Ler Revista - Forum Abel Varzim
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Revista dos Associados e Amigos do Fórum Abel Varzim - Desenvolvimento e Solidariedade ABR/JUN 2013 Nº48 O VERDADEIRO PODER É O SERVIÇO - JORGE BERGOGLIO, 2007 - saiba mais... RESTAURANTE SOCIAL TESTEMUNHO CRISTÃO2 TRÁFICO DE MULHERES + ACOMPANHE-NOS EM: www.forumavarzim.org.pt www.forumvarzim.blogspot.com www.facebook.com/forumavarzim T: Como funciona o «Restaurante Social?» P: Primeiramente as pessoas são atendidas (inicialmente só por mim), onde se faz a avaliação das condições do agregado familiar e da situação económica. Para este trabalho contamos, hoje, com a colaboração de duas Assistentes Sociais, cedidas pela Caritas (duas manhãs por semana) e com quatro Paroquianos voluntários. Faz um atendimento rigor do ponto de vista técnico mas também com o coração. Neste atendimento as pessoas têm de trazer documentação com os comprovativos das suas receitas e despesas. É feita uma avaliação e as pessoas são chamadas a participar financeiramente. Isso é gratificante para as pessoas que dizem «eu pago a minha refeição, participo, porque sou responsável pela minha vida e pela minha família». Há também muita gente que não paga nada. T: Para este projecto foi importante o envolvimento de voluntários? P: Sim. Uma das acções que foi necessário desenvolver foi o convite a voluntários Uma das riquezas deste projecto é que temos 35 voluntários que todos os dias da semana, inclusivamente sábados e domingos, em equipas de 5, se revezam 4 e garantem o funcionamento do Restaurante. Toda esta equipa recebeu formação técnica e humana e também formação mística interior para perceberem que esta é uma causa que deve envolver o coração com sentido de acolhimento a alguém que sofre que tem fome. Esta é uma das belezas deste projecto. Não nos faltam voluntários que continuam com fidelidade, com alegria e com esforço. Parte dos voluntários vêm directamente dos seus trabalhos para o Restaurante Social às 18.30 horas e só depois das 20.30 horas regressam a suas casas. custear as despesas. Aqui não são confeccionadas as refeições porque não temos cozinha. Tivemos que contratar uma Empresa de Catering» que nos vende as refeições já confeccionadas. São depois os nossos voluntários que se encarregam do transporte para o Restaurante dessas refeições, que chegam devidamente acondicionadas. Nesses 20 meses, conseguimos financiar este projecto só com apoio da solidariedade da Comunidade Cristã: donativos, apoios de pessoas individuais ou de grupos que chegavam a organizar espectáculos para angariação de fundos para T: Todos comem no espaço do Restaurante? P:As pessoas têm duas possibilidades: ou comem no restaurante ou levam comida para casa. Os que comem no restaurante são uma minoria: homens que vivem sozinhos. A maioria leva a comida para casa para puder comer em família. A refeição é completa: pão, sopa, salada, prato e sobremesa. T: E os apoios financeiros? P: Durante cerca de 20 meses não tivemos um cêntimo de apoio da Segurança Social, do Governo, da Câmara ou da Junta de Freguesia. E ao fim do mês tínhamos que encontrar cerca de 5 000 euros para “Eu e minha mulher estamos actualmente desempregados, tenho 3 filhos. Aqui recebo uma pequena ajuda.” DESDE A SUA CONSTITUIÇÃO JÁ FORAM DISTRIBUÍDAS 45 930 REFEIÇÕES SÓ DE JANEIRO A ABRIL FORAM DISTRIBUÍDAS MAIS DE 10 600 REFEIÇÕES, EQUIVALENTE A 25 000 EUROS. o Restaurante. Também havia grupos que se organizavam, vinham jantar ao Restaurante Social pagando refeições a um preço mais elevado e assim contribuindo para rentabilizar o projecto. Interessante foi que a Sociedade Civil percebeu a originalidade deste projecto e envolveu-se nele. Duas ONG de âmbito nacional e internacional organizam iniciativas em Setúbal de angariação de fundos. Uma delas organizou um espectáculo que envolveu um grande pavilhão em Setúbal cuja receita foi destinada ao Restaurante Social. Outros organizaram iniciativas com a mesma finalidade. Tivemos a sorte da comunicação se interessar também por este projecto e divulgá-lo, o que fez com que algumas empresas de Setúbal e Lisboa apoiassem esta iniciativa. Três destas empresas decidiram não fazer festa de Natal, nem distribuir prendas, nem enviar postais e doar o dinheiro poupado ao Restaurante Social. De facto conseguir arranjar 5 mil Euros por mês sem qualquer apoio oficial só foi possível graças ao envolvimento dessa sociedade civil. Tenha-se presente que a participação financeira dos utilizadores do Restaurante anda à volta de 300 euros por mês. T: Mas num projecto desta importância ainda não há apoios oficiais do Estado? P: Finalmente, começamos a ter uma comparticipação da Segurança Social para umas dezenas de refeições, o que já nos deu uma grande ajuda. Neste momento fornecemos 115 refeições diárias. Se multiplicarmos por 2, 5 Euros, valor que pagamos ao Fornecedor, veja-se o montante que temos que arranjar diariamente. O que revolta é que o valor que pagamos inclui o IVA. Estando nós a fazer um trabalho que entra nas funções sociais do Estado e ainda temos de pagar IVA. T: Neste projecto, além da preocupação de matar a fome, respeitando a dignidade das pessoas, existem outras preocupações? P: Sim, para além do respeito pela dignidade das pessoas e um constante apelo à responsabilidade, procuramos implementar outra dimensão que é a da formação. Queremos que as pessoas adquiram novas competências e desenvolvam auto estima. Por isso têm vindo a decorrer, em parceria com a Caritas diocesana, vários cursos de formação – alguns estão ainda a ocorrer – com esse objectivo. Outra dimensão é a coesão social. Para que não haja o estigma que o Restaurante Social é o Restaurante dos pobres, temos promovido a vinda ao Restaurante de vários tipos de pessoas, desde Deputados, Professores Universitários e muito gente anónima. Isto é bom porque os utentes habituais têm oportunidade de ver pessoas que têm uma situação económica diferente a comer no meio deles. 5 T: Tem havido alterações no perfil dos utilizadores do Restaurante Social? P: Inicialmente os utilizadores do Restaurante eram aquelas pessoas que já eram pobres – continuamente pobres, ou algumas que estavam sem receber o RSI. Mas também existem pessoas que encontraram trabalho e melhoraram a sua situação económica e que já não precisam do Restaurante Social. E estas últimas expressam a sua gratidão afirmando que ainda que encontram quem os ajudasse num período difícil da vida Ultimamente o rosto dos utilizadores têm-se modificado, aparecem famílias, casais de meia-idade em que um ou ambos ficaram desempregados e não têm qualquer apoio. Liliana (Conhecida por Lili) “Sou voluntária aqui no Restaurante Social. Gosto do trabalho que faço aqui. No início vinha todas as terças feiras, mas hoje como há mais gente só venho de quinze em quinze dias.” 6 A Dimensão sócio-caritativa da Paróquia N. Sra. da Conceição é o selo identitário desta comunidade crente. A Paróquia é formada por gente muito pobre, que vive em bairros muito pobres. Portanto o ponto de partida para a evangelização deve ser a caridade, respondendo a quem precisa. Os mecanismos de resposta são muito simples, muito ágeis. Não há uma superestrutura, nem funcionários a trabalhar, nem centro Paroquial. No âmbito do apoio social, a comunidade cristã tem uma campanha mensal que é a recolha de produtos alimentares ( um litro de… ou um kilo de…) que são partilhados com os que mais precisam, duas vezes por semana durante as manhãs. Há um serviço de recolha e entrega de roupa muito bem organizado com qualidade. Também funciona um grupo de apoio ao emigrante que responde não só para os emigrantes que vivem em Setúbal mas também nos concelhos limítrofes. E igualmente existe um grupo de apoio aos desempregados. O projecto «mãos dadas» que reúne 3 vezes por semana uma média de 60 pessoas, duas vezes para formação em informática e uma vez para desenvolvimento da actividade de pintura artística. Há um grupo coral que abrange gente da Paróquia mas também de outras partes da cidade. Existem também aulas de alfabetização, inglês e cuidados básicos de saúde. P. Constantino Quem é o Padre Constantino? O Padre Constantino Gonçalves Alves é oriundo do Norte (perto das minas do Pejão. Pertence à Congregação chamada «Filhos da Caridade» que tem como carisma e missão a evangelização do mundo do trabalho e também nos bairros populares. Foi ordenado padre em 1980, quando estava a fazer uma descoberta do mundo do trabalho através da participação directa, como operário servente. Fez formação profissional e tornou-se fresador mecânico e trabalhou durante alguns anos nesta actividade. Foi delegado sindical, representante do Sindicato dos Metalúrgicos do Sul, numa altura em que começava despoletar a crise em Setúbal. Foi, Assistente da Acção Católica durante 9 anos, D. Manuel Martins e nomeou-o Pároco da Paróquia de Nª Sra. Da Conceição, que estava sem Pároco. Foi Capelão do Hospital do Barreiro durante 13 anos. Fez o Mestrado em Serviço Social na Universidade Católica e ganhou também o gosto por continuar a estudar. Actualmente está matriculado no ISEG para fazer um Doutoramento em Sociologia Económica das Organizações. O TESTEMUNHO CRISTÃO NO ESPAÇO PÚBLICO O paradigma, que serviu à construção e ao apogeu da modernidade e à civilização industrial dos dois últimos séculos, apresenta, hoje, fissuras insanáveis de que são sinais gritantes, entre outros, os seguintes: - a grande desigualdade na repartição do rendimento e a persistência de extrema pobreza no meio da abundância e do potencial tecnológico; - os riscos de insustentabilidade ambiental; - a crescente bolha financeira mundial e a perigosa financeirização da economia; - o excessivo endividamento dos estados soberanos, empresas e particulares, com consequências sérias para a estagnação da economia e dificuldades acrescidas de competitividade externa; - o elevado volume de desemprego e correspondente desperdício de recursos humanos, com consequências graves para o bom funcionamento da sociedade e a indispensável coesão social. A estas disfuncionalidades económicas, vêm somar-se: - uma cultura individualista, dominada pela busca incessante de mais ter (mais bens, mais conforto, mais prazer, mais dinheiro) e pela insensibilidade ao outro (outros indivíduos, outros povos, outras gerações, outros estratos sociais); - a desresponsabilização face ao todo, ao cuidado com os bens comuns, e às novas gerações; - um preocupante deslizar da democracia para uma tecnocracia sem rosto ao serviço de grupos restritos detentores do poder económico e financeiro nacional e mundial. É neste contexto que tem particular cabimento falar da importância do testemunho cristão no espaço público. Este deve expressar-se, simultaneamente, numa visão esclarecida e despreconceituosa acerca da realidade, numa atenção aos sinais dos tempos e num compromisso, pessoal e comunitário, com gestos e actos proféticos de mudança. Para bem assegurar um testemunho cristão à altura dos desafios do tempo presente, torna-se hoje mais urgente do que nunca conhecer o pensamento do Concílio Vaticano II acerca da relação da Igreja com o mundo e o lugar que os leigos devem assumir na vida económica, social e política. Por outro lado, há que aprofundar a doutrina social da Igreja respeitante aos fundamentos que devem guiar a presença dos cristãos no mundo e o as coordenadas que devem orientar as opções que importa fazer em diferentes contextos da realidade, com vista a uma sociedade mais justa e mais feliz. Face aos horizontes largos do Concílio Vaticano II, temos de confessar que, decorrido meio século, nos encontramos ainda muito longe de ter assimilado e passado às nossas práticas correntes os posicionamentos da eclesiologia conciliar no que diz respeito ao compromisso dos leigos com uma presença cristã no espaço público, animada, valorizada e reconhecida pelas suas respectivas comunidades de pertença eclesial. O mesmo diria quanto aos riquíssimos ensinamentos da doutrina social da Igreja, que continua a ser desconhecida ou subestimada por parte de muitos cristãos e não informa, como deveria, os seus respectivos comportamentos, nem influencia de modo relevante o funcionamento das empresas, das organizações sociais ou das instituições políticas. Há, seguramente, que olhar com mais atenção para a necessidade da formação de uma consciência eclesial mais esclarecida dos fiéis em geral e, em particular, daqueles cristãos, mulheres e homens, que, em razão das suas competências e respectivas situações profissionais, são chamados a exercer funções com maior relevância para a vida das pessoas e o futuro da sociedade. Felicito o Forum Abel Varzim e o seu jornal Transformar, porque têm o grande mérito de contribuir para a formação de uma consciência mais esclarecida acerca da presença responsável dos cristãos no mundo. Manuela Silva Professora ISEG/UTL. Aposentada. 7 “EL VERDADERO PODER ES EL SERVICIO” (JORGE BERGOGLIO, ARCEBISPO DE BUENOS AIRES, 2007) Eis-me aqui! Irmãos e irmãs, boa-noite! Vós sabeis que o dever do Conclave era dar um Bispo a Roma. Parece que os meus irmãos Cardeais foram buscá-lo quase ao fim do mundo… Eis-me aqui! - Já há Papa? Um televisor tem a imagem parada na chaminé. Outros mostram a multidão acumulada debaixo de chuva. Milhares de pessoas aguardam fumo branco na Praça de São Pedro, no Vaticano. O mesmo se passa pelo mundo fora: em casa, nas ruas, nos cafés, nos jornais, rádios, televisões. Na redação da RTP a pergunta repete-se desde o dia anterior. Quem chega à redação interroga: Já há Papa? Outro televisor mostra o mundo além do Vaticano. Hoje nada daquilo interessa… Fumo negro. A rotina prossegue. O resto do mundo continua por mais um bocado a invadir-nos. Melhor: a tentar invadir-nos. A que horas é o fumo, agora? Se não for eleito hoje é porque é de fora, dizem os especialistas. Será americano? Vais ver que é o brasileiro. - Que horas são? Ainda falta uma hora… - Está na hora. Não era às 18:00? Não há fumo? A chaminé continua muda. Nestes momentos é muito difícil trabalhar. É difícil até ir embora, 8 para casa. Arruma-se a secretária sem pressas… Não vou agora, e se sai fumo branco? Ai esta mania de não perder a notícia. Por qualquer razão estamos todos unidos no tema que diariamente nos separa. - É branco? É branco? É branco! Temos Papa! Um rugido implacável atravessou a redação: Habemus Papam! Que é que se passa? Parece que são todos católicos desde pequeninos, comento com a minha colega do lado. Católicos mais ou menos afirmados e ateus atestados ostentam olhares de alívio e alegria. [Estava dado o mote, antes mesmo de sabermos quem era. No encontro com os jornalistas dias depois, Francisco terminou assim: Disse que de coração vos daria a minha bênção. Uma vez que muitos de vós não pertencem à Igreja Católica e outros não são crentes, de coração concedo esta bênção, em silêncio, a cada um de vós, respeitando a consciência de cada um, mas sabendo que cada um de vós é filho de Deus, Que Deus vos abençoe!] Mas quem seria este Pai que todos parecíamos ter reencontrado? - Vou embora, parece que agora é só às sete. Olha, acenderam a luz… Está alguém a mexer na janela! Mas não é só às sete? A colega que já ia na porta volta atrás. Viu-se alguma coisa? É só às sete. O som da redação continua aumentado. Risos, apostas, uma muito estranha alegria em volta de um único assunto. E Francisco chegou às sete. Veio da Argentina. … Os irmãos Cardeais foram buscá-lo ao fim do mundo. Eis-me aqui! Agradeço-vos o acolhimento: a comunidade diocesana de Roma tem o seu Bispo. Obrigado! E, antes de mais nada, quero fazer uma oração pelo nosso Bispo emérito Bento XVI. Rezemos todos juntos por ele, para que o Senhor o abençoe e Nossa Senhora o guarde. Dois meses antes, alguém que dissesse que teríamos dois Papas seria o quê? Um herege? Agora ali estavam os dois: Bento XVI pela mão de Francisco, que veio das ruas do fim do mundo para o princípio do que há-de vir. O protagonista de tudo o que aconteceu foi, em última análise, o Espírito Santo. Ele inspirou a decisão tomada por Bento XVI para bem da Igreja; Ele dirigiu na oração na eleição os Cardeais. [Encontro com os jornalistas, 16 de março de 2013] O Senhor nunca Se cansa de perdoar Podemos caminhar o que quisermos, podemos edificar um monte de coisas, mas se não confessarmos Jesus Cristo, está errado. Tornar-nos-emos uma ONG sócio caritativa, mas não a Igreja, Esposa do Senhor. Quando não se caminha, ficamos parados. /…/ Mas a realidade não é tão fácil, porque às vezes, quando se caminha, constrói ou confessa, sentem-se abalos, há movimentos que não são os movimentos próprios do caminho, mas movimentos que nos puxam para trás. /…/ Eu queria que, depois destes dias de graça, todos nós tivéssemos a coragem, sim a coragem, de caminhar conduzido a uma orientação - ainda não consensual que assume com igual relevância e dignidade, embora com diferenciações, a responsabilidade social a partir da «base» (famílias, entreajuda e IPSS) e da «cúpula» (Estado), defendendo que: a base e o Estado são directamente responsáveis pela solução dos problemas sociais; portanto, surge assim uma nova subsidiariedade - mista ou terciária - segundo a qual a acção do Estado é subidiária em relação às insuficiências da base, e esta é subsidiária em relação às do Estado. Relações que devem existir entre as instituições e o Estado Pelo que acabo de referir, a relação básica é a de corresponsabilidade. Ambos são responsáveis pela protecção social, embora cada um a seu modo: o Estado através, sobretudo, da garantia de direitos; e as instituições, através da prestação de serviços que estejam ao seu alcance. Para além destes dois patamares de protecção social, impõe-se considerar a entreajuda básica, formada pelas famílias, pelas relações solidárias informais e pelo voluntariado social de proximidade; os três patamares proporcionam, potencialmente, a abrangência de todos os casos e problemas sociais. Daí resulta que uma das primeiras preocupações de qualquer governo deva consistir no reconhecimento dos três patamares e no incentivo da cooperação permanente entre eles. Lamentavelmente, esta linha de orientação fácil e praticamente sem custos - não foi assumida, até agora por nenhum governo nem por nenhum partido com assento na Assembleia da República. Dir-se-á que a sociedade e a política portuguesas vêm recusando à pessoas empobrecidas e excluídas o que é mais fácil e menos dispendioso oferecer-lhes: a cooperação entre as várias entidades que podem contribuir para a solução dos seus problemas. É de notar que o reconhecimento dos três patamares faz parte, há muito, do património do pensamento social cristão, no âmbito do qual as entidades do segundo se designam por «corpos intermédios». Reduções aos apoios atribuídos pelo Estado. Ainda estou a formar a minha opinião sobre o assunto, mas devo acrescentar algumas notas, desde já. Há muito que prevalece uma forte convicção de que tais reduções são ilegítimas, no que se refere aos direitos sociais já consagrados.Tal posição baseia-se, além do mais, em três pressupostos: primeiro, tais direitos são irreversíveis; segundo, os direitos económicos e sociais e os políticos formam um todo integrado e, portanto, aqueles - tal como estes - devem ser salvaguardados, independentemente de condicionanantes económico-financeiras ou outras; e, por fim, os recursos financeiros são ilimitados, portanto - sendo bem geridos - corresponderão sempre às exigências dos direitos sociais. Ultimamente, porém, a sociedade portuguesa acha-se profundamente dividida face a estes pressupostos - nomeadamente face ao terceiro: de acordo com umas correntes de opinião, os recursos financeiros estão claramente aquém das exigências do Estado Social; segundo outras, isso não é verdade e, portanto, as limitações actuais resultam de má gestão, de injusta repartição de rendimentos e da sacralização do equilíbrios financeiro. Deste modo, o debate sobre o Estado Social está marcado fortemente pela ideologia, e parece conveniente recuarmos ao final dos anos oitenta para melhor nos situarmos. Diz-se que, nessa altura, «implodiu» o sistema económico de planificação central, conhecido por «comunismo»; no entanto, o que «implodiu», na realidade mais profunda, foi a possibilidade de conciliação entre duas optimizações - a económica e a social - em qualquer sistema económico. Alguns países, como por exemplo os escandinavos, apressaram-se a fazer ajustamentos no seu modelo económico e social, através de um esforço profícuo de concertação; muitos dos restantes - entre os quais Portugal - ignoraram o alerta, na expectativa de uma solução quase milagrosa que, evidentemente, não apareceu. E agora - naquilo a que se chama« crise» - sofremos o peso brutal de uma calamidade incomensurável e sem qualquer tipo de solução à vista. Pior do que isso: cada força político-social considera-se detentora da solução ideal, opõe-se a todas as outras e, quando chega ao poder, limita-se, em larga medida, a reproduzir as orientações que tinha contestado; e as forças retiradas do governo passam a contestar, mais ou menos claramente, as orientações que tinham defendido antes. Dentro deste contexto de extrema complexidade - e quase suicida - talvez se possa responder, à pergunta fomulada, do seguinte modo: em princípio não deveriam ser reduzidos direitos sociais; tornando-se indispensável a redução, isso deveria ser precedido pela declaração do «estado de emergência», previsto na Constituição, com uma duração limitada; e tal declaração deveria basear-se num entendimento partidário tão alargado quanto possível. Desgraçadamente, porém, nenhuma destas condições se verificou, até agora, devido a causas diversas em que se realça o maniqueísmo, com tiques totalitários, da nossa tradição democrática; os partidos, as outras forças político-sociais e as correntes de opinião dominantes não se sentem vocacionadas para cooperarem, mas sim para se oporem umas às outras até às últimas consequências. Durante a vigência do anterior governo e na deste, os partidos da oposição não têm lutado, basicamente, pela solução dos problemas do país mas sim a favor de serem eles a governar e a resolvê-los; vêm lutando mais pelo derrube do governo que pela cooperação na procura das soluções possíveis. Talvez que, um dia, prefiramos a solidariedade corresponsável ao suicídio colectivo... 11 MEDO DE FALAR EM PÚBLICO? º VAI FAZER UMA APRESENTAÇÃO? º APRESENTAR UMA IDEIA? º APRESENTAR E DEFENDER UM PROJETO DA SUA EMPRESA? º FAZER UMA APRESENTAÇÃO PARA A SUA EQUIPA? À SUA ADMINISTRAÇÃO? APRESENTAR E DEFENDER º A SUA TESE DE MESTRADO OU DOUTORAMENTO? º APRESENTAR UM ARTIGO NUM CONGRESSO? º DAR UMA FORMAÇÃO? Qualquer apresentação tem um início, um desenvolvimento e uma conclusão, mas cada uma destas fases tem especificidades. As melhores técnicas são: Técnica 4 – Iniciar A introdução tem que ter impacto e pode fazê-lo de várias formas, nomeadamente através de uma questão, de uma história, ou em virtude da importância do tópico. Tem que transmitir à audiência uma boa razão para o querer ouvir. A introdução deverá ocupar cerca de 5 a 10% do tempo da sua NESTE ARTIGO VAI FICAR A SABER QUAIS SÃO AS 8 PRINCIPAIS TÉCNICAS PARA FAR EM PÚBLICO COM SUCESSO. SÃO SIMPLES, EFICAZES E DÃO RESULTADO. apresentação e para que a mesma tenha impacto decore e ensaie. Desta forma vai estar mais confiante. Técnica 2 – Saber quem Todos nós comunicamos, com a nossa família, com os amigos, com os colegas e com desconhecidos, mas quando é necessário fazer uma apresentação pública… sentimo-nos desconfortáveis. Como ultrapassar esta situação? Leia e conheça as principais técnicas dos melhores oradores dos Toastmasters. Técnica 5 – Desenvolver os tópicos é a audiência A forma como vai transmitir a sua informação depende de quem está na audiência. É um grupo de crianças? Um grupo de adolescentes? São universitários? São pessoas com experiência e conhecimento? É um grupo homogéneo ou heterogéneo em termos de experiência e conhecimento? A forma e as palavras que vai utilizar são cruciais. Deverá evitar o jargão técnico ou se tiver que Depende do tempo que tem para a sua apresentação, no entanto é recomendável para apresentações que rondam os 10 minutos ter um único tema e não colocar mais que 3 tópicos. No desenvolvimento, e ao contrário do início da apresentação, não decore o seu discurso, conheça-o como a sua mão. Quando um seu amigo lhe pede a opinião, você nunca se esquece do seu discurso, certo? Porque está dentro de si. o utilizar há que ter o cuidado de Técnica 1 – Definir o Objetivo o explicar. Saiba para quem vai falar. Técnica 6 – Síndroma Lucky Luke Cada grupo constitui um desafio. Qualquer apresentação tem um objetivo que é a mensagem Por vezes um apresentador, Técnica 3 – Conhecer o tema que quer transmitir ou a ação orador ou professor que pretende dar o máximo de informação que quer que a sua audiência Parece estranho colocar esta técnica, possível à audiência prepara um faça. Tem que ter uma mas é fundamental saber muito elevado número de slides, mais mensagem clara e concisa. mais sobre o tema do que aquela que 1 por cada minuto. Estes slides Descreva em 10 palavras o que parte que vai expor. É importante têm bastante relevância para quem pretende que a sua audiência para a sua confiança e em caso não foi à apresentação, uma vez que pense, sinta ou faça depois de necessidade poder acrescentar pode lê-los e aprender. No entanto, da sua apresentação. uma ou outra curiosidade. para quem está a ver e a ouvir vai 12 sentir-se “morto”. O orador dispara mais rápido que a sua sombra, ou seja, dispara linhas de informação EXPERIMENTE E TORNE-SE NUM MELHOR COMUNICADOR ! em número superior aquele que é possível absorver. Os slides devem apoiar o orador e não constituírem a parte principal CASO QUEIRA PRATICAR ESTAS TÉCNICAS NUM AMBIENTE SEGURO E QUEIRA INVESTIR EM SI VISITE UM CLUBE DE TOASTMASTERS. do discurso. Técnica 7 – Audiovisuais - Visuais Os seus slides, tendo por base o trabalho de Garr Reynolds, devem ser visuais e conterem: LdXe`ZX`dX^\dhl\ se relacione com o seu tema; LdXfl[lXjgXcXmiXj se necessário; LdX_`jki`X]XZ`cd\ek\ memorável. Ld]XZkf`dgfikXek\#Zli`fjf Toastmasters International é uma organização global líder na arte de comunicar (falar, ouvir e pensar) e na formação de líderes. Têm cerca de 260,000 membros em 113 países. Nos atuais mercados competitivos e globais, saber apresentar com eficácia é de vital importância para o sucesso. Cursos e seminários são abundantes, na maioria das vezes a preços exorbitantes e as técnicas teóricas são facilmente esquecidas após algum tempo. Os Toastmasters oferecem, não só uma opção económica, cerca de um café por dia, mas também um meio de aprender ao seu ritmo e de um modo que não esquecerá. O sucesso de um orador está diretamente ligado à sua confiança frente a uma audiência. Ao treinar num ambiente seguro vai melhorar o uso das técnicas e desta forma conseguirá aumentar a sua confiança e potenciar as suas competências como orador. e não conhecido. Fjc`[\gf[\j\iZfdgi\\e[`[f em 3 segundos? Se não, refaça-o. Assista a uma reunião dos Toastmasters. Está convidado! Venha melhorar as sua competências. Localize um clube perto de si em: http://www.toastmasters.org.pt/ Técnica 8 – Conclusão A conclusão do seu discurso é o que a audiência leva para casa. É uma das partes mais importantes e tem que ter impacto. Pode fazer a conclusão de várias formas, nomeadamente através de uma síntese do que foi transmitido, ligando a conclusão com a parte inicial respondendo por exemplo à questão colocada, pode fazer um apelo à ação ou contar uma história que contenha a essência da apresentação. Um ponto importante na conclusão apague o slide, concentre a atenção em si, faça a sua conclusão e se tiver que agradecer, agradeça com a sua voz e não recorrendo a um slide. BIBLIOGRAFIA Presentation Zen. How to Design & Deliver Presentations Like a Pro. By Garr Reynolds. http://www.garrreynolds.com/Presentation/pdf/presentation_tips.pdf (consultado em 24 de Março de 2013) Como no início deverá decorar e ensaiar por forma a garantir que a sua apresentação termina com chave de ouro. Artigo escrito em co-autoria com Luis Caetano ([email protected]) e João de Mendonça ([email protected]) 13 // QUEM FOI O PADRE ABEL VARZIM? A MISÉRIA IMERECIDA Em 1937, o Padre Abel Varzim publicou na Revista Lúmen, um artigo que intitulou «Miséria Imerecida». Este texto, cuja actualidade é indiscutível, apoia-se nos ensinamentos da Doutrina Social da Igreja publicados até à data. Transcrevemos, para reflexão de cada um, extractos deste artigo. Miséria é a privação do estritamente necessário à vida, é sofrimento, angústia e tantas vezes agonia. E tudo isto, ela sofre, não por castigo das suas iniquidades, não por necessidades de purificação de alheios crimes, não por determinação imperiosa da vontade de Deus, mas por malvadez humana, por injustiça da sociedade: miséria imerecida. E porque toda esta miséria é imerecida, porque dela não teve culpa a imensa maioria da humanidade que vive em condições contrárias à vontade de Deus que é Justo, que é Santo 14 e que odeia a iniquidade. Dependência. Por expressa vontade de Deus, o homem por si só nada pode. A sua natureza torna-o dependente, mesmo na ordem natural, do concurso de outros homens. Precisamos dele para nascermos, para nos criarmos, para nos educarmos, para nos instruirmos, para vivermos. O pão que nos alimenta, a roupa que nos resguarda do frio e nos cobre a nudez, o conforto que nos dulcifica a existência, os instrumentos do nosso trabalho, a segurança da nossa pessoa, é tudo isto o resultado da colaboração de muitos milhares de homens em nosso favor... somos devedores para com todos os nossos irmãos. Essa dívida só temos uma moeda para a pagar, isto é dando em troca à sociedade, todo o esforço de que somos capazes O exercício da nossa profissão ou vocação não tem outro sentido, nem outro fim: pagar à humanidade a dívida que contraímos para com ela nascendo e que vai aumentando dia a dia, à medida em que a nossa existência mais longa se torna. É o nosso dever. Em contrapartida, desde que à sociedade damos o nosso esforço, adquirimos sobre ela o direito de receber todo o necessário à nossa existência humana. O trabalho tem, pois, assim como a profissão ou vocação qualquer que ela seja, um duplo fim: primeiro, social - isto é, pagar à sociedade os imensos benefícios todos os dias delas recebidos; segundo, individual, isto é adquirir o direito de receber pelo nosso esforço, tudo o que for necessário à consecução do nosso fim temporal e eterno. Aquele que exerce uma actividade patronal exerce-a igualmente com este duplo fim: recompensar a sociedade (fim social) e receber por meio dessa natividade, o necessário à sua conveniente sustentação (fim individual). O Patrão que faz da fábrica ou oficina apenas um meio de ganhar mais rapidamente e em mais abundância riquezas deste mundo comete fatalmente uma dupla injustiça: sacrifica ao seu egoísmo o fim social da sua actividade e o fim individual do trabalho alheio. O salário insuficiente é, portanto, uma iniquidade social, uma extorsão, uma burla e um roubo. E é esta, sobretudo a situação dos nossos dias. Enquanto as fábricas fazem lucros fabulosos muitos operários não ganham, já não dizemos o salário familiar, mas o mínimo necessário para sustentar as suas próprias forças. Quantos à míngua do salário, morreram de doenças contraídas pela fome ou deixaram morrer na miséria dos seus tugúrios, os entes mais queridos do seu coração. Miséria imerecida fruto da malvadez humana com a qual não nos podemos conformar, porque tudo o que é tirado ao trabalho em proveito do egoísmo do capital é injustiça e violência. FÓRUM SOCIAL MUNDIAL Decorreu em Tunis, capital da Tunísia, entre os dias 26 e 30 de Março de 2013 mais uma edição do Forum Social Mundial. Entre os vários documentos aprovados destaca-se a Declaração do Movimento Internacional de Mulheres, que abaixo se reproduz e onde se abordam questões relacionadas com a exploração das mulheres e o seu papel na sociedade. (Palestina, Síria, Líbano, Mali, Congo ...) usando o corpo das mulheres como arma de guerra e acentuou a exploração sexual (estupro, casamentos precoces e forçados); - O aumento da influência do extremismo e poder religioso sobre a política, dentro de um quadro de reestruturação do mercado global, constitui uma ameaça para a emancipação da mulher. TUNIS 2013 Congratulamo-nos com a significa presença de mulheres, associações de mulheres e feministas que participaram do Fórum Social Mundial em Tunis, em março de 2013. Expressamos solidariedade às lutas das mulheres em todo o mundo, especialmente às da região árabe. A diversidade do trabalho das várias atividades da semana, puseram em evidência uma análise comum: - As políticas de austeridade e da globalização neoliberal afetam principalmente mulheres e atinge, cada vez mais duramente, os povos - Fomentou guerras em todo o mundo A finalidade é estabelecer uma sociedade pós-revolucionária baseada em um novo poder teocrático, realizado com os fundamentos do Estado de Direito e dando ao patriarcado uma impressão de religiosidade. O estatuto das mulheres tornou-se um jogo político importante para as sociedades e instituições pela a introdução de uma violência quotidiana que visa excluir as mulheres do espaço público; estas politicas retrógradas combinam-se com as políticas econômicas neoliberais que instalaram a austeridade por todo o mundo; Actualmente, as mulheres são as mais afectadas pelo declínio da economia e insegurança social generalizada. Nós, mulheres, as mulheres e associações feministas, declaramos: - O nosso compromisso inabalável com a universalidade dos direitos fundamentais das mulheres; - A nossa vontade é que a CEDAW* seja ratificada e constitua a base dos direitos constitucionais das mulheres, especialmente nos países árabes; - O nosso direito de beneficiar da riqueza do mundo (água, propriedade da terra, riqueza da mineração ....); - A nossa determinação de lutar contra todas as formas de violência contra as mulheres (estupro, assédio sexual ...); - A nossa exigência para a Proteção das mulheres refugiadas em zonas de conflito, vítimas de exploração sexual e tráfico; Nós, mulheres, pedimos ao Conselho Internacional do FSM: - A inclusão da assembleia de mulheres no conjunto da programação oficial do FSM; - Reforço da presença de organizações feministas na composição do Conselho Internacional diversificando a sua representação - A implementação de um desejo real e de meios para aumentar a paridade real tanto na composição do conselho internacional na organização transversal dos debates; - A atribuição de fundos de solidariedade tendo em conta o componente de género; - A implementação efectiva de uma rede internacional de solidariedade com as mulheres tunisinas em luta pelos seus direitos fundamentais. Feito em Tunis 30 de março de 2013 *Committee on the Elimination of Discrimination against Women Contato da Dinâmica Mulheres: [email protected] 15