Biocatálise em solventes orgânicos
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Biocatálise em solventes orgânicos
Biocatálise Biocatálise em solventes orgânicos Maria Raquel Aires-Barros Centro de Engenharia Biológica e Química Instituto Superior Técnico, Av. Rovisco Pais, 1049-001 Lisboa. 1. Introdução bioprocesso não seja condicionado pelo biocatalisador. Os termos biocatálise ou biotransformação abrangem os processos em que um catalisador biológico é utilizado para converter um substrato num número limitado de etapas enzimáticas. Por forma a estabelecer um processo de biotransformação eficaz, é necessária a análise detalhada dos factores que condicionam o desenvolvimento e optimização integrados de um processo biotecnológico A Bioconversão, inclui a selecção do meio reaccional, que pode ser um meio convencional (meio aquoso) ou meios não-convencionais, e o projecto do reactor. As características do biorreactor a utilizar devem compreender simplicidade de concepção, flexibilidade, segurança de operação e possibilidade de monitorização e controlo de parâmetros operacionais. A concepção do biorreactor requer um conhecimento adequado da cinética reaccional, da hidrodinâmica do sistema e dos mecanismos de transferência de massa. No caso de bioconversões em sistemas multifásicos devem ser ainda tomados em conta os fenómenos interfaciais, a partição do substrato e do produto entre as duas fases e a facilidade de separação das duas fases, com vista a uma integração eficaz das etapas de bioconversão e de recuperação do produto. A estratégia de desenvolvimento e optimização de um Bioprocesso depende de três contribuições: Biocatalisador, Bioconversão e Isolamento e Purificação do Produto (Figura 1). Uma vez identificada a matéria prima mais adequada para substrato da bioconversão pretendida, deve seleccionar-se o biocatalisador que apresente níveis adequados de actividade catalítica, selectividade e estabilidade para operar nas condições seleccionadas de temperatura, força iónica, pH e natureza da solução tampão, concentração de substrato e produto e ainda na eventual presença de solventes orgânicos. Três abordagens podem ser consideradas visando a triagem e selecção de um biocatalisador para a conversão pretendida: (i)biocatalisadores existentes; (ii) modificação de biocatalisadores existentes recorrendo a técnicas de engenharia genética; e (iii) rastreio para isolamento de novos biocatalisadores (células inteiras de extremófilos ou de enzimas derivados destes organismos). O biocatalisador é produzido por fermentação, e neste passo geralmente é requerido um hospedeiro robusto, com um crescimento rápido, levando a densidades celulares elevadas e níveis de expressão elevados, o que facilita a recuperação do produto e minimiza o volume de fermentação. O crescente desenvolvimento da tecnologia de DNA recombinado, possibilitando a expressão de enzimas em diferentes hospedeiros, tem permitido a obtenção de biocatalisadores mais adequados. Enzimas isolados ou células inteiras, quer na forma livre quer na forma imobilizada, têm sido usados como biocatalisadores. O isolamento e purificação do biocatalisador (enzimas), consiste em geral numa etapa de concentração, seguida da purificação propriamente dita, por processos cromatográficos. A obtenção de novos biocatalisadores, baseados na Engenharia do Biocatalisador permite modificar e melhorar as características do biocatalisador de forma a que o Boletim de Biotecnologia O Isolamento e Purificação do produto obtido da bioconversão, depende das características do produto que vão influenciar a sua recuperação, e a qualidade, pureza e escala pretendidas. 2. Principais razões para a utilização de meios não-convencionais Atendendo a que o conceito de biotransformação está associado ao uso de biocatalisadores, nas quais a água é o solvente preponderante, é fácil compreender que a mesma função tenha sido desempenhada por este solvente em inúmeros estudos de cinética enzimática. Observou-se, no entanto, que o uso exclusivo de água como solvente de meios de biotransformação restringia a gama de aplicações da biocatálise, bem como limitava a produtividade de diversos processos, nomeadamente os que envolviam substratos hidrófobos. Por outro lado, a constatação de que muitos enzimas operam in vivo em ambientes ricos em lípidos hidrófobos, levou a conclusão de que estes meios predominantemente não-aquosos são igualmente adequados à expressão de actividade biocatalítica. A convergência destes dois aspectos conduziu à incorporação no meio reaccional, de solventes orgânicos, fluidos supercríticos, fases gasosas ou fases sólidas, aos quais se convencionou atribuir a designação de meios não-convencionais. As principais razões para a utilização de meios não-con- Biocatálise Figura 1- Bioprocesso para obtenção de bioprodutos. vencionais são essencialmente o facto destes permitirem: 1) a solubilização de substratos e/ou produtos hidrófobos , levando ao desenvolvimento de processos com produtividade volumétrica elevada.; 2) a redução de possíveis efeitos inibitórios ou/e tóxicos por parte do substrato e/ou produto, em que o solvente orgânico pode ser seleccionado de modo a funcionar como diluente, reduzindo a concentração interfacial e na fase aquosa (por partição) de substratos e/ou produtos; e 3) o deslocamento do equilíbrio químico, nomeadamente no caso de enzimas hidrolases, que em meio aquoso catalisam reacções de hidrólise, e o equilíbrio pode ser deslocado no sentido do favorecimento de reacçóes de síntese, através do controlo da actividade da água. O equilíbrio da reacção pode ser também deslocado no sentido do favorecimento da formação do produto, mediante a remoção contínua deste para a fase orgânica. 3. Biocatálise em solventes orgânicos As bioconversões em sistemas multifásicos em que uma das fases é um solvente orgânico tem vantagens e desvantagens associadas ao uso de uma fase orgânica. Uma vez que após a etapa de bioconversão se seque a recuperaçãodo produto, em termos de integração eficaz das duas etapas de forma a optimização do bioprocesso global, é importante considerar as potenciais vantagens e desvantagens destes sistemas em termos de operação do reactor e recuperação do produto (Tabela 1). Relativamente à operação do reactor, há vantagens em usar um solvente orgânico, pois este vai permitir a solubilização de compostos hidrófobos (substratos e produtos), a redução de efeitos inibitórios/tóxicos de substratos e/ou produtos, e o deslocamento do equilíbrio da reacção através do Os meios não convencionais para biocatálise podem ser controlo da actividade da água. As principais desvantagens solventes orgânicos, fluídos supercríticos, sistemas em associadas ao uso de solventes orgânicos como meios de que não são utilizados solventes orgânicos (fases sólidas, bioconversão, são o aumento das limitações difusionais à transferência de massa de substratos e/ou produtos, uma líquidas e gasosas), e recentemente fluídos iónicos. vez que se introduz mais uma fase (orgânica) além da fase aquosa (e de uma fase sólida se o biocatalisador estiver imobilizado), e a toxicidade do solvente orgânico para o Tabela 1: Vantagens e limitações do uso de solventes orgânicos biocatalisador. Características do processo Operação do reactor Vantagens e desvantagens (+) Solubilização de substratos/produtos hidrófobos (+) Redução da inibição/toxicidade de substratos/produtos (+) Deslocamento do equilíbrio químico (-) Limitações à transferência de massa (-) Toxicidade para o biocatalisador Isolamento e purificação (+) Recuperação de substratos/produtos (+) Concentrações elevadas de produtos (-) Formação de emulsões Em termos de isolamento e purificação do produto da bioconversão , esta é facilitada se o substrato e o produto estiveram em fases diferentes (nomeadamente se o produto for hidrófobo), e por se obterem concentrações mais elevadas de produto. A principal desvantagem, são Boletim de Biotecnologia 3 Biocatálise a formação de emulsões estáveis, normalmente devido a efeitos interfaciais. A presença de áreas interfaciais elevadas pode levantar sérios problemas na etapa de recuperação do produto do reactor, podendo tornar-se o factor limitante do processo global. Adicionalmente a estes factores temos também de considerar os custos adicionais para a segurança do processo, no processamento dos efluentes do processo incluindo a possível reutilização do solvente orgânico. Tabela 2 : Critérios para a selecção do solvente orgânico Físico Químicos - Capacidade para solubilização do substrato e do produto - Coeficiente de partição - Densidade - Pontos de fusão e de ebulição - Tensão superficial - Viscosidade Biológicos - Toxicidade para o biocatalisador 3.1 Selecção do solvente orgânico As bioconversões em sistemas multifásicos dependem da escolha do solvente mais adequado para o sistema biocatalítico. Os principais critérios a considerar na selecção de um solvente orgânico são apresentados na Tabela 2, e incluem critérios físico-químicos, biológicos, de segurança, logísticos e económicos. Do ponto de vista físico-químico, os aspectos mais importantes são a capacidade de extracção (coeficiente de partição) e solubilização de substratos e/ou produtos pelo solvente orgânico, e as suas propriedades que vão determinar a facilidade de separação das fases e a transferência de massa. O solvente orgânico deve ser química e termicamente estável, não deve formar de emulsões em meio aquoso, por forma a facilitar a separação de fases, a sua viscosidade deve ser reduzida, de forma a facilitar a transferência de massa, e não ser degradado pelo biocatalisador. Do ponto de vista de segurança, o solvente orgânico não deve apresentar toxicidade ambiental nem ser prejudicial para a saúde, e não ser inflamável .Em termos logísticos, a sua disponibilidade deverá ser elevada e a sua reciclagem deve ser possível. Em termos económicos, o seu custo deve ser baixo. O critério biológico, toxicidade do solvente orgânico para o biocatalisador é, de todos estes, o que se apresenta mais restritivo. 3.1.1 Toxicidade molecular e toxicidade de fase O efeito tóxico do solvente pode ser devido a dois processos: um resultante da difusão de moléculas de solvente através da membrana citoplásmática (toxicidade molecular); e outro associado ao contacto directo entre o biocatalisador e o solvente orgânico (toxicidade de fase). A presença de solvente orgânico dissolvido na fase aquosa (toxicidade molecular), pode provocar inibição enzimática, desnaturação de proteínas e alteração do DNA, e modificação da fluidez da membrana citoplasmática. A toxicidade de fase, que origina, para além da desorganização da membrana citoplasmática, a sua permeabilização do que resulta a perda de metabolitos essenciais e de co-factores, pode levar à extracção de nutrientes, agregação celular e formação de emulsões. Boletim de Biotecnologia Segurança - Toxicidade - Inflamabilidade Logísticos - Facilidade de obtenção - Eliminação de resíduos Económicos - Custo A toxicidade molecular do solvente é usualmente avaliada através do logaritmo do coeficiente de partição do solvente num sistema padrão n-octanol/água (log Po/w), conhecido como parâmetro de Hansch, o qual é um indicador do grau de hidrofobicidade do solvente em causa. O valor de log Po/w de um dado solvente pode ser determinado experimentalmente ou calculado através do método das constantes hidrófobas fragmentadas de Rekker. Trabalhos realizados com diferentes sistemas biocatalíticos, envolvendo, em cada caso, o uso de solventes com diferentes hidrofobicidades, confirmaram a existência de uma tendência generalizada para a relação entre a actividade catalítica e a hidrofobicidade do solvente, traduzida por uma curva sigmoidal. Em média, solventes com log Po/w inferior a 2-3 são considerados tóxicos, enquanto aqueles com log Po/w superiores a 4-5 são considerados biocompatíveis, muito embora os pontos de inflexão sejam dependentes do biocatalisador, nomeadamente do microrganismo, considerado. O deslocamento do ponto de inflexão também pode ser motivado pelo grau de agitação do meio. A acção tóxica de solventes orgânicos hidrófobos é essencialmente devida à toxicidade de fase, dada a sua baixa partição para o filme aquoso que rodeia o biocatalisador. Este factor minimiza a possibilidade de ser atingido um valor de concentração crítica do solvente na membrana celular, a partir da qual é observada a acção tóxica. A toxicidade de fase pode ser reduzida, através da utilização de nutrientes e inóculos mais concentrados, para compensar a extracção de nutrientes, e diminuindo a área interfacial, usando uma agitação mais suave e/ou diminuindo a razão volumétrica de fases orgânica/aquosa, de modo a reduzir os fenómenos de agregação e emulsão. A imobilização do biocatalisador e a utilização de membranas hidrófobas, que evitam o contacto do biocatalisador com a interface líquido-líquido, e a engenharia do biocatalisador, através do design de biocatalisadores mais resistentes e Biocatálise Figura 2 - Classificação de sistemas biocatalíticos englobando solventes orgânicos: (a) sistemas de duas fases líquidas orgânico-aquosas: emulsão de meio aquoso (disperso) em meio orgânico (contínuo); (b) sistemas de duas fases líquidas orgânico-aquosas: emulsão de meio orgânico (disperso) em meio aquoso (contínuo); (c) e (d) biocatalisador imobilizado num suporte poroso, em presença de um sistema bifásico; (e) biocatalisador microencapsulado numa micela invertida; (f) biocatalisador modificado com polietileno glicol e dissolvido em meio orgânico; (g) biocatalisador imobilizado ressuspenso em meio orgânico; (h) biocatalisador liofilizado e na forma de cristais, ressuspenso em meio orgânico. apropriados a solventes orgânicos, são outras alternativas possíveis para diminuição da toxicidade de fase. 3.2.2 Sistemas de duas fases líquidas orgânico-aquosas 3.2 Classificação dos sistemas biocatalíticos A estabilidade do biocatalisador num solvente orgânico pode ser melhorada usando um solvente imiscível em água (log P >4). Obtém-se um sistema bifásico com o enzima e compostos hidrófilos na fase aquosa e os substratos e produtos hidrófobos na fase orgânica (Figura 2, a,b,c,d). Os sistemas biocatalíticos que utilizam solventes orgânicos podem ser agrupados de acordo com a natureza da mistura: (1) mistura homogénea de meio aquoso e solventes orgânicos miscíveis com água; (2) mistura de duas fases líquidas orgânico-aquosas; (3) biocatalisadores dissolvidos em solventes orgânicos: micelas invertidas e enzimas modificados covalentemente e (4) biocatalisadores ressuspensos em solventes orgânicos com baixos teores de água: enzimas em pó (obtidos por liofilização ou cristalização) ou biocatalisadores imobilizados, na ausência de fase aquosa (Figura 2,a, b, c, d ,e, f , h). 3.2.1 Mistura homogénea de meio aquoso e solventes orgânicos miscíveis com água Uma forma simples de aumentar a solubilidade de um substrato hidrófobo em meio aquoso, consiste na adição de um solvente orgânico miscível com água (metanol, etanol, dimetilformamida) ao meio de biotransformação. Dada a sua homogeneidade, as resistências à transferência de massa são geralmente negligenciáveis. Todavia a polaridade elevada destes solventes, com valores de log Po/w inferiores a 2, confere-lhes um carácter tóxico, acentuando-se este efeito tóxico para concentrações elevadas de solvente. Neste tipo de sistemas a fase orgânica pode constituir ela própria o substrato da bioconversão ou servir de reservatório a substratos e/ou produtos hidrófobos. Podemos considerar sistemas em que a fase orgânica é contínua e a fase aquosa dispersa na fase orgânica, sendo o biocatalisador solúvel na fase aquosa;ou a fase contínua é a fase aquosa e a fase orgânica está dispersa na fase aquosa, com o biocatalisador solúvel na fase aquosa (Figura 2, a,b). Podemos ter também, considerando as duas situações anteriores, a presença de uma terceira fase sólida devido ao biocatalisador imobilizado (Figura 2 c , d). Nestes sistemas é necessário assegurar que a área interfacial seja suficientemente elevada para facilitar a transferência de massa de substratos/produtos através da interface líquido-líquido e líquido-sólido (se o biocatalisador estiver imobilizado), através do controlo adequado da velocidade de agitação e da razão volumétrica das fases aquosa e orgânica. A partição de substrato(s) e produto(s) entre as duas fases pode ser controlada mediante a selecção adequada do solvente orgânico. A partição de produto(s) para a fase orgânica permite deslocar o equilíbrio da reacção no sentido da formação do(s) mesmo(s). A acumulação preferencial de substrato(s) e produto(s) na fase orgânica minimiza a sua potencial acção inibitória sobre o biocatalisador. A razão volumétrica entre as duas fases pode ser escolhida Boletim de Biotecnologia 5 Biocatálise com vista a optimizar a operação do reactor. 3.2.5 Classificação dos sistemas biocatalíticos: Perfis de concentração 3.2.3 Biocatalisadores dissolvidos em solventes orgânicos Para a selecção do sistema biocatalítico e do reactor mais adequado para uma dada bioconversão é importante classificar os vários sistemas descritos de acordo com os perfis de concentração do substrato e o volume relativo de fases orgânico/aquosa. Os sistemas de micelas invertidas constituem casos particulares de microemulsões, em que a fase aquosa não é macroscopicamente discernível da fase orgânica (fase contínua) (Figura 2 e). Estes sistemas reaccionais consistem em agregados formados por moléculas de agentes tensioactivos na presença de solventes apolares e de pequenas quantidades de água. A natureza anfipática das moléculas dos agentes tensioactivos, compostas por um grupo polar (hidrófilo) e uma cauda apolar (hidrófoba), faz com que elas se agrupem de modo a que as caudas hidrófobas se encontram em contacto com o solvente apolar, enquanto os grupos polares se direccionam para o interior do agregado, formando um núcleo interior aquoso. Deste modo as micelas invertidas permitem a solubiização de enzimas no núcleo interior aquoso e a partição de substratos e/ou produtos entre o núcleo aquoso e o solvente orgânico, dependendo da sua hidrofobicidade. A área interfacial elevada das micelas invertidas, minimiza as limitações à transferência de massa. No entanto a presença do tensioactivo pode provocar alguma inactivação do enzima e causar problemas na estapa de recuperação do produto. Alternativamente, os enzimas podem ser solubilizados em solventes orgânicos por modificação covalente com polietileno glicol (Figura 2 f). 3.2.4 Biocatalisadores ressuspensos em solventes orgânicos A redução até valores praticamente vestigiários do teor de água presente no meio de biotransformação pode revelarse útil em alguns sistemas biocatalíticos. A selecção do solvente é um aspecto particularmente crítico neste tipo de sistemas, na medida em que se estabelece uma competição entre este e o enzima para as moléculas de água. A utilização de solventes hidrófilos pode levar à remoção da camada de hidratação da molécula do enzima, resultando na sua alteração estrutural e consequente perda de actividade catalítica. A utilização destes meios quase anidros em bioconversões implica o uso de enzimas imobilizados num suporte sólido (Figura 2 g) ou na forma de pó (liofilizados ou em cristais) (Figura 2 h). Nos critérios de selecção do suporte de imobilização, deve ser tomada em conta a sua afinidade para a água, na medida em que a água presente no meio se particionará entre a matriz de imobilização, o enzima e o meio reaccional, afectando o micro-ambiente deste. Boletim de Biotecnologia Podemos considerar três tipos de perfis de concentração teóricos para o substrato, considerando um substrato hidrófobo, e que as fases líquidas (aquosa e orgânica) se encontram bem misturadas, isto é não há limitações à transferência de massa dentro das fases (Figura-3,a), b) e c)). A figura 3 a) representa o perfil de concentração do substrato, para o sistema de duas fases líquidas orgânicoaquosas, com o biocatalisador dissolvido na fase aquosa, em que a fase aquosa pode ser a fase contínua ou a fase dispersa (sistemas da Figura 2 a, b). Evidencia-se a variação da concentração de substrato na interface quer devido às resistências à transferência de massa através da interface, quer a efeitos de partição. Uma vez que o substrato é hidrófobo, tem pouca afinidade para a fase aquosa e a sua concentração na interface diminui, não só devido a efeitos de transferência de massa, mas também devido a efeitos de partição. Quando o biocatalisador se encontra imobilizado, além das duas fases líquidas aquosa/orgânica temos de considerar uma terceira fase, uma fase sólida, que corresponde a um enzima ou células imobilizadas. Na Figura 3 b), apresentase o perfil de concentração teórico para o substrato num sistema de duas fases líquidas orgânico-aquosas, com o biocatalisador insolúvel na fase aquosa, considerando o biocatalisador imobilizado num suporte hidrófobo poroso (sistemas representados na Figura 2 c, d). Deste modo, além dos efeitos de transferência de massa e efeitos de partição na interface líquido-líquido, temos também de considerar os efeitos de partição e de transferência de massa relativamente ao biocatalisador imobilizado. Neste caso, são importantes as características do suporte (suporte hidrófilo ou hidrófobo) e o facto de o suporte ser ou não poroso. O facto de o suporte ser hidrófobo, permitiu aumentar a concentração de substrato junto ao enzima. Se o volume de fase aquosa é reduzido relativamente ao volume da fase orgânica do biocatalisador insolúvel, deixamos de ter uma fase aquosa discreta, entre a fase orgânica e o biocatalisador. Esta situação corresponde ao terceiro perfil (Figura 3 c)), e engloba os sistemas de biocatalisadores ressuspensos em solventes orgânicos (Figura 2 g, h). Neste caso a transferência de massa entre a fase orgânica e a fase aquosa não-discreta vai depender da área específica das partículas de biocatalisador, e não da área interfacial entre as fases líquidas. Os sistemas de biocatalisadores solubilizados em solventes orgânicos, micelas invertidas e modificação química com Biocatálise Figura 3 - Perfis de concentração teóricos do substrato para os vários sistemas biocatalíticos PEG, são casos particulares dos sistemas bifásicos, em que macroscopicamente se vê uma única fase, correspondendo ao primeiro perfil (Figura 3 a)). 3.2 Efeito da água na actividade e estabilidade do biocatalisador Mesmo num meio não-convencional constituído essencialmente por uma fase orgânica, a quantidade de água no sistema influencia fortemente a actividade catalítica do enzima. Para baixos teores de água, a actividade enzimática é geralmente baixa. Normalmente, a actividade enzimática aumenta com o aumento da camada de hidratação do enzima, o que é devido à acção lubrificante da água que aumenta a flexibilidade interna do enzima A curva típica de variação da actividade específica do enzima em função da actividade da água, normalmente, apresenta um máximo. A diminuição de actividade pode ser devida a limitações à transferência de massa devido ao transporte do substrato através de uma fase aquosa, ou agregação das partículas de catalisador. A estabilidade enzimática, normalmente diminui com o aumento da quantidade de água. A água participa numa variedade de mecanismos que causam a desnaturação da proteína conduzindo à inactivação dos enzimas. Em micelas invertidas consegue-se uma estabilidade elevada através do controlo da actividade da água. Para biocatalisadores resuspensos em solventes orgânicos, obtém-se em geral estabilidades elevadas, uma vez que a quantidade de água é muito pequena (valores de actividade de água >1) e os enzimas adquirem uma maior rigidez conformacional (num estado desidratado, sem água). Além disso não ocorre proteólise, outra causa comum de desnaturação em água. Figura 4 - Engenharia do Biocatalisador Boletim de Biotecnologia 7 Biocatálise Por fim, a água actua como um substrato nas reacções de hidrólise e deste modo este tipo de reacções são favorecidas com o aumento da quantidade de água, e inversamente o rendimento das reacções de síntese é menor. 3.3 Engenharia do Biocatalisador O desenvolvimento da tecnologia de DNA recombinado criou vias para a obtenção de novos biocatalisadores, baseados na engenharia de proteínas, e que podem ser utilizados em solventes orgânicos. Esta metodologia consiste na modificação de proteínas existentes ou na síntese de novo de proteínas, apresentando um conjunto de propriedades pré-definidas. O design racional de proteínas, levado a cabo por mutagénese dirigida, requer a identificação da relação estrutura-função na molécula. O número reduzido de enzimas cuja estrutura tridimensional está perfeitamente resolvida limita consideravelmente a aplicação desta metodologia. Actualmente, as metodologias mais utilizadas, para a pesquisa de novos biocatalisadores, são a evolução dirigida por mutagénese aleatória e/ou a recombinação de um ou mais genes homólogos (DNA shuffling) O desenvolvimento do biocatalisador “ideal” para uma dada bioconversão (identificada a característica que se quer modificar) resulta de uma aproximação multidisciplinar e integrada de conhecimentos e tecnologias desenvolvidas nas áreas da biologia, química e engenharia (Figura 4). As disciplinas envolvidas incluem a Bioinformática (que compila toda a informação relativamente aos dados proteína-função e genoma-proteína), a Química de Proteínas que através de várias técnicas nos dá informações acerca das relações estrutura-função e estrutura –actividade de proteínas; a Engenharia Metabólica que iclui a análise dos fluxos metabólicos; a Engenharia de Proteínas através diversas técnicas de recombinação genética (nomeadamente, error-prone PCR e DNA suffling) combinadas com a metodologia da evolução dirigida, permitem a criação de bibliotecas de mutantes e, após a aplicação de métodos de selecção e triagem, isolar o melhor mutante (com a característica melhorada necessária); a Engenharia de Processos, que permite optimização e integração das operações de fermentação e recuperação do biocatalisador. Deste modo, e com todas estas ferramentas os cientistas são hoje em dia capazes de fazer o design do biocatalisador “ideal”. Alguns exemplos de várias tecnologias que são usadas para melhorar uma ou mais características do biocatalisador, além das técnicas de recombinação genética e evolução dirigida são apresentados na Tabela.3. 3.4. Reactores multifásicos A selecção do reactor mais apropriado para um dado bioprocesso, depende das características da bioconversão e de constrangimentos reaccionais, cinéticos e do biocatalisador, que vão determinar o modo de operação e as características do fluxo (Figura.5). As características da bioconversão incluem, as propriedades dos substratos/produtos (pontos de fusão e ebulição, solubilidade em água, estabilidade ao pH e temperatura); as características reaccionais (nomeadamente, pH, temperatura, controlo da actividade da água) e ; as características do biocatalisador, que incluem a utilização de enzimas (desin- Tabela 3: Tecnologias disponíveis para melhorar as características do biocatalisador Objectivo Tecnologia Exemplo Solubilização do enzima Solubilização de subtilisina em micelas invertidasde AOT Modificação química Modificação da catalase com um tensioactivo (Brij 35) Aplicação de hidrolases e lipases recobertas com lípidos em meio orgânico Aumento da actividade Alteração da enantioselectividade Alteração da funcionalidade Melhoramento da enantioselectividade de lipases Evolução dirigida Recombinação de genes obtendo-se um enzima recombinante capaz de degradar benzeno e tolueno Conversão de substratos não naturais Aumento da estabilidade Alteração da actividade de isomerases, hidrolases e ß-galactosidase Evolução dirigida Esterase termoestável sem perda de actividade, subtlisina E Ligação multicovalente/imobilização Hiperestabilização de uma esterase termófila Modificação química (Formação CLEC) Reticulação e modificação química de subtilisina cristalizada Evolução dirigida Aumento da actividade da subtilisina em meio aquoso/orgânico (40% DMF) Enzima liofilizada na presença de NaCl O sal induz a activação do enzima em hexano anidro Modificação do meio reaccional Boletim de Biotecnologia Biocatálise Figura 5 - Selecção de reactores multifásicos tegração celular) ou células (necessidade de cofactores), livres ou imobilizadas, a localização da actividade enzimática (normalmente na fase aquosa, excepto para as lipases que são activadas por interfaces), e por fim os requisitos em água por parte do biocatalisador para manutenção da sua actividade catalítica É também importante considerar as interacções entre o biocatalisador e os substratos e produtos Os constrangimentos a considerar na selecção e operação do reactor são constrangimentos reaccionais, cinéticos e do biocatalisador. Os constrangimentos reaccionais, incluem o tipo de sistema biocatalítico; a razão de fases aquosa-orgânica que condiciona a produtividade volumétrica no reactor e a área interfacial disponível para a transferência de massa de substratos/produtos; a transferência de massa através da interfase líquido-líquido, sólido-líquido, gás-líquido, e dentro da mesma fase; e efeitos de partição substratos/produtos. Os constrangimentos cinéticos comprendem a inibição pelo substratos e/ou produtos. Os constrangimentos do biocatalisador, incluem a concentração máxima de biocatalisador permitida no reactor, a desnaturação por agitação mecânica (no caso de reactores mecanicamente agitados) e a baixa estabilidade do biocatalisador, devido a efeitos de temperatura, pH, presença de compostos tóxicos, necessidades de co-factores, nutrientes, co-substratos, e a toxicidade do solvente orgânico. Os requisitos essenciais para selecção do reactor mais apropriado para uma dada bioconversão são, uma área interfacial elevada, de modo a permitir uma transferência adequada de substratos/produtos através da interface e um controlo eficaz da área interfacial. Dentro dos reactores usados em sistemas multifásicos destacam-se, os reactores agitados mecanicamente (descontínuos ou contínuos), os reactores de membranas, os reactores de leito fixo e os reactores agitados por uma fase líquida. 3.4.1 Reactor descontínuo perfeitamente agitado Este tipo de reactores são geralmente usados em, processos em que intervêm biocatalisadores solúveis (Figura 6). Os reactores agitados mecanicamente permitem um controlo adequado da área interfacial através da velocidade de agitação (e da razão volumétrica das fases), de forma a obterem-se velocidades de transferência de massa elevadas. No entanto, áreas interfaciais elevadas podem levar à formação de emulsões estáveis, dificultando o passo seguinte de separação do produto. A maior parte dos exemplos referidos na literatura são com este tipo de reactores. 3.4.2 Reactor contínuo perfeitamente agitado Este tipo de reactores são geralmente usados em processos em que intervêm biocatalisadores imobilizados, de modo Boletim de Biotecnologia 9 Biocatálise a reter o biocatalisador no interior do reactor (Figura 7). A imobilização do biocatalisador pode reduzir a formação de emulsões estáveis, facilitando a separação posterior das fases. A presença de uma terceira fase sólida (biocatalisador imobilizado num suporte, geralmente um suporte poroso) implica que além da transferência de massa através das fases e da interface aquosa/orgânica, temos de considerar a difusão do substrato no interior do suporte. A agitação mecânica pode também, provocar destruição das partículas de suporte. Figura 6 - Reactor descontínuo perfeitamente agitado (BSTR). Estes reactores são pouco usados para bioconversões em sistemas multifásicos devido à sua baixa eficiência. 3.4.3 Reactores de membrana (CSTR com recirculação) Este tipo de configuração em que é acoplada uma membrana de ultrafiltração ao reactor contínuo com agitação (CSTR) permite a utilização de sistemas em que microscopicamente temos duas fases líquidas, nas quais o biocatalisador pode estar solúvel (micelas invertidas) ou insolúvel (células, enzima liofilizado ou em cristais) (Figura 8). A membrana permite a retenção do biocatalisador dentro do reactor, uma vez que não é permeável ao biocatalisador, podendo também apresentar alguma selectividade relativamente aos substratos e produtos, permitindo por exemplo a recuperação selectiva do produto no permeado. 3.4.4 Reactores de leito fixo Os reactores de leito fixo são mais adequados para sistemas correspondentes ao último perfil de concentração (Figura 3 c)), que corresponde aos sistemas de biocatalisadores ressuspensos em solventes orgânicos (Figura 9). São cineticamente mais favoráveis que os reactores contínuos com agitação, e não têm a desvantagem das elevadas tensões de corte devido à agitação mecânica. No entanto, a sua aplicação é limitada pelo tipo de substrato (viscoso, coloidal, partículas sólidas em suspensão) e a forma do biocatalisador imobilizado. É usado para reacções de síntese de ésteres, mono, di e triglicéridos por lipases de Rhizomucor miehei, e resolução óptica de fenilalanina por α-quimotripsina. 3.4.5 Reactores agitados por uma fase líquida Este tipo de reactores tem como base os princípios do reactor agitado por uma fase gasosa (air-lift), em que em vez de uma fase gasosa, é uma fase líquida dispersa que induz a circulação de uma fase líquida contínua (Figura 10). Quando a fase do solvente é menos densa que a água, esta é adicionada através dum difusor na parte de baixo do reactor. Este tipo de reactor é mais adequado para sistemas constituídos por duas fases líquidas macroscopicamente distintas, nas quais o biocatalisador pode estar dissolvido na fase aquosa ou imobilizado. Neste tipo de reactores combinam-se a mistura das fases através do controlo das condições do fluxo e baixas tensões de corte (decorrentes da agitação mecânica), com as solubilidades elevadas para substratos/produtos hidrófobos, obtendo-se velocidades de reacção elevadas e sendo facilitados a recuperação do produto por extracção. A diferença de densidades entre as duas fases líquidas é pequena, o que dificulta a concepção da zona de decantação no topo do reactor. Este problema é agravado na presença de agentes emulsificantes (presentes na solução inicial ou segregados pelas células). Usado a nível laboratorial para a produção de L-triptofano. 3.4.6 Reactores de membrana Figura 7 - Reactor contínuo perfeitamente agitado (CSTR) Boletim de Biotecnologia Este tipo de reactores permite numa única operação em contínuo, a integração da bioconversão com a separação/concentração do produto e recuperação do biocatalisador Biocatálise Figura 8 - Reactor de membrana (CSTR com recirculação) (Figura 11). A membrana vai funcionar como interface entre as duas fases líquidas imiscíveis (evitando o seu contacto) e como suporte para a imobilização do biocatalisador (aumento da área interfacial de contacto enzima/substrato). Neste tipo de reactores as fases aquosa e orgânica são mantidas separadas pela membrana, o que evita o problema de formação de emulsões, e inactivação do enzima devido ao contacto com o solvente. As principais desvantagens destes reactores são: a nível do biocatalisador de diminuição da actividade catalítica por perdas do enzima da membrana, e diminuição da eficiência de transferência de massa devido à diminuição de fluxo de permeado. Os dois fenómenos responsáveis por esta diminuição, são a concentração de polarização e o fouling da membrana, que levam aos baixos coeficientes de transferência de massa e ao entupimento da membrana. Este tipo de reacrores é usado para a biotransformação de lípidos (gorduras, óleos, triglicéridos, ácidos gordos e ésteres). A maior parte dos exemplos incluem a hidrólise de lípidos e gorduras para a produção de ácidos gordos, mono e di-glicéridos e glicerol, ou a síntese de ésteres incluindo reacções de tranesterificação. Figura 9 - Reactor de leito fixo (PFR) 3.5 Exemplos de processos industriais As aplicações de sistemas biocatalíticos na presença de solventes orgânicos abrangem uma vasta gama de processos, nomeadamente a síntese de péptidos utilizando quimotripsina, termolisina ou pepsina; reacções de esterificação, interesterificação, trans-esterificação utilizando lipases; síntese de compostos enantioméricos puros utilizando lipases ou leveduras, desidrogenação de esteróides utilizando desidrogenases ou células inteiras de Arthrobacter simplex. Na Tabela 4 apresentam-se Figura 10 - Reactor agitado por uma fase líquida. Boletim de Biotecnologia 11 Biocatálise alguns exemplos de processos industriais. 3.6 Perspectivas futuras As aplicasções de meios não-convencionais constituuídos por solventes orgânicos, são adequadas para bioconversões envolvendo: - substratos/produtos pouco solúveis em água, que são inibitórios ou tóxicos para o biocatalisador - Quando existem diferenças de solubilidade entre os substratos e/ou produtos - Substratos e/ou produtos que são sólidos e inibitórios ou tóxicos, e por isso difíceis de alimentar de uma forma adequada ao reactor - Deslocamento do equilíbrio químico no sentido de favorecer reacções de síntese através do controlo da actividade da água A principal limitação das bioconversões em sistemas multifásicos, em que uma das fases é um solvente orgânico, é a toxicidade do solvente orgânico, devido ao solvente orgânico dissolvido na fase aquosa e à presença da interface líquidolíquido. Os desenvolvimentos mais recentes em termos das bioconversões em sistemas multifásicos, envolvem o design de biocatalisadores mais adequados a solventes orgânicos, o design de novos solventes, e a selecção do bioreactor multifásico e do processo de recuperação do produto mais adequados de modo a uma integração das duas etapas do bioprocesso. Através da engenharia do biocatalisador, usando de técnicas de engenharia genética, é possível o desenvolvimento de células mais tolerantes a solventes orgânico e a redução de excrecção ou lise de material e/ou permeabilização celular. A metodologia da evolução dirigida permite a obtenção de enzimas mais tolerantes a solventes orgânicos, e de enzimas com actividades elevadas para substratos não-naturais. A selecção de novos solventes, nomeadamente líquidos iónicos (hexafluorofosfato de 1-butil-3-metil imidazole), pode ser uma alternativa aos solventes orgânicos, devido a constrangimentos ambientais. Figura 11 - Reactor de membrana. Em termos de reactores multifásicos, é importante o desenvolvimento de reactores mais adequados, nomeadamente reactores agitados por uma fase líquida e reactores de membrana, que permitem simultaneamente a solubilização de substratos e produtos hidrófobos, obtendo-se velocidades de reacção elevadas e a separação do produto, integrando a etapa de bioconversão com a etapa de isolamento e recuperação do produto. 3.7 Bibliografia Cabral, J.M.S., Mota, M. e Tramper, J., Multiphase Bioreactor Design, Taylor and Francis Books, London, 2001. Fernandes, P., Aires-Barros, M.R. e Cabral, J.M.S., “Biocatálise Aplicada” em Biotecnologia: Fundamentos e Aplicações (N-Lima e M.Mota, eds.), LIDEL-Edições Técnicas LDA, Cap. 10, 2001 (em impressão). Petrounia, I.P., Arnold, F.H., Designed Evolution of Enzymatic Properties, Curr. Op. Biotechnol., 11, 325-330. Schmid, A, Dordick, J.S. et al., Industrial Biocatalysis Today and Tomorrow, Nature 409, 258-268 (2000). Straathof, A.J.J. e Adlercreutz, P., Applied Biocatalysis, Harwood Academic Publishers, Amsterdam, 2000. Tabela 4: Exemplos de processos industriais Reacção Biocatalisador Solvente Companhia Epoxidação 1-octeno Noccardia corallina n-hexadecano Nippon Mining Hidrólise de ésteres Subtilisina (imobilizada) Lipase Vários Bayer Sumitomo, Chemie Linz AG; BASF; Schering Plough Desidrogenação de esteróides Arthrobacter simplex Tolueno Upjonh Dessulfurização Rhodococcus sp. Óleo (substrato) Energy Biosystems Boletim de Biotecnologia