BOLETIM do PET - WordPress.com

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BOLETIM do PET - WordPress.com
TARTARUGAS EM PERIGO!
Ano 08, n. 28, Julho/2014
ISSN: 2237-6372
pet.ufma.br/biologia
DO NATURAL AO SOBRENATURAL:
O valor da biodiversidade no uso mágico-religioso
E muito mais!
Boletim do PET  nº 28 Julho/2014
p. 2
EDITORIAL
Ano 08, n. 28, Julho/2014
ISSN: 2237-6372
www.petufma.br/biologia
CORPO EDITORIAL
Supervisão Geral: Profa. Dra. Gisele
Garcia Azevedo
Revisores: AndréAlvares Marques Vale,
Elias da Costa Araújo, Leonardo Manir
Feitosa, Rafael Antônio Brandão e Marco
Antonio Menezes Ferreira.
Revisor do Artigo: Profa. Dra. Gisele
Garcia Azevedo (DEBIO/UFMA)
Julho chegou e com ele mais uma edição do
Boletim informativo do PETBIOLOGIA, que traz
questões importantes para reflexão, principalmente sobre
a nossa produção textual, além de muitas outras
resenhas, entrevistas e curiosidades interessantes!
Aproveito esse espaço para agradecer a todos os
candidatos que participaram do processo seletivo do
PETBIO pelas excelentes apresentações e contribuições!
Damos boas vindas a Emilly Caroline Santos Moraes e
Cauê Nicolas Lindoso Dias.
Deixo aqui também a minha saudade e admiração
pelo meu querido aluno Nadson, que com certeza deixou
boas lembranças em nossos corações!
Boa Leitura
Gisele Garcia Azevedo
Tutora do PETBiologia
Diagramação: Clarisse Mendes Éleres d e
Figueiredo, José Uilian da Silva, Liana
de Oliveira Trovão e Osmann Cid Conde
Oliveira.
Realização: Grupo PET-Biologia/UFMA
NESTA EDIÇÃO, CO NFIRA!
-
Editorial............................................................................................ .......................p.02
Artigo: Você é o que você escreve...............................................................................................................p.03
Resenhas............................................................................... ....................................p.06
Notícia.....................................................................................................................p .11
Ponto de Vista Biol ógico.......................................................... .................................p.11
Entrevista.................................................................................................................p. 12
Linha de Pesquisa..................................................................... ................................p.1 3
Eventos.....................................................................................................................p .14
Homenagem ...................................... .................. .................... ................... ...............p.15
Frase........................................................................................................................ ...16
Charge............................................................................ .........................................p.16
pet.ufma.br/biologia
Boletim do PET  nº 28 Julho/2014
Você é o que você escreve
p. 3
Artigo
Introdução
A ciência, baseada nos príncipios do empirismo e do
racionalismo, traz consigo um movimento intrínseco à sua história
desde os primórdios: a comunição. Esta sofreu e ainda sofre
constantes modificações. Basta olhar para traz e lembrar-se da tão
comum troca de cartas entre os filósofos naturalistas, o que
percebe-se ser bem diferente nos dias atuais com o advento da
internet, trazendo grande facilidade e disponibilidade de pesquisas
científicas no meio eletrônico. Aqui destaco duas formas de
comunicação: a disseminação e a divulgação científica. A primeira
leva às descobertas para toda a comunidade científica, feita por e
para cientistas. Já a segunda, informa a sociedade do atual estado
da ciência e da tecnologia, além de proporcionar a criação de uma
consciência científica coletiva [1].
Desta maneira, entende-se a importância da comunicação
científica, enfatizando que a ciência sempre está inserida no
contexto da sociedade. Porém, essa credibilidade tem sido posta
em xeque pela crescente divulgação de práticas fraudulentas ou
antiéticas no meio científico [1]. O curioso é que não é de hoje que
essa prática vem ocorrendo. O plágio, por exemplo, sempre esteve
presente na história, mas não era visto como problema. Essa visão
só veio surgir na modernidade com a atribuição de valores como a
da autenticidade nos campos intelectual e social da ciência. É essa
busca pela identidade das obras científicas, e também literárias, fez
com que o plágio passasse a ser visto uma prática antiética e
moralmente condenável, como diz Jöel Birman apud Marisa Russo
[2].
Apesar dessa questão ser antiga na história, foi só a partir da
década de 1980 que intituições científicas, pesquisadores,
universidades, entre outros, começaram a dar mais atenção a
fraudes e plágios. Isso promoveu discussões acerca de como coibir
essas más condutas e para conscientizar os pesquisadores dessa
problemática, enfatizando uma formação acadêmica e uma conduta
ética [3]. No Brasil, porém, essa preocupação só veio à tona
recentemente a partir da publicação do Código de Ética e Conduta
Científica pela Fapesp e do Relatório da Comissão de Integridade
de Pesquisa do CNPq, ambos em 2012 [2].
Nesse âmbito, faz-se necessário divulgar e disseminar a
importância sobre a fraude, as consequências que elas podem
trazer para o meio científico e qual o impacto que isso pode causar
na sociedade. Dessa forma, o presente artigo tem como objetivo
discorrer sobre os principais tópicos acerca da questão da má
conduta no meio científico, as motivações que levam os
pesquisadores a tomarem essa postura antiética perante a ciência,
além do contexto atual no qual ela está inserida.
Por: Marco Antônio de Menezes Ferreira
definições, percebe-se um fator-chave para entender o que é
fraude: a intenção. Dessa forma, faz-se necessário entender
primeiramente a diferença entre erro e fraude para que não ocorra
confusão entre estes dois termos, diretamente relacionados com a
intenção.
Todos estão sujeitos ao erro em qualquer atividade humana, na
ciência isso não é diferente. Quando se trata da busca por um
conhecimento inédito, o pesquisador está ainda mais suscetível a
errar. Dessa maneira, a verdade científica muitas vezes é
ameaçada, porém, o erro tem caráter não intencional, é uma ação
de boa fé; afinal, nem sempre os resultados são os esperados. Além
disso, a correção e os próprios erros em si fazem parte do processo
de aprendizagem no meio científico [6]. Já a fraude se diferencia
do erro pelo seu caráter intencional. Neste caso, age-se de má fé; a
pessoa que comete fraude tenta levar vantagem sobre seus colegas
[7].
Tipos de fraude
Como definido pela Secretaria dos Estados Unidos em Políticas
Públicas de Tecnologia e Ciência - OSTP, em 2000, a fraude
científica da atualidade é composta por três comportamentos
denominados FFP: fabricação, falsificação de dados e plágio. No
geral, uma vez que nem sempre as definições são consensuais, a
fabricação consiste em criar dados que não existem e incorporá-los
à sua pesquisa; a falsificação ocorre quando se manipula os dados
para que eles atendam aos interesses do pesquisador (e de sua
hipótese); já o plágio é a apropiação de ideias, resultados ou
palavras sem dar o devido crédito à fonte [8].
Um caso famoso de fraude foi a suposta descoberta do elo
perdido da evolução humana denominado de "homem de
Piltdown", feita por Charles Dawson em 1912, perto de Piltdown,
na Inglaterra. A ossada por ele apresentada parecia ter o crânio de
um homem moderno, mandíbulas de macaco e dentes atípicos. Isso
foi realmente intrigante na época, levando a uma grande
repercusão. Porém, nos anos
1950, descobriu-se que os
fragmentos de crânio e de
mandíbulas pertenciam a
seres diferentes. Além disso,
a
datação
de
fósseis
determinou datas que não
correspondiam com o tal elo
perdido. Assim, era tudo uma
farsa [4].
Crânio do homem de Piltdown
Fonte:
http://operamundi.uol.com.br/conteudo/historia/26076/hoje+na+historia+1912+-
O que é Fraude?
A palavra fraude possui origem latina, mas especificamente dos
termos fraus ou fraudis, que significam "dano feito a alguém,
envolvendo astúcia ou trapaça, de que resulta algum proveito para
quem o pratica e engano e prejuízo para quem é objeto ou dele é
vítima" [4]. De forma semelhante, o dicionário do Aurélio online
[5] define fraude como "todo artifício empregado com o fim de
enganar uma pessoa e causar-lhe prejuízo". Em ambas as
+restos+do+homem+de+piltdown+sao+encontrados+na+inglaterra.shtml
Apesar do caso de Charles Dawson configurar fraude por
fabricação, compreendendo a FFP, existem ainda outras situações
que implicam em fraude, tais como: omissão ou fornecimento de
informações incompletas ou inadequadas ao comitê de ética em
pesquisa (CEP) [6]; inclusão de indivíduos que não colaboraram
suficientemente para receber o crédito como autor, a chamada
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autoria compadrio; omissão de indivíduo na qual a contribuição
justificaria sua inclusão como autor do trabalho, denominada
autoria fantasma; além do autoplágio, quando plagia-se as próprias
ideias [9].
A problemática do plágio
Um caso de fraude que merece atenção é o plágio. Ele
encontra-se presente em todas as áreas do conhecimento e nos
vários segmentos da cultura (música, literatura, entre outros) [4].
Mas antes de discutir sobre essa problemática, é preciso discorrer
um pouco sobre o direito autoral. Com o intuito de proteger obras
literárias, a primeira lei de Direito Autoral entrou em vigor em
1710, durante o reinado de Ana (Estatuto da Rainha Ana), na
Inglaterra. Tal lei foi denominada de Copyright Act e permitiu o
reconhecimento do direito de propriedade ao autor [10].
No Brasil, a primeira lei específica de Direito Autoral foi a de
nº 496 de 1898, a lei
Medeiros e Albuquerque.
Após alguns avanços nesse
âmbito, entrou em vigor a
lei nº 9.610 de 1998, a atual
lei de Direito Autoral
(LDA) [10], que como diz
no art. 1º: "Esta Lei regula
os
direitos
autorais,
entendendo-se sob esta
denominação os direitos de
autor e os que lhes são
conexos".
Nesse contexto, cabe discutir a questão do plágio, que, segundo
Randal Fonseca [11], "se caracteriza com a apropriação ou
expropriação de direitos intelectuais [...]. A expropriação do texto
de um outro autor e a apresentação desse texto como sendo de
cunho próprio, caracteriza um plágio e, segundo a Lei de Direitos
Autorais: 9.610 de 19 de fevereiro de 1998, é considerada violação
grave à propriedade intelectual e aos direitos autorais, além de
agredir frontalmente a ética e ofender a moral acadêmica". Em
outras palavras, plagiar seria "a imitação fraudulenta de uma obra",
indo de encontro com os direitos morais do autor [10], que, aliás,
são inalienáveis e irrenunciáveis (LDA Art. 27).
O plágio, do latim plagiarius, que significa aquele que rouba
escravos ou vende pessoas livres como escravos, pode ser
distinguido por alguns tipos. O plágio de texto é aquele em que se
copia textos integrais, como dissertações e teses, ou mesmo
trechos de textos científicos sem citar o autor [4]. Já o plágio de
ideias consiste em apoderar-se de conceitos e argumentações
oriundos de outro autor, ocorrendo, às vezes, de maneira acidental
e sendo mais difícil de comprovar [1].
Outro caso, já mencionado, que merece atenção é o autoplágio.
Pela etimologia da palavra, esse termo pode causar estranhezas.
Afinal, se plágio é roubar, então autoplágio seria roubar de si
mesmo? [4]. Apesar desse paradoxo, o autoplágio consiste na
(re)utilização parcial ou integral de produções do próprio autor em
situações diferentes, violando qualquer expectativa de ineditismo.
Ele pode ocorrer de duas formas: pelo "requentamento" de artigos
e pela publicação redundante [1].
O primeiro ocorre quando um mesmo artigo é publicado em
mais de um meio de divulgação científica (anais de eventos,
periódicos, capítulos de livros, etc.) sem muitas alterações, com o
fim de aumentar a quantidade de publicações do pesquisador. Já a
p. 4
publicação redundante ocorre quando a publicação de um artigo se
sobrepõe substancialmente com outro já publicado, ou seja,
quando os mesmos dados de uma pesquisa dão origem a mais de
um artigo escritos de maneiras diferentes, ou ainda quando o
mesmo artigo é enviado simultaneamente para mais de uma revista
científica. Em ambos o casos percebe-se o atentado à originalidade
das publicações, práticas que devem ser combatidas devido ao seu
caráter antiético[1].
Contexto e motivações para a fraude
Muito se tem discutido acerca da má conduta científica, seja no
que tange a fraude, o plágio ou o autoplágio. Mas o que leva um
cientista, que tem como premissa a busca pela verdade, a cometer
tais atitudes fraudulentas? Há quem diga que seja uma questão de
personalidade. Mas não se pode negar a influência do contexto no
qual o cientista dos dias atuais está inserido [6].
Houve uma mudança no panorama mundial, que está
diretamente relacionado com o comportamento de fraude. Um
exemplo disso, é o que mostra Fagot-Largeault [3] ao mencionar
que a ordem do Publish or Perish (publique ou pereça) nos anos
1950, nos Estados Unidos, foi mal recebida no meio científico.
Esse quadro mudou a partir dos anos 1980, quando a produtividade
das instituições de pesquisa passou a ser medida pela quantidade
de publicações, critério esse diretamente relacionado com a
promoção acadêmica e com a obtenção de financiamentos para as
pesquisas.
Nesse momento, a busca por quantidade de publicações começa
a sobressair-se em relação à busca por qualidade. Mas as
consequências negativas não param por aí. Houve um aumento
exacerbado de publicações científicas e, paralelamente, um
aumento da fragmentação de ideias em vários artigos para
aumentar o número de publicações [3]. Além desse quadro caótico,
somados à pressão sobre os pesquisadores para publicar e
conseguir financiamentos, e à busca pelo prestígio acadêmico, a
competição acirrada entre os pesquisadores acabou por
transformar-se em uma disputa marcada pela falta de ética [6].
É importante ressaltar que a fraude sempre existiu, como já
mencionado, mas todo esse ambiente favoreceu para que houvesse
um aumento do número de casos. Apesar de que há aqueles que
acreditam que não foi o número de casos de fraude que aumentou,
e sim a detecção destes. Isso foi facilitado pela utilização de
programas de computador cada vez mais sofisticados na detecção
de plágio, por exemplo, além do papel preponderante dos meios de
comunicação para difundir os resultados das pesquisas, dentre eles,
a internet [2].
Fonte: http://pratoslimpos.org.br/?p=1753
pet.ufma.br/biologia
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O papel da internet no contexto do plágio
Uma ferramenta que não se pode deixar de mencionar
quando se fala do contexto em que o cientista está inserido é a
internet. A informação, hoje em dia, é de fácil acesso, permitindo
que professores e alunos tenham acesso aos mais diversos temas
e tipos de textos/obras, característica da sociedade informática
em que nós vivemos na atualidade [11].
Nesse contexto, a internet ofereceu caminhos mais
fáceis e mais velozes diante da disponibilidade/acessibilidade
desses textos/obras, aliada à natureza aparentemente pública do
conteúdo online e à velocidade da transmissão das informações.
Isso contribuiu para a formação de uma verdadeira cultura do
"CTRL+C, CTRL+V", na qual há uma apropriação de parágrafos
ou de textos integrais mediante cópia não autorizada, ferindo os
direitos autorais. Essa prática do plágio vem sendo bastante
propagada no meio acadêmico e tem proporcionado grandes
discussões acerca dessa questão [12]. Em meio às inúmeras
vantagens que a internet traz para o estudante, como a velocidade
e a praticidade que o mundo virtual oferece para a busca de
novos conhecimentos, percebe-se o efeito potencializado dessa
prática dentro das universidades. A partir disso, percebe-se a
dificuldade de muitos estudantes em construir resumos, resenhas,
artigos, entre outros, sem que se cometa plágio. Dessa maneira, a
formação acadêmica é o momento que o graduando deve receber
orientações a respeito do plágio para que essa prática não perdure
nesse meio [12].
Mas não podemos ver a internet apenas como vilã.
Apesar de sua facilidade para copiar trechos ou textos inteiros
inescrupulosamente, ela também facilita a comprovação do
plágio. Dessa forma, a internet
configura
uma
estratégia
importante que pode ser
utilizada pelos professores,
orientadores e corpo editorial
de periódico para combater o
mesmo,
não
só
pela
identificação de casos e
divulgação de denúncias dessa
prática, mas também através de
softwares, que a cada dia ficam
mais sofisticados, utilizados
Fonte:
para detectar plágios [13].
http://www.elainegaspareto.com/2012/0
4/serie-plagio-e-suas-variacoes.html
Considerações finais
É evidente a importância da discussão acerca do plágio
no meio acadêmico, pois é sabido que essa prática vem se
disseminando cada vez mais na ciência. A universidade tem um
papel importantíssimo no combate a essa problemática, pois
como formadora de futuros profissionais, a responsabilidade
precisa ser estimulada como valor de prática científica.
Valores, tais como ética, na verdade, deveriam ser
trabalhados de maneira transversal desde a escola. Dessa
maneira, talvez isso pudesse ser uma importante ferramenta para
o combate contra a má conduta científica e, consequentemente,
formar pesquisadores que ajam segundo a integridade na ciência.
Assim, um texto disseminado no meio científico pode dizer
muito acerca dos possíveis valores que o autor traz consigo desde
a escola até a universidade. Afinal, na ciência, pode-se dizer que:
você é o que você escreve!
p. 5
Referências
[1] SABBATINI, M. Do plágio à publicidade disfarçada: brechas da
fraude e do antiético na comunicação científica. Campinas. ComCiência
nº 147. 2013.
[2] RUSSO, M. Ética e integridade na ciência: da responsabilidade do
cientista à responsabilidade coletiva. Estudo Avançados 28 (80). 2014.
[3] FAGOT-LARGEAULT, A. Petites et grandes fraudes scientifiques.
In: La mondialisation de la recherche. Paris: Collège de France, 2011
(Conférences). Disponível em: <http://conferences-cdf.revues.org/354>.
Acesso em: 08 de jun. 2014.
[4] DOMINGUES, I. A questão do plágio e da fraude nas humanidades.
Ciência Hoje 49 (289): 36-41. 2012.
[5] FRAUDE. In: DICIONÁRIO Do Aurélio online. 2008-2014.
Disponível em: < http://www.dicionariodoaurelio.com/Fraude.html>.
Acesso em: 12 de jun. 2014.
[6] HOSSNE, W. S.; VIEIRA, S. Fraude em ciência: onde estamos?
Revista Bioética 15 (1): 39-47. 2007.
[7] TORRESI, S. I. C.; PARDINI, V. L.; FERREIRA, V. F. Fraudes,
plágios e currículos. Quim. Nova 32 ( 6): 1371. 2009.
[8] Office Of Science And Technology Policy, na publicação do
Federal. Register: December 6, 2000 (v.65, n.235). Disponível em:
<http://nrc.noaa.gov/plans_docs/fed_research_misconduct_dec_2000.pd
f>. Acesso em: 08 de jun. 2014.
[9] MUNHOZ, A. T. M.; DINIZ, D. Nem tudo é plágio, nem todo
plágio é igual: infrações éticas na comunicação científica. Argumentum
3 (1): 50-55. 2011.
[10] MORAES, R. O plágio na pesquisa acadêmica: a proliferação da
desonestidade intelectual. Diálogos Possíveis 1: 91- 109. 2004.
[11] FONSECA, Randal. Expropriação de propriedade intelectual.
Disponível
em:
<http://www.historaehistoria.com.br/materia.cfm?tb=newsletter&id=3>.
Acesso em: 14 de jun. 2014
[12] SILVA, O. S. F. Entre o plágio e a autoria: qual o papel da
universidade? Revista Brasileira de Educação 38 (13). 2008.
[13] SAUTHIER, M.; ALMEIDA F., A. J.; MATHEUS, M. P.;
FONSECA, P. M. L. Fraude e plágio em pesquisa e na ciência: motivos
e repercussões. Revista de Enfermagem Referência 3: 47-55. III Série.
2011.
pet.ufma.br/biologia
Resenhas
Boletim do PET  nº 28 Julho/2014
p. 6
O preço do amanhã
Por: Clarisse Mendes Éleres de Figueiredo
Desde o início da nossa educação formal existe uma ideia bastante difundida de que o meio ambiente
e todos os organismos nele contidos, de certa forma, não têm preço. Para um estudante de biologia, esta
importância conferida à vida parece mais evidente ainda: somos ensinados a valorizar cada parte de um
ecossistema, compreender a importância de cada organismo de uma cadeia alimentar, etc. Talvez
exatamente pelo fato da vida ter um valor tão intrínseco aos olhos de um biólogo é que este profissional
encontre sérias dificuldades ao tentar converter seu conhecimento em medidas efetivas de proteção
ambiental. O problema é que, para grandes empresas e empreendedoras – principais responsáveis pelos
impactos ambientais e emissões de poluentes do planeta – a “vida” tem, sim, um preço. Enquanto não
nos esforçarmos em reafirmar o valor da natureza para a geração atual e para as futuras, este preço, aos olhos de quem concentra maior
poder econômico, permanecerá muito abaixo do seu real valor, já que o “mero” valor intrínseco da vida não desperta o interesse do
empresário comum.
O que influenciaria, então, as pessoas a se importarem mais com o meio ambiente? A lógica de Adam Smith, filósofo escocês
defensor do liberalismo econômico no séc. XVIII, parece se aplicar bastante ao que observamos na nossa realidade; Smith advogava que
“não é da benevolência do açougueiro (...) que esperamos o nosso jantar, e sim do quanto ele valoriza os seus próprios interesses”. Para
envolver o público no debate ambiental, tem-se buscado incorporar a natureza nos valores morais da população; por exemplo, quando
vemos um rio sendo poluído em uma determinada comunidade, imediatamente alertamos aquela população de que poluir o rio irá trazêlos transtornos econômicos (inviabilizaria a pesca), higiênicos (a água não será mais potável) e pessoais (perde-se o rio como fonte de
entretenimento). Esta forma de agir transforma uma dada situação em um problema social e ambiental, uma situação que julgamos ser
indesejável e moralmente inaceitável – o que torna a solução do problema (no caso, o rio poluído) algo interessante para aquela
comunidade.
Partindo daí, a voz do ativista ambiental passa a ganhar volume nos ouvidos dos grandes capitais financeiros quando ele fala em
termos monetários; não basta apenas convencer a população de que medidas preservacionistas são moralmente desejáveis. É necessário
enfatizar que perdas ecológicas implicam, também, em perdas econômicas. Assim, parafraseando novamente Smith, "o mercador ou
comerciante, movido apenas pelo seu próprio interesse egoísta, é levado por uma mão invisível a promover algo que nunca fez parte do
interesse dele: o bem-estar da sociedade". Essa estratégia de política ambiental vem ganhando força em várias partes do mundo. No Reino
Unido, por exemplo, foi criado o Comitê do Capital Natural (NCC), que alia pesquisa com o uso sustentável de recursos naturais.
Segundo o NCC, todo recurso natural que não é medido (em dinheiro, no caso) é categoricamente ignorado pela iniciativa privada, sendo
então missão do ativista ambiental calcular o espólio natural, de forma que seja do interesse das empresas economizar estes recursos
financeiros que seriam mal utilizados.
Nos Estados Unidos, a Agência de Proteção Ambiental (EPA) cumpre papel semelhante, embora mais voltada para a esfera política;
após uma série de distúrbios ambientais causados pelo uso irresponsável de recursos naturais, políticos americanos apropriaram-se do
interesse momentâneo da população para usar o meio ambiente como forma de se popularizarem. No ano de 1969, numa tentativa de
Nixon de estancar a crescente popularidade de seu principal adversário à presidência, surge o Ato Político Nacional do Meio Ambiente,
que gerou várias outras medidas subsequentes – inclusive a criação da própria EPA – idealizadas na função de regular a poluição causada
pela indústria americana da época. A esses momentos políticos damos o nome de “Janela Política”, em que temos uma problemática
central, um evento político e uma proposta de melhoria. A função do biólogo no meio de tudo isto? Manter esta janela política aberta.
Enquanto for interessante para a população a existência de medidas que preservem o ambiente, mais importante será para os políticos a
criação de regulamentações contra poluentes, desmatamentos, etc.
Há quem se oponha à ideia de transformar o meio ambiente em parte da economia. Muitos filósofos discutem que, na realidade,
deveria ser justamente o contrário: a economia, proveniente do homem, é que deveria se ajustar ao meio ambiente. Ao transformarmos
algo realmente único (como um ecossistema local) em meros números, podemos estar tornando-o descartável perante uma alternativa que
providencie menos gastos. Afinal, será mesmo possível estabelecer um preço para algo que representa não somente o nosso presente, mas
também o futuro da nossa sociedade? Talvez este seja um dos mais formidáveis desafios que os biólogos e ativistas ambientais enfrentam
atualmente: estabelecer metas que revertam, minimizem ou pelo menos diminuam os impactos ambientais, ao mesmo tempo em que
suprem as demandas crescentes da sociedade atual.
Fonte: Natural Capital Committee. Second report to the Economic Affairs Committee. (March, 2014)
.
DeWitt John. Environment.Gov: Transforming Environmental Protection for the 21st Century. ISBN 1-57744-083-8 (2000)
Como pode mentir a nossa mente
"Todo mundo mente". Quem nunca ouviu essa célebre frase?
Para muitos parece clichê, mas é verdade. A espécie humana, por
sua eficaz capacidade de mentir, coloca-se em um patamar
diferente das outras espécies. O que muitos não sabem é que na
maior parte do tempo não enganamos, somos enganados e por
nossa própria mente. Sim, somos enganados por ela, que por
muitas vezes inventa coisas para tornar a realidade compreensível.
O nosso
Por: Daniella de Jesus Castro Brito
cérebro é considerado a máquina biológica mais complexa do
Universo conhecido. Estudiosos dizem que se fosse possível a
criação um mega computador com a mesma capacidade do cérebro
e com a mesma quantidade de circuitos nele existente, ele, baseado
na tecnologia atual, consumiria cerca de 60 milhões de watts/h,
enquanto nosso cérebro gasta somente 20 watts. Esta economia de
energia se dá pelo fato de nosso cérebro não fazer de forma precisa
a avaliação de algumas situações. O processo evolutivo pelo qual a
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espécie humana foi submetida no passado conseguiu solucionar
este problema fazendo com que o cérebro tenha a capacidade de
mentir para o seu próprio dono, simplificando a realidade,
reduzindo assim, a quantidade de processos realizados pelos
neurônios.
Uma destas formas de simplificação é a nossa visão. A única
parte do nosso olho capaz de capturar uma imagem com clareza é a
fóvea, uma pequena estrutura localizada no centro da retina. Para
que uma imagem seja construída é necessário que os nossos olhos
estejam sempre em movimento, saltando constantemente de um
ponto a outro. O grande problema é que cada salto dura
aproximadamente 0,2 segundos, e durante este pequeno intervalo,
nosso cérebro não recebe nenhum tipo de informação visual,
suprindo estes momentos com imagens artificiais que
provavelmente nunca vimos.
Outra frequente artimanha de nossa mente, ainda relacionada à
visão, é o fato de não vermos o que está acontecendo, mas sim o
que acontecerá. Isto se dá porque as informações capturadas por
nossos olhos não são imediatamente codificadas, pois, para que
isso aconteça, são necessárias frações de segundo, as quais não se
podem esperar. Então, nosso cérebro avalia os movimentos e
constrói uma imagem artificial, ou seja, cria uma estimativa do que
deverá acontecer nas frações de segundo seguintes.
O cérebro ainda tem outros artifícios, como a existência de dois
tipos diferentes de pensamentos, o primeiro (rápido e intuitivo) e o
segundo (lento e analítico). O primeiro é um grande trunfo do
cérebro, pois é fruto da experiência, confia na memória e nos faz
tomar decisões rápidas. Porém, muitas vezes nos leva ao erro,
como no exemplo deste teste: com R$ 1,10, você pode comprar um
café e uma bala. O café custa R$ 1 a mais do que a bala. Quanto
custa a bala? Se utilizarmos nosso pensamento rápido, certamente
responderíamos dez centavos e seriamos enganados pelo nosso
p. 7
cérebro. Após recorrer ao pensamento
analítico chegamos a uma resposta não
tão
óbvia
como
no
primeiro
pensamento; na verdade a resposta é
cinco centavos. Mas, se o pensamento rápido nos leva ao erro,
porque ele ainda existe? Alguns evolucionistas explicam que esse
pensamento intuitivo e emocional nos influencia bastante, pois
surgiu muito antes na evolução da espécie humana do que o
pensamento analítico e lógico. Como a intuição estava com os
nossos ancestrais há mais tempo, exerce ainda muita força sobre
nós. Além disso, o pensamento intuitivo nos livra de várias
situações de risco, as quais representam risco à nossa integridade
física, exigindo respostas rápidas e precisas.
Até mesmo no ato de tomar sua própria decisão, o homem é
manipulado pelo cérebro. Um experimento corroborou com a ideia
de que as nossas escolhas são feitas por nosso cérebro antes
mesmo de serem percebidos pela consciência. Ele consistiu em um
grupo de voluntários que tinham de escolher uma letra que passava
em uma tela e apertar o botão a cada vez que a letra escolhida
aparecesse. Através de monitoramento cerebral descobriram que
10 segundos antes que a letra fosse escolhida pelo voluntário,
sinais elétricos já apareciam nas regiões do cérebro ligadas à
tomada de decisões.
Podemos pensar então que os indivíduos não são livres para
fazer suas próprias escolhas. Porém, quando colocamos em prática
o nosso pensamento lento e analítico, duvidando e botando a prova
nossas próprias escolhas, conseguimos driblar o nosso poderoso,
mas não invencível, cérebro. Conhecer como funcionamos é a
melhor maneira de vivermos, e assim já preparados podemos
buscar ser realmente livres e a partir de então fazer as nossas
próprias escolhas.
Fonte: SANTI, Alexandre de. As mentiras que o seu cérebro conta para você.
Revista Superinteressante, São Paulo, p. 54-59, junho de 2012
Do natural ao sobrenatural: o valor da biodiversidade no uso mágico-religioso
Por: Thayrine Luane Martins Sardinha
Práticas e crenças religiosas possuem ampla influência na percepção e relação das comunidades humanas com a natureza. Essa estreita relação entre
homem, animal e planta apresenta inúmeras formas de interação. No Brasil, onde há uma grande diversidade de fauna e flora, assim como diferentes etnias
que compõem a população, essas ligações podem ser ainda mais significativas. Mas até que ponto a utilização da biodiversidade em cultos religiosos é
válida? Quais valores místicos são atribuídos à biodiversidade e em que isso implica?
Seguindo esta linha, a 35ª edição da Interciência traz essa discussão em um artigo intitulado A Natureza Sagrada do Candomblé: Análise mística acerca da
natureza em terreiros de Candomblé no Nordeste de Brasil, em que os autores avaliam a fundamentação da religião, o Candomblé, analisando como é feita a
construção mística, como são classificados os deuses e como se dá a interação dos praticantes com os elementos da natureza. Neste artigo, o candomblé é
entendido como uma religião afro-brasileira que foi inicialmente introduzida no Brasil através de escravos advindos de diversas regiões da África. Essa
manifestação religiosa tem, em sua essência, elementos africanos. O candomblé é uma religião que cultua vários deuses, denominados orixás que, segundo
os praticantes, são personificações dos elementos e manifestações naturais.
Partindo do ponto de vista ecológico, a associação das divindades a elementos da natureza possui grande valor, tendo em vista que quando um orixá é
associado a determinado elemento natural, ele passa a ser sagrado e venerado. Como consequência para os praticantes, a natureza passa a ser divina, já que
ela seria morada dessas divindades. Contudo, o candomblé, assim como outras manifestações afro-brasileiras, possui várias nações, ou seja, diversas tribos
que cultuam o candomblé de forma distinta. Isso facilita o surgimento de diferentes interpretações místicas; então, o que é sagrado para uma nação, pode não
ter o mesmo significado para a outra, fazendo com que a avaliação do valor da biodiversidade seja dificultada. Outro ponto relevante seria a imolação, ou
seja, o sacrifício de animais nos cultos religiosos. Estima-se que sejam utilizadas 129 espécies de animais (ou produtos derivados de animais) em terreiros ou
no mercado místico-religioso. Analisando sob o ponto de vista conservacionista, isto pode representar um aspecto negativo, pois muitos dos animais
utilizados são de origem silvestre e/ou encontram-se na lista de espécies ameaçadas. Desta forma, sua utilização exacerbada pode causar impactos em
populações de espécies já desgastadas.
Nessa perspectiva vemos o quão significante é a biodiversidade no âmbito místico-religioso. Por um lado, a
associação da natureza e de seus elementos com os orixás constitui um ponto positivo, pois os seguidores passam a
cuidar do meio em que vivem como cuidam do seu deus. Por outro lado, o sacrifício e o comércio de diversas
espécies de animais pode representar uma perda de biodiversidade devido à imensa quantidade de nações religiosas
existentes assim como os diferentes usos dos animais em quantidades que atualmente ainda não são conhecidas.
Portanto, fazem-se necessários estudos e trabalhos que envolvam essa relação religião-natureza na área de biologia da
conservação para que sejam propostas e executadas estratégias de conservação e manejo da biodiversidade, medidas
estas
que,
evidentemente,
não
podem
ferir
preceitos
religiosos,
tradicionais
e
culturais.
Fonte: A Natureza Sagrada do Candomblé: Análise mística acerca da natureza em terreiros de
Candomblé no Nordeste de Brasil. Interciência, vol35, núm.8, agosto, 2010, pp.568-574
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“Formiganet”, tumores e recrutamento: soluções
integradas
Por: Mariana Bonfim P. Mendes
Formigas são organismos cooperativos e formadores de
colônias. Essa complexa relação ecológica envolve, além de uma
clara distribuição de trabalho entre operárias, soldados e rainha, a
estruturação de uma rede de interconectividade química
responsável pelo recrutamento de indivíduos, que se torna visível
pela formação das famosas “filas de formigas”. Desde as fábulas
clássicas do escritor grego Esopo, as formigas são vistas como os
famosos animais que trabalham incessantemente para garantir a
sobrevivência durante a próxima estação escassa. Sabe-se, no
entanto, que não há forrageamento sem trabalho colaborativo
entre esses insetos. Nesse sentindo, a mais de 30 anos a ecóloga
Deborah Gordon vem pesquisando a respeito da evolução desses
organismos, em particular no que desrespeito à coleta de
alimento para o ninho. Partindo dessa perspectiva, de que forma
o
comportamento
de
forrageamento de formigas, a
internet e os tumores
estariam ligados? O ponto de
convergência
é
claro:
recrutamento.
Em recente publicação a Dra. Gordon observou que além
de recrutarem novas operárias para a coleta de alimentos, as
colônias poderiam adequar-se fisiologicamente às condições
ambientais. Em caso de seca, os animais reduziriam a atividade a
fim de minimizar a dessecação. Nesse sentido, as formigas
seriam capazes de alterar o fluxo das “forrageadoras” em
resposta às condições ambientais de forma a beneficiar toda a
colônia. Não surpreendentemente, a internet baseia-se na
transmissão de dados por meio de uma rede interconectada, cujos
algoritmos são capazes de determinar não só a velocidade na
transmissão da informação, mas o momento em que esta deixa a
fonte. A “formiganet” (do inglês anternet) refere-se a ambas as
redes de estrutura convergente, uma vez que, assim como na
World Wide Web, o recrutamento em formigas parte da saída
das exploradoras e retorno para transmissão da informação.
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Talvez a sofisticação e inovação cada vez maior da
internet possa ter respostas na “formiganet”, sendo a recíproca
também verdadeira.
A trilha química é fundamental para a efetivação do
recrutamento. Considerando cânceres em estado de metástase, as
células tumorogênicas originadas em tumor primário em uma
determinada parte do corpo, alcançam a corrente sanguínea em
busca de recursos para o seu desenvolvimento e acabam por
disseminar-se. Em caso de estes recursos estarem concentrados
em determinado órgão ou tecido, a probabilidade de
desenvolvimento de tumor no local aumenta exponencialmente.
Em campo e no laboratório, a equipe de pesquisadores liderada
pela Dra. Gordon, observou que em casos de recursos
concentrados – como, por exemplo, uma mesa de piquenique – a
velocidade de exploração do recurso pelas formigas é maior, uma
vez que estes se encontram concentrados. O processo de
recrutamento é acelerado e torna-se efetivo com as trilhas
químicas de ácido fórmico e outras substâncias deixadas no solo.
É possível que uma compreensão mais detalhada da forma como
se dá essa rede química entre formigas possa fornecer bases para
tratamentos mais efetivos de canceres no sentido de bloqueio da
informação e ruptura das redes de comunicação célula-célula.
O recrutamento em formigas, cânceres e internet pode
estar interconectado ainda mais. A busca pelo insight de
determinada pesquisa pode estar na premissa de outrem. Nos
primórdios da ciência almejava-se por uma compreensão
holística e integrada do planeta, em que pesquisadores,
naturalistas, alquimistas, médicos e juristas eram características
de um único perfil. Embora se vivam novos tempos, pesquisas
como a da Dra. Gordon trazem à tona a incessante pergunta:
como integrar as diversas áreas do conhecimento? É possível que
mais que sermos completos individualmente como profissionais,
devamos retirar outra lição do comportamento de forrageamento
das formigas: a colaboração. A ciência colaborativa e
cooperativa tem se mostrado já fora das utopias e se lança nos
laboratórios, conferências e análises de campos. É chegada a
hora, então, de recrutá-la.
Fontes: Gordon, D.M. The Ecology of Collective Behavior. PLoS Biol, v. 12, n. 3, pp. 1-4 2014.
Gordon, D. M. The rewards of restraint in the collective regulation of foraging by harvester ant conlonies. Nature, v. 498, n. 7452, pp. 91-93. 2013
Gordon, D.M. What ants can teach us about the brain, cancer and the internet. Comunicação oral em TED Talks. Vacouver, BC. Mar. 2014.
Disponível em <http://www.ted.com/talks/deborah_gordon_what_ants_teach_us_about_the_brain_cancer_and_the_internet>. Acessado em 01/06/2014
Discernindo o Transmundano: um ensaio sobre a mente e a sua relação com o pensamento mágico
Por: André Alvares Marques Vale
O cérebro humano é uma das estruturas mais enigmáticas criadas pelo processo evolutivo. Sua provável origem
encontra semelhança nas redes neurais difusas dos cnidários. Estruturas similares a esta rede primitiva sofreram
inúmeras pressões seletivas para que pudessem cada vez mais coordenar movimentos complexos e processar um
alto número de estímulos sensoriais, além de gerar respostas específicas a eles. Conforme variações aleatórias
surgiam, a seleção natural acabava por selecionar os indivíduos que possuíam uma estrutura nervosa mais
centralizada e condensada, permitindo um balanço preciso entre eficiência e espaço. Era o surgimento do sistema
nervoso central, cujo ápice gerou o cérebro.
Uma infinidade de organismos possuem cérebros bem desenvolvidos, em especial os répteis e mamíferos. Porém, o cérebro dos
Homo sapiens não encontra precedentes na natureza. Cada um dos seus 100 bilhões de neurônios se encontra conectado a outros 10 mil,
gerando uma rede capaz de permitir fenômenos como a consciência, o raciocínio lógico e até mesmo a previsão de eventos futuros,
baseados em dados coletados no presente, gerando assim, conjecturas sobre o que ainda está por acontecer. Apesar desse imenso poder
mental, os seres humanos ainda são “vítimas” de certos comportamentos que parecem desrespeitar a capacidade psíquica dada pela
incrível máquina que é o cérebro. Dentre elas, acreditar em coisas cuja existência não pode ser provada por nenhum método confiável
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(fantasmas, fadas, deuses e demônios, por exemplo), observar ordem e significado em padrões aparentemente aleatórios (ver imagens
religiosas na natureza ou, então, animais em nuvens) ou acreditar que utilizar certos objetos e/ou realizar certas ações possam interferir
no resultado de certos eventos aparentemente não relacionados (utilizar rituais para mudar o tempo ou usar amuletos para trazer boa
sorte).
Apesar de parecer contraditório, todos estes aparentes “defeitos” da mente humana são, na verdade, até certo ponto, frutos dos
próprios processos mentais que a constituem, sendo alguns deles, acreditem ou não, intencionais, ou pelo menos é isso que apontam
certos estudos nas áreas da psicologia e biologia evolutiva. Ver e crer no que não pode ser visto ou ouvido, tocado ou sentido é na
verdade uma caraterística herdada de nossos ancestrais, fruto de um “super detector de agente”, que nos permite perceber um sujeito por
trás da ação mesmo que ele não esteja lá. No passado, era esse dispositivo psíquico que nos protegia de predadores, que nem sempre
poderiam ser ouvidos ou vistos, mas, caso sua presença fosse remotamente sentida, desencadeava uma resposta de fuga. O mesmo
funciona em relação ao fato de observarmos padrões e significados onde aparentemente não existe tal coisa. Apesar de a capacidade de
imaginar animais e objetos nas nuvens pareça inútil nos dias de hoje, conseguir achar um padrão nas estrelas e imaginar figuras nelas
ajudava enormemente nossos antepassados a se orientarem no céu noturno, assim como relacionar o efeito do sol sobre as plantas
mesmo que não existisse conhecimento para fazê-lo de forma verdadeira.
Porém, de todos os “bugs” da mente humana, talvez um dos mais interessantes seja o relacionado com o pensamento mágico. Este
tipo de processo mental permite que uma pessoa acredite que suas ações e pensamentos tenham um impacto real na malha tanto do
tempo quanto do espaço e nos objetos que neles se encontram, ou seja, o pensamento teria poder sobre os fenômenos deste mundo.
Muitos iriam argumentar que tal relação de causa (pensamento) e efeito (acontecimento por ele provocado ou modificado) seria
totalmente impossível. Nós não podemos mover objetos com a mente ou então utilizar palavras para criar ou destruir coisas ou
modificar eventos. Simplesmente impossível... Será?
Mecânica quântica a parte, não existem dados científicos que permitam comprovar tais alegações de poderes “sobrenaturais”.
Entretanto, uma coisa é certa, o pensamento humano tem o poder de se alterar, modificando nossas percepções e concepções. A partir
daí, para modificar a realidade basta apenas um passo, afinal nossa compreensão do mundo não passa da interpretação que o nosso
sistema cognitivo dá aos estímulos sensoriais que recebemos do meio. Sendo assim, se você modificar a máquina que traduz e interpreta
os estímulos, você estará modificando a realidade, uma vez que esta é construída, em ultima instância, em sua mente. Prova disso são os
estudos que demostram a eficácia dos amuletos, talismãs e rituais que, embora não sejam capazes de modificar os eventos em si, são
capazes de modificar a percepção que as pessoas têm e suas reações diante deles, alterando assim os próprios eventos físicos. O mais
interessante destes fenômenos é que sua eficiência só depende do poder de crença que o individuo tem em relação ao agente causador
de modificação da realidade, seja ele real ou não. Sendo assim, mantenha-se firme em relação às suas crenças! Elas têm poder, mesmo
que todo o resto do mundo diga a você o contrário.
Fontes: BARRETT, J.L. Exploring the natural foundations of religion. Cognitive Sciences. 2000.
BERING, J. The cognitive psychology of belief in the supernatural. American Scientist. 2006.
DAMISCH, L. et al. Keep your fingers crossed!: how superstition improves performance. Psychol Sci. 2010.
E. VOLAND, W. SCHIEFENHÖVEL. The Biological Evolution of Religious Mind and Behavior, The Frontiers Collection,C Springer-Verlag Berlin
Heidelberg. 2009.
MOREIRA, A. A. Explorando a relação mente-cérebro: reflexões e diretrizes. Revista de Psiquiatria Clínica. 2013.
SUBBOTSKY, E. The Belief in Magic in the Age of Science. SAGE. 2014.
Os Seres Artificiais e o limite entre vida e máquina
Por: Rafael Rodrigues de Lima
A ideia de transpor o limite entre a vida e a tecnologia não é novidade. Na ficção
científica, filmes como “Homem Bicentenário” e “Inteligência Artificial” nos apresentam
máquinas dotadas de corpos, sentimentos e personalidade. Ainda não chegamos ao mesmo
patamar tecnológico dessas histórias, mas nos aproximamos desse limite através da criação
das “bactérias sintéticas”, em 2010 pelo Instituto Craig Venter. Nessa pesquisa, foi feita a
inserção bem-sucedida de um genoma totalmente artificial em uma bactéria sem DNA, abrindo portas para uma nova geração de
bactérias sintéticas pré-definidas para a realização de tarefas de nosso interesse. Tais pesquisas podem nos levar a refletir: o que
diferenciaria “máquinas” de “vida”? Existe um limite entre ambas?
Para diferenciar ambas, torna-se necessário antes defini-las. Definir “máquina” é razoavelmente fácil: são dispositivos artificiais que
transformam energia para atingir um objetivo pré-determinado, normalmente formadas por um conjunto de peças que trabalham juntas,
automáticas ou não. “Vida”, no entanto, é mais complicado, com inúmeras definições diferentes já propostas. Em geral, “vida” seria um
sistema capaz de replicação com variações que seriam selecionadas ou não pela seleção natural (configurando uma evolução biológica)
e que utiliza uma fonte de energia para desenvolver seus processos metabólicos.
Dessa forma, é fácil observar a distinção entre “máquinas” e “vida”, mas apesar de diferentes, ambas possuem semelhanças:
utilizam energia para realização de trabalho; possuem códigos-mãe que norteiam o funcionamento do sistema e os mecanismos por ele
desempenhados (como o genoma nos seres vivos e a programação através de códigos binários nos eletrônicos); etc. A visão
reducionista, uma das escolas de pensamento mais antigas da ciência, também costuma tratar a vida como algo semelhante a uma
máquina, pois tenta explicar toda a complexidade do mundo vivo através de seus genes, por exemplo. Dessa ideia surgiu o mito de que
o genoma seria um “livro da vida” de um ser, capaz de mostrar exatamente como ele é.
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Uma vez diferenciados os conceitos de “vida” e “máquina”, resta-nos esclarecer o limite entre ambas. Segundo o texto de Deplazes e
Huppenbauer (2009), devemos partir do animal selvagem, sem qualquer influência humana; em seguida, o animal domesticado, muitas
vezes selecionado artificialmente para obter características que nos agradam; depois, os organismos geneticamente modificados; a
seguir, células modificadas através da engenharia genética para serem mais efetivas em dada função ou que produzam determinada
substância. Seguindo, existem os chamados “organismos chassis”, que seriam organismos formados naturalmente, mas como o nome já
diz, são apenas a “lataria” para a inserção de genomas totalmente artificiais. A partir desse ponto é que máquinas e seres vivos, enfim,
se confundiriam, pois, com a capacidade de criar genomas inteiramente novos e com um conhecimento bastante aprofundado sobre as
vias metabólicas, praticamente tudo poderia ser efetuado dentro de uma célula, de forma a torná-la um mecanismo com função e
estrutura inteiramente pré-estabelecidos.
“Vida” e “Máquina”, embora diferentes, possuem semelhanças capazes de se sobrepor e confundir, levando-nos, já hoje, a
discussões acirradas sobre o direito e o dever de se realizar pesquisas dentro da Biologia Sintética. Porém, a partir da demarcação do
limite entre vida e máquina, somos capazes de criar uma visão mais ampla do processo sintético, refletir sobre as questões inerentes à
vida, e nos posicionarmos diante das discussões sobre o assunto.
.
Deplazes,
Fontes: Pesquisadores anunciam criação do vírus HIV artificial. G1. 2010. Disponível em: http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2010/05/pesquisadoresanunciam-criacao-do-virus-hiv-artificial.html. Acesso em 16/06/2014
Anna
&
Huppenbauer,
Markus.
2001.
Synthetic
organisms
and
living
machines.
Syst
Synth
Biol
(2009)
3:55–63
O mistério da tartaruga
O Projeto TAMAR-ICMBio foi criado em 1980, pelo atual
Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (IBAMA), e possui
prestígio internacional como uma das mais bem sucedidas
instituições dedicadas à preservação da vida marinha. O projeto se
dedica a pesquisa, conservação e manejo das cinco espécies de
tartarugas marinhas encontradas no Brasil, todas ameaçadas de
extinção, a saber: Chelonia mydas (Tartaruga verde), Caretta
caretta (cabeçuda), Dermochelys coriacea (de couro),
Eretmochelys imbricata (de pente), Lepidochelys olivacea
(tartaruga oliva).
Contudo, um estranho caso começou a ocorrer nas atividades
do TAMAR na Bahia. Nos últimos anos, durante as atividades de
monitoramento realizadas pelo projeto, começaram a ser
capturadas tartarugas com características que diferiam das outras
espécies comumente encontradas na região. Uma nova espécie
teria então sido descoberta? Amostras de DNA do animal foram
enviadas para laboratórios nos Estados Unidos para analisar se
realmente se tratava de uma espécie desconhecida. O resultado dos
testes surpreendeu: o animal encontrado possuía traços genéticos
de duas outras espécies, tratando-se então de um híbrido.
Então, você sabe o que é um animal híbrido, ou mesmo
hibridismo? Hibridismo é o cruzamento genético entre duas
espécies distintas originando descendência, sendo o híbrido o fruto
dessa relação. Existem três categorias de hibridismo mais
frequentes na natureza, que são: intraespecíficas – híbridos
formados a partir de indivíduos da mesma espécie, só que entre
subespécies diferentes; interespecíficas – cruzamentos de
indivíduos de espécies diferentes; interfamiliares – um pouco mais
rara e que deriva do cruzamento entre famílias diferentes. Este
fenômeno, que ocorre naturalmente no ambiente, origina
variabilidade genética nas populações, podendo até gerar novas
espécies no decorrer de um longo período de tempo. Entretanto,
também pode trazer consequências negativas, como redução de
fitness, ou seja, a contribuição do individuo para o genoma da
espécie. Assim, o novo organismo pode apresentar uma aptidão
diminuída, levando à extinção da população original pela
otimização fenotípica do híbrido, que posteriormente a substitui no
ecossistema, ou até mesma a extinção de ambas (parental e
hibrida) por conta da competição.
Entretanto, com o aprofundamento de estudos na região,
Por: Rodrigo Pimenta Silva
constatou-se que na Bahia a situação é preocupante e mais séria
do que se imaginava.
O nível de hibridismo na costa do estado está alcançando 42%,
um valor altíssimo. Especula-se que
a causa seja a intensa ação antrópica,
com diminuição e espaçamento das
populações de tartarugas, que passam
então a copular com parceiros de
outras espécies. A espécie híbrida
então passa a ocupar o mesmo nicho da espécie parental ou de
ambas, consequentemente prejudicando a espécie parental. Um dos
híbridos em questão é o resultado do cruzamento entre
Eretmochelys imbricata (tartaruga de pente) e Caretta caretta
(cabeçuda), que já são espécies ameaçadas de extinção e podem
não reagir bem a mais essa “invasão”.
Ainda não está claro como o hibridismo está afetando essas
espécies? Com essa crescente taxa de ocorrência citada acima,
pode ser que o número de híbridos se torne maior do que o número
de indivíduos das espécies parentais; mesmo com uma fertilidade
baixa esses animais ainda se reproduzem com outro híbrido ou
com uma terceira espécie (fato que já acontece na Bahia, com
exemplares “trihíbridos”); essa terceira geração de híbridos já se
encontra muito degenerada, apresentando má formação nos
indivíduos logo que saem dos ovos (a maioria nem chega a
nascer). Todos estes fatores poderiam levar à extinção essas
espécies.
Como já mencionado, a mais provável causa desse efeito é a
ação antrópica através da interferência no habitat destes animais,
dando mais um exemplo da capacidade do homem em prejudicar o
ambiente em que vive. Alguns podem alegar que o fato das
espécies estarem cruzando entre si pode ser importante do ponto de
vista da sua sobrevivência, mas é cedo para se afirmar como essas
gerações resultantes irão se comportar e mesmo se possuem vigor
para se manterem no ambiente.
Fonte: Hawksbill × loggerhead sea turtle hybrids at Bahia, Brazil: where do their
offspring go?
Maira C. Proietti, Julia Reisser, Luis F. Marins, Maria A. Marcovaldi, Luciano S.
Soares, Danielle S. Monteiro, Sarath Wijeratne, Charitha Pattiaratchi, Eduardo R.
Secchi
PeerJ. 2014; 2: e255. Published online 2014 February 13. doi: 10.7717/peerj.255
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Notícia
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Nova pesquisa com hipotermia pretende abrir portas para cirurgias de alto risco
Por: Rafael Rodrigues de Lima
A “Animação Suspensa” (ou AS) é um conceito familiar aos amantes de ficção científica,
como Star Wars e Avatar. Ela refere-se à desaceleração de processos fisiológicos vitais de um
indivíduo, como respiração e pulsação, por métodos externos. Nas histórias, a AS é normalmente
utilizada para viajar pelo universo, sendo que astronautas e exploradores têm seu metabolismo
drasticamente reduzido; e os anos no ambiente externo poderiam significar apenas dias dentro do
organismo. Não se pode negar que tal tecnologia seria um avanço enorme para a ciência,
possibilitando, por exemplo, cirurgias com menores riscos e a exploração de outros planetas. Por
conta disso, há muito tempo cientistas vem pesquisando métodos de alcançá-la, como a hipotermia induzida. Agora, um grupo de
pesquisadores dos Estados Unidos pretende realizar os primeiros testes de hipotermia induzida de alta duração em humanos, um
possível meio de se chegar até a AS.
O estudo acontecerá no hospital UPMC Presbyterian Hospital, em Pittsburgh, EUA, e focará em pacientes com traumas que
sofreram paradas cardíacas. Segundo dados, nesses casos as chances de sobrevivência são menores que 10%. Dez pacientes com este
perfil serão submetidos ao estado de hipotermia, a uma temperatura de 10°C e por cerca de duas horas, a partir da administração de uma
grande quantidade de um composto específico, injetado na artéria. Consequentemente, processos metabólicos e riscos, como
hemorragia, serão minimizados. Para reanimação, uma máquina de circulação coração-pulmão será utilizada para restaurar o padrão
normal do organismo. Assim, os médicos obterão tempo e segurança necessários para a realização das cirurgias. Além disso, será
adotado como grupo controle outros dez pacientes que, por algum motivo médico, não podem ser submetidos à hipotermia. Os
pesquisadores envolvidos no estudo pretendem conseguir dados suficientes para análise e refinamento da técnica, repetindo o
experimento em seguida.
Fontes: WINTER, Lisa. Suspended Animation Human Trials About to Begin. Disponível em: http://www.iflscience.com/health-and-medicine/suspendedanimation-human-trials-about-begin#pVhKtc2ojdu3EEi2.99. Visualizado em: 16/06/2014.
Acute Care Research., Advance Emergency Medicine to Save Lives. Disponível em: http://acutecareresearch.org/studies/current/emergency- preservation-andresuscitation-cardiac-arrest-trauma-epr-cat. Visualizado em: 16/06/2014
Ponto de Vista Biológico
Por: Leonardo Manir Feitosa
Uma declaração de amor à Biologia e à Ciência
Quando crianças, temos alguns sonhos ingênuos para o nosso futuro. Alguns de nós, estudantes de Biologia, acredito, diziam que
queriam ser cientistas quando crescessem. Realmente, ser cientista deve ser uma coisa fantástica! Quando seu sonho de criança
atravessa sua juventude e te leva a escolher um curso superior que te proporciona ser um cientista, e muito mais, vamos
amadurecendo e entendendo o que realmente é ser um deles. Alguns desses parceiros de profissão conseguem atingir um nível tão
elevado de “maturidade científica” que escrevem livros sobre sua própria ciência. Ernst Mayr, biólogo alemão e um dos mais
importantes cientistas da história, pertence a esse seleto grupo de pesquisadores. Em seu livro “Biologia, Ciência Única”, publicado
em 2005, Mayr faz uma análise filosófica geral do nosso tão amado campo de estudo, além de discorrer sobre evolução humana,
definições de o que é uma espécie e sobre vida no Universo. Sob o foco principal do livro – a filosofia da Biologia – este foi um
trabalho pioneiro. Ainda que recente, serviu de base para muitos outros livros e para o próprio entendimento de nossas futuras
profissões de “fazedores” da ciência. Ainda assim, é muito difícil definir o que é ciência e o que não é.
Imagino que quem já tenha parado para pensar sobre a Biologia em si, já deve ter percebido que nossas pesquisas e descobertas são feitas com
metodologias muito distintas de outras ciências como Física e Química. Resultados em Ecologia, Paleontologia e outras áreas são influenciados por
diferentes fatores – especialmente quando os trabalhos são feitos no campo – enquanto que nas ciências naturais exatas, esses resultados são obtidos com
experimentos extremamente controlados. Neste ponto, podemos pensar: mas e a Genética? Essa pode ser, acredito eu, a mais incrível particularidade da
Biologia. Ela tem características de ciência exata, mas trabalha com um mundo particular, uma fração do mundo vivo (talvez a base dele todo) – o DNA.
Dessa forma, percebe-se o quão especial é ser um cientista da vida.
Mayr divide a ciência do mundo vivo em dois grandes grupos: biologia funcional e biologia evolucionista. A biologia funcional seria caracterizada
como as áreas de estudo com métodos protocolados e com experimentos controlados. Nesse grupo, se encaixam a Genética, a Biologia Molecular, a
Bioquímica, entre outras. Por outro lado, a biologia evolucionista tem uma particularidade. É muito raro observar a macroevolução em experimentos, por
conta do elevado tempo necessário para presenciar mudanças, luxo que não dispomos. Portanto, utilizam-se as narrativas históricas que, às vezes,
parecem contos sobre um passado longínquo e que requerem um pouco de imaginação para serem entendidos. Ainda assim, essas histórias têm de ser
capazes de predizer fenômenos e de serem “testáveis” e, portanto, comprováveis ou não. Nenhuma outra ciência tem tanta versatilidade de métodos e
áreas de estudo como a nossa. Por isso, muitas vezes temos que ser historiadores, físicos, químicos, matemáticos, geógrafos, veterinários e sociólogos
para sermos verdadeiros biólogos.
Além de falar sobre filosofia da Biologia, Mayr também aborda teorias importantes como seleção, conceito de espécie e evolução humana. É um livro
muito interessante e que merece ser lido com muita atenção. Ser biólogo não é apenas ir para o campo ou para o laboratório, coletar suas amostras,
analisá-las estatisticamente e escrever trabalhos ou planos de manejo e conservação de áreas. Ser biólogo é entender a vida, desde sua menor parte até a
maior escala possível. É também valorizar sua ciência e procurar sempre aprofundar seus conhecimentos nas mais variadas áreas de estudo. A Biologia é
uma ciência holística. Seria um desperdício reduzi-la a alguns conceitos específicos. Mayr levou mais de 80 anos de vida para escrever essa obra prima.
Talvez nós só tenhamos “maturidade científica” quando já estivermos muito velhos. Provavelmente “Biologia: Ciência Única” mude esse prognóstico.
Aproveitem a leitura!
Fonte: Mayr, E. Biologia, ciência única: reflexões sobre a autonomia de
uma disciplina científica. São Paulo, Companhia das Letras, 2009.
pet.ufma.br/biologia
Boletim do PET  nº 28 Julho/2014
Entrevista
p. 12
Por: José Uilian da Silva, Rafael Antônio Brandão e Rodrigo Pimenta
A entrevista desta edição do Boletim do PET-Bio foi realizada com a professora Profª. Dr. ª Isabel Ibarra
Cabrera, doutora em História Contemporânea pela Universidade de Complutense de Madrid (UnB). Atualmente
é Pró-reitora de Ensino da Universidade Federal do Maranhão e coordenadora do Programa Ciências sem
Fronteiras (CsF). A Professora foi convidada para nos falar do programa CsF, que vem dado oportunidades aos
estudantes de diversos cursos de estudarem em outras instituições superiores de outros Países por um período
de tempo e que cada vez mais a procura aumenta e as dúvidas surgem. Esperamos que você goste da entrevista
Boletim PET-BIO: O que é o “Ciência sem Fronteiras” e quais são os requisitos para participar do
programa?
Profª. Isabel: O “Ciência sem Fronteiras” é um programa que ficou instituído a partir do Decreto Nº 7.642 de 13
de dezembro de 2011. O objetivo principal do programa é promover a consolidação, expansão e
internacionalização da ciência e tecnologia, da inovação e competitividade brasileira por meio do intercambio e
mobilidade internacional (www.cienciasemfronteiras.gov.br). Os requisitos para um estudante de graduação
participar do programa são:
 Ser brasileiro ou naturalizado;
 Estar regularmente matriculado em Instituição de Ensino Superior no Brasil em cursos relacionados às
áreas prioritárias do Ciência sem Fronteiras;
 Ter sido classificado com nota do Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM - com no mínimo 600
pontos considerando os testes aplicados a partir de 2009;
 Possuir bom desempenho acadêmico, inclusive participação em programas acadêmicos como: Jovens
Talentos, PET, PIBIC, PIBITI e PIBID.
 Ter concluído no mínimo 20% e no máximo 90% do currículo previsto para o curso de graduação.
Boletim PET-BIO: Alguns estudantes do PET-Biologia já foram bolsistas do programa Ciência sem
Fronteiras. A UFMA tem algum plano para aproveitar os conhecimentos adquiridos e as experiências
vivenciadas por estes estudantes na construção de uma universidade melhor?
Profª. Isabel: A UFMA foi a Instituição no Estado do Maranhão contemplada com maior número de estudantes
selecionados para participar do programa Ciência sem Fronteiras. Em total foram selecionados 322 alunos e 37
do curso de Ciências Biológicas, muitos desses estudantes participantes do PET- Biologia, que é o primeiro
grupo PET da UFMA , possuindo atuação importante na formação acadêmica desses alunos. Os conhecimentos e
experiências adquiridas pelos estudantes da nossa Universidade que participaram do “Ciência sem Fronteiras”
devem ser aproveitadas, especialmente, em seus cursos de origem. A coordenação do Programa Ciência sem
Fronteiras/ UFMA tem realizado esforços para preparar melhor os estudantes de graduação que estão sendo
selecionados e pretende que esses estudantes que voltaram possam contribuir também na preparação dos
próximos estudantes que realizarão a mobilidade internacional.
Boletim PET-BIO: Como foi o rendimento dos estudantes da UFMA que já retornaram do
exterior? Nossos estudantes estão no mesmo nível dos universitários de países como França, Canadá e
Estados Unidos?
Profª. Isabel: O Programa Ciência sem Fronteiras tem como agências de fomento a Capes e CNPq. Esta última
encaminha o relatório de desempenho dos estudantes durante a realização do intercâmbio internacional. O
rendimento desses estudantes de uma forma geral tem sido de bom a muito bom. Muitos estudantes estão
voltando para nossa Universidade com o convite de retornar para a realização de pós-graduação nos países que
fizeram a mobilidade internacional durante a graduação. Isso é um indicador que os estudantes que foram
selecionados pelo programa estão em um patamar de competitividade igual à dos universitários dos países acima
citados.
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Boletim PET-BIO: Existe algum plano de inclusão dos cursos de Ciências Humanas no programa?
Qual o impacto das ausências de tais cursos perante o meio acadêmico?
Profª. Isabel: Até agora não existe nenhum plano de inclusão das Ciências Humanas e Sociais no Programa
Ciência sem Fronteiras. Como pertenço a área de humanas, tenho colocado em várias ocasiões durante as
reuniões do Ciência sem Fronteiras, a necessidade de ampliar o programa para inserir as áreas de humanas e
sociais ou criar um programa similar que contemple nossa área para garantir também aos nossos alunos a
experiência do intercâmbio internacional durante a graduação. Acredito, no entanto, que a internacionalização do
ensino superior é uma necessidade crescente e tenho visto o surgimento de vários outros programas de
intercâmbio onde a nossa área já é contemplada (ex. bolsa ibero-americana do Santander dentre outras).
Boletim PET-BIO: Em sua opinião, qual a importância deste Programa para o desenvolvimento
das ciências e da educação superior no Brasil?
Profª. Isabel: O programa Ciência sem Fronteiras surge de um diagnóstico da carência de uma política de
internacionalização no Ensino Superior brasileiro. O Programa tem uma importância para o desenvolvimento da
ciência e tecnologia e oportuniza o preparo de nossos alunos em outros contextos educacionais. No entanto,
acredito que o programa CsF deve criar também uma política de fixação para o retorno e permanência nas nossas
instituições dos estudantes que foram selecionados pelo programa e foram considerados de excelência.
O PET Biologia agradece a professora Isabel Barra e espera que vocês tenham aproveitado essa
entrevista!
Linha de Pesquisa
Por: Elias da Costa Araujo Junior e Luciana Soares Lima
Na segunda edição deste ano do Boletim PET/Biologia, conversamos com o Professor Doutor Ricardo Barbieri,
para apresentarmos suas linhas de pesquisa desenvolvidas na Universidade Federal do Maranhão. O professor
tem experiência na área de sustentabilidade e limnologia.
Ricardo Barbieri ingressou como Professor e Pesquisador na Universidade Federal do Maranhão no ano
de 1985 e realizou logo em seguida um projeto de pesquisa em parceria com a Professora Doutora Maria do
Socorro Rodrigues Ibañez e com a Professora Marlúcia. Em seguida, participou de um projeto que consistia em
caracterizar as principais variáveis químicas e físicas dos lagos de Viana e Lago-açu, além de demonstrar a
comunidade biológica de algas e zooplâncton.
Atualmente o Professor Barbieri é um dos coordenadores do núcleo de limnologia da Universidade
Federal do Maranhão. Este núcleo consiste em dois laboratórios, sendo um voltado para pesquisas sobre
limnologia e outro para a geoquímica ambiental. Segundo o professor, existem perspectivas de separar os dois
laboratórios, visto que novas linhas de pesquisa foram trazidas. Entre essas áreas de estudo, Barbieri destaca os
trabalhos com foco em formação geológica no oceano e origem biológica, além de pesquisas voltadas para área
de oceanografia química, sendo as últimas realizadas atualmente pela Professora Doutora Samara Eschrique.
Em relação ao quadro de estagiários do Laboratório de Liminologia, Barbieri menciona que os alunos são
tanto da graduação quanto do mestrado em sustentabilidade de ecossistemas. Os interessados em conhecer a
rotina do Laboratório devem entrar em contato com o Professor Barbieri, sendo estes entrevistados e
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encaminhados para a leitura de textos relacionados com a linha de pesquisa. Os projetos são ainda divididos em
atividades em conjunto com todos os estagiários, além de projetos individuais, como no caso de conclusão de
curso e iniciação cientifica. Atualmente não está sendo desenvolvido nenhum projeto de extensão, porém o
último esteve focado no estudo da piscicultura em uma região da Baixada Maranhense e teve como parceria os
Professores Doutores Paulo Roberto Saraiva Cavalcante e José Policarpo Costa Neto.
Outras parcerias foram citadas por Ricardo Barbieri. Atualmente, está sendo realizada uma consultoria na
Petrobras com o Professor Doutor Antônio Leal de Castro e um trabalho de recuperação de mata ciliar na
Baixada Maranhense em parceria com o Professor Doutor Cláudio Urbano. A partir do mês de agosto deste ano
será desenvolvido em parceria com o Professor Doutor Walter Muedas, um novo projeto de pesquisa financiado
pela FAPEMA, consistindo este na análise da dinâmica hídrica relacionada à distribuição dos peixes estuarinos
no baixo curso do rio Pindaré e verificação do impacto das atividades antrópicas na biodiversidade aquática e na
pesca. Outra parceria é com a Professora Doutora Larissa Barreto, sendo realizado um projeto com vínculo
internacional e que consiste no estudo de ecologia da paisagem, diversidade e conservação da bacia do rio
Pindaré, que vêm sendo realizado desde o ano de 2008/2009.
Quanto às perspectivas futuras, o Professor Ricardo Barbieri destaca principalmente o conhecimento de outros
lagos e ambientes da região da Baixada Maranhense, uma vez que esta é uma região riquíssima que ainda dever
ser muito estudada.
Eventos
XIV Congresso Mundial de Pesquisas Ambientais, Saúde e
Segurança
20 a 23 de julho de 2014
Cubatão – SP.
XXV FENASAN – Feira Nacional de Saneamento e Meio
Ambiente
30 de julho a 01 de agosto de 2014
São Paulo – SP.
XXVI Congresso Brasileiro de Entomologia
14 a 18 de setembro de 2014
Goiânia – GO.
XLVII Congresso Brasileiro de Geologia
21 a 26 de setembro
Salvador – BA.
X Congresso Nacional de Excelência em Gestão –
Responsabilidade Social e Sustentabilidade
08 e 09 de agosto de 2014
Rio de Janeiro – RJ.
VII Congresso Brasileiro de Mastozoologia
22 a 26 de setembro de 2014
Gramado – RS.
XIII Ecotox – Congresso Brasileiro de Ecotoxicologia,
23 a 26 de setembro
Guarapari – ES.
XVI FIMAI / SIMAI – Feira e Seminário Internacional de Meio
Ambiente Industrial e Sustentabilidade
11 a 13 de novembro de 2014
São Paulo – SP.
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Saudades !!!
Nadson Victor Andrade Cardoso
“Ninguém está realmente preparado para um adeus, mesmo quando este é transformado em um
até breve. Embora busquemos conforto nessas palavras, algumas vezes o “até logo” chega sem
avisar, de forma precoce e abrupta demais. E foi assim que nosso amigo Nadson se despediu,
deixando aquele vazio em cada um de nós. Mas, com certeza, não é a tristeza que ele gostaria de
ver nós olhos daqueles que tanto o quiseram bem. Ele era aquele tipo de pessoa que não podia
ver ninguém triste. Por isso, nós do PET Biologia gostaríamos de trazer em poucas palavras,
nossa solidariedade à família e a todos os amigos do curso de ciências biológicas. Obrigado por
sua animação, energia e alegria, Nadson. Obrigado por nos ensinar que não existem barreiras
para o aprendizado e que sempre é possível melhorar. Obrigado por nos mostrar que com
humildade e dedicação podemos mudar tudo aquilo que está ao nosso redor. Mas, acima de tudo,
obrigado pelo exemplo de estudante e pessoa. Tua partida deixou lagrimas e saudades, mas
acima disto está o sorriso que deixaste nos nossos corações. Carregaremos o teu sorriso a cada
passo daqui por diante, como aquela lembrança boa que nos ajuda em momentos difíceis. Até
logo, amigo!”
pet.ufma.br/biologia
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Frase
”A ética biológica deve estar sempre interligada a ciência, a cultura e a sociedade, como
elementos indispensáveis para integração do homem com a natureza, e assim, o homem
passa a ser chamado de racional e não simplesmente animal, que, age segundo aos seus
extintos momentâneos”.
Anny Nogueira
Charge
Ano 08, n. 28, Julho/2014
ISSN: 2237-6372
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