Ler Revista - Forum Abel Varzim

Transcrição

Ler Revista - Forum Abel Varzim
Revista dos Associados e Amigos do
Fórum Abel Varzim - Desenvolvimento
e Solidariedade
ABR/JUN 2013
Nº48
O VERDADEIRO PODER
É O SERVIÇO
- JORGE BERGOGLIO, 2007 -
saiba mais...
RESTAURANTE SOCIAL
TESTEMUNHO CRISTÃO2
TRÁFICO DE MULHERES
+
ACOMPANHE-NOS EM:
www.forumavarzim.org.pt
www.forumvarzim.blogspot.com
www.facebook.com/forumavarzim
T: Como funciona o «Restaurante
Social?»
P: Primeiramente as pessoas são
atendidas (inicialmente só por mim),
onde se faz a avaliação das condições
do agregado familiar e da situação
económica. Para este trabalho
contamos, hoje, com a colaboração
de duas Assistentes Sociais, cedidas
pela Caritas (duas manhãs por
semana) e com quatro Paroquianos
voluntários. Faz um atendimento
rigor do ponto de vista técnico
mas também com o coração.
Neste atendimento as pessoas têm
de trazer documentação com os
comprovativos das suas receitas
e despesas. É feita uma avaliação
e as pessoas são chamadas
a participar financeiramente.
Isso é gratificante para as pessoas
que dizem «eu pago a minha
refeição, participo, porque sou
responsável pela minha vida e pela
minha família». Há também muita
gente que não paga nada.
T: Para este projecto foi
importante o envolvimento
de voluntários?
P: Sim. Uma das acções que foi
necessário desenvolver foi o convite
a voluntários Uma das riquezas deste
projecto é que temos 35 voluntários
que todos os dias da semana,
inclusivamente sábados e domingos,
em equipas de 5, se revezam
4
e garantem o funcionamento
do Restaurante. Toda esta equipa
recebeu formação técnica e humana
e também formação mística interior
para perceberem que esta é uma
causa que deve envolver o coração
com sentido de acolhimento
a alguém que sofre que tem fome.
Esta é uma das belezas deste projecto.
Não nos faltam voluntários que
continuam com fidelidade, com
alegria e com esforço.
Parte dos voluntários vêm
directamente dos seus trabalhos
para o Restaurante Social às 18.30
horas e só depois das 20.30 horas
regressam a suas casas.
custear as despesas. Aqui não são
confeccionadas as refeições porque
não temos cozinha. Tivemos que
contratar uma Empresa de Catering»
que nos vende as refeições já
confeccionadas. São depois os nossos
voluntários que se encarregam do
transporte para o Restaurante dessas
refeições, que chegam devidamente
acondicionadas.
Nesses 20 meses, conseguimos
financiar este projecto só com apoio
da solidariedade da Comunidade
Cristã: donativos, apoios de pessoas
individuais ou de grupos que
chegavam a organizar espectáculos
para angariação de fundos para
T: Todos comem no espaço
do Restaurante?
P:As pessoas têm duas possibilidades:
ou comem no restaurante ou levam
comida para casa. Os que comem
no restaurante são uma minoria:
homens que vivem sozinhos.
A maioria leva a comida para casa
para puder comer em família.
A refeição é completa: pão, sopa,
salada, prato e sobremesa.
T: E os apoios financeiros?
P: Durante cerca de 20 meses
não tivemos um cêntimo de apoio
da Segurança Social, do Governo,
da Câmara ou da Junta de Freguesia.
E ao fim do mês tínhamos que
encontrar cerca de 5 000 euros para
“Eu e minha mulher estamos
actualmente desempregados,
tenho 3 filhos. Aqui recebo
uma pequena ajuda.”
DESDE A SUA CONSTITUIÇÃO JÁ FORAM
DISTRIBUÍDAS 45 930 REFEIÇÕES SÓ DE
JANEIRO A ABRIL FORAM DISTRIBUÍDAS
MAIS DE 10 600 REFEIÇÕES, EQUIVALENTE
A 25 000 EUROS.
o Restaurante. Também havia
grupos que se organizavam,
vinham jantar ao Restaurante Social
pagando refeições a um preço mais
elevado e assim contribuindo para
rentabilizar o projecto. Interessante
foi que a Sociedade Civil percebeu
a originalidade deste projecto
e envolveu-se nele. Duas ONG
de âmbito nacional e internacional
organizam iniciativas em Setúbal
de angariação de fundos. Uma delas
organizou um espectáculo que
envolveu um grande pavilhão em
Setúbal cuja receita foi destinada
ao Restaurante Social. Outros
organizaram iniciativas com
a mesma finalidade.
Tivemos a sorte da comunicação
se interessar também por este
projecto e divulgá-lo, o que fez com
que algumas empresas de Setúbal
e Lisboa apoiassem esta iniciativa.
Três destas empresas decidiram não
fazer festa de Natal, nem distribuir
prendas, nem enviar postais e doar
o dinheiro poupado ao Restaurante
Social.
De facto conseguir arranjar 5 mil
Euros por mês sem qualquer apoio
oficial só foi possível graças ao
envolvimento dessa sociedade civil.
Tenha-se presente que a participação
financeira dos utilizadores do
Restaurante anda à volta de 300 euros
por mês.
T: Mas num projecto desta
importância ainda não há apoios
oficiais do Estado?
P: Finalmente, começamos a ter uma
comparticipação da Segurança Social
para umas dezenas de refeições, o que
já nos deu uma grande ajuda.
Neste momento fornecemos 115
refeições diárias. Se multiplicarmos
por 2, 5 Euros, valor que pagamos
ao Fornecedor, veja-se o montante
que temos que arranjar diariamente.
O que revolta é que o valor que
pagamos inclui o IVA. Estando
nós a fazer um trabalho que entra
nas funções sociais do Estado
e ainda temos de pagar IVA.
T: Neste projecto, além da
preocupação de matar a fome,
respeitando a dignidade
das pessoas, existem outras
preocupações?
P: Sim, para além do respeito
pela dignidade das pessoas e um
constante apelo à responsabilidade,
procuramos implementar outra
dimensão que é a da formação.
Queremos que as pessoas adquiram
novas competências
e desenvolvam auto estima.
Por isso têm vindo a decorrer, em
parceria com a Caritas diocesana,
vários cursos de formação – alguns
estão ainda a ocorrer – com esse
objectivo. Outra dimensão
é a coesão social. Para que não
haja o estigma que o Restaurante
Social é o Restaurante dos pobres,
temos promovido a vinda ao
Restaurante de vários tipos de
pessoas, desde Deputados,
Professores Universitários
e muito gente anónima. Isto é bom
porque os utentes habituais têm
oportunidade de ver pessoas
que têm uma situação económica
diferente a comer no meio deles.
5
T: Tem havido alterações no perfil
dos utilizadores do Restaurante
Social?
P: Inicialmente os utilizadores do
Restaurante eram aquelas pessoas
que já eram pobres – continuamente
pobres, ou algumas que estavam sem
receber o RSI. Mas também existem
pessoas que encontraram trabalho
e melhoraram a sua situação
económica e que já não precisam
do Restaurante Social. E estas
últimas expressam a sua gratidão
afirmando que ainda que encontram
quem os ajudasse num período
difícil da vida Ultimamente
o rosto dos utilizadores têm-se
modificado, aparecem famílias,
casais de meia-idade em que um
ou ambos ficaram desempregados
e não têm qualquer apoio.
Liliana (Conhecida por Lili)
“Sou voluntária aqui no Restaurante
Social. Gosto do trabalho que faço aqui.
No início vinha todas as terças feiras,
mas hoje como há mais gente só venho
de quinze em quinze dias.”
6
A Dimensão sócio-caritativa
da Paróquia N. Sra. da Conceição
é o selo identitário desta
comunidade crente.
A Paróquia é formada por gente
muito pobre, que vive em bairros
muito pobres. Portanto o ponto
de partida para a evangelização
deve ser a caridade, respondendo
a quem precisa. Os mecanismos
de resposta são muito simples,
muito ágeis. Não há uma
superestrutura, nem funcionários
a trabalhar, nem centro Paroquial.
No âmbito do apoio social,
a comunidade cristã tem uma
campanha mensal que é a recolha
de produtos alimentares ( um
litro de… ou um kilo de…) que
são partilhados com os que mais
precisam, duas vezes por semana
durante as manhãs. Há um serviço
de recolha e entrega de roupa muito
bem organizado com qualidade.
Também funciona um grupo
de apoio ao emigrante que responde
não só para os emigrantes que
vivem em Setúbal mas também nos
concelhos limítrofes. E igualmente
existe um grupo de apoio aos
desempregados.
O projecto «mãos dadas» que reúne
3 vezes por semana uma média de
60 pessoas, duas vezes para formação
em informática e uma vez para
desenvolvimento da actividade
de pintura artística. Há um grupo
coral que abrange gente da Paróquia
mas também de outras partes
da cidade. Existem também aulas
de alfabetização, inglês e cuidados
básicos de saúde.
P. Constantino
Quem é o Padre Constantino?
O Padre Constantino Gonçalves
Alves é oriundo do Norte (perto
das minas do Pejão. Pertence à
Congregação chamada «Filhos da
Caridade» que tem como carisma
e missão a evangelização do mundo
do trabalho e também nos bairros
populares.
Foi ordenado padre em 1980,
quando estava a fazer uma descoberta
do mundo do trabalho através da
participação directa, como operário
servente. Fez formação profissional
e tornou-se fresador mecânico
e trabalhou durante alguns anos
nesta actividade. Foi delegado
sindical, representante do Sindicato
dos Metalúrgicos do Sul, numa altura
em que começava despoletar a crise
em Setúbal. Foi, Assistente
da Acção Católica durante 9 anos,
D. Manuel Martins e nomeou-o
Pároco da Paróquia de Nª Sra. Da
Conceição, que estava sem Pároco.
Foi Capelão do Hospital do Barreiro
durante 13 anos.
Fez o Mestrado em Serviço Social
na Universidade Católica e ganhou
também o gosto por continuar
a estudar. Actualmente está
matriculado no ISEG para fazer
um Doutoramento em Sociologia
Económica das Organizações.
O TESTEMUNHO CRISTÃO
NO ESPAÇO PÚBLICO
O paradigma, que serviu à construção e ao apogeu
da modernidade e à civilização industrial dos dois
últimos séculos, apresenta, hoje, fissuras insanáveis
de que são sinais gritantes, entre outros, os seguintes:
- a grande desigualdade na repartição do rendimento
e a persistência de extrema pobreza no meio da
abundância e do potencial tecnológico;
- os riscos de insustentabilidade ambiental;
- a crescente bolha financeira mundial e a perigosa
financeirização da economia;
- o excessivo endividamento dos estados soberanos,
empresas e particulares, com consequências sérias
para a estagnação da economia e dificuldades acrescidas
de competitividade externa;
- o elevado volume de desemprego e correspondente
desperdício de recursos humanos, com consequências
graves para o bom funcionamento da sociedade
e a indispensável coesão social.
A estas disfuncionalidades económicas, vêm somar-se:
- uma cultura individualista, dominada pela busca
incessante de mais ter (mais bens, mais conforto,
mais prazer, mais dinheiro) e pela insensibilidade
ao outro (outros indivíduos, outros povos, outras
gerações, outros estratos sociais);
- a desresponsabilização face ao todo, ao cuidado
com os bens comuns, e às novas gerações;
- um preocupante deslizar da democracia para uma
tecnocracia sem rosto ao serviço de grupos restritos
detentores do poder económico e financeiro nacional
e mundial.
É neste contexto que tem particular cabimento falar
da importância do testemunho cristão no espaço público.
Este deve expressar-se, simultaneamente, numa visão
esclarecida e despreconceituosa acerca da realidade,
numa atenção aos sinais dos tempos e num compromisso,
pessoal e comunitário, com gestos e actos proféticos
de mudança.
Para bem assegurar um testemunho cristão à altura dos
desafios do tempo presente, torna-se hoje mais urgente
do que nunca conhecer o pensamento do Concílio
Vaticano II acerca da relação da Igreja com o mundo
e o lugar que os leigos devem assumir na vida económica,
social e política.
Por outro lado, há que aprofundar a doutrina social
da Igreja respeitante aos fundamentos que devem guiar
a presença dos cristãos no mundo e o as coordenadas que
devem orientar as opções que importa fazer em diferentes
contextos da realidade, com vista a uma sociedade mais
justa e mais feliz.
Face aos horizontes largos do Concílio Vaticano II, temos
de confessar que, decorrido meio século, nos encontramos
ainda muito longe de ter assimilado e passado às nossas
práticas correntes os posicionamentos da eclesiologia
conciliar no que diz respeito ao compromisso dos
leigos com uma presença cristã no espaço público,
animada, valorizada e reconhecida pelas suas respectivas
comunidades de pertença eclesial.
O mesmo diria quanto aos riquíssimos ensinamentos
da doutrina social da Igreja, que continua a ser
desconhecida ou subestimada por parte de muitos
cristãos e não informa, como deveria, os seus respectivos
comportamentos, nem influencia de modo relevante
o funcionamento das empresas, das organizações sociais
ou das instituições políticas.
Há, seguramente, que olhar com mais atenção para
a necessidade da formação de uma consciência eclesial
mais esclarecida dos fiéis em geral e, em particular,
daqueles cristãos, mulheres e homens, que, em razão das
suas competências e respectivas situações profissionais,
são chamados a exercer funções com maior relevância
para a vida das pessoas e o futuro da sociedade.
Felicito o Forum Abel Varzim e o seu jornal Transformar,
porque têm o grande mérito de contribuir para a formação
de uma consciência mais esclarecida acerca da presença
responsável dos cristãos no mundo.
Manuela Silva
Professora ISEG/UTL. Aposentada.
7
“EL VERDADERO PODER ES
EL SERVICIO”
(JORGE BERGOGLIO, ARCEBISPO DE BUENOS AIRES, 2007)
Eis-me aqui!
Irmãos e irmãs, boa-noite!
Vós sabeis que o dever do
Conclave era dar um Bispo
a Roma. Parece que os meus
irmãos Cardeais foram
buscá-lo quase ao fim do
mundo… Eis-me aqui!
- Já há Papa?
Um televisor tem a imagem
parada na chaminé. Outros mostram
a multidão acumulada debaixo de
chuva. Milhares de pessoas aguardam
fumo branco na Praça de São Pedro,
no Vaticano.
O mesmo se passa pelo mundo fora:
em casa, nas ruas, nos cafés, nos
jornais, rádios, televisões. Na redação
da RTP a pergunta repete-se desde
o dia anterior. Quem chega à redação
interroga: Já há Papa? Outro televisor
mostra o mundo além do Vaticano.
Hoje nada daquilo interessa…
Fumo negro. A rotina prossegue.
O resto do mundo continua por mais
um bocado a invadir-nos. Melhor:
a tentar invadir-nos. A que horas
é o fumo, agora? Se não for eleito
hoje é porque é de fora, dizem os
especialistas. Será americano?
Vais ver que é o brasileiro.
- Que horas são? Ainda falta uma
hora…
- Está na hora. Não era às 18:00?
Não há fumo?
A chaminé continua muda.
Nestes momentos é muito difícil
trabalhar. É difícil até ir embora,
8
para casa. Arruma-se a secretária
sem pressas… Não vou agora,
e se sai fumo branco? Ai esta mania
de não perder a notícia. Por qualquer
razão estamos todos unidos no tema
que diariamente nos separa.
- É branco? É branco? É branco!
Temos Papa! Um rugido implacável
atravessou a redação: Habemus
Papam! Que é que se passa?
Parece que são todos católicos
desde pequeninos, comento com
a minha colega do lado. Católicos
mais ou menos afirmados e ateus
atestados ostentam olhares
de alívio e alegria.
[Estava dado o mote, antes
mesmo de sabermos quem era.
No encontro com os jornalistas
dias depois, Francisco terminou
assim: Disse que de coração vos
daria a minha bênção. Uma vez
que muitos de vós não pertencem
à Igreja Católica e outros não são
crentes, de coração concedo esta
bênção, em silêncio, a cada um
de vós, respeitando a consciência
de cada um, mas sabendo que
cada um de vós é filho de Deus,
Que Deus vos abençoe!]
Mas quem seria este Pai que todos
parecíamos ter reencontrado?
- Vou embora, parece que agora
é só às sete. Olha, acenderam a luz…
Está alguém a mexer na janela!
Mas não é só às sete? A colega
que já ia na porta volta atrás.
Viu-se alguma coisa? É só às sete.
O som da redação continua
aumentado. Risos, apostas, uma
muito estranha alegria em volta
de um único assunto.
E Francisco chegou às sete.
Veio da Argentina.
… Os irmãos Cardeais foram
buscá-lo ao fim do mundo.
Eis-me aqui! Agradeço-vos o acolhimento:
a comunidade diocesana de Roma tem
o seu Bispo. Obrigado! E, antes de mais
nada, quero fazer uma oração pelo nosso
Bispo emérito Bento XVI. Rezemos todos
juntos por ele, para que o Senhor
o abençoe e Nossa Senhora o guarde.
Dois meses antes, alguém que
dissesse que teríamos dois Papas
seria o quê? Um herege? Agora
ali estavam os dois: Bento XVI
pela mão de Francisco, que veio
das ruas do fim do mundo para
o princípio do que há-de vir.
O protagonista de tudo o que aconteceu
foi, em última análise, o Espírito Santo.
Ele inspirou a decisão tomada por Bento
XVI para bem da Igreja; Ele dirigiu
na oração na eleição os Cardeais.
[Encontro com os jornalistas,
16 de março de 2013]
O Senhor nunca Se
cansa de perdoar
Podemos caminhar o que quisermos,
podemos edificar um monte de coisas,
mas se não confessarmos Jesus Cristo,
está errado. Tornar-nos-emos uma
ONG sócio caritativa, mas não
a Igreja, Esposa do Senhor. Quando
não se caminha, ficamos parados. /…/
Mas a realidade não é tão fácil,
porque às vezes, quando se caminha,
constrói ou confessa, sentem-se abalos,
há movimentos que não são os
movimentos próprios do caminho,
mas movimentos que nos puxam
para trás. /…/ Eu queria que, depois
destes dias de graça, todos nós tivéssemos
a coragem, sim a coragem, de caminhar
conduzido a uma orientação - ainda não consensual que assume com igual relevância e dignidade, embora com
diferenciações, a responsabilidade social a partir da «base»
(famílias, entreajuda e IPSS) e da «cúpula» (Estado),
defendendo que: a base e o Estado são directamente
responsáveis pela solução dos problemas sociais; portanto,
surge assim uma nova subsidiariedade - mista ou terciária
- segundo a qual a acção do Estado
é subidiária em relação às insuficiências da base,
e esta é subsidiária em relação às do Estado.
Relações que devem existir entre as instituições e o Estado
Pelo que acabo de referir, a relação básica é a de
corresponsabilidade. Ambos são responsáveis
pela protecção social, embora cada um a seu modo:
o Estado através, sobretudo, da garantia de direitos;
e as instituições, através da prestação de serviços que
estejam ao seu alcance. Para além destes dois patamares
de protecção social, impõe-se considerar a entreajuda
básica, formada pelas famílias, pelas relações solidárias
informais e pelo voluntariado social de proximidade; os
três patamares proporcionam, potencialmente,
a abrangência de todos os casos e problemas sociais.
Daí resulta que uma das primeiras preocupações de
qualquer governo deva consistir no reconhecimento dos
três patamares e no incentivo da cooperação permanente
entre eles. Lamentavelmente, esta linha de orientação fácil e praticamente sem custos - não foi assumida,
até agora por nenhum governo nem por nenhum partido
com assento na Assembleia da República. Dir-se-á que
a sociedade e a política portuguesas vêm recusando
à pessoas empobrecidas e excluídas o que é mais fácil
e menos dispendioso oferecer-lhes: a cooperação entre
as várias entidades que podem contribuir para a solução
dos seus problemas. É de notar que o reconhecimento
dos três patamares faz parte, há muito, do património do
pensamento social cristão, no âmbito do qual as entidades
do segundo se designam por «corpos intermédios».
Reduções aos apoios atribuídos pelo Estado.
Ainda estou a formar a minha opinião sobre o assunto,
mas devo acrescentar algumas notas, desde já. Há muito
que prevalece uma forte convicção de que tais reduções
são ilegítimas, no que se refere aos direitos sociais já
consagrados.Tal posição baseia-se, além do mais, em três
pressupostos: primeiro, tais direitos são irreversíveis;
segundo, os direitos económicos e sociais e os políticos
formam um todo integrado e, portanto, aqueles - tal como
estes - devem ser salvaguardados, independentemente
de condicionanantes económico-financeiras ou outras;
e, por fim, os recursos financeiros são ilimitados, portanto
- sendo bem geridos - corresponderão sempre às exigências
dos direitos sociais. Ultimamente, porém, a sociedade
portuguesa acha-se profundamente dividida face a estes
pressupostos - nomeadamente face ao terceiro: de acordo
com umas correntes de opinião, os recursos financeiros
estão claramente aquém das exigências do Estado
Social; segundo outras, isso não é verdade e, portanto,
as limitações actuais resultam de má gestão, de injusta
repartição de rendimentos e da sacralização do equilíbrios
financeiro.
Deste modo, o debate sobre o Estado Social está
marcado fortemente pela ideologia, e parece
conveniente recuarmos ao final dos anos oitenta
para melhor nos situarmos. Diz-se que, nessa altura,
«implodiu» o sistema económico de planificação
central, conhecido por «comunismo»; no entanto,
o que «implodiu», na realidade mais profunda,
foi a possibilidade de conciliação entre duas optimizações
- a económica e a social - em qualquer sistema económico.
Alguns países, como por exemplo os escandinavos,
apressaram-se a fazer ajustamentos no seu modelo
económico e social, através de um esforço profícuo
de concertação; muitos dos restantes - entre os quais
Portugal - ignoraram o alerta, na expectativa de
uma solução quase milagrosa que, evidentemente,
não apareceu. E agora - naquilo a que se chama«
crise» - sofremos o peso brutal de uma calamidade
incomensurável e sem qualquer tipo de solução à vista.
Pior do que isso: cada força político-social considera-se
detentora da solução ideal, opõe-se a todas as outras
e, quando chega ao poder, limita-se, em larga medida,
a reproduzir as orientações que tinha contestado;
e as forças retiradas do governo passam a contestar,
mais ou menos claramente, as orientações que tinham
defendido antes. Dentro deste contexto de extrema
complexidade - e quase suicida - talvez se possa responder,
à pergunta fomulada, do seguinte modo: em princípio
não deveriam ser reduzidos direitos sociais; tornando-se
indispensável a redução, isso deveria ser precedido
pela declaração do «estado de emergência», previsto
na Constituição, com uma duração limitada; e tal
declaração deveria basear-se num entendimento
partidário tão alargado quanto possível. Desgraçadamente,
porém, nenhuma destas condições se verificou, até agora,
devido a causas diversas em que se realça o maniqueísmo,
com tiques totalitários, da nossa tradição democrática;
os partidos, as outras forças político-sociais e as correntes
de opinião dominantes não se sentem vocacionadas para
cooperarem, mas sim para se oporem umas às outras até
às últimas consequências. Durante a vigência do anterior
governo e na deste, os partidos da oposição não têm
lutado, basicamente, pela solução dos problemas do país
mas sim a favor de serem eles a governar e a resolvê-los;
vêm lutando mais pelo derrube do governo que pela
cooperação na procura das soluções possíveis. Talvez
que, um dia, prefiramos a solidariedade corresponsável
ao suicídio colectivo...
11
MEDO DE FALAR
EM PÚBLICO?
º VAI FAZER UMA APRESENTAÇÃO?
º APRESENTAR UMA IDEIA?
º APRESENTAR E DEFENDER UM PROJETO DA SUA EMPRESA?
º FAZER UMA APRESENTAÇÃO PARA A SUA EQUIPA?
À SUA ADMINISTRAÇÃO? APRESENTAR E DEFENDER
º A SUA TESE DE MESTRADO OU DOUTORAMENTO?
º APRESENTAR UM ARTIGO NUM CONGRESSO?
º DAR UMA FORMAÇÃO?
Qualquer apresentação tem
um início, um desenvolvimento
e uma conclusão, mas cada uma
destas fases tem especificidades.
As melhores técnicas são:
Técnica 4 – Iniciar
A introdução tem que ter impacto
e pode fazê-lo de várias formas,
nomeadamente através de uma
questão, de uma história, ou em
virtude da importância do tópico.
Tem que transmitir à audiência
uma boa razão para o querer ouvir.
A introdução deverá ocupar cerca
de 5 a 10% do tempo da sua
NESTE ARTIGO VAI FICAR A SABER QUAIS SÃO AS 8 PRINCIPAIS TÉCNICAS PARA
FAR EM PÚBLICO COM SUCESSO. SÃO SIMPLES, EFICAZES E DÃO RESULTADO.
apresentação e para que a mesma
tenha impacto decore e ensaie.
Desta forma vai estar mais confiante.
Técnica 2 – Saber quem
Todos nós comunicamos,
com a nossa família, com
os amigos, com os colegas
e com desconhecidos, mas
quando é necessário fazer
uma apresentação pública…
sentimo-nos desconfortáveis.
Como ultrapassar esta
situação?
Leia e conheça as principais
técnicas dos melhores
oradores dos Toastmasters.
Técnica 5 – Desenvolver os tópicos
é a audiência
A forma como vai transmitir
a sua informação depende de quem
está na audiência. É um grupo de
crianças? Um grupo de adolescentes?
São universitários? São pessoas
com experiência e conhecimento?
É um grupo homogéneo ou
heterogéneo em termos de
experiência e conhecimento?
A forma e as palavras que vai
utilizar são cruciais. Deverá evitar
o jargão técnico ou se tiver que
Depende do tempo que tem para
a sua apresentação, no entanto
é recomendável para apresentações
que rondam os 10 minutos ter um
único tema e não colocar mais que
3 tópicos.
No desenvolvimento, e ao contrário
do início da apresentação, não decore
o seu discurso, conheça-o como
a sua mão. Quando um seu amigo
lhe pede a opinião, você nunca
se esquece do seu discurso, certo?
Porque está dentro de si.
o utilizar há que ter o cuidado de
Técnica 1 – Definir o Objetivo
o explicar. Saiba para quem vai falar.
Técnica 6 – Síndroma Lucky Luke
Cada grupo constitui um desafio.
Qualquer apresentação tem
um objetivo que é a mensagem
Por vezes um apresentador,
Técnica 3 – Conhecer o tema
que quer transmitir ou a ação
orador ou professor que pretende
dar o máximo de informação
que quer que a sua audiência
Parece estranho colocar esta técnica,
possível à audiência prepara um
faça. Tem que ter uma
mas é fundamental saber muito
elevado número de slides, mais
mensagem clara e concisa.
mais sobre o tema do que aquela
que 1 por cada minuto. Estes slides
Descreva em 10 palavras o que
parte que vai expor. É importante
têm bastante relevância para quem
pretende que a sua audiência
para a sua confiança e em caso
não foi à apresentação, uma vez que
pense, sinta ou faça depois
de necessidade poder acrescentar
pode lê-los e aprender. No entanto,
da sua apresentação.
uma ou outra curiosidade.
para quem está a ver e a ouvir vai
12
sentir-se “morto”. O orador dispara
mais rápido que a sua sombra,
ou seja, dispara linhas de informação
EXPERIMENTE E TORNE-SE NUM MELHOR
COMUNICADOR !
em número superior aquele que
é possível absorver.
Os slides devem apoiar o orador
e não constituírem a parte principal
CASO QUEIRA PRATICAR ESTAS TÉCNICAS NUM
AMBIENTE SEGURO E QUEIRA INVESTIR EM SI VISITE
UM CLUBE DE TOASTMASTERS.
do discurso.
Técnica 7 – Audiovisuais - Visuais
Os seus slides, tendo por base
o trabalho de Garr Reynolds,
devem ser visuais e conterem:
›LdX’e`ZX`dX^\dhl\
se relacione com o seu tema;
›LdXfl[lXjgXcXmiXj
se necessário;
›LdX_`jki`X]XZ`cd\ek\
memorável.
›Ld]XZkf`dgfikXek\#Zli`fjf
Toastmasters International é uma organização global líder na arte
de comunicar (falar, ouvir e pensar) e na formação de líderes. Têm
cerca de 260,000 membros em 113 países.
Nos atuais mercados competitivos e globais, saber apresentar com
eficácia é de vital importância para o sucesso. Cursos e seminários
são abundantes, na maioria das vezes a preços exorbitantes e as técnicas
teóricas são facilmente esquecidas após algum tempo. Os Toastmasters
oferecem, não só uma opção económica, cerca de um café por dia,
mas também um meio de aprender ao seu ritmo e de um modo que
não esquecerá. O sucesso de um orador está diretamente ligado à sua
confiança frente a uma audiência. Ao treinar num ambiente seguro
vai melhorar o uso das técnicas e desta forma conseguirá aumentar
a sua confiança e potenciar as suas competências como orador.
e não conhecido.
›Fjc`[\gf[\j\iZfdgi\\e[`[f
em 3 segundos? Se não, refaça-o.
Assista a uma reunião dos Toastmasters. Está convidado!
Venha melhorar as sua competências. Localize um clube perto de si em:
http://www.toastmasters.org.pt/
Técnica 8 – Conclusão
A conclusão do seu discurso
é o que a audiência leva para casa.
É uma das partes mais importantes
e tem que ter impacto.
Pode fazer a conclusão de várias
formas, nomeadamente através
de uma síntese do que foi
transmitido, ligando a conclusão
com a parte inicial respondendo
por exemplo à questão colocada,
pode fazer um apelo à ação ou contar
uma história que contenha a essência
da apresentação.
Um ponto importante na conclusão
apague o slide, concentre a atenção
em si, faça a sua conclusão e se tiver
que agradecer, agradeça com a sua
voz e não recorrendo a um slide.
BIBLIOGRAFIA
Presentation Zen. How to Design & Deliver Presentations Like a Pro.
By Garr Reynolds.
http://www.garrreynolds.com/Presentation/pdf/presentation_tips.pdf
(consultado em 24 de Março de 2013)
Como no início deverá decorar
e ensaiar por forma a garantir que
a sua apresentação termina com
chave de ouro.
Artigo escrito em co-autoria com Luis Caetano ([email protected])
e João de Mendonça ([email protected])
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// QUEM FOI O PADRE ABEL VARZIM?
A MISÉRIA IMERECIDA
Em 1937, o Padre Abel Varzim
publicou na Revista Lúmen,
um artigo que intitulou
«Miséria Imerecida».
Este texto, cuja actualidade
é indiscutível, apoia-se nos
ensinamentos da Doutrina
Social da Igreja publicados
até à data. Transcrevemos,
para reflexão de cada um,
extractos deste artigo.
Miséria é a privação do estritamente
necessário à vida, é sofrimento,
angústia e tantas vezes agonia.
E tudo isto, ela sofre, não por
castigo das suas iniquidades, não
por necessidades de purificação de
alheios crimes, não por determinação
imperiosa da vontade de Deus, mas
por malvadez humana, por injustiça
da sociedade: miséria imerecida.
E porque toda esta miséria
é imerecida, porque dela não
teve culpa a imensa maioria
da humanidade que vive em
condições contrárias à vontade
de Deus que é Justo, que é Santo
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e que odeia a iniquidade.
Dependência. Por expressa
vontade de Deus, o homem por
si só nada pode. A sua natureza
torna-o dependente, mesmo
na ordem natural, do concurso
de outros homens. Precisamos dele
para nascermos, para nos criarmos,
para nos educarmos, para nos
instruirmos, para vivermos.
O pão que nos alimenta, a roupa
que nos resguarda do frio e nos
cobre a nudez, o conforto que
nos dulcifica a existência, os
instrumentos do nosso trabalho,
a segurança da nossa pessoa,
é tudo isto o resultado da
colaboração de muitos milhares
de homens em nosso favor... somos
devedores para com todos os nossos
irmãos. Essa dívida só temos uma
moeda para a pagar, isto é dando
em troca à sociedade, todo o esforço
de que somos capazes
O exercício da nossa profissão
ou vocação não tem outro sentido,
nem outro fim: pagar à humanidade
a dívida que contraímos para com
ela nascendo e que vai aumentando
dia a dia, à medida em que a nossa
existência mais longa se torna.
É o nosso dever. Em contrapartida,
desde que à sociedade damos
o nosso esforço, adquirimos sobre
ela o direito de receber todo
o necessário à nossa existência
humana.
O trabalho tem, pois, assim como
a profissão ou vocação qualquer
que ela seja, um duplo fim: primeiro,
social - isto é, pagar à sociedade
os imensos benefícios todos os dias
delas recebidos; segundo, individual,
isto é adquirir o direito de receber
pelo nosso esforço, tudo o que for
necessário à consecução do nosso
fim temporal e eterno.
Aquele que exerce uma actividade
patronal exerce-a igualmente
com este duplo fim: recompensar
a sociedade (fim social) e receber
por meio dessa natividade,
o necessário à sua conveniente
sustentação (fim individual).
O Patrão que faz da fábrica ou oficina
apenas um meio de ganhar mais
rapidamente e em mais abundância
riquezas deste mundo comete
fatalmente uma dupla injustiça:
sacrifica ao seu egoísmo o fim social
da sua actividade e o fim individual
do trabalho alheio.
O salário insuficiente é, portanto,
uma iniquidade social, uma extorsão,
uma burla e um roubo. E é esta,
sobretudo a situação dos nossos
dias. Enquanto as fábricas fazem
lucros fabulosos muitos operários
não ganham, já não dizemos o salário
familiar, mas o mínimo necessário
para sustentar as suas próprias
forças. Quantos à míngua do salário,
morreram de doenças contraídas
pela fome ou deixaram morrer na
miséria dos seus tugúrios, os entes
mais queridos do seu coração.
Miséria imerecida
fruto da malvadez humana
com a qual não nos podemos
conformar, porque tudo o que
é tirado ao trabalho em proveito
do egoísmo do capital é injustiça
e violência.
FÓRUM SOCIAL
MUNDIAL
Decorreu em Tunis, capital da Tunísia, entre os dias 26 e 30
de Março de 2013 mais uma edição do Forum Social Mundial.
Entre os vários documentos aprovados destaca-se a Declaração
do Movimento Internacional de Mulheres, que abaixo
se reproduz e onde se abordam questões relacionadas com
a exploração das mulheres e o seu papel na sociedade.
(Palestina, Síria, Líbano, Mali, Congo
...) usando o corpo das mulheres
como arma de guerra e acentuou
a exploração sexual (estupro,
casamentos precoces e forçados);
- O aumento da influência
do extremismo e poder religioso
sobre a política, dentro de um
quadro de reestruturação do mercado
global, constitui uma ameaça para
a emancipação da mulher.
TUNIS 2013
Congratulamo-nos com a significa
presença de mulheres, associações
de mulheres e feministas que
participaram do Fórum Social
Mundial em Tunis, em março
de 2013. Expressamos solidariedade
às lutas das mulheres em todo
o mundo, especialmente às da região
árabe. A diversidade do trabalho das
várias atividades da semana, puseram
em evidência uma análise comum:
- As políticas de austeridade
e da globalização neoliberal afetam
principalmente mulheres e atinge,
cada vez mais duramente, os povos
- Fomentou guerras em todo o mundo
A finalidade é estabelecer
uma sociedade pós-revolucionária
baseada em um novo poder
teocrático, realizado com os
fundamentos do Estado de Direito
e dando ao patriarcado uma
impressão de religiosidade.
O estatuto das mulheres tornou-se
um jogo político importante para
as sociedades e instituições pela
a introdução de uma violência
quotidiana que visa excluir
as mulheres do espaço público;
estas politicas retrógradas
combinam-se com as políticas
econômicas neoliberais que
instalaram a austeridade por todo
o mundo;
Actualmente, as mulheres são
as mais afectadas pelo declínio
da economia e insegurança social
generalizada.
Nós, mulheres, as mulheres
e associações feministas, declaramos:
- O nosso compromisso inabalável
com a universalidade dos direitos
fundamentais das mulheres;
- A nossa vontade é que a CEDAW*
seja ratificada e constitua a base dos
direitos constitucionais das mulheres,
especialmente nos países árabes;
- O nosso direito de beneficiar da
riqueza do mundo (água, propriedade
da terra, riqueza da mineração ....);
- A nossa determinação de lutar
contra todas as formas de violência
contra as mulheres (estupro, assédio
sexual ...);
- A nossa exigência para a Proteção
das mulheres refugiadas em zonas
de conflito, vítimas de exploração
sexual e tráfico;
Nós, mulheres, pedimos
ao Conselho Internacional
do FSM:
- A inclusão da assembleia
de mulheres no conjunto da
programação oficial do FSM;
- Reforço da presença de organizações
feministas na composição
do Conselho Internacional
diversificando a sua representação
- A implementação de um desejo
real e de meios para aumentar
a paridade real tanto na composição
do conselho internacional na
organização transversal dos debates;
- A atribuição de fundos
de solidariedade tendo em conta
o componente de género;
- A implementação efectiva
de uma rede internacional de
solidariedade com as mulheres
tunisinas em luta pelos seus
direitos fundamentais.
Feito em Tunis 30 de março de 2013
*Committee on the Elimination
of Discrimination against Women
Contato da Dinâmica Mulheres:
[email protected]
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