Disputas eleitorais no ciberespaço: estudo do Twitter nas eleições

Transcrição

Disputas eleitorais no ciberespaço: estudo do Twitter nas eleições
Disputas eleitorais no ciberespaço: estudo do Twitter nas eleições
presidenciais de 2014 no Brasil
Claudio Luis de Camargo Penteado – UFABC/ Brazil
Denise Hideko Goya – UFABC/ Brazil
Fabrício Olivetti de França – UFABC/ Brazil
Resumo:
A pesquisa apresenta os resultados preliminares sobre o debate entre os usuários do Twitter nas eleições
presidenciais de 2014 no Brasil. A rápida popularização das Redes Sociais de Internet (RSI) tem produzido
importantes transformações nas relações sociais, produzindo novas formas de sociabilidade mediadas por
computadores. Nesse novo espaço de interação, diversos temas são debatidos por seus usuários que possuem
um papel ativo na produção, transmissão e circulação de informações, tornando o processo comunicacional
mais fluído e dinâmico. Em época eleitoral, o tema da política invade a vida cotidiana das pessoas e também
ganham destaque dentro das RSI. Militantes, simpatizantes, as campanhas dos candidatos e mesmo o cidadão
comum utilizam esse espaço de interatividade para promover um intenso confronto de informações e
contrainformações. Visando compreender o comportamento dos usuários de RSI, esse estudo desenvolveu
uma ferramenta computacional de extração e análise de informações de redes sociais (Twitter) voltada para
identificação do comportamento eleitoral dos usuários. Essa ferramenta possibilita apontar os usuários mais
influentes, identificar a participação de grupos políticos e os temas mais populares. O entendimento da
dinâmica de interação entre usuários dentro de uma rede complexa é uma importante variável para os estudos
sobre comportamento eleitoral e marketing político dentro de uma nova configuração social na qual o
ciberespaço se torna um campo de disputa política da Sociedade da Informação.
Palavras-chave: Eleições 2014, Redes Sociais de Internet, Twitter.
1. Introdução
A Pesquisa Brasileira de Mídia 2014 1, realizada pela Secretaria de Comunicação Social da
Presidência da República do Brasil, confirma o crescimento do uso da internet como fonte de
informação, principalmente entre os mais jovens. Apesar de haver o predomínio do consumo da
televisão, a internet (junto com o rádio) está presente na vida cotidiana das pessoas, atingindo 47%
da população. Dentro da preferência dos entrevistados, a internet já aparece em segundo lugar com
13,1% de citações. Entre os mais jovens (16 a 25 anos), esse índice sobre para 25%. Os dados ainda
indicam uma tendência de crescimento do consumo de internet, comprovando o aumento da
relevância do ciberespaço como espaço de comunicação dentro da sociedade contemporânea.
A internet por sua estrutura em rede permite a criação de novos espaços de comunicação e
socialização. Dentro das arenas virtuais comunicacionais são tecidas relações sociais que fazem
parte do cotidiano de uma parcela crescente conectada a rede mundial de computadores. Dentro do
ambiente virtual, o ciberespaço, as relações de poder ganham uma nova configuração, na qual a
capacidade de comunicação (persuasão) se torna um fator primordial principalmente no campo
1
Disponível em: http://observatoriodaimprensa.com.br/download/PesquisaBrasileiradeMidia2014.pdf. Acesso em
01/09/14.
1
político (CASTELLS, 2009).
Dentro de regimes democráticos, que tem no processo eleitoral seu principal momento, o poder
comunicacional é um elemento chave para a legitimação do processo político, principalmente
dentro do período eleitoral, no qual o cidadão sofre influência das informações que têm acesso para
formar sua opinião e decidir ser comportamento político (PENTEADO, 2005).
O desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação (TIC) ampliaram o alcance e
potência dos sistemas informacionais. O próprio processo de produção, circulação e transmissão da
informação ganhou uma dinâmica diferenciada com a participação ativa do usuário. Esse processo,
Castells (2009) vai chamar de autocomunicação de massas (mass-self communication), na qual
emissores e receptores são sujeitos da comunicação, rompendo com o modelo tradicional de mão
única dos meios de comunicação tradicionais, onde somente cabia ao receptor o papel de audiência.
O mass-self communication é uma forma de comunicação interativa e colaborativa na qual muitos
podem enviar mensagens para muitos, em tempo real e com a possibilidade utilizar a comunicação
ponto-a-ponto (P2P). É também comunicação de massas porque com recursos hipertextuais,
disponíveis na internet, consegue produzir e recuperar conteúdo na rede, disponibilizando
mensagens com linguagem própria, capaz de alcançar uma audiência global e porque aquele que
gera a mensagem define os receptores.
Nesse sentido, a expansão da internet possibilita a formação de uma esfera pública alternativa
ampliada, que segundo Dahlgren (2005) se caracteriza pela apropriação dos canais de comunicação
do ciberespaço para um amplo debate sobre temas políticos, não apenas para a apresentação de
argumentos racionais (cf. modelo habermasiano de esfera pública), mas também para a integração
de culturas cívicas e extensão da participação pública, no qual diferentes agentes sociais podem
expressar seus interesses, identidades e subjetividades.
A popularização das redes sociais de internet (RSI), no Brasil e no mundo 2, transformou esses
ambientes de sociabilidade virtual em espaços privilegiados de expressão de culturas cívicas.
Nessas arenas de interação online, diversos temas são discutidos de forma ampla e muitas vezes
promovendo debates públicos e uma conversação civil (MARQUES, 2006) ou atuam como uma
forma complementar e colaborativa de jornalismo online (RECUERO, 2012). Em período eleitoral,
o tema da política também invadem as RSIs. Militantes, simpatizantes, as campanhas dos
candidatos e mesmo o cidadão comum utilizam esse espaço de interatividade para promover um
intenso confronto de informações e contrainformações. O debate eleitoral encontra dentro do
ciberespaço uma nova fronteira para embates políticos entre os candidatos e os partidos, no qual o
2
Segundo o site Alexa (http://www.alexa.com/topsites), que identifica os sites de internet mais populares, dos 10 sites
mais acessados do mundo, 5 são de redes sociais, sendo o Twitter 7o do ranking mundial e 13o no Brasil.
Informações coletadas em 09/09/2014.
2
cidadão comum pode ter um papel mais atuante, inserindo uma nova lógica dentro dos estudos de
comunicação política.
Com o objetivo de estudar a atuação política dos usuários do Twitter nas eleições presidenciais de
2014 no Brasil, esse artigo apresenta os resultados preliminares, de uma pesquisa em andamento,
sobre o debate entre os usuários do Twitter nos dois primeiros meses de campanha por meio da
utilização de uma ferramenta computacional de extração e análise de informações de redes sociais
(Twitter) voltada para identificação do comportamento eleitoral dos usuários.
O artigo está estruturado, além dessa breve introdução, a partir da descrição da metodologia
utilizada para extração e classificação dos dados da RSI selecionada, na apresentação dos resultados
obtidos e suas respectivas análises, dividida em dois momentos: uma análise geral e outra semanal.
Ao final apresenta-se as considerações iniciais dessa pesquisa em andamento, sinalizando alguns
aspectos e características das disputas eleitorais no ciberespaço nas campanha presidencial
brasileira de 2014.
2. Metodologia
A coleta de dados considerada nesse trabalho ocorreu entre o período de 01/07/2014 até 31/08/2014,
compreendendo dois meses de discussões. Os dados foram coletados utilizando a biblioteca
thwython para a linguagem de programação Python que permite buscar os dados do Twitter de
maneira estruturada. Esses dados foram então armazenados em um banco de dados para facilitar
recuperação futura de informação.
Vale notar que o Twitter permite apenas coletar cerca de 1% de todo o conteúdo de sua base de
dados, fazendo com que seja possível armazenar apenas uma amostra dos tweets. Apesar disso,
foram coletados 2.800.000 tweets nesse período contendo as seguintes palavras-chaves: 'dilma',
'aecio', 'lula','marina silva', 'eduardo campos', 'eleicao', 'eleicoes', e 'eleicoes2014'. Por ser uma
grande base de dados, foi feita uma opção metodológica de trabalhar somente com os candidatos
mais bem colocados nas pesquisas eleitorais e com efetivas chances de vitória.
Note que para cada termo de busca, a interface com o Twitter recupera todas as variações das
palavras acentuadas, o que possibilita a coleta das variações utilizadas dentro do microblog.
Em paralelo, as informações de cada usuário contidas na base de tweets foram coletadas utilizando
a mesma interface. Essa porém tem uma outra limitação: a busca permite coletar a informação de
cerca de 100 usuários a cada 15 minutos. Por esse motivo, apenas uma fração dos usuários foram
coletados até então, totalizando 52.000 usuários em nosso sistema.
3
Para a análise de resultados, os dados foram resumidos com periodicidade semanal (iniciando da
semana 1 até semana 9) e, para cada semana, foram listados os 20 usuários que mais tweetaram, os
20 tweets mais retweetados (RT) e as 20 hashtags mais populares.
Adicionalmente, foram elaboradas outras listas semanais específicas para cada candidato, nas quais
constaram os 20 usuários que mais citaram o nome do candidato, os 20 tweets mais retweetados e as
20 hashtags mais usadas nas menções ao candidato.
3. Resultados
Para a apresentação nesse artigo, que apresenta dados parciais da pesquisa Disputas eleitorais no
Ciberespaço nas eleições presidenciais de 2014, optou-se por trabalhar com as amostras de
hashtags mais citadas e os conteúdos publicados mais retweetados. Esses recortes possibilitam
identificar os assuntos mais populares dentro da rede social de internet utilizada em relação ao
debate eleitoral, representando um recorte empírico da esfera pública alternativa ampliada.
Gráfico 1: Hashtags mais populares
35000
30000
dilmaisfuturo
somosaecio
dilma
dilma13denovo
euvoudeaecio
ripeduardocampos
debatedaband
sabatinadilma
forapt
bra
25000
20000
15000
10000
5000
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
fonte: Autores, 2014.
O gráfico acima mostra a grande variação de hashtags durante as 10 semanas de análise, com picos
de alguns temas. O destaque fica para a grande incidência da hashtag “dabatedaband” na semana 9
(final de agosto de 2014), que sinaliza que apesar do debate não ter grande audiência 3 sua
3
Disponível em: http://www.folhapolitica.org/2014/09/debates-na-band-e-no-sbt-sao-um.html e
http://www.brasil247.com/pt/247/midiatech/151438/Debate-da-Band-fracassa-em-audi%C3%AAncia.htm. Acesso
em 05/09/2014.
4
repercussão no microblog foi ampla, o que certifica a ideia de convergência entre a mídia
tradicional (televisão) e as novas tecnologias de informação e comunicação (JENKINS, 2008).
Outros dois destaques ficam por conta das hashtags “euvoudeaecio” e “dilma13denovo”, na semana
8, que indicam uma forte mobilização em torno das candidaturas do PSDB e PT respectivamente. O
acidente e o falecimento do candidato Eduardo Campos também obteve pico no debate político na
semana 7. Vale ressaltar, ainda sem conseguir atingir altas incidências, a continuidade da #dilma
durante o período de estudo. Apesar de fazer referência à candidata petista, as menções à atual
presidente em geral são negativas, como revelam os resultados apresentados abaixo.
Em relação aos RTs, os dados do gráfico 2 (abaixo) sinalizam que existe uma grande variedades de
perfis que conseguem destaque dentro do debate político. A maioria das ocorrências (48,6%)
somente aparecem uma única vez, o que indica a fluidez dentro do Twitter, isto é, não existe um
controle do fluxo de informações pelas grandes corporações midiáticas.
Gráfico 2: Usuários mais retwitados
DilmaRousselff
VEJA
felipeneto
jose_simao
DaniloGentili
frasesdebebada
BlogdoNoblat
instagranzin
luscaspfvr
marinaecologia
PastorMalafaia
Reinatoss
SENTOAVARAEMVCS
SouLaerte
barbiesemken
BoladoHomer
BolsonaroZuero
Estadao
g1
jnflesch
kalielpp
pablovillaca
queissosenhor
RachelSherazade
reinaldoazevedo
Rhiitler
tumaoficial
vyktorb
outros
fonte: Autores, 2014.
A maior incidência, após outros, foi “DilmaRousselff” (com 8,3%) com um número relativamente
baixo de seguidores (14.400)4, que aponta não haver correlação entre número de seguidores e RTs.
Com a identificação de Dilminha, esse perfil não tem vinculação com a presidente e candidata a
reeleição Dilma Rousseff. Ele se autodefine como fake e caracteriza-se por fazer piadas e ironias
com Dilma que são retweetados principalmente por pessoas contrárias a presidente. Outros
4
Valor coletado em 03/09/2014.
5
destaques do gráfico 2 são “VEJA”, “felipeneto” e “jose_simao”, respectivamente a revista semanal
de maior circulação no país (com conteúdos contrários à Dilma), uma celebridade da internet e um
jornalista. Os conteúdos publicados pelos dois últimos (Felipe Neto e José Simão) são marcados
pelo humor e ironia, muito populares nas RSIs.
Para a classificação dos perfis mais retweetados foram usadas as seguintes categorias:
Quadro 1: descrição das categorias de classificação dos perfis
Classificação
Descrição
Usuário comum
Perfil de usuário que posta conteúdos de diversos assuntos, com até 1.000
seguidores
Twiteiro
Perfil de usuário que posta conteúdos de diversos assuntos, com mais de 1.000
seguidores
Twiteiro-jornalista
Perfil de usuário voltado para a publicação de conteúdos jornalísticos
Twiteiro-humorista
Perfil de usuário voltado para a publicação de conteúdos humorísticos
Candidato
Perfil de candidato à presidência do Brasil
Político
Perfil de político, mas que não é candidato nessa eleição
Partido
Perfil de partido político
Órgão governamental
Perfil de instituição pública governamental
Sites/ blogs de notícias
Perfil de empresas ou blogs voltados para a produção de conteúdos informativos
Mídia tradicional
Perfil de empresas de comunicação tradicional (TV, rádio, jornal, revista, etc)
Jornalista
Perfil de jornalistas voltados para a publicação de informações
Religioso
Perfil de religiosos como padres, pastores, etc.
Engajado
Perfil de usuários que se caracterizam pela publicação de conteúdos voltados para
divulgação de candidatos e/ ou partidos
Celebridades
Perfil de usuários famosos como artistas, comediantes, etc.
Outros
Perfis que não se enquadram nas classificações anteriores
Os resultados, expressos no gráfico 3, corroboram com a ideia de grande variedade de perfis e a
existência de uma lógica própria de comunicação dentro do Twitter. O destaque fica por conta da
maior ocorrência de twiteiro-humorista (35,36%). Esse dado sinaliza que conteúdos com o uso de
humor tem uma maior probabilidade de ser RT, principalmente porque dentro da categoria
“Celebridades” (9,94%), destacam-se humoristas como Felipe Neto e Danilo Gentili.
6
Gráfico 3: Classificação dos perfis mais retweetados
40,00
35,36
35,00
30,00
25,00
20,00
15,00
12,71
10,00
4,42
5,00
9,94
8,84 8,84
0,55
0,55
2,21
3,87
0,55 0,55
7,18
1,66
2,76
0,00
Twiteiro
Twiteiro-humorista
Político
Usuário comum
Twiteiro-jornalista
Candidato
Partido
Governamental
mídia tradicional
religioso
celebridades
sites/ blogs noticias
jornalista
engajado
outros
fonte: Autores, 2014
A leitura do gráfico ainda permite inferir que postagens com informações (que agregaria os perfis:
sites/ blogs de notícia, mídia tradicional, jornalistas e twiteiro-jornalista) não têm popularidade
dentro do microblog. A gramática desse canal de comunicação interativo no debate político,
segundo os dados obtidos até agora, é caracterizada pelo uso do humor, geralmente ofensivo aos
políticos, mais especificamente a Dilma Rousseff como veremos adiante.
Os RTs também foram classificados em relação ao conteúdo de suas postagens. Para a realização
dessa classificação foram adotadas as categorias expressas no quadro abaixo:
Quadro 2: Descrição das categorias de análise dos conteúdos das postagens mais retweetadas
Classificação
Descrição
Indeterminado
Conteúdos que não é possível determinar o sentido dado pelo sujeito enunciador
Posicionamento político
Expressão de posições ou opiniões que indiquem uma visão política
Informação em geral
Divulgação de informações em geral
Informação institucional
Divulgação de conteúdos relacionados a atividades de órgãos governamentais
Humor
Conteúdos que expressam humor e ironia
Alinhamento com candidato
Conteúdos que expressam uma simpatia e defesa de determinada candidatura
Anti-política
Expressão crítica contra o sistema político e a classe política
Anti-Aécio
Conteúdos que expressam uma rejeição ao PSDB, Aécio e seus políticos
Anti-Dilma
Conteúdos que expressam uma rejeição ao PT, Dilma e seus políticos
Anti-Marina
Conteúdos que expressam uma rejeição a Marina Silva e seus colaboradores
Outros
Conteúdos que não se encaixam nas categorais acima
No gráfico 4, apresentado abaixo, os resultados indicam que a maioria dos RTs são contrários à
7
presidente Dilma Rousseff, com quase 47 % das ocorrências. Muitos desses conteúdos expressam
uma grande rejeição à atual presidente e candidata a reeleição, registrada nas pesquisas de intenção
de voto5. Porém, a maioria dos conteúdos da categoria “Alinhamento com candidato”, são
direcionados a mensagens favoráveis à petista, o que sinaliza uma militância online mais efetiva por
parte do PT.
Gráfico 4: Classificação dos conteúdos mais retweetados
46,96
%
6,08
27,07
8,29
indeterminado
posicionamento político
informação
informação (institucional)
humor
alinhamento
anti-política
Anti-Aécio
anti-Dilma
Anti-Marina
Outros
0,00 5,00 10,00 15,00 20,00 25,00 30,00 35,00 40,00 45,00 50,00
fonte: Autores, 2014.
Outro destaque é a grande incidência do humor (27%), principalmente que grande parte dos
conteúdos anti-Dilma também empregam o humor e ironia para criticar a presidente-candidata.
Contudo, é necessário assinalar que o humor utilizados nessas mensagens na maioria dos casos
utilizam expressões grotescas e grosseiras, muitas vezes estereotipadas e preconceituosas. Com a
entrada de Marina Silva, após a morte de Eduardo Campos, e sua rápida ascensão dentro das
pesquisas eleitorais, a candidata começou a sofrer ataques nas duas últimas semanas de coleta dos
dados, indicando uma tendência de crescimento de RTs “anti-Marina”. Apesar da polarização PT e
PSDB, abalada pelo crescimento de Marina Silva, os conteúdos anti-PSDB são pouco RTs.
5
A rejeição de Dilma, é de 32% do eleitorado, segundo pesquisa DataFolha de 04/09/2014. Índice considera alto e
que coloca em risco sua eleição, principalmente em uma eleição em dois turnos. Informação disponível em:
http://noticias.r7.com/eleicoes-2014/datafolha-marina-tem-16-de-rejeicao-dilma-tem-32-04092014. Acesso em
05/09/2014.
8
Quadro 3: Classificação dos RTs por temas:
Temas
pessoal
GLBT
saúde
educação
copa
economia
pesquisa
campanha
debate
N
%
21
3
1
5
45
6
9
23
6
11,60
1,66
0,55
2,76
24,86
3,31
4,97
12,71
3,31
entrevista Globo
Petrobrás
internet
corrupção
15
7
5
4
8,29
3,87
2,76
2,21
Política externa
Religião
outros
Total
5
4
22
181
2,76
2,21
12,15
100
fonte: Autores, 2014.
Em relação aos temas mais RTs, pode-se perceber que existe uma grande variedade de assuntos que
são retweetados, conforme apresenta o quadro 3. O destaque fica por conta do tema “Copa” com
24,86%, que nas duas primeiras semanas foram muito populares dentro do Twitter. Dentro desse
assunto, apesar de não se referir diretamente às eleições, observou-se uma grande referência a
presidente Dilma, de forma negativa ou jocosa. Após o término da Copa do Mundo de Futebol
outros temas começam a ganhar destaque, mas permanece a ocorrência de críticas pessoais a
candidata petista, sendo a maior incidência dentro do tema pessoal (11,6%). Um outro tema com
grande ocorrência foi “campanha” com 12,71%. Contudo, a variedade de temas está associado ao
caráter episódico da campanha eleitoral, isto é, os diversos episódios que acontecem durante a
campanha são diretamente repercutidos no Twitter. A cada mudança na conjuntura da disputa
eleitoral, um tema ganha destaque dentro do microblog, como a entrevistas dos candidatos ao Jornal
Nacional da Rede Globo, o ataque de Israel aos palestinos, a mudança no programa de governo de
Marina Silva em relação ao casamento gay após pressão de pastor evangélico (via Twitter), o
escândalo do aeroporto em Minas Gerais envolvendo o candidato Aécio Neves e outros assuntos
que ganham visibilidade ao longo da disputa eleitoral.
A pesquisa ainda fez um recorte em relação aos retweets por menção de candidatos. A partir do
9
nome dos candidatos (Dilma, Aécio e Marina), foram classificadas as 20 mensagens mais
retweetadas. Esse recorte permite observar o que os usuários do Twitter estão “falando” sobre os
candidatos. Os RTs foram avaliados de acordo com a intencionalidade dos comentários em positivo
(quando a mensagem possui um conteúdo ou menção positiva ao candidato(a)), negativa (quando a
mensagem possui um conteúdo ou menção negativa ao candidato(a)) e indeterminado (quando não
é possível identificar a intencionalidade da mensagem).
Antes de apresentar os resultados, é preciso sinalizar que as menções a candidata Dilma Rousseff
foram muito superiores aos demais. Os gráficos, separados por candidatos, ilustram somente os RTs
associados a menção de seus nomes, que não necessariamente foram os mais populares
(retweetados).
Gráfico 5: Retweets com menção à Dilma Rousseff
Indefinido
Positivo
Negativo
Desvio
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
fonte: Autores, 2014
As menções da Dilma em sua grande maioria foram negativa (57,5%). Esses dados confirmam os
resultados apontados acima, que indica que apesar de mais citada dentro da rede social de internet, a
candidata petista não goza de grande popularidade dentro dessa rede social de internet. As menções
negativas são feitas tanto por twiteiros contrários ao PT e a Dilma, como por parte de jornalistas
(Reinaldo Azevedo e Blog do Noblat) e veículos da imprensa (Revista Veja).
10
Gráfico 6: Retweets com menção à Aécio Neves
Indefinido
Positivo
Negativo
Desvio
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
fonte: Autores, 2014.
O gráfico 6 apresenta a análise dos RTs associados ao candidato tucano. Ao contrário de Dilma,
Aécio possui mais menções positivas (47,5%), contudo a linha mostra uma grande incidência de
RTs negativos (45%). A maioria dos RTs positivos são associados a perfis da militância tucana no
Twitter, sendo que os comentários negativos geralmente eram feitos por intelectuais e jornalistas
ligados ao PT.
Gráfico 7: Retweets com menção à Marina Silva
Indefinido
Positivo
Negativo
Desvio
0,00%
5,00%
10,00%
15,00%
20,00%
25,00%
30,00%
35,00%
Fonte: Autores, 2014.
11
As menções à Marina, em relação aos RTs (gráfico 7), apresentam um comportamento diferenciado
em relação aos outros candidatos. Uma importante ressalva está associada a entrada de Marina Silva
na campanha, como candidata titular a presidência, somente na semana 6. Desta forma, nas
primeiras semanas, muitos dos RTs coletados com o termo “Marina” não estavam associados à
pessoa da candidata, mas a outros sentidos do termo. Assim, pode-se observar a ocorrência de 8%
de desvios. O gráfico mostra uma maior dispersão dos resultados, com a maior incidência de
comentários indeterminados (34%), muito próximo de comentários negativos (33,5%) e positivos
(24,5%).
3.1 Resultados por semana de pesquisa
Tendo em vista o caráter dinâmico de cada disputa eleitoral, no qual cada campanha possui uma
conjuntura específica, no qual elementos como virtú e fortuna, conceitos chaves do pensamento
maquiaveliano, são essenciais para a leitura crítica do processo eleitoral, segue abaixo uma
interpretação dos dados coletados por semana que busca compreender e identificar as metamorfoses
do comportamento dos usuários do Twitter, bem como as características dos usuários e do debate
político e eleitoral de 2014, entre os meses de julho e agosto de 2014.
Nas duas primeiras semanas, período que compreendeu jogos do Brasil na copa, a maior parte dos
tweets direcionados à política eram anti-Dilma com insinuações de que, a seleção brasileira
perdendo, o povo não iria mais votar na Dilma. Outros tweets remeteram a um pedido de que a
Dilma comprasse o juiz para favorecer a seleção. Os usuários que mais twitaram nesse período
podem ser divididas em pessoas sem ligações partidárias (pró-Dilma e pró-Aécio). O usuário com
maior número de tweets publicados (não retweetados) foi o Hax0rSon que é um robô de tweets antiPT.
Na terceira e quarta semanas o foco voltou novamente ao bipartidarismo com as hashtags “dilma”,
“dilmareeleita” a favor da candidata Dilma e “forapt”, “foradilma” contrários a sua reeleição. Essa
polarização ficou mais evidente com o destaque para a entrada dos assuntos do “decreto 8243”
(decreto da Presidência da república que institui a Política Nacional de Participação Social e o
Sistema Nacional de Participação Social, muito criticado pela oposição que acusou-o de ser
antidemocrático) e o “Mais Médicos” (programa do governo federal que contratou médicos
estrangeiros para localidades sem médico no Brasil, que também gerou um embate com a oposição,
principalmente pela participação de médicos cubanos).
Na terceira semana também ocorreu o escândalo do aeroporto na cidade de Claudio (MG), uma obra
feita na gestão de Aécio no governo de Minas Gerais que desapropriou uma área de um parente e
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fica próxima a uma fazenda de sua família. Essa notícia, repercutiu negativamente dentro da rede
social analisada para o candidato tucano. Apesar de diminuir a intensidade, a notícia do aeroporto
em Minas Gerais, ainda é bem citada na quarta semana.
Nesse período, os usuários que mais tweetaram são os partidários do PSDB, em primeiro lugar, e do
PT em segundo deixando claro o início da campanha via redes sociais. Os tweets mais
compartilhados são aqueles que fazem piada de algum candidato ou situação. Nesse período o alvo
principal foi a candidata Dilma, porém com o escândalo do aeroporto em MG, as menções
negativas de Aécio também são elevadas.
Na quinta semana a atenção foi na sabatina realizada por jornalistas do Jornal Folha de São Paulo,
SBT, Portal UOL e rádio Jovem Pan com a candidata Dilma Rousseff. Nas hashtags a diferença
mais perceptível foi a inclusão da palavra-chave “sabatinadilma”. Em relação aos usuários que mais
tweetaram, ocorreu um equilíbrio entre pró e anti-Dilma. Já em relação aos RTs, percebe-se que
ocorreu ataques à presidente, principalmente de partidários de Aécio. Esse comportamento se repete
na semana seguinte (sexta semana), ainda repercutindo a entrevista aos jornalistas.
Na sétima semana, ocorreu o acidente envolvendo o candidato Eduardo Campos e boa parte do foco
dos eleitores se voltou para esse fato. Vale notar que dentre os usuários que mais tweetaram, a
maioria é partidário do PT. Apesar das hashtags envolvendo o Eduardo Campos terem sido as mais
populares, também é possível ver dentre os 20 mais populares a hashtag “dilma” e “aeciojn”,
referente a entrevista do candidato Aécio Neves no Jornal Nacional. Dentre os retweets, como
habitualmente, os mais populares foram as piadas comentando o acidente.
Com a entrada de Marina Silva na disputa presidencial, no lugar de Eduardo Campos, seu nome
começa a ser citado com mais destaque dentro do Twitter. Tweets com piadas e críticas à candidata
ganham destaques e aparecem entre os mais retweetados.
Na oitava semana, pode-se perceber uma mudança significativa de comportamento. As hashtags
“euvoudeaecio” e “dilma13denovo” ficaram em evidência com aproximadamente o mesmo número
de tweets, indicando um investimento maior nas campanhas nas redes sociais, que também pode ser
percebido através dos usuários que mais tweetaram, sendo em sua maioria partidários de algum dos
dois partidos (PT e PSDB). Tais movimentações coincidem com o início da propaganda eleitoral
gratuita no rádio e TV. Ainda, pode-se observar um crescimento de RTs repercutindo a mudança no
plano de governo de Marina Silva em relação ao “casamento gay”, que foi muito criticado, além do
apoio de um grande banco a sua candidatura. Entre as mensagens mais retweetadas nessa semana
estiveram os comentários negativos e piadas relacionados à entrevista da presidente Dilma ao Jornal
Nacional.
Finalmente, na última semana de agosto, predominaram no Twitter as mensagens sobre o debate
13
realizado na Rede Bandeirantes de TV e sobre a primeira pesquisa IBOPE que indicara um forte
crescimento da candidata Marina Silva e sua possível ida para o segundo turno. Dentre as hashtags
mais usadas na semana, surge “soumarina40”, embora com certa timidez se comparada às hashtags
pró-dilma e pró-aecio.
Com as listas específicas por candidato, ficou evidente a organização dos perfis ligados às
campanhas eleitorais, principalmente na última semana de agosto, quando as equipes já estavam
bem articuladas em torno dos três principais nomes na corrida presidencial. Dentre os 20 usuários
que mais falaram sobre a presidente Dilma, predominaram os que disseminaram mensagens
favoráveis ao PT e à reeleição. Igualmente, para o candidato Aécio Neves dominaram os perfis
simpatizantes ao PSDB. Já no caso da Marina Silva, nota-se exatamente o oposto, em que os
usuários que mais citaram a candidata foram os pró-Dilma ou pró-Aécio e, portanto, divulgaram
mensagens negativas ao PSB e à Marina. Em termos quantitativos, observou-se maior número de
usuários em apoio ao PT que mantêm alta atividade de postagens. Na nona semana, por exemplo,
foram listados 12 perfis que atuam em campanha à reeleição de Dilma com um volume entre 300 e
600 postagens no período (na amostragem apurada) e que citaram o PT positivamente; esses
mesmos usuários também postaram mensagens negativas à Marina. Já os perfis partidários do
PSDB apresentaram volume de postagens na última semana de agosto entre 50 e 250 mensagens
pró-Aécio, enquanto apenas 1 usuário pró-Marina consta da lista dos 20 usuários que mais citaram a
candidata, com um pouco mais de 200 postagens.
Foi verificado, também, a correlação entre o número de tweets e o número de seguidores. Embora
não tenha tido um resultado consistente, em sua maioria a correlação foi positiva, indicando que o
número de tweets atrai os usuários simpatizantes do partido correspondente.
3.1.1 Resultados por semana: menção aos candidatos
Com o objetivo de observar a dinâmica do processo eleitoral e principalmente as modificações no
debate no ciberespaço, abaixo apresenta-se as análises por menções aos candidatos ao longo do
período de estudo (agosto e julho de 2014).
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Gráfico 8: Retweets menção à Dilma Rousseff – semanal
9
8
7
6
Indefinido
Positivo
Negativo
Desvio
5
4
3
2
1
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
fonte: Autores, 2014.
O gráfico 8 permite visualizar que somente na segunda semana os RTs de teor negativos não foram
os mais percebidos. A péssima repercussão da entrevista da Dilma ao Jornal Nacional e sua queda
nas pesquisas de intenção de voto, semanas 6 a 8, elevaram o percentual de menções negativas. Na
última semana, observou-se uma mobilização em prol da candidata com o aumento da citações
positivas.
Gráfico 9: Retweets com menção à Aécio Neves – semanal
12
10
8
Indefinido
Positivo
Negativo
Desvio
6
4
2
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
Fonte: Autores, 2014.
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A análise das citações referentes ao candidato Aécio Neves do PSDB mostra um comportamento
diferente em relação a petista. Um destaque, já citado acima, fica para a semana 4, na qual a notícia
sobre a construção do aeroporto em terras de seus familiares incide negativamente no Twitter. Nas
últimas semanas registrou-se seu pico de menções positivas, fica por conta da mobilização da
militância virtual psdbista, que tem uma maior participação na referência ao seu nome.
Gráfico 10: Retweets com menção à Marina Silva – semanal
6
5
4
Indefinido
Positivo
Negativo
Desvio
3
2
1
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
Fonte: Autores, 2014.
O gráfico referente a Marina Silva revela que a partir de sua entrada na disputa eleitoral, como
candidata a presidente da república, pode-se visualizar uma polarização entre menções positivas e
negativas. Após sua inserção, seu bom desempenho nas pesquisas de intenção de voto despertam
RTs negativos e positivos. Na última semana, pico de citações negativas, principalmente críticas as
mudanças em seu programa de governo referente ao casamento homoafetivo, após pressão do pastor
evangélico Silas Malafaia.
Considerações iniciais
Esse artigo apresenta alguns resultados parciais da pesquisa “Disputas eleitorais no ciberespaço:
estudo das redes sociais de internet nas eleições presidenciais de 2014 no Brasil”. Para esse trabalho
somente foi analisado os dados do Twitter, contudo ao final da investigação será incorporada o
estudo do Facebook.
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Os dados apresentados aqui permitem observar que a atual disputal presidencial brasileira, dentro
do Twitter, tem sido marcada por eventos que promovem grandes debates dentro dessa RSI.
Inicialmente, nas duas primeiras semanas de julho, o tema da Copa do Mundo de Futebol dominou
os comentários, no qual existiram diversas menções à presidente Dilma, com piadas e críticas. Na
sequência, a notícia da construção do aeroporto em terras da família de Aécio Neves em Minas
Gerais ganhou destaque. O acidente de avião que vitimou o candidato do PSB, Eduardo Campos,
também ganhou repercussão dentro do microblog, assim como a entrada de Marina Silva na
campanha posteriormente. Também merecem destaque, a repercussão das entrevistas dos candidatos
nos grandes veículos de comunicação de massa, o lançamento de pesquisas e os debates entre os
candidatos.
Esse comportamento permite a comprovação da ideia que as redes sociais de internet são
importantes espaços para debates sobre os temas do cotidiano, não formando a esfera pública
idealizada por Habermas, mas como uma arena de socialização no qual os diversos grupos políticos
e usuários comuns podem debater e expressar suas opiniões. Dentro da Sociedade da Informação a
as RSIs, que por sua arquitetura e dinâmica comunicacional fomenta a interação entre os usuários
da internet, se configuram como uma “caixa de ressonância” dos principais eventos sociais, como
no caso estados, das eleições presidenciais de 2014.
Uma leitura geral dos resultados apresentados nesse artigo, permite identificar que o Twitter é
atualmente um ambiente hostil para Dilma Rousseff, como pode-se vivenciar nas manifestações da
abertura da Copa do Mundo de Futebol. Por outro lado, também pode-se observar que existe um
grupo de apoiadores e simpatizantes a sua candidatura atuante dentro da RSI, que conseguem
disseminar hashtags favoráveis à petista. Os apoiadores do Aécio Neves se caracterizam mais pelos
ataques a petistas, ficando as menções positivas mais voltadas para os perfis oficiais e militantes
virtuais. Por fim, existe o fator Marina Silva, que por entrar depois dentro da corrida eleitoral
recebeu, no recorte dessa pesquisa, menos ataques dentro do microblog. Mas, a leitura dos dados
das duas últimas semanas permite observar a tendência (já assinalada) de aumento de críticas a sua
candidatura.
Dos dados apresentados acima, é possível perceber que Marina Silva também se beneficiou do
comportamento dos usuários do Twitter com rejeição ao PT e à Dilma Rousseff. Com sua entrada
na disputa, ela conseguiu atrair os votos que iriam para o candidato tucano, assim como a simpatia
dos eleitores desejosos por uma terceira via, diferente da polarização PT x PSDB, que tem marcado
os últimos anos da política nacional, conforme ilustram as pesquisas de intenção de voto.
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Referências Bibliográficas
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DAHLGREN, Peter.(2005): The Internet, public spheres, and political communication: Dispersion
and deliberation. Political communication, v. 22, n. 2, p. 147-162.
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conversação civil. Opinião pública, 12.1: 164-187.
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presidencial do PT em 2002. Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais
na PUC-SP. São Paulo.
RECUERO, Raquel. (2012): Redes sociais na internet, difusão de informação e jornalismo:
elementos para discussão. Metamorfoses jornalísticas, 2: 37-55.
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