INFORME TÉCNICO COPA 2014

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INFORME TÉCNICO COPA 2014
CENTRO ESTADUAL DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE
INFORME TÉCNICO
CONTEXTO EPIDEMIOLÓGICO - COPA DO MUNDO FIFA 2014™
23/05/14
INTRODUÇÃO
Eventos de massa podem ser entendidos como qualquer evento que
envolva grande número de pessoas, reunidas para um objetivo específico
(como por exemplo, motivos esportivos, culturais ou religiosos), com
localização e período específico (WHO, 2010).
No ano de 2014, o Brasil terá um grande evento de massa, a Copa do
Mundo FIFA 2014™ no período de 12 de junho a 13 de julho. O município de
Porto Alegre foi escolhido para sediar jogos, em conjunto com mais 11 capitais
e sediará cinco jogos no período de 15/06 a 30/06/14, envolvendo oito equipes
dos cinco continentes (França, Holanda, Coréia do Sul, Argélia, Nigéria,
Argentina, Honduras e Austrália). O município de Viamão foi selecionado pela
Seleção do Equador para hospedagem da equipe e treinamento dos
jogadores.
Estão sendo esperados um grande número de turistas nacionais e
internacionais, procedentes dos países que irão jogar em Porto Alegre e de
outros locais, o que justifica o estabelecimento de medidas para garantir
condições sanitárias adequadas dos hotéis, restaurantes, estabelecimentos de
saúde, estádio de futebol, área de FAN FEST e outros considerados
estratégicos, além de ações de vigilância ambiental e da saúde do trabalhador.
Igualmente importante é a organização do sistema de vigilância
epidemiológica municipal/estadual para detectar oportunamente doenças de
notificação compulsória, em especial as que não registram casos autóctones
no território gaúcho. Além disso, os jogos ocorrerão no período do
outono/inverno, quando aumenta a circulação de doenças de transmissão
respiratória como influenza e meningites, além do risco aumentado de doenças
de transmissão hídrica e alimentar, abuso de álcool e drogas e possibilidade de
aumento de acidentes e violências.
O presente documento descreve os possíveis riscos de ocorrência de
casos e/ou surtos de doenças de notificação compulsória e outras doenças de
importância em Saúde Pública, levando em consideração os cenários estadual,
nacional e internacional.
DOENÇAS DE TRANSMISSÃO RESPIRATÓRIA E IMUNOPREVENÍVEIS
• Influenza: no RS em 2014, a circulação dos vírus influenza tem-se
mantido dentro dos parâmetros esperados para a época do ano, ou
seja, registra-se baixa ocorrência de casos e os poucos vírus detectados
pelo sistema de vigilância foram Influenza A H1N1pdm, A H3N2 e B.
Lembrar que a Campanha de Vacinação contra Influenza está em
andamento, precedendo o período de maior sazonalidade da doença e
garantindo proteção para os grupos mais vulneráveis. No Brasil, a
situação da influenza é semelhante. O cenário internacional registra
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queda da atividade dos vírus influenza no hemisfério norte, sendo que
nos Estados Unidos o vírus Influenza A H1N1pdm predominou nas
primeiras semanas do ano, sendo após suplantado pelo influenza B.
Especial atenção deve ser dada aos viajantes com sintomas
respiratórios procedentes da China, pelo registro de casos de influenza
aviária por vírus H7N9 naquele país. Até o presente, não há evidências
de transmissão sustentada de pessoa a pessoa, ocorrendo apenas
transmissão viral das aves para seres humanos;
Síndrome Respiratória por coronavírus do Oriente Médio (MERSCov): de setembro/12 até 15/05/14, foram confirmados 572 casos com
173 óbitos, em residentes de países da Península Arábica e arredores
ou em viajantes procedentes dessa região. Não há evidência de
transmissão sustentada de pessoa a pessoa;
Meningites: o foco principal do programa de controle das meningites é
a doença meningocócica, para a qual existe medida de controle
(vacina/quimioprofilaxia). No outono/inverno gaúcho, rotineiramente
observa-se aumento do número de casos da doença de acordo a
sazonalidade, não sendo esperados surtos . O número de casos em
2014 mantém-se dentro do esperado. No mundo, a doença
meningocócica apresenta distribuição global, com surtos ocasionais e
epidemias. A África é a região com maior número de casos no mundo,
principalmente na região semi-árida sub-Saariana, conhecida como
“cinturão da meningite” (15 países do Senegal até a Etiópia).
Doenças Exantemáticas: desde 1999, o RS não registra casos
autóctones de sarampo, somente casos importados em 2010 e 2011. No
momento atual, existe a possibilidade de reintrodução do sarampo no
RS a partir do contato com viajantes nacionais ou internacionais
oriundos de regiões com circulação viral. No Brasil, o Estado de
Pernambuco em 2013 (197 casos) e 2014 (27 casos) e mais
recentemente o Ceará (173 casos) vêm enfrentando surtos de sarampo,
a princípio considerados importados. O último caso confirmado no Ceará
ocorreu no mês de abril/14. O Estado de São Paulo também confirmou
pequeno número de casos da doença (07). O genótipo mais identificado
foi o D8, o mesmo que circula na Europa. Países da Ásia, Europa e
África continuam registrando sarampo, por questões de baixas
coberturas vacinais. Quanto à rubéola, os últimos casos confirmados no
RS foram registrados em 2008;
Poliomielite: em 05/05/14, a OMS emitiu alerta de ESPII (Emergência
de Saúde Pública de Interesse Internacional) relativo ao
recrudescimento da poliomielite, a partir do registro de 62 casos em 10
países da Ásia Central, África Central e Oriente Médio. A OMS
recomenda vacinação contra a poliomielite aos viajantes que se dirigem
ao Paquistão, República dos Camarões e Síria (países com alto risco de
exportação de poliomielite) e ao Afeganistão, Guiné Equatorial, Etiópia,
Iraque, Israel, Somália e Nigéria (países com pólio endêmica e baixo
risco de exportação). Além disso, orienta que os países citados
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garantam vacinação da população residente e dos viajantes com
permanência por mais de 4 semanas com uma dose de vacina atenuada
(VOP) ou inativada (VIP). O Ministério da Saúde brasileiro emitiu
recentemente Nota Técnica sobre o tema, com as recomendações aos
Estados e municípios. O último caso de poliomielite no RS ocorreu no
ano de 1983 e no Brasil em 1989. É muito importante manter a vigilância
das Paralisias Agudas e Flácidas (PFA), com notificação e investigação
imediata de todo o caso que apresente paralisia aguda e flácida de início
súbito em indivíduos menores de 15 anos e/ou paralisia aguda e flácida
em indivíduo de qualquer idade com história de viagem para países com
circulação de poliovírus nos últimos 30 dias antes do início do déficit
motor ou contato com pessoas provenientes de países com circulação
de poliovírus nos últimos 30 dias.
DOENÇAS DE TRANSMISSÃO HÍDRICA E ALIMENTAR
• As principais doenças desse grupo são: botulismo, cólera, diarréia
(casos esporádicos e surtos), febre tifóide e hepatite A.
• Botulismo: sua principal forma de transmissão é a alimentar, devido à
ingestão da toxina do esporo da bactéria Clostridium botulinum formada
em
alimentos
preparados
sem
higiene
e
acondicionados
inadequadamente. É reconhecido como potencial arma biológica. A via
de transmissão considerada como o principal mecanismo de exposição
em bioterrorismo é a por inalação, devido à sua aerolização. O Estado
do Rio Grande do Sul apresenta casos esporádicos e raros surtos de
origem alimentar.
• Cólera: doença infecciosa intestinal aguda causada pelo Vibrio
cholerae, em geral leve ou assintomática, apresenta quadro grave em
cerca de 5% dos casos. A incidência de cólera tem aumentado
globalmente na última década, quando surtos de cólera afetam vários
continentes, Ásia, África e América Latina, Central e Caribe. O registro
de surtos recentes em países como Haiti e República Dominicana, Cuba
e México acentua os riscos de reintrodução da cólera no Brasil. No
Estado do Rio Grande do Sul não há registro de casos autóctones e
ações de prevenção da cólera no Estado devem estar focadas
principalmente nos viajantes procedentes de países onde a doença é
endêmica ou epidêmica. O Plano Estadual de Contingência da Cólera
esta disponível no site www.saude.rs.gov.br.
• Surtos de diarréia: a diarréia aguda é a manifestação mais comum das
doenças veiculadas por água e alimentos que podem ser causadas por
vários agentes como bactérias, vírus e parasitas ou outras substâncias.
Surtos de diarréia em eventos de massa como a Copa 2014 podem
estar relacionados à ingestão de alimentos preparados sem higiene ou
conservados inadequadamente e são considerados um dos principais
riscos de ocorrência. Devem ser investigados com a finalidade de
identificação do agente etiológico e do alimento suspeito prevenindo-se
a ocorrência de novos casos.
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Febre Tifóide: doença bacteriana aguda, causada pela Salmonella
Typhi, está associada a precárias condições sócio-econômicas e de
saneamento básico. É ainda endêmica em muitos países em
desenvolvimento, particularmente na Ásia, na América do Sul e Central
e na África. No Brasil, os estados do Norte e Nordeste apresentam ainda
uma alta incidência da doença e representam cerca de 90% de todos os
casos registrados no Brasil. No Estado do Rio Grande do Sul a Febre
Tifóide é uma doença rara. As ações de prevenção da doença durante a
Copa no Estado devem estar focadas nos viajantes procedentes de
países onde a doença é endêmica ou epidêmica e também em visitantes
procedentes de outros Estados onde a doença é ainda importante.
Hepatite A: doença de início agudo, caracterizada pela presença de
febre, mal estar, anorexia, náusea, vômito e desconforto abdominal,
urina escura, fezes esbranquiçadas, dores articulares e aparecimento de
icterícia em poucos dias. A gravidade dos sintomas está relacionada à
idade sendo mais grave em adultos e maiores de 50 anos. É transmitida
pelo consumo de água ou alimentos contaminados com matéria fecal
humana (preparados por indivíduos com a doença e sem os cuidados
adequados de higiene) e a transmissão pessoa a pessoa contribui para
a rápida disseminação da doença. Há ocorrência de surtos
especialmente em espaços de convivência infantil, de crianças menores
de 5 anos.
DOENÇAS
DE
TRANSMISSÃO
VETORIAL
E
OUTRAS
ANTROPOZOONOSES
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Em função da época do ano de realização da Copa 2014 (outonoinverno) não são esperados surtos e/ou epidemias de doenças
transmitidas por vetores ou outras antropozoonoses em nosso Estado.
Os visitantes estrangeiros poderão chegar ao Estado durante o período
de incubação de antropozoonoses como malária, febre amarela e até
doenças não existentes em nosso meio como a Febre Chikungunya e
outras.
Dengue: no RS, desde 2007, os casos autóctones concentram-se em
geral nos meses de janeiro a maio, após, em geral, registram-se apenas
casos importados.. No Brasil, além dos estados do Norte e Nordeste, o
Estado de São Paulo está enfrentando aumento da incidência da
dengue, com mais de 50.000 casos da doença, destacando-se os
municípios de Campinas, São Paulo (capital) e Jaú. Na região Sul,
destaca-se o Estado do Paraná, especialmente os municípios da região
noroeste, com mais de 8.000 casos confirmados. Em 2014, o RS
confirmou 44 casos autóctones de dengue e18 importados.
Febre Amarela: na história recente, em 2008/2009 o RS enfrentou uma
grande epizootia de febre amarela em primatas não humanos (bugios),
com transmissão silvestre para o ser humano, depois não houve mais
registros até o presente. Como conseqüência, houve a expansão da
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área de recomendação da vacina da febre amarela, atualmente
englobando 462 municípios gaúchos. No mundo, as áreas endêmicas
da doença são países das Américas Central e do Sul e países africanos.
Febre Chikungunya: é endêmica na Ásia e África e a ocorrência do
primeiro surto autóctone de Febre Chikungunya na Região das
Américas (ilhas do Caribe) é um fator preocupante, uma vez que o Brasil
como um todo é área indene para a doença e apresenta grande
infestação pelo mosquito vetor (A. aegypti e A. albopictus). É uma
doença, de etiologia viral, autolimitada, com sintomatologia semelhante
à dengue, mas sem a mesma capacidade de provocar mortes. Os sinais
e sintomas incluem febre de início repentino, dores intensas nas
articulações das mãos e pés, cefaléia, mialgias e exantema
maculopaular. As artralgias podem durar meses.
Malária: duas espécies de plasmódio (vivax e falciparum) são
responsáveis pela maioria dos casos no RS, em média são registrados
20 a 40 casos/ano, todos importados. Em geral, são caminhoneiros,
ecoturistas, missionários e trabalhadores de grandes empreendimentos.
É importante pensar em malária em caso de doença febril ocorrendo em
viajantes oriundos de áreas endêmicas. A demora no diagnóstico pode
implicar em complicações e até óbito. No mundo, os casos concentramse nas áreas tropicais da América Central e do Sul, África e Ásia. Em
Honduras, os casos de malária são por P. vivax, no Equador e na
Argélia a maior parte dos casos é pelo P. vivax e em menor escala pelo
P. falciparum, já a Nigéria registra malária somente por P. falciparum
OUTROS RISCOS
• Surto de Febre Hemorrágica por Ebola: desde fevereiro de 2014, a
África vem enfrentando surto de Febre Hemorrágica por Ebola,
especialmente na Guiné, que registrou, até 12/05/14, 233 casos com
157 óbitos (67% letalidade). Registra-se expansão para Libéria, Serra
Leoa e Mali. A doença apresenta período de incubação de 2 a 21 dias, a
transmissão é de pessoa a pessoa por contato direto com sangue,
secreções, fluidos infectados ou contato indireto e o período de contágio
estende-se por até 7 semanas. O quadro clínico inclui febre alta,
fraqueza extrema, cefaléia, dor de garganta, diarréia, vômitos,
insuficiência renal aguda e sangramentos.
FLUXOS DE NOTIFICAÇÃO NA ÉPOCA DA COPA
As Doenças de Notificação Compulsória estão definidas na Portaria nº
104, de 25/01/2011 e no Anexo II são listadas as doenças de notificação
imediata (em até 24hs). A rápida suspeição dessas doenças, mesmo sem
confirmação da hipótese diagnóstica, assegura a oportunidade do
desencadeamento das medidas de controle.
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Sendo assim a notificação imediata deverá seguir os fluxos já
estabelecidos na rotina de forma rápida por (telefone, fax e/ou e-mail) para o
município, regional e CEVS. Por ocasião da Copa 2014 (na prática nos meses
de junho e julho), levando em consideração o conceito da redundância,
lembramos TAMBÉM os contatos do CIEVS/RS.
CONTATOS CIEVS/RS
E-mail
[email protected]
Fone gratuito para todo o RS
Disque Vigilância 150
PREPARAÇÃO DA VIGILÂNCIA EM SAÚDE PARA COPA
Durante o período da Copa, a Vigilância em Saúde estará participando
do Centro Integrado de Operações Conjuntas da Saúde (CIOCS). Está
estrutura funcionará como sala de situação específica para recebimento,
processamento análise e tomada de decisões. O resultado esperado é que ao
receber de forma imediata a informação/notificação dos diversos serviços
envolvidos no evento, se reconheça rapidamente a ocorrência de surtos ou
eventos inusitados possibilitando agilizar a intervenção e redução de danos.
Os Eventos de Saúde Pública que serão monitorados pelo CIOCS (pela
vigilância) durante a Copa são aqueles relacionados ao evento conforme
definição do quadro abaixo. Salientamos que eventos de saúde pública podem
ser situações de surtos, doenças de etiologia desconhecida, desastres,
reações adversas, intoxicação, violência, produtos e serviços com alto risco
sanitário.
SÃO CONSIDERADOS EVENTOS DE SAÚDE PÚBLICA RELACIONADOS
COM A COPA 2014 QUANDO ENVOLVEM:
Participantes da Copa:
 Viajante (nacional ou estrangeiro) ou cidadão (cidade-sede ou arredores)
que participou de jogo, festa ou atividade relacionada à Copa;
 Jogadores, familiares, delegações, membros da FIFA, integrantes do
Comitê Organizador Local;
 Trabalhador (contratado ou voluntário) que atuou nas arenas, festas ou
atividade relacionada à Copa;
 Imprensa do evento;
 Trabalhador da linha de frente que teve contato com viajante (nacional ou
estrangeiro) ou cidadão (cidade-sede ou arreadores) doente devido à
Copa.
Qualquer pessoa que não participou de jogo, festa ou atividade
relacionada à Copa, mas que:
 Foi afetado por algum evento vinculado com a Copa (ex: atropelamento
de um morador local causado por alguém alcoolizado devido à Copa,
contato com algum viajante ou cidadão doente devido à Copa).