BRIOGALEDON-As raizes da igualdade

Transcrição

BRIOGALEDON-As raizes da igualdade
O trabalho AS RAÍZES DA IGUALDADE de Gustavo Augusto Bardo foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercialSemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Com base no trabalho disponível em http://briogaledon.wordpress.com/2013/03/13/ebooks-as-raizes-da-igualdade.
Podem estar disponíveis autorizações adicionais ao âmbito desta licença em http://briogaledon.wordpress.com/faleconosco/.
AS RAÍZES DA IGUALDADE
por Gustavo Augusto Bardo
Ceannaire/Líder, por Briogáledon,
http://briogaledon.wordpress.com
Palavras-chave: Guerreiras, Celtas, Permanências, Revoltas, Minorias.
1
O trabalho AS RAÍZES DA IGUALDADE de Gustavo Augusto Bardo foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercialSemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Com base no trabalho disponível em http://briogaledon.wordpress.com/2013/03/13/ebooks-as-raizes-da-igualdade.
Podem estar disponíveis autorizações adicionais ao âmbito desta licença em http://briogaledon.wordpress.com/faleconosco/.
RESUMO
Neste artigo se descreve a relevância da análise da procedência étnica das brechas que
permitem ou impõe a necessidade de harmonia e igualdade entre os gêneros. À sombra das
tensões e da opressão, todo avanço parece surgir do conflito e da discriminação, mas essas
estruturas também ensejam a presença de permanências referentes a povos desconsiderados na
luta por liberdade, tais como os Celtas, cuja sociedade assentada na existência de grandes
Guerreiras, tanto a nível imaginário quanto no histórico, moldou a identidade de diversas etnias
descendentes, algumas das quais migraram e também ajudaram a formar ao Brasil de hoje em
dia. Reconsiderar essas permanências é romper paradigmas nos estudos das tensões sociais, e
devolver dignidade a uma cultura igualitária que jamais deixou de viver em nossa história, e
que foi parcialmente transportada pelo próprio Colonizador, ou por imigrantes do Norte da
Espanha, do Norte de Portugal, da França ou das Ilhas Britânicas, povos que aos dias de hoje
tem cada vez mais resgatado sua Identidade Celta mediante festivais, congressos e
organizações, em clara continuidade desse passado.
Ocultas em contextos sociais, características culturais encontradas em antigas tribos
Celtas, reaparecem ao longo da construção do Brasil. Um sobrenome, uma procedência, e então
todo um universo de conexões com o mundo Celta da Idade Antiga, se torna visivelmente
conectado. Aponta para a possibilidade de que essas estruturas sejam permanências históricas
preservadas de geração a geração mediante a transmissão pela educação familiar, comum a
povos cujos ancestrais ocupam destaque em suas formações morais. À luz das estruturas sociais
dos Antigos Celtas, outras minorias e contextos culturais, desenvolvidos com estruturas
similares, também produziram grandes Guerreiras.
Este artigo analisa tanto a permanência de brechas culturais de passado Céltico para a
questão da igualdade entre gêneros, quanto a repetição dos resultados das mesmas estruturas em
panoramas geohistóricos semelhantes. O foco central são as mulheres que ao longo da nossa
história ocuparam o destaque como guerreiras heróicas ou líderes populares contra panoramas
2
O trabalho AS RAÍZES DA IGUALDADE de Gustavo Augusto Bardo foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercialSemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Com base no trabalho disponível em http://briogaledon.wordpress.com/2013/03/13/ebooks-as-raizes-da-igualdade.
Podem estar disponíveis autorizações adicionais ao âmbito desta licença em http://briogaledon.wordpress.com/faleconosco/.
opressivos.
Para tal estudou-se às Culturas Celtas, nas quais também foram encontradas
grandes guerreiras, que serviram de referência para a busca das guerreiras brasileiras: mulheres
ora afeitas à batalha, à ação, com destemor ao combate, ora acreditando em grandes ideais
voltados ao bem do coletivo, dos mais necessitados, de uma dada crença ou de toda uma nação.
E até encontramos algumas possíveis descendentes, Anita Garibaldi, Chiquinha Gonzaga, entre
outras, então, irão ilustrar a esta pesquisa.
E à luz da repetição de estruturas sociais semelhantes em um Brasil rural, selvagem,
natural e místico, de modo muito semelhante ao contexto do rath Celta, vemos o aparecimento
de mulheres igualmente guerreiras e com grande capacidade de liderança popular ou de
destemor à guerra, tais como evidenciam a soldado Maria Quitéria, a bandeirante Maria Diaz
Ferraz do Amaral chamada Heroína do Capivari, entre outras, ou no lado místico a ativista
judaica Branca Dias, e a líder messiânica Jacobina Mentz Maurer, da Revolta dos Munckers. E
em paralelo à resistência dos povoados celtas de tipo castrejo à escravidão, encontramos em
cidades de ocupação semelhante, mulheres abolicionistas e mulheres idealistas.
E não é por mera coincidência que percebemos em pessoas como a líder republicana
pernambucana Bárbara Pereira de Alencar, ou a cangaceira Maria Bonita, semelhantes
bravuras, pois muito ainda se oculta nas estruturas em que surgem, e na realidade estão bastante
vinculadas. E assim, por realidade histórica ou cultura imaginária, ou ainda desenvolvendo-se
em universos geohistóricos semelhantes, mulheres se tornaram figuras de grande destaque não
apenas por serem reações a estruturas de coação e opressão sociais, mas acima de tudo por
terem conexões a permanências estruturais de sociedades tradicionais, ora assentadas em
fortíssimo enfoque ancestralista, ora vinculadas à percepção da natureza como sagrada, seja nas
comunidades místicas ruralizadas, ou nos sertões do Brasil com sua liberalidade para a
belicosidade, de modo bastante similar ao da sociedade antiga Celta organizada em tribos semiautônomas e como um enclave entre cidade e floresta, e às vezes com clara conexão étnica a
essa civilização guerreira.
3
O trabalho AS RAÍZES DA IGUALDADE de Gustavo Augusto Bardo foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercialSemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Com base no trabalho disponível em http://briogaledon.wordpress.com/2013/03/13/ebooks-as-raizes-da-igualdade.
Podem estar disponíveis autorizações adicionais ao âmbito desta licença em http://briogaledon.wordpress.com/faleconosco/.
AS RAÍZES DA IGUALDADE
por Gustavo Xamã
Ceannaire/Líder, por Bramaigar/FIACBrasil
I. Introdução:
A presença do componente cultural Celta, muito desprezado quando se estuda a
composição étnica do brasileiro, é muito mais marcante do que se imagina. Como etnia aberta à
miscigenação, como deixaram claro pelas várias misturas a que se permitiram, parece que a
identidade em si ficou adormecida sob nome de outras nações. Mas recordemos que o próprio
Lebor Gabála Érenn ou Livro das Invasões da Irlanda deixa claro o fato dessa nação ter sido
formada por sucessivas migrações dos mais variados povos, entre os quais os Galegos e outros
povos do Norte da Península Ibérica, o que foi comprovado geneticamente pela pesquisa de
Dan Bradley em conjunto às Universidades de Trinity/Dublin, de Leeds e de Cambridge, como
também se tornou evidente nos levantamentos de haplogrupos genéticos europeus, como os
disponibilizados pela Eupedia que apontam, apenas a título ilustrativo, para o haplogrupo R1b
que inclui os celtas da Era Romana, nada menos que 56% de descendentes atuais, somente em
Portugal (Fig. 1), havendo outros haplogrupos célticos, o que evidencia uma grande
contribuição genética para uma das populações formadoras do Brasil, e por que não
evidenciaria uma grande influência cultural, já que se trata de uma sociedade tradicional,
apegada a ancestrais e ao valor da continuidade desses ao longo da memória das gerações
futuras? No campo da História do Imaginário, o trisquel ou triskelion símbolo céltico maior,
costuma ser interpretado como símbolo da vida, da morte, do renascimento, da igualdade, da
eternidade e da indivisibilidade, deixando claro que a idéia de continuidade impregnava os
Celtas Antigos. Além disso, após o surgimento do Celtismo a partir do século XVIII, e por
consegüinte a Independência da Irlanda entre as décadas de 1920 e 1930, a identidade Celta já
foi resgatada por variados povos descendentes, outra evidência dessa continuidade, caso
contrário, não teria se desenvolvido o interesse na mesma nem haveriam vestígios culturais e de
4
O trabalho AS RAÍZES DA IGUALDADE de Gustavo Augusto Bardo foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercialSemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Com base no trabalho disponível em http://briogaledon.wordpress.com/2013/03/13/ebooks-as-raizes-da-igualdade.
Podem estar disponíveis autorizações adicionais ao âmbito desta licença em http://briogaledon.wordpress.com/faleconosco/.
imaginário sobre os quais pudesse se assentar.
São hoje, freqüentemente, listados como Povos Celtas, as seguintes nações e regiões:
Bretanha, na França; as Astúrias, a Cantábria e a Galícia, na Espanha; as regiões de Minho,
Trás-os-Montes e Alto-Douro, em Portugal; a Irlanda, país soberano e livre; a Cornualha, o
País de Gales, a Escócia (referendo de independência agendado para 2014), a Ilha de Man e a
Irlanda do Norte, essas no Reino Unido da Grã-Bretanha; entre outras regiões da Europa que
começaram ainda tenuemente a resgatar essa identidade, caso de alguns Cantões Suiços e de
outras partes da França. Na Espanha, um acordo inter-territorial chamado Território Iberkéltia
está resgastando a antiga Celtibéria, enquanto isso a britânica Celtic League luta politicamente
para as independências das nações Celtas ou pelo resgate de suas identidades.
5
O trabalho AS RAÍZES DA IGUALDADE de Gustavo Augusto Bardo foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercialSemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Com base no trabalho disponível em http://briogaledon.wordpress.com/2013/03/13/ebooks-as-raizes-da-igualdade.
Podem estar disponíveis autorizações adicionais ao âmbito desta licença em http://briogaledon.wordpress.com/faleconosco/.
Figura 1. Haplogrupos R1B Italo-CÉLTICOS, Fonte: Eupedia.
A presença toponímica dos Celtas em países da Península Ibérica é assunto inegável,
sendo de conhecimento da Lingüítica Histórica, que o radical briga é de origem Celta, estando
o mesmo presente em cidades como Conimbriga, que se tornaria Coimbra, ou como nas duas
Brigantia que se tornaram uma a La Coruña, na Galícia e a outra, a Bragança, em Portugal,
ambas supostamente relacionadas, por sinal, a Breogan mito formador ao mesmo tempo Galego
e Irlandês, entre muitas outras relações toponímicas atribuídas aos Celtas. Etimólogos também
6
O trabalho AS RAÍZES DA IGUALDADE de Gustavo Augusto Bardo foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercialSemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Com base no trabalho disponível em http://briogaledon.wordpress.com/2013/03/13/ebooks-as-raizes-da-igualdade.
Podem estar disponíveis autorizações adicionais ao âmbito desta licença em http://briogaledon.wordpress.com/faleconosco/.
costumam mencionar diversas famílias como toponímicos ou sobrenomes ocupacionais de
origens célticas, pré-célticas, galo-romanas ou assim dessas linhagens antigas,
conforme
enumeram as bases da dados Apelidos de Galicia e Xenealoxia, ambas galegas, mencionadas
em Referências Bibliográficas e Webliográficas. Sobrenomes comuns a muitos brasileiros e
brasileiras, cujo vínculo étnico parece estar sendo desmerecido quanto à real origem, são
freqüentemente relatados como portugueses ou espanhóis, como aparecem os galegos,
asturianos e cântabros, e a contragosto dos movimentos libertários dessas nações.
Esses povos hoje referidos como Celtas, desenvolveram sociedades com bastante
semelhanças entre si, maior apego aos ancestrais, à família, maior abertura à miscigenação
genética, amor pela natureza de suas terras de nascimento e origem, e uma certa preferência
pelo meio rural ou pelo meio litorâneo, modos coletivos tal como evidencia a estrutura
administrativa assentada em juntas e comunas, derivada da fine céltica, e não raro buscando um
meio físico semelhante ao de origem, produzindo hábitos semelhantes entre si, como ter na
conversa e na bebida, rituais sociais gregários para celebrar negociações ou grandes
acontecimentos, tocar a gaita de fole (também presente no Norte de Portugal, e demais regiões
Celtas Ibéricas) ou ter na música um importante modo de interação coletiva, pois enfim todas
derivam do mesmo modelo antigo da tribo celta, uma estrutura social coletiva, assentada sobre
um conceito de que a sociedade é um grande conjunto de clãs, que por sua vez são conjuntos de
famílias, e que todos derivam de um mesmo ancestral e são portanto aparentados entre si, uma
sociedade igualitária em que homens e mulheres podiam exercer praticamente os mesmos
ofícios, inclusive a liderança política das tribos e a prática bélica como guerreiros e guerreiras,
ou mesmo como comandantes. Há vários registros históricos dessa igualdade nas narrativas de
revoltas e guerras contra o Império Romano, como a Batalha de Watling Street liderada pela
rainha-guerreira Boudicca, a Revolta de Viriato, na Lusitânia, a Resistência de Numância, na
Celtibéria, as Guerras Cântabras, e as Guerras Gálicas essas lideradas por Vercingetórix, todas
bastante documentadas, e nas quais há relatos tanto do invasor Romano, quanto de historiadores
da época, de que não apenas as mulheres iam a combate munidas de armas, ou ao comando de
tropas, como nos casos de cerco, preferiram matar a si mesmas do que se verem escravas dos
7
O trabalho AS RAÍZES DA IGUALDADE de Gustavo Augusto Bardo foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercialSemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Com base no trabalho disponível em http://briogaledon.wordpress.com/2013/03/13/ebooks-as-raizes-da-igualdade.
Podem estar disponíveis autorizações adicionais ao âmbito desta licença em http://briogaledon.wordpress.com/faleconosco/.
Romanos, o que é evidência de uma sociedade completamente oposta à escravidão e ao
servilismo, apegada fortemente à liberdade, a tal ponto de sacrificar até a própria vida se
julgassem o mais correto!
Ao longo da história do Brasil mulheres tão destemidas quanto as mulheres Celtas,
surgem não apenas em ambientes geohistóricos semelhantes, pouco diferentes do modelo tribal,
livre, autônomo, familiar, clânico, natural, místico e belicoso dos Celtas, como também, por
vezes, demonstram evidências em sua genealogia de descenderem de fato de povos Celtas!
Analisar, portanto, tanto a continuidade de estruturas sócio-culturais Célticas ao longo de
gerações, quanto os efeitos semelhantes produzidos por uma morfologia urbana e estruturas
políticas aproximadas, faz-se preponderante para se conhecer mais das Raízes da Igualdade!
II. Objetivos:
✔ Descobrir Mulheres Guerreiras brasileiras que possam descender de povos Celtas;
✔ Descobrir Mulheres Guerreiras brasileiras que apesar de não descenderem,
aparentemente de Celtas, se desenvolveram como tais em sociedades de modelo
semelhante ao modelo Celta;
✔ Permitir que esses espaços geofísicos e sócio-culturais de modelos semelhantes ao
Celta sejam reabordados sob a ótica das suas capacidades estruturais de gerarem
mulheres com grande capacidade de luta pelos ideais em que acreditam;
✔ Estabelecer uma nova abordagem acerca da Igualdade de Gêneros, a analisando na
ótica das brechas étnicas ou sócio-culturais que a potencializam, e ao mesmo tempo
conectar essa reflexão ao processo contemporâneo de Resgate da Identidade Celta por
variadas etnias descendentes.
III.Metodologia:
✔ História do Cotidiano, História da Vida Privada e História do Imaginário:
Utilizou-se essas disciplinas para o estudo comparativo entre povoamentos Célticos,
no intuito de resumir previamente os atributos, estruturas e componentes
geohistóricos, sócio-espaciais, sócio-culturais e psicossociais do Modelo Tribal
Antigo Celta, descritos na Introdução e também nos Resultados da Pesquisa;
8
O trabalho AS RAÍZES DA IGUALDADE de Gustavo Augusto Bardo foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercialSemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Com base no trabalho disponível em http://briogaledon.wordpress.com/2013/03/13/ebooks-as-raizes-da-igualdade.
Podem estar disponíveis autorizações adicionais ao âmbito desta licença em http://briogaledon.wordpress.com/faleconosco/.
✔ Antropologia Cultural Interpretativa: Partiu-se do conceito semiótico de cultura
conforme exposto na obra de Clifford Geertz, a partir do qual foi buscada toda uma
rede de estruturas, forças e conjunturas históricas comuns tanto ao contexto do
Modelo Tribal Antigo Celta quanto aos modelos geohistóricos brasileiros, no objetivo
de encontrar a mulher celta dentro da mulher brasileira;
✔ História das Estruturas: Partiu-se do conceito das estruturas como determinadas
geohistoricamente, para aproximar o Modelo Tribal Antigo Celta a outros modelos
com características geofísicas e sócio-espaciais semelhantes, e seguiu-se o modelo
dos conceitos estruturais de Fernand Braudel e de Krzysztof Pomian para identificar
as variações das ocupações Celtas, e permitir parâmetros comparativos a outras
sociedades;
✔ Psicologia Social, História Social e da Família, História Política, Lingüística
Histórica e Etimo-Genealogia: Uma vez encontrados os cenários históricos análogos
ou semelhantes ao modelo buscado, passou-se ao estudo específico em busca de
mulheres que atendessem às mesmas caracterizações da listagem Celta, e uma vez
encontradas, essas foram analisadas sob a ótica da possível influência de sua
ascendência familiar ou da possível influência do estilo de vida sob um modelo
semelhante ao Antigo Celta. Apenas no inuito de facilitar estudos posteriores, as
mulheres foram divididas nos Resultados da Pesquisa em dois grupos: Resultantes de
Possível Ascendência Celta e Resultantes de Modelo Social Semelhante ao Celta.
IV. Resultados da Pesquisa:
A partir das características listadas como componentes Celtas, conforme descritos na
Introdução, obteve-se a apreensão de dois eixos que resumem, neste estudo, o panorama geral
dos Povos Celtas durante a Idade Antiga e a Alta Idade Média, e por vezes se mesclam sem
evidências aparentes de oposição. Esses dois eixos são:
✔ Rath Irlandês: povoamentos familiares rurais afastados entre si por certa extensão de
terras, tanto cultiváveis quanto selvagens; a família é a base da sociedade, e o poder
político emana da associação entre famílias; opta-se por lugares próximos a florestas,
9
O trabalho AS RAÍZES DA IGUALDADE de Gustavo Augusto Bardo foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercialSemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Com base no trabalho disponível em http://briogaledon.wordpress.com/2013/03/13/ebooks-as-raizes-da-igualdade.
Podem estar disponíveis autorizações adicionais ao âmbito desta licença em http://briogaledon.wordpress.com/faleconosco/.
com relevos montanhosos ou em colinas, visando à defesa, as propriedades são coletivas,
a divisão do trabalho é igualitária, a produção é de subsistência, mas excedentes
eventuais podem ser trocados em feiras; as feiras são eventos sazonais ligados ao
Calendário Religioso. Alguns rath se valem de ilhas e costas litorâneas escarpadas como
meio de proteção. Poder Descentralizado. A população apresenta miscigenação com
etnias de hábitos semelhantes.
✔ Civilização Castreja Ibérica: povoamentos semi-urbanos, o castrum é uma comunidade
rural semi-autônoma e fortificada, que produz visando a um modelo sustentável, mas
com produção excedente microrregional, sendo essa trocada em feiras dentro da
microrregião ou a outros povos que atuam como importadores (caso aliás dos Romanos),
também sazonais e igualmente vinculadas a um Calendário Religioso; a divisão do
trabalho possui um certo nível de especialização com o aparecimento de ofícios. Os
castra predominam ocupando microrregiões montanhosas ou com colinas em áreas de
campos próximos a florestas, ou isolados em áreas mais áridas, como recurso defensivo,
nas quais no entanto se desenvolve uma produção mais intensiva, em geral caprina, e
também ocupando costas litorâneas com funções estratégicas e ao mesmo tempo
atividade pesqueira. O castrum exerce poder centralizador sobre povoamentos menores
na microrregião. Em geral observa-se algum Panorama Hostil, como a constante
ameaça de Invasões Romanas. A população apresenta miscigenação com etnias de
hábitos diferentes, o que denota maior abertura ao outro.
Em ambos os eixos se encontrou aparente liberdade para o exercício da maioria dessas
funções por qualquer gênero, parecendo que as mesmas estão mais presas a famílias, gerando
sobrenomes ocupacionais, do que a outro critério. Evidência disso é a participação feminina na
função de guerreiras, o que remete não apenas aos fatos de terem sido treinadas como de terem
uma mínima formação acerca das técnicas de fabricação das armas, necessárias ao correto
manuseio das mesmas. No imaginário Celta Irlandês é uma mulher, Scáthach quem treina o
herói Cú Chulainn nas Artes da Guerra. No universo histórico: a participação das mulheres nos
combates é fato considerado notório nos estudos históricos dessa etnia.
10
O trabalho AS RAÍZES DA IGUALDADE de Gustavo Augusto Bardo foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercialSemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Com base no trabalho disponível em http://briogaledon.wordpress.com/2013/03/13/ebooks-as-raizes-da-igualdade.
Podem estar disponíveis autorizações adicionais ao âmbito desta licença em http://briogaledon.wordpress.com/faleconosco/.
Em ambos os eixos observou-se uma mesma lógica para as representações do
Imaginário: há variadas representações tanto femininas quanto masculinas, mas representações
femininas parecem predominar em áreas essenciais ao ciclo de vida tribal tanto no aspecto
biológico quanto no equilíbrio social, como as forças da Natureza, a Cura, a Fertilidade, a
Sabedoria, a Guerra e a Justiça. A figura masculina aparenta predominar em funções
paternais como a Criação das Coisas por co-geração ou por magia, e a Proteção ao que foi
criado, o que reflete bastante a figura do pai Celta na educação, enquanto a representação
feminina reflete a mulher celta, ao mesmo tempo jovem guerreira, mãe que dá nascimento e
cura aos filhos, e anciã sábia e justa, exatamente como representa a figura de Brighid chamada
deusa tríplice pois é donzela, mãe e anciã, um reflexo do universo social feminino céltico. Com
a Cristianização na Irlanda, por exemplo, as Santas continuam predominando no imaginário, e
os Santos que aparecem, São Brandão e São Patrício, possuem características fundadoras,
semelhantes à função criadora dos deuses. Entre os Celtas Continentais, se notará um
predomínio da Virgem Maria com variadas regionalizações, e sua retratação como Mãe
Divina, deixando aparente a permanência do conceito deusa-mãe anterior e uma necessidade
tribal de cada povoado ter a sua própria Virgem Maria, como ocorre bastante na Península
Ibérica, e mesmo no Brasil. Do mesmo modo, antigamente, cada tribo Celta tinha a sua própria
deusa-mãe.
Uma vez resumidos os componentes e os eixos Célticos, e comparados ao panorama
brasileiro, foram encontrados espaços geohistóricos e psicossociais, que atendiam à demanda
por características semelhantes aos mesmos, a saber:
- Tipo mais Isolado: Rath Irlandês > Cultura Estancieira dos Pampas (Lutas por Liberdade,
Poder Descentralizado, mas com produção excedente); Comunidades Rurais Autossuficientes
em geral assentadas sobre o aspecto Religioso, não raro com histórico de tensão frente à
metrópole (Guerra do Contestado, Guerra de Canudos, Revolta dos Munckers), produção de
subsistência, miscigenação aparentemente condicionada à presença de hábitos semelhantes
(nota: não se deseja aqui classificar a presença de uma discriminação, embora possa estar
inserida, mas sim definir um tipo social com maiores dificuldades de se mesclar a modelos com
11
O trabalho AS RAÍZES DA IGUALDADE de Gustavo Augusto Bardo foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercialSemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Com base no trabalho disponível em http://briogaledon.wordpress.com/2013/03/13/ebooks-as-raizes-da-igualdade.
Podem estar disponíveis autorizações adicionais ao âmbito desta licença em http://briogaledon.wordpress.com/faleconosco/.
pouca ou nenhuma semelhança), Sesmarias dos Primórdios da Colonização do Brasil, isoladas
e rurais;
- Tipo mais Interativo: Civilização Castreja Ibérica > Civilização do Couro (Nordeste, CentroOeste, Minas Gerais, desenvolvedoras de Cultura Popular com forte Imaginário Místico, Lutas
por Liberdade e Panorama Hostil do Cangaço); Litoral Catarinense (aonde a presença
Açoriana trouxe forte Imaginário Místico, Lutas por Liberdade, Panorama Hostil do Controle
Imperial); Civilização do Ouro (Minas Gerais, Centro-Oeste, com forte Imaginário Místico,
Lutas por Liberdade, e Panorama Hostil do Controle pela Coroa Portuguesa e depois a
Jagunçaria), Baías Estratégicas (Rio de Janeiro, Panorama Hostil da Pirataria, e das Invasões
Francesas). Sociedades essas com aparente maior abertura à miscigenação com membros de
sociedades bastante diferenciadas;
Foram encontradas em todos os espaços geohistóricos e psicossociais selecionados como
de tipo celta, uma ou mais mulheres com características semelhantes ou análogas às da mulher
celta, conforme previamente pesquisada. Partindo do pressuposto que todos os sobrenomes
sejam reais, e não derivações de alterações ao longo da história familiar, e após o estudo etimogenealógico, obteve-se a relação de mulheres brasileiras destacadas como:
- Resultantes de Possível Ascendência Celta:
✔ Anita Garibaldi (Santa Catarina). Ana Maria de Jesus Ribeiro, participou das Revoluções
Juliana e Farroupilha, e lutou na Unificação da Itália, é heroína na Itália e no Brasil.
Apontada como descendente de portugueses imigrados dos Açores. Ao se estudar os
Açores, obteve-se que sua migração formadora era constituída por pessoas do Algarve,
do Alentejo, da Extremadura e do Minho, área hoje reconhecida como Celta. Além disso
o toponímico Ribeiro aparece como relacionado aos sobrenomes Ribeira, e Riveira
conforme se observa na base de dados virtual Apelidos de Galicia., e é considerado
toponímico de origem Galega, portanto, Celta. O haplogrupo R1B apresenta nos dias de
hoje 63% de ocorrência, na Galícia (Fig.1). Ela própria se casa com estrangeiro, aberta,
portanto, à miscigenação.
✔ Chiquinha Gonzaga (Rio de Janeiro), Francisca Edwiges Neves Gonzaga. A família
12
O trabalho AS RAÍZES DA IGUALDADE de Gustavo Augusto Bardo foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercialSemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Com base no trabalho disponível em http://briogaledon.wordpress.com/2013/03/13/ebooks-as-raizes-da-igualdade.
Podem estar disponíveis autorizações adicionais ao âmbito desta licença em http://briogaledon.wordpress.com/faleconosco/.
Gonzaga é considerada Italiana, nobre, oriunda do Ducado de Mântua, na Lombardia,
área outrora extensamente ocupada pelos Celtas Gauleses. O haplogrupo R1B apresenta
nos dias de hoje 55% de ocorrência (Fig.1). Recordemos que ela era abolicionista e
feminista, e que os Celtas possuem séculos de luta contra escravidão e contra servilismo,
conforme atestam as suas variadas revoltas por liberdade. Em sua família há abertura à
miscigenação, pois ela mesma é afro-euro-descendente. Note-se que apesar do ambiente
urbano, que Chiquinha é filha de um General, e é educada pela família de seu pai, o que
denota seu desenvolvimento sob estímulo belicoso.
✔ Francisca Senhorinha da Motta Diniz, abolicionista, feminista e republicana, segundo o
Behind the Name, o sobrenome Motta é de origem Italiana mas deriva do Celta Gaulês,
significando colina, coincidentemente séculos mais tarde uma descendente guerreira
nasceu justamente em Minas Gerais, região famosa pelo relevo montanhoso;
✔ Inês de Souza (Rio de Janeiro), esposa do Governador Salvador Correia de Sá, defendeu
o Rio de Janeiro contra invasão Pirata, no século XVI. O sobrenome Souza ou Sousa, é
de origem portuguesa e possui origem pre-romana, sendo de linhagem antiga, o que
favorece ancestrais Celtas, que aqui foram considerados como possíveis tendo em vista a
pouca possibilidade de no século XVI dados os preconceitos da época, um governador,
de sangue nobre e formação militar, ter se casado com alguém cuja família não fosse
direta ou indiretamente relacionada ao sangue nobre. Como o sobrenome data de Era
Pré-Romana, acreditou-se aqui se tratar potencialmente de Celtas, uma vez que outros
povos Bárbaros ainda não haviam invadido a Península Ibérica substancialmente, e que
Portugal era originalmente ocupada por Celtas Galaicos e por Pré-Celtas Lusitanos, entre
outras tribos. Todavia ela também estaria enquadrada na categoria seguinte, dado o Rio
de Janeiro da época se ajustar ao modelo Castrejo.
✔ Maria Dias Ferraz do Amaral (Goiás), chamada Heróina do Capivari,
foi uma
Colonizadora e Bandeirante que esteve em guerra contra Índios. Após pesquisa EtimoGenealógica, descobriu-se que Amaral se refere a um vocábulo arcaico galaicoportuguês amaro, amara que no século IX nomeiava uma espécie de uva amarga.
13
O trabalho AS RAÍZES DA IGUALDADE de Gustavo Augusto Bardo foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercialSemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Com base no trabalho disponível em http://briogaledon.wordpress.com/2013/03/13/ebooks-as-raizes-da-igualdade.
Podem estar disponíveis autorizações adicionais ao âmbito desta licença em http://briogaledon.wordpress.com/faleconosco/.
Portanto evidencia-se aqui, ao menos no tocante ao universo lingüístico um ponto de
relação com os Celtas visto que os galaicos ou galegos são predominantemente
descendentes de Celtas, até mesmo aos dias de hoje, possuindo 63% do haplogrupo R1B
(Fig.1). Consta que era filha do Capitão Bento Dias Ferraz do Amaral, portanto também
pode ter herdado do pai, pelo estilo de vida em que cresceu, os traços guerreiros que
possuía, o que também a qualificaria à categoria seguinte, mas é colocada aqui devido à
evidência lingüística. Alguns estudos apontam que os Ferraz e os Dias tenham braços de
cristãos-novos, o que reforçaria a abertura à miscigenação.
- Resultantes de Modelo Social Semelhante ao Celta:
✔ Bárbara Pereira de Alencar (Nordeste), não apenas lutou a favor da República no
Pernambuco, como transmitiu a seus filhos a continuidade dessa luta. O estudo EtimoGenealógico, atestou para o sobrenome Alencar, origem gentílica referente aos Alanos,
um dos povos indoirânicos que participam da reconstrução de Coimbra, cidade
originalmente Celta, e fundam a cidade de Alenquer e talvez a Torre de Vedras.
Vinculados aos escandinavos Vândalos, mantem um reino ao sul da Península Ibérica, a
Vandalicia que dá origem à Andaluzia. Os Alanos atuais chamados Ossetas, se arrogam
parentesco com os Sármatas em cuja sociedade teriam havido rainhas guerreiras, e com
as Amazonas, que seriam uma de suas tribos. A lenda diz que Thalestris, uma rainha
Amazona, teria dado enorme trabalho bélico a Alexandre O Grande. Embora hajam
evidências de mescla entre Alanos e Celtas, consideramos Bárbara como de estilo de vida
semelhante, mas é interessante mencionar que o sobrenome Pereira pode fazer referência
a cristãos-novos, o que remete à abertura à miscigenação.
✔ Branca Dias (Nordeste), cristã-nova, recusou abandonar o rito Judaico, mantendo a
preservação de sua fé e cerimônias, ao ser morta pela Inquisição, se tornou mártir na luta
pela Tolerância Religiosa e pela Liberdade de Pensamento. Sua memória foi mesclada no
Imaginário a outras defensoras da liberdade de crença, a tornando uma figura quase
lendária, no entanto é sabido que viveu no século XVI. A clara citação como Judia, a
remove ao menos a priori do contexto Celta, mas nota-se que o ambiente das Capitanias e
14
O trabalho AS RAÍZES DA IGUALDADE de Gustavo Augusto Bardo foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercialSemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Com base no trabalho disponível em http://briogaledon.wordpress.com/2013/03/13/ebooks-as-raizes-da-igualdade.
Podem estar disponíveis autorizações adicionais ao âmbito desta licença em http://briogaledon.wordpress.com/faleconosco/.
Sesmarias, semelhante ao rath irlandês, com propriedades isoladas, rurais, coletivas,
também produziu mulheres guerreiras.
✔ Maria Bonita (Nordeste), Maria Gomes de Oliveira, o sobrenome Oliveira acusa
possibilidade de ancestrais cristãos-novos. Segundo o Behind the Name, o sobrenome
Gomes deriva de possível origem Visigótica. Os visigodos eram um povo tribal e
Escandinavo, e apesar de evidências de mistura aos Celtas, a colocamos na lista de
influenciadas por estilo semelhante. A base de dados The Internet Surname Database diz
que Gomes provem dos Anglo-Saxônicos, que eram teuto-germânicos, de estilos de vida
também semelhantes ao modelo Celta. O ambiente da chamada Civilização do Couro fez
dela uma mulher guerreira e belicosa. Era esposa de pessoa do mesmo meio cultural.
✔ Jacobina Mentz Maurer (Rio Grande do Sul), mediante estudo genealógico, descobriuse que descende das famílias alemãs Müller e Mentz, tendo como sobrenomes nos avós
maternos Müller e Conrad. Descobriu-se mediante o The Internet Surname Database
que ambos os sobrenomes Müller e Conrad datam da Alta Idade Média, sendo
germânicos em sua origem. Apesar de a Eupedia revelar aos dias de hoje uma média de
44,5% para o haplogrupo R1B (Fig. 1) dos Celtas na Alemanha, o fato de a Alta Idade
Média assistir ao aparecimento de variadas tribos Germânicas, Eslavas e Escandinavas na
região, aponta imprecisão quanto aos ancestrais Celtas, mas considera-se notória a
semelhança do modelo tribal desses povos aos Celtas Continentais. Se casa com
membro da própria comunidade.
✔ Maria Quitéria (Bahia), Maria Quitéria de Jesus Medeiros. A primeira soldado de
carreira feminina do Brasil, heroína da Independência do Brasil, alcançou à patente de
Alferes de Linha. O sobrenome de Jesus remonta à evidência de algum ancestral órfão,
ou algum ancestral indígena ou africano em algum passado distante, uma vez que não se
reconhecia, senão muito raramente, sobrenomes oriundos dessas etnias àquela época. O
sobrenome Medeiros possui controvérsias à sua origem, aparecendo tanto como
português como como aragonês. Desse modo, sem certeza sobre sua origem étnica, a
colocamos no ambiente semelhante, uma que nasce e morre em área litoânea de uma
15
O trabalho AS RAÍZES DA IGUALDADE de Gustavo Augusto Bardo foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercialSemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Com base no trabalho disponível em http://briogaledon.wordpress.com/2013/03/13/ebooks-as-raizes-da-igualdade.
Podem estar disponíveis autorizações adicionais ao âmbito desta licença em http://briogaledon.wordpress.com/faleconosco/.
costa estratégica, aos moldes do modelo Castrejo.
Evidenciou-se que as Raízes da Igualdade estariam presentes nas estruturas sócioculturais seja por direta ou indireta continuidade da Herança Celta, seja pela reprodução de
condições semelhantes àquelas nas quais a Civilização Celta se desenvolveu.
V. Discussão:
A capacidade guerreira das mulheres celtas torna-se bastante evidente quando
analisamos Boudicca, rainha dos Celtas Icenos, nas Ilhas Britânicas, que após a morte do
marido e o estupro de suas filhas por soldados Romanos, organiza nada menos que um exército
de 100 mil guerreiros e guerreiras, que chegará segundo arqueólogos a 300 mil, e começa uma
série de ataques aos povoados romanizados, que apesar de culminar na derrota no campo de
Watling Street, foi o marco do recuo do Império Romano em sua intenção de avançar na
colonização das Ilhas Britânicas, e é graças à resistência dada por Boudicca que essas regiões,
hoje, não falam nenhum idioma latino. E na Idade Média, nos deparamos com a francesa
Joanne d'Arc, que nasce em terras outrora ocupadas por povos Celtas, cuja memória é
transportada ao Brasil dentro do Imaginário Cristão, e também mediante a imigração francesa.
Ou séculos mais tarde, vemos a pioneira da guerrilha partisã marítima irlandesa Grace
O'Malley, comandando navios piratas em atividade de corso contra a Frota Inglesa; para não
mencionar as mulheres anônimas que lutaram nas revoltas Célticas de Vercingetórix, Viriato,
Numância e nas Guerras Cântabras, entre outras, imaginários esses também conectados a
nichos de imigrantes, o que se torna bastante claro quando ao buscar as origens étnicas das
mulheres guerreiras do Brasil, também nos deparamos com evidências de um plausível
passado distante Celta.
A presença feminina no imaginário Celta também é inegável do ponto de vista
mitológico, quase todas essas nações Celtas tiveram em tempos de antanho como divindades
mais importantes, justamente mulheres, tais como deixam claro: a Dana ou Danu, irlandesa,
deusa das forças da Natureza, da Guerra e da Justiça, entre outros atributos, que se sincretizaria
na Santa Ana dos Irlandeses; a Brighid ou Brigid que sabidamente foi cristianizada como a
Santa Brígida dos Irlandeses, sendo interessante mencionar que mesmo na Idade Média o
16
O trabalho AS RAÍZES DA IGUALDADE de Gustavo Augusto Bardo foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercialSemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Com base no trabalho disponível em http://briogaledon.wordpress.com/2013/03/13/ebooks-as-raizes-da-igualdade.
Podem estar disponíveis autorizações adicionais ao âmbito desta licença em http://briogaledon.wordpress.com/faleconosco/.
convento a ela dedicado não apenas estava sobre antigo local sagrado consagrado a Brighid
como ainda mantia uma pira com uma chama eterna, símbolo da deusa Brighid, que aparece na
hagiografia da santa católica, juntamente a uma cruz com desenho repartido e que lembra a um
trisquel também símbolo dessa deusa; a Ceridwen dos Celtas Galeses, uma feiticeira lendária; a
Cantaber dos Celtas Cântabros, que não apenas era seguida como lhes dava nome, e do mesmo
modo a deusa Cailleach dos Celtas Galegos, cujo nome teria derivado ao grego Kalaikoi e ao
latim tardio Callaecia originando Gallaecia e daí, Galícia, entre muitas outras divindades
femininas presentes no panteão, bem como lendárias feiticeiras, fadas e guerreiras, conforme
amplamente documentado pelos estudos mitológicos, tais como os iniciados pela famosa obra
de Charles Squire, e por vários historiadores sucessivos.
É possível que a contra-propaganda romana tenha contribuído para apagar boa parte
dessa memória, pois tal como cita a historiadora Sirona Knight, que prefacia um dos volumes
da obra de Charles Squire, não há evidências arqueológicas de que os Celtas fizessem
sacrifícios humanos, como chegaram a narrar os Romanos, e os mesmos narradores afirmam
não serem testemunhas oculares dessas suposições, a historiadora também coloca que teria
havido uma continuidade dessa propaganda durante a Idade Média com a ascensão do
cristianismo, além é claro do uso catequista do sincretismo, conforme deixam claro as santas
Ana e Brígida irlandesas, e a coincidência ou proximidade do Calendário Celta em vários
momentos com o calendário católico, como os Maios uma festa galo-romana, que se tornou
Mês de Maria, e na Galícia une o Catolicismo a crenças Pagãs (do latim paganus, morador da
aldeia) como o uso de maias, espécie de guirlandas de flores amarelas, colocadas às portas para
afastar maus-espíritos, hábito que também se repete no Natal em várias casas católicas, sem que
se saiba sua origem étnica.
A mesma capacidade guerreira se viu em mulheres submetidas a situações igualmente
belicosas e em sociedades igualmente rurais, coletivas e existinto entre um mundo natural
e um mundo espiritual, assim como as sociedades Celtas eram predominantemente um
enclave entre a cidade e a floresta, coexistindo de modo praticamente sustentável com o meio
selvagem, e tendo nele campo para a criação de seu Imaginário, ponto de partida do seu
17
O trabalho AS RAÍZES DA IGUALDADE de Gustavo Augusto Bardo foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercialSemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Com base no trabalho disponível em http://briogaledon.wordpress.com/2013/03/13/ebooks-as-raizes-da-igualdade.
Podem estar disponíveis autorizações adicionais ao âmbito desta licença em http://briogaledon.wordpress.com/faleconosco/.
Misticismo, também no Brasil não foram poucas as comunidades místicas desdobradas a partir
desse contato rural com a Natureza, isoladas em sertões e pampas, longe das influências, e da
pressão econômica das grandes metrópoles, tal como deixam claro as comunidades que se
envolvem na Guerra de Canudos, na Guerra do Contestado e na Revolta dos Munckers, essa
última liderada por uma dessas mulheres guerreiras. Do mesmo sob óticas mais sociais que
religiosas, o mesmo tipo de espaço geofísico, que era ocupado por povos Celtas deu origem no
Brasil a mulheres guerreiras, tal como se observa nos Sertões, nos Pampas, nas Gerais e no
Agreste, e também nas Costas Litorâneas de caráter Estratégico, ambientes que desenvolvem
sociedades combativas tais como as Celtas, seja devido a serem ambientes hostis por sua
própria natureza, seja por potencializarem a disputa por outros povos, caso acima de tudo das
costas litorâneas de caráter estratégico. Considerando que é previsível que imigrantes busquem
lugares de moradia mais semelhantes aos seus próprios, encontrarmos descendentes de povos
Celtas em ambientes geofísicos com algum grau de semelhança, não é nada surpreendente! Por
outro lado, do mesmo modo que os Celtas foram também construídos pelas suas relações com
o meio em que viviam, outras sociedades, vivendo em meios semelhantes tendem a desenvolver
características semelhantes. Portanto o estudo do Modelo Tribal Antigo Celta pode, seja pela
transmissão cultural geração após geração ou pela geohistória análoga, potencializar a
descoberta de mulheres tão guerreiras quanto as aqui encontradas.
VI.
Conclusões:
A partir da relação entre os apontamentos geofísicos e sócio-espaciais, em que
apareceram semelhanças nos estilos de vida dos Povos Celtas, ao longo da Idade Antiga e da
Alta Idade Média, e os estilos de vida Brasileiros encontrados nos Resultados, e percebendo
que ambos os direcionamentos produziram de fato sociedades belicosas mas ao mesmo tempo
com brechas para a luta contra a opressão, seja contra a escravidão, seja contra o servilismo, de
modo semelhante a como se dava entre os antigos Celtas, e sendo evidente que essa
característica guerreira não apenas continuou entre os povos diretamente descendentes de
Celtas, como está presente tanto em mulheres brasileiras possivelmente descendentes quanto
surgidas de sociedades semelhantes, conclui-se aqui que de fato há evidências das influências
18
O trabalho AS RAÍZES DA IGUALDADE de Gustavo Augusto Bardo foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercialSemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Com base no trabalho disponível em http://briogaledon.wordpress.com/2013/03/13/ebooks-as-raizes-da-igualdade.
Podem estar disponíveis autorizações adicionais ao âmbito desta licença em http://briogaledon.wordpress.com/faleconosco/.
das estruturas sociais do Modelo Tribal Antigo Celta no componente guerreiro, na formação
pessoal com destemor ao combate, e na abertura psicossocial para a atitude da guerra, da
revolta ou da contraposição à mais duras adversidades.
Tendo em vista que ao longo tanto do Modelo Tribal Antigo Celta quanto dos povos
diretamente descendentes, ou das sociedades brasileiras apontadas como geohistoricamente
semelhantes, as mulheres guerreiras apareceram de modo igualitário em relação aos homens
de seu meio, ao menos no tocante à luta por seus ideais ou à luta contra as adversidades,
conclui-se que há evidências de estruturas históricas em comum a esses modelos que estejam
agindo como Raízes da Igualdade, e portanto termina-se este estudo concluindo que realmente
existem estruturas, quer por transmissão educacional familiar, quer por semelhanças de
ambiente geohistórico, que servem de brechas para a Igualdade dos Gêneros, ao menos nas
situações especificadas por este estudo.
VII.
Referências Bibliográficas e Webliográficas:
ALBUQUERQUE JUNIOR, Durval Muniz de. Coronéis e Cangaceiros: Origens do macho
nordestino. s/l: Nossa História, 2005. Ano 2, Nº 17. (p.32-36)
APELIDOS DE GALICIA. URL: http://www.apelidosgalicia.org.
BEHIND THE NAME. URL: http://www.behindthename.com.
BRADLEY, Dan; FOSTER, Peter; MCEvoy, Brian; RICHARDS, Martin. The Longue Duréé
of Genetic Ancestry: Multiple Genetic Master Systems and Celtic Origins on the Atlantic
Facade of Europe. Department of Genetics, Trinity College, Dublin; Schools of Biology and
Computing, University of Leeds, Leeds, United Kingdom; and The McDonald Institute for
Archaeological Research, University of Cambridge, Cambridge, United Kingdom. Report, Am.
J. Hum. Genet. 75:000–000, 2004.
BRAUDEL, Fernand. Civilização Material, Economia e Capitalismo Séculos XV-XVIII : O
Jogo das Trocas. 1 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996. 573 p.
BRAUDEL, Fernand. Civilização Material, Economia e Capitalismo Séculos XV-XVIII : O
19
O trabalho AS RAÍZES DA IGUALDADE de Gustavo Augusto Bardo foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercialSemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Com base no trabalho disponível em http://briogaledon.wordpress.com/2013/03/13/ebooks-as-raizes-da-igualdade.
Podem estar disponíveis autorizações adicionais ao âmbito desta licença em http://briogaledon.wordpress.com/faleconosco/.
Tempo do Mundo. 2ª tir. São Paulo: Martins Fontes, 1998. 626 p.
CHIQUINHA GONZAGA. URL: http://www.chiquinhagonzaga.com
CONRAD, Philippe. As Civilizações das Estepes. Rio de Janeiro: Otto Pierre Editores, 1978.
DORIA, Francisco Antonio. Os Herdeiros do Poder. Rio de Janeiro: Revan, 1994. 209 p.
EUPEDIA: Distribution of European Y-chromosome DNA (Y-DNA) haplogroups by country in
percentage. URL: http://www.eupedia.com/europe/european_y-dna_haplogroups.shtml
FARFEL, Nicolas. Invasões Bárbaras. São Paulo: História Viva, 2004. Ano I, Nº9. (p.20-21)
FEITLER, Bruno. Duas faces de um mito. s/l: Nossa História, 2004. Ano I, Nº 10. (p.48-51).
GEERTZ, Clifford. A Interpretação das Culturas. 2 ed. Rio de Janeiro: LTC, s/d. 323p.
LAUNAY, Olivier. A Civilização dos Celtas. Rio de Janeiro: Otto Pierre Editores, 1978.
LOUTH, Patrick. A Civilização dos Germanos e dos Vikings. Rio de Janeiro: Otto Pierre
Editores, 1979.
MACALISTER, R.A. Stewart. Lebor Gabála Érenn. New York: Michael Murphy/Oceanside,
2008. (PDF Ebook em 10 partes).
MATTOSO, José. A nobreza medieval portuguesa: a família e o poder. 2 ed. Lisboa:
Estampa, 1987. 426 p.
MATTOSO, José. História de Portugal: Antes de Portugal. Lisboa: Estampa, 1997. (vol. I)
MEMORIAL
LUIZ
GONZAGA.
Governo
do
Estado
do
Pernambuco.
URL:
http://www.recife.pe.gov.br/mlg/gui/Araripe.php
POMIAN, Krzysztof. A História das Estruturas in A História Nova (LE GOFF, Jacques, org.).
3 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1995. p. 97-123.
SCHUMAHER, Schuma; RIBEIRO, Sandra Regina. O Projeto – Leia Mais in MULHER500.
URL: http://www.mulher500.org.br.
SIQUEIRA, Maria Izabel Bebela Ramos de. Da indivisibilidade à afirmação. Belo Horizonte:
Revista do Legislativo/ALMG, jan/mar 2000.
SQUIRE, Charles. Mitos e Lendas Celtas. (Apresentação de Sirona Knight). Rio de Janeiro:
Nova Era, 2003. 361 p.
STACEY, Robin Chapman (consultora; Prof. Universidade de Washington, EUA). A Irlanda
20
O trabalho AS RAÍZES DA IGUALDADE de Gustavo Augusto Bardo foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercialSemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Com base no trabalho disponível em http://briogaledon.wordpress.com/2013/03/13/ebooks-as-raizes-da-igualdade.
Podem estar disponíveis autorizações adicionais ao âmbito desta licença em http://briogaledon.wordpress.com/faleconosco/.
Celta: Entre os druidas e os grandes reis. Barcelona: Ediciones Folio. (col. Grandes
Civilizações do Passado). 144 p.
TAVARES, Julinan. A danta guerreira. São Paulo: Aventuras na História, Col. Grandes
Guerras, Ed. 8, Nov.. /2005. (p38-41)
THE INTERNET SURNAME DATABASE. URL: http://www.surnamedb.com.
VÁRIOS AUTORES. Celtas: A história real de um povo lendário. São Paulo: História Viva,
Edição Especial Temática Nº 11.
VÁRIOS AUTORES. Invasões Bárbaras – Século 12 A.C – Século 13. São Paulo: Aventuras
na História, Col. Grandes Guerras, Ed. 4, Fev. /2005.
VÁRIOS AUTORES. Dossiê: Senhores do Mar. São Paulo: História Viva, Ano III, Nº 16, s/d.
(p. 28-49)
VÁRIOS AUTORES. Terror no Atlântico: A ameaça pirata na América portuguesa. s/l:
Nossa História, 2006. Ano 3, Nº 27. (14-36)
VIDAS LUSÓFONAS. URL: http://www.vidaslusofonas.pt/
XENEALOXIA. URL: http://www.xenealoxia.org.
21