ufba - Universidade Federal da Bahia

Transcrição

ufba - Universidade Federal da Bahia
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
CARLOS ALBERTO CAETANO
A LÓGICA HEGEMÔNICA DA PRODUÇÃO DO ESPAÇO NA ESCALA
DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO JAGUARIBE
SALVADOR – BAHIA
Salvador
2007
CARLOS ALBERTO CAETANO
A LÓGICA HEGEMÔNICA DA PRODUÇÃO DO ESPAÇO NA ESCALA
DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO JAGUARIBE
SALVADOR – BAHIA
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa
de Pós-Graduação em Geografia, do Departamento
de Geografia, Instituto de Geociências, Universidade
Federal da Bahia, como pré-requisito parcial para
obtenção do grau de Mestre em Geografia.
Orientador: Prof. Dr. Antonio Puentes Torres
Salvador
2007
C128
Caetano, Carlos Alberto,
A lógica hegemônica da produção do espaço na escala da
Bacia hidrográfica do rio Jaguaribe, Salvador – Bahia / Carlos
Alberto Caetano. _Salvador, 2007.
210 f.: il.
Orientador: Prof. Dr. Antonio Puentes Torres
Dissertação (Mestrado) – Pós-Graduação em Geografia.
Instituto de Geociências da Universidade Federal da Bahia, 2007.
1. Geografia 2. Jaguaribe, Rio, Bacia (Salvador, BA) – Segregação
socioeconômica espacial 3. Jaguaribe, Rio, Bacia (Salvador, BA) –
Expansão territorial – Segregação socioeconômica espacial I. Título
CDU: 911 (813.8) (043)
À minha mãe
Maria Aparecida Galdino
D. Nina
pelos seus 80 anos!
AGRADECIMENTOS
Aos meus ancestrais e aos orixás que me protegem e abrem meus caminhos:
Adupé-ô!
À CAPES pelas duas bolsas de estudo, sem as quais o trabalho de construir esta
dissertação teria sido mais difícil, senão impossível.
Ao INPE pela cessão das imagens de satélite usadas no trabalho.
Ao meu orientador pela paciência, liberdade e estímulo permanentes.
Aos professores que aceitaram integrar minha banca examinadora, profa. Neyde
Maria Santos Gonçalves e prof. Antônio Fernando de Souza Queiroz, pela confiança
que me passaram durante todo o processo. E também pela paciência.
Ao Coordenador do Mestrado, prof. Ângelo Serpa, pelas críticas, sinalizações de
caminhos e, em especial, pela contribuição no que diz respeito à teorização e à
metodologia em Geografia.
A todos os professores que suportaram e esclareceram minhas dúvidas durante dois
anos.
À profa. Bárbara-Christine N. Silva um agradecimento especial pelos ensinamentos
em relação ao uso da quantificação em Geografia, inclusive após a conclusão da
disciplina, em caráter particular.
Aos colegas da turma, sempre solidários.
À Dirce, secretária do Mestrado, pela eficiência permanente.
A todos e todas que de alguma forma me ajudaram a conquistar esta vitória.
O trabalho foi feito por um pesquisador, mas o conhecimento é propriedade coletiva.
Todos os direitos estão liberados para utilização, sendo obrigatória a citação da
fonte.
O Ser Estético veicula sublimações Formays que se materializam à
Cadência Erotyca, estimulante às teorias produtoras. O Ritmo rompe a
Harmonia – ou a dilata num tempo que é cortado quanto saturado. A
montagem nasce desta relação contraditória entre o Tempo ErotyKo e o
Espaço Ideológico. Há Cineastas que suturam seus planos, costuram, colam,
emendam, amarram – raros montam e excepcionais desmontam. Tudo que o
plano revela é profano na sacralização da montagem: o Espaço permite o
tempo Proibydo. FLUXO-AUDIOVISUAL produzido na Uzina In-Konsciente,
neutronizado por Eros, convertendo toda matéria sensível em Energia Sexual
(Energia Nuclear). A Obra: Stravinsky ou Pound revisitando Homero,
Sosígenes Costa e Wally Sailormoon, Gramiro de Matos e João Ubaldo Ribeiro,
Caco kaetano e Caetano Veloso, Xyko Buarque, Augustoarold de los Campos –
teatro, romance, poesya, filosozophya, musika, kynema – todas as artes são
representações do In-Konscyente, o interesse estético nascendo da sensação
diante da originalidade. A dimensão primária da arte é o Realismo. O IRealismo Sociológico temporal cede campo ao Espaço Real do Autor e tudo
que se Vê e Ouve é Real. Improcede a Idéia de que a Fantasia é abstrata, como
se o visto-ouvido&cheirável fosse I-rreal.
Glauber Rocha
Fonte: ROCHA, Glauber. Revolução do Cinema Novo.
São Paulo: Cosac Naify, 2004. p. 450;451
RESUMO
Esta dissertação de mestrado buscou como objetivo estudar a relação entre a
sociedade e a natureza sob a ótica da lógica hegemônica da produção do espaço
para identificar a ocorrência de segregação socioeconômica espacial na escala de
uma bacia hidrográfica. A bacia hidrográfica do rio Jaguaribe está totalmente
localizada no perímetro urbano de Salvador, Bahia, em área definida a partir dos
anos 1970 como vetor de crescimento e expansão da capital baiana com a da
abertura da Av. Paralela, elo de ligação entre os eixos Estação Rodoviária/Aeroporto
Internacional. O trabalho se iniciou a partir da interpretação de mapas históricos do
período colonial chegando até os dias atuais com a utilização do Sensoriamento
Remoto (SeRe) com imagens de diferentes satélites obtidas no Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (INPE), no período compreendido entre os anos 1980 e 2005.
Para a análise destas imagens foi adotado o paradigma dos Geossistemas como
referência teórica, com base em BERTRAND, G. (1971); SOTCHAVA, V. B. (1977) e
MONTEIRO, C.A. de F., (1978; 2001), sendo definidas então as unidades internas
do Geossistema como o alto curso, o médio curso e o baixo curso do rio, analisados
como Geofácies; também foi adotado o materialismo histórico dialético como método
de abordagem, tendo como referências QUAINI, M. (1979); MARX, K. (1986);
CASTELLS, M. (2000); HARVEY, D. (2005); entre outros. A contradição central
identificada no desenvolvimento do trabalho foi a relação entre a cobertura vegetal e
a expansão urbana, de cuja oposição evidenciou-se a existência de um processo de
segregação socioeconômica espacial identificada a partir da análise de dados
estatísticos obtidos através do Censo 2000 (IBGE). Foram projetados no espaço
geográfico os resultados destas análises, sendo gerados mapas temáticos
quantitativos e um mapa/síntese qualitativo. Foram analisados ainda aspectos
relativos à existência nas nascentes dos tributários do rio de diversas lagoas de
tratamento e decantação de esgotos, implantadas em vales e planícies de
inundação que não garantem resultados significativos em termos de qualidade
ambiental ao Geossistema, em especial nos momentos de ocorrência de maior
precipitação pluviométrica, sendo apresentada então uma recomendação de manejo
natural destas lagoas, com geração de trabalho e renda para a população que habita
o seu entorno.
Palavras chaves: Geografia. Jaguaribe, Rio, Bacia (Salvador. BA) Segregação
socioeconômica espacial. Jaguaribe, Rio, Bacia (Salvador. BA) – Expansão
Territorial – Segregação socioeconômica espacial.
ABSTRACT
This master’s degree dissertation of searched as objective to study the relation
between the society and the nature under the optics of the hegemonic logic of the
production of the space to identify the occurrence of space socioeconomic
segregation in the scale of a hydrographical basin. The hydrographical basin of the
Jaguaribe river, that total is located in the urban perimeter of Salvador, Bahia, in area
defined from years 1970 as vector of growth and expansion of the Bahia’s seat of
government, with the opening of the Av. Parallel, connector link between the axles
Road Station/International Airport. The work was initiated from the interpretation of
historical maps of the colonial period arriving until the current days with the use of the
Remote Sensoryment (SeRe) with images of different satellites gotten in the Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), in the period understood between years
1980 and 2005. For the analysis of these images, the paradigm of the Geossistem
was adopted as theoretical reference, on the basis of BERTRAND, G. (1971);
HUNTER, C.A. of F., (1978; 2001) e SOTCHAVA, V. B. (1977), being defined then
the internal units of the Geossistem as the high course, the average course and the
low course, analyzed as Geofácies; also the dialéctic historical materialism was
adopted as boarding method, having as references CASTELLS, M. (2000); HARVEY,
D. (2005); MARX, K. (1986); QUAINI, M. (1979); among others. The identified central
contradiction in the development of the work was the relation between the vegetal
covering and the urban expansion, whose opposition proved it existence of a process
of identified space socioeconomic segregation from the analysis of gotten statistical
data through Censo 2000 (IBGE). The results of these analyses, being generated
quantitative thematic maps had been projected in the geographic space and a
qualitative map/synthesis that had allowed to conclude for the existence of space
socioeconomic segregation in the area in study. Relative aspects to the existence in
the springs of the tributaries of the river of diverse lagoons of treatment and
decantation of sewers, implanted in valleys and plains of flooding that do not
guarantee resulted significant in terms of ambient quality to the Geossistem, in
special at the moments of pluviometric precipitation occurrence bigger, being
presented then a recommendation of natural handling of these lagoons, with work
generation and income for the population had been analyzed still that inhabits its
amer cool.
Words keys: Geography. Jaguaribe, River, Hydrographical basin ( Salvador. BA).
Space socioeconomic segregation. Jaguaribe, River, Hydrographical basin
(Salvador. BA). Territorial expansion - space socioeconomic segregation
LISTA DE FIGURAS
1
Remanescentes da pecuária de gado leiteiro nas margens do rio ........
22
2
As principais bacias hidrográficas de Salvador .....................................
26
3
Imagem mostrando independência da bacia do rio Passa Vaca ...........
28
4
A MDT mostra rio Trobogy como o último afluente ...............................
29
5
Imagem de satélite mostra o encontro dos rios na planície costeira .....
320
6
Detalhe do MDT com curvas de nível com 5 m comprova separação ..
31
7
Aglomerado urbano localizado nas encostas do médio curso ...............
45
8
Carta onde rio Vermelho e a Pedra de “Tapoan” ficam próximos .........
52
9
O primeiro registro encontrado sobre o rio Jaguaribe ...........................
53
10
Mapa onde muitas bacias hidrográficas já eram conhecidas ................
54
11
Ocupação dispersa nos anos 1970 .......................................................
56
12
População tende a aumentar a partir dos anos 1980 ............................
57
13
Nos anos 1990, médio-baixo curso apresenta áreas sem habitantes ...
58
14
A expansão urbana compromete a cobertura vegetal ...........................
59
15
Correção geométrica usando base cartográfica de Salvador ................
71
16
Roteiro Metodológico .............................................................................
88
17
Imagem Landsat 2 adquirida em 29/07/1981, sensor MSS [...] .............
92
18
Imagem Cbers 2 adquirida em 21/12/2005, sensor CCD 1x [...] ...........
93
19
Em 1981 a dispersão da população preserva cobertura vegetal ...........
94
20
Em 2005 a concentração da ocupação e supressão da cobertura ........
95
21
Altimetria P&B com resolução espacial de 30 m ...................................
96
22
Altimetria Color com resolução espacial de 30 m ..................................
97
23
A existência de falhas geológicas na bacia ...........................................
99
24
MDT com curvas de nível de 5 m reforça a hipótese das falhas ...........
99
25
Cobertura vegetal identificada em 2005: canais R(1),G(2) e B(3) .........
100
26
Imagem mostra situação real em 2005: 8 bits, [...] ................................
102
27
Bairros contidos em cada área de ponderação .....................................
103
28
Distribuição da população nas áreas de ponderação ............................
133
29
A quantificação dos resíduos em desvio padrão ...................................
136
30
A violência em Itapuã na manchete do principal jornal .........................
141
31
População que estuda em escolas particulares ....................................
142
32
População que estuda em escolas públicas ..........................................
143
33
População que não estuda mas já estudou ...........................................
144
34
População que nunca estudou ..............................................................
145
35
Análise qualitativa dos resíduos ............................................................
151
36
Lagoas de decantação localizadas no alto curso ..................................
156
37
Aterro de Canabrava e as lagoas de decantação do médio curso ........
157
38
Satélite permitiu localizar lagoas de decantação do alto curso .............
158
39
As três lagoas de decantação João de Barros do rio Águas Claras ......
159
40
As duas lagoas de decantação de Fazenda Grande VII .......................
159
41
A proximidade entre o braço do rio canalizado e a lagoa ......................
160-
42
Detalhe das três lagoas do sistema do rio Cambunas ..........................
161
43
Outro detalhe da maior lagoa de decantação do rio Cambunas ...........
161
44
Mais uma lagoa de decantação do rio Cambunas ................................
162
45
A proximidade entre as casas na encosta e a lagoa de decantação .....
162
46
As casas na encosta e a lagoa no vale do rio Cambunas .....................
163
47
Uma das lagoas do sistema Cambunas se encontra desativada ..........
163
48
No médio curso do rio o que sobrou do Aterro de Canabrava ..............
164
49
Lagoa de decantação de Jaguaribe II, ao lado co curso do rio .............
165
50
No médio curso a lagoa de Mata Atlântica desativada e seca ..............
165
51
Verde previsto para 2015 no zoneamento proposto pelo PDDU ...........
166
52
Localização da av. 29 de março e do Projeto Tecnovia ........................
168
53
Impacto de Alphaville I visto por satélite e imagem aérea .....................
169
54
2005: cobertura vegetal menor que área usada para outros fins ..........
170
55
Mata Atlântica sofrerá grande impacto com projetos previstos .............
171
56
Ilustração utilizada na apresentação do Projeto Tecnovia ....................
172
57
Condomínios são implantados na planície de Inundação do rio ...........
173
58
A ocupação “irregular” do Bairro da Paz e a “regular” de classe A .......
174
LISTA DE QUADROS
1
Autores e conceitos usados no sensoriamento remoto .........................
63
2
Imagens obtidas com os satélites Landsat ............................................
65
3
Principais usos que as bandas do satélite Landsat permitem ...............
65
4
Imagens obtidas com o satélite Cbers 2 ................................................
66
5
Banco de Dados sobre a Bacia do rio Jaguaribe ..................................
69
6
Base usada para georreferenciar as imagens de satélite ......................
70
7
Rol das Áreas de Ponderação selecionadas .........................................
77
8
Pessoas de ambos os sexos residentes na bacia .................................
104
9
Rol de pessoas residentes na bacia ......................................................
105
10
População residente nas áreas de ponderação ....................................
107
11
Áreas de ponderação selecionadas para a análise ...............................
109
12
Domicílios particulares independente da condição de ocupação ..........
111
13
Densidade de moradores por cômodo ..................................................
113
14
Configuração dos bairros por desvio padrão .........................................
138
LISTA DE GRÁFICOS
1
Diagrama de dispersão e reta de previsão de correlação .....................
83
2
População residente ..............................................................................
108
3
Pessoas de ambos os sexos residentes em domicílios particulares .....
110
4
Domicílios permanentes próprios, alugados e/ou cedidos ....................
112
5
Renda média per capita ........................................................................
115
6
Renda média domiciliar .........................................................................
116
7
Renda mediana per capita ....................................................................
117
8
Renda mediana domiciliar .....................................................................
119
9
População sem instrução ......................................................................
120
10
População com 15 anos ou mais de estudo ..........................................
122
11
População que se declara parda ...........................................................
124
12
População que se declara de cor preta .................................................
125
13
Soma dos que se declaram pretos e pardos .........................................
127
14
População que se declara de cor branca ..............................................
130
LISTA DE TABELAS
1
Equivalência de numeração das áreas de ponderação .........................
76
2
População residente nas áreas de ponderação ....................................
78
3
Porcentagem de residentes por área em relação à população total da
bacia ......................................................................................................
80
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
APs
Áreas de Ponderação
CAPES
Coordenação de Aperfeiçoamento do Ensino Superior
CBERS
China Brazil Earth Resources Satellite
CCD
Charge Coupled Device
CONDER
Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia
IBGE
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
INPE
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
MDT
Modelo Digital do Terreno
MSS
Multispectral Scanner Subsystem
PDDU
Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano
PDI
Processamento Digital de Imagens
PMS
Prefeitura Municipal de Salvador
RGB
Cores Red, Green, Blue
SEPLAM
Secretaria Municipal de Planejamento e Meio Ambiente de Salvador – Ba
SEI
Superintendência de Estudos Econômicos do Estado da Bahia
SESC
Serviço Social do Comércio
SeRe
Sensoriamento Remoto
SHP
Formato “shape” do ArcMap
SIG
Sistema de Informações Geográficas
SPOT
Systeme Proboitoire de Observation de la Terre
SMA
Superintendência do Meio Ambiente da SEPLAM
SRTM
Shuttle Radar Topographic Mission
ZI
Zona de informação
SUMÁRIO
1
1.1
1.2
1.3
1.3.1
1.3.2
1.4
INTRODUÇÃO .................................................................................
JUSTIFICATIVA ...............................................................................
PROBLEMA .....................................................................................
OBJETIVOS .....................................................................................
Objetivo Geral .................................................................................
Objetivos Específicos ....................................................................
CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA EM ESTUDO .................................
15
17
19
20
20
20
21
2
2.1
2.1.1
2.2
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .......................................................
OS ESPAÇOS URBANOS COMO CATIVEIROS ............................
Uma questão histórica ...................................................................
METODOLOGIA ...............................................................................
34
44
50
63
3
3.1
3.1.1
3.1.2
O ESPAÇO VISTO DO ESPAÇO ....................................................
AS VARIÁVEIS NATURAIS E SOCIAIS ...........................................
As variáveis naturais - O sensoriamento remoto ........................
As variáveis sociais – O Censo Demográfico ..............................
89
89
90
102
4
4.1
4.1.1
4.2
4.2.1
4.3
4.3.1
ANÁLISE GEOSSISTÊMICA ...........................................................
AS UNIDADES INTERNAS DO GEOSSISTEMA .............................
O alto, o médio e o baixo curso ....................................................
O SALTO QUALITATIVO .................................................................
Quando a quantidade vira qualidade ............................................
RECURSOS, USOS E PROBLEMAS ..............................................
As lagoas de decantação de esgotos ...........................................
131
131
131
1249
150
152
153
5
ATUAIS E FUTURAS INTERVENÇÕES .........................................
166
6
6.1
6.2
CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................
CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................
RECOMENDAÇÕES ........................................................................
176
176
179
REFERÊNCIAS ................................................................................
181
ANEXO ............................................................................................
187
15
CAPÍTULO 1
1
INTRODUÇÃO
A expressão ‘lógica hegemônica’ pode ser considerada controversa quando
se refere ao espaço geográfico, mas seu uso tem se tornado cada vez mais
freqüente em trabalhos recentes de Geografia, em decorrência do fato de que as
características do chamado ‘modo de produção capitalista’ se tornam bastante
evidentes quando são espacializadas. Nos estudos sobre o espaço urbano, ao se
falar em ‘lógica hegemônica’, está se falando, como sugere Harvey (2005), da
dependência que a vida cotidiana tem de mercadorias produzidas mediante o
sistema de circulação do capital, que tem a busca do lucro como seu objetivo direto
e socialmente aceito.
A lógica hegemônica, portanto, é a lógica do lucro obtido através da moeda
usada para adquirir mercadorias, sejam estas mercadorias a força de trabalho e
meios de produção, ou qualquer tipo de matéria, inclusive o espaço propriamente
dito, ou as matérias utilizadas para o acesso à formação escolar, ainda que neste
último caso o apelo ao estímulo ao lucro ganhe contornos que procuram dissolvê-lo
no caldeirão das chamadas infra-estruturas sociais. Estas, ainda segundo Harvey
(2005), apenas sustentam a circulação do capital. Sustentam a obtenção do lucro.
Sustentam a lógica hegemônica.
Nessa ótica, a utilização da expressão ‘produção do espaço’ implica em
falar no que Castells (2000), afirma ser algo denominado pelos sociólogos como
‘cultura urbana’, um sistema de valores, atitudes e comportamentos, bem como da
concentração espacial de uma população, a partir de certos limites de dimensão e
16
densidade. Produção aqui entendida como uma atividade humana destinada em
primeiro lugar à assegurar a própria sobrevivência. Trata-se, portanto, como prefere
definir Castells (2000), da produção social das formas espaciais caracterizada por
relações de dependência, que são relações hegemônicas.
Ao se fazer referência aos limites de dimensão e densidade da concentração
espacial a intenção é se reportar à necessidade de adoção de uma ‘escala’. Que
fique claro que se está utilizando a palavra “escala” tanto no sentido que ela é
empregada por Santos (2002), como área de ocorrência que é dada pela extensão
dos eventos, ou seja, uma escala que varia com o tempo mas, também, no sentido
das variáveis envolvidas na produção do evento, as chamadas forças operantes.
Para Whitehead (The Concept of Nature, 1920, 1971, p.34), “a passagem
dos eventos e a extensão de uns eventos sobre os outros são as qualidades
de que se originam, como abstrações, o tempo e o espaço” e “a teoria
reclama que sejamos conscientes dessas duas relações fundamentais, a
ordem temporal dos instantes e a relação entre os instantes do tempo e os
estados da natureza que acontecem nesses instantes” (SANTOS, 2002, p.
155).
Whitehead, ainda segundo Santos (2002), esclarece a função de relação que
o evento assume quando opera a fusão de ocasiões atuais que se inter-relacionam
numa determinada maneira e numa determinada extensão, possibilitando que se
fundam as noções de escala do acontecer e de escala geográfica. É possível
admitir que cada combinação de eventos ao mesmo tempo cria um
fenômeno unitário, unitariamente dotado de extensão e se impõe sobre
uma área, necessária à sua ação solidária. Vem daí o papel central que a
noção de evento pode representar na contribuição da geografia à
formulação de uma teoria social. É através do evento que podemos rever a
constituição atual de cada lugar e a evolução conjunta dos diversos, (SIC)
lugares, um resultado da mudança paralela da sociedade e do espaço
(SANTOS, 2002, p.155).
17
É nesse sentido que este trabalho adotou a escala de uma bacia hidrográfica
urbana, a bacia hidrográfica do rio Jaguaribe, Salvador, Bahia, como um evento
atual, absoluto, individualizado e finito, em processo de inter-relação com outros
eventos, alguns de origem social, e criou com todos eles uma continuidade do
mundo vivente e em movimento (Leslie Paul, 1961, apud Santos, 2002).
O próprio Santos (2002), chama esse fenômeno de continuidade temporal e
coerência espacial, ao afirmar que “é assim que as situações geográficas se criam e
se recriam”, ou seja, no caso deste estudo, é assim que o espaço dessa bacia
hidrográfica é produzido e reproduzido.
Uma questão importante a ser destacada diz respeito à localização dessa
bacia hidrográfica em Salvador, hoje uma metrópole global. Salvador é uma cidademetrópole perfeitamente enquadrada no modo de produção neoliberal que
caracteriza a atual fase da globalização, o que causa reflexos na produção e
reprodução do espaço urbano, e que se refletem, por sua vez, nos rios que cortam a
cidade.
1.1 JUSTIFICATIVA
Os rios de Salvador passaram a apresentar, ao longo do século XX, sinais de
degradação, característica de um modo de produção e de uma forma de se
relacionar da sociedade com o ambiente, o que justifica plenamente a realização
desta pesquisa com o enfoque que ela propõe.
18
A existência de uma Dissertação de Mestrado sobre a bacia hidrográfica do
rio Jaguaribe, defendida no ano de 1998, cuja pesquisa envolveu dados de há quase
dez anos, portanto, escrita por Abreu (1998), foi uma referência obrigatória e um
facilitador do trabalho.
Tal dissertação apresenta uma completa caracterização física da área em
estudo naquele momento, final do século XX, e traz alguns dados. Faz a análise de
alguns aspectos sociais da área e utiliza como base a divisão da cidade em Regiões
Administrativas, adotada pela Prefeitura Municipal de Salvador, além de dados
relativos aos Distritos Sanitários e Zonas de Informação, ZI.
A atualização do estudo anteriormente realizado sobre a bacia hidrográfica do
rio Jaguaribe é bastante relevante do ponto de vista acadêmico, uma vez que se
trata de uma bacia totalmente localizada no perímetro urbano e a cidade do
Salvador mudou muito nos últimos dez anos.
A área onde está localizada a bacia hidrográfica em questão se tornou um
dos principais vetores de crescimento da cidade, com forte impacto sobre a
cobertura vegetal, entre outros aspectos, que caracterizam a ação humana na
produção e reprodução do espaço.
Além disso, a possibilidade de se utilizar hoje a ferramenta do sensoriamento
remoto (SeRe), no monitoramento da área em estudo, com imagens de diferentes
satélites, que não eram tão acessíveis há dez anos, se tornou um elemento
importante na construção deste trabalho. As imagens de satélites têm se tornado um
elemento importante nas pesquisas atuais sobre o espaço urbano, pelas inúmeras
possibilidades que disponibilizam para o pesquisador.
19
Some-se a esse fato uma outra referência, ainda mais importante no que diz
respeito ao estudo das populações, o recurso aos dados estatísticos do Censo 2000,
realizado pelo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -, que não
estavam disponíveis quando o trabalho de Abreu (1998) foi concluído. Esses dados
estatísticos se mostraram fundamentais na estruturação da interpretação que se
realizou.
1.2
PROBLEMA
Uma bacia hidrográfica totalmente localizada em uma área urbana coloca em
evidência as relações que se estabelecem dentro dela e à sua volta, mas não se
tratam apenas de relações homem/natureza, nem de relações homem/homem.
Porque o “funcionamento” de uma bacia hidrográfica, numa determinada área de
uma cidade, explicita que não pode haver polarização entre homem/natureza porque
ambos vivem uma permanente relação de in put e out put e o desequilíbrio de um
implica, inevitavelmente, no desequilíbrio do outro, devendo esse relacionamento
caminhar na direção de uma simbiose.
A produção do espaço na área da bacia hidrográfica do rio Jaguaribe pode
ser caracterizada até o final dos anos 80 do século passado como tendo uma
característica de dispersão, que fica bastante evidenciada nas imagens de satélite
da época. A partir do final do século XX e no início do XXI, vê-se, também, nas
imagens de satélite, que essa produção do espaço passa a ter uma forte
característica de concentração, com grande impacto sobre a cobertura vegetal a
partir do uso e ocupação do solo urbano.
20
O problema que este trabalho pesquisou diz respeito à compreensão desse
processo histórico, onde se evidenciam mudanças na relação entre a sociedade e a
natureza, ou seja, na relação de produção e reprodução do espaço.
1.3
OBJETIVOS
1.3.1 Objetivo geral
•
Problematizar, do ponto de vista da Geografia como ciência, aspectos
relativos ao processo de segregação socioeconômica espacial, característico
da lógica hegemônica da produção do espaço, no contexto de uma bacia
hidrográfica localizada em uma cidade global.
1.3.2 Objetivos específicos
•
Analisar variáveis sobre a população residente na área da bacia hidrográfica
do rio Jaguaribe, tais como, número de residentes; concentração de
domicílios; moradores por domicílio; renda média e mediana per capita e
domiciliar e grau de instrução.
•
Definir as variáveis que permitam caracterizar a ocorrência de segregação
socioeconômica espacial na área em estudo.
•
Mensurar a relação de correlação possível entre as variáveis “ser
alfabetizado” (independente) e “ser economicamente ativo” (dependente),
como indicadoras de segregação socioeconômica espacial através da análise
de seus resíduos.
21
•
Projetar
no
espaço
em
estudo
aspectos
relativos
à
segregação
socioeconômica espacial da população que habita a área.
•
Questionar a relação entre os projetos previstos para serem implantados na
área e a sua gestão sócio-ambiental.
1.4
CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA EM ESTUDO
Definida como zona rural de Salvador até o século XIX, a área onde está
localizada a bacia hidrográfica do rio Jaguaribe foi se urbanizando a partir da
transformação em avenidas de antigas estradas que saiam do perímetro urbano em
direção à então zona rural.
Um exemplo é a estrada que ligava o bairro de Amaralina à Itapuã, pela orla
marítima (até o início do século XX), ou a estrada que ligava a BR-324 à Base Aérea
de Ipitanga, hoje Aeroporto Internacional de Salvador, conhecida como Estrada
Velha do Aeroporto.
Essa transformação da zona rural de Salvador em urbana se acentuou
posteriormente com a abertura da Avenida Paralela, nos anos 1970, culminando
com a completa extinção da zona rural de Salvador, no final do século XX.
Ainda se encontrou no trabalho de campo – em abril de 2005 remanescentes de antigas fazendas de criação de gado próximos à orla marítima de
Piatã, como se vê na figura 1, nas margens do rio Jaguaribe, no trecho próximo à
Avenida Orlando Gomes.
22
Figura 1. Remanescentes da pecuária de gado leiteiro nas
margens do rio Jaguaribe, Salvador – BA.
(Foto: CAETANO, Carlos Alberto 2005).
A dificuldade em definir os limites entre o rural e o urbano no caso da
expansão das cidades, no Brasil, é um fenômeno recente, porque as cidades foram
inchando e transformando fazendas em loteamentos, com conseqüências inevitáveis
sobre o uso do solo, o espaço e o meio ambiente.
Mas, não se pode esquecer de que também os moradores dessas fazendas,
assim como os imigrantes das zonas rurais de outras cidades, foram sendo
incorporados nessa expansão urbana que foi, assim, criando e expandindo suas
periferias.
O fascínio que os grandes centros urbanos exercem sobre as populações de
cidades menores e mesmo sobre a população rural, do ponto de vista da cidade
como centro de atividades e inovações, explica em grande parte o inchaço que as
cidades brasileiras sofreram na segunda metade do século XX, fato que também
aconteceu em Salvador, com grande impacto da expansão urbana sobre o meio
natural.
23
Este trabalho considerou três vias de circulação como as referências que
caracterizam a área em estudo, em termos de circulação de pessoas e veículos: a
Br-324, estrada federal que liga Salvador a Feira de Santana; a Avenida Paralela,
que liga o eixo Shopping Iguatemi/Rodoviária ao Aeroporto Internacional de
Salvador e a Estrada Velha do Aeroporto, que corta transversalmente a área da
bacia.
Abreu (1998), descreve a Geologia da bacia hidrográfica do rio Jaguaribe
como apresentando três unidades diferenciadas cronologicamente: o embasamento
cristalino pré-cambriano, a Formação Barreiras e os depósitos quaternários.
Segundo esse autor, o embasamento cristalino pode ser observado associado às
outras duas unidades ou, de forma menos representativa, exposto em superfície, no
alto e médio curso do rio. A Formação Barreiras é o aspecto mais visível que
aparece nos topos planos do alto e médio curso, sendo pouco representativa no
baixo curso.
Apresenta um modelado de espigões alongados e morros convexos e
ocupa cotas entre 100 e 40m. Foi observado em campo, de forma
generalizada, um conglomerado basal ou “alinhamento de pedras”, que
separa esta unidade do manto alterado precambriano subjacente [...] em
que a espessura dos sedimentos Barreiras decresce, acompanhando o
declínio topográfico em direção à planície costeira (ABREU, 1998, f.30).
Além dessas unidades, segundo Abreu (1998), os depósitos quaternários
encontrados na área da bacia em estudo são formados por terraços marinhos,
cordões arenosos, praias atuais e depósitos flúvio-marinhos de manguezais, sempre
no baixo curso. O autor registra ainda a ocorrência de arenitos de praia de forma
mais representativa na região de Piatã.
24
Em relação aos principais tipos de solos encontrados, Abreu (1998), descreve
os Latossolos amarelos; os Podzólicos Vermelho-Amarelos; os Podzóis e Areias
Quartzosas. Destaca ainda características particulares dos Podzóis, das Areias
Quartzosas, dos solos Hidromórficos Indiferenciados, das Areias Quartzosas
Marinhas e dos “Solos/Sedimentos de Manguezais”1.
Todos esses aspectos relativos à formação geológica da área em estudo
foram bastante desenvolvidos por Abreu (1998), que apresenta também a evolução
geomorfológica do sítio de Salvador e análise geomorfológica da área em estudo,
traçando um perfil esquemático entre a nascente e a foz.
No trabalho de laboratório com imagens de satélite na construção desta
Dissertação foi possível observar o que pode ser uma lacuna no trabalho supra
citado, em relação à existência de duas falhas geológicas na área da bacia: uma no
médio curso e outra no baixo curso, fato que será melhor desenvolvido em outro
capítulo, inclusive como sugestão para aprofundamento da pesquisa na área da
Geologia.
Abreu (1998), divide o curso do rio em três segmentos: o alto curso, das
nascentes até a confluência dos rios Cambunas e Águas Claras; o médio curso, que
se inicia após essa confluência e se estende até o cruzamento com a Avenida
Paralela, e o baixo curso, que se prolonga desde o cruzamento com a avenida
Paralela até a foz no Oceano Atlântico. Essa divisão é inquestionavelmente correta e
foi adotada nesta pesquisa.
Em praticamente toda a extensão da bacia, originalmente, eram encontradas
extensas áreas remanescentes da floresta ombrófila em diferentes estágios,
caracterizando um ambiente típico de Mata Atlântica que recobria e estabilizava o
1
Com relação a essa terminologia é importante que se destaque que os processos evolutivos relacionados a
esses termos têm conduzido a uma nova nomenclatura, ainda em discussão, onde mais apropriadamente deve
ser utilizado “solos/sedimentos de manguezais” (QUEIROZ, 2007, informação verbal).
25
solo. Esta mata constituída por diferentes espécies arbóreas, sempre verde e
apresentando grande diversidade biológica, foi bastante reduzida com a ocupação
da área, consolidada no final da primeira metade do século XX, de forma bastante
acentuada a partir dos anos 1970, com a abertura da Avenida Paralela.
Abreu (1998) refere-se, ainda, à existência de formações de vegetação
pioneira, como as de restinga, na planície costeira; a vegetação higrófila e hidrófila,
respectivamente ao redor de áreas úmidas e na superfície d’água e a vegetação de
manguezal.
Salvador possui uma característica especial do ponto de vista administrativo:
a cidade é dividida em Regiões Administrativas. O fato de a cidade não possuir uma
divisão em bairros faz com que cada pesquisador adote a divisão que lhe parece
mais adequada ao seu projeto.
No caso deste trabalho foi adotada a divisão em Áreas de Ponderação, feita
pelo IBGE a partir do Censo 2000, e se questionou a divisão em Bacias
Hidrográficas feita pela Prefeitura através da SEPLAM (PDDU/2004), que apresenta
o rio Passa Vaca como o último afluente do rio Jaguaribe, constituindo-se, portanto,
numa sub-bacia do mesmo, do ponto de vista oficial.
Este trabalho considerou como último afluente do rio Jaguaribe o rio Trobogy,
tributário do mesmo na altura do SESC, em Piatã. O rio Passa Vaca foi definido
como uma pequena bacia, porém totalmente independente do rio Jaguaribe, como
se vê na figura 2.
26
Figura 2. As principais bacias hidrográficas de Salvador. (FONTE: PMS/SEPLAM/PDDU/2004).
Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007).
27
É importante fazer a ressalva que algumas cartas apresentadas nesta
pesquisa, por fazerem parte de trabalhos de outros pesquisadores, como é o caso
de Brito (2005), ou por terem sido construídas anteriormente a esta constatação com
material indisponível para um reordenamento atualizado, estão apresentadas com a
definição de área da bacia que está sendo questionada, ou seja, com a definição
oficial feita pela PMS.
No desenvolvimento deste trabalho foram encontradas informações que
permitiram adotar, sem qualquer receio, esta nova definição da área da bacia
hidrográfica do rio Jaguaribe, diferente da oficial utilizada pela PMS através da
SEPLAM.
Esta nova definição ocorreu a partir de trabalhos de campo e de laboratório,
com a utilização de imagens de satélite através do processo de sensoriamento
remoto (SeRe), e apresenta uma modificação na configuração das bacias
hidrográficas de Salvador, sendo portanto uma contribuição desta dissertação para
uma nova compreensão sobre como funcionam os processos hidrológicos na orla
Leste da cidade.
É possível perceber na imagem de satélite da figura 3, que o rio Passa Vaca
constitui uma bacia hidrográfica totalmente independente do rio Jaguaribe.
Uma bacia que tem um relevo próprio, um sistema hidrológico próprio e que,
em momento algum, se comunica com o rio Jaguaribe, a não ser quando se
encontram já na praia, ao chegarem juntos ao Oceano Atlântico.
28
Figura 3. Imagem do satélite SPOT 4, com resolução espacial de 10m, mostrando a
“independência” da bacia do rio Passa Vaca – Litoral de Salvador – Bahia.
Fonte: SPOT 4 / INPE
Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007).
A imagem do satélite SRTM da figura 4, utilizada para construir o mapa de
altimetria a partir do Modelo Digital do Terreno (MDT), explicita que as duas bacias
não se comunicam, a não ser no estuário, já na praia.
É importante esclarecer que a descoberta e formulação da nova proposta de
área da bacia foi resultado dos trabalhos do curso “Gestão Ambiental de Áreas
Degradadas”, ministrado como requisito para uma bolsa CAPES do Programa
PROCES, sob a coordenação do Prof. Dr. Antonio Puentes Torres, Orientador desta
pesquisa.
A bolsa foi obtida através do Programa de Pós-Graduação ao qual a
dissertação está vinculada.
29
Figura 4. O Modelo Digital do Terreno, a partir de imagem do satélite SRTM, mostra o rio
Trobogy como último afluente do rio Jaguaribe.
Fonte: SRTM / INPE
Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007).
Utilizando-se as curvas de nível do trabalho de Brito (2005), também é
possível perceber que trata-se de um equívoco considerar o rio Passa Vaca como
um afluente do rio Jaguaribe.
O rio Passa Vaca, como se vê na figura 5, passa sob a chamada Terceira
Ponte, da avenida Otávio Mangabeira, após formar o manguezal do rio Passa Vaca,
e já na planície oceânica, se encontra com o Jaguaribe, que corre entre as duas
pistas da avenida Otávio Mangabeira.
30
Figura 5. Imagem do satélite Quick Bird mostrando o encontro dos rios Jaguaribe e
Passa Vaca na planície costeira, Orla Marítima de Salvador-Bahia.
Fonte: Quick Bird/2005
Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007).
É um caso típico de rios que deságuam no mesmo trecho do oceano, sem
que, contudo, estabeleçam qualquer relação de “pertencimento” um ao outro. As
curvas de nível usadas para construir o detalhe do MDT do estuário não deixam
qualquer dúvida a este respeito, como se pode ver pela figura 6.
31
Figura 6 - Detalhe do MDT com curvas de nível de 5 m comprova a separação
entre as bacias do rio Jaguaribe e do rio Passa Vaca.
Fonte: BRITO (2005)
Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007).
A presente pesquisa foi desenvolvida em seis capítulos, com um total de 220
folhas, tendo como uma de suas preocupações o fato de que, neste começo de
século XXI, o grande desafio da ciência, ou das ciências, é buscar o caminho do
conhecimento complexo através da interdisciplinaridade.
A Geografia tem, ao mesmo tempo, a facilidade de trilhar o caminho
interdisciplinar e a dificuldade de abandonar antigas convicções ou vícios
cartesianos. O desafio, portanto, foi organizar a pesquisa envolvendo em condições
de igualdade – ou não seria interdisciplinar – os conhecimentos de Geografia,
Geologia, Estatística, Sensoriamento Remoto, Sociologia, entre outros, utilizando o
espaço como plataforma transversal onde sociedade e natureza se mutualizam.
No primeiro capítulo são apresentadas a justificativa, o problema de pesquisa
e seus objetivos, além da caracterização da área em estudo, onde se coloca o
32
primeiro diferencial desta pesquisa: ela não é porta voz da oficialidade, e questiona a
definição oficial de área da bacia hidrográfica em estudo adotada pela PMS.
No segundo capítulo são apresentadas as referências teóricas que serviram
de embasamento para a interpretação. É bom que se esclareça que este trabalho
não se propôs a construir uma verdade, mas uma Interpretação da realidade.
Interpretação esta que não é definitiva nem a única possível.
Foi utilizado o paradigma dos Geossistemas, com base nos ensinamentos de
Bertand (1978), Sotchava (1979) e Monteiro (2001), recorrendo também ao
materialismo histórico dialético, melhor seria dizer materialismo histórico geográfico
dialético, como método de abordagem, tendo como principal referência autoral
Harvey (2005). Houve uma busca incessante de construir a interpretação a partir do
estabelecimento de uma tese, uma antítese e uma síntese.
No terceiro capítulo foram estabelecidas as variáveis naturais e sociais que
orientaram a pesquisa. As variáveis naturais foram construídas a partir da utilização
do sensoriamento remoto, com imagens de diversos satélites, recorrendo-se, assim
à uma série histórica de 24 anos, entre 1981 e 2005, período no qual a bacia
hidrográfica em estudo sofreu modificações substanciais, com a supressão de
praticamente metade da sua cobertura vegetal.
As variáveis sociais tiveram como base o Censo Demográfico de 2000.
Trazem algumas revelações escondidas nas entrelinhas dos números e que
puderam ser reveladas graças à utilização da quantificação, da análise de dados
estatísticos com cálculos de regressão linear e correlação, em busca de identificar
as áreas onde ocorre maior segregação socioeconômica espacial na bacia
pesquisada.
33
Destaque-se aqui que a segregação, a face mais cruel da lógica hegemônica
da obtenção de lucros a qualquer custo, não tem um único perfil e pode ser
identificada a partir dos mais diversificados olhares. A pesquisa escolheu um
caminho e percorreu-o: a correlação entre ser alfabetizado e ser economicamente
ativo, e projetou o resultado dessa interpretação no espaço geográfico.
No quarto capítulo foi feita a análise geossistêmica propriamente dita, sem
que o paradigma do geossistema se tornasse uma prisão, uma referência que
engessasse a interpretação. Foram definidos como geofácies o alto, o médio e o
baixo curso do rio e, cada um desses geofácies recebeu outra divisão, esta de
caráter socioeconômico, as áreas de ponderação usadas pelo IBGE no Censo 2000,
com dados obtidos através da SEI-BA, disponíveis no Anexo A.
Ainda no quarto capítulo ocorreu o grande momento da pesquisa que utiliza o
materialismo dialético como método de abordagem, que é o salto qualitativo, quando
os dados obtidos com a quantificação se transformaram em qualidade, atendendo a
uma das leis da dialética de Marx (1986) e Engels (1991). Foram analisadas as
lagoas de decantação de esgoto existentes na área em estudo, sob gestão da
Embasa, um foco de problemas socioambientais.
O quinto capítulo traz a análise de alguns projetos em implantação ou
previstos para serem implantados na área em estudo. Dois desses projetos
mereceram uma análise mais detalhada: a proposta da Tecnovia e o projeto da Av.
29 de março, que já se encontrava em fase de execução.
Finalmente, o sexto capítulo apresenta algumas conclusões e indicações,
sempre tendo em vista que o objetivo da ciência interdisciplinar é construir uma
visão critica da realidade.
34
CAPITULO 2
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Para problematizar a produção e reprodução do espaço em estudo adotou-se
como ponto de partida um debate sobre o conceito de totalidade. Para esse fim
foram colocadas algumas perguntas: afinal, o que é totalidade? O objeto de estudo
deste trabalho é uma totalidade? Em que nível? Ou ele faz parte de uma totalidade?
A forma atual da economia mundial está baseada nas redes globais. Uma
vertente – qualquer que seja –, da bacia hidrográfica do rio Jaguaribe, ou de
qualquer outro rio, em qualquer lugar do planeta, está “integrada”, portanto, a um
sistema socioeconômico global. Esse sistema que desmaterializou o dinheiro
transformando-o em “moeda virtual” que corre o mundo em fração de segundos,
chama-se globalização. Ela é uma totalidade e há autores que preferem denominá-la
de mundialização, discussão que não cabe neste trabalho.
A noção de totalidade se impôs ao longo dos tempos como um fato histórico.
A totalidade está sempre em movimento, num incessante processo de
totalização, nos diz Sartre. Assim, toda totalidade é incompleta, porque está
sempre buscando totalizar-se. Não é isso mesmo o que vemos na cidade no
campo ou em qualquer outro recorte geográfico? Tal evolução retrata o
movimento permanente que interessa à análise geográfica: a totalização já
perfeita, representada pela paisagem e pela configuração territorial e a
totalização que se está fazendo, significada pelo que chamamos de espaço
(SANTOS, 2002, p. 119).
Não se pode separar a idéia de totalidade da idéia de poder, aqui
compreendido com o sentido que Santos (2002), o emprega, atribuíndo-o a Taylor &
Thrift, a capacidade de uma organização para controlar os recursos necessários ao
funcionamento de uma outra organização.
35
Assim, é importante compreender que a totalidade, no caso deste estudo,
como propõe Santos (2002), deverá ser vista no que pode ser chamado de seu
terceiro nível, ou terceira totalidade, o nível do lugar, considerando o mundo como
primeira totalidade; o território, o país, o Estado, como segunda.
O lugar é a terceira totalidade, onde fragmentos da rede ganham uma
dimensão única e socialmente concreta, graças à ocorrência, na
contigüidade, de fenômenos sociais agregados, baseados num
acontecimento solidário, que é fruto da diversidade e num ocorrer repetitivo,
que não exclui a surpresa (SANTOS, 2002, p.270).
Ao se utilizar a palavra lugar, é importante rever o que Harvey (2004), propõe
como sendo as principais qualidades de um lugar. Para o autor citado, as qualidades
do lugar (o que, segundo ele, se poderia chamar de “em-localização” [placefulness])
são importantes, e envolvem a evocação da, e a atenção meticulosa à, forma
espacial entendida como continente de processos sociais (grifo do autor) e
expressão de alguma ordem moral. O autor supracitado fala ainda sobre a questão
da produção de escalas espaciais ao comentar sobre os lares, as nações, os
continentes e a vida planetária.
Os seres humanos costumam produzir uma hierarquia acomodada de
escalas espaciais com que organizar suas atividades e compreender seu
mundo. Lares, comunidades e nações são exemplos óbvios de formas
organizacionais contemporâneas existentes em diferentes escalas.
Intuímos de imediato no mundo de hoje que o caráter das coisas se afigura
distinto quando analisado na escala global, continental, nacional, regional,
local ou do lar/pessoal. O que parece relevante ou faz sentido numa
dessas escalas não se manifesta automaticamente em outra (HARVEY,
2004, p.108).
Santos (2002), define os lugares como espaços do acontecer solidário.
Exatamente como Harvey (2004), propõe, ao afirmar que o espaço contém o
processo social. O espaço, portanto, contém a sociedade e a natureza, ele é
resultado da ação do homem. Santos (2002), faz questão de frisar que o espaço não
depende exclusivamente da estrutura econômica, mas que os movimentos da
sociedade
36
atribuindo novas funções às formas geográficas, transformam a
organização do espaço, criam novas situações de equilíbrio e ao mesmo
tempo novos pontos de partida para um novo movimento. Por adquirirem
uma vida, sempre renovada pelo movimento social, as formas – tornadas
assim formas-conteúdo – podem participar de uma dialética com a própria
sociedade e assim fazer parte da própria evolução do espaço (SANTOS,
2002, p. 106).
Para o autor, não é correto se subordinar o espaço à dimensão econômica,
uma vez que a questão a colocar é a da própria natureza do espaço.
Quando se pretende subordinar o espacial ao econômico, a primeira
pergunta que acode é a seguinte: pode a economia funcionar sem uma
base geográfica? A resposta naturalmente é não, mesmo se a a palavra
geográfico é tomada na sua acepção mais equivocada, como um sinônimo
de condição natural (SANTOS, 2002, p. 182).
Assim o espaço para Santos (2002) deve ser visto, por um lado, como
resultado material acumulado das ações humanas e, de outro, pelas ações atuais
que hoje lhe atribuem dinamismo e uma funcionalidade. Neste sentido, ao analisar a
produção de um determinado espaço, não se deve negligenciar o contexto dessa
produção, que ocorre num sistema capitalista, numa economia global.
Ao analisar como as forças produtivas do capitalismo operam em nível da
produção do espaço Harvey (2005), assegura que no campo do espaço, o impulso
para revolucionar as forças produtivas é tão grande quanto em qualquer outro.
O capitalismo se esforça para criar uma paisagem social e física da sua
própria imagem, e requisito para as suas próprias necessidades em um
instante específico do tempo, apenas para solapar, despedaçar e inclusive
destruir essa paisagem num instante posterior do tempo. As contradições
internas do capitalismo se expressam mediante a formação e reformação
incessantes das paisagens geográficas. Essa é a música pela qual a
geografia histórica do capitalismo deve dançar sem cessar (HARVEY,
2005, p. 150).
37
Totalmente localizada no perímetro urbano, em área definida como de
expansão urbana, a bacia hidrográfica em estudo tem na sua cobertura vegetal o
foco principal da contradição expressa por Harvey (2004),entre a formação e a
reformação da relação entre a sociedade e a natureza na produção e reprodução
desse espaço. Também é na supressão da cobertura vegetal onde se manifesta, de
forma mais explícita, a lógica da obtenção de lucros com a expansão urbana. Por
isto, a cobertura vegetal foi escolhida para “retratar” a problematização proposta.
Ao escolher a cobertura vegetal da área da bacia hidrográfica como principal
“retrato” para análise e interpretação, se levou em conta que ela expressa uma
síntese das interfaces do tripé proposto por Bertrand (1971): potencial ecológico;
exploração biológica e ação antrópica.
Monteiro (2001, p.30), comenta sobre a proposta de Bertrand, explicando que
se trata de uma noção compósita, integrada ao geossistema, assegurando que ela é
aceitável, embora o tríptico potencial ecológico, explotação biológica e ação
antrópica, além de pouco esclarecer a conjunção, não difere muito daquele outro de
abiótico, biótico e antrópico.
O autor fala, ainda, sobre a origem da palavra geossistema, conforme posição
assumida por Bertrand em artigo publicado em 1978. Seria esclarecido ali, segundo
Monteiro (2001, p.47), que Sotchava, ao usar o termo “geossistema” em obra
publicada em 1960, merece a palma de “pioneiro”.
As diferenças entre as posturas de Bertrand e Sotchava, ainda segundo
Monteiro (2001), começam pelo fato de Bertrand ter procurado amarrar a sua
tipologia às ordens taxonômicas do “relevo”, e continuam com a iniciativa de
Sotchava, que vai se ligar às formações biogeográficas.
38
Portanto, para a Geografia, o geossistema funciona como uma idéia
unificadora da Geografia Física com a Geografia Humana e, mais que isso, para
Monteiro (2001, p.50), caracteriza a busca por uma Geografia mais integrada e
conjuntiva.
Essa visão unificadora, para Monteiro (2001), se acentua quando o
pesquisador busca construir uma modelização, apontando como requisito básico
para a modelização dos geossistemas a montagem de um sistema singular e
complexo, onde os elementos socioeconômicos não sejam vistos como um outro
sistema, mas incluídos no próprio sistema.
A observação de Monteiro (2001, ps. 53, 54), foi importante na construção da
análise feita nesta pesquisa no que diz respeito à busca por uma integração das
análises quantitativas às análises qualitativas, como vai ser evidenciado nos
próximos capítulos.
Ao se problematizar no desenvolvimento deste trabalho sobre a definição dos
limites do geossistema em estudo, no que diz respeito à proposta de redefinir os
limites da bacia hidrográfica do rio Jaguaribe, levou-se em conta não apenas a
definição das curvas de nível do relevo mas, como sugere Monteiro (2001),
considerou-se que
o geossistema é uma integração de vários elementos, não parece lógico
que os seus limites sejam conduzidos por uma curva de nível (relevo), por
uma isoieta (clima) pelo limite (borda) de uma formação vegetal, etc, etc.
Embora considerando que estas variações ou atributos possam indicar ou
sugerir, com maior peso, uma configuração espacial dos elementos do
geossistema, desde que esse “emane” de uma integração, não é de
esperar-se que isto seja uma regra (MONTEIRO, 2001, p.58).
39
Assim, o fato de não haver qualquer tipo de integração entre as bacias
hidrográficas dos rios Passa Vaca e Jaguaribe, foi fundamental para que se optasse
pela compreensão que a primeira não é uma sub-bacia da segunda, mas uma bacia
que tem existência independente.
Bertrand (1971), caracteriza o geossistema como “unidade dimensional
compreendida entre alguns quilômetros quadrados e algumas centenas de
quilômetros quadrados”. É nessa escala, explica ele, que se situa a maior parte dos
fenômenos de interferência entre os elementos da paisagem e que evoluem as
combinações dialéticas as mais interessantes para o geógrafo. O autor sentencia
que o geossistema é uma boa escala para os estudos de organização do espaço,
porque ele é compatível com a escala humana.
A abordagem geossistêmica dos sistemas ambientais físicos revela, portanto,
uma organização espacial complexa e individualizada, segundo os variados
elementos componentes da natureza. De acordo com Sotchava (1977), os
geossistemas possuem formações naturais que atuam na esfera terrestre de um
sistema em que os valores sociais e econômicos estão vinculados ao geossistema
em nível planetário.
Por outro lado, a concepção de Bertrand (1971), apresenta o elemento
antrópico mais vinculado aos geossistemas do que a definição de Sotchava.
Segundo Bertrand (1971), o geossistema pode ainda ser considerado uma estrutura
tripartite, uma superestrutura composta em sua infra-estrutura de geofácies e
geótopos.
40
Na análise de Monteiro (2001), a abordagem do geossistema é um meio para
o diagnóstico de um dado espaço, [...] é a base da qual se possa atingir uma
avaliação econômica [...] e, assim, uma projeção mais adequada a uma razoável
prognose.
Na Geografia, uma das aplicações mais usuais do paradigma do geossistema
ocorre, exatamente, no estudo das bacias hidrográficas. Quando se aplica tal
paradigma ao estudo de uma bacia hidrográfica é importante levar em conta que,
caracterizada como um geossistema, a bacia deve ter definidas suas unidades
internas.
No caso desta pesquisa optou-se por adotar os cursos do rio (alto, médio e
baixo), como unidades internas do geossistema, assim definidos como geofácies. Os
geofácies, segundo Bertrand (1971), correspondem a um setor fisionomicamente
homogêneo onde se desenvolve uma mesma fase de evolução geral do
geossistema. Diz o autor que em relação à superfície coberta, algumas centenas de
metros quadrados em média, podendo-se distinguir para cada geofácies um
potencial ecológico e uma exploração biológica.
O geofácies representa assim uma pequena malha na cadeia das
paisagens que se sucedem no tempo e no espaço no interior de um mesmo
geossistema. Pode-se falar de cadeias progressivas e de cadeias
regressivas de geofácies, como também de um “geofácies-climax”, que
constitui um estágio final da evolução natural do geossistema. Na superfície
de um geossistema, os geofácies desenham um mosaico mutante cuja
estrutura e dinâmica traduzem fielmente os detalhes ecológicos e as
pulsações de ordem biológica. O estudo dos geofácies deve sempre ser
recolocado nessa perspectiva dinâmica (BERTRAND, 1971, p. 16).
Recorreu-se ainda no desenvolvimento deste trabalho ao método de
abordagem do materialismo dialético, particularmente ao que se convencionou
chamar de novo marxismo, isto é, ao materialismo dialético de Marx (1986) e Engels
41
(1975) a partir numa visão atual, contemporânea e desengessada, tendo como
referência a leitura de teóricos como Castels e David Harvey.
Para Harvey (2004),
Marx, que em muitos aspectos era filho do pensamento iluminista, buscou
transformar o pensamento utópico – a luta para os seres humanos
realizarem sua “natureza específica”, como ele dizia em suas primeiras
obras – numa ciência materialista ao mostrar que a emancipação humana
universal poderia emergir da lógica classista e evidentemente repressiva,
embora contraditória, do desenvolvimento capitalista (HARVEY, 2004, p.24;
25).
Um dos temas do debate atual sobre o uso do materialismo dialético como
método de abordagem diz respeito às categorias e aos conceitos que podem ser
considerados contextualizados numa interpretação marxista.
Para o materialismo dialético, a história não é linear: tem conflitos,
contradições, antagonismos. Kosik (1976), diz que a transformação da sociedade é
produtora e produto da história e a história é produtora e produto da sociedade.
Além disso, se pode afirmar que o objetivo do recurso ao materialismo dialético
como método de abordagem neste trabalho, foi distinguir a aparência, enquanto
forma de manifestação, da essência.
Nesse sentido, do ponto de vista do materialismo dialético, as categorias de
análise devem nascer não de um idealismo, mas da expressão teórica da práxis
social: elas não precisam ser operacionais, mas têm que ser essenciais. Elas
constituem a própria realidade e derivam desta realidade.
Esta pesquisa adotou como única categoria de análise a formação
econômico-social, que foi considerada aqui como uma totalidade. A preocupação
inicial foi compreender a evolução da formação econômico-social da área em
42
estudo, ou seja, uma bacia hidrográfica urbana e sua “ocupação” pela sociedade.
Uma sociedade que se estabelece historicamente como colonial e produz e reproduz
o espaço em função da obtenção de rendas monopolistas.
Para a lógica dialética, tudo se relaciona no real de forma diferenciada pela
intensidade e qualidade. O real é visto em movimento onde operam contradições
como forma de ser. Mas um ser que não se restringe à sua forma, no caso desta
pesquisa, a forma de uma bacia hidrográfica. Esta aparência do fenômeno estudado
possibilitou a compreensão da sua essência, do seu conteúdo e do seu movimento,
que são sociais e históricos e, por serem sociais e históricos, são geográficos.
O que se buscou foi desnudar a bacia hidrográfica em busca da
compreensão, ao mesmo tempo, dos seus elementos mais universais e mais
singulares, sempre levando em conta que a realidade não pode e não deve ser
mutilada. Ela possui identidade própria e manifesta esta identidade no seu
específico. Esse específico é, em si, um todo, um sistema, ou seja, nesse caso um
geossistema. Uma totalidade. Uma terceira totalidade. A totalidade em nível do
lugar.
Definida a formação econômico-social como a categoria de análise a que se
recorreu, os seus conteúdos, ou seja, os seus conceitos, foram definidos como
sendo o espaço e o tempo, dois conceitos centrais para a Geografia. Espaço aqui
entendido ao mesmo tempo como a natureza em si e como produção, apropriação e
transformação da materialidade orgânica e inorgânica pelo homem, gerando uma
materialidade social.
Com base no fato de que o materialismo dialético como método só pode ser
compreendido na sua prática, utilizou-se como ponto de partida a elaboração de
uma série histórica sobre o objeto de estudo e, a partir dessa série histórica, foi
43
construída uma afirmação, uma posição claramente definida que, como pressupõe
o método, “atraiu” a sua negação.
A afirmação diz respeito à imagem que caracteriza o início da série histórica
construída para a análise. Foi considerado que, nos anos 1980, ainda havia no
objeto de estudo uma dispersão na sua produção e ocupação, e que essa dispersão
se refletia claramente na cobertura vegetal existente, bastante evidenciada pela
imagem do satélite Landsat utilizada, datada de 1981.
Apesar de a abertura da Avenida Paralela, nos anos 1970, indicar um vetor
de expansão urbana cortando a área da bacia hidrográfica, até o início dos anos
1980, essa expansão ainda estava rarefeita, ocorrendo de forma mais intensa fora
da área da bacia, particularmente na região do Shopping Iguatemi.
Essa afirmação (a dispersão), foi considerada uma tese e atraiu a sua
negação, que é a concentração, que se tornou bastante visível na produção do
espaço, analisada no final da série histórica, a partir das imagens do satélite CBERS
de 2005. Essa concentração também é evidenciada pela supressão da cobertura
vegetal.
Assim, dispersão e concentração são consideradas neste trabalho como tese
e antítese e vice-versa.
2.1 OS ESPAÇOS URBANOS COMO CATIVEIROS
O verbo cativar, segundo Ferreira (1999), é originário do latim tardio,
captivare, sendo ao mesmo tempo, transitivo direto e indireto. Como transitivo direto
pode significar tornar cativo, capturar, ou querer dizer ganhar a simpatia, a estima,
44
seduzir. Como transitivo direto e indireto significa prender, ligar, sujeitar (física ou
afetivamente). Assim, cativeiro é o substantivo (masculino) que define a qualidade, o
caráter ou o estado de cativo, ao mesmo tempo em que identifica uma relação de
escravidão, servidão, e no sentido figurado, quer dizer opressão, tirania, domínio.
O adjetivo urbano, ainda segundo Ferreira (1999), também é uma palavra de
origem latina, urbanu , mas trata-se de um adjetivo relativo à cidade, e que se refere
a tudo que tem características de cidade.
Para problematizar a partir das palavras cativeiro e urbano, se adotou
inicialmente o conceito de cidade apresentado por Castells (2000).
A cidade – considerada, ao mesmo tempo, como expressão complexa de
sua organização social e como meio determinado por restrições técnicas
bastante rígidas – torna-se, alternadamente, centro de criação e local de
opressão pelas forças técnico-naturais suscitadas (CASTELLS, 2000, p.
138).
O foco deste trabalho, ao abordar a lógica hegemônica, portanto, foi o de
observar as relações de opressão e de dominação social estabelecidas em um
recorte específico da cidade de Salvador, definido a partir da delimitação da área da
bacia hidrográfica do rio Jaguaribe. Relações de opressão e de dominação estas
que foram analisadas de um ponto de vista específico, como um aspecto da luta de
classes projetada sobre o espaço urbano.
Por isso se adotou como estratégia de desenvolvimento a compreensão dos
processos sociais que estão contidos na bacia hidrográfica do rio Jaguaribe.
Ao longo do processo de construção desta pesquisa se questionou sobre
“ser” ou “não ser” correto chamar de cativeiros urbanos os aglomerados localizados
em algumas áreas da bacia, a exemplo daquele situado nas margens do rio
Cambunas, um dos formadores do Jaguaribe, como se pode ver na figura 7.
45
Figura 7. Aglomerado urbano nas encostas do médio curso do rio
Jaguaribe, Salvador – Bahia.
(Foto: Luiz Henrique Souza, 2006).
A resposta que se construiu foi sim, porque a expressão ‘cativeiros urbanos’
reporta-se à consideração (ou tratamento) da área de pesquisa como espaço de
produção e reprodução da opressão do proletariado pelas forças do capitalismo
internacional. Capitalismo que se encontra em seu atual estágio avançado, definido
como o momento da globalização e de supremacia do capital financeiro, com o
estabelecimento de uma sociedade pós-moderna, entendida como a conceitua
Harvey (1992).
Começo com o que parece ser o fato mais espantoso sobre o pósmodernismo: sua total aceitação do efêmero, do fragmentário, do
descontínuo e do caótico que formavam uma metade do conceito
baudelairiano de modernidade. Mas o pós-modernismo responde a isso de
uma maneira bem particular; ele não tenta transcendê-lo, opor-se a ele e
sequer definir os elementos “eternos e imutáveis” que poderiam estar
contidos nele. O pós-modernismo nada, e até se esponja, nas fragmentárias
e caóticas correntes da mudança, como se isso fosse tudo o que existisse
(HARVEY, 1992, p. 49).
46
Esse caráter fragmentário da sociedade globalizada atual tem um rebatimento
nas cidades metrópoles como Salvador, onde o crescimento da população nos
bairros mais pobres dá saltos geométricos enquanto a renda per capita diminui com
o aumento do desemprego, uma das características dessa globalização.
Segundo Ribeiro (2004. p. 22), as metrópoles brasileiras concentram hoje,
portanto, a questão social nacional e expressam o aprofundamento do divórcio entre
a sociedade, a economia e o Estado. Divórcio este que foi tratado nesta pesquisa
como sinônimo de fragmentação.
Ao analisar o descompasso entre o crescimento econômico, o crescimento
urbano, o provimento de moradias e infra-estrutura básica, Carlos (2003), registra as
condições de vida das populações pobres, condições que se repetem nas diversas
metrópoles brasileiras, como Salvador.
Como conseqüência temos um processo de produção espacial onde a
reprodução da vida nem sempre apresenta as condições mínimas de
subsistência, isto porque há ou inexistência ou deficiência de rede de água,
esgoto, asfalto, escolas, hospitais ou mesmo iluminação e transportes. As
favelas e os cortiços, por exemplo, com áreas ínfimas, onde se acotovelam
famílias numerosas numa promiscuidade que lembra-nos as descrições de
Engels sobre a situação de moradia dos operários na Londres do século
XIX (CARLOS, 2003, p. 195).
Por isso, se acredita que é pertinente caracterizar como cativeiros urbanos os
aglomerados sociais localizados ao longo da bacia hidrográfica do rio Jaguaribe. Foi
analisado que esta conceituação pode ser considerada sistemática, aplicável,
portanto, a diferentes realidades homogeneizadas e ao mesmo tempo fragmentadas
pela globalização. Aplicada pelo fato de a população viver no espaço urbano, cativa
do sistema econômico que explora o espaço urbano.
47
Essa situação, decorrência da contradição entre a produção socializada do
espaço e sua apropriação privada, é a forma mais acabada daquilo que
Lefèvre chamou da vitória do valor de uso sobre o valor de troca e que a
meu ver esclarece a natureza da fragmentação do espaço. Essa vitória
expressa-se também através das formas de dominação que se estabelecem
em todos os níveis da vida do homem englobando o conjunto das relações
sociais que se processam no nível do cotidiano onde a supremacia do valor
de troca se impõe sobre o valor de uso por meio das “reduções
correspondentes do ser humano à passividade e a vida social e política ao
espetáculo e ao mise em scène do consumo, dito de outro modo o triunfo
espetacular da mercadoria” (CARLOS, 2003, p. 195).
Vale a pena destacar, ainda, que este quadro da transformação dos
aglomerados sociais de Salvador em cativeiros urbanos ocorre simultaneamente ao
que Harvey (2005), chama de construção do capital simbólico coletivo, dentro da
lógica da acumulação do capital e da categoria renda monopolista ligada – entre
outras atividades - ao funcionamento do turismo contemporâneo, que também é
praticado na capital baiana.
A categoria “renda monopolista” é uma abstração advinda da linguagem da
economia política. Para os mais interessados em questões de cultura,
estética, valores afetivos, vida social e coração, esse termo talvez seja
muito técnico e árido para suportar o peso dos assuntos humanos, além dos
possíveis cálculos dos financistas, dos incorporadores, dos especuladores
imobiliários e dos locadores. No entanto, espero mostrar que o termo possui
um poder multiplicador muito maior: se elaborado adequadamente, pode
propiciar interpretações valiosas sobre muitos dilemas práticos e pessoais
resultantes do nexo entre globalização capitalista, desenvolvimentos
político-econômicos locais e evolução dos sentidos culturais e dos valores
estéticos (HARVEY, 2005, p. 221).
Salvador, enquanto metrópole da área de serviços, especialmente os ligados
à atividade turística, procura acumular o que Harvey (2005) chama de capital
simbólico coletivo, ou seja, o poder dos marcos especiais de distinção vinculados a
um determinado lugar, dotado de um poder de atração importante em relação aos
fluxos de capital de modo mais geral. Harvey traz, assim, para o debate sobre o
espaço urbano, termos como capital simbólico coletivo e marcos especiais de
distinção.
48
Bordieu, a quem devemos o uso genérico desses termos, infelizmente os
restringe aos indivíduos (quase como átomos flutuando num mar de juízos
estéticos estruturados), quando para mim parece que as formas coletivas (e
a relação dos indivíduos com essas formas coletivas) talvez fossem de
interesse maior. O capital simbólico coletivo vinculado a nomes e lugares
como Paris, Atenas, Nova York, Rio de Janeiro, Berlim e Roma é de grande
importância, conferindo a tais lugares grandes vantagens econômicas em
relação a, por exemplo, Baltimore, Liverpool, Essen, Lille e Glasgow. O
problema para esses lugares citados em segundo lugar é elevar seu
quociente de capital simbólico e aumentar seus marcos de distinção, para
melhor basear suas alegações relativas à singularidade geradora da renda
monopolista. Dada a perda de outros poderes monopolistas por causa do
transporte e comunicação mais fáceis, e a redução de outras barreiras para
o comércio, a luta pelo capital simbólico coletivo se tornou ainda mais
importante como base para as rendas monopolistas (HARVEY, 2005, p.
233).
A não inclusão por Harvey (2005), de Salvador como lugar, no Brasil, onde o
capital simbólico coletivo tem uma forte vinculação com o turismo internacional, e a
inclusão do Rio de Janeiro, talvez se deva ao fato de que a capital carioca ainda é a
principal porta de entrada do país para o turismo internacional.
Mas, nem por isso, o papel da capital baiana em relação à construção de um
tipo específico de capital simbólico coletivo deve ser menosprezado. Para se
compreender melhor esse fato é importante conhecer a descrição que Harvey
(2005), faz sobre o caso de Barcelona, cidade que ele também não cita
especificamente no texto acima, a exemplo de Salvador.
A ascensão de Barcelona à proeminência do sistema europeu de cidades,
para considerar outro exemplo, deu-se, em parte, com base na sua firme
acumulação de capital simbólico como de marcos de distinção. Nesse caso,
enfatizou-se a prospecção da história e da tradição caracteristicamente
catalã, o marketing a respeito de suas importantes realizações artísticas e
heranças arquitetônicas (Gaudí, é claro), e seus marcos distintivos de estilo
de vida e tradições literárias, com o apoio de uma avalanche de
publicações, exibições e eventos culturais celebrantes da distinção
(HARVEY, 2005, p. 233).
49
A descrição de Barcelona feita acima apresenta similaridade com a história
recente de Salvador. Ambos os lugares foram transformados em moda para o
turismo, e estar na moda, ser a moda como destino turístico, é uma das maneiras
das cidades construírem seu capital simbólico coletivo.
Os capitalistas estão bem cônscios disso, e devem, portanto, engajar-se
nas guerras culturais, assim como nas moitas do multiculturalismo, da moda
e da estética, pois é precisamente por esses meios que as rendas
monopolistas podem ser conquistadas, pelo menos por um tempo. Se,
como afirmo, a renda monopolista sempre é um objeto do desejo capitalista,
os meios de obtê-la através de intervenções no campo da cultura, história,
patrimônio, estética e significados deve necessariamente ser de grande
importância para os capitalistas de todos os tipos (HARVEY, 2005, p.237).
Assim, a caracterização de Salvador - proposta por este trabalho - como
metrópole onde existem cativeiros urbanos, em que a população vive “cativa” da
globalização e produz uma cultura que revela as características de sua vida em
favelas e cortiços, em condições absolutamente insalubres, sem ter acesso à
educação formal e ao emprego formal, revela as dificuldades dessa população de se
tornar economicamente ativa “ocupada”, entre outros itens considerados mínimos
para uma boa qualidade de vida. Esse fato não ocorre isoladamente, faz parte de
um projeto de construção do capital simbólico coletivo.
Nesse caso, esse capital simbólico coletivo pode ser denominado de
“baianidade”, e está ligado à acumulação do capital e ao cruzamento de diversas
formas de obtenção de rendas monopolistas capitalistas, escondidas muitas vezes
nas moitas do multiculturalismo, da moda e da estética, como disse Harvey (2005).
Esse autor se refere às rendas monopolistas dos proprietários privados do
espaço urbano; às rendas monopolistas dos integrantes da chamada indústria
hoteleira ou da indústria em geral; às rendas monopolistas dos empresários ligados
à produção cultural, aos transportes, entre outras atividades.
50
Para a obtenção de tais rendas monopolistas todas essas atividades contam,
sempre, com a participação do coadjuvante governo local, que estabelece uma
forma de governança urbana onde se combinam os poderes municipal, estadual e
nacional, numa forma denominada por Harvey (2005) de empreendedorismo urbano.
O papel desse empreendedorismo urbano em relação à forma neoliberal de
globalização também foi analisado em detalhe, mais (sic) geralmente sob a
rubrica das relações local-global e da assim chamada “dialética espaçolugar”. A maior parte dos geógrafos que examinaram o problema concluiu
corretamente que é um erro categórico considerar a globalização uma força
causal com respeito ao desenvolvimento local. Nesse caso, o que está em
jogo, afirmam eles acertadamente, é um relacionamento mais complicado
através das escalas, em que as iniciativas locais podem alcançar uma
escala global e vice-versa, ao mesmo tempo que certos processos, dentro
de uma definição específica de escala – competição interurbana e interregional sendo os exemplos mais evidentes –, podem reelaborar as
configurações local-regional da globalização. Portanto, não se deve ver a
globalização como uma unidade indiferenciada, mas sim como uma
padronização geograficamente articulada das atividades e das relações
capitalistas globais (HARVEY, 2005, p.230; 231).
Este trabalho utiliza, portanto, os conceitos de totalidade, espaço e lugar para
caracterizar os aglomerados urbanos da bacia hidrográfica do rio Jaguaribe como
cativeiros urbanos.
2.1.1 Uma questão histórica
Em uma pesquisa no arquivo da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro foram
encontradas três cartas antigas de Salvador, bastante representativas do processo
de produção do espaço dessa cidade baiana, a partir do período colonial. Uma
delas, a carta 61625 de van de Aller Heiligem, registra com o nome de rio Vermelho,
um rio desenhado muito próximo ao que a carta chama de Pedra de Tapoan.
51
Não foi possível precisar a data da sua confecção mas, suspeita-se da
hipótese de que, por se tratar de um autor com nome de origem holandesa, possa
ter sido produzida durante a ocupação holandesa na Bahia.
A confusão com o nome do rio Vermelho e a Pedra de Itapuã pode indicar um
erro do cartógrafo ou que se tratava, na verdade, do largo da Mariquita, cujo recife
era conhecido pelo naufrágio de Caramuru.
Porém, também se pode suspeitar que, em decorrência das expedições para
o Castelo de Garcia D’Ávila, na Praia do Forte, seja a primeira indicação de
existência do rio Jaguaribe, que fica bem mais próximo da Pedra de Itapuã do que o
rio Vermelho, havendo apenas uma troca de nomes pelo cartógrafo.
Independente da versão que se adote, as três cartas registram uma parte do
processo histórico de expansão da cidade do Salvador, com a ocupação de
sucessivos trechos da orla marítima no sentido Sul/Leste, tendo como referência as
bacias hidrográficas existentes entre o centro da administração da colônia e sua
maior fortificação/empreendimento mercantil, a Torre de Garcia d’Ávila, localizada no
litoral Norte do Estado.
Estas
cartas,
portanto,
evidenciam
e
registram
a
evolução
da
ocupação/produção do espaço no período colonial.
A análise da figura 8 evidencia que as distâncias colocadas pelo cartógrafo
não eram exatamente proporcionais à distância real, o que pode ter induzido ao erro.
É necessário compreender também que, embora a base da construção do sistema
colonial tenha sido a navegação, não havia ainda condições de produzir uma
cartografia tão precisa.
52
Figura 8. Carta de Van der Aller Heiliegen (sd), onde pode ser verificado que o rio Vermelho e a
Pedra de “Tapoan” (indicada pela seta vermelha) ficavam próximos.
(Fonte: Biblioteca Nacional/2007).
A carta 542736, vista na Figura 9, mostra que já eram conhecidos os rios
Jaguaribe e rio das Pedras, sendo aquele denominado equivocadamente Jaguaripe.
Vale a pena destacar, ainda, uma terceira carta registrada na Biblioteca
Nacional, essa de número 525818, também de autoria não identificada, denominada
Mapa da Comarca da Bahia de Todos os Santos, com descrição desde o rio
Jequiriçá até o Rio Real.
53
Figura 9 - Carta 542736, Demonstração da Bahia, (sd) com o primeiro registro encontrado sobre o rio
Jaguaribe assinalado pela seta vermelha.
(Fonte: Biblioteca Nacional)
Nessa carta 525818, mostrada na figura 10, pode-se perceber as estradas
que deram origem às vias de deslocamento que servem hoje como referência para
este estudo. Da então Comarca de Brotas partem duas vias de acesso: a primeira
do em direção à orla, sai de Brotas e chega até Armação; a segunda, que pode ser a
que deu origem à BR-324, sai da altura de Brotas e segue por Campinas, Pirajá,
Santo Antônio, etc.
54
Figura 10. Carta 525818, Mapa da Comarca da Bahia de Todos os Santos, (sd) onde muitos rios já
eram conhecidos, inclusive o Jaguaribe assinalado com legenda em vermelho.
Fonte: Biblioteca Nacional.
A carta registra, ainda, o rio das Pedras, rio Jaguaripe, a Pedra de São
Roque, Pedra de Itapuã, Itapuã, Santo Amaro, Vila da Abrantes, Monte Gordo e
Torre D’Ávila. Essa análise das cartas de registros históricos sobre a produção do
espaço na capital baiana a partir do período colonial, permite uma visão da relação
simbiótica entre ocupação do espaço (no sentido da produção) e conhecimento dos
rios, que prevaleceu no período colonial.
55
Num primeiro momento, talvez porque esses rios significavam as “veias” de
penetração no território a ser ocupado. Posteriormente, eles tiveram suas margens
(planícies de inundação) transformadas em estradas, vias e, finalmente, avenidas, já
na transição do século XIX para o século XX.
Assim, a possibilidade de crescimento do uso e da ocupação do solo teve
uma ligação íntima com o conhecimento dos rios, que no caso da área em estudo,
se adensou a partir da metade do século XX.
Em recente trabalho de Dissertação de Mestrado defendida na UFBA, Brito
(2005), apresenta uma seqüência de cartas temáticas sobre a densidade
populacional da área da bacia do rio Jaguaribe, as quais permitem uma visão
histórica atual, a partir de 1970, do processo de produção do espaço tendo como
base a densificação da população.
A partir dos anos 1970, definida como área de expansão urbana da cidade,
inclusive com a implantação de conjuntos habitacionais de grande porte, a bacia do
rio Jaquaribe é submetida a um processo de adensamento populacional.
Inicialmente, como se pode perceber na figura 11, a ocupação era bastante rarefeita,
até a abertura da avenida Paralela.
56
Figura 11. 1970: ocupação dispersa na área da bacia hidrográfica do rio
Jaguaribe, Salvador–Bahia.
Fonte: BRITO (2005), adaptação CAETANO, Carlos Alberto (2007).
57
O tipo de planejamento urbano utilizado pelo poder público, em Salvador, nos
anos 1980, permitiu o surgimento de ocupações regulares e irregulares de forma
mais concentrada no alto curso do rio, como mostra a figura 12, porém com
significativas ocorrências na região do médio-baixo curso. É desse período a
consolidação dos conjuntos habitacionais de Cajazeiras, que irão produzir grande
impacto na cobertura vegetal da bacia, como será visto adiante.
Figura 12. 1980: População aumenta na área da bacia hidrográfica do
rio Jaguaribe, Salvador-BA.
Fonte: BRITO (2005), adaptação CAETANO, Carlos Alberto (2007).
58
A partir do início dos anos 1990, como mostra a figura 13, a região em estudo
concentrou sua densidade populacional nos dois extremos, ficando uma área
contínua como uma “reserva” de mercado para futuros investimentos imobiliários.
Figura 13. 1991: médio curso do rio Jaguaribe, Salvador-BA, mantém
áreas sem habitantes.
Fonte: BRITO (2005), adaptação CAETANO, Carlos Alberto (2007).
59
Essa “reserva de mercado”, conhecida como ‘vazios urbanos’ ou ‘terrenos de
engorda’ na gíria imobiliária, como se vê na figura 14, faz com que a cobertura
vegetal da área se mantenha em parte, até que surjam os novos empreendimentos
no médio-baixo curso do rio, que de acordo com a classificação socioeconômica de
populações utilizada pelo IBGE, destinam-se às classes A e B. São condomínios
fechados do do tipo Alphaville Salvador I e II, localizados no eixo da Avenida
Paralela, lançados a partir do ano 2000.
Figura 14 - 2000: diminui cobertura vegetal da bacia hidrográfica do rio
Jaguaribe, Salvador –BA
Fonte: BRITO (2005), adaptação CAETANO, Carlos Alberto (2007).
60
2.2 METODOLOGIA
Como ponto de partida se buscou inserir a bacia hidrográfica em estudo no
sistema urbano de Salvador, tendo como referência o paradigma dos geossistemas.
Utilizando imagens de satélite e o sensoriamento remoto (SeRe), com base na
estruturação um banco de dados, essas imagens foram projetadas e transformadas
em cartas temáticas, com informações que permitiram interpretar aspectos do
espaço geográfico.
Foram utilizada também informações socioeconômicas do Censo 2000, com o
objetivo de caracterizar a população que habita a área da bacia, para que se
pudesse proceder a uma integração do aspecto natural com o aspecto social do
geossistema.
Foi considerada, portanto, a necessidade de se estabelecer uma visão da
cidade de Salvador como um sistema. A cidade do Salvador, vista assim como um
sistema, pode ser dividida (como todo sistema) em subsistemas.
Os sistema de alta energia, como as cidades, requerem uma abundante
sustentação de vida pela natureza. Se não forem preservadas grandes
áreas de ambiente natural de forma a fornecer a entrada necessária da
natureza, a qualidade de vida na cidade diminuirá, e a cidade não poderá
mais competir economicamente com outras, ou que possuem tais sistemas
à disposição, ou viver à custa da diminuição do suprimentos de outras
cidades, como já ocorre (DIAS, 2002, p. ).
Foi adotado o subsistema das bacias hidrográficas como referência para
análise e interpretação. Este subsistema, por sua vez, foi dividido em outros
subsistemas – o subsistema de cada bacia – e assim se tomou a bacia hidrográfica
do rio Jaguaribe como uma totalidade de terceira ordem e como recorte específico e
61
objeto de estudo.
Um espaço geográfico analisado, portanto, com base no
paradigma dos Geossistemas, optando-se pela análise dos cursos do rio – alto,
médio e baixo, como geofácies, sendo estes geofácies analisados, então, como
novos subsistemas ou unidades internas do sistema.
Recorrendo ao uso do sensoriamento remoto (SeRe), e de imagens de
satélite cedidas pelo INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais com o
objetivo de construir um banco de dados específico, com base nas imagens SeRe.
O uso do sensoriamento remoto (SeRe) no estudo de uma bacia hidrográfica,
do ponto de vista da aplicação da teoria dos geossistemas, trouxe uma série de
contribuições que serão explicitadas ao longo da análise, particularmente no que diz
respeito à possibilidade de perceber e interpretar a bacia hidrográfica como uma
totalidade ao longo de um processo histórico.
O sensoriamento remoto é muito utilizado como instrumento de planejamento
e controle pelas diversas instâncias de governo, em nível internacional e nacional e
também como ferramenta de pesquisa por centros de tecnologias de informação
avançados, como é o caso do INPE, em São José dos Campos, além de
Universidades.
Muitas vezes serve mais para orientar a melhor forma de se apropriar do
espaço geográfico para obtenção de lucros. Trata-se, portanto, nesses casos, de um
uso do ponto de vista da lógica hegemônica. Em outros casos é caracterizado como
um instrumento da “pesquisa científica”, cabendo o destaque que não existe ciência
neutra.
62
O SeRe, possibilitou a construção de uma interpretação crítica da lógica
hegemônica e de seus resultados mostrados numa projeção espacial específica, a
partir de uma série histórica de imagens de satélite. O resultado obtido permitiu uma
visão critica da segregação socioeconômica espacial que caracteriza o atual estágio
de desenvolvimento do capitalismo, no que diz respeito à produção e reprodução
dos espaços urbanos.
Foram utilizados para isso dois computadores sendo um notebook Itautec,
com sistema operacional Windows XP e um powerbook da Apple, com sistema
operacional OS 10.4.10 rodando os programas Arc View / Arc Map 9.2, Spring 4.3.2,
Corel Draw 11, Photoshop CS2 e Word 2003.
Como primeiro passo se buscou a imagem georreferenciada do objeto de
estudo, disponibilizada pela Prefeitura Municipal de Salvador (PMS), através da
Superintendência
de
Meio
Ambiente
(SMA),
da
Secretaria
Municipal
de
Planejamento e Meio Ambiente (SEPLAM), com uma imagem de Salvador com
todas as suas bacias hidrográficas.
A imagem de Salvador dividida em bacias hidrográficas foi fornecida pela
SMA no formato shp, shape, próprio para utilização no Arc View / Arc Map 9.2,
estando a mesma georreferenciada, o que facilitou em muito o trabalho de
geoprocessamento e georreferenciamento das imagens obtidas a partir dai.
A área total do município de Salvador é de 30.956,35 ha e a área da bacia
hidrográfica do rio Jaguaribe é de aproximadamente 58 quilômetros quadrados. A
bacia hidrográfica do rio Jaguaribe está entre as maiores de Salvador e sua
localização entre o chamado “miolo” do município e sua orla Leste, a tornam
particularmente interessante no contexto ambiental urbano da capital baiana.
63
64
As principais coordenadas geográficas da bacia são, 12º 55’ 00” W e 38º 25’
00” S. No seu interior é possível espacializar informações sobre populações com
rendas bastante diversificadas, desde as parcelas mais ricas até os setores bem
mais pobres da população, o que possibilita a realização de diversas análises que
tenham como base a condição de classe social e renda dessas mesmas
populações.
O passo seguinte da pesquisa foi obter imagens de satélite de Salvador junto
ao INPE, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, que disponibiliza o acesso a tais
imagens gratuitamente em seu site www.inpe.br.
Com base nesta pesquisa encontrou-se uma série histórica de imagens
apresentadas a seguir com os respectivos satélites utilizados na sua obtenção. Este
trabalho não vai aprofundar a caracterização de cada um desses satélites, o que já
está feito amplamente em toda a literatura especializada existente a respeito.
O objetivo da busca pelas imagens com diferentes datas, como mostra o
Quadro 2, foi construir uma base de dados com um período histórico.
No uso das imagens de satélite, cada banda da imagem permite uma
interpretação diferente ao pesquisador, como se vê no Quadro 3.
Além da série de imagens Landsat foram obtidas outras imagens para superar
as dificuldades encontradas em decorrência da tecnologia usada na época por esta
série de satélites Landsat, apresentada no Quadro 3.
65
66
Foram usadas imagens obtidas através do Cbers 2, como se vê no quadro 4,
geradas através da Divisão de Geração de Imagens do INPE, utilizando sensor CCD
com 3 canais RGB (vermelho, verde e azul) na escala 1:100.000.
Tais imagens apresentavam problemas semelhantes às imagens Landsat.,
apenas uma pode ser usada. Em decorrência disso buscou-se imagens mais atuais,
onde não houvesse interferência da cobertura de nuvens sobre o espaço geográfico.
•
IMAGEM OBTIDA COM O SATÉLITE SPOT 4
O Programa SPOT – System Proboitoire de Observation de la Terre -
começou a ser desenvolvido pelo CNES (Centre National d’Etudes Spatiales) na
França, em 1977 com a colaboração da Bélgica e da Suécia. O SPOT 4 foi lançado
67
em 24 de março de 1998 e utiliza os sensores imagecolor HRVIR (Haute Résolution
Visible et Infrarouge) e o VGT-1 (Vegetation-1) que apresentam as seguintes
resoluções espaciais: 10m, 20 m e de 1 km cobrindo uma área de 2.250 km de
largura a cada 24 horas. Encontra-se a uma altitude de 832 km e apresenta uma
órbita polar síncrona com a do Sol, mantendo uma inclinação de 98º7’ em relação ao
plano equatorial (NOVO, 1989 apud Ana Rodrigues). No caso da imagem utilizada
neste trabalho, ela possui resolução espacial de 10 metros.
•
IMAGEM OBTIDA COM O SRTM
O SRTM – Shuttle Radar Topographic Mission (Missão Topográfica Por Radar
Interferométrico), é um projeto cooperativo entre a NASA (National Aeronautics and
Space Administration), NGA (National Geospatial-Intelligency Agency), DLR
(German Aerospace Center) e ASI (Italian Space Agency) que tem o objetivo de
gerar um Modelo Digital de Elevação (MDE) da Terra.
A imagem utilizada foi capturada no período de realização da missão, entre
11 e 22 de fevereiro de 2000 e foi obtida gratuitamente através da USGS (United
States Geological Survey), com resolução espacial de 30 metros na grade retangular
original do SRTM da América do Sul, no site http://seamless.usgs.gov .
•
IMAGEM OBTIDA COM O SATÉLITE QUICK BIRD
O satélite Quick Bird tem a capacidade de dar uma volta em torno da terra em
pouco mais de uma hora e meia, exatos 93,4 minutos. Possui uma varredura de 16,5
km e seu sistema sensor opera em 5 faixas. Foi lançado em outubro de 2001, gira
numa órbita quase polar com inclinação de 98º e é síncrono com o Sol. A imagem
usada foi obtida em abril de 2005.
68
A partir da escolha das imagens de satélite foi montada uma base de dados
(banco de dados) com informações espaciais provenientes de diversas fontes e
adotada a técnica do PDI – Processamento Digital de Imagens, que se subdivide em
pré-processamento e processamento. O pré-processamento prepara a imagem,
adequando-a do ponto de vista geométrico com base em uma carta prégeorreferenciada.
Nesse momento o objetivo do trabalho em laboratório foi permitir a inserção e
integração em uma base de dados de todas as informações coletadas, para tornar
possível usar tais imagens de forma que houvesse entre elas as seguintes
características comuns a um SIG – Sistema de Informações Geográficas:
-
interface;
-
entrada e integração de dados;
-
funções de consulta e análise espacial;
-
visualização e plotagem e
-
banco de dados geográficos.
As informações inseridas e integradas nessa base de dados foram as que
aparecem no Quadro 5:
Montada a base de dados, como se vê no quadro 5, o primeiro passo foi
proceder à correção geométrica das imagens de satélite. A correção geométrica tem
o objetivo de eliminar distorções e conferir maior precisão cartográfica às imagens,
para que elas possam ser integradas georreferenciadas a partir da base de dados.
69
Para realizar este processo de correção geométrica foi escolhida uma base
cartográfica de Salvador 1: 100.000, IBGE (1970) para servir como fundo e
referência para a figura de Salvador com suas bacias hidrográficas, reproduzida no
Quadro 6.
A correção ou retificação geométrica teve como referência a base mostrada
no Quadro 6, e o registro tem por objetivo eliminar eventuais distorções que podem
ocorrer com as imagens obtidas no processo de SeRe, uma vez que os satélites
estão em movimento e a Terra possui uma curvatura. Os dados de SeRe assim
passam por um processo de transformação e adquirem as características de uma
determinada escala e projeção próprias de mapas.
70
Foram adotadas como referências para esta correção as vias BR-324,
Estrada Velha do Aeroporto e Avenida Paralela, uma vez que elas se apresentavam
bastante visíveis em todas as imagens de satélite escolhidas para esta Dissertação.
71
Figura 15. Exemplo de correção geométrica usando as bases cartográficas do IBGE e das
bacias hidrográficas de Salvador .
Fonte: IBGE, 1970; PMS, 2005.
Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007).
72
A seguir se buscou as informações sócio-econômicas com o objetivo de
caracterizar a população que habita a área da bacia, para se proceder à análise do
aspecto social do geossistema. O que se buscou foi a análise da oposição entre
concentração de população e dispersão da cobertura vegetal, adotadas nesta
pesquisa como tese e antítese, respectivamente.
Optou-se por trabalhar com as informações do Censo 2000 do IBGE relativas
às Áreas de Ponderação e não aos Setores Censitários. A indicação nesse sentido
foi dada pelo próprio chefe da Supervisão de Documentação e Disseminação de
Informações – SDDI - da Unidade Estadual do IBGE na Bahia, Joilson Rodrigues de
Souza.
Segundo ele, as Áreas de Ponderação permitem acessar os dados da
amostra, favorecendo a análise de temas não disponíveis nos dados do universo,
obtidos diretamente através dos Setores Censitários. Para a criação das Áreas de
Ponderação, o IBGE utiliza como critério a agregação dos Setores Censitários que
representem áreas homogêneas e contínuas, mutuamente excludentes, além de
contar com uma população mínima de 400 questionários da amostra, ou seja,
equivalente ao universo de, aproximadamente, 4.000 domicílios particulares
permanentes.
Para um trabalho que tem como meta espacializar as informações estatísticas
este aspecto mostrou-se bastante pertinente, uma vez que cada Área de
Ponderação forma um espaço maior do que cada Setor Censitário, o que facilita a
visualização do fenômeno ou do evento que está sendo estudado e “desenhado” no
espaço.
73
Além disso, se considerou que as Áreas de Ponderação criam uma rotina
interna para a expansão dos dados da amostra enquanto os Setores Censitários
possuem limitações por serem dados do universo. Assim, os dados relativos às
Áreas de Ponderação ampliam a capacidade de análise, uma vez que eles são
disponibilizados a partir de um agrupamento mínimo de 400 questionários
selecionados na Amostra.
Foi levado em conta, também, que enquanto os dados dos Setores
Censitários trazem informações relativas a sexo, idade, saber ler e escrever, e dados
relativos ao responsável pelo domicílio como renda e instrução. Já os dados das
Áreas de Ponderação trazem informações relativas a temas como: cor ou raça,
fecundidade, religiosidade, nupcialidade, deficiência física, instrução, trabalho,
rendimento e acesso a bens duráveis.
Nesse sentido, evidenciou-se que a utilização das Áreas de Ponderação iria
favorecer um aspecto fundamental na metodologia deste trabalho e que diz respeito
a uma das leis do materialismo dialético: a necessidade de, num determinado
momento, se proceder ao que é chamado de salto qualitativo, quando a quantidade
se transforma em qualidade. Acreditou-se que a utilização dos temas das Áreas de
Ponderação (uma informação qualitativa) estariam abrindo um caminho para que
esse salto ocorresse.
Por orientação da Supervisão de Documentação e Disseminação de
Informações – SDDI - da Unidade Estadual do IBGE na Bahia, a SEI, órgão do
Governo do Estado da Bahia, foi indicada como fonte confiável para fornecer os
microdados da amostra, que permitiriam fazer as interpretações desejadas. A
montagem desses microdados envolveria um processo tão complexo quanto
desnecessário, uma vez que ele já havia sido organizado pela SEI. As informações
74
solicitadas foram disponibilizadas pela SEI com a seguinte informação de sua fonte:
CEPAL/CELADE Redatam+ SP 10/04/07. Base de dados - C:\Arquivos de
programas\Redatam\Base2000\Bahia\R29_fxid2.dic. Área Geográfica - C:\Arquivos
de programas\Redatam\Work2000\Salvad.slw. Crosstab. As informações, em sua
íntegra, estão disponíveis no Anexo.
Segundo o IBGE, os microdados da amostra
consistem no menor nível de desagregação dos dados de uma pesquisa,
retratando, na forma de códigos numéricos, o conteúdo dos questionários,
preservado o sigilo das informações. Os microdados possibilitam aos
usuários, com conhecimento de linguagens de programação ou softwares
de cálculo, criar suas próprias tabelas de dados numéricos. Acompanham
os arquivos de microdados uma documentação que fornece nomes e
respectivos códigos das variáveis e suas categorias, adicionada, quando
necessário, dos elementos para o cálculo dos erros amostrais Em relação a
população, são divulgados dados sobre idade, sexo, religião, instrução,
fecundidade, mortalidade, nupcialidade, migração e mão-de-obra. Os
dados sobre os domicílios referem-se à sua situação e localização,
disponibilidade de serviços (água, esgotamento sanitário, eletricidade),
existência de bens duráveis, além de desagregações relativas a
características do chefe do domicílio. Para as famílias, destacam-se
informações sobre o seu tamanho (número de componentes), composição
e desagregações referentes a características do chefe da família (IBGE,
2000).
Após uma análise inicial dos microdados fornecidos pela SEI, foi feita uma
opção por se trabalhar com a construção de gráficos de freqüência e, seguindo uma
orientação de caráter técnico encontrada em diversas publicações, foram
selecionadas 15 áreas de ponderação para a construção dos gráficos de freqüência,
passando cada área de ponderação a ser considerada uma classe.
Para elaborar uma tabela de distribuição de freqüência, deve-se proceder
conforme os estágios de construção a seguir:
Passo 1: Organiza-se um rol a partir dos dados brutos coletados.
Passo 2: Determina-se a amplitude total por meio da subtração do valor
máximo do valor mínimo do conjunto de dados.
Passo 3: Divide-se a amplitude total pelo intervalo de classes (de
preferência, as classes devem possuir o mesmo intervalo).
E, a partir desse cálculo, obtém-se o número total de classes.
É desejável dispor-se de no mínimo cinco e no máximo 15 classes.
75
Um pequeno número de classes pode significar uma perda de
reconhecimento da informação; em contrapartida com um número muito
grande de classes, perde-se a razão de buscar-se o resumo dos dados.
Passo 4. Faz-se a contagem das ocorrências pertencentes a cada classe (
as freqüências) (KIRSTEN; RABAHY, 2006, p. 15;16).
As autoras Gerardi; Silva (1981), também fazem restrições quanto à utilização
de um número excessivo de classes. Segundo essas autoras,
A construção de um número excessivamente pequeno de classes reduziria
tanto a informação que acarretaria muita perda de detalhe. Por outro lado,
um número excessivamente grande de classes, embora guardasse muito
detalhe, não atingiria o objetivo da classificação que é tornar o conjunto de
dados supervisionável. Torna-se, então, necessário procurar determinar um
número razoável de classes, o que pode ser feito de várias maneiras
(GERARDI; SILVA, 1981, p.34).
Assim, optou-se por trabalhar, inicialmente, com a construção de gráficos de
freqüência com 15 classes, ou seja, com 15 áreas de ponderação, que permitissem
ter um visão da bacia hidrográfica como um todo, tanto no alto curso, no médio
curso e no baixo curso.
As 15 áreas de ponderação selecionadas irão aparecer nos gráficos de
freqüência, não com sua numeração oficial no IBGE, mas com uma numeração
própria que as mesmas receberam na organização desta Dissertação, de um a 15,
organizadas posteriormente de acordo com o curso do rio, entre Cajazeira e
Patamares .
Não se utilizou na construção do rol para elaboração dos gráficos de
freqüência qualquer referência à densidade demográfica, o quantitativo de
população foi interpretado enquanto número absoluto de pessoas residentes em
cada área de ponderação.
76
77
A organização do rol evidenciou os dois extremos de ocupação assinalados
em amarelo, ou seja, as APs com maior e menor população. As menos habitadas
são: (6) Stella Maris, Aeroporto; (75) Dom Avelar, Porto-Seco Pirajá e (83) Nogueira
e Cajazeiras III. As mais habitadas são: (77) Vila Canária, Sete de Abril e Jardim
Nova Esperança (33) e (79) São Marcos, Canabrava, Recanto das Ilhas, Colinas de
Pituaçu, Vivenda dos Pássaros, Vivenda dos Campos, Nova Cidade, Jardim das
Limeiras, Paralela Park e Lagoa Verde.
78
79
Um dos critérios utilizados na seleção das 15 áreas foi escolher as três APs
mais populosas e, entre as três menos populosas, as localizadas no alto curso do
rio. Nas 15 áreas de ponderação selecionadas estão exatos 60,06% da população
residente, distribuídos 21,68% no alto curso; 19,17% no médio curso e 19,21% no
baixo curso.
A necessidade de organização desse rol é fator elementar na análise de
dados estatísticos. O rol corresponde apenas à disposição dos dados em uma
determinada ordem, que nesse caso foi escolhida como ordem crescente. Desse rol
podem-se obter várias informações, inclusive a amplitude total ou range, a diferença
entre o maior e o menor valor, mas que no caso em estudo não tinha relevância.
Porém, há uma questão que precisa ser explicitada e que diz respeito à
escala de mensuração em que esses dados se encontravam. Os dados de
população que foram levantados precisaram ser transformados em dados na escala
de razão, para que se pudesse deles extrair não só maior número de
conhecimentos, mas, principalmente, o tipo de informação que se buscava.
Silva; Souza (1987) explicam que a escala de razão é, entre as escalas de
mensuração a mais poderosa uma vez que ela não somente discrimina, hierarquiza
e mensura, como tem a propriedade de manter a razão entre valores de um atributo.
Gerardi; Silva (1981), definem a escala de razão como a mais complexa entre os
níveis de mensuração.
É importante definir os níveis de mensuração para as variáveis com que o
pesquisador vai trabalhar, porque as técnicas de análise estatística que
podem ser aplicadas para os dados dependem da escala de mensuração.
Esta mensuração do nível deve ser feita pelo pesquisador que, em seguida,
define se uma determinada técnica é apropriada para seus dados. A
propósito devemos lembrar que o computador não conhece o nível de
mensuração dos dados e processa assim, qualquer dado ( GERARDI;
SILVA, 1981, p. 22).
80
Segundo essas autoras, na escala de razão os números são verdadeiros,
com um zero verdadeiro ou real, o que permite todas as operações possíveis com os
números. Assim, a freqüência de população residente em cada área de ponderação
foi transformada em porcentagem da população total da bacia que reside naquela
área de ponderação, tornando-se assim um dado mensurado na escala de razão.
81
Excluídos os extremos de quantitativos populacionais – marcados em amarelo
no rol - a porcentagem de população residente nas demais áreas de ponderação
varia de 3,09% até 5,15% do total de habitantes em residências particulares próprias
ou não na área da Bacia Hidrográfica do Rio Jaguaribe.
A partir dessa visão da distribuição da população no espaço em estudo se
buscou definir os tipos de cálculos estatísticos que deveriam ser feitos para
integrarem a interpretação que se pretendia construir, optando-se pelos cálculos de
regressão e correlação, uma vez que se estava buscando estabelecer análises de
relacionamentos entre variáveis.
A investigação ambiental, como qualquer atividade humana, depende de
estabelecimento de relações. Torna-se necessário, para caracterizar
cientificamente as correlações ambientais investigadas, que haja critérios e
técnicas, definidos nas suas determinações (SOUZA; SILV A, 1987, p.92).
Considera-se que características ambientais apresentam-se nitidamente
correlacionadas e a correlação e a regressão são esquemas de análises que
formalizam, em estatística, esse relacionamento de concomitância. A correlação e a
regressão podem ser simples ou múltiplas. No caso, como foram escolhidas duas
variáveis, são simples.
Os valores de cada variável são lançados num sistema de coordenadas
retangulares. Esse conjunto de pontos obtidos com o lançamento dos valores de
cada variável é denominado de Diagrama de Dispersão, onde pode-se perceber a
tendência da associação das variáveis ali representadas.
A determinação específica do grau de correção entre estas duas variáveis é
feita através do cálculo de r, coeficiente de correlação simples [...]. Esse
coeficiente de correlação, denominado “coeficiente de Pearson” [...] é uma
medida de associação entre variáveis que não têm dimensão determinada
(isto é, não se mede em unidades tais como o metro, o litro, tonelada, etc.).
É adimensional e varia entre -1 e 1 (SOUZA; SILVA, 1987, p. 93; 94).
82
É importante se destacar que, para se efetuar os cálculos de correlação e
regressão, foram feitas experiências com diversas variáveis, uma vez que existe um
critério estabelecido pela própria Estatística, enquanto ciência, de que é mais
aconselhável que sejam considerados os casos em que o coeficiente de relação (r)
for superior a 0,7 - que indica uma base mínima considerada de “boa correlação”
entre as variáveis escolhidas.
Como exemplo se pode citar a correlação entre a “Porcentagem de
alfabetizados por porcentagem de economicamente ativos [...]”, as duas
variáveis selecionadas como referência para análise nesta Dissertação, a correlação
obtida nos cálculos entre ser economicamente ativo e ser alfabetizado tem um r =
0,746, o que é considerado, portanto, uma boa correlação.
Para a Estatística o valor de r varia entre 0 (zero), que é considerado um fraco
ajuste e 1 (um), que é considerado o ajuste perfeito. Se r é igual a 1, há uma
correlação linear positiva perfeita; se r é igual a -1, há uma correlação linear negativa
perfeita; se r é igual a 0 (zero) não existe correlação linear. Se 0< r < 1, há uma
correlação linear positiva e se -1 < r < 0, há uma correlação linear negativa. Este
valor é o resíduo, que também é chamado de erro.
83
PORCENTAGEM DE ALFABETIZADOS POR PORCENTAGEM DE
ECONOMICAMENTE ATIVOS COM 10 ANOS OU MAIS RESIDENTES NAS APs DA
BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO JAGUARIBE - SSA/BA
(FONTE:IBGE/2000 - MICRODADOS - SEI/BA)
60
LINEAR
y = 0,4362x + 17,146
50
ECONOMICAMENTE ATIVOS
2
R = 0,5569
R= 0,74625732827
40
30
20
10
0
0
20
40
60
ALFABETIZADOS
80
100
Gráfico 1. Diagrama de dispersão e reta de previsão de correlação.
Fonte: IBGE 2000/Microdados da amostra/SEI-B A/2000.
Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007).
O cálculo de r, bem como o de r quadrado, no caso desta dissertação, foi feito
utilizando-se o software Excel.
Um problema freqüente em estatística consiste em investigar questões como
estas: há relação entre duas grandezas? As variações em uma das
grandezas acarretam variações na outra? Por exemplo, as variações nas
taxas de juros afetam a procura por casas? Em outras situações interessanos saber se é possível usar uma das variáveis para predizer o valor de
a
outra. [...] (DOWNING, D.; CLARK, J., 2 . Ed., p.228, 2002).
As variáveis escolhidas para serem utilizadas, “porcentagem da população
alfabetizada” e “porcentagem da população economicamente ativa”, foram cruzadas
num cálculo estatístico de regressão linear simples, tendo como variável
84
independente a “porcentagem de população alfabetizada” de cada área de
ponderação,
e
como
variável
dependente
a
“porcentagem
de
população
economicamente ativa”, com o objetivo de traçar uma correlação entre as duas
variáveis.
Para o IBGE, o indivíduo ser economicamente ativo significa que a pessoa faz
parte da População Economicamente Ativa – PEA – que é composta por indivíduos
com mais de 10 anos que oferecem a sua força de trabalho no mercado e que o
rendimento que possuem é aferido através do trabalho. Pode ser “PEA ocupada” ou
“PEA desocupada”, ou seja, a pessoa pode ser economicamente ativa e não ter
rendimento aferido com o trabalho por estar desocupada.
Do mesmo modo, para o IBGE, o indivíduo não ser economicamente ativo
significa que ele faz parte da População Não Economicamente Ativa - PNEA – que é
composta por indivíduos com mais de 10 anos e que não oferecem a sua força de
trabalho no mercado e que seus rendimentos, portanto, não são provenientes do
trabalho.
Para que fosse possível atribuir uma relação de causa e efeito entre as
variáveis, foi utilizada a regressão simples. Neste caso, fica atribuído pelo
pesquisador o papel de efeito a uma das variáveis (y) e o papel de causa à outra
variável (x). No exemplo citado, ser economicamente ativo é considerado o efeito e
ser alfabetizado, a causa, ou seja, podemos concluir que com os dados relativos à
população que habita a bacia hidrográfica do rio Jaguaribe, pessoas alfabetizadas
têm mais probabilidade de serem economicamente ativas, do que as que não são
alfabetizadas.
85
O cálculo de regressão simples pode ser usado toda vez que se pretende,
através de uma variável predizer outra. Depois de lançados os pontos é traçada uma
linha reta que deve ter a característica de ser a melhor reta de ajustamento, que
pode ser obtida através da seguinte fórmula : y = a + bx .
A distância em que cada um dos pontos está colocado em relação à reta é o
desvio que, se localizado abaixo da reta é negativo, e acima positivo. A distância
que cada ponto está em relação à reta calculada é o seu resíduo.
[...] na Geografia, os valores são muitas vezes relacionados à áreas, é
interessante mapear os resíduos e destacar assim as áreas com valores
reais acima da predição ou abaixo da predição. Pequenos resíduos indicam
que existe uma grande correspondência entre o valor predito e o valor
observado. Se temos uma correlação perfeita, não temos resíduos. A carta
mostraria claramente onde temos valores reais acima da predição, abaixo
ou onde a predição corresponde à realidade. O pesquisador deve tentar
explicar este fenômeno e tentar encontrar possíveis outras variáveis
desconhecidas que influenciam a variável dependente (GERARDI; SILVA,
1981, p. 96).
Foram produzidas, com base nos cálculos de resíduos, duas cartas temáticas
sendo uma de análise quantitativa e outra de análise qualitativa. O mapa de
resíduos, no que diz respeito à posição de cada área de ponderação em relação à
reta de previsão estabelecida pelo cálculo de regressão, pode ser considerado como
um dos resultados mais importantes da cartografia deste trabalho.
O mapa é qualitativo e retrata, na interpretação que se considerou a mais
adequada, a segregação socioeconômica espacial que ocorre na área em estudo,
evidenciando, inclusive, que esta segregação não ocorre somente alto curso do rio.
Assim, após a análise de um conjunto de variáveis pré-selecionadas se optou
por utilizar como referência as variáveis que dizem respeito à parcela da população
que é alfabetizada e à parcela que é economicamente ativa, consideradas
inicialmente como variáveis que possuem uma boa correlação. A variável ‘ser
86
alfabetizado’
foi
considerada
a
variável
independente
e
a
variável
‘ser
economicamente ativo’ foi considerada a variável dependente. Ou seja, ser
economicamente ativo depende de ser alfabetizado, do ponto de vista da
interpretação proposta.
Essa escolha foi baseada na convicção de que a partir da análise desses
dados seria possível retratar a existência de segregação socioeconômica espacial
na área em estudo. Ou seja, identificar a localização de parcelas da população que,
mesmo sendo alfabetizada tem dificuldade de ser economicamente ativa.
Os dados estatísticos, obtidos junto ao Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) e à Superintendência de Estudos Econômicos (SEI), do Governo
do Estado da Bahia, com base no Censo 2000, utilizando-se os microdados da
amostra organizados em áreas de ponderação.
Aplicados cálculos de regressão linear, foi feita inicialmente uma análise
quantitativa e se procedeu, posteriormente, à transformação da quantidade em
qualidade, o que possibilitou o chamado salto qualitativo com a conseqüente
construção de uma síntese: a regressão indicou a existência de uma reta de
previsão da correlação entre ser alfabetizado e ser economicamente ativo.
Os resíduos encontrados, positivos e negativos, foram interpretados como
pontos de desequilíbrio na correlação e indicadores da ocorrência de segregação
socioeconômica espacial.
Em Salvador a segregação pode ser vista como um problema de classe social
ou de grupo sócioeconômico, mas precisa ser analisada também do ponto de vista
do acesso à educação e de a população ser ou não ser economicamente ativa.
Estas são as variáveis chaves usadas neste trabalho para compreender a
segregação no contexto da bacia hidrográfica do Rio Jaguaribe.
87
A análise construída a partir daí abordou outros aspectos do que se
convencionou chamar de acesso à educação que não apenas o dado inicial de “ser
alfabetizado” ou “não ser alfabetizado”, aprofundando a interpretação das
contradições evidenciadas sobre o próprio “acesso” ou “não acesso” ao estudo,
como os dados relativos à freqüência à escola da rede pública ou da rede privada de
educação e a interrupção ou a continuidade dos estudos.
Não se descuidou, também, da questão étnica, bastante importante no caso
de Salvador, a partir da declaração de cor dos entrevistados pelo IBGE. Mesmo com
todas as críticas que são feitas às interpretações a partir da declaração de cor dos
entrevistados, os dados analisados aqui revelaram algumas surpresas: ora na
direção já conhecida de que a segregação sócio-econômica tem uma base na
discriminação étnica, ora na direção contrária.
A projeção desses dados quantitativos e qualitativos sobre o espaço
geográfico em estudo, tratado como um geossistema, permitiu uma interpretação
particular sobre os aspectos socioeconômicos do geossistema, a partir da utilização
do banco de dados construído, tendo como resultado a confecção de cartas
temáticas elaboradas especificamente para este estudo.
88
Figura 16 - Esboço de roteiro metodológico
Fonte: MONTEIRO, C. A. de F. (2001), p. 68.
Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007).
89
CAPÍTULO 3
3
O ESPAÇO VISTO DO ESPAÇO
3.1. AS VARIÁVEIS NATURAIS E SOCIAIS
Ao se estruturar a montagem das variáveis naturais e sociais para a análise
do geossistema levou-se em conta a proposta de Monteiro (2001). Esse autor, ao
problematizar a questão relativa à montagem de modelos diferenciados para as
análises do que é natural e do que é social no geossistema, referiu-se à opinião de
alguns críticos quanto à existência de um certo confronto entre os dois modelos,
explicando que esse
[...] confronto de dois modelos paralelos para o natural e o social não
sugere separação na análise mas, ao contrário, visa dar flexibilidade de
articulação e de entrosamento aos mesmos (MONTEIRO, 2001,p.56).
Tais colocações evidenciam que o geossistema como um paradigma não
deve nunca engessar a análise do pesquisador. Além disso, Monteiro (2001),
defende que, no caso da aplicação do paradigma em trabalhos realizados no Brasil,
se considerasse a ocorrência de
seqüências temporais nem sempre regulares mas que poderiam ser
aproveitadas. Tais como: a)levantamento aerofotográficos de uma dada
região em diferentes épocas; b)dados censitários – demográficos,
econômicos e outros, nos intervalos convencionais de cada dez anos;
c)estudos de variadas origens sobre a área em foco e arroladas na
bibliografia;[...] (MONTEIRO, 2001, p.58;59).
90
E foi assim que se procedeu na construção desta pesquisa. Foram feitos
levantamentos aerofotogramétricos e de sensoriamento remoto (SeRe) sobre a área
da bacia; dados censitários, demográficos, econômicos e outros tendo como
resultado uma quantidade de dados que permitiu de uma base de dados utilizada na
interpretação e na construção das cartas para posterior interpretação.
3.1.1 As variáveis naturais – O sensoriamento remoto (SeRe)
Após a análise das três cartas históricas que retratam o início da implantação
de um sistema de produção do espaço a partir do período colonial na Bahia,
complementada com uma visão do processo de densificação populacional a partir
dos anos 1970 (com a abertura da avenida Paralela), se optou por utilizar o que há
de mais atual em termos de tecnologia para obtenção de imagens terrestres, através
de satélites espaciais.
Essa proposta teve como objetivo mapear com as imagens de Sensoriamento
Remoto - SeRe - a relação entre a densificação populacional, vista entre os anos
1970 e 2000, com a supressão da cobertura vegetal, ou seja, como a produção e
reprodução do espaço urbano na escala da bacia hidrográfica do rio Jaguaribe, teve
como resultado um processo de concentração de população e dispersão da
cobertura vegetal ao longo de quase 30 anos.
Tratando-se de uma Dissertação sobre a lógica hegemônica da produção do
espaço na escala de uma bacia hidrográfica, o sensoriamento remoto (SeRe) foi
utilizado como uma das ferramentas do Geoprocessamento, que pode ser entendido
como um conjunto de ferramentas que integram a coleta e processamento de dados
espaciais e não espaciais a cerca da Terra.
91
A imagem de satélite mais antiga tomada como referência na construção do
banco de dados desta Dissertação foi obtida através do satélite Landsat 2, com
resolução espacial de 30 metros, utilizando sistema sensor MSS, um dos primeiros a
serem colocados em órbita a uma altitude de 920 km. Hoje, a resolução espacial de
30 metros é considerada completamente ultrapassada, uma vez que os novos
sensores trabalham com resolução inferior a um metro.
Apesar disso a imagem obtida com o Landsat 2 permitiu uma avaliação
qualitativa sobre a área em estudo. A imagem da figura 17 foi escolhida como a
imagem inicial da construção da série histórica sobre a bacia do rio Jaguaribe pelo
fato de ser a imagem em que a área da bacia tem pouca cobertura de nuvens, fato
que sempre atrapalhou o uso de imagens mais antigas, obtidas com os primeiros
sistemas sensores, como é o caso do MSS.
Portanto, se trata de uma imagem da área em estudo obtida há 26 anos, o
que passou a ser um fato determinante na construção deste trabalho, ou seja, que
seria criada uma série histórica de 24 anos, entre 1981 e 2005, uma vez que a
imagem mais atual utilizada data de 2005.
A análise quantitativa foi feita apenas com as imagens atuais, uma vez que
sua resolução permite interpretação mais precisa, além do fato de que essas
imagens não têm o problema da cobertura de nuvens.
Destaque-se que a construção da carta apresentada na figura 17 é anterior à
redefinição da área da bacia, portanto inclui o rio Passa Vaca como afluente do rio
Jaguaribe, definição que só foi revista a partir da construção da cartografia desta
dissertação.
92
Figura 17. Imagem Landsat 2, adquirida em 29/09/1981, sensor MSS, órbita B4567, ponto
231_069, canais 1(R), 2(G), 3(B).
Fonte - INPE, 1981.
Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto, 2007.
Utilizando-se os canais RGB da imagem, num procedimento denominado de
falsa cor, a área com cobertura vegetal aparece na cor vermelha e as áreas com
outros usos aparecem em tons variados entre o amarelo e o marrom.
A interpretação qualitativa que a imagem permite é a de que em 1981 a área
da bacia hidrográfica do rio Jaguaribe ainda possuía uma grande concentração de
cobertura vegetal e uma dispersão da ocupação para usos diversos.
Para que a interpretação qualitativa pudesse ser feita com uma imagem mais
atual, buscou-se uma imagem do satélite CBERS -2, de 2005. O CBERS é um
satélite sino-brasileiro, Chine-Brasil Earth Resources Satellite. O CBERS 2 usa
sensores CCD, uma evolução em relação aos sensores MSS e permite a obtenção
de imagens com resolução de 20 metros.
93
Não se deve comparar quantitativamente imagens com resoluções espaciais
de 30 e de 20 metros. Mas, mantendo a interpretação qualitativa e, apesar da
presença de algumas nuvens, a imagem pode ser usada na interpretação da
produção e reprodução do espaço na área da bacia hidrográfica do rio Jaguaribe.
Figura 18 - Imagem Cbers 2, adquirida em 21/12/2005, sensor CCD 1xs, órbita B234, ponto
148_114, canais 3 (R), 1 (G) e 2 (B).
Fonte:INPE, 2005.
Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto, 2007.
A opção por escolher uma imagem do satélite CBERS 2 de 21/12/2005, como
mostra a figura 18, para integrar a série histórica de 24 anos iniciada com a imagem
do satélite Landsat 2, de 1981, foi baseada no fato de ser possível visualizar o
tamanho das áreas com remanescentes de vegetação e áreas com outro tipo de
94
uso. Em 1981 havia uma dispersão da ocupação, com preservação da cobertura
vegetal. Em 2005 se tem uma concentração da ocupação, com a supressão e
dispersão da cobertura vegetal.
A partir das duas imagens foram construídas duas cartas temáticas
recorrendo à metodologia de classificação MAXVER, máxima verossimelhança,
como mostram as figuras 19 e 20.
Figura 19 - Em 1981 a dispersão da ocupação preservava a cobertura vegetal na bacia
hidrográfica do rio Jaguaribe.
Fonte: INPE – 1981.
Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto, 2007.
95
Figura 20 - Em 2005 a concentração da ocupação e supressão da cobertura vegetal
caracteriza a bacia hidrográfica do rio Jaguaribe
Fonte: INPE-2005.
Elaboração : CAETANO, Carlos Alberto, 2007.
Entre a imagem Landsat 2 (1981), e a imagem CBERS 2 (2005), foi utilizada
uma imagem do satélite SRTM, de 2000, como mostra a figura 21, abaixo, para a
construção do modelo digital do terrreno da bacia em estudo. A imagem obtida com
o satélite SRTM ou Shuttle Radar Topographic Mission (Missão Topográfica por
Radar Interferométrico) adquirida entre 11 e 22 de fevereiro de 2000.
96
Figura 21. Altimetria em P&B com resolução espacial de 30 m.
Fonte: SRTM.
Elaboração : CAETANO, Carlos Alberto, 2007.
A partir da construção da carta da figura 21, foi possível perceber que não
existia nenhuma relação entre o rio Passa Vaca e o rio Jaguaribe, isto é, constatouse que o rio Passa Vaca não era um afluente do rio Jabuaribe. A partir dessa
constatação, que ia de encontro à definição adotada oficialmente pela Prefeitura
Municipal de Salvador, optou-se pela construção de uma carta de altimetria em cor,
figura 22, que deixa explícito que esses dois rios apenas se encontram no estuário
comum e que o último afluente do rio Jaguaribe é o rio Trobogy e não o rio Passa
Vaca.
97
Figura 22. Altimetria Color com resolução espacial 30 m.
Fonte: SRTM.
Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto, 2007
A análise das figuras 21 e 22, permite ver como o rio Jaguaribe é formado por
dois tributários principais que se encontram em seu alto curso e que, já bastante
próximo da sua foz, ele recebe seu último afluente, o rio Trobogy, em Piatã, na altura
da localização do SESC.
Estas imagens do satélite SRTM ajudam a perceber a possibilidade da
existência das falhas geológicas, já apontadas anteriormente. Na imagem em preto
e branco vê-se a existência praticamente de uma linha reta na transição do branco
para o cinza, além de alguns tons acinzentados margeando a linha da praia. Na
imagem colorida a elevação do terreno que impede que o Jaguaribe saia direto para
o mar, ao invés de fazer uma curva para o Sul, também estão evidenciadas.
98
No baixo curso percebe-se pelas imagens das cartas de altimetria, figuras 21
e 22, que o relevo no baixo curso não é muito acidentado, o que facilitou a
implantação nessas áreas de uma ocupação por população de classe mais elevada,
que prefere ocupar os terrenos mais planos. Essa característica do relevo também
explica a ocorrência de transbordamento do rio para a planície de inundação no
baixo curso, onde estão estabelecidos alguns condomínios, quando há uma
coincidência de ocorrência de grande precipitação pluviométrica com o fenômeno da
maré alta.
A ocorrência desses transbordamentos tem levado essas populações a
reivindicarem da Prefeitura Municipal de Salvador um constante serviço de
dragagem do leito do rio Jaguaribe, nas proximidades de sua foz, o que tem
causado grande impacto ambiental nesse trecho do rio. Em nenhum desses
episódios a Prefeitura discutiu se a dragagem do leito do rio era a melhor alternativa,
junto a técnicos e especialistas.
Sabe-se que, ambientalmente, a dragagem é uma condenação antecipada do
rio à morte, uma vez que é removido seu processo natural de construção da própria
calha.
A análise destas imagens sugeriu ainda que a construção de um modelo
digital com base nas curvas de nível seria útil para se visualizar melhor o que
aparentou ser a existência das duas falha geológicas na área da bacia hidrográfica
do rio Jaguaribe: como já foi dito, uma acima do limite entre o médio e o baixo curso
do rio e outra no baixo curso, onde o rio - ao chegar à planície litorânea -, não sai
diretamente para o mar, fazendo uma curva. Ambas as ocorrência estão sinalizadas
nas figuras 23 e 24 , com setas amarelas.
Nessa fase do trabalho de construção desta Dissertação, adotou-se como
definitiva a decisão de excluir a bacia hidrográfica do rio Passa Vaca da área da
bacia hidrográfica do rio Jaguaribe, tendo sido construídas as primeiras cartas com a
nova área da bacia em estudo, como mostram as figuras 23 e 24.
99
Figura 23 - A existência de falhas geológicas na bacia hidrográfica do rio
Jaguaribe.
Fonte: SRTM
Elaboração: CAETAN0, Carlos Alberto, 2007.
Figura 24 - MDT com curvas de nível de 5 m, comprova a existência das falhas
geológicas na bacia hidrográfica do rio Jaguaribe.
Fonte: BRITO, 2005.
Elaboração; CAETANO, Carlos Alberto , 2007.
100
Para possibilitar a análise da cobertura vegetal atual da área da bacia buscouse ainda uma imagem do satélite SPOT 4. Lançado em 24 de março de 1998. O
SPOT 4 oferece imagens que podem ser ampliadas sem perda de foco, além de
terem uma resolução espacial de 10 metros. A imagem analisada foi obtida em
2005, como se vê na figura 25, abaixo, mesmo período da imagem analisada
anteriormente, obtida com o CBERS – 2 (figura 20), com uma resolução espacial de
20 metros.
Quando a carta da figura 25 foi construída, ainda não havia sido feita a
constatação da necessidade de redefinir a área da bacia em estudo, razão pela qual
ela utiliza a área oficial, fornecida pela PMS.
Figura 25 - Cobertura vegetal identificada em 2005: canais R(1), G(2) e B(3).
Fonte: SPOT 4/2005
Elaboração: CAETANO, Carlos .Alberto, 2007.
101
Com essa imagem, somada à da figura 24, com as curvas de nível utilizadas
na construção do MDT, foi possível verificar o que existia em 2005 da cobertura
vegetal da área em estudo, como pode ser ver na figura 25, com a cobertura vegetal
na cor vermelha.
Existia uma concentração da cobertura vegetal mais representativa em dois
trechos da área em estudo, isolados pela Avenida Paralela: um deles no médio
curso e outro no baixo curso. E havia, consequentemente, uma dispersão da
ocupação humana ao longo de toda a área.
A última imagem de satélite utilizada para a caracterização do geossistema da
bacia hidrográfica do rio Jaguaribe, uma imagem de alta resolução, obtida através
do satélite Quick Bird.
Trata-se de uma imagem obtida também em 2005 mas que possui uma
resolução espacial bem melhor do que a das imagens utilizadas anteriormente,
como pode ser visto na figura 26. Ela permite identificar um pequeno remanescente
de cobertura vegetal na região de Cajazeiras, que não estava totalmente identificado
nas figuras anteriores, mas confirma a existência de uma concentração da cobertura
vegetal no médio baixo curso do rio.
102
Figura 26. Imagem de satélite mostra situação real da ocupação da área em estudo em 2005:
Fonte: Quick Bird
Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto, 2007.
3.1.2 As variáveis sociais – O Censo Demográfico
A bacia hidrográfica do Rio Jaguaribe contém 21 áreas de ponderação. Tratase, evidentemente, de uma forma específica de organizar a projeção de dados
socioeconômicos sobre o espaço geográfico. Não foi encontrada na revisão de
literatura nenhuma outra pesquisa que utilizasse essa base de dados em relação à
área em estudo. As áreas de ponderação foram utilizadas como recurso para se
projetar no espaço os dados levantados pelo Censo 2000, e que serviram de base
para a interpretação proposta por esta pesquisa.
103
Figura 27. Bairros contidos em cada área de ponderação que integra a bacia hidrográfica do rio
Jaguaribe – SSA/BA.
Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da Amostra – SEI – 2007.
Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007).
A figura 27 apresenta os nomes dos bairros contidos em cada área de
ponderação, bem como o número oficial que cada área recebeu no Censo
2000/IBGE. A divisão do rio Jaguaribe em alto, médio e baixo curso foi feita
adotando-se como critério manter no Alto Curso os rios Cambonas e Águas Claras,
até sua junção formando propriamente o Jaguaribe. O Médio Curso foi considerado
desse ponto até a interceptação pela Avenida Paralela. O Baixo Curso foi tomado
como sendo o trecho a partir desse “corte” feito pela Paralela até a foz.
104
A seguir foi organizado o Quadro 8 com as informações obtidas no Censo
2000, referentes à população de ambos os sexos residente em domicílios
particulares em todas as áreas de ponderação, organizada pela numeração oficial
dessas áreas.
QUADRO 8 – Pessoas de ambos os sexos residentes em domicílios particulares
permanentes por área de ponderação na Bacia Hidrográfica do rio Jaguaribe – SSA/BA.
Numeração das áreas de Ponderação pelo IBGE /
Bairros que as integram
1
2
3
4
5
6
33
34
70
72
75
76
77
79
80
81
82
83
84
85
86
Abaeté / Nova Brasília de Itapuã)
(Patamares / Piatã)
(Pq. Exposição / Alto do Coqueirinho / Km 17/ ExCombatentes)
(Bairro da Paz)
(Itapuã / Nova Conquista)
(Stella Maris / Aeroporto)
(Mussurunga)
(São Cristovão)
(Pirajá)
(Calabetão / Granjas Pres. Vargas / Jardim Santo
Inácio
(Dom Avelar / Porto Seco – Pirajá)
(Castelo Branco / Cajazeiras II e IV)
(V. Canária / 7 de Abril / Jd. Nova Esperança)
(São Marcos/Canabrava/Rec. Ilhas/Col. Pituaçu/
Viv. Pássaros/Viv. Campos/ Nova Cidade/ Jd das
Limeiras/ Paralela Park/Lagoa Verde
(Estrada do Mocambo/Projeto ASA/Aldeia das
Pedras/Flamboyants/Trobogy/Nova
Brasília/Cj
Jaguaribe
(Valéria)
(Cajazeira/Bico Doce/Palestina/Boca da Mata/
Águas Claras)
(Nogueira/Cajazeiras III)
(Cajazeiras V, VI e VII)
(Cajazeiras VIII)
(Cajazeiras X e XI)
Residentes / Sexo
Masc.
9.364
13.196
Fem.
10.305
14.325
Total
19.669
27.521
12.188
13.218
25.406
8.589
8.162
6.521
17.405
14.086
13.474
8.817
9.366
7.148
18.761
14.724
14.598
17.406
17.528
13.669
36.166
28.810
28.072
9.288
9.924
19.212
7.235
12.980
16.490
7.664
14.309
17.668
14.899
27.289
34.158
26.448
29.697
56.145
9.889
10.664
20.552
11.156
11.594
22.750
13.572
14.065
27.637
7.475
9.907
9.113
8.201
7.892
10.978
9.859
9.071
15.367
20.885
18.972
17.272
Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da Amostra – SEI – 2007.
Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007).
As informações contidas no Quadro 8, posteriormente foram organizadas no
formado de um rol em ordem crescente de acordo com a quantidade de população
residente, como mostra o Quadro 9. Ao organizar esse rol o objetivo buscado foi o
105
de desenhar os extremos de residentes ao longo da bacia hidrográfica, ou seja,
quais as áreas de ponderação com maior e menor população residente, para que
posteriormente esses dados fossem organizados em relação ao curso do rio em
estudo.
QUADRO 9 - Rol de pessoas residentes nas áreas de ponderação que compõem a
bacia hidrográfica do Rio Jaguaribe, SSA – BA.
Áreas de Ponderação pela numeração oficial do IBGE/ bairros que
as integram
06 75 83 86 04 –
05 85 –
Stella Maris / Aeroporto
D. Avelar /Porto Seco-Pirajá
Nogueira /Cajazeiras III
Cajazeiras X / XI
Bairro da Paz
Itapuã / Nova Conquista
Cajazeiras VII
72 -
Calabetão /Granjas Pres. Vargas / Jd.Sto. Inácio
Quantitativo de
residentes em
ordem crescente
13.669
14.899
15.367
17.272
17.406
17.528
18.972
19.212
01 – Abaeté/ Nova Brasília de Itapuã
80 – Mocambo / ASA / Aldeia Pedras / Flamboyants Trobogy /
Nova Brasília/Cj. Jaguaribe
84 – Cajazeiras V / Cajazeiras VI / Cajazeiras VII
81 – Valéria
19.669
03 – Pq. Expo / Coqueirinho / Km 17 / Ex-Combatentes
25.406
20.552
20.885
22.750
76 – Castelo Branco / Cajazeiras II / Cajazeiras IV
27.289
02 – Patamares / Piatã
82 – Cajazeira / Bico Doce / Palestina / Boca da Mata / Águas
Claras
27.521
70 – Pirajá
28.072
34 – São Cristóvão
28.810
77 – Vila Canária / Sete de Abril / Jd. Nova Esperança
34.158
33 – Mussurunga
36.166
27.637
79 – São Marcos / Canabrava / Recanto das Ilhas / Colinas de
Pituaçu / Vivenda dos Pássaros / Vivenda dos Campos /
56.145
Nova Cidade / Jd. Das Limeiras / Paralela Park / Lagoa
Verde
Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da Amostra – SEI – 2007.
Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007).
No Quadro 9 se pode ver onde ocorre a maior presença de residentes
localizada em apenas uma área de ponderação, com grande concentração em São
Marcos e adjacências (79), seguido por Mussurunga (33) e Vila Canária, Sete de
106
Abril e Jardim Nova Esperança (77). Além desses extremos onde os residentes
estão mais concentrados, o Quadro 9 mostra também que Stella Maris/ Aeroporto
(06), Dom Avelar / Porto Seco-Pirajá e Nogueira / Cajazeiras III são as áreas com
menor número de residentes.
Tais ocorrências podem ser explicadas pelo fato de as áreas de Stella
Maris/Aeroporto serem ocupações mais recentes, com população de maior renda e ,
no caso de Porto Seco-Pirajá (não envolve o bairro de Pirajá), a explicação pode ser
dada pelo fato de existir no local uma grande área de uso comercial, sem grande
número de residentes. No caso das áreas com maior população, tratam-se de
bairros proletários que sofreram um processo de verticalização com a construção de
verdadeiros “paredões” habitacionais com vários andares.
Para facilitar a interpretação da relação entre a produção do espaço como
residência pela população e a área da bacia hidrográfica propriamente dita, uma vez
que pelo senso comum ninguém reside em um bacia hidrográfica, foi montado o
Quadro 10, com as áreas de ponderação agrupadas dessa vez seguindo o curso do
rio, ou seja, juntou-se aquelas áreas de ponderação que estão localizadas ano alto
curso em um bloco; as que estão no médio curso em outro e, finalmente, as que
estão no baixo curso em outro.
A necessidade de construção desse quadro seguindo o curso do rio, embora
pudesse parecer evidente desde o início da pesquisa, tornou-se mais clara quando
foi elaborado o Quadro 9, que mostrou a existência de extremos quantitativos (maior
população residente/menor população residente) ocorrendo simultaneamente no
baixo, médio e alto curso.
107
Como
exemplo
se
pode
observar
que
Stella
Maris/Aeroporto
e
Nogueira/Cajazeira, que aparecem com menor população, estão respectivamente no
baixo e alto curso do rio. Vila Canária, Sete de Abril e Jardim Nova Esperança , que
localizam-se no Alto Curso, aparecem entre as áreas com maior quantitativo
populacional, embora a maior parte das áreas de ponderação com população
elevada está localizada no Médio Curso.
QUADRO 10 – População residente nas áreas de ponderação da Bacia Hidrográfica
do Rio Jaguaribe, SSA – BA, segundo o curso do rio.
A = ALTO CURSO
Quantitativo de
M = MÉDIO CURSO
residentes
B= BAIXO CURSO
A – 70 – Pirajá
28.072
A – 81 – Valéria
22.750
A – 75 – Dom Avelar / Porto Seco-Pirajá
14.899
A – 83 – Nogueira / Cajazeira III
15.367
A – 82 – Cajazeira / Bico Doce / Palestina / Boca da Mata
27.637
A – 77 – Vila Canária / Sete de Abril / Jardim. Nova Esperança
34.158
A – 76 –
Castelo Branco / Cajazeiras II e IV
27.289
A - 84 –
Cajazeiras V, Cajazeiras VI e Cajazeiras VII
20.885
A - 86 –
M – 72 M – 79 –
Cajazeiras X e Cajazeiras XI
Calabetão / Granjas P. Vargas / Jd. Sto. Inácio
São Marcos / Canabrava / Recanto das Ilhas /Colinas
de Pituaçu / Vivenda dos Pássaros /Vivendas do
Campo / Nova Cidade / Jardim das Limeiras / Paralela
Park / Lagoa Verde
Estrada do Mucambo / Projeto ASA / Aldeia das Pedras
/ Flamboyants / Trobogy / Nova Brasília / Conjunto
Jaguaribe
17.272
19.212
M – 80 –
56.145
20.552
M – 85 –
Cajazeiras VIII
18.972
M – 33 –
Mussurunga
36.166
M – 34 –
São Cristóvão
28.810
B – 06 –
Stella Maris / Aeroporto
13.669
B – 03 –
Pq Exposição / Coqueirinho / Km 17 / Ex-Combatentes
25.406
B – 01 –
Abaeté / Nova Brasília de Itapuã
19.669
B – 05 –
Itapuã / Nova Conquista
17.528
B – 04 –
Bairro da Paz
17.406
B – 02 – Piatã / Patamares
27.521
Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da Amostra – SEI – 2007.
Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007).
108
Para facilitar a interpretação desses dados do Quadro 10, optou-se pela
construção de gráficos de barras e, num primeiro momento, as 21 áreas de
ponderação e seus respectivos dados foram colocados no Gráfico 2, cuja
compreensão foi considerada prejudicada devido ao excesso de informação. Apesar
disso, o Gráfico 1 evidencia a concentração de áreas de ponderação com maior
contingente populacional no médio curso do rio; que o alto curso do rio apresenta a
população mais dispersa entre as diversas áreas de ponderação, embora exista uma
variação significativa entre os quantitativos das diversas áreas. Já o baixo curso
apresenta a menor concentração populacional, estando inclusive aí localizada a área
com a menor população residente.
DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO NAS 21 ÁREAS DE PONDERAÇÃO QUE COMPÕEM A BACIA
HIDROGRÁFICA DO RIO JAGUARIBE, SSA-BA
Gráfico 2. No médio curso do rio encontram-se as áreas com maior população.
Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da Amostra – SEI – 2007.
Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007).
109
Diante do excesso de informação evidenciado no Gráfico 2 e da necessidade
de se construir diversos outros com as demais informações obtidas no banco de
Microdados da Amostra do Censo de 2000, optou-se por selecionar 15 áreas de
ponderação e numerá-las em ordem crescente, de acordo com o curso do rio para
facilitar a construção e a interpretação dos gráficos. A seleção foi feita e resultou no
Quadro 11.
Um questionamento feito: o fato de que as informações estavam, do ponto de
vista estatístico, na escala de freqüência e não na escala de razão. Isso significa que
na escala de freqüência não havia um valor “zero” e, para o cálculo dos resíduos,
que foi feito posteriormente, era necessário que os dados estivessem na escala de
razão.
O problema foi solucionado com a transformação dos dados relativos à cada
área de ponderação em percentagem da população total residente na área da bacia,
resultando num rol onde as informações sobre a população residente em cada área
estavam na escala de razão.
QUADRO 11 – As Áreas de ponderação da Bacia Hidrográfica do Rio Jaguaribe, SSA – BA,
selecionadas para a análise.
A = ALTO CURSO
M = MÉDIO CURSO
B= BAIXO CURSO
O número que se segue às letras A; M e B
corresponde à numeração de cada área de
ponderação dada oficialmente pelo IBGE.
Residentes
% do TOTAL
DA BACIA
1 - ( A 82) -
Cajazeira / Bico Doce/ Palestina / Boca da Mata
27.637
4,94
2 – (A 84) –
Cajazeiras V, Cajazeiras VI e Cajazeiras VII
20.885
3,73
3 – (A 76) –
4 – (A 86 )–
5 – (A 75 )–
Castelo Branco / Cajazeiras II e IV
Cajazeiras X e Cajazeiras XI
Dom Avelar / Porto Seco-Pirajá
27.289
17.272
14.899
4,88
3,09
2,66
6 – (A 83) –
Nogueira / Cajazeira III
15.367
2,75
7 – ( A 81) -
Valéria
22.750
4,06
8- (M 79 ) –
São Marcos / Canabrava / Recanto das Ilhas / Colinas de
Pituaçu / Vivenda dos Pássaros / Vivendas do Campo /
Nova Cidade / Jardim das Limeiras / Paralela Park / Lagoa
Verde
Estrada do Mocambo / Projeto ASA / Aldeia das Pedras /
Flamboyants / Trobogy / Nova Brasília / Conjunto Jaguaribe
9 – (M 80) –
56.145
20.552
10,04
3,67
10 – (M 33) – Mussurunga
36.166
6,46
11 – (B 04) – Bairro da Paz
17.406
3,11
12 – (B 03) – Pq Exposição / Coqueirinho / Km 17 / Ex-Combatentes
25.406
4,54
13 – (B 01) – Abaeté / Nova Brasília de Itapuã
19.669
3,51
14 – (B 05) – Itapuã / Nova Conquista
17.528
3,13
15 – (B 02) – Piatã / Patamares
27.521
4,92
Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da Amostra – SEI – 2007.
Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007).
110
Destaque-se que a numeração das áreas de ponderação no Gráfico 3 não
corresponde à numeração das mesmas pelo IBGE, uma vez que se refere à
numeração de 1 a 15 dada às áreas que foram escolhidas para formar um “desenho”
da população residente segundo o do curso do rio, conforme apresentado no
Quadro 4.
Gráfico 3 - Concentração de residentes é maior em áreas do médio curso do
rio Jaguaribe, SSA-BA.
Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da Amostra
– SEI – 2007.
Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007).
Pode-se observar, analisando o Gráfico 3, que o alto curso do rio tem, entre
as áreas escolhidas, a maior população residente e que, o médio curso do rio, tem a
maior concentração de residentes em uma única área, com uma população
111
significativamente maior na área de ponderação de São Marcos e entorno, que
aparece com o número 8 no Gráfico 3.
Na área de São Marcos e entorno ocorre uma verticalização das moradias,
formando verdadeiros paredões de residências de três ou quatro andares, sem
nenhuma área livre, com acessos internos por escadas. No trabalho de campo se
evidenciou que nenhuma destas construções possui elevador e condições mínimas
de prevenção em relação à incêndio, por exemplo, como saídas de emergência.
QUADRO 12 - Domicílios particulares independente da condição de
próprios, permanentes, cedidos e-ou alugados na Bacia
Hidrográfica do Rio Jaguaribe, SSA-BA.
Áreas de Ponderação
Total de domicílios
selecionadas para a análise
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
7.232
5.500
7.038
4.506
3.866
3.967
5.799
16.061
5.566
9.284
4.559
6.724
5.139
4.707
7.085
Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da amostra – SEI – 2007.
Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007)
A partir do Quadro 12 foi elaborado o Gráfico 4, onde se percebe a
concentração de domicílios existente na área 8, que corresponde a São Marcos e
entorno, comprovando que se trata da área com tendência a apresentar mais
problemas de diversas características em relação à concentração de grande número
de domicílios num pequeno espaço.
112
Gráfico 4 - São Marcos e entorno (8) têm a maior concentração de
domicílios em toda a bacia hidrográgica do rio Jaguaribe, Salvador, BA.
Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da Amostra – SEI
– 2007.
Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007).
O Gráfico 4 também mostra que, entre as áreas escolhidas, existem mais
domicílios no alto curso do rio distribuídos nas diversas áreas, diferentemente do
médio curso onde os mesmos estão concentrados. A proximidade dessas áreas do
médio curso com a avenida Paralela e o próprio Centro Administrativo da Bahia,
onde estão os órgãos do Governo do Estado, localizado na margem dessa avenida,
explicam em parte a concentração dessa parcela da população de classe mais baixa
numa área de ocupação irregular, diferentemente do alto curso, onde a ocupação se
deu através da implantação dos conjuntos habitacionais de Cajazeiras, ocorrida a
partir de 1980.
113
A análise dos dados referentes à população que habita a área possibilita,
ainda, uma interpretação sobre a relação que se estabelece entre a quantidade de
moradores e a quantidade de domicílios, evidenciando que em toda a área em
estudo não são famílias numerosas residindo em poucos domicílios, ao contrário, a
maior parte das famílias têm, no máximo dois moradores por cômodo, conforme se
vê no Quadro 13.
QUADRO 13 - Densidade dos moradores por cômodo dos
domicílios particulares permanentes
Áreas de
Ponderação
Selecionadas
para análise
Até 0,5
Mais de
0,5 a 1,0
Mais de Mais de
1,0 a 1,5 1,5 a 2,0
Mais de
2,0 a 3,0
Mais de
Mais de 4,0
3,0 a 4,0
1
1.746
3.495
1.067
561
233
89
41
7.232
2
1.675
2.767
628
286
124
8
12
5.500
3
2.055
3.517
782
375
214
51
46
7.038
4
1.372
2.474
436
162
50
12
-
4.506
5
1.239
2.105
346
105
72
-
-
3.866
6
1.090
2.092
409
271
73
16
17
3.967
7
1.325
2.725
862
486
264
55
82
5.799
8
5.910
7.881
1.180
532
306
123
129
16.061
9
1.812
2.456
600
345
251
68
34
5.566
10
2.979
4.499
1.037
390
225
77
78
9.284
11
776
1.759
848
590
345
344
152
90
4.559
12
2.511
3.008
685
134
10
31
6.724
54
35
22
5.139
Total
292
13
1.758
2.389
590
14
2.402
1.765
329
164
26
9
12
4.707
15
3.850
2.378
357
241
208
32
18
7.085
Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da Amostra – SEI – 2007.
Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007).
No alto curso do rio estão as duas áreas que não possuem mais de quatro
moradores por cômodo, as de número quatro e cinco, respectivamente Cajazeiras X
114
/ XI e Dom Avelar / Porto Seco – Pirajá. Pode-se interpretar essa ocorrência pelo
fato dessa última ser tanto de uso residencial quanto comercial e, no caso da
primeira, por se tratar de prédios de conjuntos habitacionais de dois quartos. Ainda
no alto curso, Valéria, a de número 7, é a que aparece com maior número de
domicílios com mais de quatro moradores por cômodo. Trata-se de um bairro de
classe mais baixa, de moradias térreas, localizado após o corte que a BR-324 faz na
área da bacia.
No médio curso do rio, a área de número 8 (São Marcos e entorno) aparece
novamente com maior número de domicílios com mais moradores por cômodo.
Merece destaque também a ocorrência na área de número 11 (Bairro da Paz), já
localizada no baixo curso do rio. Uma área de ocupação irregular recente que
enfrenta diversos problemas sociais relacionados inclusive com o tráfico de drogas e
que se apresenta com um alto índice de domicílios com mais de quatro moradores
por cômodo.
Em relação à renda da população, a análise das áreas de ponderação
selecionadas evidencia que existe uma variação mais ou menos regular no alto
curso do rio, como mostra o gráfico 5, o que permite inferir que se trata de uma área
mais ou menos homogênea socioeconomicamente, habitada majoritariamente por
integrantes de uma mesma classe social.
No médio baixo curso do rio existe uma área de ponderação que foge desse
padrão de homogeneidade socioeconômica evidenciada no alto curso: São Marcos e
seu entorno (8), que apresentam uma renda mais alta. Cabe a ressalva de que
esses dados relativos a São Marcos e seu entorno podem estar relacionados com o
fato já registrado anteriormente de haver uma grande concentração populacional em
uma área relativamente pequena.
115
Gráfico 5- O Bairro da Paz aparece com a menor renda média per
capita e Patamares com a maior.
Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da Amostra
– SEI – 2007.
Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007).
Já o Bairro da Paz (11) , se apresenta praticamente como um “gueto”, com a
renda mais baixa de toda a área da bacia. A renda média individual era menor do
que R$ 100,00 na época do Censo 2000.
Trata-se de uma área de ocupação ‘irregular’ que se consolidou a partir dos
anos 80, sendo habitada por segmentos mais pobres da população. O local não
possui infra-estrutura adequada, em especial saneamento básico, pavimentação,
etc., e é palco de diversas práticas de violência ligadas à ação marginal, incluindo o
tráfico de drogas e atuação de grupos de extermínio.
116
Há ainda a evidência de concentração de população com renda mais alta no
baixo curso, particularmente nas áreas 14 (Itapuã/Nova Conquista) e 15
(Piatã/Patamares), sendo a última bastante superior a todas as demais, como
mostra o Gráfico 6.
Gráfico 6 - O Bairro da Paz (área 11) aparece com a mais baixa
renda média domiciliar na bacia hidrográfica do rio Jaguaribe,
SSA- BA.
Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da
Amostra – SEI – 2007.
Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007).
É importante destacar que as duas ocorrências, o Bairro da Paz (11) que
aparece com os menores índices de renda média domiciliar e Patamares (15) com
os mais altos, estão localizados no baixo curso do rio. Pode-se perceber pelo gráfico
que a renda domiciliar média no alto curso do rio gira em torno de aproximadamente
R$ 500,00 e no Bairro da Paz fica bastante abaixo disso.
117
Para diversificar essa interpretação se buscou analisar a renda mediana
também no que diz respeito tanto à renda domiciliar como em relação à renda per
capita. O objetivo da análise da renda mediana foi evitar que ocorressem distorções
comuns quando uma parte da população tem uma renda muito alta e outra parte
uma renda muito baixa, dando como resultado uma renda média elevada.
A renda mediana mostra o valor que está no meio, o que ajuda a interpretar
melhor a questão da renda quando ocorrem casos de valores extremos elevados ou
baixos. O resultado encontrado foi o que se vê nos gráficos 7 e 8.
Gráfico 7 - A mediana mantém o Bairro da Paz no índice mais baixo.
Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da Amostra
– SEI – 2007.
Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007).
118
Em quatro áreas de ponderação encontramos rendas medianas individuais
abaixo de R$ 100,00: Cajazeira/Bico Doce/Palestina/Boca da Mata/Águas Claras
(área 1); D. Avelar/Porto-Seco Pirajá (área 5); Valéria(área 7) e Bairro da Paz (área
11), sendo que a mais baixa delas é a do Bairro da Paz (11).
Esse dado confirma que o Bairro da Paz é a maior concentração de extrema
pobreza em toda a área da bacia hidrográfica do rio Jaguaribe e que em nenhuma
outra área do alto curso, esse problema se apresenta de forma tão evidente.
As
rendas
medianas
domiciliares
confirmam
que
Cajazeira/Bico
Doce/Palestina/Boca da Mata (área 1); Dom Avelar/Porto Seco – Pirajá (área 5);
Valéria (área 7) e Bairro da Paz (área 11) como as de rendas mais baixas. Em todas
as simulações Itapuã (área 14) aparece como a segunda melhor renda entre as
áreas da bacia, em algumas simulações aproximando-se de Patamares (15) – a
maior renda – quando se calcula, por exemplo, tanto a renda mediana per capita
como a mediana domiciliar, como se vê no Gráfico 8.
119
Gráfico 8 – A mediana não traz alterações significativas à análise.
Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da
Amostra – SEI – 2007.
Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007).
A renda mediana per capita não esconde o elemento principal que se buscou
na análise desses dados estatísticos: comprovar que o que diferencia a população
que habita as diferentes áreas de ponderação da bacia hidrográfica do rio Jaguaribe
é a renda. Ou seja, que é a condição de classe social dessa população que faz a
diferença.
Analisou-se, em seguida, um aspecto importante da caracterização dessa
população: qual a porcentagem dela que teve ou que não teve acesso ao estudo,
para se estabelecer a existência ou não de uma relação entre a parcela da
população sem instrução e sua renda e condição de classe social.
120
Gráfico 9 - A população sem instrução aparece no alto, no
médio e no baixo curso do rio.
Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da
Amostra – SEI – 2007.
Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007).
A análise dos dados referentes à população sem instrução mostra que ela se
concentra mais no médio curso do rio, havendo alguns aspectos importantes de
serem observados pontualmente tanto no alto curso como no baixo curso do rio. Em
primeiro lugar destaque-se que a área com menor índice de população sem
instrução está no alto curso, Cajazeiras X e XI, que aparece como a área 4 no
Gráfico 9.
Isolando-se os dados relativos à área 8, São Marcos e entorno, onde há o
maior número de habitantes, maior número de residências, etc, aparecem três
ocorrências com similaridade: no alto curso, Cajazeira/Bico Doce/Palestina/Boca da
Mata que aparece como área 1; no médio curso, Estrada do Mocambo e entorno,
121
que aparece como área 9 e no baixo curso o Bairro da Paz, que aparece como área
11. Os três casos referem-se a áreas com grande número de invasões e ocupações
irregulares onde os moradores não têm acesso à educação, praticamente não
existem escolas ou, quando existem, não dão conta da demanda.
Essas áreas também aparecem nos gráficos sobre a renda da população com
índices de bastante baixos, as menores rendas no alto, médio e baixo curso, o que
permite que se faça uma primeira constatação da relação entre a renda e a
instrução. Quanto menor a renda, maior a população sem instrução.
Não há uma grande diferença no que diz respeito à população sem instrução
em pelo menos quatro das áreas de ponderação analisadas: no alto curso do rio as
áreas 5 – D. Avelar/ Porto-Seco/Pirajá – e 6 – Nogueira e Cajazeiras III; no baixo
curso do rio as áreas 14 – Itapuã e Nova Conquista e 15 – Patamares/ Pituaçu.
Analisando-se a renda dessas populações vemos que elas não estão entre as
menores rendas medianas per capita ou mediana domiciliar no caso do alto curso e
estão entre as mais altas rendas nos dois casos do baixo curso.
A área 5 é também a que tem menor densidade de moradores por cômodo no
alto curso, o que é indicativo de uma forma de organização familiar que não é
compatível com a forma de vida de pessoas de renda mais baixa e a área 6 não
aparece entre as com renda mais baixa nos gráficos de análise de renda. Mas uma
vez a premissa da relação entre renda baixa e baixa escolaridade se configura.
Em relação ao quesito analisado no Gráfico 10, ter estudado no mínimo 15
anos, compreende-se esse período como um mínimo de 02 anos nas séries iniciais
(creche ou pré-escola); os 04 anos do ensino fundamental; os 07 anos do ensino
médio e o início do ensino superior.
122
Gráfico 10 - A descontinuidade nos estudos foi uma das grandes
contradições encontradas.
Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da
Amostra – SEI – 2007.
Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007).
Vale destacar que a área de número 11 (Bairro da Paz) nem pontua nesse
índice, o que significa que não existem ali pessoas com 15 anos ou mais de estudo,
o que indica uma forma de segregação que estabelece uma relação direta entre
pobreza e educação, uma vez que já se viu que ali residem as pessoas mais pobres
de toda a área da bacia.
Os índices relacionados às áreas de ponderação do alto curso também são
muito baixos. Pode-se afirmar que em todo o alto curso do rio poucos moradores
estudaram mais de 15 anos. No médio curso, São Marco (área 8) aparece numa
123
posição melhor do que Itapuã e Nova Conquista (área 14) mas esse fato também
pode ser influenciado pelo maior número de moradores na área de São Marcos.
Destaque no acesso à educação deve ser feito apenas para Patamares (área
15). Onde mora a população com maior renda, também está a população que tem
maior acesso à educação.
A análise do Gráfico 10 traz, mais uma vez e de forma bastante evidenciada,
a existência de segregação socioeconômica espacial na área em estudo.
A partir da interpretação de que os microdados do Censo 2000 permitem
inferir a existência de segregação socioeconômica espacial nas áreas de
ponderação da bacia hidrográfica do rio Jaguaribe, optou-se por analisar a
declaração de cor ou raça dessa mesma população.
Os resultados obtidos apresentam uma contribuição para a discussão da
relação entre segregação socioeconômica e discriminação de origem étnica em
Salvador. Trata-se, sem dúvida, de uma questão polêmica, por se tratar da Bahia e
particularmente da cidade de Salvador, onde a maioria da população é considerada
afrodescendente.
Cabem, em primeiro lugar, algumas ressalvas: não interessou a este trabalho
discutir o que significa ser ou não ser afrodescendente, uma vez que isso foge ao
objetivo proposto. Segundo, a declaração espontânea de “cor da pele” do
entrevistado ao IBGE, pode esconder uma série de preconceitos do próprio
entrevistado, o que é impossível aferir numa interpretação de dados como a que
este estudo propõe. Mas esses dados contribuem transversalmente com o mosaico
construído no contexto desta dissertação de mestrado.
O fato é que tais dados obtidos com a auto-declaração de cor da pele
estimulam uma especulação sobre origem racial dessa população mas requerem
124
uma pesquisa mais aprofundada do que a que foi feita pelo Censo 2000. Com o
objetivo de estimular a discussão sobre o tema o resultado obtido traz algumas
contribuições.
Gráfico 11 - População que se declara de cor parda.
Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da
Amostra – SEI – 2007.
Elaboração: CAETANO, Carlos
Alberto (2007).
A parcela da população que se declara de cor parda, conforme se vê no
Gráfico 11, é bastante significativa no médio curso do rio. É importante que se
compreenda que em gráficos de freqüência, quando se tem um maior número de
pessoas morando em uma área, todos os índices aí poderão ser maiores, por isso é
preciso ler ‘nas entrelinhas’ destas colunas e não se afirmar simplesmente que na
área de ponderação com o numero 8 há um maior de pessoas pardas. O mesmo
vale para as outras interpretações feitas anteriormente nas quais foi feita essa
mesma ressalva.
125
Há ainda a evidência de que no baixo curso o número de pessoas que se
declaram de cor parda atinge índices menores do que no alto curso. E que o índice
mais baixo de pessoas que se declaram de cor parda em toda a bacia está na área
de ponderação numerada como 14, que corresponde a Itapuã e Nova Conquista.
O número de pessoas que se declaram de cor parda é muito mais significativo
do que o número de pessoas que se declaram de cor preta, conforme o Gráfico 12,
(mais do que o dobro), se olharmos as quantificações na coluna vertical dos dois
gráficos. Os que se declaram pardos chegam a mais de 30 mil na área 8, de maior
ocorrência, enquanto os que se declaram pretos chegam a 12 mil na maior
ocorrência, que também é a área 8.
Gráfico 12 - No médio curso, onde há mais população, há maior
número de pretos.
Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da Amostra –
SEI – 2007.
Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007).
126
No alto curso do rio o número dos que se declaram pretos está acima da
média, quase o dobro, na área 3, Castelo Branco/Cajazeira II e IV. Também aparece
acima da média na áreas 1 (Cajazeira/Bico Doce/ Palestina/Boca da Mata/Águas
Claras).
No baixo curso do rio tanto a área 12 (Alto do Coqueirinho/KM 17/Parque de
Exposições/Vila dos Ex-Combatentes) como a área 13 (Abaeté/Nova Brasília)
aparecem com os índices mais altos daqueles que se declaram de cor preta. Estas
áreas de ponderação podem ser consideradas como “quilombos urbanos”, áreas
habitadas majoritariamente por pessoas de origem negra, que se declaram negras e
que integram, inclusive, movimentos culturais como os promovidos pelo Bloco Afro
Malê de Balê, localizado na área da Lagoa do Abaeté.
Vale o destaque de que na área 11 (Bairro da Paz), tanto os que se declaram
pardos como os que se declaram pretos estão dentro do que podemos considerar a
média da mostra.
Somando-se os que se declaram pretos e os que se declaram pardos, para se
chegar ao que seria o número de pessoas que podem ser consideradas negras aos
quais se poderia atribuir de forma mais efetiva o genérico afrodescendentes, tem-se
como resultado o Gráfico 13.
127
Gráfico 13 - Somados pretos e pardos, resultando nos que
podem ser considerados negros.
Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da
Amostra – SEI – 2007.
Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007).
O gráfico 13 indica que a presença do maior número de pessoas que podem
ser consideradas negras está, significativamente, entre as áreas localizadas no
médio curso, ‘descontando-se’ a eventual distorção que possa causar o maior
contingente populacional presente na área 8. A presença de negros também é muito
significativa no alto curso do rio, particularmente na área 1 (Cajazeira/Bico
Doce/Palestina/Boca da Mata); área 3 (Castelo Branco/Cajazeiras II e IV) e área 7
(Valéria).
No baixo curso do rio a área 12 (Parque de Exposição/Coqueirinho/Km 17/ExCombatentes) aparece com um índice elevado e o mesmo ocorre na área 15
(Piatã/Patamares).
128
Fazendo o cruzamento das informações obtidas com a análise da declaração
de cor da população com o gráfico de renda dessa mesma população, se pode
observar que a área 1(Cajazeira/Bico Doce/Palestina/Boca da Mata), a área 5 (Dom
Avelar/Porto Seco-Pirajá), a área 7 (Valéria), no alto curso do rio, e a área 11(Bairro
da Paz), no baixo curso do rio, aparecem com as menores rendas. Quanto à
declaração de cor, as áreas (1) e (7) aparecem como as mais habitadas por pessoas
que se declaram pardas e pretas, ou seja, negras, na área em estudo.
Vale o registro de que também na área 3 (Castelo Branco/Cajazeiras II e IV) o
número dos que se declaram pretos e pardos é alto mas na análise da renda essa
área de ponderação não aparece entre as que têm população com renda mais
baixa, estando localizada na faixa que pode ser considerada como de renda média.
Portanto, os microdados do Censo 2000 permitem interpretar com segurança
que, como algumas nascentes dos tributários que formam o rio Jaguaribe estão
localizadas exatamente nas áreas de Cajazeiras, Bico Doce, Palestina, Boca da
Mata, Águas Claras, Valeria e Castelo Branco e entorno, essas áreas são habitadas
pela maioria da população de renda mais baixa e que se declara de cor parda ou
preta, ou seja, os chamados afrodescendentes.
Outro dado que merece destaque diz respeito à área 14 (Itapuã/Nova
Conquista) e à área 15 (Piatã/Patamares), que aparecem nos gráficos de renda
como aquelas com maior número de residências de pessoas com renda mais alta,
sendo os valores atribuídos a Itapuã mais baixos que os atribuídos a Patamares. Em
relação à declaração de cor, tanto os que se declaram pardos ou pretos em Itapuã,
129
aparecem com o índice mais baixo do que Patamares, considerada área de maior
renda em toda a bacia. Este dado requer/indica a necessidade de um trabalho de
campo específico para comprovação desses fatos, o que foge ao objeto desta
dissertação.
Como a área 14 (Itapuã/Nova Conquista) tem um número mais baixo de
pessoas que se declaram pardas e pretas, isso se reflete no baixo número de
pessoas consideradas negras que é um somatório das duas primeiras opções. Pela
própria história de Itapuã, uma antiga colônia de pescadores negros e mestiços, tais
fatos requerem uma apuração mais atenta. Não se pode desconhecer, no entanto,
que a antiga colônia de pescadores se transformou num balneário de classe média
no final do século passado. Vale o destaque de que, os que se consideram brancos
em Itapuã, também são o dobro dos que se consideram pretos e pardos.
Na análise do gráfico 14, relativo aos entrevistados que se declaram brancos,
se repete o fato de que onde tem maior população tem maior número de brancos,
mais uma vez aparecendo a área 8 (São Marcos e entorno) com maior número de
habitantes nessa condição. Excluído esse fato, a área 15 (Piatã/Patamares) aparece
bastante acima das demais e a área 11 (Bairro da Paz) evidencia que, além de ser
aquela que tem a menor renda, também é a que tem o menor número de pessoas
que se declaram brancas.
130
Gráfico 14 - A população que se declara branca está
concentrada no médio-baixo curso do rio.
Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados
da Amostra – SEI – 2007.
Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007).
Vale destacar o fato de que no baixo curso do rio a área 13 (Abaeté/Nova
Brasília) aparece no mesmo patamar das áreas do alto curso no que diz respeito à
declaração de ser branco, o que indica que esses não são lugares preferidos para
moradia por pessoas que se consideram, de fato, brancas.
Para complementar a análise desses gráficos de freqüência se optou por
escolher as variáveis ‘ser alfabetizado’ e ‘ser economicamente ativo’ para aprofundar
a interpretação sobre as unidade internas do geossistema em estudo, com a
construção de mapas temáticos onde são diferenciados o alto, o médio e o baixo
curso, e que estão apresentados no próximo capitulo com o objetivo de se construír
uma análise qualitativa a partir dos dados quantitativos, como pede o método de
abordagem utilizado nesta dissertação.
131
CAPÍTULO 4
4
ANÁLISE GEOSSISTÊMICA
4.1
AS UNIDADES INTERNAS DO GEOSSISTEMA
4.1..1 O alto, o médio e o baixo curso como geofácies
A opção pela da divisão do rio em alto, médio e baixo curso como unidades
internas do geossistema, consideradas como já foi dito como geofácies, obedeceu a
uma preocupação de caráter metodológico, no sentido da construção de um modelo
para análise, uma preocupação comum aos pesquisadores que trabalham com esse
paradigma.
Exemplo dessa preocupação pode ser visto no trabalho de Monteiro (2001),
onde o autor afirma que, ao falar sobre a montagem de um modelo, sobre o
problema da “modelização” acentuei ali a necessidade de modelos
múltiplos, sobretudo considerando as peculiaridades geográficas de
tamanho (continental), grau de desenvolvimento econômico e capacidade
científica e tecnológica. Apontava ali como requisitos básicos à modelização
dos “geossistemas” – veículo de compreensão das alterações naturais e
derivações antropogênicas […] MONTEIRO (2001, p.53;54).
No caso deste trabalho, (o paradigma do geossistema foi aplicado em uma
área de proporções bem menores do que as de tamanho continental citadas pelo
autor), a bacia hidrográfica em estudo foi considerada como um geossistema.
Adotou-se, então, a divisão comum aos estudos da Geografia sobre as bacias
hidrográficas, ou seja, a segmentação do rio em alto, médio e baixo curso, sendo
cada um desses segmentos do rio considerado como um geofácie.
132
Entre os requisitos básicos apontados por Monteiro (2001), para a
modelização dos geossisstemas, considerou-se que os aspectos socioeconômicos,
analisados divididos nas Áreas de Ponderação adotadas pelo IBGE no Censo 2000,
cumpriam a função proposta pelo autor. O próprio Monteiro (2001) fala sobre a
importância da integração dos elementos socioeconômicos. Segundo ele, é
importante que se considere a
montagem (do modelo) sob perspectiva de um Sistema Singular Complexo
onde os elementos socioeconômicos não sejam vistos como um outro
sistema, oponente e antogônico, mas sim incluído no próprio sistema […]
MONTEIRO (2001, p. 54)
A divisão em alto, médio e baixo curso como unidades internas do
geossistema, e a divisão de cada uma dessas unidades em Áreas de Ponderação,
cumpre o papel de manter uma sincronia entre os dados trabalhados.
Monteiro (2001, p.54), afirma ainda que os outros requisitos básicos são,
exatamente, a capacidade de manter (assumir) um jogo de relações sincrônicas; a
representação de uma inteireza diacrônica; simultaneidade e intimidade de
correlação na análise temporal; a necessidade de base de observação empírica; a
proposição de modelos (mais aperfeiçoados) a posterior e conjunção de análises
quantitativas e qualitativas.
Todos estes requisitos foram levados em conta na construção dos mapas
temáticos que fundamentaram a análise. A construção dos mapas temáticos teve
como base principal a análise de dados estatísticos e sua posterior projeção no
espaço.
Para facilitar a localização de cada área de ponderação foi construída a figura
27, do Capítulo 3 desta dissertação, que apresenta as áreas de ponderação e os
bairros que compõem a bacia hidrográfica em estudo.
133
O mapa temático apresentado na figura 28 mostra a distribuição da
população nas áreas em estudo, a partir do rol de porcentagem de população
residente em cada área, em relação à população total da bacia em termos
absolutos.
Figura 28. Distribuição da população nas áreas de ponderação da
bacia hidrográfica do rio Jaguaribe – SSA/BA.
Fonte: Salvador/PDDU/2004/IBGE/2000 – SEI/BA/2000.
Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007).
O mapa evidencia três áreas que, proporcionalmente à população total
residente, estão submetidas a uma “maior pressão” populacional em termos
absolutos, ou seja, áreas que possuem maior porcentagem de população residente
em termos quantitativos absolutos, em relação à população total da bacia.
São elas as que aparecem com a cor laranja mais claro na Figura 28, com
índice acima de 6,1%.
134
-
Vila Canária / Sete de Abril / Jardim Esperança;
-
Mussurunga.
-
São Marcos / Canabrava / Recanto das Ilhas / Colinas de Pituaçu / Vivenda dos
Pássaros / Vivendas do Campo / Nova Cidade / Jardim das Limeiras / Vale dos
Lagos / Paralela Park / Lagoa Verde;
É importante destacar que esta “pressão populacional” ocorre menos no alto e
no baixo curso e mais no médio curso do rio, sendo que nesse último caso podese interpretar como sendo a influência direta da implantação da Avenida Paralela,
que passou a funcionar como um dos agentes da concentração da população.
No médio curso foram implantados inúmeros conjuntos habitacionais de
diversas características, desde Mussurunga, com casas individuais térreas que
foram se verticalizando, até conjuntos de prédios como em Colinas de Pituaçu,
chegando a São Marcos e adjacências, o trecho mais populoso da bacia, com
ocupação popular bastante desordenada.
Próximo aos conjuntos habitacionais, implantados nos topos planos dos
morros, surgiram as ocupações irregulares nas encostas. Este modelo de ocupação
pode ser observado em toda a extensão do alto-médio curso do rio.
Ao mesmo tempo, o mapa da distribuição da população residente mostra que
existem três áreas de ponderação que possuem, proporcionalmente ao número total
de moradores, uma menor “pressão populacional”, em termos quantitativos
absolutos.
São elas as que aparecem com a cor mais clara da escala da Figura 28, com
até 3% de índice.
135
-
Stella Maris / Aeroporto;
-
Dom Avelar / Porto Seco -Pirajá;
-
Nogueira / Cajazeiras III.
Esses exemplos podem ser interpretados como reflexos da distância como
fator de dispersão, mas é importante destacar algumas outras características das
áreas com menor porcentagem de população. As do alto curso, envolvendo
Nogueira / Cajazeiras III e Dom Avelar / Porto Seco-Pirajá, que estão localizadas às
margens da BR-324, são áreas que possuem uso não apenas residencial, mas
também comercial e industrial, o que provavelmente explique a pequena
porcentagem de moradores. Esta baixa porcentagem de moradores em relação à
população total da bacia, portanto, não significa, necessariamente, que sejam áreas
menos ocupadas, mas que o uso do solo não é majoritariamente, ou
prioritariamente, habitacional/ residencial.
No caso de Stella Maris / Aeroporto, no baixo curso, ao contrário, se trata de
ocupação residencial e comercial de classe social mais elevada, com loteamentos e
arruamentos mais rarefeitos, implantados muitas vezes em áreas de dunas
protegidas por legislação ambiental específica. Nesse caso a baixa porcentagem de
população é explicada, de fato, por uma ocupação menos densificada.
Com a construção da Figura 29 foi feita a interpretação dos resíduos
encontrados no cálculo de Regressão Linear e Correlação, a partir do Desvio Padrão
da Reta de Previsão, (R), a partir de uma escala que varia de + 2,1 a -2,1, desde
aqueles que estão muito acima de R previsto até aqueles que estão muito abaixo de
R previsto.
136
Figura 29 - A quantificação dos resíduos em desvio padrão da reta de previsão.
Fonte: Salvador/PDDU/2004/IBGE/2000 – SEI/BA/2000.
Elaboração: CAETANO, Carlos .Alberto (2007).
Ou seja, as pessoas encontram dificuldades para estarem inseridas no
sistema produtivo que lhes garanta uma renda mensal aferida com o trabalho
assalariado, conforme a previsão calculada para as variáveis ser alfabetizado e ser
economicamente ativo. E os que estão localizados entre 0 e + 2,1 aparecem muito
acima da previsão.
Pode-se inferir que são os segmentos da população que sofrem mais com a
segregação sócio-econômica espacial, uma vez que as variáveis analisadas são ‘ser
alfabetizado’ e ‘ser economicamente ativo’.
137
Em relação ao mapa de quantificação dos resíduos, apresentado na figura 29,
um mapa temático quantitativo, é importante localizar nele algumas referências que
ajudam na interpretação: a cor mais clara indica aquelas áreas de ponderação que
estão mais próximas da reta de previsão, com seus valores variando entre + 1,0 e 1,0 (uma vez que considera-se que estar na reta significa ter valor igual a zero); os
dois tons alaranjados significam: o mais escuro, estar entre -1,0 e – 2,0 e o mais
claro estar acima de -2,1, ou seja, são as áreas onde evidencia-se a existência de
maior distância da previsão.
Com esses dados foi organizado o Quadro 14, com a “Configuração dos
Bairros e das Áreas de Ponderação [...]”, onde aparecem dois vazios, um na parte
mais alta, à esquerda do Quadro 14, e outro na parte mais baixa, a direita do
Quadro. Itapuã ocupa um espaço nesse vazio na parte baixa do quadro.
No alto curso do rio não existe nenhuma ocorrência entre +2,1 e + 1,1, ou
seja, não ocorrem casos de pessoas que estejam muito acima do previsto. Ao
contrario, ocorrem muitos casos de áreas com pessoas abaixo do previto e três
casos isolados de áreas com pessoas próximas da previsão.
No médio curso ocorre exatamente o contrario. Não existem grupos de
pessoas localizadas entre -1,1 e -2,1 e, a maior parte das pessoas encontram-se
localizadas acima de + 2,1, ou entre + 1,1 e 2.
138
Quadro 14 - Os vazios (brancos) sem registro de áreas de ponderação da bacia hidrográfica do rio
Jaguaribe, no alto curso e no médio-baixo curso.
Fonte: IBGE 2000 – SEI/BA/2000.
Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto, 2007.
139
Analisando os dados relativos ao baixo curso se pode ver que Itapuã aparece
isolada como área entre -1,0 e -2,0, no mesmo padrão em que aparecem, no alto
curso do rio Pirajá, Nogueira, Cajazeiras III, V, VII, X e XI. E, a grande maioria das
áreas do baixo curso aparecem acima de + 2,1, incluindo-se aí, significativamente, o
Bairro da Paz.
O que o Quadro 14 relativo ao agrupamento das áreas de ponderação a partir
do cálculo dos resíduos mostra é que, em plena orla marítima de Salvador, os
bairros de Itapuã e Nova Conquista constituem espaços isolados no que diz respeito
à correlação entre as variáveis ser alfabetizado e ser economicamente ativo. A
semelhança de sua posição no agrupamento com a das áreas do alto curso do rio,
de habitação de população proletária, é indicativa da transformação de Itapuã, um
antigo bairro de veraneio, com a presença marcante de colônias de pescadores, em
um bairro popular de características proletárias, com a ocorrência de favelas que se
transformam em guetos de exclusão social, bastante diversos da imagem de uma
Itapuã encantadora, cantada pelos poetas e pela publicidade.
Á partir dessa interpretação é possível inferir-se que nessas áreas se
manifestam evidências de segregação socioeconômica e espacial.
Outro aspecto importante e que merece ser destacado, diz respeito ao Bairro
da Paz, que aparece no mesmo patamar que Stella Maris, sendo a primeira uma
área de ocupação proletária e a segunda de ocupação de classe mais elevada.
A partir desses dados foi feito um trabalho de observação em cada uma
dessas áreas e, o que essa observação evidenciou é que os residentes são
alfabetizados e estão, em muitos casos, desempregados, mas nem por isso deixam
de ser considerados economicamente ativos. Aparece, portanto, como indicativo a
140
possibilidade de que o problema do desemprego seja mais evidente nessas áreas
do que no alto curso do rio, onde a implantação dos conjuntos habitacionais, muitas
vezes, foi destinada ao funcionalismo público estadual.
Outro caminho percorrido para interpretar essas ocorrências foi o de
comparar essas informações com as que foram obtidas através da construção dos
gráficos de freqüência. Antes, é importante que se faça uma diferenciação em
relação à análise possível a partir da construção de gráficos de freqüência da
análise que é possível fazer utilizando os cálculos de regressão linear e correlação.
Por ter uma renda média e mediana elevada, como se viu nos gráficos de
freqüência, Itapuã não seria considerada uma área onde a segregação
socioeconômica e espacial estivesse explicitada. Mas, diante dos cálculos de
regressão, a área de Itapuã e Nova Conquista aparecem abaixo da reta de previsão,
distantes entre – 1,1 e - 2,0 da mesma, numa situação similar à Nogueira e
Cajazeiras III, no alto curso do rio.
Portanto, se trata de uma população que tem dificuldade para ser
economicamente ativa ocupada, ou seja, estar integrada ao sistema de produção
através de um emprego, existindo um número elevado de pessoas que não aferem
renda do trabalho assalariado. Essa informalidade, caracterizada pelo fato de a
população ser economicamente ativa desocupada, transforma-se em uma
dificuldade que gera exclusão e produz conseqüências graves do ponto de vista
social, tornando o bairro de Itapuã um local onde se acumulam ocorrências
violentas, como se pode constatar pela capa do jornal A Tarde, de Salvador,
reproduzida na figura 30.
141
Figura 30 - Violência em Itapuã sai na
manchete do principal jornal do Estado
da Bahia.
Fonte: Jornal A Tarde.
A tendência é que essas áreas se transformem em palco de vários tipos de
violência e de ação de grupos de pessoas marginalizadas pelo sistema econômico,
e elas de fato estão à margem, já que não conseguem se inserir ou serem inseridas
no sistema produtivo e aferir renda através do trabalho assalariado.
Para se traçar um perfil com dados mais diversificados das populações que
habitam essas áreas de ponderação, se levou em conta que na construção dos
gráficos de freqüência percebeu-se que a segregação socioeconômica espacial
apareceu bastante evidenciada no gráfico sobre a parcela da população que teve
condições de ter 15 anos ou mais de estudo.
142
Foi por isso que se adotou como critério, usar a variável freqüência à escola
para construir mapas temáticos relativos a esse aspecto: buscou-se representar no
espaço os dados referentes à parcela da população que freqüenta escolas
particulares; que freqüenta escolas públicas; que não estuda mas já estudou e que
nunca estudou.
Foram produzidos quatro mapas referentes à como a população freqüenta a
escola ou não freqüenta: mapa da população que freqüenta escola pública; mapa da
população que freqüenta escola particular; mapa da população que nunca estudou e
mapa da população que já estudou mas parou de estudar.
Figura 31 - População que estuda em escolas particulares é maior no baixo curso do rio Jaguaribe.
Fonte: Salvador/PDDU/2004/IBGE/2000 – SEI/BA/2000.
Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007).
143
No baixo curso do rio está a maioria da população que freqüenta escolas
particulares, como pode ser visto na Figura 31, com índice acima de 15%, com
exceção para o Bairro da Paz e Lagoa do Abaeté que aparecem com índices mais
baixos. No alto curso do rio está a maioria que não freqüenta escola particular, com
exceção de Cajazeiras X e XI que aparecem numa situação intermediária. Pode-se
inferir, portanto, que a população do alto curso do rio, em sua maioria, depende do
acesso à educação pública e gratuita para estudar.
No médio curso do rio tem-se o caso de São Marcos que aparece na mesma
faixa intermediária de Cajazeiras X e XI. Mas a grande maioria aparece com índice
baixo de pessoas que estudam em escolas particulares e tem-se ainda o caso de
São Cristóvão em situação similar às taxas mais baixas do alto curso.
Figura 32 População que estuda em escolas públicas concentra-se no alto-médio curso do rio
Jaguaribe.
Fonte: Salvador/PDDU/2004/IBGE/2000 – SEI/BA/2000.
Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007).
144
A situação se inverte quando é analisada a situação da parcela da população
que estuda em escolas públicas, como mostra a Figura 32. Os mais baixos índices
estão no baixo curso, com exceção do Bairro da Paz que aparece com os índices
mais altos. No médio curso, São Cristóvão e Mussurunga aparecem numa situação
entre o intermediário e o mais alto e todo o restante aparece com um índice baixo (o
segundo mais baixo) de população que estuda em escola pública.
No alto curso se tem, praticamente, todas as áreas de ponderação com seus
moradores em idade escolar dependendo totalmente da escola pública, com índices
sempre acima dos 25%, com exceção de Dom Avelar/ Porto Seco-Pirajá que
aparece com um índice um pouco mais alto.
Figura 33 - População que não estuda, mas já estudou é mais distribuída nas três unidades da bacia
hidrográfica do rio Jaguaribe.
Fonte: Salvador/PDDU/2004/IBGE/2000 – SEI/BA/2000.
Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007).
145
A análise da população que não estuda mas já estudou, mostrada na Figura
33, apresenta uma situação mais bem distribuída. É provável que este fato seja
atribuído a fatores como a pessoa já ter se formado - por exemplo no ensino médio,
ou no ensino superior, mas os dados da pesquisa não foram cruzados neste sentido,
pelo fato de esta questão não foi considerada prioridade no tipo de interpretação que
estava sendo feita.
Vale o destaque de que no alto curso aparecem os índices mais baixos de
pessoas que não estudam mas já estudaram. No médio curso só aparecem com
índices baixos São Cristóvão e Calabetão, Granjas Presidente Vargas e Jardim
Santo Inácio. No baixo curso apenas o Bairro da Paz aparece com baixo índice.
Figura 34 - População que nunca estudou aparece mais no alto-médio curso do rio Jaguaribe.
Fonte: Salvador/PDDU/2004/IBGE/2000 – SEI/BA/2000.
Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007).
146
A análise da população que nunca estudou, como mostra a figura 34,
desenha uma situação bem peculiar. No baixo curso aparecem os mais baixos
índices de pessoas que nunca estudaram, com exceção da área de ponderação do
Abaeté e Nova Brasília, que aparece com os mais altos índices da bacia, acima de
17%, quase o dobro do Bairro da Paz, que está entre 9 e 11%.
No médio curso, São Marcos e Mussurunga aparecem com o mesmo índice
do Bairro da Paz, mas está no Calabetão, Granja Presidente Vargas e Jardim Santo
Inácio, o índice mais alto do médio curso. No alto curso, com índice mais baixo
aparecem apenas Cajazeiras X e XI, podendo ser agrupadas as outras áreas entre
um índice mais alto, de 15 a 17% (Valeria; Bico Doce, Águas Claras, Castelo
Branco) e mais baixo, de 12 a 14% (Nogueira e Cajazeiras III).
A área de ponderação de Stella Maris / Aeroporto aparece nos mapas sobre
freqüência à escola com a seguinte característica: ela está entre as que possuem
mais alta taxa de moradores com 10 anos ou mais que freqüentam escolas
particulares (20% ou mais) e baixa porcentagem de residentes em idade escolar que
freqüentam escolas públicas (até 20 %).
Tal área possui, ainda, baixa porcentagem de população que nunca estudou,
8% e alta porcentagem entre aqueles que já estudaram e não estudam mais, acima
de 54%, o que indica como correta a interpretação de que este dado diz respeito a
pessoas que são formadas.
A área de Stella Maris / Aeroporto localiza-se acima da reta de previsão
dentro da classe mais alta, acima de + 2.1 de desvio padrão. Os números
evidenciam ainda que os moradores do Bairro da Paz, no que diz respeito a “ser
alfabetizado” e “ser economicamente ativo”, ocupam uma posição similar à dos
moradores de Stella Maris / Aeroporto.
147
Nesse sentido, se torna importante analisar outros aspectos que podem ser
encontrados no Bairro da Paz para buscar uma melhor compreensão dessa
“contradição”. Vale destacar que, metodologicamente, a análise das contradições é
um dos aspectos mais destacados do materialismo dialético.
O Bairro da Paz aparece no mapa de população na segunda classe de
porcentagem com entre 3 e 4% da população total da bacia. Não é uma
porcentagem alta, portanto. A área de ponderação possui, no entanto, a mais alta
porcentagem de população em idade escolar que estuda em escolas públicas, acima
de 31%.
Em relação ao item “nunca estudou”, possui uma porcentagem baixa, na
segunda classe da escala, com entre 9 e 11%, numa posição bastante “melhor” do
que áreas como Abaeté e Nova Brasília, por exemplo, que está na quinta e última
classe, acima de 17% e São Cristovão, de 15 a 17%, para falar de dois de seus
vizinhos mais próximos.
Ao mesmo tempo, o Bairro da Paz está na classe mais baixa no que diz
respeito a quem “não estuda, mas já estudou”, com até 48%, o que significa que
muitos dos seus moradores ainda estudam e, provavelmente, poucos são formados.
E, pode parecer óbvio, mas está entre as áreas que possuem a menor porcentagem
de residentes em idade escolar que freqüentam escolas particulares, até 8%.
Isto significa que o Bairro da Paz também merece uma política pública
própria, por se tratar de uma população que é economicamente ativa, que estuda,
mas absolutamente não recebe o mesmo tratamento – em termos de direito à
cidade, direito à educação – que a população residente numa área como a de Stella
Maris / Aeroporto, para se comparar dois extremos.
148
Sobre o Bairro da Paz é importante apresentar alguns outros dados obtidos
na análise do Censo 2000 : a diferença real de renda entre os moradores do Bairro
da Paz e de algumas localidades do alto curso do rio (Cajazeiras, Bico Doce,
Palestina, Boca da Mata e Águas Claras), entre outros, não é significativa.
Também foram analisadas outras áreas da bacia que possuem menor
porcentagem de população, em termos absolutos, para que fosse possível fazer um
paralelismo com as áreas citadas acima. Algumas destas áreas estão localizadas no
alto curso do rio e aparecem no mapa de resíduos abaixo da reta de previsão, o que
as diferencia bastante do Bairro da Paz e de Stella Maris / Aeroporto.
A área de ponderação de D. Avelar / Porto Seco Pirajá é a que aparece
abaixo da reta de previsão com a distância equivalente a que o Bairro da Paz e
Stella Maris / Aeroporto aparecem acima: D. Avelar / Porto Seco-Pirajá estão a – 2,1
da reta.
É importante destacar, ainda, o caso de Nogueira e Cajazeira III, que
aparecem com entre -1,1 e -2,0 da reta de previsão. Portanto, áreas ocupadas por
parcela de população que pode ser considerada das mais segregadas entre as que
ocupam a área da bacia.
Vale, também, o destaque de que entre as Cajazeiras, se deve analisar
especificamente o caso Cajazeiras XI, uma vez que se encontra no gráfico de
freqüência a informação de que essa área possui o menor índice de pessoas sem
instrução. Sob este aspecto, Cajazeiras XI pode ser comparada com Itapuã,
independente de que uma esteja localizada no alto curso do rio e outra no baixo
curso.
149
Comparando estas Informações com a análise feita a partir dos gráficos de
freqüência, no Gráfico 9, sobre população com 15 anos de estudo ou mais, D. Avelar
/ Porto Seco-Pirajá aparecem, entre os menores índices obtidos em segundo lugar,
antecedido pelo Bairro da Paz, que aparece em primeiro com o menor índice,
praticamente sem pontuar. No Bairro da Paz, poucas pessoas tiveram oportunidade
de estudar 15 anos ou mais.
Mas, é importante se perceber que, no Gráfico 8, sobre população sem
instrução, não é no Bairro da Paz que está a maior parcela sem instrução: a maior
parcela da população sem instrução que habita a bacia reside em São Marcos. É
prudente que se tenha o cuidado de analisar esse dado do ponto de vista de que
São Marcos possui, também, a maior população em termos absolutos dentro da
bacia, o que pode causar, de alguma forma, uma certa distorção.
4.2
O SALTO QUALITATIVO
Ao se utilizar o método de abordagem do materialismo dialético, além da
estruturação da interpretação a partir da construção de uma afirmação e uma
negação, para se chegar à negação da negação, num tripé de tese, antítese e
síntese, é fundamental que se proceda a um salto qualitativo, ou seja, que os dados
quantitativos apresentados sejam transformados em qualidade, obedecendo assim
as leis da dialética. Por isso a interpretação dos dados estatísticos foi pontual, no
sentido de construir uma imagem da área em estudo com o objetivo de se focar o
olhar qualitativo sobre a área em estudo.
150
4.2.1 Quando a quantidade vira qualidade
Para complementar a interpretação optou-se inserir a construção de um mapa
qualitativo qualitativo a partir dos cálculos de resíduos, realizando assim o
procedimento da metodologia que diz respeito à lei da dialética explicitada
anteriormente.
A quantidade de resíduos obtidos no cálculo de regressão, que dizem respeito
ao desvio padrão, ao invés de ser tomada em sua quantificação, (quantidade de
desvio padrão que distancia a área de ponderação da reta de previsão), foi tomada
como Informação qualitativa, no sentido de a área de ponderação estar abaixo da
reta de previsão; estar próximo ou sobre a própria reta de previsão; ou estar acima
dela.
O resultado foi o mapa apresentado na figura 35, onde, a partir de uma reta
estimada ou ajustada, foram definidas essas qualificações para as áreas de
ponderação.
151
Figura 35. Representação qualitativa dos resíduos entre ser alfabetizado e
ser economicamente ativo na bacia hidrográfica do rio Jaguaribe.
Fonte: Salvador/PDDU/2004/IBGE/2000 – SEI/BA/2000.
Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007).
Do ponto de vista do mapa da representação qualitativa dos resíduos entre
‘ser alfabetizado’ e ‘ser economicamente ativo’, na bacia hidrográfica do rio
Jaguaribe, a partir do estabelecimento de uma reta estimada ou ajustada, com os
cálculos de correlação e regressão linear simples, apenas uma área, a do Bairro da
Paz, aparece exatamente sobre a reta de previsão, ou seja, nessa área, a
correlação entre ser economicamente ativo e ser alfabetizado está exatamente como
o previsto pelo cálculo da regressão linear simples. Na Figura 35, essa área aparece
com a cor mais clara, de forma diferenciada de todas as outras áreas de ponderação
que compõem a bacia.
152
Trata-se, de fato, de uma área com características bastante específicas, que
já foram analisadas anteriormente.
Itapuã surge como a única área no baixo curso que tem uma mesma
qualificação que as áreas do alto curso. Fora Itapuã e o Bairro da Paz, todo o
restante do médio-baixo curso aparece com uma mesma qualificação do ponto de
vista de ser alfabetizado e ser economicamente ativo.
Qual o motivo dessa “identidade” entre Itapuã e as áreas de ponderação
localizadas no alto curso do rio? Mais uma vez aponta-se para a interpretação da
mudança que Itapuã sofreu nos últimos 30 anos, particularmente a partir do Projeto
Orla, realizado na década de 1980. O que era um bairro de veraneio, uma aprazível
colônia de pescadores, tornou-se um bairro proletário, com inúmeras invasões
irregulares.
Itapuã passou a ser um a espécie de bairro dormitório, moradia de
trabalhadores de classes sociais diversas, todos integrantes da população
economicamente ativa, ocupada ou desocupada. Os perfis da população de Itapuã
também já foram analisados anteriormente, ao mesmo tempo que se analisou os
dados relativos ao Bairro da Paz.
4.3
RECURSOS, USOS E PROBLEMAS
A visão dos rios como destinatários de esgotos domésticos prevaleceu
durante o século XX e ainda prevalece em grande parte do curso do Rio Jaguaribe.
O programa Bahia Azul, do Governo do Estado, em relação à bacia em estudo, foi
executado apenas no médio-baixo curso e, em muitos aspectos, não cumpriu suas
propostas relativas ao saneamento básico da área.
153
Desde os anos 1970, com a execução do projeto de implantação da avenida
Paralela e a consolidação do seu entorno como principal eixo de expansão da
cidade de Salvador, diversos projetos habitacionais foram desenvolvidos no
chamado “miolo” da capital baiana, onde estão localizadas as principais nascentes
que alimentam o rio Jaguaribe.
Com a implantação destes projetos habitacionais nas cumeadas do morros,
as encostas foram deixadas inicialmente com sua cobertura vegetal original, sendo
ocupadas entre os anos 1980 e 2000 por invasões promovidas por população de
classe mais baixa. Nos vales do rios foram construídas diversas lagoas de
decantação de esgoto para realizar o “tratamento” dos efluentes oriundos dos
conjuntos habitacionais, implantados nos topos planos dos morros.
4.3.1 As lagoas de decantação de esgoto
Intervenção encontrada na bacia hidrográfica do Rio Jaguaribe de grande
impacto ambiental, a implantação de diversas lagoas de decantação de esgoto
doméstico no alto e no médio curso do rio, embora tenham um acompanhamento da
Embasa, órgão oficial do Governo do Estado que cuida do abastecimento de água e
do saneamento básico, têm um funcionamento que deixa muito a desejar, do ponto
de vista da qualidade ambiental.
Essas lagoas de decantação interferem no equilíbrio do geossistema como
um todo, embora sejam de pequenas dimensões, alguns metros quadrados. A
preocupação com essas lagoas de decantação na construção do trabalho de campo
desta pesquisa, surgiu em reuniões com integrantes da ONG Cajaverde, que atua
sócio-ambientalmente na área de Águas Claras / Cajazeiras / Nogueira / Dinurb /
154
D.Avelar / V. Canária / Castelo Branco e Sete de Abril, entre outros bairros, ou seja,
basicamente no alto curso do rio Jaguaribe. Os moradores chamam tais lagoas de
“pinicões”, o que dá uma visão do que elas representam do ponto de vista do senso
comum.
Essas lagoas de decantação existentes no alto-médio curso do rio Jaguaribe
foram implantadas e são administradas pela Embasa, Empresa Baiana de Águas e
Saneamento S.A., através de seu órgão denominado OMET – Operação
Metropolitana de Esgoto e Tratamento .
Segundo Chagas Neto (1995), responsável pela Operação Metropolitana de
Esgoto e Tratamento (OMET), da Embasa, as lagoas de decantação identificadas no
alto-médio curso do rio, fazem parte dos chamados Sistemas Biológicos de
Tratamento e são do tipo lagoas aeradas facultativas em série.
Lagoas de estabilização são reservatórios escavados na terra, geralmente
com profundidade rasas, podendo ser constituídas por um ou vários
reatores em série. Em geral têm uma execução fácil, manutenção e
operação de baixo custo e uma aquisição de terreno relativamente baixa
em zonas não densamente povoadas. Entretanto, sua eficiência e a
capacidade de absorver grandes choques hidráulicos e orgânicos fazem
das lagoas de estabilização uma alternativa bastante atrativa para uso
amplo em todo o mundo (Silva, 1982); (Arthur, 1983); (Mara, 1986) e
(Oliveira, 1990), apud CHAGAS NETO, 1995, p.13.
O
funcionamento
dessas
lagoas
tem
por
referência
um
processo
absolutamente natural, com base na atividade de microorganismos da sua biota,
particularmente algas e bactérias, que utilizam C02 resultante do metabolismo
bacteriano e liberam 02 resultante da fotossíntese.
As lagoas são sistemas altamente eficiente para eliminar organismos
patogênicos, sendo apontadas como o mais eficiente entre os sistemas de
tratamento convencionais. Enquanto os demais processos só alcançam
valores entre 90% e 98%, nas lagoas estes resultados alcançam valores de
99,9% a 99,999% (Mara, 1976); (Silva, 1982) e (Oliveira, 1990), apud
CHAGAS NETO, 1995, p. 14).
155
O responsável pela OMET assegura que o resultado do processo de
tratamento que sai das lagoas tem melhores condições ambientais que o próprio rio
que chega até ali (ao ponto onde recebe o resultado do processo de tratamento),
uma vez que o rio continua recebendo esgotos através de ligações diretas feitas
pela população.
Não cabe aqui discutir o “por que” de a população lançar esgoto diretamente
no rio, mas o funcionamento das lagoas em si. Na verdade, muitas delas
transbordam durante os períodos de chuvas intensas ou são invadidas pelo
transbordamento dos riacho, uma vez que as lagoas de decantação estão sempre
localizadas nas planícies de inundação de algum deles.
Entre a população da área do alto curso da bacia que, como já foi dito, chama
essas lagoas de pinicões, é muito comum nos dias de chuva intensa, surgir a
informação de que “o pinicão da VII transbordou”, o que significa que a Lagoa de
Decantação de Fazenda Grande VII foi invadida pelo rio Águas Claras, em
decorrência do entupimento do canal do rio, que passa sob a pista localizada ao
lado da lagoa.
A OMET diz que a responsabilidade do entupimento do canal do rio Águas
Claras é da Prefeitura Municipal de Salvador, que deveria fazer a manutenção e
limpeza do canal do mesmo e não faz. Aqui não importa estabelecer de quem é a
responsabilidade pelos fatos apresentados.
Na seqüência de figuras de 36 a 47 estão registradas todas as lagoas de
decantação existentes no alto e no médio curso do rio Jaguaribe, resultado de um
trabalho de identificação realizado em campo, em laboratório e numa pesquisa no
banco de dados da OMET/Embasa.
156
Figura 36 - Lagoas de decantação localizadas no alto curso do rio.
Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007).
157
Figura 37 - O Aterro de Canabrava e as lagoas de decantação do médio curso.
Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007).
158
Figura 38 - Imagem de satélite Quick Bird (2005) permitiu localizar as lagoas de
decantação no alto curso.
Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007).
159
Figura 39. As três lagoas de decantação João de Barros, do rio Águas Claras.
Fonte: Quick Bird (2005).
Figura 40 . As duas lagoas de decantação de Fazenda Grande VII.
Fonte: Quick Bird (2005)
Essas lagoas de decantação carecem de um trabalho específico de gestão
que envolva as comunidades localizadas no seu entorno. A grande “reclamação”
feita pelo gestor da OMET/Embasa é de que setores da população roubam e
depredam as instalações das Estações de Tratamento.
160
Figura 41. A proximidade entre o braço do rio canalizado e a lagoa de decantação.
Foto: Luiz Henrique Souza, 2006.
Quando ocorrem chuvas intensas em um curto período de tempo, o Rio
Águas Claras é represado pelo lixo na altura em que o mesmo é canalizado sob a
pista, ao lado da lagoa de decantação de Fazenda Grande VII. O rio transborda,
sai para a planície de inundação, invade a lagoa e volta para o leito após a
canalização, levando o esgoto e o lodo que estavam depositados no fundo da
lagoa de decantação.
161
Figura 42 . Detalhe das três lagoas do sistema do rio Cambunas.
Fonte: Quick Bird, 2005.
Elaboração; CAETANO,Carlos Alberto, 2007.
Figura 43. Outro detalhe da maior lagoa de decantação do rio
Cambunas.
Foto: Luiz Henrique Souza, 2006.
162
Figura 44. Lagoa de decantação do rio Cambunas e as encostas ocupadas
irregularmente.
Foto: Luiz Henrique Souza, 2006.
Figura 45. A proximidade entre as casas na encosta e a lagoa de
decantação de Cambunas.
Foto: Luiz Henrique Souza, 2006.
163
Figura 46 . As casas na encosta e a lagoa de decantação no vale do rio
Cambunas.
Foto: Luiz Henrique Souza, 2006.
Figura 47. Uma das lagoas do sistema Cambunas encontra-se desativada e
aparece aterrada no centro da figura.
Fonte: Quick Bird, 2005.
Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007).
164
Figura 48. No médio curso do rio, o que sobrou do Aterro de Canabrava.
Fonte: Quick Bird, 2005.
Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007).
O Aterro de Canabrava foi desativado e transformado em Parque
Ambiental e tem recebido uma série de cuidados para diminuir ou “administrar” o
impacto da sua presença. Existe um estudo específico sobre o aterro, realizado
em nível de dissertação de mestrado, trabalho de pesquisa indicado com a
referência Brito (2005).
165
Figura 49. Lagoa de decantação de Jaguaribe II, ao lado do curso do rio.
Fonte: Quick Bird, 2005.
Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007).
Figura 50. No médio curso a lagoa de Mata Atlântica desativada e seca.
Fonte: Quick Bird, 2005.
Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007).
166
CAPÍTULO 5
5
ATUAIS E FUTURAS INTERVENÇÕES
O PDDU - Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Salvador – elaborado
e proposto pelo governo do município em 2002, apresentou algumas intervenções
previstas na área da bacia hidrográfica do rio Jaguaribe, com previsão de supressão
da cobertura vegetal na área,como se vê na figura 51.
.
Figura 51. VERDE previsto para 2015 no zoneamento proposto pelo PDDU.
Fonte: A Tarde, Salvador: 29 março 2005. Diário.
Elaboração: CAETANO, Caarlos.Alberto (2007).
No que diz respeito à cobertura vegetal proposta pelo zoneamento para a
área em estudo, é possível ver na figura 51 que, com base no PDDU, está prevista a
supressão dessa cobertura vegetal em grande parte da bacia, restando uma
167
pequena mancha de vegetação no bairro do Pau da Lima (Horto Florestal / Mata dos
Oitis) e outra pequena mancha no entorno da Lagoa do Abaeté, em Itapuã.
Quatro grandes projetos foram planejados e alguns já se encontram em fase
de implantação nessa área da bacia: o Alphaville Salvador 1 (de um lado da avenida
Paralela, no sentido Centro/Aeroporto); o Alphaville Salvador 2 (do outro lado da
avenida Paralela, no sentido Aeroporto/Centro, após o Wet’n Wind); a construção da
Av. 29 de março nas margens do próprio rio Jaguaribe, ligando a avenida Paralela à
BR-324 e a implantação do Parque Tecnológico de Salvador – o Projeto Tecnovia - ,
num terreno que inicialmente era de 580 mil metros quadrados na área de
articulação entre as avenidas Paralela e a “futura” Av. 29 de março, também próxima
do atual Wet’n Wild.
O Projeto Tecnovia prevê que o mesmo poderá ser ampliado para um milhão
de metros quadrados e o Ministério Público colocou em questionamento a licença
ambiental para a construção da chamada Avenida Marginal, que ligaria o Alphaville
2 à avenida Paralela, deixando prevista sua futura conexão com a Av. 29 de Março.
Além do Projeto Tecnovia e da Avenida 29 de março, também é discutido nos
bastidores dos governos municipal e estadual a hipótese de que uma área seja
cedida para a construção da nova sede do Esporte Clube Vitória, como se vê na
figura 52.
168
Figura 52. Localização da Av. 29 de março; do Projeto Tecnovia e da sede do
E. C. Vitória.
Fonte: SARAYBA PATRIMONIAL (2006)
Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007).
Todos esses projetos desenvolvidos para serem implantados na área em
estudo puderam ser monitorados pelas imagens de satélite levantadas por este
trabalho de pesquisa, como o caso de Alphaville 1, que pode ser visto na figura 53.
169
Figura 53. Detalhe do impacto de Alphaville 1 visto por satélite e imagem
aérea.
Fonte: SPOT 4/comp. col. (Verde/Vermelho/Infravermelho prox. – res. 10m
(2005).
FOTO/Divulgação Alphaville (2005).
ELABORAÇÃO: CAETANO, Carlos Alberto (2007).
170
Diante dessas informações optou-se por construir a carta temática da
cobertura vegetal existente em 2005, como se vê na figura 54, que mostra a
cobertura vegetal menor que as áreas com outros usos. Ressalva-se que a área da
bacia usada como referência é anterior à exclusão da área da bacia hidrográfica do
rio Passa Vaca.
Figura 54. Em 2005 a cobertura vegetal era menor do que a área usada para outros fins.
Fonte. Satélite SPOT 4 (2005).
Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007).
171
Combinando a carta temática apresentada na figura 54 com a própria imagem
do satélite e, lançando sobre ela o traçado do eixo principal da Av. 29 de março e do
Projeto Tecnovia, é possível visualizar o impacto que ocorrerá sobre o sistema de
drenagem da bacia hidrográfica e sobre a cobertura vegetal da área.
Figura 55. Remanescente de Mata Atlântica sofrerá grande impacto com
projetos.
Fonte: SPOT 4; BRITO (2005).
Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007)
172
Como se pode ver na figura 55, independente de que sejam cumpridos todos
parâmetros e os licenciamentos ambientais exigidos por lei, há uma questão que
deve ser colocada e que diz respeito à bacia hidrográfica do rio Jaguaribe como uma
totalidade, como um geossistema: existe uma degradação “estrutural” e sistemática
da bacia, que está relacionada com a perda de qualidade ambiental dos espaços
urbanos.
Do ponto de vista da cobertura vegetal, trata-se de algo como a crônica de
uma morte anunciada. Isso evidencia a importância da análise desse rio como um
geossistema e o planejamento de qualquer intervenção ao longo da bacia como uma
intervenção que diz respeito à estrutura do seu funcionamento como totalidade.
Figura 56. Ilustração da apresentação do Projeto Tecnovia, com
a av. Paralela à direita.
Fonte: Secretaria de Inovação e Tecnologia do Estado da Bahia/
2005.
Os projetos apresentados para a Tecnovia, para a Av. 29 de março e para
uma eventual nova sede do Esporte Clube Vitória, seguem uma lógica comum: a
apropriação do espaço urbano pelo capital, como forma de obtenção de renda
monopolista, demonstrando a existência de um elemento de causa circular e
173
cumulativa em funcionamento na dinâmica dos investimentos nessa área de
Salvador, transformada em uma verdadeira máquina de crescimento urbano, onde
existe o que Harvey (2005) chama de orquestração da dinâmica do processo de
investimento capitalista.
A implantação do Projeto Tecnovia , conforme mostra a figura 56, segundo o
órgão responsável pela sua implantação, a Secretaria de Ciência, Tecnologia e
Inovação, do governo do Estado da Bahia, será feita em diversas fases, sendo a
primeira delas prevista para ocorrer a partir do primeiro semestre de 2008.
Muitos condomínios residenciais foram construídos dentro da lógica do
investimento capitalista nas margens do rio Jaguaribe, alguns deles nas chamadas
planícies de inundação, como os que se vê na figura 57, na Avenida Orlando
Gomes, esperando os novos moradores que virão com o novo “boom” imobiliário.
Figuras 57. Condomínios implantados na planície de inundação
do rio na avenida Orlando Gomes.
Foto: CAETANO, Carlos Alberto (2005).
174
Alguns destes novos condomínios implantados na Avenida Orlando Gomes,
às margens do rio Jaguaribe, já estão habitados, aumentando a pressão sobre o
equilíbrio ambiental do rio e oferecendo “isolamento” aos seus moradores, em
relação às graves questões sociais existentes na área.
Figura 58. A ocupação “irregular” do bairro da Paz (fundo) e a
ocupação “regular” de um condomínio.
Foto: CAETANO, Carlos Alberto (2005).
Nesse isolamento em busca de segurança e no desejo de se estabelecer
longe da população mais pobre, a elite local não percebe que também está cativa do
capital internacional, o capital global. Que o isolamento que ela busca também é
uma forma de trancar-se em um cativeiro. Ainda que um ‘cativeiro especial’, como
são chamadas as celas dos presídios para aqueles que possuem educação de nível
superior.
Por outro lado, o capital global se preocupa sempre em não destruir
totalmente a singularidade da área onde está obtendo lucro, essa singularidade é
uma das bases para a apropriação das rendas monopolistas. Assim, ainda segundo
Harvey (2005), para o capital global é importante manter alguns aspectos da
singularidade, maquiar a nova realidade com cores de uma falsa autenticidade.
175
Essa singularidade se manifesta muitas vezes no caso de Salvador no apelo
a um certo tipo de ‘baianidade’; no estímulo ao orgulho de ser baiano; no caráter
afrodescendente da população; nas manifestações culturais ligadas àss chamada
matrizes africanas. Todos estes discursos têm um caráter exclusivamente
ideológico, no sentido de esconder a verdadeira realidade que é a busca
desenfreada pela obtenção do lucro.
O discurso ideológico assumido atualmente pelos responsáveis pelos
investimentos na área da bacia hidrográfica do Rio Jaguaribe, está associado à
construção de centros de alta tecnologia e inovação, como é o caso da Tecnovia,
com a ‘promessa’ de geração de emprego e renda para a população local. Essa
tecnologia, na verdade, está sendo usada como um instrumento da lógica
hegemônica para obter lucros na apropriação do espaço urbano.
Enquanto isso a população de classe mais baixa estabelecida ao longo da
bacia encontra cada vez mais dificuldade para deixar de ser economicamente ativa
desocupada e passar a ser economicamente ativa ocupada, fato que se estende
para fora dos limites da bacia hidrográfica e caracteriza, na verdade, a cidade ou
metrópole global em que Salvador se transformou, com grande prejuízo para a
relação entre a sociedade e o ambiente, ou seja, para a produção e reprodução do
espaço.
176
CAPÍTULO 6
6
CONSIDERAÇÕES FINAIS
6.1
CONSIDEDRAÇÕES FINAIS
A interpretação proposta nesta dissertação, uma análise da bacia hidrográfica
do rio Jaguaribe, Salvador – BA, do ponto de vista da lógica hegemônica da
produção e reprodução do espaço, a partir do par de opostos concentração e
dispersão, tendo como referências a cobertura vegetal e as ações antrópicas,
mostrou-se adequada, uma vez que se comprovou que a cobertura vegetal está
sendo eliminada na área, na medida em que o capital usa a posse da terra para
aferir lucros.
Além disso, analisou-se neste trabalho a relação que esse par de opostos
estabelece com a segregação socioeconômica espacial, constatando-se que há uma
relação direta entre a supressão da cobertura vegetal e o aumento da segregação
socioeconômica espacial.
Por outro lado, olhando a bacia do ponto de vista da obtenção de ganhos de
capital, isto é, do ângulo da obtenção de rendas com a posse da terra, se vê uma
movimentação dos empresários do setor no sentido de ocupar o remanescente de
Mata Atlântica existente em torno do empreendimento denominado Wet’n Wild, na
avenida Paralela, com projetos apresentados a pretexto de estimular o
desenvolvimento sustentável da área bem como a geração de emprego e renda para
a população soteropolitana.
177
É possível observar, portanto, que a lógica da obtenção do lucro com a
produção e reprodução do espaço urbano está atuando na área de forma
orquestrada, a partir dos interesses dos proprietários dos terrenos. Eles querem
apenas obter rendas monopolistas com a posse da terra, em que pese a completa
supressão da cobertura vegetal de remanescente de Mata Atlântica. E os governos
do município e do Estado alegam que são terrenos particulares, que a lei não pode
impedir esse processo, desde que sejam respeitados alguns parâmetros de
licenciamento ambiental.
Assim, considera-se que:
•
A utilização de uma bacia hidrográfica mostrou-se compatível como marco
físico para uma análise socioeconômica ambiental;
•
O geossistema, como paradigma, possibilitou a quebra da dicotomia existente
entre a Geografia Física e a Geografia Humana, estimulando uma análise
mais integrada e a construção de um conhecimento mais complexo;
•
O geossistema, enquanto totalidade, foi utilizado na análise da bacia
hidrográfica, menos como forma de manifestação da aparência e mais como
essência do evento;
•
O geossistema evidenciou também ser compatível com a projeção de dados
estatísticos socioeconômicos nas suas unidades internas;
•
As unidades internas do Geossistema, os Geofácies, definidas originalmente
por um viés físico, operacionalizaram a projeção no espaço geográfico dos
dados estatísticos, permitindo ainda a aplicação da Lei da Dialética do salto
qualitativo;
178
•
Os geofácies, definidos pelos cursos do rio, mostraram-se dinâmicos ao
retratar a relação entre a cobertura vegetal e a expansão urbana;
•
As variáveis utilizadas foram corretas e apresentaram como resultado o
reflexo da práxis social projetada no espaço;
•
As variáveis que melhor estamparam a segregação socioeconômica espacial,
como resultado da lógica hegemônica foram “ser alfabetizado” – variável
independente – , e “ser economicamente ativo” – variável dependente;
•
A
estatística
pode
possibilitar
interpretações
qualitativas,
como
as
estabelecidas pelos cálculos de regressão linear e correlação efetuados;
•
A correlação entre as variáveis “ser alfabetizado” e “ser economicamente
ativo” possibilitou uma análise específica da segregação socioeconômica
espacial, pouco usual nos estudos a respeito desse evento;
•
A pesquisa evidenciou o que caracteriza como a perda quase total da
cobertura vegetal de uma bacia hidrográfica urbana, em função da obtenção
de rendas monopolistas pelos especuladores imobiliários;
•
Comprovou-se a evidência de que os projetos ditos de urbanização e
desenvolvimento urbano não levam em conta os aspectos sociais e muito
menos os ambientais;
•
Tais empreendimentos não ajudam a resolver a grave situação de
segregação socioeconômica espacial e ainda agravam o equilíbrio ambiental.
179
6.2
RECOMENDACOES
•
Redefinição em caráter oficial da área da bacia hidrográfica do rio Jaguaribe;
•
Exclusão da área da bacia hidrográfica do rio Passa Vaca da área da bacia
hidrográfica do rio Jaguaribe;
•
Estabelecimento do rio Trobogy como último afluente do rio Jaguaribe;
•
Realização de estudos específicos de Geologia relativos às evidências das
falhas geológicas localizadas;
•
Utilização das lagoas de decantação de esgotos para produção de lodo de
esgoto, seguindo resolução do CONAMA a respeito;
•
Reaproveitamento agrícola desse logo de esgoto gerando trabalho e renda;
•
Implantação de programa educacional específico sobre a função ambiental do
rio Jaguaribe nas escolas do ensino fundamental e médio localizadas na área
da bacia.
•
São Marcos, Canabrava, Rec. Ilhas, Colinas de Pituaçu, Viv. Dos Campos,
Viv. Dos Pássaros, Nova Cidade, Jd. Limeiras, Vale Lagos, Paralela Park e
Lagoa Verde têm maior população da bacia, gerando maior impacto na
relação entre sociedade e natureza.
•
Utilização das lagoas de decantação implantadas no alto-médio curso do rio
para implantação de um programa de gestão e manejo envolvendo as
populações vizinhas, gerando trabalho e renda.
•
Estabelecimento
de uma
política
pública
específica para a
gestão
socioeconômica e ambiental da bacia, com o envolvimento das populações
que habitam a área, com destaques para os seguintes aspectos:
180
•
A área de ponderação de Itapuã e Nova Conquista, no baixo curso, está
caracterizada como local de ocorrência de segregação socioeconômica
espacial idêntica a que ocorre nas áreas do alto curso do rio;
•
A área de ponderação de Nogueira e Cajazeira III, no alto curso, carece
urgentemente do desenvolvimento de uma estratégia de inclusão social de
seus moradores;
•
A área de ponderação do Bairro da Paz apresenta uma grande carência de
escolas públicas, inclusive destinadas a pessoas jovens e adultas, que não
tiveram oportunidade de ter acesso à continuidade de seus estudos;
•
As áreas de ponderação da Lagoa do Abaeté e Nova Brasília; Alto do
Coqueirinho, Km 17, Parque de Exposições e Vila dos Ex-Combatentes
aparecem com os mais altos percentuais de população que pode ser
considera negra no baixo curso e praticamente na bacia, podendo ser objeto
de uma política pública específica.
•
As áreas de ponderação Cajazeira, Bico Doce, Palestina, Boca da Mata e
Águas Claras e Castelo Branco, Cajazeira II e Cajazeira IV, aparecem com os
mais altos percentuais de população que pode ser considera negra no alto
curso e praticamente na bacia, podendo ser objeto de uma política pública
específica.
•
A área de Ponderação de São Marcos, Canabrava, Recanto das Ilhas,
Colinas de Pituaçu, Vivendas dos Pássaros, Vivenda dos Campos, Nova
Cidade, Jardim das Limeiras, Vale dos Lagos, Paralela Park e Lagoa Verde,
de forma impacto sobre o rio Trobogy por ser a mais populosa da bacia,
necessita de uma política pública específica e de um estudo de reengenharia
urbana.
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PEREIRA, Raquel M. Fontes do A. A gênese da formação social brasileira. Texto
apresentado no seminário O mundo que o português criou. SP: USP, sd.
QUAINI, Máximo. Marxismo e geografia. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.
RIBEIRO, Luiz Cesar de Q. org. Metrópoles: entre a coesão e a fragmentação, a
cooperação e o conflito. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo; Rio de
Janeiro: Fase, 2004.
SACHS, I. Estratégias de transição para o século XXI: desenvolvimento e meio
ambiente. São Paulo: Studio Nobel; FUNDAP; 1993.
SÁNCHEZ, Juan Eugenio. Poder Y Espacio. Universidade de Barcelona, 1979.
SANTOS, Milton. A natureza do espaço. São Paulo: Editora da USP, 2002.
______. Espaço e Método. São Paulo: Nobel, 1992, 3ª. ed.
______. O país distorcido: o Brasil, a globalização e a cidadania. São Paulo:
Publifolha, 2002.
______. Por uma nova geografia: da crítica da geografia a uma geografia crítica.
São Paulo: Edusp, 2002.
SANTOS, Milton; SOUZA, Maria Adélia A.; SILVERIA, Maria Laura, org. Território,
Globalização e Fragmentação. 5a. ed. São Paulo: Hucitec, 2002.
SILVA, J. X. da; SOUZA, M.J.L. Análise Ambiental. Rio de Janeiro: UFRJ, 1987.
SOTCHAVA, V. B. O estudo dos geossistemas. São Paulo: USP, 1977.
TEIXEIRA, Wilson; TOLEDO, M. Cristina Motta; FAIRCHILD; Thomas Rich; TAIOLI,
Fábio, org. Decifrando a terra. São Paulo: USP – Oficina de Textos. s.d.
TRICART, J. Ecodinâmica, São Paulo: IBGE/Supren – 1977.
VARGAS, Milton. Engels e a dialética da natureza. In: Coggiola, O. org. Marx e
Engels na História. São Paulo: Humanitas, 1996.
ANEXO
187
ANEXO A - Microdados da Amostra em 18 variáveis, selecionadas pelo
pesquisador e elaborados pela SEI – BA.
FONTE: IBGE/2000 – Microdados da amostra.
Variáveis
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
Alfabetização / sabe ler e escrever
anos de estudo - categoria
caminhar
horas trabalhadas
condição de atividade
condição de ocupação
cor e raça
curso que frequenta
frequenta escola cheche particular e
pública
faixa de renda
ocupação por grupo
posição na ocupação
domicílio condição
esgoto
lixo
terreno
densidade dormitório
densidade
188
OBS:
solicitadas
BA
Numeração
seqüencial na
informação obtida
junto à SEI-BA
Nº. das Áreas de
Ponderação/IBGE
1
2
3
4
5
6
33
34
70
72
74
75
76
77
79
80
81
82
Foram
à SEI-
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
informações sobre 18 Áreas de Ponderação para posterior definição das que estavam incluídas na
área da bacia hidrográfica do rio Jaguaribe – Salvador - Ba.
189
VARIÁVEL 1 : por Sabe ler e escrever
Pessoas residentes em domicílios particulares permanentes com 10 anos e mais de idade
Salvador, Áreas de Ponderação selecionadas, 2000
Área de Ponderação
Sabe ler e escrever
Sim
Não
Total
1
15.020
1.117
16.137
2
22.746
688
23.434
3
19.369
1.341
20.710
4
10.546
2.076
12.622
5
14.645
429
15.074
6
11.592
117
11.709
33
27.946
1.613
29.559
34
20.301
2.228
22.529
70
21.238
1.353
22.591
72
13.760
1.212
14.972
74
36.069
3.259
39.328
75
11.952
528
12.480
76
20.457
1.494
21.951
77
25.161
2.330
27.491
79
42.891
2.774
45.665
80
14.737
1.461
16.198
81
15.665
1.662
17.327
82
19.073
2.081
21.154
83
11.448
864
12.313
84
16.232
890
17.122
85
13.779
960
14.738
86
13.949
411
14.359
Total
418.577
30.887
449.464
1.903.800
111.908
2.015.708
Salvador
Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da amostra
Fonte:
IBGE. Censo
Demográfico
2000 Microdados
Amostra
Variável 2 - por Anos de Estudo – categorizada
Pessoas residentes em domicílios particulares permanentes com 10 anos e mais de idade, por anos de estudo
de
Salvador, Áreas de Ponderação selecionadas, 2000
Anos de Estudo
15 anos
ou mais
Não
determinad
os
Total
3.058
240
124
16.137
6.730
3.921
187
23.434
3.637
4.701
203
20.710
5.106
1.121
463
706
0
294
12.622
1.232
3.776
2.728
5.024
1.490
143
15.074
571
1.960
1.733
4.676
2.532
71
11.709
1.498
3.959
9.551
5.522
7.972
512
545
29.559
34
1.969
4.802
8.609
3.771
2.872
186
320
22.529
70
1.270
3.947
8.485
4.490
4.128
107
165
22.591
72
1.204
3.253
5.930
2.213
2.151
175
46
14.972
74
3.011
7.746
14.467
6.438
6.456
915
295
39.328
75
526
1.850
4.192
2.537
3.106
157
113
12.480
76
1.303
3.929
7.449
4.201
4.528
272
268
21.951
77
2.212
5.300
9.705
5.478
4.408
123
265
27.491
79
2.294
6.477
12.693
7.920
14.040
1.785
455
45.665
80
1.215
3.501
4.738
2.340
3.650
590
163
16.198
81
1.399
4.200
6.930
2.565
1.963
43
227
17.327
82
1.756
4.559
8.323
3.671
2.500
99
246
21.154
83
729
2.404
4.410
2.569
1.813
70
318
12.313
84
924
2.492
5.229
3.522
4.584
182
189
17.122
85
637
2.724
5.765
2.724
2.695
51
143
14.738
86
451
1.974
5.027
3.233
3.485
118
71
14.359
27.967
77.400
150.752
79.213
95.003
14.276
4.853
449.464
105.022
285.849
624.975
360.893
500.323
121.223
17.422
2.015.708
Área de Ponderação
Sem instrução e menos de
1 ano
1 a 3 anos
4 a 7 anos
8 a 10 anos
11 a 14
anos
1
991
2.764
5.679
3.281
2
728
2.608
5.741
3.519
3
1.066
3.409
6.987
4
1.940
3.698
5
680
6
166
33
Total
Salvador
da
190
VARIÁVEL 3 - por Capacidade de caminhar / subir escadas
Pessoas residentes em domicílios particulares permanentes segundo a capacidade de caminhar
Salvador, Áreas de Ponderação selecionadas, 2000
Capacidade de caminhar / subir escadas
Incapaz
Grande
dificuldade
permanente
Alguma
dificuldade
permanente
Nenhuma
dificuldade
1
5
302
787
15.077
2
65
78
395
23.002
3
41
246
635
19.851
4
44
132
372
5
55
196
6
25
33
Área de Ponderação
Ignorado
0
Total
16.171
56
0
23.596
12.083
19
12.650
831
13.994
18
15.095
19
249
11.457
129
11.880
59
323
1.193
28.107
55
29.738
34
25
262
1.029
21.199
56
22.571
70
141
200
1.102
21.131
103
22.677
72
39
138
319
14.514
29
15.039
74
38
473
1.864
38.657
126
41.158
75
27
68
404
11.963
18
12.480
76
54
197
1.182
20.846
65
22.343
77
44
538
1.538
25.411
69
27.600
79
85
348
1.444
43.988
63
45.929
80
7
151
617
15.398
58
16.230
81
58
192
523
16.632
37
17.442
82
29
172
675
20.472
52
21.400
83
20
138
452
11.776
8
12.394
84
25
158
464
16.495
21
17.163
85
18
150
375
14.605
49
15.198
86
20
120
684
13.589
56
14.468
Total
923
4.602
17.134
430.247
1.088
453.995
5.286
23.512
84.001
1.911.097
4.481
2.028.377
191
Salvador
Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da
amostra
20.773
VARIÁVEL 4: por Faixas de horas trabalhadas na semana
Pessoas residentes em domicílios particulares permanentes com 10 anos e mais de idade, ocupadas por horas trabalhadas
Salvador, Áreas de Ponderação selecionadas, 2000
Faixas de horas trabalhadas na semana
Área de Ponderação
Até 14
15 a 29
30 a 39
40 a 44
45 a 49
Mais de 49
Total
1
334
763
736
1.892
1.354
2.662
7.740
2
307
1.097
1.391
4.856
1.726
3.244
12.622
3
245
784
923
2.596
1.659
3.113
9.321
4
229
460
374
1.853
1.472
1.495
5.883
5
247
863
725
2.669
967
1.774
7.245
6
349
516
674
2.792
739
1.733
6.804
33
197
1.278
1.606
4.660
2.321
3.862
13.924
34
145
706
746
2.187
2.356
3.310
9.450
70
262
564
883
2.515
2.541
2.979
9.744
72
241
435
695
1.934
1.517
2.064
6.886
74
606
1.384
1.589
4.747
4.040
5.095
17.461
75
164
399
682
1.407
1.049
1.694
5.395
76
400
822
877
2.817
1.423
2.867
9.207
77
429
840
1.199
2.356
2.557
3.947
11.329
79
583
1.993
2.649
7.959
4.162
5.969
23.315
80
249
502
729
1.926
1.394
2.626
7.427
81
250
447
449
2.272
1.720
2.176
7.313
82
129
459
832
2.060
2.020
3.281
8.780
83
113
314
398
1.452
1.233
1.762
5.272
84
286
565
797
2.344
1.374
2.195
7.560
85
206
537
838
1.983
1.445
2.132
7.142
86
152
477
668
1.780
1.172
1.581
5.829
Total
6.124
16.206
20.459
61.056
40.240
61.562
205.648
Salvador
30.950
79.785
105.020
296.617
164.023
253.663
930.057
Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da amostra
192
VARIÁVEL 5 - por Condição de Atividade na semana de referência
Pessoas residentes em domicílios particulares permanentes com 10 anos e mais de idade, por condição de atividade
Salvador, Áreas de Ponderação selecionadas, 2000
Área de Ponderação
1
2
3
4
5
6
33
34
70
72
74
75
76
77
79
80
81
82
83
84
85
86
Total
Salvador
Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da amostra
Condição de Atividade na semana de referência
Não economicamente
ativa
10.524
5.613
15.091
8.343
12.725
7.986
7.988
4.634
9.137
5.937
7.685
4.024
18.869
10.690
14.011
8.518
13.727
8.864
9.740
5.232
24.708
14.620
7.436
5.044
8.535
13.416
15.835
11.656
30.056
15.609
6.120
10.078
9.850
7.477
9.062
12.092
7.388
4.925
6.812
10.310
9.751
4.987
8.810
5.549
170239
279.225
1.236.170
779.539
Economicamente ativa
Total
16.137
23.434
20.710
12.622
15.074
11.709
29.559
22.529
22.591
14.972
39.328
12.480
21.951
27.491
45.665
16.198
17.327
21.154
12.313
17.122
14.738
14.359
449.464
2.015.708
193
VARIÁVEL 6 - por Condição de ocupação na semana de referência
Pessoas residentes em domicílios particulares permanentes com 10 anos e mais de idade, por condição de ocupação
Salvador, Áreas de Ponderação selecionadas, 2000
Condição de ocupação na semana de referência
Área de Ponderação
Ocupado
Não ocupado
Total
1
7.740
8.397
16.137
2
12.622
10.812
23.434
3
9.321
11.390
20.710
4
5.883
6.739
12.622
5
7.245
7.829
15.074
6
6.804
4.905
11.709
33
13.924
15.635
29.559
34
9.450
13.079
22.529
70
9.744
12.847
22.591
72
6.886
8.087
14.972
74
17.461
21.867
39.328
75
5.395
7.085
12.480
76
9.207
12.744
21.951
77
11.329
16.162
27.491
79
23.315
22.350
45.665
80
7.427
8.770
16.198
81
7.313
10.014
17.327
82
8.780
12.374
21.154
83
5.272
7.041
12.313
84
7.560
9.562
17.122
85
7.142
7.597
14.738
5.829
205.648
8.530
243816
14.359
449.464
930.057
1.085.651
2.015.708
86
Total
Salvador
Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da amostra
194
VARIÁVEL 7 por Cor ou Raça
Pessoas residentes em domicílios particulares permanentes com 10 anos e mais de idade
Salvador, Áreas de Ponderação selecionadas, 2000
Cor ou Raça
Área de Ponderação
Preta
Branca
Amarela
Parda
Indígena
Ignorada
Total
1
2.761
4.751
13
8.337
245
64
16.171
2
9.048
2.993
39
11.232
179
105
23.596
3
4.495
4.459
42
11.507
253
17
20.773
4
1.493
2.974
41
7.963
116
64
12.650
5
4.604
2.904
18
7.351
75
142
15.095
72
4.477
139
57
11.880
16.449
404
144
29.738
12.700
117
117
22.571
22.677
6
6.355
780
33
6.115
6.626
34
3.151
6.403
83
70
2.858
4.816
28
14.735
65
175
72
2.199
4.150
292
8.134
227
37
15.039
5.829
10.116
333
24.188
361
330
41.158
75
2.565
2.173
9
7.561
76
94
12.480
76
3.576
5.422
22
13.018
137
169
22.343
77
4.289
7.402
217
15.033
387
273
27.600
79
9.439
10.336
190
25.260
566
138
45.929
80
3.397
3.873
8.575
155
230
16.230
81
2.028
3.383
70
11.707
158
97
17.442
82
2.547
4.226
70
14.200
136
220
21.400
83
1.863
2.890
4
7.412
158
67
12.394
84
2.730
3.242
13
11.039
95
45
17.163
85
2.112
3.441
33
9.445
73
94
15.198
86
1.986
3.515
42
8.690
125
110
14.468
85.441
100.874
1.629
259.015
4.246
2.789
453.995
472.288
430.987
5.895
1.090.027
16.571
12.609
2.028.377
74
Total
Salvador
-
-
Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da amostra
195
VARIÁVEL 8 por Curso que freqüenta
Pessoas residentes em domicílios particulares permanentes com 10 anos e mais de idade, por curso que frequenta
Salvador, Áreas de Ponderação selecionadas, 2000
Curso que freqüenta
Área de
Ponderação
1
Branco
Creche
Préescolar
Classe de
Alfabetização
Alfabetiz
ação de
adultos
Fundamental ou
1ro grau - Regular
seriado
Fundamental ou
1ro grau Regular não
seriado
Supletivo
(Fundamen
tal ou 1ro
grau)
Médio ou
2do grau
- Regular
seriado
Médio ou
2do grau Regular
não
seriado
Supletivo
(Médio
ou 2do
grau)
Prévestibular
Superior graduação
Superior mestrado ou
doutorado
Total
1
12.983
99
719
347
7
3.631
108
313
1.174
56
51
58
104
18
19.669
2
17.204
228
725
373
30
4.613
142
258
1.798
39
85
229
1.677
119
27.521
3
15.875
228
912
459
35
5.455
84
410
1.362
9
162
10.847
154
739
400
137
4.157
265
299
388
9
338
-
30
-
25.406
4
49
-
5
11.431
55
519
281
44
2.895
114
164
955
95
73
146
723
31
17.528
6
8.531
123
495
199
10
2.033
97
127
813
68
58
152
891
71
13.669
33
22.921
369
1.443
741
61
6.571
313
579
2.080
117
124
268
569
36.166
34
18.349
165
1.241
551
140
6.045
249
394
1.338
63
58
39
179
11
-
12
70
17.948
228
986
450
43
6.171
78
168
1.673
32
45
140
108
72
12.583
171
492
257
54
4.609
64
67
758
38
29
11
79
74
31.368
305
1.792
842
190
10.664
574
602
2.408
235
19
169
427
75
9.964
104
418
162
10
2.686
189
121
986
31
15
68
145
76
17.550
203
840
589
73
5.642
197
239
1.508
91
94
67
77
21.758
175
1.025
646
130
7.352
356
313
2.034
87
97
41
79
35.835
465
1.946
1.092
165
10.652
670
398
3.249
176
137
80
13.364
55
518
477
46
4.006
380
227
908
60
81
15.027
119
828
290
47
4.546
475
206
1.078
82
17.849
200
1.029
607
34
6.000
251
189
1.298
83
9.545
42
446
293
27
3.404
144
189
84
13.209
91
706
550
56
4.043
287
157
15
27.289
132
11
34.158
328
1.012
20
56.145
40
82
368
20.552
56
12
17
48
22
-
80
60
16
23
1.132
41
18
8
78
1.421
67
47
156
95
173
542
316
38
3.718
118
108
923
85
43
38
69
10.477
35
4.157
126
99
1.331
31
11
45
44
357.418
617
18.977
247
Total
51
3.805
10.172
1.413
113.049
5.282
5.625
30.617
1.565
1.166
2.251
7.292
75.150
42.863
5.264
459.484
17.342
17.629
19.212
182
12.800
14.843
28.072
49.606
86
1.560.329
-
28.810
10
-
85
Salvador
-
17.406
145.780
7.709
6.014
15.989
56.690
53.799
3.400
14.899
22.750
27.637
15.367
20.885
18.972
17.272
107.598
2.428.487
Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da amostra
196
VARIÁVEL 9 por Freqüenta escola ou creche particular e pública
Pessoas residentes em domicílios particulares permanentes com 10 anos e mais de idade, por frequencia a escola ou creche
Salvador, Áreas de Ponderação selecionadas, 2000
Freqüenta escola ou creche
Área de Ponderação
Sim, rede
particular
Sim, rede
pública
Não, já
freqüentou
Nunca
freqüentou
Total
1
2.087
4.599
10.707
2.276
19.669
2
5.318
4.998
15.077
2.127
27.521
3
3.599
5.932
13.352
2.523
25.406
4
818
5.742
7.485
3.362
17.406
5
3.424
2.673
10.124
1.308
17.528
6
4.085
1.053
7.946
586
13.669
33
4.382
8.863
19.619
3.302
36.166
34
2.243
8.218
14.310
4.039
28.810
70
2.738
7.386
14.874
3.074
28.072
72
1.123
5.506
9.644
2.939
19.212
74
4.032
14.206
24.512
6.857
49.606
75
1.358
3.577
8.557
1.407
14.899
76
2.342
7.397
14.564
2.986
27.289
77
2.847
9.553
17.336
4.422
34.158
79
7.801
12.509
30.206
5.629
56.145
80
2.278
4.911
10.407
2.957
20.552
81
1.348
6.375
11.327
3.700
22.750
82
1.862
7.926
13.213
4.636
27.637
83
1.155
4.668
7.635
1.910
15.367
20.885
84
2.383
5.293
11.190
2.018
85
1.861
4.310
10.206
2.595
86
2.201
4.595
9.031
1.446
17.272
Total
61.283
140290
291.321
66.098
558.991
304.058
564.099
1.321.624
238.705
2.428.487
Salvador
18.972
Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da amostra
197
VARIÁVEL 10 por Faixas de rendimento total pessoal
Pessoas residentes em domicílios particulares permanentes com 10 anos e mais de idade, por faixa de renda
Salvador, Áreas de Ponderação selecionadas, 2000
Faixas de rendimento total pessoal
Mais de Mais de Mais de
Mais
Mais
Área de Ponderação
Sem
Até 1/2
Mais de
1/2 a 1
1a2
2 a 5 de 5 a de 10 a
Rendimento
SM
20 SM
SM
SM
SM 10 SM 20 SM
1
5.657
87
1.465
2.178
1.024
229
178
2
8.526
458
2.126
2.462
1.943
699
246
119
3
6.913
352
2.008
2.339
1.562
356
214
4
3.901
407
978
1.704
605
165
28
5
5.649
640
1.055
2.081
828
73
53
27
6
3.953
176
1.337
2.026
330
33
9
11
33
10.689
809
1.580
4.296
2.301
380
123
31
34
7.394
520
1.800
3.561
805
94
30
70
8.706
8
605
2.421
3.894
1.392
512
211
72
5.790
37
507
1.693
1.905
644
189
137
74
14.390
25
551
3.118
5.161
2.706
2.288
2.485
75
4.286
61
370
1.671
1.923
384
208
170
76
7.933
40
367
1.824
2.193
1.516
1.657
2.414
77
10.436
48
766
2.574
3.567
1.437
946
1.158
79
18.213
42
835
3.091
6.222
3.029
1.927
634
80
6.286
14
307
970
2.669
793
309
64
81
6.484
542
1.063
2.228
855
110
21
11
82
7.520
852
1.348
2.521
1.319
256
73
9
83
4.445
281
704
1.850
550
105
4
14
84
6.107
480
972
2.096
1.464
126
71
21
85
5.652
825
1.555
1.517
478
57
30
14
86
5.172
334
1.016
1.895
1.432
358
149
39
Total
164.104
7.038
23.315
50.117
43.032
14.942 9.266
7.571
Salvador
748.637
26.881
107.209 219.189 197.421
Nota: Salário mínimo utilizado: R$ 151,00.
Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da amostra
56.427
26.598
15.630
Sem
declaraçã
o
5.318
6.856
6.967
4.834
4.666
3.833
9.349
8.325
4.842
4.070
8.604
3.406
4.006
6.559
11.671
4.785
6.012
7.255
4.360
5.784
4.611
3.964
130.080
16.137
23.434
20.710
12.622
15.074
11.709
29.559
22.529
22.591
14.972
39.328
12.480
21.951
27.491
45.665
16.198
17.327
21.154
12.313
17.122
14.738
14.359
449.464
617.717
2.015.708
Total
198
Salvador
47.753
80.792
102.617
123.228
359.317
4.896
169.045
20.202
12.952
9.254
Membros
das forças
armadas,
policiais e
bombeiros
militares
Ocupações
mal
especificadas
930.057
Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da Amostra
VARIÁVEL 11 por Grandes grupos de ocupação no trabalho principal
Pessoas residentes em domicílios particulares permanentes com 10 anos e mais de idade, ocupadas, por posição na grupos de ocupação
Salvador, Áreas de Ponderação selecionadas, 2000
Autoridades
públicas,
dirigentes e
gerentes
Profissionais
das ciências e
artes
1
195
364
Grandes grupos de ocupação no trabalho principal
Trabalhador
Trabalhador Trabalhado
es
res de
Trabalhador
es da
Trabalhadores
agropecuári
produção de reparação
Técnicos de
es dos
de serviços
os,
bens e
e
serviços e
nível médio
administrativos
florestais,
manutençã
vendedores
serviços
de caça e
industriais
o
pesca
3.977 57
510
860
1.486
138
2
1.472
2.261
1.726
1.444
3
394
409
1.051
904
4
31
42
243
132
3.380
5
512
936
1.075
1.092
2.262
Área de Ponderação
Total
3.920
4.275
Total
88
65
7.740
40
1.467
102
103
86
12.622
42
1.850
225
58
111
9.321
36
1.837
140
11
32
5.883
41
925
100
206
96
7.245
6.804
6
1.078
1.346
1.194
848
1.704
10
419
50
50
106
33
283
604
1.778
2.019
5.262
30
3.143
363
251
191
13.924
34
135
219
570
785
4.911
13
2.323
404
45
45
9.450
70
141
354
874
1.271
4.022
-
2.615
239
126
101
9.744
72
109
111
612
742
3.179
37
1.743
257
45
51
6.886
74
441
729
1.346
1.703
8.133
9
4.154
394
383
170
17.461
75
188
133
661
631
1.846
20
1.633
142
86
53
5.395
76
130
277
1.000
1.051
4.164
26
2.158
226
104
71
9.207
77
154
144
872
1.276
5.238
52
3.183
225
128
58
11.329
79
1.359
1.480
3.435
4.148
8.031
88
3.696
413
457
207
23.315
80
233
418
939
945
2.994
23
1.593
132
124
25
7.427
81
119
115
432
727
3.162
64
2.323
280
27
64
7.313
82
75
180
528
597
3.878
65
2.988
334
55
80
8.780
83
114
110
459
559
1.987
24
1.566
269
106
77
5.272
84
193
259
855
1.347
3.077
36
1.369
167
200
56
7.560
85
58
170
474
764
3.451
43
1.872
156
96
58
7.142
86
150
209
625
954
2.476
10
1.149
59
121
77
5.829
7.565
10.866
21.262
24.799
85.329
769
45.493
4.814
2.870
1.881
199
Salvador
33.903
55.752
418.048
193.086
29.872
184.297
6.233
7.629
Pessoas residentes em domicílios particulares permanentes com 10 anos e mais de idade, ocupadas, por posição na ocupação
Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da Amostra
VARIÁVEL 12 por Posição na ocupação
Salvador, Áreas de Ponderação selecionadas, 2000
1.239
930.057
Posição na ocupação
Área de
Ponderação
1
2
3
4
5
6
33
34
70
72
74
75
76
77
79
80
81
82
83
84
85
86
Total
Doméstico
com carteira
assinada
Doméstico
sem carteira
assinada
250
664
380
393
288
340
336
436
312
226
870
132
389
559
564
235
217
363
101
178
180
150
7.562
587
884
795
805
385
316
761
916
464
707
1.429
159
787
838
1.237
719
603
572
291
273
532
281
14.341
Empregado
com carteira
assinada
2.940
5.202
3.591
1.723
3.306
2.804
6.688
3.847
4.564
2.688
7.688
2.549
4.405
5.308
12.122
3.256
3.142
3.756
2.494
3.756
3.291
3.117
92.237
Empregado
sem
carteira
assinada
Empregad
or
1.696
2.192
1.893
1.516
1.373
1.235
2.862
2.019
2.334
1.428
4.020
1.188
1.771
2.245
4.804
1.719
1.700
2.053
1.294
1.751
1.381
1.291
43.764
152 1.857
2.448
290 2.214
1.302
359
1.436
802
1.204
150
2.893
41
2.100
127
1.780
52
1.567
220
3.080
147
1.133
59
1.651
92
2.170
399
3.854
158
1.269
75
1.512
47
1.922
88
908
105
1.309
33
1.586
34
881
4.490
40.076
1.060
Contaprópria
Trabalh
ador na
Aprendi
Não
z ou
produç
remunerado
ão para
estagiári
em ajuda a
o sem
o
membro do
remuner
próprio
domicílio
ação
consum
o
144
85
29
141
21
9
21
137
65
79
36
62
49
54
106
119
10
19
71
55
107
10
174
34
46
108
7
80
33
69
44
39
68
9
145
166
23
26
38
9
21
37
7
34
23
10
45
50
39
97
52
99
41
48
18
10
1.228
1.704
247
Total
7.740
12.622
9.321
5.883
7.245
6.804
13.924
9.450
9.744
6.886
17.461
5.395
9.207
11.329
23.315
7.427
7.313
8.780
5.272
7.560
7.142
5.829
205.648
200
VARIÁVEL 13 por Condição no Domicílio
Domicílios particulares permanentes segundo a
condição
Salvador, Áreas de Ponderação selecionadas, 2000
Área de Ponderação
1
2
3
4
5
6
33
34
70
72
74
75
76
77
79
80
81
82
83
84
85
86
Total
Salvador
Fonte: IBGE. Censo
Demográfico de 2000 Microdados da amostra
Cedido
Próprio - Próprio - Alugad
Já pago Pagando
o
Empreg
ador
38
4.066
47
825
5.177
801
920
85
30
5.422
77
961
4.213
212
3.400
177
741
265
1.890
1.458
507
73
5.219
2.354
634
31
5.897
75
1.106
44
4.893
1.237
764
22
4.027
394
279
52
9.646
1.928
1.107
27
3.055
41
552
36
3.901
1.723
390
31
7.300
242
922
27
8.283
5.627
1.759
53
3.561
1.083
670
4.348
573
506
83
5.481
1.080
428
18
2.950
315
528
23
2.179
2.540
293
1.866
2.174
318
9
726
3.517
114
97.501
27.464
14.534 948
458.068
72.171
92.018 3.075
Cedido Outra
Forma
Outra
condição
127
102
181
125
107
110
569
244
245
296
247
141
180
204
227
112
159
141
121
154
212
55
4.063
17.659
37
53
9
17
16
476
106
47
129
25
40
812
53
111
140
129
84
30
333
703
94
3.445
8.018
Total
5.139
7.085
6.724
4.559
4.707
4.055
9.284
7.472
7.209
5.177
12.979
3.866
7.038
8.748
16.061
5.566
5.799
7.232
3.967
5.500
5.282
4.506
147.955
651.008
Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 Microdados da Amostra
201
VARIÁVEL 14 por Esgotamento sanitário
Domicílios particulares permanentes segundo a condição esgotamanto sanitário
Salvador, Áreas de Ponderação selecionadas, 2000
Esgotamento sanitário
Área de
Ponderação
1
2
3
4
5
6
33
34
70
72
74
75
76
77
79
80
81
82
83
84
85
86
Total
Salvador
Rede Geral
Fossa
Fossa
Rio, Lago
Esgoto ou
Vala
Séptica
Rudimentar
ou Mar
Pluvial
593 94
61
2.891
734
749
155
4.035
2.092
396
407
670 1.323
104
3.336
807
453
856
186
480
2.107
231
683
39
3.188
1.105
218
92
56
32
751
3.016
245
11
242
4.615
1.572
1.718
459
535
223
3.548
1.490
469
1.027
348
132
4.535
757
971
396
340
178
2.984
907
279
241
480
304
8.369
1.547
1.405
340
958
14
2.356
353
406
435
290
140
5.674
724
248
96
124
162
4.067
1.190
2.214
676
345
443
11.609
1.841
1.115
566
331
108
2.884
682
1.448
291
117
441
826
1.356
2.162
803
158
286
3.359
1.560
1.227
262
487
88
1.453
417
987
513
467
26
5.017
172
74
168
27
537
2.711
407
1.210
251
37
36
4.118
127
113
93
8
4.606
82.512
23.339
20.211
8.202
7.626
13.573
491.665
55.105
40.842
23.696
21.520
Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da Amostra
Branco
Outro
Escoadouro
17
31
16
9
143
368
79
108
55
13
32
95
156
37
51
51
42
16
129
12
1.459
4.608
Total
5.139
7.085
6.724
4.559
4.707
4.055
9.284
7.472
7.209
5.177
12.979
3.866
7.038
8.748
16.061
5.566
5.799
7.232
3.967
5.500
5.282
4.506
147.955
651.008
202
VARIÁVEL 15 por Lixo, destino
Domicílios particulares permanentes segundo destino do lixo
Salvador, Áreas de Ponderação selecionadas, 2000
Área de
Ponderação
1
2
3
4
5
6
33
34
70
72
74
75
76
77
79
80
81
82
83
84
85
86
Total
Salvador
Jogado
Ter.Baldio Rio, Lago ou
Queimado
Enterrado
Mar
ou
Logradouro
- 16
4.885
227
5.952
1.042
26
65
10 24
6.144
505
12
27
625
2.483
239
38
917
256
4.528
133
8
28
10
4.040
8
7
4.835
3.829
110
10
413
70
5.514
1.742
38
151
26
3.799
2.715
36
12
468
152
2.178
2.848
106
35
7.371
3.942
139
18
1.290
62
2.926
834
29
15
53
1.887
4.591
22
484
20
3.531
4.106
194
11
833
64
7.939
7.355
112
20
478
83
2.926
2.062
157
19
350
41
2.803
1.173
696
43
1.070
2.668
3.313
303
19
855
66
2.458
1.204
78
188
39
3.522
1.901
6
41
13
1.899
2.788
282
14
283
16
1.516
2.748
34
209
83.945
51.543
2.529
213
8.293
1.034
438.428
170.656
5.808
572
29.417
4.802
Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da Amostra
Serviço de
Limpeza
Caçamba de
Serv.Limpeza
Outro
Destino
11
17
27
10
158
8
34
9
75
11
13
9
17
398
1.326
Total
5.139
7.085
6.724
4.559
4.707
4.055
9.284
7.472
7.209
5.177
12.979
3.866
7.038
8.748
16.061
5.566
5.799
7.232
3.967
5.500
5.282
4.506
147.955
651.008
203
VARIÁVEL 16 por Condição do Terreno
Domicílios particulares permanentes segundo a condição do terreno
Salvador, Áreas de Ponderação selecionadas, 2000
Condição do Terreno
Área de Ponderação
Branco
Próprio
Cedido
Outra
Condição
1.026
1.108
1.225
346
1.130
707
1.711
1.500
1.078
756
1.405
770
1.413
1.206
2.151
922
877
671
702
781
1.243
263
3.942
5.469
5.212
3.754
3.331
3.284
6.078
5.706
5.658
3.758
11.081
3.069
4.975
6.783
12.340
4.503
4.719
6.397
2.838
3.681
3.380
3.759
66
63
225
351
116
25
184
183
140
75
115
27
233
615
710
119
191
62
249
148
279
37
105
446
62
108
130
38
1.311
83
333
587
377
416
144
861
22
11
103
178
889
380
447
5.139
7.085
6.724
4.559
4.707
4.055
9.284
7.472
7.209
5.177
12.979
3.866
7.038
8.748
16.061
5.566
5.799
7.232
3.967
5.500
5.282
4.506
Total
22.990
113.717
4.217
7.031
147.955
Salvador
Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 Microdados da amostra
120.769 483.980 12.609
33.651
651.008
Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 Microdados da Amostra
1
2
3
4
5
6
33
34
70
72
74
75
76
77
79
80
81
82
83
84
85
86
Total
204
VARIÁVEL 17 por Densidade de moradores por Cômodo categorizada
Densidade dos moradores por cômodo dos domicílios particuares permanentes
Salvador, Áreas de Ponderação selecionadas, 2000
Densidade de moradores por Cômodo
Área de
Mais de 0,5 Mais de 1,0 Mais de 1,5 Mais de 2,0 Mais de 3,0
Ponderação
Até 0,5
a 1,0
a 1,5
a 2,0
a 3,0
a 4,0
1
2
3
4
5
6
33
34
70
72
74
75
76
77
79
80
81
82
83
84
85
86
Total
Salvador
35
32
10
152
9
77
46
39
104
119
51
37
123
68
55
89
16
8
132
12
1.214
3.684
22
18
31
90
12
78
58
54
15
46
27
129
34
82
41
17
12
78
843
2.733
Total
5.139
7.085
6.724
4.559
4.707
4.055
9.284
7.472
7.209
5.177
12.979
3.866
7.038
8.748
16.061
5.566
5.799
7.232
3.967
5.500
5.282
4.506
147.955
651.008
205
292 54
1.758
2.389
590
3.850
2.378
357
241
208
345 134
2.511
3.008
685
776
1.759
848
590
344
2.402
1.765
329
164
26
3.033
951
48
24
2.979
4.499
1.037
390
225
2.098
3.625
898
491
256
2.159
3.565
1.008
308
129
1.280
2.514
744
352
130
3.989
6.141
1.571
825
318
1.239
2.105
346
105
72
2.055
3.517
782
375
214
2.384
4.486
1.080
604
130
5.910
7.881
1.180
532
306
1.812
2.456
600
345
251
1.325
2.725
862
486
264
1.746
3.495
1.067
561
233
1.090
2.092
409
271
73
1.675
2.767
628
286
124
1.228
2.654
606
295
291
1.372
2.474
436
162
50
48.670
69.244
16.112
8.018
3.855
251.616
291.128
60.900
28.081
12.867
Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da Amostra
Mais de 4,0
VARIÁVEL 18 por Densidade de moradores por Dormitório - categorizada
Densidade dos moradores por dormitório dos domicílios particuares permanentes
Salvador, Áreas de Ponderação selecionadas, 2000
Área de
Ponderação
1
2
3
4
5
6
33
34
70
72
74
75
76
77
79
80
81
82
83
84
85
86
Total
Salvador
Densidade de moradores por Dormitório
Mais de Mais de
Mais de Mais de Mais de
1. 1
1,0 a 1,5 1,5 a 2,0
Mais de 2,0 a 2,5
2,5 a 3,0 3,0 a 4,0
4,0
1.053
1.004
910
1.510
425
236
1.724
1.780
1.954
978
396
254
1.285
1.392
1.311
1.978
406
353
801
352
1.045
1.134
694
534
1.449
1.175
1.126
566
206
185
1.460
1.063
1.129
361
30
12
1.831
1.837
2.572
1.972
624
447
1.391
1.033
1.911
1.891
822
425
1.325
1.294
2.145
1.526
533
387
914
729
1.447
1.315
529
244
2.825
2.215
3.294
2.637
1.184
823
614
820
1.291
773
272
96
1.216
1.242
2.166
1.519
411
485
1.624
1.414
2.424
2.094
725
468
3.978
3.349
4.560
2.771
823
582
1.296
765
1.399
1.118
487
501
941
911
1.388
1.430
605
524
1.287
968
1.758
1.764
824
630
695
658
1.260
906
293
154
1.093
1.177
1.395
1.127
436
272
947
701
1.407
1.279
477
470
847
891
1.372
948
309
141
30.653
26.595
40.530
30.446
11.510
8.220
148.958 128.237
183.182 119.903
42.202
28.526
Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da Amostra
Total
5.139
7.085
6.724
4.559
4.707
4.055
9.284
7.472
7.209
5.177
12.979
3.866
7.038
8.748
16.061
5.566
5.799
7.232
3.967
5.500
5.282
4.506
147.955
651.008
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