Religiosidade Popular e Ação Missionária Caso

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Religiosidade Popular e Ação Missionária Caso
RELIGIOSIDADE POPULAR E AÇÃO MISSIONÁRIA
Caso: Padre Jesus Osés Pagola, cmf
Pe. José Francisco Rodrigues do Rêgo1
Maria Inácia Lopes2
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo manter viva a memória do Padre Jesus Osés Pagola,
religioso pertencente à Congregação dos Filhos do Imaculado Coração de Maria e mostrar a
ação missionária e a religiosidade popular a partir da sua vida. É desejo também deixar claro
que sua passagem por Goianésia-Goiás, no período de 1956 a 1992, marcou profundamente o
povo da comunidade não apenas no aspecto religioso mas, também, nos sociocultural e
histórico. O estudo foi baseado em pesquisa bibliográfica e social, colhendo depoimentos,
realizando entrevistas e aplicando questionários. Os autores pesquisados e as informações
oferecidas pelas pessoas entrevistadas ratificam de forma clara e objetiva a propositura inicial:
ficou evidenciado que Pe. Jesus favoreceu a formação de Igreja Católica em Goianésia e que
sua ação pastoral teve seu foco principal na religiosidade popular com atuação maior na zona
rural, fazendo com que a Palavra de Deus atingisse os lugares mais difíceis de acesso e
pudesse atender o povo mais simples, fomentando a manutenção da fé em Deus Trino e em
Maria Santíssima, a Mãe de Cristo Jesus.
Palavras-chave: Religiosidade Popular. Missão. Zona rural. Humildade.
INTRODUÇÃO
O missionário claretiano, Padre Jesus Osés Pagola, viveu no período de 1956 a
1992 na cidade de Goianésia-Goiás, situada na região denominada “Vale do São Patrício”.
Num primeiro olhar, as cidades parecem ser fruto de algo mágico, dando a
impressão de que nasceram prontas, com seus centros urbanos, condomínios, prédios, praças,
periferia e tudo mais que as compõe entretanto, à luz da história, vê-se que elas, para
chegarem a essa realidade, necessitam obedecer normas e orientações legais para suas
implantações, desmistificando, assim, a primeira idéia.
Sabe-se, portanto, que com o município de Goianésia não foi diferente. A história
da sua fundação dá-se numa perspectiva da chamada “Marcha para o Oeste”.
Melo (1981, p. 34) confirma esse momento histórico:
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2
Aluno concluinte do curso de Licenciatura Plena em Filosofia da Faculdade Católica de Anápolis
Mestre em Ciências da Educação Superior, Vice-Diretora Acadêmica da Faculdade Católica de Anápolis
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Já por este tempo, promovia o Governo Federal a política de colônias agrícolas em
muitas regiões do Estado, como conseqüência da política da ‘MARCHA PARA O
OESTE’, fato que veio a concorrer, destarte, para a cristalização de uma nova fase
progressista no Estado.
Tomando conhecimento dessa realidade, muitas famílias de algumas regiões do
país, especialmente as mineiras, que impulsionadas pela cultura do café, cultura básica da
região naquela época, resolveram instalar-se neste chão goiano.
De acordo com Menezes et al. (2000), Laurentino Martins, mineiro de Araguari,
mas residindo na cidade de Anápolis-GO, ao ouvir relatos sobre a fertilidade das terras da
região do “Calção de Couro” (nome do córrego que deu origem ao nome do povoado) e
também por ser um homem de visão e espírito arrojados, tomou a decisão de embrenhar-se
nesta região, para nela “ser” e “fazer” sua história. Isso deu-se no ano de 1939 quando, com
um amigo, fez um vôo de reconhecimento da localidade num avião monomotor. Certificandose assim daquilo que lhe haviam informado, em maio de 1940 adquiriu uma gleba de terras de
3.162,32 hectares iniciando, assim, a realização de seu sonho de bandeirante.
É bom ressaltar que para quem vê hoje Goianésia, é difícil fazer idéia das
dificuldades do ontem.
No aspecto histórico, Menezes et al. (2000, p. 46-47) dá conta
de
que:
Calção de Couro crescia em população, a cafeicultura fazia diferença na economia
e, com isso, a renda interna se expandia. Diante dos fatos e dos contatos políticos
que mantinha com Laurentino, o prefeito de Jaraguá Nelson de Castro resolveu
elevar o povoado à categoria de Distrito de Goianésia [...] – Lei n. 10, de 21 de
agosto de 1948.
Voltando o olhar para o aspecto sociocultural pode-se afirmar, sem dúvida alguma,
que o marco inicial deu-se com o funcionamento da primeira escola, ainda na fazenda Calção
de Couro, funcionando em um rancho onde se realizavam as funções comunitárias: reza do
terço, reuniões, festas, escola etc. Com a emancipação política foi construído na cidade o
prédio da primeira escola estadual: Grupo Escolar Ramos Jubé. Adolescentes e jovens da
cidade e da zona rural, que vinham a cavalo, ali tinham o primeiro contato com a cultura de
livro.
No tocante ao aspecto econômico, as fontes de pesquisa são unânimes em ressaltar
que a primeira vocação econômica do município de Goianésia deu-se com a cultura cafeeira.
Jales Machado de Siqueira, deputado federal e empresário em Buriti Alegre-GO,
entusiasmado pelo município iniciou, com famílias vindas com ele de outras regiões, o plantio
sistematizado da cultura de café em sua fazenda. Geremia Lunardelli, empresário com
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atividade de cafeicultura especialmente no estado de São Paulo onde foi considerado o “Rei
do Café Mundial” também adquiriu terras no município de Goianésia(MELO, 1981). Como já
era empresário nesta atividade e por acreditar na fertilidade da região, não teve dúvidas em
investir nela.
O município crescia e de acordo com Menezes et al. (2000) em 1961 a
fazenda São Carlos foi colocada à venda, adquirindo-a os irmãos Fernandes que ali
implantaram a primeira usina de açúcar do Estado de Goiás, vindo substituir os cafezais que
por sua vez receberam incentivos financeiros do governo federal para sua erradicação; a
economia tomou pulso e foi gerando divisas para o município.
Em 1980, com a implantação da Goianésia Álcool do empresário Otávio Lage de
Siqueira, filhos e acionistas, o cenário sócio-econômico de Goianésia se modifica
[...]. Na área sucro-alcooleira, ambas as indústrias: a Sociedade Açucareira
Monteiro de Barros [atual Usina Goianésia] e a Goianésia Álcool, atual Jalles
Machado S.A., Açúcar e Álcool, trouxeram avanços tecnológicos (MENEZES et
al., 2000, p. 96).
Para se falar no aspecto religioso é bom salientar que a religiosidade foi
despertada, principalmente, em virtude da formação da população goianesiense ter sofrido
uma forte influência de famílias mineiras, que carregavam em si uma
tradição religiosa
marcante. Melo (1981, p. 231) faz alusão a esse quesito: “Em 30 de setembro de 1943, um
sábado, o cruzeiro foi levantado na presença de Laurentino e família, de todo pessoal que
tinha vindo de Anápolis, bem como das pessoas que moravam na redondeza”.
No tocante à Paróquia de Goianésia, é pertinente enfocar que ela foi criada em
1956, tendo sido nomeado o Pe. Rui Nunes do Vale seu primeiro vigário. Foi um período
curto sua permanência em Goianésia pois, como informa Menezes et al. (2000), Dom
Francisco Prada, bispo da Diocese de Uruaçu, membro da Congregação Claretiana, convidou
padres da sua congregação para assumir a direção e os trabalhos da paróquia. Foi com muito
entusiasmo que a comunidade recebeu os novos missionários.
Menezes et al. (2000, p. 78) relata que:
[...] fato importante foi a chegada dos padres claretianos Jesus Osés Pagola e
Antônio Artiaga, que vieram assumir e desenvolver a Paróquia Nossa Senhora da
Abadia [...]. Com a chegada dos sacerdotes os acontecimentos religiosos tornaramse mais animados.
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E Melo (1981) completa dando conta de que em julho de 1957 foi o Pe. Jesus Osés
Pagola nomeado vigário e Pe. Antônio Artiaga Cooperador, que imediatamente tomaram
posse de seus cargos.
Atualmente a Igreja Católica em Goianésia está bem estruturada, exercendo
seu grande papel de evangelizadora onde Fé e Vida se entrelaçam, fazendo com que ela possa
realmente ser força entre a humanidade. Conta com duas paróquias: Nossa Sra. D’Abadia
conduzida ainda pelos padres missionários Claretianos e Sagrado Coração de Jesus, assistida
pelos padres diocesanos.
Em ambas, há uma participação muito grande dos fiéis e uma perfeita organização
paroquial com seus conselhos de pastoral, movimentos e pastorais atendendo às necessidades
das paróquias.
Conta, também, com uma congregação religiosa feminina que tem o carisma
voltado para educação. Também vale ressaltar que desde o início há a presença de igrejas
evangélicas como a Presbiteriana, chegada no início do distrito, informa Menezes et al.
(2000), Assembléia de Deus, fundada em Goianésia em julho de 1951 e posteriormente o
Centro Espírita Eurípedes Barsanulfo e o núcleo da Legião da Boa Vontade. Atualmente
existe na cidade, povoados e zona rural uma infinidade de igrejas com as mais diversas
denominações.
Magistério da Igreja e Prática Missionária
Para se entender o que vem a ser o magistério da Igreja é preciso fazer um
mergulho na vida e no ministério de Jesus Cristo e, só assim, é possível conhecer o seu querer
e suas escolhas. Jesus é o filho de Deus (Jo. 1, 14) e o filho de Maria (Lc. 1, 35),
verdadeiramente homem e Deus. Jesus-Mestre e Senhor, escolheu para si um grupo de
discípulos com os quais fundou a sua Igreja.
A Igreja é a comunidade daqueles que seguem Cristo Jesus e por isto mesmo são
chamados de cristãos pela primeira vez em Antioquia (Cf. At. 11, 26). A Igreja nasce no
coração de Deus Uno e Trino e é na Trindade que se espelha para ser uma comunidade de
salvação. Como nos diz Boff (1989, p. 25): “Se Deus significa três Pessoas divinas em eterna
comunhão entre si, então devemos concluir que nós também, seus filhos e filhas, somos
chamados à comunhão. Somos imagem e semelhança da Trindade”.
Ser cristão implica tornar-se membro do corpo místico de Jesus Cristo, que é a
Igreja ( I Cor.12 e Comissão Teológico-Histórica do Grande Jubileu do ano 2000 1996,
p.142).
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A comunidade cristã primitiva tinha uma clara consciência da ação trinitária na
vida dos fiéis, como se vê em Mt.28,19: “Ide, pois, fazei discípulos meus todos os povos,
batizando-os em nome do Pai, do Filho e dos Espírito Santo”. Outro texto singular que trata
da trindade é do apóstolo Paulo, quando apresenta a belíssima saudação, que é muito usada
nas missas: “A graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus (Pai) e a comunhão do
Espírito Santo estejam com todos vós” (II Cor.13,13).
Mas a Igreja, no seu magistério, Catecismo da Igreja, 759 (2000, p. 217-8),
defende que:
Todos os que crêem em Cristo, o Pai quis chamá-los a formarem a santa Igreja”.
Esta “família de Deus” se constitui e se realiza gradualmente ao longo das etapas da
história humana, segundo as disposições do Pai. Com efeito “desde a origem do
mundo a Igreja foi prefigurada. Foi admiravelmente preparada na história do povo
de Israel e na antiga aliança. Foi fundada nos últimos tempos. Foi manifestada pela
efusão do Espírito. E no fim dos tempos será gloriosamente consumada”.
O Magistério da Igreja decorre dessa formação inicial e é composto de um
conjunto de bispos, sucessores dos apóstolos, em união com o Papa. Consta no Decreto
“Christus Dominus”, 2 (1986, p. 404):
[...] Pois Cristo confiou aos Apóstolos e aos seus sucessores o mandato e o poder de
ensinarem todas as gentes, santificarem na verdade e apascentarem os homens. Os
Bispos, portanto, pelo Espírito Santo, que lhes foi dado, foram constituídos
verdadeiros e autênticos Mestres da Fé, Pontífices e Pastores.
Estes, por sua vez, têm a missão de ensinar, santificar e governar a Igreja em
questões de fé e moral, e esta é também a competência de cada bispo diocesano. A hierarquia
Católica exerce seu magistério através dos documentos que são dirigidos aos bispos,
sacerdotes, e aos fiéis em geral.
Tomando como base o que foi acima exposto verifica-se que a palavra magistério
aponta para o ato de ensinar. Na área escolar, dá suporte aos profissionais para bem
desempenharem suas atribuições e também vislumbrarem seus direitos e deveres.
O Magistério da Igreja, como já foi mencionado, também tem como fundamento o
ensinar: com sabedoria, com humildade e com a força reveladora de Deus. A Constituição
Dogmática “Dei Verbum” 10 (1986, p. 127) é precisa em determinar que:
O ofício de interpretar autenticamente a palavra de Deus escrita ou transmitida, foi
confiado unicamente ao Magistério vivo da Igreja cuja autoridade se exerce em
nome de Jesus Cristo. Tal Magistério evidentemente não está acima da palavra de
Deus, mas a seu serviço, não ensinando senão o que foi transmitido, no sentido de
que, por mandato divino e com a assistência do Espírito Santo, piamente ausculta
aquela palavra, santamente a guarda e fielmente a expõe.
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O Magistério da Igreja está a serviço das realidades divinas e humanas. Ele mostra
e pede que sejam vistos com clareza o rosto divino do homem e o rosto humano de Deus,
numa perspectiva de contribuir para que o ser humano possa ser feliz.
É interessante verificar que os ensinamentos da Igreja não se restringem apenas a
aspectos religiosos mas, também, preocupa-se com o sociocultural, com o econômico e com
o político. Puebla 472 e 473 (1984, p. 207-208) informa que
A contribuição da Igreja à libertação e promoção humana vem se concretizando
num conjunto de orientações doutrinárias e critérios de ação que costumamos
chamar “doutrina social da Igreja” os quais têm sua fonte na Sagrada Escritura, na
doutrina dos Santos Padres e dos grandes teólogos da Igreja e no Magistério,
especialmente dos últimos papas [...] podemos formular esta doutrina assim: atenta
aos sinais dos tempos, interpretados à luz do Evangelho e do magistério da Igreja,
toda comunidade cristã é chamada a se tornar responsável pelas opções concretas e
pela sua efetiva atuação.
Quando se volta para missão no sentido de lutar pela causa do Reino, é bom
fazer memória do Papa João XXIII que sonhou com uma Igreja-povo e promoveu ações que
apontam para sua concretização. É falar em São Francisco de Assis que deixou lições
assumidas atualmente por muitos, inclusive pelos ecologistas. É bom trazer presente Dom
Oscar Romero, bispo de El Salvador e Irmã Dorothy Stang, religiosa no norte brasileiro,
ambos que doaram a vida seguindo Jesus Cristo no ensinamento da justiça e da libertação e
muitos e muitas anônimos que desejaram e desejam um mundo onde a paz seja o verdadeiro
mandamento do Ressuscitado.
Este desejo de paz que pulsa no coração da humanidade é ratificado pela
Constituição Pastoral “Gaudium et Spes” 78 (1986, p. 238) que proclama:
A paz terrestre que surge do amor ao próximo, é imagem e efeito da paz de Cristo
que promana de Deus Pai. Pois o próprio Filho encarnado, príncipe da paz, por sua
cruz reconciliou todos os homens com Deus. [...] e depois do triunfo da
ressurreição, derramou o Espírito da caridade nos corações dos homens.
Em suma, a sublime missão de um Deus que se encarna na história humana,
tornando-se modelo e referência, estando presente e sendo presença conforme nos atesta a
Constituição Dogmática “Dei Verbum” (1986) quando enfatiza que este mesmo Deus, depois
de ter falado por várias vezes e de formas diferentes pelos profetas, agora quer falar
diretamente pelo Filho, norteando dessa forma os rumos desta nova história a ser construída
pelos filhos e filhas de Deus.
Esse catolicismo popular sustenta a fé onde as distâncias e o reduzido número de
padres e agentes pastorais impedem que a Igreja constituída possa estar presente; foi assim
ontem, é assim hoje.
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Os rituais, as fórmulas de oração popular, os cânticos, os votos e as diversas
manifestações animam o povo que, na simplicidade da fé, acredita que Deus no seu infinito
amor acolhe e reverte em bênçãos e graças essas formas simples de religiosidade e mantêm
viva a fé em Deus Pai.
Vale, portanto, dizer que a religiosidade advinda do catolicismo popular cria
laços de comunhão, alimentando a esperança de muitas pessoas que, mesmo distantes da
hierarquia da igreja, mantêm vivas a aproximação com os santos, com a natureza e com Deus,
fazendo com que o hoje de Deus aconteça nas suas realidades.
É importante apontar a pluralidade da ação do clero. Existem presbíteros que
estão voltados para a causa educacional através de escolas ou universidades, outros têm
carismas voltados mais para o atendimento aos doentes. Vários colocam-se exclusivamente à
disposição das paróquias promovendo trabalhos pastorais e ainda outros que, com sua
vocação missionária, voltam sua ação para um trabalho em lugares mais distantes onde a
necessidade de apresentar o rosto do Deus Vivo é mais premente. O Decreto “Presbyterorum
Ordinis” 2 (1986, p. 441) diz que:
Uma vez que participam, no que lhes toca, no Múnus dos Apóstolos, recebem os
Presbíteros de Deus a graça de serem ministros de Cristo Jesus entre os povos,
desempenhando o Múnus sagrado de evangelizar, para que os povos se tornem
oblação agradável, santificados no Espírito Santo. Pois é pela mensagem apostólica
que se conclama e congrega o Povo de Deus [...].
Essa ação do ministério ordenado no mundo deve ser entendida como uma linha
de ação caridosa que colabore com a construção de um mundo mais humano e fraterno, pois
junto ao povo de Deus a ação deve fazer realidade a história da Salvação. Puebla 692 e 693
(1984, p. 264) pontua e esclarece essa realidade quando afirma que:
O presbítero anuncia o Reino de Deus, que se inicia neste mundo e chegará à
plenitude quando Cristo vier no fim dos tempos [...] é um homem de Deus. Só lhe é
dado ser profeta na medida em que tenha feito a experiência do Deus vivo. Só esta
experiência o fará portador duma palavra poderosa para transformar a vida pessoal
e social dos homens [...].
A Igreja, na sua imensa sabedoria e preocupada como sempre está pela
condução do povo de Deus, que é na realidade a sua causa, consequentemente preocupa-se
com as orientações a serem dadas ao clero para que possa, com ardor e competência, a
exemplo do Bom Pastor, colaborar para a santificação das almas e para a vida plena. A
Constituição Dogmática “Lumen Gentium” 28 (1986, p. 75) vem comprovar a afirmativa
quando diz:
Como pais em Cristo, cuidem dos fiéis, que eles espiritualmente geraram pelo
Batismo e pela pregação (Cf. 1 Cor. 4, 15; 1 Ped. 5, 23). De corações feitos
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modelos para o rebanho (Cf. 1 Ped. 5, 3) presidam e sirvam de tal modo sua
comunidade local, que esta dignamente possa ser chamada com aquele nome, pelo
qual só o Povo de Deus é distinguido, a saber: Igreja de Deus.
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O mundo atual, impregnado de falsos valores, requer do clero uma ação que ajude
o ser humano a situar-se nele e lutar pela sua transformação. Nessa orientação as conclusões
de Medellin (1984, p. 113) mostram caminhos quando salientam que: “A consagração
sacramental da Ordem situa o sacerdote no mundo a serviço dos homens. É de particular
importância sublinhar que a ‘consagração’ sacerdotal é conferida por Cristo para a ‘missão’
da salvação do homem [...]”.
Verifica-se, portanto, que a ação advinda do sacramento da Ordem nessa linha
citada por Medellín confere ao sacerdote o múnus transformando-o em responsável pelo
anúncio, diálogo, serviço e testemunho de comunhão.
Em suma, a ação dos presbíteros deve estar a serviço da unidade da Igreja, levando
os cristãos ao conhecimento e à vivência plena da Boa Nova proposta por Jesus Cristo.
Padre Jesus: Sua Pessoa e Sua Missão
Padre Jesus Osés Pagola pertenceu à congregação religiosa denominada Filhos do
Imaculado Coração de Maria (missionários claretianos). Conforme Sáez (2006) ele nasceu em
25 de dezembro de 1904 em Ollabarren, Espanha. Filho do Sr. Antônio e Sra. Cajetina. Fez
sua profissão religiosa na congregação em 15 de agosto de 1921 e foi ordenado presbítero em
02de junho de 1929. Sua vinda para o Brasil deu-se no ano de 1931, para Goiás em 1941 e
para Goianésia no ano de 1956, com 52 anos de idade, onde permaneceu até 1992, época do
seu falecimento.
Conforme o relatado, padre Jesus pertenceu a uma congregação religiosa, era,
portanto, padre religioso. É bom ressaltar que tanto os padres diocesanos como os religiosos
são presbíteros (sacerdotes, padres). A diferença está no modo de viver o sacerdócio. O padre
diocesano vive em função de uma diocese, depende do Bispo, não faz a profissão solene dos
votos, mas as promessas de castidade e obediência. O padre religioso vive em função de uma
Congregação, em questões pastorais e disciplinares depende do Bispo onde está exercendo
seu ministério. Faz a profissão solene dos votos de pobreza, castidade e obediência, vive
numa comunidade e depende diretamente do Superior da Congregação, mesmo em termos de
transferência.
Os padres religiosos, diferentemente dos diocesanos, que têm seu campo de ação
mais voltado para trabalhos paroquiais, desenvolvem seu ministério em diferentes lugares, de
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acordo com a vocação da congregação em que estão inseridos. É interessante reportar que a
história brasileira parte da ação dos jesuítas, congregação religiosa que no início da
colonização do Brasil realizou seu trabalho em escolas e na catequese indígena. Hoje, as
congregações estão presentes na área da comunicação, a serviço da área de saúde, em escolas
e universidades, em paróquias, na ação pastoral e também no campo da missão.
Padre Jesus Osés Pagola, objeto dessa pesquisa, além de atuar no ministério
paroquial, direcionou também sua ação à missionaridade.
A Congregação dos Filhos do Imaculado Coração de Maria (missionários
claretianos) de acordo com Martinez (1991) foi fundada por Santo Antônio Maria Claret e
companheiros, em 16 de julho de 1849, em Vic na Espanha.
Santo Antônio Maria Claret, em sua obra Autobiografia (1984) esclarece que a
Congregação teve a intenção de prolongar sua tarefa evangelizadora na Igreja e que os
claretianos – sacerdotes, diáconos, estudantes e irmãos – trabalham em diversos campos:
missões, ensino, paróquias, meios de comunicação social etc.
Assim, Santo Antônio Maria Claret (1984, p. 154) define missionário claretiano:
Um filho do Imaculado Coração de Maria é um homem que arde em caridade e
abrasa por onde passa; que deseja eficazmente e procura por todos os meios
inflamar o mundo no fogo do divino amor. Nada o detém. Alegra-se nas privações.
Enfrenta os trabalhos. Abraça os sacrifícios. Compraz-se nas calúnias e nos
tormentos. Seu único pensamento é seguir e imitar a Jesus Cristo no trabalho, no
sofrimento e na procura constante e exclusiva da maior glória de Deus e da
salvação das almas.
De acordo com a obra Servidores da palavra (1981, p. 9) os claretianos têm como
carisma “Anunciar a Boa Nova”.
Santo Antônio Maria Claret (1984, p. 150) informa, em uma nota de rodapé, que a
congregação: “[...] tem como fim específico a pregação missionária da Palavra ou o anúncio
do Evangelho em todas as suas formas e por todos os meios, atendendo de maneira mais
urgente, oportuna e eficaz”.
Os missionários claretianos procuram vivenciar o carisma onde Deus lhes enviar.
Cada um é chamado a experienciar a Palavra do Deus Vivo e Senhor da História “na” e
“com” a comunidade. Deve estar sempre aberto à partilha e à vivência dos ensinamentos do
Nazareno. Também no seu ser missionário, entendido como enviado, deve estar à disposição
da Igreja levando seu Evangelho àqueles que nunca o ouviram.
A Congregação dos Filhos do Imaculado Coração de Maria está presente em várias
partes do mundo. No Brasil, Sáez (2006) informa que em 1954 por Decreto da Sagrada
Congregação dos Religiosos, datado de 24 de abril, houve a divisão da Província Brasileira
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em dois organismos: a Província Meridional compreendendo os Estados de São Paulo, Mato
Grosso, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul e a Vice-Província do Brasil Central,
hoje denominada Delegação Independente do Brasil Central com casas no Distrito Federal,
Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia e Goiás. Em Goiás as casas estavam em Goiânia, Posse,
Itapaci, Niquelândia e Goianésia.
Para Goianésia, como foi relatado no aspecto religioso na primeira parte desse
trabalho, veio em 1956 a congregação claretiana a convite do bispo da diocese, Dom
Francisco Prada, que era membro dessa congregação. Melo (1981) dá conta que os primeiros
padres designados para assumirem a paróquia foram Pe. Jesus Osés Pagola, tendo sido
nomeado em 1957 para vigário e padre Antônio Artiaga, cooperador.
Para pormenorizar a ação evangelizadora de padre Jesus é interessante atentar-se
ao que é relatado na obra Servidores da Palavra (1991, p. 33):
Evangelizamos quando nos abrimos aos demais, oferecendo-lhes o melhor de nós
mesmos e quando compartilhamos com eles nossa esperança. Também estes podem
transmitir-nos de forma insuspeitável o Evangelho de Deus, se os acolhemos,
escutamos suas palavras e nos deixamos enriquecer por meio de suas experiências.
Padre Jesus, em Goianésia, realizou com muita clareza o acima exposto, pois
esteve sempre voltado para a evangelização. S.D.S.R.S. (26 maio 2007) informa que
encontrar-se com um espanhol de boina preta, dirigindo um jeep azul, numa velocidade de 30
km/h e muitas vezes levando uma carretinha que transportava seu velho harmônio,
companheiro de todos os momentos, suas roupas pessoais e paramentos litúrgicos, um tambor
de gasolina, megafone, imagens, terços e santinhos, era rotineiro. Ela dá conta que em vista
disso:
[...] podemos afirmar que ele era um verdadeiro missionário ambulante [...]. Ficou
mais do que comprovado que a vida dele foi um testemunho de doação por inteiro,
na luta por uma evangelização e catequese [...] ele direcionou seu trabalho para a
zona rural em busca do descobrimento de morros, fazendo grutas, capelas,
organizando romarias e conquistando gente nova.
Prada, cmf (s/d, p. 5-6) enfatiza:
[...] a Missão origina-se da palavra latina Mittere que significa enviar [...]. aos
enviados para levar a mensagem aos povos, nós damos o nome de missionários. [...]
tem por finalidade pregar as verdades eternas [...] comover as almas para sair do
pecado, firmá-las na fé e aproximá-las dos Sacramentos da Penitência e Eucaristia.
A construção da realidade do povo da época do padre Jesus, nas romarias,
novenas, festas, morros, fogueiras, procissões também estava vinculada à compreensão do
imaginário religioso desse povo. A esse respeito Berger (1985, p. 15) afirma que: “Toda
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sociedade humana é um empreendimento de construção do mundo. A religião ocupa um lugar
destacado nesse empreendimento”.
Padre Jesus foi amado e respeitado por muitos. Pe. A.F.R. dá seu testemunho:
Tive a alegria de conviver com ele quase dez anos, para mim foi um grande
aprendizado. Era comum sentarmos após a zero hora, momento em que ele
costumava tomar seu leite e frutas após ter dormido um pouco. Neste momento ele
contava suas experiências, mostrava seus projetos e também suas angústias e
preocupações.
Teve sua vida palmilhada pelas romarias. Não se prendia a espaço geográfico.
Desejava ver o povo reunido e unido. Ele imitava o Nazareno, Lc. 4, 43 “Devo anunciar
também a outras cidades a Boa Nova do Reino de Deus, pois é para isso que fui enviado”.
Nesse tocante M.E.B. descreve:
É marcante na sua vida, a história das romarias. Nestas festas populares ele
despertou o interesse do povo do município de Goianésia, Barro Alto, Santa Rita do
Novo Destino e Niquelândia. Merecem destaque especial as romarias: Olho
D’Água em Barro Alto, Morro da Mesa em Santa Rita do Novo Destino, Nossa
Senhora D’Abadia do Muquém – Niquelândia e Morro da Santa, em Goianésia.
Foi pessoa inconfundível, pois estava presente e era presença no meio do povo.
Mesmo aqueles que não tiverem oportunidade de conhecê-lo pessoalmente o conhecem
através de familiares e também de suas ações. Comprova essa afirmativa o depoimento de
R.C.V. : “[...] seu nome está relacionado a um grande líder religioso, pois seu trabalho nunca
foi esquecido e parece insubstituível [...] seus fiéis nunca esquecem e dizem: ‘Bom era o Pe.
Jesus’ [...]. Seu nome é relacionado à evangelização e simplicidade”.
Sua vivência religiosa está calcada em virtudes admiráveis, como relata V.L.M.
“Seu nome está relacionado a coragem, doação, partilha, fé, persistência e, principalmente,
amor a Deus, à igreja e ao próximo”. Quando V.L.M. diz desse grande amor, fica claro o
quanto Pe. Jesus seguiu as pegadas do fundador de sua congregação, pois segundo Santo
Antônio M. Claret (1984, p. 130): “A virtude mais necessária é o amor. Sim, digo-o e o
repetirei mil vezes: a virtude que o missionário mais necessita é o amor. O amor a Deus, a
Jesus Cristo, a Maria Santíssima e ao próximo. Sem este amor as mais belas qualidades são
inúteis...”.
Pe. A.F.R. conta que Pe. Jesus, mesmo com idade avançada, tinha espírito jovem e
queria estar sempre atualizado sobre as orientações da Igreja, razão qual estudava sempre os
documentos: Vaticano II, Puebla e outros, e também preocupado em buscar formas novas de
evangelizar, assim expressava: “É preciso levar uma mensagem atual e traduzir o evangelho
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dentro da realidade de hoje, para que o povo atualize e se comprometa na transformação da
vida e da sociedade”.
A ação missionária do Pe. Jesus esteve sempre vinculada a um catolicismo popular
com suas tradições que Avelar (2004) salienta ser diferente das manifestações artísticas, pois
subsistem graças ao profundo respeito do povo ao sagrado. As tradições populares religiosas
são mantidas vivas pelas comunidades, não apenas como forma de preservá-las, mas porque
acreditam que essas tradições as unem. Nessa vertente M.E.B. (11/05/2007) apresenta:
“[...] Peregrino, o padre Jesus não tinha parada. Sempre estava viajando com seu jeep.
Visitando povoados, fazendas e municípios, celebrando missas, confissões, casamentos e
batizados. Era muito popular e amigo do povo da roça”.
Todas as pessoas que participaram com seus depoimentos para a presente pesquisa
foram unânimes em lembrar da voz maravilhosa do Pe. Jesus quando cantava as ladainhas,
ofício de Nossa Senhora, os benditos e as músicas eucarísticas. S.V.L. (12 maio 2007),
fortalece essa afirmativa quando expõe:
Homem de voz maravilhosa. Quando subia no mirante instalado no cume do Morro
da Mesa e cantava a ladainha de Nossa Senhora, os moradores da redondeza
podiam ouvir e quem estava no morro sentia o eco daquela voz voltando dos vales e
ecoando como se estivesse subindo ao encontro de Deus [...] Ele passou, mas a
ladainha de Nossa Senhora ainda permanece gravada em nossa lembrança.
Nesse tocante Sáez (2006), qualifica Pe. Jesus como dotado de temperamento
pacífico, serviçal e alegre. Afirma que na sede da paróquia ou na zona rural ele cantava com o
povo, principalmente nas procissões e nas celebrações eucarístico-marianas.
É pertinente também enfatizar o grande espírito de humildade do Pe. Jesus. A.R.V.
argumenta: “Era muito humilde, completamente despojado e o seu trabalho sobressaiu-se na
zona rural, onde ele desconhecia fronteiras, sempre em busca de almas que não conheciam o
Evangelho”. E R.C.V. ratifica o exposto informando que: “Uma das principais virtudes de
Pe. Jesus era fazer com que seus fiéis o vissem, sentissem como irmão, pois ele era simples e
humilde assim como a maioria de seus fiéis”.
No tocante à sua humildade, percebe-se que teve o cuidado de seguir as pegadas
do fundador da sua congregação.
Santo Antônio Maria Claret (1984, p. 99) preconiza que “Para adquirir as virtudes
necessárias para se tornar verdadeiro missionário apostólico tinha que começar pela
humildade, que a considerava o fundamento de todas as virtudes”.
A ação sacerdotal do Pe. Jesus foi mais voltada para a zona rural, entretanto é
notório que também teve participação efetiva na zona urbana, haja vista que de acordo com
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Melo (1981) logo após a criação da paróquia ele foi nomeado em julho de 1957 vigário de
Goianésia. M.G.M.G. narra que
O padre Jesus teve muita importância na religiosidade do povo goianesiense. Foi
ele que deu início à construção da Igreja Matriz Nossa Senhora D’Abadia, com os
escassos recursos da época [...] ele saía para as fazendas [...]. ao final de suas
andanças retornava com o carro cheio de ofertas doadas pelos fazendeiros que
visitava.
S.G.L. confirma que ele foi vigário no início de Goianésia. Para A.M.G.M., dentre
os vários padres que residiram em Goianésia, desde sua fundação “[...] padre Jesus destaca-se
por sua santidade e trabalho. Homem voltado à ação missionária de evangelizar, instruir e
aumentar o número de pessoas a praticar o bem, ajudar o próximo e dedicar-se à ação
pastoral”. Também, M.F.S. diz que: “Goianésia nasceu junto com o trabalho de Pe. Jesus.
Pioneiro, missionário, homem de fé, dotado de enorme vocação para a evangelização [...]”.
Padre Jesus, como pároco, preocupou-se também com a formação da comunidade
paroquial. M.E.B. dá ciência de que foi ele quem iniciou a organização paroquial com
catequese para crianças, jovens e adultos, Congregação Mariana para homens, Filhas de
Maria, Apostolado da Oração e Legião de Maria para as mulheres. Promovia com
determinação, alegria e fervor as festas religiosas, especialmente as dos Padroeiros Nossa
Senhora D’Abadia e São Sebastião.
Vale ressaltar o quanto ele acreditava na bondade de Deus. De acordo com Sáez
(2006, p. 1.264) Pe. Jesus “Não tinha lá muito escrúpulo com as normas litúrgicas, mas
celebrava direitinho a Divina Eucaristia”. E S.D.S.R.S. traz presente um padre Jesus “[...]
supermisericordioso, para cada tipo de pessoa ele encontrava uma saída [...] justificando
acreditar num plano de misericórdia que Deus tinha para cada um”. Ainda sobre o assunto Pe.
A.F.R. conta: “Mas nunca deixou de falar da misericórdia e do amor de Deus para esse povo
sofrido”.
Percebe-se que, em vista da análise feita sobre o Pe. Jesus Osés Pagola, fica latente
que sua pessoa e sua missão beberam na fonte inspiradora que é modelo de fé, humildade,
perseverança e amor ao próximo, fonte essa que se chama Jesus Cristo. Que ele não foi
apenas discípulo mas, sim, apóstolo de Jesus Sacerdote.
Conforme noticia Sáez (2006), Pe. Jesus faleceu em virtude de acidente de carro
aos 11 de março de 1992, no município de Goianésia-Goiás e, somente após muitas horas, foi
encontrado já sem vida dentro do seu jeep tombado, numa estrada que dava acesso a uma das
capelas que ele assistia. A.R.V. complementa:
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Na tarde quando Goianésia recebe a notícia de sua trágica morte preso no jeep [...]
debaixo de uma chuva que durou a noite toda ao lado da ribanceira onde caíra, a
nossa cidade se entristeceu, com a perda desse soldado de Cristo, que morreu como
mártir da evangelização.
Sua vida esteve totalmente voltada para aqueles, especialmente os mais humildes,
que viviam distante dos centros urbanos, longe da modernidade e que nem por isso deixaram
de conhecer o rosto humano de Cristo, presente no grande Sacramento da Eucaristia, para a
qual seu amor era inteiramente voltado.
Sem dúvida alguma, Pe. Jesus foi e continuará sendo o exemplo de persistência, o
modelo de vida sacerdotal, aquela que, com sua força missionária, fez a Boa Nova de Jesus
Cristo espalhar-se pelos vários cantos por onde andou.
CONCLUSÃO
De acordo com o Decreto “Ad Gentes” 23 (1986, p. 381) Cada discípulo de Cristo
tem sua parte na tarefa de propagar a fé. Mas Cristo, o Senhor, apesar disso sempre chama
dentre os discípulos aqueles que Ele mesmo quer, para que estejam com Ele e os envia a
pregar aos povos”.
Partindo desse princípio, pode-se perceber que todos têm a vocação missionária,
nenhum é excluído, porém existem aqueles que recebem um chamamento especial, tais como:
os padres, os religiosos e as religiosas com a finalidade de levar a evangelização a todos os
povos, em todos os tempos e lugares, acolhendo, assim, o mandado de Jesus Cristo, “Ide,
pois, e ensinai a todas as nações” (Mt. 28, 19). Isto posto, pode-se tomar a pessoa do Pe. Jesus
Osés Pagola como sendo um desses, que acolheu com generosidade o chamamento à vida
missionária, abraçando-a com intensidade, a ponto de deixar seus familiares, seu país e vir
para outro totalmente desconhecido, com o objetivo de levar a Boa Nova a todos, optando
principalmente em anunciá-la aos simples, aos humildes, àqueles que se encontravam
distantes do raio de ação da Igreja organizada, fazendo que sua missionaridade fosse
totalmente inspirada no modelo maior que é Jesus Cristo. Os testemunhos dados através dos
depoimentos vêm reforçar a tese colocada pelo Concílio Vaticano II, onde a vocação
missionária do Pe. Jesus foi vivida com muito vigor, servindo para que todos possam tomá-la
como exemplo a fim de colocar sua vocação cristã a serviço da prática missionária.
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Necessário se faz deixar evidente que Pe. Jesus viveu com toda intensidade
inúmeras virtudes.
Foi realmente o grande seguidor das orientações de Santo Antônio Maria Claret
(1984) que constantemente lembrava dever o missionário ser exemplo de todas as virtudes. As
mais destacadas na vida do Pe. Jesus foram as da humildade e pobreza. Todos os seus
pertences eram de muita simplicidade e estavam sempre à disposição de quem precisasse.
Suas roupas e objetos pessoais eram poucos e de extrema modéstia. Ele confiava plenamente
na bondade de Deus, advindo daí o seu desapego às coisas materiais.
Outra virtude presente na vida do Pe. Jesus foi a de conselheiro, exercendo-a
muito bem, através do sacramento da confissão pois, além de atender o mandado da Igreja,
estava sempre aberto ao acolhimento, ao direcionamento das pessoas para que elas pudessem
ter uma vida mais equilibrada. Foi um homem de muita fé, fé essa vivenciada e partilhada;
colocada na própria mensagem de Cristo, apresentada por Tg. 2, 26 “A fé sem obra é morta”.
Sua fé foi também direcionada a Maria Santíssima, a primeira cristã, razão pela qual
fomentou várias romarias marianas e construiu capelas em morros e grutas em honra à mãe de
Jesus Cristo, ficando patente que sua fé era em Deus Trino amalgamada em Nossa Senhora.
Com o relatado, evidencia-se que a vida e a ação missionária de Pe. Jesus ao levar
a Boa Nova deu-se de forma eficiente e, sobretudo, feito com humildade, simplicidade e
muita alegria.
Seu amor a Jesus, no Sacramento de Eucaristia, era tão grande que Pe. A.F.R. (09
jun 2007) informa que Pe. Jesus sempre aconselhava: “Vocês padres novos, não deixem se
abater pelas dificuldades e críticas, busquem força na oração e na Eucaristia, lancem a cada
dia aos pés de Jesus Eucarístico e serão sempre agraciados pelo amor do Pai”.
Conclui-se pois, que sua vida sacerdotal foi vivida intensamente, sendo modelo
para todos os sacerdotes, religiosos e religiosas, enfim, para todo povo de Deus que, na leitura
desse texto, terá condição e motivação para repensar ou continuar sua ação missionária.
ABSTRACT
This paper aims to keep alive the memory of Father Jesus Osés Pagola, religious belonging to
the Congregation of the Sons of the Immaculate Heart of Mary and show missionary activity
and religious traditions from their life. It also wants to make clear that his lived in GoianésiaGoiás, in the period 1956 to 1992, deeply marked the people of the community not only in the
religious aspect but also in cultural and historical. The study was based on literature and
social, gathering evidence, conducting interviews and questionnaires. The authors surveyed
and the information offered by those interviewed to confirm a clear and objective the bringing
home: it was evident that Father Jesus favored the Catholic Church in Goianésia and its
pastoral had its main focus on popular religion with greater role in countryside, making the
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Word of God from reaching the most difficult places to access and could meet people easier,
encouraging the maintenance of faith in the Triune God and Holy Mary, Mother of Jesus
Christ.
Keywords: Popular Religiosity. Mission. Rural. Humility.
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