mulheres no congresso nacional

Transcrição

mulheres no congresso nacional
Revista
Ano 1 - número 02 - 2016 - R$ 12,90
Observatório Feminin
Mulheres
no Congresso
Nacional
A força e o perfil da bancada feminina
na política brasileira
EMBARQUE IMEDIATO
Jericoacoara, no Ceará, é sinônimo de paraíso,
simplicidade e deslumbramento
Cirurgia plástica
A relação de consumo entre paciente
e cirurgião plástico
Revista
Ano 1 - número 02 - 2016 - R$ 12,90
Observatório Feminin
Mulheres no
Congresso Nacional
A força e o perfil da bancada feminina
na política brasileira
EMBARQUE IMEDIATO
Jericoacoara, no Ceará, é sinônimo de paraíso,
simplicidade e deslumbramento
Cirurgia plástica
A relação de consumo entre paciente
e cirurgião plástico
66
colunista
editorial
4
editorial
Muito se falou em “Primavera das Mulheres” nos últimos meses. A internet e os veículos de comunicação,
em geral, viraram um campo de batalha a favor da militância feminista. A voz delas ganhou mais força
e espaço no mundo. Foi um período de posicionamento e de transformação.
Nós, do Observatório Feminino, nos sentimos parte desse empoderamento e recrutadores desses
exércitos. Mas o caminho ainda é longo e, apesar de remeter à primavera, não é feito só de flores. Do
esporte ao mundo corporativo, do seio familiar à política... Há muito para mudar.
Em pleno 2016, menos de 10% das cadeiras dos congressistas brasileiros são ocupadas por mulheres.
Uma conta amarga para um país que tem tantas heroínas capazes de construir uma própria história.
Um país com nomes como o de Marta Freire, que entre 2010 e 2014 assumiu a função de defensora
pública de Pernambuco, outorgando uma importante reforma da entidade; como o de Carlota Pereira
de Queirós, primeira deputada federal do Brasil; como o de Maria da Penha, líder de movimentos de
defesa dos direitos da mulher e vítima emblemática da luta contra a violência doméstica.
Nomes de uma lista extensa que, não por acaso, inspirou a segunda edição da Revista OF, desde a
matéria de capa, sobre o perfil das nossas congressistas, ao texto da deputada Terezinha Nunes, que
comemora o direito ao voto feminino no Brasil.
Esta revista é feita para vocês, para mim e para elas.
Viva a nossa primavera!
Ana Karla Gomes
Publisher
Revista Observatório
Feminino No 02
Ana Karla Gomes é advogada especialista em processo civil pela UNICAP* e em direito penal pela UBA*, presidente
do Instituto Jaboatão Criança, Publisher da Revista OF e editora executiva do Observatório Feminino.
Trabalhou no TJPE* como assessora de desembargador criminal.
*
UNICAP - Universidade Católica de PE | *UBA - Universidade de Buenos Aires | *TJPE - Tribunal de Justiça de PE
expediente
6
equipe
expediente / colaboradores
março/2016
Publisher Ana Karla Gomes
Lulu Pinheiro
Editora-Assistente Talita Corrêa
Relações Públicas Rose Blanc
Redação Estevão Soares
Lúcia Helena Pinheiro Lins,
conhecida por Lulu Pinheiro, é
formada em comunicação social – publicidade e propaganda
– pela Universidade Federal de
PE e em direito pela Universidade Católica de PE. Fotógrafa
há 15 anos à frente da Agência
Portrait, Lulu contribuiu com
as fotos da seção Agito Social.
Projeto Gráfico SPOT Comunicação
Direção de Arte Rosana Pereira
Assistente de Arte Mariana Dias
Consultoria Patricia Almeida
Projetos Especiais Flavia Gozoli
Colaboradores
Josilene Corrêa (revisão), Gustavo
Moura Lelis, Paloma Amorim,
Teresinha Nunes,(textos). Lulu
Pinheiro, Marcelo Ferreira (fotos)
Tratamento de Imagens
SPOT Digital
Impressão e pré-impressão
EGB Editora Gráfica Bernardi Ltda
Atendimento ao Leitor
[email protected]
A Revsita OF é uma revista da empresa
Observatório Feminino Serviços de
Internet. Av. Bernardo Vieira de Melo,
3462, sl 1306. Edifício Vema Business
Center, Piedade -Jaboatão dos Guararapes,
PE. CEP: 54410-010.
As matérias assinadas não expressam
necessariamente a opinião da revista.
A revista não se responsabiliza pelos
preços, que podem sofrer alteração,
nem pela disponibilidade dos
produtos anunciados.
7
equipe
Talita Corrêa
Pós-graduanda em direitos humanos, Talita Corrêa é
formada em jornalismo. Já atuou como repórter do jornal
Extra do Rio de Janeiro e como editora de conteúdo web da
Rede Globo. Foi colaboradora das revistas Continente e Vice, e
agora é editora-assistente do Observatório.
Patricia Almeida
Rose Blanc
Com mais de 10 anos de
experiência em publicidade
e mídia online, Patricia já
esteve à frente de grandes
negócios com empresas como
Fhits, O2 Filmes, Vogue,
Globo e Glamurama. E fez a
consultoria geral desta edição
a convite de Ana Karla Gomes.
Rose Blanc é membro do Comitê Nacional de Cerimonial
Público, chefe do Cerimonial da Prefeitura do Jaboatão dos
Guararapes e relações públicas do Observatório Feminino.
No OF, ela ainda assina matérias e séries especiais nas áreas
de comportamento, decoração e gastronomia.
Marcelo Ferreira
Estevão Soares
Marcelo Ferreira é repórter
fotográfico da Prefeitura
Municipal de Jaboatão dos
Guararapes/PE há 8 anos. Tem
longa experiência em cobertura
de cerimônias matrimoniais.
Formado em moda, Estevão Soares é consultor de imagem,
personal stylist e colaborador do Observatório Feminino,
na coluna Estilo.
Agradecemos a colaboração dos parceiros:
Madame Gateau, LPM Produções, Vinhos Rio Sol, Brava Digital e Redatoria.
observatoriofeminino
@observatoriofeminino
ObsFeminino
índice
8
índice
9
índice
10 Dicas OF
42
Cultura em cena
38 Perfil/Personalidade
Uma lista com tudo que merece
ser visto por aí
Lia Araújo
A empresária de moda que driblou a crise
12 Testamos
42 Embarque Imediato
Cosmético
Como funciona o creme com efeito
botox instantâneo
Jericoacoara
A vila cearense que arrebata corações
14 Trend
Itens-desejo
Sugestões de produtos que são
sinônimo de estilo
50 Giro Gastronômico
10
Kiko Selva
Um papo de cozinha com o chef
pernambucano
50
16 Estilo
54 Comportamento
O que diz sua imagem
Sogras e noras
Clássica, contemporânea, poderosa
ou casual?
Os melindres de uma relação obrigatória
60 Colunas
22 Matéria de capa
Reflexão: Fe-mi-nir
Mulheres na política
Ser feminista é estar à prova
Um perfil do Congresso feminino
Seus Direitos: Cirurgia
plástica
34 Bem-Estar
não é contrato de risco
Doulas
66 Colunista OF
O que é preciso para ser assistente
de parto
Direito pela metade
22
Artigo de Terezinha Nunes sobre
o voto feminino
54
dicas
10
dicas
novidades!
Dos cinemas às livrarias, dos teatros à televisão, uma lista com tudo
que merece ser visto por aí
por Talita Corrêa
Série de TV
Jessica Jones:
aposta da Netflix
Série lançada pela Netflix no final
de 2015, Jessica Jones ganhou um
exército quase inesperado de fãs
já na primeira temporada. Não
foi por acaso. A ficção televisiva
andava carente de heroínas
como J.J., personagem tirada de
um quadrinho estadunidense
publicado pela Marvel Comics.
Krysten Ritter, atriz que vive
essa detetive particular cheia de
traumas e superpoderes, começou
2016 garantindo que a produção
vai ganhar uma segunda
temporada.
Livro
“Um homem para cada ano que passei com você”
O livro 32 – Um Homem para Cada
Ano Que Passei com Você conta
a história real de Isabel, uma
mulher de meia-idade que passou
32 anos casada com o mesmo
homem. Em meio a uma vida
tradicional – com filhos e casa
tranquila no interior paulista –,
ela descobriu que foi traída mais
de uma vez pelo companheiro.
No lugar da dor ela colocou
um desafio: ficar com um novo
homem para cada ano em que
passou casada.
Autora: Isabel Dias
Editora: Da Boa Prosa
Edição: 1
11
Documentário
Malala em doc
O documentário Malala
reconta parte da história de
Malala Yousafzai, uma jovem
paquistanesa atacada pelo
Talibã por defender o direito das
mulheres à educação. Seu ativismo
lhe rendeu um Prêmio Nobel
da Paz, em 2014, e a tornou um
símbolo de luta e resistência ao
redor do mundo. O trunfo do
documentário é apresentar ao
espectador o contexto de vida e a
família em que Malala foi criada.
Música
Musical
O Musical
Mamonas
Vinte anos após do desastre aéreo
que matou os integrantes do
grupo Mamonas Assassinas, os
fãs de Dinho, Júlio Rasec, Alberto
Hinoto, Samuel Reis e Sérgio Reis
ganham a oportunidade de rever
a história da banda de sucesso
meteórico em O Musical Mamonas.
Embora a primeira temporada
de apresentações só tenha sido
confirmada para a cidade de São
Paulo, é muito possível que a
produção, com direção geral
de José Possi Neto, visite, ao
longo de 2016, outras regiões
do Brasil, diminuindo um pouco
a saudade do público.
Liniker Cru
Liniker, músico de 20 anos
nascido no interior de São Paulo
(em Araraquara), é mais do que
brincos grandes, batom vermelho,
turbante, suingue de soul
music, olhar seguro e voz única
emproada. O garoto é uma das
promessas da música brasileira,
e suas influências de samba e
jazz, performances teatrais e
composições viscerais dão ao
seu trabalho uma roupagem
de black music pouco vista na
“nova sonoridade” brasileira.
Seu EP Cru, lançado no fim de
2015, tem mais de 1 milhão de
acessos no YouTube. O resultado
é uma turnê nacional confirmada
em 2016 e outra internacional
em vista, ao lado de sua banda,
Liniker e os Caramelos.
Cinema
Carol
Filme de Todd Haynes, Carol
mostra o amor de duas mulheres
numa Nova York dos anos 50.
É o tipo de história que usa
olhares, toques, gemidos e outras
sutilezas para substituir diálogos
inteiros. Trilha sonora, fotografia
e a entrega sempre apaixonante
das atrizes Cate Blanchett e
Rooney Mara transformam o
longa numa obra de entrelinhas
inexplicáveis e poderosas.
12
dicas
Rejuvenescimento
sem agulhas
Creme com efeito de botox instantâneo
promete revolucionar o mercado cosmético
Quando o assunto é vaidade,
o mundo se divide entre quem
já experimentou os milagres
do botox, quem tem medo da
dor e do efeito artificial das
agulhas e quem não descarta
a possibilidade de encarar a
aplicação dele no rosto.
Portanto, quando uma
empresa do mercado estético
promete apresentar um
creme com efeito de botox
instantâneo para reduzir
olheiras, rugas, bolsas nos
olhos e marcas de expressão
após três minutos, muita gente
fica animada para conhecer.
Desde que a Vivify Cosmetics,
empresa brasileira de
dermocosméticos, lançou
o Be Young, não se fala em
outra coisa nos blogs de
beleza. Mas será que essa
novidade funciona mesmo?
A gente tratou de descobrir.
Primeiro, é preciso saber
que um dos componentes
essenciais para conseguir
o resultado instantâneo
prometido pelo produto é
o argireline, um composto
que ajuda a pele a produzir
colágeno e a reduzir linhas de
expressão, funcionando como
um “botox sem agulhas”.
Acredite: o efeito do creme
pode durar até oito horas.
A fórmula ainda possui
13
dicas
minerais específicos para
atingir áreas que perderam
a elasticidade, promovendo
um efeito tensor na pele, ou
o famoso “efeito Cinderela”.
Usado uma vez ao dia, por
pelo menos um mês, o Be
Young, que também funciona
como um creme de tratamento
duradouro, pode melhorar
sua pele em até 30%. A gente
amou os resultados imediatos
e de curto e médio prazo do
Be Young. Ele dá a sensação
de que, graças ao mundo
dos cosméticos, milagres da
beleza realmente existem.
Como usar o Be Young?
Primeiro, limpe a pele com
água e sabão e seque bem
com a toalha. Depois, com
leves “tapinhas”, aplique
uma pequena camada de Be
Young na região desejada.
São recomendadas até três
aplicações por dia, que devem
ser feitas na área dos olhos
(bolsa e linhas de expressão) e
nas rugas e demais linhas de
expressão, como contorno da
boca, pescoço e colo.
O que é o argireline?
Ele é considerado, atualmente,
o peptídeo mais poderoso
e avançado do mercado de
cosméticos para minimizar
rugas. O argireline
promove um tipo de
relaxamento, inibindo
temporariamente a
ação de enzimas
que provocam
as contrações na
pele. Ele ainda
ajuda na produção
de colágeno
e na redução
e prevenção
das linhas de
expressão
e rugas.
Posso usar maquiagem e
protetor solar após aplicar
o Be Young?
Sim, após a pele absorver o
produto. Mas é preferível que
a maquiagem e o protetor não
sejam em forma líquida.
Posso usar o Be Young a
partir de qual idade?
O produto foi elaborado para
atender as necessidades da
pele a partir dos 25 anos. A
formação de rugas e manchas
faz parte do processo
natural da pele, bem como a
mudança de textura e perda
de tonicidade. Quanto mais
idade a pele tem, menor sua
produção de colágeno e,
consequentemente, menor
a elasticidade dela – por
isso é importante usar um
cosmético que estimule
a produção de colágeno.
Pessoas com mais de 65 anos,
fumantes e as quem têm
a pele danificada pelo sol
podem ter resultados menos
efetivos. O importante é que o
uso constante melhora a pele
de um modo geral.
O Be Young com 10 g rende mais de
50 aplicações. Produto aprovado pela
Anvisa e testado dermatologicamente.
Vendas: vivifycosmetics.com ou 0800
038 6098 (quem ligar neste número
e disser que viu a matéria na revista
OBSERVATÓRIO FEMININO
terá um desconto especial).
vivifycosmetics
@vivifycosmetics
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trend
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trend
Óculos de sol PatBo
Nécessaire da Kipling
O nécessaire Roozie
Champagne Metal da Kipling
é despojado, charmoso e
prático. Perfeito para ajudar
a organizar a bolsa de mão
ou reunir coisas de viagem.
R$ 199
Elysée, 50 ml, O Boticário
do luxo
ao básico
Uma lista de “itens-desejo” do
momento para mostrar que
praticidade, estilo, conforto e
charme podem andar juntos
Biquíni Rush Praia
Hot pants e top raízes com
estampa Beija-Flor da marca
Rush Praia. O conjuntinho
é ideal para encher os dias
de verão com conforto e
colorido. R$ 150
O Elysée Eau de Parfum, de
O Boticário, traz a sofisticação
feminina marcada por
notas de mandarina Orpur,
maçã com canela e sândalo
da Austrália em um fundo
amadeirado.
R$ 179
A PatBo, marca mais jovem
e pop de Patricia Bonaldi,
agora vem apostando em
óculos e outros acessórios
exclusivos. Os óculos de sol
da sua primeira coleção
seguiram a tendência das
armações quadradas com
lentes em dégradé.
R$ 708
Sandália Sued,
Luiza Barcelos
Sandália meia pata com
salto grosso, forrada em
camurça com recorte frontal,
tiras finas transpassadas e
fechamento em fivela. As
variações do vinho estão
entre as promessas de 2016.
R$ 299
Turenne Nano,
Louis Vuitton
Havaianas FARM Bloco
de Cores
A coleção de Alto Verão
2016 da Havaianas FARM
chega com estampas inéditas.
O mood praiano, vivo e cheio
de boas energias, aparece
bem nas Havaianas Bloco
de Cores.
R$ 54
Pulseira Animale
A ideia da Animale era lançar, em 2015,
uma coleção de joias com a cara do Dia
dos Namorados. Mas a linha de peças com
topázios pinks, lapidados em formato de
corações, virou uma releitura atemporal –
e “apaixonada” – das rivieras clássicas.
R$ 6.590
A ultrafeminina Turenne
Nano, em icônico canvas
Monogram, é ideal para
carregar itens essenciais,
como celular, chaves e
cartão de crédito, com
conforto e sofisticação. Esta
versão em miniatura da
bolsa Turenne original é
idêntica à versão maior,
desde a costura.
R$ 4.650
Porta-bijoux da Imaginarium
Porta-bijoux todo feito em poliéster
com acabamento acolchoado para
você organizar seus brincos, anéis e
colares e ganhar elogios. A estampa
de flores e poás é para garantir o
charme na decoração.
R$ 49,90
16
estilo
estilo
Imagem
pessoal
O resultado de um casamento entre personalidade e estilo
texto e ilustração Estevão Soares
Que imagem você quer passar
ao mundo? Esta pergunta envolve mais autoconhecimento
e menos decisão do que a gente
imagina. Nossa “assinatura pessoal” não diz respeito somente
ao sapato que usamos e ao corte de cabelo que escolhemos.
Ela fala sobre a maneira como
vemos as coisas, como rimos,
comemos, andamos e tratamos
as pessoas. A reunião de todas
essas características é um espe-
lho da nossa essência e indica
em que tribo nós melhor nos
encaixamos quando o assunto é
estilo. Não é uma questão de reforçar estereótipos, mas aceitar
que, entra coleção, sai coleção,
começa geração, sai geração, as
mulheres ainda seguem traduzidas por quatro tipos básicos
de retrato comportamental e
estético. Já parou para pensar
qual é o seu e de que modo você
vem sendo fiel a ele?
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estilo
Clássica
É uma mulher que não segue
modismos, apesar de se permitir usufruir da moda quando
lhe convém, mesclando um
toque fashion, quando necessário, às suas produções. Ela
busca usar roupas sempre bem
cortadas, em tons preferencialmente neutros (a clássica adora
usar preto, branco, bege e toda
gama que agrega o chamado
nude, bem como o cinza em todas as suas variações), tecidos
finos em roupas duráveis.
Vale destacar que essa mulher
sempre prefere ter poucas peças, mas todas elas de extrema
qualidade, em vez de guardar
muitas opções “descartáveis”
em seu acervo. A mulher
clássica não quer ser igual a
todo mundo. Seu senso apurado para peças bonitas e
composições classudas a ajuda nessa missão.
A clássica sempre conseguirá
usar com muita propriedade
roupas básicas, dando a elas
uma leitura sofisticada e autoral, afinal, ela não abre mão de
ser o que é, mesmo em se tratando de uma camiseta branca
e um par de jeans: uma mulher
com um senso estético apurado, de muita opinião e, geralmente, de personalidade forte.
Contemporânea
Moderna, essa mulher é antenada em todas as transformações que acontecem no mundo
e está sempre aberta ao novo,
conseguindo assimilar com
uma rapidez peculiar todas as
inúmeras informações apresentadas. Ela consegue se recriar a
todo tempo.
Destemida, costuma enfrentar
de cara mudanças abruptas,
como cortar ou pintar radicalmente o cabelo e dar ouvidos
a quem ela quer ser naquele
“A clássica sempre
conseguirá usar com muita
propriedade roupas básicas”
momento. Ela é sensível, o que,
aliás, é importante para o seu
senso apurado para a ousadia.
E não espera acontecer. Simplesmente faz. Inova.
Para ela, é melhor combinar
uma peça Giorgio Armani comprada em Milão com uma sem
marca garimpada naquele brechó ou feirinha bem “hype”,
que encontrou em uma de suas
andanças pelo mundo.
estilo
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estilo
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estilo
Às vezes, as suas combinações
não são entendidas. Mas quem
disse que ela se importa? Afinal,
a contemporânea é naturalmente desapegada a rótulos e
inevitavelmente estará sempre
com um olhar mais adiante no
tocante a roupas e afins.
Poderosa
Ela nunca passa despercebida.
Além de ser muito simpática,
inevitavelmente exala uma sensualidade natural, que a acompanha não necessariamente nas
roupas, mas nos gestos, como
o falar, andar e conduzir uma
simples conversa.
Muito feminina, sempre optará por fugir de qualquer combinação que a faça parecer
com uma “mocinha”. Ela tem
a plena consciência de que é
mulher e do poder que tem nas
mãos pela condição que ocupa,
por isso, dificilmente largará o
salto alto, cores mais quentes
como o vermelho e peças com
a sensualidade no DNA, como
saias lápis e vestidos que modelam o corpo.
Ela não é periguete, nada contra esse tipo, que também poderia ser tratado aqui como
um estilo. Mas a poderosa sabe
dosar. Não peca por excesso e
usa a roupa a seu favor. Ela se
conhece e entende os pontos
que precisa valorizar e escon-
der em seu corpo. Não força a
barra, simplesmente é exuberante, brilhando sempre com
muito bom gosto.
Casual
Essa mulher é a personificação
da alegria. Preza bastante pelo
conforto, o que não quer dizer
que seja desleixada. Conforto
não é ir ao supermercado de pijama, mas abrir mão de certas
vaidades, seja por falta de tempo ou de apego a elas.
Seria inevitável lembrar da
mulher carioca, a mais esporte dentre todas para mim. Pele
dourada, cabelos soltos ao
vento, pernas de fora e “pés no
um banho de mar, um passeio
sem destino certo, uma viagem
repleta de aventura, sempre
acompanhada de uma roupa
levinha e charmosa em linho
ou algodão, que reflete o seu
espírito libertário, composto
por acessórios charmosos que
sempre conferem ao “conjunto da obra” um tom original.
O amor que ela tem pela vida é
–
contagiante. “Ela tem a plena consciência
de que é mulher e do poder
que tem nas mãos”
chão”. Sempre atenta à saúde
– o corpo em dia é quase uma
regra para ela e é parte importante do seu estilo –, essa mulher está ligada ao que come e
aos cosméticos que costuma
usar – nada de cheiros fortes,
a fragrância tem que exalar o
seu frescor.
Ela dá valor às pequenas coisas: um pôr do sol na praia,
22
capa
capa
Congresso de
Tejucuapo
Um traçado da bancada feminina na atual política brasileira
por Talita Corrêa
Maria Camarão, Maria Quitéria, Maria Clara e Maria Joaquina. As Marias de Tejucupapo formaram, em 24 de abril
de 1646, a primeira resistência
coletiva feminina de que se tem
notícia neste país. Foram elas
que, há quatro séculos, num domingo sem homens no distrito
pernambucano, colocaram um
exército de invasores estrangeiros para correr de suas terras e
figuraram, como heroínas, uma
das mais famosas batalhas do
Brasil Holandês.
Dispostas a proteger suas casas, seus plantios de mandioca
e suas famílias, as guerreiras
camponesas puseram água para
ferver, colocaram pimenta em
tachos e panelas de barro e, escondidas em trincheiras, usaram essa mistura para atacar os
olhos dos soldados inimigos.
Saíram vitoriosas, sem saber,
àquela, época, que já estreavam
o jeito feminino brasileiro de
guerrear e fazer política.
Hoje, nesse começo lento de
2016, as mulheres representam
mais da metade da população
do Brasil. No Senado Federal,
12 cadeiras são ocupadas por
elas. Na Câmara dos Deputa-
23
24
capa
capa
dos, 51 nomes formam uma
tímida bancada feminina. Ou
seja, temos, atualmente, 63 mulheres dentre as 594 cadeiras do
Congresso Nacional (10,6%).
Para quem é bom de contas,
mas ruim em história, vale explicar: são essas mulheres que
andam trabalhando nas trincheiras do parlamento e brigando para assumir as atuais
lutas do país, mesmo sem dispor de arsenal igual aos dos
homens. Mesmo sem contar
com suas armas de posicionamento social, de credibilidade
profissional e de força patriarcal. Mesmo sozinhas.
São essas mulheres que, de um
modo geral, estão buscando
alternativas originais e forças
quase intuitivas para driblar a
“Hoje, muitas mulheres podem desenvolver seu potencial de gestão pública. E
essa capacidade vai muito além das paredes do Congresso. Em São Paulo, por
exemplo, a maioria das lideranças de bairro é formada por mulheres. Elas não só
brigam pela melhoria da vida de sua família, mas de toda a comunidade. Cobram
por vagas em escolas, como também estão atentas à verba que o município dispõe
à educação. Enquanto era vereadora, recebia muitas mulheres em meu gabinete
que reivindicavam acessos, tratamento adequado para o filho, transporte adaptado,
medicamentos, igualdade... Elas carregavam consigo virtudes que todo político
deveria ter: sensibilidade e forte envolvimento com questões sociais, características
que, para muitos homens, exigem um esforço maior para aflorar. Meu objetivo
é trabalhar por um Congresso que represente de fato a voz das pessoas, sem
roubalheira e corrupção. A população brasileira está carente de bons exemplos
na política e de um olhar mais humano para questões preponderantes, como a
educação e a saúde.”
Deputada Federal Mara Gabrilli (PSDB / SP)
desigualdade de gênero e falta
de espaço e representação na esfera pública. São elas que, com
água fervente nas mãos, vêm
incomodando e surpreendendo
diariamente os militantes do
machismo político.
Esta matéria de capa da segunda revista OF é justamente um
traçado do Congresso Nacional
Feminino, o novo Congresso
de Tejucupapo. Para construí
-lo, entramos em contato, por
e-mail ou telefone, diretamente
ou através de assessoria, com
todas as deputadas federais do
país, e com parte das senadoras
eleitas. Um trabalho de mais
de três meses que ensaia,
por fim, um perfil da congressista brasileira.
Na Câmara dos Deputados, so-
25
Na página de abertura, a deputada federal
Mara Gabrilli, do PSDB / SP.
Abaixo deputada federal Elcione Barbalho
capa
26
capa
“O Congresso não só é predominantemente masculino, como também é
ultraconservador. Pautas importantes como direitos sexuais e reprodutivos
não encontram muto espaço para o necessário debate e, no contexto atual,
prevalecem as pautas que em nada contribuem para o necessário e efetivo
combate à desigualdade de gênero. Como relatora da Lei Maria da Penha,
acredito ser fundamental manter essa pauta viva na política. As mulheres
vítimas deste tipo de violência precisam, cada vez mais, encontrar serviços
disponíveis para sua proteção e atendimento.”
Deputada Federal Jandira Feghali (PCdoB / RJ)
mos em grande número jovens
e com DNA político na família.
Isso significa, de um modo geral, que ainda, e infelizmente,
dependemos muito dos homens para abrir as portas das
candidaturas e fiar nossa credibilidade diante do eleitor brasileiro. Os exemplos são muitos: formada em direito, Bruna
Furlan (PSDB-SP) foi reeleita
deputada federal em 2014 e é
filha do ex-prefeito de Barueri.
Também formada em direito,
Ana Perugini (PT-SP) ajudou
a fundar o PT em Hortolândia
(SP) e é mulher do ex-prefeito
da cidade. Raquel Muniz (PSC
-MG) é médica e primeira-dama
de Montes Claros, em Minas
“O número de mulheres no Parlamento brasileiro não reflete a nossa
representação na sociedade. Este já é um primeiro grande desafio:
aumentar a participação feminina na política e nas instâncias de poder.
Além disso, enfrentamos os problemas que as mulheres enfrentam
em seu cotidiano, nos lugares de trabalho ou estudo: expressões de
machismo das mais variadas formas, somos subestimadas e temos que
nos impor para garantir espaços e representação.”
Deputada Federal Luciana Santos (PCdoB / PE)
Gerais. A deputada Rejane Dias
é mulher do governador eleito do Piauí, Wellington Dias.
Renata Abreu (PTN-SP) é filha
do ex-deputado José de Abreu
e dirige o Centro de Tradições
Nordestinas. Shéridan (PSDB
-RR) foi secretária da Promoção
Humana e Desenvolvimento
em Roraima, de 2008 a 2014,
no governo de José Anchieta,
seu marido. Jornalista e filha
do ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho (PR),
Clarissa Garotinho (PR-RJ) é de
Campos dos Goytacazes (RJ),
cidade que tem sua mãe, Rosinha Garotinho, como prefeita.
A deputada Cristiane Brasil
(PTB-RJ) é formada em direito
e filha do ex-deputado Roberto
Jefferson.
Além do estigma de deputadas
-peixe (aquelas introduzidas na
política por maridos ou pais),
muitas das mulheres hoje eleitas precisam lidar com o posto
infame de “musas da bancada”.
27
28
capa
capa
mulheres da política, também
temos muita sensibilidade e
privilégios em comum.
“As mulheres ainda não têm
no Brasil condição de concorrer
em igualdade com os homens.
Mas temos qualidades que não
podem ficar de fora da vida política do país”, avalia a senadora
Marta Suplicy (PMDB/SP), que
tem reivindicado uma cota mínima de 30% das cadeiras nos
parlamentos para mulheres e
foi a primeira mulher vice-presidente do Senado Federal.
Nossas histórias pessoais como
mães, militantes feministas,
atletas de superação e profissionais engajadas são panos de
fundo poderosos para nossas
propostas e nossas bandeiras no
parlamento. Reeleita, Mara Gabrilli (PSDB-SP) é publicitária e
psicóloga e se tornou vice-líder
do PSDB na Câmara no primeiro mandato. Tetraplégica após
sofrer acidente de carro aos 19
anos, ela foi secretária da Pessoa com Deficiência, vereadora
de São Paulo e é fundadora do
Instituto Mara Gabrilli, que
defende os direitos das pessoas
“A própria presença da mulher nos debates demonstra que ela não
está ali apenas para esquentar uma cadeira. Ela quer participar dessas
decisões. No meu caso, levo muito a sério o mandato, por exemplo,
sendo assídua. É importante ter sido listada entre os 4% dos deputados
que não registraram nenhuma falta em 2015, apesar dos problemas que
enfrentei, de ter passado seis meses iniciais do mandato em uma cadeira
de rodas, em função de uma cirurgia. Acho que isso é uma demonstração
de que quero fazer diferença na política.”
Deputada Federal Conceição Sampaio (PP/AM)
Faz tempo que veículos de comunicação digital insistem em
promover concursos de beleza
com as representantes públicas,
criando campanhas inúteis e
constrangedoras, nas quais o
contexto masculino raramente
é inserido. Para algumas, o fardo é contornável. “Sou mulher
e sou política, e tenho orgulho
disso”, substancia a roraimense
Sheridan, que não abre mão do
batom vermelho, do salto alto,
do cabelo escovado e das selfies
no Instagram, onde tem quase
40 mil seguidores.
Isso só prova que as antigas
contendas da mulher brasileira são parecidas em todos os
espaços – da Câmara à própria
casa. Lidar com assédio moral,
pormenorização de sua vaidade, desprezo intelectual, ridicularização e silenciamento é
o calvário de todas. Mas, para
além dos nossos entraves, como
mulheres anônimas, e como
29
“Decidi desde o início lutar contra a sub-representatividade ao homenagear,
com minha roupa de trabalho, as sufragistas. Assim como elas, decidi
que o meu ‘uniforme’ seria o terno e gravata. Elas lutaram para que nós,
mulheres, tivéssemos direito ao voto e, com isso, chegamos aqui. Agora
é nossa vez de lutarmos por mais mulheres na política.”
Deputada Federal Raquel Muniz (PSC / MG)
30
capa
capa
“Os desafios são parecidos com os que encontramos no mercado de
trabalho. Primeiro, sua capacidade é questionada, embora ninguém o diga
abertamente. E sendo jovem, mais ainda. Mas, aos poucos, a gente vai
mostrando o nosso valor, nossa capacidade de articular, de criar projetos
e discutir em pé de igualdade. Fora isso, temos como desafios a tripla
jornada, de parlamentar, esposa e mãe. Tem uma frase que eu gosto
muito. Quando a mulher entra na política, a política muda essa mulher,
mas quando várias mulheres entram na política, são elas que mudam a
política. Não desmerecendo os homens, a mulher é mais sensível, mais
humana, mais disciplinada e mais preocupada com o amanhã.”
Deputada Federal Renata Abreu (PTN / SP)
com deficiência. De Curitiba
(PR), a empresária Christiane
Yared (PTN-PR) foi a candidata a deputada federal mais
votada em seu estado, com
200.144 votos. Iniciou a trajetória política com a fundação
do Instituto Paz no Trânsito,
após perder um filho em 2009,
em acidente que envolveu um
ex-deputado estadual que dirigia embriagado. Jornalista,
Eliziane Gama (PPS-MA) foi
a candidata a deputada federal mais votada do Maranhão,
com 133.575 votos. Após dois
mandatos como deputada
estadual, é presidente da Comissão de Meio Ambiente e
já presidiu a CPI de Combate
à Pedofilia e Abuso Sexual Infantil, a Comissão de Direitos
da Mulher, a Comissão de Direitos Humanos e a Comissão
de Infância, Juventude e Idoso.
Essa nossa vivência pessoal é
“O primeiro desafio é o de romper a invisibilidade. Os ternos e gravatas
ocupam os espaços parlamentares de uma forma avassaladora. Fazerse respeitar pela competência necessita uma multipresença, opinandose sobre variados temas. Ser escutada exige mais do que falar, exige
conhecimento, firmeza e articulação. Daí a importância de se garantir a
presença da mulher nas estruturas de poder das casas legislativas. O fato
de ser mulher não garante a diferença. Há muitas parlamentares mulheres
que têm uma visão machista da vida. Há mulheres que se incorporam à
política como parte de uma herança familiar. Fazem a diferença as mulheres
que têm uma visão progressista e generosa do mundo e do país em que
vivemos. Que compreende que a vida da mulher só melhora se a vida de
todos também melhorar. A partir daí a mulher faz a diferença porque vive
mais de perto o sofrimento cotidiano do que lhe está em torno.”
Deputada Federal Jô Moraes (PCdoB/MG)
31
capa
32
capa
33
“Nosso principal desafio é aumentar nossa representatividade em todas as
esferas de poder. Precisamos de equiparação, somos minoria absoluta,
e é justamente por isso que, entre tantos de nossos projetos, ingressei
com um projeto de lei que garanta que, se houver a saída de qualquer
parlamentar do legislativo, a convocação deverá ser de uma suplente
também do sexo feminino, independentemente de sua colocação, para
preenchimento da vaga. Procuramos desenvolver um mandato plural, que
atenda às necessidades de diversos segmentos da sociedade brasileira,
porém, existe um olhar diferenciado em nossos projetos quando o assunto
é a defesa dos direitos da mulher, e da mesma maneira, nas ações para
coibir as práticas e endurecer as leis contra o racismo no Brasil. Represento
a fatia que mais sofre discriminação, que é a mulher negra.”
Deputada Federal Tia Eron (PRB / BA)
rica e determinante não somente na proposição autoral
de leis, mas também na discussão de pautas trazidas por nossos colegas homens. No final
de 2015, por exemplo, quando
o projeto que dificulta o aborto legal em caso de estupro foi
apresentado pelo presidente
da Casa, deputado Eduardo
Cunha (PMDB-RJ), 27 das
nossas deputadas se declararam contra o projeto; apenas
quatro foram a favor – Dulce
Miranda (PMDB-TO), Gorete
Pereira (PR-CE), Renata Abreu
(PTN-SP) e Shéridan (PSDB
-RR) – e 19 não opinaram.
Com opiniões e posicionamento quase sempre comprometidos, a mulher política – na
Câmara, no Senado, na presidência e numa única vaga atual
de governadora – age com conhecimento de causa. As trincheiras que se alarguem. Ainda
vem muita resistência por aí. –
“Para reverter essa situação secular de desigualdade é que se formou a
Bancada Feminina na Câmara, cujo objetivo é fazer valer nossos direitos.
Graças ao nosso empenho, o Parlamento tem produzido avanços
significativos na legislação, e a Lei Maria da Penha, de 2006, representa
um marco nessa luta. O combate às desigualdades salariais, a proteção
da mulher no mercado de trabalho, a melhoria nas condições de saúde
sexual e a ampliação dos direitos das empregadas domésticas estão entre
os principais compromissos de nossa bancada.”
Deputada Federal Alice Portugal (PCdoB / BA)
34
bem estar
bem estar
O que é preciso
para ser
uma doula
Trabalhar com assistente de parto requer, mais do que amor
e paciência, vontade de aprender e de se doar
por Josilene Corrêa
Doula. Essa palavra de origem
grega, que significa “mulher
que serve a outra mulher”, ficou mais conhecida nos últimos tempos, quando a importância do parto humanizado
passou a ser discutida com
afinco nas redes sociais e nos
grupos feministas.
As doulas costumam ser mais
lembradas como “anjos das
parturientes”. Aquelas que permanecem ao lado da mãe, com
afeto, firmeza e paciência, desde as primeiras contrações até a
primeira mamada do bebê.
É impossível dizer, ao certo,
quando a função das doulas
surgiu, já que antes essa assis-
tência era feita pelas mulheres
da família das grávidas. Mas
sabe-se que, mais ou menos na
década de 70, a doulagem começou a virar uma profissão.
Na prática, é um trabalho que
surgiu da necessidade de preencher uma lacuna que estava perdida em meio à impessoalidade
dos hospitais. A doula oferece
suporte afetivo, físico, emocional e fornece todo o seu conhecimento para as mulheres, antes, durante e depois do parto,
tirando dúvidas e orientando-as
para esse momento único na
vida delas, e proporcionando à
gestante a experiência de parto
mais positiva possível.
35
36
bem estar
Para realizar esse serviço, ela
precisa fazer um curso específico para que encontre a melhor
forma de atender as necessidades da mulher que vive a expectativa de ser mãe. Geralmente,
a parturiente fica assustada
com o ambiente hospitalar e
com medo da dor do parto, e a
presença da doula dará apoio e
segurança para enfrentar tudo
com mais naturalidade.
Mas o trabalho de uma doula
também pode ser necessário
bem antes disso, orientando os
pais na escolha do parto, explicando as vantagens e desvantagens de cada tipo. Durante o
parto, ela faz massagens relaxantes e ajuda a mulher a encontrar a melhor posição para o
nascimento do bebê, ensinando
técnicas de respiração para aliviar as dores. Ela também propõe outras medidas que podem
“A doula dará apoio e
segurança para enfrentar
tudo com mais naturalidade”
aliviar as dores e relaxar, como é o
caso de um banho quentinho. E
orienta o companheiro a oferecer
apoio e conforto à mulher, pois a
participação dele é muito importante nesse momento tão delicado, principalmente para as “marinheiras de primeira viagem”.
Muitas mulheres sonham em ter
um parto normal, mas ficam apavoradas diante da possibilidade
de sentir dores insuportáveis e,
assim que descobrem a gravidez,
já deixam a cesariana agendada.
A presença da doula dá suporte
físico e emocional à gestante, fazendo com que ela reconsidere ter
37
bem estar
Uma doula não pode substituir a
presença de um médico ou de uma
enfermeira na hora do parto
um parto normal e vivencie essa
experiência sem muitos traumas.
Elas têm conseguido diminuir
em 50% os índices de partos cesarianos, porque o apoio recebido
aumenta as sensações de bem
-estar da gestante. A atuação da
doula é reconhecida e estimulada
pelo Ministério da Saúde e pela
Organização Mundial de Saúde
(OMS), considerando os inúmeros benefícios que ela traz. Benefícios estes que são comprovados
cientificamente, surpreendendo
pela redução das intervenções e
complicações obstétricas.
Seu papel é oferecer segurança
e tranquilidade à parturiente,
mas ela não substitui o médico
nem a enfermeira. Segundo pesquisas, a presença de uma doula
faz com que o parto seja mais
rápido e necessite de menos intervenções médicas. Além disso,
a presença dela reduz o risco da
depressão pós-parto e a incidência de infecção, já que diminui o
tempo de internação. Além dos
benefícios citados, não podemos
esquecer o incentivo ao resgate
da tradição, segurança e simplicidade do parto normal.
São várias as experiências favoráveis de partos com a participação de doulas, e se a mulher puder dispor desses serviços, vale a
pena investir no seu bem-estar!
Mariana
Bahia
([email protected])
trabalha
como doula, em Recife, há um
ano e meio. Ela trabalhava como
advogada, quando começou a
militar no movimento do par-
to humanizado. Depois de um
ano largou a advocacia, fez o
curso de doula no Gama, em
São Paulo, e vem se dedicando a
essa profissão com muito amor.
Atualmente, arranja um tempinho para estudar enfermagem.
Ela acredita que o suporte emocional é importantíssimo, pois
ajuda a gestante a encarar o momento do parto com mais tranquilidade, já que elas podem não
ter apoio da família e se sentir
sozinhas nessa caminhada pela
busca do parto normal.
O trabalho de Mariana consiste em dois encontros antes do
parto, o parto e um encontro
pós-parto, custando R$ 1.000.
Ela destaca que as doulas são
as profissionais mais mal remuneradas do parto, já que
são as primeiras a chegar e as
últimas a sair. Segundo ela, os
honorários no Recife giram em
torno de R$ 600 a R$1.300.
Para Mariana, é o boca a boca
quem faz a doula se tornar conhecida, mas a rede social também contribui para isso.
–
Guia OF
Contato de Mariana Bahia:
[email protected]
Ando (Associação Nacional de
Doulas): www.doulas.org.br
Alma Midwifery (centro
americano de parto
humanizado que ilustra a
matéria): almamidwifery.com
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perfil
perfil
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Trilhando
a própria história
Proprietária da Aramell, a empresária Lia Coutinho Araújo tira proveito
da crise para se reinventar e reposicionar sua marca no mercado
por Talita Correa
fotos Gabriela Drewes
Quando trocou o Ceará por São
Paulo, para ficar mais perto dos
seus concorrentes no ramo da
moda, a empresária Lia Coutinho Araújo, 40 anos, sabia que
o sucesso não viria a galope. Ao
contrário, com formação em
economia, Lia sempre escolheu
planejamento, persistência e
pés no chão para trilhar a própria história profissional.
Em 2009, ao lado da irmã Márcia Meller, fundou a fábrica de
moda feminina Aramell, com
foco no private label, sendo responsável pela produção em larga escala de roupas para grandes marcas nacionais.
A empresária mulher
No fim de 2015, as sócias decidiram reposicionar a empresa,
estudar o mercado e investir na
criação de uma marca própria,
de olho na nova identidade da
mulher brasileira, cada vez mais
versátil e independente.
O resultado pode ser visto na
coleção 2016 da Aramell, a primeira da grife, que traz peças
feitas em diversas matérias-primas e estamparia, com qualidade e preço justo, segundo Lia.
“Com a crise abalando todos
os setores, sentimos que estávamos sendo muito afetadas.
Nesse momento, resolvemos
agir rapidamente, mudar o
modelo de negócio e focar na
marca Aramell, que todos esses
anos ficou tímida, atrás de outras grandes marcas. Assim, resolvemos colocá-la no mercado,
com uma identidade marcante. É um projeto embrionário,
estamos na primeira coleção e
atuando nos estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Bahia, Es-
pírito Santo, Tocantins, Rio de
Janeiro, São Paulo e Santa Catarina. Temos apostado muito,
e nossa missão é sermos reconhecidas como uma marca de
moda antenada e de qualidade,
com preço acessível.”
Nascida no Maranhão e com
história profissional iniciada em Fortaleza, Lia procura
colocar nas produções toda a
influência de cores, conforto
e criatividade que suas raízes
nordestinas trazem.
Mesmo com planos de expansão, a Aramell é uma referência
de empresa familiar que deu
certo, se reinventou e cresceu. A
comunicação direta com o desejo da consumidora brasileira sinaliza a gestão detalhista e contumaz de Lia, com uma visão de
negócios pragmática, mas também afetiva e sonhadora.
perfil
40
A mulher empresária
Eu sou... persistente, perfeccionista, determinada.
Eu faço... o melhor da vida.
Meu maior bem... é meu filho,
minha família.
O bom da vida... são os desafios.
O melhor da minha profissão...
é criar e se reinventar sempre.
Tenho medo da... falta de humanidade e violência.
Não dá para viver sem... família.
Férias ideais... na Europa.
Sinto falta... do mar.
Um supérfluo necessário...
óculos escuros.
Um presente marcante... quando fiz 33 anos, minha irmã e
meu cunhado fizeram um vídeo
contando minha trajetória de
vida. Foi muito emocionante!
Destaque da moda nacional...
gosto muito da Gloria Kalil.
Lugar ideal para morar... onde
exista qualidade de vida.
Lugar ideal para trabalhar...
na Aramell.
Eu acredito... na força
do pensamento.
Moda é... bom senso.
Se eu não fosse empresária...
seria psicóloga.
Estilo favorito... confortável.
Meu guarda-roupa tem... cor.
Na bolsa não falta... batom.
Detesto... mentira, falsidade.
Amo... o melhor da vida.
No trabalho eu sou... perseverante, idealista, flexível.
Em casa eu sou... despojada.
Conselho que eu daria... persistir sempre, desistir nunca.
“Resolvemos colocá-la
no mercado, com uma
identidade marcante”
embarque imediato
42
Jeri
é logo ali
Por que as praias do vilarejo cearense
arrebatam os corações de tantos viajantes
por Talita Corrêa
embarque imediato
43
44
embarque imediato
embarque imediato
“Jacaré tomando sol.” Ao pé
da letra, esse é o significado
do nome Jericoacoara. Ao pé
do mar, com vista pras dunas
e pras lagoas de geografia única, Jericoacora significa paraíso. Mas se você for do tipo de
viajante apaixonado por praia
e simplicidade, fique à vontade para chamar a pequena vila
cearense de Jeri.
Jeri merece, mas dispensa apresentações. Nos últimos anos,
ela tem se tornado o destino
preferido de famosos, de amigos à procura de aventura e de
casais em lua de mel. De Fortaleza até lá são 300 quilômetros
de estrada. De ônibus, contando as possíveis paradas programadas, esse percurso pode
45
durar até seis horas. Quando
o itinerário acaba, na altura do
município de Jijoca, o viajante
ainda precisa subir numa jardineira e seguir mais uma hora
“Fique à vontade para
chamar a pequena vila
cearense de Jeri”
de passeio pelas dunas. Se ele
for esperto, vai escolher fazer
esse trajeto à noite, com o céu
estrelado iluminando a paisagem e oferecendo o primeiro
espetáculo da viagem.
Com redes colocadas dentro da água, as
lagoas são alguns dos atrativos mais especiais
e famosos de Jericoacoara
46
embarque imediato
“Além de sossego
e descanso, Jeri também
oferece adrenalina e agitação”
Roteiro de paradas obrigatórias
em Jeri: Duna do Pôr do Sol,
Pedra Furada e Lagoa do Paraíso
embarque imediato
O esforço para ter Jeri nos
braços termina aí. Depois de
alcançar suas ruas de terra batida e com pouca iluminação,
o viajante é capaz de se sentir
isolado do mundo real. Mas,
além de sossego e descanso,
Jeri também oferece adrenalina
e agitação. À noite, seu centrinho é movimentado por sotaques de todo o mundo e gente
à procura de interação. O Samba Rock, bar mais animado do
lugar, tem sempre na programação boa música ao vivo, do
reggae à MPB.
Pela manhã, os aventureiros
podem encarar passeios de
quadriciclo pelas dunas, aulas de kitesurf e mergulhos
nas lagoas. Quem não gosta
de esportes, mas faz questão
de conhecer todos os pontos turísticos da região, deve
contratar um bugueiro para
conhecer a Lagoa do Paraíso,
onde é possível deitar em redes
instaladas dentro da água; a famosa árvore da preguiça, que
é vista na horizontal, devido à
transformação das dunas; e a
também conhecida pedra furada, capaz de render registros
incríveis. O valor desse passeio,
que dura um dia inteiro de sol,
é de R$ 300, e média, e todas
as pousadas têm prestadores
de serviços confiáveis para indicar. Na outra direção de Jeri,
o turista pode fazer um trajeto
que inclui o mangue seco, com
uma incrível formação natural
de raízes aéreas; um viveiro natural de cavalos marinhos; e a
Duna do Funil, onde é possível
se arriscar no esquibunda.
47
Para fechar a maratona de
suspiros, vale uma paradinha
na Duna do Pôr do Sol, onde
o protagonista é, claro, o entardecer, que pode ser acompanhado de rodas de capoeira
e de dança, ou de silêncio
e contemplação.
Depois de tanta energia gasta, Jericoacora não desaponta
na hora de matar a fome. A
vila é recheada de restaurantes
dignos da alta gastronomia.
O Bistrogonoff tem massa deliciosas, um pão artesanal da
casa que derrete na boca e preços bem atrativos. Para quem
quer mais opções para pesquisar, é bom anotar: o Na Casa
Dela é sinônimo de aconchego,
48
embarque imediato
embarque imediato
49
Essenza Hotel, Vila Kalango e
pousada La Villa: hospedagens
para todos os bolsos e públicos
“Existe Jeri para todos os
gostos, todos os bolsos
e todos os corações”
o Tamarindo tem um peixe
tropical maravilhoso e o Gelato & Grano é parada obrigatória para quem gosta de sorvete
na sobremesa.
A variedade quando o assunto
é hospedagem também é bem
grande, desde hotéis luxuosos,
como o Essenza, com piscina
individuais nas varandas dos
quartos, e diárias a partir de
R$ 1.300, a opções mais rústicas, como a Vila Kalango e a La
Villa, que chegam a custar menos da metade desse valor.
Ou seja, existe Jeri para todos
os gostos, todos os bolsos e
todos os corações, desde que
estes últimos sejam bem grandes... A paixão pela vila costu–
ma ser arrebatadora.
dicas
Em Jeri não há bancos
nem caixas eletrônicos,
leve dinheiro em espécie
para despesas menores
e use cartão de crédito
Guia OF
Bistrogonoff
Endereço: Beco do Guaxelo
Telefone: 88 3669-2220
Facebook: Bistrogonoff
Jericoacoara
ou débito nas lojas e
restaurantes.
Dispense o salto alto. Jeri
é toda de terra batida e o
clima é de despojamento,
mesmo à noite.
Nas épocas chuvosas (de
março a maio, ou um
pouco antes), Jeri tem
mais moscas e outros
insetos. Leve repelente
no nécessaire.
La Villa Jericoacoara
Endereço: Rua Nova Jeri, 17
Telefone: 88 9921-2947
lavilla-jeri.com
Essenza Hotel
Avenida Beira Mar, s/n
Telefone: 88 99989-0040
essenzahotel.com.br
Cooperativa dos Bugueiros
Telefone: 88 9943-0999
50
giro gastronômico
giro gastronômico
51
Requinte e simplicidade
sem afetação
A assinatura do chef Kiko Selva na alta gastronomia pernambucana
texto Estevão Soares e Talita Corrêa
A paixão de Kiko Selva pela gastronomia começou ainda na
infância. O mais novo de três
irmãos, o pernambucano sempre foi fã de programas de culinária, e passava horas diante da
TV acompanhando programas
como de Ofélia Anunciato e anotando todas as receitas.
O encanto pelo mundo da cozinha foi precoce e legítimo,
e não precisou de influência
familiar. Kiko lembra que sua
avó paterna era uma quituteira
de mão cheia, com vários livros
de receitas guardados, mas que
ela morreu antes haver convívio
entre os dois. “Quando ela fale-
ceu, eu tinha 2 anos. Então, isso
deve ser alguma coisa de sangue, que está lá”, aposta o chef.
Apesar do incentivo do pai, que
dizia “ainda vou abrir um restaurante para você”, Kiko chegou a
viver um hiato nessa história de
amor com as panelas na adolescência: “Acabei deixando a culinária de lado pelo fato de ter engordado muito. Cheguei a pesar
124 quilos. Foi por uma questão
minha, pela busca deemagrecer
e pela vaidade, que falaram mais
alto naquele momento”.
Na adolescência, fez um intercâmbio nos Estados Unidos e
perdeu 30 quilos, já que andava
diariamente um longo caminho
entre a casa e a escola, enquanto
no Brasil contava com mordomias como motorista particular.
Ao voltar para o país em 1996,
Kiko, já em forma, reatou com
alta gastronomia e reacendeu a
antiga paixão. O equilíbrio entre saúde e comida incluía uma
rotina de exercícios na já extinta
academia Performance, em Recife. A então dona da academia
era Lilia Santos, empresária que
montou a multimarcas Dona
Santa | Santo Homem, regida
ao lado da filha, Juliana Santos.
E é justamente num cantinho
da luxuosa maison da DSSH,
giro gastronômico
52
na zona sul de Recife, que Kiko
mantém, há seis anos, o badalado It Bistrô. A ideia original do
restaurante é do chef Douglas
Van Der Ley, com quem Kiko
fez estágio. De estagiário a proprietário, é lá que hoje Kiko cria
pratos cheios de personalidade e
sabor – como o camarão indiano
em crosta de coco com chutney
de manga –, e emprega os conhecimentos que reuniu no curso
de gastronomia e nas especializações que fez no Instituto Mause Sebbes , na Argentina.
Sua marca, essa união de simplicidade e requinte sem afetação, como ele mesmo fala, já foi
mais que aprovada pela equipe
OF no final de 2015, quando
oferecemos um chá da tarde a
algumas amigas e parceiras e
contamos com o menu elogiadíssimo de Kiko.
Como começou sua história com o It?
Na época, soube que o chef Douglas iria abrir o It e lhe pedi uma
oportunidade de estágio, e ele
me abriu as portas. A experiência
durou uns sete meses. No período, Douglas tinha mil projetos,
inclusive negócios em São Paulo
e Salvador, e ele observou que eu
tinha potencial, que cuidava do
restaurante como da minha casa,
o que talvez tenha dado tranquilidade para ele se afastar do
negócio. Então Dona Lília e Juliana me convidaram para assumir. Um convite desafiador, que
aceitei. O primeiro ano foi difícil,
mas, com persistência e por acreditar que este é o meu trabalho,
as coisas foram crescendo.
giro gastronômico
Udigendi dolorum ea nulpa dolecusti
de lacesequia dolo corerspelia vent et
harchicabore conseria dolorum commos dolorruptus de lit, aniatemped
molorit quia seque sim ea que
Você é sempre visto muito bem-vestido, circulando pelas altas rodas
sociais. Qual o seu estilo quando o
assunto é moda?
Eu gosto da tradição com um
pouco do arrojado, mas nunca
fugindo do requinte, do clássico, nunca caminhando para
algo muito diferente.
“O primeiro ano foi difícil,
mas, com persistência, as
coisas foram crescendo”
Como sua infância influenciou na construção da sua história profissional?
Quando criança, não tive muito
contato com pessoas da minha
idade. Meus fins de semana eram
no campo com pessoas mais velhas. Quando olho para trás, vejo
que isso foi muito bom para ser
o profissional que sou hoje.
O Kiko Selva é diferente dentro e fora
do restaurante?
Por que sua timidez é uma questão
tratada na análise quinzenalmente?
É muito bom o reconhecimento
pelo meu trabalho. A responsabilidade aumentou e os cabelos
brancos também. Atuo em uma
área onde coloco minha cara e
habilidades à prova. O profissionalismo não me deixa sair do
eixo ou ser prepotente. Mas eu
me permito desestabilizar quando estou no divã. É lá que saio
do trilho e procuro me ajustar.
Na gastronomia sou mais extrovertido e comunicativo. Fora do
restaurante, entre amigos e familiares, sou muito reservado,
de hábitos caseiros. Gosto de
viajar, estar na praia ou campo
com meu cachorro, curtir um
momento de paz ouvindo uma
boa música e tomando um bom
vinho. Prefiro mil vezes isso a ir
a uma festa badalada.
Conservador nas ideias, é no fogão que o chef inova, sem fugir
da sua essência. A proposta do It
não é uma experiência às cegas.
A cada ano, mesmo com todas as
dificuldades, o chef colhe frutos
do seu esforço, com sua equipe
de nove profissionais. Kiko Selva
virou uma marca, e seus pratos
–
já falam muito sobre ele.
53
54
comportamento
comportamento
55
Relacionamento
de sogra x nora
Estereótipos à parte, os
entraves dessa relação antiga,
delicada e inevitável
por Rose Blanc
Segundo pesquisas, o brasileiro considera a felicidade da família item primordial. No entanto, muitas mulheres reclamam de suas relações
com a sogra. Será que essa relação é complicada
apenas pela existência do estereótipo da madrasta perversa X princesa indefesa? Por que
razão a sogra tem má reputação?
Talvez a explicação seja histórica, já que o homem trazia a esposa para morar junto com a
família, e a submissão da nora para com a sogra
fazia com que a convivência nem sempre fosse
das melhores. Devido à construção patriarcal
que envolvia a instituição homem-mulher-família, as mulheres foram criadas para se casar
e serem donas de casa, e os homens, para serem
reflexão
56
provedores. O que acontecia
era que, quando um dos que
sustentam financeiramente a
família começaram a sair de
casa para formar um novo lar,
a esposa ganhava status de
dona da casa e consequentemente rival para aquela mãe, a
qual ele deveria sustentar. Talvez isso também explique porque a relação das sogras com
genros é melhor do que a das
sogras com noras.
Dentre as noras, a maior reclamação é que a sogra, se apro-
veitando da autoridade de mãe,
quer meter o bedelho na vida
do filho: saber de tudo, criticar
tudo o que for relacionado à esposa do seu filhote, que a nora
ousou roubar! Sogras assim
quase sempre querem ser as
que fazem melhor, conhecem
melhor, amam melhor etc. São
mulheres castradoras e querem
fazer parecer que a mulher que
seu filho escolheu não tem virtudes. Em suma, aquela esposa
não é suficientemente boa para
seu filhinho querido...
57
Na verdade, seu relacionamento com sua sogra vai depender
do link que ela estabeleceu
com o filho durante toda a
vida. Por exemplo: o filho chegou a certa idade, geralmente ente 20 e 25 anos, e a mãe
não deixou que ele ganhasse
autonomia tornando-se independente? Ou, ao contrário,
cortou o cordão umbilical e
aceitou que ele poderia ser feliz tendo outra mulher importante na sua vida – a esposa?
Quando a relação mãe-filho é
de possessividade, o filho pode
se tornar um adulto inseguro, que sofre constantemente
do conflito: ser leal e ficar do
lado da mãe que o criou com
tanto amor e zelo ou ficar com
sua esposa, que, afinal, é estranha à família. Se esse filho
for filho único, então, nossa
senhora! Essas mães se consideram mais maternais que as
outras. Mas vamos combinar...
que amor é esse que não dá o
direito ao filho a ter vida própria? Na verdade, na vida real,
a mãe, por mais amorosa e
ciumenta que seja, não precisa obrigatoriamente ser vista
como possessiva ou neurótica.
O filme A Sogra, com Jennifer Lopez
e Jane Fonda, é um exemplo clássico
da relação estereotipada – e às vezes
cômica – entre sogras e noras
E o filho não precisa ficar dividido entre o amor materno e o
amor de sua mulher, pois são
amores muito diferentes.
O ideal seria que as mulheres
no início de um relacionamento pudessem detectar em seu
parceiro características de “filhinho da mamãe”, aquele que
se recusa a ser independente,
sem vida pessoal desatrelada
da figura materna. Geralmente esses homens são mimados,
presunçosos, narcisistas, e extremamente egoístas. Mas se o
caso não for este? Se você encontrou um homem normal,
vá em frente e encare a sogra
numa boa, pois o ideal é não
rotular a mãe de seu amado
de megera só porque será sua
sogra. Se não houver sinais negativos na criação, não se deixe
influenciar pelo esteriótipo negativo “sogra versus nora”. Seria péssimo iniciar uma relação
com sua sogra já imaginando
dificuldades no relacionamento, isso comprometeria a capacidade de ver qualidades que
provavelmente sua sogra terá.
Se você procura uma relação
familiar saudável, tanto com
a sogra quanto com seu côn-
“O filho não precisa ficar dividido entre
o amor materno e o amor de sua mulher,
pois são amores muito diferentes”
58
reflexão
59
juge, não deve permitir cair
em armadilhas no dia a dia.
Conviver é difícil, mas com paciência e sobretudo com amor,
procure estabelecer certos limites, mantendo sua vida familiar harmoniosa. Aqui estão
algumas dicas para lidar com
situações que podem ajudá-la:
“Conviver é difícil, mas com paciência
e sobretudo com amor, procure
estabelecer certos limites”
No cinema, a briga entre sogra e
nora tem final feliz e é conduzida
com amor e humor. A vida real
também pode ser assim
Tome atitudes – Serve pra sogra
palpiteira, que tenta resolver
questões sem a autorização do
casal. Se casa é sua e de seu marido, as regras também são. Coloque a sua opinião com firmeza, entretanto, com educação.
Estabeleça certos limites – Eles
servem para barrar educadamente a sogra intrometida. Combine
estratégias com seu parceiro.
Se sua sogra é ciumenta – Procure não ser sua rival. Deixe
que seu marido a visite e se
relacione como de costume.
Com tato, demonstre que você
não é uma ameaça.
Sogra amiga da ex – Caso o
assunto descambe para elogios à ex, saia de perto e deixe-a
saber que você não gostou de
presenciar o assunto. Aja com
diplomacia, tentando trazê-la
para o seu lado.
Não bata de frente, finja-se
de boba – Serve para estancar
conflitos com sogras manipuladoras, que geralmente provocam a nora a toda hora. Deixe que suas palavras entrem
por um ouvido e saia pelo ou-
tro. Isso com certeza irá cansá-la, poupando a família de
conflitos desnecessários.
Elogie suas qualidades – Afinal, ela deve ter inúmeras
prendas domésticas, inclusive
culinárias. Aproveite!
Torne-a necessária – Deixe-a
viver sua vida de avó com seus
filhos e de mãe com seu cônjuge. Faça-a uma aliada na ajuda
com os netos, por exemplo.
Amor ela tem de sobra, e não
vão ser os momentos que ela
irá passar junto às crianças
que irão estragá-las. Sempre
agradeça sua disponibilidade,
lembrando que você também
será vovó um dia.
A coisa mais importante é permanecer aberta no relacionamento com sua sogra, mesmo
que por vezes seja difícil. Ceda
para o bem-estar da família. –
reflexão
reflexão
61
Ser feminista é
estar à prova
foto iStockphoto
60
por Talita Corrêa
Feminismo. Do verbo ainda
lutar. Do tempo não desistir.
Do sujeito ela por ela. Do
futuro quase perfeito. Do
presente enfim.
Feminismo. Do infinitivo
não terminar. Do transitivo
somente seguir. Do adjetivo
do que é direito, do advérbio
sem se resumir.
Orgulhosamente.
Insistentemente.
O coletivo do eu. O singular
do agora. O concordar
com aqui.
Feminismo. Nos livros das
escolas, nas gramáticas dos
ensinos, nas salas, nas praças,
nas telas, nas câmaras, nas rodas, nos templos. Nas sílabas
dos neologismos.
Feminismo do substantivo
não substituir. Do inflexível
não sucumbir. Do pretérito
consertado. Feminismo nas
contas. Nos filmes. Feminismo acentuado.
Feminismo sem graus nem
classes. Sem relativos de superioridade.
Feminismo de mães, de irmãs,
de Estado e de sociedade.
Feminismo pronomes. Por
homens. Por nós.
Feminismo por uma nova
linguagem.
Feminismo dos gêneros
e do artigo A.
Do latim. Do grego. Dos
sem nação.
Feminismo da língua,
dos seios, dos corpos,
da interjeição.
Feminismo semântico, vocá-
bulo, discutido, reformado.
Feminismo-fonema, da rima
com o que é respeitado.
Preposição de. Propor ir. Propor ser. Propor ter.
Antes de, durante, depois.
Feminismo, sim.
Prefixo de igualdade. Sufixo
de justiça. Uma palavra primitiva. Um radical de coragem.
Feminismo sem abreviações,
sem preconceitos, sem inverdades. Feminismo inteiro
do glossário. Das ruas, das
letras, dos sinônimos de
aprendizagem.
Feminismo trava-língua, solta
a mente, tira a crase.
Feminismo afirmativo.
Maiúsculo. Tônico. Redondo.
Plural.
Fe-mi-nir.
seus direitos
seus direitos
foto iStockphoto
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63
Cirurgia plástica não
é contrato de risco
O paciente insatisfeito com o resultado de um procedimento
estético pode entrar na justiça contra o médico escolhido
por Gustavo Moura Lélis
Há muito que o Brasil passou
a figurar entre os líderes mundiais em números de cirurgias
plásticas por ano. Para se ter
uma ideia, entre 2013 e 2014,
os brasileiros chegaram a fazer
quase 3 milhões de procedimentos desse tipo, segundo a
Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP).
Por vezes, a cirurgia é programada com anos de antecedência, dado o elevado valor do
procedimento e o grande peso
emocional que envolve. Ademais, com a tecnologia hoje disponível, já se consegue simular
virtualmente o resultado a ser
alcançado, possibilitando ao
paciente decidir pela realização
do procedimento cirúrgico com
mais segurança e programação.
Entretanto, em alguns casos,
o sonho de ver resolvido um
problema estético termina em
frustração, prejuízo à aparência
13- seus direitos ed02 V2.indd 62-63
ou mesmo à saúde do paciente, trazendo resultados bem
diferentes daqueles previstos
nas consultas e prometidos
pelo médico.
O que muitos não se dão conta
é que, ao escolher o profissional para realização da cirurgia
e acertar os detalhes, o paciente está celebrando um contrato
“Ao acertar detalhes
com o cirurgião, o paciente
celebra um contrato”
com o cirurgião, no qual ambas
as partes assumem direitos e
obrigações, ainda que não exista um instrumento formal, impresso e assinado por elas.
Neste caso, não se trata de um
contrato de risco, no qual o resultado não pode ser garantido,
3/3/16 15:17
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“Entre 2010 e 2014, o número
de ações movidas por erros
médicos aumentou 140%”
mas sim de um Contrato de Resultado, no qual o médico deve
garantir a obtenção do resultado estético previamente ajustado com o paciente.
Não se está dizendo aqui que o
médico deverá entregar o resultado na forma como imaginada
pelo paciente e, sim, que produza o que de fato foi informado
ao paciente, considerando as
características corporais do
mesmo e os resultados que prometeu atingir.
Fato é que, atualmente, muitas
dessas insatisfações acabam
sendo resolvidas com o intermédio do Poder Judiciário. Entre 2010 e 2014, o número de
ações movidas por erros médicos gerais aumentou em 140%
(cento e quarenta por cento)¹
no Superior Tribunal de Justiça.
Nesses casos, o órgão costuma
entender que a convenção firmada entre pacientes e médicos
não é uma questão subjetiva,
mas que envolve compromissos e expectativas verbalmente
acordadas entre eles.
A exemplo disso, em 2013, ao
analisar um recurso (AREsp
328110) referente à ação de
13- seus direitos ed02 V2.indd 64-65
paciente insatisfeito com resultado de intervenção plástica,
o STJ concluiu que “a cirurgia
plástica estética é obrigação de
resultado, uma vez que o objetivo do paciente é justamente
melhorar sua aparência, comprometendo-se o cirurgião a
proporcionar-lhe o resultado
pretendido”.
O desembargador Tasso Caubi
Soares Debalary, do Tribunal de
Justiça do Rio Grande do Sul, ao
proferir voto em outro caso² sobre danos decorrentes de procedimentos do tipo, afirmou que
“na cirurgia plástica embelezadora, o profissional de medicina
atuará sobre um corpo são, com
objetivo de eliminar imperfeições, visando atingir o nível de
satisfação do paciente sob o
ponto de vista estético”.
Tais decisões estão vinculadas
ao conceito de Responsabilidade Civil, que, segundo o jurista
Silvio Rodrigues, é a “obrigação
que pode incumbir uma pessoa
a reparar o prejuízo causado a
outra, por fato próprio, ou por
fato de pessoas ou coisas que
dela dependam”³.
Entretanto, é prudente res-
65
seus direitos
foto iStockphoto
seus direitos
salvar que não serão todos os
casos que implicarão no dever
do médico em reparar o dano
causado. Isso porque a eventual
ocorrência de uma excludente
de responsabilidade, como uma
lesão motivada por um caso
fortuito devidamente comprovado, nos quais os eventos
danosos decorram de fatores
externos e alheios à atuação do
médico durante a cirurgia, indicará a inexistência de conduta
culposa capaz de dar ensejo ao
dever de indenizar.
Pacientes e médicos devem,
antes da realização do procedimento cirúrgico, deixar bem
claro qual o resultado pretendido e qual é o resultado possível, evitando, assim, a oferta de
um efeito impossível ou mesmo
que venha trazer grave risco ao
paciente, prevenindo que a relação entre os dois venha a ser
questionada nos Tribunais. –
Gustavo Lélis Moura de Oliveira,
sócio do escritório Portela, Lélis
& Oliveira Advogados sediado
em Recife.
1. Fonte: Jornal O Estado de S.
Paulo (Estadão), 20/03/2015.
2. Apelação Cível nº 70055663959
3. (RODRIGUES, Silvio. 2003, p. 6).
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colunista
Voto feminino
Igualdade pela metade
por Terezinha Nunes *
“A mulher será livre somente
no dia em que passar a escolher seus representantes”,
vaticinou a jornalista Eugênia
Moreyra ao protagonizar a
campanha pelo voto feminino
no Brasil na década de 20, ao
lado de Bertha Lux e de Maria
Lacerda de Moura.
Primeira mulher a integrar o
jornalismo brasileiro – pelo
que se tem notícia –, Eugênia
sonhava com um tempo,
muito além daquele vivido no
Brasil naquela época, a favor da
garantia do voto para as mulheres, que só seria assegurado
– e com limitações – em 1932,
por meio de decreto do então
presidente Getúlio Vargas.
Hoje, se vivas estivessem, Eugênia, Bertha e Maria veriam
que a liberdade para as mulheres então pleiteada ainda está
pela metade.
Afinal, além do direito ao
voto, as mulheres e, certamente, elas pensavam assim,
precisam garantir também
a presença nos cargos eletivos, sobretudo nas casas
legislativas, onde são feitas e
aprovadas as leis que regem o
funcionamento da sociedade.
E, nesse campo, o Brasil
ainda está devendo muito
ao sexo feminino.
Segundo país da América
Latina a garantir o voto às mulheres – o primeiro foi o Equador –, o Brasil se antecipou
na época até mesmo a países
do primeiro mundo como
França, Itália e Japão, que só
aprovaram leis semelhantes
na década de 40.
Mesmo assim, estamos hoje
muito abaixo da Itália, da França e do Equador no que se refere
ao percentual de mulheres que
ocupam vagas no parlamento –
entre esses só ganhamos, e por
pouco, do Japão.
O Brasil se encontra na
vexatória 158a posição na
participação feminina no par-
lamento entre 190 países que
fazem parte do mais recente
ranking elaborado pela União
Interparlamentar (UIP ou IPU,
inglês) com sede na Suíça, cujo
objetivo é o de mediar contatos
multilaterais entre parlamentares de todo o mundo.
No levantamento elaborado
com base em dados de 2010,
o Brasil tinha naquele ano
8,6% de mulheres na Câmara
dos Deputados, a França
tinha 26,9%, a Itália, 31,4%,
o Equador, 32,1% e o Japão,
8,1%. No mesmo ranking, na
América Latina e no Caribe,
só ganhamos, em participação
das mulheres, de três países:
Belize, Haiti e Colômbia.
O que teria nos levado a quase
parar no tempo se comparados
os 84 anos entre a conquista
do voto e o direito a ocupar
espaços eletivos?
Terezinha Nunes é presidente da Junta
Comercial de Pernambuco e membro
da Executiva Nacional do PSDB.
Pa ra l e r o a r tig o na ín t e gra, ac e sse a n ossa ve r são dig i t al : www. obser vat ori ofemi ni no. bl og . br
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