2 - Guias de Turismo

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Gávea" (São Conrado?). Até 1575 esses foram os únicos colonos lusitanos proprietários
por essas bandas.
Nesse ano de 1575 assume o governo da Capitania do Rio de Janeiro e parte sul
do Brasil o Governador Antônio de Salema, natural de Alcácer do Sal (152?-1586). Êsse
tal Salema era um jurista formado em Coimbra, e que odiava os índios. Antônio Salema,
em seu mandato de três anos (1575-1578) descobriu uma lei editada pela Metrópole
isentando de impostos por dez anos quem erguesse engenhos de cana de açúcar no
Brasil. Inclusive, desde 1573, já existia um pioneiro engenho de cana em Magé, erguido
pelo seu antecessor no governo, o Provedor da Fazenda Real Cristóvão de Barros.
Salema decidiu pura e simplesmente extinguir os índios tamoios das aldeias da
Lagoa para lá erguer seu engenho, que seria movido à água, muito abundante haja vista
os inúmeros córregos no local ("Macacos", "Rainha", "Iglésias", etc.). Mandou jogar no
mato adjacente à Lagoa diversas mudas de roupas de doentes de varíola. Os índios
pegaram as roupas, vestiram, pegaram varíola por contágio e morreram.
Foi a primeira guerra bacteriológica nas Américas... .
ENGENHO DEL REI
Uma vez livre dos índios, Salema deu início ao seu engenho. Pediu 3.000
cruzados de empréstimo ao Rei D. Sebastião de Portugal (1554-1578), enfurnou 2.500
cruzados e fez o engenho todo com 500 cruzados (detalhe: este empréstimo nunca foi
pago). Deu-lhe o nome de "Engenho D`El Rei", cuja sede principal ainda existe, mesmo
depois de muito alterada. É onde hoje funciona o "Centro de Recepção aos Visitantes
no Jardim Botânico", com acesso pela rua Jardim Botânico, no. 1008.
O "Engenho D`El Rei", haja vista os parcos recursos empregados, era uma
porcaria e não funcionava. Fato que foi denunciado em 1578, depois de seu governo
pelo Provedor da Fazenda Real Cristóvão de Barros (o tal fundador do engenho de
Magé). A sugestão do Provedor foi privatizar essa "estatal deficitária", decisão tomada
em 1584. Em 1598, o "Engenho D`El Rei" foi vendido ao Vereador que autorizou sua
alienação, Diogo de Amorim Soares, natural de São Vicente (1558?-1609?) o qual, a
única coisa que fez após comprá-lo foi mudar o nome do engenho para o de "Nossa
Senhora da Conceição da Lagoa", tendo igualmente erguido na mesma época uma
capela dedicada à "Nossa Senhora da Conceição", ermida essa que em 1809 foi
designada para sediar a "Freguesia de São João Batista da Lagoa", criada pelo Príncipe
D. João. Esse templete existiu até 1826. Hoje no lugar dela está o prédio da "Embrapa",
"Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias", na entrada secundária do Jardim
Botânico, pelo no. 1008.
Amorim Soares não era famoso por sua ética. Em 1599, Antônio Pacheco
Calheiros (1569?-1634), genro de André de Leão, casado com sua filha Inês, solicitou à
Câmara o aforamento de "todas as terras que houvessem da demarcação de Diogo de
Amorim até entestar com as de André de Leão, e quinhentas braças de comprido
correndo para a Gávea". O foro foi concedido em duas vidas, pagando Calheiros 100
réis por braça. Em 1603, Calheiros pede enfiteuse pelas mesmas quinhentas braças,
bem como toda a terra que houver do engenho de Amorim Soares até a "Costa Brava"
(Leblon), correndo até a Gávea(Vidigal). Pacheco pediu à Câmara confirmação de suas
posses e as de André de Leão, em 1611 e 1616. A confirmação foi concedida pela
Câmara. Parece que seu poderoso vizinho Diogo de Amorim estava derrubando suas
cercas. Que desejava ampliar seus domínios não há dúvidas, pois ainda em 27 de
novembro de 1608 Amorim aforou mais 300 braças de terras com vertentes para a
Tijuca, com foro de 600 réis.
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Durante algum tempo a Lagoa foi denominada de "Lagoa de Amorim Soares", por
causa de seu latifundiário mais famoso. Não era lá muito querido esse vereador, que por
causa de seus escândalos, foi expulso da cidade em junho de 1609. Não sem antes
vender seu engenho e terras para seu genro, Sebastião Fagundes Varela (1563-1639),
que se casara pouco antes com sua filha, Da. Maria de Amorim Soares (1589-1676).
Varela não se contentou só com essas terras, solicitou outras à "Câmara de
Vereadores" e, não satisfeito, foi comprando as dos vizinhos e, em alguns casos,
invadindo mesmo, derrubando cercas e agindo com alguma violência. Apesar dos
protestos da vizinhança, a Câmara se omitiu. Uma das proprietárias, Da. Felipa Gomes,
viúva de André de Leão, vendeu as terras a Martim Barbosa em 17 de dezembro de
1612. Compreendia quase toda a atual Marquês de São Vicente. Anos depois, em 1640,
Martim Barbosa aforou 200 braças dessas terras à Pantaleão de Oliveira.
Como já se disse, Varela vivia solicitando terras à Câmara. Expediu petições
neste sentido em 22 e 27 de junho de1609, onde pedia trespasse das terras do sogro e
aforamento por 9 anos de terras desde o Pão de Açúcar até a "praia brava" (Leblon),
com 400 braças para o sertão. Em 23 de setembro de 1611 e 19 de julho de 1617
solicitava mais terras para aumento de seus pastos. Em 1620 ele já era dono de toda a
área que ia do atual bairro do Humaitá ao Leblon, inclusive toda a Lagoa, que nesses
tempos passou a ser denominada de "Lagoa de Fagundes Varela" ("Sic Transit Glória
Mundi"). Só para se ter uma idéia da extensão de suas terras, elas abrangiam 1.700
braças de testada e 4.500.000 braças de área, incluindo a Lagoa. Ele usava a praia de
Copacabana (à época "Praia de Sacopenapan"), obtida por doação da Câmara em
1619, para pasto de seu gado, que ruminava entre cajueiros, pitangueiras e ananases.
Em 1609 Varela finalmente ganhou um vizinho que não conseguia intimidar.
Nada menos que Martim de Sá (1575-1632), Governador do Rio de Janeiro (1602/08 e
1623/32) e então filho do ex-Governador Salvador Corrêa de Sá, nascido em Barcelos
(1542-1631). Martim nesse ano de 1609 obteve trespasso de uma sesmaria obtida em
1606 por Afonso Fernandes e Domingas Mendes. O "Conselho da Cidade" havia
aforado essa terra ao casal três anos antes, com foro de 1000 réis, correspondendo a
"300 braças começadas a medir do Pão de Açúcar ao longo do mar salgado para a
Praia de João de Souza (Botafogo) e para o sertão, costa brava e tudo que houvesse".
Em 1609, Da. Domingas, já viúva, trespassou-lhe o aforamento.
CAPELA DE NOSSA SENHORA DAS CABEÇAS - RUA FARO
Onde hoje está a rua Faro, Martim ergueu um aqueduto em alvenaria, cujas
ruínas ainda existem no fundo de alguns terrenos. Lá também se ergue a "Capela de
Nossa Senhora das Cabeças", o qual muitos asseveram ser obra dos primórdios do
século XVII. Pretendia Martim de Sá alí fundar engenho de cana, o "Engenho de Nossa
Senhora das Cabeças", mas parece que algum tempo depois desinteressou-se por ele e
o vendeu à Varela.
No século XIX a capelinha estava na imensa "Chácara de N. Sra. da Cabeça".
Pertenceu por muitos anos à família Tosta, dos "Barões de Muritiba", sendo vendida
depois de 1860 ao Dr. Luís Pereira Ferreira de Faro, neto do 1o. Barão do Rio Bonito,
Joaquim José Pereira de Faro, Presidente da Província do Rio de Janeiro e grande
cafeicultor (1768-1843), filho do 2o. Visconde com Grandeza do Rio Bonito, João
Pereira Darrigue Faro (1803-1856), e irmão do 3o. Barão do Rio Bonito, José Pereira de
Faro (1832-1899) e sobrinho do Comendador Antônio Martins Lage, do qual depois se
falará. Loteada a chácara e nela aberta a rua Faro em 1870, ficou a dita capela nos
terrenos da "Casa Maternal Mello Mattos", fundada no final do século XIX por este
célebre Juiz de Menores, casado com Da. Francisca "Chiquita" Mattos, que por muitos
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anos dirigiu a instituição e preservou com carinho a velha capelinha, hoje tombada pelo
“IPHAN” como a relíquia mais vetusta do bairro. Perto dela, em frente ao no. 51, existe
hoje enorme figueira bicentenária, tombada pela municipalidade em 1980.
Outros engenhos surgiram na Lagoa. Baltazar de Seixas Rabelo, Juiz Ordinário
da Câmara, Provedor da Misericórdia, Capitão Mór de São Vicente (1560-1637), aforou
200 braças de terras com um riacho em 1598, entre Felipa Gomes e Diogo de Amorim
Soares. Ali abriu seu engenho de cana e rapadura.
Por essa época, João Martins Monteiro, pedreiro, traspassou 250 braças de
terras na Lagoa para Sebastião Antunes. Essas terras foram antes de Manoel Pinto,
ourives, e iam desde um riacho, onde se achava a divisa do engenho de Martim de Sá,
com 600 braças de fundo, ao longo do caminho que vem do engenho para a cidade.
Deve ser mais ou menos onde hoje se encontra o Parque Lage. Êsse Manoel Pinto, do
qual nada se sabe, obtivera essas terras antes de 1606 para nelas fazer um engenho.
ENGENHOS DA FONTE DA SAUDADE
Mestre Bernardo, arrendou por nove anos 100 braças de terras que estavam
devolutas, por carta de 19 de dezembro de 1612. Eram no fim da "praia da Lagoa", onde
vi veu Baltazar de Aze vedo, até junto ao morro da "Saudade", vindo da Lagoa para a
cidade. É onde hoje existe a região denominada "Fonte da Saudade". A "Fonte da
Saudade" era assim chamada porque no princípio do século XIX alí lava vam roupa
lavadeiras portuguesas, que cantavam fados relembrando com saudades a terra
distante.
Há referências diminutas a outros engenhos na Lagoa, todos de localização
imprecisa e escassas informações. Segundo Mello Moraes, possuíam também
engenhos na região: Martim Gonçalves, rico comerciante com casas na rua da
Alfândega; Pedro de Souza e Brito, Capitão de Infantaria (1584-16??), era filho de João
Pereira de Souza Botafogo (1540?-1590), dono do que é hoje o bairro de Botafogo; e
Pedro Fernandes de Mello. Todos os seus engenhos foram de efêmera duração.
Em 06 de maio de 1614, Francisco Gomes requereu aforamento de mais terras
ao "Conselho da Câmara" para ter mais largura que as que possuía Antônio de Almeida,
porquanto tinha feito casas, roças, canaviais e um engenho de cana. Parece que esse
Francisco Gomes devia alguma, pois os "Oficiais da Câmara" foram à sua fazenda e
botaram tudo abaixo, derrubando o engenho, com pena de seis cruzados de o levantar
de novo. Foi-lhe proibido de plantar cana e dado um prazo de um ano para se mudar.
A 24 de dezembro de 1616, Francisco Caldas, "Cavaleiro Fidalgo D`El Rei",
requereu ao "Conselho da Câmara" aumento de terreno para acréscimo do engenho de
açúcar que ele fundou nas terras da Lagoa. A Câmara deu o aforamento, mas tudo leva
a crer que o engenho não foi adiante e logo tornou-se mais uma extensão das terras de
Varela.
FONTE DA SAUDADE – RESUMO HISTÓRICO
No século XVI, a área em questão era parte da sesmaria de Antônio Francisco
Velho, Mordomo da Confraria de São Sebastião, e que recebeu a doação ainda em
1565 do Governador Estácio de Sá. Em 1590, as terras passaram, por compra, ao juiz
João Pereira de Souza Botafogo, que as manteve até 1605. Alienada a parte da lagoa
neste último ano, tentou-se ali erguer um engenho de cana, mas em 1620 os terrenos
caíram em mão de Sebastião Fagundes Varela, cuja família manteve a posse, através
de seus herdeiros, até a chegada da Côrte, em 1808.
A única construção notável erguida na região durante o período colonial foi feita
pelo Vice-Rei Luís de Vasconcellos, que mandou o engenheiro militar Jean Jacques
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Funck erguer em 1786 um forte no final da rua São Clemente, onde hoje está o CIEP de
Humaitá, com linhas amuralhadas por toda a Fonte da Saudade, em áreas onde em
época recente se abriu a rua Bogari. O que restava do dito forte foi demolido em 1983
para a construção do preclarado CIEP de Humaitá.
Aí por volta de 1808, quando as terras foram alienadas, surgiram as primeiras
referências à existência de uma fonte de água potável, onde lavadeiras portuguesas
lavavam as roupas dos nobres de Botafogo (fonte desenhada por Maria Graham, em
1823). Elas cantavam fados de saudade à terra distante, surgindo daí a poética
denominação de “Fonte da Saudade” (isso consta em A. J. Mello Moraes, “Crônica
Geral e Minuciosa do Império do Brasil”, Rio, 1879), a nomenclatura foi depois aplicada
ao morro e praia lindeira (desenho de Thomas Ender, de 1817). Essa fonte ainda
sobrevive, com outra arquitetura, no pátio ajardinado fronteiro do prédio no. 111 da rua
Fonte da Saudade.
As condições de péssima salubridade da lagoa, com freqüentes mortandades de
peixes e falta total de saneamento, impediu qualquer ocupação de porte no local. Em
volta da lagoa, surgiram em fins do Império quatro fábricas de tecidos: uma, o
Cotonifício São Félix, na rua Marquês de São Vicente; a segunda, a Fábrica de Tecidos
Corcovado, onde aproximadamente hoje se ergue o Hospital da Lagoa; a terceira, a
Fábrica Carioca, na rua Pacheco Leão, e a quarta, uma pequena fábrica no Humaitá.
Esta ocupação fabril gerou a existência de vilas operárias, casas de cômodos e
pensões, algumas ainda existentes nos bairros de Botafogo, Jardim Botânico e Gávea.
No primeiro recenseamento predial realizado na rua da “Praia da Saudade” (não
confundir com o logradouro de idêntico nome, na Urca, onde hoje existe o Iate Clube do
Rio de Janeiro) em 1879 por J. Cruvello Cavalcanti, constatou a existência de apenas
sete casas térreas, um telheiro e duas ruínas.
Decidido a reverter essa situação e conquistar essa importante área para a
burguesia crescente da cidade, o Prefeito Carlos Sampaio mandou realizar importantes
obras de saneamento na Lagoa Rodrigo de Freitas entre os anos de 1920/22, trabalho o
qual foi encarregado o escritório técnico do competente engenheiro Saturnino de Britto,
que realizou extensas obras de aterro das margens da Lagoa, canalização de rios,
dentre outras. Na área da Fonte da Saudade, fez-se grande aterro de pântanos, o qual
resultou toda a área que vai do lado par da rua Fonte da Saudade (até então somente
existia o lado ímpar. O lado par era a praia) até a av. Epitácio Pessoa, concluída nessa
época. A rua Fonte da saudade possuía, segundo o recenseamento geral de 1920, 87
casas térreas (no lado ímpar), todas residenciais e ocupadas, dois sobrados, sendo um
uma pensão e o outro uma casa-de-cômodos. Existia igualmente, como único comércio,
uma padaria.
Como resultado dessas importantes obras, começou a ocupação da região por
construções de melhor porte, bem como o surgimento das primeiras ruas transversais à
rua Fonte da Saudade. Em 1928, surgiam as ruas Cássias e Madressilva, hoje,
respectivamente ruas Carvalho Aze vedo e Resedá.
Em 1935, é fundada a empresa loteadora DARKE S/A, criada pelo Sr. Jorge
Bhering de Oliveira Mattos e outros, com o fito de lotear dois grandes terrenos onde os
Srs. Jorge e seu finado irmão Darke haviam erguido em 1928/29 dois imensos
palacetes. Foi então elaborado um plano de arruamento e loteamento em duas folhas
de papel ozalid, pelo Consultório Técnico do engenheiro Washington de Aze vedo,
aprovado em 29 de maio de 1935 pelo Prefeito Pedro Ernesto Batista, e que tomou o
número 2396. Desse loteamento resultou a abertura das ruas “A”, hoje Ferreira de
Resende; “B”, hoje ruas Almirante Guilhobel e Vitória Régia; “C”, hoje rua Almeida
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Godinho; “D”, hoje Negreiros Lobato e “I”, hoje rua Sacopã. Não foram aprovadas as
ruas “E”, “F”, “G” e “H”.
Em 1938 Da. Maria Augusta Nunes Fleury decidiu lotear sua chácara, surgindo
assim, com o novo projeto de arruamento, aprovado pelo Prefeito Henrique Dodsworth,
a rua Baronesa de Poconé.
Finalmente, nos terrenos da antiga Fábrica David de papéis pintados, de
propriedade de David e Cia., foi aberta em 1940, com o arruamento aprovado pelo
mesmo Prefeito Dodsworth, a rua Alfredo Barcelos, hoje Ildefonso Simões Lopes.
Com o acentuado crescimento populacional da Lagoa, foi criada em 1936 a
Paróquia de Santa Margarida Maria, cuja bela igreja foi projetada anos depois por
Fernando I. Lemos, arquiteto. Foi concluída em 1958 e é ainda o cartão de visitas do
bairro.
A ocupação desordenada da lagoa por prédios de alto gabarito e a abertura do
Túnel Rebouças em 1965 transformaram a Fonte da Saudade em bairro de passagem,
tendo sido demolidas nessa última data a maioria das casas originais da av. Epitácio
Pessoa e rua Fonte da Saudade, com visível queda de qualidade de vida.
A luta pela preservação dos poucos remanescentes da ocupação original da
Fonte da Saudade, impõe-se desde já e é plenamente justificada por consenso popular,
mobilizando a população e associações de bairro. Tanto isso é verdade que a própria
Prefeitura já tombou, em tempos idos, o Espelho da Lagoa Rodrigo de Freitas (em
1988), o Monumento a Quintino Bocayúva, inaugurado em 1944 na Praça Álcio Souto,
antiga Praça da Piaçava; a Obra do Berço, a primeira construção de porte do arquiteto
Oscar Niemeyer, erguida em 1937; e, mais recentemente, tombou, a nível provisório, a
obra da Pequena Cruzada, construída em 1947 por Raul Penna Firme.
PALACETE TAVARES – RUA ALMIRANTE GUILHOBEL, 5 – LAGOA
O bairro da Fonte da Saudade, onde se insere a rua Almirante Guilhobel, foi
criado a partir do Projeto de Alinhamento no. 2396, de 29 de maio de 1935, aprovado
pelo Prefeito Pedro Ernesto. O projeto foi elaborado em duas folhas de papel Ozalid
pelo Consultório Técnico Washington de Azevedo para a Empresa Darke S/A,
proprietária do terreno em questão. O Decreto 5699, de 24 de janeiro de 1936, assinado
pelo próprio Pedro Ernesto, reconheceu as ruas e a denominação.
Segundo José Teixeira Júnior, Diretor Financeiro da Darke S/A e único
funcionário ainda vivo desta empresa, neste mesmo ano o Sr. Jacy Ta vares adquiriu os
lotes 1, 3 e 5 da mesma rua, em posição privilegiada, com fachada confrontante tanto
para a rua Almirante Guilhobel quanto para a rua Fonte da Saudade. O Sr. Jacy Ta vares
era comerciante, dono da Farmácia Jesus, na rua do Catete, com alto prestígio no
mercado, chegando a fornecer por vezes, medicamentos ao Palácio do Catete. Em 1936
foi erguida esta sua residência apalacetada, em estilo eclético, com inspiração na idade
média italiana. Nela residiu por mais de 40 anos, quando então foi alugada para sediar
uma clínica, atividade que manteve por mais de dez anos. Sofreu então algumas
reformas que não a desfiguraram. Presentemente, encontra-se desocupada.
A casa ainda possui rica serralheria em estilo medieval, em ferro batido e fundido,
com brasões heráldicos e raros motivos zoomorfos de dragões. Dentre os detalhes de
serralheria mais interessantes, podemos ressaltar o gradil externo, ainda original e
intacto; as arandelas existentes no hall principal e superior, com motivos de dragões, o
guarda corpo das escadas, em motivos florais e os dois grandes lustres, feitos
especialmente para a casa. Os estuques que formam uma sanca em torno dos
ambientes nobres, em motivos fitomorfos acompanham o estilo da casa. O vão da
escada ainda possui rico vitral com cena de gênero, não assinada, mas contemporânea
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da construção da casa. Outros acabamentos em vitral, no banheiro e cômodos nobres
ainda estão intactos. As portas em marcenaria de estilo ainda estão nos vãos originais,
bem como a maioria das janelas antigas. A casa possui ainda dois pequenos chafarizes
com seus tanques, um externo, em azulejo e pedra, faltando a carranca em metal onde
jorrava água. O outro, no patamar da escada, em mármore branco e carranca de
bronze, está intacto. Os banheiros foram reformados em data posterior à construção,
mas manteve-se o ambiente estilo “anos” 40. A casa em geral está em bom estado de
conservação, necessitando de algumas obras de manutenção, poucas, haja vista a
excepcional qualidade dos materiais empregados. A garagem e a residência de
empregados, nos fundos, são obras recentes e improvisadas, destoando do resto da
construção.
UM CERTO CAPITÃO RODRIGO
O castigo de Varela veio literalmente "à cavalo". Em 1702 era herdeira legítima de
suas terras sua única bisneta, Da. Petronilha Fagundes (1671-1717), filha de Isabel
Fagundes (1639-167?) e de Manuel Telles Barreto (1634-1707). Isabel, por sua vez, era
filha de João Fagundes Paris (1605-1662) e de Da. Petronilha Fagundes (1614-1668),
esta filha mais velha de Varela. Sua bisneta era uma solteirona com cerca de 31 anos, o
que a fazia uma valetudinária naqueles tempos, onde a idade de casamento das
mulheres ia dos 12 aos 18 anos, sendo que o limite de vida das jovens mal chegava aos
40 anos. Nesse mesmo ano de 1702 chegou ao Rio de Janeiro um jovem "Capitão de
Cavalos" chamado Rodrigo de Freitas de Carvalho (1686-1748), natural de Suariba,
Freguesia de Sam Payo de Visella, Têrmo da Vila de Guimarães, Arcebispado de Braga,
e que aos 16 anos logo se casou com a Da. Petronilha (êle mudou seu nome após o
casamento para Rodrigo de Freitas Castro).
Foi o "golpe do baú" mais bem dado em terras do Brasil. A partir daquela época,
o engenho passou a chamar-se de "Rodrigo de Freitas", e idem quanto à Lagoa.
Rodrigo autodenominava-se "Senhor do Engenho de Nossa Senhora da Conceição da
Lagoa de Rodrigo de Freitas e da própria Lagoa", como pomposamente se titulava.
Em setembro de 1710 o engenho foi duramente saqueado pelas tropas invasoras
francesas chefiadas por Jean François Duclerc (16??-1711), corsário francês à serviço
do Rei Luís XIV (encontramos muita louça de Duclerc nas escavações arqueológicas
que realizamos na sede do engenho em 1991) e, após 1717, depois de viúvo, Rodrigo
de Freitas arrendou o engenho e casas a um particular e mudou-se para Portugal, onde
passou a viver das rendas de suas terras, indo morar em sua "Quinta" em Suariba, no
Alto Minho, onde morreu em 1748, aos 61 anos, viúvo e muito rico.
Herdou suas terras e casas seu filho João de Freitas Castro (1704-1779), casado
com Da. Leonor Maria de Mello Pereira Sampaio (1714-177?). Seu primogênito, Rodrigo
de Freitas Mello e Castro (1740-1803), morava em Guimarães, onde casou-se em 1770
com Da. Josefa Margarida Soares Tomásia Cardoso e Menezes (1750-18??). Foram
pais de Ayres de Freitas Mello e Castro (1771-1811), que morreu solteiro, e Da. Maria
Leonor de Freitas Mello e Castro (1773-183?), que sobreviveu ao irmão muitos anos.
CHINESES NA ORIGEM DO JARDIM BOTÂNICO DO RIO DE J ANEIRO
O engenho de cana da Lagoa de Rodrigo de Freitas, fundado em 1575, decaiu
muito durante o século XVIII, só produzindo rapadura e cachaça. Por Decreto Régio de
13 de junho de 1808, suas terras, que abrangiam os atuais bairros de Copacabana,
Ipanema, Leblon, Gávea, Jardim Botânico e Lagoa, foram desapropriadas pelo Príncipe
D. João. Recém chegado com sua Côrte ao Brasil, tencionava nelas instalar uma fábrica
de pólvora. D. João visitou a primeira vez o local em janeiro de 1809, chegando numa
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canoa pela Lagoa, condução apanhada no Morro da Saudade, pois o Príncipe tinha
muito medo de ir por terra, temendo que uma pedra próxima ao caminho, uma tal de
Pedra Santa, lhe caísse pela cabeça (essa pedra foi removida em 1837). Ao chegar ao
engenho, foi D. João mal recebido pelo feitor do arrendatário do engenho, o qual fez
com que os escravos da casa virassem de costas e abaixassem suas calças quando da
passagem do Príncipe.
D. João ficou furioso e, por ordem escrita ao Ministro da Guerra, Dom Rodrigo de
Souza Coutinho, Conde de Linhares, mandou prender o feitor e os escravos pelo
"inaudito atentado" e fazê-los perder todas as graças e mercês régias. Procedeu-se a
avaliação da propriedade e a indenização de todas as terras, cujos valores foram
arbitrados por muito abaixo do real. Julgado a adjudicação por sentença de 30 de
janeiro de 1810, foi paga a pequena indenização. Após a desapropriação, a família
Freitas entrou na justiça para lutar por seus direitos, nada conseguindo. Basta dizer que
a indenização só foi paga em 1826, por D. Pedro I, à herdeira de Rodrigo de Freitas, Da.
Maria Leonor de Freitas Mello e Castro, filha do titular. Ela recebeu, finalmente, a
indenização no valor de R$: 42:193$430 contos de réis. Após todos esses trâmites, as
terras foram incorporadas aos próprios nacionais com as formalidades da lei de 28 de
setembro de 1835. Os terrenos pertencentes ao Engenho da Lagoa pagavam de foro ao
Senado da Câmara 6$400 réis. O pagamento continuou a ser feito à Ilustríssima
Câmara Municipal até 1869.
Apesar do episódio do feitor, D. João enamorou-se pelo local, mandando ali
erguer uma casa avarandada para sua estadia pessoal, construção esta não mais
existente. Lá passava longas temporadas. Em julho de 1809 mandou plantar uma
palmeira nas cercanias do engenho, cuja semente chegou às suas mãos por meios
rocambolescos.
O Chefe de Divisão português Luís de Abreu Vieira e Silva caíra prisioneiro dos
franceses após o naufrágio de seu navio Princesa do Brasil, perto de Goa, na Índia, em
1808. Levado para Ilha Maurícia, no arquipélago de Madagascar, foi libertado algum
tempo depois, junto com outros duzentos prisioneiros lusitanos após a dita ilha cair em
mãos dos ingleses, aliados dos portugueses. Luís viajou então para o Brasil, não sem
antes aproveitar e roubar sementes de moscadeiro, canforeira, abacate, lechia,
mangueira, cravo da índia, palmeira, noz moscada e outras especiarias (num total de 20
caixotes de sementes) do Jardim Gabrielle, o maior jardim botânico de Madagascar.
Luís de Abreu retornou a bordo do veleiro La Ville d`Autun. Ao chegar ao Rio de Janeiro,
ofertou tais dádivas em junho de 1809 à D. João, o qual aceitou as ditas sementes com
muito grado, e iniciou o plantio pela palmeira no mês seguinte. Depois de crescida, ficou
conhecida pelo apelido de Palma Máter (Palmeira-mãe), haja vista que foi a primeira
Palmeira Real (Palmácea Oleodora Olerácea) do futuro Jardim Botânico do Rio de
Janeiro.
Em 1909, o Diretor do Jardim Botânico João Barbosa Rodrigues, mandou erguer
um busto em bronze de D. João VI, esculpido por Rodolfo Bernardelli, defronte ao
vegetal. O Dr. Guilherme Guinle doou em 1934 o belo gradil que a cerca. A Palma Máter
sobreviveu a tudo e a todos, sendo morta por um raio em outubro de 1972, e abatida
finalmente em janeiro de 1973 para não cair. Na ocasião, a árvore já atingia altura de 35
metros. Em seu lugar o Diretor Dr. Leonan de Azeredo Penna mandou plantar em 1973
uma Palma Filia, que já atingiu presentemente considerável altura.
Além do plantio oriundo das aventuras de Luís de Abreu, D. João mandou vir de
Caiena mais sementes de especiarias e plantas medicinais, e do Ceará a planta
indígena chamada Carnaúba, em 1810.
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A Administração da Fábrica de Pólvora da Lagoa foi entregue ao Marechal Carlos
Antônio Galani Napione, nascido em Turim (1758-1814), sendo sua Direção entregue ao
esperto Luís de Abreu Vieira e Silva. Foi esse homem que sugeriu a D. João o
aproveitamento dos terrenos devolutos para ali instalar um Horto Botânico, com o fito de
implementar espécimes vegetais estrangeiros na agricultura brasileira. O Ministro Conde
de Linhares, solicitou então ao Senador de Macau Rafael Botado e Almeida que
mandasse vir agricultores chineses, bem como sementes de chá, noz moscada e fruta
pão, além de outras especiarias para plantarem aqui. Com a chegada de 300 chineses
em princípios de 1811, foi emitido o Alvará Régio no. 5, datado de 11 de março de 1811,
pelo qual D. João mandou criar e instalar o Real Horto Botânico da Lagoa, origem do
Jardim Botânico do Rio de Janeiro.
As coisas não deram muito certo no início. O Conde de Linhares, principal
animador do projeto, morreu de uma bengalada dada por D. João, durante uma
admoestação, em 1811. Seu sucessor, Antônio de Araújo e Aze vedo, Conde da Barca
(falecido em 1817), não se interessou muito pelo projeto.
Por outro lado, em vez dos portugueses mandarem vir agricultores especializados
da China, vieram, sim, todos os bandidos das prisões de Macau. Eles não plantavam
quase nada, vendiam as mudas e sementes como camelôs pelas ruas da cidade e, com
o dinheiro arrecadado, compravam ópio nas boticas, o qual fumavam no rancho onde
dormiam no Alto da Boa Vista. Os portugueses não entendiam porque esses chineses
ficavam horas e horas a fio sentados ao chão, lá no Alto da Boa Vista, com aquele
cachimbo enorme na boca, olhando para a paisagem. Pensavam que eles ficavam ali
admirando a beleza do lugar e, por esse motivo, batizaram o rancho onde viviam como
Vista dos Chins, ou Vista Chinesa, nome que pegou e foi dado à primeira "boca-defumo" do Rio de Janeiro (e que ainda o é...).
Em 1905/6, o Prefeito Pereira Passos, em lembrança a esses chineses, construiu
um quiosque de ferro fundido no local.
Uma tentativa de aproveitar esses chineses na Real Fazenda de Santa Cruz,
bem como no Arsenal Real de Marinha não logrou sucesso. Muitos se suicidaram de
saudades. Pior, não tinham mulheres. Um deles se casou com uma índia. Apesar de
todos os percalços, o plantio de chá prosperou, e em 1817 já atendia a demanda
nacional do produto. Em 1819, sementes e agricultores foram levados à São Paulo, pelo
engenheiro Varnhagen, e lá a planta prosperou bem. Entretanto, os ingleses não
gostaram nada da notícia do Brasil produzir seu próprio chá e intimaram D. João a
acabar com nossa produção.
O Rei obedeceu e assim terminou nossa experiência com o chá.
PRIMEIROS DIRETORES DO J ARDIM BOTÂNICO
Os primeiros diretores do Jardim Botânico foram políticos: Dr. João Gomes da
Silveira Mendonça, Visconde de Fanado e Marquês de Sabará (1781-1826), Brigadeiro;
Membro do Conselho de Estado (1822); Deputado por Minas Gerais (1823); Ministro da
Guerra (1823); Diretor da Fábrica de Pólvora da Estrela (1825); Senador por Minas
Gerais; possuía parcos conhecimentos de botânica, dirigindo o Jardim de 1811 a 1819.
Foi sucedido por Dr. João Severiano Maciel da Costa, Marquês de Queluz (1769-1833),
Magistrado; Deputado Constituinte (1823); Membro do Conselho de Estado (1823);
Ministro do Império (1823/24); Presidente da Província da Bahia (1825); Senador pela
Paraíba (1826); Ministro dos Estrangeiros (1826/27); dirigiu o Jardim de 1819 a 1824.
Ambos eram mineiros.
FREI LEANDRO DO SACRAMENTO
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Após a Independência, D. Pedro I nomeou o terceiro diretor e primeiro botânico
para ocupar o cargo, Frei Leandro do Sacramento (1779-1829), pernambucano, frade
carmelita e primo de Tiradentes (1746-1792); "Professor de Botânica na "Escola
Anatômica, Cirúrgica e Médica"; Membro das academias de ciências de Munique e
Londres; Membro da "Sociedade de Agricultura de Gand". Dirigiu o estabelecimento de
1824 a 29. Foi quem deu a configuração atual do Jardim Botânico. Frei Leandro mandou
abrir o lago que depois se chamou "Frei Leandro", onde estão as famosas Vitórias
Régias e Nenúfares, e com a terra retirada fez um morrote e mirante, a "Casa dos
Cedros", ambos ainda lá. Foi com Frei Leandro que o Jardim Botânico foi franqueado
pela primeira vez ao público, em 1824. Inicialmente a visita era muito restrita pela
proximidade da Fábrica de Pólvora, que de vez em quando teimava em explodir.
Faleceu Frei Leandro em plena atividade no seu Jardim Botânico. A jaqueira
onde descansava e fiscalizava as obras ainda hoje se ergue na proximidade da "Casa
dos Cedros" (e ainda dá jacas).
Outro que igualmente faleceu de comoção cerebral quando passeava no Jardim
Botânico foi o historiador Monsenhor José de Souza Azevedo Pizarro e Araújo, autor
das "Memórias Históricas do Rio de Janeiro", morto em 14 de maio de 1830 após comer
uma carambola.
JOAQUIM SERPA BRANDÃO
O quarto diretor, Dr. Bernardo Joaquim de Serpa Brandão, que dirigiu de 1829 a
1851, plantou as duas primeiras aléias de Palmeiras Reais em 1842, as quais ambas
ainda sobrevivem praticamente intactas (chamam-se, respectivamente "Cândido
Baptista" e "Barbosa Rodrigues"). Inicialmente as sementes de "Palmeira Real" foram
colhidas pela primeira vez em 1822 e desde 1829 constituíam um monopólio do Estado.
Mandavam queimar as que não se usassem para o plantio no Jardim. Mas, naquela
época, os interessados subornavam os escravos que tratavam do plantio e logo todo
palacete particular passou a ostentar seu vigoroso renque de "Palmeiras Reais" nos
jardins... . A proibição caiu por terra no “Segundo Império”, após a administração de
Serpa Brandão. As aléias foram restauradas em 1951 pelo Diretor Paulo de Campos
Pôrto.
A "Fábrica de Pólvora da Lagoa" começou a funcionar por Decreto de 13 de maio
de 1813 e, desde o princípio, era muito insegura, e conta-se ter sofrido três grandes
explosões. Já a 23 de outubro de 1824 era formada uma comissão para escolha de um
novo local para a fábrica. Em 1826, quando era dirigida pelo Major Graduado Manuel
Joaquim Pardal, houve tal explosão que D. Pedro I preferiu transferi-la para a Serra da
Estrela, em Magé, onde ainda existe funcionando como "Fábrica de Pólvora da Estrela",
agora arrendada pelo exército brasileiro a particulares.
CONSELHEIRO CÂNDIDO BAPTISTA DE OLIVEIRA
Depois de transferida a fábrica, em suas abandonadas instalações, foi fundado
nelas uma fábrica de “Chapéus do Chile” pelo quinto diretor do Jardim Botânico,
Conselheiro Cândido Batista de Oliveira, natural do Rio Grande do Sul(1801-1865),
“Lente de Matemática da Escola Militar”; “Ministro da Fazenda e Estrangeiros”(1839);
Senador pelo Ceará(1848); Concessionário de Linha de Bondes(1856-62); “Presidente
do Banco do Brasil”(1859-62); dirigiu o Jardim Botânico de 1851 a 59. Esse tal de
"Chapéu do Chile" eram uns chapéus finos, que se podiam dobrar e colocar no bolso, e
que usava como matéria prima as folhas de palmeira "Bombonassa", do Peru. Não
funcionou por muito tempo. Inaugurada em 1855, fechou em 1859.
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Hoje, no prédio principal da velha "Fábrica de Pólvora", está o museu
arqueológico "Casa dos Pilões", criado pelo "SPHAN" em 1996, instalado na
administração Sérgio Bruni, e contendo maquete das antigas máquinas, bem como
cacos de antigas louças encontradas nas escavações, cachimbos de escravos, etc. O
depósito da pólvora com seu belo portal colonial hoje abriga um play ground ecológico e
a seção do Jardim Botânico que pesquisa o plantio e o poder curativo de ervas
medicinais.
ADMINISTRAÇÃO DO JARDIM BOTÂNICO
Se D. João VI apreciava seu Jardim Botânico, a ponto de ampliá-lo de muito, por
Decreto Régio datado de 11 de maio de 1819, que também regularizava seu
funcionamento; D. Pedro I(1798-1834); Da. Leopoldina(que estudava botânica), sua
esposa(1797-1826); e D. Pedro II(1825-1891) muito freqüentaram-no, sendo que o
último fazia concorridos piqueniques lá com as irmãs Francisca e Januária, onde usava
para seus convescotes uma mesa de cimento que ainda existe atrás da "Casa dos
Cedros".
O Jardim foi inicialmente uma dependência do "Museu Real", fundado em 1818
por D. João VI no Campo de Santana. Ambos pertenciam administrativamente ao
"Ministério de Estado e Negócios do Reino", quando era seu titular Tomás Antônio de
Vilanova Portugal(1745-1839), que era também encarregado da "Presidência do Real
Erário"(1817-1821). O Decreto de 22 de fevereiro de 1822 sujeitou o Jardim à
"Secretaria de Estado dos Negócios de Interior" e, depois da Independência, ao
"Ministério do Império". Em 1860, com a criação do "Ministério da Agricultura e Obras
Públicas", foi para lá sua administração. Em 1861 o Jardim Botânico foi anexado ao
"Imperial Instituto Fluminense de Agricultura", fundado ano anterior, onde ficou até sua
desanexação, já na República, por Portaria do Ministro da Agricultura, General
Francisco Glicério, assinada a 25 de março de 1890.
Essa anexação foi feita não sem protestos do então diretor, o Frade Carmelita
Frei Custódio Alves Serrão, nascido em Alcântara(1799-1873), e que administrou de
1859 a 1861. Ele pediu e obteve sua exoneração. Por sua vez, o "Instituto Fluminense"
substituiu o trabalho escravo no Jardim Botânico por aprendizes livres, geralmente
crianças carentes recuperadas pela escola do Instituto. Parte da mão de obra e do
trabalho especializado era ocupado por aprendizes egressos de orfanatos da “Santa
Casa de Misericórdia”.
Entretanto, uma das conseqüências negativas dessas mudanças administrativas
foi a diminuição dos trabalhos de pesquisa, transformando-se o Jardim Botânico em
área de piqueniques e festas, assim permanecendo durante todo o "Segundo Império".
Segundo relatos de 1865, estava o Jardim Botânico muito mal cuidado.
Em 1869, o "Governo Imperial" comprou por escritura de 18 de dezembro de
1869, por 50 apólices à "Ilustríssima Câmara Municipal" o domínio direto de todas as
terras do Jardim Botânico, deixando assim de pagar os foros tal como se fazia desde o
século XVI.
O JARDIM BOTÂNICO NA REPÚBLICA
Somente em 1890 foram as pesquisas retomadas pelo Diretor Barbosa
Rodrigues, que proibiu os piqueniques e deu um caráter de centro de estudos à
instituição. Para se ter uma idéia do que se haviam transformado seus jardins, basta
dizer que um cronista de época informa que, das 5 da manhã às 7 da noite, o Jardim
Botânico assemelhava-se à um "saguão de hotel", haja vista as inúmeras famílias que
para lá se deslocavam a fazer piqueniques.
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Pelo Decreto no. 1142, assinado pelo Marechal Floriano Peixoto em 22 de
novembro de 1892, os serviços do "Ministério da Agricultura" foram transferidos para o
"Ministério da Indústria, Viação e Obras Públicas". O Decreto no. 1606, assinado pelo
Presidente Afonso pena em 29 de dezembro de 1906, recriou o "Ministério da
Agricultura, Indústria e Comércio", para lá sendo transferido o Jardim Botânico. Depois
de muitas peripécias, foi o Jardim, já nos idos de 1961, subordinado ao Parque Nacional
da Tijuca e ao "Instituto Brasileiro de Defesa Florestal". Em 1989, o "IBDF" foi
substituído pelo "IBAMA", sendo este subordinado à uma Secretaria de Govêrno. No
ano de 1992, sob impacto da "Conferência Internacional de Meio Ambiente", realizada
no Rio de Janeiro, foi criado o "Ministério do Meio Ambiente", ao qual o "IBAMA" e o
Jardim Botânico do Rio de Janeiro foram anexados.
TRANSPORTES COLETIVOS NA ZONA SUL
Os primeiros transportes coletivos para a zona sul logo vislumbraram aos homens
empreendedores a possibilidade de transportar pessoas de outros arrabaldes para o
Jardim Botânico e vice-versa, haja vista a potencialidade de lazer que o jardim oferecia,
tão rara no Rio de então.
Ainda no ano de 1837, foi dada concessão ao francês Jean Lecoq para fazer
funcionar no Rio de Janeiro uma “Companhia de Omnibus” puxados à cavalos, com
capacidade de transportar 20 a 24 passageiros. O tráfego foi inaugurado em julho de
1838 com quatro carros. Logo inaugurou-se uma linha para Botafogo em janeiro de
1839. Em 1847 alugavam-se “omnibus” extraordinários para o Jardim Botânico e outros
arrabaldes. Em 1868, com o sucesso do bonde, extinguem-se todas as linhas do centro,
só sobrevivendo uma linha da Praia de Botafogo ao “Largo das Três Vendas”, hoje
Praça Santos Dumont. Em 1882 a “Companhia de Omnibus” era vendida à “Botanical
Garden Rail Road Company”.
No ano de 1838 foi fundada a “Companhia das Gôndolas Fluminenses”, que era,
em verdade, uma carrimpana fechada com nove lugares, menor que o “omnibus”, porém
mais rápida. Em 1865 foi criada uma linha de “Gôndolas que passava pela Praia de
Botafogo, Rua São Clemente, “Rua Berquó”, atual General Polidoro, e Jardim botânico.
Essa linha manteve-se até a década de 1870, quando acabou pela concorrência com os
bondes da “Jardim Botânico”.
Uma grande linha de “diligências” foi criada em 1854, ligando o centro comercial
ao Jardim Botânico. Era a “Companhia Sociedade Lagoense”, criada pelos diretores
Antônio de Pádua e Silva e José Maria Targine.
BONDES PARA A ZONA SUL
Ainda em 12 de março de 1856, o Diretor do Jardim Botânico, Conselheiro
Cândido Baptista de Oliveira e seu filho Luiz Plínio de Oliveira, obtiveram do “Governo
Imperial” a primeira concessão de uma linha de carris puxados à burro no Rio de Janeiro
pelo decreto no. 1733. Essa linha passaria defronte de seu Jardim Botânico,
aumentando a freqüência. Entretanto, nomeado Diretor do Banco do Brasil em 1859,
Cândido repassou essa concessão por quarenta contos de réis pelo decreto no. 2927,
de 21 de maio de 1862 ao seu amigo Ireneu Evangelista de Souza, Barão e depois
Visconde de Mauá(1813-1889) e este, por cem contos de réis pelo decreto no. 3738, de
21 de novembro de 1866 ao engenheiro americano Charles B. Greenough(1825-1880).
Conseguindo apoio financeiro nos Estados Unidos, rodava já em 09 de outubro
de 1868 a linha de bondes da "Cia. Botanical Garden Rail Road", fundada pelo tal
engenheiro Greenough que inaugurou seus serviços de transportes coletivos para a
Zona Sul, indo a primeira linha da rua Gonçalves Dias, no Centro, até o Largo do
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Machado. Logo foi extendida até a rua “Nova de São Joaquim” (Voluntários da Pátria),
em Botafogo e, em 1o. de janeiro de 1871, passou a circular pela rua Jardim Botânico,
com ponto na porta do Jardim, aumentando de muito a freqüência à instituição e a
popularização do Bairro, já chamado assim(em 1o. de abril de 1873, o bonde chegaria
até a “Olaria”, na rua Marquês de São Vicente).
A rua Jardim Botânico foi retificada, sendo um trecho tortuoso dela cortado por
um atalho. Esse trecho ficou conhecido como "Estrada Velha do Jardim". Foi depois a
rua Frei Leandro, em 1922 incorporada ao "Jocquei Clube". A atual rua Frei Leandro
resulta de um loteamento feito em 1921/22.
Em frente ao portão principal do Jardim Botânico foi construída uma estação de
bondes em 1874 para conforto dos visitantes. O portão original do Jardim Botânico foi
projetado em 1848 pelo arquiteto da "Missão Artística Francesa" e professor da
"Academia Imperial de Belas Artes", Auguste Henry Victor Grandjean de Montigny(17761850), que morava na Gávea, em chácara ainda existente dentro do Campus da PUC.
Mas o artístico portão foi demolido no século XX, substituído pelo atual em 1908. Para
se fazer o novo portão, foi necessário que o Diretor Barbosa Rodrigues ordenasse o
abate de uma árvore "Carrapateiro", ou "Itó", que contava mais de duzentos anos.
Seria tal o crescimento populacional ocasionado pelo bonde, que por Decreto
Legislativo no. 2297, de 18 de junho de 1873, foi criada a "Freguesia da Gávea",
separando-a da "Lagoa", que datava ainda de 13 de maio de 1809, com sede na Capela
de N. Sra. da Conceição, erguida em 1852/56 pelo Capitão Manuel dos Anjos Vitorino
do Amaral no princípio da rua "da Boa Vista da Lagoa", atual Marquês de São Vicente.
Foi seu primeiro Vigário Monsenhor Francisco Martins do Monte (183?-1909), e que era
também Vigário da "Freguesia da Lagoa" e modesto acionista da "Botanical Garden Rail
Road Company".
Quanto à companhia de bondes, seria nacionalizada em 1883, quando passou a
ter razão social de "Companhia Ferro Carril do Jardim Botânico" e continuou a prestar
bons serviços por muitos anos ao Rio de Janeiro. Em 1909 foi parcialmente arrendada
por contrato à "Light", empresa fundada dois anos antes por um grupo canadense e que
ficou responsável pelo fornecimento de energia elétrica à cidade. Entretanto, continuou
a companhia de bondes funcionando independentemente até 1946, quando foi
definitivamente incorporada à "Light". Depois de 1950 desinteressou-se a companhia
canadense pelos bondes, cujo serviço foi decaindo até sua extinção definitiva em 1963
pelo Governador Carlos Lacerda.
Em 1890 surgiu o projeto mais curioso, proposto pela "Companhia
Melhoramentos da Lagoa Rodrigo de Freitas e Botafogo", que projetava, dentre outros
melhoramentos, uma "Estrada de Ferro Elevada", partindo da Lagoa e terminando na
rua Primeiro de Março. No Leblon seria erguido um cemitério, proposto por André
Rebouças, idéia logo enterrada. Anos depois, nas terras do comerciante português José
Guimarães Seixas, próximo ao Morro dos Dois Irmãos, foi proposto um prado de
corridas, idéia que não andou. A companhia foi encampada pelo Governo Federal em
1891.
OBRAS DE ARTE NO JARDIM BOTÂNICO
De 1890 a 1909 dirigiu o Jardim Botânico o cientista João Barbosa Rodrigues,
mineiro(1842-1909), que era também historiador e esteta, pois usou de sua influência
pessoal junto ao Govêrno da República para levar ao seu Jardim Botânico, várias
estátuas, monumentos e chafarizes que estavam abandonados pela prefeitura nas ruas
da cidade do Rio de Janeiro. Foi ele quem levou para a "Aléia Barbosa Rodrigues" o
velho chafariz francês em ferro fundido comprado por D. Pedro II e que desde 1878
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estava esquecido no "Largo da Lapa". Também levou para o Jardim as duas estátuas
em liga de bronze feitas por Mestre Valentim da Fonseca e Silva(1745-1813), que
haviam sido fundidas para o "Chafariz das Marrecas" em 1785. A "Ninfa Eco" e o
"Caçador Narciso", pois o dito artístico chafariz fôra demolido impiedosamente em 1896
para se ampliar um quartel na rua dos "Barbonos"(atual Evaristo da Veiga). Em época
recente(1992) o chafariz pôde ser reconstituído pelo arquiteto Glauco Campello, do
"IPHAN", junto à "Aléia de Paus Mulatos". No ano de 1938, recebeu o Jardim seu último
presente, o Pórtico Neoclássico em mármore e estuque da antiga "Academia Imperial de
Belas Artes", projetada por Grandjean de Montigny em 1816/26 na "Travessa das Belas
Artes", próxima ao "Largo do Rossio"(Praça Tiradentes) e burramente demolida em
1938, quando nela já funcionava desde 1908 o "Ministério da Fazenda". Foi colocado no
final da "Aléia Barbosa Rodrigues", pelo arquiteto do "IPHAN", Dr. José de Souza Reis.
Em 1922 sofreu o Jardim Botânico seu maior atentado. O Presidente da
República, Epitácio da Silva Pessôa(1919-1922), mandou desapropriar grande parte do
lado ímpar da rua Jardim Botânico, abrangendo parte dos terrenos onde continuava o
Jardim Botânico, que naquele trecho margeava a Lagoa. Lá ficavam as plantas da
Região Amazônica. Tudo resultou de uma consulta feita pelo Dr. Linneu de Paula
Machado ao engenheiro Eugênio Dodsworth, encarregado do atêrro das margens da
Lagoa, sobre a possibilidade de alí se instalar o prado de corridas do Jocquei Clube,
então ocupando terras no Maracanã. Dodsworth deu carta branca e Linneu usou de sua
influência e amizade junto aos Presidente e Prefeito, obtendo permuta com a Prefeitura,
que ficava com as terras do velho prado, levando Linneu o trecho mais nobre da Lagoa
como "troca". A destruição de parte do Jardim teve a justificativa oficial que as plantas
dalí atraíam muitos mosquitos, tornando a Gávea inabitável.
O terreno que foi permutado ao seu amigo particular, Dr. Linneu de Paula
Machado, Vice-Presidente do "Jocquei Clube do Rio de Janeiro"(1880-1942), e seu
Presidente depois de 1921. Foi onde se ergueu de 1919 a 1926 o conjunto monumental
do "Jocquei Clube", sob projeto dos arquitetos Prof. Archimedes Memória e Francisco
Cuchet, com supervisão do engenheiro Mário Aze vedo Ribeiro e apoio irrestrito do
Prefeito Carlos César de Oliveira Sampaio(1920-1922), que permitiu, inclusive, um
grande aterro na Lagoa com terras oriundas do arrazado "Morro do Castelo" e de obras
que realizara na cidade, matando os manguezais. Isso deu tal desgosto ao Diretor do
Jardim Botânico, Dr. Antônio Pacheco Leão, nascido no Rio(1872-1931, e que dirigiu o
Jardim de 1915 a 1931. Tal destruição marcou sua vida que, afirma sua família, acabou
matando-o de desgosto em 1931. Hoje a área do Jardim Botânico é de 117 hectares.
Eram originalmente 171!
Depois da vitória de Vargas em 1930, foi o Jardim Botânico tratado com melhor
respeito. Em 1934 foi nomeado o botânico Paulo de Campos Pôrto, neto de João
Barbosa Rodrigues, que em sua longa administração, conseguiu restituir de muito a
grandeza perdida, restaurando danos que já haviam ocorrido em muitos anos(1934 a
1938, e depois voltou a administrar de 1951 a 1961).
Vale aqui assinalar a curiosidade que em 1963, o paisagista Roberto Burle Marx,
conhecedor da história da mutilação do Jardim e visivelmente inspirado nos anseios de
Pacheco Leão e, doutro modo, impossibilitado de corrigir as amputações praticadas de
1922 em diante, projetou uma ilha à ser construída no centro da Lagoa, constituída de
ripado e cultivo para as espécies de plantas marginais lacustres e aquáticas da flora
brasileira, juntamente com instalações laboratoriais para estudo e controle da ictiologia.
SANEAMENTO DA LAGOA RODRIGO DE FREITAS
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Durante o século XIX, a ocupação do bairro restringia-se a poucas chácaras na
rua Jardim Botânico, outras tantas na Dona Castorina, ficando a população com a
preferência por Botafogo e Gávea. Nem a chegada do bonde interferiu nessa escolha
para moradia, haja vista que a Lagoa Rodrigo de Freitas era considerada insalubre.
Dominava a idéia de que a persistência da febre amarela no Rio de Janeiro estava
intimamente ligada às exalações miasmáticas. Dentro dessa perspectiva, sanear a
Lagoa Rodrigo de Freitas era obra prioritária. Mas os altos custos da empreitada e o
pouco estudo científico realizado para solucionar o problema das águas estagnadas da
Lagoa não justificavam o investimento em tão avultadas obras. Assim, nada foi feito
para melhorar as condições da Lagoa Rodrigo de Freitas.
Data de 1880 o primeiro estudo realizado para saneamento da Lagoa, executado
pelo engenheiro Antônio Luís Von Honholtz, Barão com Grandeza de Teffé(1837-1921).
Propunha ele renovar a água da Lagoa por uma comporta e uma bateria de 40 bombas
acionadas por moinhos de vento. Seguiram-se vários projetos de engenheiros
contemporâneos, todos pecando pela falta de suporte científico para suas conclusões.
Uns propunham tornar a água da Lagoa doce, eliminando o canal de ligação com o
oceano, deixando para os rios adjacentes a tarefa de manter o nível do espelho d`água.
Outros pregavam o contrário, propondo o desvio dos rios para o oceano e a ampliação
do canal de ligação entre a Lagoa e o oceano.
Até 1893, a limpeza da Lagoa era feita de forma muito deficitária pela União.
Nesse ano, a municipalidade assumiu essa incumbência, mas em 1896, ela foi
repassada para a "Companhia de Melhoramentos da Lagoa e Botafogo", que continuou
os serviços de forma rudimentar por alguns anos.
Em 1920/1922, foi a orla da Lagoa saneada por ordem do Prefeito Carlos
Sampaio, tendo o engenheiro Francisco Saturnino de Brito, após criterioso estudo das
condições locais, canalizado os rios e retificado o canal da Lagoa com o oceano(hoje
Jardim de Alah), criando duas ilhas artificiais para regularização das correntes
("Piraquê" e "Caiçaras"), eliminando por muitos anos a mortandade de peixes e as
cheias que assolavam o bairro durante as grandes chuvas. Passou então a Lagoa a
possuir água salobra, já que antes era doce.
CIDADE J ARDIM CORCOVADO
Foi feito em 1921/22 o loteamento desses terrenos saneados, surgindo as ruas
que vão do Humaitá ao "Jócquei Clube". Como a idéia vingou, logo muitas dessas
antigas chácaras foram loteadas, surgindo pitorescos arruamentos. Em 1926, num
deles, o "Cidade Jardim Corcovado", resultou nas ruas Frei Veloso, Getúlio das Neves,
Professor Saldanha e Eurico Cruz. Como logo se venderam, o projetista J. O. Sabóia
Ribeiro traçou no mesmo ano de 1926 uma extensão pelas faldas do Corcovado, que
resultou nas ruas Engenheiro Alfredo Duarte, Ministro Arthur Ribeiro, Senador Lúcio
Bitencourt, Caio de Melo Franco, Ministro João Alberto, e Praça Luís Mignone. Alguns
lotes estavam em terrenos de tal inclinação que receberam críticas ferinas do
Engenheiro José de Oliveira Reis, Diretor do Plano da Cidade, para que não fossem
mais autorizados arruamentos em áreas como esta, em perigo potencial de
desbarrancamento.
AVENIDA EPITÁCIO PESSOA
Na ocasião foi completada a avenida que margeava a Lagoa, a qual inicialmente
denominou-se Epitácio Pessôa em toda a extensão. Nos anos 60, o trecho do Jócquei
foi batizado de Borges de Medeiros, em homenagem ao político gaúcho Antônio
Augusto Borges de Medeiros (1863-1961). Novos aterros nos anos 30, durante a
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administração do Prefeito Henrique Dodsworth (1937/1945) deram origem à "Vila
Hípica" e ao "Clube Militar".
Uma das curiosidades da Lagoa nessa época é que em idos de 1935, o arquiteto
Lúcio Costa chegou a sugerir ao Ministro da Educação Cultura e Saúde Pública, o
mineiro Gustavo Capanema, a construção da "Universidade do Brasil" na Lagoa Rodrigo
de Freitas, não nas margens, mas no próprio espelho d`agua, com prédios flutuantes!
Claro, tudo não passou de uma sugestão, logo esquecida...
EPITÁCIO DA SILVA PESSOA – DADOS BIOGRÁFICOS
Magistrado, jurista e político, nasceu em Umbuzeiro, Paraíba, em 1865.
Bacharelou-se pela Faculdade de Direito do Recife. Foi promotor público e secretário
geral do Governo em seu Estado. Em 1890, elegeu-se deputado à Assembléia
Constituinte e à primeira legislatura ordinária da Câmara Federal. No Governo Campos
Sales, ocupou a Pasta da Justiça e Negócios Interiores, presidindo à elaboração dos
projetos do Código Cível e do Código do Ensino. Foi Ministro do Supremo Tribunal
Federal e procurador geral da República, presidente da comissão incumbida de preparar
o projeto de Código de Direito Internacional Público, senador pelo seu Estado natal e
chefe da delegação brasileira ao Congresso de Paz de Versalhes. Em 1919, sucedendo
a Delfim Moreira, elegeu-se presidente da República, e governou o país até 1922. A
partir de 1924, foi membro da Corte de Justiça Internacional de Haia. Nesse mesmo
ano, voltou a eleger-se senador pela Paraíba, exercendo o mandato até 1930. Cassado
pela Revolução, retirou-se à vida privada e passou a residir no Alto da Boa Vista,
alternando-se com sua casa em Petrópolis, onde, aliás, veio a falecer em 1942. Quando
Presidente da República, o Prefeito do Rio de Janeiro André Gustavo Paulo de Frontin
abriu a famosa avenida que circunda a Lagoa Rodrigo de Freitas, batizada em seu
nome.
UNIVERCIDADE – CAMPUS IPANEMA – AVENIDA EPITÁCIO PESSOA, 1.664 IPANEMA
Os alunos da Unidade Ipanema, às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas,
usufruem da localização privilegiada em um dos pontos mais valorizados da Zona Sul do
Rio de Janeiro. Com três prédios, situados próximos ao centro do bairro, onde estão
localizadas livrarias, cinemas e teatros, a UniverCidade dá a seus alunos a vantagem de
passarem horas em uma das áreas de maior efervescência cultural da cidade do Rio de
Janeiro.
BAR LAGOA – AVENIDA EPITÁCIO PESSOA, 1.674 – LAGOA
Em 1934, o arquiteto e pintor Eugênio de Proença Sigaud, formado dois anos
antes pela Escola Nacional de Belas Artes; projetou e construiu um pequeno edifício
residencial com três pavimentos em estilo art-déco na orla da Lagoa Rodrigo de Freitas.
Era à época, uma das primeiras habitações multifamiliares do bairro. No térreo,
projetado com esmerado acabamento em mármore de Carrara nas paredes para sediar
um estabelecimento comercial, se instalou no mesmo ano o Bar Berlim, fundado por
alemães, o primeiro do lugar. Antes dele, só existia uma padaria metida a bar, a
Sacopam, e mesmo assim próxima do Humaitá. O bar deu certo e passou a contar com
seleta freguesia que ali podia experimentar um bom chope, cerveja e a típica culinária
alemã.
Com a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial, em 1942, o bar foi fechado,
sendo reaberto dois anos depois com o novo e imparcial nome de Bar Lagoa. Naquela
época, num mezzanino especialmente projetado para isso, dava espetáculos noturnos
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um quarteto de cordas. A contrário de muitos bares, a freguesia sempre foi familiar
devido à pequena e seleta vizinhança. Em 1957 os donos alemães fizeram sociedade
com um brasileiro, que é o atual dono. Nos anos 60 e 70 foi muito freqüentado pelos
ícones da Bossa Nova e do Tropicalismo, como Ton Jobim, Vinícius de Morais, Chico
Buarque de Hollanda, Miúcha, etc.
Mas nem a decoração art-déco, os lustres modernistas, a sacada interna
superior, nem o grande balcão no fundo do salão ou o mármore de Carrara nas
paredes, nada dessa estrutura física, tombada desde 9 de setembro de 1987 pela
Prefeitura, é mais importante que o patrimônio palatável do Bar Lagoa.
Entre todas as muitas qualidades do Lagoa, nada do que se diga ou escreva é
mais marcante do que o sabor de seu chopp, um dos melhores da cidade. Tirado com
maestria desde 1982 pelo competente Fernando, o chopp do Lagoa é uma instituição.
Sempre na temperatura certa, com espuma consistente e frescor incomparável, o chopp
jorra ao final de uma serpentina de quarenta metros, o que, de uma vez por todas, prova
que tamanho não é documento.
Nas mesas da aconchegante varanda ou do histórico salão, o chopp chega
trazido por garçons, alguns com quase 30 anos de serviço, cuja fama de rabugentos é
muitas vezes produto de um excesso de fregueses ávidos pelo precioso líquido.
VIADUTO AUGUSTO FREDERICO SCHMIDT – CORTE DO CANTAGALO – LAGOA
Em 1938, o Prefeito Henrique Dodsworth mandou abrir uma via de comunicação
entre os bairros de Copacabana e Lagoa Rodrigo de Freitas pelo Morro do Cantagalo. A
obra, apelidada à época de Corte do Cantagalo e hoje de Avenida Henrique Dodsworth,
resolveu o problema de forma satisfatória. Entretanto, o crescimento dos bairros de
Copacabana e Lagoa levou ao surgimento de um ponto de estrangulamento de tráfego,
justamente no entroncamento das avenidas Henrique Dodsworth e Epitácio Pessoa.
Para resolver o problema, a Superintendência de Urbanização e Saneamento do Estado
da Guanabara (SURSAN), elaborou, em 1966, o projeto de um viaduto em concreto
protendido, criando um trevo rodoviário. Inaugurado em 1967 pelo Governador
Francisco Negrão de Lima, o viaduto com 94 metros, eliminou o cruzamento à saída do
Cantagalo, facilitou e deu fluidez ao tráfego em torno da Lagoa Rodrigo de Freitas.
AUGUSTO FREDERICO SCHMIDT – DADOS BIOGRÁFICOS
Editor, comerciante, industrial, jornalista e poeta, Augusto Frederico Schmidt
nasceu no Rio de Janeiro, a 18 de abril de 1906. Fez seus estudos primários na Suíça e
o secundário no Brasil. Trabalhou desde cedo no comércio e mais tarde, no decênio de
1930, fundou uma casa editora que se distinguiu pela qualidade das publicações. Como
editor, lançou os livros de estréia de alguns de nossos melhores escritores modernos,
como Lúcio Cardoso e Graciliano Ramos. A seguir dedicou-se também aos negócios,
em empresas mais vastas, tornando-se um homem importante na política e nas finanças
do país, em cujo desenvolvimento teve oportunidade de colaborar, sem nunca ter, no
entanto, abandonado a composição dos poemas que o tornaram um verdadeiro poeta e
um legítimo representante de uma das linhas permanentes da poesia brasileira.
Como poeta, foi acentuada a sua importância na segunda fase do Modernismo,
quando se voltou contra o pitoresco e o malabarismo, buscando uma poesia quase
direta, espontânea e espiritualista, de aparente simplicidade, que exerceu grande
influência no decênio de 1930 e parte do de 1940. Dele procede o verso livre amplo e
melodioso, com um toque bíblico, cheio de ressonância, marcado pela repetição quase
obsessiva, que assalta e domina a sensibilidade do leitor.
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Obras: Poesia: Canto do Brasileiro (1928); Canto do Liberto (1928); Navio
Perdido (1929); Pássaro Cego (1930); Desaparição da Amada (1931); Canto da Noite
(1934); Estrela Solitária (1940); Mar Desconhecido (1942); Poesias Escolhidas (1946);
Fonte Invisível (1949); Mensagem aos Poetas Novos (1950); Poesias Completas (1956);
Aurora Lívida (1958); Babilônia (1959). Prosa: Ensaio sobre Mauriac (1931); O Galo
Branco (1948); Paisagens e Seres (1950); Discurso aos Jovens Brasileiros (1956); As
Florestas (1958).
Schmidt foi representante do Brasil na Operação Pan-Americana e presidente do
Conselho dos 21, na Conferência de Bogotá. O poeta faleceu a 8 de fevereiro de 1965.
MONUMENTO A JOSÉ DE SAN MARTÍN – LAGOA
Monumento eqüestre de grandes proporções, representa o autor da
independência da Argentina, Chile e Peru sobre um cavalo empinado, e apontado para
oeste, direção tomada pelo “Libertador” após o início da marcha triunfal sobre os
espanhóis.
A estátua foi doada pelo Banco Municipal da Cidade de Buenos Aires. Obra dos
artistas argentinos Sarubbi Y Barili de Buenos Aires. Erguida no sítio definitivo em 1971,
pela Companhia Construtora Pederneiras, foi oficialmente inaugurada a 13 de março de
1972, com a presença do Governador do Estado da Guanabara, Chagas Freitas, bem
como representantes dos presidentes do Brasil e Argentina.
Mesmo sendo a Argentina uma antiga e tradicional inimiga política do Brasil, os
generais portenhos procuravam, com essa estátua, selar um acordo de respeito mútuo
entre os governos militares da Argentina (General Alejandro Lanusse) e Brasil (General
Emílio Médici). Entretanto, a eleição de Hector Cámpora no mesmo ano, seguida logo
depois pela chegada de Juan Perón ao poder na Casa Rosada, reacendeu a velha
inimizade, hoje mantida principalmente no futebol.
SAN MARTÍN – DADOS BIOGRÁFICOS
Militar e autor da Independência da Argentina. José de San Martín nasceu a 25
de fevereiro de 1778 em Yapeyu, povoado jesuítico, às margens do Rio Uruguay, na
atual Província de Corrientes. De família nobre espanhola, San Martín atendeu às
exigências de sua casta e, em plena adolescência, seguiu para a Espanha, sentando
praça no exército espanhol e incorporando-se ao Regimento de Múrcia. Ainda jovem,
combateu na África e, duas décadas após, trava sua última batalha em Alvuera, onde
espanhóis, ingleses e portugueses derrotam as forças francesas.
Abandonou então o exército espanhol, no posto de tenente-coronel, e rumou para
Buenos Aires, onde em, 1813, com sua experiência militar conquistada na cavalaria,
fundou o Corpo de Granaderos a Caballo. Quando eclodiu a luta pela independência
portenha, em maio, San Martín partiu com essa unidade do quartel de Retiro, em
Buenos Aires, e percorreu parte do continente em triunfo, vencendo em várias batalhas
os exércitos espanhóis, alcançando até Quito, capital do Equador. São os Granaderos a
Caballo que selaram o fim do jugo.
Compreendeu San Martín que, para vencer o domínio estrangeiro, seria preciso
formar um verdadeiro exército, nas províncias de Cuyo. Uma vez conseguido seu
intento, partiu, cruzando os Andes para socorrer o Chile, e prosseguindo, pelo mar, até o
Peru, onde faria desabar o último vice-reinado de Espanha na América.
Em 1824, após grave crise política, San Martin renunciou aos seus encargos e
exilou-se voluntariamente. Viajou, então, para a França, onde passou a residir, afastado
da vida militar.
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A 17 de agosto de 1850, em Boulogne-Sur-Mer, França, morria Dom José de San
Martín, general de brigada das Províncias Unidas do Rio da Prata; capitão-general da
República do Chile, e generalíssimo do Exército do Peru.
Seu corpo hoje repousa na Catedral Metropolitana de Buenos Aires.
PARQUE MARCOS TAMOYO (PARQUE DA CATACUMBA) - LAGOA
Situado na avenida Epitácio Pessoa, entre o Corte do Cantagalo e a Curva do
Calombo, o parque foi criado em 1975, sob projeto de Lúcio Costa e Roberto Burle
Marx, no local da antiga Favela da Catacumba (erradicada em 1969), e ocupa uma área
de 300 mil m2.
Com uma belíssima vista da Lagoa Rodrigo de Freitas, o local é cercado por uma
vegetação tropical, com árvores frutíferas e 29 esculturas de consagrados artistas
contemporâneos, como Bruno Giorgi, Roberto Moriconi, Caribé, Franz Weismann, Franz
Caribé; bem como uma antiga escultura de H. Peyrol. No local também há constantes
apresentações de grupos musicais e existe a sede da subprefeitura da Grande Lagoa,
criada em 1992.
PAVILHÃO VICTOR BRECHERET - PARQUE DA CATACUMBA - LAGOA
O Parque da Catacumba foi resultado da erradicação na década de 60, da
imensa favela que cobria a área, motivada por interesses imobiliários. Todo o entorno e
áreas vizinhas foram liberados para empreendimentos imobiliários, e a parte central
entregue ao Departamento de Parques e Jardins, que ativou a criação de uma área
verde com espaços voltados para o lazer e convívio cultural. O Pavilhão Victor Brecheret
foi projetado em 1979 pelo arquiteto Carlos Porto para atender às atividades culturais e
de vigilância do próprio parque e recebeu prêmio na categoria Edificações para Fins
Culturais na XVII Premiação do IAB/RJ, em 1980. O perfil do terreno sugeriu a
conformação do traçado do muro de arrimo, resolvendo o programa em dois níveis: no
inferior, com acesso independente, estão as dependências de serviço(vestiários,
depósitos e sanitários) e no patamar superior o setor de conservação, depósito e copa;
e o salão, administração e sanitários, acessíveis pela rampa de entrada. O maior
interesse plástico do projeto reside na cobertura, que adota um aspecto dinâmico devido
à movimentação dos planos que propiciam iluminação e aeração adequadas ao interior.
Em época recente, foi instalada neste pavilhão a Subprefeitura da Grande Lagoa,
desvirtuando o objetivo inicial da construção.
POSTO DE ABASTECIMENTO CATACUMBA- AV. EPITÁCIO PESSOA
No final da década de 60 a Petrobrás se lançou no competitivo mercado de
fornecimento de combustível. A programação visual da empresa foi entregue a Aloísio
Magalhães, e os projetos dos postos confiados a equipe de arquitetos Dilson Gestal
Pereira, Waldyr A . Figueiredo, Paulo Roberto M. de Souza e Alfredo Lemos, com total
liberdade de criação. A idéia era associar à nova subsidiária uma imagem dinâmica e
moderna, utilizando cores e formas de impacto para atrair clientela. O posto da
Catacumba, de 1968, foi um dos primeiros projetos elaborados com esta finalidade e foi
premiado na Universidade de Munique, Alemanha, em 1970. A localização do terreno,
numa faixa central da av. Epitácio Pessoa, cercado por vegetação e emoldurado pela
Lagoa Rodrigo de Freitas, foi determinante para o partido adotado. O elemento
dominante da composição é a cobertura, uma casca em concreto aparente, de grande
plasticidade, com as quatro extremidades pousadas sobre pequenos espelhos d`água,
cercados por jardins. Para abrigar setores de escritório e vendas foi criada uma caixa de
vidro elevada em relação ao nível do terreno, e sob a qual se localiza, semi-enterrado, o
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pavimento de serviço com depósito, sanitários, vestiários e casa de bombas.
Posteriormente foram feitas reformas, para abrigar salão de exposições, escritório e
depósito.
EDIFÍCIOS SONATA DA LAGOA E RAPSODY - AV. EPITÁCIO PESSOA
A produção arquitetônica dos irmãos Edison e Edmundo Musa, centralizada no
eixo Rio-São Paulo, compreende programas os mais diversificados. Sem dúvida, é no
campo imobiliário, com edifícios residenciais destinados às classes média e alta, que se
concentra o maior número de obras desses arquitetos gaúchos radicados no Rio. Este
conjunto de dois blocos de apartamentos, situado num terreno de 10.800m2 na orla da
Lagoa Rodrigo de Freitas, evidencia uma preocupação funcional e plástica característica
de seus projetos. A implantação, a volumetria e os materiais adotados procuram
resolver o espaço vazio criado por uma antiga pedreira. Compreendendo quatro
apartamentos por andar, o projeto, de 1983, tira partido da vista privilegiada, voltando
todas as salas para a Lagoa. As varandas, nas quatro fachadas, funcionam como
proteção à insolação e ao ruído provocado pelo tráfego intenso da av. Epitácio Pessoa.
É interessante a solução criada para o embasamento dos edifícios, onde se localizam
quatro pavimentos de garagem, que foram recuados e fechados por “curtain-wall” de
10m de altura. Os elevadores foram posicionados de modo a se tornarem panorâmicos
nos primeiros pavimentos. Todas as fachadas receberam tratamento semelhante, com
esquadrias em alumínio anodizado, vidro bronze e composição de granito Juparanã
lustrado e pastilhas cerâmicas.
CHÁCARAS NA ORLA DA LAGOA
Existiram chácaras famosas na rua Jardim Botânico, se bem que poucas.
Próximo ao "Largo das Três Vendas" (depois N. Sra. da Conceição, Ferreira Viana,
Arthur Bernardes, atualmente Praça Santos Dumont), era o local da enorme chácara do
Comendador paulista Joaquim José de Souza Breves, o "Rei do Café"(1804-1889),
amigo de D. Pedro I, grande produtor de café, dono de 37 fazendas e 27 chácaras,
cujas terras iam de Sepetiba às Minas Gerais. Morava normalmente em São Cristóvão,
próximo ao palácio. Usava eventualmente a casa do Jardim Botânico, principalmente
depois de 1863, quando caiu em desgraça perante o imperador, haja vista que mantinha
empresa clandestina de importação de escravos da África, atividade desbaratada neste
ano. Breves igualmente controlava a "Empresa de Navegação da Piedade", com
escritório na rua São Bento, 22. Todas sua fortuna, oriunda de seus cafezais,
despencou quando da "Abolição da Escravatura", em 1888. Hoje, os terrenos de sua
demolida chácara estão incorporados aos do "Jocquei Clube".
PARQUE LAGE
A chácara do "Parque Lage" também tem história. Em meados do século XIX era
essa chácara, então uma casa assobradada, possuindo o número 10 da rua Jardim
Botânico, com bonito parque arborizado projetado pelo arquiteto paisagista inglês John
Tyndale (cujo projeto do jardim substituiu um outro, feito por um pintor inglês, que não
vingou), quando foi adquirida pelo Comendador Antônio Martins Lage Júnior, armador,
Diretor da "Empresa de Barcas Ferry", da qual assumiu o controle em 1877. As
atividades da família Lage começaram em 1822, quando o patriarca Comendador
Antônio Martins Lage montou negócios com armazéns de carvão de pedra e pequena
oficina de reparos de embarcações na "Ilha das Enxadas". Ele arrendou essa ilha de
1825 a 1832, comprando-a em 1840. Nesse mesmo ano, Lage ganhou a "Ilha do Viana"
numa rifa e, quando a Marinha requisitou a "Ilha das Enxadas" para nela instalar a
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"Escola Naval", Lage arrendou "Enxadas" para a Marinha e mudou-se para sua nova
ilha com suas instalações em 1845. Posteriormente, a Marinha compraria a Ilha das
Enxadas em 1870, lá instalando um hospital e hoje uma academia.
Quando morreu, sua viúva fundou a "Empresa Viúva Lage & Campos", até que o
filho Antônio Martins Lage Júnior (1850?-1900?), homônimo do pai e igualmente
"Comendador da Ordem da Rosa", pudesse tomar rumo dos negócios. Foi Antônio
Júnior quem instituiu em 1881 o serviço regular de barcas para Paquetá, pois lá possuía
moradia desde 1878, num palacete da "Praia Grossa", onde hoje se ergue o "Hotel
Flamboyant". Em 1884 torna-se, enfim, o Presidente dessa Companhia, constituindo em
1889 sociedade com o Ministro Manuel Buarque de Macedo, quando então fundaram a
"Companhia Cantareira", da qual o Comendador Lage era Diretor. Foi casado desde
1878 com Da. Cecília Braconnot Lage (1859-192?), filha do famoso engenheiro de
máquinas, o Capitão-de-Fragata e Comendador Carlos Braconnot (1831-1894). Cecília
era famosa por seu comportamento extrovertido, cantando e dando récitas em italiano e
francês nas festas em casa do Barão de Cotegipe. Como extravagância, usava uma
tornozeleira no pé esquerdo, atributo incomum para mulheres de família, tendo causado
na época algum escândalo.
Tiveram quatro filhos: Antônio (vulgo "Antonico"), Henrique, Renaud e Jorge,
sendo que "Antonico" e Jorge morreram em 1918 da "Gripe Espanhola". Antônio Júnior
fundou a "Empresa Lage & Filhos", depois de sua morte rebatizada para "Lage &
Irmãos". A Antônio e seu filho "Antonico" também são devidas a reconstrução da "Matriz
do Bom Jesus do Monte", em Paquetá (1898-1900), bem como outras melhorias na Ilha.
A chácara do "Parque Lage" foi herdada em fins do século XIX pelo seu filho Antônio
"Antonico" Martins Lage, nascido no Rio (1879-1918), casado com Da. Eugênia Noêmia
de Sá Azevedo "Baby" (1886-194?). Tiveram quatro filhos.
Moravam na Ilha do "Viana", só usando a chácara do Jardim Botânico
eventualmente. Com o falecimento prematuro de "Antonico", em 1918, ficou com a
chácara do Jardim Botânico seu irmão e herdeiro, Henrique Lage (1881-1941), que
então morava em casa modesta na rua São Clemente, onde hoje é o prédio da "Fiat
Lux".
Era Henrique, rico armador como seu irmão, pai e avô, dono da "Empresa
Henrique Lage", sucessora da "Lage & Irmãos", onde herdou a "Companhia Nacional de
Navegação Costeira". Dono de verdadeiro império, fundou e dirigiu 23 empresas que
incluíam o "Banco Sul do Brasil", companhia de seguro, companhia de navegação, dois
estaleiros, empresa de exploração de carvão de pedra, "Empresa Docas de Imbituba",
transporte de combustíveis, "Empresa Sociedade Anônima Gaz de Niterói"(1925), usina
siderúrgica no sul de Minas Gerais, fábrica de cerâmica em Santa Catarina e fábrica de
aviões(a primeira da América Latina) e outras. Além de tudo, homem patriota(fez
doações à "Escola de Guerra", ganhando por isso o título de "Cadete no. 1"), foi
fundador do "Hospital Central dos Acidentados" e da "Companhia Nacional Civilidro",
para construções civis e hidráulicas.
Amante e cultor do "bel canto”, apaixonou-se pela cantora lírica, a contralto
italiana Gabriela Bezanzoni, que viera pela primeira vez ao Brasil, no Teatro Municipal
ainda em 1918, integrando a "Companhia Lírica da Empresa La Teatral", do empresário
italiano Walter Mocchi. Não fez sucesso nessa primeira apresentação, pois ficou com
papéis secundários. Retornou ao Brasil em 1922 pela mesma companhia, onde Gabriela
"arrasou" no papel principal da ópera "Carmem". Foi quando Henrique apaixonou-se por
ela. Quando Gabriela retornou pela terceira vez ao Brasil em 1924, para outra
temporada, ficou de vez. Henrique não mediu gastos para satisfazer os caprichos de
sua amada, a qual, de certa forma, lembrava um pouco sua finada mãe. Para ela,
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mandou fazer o magnífico palacete eclético italiano, encomendado em 1924 ao arquiteto
italiano Mário Vodred. Também levantou suntuária residência na "Ilha de Santa Cruz" e,
rompendo com tradição familiar, vendeu em 1930 a chácara que seu avô erguera em
Paquetá ao Conde Modesto Leal (1860?-1936).
Henrique largou sua primeira esposa, uma pianista italiana, passando a residir
em Laranjeiras até ficar pronto o palácio no Jardim Botânico. Lá, na nova casa, cercada
de explêndidos jardins, foram dadas inúmeras festas, onde Henrique, muito tímido,
pouco aparecia (dizia-se que ele sofria de grave doença de pele, o que só piorou sua
introspecção). Henrique foi Deputado à Assembléia Constituinte de 1934, e morreu em
1941. Deixou fortuna avaliada em 1 bilhão de cruzeiros, não sem antes colocar à
disposição do governo Vargas seu império industrial para o esforço de guerra.
Entretanto, o Governo Vargas declarou guerra ao "Eixo" ano seguinte e, temeroso de
que tantas e importantes indústrias caíssem no controle de uma italiana, cujo país natal
estava em guerra com o Brasil, interpretou literalmente o último desejo de Henrique e
confiscou o império industrial dos Lage por Decreto Lei, assinado pelo Presidente
Getúlio Vargas em 1942. A administração federal foi desastrosa, bastando dizer que
todas as empresas confiscadas davam lucro em 1941 estavam falidas em 1943.
Gabriela, muito ressentida, vendeu em 1945 as empresas que não tinham sido
confiscadas ao Governo, retornando anos depois à Itália, onde faleceu nos idos de
1960. Como não tiveram filhos, a casa ficou fechada alguns anos. Nos anos 60, o
terreno da chácara foi cobiçado pela "Ordem Terceira do Carmo", que alí pretendia
fazer seu "cemitério vertical". Outro que também cobiçou tais chãos foi o empresário das
comunicações jornalista Roberto Marinho (1908-2.003), que chegou a negociar com a
família o terreno, para nele instalar a "Rede Globo", que estava sendo criada (1965).
Mas o Governador do “Estado da Guanabara”, jornalista Carlos Lacerda (1914-1977),
desafeto de Roberto Marinho, tomou a dianteira e desapropriou tudo, pagou indenização
irrisória de um cruzeiro a Marinho, e transformou a chácara em formoso parque,
dependência do Jardim Botânico. No palacete, o cineasta Gláuber Rocha filmou em
1967 sua obra prima: "Terra em Transe", com Paulo Autran, Glauce Rocha, Jardel Filho,
José Lewgoy e Paulo Gracindo. Alí era o país "Eldorado", cercado de políticos
corruptos, onde as analogias eram óbvias. Foi no palacete Lage que acabou se
instalando em 1971 a "Escola de Artes Visuais do Parque Lage", hoje um importante
estabelecimento cultural da cidade.
SOLAR DO MONJOPE
Em frente ao “Parque Lage”, existiu até os idos de 1977 o casarão do "Solar do
Monjope". Era a antiga "Chácara da Bica", que pertenceu em meados do século XIX ao
Comendador português Ribeiro de Carvalho, casado com Da. Umbelina Luiza de
Medeiros Guimarães, irmã do Barão de Oliveira Castro. Foram pais do célebre Dr.
Miguel Joaquim Ribeiro de Carvalho, Provedor da “Santa Casa de Misericórdia” em
1902/38. A chácara foi vendida no princípio da década de vinte ao médico e crítico de
arte José Mariano Carneiro da Cunha Filho(vulgo "Yoyô"), nascido em Pernambuco
(1887-1948), fundador do "Instituto Central de Arquitetos" defensor da arte colonial
brasileira e seu grande divulgador, irmão do poeta Olegário Mariano. Foi a casa
extensamente reconstruída, ganhando azulejos portugueses, chafarizes coloniais e
estátuas antigas, frutos da paixão de colecionador de José Mariano. Reformou o belo
casarão em 1928 o arquiteto Lúcio Costa(1902-1998), então em princípio de carreira,
para que parecesse uma fazenda colonial. Após sua morte, a viúva, filhos e netos
continuaram a habitá-lo até a década de setenta. Foi destruída sem piedade em 1976
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para que alí subisse um feio condomínio residencial de edifícios da "Concal". Hoje só
resiste de pé o velho portal brasonado e o altaneiro muro caiado.
Ao lado da "Chácara da Bica", existiu em meados do século XIX a "Chácara do
Padeiro", ocupada em 1879 pelo Sr. José de Araújo Motta Júnior, onde, depois de 1889,
seria incorporada pelo Sr. José da Cruz às terras que formaram a "Fábrica Corcovado".
Alienados em 1920, alí surgiu o loteamento "Vila Floresta", do qual depois se falará.
CHÁCARA DA IMPERATRIZ
A família Oliveira Castro, importantes moradores do bairro, começou quando, em
c. 1840, transferiu-se para o Brasil Da. Castorina Angélica de Oliveira Castro (1820?1880?), uma portuguesa baixinha, gorda, bigoduda e feiosa, atributos que não a
impediram de arrumar rico namorado durante a viagem de navio para o Brasil, o Fidalgo
português Antônio Mendes de Oliveira Castro, e com ele noivar e casar antes de aqui
aportar. Foram morar no número 12 (1878) da estrada atrás do Jardim Botânico
(justamente hoje estrada Dona Castorina), numa sede de fazenda que vinha do século
XVIII, a "Fa zenda dos Macacos", e que pertenceu por dilatados anos aos Padres
Jesuítas até sua expulsão do Brasil em 1759. Depois de 1760 foi adquirida pelo Juiz e
"Provedor da Fazenda Real" Francisco Cordovil de Siqueira e Mello, nascido em Irajá
(1707-1775). Após sua morte e de sua esposa, Da. Catarina Vaz Moreno (1711-1787),
seus herdeiros venderam-na em 1828 ao Imperador D. Pedro I (1798-1835). Êle a deu
em 1829 como presente de casamento para a princesa Da. Maria Amélia Napoleona de
Leutchemberg, sua segunda esposa e Imperatriz (1812-1876). Ela vendeu-a em 1872
ao empresário José de Vianna Drummond, Barão de Drummond, fundador de Vila Isabel
e do "Jogo do Bicho" (1825-1897), que vendeu a casa-grande em 1874 ao "Imperial
Instituto Fluminense de Agricultura", e este a arrendou em 1876 aos Oliveira Castro.
Nessa casa morou um dos homens mais ricos do Brasil nos primeiros anos da
República, José Mendes de Oliveira Castro, Barão de Oliveira Castro (1842-1896),
grande comerciante, filho mais velho de Da. Castorina. José Mendes era "Diretor
Tesoureiro" da "Companhia Ferro Carril do Jardim Botânico" em 1883, "Conselheiro
Fiscal" da mesma Companhia no ano seguinte, sendo oito anos depois seu maior
acionista. Também era o maior acionista da "Companhia Ferro Carril Vila Isabel" em
1892. Membro da "Comissão de Obras da Igreja da Candelária" e seu "Relator"
(1884/86). Era também "Presidente da Comissão Fiscal da Irmandade do Santíssimo
Sacramento da Candelária" (1886). Barão, por Decreto Imperial de 13 de novembro de
1889, foi o último nobre da monarquia. Foi também grande cafeicultor, adquirindo em
1891 de Da. Rita Arnalda de Menezes Barros, "Baronesa de Vista Alegre", as fazendas
"Chacrinha", "Campo Alegre" e "Vista Alegre", todas em Valença. Eram espólio do
finado "Barão de Vista Alegre" (1849-1891). Era casado, tendo a Baronesa de Oliveira
Castro (1852-1942) sobrevivido muitos anos ao marido, morrendo aos noventa anos em
Nice, onde residia. Sua prole foi de dezoito filhos.
Desses filhos, vários lidaram com transportes coletivos.
Octávio Mendes de Oliveira Castro, que morava em bela casa na Lagoa, próximo
ao "Corte do Cantagalo"(é a atual "Fundação Eva Klabin Rappaport"), fundou em 1911 a
segunda empresa de ônibus do Rio, a "Empresa Auto-Avenida". Álvaro Mendes de
Oliveira Castro, que herdou as fazendas do pai, era engenheiro, tendo fundado em 1912
a "Empresa Brasileira Auto-Viação", de aluguel de veículos. José Mendes de Oliveira
Castro, comerciante, foi Presidente da "Associação Comercial do Rio de Janeiro" e
acionista da "Companhia Jardim Botânico". Antônio e Francisco, seus filhos mais novos,
também foram acionistas da poderosa empresa de bondes da zona sul.
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Após a morte do Barão em 1896, a Baronesa de Oliveira Castro desinteressou-se
pela "Fazenda dos Macacos", retornando ao uso do governo. E esta foi, já no século XX,
"Asilo Agrícola do Macaco", "Serviço Florestal", "Administração do Parque Nacional da
Tijuca(1961)", "Delegacia do IBDF no Rio de Janeiro"(1967), "Fundação Getúlio
Vargas", "6a. Diretoria Regional da Fundação Nacional Pró-Memória", etc. Hoje é uma
instalação agrícola do Jardim Botânico, subordinada ao "IBAMA", denominada "Solar da
Imperatriz", numerada pela rua Pacheco Leão no. 2.040.
Em 1906, ainda vivia o cidadão Aniceto de Andrade, “macróbio” com 109 anos,
viúvo, brasileiro e analfabeto, nascido na Gávea, na "Fa zenda dos Macacos", excavouqueiro, e que residia na Estrada Dona Castorina, s/no.
FÁBRICAS EM VOLTA DA LAGOA
Anos depois, em 02 de janeiro de 1886, surgiu em terras dos Oliveira Castro, na
Estrada Dona Castorina no. 130, uma enorme fábrica de tecidos, a "Companhia de
Fiação e Tecelagem Carioca", que incorporou um estabelecimento anterior fundado
pelos Srs. Bandeira, John Steel e Cia. Foram seus diretores em 1911 os Srs. Frederick
Burrowes, Cecil E. Hogg e Alfred M. Oliver. Como empregava 1.300 operários, em 1891
a "Carioca" construiu junto com a "Companhia de Saneamento do Rio de Janeiro"
(fundada em 1889), do engenheiro empresário Arthur Sauer, na rua Dona Castorina
uma enorme vila operária, a "Chácara do Algodão"(era assim denominada por ser
cortada pelo "Rio do Algodão"), com 150 casas, repartidas pelas ruas D. Emma(depois
Fernando Magalhães); Abreu Fialho; Alberto Ribeiro; Caminhoá; Estella e Mestre
Joviano; uma escola e um clube recreativo, o "Carioca Sport Club", fundado em
princípios do século XX, sendo depois transferido para a rua Jardim Botânico, 638;
onde, depois de reconstruído, desde os anos 60 é a sede da “ABBR”. Ao seu lado, no
648; em 1905, o Comendador e construtor italiano Antônio Januzzi(1855-1949), ergueu
o simpático templo Metodista que ainda resiste incólume. Perto, surgiu em 1920 o
famoso "Cine Floresta”, com 700 lugares, depois rebatizado como “Cine Carvalho", que
durou cinqüenta anos, fechando em 1973 e hoje demolido.
A fábrica possuía ainda uma “Sociedade de Socorros Médicos”, fundada em
1907, na Da. Castorina 40-A e muito bem aparelhada. Anos depois, mudou-se para a
Rua Jardim Botânico, 442. Em 1912 atendia a 206 associados, entre operários e seus
familiares. Como se fosse pouco, mantinha a fábrica uma “Caixa de Socorros”, que
auxiliava pecuniariamente os operários necessitados. A fábrica foi fechada nos anos 30.
Quanto à vila operária, esta existe na atual rua Pacheco Leão, tombada pelo município.
Em terrenos que foram da fábrica, surgiu em 1920 o loteamento "Vila Floresta",
sendo abertas as seguintes ruas: Inglês de Souza(ex-Aura); Visconde de Itaúna(exGávea); Lopes Quintas(ampliação); Peri; Engenheiro Pena Chaves; Zara; Quincas
Borba(ex-travessa Corcovado); e Santa Heloísa. Anos depois, em 1926, surgiu mais
acima na Da. Castorina outro loteamento, abrindo as ruas Marquês de Sabará e Barão
de Oliveira Castro.
Outro vi zinho interessante do Barão de Oliveira Castro, era o escravocrata
Domingos Pereira Alves da Silva Pôrto, com enorme chácara na Da. Castorina no. 16.
Pôrto foi dono de 1860 a 70 de cocheiras com carruagens, coches e berlindas de
aluguel, com estabelecimentos na rua da Lampadosa e rua dos Arcos. Em 1870 ele
fundou a "Companhia de Carruagens Fluminense", na rua da Lampadosa, no. 40.
Contam que tratava de seus escravos com extremada crueldade, e não escondia que
agia assim.
O Bairro do Jardim Botânico era em fins do século XIX um bairro operário. Tal
mudança se deveu ao fato de que, com a abolição da escravatura, as imensas chácaras
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existentes tornaram-se grandes demais para serem mantidas por empregados livres.
Sendo assim, muitas acabaram vendidas e loteadas. Como o local era tido por
insalubre, pensou-se em alí se instalarem fábricas e vilas operárias, ou habitações
proletárias. Só depois de 1920 é que o Jardim Botânico torna-se um bairro de elite,
graças às obras de Carlos Sampaio. Com a valorização do solo, são extintas ou
transferidas as fábricas e vilas operárias, substituídas por loteamentos e casas de
melhor categoria. Surgiram de retalhações de propriedades, muitas ruas novas, como a
Maria Angélica, aberta em 1896 num terreno de chácara, bem como a Lopes Quintas,
aberta nas terras do chacareiro Domingos Lopes Quintas.
Numa delas, justamente a que pertenceu ao mercador de escravos José Ferreira
Callau, próximo à "Ponte de Táboas"(hoje é o quarteirão anterior ao Jardim Botânico,
antigo no. 532), surgiu em 1889 a "Fábrica da Companhia de Fiação e Tecidos
Corcovado", fundada pelo empresário José da Cruz, o pioneiro na criação de creches e
escolas para filhos de operários. Começando a funcionar apenas em 1894, com
máquinas à vapor, foram trocadas por elétricas em 1910, quando a produção disparou.
Empregava 10.000 operários em 1913, que dispunham de vila operária com 140 casas;
duas escolas para ambos os sexos, tanto para crianças pela manhã, como de noite para
os pais operários; creche com atendimento médico e aleitamento(com visitas às
crianças pelas mães de, no máximo, duas vezes durante o horário de trabalho);
armazém; farmácia(cujos lucros eram partilhados pelos empregados); clube recreativo
para bailes e representações teatrais, etc. Mantinha ainda a “Fábrica Corcovado” um
“Montepio dos Operários”, fundado em 1896, com sede na Rua Jardim Botânico no. 418.
Conglomerava um grande “centro médico”, uma “creche” ao lado, muito bem aparelhada
e inaugurada em 1899, e uma “farmácia”, na Rua Jardim Botânico, 434. Atendiam em
1912 a 991 operários.
A fábrica foi desativada em 1937. Numa parte, no lado par da rua Jardim
Botânico, surgiu em 1938 um quarteirão de casas e prédios residenciais. Era o chamado
"Jardim Corcovado". Foram abertas nas terras da fábrica as ruas: Benjamin Batista;
Nascimento Bitencourt; Nina Rodrigues; Abade Ramos; Oliveira Rocha; Conde de
Afonso Celso; Faro (extensão); Itaipava; Diamantina (ex-São José); e Senador
Simonsen. Quinze anos depois, no terreno ímpar foi erguido o moderno "Hospital da
Sulamérica", da "Fundação Larragoiti", projeto de Oscar Niemeyer (n. 1907) e Hélio
Uchôa. Desde 1968 está com o Governo Federal. É o atual "Hospital da Lagoa".
HOSPITAL DA LAGOA - RUA JARDIM BOTÂNICO, 501 - JAR. BOTÂNICO
O estudo funcional do programa, particularmente no que diz respeito a acessos e
circulações, aliado à forte expressão plástica, garante a solução exemplar deste projeto,
elaborado em 1952 por Oscar Niemeyer e Hélio Uchôa. O volume principal, de
predominância horizontal, tem duas empenas laterais cegas e duas fachadas tratadas
de acordo com a incidência solar: vidro e painéis pré-moldados para orientação sul e
quebra sol vertical de alumínio, em composição com combogós cerâmicos, para norte. A
solução estrutural modulada e periférica proporciona clara organização dos espaços
internos, beneficiados ainda pelo deslocamento da coluna de circulação vertical,
resolvida num corpo independente. Merecem destaque os pilares em “V”, de proporções
exatas, que emprestam dinâmica ao bloco estático do hospital. Este tipo de pilar, que se
tornou característico da obra de Niemeyer, oferecia como vantagem a redução do
número de apoios, garantindo liberdade no arranjo da composição. Nas fachadas, o uso
de cores(azul nos painéis voltados para o sul e o tom natural da cerâmica alternado com
lâminas de alumínio na fachada norte), dá ao conjunto uma aparência de grande
interesse. A construção deste hospital arrastou-se até 1959, mas não foi concluída.
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IGREJ A DE SÃO JOSÉ DA LAGOA
A capela da Fábrica, denominada de "São José Operário", erguida em 1898 no
terreno ímpar, sobreviveu muitos anos, sendo demolida nos anos 60, para em seu lugar
ser erguido em 1962/1964 um novo templo, todo de vidro, projeto do arquiteto Edgar de
Oliveira da Fonseca(o mesmo que projetou a nova Catedral, na Av. Chile). Vale aqui
lembrar que essa capela mantinha, patrocinada pela fábrica, outra instituição de
assistência social, a “Devoção Particular do Glorioso Patriarca São José da Gávea”,
fundada em 1908, funcionando na própria capela e que auxiliava pecuniariamente os
operários e seus familiares necessitados.
Todo esse aparato não impediu que as duas fábricas do Jardim Botânico, mais
duas outras existente na Marquês de São Vicente, deixassem de entrar na grande greve
geral de 1918, quando toda a produção foi suspensa por melhores condições de
trabalho. Os trabalhadores, portando cartazes com dizeres marxistas e palavras de
ordem inspiradas na "Revolução Soviética", originaram o termo "Gávea Vermelha",
usado pela imprensa para definir esta parte da cidade.
ANTÔNIO AUGUSTO BORGES DE MEDEIROS – DADOS BIOGRÁFICOS.
Político, nasceu em Caçapava do Sul, Rio Grande do Sul, em 1864. Bacharelouse em direito no Recife. Em seu Estado natal, foi promotor público, chefe de polícia e
desembargador do antigo Tribunal Superior. Em 1890, elegeu-se deputado federal e,
com a dissolução do Congresso em 1891, uniu-se a Júlio de Castilhos na luta contra o
governo federal. De que resultou a renúncia de Deodoro da Fonseca (1891). Com a
morte de Júlio de Castilhos, assumiu o comando do Partido Republicano gaúcho,
elegendo-se, cinco vezes, governador do Estado, em 1897, 1902, 1912, 1917 e 1922.
Sua quinta reeleição desencadeou, sob a liderança de Assis Brasil, a luta armada no
Estado, luta que terminou com a assinatura do Tratado de Pedras Altas (1923), que o
alijou do poder. Apoiou os movimentos insurrecionais de 1930 e 1932, ocasião em que
foi preso no Rio de Janeiro e confinado no Recife. Foi anistiado em 1934, elegendo-se
deputado federal e perdendo o mandato com o Estado Novo, em 1937. Após a
cassação, retirou-se à vida privada. Faleceu em 1961, aos 97 anos, em Porto Alegre.
VILA OPERÁRIA ORSINA DA FONSECA
Outras vilas operárias surgiram. Em 1910, o Presidente Marechal Hermes
Rodrigues da Fonseca (1855-1923), inicia uma política de estímulo à melhoria das
condições de vida dos operários(1910-1914). Em 1913, é erguida próximo do Jardim
Botânico, na "Praça N. Sra. da Conceição"(hoje Santos Dumont), a vila operária "Orsina
da Fonseca", em homenagem à sua primeira esposa(falecida em 1911), com duas
escolas e prédio dos bombeiros, projetados pelo arquiteto Marechal Francisco Marcelino
de Souza Aguiar, com muitas ruas, ainda existindo algumas dessas casas e as
escolas(que são tombadas pela municipalidade) e estação de bombeiros.
O QUASE LOTEAMENTO DO J ARDIM BOTÂNICO
Em 1969 quase que o Jardim Botânico voltou a ser um bairro operário. Aliás, para
dizer a verdade, quase que o parque foi convertido em conjunto habitacional! O General
Pinto da Luz, Diretor do "Banco Nacional da Habitação"(o finado BNH, fundado em 1964
e extinto em 1989) conseguiu que o Governo do Presidente Marechal Arthur da Costa e
Silva(1966-1969) lhe cedesse 2/5 da área do Jardim Botânico do Rio de Janeiro para
nele erguer um enorme conjunto residencial vertical para 800 famílias de favelados. A
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gritaria pública contra esse atentado, apesar da censura ditatorial, foi de tal maneira que
o Governo recuou. Com a morte de Costa e Silva, o assunto também morreu.
VIADUTO SAINT- HILAIRE (VIADUTO DO TÚNEL REBOUÇAS)
Projetado em 1961 pela Superintendência de Urbanização e Saneamento do
Estado da Guanabara (SURSAN) na gestão do Governador Carlos Lacerda. Em seu
projeto original, estava prevista a instalação de uma plataforma onde ficariam postos de
pedágio, o que foi suprimido em 1966. Inaugurado parcialmente em 1965 pelo mesmo
Governador Lacerda, foi totalmente inaugurado em 1967, junto com os dois túneis (só
um estava inaugurado), sendo o viaduto batizado de Saint - Hilaire, em homenagem ao
famoso naturalista francês. Vale ressaltar que tanto o túnel Rebouças quanto o viaduto
ampliaram de muito o volume de tráfego de veículos no entorno da Lagoa, o que
obrigou a SURSAN a realizar extensas obras de urbanização das áreas adjacentes, só
concluídas em 1978.
SAINT - HILAIRE – DADOS BIOGRÁFICOS
Auguste François César Provençal de Saint - Hilaire, naturalista e viajante,
nasceu na França a 4 de outubro de 1779. Sua adolescência passou-a em Hamburgo
trabalhando no comércio e aí estudou alemão e inglês. Voltando à França, dedicou-se
ao estudo da Botânica sob a orientação de A. L. Jussieu, L. C. Richard e R.
Desfontaines.
Em 1816 veio para o Brasil com o embaixador da França junto à Côrte do Rio de
Janeiro. Durante seis anos percorreu as províncias deste vasto país, do Paraguai e
Uruguai. Nessas viagens coletou valiosos espécimes de História Natural, consistindo em
24 mil exemplares de plantas de 6 mil espécies diferentes, a maior parte das quais
novas; em 2 mil de aves, 16 mil de insetos, 135 de quadrúpedes e outras de répteis,
peixes e minerais.
Em 1822 regressou à França dedicando-se ao estudo do material recolhido e à
redação de extensos relatórios de viagem. Com o organismo profundamente abalado
por uma doença nervosa, quase cego, em conseqüência dessas penosas viagens que
muito exigiram de sua saúde, recolheu-se à histórica cidade de Montpellier onde, sob
cuidados médicos, se restabeleceu. Entregou-se então a escrever obras como: Flora
Brasiliae Meridionalis ou História e descrição de todas as plantas que crescem nas
diferentes províncias do Brasil (1825) e Viagem nas Províncias do Rio de Janeiro e
Minas Gerais (1830), as quais lhe conferiram extraordinária reputação, sendo então
convidado para professor de Botânica e membro da Faculdade de Ciências de Paris.
Escreveu ainda: Viagem no Distrito dos Diamantes e no Litoral do Brasil; Viagem às
Nascentes do Rio São Francisco; A Agricultura e a Criação dos Animais dos Campos
Gerais.
Saint - Hilaire era observador hábil e colecionador sagaz. O mérito de seus
trabalhos lhe proporcionou o ensejo de ser nomeado membro da Academia de Ciências,
em virtude de sua preciosa bibliografia constituída por quinze trabalhos de real valor
sobre o Brasil.
De tal forma se impôs a obra de Saint - Hilaire, por seu valor, no que se prende
aos assuntos da natureza e dos costumes brasilianos, que não se pode fazer qualquer
estudo nesse sentido sem compulsar seus interessantes trabalhos. Em sua
homenagem, além do viaduto, há no Jardim Botânico um busto em sua homenagem.
Saint - Hilaire morreu na França, a 30 de setembro de 1853.
TÚNEL REBOUÇAS
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O Túnel Rebouças era uma antiga aspiração dos cariocas. Projetado inicialmente
pelo urbanista francês Alfred Agache em 1928 para o Prefeito Prado Júnior, só saiu do
papel em 1948, na administração do Prefeito Marechal Ângelo Mendes de Morais
(1946/1951). Em 1950 as obras pararam. Foram retomadas em 1961 pelo Governador
do Estado da Guanabara, Carlos Lacerda (1914-1976), que o inaugurou parcialmente
em 1965. Foi totalmente inaugurado em 1967 pelo Governador Francisco Negrão de
Lima(n.1908), sendo considerado à época o maior túnel urbano do mundo, com 2.700
m de extensão, dividido em duas partes, formando dois túneis gêmeos (André e Antônio
Rebouças), cortando os bairros do Humaitá, Jardim Botânico, Lagoa e Cosme Velho,
ligando-os aos do Estácio, Rio Comprido e Tijuca, passando por debaixo do maciço do
Corcovado. Conta-se que o Governador Lacerda só não inaugurou totalmente o túnel
em 1965 para espicaçar com seu rival Roberto Marinho, que teria suas terras do Cosme
Velho muito valorizadas pelo empreendimento.
Ainda em 1971, Francisco Negrão de Lima, Governador do Estado da Guanabara
(1966-1971), no apagar das luzes do seu govêrno, intentou passar um decreto
permitindo o aterro total da Lagoa Rodrigo de Freitas, para alí se fazer um novo bairro,
beneficiando determinado construtor famoso que almejava tal quinhão há anos. Outro
projeto engavetado... .
Em 19 de fevereiro de 1988, grandes chuvas castigaram a Cidade do Rio de
Janeiro. Por fatalidade, uma comporta dentro do "Jocquei Clube", que represava o "Rio
dos Macacos" estava fechada, fazendo-o transbordar e inundar o Jardim Botânico,
causando enorme destruição. Levou-se dez anos e três administrações(Sérgio Bruni 1988/89, Wanderbilt Duarte de Barros - 1989/92, e novamente Sérgio Bruni - 1992/98),
para reparar os estragos.
Hoje o 'Jocquei" possui avançado sistema para impedir que isso se repita.
IGREJ A DE SANTA MARGARIDA MARIA - PÇA. FREI SOLANO - LAGOA
Elegante templo em estilo neocolonial tardio projetado por Fernando I. Lemos em
1948, e concluído dez anos depois. A fachada foi inspirada nas antigas igrejas
hispânicas da Califórnia. A abertura do Túnel Rebouças em 1965 deu especial relevo ao
conjunto, valorizado pela existência de áreas livres no entorno.
OBRA DO BERÇO - R. CÍCERO GÓIS MONTEIRO, 19/AV. EPITÁ. PESSOA
Edifício destinado a serviços sociais de orientação à maternidade e abrigo a
crianças até dois anos de idade, assume importância fundamental por se tratar da
primeira obra construída de Oscar Niemeyer(1937). O conjunto, situado em terreno de
esquina às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas, é composto por dois blocos: frontal,
com quatro pavimentos e fachada principal (voltada para oeste) protegida por “brisesoleil” vertical móvel; e posterior, com dois pavimentos, e predominância horizontal. Este
bloco possui circulação por rampas para facilitar a locomoção de carrinhos e crianças. O
prédio é tombado pela Municipalidade.
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52)- Rosa, Prof. Ferreira da; Memorial do Rio de Janeiro 1878/1928. Rio de Janeiro,
Revista do Arquivo do Distrito Federal, 1951, il.
53)- Rosa, Prof. Ferreira da; O Rio de Janeiro em 1922/24. Rio de Janeiro, Prefeitura da
Cidade do Rio de Janeiro, Coleção Memória do Rio, 1978, il.
54)- Rios Filho, Adolfo Morales de Los; Grandjean de Montigny e a Evolução da Arte
Brasileira. Rio de Janeiro, Empresa A Noite, 1941, il.
55)- Rios Filho, Adolfo Morales de Los; O Rio de Janeiro Imperial. Rio de Janeiro,
Editora A Noite, 1948, il.
56)- Sampaio, Carlos César de Oliveira; Obras da Prefeitura - 1920/22. Rio de Janeiro,
Editora Lumen-Empresa Internacional Editora, 1924, il.
57)- Santos, Paulo F.; Quatro Séculos de Arquitetura. Rio de Janeiro, Instituto de
Arquitetos do Brasil, 1981, il.
58)- Santos, Luís Gonçalves dos; Memórias para servir à História do Reino do Brasil.
Belo Horizonte/Itatiaia, São Paulo/EDUSP, 2 vols., 1978.
59)- Santos, Francisco Agenor de Noronha; As Freguesias do Rio Antigo. Rio de
Janeiro, Editora O Cruzeiro, 1965, il.
60)- Santos, Francisco Agenor de Noronha; Meios de Transporte no Rio de Janeiro. Rio
de Janeiro, Typographia do Jornal do Comércio, 1934, 2 vols., il.
61)- Santos, Renato Peixoto dos; Fábrica da Estrela - Imperial Fábrica de Pólvora - Do
Império aos Nossos Dias Servindo ao Brasil. Magé, Editora do Autor, 1973, il.
62)- Sarthou, Carlos; Relíquias da Cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, Livraria
Atheneu, 1965, il.
63)- Secretaria Municipal de Cultura, Turismo e Esportes; Guia do Patrimônio Cultural
Carioca. Rio de Janeiro, Departamento Geral de Patrimônio Cultural. Prefeitura da
Cidade do Rio de Janeiro, 1992, il.
64)- Tabet, Sérgio; e Pummar, Sônia; O Rio de Janeiro em antigos Cartões Postais. Rio
de Janeiro, Editora do Autor, 1985, il.
65)- Teixeira Filho, Álvaro; Roteiro Cartográfico da Baía de Guanabara e Cidade do Rio
de Janeiro. Rio de Janeiro, Livraria São José, 1974, il.
66)- Teixeira, Milton de Mendonça; A Matri z de São João Batista da Lagoa. Rio de
Janeiro, Jornal O Manequinho, agosto de 1998, il.
67)- Teixeira, Milton de Mendonça; O Rio de Janeiro e sua Arquitetura. Rio de Janeiro,
GECET/DOP/RIOTUR, 1989.
68)- Teixeira, Milton de Mendonça; O Rio de Janeiro e suas Igrejas. Rio de Janeiro,
GECET/DOP/RIOTUR, 1988.
69)- Teixeira, Milton de Mendonça; O Rio de Janeiro e suas Praças. Rio de Janeiro,
GECET/DOP/RIOTUR, 1988.
70)- Valladares, Clarival do Prado; Biografia da Lagoa Rodrigo de Freitas. Rio de
Janeiro, Revista Brasileira de Cultura, ano III, no. 8, abr/jun de 1971,il.
71)- Valladares, Clarival do Prado; Rio Neoclássico. Rio de Janeiro, Bloch Editores,
1980, il.
72)- Vários autores; Assistência Pública e Privada no Rio de Janeiro(Brasil). História e
Estatística. Em Comemoração do Centenário da Independência do Brasil. Rio de
Janeiro, Tip. Do Anuário do Brasil, 1922, il.
73)- Wehrs, Carlos; Niterói - Cidade Sorriso - A História de um Lugar. Rio de Janeiro,
Sociedade Gráfica Vida Doméstica, 1984, il.
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74)- Wehrs, Carlos; Niterói - Ontem e Anteontem. Rio de Janeiro, Editora do Autor,
1986.
75)- Winz, Antônio Pimentel; História da Casa do Trem. Rio de Janeiro, Museu Histórico
Nacional, 1962, il.
RESUMO HISTÓRICO DA GÁVEA, E RUA MARQUÊS DE SÃO VICENTE.
Até pro va em contrário, os primeiros habitantes legítimos da região foram os
índios tamoios, estabelecidos alí desde o séc. VI, divididos em cinco aldeias. Eles
batizaram o morro como “Metarecanga”(“Pedra Raivosa”, em tupi); e a Lagoa de
“Piraguá” (“Água Parada”, idem) ou “Sacopenapã” (“Caminho onde andam as socós”).
Ainda no século XVI a pedra seria batizada definitivamente como “Gávea”, pelos
portugueses, pois parecia-se com o cesto da gávea das caravelas. No século XVII,
viajantes ingleses a chamavam de “Nariz do Lorde Hood”. No século XIX era conhecida
como “Cabeça do Imperador”, pela sua vaga semelhança com a testa de D. Pedro II.
Alguns viam nela obra artificial, chamando-a de “Esfinge”. O desabamento de parte
posterior da “Pedra da Gávea” em 1915 acabou com essa semelhança.
Houve quem vislumbrasse inscrições fenícias em seu costão. Uma expedição de
especialistas do Instituto Histórico em 1839 ao seu cume esclareceu que as ditas
inscrições são fendas naturais. Mesmo assim, até hoje há quem afirme realmente serem
tais marcações fenícias, propondo alguns a seguinte tradução: “Tiro - Fenícia - Badezir,
primogênito de Jetbaal”. Badezir foi efetivamente um rei fenício, e reinou em Tiro há
3000 anos atrás. Se essa afirmação for correta, é a “pichação” mais antiga do Rio.
O Go vernador Antônio de Salema, jurista formado em Coimbra, natural de
Alcácer do Sal(152?-1586), Governador da parte sul do Brasil (1575-1578), cobiçando
aqueles chãos para neles erguer um engenho de cana, mandou colocar no matagal
roupas de doentes de varíola, matando os índios por contaminação. Uma vez li vre
deles, Salema ergueu em suas terras no ano de 1575 o Engenho D`El Rei, às margens
da “Lagoa de Piraguá” (“água parada”, em tupi), ou de “Sacopenapã”(“Caminho onde
andam as socós”, em tupi), tendo doado em sesmarias as terras que não interessaram.
Por essa época, ou até antes, em 24 de abril de 1566, recebeu terras no local o
Capitão de Infantaria Manuel de Brito Pereira, Cavaleiro Fidalgo da Casa D`El Rei,
nascido em Beja(1542?-1602), que obteve do Governador Estácio de Sá(1542-1567)
uma sesmaria de 1000 braças de largo e 1500 de comprido em direção à Gávea(Barra
da Tijuca?). No mesmo ano, a 03 de dezembro, o português André de Leão, Fundador
do Rio de Janeiro(1540?-1611?), recebeu 200 braças para o longo do mar e 500 braças
para o sertão, com carta passada pelo mestre de obras Francisco Gomes, que possuía
terras em Suruí e igualmente era sesmeiro na Lagoa. Leão, que foi Oficial da “Câmara
de Vereadores” e antes morara em São Vicente, sesmeiro e intérprete da linguagem dos
índios, ergueu uma casa de moradia, cujos alicerces ainda existem, pois foram
incorporados em 1828 ao casarão neoclássico erguido pelo arquiteto da Missão Artística
Francesa Grandjean de Montigny, hoje propriedade da “PUC”. André solicitaria à
Câmara, a 19 de janeiro de 1592, mais trezentas braças. Ano seguinte, a 25 de
setembro de 1567, o fidalgo português Antônio Preto(1542?-1601), morador em São
Vicente, obteve da Câmara 1000 braças de largo e 1500 braças para o sertão “aquém
da Gávea”(São Conrado?).
Foram seus vizinhos, dentre outros, Antônio Pacheco Calheiros (1569?-1634),
vereador em 1619, que era genro de André de Leão, pois casara-se com sua filha Inês.
Calheiros pediu aforamento à Câmara em 1599 terras que houvessem da demarcação
de Diogo de Amorim até entestar com as de André de Leão e quinhentas braças de
comprido para a Gávea. Em 1603, Calheiros solicitou aforamento dessas quinhentas
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braças até a “costa brava”(Leblon), correndo até a Gávea(Vidigal?); Baltazar de Seixas
Rabelo, “Juiz Ordinário da Câmara”, “Provedor Mór da Misericórdia”, Capitão Mór de
São Vicente(1560-1637), foi outro proprietário local, tendo recebido em 1598 aforamento
de 200 braças de terras com riacho, entre Felipa Gomes e André de Leão; e, desde
1598, o Vereador Diogo de Amorim Soares, dono do “Engenho de Nossa Senhora da
Conceição da Lagoa” (1558?-1609?) e tido como figura não muito honesta, sendo
expulso da cidade em 1609, não sem antes repassar seu engenho e benfeitorias ao
“igualmente não muito honesto” seu genro, Sebastião Fagundes Varela, natural de
Viana do Castelo(1563-1639), casado com Da. Maria de Amorim Soares(1589-1676).
Com efeito, em 1610, Da. Felipa Gomes(1550-161?), viúva de André de Leão,
reclamava de que seus vizinhos estavam invadindo suas propriedades, cobrando da
Câmara providências. Pacheco Calheiros, seu genro, pediu em 1611 confirmação das
terras de sesmaria de André de Leão, bem como das datas concedidas pela Câmara. A
confirmação foi dada a 24 de novembro de 1612. Apesar disso, a invasão continuou. A
Câmara não fez nada, e Da. Felipa não resistiu vendendo suas posses em 17 de
dezembro de 1612 a Martim Barbosa. Martim, por sua vez, vendeu-as em 1640 a
Pantaleão de Oliveira. Pacheco Calheiros, seu genro, resistiu mais algum tempo, tendo
solicitado à Câmara em 1616 nova confirmação de suas terras, que foi concedida.
O acesso à fazenda de André de Leão deu origem a um caminho, que no século
XIX foi batizado de “Rua da Boa Vista da Lagoa”(ou “Bela Vista”, como aparece
também), rebatizada em 1878 para Marquês de São Vicente.
PRAÇA SANTOS DUMONT
Onde é hoje a Praça Santos Dumont, no dito “Baixo-Gávea”, era até o século
XVIII um charco, um pantanal. Desde o princípio do século XIX, já aterrado, chamou-se
“Largo das Três Vendas”, nome mudado depois para “Nossa Senhora da Conceição” e,
já na República, para “Ferreira Viana”, “Arthur Bernardes” e, finalmente, depois de 1932,
Praça Santos Dumont, em homenagem ao pai da aviação(1871-1932), falecido em
Guarujá, nesse ano.
Nela, em meados do século XIX, só existia de importante o “Hotel do Amaral”, no
princípio da rua Boa Vista, e propriedade do Capitão Manuel dos Anjos Vitorino do
Amaral. Era um modesto estabelecimento com cinco quartos, vendido depois de 1875 a
José de Moura Carvalho, possuindo então o no. 1 da rua Boa Vista da Lagoa. Hoje no
local está um prédio de apartamentos. Carvalho possuía também as casas de 3 a 7 da
rua, atuais 1 a 17, ou seja, o lado ímpar da rua Marquês de São Vicente até a Matri z.
TRANSPORTES COLETIVOS NA GÁVEA
Para se estudar a história do Rio de Janeiro, torna-se fundamental conhecer a
história dos transportes em nossa cidade. E, quando se fala em transportes coletivos no
“Rio Imperial”, é quase que sinônimo de “bondes”. Foram os bondes que promoveram a
expansão da cidade na segunda metade do séc. XIX. Nenhum veículo os suplantou em
eficácia e praticidade.
Entretanto, não foram os bondes os primeiros veículos de transporte coletivo à
chegarem ao bairro da Gávea. Antecederam-lhe os “omnibus”. Ainda em 1837 o
Governo Imperial deu concessão ao francês Jean Lecoq para fundar uma “Companhia
de Omnibus” puxados a cavalos, na cidade do Rio de Janeiro, com capacidade para
20/24 passageiros cada veículo. Foi inaugurado o tráfego desses veículos em julho de
1838, com quatro carros. Em janeiro de 1839 inaugurou-se uma linha para Botafogo. Já
em 1847 alugavam-se “omnibus” extraordinários para o bairro do Jardim Botânico. Em
1868, com a inauguração das linhas de bondes da “Botanical Garden”, foram extintas as
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linhas do centro, só sobrevivendo uma linha que ligava a Praia de Botafogo para o
“Largo das Três vendas”. Em 1882 a “Companhia de Omnibus” era vendida à “Botanical
Garden Rail Road Company”.
Entretanto, já em 1854, criava-se uma linha de diligências à cavalo entre o centro
comercial e o Jardim Botânico, pela “Companhia da Sociedade Lagoense”, dirigida por
Antônio de Pádua e Silva e José Maria Targine. Os bondes da “Botanical Garden”
acabaram com as diligências.
No remoto ano de 1838 foi fundada a “Companhia das Gôndolas Fluminenses”. A
“gôndola” era uma carrimpana menor que o “omnibus” e maior que a diligência, com
capacidade para nove passageiros. Em 1865 foi criada uma linha de “gôndolas” que
passava pela Praia de Botafogo, São Clemente, “Berquó”(hoje General Polidoro) e
Jardim Botânico, linha que se manteve até a década de setenta, quando os bondes
acabaram com ela.
BONDES NA GÁVEA
Uma das primeiras concessões de linhas de bondes foi a dada pelo “Governo
Imperial” pelo decreto no. 1742, de 29 de março de1856 ao cidadão inglês Thomas
Cochrane (1805-1872), médico homeopata e sogro de José de Alencar (1829-1877),
para formação de uma “companhia de carris urbanos” que fazia linha do centro ao “Alto
da Boa Vista”. Não deu certo, haja vista a má conservação dos equipamentos, que
resultou em prejuízo de 700 contos.
No mesmo mês de março de 1856, outra concessão foi feita pelo decreto no.
1733, no dia 12 ao Senador, Conselheiro e Diretor do Jardim Botânico, Ministro Cândido
Baptista de Oliveira(1801-1865) e seu filho Luiz Plínio de Oliveira. Indicado em 1859
para a Presidência do Banco do Brasil, repassou Cândido sua concessão por quarenta
contos de réis, pelo decreto no. 2927, de 21 de maio de 1862 ao seu amigo, Ireneu
Evangelista de Souza, Barão e depois Visconde de Mauá (1813-1889). Mauá, temeroso
com o fracasso dos bondes da Tijuca, cedeu a concessão pelo decreto 3738, de 21 de
novembro de 1866 por cem contos de réis ao engenheiro americano Charles B.
Greenough (1825-1880), que obteve os capitais necessários nos Estados Unidos. Em
09 de outubro de 1868 surgiram os bondes da “Botanical Garden Rail Road Company”,
fundada pelo americano Greenough, cujo primeiro trecho a funcionar ia da rua
Gonçalves Dias até o Largo do Machado. Com apoio do Imperador, a linha foi um
sucesso estrondoso, a tal ponto que os bondes valorizaram de forma até então
desconhecida os terrenos onde passavam, sendo motivo para muita especulação.
Bairros semi-povoados como Botafogo e Laranjeiras tiveram rápida ocupação. Em 1870,
quando alguém desejava adquirir algum imóvel no Rio, a primeira pergunta feita era
“...se o bonde passa lá”.
Em 1o. de janeiro de 1871 a “Companhia Ferro Carril do Jardim Botânico”(nesse
ano ainda era chamada de “Botanical Garden Rail Road”) chegou com sua linha de
bondes à burro ao “Largo das Três Vendas”, passando pela Praia de Botafogo, “Rua
Nova de São Joaquim”(atual Voluntários da Pátria) e Rua Jardim Botânico, estimulando
a ocupação local.
Dois anos depois, a 1o. de abril de 1873, a Companhia requisitou ao Govêrno
Imperial a ampliação dessa linha, do “Largo das Três Vendas” até a “Olaria”. Essa dita
“Olaria funcionava exatamente onde está hoje o “Campus da PUC”, e batizava toda a
área que hoje denomina-se “Médio Gávea”.
Como se verá adiante, a história dos bondes na Gávea tornou-se, não poucas
ve zes, a própria história do bairro. Em 1909 a “Companhia Ferro Carril do Jardim
Botânico foi arrendada parcialmente à “Light”, empresa que começou a funcionar em
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1907 no fornecimento de energia elétrica ao Rio de Janeiro. Entretanto, a “Companhia
Jardim Botânico” continuou como companhia independente até 1946, quando foi
incorporada definitivamente à companhia canadense. Depois da 2a. Guerra, em 1950,
desinteressou-se a “Light” pelos bondes, pois estava investindo agora nos ônibus à
diesel. O serviço de bondes foi decaindo até a extinção de tais veículos em 1963.
À guisa de curiosidade, vale lembrar que no princípio da República o Ministério
da Agricultura, Comércio e Obras Públicas concedeu permissão em 1891 para que a
“Empresa de Melhoramentos da Lagoa Rodrigo de Freitas e Botafogo” construíssem
uma estrada de ferro elevada, ligando o Leblon à rua Primeiro de Março, no centro.
Nesse mesmo ano a empresa afundou e foi encampada pelo Governo Federal, não se
ouvindo mais falar da tal “linha elevada”.
Não seria o primeiro projeto exótico para a região. Anos antes, em 10 de fevereiro
de 1886, o engenheiro civil João Dantas requereu ao Ministro da Agricultura uma
concessão para abrir uma via férrea partindo da estação da “Companhia Ferro Carril do
Jardim Botânico”, no Largo dos Leões, em Botafogo, perfurando um túnel no final da rua
Real Grandeza, e dalí pela orla até o Leblon, onde correria a linha pela encosta do
Morro Dois Irmãos, numa extensão de 193km, até Angra dos Reis. Em 1891 seria
constituída por Dantas a “Estrada de Ferro Sapucaí”, que, por decreto no. 587, de 10 de
outubro de 1891, obteve autorização para estender seus trilhos até Guaratiba, onde
seria feito um cemitério. Fizeram muitas obras na Gávea, Leblon e Morro Dois Irmãos,
onde chegou a ser escavado 800 m de estrada na rocha. O “encilhamento” liquidou com
a empresa em 1891. A estrada seria depois ampliada em 400m, pelo engenheiro inglês
Charles Weeksteed Armstrong, levando-a até a “Praia do Vidigal”, onde o inglês fundou
em 1911 o “Colégio Anglo Brasileiro”, para filhos de ingleses. Em 1915 o Comendador
Conrado Jacob de Niemeyer doou à Prefeitura outros 3000m para se abrir a estrada até
suas terras, na Praia da Gávea. Finalmente, a Avenida Niemeyer foi inaugurada em
outubro de 1916, durante o “Congresso de Estradas de Rodagem”, realizado no Rio de
Janeiro. Foi a Av. Niemeyer muito melhorada depois pelos prefeitos Paulo de Frontin,
em 1919 e Carlos Sampaio, em 1920/22, mas ainda é basicamente a mesma de 1916.
Depois voltaremos a falar muito dela.
O lado direito da praça Santos Dumont era, em 1809, a chácara do Tenente João
Pinto. Cem anos depois, seu terreno foi quase todo tomado em 1912/13 pela “Vila
Operária Orsina da Fonseca”, inaugurada pelo Presidente Marechal Hermes Rodrigues
da Fonseca, marido de Da. Orsina(falecida em 1912). O projeto das belas casas,
algumas ainda de pé, bem como das duas escolas e do corpo de bombeiros, foi do
Coronel e arquiteto Francisco Marcelino de Souza Aguiar, Prefeito do Rio de 1906 a
1909. Em 1913 surgiram, em conseqüência da expansão da vila, as ruas Magnólias,
Jequitibá, Vicente de Souza(depois Orsina da Fonseca), Acácias, Oitis, Oliveira Belo,
etc.
HISTÓRIA DO JÓCQUEI CLUBE DO RIO DE JANEIRO
Todo o lado esquerdo da praça até 1809 era na verdade um areal e as margens
da Lagoa. Depois de 1811, essas terras foram incorporadas ao “Real Horto Botânico”,
origem do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, até serem em 1922 desapropriadas pelo
Presidente Epitácio Pessoa e alienadas a um grupo interessado na ereção de uma pista
de corridas de cavalos na Zona Sul. Toda essa área foi, à partir de 1919, tomada pelas
obras do “Jocquei Clube do Rio de Janeiro”, iniciativa do empresário e Vice Presidente
do “Jocquei”, Dr. Linneu de Paula Machado, mais ativo que seu Presidente, o
engenheiro João Teixeira Soares. As obras começaram em 1921. Logo as sondagens
revelaram ser o solo impróprio para aquele tipo de construção. Depois de muitos
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estudos, decidiu-se continuar a obra assim mesmo e a primeira estaca foi cravada em
julho de 1924. A bênção da casa foi feita em 1925 por D. Aquino Corrêa, mas o prado
só foi inaugurado em julho de 1926. Os prédios foram projetados pelos arquitetos
Archimedes Memória e Francisco Cuchet, sob supervisão do eng. Dr. Mário de Azevedo
Ribeiro.
IGREJ A MATRIZ DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO DA GÁVEA
Em 1852/55, no princípio da rua Marquês de São Vicente, o Capitão Amaral, o tal
dono do “Hotel do Amaral”(cuja sede ainda sobrevivia arruinada em 1926), mandou
erguer uma capela em homenagem à Nossa Senhora da Conceição, pois uma capela
homônima existira por perto desde 1598 até 1826, exatamente onde hoje está o edifício
da Embrapa, na rua Jardim Botânico. Esta nova capela foi depois muito ampliada e
elevada em 1875 à condição de Matriz da recém criada “Freguesia da Gávea”.
A no va Freguesia foi criada por decreto legislativo de 18 de junho de 1873,
desmembrando-a da “Freguesia da Lagoa”. Esta, por sua vez, havia sido criada pelo
Príncipe D. João ainda no remoto ano de 1809, desmembrando-a da de São José.
Antes da Igreja de Na. Sra. da Conceição, existia em 1809, naquele lugar a casa do Sr.
Caetano da Silva. Era a única construção no princípio do século XIX até a chácara
denominada “Castelo”, onde hoje é o “Centro Cultural da PUC-Rio”. O Capitão Amaral
comprou a casa do Sr. Caetano e a mandou demolir. Era a Igreja a construção de no. 9
na rua da “Boa Vista”. Hoje tem o número 19 da Marquês de São Vicente. É um bonito
templo de linhas neoclássicas.
Foi seu primeiro vigário Monsenhor Francisco Martins do Monte (1830?-1909),
que já havia sido desde 1862, vigário da “Freguesia da Lagoa”. Monsenhor Francisco
também era pequeno acionista da “Botanical Garden Rail Road”, e em 1885 sua
diretoria era “protetora” da Paróquia.
RUA MARQUÊS DE SÃO VICENTE - BAIXO GÁVEA - LADO ÍMPAR
Na rua “Boa Vista da Lagoa”(ou “Bela Vista”), depois de 1878 Marquês de São
Vicente, moraram, no século XIX, alguns dos homens mais ricos do Brasil. Ao menos
três presidentes de conselhos de ministros do Imperador, quatro diretores de empresas
de bondes, fora alguns senadores.
Logo no. 11, ao lado da Matriz(detalhe, toda a numeração das casas aqui citadas
por diante são as constantes no levantamento de 1878, diferindo muito da numeração
atual, em alguns casos impossível de atualizar), morava o engenheiro Carlos Alberto
Morsing, concessionário de uma empresa de “diligências sobre trilhos de ferro”, ligando
a Côrte aos subúrbios em 1868, e anos depois, em 1872, co-fundador da empresa de
bondes “Companhia Ferro Carril São Cristóvão”. Nesse local, numerado em 1934 como
23/25, foi aberta a rua “Regional”(hoje General Rabelo). Em outra fatia dessa chácara,
surgiu em época recente a “Escola Ipiranga”(no.37).
No 19(em 1878), era a casa do Visconde de Jaguari, Deputado, Conselheiro de
Estado e Ministro da Justiça(1848/53) e (1870/71), e Ministro do Império(1861/62), José
Ildefonso de Souza Ramos(1812-1883), advogado, fazendeiro e dono da “Fazenda
Santa Fé”, em Valença. Filho do primeiro Visconde de Jaguari. Era mineiro e foi
Presidente das províncias de Piauí(1843/44), Minas Gerais (1848/49), e
Pernambuco(1849/50). Foi Deputado pelo Piauí(1850/56) e Presidente da Câmara,
sendo também Senador(1852) e, igualmente, Presidente do Senado do
Império(1874/81). Membro do Conselho de Estado do Imperador e Provedor da “Santa
Casa de Misericórdia”(1879/83), possuía a “Grã Cruz de Cristo” e a “Ordem da Rosa”.
Após sua morte, morou em sua casa a “macróbia” do bairro, a maranhense Da.
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Custódia Antônia Ferreira, com 110 anos de idade segundo o recenseamento de 1906.
Nesse terreno, já renumerado para 123, foi aberta em 1933/34, a rua Artur Araripe.
No 29(depois 115 e hoje inexistente), morou o empresário português Antônio de
Almeida Paschoal(1830?-1881), fundador, em 1864, da “Confeitaria Paschoal”, na rua
do Ouvidor, fornecedora da Família Imperial. Paschoal era também grande acionista da
“Botanical Garden Rail Road”. Aliás a própria Companhia teve seu escritório central no
sobrado da Confeitaria, de 1869 a 1880.
Onde era sua casa, surgiu nos primeiros anos da República uma fábrica de
tecidos, a “São Félix”, depois rebatizada para “Cotonifício Gávea”. Essa fábrica, bem
como outras duas que existiam nas ruas Jardim Botânico e Dona Castorina, entraram na
greve geral de 1918, provocada por melhores salários pelos imigrantes anarquistas
italianos. Durante anos suas vilas ficaram conhecidas como “Gávea Vermelha”, sendo,
portanto, uma ironia o bairro que foi dos mais fidalgos do Império tornar-se-ia bairro
operário na República. Essa fábrica foi motivo de duas vilas operárias no local(a famosa
“Gávea Vermelha”): a já citada “Orsina da Fonseca”, na Praça Santos Dumont, mas
chegando até a fábrica pela rua das Acácias; e outra mais adiante, hoje incorporada ao
“Campus da PUC”. Depois de demolida, em seus terrenos foi aberta em 1982 a rua
Professor Manuel Ferreira.
No 33/35(hoje ?), morou o Conselheiro de Estado, Senador e Ministro do Império
em 1875/77, Dr. José Bento da Cunha Figueiredo Júnior, Visconde com Grandeza de
Bom Conselho(1808-1891). Formado em direito, foi professor catedrático, Deputado
Geral por Pernambuco e Senador pela mesma Província. Presidiu as províncias de
Minas Gerais em 1861/62, Pará, Alagoas e Pernambuco. Benfeitor do Liceu de Artes e
Ofícios. O Imperador D. Pedro II não deixava de visitá-lo com freqüência em sua casa.
No 39(hoje ?), morou o Visconde de Ouro Preto, o mineiro Dr. Afonso Celso de
Assis Figueiredo(1837-1912), Presidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro,
historiador de mérito, considerado o maior gênio das finanças no Império, Ministro da
Marinha em 1866/68 e Fazenda em 1879/80, último Presidente do Conselho de
Ministros do Imperador D. Pedro II, em 1889. Formado em Direito, foi Deputado por
Minas Gerais e Senador pela mesma Província em 1879. Era Membro do Conselho de
Estado do Imperador. Depois da República, funcionou em sua casa um clube e teatro, o
“Clube Dramático da Gávea”, mais conhecido como “Clube da Gávea”, ponto de
encontro de políticos nos idos de 1891/5, animado pelo pai do pintor acadêmico Navarro
da Costa e tendo como “ponto” o futuro Senador Antônio Azeredo. Já o teatro, vulgo
“teatrinho da Gávea”. Durou até 1913.
No 51(hoje inexistente), morou o Conselheiro e Senador Joaquim Antão
Fernandes Leão (1809-1887), nascido em Minas Gerais, foi Ministro da Marinha em
1848, acumulando conjuntamente a pasta da Guerra, e Ministro da Agricultura,
Comércio e Obras Públicas em 1863/69. Onde eram suas terras, está a rua ViceGovernador Rubens Berardo, aberta em 1955.
PLANETÁRIO
No 65(hoje inexistente), morou e veio a falecer o Barão de Angra, o lisboeta
Almirante Elysiário Antônio dos Santos(1806-1883). Como militar, ingressou na Marinha
em 1822, participou das campanhas da “Cisplatina” (1822/26), “Cabanada”(1836),
“Praieira”(1848), e foi herói na “Guerra do Paraguai” (1864-1870). Foi também chefe do
Estado Maior da Armada e Diretor da “Estrada de Ferro D. Pedro II”. Reformou-se em
1880. Onde era sua chácara estão hoje os fundos do “Planetário da Gávea”, inaugurado
em 1970 pelo Governador do Estado da Guanabara Francisco Negrão de Lima. O
prédio, de linhas arrojadas, foi projetado pelos arquitetos Renato(1941) e Ricardo
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Batalha Menescal(1931). Seu projetor, um “Zeiss Jena Spacemaster”, fabricado na
Alemanha, era à época, o mais moderno do mundo. Em fins dos anos noventa o
Governador Garotinho ampliou as instalações da agora “Fundação Planetário”, cuja
entrada é pela Padre Leonel Franca, 240.
PUC E ARREDORES - MÉDIO GÁVEA
Até aqui era o que modernamente se denomina “Baixo-Gávea”. Da “PUC” até
dois quarteirões seguintes convencionou-se denominar “Médio-Gávea”. No século XIX,
o “Médio-Gávea” era denominado de “Olaria”, pois funcionava uma onde hoje está a
“PUC”. Essa olaria existiu até o princípio do século XX. Até época recente, o início do
“Médio-Gávea” era marcado pela “Padaria Hollanda”, a primeira do bairro, inaugurada
ainda no princípio do século XX e que durou até anos sessenta. Hoje alí funciona uma
repartição dos correios.
No 75(hoje seria o 225, incorporado ao “Campus da PUC”), eram as casas de Da.
Henriqueta Causa. Numa delas morou depois de 1878 e alí faleceu, o Almirante
Joaquim Marques Lisboa, Marquês de Tamandaré(1807-1897), Comandante em Chefe
da Esquadra do Brasil na “Guerra do Paraguai” (1864-1870), Membro do Conselho
Naval, Ajudante de Campo do Imperador D. Pedro II e, finalmente, “Patrono da Marinha
do Brasil”. Já na década de 1920, surgiu nesse local uma vila de casas, das quais
algumas sobrevivem.
No 79( depois 233 e hoje 263), há mais história. Era onde existia a casa do
primeiro sesmeiro, André de Leão, depois foi de sua viúva, Da. Felipa Gomes, e ainda
depois a Martim Barbosa e Pantaleão de Oliveira. Cento e cinqüenta anos depois, de
fins do século XVIII até 1809 pertenceu a chácara a um famoso traficante de escravos,
Nunes Vidigal, irmão do Major Vidigal, Chefe de Polícia de D. João VI. Contava uma
lenda existir enorme túnel que ligava a “Praia do Vidigal”, no Leblon, também sua
propriedade, até sua chácara, túnel esse aberto para facilitar a passagem de escravos
vindos da África. De 1809 a 1828 a chácara pertenceu ao português Antônio Pereira.
Em 1828, adquire a propriedade o arquiteto neoclássico francês Auguste Henry Victor
Grandjean de Montigny (1776-1850), que ali passou a viver e onde montou uma olaria.
Até 1828 era a chácara de Grandjean a maior da rua. Excetuando a casa do Sr.
Caetano da Silva, que era onde em 1852 foi iniciada a igreja, nenhuma outra existia no
lado ímpar até a chácara de Grandjean. Aliás, tal chácara ia do começo da rua até o
“Largo da Memória”, no Leblon. Grandjean, premido por dívidas pessoais após haver
erguido seu solar, tentou sorteá-lo numa loteria mal sucedida. Após este contratempo,
não teve opção senão lotear boa parte de suas terras, surgindo daí todo o lado ímpar da
rua, desde a igreja até os limites atuais da “PUC”. Mesmo despojada de suas terras, a
“PUC” ainda possui 80.000m2 de campus. Seu sóbrio casarão neoclássico com varanda
peristilada, erguido nessa época, mas aproveitando o sólido alicerce da casa de André
de Leão, foi depois de 1856 vendido pela viúva Da. Luíza Francisca Ramos Panasco
Grandjean para o Sr. Antônio Rodrigues de Faria, que a revendeu em 1867 à Da.
Felicidade Perpétua de Jesus. Ela a alugou ao mineiro e Senador por Minas Gerais, o
Conselheiro de Estado Lafaiette Rodrigues Pereira(1831-1917), o mesmo que, após
assinar o manifesto republicano de Itú, em 1870, e de criticar as instituições
monárquicas, foi nomeado ainda assim Presidente do Conselho de Ministros do
Imperador D. Pedro II em 1883/84! Antes já havia sido Ministro da Justiça em 1879/80 e
da Fazenda em 1883/84, acumulando com a Presidência. Lafaiette foi membro, desde
1908, da “Academia Brasileira de Letras”, ocupando a cadeira no. 53, que fôra de
Machado de Assis. Depois da República, Lafaiette mudou-se para Botafogo e a casa foi
vendida ao Sr. Manuel de Freitas Lima Guimarães e por sua filha ao Tenente Coronel
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Joaquim da Silva Ramos. Tombada em 1938, suas filhas Júlia e Maria Ramos a
venderam aos padres jesuítas, para instalar-se nela em 1949, por iniciativa do Padre
Leonel Franca a “Pontifícia Universidade Católica”(ao contrário de Lafaiette, a “PUC”
nasceu em Botafogo, na rua São Clemente), da qual o velho casarão de Grandjean de
Montigny, relíquia do bairro e hoje restaurado, é desde 1980 centro cultural da “PUC”.
Os prédios da “PUC” foram projetados em 1949 pelo arquiteto Edgard de Oliveira
da Fonseca, os primeiros edifícios modernos no bairro.
MINHOCÃO DA GÁVEA
Um pouco antes, na entrada da “PUC”, foi criado pelo prefeito Henrique
Dodsworth ainda em 1942 o famoso “Parque Proletário da Gávea”, que ganhou
contornos definitivos em 1952/54, quando se ergueu o prédio do “minhocão”, projetado
pelo arquiteto carioca Affonso Eduardo Reidy(1909-1964); e destinado a receber as
famílias de 4.900 favelados que habitavam em 1950 a extinta “Favela do Capinzal”,
onde hoje existem os fundos da rua Artur Araripe. Esse “minhocão” foi mutilado em
1981/2 para por ele passar o acesso da auto-estrada “Lagoa-Barra”, haja vista a “PUC”
tê-lo negado.
A a v. Padre Leonel Franca surgiu à partir de 1935, quando se traçou uma
avenida começando na Praça Sibelius, com 180m, paralela à rua Marquês de São
Vicente. Em 1945 melhoraram o projeto, dando um sentido à via, que passava a ser o
primeiro estágio da futura ligação “Lagoa-Barra”. Entretanto, somente em 1972 foi
aberta até a “PUC”, com o asfalto indo até o Planetário. Dez anos depois foi asfaltada
até a boca do túnel Dois Irmãos.
O terreno 287 foi comprado em 1919 pelo Presidente Epitácio da Silva Pessôa
para que sua esposa, Da. Mary alí instalasse uma clínica de repouso. Desistiram pois
conseguiram terreno melhor adiante, como se dirá.
No antigo 81(1879) e hoje incorporado à área da “PUC”, era a chácara de John
Steele, um dos fundadores, em 1886, da “Fábrica de Tecidos Carioca”, na Estrada Dona
Castorina, no Jardim Botânico. Já no século XX, e com o no. 325, ainda existia o
casarão, reformado em 1935 pelo arquiteto Paulo Pires para assemelhar-se a um
castelo medieval. Foi residência por anos da família Matin A. Koch. Ainda está de pé.
ALTO GÁVEA - LADO ÍMPAR
Em 1809, o terreno hoje defronte à rua Piratininga era ocupado pela chácara do
Vigário da Freguesia de Santa Rita. Em 1878, e já numerado como 83 era residência de
Sabino Eloy Pessôa. Sua casa, hoje com o número 331, abriga o “Colégio Teresiano”.
Parte de seu terreno foi desapropriado em 1930 para nele surgir a rua Madre Jacinta.
Em verdade, o terreno dessa chácara, muito extenso, deu origem a vários loteamentos.
Uma outra fatia, no século XX numerado como 389, e sediando o “Sanatório da
Imaculada”, guarda preciosa relíquia ecológica: um gigantesco Jequitibá Rosa com mais
de duzentos anos de idade, a árvore mais antiga do bairro, tombada em 1987 pelo
Prefeito Saturnino Braga.
No antigo 85, depois 97 e hoje 441, ficava um enorme sobradão, velha sede de
chácara, que foi residência de Antônio de Pádua e Silva, Diretor em 1854 da empresa
de diligências “Sociedade Lagoense”. Pádua e Silva, junto com o Capitão Vitorino do
Amaral, ajudou a construir a Igreja Matriz da Gávea. Parte de suas terras foi loteada em
1956, surgindo daí as ruas Mary Pessôa, Graça Couto e Alexandre Stockler. Este
último, era médico famoso e clinicou na Gávea no princípio do século, sendo muito
popular.
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Essa chácara, pertenceu depois ao Sr. Alfredo Camilo de Valdetaro. Ao morrer,
seus herdeiros venderam-na em 1919 para a esposa do Presidente Epitácio da Silva
Pessôa, Da. Mary Sayão da Silva Pessôa, que nela fundou no mesmo ano a “Casa de
Saúde Santa Inês”, casa de repouso para pessoas necessitadas e um pensionato.
Originalmente com entrada pela Marquês de São Vicente no. 441, à partir de 1956 teve
seu terreno cortado, passando a entrada a ser feita pela rua Mary Pessôa, 91. A bela
capela, projetada pelo engenheiro Eduardo Pederneiras, ainda está lá. Aliás, sua
esposa, Da. Laura Pederneiras, foi uma das fundadoras e dirigiu por muitos anos o
estabelecimento. O terreno sofreu outro corte em 1967, sendo a casa principal, que era
a residência de Valdetaro, restaurada pelo engenheiro José Pereira da Graça Couto, foi
parcialmente demolida pelas obras do túnel Zuzu Angel.
TÚNEL ZUZU ANGEL
Aliás, o nome antigo do túnel era “Dois Irmãos”, haja vista que fura o morro deste
nome, mas foi rebatizado recentemente com a denominação atual haja vista ter sido em
seu acesso assassinada por abalroamento criminoso de seu carro pelos policiais
militares a famosa estilista Zuzu Angel Jones, então em campanha pela soltura de seu
filho, o preso político Stuart Angel Jones.
O dito túnel “Dois Irmãos” foi efetivamente inaugurado em 1971 e mudou toda a
vida da Gávea, que passou de bairro residencial isolado, fim de linha, a local de
passagem para a Barra da Tijuca, causando a descaracterização total do bairro pela
especulação imobiliária, que em poucos anos substituiu os casarões centenários por
prédios altos. Isso motivou muitos protestos dos moradores nos anos 70, que deram
origem a movimentos sociais urbanos contra a especulação que tomava o bairro. É
dessa época a “AMA - Gá vea”.
Outra fatia do terreno da Santa Inês depois virou o no. 449, mas por pouco
tempo. Desapropriado em 1937, deu origem à rua Engenheiro Mário Machado e Praça
Augusto de Lima, ambas cortadas em 1967 pelo túnel “Dois Irmãos”.
Depois de loteado todo o terreno cortado da “Casa de Saúde Santa Inês”,
surgiram muitas casas no local. A mais criativa é a de no. 483, igualmente numerada
pela Estrada da Gávea 1, residência moderna erguida nos anos 50 pelo arquiteto
Ângelo Alberto Murgel para a família Lins e Silva, onde funciona desde 1970 a “Escola
Parque”.
ESTRADA DA GÁVEA
A Estrada da Gávea já existia desde 1767, ou mesmo até antes, sendo
denominada em 1878 como “Caminho que ia para a Praia da Gávea”. Foi melhorada
em 1916 pelo Comendador Conrado Jacob de Niemeyer, ganhando o nome atual em
1917, quando incorporou parte da Marquês de São Vicente. Seu primeiro loteamento
surgiu em 1930, origem da rua Capuri. Hoje estaria mais urbanizada não fosse o
crescimento desordenado da “Favela da Rocinha”, surgida em meados dos anos 30.
O 87 da Marquês de São Vicente era a chácara de Da. Eufemia Maria da
Conceição. Em 1940, essa chácara, agora já numerada pela Estrada da Gávea no 47,
propriedade de Da. Alice Torres Valdetaro Perdigão, foi loteada, surgindo a rua Cedro.
Nela, o arquiteto Carlos de Aze vedo Leão fez erguer as belíssimas mansões dos
médicos Drs. Hélio Fraga e Jesse Teixeira, bem como o sobradão de João Proença.
O último número ímpar da Marquês de São Vicente era o 37(1850), chácara de
Da. Vicência Caldas Vianna, irmã do Visconde de Pirapetinga, que morava em frente.
Em 1878, foi demolida e renumerada para 47, depois 89 e, finalmente depois de 1917,
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Estrada da Gávea no. 149. Loteada em 1962, nela surgiu a rua São Boneto e a atual rua
Sérgio Pôrto.
Ao lado dela, no 151, mas ainda em terras que foram de Da. Vicência, surgiu em
1930 a “Casa de Saúde Gávea S/A”, ainda existente.
MARQUÊS DE SÃO VICENTE - BAIXO GÁVEA - LADO PAR
O lado par da rua Marquês de São Vicente era também muito interessante.
Voltando ao Baixo-Gávea, no 4 era em 1879 a chácara do famoso médico e
Conselheiro do Imperador Dr. Manoel José de Oliveira Catta-Preta, fundador em 1874
da “Casa de Saúde Dr. Catta-Preta, Marinho e Werneck”, na Praça XV, que funcionou
até no princípio do século XX no prédio do “Hotel Pharoux”, demolido já nos anos 50.
Seu irmão, Luiz Eugênio Catta-Preta, foi Diretor da “Imprensa Nacional”. Mais ou menos
onde existia sua chácara e já numerado como 52, ergueu-se, em meados dos anos 70,
o “Shopping da Gávea”. Esse moderno centro de compras veio dar nova vida ao bairro,
pois só de uma vez nele se instalou três teatros, os primeiros desde 1958: “Clara
Nunes”(da própria cantora), “Vannucci”(do ator), ambos no 3o. andar, e o “Dos Quatro”,
do ator Sérgio Britto(1923), no 2o. andar.
Um pouco depois, numa fatia da chácara de Catta-Preta, já numerada como 92,
surgiu nos anos 40 uma pequena favela que chegou a possuir 765 moradores em 1950.
Removida em 1951/52, hoje alí existe outro Shopping.
No 8(em 1879), depois 104 e 124, era no século XIX a chácara do advogado,
Almirante e Embaixador Carlos Frederico Taylor, filho do Almirante John Taylor, herói da
“Guerra da Independência”. Carlos Taylor foi co-fundador, juntamente com o Barão de
Drummond em 1872, da “Companhia Ferro Carril Vila Isabel”. Foi também advogado da
“Botanical Garden Rail Road”, de 1868 a 1871. Já no século XX, no lugar da chácara,
abriu-se em 1954 a rua Embaixador Carlos Taylor. Nela, montou a primeira bela casa,
projetada pelo arquiteto Carlos de Aze vedo Leão, o Sr. Carlos Soares Brandão, neto do
Senador por Pernambuco advogado e Conselheiro Francisco de Carvalho Soares
Brandão, Ministro dos Estrangeiros em 1885.
No. 18, residia em 1879 o empresário e Comendador Domingos Xavier da Silva
Braga, dono de fábrica de chapéus e um dos maiores acionistas das “Companhias de
Ferro Carril São Cristóvão” e “Jardim Botânico” em 1892. Seu irmão, Antônio C. da
Silva Braga, era Provedor da “Irmandade do Santíssimo Sacramento da Candelária”.
No 28, residia em 1878 o Sr. Alexandre Pereira de Faria, cujo irmão era
Conselheiro do Imperador e Diretor da “Companhia de Transportes Marítimos” em 1876,
Dr. Joaquim Pereira de Faria. Num dos lotes resultantes do retalhamento de sua
chácara, surgiu, em 1955, a primeira casa noturna do bairro, uma ousadia incrível para
um reduto tipicamente residencial: a “Boite Monte Carlo”, do produtor Carlos Machado,
numerada pela Marquês de São Vicente, 200. Com shows de “vedetes” escritos por
Silveira Sampaio, Teófilo de Vasconcelos e até Antônio Maria, a “Monte Carlo”
protagonizou um dos maiores escândalos no ano de 1958, quando o famoso jóquei
campeão, o chileno naturalizado Luis Rigoni invadiu o camarim da casa de chibata em
chiste assim que soube que sua amante, a vedete Rosinha Lorcal, estava nos braços do
ex-Ministro da Fazenda de Getúlio Vargas, Dr. Napoleão de Alencastro Guimarães. A
notícia era verdadeira e Napoleão saiu às carreiras. Hoje no 200 existe um pacato
sobrado.
MARQUÊS DE SÃO VICENTE - MÉDIO GÁVEA - LADO PAR
Todo o “Médio Gávea”, correspondendo às atuais ruas João Borges, Duque
Estrada, Frederico Eyer e parte da Piratininga eram, em 1809, parte da chácara de Da.
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Josefa Mineiro. Seus herdeiros a venderam à Da. Felicidade Perpétua de Jesus, e esta
ao médico Dr. Domingos de Azeredo Coutinho Duque Estrada, que vem citado adiante.
Em 1925/26 foi loteada, nela surgiu as ruas João Borges, Frederico
Eyer(prolongamento), Piratininga e Duque Estrada(prolongamento da rua Franco).
Numa casa modesta da rua Frederico Eyer, nasceu e morou por muitos anos o
diplomata, poeta e compositor Marcus Vinícius da Cruz de Mello Moraes, vulgo Vinícius
de Moraes(1913-1983).
Em 1878, no 34(hoje 224), já no “Médio-Gávea”, existia a estação de bondes da
“Botanical Garden Rail Road”, inaugurada em 1874 e cujos bondes faziam a linha do
Largo da Carioca até a Marquês de São Vicente em apenas 63 minutos em 1906! E olha
que o bonde ainda dois anos antes era puxado a burros, vindos de Sorocaba, SP. A
linha foi solicitada pela população à companhia ainda em 1873, o que motivou a
Diretoria a solicitar ao Govêrno Imperial a 1o. de abril sua extensão. Em outubro do
mesmo ano foi reforçado o pedido e, sendo deferido, foi concluída a ampliação até
“Olaria” a 15 de janeiro de 1874, sendo inaugurada a estação dia 17. Em dezembro de
1883, prolongaram-na da “Olaria” até a “Ponte da Rainha”, no final da Marquês de São
Vicente, onde hoje é o princípio da rua Cedro. Em 12 de julho de 1887 foi feita uma
experiência com um bonde elétrico, movido a acumuladores “Julien”, na linha da Gávea.
Nesse mesmo dia foi inaugurada a iluminação elétrica da estação, por meio de doze
lâmpadas em arco voltaico, acesas por um desses acumuladores. A linha só foi
totalmente foi eletrificada em 1904. Quanto à estação, resistiu até 1960 como uma loja
de móveis e decorações. Hoje no local está um prédio de apartamentos.
Vale ressaltar que essa primeira iluminação elétrica, em 1887, foi feita não sem
protestos da “Societé Anonime du Gaz”, que assinara com a municipalidade contrato no
ano anterior, privilegiando-a no fornecimento de iluminação à cidade. A coisa foi
resolvida com diplomacia. Posteriormente a “Societé” implantaria a iluminação elétrica
pública, sendo que em 1907 iniciar-se-iam os serviços da “Light”, com a inauguração de
sua usina em “Ribeirão das Lages”. Só em 1907 surgiu iluminação domiciliar na cidade.
ESCOLA MUNICIPAL LUÍS DELFINO
Ao lado, no. 38(hoje 238), fazendo esquina com a antiga rua Franco, hoje rua
Duque Estrada, morou o médico Dr. Domingos de Azeredo Coutinho Duque
Estrada(1812-1900), um dos diretores da “Companhia Botanical Garden”, e igualmente,
acionista da “Companhia de Carris São Cristóvão”. Duque Estrada também era
renomado médico homeopata, tendo sido um dos introdutores da homeopatia no Brasil,
havendo sido em 1858 Diretor da “Enfermaria de Homeopatia do Hospital da
Penitência”. Comendador e Conselheiro do Imperador D. Pedro II., era também
“Provedor dos Socorros Públicos”. Ele havia fundado alí, em 1863, onde morava, um
hospital homeopático denominado “Sanatório da Gávea”. Seu irmão, o engenheiro
Leopoldo César de Andrade Duque Estrada, foi um dos presidentes da “Jardim
Botânico”.
Ao lado de onde era a estação dos bondes, em terreno que foi de Duque Estrada,
hoje, funciona a “Escola Municipal Luís Delfino”. Dessa mesma escola, contam-se
muitas histórias, mas a verdadeira é que o vigário da Igreja Matriz da Lagoa, organizou
um leilão de prendas no “Largo das Três Vendas” em 1871, objetivando captar verbas
para edificação de uma escola primária na freguesia. Nesse mesmo ano, a “Companhia
Botanical Garden Rail Road” estendia suas linhas do Humaitá até o “Largo das Três
Vendas”. Solicitou o vigário que a Companhia ajudasse a angariar verbas para a
edificação da escola. O então Presidente da empresa, o engenheiro americano Charles
B. Greenough(1824-1880), não só aquiesceu, aumentando o número dos bondes em
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circulação no trecho durante o evento, como destinou parte da arrecadação das
passagens do trecho Jardim Botânico-Gávea para o empreendimento. Desde 1875 a
Companhia passou a dar passes gratuitos a todos os estudantes pobres dessa escola.
Isso correspondia de 25.000 a 30.000 passes anuais. A “Escola Luís Delfino”, depois de
pronta, foi oferecida à “Câmara Municipal” pela Irmandade que mantinha a Igreja Matriz.
A Paróquia da Gávea ficou tão agradecida à Companhia, que, em sessão
ocorrida no Consistório da Igreja a 12 de dezembro de 1885, foi a Diretoria da
“Companhia Jardim Botânico”(tomou esse nome após sua nacionalização em 1883)
aclamada como “Protetora da Capela de N. Sra. da Conceição”. O Presidente da
Companhia, João Ribeiro de Almeida, Barão Ribeiro de Almeida(1827-1908), aceitou a
homenagem e desde então a “Jardim Botânico” passou a apoiar todas as festas
promovidas pela Paróquia.
Em 1892 o Gerente da “Companhia Jardim Botânico”, o engenheiro
pernambucano José Cupertino Coelho Cintra, criou o “Expresso da Gávea”, que era um
bonde rápido, só parando nas estações. A novidade durou pouco. Quanto à dita “Escola
Luís Delfino”, foi erguida em terreno cedido pelo Diretor Duque Estrada, desmembrandoo de terras que foram de seu “Sanatório da Gávea”. Em 1883/84, foi diretor dessa
escola o Professor Edmundo da Costa, pai do cronista e historiador Luiz Edmundo.
Duque Estrada, que também foi Vereador pela Câmara Municipal e um dos fundadores,
em 1856, da “Sociedade Propagadora das Belas Artes”, era homem empreendedor, mas
não foi modesto. Mandou arrancar as placas da rua Franco, colocando em seu lugar
outras com nome de rua Duque Estrada!
Aliás, a rua Franco, hoje Duque Estrada, fora aberta em 1875 nos terrenos da
chácara de Da. Felicidade Perpétua de Jesus, uma latifundiária do bairro.
Perto da escola, em 1930, no número 250, foi instalado um posto policial, hoje
substituído por um prédio de apartamentos.
Números depois, onde existiram no século XX as casas 262 e 268, surgiu em
1925 a rua João Borges, um dos donos do “Parque da Cidade”.
Como o clima da Gávea era propício a clínicas de repouso, nos anos 30 surgiu,
no 316, o “Sanatório São Vicente”, especializado em casos nervosos e de intoxicação.
Foram seus fundadores os médicos Drs. Genival Londres, cardiologista renomado(1899197?) e Aluizio Marques. Logo depois venderam o terreno e a clínica mudou-se para a
rua João Borges 204.
Em 1939, os terrenos de no. 300 a 316, já de propriedade de Aurora Lobo
Barbosa e Wilhelm Brandt foram desapropriados para neles se abrir a rua Adolfo Lutz.
Hoje, no que sobrou do 316, funciona o “Instituto Santa Lúcia”, fundado pelo finado
médico Dr. Guilherme Romano.
Logo depois era onde existia em 1809 a chácara de Antônio Maria de Jesus, pai
de Da. Felicidade Perpétua de Jesus, uma das latifundiárias da rua em fins do Império.
Em 1930, já com o no. 328, foi nela aberta a rua Piratininga.
MARQUÊS DE SÃO VICENTE - ALTO GÁVEA - LADO PAR
Já no Alto Gá vea, no 48(em 1879), morou o Dr. Daniel Arthur Horta O`Leary, que
em 1884 era Diretor e Guarda Livros da “Companhia de Barcas Ferry”. Já no século XX,
quando possuía o no. 354 e pertencia à Sra. Nair Augusta de Magalhães, foi
desapropriado, junto com o 430, para neles se abrir em 1944 a rua Raimundo de
Magalhães.
No 50(depois 430), morou no fim do Império o famoso médico cirurgião, o carioca
Barão do Lavradio, Dr. José Pereira Rego(1816-1892), Conselheiro do Imperador para
assuntos de saúde, Médico da “Imperial Câmara”, Inspetor de Saúde nos Portos, Diretor
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do “Instituto Vacínico”, Vereador e Presidente Perpétuo da “Academia Imperial de
Medicina”. Foi o pioneiro no uso de ambulâncias no Rio de Janeiro, possuindo uma frota
de carruagens “Vitórias” adaptadas para esse uso. Era filho do português Visconde do
Lavradio, médico de D. João VI. Suas terras hoje são parcialmente ocupadas desde
1944 pelas casas e terrenos da rua Raimundo de Magalhães. Uma parte final da
chácara do Barão de Lavradio foi finalmente loteada em 1948, daí surgindo as rua
Antenor Rangel e Osório Duque Estrada.
No 56(1879), hoje 432, existiam um correr de chalés de aluguel do Sr. Manoel
Carvalho de Araújo, dos quais ainda existe um, construído em 1881 e tombado pela
municipalidade em 1987, na gestão Saturnino Braga.
No. 60(em 1879), morou o Conselheiro de Estado bacharel Manoel de Jesus
Valdetaro, Intendente Geral de Polícia por três vezes, em 1842, 1844 e 1847.
Presidente da Província do Rio de Janeiro. Elevado em 1889 à Visconde de
Valdetaro(1807-1897). Era neto do português de mesmo nome, bacharel e um dos
povoadores do bairro do Catete em 1787, onde possuía chácara na qual, no século XIX,
ergueu-se o Palácio do Catete. O irmão de Manoel, Alfredo Camilo, foi Presidente em
1893/94 da “Companhia Ferro Carril do Jardim Botânico”.
Ao lado, em 1809, existiam duas pequenas chácaras de Da. Maria Soares. Em
1878, essas duas chácaras, refundidas e já numeradas como 62, morava Bento José
Fernandes, que junto com seu irmão José, eram donos em 1890 da firma “Fernandes &
Irmão”, na rua Humaitá, 55, onde fabricavam e consertavam carruagens.
INSTITUTO MOREIRA SALLES - RUA MARQUÊS DE SÃO VICENTE
Numa fração de suas terras, e já numerado como 476, surgiu em 1951 a
magnífica mansão moderna do embaixador e banqueiro Walter Moreira Salles, projetada
para sua família pelo arquiteto carioca Olavo Redig de Campos(1906-1984). Encravada
em 10.000 m2 de jardins projetados por Roberto Burle Marx(1909-1994), que também
concebeu os imensos painéis de azulejos do pátio, jardim ornado com escultura artística
de Maria Martins e, enquanto residência, possuidora de notável pinacoteca onde
existiam telas de Marc Chagall, Renoir, Van Gog, Matisse e Portinari; a mansão Salles
foi residência familiar por quase quarenta anos. Em 1999, foi convertida na sede carioca
do “Instituto Moreira Salles”, ainda presidido por seu patriarca, dirigida por seus filhos e
por um conselho diretor. Um de seus filhos, João Moreira Salles, banqueiro, nela residiu
muitos anos e, durante a década de setenta, foi considerado um dos homens mais ricos
do Brasil, como seu pai já o fôra nas duas décadas anteriores. Hoje, o casarão,
convertido em centro cultural especializado em iconografia antiga brasileira, guarda
imensa coleção de aquarelas e desenhos de artistas europeus que retrataram o Brasil
do século XIX, bem como muitas fotografias antigas adquiridas do colecionador Gilberto
Ferrez, neto do fotógrafo Marc Ferrez, dum período que vai de 1862 a 1927.
PARQUE DA CIDADE - ESTRADA SANTA MARINHA S/NO.
No 64, hoje Estrada Santa Marinha s/no., morou no século XVIII a Sra. Catarina
de Sene, a qual, após sua morte, seus herdeiros venderam sua magnífica chácara ao
diplomata, Barão de Penedo, médico e embaixador Dr. Francisco Inácio de Carvalho
Moreira (1815-1906). Formado em Direito, foi Doutor pela Universidade de Oxford,
Deputado por Alagoas, Embaixador em Washington em 1853 e Ministro Plenipotenciário
em Londres em 1888. Foi quem cuidou dos interesses do Império em 1875 junto ao
Papa Pio IX, durante a “Questão Religiosa”, entre a Igreja Católica e a Maçonaria
brasileira. Foi Veador da Imperatriz e Membro do Conselho de Estado.
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O Barão não ficou muito tempo com a casa, e logo a revendeu ao também
diplomata, Senador, Conselheiro, Ministro da Justiça em 1848, Estrangeiros em 1848 e
1870/71 e Presidente do Conselho de Ministros em 1870/71, Dr. José Antônio Pimenta
Bueno, Marquês de São Vicente(1803-1878). Formado em Direito, foi juiz de fora e juiz
da alfândega de Santos. Presidente do Tribunal de Justiça, além de Presidente das
províncias de Mato Grosso e do Rio Grande do Sul e Cônsul Geral do Brasil no
Paraguai em 1843/44 e 1850. Após sua morte, a Marquesa de São Vicente(1813-1883)
residiu na casa mais alguns anos.
ANTÔNIO TEIXEIRA RODRIGUES - DADOS BIOGRÁFICOS
Depois de sua morte, sua belíssima chácara foi adquirida dos herdeiros em 1887
pelo empreiteiro português Antônio Teixeira Rodrigues, que, apesar de ter vindo de
Portugal semi-alfabetizado, estudou no Instituto de Belas Artes e obteve por seus
méritos o título de Conde de Santa Marinha(1830?-1900). O Conde forneceu as pedras
para o “Palacete da Ilha Fiscal”, hoje um museu (1881/89); “Alfândega”, hoje “Espaço
Cultural da Marinha”, no Centro(1880); Igreja de N. Sra. de Copacabana, no Posto VI
(demolida, 1885/87); Igreja da Imaculada Conceição, na Praia de Botafogo (1868/81);
Igreja de São João Batista, na rua Voluntários da Pátria(1871/74); Igreja do Sagrado
Coração de Jesus, no Catete(1879); “Banco Hipotecário”, hoje “Procuradoria Geral do
Estado”, na rua Dom Manuel(1861); pórtico do “Cemitério de São João Batista”, em
Botafogo(1859); “Asilo Gonçalves de Araújo”, em São Cristóvão (1897); “Imprensa
Nacional”, no Largo da Carioca (demolida, 1877/79); “Praça do Comércio”, hoje “Centro
Cultural do Banco do Brasil”, na rua Primeiro de Março, 66(1882/1900); “Fortaleza da
Lage”, na Baía de Guanabara(1896/99); “Forte do Imbuí”, em Jurujuba, Niterói
(1896/99); “Lazareto”, na Ilha Grande(1885); e outros. Faleceu em 1900. Sua chácara foi
depois vendida ao Sr. João Vieira da Silva Borges, sendo legada em testamento ao Sr.
João Carvalho Macedo, cuja esposa, Da. Tereza, edificou ao lado da casa principal a
bela capelinha de São Sebastião, onde mandava rezar missa aos domingos e feriados.
O Sr. João Borges era figura importante, tanto que, em suas terras, surgiu em 1931 a
“Estrada João Borges”, rebatizada depois para Estrada Santa Marinha. Depois de 1931
a propriedade foi vendida à família de Guilherme Guinle, a qual, por sua vez, a re vendeu
à Prefeitura em 1938, tendo sediado na casa grande a municipalidade carioca de 1942 a
1948.
Nela igualmente passou a funcionar o “Museu Histórico da Cidade”, de 1941 a
1942, e de 1948 até nossos dias. Os jardins, que ocupam a considerável extensão de
cerca de 57.000m2, foram recuperados em 1948 pelo paisagista Roberto Burle
Marx(1909-1994). Nos anos 60, surgiu nas proximidades uma favela denominada
“Parque da Cidade”, que em 1969 possuía 300 barracos. Hoje é parte da “Rocinha”.
MUSEU HISTÓRICO DA CIDADE
Já o “Museu Histórico da Cidade”, teve vida atribulada.
Criado por decreto municipal em 1891, só efetivamente saiu do papel em 1934
pela iniciativa do Prefeito Pedro Ernesto. Funcionou desde sua origem, em prédio
adaptado no Campo de Sant`Ana. De 1942 a 1948 funcionou em prédio escolar sito á
Praça Cardeal Arcoverde, em Copacabana. Depois de 1948, na Gávea, encontrou a paz
por alguns anos. Fechado em 1968, reabriu dois anos depois. Fechado novamente em
1985, só foi reaberto em 1996, então cedido pelo Estado em regime de comodato à
Prefeitura. Seu imenso acêrvo, valioso repositório de quatro séculos de história da
cidade, foi desmembrado, indo peças para o “Museu dos Teatros”, em Botafogo; “Museu
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do Primeiro Reinado”, em São Cristóvão; “Museu do Palácio do Ingá”, em Niterói; e
outros. É como se vê, um museu itinerante.
O penúltimo morador da rua, na chácara no. 66, era o campista Sr. João Caldas
Vianna Filho, Moço Fidalgo e Cavalheiro da Casa Imperial, Visconde de Pirapetinga
(1837-1895), dono de engenhos em Campos e filho do 5o. Presidente da Província do
Rio de Janeiro (1838 e 1843/44), o Comendador e Deputado campista João Caldas
Vianna. Onde existiu sua chácara foi aberta em 1945 a rua Tenente Francisco Mega,
depois ligada à Estrada de Santa Marinha e em parte tomada pela favela(hoje bairro) da
“Rocinha”.
No 70, era em 1879 a chácara do Sr. Francisco Luiz da Gama Rosa. Hoje, suas
terras estão igualmente tomadas pela “Favela da Rocinha”.
Na virada do século, médicos famosos clinicaram na rua Marquês de São
Vicente. Um deles foi o Dr. José Murtinho (1850-1912), homeopata, grande acionista e
Presidente (1883) da “Companhia Ferro Carril Carioca”, de Santa Teresa, irmão do
igualmente médico homeopata e engenheiro Joaquim Murtinho (1846-1911), Ministro da
Fazenda de Campos Sales (1898-1902), e também Presidente da dita “Companhia
Ferro Carril Carioca” (1893-1906).
Dos últimos moradores ilustres que me lembro, vale ressaltar que na Marquês de
São Vicente, em casa modesta no Alto Gávea, morou no fim da vida e alí faleceu o
Marechal Pedro Aurélio de Góes Monteiro (1889-1956), alagoano, Ministro do Exército
de Getúlio Vargas em 1934/35 e 1945/46, e Chefe de seu Estado Maior por muitos
anos, em 1935/45 e em 1951/54.
Já no século XX, depois da Abolição da Escravatura e da República, o único solar
que ainda manteve algum esplendor das festas dos tempos imperiais foi o de Da.
Germana Barbosa, na Rua Marquês de São Vicente, já demolido.
GRANDE PRÊMIO CIDADE DO RIO DE J ANEIRO (CIRCUITO DA GÁVEA)
Em 1933, a pacífica rua Marquês de São Vicente tornou-se pista de partida para
o famoso “Circuito da Gávea”, corrida de carros de fórmula livre.
A idéia partiu no ano anterior do empresário cinematográfico e teatral Francisco
Serrador, que logo contou com a adesão de automobilistas como Manoel de Tefé, Irineu
Corrêa, Rubens Abrunhosa, Chico Landi e o português Fernandes Silva. Comprou a
idéia e a desenvolveu o Dr. Lourival Fontes, Chefe do “Departamento de Turismo e
Certames” da Prefeitura; e do “Automóvel Club do Brasil”. Denominado oficialmente
“Grande Prêmio Cidade do Rio de Janeiro”, foi realizado pela primeira vez no dia 08 de
outubro de 1933, sagrando-se vencedor Manoel de Tefé, numa “Alfa-Romeo”, que fez o
percurso em 3h19`24``, desenvolvendo a impressionante (para a época) velocidade
média de 67,15 km por hora. Seguram-se-lhe Primo Fioresti(Ford), Nino Crespi(Bugatti),
E. MacCarthy(Chrysler) e Vittorio Coppoli(Bugatti). Manoel de Tefé recebeu como
prêmio, a fantástica soma de 25 contos de réis.
O roteiro era complicado e perigoso.
A largada era, a princípio, no fim da Avenida Visconde de Albuquerque, em frente
ao antigo “Hotel Leblon”. Os carros iam em direção à Avenida Niemeyer, passavam pela
“Gruta da Imprensa”, subiam a “Rocinha” e desciam pela Rua Marquês de São Vicente,
calçada a paralelepípedos e com trilhos de bonde, terminando após vinte voltas (223, 2
km) no ponto de partida. Depois, a largada passou a ser na Rua Marquês de São
Vicente.
Partia da Marquês de São Vicente, ia pela Visconde de Albuquerque, no Leblon,
pegava a Av. Niemeyer, de lá subia pela Estrada da Gávea até a Marquês de São
Vicente novamente. Nalguns anos inverteram esse percurso. Repetia-se esse roteiro
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vinte e cinco ve zes, totalizando 279 quilômetros. Era, portanto, um circuito que exigia
extrema resistência do piloto e da máquina. O trecho mais perigoso do circuito era o
“Trampolim do Diabo”, cheio de curvas, compreendido hoje pelo início da Estrada da
Gávea, onde havia a famosa “Curva em S”.
O mais grave acidente do “Circuito da Gávea” ocorreu em 1937 com Irineu
Corrêa, o grande vencedor de 1934. Ao largar, logo na primeira volta, seu carro Ford-35
subiu ao meio-fio numa curva em frente ao “Jocquei Clube”, bateu numa árvore, sendo
Irineu retirado das ferragens já morto. Antes disso, em 1934, também morrera Nino
Crespi, quando sua barata foi de encontro a um poste na Rua Marquês de São Vicente.
Naqueles tempos, os corredores participavam das corridas por amor ao esporte.
Os carros não tinham a segurança dos de hoje e os corredores não usavam capacete. O
“Circuito da Gávea” era sempre um dia de festa. Os próprios corredores iam de
madrugada preparar a pista, colocando sacos de areia nos pontos mais perigosos.
Havia até uma corredora, a francesa Helenice, uma das primeiras mulheres a
pilotar uma barata de corrida. Fez sucesso, não tanto pela sua perícia ao volante, mas
pelas fotografias que tirava na praia do Leblon num maiô de duas peças e fumando
cigarro...
Tais corridas passaram a ser realizadas regularmente em junho, todos os anos,
somando os prêmios a polpuda quantia de cem contos de réis.
Duraram até 1954, tornando famosos nomes como os do italiano Carlo
Pintacuda(que venceu em 1937), o argentino Juan Manuel Fangio, que disputou em
1952, só conseguiu completar duas voltas; e os brasileiros Irineu Corrêa(venceu em
1934), e Chico Landi(1907-1987), vencedor dos prêmios de 1938, 1941 e 1947. De
quebra, Chico venceu o “Grande Prêmio de Bari”, em 1948. O maior duelo ocorreu em
1937, entre o alemão Von Stuck, com sua “Auto-Union”, e o italiano Carlo Pintacuda,
que acabou vencendo. O último grande vencedor foi o Barão Graffenried, com sua
Masseratti, em 1953.
O “Circuito da Gávea acabou em 1954, substituído pelo automobilismo
profissional da “Fórmula Um”. Não existia mais espaço para o romantismo nas
corridas...
ARQUITETURA MODERNA NA GÁVEA
Foi o bairro da Gávea foi o segundo do Rio depois de Copacabana a ter obras de
arquitetura moderna. Já em 1933, os arquitetos Lúcio Costa(1902-1998) e Gregori
Warchavchik(1896-1962) ergueram no Alto Gá vea a residência Duarte Coelho, já
demolida. Jorge Machado Moreira(1904-1988) ergueria outra casa moderna na Marquês
de São Vicente em 1936 e, sete anos depois, Oscar Niemeyer(1907) levantaria também
no “Alto Gá vea” a residência Prudente de Morais Neto(1905-1989), originalmente
pensada para a Pampulha, em Belo Horizonte, mas executada no Rio. Está de pé.
Tornou-se a Gávea no século XX bairro de conteúdo social heterogêneo, com
concentração de classes(A, B e C) em respectivos sítios(alto, médio e baixo Gávea), e
no presente momento, passa por grandes transformações.
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