uma vez que esse tempo-espaço deve proporcionar
o desenvolvimento integral das crianças. Assim
estruturar as aulas de Educação Física pautando-se
nos preceitos de acessibilidade e segurança, pode
gerar momentos de aprendizado e de relações
interpessoais onde as crianças tenham acesso à
construção do conhecimento de forma prazerosa e
lúdica.
4 SEMIOSES E ALTERIDADES: REFLEXÕES POR UMA
EDUCAÇÃO (FÍSICA) INFANTIL)
Episteme - Revista Científica da Faculdade Católica Salesiana do Espirito Santo
[...] e lembremos que, quando o outro é uma criança,
a linguagem oral não é central e nem única, ela é
fortemente acompanhada de outras expressões
corporais, gestuais e faciais. Isso já nos indica alguns
dos problemas metodológicos envolvidos na pesquisa
com crianças (ROCHA apud SILVA; BAUMEL, 2009, p. 2).
Levando-se em conta a teoria semiótica
peirceana, constata-se que a linguagem verbal
não é a matriz fundamental da expressão humana.
Desta forma não se corre o risco de diminuir as
possibilidades do universo fenomênico do poder ser.
Entretanto a linguagem verbal é uma das formas de
semioses – entendida como o processo de produção
de signos/linguagem (SILVA et al, 2007). Percebemos
em nossas experiências como formas de semioses
todas aquelas vivenciadas pelas crianças no seu
cotidiano, atentando para aquelas que compõem a
cultura corporal de movimento (COLETIVO, 1992),
como por exemplo: os jogos, as brincadeiras,
as brincadeiras cantadas. Outro elemento que
percebemos importante na mediação da construção
do conhecimento está na contação de histórias,
do “faz de conta”, que proporciona às crianças o
desenvolvimento nos aspectos motores, sociais,
afetivos e cognitivos.
Sob esta ótica intenta-se eleger como
imperativo realizar uma inter-locução (diálogo) de
forma que as crianças possam interagir construindo
Isto implica dizer que devemos deslocar a concepção novos signos, uma vez que, “em todos os contextos
que temos de “infans” como o não-ser (impotente), o do se-movimentar há produção de signos e de
não-ter (capacidade, formação) e o não-saber (falar, relações interpretantes” (BETTI, 2007, p. 216).
produzir, criar), para concebê-la como uma potência, Ao proporcionar as crianças nesse momento
uma afirmação. As crianças são formadas social, experiências significativas pretende-se oportunizar a
histórica e culturalmente, é verdade, mas também ampliação de sua leitura de mundo, de suas vivências
são formadoras; elas são pensadas social, histórica e e dos significados que lhe atribuem, tanto quanto
culturalmente, mas também elas próprias pensam. aos valores que poderão ser trabalhados como a
(SILVA et al, 2007, p. 4).
cooperação, respeito, afetividade, amorosidade e
solidariedade.
Muitos professores acabam por supervalorizar
a linguagem verbal em sua prática pedagógica, É necessário realizar um trabalho que vise as
remetendo ao pensamento de que “o hábito de crianças como sendo produtoras de conhecimento,
acreditar que a representação linguística é aquela participantes ativas das atividades propostas, e não
que constitui a racionalidade” (SILVA et al, 2007, meros “bonecos” que possamos inferir o que irão
p. 4). Porém, percebe-se que esse pensamento fazer ou não. De forma integrada e concomitante
menospreza a criança, colocando-a no paradigma através de experiências no Se-movimentar,
do “vir a ser”, e assim acaba por fechar o fluxo de abordando a infância como espaço de construção
possibilidades do seu desenvolvimento integral. de signos, através de elementos advindos dos jogos,
Concernente a esse pensamento Rocha apud Silva e brincadeiras, brincadeiras cantadas e contação
Baumel (2009) alerta-nos a respeito de atentarmos de história, momentos que estarão a dispor das
crianças em sua construção enquanto alteridade/
às diferentes linguagens “verbais” e “não verbais”.
Vitória-ES, 2013, vol.02, nº1, p.23-29
27
EDUCAÇÃO FÍSICA
Percebemos que a infância é um momento
importante na vida do indivíduo. Uma vez configurada
no início de uma caminhada que não tem volta, cabe
a esses continuarem, assim desenvolvendo seus
aspectos bio-psico-sócio-culturais. Este momento
configura-se numa fase de possibilidades únicas
às crianças – que muito pouco se sabe sobre elas
mesmas enquanto suas manifestações empíricas/
concretas – pois no momento que deixamos de
ser perdemos o que se chama de “arte infantil”
(MALRAUX apud SILVA et al, 2007). Esse pensamento
não consubstancia quanto à criança como tendo um
talento, mas no tocante do talento que tem a criança,
de ser o aqui-agora.
Pensar uma Educação (Física) Infantil implica
perceber como fator importante o deslocamento da
esfera do conhecimento para a do pensamento, ou
seja, compreender “as crianças como alteridades, e
que, portanto, também pensam, produzem saberes
e não, obrigatoriamente, somente recebem os
saberes nossos, de adultos” (SILVA et al, 2007, p. 4).
Assim poder-se-á orientar outra concepção a não
ser aquela visão bancária verticalizada apontada
por Paulo Freire (1996), do professor que domina
o conhecimento depositando-o na cabeça dos seus
alunos. Neste ponto concordamos com Silva et al
(2007) no momento que sua visão de infância alça
olhares para além do que, de forma maçante, tem-se
pensado a respeito desses sujeitos.
EDUCAÇÃO FÍSICA
singularidade, levando em conta os aspectos físicomotores, cognitivos, afetivos, sociais e culturais
pensando assim a criança como um ser completo, total
e indivisível. Dessa forma aspira-se organizar ações
pautadas nas vivências da cultura de movimento.
A educação deve ser alegre, motivante e
contagiante. Deve assegurar a criança recursos para
que possa se desenvolver, e não somente se adaptar
para a vida em sociedade. Educar está para além de
adestrar. Por isso percebemos que o diálogo “verbal”
e “não verbal” são formas das crianças interagirem
durante as aulas. Assim poder-se-á promover aulas
significativas que atendam a construção de crianças
alegres e críticas – porque não?! – nas suas ações e
interpretações ético-estéticas.
porque “a criança se doa às possibilidades do
presente” (SILVA et al, 2007, p. 7), ou seja, ela não
se preocupa com o que ela é ou tem. Severamente
essa condição se perde quando a criança deixa de
ser criança, quando lhe são inculcadas metáforas do “o que
Com respeito à semiótica aqui pensada é
na experiência vivida que a própria alteridade irá
se manifestar, produzir, confrontar e evoluir em
seu universo cultural. Ora, é na mediação que uma
práxis pedagógica em Educação (Física) Infantil
pode configurar-se de forma comprometida, assim
propondo novos horizontes pedagógicos neste nível
educacional. É imperativo estarmos atentos de que
devemos procurar conhecê-las. “Como é ser criança,
quais seus interesses, quais suas necessidades, o que
ela sabe: eis o nosso objeto de desejo” (SILVA et al,
2007, p. 9).
As crianças são formadas sócio-históricoculturalmente, mas elas também são formadoras.
Pensa-se que para efetivar uma prática pedagógica na
Educação (Física) Infantil, é necessário ao professor
ser o interlocutor proporcionando experiências
propícias ao Se-movimentar. Desta forma a criança
poderá então dialogar com o mundo. Neste momento
é importante afirmar que a construção de uma
proposta que realmente se coloque comprometida
com a realidade das crianças não pode ser construída
unilateralmente, então levar em conta os sujeitos
envolvidos nesse tempo-espaço, seus anseios,
desejos e reflexões são de suma importância na
constituição desse processo.
Acreditamos que a Educação (Física) Infantil
é uma fase que proporciona à criança exteriorizar
seus anseios, desejos e experiências, levando-as a
condição de produtores das práticas corporais que
compõe – ou podem um dia vir a compor – a cultura
corporal de movimento. Procuramos perceber a
criança em sua totalidade, assim possibilitando-as
serem construtoras do seu próprio saber e fazer.
Apostamos na brincadeira, no jogo, pois
é isso que as crianças fazem melhor, sendo estes
momentos potencialidades de produção de signos.
Essas atividades compõe um mundo vasto e rico
da cultura infantil, repleta pelo se-movimentar
apresentado nas mais variadas formas. A contação
de histórias também se mostra profícua no momento
que se pretende oportunizar a ampliação da leitura
de mundo da criança, de suas vivências e dos
significados que elas atribuem.
Outro fator que atentamos é o de que as
crianças não são seres cristalizados pela cultura à qual
estão inseridas, elas são o aqui-agora e ainda bem
que assim o seja. É neste momento que poderemos
observar as crianças na esfera empírica. Isso ocorre
28
você vai querer ser quando crescer?”.
Desta forma poder-se-á
mediar atividades
significativas,
onde
as
crianças
poderão
ter experiências que contribuam para seu
desenvolvimento integral enquanto Ser, dentro do
Se-movimentar, destacando sua emancipação das
cristalizações impostas pela sociedade inclusive
aquelas estabelecidas pelos veículos midiáticos,
enfim, de corroborar para a superação de uma
sociedade nos moldes neoliberais.
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movimento: uma perspectiva fenomenológica e
semiótica. Revista da Educação Física/UEM Maringá,
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Vitória-ES, 2013, vol.02, nº1, p.23-29
29
EDUCAÇÃO FÍSICA
Curriculares Nacionais para a Educação Infantil.
Diário Oficial da União, Brasília, 13 de abril de 1999.
Seção 1, p. 18.
Avaliação da percepção do usuário sobre a atuação das equipes
de saúde da família no município de Santa Teresa
Ana Paula Peroni¹, Bruno Walter Ramalho Novelli², Carina Babler³, Maria José Foeger4.
¹Escola Superior São Francisco de Assis - ESFA, Rua Bernardino Monteiro 700 – Dois Pinheiros, 29.650-000,
Santa Teresa - ES, Brasil, [email protected][email protected], ³[email protected],
4
[email protected]
RESUMO
ENFERMAGEM
A Estratégia Saúde da Família - ESF, definida como um programa de reorientação da atenção
à saúde no Brasil tem promovido a substituição do modelo tradicional assistencialista e
centrado na cura, por um novo modelo focado na prevenção de doenças e na promoção
de saúde. A expansão da ESF ampliou o acesso ao Sistema Único de Saúde, sendo assim, o
desafio está na melhoria da qualidade das ações e serviços prestados. Este projeto avaliou a
percepção do usuário sobre as equipes da Saúde da Família no município de Santa Teresa-ES,
por meio de entrevistas realizadas com 246 usuários, seguindo um roteiro pré-estabelecido
que abordou as mudanças quanto à assistência à saúde a partir da implantação da ESF.
Os usuários consideraram um melhor acesso aos serviços de saúde após a implantação
da ESF, sendo que 66,77% dos entrevistados buscam o atendimento na unidade da ESF.
O atendimento recebido foi avaliado como bom, numa escala que variou de excelente a
péssimo. As principais dificuldades relatadas foram: o atraso para início do atendimento
e a ausência de um local para repouso e/ou observação dos pacientes. Concluiu-se que o
trabalho desenvolvido pelas equipes nestas localidades vem contribuindo para a melhoria
na qualidade de saúde dos usuários da ESF e que estes são fundamentais no processo de
avaliação e consolidação da ESF.
Palavras-chave: Atenção á Saúde; Promoção da Saúde; Sistema Único de Saúde; Profissional
da Saúde; Avaliação em Saúde.
ABSTRACT
The Family Health Strategy - ESF, defined as a program of reorientation of health care in
Brazil, has promoted the replacement of the traditional welfare model and focused on
healing, a new model focused on disease prevention and health promotion. The expansion
of the ESF expanded access to the Unified Health System, so the challenge is to improve the
quality of actions and services. This project evaluated the perception of the User’s teams
on Family Health in Santa Teresa-ES, through interviews with 246 users, following a predetermined, as discussed changes to health care from the implantation of the ESF. Users
found a better access to health services after the implementation of the ESF, and 66.77%
of respondents seek medical care in the ESF. The care received was assessed as good, on a
scale ranging from excellent to awful. The main difficulties reported were: the delay to start
of care and the lack of a place to rest and / or observation of patients. Concluded that work
teams in these cities has contributed to the improvement in quality of health of users and
the ESF that they are fundamental in the process of evaluation and consolidation of the ESF.
Keywords: Health Care; Health Promotion System Unit; Professional Staff Health; Evaluation Health.
30
Episteme - Revista Científica da Faculdade Católica Salesiana do Espirito Santo
A crise do modelo da Saúde Coletiva,
historicamente marcado pelo modelo de atenção
centrado na cura das doenças, superespecializado
e hospitalocêntrico, suscitou a emergência de
propostas que visassem à transformação do sistema
de atenção em saúde, de suas práticas e do processo
de trabalho (TRAD; BASTOS, 1998).
A Conferência Internacional sobre Cuidados
Primários em Saúde, em Alma Ata, no ano de 1978,
teve papel fundamental na construção da proposta de
atenção primária em saúde, já que elevou a atenção
primária em saúde como a estratégia para se alcançar
a meta de Saúde para Todos no Ano 2000, definida
pela Assembléia Mundial da Organização Mundial da
Saúde (OMS), em 1977 (CALVO; HENRIQUE, 2008).
Nos primeiros anos da década de 1990, a
descentralização e o crescente papel dos municípios
no controle e execução das ações de saúde
favoreceram o acesso das populações aos cuidados
básicos de saúde, o que ocasionou avanços no
processo de reformas, bem como novas demandas a
partir do novo perfil epidemiológico e da ampliação
da consciência social e de novos problemas.
A questão do acesso e da qualidade dos
serviços de saúde ofertados à população passou a se
constituir num grande desafio.
Esse desafio tornou evidente a necessidade de
transformação do modelo de atenção. Para enfrentar
esta nova realidade, o Ministério da Saúde lançou,
em 1994, o Programa Saúde da Família (PSF), uma
estratégia de redirecionamento da atenção à saúde,
baseada nos princípios do SUS como: universalidade,
integralidade, equidade e resolubilidade.
Tendo como precursor o Programa de Agentes
Comunitários - PACS, o PSF em sua concepção inicial
tinha como principal propósito tornar-se “porta de
entrada” do usuário ao SUS e ampliar o acesso da
população aos serviços de saúde.
No entanto, a atenção básica a saúde não
pode ser enfocada apenas como mera ”porta de
entrada”, ela deve resolver de 80 a 85% da demanda
de saúde (SANTOS, 2002).
Desta forma, a avaliação e o monitoramento
das ações de saúde constituem-se nos principais
pilares para assegurar a integralidade e a qualidade
da atenção à saúde aos usuários do SUS. Entretanto, a insuficiência e a precariedade
frequentes dos sistemas de informação disponíveis
não têm permitido a construção dos indicadores
necessários para o monitoramento e avaliação do
Vitória-ES, 2013, vol.02, nº1, p.30-36
desempenho do sistema nacional de saúde.
Nos documentos mais atuais, como Avaliação
da Implementação do Programa Saúde da Família
em Dez Grandes Centros Urbanos entre outros,
percebe-se a preocupação do Ministério da Saúde
com a avaliação da atenção básica no Brasil, inclusive
pela criação da Coordenação de Acompanhamento e
Avaliação da Atenção Básica (BRASIL, 2004; BRASIL,
2002).
Neste sentido foi proposto realizar no
município de Santa Teresa-ES, um processo avaliativo
da atuação das equipes da Saúde da Família na
percepção dos usuários, uma vez que estes se
caracterizam como importantes parceiros e sujeitos
do programa. O município de Santa Teresa está
localizado a 83 Km de Vitória, capital do Estado do
Espírito Santo. Possui uma área de 694,53 km2
representando 1,5073% do estado, sua população
total é de 20.622 habitantes de acordo com o Censo
Demográfico do IBGE de 2000.
Santa Teresa foi colonizada por imigrantes
italianos que em 1874, deslocaram-se para a região
do atual município. Pelo decreto estadual nº. 3468,
de 17/03/1933 foi elevada à condição de cidade com
a denominação de Santa Teresa.
Em divisão territorial datada de 15/07/1999, o
município é constituído de seis distritos: Santa Teresa
(Sede), Alto Caldeirão, Alto Santa Maria (a qual
pertence à comunidade de Várzea Alegre), Santo
Antônio do Canaã, São João de Petrópolis e Vinte e
Cinco de Julho.
A justificativa para a realização do processo
avaliativo da atuação das equipes da Saúde da
Família no município reside no fato de não ter
ocorrido ainda nenhuma avaliação da ESF sob a ótica
do usuário, diante disso elaborou-se os seguintes
questionamentos: com a implantação da ESF no
município houve mudanças nas condições de saúde
da população? Como está o nível de satisfação dos
usuários? O que a população pode sugerir para
melhorar o desempenho da ESF?
Tendo em vista que a ESF fundamenta o
seu campo de atuação em princípios que buscam
solucionar os problemas de saúde no nível local
a partir de prioridades, e que uma das principais
formas apontadas para solucionar estes problemas
é envolvendo a população; responder a estes
questionamentos tomando por base opiniões
dos usuários, favorece não só o conhecimento de
aspectos do trabalho que vem sendo desenvolvido
pela ESF no município, mas também contribui para
uma maior participação comunitária.
31
ENFERMAGEM
1 INTRODUÇÃO
ENFERMAGEM
2 METODOLOGIA
Este projeto tratou-se de um estudo do tipo
transversal – cujo fator e efeito são observados
num mesmo momento histórico e descritivo – no
qual se busca descrever os fatos e fenômenos de
determinada realidade (ROUQUAYROL, 1994).
Realizou-se um estudo do tipo quantitativo
com entrevistas estruturadas, as quais foram
posteriormente analisadas de forma temática quanto
ao seu conteúdo.
O estudo permitiu observar, descrever e
classificar o desempenho das equipes da Saúde
da Família no município, por meio de entrevistas
realizadas com os usuários seguindo um roteiro préestabelecido que abordou as mudanças quanto à
assistência à saúde a partir da implantação da ESF,
tais como: acesso aos serviços de saúde, qualidade no
atendimento médico-odontológico, disponibilidade
de medicamentos, pontualidade no atendimento,
vacinação e resolubilidade que definirão o nível de
satisfação dos usuários em excelente, bom, regular
ou péssimo.
No estudo foram entrevistados usuários da
Estratégia Saúde da Família dos distritos de: Santo
Antônio do Canaã (criado em maio de 1991), com 919
famílias cadastradas; São João de Petrópolis (criado
em dezembro 1895) com 719 famílias cadastradas;
Alto Caldeirão (criado em maio de 1991) com 598
famílias e Alto Santa Maria (criado em dezembro
1895) com 834 famílias cadastradas no Sistema de
Atenção Básica – SIAB.
Aplicou-se uma delimitação amostral de 10% sobre
o número total de famílias cadastradas nos quatro
distritos selecionados para a pesquisa, tendo sido
adotado desta forma, uma média de 80 entrevistas
com os usuários de cada distrito.
Foram assegurados aos participantes, o
sigilo e o anonimato de suas falas e exposições. Os
sujeitos tiveram participação livre no estudo, e foram
fornecidas as informações necessárias a torná-los
conscientes sobre a decisão em participar ou não da
pesquisa.
Os resultados foram organizados em duas
categorias: caracterização dos sujeitos da pesquisa,
agrupando informações sobre sexo, faixa etária, nível
de escolaridade e ocupação; e percepção dos usuários
sobre a atuação da ESF contemplando dados sobre
as mudanças no serviço de saúde oferecido, nível
de satisfação dos usuários entrevistados, nível de
resolução dos problemas apresentados, dificuldades
no serviço, pontos relevantes da Estratégia Saúde
da Família - ESF e contribuições dos usuários para
melhoria da qualidade e do funcionamento da
Estratégia Saúde da Família - ESF (AGUIAR; MOURA,
2004).
Após a tabulação dos dados estes foram
apresentados em tabelas e gráficos que possibilitaram
uma melhor visualização e discussão dos resultados.
32
Episteme - Revista Científica da Faculdade Católica Salesiana do Espirito Santo
3 RESULTADOS
Caracterização dos entrevistados da pesquisa
A pesquisa teve a participação de duzentos e
quarenta e seis (246) pessoas, sendo que 82,52% dos
entrevistados eram do sexo feminino e 17,48% do
sexo masculino, ou seja, houve uma predominância
na procura pelos serviços de saúde por mulheres.
A faixa etária dos usuários entrevistados variou entre
15 e 60 anos, predominando a faixa dos 36 aos 60
anos, com 46,56% dos entrevistados na pesquisa.
Com relação à escolaridade foram constatados os
dados apresentados na figura 1.
ESCOLARIDADE
4% 1% 4%
23%
7%
14%
Analfabetos
E.F. Incompleto
E. M. Incompleto
E. Superior
13%
34%
Sabe ler e escrever
E.F.Completo
E. M. Completo
Pós- Graduação
Figura 1. Nível de Escolaridade dos Usuários da ESF em Santa
Teresa-ES.
Fonte: Dados coletados em entrevistas realizadas com os
usuários do município.
Quanto à atividade profissional, 52,84%
dos entrevistados eram lavradores; 26,83% eram
diaristas, professores, auxiliar de serviços gerais,
faxineira, oleiro, aposentados, entre outros; 15,04%
se ocupavam de tarefas domésticas, correspondendo
ao universo feminino e 5,28% eram estudantes.
Percepção dos usuários sobre a atuação da ESF
Com o objetivo de avaliar se o usuário tem
identificado o ESF como porta de entrada ao Sistema
Único de Saúde, foi questionado a este, se em caso
de doenças, qual seria o primeiro local pela busca de
atendimento.
Como resultado deste questionamento, obteve-se os
seguintes dados apresentados na figura 2.
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Em parte
Totalmente
Nada resolve
Figura 3. Resolubilidade dos problemas de saúde por meio da ESF
Fonte: Dados coletados em entrevistas realizadas com os
usuários do município.
A avaliação do usuário quanto ao atendimento
recebido está disposto na figura 4.
Avaliação quanto o Atendimento
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Excelente
Bom
Regular
Ruim
Figura 4. Avaliação do usuário em relação ao atendimento recebido
Fonte: Dados coletados em entrevistas realizadas com os
usuários do município.
Durante a entrevista com os usuários foi
aberto um espaço para que eles pudessem deixar
sugestões no sentido de melhorar o funcionamento
da ESF em sua localidade, as quais foram listadas na
tabela 1.
Tabela 1. Sugestões dos usuários para melhorias da
ESF no município.
SUGESTÕES
S.A
Canaã
S.J
Petrópolis
A.
Caldeirão
V.
Alegre
TOTAL
Assistência médica e
odontológica mais completa
45
40
26
37
148
Pontualidade no
atendimento
36
51
34
9
130
Disponibilidade de
um pediatra na equipe
52
54
21
43
170
Implantação de uma sala de
repouso e/ou observação
39
40
36
34
149
Uso de uniformes por
toda a equipe
10
25
13
7
55
Serviço de assistência ao
parto normal
10
13
2
11
36
Melhoria de transporte do
paciente
24
16
31
10
81
Fonte: Dados coletados em entrevistas realizadas com os
usuários do município
4 DISCUSSÃO
Dentre os entrevistados 87,80% disseram que
Considerando que a Estratégia Saúde da
após a implantação da Estratégia Saúde da Família Família
(ESF) busca solucionar os problemas de
em sua localidade houve uma melhoria no acesso
Vitória-ES, 2013, vol.02, nº1, p.30-36
33
ENFERMAGEM
aos serviços de saúde, ao passo que 12,20% não
identificaram melhorias.
Busca pelo Atendimento
Sobre as melhorias identificadas pelos
100%
usuários, foram listadas as seguintes, com as
90%
80%
respectivas frequências com que foram citadas:
70%
melhoria do acesso ao serviço de saúde (114), melhor
60%
50%
acesso ao atendimento médico e do dentista (141),
40%
atendimento na própria comunidade (149), oferta
30%
20%
de serviço diariamente (81), disponibilidade dos
10%
medicamentos (155), vacinação (136) e verificação
0%
Hospitais
Farmácias
Outros
ESF
da pressão arterial (129).
Já em relação às dificuldades enfrentadas
Figura 2. Locais de busca de atendimento em casos de doenças. destacaram-se:
atraso em relação ao início do
Fonte: Dados coletados em entrevistas realizadas com os
atendimento, ausência de lugar para repouso/
usuários do município.
observação para pacientes, ausência de ambulância
Quando questionados sobre a resolubilidade para transporte do paciente.
de seus problemas de saúde por meio dos serviços Como forma de avaliar as experiências que se
oferecidos pela ESF observaram-se os dados mostraram produtivas após a implantação da ESF nas
apresentados na figura 3.
comunidades, foi questionado aos usuários o que
eles consideravam de mais positivo na ESF. Um dos
pontos mais citados foi atendimento proporcionado
Resolubilidade
pela equipe, seguido da garantia de vacinas, e o
100%
atendimento oferecido especificamente por algum
90%
80%
membro da equipe.
ENFERMAGEM
saúde a partir de prioridades, e que uma das
formas apontadas para solucionar estes problemas
é envolvendo a população, há necessidade de se
conhecer as características da população assistida.
Os dados encontrados nesta pesquisa revelaram uma
predominância na procura pelos serviços de saúde
por mulheres, o que não foge à realidade do tipo de
demanda da maioria dos serviços de saúde.
Alguns autores associam esse fato à própria
socialização dos homens, em que o cuidado não é visto
como uma prática masculina. A procura por serviços
de saúde se encontra intimamente relacionada ao
que se entende por ser homem, uma vez que falar
de seus problemas de saúde pode significar uma
demonstração de fraqueza, de feminilização perante
a sociedade em que ele vive. (GOMES,2008).
Outro fator apontado para o menor percentual
de homens são os horários de funcionamento dos
serviços de saúde, aos quais são incompatíveis com
o horário da jornada de trabalho, justificando assim
a baixa presença desses usuários nas unidades de
saúde. Portanto, se as ESF estão comprometidas
com uma abordagem na perspectiva da família,
estas devem proporcionar condições de aproximar
os homens dos serviços de saúde e vice-versa, bem
como valorizar as atividades de visita domiciliar que
também possibilita o contato com a família.
Em relação a faixa etária dos usuários
entrevistados, observou-se uma maior procura pelos
serviços de saúde entre usuários na faixa dos 36 aos
60 anos, seguido da faixa dos 21 aos 35 anos. É preciso
lembrar a importância de se englobar na pesquisa
as diferentes faixas etárias visto que as demandas,
necessidades de saúde e percepções sobre o serviço
de saúde variam de acordo com a faixa etária dos
indivíduos.
Com relação ao nível de escolaridade foi
possível observar que dentre 13% dos entrevistados
sabiam ler e escrever, 14% possuía o Ensino
Fundamental Completo e 23% o Ensino Médio
Completo, isto tem impacto direto no nível de
saúde da população, uma vez que a educação bem
como o status profissional configura determinantes
estruturais de saúde ou de determinantes sociais de
iniquidades de saúde.
A Estratégia Saúde da Família foi consolidada
como estratégia prioritária para a reorganização da
Atenção Básica no Brasil. A portaria Nº. 2.488/2011
(BRASIL, 2011) a qual revogou a portaria nº. 648/2006
estabelece revisão das diretrizes e normas para a
organização da Atenção Básica, além de aprovar a
Política Nacional de Atenção Básica para a Estratégia
Saúde da Família (ESF).
Considerando que um dos fundamentos
da Atenção Básica é possibilitar o acesso universal
e contínuo a serviços de saúde de qualidade,
reafirmando os princípios básicos do SUS, foi
questionado ao usuário, se em caso de doenças, qual
seria o primeiro local pela busca de atendimento.
De acordo com os dados apresentados foi possível
perceber que os usuários têm identificado o ESF
como “porta de entrada” ao Sistema Único de Saúde,
visto que quando questionados qual seria o primeiro
local pela busca de atendimento apontaram o ESF
como primeira opção. Isso traduz o processo de
des-hospitalização e humanização do Sistema Único
de Saúde que vem ocorrendo no Brasil nas últimas
décadas.
O Decreto nº. 7.508, de 28 de julho de 2011,
(BRASIL, 2011) que regulamenta a Lei nº. 8.080/90
define que “o acesso universal, igualitário e ordenado
às ações e serviços de saúde se inicia pelas portas de
entrada do SUS e se completa na rede regionalizada
e hierarquizada”. Neste sentido, a Atenção Básica
deve cumprir algumas funções para contribuir com
o funcionamento das Redes de Atenção à Saúde, e
dentre estas se encontra a resolubilidade.
Quando questionados sobre a resolubilidade
de seus problemas de saúde por meio dos serviços
oferecidos pela ESF, muitos dos usuários disseram que
a ESF resolvia apenas em parte dos seus problemas.
Sobre essa questão, é importante ressaltar que os
profissionais que atuam no ESF devem esclarecer à
população adstrita a respeito da hierarquização dos
serviços de saúde, explicando o poder de resolução
da atenção primária contando com um serviço
organizado e a parceria de cada indivíduo, família e
comunidade.
Esse esclarecimento é fundamental para que
a própria população possa participar do processo de
organização da demanda nos três níveis de atenção.
No que se refere à avaliação do usuário
quanto ao atendimento recebido, os dados obtidos
revelaram predominância do nível de satisfação
como bom, ou seja, a maior parte dos entrevistados
considera que a ESF tem conseguido em parte,
atender e resolver de forma satisfatória os problemas
de saúde da população adstrita.
No geral, esses resultados são bastante
animadores, tendo em vista que a maior parte dos
usuários entrevistados foi capaz de identificar ou não
as melhorias com relação ao serviço de saúde a partir
da implantação da ESF em sua localidade. Entretanto,
é preciso que a ESF esteja atenta para o fato de que a
34
Episteme - Revista Científica da Faculdade Católica Salesiana do Espirito Santo
Vitória-ES, 2013, vol.02, nº1, p.30-36
em localidades distantes dos principais centros, onde
se concentram serviços de saúde mais complexos.
Além desta sugestão, também foi citada
a disponibilidade de um pediatra na equipe e
implantação de uma sala de repouso e/ou observação.
A partir da pesquisa desenvolvida junto aos usuários
da Estratégia Saúde da Família nas localidades
do município de Santa Teresa, pode-se constatar
que o trabalho desenvolvido pelas equipes nestas
localidades vem contribuindo para a melhoria na
qualidade de saúde dos usuários da ESF.
Isto pode ser verificado a partir dos resultados
obtidos nos quais 61,77% dos usuários entrevistados
avaliou como bom o atendimento prestado pelas
equipes da ESF. No entanto, no que se refere ao nível
de satisfação dos usuários, deve-se considerar que
muitas vezes há uma baixa expectativa destes em
relação ao Sistema Único de Saúde oferecido.
Neste sentido é de fundamental importância
estimular a conscientização da população, para
que ela se torne gradativamente ativa e parceira
nesse processo de mudança do sistema de saúde.
A escuta do usuário torna-se imprescindível ao
processo de avaliação da atuação da ESF, uma vez
que estes são capazes de apontar as melhorias e os
desafios a serem superados para que se consiga a
implementação de um serviço de saúde universal,
equitativo, democrático, resolutivo e de qualidade.
ENFERMAGEM
expectativa da maioria da população atendida no SUS
é baixa, soma-se ainda a este fato, o conformismo, o
medo de reclamar e ser mal entendido e o viés da
simpatia por quem está entrevistando ser um dos
membros da ESF.
Entre as melhorias identificadas as mais
citadas foram: melhoria do acesso ao serviço de
saúde, melhor acesso ao atendimento médico e
do dentista atendimento na própria comunidade.
As melhorias apontadas pelos usuários são de
grande importância, uma vez que a proposta da
ESF é justamente a promoção da saúde, prevenção,
recuperação, reabilitação de doenças e agravos e
manutenção da saúde da comunidade adstrita.
A garantia da integralidade e a qualidade dos
serviços à saúde requerem que a atenção prestada
à população, em diferentes níveis, tenha capacidade
de reconhecer adequadamente a variedade de
necessidades e demandas relacionadas à saúde das
comunidades e oferecer os recursos adequados para
empreendê-las.
Dentre as dificuldades apontadas pelos
usuários das ESF do município de Santa Teresa
destacaram-se: o atraso em relação ao início do
atendimento, que parece estar relacionado com a
moradia de alguns membros da ESF ser na sede do
município de Santa Teresa; e a ausência de lugar para
repouso/observação para pacientes.
É importante entender a hierarquização
dos serviços de saúde e o papel da ESF nesta
hierarquização, visto que não é objetivo da ESF criar
centros de internações, no entanto uma infraestrutura
mínima de repouso e observação deve ser garantida.
O Ministério da Saúde determina prestar
assistência integral à população adstrita, respondendo
à demanda de forma contínua e racionalista,
garantindo o acesso à continuidade do tratamento
dentro de um sistema de referência e contrareferência para os casos de maior complexidade ou
que necessitem de internação hospitalar.
A avaliação tem o potencial de envolver o
cidadão na construção de um modelo de saúde
universal e igualitário, e dentro desta perspectiva a
participação dos usuários torna-se imprescindível na
implantação da ESF.
A ESF deve estar atenta para abrir canais de
participação aos usuários dentro dos serviços de
saúde e que seja de maneira sistemática e contínua.
Neste sentido, os usuários entrevistados da ESF
de Santa Teresa apresentaram como sugestões:
assistência médica e odontológica mais completa, isto
perfeitamente explicado pelo de fato de residirem
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36
Episteme - Revista Científica da Faculdade Católica Salesiana do Espirito Santo
Bioprocessos e Bioprodutos em uma era sustentável
Filipe Dalla Bernadina Folador1, Helber Barcellos da Costa2, Mauricio da Silva Mattar3
Faculdade Católica Salesiana do Espírito Santo, Av. Vitória, 950, Forte São João, Vitória-ES,
CEP: 29017-950, [email protected]; [email protected];
3
[email protected]
RESUMO
FARMÁCIA
Significativa atenção tem sido direcionada aos recursos naturais disponíveis no que se diz
respeito à disponibilidade destes para as futuras gerações bem como conservação do meio
ambiente e o impacto que as ações antrópicas têm gerado sobre os ecossistemas. Desta
forma, pretende-se relacionar os principais avanços da ciência que caminham em paralelo
às tendências de sustentabilidade. Destaca-se, no bojo das discussões sustentáveis, a
biotecnologia e os avanços por ela direcionados, que vão desde a fermentação tecnológica
até a engenharia genética de microorganismos, além do uso de técnicas cromatográficas
alinhadas com a purificação de bioprodutos. Seja para minimizar o impacto ambiental
através do aproveitamento de resíduos e diminuição do uso de aditivos químicos ou para
otimizar bioprocessos de obtenção e purificação de produtos de origem biológica, as
novas tecnologias colocam-se como importantes alicerces para as perspectivas de uma
recentemente implantada era sustentável.
Palavras-chave: Biotecnologia, Alta Pressão Hidrostática, Cromatografia, Fermentação.
ABSTRACT
Preservation of natural resources has been emphasized in recent discussions about their
availability for next generations, especially because human actions have been shown
damages on the environment. Considering this situation, it is important to point out the
mainly scientific advances and discoveries which represent new trends in sustainability.
Technological fermentation, genetic engineering and bioprocess like chromatography
correspond to biotechnological techniques applied to development of bioproducts, such as
those obtained from byproducts that are environmental contaminants or promotion of new
products characterized by chemical additives less. These technologies can be considered
important basis for perspectives about new comprehension of a sustainable world.
Keywords: Biotechnology, High Hydrostatic Pressure, Chromatography, Fermantation.
1 INTRODUÇÃO
A temática sustentabilidade cada vez mais
se desvincula de um campo teórico e de desejos
de implantações práticas para a real instituição de
ações nas mais diversas áreas da atividade humana.
O alarde generalizado acerca da continuidade
dos recursos naturais para as próximas gerações
engendrou movimentações importantes no campo
científico, muito inclinado em desenvolver propostas
para minimização do impacto sócio-ambiental
oriundo das novas tecnologias.
Vitória-ES, 2013, vol.02, nº1, p.37-42
A biotecnologia é um instrumento balizador dessa
tendência. Inserida nos setores farmacêutico,
cosmético, químico, alimentício, têxtil e energético,
gera bioprodutos de baixo impacto com alto valor
comercial agregado, posto que bioprocessos
valem-se de mecanismos de produção com menos
desperdícios de materiais e energia (OECD, 2001).
Deve se destacar a grande atenção voltada
aos materiais ligno-celulósicos, importantes fontes
de carbono passíveis de serem transformados
em biocombustíveis por microrganismos não
recombinantes
ou
mesmo
engenheirados
37
FARMÁCIA
geneticamente. Estes desenvolvimentos são
encorajados pela potencial redução do efeito estufa e
da emissão de gases (ROGERS; JEON; SVENSON, 2005),
além de dar destinação a estes materiais, pois em
muitas situações são reconhecidamente subprodutos
de atividades agrícolas e de processamento de
alimentos, por exemplo.
É importante mecionar também as leveduras
modificadas geneticamente que secretam diesel,
diferente daquelas conhecidas por secretarem como
produto da fermentação moléculas de etanol.
Não menos importante, deve-se chamar
atenção de bioprodutos no ramo farmacêutico a partir
da produção de substâncias de valor terapêutico por
Organismos Geneticamente Modificados (OGM),
como a obtenção de proteínas heterólogas a partir de
lavouras de tabaco, milho e outros vegetais (HOOD;
HOWARD, 2002), processos biotecnlógicos esses que
foram capitaneados especialmente pela produção da
insulina por microrganismos que sofreram alterações
em seu código genético.
A obtenção de enzimas acompanha, portanto,
essa perspectiva, haja vista serem sistemas catalíticos
de muito interesse em diversas áreas, por exemplo
em sínteses químicas, procedimentos estes que são
potencialmente geradores de resíduos poluentes
e de alta periculosidade (OLIVEIRA; MANTOVANNI,
2009).
Tendo em vista a enormidade de bioprocessos
e bioprodutos gerados, este trabalho objetiva-se
em expor aqueles relacionados à biotecnologia
e que sejam instrumentos fomentadores da
sustentabilidade, no sentido de se apropriar de
produtos ou subprodutos de baixo interesse sócioeconômico e, a partir do processamento, obter novas
aplicações.
de proteínas e componentes da farmacoterapia,
inseridos no ramo farmacêutico.
A biotecnologia, conforme é desenvolvida
hoje, congrega uma série de ciências, dando-lhe
o caráter multidisciplinar, e permite a realização
de trabalhos com moléculas, células, tecidos e
organismos vivos, sendo desenvolvidos em uma
esfera tecnológica com vistas para o avanço
do conhecimento e estabelecimento de novas
tecnologias (MATTAR, 2010).
Neste sentido, a biotecnologia não se resume
aos processos fermentativos exclusivamente, mas
também à manipulação do conteúdo genético
de organismos vivos vislumbrando melhorias de
suas qualidades ou alterações para síntese de
determinadas substâncias. Além disso, ela se vale de
ferramentas importantes que permitem a exploração
dos organismos para obtenção e purificação de
substâncias naturalmente produzidas ou sintetizadas
a partir das referidas modificações. Destacamse, por exemplo, a cromatografia e a alta pressão
hidrostática como importantes técnicas inseridas no
rol dos bioprocessos.
38
Episteme - Revista Científica da Faculdade Católica Salesiana do Espirito Santo
2.1 ALTA PRESSÃO HIDROSTÁTICA
A alta pressão hidrostática (HHP) apresenta
variada aplicabilidade. Instigou a comunidade
científica quando foi verificada a sobrevivência de
organismos vivos em regiões potencialmente adversas
à presença da vida, onde as pressões são elevadas
(AERTSEN et al., 2009). Atualmente a avaliação deste
interferente físico na modulação gênica e inativação
de microrganismos têm sido objetos de estudo.
HHP, em uma de suas aplicações, corresponde a
um alternativa técnica de processamento de alimentos
por vias não térmicas. A conservação de alimentos
2 HISTÓRICO
por HHP foi iniciada por Hite no final do século XIX,
objetivando a eliminação de microrganismos do leite.
A biotecnologia, na magnitude conhecida O Brasil ainda não apresenta posição de destaque
atualmente, desenvolveu-se de fatos pregressos quanto à utilização desta tecnologia para estes fins,
especialmente fundamentados nos processos que pode dispensar temperatura e aditivos químicos
fermentativos para a produção tanto de pães quanto na preservação de alimentos. Todavia, pesquisas têm
de vinhos. No final do século XIX, destacam-se os demonstrado a larga possibilidade de se aplicar HHP
trabalhos dos cientistas Eduard Büchner, que enunciou para conservar diferentes tipos de alimentos, por
a fermentação apenas com enzimas extraídas de exemplo a descontaminação da água de coco verde
leveduras, e Emil Fisher, inclinado no estudo da (COIMBRA, 2009; MATTAR, 2010).
especificidade das enzimas (BUCHOLZ; KASCHE; Mattar (2010) demonstrou que um
BORNSCHEUER, 2005; OLIVEIRA; MANTOVANNI, determinado tratamento por HHP possibilitou, por
2009). Foram, dessa forma, responsáveis por abrir exemplo, a redução em 4, 2 e 5 ciclos logarítmicos
caminhos para o desenvolvimento de diversos gêneros para microrganismos mesófilos, psicrotrófilos
de produtos, desde combustíveis à complexidade e bolores e leveduras, respectivamente, para
SARTORELO, 2004).
Como, geralmente, são empregados vários
estágios na recuperação dos produtos, o rendimento
global de cada produto depende tanto do número de
estágios necessários, quanto do rendimento individual
de cada um deles. Assim, torna-se necessário buscar,
no estudo da recuperação de biomoléculas, uma
redução no número de estágios, assim como uma
otimização do rendimento de cada um. Uma forma
de reduzir o número de etapas de recuperação e
purificação do produto é o desenvolvimento de
processos de alta produtividade e alto rendimento
(FREIRE; SANTANNA Jr.)
As técnicas cromatográficas aliadas à busca
de novos fármacos, bioprodutos ou substâncias
com potencial farmacológico e/ou terapêutico têm
demonstrado crescente interesse de pesquisadores
e das indústrias farmacêuticas na busca de
possibilidades analíticas que permitam maior rapidez
e eficácia na descoberta de substâncias bioativas.
(FERRARI et al.; 2008).
Relevante citar nesse momento o processo
de purificação da insulina recombinante. O produto
recombinante apresenta algumas impurezas
derivadas da utilização da Escherichia coli que
podem levar à resposta imunogênica. A purificação
da insulina obtida é essencial e ocorre em colunas
cromatográficas que exploram a interação molecular
dos compostos com as fases da coluna (WALSH,
2003).
Na esfera sustentável esse aspecto toma
uma dimensão ainda maior. Pesquisas têm sido
intensificadas na busca de novos processos viáveis
de purificação de substâncias bioativas a partir de
resíduos agroambientais, utilizando cromatografias.
Costa (2010) desenvolveu um processo de
purificação de bromelina, enzima proteolítica do
abacaxizeiro a partir dos resíduos agrícolas dessa
cultura. A bromelina é uma enzima de grande
interesse biotecnológico e tem tido ampla aplicação
na indústria de alimentos e cosmética. Ela apresenta
ainda aplicação para indústria farmacêutica com
algumas indicações clínicas, tais como: agente
antitumoral, modulação imune, limpeza de
ferida, aumento do efeito de antibiótico, ação
2.2 CROMATOGRAFIAS
mucolítica, ajuda na digestão, aplicação em doenças
cardiovasculares e circulatórias, em procedimentos
O processo de separação e purificação de cirúrgicos e ferimentos da musculatura esquelética
bioprodutos, chamado também de dowstream (COOREMAN et al., 1976, citado por CABRAL, 2001).
processing é um segmento muito importante na Entre as vantagens do processo desenvolvido
indústria biotecnológica, representando 80 a 90 % do por Costa (2010) é que bromelina não está presente
custo de produção (BELTER et al., 1988 citados por nos primeiros estágios de desenvolvimento do fruto,
Vitória-ES, 2013, vol.02, nº1, p.37-42
39
FARMÁCIA
águas de coco contaminadas após a extração e
durante a comercialização em carrinhos de venda.
A HHP permite, por exemplo, a manutenção de
características sensoriais nutricionais dos alimentos,
importantes no que diz respeito a comercialização
para aqueles produtos cunhados por apelos naturais,
isentos de aditivos químicos conservantes.
O mecanismo de ação da HHP está
essencialmente relacionado à influência sobre
sistemas protéicos e estas interferências estruturais
poderão culminar em modificações significativas e
perdas de funcionalidade. Em razão destas possíveis
alterações, pesquisas têm sido desenvolvidas no
sentido de se utilizar HHP para a atenuação de
vírus em produção de vacinas. Silva e outros (1991)
demonstraram que a pressão de 260 MPa (MegaPascal)
aplicada por 12 h reduziu em 104 a infectividade do
vírus envelopado causador da estomatite vesicular.
Segundo os autores, modificações morfológicas, pelo
desacoplamento de subunidades do capsídeo viral,
foram responsáveis pela atenuação viral.
Este avanço sugere, por exemplo, que a
atenuação de vírus e microrganismos podem ser
desenvolvidos por processamentos físicos em
detrimento da aplicação de substâncias químicas
tóxicas, o que é naturalmente realizado com, por
exemplo, a utilização de formalina e etilenimina
binária (AERTSEN, 2009).
Inserido no contexto da sustentabilidade
está a inserção desta técnica na terceira geração de
biocombustíveis. Esta geração de biocombustíveis
é caracterizada pelo fornecimento de substâncias
fermentessíveis através do pré-tratamento das
fibras ligno-celulósicas (resíduos do coco, bagaço da
cana-de-açúcar, resíduos do pinhão-manso e milho)
com isenção de substâncias químicas. Este prétratamento fundamenta-se na utilização de enzimas
hidrolíticas que expõem, portanto, produtos próprios
à fermentação. A HHP, por sua vez, apresenta-se útil
quanto ao favorecimento da atividade das enzimas
hidrolíticas sobre seus substratos, visto que HHP
desagrega a organização das fibras celulósicas,
apresentando os sítios para ação enzimática,
favorecendo a digestibilidade (RAMOS, 2003).
FARMÁCIA
porém, seu nível aumenta, rapidamente, mantendose elevado até o amadurecimento, onde tem um
pequeno decréscimo. Além disso, esse processo visa
a purificação de um produto com alto valor comercial,
que ainda não é produzido no Brasil, a partir de
resíduos da produção do abacaxi, atualmente sem
destino.
Sales (2009) realizou uma triagem e avaliou
in vitro e in vivo a atividade antifúngica de formas
extrativas vegetais bioativas com potencial para
o controle dos fungos Fusarium subglutinans f.
sp. ananas (Sin.: Fusarium guttiforme) e Chalara
paradoxa, patógenos do abacaxizeiro. Através da
cromatografia Sales isolou compostos a partir de
tinturas-mãe de plantas medicinais. As amostras
apresentaram respostas estatisticamente iguais ou
superiores quando comparadas ao tratamento com
fungicidas, revelando assim um grande potencial
do uso dessas formulações em substituição aos
defensivos agrícolas.
Neves (2010) utilizou a cromatografia para
buscar em algas do gênero Ulva compostos químicos
com propriedade antimicrobianas. O autor encontrou
nessas algas potentes agentes antimicrobianos frente
a bactérias multiresistentes causadoras de infecção
hospitalar e ainda, essas algas são produzidas em
excesso na praia da Curva da Jurema no município de
Vitória e que a prefeitura recolhe e encaminha para o
lixo semanalmente caminhões abarrotados delas.
Assim, a cromatografia, por ser uma técnica
bem elucidada e conhecida tem sido extensivamente
explorada em uma era sustentável na busca de
bioprodutos, fármacos e de novos métodos viáveis
de purificação de compostos a partir de resíduos
agroindustriais.
sustentável da fermentação. Folador (2009) aplicou
a fermentação como forma de aproveitamento de
resíduos do café. Estes resíduos são identificados
como fonte de contaminação de solo e lençóis
freáticos, conforme destacado por Matos, Santos e
Fia (2000), quando avaliaram a interferência dos íons
presentes nestes resíduos depositados em solo.
Em seu estudo, Folador (2009) propõe a
utilização de resíduos oriundos da despolpa do café,
os quais apresentam teores de carboidratos passíveis
de serem fermentados por cepas de Saccharomyces
cerevisae. O resultado foi a obtenção de uma bebida
com baixo teor alcoólico e que preserva aroma
e sabor do café. Esse desenvolvimento garante
uma destinação aos resíduos de café, potenciais
poluidores, além de se gerar um produto de valor
agregado e uma forma de incrementar a renda dos
produtores.
Neste rol de aproveitamento de subprodutos
e resíduos pontua-se a fermentação em estado
sólido que utiliza diversos estes substratos como
suportes para a produção valiosas substâncias, como
o ácido cítrico, um dos produtos de fermentação
mais produzidos no mundo, conforme proposto
por Rodrigues (2006), que avalia a polpa cítrica
(cascas, sementes e polpas de laranjas) sendo rica
em carboidratos e outros nutrientes e prontos para
fermentação e produção do ácido cítrico. No rol dos
biocombustíveis insere-se também este bioprocesso
(LOSS, 2011)
Esses recentes e inovadores métodos
permitem-nos sugerir um termo para a fermentação,
de modo a contemplar a nova era dessa processo, a
fermentação tecnológica, pautados nas modificações
genéticas realizadas em microrganismos. No
bojo destes avanços, destaca-se a atual pesquisa
2.3 FERMENTAÇÃO
de obtenção de diesel combustível através da
modificação genética de leveduras para a síntese de
Não menos importante, os processos diesel em vez de álcool (Murley, 2009).
fermentativos retomam a própria origem da A percepção humana sobre a manipulação
humanidade. A produção de bebidas alcoólicas de microrganismos permitiu grandemente o
e de diversos alimentos fomentaram a utilização desenvolvimento de diversas áreas, como a síntese
de microrganismos enquanto detentores de uma de hormônios e fármacos, além da produção de
maquinaria celular para a sínstese de substâncias alimentos e combustíveis. O domínio desta técnica
de interesse para o homem. Naturalmente, a e o conhecimento de diversos microrganismos
fermentação evolui consideravelmente, ganhando fermentadores permitiu, ao longo dos séculos de
vultuoso destaque com a inserção de técnicas utilização deste bioprocesso, a melhor compreensão
biotecnológicas, em especial aquelas alicerçadas em bioquímica destes eucariotos, que se tornaram,
biologia molecular, pontuando-se o recrutamento de indubitavelmente, microscópicas fábricas de produzir
microorganismos para produção de insulina humana o que o homem deseja.
recombinante.
Neste interim, é válido ressaltar a importância
40
Episteme - Revista Científica da Faculdade Católica Salesiana do Espirito Santo
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Vitória-ES, 2013, vol.02, nº1, p.37-42
41
FARMÁCIA
3 CONCLUSÕES
No tocante aos bioprocessos de recuperação
e de purificação de bioprodutos, muito ainda há pra
ser feito. Há um vasto “nicho” aberto, em primeiro
lugar devido a biodversidade de nosso país. Aliado à
biodversidade está a sustentabilidade, na busca pelo
aproveitamento, destinação de resíduos e redução
dos riscos ambientais.
Um outro aspecto relevante está no desenvolvimento
de técnicas que mantém a integridade estrutural da
molécula de interesse durante os vários estágios de
purificação.
Assim, Fermentação, HHP e Cromatografias
são apenas exemplos de um mundo que está aberto
e precisa ser explorado. Novos bioprocessos e
melhoramento da viabilidade dos existentes precisam
surgir para melhor aproveitamento da diversidade de
bioprodutos existentes e ainda desconhecidos.
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42
Episteme - Revista Científica da Faculdade Católica Salesiana do Espirito Santo
Histórico da homeopatia e sua representação social no
cenário capixaba
Cecília Paula Candida Pereira da Silva, Sarah Martins Barbosa1, Helber Barcellos da Costa,
Mauricio da Silva Mattar
Faculdade Católica Salesiana do Espírito Santo, Av. Vitória , 950, Forte São João, Vitória, ES – CEP 29017-950
e-mail: [email protected]
RESUMO
FARMÁCIA
A homeopatia é uma especialidade cada vez mais consolidada no âmbito da saúde e que tem
sido aceita e valorizada pela população, principalmente com a implementação dos centros
de referência. Com vistas a essa tendência, este trabalho objetivou abordar o histórico da
homeopatia e sua representação social em cenário capixaba, comparando as percepções
da população e de profissionais da saúde sobre o conhecimento da homeopatia. Pautada
em uma sistemática de tratamento diferenciado, que considera o sujeito em sua totalidade
e sua relação com o meio, a homeopatia não é reconhecida desta forma pela população e
pelos próprios profissionais da área da saúde, sendo visualizada como um tratamento de
bases naturais, fitoterápica e adjuvante de outros tratamentos. Esse entendimento pode
se apresentar pernicioso, pois o desconhecimento das fundamentações terapêuticas da
homeopatia está associado à veiculação de informações deturpadas que podem prejudicar
o tratamento de determinadas enfermidades. Portanto, faz-se fundamental a discussão
envolvendo homeopatia nos cursos de graduação e inclusive fomentar-se a realização de
cursos específicos de modo que os profissionais possam se apropriar de conhecimentos
coerentes e se tornarem propagadores de informações, pontuando-se, além disso, a
necessidade emergente de profissionais habilitados para suprir a demanda crescente por
essa terapêutica.
Palavras-chave: Conhecimento, Cursos Profissionalizantes, Profissional de Saúde.
ABSTRACT
Homeopathy, as a medical specialization, is well consolidated in health area because the
acceptance and valorization given by the majority population, which is especially resulted
from implementation of reference centers of homeopathy. According to these new
trends, this work aimed to review some historical aspects of homeopathy and its social
representation in Espirito Santo state, evaluating the understanding of population and
health professionals about this subject. Formally, homeopathy is a distinct therapeutic
that considers patients in their totality and also their relationship with whole environment.
However, it is not recognized in the same way by the population and most part of health
professionals. Homeopathy has been known as natural, phytotherapic and adjuvant
treatment. This comprehension can be dangerous, because incorrect understanding about
theorical aspects of homeopathy is closely related to broadcast of wrong information that
can interfere negatively in some diseases treatment. So, it is fundamental the existence of
homeopathy in health graduation courses and to promote specific courses for updating once
these professionals are responsible for knowledge disclosure and, in addition, the increasing
demand of homeopathy is requiring able professionals to act in this therapeutic area.
Keywords: Knowledge, Professional Courses, Health Professional.
Vitória-ES, 2013, vol.02, nº1, p.43-48
43
FARMÁCIA
1 INTRODUÇÃO
2 HISTÓRICO DA HOMEOPATIA
Fundamentada em 1796 por Christian
Friedrich Samuel Hahnemann a Homeopatia é uma
especialidade farmacêutica e médica que atua de
forma totalitária elevando o conceito do tratamento
clínico, visando o doente e não a doença. Promovendo
uma atenção humanística, a homeopatia provém
de uma vertente há muito conhecida e alguns dos
seus princípios foram levantados pela primeira vez
por Hipócrates, que definia saúde como o estado de
harmonia do homem com a natureza, o equilíbrio
organismo e meio ambiente (FONTES et al., 2009).
A Homeopatia surge envolta à expectativa
de uma terapêutica menos iatrogênica1 em
contraposição às utilizadas na época como as
sangrias, o uso de eméticos, laxantes, sudoríferos e
diuréticos, que espoliavam o organismo das forças e
dos humores vitais indispensáveis à manutenção da
saúde (TEIXEIRA, 2006a). Corresponde, na atualidade,
a um método terapêutico empregado mundialmente
e recomendado desde a declaração de Alma-Ata em
1978 pela Organização Mundial de Saúde (OMS). E
também declarado pela mesma como o segundo
mais importante sistema médico usado, visto que a
prescrição é apropriada para cada indivíduo e seu
custo é mais acessível quando comparada à alopatia
(GALHARDI, 2005; DIAS, 2011).
Produtos homeopáticos possuem maior
veiculação em países como a Alemanha, França,
Estados Unidos da América, Canadá e Brasil,
e a globalização permite maior disseminação
destes conhecimentos, e desperta o interesse de
profissionais das mais diversas áreas da saúde
(PRISTA et al., 2002; MURIAS, 2002).
Esta publicação visa, pois, preencher uma
lacuna no conhecimento sobre Homeopatia frente
a irrenunciável crescente evolução da farmácia
homeopática no país, que se esbarra, contudo,
com a discreta vivência dos prestadores de saúde
com o atendimento homeopático. Vislumbra-se,
desse modo, apresentar um retrato da presença
homeopática no estado do Espírito Santo,
favorecendo a analise dos pontos que devem ser
reforçados para o melhor aproveitamento desta
especialidade farmacêutica e médica regionalmente.
Homeopatia advém da união de duas palavras
de origem grega: homoios que significa mesmo, igual,
semelhante e pathos que significa doença, sofrimento.
Corresponde a uma sistemática de tratamento de
enfermos por meio de doses infinitamente pequenas
com substâncias capazes de produzir, em indivíduos
sadios, sintomas semelhantes aos da doença que
está sendo tratada (MARINS, 1986a).
Christian Friedrich Samuel Hahnemann,
alemão e fundamentador da Homeopatia, formouse médico pela Universidade de Erlanger em 1779.
Atuou por vários anos e, enquanto conhecedor
da realidade médica, discordou de várias práticas
aplicadas na época, deixando isto claro em uma carta
editor Hufeland, que foi intitulada “Resumo de uma
carta a um médico de alto valor sobre o necessário
renascimento da medicina” (Federação Brasileira de
Homeopatia, [entre 2003 e 2011]).
Hahnemann deixa a prática médica dedicandose a traduções de livros, quando se depara com o
tratado sobre a quinina ou quina do Peru. Hahnemann
inicia questionamentos sobre a publicação, pois
se tratava de uma substância agressiva, sendo
utilizado para febre, contudo nem sempre com êxito.
Postulou, portanto, que “para conhecer o efeito que
um medicamento pode produzir em um enfermo,
devemos observar a reação que ele provoca em
um indivíduo de boa saúde.”, surgindo, assim, com
esta ponderação um dos pilares da homeopatia: a
experimentação no homem sadio (MARINS, 1986b;
CORRÊA et al., 1997).
Durante sua vida, experimentou mais de
50 medicamentos, publicou 21 livros e realizou
25 traduções, sua principal obra o Organon Del
Heilkunst (Organon da arte de curar), publicado na
Alemanha em 1810, que vendeu seis edições em
que Hahnemann desenvolve seus ensinamentos.
(FONTES et al., 2009; MONTEIRO; IRIART, 2007).
O intuito de identificar a sintomatologia que as
substâncias medicinais causavam no ser humano
tinham a finalidade de aplicá-las seguindo as bases
do princípio da similitude curativa.
De acordo com Oliveira (2006), a lei dos
semelhantes pode ser explicada como “[...] qualquer
substância capaz de provocar determinados sintomas
em seres humanos sadios e também capaz de
curar um enfermo que apresente quadro mórbido
semelhante”. Para a Homeopatia a verdadeira cura se
dá quando uma doença natural for vencida por uma
doença artificial, porém, a cura só ocorrerá se for
¹Iatrogênica: refere-se a um estado de doença, efeitos adversos
ou complicações causadas por ou resultantes do tratamento
médico (RAMOS, 2004).
44
Episteme - Revista Científica da Faculdade Católica Salesiana do Espirito Santo
2.1 EVOLUÇÃO DA HOMEOPATIA NO BRASIL
Enquanto
especialidade
médica,
a
Homeopatia foi reconhecida pelo Conselho Federal
de Medicina em 1980, com pressupostos científicos
estabelecidos, aplicação clínica diversa, projetos
nas áreas de pesquisa básica e clínica, além de ser
oferecida nos serviços públicos de saúde e com
iniciativas de ensino na graduação médica (TEIXEIRA,
2007b).
Por outro lado, a inserção da Homeopatia
nos cursos de graduação em Farmácia iniciou com a
publicação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDB), em 1996, entretanto somente com
a resolução CNE/CES 02/2002 que foram definidas
as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso,
regulamentando a formação generalista e definindo
sub-áreas do conhecimento, como a Homeopatia
(CORRÊA; LEITE, 2011; BRASIL, 2002).
No âmbito social por meio da Portaria
971/2006, o Ministério da Saúde (MS) aprovou
a Política Nacional de Práticas Integrativas e
Complementares (PNPIC), que assegura o acesso
dos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) à
medicina tradicional chinesa/acupuntura, fitoterapia
e homeopatia. Posteriormente, o MS reforça a
importância da presença da Homeopatia e demais
Práticas Integrativas e Complementares (PIC)
no SUS com a publicação da portaria 154/2008,
inserindo essas práticas na Estratégia de Saúde da
Família por meio dos Núcleos de Apoio à Saúde
da Família (NASF) (BRASIL, 2006; BRASIL, 2008). E
em 2007 foi publicada a Portaria 3.237, que inclui
os medicamentos homeopáticos da Farmacopéia
Homeopática Brasileira para serem disponibilizados
aos usuários do SUS (Brasil, 2008).
2.2 HOMEOPATIA NO ESPÍRITO SANTO
Um marco importante e de consolidação
da Homeopatia no Espírito Santo se deu com a
Vitória-ES, 2013, vol.02, nº1, p.43-48
implementação, em 1999, do Centro de Referência
em Homeopatia (CRH), destinado ao atendimento
homeopático que, segundo Novaes (2007), os
principais objetivos estão pautados na sistematização
do atendimento, na organização de ações e atividades
e oferta de serviço de qualidade à população.
Avaliando o estudo promovido por Corrêa;
Leite (2008), a presença do centro de referência
possibilita acesso igualitário e consolida de forma
significativa o tratamento não-alopático, além disso
representa a valorização em torno da homeopatia
a partir do atendimento profissional regular. Isso
pode ser corroborado a partir dos levantamentos
realizados pela Secretaria de Saúde do Espírito Santo
(SESA) (ESPÍRITO SANTO, 2010), que identificou
78,3% dos usuários apresentaram satisfação máxima
com relação aos serviços prestados pelo CRH. Esse
resultado se deve ao compromisso dos profissionais
com o serviço, ao tempo dedicado a cada paciente
durante a consulta e ao número de consultas
realizadas por cada médico homeopata (NOVAES et
al., 2005).
Corroborando
com
esses
resultados
positivos, Novaes (2007), que analisou a prática
Homeopática inserida na Rede Pública de saúde de
Vitória, demonstrou a avaliação também satisfatória
pelos gestores em relação ao atendimento, frente
ao reduzido número de queixas registradas. Os
profissionais, por sua vez, consideram satisfatório
pela possibilidade de ofertar tratamento adequado
até aquela população de baixa renda, e os usuários
apresentam um conhecimento razoável das vantagens
do tratamento homeopático por mais que fosse
considerado pelos usuários como um tratamento em
longo prazo.
Embora a Homeopatia tenha participação
positiva em tratamentos de determinadas
enfermidades além de sua satisfatória aceitação
entre os usuário, ela está submetida a concepções
desenvolvidas pela própria população, isto é, a
Homeopatia, por ser alicerçada em uma sistemática
distinta, com termos peculiares e muitas vezes
distantes da capacidade de compreensão da
maioria, está sujeita a avaliações e conceituações
desenvolvidas pela sociedade tendo, assim, sua
própria representação social. Confirma-se o exposto
quando Arruda (2002) destaca que as representações
sociais são comumente formuladas na esfera
consensual, em contextos históricos, e desvinculada
do método científico e investigativo.
A formação deste conhecimento que
transcorre principalmente de forma informal produz
45
FARMÁCIA
respeitada a lei dos semelhantes (NETO, 2011).
Hahnemann descreve duas fases distintas
e sucessivas de sintomas que o medicamento
provoca no organismo: o efeito primário, promotor
de modificações nos diversos sistemas orgânicos e o
efeito secundário, reação neutralizadora do próprio
organismo aos distúrbios primários promovidos pelos
fármacos, na tentativa de restabelecer o equilíbrio
interno perdido, ou seja, a força de conservação ou
homeostase (TEIXEIRA, 2006a).
FARMÁCIA
no contingente populacional e profissional um
conceito por muitas vezes distorcido da Homeopatia,
conceito este que impede que alguns sejam capazes
de avaliá-los como insuficiente, pois ainda que a
informação seja fácil de ser apreendida, os meandros
conceituais tecnicistas não são facilmente acessíveis
a todos (FIGUEIREDO; MACHADO, 2011).
Micali et al. (1995), por exemplo, avaliaram
80 indivíduos aleatoriamente no município de
Vitória, estado do Espírito Santo, e cerca de 81%
dos entrevistados afirmaram apresentar algum
conhecimento sobre homeopatia. Não obstante, o
referido conhecimento arraigava-se nos tratamentos
naturais e fitoterápicos.
Mageste et al. (1998), por outro lado,
pesquisaram o tema homeopatia entre 12 médicos
alopatas de diferentes especialidades. O estudo
evidenciou que 75% reconhecem-na como uma
especialidade médica e 11 deles apresentavam
conhecimentos que não destoavam do senso comum,
condizentes ao tratamento natural, fitoterápico e
adjuvante na atenção de doenças crônicas de fundo
emocional, alérgicas e respiratórias. Mediante a esses
expressivos resultados, é irrenunciável que a parcela
formadora de opinião e perpetuadora de informação
e conhecimentos qualificados encontra-se tal como o
majoritário contingente populacional em relação aos
aspectos inerentes à homeopatia.
Machado et al. (2004), ainda em
cenário regional, avaliaram a representação da
Homeopatia entre farmacêuticos não homeopatas.
Semelhantemente ocorreu a associação com
tratamento natural, alternativo e a Hahnemann,
concluindo que os farmacêuticos possuem
conhecimento condizente apenas com a formação
básica.
ao menos se apropriar de saberes fundamentais de
modo a balizarem as informações que circundam a
população, pois é fundamental que ela seja capaz
de compreender que, da mesma forma que outras
terapêuticas, a homeopatia também apresenta
limitações. Esta percepção é crucial, uma vez que
em determinadas circunstâncias os pacientes, por
questões pessoais ou motivados por possibilidades
de cura imediatista, refuntam tratamentos bem
estabelecidos em busca de caminhos alternativos
certos da resolução dos problemas que os afligem.
Posto que as propostas de atuação
multiprofissional são realidade cada vez mais
estruturadas no cotidiano da saúde, é imprescindível
que os profissionais atuantes nesta área apresentem
conhecimentos que forneçam informações coerentes
aos usuários de medicamentos homeopáticos. É
válido, pois, enfatizar a necessidade deste tipo de
discussão nos cursos de formação e pós-graduação,
qualificando pessoas em uma área em franca
expansão.
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Bárbara Mathias Fahning1, Elyomar Brambati Lobão2,
Mauricio da Silva Mattar, Helber Barcellos da Costa
Faculdade Católica Salesiana do Espírito Santo, Av. Vitória, 950, Forte São João, CEP: 29017-950, Vitória-ES,
1
[email protected]; [email protected].
RESUMO
FARMÁCIA
A nanotecnologia baseia-se na interdisciplinaridade entre física, química, biologia,
engenharias, computação e medicina, o que permite sua aplicação em vários campos,
evidenciando-se a nanotecnologia farmacêutica, área das ciências farmacêuticas envolvida
no desenvolvimento, caracterização e aplicação de sistemas terapêuticos em escala
nanométrica, utilizando nanomateriais para desenvolver fármacos dentro do sistema
chamado de liberação modificada. Os fármacos de liberação controlada compartilham o
objetivo de melhorar a terapia medicamentosa em relação às limitações potenciais dos
fármacos convencionais. Fármacos dessa categoria já podem ser encontrados no mercado e
seu uso já é algo corriqueiro entre pacientes, além disso, passaram a fazer parte de um nicho
do mercado industrial farmacêutico. O presente artigo apresenta uma revisão inovadora
que explora a nanotecnologia aplicada à elaboração de fármacos de liberação modificada e
apresenta as principais estratégias utilizadas em sua elaboração e as vantagens apresentadas
em seu uso.
Palavras-chaves: Nanobiotecnologia, Nanoestruturas, Fármacos de Liberação Modificada.
ABSTRACT
Based on interdisciplinarity, nanotechnology corresponds to association of different areas
of knowledge like physics, chemistry, biological sciences, engineering, computer and
health sciences. Considering all applications of these recent advances, pharmaceutical
nanotechnology is in evidence. It is directly related to development, characterization and
application of therapeutical systems arranged in nano-size particles able to release drugs
properly in their action site, well known as drug delivery systems, in attempt to increase
therapeutical outcomes in comparison with traditional releasing systems. Because
medicines with nanoparticles have been widely commercialized, this article is an innovative
approaching of this new trend in pharmacy nanobiotechnology, showing to pharmacists
new opportunities for their careers and demonstrating, in addition, relevant aspects in drug
development considering pharmaceutical sciences.
Keywords: Nanobiotechnology, Nanostructures, Drug Delivery Systems.
1 INTRODUÇÃO
metro, algo menor que a espessura de um fio de
cabelo (INSTITUTO INOVAÇÃO, 2005).
A nanotecnologia é a aplicação tecnológica de O termo nanotecnologia se refere às técnicas
objetos que tenham ao menos uma de suas dimensões de manipulação de átomos, de modo que se possa
físicas medindo entre 0,1 e 100 nanômetros, ou seja, rearranjá-los e modificar a natureza das interações
aproximadamente 10-9 metros ou 1 bilionésimo de das forças nos materiais (Martins, 2009). Seu objetivo
Vitória-ES, 2013, vol.02, nº1, p.49-57
49
FARMÁCIA
é criar novos materiais e desenvolver novos produtos
através de técnicas que possibilitem ver e manipular
átomos, ou seja, com a construção de novas moléculas
pode-se conseguir materiais com características
precisas e individualizadas (BARBASTEFANO et al.,
2005).
A maior das motivações para o
desenvolvimento de objetos nanométricos reside na
possibilidade de produção de moléculas inéditas que
possuam diferentes e incomuns propriedades físicas
e químicas. É papel da nanotecnologia se aproveitar
destas novas propriedades para desenvolver produtos
com diferentes tipos de aplicações tecnológicas
(ROSSI – BERGMANN, 2008).
O desenvolvimento da nanotecnologia tem
demonstrado um campo científico multidisciplinar,
encontrando aplicações nas mais diversas áreas,
desde setores de energia e eletrônica até indústrias
farmacêuticas (ROSSI – BERGMANN, 2008).
Na indústria farmacêutica, com o uso de
nanomateriais desenvolveram-se os fármacos de
liberação controlada, frequentemente descritos
como “Drug Delivery Systems”, que oferecem
inúmeras vantagens quando comparados a outros de
dosagem convencional (PIMENTEL et al., 2007).
80 foi um grande marco no desenvolvimento da
nanotecnologia, já que possibilitou não só enxergar
os átomos, mas também como manipulá-los na
escala nanométrica (MARTINS, 2009).
O termo nanotecnologia foi popularizado
mais tarde, quando Erick Dexler, em 1986 publica o
livro intitulado “Engines of Criation - The New Era
of Nanotechnology”, considerado um tanto quanto
ficcional (MARTINS, 2009).
Um grande feito para o desenvolvimento
da nanotecnologia foi quando, em 1989, o físico
norte americano Donald Eigler e seus colaboradores
conseguiram construir um logotipo da empresa de
computadores IBM (International Business Machines)
sobre uma superfície de níquel utilizando 35 átomos
de xenônio, a letra I da sigla era formada por nove
átomos e media aproximadamente 5 nm. As imagens
correram por todo o mundo e a possibilidade de
avanços em pesquisas nessa área fica evidente
(MARTINS, 2009).
Um outro marco no desenvolvimento da
nanotecnologia é a construção de nanotubos de
carbono, em 1991, por Sumio Lijima, com base nas
descobertas feitas por Ricahrd Smalley a cerca de uma
nova forma de blocos de construção, os chamados
buckminsters ou buckyballs. Segundo Fonseca
2 BREVE HISTÓRICO DA NANOTECNOLOGIA
(2009), o nanotubo de carbono é basicamente uma
folha de carbono enrolada de modo a conectar suas
Em 1959 surgiu a discussão acerca da extremidades formando um tubo. Esses nanotubos
nanotecnologia no meio científico quando o físico vem revolucionando a nanotecnologia por exibirem
norte-americano Richard Feynman proferiu uma resistência mecânica extremamente alta e aplicações
conferência na reunião da Sociedade Americana singulares, como por exemplo, serem utilizados
de Física, a qual deu o título de “Há muito espaço como nanopinças no posicionamento de átomos e
lá embaixo”. Nesta ocasião Feynman discutiu a moléculas.
possibilidade da manipulação de átomos e de Hoje a nanotecnologia não é mais uma
construção de objetos nanometricamente pequenos, promessa para o futuro. Países desenvolvidos e
com características próprias e individuais. A ele só alguns em desenvolvimento vem investindo com
não foi possível colocar suas idéias em prática por não força total em pesquisa e desenvolvimento nesse
existirem possibilidades de se enxergar os átomos campo. O motivo desses investimentos é o enorme
para que se pudessem manipulá-los (VELOSO, 2007). mercado potencial que está em jogo (SILVA, 2003).
Apesar de todas essas idéias, a palavra Silva (2003) destaca a importância do
nanotecnologia ainda não havia sido proferida por desenvolvimento da nanotecnologia sobre a
Feynman. Entretanto, em 1974, um pesquisador da economia mundial citando redução de matériasuniversidade de Tóquio chamado Norio Taneguchi primas, do consumo energético de importantes
utilizou o novo termo para descrever a fabricação processos industriais, menos agressão ao meio
precisa de novos materiais com tolerâncias ambiente e maior proteção à saúde do consumidor.
nanométricas (MARTINS, 2009).
Segundo Motta (2009), entre os anos de
Como ainda não havia meios para que se 2000 e 2003 acreditava – se que esta área era
conseguisse ver e manipular átomos, foi preciso que de oportunidades ilimitadas para maioria dos
desenvolvessem aparelhos que possibilitassem esse setores. Nos anos anteriores, foi possível verificar
trabalho. Nesse sentido, a criação dos microscópios que havia um montante de aplicações na área de
de tunelamento por Binning e Rohrer nos anos nanotecnologia relativos a valores de 2 bilhões
50
Episteme - Revista Científica da Faculdade Católica Salesiana do Espirito Santo
3 APLICAÇÕES
Os nanofármacos, foco desta revisão,
mais especificamente fármacos de liberação
controlada, obtidos através do desenvolvimento de
macromoléculas nanométricas capazes de, como
uma gaiola química, armazenar em seu interior a
molécula de uma droga ou o princípio ativo de um
medicamento, de modo que venham a funcionar
como vetores capazes do transporte pelo organismo
e do controle, seja da taxa de liberação, seja do
ambiente fisiológico adequado, para que essa
liberação do composto específico ocorra. Da mesma
forma, a macromolécula pode ter sua parte exterior
preparada para que sua dissolução, liberando o
fármaco, ocorra apenas em tecidos-alvo específicos,
minimizando os efeitos colaterais da droga utilizada. Por fim, as dimensões nanométricas das
moléculas-gaiola podem levar inclusive à preparação
de medicamentos capazes de vencer a barreira das
membranas cerebrais, levando ao desenvolvimento
de uma nova geração de fármacos específicos para o
tratamento de alterações bioquímicas ou de tecidos
do cérebro (MELO; PIMENTA, 2004).
3.1 NANOTECNOLOGIA APLICADA A FÁRMACOS
A nanotecnologia farmacêutica é a área das
A nanotecnologia se tornou um dos mais ciências farmacêuticas envolvida no desenvolvimento,
promissores campos de pesquisa da atualidade e caracterização e aplicação de sistemas terapêuticos
por não possuir uma tecnologia específica e sim em escala nanométrica ou micrométrica. O estudo
interdisciplinar baseada na física, química, biologia, desses sistemas tem sido realizado com o objetivo
engenharias, computação e medicina, permite que de direcionar e controlar a liberação de fármacos
vários campos façam seu uso (ALVES, 2004).
(SAKATA et al.,2007).
De acordo com NNI (2011), a nanotecnologia Alves et al. (2008) afirmam que as
está ajudando a melhorar consideravelmente, ou nanopartículas
possuem
as
características
até mesmo revolucionar, muitos setores industriais. necessárias para que esses sistemas de liberação
Dentre os setores em maior evidência no âmbito de fármacos controlados sejam efetivos. Permitem
da nanotecnologia estão: tecnologia da informação, que sejam entregues em local apropriado, tem suas
energia, ciência ambiental, medicina, segurança concentrações mantidas em níveis adequados por
interna, a segurança alimentar e transporte, entre longos períodos de tempo, além de prevenir sua
muitos outros.
degradação.
A nanobiotecnologia é uma área que merece As nanopartículas permitem ainda maior
destaque e pode ser, portanto, definida como o eficiência de encapsulação e liberação controlada
estudo, processamento, fabricação e desenho de se comparadas aos sistemas de encapsulação
dispositivos orgânicos, nanomateriais para atuação convencionais, além de possuírem tamanho pequeno
biológica ou biomateriais, nos quais pelo menos um suficiente para serem injetadas diretamente no
componente funcional possui tamanho nanométrico. sistema circulatório e oferecerem a possibilidade de
Áreas importantes da nanobiotecnologia incluem administração por outras vias como pulmonar, nasal,
a nanomedicina (biologia molecular e genética), transcutânea e oral (ALVES et al., 2008).
a física-médica (diagnóstico), o desenvolvimento Alves et al. (2008) acrescentam os tipos de
de nanofármacos (fármacos encapsulados), além nanoestruturas utilizadas pela indústria farmacêutica
da nanocosmecêutica (cosméticos com efeitos para a encapsulação de ativos: lipossomas,
farmacológicos consideráveis) (DURÁN et al., 2010). nanopartículas
poliméricas,
ciclodextrinas,
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FARMÁCIA
de dólares anuais (Rossi-Bergmann, 2010). Já em
2008, em termos globais, foram aplicados cerca de
8 bilhões de dólares para investimentos públicos em
pesquisas, salientando que os países lideres nesses
investimentos são: Europeus (Reino Unido, França,
Alemanha, Finlândia, Suíça, Itália, Suécia, Dinamarca,
Países Baixos), Estados Unidos e Japão.
Atualmente, no Brasil existem algumas
iniciativas com o intuito de incentivar a pesquisa no
ramo da nanotecnologia. Uma primeira tentativa
do governo foi a elaboração do Programa Nacional
de Nanotecnologia em 2000, que tem como foco
conquistar uma fatia do mercado global de materiais,
produtos e processos baseados em nanotecnologia
o que implica em investimentos na formação de
recursos humanos, pesquisa, inovação, criação de
novas empresas e ampliação das áreas de atuação
nas indústrias nacionais (MOTTA, 2009).
Mesmo
com
todas
as
tentativas,
investimentos e desenvolvimento de pesquisas na
área de nanotecnologia, o Brasil vivencia a fase inicial
do desenvolvimento observada nos países lideres há
uma década (MOTTA, 2009).
nanopartículas lipídicas e dendrímeros.
3.1.1 LIPOSSOMAS
FARMÁCIA
Castanho; Santos (2002) definem lipossomas
como associações coloidais de lipídios anfipáticos,
que se organizam espontaneamente em estruturas
fechadas tipo concha esférica. Podem ser preparados
a partir de misturas lipídicas naturais extraídas
e purificadas, ou a partir de lipídios sintéticos,
disponíveis comercialmente.
Essas vesículas esféricas são constituídas de
uma ou várias bicamadas concêntricas de lipídeos,
que isolam um ou vários compartimentos aquosos
internos do meio externo (CASTANHO; SANTOS,
2002). Esse tipo de estrutura permite a encapsulação
de compostos de naturezas hidrofílicas, hidrofóbicas
e anfifílicas, e liberação controlada do conteúdo
encapsulado por difusão e/ou por erosão da vesícula
(ALVES et al., 2008).
Além disso, são sistemas altamente versáteis,
cujo tamanho, lamelaridade, superfície, composição
lipídica, volume e composição do meio aquoso
interno podem ser manipulados em função dos
requisitos farmacêuticos e farmacológicos (FRÉZARD
et al., 2005).
Em 1995, a Doxorrubicina foi o primeiro
medicamento lipossomal a ser introduzido no
mercado utilizada no tratamento do sarcoma de
Kaposi associado à AIDS. Depois disso, muitas
outras formulações lipossomais surgiram no
mercado: Myocet® e
DaunoXome® (fármacos
utilizados no tratamento de câncer) que reduziram
significativamente a toxidez cardíaca da droga;
Anfotericina B (medicamento para tratamento de
micoses e leishmaniose visceral), que reduziram
sensivelmente sua toxidez renal (ROSSI-BERGMANN,
2008).
O principal problema da administração
sistêmica de lipossomas é o fato de que quando entram
na corrente sanguínea são rapidamente capturados
pelos macrófagos que fazem parte do sistema
retículo-endotelial. Para além dos macrófagos, os
lipossomas são absorvidos rapidamente e em grande
extensão pelos outros órgãos do SER (Sistema
Retículo-Endotelial), principalmente o fígado, o
baço e os nódulos linfáticos, mas, mais tardiamente,
também pelos pulmões e medula óssea, o que
diminui o seu tempo de semi-vida plasmática a
minutos. Este fenômeno de captura condiciona a
utilização primordial dos lipossomas no tratamento
de doenças relacionadas com os órgãos referidos:
52
fígado ou baço (SHARMA ; SHARMA apud MATOS;
MOUTINHO, 2008).
3.1.2 NANOPARTÍCULAS POLIMÉRICAS
O termo nanopartículas poliméricas aplicado
à liberação controlada de fármacos refere-se a
dois tipos de estruturas diferentes, nanoesferas e
nanocápsulas (SCHAFFAZICK et al., 2003).
As nanocápsulas são constituídas por um
invólucro polimérico disposto ao redor de um núcleo
oleoso, podendo o fármaco estar dissolvido neste
núcleo e/ou adsorvido à parede polimérica. Por
outro lado, as nanoesferas, que não apresentam óleo
em sua composição, são formadas por uma matriz
polimérica, onde o fármaco pode ficar retido ou
adsorvido (SCHAFFAZICK et al., 2003).
Sistemas de liberação nanoestruturados
poliméricos
agem
como
compartimentos
transportadores de substâncias ativas e apresentam
vantagens, quando comparados aos sistemas
microemulsivos e lipossomais, que justificam
sua aplicação, dentre elas, a boa estabilidade
física, química e biológica, fácil preparo e boa
reprodutividade, além de serem aplicáveis a uma
ampla variedade de substâncias visando melhorar
suas propriedades químicas (QUINTANAR-GUERRERO
et al., apud CAMPOS, 2008).
3.1.3 CLICLODEXTRINAS (CDs)
CDs são oligossacarídeos cíclicos formados
por moléculas de D-glicose unidas através de ligações
glicosídicas α(1→4), obtidas a partir da degradação
enzimática do amido pela CGtase, enzima sintetizada
por vários microorganismos (BRITTO et al., 2004;
SZEJTLI apud BOLDRINI, 2005).
Do ponto de vista estrutural, as CDs
apresentam-se na forma de “cones truncados” com o
lado mais largo formado pelas hidroxilas secundárias
em C-2 e C-3 e a face mais estreita constituída pelas
hidroxilas primárias ligadas em C-6 (BRITTO et al.,
2004).
A dimensão da cavidade é determinada pelo
número de unidades de glicose constituintes da
CD. Os átomos de oxigênio envolvidos nas ligações
glicosídicas (em C-1 e C-4) e os átomos de hidrogênio
ligados em C-3 e C-5 determinam o caráter hidrofóbico
do interior da cavidade das CDs. A presença das
hidroxilas livres na parte externa das CDs confere a
essas moléculas um caráter hidrofílico (BRITTO et al.,
2004).
Episteme - Revista Científica da Faculdade Católica Salesiana do Espirito Santo
3.1.4 NANOPARTÍCULAS LIPÍDICAS
As NLS tem uma estrutura basicamente
composta por um núcleo sólido coberto por uma
camada de moléculas de agentes tensoativos
(MARQUES, 2009). Os lipídios utilizados na
preparação de NLS são triglicerídeos, mistura de
glicerídeos ou ceras. Esses ingredientes são bem
toleráveis fisiologicamente e aprovados para
Vitória-ES, 2013, vol.02, nº1, p.49-57
aplicações farmacêuticas em humanos.
Nos últimos anos, este carreador passou a ser utilizado
no transporte de fármacos lipofílicos, apresentando
um largo espectro de vias de administração:
aplicação intravenosa e intramuscular, parenteral,
oral, oftálmica e tópica (MARCATO, 2009).
Uma desvantagem dessa estrutura é a sua
baixa capacidade de encapsulamento que varia
de 25-50% dependendo da solubilidade do ativo
na matriz lipídica, do método utilizado e do estado
polimórfico da matriz lipídica. A utilização de lipídios
muito semelhantes gera cristais perfeitos. Como o
fármaco se localiza entre as cadeias lipídicas e nas
imperfeições dos cristais, a alta organização dos
cristais diminui a eficiência de encapsulamento
(MARCATO, 2009).
Quando comparadas às nanopartículas
poliméricas apresentam de 10 a 100 vezes menos
toxicidade. Aliando a este fato sua boa capacidade
de estocagem (estabilidade de até 3 anos) e a sua
propriedade de esterilização em autoclave sem perder
a forma esférica e sem um significativo aumento
no tamanho das partículas, torna-se possível sua
produção em larga escala (MARCATO, 2009).
Além disso, promovem liberação sustentada
e/ou direcionada para um alvo específico, têm
uma permanência mais duradoura na corrente
sangüínea, atravessam a barreira hemato-encefálica
sem danificar estruturas, muitas vezes promovem o
aumento da estabilidade da droga, apresentam boa
tolerabilidade, uma boa biodisponibilidade após
administração oral, e alta reprodutividade em larga
escala (HU et al., apud TOMAZINI et al., 2007).
3.1.5 DENDRÍMEROS
O termo dendrímero descreve uma
arquitetura de uma nova classe de moléculas que,
fundamentalmente, são formadas por um núcleo
ligado a seus ramos. São altamente ramificadas,
porém simétricas e tendem a ter uma estrutura
em forma de uma esfera com cerca de 1 a 10 nm
(SANTOS, 2008; ROSSI-BERGMANN, 2008).
São sintetizados a partir de uma unidade
central por estágios repetitivos e caracterizados por
grande número de subgrupos funcionais reativos e
espaços interiores protegidos (AGUILÓ et al., 2010).
Essas
macromoléculas
tridimensionais
possuem pontos de ramificação em cada unidade
monomérica. São capazes de reproduzir estruturas
com grupos funcionais terminais e definidos números
de gerações, cada qual aumentando seu tamanho em
53
FARMÁCIA
Esse arranjo estrutural das moléculas de glicose
nas CD’s possibilita a utilização desses compostos
como hospedeiros na formação de complexos de
inclusão. A presença de uma cavidade hidrofóbica
e de grupos hidroxilas livres na parte externa da
molécula permite a dissolução em meio aquoso de
compostos (hóspedes) de baixa solubilidade (BRITTO
et al., 2004).
As CDs aptas a formar complexos de
inclusão possibilitam mascarar odores e sabores
desagradáveis de certos fármacos, reduzir ou eliminar
irritações oculares ou gastrointestinais e prevenção
de interações e incompatibilidades (CUNHA-FILHO;
SÁ-BARRETO, 2007).
A utilização de diferentes CDs em formulações
farmacêuticas pode aumentar a solubilidade, a
estabilidade e reduzir a toxicidade de fármacos
ou aumentar a absorção de substâncias bioativas
como, por exemplo, da insulina, onde a CD diminui
a capacidade da insulina de formar dímeros e
hexâmeros em meio aquoso (ANDREAUS et al., 2010).
A incorporação das CDs em sistemas farmacêuticos
constitui uma realidade consolidada. Segundo
estatística recente, as associações com CDs já foram
estudadas com 515 princípios ativos, melhorando sua
biodisponibilidade, estabilidade e segurança (SZEJTLI
apud CUNHA-FILHO; SÁ-BARRETO, 2007).
Algumas das desvantagens das CDs estão
relacionadas a sua toxicidade. Dentre as mais citadas
na literatura, tem-se o fato da toxicidade das CDs
esta diretamente vinculada à absorção sistêmica
e, consequentemente, sua dependência da via
de administração. Na adminstração oral de CDs,
estudos comprovam sua inocuidade a elevadas doses
(AMERICAN PHARMACEUTICAL ASSOCIATION apud
CUNHA-FILHO; SÁ-BARRETO, 2007). A administração
de preparados por via endovenosa provoca
precipitação microcristalina desta CD nos rins devido
a sua limitada solubilidade, além da formação de
complexos com o colesterol, provocando sérios
danos renais (DAVIS; BREWSTER apud CUNHA-FILHO;
SÁ-BARRETO, 2007).
FARMÁCIA
uma geração que tem o dobro do peso molecular da
geração anterior. O número de gerações se refere ao
número de unidades monoméricas adicionadas que
vão desde o centro até a periferia do dendrímero,
resultando em homoestruturadas camadas (AGUILÓ
et al., 2010). Esta adição torna cada geração mais
ramificada que a anterior até se obter uma estrutura
globular e densa que não pode crescer mais devido
a efeitos estéricos entre os diferentes ramos (JESUS,
2008).
Existem estudos sobre a entrega de drogas
através de transportadores macromoleculares
de dendrímeros, como estruturas dendríticas
(poliamido­poliaminas) com grupos funcionais que
podem se ligar a agentes antineoplásicos (agentes
antitumorais), apresentando assim grande eficiência
do medicamento, alta capacidade de entrega, baixa
toxicidade, boa solubilidade aquosa e boa atividade
antitumoral in vivo. Os conjugados formados entre
dendrímeros e antineoplásicos agem sobre os
tumores sólidos, pois, estes permitem o acúmulo
desses conjugados por possuírem tamanho de 10 a
500 nm. Além disso, os dendrímeros mostram-se
extremamente eficazes no transporte da droga até
o tumor sem agredir células sadias (TASSANO, 2008;
JESUS, 2008).
Há também estudos voltados aos dendrímeros
poli(amidoamina) com atividade antiviral contra o
vírus HIV (imunodeficiência humana) (TASSANO,
2008).
Um tipo diferente de transportadores são
os dendrímeros poli(amidoamina) complexados
com prata para tratamento antimicrobiano em
queimaduras. Estes dendrímeros permitem uma
concentração alta e localizada de prata que destrói
os microorganismos sem danificar as células (JESUS,
2008).
seguir, mantidas, por meio da administração repetida
de Formas Farmaceuticas Sólidas Orais (AULTON,
2005).
AULTON (2005) afirma que os fármacos de
liberação convencional apresentam muitas limitações
potenciais sistemáticas, tais como flutuações da
concentração plasmática e sucessivas administrações
do medicamento.
Todos os produtos de liberação controlada
compartilham o objetivo comum de melhorar a
terapia medicamentosa em relação às limitações
potencias dos fármacos convencionais (GENNARO,
2004) (Tabela 1).
A partir do momento que os objetivos do uso
de fármacos de liberação controlada são alcançados,
muitas vantagens podem ser observadas quando
as duas formas farmacêuticas em questão são
comparadas. por exemplo, os medicamentos de
liberação controlada apresentam menor flutuação
dos níveis plasmáticos do fármaco, redução da
frequência de administração, maior conveniência
e adesão, redução no efeitos colaterais e, por fim,
redução nos custos globais com a saúde (ALLEN et
al., 2007).
Apesar de todas as vantagens, fármacos
de liberação controlada apresentam certas
limitações: precisam ser revestidas para que se
atinja maior excelência destes produtos. Fatores
fisiológicos, tais como pH gastrintestinal, atividade
enzimática, gravidade da doença, entre outros, que
freqüentemente interferem na biodisponibilidade
do fármaco convencional, também podem exercer o
mesmo efeito em sistemas de liberação controlada
impedindo a precisão no controle da doença e na
absorção desses fármacos (AULTON, 2005).
Formulações de liberação controlada custam
4 FÁRMACOS DE LIBERAÇÃO MODIFICADA X mais por dose unitária do que formas farmacêuticas
FÁRMACOS CONVENCIONAIS
convencionais contendo o mesmo fármaco. Isso pode
Os fármacos de liberação convencional são ser justificado pela forma de fabricação e preparo
delineados para liberar rapidamente a dose total de desses sistemas que podem requerer aparelhagem e
fármaco presente, logo após ter sido administrado. materiais de maior custo (AULTON, 2005).
Além disso, presume-se que o fármaco liberado O tamanho em que as formas farmacêuticas
está na forma terapeuticamente ativa e disponível
de liberação controladas são apresentadas também é
imediatamente para a absorção na circulação
problema, já que esses se apresentam em dispositivos
sistêmica (AULTON, 2005).
Contanto que o tamanho da dose e a muitas vezes maiores que os de forma farmacêutica
frequência de administração estejam corretos, convencional, o que pode causar dificuldade em
concentrações plasmáticas de fármaco no estado engolir ou rejeição e dor em casos de implantes
estacionário podem ser alcançadas prontamente, e a (ALLEN et al., 2007).
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Episteme - Revista Científica da Faculdade Católica Salesiana do Espirito Santo
Medicamento
Fármaco
Nanopartícula
Vantagens
AmBisome®
Anfotericina B
Lipossoma
Bem tolerada e
efeitos colaterais
raramente relatados.
Lipossoma
Prolonga o tempo de
circulação e maximiza
a seletividade da
daunorrubicina para
os tumores.*
Daunoxome®
Daunorrubicina
Absorção mais
rápida e melhor
distribuição
plasmática
em dose única
diária.**
desenvolvimento de produtos farmacêuticos.
Fármacos & Medicamentos. São Paulo, ano 9, p. 4450, 2008.
ALVES, O. L. (Resp. Tec.). Nanotecnologia, nanociência
e nanomateriais: quando a distância entre presente
e futuro não é apenas questão de tempo. Parcerias
Estratégicas. Brasília, n. 18, p. 23-40, 2004. Disponível
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<http://www.scielo.br/scielo
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40422010000400031&script=Sci _arttext>. Acessado
A nanotecnologia, juntamente com as em 21 maio 2011.
nanociências, procura manipular a matéria em escala
nanométrica de modo a estudar as novas moléculas AULTON, M. A.. Delineamento de formas
e desenvolver seu uso utilizando suas propriedades farmacêuticas. 2 ed. São Paulo: Artmed, 2005.
precisas e individuais.
As aplicações da nanotecnologia englobam BARBASTEFANO, R. G. et al. Nanotecnologia e
todas os vértices do conhecimento, unindo Nanobiotecnologia: estado da arte, perspectivas
disciplinas, como física, química e biologia para que de inovação e investimentos. In XXV Encontro Nac.
se desenvolvam técnicas inéditas e se alcancem de Eng. de Produção, 2005, Porto Alegre, RS, Brasil.
objetivos comuns. Várias áreas da indústria, que ENEGEP ABEPRO, 2005.
vão desde a área eletrônica a médica, já utilizam as
técnicas nanotecnológicas .
BOLDRINI, F. Obtenção e caracterização do complexo
A indústria farmacêutica é uma das que molecular
Hidroquinona/Beta-Ciclodextrinas
se destaca entre o uso da nanotecnologia em suas e estudo do uso dermatológico. 2005. 116 f.
atividades. O desenvolvimento das chamadas Drug Dissertação (Programa de Pós Graduação em Ciências
Deliveries é um dos grandes feitos da nanotecnologia Farmacêuticas) - Universidade Estadual Paulista
nessa área, já que possibilitou um grande avanço Julio de mesquia Filho, São Paulo, 2005. Disponível
no que se diz respeito a tratamento, menos efeitos em:
<http://www.fcfar.unesp.br/posgraduacao/
colaterais, menos agressão ao paciente e cura mais cienciasfar maceuticas/ Disertacoes/ 20 05/
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57
Pensando Deus, o humano e as virtudes
cristãs – análise do poema de Cordel Os Martírios de Genoveva
Dr. Carlos Cariacás
Faculdade de Direito da Universidade Nove de Julho, Rua Vergueiro, 235/249.
Vergueiro - São Paulo-SP, Brasil - [email protected]
RESUMO
O poema da literatura de Cordel intitulado Os martírios de Genoveva carregam
imagens sobre Deus envolto pelo cenário medieval e alimentado pelo repertório •das
virtudes cristãs. O presente artigo é fruto do contato com o criativo pensamento popular que
por ora analisamos com base na retórica de Perelman – mediante os estudos comparados
das religiões.
Palavras-chave: imagem de Deus. Virtudes cristãs. Humano. Cordel.
ABSTRACT
FILOSOFIA
The Cordel literature poem entitled Os Martirios de Genoveva carries images of God
surrounded by the medieval environment and fed by the repertoire of Christian virtues. This
article is the result of popular creative thinking which we will presently analyse based on the
rhetoric of Perelman – through comparative studies of religions.
Keywords: images of God. Christian virtues. Human. Cordel literature.
1 INTRODUÇÃO
um conto amoroso marcado pelo sofrimento, traz
embutido em seu bojo olhares sobre o modo popular
Há muito a pesquisa no Brasil se volta a de pensar Deus, o homem e as virtudes cristãs. O
descobrir o que nos é inerente enquanto pensar intuito deste trabalho é, justamente, percorrer o
próprio. Não basta, se a questão for sonhar e trabalhar trajeto traçado pelo poeta na intenção de desvendar
para construir e edificar o país com base educativa as suas veredas reflexivas. É um poema vinculado a
sólida, ficar atrelado tão somente à história que não cosmologia e a moral cristã.
é nossa. Urge hoje, mais do que nunca, rastrear, Escreve o filósofo Joaquim Severino (1994, p.
levantar, analisar, dialogar com o que é produzido 45) “... que o atual ocidente deve sua origem histórica
nessa terra. E é em consonância com essa visão que ao encontro de três pequenos povos: Os romanos,
disponho a trazer para análise o poema intitulado os judeus e os gregos.” Por sua vez, a cultura desses
Os martírios de Genoveva, fruto da vitalidade da povos foi fundida na epifania do cristianismo.
Literatura de Cordel. O Cordel é classificado como É justo recordar que os cristãos ocupam um
literatura popular; patrimônio da cultura ibérica que lugar privilegiado na história da humanidade por
por aqui aportou e fincou raízes na cultura brasileira terem ajudado a impulsionar a cultura Ocidental
tornando-se um com a alma brasilis. Diz-se Cordel com boa parte de suas peculiares características. Em
devido serem os impressos postos dependurados linhas gerais, o Cristianismo, que nasceu no Oriente
em cordas para a exposição dada, geralmente, em - mas que se desenvolveu no ocidente - cativou a
mercados públicos. Destarte a Literatura de Cordel população do período antigo devido a novidades que
é fonte da mais fina expressão do pensar popular. carregava consigo. Em tempos vividos sob o prisma
Portanto, objeto mais do que estimável para adentrar da diferença e da escravidão (como fora o período
nos caminhos do pensar brasileiro.
Antigo), os cristãos primitivos lançaram fortes
O citado poema em estudo, navegando em apelos para a vivência dos valores da igualdade e da
58
Episteme - Revista Científica da Faculdade Católica Salesiana do Espirito Santo
Vitória-ES, 2013, vol.02, nº1, p.58-66
A essência, pois, é, justamente, o conjunto
daqueles elementos que fez com que o cristianismo
entrasse para a história, a saber: o amor ágape, a
revolução das bem-aventuranças e a sua visão de
homem.... ( MESSADIÉ, 2001, p. 301)
Portanto, os cristãos não somente colocaram na
pauta da história humana elementos novos que
reformulariam os costumes e impulsionariam o
tratado da ética, como também, remodelariam a
imagem de Deus.
2 MÉTODO
A pesquisa se envereda pelo espírito dos
Estudos Comparados das Religiões que, em linhas
gerais, “(...) é descritivo dos fenômenos religiosos,
mas, na medida em que toda comparação é também
interpretação, a confrontação entre as religiões
manifesta a sua tendência de ir “além”, procurando
entender o valor e o significado das religiões”conforme sinaliza Terrin (2003, p. 21).Por esta feita
compararemos a tradição secular do Cristianismo com
as manifestações da teologia popular desenvolvidas
no poema em questão.
Concomitante se apropria de elementos da
retórica de Perelman (2005, p 40 ) com vista a ir
no encalço da percepção da construção discursiva
demandada pelo poeta.
3 EM OS MARTÍRIOS DE GENOVEVA UMA IMAGEM
DE DEUS ESSENCIALMENTE CRISTÃ
FILOSOFIA
liberdade que viriam a se tornar princípios basilares
da ética no Ocidente. O cético Popper reconhece
que foram graças aos cristãos que os princípios
basilares se tornaram direitos inalienáveis do homem
(ZILLES, 1991, p. 94). Isso devido ao fato de que,
em sua gênese, o Cristianismo teve grande sucesso
e repercussão por seu livre acolhimento dispensado
a todos os tipos de pessoas excluídas da sociedade
(MESSADIÉ, 2001, P. 296S). Por isso, Delumeau (1977,
p. 13) afirma que “Ser-lhe-á reconhecido o mérito
de ter feito penetrar na consciência coletiva valores
éticos e culturais que se saudarão com respeito...”
Os cristãos, por sua parte, buscando construir
o reino dos céus na terra edificaram no Ocidente
boa parte da moral vigente contribuindo, dessa feita,
muitíssimo com a formação da ética, divulgando e
enraizando valores vistos como nobres como, por
exemplo, a justiça, a valorização do homem, o cuidado
para com os necessitados mediante o exercício da
caridade, as virtudes...(REALE; ANTISSERI, 1990, p.
373).
Entre tantas realizações pariram para o mundo
uma imagem de Deus sob o atributo do amor (amor
doação total e completamente desinteressado). E,
por sua vez, tendo gerado a imagem de um Deus
amor, procuraram ser fieis a essa crença. Escreve
Reale; Antisere (1990, p. 296) “Esta passagem da
primeira Epistola de João resume muito bem o arco
da temática do amor cristão: ‘... amemo-nos uns aos
outros, pois o amor é de Deus e aquele que ama
nasceu de Deus e conhece a Deus’(...)”
É importante ressaltar que a distinção dos
cristãos na história, como arautos do bem, do
progresso e da felicidade humana, não se deve
a seus dogmas, ou aos seu inúmeros patriarcas e
Papas. Também não foi a instituição do sacerdócio
(os deuses de todas as religiões também instituíram
seus sacerdotes), ou a Eucaristia (os fiéis de Mitra na
antiga Roma comungavam de pão e de vinho dizendo
ser o corpo e o sangue da divindade) (MESSADIÉ,
2001, p. 296), ou a ideia de ressurreição (crença
já difundida no antigo Egito). Esses elementos se
constituíram como que acessórios estéticos para a
história da humanidade no referente à importância
do surgimento do cristianismo. Mas, então, o que
oferece lugar de distinção ao cristianismo no correr
da história? A resposta é: a sua essência.
Por essência entende-se “Aquilo que faz cada
coisa ser ela mesma e não outra, colocando à parte
características acidentais e secundárias, como forma,
tamanho, cor, etc. É a natureza de cada coisa (SOUZA,
1995, p. 23)”.
Várias são as imagens de Deus formadas ao
longo da história ocidental. Tanto os romanos quanto
os gregos gestaram os seus deuses. Entretanto,
a gestação mais importante, mais saliente para a
história religiosa do Ocidente foi a dos judeus (devido
a fixação da fé cristã).
Afonso Murad (1994, p.39), se apoiando na
Teologia de J.L Segundo, fala que a cultura judaica,
donde provém o cristianismo, configurou a imagem
de Deus seguindo o percurso histórico. Dividindo a
história judaica em períodos Murad observou que
no 1º período Deus foi plasmado pelos judeus como
mistério tremendo. Enquanto que no 2º período o
mesmo se mostra como providência moral, seguindose uma imagem de Deus transcendente e criador (3º
período), Legislador e juiz moral (no 4º período) e,
por fim, culmina o seu estudo no Deus de Jesus Cristo
(MURAD, 1994, p. 39).
Estão inculados, no patrimônio do Cordel,
textos que trazem em seu enredo como que
59
FILOSOFIA
fragmentos desses períodos da história de Deus no
Ocidente. É o caso de alguns poemas publicados
pela Casa de Rui Barbosa (PROENÇA, 1986, P.26),
a saber: Os martírios de Genoveva, Os martírios
de Rosa de Milão e o Imperatriz Porcina, aos quais
chamamos de sinóticos, devido a seus aspectos
de verossimilhança. São poemas muito antigos
que foram produzidos na Europa medieval. Essas
estórias atravessaram o oceano e no Nordeste se
transformaram em Cordel sendo muito bem aceitas
pela população. É importante saber que os referidos
poemas foram reeditados. Com as reedições, o poeta,
como cronista da mentalidade popular, atualizou a
linguagem mantendo, ao mesmo tempo, o velhos
traços medievais.
Dedico-me a analisar os Martírios de
Genovena - de autoria de Leandro Gomes de Barros
(1986, p. 53-80) por apresentar, de modo constante,
em seu enredo, a invocação do nome de Deus que
salta dos lábios de Genoveva a todo o momento,
sobretudo, como auxílio último da personagem em
estado de perigo. Marcando, destarte, uma forte
presença religiosa no enredo. Por sinal, de todos
os poemas que li e estudei, este é o que se destaca
pela quantidade de invocações ao nome de Deus
(trinta e seis no total). Ele se encontra no Tomo I,
sob o número 54 (Casa de Rui Barbosa) e refere-se à
produção divulgada na primeira metade do século XX
e anterior a ela. No término do poema encontramos
o local e a data em que foi feito ”Recife, 9-11-943”.
O poema relata a história da vida de
uma jovem chamada Genoveva que foi dada em
casamento pelo seu pai a um moço nobre em sinal
de gratidão por ter esse ter salvado a vida daquele
em um duelo. Os jovens, após se casarem, partem
daquelas paragens e Genoveva, com muito pesar por
ter deixado seus velhos pais, porém contente com
o seu esposo, procurou seguir sua vida em terras
distantes.
O poema, em toda a sua extensão, é rico
ao expressar o contexto medieval em que se passa
a história. Fora o contexto social, o que merece
destaque é a ênfase dada à vivência das virtudes.
Genoveva, destinada ao casamento, foi aconselhada
pelos seus pais a andar de maneira virtuosa e nunca
esquecer Deus. E assim ela o fez, e por todos foi
amplamente reconhecida e querida, causando
grande alegria para o seu esposo devido à prática dos
valores cristãos.
Porém, a alegria não permaneceu para
sempre. Sobreveio uma guerra e o jovem conde
partiu para frente de batalha com os seus homens,
deixando um administrador de nome Golo nos
cuidados de suas terras e de sua casa. Dando início
aos martírios de Genoveva.
Aproveitando-se da distância de seu senhor
e impulsionado pela luxúria Golo procurou seduzir a
jovem condessa. Genoveva, por sua vez, recusando
a proposta foi encarcerada, vindo a ter um filho na
prisão (vale lembrar que, quando o jovem conde
saiu para a guerra Genoveva não tinha ainda se dado
conta de sua gravidez, coisa que só ocorreu após a
partida do esposo).
Como a jovem não cedeu às vontades de
Golo em seus insistentes convites, este planejou
matá-la. De modo desonesto, enviou uma carta ao
conde acusando Genoveva de traição esponsal,
dizendo que estava grávida de qualquer e que, como
administrador e sendo fiel servidor, a encarcerou.
Solicitando, destarte, ao seu senhor, recomendações
quanto ao que fazer. Já supondo o sangue colérico do
conde, acreditava que a resposta seria, certamente,
a morte.
A ordem veio prontamente como previra:
decapitar a mulher e fazer o mesmo com o seu filho.
Porém, antes de ser levada pelos que a deviam matar,
Genoveva entregou uma carta confessional a uma
mulher chamada Berta pedindo-lhe que a entregasse
ao conde assim que ele retornasse da guerra. A
carta, que contava toda a verdade, pedia ao marido
que perdoasse Golo assim como ela o perdoara pela
sentença tão cruel.
Sendo levada para a floresta por seus algozes,
suplicando pela vida de seu filho, pediu clemência
(pois esses sabiam da verdade quanto a sua vida).
Comovidos, os algozes a deixaram partir contanto
que nunca saísse da floresta, e ela assim o fez.
Estando na floresta, a condessa encontrou uma
cabra que lhe serviu de companhia. O leite daquele
animal foi usado como alimento tanto para o seu
filho quanto para ela.
Depois de demorada guerra, Golo investiu
contra o condado toda a sorte de malefícios,
acreditando que o seu senhor já não voltaria com
vida da empreitada militar. Mas a história entra
num revés. O conde, por sua vez, ficou sabendo por
pessoas confiáveis dos intentos de Golo e voltando ao
seu feudo é por todos bem recepcionado e aclamado
com grande fervor.
Ao receber a carta das mãos da fiel amiga de
Genoveva, percebeu toda a terrível trama na qual foi
envolvido e na qual fez, assim supunha, o extermínio
daquelas vidas tão inocentes.
Não matou Golo conforme o pedido de
60
Episteme - Revista Científica da Faculdade Católica Salesiana do Espirito Santo
4 DISCUSSÃO
4.1 Os atributos que aparecem em Os Martírios de
Genoveva
Identificamos como uma cultura plasma a
imagem de Deus nos apoiando em seus atributos.
Entretanto, somente as teologias populares ao se
referirem aos atributos de Deus o fazem de maneira
indireta, restando ler as entrelinhas do enredo. Por
exemplo: ao dizer que Deus é onipotente (modo
direto- assim como faz a filosofia e a Teologia) a
cultura popular usa modos indiretos (próprios da
teologia popular). 1Desse modo, a teologia, de modo
indireto, assim se refere – “Deus é grande e tudo
vence” (1986, p. 62) enquanto que, comumente, a
Teologia abordaria da seguinte maneira: “Deus é
onipotente”.
Muitos são os atributos empregados de modo
indireto no poema, por exemplo:
Deus ama a verdade (35)² (...) Deus te acompanhará/
em toda a tua existência, ama a Deus, confia nele/
com fé e obediência/ nunca faças cousa alguma,
que te manches a consciência (135) (...) Deus que
te defenda/ das tentações infernais/ ama a virtude/
segue as lições de teus pais (160 (...) Deus reserva para
si/ imensa prosperidade (185) (...) Deus é quem sabe
a verdade.. (185) (...) Portanto, meu Deus, mandaime/ abrir a minha masmorra, /atendei minha
Vitória-ES, 2013, vol.02, nº1, p.58-66
aflição/ valei-me antes que eu morra/ sem vosso
divino auxílio/ não há mais quem me socorra (465) (...)
No mesmo instante sentiu o coração lhe dizer... Para
os homens és criminosa/ para Deus estais inocente/
nisto ela adormeceu/ e ficou tranqüilamente/ com
essa doce esperança/ gravada na sua mente (495 e
500). (...) Vem cá meu filho querido/ teu berço será os
meus braços, nascestes nesta masmorra, cheia de mil
embaraços/ só Deus sabe para onde,
¹Uso o termo Teologia (com T maiúsculo) quando me dirijo ao
discurso feito pelo magistério eclesiástico e erudito e, teologia (
com t minúsculo) quando me refiro ao discurso popular acerca
de Deus.
²A numeração entre parênteses correspondem à numeração
das estrofes marcadas pela “Casa De Rui Barbosa”. Emprego por
conta própria o negrito para destacar os atributos.
dirigirá nossos passos (530). (...) Vossa misericórdia
reside em qualquer lugar(550) (...) Ficou a jovem
princesa/ Lastimando a sua sorte, pedindo a Deus
que abrandasse aquela fera tão forte (590) (...) Vou
comparecer com Deus/ no seu justo tribunal,/ aonde
a sentença é reta/ na vida espiritual!/... lá só se recebe
o bem...(675) (...) Louvado seja Deus, uma cabra/ em
vez de um lobo ruim,/vou ver se ela tem leite/ para
meu filho e para mim/ tinha tanto que em cabra nunca
ela viu tanto assim (955)3 (BARROS, 1986, p. 53-69).
Desse modo, os principais atributos legados a
Deus são os de: providente, misericordioso, amante
da verdade, justo e justiceiro. Esses atributos e o
enredo do poema oferecem a contemplação de uma
imagem de Deus plasmada segundo elementos que
remetem à essência da vida cristã.
Ora, ao adjetivar Deus o autor estabelece
para o leitor a diferença entre este e o humano
estabelecendo uma ordem para compreendê-lo.
Esta ordem se assenta nos argumentos, conforme diz
Perelman (2005, p. 393) concernentes as diferenças
de grau. O autor levanta argumentos em forma
de adjetivos não somente qualitativamente como
também se estende em demonstrar a quantidade
que pode ser empregado para a divindade. Soando,
numa perspectiva religiosa, quase como que uma
ladainha. Perfazendo, destarte o imaginário religioso
de seu auditório.
Os Martírios de Genoveva carregam de modo
mais do que evidente uma forte presença da herança
cristã. Não me refiro àquela gestada pela cristandade
medieval, mas ao que entendemos como essência
do cristianismo. O autor mesmo reconhece essa
herança e influência cristã sobre os povos ao cantar
sobre a história que está para contar: “Nesta história
se ver/ a virtude progredir, a verdade triunfar/ o mau
se submergir; a honra se salientar/ a falsidade cair
61
FILOSOFIA
Genoveva. Contudo, a vida do conde caiu em grande
desespero não havendo o que fazer para alegrá-lo.
Um dia, debaixo de pedidos insistentes dos amigos,
resolveu sair para uma caçada na floresta. Por lá se
deparou com uma cabra que rapidamente fugiu indo
se refugiar numa caverna (a mesma que servia de
moradia para Genoveva).
Ao entrar naquele recinto o triste conde se
defrontou com uma mulher que mais parecia um
espectro, mas que, em sua fisionomia, recordava a
sua Genoveva. Por um momento o conde, assustado,
pensou ser o espírito de sua esposa que viera ter
com ele.
Genoveva, vendo o susto de seu esposo,
procurou acalmá-lo e tranqüilizar o seu desespero
passando, dessa feita, a tudo explicar-lhe. O conde
tudo ouviu e, caindo em si (recebendo o perdão de
Genoveva) voltou com ela e o seu filho – cheios de
jubilo - para o seu castelo. Relata o poema em seu
término que ambos, após presenciarem a chegada
de uma numerosa geração, morrem em idade
avançada.
(BARROS, 1986, p. 53)”.
E oferece os motivos que levaram a isso:
Nesse tempo n’Alemanha/ A luz do cristianismo,/
tinha melhorado tudo/ não tinha mais despotismo/ já
tinha se dissipado,/ As trevas do paganismo./
Logo que chegou a luz/ da santa religião/ nova lei,
novos costumes/ tomaram força e ação/ os homens
se industrializaram,/ tudo teve aumentação [sic]
(BARROS, 1986, p. 53)
Segundo essa conjuntura, Genoveva
desponta como o protótipo de cristã: cheia de fé,
esperança e caridade. A fé é a virtude que dá acesso
à intimidade com o sagrado e a esperança e a virtude
que mantêm acesa essa intimidade. Por sua vez, a
prática da caridade é o sinal concreto de que o fiel
está andando nas sendas da intimidade com o seu
Deus (JOSAPHAT, 1999, p. 32). O poema de Genoveva
trabalha, numa constante, a temática das virtudes
teologais.
A harmonia existente entre a cabra e a personagem remonta
à imagem paradisíaca do Gênesis prefigurado no desejo
edênico de volta às origens. Cf. BORN, A Van den. Dicionário
enciclopédico da bíblia. São Paulo: Loyola, 1998. p. 563.
FILOSOFIA
3
Na perspectiva da retórica Genovena
é disposta como ser perfeito para modelo. A
personagem carrega consigo características
irrepreensíveis para a conjuntura da moral cristã.
Fazendo com que a mesma seja uma encarnação
viva do modelo que a tradição cristã almejaria
para o fiel. Por conseguinte as linhas do poema
não mede esforços para assinalar que o modelo
de perfeição evangélica de Genovena não se reduz
a vivencia dos dias favoráveis; é nas adversidades
que a mulher mostra o quão centrada em virtude
a mesma está. Como afirma Perelman sobre o uso
deste tipo de técnica: “O Ser perfeito se presta mais
do que qualquer outro modelo a essa adaptação
porque, por sua própria qualidade e por essência,
ele tem algo de inapreensível, de desconhecido
e porque, por outro lado, ele não vale somente
para um tempo e um lugar (PERELMAN, 2005, p.
423)”. Genovena se mostra como desconhecida de
toda a maldade, é impulsionada pelo autor a ser
uma mulher atemporal na vivencia das virtudes. E
esta atemporalidade é marcada pela Constancia
de sua ação que independente das circunstâncias
de maneira ataráxica se posta como além do mal,
porém, toda centrada no bem.
Assim como Genoveva, Deus é, nesse poema,
62
virtuoso e amoroso, tendo sempre em seu olhar a
contemplação das bem-aventuranças.
Deter-me-ei agora em observar de modo
mais detalhado como que a imagem de Deus foi
configurada neste poema.
4.2 O amor ágape e a imagem de um Deus-amor
providente.
O Teólogo Andrés Torres Queiruga é uma das
grandes personalidades da atualidade no que diz
respeito à revisão da Teologia cristã à luz dos anseios
da humanidade. Em sua obra Do terror de Isaac ao
Abbá de Jesus (1999) expõe que o núcleo central da
experiência cristã é o amor chamado de ágape que se
manifesta de modo desinteressado. Tal experiência
primordial deve levar os cristãos a se empenharem
em viver segundo esse grande critério que justifica
a sua fé. Os cristãos são convidados a viver no amor,
porque Deus é amor, como diz a Epístola de João e
conforme prolonga Dodd (apud QUEIRUGA) 1999,
p. 119) “O amor não é tão-somente uma atividade
a mais de Deus, mas toda a sua atividade é uma
atividade amorosa. Se cria, cria por amor; se governa
as coisas, o faz no amor; quando julga, julga com
amor. Tudo quanto faz é expressão de sua natureza,
e sua natureza é amar.
No poema Os Martírios de Genoveva são
nítidos a presença deste elemento (o amor ágape)
que compõe a essência do cristianismo. Isso porque o
agapagismo possui um modo de ser que se apresenta
pelo zelo, escuta ao clamor dos aflitos, socorro aos
necessitados. Não é um conceito baseado num
discurso vazio, ele se materializa em ações concretas
na vida. Assim, se pode dizer que Deus é plasmado
como amor por ser reconhecido pela personagem
como aquele que ouve os seus clamores, que socorre
com a sua providência as necessidades da pobre
personagem. Essa imagem de Deus-amor providente
será uma constante, tanto neste poema quanto em
outros poemas da literatura de Cordel.
A imagem de um Deus providente já era
divulgada nos primórdios do Cristianismo (assim
como nas origens do Judaísmo) fazendo, destarte,
parte da essência da mensagem cristã. A Providência
divina consiste em “(...) além de se dirigir para o
criado em geral, dirige-se ainda e particularmente
para os homens individuais, especialmente para os
mais humildes e necessitados...” (REQALE; ANTISSERI,
1990, p.382)
Essa é, portanto, a primeira imagem de Deus
que se vê divulgada nos velhos poemas de Cordel que
atravessaram o mar e que pelo sertão se difundiram.
Episteme - Revista Científica da Faculdade Católica Salesiana do Espirito Santo
- No momento de seu casamento, quando o bispo,
em tom profético, diz que “Deus reserva para si/
Imensa prosperidade...” (BARROS, 1986, p. 56)
- Quando pede a Deus que salve a vida dela e de
seu filho da atrocidade que os carrascos estão prestes
a cometer (BARROS, 1986, p. 66). Eles, por sua vez,
amolecem o coração diante daquela cena e rogos
incessantes feitos a Deus e a eles e a deixam partir
sob a condição de que ela não saísse mais daquela
floresta.
- Na floresta, a providência de Deus se manifestará a
todo o momento como mesmo já antecipa o verso do
poeta ao relatar aquele instante dramático pelo qual
passava Genoveva e o seu pequeno filho: “- Graças
a Deus- disse ela- já estou em melhor estado,/ mas
a fome a devorava/ muito mais por outro lado/ só
mesmo Deus dava um jeito,/ que já tinha preparado
(BARROS, 1986, p.68)”. E começa, então a narrar dos
benefícios que o Deus-providente preparou para a
virtuosa condessa.
- Quando ela e seu filho, embrenhados na floresta
vê aproximar-se uma cabra com os seios fartos de
leite. Reconhecendo, nesse fato, uma ação do Deus
providente, o exalta: “Louvado seja Deus, uma cabra/
em vez de um lobo ruim... (BARROS, 1986, p. 69)”.
Ora, essa cabra não somente lhes fornecia leite, como
também se tornou fiel companhia. A personagem
atribui como obra da providência de Deus esse feliz
ocorrido.
No momento em que o vestido de Genoveva se
definha e que acontece dela encontrar um carneiro
“... que o lobo feriu porém não matou/ com a lã dele
ela fez,/ uma capa e se embrulhou (BARROS, 1986,
p. 69) “.
As cenas citadas muito se aproximam daquele
ensinamento dado por Jesus sobre a confiança na
Providência divina, contado no Evangelho de Mateus
(6, 25-30), que fala:
Por isso vos digo: não vos preocupeis com a vida,
quanto ao que haveis de comer, nem com o vosso
corpo, quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida
mais do que o alimento e o corpo mais do que a roupa?
Olhai as aves do céu: não semeiam, nem colhem, nem
ajuntam em celeiros. E, no entanto, o vosso Pai celeste
as alimenta. Ora, não valeis vós mais do que elas?
Quem dentre vós, com as suas preocupações, pode
prolongar, por pouco que seja, a duração da sua vida?
Vitória-ES, 2013, vol.02, nº1, p.58-66
E com a roupa, por que andais preocupados? Aprendei
dos lírios dos campos, como crescem, e não trabalham
e nem fiam. E no entanto, eu vos asseguro que nem
Salomão em todo o seu esplendor, se vestiu como um
deles. Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que
existe hoje e amanhã será lançado no forno, não fará
ele muito mais por vós...
Tanto o poema quer engrandecer a imagem
da Providência de Deus que, ao citar o maldoso Golo
assim o descreve: “... um homem sem consciência/
Profanador da virtude,/ chefe da impaciência/
Desacreditava em Deus/ Zombava da Providência
(BARROS, 1986, p. 58)”.
Genoveva, entretanto, confiava estritamente
no socorro que poderia vir do alto e que se manifestou
de modo sutil quando, por fim, seu esposo (já muito
atribulado pelo seu terrível ato), partindo a convite
de amigos para uma caçada na floresta (lugar onde
estava a martirizada), encontra a sua amada. O
enredo circunscrito em um clima profundamente
religioso, em que, de modo sutil, Deus favorece a
fiel Genoveva diante dos empecilhos que a vida
lhe impôs, termina como que fazendo coro ao tom
profético do bispo que disse à jovem, no momento
de seu casamento, que Deus lhe reservara imensa
prosperidade.
Ora, o tratamento dado a imagem de Deus
não estabelece nada de novo no concernente ao que
é peculiar dos meios populares do Nordeste no modo
de pensar a divindade. O autor se envereda pelo
que Perelman (2005, p. 185)) chama de “Forma do
discurso e comunhão com o auditório”. Isto porque o
poeta se atêm a formas discursivas já conhecidas por
parte de seu auditório a ponto de manter a comunhão
e a coesão de sua fala com a perspectiva esperada
por parte da mente do devoto. De sorte que “(...)
as expressões, as fórmulas se tornam rituais, são
escutadas dentro de um espírito de comunhão com
total submissão (PERELMAN, 2005, p. 186)”.
4.3 Uma imagem de Deus sob a ótica das bemaventuranças
Ora, a essência do cristianismo se concentra
em sua mensagem - como mesmo afirma Reale;
Antiseri (1991, p. 390)
“A mensagem cristã assinalou sem dúvida a mais radical
revolução de valores da história humana. Nietzsche chegou
a falar até mesmo de total subversão dos valores antigos,
subversão que tem sua formulação pragmática no “Sermão da
Montanha’, que podemos ler no Evangelho de Mateus...”
As bem-aventuranças consistem em
proclamações que evocam a felicidade. Escreve
63
FILOSOFIA
É o que se observa em Os Martírios de Genoveva:
FILOSOFIA
Gourgues que as antigas comunidades cristãs
davam grande importância para as proclamações de
felicidade. A “... felicidade proclamada pelas bemaventuranças está relacionada com as atitudes,
experiências e comportamentos...” que desembocam
na “... problemática da ‘especificidade da ética cristã
(GEORGUES, 1999, p. 12)”. Por isso, falar em bemaventuranças é falar em boas obras (GEORGUES,
1999, p. 20).
Em Os Martírios de Genoveva, se observa que
a personagem mantém uma profunda ligação com
Deus e com os atribulados, desvalidos e aflitos que
a divindade colocava em seu caminho (segundo a
espiritualidade cristã). Aprendeu a ser desse modo
desde cedo devido a educação recebida de seus
pais que eram extremamente virtuosos - é o que
diz o poeta: “... em tudo era preciosa/ modesta e
trabalhadora/ cortês e religiosa/ graças à educação,/
de sua mãe extremosa (BARROS, 1986, p.54)”.
Logo após o casamento com o conde,
Genoveva mostra-se interessada em socorrer
os atribulados, cuidar dos doentes e amparar os
necessitados: “... para o céu pedindo a Deus/ pelo
bem dos tribulados (BARROS, 1986, p. 54)”.
Sendo esposa de um governante suplica-lhe:
“Pedindo com lágrimas nos olhos/ que amparasse
os desvalidos/ remisse os tribulados/ consolasse os
oprimidos/ para que ele mais ela,/ fosse de Deus
escolhidos (BARROS, p. 57)”.
Assim, Genoveva revela-nos uma imagem
de Deus que não se restringe somente a amar os
desvalidos da sorte humana. O discurso sobre Deus,
no poema, apresenta o caminho da felicidade para
os ricos e afortunados pela sorte do mundo que
consiste em seguir o critério da solidariedade. No
verso acima, Genoveva apresenta, em sua fala, esse
critério, visto por ela como que usado por Deus
para escolher os seus eleitos, levando-nos a pensar
que os ricos serão felizes (bem-aventurados) se
exercerem a solidariedade. Dessa sorte, o enredo nos
apresenta de modo velado, nas entrelinhas do texto,
uma imagem do divino marcada pela solidariedade.
A solidariedade torna-se - assim se pode dizer- a
condição necessária para que os agraciados pela
sorte do mundo possam ser protegidos pelos céus.
(MURAD, 1994, p. 39).
Ora, quanto às bem-aventuranças se pode
afirmar que elas se apresentam como que uma
carta de crédito celeste usada pelos homens para
exercerem o bem e muito apreciada por Deus. As
bem-aventuranças é, destarte, sinal da opção do
divino pelos pobres em espírito (porque deles é o
reino dos céus), pelos mansos (porque herdarão
a terra), pelos aflitos (porque serão consolados),
pelos que têm fome e sede de justiça (porque serão
saciados), pelos misericordiosos (porque alcançarão
misericórdia), os puros de coração (porque verão
a Deus), pelos que promovem a paz (porque serão
chamados filhos de Deus) e pelos perseguidos por
causa da justiça (porque deles é o Reino dos céus).
Genoveva, que tanto olhou pelos destinatários
das bem-aventuranças, acabou passando por todas
aquelas situações.
64
Episteme - Revista Científica da Faculdade Católica Salesiana do Espirito Santo
-
Foi perseguida por Golo e presa em estado
de gravidez: “Assim passou muitos meses/ sem
ninguém ir visitá-la,/ só via o infame Golo/ quando ia
atormentá-la/ dizendo: dou-lhe o perdão,/ só depois
de desonrá-la (BARROS, 1986, p. 61)”.
-
Manteve a pureza de coração quando a
tentação a cercava: “Ela respondia sempre:/ - antes
prefiro a prisão,/ morrerei nesta masmorra/ cheia
de tribulação/ porém sempre virtuosa,/ com toda a
reputação (BARROS, 1986, p. 61)”.
-
Conheceu a aflição na cadeia e no terrível
momento em que os carrascos se preparavam para
matá-la.
-
Ficou pobre e jogada na floresta, contentandose e louvando a Deus pelo auxílio que naquelas terras
lhe proporcionou.
-
Foi mansa e misericordiosa. “Os mansos
poderíamos dizer, são aqueles que não agem com
violência, enquanto que os misericordiosos são
aqueles que não reagem com violência.” (GEORGUES,
1999, p. 65) Isso se observa quando os carrascos
enviados por Golo, estando prestes a matá-la, são
perdoados por ela (numa atitude que muito lembra
as palavras de Cristo no momento da cruz) ao dizer:
“Perdoa também os homens/ que mandastes para
dar-me fim,/ se eles não fossem obrigados/ jamais
fariam assim... (BARROS, 1986, p. 65)”. E no pedido
feito ao seu esposo na carta entregue por sua
amiga Berta: “A carta dizia assim:/ ‘olha não mates
ninguém,/ evita quanto puderes/ derramar sangue
de alguém/ perdoa teu inimigo,/ que eu perdoei-os
também (BARROS, 1986, p. 71)”.
5 CONCLUSÃO
O Cordel tece saberes, dialoga sobre a vida,
O cordel, menos que uma poesia moral, repleta de
ensinamentos que elaboram soluções de conflitos,
parece ser mais uma crítica moral ao assumir a
forma de peleja (combate, debate, discussão,
desafio) construída, sobretudo, através da ironia
enquanto figura de linguagem (RAPPORT; OVERING,
2000, p.14). Ao não enfatizar uma verdade moral
encarnada no poeta, problematiza uma moralidade
social ou imaginária. A ironia no cordel parece ser de
extrema importância para a sua compreensão, visto
que desestabiliza um possível tom didático-moral de
caráter conservador. Ironia, aqui, deve ser pensada
enquanto uma forma de propor uma relação entre
mundos que se encontram no imaginário do cordel
(GONÇALVES, 2011, p. 221).
De fato os combates, debates, discussões
e desafios podem ter esta vertente, No entanto,
a cultura popular também demandam espaços
de acomodação das tradições onde a perspectiva
de uma moral ascética e em conformidade com o
estabelecido também se mantém e se vigora – como
é o caso do poema que por ora analisei.
No poema em questão se observa o vinculo
da tradição costumeira cristã perfazendo os hábitos
da memória do nordestino. A manutenção de
elementos da moralidade se encaminha no texto no
sentido de promover a equiparação da alma do leitor
com os sentidos do desejável conforme estabelecido
pelo o poema, assim como o seu auditório, acredita
ser bom.
O interessante deste poema que dada de
tempo não muito distante do nosso é que se reporta
para uma conjuntura medieval que se faz presente
na ressequida terra agreste. O poema usa, por sua
vez, de estruturas tradicionais da retórica no modo
de conduzir seu discurso onde a imagem de Deus se
constitui não propriamente a partir de uma moral
clerical, mas da experiência singular e tranquila de se
pensar e desejar a vida (conforme marca o percurso
da existência e do querer do sertanejo).
REFERÊNCIAS
BARROS, Leandro Gomes de. Os martírios de
Genoveva. In PROENÇA. Manuel Cavalcanti. Literatura
popular em verso: antologia. Belo Horizonte: Itatiaia;
São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo; Rio
de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1986.
BÍBLIA. Português. Bíblia de Jerusalém. Tradução
dos originais pela École Boblique de Jerusalém. São
Paulo: Paulinas, 1980.
BORN, A Van den. Dicionário enciclopédico da bíblia.
São Paulo: Loyola, 1998.
DELUMEAU, Jean. O cristianismo vai morrer? Lisboa:
Livraria Bertrand, 1977.
GEORGUES, Michel. Fé, felicidade e sentido da vidaa releitura atual das bem-aventuranças. São Paulo:
Paulinas. 1999.
GONÇALVES, Marco Antonio. Imagem-palavra: a
produção do cordel contemporâneo. Sociologia e
Antropologia, Rio de Janeiro, ano 01, v. 02, p. 219234. Disponível em: < http://revistappgsa.ifcs.ufrj.
br/pdfs/ano1v2_registro_marco-antonio-goncalves.
pdf>. Acessado em: 28 abr 2012.
JOSAPHAT, Carlos. Fé, esperança e
caridade:
encontrar Deus no centro da vida e da história. 2 . ed.
São Paulo: Paulinas, 1999.
FILOSOFIA
constrói parâmetros para manter coeso moralmente
uma dada população. Esta ideia muito divulgada
foi contestada por outros autores que afirma ser o
cordel constituído de modo dialógico (ARAUJO, 2007,
p. 70). È o que tramita no pensamento de Gonçalves
quando afirma:
MESSADIÉ, Gerard. História geral de Deus- da
antigüidade à época contemporânea. Men Martins:
Publicações Europa-América,2001.
MURAD, Afonso. Este cristianismo inquieto: a fé cristã
encarnada em J. L. Segundo. São Paulo: Loyola, 1994.
PERELMAN, Chaim. Tratado da argumentação: a nova
retórica. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
PROENÇA. Manuel Cavalcanti. Literatura Popular em
verso: aAntologia. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo:
Editora da Universidade de São Paulo; Rio de Janeiro:
Fundação Casa de Rui Barbosa, 1986.
QUEIRUGA, Andrés Torres. Do terror de Isaac ao Abbá
de Jesus: por uma nova imagem de Deus. São Paulo:
Paulinas, 1999.
ARAÚJO, Patrícia Cristina de Aragão. A cultura de
cordéis: território(s) de tessitura de saberes. João
REALE, Giovanni; ANTISSERI, Dario. História da
Pessoa: Programa de Pós-graduação em Educação
filosofia. São Paulo: Paulinas, 1990.
(UFPB), 2007.
Vitória-ES, 2013, vol.02, nº1, p.58-66
65
SEVERINO, Antônio Joaquim. Filosofia. São Paulo:
Editora Cortez, 1994.
SOUZA, Sônia Maria Ribeiro de. Um Outro Olhar:
filosofia. São Paulo: FTD, 1995.
TERRIN, Aldo Natale. Introdução ao estudo
comparado das religiões. São Paulo: Paulinas, 2003.
FILOSOFIA
ZILES, Urbano. Filosofia da religião. Petrópolis: Vozes,
1991.
66
Episteme - Revista Científica da Faculdade Católica Salesiana do Espirito Santo
Análise ergonômica intervencional em uma equipe de auxiliares
de Serviços Gerais
Jania Jacob Amâncio Miranda; Letícia Costa Santos;
Mariana Mariano Alves Nogueira; Celine Cristina Raimundo Pedrozo¹
Faculdade Católica Salesiana do Espírito Santo. Av. Vitória 950, Forte São João, 29040-330, Vitoria, ES, Brasil
¹[email protected]
RESUMO
A ergonomia é o estudo das adaptações do ambiente de trabalho ao trabalhador e é uma
ferramenta de extrema importância, já que um ambiente de trabalho mal adaptado é um
dos principais fatores no surgimento de doenças ocupacionais. Sendo assim, este estudo
analítico intervencional tem como objetivo avaliar as variáveis físicas e fatores humanos
envolvidos no processo de alteração biomecânica nos trabalhadores auxiliares de serviços
gerais da Faculdade Católica Salesiana do Espírito Santo. A pesquisa foi constituída por
4 etapas, sendo elas: questionário, avaliação estática, avaliação dinâmica e concepção
ergonômica, para avaliar o grau de satisfação, alterações posturais e principais posturas
adotadas na jornada de trabalho, respectivamente. Os resultados indicaram principalmente
repetitividade de movimentos e realização de movimentação incorreta pelos funcionários,
portanto as intervenções ergonômicas propostas se basearam principalmente nas
movimentações incorretas. Desse modo, novas formas de organização do trabalho podem
ser propostas para redução de riscos, desde a qualificação até a própria orientação dos
trabalhadores.
Palavras-chave: Ergonomia, DORT, Limpeza, Intervenção.
FISIOTERAPIA
ABSTRACT
Ergonomics is the study of adaptations to the workplace to the worker and is a tool of
extreme importance, since a poorly adapted working environment is a major factor in the
occurrence of occupational diseases. Thus, this analytical study is to evaluate interventional
physical variables and human factors involved in the process of change in biomechanics
auxiliary workers in the general services of the Salesian Catholic College of the Espirito Santo.
The research comprised four stages, namely: questionnaire, static assessment, dynamic
assessment and ergonomic design to assess the degree of satisfaction, postural changes and
main postures used in the working day, respectively. The results indicated mainly repetitive
movements and execution of incorrect handling by staff, so the ergonomic interventions
proposed are based mainly on the drives incorrect. Thus, new forms of work organization
can be proposed for reducing risks from qualification until the actual orientation of workers.
Keywords: Ergonomics, RSI, Cleansing, Intervention.
1 INTRODUÇÃO
vista, que o ambiente mal adaptado ao trabalhador é
um fator de risco para o aparecimento de Distúrbios
A ergonomia, segundo Iida (2002, p 33) é Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT),
o estudo da adaptação do trabalho ao homem, e a eliminação ou a redução da exposição às condições
tem se mostrado como uma ferramenta eficiente de risco e a melhoria dos ambientes de trabalho para
na identificação dos fatores causadores de doenças promoção e proteção da saúde do trabalhador se faz
ocupacionais e acidentes de trabalho. Tendo em necessária (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001, p.17).
Vitória-ES, 2013, vol.02, nº1, p.67-73
67
FISIOTERAPIA
As DORT podem ser definidas como sendo
afecções músculo esqueléticas e seu aparecimento
é favorecido pelas condições desfavoráveis de
trabalho, incluindo movimentação repetitiva,
aplicação de forças, levantamento e transporte de
pesos, posturas incorretas, entre outras (MACIEL,
2000, p.26). Já segundo Ribeiro et al (2006, p.3032), as principais posturas causadoras de patologias
osteomusculares em trabalhadores de serviços
gerais são flexão e rotação de tronco, agachamento,
ortostatismo prolongado e transportes de cargas de
maneira inadequada.
As
estruturas
músculo-esqueléticas,
independendo do tipo de atividade e organização
do trabalho, são alvos freqüentes de agressões,
tais como, posturas incorretas adotadas durante a
jornada até fatores psicossociais e emocionais que
acabam por gerar posturas de proteção (posturas
estáticas prolongadas) (RENNER, 2005, p.19).
As Lesões por esforços repetitivos (LER) e
as DORT têm como aspecto comum, manifestações
dolorosas e incapacidades funcionais transitórias
ou permanentes. Essas manifestações se devem
às afecções que acometem tecidos, tais como,
músculos, fáscias, tendões, ligamentos, articulações,
nervos, vasos sangüíneos e tegumento, sendo estas
relacionadas às atividades laborativas (YENG et al.,
2001, p.14). Inicialmente os sintomas são aliviados
com descanso, porém com o decorrer do tempo essas
queixas tendem a se tornar mais freqüentes durante
o trabalho, e até mesmo ocorrem em atividades
que não se relacionam a realização da função e no
repouso (LEITE; SILVA; MERIGHI, 2007, p.24-26).
De acordo com dados Ministério da Saúde
do ano de 2001, a maioria dos trabalhadores com
diagnóstico de LER/DORT, são jovens e mulheres
que desempenham atividades que exige maior
esforço e repetitividade, dos mais diversos ramos
de atividade. Já dados estatísticos publicados em
2006 pelo ministério da saúde revelam que as taxas
de incidência de doenças relacionadas ao trabalho
no ano de 2005 (a cada 10.000 habitantes) no Brasil
era igual a 12,29, na região sudeste 13,35 e no
Espírito Santo 7,15. No que se refere a faixa etária
mais acometida, encontram-se indivíduos com idade
entre 45-59 anos, principalmente do sexo feminino.
Segundo Deliberato (2002, p.29), os distúrbios
osteomusculares relacionados ao trabalho causam
afastamento dos trabalhadores cerca de 70,6% dos
casos.
A respeito da legislação sobre ergonomia, o
Brasil se baseia na Norma Regulamentadora – NR-17,
elaborada pelo Ministério do Trabalho e Emprego –
MTE. De modo a proporcionar o máximo de conforto,
segurança e desempenho, esta norma estabelece
parâmetros que permitam a adaptação das condições
de trabalho às características psicofisiológicas dos
trabalhadores. Dentre as condições de trabalho,
ainda são considerados aspectos relacionados ao
levantamento, transporte e descarga de materiais,
ao mobiliário, aos equipamentos, às condições
ambientais do posto de trabalho e à própria
organização do trabalho. (Lida,2002, p.31).
Tendo em vista tais aspectos relacionados
à saúde do trabalhador, o presente estudo busca
analisar o posto de trabalho, principais instrumentos
utilizados, posturas adotadas e identificar os
mecanismos causadores de lesão nos funcionários
do setor de Serviços Gerais da Faculdade Católica
Salesiana do Espírito Santo, com o objetivo de
promover melhorias na organização do trabalho,
adaptar os instrumentos, condições e ambiente
ao trabalhador, prevenindo assim, patologias
osteomusculares relacionadas à função exercida,
bem como qualidade dos serviços e saúde do
trabalhador.
68
Episteme - Revista Científica da Faculdade Católica Salesiana do Espirito Santo
2 METODOLOGIA
O presente trabalho se caracteriza como um
estudo analítico intervencional, realizado com 24
funcionários auxiliares de serviço geral, de ambos
os sexos, da Faculdade Católica Salesiana do Espírito
Santo, do município de Vitória, Espírito Santo.
Este estudo foi dividido nas seguintes etapas:
instrução da demanda, assinatura do termo de
consentimento livre e esclarecido, aplicação de
questionário, avaliação postural estática, avaliação
postural dinâmica e por fim, intervenção ergonômica.
Na primeira etapa, os funcionários em
questão, foram instruídos sobre o estudo, tendo livre
escolha sobre a participação e até mesmo abandono
em qualquer fase da pesquisa, e caso ocorresse o
abandono, estariam isentos de punição ou ônus de
qualquer natureza. Após estarem cientes sobre os
objetivos do estudo, houve assinatura do termo de
consentimento livre e esclarecido (TCLE).
Para avaliação dos riscos ergonômicos,
uma das avaliadoras aplicou o questionário semiestruturado, elaborado pelas autoras, que abordava
itens, tais como, repetitividade, intensidade e
freqüência de realização de esforços, posturas mais
adotadas e mais incômodas, riscos na realização do
trabalho, cansaço ao fim do expediente, grau de
Vitória-ES, 2013, vol.02, nº1, p.67-73
trabalhador, a fim de melhorar a qualidade de vida
desses funcionários, e conseqüentemente aumentar
a qualidade de serviço prestado pelos mesmos.
Na análise dos dados coletados foi utilizada a
planilha eletrônica do Microsoft Office Excel 2007. As
variáveis foram apresentadas de forma quantitativa
por meio de porcentagem e organizadas em gráficos
e tabelas.
3 RESULTADOS
O setor de Limpeza da Faculdade Católica
Salesiana do Espírito Santo, até a presente pesquisa,
contava com 24 funcionários, sendo que estes
ocupam o cargo de auxiliares de Serviços Gerais.
Para identificar alguns aspectos dessa
função, com base no ponto de vista ergonômico, um
questionário, com perguntas fechadas foi aplicado
a todos os participantes. Itens como repetitividade,
principais posturas adotadas, pausas, entre outros
foram questionados.
A primeira pergunta visava saber a constância
de movimentos repetitivos, e 100% dos entrevistados
relataram que realizam repetitividade com grande
freqüência.
As questões 2 e 3 abordam as posições
mais adotadas e as posições mais incômodas,
respectivamente. Foi possível constatar que a posição
mais adotada é a de pé curvado (43%), e esta foi
considerada também a postura causadora de maior
desconforto (80%). Dentre outras posturas adotadas
na execução do trabalho estão: caminhando (27%),
de pé (18%) e de pé inclinado (12%). Já entre as
posturas causadoras de incômodo, 8 % consideram
a postura de pé mais incômoda, 4% de pé inclinado,
4% posição sentada, e os outros 4% relataram não
sentir desconforto.
Quando perguntados sobre a intensidade
do trabalho executado, se este era muito ou pouco
pesado, 15 funcionários (62%) relataram que
o trabalho é pouco pesado, e os 8 funcionários
restantes (38%) consideraram o trabalho muito
pesado e exaustivo.
Outro questionamento realizado foi quanto
à freqüência de realização de esforços, tais como,
levantar, empurrar e puxar objetos e materiais.
67% dos funcionários relataram que realizam esses
esforços com muita freqüência.
Quando perguntados sobre o nível de cansaço
ao fim do expediente, 21 funcionários relataram que
no fim do dia o grau de exaustão é grande, e somente
3 dos 24 funcionários relataram sentir pouco cansaço
69
FISIOTERAPIA
adaptação dos instrumentos e presença de dor.
Em seguida, os voluntários, com roupas
adequadas, foram avaliados individualmente. A
ficha de avaliação postural continha uma figura,
onde a examinadora utilizou como referência. A
examinadora avaliou os voluntários numa sala, em
condições iguais de iluminação e a uma distância de 2
m do voluntário com a utilização de um simetógrafo.
Nenhum ponto anatômico foi marcado no corpo do
voluntário para a avaliação postural. Foi solicitado
que permanecessem em postura natural, olhando
para o horizonte e mantendo os membros superiores
ao longo do corpo.
Os itens avaliados no plano frontal anterior e
posterior foram: simetria dos ombros, da clavícula, a
EIAS (espinha ilíaca ântero superior), ângulo inferior
da escápula, EIPS (espinha ilíaca póstero superior), da
linha poplítea. No plano frontal anterior, os joelhos
(normal, valgo ou varo); no plano frontal posterior,
a inclinação dos pés (normal, valgo ou varo); no
plano sagital esquerdo, a posição da cabeça (normal
ou protusa), lordose cervical e lombar (normal,
retificada ou hiperlordose), cifose torácica (normal,
retificada ou hipercifose), posição da pelve (normal,
antevertida ou retrovertida), posição do joelho
(normal, hiperflexão ou recurvatum).
Após aplicação de questionário e avaliação
estática, realizou-se a avaliação postural dinâmica
dos participantes, para verificar as principais posturas
adotadas na execução das tarefas e principais
movimentos realizados. Nesse momento os
instrumentos de trabalho utilizados também foram
analisados para saber se atendiam às necessidades
individuais de cada trabalhador.
Ao mesmo tempo da avaliação dinâmica os
instrumentos de trabalho utilizados também foram
analisados de acordo com os aspectos físicos de
cada indivíduo e usando como referencial a Norma
Regulamentadora NR-17, que aborda aspectos
relacionados à ergonomia.
Simultaneamente à coleta de todos os dados
necessários na avaliação dinâmica, os funcionários
foram informados sobre os principais problemas
observados, sendo os mesmos instruídos sobre
o melhor modo de realização de tarefas para
prevenir posturas incorretas e conseqüentemente a
ocorrência de doenças ocupacionais.
Nesta etapa de concepção de soluções
ergonômicas, foram feitas mudanças referentes
às más posturas e também ao posto de trabalho e
equipamentos utilizados tornando possível uma
adaptação compatível com as necessidades de cada
FISIOTERAPIA
ao fim do expediente.
Em relação às pausas realizadas durante
a jornada de trabalho, a maioria dos funcionários
mostraram-se satisfeitos (75%). Os outros 25%,
relatam insatisfação, pois, como o trabalho exige
grande repetitividade de movimentos e realização
de esforços, as pausas deveriam ser maiores.
Por fim, quando perguntados sobre a presença de
dor, 19 funcionários relataram sentir dor em pelo
menos alguma região do corpo. Esses trabalhadores
foram então questionados se eles consideravam
essa dor relacionada ao trabalho, e 18 deles (95%)
disseram que sim, que a dor estava diretamente
relacionada ao trabalho executado.
Após a aplicação do questionário, foi dado início à
avaliação postural estática, que avaliou os seguintes
itens nas vistas anterior, posterior e laterais: cabeça,
ombros, quadris, joelhos, pés, escápulas, presença
de gibosidade, coluna dorsal, protrusão de abdome,
e por fim coluna lombar.
Os resultados obtidos encontram-se na Figura 1.
Figura 1: Alterações posturais presentes na avaliação estática.
Na avaliação dinâmica, as atividades
observadas foram limpeza de pátio, salas de aula,
corredores, laboratórios, auditório, escritórios,
piscina e banheiros, coleta e transporte de lixo,
transporte de materiais e higienização de vasilhames.
Pôde-se constar que, na função de varrer, os
problemas observados são elevação de um dos
ombros e inclinação lateral de tronco, e na varrição
de teto notou-se uma extensão excessiva de pescoço.
No que se refere às vassouras utilizadas, somente as
utilizadas para limpeza de pátios estavam impróprias
para esta função, pois eram as mesmas usadas na
execução da limpeza interna dos prédios.
Em relação à postura de agachamento, a
maioria dos funcionários realizava esta erroneamente,
pois os mesmos faziam flexão de coluna, e mantinham
os joelhos estendidos.
Em relação ao transporte de cargas, este é
feito manualmente ou com uso de carrinhos. Quando
o material a ser transportado excede o tamanho do
elevador, o mesmo é carregado manualmente por 2
funcionários pelas escadarias (ex: carregamento de
painéis), e estes realizam esta função corretamente,
pois dividem a carga e transportam esta verticalmente
e junto ao corpo. Ao usarem o carrinho de transporte,
a posição adotada para puxarem o mesmo é a de
rotação interna e extensão de ombro, e cotovelos
estendidos, posição correta para esse tipo de
carrinho.
A limpeza da piscina conta com 2 funcionários,
que fazem a manutenção (escovação de paredes,
limpeza de borda e filtração). Na escovação de
paredes e limpeza de borda, a postura adotada é
a de agachamento ou 4 apoios e eventualmente
inclinação de tronco. Cada funcionário é responsável
pela limpeza de uma piscina, sendo que uma delas
70
Episteme - Revista Científica da Faculdade Católica Salesiana do Espirito Santo
4 DISCUSSÃO
Considerando a avaliação realizada com os
funcionários auxiliares de serviços gerais, do setor
de limpeza, da Faculdade Católica, os principais
problemas observados foram intensidade do
Vitória-ES, 2013, vol.02, nº1, 67-73
trabalho, posicionamentos e movimentações
incorretas na execução de tarefas, e principalmente
a repetitividade de padrões de movimentos.
Alguns itens do questionário puderam ser
confirmados na avaliação dinâmica, tais como
repetitividade de movimentos e posicionamentos
mais adotados. Segundo Ciarlini et al.(2005, p.1116), o desenvolvimento de doenças ocupacionais é
multifatorial, e os elementos observados na avaliação
dos funcionários estão entre os fatores de risco.
Além da repetitividade e manutenção de posturas
inadequadas por tempo prolongado estão o esforço
físico, invariabilidade de tarefas, pressão mecânica
sobre determinadas partes do corpo, trabalho
muscular estático, choques e impactos, vibração, frio
e fatores relacionados à organização do trabalho.
Outro dado significativo dentre os achados da
avaliação estática está a hiperlordose lombar. Como
a coluna lombar é sujeita a cargas extremamente
altas, devido ao fato de uma superposição do peso
corporal adicionado a forças como levantamento
de pesos, essas vértebras são as mais comumente
envolvidas nos processos dolorosos e essa
sobrecarga favorece ao aumento da curvatura
lombar (LACERDA, 2003).p.4. Para Hall (2000, p.19),
a hiperlordose é conseqüente de um desequilíbrio
entre o fortalecimento dos músculos lombares e o
enfraquecimento dos músculos abdominais, e essa
curvatura tende a aumentar ainda mais quando há
uma inclinação anterior da pelve.
Dados relevantes também foram encontrados
na realização do agachamento de forma incorreta –
flexão de coluna associado à extensão de joelhos.
Para Grandjean (1998, p.43), uma curvatura da
coluna com os joelhos estendidos provoca uma maior
carga no disco intervertebral da região lombar, e essa
sobrecarga tende a aumentar quando o indivíduo faz
o levantamento de cargas.
No que se refere ao transporte de cargas,
Lida (2002, p.33) sugere manter a carga próxima ao
corpo; utilizar cargas simétricas, isto é, transportar
aproximadamente o mesmo peso em ambas as
mãos, e quando se tratar de cargas grandes, fazer o
transporte por meio de dois carregadores; quando
possível fazer uso de meios auxiliares (como
carrinhos). Quanto ao uso de carrinhos e transporte
de cargas, Dul e Weerdmeester (2000, p.24), relatam
que tensões em braços, ombros e costas podem ser
geradas com movimentos de puxar ou empurrar
cargas. Desta forma, o posicionamento ideal para
puxar ou empurrar é aquela em que o indivíduo
oscila o peso do próprio corpo a favor do movimento.
71
FISIOTERAPIA
é utilizada para hidroterapia, ou seja, além dessas
funções já citadas, ainda é incluída a limpeza de
barras e corrimões onde são realizados movimentos
repetitivos para esfregar.
No processo de filtração da piscina, os resíduos
presentes na água são retirados após um processo
de decantação (devido à aplicação de produtos).
Nesse processo é feita uma movimentação repetitiva
de flexão e extensão de cotovelo. Nessa atividade,
o tronco do indivíduo fica levemente inclinado e
para ter um maior alcance o mesmo realiza uma
maior inclinação associado à rotação de tronco.
Foi observado ainda, que em alguns momentos o
funcionário utilizava apenas um membro superior
para a realização da tarefa.
Por fim, outra função que exigia grande
repetitividade é a desempenhada pelas funcionárias
encarregadas da limpeza do Laboratório de Nutrição,
onde as atividades incluem esfregar panelas, fogão
e demais utensílios de cozinha, e o tempo sendo
insuficiente para a realização das mesmas, devido ao
horário das aulas práticas.
As intervenções propostas foram relacionadas
predominantemente ao modo de realização das
atividades, já que os instrumentos de trabalho
estavam bem adaptados a estes trabalhadores.
No que se refere à flexão de coluna ao abaixar,
a orientação feita foi manter sempre o tronco ereto
em posição neutra e realizar movimentos de flexoextensão de membros inferiores (MMII). Ao limpar
locais, tais como salas de aula, foi orientado aos
mesmos colocarem o balde sobre mesas ou cadeiras
para evitar a flexão da coluna, e conseqüentemente
preservar esta estrutura.
Orientações quanto à elevação de ombros
e inclinação de tronco ao varrer foram de deixar o
corpo na posição mais neutra possível, e tentar,
sempre que possível, alterar o braço dominante com
o não dominante no momento da varrição, para evitar
contraturas e deformidades no lado mais solicitado.
Todos os funcionários observados realizam
muita repetitividade, sendo que a solução mais efetiva
neste caso são pausas que devem ser realizadas
sempre que o funcionário apresentar algum tipo de
desconforto ou fadiga muscular.
FISIOTERAPIA
Para que a força seja empregada corretamente e de
forma simétrica, os carrinhos devem ter pegas em
forma de barras e altura do carrinho não deve atingir
no máximo 130cm, para que o trabalhador possa
enxergar sobre ele e o peso não deve exceder 700Kg
para deslocamento manual.
Dentre os problemas observados, o principal
foi a repetitividade, pois esta característica foi
pertinente a todas as tarefas desempenhadas.
Assim sendo, Knoplich (1987, p.20), garante que a
repetitividade de movimentos corporais adotados
por um profissional, é capaz de comprometer a sua
musculatura e a sua constituição óssea e articular,
sobretudo da coluna e dos membros, que em curto
prazo pode resultar em episódios de dores que se
prolongam além do horário de trabalho, e em longo
prazo podem aparecer deformidades, paralisias
e dificuldades na movimentação do corpo ou as
extremidades.
Por fim, é importante ressaltar sobre o tipo de
vassoura correta para a varrição de grandes áreas. No
caso analisado, a tarefa de varrição de pátio é feita
utilizando-se vassouras convencionais (vassouras
de piaçava, cepa de 20cm) e são realizados mais
movimentos que seriam necessários se a vassoura
correta fosse utilizada (vassouras com 40cm de cepa).
Com base no presente estudo, foi possível
correlacionar alguns dos fatores causadores
de queixas músculo-esqueléticas e alterações
posturais que interferem na vida dos trabalhadores
auxiliares de serviços gerais da Faculdade Católica,
correlacionando os achados da observação dinâmica
com a estática. Pôde-se observar que, como fatores
de risco causadores de DORT estão as condições de
trabalho, tais como, repetitividade e intensidade de
trabalho (realização de esforços).
AGRADECIMENTOS
À Faculdade Católica Salesiana de Espírito Santo que
possibilitou a conclusão deste estudo.
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FISIOTERAPIA
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Disponível em: <http://www.portalsaudebrasil.com/
artigospsb/trabalhad015.pdf>. Acesso em: 30 out.
2010.
Vitória-ES, 2013, vol.02, nº1, p.67-73
73
Avaliação nutricional em crianças do projeto “caminhando juntos”
Taísa Sabrina Silva Pereira1, Paula Regina Campos2, Alessandra Rodrigues Garcia3
1
Faculdade Católica Salesiana do Espírito Santo, Av. Vitória, 950, Forte São João, Vitória-ES,
[email protected], (27) 8126-0971.2 [email protected], (27)3331-8500.
3
[email protected], (27)3331-8500.
RESUMO
O objetivo deste estudo foi avaliar o estado nutricional e consumo alimentar de crianças em
risco social assistidos pelo Programa “Caminhando Juntos” (Cajun) da Prefeitura Municipal
de Vitória/ES. Além disso, verificar a adequação nutricional do cardápio oferecido às crianças
e se as práticas de manipulação das merendeiras estão condizentes com a legislação. Foram
avaliadas 37 crianças de ambos os sexos, com idade entre 7 e 10 anos, sendo aferidos peso
e estatura para obtenção do Índice de Massa Corporal (IMC); aplicado o formulário de
marcadores de consumo alimentar - SISVAN para avaliar a ingestão alimentar dos últimos
sete dias; realizada avaliação nutricional do cardápio e comparado à recomendação do
Programa Nacional de Alimentação do Escolar (PNAE) e aplicado questionário para avaliar
a manipulação e qualidade sanitária. Dos escolares investigados, 70% foram eutróficos,
11% baixo peso, 16% sobrepeso e 3% obesos. Nos últimos sete dias 51,4% não consumiram
salada crua, 48,6% legumes e verduras cozidas, 32,4% frutas frescas ou salada de frutas,
2,7% feijão, 13,5% leite e iogurtes, 29% não consumiram hambúrguer, 40,5% biscoitos
doces e balas e 24,3% refrigerante. O cardápio não atingiu a recomendação do PNAE, e as
condições sanitárias não estavam adequadas à legislação. Apesar da evidência de condição
nutricional adequada segundo o IMC, foram verificados distúrbios nutricionais incidentes
como baixo peso, sobrepeso e obesidade, podendo estar associados a hábitos alimentares
inadequados. A inadequação do valor energético do cardápio e as condições sanitárias
podem estar associadas ao fato de não terem um profissional especifico da área.
Palavras - chave: Crianças, Estado nutricional, consumo alimentar.
NUTRIÇÃO
ABSTRACT
The aim of this study was to evaluate nutritional status and dietary intake of children in social
risks assisted by the program “Caminhando Juntos” (CAJUN), in Vitória-ES. Furthermore, we
intented to check the nutritional adequacy of menus offered to children and if the cooks’
handling practices are consistent with the law.
It was assessed 37 children of both genders aged 7 – 10 years old. Weight and height were
measured in order to calculate body mass index (BMI). The Form of Consumer Food Labels
(SISVAN) was applied to evaluate food intake of the last seven days. Nutritional assessment
was performed and compared to the menu PNAE recommendation. To evaluate manipulation
and sanitary quality a questionnaire was applied.
Among the assessed scolarchips, 70% were eutrophic, 11% underweight, 16% overweight and
3% obese. During the study period, 51.4%; 48.6% and 32.4% of the children did not ingested
raw salad, vegetable/ cooked vegetables and fresh fruits in none of the days, respectively.
The menu did not meet the recommendation of the PNAE, and sanitary conditions were not
in accordance with the law. Despite of the evidence of adequate nutritional state, according
BMI, it was verified nutritional disturbs as underweight, overweight and obesity, which can
be associated with unsuitable feed habits. The inadequacy of the menu energy value and
74
Episteme - Revista Científica da Faculdade Católica Salesiana do Espirito Santo
sanitary conditions may be associated with the lack of specific professional to assume this
function.
1 INTRODUÇÃO
são influenciados pelos ensinamentos maternos
e associados aos consumos urbanos, iniciados na
infância.
A manutenção da saúde depende de uma
boa alimentação por meio do equilíbrio nutricional.
A dieta desequilibrada propicia uma deficiência
orgânica aumentando a nossa susceptibilidade às
doenças, potencializando a ação dos microrganismos
patogênicos. Portanto, a relação entre saúde e
doença é diretamente proporcional ao equilíbrio da
dieta e ao controle higiênico-sanitário dos alimentos
(SILVA JUNIOR, 2002).
De acordo com a Resolução FNDE/CD Nº 015,
de 16 de junho de 2003 (BRASIL, 2003) o Programa
Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) tem como
objetivo suprir parcialmente as necessidades
nutricionais dos alunos, com vistas a garantir a
implantação da política de Segurança Alimentar
e contribuir para a formação de bons hábitos
alimentares.
O projeto Caminhando Juntos (Cajun) consiste
em um centro de referência local com capacidade
de articulação, visando desenvolver em crianças
e adolescentes em situação de vulnerabilidade
social a auto-estima, integração com a família,
escola e comunidade por meio de atividades lúdicorecreativas, esportivas e culturais. As atividades que
são desenvolvidas ocorrem em horário extra-escolar
e enquadram-se nas seguintes áreas: Artes Circenses;
Música; Teatro; Dança; Capoeira; Esportes e Poesia.
A partir da análise do perfil nutricional é
possível detectar os riscos nutricionais de uma
população, bem como traçar ações diante dos
problemas relacionados à saúde e doença. Dessa
maneira, o presente trabalho tem o intuito de
avaliar o estado nutricional, o consumo alimentar
e os conhecimentos sobre uma prática alimentar
adequada de crianças assistidas pelo programa Cajun
da Prefeitura de Vitória-ES. Além disso, verificar
a adequação nutricional do cardápio oferecido
às crianças e se as práticas de manipulação das
merendeiras estão condizentes com a legislação.
A alimentação é um direito humano e,
representa um fator propício para a legitimação
de todos os outros direitos inerentes ao conceito
e exercício da cidadania e, portanto deveria ser
assegurado a todos. Entretanto, uma parcela
considerável da sociedade brasileira e mundial
sofre com a escassez de alimentos (OLIVEIRA
et al, 2009). Dentro desse contexto, insere-se o
processo de transição nutricional, determinada por
uma mudança nos hábitos alimentares, com uma
alimentação inadequada, pobre quanto à ingestão
de frutas, verduras e leguminosas e que estabelece
estreita relação com a transição demográfica e
epidemiológica. Tal contexto caracteriza-se pela
redução da prevalência da desnutrição, presença da
deficiência de micronutrientes, aumento dos casos
de obesidade que contribuem com a ocorrência
crescente das Doenças Crônicas Não Transmissíveis
(DCNT) (COUTINHO; GENTIL; TORAL, 2008).
A avaliação do estado nutricional, segundo
Martins (2008), consiste na identificação profunda
e completa da condição nutricional de indivíduos e
populações e quando realizada por meio da medição
dos indicadores nutricionais, ajuda a determinar
uma possível ocorrência da alteração do estado
nutricional. Entre os métodos de avaliação destacase a avaliação do consumo alimentar, que consiste
em um levantamento de dados relacionados à
qualidade e quantidade dos nutrientes ingeridos;
exame físico, que permite a avaliação dos sinais
de carências ou excessos nutricionais e avaliação
antropométrica, que por meio da medida das
dimensões corporais, notadamente peso, altura,
circunferências e dobras cutâneas, viabiliza um
diagnóstico do estado nutricional do indivíduo com
noções da sua composição corpórea.
A prática da educação nutricional, segundo
Boog (1999), aparece como algo importante para a
vida, apresentando o sentido de educar como sendo
a criação de novos sentidos e significados para o ato
de comer promovendo a saúde. No entanto, para
sua realização deve ocorrer no cotidiano social e 2 MATERIAIS E MÉTODOS
por meio de ações de instrução e ensino planejadas
O presente estudo foi desenvolvido junto ao
por profissionais capacitados. Segundo Rotenberg e Projeto Cajun da Praia do Suá, da cidade de Vitória,
Vargas (2004), hábitos e práticas alimentares
Vitória-ES, 2013, vol.02, nº1, p.74-82
75
NUTRIÇÃO
Keywords: Children, Nutritional Status, food con¬sumption;
NUTRIÇÃO
ES. Foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa
– Faculdade Católica Salesiana do Espírito Santo,
sob o número 50/2010. No Cajun encontram-se
cadastradas 120 crianças e adolescentes. A amostra
foi composta por 37 crianças, com idade entre sete e
dez anos, de ambos os sexos.
O projeto foi apresentado na reunião de
pais, onde os mesmos assinaram o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE (Anexo
A) e responderam ao Questionário de identificação
e avaliação. Para os que não estavam presentes, o
TCLE foi encaminhado para casa, e o questionário
preenchido por telefone. O estado nutricional foi
avaliado por meio da avaliação antropométrica,
sendo aferido o peso e a altura para posterior cálculo
do Índice de Massa Corporal (IMC), definido como
sendo a razão entre massa corporal (kg) e o quadrado
da estatura (m) [IMC = Peso/Estatura2]. Para aferição
do peso foi utilizada a balança TANITA BF-681W
capacidade de 150kg, precisão de 100g, a medida foi
realizada com o indivíduo em pé, descalço e vestindo
roupas leves. A estatura foi aferida por meio do
antropômetro portátil SECA com escala em cm, com
o indivíduo adequadamente encostado no aparelho.
O IMC foi classificado segundo a tabela IMC/idade
(WHO, 2007).
O consumo alimentar foi avaliado por meio da
aplicação do Formulário de Marcadores de Consumo
Alimentar – SISVAN – O instrumento é semelhante às
versões adotadas em pesquisas de monitoramento
de práticas de risco à saúde. O objetivo foi identificar
com que freqüência o entrevistado consumiu
alguns alimentos ou bebidas nos últimos sete dias.
O instrumento foi aplicado por entrevistadores
devidamente treinados (BRASIL, 2008). (Anexo B)
A avaliação da qualidade nutricional das
refeições foi realizada durante uma semana. Para
análise nutricional do cardápio foi utilizado o
programa de Nutrição Nutwin (2005), sendo que
o valor nutricional foi estabelecido a partir de um
prato padrão oferecido às crianças. Os valores foram
comparados às recomendações do PNAE (BRASIL,
2006a). Salvo que o projeto não recebe verba do
Fundo Nacional de Desenvolvimento da educação
(FNDE), mas sim da Prefeitura Municipal de Vitória.
O nível de conhecimento das crianças sobre nutrição
foi avaliado por meio de um jogo educativo Passa ou
Repassa Nutricional (Anexo C). As técnicas de higiene
pessoal, ambiental, de equipamentos e utensílios e
de manipulação de alimentos desenvolvidas pelas
merendeiras foram avaliadas por meio de um
questionário (Anexo D).
A coleta de dados foi realizada em cinco
visitas por uma equipe formada por acadêmicas de
Nutrição. A primeira visita foi realizada na reunião de
pais, que consistiu na apresentação do projeto. Na
segunda e na terceira visita foram coletados os dados
antropométricos das crianças, sendo realizado em
dois dias nos dois turnos: matutino e vespertino, pois
as crianças que participavam do Cajun realizavam
oficinas em dias alternados, no horário fora do
período escolar. Na quarta e na quinta visita realizada,
também atendendo os dois turnos, foram aplicadas o
jogo educativo e realizado uma oficina culinária.
76
Episteme - Revista Científica da Faculdade Católica Salesiana do Espirito Santo
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Descrição da Amostra
A amostra foi composta por crianças com
idade compreendida entre 7 a 10 anos, de ambos
os sexos, sendo 54,1% do sexo feminino e 45,9%
masculino. Em relação à atividade física, 100% das
crianças praticavam, tendo em vista que o Cajun
oferece diversas oficinas que favorecem a prática de
atividade física como balé, capoeira e recreação. As
oficinas são realizadas duas vezes na semana e com
duração de uma hora cada. Desta forma 40,5% jogam
futebol e 32,4% queimada, sendo estas atividades
praticadas na oficina de recreação, que visa resgatar as
brincadeiras antigas (Tabela 1). Com isto, as atividades
desenvolvidas pelas crianças favorecem um gasto
energético maior, sendo fundamental não só contra
a obesidade, mas para manter um estado desejável
de saúde e junto com o acompanhamento de uma
dieta equilibrada favarocendo um desenvolvimento
saudável.
Tabela 1 – Descrição da amostra segundo as variáveis estudadas.
Variável
Masculino
Feminino
Idade
7
8
9
10
Pratica Atividade Física
Sim
Não
Tipo de Atividade Física
Balé
Futebol
n
17
20
%
45,9
54,1
7
11
11
8
18,9
29,7
29,7
21,6
37
-
100
-
7
15
18,9
40,5
1
12
2
2,7
32,4
5,4
A aplicação do questionário Critério de Classificação
Econômica Brasil desenvolvido pela Associação
Brasileira das Empresas de Pesquisas (ABEP, 2008),
revelou que na população estudada 75,7% das
famílias foram classificadas na classe C e 21,6% na
classe D e apenas 2,7% na classe B. O analfabetismo
e o estudo até a terceira série do ensino fundamental
foi observado em 5,4% dos chefes de famílias, outros
54,1% concluíram o ensino fundamental completo e
29,7% concluíram o ensino médio completo (Tabela
2).
Tabela 2 – Situação Socioeconômica das famílias investigadas,
segundo o Critério de Classificação Econômica Brasil
desenvolvido pela Associação Brasileira das Empresas de
Pesquisas Nacional (ABEP, 2008).
Variável
n
Nível Socioeconômico (ABEP)
B
1
C
28
D
8
Grau de Escolaridade do chefe da família
Analfabeto/ 3 serie ensino
2
fundamental
Fundamental incompleto
4
Fundamental completo
20
Médio completo
11
%
2,7
75,7
21,6
5,4
10,8
54,1
29,7
Avaliação Antropométrica
De acordo com a avaliação antropométrica
verificou-se que 70% apresentavam eutrofia,
11% baixo peso, 16% sobrepeso e 3% obesos
(Figura 1). Silva (2005), em um estudo com 1616
crianças e adolescentes de diferentes condições
socioeconômicas encontrou uma prevalência de
sobrepeso de 14,5% e 8,3% de obesidade, desta
forma o nosso estudo por ser uma amostra bem
menor apresentou uma alta prevalência de sobrepeso
e obesidade.
A Pesquisa de Orçamento Familiar - POF
2008-2009 (BRASIL, 2010a), revelou que uma a cada
três crianças de 5 a 9 anos apresenta excesso de peso.
Já a avaliação do déficit de peso da média nacional
foi de 4%. Deste modo, o resultado encontrado no
presente estudo, revela que o índice de baixo peso
Vitória-ES, 2013, vol.02, nº1, p.74-82
está superior a média nacional.
Figura 1 – Distribuição do diagnóstico nutricional de crianças
na faixa etária de 7 a 10 anos assistidas pelo Cajun, segundo a
classificação do IMC/IDADE.
A POF 2002-2003 (BRASIL, 2006b) mostrou
que há forte tendência de diminuição da prevalência
de desnutrição com o aumento da renda familiar. Foi
observado que crianças com idade entre 5 e 9 anos,
cujas famílias possuem renda inferior a um quarto
de salário mínimo per capita apresentavam 9,2% de
desnutrição e famílias que recebiam mais 5 salários
mínimos per capita apresentava 2,1%, denotando a
forte determinação que a renda familiar exerce sobre
o risco da desnutrição infantil no país. Sendo assim,
no presente estudo realizado também com crianças
em vulnerabilidade social encontrou- se valores
aproximados com a pesquisa citada acima.
Evidências científicas revelam que crianças e
adolescentes obesos apresentam baixa auto-estima,
afetando o desempenho escolar e os relacionamentos,
além de pesquisas evidenciarem o surgimento da
aterosclerose e da hipertensão arterial na infância. O
hábito alimentar e de atividades físicas são formados
nessa faixa etária, daí provém à preocupação em
prevenir, diagnosticar e tratar a obesidade ainda
na infância (ABRANTES; LAMOUNIER; COLOSIMO,
2002).
Avaliação do Consumo Alimentar e do Nível de
Conhecimento de Nutrição
As práticas alimentares são adquiridas
durante toda a vida, destacando-se os primeiros
anos como um período muito importante para o
estabelecimento de hábitos alimentares que podem
promover ou não a saúde do indivíduo. Observa-se
que na avaliação do consumo alimentar realizada
entre os dias 18 a 24 de Outubro de 2010, (Figura 2)
51,4%; 48,6% e 32,4% das crianças não consumiram
em nenhum dos dias salada crua, legumes/verduras
cozidos e frutas frescas, respectivamente. Já com
relação ao consumo de feijão e leite/ iogurtes foi
observado que 59,2% e 51,4%, respectivamente,
consumiram nos últimos sete dias.
77
NUTRIÇÃO
Capoeira
Queimada
Natação
As dificuldades para motivar os indivíduos
a alterar o seu consumo alimentar tem sido muito
estudas, devendo-se considerar a complexa gama
de fatores ambientais, nutricionais, psicológicos,
sociais e culturais envolvidos nesse comportamento.
A maior barreira para a prática de mudanças na dieta
é a crença de que não há necessidade de alteração
dos hábitos alimentares, decorrente, na maioria
das vezes, de uma interpretação errada do próprio
consumo (TORAL, 2006).
O consumo alimentar na infância e
adolescência tem sérias implicações no crescimento,
na promoção de saúde, em longo prazo, e no
desenvolvimento do comportamento alimentar
durante a vida adulta. Além disso, o estilo de vida
nessa fase, ao sofrer influências, como as exercidas
pelo convívio familiar, amigos, mídia e pressão
social, poderá acarretar alterações no consumo
alimentar, levando a prejuízos nutricionais em
função das elevadas demandas ocasionadas pelo
rápido crescimento e desenvolvimento ocorridos
nesse período (TORAL, 2006).
Programas de educação nutricional são
necessários para enfrentar o atual quadro de morbimortalidade da população, que tende a agravar-se
pela tendência que vem sendo observada nos padrões
de consumo alimentar. Há receptividade, interesse e
necessidade social de ações de educação nutricional,
porém inexiste o espaço institucional, entendido
por cargos e funções nas organizações de saúde
(BOOG, 1999). Sendo assim, a Educação Nutricional
tem como desafio a aproximação desses múltiplos
componentes no intuito de promover um hábito
de vida mais saudável por meio do esclarecimento
dos inúmeros fatores determinantes da alimentação
humana (BOOG, 1999).
Ao avaliar o questionário aplicado sobre
Nutrição, foi possível observar que as crianças
envolvidas no Cajun possuíram um nível de
conhecimento de Nutrição favorável às suas
idades, pois souberam responder as questões.
Tal conhecimento é justificado pelo fato do tema
“Alimentação e Saúde” ter sido debatido com
as crianças no primeiro trimestre do ano, sendo
trabalhada a importância da alimentação adequada,
a pirâmide alimentar, e realizadas atividades lúdicas
promotoras de umas alimentação saudável.
Em um estudo realizado em São Paulo, em
escolas públicas, foi analisado o desenvolvimento,
implementação e impacto de um programa de
educação nutricional sobre conhecimentos e atitudes
relativos a hábitos alimentares saudáveis de crianças
e foi observado uma melhora na escolha alimentar
dos estudantes e redução no consumo de alimentos
com alta densidade energética (GAGLIANONE et al,
2006).
78
Episteme - Revista Científica da Faculdade Católica Salesiana do Espirito Santo
NUTRIÇÃO
Figura 2 – Frequência do consumo alimentar (alimentos
saudáveis) das crianças do Cajun.
No estudo realizado por Carvalho et al
(2001) com adolescentes de 10 a 19 anos as frutas
foram consumidas por mais de 80% dos indivíduos
e 80 a 90% da amostra consumiu feijão pelo menos
uma vez na semana. De acordo com a POF 20082009 (BRASIL, 2010b), mais de 90% dos brasileiros
consomem menos frutas, legumes e verduras do que
o recomendado pelo Ministério da Saúde. A pesquisa
demonstrou ainda, que os alimentos mais comuns
na mesa dos brasileiros de todas as classes, regiões
e idades são café, feijão, arroz, sucos, refrigerantes e
carnes bovinas. De acordo com a POF a parcela mais
pobre da população brasileira é a que mantém uma
dieta mais saudável, considerando os itens presentes
na mesa dessas pessoas diariamente.
Na Figura 3, nota-se que houve baixo
consumo dos alimentos não saudáveis nos sete
dias estudados, sendo que nenhuma criança
consumiu batata frita todos os dias. Observa-se que
29,7% das crianças não consumiram hambúrguer,
40,5% não consumiram biscoitos doces e balas e
24,3% não ingeriram refrigerantes. Ao observar a
frequência de consumo de refrigerante, constatouse que 32,4% dos indivíduos o consumiram de 3
a 6 dias na semana. Tal resultado representa um
consumo elevado quando comparado ao leite.
Figura 3
(alimentos
– Frequência
não saudáveis)
do
das
consumo alimentar
crianças do Cajun.
A e 9 mg de vitamina C (BRASIL, 2009). Desta forma
como observado em alguns dias a recomendação foi
atingida e em outros não.
Conrado (2007), também não encontrou a
adequação do cardápio segundo as recomendações
do PNAE, sendo que o ponto de corte utilizado em
seu estudo foi de 350 calorias, diferente do utilizado
no presente estudo. Flávio e colaboradores (2008)
avaliou o cardápio de merenda escolar em 16 escolas
e destas 15 estavam abaixo da meta proposta
pelo PNAE, não atingindo a recomendação das
necessidades nutricionais.
Para análise nutricional do cardápio foi
utilizado o programa de Nutrição Nutwin (2005).
Após a análise foi observado que a recomendação
Apesar de obterem um conhecimento de de cálcio foi atingida apenas na segunda feira, a
nutrição não se justifica que elas façam escolhas recomendação de ferro e vitamina C foi atingida
alimentares adequadas. Pelo fato de não disporem
apenas na quarta feira, os demais dias e nutrientes
de condições econômicas suficientes para o
consumo de uma alimentação equilibrada, acabam não foi atingida a recomendação preconizada pelo
consumindo o que lhe é mais acessível, ou o que é PNAE (Tabela 3).
oferecido nos ambientes escolares. Desta forma, faz
se importante a presença do profissional habilitado Tabela 3 – Analise Nutricional do cardápio servido no Cajun
a elaborar os cardápios destes locais a fim de obter Praia do Suá.
uma alimentação equilibrada.
Avaliação da Qualidade Nutricional do Cardápio
DIAS DA
VET
CHO
PTN
LIP
Ca
Fe
Na
Vit A
Vit C
SEMANA
(Kcal)
(Kcal)
(Kcal)
(Kcal)
(mg)
(mg)
(mg)
(RE)
(mg)
Segunda
331,32
160,72
38,12
132,48
300,24
1,52
363,26
69,6
2,18
Na avaliação do cardápio oferecido
Terça
88,73
72,56
13,56
2,61
2,55
0,51
2,55
às crianças, foi observado que nem sempre a
Quarta
490,26 354,76 22,64 112,86
170,8 2,38
339
182
36,68
recomendação nutricional estabelecida pelo PNAE
Quinta
177,45 126,8
21,4
29,25
10,42 0,58
1,36
0,47
é atingida (Figura 4). Visto que, o cardápio não é
elaborado por nutricionista, já que no momento
da pesquisa não havia este profissional na rede da Deste modo, o cardápio deve passar
Prefeitura de Vitória responsável pelo atendimento
por algumas modificações, pois não atingiu as
ao Projeto Caminhando Juntos.
recomendações do PNAE. Sendo assim, é importante
Figura 4 – Comparação do valor calórico oferecido a presença do profissional de nutrição para elaboração
dos cardápios visando garantir a adequação da
as crianças comparado à recomendação calórica do
alimentação oferecida em termos qualitativos
PNAE.
e quantitativos, levando em conta as diferenças
Para crianças de 6 a 10 anos a recomendação de
culturais e regionais, além da disponibilidade de
20% das necessidades equivalem a 300 calorias, 260
alimentos em cada local.
mg de cálcio, 1,6 mg de ferro, 120mcg de vitamina
600
Recomendado
Valor calórico
500
Oferecido
400
300
200
100
0
Segunda
Terça
Quarta
Dias da Semana
Vitória-ES, 2013, vol.02, nº1, p.74-82
Quinta
Avaliação das Práticas de Higienização do
Manipulador e dos Equipamentos
Na Tabela 4 é apresentada a descrição do
serviço de alimentação, quanto a adequação dos
procedimentos de boas praticas de manipulação e
procedimentos de manipulação dos alimentos.
Nota-se que há muitas inadequações por parte
da merendeira nos procedimentos realizados com
alimentos, conforme a RDC 216, de 15 De Setembro
de 2004 (BRASIL, 2004). Tais procedimentos poderão
79
NUTRIÇÃO
No presente estudo, apesar da evidência
de condição nutricional adequada segundo o
IMC, foram verificados distúrbios nutricionais
incidentes como baixo peso, sobrepeso e obesidade,
podendo estar associados a hábitos alimentares
inadequados. Para uma melhor classificação do
estado nutricional seria necessária uma avaliação
bioquímica, pois avaliaria se mesmo as crianças
eutróficas estão sem comprometimento nutricional
(anemia, hipovitaminose A, dislipidemias). Do ponto
de vista nutricional, a importância do consumo de
uma alimentação equilibrada aliada as práticas de
atividades físicas, evitam o aparecimento de doenças
crônicas não transmissíveis como obesidades,
dislipidemias, hipertensão.
ocasionar o surgimento de Doenças Transmitidas
por Alimentos (DTA), nas crianças que consomem as
refeições. Com isto compreende-se que é necessária
a realização de treinamentos de boas práticas de
manipulação a fim de evitar danos a saúde das
crianças assistidas pelo Cajun.
ser orientados e supervisionados por profissional
qualificado tendo em vista que a não realização dos
procedimentos corretos com a alimentação podem
levar a surtos alimentares. Desta forma a implantação
de medidas de segurança alimentar se faz necessário
o mais rápido possível.
Tabela 4 – Características observadas no manipulador de 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
alimentos quanto à situação e condições das boas práticas de
alimentação.
CARACTERÍSTICAS OBSERVADAS
SIM
NÃO
Foi realizado treinamento sobre
Higiene e Manipulação de
Alimentos
X
Uniforme específico para o
manipulador de alimentos
X
Ocorre o uso de toucas
X
Ocorre o uso de sapatos
fechados
X
As unhas são curtas e sem
esmalte
X
Utiliza adornos (brincos, anéis)
durante as preparações dos
alimentos
X
Higienização das mãos é
realizada com produtos
adequados
X
Ocorre o acondicionamento de
alimentos adequadamente
X
Descongelamento de alimentos
X
Higienização de Hortaliças e
legumes
X
NUTRIÇÃO
ADEQUADOS
Apesar da evidência de condição nutricional
adequada segundo o IMC, foram verificados distúrbios
nutricionais incidentes como baixo peso, sobrepeso
e obesidade, podendo estar associados a hábitos
alimentares inadequados. A inadequação do valor
energético do cardápio e das condições higiênicosanitárias podem estar associadas a inexistência de
um profissional específico da área de nutrição.
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Segundo Cavalli (2007), para a segurança
alimentar é de extrema relevância a capacitação
dirigida aos colaboradores, para operacionalizar
sistemas de controle de qualidade. Contudo, os
treinamentos para a gestão da qualidade requerem
custos e necessitam de profissionais da área de
alimentos e nutrição para a sua concretização. Para
Teixeira (2000), o recebimento de alimentos é a
primeira etapa de controle higiênico sanitário no
estabelecimento e deve compreender atividades de
conferência da qualidade dos produtos recebidos.
Para a higienização de hortaliças e legumes
não são seguidas as recomendações de boas Praticas
de Manipulação de Alimentos, sendo utilizado
apenas vinagre e limão. O descongelamento de
alimentos também é realizado de forma inadequada,
ocorrendo sob a bancada e a temperatura ambiente,
favorecendo assim a proliferação de microrganismos.
As boas práticas de manipulação e os
procedimentos realizados com os alimentos deveriam
BOOG, M. C. F. Educação nutricional em serviços
públicos de saúde. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro,
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82
Episteme - Revista Científica da Faculdade Católica Salesiana do Espirito Santo
Religiosidade/espiritualidade e sua relação com a saúde mental
Andréa Campos Romanholi¹, Lisiane Fernanda Ferreira²,
Márcio Fernandes de Oliveira³, Welison Dias de Sousa4.
Faculdade Católica Salesiana do Espírito Santo, Av. Vitória, 950, Forte São João, Vitória-ES,
[email protected][email protected], ³[email protected], [email protected]
1
RESUMO
Este artigo trata do tema religiosidade/espiritualidade e saúde mental. O conteúdo foi
derivado de uma pesquisa dos alunos da Faculdade Salesiana de Vitória, realizada na
disciplina Estágio Básico I, no segundo semestre de 2008. A pesquisa teve como objeto a
investigação da questão da religião no tratamento de usuários dos serviços de saúde mental
e teve como objetivos principais a análise do papel da religiosidade na vida de usuários e
seus familiares e a relação que os mesmos estabelecem entre este aspecto, seu transtorno
e o processo terapêutico. Buscou-se investigar como a dinâmica religiosa é compreendida
pelos profissionais que lidam com a saúde mental e como é trabalhada por eles no processo
terapêutico dos usuários dos serviços, além de coletar informações sobre as possíveis
relações entre psicose e religiosidade/espiritualidade. O trabalho de campo foi realizado no
Centro de Atenção Psicossocial Moxuara (CAPS Moxuara) e na Unidade de Saúde da Família
Jesus de Nazareth, ambas as instituições públicas de saúde. Como procedimento de coleta de
dados, foram realizadas entrevistas semi-etruturadas em 11 sujeitos divididos nas categorias:
usuários, familiares e profissionais de serviços de saúde mental. A análise de conteúdo foi
utilizada para analise dos resultados que apontaram um papel predominantemente positivo
para a religião, sendo esta positividade derivada principalmente pelo fato de possibilitar
socialização e contatos, além de fornecer apoio e ter efeito de doação de significado,
suporte e superação de dificuldades para usuários e familiares. Porém, também foi citado
seu possível papel de disparadora de psicoses, à semelhança de outras vivências intensas.
Palavras-chave: Religião. Saúde mental. Psicose. Tratamento psiquiátrico. Sociabilidade.
ABSTRACT
Vitória-ES, 2013, vol.02, nº1, p.83-89
PSICOLOGIA
This article deals with the subject religiosity/spirituality and mental health. The content was
derived from a survey of students from Salesiana College of Vitória, held in the discipline
Basic Stage I, in the second half of 2008. The research aimed to investigate the issue of
religion in the treatment of mental health service users and had as main objectives the
analysis of the role of religion in the lives of users and their families and the relationship
they establish between this, his disorder and the therapeutic process. We attempted to
investigate how the religious dynamic is understood by professionals who deal with mental
health and how they work in the service users therapeutic process, in addition to collect
information about possible relationship between psychosis and religiosity / spirituality. Field
work was conducted at Moxuara Psychosocial Care Center (Moxuara CAPS) and at the Jesus
of Nazareth Family Health Unit, both public health institutions. As a procedure for collecting
data, were realized semi-structured interviews in 11 people divided into categories: users,
family and professionals working in the mental health services. The content analysis was
used to analyze the results that showed a predominantly positive role for religion, and this
83
positivity derived mainly because of possible socialization and contacts, in addition to providing support and
take effect on donation of meaning, support and overcoming difficulties for users and families. However, it
was also said its possible role in firing psychoses, like other intense experiences.
Keywords: Religion. Mental health. Psychosis. Psychiatric treatment. Sociability.
PSICOLOGIA
1 INTRODUÇÃO
A importância dada à religiosidade e à
espiritualidade pelos diversos grupos humanos nos
faz refletir sobre a relação entre essa dimensão
humana e a saúde mental. “A religiosidade [...] é uma
das dimensões mais marcantes e significativas (assim
como doadora de significado) da experiência humana
cotidiana, da subjetividade” (DALGALARRONDO,
2008, p.16).
Podemos definir como religião a crença
no transcendente, em algo ou alguém que criou
e controla todo o universo, e que lhe deu vida e a
possibilidade de eternizar-se num plano espiritual
após a morte. Já a religiosidade é a crença e prática da
religião, o que envolve seus dogmas, normas morais
e éticas e os seus rituais. A espiritualidade envolve
questões concernentes ao propósito e ao significado
da vida, não adotando uma crença ou prática religiosa
específica (PANZINI et al., 2007, p.106).
A religiosidade/espiritualidade é tão antiga
quanto ambivalente: acompanha a humanidade ao
longo de sua história, “tendo inspirado o que há
de melhor no ser humano, e também o que há de
pior” (LOTUFO NETO, 1996, p. 1). Em toda e qualquer
organização humana podemos verificar aspectos
da espiritualidade seja em crenças, mitos, práticas
ou rituais, o que demonstra o quão prevalente esta
dimensão é para o ser humano.
Segundo Almeida et. al. (2000, p.1), “as
dimensões espirituais e religiosas da cultura estão
entre os fatores mais importantes que estruturam
a experiência humana, as crenças, os valores, o
comportamento e os padrões de adoecimento”.
Porém, embora tenha esta relevância, a psiquiatria
tende a ignorar ou a considerar negativas ou
patológicas tais dimensões da vida. Possivelmente
por esta razão, os estudos sobre a espiritualidade e
a religiosidade e sua relação com a saúde mental e
com os tratamentos não foram muito proeminentes
por longo tempo.
A pesquisa bibliográfica aponta que desde
o final do século XIX e início do XX já se produziam
alguns estudos no Brasil acerca das relações entre
religião e transtornos mentais (DALGALARRONDO,
2007, p.31). Porém, os olhares dispensados à religião
84
por médicos, psiquiatras e psicólogos, em geral tem
sido de desinteresse ou de patologização, ou seja, ora
a religiosidade é considerada como sem importância,
ora tida como causa e/ou evidência de transtornos
mentais (PANZINI et al., 2007, p.106). Mas tais visões
vêm se modificando devido tanto a estudos que têm,
com seus resultados, confirmado a importância da
religiosidade/espiritualidade, quanto pela prática
terapêutica apontar que esse aspecto não deve ser
ignorado (DALGALARRONDO, 2007, p.29 ).
Segundo Herrera (apud DALGALARRONDO,
2007, p.26), no Brasil a pesquisa científica sobre
religião teve inicio com a institucionalização da
sociologia no país e, embora tenham se intensificado
nos últimos 15 anos, a maioria dos estudos
ainda se situa predominantemente nos campos
da antropologia, sociologia e teologia, sendo
minoritárias as pesquisas em psicologia e saúde. Tal
panorama tem mudado nas duas últimas décadas no
Brasil, quando vemos surgir vários estudos sobre o
tema, como cita Dalgalarrondo (2007, p. 32):
Pode-se, finalmente, constatar uma rica multiplicidade
de temas abordados nesses estudos sobre religiosidade
e saúde mental. A presença do religioso no modo de
construir e vivenciar o sofrimento mental tem sido
observada por muitos dos pesquisadores. Assim é o
caso tanto em estudos com contornos mais qualitativos
e etnográficos, como com os mais bem quantitativos e
epidemiológicos. Isso também é constatável tanto para
os transtornos mentais mais leves, como ansiedade e
depressão, como para os quadros graves, como nas
psicoses. A busca por algum alívio do sofrimento, por
alguma significação ao desespero que se instaura na
vida de quem adoece, parece ser algo marcadamente
recorrente na experiência, sobretudo para as classes
populares.
A abordagem da espiritualidade/religiosidade
na sua relação com a saúde mental e com o tratamento
pode ser feita a partir de diversas inter-relações, tal
como análise da presença de transtornos mentais
em pessoas religiosas, análise de como a religião
interfere na vivência do sofrimento, qual a sua
influência na recuperação, etc. Também é importante
analisar o lugar e a função da religião em cada cultura
ou grupo cultural antes de se fazer quaisquer leituras
interpretativas que possam desvirtuar o sentido das
crenças e/ou práticas particulares de populações
Episteme - Revista Científica da Faculdade Católica Salesiana do Espirito Santo
dos estudos contemporâneos sobre religião e
saúde mental, mostra que na concepção de causa
e determinantes dos transtornos mentais entre
usuários e familiares, sempre estão presentes
questões ligadas a “problema espiritual”, “causas
sobrenaturais” ou outras formas de nomear o fator
A religião é, seguramente, um objeto de investigação religioso como presente na causação do problema. dos mais complexos, posto que, como fenômeno Por outro lado, além de ser comum a ligação
humano, é, a um só tempo, experiencial, psicológico,
sociológico, antropológico, histórico, político, teológico feita por usuários e familiares entre fatores espirituais
e filosófico. Enfim, implica abordagens e dimensões ou religiosos na etiologia dos transtornos, também é
várias e de distintas espécies da vida coletiva e frequente a busca de formas diversas de experiências
individual. Ela é, não se pode negar, fenômeno religiosas como forma de lidar com o sofrimento.
humano de decisiva centralidade e de complexidade Como cita Dalgalarrondo (2007, p. 32) “a experiência
incontornável.
com a religião ajudou-os a nomear suas vivências
Por saúde mental entenda-se não a ausência psicóticas e lhes atribuir sentido. Serviu também
de transtornos mentais, mas, como conceito mais para lhes assegurar um senso de identidade”. Assim, consideramos que uma maior
amplo, a capacidade do ser humano em produzindo aproximação
do tema com as relações entre
resiliência psicológica, administrando a própria
vida em suas atividades e exigências emocionais religiosidade, espiritualidade, saúde mental e
cotidianas. (PARANÁ, 1997, p.1). Delimitamos processo terapêutico se justifica tanto no sentido de
nossa pesquisa na investigação sobre as relações buscar ampliar o conhecimento científico do sentido
estabelecidas entre religiosidade/espiritualidade, destas relações como também ampliar os vínculos
saúde mental e processo terapêutico pelos usuários, e os benefícios do tratamento, por ser um aspecto
familiares e profissionais do CAPS Moxuara, localizado relevante para aproximar os profissionais de saúde das
em Cariacica e da Unidade de Saúde da Família de formas de entendimentos daqueles de quem cuidam.
Ainda que sejamos reticentes quanto às orientações
Jesus de Nazaré, localizada em Vitória.
no sentido de que se utilize da espiritualidade como
eixo dos tratamentos, concordamos com Moreira2 JUSTIFICATIVA
O IBGE, citado por Peres et al (2007, p. Almeida (2007, p.4) quando diz:
140), traz a informação de que entre os brasileiros
Não importa se possuímos crenças materialistas
aproximadamente 92% acreditam na vida após a
ou espirituais, atitudes religiosas ou anti-religiosas,
morte e apenas 7,3% da população não tem religião.
necessitamos explorar a relação entre espiritualidade
e saúde para aprimorar nosso conhecimento sobre o
Este dado por si mesmo já indica a importância da
ser humano e nossas abordagens terapêuticas.
espiritualidade e da religiosidade no nosso país, o
que a torna um tema de destaque para a realização
3 OBJETIVOS E MÉTODO
de pesquisas.
No campo da pesquisa em saúde mental e
Esta pesquisa teve como objetivo geral
psicopatologia, a relevância do tema se destaca um
investigar as relações estabelecidas entre
tanto mais quando vemos que “a maioria dos estudos
religiosidade/espiritualidade, saúde mental e
que investigou a relação entre a religiosidade/
espiritualidade e a saúde mental revelou que processo terapêutico pelos usuários, familiares e
níveis mais elevados da participação religiosa estão profissionais do CAPS Moxuara e da Unidade de
associados com maior bem-estar e saúde mental” Saúde da Família de Jesus de Nazaré. Este foi dividido
(MOREIRA-ALMEIDA, apud PERES et al, 2007, p. 140). em três objetivos principais: (1) investigação do
papel da religiosidade na vida de usuários e seus
Outro aspecto a ser considerado quando familiares e como relacionam este aspecto com seu
pensamos na pertinência de pesquisas sobre transtorno – ou do familiar - e processo terapêutico;
religiosidade e saúde mental está no fato de que (2) investigação de como a dinâmica religiosa é
parte dos usuários de serviços de saúde mental e seus compreendida pelos profissionais que lidam com
familiares relacionam o transtorno mental a algum a saúde mental e como é trabalhada por eles no
aspecto do campo da religiosidade. Dalgalarrondo processo terapêutico dos usuários dos serviços e (3)
(2007, p.32), ao fazer um levantamento e revisão coleta de informações sobre as possíveis relações
Vitória-ES, 2013, vol.02, nº1, p.83-89
85
PSICOLOGIA
específicas. Enfim, para se compreender a dimensão
religiosa faz-se necessária a articulação entre diversas
áreas do saber (antropologia, filosofia, sociologia,
psicologia, entre outras), pois, como expressa
Dalgalarrondo (2008, p.16):
PSICOLOGIA
entre psicose e religiosidade/espiritualidade.
Adotamos como metodologia de pesquisa
a abordagem qualitativa. O tema ainda pouco
explorado trouxe aos pesquisadores desafios que por
si só foi mai incentivador, suscitando sentimentos
de desbravar frentes de assuntos muitos presente
no social mais pouco estudado, principalmente em
psicologia. A pesquisa tem caráter exploratório e
os dados colhidos foram analisados considerandose a singularidade do contexto local e cultural dos
sujeitos da pesquisa, buscando, também articular
os resultados locais com as análises e resultados
apresentados por pesquisadores que investigam o
tema no contexto nacional e internacional.
Como instrumento de coleta de dados
utilizamos entrevistas semiestruturadas em dois
usuários, dois familiares e dois profissionais (Artista
Plástica e Assistente Social) do Centro de Atenção
Psicossocial Moxuara (CAPS Moxuara), e dois
usuários, um familiar e dois profissionais (Psicóloga e
Farmacêutica) da Unidade de Saúde da Família Jesus
de Nazareth, ambas instituições públicas de saúde. As
entrevistas foram gravadas com a devida autorização
dos sujeitos e transcritas para a análise. Inicialmente
propomos complementar estes dados por meio do
método de grupo focal, porém o tempo gasto na
revisão do projeto e as dificuldades em encontrar
usuários com familiares na instituição CAPS Moxuara
no horário do estágio inviabilizaram a sua realização.
Os dados de campo foram analisados pela
técnica da análise de conteúdo, por ser uma técnica
que permite organizar fatos sociais em dados
suscetíveis de tratamento quantitativo ou qualitativo
e sua organização de forma significativa para a teoria,
o que possibilita a ampliação do conhecimento
sobre um tema e sua transmissão para os demais
pesquisadores (TOBAR; YALOR, 2001, p.105).
4 APRESENTAÇÃO DO CAMPO
Nossa pesquisa de campo foi realizada em
duas instituições: no CAPS Moxuara, serviço ligado
à Secretaria Estadual de Saúde e localizado em
Cariacica e na Unidade de Saúde de Jesus de Nazaré,
unidade da rede de serviços da Secretaria Municipal
de saúde de Vitória.
A pesquisa, tal como toda outra, contou com
dificuldades no que se refere a permissão para coleta
de dados. Apenas após liberação via secretaria de
saúde e faculdade foi possível iniciar o trabalho de
campo.
No CAPS, foram realizadas seis visitas em
86
quatro semanas consecutivas; pois os dias e horários
que tínhamos disponíveis nem sempre eram os mais
adequados; tanto para encontrar usuários, com
seus respectivos familiares, quanto para entrevistar
os profissionais que estavam ocupados com suas
demandas, seja preparando uma exposição com os
trabalhos desenvolvidos pelos usuários, ou prestando
assistências várias para o melhor acompanhamento
do mesmo.
Na Unidade de Saúde da Família Jesus
de Nazaré, a psicóloga da instituição marcou as
entrevistas com os usuários e seus familiares, bem
como com os profissionais.
O tema proposto se mostrou interessante
aos entrevistados, porém mobilizador de reflexão
e até de esquiva de alguns para não responder,
possivelmente por tocar em questões de valores e
ética de cunho pessoal e profissional.
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nas entrevistas realizadas não surgiram
diferenças significativas na fala das três categorias
entrevistadas (usuário, familiar e profissional), pois
todos vêem a religiosidade principalmente como
algo positivo na vida do sujeito, tendo uma visão
semelhante no que se refere à positividade da relação
entre saúde mental e religiosidade/espiritualidade.
Porém, para os profissionais a positividade desta
relação está principalmente no indivíduo religioso
encontrar um lugar num grupo social, como citado
por um profissional:
[...] é muito bom para ele [...] a pessoa começa
a frequentar a igreja e estabelecer relações
de amizade, de sociabilidade. Isso ajuda. A
igreja é um grupo, ela forma grupos, e esses
ajudam, são importantes, eles contribuem,
eles são socializantes. (profissional)
Já para os usuários e familiares em geral,
apesar de também terem apontado este fator
socializador da religião como algo presente e
positivo, aparece também a ênfase na positividade
decorrente de sua crença e fé, como observado na
fala de um dos usuários:
Passei por problema seríssimo de saúde mental, de
problema mental também, né. Deus restabeleceu a
minha saúde, com apoio dos médicos também, então
acho que na presença do Senhor a gente só tem a
crescer.
Experiências religiosas de
cura ou outras
Episteme - Revista Científica da Faculdade Católica Salesiana do Espirito Santo
Eu fui pagar uma promessa dessa minha irmã, aí ó. Do
filho dela que ia nascer. Na hora que ele ia nascer eu
passei em frente a Nossa Senhora Aparecida e clamei
pra ela. [...] Ela ia tomar injeção desse tamanho e ia
mata ela. Iriam matá-la. Ai na hora os médico ficaram
doido lá e ninguém aplico nada nela. E depois eles
veio... veio, nasceu, mas com problema de... de refluxo.
Mas graças a Deus ele tá melhorando. Esse mês nós
vamo pagá a promessa que nós fizemo. (Usuário)
Coincidiu de que quando eu falei o horário que eu estava
no hospital que o neném nasceu, foi o horário que ele
estava intercedendo, pedindo sabe, a Nossa Senhora
que intercedesse mesmo, para que tudo corresse bem,
pra que nós dois saíssemos com vida daquele parto ali.
[...] Podem até dizer que é coincidência, mas, para ele
não foi, foi um pedido que foi atendido, e eu também
acreditei nisso. (Familiar do Usuário)
Nos dois serviços pesquisados não
encontramos nenhum tipo de oposição à busca pela
religiosidade/espiritualidade por parte dos usuários,
porém também não há nenhuma utilização desta
dimensão no processo terapêutico, exceto em casos
em que o serviço sabe que um líder religioso se faz
muito presente na vida de algum usuário específico,
quando há ocasiões em que o profissional do
serviço busca interlocução com este como parte do
tratamento de tal usuário.
No CAPS, onde acontecem vários grupos
e oficinas, não há por iniciativa dos profissionais
nenhum espaço para discussão religiosa. Porém,
como o serviço lida com a oferta de espaços para que
os usuários encontrem formas de se expressarem e se
manifestarem, existe a abertura para que os usuários
criem por eles próprios este espaço de expressão
religiosa caso queiram, como foi o caso citado por
um usuário de se reunir com colegas para falar da
religião enquanto estão no CAPS:
Quando nós, com o internado Rabelo, sentava ali debaixo
do pé de manga ali, eu que sou católico, Max Mota que
é católico, Paulo Sérgio que é católico, [?] que é católico
e o Jaime que é adventista. Aí a gente fala do evangelho
de Domingo. [...] falamos da nossa religião.
Vitória-ES, 2013, vol.02, nº1, p.83-89
O que o cara pregô no evangelho ... leitura e tudo. E o
Jaime já fala da religião dele. Quer dizer, é uma... é um
repasse, né. Ele fica meditando no evangelho. O Jaime
falando do dia que ele era adventista, e nós falamos do
dia que nós fomos católico. (Usuário)
Todos os entrevistados apóiam a busca por
uma religiosidade, exceto que os profissionais o
fazem de forma menos diretiva, a incentivando
apenas se o usuário trouxer isto ao profissional.
A fala dos profissionais entrevistados
evidencia o rompimento de uma estereotipia que as
ciências médicas modernas mantinham desde muito:
a associação da religião apenas como a projeção
de fantasias e de ilusões humanas e sua presença
sempre como sintomática nos quadros patológicos.
Esta postura resultava em certa desconsideração
das experiências religiosas/espirituais na análise
da estruturação da experiência humana, tendendo
os profissionais da saúde mental, de acordo com
Almeida et al (2000, p.1):
[...] a ignorar ou a considerar patológicas as
dimensões religiosas e espirituais da vida [...]. Assim
como a religiosidade é tradicionalmente vista de
modo negativo pela psiquiatria, as experiências
místicas e espirituais são tidas como evidências de
psicopatologia.
Nas entrevistas realizadas nesta pesquisa, os
profissionais foram unânimes em afirmar que pode
existir tanto fatores negativos como positivos na
religiosidade/espiritualidade do usuário dos serviços
de saúde mental, a depender da forma como a
religiosidade é vivida.
Assim, emergiram apontamentos sobre a
religiosidade/espiritualidade como fator que auxilia
na estabilização do usuário e no enfrentamento de
suas dificuldades, como na fala de profissional:
Algumas religiões [...] ajudam a confortar a
pessoa, [...] ajuda a aceitar os tropeços da vida,
as dificuldades, as doenças. (Profissional)
Este aspecto de tranquilização e conforto
da religião também aparece na fala de um familiar:
Quando ele tá fora eu acho assim, que ele fica mais assim
com problema, fica mais com estado de nervo. E quando
ele vai pra igreja direto, ele começa a reunir, aquilo já acalma
mais, já muda o semblante dele. (Familiar de usuário)
87
PSICOLOGIA
formas de manifestação divina apareceram na fala
de usuários, mas também entre os familiares, o que
nos permite inferir se tratar de experiências típicas
da cultura religiosa, e não decorrentes do transtorno
psicótico, ao menos não exclusivamente. Koenig
(2007, p.95) menciona que “enquanto cerca de um
terço das psicoses têm conteúdo religioso, nem todas
as experiências religiosas são psicóticas”.
Acerca disto, citando vários estudos Peres
et al (2007, p. 140) relatam que na maioria destes
a relação entre a religiosidade/espiritualidade e a
saúde mental revelou que níveis mais elevados da
participação religiosa estão associados com maior
bem-estar e saúde mental, o que permite pensar
que a religiosidade pode ter efeito preventivo nos
transtornos mentais, funcionando positivamente
no manejo de situações estressoras. Segundo
Dalgalarrondo (2007, p. 177):
Tanto os numerosos estudos transversais como alguns
estudos de seguimento bem conduzidos evidenciam
que, de modo geral, sujeitos que se envolvem com a
vida e atividades religiosas, como frequência a cultos,
orações e leitura de textos religiosos, e se consideram
“pessoas mais religiosas” apresentam maior bem estar
psicológico e menores prevalências de depressão,
uso, abuso ou dependência de substâncias, ideação e
comportamentos suicidas.
também nos grupos religiosos onde muitas vezes
os usuários não são compreendidos e acabam por
ser destituídos dos lugares que ocupavam dentro
desse grupo, numa atitude de exclusão por parte do
grupo que é muito impactante para seu mundo já tão
limitado de relações.
Em algumas igrejas, algumas pessoas são excluídas,
porque ela atrapalha, na hora de uma leitura, um grupo
de leitura, essa pessoa, ela atrapalha, ela fala muito,
desordenadamente... Então eu já atendi um caso em
que eles afastaram a pessoa, excluíram porque ela
atrapalhava os cultos. (Profissional)
Esta ocorrência de exclusão e destituição
do lugar ocupado por esse indivíduo dentro de
um grupo social apareceu ainda entre os usuários
entrevistados, onde foi citado um caso em que além
da exclusão do grupo houve a questão da perda dos
vínculos, onde todas as pessoas que antes mantinha
A positividade da religiosidade/espiritualidade algum tipo de contato social passaram a ignorar sua
na fala dos profissionais no que se refere à fé e crença existência.
Dois dos quatro profissionais entrevistados
do usuário, não está relacionada à sua busca pela apontaram
como podendo ter a religião um efeito
divindade, mas na busca por um sentido na vida:
negativo quando interfere no tratamento e na
[...] ele também traz uma questão de você acreditar medicação dos usuários. Dependendo da vivência
em algo, de acreditar... de você acreditar em coisas. que o usuário e seus familiares experimentam com
De estar muito num quadro de depressivo, acha que sua religião e seus dogmas, há possibilidade de
as coisas não têm jeito, não tem solução né... Então suspensão da medicação e do acompanhamento
eu acho que a religião ela reforça né, ela traz muito
forte no sentido de você acreditar em alguma coisa, de profissional, prejudicando assim o usuário.
Com relação a isso, foi relatado um caso de
acreditar na vida acreditar, na possibilidade de vida. (Profissional)
uma usuária que estava estabilizada há dois anos e,
por influência de alguns membros de sua religião,
Os profissionais também citam que suspendeu a medicação, tendo seu quadro agravado,
religiosidade da família a torna mais tolerante às ocasionando sua internação em um hospital
diferenças do usuário:
psiquiátrico.
PSICOLOGIA
Elas têm uma capacidade maior de entendimento
da doença, uma certa facilidade de lidar, uma certa
tolerância, uma certa resignação em tá cuidando desse
doente... (Profissional)
É de partir o coração, que cê vê uma pessoa que estava
estável há dois anos, bem, uma vida boa, uma vida
tranquila, e parou de tomar medicação há dois meses
e tá aí...
(Profissional)
A possibilidade de a religião influir no próprio
O maior enfoque, como já citado, foi no surgimento
do transtorno, ao invés de produzir
usuário ter um lugar e sentimento de pertencimento
qualidade de vida, foi citada por um profissional:
ao grupo, o que pode ser um auxílio terapêutico:
[...] eu tenho alguns pacientes que às vezes trazem
já a questão de terem alguma religião e aí eu reforço
a participação até pra poder tá dentro de um grupo
social, pra não tá reforçando a questão do isolamento.
Porque é muito comum, assim, a gente às vezes [...]
Todo o tipo de mudança muito brusca, se a pessoa
já tiver uma pré- disposição, ela desenvolve, e essa
busca desenfreada, muito intensa da religiosidade,
da espiritualidade, pode ser um fator desencadeante,
assim como a perda de uma pessoa, o rompimento da
relação amorosa, ahh.. um parto. (Profissional)
Como aspecto negativo, foi citada a
dificuldade de se lidar com pessoas que possuem
certo tipo de transtorno, o que pode acontecer
88
Episteme - Revista Científica da Faculdade Católica Salesiana do Espirito Santo
Em nossa pesquisa, observamos que a
experiência religiosa tem, em geral, influenciado
positivamente a saúde mental e qualidade de vida
de usuários das instituições pesquisadas e de seus
familiares, proporcionando-lhes inserção social
e uma rede de apoio, bem como oportunizando
significação para suportar e buscar a superação de
suas dificuldades, oriundas ou não de transtornos
mentais. No que se refere à rede de inserção e apoio
social, surprendeu-nos sua presença e frequência nas
falas dos entrevistados, sobretudo dos profissionais,
pois esse produto da religião não foi pensado nem
esperado ao propormos a pesquisa.
Também foi-nos apontada a possibilidade de
experiências religiosas serem fatores disparadores
de psicose, assim como outros eventos intensos na
vida dos sujeitos (óbito de pessoas queridas, parto,
etc.).
Notamos a dificuldade que algumas pessoas
entrevistadas e possíveis entrevistadas têm de tratar
sobre o tema, possivelmente por este estar vinculado
ao campo do pessoal, do particular, do foro íntimo,
dificultando, por esta forma de encarar o fenômeno
religioso, diálogos e reflexões acerca das relações
(positivas e negativas) que a religião mantém com os
campos da saúde, da qualidade de vida, da política,
do social, entre outros.
Apontamos como temas a serem mais
explorados: a religião como rede de inserção e
apoio social; a construção histórica do interdito de
reflexão e diálogo religioso – da não-discussão da
religião, o famoso “religião não se discute” – e de
suas influencias político-sociais e, por conseguinte,
na qualidade de vida.
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pública: conselhos e idéias para formular projetos e
redigir teses e informes de pesquisas. Rio de Janeiro:
Editora Fiocruz, 2001.
89
PSICOLOGIA
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pastoral da criança: contexto de desenvolvimento infantil
Lusineide Cardoso de Melo¹, Christyne Gomes Toledo de Oliveira²
¹Psicóloga - Faculdade Católica Salesiana do Espírito Santo Av. Vitória, 950 - Ilha Monte Belo, Vitória - ES, 29017-950, Brasil. E-mail: [email protected]
²Doutoranda em Psicologia - Universidade Federal do Espírito Santo – UFES, Av. Fernando Ferrari, 51.
Goiabeiras, Vitória, ES - 29075-910, Brasil. Professora da Faculdade Católica Salesiana do Espírito Santo Av. Vitória, 950 - Ilha Monte Belo, Vitória - ES, 29017-950, Brasil. E-mail: [email protected]
RESUMO
No âmbito do estudo do desenvolvimento infantil (DI), o processo de aquisição de habilidades
por parte da criança sofre influência tanto de aspectos hereditários quanto ambientais.
Nesta perspectiva, considerando a Pastoral da Criança (PC), na figura de seus líderes, como
um dos contextos que influenciam no desenvolvimento das crianças assistidas, esta pesquisa
teve como objetivo identificar e analisar os conhecimentos e as habilidades de líderes da PC
a respeito do desenvolvimento infantil, bem como sua forma de atuação junto às famílias
assistidas. Foram avaliados 34 líderes, por meio de questionário e entrevista. O método da
análise de conteúdo proposta por Bardin (1997) orientou a análise dos dados coletados.
Como resultado observou-se que menos da metade (44%) dos líderes demonstraram ter
conhecimento sobre com quais idades às crianças desempenham certas habilidades: físicas,
motoras, cognitivas, linguísticas e sociais. O que pode ser um indicativo da necessidade
de elaboração de uma proposta de intervenção que permita a estes líderes a aquisição de
conhecimento teórico e prático a respeito do processo de desenvolvimento das crianças,
uma vez que conhecer o que é típico de cada idade é fundamental para prevenir possíveis
problemas de desenvolvimento e promover uma estimulação adequada para cada etapa de
desenvolvimento.
Palavras-chave: Desenvolvimento infantil; Pastoral da Criança; Líderes da Pastoral.
ABSTRACT
PSICOLOGIA
Within the study of child development (CD), the process of skill acquisition by the child
suffers the influence of both hereditary and environmental aspects. In this perspective,
considering the Children’s Pastoral (CP), in the figure of its leaders, as one of the contexts
that influence the development of the children attended, this research aimed to identify
and analyze the knowledge and skills of the PC leaders about child development, as well as
their form of action together with the assisted families. A total of 34 leaders were assessed
through a questionnaire and an interview. The method of content analysis proposed by
Bardin (1997) guided the data analysis. As a result, it was observed that less than half of the
leaders (44%) proved to have knowledge about with what ages the children perform certain
physical, motor, cognitive, linguistic and social abilities, which may be an indicative of the
need to develop an intervention proposal that enables these leaders to acquire theoretical
and practical knowledge about the process of children’s development, since knowing what
is typical of each age is crucial to prevent potential developmental problems and to promote
adequate stimulation for each stage of development.
Keywords: Child development; Pastoral care of the child; Pastoral leaders.
90
Episteme - Revista Científica da Faculdade Católica Salesiana do Espirito Santo
Os processos de desenvolvimento humano são
temas de diversas pesquisas, com enfoques variados
no campo da psicologia, que objetivam “entender
como se estabelece à aquisição de habilidades
(físicas, motoras, cognitivas, linguísticas e sociais)
por parte da criança, bem como compreender suas
inter-relações com aspectos genéticos, ambientais e
sociais” (BEE, 1997, p. 31).
O desenvolvimento humano é entendido
por Bronfenbrenner (1996, p. 5) a partir de uma
perspectiva ecológica que considera as múltiplas
inserções e adaptações da criança ao seu
ambiente, e vice-versa. Esta abordagem concebe o
desenvolvimento como “uma mudança duradoura
na maneira pela qual uma pessoa percebe e lida com
o seu ambiente”.
De acordo com Bee (2003, p. 42) a interação
da criança com seu ambiente são recíprocos, porque
“o meio ambiente não ‘acontece’ simplesmente
para as crianças, criando uma situação sem saída.
As crianças interagem com o seu meio ambiente”
promovendo seu desenvolvimento e efeitos mútuos
e recíprocos.
Educar uma criança e promover as condições
ideais para o adequado desenvolvimento de suas
habilidades motoras, cognitivas, linguísticas e
sociais está entre as tarefas mais complexas a
ser desempenhada por um indivíduo adulto. As
condições ideais tais como espaço físico limpo e
arejado; relacionamentos afetivos e que estimulem a
autoestima, a autonomia; educar por reforço positivo
invés de punição etc., são alguns dos eventos que
cabem ao cuidador adulto propiciar à criança no seu
processo de crescimento.
Entretanto, “tal tarefa não é antecedida, na
maioria das vezes, de uma preparação por parte dos
pais ou cuidadores para assumir seu importante papel
de educadores no desenvolvimento das habilidades
necessárias a um apropriado desempenho de seus
filhos” (WEBER, 2009a, p.130 -134).
Nesta condição de cuidadores, podemos
incluir os líderes do Organismo da Pastoral da
Criança (PC) da Igreja Católica, que conforme o seu
Estatuto tem como objetivo: “Contribuir para a
promoção do desenvolvimento integral das crianças
desde sua concepção e, em função delas, promover
também suas famílias e comunidades” (PASTORAL
DA CRIANÇA, 2007, p.298).
A PC na Grande Vitória/ES foi implantada em
maio de 1984 e iniciou suas atividades voluntárias em
Nova Rosa da Penha, bairro do Município de Cariacica.
Vitória-ES, 2013, vol.02, nº1, p.90-95
Desde então a PC foi difundida em outras localidades
da Grande Vitória e interior do Estado como Colatina
e Afonso Cláudio (PASTORAL DA CRIANÇA, 2002).
A PC tem como fundamento “os direitos da
gestante e da criança assegurados na Constituição
Brasileira e no Estatuto da Criança e do Adolescente
– ECA”. São três os eixos que norteiam o serviço de
voluntariado prestado pelos líderes: “a caridade
cristã, a formação contínua e a celebração”. E entre
as atividades desenvolvidas pelos líderes, podemos
destacar: “acompanhamento das famílias, gestantes
e crianças 0 a 5 anos e 11 meses de idade, realização
de visita domiciliar, celebração da vida (pesagem,
brincadeiras, rodas de conversas etc.) e reunião para
reflexão e avaliação” que são realizadas mensalmente
(PASTORAL DA CRIANÇA, 2002, p. 10 e 16).
Weber (2009b, p.10) constata que
“atualmente, são muitas as dificuldades encontradas
pelos pais e mães em educar seus filhos e em
manter uma interação saudável na esfera familiar,
o que torna os grupos de orientação essenciais na
atualidade”. O pressuposto é que cabe ao adulto
(líderes, educadores, pais ou responsáveis) garantir
as condições imprescindíveis para o desenvolvimento
infantil nos aspectos que independem das questões
genéticas. Nesse sentido, pressupõe-se que a
atuação desses líderes na orientação da família, se
voltada a aspectos relevantes do desenvolvimento
infantil, pode ser uma mediação fundamental para
prevenir possíveis problemas de desenvolvimento
das crianças (que, muitas vezes, estão em situação
de risco pessoal e social) bem como encaminhá-las
precocemente a serviços especializados.
A questão colocada por essa pesquisa consiste
em saber quais são os conhecimentos que os líderes
da PC possuem sobre desenvolvimento infantil
e como eles orientam os pais ou cuidadores das
crianças assistidas sobre a estimulação e os cuidados
necessários para promoverem um desenvolvimento
adequado à criança da gestação aos 5 anos e 11
meses. A relevância desta pesquisa é decorrente da
identificação e análise dos conhecimentos que os
líderes adquiriram por ocasião das capacitações que
participaram antes de assumirem a missão de serem
líderes da PC.
2 MÉTODO
Esta pesquisa de natureza descritiva teve
como objetivo identificar e analisar os conhecimentos
que os líderes da Pastoral da Criança, possuem sobre
o desenvolvimento infantil, bem como suas formas
de atuação junto às famílias assistidas.
91
PSICOLOGIA
1 INTRODUÇÃO
PSICOLOGIA
2.1 ParticipantesParticiparam deste estudo 34
líderes, sendo 32 mulheres.
“uma técnica de investigação que tem por finalidade
a descrição objetiva, sistemática e quantitativa do
conteúdo manifesto da comunicação” (Bardin, 1997,
Estes líderes acompanhavam cerca de 270 p.19).
crianças e 10 gestantes, num total de 222 famílias, e
atuavam em 10 comunidades pertencentes à área da 3 RESULTADO
Região de Maruípe na Grande Vitória.
3.1 Caracterização da amostra
2.2 Instrumentos
A amostra foi composta por 94,1% de
Na coleta de dados, foram utilizados os mulheres, com média de 51,2 anos de idade. Cerca
seguintes instrumentos: a) Questionário sócio- de 41% dos líderes eram casados, tinham uma média
demográfico – com dados como sexo, idade, de 2 filhos (29 %) e dividiam suas casas com até 4
escolaridade, estado civil, tempo e local de atuação familiares (47%). A grande maioria dos líderes (67%),
na PC, quantidade de famílias atendidas - para eram pessoas inseridas no mercado de trabalho e
caracterização da amostra; b) Questionário sobre garantiam o seu sustento com renda mensal de até
Desenvolvimento Infantil – com dados sobre três salários mínimos. No que se refere à questão
desenvolvimento físico, motor, de linguagem, da escolaridade cerca de 45% cursaram o ensino
cognitivo e social das crianças; e c) Roteiro de fundamental, 15% o ensino superior e 3% não
entrevista – com dados sobre os conhecimentos possuíam nenhuma escolaridade.
quanto a fatores que auxiliam ou prejudicam o Quanto ao tempo de atuação dos líderes
desenvolvimento infantil bem como as práticas nas ações da PC, cerca de 61% participavam da
desenvolvidas pelos líderes na PC.
mesma pastoral há mais de 5 anos, cerca de 27%
atuavam há pelo menos 4 anos e 12% estavam na
2.3 Procedimento
PC há menos de 1 ano. Mediante tal constatação,
fica o questionamento: O que motiva tais pessoas a
A pesquisa foi realizada em duas etapas, permanecerem atuando tanto tempo em um trabalho
descritas a seguir:
voluntário da PC? Podemos ter uma ideia sobre este
fato pelas respostas dadas à pergunta de como eles
Etapa 1: Identificação e caracterização dos se sentem atuando na Pastoral da Criança: “Sinto-me
participantes - os líderes foram identificados a partir feliz por fazer um trabalho importante”. Ou “Muito
do cadastro de voluntariado da PC que atuam na feliz em poder ajudar as famílias”. Ou ainda, “Eu me
Região de Maruípe na Grande Vitória. Os líderes sinto útil, em poder ajudar as mães destas crianças,
foram convidados pessoalmente pela pesquisadora. passando para elas um pouco do que aprendi na
Assinaram o termo de consentimento e logo após formação”.
iniciou as avaliações em que eles respondiam Em relação à quantidade de famílias, gestantes
individualmente o questionário sociodemográfico.
e crianças que cada líder acompanhava, os resultados
Etapa 2: Coleta de dados com os líderes da pastoral - indicaram um total de 222 famílias, 10 gestantes e
os líderes responderam individualmente e por escrito 273 crianças, com média de acompanhamento de
o questionário sobre desenvolvimento infantil após o oito famílias, uma gestante e nove crianças para cada
roteiro de Entrevista.
líder.
Sendo aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa
da Faculdade Católica Salesiana do Espírito Santo, 3.2 Avaliação sobre aspectos do desenvolvimento
toda a coleta dos dados com os líderes ocorreu após Infantil
autorização destes, em consonância com a Norma nº
196/96 da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa Em relação à avaliação do conhecimento
- CONEP/Conselho Nacional de Saúde/Ministério da dos líderes a respeito da idade média em que as
Saúde (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1996).
crianças apresentam certas habilidades cognitivas,
linguísticas, motoras e sociais, pode-se verificar na
2.4 Análise dos dados
Tabela 1, que os líderes responderam corretamente
cerca de 24% a 65% das questões.
A análise dos dados foi realizada utilizando o Entretanto, os itens que eles apresentaram
método da Análise de Conteúdo proposta por Bardin. mais dificuldades foram em relação aos aspectos
A autora define a análise de conteúdo como sendo sociais e cognitivos, como por exemplo: usar gestos
92
Episteme - Revista Científica da Faculdade Católica Salesiana do Espirito Santo
para se comunicar, seguir o movimento lento de Avaliados quanto aos conhecimentos dos
alguém com a cabeça, demonstrar que reconhece fatores que interferem positivamente (ajudam) ou
pessoas familiares.
negativamente (atrapalham) no desenvolvimento
Tabela 1: Total e proporção de acertos dos líderes quanto aos indicadores de desenvolvimento infantil
Indicadores
1- Sentar sem apoio
2- Usar gestos para se comunicar
3- Ficar em pé sem ajuda
4- Engatinhar
5- Andar com apoio
6- Comunicar-se usando pequenas frases
7- Andar
8- Agarrar e soltar objetos
9- Falar a primeira palavra
10- Controlar o movimento do esfíncter
11- Demonstrar que reconhece pessoas familiares
12- Comer alimentos sólidos
13- Sorrir em resposta ao sorriso de alguém
14 Seguir o movimento lento de alguém com a cabeça
15- Levantar a cabeça e os ombros, apoiando-se nos braços
quando colocado de bruços
16- Virar a cabeça na direção de algum barulho
17- Manter a cabeça firme quando colocado em pé
infantil, pode-se verificar na Tabela 2, que 38% a
88% demonstraram mais dificuldades de identificar
principalmente os fatores de risco ao desenvolvimento,
tais como da própria criança, familiar, social, o que
pode ser o indicativo da necessidade de elaboração de
uma proposta de intervenção que possibilite a estes
Acertos
22
9
13
22
20
17
14
12
17
17
10
21
12
10
Proporção
65%
26%
38%
65%
59%
50%
41%
35%
50%
50%
29%
61%
35%
29%
16
47%
17
8
50%
24%
líderes um maior conhecimento teórico e prático
a respeito de uma triagem do desenvolvimento,
identificando as crianças com maiores riscos, o que
aumenta a possibilidade da minimização dos danos,
caso algum atraso seja identificado.
Tabela 2. Proporção de respostas corretas dadas pelos líderes da PC em relação aos fatores que podem interferir ou retardar
desenvolvimento infantil
Vitória-ES, 2013, vol.02, nº1, p.90-95
%
82
62
79
82
59
47
38
74
88
82
56
82
PSICOLOGIA
Fatores de risco ao desenvolvimento infantil
Submeter a criança a castigos físicos
Falta de aconchego
Parto prolongado
Mãe usuária de drogas lícitas e ilícitas
Gravidez não planejada e não desejada
Linguagem pobre da mãe ou dos familiares
Uso da chupeta
Ambientes pouco espaçosos, desorganizados e mal iluminados.
Mãe estressada e deprimida
Pessoas com problemas emocionais vivendo com a criança
Internação hospitalar
Mãe que estabelece vínculo afetivo pobre com o bebê
93
Em contrapartida, eles demonstraram
capacidade de identificar as variáveis que auxiliam no
desenvolvimento das crianças, tais como os aspectos
voltados para o desempenho motor.
Quanto aos possíveis sinais de atraso no
desenvolvimento infantil relacionados com a própria
criança, os que tiveram os maiores índices de
concordâncias entre os líderes, foi o fato das crianças
se apresentarem de forma retraída, aparentando
solidão, timidez, tristeza, medo e baixo peso (Figura 1).
risco para o desenvolvimento infantil presente no contexto familiar.
Quanto aos sinais de dificuldades no
desenvolvimento infantil, que dizem respeito
ao contexto social, o fator mais relatado foi à
alimentação precária. Entretanto, observa-se que a
falta de acesso a melhores condições de vida que diz
respeito ao macrossistema fica evidente no que se
refere aos fatores que prejudicam o DI (Figura 3).
Figura 3 – Frequência de respostas dos líderes sobre indicativos
de risco para o desenvolvimento infantil presente no contexto
social.
Figura 1 - Frequência de respostas dos líderes sobre indicativos
de risco para o desenvolvimento infantil presentes na própria
criança.
Os líderes identificaram como sinais de
dificuldades para o desenvolvimento infantil, no
contexto familiar, os fatores como: drogadição,
alcoolismo, brigas, convívio familiar conflituoso
e sem diálogo. Tais eventos foram citados com
frequência na categoria de risco para o DI (Figura 2).
Dell’Aglio; Koller e Yunes (2006, p. 177) trabalham
justamente essas questões e consideram, ainda, que
“na constituição de uma família, leva-se em conta a
qualidade de suas inter-relações e não apenas sua
estrutura”. A constatação dos líderes e afirmação
das autoras indica que para haver um DI saudável é
necessário um ambiente familiar com pelo menos o
mínimo de investimento parental como, também, é
descrito por Weber (2009b, p. 15).
PSICOLOGIA
Figura 2 – Frequência de respostas dos líderes sobre indicativos de
94
Ao serem solicitadas a falarem sobre como
adquiriram os conhecimentos que possuem sobre
o DI 63% responderam que os obtiveram por meio
de capacitações, treinamentos, cursos, reuniões,
reciclagens, palestras, por curiosidade, lendo
o material da Pastoral (jornais, folhetos, entre
outros); na prática (atuando, convivência com os
líderes e famílias) e outras pastorais. Quanto aos
procedimentos que utilizam para identificar os
problemas de DI os líderes citaram: a visita domiciliar,
a pesagem (peso, altura, idade), a observação
e a percepção do comportamento das crianças,
promovendo reuniões com os pais.
Os líderes ao descreverem sobre a forma de
atuação informam que quando se detecta situações
graves, como desnutrição, baixo peso ou violência
contra a criança, estes fatos são discutidos em reuniões
mensais na comunidade, para serem tomadas as
devidas providências por parte da coordenação da
PC, como por exemplo, encaminhamento à unidade
de saúde, ao pediatra, ao serviço de nutrição etc.
Os líderes informaram, ainda, que orientam
as famílias a respeito das condutas em relação às
crianças, por meio de conversas e, aconselhamentos,
incentivando os pais a darem limites com amor
e paciência, respeitando a singularidade de cada
criança. Além disso, destacam à importância de se
ter uma religião e, quando necessário, de recorrerem
às autoridades municipais. Outra estratégia é a
observação do contexto familiar (visita domiciliar)
com o objetivo de observar como ocorrem os
Episteme - Revista Científica da Faculdade Católica Salesiana do Espirito Santo
contribuíram com a realização desta pesquisa: o
PIBIC, a Juliana Marge Pagnozzi coordenadora do IC
da Faculdade Católica Salesiana do Espírito Santo,
as professoras: Fabiana Ramos e Christyne Gomes
Toledo de Oliveira e aos líderes da Pastoral da criança.
REFERÊNCIAS
BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70,
1997. 226 p.
BEE, H. O Ciclo Vital. Porto Alegre: Artmed, 1997. 656
p.
________. A criança em desenvolvimento. Porto
Alegre: Artes Médicas, 2003. 421 p.
BRONFENBRENNER, U. A ecologia do desenvolvimento
humano experimentos naturais e planejados. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1996. 267 p.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Conselho Nacional de Saúde:
Resolução nº 196 de 10 de outubro de 1996. http://
www.conselho.saude.gov.br/Web_comissoes/
conep/index.html.
DELL’AGLIO DD, kOLLER SH, YUNES MAM. Resiliência
e Psicologia Positiva: interfaces do risco à proteção.
São Paulo: Casa do Psicólogo; 2006.
PASTORAL DA CRIANÇA. Guia do Líder da Pastoral da
4 DISCUSSÃO
Criança. Editora: Posigraf. Curitiba, 2002. 256 p.
A orientação da PC é que todo o voluntário, ____________. Guia do Líder da Pastoral da Criança.
que se dispõe a ser líder, passe por uma capacitação, Editora: Posigraf. Curitiba, 2007. 304 p.
a qual engloba o conhecimento da realidade social, WEBER, L. Programa de qualidade na interação
cultural do país para que juntamente com outros familiar: manual para aplicadores. Curitiba: Juruá,
líderes enfrentem o desafio de salvar vidas e sejam 2009a. 160 p.
capazes de criarem estratégias que promovam __________. Eduque com carinho: Equilíbrio entre
ambientes favoráveis ao desenvolvimento das Amor e Limites. Curitiba: Juruá, 2009b. 101p.
crianças acompanhadas. A PC está implantada em
diversas comunidades onde há necessidade de uma
ação em favor do bem-estar físico, psicológico e
espiritual das crianças.
A PC tem como meta orientar os líderes
sobre desenvolvimento infantil, porém constatamos
com essa pesquisa a dificuldade, por parte dos
líderes, de identificarem e avaliarem alguns aspectos
importantes do desenvolvimento das crianças,
sobretudo nos aspectos psicossociais e cognitivos.
Esta comprovação pode ser indicativa da necessidade
de elaboração de uma proposta de intervenção que
possibilite a estes líderes um maior conhecimento
teórico e prático a respeito de uma triagem do
desenvolvimento infantil, identificando as crianças
com maiores riscos, o que aumenta a possibilidade
de minimização dos danos, caso algum atraso seja
identificado.
Agradecimentos:
Sou grata a todos que de alguma forma
Vitória-ES, 2013, vol.02, nº1, p.90-95
95
PSICOLOGIA
relacionamentos entre os adultos e as crianças,
como são organizados os ambientes dos lares onde
residem, e ainda analisam se os cartões de vacina das
crianças estão em dia.
Sobre a percepção das mudanças no
desenvolvimento das crianças que são acompanhadas,
a maioria dos líderes afirma que são expressivas, pois
as crianças manifestam alegria, brincam à vontade,
criam vínculo afetivo entre elas e com os líderes,
demonstrando-se mais seguras, espertas, animadas
e saudáveis.
Em relação aos obstáculos encontrados para
execução das atividades na PC os líderes destacaram
a falta de apoio por parte da coordenação a nível
paroquial para fazerem as visitas domiciliares,
e a dificuldade de conseguir motivar os pais a
participarem das Celebrações da vida. Além disso,
apontaram a carência de projetos voltados para a
integração da criança na comunidade, e a necessidade
de formação por meio de palestras a respeito de
assuntos pertinentes a educação das crianças.
Programa Bolsa Família: autonomia ou legitimação da pobreza?
Ms. Alaísa de Oliveira Siqueira
Faculdade Católica Salesiana do Espírito Santo. Avenida Vitória, 950, Forte São João,
Vitória – ES. 29.017-950. 3331-8500. [email protected]
RESUMO
O presente artigo é resultado da Dissertação de Mestrado apresentada à Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC – Rio) e tem como objetivo estudar as mudanças
e significados do Programa Bolsa Família (PBF) na realidade familiar da população atendida
por um Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) da região da Grande Vitória. O PBF
é o maior programa sócio assistencial operando no país, atendendo aproximadamente 11,1
milhões de famílias brasileiras (2008). Objeto de questões e debates acerca de seu caráter
meramente clientelista, assistencialista ou de alavanca à economia dos setores mais pobres
do país, o programa é apontado como fonte de apoio e legitimidade política dos governos
federal e estadual, apesar de constituir-se em uma política de transferência de renda com
valores irrisórios em relação às necessidades da população atendidas. Face às divergências
que esse programa vem suscitando, torna-se importante seu estudo, principalmente devido
ao seu nível altamente seletivo e focado nos “segmentos mais vulneráveis”, contradizendo
os princípios universalizantes da Constituição Federal/88 e da Lei Orgânica de Assistência
Social (LOAS/1993). A pesquisa foi realizada no CRAS Novo Horizonte, Cariacica/ES. Foram
aplicadas 16 entrevistas semiestruturadas, por meio de visitas domiciliares, possibilitando
a observação da realidade da população assistida. Pode-se afirmar que o PBF hoje é
imprescindível para os que vivem em situação de pobreza e extrema pobreza, ainda que
evidenciada a necessidade de uma maior articulação com as políticas de saúde e da educação
como também com as demais políticas, principalmente o Programa de Geração de Trabalho
e Renda para superar seu caráter focalizado e operar mudanças efetivas na realidade das
famílias beneficiárias.
Palavras-chave: Política Social. Programa Bolsa Família (PBF). Centro de Referência de
Assistência Social (CRAS).
ABSTRACT
SERVIÇO SOCIAL
This article resulted from a Dissertation submitted to the Pontifical Catholic University of
Rio de Janeiro (PUC – Rio) and to study at aims analyzing the changes and meanings of the
Brazil’s Family Fund Program (PBF) in the reality of families being assisted by CRAS- Centro
de Referência de Assistência Social (Social Assistance Reference Center) from the Greater
Victoria. PBF is currently the country’s largest socio-assistance program, assisting about 11,1
million Brazilian families (2008). Reason of several questions and debates about its merely
clientelistic or assistential characteristic or its role as economic booster to the poorest sectors
in the Brazil, this program has been pointed out as great support and political legitimacy
from the federal and state governments, even though it is an income transfer policy with
irrelevant amounts concerning the needs of the assisted families. Due to the controversy this
program has raised, we considered this study extremely important, especially because of its
highly selective level, focused on the “the most vulnerable segments” opposing the universal
principles of the Federal Constitution of 1988 and the Organic Law of Social Assistance
(LOAS/1993). The study was carried out at CRAS Novo Horizonte, Cariacica, Espírito Santo
96
Episteme - Revista Científica da Faculdade Católica Salesiana do Espirito Santo
(ES). Were used 16 semi-structured interviews were carried out through home visits, in order
to observe the reality of the assisted family. It can be asserted that the PBF is an essential
program to those living in poor or extremely poor conditions, even though it needs to be
more articulated to health and education policies, as well as other public policies, especially
the Income and Work Generation Program, in order to overcome its focalized feature and
promote effective changes in the reality of the families it assists.
Key-words: Social Policy. Family Fund Program (PBF). Social Assistance Reference Center (CRAS).
proteção social brasileiro.
Outro programa importante de Transferência
O Programa Bolsa Família (PBF) é o maior de Renda do Governo Federal diz respeito ao Bolsa
programa sócioassistencial atualmente no país, que Família. O PBF é um programa de transferência
atende cerca de 11,1 milhões de famílias brasileiras. direta de renda com condicionalidades, instituído
O PBF tem sido objeto de várias questões e debate pelo Governo Federal em outubro de 2003, que tem
entre os que o consideram uma política meramente como público-alvo famílias em situação de extrema
clientelista e assistencialista e os que o consideram pobreza e também aquelas consideradas pobres, que
como alavancando a economia dos setores (e regiões) apresentam, em sua composição, gestantes, nutrizes,
mais pobres do país. O programa vem sendo apontado crianças e adolescentes com idade entre 0 a 17 anos.
O PBF é um programa audacioso que tem
como a grande fonte de apoio e legitimidade política como
objetivo
articular três dimensões essenciais
dos governos federal e estadual, apesar de constituirno
enfrentamento
e na superação da fome e da
se em uma política de transferência de renda de valor
irrisório em relação às necessidades da população pobreza: o alívio imediato da pobreza; o reforço
ao exercício de direitos sociais básicos nas áreas
mais pobre.
Face às divergências, questões e debates que de saúde e educação e a promoção de programas
esse programa vem suscitando na sociedade e no complementares (programa de geração de trabalho e
meio profissional, esta pesquisa objetiva estudar as renda, de alfabetização de adultos, de fornecimento
mudanças e significados do PBF na realidade familiar de registro civil e demais documentos).
Dentro dessa perspectiva, o PBF tem uma
da população atendida pelo Centro de Referência de dimensão
intersetorial na medida em que, propõe
Assistência Social (CRAS) – CRAS IV Novo Horizonte,
uma atuação de várias áreas de intervenção,
Cariacica – Espírito Santo.
sendo, entretanto um programa (não propriamente
A partir da segunda metade da década de
uma política) de governo. Apesar da previsão
1990, surge uma grande novidade na política social
de participação de outras áreas, o PBF está
brasileira que são os Programas de Transferência de
prioritariamente articulado à Assistência Social.
Renda do Governo Federal destinados à população A Assistência Social está garantida na
pobre do país. Essa mudança na política social e nos Constituição Federal de 1988 no artigo 203 formando
programas sociais compensatórios ocorreu a partir o tripé da Seguridade Social, ao lado da Previdência
da própria Constituição Federal (CF) de 1988, que Social e da Saúde. Foi regulamentada pela Lei
assegurou por meio da Lei Orgânica da Assistência Orgânica da Assistência Social (LOAS/1993) que em
Social (LOAS/1993) benefícios assistenciais às pessoas seu artigo 1º, a define como política de Seguridade
idosas e aos portadores de necessidades especiais – Social, sendo direito do cidadão e dever do Estado
o Benefício de Prestação Continuada (BPC)¹.
prover os mínimos sociais mediante a um conjunto
integrado de ações de iniciativa pública e da
1
O Benefício de Prestação Continuada (BPC) é um programa sociedade, garantindo assim as necessidades básicas
de política social, garantido pela Constituição Federal de a quem dela necessitar, independentemente de
1988, no capítulo II da Assistência Social, seção IV, inciso V e contribuição.
regulamentada pela Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), O modelo de assistência social que vem sendo
capítulo I, artigo 2º, inciso V (Lei nº 8.742 de 7 de dezembro implementado nos últimos governos - Fernando Collor
de 1993) e está em vigor desde 1º de janeiro de 1996. É um de Mello, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio
benefício de 01 (um) salário mínimo destinado a pessoas idosas, Lula da Silva - é marcado por algumas tendências que
a partir de transferência de renda vêm se consolidando como indicam uma permanente resistência em constituir a
importante faceta do sistema de proteção social brasileiro.
assistência social como política de Seguridade Social.
Entre os indicativos desta afirmação, citamos o acesso
aos benefícios da LOAS, implementados tardiamente
As políticas de transferência de renda vêm se e com caráter altamente seletivo, reduzindo os
consolidando como importante faceta do sistema de direitos constitucionais e transformando-os em
Vitória-ES, 2013, vol.02, nº1, p.96-104
97
SERVIÇO SOCIAL
1 INTRODUÇÃO
SERVIÇO SOCIAL
políticas focalizadas e compensatórias.
Consideramos de suma importância o estudo
sobre o PBF, pois trata-se de certa forma, de um novo
modelo de proteção social com base em programas
de transferência de renda adotados pelo Governo
Federal. O surgimento e a implantação do programa
têm sido marcados por posições contraditórias. Para
o Governo Federal, o PBF nasce para enfrentar o
maior desafio da sociedade brasileira que é o de
Das 77 (setenta e sete) famílias que recebem
o Bolsa Família, foram selecionadas aleatoriamente
20%, ou seja, foram entrevistadas 16 (dezesseis)
beneficiários do Bolsa Família, assistidos no CRAS
Novo Horizonte. Os dados foram coletados a partir
de visitas domiciliares no período de outubro de
2007 a janeiro de 2008.
Os beneficiários do programa entrevistados
foram esclarecidos sobre o objetivo da pesquisa
65 (sessenta e cinco) anos (Estatuto do Idoso – lei nº 10.741, e procedimentos éticos utilizados e assinaram
artigo 34 de 03 de outubro de 2003) e a pessoa portadora de o Termo de Compromisso Livre e Esclarecido
deficiência, incapacitada para a vida independente e para o (TCLE), concordando em participar da pesquisa. As
trabalho, cuja renda mensal per capita seja inferior a ¼ (um entrevistas foram gravadas e transcritas. A utilização
quarto) do salário mínimo.
da técnica da entrevista semiestruturada possibilitou
uma análise qualitativa em relação às mudanças e
combater a fome e a miséria e também promover a significados do PBF na realidade familiar da população
emancipação das famílias mais pobres do país.
atendida no CRAS.
Outro fator determinante para estudo do
tema citado é que os programas de assistência social 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
no Brasil têm sido direcionados pelos atuais governos
a determinados “públicos”, a “segmentos mais Nesta pesquisa identificamos quais seriam
vulneráveis”, a “grupos ou focos” que se encaixam as possíveis mudanças ocorridas na realidade de
em seus critérios altamente seletivos, contradizendo
vida dos beneficiários do PBF assistidos pelo CRAS
os princípios universalizantes da Constituição Federal
IV Novo Horizonte, Cariacica (ES) e qual o significado
de 1988.
desse benefício para a vida deles.
Para a realização da pesquisa acerca da relação entre
2 MATERIAIS E MÉTODOS
o PBF e as famílias, foram selecionados 16 (dezesseis)
Inicialmente, foi realizada uma revisão grupos domésticos (20%) do número atendido no
bibliográfica acerca dos temas: Política de Assistência CRAS analisado.
Foi observado pelo estudo realizado junto às
Social, contextualização dos Programas de Transferência de Renda, Programa Bolsa Família – PBF, 16 famílias, que estas vivem em situação de extrema
Centro de Referências de Assistência Social – CRAS, pobreza, sendo que 56% não possuem renda, isso
Família. Foi realizado também um levantamento e somado aos 13% que vivem com menos de 1(um)
estudo da ampla legislação e documentos oficiais salário mínimo e aos 31% que vivem apenas com um
salário mínimo. Em relação à qualificação profissional
relativos ao PBF.
Foi utilizada a pesquisa qualitativa, de cunho das famílias, verificou-se a predominância do alto
exploratório, visto que se fez necessária a investigação índice de desemprego (57%), somados aos 25% que
estão inseridos no mercado de trabalho informal, e
de um fenômeno dentro do seu contexto real.
Para a coleta dos dados foi utilizada a técnica também aos 6% que sobrevivem fazendo “bicos”.
Em relação ao roteiro utilizado para realização
da entrevista semiestruturada a partir de um roteiro básico de questões adaptados às condições de da pesquisa empírica, consideramos importante
analisá-lo a partir de 7 grandes modalidades.
diálogo com os diferentes entrevistados.
O universo dessa pesquisa abrange o PBF no
ano de 2007, no município de Cariacica (ES). Trata- 1) Conhecimento da existência do programa
se de um dos maiores municípios do Estado do ES, Ao serem questionados sobre como ficaram
possuindo 356.536 mil habitantes (IBGE 2007), e sabendo da existência do PBF, podemos notar duas
que vem enfrentando sérios problemas na área grandes situações. Uma primeira relacionada via
econômica, social e política.
parentes e vizinhos – vale dizer à comunicação que
Até o final do mês de maio de 2007 no circula comunitariamente – e uma segunda situação
CRAS de Novo Horizonte, foram contabilizadas 505 por meio de comunicação de massa, com ênfase
(quinhentas e cinco) famílias cadastradas. Sendo que na televisão. É importante ressaltar a ausência de
77 (setenta e sete) delas recebem o Bolsa Família.
informação via técnicos (escola, CRAS e seus técnicos)
98
Episteme - Revista Científica da Faculdade Católica Salesiana do Espirito Santo
referente à educação, sem maiores ressalvas. Todos
alegaram ter conhecimento e cumprirem com suas
obrigações. Do ponto de vista da qualidade do
ensino, não foi feito nenhum questionamento, assim
como não houve nenhuma observação referente às
frequentes greves existentes na área da educação.
Alguns entrevistados relataram que seus filhos
2) Forma de inserção no programa
Um aspecto a ser destacado em relação à forma também têm conhecimento sobre as obrigações
de inserção do PBF em Cariacica é a centralização em relação à escola e que colaboram muito para
dos cadastros na Secretaria Municipal de Assistência o cumprimento delas. Também foi alegado ser
Social e Trabalho - SEMAST, diferente da forma de de obrigação da família o acompanhamento dos
cadastramento dos outros municípios do Estado. filhos na escola. Podemos observar que existe uma
Essa centralização traz algumas consequências solidariedade da família em relação ao cumprimento
importantes como: menor vinculação do beneficiário da condicionalidade.
ao CRAS, sendo que sabemos que estes deveriam
[...] meu menino mesmo não gosta de faltar no colégio.
fazer o acompanhamento sistemático dos usuários
Todo dia ele tem que ir, se tiver de faltar ele reclama,
conforme preconiza o SUAS; menor nível técnico
então sempre eles vão, sem problema pra mim de
dos cadastradores; redução das possibilidades de
faltar (Entrevistada 7).
acesso ao CadÚnico por parte dos técnicos locais
[...] igual... eu acordo eles, eles não reclamam nada,
vai e... e eles sabem que eles tem que cumprir isso..
e consequentemente dificultando sua utilização
não falta a escola ... eles sabem (Entrevistada 10).
como instrumento de pesquisa para realização de
[...] Ah, mas é obrigação da mãe mesmo fazer isso... e
diagnóstico da realidade do território.
acompanhar como o menino ta no colégio, eu olho o
A rigor, o contato da família beneficiária do
caderno dele, olho a bolsa dele porque eu não gosto
programa com o CRAS de Cariacica, fica reduzido a
que ele mexa nas coisas dos outros. Olho o estojinho
dele direitinho... ajudo ele no trabalho escolar...É
situações de perda ou suspensão do benefício, os
obrigação de mãe mesmo... (Entrevistada 15).
usuários só procuram pelo CRAS para esclarecimento
sobre a suspensão do benefício. Mesmo nessa
situação, o CRAS não possui as informações A segunda condicionalidade, no que se refere à
necessárias para responder às demandas de seus saúde, a dificuldade apareceu praticamente em
usuários, uma vez que os dados estão centralizados na todas as entrevistas realizadas. As principais queixas
SEMAST. Essa centralização dos dados e a forma pela foram: ausência de posto de saúde no bairro, o que
qual é realizada a inserção dos usuários no PBF em torna praticamente inviável o cumprimento das
Cariacica acabam dificultando o acompanhamento condicionalidades; falta de vacina; balança quebrada;
ausência do profissional no posto; falta de recurso
das famílias via CRAS.
financeiro para estar se locomovendo até a unidade
3)
Conhecimento
e
cumprimento
das de saúde.
condicionalidades
Diante das informações obtidas, foi
No que diz respeito ao conhecimento em relação ao cumprimento das condicionalidades constatado que o município de Cariacica não está
todos responderam que tinham conhecimento. estruturado para fornecer as contrapartidas exigidas
Foi, portanto, necessária uma retradução do pelo PBF, como é o caso da vacina que falta nos
termo técnico condicionalidades, uma vez que os postos de saúde. Também não oferece um bom
entrevistados não sabiam o significado dele. Quando atendimento à população, uma vez que os usuários
retraduzido foi entendido por todos, assumindo uma relatam não ter informações e o atendimento
dimensão de dever, ou de um conjunto de deveres ser sempre demorado, enfrentando filas e sendo
que todos deveriam cumprir para que continuassem mal atendidas. Isto é, os serviços e o tratamento
oferecidos aos beneficiários do Bolsa Família na
no programa.
Para a efetivação do cumprimento das área da saúde são desqualificados, e na maioria das
condicionalidades, faz-se necessária a oferta de vezes acaba reforçando e reafirmando a condição de
serviços por parte do Estado. Nesse sentido, foram subalternidade dessa população atendida.
observadas duas grandes situações.
A primeira em relação à condicionalidade 4) Valor do benefício e prioridade de utilização
Vitória-ES, 2013, vol.02, nº1, p.96-104
99
SERVIÇO SOCIAL
e dos próprios aparelhos do Estado. Os dois modos
de comunicação adotados pelos usuários reafirmam
as formas mais confiáveis para a população de acesso
à informação contemporânea (referendada para
relações pessoais/televisão).
Verificamos que o valor do benefício recebido
pelo PBF, varia entre R$ 36,00 (trinta e seis reais)
a R$ 112,00 (cento e doze reais), e que para a
maioria dessas famílias, esse valor não é suficiente
para o seu sustento, uma vez que necessitam de
ajuda dos parentes, vizinhos e até mesmo da igreja
que frequentam, ou seja, o dinheiro do benefício é
somente para suprir suas necessidades a curto prazo,
isto quer dizer que as mudanças ocorrem somente
no plano do imediato.
Podemos observar que o corte de renda
extremamente baixo, renda mensal per capita de
½ salário mínimo, é uma das formas de ruptura da
lógica do direito, pois não atende à totalidade das
pessoas que necessitam de assistência, negando
mais uma vez o que está garantido na Constituição
Federal de 1988.
Ao perguntarmos aos entrevistados, o que
eles compram em primeiro lugar com a renda do
Bolsa Família, todos relataram que é o alimento. Os
principais mantimentos citados foram: o arroz, o
feijão, o leite, a farinha e algumas vezes a carne.
[...[ comida né... só da pra comida... arroz, feijão...
às vezes o leite pro menor... o resto nós ganha dos
vizinho... e da igreja... (Entrevistada 8).
Compro arroz, feijão, farinha ... quando dá uma
carninha... mas é difícil... tem muita gente que me
ajuda né... (Entrevistada 12).
Outra questão relevante é em relação ao
vestuário. Para a maioria dos familiares entrevistados
é difícil sobrar dinheiro para comprarem roupas para
seus filhos, a maioria das vezes eles ganham dos
parentes, vizinhos ou da igreja.
SERVIÇO SOCIAL
[...] roupa não porque que as roupa é... a gente ganha
e o dinheiro não dá pra comprar... (Entrevistada 1).
[...] os vizinho.. dá uma roupa.. um sapato às vezes ...
e tem a cesta do CRAS que recebo todo mês né... mais
eu não queria pedir não... tenho vergonha de pedir...
mais tá bom.. Deus é que sabe né... já foi pior antes...
antes de recebe esse dinheiro... agora tá bom...
(Entrevistada 4).
[...] só tenho ele... esse dinheiro... a gente passa
bastante dificuldade.. as vezes minha mãe me ajuda..
quando ela pode .. porque é difícil pra ela também...
tem o pessoal da igreja também que ajuda nois... com
roupa... sapato... o caderno... as coisa da escola.. e tem
também a cesta que recebo das menina do CRAS.. elas
ajudam muito a gente... (Entrevistada 8).
[...] O pessoal da igreja que eu vou... tem uma vizinha
muito boa que me ajuda... da roupa pra meus menino
... caderno... e ganho coisas da igreja.. [...] cesta básica
e tem também roupa pros menino que eu ganho...
(Entrevistada 12).
100
5) Importância do recebimento do PBF e mudanças
ocorridas
Em relação à importância do recebimento
do benefício, podemos dizer que existem dois
elementos a serem discutidos: o primeiro diz respeito
à regularidade no recebimento da renda, fator
presente em muitas entrevistas, os beneficiários
podem contar com a renda todo mês. O segundo
elemento seria o alívio para aqueles que estão
vivendo constantemente com a incerteza. A garantia
do recebimento do Bolsa Família seria um horizonte
de certeza, dentro de um mundo de incertezas.
[...] você pode ta contando com aquele dinheirinho
né...todo mês pra fazer alguma coisa assim é...compra
alguma coisa pras meninas né, que se precisa né...que
a gente sempre precisa (Entrevistada 3).
[...] eu preciso muito dele né... antes os meu filho
passava fome... tinha que pedi nos vizinho, na igreja...
agora dá pra compra uma comidinha né... se não
fosse esse dinheiro não sei o que eu ia fazer... é muito
triste ver os filho da gente com fome né. Deus é muito
bom que fez a gente recebe o dinheiro do bolsa...
(Entrevistada 5).
[...] Ah, é bom porque pelo menos cento e doze ajuda
muito... antes faltava comida... a gente sentia fome e
não tinha nada pra come... agora não... tem sempre
uma coisinha pra come... né... a gente passava muita
necessidade ... faltava comida.. leite pros meninos... a
gente sentia muita fome... é também ...é...incentiva
as crianças a irem estudar mais...e melhorou bastante.
[...] o negócio é esse mesmo né que...é....eu acho que
ta bom demais... esse programa ajuda muito nós né...
se não fosse ele eu tava passando fome com meus
meninos... graças a Deus que tem ele né... (Entrevistada
10).
Foi constatado também, que mesmo o valor
monetário sendo extremamente baixo, a certeza do
recebimento funcionava como garantia de pagamento
ao comércio local, isso significa que o cartão do Bolsa
Família funciona como uma espécie de “moeda de
troca” ou “fiança” antecipada com garantia de um
pagamento posterior.
[...] bom dá pra fazer compra, compra... igual eu comprei
uma sandalinha pra ele que ele pediu ai to pagando
aos pouquinhos todo mês lá na loja (Entrevistada 4).
Na verdade a compra anterior ao pagamento,
isto é, “fiado” é uma prática comum no meio popular.
Essa prática vinha sendo corroída pelo aumento da
pobreza e pela inadimplência (ou não pagamento)
das famílias frente ao comércio. O PBF reintroduz
o elemento de confiabilidade, no sentido de que os
comerciantes têm certa garantia da possibilidade de
Episteme - Revista Científica da Faculdade Católica Salesiana do Espirito Santo
Vitória-ES, 2013, vol.02, nº1, p.96-104
SERVIÇO SOCIAL
recebimento. Se por um lado existe um aumento
consigo emprego... não sei ler direito... aí é
de credibilidade, por outro lado, esse é limitado em
difícil.. as vezes consigo uns bico mas as vezes
relação ao valor do benefício, que é extremamente
não (Entrevistada 1).
baixo, quando não irrisório.
[...] o problema é o trabalho... o tal do bico.
Para grande parte dos entrevistados, a
E...eu que de vez em quando, que aparece
expectativa ao saber da inclusão no benefício
alguma coisa que eu faço, meu marido é mais
permite uma projeção de futuro, e que com essa
difícil... ele ta sempre sem nada... se tivesse
renda sua vida irá melhorar. Verifica-se entre os
o trabalho aí não precisava da bolsa.. né
familiares a grande importância para suas vidas no
(Entrevistada 3).
que diz respeito às mudanças ocorridas no padrão
[...] mas o que eu queria era um emprego
de vida. Podemos constatar que apesar do benefício
para mim e pra meu marido.... porque o
se constituir em um valor irrisório, para aqueles
dinheiro do bolsa é muito pouquinho... falta
familiares que nada possuem, o PBF constitui-se de
pra completar a comida... fazê o que ... é a
uma renda certa, porém insuficiente, mas que sem a
vida que Deus deu pra gente (Entrevistada 3).
qual não sobreviveriam. Configura-se em um direito
de provisão mínima, de sobrevivência, pois permite Outro aspecto importante observado é que
o aceso apenas aos mínimos vitais, principalmente às para alguns familiares, o recebimento do benefício
necessidades mínimas de alimentação.
é algo vergonhoso e que se estivessem inseridos no
mercado de trabalho, eles não precisariam receber
[...] Ah... mudou... pelo menos agora a gente ajuda do benefício.
não passa fome, vive difícil... mas fome não,
tem sempre um arroz, um feijão para gente
[...] eu queria mesmo que meu marido
comer... mas é muito difícil... (Entrevistada 1).
trabalhasse... igual como era antes... aí não
[...] É... mudou muito... porque ajuda bastante
precisa da ajuda desse dinheiro... porque as
né? Porque eu compro material das meninas.
vezes eu tenho vergonha né... de receber
Pago as compras que eu faço... a comida né...
dinheiro... de pedir ajuda pros parente né...
na verdade as minhas conta...to vivendo da...
porque o dinheiro não dá.. falta pra comida...
mais da Bolsa... antes faltava comida... agora
pras roupa... pra tudo... tem que fica pedindo
posso comprar a comida ... que não falta né...
sempre... nunca dá... eu tenho muita
(Entrevistada 14).
vergonha disso.... (Entrevistada 11).
Acho que mudou tudo... porque antes com
o dinheiro da pensão não dava não... faltava Para a autora Pereira (1996), a noção de
comida, leite pros menino... roupa... material pobreza que prevalece no país é a de pobreza
de escola... agora gasto o dinheiro só com os absoluta que sugere ações mecânicas e pontuais. Os
meninos... comida pra eles .... (Entrevistada programas sociais existentes não têm por finalidade
16).
redistribuir renda ou riqueza, mas contornar carências
crônicas. O benefício tem que ser insuficiente para
Fica bastante evidente que esses direitos são não ferir a ética capitalista do trabalho, não devendo
marcantes para essas famílias, seja por meio do valor desencorajar o assistido a encontrar outros meios
transferido a elas, mesmo que insignificante, pela de sustento por esforço próprio. Assim, o acesso ao
possibilidade, pela esperança de um futuro melhor benefício tem que ser custoso e estigmatizante a fim
para seus filhos.
de tornar o seu ganho um incômodo vergonhoso, do
qual a pessoa gostaria de se livrar.
6) O trabalho como horizonte de referência
Pode-se notar que alguns entrevistados ainda 7) Cartão Bolsa Família: sua utilização e possibilidades
desejam recuperar a condição de trabalhador e de avanços
almejam se inserir no mercado de trabalho, mesmo Um último aspecto analisado nas entrevistas
percebendo suas limitações.
foi em relação ao cartão Bolsa Família. Podemos
destacar também duas grandes situações: a primeira
[...] é pouco o dinheiro... é melhor que nada... situação diz respeito ao acesso ao cartão. Ao serem
mas é muito difícil... se fosse um trabalho questionados sobre onde recebem o benefício todos
aí sim dava pra viver melhor... mas eu não relataram que recebem na lotérica, pois essa é a
101
no mundo e no Brasil, do contexto internacional da
globalização e da expansão do neoliberalismo que vai
culminar na desregulamentação do Estado e na sua
reforma. Esse quadro tem deixado marcas profundas
nas políticas sociais, principalmente no campo da
assistência social uma vez que sua construção como
política pública é recente, os embates pela sua
[...] sempre eu recebo na casa lotérica porque se eu universalização são constantes, seu orçamento é
for na caixa eletrônica eu não consigo passar ele ... na irrisório e permanentemente sofre cortes.
lotérica a menina já me conhece né... (Entrevistada
Segundo Silva; Yazbeck; Giovanni (2004, p. 26):
13).
SERVIÇO SOCIAL
forma mais fácil de retirarem seu dinheiro. No caso
do caixa eletrônico eles têm dificuldades de usarem o
cartão, no que se refere tanto a utilização da máquina
como na memorização da senha. Já na lotérica tem o
funcionário que passa o cartão para eles tornando a
retirada do benefício mais fácil.
A segunda situação a ser refletida, seriam as
possibilidades de avanços que o cartão trouxe para
a política de transferência de renda. Os principais
avanços com relação ao uso do cartão referem-se ao
direito que os usuários têm de realizarem a retirada
do benefício e ainda, aplicarem o recurso com
autonomia. Mencionar essa situação é importante
na medida em que, essa forma de retirada e uso do
recurso pelos usuários não era possível nas políticas
assistenciais brasileiras. Sobre esse aspecto podemos
destacar que no governo Fernando Henrique
Cardoso, na operacionalização do Programa Bolsa
Escola, os beneficiários deveriam aplicar a renda
nos itens listados pelo governo. Este fato corrobora
para o nosso argumento de que o uso do cartão no
Programa Bolsa Família representa um avanço em
termos de autonomia para o beneficiário, embora
exista um longo percurso até a realização de um
programa de transferência de renda de qualidade.
Portanto, cabe ainda destacarmos que as
políticas sociais no município de Cariacica se dão
de forma pontual, fragmentada, isolada e seletiva,
trazendo dificuldades aos beneficiários no acesso a
política, principalmente no acesso as informações
de qualidade. Indicamos que se faz necessária uma
maior articulação com as demais políticas sociais,
principalmente em relação à saúde e à educação, no
sentido de tornar eficiente a universalização dessas
políticas, com o intuito de superação da exclusão
social.
Entender a lógica, o significado e os impactos
dos Programas de Transferências de Renda para
seus usuários, exige um olhar crítico sobre como a
sociedade brasileira está estruturada, de que forma
os programas sociais no Brasil foram formulados,
quais são os usuários dos programas assistenciais e
qual o papel que o Estado vem cumprindo dentro
do ideal neoliberal implantado no país nos anos de
1990.
As medidas adotadas pelo Governo Federal
são decorrentes de processos históricos ocorridos
102
Na realidade, os anos 1990, representam
um período de profunda contradição no
campo do bem-estar social no Brasil. Temse, de um lado, um avanço no plano políticoinstitucional, representado, sobretudo,
pelo estabelecimento da Seguridade
Social e dos princípios de descentralização
e de participação social, enunciados na
Constituição Brasileira de 1988. De outro
lado, tem-se, no plano da intervenção estatal
no social, um movimento orientado por
posturas restritivas, com a adoção de critérios
cada vez de maior rebaixamento do corte
de renda para fixação da linha da pobreza,
para permitir acesso das populações, por
exemplo, aos Programas de Transferência de
Renda em grande expansão no Brasil, a partir
de 2001. Assim, não se verificará expansão
de programas e serviços sociais não a
conjuntura na qual o crescimento da pobreza
demanda mais atenção do Estado em relação
ao atendimento das necessidades coletivas
básicas da população trabalhadora. Tudo isso
é agravado pelo desmonte de direitos sociais
conquistados.
Os Programas de Transferência de Renda
surgiram como uma alternativa para combater a
pobreza e os níveis de desigualdades sociais. São
políticas desenvolvidas pelos governos centrais
empregadas no combate à fome e à pobreza em
países em desenvolvimento como é o caso do Brasil.
Esses programas promovem a transferência direta de
renda aos segmentos mais vulneráveis da população
e são articulados a condicionalidades que no caso
brasileiro, relacionam-se com as áreas de educação e
saúde.
Segundo Brito; Macedo (2004, p. 15-16):
[...] o Estado estabelece, com o apoio de organismos
internacionais, novas estratégias de combate à
pobreza, que têm como alvo privilegiado os grupos
chamados vulneráveis. Consequentemente, uma
Episteme - Revista Científica da Faculdade Católica Salesiana do Espirito Santo
Sendo assim, podemos notar que a partir
desse contexto, o Brasil lança mão de políticas
sociais compensatórias, fragmentadas, seletivas e
focalizadas. O objetivo de tais políticas é o de focalizar
alguns segmentos da população, aqueles que se
encontram em estado de vulnerabilidade social.
Essas políticas focalizadas têm em comum garantir
uma transferência direta de renda a todas as famílias
que possam comprovar insuficiência de recursos,
legitimando assim, os Programas de Transferência
de Renda que ganham centralidade no âmbito das
políticas sociais brasileiras.
Até março de 2003, eram 7 (sete) os principais
programas federais2: o Bolsa Escola; o Bolsa
Alimentação; o Programa de Erradicação do Trabalho
Infantil (PETI); o Auxílio Gás; o Cartão Alimentação;
o Projeto Agente Jovem de Desenvolvimento Social
e Humano e o Benefício de Prestação Continuada
(BPC).
Em 2003, no governo do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva – surge um novo momento para o
desenvolvimento dos Programas de Transferência de
Renda que é a criação do Programa Bolsa Família –
PBF, unificando os quatro Programas de Transferência
de Renda anteriores: Bolsa Escola, Auxílio Gás, Bolsa
Alimentação e Cartão Alimentação.
O PBF é um programa de transferência direta
de renda com condicionalidades, instituído pelo
Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, em
outubro de 2003, por meio da Medida Provisória nº
132, criado pela Lei nº 10.836, de 09 de janeiro de
2004 e regulamentado pelo Decreto nº 5.209, de 17
de setembro de 2004.
Apesar de todos os avanços alcançados
nos direitos sociais, o que fica ainda evidenciado
é a tensão existente entre a Assistência Social e
o trabalho, uma vez que parte da população que
está inserida no mercado de trabalho possui seus
direitos garantidos por lei e para aqueles que não
Vitória-ES, 2013, vol.02, nº1, p.96-104
estão inseridos no mercado formal, resta recorrerem
à Assistência Social, que sempre foi destinada aos
pobres.
Aqui podemos fazer uma comparação entre
o sistema dual existente na Seguridade Social,
apontada ao longo dos anos na história da proteção
social do Brasil. Os trabalhadores inseridos no
mercado formal de trabalho estão protegidos pela
legislação trabalhista, resultando em uma carteira de
trabalho assinada e consequentemente protegidos
pelo INSS por meio da Previdência Social. Aos grupos
mais vulneráveis da sociedade e não inseridos no
mercado de trabalho, estes possuem um registro
no CadÚnico gerando o Número de Identificação
Social (NIS), resultando no recebimento do Cartão
Bolsa Família e posteriormente no recebimento do
benefício do Bolsa Família e este grupo está destinado
à Assistência Social.
Podemos concluir que, o PBF está legitimando
seus beneficiários na condição de pobres, uma vez
que eles possuem um Número de Identificação Social
(NIS) que comprova que são usuários do programa
e consequentemente são atendidos pela Assistência
Social.
Todos esses programas estavam destinados a um público
específico, cujo corte de renda, para fixação da linha da pobreza,
era de ½ salário mínimo de renda per capita, com exceção do
BPC que determina uma renda per capita ainda menor - inferior
a ¼ do salário mínimo.
2
Vale destacar que em momento algum
estamos desmerecendo o Programa Bolsa Família,
e muito menos descartando sua importância para
a população empobrecida do país. O que podemos
pontuar é a desarticulação do programa com as
demais políticas sociais, principalmente uma política
macroeconômica de distribuição de riqueza e de
geração de emprego e renda, fazendo com que
este programa assuma uma posição meramente
compensatória.
AGRADECIMENTO
A CAPES pela bolsa de mestrado e à PUC- Rio, pelos
auxílios concedidos, sem eles este trabalho não
teria sido realizado. Aos familiares beneficiários do
Programa Bolsa Família (PBF) que me concederam a
possibilidade de realizar este trabalho.
SERVIÇO SOCIAL
primeira observação sobre essa estratégia indica a
focalização e a fragmentação dos programas sociais,
que representam um gradual deslocamento do
modelo de seguridade social delineado no marco
constitucional de 1988, tendo como princípio básico a
universalização do acesso a bens e serviços.
Essa tendência de seletividade e focalização acaba
aprofundando a conformação dual da seguridade
social, no Brasil, que é apontada na história da
proteção social no país. Aos grupos mais vulneráveis
socialmente, e não inseridos no mercado de
trabalho, destina-se a assistência social, enquanto
os trabalhadores inseridos no mercado formal do
trabalho vinculam-se à previdência social [...].
103
REFERÊNCIAS
BRASIL, Constituição (1988). Constituição da
República Federativa do Brasil. Brasília: Senado
Federal, 1988.
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Renda: nova face de proteção social? Rio de Janeiro:
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PEREIRA, P. A. P. A assistência social na perspectiva
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104
Episteme - Revista Científica da Faculdade Católica Salesiana do Espirito Santo
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necessariamente o posicionamento do Conselho nem das instituições mantenedoras. A responsabilidade pelos
artigos assinados é exclusiva dos autores. Os direitos autorais dos trabalhos aprovados são automaticamente
transferidos à Revista EPISTEME como condição para sua publicação. Os textos que não forem aprovados
para a publicação não serão devolvidos aos seus autores. O autor que tiver seu trabalho publicado terá
direito a três exemplares da revista.
1.
A Revista EPISTEME publica artigos e aceita trabalhos para a publicação nas seguintes
categorias: Artigos Completos, Artigos de Revisão, Relato ou Estudo de Caso. Os trabalhos devem ser
inéditos e não podem ser simultaneamente submetidos a outro periódico.
2.
Os originais devem ser enviados ao Editor da revista em três vias impressas, das quais uma
com identificação do (s) autor (es) e duas sem identificação, e uma cópia em arquivo eletrônico com
a identificação de autor (es) e título do trabalho. Os originais devem ser acompanhados de cartas
submetendo o trabalho para publicação, e de uma folha à parte, em caráter de obrigatoriedade,
contendo informações completas sobe o (s) autor (es): nome, vínculo institucional, endereço
para correspondência, telefone, faz e correio eletrônico. De tais informações somente o endereço
eletrônico será divulgado na publicação.
3.
Os trabalhos devem ser digitados em espaço um e meio, com margens de 3cm na margem
superior e esquerda e 2cm na margem inferior e direito, apresentados em papel tamanho A4, impresso
em um único lado e com páginas numeradas. Os trabalhos não devem ultrapassar 20 páginas (cerca
de 5.000 palavras).
4.
Preferentemente o texto deve ser editado no formato Word, obedecendo às seguintes
recomendações:
- Utilização de fonte Calibri, corpo 12 para o título, corpo 11 para o texto corrido e corpo 10 para as
citações bibliográficas destacadas e notas de rodapé;
- Deve ter alinhamento justificado e os parágrafos formatados com recuo especial na primeira linha,
valendo também para as notas de rodapé.
5.
Os artigos submetidos ao Conselho Editorial devem conter resumo em português e abstract
em inglês, com no máximo 250 palavras casa; até 6 palavras-chave, também em português e em
inglês.
6.
Modelo de artigo encontra-se no site da Faculdade:
http://www.catolica-es.edu.br/biblioteca/publicacoes
7.
Os trabalhos devem ser remetidos para:
- Faculdade Católica Salesiana do Espírito Santo (FCSES)
Avenida Vitória, nº. 950 – Forte São João
Vitória/ES – CEP.: 29017-950
Telefone: (27) 3331-8544 / Fax: (27) 3222-3829
- Endereço eletrônico:
www.catolica-es.edu.br
e-mail: [email protected]