O Preço das Alterações Climáticas
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O Preço das Alterações Climáticas
GIIE – Julho 2008 O Preço das Alterações Climáticas NOS ÚLTIMOS DEZ anos os desastres naturais causados pelo aquecimento global do planeta provocaram mais de 500.000 mortes e afectaram a vida de 2,5 biliões de pessoas, implicando um custo estimado de 600 biliões de dólares em perdas económicas. Com as alterações climáticas aumentou o número e a intensidade de catástrofes naturais extremas, com particular relevo para as cheias e as secas prolongadas em países em desenvolvimento. Os alarmes lançados pelo Tsunami, há quatro anos atrás, o caos provocado pelo furação Katrina e o ciclone Nagris em Myanmar, ou as recentes mutações climáticas com inundações de Verão na Europa do Norte e no México, implicam medidas urgentes e concertadas por todos os Estados-membros das Nações Unidas. Depois de a Austrália ter ratificado o Protocolo de Quioto, dos países desenvolvidos, apenas os Estados Unidos persistem em ficar de fora, numa medida claramente proteccionista da sua economia altamente industrializada e poluente. O problema das alterações climáticas deixou de ser uma mera questão ambiental e representa um dos maiores entraves ao desenvolvimento, passando a integrar a lista de prioridades da agenda internacional. A Conferência de Bali traçou um novo paradigma ambiental e o início de um processo negocial para a redução da emissão de gases com efeito de estufa. Até 2020 é necessário reduzir as emissões de carbono entre 25% a 40%. Se a temperatura ambiente subir mais de dois graus nos próximos vinte anos, o cenário apocalíptico previsto na Bíblia ou nos filmes de Hollywood pode tornar-se uma realidade dramática. Este é o desafio para manter o planeta vivo. A catástrofe em África A cada três segundos morre uma criança em África vítima da fome, da malária ou da tuberculose. 40% da população mundial vive com menos de 1,50 euros por dia. Numa época de intensa globalização e revolução tecnológica, um terço dos habitantes do planeta nunca usou um telefone. Em Portugal uma em cada cinco pessoas vive no limiar da pobreza. Apesar da boa vontade dos doadores, apenas 1,5 em cada 100 dólares gastos em ajuda humanitária, proveniente dos Estados Unidos, chega à mão dos mais carenciados. A maior fatia do bolo do dinheiro é dividida pelos bolsos dos consultores internacionais ou é gasto nos altos salários de funcionários das maiores ONG, na burocracia pública e na corrupção dos governos locais. Os países mais pobres e menos poluentes do mundo estão concentrados no continente africano. Um número acrescido de pessoas está a ficar mais vulnerável à escalada dos desastres ambientais. Os campos de refugiados têm cada vez mais deslocados vítimas de catástrofes naturais do que da guerra. A pobreza extrema é em muitos casos uma consequência directa das tragédias provocadas pelo aquecimento global. As comunidades mais pobres e menos responsáveis pela emissão de gases com efeito de estufa são as mais atingidas, continuando a viver nas áreas mais sensíveis do planeta e sem recursos para enfrentar o problema. Sem uma acção urgente por parte dos governos dos países desenvolvidos, com alterações profundas nos hábitos dos consumidores, dando preferência ao consumo energético responsável e ao comércio justo e ambientalmente sustentável em detrimento de produtos a baixo preço e mais poluentes, o planeta vai permanecer doente aumentando a tendência para níveis sem precedentes na história da humanidade. As recentes tragédias em Myanmar e na China demonstram que cada novo desastre natural representa um passo atrás nos esforços internacionais para a erradicação da pobreza e o cumprimento dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio. O termómetro global Longe vão os tempos em que o alinhamento geoestratégico se centrava em torno das ideologias dominantes. A segurança e o combate ao terrorismo constituem preocupações crescentes, mas apenas uma estratégia global que inclua medidas urgentes de ajuda ao desenvolvimento e às comunidades mais desfavorecidas poderá travar a proliferação de grupos radicais e a escalada do terrorismo e da imigração ilegal. Os novos Acordos de Parceria Económica que a União Europeia está a negociar com os países da África, Caraíbas e Pacífico (ACP) não contemplam compensações de natureza ambiental e colocam nações pobres com economias frágeis e dizimadas por cheias, secas e fome no mesmo escalão de competição do comércio internacional. A escalada dos preços do petróleo e a especulação com os cereais constituem novos alertas para a introdução de energias limpas e de novas políticas que alterem o comportamento dos consumidores. Economia ambiental O Bangladesh foi o tubo de ensaio para Muhammad Yunus, Nobel da Paz, experimentar com sucesso o microcrédito e ajudar milhares de famílias a subir na escada do desenvolvimento. A recente aparição do ciclone baptizado por Sidr, destruiu dezenas de milhares de habitações e varreu culturas inteiras deixando a população local mais pobre do que nunca. Uma vez mais, países que menos contribuem para o efeito de estufa sofrem as consequências de políticas praticadas pelo Ocidente e ambientalmente condenáveis. De acordo com os estudos da agência britânica Tearfund, os projectos internacionais de apoio ao desenvolvimento deveriam incluir um acréscimo de 50 biliões de dólares anuais para programas preventivos e orientados de ajuda às populações directamente afectadas pelas alterações climáticas, para se adaptarem à nova realidade. A economia ambiental não pode ser apenas uma miragem política mas uma exigência dos eleitores. O planeta não resiste a mais ataques. Não se trata apenas de mais um petroleiro a derramar grude nos oceanos e a colocar em perigo a biodiversidade. É a nossa vida que está em jogo. Será que ainda estamos a tempo de salvar a Terra? Temo que não! João Pedro Martins economista e coordenador nacional do Desafio MIQUEIAS – MICAH Challenge Portugal (O Desafio Miqueias é uma campanha internacional para mobilizar a sociedade a favor das comunidades empobrecidas. Tem associadas mais de 300 organizações cristãs de ajuda humanitária e advocacia. Em Portugal tem um secretariado nacional e um conjunto de oito patronos: Aliança Evangélica Portuguesa, ACJ - Ajuda Cristã à Juventude, ABE- Associação de Beneficência Evangélica, ABLA – Associação de Beneficência Luso-Alemã, A Rocha – Associação Cristã de Estudo e Defesa do Ambiente, Cruz Azul de Portugal, Desafio Jovem – Teen Challenge Portugal, Exército de Salvação)