Leiria-Fatima_ed_42 - Diocese Leiria

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Leiria-Fatima_ed_42 - Diocese Leiria
ANO XIV • NÚMERO 42 • SETEMBRO / DEZEMBRO • 2006
• Carta Pastoral apresentada no Dia da Diocese | pág. 219
Assembleia marca início
do ano pastoral
• TEMA • Semana dos Seminários | pág. 257
Promover os “lugares vocacionais”
Entrevista ao Reitor do Seminário e a seminaristas | Irmã Maria de Lurdes Capelo
documentos pastorais • notícias • serviços e movimentos • tema • reflexões • docu
Leiria-Fátima
Órgão Oficial da Diocese
ANO XIV • NÚMERO 42 • SETEMBRO / DEZEMBRO • 2006
Ficha Técnica
Director | Luís Inácio João
Chefe de Redacção | Luís Miguel Ferraz
Administrador | Henrique Dias da Silva
Conselho de Redacção | Belmira de Sousa, Jorge Guarda, Luciano Cristino,
Manuel Melquíades, Saul Gomes
Capa/Grafismo | Luís Miguel Ferraz
Propriedade/Editor | Diocese Leiria-Fátima / Gabinete de Apoio aos Serviços Pastorais
Sede | Seminário Diocesano de Leiria • 2414-011 Leiria
Tel.: 244832760 • Fax: 244821102
Correio Elec.: [email protected]
Periodicidade | Quadrimestral
Tiragem | 330 exemplares
Preço | 4 euros (avulso) • 12 euros (assinatura anual)
Impressão | Gráfica de Leiria
Depósito Legal | 64587/93
Índice
Editorial
Coesão europeia e solidariedade humana
Documentos Pastorais
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Carta Pastoral • Descobrir a beleza e a alegria da vocação cristã
A beleza e a alegria da vocação de especial consagração
Arte Sacra em Fátima
Fátima no coração da História
Abertura da Peregrinação Aniversária
Reconduzir para o centro do culto a verdadeira adoração de Deus
Em Ti cantamos a Beleza da Misericórdia do Pai
Carta aos Jovens: Itinerário Vocacional
O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas!
“Vinde benditos de meu Pai”: A apoteose da Misericórdia
Comunicação ao Conselho Presbiteral da Diocese de Leiria-Fátima
Comunicado do Conselho Presbiteral da Diocese de Leiria-Fátima
Louvor e memória no final de um ano
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206
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210
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217
Em Destaque
Carta Pastoral apresentada no Dia da Diocese • Assembleia marca início do ano pastoral 219
Entrevista ao padre Jorge Guarda, vigário-geral da Diocese
221
Notícias
Faleceu o padre Luís Lopes Perdigão
Faleceu o padre José Carreira Júnior
D. António Marto promove múltiplos encontros
Dia Mundial de Oração pela Vida Humana
Exposição “Sou o Anjo da Paz”
Congresso “Figuras do Anjo revisitadas”
Concurso para crianças - 90 anos das aparições
Irmã Lúcia vai ter museu
Novos estatutos do Santuário de Fátima
Bodas de prata das Servas de Nossa Senhora de Fátima
Jornadas vicariais das Colmeias
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Índice
Vigília missionária diocesana
Bispo preside a vigílias vocacionais vicariais
Bispos do centro debatem futuro das paróquias
CAES promoveu “Bênção do Caloiro”
Jornadas Vicariais de Leiria
Jornada Diocesana Pastoral Familiar
Marcelo Cavalcante instituído acólito
Grupo Vocacional Santo Agostinho
Encontro das comunidades neocatecumenais
Assembleia Diocesana da Sociedade de S. Vicente de Paulo
Cáritas entrega mais três casas
Milhões de estrelas em noite de Natal
Serviços e movimentos
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232
233
233
235
235
236
236
237
237
238
A vocação do catequista
239
“O escutismo é lugar privilegiado para descobrir a vocação”
244
Como Leiria acolhe os estrangeiros...
249
Propostas de formação no CFC
Comissão Diocesana Justiça e Paz
Centros de Preparação para o Matrimónio
MEC – programação e formação
Movimento dos Convívios Fraternos
252
253
254
254
255
Entrevista ao padre José Henrique, director do SDECIA
SDECIA propõe reuniões para catequistas
O Escutismo Católico Português
Entrevista a Margarida Marques, chefe regional do CNE de Leiria
Organismos que apoiam movimentos migratórios
Entrevista a Olga Ferreira, técnica da AMIGrante
Tema
Semana dos Seminários • Promover os “lugares vocacionais”
257
Irmã Maria de Lurdes Capelo
267
Entrevista ao padre Armindo Janeiro, reitor do Seminário Diocesano
Seminaristas em discurso directo
“Como não hei-de estar feliz, se é o Senhor a minha herança?”
Índice Geral - 2006
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Editorial
Coesão europeia e solidariedade humana
A Comissão Europeia decretou que 2007 será o Ano Europeu para a Igualdade
de Oportunidades para Todos. A iniciativa, em si mesma louvável, não deixa de
equivaler, desde logo, à coragem de um reconhecimento, pelo menos implícito, da
existência de exclusão e discriminação também na Europa.
Os objectivos específicos, segundo o programa, assentam em quatro pontos que
podem sintetizar-se assim: sensibilizar a opinião pública; Debater os meios para
aumentar a participação; celebrar e facilitar a diversidade considerada como trunfo
da União Europeia; lutar por uma sociedade mais coesa. Apontam-se como aspectos
especialmente susceptíveis de discriminação: o sexo, a raça ou origem étnica, a religião ou as convicções, a deficiência, a idade e a orientação sexual. Devem ser alvo
de especial cuidado o emprego, a habitação, o acesso a bens e serviços, e a educação.
Tudo para maior igualdade de oportunidades na vida económica, social, política e
cultural.
A proposta é endereçada aos países membros, depois do Ano da mobilidade dos
trabalhadores, em 2006, e antes do Ano do diálogo inter-cultural, em 2008. É pois
um projecto integrado, que se deseja continuado. Se, em política, uma iniciativa
é boa quando visa o bem comum, e indiscutível se corresponde a uma verdadeira
necessidade, a desigualdade de oportunidades imposta por alguém, mesmo que
maioria, colide efectivamente com a natureza desse “bem” e com o seu carácter que,
sendo “comum”, não pode ser contra ninguém, mesmo se minoria. Costuma dizer-se
das campanhas temporárias em geral e pode dizer-se também desta, peca por não ser
permanente, mas, se não mais, ficará o valor pedagógico de um alerta para o que se
advoga.
Estamos em presença de uma causa que subsistirá, por força da sua própria natureza, mesmo depois de solucionados os casos de descriminação. No caminho para
a igualdade de oportunidades, a perfeição será sempre e apenas tendencial, num esforço de equilíbrio saudavelmente interminável entre a igualdade de oportunidades
para todos e o respeito pela diferença de cada um, numa dialéctica que estes dois
princípios indissociáveis mantêm entre si, dentro de limites dificilmente balizáveis.
Sabiamente, a Comissão Europeia coloca entre o necessário e urgente, a afirmação
do pressuposto essencial da diversidade, classificada como o trunfo da Europa. Em
síntese, a qualidade e também o carácter permanente da luta pelo direito à igualdade
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Editorial
de oportunidades ligam-se ao entendimento da extensão do seu âmbito para além da
erradicação sempre urgente dos desrespeitos mais evidentes: na igualdade de oportunidades inclui-se a oportunidade da afirmação das diferenças reais e legítimas,
obrigando à permanente gestão dos dois princípios referidos.
Entre os aspectos fundamentais da vida das sociedades humanas há dois aspectos
fundamentais: o dever de todos e cada um responderem, solidariamente, por cada um
e por todos; e, a garantir e ordenar esta responsabilidade solidária, a necessidade de
cada instância tudo fazer, a seu nível, e na medida das suas capacidades e atribuições,
para não impedir (sentido negativo) e sobretudo permitir e ajudar (sentido positivo)
as demais instâncias a fazerem o que compete também a elas, ou a elas somente.
- A União Europeia tem por base a solidariedade exercida segundo a regra basilar
da subsidiariedade. É justo reconhecer que, do Tratado de Roma aos nossos dias,
ela se constituiu determinante na afirmação dessa regra tão facilmente esquecida ou
ignorada, nomeadamente pelo Estados membros. Na sua actuação, de outro modo
impossível, a Comissão Europeia tornou-se fundamental para a advertência da importância da subsidiariedade e sua aplicação em todas as nações, no relacionamento
das instâncias institucionais, desde o topo até à base da pirâmide organizacional.
Por seu lado, os Estados, na nova circunstância de uma instância superior europeia,
sentiram de outra forma as vantagens da subsidiariedade: delegando e reconhecendo
competências e capacidades à União, sem serem ultrapassados nem dispensados
das suas, passaram a dispor de apoios valiosos, de outro modo impossíveis, e são
advertidos para o carácter subsidiário da sua posição dentro das respectivas nações
e suas instituições.
Não obstante, está-se ainda longe da meta almejada, sobretudo ao nível dos Estados, mas também da União. O Estado português continua renitente em tratar as instâncias suas inferiores do mesmo modo que exige ser tratado pela Europa. Nomeadamente, não abre mão dum controlo exagerado em sectores que percebe utilizáveis
para gestão da sua influência, mas que, efectivamente, só são da sua competência
de modo subsidiário, como garante ou suplente nesses mesmos sectores. Péssimo
sintoma, a sociedade civil, excluindo normalmente as instituições económicas e por
circunstâncias bem específicas, e incluindo a instituição basilar da família, em vez
de pedir contas por esta usurpação, aquieta-se comodistamente.
Quanto à União Europeia, que preza tanto a subsidiariedade, ela vem demonstrando dificuldade crescente em respeitar e aplicar o princípio da subsidiariedade, de
modo especial em matérias do âmbito cultural e ético. Sabendo-se que as nações se
constituem e subsistem, antes de mais, graças a uma consciência colectiva cimentada nos valores das respectivas culturas, onde a pessoa e a família são as instâncias
prioritárias, nem a Comissão nem o Parlamento europeus se podem arrogar o direito
de pressionar nem as consciências colectivas, nem, muito menos, as consciências
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Editorial
individuais, sem abusarem das suas competências meramente subsidiárias e sem flagrante desrespeito do direito à diferença e à liberdade de expressão. Contrariamente,
a União Europeia tudo deve fazer para que não faltem meios às instâncias nacionais
para preservarem a sua “alma” cuja originalidade enriquece também a Europa unida
na diversidade. Péssimo sintoma, a cidadania europeia ainda não integrou esta dimensão e parece insensível a este abuso.
- É focando especialmente a solidariedade de todos com todos, que sobressai a
excelência da proclamação do direito à igualdade de oportunidades. Mas como ignorar a lacuna de tal proclamação se limitar à míope perspectiva do espaço geográfico
europeu? Por motivos humanitários a que se juntam os históricos e os decorrentes da
sua posição politica, cultural e económica, a Europa tem o grave dever de se assumir
na solidariedade universal, nomeadamente com os mais pobres. Sem isto, evocar o
substancial acervo comunitário da igualdade e da não-descriminação não é apenas
ilusório mas provocatório. Os cidadãos europeus deveriam exigir à Comissão e demais órgãos da União o cumprimento deste dever que, nas actuais circunstâncias, se
reveste de crucial importância: o anúncio de um crescimento económico mundial
mais elevado nos países pobres que nos países ricos, não pode encobrir a previsão de
que a África será excepção à regra, de que o referido crescimento nos países pobres
se concentrará num número cada vez mais reduzido de beneficiados, em detrimento
dos mais pobres cujos número e situação não cessarão de se agravar, e, por último,
de que os países mais ricos vão confirmar a tendência para concentrarem cada vez
mais riqueza nas mãos de um grupo cada vez mais reduzido.
Em absoluto, há mesmo necessidade de um Ano da igualdade de oportunidades
para todos, europeu e mundial, que não descrimine a oportunidade da afirmação das
diferenças fundamentais e seja servido por uma política justa e subsidiária, na perspectiva de uma humanidade sempre mais solidária.
Luís Inácio João
Director
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Documentos Pastorais
Documentos Pastorais
Carta Pastoral
Descobrir a beleza e a alegria
da vocação cristã
Caríssimos diocesanos, irmãos e irmãs no Senhor:
Antes de mais quero renovar a saudação fraterna e afectuosa que vos dirigi na
minha tomada de posse, particularmente aos doentes, aos jovens e às crianças: “O
Deus da esperança vos encha de toda a alegria e paz na fé” (Rom 15, 13). Agradeço, mais uma vez, o caloroso acolhimento com que me recebestes e que continuo
a experimentar nas visitas às paróquias, como também as muitas cartas recebidas,
testemunhos sinceros da vossa simpatia e amizade. A todos e a cada um, o meu muito
obrigado!
Na primeira saudação que vos fiz chegar aquando da minha nomeação, apresentei-me a vós com o lema do meu ministério “servidor da vossa alegria”. Esta colaboração na vossa alegria – que é a alegria do Evangelho – leva-me a escrever-vos esta
Carta Pastoral para vos ajudar a contemplar, com os olhos cheios de deslumbramento e o coração cheio de gratidão, a beleza e a alegria da vocação cristã. A razão da
carta é o início do Ano Pastoral 2006-2007 que é dedicado à Pastoral das Vocações
na Igreja, com acento particular nas vocações ao sacerdócio, sob o lema bíblico:
“Não fostes vós... fui Eu que vos escolhi” (Jo 15, 16).
O tema situa-se na continuidade do ano transacto dedicado ao acolhimento, a
partir da frase de Jesus à Samaritana: “Se conhecesses o dom de Deus...” (Jo 4, 10).
Esta palavra de Jesus é um convite a ir mais além de nós mesmos, a encontrar o
melhor de nós próprios, acolhendo o dom de Deus que é Jesus Cristo e a vida nova
e bela que Ele nos oferece. Trata-se pois de cada um procurar compreender-se a si
mesmo, à sua vida e ao seu projecto de vida à luz de Jesus Cristo: a que me chama o
Senhor? Qual é o dom da minha vocação dentro do grande projecto da salvação de
Deus para os homens? Quando se perde isto do horizonte surge a crise de vocações
à vida matrimonial, ao sacerdócio e à vida religiosa que hoje sentimos de modo
preocupante.
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Documentos Pastorais
1. Novo contexto vocacional hoje
A crise das vocações ao sacerdócio ou à vida religiosa não pode ser compreendida de um modo isolado do contexto cultural da nossa época, nem do contexto da
vivência da fé nas nossas comunidades.
É antes de mais uma crise cultural. Hoje sente-se a falta de uma “cultura vocacional” que se reflecte em vários âmbitos: crise da vocação ao matrimónio, à vida
política, à vida sindical, à vida associativa. Isto é derivado da cultura reinante da incerteza e da confusão causada pelo relativismo e pelo vazio de ideais, de valores, de
referências e modelos fortes. Acresce ainda a cultura da distracção, cada vez mais
invasiva e evasiva, que perde de vista e até sufoca as interrogações sérias acerca do
sentido da vida. Mais, sofre-se hoje de uma orfandade educativa nas famílias e nos
centros de educação. Quantos abortos vocacionais – que impedem o desabrochar da
semente da vocação – por causa do vazio educativo!
Todo este clima suscita e alimenta a cultura da indecisão: os jovens têm receio e
medo de fazer opções e assumir compromissos fortes, exigentes e duradoiros. Basta
pensar na actual crise da opção matrimonial que, a meu ver, não é menos grave do
que a crise das vocações ao sacerdócio ou de consagração. É dramático tudo isto que
leva um jovem a privar-se de uma das realidades mais belas da vida: formar uma
família com um vínculo de amor uno, fiel e para sempre.
Esta crise cultural repercute-se também na Igreja. Em tempos de cristandade, a
vocação, tal como a fé, despertava e transmitia-se como que por osmose ou contágio
do ambiente cristão das famílias e da figura e do estatuto social do padre. Hoje, num
mundo em constante mudança e pluralista, a vocação, tal como a fé, requer uma
interpelação clara por parte da comunidade cristã e uma opção consciente e madura
da parte dos destinatários.
Acontece, porém, que nas nossas comunidades cristãs reina uma amnésia vocacional. A maior parte dos nossos cristãos pensa que a questão das vocações não lhes
diz respeito; é assunto do bispo e dos padres.
A crise vocacional é, em última análise, crise de vivência e interpretação banal
da fé, privada de toda a beleza, frescura, encanto, paixão, alegria e entusiasmo por
Jesus Cristo e pelo evangelho, privada do sentido de responsabilidade e de doação
a Deus e aos outros.
Esta reflexão serve para compreender o contexto da crise vocacional. Mas não
ajuda a solucioná-la dizer que acontece o mesmo na vida política e sindical, nem
ficar nas lamentações acerca do nosso mundo. A crise representa um desafio em ordem a assumir com novo ardor a pastoral vocacional e a encontrar novos caminhos.
O que aqui está em jogo é, sobretudo, uma experiência de fé que leve a descobrir a
novidade e a beleza do encontro com Jesus Cristo.
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Documentos Pastorais
2. A beleza da vocação cristã
2.1. “E Deus viu que tudo era muito belo” (Gen 1,31):
Toda a vida é vocação
Quando contemplamos a nossa vida à luz da fé no mistério da Criação, tomamos
consciência de que “não somos o produto do acaso irracional e sem sentido da evolução. Cada um de nós é fruto dum pensamento de Deus. Cada um de nós é querido,
cada um é amado, cada um é necessário.” (Bento XVI) O amor criador de Deus é
o início de cada vocação. Ele cria-nos com dons, talentos e capacidades que somos
chamados a desenvolver para a nossa realização pessoal e para o aperfeiçoamento do
mundo. Chama-nos a colaborar com Ele no projecto criador e salvador, para tornar
o mundo bom e belo.
A vida humana não é pois um acaso nem um destino cego. É uma obra-prima do
amor criador de Deus e traz inscrito dentro, em si mesma, um chamamento ao amor.
Não é uma aventura solitária, mas diálogo, dom de Deus que se torna tarefa e missão
para nós. Não vivemos ao acaso nem por acaso. O homem não está só no mundo:
nem no princípio, nem no meio, nem no fim da vida e da história. Deus é o seu companheiro de caminho e este caminho abre à vida verdadeira e plena, boa, bela e feliz.
Cada dia é-nos dado para responder à nossa vocação de criaturas de Deus, como um
modo de conceber e projectar a nossa vida. Em cada pessoa há um dom original de
Deus que espera ser descoberto, desenvolvido para dar frutos. A busca do sentido da
vida é um eco da “vocação” de Deus.
2.2. “Fala, Senhor; o teu servo escuta” (1Sam 3,10):
A vocação como diálogo
Mas Deus chama o homem não só à vida e ao seu desenvolvimento; chama-o
também, de novo e sempre, na sua história a colaborar com Ele numa história de salvação e não de perdição, de graça e não de desgraça, formando um povo que acolhe
o dom da salvação. O povo de Deus – outrora Israel, hoje a Igreja – é um povo de
chamados à fé e à salvação, a responder e corresponder à Palavra do Senhor.
A história de Deus com os homens é uma história de vocações. Através da sua
Palavra, Deus chama e envia alguns (patriarcas, profetas…) a realizar determinada
missão. Uma amostra exemplar é a vocação de Abraão, a quem Deus chamou para
dar início à história particular da salvação, formando um povo, e a confiar somente
na Palavra, acolhida na fé e na esperança. Quando Deus chama, espera uma resposta. Isto é claro na vocação de Samuel (1Sam 3), que responde com a sua disponibilidade pronta: “Eis-me aqui. Fala, Senhor, que o teu servo escuta”. Assim a história
de cada homem, embora nos apareça como uma pequena história, é sempre parte
integrante e inconfundível duma grande história da salvação, que vem de longe e
leva longe e que tem o seu momento culminante em Jesus Cristo.
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Documentos Pastorais
2.3. “Vinde e vede” (Jo 1,39):
A vocação como encontro com Cristo
De facto, em Jesus, Filho de Deus feito homem, o Deus vivo, no excesso do Seu
amor, entra em pessoa na nossa história, vem ao nosso encontro, aproxima-se de nós,
torna-se nosso amigo, partilha connosco o mistério do Seu amor, para que tenhamos
vida em abundância, vida verdadeira, nova e eterna. Jesus traz-nos a Boa-Nova de
que somos amados por Deus como filhos; e dá-nos o Espírito Santo no qual podemos
acolher Deus como Pai e os outros como irmãos. O Filho é enviado pelo Pai para
chamar os homens a esta comunhão divina e fraterna. O convite de Deus chega até
aos homens nas palavras, nos gestos, nos sinais de salvação de Jesus. Não é uma
fórmula ou uma doutrina que nos salva, mas a Pessoa viva de Jesus.
Por isso, não existe uma passagem do Evangelho, um diálogo ou encontro que
não tenha um significado vocacional: um convite – chamamento de Jesus a seguiLo, que põe o homem diante da interrogação fundamental: que quero fazer da minha
vida? Qual o meu caminho?
É verdadeiramente iluminante a narração da vocação dos primeiros discípulos de
Jesus no Evangelho segundo S. João 1, 35-39. O amor divino é o acontecimento de
um encontro que muda a vida, a experiência de uma hora inesquecível que revive, de
novo e sempre, no coração de quem aceita entregar-se a este amor em Jesus.
Quando João Baptista indica Jesus como o “Cordeiro de Deus que tira o pecado
do mundo” – isto é, como Salvador do mundo –, os dois (João e André) não hesitaram em segui-l’O, sem dizer nada. E Jesus faz-lhes uma única pergunta: “Que
procurais?” Pode parecer uma pergunta banal, mas ela vai ao fundo da pessoa, como
quem diz: o que vos move? Que anseios estão no interior do vosso coração? De que
andais à procura na vida? Que vos interessa acima de tudo? E que esperais de Mim?
É pois uma pergunta cheia de sentido, um convite a olhar-se dentro, a advertir o que
há de mais profundo em nós.
Por sua vez, eles respondem com outra pergunta: “onde moras?” que exprime o
desejo de ficar com Ele. Morando juntos, convivemos, compreendemo-nos, partilhamos algo em comum, sentimo-nos da família. Eles compreenderam pois que seguir
Jesus é encontrar a verdadeira morada da própria vida. A resposta do Mestre é um
convite a confiar e a fazer uma experiência de vida com Ele: “vinde e vede”. E assim
fizeram. É tão grande a impressão daquele encontro que vai marcar para sempre a
sua vida, que S. João recorda a hora precisa, típico da memória de um grande amor:
“era a hora décima” que, para os hebreus, significava a hora das grandes decisões
da vida. A vocação é o encontro com Alguém, não com alguma coisa; é a recordação de uma hora que muda a vida quando se aceita estar com Ele e viver d’Ele,
reconhecendo-O como “meu Senhor e meu Deus”. “O encontro com Jesus abre um
novo horizonte e imprime um rumo decisivo à vida” (Bento XVI), dá origem a uma
existência nova na comunhão com Cristo.
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Documentos Pastorais
2.4. “É belo estarmos aqui” (Mat 17,4):
A vocação como vida bela em Cristo
A vida em comunhão com Cristo é uma experiência de beleza a saborear e a testemunhar, tal como nos é dado contemplar no mistério da Transfiguração de Jesus,
no monte Tabor. É um episódio misterioso, um acontecimento de revelação em que
o Filho de Deus vivo deixa transparecer a profundidade da Sua vida divina, do Seu
Amor eterno, da Sua bondade que irradia em forma de luz tão intensa que transfigura o Seu rosto – expressão da pessoa – e as Suas vestes, símbolo de tudo o que é
quotidiano e se desgasta. Uma experiência tão maravilhosa que extasia os discípulos
e leva Pedro a exclamar: “Senhor, como é belo estarmos aqui”: é belo estar contigo,
contemplar a beleza do Teu rosto, pertencer a Ti, dedicarmo-nos a Ti!
E depois escutam a voz do Pai que ilumina este acontecimento: “Este é o meu
Filho muito amado: escutai-O”. É o chamamento do Pai a seguir Jesus: recebei-O,
acolhei-O, ponde n’Ele toda a confiança, fazei d’Ele o centro da vida, deixai-vos
transfigurar por Ele.
A Igreja vê na Transfiguração de Jesus o próprio caminho de transformação da
existência humana. Para o cristão, é sinal e apelo da transformação baptismal: um
convite a dar nova figura, novo rosto, nova beleza à vida com Cristo que nos é comunicada no Baptismo. O Baptismo é pois o início de todo o caminho cristão para ser
filhos de Deus como Jesus. Por isso dizemos que a primeira e fundamental vocação
comum a todos os cristãos é a baptismal. Nela somos chamados à santidade que é
a expressão da beleza espiritual e moral da nossa vida com Cristo. Ser cristão é um
modo belo de viver a vida!
2.5. “Fui eu que vos escolhi” (Jo 15, 16):
A vocação como eleição de amor
Há ainda uma palavra muito bela de Jesus, em que Ele desvela o segredo e o sentido mais profundo e último da vocação cristã: “não fostes vós que Me escolhestes;
fui Eu que vos escolhi a vós e vos constituí para que vades e deis fruto e o vosso fruto
permaneça”. Esta frase é pronunciada num contexto em que Jesus como que entoa
uma cantata ao Amor infinito do Pai dado a conhecer e partilhado pelos discípulos.
E assim coloca o chamamento dos discípulos no coração do mistério, isto é, no
desígnio do Amor eterno de Deus, que nos precede e acompanha, ao qual respondemos pela aceitação da fé. Sem negar a opção pessoal dos discípulos, sublinha-se o
primado da iniciativa de Cristo, reconhecido como Senhor da nossa vida. Na origem
da vocação cristã está a iniciativa da Sua graça, do Seu amor, da Sua misericórdia,
da Sua atracção. Há um Amor que está antes da nossa resposta. A vocação aparece
então como um dom, uma eleição de Amor.
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Documentos Pastorais
Esta eleição não é só para eles, mas para a missão: “para que deis fruto”, para que
através da irradiação da fé e do amor os homens tenham a vida eterna. Através da
comunidade dos discípulos, o Filho de Deus continuará a revelar-Se e a comunicarSe ao longo da história. A nossa vocação tem como horizonte o mundo inteiro. O
chamamento do Senhor é pessoal e apostólico.
3. Vocação e vocações na Igreja
Tudo o que foi dito refere-se à vocação comum a todos os cristãos. O nosso ser
com Cristo pelo Baptismo insere-nos na comunhão de vida íntima com Deus e na
comunhão de irmãos que é a Igreja. No Baptismo está pois a origem da vocação
comum de todos os fiéis cristãos. Todos somos chamados a viver a nossa existência
humana em comunhão com Cristo: a crescer na relação filial com Deus, no amor
fraterno, na vida nova segundo o Espírito de santidade, a participar na edificação da
Igreja, a anunciar e testemunhar o Evangelho no mundo. É uma vocação em ordem a
realizar uma vida boa, bela e feliz com Cristo e com os outros para o mundo.
3.1. Variedade de dons e chamamentos
A vocação cristã, porém, especifica-se numa multiforme variedade. Todos os
baptizados são alcançados pela luz da Transfiguração, pela beleza da vida nova,
todos igualmente chamados a seguir o mesmo Cristo; mas cada um, de um modo
próprio, segundo os dons e os apelos de Deus nas diversas situações.
O Espírito Santo alimenta a vida e a missão da Igreja com dons, carismas e ministérios diversos e complementares, que se configuram numa grande variedade de
vocações. Podemos sintetizá-las em três tipos: a vocação à vida laical, ao ministério
ordenado e à vida consagrada. Estas “podem-se considerar paradigmáticas, uma vez
que todas as vocações particulares, sob um aspecto ou outro, se inspiram ou conduzem
àquelas… Todos na Igreja somos consagrados no Baptismo e na Confirmação; mas o
ministério ordenado e a vida consagrada supõem, cada qual, uma vocação distinta e
uma forma específica de consagração, com vista a uma missão particular” (VC 31).
Assim, a vocação dos fiéis leigos é caracterizada pelo seu compromisso cristão
no mundo: na vida matrimonial, na família, no trabalho, na economia, na política, na
educação…; a dos ministros ordenados (bispos, padres e diáconos) distingue-se pelo
ministério de representar Cristo, Pastor que guia o Seu povo; a dos consagrados consiste na entrega total, de alma, coração e sentimentos, a Jesus Cristo, pelo caminho da pobreza, da virgindade e da obediência como testemunho profético e serviço ao Reino de
Deus no mundo e à esperança do mundo novo, em que quem reina é o Deus – Amor.
As diversas vocações são comparáveis a raios da única luz da Beleza de Cristo
que resplandece no rosto da Igreja e fazem dela um jardim embelezado com as mais
diversas flores.
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Documentos Pastorais
Cada vocação nasce num contexto preciso e concreto: a Igreja, mãe e berço de
vocações. Não existem vocações de primeira ou segunda categoria. Todas vêm de
Deus e têm um único objectivo: anunciar o reino de Deus na história, tornar visível
e testemunhar o mistério de Cristo Salvador. Numa palavra, na comunidade cristã há
muitas vocações, mas uma única missão.
3.2. Necessidade urgente de sacerdotes e consagrados
Todas as vocações colaboram na edificação da Igreja, Corpo de Cristo, e na obra
de salvação. Mas hoje sente-se uma necessidade urgente de ministros ordenados e
de fiéis de vida consagrada. Os sacerdotes, na continuidade do ministério dos Apóstolos, servem, em nome de Cristo Pastor, a fé, o amor e a esperança de todos os fiéis
e das comunidades cristãs, através do anúncio da Palavra de Deus, da celebração da
Eucaristia e dos outros sacramentos, e da orientação da comunidade na comunhão
fraterna.
Os fiéis de vida consagrada, movidos pelo Espírito Santo, tendem à perfeição da
caridade seguindo radicalmente a Cristo mediante os chamados “conselhos evangélicos”, dando testemunho daquele Amor único que é Deus e do serviço aos irmãos
em variadas expressões. São uma riqueza inestimável para a vitalidade da Igreja!
A atenção prioritária, na actual situação da nossa diocese, vai sobretudo para o
ministério ordenado. Ele é a garantia permanente da presença sacramental de Cristo
nos diversos tempos e lugares, sobretudo através da Eucaristia. É pois fundamental e
indispensável para a vida da Igreja, da sua edificação e do seu crescimento!
Neste contexto, não há dúvida de que deve ser reservada hoje uma singular e
específica atenção às vocações sacerdotais. Trata-se de “um problema vital para o
futuro da fé cristã”, como dizia João Paulo II. Sem vocações ao sacerdócio será mais
difícil o serviço ao Evangelho e não será possível uma renovada evangelização da
nossa Igreja e do nosso território.
4. Novo ardor da pastoral vocacional:
da alegria de ser chamado à coragem de chamar
O problema vocacional põe-se, em primeiro lugar, a cada fiel cristão: a exigência
de discernir a vocação específica que Deus nos reserva na tarefa de anunciar o Evangelho, de colaborar na edificação da Igreja de Cristo e na transformação do mundo.
Isto significa não só saber o que Deus quer de nós, mas também o compromisso de
fazer o que Ele nos pede. É uma responsabilidade pessoal que recebe aquele que é
chamado: manter sempre viva, grata e alegre a consciência da própria vocação e
dar uma resposta livre, generosa e cheia de amor a Deus que chama: “Eis-me aqui;
envia-me!” (Is 6, 8).
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Mas o problema vocacional diz também respeito a toda a vida e acção pastoral
da Igreja, chamada a suscitar, discernir, acompanhar e apoiar todas as vocações na
sua variedade e complementaridade. As vocações na Igreja surgem dum apelo que
vem de Deus, mas que se realiza normalmente através da mediação humana, com
uma pedagogia e metodologia próprias.
Por isso, “é necessário estruturar uma vasta e capilar pastoral das vocações, que
envolva as paróquias, os centros educativos, as famílias, suscitando uma reflexão
mais atenta sobre os valores essenciais da vida, cuja síntese decisiva está na resposta
que cada um é convidado a dar ao chamamento de Deus, especialmente quando este
pede total doação de si mesmo e das própria energias à causa do Reino de Deus”
(NMI 46).
Resulta pois que a pastoral vocacional não é um aspecto isolado, sectorial. Está
vinculada à pastoral global da comunidade cristã e, particularmente, à pastoral juvenil e familiar. Trata-se duma pastoral transversal e refere-se a todas as vocações.
Neste momento, quero indicar apenas alguns caminhos que me parecem elementares e de fácil concretização.
4.1. A comunidade cristã, casa e escola vocacional
Suscitar vocações é uma responsabilidade de todo o povo de Deus e de cada
comunidade cristã. Na Exortação Apostólica “Dar-vos-ei Pastores”, João Paulo II
insiste especialmente neste ponto de que devemos começar a preparar nas paróquias
um terreno fértil para que a acção de Deus se desenvolva e o Seu apelo possa ser ouvido e seguido. Para que estes primeiros passos possam ter possibilidades de sucesso
é preciso estar convicto de que todos os membros da Igreja, sem excepção, têm a
graça e a responsabilidade do cuidado pelas vocações” (nº 41).
Toda a comunidade cristã normal deve ser, pois, por natureza, “casa e escola
vocacional” que faz despertar e crescer, de modo normal, as vocações normais a
partir da fé vivida e testemunhada como apelo. A casa evoca o ambiente vivencial; a
escola evoca a aprendizagem, a formação. Assim, o clima de fé, oração, comunhão,
alegria, maturidade espiritual, caridade e testemunho faz da comunidade o terreno
propício não só ao desabrochar de vocações, mas também à criação duma cultura
vocacional.
Em ordem à consciencialização das comunidades e à sua maior corresponsabilidade nesta tarefa, peço ao Secretariado Diocesano da Coordenação Pastoral a
elaboração de algumas catequeses que poderão ser feitas quer nas paróquias, quer a
nível de vigararia, durante a Quaresma.
Mas, como num jogo em equipa, há que ter animadores. Por isso, em cada paróquia ou vigararia será desejável a criação de um “Grupo de Animadores Vocacionais”. É um ministério novo que se vai configurando dentro da comunidade, ao qual
se confia o mandato da animação vocacional.
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4.2. Acompanhamento vocacional em cada idade
É preciso animar e acompanhar vocacionalmente cada idade, desde o começo da
iniciação cristã até aos anos da juventude madura, através de vários itinerários. Em
primeiro lugar, os itinerários da fé. Os caminhos da pastoral vocacional são, antes
de mais, os do crescimento da fé e dos seus dinamismos. Como nos adverte João
Paulo II “o convite de Jesus, “vinde e vede” (Jo 1, 39) permanece, ainda hoje, a
regra de ouro da pastoral vocacional. Trata-se de apresentar o fascínio da Pessoa do
Senhor Jesus e a beleza do dom de si à causa do Evangelho” (VC 64). Neste aspecto
há que investir energias precisas no itinerário da catequese oferecendo uma leitura
vocacional da vida. Também a idade do crisma poderia ser, precisamente, a “idade
da vocação” para a descoberta e o testemunho do dom recebido e das diversas vocações, proporcionando aos crismandos o encontro com homens e mulheres crentes
que vivem com coragem e alegria a sua vocação.
Neste percurso de animação e acompanhamento inserem-se, eficazmente, os
itinerários vocacionais específicos para grupos de jovens, rapazes e raparigas, que
querem fazer uma reflexão séria e pessoal em ordem ao discernimento da sua opção
e projecto de vida. Trata-se dum caminho programado para um ano, com um encontro mensal de um dia ou fim-de-semana de reflexão, oração e partilha.
Temos ainda o “pré-seminário” ou “seminário em família”, como itinerário vocacional específico de acompanhamento, orientação e discernimento para os que se
propõem entrar para o Seminário Maior em ordem ao sacerdócio.
Menciono ainda os retiros ou exercícios espirituais que são momentos especiais
de graça para que a fé seja personalizada, interiorizada e vivida como apelo, chamamento de Deus.
Em todos estes percursos é de fundamental importância a chamada direcção ou
orientação espiritual. É uma forma privilegiada de acompanhamento personalizado
e de discernimento vocacional. De facto, cada pessoa e cada vocação é única, tem
uma história singular e problemas e interrogações próprias, que ela precisa de confrontar com alguém adulto na fé, para um discernimento sério e maduro.
Como podemos ver – e é já um dado adquirido – uma escolha vocacional não
amadurece, em regra, através de experiências episódicas de fé, mas através de um
mais ou menos longo e paciente caminho espiritual.
4.3. Testemunho vocacional contagiante
Hoje, o povo cristão é mais sensível às testemunhas do que aos mestres. O que
atrai os jovens não é o estatuto ou papel social de uma determinada vocação. Eles
são cativados pelo fascínio do testemunho. Seguem e escolhem o que é significativo
para a sua existência pessoal. Têm um sexto sentido para reconhecer as pessoas que
são ponto de referência para uma vida de fé e doação, que dão testemunho da beleza
de uma vida que se realiza, de modo alegre e feliz, segundo o projecto de Deus.
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Uma comunidade de testemunhas é o ambiente necessário para a fecundidade
vocacional. Todo o adulto na fé sentirá a alegria de ser chamado e, por sua vez, a
coragem de chamar com o testemunho de vida, a palavra e a interpelação directa.
As famílias cristãs são chamadas a testemunhar o amor na abertura às necessidades da Igreja e do mundo, a promover um clima de fé e a oferecer o ambiente próprio
para uma saudável educação humana, afectiva e cristã, em que os jovens aprendam
a usar a liberdade e a projectar a vida segundo o coração de Deus.
De modo particular, os padres e os religiosos são chamados a deixar transparecer,
na sua vida pessoal e comunitária e na sua missão, a beleza e a alegria do sacerdócio
e da vida consagrada. Nenhum jovem poderá, de facto, sentir um chamamento, se os
seus olhos não puderem ver ao vivo na pessoa, na vida e no ministério dos padres a
alegria contagiante de alguém que é feliz.
Neste sentido é de aproveitar a celebração de ordenações, profissões de religiosos e respectivos aniversários jubilares como ocasiões preciosas de evangelização e
proposta vocacional, envolvendo os jovens na preparação e na celebração.
4.4. Grande Oração pelas Vocações
Sabemos pela fé que toda a vocação é dom de Deus como aliás toda a vida e vitalidade da Igreja. Por isso devemos implorar também este dom. É um compromisso
que se deve estender a todo o povo de Deus e ser assumido por cada comunidade.
Por este caminho passa o processo misterioso de toda a vocação apostólica. A vocação nasce da invocação, isto é, da oração.
A oração, se inserida num caminho de fé, abre os corações a Deus, põe-nos à
escuta e torna-os disponíveis a qualquer solicitação da graça. Feita a nível comunitário, cria o ambiente propício para qualquer semente que o Senhor aí queira semear.
Assim, a cultura da oração gera também uma cultura vocacional.
Faço pois um sentido apelo a toda a Diocese e a todas as comunidades e movimentos para dar vida a uma “Grande Oração pelas Vocações”: uma oração vivida
com intensa confiança e perseverança, capaz de envolver pessoalmente todos os
membros do povo de Deus e a realizar com oportunas modalidades comunitárias, de
modo programado e calendarizado ao longo do ano e não episódico ou pontual.
Neste aspecto existem algumas propostas concretas: a quinta-feira vocacional,
em cada mês, com celebração da Eucaristia ou uma hora de adoração eucarística, a
inclusão de uma prece pelas vocações em todas as celebrações comunitárias, fomentar grupos de oração pelas vocações. Além disso, podem promover-se tempos fortes
de oração no Dia Mundial das Vocações, no Dia do Seminário, na semana vocacional
paroquial.
Em cada vigararia haverá uma vigília de oração pelas vocações que espero seja
preparada por uma equipa de padres e leigos e bem participada pelos fiéis.
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4.5. Serviços de apoio e dinamização
Sendo a pastoral vocacional algo que diz respeito a todo o povo de Deus, são
todavia necessários serviços de apoio e animação como o Secretariado Diocesano da
Pastoral Vocacional, que ao longo deste ano nos propomos reactivar. É um organismo de comunhão e instrumento ao serviço da pastoral vocacional na Diocese. Nele
devem estar representadas todas as vocações desde os esposos aos consagrados.
Compete-lhe promover itinerários vocacionais específicos e coordenar as iniciativas
de pastoral vocacional existentes na Diocese; formar os animadores vocacionais e
cuidar que no povo de Deus se crie uma cultura vocacional; participar na elaboração
do programa pastoral diocesano e colaborar particularmente com a pastoral familiar
e juvenil.
Quero aqui recordar que todos os sectores da pastoral diocesana são chamados a
terem presente a dimensão vocacional. Peço pois a colaboração cordial de todos em
espírito de comunhão.
5. A vós jovens: levantai-vos e não tenhais medo!
A vós, jovens, reservo uma palavra amiga de encorajamento. Sei como é difícil a
um jovem orientar-se e orientar a própria vida em sentido diverso e melhor, segundo
o projecto de Deus, neste mundo que se assemelha a uma grande feira em que são
oferecidos os mais variados projectos e modelos, cada qual na embalagem mais sedutora. Quero dizer-vos, por experiência própria, que em Jesus Cristo encontramos
tudo o que torna a vida verdadeira, digna, livre, nobre, grande e bela. Não vos deixeis cair na indiferença, na superficialidade e na mediocridade de vida.
Procurai dar à vossa vida um projecto belo. Se, no mais íntimo, sentirdes o
chamamento do Senhor ao sacerdócio ou à vida religiosa, sede generosos, não o recuseis! Cultivai os anseios próprios da vossa idade, mas não fecheis o coração aos
apelos de Deus. E se vos assaltar o temor, ouvi a palavra de encorajamento de Cristo
aos apóstolos após a contemplação da Transfiguração e que faço minha: “levantaivos e não tenhais medo”!
Com palavras de João Paulo II quero expressar a minha confiança em vós: “O
terceiro milénio aguarda a contribuição de uma multidão de jovens consagrados,
para que o mundo se torne mais sereno e capaz de acolher Deus e, n’Ele, todos os
Seus filhos e filhas” (VC 106).
Ouso mesmo oferecer-vos uma breve oração:
Senhor Jesus,
Torna-me atento e vigilante
No discernimento da vontade do Pai,
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Para que eu possa em tudo realizar a vocação
Com que Ele, desde sempre, me quis e amou.
Na hora da dúvida e da provação
Dá-me a certeza de não estar só
Mas de saber e querer-Te próximo,
Para viver contigo a minha oferta,
Seguindo-Te humilde e confiadamente
No serviço da Tua Igreja e do mundo.
Para terminar, quero fazer um pedido premente a todos, irmãos e irmãs na fé desta Igreja de Leiria – Fátima: acolhei esta carta como impulso para uma meditação sobre a vocação cristã, para uma mais intensa corresponsabilidade de todos os cristãos
na promoção das vocações, sobretudo sacerdotais; fazei tudo o que seja possível,
em particular através da oração, para que este Ano Pastoral dedicado às vocações
dê muitos frutos. Seria a melhor e mais bela prenda que me poderiam oferecer neste
primeiro ano como vosso bispo.
Mesmo nos momentos difíceis da história, o Espírito Santo trabalha e encoraja-nos a semear com confiança, sobretudo no coração das novas gerações. É uma
certeza da fé.
Contemplando Maria, a cheia de graça, a mulher do “sim” a Deus, compreenderemos e ajudaremos a compreender a beleza de uma existência entregue ao projecto
de Deus. Com Ela seremos capazes de fazer opções vocacionais para que esta beleza
se torne vida e irradie para o mundo.
Saúda-vos afectuosamente,
† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima
8 de Setembro de 2006, Festa da Natividade de Nossa Senhora
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A beleza e a alegria da vocação
de especial consagração*
Antes de mais, quero saudar-vos a todos e a todas, a cada um e a cada uma em
particular, com todo o afecto e no amor de Jesus Cristo.
Quis este encontro convosco. Gostaria até que tivesse acontecido pouco tempo
depois de eu ter chegado, mas compreendeis que as solicitações de um bispo, que
entra de novo numa diocese, são imensas. Já pude fazer essa experiência em Viseu.
Agora, aqui em Fátima, são multiplicadas. Com o tempo que aqui levo, poderia
dizer-vos que, em virtude da dimensão internacional de Fátima, esta diocese é uma
espécie de mini-Vaticano, onde chegam correspondência, solicitações e audiências
de todo o mundo. Portanto, o bispo não tem mãos a medir e não é capaz de chegar a
toda a parte. Tem que aceitar as suas limitações.
Houve vários pedidos de comunidades para apresentarem cumprimentos ao
bispo. Eu pensei: se vou receber cumprimentos de todas as comunidades, não tenho
tempo para mais nada. Então, disse ao Chefe de gabinete que era melhor fazermos
um encontro com todos os religiosos e religiosas da Diocese, tal como fiz também
com o clero diocesano. Eis pois a razão deste encontro: corresponder a um desejo
íntimo do bispo de se poder encontrar com todos os consagrados e consagradas em
ordem a um conhecimento pessoal, a um colóquio íntimo e familiar de quem vos
abre também o seu coração de bispo e de pastor, em que tendes igualmente o vosso
lugar próprio e insubstituível, e ao qual também estais confiados.
Como sabeis, acabei de publicar uma Carta Pastoral que se intitula “Descobrir
a beleza e a alegria da vocação cristã”, uma vez que o Ano Pastoral da Diocese é
dedicado à promoção das vocações.
Não vou agora fazer o resumo da carta, mas é só para vos dizer que ao perguntar-me o que vos havia de dizer, me lembrei: vou falar aos consagrados da beleza e
da alegria da vocação de especial consagração na Vida Religiosa ou nos Institutos
Seculares. É uma aplicação concreta da Carta Pastoral. Embora a gente não possa
dizer tudo - só o essencial - o resto desenvolve-se depois ao longo do ano. É melhor
que as pessoas fiquem com apetite do que com congestão.
Escolhi então este tema: Descobrir a beleza e a alegria da vocação de especial
consagração e, naturalmente, tomei como ponto de partida para esta minha meditação o tema do Sínodo sobre a Vida Consagrada e a sua missão na Igreja e no mundo.
Fui lá respigar aqueles pontos, que, no meu modo de ver, mais ajudarão a descobrir
esta beleza e esta alegria da vocação de especial consagração. É natural que vós já
conheçais esta Exortação Apostólica, mas sabeis bem que depois, cada um, quando
a lê, tem chaves de leitura própria e faz a sua reflexão. Também tem uma maneira
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própria de a dizer... Portanto, eu sou capaz de vos dizer aquilo que vós já sabeis,
mas talvez à minha maneira e com uma chave de leitura que é a chave da beleza e
da alegria.
Não basta a gente andar a lamentar-se do mundo e das fealdades do mesmo. Não
basta sequer andar a planear programas de intervenção e de prevenção, se não houver algo que fascine, que atraia, que faça exclamar: é belo! … Seguir Jesus é belo;
amar a Igreja é belo; servir os irmãos, dedicar-se em serviço aos irmãos é belo! Se
não houver esta beleza e esta alegria de viver uma vocação feliz, tanto faz que haja
muitos programas, muitas exortações e muitas pregações, que não levam a nada. Por
isso é que eu escolhi esta chave de leitura.
As grandes linhas da
Exortação Apostólica sobre a Vida Consagrada
1. Confessio Trinitatis:
nas fontes cristológico-trinitárias da vida consagrada
Então, seguindo aqui o esquema da Exortação Apostólica sobre a Vida Consagrada, começamos por ver esta vida de especial consagração, à luz do Mistério
de Deus de onde ela vem, ao qual está sempre referida e para onde ela caminha. E,
como diz o texto, que acho muito belo, “A vida consagrada é antes de mais confessio
Trinitatis” - uma proclamação de vida, encarnada, do Mistério do Amor Trinitário. É
a parte mais propriamente teológica. Nela, a vida consagrada aparece como testemunho vivo, encarnado desse Amor único e absoluto que é Deus Trinitário. O amor do
Pai, que escolhe, com o Seu olhar de eleição, alguns e algumas para Si; que convida
a seguir o Filho Jesus Cristo deixando tudo, que é o seguimento radical de Jesus;
que, no Espírito Santo, confia uma missão particular na Igreja, através dos diferentes
carismas.
A perspectiva trinitária permite-nos compreender e descrever a vida consagrada
em termos de consagração, é entrega de todo o coração, sem reservas, a Deus. Significa seguimento radical: seguir Jesus, deixando tudo. O centro não está em deixar
tudo, está no encontrar o tesouro da Sua vida. Só encontrando um tesouro é que a
gente deixa tudo. Se começarmos por apresentar o deixar tudo… Deixar tudo para
quê?... O importante é o tesouro do Evangelho, que é Cristo. Então, sim, quando a
gente encontra um tesouro, é capaz de deixar tudo o resto, em termos de missão e
de santidade.
Portanto, estais a ver o aspecto teocêntrico da vida consagrada, que vem de Deus,
que anuncia o mistério da beleza de Deus, da beleza do amor de Deus, e que está
constantemente referida a Deus. Neste contexto teologal, compreende-se então o
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significado profundo dos conselhos evangélicos, no seu fundamento de celebração
grata, alegre, reconhecida, do primado de Deus, da sua graça, do Deus de Jesus
Cristo, que anunciou as Bem-Aventuranças, e no Espírito Santo que nos santifica e
chama à santidade. Por isso, meus caros amigos e amigas, irmãos e irmãs, os consagrados e consagradas são chamados, antes de mais, a serem homens e mulheres da
contemplação do mistério de Deus, do Deus Santo, com a consciência de que esta
santidade é a melhor contribuição que os cristãos podem dar para a renovação do
mundo e dos homens. Santidade é a expressão da beleza espiritual e moral como
dom de Deus para nós. Por isso, os consagrados são chamados a levar no seu coração, nos seus olhos e nos seus lábios, esta beleza de Deus-Amor Trinitário.
Sem isto, todo o resto fica vazio de sentido.
2. Signum fraternitatis: sinal de comunhão na Igreja
Em segundo lugar, e derivado daqui, a vida consagrada é-nos apresentada como
signum fraternitatis (sinal da comunhão fraterna na Igreja). A confissão de fé da
Trindade Santa é a confissão de fé em Deus. É viver à sua imagem e semelhança, por
conseguinte, na comunhão que Ele mesmo cria entre nós, derramando o seu Espírito
nos nossos corações, no coração de todos os baptizados.
Portanto, a vida consagrada, na sua dimensão comunitária, implica uma realização quotidiana da fraternidade. Ela deve ser um sinal forte e eloquente de toda
a fraternidade da Igreja. Temos que ter um sentido muito grande da fraternidade
da Igreja, desta comunhão fraterna de todos. Costumo usar sempre esta expressão
de S. Agostinho: “Para vós sou Bispo; convosco sou irmão”. O irmão está sempre
antes de ser bispo. É um irmão que para o vosso serviço foi constituído bispo, mas
que primeiro é irmão. Este é o sentido. Mas é Cristo que nos faz irmãos de toda a
Igreja. Simplesmente, a dimensão comunitária da vida consagrada tem que traduzir,
tem que tornar visível e eloquente, de uma maneira forte e bela, esta dimensão da
fraternidade. A vida fraterna dos consagrados é sinal e motor daquela vida fraterna
que constitui a Igreja como mistério de comunhão.
3. Servitium caritatis: epifania do amor de Deus no mundo
O terceiro aspecto deriva destes dois: a vida consagrada, como servitium caritatis, quer dizer epifania, serviço epifânico, que manifesta o amor de Deus pelos
homens no meio do mundo. Então, a vida consagrada, vivida a partir do Amor Trinitário e em comunhão fraterna, mostra que o amor de Deus alimenta, motiva e sustém
o amor de Deus pelos homens, e faz dos consagrados um instrumento para tornar
este mundo mais belo com a beleza do Espírito, para que o mundo apareça sempre
mais como um “ambiente divino” que participa da beleza de Deus, quer dizer, da
beleza do amor que salva, que renova, que transforma, que reúne, que irmana, um
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ambiente divino a suscitar, mesmo partindo dos nossos limites, das nossas contradições e também dos limites e contradições do mundo. É no meio deste mundo, que
não é paraíso, é aqui que a gente é chamada a construir esta dimensão. Daqui nasce
então o impulso evangelizador, a força profética da vida consagrada no serviço da
caridade, nas diversas formas de serviço que pode revestir.
4. O perfume da vida consagrada: a unção de Betânia
E depois, a Exortação Apostólica conclui, reafirmando a actualidade da vida consagrada, e serve-se dum ícone, duma imagem muito bela da Bíblia, chamada unção
de Betânia – a unção de Cristo com o perfume, por Maria de Betânia. O nº 104 começa por interrogar o porquê desta vida consagrada. Não é um “desperdício” de energias tanta gente na vida consagrada quando há tanto que fazer no meio do mundo? E
depois responde: “Sempre existiram interrogações semelhantes, como o demonstra
eloquentemente o episódio evangélico da unção de Betânia. Maria, tomando uma
libra de perfume de nardo puro, de alto preço, ungiu os pés de Jesus e enxugou-os
com os cabelos e a casa encheu-se com o cheiro do perfume». A Judas, que, tomando
como pretexto as necessidades dos pobres, se lamentava por tão grande desperdício,
Jesus respondeu: “Deixa-a fazer”. E então, comenta o Papa João Paulo II, “o perfume de alto preço, derramado como puro acto de amor e, por conseguinte, fora de
qualquer consideração utilitarista, é sinal de uma superabundância de gratuidade,
como a que transparece numa vida gasta a amar e a servir o Senhor, a dedicar-se à
sua Pessoa e ao seu Corpo Místico”.
Portanto, o perfume precioso não serve funcionalmente para isto ou para aquilo,
não está em função de alguma coisa, não procura desempenhar uma função utilitarista; é, antes de mais, um puro acto de amor, sinal de uma superabundância de
gratuidade. É como se a Exortação quisesse dizer no final: Para que serve então a
vocação consagrada? E responde: É uma efusão gratuita de amor por Jesus e pelo
Seu Corpo Místico. E depois acrescenta: mas é desta vida derramada sem reservas,
que se difunde um perfume que enche toda a Casa de Deus.
A Igreja é adornada e enriquecida hoje, não menos que outrora, pela presença da
vida consagrada, pelo perfume desta vida consagrada. Quer dizer que a Igreja não
pode prescindir desta vida consagrada.
Resumindo: a vida consagrada é contemplada então na sua origem trinitária,
de onde vem, e que é a fonte de onde promana, em cada dia, na realização comunitária, comunhão fraterna onde se espelha este mistério da Trindade na sua expansão
evangelizadora, e participa em profundidade do Mistério da Igreja. Portanto, é uma
expressão que¬ não é única, mas uma expressão também específica, sui generis, do
mistério da Igreja, pondo em relevo a sua dimensão teocêntrica, onde o seu único
Senhor é Deus - Pai, Filho e Espírito Santo - o único Senhor da vida, a quem dedicou
todo o seu coração sem reserva.
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A Beleza da Vida Consagrada:
o ícone da Transfiguração
Vamos então agora especificar melhor o ponto concreto da beleza da vida consagrada. Sabem que há um ícone bíblico, uma figura bíblica, que domina todo o texto
da Exortação Apostólica sobre a vida consagrada e que ocupa o lugar central para
exprimir a beleza da vida consagrada, que é o ícone da Transfiguração de Jesus no
Monte Tabor.
Se repararam, não se quis dizer que a vida consagrada é importante: quis-se dizer que é bela, porque esta qualificação de beleza contém tudo o resto e exprime a
atracção que a vida consagrada deverá exercer se quiser continuar a existir na Igreja.
Vejam bem: não se diz que é importante, diz-se que é bela. Nesta beleza está tudo o
resto. O tema da beleza duma vida transfigurada pelos conselhos evangélicos entra
nesta perspectiva de transfiguração duma vida consagrada e, por conseguinte, da sua
beleza.
Vamos apresentar, por exemplo, o nº 15. “Esta luz atinge todos os seus filhos,
todos igualmente chamados a seguir Cristo, repondo n’Ele o sentido último da sua
própria vida, podendo dizer como o Apóstolo: “Para mim, viver é Cristo”. Mas uma
singular experiência dessa luz, que dimana do Verbo encarnado, é feita, sem dúvida,
pelos que são chamados à vida consagrada. Na verdade, a profissão dos conselhos
evangélicos coloca-os como sinal e profecia para a comunidade dos irmãos e para o
mundo. Por isso, não podem deixar de encontrar neles um eco particular, as palavras
extasiadas de S. Pedro: “Senhor, é bom estarmos aqui!”. Como quem diz: “Como é
bom e belo estarmos contigo, dedicarmo-nos a Ti, concentrarmos a nossa existência
exclusivamente em Ti. De facto, quem recebeu a graça desta especial comunhão de
amor com Cristo, sente-se de certa forma arrebatado pela Sua beleza. Ele é o mais
belo entre os filhos do homem”, o Incomparavelmente Belo.
E depois, no nº 19, podemos ainda ver como “com profunda intuição, os Padres
da Igreja qualificaram este caminho espiritual da vida consagrada como filocalia, ou
seja, amor pela beleza divina, que é irradiação da Bondade de Deus… Daí, a aparição de múltiplas formas de vida consagrada, através das quais a Igreja é embelezada
com a variedade dos dons dos seus filhos… e fica enriquecida de todos os meios para
cumprir a sua missão no mundo”.
Há uma vocação cristã que depois se especifica numa múltipla variedade de
vocações, e entre essa variedade de vocações, há a vocação à vida consagrada, e
dentro desta, há diferentes expressões desta consagração especial. Todas elas são
como raios da única beleza de Cristo. E, o nº 20, fala da relação entre os conselhos
evangélicos e a SSª Trindade. “A primeira tarefa da vida consagrada é tornar visíveis
as maravilhas que Deus realiza na frágil humanidade das pessoas chamadas… Na
medida em que a pessoa consagrada se deixa conduzir pelo Espírito até aos cumes
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da perfeição, pode exclamar como Simeão, o novo teólogo: ‘Contemplo a beleza
da vossa graça, vejo o seu brilho, irradio a sua luz; fico cativado pelo seu inefável
esplendor; acabo arrebatado, longe de mim, sempre que penso no meu próprio ser;
vejo como era e no que me tornei. Ó Maravilha! Presto toda a minha atenção, fico
cheio de respeito por mim mesmo, de reverência e de temor, como se estivesse diante de Vós mesmo; não sei o que fazer, porque a timidez se apoderou de mim; não
sei onde sentar-me, de onde me aproximar, onde repousar estes membros que Vos
pertencem; em que iniciativa, em que obra empregá-las, estas encantadoras maravilhas divinas”. Deste modo, a vida consagrada torna-se um dos rastos concretos
que a Trindade deixa na história, para que os homens possam sentir o encanto e a
nostalgia da beleza divina”.
Estais a ver... não estou a inventar termos... Está aqui tudo: o encanto da beleza
divina.
Indicações práticas
Ora bem, isto foi assim uma espécie de contemplação. Agora vamos aterrar no
uso prático desta contemplação.
1. Em relação à comunidade diocesana
A carta contém indicações práticas, e, antes de mais, também para o bispo. Por
isso, vou começar pelo nº 49. “O Bispo é pai e pastor da Igreja particular intei¬ra.
Compete-lhe reconhecer e respeitar, promover e coordenar os vários carismas. Na
sua caridade pastoral, portanto, acolherá o carisma da vida con¬sagrada como graça,
que não diz respeito apenas a um Instituto mas reverte em favor de toda a Igreja.
Procurará, pois, apoiar e ajudar as pessoas consagradas, para que, em comunhão com
a Igreja, se abram a perspectivas espirituais e pastorais que correspondam às exigências do nosso tempo, na fidelidade à inspiração fundadora”. Portanto, ao Bispo e a
todos os sacerdotes, é pedido acolher este carisma da vida consagrada como graça
para o bem da Igreja. Apoiar e ajudar as pessoas consagradas mediante o ministério
da ajuda e da orientação dadas às vocações, mediante o ministério da pregação, do
anúncio, da celebração dos Sacramentos, da Eucaristia, da Reconciliação e da Direcção Espiritual, etc.
Ainda o nº 49 refere a relação das pessoas consagradas à Igreja, pois há uma
reciprocidade entre elas. “Por sua vez, as pessoas de vida consagrada não deixarão
de oferecer generosamente a sua colaboração à Igreja particular, segundo as próprias
forças e no respeito pelo seu carisma, em plena comunhão com o Bispo no âmbito
da evangelização, da catequese, da vida das paróquias”. Estais a ver: é uma ajuda
recíproca.
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2. Em relação a cada consagrado e a cada comunidade
Estes foram os aspectos mais institucionais, mais comunitários. Agora, em relação a cada um dos consagrados, dentro do âmbito de vida da Igreja local, sugiro
quatro indicações tiradas daqui, para a vossa meditação pessoal.
2.1. Um primeiro estímulo dado para a vossa vida de consagrados, é evocado no
nº 93: um compromisso decidido de vida espiritual. Diz o texto: “Uma das preocupações muitas vezes manifestada no Sínodo foi a de uma vida consagrada, que se
alimente nas fontes de uma espiritualidade sólida e profunda. Trata-se de uma exigência própria, inscrita na própria essência da vida consagrada, uma vez que, como
qualquer outro baptizado, e até por motivos ainda mais prementes, quem professa
os conselhos evangélicos é obrigado a tender com todas as suas forças à perfeição
da caridade”. Portanto, esta é uma exigência fundamental, e a mais importante:
“tender à santidade. Eis o programa de cada vida consagrada, na perspectiva nomeadamente da sua renovação às portas do terceiro milénio”.
A vida espiritual deve estar no primeiro lugar do programa das famílias consagradas, dos Institutos e de cada comunidade em particular. Eis então a pergunta que
deveis fazer-vos, e também uma primeira resposta à interrogação que muitas vezes
se levanta. Qual é então o vosso papel de consagrados? Perguntai-vos, antes de mais:
Somos uma verdadeira escola de espiritualidade evangélica? Porque o texto diz:
A vida espiritual deve ocupar o primeiro lugar no programa das famílias de vida
consagrada, de tal modo que cada Instituto e cada comunidade se apresentem como
escolas de verdadeira espiritualidade evangélica. Então, a pergunta é: Somos uma
verdadeira escola de espiritualidade evangélica? Desta opção prioritária, desenvolvida no compromisso pessoal e comunitário, depende a fecundidade apostólica, a
generosidade no amor pelos pobres, a própria atracção vocacional sobre as novas gerações. Por isso mesmo, antes de nos interrogarmos sobre as formas de actualização
de novos apostolados, de novas estratégias em relação às novas vocações - tudo isso
é importante - mas antes de nos interrogarmos sobre isso e de planear e programar,
a questão fundamental é sempre a mesma: Somos uma verdadeira casa e escola de
espiritualidade? A casa refere-se ao ambiente vivencial, ao ambiente familiar onde
vivemos todos os dias; a escola evoca o aspecto de aprendizagem, de formação permanente. Portanto, que isto fique gravado na memória e no coração de cada um e de
cada uma de vós que me ouvis, e da vossa comunidade.
Primeiro princípio prioritário: antes de tudo somos uma verdadeira casa-escola
de espiritualidade evangélica, ou não? “É precisamente esta qualidade espiritual da
vida consagrada que pode interpelar as pessoas do nosso tempo, também elas sequiosas de valores infinitos, transformando-se assim num testemunho fascinante”.
O compromisso pela qualidade espiritual da vida consagrada é recomendado
também em relação ao tema da escassez de vocações. “As novas situações de penú| 42 • LEIRIA-FÁTIMA | 187
Documentos Pastorais
ria hão-de ser enfrentadas com a serenidade de quem sabe que a cada um é pedido
não tanto o êxito, como sobretudo o compromisso da fidelidade. O que se deve
absolutamente evitar é a verdadeira derrota da vida consagrada, que não está no
declínio numérico mas no desfalecimento da adesão espiritual ao Senhor e à própria
vocação e missão”(n.63). O que se deve absolutamente evitar é a verdadeira derrota
da vida consagrada, que não está no declínio numérico, mas no desfalecimento, no
esmorecimento da adesão espiritual ao Senhor e à própria fidelidade. São palavras
muito fortes para as comunidades que correm o risco de cair na paralisia, no desânimo, no desfalecimento, pela diminuição das vocações. Convido-vos, pois, a meditar
o nº 63 - pois eu só li um bocadinho - para daí tirardes força e coragem para a acção
quotidiana.
A insistência sobre a qualidade da dedicação espiritual retorna no nº 64, onde diz:
O convite de Jesus, “Vinde ver”, permanece ainda hoje a regra de ouro da pastoral
vocacional. (Ouvi bem a regra de ouro: O convite de Jesus, “Vinde ver”, permanece
ainda hoje a regra de ouro da pastoral vocacional). Esta visa apresentar, seguindo
o exemplo dos fundadores e fundadoras, o fascínio da pessoa do Senhor Jesus e a
beleza do dom total de si à causa do Evangelho”. É o ideal de seguir Jesus.
2.2. O segundo estímulo concreto, que deriva desta Exortação Apostólica, é a
escuta da Palavra de Deus, onde diz: “A Palavra de Deus é fonte de toda a vida espiritual cristã. A cada comunidade religiosa pede-se, segundo as diversas possibilidades, que se façam promotoras de escola de oração, de espiritualidade e de leitura
orante da Bíblia”(n. 94). Isto vem a propósito do dia de hoje, festa de S. Jerónimo,
pai na fé e pai na Palavra de Deus. Não sei se repararam nas leituras próprias do
dia; as suas orações são toda uma celebração da Palavra de Deus, em que se pede ao
Senhor o dom de saborear, de gostar da Palavra de Deus, de se alimentar dela. E, por
conseguinte, o próprio S. Jerónimo diz também, na leitura do Livro das Horas: “A
ignorância das Escrituras, é a ignorância de Cristo”. São coisas muito fortes. Eu tenho pena que a nossa Santa Igreja ainda não tenha conseguido, na sua pastoral evangelizadora, levar o livro da Palavra a todo o povo simples e humilde de Deus, para
ele ser capaz de uma leitura orante e familiar da Palavra do Senhor. Não se trata de
cursos de exegese, trata-se de uma leitura muito simples, que se chama leitura orante
de quem escuta a Palavra, de quem escuta a voz do Pai que lhe fala, ali e agora. Claro
que, quando a gente recebe uma carta de alguém muito amigo, a gente lê uma vez,
lê duas vezes e três vezes e, de cada vez que lê, descobre sempre um aspecto novo.
E depois, como é que ela ilumina a nossa vida e a vida da nossa comunidade? … E
depois, a partilha… Mas, para isso, exige um coração capaz de partilhar.
Eu estava a introduzir isto mesmo em Viseu nas visitas Pastorais. A primeira
ocorreu na Vigararia de Oliveira de Frades. Eu vi as maravilhas da graça que o Senhor realizou. Não foi o Bispo que realizou essas maravilhas, foi o Senhor. A gente
simples e humilde que aderiu à Palavra de Deus, em grupos, que andou de porta em
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porta no bairros da Paróquia, nos lugares, a bater de porta em porta, a convidar as
pessoas para se reunirem em grupos... Os animadores de cada grupo eram formados,
tinham preparação. Eu pensei comigo: Olha, nós, Padres e Bispos, andarmos a bater
de porta em porta… Fazíamos isso? É o fazias!... Mas o Povo de Deus, as pessoas
simples e humildes, homens e mulheres... “ Sr. Bispo, olhe, andamos de porta em
porta, juntámos 23 casais, nem sequer nos conhecíamos, mal dávamos os bons dias
quando passávamos uns pelos outros. Depois, estabeleceu-se entre nós uma grande
amizade. Foi uma maravilha, porque depois partilhávamos o que o Senhor nos dizia”. E então ficavam muito admirados, como a mesma Palavra a um dizia uma coisa
e a outro dizia outra. É porque o Senhor ilumina a situação concreta de cada um. E
estas coisas não se contradizem; enriquecem-se uns aos outros. Ora bem, eu gostava
de vos pedir, meus irmãos e minhas irmãs, que sejais os primeiros orantes desta Palavra e introduzais nas vossas comunidades este método da leitura orante e familiar
da Bíblia, e possais depois, um dia também, quando vos pedir, contagiar as comunidades cristãs, levando-as também a fazer esta leitura orante e familiar da Bíblia.
Passamos à terceira indicação, sem esquecer isto: “A ignorância da Escrituras é
a ignorância de Cristo”. Como é que, de facto, podemos conhecer Jesus Cristo sem
essa Palavra?
2.3. A terceira indicação concreta é exprimir a alegria da vida fraterna em comunidade. “A vida fraterna, concebida como vida partilhada no amor é sinal eloquente da comunhão eclesial” (nº 42). Por outras palavras: viver a vida fraterna em
comunidade é um vosso modo próprio de ser, na Igreja. Para as pessoas consagradas,
tornadas num só coração e numa só alma por este amor derramado nos corações
pelo Espírito Santo, torna-se uma exigência interior o colocar tudo em comum: bens
materiais e experiências espirituais, talentos e inspirações, como também ideais
apostólicos e o serviço caritativo. Pôr tudo em comum. E isto tudo (quero dizer isto
tudo), não são só os bens materiais: é tudo. E depois, é bonito, porque cita S. Basílio
que diz: Na vida comunitária, a energia do Espírito que existe numa pessoa, passa
ao mesmo tempo para todos. Nela não só se usufrui do dom próprio, mas este é
multiplicado quando se participa aos outros, e goza-se tanto do fruto do dom alheio
como do próprio. Na vida da comunidade, também se deve tornar de algum modo
palpável que a comunhão fraterna, antes de ser instrumento para uma determinada
missão, é espaço teologal onde se pode experimentar a presença mística do Senhor
Ressuscitado”
Portanto, creio que as comunidades religiosas ou de consagrados devem examinar-se seriamente sobre a alegria de uma vida fraterna. Oiçam bem: cada comunidade deve examinar-se sobre a alegria de uma vida fraterna. Se a vida fraterna
não é um momento, um espaço de alegria… para que serve? E também sobre o pôr
tudo em comum precisamente para compreender como circulam os bens materiais e
espirituais dentro da comunidade, como os membros da comunidade se aceitam, se
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amam, mesmo na diferença, valorizam os seus dons reciprocamente, para descobrir
se nos fechamos na auto-suficiência de cada um de nós, nos nossos caprichos, na
auto comiseração para chamar a atenção dos outros sobre nós... Nós temos modos
subtis, diabólicos, de que às vezes nem tomamos consciência, para perverter a vida
de comunidade. Ninguém está isento: nem bispos nem religiosos. Todos somos humanos. Devemos estar conscientes da fragilidade da nossa humanidade e, por isso,
devemos examinar-nos diante de Deus. É um ponto sobre o qual devemos confessar
que estamos sempre em falta, sempre em dívida uns com os outros. “Não devais
nada a ninguém, senão o amor”, diz S. Paulo aos Romanos.
Convido-vos, pois, a examinar-vos; não com amargura, não com complexos de
culpabilidade, não como quem quer encontrar um bode expiatório nos outros e volta
a culpa sempre para os outros, mas com humildade, com sinceridade, com caridade,
com acolhimento, com a correcção fraterna, com benevolência do querer fazer bem,
com a misericórdia do Senhor, que d’Ele recebemos em primeiro lugar.
2.4. A quarta indicação é a ascese libertadora, purificadora e santificadora.
Nós sabemos hoje que falar da ascese não tem audiência, não está na moda, nem
fora da Igreja nem muito dentro dela. Mas a este propósito desejaria ler-vos uma passagem relativa à luta de Jacob, porque exprime, através de um ícone bíblico, a beleza
desta verdade muito esquecida: “O caminho que conduz à santidade comporta, pois,
a adopção do combate espiritual. A luta espiritual é um dado exigente, ao qual hoje
nem sempre se dedica a necessária atenção. Muitas vezes a tradição viu representado
este combate espiritual na luta de Jacob com o Mistério de Deus” (n. 38). Quem não
sente esta luta dentro de si, luta que ele enfrenta para ter acesso à sua bênção e à
sua visão? Eu acho-lhe muita graça, porque há ali um combate entre Jacob e o Anjo
do Senhor, o seu Anjo. Jacob lutou, foi vencido, acabou por confessar a sua derrota
diante de Deus, mas conseguiu o que queria: recebeu a bênção do Senhor, a visão
do Senhor, quer dizer, o reconhecimento do Senhor. Mas foi depois dessa luta em
que saiu ferido e derrotado, que venceu, como quem diz: Venceste-me, Senhor, mas
deste-me a Tua bênção. E era isso o que ele queria.
“Neste episódio dos primórdios da História Bíblica, as pessoas consagradas podem ler o símbolo do empenhamento ascético de que têm necessidade para dilatar o
coração e abri-lo ao acolhimento do Senhor e dos irmãos”. Há, vejam bem, a ascese
libertadora daquilo que nos impede de dilatar o coração à medida do coração de
Deus, do coração do Pai, e abri-lo ao acolhimento do Senhor e dos irmãos. Por isso,
é uma ascese libertadora da nossa liberdade de filhos de Deus. É uma experiência de
purgatório. O purgatório não é só uma realidade para além da morte. Em primeiro
lugar, o purgatório é um dom, é uma graça de Deus. É uma graça purificadora de
Deus e, portanto, é uma experiência de todos os dias. Quanta purificação é necessária
para a gente viver, conviver uns com os outros, para a gente servir, para a gente estar
disponível. É uma experiência de purificação que tem duas faces da mesma moeda: a
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dor e a alegria. A experiência da dor, porque a ascese purificadora implica uma experiência de dor, mas, ao mesmo tempo, implica também uma experiência de alegria.
São os paradoxos da vida cristã. A alegria da gente se sentir libertada. Custa? Pois
custa, mas depois sentimos a alegria do Senhor que nos libertou, do Seu afecto.
Enfim…dentro desta perspectiva deveis compreender a regra comunitária de
cada comunidade e não estar sempre com preconceitos contra a regra da comunidade. Se não há uma regra comunitária para os seus membros, a vida comunitária é
um caos: não há comunhão, não há riqueza; cada um, facilmente, fica entregue aos
seus caprichos. A regra de vida é fonte de fraternidade, fonte de ascese libertadora,
purificadora, santificadora e, por isso também, fonte de alegria. Mostrai que é belo
viver segundo uma Regra! Cada um devia ter também a sua regra particular, pessoal,
para além da comunitária.
Foram estas as sugestões concretas da Exortação Apostólica cuja leitura me inspirou. E para terminar, aqui em Fátima, nada mais belo do que uma oração a Nossa
Senhora, que vem também no próprio texto da Exortação:
Oração
A Vós, Mãe, que quereis a renovação espiritual e apostólica dos vossos filhos e
filhas na resposta de amor e dedicação total a Cristo, dirigimos confiantes a nossa
oração. Vós que fizestes a vontade do Pai, pronta na obediência, corajosa na pobreza, acolhedora na virgindade fecunda, alcançai do vosso divino Filho, que quantos
receberam o dom de O seguir na vida consagrada saibam testemunhá-Lo com uma
existência transfigurada, caminhando jubilosamente, com todos os outros irmãos e
irmãs, para a Pátria celeste e para a Luz que não conhece ocaso.
Nós Vo-lo pedimos, para que, em todos e em tudo, seja glorificado, bendito e
amado o Supremo Senhor de todas as coisas, que é Pai, Filho e Espírito Santo.
Ámen! Aleluia!
† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima
Fátima, 30 de Setembro de 2006
*Meditação no encontro com os Consagrados da Diocese
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Arte Sacra em Fátima*
Fátima: peregrinação às fontes da Beleza
Neste tempo de desencanto e de pensamento efémero, numa cultura niilista, do
vazio de verdades e valores universais, de suspeita em relação aos grandes horizontes de sentido, mas fascinados pela estética, a beleza é seguramente uma porta pela
qual muitos podem entrar e descobrir a beleza da fé, a beleza da sua existência e da
sua história a partir da fé.
A “via da beleza” adquire uma capacidade nova para falar aos olhos e ao coração
do homem, para o abrir ao mistério da sua interioridade e para lhe anunciar a alegria
e a beleza da salvação. Não estamos a falar aqui, naturalmente, da beleza exterior,
sedutora e efémera, mas antes, daquela beleza “tão antiga e tão nova” que Santo
Agostinho confessa como objecto do seu amor purificado pela conversão, ao exclamar: “Tarde te amei, ó Beleza sempre antiga e sempre nova, tarde te amei!” Para
ele, a beleza não é qualquer coisa, mas alguém, o Tu amado, a Beleza de Deus que
transparece no rosto de Cristo: a Beleza do Amor que se dá, nos redime e transfigura,
nos revela o olhar do Pai que, de modo permanente, nos cria e nos torna belos. Como
diz São Bernardo: “Deus ama-nos, não porque somos bons e belos; mas somos bons
e belos porque Deus nos ama”.
Um raio desta Beleza divina resplandeceu para o mundo, em Fátima, através de
Maria, a toda bela, a “Senhora mais brilhante que o sol” e da sua mensagem de Graça
e Misericórdia para a humanidade que ansiava por erguer-se do abismo. Em Fátima,
Ela continua a introduzir os peregrinos na contemplação da Beleza do rosto de Cristo
com o seu apelo à conversão dos corações. “A beleza deve conjugar-se com a bondade e santidade de vida, de modo a fazer resplandecer no mundo o rosto luminoso
de Deus bom, admirável e justo” (João Paulo II).
Peregrinar a Fátima é peregrinar às fontes da Beleza através da Palavra, da Eucaristia, da Reconciliação, da Oração, do recolhimento interior, do colóquio íntimo
com a Mãe e da própria arte.
A Arte Sacra, epifania da Beleza de Deus
“Para transmitir a mensagem que lhe foi confiada, a Igreja tem necessidade da
arte. Deve tornar perceptível e, ainda mais, na medida do possível, tornar fascinante
o mundo do espírito, do invisível, de Deus. Por isso tem que transpor para formas
significativas aquilo que, em si mesmo, é inefável. Ora a arte tem uma capacidade
muito própria de captar os diversos aspectos da mensagem, traduzindo-os em cores,
formas, sons que estimulam a intuição de quem os vê ou escuta. E isto, sem privar a
mensagem do seu valor transcendente e do seu carácter de mistério”.
Esta citação da Carta aos Artistas, de João Paulo II, em 1999 (n. 12), mostra-nos o
sentido da arte sacra. Trata-se de anunciar a beleza de Deus e do Seu mistério, a histó192 | LEIRIA-FÁTIMA • 42 |
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ria de Deus com os homens também com a arte, de modo que o mistério toque o coração, mova os sentidos e os sentimentos, se estabeleça uma ligação entre o céu e a terra
e assim o homem todo - corpo, alma e sentimento – possa entrar em comunhão com o
mistério através da via da beleza. A arte sacra é chamada a ser uma epifania da Beleza
de Deus no tempo dos homens. Como gostava de dizer Paulo VI, as obras de arte sacra
são testemunhos do “transitus Dei”, isto é, da passagem de Deus pelo mundo.
“ Arte sacra em Fátima. Uma peregrinação estética”
Neste contexto, quero saudar, de alma e coração, o feliz momento de sair à luz
a obra “Arte sacra em Fátima. Uma peregrinação estética”, fruto do trabalho de
aturada pesquisa do Dr. Marco Daniel Duarte, licenciado em História, variante de
História da Arte, pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
A obra é, como diz o autor, um autêntico “mostruário”, onde nos oferece em
exposição 177 obras de arte - para muitos desconhecidas -, em fotografia de qualidade, incluindo arquitectura, pintura, vitral, escultura, mobiliário e alfaias, azulejo,
mosaico, cerâmica e estuque. Cada obra é apresentada através de um pequeno texto,
estilisticamente enquadrada e integrada na obra do respectivo autor. Com isso, proporciona-se também ao leitor o conhecimento de mais de meia centena de verdadeiros criadores de arte, representados em Fátima.
Este estudo resgata Fátima da ideia, infelizmente tão divulgada, de que é um
deserto artístico. Em palavras do próprio autor: “Será, mais que um guia, um percurso intelectual, destinado aos que mais quiserem saber sobre cada uma das obras
que integra este estudo e aos que quiserem descobrir muitas das criações artísticas
que, por estarem distantes dos olhares de quem passa, não se encontram acessíveis,
mesmo aos estudiosos”.
Para além do valor científico da obra, solidamente fundado, encontramos nela
uma “contemplação” da melhor arte sacra em Fátima que é, simultaneamente, uma
peregrinação interior pela via da beleza, uma experiência do estético e do sagrado,
que se insere perfeitamente na “grande peregrinação” característica de Fátima. Como
não proporcionar aos peregrinos esta experiência? De ora em diante, não se conhecerá bem o património cultural e espiritual de Fátima sem o contributo desta obra.
Com a minha palavra de abertura quis apenas oferecer aos leitores um horizonte
para poderem saborear o manancial de beleza e riqueza que a obra encerra e proporciona. E como bispo de Leiria-Fátima quero deixar aqui expressos ao Dr. Marco
Daniel e à Fundação Arca da Aliança, que empreendeu a iniciativa, apoiou a investigação e edita o livro, os mais vivos parabéns e o testemunho da minha gratidão por
este serviço à fé e à cultura. Bem-haja!
† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima
Setembro de 2006
* Discurso na apresentação da obra “Arte sacra em Fátima. Uma peregrinação estética”
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Fátima no coração da História*
Paul Claudel, o célebre escritor francês convertido à fé católica, traduziu, de
forma sintética, o significado histórico das aparições de Nossa Senhora em Fátima,
numa frase: “Fátima é o maior acontecimento religioso da primeira metade do século
XX, uma explosão transbordante do sobrenatural neste mundo prisioneiro da matéria”. Talvez só hoje, à distância do tempo, estamos em condições de compreender a
verdade e todo o alcance desta afirmação.
As aparições da Virgem Maria em Fátima foram preparadas pelas aparições do
Anjo em 1916; tiveram o seu momento central na mensagem aos três videntes desde Maio a Outubro de 1917; e foram seguidos de posteriores aparições e visões à
vidente Lúcia, de carácter complementar e interpretativo, em 1925 e 1929. Desde
o início atraíram o interesse particular de muitos fiéis até ao reconhecimento oficial
pela Igreja.
De singular relevo é a relação particular da Mensagem aos acontecimentos históricos e a sua correspondência à situação e às ansiedades da vida da fé e da vida
eclesial no mundo moderno: o anúncio da misericórdia de Deus sobre um mundo
perturbado e ameaçado pela catástrofe da guerra e de ideologias totalitárias e ateias,
a universalidade da acção salvífica de Deus e o chamamento à conversão do coração
a Deus e à participação reparadora do pecado do mundo por parte dos crentes.
Todos estes motivos iluminam o eco positivo que a Mensagem foi alcançando na
consciência dos fiéis com o decurso do tempo. De não menor consideração é também a referência e a orientação da Mensagem à história universal, incluindo a sorte
da Rússia e da perseguição à Igreja, mesmo na pessoa do Santo Padre. Tudo isto deu
uma particular actualidade às promessas contidas na Mensagem.
O apelo de Maria ecoou em Fátima como um grito de amor e de dor de Deus pela
humanidade “que anseia por erguer-se do abismo”, oferecendo-lhe a Sua Misericórdia como limite e superação do mal devastador. Este apelo é como uma fonte de luz
que projecta os seus raios em todos os âmbitos da vida cristã e da história do século
XX. Traz a este tempo a palavra certa, precisa sobre a paz, a reconciliação, a força
da redenção para renovar a face do mundo.
Por isso, este apelo reveste um carácter profético. Um olhar sobre os profetas
mostra-nos como a sua missão estava ligada a acontecimentos históricos da sua própria época vistos à luz da Palavra de Deus.
Quem melhor captou e traduziu este aspecto da Mensagem foi o saudoso Papa
João Paulo II, numa memorável página de uma carta dirigida ao Bispo de Leiria-Fátima em 1997, por ocasião do 80º aniversário das aparições: “Às portas do Terceiro
Milénio, observando os sinais dos tempos neste século XX, Fátima conta-se certamente entre os maiores, até porque anuncia na sua mensagem muitos dos sinais sucessivos e convida a viver os seus apelos; sinais como as duas guerras mundiais, mas
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também grandes assembleias de nações e povos sob o signo do dialogo e da paz; a
opressão e as convulsões vividas por diversos países e povos, mas também a voz e a
vez dadas a populações e gentes que entretanto se levantaram na arena internacional;
as crises, as deserções e tantos sofrimentos dos membros da Igreja, mas também um
renovado e intenso sentido de solidariedade e de recíproca dependência no Corpo
Místico de Cristo, que se vai consolidando em todos os baptizados...; o afastamento
e abandono de Deus por parte de indivíduos e sociedades, mas também uma irrupção
do Espírito de Verdade nos corações e nas comunidades tendo-se chegado à imolação e ao martírio para salvar a “imagem e semelhança de Deus no homem” (Gn
1,27), para salvar o homem do homem.
De entre estes e outros sinais dos tempos, como dizia, sobressai Fátima, que nos
ajuda a ver a mão de Deus, guia providente e Pai paciente e compassivo também
deste século XX”.
Saúdo a amostra “Fátima no coração da história” agora apresentada em português por ocasião do 90º aniversário das aparições. Ela é, seguramente, um guia que
através da imagem e do texto ajuda a compreender a Mensagem e a sua relação com
os grandes acontecimentos do século XX. É também um convite a contemplar Maria, com o seu Imaculado Coração, como Mãe da Esperança para o século XXI.
† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima
Setembro de 2006
*Apresentação do livro “Fátima no Coração da História” - Centro Cultural de Lisboa Pedro
Hispano
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Abertura da Peregrinação Aniversária
1. Dos mais variados ângulos do país e do mundo, percorrendo as mais variadas
estradas, peregrinamos até este santuário, conduzidos pela mão materna de Maria,
ao encontro com Cristo.
O peregrinar mostra-nos que o nosso seguimento de Jesus acontece nas estradas
da própria história e na partilha das alegrias e das esperanças dos homens de hoje,
na vontade de percorrer as estradas do mundo e da vida com a força secreta da fé,
da esperança e do amor de Cristo, cabeça e meta da nossa peregrinação e de uma
nova humanidade. “Vinde a mim vós todos que andais cansados e oprimidos e eu vos
aliviarei e encontrareis conforto para as vossas almas” (Mt 11).
A peregrinação deste mês de Outubro convida-nos a vir restaurar a nossa vida
e o nosso coração no Mistério da Misericórdia aqui proclamado por Maria, Mãe
da Misericórdia. Por isso, com esta peregrinação abrimos o ano da Misericórdia,
para comemorar o 90º aniversário das aparições de Nossa Senhora. Ela mesma nos
convida a fazer experiência da beleza do mistério da Misericórdia de Deus: a ternura
do Pai que dá vida, torna-se misericórdia que perdoa, acolhimento que resgata,
protecção que defende, fonte que regenera a nossa vida espiritual.
2. Peregrinar a Fátima é peregrinar às fontes regeneradoras da vida. A vida
espiritual assemelha-se a uma vida de músico: é preciso fazer as notas inspirar o
próprio corpo, é preciso libertar o espírito, trabalhar a escuta, exercitar-se na arte do
silêncio sem o qual nenhuma nota se pode revelar.
Para compor, dia após dia, a sinfonia ou a pequena música da nossa existência,
precisamos de trabalhar o nosso “ouvido interior”, o do nosso coração. Ser cristão
é crer que esta voz interior, esta palavra vinda do mais profundo de nós mesmos, é
palavra de Deus em nós e para nós.
Confessemos que o nosso horizonte está por vezes cheio de preocupações
materiais ou afectivas que nos é difícil ouvir o que quer que seja. A peregrinação
espiritual começa inevitavelmente por um esforço de despojamento interior, por
parar, ousar fazer silêncio interior, “perder tempo” para ouvir os murmúrios inefáveis
de Deus em nós e deixar que a Sua misericórdia desça ao mais profundo de nós para
nos renovar, dar-nos uma frescura nova da fé e da vida espiritual.
Peçamos a Nossa Senhora esta graça para podermos cantar com Ela o Magnificat
da Misericórdia e fazer com que a nossa vida se transforme num canto ao Amor
misericordioso que redime o mundo!
Senhora, Mãe de Misericórdia,
Nossa Celeste Padroeira
Olha para nós peregrinos
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Na grande luta da história
E acompanha-nos com a tua intercessão.
Acompanha o Papa Bento XVI no seu ministério
E particularmente na sua peregrinação à Turquia.
Faz-nos sentir sempre o amor do Eterno Pai,
Conforta os nossos corações na fé
E enche-os da esperança que não desilude. Ámen!
† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima
Santuário de Fátima, 12 de Outubro de 2006
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Documentos Pastorais
Reconduzir para o centro do culto
a verdadeira adoração de Deus
Meus irmãos na graça do sacerdócio ministerial,
Minhas irmãs e meus irmãos na graça da fé e do baptismo em Cristo Senhor
Celebramos nesta Eucaristia o aniversário da dedicação desta Basílica de Nossa
Senhora do Rosário, enquanto templo consagrado ao Senhor para Ele celebrar connosco o mistério da Sua presença querida e do Seu amor oferecido; e enquanto Casa
da Mãe, à qual acorrem os peregrinos trazidos pela mão materna de Maria, para o
encontro com o Seu Filho Jesus Cristo.
“Os mercadores do templo”
A passagem do Evangelho de hoje, que acabámos de ouvir, faz parte da peregrinação de Jesus ao Templo de Jerusalém e, por isso, convida-nos a fazer, juntamente
com Cristo, uma pequena peregrinação espiritual ao templo.
Jesus entrou no Templo de Jerusalém e aí fez um gesto insólito e desconcertante:
expulsou os mercadores do Templo.
Que quis dizer Jesus com este gesto? É um gesto simbólico e profético. Os “mercadores do Templo” aparecem aqui como uma metáfora, uma imagem de uma vida
em que as relações são fundadas no interesse. Naquele interesse do “dou para que tu
me dês”, do “dar para receber em troca” e, por conseguinte, compreendeis que esta
atitude e esta mentalidade tornam difícil uma relação de verdadeira comunhão entre
as pessoas.
Nós, homens, somos capazes de perverter as realidades mais belas por causa dos
nossos próprios interesses. E às vezes, transferimos para Deus, para a nossa relação
com Deus, este esquema das nossas relações humanas. Às vezes, reduzimos a fé a
um conjunto de prestações, como quem paga taxas a Deus, com uma série de práticas ou obrigações que Ele teria imposto sobre os ombros destes pobres mortais. É
esta relação falseada com Deus que Jesus põe em causa e purifica quando entra no
Templo e expulsa os mercadores, porque, quando assim acontece, damos mais atenção às coisas da casa, do que ao Senhor da casa, que é o próprio Deus.
A primazia da adoração de Deus
É neste contexto que Jesus diz: “Destruí este Templo, que Eu em três dias o
levantarei”. Referia-se ao Seu corpo, quer dizer, à Sua pessoa, ao mistério da Sua
morte e ressurreição, em que Deus se torna presente no meio de nós. Com isto, Jesus
quer reconduzir ao centro do templo, ao centro da nossa vida e ao centro do mundo,
a verdadeira adoração de Deus, a primazia da adoração de Deus. Não de um Deus
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Documentos Pastorais
qualquer, porventura arquitecto do mundo, ou reduzido a uma energia divina ou
energia cósmica, mas o Deus pessoal, o Deus amor que nos revelou o Seu rosto em
Jesus. Na pessoa, na palavra, nos gestos de Jesus é o próprio Deus que nos revela
o mistério da sua intimidade, que o partilha connosco, que nos dá uma vida nova,
que nos abre caminhos de salvação. Então compreendeis que o novo templo, o novo
lugar do encontro com Deus, de Deus com os homens, de nós com Deus, é Jesus
Cristo, vivo e ressuscitado. Não são as coisas que nos salvam; é a pessoa viva e ressuscitada de Cristo que nos salva, na comunhão com Ele. E compreendeis também
que a verdade da nossa fé, não está numa quantidade de práticas, mas está numa
relação verdadeira e verdadeiramente filial com Deus. Por isso, Jesus chama ao Templo a Casa do Pai. E se Deus é Pai, não O honramos em primeiro lugar com a oferta
das nossas coisas; honramo-Lo acolhendo-O. Adorar a Deus quer dizer reconhecer
Deus como Deus, acolhê-Lo no coração e na vida, deixar que Ele seja Deus em nós
e connosco. E aqui está a beleza, o encanto da nossa fé. É Deus que nos torna belos,
com a beleza do Seu amor.
O templo do nosso coração
Mas, para além deste templo novo que é Jesus Cristo, lugar do encontro com
Deus, existe também um outro templo onde Deus quer morar e habitar. Jesus diz:
“Aquele que Me ama, Meu Pai o amará e viremos a Ele e faremos nele a nossa
morada”. Qual é esse templo? É o nosso coração, que passa a ser não só lugar de
presença mas de morada íntima e permanente de tal modo que Deus se torna íntimo
a nós, mais íntimo a nós do que nós mesmos. E por isso, quando deixamos entrar
Jesus no templo do nosso coração, da nossa consciência, Ele chega lá e faz como fez
no Templo de Jerusalém: expulsa “os mercadores” que habitam no nosso coração,
quer dizer, os nossos interesses mesquinhos, as nossas invejas, as nossas rivalidades,
os nossos rancores, os nossos ressentimentos, as nossas indiferenças, as nossas ânsias de domínio dos outros, tudo aquilo que é contrário à beleza de Deus. Assim, o
Senhor purifica o nosso coração, santifica-o!
Santidade popular
Esta purificação do coração, foi o pedido que Nossa Senhora veio fazer aqui
em Fátima quando pede a conversão. A conversão é, antes de mais, a conversão do
nosso coração a Deus. E Ele, habitando-o, santifica-o, enche-o com a beleza da Sua
santidade. Por isso, Nossa Senhora, ao mandar erguer aqui uma capela, que depois
com o tempo deu origem também a uma basílica, foi para deixar aqui um sinal e uma
memória deste Seu apelo à conversão, quer dizer, à santidade. E convocando aqui
multidões como Ela convoca, o apelo é à santidade popular: santidade católica, santidade universal, santidade de povo, quer dizer, acessível a todos, possível a todos,
às crianças, aos jovens, aos adultos, aos solteiros, aos casados, aos viúvos. A todos é
possível ser santo, porque a santidade é, antes de mais, trabalho de Deus em nós. Por
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Documentos Pastorais
isso, a melhor oferta que podemos fazer ao Senhor, não são propriamente as coisas;
é a oferta de um coração acolhedor, à semelhança do Coração Imaculado de Maria;
é oferta de um coração disponível, à semelhança do Coração Imaculado, disponível,
de Maria, Sua Mãe, que Lhe disse “sim” numa entrega total.
É belo ou não é belo ser santo à semelhança da Mãe que aqui nos convoca para
o encontro com o Filho?
Maria, Mãe de Jesus e nossa Mãe, ajuda todos nós peregrinos a ter um coração
acolhedor do mistério do Deus Santo e do Seu amor eterno. Ajuda-nos, como Tu,
a deixar-nos abraçar pelo Pai com os dois braços do Seu amor, que são o Filho
Jesus Cristo e o Seu Espírito de amor e de santidade. E que todos os que aqui vêm
visitar-Te, Senhora, à Tua basílica, sob a Tua protecção possam aqui fazer a mais
bela experiência do amor eterno e santo de Deus. Que saiam daqui reconfortados
na sua fé, na sua esperança e que todos possam dizer com a alegria no coração:
“Aqui, sinto-me em casa, sinto-me espiritualmente em casa: na casa do Pai, na casa
da Mãe, na casa de todos os irmãos.” Ámen! Aleluia!
† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima
Fátima, 12 de Outubro de 2006 - Aniversário da Dedicação da Basílica
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Documentos Pastorais
Em Ti cantamos a
Beleza da Misericórdia do Pai
Diante da tua imagem de Nossa Senhora de Fátima, ó Virgem Mãe, como peregrino entre os peregrinos que hoje aqui acorreram em multidão, em seu nome e em
nome pessoal, saúdo-Te afectuosamente com o conhecido hino:
Ave, Maria, mulher admirável, honra do povo!
Em Ti cantamos a grandeza do Pai!
Humilde serva, formosa Senhora,
Ditosa Mãe, na dor e na paz.
Em Ti cantamos a grandeza do Pai!
Nesta minha saudação de amor à Virgem, quero envolver num grande e afectuoso abraço todos vós que estais a viver com a vossa presença este momento de graça.
Saúdo com fraterno afecto os meus irmãos bispos e sacerdotes concelebrantes, particularmente os bispos dos países de língua portuguesa que se reuniram em Fátima.
Ao presidir hoje, pela primeira vez, a uma peregrinação do dia 13, na minha missão de Bispo de Leiria-Fátima, vem-me à memória a cena dum vitral da ábside duma
pequena igreja de Bénodet, na Bretanha (França): a Virgem com o menino aparece a
um bispo ornado com as insígnias: o báculo, a mitra e as vestes episcopais. E Maria,
de pé, por cima dum altar, estende-lhe o menino Jesus.
Pouco importa o acontecimento que motivou esta representação. O que interessa
é a simbólica da mensagem. Parece que Maria está a dizer-nos: “Atenção! Não sou
eu a mais importante nem tu, bispo, com as tuas insígnias episcopais: é o meu Filho!
Como eu, com o sopro do Espírito, continuai a propô-lo ao mundo de hoje. Sede
simples, verdadeiros e humildes para não chamardes a atenção sobre vós, mas sobre
Jesus e a Sua mensagem. Proponde a Palavra de Deus, proponde os sacramentos da
graça, conduzi à Fonte da Vida que é Cristo, Revelador do Pai e Redentor do homem
e do mundo, ajudai a humanidade a descobrir e a contemplar a Beleza do Seu rosto
e da Sua misericórdia e a deixar-se embelezar por ela.”
Que missão mais bela poderia a Mãe de Jesus assinalar à Igreja hoje, a este santuário de Fátima, “catedral espiritual do mundo”, e ao seu humilde bispo, Ela cuja
grandeza está na humildade e no seu serviço ao Filho e à humanidade?
Contemplar a Beleza da Divina Misericórdia
Hoje, com esta celebração eucarística, damos início ao Ano da Misericórdia para
comemorar essa extraordinária manifestação da misericórdia através de Maria, aqui
na Cova da Iria, há noventa anos.
Por isso quero convidar-vos a contemplar juntamente comigo, com os olhos
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Documentos Pastorais
cheios de deslumbramento e o coração cheio de gratidão, a beleza do mistério da
misericórdia.
A liturgia de hoje, desde os cânticos até às orações e às leituras, é toda ela como
que uma cantata, como uma grande variação sobre a bondade e a misericórdia de
Deus, que tem o seu vértice na exclamação comovida de S. Paulo: “Deus é rico de
misericórdia pelo imenso amor com que nos amou, precisamente a nós que estávamos mortos pelas nossas faltas”. Aqui S. Paulo oferece-nos a palavra-chave para
compreendermos que a história da salvação - da nossa salvação - é uma epopeia
da misericórdia divina.
Mas particularmente significativa e iluminante é a página do Evangelho em que
S. João visualiza o rosto concreto desta misericórdia no encontro da mulher adúltera
com Cristo. Esta cena é uma pérola evangélica de incomparável beleza, de comovente ternura e profundidade doutrinal que Santo Agostinho sintetiza numa frase
lapidar: “Relicti sunt duo: misera et misericordia”! Ficaram só os dois: a miséria
humana e a misericórdia!
A pobre pecadora aparece em toda a miséria da sua culpa: não só perdeu publicamente a honra, mas está prestes a perder a vida. Jesus manifesta-se como a misericórdia incarnada e pronuncia um juízo de absolvição: “Nem eu te condeno. Vai e não
voltes a pecar”. Tu vales mais, infinitamente mais, do que o teu pecado.
A dramaticidade da cena é dada pelo confronto entre o abismo da miséria humana e o abismo ainda maior do Amor que Deus tem por nós. Estamos diante das
dimensões inenarráveis e indizíveis deste Amor, que S. Ambrósio comenta de modo
admirável: “Não tenhas medo de que o Pai não te acolha; na realidade, Ele não se
alegra com que os vivos se percam. Tu tremes por tê-lo ofendido; mas Ele restitui-te
a tua beleza”.
De facto, Jesus restituiu à adúltera a beleza perdida: salvou-a como mulher, na
sua dignidade de pessoa, na sua humanidade, na sua feminilidade, na verdade do seu
amor, na sua relação a Deus. Ela é, de ora em diante, um texto vivo e eloquente da
misericórdia de Deus. Eis pois a beleza do Amor misericordioso que nela se espelha:
o Amor que perdoa, cura as feridas, resgata, enche de graça e ternura, cumula de
dons, rejuvenesce, defende com justiça os oprimidos, arranca ao poder do pecado e
da morte, relança no caminho de uma vida nova.
Repensar a nossa história à luz da Misericórdia
Na figura desta mulher do evangelho podemos ler os dramas da vida de cada um
e da humanidade. Ela é imagem de uma humanidade que experimenta tremendas
desilusões e gritos de desespero porque não consegue ser verdadeiramente humana;
que se apercebe dos gérmenes de violência, ódio, crueldade e morte que traz consigo, mas que clama e espera por redenção. Quando desespera, está perdida; quando
perde os horizontes de esperança, fecha-se, envelhece, morre, suicida-se.
Cristo deu e dá ao mundo uma outra beleza: a da misericórdia, a do Amor que
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salva. Por isso, François Mauriac pôde dizer: “sobre o pecado e sobre o mal do
mundo resplandece sempre a luz do Amor de Deus”.
Que seria o nosso mundo sem a realidade da misericórdia? Uma terra donde
fosse excluída a misericórdia poderia porventura ser legalmente justa, mas depressa
se tornaria irrespirável e os homens tremeriam de frio.
Ressoa hoje aqui, com o sabor de testamento, o último apelo de João Paulo II
que não chegou a pronunciar por ter morrido na véspera da celebração do domingo
da Divina Misericórdia: “À humanidade que, por vezes, parece perdida e dominada
pelo poder do mal, do egoísmo e do medo, o Senhor ressuscitado oferece em dom o
Seu amor que perdoa, reconcilia e abre o ânimo à esperança. É o Amor que converte
os corações e dá a paz. Quanta necessidade tem o mundo de acolher a misericórdia
divina” (L’Osservatore Romano 04/04/05).
O amor rico em misericórdia é o verdadeiro rosto de Deus “o Pai das misericórdias e Deus de toda a consolação” (2 Cor 1,3). Se acreditarmos no Seu Amor e no
Seu perdão regenerador a nossa conversão será profundamente sincera e não fruto
do medo de um Deus justiceiro.
Maria, Mãe e Rainha da Misericórdia
Ao Pai das misericórdias faz eco a Mãe da misericórdia. Um grande teólogo,
U. von Balthasar, afirma que se o olhar de numerosos cristãos parece hoje crispado,
inumano e por vezes feroz, é porque negligenciaram na sua vida a presença da Mãe
do Salvador, que proclama que a misericórdia de Deus se estende de geração em
geração (cf. Lc 1,50). É à luz do mistério da misericórdia que devemos procurar
compreender a extraordinária mensagem que daqui de Fátima começou a ressoar por
todo o mundo desde aquele dia 13 de Maio de 1917.
Aqui, Maria, a Mãe do Salvador, proclamou mais uma vez a misericórdia divina,
fazendo sentir o grito da sua grande dor e do seu grande amor pela humanidade
“que anseia por erguer-se do abismo” em que caiu. “É a dor da Mãe que a faz falar;
está em jogo a sorte dos filhos” (João Paulo II). Fê-lo com uma mensagem impressionante de advertência, para que a humanidade e a Igreja tomassem consciência
da dimensão infernal da loucura do mal e do pecado na história com o seu poder
aniquilador; mas ao mesmo tempo, com uma mensagem de consolação e de esperança naquele Amor misericordioso que é sempre maior que o nosso coração, mais
forte que os nossos males e de que se fez eco o seu coração terno e materno, o seu
Imaculado Coração. Só a distância do tempo nos permitiu captar a profundidade e a
relevância histórica e profética da mensagem.
Ela continua a dar-nos ânimo no início do milénio: Abri o vosso coração a
Cristo! Não tenhais medo! Não tenhais vergonha do Evangelho! A fidelidade e a
misericórdia de Deus são mais fortes que toda a fatalidade e todo o pecado! Convertei-vos, convertei o vosso coração.
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Documentos Pastorais
Ao Teu coração materno, Senhora, queremos hoje confiar os nossos anseios e
as nossas inquietações e as do nosso mundo, com a invocação que aqui fez ressoar
o Papa João Paulo II: monstra Te esse Matrem, mostra que és nossa Mãe, Mãe de
misericórdia!
Mãe das crianças: como o foste de Jesus menino, ajudando-as a crescer em idade,
sabedoria e graça;
Mãe dos jovens: que pelo testemunho da beleza da tua humanidade e da tua fé
possam descobrir o encanto e a beleza da vida com Cristo;
Mãe dos lares e das famílias, a quem chamas a redescobrir a beleza do seu amor.
Faz que ele se torne mais forte que toda a fraqueza e toda a crise;
Mãe dos doentes e dos idosos: pela constante protecção nos seus sofrimentos e
na solidão, sê para eles Consoladora dos aflitos;
Monstra Te esse Matrem, mostra que és nossa Mãe!
Mãe da nossa fé: que nos dás a conhecer Jesus, bendito fruto do teu ventre, e nos
convidas a acolhê-Lo com a alegria e a prontidão do teu “sim”;
Mãe da Igreja, humanamente limitada e pobre, santa e pecadora, mas empenhada
como Tu em abandonar-se à acção do Espírito que a santifica, renova e embeleza,
para que deixe transparecer a beleza do rosto de Cristo no mundo;
Monstra Te esse Matrem, mostra que és nossa Mãe!
Mãe do nosso mundo, da grande família humana;
Mãe dos pobres, que recordas ao Pai na oração do Magnificat, dos humilhados e
ofendidos na sua dignidade, dos que não encontram trabalho, nem casa, nem pão…
Que vejam reconhecida a sua dignidade;
Mãe dos povos, no início deste milénio, tão ameaçados por divisões e confrontos, por ódios, rancores, vinganças e terrorismos. Caminha com os povos para o
diálogo das culturas e das religiões, para a solidariedade e para o amor;
Mãe, particularmente, dos povos do Médio Oriente, do povo querido de Timor e
do povo do Darfur, tão martirizados pela violência e pela guerra. Sê para eles Mãe
do perpétuo socorro e Rainha da paz!
Monstra Te esse Matrem, mostra que és nossa Mãe!
Sim, continua a mostrar-te Mãe para todos, porque o nosso mundo tem necessidade de Ti, Mãe da divina misericórdia, Mãe da consolação, da esperança e da paz!
Vela por nós, filhos teus,
Mãe de Jesus, nosso Bem,
Tu podes, és Mãe de Deus,
Tu deves, és nossa Mãe!
† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima
Santuário de Fátima, 13 de Outubro de 2006
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Documentos Pastorais
Carta aos Jovens: Itinerário Vocacional
Caros amigos jovens das comunidades cristãs:
O vosso irmão bispo resolveu escrever-vos uma carta especialmente dirigida a vós.
Talvez fiqueis um pouco surpreendidos. Mas, na sequência do apelo que vos fiz,
“Dai um projecto belo à vossa vida”, na carta pastoral, venho hoje apresentar-vos
uma proposta nova: um itinerário vocacional com o nome “Grupo Vocacional Santo
Agostinho”.
Não se trata de mais catequese nem de aprender a rezar; nem sequer pretender
dar soluções para todas as dúvidas. É antes uma experiência de fé, em grupo, cuja
finalidade é: ajudar a buscar a vontade de Deus na própria vida, orientar a liberdade
e a escolha do projecto de vida para servir o projecto de Deus no mundo na parte que
a cada um diz respeito.
Trata-se duma busca séria e programada de modalidades pessoais através das
quais cada um pode projectar e viver a sua vida à luz do Evangelho. Esta busca está
aberta a todo o tipo de vocações: como leigos ou sacerdotes ou consagrados(as).
O meio para alcançar esta finalidade é o discernimento espiritual, quer dizer, um
exercício de atenção e escuta da Palavra de Deus e do Espírito Santo na história de
cada um, em clima de recolhimento e oração.
Creio que poderá ser uma experiência importante para vós neste tempo em que
se vive tão apressada e superficialmente. Espero que vos possa proporcionar uma
alegre descoberta.
Agradeço-vos profundamente a vossa atenção e envio-vos cordiais saudações.
No nome do Senhor Jesus que nos revela os horizontes imensos do desígnio de Deus
para cada pessoa, abençoo-vos com fraterno afecto.
† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima
Novembro de 2006
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Documentos Pastorais
O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas!*
Como diz Santo Agostinho, “Maria tem mais mérito por ter sido discípula de
Cristo do que por ter sido mãe de Cristo; mais ditosa é Maria por ter sido discípula
de Cristo do que por ter sido mãe de Cristo” (In, Ofício de Leitura da memória da
Apresentação da Virgem Santa Maria, 2ª leitura). Como primeira discípula, convidanos a aprender com ela a ser discípulos de seu Filho Jesus, a ouvir, sempre de novo,
a sua palavra de mãe: “Fazei tudo o que Ele vos disser”.
Como mãe solícita que é, preocupa-se com a sorte dos seus filhos. Em Fátima,
em 1917, tendo bem presente a situação dramática do mundo, faz um apelo premente
à conversão dos corações, à mudança de vida.
A mensagem é actual. A nós compete ajustá-la ao mundo de hoje de modo a não
a desvirtuar nem lhe fazer perder nada da sua força interpeladora.
O texto da presente publicação retoma uma devoção popular antiquíssima: a contemplação das sete dores de Nossa Senhora que constituem como que a “via crucis”
ou “via Matris”, a “via-sacra” de Maria, onde se expressa o mistério da participação
da Virgem Mãe na Paixão e Morte do Filho, que Ela acompanhou na fé desde o berço
até à cruz. A Mãe dolorosa, em comunhão total com Cristo e com as dores da Humanidade, ensina a sofrer com Cristo, a amar, crer e esperar mesmo através da noite
da fé e da noite do mundo. Esta devoção mariana encontrará momentos adequados
à sua prática, iluminada pelo magistério do Concílio Vaticano II: “concebendo a
Cristo, gerando-o, alimentando-o, apresentando-o ao Pai no templo, sofrendo com
o seu Filho moribundo na cruz, Maria cooperou, de um modo especial, na obra do
Salvador, com a obediência, a fé, a esperança e a caridade ardente para restaurar a
vida sobrenatural das almas” (Lumen Gentium, 61).
“Feliz és Tu porque acreditaste”... Que, na Misericórdia do Pai, também cresçamos na fé, na esperança e na caridade. Que o Espírito Santo faça em nós e por nós
¬– hoje, sempre – maravilhas de graça.
A perspectiva, referente ao Imaculado Coração de Maria, que se apresenta na
segunda parte do presente escrito, pode parecer algo inovadora, e a alguns difícil de
aceitar. Nasce de rasgos de um grande teólogo suíço, Maurice Zundel, embora muito
pouco conhecido entre nós, e do percurso espiritual do padre que se interroga no
desejo de compreender melhor a mensagem de Fátima, de a viver e de a divulgar. Ao
Padre Manuel Santos José, capelão do Santuário de Fátima, e seus colaboradores um
“bem hajam” por este seu contributo.
† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima
Novembro de 2006,
* Introdução ao livro “Rezar as Dores de Nossa Senhora” (Fundação Maria Mãe da Esperança)
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Documentos Pastorais
“Vinde benditos de meu Pai”:
A apoteose da Misericórdia
As comemorações dos 90 anos das aparições de Nossa Senhora aqui em Fátima
estão marcados pelo Ano da Misericórdia, porque a Graça da Misericórdia constituiu
o centro daquela mensagem que Maria veio comunicar ao mundo. Na peregrinação
do dia 13 (de Outubro) eu mesmo dei o tom para este ano: descobrir, aprofundar e
contemplar a beleza do Mistério da Misericórdia.
“Vinde benditos de meu Pai”
S. João da Cruz escreveu: “No princípio, está o amor e no entardecer da vida
seremos julgados pelo amor”. Esta frase, muito simples e bela, serve para enquadrar
as duas leituras da Sagrada Escritura, que acabámos de ouvir, e que são dois monumentos literários e espirituais de toda a humanidade. A Primeira carta de S. João,
apresenta-nos o princípio, o fundamento do Mistério da Misericórdia; o capítulo 25
do Evangelho de S. Mateus convida-nos a contemplá-lo na sua fase final como festa
da apoteose, do coroamento, do triunfo da misericórdia e de todos os misericordiosos, que poderão ouvir do Pai uma palavra de bem-aventurança: “Vinde benditos de
meu Pai. Tomai posse do reino que vos está preparado desde a criação do mundo”.
Foi o cântico de abertura da nossa celebração, que deveria fazer vibrar as fibras mais
profundas do coração e da alma, porque vem da parte do Senhor.
Estas duas leituras, estas duas páginas das Escrituras, constituem como que um
díptico, duas telas de um só quadro, onde podemos contemplar duas facetas: o mistério da origem, do fundamento da misericórdia, que enche o nosso coração, a nossa
vida, e depois, o coroamento deste mistério na sua plenitude.
“Vede quão grande Amor Deus nos concedeu”
O Apóstolo S. João, na sua primeira carta, como que dá o tom musical que depois
nos apresenta ao longo dessa carta em variações diversas. “Vede quão grande amor
Deus nos concedeu, de tal modo que podemos chamar-nos filhos de Deus, e somo-lo
realmente”. Não se trata de uma mera informação, para satisfazer uma curiosidade,
de quem é Deus e quem somos nós. É uma realidade profunda que toca e transforma
o nosso ser e a nossa vida.
Se reflectíssemos e acreditássemos, seriamente, nesta verdade, “vede quão
grande o amor o Pai nos concedeu de tal modo que podemos chamar-nos filhos, e
somo-lo realmente”, nós ficaríamos de cócoras, quer dizer estupefactos, desconcertados, deslumbrados, felizes, verdadeiramente felizes, com uma tal declaração de
amor. Por detrás desta frase, está uma experiência que o apóstolo viveu e transmite
| 42 • LEIRIA-FÁTIMA | 207
Documentos Pastorais
apaixonadamente. Compreendemo-la a partir da experiência do baptismo de Jesus.
Também agora o Pai diz a cada um de nós, como disse a Jesus: “Tu és o meu filho
muito amado”: uma declaração de amor que não é colectiva mas singular, dirigida a
cada um em particular. Significa que somos colocados dentro do horizonte luminoso
de Deus, partilhando a sua própria vida, a sua intimidade, o seu amor. Isto é um dom:
só por dom é que se acede a este mistério. É amor misericordioso, no sentido mais
original do termo, quer dizer, amor entranhado, amor de entranhas, como o amor de
um pai e de uma mãe, que está entranhado no mais íntimo, no mais profundo do seu
ser e, por isso, este amor manifesta-se misericordioso. Quer dizer em concreto:
- Somos envolvidos pelo amor de Deus que quebra, em primeiro lugar, o gelo
da nossa solidão e nunca nos deixa sós. Mais ainda, suscita uma atitude de plena
confiança filial, que não nos deixa cair no desespero, mesmo quando parece que
caímos na fossa.
- É fonte de perdão que não abandona, não rejeita, de tal maneira que, diz o apóstolo, mesmo quando o nosso coração nos acusa a nossa consciência, podemos pensar
sempre com confiança: Deus é maior que o meu coração, Deus é sempre maior que
o meu pecado.
- E por isso esse amor entranhado, derramado em nós como que em cascata, em
catadupa, do coração aberto de Jesus e do coração terno e materno de Maria, torna
possível o amor que nos parece impossível, porque desfaz a dureza do nosso coração. Liberta o nosso coração de todo o ódio e de toda a insensibilidade, e por isso
torna-nos a nós mesmos misericordiosos para com cada homem e com cada mulher
que encontramos no caminho da vida, a fim de que nasça entre nós, na sociedade e
no mundo, a cultura da misericórdia.
Não há amor que não partilhe a dor
O amor tão desconcertante de Deus, que assume a dor dos seus filhos como
sendo a sua e diz a todos “o que fizeste ao mais pequenino foi a mim que o fizeste”,
dá uma dimensão divina ao gesto da misericórdia, e torna-nos solidários próximos,
atentos, a todos aqueles que sofrem, aos mais sofredores dentro dos que sofrem. Não
há amor que não partilhe a dor.
Queria contar-vos um conto judaico do século XVIII, muito ilustrativo a este
propósito.
Um dia, um rabi (um mestre) perguntou a um hebreu “Amas-me?”
E este respondeu, com toda a naturalidade, “Claro que te amo!”
“Então conhece também a minha dor”, replicou o rabi.
“Como posso conhecer a tua dor?”, objectou o outro.
“Então não é verdade que me amas, não podes amar se não conheceres a dor do
outro”, disse o rabi.
Amor é comunhão profunda, solidariedade não só nas alegrias, mas também nas
lágrimas. Por isso, o teste verdadeiro, a sua prova real está exactamente nas obras
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Documentos Pastorais
de misericórdia.
O gesto, as atitudes, as obras de misericórdia para com os mais pobres entre os
pobres, os mais abandonados entre os abandonados, aqueles que não parecem amáveis, os marginalizados, os excluídos, esses com quem Jesus se identifica.
Para ser misericordioso
E, para concretizar como ser misericordioso, termino com uma oração de Santa
Faustina Kowalska, mensageira da Divina Misericórdia:
«Senhor, desejo transformar-me toda na Misericórdia e ser o vosso vivo reflexo.
Que o mais grandioso atributo de Deus, a sua insondável misericórdia, possa penetrar pelo meu coração e através da minha alma, em direcção aos outros.
Ajudai-me Senhor, para que os meus olhos sejam misericordiosos: que não
suspeite de ninguém e não julgue segundo as aparências exteriores. Que eu apenas
observe aquilo que é belo na alma do próximo e que vá em seu socorro.
Ajudai-me Senhor, para que os meus ouvidos sejam misericordiosos: que eu
esteja sempre atenta às necessidades dos outros, e os meus ouvidos não sejam indiferentes às dores e aos gemidos do próximo.
Ajuda-me Senhor, para que a minha língua seja misericordiosa: que eu nunca
diga mal dos outros, mas tenha para com cada um palavras de consolação e de perdão.
Ajudai-me Senhor, para que as minhas mãos sejam misericordiosas e cheias de
boas obras: que só possa fazer bem ao próximo, reservando-me os trabalhos mais
duros e difíceis.
Ajudai-me Senhor, para que os meus pés sejam misericordiosos: que eu esteja
sempre pronta a ir ajudar o meu próximo, dominando o próprio cansaço e fadiga.
Que o meu verdadeiro descanso seja servir os outros.
Ajudai-me Senhor, para que o meu coração seja misericordioso: que eu sinta
todos os sofrimentos dos outros. A ninguém negarei o meu coração. Que eu conviva
sinceramente, mesmo com os que sei que hão-de abusar da minha bondade. Que,
por mim mesma me encerrarei no misericordiosíssimo Coração de Jesus e guardarei
silêncio dos meus próprios sofrimentos.
Ó meu Senhor! Que habite em mim a vossa misericórdia! Ó meu Jesus transformai-me em Vós, já que tudo podeis». Ámen!
† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima
Santuário de Fátima, vigília de 12 de Novembro de 2006
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Comunicação ao Conselho Presbiteral
da Diocese de Leiria-Fátima
1. Um povo, um território, uma Igreja a conhecer
Há praticamente meio ano que me encontro entre vós. Como já tive oportunidade de vos dizer, o meu primeiro anseio fundamental é o de conhecer esta diocese
e, sobretudo, conhecer os seus dinamismos espirituais, segundo a palavra de Jesus
referida no evangelho de João: “O bom pastor conhece as suas ovelhas e elas conhecem-no” (Jo 10, 14).
É isso que tenho procurado fazer: aproveitar as várias ocasiões para conhecer,
para ver, para escutar, para encontrar antes de mais os sacerdotes, os religiosos e
as religiosas, os leigos, as paróquias, os secretariados e movimentos, os grupos, a
sociedade civil. Trata-se de conhecer um povo, a alma de um povo para avaliar os
processos (dinamismos) profundos que o movem; um território preciso com as suas
estruturas, a sua história e a sua singularidade; e a comunidade eclesial em todas as
suas componentes, tendo em conta a tradição da sua história, do seu caminhar na
maturação da fé, as suas necessidades e os seus anseios de renovação, os fermentos
novos que germinam.
Este trabalho é lento apesar do suceder intenso e por vezes vertiginoso de encontros e audiências, não só com os diocesanos mas com gente de todo o país e do
mundo, dada a dimensão internacional de Fátima. Por outro lado também é difícil,
sobretudo pela enorme quantidade de informações e questões que chegam ao bispo;
sendo muitas, falta por vezes o tempo para examiná-las, e coordená-las como gostaria. Isto gera a fadiga de assimilar rapidamente a necessária quantidade de dados
para um juízo e para a acção.
Tudo isto sugere o estilo com que o bispo recém-chegado deve mover-se dentro
de toda esta realidade: o estilo de discrição. Quer dizer, a presença e a participação
cordial, serena, paciente, pacata e prudente na vida da diocese; um estilo de acolhimento que anima espaços de amizade, de comunicação, de compreensão, que quebra
os distanciamentos e os preconceitos, que estimula a aproximação e colaboração
entre todos; um estilo que suscita o dinamismo do entusiasmo, da alegria do Evangelho, da fé e do ministério.
O bispo deve ler e compreender o dinamismo da realidade com os olhos da fé e
com os olhos da inteligência e do coração, deve percebê-lo com a afectividade que é
o próprio afecto de Cristo pelo homem, o afecto de Deus por cada criatura. E integra
tudo no juízo contemplativo da fé pelo qual procura ver as coisas e o que está por
trás delas, as pessoas e os dinamismos profundos de bem que estão por detrás das
pessoas.
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Documentos Pastorais
2. O Bispo, o Presbitério e o Conselho Presbiteral
A primeira preocupação e prioridade para o bispo é evidentemente o clero: conhecer este clero nas suas riquezas interiores, na sua dedicação, na sua capacidade
de serviço, no seu esforço de adequação aos novos tempos e nas suas fadigas e até
debilidades. O nosso clero, dedicado e generoso, está sobrecarregado por grandes
fadigas e pelas exigências sempre novas do ministério.
Para esta atenção especial ao clero, para escutar e conhecer melhor os padres - e, por conseguinte, a diocese – tenciono receber pessoalmente cada um, em
audiência particular, após o Natal até à Páscoa. Isto deriva de uma constatação e
convicção profunda. O bispo por si só e sozinho não significa nada. Além de ser
todo ele relativo a Cristo, está sempre unido – segundo a feliz expressão do Vaticano
II – a um “presbitério”, isto é, ao conjunto de todos os padres que compõem a diocese. Não é uma pessoa isolada que vê, sente, pensa, que tem as suas ideias pessoais
mais ou menos fundadas. Ele é a unidade de um grupo de presbíteros e, com eles,
em profunda humildade, examina, pensa e age. É todo solidário com esta comunhão
sem pôr de parte o seu carisma próprio de discernimento e decisão. Um momento de
busca da comunhão de intenções e metas pastorais é, sem dúvida, a semana dedicada
à Formação Permanente que, como de costume, realizaremos em dois turnos, de 22
a26 de Janeiro e 29 de Janeiro a 2 de Fevereiro.
Desta comunhão entre o bispo e o presbitério é expressão institucional este Conselho Presbiteral “cuja missão é ajudar o bispo no governo da diocese... para prover
do melhor modo ao bem pastoral da porção do Povo de Deus a ele confiada.”
É um órgão jurídico; mas deve estar animado por uma espiritualidade de comunhão e missão. Antes de mais, está ao serviço do diálogo entre o bispo e o presbitério e do crescimento da fraternidade entre os diversos sectores do clero da diocese.
Além disso, “é também a sede idónea para fazer emergir uma visão de conjunto da
situação diocesana e para discernir o que o Espírito Santo suscita através de pessoas
ou grupos; para trocar pareceres e experiências; para determinar, enfim, objectivos
claros do exercício dos vários ministérios diocesanos, propondo prioridades e sugerindo métodos” (DMPB 191). Eis a razão por que faz parte da agenda a auscultação
do Conselho sobre as principais urgências da Diocese.
Nesta lógica, o Directório Pastoral dos Bispos recomenda: “Com a sua atitude
de diálogo sereno e escuta atenta de quanto é expresso pelos membros do Conselho,
o Bispo encorajará os sacerdotes a assumir posições construtivas, responsáveis, de
longo alcance, tendo a peito somente o bem da diocese. Para além das visões parciais
e individuais, o Bispo diocesano procurará promover dentro do Conselho um clima
de comunhão, de atenção e de busca comum das melhores soluções. Evitará dar a
impressão da inutilidade do organismo e conduzirá as reuniões de modo que todos
os conselheiros possam exprimir livremente o seu parecer.” (nº 182)
Peço-vos pois que exprimais a vossa opinião sobre os assuntos em debate, com
toda a liberdade, sem a preocupação de agradar ou desagradar ao bispo. Eu estou ha| 42 • LEIRIA-FÁTIMA | 211
Documentos Pastorais
bituado ao diálogo franco, leal e respeitoso. Não fico aborrecido, ferido ou zangado
por discordarem de mim. E a vossa liberdade não tira a minha liberdade quando, depois de escutar e ponderar “coram Deo”, tiver de decidir o que é necessário, mesmo
sabendo que não se pode agradar a todos.
3. A administração económica e o ecónomo diocesano
Em virtude do pedido insistente do Sr. Padre Adelino Ferreira, de ser substituído
no cargo de ecónomo diocesano, é necessário encontrar outra pessoa para o respectivo cargo. Quero aqui lembrar quanto diz o Directório para o ministério dos bispos
a tal respeito: “A diocese dever ter um ecónomo que deve ser nomeado pelo bispo
para um quinquénio, renovável, depois de ter ouvido o Colégio dos Consultores e o
Conselho para os assuntos económicos. O ecónomo, que pode ser também um diácono ou um leigo, deve possuir uma grande experiência no campo económico-administrativo e conhecer a legislação canónica e civil relativamente aos bens temporais
e os eventuais acordos ou leis civis acerca dos bens eclesiásticos.”
Embora as competências do ecónomo estejam definidas no Regulamento da
Administração de bens da Igreja na Diocese de Leiria-Fátima, é todavia oportuno
recordar aqui a sua missão em linhas gerais:
- Administrar os bens da diocese, sob a autoridade do bispo e de acordo com o
parecer do Conselho para os assuntos económicos;
- Efectuar, com as entradas próprias da diocese, os gastos que legitimamente lhe
ordene o bispo;
- Elaborar o orçamento para o Ano Económico depois de recolher os orçamentos
dos Secretariados e outras Instituições (can. 1284, 3);
- Prestar contas, no fim do ano, das receitas e despesas, para serem aprovadas
pelo Conselho para os assuntos económicos;
- Vigiar diligentemente pela administração dos bens pertencentes às pessoas
jurídicas que dependem ou prestem contas ao bispo;
- Analisar e aprovar as contas das paróquias (can. 1287);
- Prover à rentabilização dos bens que são pertença da Diocese.
Para o cumprimento das funções que lhe são próprias, a Administração económica da diocese contará com a colaboração do Serviço de Tesouraria e Contabilidade, do Conselho para os assuntos económicos, dos párocos, da administração das
paróquias e outras instituições que prestam contas à diocese (can 1287) e de outros
eventuais colaboradores que se julgue necessário.
Como se deduz, o ecónomo diocesano não é um contabilista, mas tem a figura
de verdadeiro administrador e gestor dos bens da diocese, que estão ao serviço da
comunhão na Igreja e da sua missão no mundo.
Tendo tudo isto em conta, achei conveniente pedir também o parecer dos membros do Conselho presbiteral. Assim peço que cada conselheiro, em votação secreta,
me indique dois nomes entre os sacerdotes do nosso presbitério, que julgue mais
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Documentos Pastorais
idóneos para o cargo de ecónomo. Será bom, pois, ter em conta as características do
seguinte perfil: aceitação e credibilidade entre o clero; espírito de colaboração com
o bispo, o conselho económico e os padres; experiência no campo económico-administrativo; capacidades de administrador e gestor, isto é, de uma visão de conjunto,
de traçar planos a médio e longo prazo, de rentabilizar os bens.
Ainda no campo económico, coloca-se também a questão da actualização da remuneração mensal do clero de acordo com o art. 68 do Estatuto económico do clero:
“Sempre que se modificarem as condições económicas gerais que, num determinado
momento, justificarem a retribuição estabelecida, esta deverá ser ajustada às novas
condições”, o que exige ser ouvido o conselho presbiteral segundo o teor do art. 67.
4. O plano pastoral da Diocese e do Santuário de Fátima
O lançamento do plano pastoral para o ano 2006/07 sobre a vocação e as vocações na Igreja foi correspondido com muito interesse pela assembleia diocesana
com cerca de 800 participantes que mostraram bom acolhimento e até entusiasmo.
A mesma correspondência tenho encontrado nas vigílias de oração a que presidi,
com grande participação popular. A própria Carta Pastoral teve uma saída de 8.500
exemplares. Isto mostra que há sensibilidade por parte das comunidades. Espero que
esta chama continue viva ao longo do ano.
Para implementar os objectivos que nos propusemos, posso informar que o préseminário está activo e a funcionar com 30 candidatos. A partir de Janeiro vamos
lançar uma nova iniciativa: um “itinerário vocacional” com a designação de “Grupo
vocacional de Santo Agostinho”. Destina-se a jovens de ambos os sexos, dos 17 aos
25 anos, que manifestem intenção recta de fazer uma busca séria e programada em
ordem ao discernimento da sua vocação. Funcionará a nível diocesano, em Leiria,
como laboratório, para mais tarde se poder estender às vigararias. Peço o interesse
de todos os padres em motivar aqueles jovens que lhes parecerem mais idóneos e
com mais interesse.
Ainda no âmbito pastoral quero recordar a celebração do nonagésimo aniversário das aparições de Nossa Senhora em Fátima, sob o lema “Ano da Misericórdia”.
Embora o Santuário tenha um programa pastoral próprio, creio que a diocese não
pode ficar totalmente alheia. Devemos sentir-nos chamados a pôr, de algum modo,
em relação o Mistério da Misericórdia com a vitalidade espiritual e apostólica da
nossa Igreja, aproveitando para isso as festas litúrgicas da Virgem Maria, as devoções marianas como o mês de Maio e a peregrinação diocesana.
A meu ver, o cerne da Mensagem de Fátima está no apelo a reconduzir para o
centro da vida cristã e do mundo a adoração de Deus rico de misericórdia, no seu
amor entranhado pela humanidade. Frente ao esquecimento, ao abandono, à indiferença em relação a Deus, à tentativa da expulsão de Deus das consciências e da
sociedade dos homens, Maria apresenta-se como pedagoga e mistagoga que conduz
à contemplação da benevolência e da condescendência divinas para com o mundo.
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Documentos Pastorais
A conversão a que Nossa Senhora chama com tanta insistência é, antes de mais,
teologal: configura-se como acolhimento puro do mistério do Amor Trinitário,
disponibilidade, escuta, contemplação, mística, afecto profundo perante o mistério
da presença divina, paz… Como poderão as comunidades cristãs tornar-se terreno
propício de vocações sem o húmus desta espiritualidade e desta mística primeiras e
fundamentais?
5. Visita Pastoral à Diocese
No próximo ano, a partir de Novembro, tenciono dar início à visita pastoral à
diocese, como “sinal da presença do Senhor que visita o Seu povo na paz” (DB 46).
Não se trata de uma fiscalização. É antes um “verdadeiro tempo de graça e momento
especial para o encontro e o diálogo do bispo com os fiéis” (P. G. 46).
Através da Visita Pastoral é dada ao bispo a oportunidade de desempenhar plenamente o seu ministério apostólico. À semelhança dos apóstolos que, como Pedro,
iam fazer visita a todas as comunidades (cf. Act. 9, 32), também o bispo se faz peregrino em visita ao santuário vivo do Povo de Deus, com os seguintes objectivos:
- Conhecer de perto e in loco a vida das comunidades, as suas alegrias, as suas
dificuldades e os seus desafios;
- Encorajar e consolidar a vitalidade de cada comunidade no encontro renovado
com Cristo, na fidelidade à Palavra e à Eucaristia e no serviço da caridade;
- Promover a comunhão eclesial, valorizando o sentido e os órgãos de corresponsabilidade
- Suscitar uma oportuna criatividade pastoral face aos desafios de um mundo em
constante mudança.
As visitas serão feitas por vigararias para fomentar uma pastoral de conjunto e a
vida de comunhão entre as paróquias e entre os párocos. A forma como se realizará
a visita será acordada com os vigários.
A visita pastoral é “como que a alma do governo” do bispo para que não se reduza a sua figura a mero administrador ou crismador. A visita ocupará, naturalmente,
diversos domingos ao longo do ano e este é mais um motivo para colocar o problema
da reorganização das celebrações do sacramento da confirmação: ou juntando os
confirmandos de várias paróquias confiadas ao mesmo pároco, ou de paróquias vizinhas, ou mesmo por vigararia onde for possível.
Peço também aos párocos que vão educando as comunidades, em particular os
que frequentam a catequese, os seus familiares e os catequistas, no sentido de que, a
partir do próximo ano pastoral 2007/08, o normal é que o sacramento da confirmação se celebrará só após os dez anos de catequese.
6. A visita “ad limina”
Desejo informar-vos de que no próximo ano, de 3 a 12 de Novembro, se realizará
a visita “ad limina apostolorum” dos bispos portugueses. Cada bispo deverá entregar
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Documentos Pastorais
o relatório quinquenal até 15 de Abril. Para esse efeito peço a melhor e mais pronta
colaboração dos párocos e responsáveis dos secretariados com a secretaria episcopal em ordem à recolha de dados a partir de Janeiro.
7. Esperança no “Deus semper maior”
Para terminar, quero partilhar com todos vós um pensamento, um sentimento,
uma instância muito simples, mas de grande significado para nós e para a nossa
missão.
A mensagem que percorre todo o Advento é toda ela de esperança no Deus que
vem. É nele (e não nas falíveis e fracas forças humanas) que devemos pôr a nossa
esperança. Falamos aqui não só “de” esperança, mas também e antes de mais “com”
esperança. Quer dizer, trata-se da esperança como “estilo virtuoso” – como alma,
clima interior, espírito profundo – antes ainda que como conteúdo.
A esperança como estilo de vida faz parte essencial e integrante do realismo
cristão. Nenhum de nós ignora as dificuldades da vida, da missão, das comunidades,
da Igreja e do mundo. Mas graças à presença do Senhor e do Seu Espírito na história
de cada tempo, a esperança não abandona nunca a Igreja e a humanidade.
É na consciência dos nossos limites, das nossas fadigas e lentidões, dos nossos
atrasos e falhanços, e numa imensa confiança no Senhor e no Seu amor que somos
chamados a viver a nossa missão neste tempo e a realizar o plano pastoral no horizonte da esperança no “Deus semper maior”. Quem tem olhos e coração evangélicos
não vê só o negativo; vê e alegra-se com as muitas sementes e os gérmenes e frutos
de esperança que já estão em acção em diversos âmbitos das nossas comunidades e
esperam ser cultivados com entusiasmo.
A todos desejo agradecer a vossa amizade e a generosa colaboração. Desejo-vos
um Natal de Cristo cheio de esperança na doce companhia de Nossa Senhora do
Advento, do Deus que vem, Nossa Senhora da esperança!
† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima
Leiria, 12 de Dezembro de 2006
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Documentos Pastorais
Comunicado do Conselho Presbiteral
da Diocese de Leiria-Fátima
O Conselho Presbiteral da Diocese de Leiria-Fátima, sob a presidência de D.
António Marto, reuniu-se, pela primeira vez, durante a manhã do 12 de Dezembro
de 2006, no Seminário Diocesano. É composto por 18 padres diocesanos e 2 religiosos.
Depois do canto dos salmos, o presidente saudou os presentes e introduziu
os trabalhos com uma comunicação onde falou do seu modo de estar entre nós,
definindo-o como discreto; expressou a sua preocupação pelo Clero, dizendo que
receberá pessoalmente cada sacerdote entre o Natal e a Páscoa; lembrou, com agrado, o segundo ano do Projecto Pastoral e anunciou a criação do Grupo vocacional
Santo Agostinho para jovens, rapazes e raparigas, dos 17 aos 25 anos; recordou as
celebrações do 90º aniversário das Aparições de Fátima e pediu que se pusesse em
relação o Mistério da Misericórdia com a vitalidade espiritual e apostólica da nossa
Diocese; anunciou, com início em Novembro de 2007, a visita pastoral à Diocese,
que considera ser “como que a alma do governo do Bispo”; informou que de 3 a
12 de Novembro de 2007 realizar-se-á a visita ad limina apostolorum dos bispos
portugueses” e pediu colaboração na sua preparação; a terminar, convidou todos os
presentes a assumir a Esperança como estilo de vida, pois ela faz parte essencial e
integrante do realismo cristão.
De seguida, procedeu-se à eleição do secretário e à constituição do secretariado:
foi eleito o padre Manuel Armindo Pereira Janeiro e com ele integram o secretariado
os padres Nelson José Nunes Araújo e Sérgio Lopes Fernandes.
Depois do intervalo, o Bispo diocesano auscultou o Conselho sobre três assuntos: pediu, por voto secreto, a indicação de dois padres para o múnus de Ecónomo
Diocesano; pôs à consideração dos presentes a actualização da remuneração dos
sacerdotes para 2007, tendo sido votadas duas propostas; também para o próximo
ano, ouviu o Conselho sobre o destino a dar à renúncia quaresmal.
Por último, os conselheiros pronunciaram-se sobre as “urgências maiores” da
Diocese. As intervenções centraram-se na situação do Clero diocesano e na reorganização pastoral da Diocese. A próxima reunião do Conselho Presbiteral foi marcada
para o dia 27 de Fevereiro de 2007.
O Secretariado
12 de Dezembro de 2006
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Documentos Pastorais
Louvor e memória no final de um ano
Chegados ao termo de um ano e prestes a começar um novo, deixemo-nos inspirar pela página evangélica que acabámos de ouvir.
Fala-nos dos pastores que “foram sem demora a Belém e encontraram Maria,
José e o Menino deitado numa manjedoira” e partiram como mensageiros da novidade de Cristo, glorificando e louvando a Deus.
Fala-nos também de Maria, a Mãe, que “guardava todas estes acontecimentos,
meditando-os no seu coração”.
É um texto vivo e actual para nós hoje e nesta hora. Os pastores e Maria precedem-nos, interpretam-nos, envolvem-nos e convidam-nos a partilhar os sentimentos
do seu coração. O Evangelho dá-nos a graça de fazer nossos o louvor dos pastores e
a memória com que Maria guarda e medita os acontecimentos.
Louvor e memória no final de um ano
São precisamente estes sentimentos que devem caracterizar a conclusão deste
ano que passa:
- o louvor, que é a expressão mais natural da gratidão ao Senhor por todos os
dons que, na Sua grande bondade e na sua incansável misericórdia, concedeu a cada
um de nós, às nossas famílias, aos outros, à Igreja e à humanidade;
- a memória, que consiste em guardar, na nossa mente e no nosso coração, todos
esses dons para que eles possam desenvolver todo o potencial que encerram de bem
e de fecundidade, não só para hoje mas também para amanhã.
No recolhimento e no silêncio da oração pessoal, cada um de nós poderá encontrar os motivos particulares para dar graças a Deus e para recordar as ressonâncias
em nós suscitadas pelas maravilhas que o Senhor realizou em nosso favor.
O cântico do Te Deum, que entoaremos, quer dar voz comunitária e alegre a este
louvor e memória de toda a Igreja e de todos nós.
Com a bênção de Deus iniciamos um novo ano
Contudo, ao terminar o ano, queremos suscitar e alimentar no nosso coração
outros sentimentos. Não basta reviver o louvor grato dos pastores e a memória meditativa de Maria.
É preciso, na consciência da nossa fragilidade, exprimir o nosso arrependimento,
implorar a misericórdia de Deus. O Te Deum leva-nos a alimentar estes sentimentos
quando nos faz cantar: “Tem piedade de nós, Senhor, tem piedade”, “A tua misericórdia esteja sempre connosco”. Imploramos, pois, o dom da Misericórdia para nós,
para a Igreja e para toda a humanidade.
Daqui nasce a confiança e o abandono filial em Deus, a esperança na sua ajuda, a
certeza do seu Amor terno e fiel, para hoje e para o tempo que há-de vir.
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Documentos Pastorais
É este amor que nos é revelado e comunicado pelo Filho eterno de Deus que se
fez homem como nós e para nós, no seio da Virgem Maria.
É este amor que faz palpitar o pequeno – e imenso - coração do Menino de
Belém, ícone da condescendência de Deus para com a fragilidade e a fraqueza do
homem, ícone da misericórdia salvífica de Deus para com o homem pecador.
No rosto deste Menino resplandece a glória do Pai – o esplendor do Amor do
Pai – que quer ilumina o rosto de cada homem e entrar no seu coração. É com esta
bênção que o Senhor nos introduz no novo ano, assegurando-nos a sua protecção, a
sua paz e a sua alegria.
Retomando as palavras de bênção da primeira leitura, desejo dirigir-me a cada
um de vós com estes votos de bênção, graça e paz para o novo ano: “O Senhor te
abençoe e te proteja; o Senhor faça brilhar sobre ti o Seu rosto sorridente e te dê a Sua
graça; o Senhor dirija para ti o olhar do Seu rosto e te dê a paz”. Ámen! Aleluia!
† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima
Santuário de Fátima, vigília de 31 de Dezembro de 2006
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Em Destaque
Em Destaque
Carta Pastoral apresentada no Dia da Diocese
Assembleia marca início do ano pastoral
A diocese de Leiria-Fátima realizou a sua Assembleia Diocesana a 1 de Outubro,
no salão do Colégio da Cruz da Areia, Leiria, terminando com a Eucaristia na Sé.
Marcaram presença cerca de seis centenas de agentes pastorais, entre Bispo, padres,
membros do Conselho Pastoral Diocesano e dos Secretariados e Comissões diocesanos, direcções dos Movimentos, Associações e Obras, superiores ou representantes
das comunidades religiosas masculinas e femininas, direcções dos Institutos Seculares e Novas Comunidades, membros dos conselhos vicariais e paroquiais de pastoral, catequistas, ministros extraordinários da comunhão e outros fiéis empenhados
no apostolado.
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Em Destaque
Neste encontro, que se realiza anualmente, pretendeu-se celebrar o Dia da Diocese e “fazer experimentar que somos muitos, mas um só corpo, em Cristo”, a marcar
o início do novo ano pastoral, o segundo de concretização do Projecto Pastoral Diocesano “Testemunhar Cristo, fonte de esperança”, que guiará a diocese até 2011. O
tema deste ano é “Não fostes vós... fui Eu que vos escolhi” (Jo 15,16).
Na ocasião, o Bispo diocesano apresentou a Carta Pastoral “Descobrir a beleza
e a alegria da vocação cristã”, que dará o tom à caminhada da Igreja diocesana de
Leiria-Fátima.
Bispo apresenta Carta Pastoral
“A maioria dos cristãos acha que isto é um problema do bispo e dos padres. Mas
é um problema de todas as comunidades cristãs”, afirmou o Bispo da diocese de
Leiria-Fátima, D. António Marto, na apresentação da sua Carta Pastoral. Referia-se
à questão das vocações, que não são “uma obra de engenharia eclesiástica”, mas
antes “obra do amor de Deus”. Actualmente, na Diocese, há apenas quatro alunos na
prossecução de estudos teológicos, rumo ao sacerdócio. Ora, “esta crise é um apelo
a todo o povo de Deus”, salientou aos agentes pastorais: “Vede o que isto significa
daqui a dez anos”.
A carta “não saiu só da cabeça, mas do coração do Bispo. Está aí o coração a
falar, num estilo simples”, frisou o prelado, assinalando que “não foi escrita para
padres, nem para elites, mas para o povo de Deus, simples e humilde”. Dividido
em quatro partes, o documento “não é um tratado, mas procura dar uma visão geral
de toda a problemática da vocação e da pastoral das vocações”. Em primeiro lugar,
retrata o mundo actual como uma “cultura da distracção e do divertimento e de orfandade educativa”. Uma cultura que “gera nos jovens medo de tomarem opções e
escolherem compromissos duradouros”. Na segunda parte, analisa a “beleza da vocação cristã” num “mundo dominado pelo aspecto da técnica” e em que facilmente
esquecemos que “trazemos dentro de nós um chamamento para mais e melhor”. A
penúltima parte é dedicada à “vocação e vocações na Igreja”, salientando que “todos
os baptizados são alcançados pela luz da Transfiguração, pela beleza da vida nova,
todos igualmente chamados a seguir o mesmo Cristo; mas cada um, de um modo
próprio e segundo os dons e apelos de Deus, nas diversas situações”. “A atenção
prioritária, na actual situação da nossa diocese, vai sobretudo para o ministério ordenado”, referiu o Bispo.
Na última parte do documento, D. António Marto dá indicações práticas sobre
o rumo que guiará a Diocese neste ano pastoral. O Projecto propõe vigílias de oração nas nove vigararias da Diocese, a que o Bispo presidirá. Além disso, pede-se a
oração nas comunidades, não apenas pelas vocações sacerdotais, mas por todas as
vocações. “O acompanhamento vocacional deve ter ofertas de qualidade, para cada
idade”, defendeu o Pastor, que acrescentou: “A vocação nasce, cresce e desenvolve-se a partir da fé, como uma relação de amizade e vida pessoal com Jesus”. No
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Em Destaque
campo da catequese, o prelado frisa que “é para tomar a sério e não se deve reduzir
a lições”. A aposta na pastoral juvenil deve ser feita no período pós-catequese. E
quanto ao Crisma, D. António defende que este sacramento só deve ser ministrado a
jovens com mais de dez anos de catequese e, se possível, com mais um ou dois anos
de preparação.
O Bispo espera que este documento seja “para meditar e interiorizar em clima
de oração e de conversação pastoral”, pelo que “o ano pastoral não deve consistir
apenas numa série de iniciativas” a calendarizar, mas, sobretudo, “na grande experiência interior a viver”. Aliás, adianta, “as iniciativas exteriores têm sentido como
reflexo de experiência interior que toca o coração das pessoas e não passa apenas à
flor da pele”. Nesse sentido, realçou a necessidade da qualidade e apelou à criatividade nas iniciativas, “porque Deus merece e os nossos irmãos merecem-no”.
D. António Marto espera ainda que a carta pastoral “seja ocasião para revisão
de vida, das paróquias, das comunidades e dos movimentos”. Aos agentes pastorais
pediu empenho nas tarefas e aos jovens lançou o desafio: “levantai-vos e não tenhais
medo”.
Este ano pastoral foi programado por etapas (segundo os tempos litúrgicos).
Assim, até ao Natal será um tempo de sensibilização, ou seja, de dar a conhecer a
Carta e seus objectivos. O tempo da Quaresma será de formação profunda, devendo
ser disponibilizadas algumas catequeses quaresmais. Depois da Páscoa, “é tempo de
agir”, tempo de empreender e também de conclusões e balanços.
Entrevista ao padre Jorge Guarda,
vigário-geral da Diocese
Qual o objectivo principal desta Assembleia Diocesana?
Antes de mais, é congregar os principais responsáveis da acção pastoral e quantos colaboram nas
comunidades cristãs, para os fazer experimentar
que, como Igreja diocesana, “somos muitos,
mas um só corpo, em Cristo”. A maior parte
de nós vive a sua relação com a Igreja na sua
comunidade, paróquia ou movimento. É
uma dimensão importante, mas insuficiente.
É preciso ter a experiência do corpo eclesial.
Juntando-nos em assembleia, na diversidade
do que somos, unidos à volta do Bispo, temos
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Em Destaque
uma percepção mais ampla e viva da Igreja, tomamos consciência de que formamos
uma família grande e de que é o Espírito de Cristo que nos une. Deste modo, celebramos também mais sentidamente o Dia da Igreja Diocesana, avivando a comunhão
eclesial.
Um outro objectivo, mais específico do começo de um novo ano, é recebermos
as orientações comuns para esta caminhada pastoral. Neste sentido, destaca-se a
apresentação que o nosso bispo fez da sua primeira carta à Diocese, sobre a pastoral
vocacional, bem como dos principais objectivos do ano e das acções fundamentais
a realizar. Podemos assim sintonizar melhor uns com os outros, animar-nos e assumirmos metas comuns, que cada um realizará conforme os seus talentos e responsabilidades.
O Projecto Pastoral propõe uma aposta na pastoral das vocações ao longo do
ano. Que actividades estão já a ser pensadas neste âmbito?
A actividade principal a promover é a oração, pois estamos convictos de que é
Deus quem oferece à Igreja as vocações e é na relação íntima com Ele que a pessoa,
e também a comunidade cristã, recebe o chamamento e a graça para dizer o seu
“sim”. Estão programadas nove vigílias de oração, uma em cada mês, realizandose cada uma delas numa vigararia diferente. Estes momentos de oração visam, por
outro lado, despertar os fiéis, as famílias e as comunidades para entrarem no que o
nosso Bispo designa a “grande oração vocacional”.
Serão também preparadas algumas catequeses vocacionais, como proposta para
que grupos de jovens e de adultos peguem nelas, especialmente durante o tempo
da Quaresma, como instrumento para descobrirem a beleza e a alegria da vocação
cristã. As catequeses de crianças, adolescentes, jovens e adultos, bem como as celebrações da fé e outras actividades habituais das comunidades cristãs, que alimentam
e reforçam o itinerário pessoal, familiar e comunitário da fé, ajudarão a criar um
terreno fértil onde deverão desabrochar novas vocações, como flores variadas no
jardim da Igreja.
O Seminário Diocesano, no âmbito do pré-seminário, organiza um encontro
mensal para acompanhar os rapazes que se sintam interpelados para a vocação sacerdotal e estejam disponíveis para fazer um caminho de aprofundamento e clarificação do apelo que percebem dentro de si. De igual modo, os responsáveis da pastoral
ou dos movimentos que trabalham com os adolescentes e os jovens poderão fazer
a proposta de um caminho de reflexão àqueles que se mostrem abertos a clarificar a
sua vocação pessoal.
Propõe-se, também, a constituição de grupos de animadores vocacionais a nível
vicarial e paroquial. Este é um desafio importante, pois designa pessoas que estejam
atentas e se tornem capazes de suscitar dinâmica vocacional nas suas comunidades
e de serem instrumentos para a interpelação pessoal. O chamamento divino chega
à pessoa concreta muitas vezes através das mediações humanas. E o compromisso
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Em Destaque
pessoal precisa de ser sustentado pela ajuda de outros. A promoção da catequese, da
oração e do chamamento serão desafios constantes.
Menciono apenas algumas actividades. Haverá muitas outras, desenvolvidas nos
diferentes níveis da vida da Diocese. É de esperar que paróquias, secretariados, movimentos e grupos assumam as suas iniciativas, como retiros, jornadas e encontros
de reflexão, celebrações, acções de formação e outras, todas no mesmo sentido de
descobrir e experimentar a alegria de ter sido escolhido por Cristo para a vida nova
e bela que Ele oferece a todos os baptizados. Esperamos que as iniciativas se multipliquem à volta dos objectivos que são apontados.
Foi, em tempos, responsável pelo sector das vocações e, actualmente, é o vigário-geral da Diocese. Tem, por isso, uma visão ampla dos dois sectores. Em
seu entender, que lhe parece mais urgente fazer para que a Diocese respire um
verdadeiro ambiente vocacional?
No meu entender, o principal empenho é cuidar da experiência de fé das pessoas,
da sua formação catequética e espiritual, da sua descoberta do Evangelho como graça de uma nova vida em Cristo e na Igreja. E isto feito em continuidade e não apenas
com acções episódicas. É preciso ajudar as pessoas a crescer na vida cristã em ordem
à maturidade espiritual. Um outro empenho é o do acompanhamento, especialmente
mediante grupos ou comunidades, que possibilitem a vivência da comunhão, da partilha e do sentido de fraternidade com outros cristãos. A relação pessoal, a entreajuda
e o convite directo para que a pessoa colabore na vida da Igreja, especialmente no
que se refere aos adolescentes e jovens, são elementos a não descurar quando se é
chamado a colaborar no despertar de vocações na Igreja. Tudo isto precisa de se
desenvolver num ambiente e com o suporte da oração, uma oração frequente, prolongada e intensa. Como diz o nosso Bispo, a vocação nasce da invocação, isto é,
da oração. Não há vocação sem uma relação profunda com Cristo e sem um clima
comunitário de comunhão com Deus no Espírito Santo.
Na Carta Pastoral de D. António Marto, que tema ou assunto considera mais
importante?
Destaco, em primeiro lugar, o tom que ele dá à beleza e à alegria da vocação cristã. É importante que os cristãos experimentem o gosto da vida nova que Cristo lhes
dá. É sobre essa base que se podem comprometer com Ele, mesmo nas formas mais
exigentes, como o ministério ordenado ou a vida consagrada. Depois, sublinho a
atenção ao contexto cultural da nosso tempo, que torna difícil assumir e manter compromissos definitivos, gratuitos e exigentes na vida da Igreja, da família e mesmo
da sociedade. Na consideração da vocação cristã à luz da fé, o nosso Bispo situa-a a
partir de Deus, envolvendo toda a vida, caracterizando-a como dialogo entre Deus e
a pessoa humana, como encontro com Cristo, convivência com Ele e eleição de amor
na qual o Senhor toma a iniciativa.
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Em Destaque
Há na Carta uma palavra amiga de encorajamento aos jovens e a oferta de uma
breve oração, como convite a entrar numa relação íntima e profunda com Cristo, em
quem encontrarão tudo o que torna a vida verdadeira, digna, livre, nobre, grande e
bela. É nesta relação que pode surgir o chamamento do Senhor a uma opção generosa pelo sacerdócio, a vida religiosa ou algum outro projecto belo. Se tal acontecer, o
nosso Bispo exorta a ser generoso e a não recusar uma resposta positiva.
O objectivo da Carta é o grande horizonte das diversas vocações e não a finalidade estreita de suscitar vocações sacerdotais e de consagração. Estas surgem onde a
vida cristã é apreciada e desenvolvida em toda a sua riqueza de formas. Finalmente,
para ser breve, o enraizar a responsabilidade de cada fiel católico na pastoral vocacional na “alegria de ser chamado”. É esta experiência que gera a coragem de chamar e o impulso a envolver outros na mesma aventura da boa e bela vida cristã.
A Carta constitui um belo apelo e impulso a tomar consciência da beleza da vida
cristã e a assumir a responsabilidade de se tornar instrumento para que os chamamentos divinos cheguem aos seus destinatários e encontrem uma resposta positiva.
Está lançado o desafio. Oxalá ele encontre em todos nós, diocesanos, a melhor resposta com a nossa vida.
Obituário
Faleceu o padre Luís Lopes Perdigão
Faleceu no passado dia 11 de Dezembro o padre Luís Lopes Perdigão, nascido a 16 de Setembro de 1913 e ordenado sacerdote em 11 de Junho de 1936, que
se encontrava actualmente ao serviço da diocese de Évora. O funeral realizouse no dia 12 de Dezembro na paróquia de Caxarias, de onde era natural e onde
agora repousam os seus restos mortais.
Faleceu o padre José Carreira Júnior
Faleceu no passado dia 17 de Dezembro o padre José Carreira Júnior, vítima
de acidente vascular cerebral. A cerimónia fúnebre realizou-se no Fraião, seguindo para a Caranguejeira, de onde era natural.
Nascido a 26 de Dezembro de 1926, entrou em 1937 na Congregação do
Espírito Santo, concretamente no seminário da Guarda - Gare, por influência
do padre António Pereira Rodrigues, seu conterrâneo. Aceitou um ano sabático
em 2004, que passou em descanso na sua família natal. Aí o surpreendeu um
primeiro AVC. Passou a residir no Fraião, extensão do Lar de S. Tiago, para uma
assistência mais cuidada, onde veio a falecer após dois novos ataques.
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Notícias
Notícias
D. António Marto promove múltiplos encontros
O Bispo de Leiria-Fátima iniciou uma série de reuniões com os responsáveis dos
diversos organismos diocesanos. O objectivo é conhecer o trabalho, funcionamento
e planos de acção dos vários departamentos da Diocese, e incentivar cada um dos
organismos, serviços, movimentos, paróquias, etc.
A Diocese tem cerca de 20 departamentos que asseguram o funcionamento dos
serviços internos e a acção pastoral. Cerca de 35 movimentos eclesiais têm reconhecimento diocesano. Nos quatro primeiros meses à frente da diocese de Leiria-Fátima, D. António Marto tem privilegiado o contacto com os principais responsáveis
da igreja diocesana: realizou uma assembleia para o clero, teve um encontro com
as comunidades religiosas residentes na diocese, visitou as nove Vigararias e tem
recebido os directores dos movimentos diocesanos e muitos dos responsáveis pelas
diversas instituições eclesiais.
A primeira visita a cada vigararia da Diocese, numa ronda sem carácter oficial,
realizou-se de 11 a 28 de Setembro. O principal objectivo foi conhecer os párocos e
as actividades que cada uma desenvolve, e a própria geografia da Diocese.
Seguiu-se a reunião com os membros dos 64 institutos religiosos presentes na
Diocese, no dia 30 de Setembro. O prelado sentiu-se “feliz e alegre” por ver à sua
frente cerca 400 religiosos e religiosas, que responderam ao seu apelo. Na sua apresentação, serviu-se das palavras de Santo Agostinho: “Para vós sou bispo; convosco
sou cristão”. Foi “um tempo de conhecimento e colóquio e uma oportunidade para
apresentar aos religiosos a perspectiva da Vida Consagrada e do Plano Pastoral”,
tendo por base a Exortação Apostólica de João Paulo II sobre a Vida Consagrada e
como chave de leitura “a beleza e a alegria da vocação de consagração”. D. António
Marto salientou três características da vocação especial de consagração: proclamação da Trindade, sinal de comunhão fraterna na Igreja e serviço do amor. “Com
isto – alertou – não se diz que a Vida Religiosa seja importante, mas que é bela”. E
chamou a atenção para o ícone bíblico da transfiguração de Cristo, à luz do qual o
Papa anterior organizou todo o documento final do Sínodo para os Religiosos. Concretizando: “A sua luz atinge todos os cristãos; mas uma especial forma é a dos que
seguem a Vida Consagrada, cujos conselhos evangélicos são sinal e profecia para o
mundo.
No dia 24 de Outubro, reuniu-se com os nove vigários da vara e o vigário-geral.
No encontro, analisou-se a possibilidade de celebrações do sacramento do Crisma a
nível inter-paroquial, ou seja, com crismandos de várias paróquias a receberem este
sacramento numa celebração conjunta, o que proporcionaria celebrações mais ricas
e variadas e, em simultâneo, estimularia as paróquias a celebrações comuns. Para
sensibilizar as comunidades para esta opção, D. António Marto deverá escrever em
breve uma nota pastoral.
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Notícias
Neste encontro foi anunciada a intenção de o prelado realizar, a partir de Novembro de 2007, uma visita pastoral pelas 75 paróquias da Diocese, cujos preparativos
estão já a ser iniciados, nomeadamente, com a definição de um programa-tipo. Estas
visitas às paróquias poderão durar de 2 dias a uma semana e serão preparadas em três
etapas: um tempo de sensibilização e outro de renovação e uma fase de preparação
efectiva, com o programa próprio. Trata-se de uma forma de conhecer e estimular as
paróquias. “Não se trata de uma visita simbólica, de cortesia, mas de motivação e de
trabalho”, afirmou D. António.
Na terceira parte desta reunião houve partilha das actividades desenvolvidas ao
longo do ano pastoral, como reflexo da carta pastoral do Bispo. Exemplo concreto: a
criação de um Secretariado de Animação Vocacional na vigararia das Colmeias.
Dia Mundial de Oração pela Vida Humana
No passado dia 8 de Outubro de 2006, o Apostolado Mundial de Fátima promoveu, uma vez mais, o Dia Mundial de Oração pela Vida Humana. Foi pedido a todos
os católicos que rezassem o terço, e a todas as outras religiões que rezem de acordo
com a sua fé durante vinte minutos, numa corrente mundial de oração.
Em paralelo com este acontecimento, realizou-se em Fátima, de 4 a 8 de Outubro, o Congresso Internacional de Oração pela Vida, com a participação de D. Karl
Josef Romer, secretário do Conselho Pontifício para a Família, D. Serafim Silva,
Bispo emérito da diocese de Leiria-Fátima, Isilda Pegado, presidente da Federação
Portuguesa pela Vida, padre Luís Kondor, vice-postulador para a Causa da Canonização dos Pastorinhos, monsenhor Vítor Feytor Pinto, membro do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, a irmã Virgínia Beretta, irmã da Santa Gianna
Beretta Molla, o professor Américo Lopez Ortiz, presidente do Apostolado Mundial
de Fátima, entre outros.
Exposição “Sou o Anjo da Paz”
“A figura do Anjo dirige-se sempre a pessoas e situações concretas. Capta também os desejos e inquietações, nostalgias profundas que estão no coração e na alma
do ser humano”, frisou o bispo de Leiria-Fátima, D. António Marto, na inauguração
da exposição “Sou o Anjo da Paz”, a 9 de Outubro, no Museu de Arte Sacra e Etnologia de Fátima, que estará patente até Abril de 2007. “Para traduzir a linguagem
dos Anjos, só a linguagem da beleza”, concretamente a linguagem da arte, afirmou
o prelado, referindo que “como pessoas que aceitamos a mensagem de Deus através
dos anjos, vamos transportar esta mensagem. Os anjos não vão ficar no museu, vão
andar por aí, vão transportar esta mensagem de Deus a toda a humanidade”.
A mostra está dividida em “Anjos mensageiros”, “Anjos protectores” e “Anjos
adoradores”, num total de 24 obras de pintura, escultura, vitrais e azulejo, proprieda226 | LEIRIA-FÁTIMA • 42 |
Notícias
de da diocese de Leiria-Fátima, do Santuário de Fátima e do Museu de Arte Sacra.
Na inauguração, em que participaram D. António Marto, D. Carlos Azevedo,
porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa, Mons. Luciano Guerra, reitor do
Santuário, o teólogo João Duque, o vigário geral, padre Jorge Guarda, o superior dos
missionários da Consolata, padre Norberto Louro, além de religiosas e religiosos,
houve a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre a iconografia angélica, na
conferência proferida pelo professor Luís Casimiro, da Universidade do Porto.
Congresso “Figuras do Anjo revisitadas”
No âmbito da celebração dos 90 anos das Aparições do Anjo e de Nossa Senhora,
o Santuário de Fátima organizou um congresso internacional, de 10 a 12 de Outubro
de 2006, com o objectivo de “repensar, em registo das ciências humanas, da arte e
da teologia, o possível significado actual da referência a figuras angélicas”. Partiuse de um debate filosófico, sociológico e artístico sobre as formas contemporâneas
da referência aos anjos, para se debaterem as abordagens dessas figuras ao longo da
história do cristianismo e se propor uma releitura actualizada da questão, abrindo
pistas de recuperação da presença angélica na vida pessoal e cultural, assim como de
interpretação, especificamente, do anjo de Fátima.
Concurso para crianças - 90 anos das aparições
Para celebrar os 90 anos das Aparições do Anjo (2006) e de Nossa Senhora do
Rosário (2007) aos três Pastorinhos de Aljustrel – Lúcia, Francisco e Jacinta – o
Santuário de Fátima está a promover um conjunto de iniciativas sob o tema geral
Deus é Amor Misericordioso.
Uma vez que os protagonistas das Aparições foram crianças da faixa etária correspondente à idade de frequência do 1º ciclo, o Santuário de Fátima, em parceria
com o Agrupamento AJEFátima e o Externato S. Domingos de Fátima, decidiu
lançar um concurso, de âmbito nacional, para Escolas públicas e privadas, sobre
as Aparições de Nossa Senhora do Rosário de Fátima. Refere o regulamento que
às crianças é dada liberdade de expressão relacionada com as Aparições de Nossa
Senhora em Fátima e que cada criança poderá concorrer apenas com um trabalho,
sob a forma de desenho ou de texto manuscrito.
Os trinta melhores trabalhos serão publicados em livro. Destes, serão seleccionados os três melhores, que serão publicados também em formato de cartaz e colocados nos locais das Aparições de Nossa Senhora.
No primeiro concurso, intitulado “O Anjo de Fátima”, foram recebidos 1937 desenhos e textos de 54 estabelecimentos de ensino. Os trabalhos seleccionados foram
publicados em livro, oferecido a todas as crianças presentes no dia 10 de Junho de
2006, como lembrança da sua Peregrinação ao Santuário de Fátima.
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Notícias
Irmã Lúcia vai ter museu
O Carmelo de Coimbra vai ter um espaço museológico de homenagem à irmã
Lúcia. O objectivo é dar a conhecer a ligação da vidente de Fátima com o mundo
exterior, mesmo durante os muitos anos de clausura com as restantes carmelitas.
Cartas, lembranças e alguns objectos da Irmã Lúcia serão expostos neste espaço,
cuja data de inauguração se desconhece ainda.
“Pretende-se criar um espaço onde os crentes, os visitantes, possam conhecer
todo o espólio da Irmã Lúcia”, informou o cónego João Lavrador, capelão do Carmelo de Santa Teresa. Entre esse espólio contam-se milhares de cartas – recebia
centenas por dia – bem como missivas e até utensílios do dia-a-dia. Ficarão disponíveis para serem apreciados e também como “a prova viva da vivência e relação” da
vidente “com o mundo de hoje”, salienta o padre.
Novos estatutos do Santuário de Fátima
Os novos estatutos do Santuário de Fátima já foram aprovados pela Congregação para o Clero e entraram em vigor de imediato. O Santuário de Fátima assume,
assim, um carácter nacional e será dirigido por um Conselho Nacional do Santuário
de Fátima, constituído pelo presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP),
os três bispos metropolitas do País (arcebispo primaz de Braga, arcebispo de Évora
e patriarca de Lisboa), o bispo de Leiria-Fátima e o reitor do Santuário. Os estatutos
definem “o modo como a CEP se articula com o governo directo e a orientação pastoral e a gestão do Bispo de Leiria-Fátima e do Reitor do Santuário”. Estão definidos
dois órgãos de gestão: um Conselho de pastoral e uma Comissão de gestão económico-financeira, onde estará incluído um representante da CEP.
Bodas de prata das Servas de Nossa Senhora de Fátima
A Congregação das Servas de Nossa Senhora de Fátima celebrou, a 15 de Outubro, 25 anos de passagem a Direito Pontifício. A esta celebração juntou-se o 83º
aniversário da Congregação, o jubileu de 25 e 50 anos da profissão religiosa de 11
irmãs e os votos perpétuos de uma irmã. Simultaneamente, teve lugar a abertura do
Capítulo Geral, convocado extraordinariamente para aprovação das Constituições.
Com origem em Portugal (Santarém) no ano de 1923, a Congregação implantouse desde o começo em várias dioceses e expandiu-se, a partir de 1972, para fora do
País, começando por Moçambique. Hoje, está presente também em Angola, Bélgica,
Brasil e Luxemburgo.
Congregação deseja assinalar esta data com a fundação de uma nova comunidade na Guiné Bissau, como sinal da sua abertura à missão universal, o que se prevê
que venha a acontecer ao longo do ano de 2007.
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Notícias
Jornadas vicariais das Colmeias
Cerca de 250 pessoas da vigararia das Colmeias participaram nas jornadas vicariais que se realizaram a 20 e 21 de Outubro, no Salão Paroquial de Vermoil.
“É impossível renovar a pastoral vocacional com corações entristecidos”, afirmou o vigário-geral da Diocese, padre Jorge Guarda, durante a conferência “Renovar o coração, reavivar a pastoral vocacional”. Para renovar a pastoral vocacional é
necessário, antes de mais, renovar o coração. “O coração significa a nossa realidade
mais íntima e profunda, onde Deus fala e nos toca, onde nasce a sinergia de uma
acção com esperança e convicção”. Mais que o desânimo e as lamentações, o vigário-geral apelou a uma tomada de consciência: “Não sei se a crise das vocações
não reflecte a decadência da vida cristã das nossas comunidades”. Assim, “enquanto
a nossa Igreja não acreditar num Cristo vivo, as vocações vão cair cada vez mais”,
assinalou. Renovar o coração significa “encontrar a realidade de Jesus Cristo vivo,
no meio de nós”. Para tal, o primeiro caminho é a escuta da palavra de Deus (a nível
pessoal, em família, em comunidade); depois, a vivência da oração, a “participação
activa, consciente e frutuosa na liturgia” e a “experiência do amor gratuito”. “Para
reavivar a pastoral vocacional é necessário – frisou também o padre Jorge Guarda
– criar um clima propício às vocações nas famílias, nas comunidades e nos grupos”.
Depois, é preciso “suscitar ministérios e serviços, e preparar as pessoas para isso”, e
ainda “promover a oração”. No entanto, concluiu, “se é verdade que existem menos
vocações consagradas, também há muitos leigos a trabalhar nas comunidades”.
“Fé, Liturgia, Catequese e Vocação” foi outro dos temas abordados nestas jornadas, por D. Augusto César, Bispo emérito de Portalegre/Castelo Branco. “A Escuta
e a Transmissão da Palavra: Bíblia e Vocação” foi o tema da conferência de D. Anacleto Gonçalves, Bispo Auxiliar de Lisboa. E os trabalhos contaram ainda com a
conferência “Leitura crente do mundo juvenil: Pastoral Juvenil e Vocacional”, pelo
padre Adérito Barbosa.
No resumo dos trabalhos, o padre Filipe Lopes exortou à leitura, reflexão e partilha da carta pastoral de D. António Marto. Apelou ainda à “oração pessoal, familiar
e comunitária” pedindo pelas vocações sacerdotais. E apelou a que se realizassem
momentos de “oração mensal pelas vocações, a nível paroquial ou vicarial”.
Vigília missionária diocesana
A 21 de Outubro, véspera do Dia Mundial das Missões, realizou-se na Sé de
Leiria uma vigília diocesana, presidida pelo Bispo da Diocese, D. António Marto, e
organizada pela vigararia de Leiria em conjunto com os Institutos Missionários Ad
gentes. Como assinalou o vigário da vara, padre Joaquim Baptista, o objectivo era
“a oração pela causa missionária da Igreja”. Mas a iniciativa, que contou com especial participação dos institutos missionários, visou ainda sensibilizar a comunidade
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Notícias
cristã, destinando-se por isso a todos os diocesanos. Durante a vigília houve um
momento em que se estabeleceu contacto, por telemóvel, com o grupo diocesano
missionário que se encontra em Angola, o grupo Ondjoyetu. Pela voz do padre Vítor
Mira, foi possível sentir o “testemunho e vivência” do grupo na missão.
Bispo preside a vigílias vocacionais vicariais
Monte Real
A vigararia de Monte Real, recebeu, a 27 de Outubro, a primeira das vigílias de
oração vocacional que irão realizar-se ao longo deste ano pastoral e serão presididas
pelo Bispo diocesano. Participaram todos os párocos e muitos fiéis leigos, incluindo
bastantes jovens e crianças, que encheram por completo a igreja paroquial da vila.
A vigília começou com a projecção de algumas imagens da vida quotidiana e um
convite a parar para viver a comunhão com Deus. Seguiram-se cânticos, a Palavra de
Deus e a meditação proposta pelo Bispo diocesano. D. António Marto disse sentir-se
“confortado pela numerosa presença de fiéis, pois não é apenas o Bispo que confirma
e fortalece a fé dos cristãos, também a destes ajuda a do Bispo”. Falou, sobretudo, na
“beleza das diferentes vocações existentes na Igreja” e das condições para que elas
surjam: “um ambiente favorável nas comunidades cristãs, a disponibilidade pessoal
para a escuta e uma relação íntima com Jesus Cristo na oração e noutras expressões
da vida cristã”. Sublinhando a atenção especial às vocações ao ministério sacerdotal,
pediu que todos “rezem diariamente um mistério do rosário por esta intenção”.
Depois da homilia, houve adoração eucarística, em silêncio, súplicas e uma
interpelação aos presentes sobre a sua disponibilidade para viver com amor a própria vocação e ajudar os outros a descobrirem a própria. E antes da bênção com o
Santíssimo Sacramento, todos cantaram “Não fostes vós... Fui Eu que vos escolhi”,
palavra de Jesus que constitui a referência fundamental para a caminhada da Diocese ao longo deste ano. Em ordem à continuação do empenho pessoal, familiar e
comunitário na oração pelas vocações, o Senhor Bispo entregou, no final, a lamparina, símbolo dessa mesma oração vocacional, a uma representação da vigararia de
Ourém, onde se realizaria a próxima vigília.
Caxarias
No dia 17 de Novembro, na igreja de Caxarias, realizou-se a mesma vigília na
vigararia de Ourém. Estiveram presentes, além dos padres das paróquias da vigararia, mais de meia centena de jovens acólitos e uma multidão de fiéis que encheu por
completo a igreja.
A celebração começou com um cântico de S. Agostinho, enquanto eram projectadas imagens da natureza, proporcionando uma agradável ambiente de interioridade
espiritual. As leituras da Palavra de Deus focaram especialmente a iniciativa de Deus
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Notícias
que chama a todos e cada um, e algumas experiências concretas de vocação. D.
António afirmou então que “a vocação cristã é caminho com Jesus Cristo que abre à
vida verdadeira e plena, bela e feliz”. Explicitou que a vocação comum se concretiza
em diferentes formas de viver e servir e exortou os jovens a “darem à sua vida um
projecto que seja belo, incluindo nele a vocação ao sacerdócio”.
No final, a lamparina vocacional foi entregue aos representantes da vigararia da
Batalha, onde se realizaria a próxima vigília.
Batalha
A 15 de Dezembro, foi a vez da vigararia da Batalha celebrar a sua vigília vocacional, na igreja do mosteiro de Santa Maria da Vitória. Cerca de quatro centenas de
pessoas, vindas de todas as paróquias desta zona pastoral, juntaram-se aos párocos
e ao Pastor da Diocese, para pedir a Deus o dom de “corresponder com alegria e
solicitude ao projecto que Ele apresenta para a vida de cada um de nós”.
Com o Mosteiro na penumbra, escutou-se uma evocação da criação do mundo
como projecto perfeito de Deus, do pecado destruidor do homem e da conversão
sempre possível ao plano redentor trazido por Cristo, luz do mundo. Já com a luz a
encher o templo, a Palavra de Deus iluminou os corações, com o chamamento divino
a cada homem e mulher, a exemplo de Samuel.
“Não num sermão, mas numa conversa amiga” com os presentes, como quis
salientar D. António Marto, serviu-se de alguns episódios da sua vida para falar da
vocação. Uma jovem de 12 anos perguntava-lhe o que significa Deus ter um projecto
para cada um. “Significa que Deus te ama, quer a tua felicidade, te apresenta um
caminho produtivo na comunhão da comunidade, no fundo, que vivas sempre em
amizade com Ele”, respondeu o Bispo. “Nós não vimos do acaso, nem andamos ao
acaso; é o amor de Deus que ilumina os nossos caminhos e lhes dá sentido, e nos
transmite a paixão pela vida, que é dom e tarefa. Deus pede-nos para pensarmos a
nossa vida em grande, para fazermos dela um projecto grande e belo!”, frisou D.
António, e lamentou que, “tantas vezes desperdicemos a vida em coisinhas como
ganhar dinheiro e ver telenovelas”.
Neste contexto, é preciso tomar consciência de que “a vocação é feita por Deus
a todos, sem excepção” e que “os vários caminhos que nos apresenta são, cada um
à sua maneira, belos e grandiosos”. “A família, comunidade de amor, à imagem do
amor de Deus, deve dar testemunho da beleza da sua vocação; os padres, cuidadores
da beleza moral e espiritual do povo, devem dar testemunho da alegria da doação
aos outros e a Deus; os consagrados, religiosos e leigos, nas missões, na acção sóciocaritativa, ou nos conventos de contemplação, devem dar testemunho da beleza da
sua entrega aos irmãos e dessa descoberta de Deus como centro da sua vida. É esta
diversidade de vocações que faz da Igreja de Jesus Cristo um jardim belo e variado”,
afirmou D. António. E lembrou que “nos nossos dias, lançam-se suspeitas sobre cada
uma delas, pois muitos dizem não acreditar que é possível um amor fiel e duradouro
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Notícias
nas famílias, e não conseguem ver na missão do padre ou do consagrado uma resposta alegre e disponível à vontade de Deus”. Por isso, “é preciso estarmos atentos
aos sinais que Ele nos vai dando para alimentar a semente que lançou nos nossos
corações, pois Ele serve-Se de mediações humanas que fazem com que cada um seja
responsável pela própria vocação e pelas vocações dos que o rodeiam. Foi esse o
exemplo de Agostinho de Hipona, que, dos caminhos de pecado da juventude, pela
inquietação e pela busca permanentes, encontrou a luz de Cristo e se transformou
num dos grandes Santos da Igreja”.
O último apelo do Pastor foi para os jovens: “Não tenhais medo! Dai um projecto
belo e grandioso à vossa vida! Dizei sim generosamente! Não fiqueis na vulgaridade
e na mediocridade! Não sejais vencidos da vida!”
Como exemplo concreto dessa beleza de todas as vocações, um jovem seminarista, o Tiago, natural de Aljubarrota, falou do processo de aproximação à vida sacerdotal, “uma história simples e sem grande protagonismo, mas muito importante,
porque é a minha e cabe-me a mim construí-la. Não tenho certezas absolutas, mas
em cada dia procuro ver nos sinais que Deus me oferece, qual o caminho a seguir.
Neste momento, no seminário, a caminho do sacerdócio, sinto que é por aqui que
devo ir, e sou feliz ao dizer sim”.
Também um jovem casal, Manuela e Malé, com os seus dois filhos, Daniela e
Guilherme, testemunhou a vivência do amor em família, como caminho de permanente descoberta da vontade de Deus. “Descobrimos juntos o amor que nos une e
que quisemos fazer frutificar. Sentimos que Deus nos chamou a constituir uma família e todos os dias, com os nossos filhos, construímos mais um pouco o nosso lar,
numa resposta de fidelidade ao Seu projecto para nós”.
No final, passando o testemunho, a lamparina vocacional foi entregue a um numeroso grupo da vigararia dos Milagres, que terá a sua vigília no dia 19 de Janeiro.
Estão, ainda, agendadas as vigílias vicariais de Leiria, a 23 de Fevereiro, da Marinha Grande, a 3 de Março, de Porto de Mós, a 27 de Abril, das Colmeias, a 18 de
Maio, e de Fátima, a 15 de Junho.
Bispos do centro debatem futuro das paróquias
Os bispos das 6 dioceses do centro – Aveiro, Coimbra, Guarda, Leiria-Fátima,
Portalegre e Castelo Branco e Viseu – estiveram reunidos, no dia 6 de Novembro,
em Viseu, para reflectirem sobre “o essencial do múnus de pároco na situação actual”. “O acolhimento e a caminhada com as pessoas são dois pontos essenciais do
múnus do padre”, concluíram os bispos, num debate que derivou também para “as
circunstâncias em que vive o pároco e as opções diversas que se põem à missão do
pároco” e para a análise de possibilidades como a vivência em equipa, a actividade
«in solidum» (dois ou mais padres paroquiarem várias comunidades) e as unidades
pastorais. Estas temáticas serão objecto de aprofundamento nas próximas reuniões.
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Notícias
CAES promoveu “Bênção do Caloiro”
Como é hábito de anos passados, realizou-se, no passado dia 7 de Novembro, em
Leiria, a “Bênção dos Caloiros”. A iniciativa do Centro de Apoio aos Estudantes do
Ensino Superior (CÃES), que visa reunir na Sé os “caloiros” da cidade, foi muito
participada, tornando o espaço da Sé demasiado pequeno para o evento, e pautou-se
por uma franca e exemplar cooperação entre os vários movimentos e associações de
estudantes. Na celebração, o assistente do CAES, padre Gonçalo Diniz, interpelou
os estudantes e lançou-lhes o repto de serem no meio estudantil e na cidade “um
exemplo claro de vida de acordo com os valores do Evangelho”.
Jornadas Vicariais de Leiria
Decorreram de 20 a 25 de Novembro as jornadas promovidas pela vigararia de
Leiria, este ano com o tema geral “Viver para quê?”, na linha da descoberta e da
reflexão vocacional. A conferência de segunda-feira, proferida por Freitas Gomes,
contou com 140 participantes e constituiu um forte desafio, com a denúncia de
algumas situações de desumanização. Na terça-feira, o colóquio “caminhos vocacionais e encaminhamento profissional” teve 54 participantes e trouxe à discussão a
descoberta vocacional e os obstáculos naturais e artificiais que a dificultam. Na perspectiva da psicologia e da religião, a vocação foi entendida como uma descoberta
de caminhos, mais do que uma realização profissional. Na quinta-feira, a peça “Motores de Madeira” levou ao teatro Miguel Franco uma plateia que encheu o espaço,
e proporcionou uma reflexão sobre o papel dos pais e da família no desabrochar
vocacional dos mais novos. Na sexta-feira, a segunda conferência, proferida por D.
Augusto César, com 64 participantes, pautou-se por uma centralidade da vida e da
vocação na pessoa e na mensagem de Jesus Cristo. Na manhã de sábado, cerca de 60
jovens aderiram ao percurso pedestre que decorreu na Mata dos Marrazes e, à tarde,
meia centena voltou a reunir-se para uma breve celebração de encerramento, em que
a oração e o convívio marcaram o fim das jornadas.
Conclusões
1. Toda a vida é vocação, dom de Deus concedido a cada um para que cada um
o acolha e desenvolva. Sendo dom é também tarefa. Importa, pois, que cada um
se conheça a si próprio, na sua personalidade, afectividade, sexualidade, aptidões,
como pessoa chamada à vida e ao amor, para estabelecer relações fundadas no amor
e assim gerar vida, nas suas múltiplas dimensões. Dar a vida, segundo as circunstâncias de cada um, não é mais do que manter a dinâmica do dom como resposta ao
chamamento.
2. A animação vocacional nesta perspectiva antropológica e cristã encontra hoje
inúmeras dificuldades: a complexidade da cultura urbana, onde prevalece o gueto,
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Notícias
a massificação, a falta de referência e de pertença com a consequente diluição do
sentido comunitário e de paróquia; a incapacidade de fazer uma leitura interpretativa
da realidade envolvente; o materialismo da vida, a avidez do lucro, a exploração
laboral, os despedimentos e o desemprego; a crise da ética e da dignidade da pessoa,
que cederam lugar ao imediatismo e ao hedonismo; a vida sexual sem compromisso
antes do casamento, adiando o casamento ou união estável para mais tarde; o decréscimo da natalidade e o aumento de divórcios; a religião “invisível” e intimista, a par
da proliferação de novas seitas e o consequente trânsito religioso;
3. No desenvolvimento da sua acção pastoral, a Igreja prestará um excelente
serviço à sociedade se fizer a denúncia vigorosa desta situação grave de amoralidade
da sociedade portuguesa: uma amoralidade que se estende às relações institucionais,
ao ensino, à economia e a todos os sectores da sociedade. Os cristãos prestam um
bom serviço à vocação cristã se denunciarem tais atropelos à dignidade humana. Por
outro lado, não pode a Igreja deixar de apresentar as suas propostas sobre o sentido
da vida, a vocação e missão de cada um, devendo, entretanto, fazê-lo pela positiva,
de modo renovado e convicto.
4. A vocação e a opção profissional são assuntos que não interessam muito aos
adolescentes e jovens; só mais tarde colocam a questão a si próprios. As razões são
múltiplas: algum vazio de ideais (muitas vezes nem sequer têm a noção do que é um
ideal ou um valor; o que conta é o imediato, o descartável, o consumível); falta de
maturidade psicológica; forma aligeirada de tratar a questão na Escola; demissão
dos pais que, muitas vezes, não funcionam como tal, mas apenas como “amigos”, ao
mesmo nível, quando os jovens necessitam de alguém adulto (pai, professor, padre,
catequista) que seja referência, que dite regras, que promova disciplina; ao nível da
fé, o verniz de cristianismo nas pessoas e nas comunidades cristãs é também um
forte entrave à vocação e discernimento vocacional.
5. Para contrariar esta tendência de desinteresse e alheamento dos jovens, devem
as instituições com tarefas e responsabilidades educativas (Família, Escola, Igreja)
proporcionar-lhes a abertura aos ideais e valores, apresentar-lhes um leque variado
de alternativas de realização pessoal e facultar-lhes a possibilidade de participarem
em experiências fortes de vivência pessoal e comunitária. O modo de apresentar tais
propostas e caminhos vocacionais deve, entretanto, ser alegre, estimulante, festivo.
O contacto com pessoas que sejam modelos fortes de referência é também cada vez
mais imprescindível.
6. Há vocação e vocações: vocação à vida, vocação à fé, vocações específicas.
Porque Deus não é apenas Deus. É Deus connosco. Além de ser, chama e envia. A
história do homem é história de chamamento e envio. A família, a paróquia, a Igreja,
não são mais do que comunidades de chamados. A vocação é diálogo entre Deus
que chama e o homem que responde. A vocação transcende a dimensão humana. Na
sua origem está Alguém que nos transcende, Deus que nunca está a mais na vida do
homem.
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Notícias
7. No discernimento vocacional é fundamental entender e ajudar a entender os
apelos que vêm de Deus. A vocação, dom e projecto, chamamento e resposta, tem
necessidade de ser descoberta e de ser ajudada a crescer até à maturidade. É na família e na comunidade que deve acontecer a ressonância desse chamamento e eleição.
A vocação é para a edificação do Corpo de Cristo, do qual somos membros e pelo
qual somos todos responsáveis. A vocação não é uma profissão mas uma atitude.
Não é na facilidade mas na fidelidade que está o segredo da felicidade. A vida só tem
encanto como dom e serviço. A vocação deve mostrar-se alegre
Jornada Diocesana Pastoral Familiar
“Chamados ao matrimónio… chamados no matrimónio” foi o tema da Jornada
Diocesana da Pastoral Familiar, realizada no dia 26 de Novembro, no Seminário
Diocesano, destinada aos casais da diocese, sobretudo aos que pertencem às equipas
paroquiais ou integram movimentos familiares.
Foi uma proposta feita aos casais, no sentido de “maior descoberta e aprofundamento da sua condição específica”, na linha do projecto diocesano para o presente
ano, ajudando a descobrir “como Deus inscreveu na família a vocação ao amor e à
comunhão, e a instituiu como comunidade fundamental à vida e realização de todo
o ser humano”. Partindo de referências bíblicas, o conferencista, padre Duarte da
Cunha, falou do matrimónio como vocação relacional e a “complementaridade entre
homem e mulher”.
“Não há apenas um chamamento matrimonial, mas este chamamento continua no
matrimónio”, disse o padre Luís Inácio João, director do Secretariado Diocesano da
Pastoral Familiar, organizador do encontro. Ao longo deste sacramento, é “fundamental perceber que o exercício do mesmo, tanto ao nível conjugal como ao nível familiar,
implica que os matrimoniados se sintam permanentemente em chamamento”.
Marcelo Cavalcante instituído acólito
No dia 26 de Novembro, na eucaristia dominical da paróquia de Albergaria dos
Doze, o seminarista Marcelo Cavalcante de Moraes recebeu o ministério de Acólito,
uma das etapas na caminhada para o sacerdócio. Presidiu a esta celebração o Bispo
de Leiria-Fátima, D. António Marto, e concelebraram os padres Filipe Lopes, pároco
local, Manuel Ferreira, residente na paróquia, e Carlos Cabecinhas, em representação do Seminário Diocesano de Leiria. Este domingo, que encerrou o ano litúrgico
e em que a Igreja celebrou a solenidade de Cristo Rei do Universo, foi festivamente
celebrado pelos paroquianos de Albergaria dos Doze e pelos membros da Comunidade Luz e Vida, à qual pertence o novo acólito.
Durante a homilia, D. António Marto convidou a assembleia a reflectir sobre a
importância da realeza de Cristo na vida dos cristãos e de que forma cada um pode
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Notícias
contribuir para que o Reino de Deus floresça na sua vida quotidiana. “A realeza de
Cristo é a realeza do amor, que se revela na sua plenitude, a partir da morte na cruz
e da Sua ressurreição. Só a revolução do amor é capaz de transformar os corações,
pois Deus torna o homem grande porque lhe dá dignidade”. Ao seminarista Marcelo
o Bispo pediu que desempenhasse “com alegria, coragem e entusiasmo este ministério”, enquanto lhe entregava o vaso com o pão, após a instituição.
Grupo Vocacional Santo Agostinho
O Grupo Vocacional S. Agostinho foi apresentado oficialmente, em Dezembro
passado, como proposta e convite aos jovens cristãos para, durante seis meses, fazerem uma caminhada séria de discernimento vocacional, acompanhados por uma
equipa nomeada para o efeito. Este grupo oferece uma experiência de reflexão sobre
o projecto de vida no âmbito das várias vocações (matrimonial, sacerdotal, religiosa
e laical), e serviços (voluntariado, evangelização, tarefas na comunidade cristã), procurando descobrir o que Deus quer de cada um. O final do percurso comporta uma
decisão, ou vocacional ou de compromisso com a comunidade. Nele podem inscrever-se rapazes e raparigas, dos 17 aos 25 anos, crismados e abertos ao chamamento
de Deus. A inscrição é feita junto do Bispo diocesano.
Encontro das comunidades neocatecumenais
“É preciso cristianizar o sofrimento”, foi a conclusão do Convívio de Transmissão, que debateu temas como a doença, a velhice e a morte, e que reuniu as nove
comunidades neocatecumenais da diocese de Leiria-Fátima. Encarar estas realidades
naturais com esperança e optimismo foi a direcção indicada no encontro, realizado
de 1 a 3 de Dezembro, em Fátima, e que contou com mais de uma centena de catecúmenos.
“Uma paróquia que não se disponha a cuidar dos seus doentes, não é paróquia
cristã”, afirmou o assistente diocesano do carisma, Pe. António Gameiro, numa das
suas intervenções. Na abordagem aos restantes temas, muito relacionados entre si, o
presbítero optou por recordar as palavras de Bento XVI, no Encontro Mundial das
Famílias, em Julho passado, em Valência: “Deus queira que, por nenhuma razão,
sejam (idosos) excluídos do círculo familiar. São um tesouro que não podemos
arrebatar às novas gerações, sobretudo quando dão testemunho da fé diante da proximidade da morte.”
Numa sociedade que procura afastar a realidade do sofrimento a qualquer custo
– cemitérios longe das localidades, despenalização do aborto, envio dos idosos para
os lares – o encontro serviu, essencialmente, para consciencializar os crentes de que
a “doença, velhice e morte são realidades através das quais Deus quer manifestar o
seu amor e falar ao mundo de que, com Ele, tudo é possível, cabendo aos cristãos,
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Notícias
fazer a diferença na vivência de tais realidades”, referiu o Pe. António Gameiro.
No Convívio de Transmissão, assim designado pelas comunidades neocatecumenais, estiveram presentes as comunidades das paroquias dos Marrazes (3), Maceira
(1), Santa Catarina da Serra (1), São Mamede (2) e Bajouca (1).
Assembleia Diocesana da Sociedade de S. Vicente de Paulo
Em Portugal, as dificuldades económicas e os problemas sociais não param de
aumentar. As Conferências da Sociedade de São Vicente de Paulo assistem 27.961
famílias, auxiliam de forma regular 55.000 indivíduos e 768 utentes. Foi este o cenário traçado no passado dia 5 de Dezembro, no salão paroquial das Colmeias, na
Assembleia Diocesana da Sociedade de São Vicente de Paulo. Nas 75 paróquias da
diocese de Leiria-Fátima existem 28 conferências e cerca de 485 vicentinos, muitos
deles jovens, um número expressivo e que, felizmente, não pára de aumentar. Este
encontro serviu, sobretudo, para que esses “obreiros” das várias conferências paroquiais da Diocese se pudessem encontrar, efectuassem um balanço das suas actividades, partilhassem experiências e lançassem ideias ou projectos para o futuro.
A iniciar a sessão, o Bispo diocesano referiu o “papel missionário dos vicentinos
em todas as suas obras”, destacando a beleza da vida na ajuda ao próximo. No final,
D. António Marto deixou aos presentes uma pagela com uma oração vocacional de
sua autoria.
Inês Lourenço, presidente do Conselho Central da Sociedade de São Vicente
de Paulo, fez uma intervenção em que destacou a actividade de 2005, a coragem e
“atrevimento” dos vicentinos. Também o padre Manuel Pina, assistente espiritual do
Conselho Central de Leiria, fez uma reflexão sobre o tema “Não fostes vós que Me
escolhestes – a Vocação”. “A missão, aliada à importância de a cumprir com a transmissão da fé, é um dos caminhos importantes de todos os vicentinos”, referiu.
Cáritas entrega mais três casas
No final de 2006, a Cáritas e a Câmara de Ourém entregaram mais três habitações a famílias que ficaram sem casa, na sequência dos incêndios do verão de 2005.
As novas habitações, duas na freguesia da Urqueira e uma na Freixianda, fazem
parte de um conjunto de oito que a parceria Cáritas e Câmara entenderam como prioritárias no concelho de Ourém. No seu conjunto, importaram em cerca de 615 mil
euros e foram erguidas graças à ajuda da população portuguesa que contribuiu para
as campanhas de recolha de fundos promovidas pela Cáritas e ao apoio da Câmara
Municipal de Ourém na elaboração dos projectos e nos procedimentos de natureza
técnica.
Terminado este processo no concelho de Ourém, e concluída, há meses, a intervenção no concelho de Pombal, com a construção de 5 habitações, apenas se aguarda
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Notícias
agora a conclusão de uma outra no concelho de Leiria.
Nesta ocasião, “a Cáritas associa-se à grande satisfação das famílias que vêem
serem-lhes devolvidas condições de habitação condignas, sublinha os esforços comuns desenvolvidos com as entidades parceiras, sobretudo Câmaras Municipais e
agradece a todas as pessoas e organizações, da sociedade civil e da Igreja, que tendo
aderido às propostas da Cáritas, construíram uma imensa cadeia de solidariedade
que reconstruiu a esperança e levou a ajuda necessária a dezenas de famílias por
todo o Portugal”.
A Cáritas Portuguesa adianta que vai gastar mais de 674 mil euros no apoio
às vítimas dos incêndios de 2005. A maior parte dessa verba tem sido aplicada na
construção e reconstrução de 27 casas, total ou parcialmente destruídas pelo fogo, no
passado verão, nas dioceses de Coimbra, Guarda, Leiria-Fátima e Vila Real.
Milhões de estrelas em noite de Natal
Sensibilizar todos os níveis da sociedade para os valores da solidariedade e da
paz é o objectivo da iniciativa “10 Milhões de Estrelas – Um Gesto pela Paz”, que a
Cáritas leva aos portugueses desde há quatro anos, por altura do Natal. “As tensões,
guerras e graves conflitos em diversos pontos do mundo, a par da apreensão generalizada perante novas ameaças, conferem actualidade plena a esta como a todas as
iniciativas de exposição pública da causa da paz. Promover uma cultura que afirme
o diálogo e a compreensão, como caminho único para a superação de conflitos constitui, assim, um imperativo cívico mobilizador dos diferentes níveis da sociedade,
para o exercício activo e persistente da pedagogia da paz, como condição decisiva
para o desenvolvimento dos povos”, afirma Ambrósio Santos, presidente da Caritas
Diocesana.
A campanha concretiza-se num gesto de cariz familiar, na noite de Natal, em que
todos são convidados a fazer brilhar nas janelas e varandas das suas casas as velas
que a Cáritas concebeu, como símbolos, para esta realização. “A exposição pública
da causa da paz constitui penetrante inquietação que atravessa todos natais, pelo
que esta iniciativa ocorre também nesta quadra, por ser a época em que emerge com
maior intensidade a aspiração universal da justiça e da solidariedade entre todos os
povos do mundo que, para grande parte da humanidade, têm como referência mais
sublime o Natal de Jesus Cristo”, refere aquele responsável.
A operação “Dez Milhões de Estrelas” tem associada a dimensão solidária, num
convite à descentralização de cada um, para favorecer a abertura às necessidades de
outros. O resultado da venda das velas reverteu, este ano, para o apoio a iniciativas
em favor das pessoas idosas de Fortaleza (Brasil) e para a acção local de cada Caritas
no nosso país.
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Serviços e movimentos
Serviços e Movimentos
Entrevista ao padre José Henrique, director do SDECIA
A vocação do catequista
Entrevista de Rui Ribeiro
Na manhã de 1 de
Outubro, decorreu no
colégio da Cruz da Areia
o Encontro Diocesano de
Catequistas, subordinado
ao tema “A Vocação do
Catequista”. A propósito
desta assembleia, entrevistámos o padre José
Henrique, director do
Secretariado Diocesano
da Educação Cristã da
Infância e Adolescência
(SDECIA).
Prestes a iniciar um novo ano catequético, quais os objectivos do secretariado
diocesano?
Este é o meu primeiro ano como director do Secretariado Diocesano da Educação Cristã da Infância e Adolescência (SDECIA). Acabado de chegar, é difícil poder
ter já a percepção, quer do sentir da Diocese, quer da equipa que constitui o secretariado. Por isso, para além dos objectivos habituais, que se centram na proposta formativa aos catequistas, na Escola Diocesana de Catequistas, dando continuidade ao
trabalho até aqui realizado, o meu objectivo pessoal passa, por um lado, por procurar
perceber o estado da catequese na Diocese, por outro, por pensar a reestruturação
do próprio secretariado. Não venho com “soluções prontas”, mas com a vontade de
procurar partir da realidade actual, do viver, do querer e do sentir da própria Diocese, para “ensaiar” propostas que possam ajudar a dar resposta à missão que a Igreja
Diocesana tem, de continuar a anunciar e a aprofundar o conhecimento, a vivência,
a partilha e a celebração da fé.
Quais as actividades que destaca no actual programa do SDECIA?
As propostas formativas para os catequistas.
A catequese é sobretudo o espaço de uma personalização da resposta de fé, de
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Serviços e Movimentos
um aprofundamento orgânico e sistemático dos conteúdos da fé, das suas implicações na vida, da sua vivência e celebração na comunidade… Por isso, mais que uma
“transmissão”, deve ser um espaço de crescimento, de acompanhamento pessoal, de
pessoas que já fizeram um percurso pessoal e estão dispostas a acompanhar outros
nesse seu caminho de maturação da própria fé.
É por isso que se torna essencial a formação dos catequistas. Para que possam ter
um espaço de crescimento da própria fé, para além de poderem ter contacto com outras dimensões que são essenciais quando se trata de ser testemunha, comunicador,
mestre… nesta realidade concreta, e nos grupos concretos que lhe serão confiados.
Não é apenas o saber fazer catequese, com todas as técnicas e estratégias pedagógicas, nem apenas o ter todos os conhecimentos teológicos para saber transmitir. Mas
saber integrar o seu ser, com o seu saber e o saber fazer. O catequista, em si mesmo,
é o mais importante elemento de metodologia.
Este ano, na Escola de Catequistas, vai continuar a formação com 3 cursos: iniciação, médio e geral (pedagogia).
A catequese da infância e adolescência é um dos principais campos de evangelização nos nossos dias. Parece-lhe que está bem aproveitado?
A catequese da infância e adolescência é um dos campos em que se estão a
“gastar” mais energias nas nossas comunidades. E, por vezes, parece ser a única
proposta formativa em algumas paróquias. Talvez seja o momento de tomar a sério
a necessidade de fazer da catequese, não apenas, nem essencialmente, uma “coisa
de crianças”, para a tornar, como espaço de personalização e aprofundamento da fé,
uma realidade adulta. Uma catequese adulta, para uma fé adulta.
O que não quer dizer que a catequese de infância e adolescência não seja um
campo de acção importante. Exige, isso sim, que as comunidades sintam esse espaço como um lugar de iniciação dos mais novos que dão os primeiros passos numa
resposta de fé à sua medida. E que aqueles que se inserem nos grupos possam ter aí
um lugar de crescimento pessoal no encontro com pessoas mais maturas que estão
dispostas a partilhar o seu próprio caminhar. Por isso, é um campo de acção que
continua a ser sempre um desafio importante para as comunidades.
Naturalmente que, vendo o percurso actual e percebendo que muitas vezes o
Crisma, que é o sacramento da entrada plena na vida da comunidade, depois de
10 anos de catequese, se torna “sacramento do adeus”, do fim, e não do princípio
de uma vida que aí completa a sua iniciação, nos podemos interrogar sobre esta
configuração actual da catequese. Sem atirarmos simplesmente com as culpas para
a sociedade, para os pais, para as transformações culturais… procurar perceber as
potencialidades deste modelo e como precisamos de estar, como comunidade cristã,
para que as crianças e adolescentes sintam o espaço da catequese como significativo, pela possibilidades que lhes oferece de se inserirem numa vida que é fonte de
esperança e de alegria.
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Serviços e Movimentos
Que iniciativas, propostas e modelos seria bom experimentar, para alcançarmos de forma mais eficaz os destinatários, hoje tão solicitados?
Há muito que os documentos oficiais da Igreja falam da necessidade de pensar
a catequese num leque mais alargado de destinatários, desde os adultos às crianças,
com uma diversidade metodológica que seja fiel a Deus e aos homens concretos,
capaz de ajudar a estabelecer pontes de diálogo entre a fé e a cultura, de levar a uma
verdadeira integração entre a fé e a vida. O campo é muito alargado, quando se fala
de iniciativas ou modelos. Muito se pode fazer, desde que a catequese não deixe de
ser o que é.
Pode pensar-se, por exemplo, em iniciativas de primeiro anúncio para crianças
em idade pré-escolar, nas chamadas “catequeses familiares”, onde a principal acção
catequética é em casa, tendo os pais um espaços de formação na paróquia. E diferentes estratégias para catequeses mais activas e envolventes com os adolescentes,
com lugares para “experimentarem” a fé, em tempos mais alargados, com espaços de
diálogo e partilha, com acção concreta na participação de actividades na comunidade
e na celebração da fé.
Mas penso que seria importante que se apostasse sobretudo em modelos de catequese com adultos e de formação das comunidades. Iniciativas de formação bíblica
ou litúrgica, de reflexão sobre os conteúdos da fé, espaços de oração com a Palavra
de Deus… Os modelos podem ser os mais variados, à medida das próprias comunidades, sempre com o objectivo de dar espaço de crescimento para a maturação da fé,
para adultos com uma fé adulta.
Quando uma pessoa, qualquer que seja a sua idade, percebe a importância de um
espaço que se torna significativo para a sua vida, pode optar por ele.
Nos estudos que fez nesta área, encontrou novidades ou caminhos que ainda
falta percorrer entre nós? Pode dar exemplos?
Há algumas novidades a nível metodológico, que se vão experimentando aqui
e ali, também já pelo nosso país. Vão surgindo propostas na área da catequese de
adultos, vai começando a ver-se paróquias que apostam numa dinâmica nova com
os adolescentes e que os vão envolvendo mais na vida da comunidade, surgem já algumas propostas para a catequese familiar, ou para a catequese na idade pré-escolar,
assim como para o acompanhamento de pessoas portadoras de deficiência, além de
catecumenatos de adultos e jovens, ou de crianças em idade de catequese que pedem
o baptismo. São muito diversas as circunstâncias e, para além do percurso “normal”,
é preciso pensar novas propostas, alternativas para quem quer fazer o seu caminho
de crescimento na fé.
Em diferentes contextos culturais, vão surgindo diferentes propostas na área da
catequese. É importante conhecê-las e aprender com aquilo que se vai fazendo por
outros lados. Mas penso que é sobretudo importante saber ler a realidade actual no
nosso contexto e ousar dar os passos necessários.
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Serviços e Movimentos
Como pensa que será possível concretizar o tema da diocese para o presente
ano, no âmbito das catequeses paroquiais?
Perceber que a vida se vive na resposta ao amor de Deus, que não vivemos por
viver, mas com um projecto que se constrói na relação com Alguém que, antes de
tudo, nos cria e nos quer, nos sonha e nos ama, é algo de essencial na compreensão,
na vivência e na celebração da nossa fé. A descoberta e a vivência da vocação e das
opções específicas de cada vocação são, no fundo, o objectivo da catequese: levar
cada um a perceber-se a si mesmo numa relação pessoal, profunda e madura com
Deus, em Igreja. A catequese não pode deixar de ser sempre vocacional, porque é
anúncio de Alguém, de Jesus Cristo, que desafia sempre a vida de quem se encontra
com Ele.
Em cada encontro, é possível perceber esta dimensão vocacional. Mas há sempre
alguns temas, em cada um dos anos de catequese, que se podem tornar mais específicos. Além disso, há o espaço da criatividade dos catequistas. E também procuraremos ajudar a elaborar algumas “campanhas” para os momentos mais fortes do ano
litúrgico, como o Advento e Natal, a Quaresma e Páscoa, com propostas que ajudem
a fazer este caminho com os grupos.
Como vê ou imagina a formação ideal para os catequistas?
Uma formação que seja capaz de operar uma transformação para que a sua presença, o seu testemunho, a sua palavra, o seu modo de comunicar e de entrar em relação com os catequizandos os ajude a fazer um percurso de fé que ele está disposto
a acompanhar.
Por isso, será uma formação que, adaptada a cada catequista, para a diversidade
de catequeses que hoje são necessárias na Igreja, possa ajudar a adquirir competência na área da relação, da comunicação, do conhecimento dos conteúdos bíblicos e
teológicos, da leitura da realidade actual e das pessoas concretas que tem à sua frente, da pedagogia. No fundo, uma formação que englobe as capacidades humanas,
cristãs e pedagógicas, nas dimensões do ser, saber e saber fazer, para que possam
coordenar o grupo com que vão trabalhar.
Na prática, pode pensar-se como uma formação muito personalizada e acompanhada, feita em sistema de “laboratórios” formativos, onde as próprias pessoas possam fazer o seu caminho de formação, com espaço de diálogo e partilha, estimulando a auto-formação, e com desenvolvimentos teóricos nas diversas áreas humanas,
teológicas e pedagógicas que estão implicadas na catequese.
Fala-se há muito tempo dos novos catecismos, que parecem ser uma urgência.
Pode adiantar alguma coisa sobre o estado actual da sua elaboração?
A revisão do percurso completo está a ser pedida já há bastante tempo e as últimas informações que tenho do Secretariado Nacional falam da prioridade com que
esse projecto está a ser encarado. A nível de tempos, esperamos que sejam os mais
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Serviços e Movimentos
curtos possíveis, mas com o tempo suficiente para garantir qualidade no trabalho de
inculturação da mensagem no contexto social, cultural e eclesial actual.
Actualmente, está já disponível a última fase: o 9º ano já está publicado e o 10º
ano está disponível em fase de experimentação e pode ser pedido ao SDECIA.
O que me parece também importante referir é que os catecismos não podem ser
encarados como a “desculpa” para todos os males da catequese actual. Eles são um
instrumento fundamental, mas não são eles que fazem a catequese.
Que palavra gostaria de fazer chegar aos catequistas, aos pais e aos catequizandos?
Sobretudo uma palavra de esperança. A catequese é o lugar para fundamentar a
esperança e a alegria do ser cristão. E é como tal que vale a pena continuar a contar
e recontar essa história do amor de Deus por nós, e de a tornar presente na história
actual da vida de cada um.
Os catequistas, os pais, e toda a comunidade cristã têm a missão de se tornarem
mensageiros dessa esperança e dessa alegria, de dizerem com a sua vida, com as sua
opções, com a sua presença, com a sua palavra, que vale a pena ser cristão! E por
isso se dispõem a acompanhar o crescimento cristão dos mais novos.
Aos catequizandos, diria que vale a pena correr o risco de conhecer Jesus Cristo
de perto…
SDECIA propõe reuniões para catequistas
Com base na Carta Pastoral do Bispo diocesano, o Secretariado Diocesano
da Catequese apresentou uma proposta de itinerário para os momentos de oração
das reuniões de catequistas, que deverão incluir cânticos, leitura bíblica e do
texto da Carta Pastoral (CP), e um momento de reflexão e partilha.
Os temas propostos para cada mês são:
1. Toda a vida é vocação. Gen 1, 26-31; CP nº 2.1
2. A vocação como diálogo. 1Sam 3,7-10; CP nº 2.2
3. A vocação como encontro com Cristo. Jo 1,35-39; CP nº 2.3
4. A vocação como vida bela em Cristo. Mat 17, 1-8; CP nº 2.4
5. A vocação como eleição de amor. Jo 15, 12-17; CP nº 2.5
6. Variedade de dons e chamamentos. 1Cor 12,12-19; CP nº 3.1
7. A comunidade cristã, casa e escola vocacional. Act 2,42-47; CP nº 4.1
8. Acompanhamento vocacional em cada idade. Mt 9,9-12; CP nº 4.2
9. Testemunho vocacional contagiante. Jo 1,38-42; CP nº 4.3
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Serviços e Movimentos
O Escutismo Católico Português
O CNE – Corpo Nacional de Escutas, Escutismo Católico Português, é um
Movimento que se apresenta com uma especificidade própria no contexto dos
movimentos eclesiais. Sendo um movimento da Igreja é inspirado no Escutismo
que, na sua forma original, e nascendo fora do âmbito eclesial, é pensado por
Baden-Powell como um espaço de formação das novas gerações para uma participação activa e responsável na sociedade.
Na sua origem está um método educativo que passa pela relação com a natureza, vida em pequenos grupos, relação personalizada entre o adulto e cada um dos
seus membros, aprender fazendo, proposta de um progresso individual, respeito
por uma Lei assumida sob Promessa, e toda uma dimensão simbólica e de estimulação da criatividade. No fundo, procura criar as condições necessárias para
a valorização pessoal. Tudo isto, fazendo da educação um jogo onde cada um é
envolvido na sua auto-formação, jogo que se concretiza em cada actividade, preparada, realizada e avaliada em conjunto, como o lugar próprio para desenvolver
novas capacidades e para crescer.
Estes elementos metodológicos são assumidos pelo CNE como um movimento educativo da Igreja Católica. Uma especificidade que dá ao CNE um horizonte
novo, já que insere as dimensões da fé em Jesus Cristo e da participação na vida
da comunidade cristã como elemento intrínseco à educação integral dos jovens.
Assim, a finalidade educativa ganha um rosto novo. Não se trata apenas de uma
formação para a cidadania, mas de uma educação integral, como pessoa, cidadão
e cristão, com o horizonte do Homem-Novo: Jesus Cristo.
Centenário de Espera
Em 2007 celebram-se os 100 anos do Escutismo. Um século depois daquele
primeiro acampamento da ilha de Brownsea, que dava início à grande aventura
do escutismo, a região de Leria adoptou, para os próximos três anos, o lema
«Agora nós!». Um lema que procura também envolver os escuteiros na dinâmica
diocesana, fazendo deste primeiro ano do triénio, comemorativo do centenário,
um tempo de redescoberta da identidade e da vocação de cada escuteiro: “olhamos para História que nos precede e percebemos nela as razões da Esperança.
Esperança de um mundo melhor que alimentou a vida de Baden-Powell e o seu
projecto. Esperança que animou a vida de tantos escuteiros que fizeram de todos
estes anos um centenário de Esperança. Esperança que incarna em nós, que é a
nossa identidade, como escuteiros, e escuteiros católicos: sabemo-nos inseridos
no grande projecto do Deus que nos chama”, refere o padre José Henrique Pedrosa, assistente do CNE de Leiria.
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Serviços e Movimentos
Entrevista a Margarida Marques,
chefe regional do CNE de Leiria
“O escutismo é lugar privilegiado
para descobrir a vocação”
Entrevista de Rui Ribeiro
Com o início do novo ano
pastoral, muitos são os grupos
e as instituições que iniciam
a sua actividade. Um desses
grupos é o escutismo. Movimentando milhares de adolescentes e jovens, os diversos
agrupamentos dão o pontapé
de saída para mais um ano que
se traduzirá numa caminhada
de crescimento humano e
cristão. Na nossa diocese os
agrupamentos estão agora
numa fase de planificação e
estruturação das suas actividades. Margarida Maria Oliveira Faria Marques é a chefe
regional do CNE de Leiria. Falámos com ela sobre o escutismo em geral e sobre as
especificidades de Leiria.
Podemos começar pelas origens do escutismo...
O fundador do escutismo é Robert Stephenson Smith Baden-Powell, que nasceu
em Londres a 22 de Fevereiro de 1857. Desde menino, Baden-Powell aprendeu através de caminhadas e excursões a cuidar de si. Embora órfão de pai, teve na mãe e
nos irmãos o apoio necessário para uma infância feliz.
Graças aos seus feitos na vida militar, Baden-Powell tornou-se um herói no
seu país. Durante uma viagem, viu alguns rapazes criarem brincadeiras através de
um livro por si escrito para os batedores do exército, com explicações sobre como
acampar e sobreviver em regiões selvagens. Então, conversando com os amigos,
entusiasmou-se e resolveu realizar, em 1907, na ilha de Brownsea, um acampamento
com vinte rapazes dos 12 aos 16 anos, onde transmitiu conhecimentos técnicos, tais
como: primeiros socorros, observação, técnicas de segurança na cidade e na floresta.
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Serviços e Movimentos
Devido aos bons resultados deste acampamento, Baden-Powell decidiu escrever o
“Escutismo para Rapazes”. Os jovens ingleses entusiasmaram-se tanto com o livro,
que Baden-Powell organizou e fundou o Movimento Escutista.
Como nasceu em Portugal?
O Escutismo português deu os primeiros passos no território de Macau, em 1911.
Os seus impulsionadores, regressados à metrópole, fundaram a “Associação dos Escoteiros de Portugal”, em 1913. Entre eles, contavam-se o Arcebispo D. Manuel
Vieira de Matos e o Dr. Avelino Gonçalves, que haviam assistido a um desfile de 20
mil escutas, em Roma, por ocasião de um Congresso Eucarístico Internacional.
O Corpo Nacional de Escutas, Escutismo Católico Português, veio a ser fundado
a 27 de Maio de 1923, na cidade de Braga, 10 anos depois da Associação dos Escoteiros de Portugal.
Onde está implantado, no País e na nossa diocese?
O CNE está organizado em 20 Regiões, coincidentes com as dioceses de Portugal, cada uma com vários agrupamentos, mais de mil em todo o País, coincidentes
com a organização paroquial.
Na nossa diocese existem cerca de 28 agrupamentos sedeados nas seguintes freguesias: Marinha Grande (36), Leiria (127), Batalha (194), Porto de Mós (370), Marrazes (737), Maceira (762), Cruz da Areia (776), Pousos (877), Albergaria dos Doze
(922), S,Tiago de Litém (923), Ourém (977), Pataias (989), Caranguejeira (1041),
Monte Redondo (1054), Vieira de Leiria (1076), Monte Real (1077), Caxarias
(1078), Souto da Carpalhosa (1112), Serro Ventoso (1113), Carvide (1136),Olival
(1142), Amor (1166), Arrabal (1167), Santo Agostinho (1198), Bidoeira (1209),Carnide (1210), Santa Catarina (1211), Bajouca (1226), Boavista (1227). Actualmente,
há alguns novos agrupamentos em formação: Barosa, Memória, Parceiros, Fátima,
Ribeira do Fárrio e Nossa Senhora das Misericórdias - Ourém.
A sede diocesana situa-se na rua Professor José António Saraiva – Cruz da Areia
– 2410-085 LEIRIA. Temos uma página na internet (http://leiria.cne-escutismo.pt),
o contacto telefónico é o 244815310 e o Fax é o 244802373.
Sabemos que o escutismo tem uma estruturação muito bem definida…
O Corpo Nacional de Escutas está organizado, pedagogicamente, em 4 secções,
associadas a faixas etárias, com nomenclaturas próprias. Dentro de cada secção, os
jovens organizam-se em pequenos grupos, e cada elemento tem uma função.
I Secção: os elementos são denominados Lobitos e dividem-se em Bandos de
5 a 7, que, em grupos de dois a cinco, formam Alcateias. Cada Bando designa-se
e distingue-se por uma das seguintes cores, escolhida pelos respectivos Lobitos e
que figura no distintivo pessoal e na bandeirola de Bando: branco, cinzento, preto,
castanho e ruivo.
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Serviços e Movimentos
II Secção: os seus elementos são Exploradores e formam Patrulhas de 4 a 8 elementos. Denomina-se Grupo Explorador a unidade formada pelo conjunto de duas
a cinco Patrulhas. Estas designam-se pelo nome de um animal – o Totem – cuja
silhueta figura na bandeirola da Patrulha e cujas cores identificam o distintivo dos
seus membros.
III Secção: os elementos são denominados Pioneiros e formam Equipas de 4 a 8
elementos. Denomina-se Grupo Pioneiro a unidade formada por duas a cinco Equipas de Pioneiros. Cada Equipa designa-se por um nome de animal - o Totem –, um
Santo da Igreja, um benemérito da humanidade ou um herói nacional, cuja silhueta
figura na bandeirola e no distintivo da Equipa.
IV Secção: os elementos são denominados Caminheiros e dividem-se em Equipas de 5 a 8 elementos. Cada grupo de duas a cinco Equipas denomina-se Clã, cabendo a cada uma delas escolher para Patrono um Santo da Igreja, um benemérito
da humanidade ou um herói nacional, cuja vida os Caminheiros devem conhecer e
tomar por modelo.
Qual o papel das chefias regionais?
O órgão executivo regional é a Junta Regional (JR), composta por um Chefe
Regional, um Chefe Regional Adjunto, e dois, quatro ou seis Secretários Regionais.
Além destes elementos, contamos sempre com um Assistente Regional.
Competem à Junta Regional, sob a coordenação do Chefe Regional, entre outras,
as seguintes tarefas: representar o CNE a nível regional e exercer competências por
delegação da Junta Central; promover a difusão e imagem pública do CNE na Região; velar pela boa aplicação do método escutista; apresentar Relatório e Contas
anuais ao Conselho Regional; implementar o plano de acção regional aprovado pelo
Conselho Regional; promover actividades regionais; nomear e exonerar os dirigentes e outros membros dos Departamentos e Serviços Regionais.
O escutismo professa algum credo religioso?
O CNE orienta a sua opção pelos valores espirituais específicos do Escutismo,
iluminados pela fé católica, expressos pela sua simbólica própria e transmitidos pela
sua metodologia, procurando a formação humana e cristã dos seus associados, em
comunhão eclesial.
A educação da fé deve ser procurada e operada intencionalmente, de modo sistemático e de acordo com a metodologia de cada Secção e nesta integrada, tendendo
a criar um espírito de vida cristã adulta, empenhada, responsável e participante;
baseia-se na formação bíblica, litúrgica e moral e na doutrina social da Igreja; e
orienta-se pelos documentos conciliares, pontifícios e da Conferência Episcopal
Portuguesa, nomeadamente sobre o apostolado dos leigos e sobre o escutismo. A
inserção comunitária deve manifestar-se, também, pela presença efectiva nos órgãos
eclesiais pastorais de participação.
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Serviços e Movimentos
Os tempos litúrgicos mais fortes e as principais solenidades do calendário litúrgico, universal ou particular, devem ser assinaladas pelo Agrupamento, quer por
uma formação adequada, quer pela participação activa e colaborante nas actividades
paroquiais ou diocesanas com eles relacionadas. Em qualquer actividade escutista,
mesmo no campo, devem ser sempre previstos tempos de oração comunitária e celebração eucarística, ou celebração dominical na ausência do Presbítero, que ajudem
a conferir um sentido cristão a todo o progresso e contribuam para a educação do
sentido de oração pessoal e comunitária.
Quais as grandes linhas de acção para este ano, em Leiria?
Estabelecemos um programa para três anos, que tem como tema “Agora nós”.
Para além das actividades habituais, teremos obviamente em atenção a Carta Pastoral
do nosso Bispo e o tema geral da Diocese para o presente ano pastoral. Também no
escutismo se fala e se descobre a vocação. Creio mesmo que é um lugar privilegiado
para essa descoberta, tendo em conta a pedagogia e as actividades que normalmente
fazem parte da vida de um agrupamento.
Finalmente, como se pode entrar no movimento?
Entrar para o CNE é fácil. Basta contactar um agrupamento e seguir as suas
directrizes. Logo que faça a sua promessa, o escuteiro necessita do uniforme, que
poderá adquirir em qualquer das lojas do armazém do CNE. O agrupamento local é
normalmente proprietário ou, pelo menos, tem acesso a um vasto leque de dispendiosos materiais de acampamento ou de aventura, tais como tendas, cordas, equipamento de cozinha e até canoas ou barcos. O custo destes equipamentos é normalmente
suportado através de patrocínios ou de campanhas de angariação de fundos.
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Serviços e Movimentos
Organismos que apoiam movimentos migratórios
Como Leiria acolhe os estrangeiros...
Por Joaquim Santos
Os portugueses têm, desde há muitos séculos, o hábito de partir para outros
destinos e aí se fixarem. Não é por mero acaso que somos considerados como os
Descobridores de outras terras e oceanos nunca visitados. Foi este recanto, na ponta da Europa, que abriu portas ao mundo... Cinco séculos após os descobrimentos
marítimos, somos um povo que continua a deslocar-se, embora no momento actual
registemos alguma mudança, acolhendo grande número de outros cidadãos que buscam em Portugal melhores condições de vida..
O Conselho de Ministros aprovou, em Agosto de 2006, uma proposta de Lei que
define o regime de entrada, permanência e saída de estrangeiros, e que promove novos canais de imigração. Efectivamente, a imigração é considerada um factor vital
para o País, no contexto económico, social e demográfico. Fenómeno incontornável,
carecia de mecanismos legais novos e mais adequados à realidade dos fluxos migratórios. A nova Lei veio modificar as regras da admissão e residência, bem como de
afastamento e expulsão de estrangeiros em território nacional.
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Serviços e Movimentos
Sem ignorar que muitos imigrantes são bem acolhidos e conseguem integrar-se
no meio social e laboral, quantos não há que se tornam vítimas de exploração de
trabalho e vivem em condições verdadeiramente desumanas. É esta a realidade de
um Portugal que mandou os seus filhos para todos os continentes.
Entrevista a Olga Ferreira, técnica da AMIGrante
“Vislumbra-se um regime legal mais humanista”
A AMIGrante – Associação de Apoio ao Cidadão
Migrante – é um dos organismos instalados em Leiria
para apoio e orientação a imigrantes, com protocolo estabelecido com a ACIME – Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas. A ligação estreita que mantém
com a diocese de Leiria-Fátima faz com que a sua acção
se desenvolva com mais sentido. Com sede no Centro
Associativo Municipal de Leiria, acolhe pessoas com
problemas, por vezes, bem complicados, e propõe ajuda
nas vertentes jurídica e social, na comunicação, através
de intérpretes e do ensino do Português, no apoio éticoreligioso e na assistência à família, traduzida na educação
e integração dos filhos, saúde e segurança social.
Na AMIGrante encontrámos Olga Dias, que nos falou da função deste organismo
e das suas realidades actuais. Tem 28 anos, é natural de Leiria e fez uma pós-gradação em “Direito da Inclusão”, na Universidade de Coimbra, com um trabalho final
intitulado “Reagrupamento Familiar – Algumas considerações sobre o Direito à
Família dos Estrangeiros”, valorado com “Bom com distinção”. É um dos rostos da
associação e apresenta-nos os seus pontos de vista sobre esta instituição.
Que é a AMIGrante?
A AMIGrante é uma associação sem fins lucrativos para apoio aos cidadãos migrantes. Aquando da sua criação, assumiu estes objectivos:
- Combater a xenofobia e todas as formas de discriminação, por razões de nacionalidade, origem étnica, cor ou religião.
- Fomentar a integração social e o combater a exclusão de migrantes, refugiados
e minorias étnicas, promovendo a sua dignificação e igualdade de oportunidades,
direitos ou obrigações.
- Contribuir para a formação de uma opinião pública positiva face ao fenómeno
da imigração.
- Apoiar e favorecer o espírito religioso, independentemente de cada credo.
250 | LEIRIA-FÁTIMA • 42 |
Serviços e Movimentos
Quantas pessoas atendem por dia?
Temos uma média de 12 atendimentos por dia.
A AMIGrante foi fundada em ligação estreita com a diocese de Leiria-Fátima.
Até que ponto os valores da Igreja estão presentes e são instrumento de acção?
A AMIGrante foi formalmente constituída em Julho de 2003, a partir da acção
que já começara a ser desenvolvida desde o ano 2000 por vários movimentos Católicos – Secretariado Diocesano para as Migrações, Movimento de Educadores
Católicos, Acção Católica Independente e Caritas Diocesana de Leiria. Foram estes
(mormente o MEC) que estiveram na origem da actividade da associação. Posteriormente, a Câmara Municipal de Leiria reconheceu o trabalho realizado e decidiu
associar-se. Com este historial, e porque a acção da associação é assegurada por
voluntários daqueles movimentos, os valores da Igreja estão sempre presentes.
Em que consiste o protocolo assinado recentemente com a ACIME?
O protocolo traduz-se, sobretudo, num apoio económico que permite que a
Associação, para além dos voluntários, possa ter uma pessoa em atendimento permanente.
Existem imigrantes que chegam sem nada, explorados pelas entidades patronais e máfias. Como é que a AMIGrante actua nestes casos?
Nos casos de exploração por máfias, qualquer tipo de estratégia revela-se muito
custosa. A única possibilidade de apoio é dar informações pertinentes – entidades
oficiais, nomeadamente a Polícia, que poderão debelar a situação – e prestar apoio
moral.
Quanto à exploração laboral, às vezes temos sucesso nos contactos junto de
alguns empregadores. Todavia, os casos mais preocupantes são os de grandes empresas que, não cumprindo regimes legais, não se intimidam nem com contactos dos
organismos públicos, como a Inspecção Geral do Trabalho.
No seu entender, a nova proposta de Lei de Imigração, aprovada em Agosto em
Conselho de Ministros, facilitará a vida a quem deseja permanecer legal em
Portugal?
As alterações propostas no âmbito da admissão e residência de estrangeiros em
território nacional, pelo facto de serem clarificadoras e favorecerem situações de
reagrupamento familiar, permitirão repor justiça nalgumas situações que se arrastavam por não terem uma solução legal no regime actualmente em vigor. O papel
administrativo que a nova Lei pretende atribuir às autarquias poderá também ser
muito válido, na perspectiva da inclusão social e integração de proximidade local.
Vislumbra-se, assim, um regime legal de carácter mais humano, equilibrado e sensato, face à realidade da sociedade portuguesa.
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Serviços e Movimentos
Propostas de formação no CFC
No início do ano pastoral, o Centro de Formação e Cultura apresentou uma série
de propostas para aprofundar e obter formação teológica. Assim, a oferta a nível
diocesano, neste primeiro semestre, é a seguinte:
1. O curso “Pensar a Fé” tem como objectivo “iniciar na reflexão teológica os
que desejam aventurar-se na compreensão da revelação de Deus em Jesus Cristo”.
Neste âmbito, são propostos dois cursos:
- “Concepção Cristã da Fé” é o curso que se realiza no centro paroquial da
Marinha Grande, ministrado pelo padre Armindo Janeiro, reitor do Seminário
Diocesano de Leiria. Pretende-se “olhar para o depósito da fé apostólica como
depósito de vida, capaz de promover a comunhão de vida com Deus, hoje”.
- “A Igreja na história” é outra opção, a realizar no Centro Paroquial de Ourém,
sob a orientação do padre Luciano Cristino, director do SESDI do Santuário de
Fátima. É “uma síntese história dos dois milénios da era cristã: desde a vida das
primeiras comunidades até aos grandes desafios do nosso tempo”.
2. No Curso Geral de Teologia, a decorrer no Seminário Diocesano de Leiria, serão leccionadas duas disciplinas: “Sacramentologia”, pelo padre Carlos Cabecinhas,
e “As religiões no mundo”, pelo vigário-geral, padre Jorge Guarda.
3. No âmbito da “Formação Teológica Complementar”, são também duas as
propostas temáticas.
Em relação ao ano passado, duplicou o número de inscritos nos diversos cursos
promovidos pelo Centro de Formação e Cultura neste ano pastoral, com cerca de 90
inscrições nas actividades que se realizam em Leiria.
Uma das disciplinas com mais participantes, cerca de três dezenas, é “Relação de
ajuda em cuidados de saúde”, orientado pelo padre Adelino Guarda. Cerca de metade dos formandos colabora em actividades ou movimentos eclesiais e mais de uma
dúzia provém de profissões ligadas aos cuidados de saúde: enfermeiros, médicos e
técnicos.
Também na formação teológica houve um aumento de participantes. O curso
sobre “As religiões do mundo”, orientado pelo padre Jorge Guarda, é frequentado
por 22 pessoas, interessadas em conhecer o conspecto religioso do mundo actual,
cujas influências se fazem sentir também na nossa sociedade. Na nova disciplina de
“Sacramentologia”, que aprofunda a liturgia e teologia das celebrações da Igreja,
leccionada pelo padre Carlos Cabecinhas, inscreveram-se 25 alunos.
O calendário deste semestre conta com mais uma disciplina de formação teológica sobre a “Vida e obra de São Paulo”, orientada pelo padre Gonçalo Diniz, com
15 participantes.
252 | LEIRIA-FÁTIMA • 42 |
Serviços e Movimentos
Comissão Diocesana Justiça e Paz
A Comissão Diocesana Justiça e Paz, criada em Janeiro de 2002, tem procurado
estar atenta aos problemas relacionados com a promoção dos grandes objectivos que
constam da sua denominação, sem esquecer outra problemática que tem a ver com a
justiça e a paz em comunidades mais alargadas nas quais se inclui a nossa Diocese.
Na actividade da Comissão, que se têm realizado através de colóquios e conferência
públicas e, também, em realizações de âmbito mais restrito, tomadas de posição e
comunicados, tem estado sempre presente a defesa dos Direitos Fundamentais da
Pessoa Humana, à luz do Evangelho e da Doutrina Social da Igreja.
É agora oportuno divulgar as principais realizações que tem em vista para
2006/07, sempre no mesmo espírito e com total abertura relativamente aos temas
que irão ser apresentados a todos quantos por eles se venham a interessar, quaisquer
que sejam as suas opções ideológicas, na certeza de que todos os contributos serão
bem vindos. Assim, e sem prejuízo do estudo de outros problemas que venham a
suscitar-se estão em preparação, para o próximo ano de actividade, a abordagem das
seguintes grandes questões:
1 - No seguimento do Colóquio “Pobreza e Exclusão Social”, realizado em Junho último, após inquérito lançado na Diocese, procurará aprofundar o tema, tendo
presentes novas realidades e as muitas sugestões recebidas no decorrer das várias
acções levadas a cabo. Fá-lo-á com a mesma transparência e objectividade procurando colaborar com outras organizações, estejam ou não ligadas à Igreja, dispostas a
um grande combate comum contra a miséria e a exclusão, numa fase, como a actual,
em que a crise económica pode levar ao agravamento das questões sociais na nossa
região.
2 - Abordará também, em tempo oportuno, o tema actual da Interrupção Voluntária da Gravidez, tendo presente a doutrina da Igreja a tal propósito, não ignorando as
posições em contrário, e na busca de novos caminhos que ajudem a ultrapassar situações humanas difíceis, sem quebra dos direitos fundamentais da pessoa, incluindo
o direito à vida, à luz da ética pessoal e da ética social, e a adopção de medidas de
protecção à mãe e à criança que combatam situações que todos deploram, procurando prevenir as suas causas.
3 - Chamará ainda a atenção da comunidade para os graves problemas com que
se debate todo mundo no que se refere à paz e ao terrorismo e a necessidade de unir
esforços de todos os homens de boa vontade na sua defesa. Fá-lo-á na linha de outras iniciativas que englobaram diversas confissões religiosas, unidas na tolerância
e na prossecução do grande objectivo da paz mundial. Tem a intenção de o fazer na
profunda convicção da necessidade do diálogo nomeadamente entre as religiões e as
culturas, e no espírito de Assis que, por iniciativa do Papa João Paulo II, congregou
pessoas e religiões activas defensoras da Paz. Recordará o Compromisso Comum
para a Paz, aprovado na reunião de 24 de Janeiro de 2002 – vão completar-se em
| 42 • LEIRIA-FÁTIMA | 253
Serviços e Movimentos
breve 5 anos – já depois dos atentados terroristas na América, que parece esquecido
mas que compreende as grandes linhas de acção para a paz aceites pelas várias confissões religiosas.
Oportunamente apresentaremos a calendarização das iniciativas com a indicação
dos principais intervenientes.
Tomás Oliveira Dias
Centros de Preparação para o Matrimónio
A 18 e 19 de Novembro, realizou-se na Cruz da Areia o primeiro dos encontros
de noivos do Centro de Preparação para o Matrimónio (CPM) no ano pastoral de
2006/2007. Em Fevereiro de 2007, os encontros decorrerão em Ortigosa (3 e 4), na
Cruz da Areia (10 e 11), em Caxarias, Marinha Grande e Santa Eufémia (24 e 25).
Em Março realizar-se-ão na Cruz da Areia (10 e 11) e em Amor (17 e 18). Em Abril
está marcado apenas um encontro, a 28 e 29, em Albergaria dos Doze. No mês de
Maio, haverá encontro na Cruz da Areia (5 e 6) e em Caranguejeira e Caxarias (26 e
27). Em Junho os encontros realizam-se em Vieira de Leiria (2 e 3), na Cruz da Areia
(16 e 17) e na Marinha Grande (23 e 24). O último encontro de noivos está marcado
para Setembro, na Marinha Grande (29 e 30).
MEC – programação e formação
No passado dia 20 de Outubro, o Movimento de Educadores Católicos (MEC)
promoveu a apresentação do seu plano de actividade para o novo ano pastoral, num
encontro que juntou muitos dos seus membros e alguns simpatizantes. O novo
assistente diocesano, padre Adriano Brites, saudou os presentes com palavras de
estímulo e perseverança. O orador convidado foi o padre Jorge guarda, vigário-geral
da Diocese, que abordou a temática proposta pelo Projecto Pastoral Diocesano para
este ano, dedicado à pastoral das vocações na Igreja, centrando a sua intervenção na
recente Carta Pastoral de D. António Marto.
Novo encontro entre membros e simpatizantes do MEC realizou-se no dia 1 de
Dezembro, na continuidade do trabalho que vem desenvolvendo na área da formação, tendo no horizonte o Advento e a celebração do Natal. D. António Marto fez
uma conferência sobre “a beleza e a alegria da Fé cristã”. Todos sentiram vivamente
e, com certeza, tomaram como seu o grito de Santo Agostinho, oportunamente citado
por D. António Marto: “Tarde te amei, beleza tão antiga e tão nova, tarde te amei!”.
Seguiu-se a celebração Eucarística, presidida pelo assistente, padre Adriano
Brites. No final, cada um dos presentes pôde levar consigo uma breve mensagem
natalícia da equipa diocesana. O encontro terminou com um jantar de convívio.
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Serviços e Movimentos
Movimento dos Convívios Fraternos
Decorreu de 7 a 9 de Setembro, em Fátima, o I Congresso do Movimento dos
Convívios Fraternos, precedendo o encontro nacional sob o tema “Com Maria caminhamos na Luz”. Por ocasião da celebração de mil convívios, “quisemos fazer
a experiência de um Congresso com o objectivo congregar os jovens e ver novos
caminhos de trabalho”, salientou o padre Valente de Matos, fundador do movimento.
Surgiu, pois, desta necessidade de continuar o esforço de uma renovação e revitalização dos Convívios Fraternos.
Sendo um movimento de espiritualidade e acção de jovens católicos, que conta
com 40 anos de história, o caminho realizado tornou-se possível “graças à unidade
que mantemos à volta do nosso carisma, respeitando as diferenças das dioceses onde
estamos e o seu trabalho com os jovens”, salientado no plano de actividades que
propõem as reuniões e actividades nacionais, o jornal que ajuda a unificar todo o
movimento e a peregrinação nacional.
A organização salientou a numerosa participação neste primeiro Congresso - 140
congressistas de todo o País - como espelho da importância que o movimento tem
hoje em dia para a Igreja em Portugal, no Brasil e Moçambique e entre as comunidades portuguesas do Luxemburgo, Suiça e França, bem como para a sociedade.
Entre outras, uma das preocupações centrais abordada pelos congressistas foi a
necessidade do reconhecimento jurídico do movimento, como tal, por parte da Conferência Episcopal Portuguesa. Como consequência, irão ainda ser constituídos grupos de trabalho, com o objectivo de adaptar os conteúdos, abordagens e linguagem
às exigências do século XXI e também de tirar partido das potencialidades oferecidas hoje em dia à evangelização pelas tecnologias de informação e comunicação.
Conclusões do Congresso “Unidade na Diversidade”
1ª - O Movimento dos Convívios Fraternos, reunido em congresso em Fátima,
nos dias 7 a 9 de Setembro de 2006, dá graças a Deus pela oportunidade de, com
a presença de 140 representantes das diversas dioceses do país, ter podido reflectir
sobre a sua actualidade como instrumento de evangelização juvenil e familiar em
Portugal e também no estrangeiro.
2ª - Como fruto principal, julgamos haver uma unidade do movimento, embora
com alguma diversidade de procedimentos. Para que esta unidade na diversidade
se mantenha, é fundamental que: a) haja uma temática comum nos diversos convívios, embora numa linha testemunhal adaptada às realidades pessoais e locais; b)
as actividades propostas pelo guião “Caminho de Libertação” sejam seguidas por
todas as Dioceses, nomeadamente os testemunhos, os diálogos em equipa, o diálogo
particular/personalizante e todas as celebrações litúrgicas e/ou momentos de oração
propostos; c) os cânticos escolhidos e propostos com um objectivo concreto no
guião, deverão ser também usados em todas as Dioceses, sem no entanto se fechar
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Serviços e Movimentos
a porta a um enriquecimento com novas propostas; d) os Símbolos como a Cruz,
o Hino e o Livro devem ser usados por todas as Dioceses; e) cada Convívio deve
levar os participantes a um compromisso pessoal de integração eclesial, a preencher
no último dia; f) cada convívio deve terminar com um encerramento – testemunho
público que incluirá a Eucaristia final de Acção de Graças; g) tendo o Convívio Fraterno um forte impacto na vida pessoal, recomenda-se que ele se destine a pessoas
com alguma maturidade física e psicológica. A idade mínima aconselhável é de 17
anos ou com frequência do 11º ano.
3ª - Reconhece-se a necessidade de remodelação do Guião “Caminho de Libertação” e do Livro do Movimento no que diz respeito a alguns conteúdos e linguagem,
propondo-se a criação de grupos de trabalho para esse efeito, nomeadamente: a)
liturgia; b) cânticos; c) conteúdos – Cristo Jovem e Testemunhos “Tu és a Igreja de
Cristo”/”Missão Evangelizadora da Igreja”.
4ª - Reconhece-se o potencial que as Novas Tecnologias de Informação e Comunicação podem ter na transmissão da mensagem, sendo o seu uso conveniente mas
não se substituindo ao indispensável testemunho pessoal de vida.
5ª - Pede-se a criação, no âmbito das novas tecnologias, de uma página web
unificada, de apoio às diversas Dioceses na elaboração e preparação dos Convívios
e Encontros, testemunhos, músicas e demais conteúdos.
6ª - Todos os elementos participantes das equipas deverão ser pessoas com maturidade, coerência de vida, formação catequética e espírito de serviço.
7ª - A formação e composição das equipas será sempre com a participação do
director espiritual de cada Diocese, devendo ter em conta um equilíbrio entre experiência e rejuvenescimento.
8ª - Necessidade de um compromisso por parte dos elementos que aceitam fazer
parte das equipas, de um esforço pessoal de formação humana e cristã e de acompanhamento dos “novos” convivas no Pós-Convívio (4º dia).
9ª - Colaboração com a Pastoral Juvenil e Familiar das paróquias e das diversas
Dioceses, encontrando meios de perseverança e inserção paroquial e diocesana dos
jovens e casais convivas.
10ª- Na consciência que tudo se deve à acção do Espírito Santo, não se descuide
a oração dos elementos da equipa coordenadora do Convívio e procure-se uma constante atitude de humildade diante dos dons de Deus.
CONCLUSÃO FINAL
Somos um movimento aberto à participação de todos e damos graças a Deus
por haver muitos outros meios de O encontrar. A continuidade do movimento, para
além das circunstâncias ou pessoas, faz-nos sentir a necessidade do reconhecimento
jurídico do movimento, como tal, por parte da Conferência Episcopal. Queremos colaborar com os outros movimentos eclesiais e com todos aqueles que estejam abertos
à constante novidade de Jesus Cristo Libertador e Sedutor.
256 | LEIRIA-FÁTIMA • 42 |
Vida Consagrada
Tema
Semana dos Seminários
Promover os “lugares vocacionais”
A Semana dos Seminários decorreu de 12 a 19 de Novembro, uma ocasião especial para propor às comunidades cristãs que dirijam o olhar e o coração, mas também
a inteligência para estas outras comunidades eclesiais educativas e formativas, onde
vivem os que se preparam para o sacramento da Ordem.
Este é um tema que afecta a vida pessoal de cada cristão, pois da oração, do apoio
e da acção e testemunho de cada um depende a receptividade e a sustentabilidade
dos que recebem o dom da vocação sacerdotal.
Afecta, igualmente, a vida comunitária, pois o ministério presbiteral é insubstituível para as comunidades cristãs. Por isso, estas devem questionar-se acerca de
uma manifesta disfunção orgânica: que nelas há abundância de dons e carismas para
uma multiplicidade de serviços, mas não surge no seu seio quem voluntariamente se
disponha a traduzir a sua fé em opção pelo sacerdócio, respondendo ao apelo para
viver o seguimento de Jesus como padre.
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Tema
A primeira acção há-de ser sempre a súplica orante. O coração do Senhor da
Messe não há-de ficar insensível quando vir as comunidades cristãs a cumprirem as
ordens do seu Filho. Precisamos ainda de confiar que os jovens de hoje são sensíveis à Palavra de Deus e têm possibilidade de a interpretar como orientação válida
e significativa para as suas vidas. Muitos dos seus modos de viver, preocupações e
valores traduzem sintonia com o Evangelho. Se o maior dom do amor de Deus é
fazer-nos amar como Ele ama, precisamos de reaprender a linguagem do Evangelho
e a linguagem dos jovens, e falar ambas.
No III Fórum Nacional das Vocações, no passado mês de Outubro, em Fátima,
com o tema “Paróquia - Lugar Vocacional”, o padre Amedeo Cencini sublinhou que,
embora a tarefa de chamar diga respeito a todos os cristãos, no âmbito paroquial, o
pároco tem um lugar de primazia: porque “os jovens têm uma necessidade extrema
de coerência e de modelos de vida”, é natural que olhem de modo especial para o seu
pároco, buscando nele o modelo que procuram. Dizia ainda que “a relação é o lugar
sacramental do chamamento”. Por isso, a relação que o pároco consiga estabelecer
com os jovens é propícia para sugerir novos horizontes e, quem sabe, lançar o desafio a alguns para que um ou outro possa acolher a ideia do sacerdócio.
Mas se a Semana dos Seminários é uma oportunidade singular para fazer, nas
paróquias, pastoral vocacional específica, ela não esgota o que deva ser feito com carácter permanente. Tal como propôs, por esta ocasião, o padre Jorge Madureira, secretário da Comissão Episcopal Vocações e Ministérios: “Pressuposta uma pastoral
das crianças, impõe-se trabalhar com os jovens em idades especialmente fecundas
como sejam as de mudança de ciclo vital e existencial; criar equipas de pastoral vocacional nas paróquias que dinamizem a comunidade e os principais educadores da
fé para que os itinerários formativos conduzam à opção vocacional; tornar visíveis
e acolhedores lugares vocacionais, serenos e alegres, onde se faça experiência de
encontro com Jesus e onde seja possível fazer discernimento vocacional; promover o
contacto dos jovens com experiências de sofrimento humano, que sejam semente de
verdadeiro seguimento; cuidar a formação permanente dos colaboradores principais
da pastoral vocacional para que descubram, em cada dia, sabores novos na sua vocação e se decidam, sem medo, a comunicar o dom que levam em vasos de barro”.
Padre Armindo Janeiro, reitor do Seminário Diocesano
“O tempo presente exige opções conscientes”
Nesta Semana dos Seminários, fomos entrevistar o padre Armindo Janeiro, reitor do Seminário Diocesano de Leiria.
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Tema
Como é a vida do dia a dia no Seminário?
No espaço (edifício) do Seminário funcionam diversos serviços com ritmos
próprios. No que se refere à Comunidade do Seminário que dá nome ao edifício,
tudo decorre normalmente, com a seriedade e serenidade próprias de quem estuda e
contempla a beleza da vocação cristã, capaz de mobilizar as energias e dar corpo a
um projecto que compromete a vida inteira no ministro ordenado.
Que elementos compõem actualmente a equipa formadora, o corpo de alunos e
pessoal auxiliar?
A Comunidade do Seminário é constituída por 3 sacerdotes (dois de Leiria e um
de Coimbra), 14 alunos de seis Dioceses (Coimbra e Mindelo [Cabo Verde] com 4,
Aveiro com 3 e com 1, as dioceses de Évora, Leiria e Portalegre-Castelo Branco). O
pessoal auxiliar é comum a todas as valências da Casa. Nela vivem também sacerdotes responsáveis por serviços diocesanos e por comunidades paroquiais.
Como estão as contas do seminário? Em quanto fica a formação de um padre?
O resumo das contas do Seminário foi publicado no último número do órgão
oficial da Diocese “Leiria-Fátima”. No que se refere à formação de um novo padre,
temos de distinguir entre as despesas com a formação (estudos), totalmente assumidas pelo Seminário (ou pelas respectivas Dioceses) e as despesas com o alojamento
que são assumidas pelas famílias na medida do possível. A título de exemplo, no ano
lectivo passado, os custos mensais com a formação dos alunos do Ano Propedêutico
rondou os 2800 euros por mês.
Nos últimos anos temos assistido a uma diminuição dos alunos. Essa é uma
preocupação que atinge contornos graves? Que motivos há para alimentar a
esperança?
Além da real diminuição do número de candidatos ao Seminário, também a opção pela desactivação progressiva, no Seminário Menor, do segundo e terceiro ciclos
do Ensino Básico, fez aumentar essa preocupação. Acresce ainda o facto de as tentativas para manter com dinamismo o Pré-Seminário e fazer uma promoção eficaz das
vocações na Diocese terem passado, nos últimos anos, por sérias dificuldades. Da
nossa Diocese, chega ao Tempo Propedêutico, em média, um candidato por ano.
Os motivos de esperança são os mesmos de sempre: Deus continua a chamar e
no coração das novas gerações não falta a generosidade e a ousadia necessárias para
abraçar projectos que façam da vida uma aventura apaixonante ao serviço de Deus e
dos irmãos. Compete-nos, por um lado, criar condições para que a voz de Deus possa
ser escutada e, por outro, oferecer aos que a ouviram oportunidades para discernirem
o seu convite. Este trabalho passa necessariamente pela oração pessoal e comunitária, e pelo lançamento de algumas iniciativas.
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Tema
O Seminário está a ser a referência que devia na vida da Diocese?
As mudanças sociais dos últimos tempos foram de tal maneira profundas que
deixaram sem contexto favorável não só a instituição “Seminário” como a própria
compreensão da vocação cristã e, em especial, embora não exclusivamente, da
vocação ao ministério ordenado. O ambiente que respiramos não ajuda! Mas nem
pensamos que isso seja o mais importante, certos, isso sim, de que o presente exige
opções conscientes, alicerçadas na fé. É como amigos do Senhor e suas testemunhas
no meio dos homens que somos convidados a viver. Daqui hão-de surgir comunidades felizes, capazes de rever modos de agir e de levar à revitalização das instituições
ao serviço da missão da Igreja.
Se caminharmos neste sentido, com a participação do presbitério e das comunidades cristãs, será possível, não só redescobrir, como até aprofundar o lugar
imprescindível do Seminário na vida da Diocese. Se é verdade que a Igreja precisa
de novos ministérios, também é certo que, por vontade expressa do Senhor, ela não
pode prescindir do ministério ordenado.
A par da revitalização da instituição Seminário, há ainda que considerar a refuncionalização dos espaços do edifício, que já não são ocupados por duas centenas e
meia de alunos, como há anos, e podem hoje acolher condignamente a cerca de meia
centena de serviços, comissões, associações, movimentos e outras instituições da
Diocese.
Qual a situação do Pré-Seminário?
Depois de um arranque promissor, o Pré-Seminário passa por um período de bastante instabilidade. Dentro do Projecto Pastoral Diocesano e no seguimento da Carta
Pastoral do nosso Bispo “Descobrir a beleza e a alegria da vocação cristã”, estamos a
trabalhar no relançamento deste serviço com as seguintes iniciativas: constituição do
grupo do Pré-Seminário, edição de um “convite”, realização de encontros mensais
(primeiro sábado de cada mês) e acompanhamento pessoal dos interessados.
Quais os projectos para o futuro em relação ao edifício e ao programa de formação?
No edifício do Seminário serão instaladas quatro valências: Comunidade do Seminário, Casa de Retiros/Formação, Centro Pastoral e Residência de Padres. Em relação ao serviço que o Seminário possa prestar à Diocese, pensamos na revitalização
da relação do Seminário com as Comunidades cristãs e na adequação do projecto do
Seminário ao tempo presente. Isto significa, por um lado, promover a mútua cooperação entre as paróquias/grupos e o Seminário, suscitando elos de ligação (animadores vocacionais) e por outro, discernir as expectativas dos jovens e adolescentes, e
propor modos de acompanhamento adequados à sua caminhada. Para uns, pode ser
na família até ao Ano Propedêutico; outros poderão entrar no Seminário durante os
anos do Ensino Secundário.
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Tema
Seminaristas em discurso directo
Entrevistámos também três dos seminaristas que frequentam o Seminário de
Leiria, de várias proveniências:
1 - Que motivou a tua vinda para o Seminário? Como foi o percurso até aqui?
2 - Como defines a vida no Seminário, aspectos positivos e dificuldades?
3 - Que aconselhas a um jovem que se interrogue sobre a sua vocação?
4 - O Seminário na tua diocese é diferente? Em quê?
Nome: Juan Ramón García Reyes
Idade: 22 anos
Diocese: Coimbra
Percurso de estudos: 12º Ano, inícios da Filosofia e Teologia no
Instituto Teológico Verbum Dei em Guadalajara México, e um
ano de estudos de Filosofia em Roma na Pontifícia Universitá
Urbaniana.
1 - Nasci há 22 anos, numa cidade chamada Morelia, no centro do México. Como
“bom cristão”, fiz tudo o que tinha a fazer, segundo a Igreja; a minha fé era muito
simples e acreditava em tudo. Mas aos 15 anos deixei a fé porque não me dava respostas, comecei a ter contactos com filosofias pessimistas: a fé era só para os fracos
do espírito.
Mas a misericórdia de Deus, na pessoa de Cristo, saiu ao meu encontro quando
tinha 16 anos. Nessa altura tive um encontro muito forte com Deus, comecei a conhecê-Lo mais de perto, sobretudo através da sua Palavra e dos sacramentos. Deus
dava respostas claras e fortes à minha vida e a mensagem do Evangelho enchia o
meu coração: senti vontade de lutar por um mundo melhor e viver para partilhar com
os outros… Pouco a pouco, Deus deu-me as razões para existir e força para viver. Fiz
uma caminhada com uma comunidade missionária durante 1 ano e meio, depois tive
um dos momentos mais importantes da minha vida: o chamamento.
Foi em Julho do 2002. Num mês de exercícios espirituais, escutei com mais paz
e tranquilidade a voz de Deus que me chamava a segui-Lo. Ffoi tão forte que deixei
a minha família, os meus projectos e a namorada, terminei a escola e ingressei nos
missionários de Guadalajara, México, onde estive 3 anos e vivi belas experiências
missionárias: pude ver que muitos, hoje, ainda não conhecem o Amor de Deus e a
sua graça. Por isso, a minha resposta foi “sim”. Tinha a experiência de viver sem Ele
e sabia que muitos ainda crêem que não precisam d’Ele. Por isso, Jesus diz: “Vamos
para outras partes, para as aldeias vizinhas, a fim de pregar aí, pois foi para isso que
Eu vim” (Mc 1, 38), para dar a conhecer a Boa Nova da Salvação.
Assim, comecei a minha formação filosófico-teológica, um ano em Guadalajara
e outro em Roma. Aprendi muito e o caminho que Deus está a fazer comigo tomou
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Tema
outro sentido: o chamamento a ser missionário, mais especificamente, como padre.
É por isso que estou no Seminário de Leiria, pela diocese de Coimbra. Depois de
uma caminhada espiritual de discernimento, cheguei ao Tempo Propedêutico e sigo
o chamamento de Deus. Quero ser instrumento e mensageiro da alegria onde for
preciso, mesmo longe da minha terra.
O que me fez vir para o Seminário foi o chamamento de Deus e o desejo de conhecer com certeza a sua vontade, que, dia a dia, se revela na oração e na formação
que temos. A vida no Seminário, posso dizer, é de muita graça, alegria e fraternidade
entre nós. Segundo a minha experiência, é uma vida em crescimento, onde tudo
depende não apenas dos padres, mas também de nós: a responsabilidade primeira é
nossa, atentos à voz de Deus e ao que Ele quer.
2 - É uma vida de oração, de formação, de conhecimento de nós próprios e de
muita alegria, pois viemos de muitos lugares e realidades por causa do mesmo chamamento. Acho que os aspectos mais difíceis não são externos mas interiores, pois é
no coração de cada um que se responde ao chamamento: não se tem vocação como
se tem uma coisa ou um objecto, a vocação é a resposta a uma pessoa viva, Jesus
Cristo.
3 - Aos jovens que se interrogam sob a vocação, só quero dizer que tenham os
ouvidos abertos e o coração disponível para escutar o que Deus quer. Como disse
o nosso amado papa João Paulo II: “Não tenhas medo de abrir as portas a Cristo”.
Amigo, não tenhas medo de seguir o que Deus quer para ti, pois quem, mais do que
Ele, sabe o que precisa a tua vida? Se Deus te pede algo, podes estar certo que será
para a tua felicidade. Começámos o ano, no Seminário, com uma frase do papa Bento XVI, que, recentemente, me ajudou muito na oração: “Tu pertences-me, coloca-te
nas minhas mãos e dá-me as tuas”. Que Deus conduza e acolha sempre a vida que
Lhe queremos oferecer.
Nome: Benvindo Lopes Rodrigues
Idade: 24 anos
Diocese: Mindelo, Cabo Verde
Percurso de estudos: 12º ano do liceu e um ano no Pré-Seminário,
em Cabo Verde, mais propriamente no centro paroquial de Ribeira Grande, Santo Antão.
1 - Seria muito fácil responder esta pergunta se me limitasse simplesmente a
dizer que foi por causa de Jesus Cristo ou para descobrir e até aprofundar a minha
vocação. Mas, vou mais longe: foi porque recebi um chamamento de Jesus Cristo,
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Tema
tal como Ele chama cada Baptizado a descobrir a sua vocação independentemente de
ser religiosa, matrimonial ou sacerdotal. Este chamamento ao qual respondi depois
de muito me interrogar, é a causa da minha vinda para o Seminário. Até agora, em
cada dia que amanhece, sinto que estou a vivê-lo e que ainda sou chamado.
Quanto ao meu percurso. Em 2001, conheci um padre chamado António Ferreira.
O nosso primeiro encontro foi a coisa mais bizarra de toda a minha vida. Frequentava o 12º ano. Numa tarde de quinta-feira, andava com alguns colegas a passear na
avenida que dá acesso ao liceu. Ele veio com o carro da paróquia contra mim, eu
fugi e pensei “é doido, quer matar-me!”. Parou o carro, chamou-me e eu respondi.
Olhou-me nos olhos, perguntou-me de onde era e, depois, disse que precisava de
falar comigo, mas não disse quem era nem o que fazia. Fiquei muito espantado e perguntei a mim mesmo se havia feito algo de errado. Como não era o caso, nem liguei.
Mais tarde, voltámos a encontrar-nos e disse-me que era padre. Fiquei surpreendido,
e mais ainda, quando me disse que a paróquia precisava de padres e eu tinha de ser
um deles. Padre, eu? Em plena idade de namorar? Discutimos muito sobre o assunto
e chegou ao ponto de me chamar arrogante. Fiquei fulo e fui-me embora.
Depois, com o andar do tempo, fui pensando no assunto, perguntando-me como
seria a vida de um padre e quis saber mais. A primeira coisa foi a questão do celibato… o padre não pode casar. Só que, depois, descobri que quando nos entregamos
a Cristo não perdemos nada, pelo contrário, ganhamos muito. Entretanto, continuei
os meus estudos e terminei o 12º ano, mas com uma deficiência a Matemática, e tive
que repetir a disciplina. Em Novembro de 2002, fui chamado para cumprir o serviço militar, onde passei cerca de um ano e meio. Saí em Maio de 2004. Em Julho e
Agosto, tive alguns encontros com o padre Imã. Nessa altura, senti um chamamento
muito forte por parte de Deus e aceitei fazer uma experiência, ali na casa paroquial
onde vivem os padres. Fiz, então, uma carta endereçada ao senhor Bispo D. Arlindo
e pedi que me aceitasse no Seminário. Aceitou-me e hoje estou aqui.
2 - Defino a vida no Seminário como um tempo de recolhimento, durante o qual
nos familiarizamos mais com a pessoa de Jesus, descobrindo-O na intimidade da
oração. Aprendemos a viver uma realidade completamente diferente da que vivíamos antes no Pré-Seminário, ou mesmo na nossa casa. Dá-se mais importância
à vida em comunidade e à oração, que tem um papel muito importante na vida de
qualquer seminarista. É também um tempo de equilíbrio das nossas emoções, que
se definem e são trabalhadas de forma a seguir aquilo a que somos chamados, pois a
Vocação não é um propósito “meu” mas uma graça de Deus.
Quanto aos aspectos positivos. A vida em Cristo é alegria, amor e fraternidade,
pois Ele chama-nos a fazer parte de uma grande família. Já não temos um pai e uma
mãe, mas pais e mães. O mesmo acontece com os irmãos: ganhas irmãos e irmãs em
Cristo e tu e eles têm o mesmo lugar, os mesmos sentimentos, unidos pelo mesmo
elo que é Cristo.
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Tema
Quanto aos aspectos difíceis. O caminho de Jesus não é realmente o mais fácil.
É cheio de dificuldades e dúvidas. Mas Aquele que nos chama é o mesmo que nos
sustenta o passo nos momentos em que o fardo nos parece pesado. Ele não permitirá
que este fardo seja mais pesado do que as nossas forças. Aqueles que seguem Jesus,
ao contrário do que muitos pensam, são das pessoas mais felizes e também verdadeiros donos da vida.
3 - A um jovem que se interrogue sobre a sua vocação, em primeiro lugar, aconselhava-o a definir o que realmente significa a vocação. Não tem nada a ver com a
questão das profissões. Depois, que procurasse alguém, de preferência um padre,
que o ajudasse a descobrir progressivamente a sua vocação, independentemente
daquilo que fosse, sacerdócio, matrimónio ou mesmo vida consagrada, pois a Igreja
não precisa só de padres, mas também de casais e de jovens comprometidos com
Deus e com a vida.
4 - Diferenças entre a minha diocese e esta não são grandes. É praticamente a
mesma coisa. Já conhecíamos mais ou menos o ritmo. A carga horária é que talvez
seja exagerada. Em Cabo Verde, o nosso dia começava as 06h30 e terminava, com as
Vésperas, às 17h45. Mas o espaço era limitado e a casa não tinha o melhor ambiente.
Aqui, para além do nosso quarto, temos outros espaços que nos permitem um íntimo
recolhimento com Senhor.
Nome: Fábio Manuel Carvalho Bernardino
Idade: 18 Anos
Diocese: Leiria-Fátima (paróquia de Aljubarrota)
Percurso de estudos: 1º ciclo na escola primária de Ataíja de
Cima; 2º e 3º ciclos concluídos na Escola Frei Estêvão Martins,
em Alcobaça; Secundário concluído na Escola Secundária D. Inês
de Castro, também em Alcobaça.
1 - O que motivou a minha entrada no Seminário foi o apelo de Deus, que senti
e sinto em mim, para dar tudo o que tenho ao Seu serviço, ao serviço dos irmãos e
da Igreja. Durante este ano, esperarei pacientemente a “confirmação”, por parte de
Cristo, daquilo que Ele deseja para a minha vida. É essa a finalidade deste tempo de
discernimento vocacional e de adaptação à vida comunitária: que escutemos a voz
de Deus, no íntimo de cada um de nós, e que sigamos em frente, de acordo com a
Sua vontade.
Fui educado na fé cristã, numa família crente que pediu, para mim, o Baptismo,
aos três meses de vida, e me inseriu na catequese. Recebi, assim, de Deus o Dom
da fé e, ao longo destes anos de vida, tenho sentido dentro de mim algo que me faz
264 | LEIRIA-FÁTIMA • 42 |
Tema
ir em frente: “fazer-me ao largo”. Foi por volta dos 10 anos que comecei a pensar
mais seriamente em ser padre. Olhando hoje para a minha infância, acredito que, já
aí, Deus me chamava através da vontade que me incutia para a oração, diária e muito
frequente, e para a aprendizagem de verdades sobre Cristo e sobre a Igreja, o que
me fazia interpelar muitas vezes as pessoas mais velhas, como os meus pais, avós ou
vizinhos mais idosos.
Foi um percurso simples, mas excepcional, porque cada caso é um caso e Deus
chama cada um de maneira diferente, visto que cada pessoa é única aos Seus olhos.
2 - Para mim, é novo... Nunca tinha vivido uma experiência de vida comunitária
tão longa, fora do seio familiar. Contudo, acho que ganho imenso com esta nova
forma de vida, à qual ainda me estou a adaptar. Aqui, consigo mais tempo para a
oração e para a contemplação, o que me permite escutar melhor a voz do Senhor,
porque a vida, na sociedade de hoje, é tão frenética e agitada que se torna difícil
obter espaço para o diálogo espiritual entre a pessoa, no seu íntimo, e Deus, que Se
lhe comunica.
O que também se torna muito benéfico é, sem dúvida, esta experiência de vida
em comunidade que irá ser, se Deus quiser, uma realidade para os meus próximos
anos de Seminário. É, de facto, na oração comunitária, na entreajuda, na partilha e no
convívio, que me vejo a beneficiar deste Tempo Propedêutico que, no entanto, não
deixa de nos introduzir nas várias áreas de formação e de estudo, contribuindo para
a nossa melhor compreensão da Fé e da Igreja. Devo ainda referir que as características excepcionais do grupo, isto é, a grande diversidade, quer a nível das idades,
quer a nível das proveniências, e as diferentes experiências que cada um viveu, são
uma mais valia para todos, sobretudo para mim, que sou dos mais novos. Aprende-se
muito com esta gente. Por ser o único “representante” desta diocese, sinto que pesa
sobre mim uma grande responsabilidade...
Claro, para aceitar este desafio, tive que passar por dificuldades, como o afastamento da família, em geral, dos amigos, da casa, da terra. Custou-me, sobretudo, o
afastamento dos meus pais e irmãos, dos quais nunca, antes, me tinha separado de
maneira tão prolongada. Devo admitir ainda que o cumprimento do horário nem
sempre é fácil, pois exige, e muito bem, que passemos a dividir o nosso tempo com
mais rigor e que nos habituemos a este ritmo, o que, para mim, se torna um pouco
difícil. Embora tivesse que cumprir horários, lá fora, nomeadamente, na escola e
no trabalho, nessas situações quem poderia ficar prejudicado com a minha falta de
pontualidade era apenas eu. Aqui, a comunidade depende de todos e a falta de pontualidade de alguém, não prejudica só o próprio, mas todo o grupo. A responsabilidade
torna-se, assim, numa competência que importa adquirir.
Enfim, são algumas dificuldades que consigo enfrentar com amor, quando penso
na presença constante de Jesus e Maria, caminhando ao meu lado e dando sentido ao
percurso a que me chamaram.
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Tema
3 - Nos tempos que correm, os jovens revelam cada vez mais dificuldades em
saber o que desejam para a sua vida. A crescente secularização da sociedade, o “barulho” e o constante “bombardeamento” de propostas não tornam fácil a tarefa de
optar por um percurso, que conduza à plena realização. É necessário parar. Penso
que a denominada crise das vacações, de que tanto se fala, é consequência da falta
de reflexão e da tomada de consciência de si próprio. O silêncio e a contemplação
são meios eficazes que permitem o diálogo com Deus e a clarificação da vocação. O
grande problema é a falta desse espaço tão importante, na vida espiritual da juventude cristã de hoje. Nesta situação de dúvida, o jovem deve procurar auxílio, quer
na pastoral juvenil (oração e partilha comunitária), quer na pastoral vocacional, que
procura ajudar a pessoa a discernir e a fazer despertar e crescer nela uma vocação
que, porventura, a vida nesta sociedade tenha “ofuscado”.
Considero que o Pré-Seminário, que frequentei, pode fazer brilhar essa luz, o que
terá, evidentemente, de contar também com o empenho pessoal. Com isto, não quero
dizer que tal diga respeito, única e exclusivamente, à vocação para o ministério ordenado, mas à descoberta da vontade de Deus, seja ela qual for.
4 - Como já referi, sou desta diocese de Leiria-Fátima e é a primeira vez que vivo
a experiência de Seminário, a tempo inteiro. O Pré-Seminário não foi uma experiência tão intensa como a do Tempo Propedêutico. Embora com encontros regulares,
após o termo destes, regressava-se à sociedade do relativismo e da confusão. Na
minha opinião, o Pré-Seminário é, mesmo assim, um importante passo que convém
ser dado, antes da entrada no Seminário, propriamente dito, que, de modo nenhum,
deve ser decidida de maneira precipitada.
266 | LEIRIA-FÁTIMA • 42 |
Tema
Irmã Maria de Lurdes Capelo
“Como não
hei-de estar feliz,
se é o Senhor
a minha herança?”
No passado dia 8 de Setembro, o Convento de Santa Clara em Monte Real viveu
um dia de festa, com a profissão religiosa dos Votos Perpétuos Solenes da irmã Maria de Lurdes Capelo Fernandes, natural da Guarda. Presidiu à celebração eucarística
D. António Marto, Bispo de Leiria-Fátima. No final, uma breve apresentação multimédia, preparada pela Comunidade, mostrou o percurso vocacional da irmã Maria
de Lurdes. Fomos falar com ela sobre o seu percurso e motivações.
Quando se sentiu chamada à vocação religiosa?
Aos dezassete anos, Deus bate à minha porta. No seio de uma família profundamente cristã, sentia-me feliz e instalada. Não me dispunha a perder os meus privilégios, seguranças e tudo quanto o futuro me oferecia. Todavia, a voz de Deus não me
deixava tranquila: “Deixa tudo, vem e segue-Me”.
Sentindo-se amada por Deus, soube desde logo que a sua vocação incluía a
clausura?
Não. Nos meus horizontes não divisava a clausura. Ela surgiu quando a minha
vocação amadureceu e compreendi que só na clausura poderia ser missionária a tempo inteiro e, pelo amor, abraçar a Humanidade. Procurei conhecer o mais possível
outras formas de espiritualidade e Vida Religiosa. Investiguei, estudei, aprofundei,
rezei e procurei discernir qual o plano de Deus a meu respeito.
| 42 • LEIRIA-FÁTIMA | 267
Tema
Quando fez os primeiros votos?
Emiti os primeiros votos, ou Profissão Temporária, a 15 de Setembro de 2002.
Professei só depois de ter feito uma caminhada que englobou várias etapas: um ano
de Postulantado, que teve início no dia 4 de Junho de 1999, Festa da Ascensão. Iniciei a vida religiosa pela recepção do hábito da Ordem de Santa Clara, a 4 de Junho
de 2000.
Agora, faz os votos perpétuos. Calculo que seja um momento de grande alegria...
Hoje, é um momento de alegria e júbilo. São verdadeiras as palavras de Santa
Clara, quando diz: “A nossa vocação é o maior de todos os dons”. Entre tantas jovens
da minha terra e da minha idade, o Senhor olhou para mim com amor de predilecção.
Como não hei-de estar feliz, se é o Senhor a minha herança? Só posso dizer: “Que
retribuirei ao Senhor por tudo o que Ele me dá?”
É também um momento de serenidade?
Serenidade? Como não, se o Senhor me olha com amor constante?! Depois de
uma caminhada de alguns anos, aprendi e experimento que “o Senhor está sempre
na minha presença; com Ele a meu lado jamais vacilarei. Por isso o meu coração se
alegra e a minha alma exulta e até o meu corpo descansa tranquilo”. A minha alegria
é estar dia e noite na presença do Senhor.
Que tarefas a esperam depois deste dia?
As tarefas na clausura, sendo muito variadas, são, paradoxalmente, sempre as
mesmas. Não me preocupo com isso. “Basta a cada dia a sua malícia”. Entrego-me
a Deus e Ele cuidará de mim, em cada dia me dará o Seu Pão. Eu sei que o combate
é d’Ele e não meu.
Pobreza, virgindade, clausura e silêncio… são desafios muito grandes para as
jovens de hoje?
O desafio é de facto grande, na medida em que o padrão social é o oposto do
Evangelho. Pobreza, virgindade, obediência, clausura e silêncio, são um desafio para
muitos jovens de hoje, porque incompatíveis com o espírito que campeia na sociedade, cujos valores não são, precisamente, os valores evangélicos a que o espírito das
Bem-Aventuranças convida. A sociedade consumista não suporta qualquer género
de renúncia, privação ou ascese, enquanto Jesus convida à pobreza de espírito que,
aliás, não é miséria. O mundo preconiza a liberdade desenfreada que é libertinagem,
enquanto Jesus convida a fazer a vontade do Pai do Céu. O mundo oferece música
ruidosa e alienante, atordoa com a desordem “stressante” e o rodopio depressivo,
enquanto Jesus diz: “Vem comigo a um lugar silencioso e retirado”, que, para mim,
é a harmonia silenciosa e criativa da clausura.
268 | LEIRIA-FÁTIMA • 42 |
Índice Geral - 2006
Ano XIV • Número 40 • Janeiro / Abril • 2006
Editorial
Uma pastoral (toda) vocacional?
5
Documentos Pastorais
Nomeações Episcopais 8
Comunicado do Conselho Presbiteral 8
Nota Episcopal sobre a Quaresma 2006 9
Nota Pastoral sobre a Peregrinação Diocesana a Fátima 11
Comunicado do Administrador Apostólico • Nomeação do Bispo diocesano 12
Em Destaque
D. António Marto é o novo Bispo diocesano • Tomada de posse será a 25 de Junho
Cartas Apostólicas
Saudação à Diocese de Leiria-Fátima
Nota biográfica de D. António Marto
Entrevista a D. Serafim • Aposta na sinceridade com olhar atento ao mundo
13
14
15
16
18
Notícias
Resumo noticioso do quadrimestre 23
Santuário de Fátima
Resumo noticioso do quadrimestre 37
Serviços e movimentos
Leiria acolheu Jornadas de Universitários Católicos • O trabalho do MCE nas escolas 44
Seminário Diocesano de Leiria • Resumo Geral de Contas - Ano de 2005 48
Vida Consagrada
Abertura das comemorações em Leiria • Franciscanos - Oito séculos de história
Mártires de Marrocos • Papiro da confirmação da Regra pelo Papa Honório III
Entrevista a Fr. José Neves • Celebrar “A Graça das Origens”
Entrevista a Fr. Daniel • “Ser pobre é sair do seu ego para se abrir a Deus”
51
52
53
56
Reflexões
Impressões de uma peregrinação • Taizé - Um paraíso na terra 59
Celebração do Tríduo Pascal• Da morte à vida… o mistério da fé 63
Anexo
Tabela de Taxas, Tributos e Emolumentos (Província Eclesiástica de Lisboa) 67
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Índice Geral - 2006
Ano XIV • Número 41 • Maio / Agosto • 2006
Editorial
Em júbilo! 85
Documentos Pastorais
Nota de despedida de D. Serafim
Nomeações Episcopais
Missionários nas pegadas de Maria
Comunicação e inter-relação
87
88
89
90
Em Destaque
Homilia da entrada solene de D. António Marto na Diocese de Leiria
“Descobrir a beleza e a alegria da fé” 91
Diocese acolhe calorosamente D. António Marto 96
Entrevista: “Quero conhecer ‘ao vivo’... vou deixar-me surpreender” 98
Notícias
Resumo noticioso do quadrimestre 104
Santuário de Fátima
Resumo noticioso do quadrimestre 117
Serviços e movimentos
Comissão Diocesana das Comunicações Sociais
Entrevista ao padre Rui Ribeiro: “Ousadia, criatividade, profissionalismo”
Comissão Diocesana Justiça e Paz • “Pobreza e Exclusão Social na Diocese”
Grupo diocesano Ondjoyetu está no Gungo • A missão no coração, o mundo nas mãos
Colónia de Férias da Caritas • Monitores dão tudo por um sorriso
Confraria de Nossa Senhora da Encarnação
125
129
131
139
142
Tema
Deus chama todos e cada um • Falar de vocações não é (só) falar de padres
Entrevista ao padre Armindo Janeiro: “Descobrir a condição de chamados”
Jubileus sacerdotais: O padre, esse desconhecido
Marco Brites, diácono: “Deus chama-nos não por sermos bons mas para sermos bons”
143
145
147
157
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Índice Geral - 2006
Ano XIV • Número 42 • Setembro / Dezembro • 2006
Editorial
Coesão europeia e solidariedade humana 165
Documentos Pastorais
Carta Pastoral • Descobrir a beleza e a alegria da vocação cristã
A beleza e a alegria da vocação de especial consagração
Arte Sacra em Fátima
Fátima no coração da História
Abertura da Peregrinação Aniversária
Reconduzir para o centro do culto a verdadeira adoração de Deus
Em Ti cantamos a Beleza da Misericórdia do Pai
Carta aos Jovens: Itinerário Vocacional
O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas!
“Vinde benditos de meu Pai”: A apoteose da Misericórdia
Comunicação ao Conselho Presbiteral da Diocese de Leiria-Fátima
Comunicado do Conselho Presbiteral da Diocese de Leiria-Fátima
Louvor e memória no final de um ano
169
181
192
194
196
198
201
205
206
207
210
216
217
Em Destaque
Carta Pastoral apresentada no Dia da Diocese • Assembleia marca início do ano pastoral 219
Entrevista ao padre Jorge Guarda, vigário-geral da Diocese 221
Notícias
Resumo noticioso do quadrimestre 224
Serviços e movimentos
A vocação do catequista • Entrevista ao padre José Henrique, director do SDECIA
SDECIA propõe reuniões para catequistas
O Escutismo Católico Português
Entrevista a Margarida Marques • “O escutismo é lugar privilegiado para descobrir a vocação”
Organismos que apoiam movimentos migratórios • Como Leiria acolhe os estrangeiros...
Entrevista a Olga Ferreira, técnica da AMIGrante
Propostas de formação no CFC
Comissão Diocesana Justiça e Paz
Centros de Preparação para o Matrimónio
MEC – programação e formação
Movimento dos Convívios Fraternos
239
243
244
245
249
250
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253
254
254
255
Tema
Semana dos Seminários • Promover os “lugares vocacionais”
Entrevista ao padre Armindo Janeiro, reitor do Seminário Diocesano
Seminaristas em discurso directo
Irmã Maria de Lurdes Capelo • “Como não hei-de estar feliz, se é o Senhor a minha herança?”
257
258
261
267
Índice Geral - 2006 269
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