Estudo da viabilidade da reciclagem de dispositivos cardíacos de

Transcrição

Estudo da viabilidade da reciclagem de dispositivos cardíacos de
Estudo da viabilidade da reciclagem de
dispositivos cardíacos de implante
médico
JUNHO.2013
Lista de abreviaturas
APPPC - Associação Portuguesa de Portadores de Pacemaker e CDI
ASTM - American Society for Testing and Materials
CDI - Cardiodesfibrilhador Implantável
PERH - Plano Estratégico de Resíduos Hospitalares
PCI´s – Placas de Circuito Impresso
REEE - Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrónicos
SEM - Scanning Electron Microscopy
1. Introdução
1.1.Definição do problema
A busca incessante pela sustentabilidade torna-se, nos dias de hoje, uma máxima universal
não só nos estados-membros da comunidade europeia, mas também na maior parte dos países
desenvolvidos ou em vias desenvolvimento, sendo esta apontada como uma dos grandes pilares
das atuais sociedades. A sua vertente social, económica e ambiental implica uma abordagem
holística dos problemas, que possam surgir nas mais diversas áreas, encontrando-se entre eles a
problemática associada à gestão de resíduos. A política Europeia de gestão de resíduos, pioneira
neste mundo globalizado, têm-se pautado pela criação e estruturação de serviços eficientes e
versáteis e pela procura do paradigma “no garbage”, isto é, pela procura de soluções que possam
valorizar qualquer tipo de resíduo quando este atinge o fim do seu ciclo de vida, valorizando
qualquer “lixo” que possa ser gerado.
Várias políticas têm sido adotadas, apoiadas por diretivas e regulamentos e, o sector dos
resíduos assistiu, particularmente em Portugal, a uma grande evolução nas últimas duas décadas,
acabando-se com as tradicionais lixeiras, focos de enorme poluição, dando origem a sistemas de
gestão de resíduos mais sustentáveis, entre eles os inicialmente impopulares aterros que, muitas
vezes, são a solução encontrada para o grande volume de resíduos produzidos, mas também as
centrais de digestão anaeróbia e todas as outras centrais de tratamento de fluxos específicos de
resíduos.
Os Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrónicos (REEE em português e WEEE na
sigla original em inglês) são, sem dúvida, um grave problema com que nos deparamos na atual
sociedade, caracterizada pelo constante recurso a novas tecnologias construídas em materiais
(hardware) de difícil degradação, o que levou à necessidade da criação de um método efetivo de
tratamento deste tipo de resíduos. Apesar de partilharem muitas características entre eles, os
REEE apresentam-se sob diversas formas e feitios, o que complica o seu processo de
reciclagem. Então, é necessário proceder à análise e avaliação dos diferentes REEE encontrados
e proceder à sua separação em diferentes fluxos, de acordo com as características transversais de
um dado equipamento, cada um com o seu tratamento específico. Nos REEE podemos encontrar
diferentes materiais, entre os quais vários tipos de metais, normalmente usados como
condutores, acumuladores e até como revestimento, polímeros, compósitos e também alguns
materiais cerâmicos. Por aqui podemos comprovar a heterogeneidade do equipamento e
perceber que se levantam várias dificuldades no processo de valorização/reciclagem, visto que
estes materiais têm processos de tratamento diferenciados uns dos outros.
A Diretiva 2012/19/EU do parlamento e do conselho Europeu de 4 de Julho de 2012
estabelece medidas de proteção do ambiente e da saúde humana, prevenindo ou reduzindo os
impactes adversos decorrentes da geração e gestão dos resíduos de equipamentos elétricos e
eletrónicos (REEE) e diminuindo os impactes gerais da utilização dos recursos e melhorando a
eficiência dessa utilização. Contudo, e apesar do largo espectro de ação da diretiva, esta não
engloba os dispositivos médicos implantáveis ativos (DMIA).
Numa época em que o crescimento populacional é cada vez mais acentuado, devido
principalmente a uma melhoria significativa das condições de vida, existe a necessidade de
efetuar uma gestão sustentável dos recursos para que estes possam ser capazes de suprir as
necessidades da Humanidade.
A gestão sustentável de recursos está interligada com a gestão eficiente de resíduos pois,
numa sociedade cada vez mais consumista, surge a necessidade de valorizar todo o resíduo
gerado, no sentido de evitar problemas ambientais e reaproveitar o máximo de matéria-prima
possível.
A preocupação com as matérias-primas devido à sua escassez (ou condição finita), tem
vindo a aumentar e a comunidade europeia tem trabalhado no sentido de estabelecer e melhorar
processos para o tratamento de resíduos.
Nesta medida, em Portugal, o Plano Estratégico de Resíduos Hospitalares (PERH) surge
como um dos mais importantes no panorama nacional de resíduos pois estabelece objetivos e
metas que caminham juntamente com as políticas europeias.
O Regime Geral de Gestão de Resíduos (Decreto-Lei n.º 178/2006, de 5 de Setembro)
estabelece o “Princípio da Hierarquia das Operações de Gestão de Resíduos” no qual prevê:
• Hierarquia de operações: Prevenção, Reutilização, Reciclagem ou outras formas de
valorização;
• A deposição em aterro constitui a última opção de gestão, justificando-se apenas
quando seja técnica ou financeiramente inviável a prevenção, reutilização, reciclagem ou outras
formas de valorização.
O atual regime jurídico de gestão de resíduos, no artigo 3º do Decreto-Lei n.º 178/2006,
define resíduo hospitalar como:
“O resíduo resultante de atividades médicas desenvolvidas em unidades de prestação de
cuidados de saúde, em atividades de prevenção, diagnóstico, tratamento, reabilitação e
investigação, relacionada com seres humanos ou animais, em farmácias, em atividades médicolegais, de ensino e em quaisquer outras que envolvam procedimentos invasivos, tais como
acupuntura, piercings e tatuagens”.
2. Objetivos
Os objetivos deste projeto caminham no sentido de otimizar a gestão de resíduos efetuados
nas unidades hospitalares.
Estes também visam a identificação dos componentes presentes nos dispositivos cardíacos
de implante médico (Pacemaker e Cardio-desfibrilhador implantável) e a proposta de um
método de reutilização e/ou reciclagem/valorização de alguns dos componentes presentes nestes
dispositivos.
2.1. Uma questão de Sustentabilidade
Os recursos naturais, para satisfazer as nossas necessidades sem comprometer as condições
das gerações futuras, requerem uma utilização sábia dos mesmos.
Atualmente, a sustentabilidade talvez seja o critério mais importante na avaliação de um
projeto visto integrar a viabilidade económico-financeira do mesmo com os possíveis impactes
ambientais e sociais que daí resultem. Por isso, ao colocar este projeto à prova desses critérios
em vigor, podemos admitir que os mesmos estarão a ser cumpridos.
O facto de não existir um processo de valorização de certos equipamentos cirúrgicos, tais
como os dispositivos médicos implantáveis, seja sobre a forma de reutilização ou de reciclagem,
faz com que grandes quantidades de metais e outros materiais de valor económico elevado,
sejam tratados como resíduos quando poderiam ser reintegrados nos ciclos produtivos enquanto
matérias-primas ou mesmo como produtos transformados.
2.2.Caracterização dos dispositivos médicos implantáveis ativos (cardíacos)
Os dispositivos médicos implantáveis activos, nomeadamente os cardíacos, compreendem,
entre outros, o Pacemaker (PM) e o Cardio-desfibrilhador implantável (CDI).
A Diretiva 90/385/CEE do Conselho relativa à aproximação das legislações dos EstadosMembros respeitantes aos dispositivos medicinais implantáveis activos define estes como:
“Qualquer dispositivo medicinal ativo que seja concebido para ser total ou parcialmente
introduzido no corpo humano através de uma intervenção médica, num orifício natural e
destinado a ficar implantado após a operação.”
A mesma Directiva informa que estes devem ser concebidos e fabricados de forma a
eliminar ou minimizar os riscos de lesões relacionadas com as condições ambientais
razoavelmente previsíveis, nomeadamente os campos magnéticos, as influências eléctricas
externas, as descargas electrostáticas, entre outros. O Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo
Jorge (INSA) é a entidade responsável pela fiscalização do funcionamento dos dispositivos
médicos implantáveis activos.
A Associação Portuguesa de Portadores de Pacemaker e CDI (APPPC) estima que sejam,
anualmente, implantados em Portugal cerca de sete mil pacemakers e setecentos e vinte Cardiodesfrilhadores implantáveis (CDI), estimando-se que cerca de duzentos mil portugueses vivam
com um dispositivo cardíaco.
2.3.Pacemaker (PM)
Um pacemaker é um dispositivo de pequenas dimensões, fechado, construído com um
invólucro metálico (normalmente uma liga à base de titânio) e plástico, contendo no seu interior
uma bateria e diversos circuitos electrónicos. O aparelho é ligado ao coração por um ou mais
fios metálicos designados por eléctrodos. Estes eléctrodos são introduzidos por um pequeno
vaso sanguíneo, fazendo-se depois avançá-los, até que se posicionem dentro do coração; a caixa
do pacemaker é habitualmente implantada por debaixo da pele, na parte superior do tórax,
abaixo da clavícula. O pacemaker monitoriza o coração, produzindo estímulos eléctricos de
modo a tratar ritmos cardíacos anormais. Os pacemakers são largamente utilizados no
tratamento de ritmos cardíacos lentos (bradicardia), mas podem também ser usados para tratar
alguns ritmos rápidos provenientes das câmaras superiores do coração (aurículas).
Os pacemakers podem ser de uma única câmara (um eléctrodo), bicamarários (dois
eléctrodos) ou tricamarários (três eléctrodos).
O primeiro Pacemaker foi implantado a 8 de Outubro de 1958, na Suécia, pelo cirurgião
cardíaco Ake Senning com o peso de 60 gramas.
Estima-se que sejam implantados anualmente cerca de 600.000 pacemakers e que o número
total de pacientes portadores dos vários tipos de pacemakers ultrapasse os três milhões.
2.4.Cardio-desfibrilhador implantável (CDI)
Um Cardio-desfibrilhador implantável (CDI) é um pequeno dispositivo que é implantado em
pacientes que estão em risco de sofrer um ataque cardíaco súbito, devido a taquicardia
ventricular ou fibrilação ventricular (sucessão irregular de contrações e relaxações das fibras do
coração).
Quando o CDI identifica um ritmo cardíaco anormal, aplica um choque elétrico breve e
intenso ao coração, corrigindo o seu ritmo anormal.
O CDI é constituído por um gerador (“pequeno computador” e uma bateria) e um ou mais
eléctrodos.
Este tipo de dispositivo foi utilizado pela primeira vez na década de 80, e estima-se que
tenham sido implantados cerca de 200.000 até ao início do Séc. XXI.
3. Componentes dos dispositivos
3.1. PCI´s
As Placas de Circuito Impresso são utilizadas para sustentar mecanicamente e conectar
eletricamente os componentes eletrónicos, usando pistas e caminhos condutores ou traços de
sinal gravado a partir de folhas de cobre laminadas sobre um substrato não condutor.
Com a evolução tecnológica, surge o crescimento da produção das PCI´s e,
consequentemente, surgem também graves problemas ambientais no que se refere ao descarte
destas enquanto resíduo.
As PCI´s têm suscitado grande interesse na sua reciclagem, principalmente devido ao seu
elevado conteúdo em metais preciosos.
A tabela seguinte mostra a composição típica de uma PCI (M. Goosey, R. Kellner, End-of
Life Printed Circuit Boards, 2002).
Tabela 1 - Composição típica de uma PCI
Valor intrínseco das PCI
Componente
% (m/m)
Valor (€/kg)
€/kg de PCI
%
Ouro
0,025
16716
4,18
65,4
Paládio
0,01
7299
0,73
11,4
Prata
0,1
294,3
0,29
4,6
Cobre
16
3,88
0,62
9,7
Alumínio
5
1,41
0,07
1,1
Ferro
5
0,12
0,01
0,1
Estanho
3
9,54
0,28
4,5
Chumbo
2
1,53
0,04
0,5
Níquel
1
15,53
0,15
2,4
Zinco
1
1,41
0,01
0,2
3.2. Baterias dos dispositivos
Os primeiros pacemaker´s implantados (1958) usavam baterias recarregáveis de NíquelCádmio, mais tarde, na década de 60 surgem as baterias Zinco-Mercúrio e ainda nesta década
foram desenvolvidas as baterias nucleares.
Na década de 70 surgem as baterias de Lítio e em 1975 são usadas pela primeira vez as
baterias Lítio-Iodo que, ainda, são as usadas na atualidade.
4. Metodologia
4.1. Cronologia dos trabalhos
Tabela 2 - Cronologia do Projeto
Março
Abril
1. Estudo da literatura;
Maio
1. Recolha dos dispositivos e
1. Preparação das
esclarecimentos do corpo
2. Pedido de cedência
amostras;
hospitalar;
dos dispositivos aos
2. Identificação e pesagem dos
Hospitais.
2. Análises das
dispositivos;
amostras;
3. Abertura dos dispositivos;
4. Separação grosseira e
3. Discussão de dados e
pesagem dos componentes.
realização do
relatório.
i)
Recolha
Iniciou-se o trabalho com a recolha dos dispositivos, previamente autoclavados, numa
unidade hospitalar do norte de Portugal.
ii)
Identificação
Depois de realizada a recolha, os dispositivos foram encaminhados para um laboratório da
Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, onde foram devidamente identificados,
pesados e devidamente descritos.
Tabela 3 - Identificação e massa dos dispositivos
Dispositivo
Código
Marca
Referência
massa (g)
Pacemaker 1
P1
Siemens
Sensorithm 2045t
20,84
Pacemaker 2
P2
Biotronik
Philos DR
24,21
Pacemaker 3
P3
Biotronik
Actros SR
24,82
Pacemaker 4
P4
St. Jude Medical
Identity XL DR
21,53
Pacemaker 5
P5
St. Jude Medical
Integrity ADX DR
16,31
Pacemaker 6
P6
Medtronic
KappaX DR 701
24,19
Pacemaker 7
P7
Guidant
Insignia I Plus
24,89
Pacemaker 8
P8
Pacesetter
Affinity VDR
23,18
Pacemaker 9
P9
Ela Medical France
Talent
27,98
Pacemaker 10
P10
Vitraton
Clarity
21,47
Pacemaker 11
P11
Idante
Discovery
22,93
Cardiodesfibrilhador 1
D1
St. Jude Medical
EPIC + BR
69,95
Cardiodesfibrilhador 2
D2
Guidant
Renewal 4
87,79
Procedeu-se à abertura e desmontagem dos dispositivos numa oficina de física-mecânica da
faculdade, com o auxílio de diverso equipamento mecânico.
Os dispositivos, depois de abertos, foram alvo de uma observação macroscópica onde se
concluiu que a metodologia mais correta para a análise dos respectivos componentes seria
através da separação física das partes que partilham as mesmas características.
A separação dos componentes foi efetuada no laboratório, com ajuda de pinças, de onde
foram retiradas as baterias e as PCI’s do interior do encapsulamento do dispositivo.
Figura 1 - Pacemaker aberto: 1 – parte do invólucro exterior; 2- PCI; 3- Bateria.
Os vários componentes foram devidamente identificados e foram realizadas as respetivas
pesagens.
Tabela 4 - Massa dos componentes
Massa (g)
Código
Total
Cápsula
% Cápsula
PCI
% PCI
Bateria
% Bateria
P1
20,84
6,50
31,19
4,18
20,06
10,16
48,75
P2
24,21
6,90
28,50
3,54
14,62
13,77
56,88
P3
24,82
8,00
32,23
3,15
12,69
13,67
55,08
P4
21,53
6,36
29,54
4,20
19,51
10,97
50,95
P5
16,31
6,69
41,02
4,03
24,71
6,59
40,40
P6
24,19
6,49
26,83
4,11
16,99
13,59
56,18
P7
24,89
7,53
30,25
4,17
16,75
13,19
52,99
P8
23,18
6,18
26,66
4,05
17,47
12,95
55,87
P9
27,98
6,52
23,30
7,61
27,20
13,85
49,50
P10
21,47
6,54
30,46
4,48
20,87
10,45
48,67
P11
22,93
6,94
30,27
4,20
18,32
11,79
51,42
D1
69,95
15,15
21,66
19,88
28,42
34,92
49,92
D2
87,79
15,18
17,29
12,22
13,92
60,39
68,79
iii)
Amostragem
Invólucro Exterior
Para realizar a análise do involucro exterior os elétrodos foram separados manualmente da
cápsula e foram analisados separadamente.
Figura 2 - Encapsulamento de um Cardio-desfibrilhador com o respetivo elétrodo e separação dos 2 componentes
Retirou-se uma seção de dimensões reduzidas da cápsula e efetuou-se a análise da
composição da liga de titânio recorrendo à técnica laboratorial SEM (scanning electron
microscopy).
Figura 3 – Cápsula e respetivo corte para análise.
Nas oficinas da FCUP, recorrendo a uma serra elétrica de precisão, efetuaram-se cortes
transversais e longitudinais no polímero que contem os elétrodos para permitir a análise destes.
Figura 4 – Corte longitudinal dos eléctrodos.
Posteriormente realizaram-se as preparações dos referidos elétrodos com resina EPOFYX
de modo a cumprirem os requisitos exigidos para observação através da técnica SEM.
Figura 5 – Preparação em resina dos eléctrodos: 1- corte longitudinal; 2- corte transversal.
Placas de circuito impresso
A identificação dos elementos presentes nas PCI´s, conseguida através da técnica SEM,
exigiu a preparação de amostras de pequenas partes das placas cortadas em secção e
posteriormente montadas em resina, de forma a obter-se a composição dos materiais que não se
encontravam à superfície.
Figura 3 - PCI analisada.
Baterias
De acordo com os principais fabricantes, atualmente são usadas baterias de Lítio-Iodo
devido à sua elevada autonomia.
O tratamento de baterias usadas tem como base legal a Directiva 2006/66/CE do
Parlamento Europeu e do Conselho de 6 de Setembro de 2006, relativa a pilhas e acumuladores
e respetivos resíduos. O principal objetivo desta diretiva consiste em reduzir, ao mínimo, o
impacto negativo das pilhas e acumuladores e respetivos resíduos no ambiente, contribuindo
assim para a proteção, preservação e melhoria da sua qualidade.
Figura 7 – Bateria de um pacemaker.
5. Resultados e Discussão
5.1. Invólucro exterior
Cápsula
O pequeno fragmento da cápsula analisada é constituído por titânio com algumas
pontuações de cobre, sendo este classificado como uma liga de titânio de grau 1 segundo a
ASTM (American Society for Testing and Materials).
Elétrodos – Corte longitudinal
Figura 8 – Identificação dos pontos analisados em corte longitudinal.
Foram selecionadas as zonas Z1 e Z2 para análise por EDS (energy dispersive x-ray
detector) dos elementos químicos que compõem os elétrodos.
Figura 9 – Espetro Z1 do corte longitudinal do elétrodo.
O espetro Z1 mostra que a composição elementar deste material é, essencialmente, titânio
com algumas pontuações de silício. Em princípio este Si deriva da fase de polimento, pois
apresenta-se na forma de pequenos cristais de SiC (carboneto de Si) cravados no metal.
Figura 10 – Espetro Z2 do corte longitudinal do elétrodo.
O espetro Z2 mostra uma grande variedade de elementos com maior incidência de ferro,
níquel e manganês contendo também crómio e molibdénio.
Elétrodos – Corte Transversal
No corte Transversal foram selecionados para análise duas regiões (Z1 e Z2) com aspetos
macroscópicos distintos.
Figura 11 – Identificação dos pontos analisados em corte transversal.
Figura 12 – Espetro Z1 do corte transversal do elétrodo.
No espetro Z1 foram identificados vários elementos com maior incidência de ferro e
manganês com algum níquel, crómio e uma pequena percentagem de carbono, silício e enxofre.
Figura 13 – Espetro Z2 do corte transversal do elétrodo.
No espetro Z2 os elementos que apresentam maior relevância são o cobalto e o níquel,
estando também presentes, mas em menor quantidade, o molibdénio e o crómio.
PCI
Em seguida são apresentados os pontos analisados na placa e os respetivos resultados sob a
forma de espetro.
Figura 4 - Identificação dos pontos analisados da PCI
A figura 14 mostra os pontos analisados que foram escolhidos de forma a serem
representativos de toda a placa. A figura 15 é uma ampliação do ponto Z6.
Figura 5 - Ampliação do ponto Z6 analisado da PCI
Figura 6 - Espetro Z1 da PCI analisada
O Ponto Z1 é constituído por ouro e uma pequeníssima parte de carbono.
Figura 7 - Espetro Z2 da PCI analisada
O Ponto Z2 é constituído essencialmente por prata com pequenas incidências de carbono e
oxigénio.
Figura 8 - Espetro Z4 da PCI analisada
No Ponto Z4 a constituição é à base de prata com incidências de ouro, alumínio, carbono e
oxigénio.
Figura 9 - Espetro Z5 da PCI analisada
O Ponto Z5 é constituído essencialmente por ouro com a presença de pequeníssimas
quantidades de carbono e oxigénio.
.
Figura 10 - Espetro Z6 da PCI analisada
O ponto Z6 é constituído essencialmente por Ouro presença de pequenas quantidades de
Carbono, Oxigénio e Azoto.
Figura 11 - Espetro Z8 da PCI analisada
O Ponto Z8 é constituído essencialmente de titânio na presença de outros elementos como o
Neodímio, Bismuto, Prata, entre outros.
Análise de massa das PCI´s
Foram moídas 3 PCI´s e encaminhadas para um laboratório internacional (laboratório ALS
Scandinavia AB) com o objetivo de quantificar os metais (Au, Pt e Ag) presentes nas mesmas.
Tabela 5 – Massa de metal existente em cada dispositivo analisado.
Código
P1
P2
P3
P4
P5
P6
P7
P8
P9
P10
P11
D1
D2
massa
total
(g)
20,84
24,21
24,82
21,53
16,31
24,19
24,89
23,18
27,98
21,47
22,93
69,95
87,79
massa
PCI (g)
% PCI
massa de
Au (g)
massa de Pt
(g)
massa de Ag
(g)
4,18
3,54
3,15
4,2
4,03
4,11
4,17
4,05
7,61
4,48
4,2
19,88
12,22
20,06
14,62
12,69
19,51
24,71
16,99
16,75
17,47
27,2
20,87
18,32
28,42
13,92
0,0241186
0,0204258
0,0181755
0,024234
0,0232531
0,0237147
0,0240609
0,0233685
0,0439097
0,0258496
0,024234
0,1147076
0,0705094
0,000339416
0,000287448
0,00025578
0,00034104
0,000327236
0,000333732
0,000338604
0,00032886
0,000617932
0,000363776
0,00034104
0,001614256
0,000992264
0,00067716
0,00057348
0,0005103
0,0006804
0,00065286
0,00066582
0,00067554
0,0006561
0,00123282
0,00072576
0,0006804
0,00322056
0,00197964
Tabela 6 – Percentagem de metal existente em cada dispositivo analisado.
Código
P1
P2
P3
P4
P5
P6
P7
P8
P9
P10
P11
D1
D2
massa
total
(g)
20,84
24,21
24,82
21,53
16,31
24,19
24,89
23,18
27,98
21,47
22,93
69,95
87,79
massa
PCI (g)
% PCI
% de Au/
dispositivo
% de Pt/
dispositivo
% de Ag/
dispositivo
4,18
3,54
3,15
4,2
4,03
4,11
4,17
4,05
7,61
4,48
4,2
19,88
12,22
20,06
14,62
12,69
19,51
24,71
16,99
16,75
17,47
27,2
20,87
18,32
28,42
13,92
0,115732246
0,084369269
0,073229251
0,11255922
0,142569589
0,098035138
0,096668943
0,100813201
0,156932452
0,120398696
0,105686873
0,163985132
0,080315981
0,001628676
0,001187311
0,00103054
0,001584022
0,002006352
0,001379628
0,001360402
0,001418723
0,002208477
0,001694346
0,001487309
0,002307728
0,00113027
0,003249328
0,002368773
0,002056003
0,003160242
0,00400282
0,00275246
0,002714102
0,002830457
0,004406076
0,003380345
0,002967292
0,004604089
0,002254972
Tabela 7 – Percentagem média de metal por PCI.
% média de Au por
dispositivo
11,16
% média de Pt por
dispositivo
0,16
% média de Ag por
dispositivo
0,31
Baterias
A análise deste componente ainda não foi realizada, no entanto após uma consulta das
fichas técnicas das principais marcas (Medtronic, St. Jude Medical) concluímos que todas elas
são do tipo Lítio-Iodo.
Foi efetuada uma pesquisa sobre a existência de unidades de reciclagem deste tipo de
baterias na Europa e verificou-se que existem algumas unidades capazes de efetuar o referido
processo.
6. Considerações finais
Apesar das limitações ainda existentes, em certas partes deste projeto, algumas observações
são bastante encorajadoras, baseando-se nalguns dos resultados obtidos e na bibliografia
consultada.
Neste projeto foram identificados todos os componentes principais, presentes nos
dispositivos médicos implantáveis ativos (cardíacos), com exceção dos polímeros. Verificou-se
que estes dispositivos dispõem de uma composição passível de reciclagem, com métodos
atualmente usados noutro tipo de resíduos desde que previamente desinfetados e/ou
autoclavados.
Conclui-se que, para que o processo de reciclagem destes dispositivos seja possível, será
necessária a criação de um fluxo específico deste à imagem de fluxos de outros resíduos já
existentes, nomeadamente os REEE.
O método passa pela receção dos dispositivos, pelo seu desmantelamento, encaminhamento
das baterias para uma unidade de reciclagem, as cápsulas para uma unidade de fundição de
metais, as PCI para unidades de reaproveitamento deste resíduo e os polímeros para uma
unidade de reaproveitamento dos mesmos.
Sendo que a produção deste resíduo, anualmente, não é em grandes quantidades, importa
ressaltar que a presença de metais nobres, em particular o ouro, podem contribuir de forma
significativa para a viabilidade económica deste processo, uma vez que as PCI´s presentes
nestes dispositivos, contêm uma elevada percentagem em massa de metais nobres
comparativamente às PCI´s presentes noutros REEE.
Bibliografia
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techniques from e-scrap: Hydrometallurgy in recycling. Journal of Hazardous Materials.
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Serviço Brasileiro de Respostas Técnicas.
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Reimer, L., Verlag, S. (1985). Scanning Eletron Microscopy, Physics of Image Formation and
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fricção sanitária – Prefeitura de Vitória/CDV.
Decreto-Lei n.º 176/2006. D.R. n.º 167, Série I de 2006-08-30
Webgrafia
Plano Estratégico dos resíduos hospitalares:
www.apambiente.pt/_cms/view/page_doc.php?id=47
Fichas técnicas dos dispositivos da marca Medtronic:
http://www.medtronic.com/
Fichas técnicas dos dispositivos da marca St. Jude medical:
http://www.sjm.com/
Manual Gestão de Resíduos Hospitalares para Unidades de Cuidados Continuados Integrados:
http://www.arsalgarve.minsaude.pt/site/images/centrodocs/Manual_Gestao_Residuos_Hospitalares_para_UCCI_%20Jan_
2011.pdf

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