Religiosidade Popular e Ação Missionária Caso
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Religiosidade Popular e Ação Missionária Caso
RELIGIOSIDADE POPULAR E AÇÃO MISSIONÁRIA Caso: Padre Jesus Osés Pagola, cmf Pe. José Francisco Rodrigues do Rêgo1 Maria Inácia Lopes2 RESUMO O presente trabalho tem como objetivo manter viva a memória do Padre Jesus Osés Pagola, religioso pertencente à Congregação dos Filhos do Imaculado Coração de Maria e mostrar a ação missionária e a religiosidade popular a partir da sua vida. É desejo também deixar claro que sua passagem por Goianésia-Goiás, no período de 1956 a 1992, marcou profundamente o povo da comunidade não apenas no aspecto religioso mas, também, nos sociocultural e histórico. O estudo foi baseado em pesquisa bibliográfica e social, colhendo depoimentos, realizando entrevistas e aplicando questionários. Os autores pesquisados e as informações oferecidas pelas pessoas entrevistadas ratificam de forma clara e objetiva a propositura inicial: ficou evidenciado que Pe. Jesus favoreceu a formação de Igreja Católica em Goianésia e que sua ação pastoral teve seu foco principal na religiosidade popular com atuação maior na zona rural, fazendo com que a Palavra de Deus atingisse os lugares mais difíceis de acesso e pudesse atender o povo mais simples, fomentando a manutenção da fé em Deus Trino e em Maria Santíssima, a Mãe de Cristo Jesus. Palavras-chave: Religiosidade Popular. Missão. Zona rural. Humildade. INTRODUÇÃO O missionário claretiano, Padre Jesus Osés Pagola, viveu no período de 1956 a 1992 na cidade de Goianésia-Goiás, situada na região denominada “Vale do São Patrício”. Num primeiro olhar, as cidades parecem ser fruto de algo mágico, dando a impressão de que nasceram prontas, com seus centros urbanos, condomínios, prédios, praças, periferia e tudo mais que as compõe entretanto, à luz da história, vê-se que elas, para chegarem a essa realidade, necessitam obedecer normas e orientações legais para suas implantações, desmistificando, assim, a primeira idéia. Sabe-se, portanto, que com o município de Goianésia não foi diferente. A história da sua fundação dá-se numa perspectiva da chamada “Marcha para o Oeste”. Melo (1981, p. 34) confirma esse momento histórico: 1 2 Aluno concluinte do curso de Licenciatura Plena em Filosofia da Faculdade Católica de Anápolis Mestre em Ciências da Educação Superior, Vice-Diretora Acadêmica da Faculdade Católica de Anápolis 2 Já por este tempo, promovia o Governo Federal a política de colônias agrícolas em muitas regiões do Estado, como conseqüência da política da ‘MARCHA PARA O OESTE’, fato que veio a concorrer, destarte, para a cristalização de uma nova fase progressista no Estado. Tomando conhecimento dessa realidade, muitas famílias de algumas regiões do país, especialmente as mineiras, que impulsionadas pela cultura do café, cultura básica da região naquela época, resolveram instalar-se neste chão goiano. De acordo com Menezes et al. (2000), Laurentino Martins, mineiro de Araguari, mas residindo na cidade de Anápolis-GO, ao ouvir relatos sobre a fertilidade das terras da região do “Calção de Couro” (nome do córrego que deu origem ao nome do povoado) e também por ser um homem de visão e espírito arrojados, tomou a decisão de embrenhar-se nesta região, para nela “ser” e “fazer” sua história. Isso deu-se no ano de 1939 quando, com um amigo, fez um vôo de reconhecimento da localidade num avião monomotor. Certificandose assim daquilo que lhe haviam informado, em maio de 1940 adquiriu uma gleba de terras de 3.162,32 hectares iniciando, assim, a realização de seu sonho de bandeirante. É bom ressaltar que para quem vê hoje Goianésia, é difícil fazer idéia das dificuldades do ontem. No aspecto histórico, Menezes et al. (2000, p. 46-47) dá conta de que: Calção de Couro crescia em população, a cafeicultura fazia diferença na economia e, com isso, a renda interna se expandia. Diante dos fatos e dos contatos políticos que mantinha com Laurentino, o prefeito de Jaraguá Nelson de Castro resolveu elevar o povoado à categoria de Distrito de Goianésia [...] – Lei n. 10, de 21 de agosto de 1948. Voltando o olhar para o aspecto sociocultural pode-se afirmar, sem dúvida alguma, que o marco inicial deu-se com o funcionamento da primeira escola, ainda na fazenda Calção de Couro, funcionando em um rancho onde se realizavam as funções comunitárias: reza do terço, reuniões, festas, escola etc. Com a emancipação política foi construído na cidade o prédio da primeira escola estadual: Grupo Escolar Ramos Jubé. Adolescentes e jovens da cidade e da zona rural, que vinham a cavalo, ali tinham o primeiro contato com a cultura de livro. No tocante ao aspecto econômico, as fontes de pesquisa são unânimes em ressaltar que a primeira vocação econômica do município de Goianésia deu-se com a cultura cafeeira. Jales Machado de Siqueira, deputado federal e empresário em Buriti Alegre-GO, entusiasmado pelo município iniciou, com famílias vindas com ele de outras regiões, o plantio sistematizado da cultura de café em sua fazenda. Geremia Lunardelli, empresário com 3 atividade de cafeicultura especialmente no estado de São Paulo onde foi considerado o “Rei do Café Mundial” também adquiriu terras no município de Goianésia(MELO, 1981). Como já era empresário nesta atividade e por acreditar na fertilidade da região, não teve dúvidas em investir nela. O município crescia e de acordo com Menezes et al. (2000) em 1961 a fazenda São Carlos foi colocada à venda, adquirindo-a os irmãos Fernandes que ali implantaram a primeira usina de açúcar do Estado de Goiás, vindo substituir os cafezais que por sua vez receberam incentivos financeiros do governo federal para sua erradicação; a economia tomou pulso e foi gerando divisas para o município. Em 1980, com a implantação da Goianésia Álcool do empresário Otávio Lage de Siqueira, filhos e acionistas, o cenário sócio-econômico de Goianésia se modifica [...]. Na área sucro-alcooleira, ambas as indústrias: a Sociedade Açucareira Monteiro de Barros [atual Usina Goianésia] e a Goianésia Álcool, atual Jalles Machado S.A., Açúcar e Álcool, trouxeram avanços tecnológicos (MENEZES et al., 2000, p. 96). Para se falar no aspecto religioso é bom salientar que a religiosidade foi despertada, principalmente, em virtude da formação da população goianesiense ter sofrido uma forte influência de famílias mineiras, que carregavam em si uma tradição religiosa marcante. Melo (1981, p. 231) faz alusão a esse quesito: “Em 30 de setembro de 1943, um sábado, o cruzeiro foi levantado na presença de Laurentino e família, de todo pessoal que tinha vindo de Anápolis, bem como das pessoas que moravam na redondeza”. No tocante à Paróquia de Goianésia, é pertinente enfocar que ela foi criada em 1956, tendo sido nomeado o Pe. Rui Nunes do Vale seu primeiro vigário. Foi um período curto sua permanência em Goianésia pois, como informa Menezes et al. (2000), Dom Francisco Prada, bispo da Diocese de Uruaçu, membro da Congregação Claretiana, convidou padres da sua congregação para assumir a direção e os trabalhos da paróquia. Foi com muito entusiasmo que a comunidade recebeu os novos missionários. Menezes et al. (2000, p. 78) relata que: [...] fato importante foi a chegada dos padres claretianos Jesus Osés Pagola e Antônio Artiaga, que vieram assumir e desenvolver a Paróquia Nossa Senhora da Abadia [...]. Com a chegada dos sacerdotes os acontecimentos religiosos tornaramse mais animados. 4 E Melo (1981) completa dando conta de que em julho de 1957 foi o Pe. Jesus Osés Pagola nomeado vigário e Pe. Antônio Artiaga Cooperador, que imediatamente tomaram posse de seus cargos. Atualmente a Igreja Católica em Goianésia está bem estruturada, exercendo seu grande papel de evangelizadora onde Fé e Vida se entrelaçam, fazendo com que ela possa realmente ser força entre a humanidade. Conta com duas paróquias: Nossa Sra. D’Abadia conduzida ainda pelos padres missionários Claretianos e Sagrado Coração de Jesus, assistida pelos padres diocesanos. Em ambas, há uma participação muito grande dos fiéis e uma perfeita organização paroquial com seus conselhos de pastoral, movimentos e pastorais atendendo às necessidades das paróquias. Conta, também, com uma congregação religiosa feminina que tem o carisma voltado para educação. Também vale ressaltar que desde o início há a presença de igrejas evangélicas como a Presbiteriana, chegada no início do distrito, informa Menezes et al. (2000), Assembléia de Deus, fundada em Goianésia em julho de 1951 e posteriormente o Centro Espírita Eurípedes Barsanulfo e o núcleo da Legião da Boa Vontade. Atualmente existe na cidade, povoados e zona rural uma infinidade de igrejas com as mais diversas denominações. Magistério da Igreja e Prática Missionária Para se entender o que vem a ser o magistério da Igreja é preciso fazer um mergulho na vida e no ministério de Jesus Cristo e, só assim, é possível conhecer o seu querer e suas escolhas. Jesus é o filho de Deus (Jo. 1, 14) e o filho de Maria (Lc. 1, 35), verdadeiramente homem e Deus. Jesus-Mestre e Senhor, escolheu para si um grupo de discípulos com os quais fundou a sua Igreja. A Igreja é a comunidade daqueles que seguem Cristo Jesus e por isto mesmo são chamados de cristãos pela primeira vez em Antioquia (Cf. At. 11, 26). A Igreja nasce no coração de Deus Uno e Trino e é na Trindade que se espelha para ser uma comunidade de salvação. Como nos diz Boff (1989, p. 25): “Se Deus significa três Pessoas divinas em eterna comunhão entre si, então devemos concluir que nós também, seus filhos e filhas, somos chamados à comunhão. Somos imagem e semelhança da Trindade”. Ser cristão implica tornar-se membro do corpo místico de Jesus Cristo, que é a Igreja ( I Cor.12 e Comissão Teológico-Histórica do Grande Jubileu do ano 2000 1996, p.142). 5 A comunidade cristã primitiva tinha uma clara consciência da ação trinitária na vida dos fiéis, como se vê em Mt.28,19: “Ide, pois, fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e dos Espírito Santo”. Outro texto singular que trata da trindade é do apóstolo Paulo, quando apresenta a belíssima saudação, que é muito usada nas missas: “A graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus (Pai) e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós” (II Cor.13,13). Mas a Igreja, no seu magistério, Catecismo da Igreja, 759 (2000, p. 217-8), defende que: Todos os que crêem em Cristo, o Pai quis chamá-los a formarem a santa Igreja”. Esta “família de Deus” se constitui e se realiza gradualmente ao longo das etapas da história humana, segundo as disposições do Pai. Com efeito “desde a origem do mundo a Igreja foi prefigurada. Foi admiravelmente preparada na história do povo de Israel e na antiga aliança. Foi fundada nos últimos tempos. Foi manifestada pela efusão do Espírito. E no fim dos tempos será gloriosamente consumada”. O Magistério da Igreja decorre dessa formação inicial e é composto de um conjunto de bispos, sucessores dos apóstolos, em união com o Papa. Consta no Decreto “Christus Dominus”, 2 (1986, p. 404): [...] Pois Cristo confiou aos Apóstolos e aos seus sucessores o mandato e o poder de ensinarem todas as gentes, santificarem na verdade e apascentarem os homens. Os Bispos, portanto, pelo Espírito Santo, que lhes foi dado, foram constituídos verdadeiros e autênticos Mestres da Fé, Pontífices e Pastores. Estes, por sua vez, têm a missão de ensinar, santificar e governar a Igreja em questões de fé e moral, e esta é também a competência de cada bispo diocesano. A hierarquia Católica exerce seu magistério através dos documentos que são dirigidos aos bispos, sacerdotes, e aos fiéis em geral. Tomando como base o que foi acima exposto verifica-se que a palavra magistério aponta para o ato de ensinar. Na área escolar, dá suporte aos profissionais para bem desempenharem suas atribuições e também vislumbrarem seus direitos e deveres. O Magistério da Igreja, como já foi mencionado, também tem como fundamento o ensinar: com sabedoria, com humildade e com a força reveladora de Deus. A Constituição Dogmática “Dei Verbum” 10 (1986, p. 127) é precisa em determinar que: O ofício de interpretar autenticamente a palavra de Deus escrita ou transmitida, foi confiado unicamente ao Magistério vivo da Igreja cuja autoridade se exerce em nome de Jesus Cristo. Tal Magistério evidentemente não está acima da palavra de Deus, mas a seu serviço, não ensinando senão o que foi transmitido, no sentido de que, por mandato divino e com a assistência do Espírito Santo, piamente ausculta aquela palavra, santamente a guarda e fielmente a expõe. 6 O Magistério da Igreja está a serviço das realidades divinas e humanas. Ele mostra e pede que sejam vistos com clareza o rosto divino do homem e o rosto humano de Deus, numa perspectiva de contribuir para que o ser humano possa ser feliz. É interessante verificar que os ensinamentos da Igreja não se restringem apenas a aspectos religiosos mas, também, preocupa-se com o sociocultural, com o econômico e com o político. Puebla 472 e 473 (1984, p. 207-208) informa que A contribuição da Igreja à libertação e promoção humana vem se concretizando num conjunto de orientações doutrinárias e critérios de ação que costumamos chamar “doutrina social da Igreja” os quais têm sua fonte na Sagrada Escritura, na doutrina dos Santos Padres e dos grandes teólogos da Igreja e no Magistério, especialmente dos últimos papas [...] podemos formular esta doutrina assim: atenta aos sinais dos tempos, interpretados à luz do Evangelho e do magistério da Igreja, toda comunidade cristã é chamada a se tornar responsável pelas opções concretas e pela sua efetiva atuação. Quando se volta para missão no sentido de lutar pela causa do Reino, é bom fazer memória do Papa João XXIII que sonhou com uma Igreja-povo e promoveu ações que apontam para sua concretização. É falar em São Francisco de Assis que deixou lições assumidas atualmente por muitos, inclusive pelos ecologistas. É bom trazer presente Dom Oscar Romero, bispo de El Salvador e Irmã Dorothy Stang, religiosa no norte brasileiro, ambos que doaram a vida seguindo Jesus Cristo no ensinamento da justiça e da libertação e muitos e muitas anônimos que desejaram e desejam um mundo onde a paz seja o verdadeiro mandamento do Ressuscitado. Este desejo de paz que pulsa no coração da humanidade é ratificado pela Constituição Pastoral “Gaudium et Spes” 78 (1986, p. 238) que proclama: A paz terrestre que surge do amor ao próximo, é imagem e efeito da paz de Cristo que promana de Deus Pai. Pois o próprio Filho encarnado, príncipe da paz, por sua cruz reconciliou todos os homens com Deus. [...] e depois do triunfo da ressurreição, derramou o Espírito da caridade nos corações dos homens. Em suma, a sublime missão de um Deus que se encarna na história humana, tornando-se modelo e referência, estando presente e sendo presença conforme nos atesta a Constituição Dogmática “Dei Verbum” (1986) quando enfatiza que este mesmo Deus, depois de ter falado por várias vezes e de formas diferentes pelos profetas, agora quer falar diretamente pelo Filho, norteando dessa forma os rumos desta nova história a ser construída pelos filhos e filhas de Deus. Esse catolicismo popular sustenta a fé onde as distâncias e o reduzido número de padres e agentes pastorais impedem que a Igreja constituída possa estar presente; foi assim ontem, é assim hoje. 7 Os rituais, as fórmulas de oração popular, os cânticos, os votos e as diversas manifestações animam o povo que, na simplicidade da fé, acredita que Deus no seu infinito amor acolhe e reverte em bênçãos e graças essas formas simples de religiosidade e mantêm viva a fé em Deus Pai. Vale, portanto, dizer que a religiosidade advinda do catolicismo popular cria laços de comunhão, alimentando a esperança de muitas pessoas que, mesmo distantes da hierarquia da igreja, mantêm vivas a aproximação com os santos, com a natureza e com Deus, fazendo com que o hoje de Deus aconteça nas suas realidades. É importante apontar a pluralidade da ação do clero. Existem presbíteros que estão voltados para a causa educacional através de escolas ou universidades, outros têm carismas voltados mais para o atendimento aos doentes. Vários colocam-se exclusivamente à disposição das paróquias promovendo trabalhos pastorais e ainda outros que, com sua vocação missionária, voltam sua ação para um trabalho em lugares mais distantes onde a necessidade de apresentar o rosto do Deus Vivo é mais premente. O Decreto “Presbyterorum Ordinis” 2 (1986, p. 441) diz que: Uma vez que participam, no que lhes toca, no Múnus dos Apóstolos, recebem os Presbíteros de Deus a graça de serem ministros de Cristo Jesus entre os povos, desempenhando o Múnus sagrado de evangelizar, para que os povos se tornem oblação agradável, santificados no Espírito Santo. Pois é pela mensagem apostólica que se conclama e congrega o Povo de Deus [...]. Essa ação do ministério ordenado no mundo deve ser entendida como uma linha de ação caridosa que colabore com a construção de um mundo mais humano e fraterno, pois junto ao povo de Deus a ação deve fazer realidade a história da Salvação. Puebla 692 e 693 (1984, p. 264) pontua e esclarece essa realidade quando afirma que: O presbítero anuncia o Reino de Deus, que se inicia neste mundo e chegará à plenitude quando Cristo vier no fim dos tempos [...] é um homem de Deus. Só lhe é dado ser profeta na medida em que tenha feito a experiência do Deus vivo. Só esta experiência o fará portador duma palavra poderosa para transformar a vida pessoal e social dos homens [...]. A Igreja, na sua imensa sabedoria e preocupada como sempre está pela condução do povo de Deus, que é na realidade a sua causa, consequentemente preocupa-se com as orientações a serem dadas ao clero para que possa, com ardor e competência, a exemplo do Bom Pastor, colaborar para a santificação das almas e para a vida plena. A Constituição Dogmática “Lumen Gentium” 28 (1986, p. 75) vem comprovar a afirmativa quando diz: Como pais em Cristo, cuidem dos fiéis, que eles espiritualmente geraram pelo Batismo e pela pregação (Cf. 1 Cor. 4, 15; 1 Ped. 5, 23). De corações feitos 8 modelos para o rebanho (Cf. 1 Ped. 5, 3) presidam e sirvam de tal modo sua comunidade local, que esta dignamente possa ser chamada com aquele nome, pelo qual só o Povo de Deus é distinguido, a saber: Igreja de Deus. . O mundo atual, impregnado de falsos valores, requer do clero uma ação que ajude o ser humano a situar-se nele e lutar pela sua transformação. Nessa orientação as conclusões de Medellin (1984, p. 113) mostram caminhos quando salientam que: “A consagração sacramental da Ordem situa o sacerdote no mundo a serviço dos homens. É de particular importância sublinhar que a ‘consagração’ sacerdotal é conferida por Cristo para a ‘missão’ da salvação do homem [...]”. Verifica-se, portanto, que a ação advinda do sacramento da Ordem nessa linha citada por Medellín confere ao sacerdote o múnus transformando-o em responsável pelo anúncio, diálogo, serviço e testemunho de comunhão. Em suma, a ação dos presbíteros deve estar a serviço da unidade da Igreja, levando os cristãos ao conhecimento e à vivência plena da Boa Nova proposta por Jesus Cristo. Padre Jesus: Sua Pessoa e Sua Missão Padre Jesus Osés Pagola pertenceu à congregação religiosa denominada Filhos do Imaculado Coração de Maria (missionários claretianos). Conforme Sáez (2006) ele nasceu em 25 de dezembro de 1904 em Ollabarren, Espanha. Filho do Sr. Antônio e Sra. Cajetina. Fez sua profissão religiosa na congregação em 15 de agosto de 1921 e foi ordenado presbítero em 02de junho de 1929. Sua vinda para o Brasil deu-se no ano de 1931, para Goiás em 1941 e para Goianésia no ano de 1956, com 52 anos de idade, onde permaneceu até 1992, época do seu falecimento. Conforme o relatado, padre Jesus pertenceu a uma congregação religiosa, era, portanto, padre religioso. É bom ressaltar que tanto os padres diocesanos como os religiosos são presbíteros (sacerdotes, padres). A diferença está no modo de viver o sacerdócio. O padre diocesano vive em função de uma diocese, depende do Bispo, não faz a profissão solene dos votos, mas as promessas de castidade e obediência. O padre religioso vive em função de uma Congregação, em questões pastorais e disciplinares depende do Bispo onde está exercendo seu ministério. Faz a profissão solene dos votos de pobreza, castidade e obediência, vive numa comunidade e depende diretamente do Superior da Congregação, mesmo em termos de transferência. Os padres religiosos, diferentemente dos diocesanos, que têm seu campo de ação mais voltado para trabalhos paroquiais, desenvolvem seu ministério em diferentes lugares, de 9 acordo com a vocação da congregação em que estão inseridos. É interessante reportar que a história brasileira parte da ação dos jesuítas, congregação religiosa que no início da colonização do Brasil realizou seu trabalho em escolas e na catequese indígena. Hoje, as congregações estão presentes na área da comunicação, a serviço da área de saúde, em escolas e universidades, em paróquias, na ação pastoral e também no campo da missão. Padre Jesus Osés Pagola, objeto dessa pesquisa, além de atuar no ministério paroquial, direcionou também sua ação à missionaridade. A Congregação dos Filhos do Imaculado Coração de Maria (missionários claretianos) de acordo com Martinez (1991) foi fundada por Santo Antônio Maria Claret e companheiros, em 16 de julho de 1849, em Vic na Espanha. Santo Antônio Maria Claret, em sua obra Autobiografia (1984) esclarece que a Congregação teve a intenção de prolongar sua tarefa evangelizadora na Igreja e que os claretianos – sacerdotes, diáconos, estudantes e irmãos – trabalham em diversos campos: missões, ensino, paróquias, meios de comunicação social etc. Assim, Santo Antônio Maria Claret (1984, p. 154) define missionário claretiano: Um filho do Imaculado Coração de Maria é um homem que arde em caridade e abrasa por onde passa; que deseja eficazmente e procura por todos os meios inflamar o mundo no fogo do divino amor. Nada o detém. Alegra-se nas privações. Enfrenta os trabalhos. Abraça os sacrifícios. Compraz-se nas calúnias e nos tormentos. Seu único pensamento é seguir e imitar a Jesus Cristo no trabalho, no sofrimento e na procura constante e exclusiva da maior glória de Deus e da salvação das almas. De acordo com a obra Servidores da palavra (1981, p. 9) os claretianos têm como carisma “Anunciar a Boa Nova”. Santo Antônio Maria Claret (1984, p. 150) informa, em uma nota de rodapé, que a congregação: “[...] tem como fim específico a pregação missionária da Palavra ou o anúncio do Evangelho em todas as suas formas e por todos os meios, atendendo de maneira mais urgente, oportuna e eficaz”. Os missionários claretianos procuram vivenciar o carisma onde Deus lhes enviar. Cada um é chamado a experienciar a Palavra do Deus Vivo e Senhor da História “na” e “com” a comunidade. Deve estar sempre aberto à partilha e à vivência dos ensinamentos do Nazareno. Também no seu ser missionário, entendido como enviado, deve estar à disposição da Igreja levando seu Evangelho àqueles que nunca o ouviram. A Congregação dos Filhos do Imaculado Coração de Maria está presente em várias partes do mundo. No Brasil, Sáez (2006) informa que em 1954 por Decreto da Sagrada Congregação dos Religiosos, datado de 24 de abril, houve a divisão da Província Brasileira 10 em dois organismos: a Província Meridional compreendendo os Estados de São Paulo, Mato Grosso, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul e a Vice-Província do Brasil Central, hoje denominada Delegação Independente do Brasil Central com casas no Distrito Federal, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia e Goiás. Em Goiás as casas estavam em Goiânia, Posse, Itapaci, Niquelândia e Goianésia. Para Goianésia, como foi relatado no aspecto religioso na primeira parte desse trabalho, veio em 1956 a congregação claretiana a convite do bispo da diocese, Dom Francisco Prada, que era membro dessa congregação. Melo (1981) dá conta que os primeiros padres designados para assumirem a paróquia foram Pe. Jesus Osés Pagola, tendo sido nomeado em 1957 para vigário e padre Antônio Artiaga, cooperador. Para pormenorizar a ação evangelizadora de padre Jesus é interessante atentar-se ao que é relatado na obra Servidores da Palavra (1991, p. 33): Evangelizamos quando nos abrimos aos demais, oferecendo-lhes o melhor de nós mesmos e quando compartilhamos com eles nossa esperança. Também estes podem transmitir-nos de forma insuspeitável o Evangelho de Deus, se os acolhemos, escutamos suas palavras e nos deixamos enriquecer por meio de suas experiências. Padre Jesus, em Goianésia, realizou com muita clareza o acima exposto, pois esteve sempre voltado para a evangelização. S.D.S.R.S. (26 maio 2007) informa que encontrar-se com um espanhol de boina preta, dirigindo um jeep azul, numa velocidade de 30 km/h e muitas vezes levando uma carretinha que transportava seu velho harmônio, companheiro de todos os momentos, suas roupas pessoais e paramentos litúrgicos, um tambor de gasolina, megafone, imagens, terços e santinhos, era rotineiro. Ela dá conta que em vista disso: [...] podemos afirmar que ele era um verdadeiro missionário ambulante [...]. Ficou mais do que comprovado que a vida dele foi um testemunho de doação por inteiro, na luta por uma evangelização e catequese [...] ele direcionou seu trabalho para a zona rural em busca do descobrimento de morros, fazendo grutas, capelas, organizando romarias e conquistando gente nova. Prada, cmf (s/d, p. 5-6) enfatiza: [...] a Missão origina-se da palavra latina Mittere que significa enviar [...]. aos enviados para levar a mensagem aos povos, nós damos o nome de missionários. [...] tem por finalidade pregar as verdades eternas [...] comover as almas para sair do pecado, firmá-las na fé e aproximá-las dos Sacramentos da Penitência e Eucaristia. A construção da realidade do povo da época do padre Jesus, nas romarias, novenas, festas, morros, fogueiras, procissões também estava vinculada à compreensão do imaginário religioso desse povo. A esse respeito Berger (1985, p. 15) afirma que: “Toda 11 sociedade humana é um empreendimento de construção do mundo. A religião ocupa um lugar destacado nesse empreendimento”. Padre Jesus foi amado e respeitado por muitos. Pe. A.F.R. dá seu testemunho: Tive a alegria de conviver com ele quase dez anos, para mim foi um grande aprendizado. Era comum sentarmos após a zero hora, momento em que ele costumava tomar seu leite e frutas após ter dormido um pouco. Neste momento ele contava suas experiências, mostrava seus projetos e também suas angústias e preocupações. Teve sua vida palmilhada pelas romarias. Não se prendia a espaço geográfico. Desejava ver o povo reunido e unido. Ele imitava o Nazareno, Lc. 4, 43 “Devo anunciar também a outras cidades a Boa Nova do Reino de Deus, pois é para isso que fui enviado”. Nesse tocante M.E.B. descreve: É marcante na sua vida, a história das romarias. Nestas festas populares ele despertou o interesse do povo do município de Goianésia, Barro Alto, Santa Rita do Novo Destino e Niquelândia. Merecem destaque especial as romarias: Olho D’Água em Barro Alto, Morro da Mesa em Santa Rita do Novo Destino, Nossa Senhora D’Abadia do Muquém – Niquelândia e Morro da Santa, em Goianésia. Foi pessoa inconfundível, pois estava presente e era presença no meio do povo. Mesmo aqueles que não tiverem oportunidade de conhecê-lo pessoalmente o conhecem através de familiares e também de suas ações. Comprova essa afirmativa o depoimento de R.C.V. : “[...] seu nome está relacionado a um grande líder religioso, pois seu trabalho nunca foi esquecido e parece insubstituível [...] seus fiéis nunca esquecem e dizem: ‘Bom era o Pe. Jesus’ [...]. Seu nome é relacionado à evangelização e simplicidade”. Sua vivência religiosa está calcada em virtudes admiráveis, como relata V.L.M. “Seu nome está relacionado a coragem, doação, partilha, fé, persistência e, principalmente, amor a Deus, à igreja e ao próximo”. Quando V.L.M. diz desse grande amor, fica claro o quanto Pe. Jesus seguiu as pegadas do fundador de sua congregação, pois segundo Santo Antônio M. Claret (1984, p. 130): “A virtude mais necessária é o amor. Sim, digo-o e o repetirei mil vezes: a virtude que o missionário mais necessita é o amor. O amor a Deus, a Jesus Cristo, a Maria Santíssima e ao próximo. Sem este amor as mais belas qualidades são inúteis...”. Pe. A.F.R. conta que Pe. Jesus, mesmo com idade avançada, tinha espírito jovem e queria estar sempre atualizado sobre as orientações da Igreja, razão qual estudava sempre os documentos: Vaticano II, Puebla e outros, e também preocupado em buscar formas novas de evangelizar, assim expressava: “É preciso levar uma mensagem atual e traduzir o evangelho 12 dentro da realidade de hoje, para que o povo atualize e se comprometa na transformação da vida e da sociedade”. A ação missionária do Pe. Jesus esteve sempre vinculada a um catolicismo popular com suas tradições que Avelar (2004) salienta ser diferente das manifestações artísticas, pois subsistem graças ao profundo respeito do povo ao sagrado. As tradições populares religiosas são mantidas vivas pelas comunidades, não apenas como forma de preservá-las, mas porque acreditam que essas tradições as unem. Nessa vertente M.E.B. (11/05/2007) apresenta: “[...] Peregrino, o padre Jesus não tinha parada. Sempre estava viajando com seu jeep. Visitando povoados, fazendas e municípios, celebrando missas, confissões, casamentos e batizados. Era muito popular e amigo do povo da roça”. Todas as pessoas que participaram com seus depoimentos para a presente pesquisa foram unânimes em lembrar da voz maravilhosa do Pe. Jesus quando cantava as ladainhas, ofício de Nossa Senhora, os benditos e as músicas eucarísticas. S.V.L. (12 maio 2007), fortalece essa afirmativa quando expõe: Homem de voz maravilhosa. Quando subia no mirante instalado no cume do Morro da Mesa e cantava a ladainha de Nossa Senhora, os moradores da redondeza podiam ouvir e quem estava no morro sentia o eco daquela voz voltando dos vales e ecoando como se estivesse subindo ao encontro de Deus [...] Ele passou, mas a ladainha de Nossa Senhora ainda permanece gravada em nossa lembrança. Nesse tocante Sáez (2006), qualifica Pe. Jesus como dotado de temperamento pacífico, serviçal e alegre. Afirma que na sede da paróquia ou na zona rural ele cantava com o povo, principalmente nas procissões e nas celebrações eucarístico-marianas. É pertinente também enfatizar o grande espírito de humildade do Pe. Jesus. A.R.V. argumenta: “Era muito humilde, completamente despojado e o seu trabalho sobressaiu-se na zona rural, onde ele desconhecia fronteiras, sempre em busca de almas que não conheciam o Evangelho”. E R.C.V. ratifica o exposto informando que: “Uma das principais virtudes de Pe. Jesus era fazer com que seus fiéis o vissem, sentissem como irmão, pois ele era simples e humilde assim como a maioria de seus fiéis”. No tocante à sua humildade, percebe-se que teve o cuidado de seguir as pegadas do fundador da sua congregação. Santo Antônio Maria Claret (1984, p. 99) preconiza que “Para adquirir as virtudes necessárias para se tornar verdadeiro missionário apostólico tinha que começar pela humildade, que a considerava o fundamento de todas as virtudes”. A ação sacerdotal do Pe. Jesus foi mais voltada para a zona rural, entretanto é notório que também teve participação efetiva na zona urbana, haja vista que de acordo com 13 Melo (1981) logo após a criação da paróquia ele foi nomeado em julho de 1957 vigário de Goianésia. M.G.M.G. narra que O padre Jesus teve muita importância na religiosidade do povo goianesiense. Foi ele que deu início à construção da Igreja Matriz Nossa Senhora D’Abadia, com os escassos recursos da época [...] ele saía para as fazendas [...]. ao final de suas andanças retornava com o carro cheio de ofertas doadas pelos fazendeiros que visitava. S.G.L. confirma que ele foi vigário no início de Goianésia. Para A.M.G.M., dentre os vários padres que residiram em Goianésia, desde sua fundação “[...] padre Jesus destaca-se por sua santidade e trabalho. Homem voltado à ação missionária de evangelizar, instruir e aumentar o número de pessoas a praticar o bem, ajudar o próximo e dedicar-se à ação pastoral”. Também, M.F.S. diz que: “Goianésia nasceu junto com o trabalho de Pe. Jesus. Pioneiro, missionário, homem de fé, dotado de enorme vocação para a evangelização [...]”. Padre Jesus, como pároco, preocupou-se também com a formação da comunidade paroquial. M.E.B. dá ciência de que foi ele quem iniciou a organização paroquial com catequese para crianças, jovens e adultos, Congregação Mariana para homens, Filhas de Maria, Apostolado da Oração e Legião de Maria para as mulheres. Promovia com determinação, alegria e fervor as festas religiosas, especialmente as dos Padroeiros Nossa Senhora D’Abadia e São Sebastião. Vale ressaltar o quanto ele acreditava na bondade de Deus. De acordo com Sáez (2006, p. 1.264) Pe. Jesus “Não tinha lá muito escrúpulo com as normas litúrgicas, mas celebrava direitinho a Divina Eucaristia”. E S.D.S.R.S. traz presente um padre Jesus “[...] supermisericordioso, para cada tipo de pessoa ele encontrava uma saída [...] justificando acreditar num plano de misericórdia que Deus tinha para cada um”. Ainda sobre o assunto Pe. A.F.R. conta: “Mas nunca deixou de falar da misericórdia e do amor de Deus para esse povo sofrido”. Percebe-se que, em vista da análise feita sobre o Pe. Jesus Osés Pagola, fica latente que sua pessoa e sua missão beberam na fonte inspiradora que é modelo de fé, humildade, perseverança e amor ao próximo, fonte essa que se chama Jesus Cristo. Que ele não foi apenas discípulo mas, sim, apóstolo de Jesus Sacerdote. Conforme noticia Sáez (2006), Pe. Jesus faleceu em virtude de acidente de carro aos 11 de março de 1992, no município de Goianésia-Goiás e, somente após muitas horas, foi encontrado já sem vida dentro do seu jeep tombado, numa estrada que dava acesso a uma das capelas que ele assistia. A.R.V. complementa: 14 Na tarde quando Goianésia recebe a notícia de sua trágica morte preso no jeep [...] debaixo de uma chuva que durou a noite toda ao lado da ribanceira onde caíra, a nossa cidade se entristeceu, com a perda desse soldado de Cristo, que morreu como mártir da evangelização. Sua vida esteve totalmente voltada para aqueles, especialmente os mais humildes, que viviam distante dos centros urbanos, longe da modernidade e que nem por isso deixaram de conhecer o rosto humano de Cristo, presente no grande Sacramento da Eucaristia, para a qual seu amor era inteiramente voltado. Sem dúvida alguma, Pe. Jesus foi e continuará sendo o exemplo de persistência, o modelo de vida sacerdotal, aquela que, com sua força missionária, fez a Boa Nova de Jesus Cristo espalhar-se pelos vários cantos por onde andou. CONCLUSÃO De acordo com o Decreto “Ad Gentes” 23 (1986, p. 381) Cada discípulo de Cristo tem sua parte na tarefa de propagar a fé. Mas Cristo, o Senhor, apesar disso sempre chama dentre os discípulos aqueles que Ele mesmo quer, para que estejam com Ele e os envia a pregar aos povos”. Partindo desse princípio, pode-se perceber que todos têm a vocação missionária, nenhum é excluído, porém existem aqueles que recebem um chamamento especial, tais como: os padres, os religiosos e as religiosas com a finalidade de levar a evangelização a todos os povos, em todos os tempos e lugares, acolhendo, assim, o mandado de Jesus Cristo, “Ide, pois, e ensinai a todas as nações” (Mt. 28, 19). Isto posto, pode-se tomar a pessoa do Pe. Jesus Osés Pagola como sendo um desses, que acolheu com generosidade o chamamento à vida missionária, abraçando-a com intensidade, a ponto de deixar seus familiares, seu país e vir para outro totalmente desconhecido, com o objetivo de levar a Boa Nova a todos, optando principalmente em anunciá-la aos simples, aos humildes, àqueles que se encontravam distantes do raio de ação da Igreja organizada, fazendo que sua missionaridade fosse totalmente inspirada no modelo maior que é Jesus Cristo. Os testemunhos dados através dos depoimentos vêm reforçar a tese colocada pelo Concílio Vaticano II, onde a vocação missionária do Pe. Jesus foi vivida com muito vigor, servindo para que todos possam tomá-la como exemplo a fim de colocar sua vocação cristã a serviço da prática missionária. 15 Necessário se faz deixar evidente que Pe. Jesus viveu com toda intensidade inúmeras virtudes. Foi realmente o grande seguidor das orientações de Santo Antônio Maria Claret (1984) que constantemente lembrava dever o missionário ser exemplo de todas as virtudes. As mais destacadas na vida do Pe. Jesus foram as da humildade e pobreza. Todos os seus pertences eram de muita simplicidade e estavam sempre à disposição de quem precisasse. Suas roupas e objetos pessoais eram poucos e de extrema modéstia. Ele confiava plenamente na bondade de Deus, advindo daí o seu desapego às coisas materiais. Outra virtude presente na vida do Pe. Jesus foi a de conselheiro, exercendo-a muito bem, através do sacramento da confissão pois, além de atender o mandado da Igreja, estava sempre aberto ao acolhimento, ao direcionamento das pessoas para que elas pudessem ter uma vida mais equilibrada. Foi um homem de muita fé, fé essa vivenciada e partilhada; colocada na própria mensagem de Cristo, apresentada por Tg. 2, 26 “A fé sem obra é morta”. Sua fé foi também direcionada a Maria Santíssima, a primeira cristã, razão pela qual fomentou várias romarias marianas e construiu capelas em morros e grutas em honra à mãe de Jesus Cristo, ficando patente que sua fé era em Deus Trino amalgamada em Nossa Senhora. Com o relatado, evidencia-se que a vida e a ação missionária de Pe. Jesus ao levar a Boa Nova deu-se de forma eficiente e, sobretudo, feito com humildade, simplicidade e muita alegria. Seu amor a Jesus, no Sacramento de Eucaristia, era tão grande que Pe. A.F.R. (09 jun 2007) informa que Pe. Jesus sempre aconselhava: “Vocês padres novos, não deixem se abater pelas dificuldades e críticas, busquem força na oração e na Eucaristia, lancem a cada dia aos pés de Jesus Eucarístico e serão sempre agraciados pelo amor do Pai”. Conclui-se pois, que sua vida sacerdotal foi vivida intensamente, sendo modelo para todos os sacerdotes, religiosos e religiosas, enfim, para todo povo de Deus que, na leitura desse texto, terá condição e motivação para repensar ou continuar sua ação missionária. ABSTRACT This paper aims to keep alive the memory of Father Jesus Osés Pagola, religious belonging to the Congregation of the Sons of the Immaculate Heart of Mary and show missionary activity and religious traditions from their life. It also wants to make clear that his lived in GoianésiaGoiás, in the period 1956 to 1992, deeply marked the people of the community not only in the religious aspect but also in cultural and historical. The study was based on literature and social, gathering evidence, conducting interviews and questionnaires. The authors surveyed and the information offered by those interviewed to confirm a clear and objective the bringing home: it was evident that Father Jesus favored the Catholic Church in Goianésia and its pastoral had its main focus on popular religion with greater role in countryside, making the 16 Word of God from reaching the most difficult places to access and could meet people easier, encouraging the maintenance of faith in the Triune God and Holy Mary, Mother of Jesus Christ. Keywords: Popular Religiosity. Mission. Rural. Humility. REFERÊNCIAS AVELAR, Rezende Bruno de. Se alguém está em Cristo, nova criatura é: A Espiritualidade que brota da formação bíblica para jovens, 2004, 137 fls. Dissertação (Curso de Ciências da Religião) – Departamento de Teologia, Universidade Católica de Goiás, Goiânia, 2004. BERGER, Peter L. O Dossel Sagrado: elementos para uma Teoria Sociológica da Religião. 2. ed. São Paulo: Paulus Gráfica, 1985. BÍBLIA de Jerusalém. São Paulo: Paulinas, 1985. 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