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A trajetória do movimento feminista O Feminismo desafia o capitalismo Desafios para os professores sergipanos Revista de Formação Político-Pedagógica www.sintese.org.br Mulheres e participação política nº 21 - Sergipe - março - 2013 R$ 5,00 do SINTESE EXCLUSIVO ENTREVISTA COM LECI BRANDÃO Garantir a efetiva participação feminina é fundamental para a democracia 1 2 primeiras palavras Somos mulheres, somos lutadoras, somos fortes! Nem chocolate, nem flores. O mês de março – em que se celebra o Dia Internacional da Mulher – não é um momento de comemorações nem de presentear as mulheres. O mês de março é um mês de reflexão e ação concreta sobre os direitos das mulheres, sobre a luta por respeito, justiça e igualdade de direitos. O mês de março é um mês para debater e refletir sobre a desigualdade de gênero no mundo do trabalho, discutir e definir ações de combate à violência contra a mulher. O mês de março é um período para resgatar e manter viva a história e a memória de mulheres lutadoras de todo o mundo. A Revista Paulo Freire se insere nesse contexto. Nesta edição, homenageamos as mulheres. Mas não com presentes, flores ou chocolates. Homenageamos as mulheres destacando o protagonismo dessas companheiras nas principais lutas sociais travadas ao longo da história. Homenageamos as mulheres professoras e todo o conjunto das mulheres trabalhadoras. Sobre este tema, trazemos uma matéria especial que aborda a importância da participação das mulheres na política nacional e um artigo que delineia uma trajetória histórica do feminismo em todo o mundo. A companheira Rosane Silva, que ocupa a Secretaria Nacional da Mulher Trabalhadora da CUT, colabora nesta edição com um artigo que ressalta como o sistema capitalista mantém e reforça práticas machistas. Rosane defende como fundamental questionar o capitalismo a partir da luta feminista. A forma como a mídia retrata as mu- lheres brasileiras e a luta das organizações feministas pela democratização da comunicação é também tema de uma matéria nesta edição. Ainda nesta edição temos uma entrevista mais que especial. Conversamos, com exclusividade, com a sambista e deputada estadual por São Paulo, Leci Brandão. Leci é a autora de uma música-hino para as professoras e os professores sergipanos, a canção Anjos da Guarda. Na entrevista, Leci Brandão revela que entende e é apaixonada pela educação pública. Dando continuidade ao protagonismo feminino em toda esta edição, a seção Saber e Poesia, traz um poema sobre o 8 de Março e o fim da violência contra as mulheres. Nesta edição de março, damos prosseguimos à divulgação de experiências de projetos e ações pedagógicas bem-sucedidas desenvolvidas por professores e professoras em redes públicas no estado de Sergipe. Destacamos o projeto “Se ligue e recicle”, em que educadores, estudantes e comunidade local desenvolvem ações de preservação e conservação ambiental. “Se ligue e recicle” foi um dos projetos finalistas do 3º Concurso Nacional Aprender e Ensinar, promovido pela Revista Fórum e Fundação Banco do Brasil. Mês de março é também o mês em que demos início à nossa Campanha Salarial de 2013. O ano, certamente, será de inúmeros desafios para as professoras e os professores sergipanos. Será fundamental a nossa unidade e mobilização. Essa é a reflexão que está presente em um artigo nosso nesta edição da Revista Paulo Freire. Boa leitura! Ângela Melo Presidenta do Sintese onde achar Questionando o Capitalismo a partir do Feminismo Em 2013 não abro mão do Piso 04 06 Entrevista com Leci Brandão Mulheres e participação política 08 10 [email protected] www.sintese.org.br Redação e Assinaturas Telefax: (0**79) 2104-9800 Paulo Victor Melo Editor (DRT/BA: 3548) Diego Oliveira Coordenação Gráfica (DRT/SE 1094) Conselho editorial: Angela Melo, Joel Almeida, Sandra Moares, Edinalva Mendes, Hildebrando Maia, Janieire Miranda, Ana Luzia, Ivonete Cruz, Izabel Nascimento, Edileide Barrozo, Franklin Magalhães, Elda Góis Os artigos assinados nesta edição não refletem necessariamente o entendimento da direção do Sintese. FALE CONOSCO Tel: (79) 2104-9800 (Bárbara Eloah) E-mail: [email protected] A trajetória do movimento feminista 12 As mulheres e a democratização da comunicação 15 17 Se ligue e recicle Revista de Formação Político-Pedagógica do SINTESE Rua Campos, 107 – B. São José - Aracaju-Se CEP: 49015-220 ASSINATURA SOCIAL - R$ 150 (12 exemplares) ASSINATURAANUAL NÃO FILIADOS - R$ 100 (12 exemplares) ASSINATURAANUAL NOVOS-FILIADOS - R$ 60 (12 exemplares) ASSINATURAANUAL FILIADOS - R$ 60 (12 exemplares) 3 Conjuntura Questionando o capitalismo a partir do feminismo Rosane Silva* Aproveitamos o mês de março para aprofundar nossas reflexões e luta diante das desigualdades que nos atingem no dia a dia. Questionar o capitalismo a partir do feminismo tem como um de seus elementos centrais a compreensão de que a opressão e mercantilização da vida das mulheres estruturam o modelo atual. As relações sociais são marcadas pela lógica de que tudo é mercadoria, as relações entre as pessoas tornam-se uma relação entre coisas. E nós mulheres percebemos que esse modelo nos coloca numa posição de maior vulnerabilidade, não ganhamos com o capitalismo, tampouco com a globalização. 4 Assistimos a reprodução do que é a opressão machista que nos torna mais vulneráveis, permitindo ao capitalismo explorar a mão de obra das mulheres em empregos precários e informais. Nesse aspecto, queremos questionar e desconstruir os mecanismos do mercado e as pressões da mídia para controlar nossos corpos e nossas vidas. Reforçamos nossa crítica ao livre mercado, pois ele reduz ao terreno das coisas o que é central para nossas vidas: a autonomia das mulheres. Nesse cenário muitas vezes nos vemos acreditando que ter boa aparência seria algo importante para se conseguir um emprego. Significa que os critérios do que é ser uma boa trabalhadora está sendo ditado pelo mercado, pela indústria da beleza. Poucas vezes refletimos sobre os padrões que nos são impostos e que acabamos adotando em nosso dia-a-dia, sem nos dar conta de que ele está conectado com aquilo que o capitalismo espera de nós. O mercado se apropria da construção social sobre o que é ser mulher e reforça este estereótipo: discreta, silenciosa, bonita, maquiada e multifuncional. De acordo com essa idéia as mulheres devem se manter em seu lugar de submissão e inferioridade, um objeto que não age de acordo com sua vontade. Nas diversas propagandas percebemos em qual lugar o sistema capitalista coloca as mulheres. Temos que ser bonitas dentro de um padrão estabelecido pelo mercado, logo é necessário consumir todos os produtos que garantem que atenderemos a esse perfil: para o cabelo ficar liso, ou crespo, ou loiro (de acordo com a tendência), para sermos sempre jovens, então devemos usar cremes, para o rosto, mãos, corpo e pés! Só sendo bela e esbelta seremos felizes, e para tanto, temos que consumir os produtos que nos oferecem. O mercado também se apropria da separação entre os espaços público e privado e reforça o local onde as mulheres devem permanecer: no lar, ao lado dos filhos e da família. Por isso, tantas propagandas de produtos de limpeza destinados a facilitar nossa vida, A privatização dos serviços públicos tem seus efeitos nefastos especialmente sobre as mulheres para cumprirmos com o ideal de mulher eficiente, mãe zelosa e esposa submissa, com o intuito de conseguirmos deixar nossa família mais feliz. E se algum dia estamos cansadas com o trânsito, preocupadas com as pressões do trabalho ou com as notas escolares dos filhos, a indústria farmacêutica oferece a solução instantânea para esses problemas: basta uma pílula para a dor de cabeça, para dormir ou para relaxar. O capitalismo nos coloca numa condição de permanente insegurança em relação ao nosso corpo, pois sempre precisamos de algum item a mais para sermos desejadas, queridas e felizes: silhueta fina, seios redondos, pele lisa, etc. Além disso, devemos atingir tal padrão de feminilidade a fim de estarmos sempre disponíveis, agradáveis e atraentes, cumprindo o papel de atender o que se supõe serem as expectativas masculinas (reais ou imaginadas). O capitalismo explora essa dependência e oferece produtos e serviços que naturalizam tal condição. Dentro dessa imposição de um padrão de sexualidade e feminilidade a fim de atender aos desejos dos homens é que o mercado forja uma naturalização de fenômenos em nossa sociedade como a prostituição e a pornografia. Devemos estar atentas aos projetos que propõem a legalização da prostituição sob o falso argumento da garantia de mais direitos às mulheres. Esses projetos até o momento não trazem nenhuma proposta que rompa com o ciclo de submissão das mulheres aos desejos masculinos, ao contrário mantêm a lógica de transformar nossos corpos e sexualidade em mercadoria. No neoliberalismo, a mercantilização da vida passa por diversos setores e sua expansão atinge o espaço que antes era regulado pelo Estado, como a educação, saúde, seguridade social, energia, água, alimentação e a criatividade das pessoas. A privatização dos serviços públicos tem seus efeitos nefastos especialmente sobre as mulheres. Na ausência desses serviços são as mulheres as principais responsáveis em garantir o bem- estar de todos: a socialização das crianças, o cuidado com os doentes, a busca por alimentos. A preocupação e garantia com o bem-estar das pessoas é abandonado pelo Estado e o capital repassa para o espaço privado essas tarefas. No capitalismo, as relações entre as pessoas tornam-se uma relação entre coisas Diante do desemprego e da responsabilidade assumida com a família, são oferecidas às mulheres saídas individuais e privadas como a procura por trabalhos precários, sem garantias, informais e em domicílio. É no caminho oposto que nós, cutistas e feministas, devemos reivindicar um mundo melhor para as mulheres: com serviços públicos de qualidade na saúde, educação, por moradia digna e trabalho decente. Seja na forma de cooperativas, sindicatos e movimentos sociais, devemos incluir mais mulheres para atuarem de forma participativa e coletiva. Nossos corpos não são uma mercadoria e nós exigimos sermos tratadas como sujeitos com autonomia, que por meio de nossas práticas e ocupando o espaço público seguiremos em nossa luta cotidiana dizendo “Não” ao livre mercado. *Secretária Nacional da Mulher Trabalhadora da CUT 5 Educação Em 2013 não abro mão! R$1567 no vencimento inicial e estendido para a carreira do magistério Ângela Melo * O ano de 2013 reserva pra os professores da rede estadual vários desafios. Temos duas reivindicações primordiais para este ano. A primeira é o reajuste do piso que é de R$1.567,00 no vencimento inicial do professor com formação em Nível Médio em início de carreira e estendido para as demais carreiras do magistério. Den- 6 tro dessa pauta está também o pagamento do passivo trabalhista de 2012, afinal o governo do Estado não implementou o reajuste do piso ano passado e ainda tentou destruir a carreira do magistério apresentando uma proposta de 6,5% de reajuste indo totalmente de encontro a lei do piso. A outra pauta significativa tem a ver com a escola que queremos. Os professores sistematizaram uma polí- tica de educação para a escola pública. É o projeto “A Escola Democrática e Popular: A Educação que Queremos”. Cansamos de esperar uma alternativa que valorizasse o educador e a escola pública, então através de um grupo de trabalho e de discussões fomentadas com professores de todo o Estado elaboramos a nossa proposta e esperamos discuti-la com o governo do Estado. O que nos espera, professores e professoras é mais um ano de muita luta e convicção de que a Lei do Piso é um direito nosso, conquistado a partir de sangue, suor, lágrimas e até a vida de diversos companheiros. Dissemos não aos 6,5% - Nas abordagens feitas por trabalhadores de outras categorias e da sociedade em geral nos perguntam por que não aceitamos o reajuste de 6,5% apresentado pelo Governo do Estado em 2012. Não aceitamos esse índice porque, além dele ser diferente do percentual apresentado pela lei do piso em 2012 (o índice foi de 22,22%), o projeto em que ele estava inserido estabelecia o mesmo piso salarial para todos os professores com formação em Nível Médio, independente do tempo de serviço. Este projeto também tornam permanentes os efeitos da Lei Complementar 213/2011 que retirou o Nível Médio do quadro permanente do magistério e pretende jogar por terra toda a luta dos professores que remonta ao ano 1973 pelo estabelecimento de uma carreira. Por isso impetramos, através da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação – CNTE, uma ação no Supremo Tribunal Federal contra esta lei. Nossa argumentação ficou ainda mais forte depois da última decisão do Supremo Tribunal Federal – STF. Ao julgar os embargos de declaração impetrados pelos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e Ceará o STF reafirmou o discurso e ação do SINTESE desde que a Lei do Piso foi sancionada pelo então presidente Lula em 2008. Nossa compreensão é que o piso salarial seja o primeiro passo para a valorização do magistério e a partir desta lógica não tinha sentido ele ser pago apenas como remuneração. O Piso Salarial Profissional Nacional é o início e deve ser estendido para os demais níveis da carreira. Esperamos que a Suprema Corte afirme, mais uma vez, ao analisar nossa ação contra a Lei 213/2011 que o piso é o vencimento inicial da carreira do Magistério e, portanto, o Nível Médio não pode ser tratado como uma carreira a parte e aguardamos que o STF desfaça esse desserviço a Educação de Sergipe empreendido pelo governo do Estado. Reajuste de 2013 seja resolvido de forma rápida O SINTESE tem a perspectiva de que essa questão do reajuste do piso seja resolvida com a mais brevidade possível. Não é salutar para a rede estadual de Sergipe desprender ener- gia discutindo sobre algo (reajuste do piso) que já está previsto em lei. É preciso que o Governo do Estado compreenda que a lógica de reajuste dos salários dos professores sofreu alteração. Até o ano de 2008, nós fazíamos as contas de quanto o magistério tinha perdido e apresentávamos um índice ao governo que, através da negociação, poderia conceder ou não o que queríamos, mas hoje há uma lei específica que trata do assunto. O índice de reajuste não é escolhido por nós. O papel dos governos estadual e municipais é aplicar imediatamente o que determina a lei. Decisão do TJSE não é a favor da Lei 213/2011 - Nos últimos dias soubemos de uma decisão que foi amplamente divulgada pela Procuradoria Geral do Estado - PGE de que o Tribunal de Justiça de Sergipe - TJSE tinha julgado a Lei 213/2011 constitucional, causou-nos estranheza tal fato, até porque a ação que impetramos no STF ainda tramita nas mãos do ministro relator. Surpreendeu-nos a ampla divulgação dada pela PGE que só trouxe confusão e desinformação para órgãos da imprensa e também no corpo do magistério estadual. O que foi julgado foi o mérito da ação do SINTESE que questionava a presença do deputado (à época Secretário de Estado) na votação do projeto que culminou na Lei Complementar 213/2011. O TJSE reafirmou, o que já havia dito, ou seja, que o ex-Secretário Zeca da Silva já não era Secretário de Estado quando participou da votação na Assembleia Legislativa. O que nos espera, professores e professoras é mais um ano de muita luta e convicção de que a Lei do Piso é um direito nosso, conquistado a partir de sangue, suor, lágrimas e até a vida de diversos companheiros. Nós já começamos esse processo, fizemos o ato Paixão do Magistério em frente ao Palácio de Despachos, mas esse é apenas o início, até que todo o ano letivo 2013 comece em todas as escolas da rede estaremos preparando mais atos públicos e estreitando nosso diálogo com a sociedade, pois o que está em jogo não é somente os nossos salários, mas as condições de trabalho e um projeto para uma escola pública de qualidade para todos e todas. *Presidenta do SINTESE 7 Entrevista Escola pública deve ter compromisso com justiça social e formação crítica Sambista e deputada estadual, Leci Brandão acredita que escola deve formar cidadãos conscientes de seus direitos e deveres E m assembleias do SINTESE, congressos de educação, manifestações, eventos e atos públicos, vez ou outra, a música “Anjos da Guarda”, da sambista Leci Brandão, é entoada pelos professores sergipanos. A música é uma espécie de hino do magistério, por representar com fidelidade a importância dos professores para o país, bem como a luta da categoria por salários dignos e condições de trabalho. Para brindar os professores e professoras do estado de Sergipe, a Revista Paulo Freire entrevistou a autora da música. Na entrevista, Leci revela que “Anjos da Guarda” foi escrita logo após assistir a um telejornal em que uma mobilização de professores foi duramente reprimida pela Polícia Militar. Segundo Leci, que é deputada estadual em São Paulo, a valorização do professor implica diretamente na valorização da educação. “Se o professor não for valorizado significa que a educação de um modo geral também não está sendo”, afirma. 8 Leci Brandão defende também a gestão democrática da educação pública. Para ela, “o projeto político-pedagógico das escolas públicas deve ser construído de forma democrática para que a escola atenda aos anseios da população e para que este fale a linguagem dessa população”. Nesta entrevista, Leci Brandão revela, acima de tudo, que entende de educação. “A educação deve ser tratada como o setor mais importante do país. Um setor estratégico. Enquanto isso não acontecer não seremos uma nação formada por cidadãos plenos”, enfatiza. Confira a íntegra da entrevista. Revista Paulo Freire - Em 1995 você lançou a música Anjos da Guarda, que é uma verdadeira homenagem aos professores e professoras do país. O que lhe motivou a escrever esta canção? Leci Brandão - Estava assistindo ao noticiário quando entrou uma matéria que abordava uma passeata de professores que reivindicavam reajuste sala- rial. A polícia chegou para impedir a manifestação e os policiais agiram de forma violenta e covarde. Professoras e professores foram espancados, levaram chutes no rosto... Foi uma barbaridade! Quando terminou a matéria imediatamente escrevi a letra da música inteira. RPF - Qual a importância que a educação teve na melhoria de condições da sua vida, enquanto mulher negra, de origem pobre e da periferia? E os professores e professoras, em especial, que papel eles desempenharam? LB - Na época em que eu estava na escola pública, a gente saía do curso primário sabendo ler e escrever de forma correta. Sabíamos as quatro operações, as capitais do Brasil e do exterior. Ou seja, toda a base do conhecimento da minha vida veio da educação que tive no curso primário. Os professores e professoras foram fundamentais para que eu tivesse respeito pelos outros. Minha mãe me ensinou em casa e os professores deram a continuidade. RPF - Numa passagem da música você diz que “gostaria de um A gestão democrática é o melhor caminho para se administrar com mais justiça, atendendo a quem realmente precisa discurso bem mais feliz...”. Você vê esse discurso atualmente ou a situação dos professores e professoras não mudou muito de 1995 para cá? LB - As mudanças no país da década de 90 para hoje são grandes, principalmente a partir do governo do Presidente Lula e agora com a presidente Dilma Rousseff. Os avanços econômicos e o acesso da população a mais emprego são evidentes. O maior acesso das classes populares ao ensino superior também é inegável se olharmos no número de jovens pobres e negros que entraram na Universidade através do Prouni. Contudo, há setores em que ainda temos muito que conquistar. O principal deles é a educação. A educação deve ser tratada como o setor mais importante do país. Um setor estratégico. Enquanto isso não acontecer não seremos uma nação formada por cidadãos plenos. RPF - Este ano, você assumiu a Presidência da Comissão de Educação e Cultura da Assembleia Legislativa de São Paulo. Enquanto parlamentar, como você tem contribuído para que tenhamos um discurso mais feliz sobre a educação? LB - Fui eleita para a presidência em fevereiro deste ano, mas faço parte da comissão desde o início do meu mandato, quando assumi em março de 2011. A atividade parlamentar é diversa. Além de propor projetos de sua própria autoria, apresentar emendas a projetos de outros deputados e fisca- lizar os atos do Executivo, a principal função do parlamentar, em minha opinião, é ser o mediador entre o governo e a população e, nesse sentido, ouvir as demandas e os anseios dessa população e tentar solucioná-las por meio de uma interlocução com o Executivo. A discussão sobre a implantação da Lei 10.639 – que obriga o ensino de história da África e da cultura afro-brasileira nas escolas – o sistema de cotas nas Universidades públicas e melhores condições de trabalho para os professores das redes públicas foram alguns temas que mereceram toda atenção do nosso mandato e da Comissão. Além disso, todas as propostas de orçamento enviadas pelo Executivo à Assembleia receberam emendas do nosso mandato para aumentar os recursos para os setores de educação e cultura nos municípios de SP. RPF - Qual a sua opinião a respeito do investimento de 10% do Produto Interno Bruto na educação pública? LB - Só temos como mudar o cenário da educação em nosso país com investimento. Se não houver recursos para pagar bons salários, qualificar o professor e para termos equipamentos em condições dignas, não temos como avançar. E isso só se faz com dinheiro. Só temos como mudar o cenário da educação em nosso país com investimento RPF - De que forma a valorização dos profissionais de ensino implica no êxito da educação pública? LB - Não há como um professor ministrar uma boa aula se ele não tiver condições dignas de trabalho, ferramentas atualizadas, uma boa formação, atualização profissional, perspectiva, plano de carreira e um salário digno. Ou seja, a não valorização do professor é um sintoma da não valorização da educação. Se o professor não for valorizado significa que a educação de um modo geral também não está sendo. RPF - Uma das principais reivindicações de educadores e educadoras de todo o país é a gestão democrática da educação, onde professores, professoras e toda a comunidade escolar participem da construção dos projetos político-pedagógicos das escolas públicas. Como você avalia a gestão democrática da educação? LB - Por princípio acredito que a gestão democrática é o melhor caminho para se administrar com mais justiça, atendendo a quem realmente precisa. Fora isso, no caso específico da educação e das escolas, a aproximação entre os gestores escolares e as famílias e comunidades é fundamental para garantir o sucesso do aluno. Muitas vezes, o desempenho escolar depende da compreensão e do acionamento de uma rede de ajuda e proteção a toda a família e essa especificidade só pode ser conhecida e resolvida se, de fato, a escola estiver próxima da família. Além disso, o projeto político-pedagógico das escolas públicas deve ser construído de forma democrática para que a escola atenda aos anseios da população e para que este fale a linguagem dessa população. RPF - Para finalizar, qual a importância da educação pública na formação dos cidadãos brasileiros e na construção de um país justo e igualitário? LB - A escola pública é para atender à população. Para além dos conteúdos formais, a escola deve ser espaço privilegiado para formar cidadãos críticos, conscientes de seus direitos e de seus deveres. Portanto, uma escola pública de qualidade é a garantia de que teremos no futuro verdadeiros cidadãos que poderão contribuir para a construção de um país sem desigualdades de nenhum tipo e com justiça social. 9 Capa Mulheres e participação política E ste ano, o direito das mulheres ao voto no Brasil completou 81 anos. Primeira mulher a ocupar o posto máximo do Executivo no país, Dilma Rousseff tem o maior índice de aprovação de um presidente da história republicana. O Tribunal Superior Eleitoral é ocupado, também pela primeira vez, por uma mulher. Ministérios, secretarias de Estado e outros órgãos da administração federal têm mulheres no comando. Fatos do Brasil atual, frutos de um longo e intenso processo de mobilização política e do protagonismo de inúmeras brasileiras. Mas esses fatos não podem esconder da sociedade brasileira a realidade quando o assunto é participação política: há, ainda hoje, uma relação desigual entre homens e mulheres na política nacional. De acordo com dados compilados pelo Consórcio Bertha Lutz, na última disputa para a Câmara dos Deputados, por exemplo, apenas 19,38% das candidaturas eram de mulheres; 10 Garantir a efetiva participação feminina é fundamental para a democracia no Senado, o índice foi ainda menor, 13,58%. Os números mostram também que nas eleições de 2010 (últimas eleições para o legislativo federal) as mulheres tiveram mais candidaturas impugnadas pelo TSE: 29,7% contra 14,9% das candidaturas masculinas. Também em nível local persiste a desigualdade entre homens e mulheres na política. Nas eleições para as Câmaras Municipais do ano passado, 7.460 mulheres foram eleitas vereadoras. Ainda que o número seja recorde na história política brasileira, o avanço tem sido pouco se comparado com as eleições anteriores. Em oito anos (entre as eleições de 2004 e de 2012), a proporção de mulheres vereadoras aumentou apenas 0,6%. Para a deputada federal Luiza Erundina (PSB/SP), o quadro de participação política das mulheres no Brasil é constrangedor. “São mais da metade da população e do eleitorado; têm maior nível de escolaridade e representam quase 50% da população economicamente ativa. No entanto, são subrepresentadas nos espaços de poder. Apesar de ter mulheres em postos-chave da administração federal, a começar pela presidenta da República e as dez ministras do seu governo, não chegam a 20% nos níveis mais altos do Poder Executivo. A bancada feminina na Câmara dos Deputados representa apenas 8,77% do total da Casa, com 45 deputadas, e no Senado há 12 senadoras dentre as 81 cadeiras”, argumenta Erundina. O cenário apontado pela parlamentar é confirmado pelo Índice Global de Desigualdade de Gênero, do Fórum Econômico Mundial. No índice, o Brasil ocupa o 62° lugar no ranking de 135 nações, sendo a par- ticipação política um dos principais fatores que coloca o país nesta situação. A militante do Coletivo de Mulheres de Aracaju, Franciele Gazola, acredita que essa posição ocupada pelo Brasil quando o assunto é desigualdade de gênero tem raízes na ausência histórica de políticas públicas que impulsionem o maior acesso das mulheres à cidadania e à participação política. Dessa forma, segundo Gazola, “os contrastes sociais (grande concentração de renda e poder) também têm um forte recorte de gênero, sendo a opressão das mulheres – e exploração de muitas delas, já que a pobreza é, em sua maioria, feminina – um traço marcante da realidade brasileira”. Avançar nas conquistas - Frente a esta realidade, organizações da sociedade brasileira e parlamentares do Congresso Nacional têm debatido e construído propostas que visam a ampliação da participação feminina na política. Duas medidas neste sentido são a destinação de 5% dos recursos do fundo partidário a políticas de formação para as mulheres e a obrigatoriedade dos partidos polí- ticos em preencher, no mínimo, 30% das suas candidaturas com pessoas do sexo feminino. Essa política de cotas ocasionou, inclusive, que o Tribunal Superior Eleitoral impugnasse diversas candidaturas de partidos políticos que desrespeitaram a proporcionalidade de mulheres. Sem dúvida, reais avanços se considerada a ausência histórica de políticas de estímulo e incentivo à participação das mulheres nos espaços de poder. Mesmo reconhecendo o caráter progressista dessas medidas, representantes de entidades feministas, sindicalistas e parlamentares concordam que é preciso ir além das cotas. A militante feminista Franciele Gazola acredita que a questão central para superar essa situação “é que o partido assuma a pauta feminista, e reconheça que o machismo é um dos eixos estruturantes do sistema. Um partido que tenha um projeto libertário e emancipador deve se propor, necessariamente, a combater o machismo, o racismo, a homofobia. Reconhecer e abraçar o feminismo implica fomentar a participação das mulheres, para além da legalidade”. Já a Secretária Nacional da Mulher Trabalhadora da Central Única dos Trabalhadores, Rosane Sil- Panorama internacional O último relatório Mulheres na Política, produzido pela Organização das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento da Mulher, revelou que, entre 2005 e 2012, o número de mulheres que ocupam chefias de Estado e de Governo cresceu de 8 para 17 e que o número de ministras também aumentou de 14,2% para 16,7%. Já o número de mulheres que ocupam assentos no Parlamentou permaneceu em 19%. Em discurso durante o lançamento do relatório, a Diretora da ONU Mulheres, Michelle Bachelet, disse que o crescimento tem sido tímido nos últimos anos e, para superar essa desigualdade, é fundamental “um debate público sobre o direito das mulheres de participação em governos e no funcionalismo público. A democracia cresce com a participação profunda e igualitária das mulheres”. Bachelet, que é ex-presidente do Chile, defende mudanças nas legislações e reformas eleitorais dos países, que possibilitem incluir perspectivas de igualdade de gênero e facilitem a incorporação de mulheres como votantes e como candidatas. va, entende que “a adoção da cota significa o reconhecimento de que o injusto é a ausência de mulheres nos espaços públicos e de poder”. Entretanto, destaca a sindicalista, “as cotas em si não são suficientes para garantir uma política de igualdade de gênero. Primeiro porque as cotas não são uma medida somente para as mulheres que atuam no tema das relações de gênero, e sim, uma medida para todas as mulheres, independentemente de suas posições”. Aprofundar a democracia A ausência feminina nos espaços de poder representa uma obstrução à própria noção de democracia. Para a deputada Luiza Erundina, “a exclusão das mulheres das decisões estratégicas representa inaceitável déficit democrático e enorme desafio a superar, para a inclusão de mais da metade da sociedade brasileira, sem o que não se pode considerar o Brasil uma verdadeira democracia”. A sindicalista Rosane Silva acredita que o empoderamento das mulheres passa pela presença das trabalhadoras nos espaços de poder, mas é preciso ir além. “Para que as mulheres de fato tenham condições de construir sua emancipação, todas devem ter direito de estar no mercado de trabalho formal, com direitos trabalhistas assegurados, e compartilhando com os homens e o Estado, a responsabilidade pelas tarefas de cuidado e de reprodução da vida humana. Hoje, grande parte das mulheres está na informalidade, em postos de trabalho precários, e, praticamente a totalidade destas têm que arcar com todas as tarefas domésticas e de cuidado com a família, sozinhas”, defende a dirigente da CUT. Para a superação dessa realidade, a militante Franciele Gazola entende como fundamental uma nova cultura partidária, em que a participação das mulheres seja garantida de forma efetiva em todos os espaços e instâncias partidárias. “É fundamental que o feminismo seja um tema transversal, de formação geral e continuada da militância. Além disso, a auto-organização das mulheres é fundamental no interior dessas organizações”, destaca. 11 Mulher A trajetória do movimento feminista e suas lutas frente aos dilemas do século XXI Renato Drummond Neto e Stéphane Lorene Costa* O movimento feminista, ao longo dos últimos séculos da idade contemporânea, vem se configurando como uma das principais manifestações sociais de caráter transformador, lutando por maiores direitos para as mulheres que, desde os primórdios da história, estavam submetidas às vontades masculinas e inferiorizadas pelo que a sociedade entendia como a “fragilidade do sexo”. É com as principais revoluções liberais que se cria a consciência da mulher como um ser autônomo, ca- 12 paz de tomar suas próprias decisões e de lutar por seus próprios desejos. Com o tempo, essas mulheres passam a se unir na defesa de um interesse em comum: o de garantir igualdade entre os gêneros. Hoje, o movimento feminista abrange uma série de grupos diversificados, com metodologias próprias, mas que compartilham de um mesmo princípio, o de obter maior espaço nas decisões políticas que gerem os países do globo. Podemos identificar as raízes do movimento feminista ainda na Revolução Francesa, e com uma carga ideológica derivada do iluminismo. Nesse processo, observamos as mu- lheres lutando tanto ao lado de homens, como por conta própria, assim como aconteceu no episódio conhecido como “a marcha das mulheres do mercado”, que em 5 de outubro de 1789 se dirigiram ao Palácio de Versalhes para exigir o cumprimento de suas petições junto ao rei, e acabaram conseguindo fazer com que a família real se mudasse para Paris. Segundo Jacqueline Pitanguy e Branca M. Alves, foi no contexto da Revolução Francesa “… que o feminismo adquire uma prática de ação política organizada. Reivindicando seus direitos de cidadania frente aos obstáculos que o contrariam, o movimento feminista, na França, assume um discurso próprio, que afirma a especificidade da luta da mulher” (ALVES; PITANGUY, 1991, p. 32). É ainda nesse contexto que se é criado o texto “Os direitos da mulher e da cidadã”, da autoria de Olympe de Gouger, escritora revolucionária. Os ideais da revolução de 1789, por sua vez, se alastrariam para outras partes do mundo, influenciando, assim, mulheres de vários países. Durante o século XIX, vemos a luta das trabalhadoras fabris ganhar maior consistência, principalmente na sociedade norte-americana. A data de 08 de março de 1857 é lembrada como o dia em que as operárias da indústria têxtil de Nova Iorque se mobilizaram contra os baixos salários e requisitaram a redução da jornada de trabalho para 12 horas diárias. Duramente reprimidas pela polícia, as reivindicações dessas operárias reapareceriam no cenário nova-iorquino em 1908, também em um dia de 08 de março, quando outra geração de trabalhadoras de fábrica lutou contra a exploração que lhes era imposta. Poucos anos depois, a mulher começa a se mobilizar em prol de maior participação nas decisões políticas, a começar pelo direito de poder votar em eleições (a exemplo do movimento sufragista em Inglaterra). Com o tempo, a ideologia feminista começa a ganhar aderência dentro de outras esferas da sociedade, onde demais mulheres passam a se autodenominar feministas, e a levantar a bandeira do movimento, lutando por uma série de causas, e unindo-se a outros movimentos igualmente estereotipados pelas convenções arcaicas da população, como o dos gays e o dos negros. No Brasil, os primeiros registros de mulheres lutando por seus direitos podem ser encontrados já no final do século XVIII e durante o XIX, porém mais restrito às classes média e alta da sociedade. Todavia, já no início do século XIX, vemos a atuação feminina deslocar do contexto das classes altas e atingir também as massas populares. O ano de 1932, durante o governo de Getúlio Vargas, marca uma grande conquista das mulheres do país: o direito ao voto. Porém, não gozavam da plenitude de sua conquista, até que na década de 1940 ocorre uma reviravolta desse quadro. As brasileiras passam, então, a se unificar em prol de mais participação na vida política e econômica do país. No início da década de 1960, quando o mundo vivenciava o que Eric Hobsbawm chamou de a “era de ouro” do século (marcada por invenções tecnológicas e novas descobertas científicas), observamos tanto a mulher brasileira, quanto a de demais localidades do globo, polemizando e defendendo assuntos referentes a métodos contraceptivos, e se inserindo cada vez mais no mercado de trabalho. Entretanto, com o golpe militar de 1964, e a promulgação do Ato Institucional nº 5 (AI5 – 1968), o movimento feminista no país perde maior destaque, contudo, sem deixar de manter sua luta ativa. Com o fim da ditadura, em 1985, o movimento volta a ganhar a atenção da imprensa, principalmente após a criação de novas políticas públicas para a mulher, que garantiam uma mais participação da mesma, nas decisões de Estado. É criado, então, o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM – surgido em 1985, era composto por 17 conselheiras, nomeadas ao cargo pelo ministro da justiça), que, de acordo com Cynthia Mara Miranda, tinha como proposta: “… promover, em âmbito nacional, políticas para assegurar à mulher condições de liberdade, igualdade de direitos, e plena participação nas atividades políticas, econômicas e culturais do país” (MIRANDA, 2009, p. 10). Durante o governo Collor de Melo, o CNDM perde sua expressão política, e só é resgatado durante gestões posteriores, porém um pouco distante de sua característica original. Nas palavras de Célia Jardim Pinto, o movimento feminista, atualmente, pouco faz caminhadas, distribuições de panfletos, ou toma atitudes como queimar sutiãs em praça pública¹. Contudo, nunca esteve tão ativo como agora. No início do século XXI, a luta do movimento feminista estende-se a manifestações como a denúncia contra a violência doméstica e a defesa do aborto. Em 2006, obtiveram uma importante conquista com a lei “Maria da Penha”, que defende a mulher vítima de agressões físicas e de ameaças. continua>> 13 Ao se analisar a trajetória do movimento feminista durante essas últimas décadas do século XX e início do XXI, observamos, conforme este texto tentou explicitar, a luta pela obtenção de maiores espaços para as mulheres e o rompimento com a tradição que punha o sexo feminino como algo frágil, em detrimento do masculino. O movimento feminista passa, então, a exercer um fator determinante nesse processo, e hoje se subdividi em vários grupos, tais como o movimento das mulheres negras, das universitárias, das católicas, das lésbicas, etc. Entretanto, ainda se constata elevado nível de preconceito para com a condição da mulher dentro de uma sociedade classificada como “machista” (termo que entrou em voga a partir das últimas décadas do século XX). Diante disso, cabe ao governo criar maiores programas de integração social, que conscientizem as pessoas acerca das desigualdades acontecendo ao seu redor, para, dessa forma, reverter essa realidade discriminatória, que se verifica no Brasil e no mundo. *Originalmente publicado em www.rainhastragicas.com ¹ Ainda hoje existem algumas manifestações importantes do movimento feminista no Brasil, como, por exemplo, a popular “marcha das vadias”. Livros N este boletim especial da Livraria ANTÔNIO GRAMSCI nossos leitores conferem uma série de livros sobre a história da data e as lutas femininas no Brasil e no mundo. Cartilha A ORIGEM SOCIALISTA DO DIA DA MULHER: nova edição O material questiona a versão de que a data teria começado a partir de uma greve que teria ocorrido em 1857 em Nova Iorque, quando teriam morrido 129 operárias queimadas vivas. O que o material vem lembrar é que o Dia Internacional da Mulher tem uma origem socialista, que remonta ao início do século 20. As origens e a comemoração do Dia Internacional da Mulher Aproveitando que o 8 de março está chegando, indicamos este livro de Ana Isabel González. A obra questiona mitos relacionados à data e apresenta outra versão dessa história.Uma das grandes protagonistas é Clara Zetkin, “a mulher que tornou possível a celebração do dia Internacional da Mulher”.Estudiosa, excelente oradora, militante do Partido Social Democrata Alemão, Clara defendia o movimento de luta das mulheres socialistas e se dedicava à causa das operárias. Ana Isabel González Expressão Popular / SOF R$ 18,00 NPC R$ 5,00. REFERÊNCIAS ALVES, Branca Moreira; PITANGUY, Jacqueline. O que é feminismo. 8. ed. São Paulo: Brasiliense, 1991. A nova mulher e a moral sexual HOBSBAWN, Eric. A era dos extremos: o breve século XX. 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. MIRANDA, Cynthia Mara. Os movimentos feministas e a construção de espaços institucionais para a garantia dos direitos das mulheres no Brasil. NIEM / UFRGS, 2009. Disponível em:. Acesso em: 18 de dezembro de 2012. PINTO, Célia Regina Jardim. Feminismo, História e Poder. Revista de Sociologia e Política, Curitiba, v.18, n.36, p. 15-23, jun. 2010. 14 A imagem da mulher na mídia: controle social comparado A obra, que contou com a colaboração de Tereza Verardo, analisa como as mulheres são tratadas nos meios de comunicação. É comum a reprodução de estereótipos e preconceitos, além da sutil imposição de modelos de beleza inalcançáveis. Rachel Moreno Ed. Publisher R$ 30,00 Os dois textos publicados nessa obra refletem sobre o aprendizado político e as conquistas na construção das novas relações de classe e gênero. Alexandra Kolontai faz uma análise da situação da mulher na sociedade burguesa, oprimida por um código moral no qual a propriedade privada era prioridade. Alexandra Kolontai Expressão Popular R$ 15,00 Livraria Antonio Gramsci Professores e estudantes de licenciatura têm 10% de desconto. Contatos: (21)2220-4623 [email protected] Twitter: @livrariagramsci Comunicação As Mulheres e a Democratização da Comunicação L oiras, brancas, magras com cabelos lisos e, na cabeça, o vínculo da beleza à felicidade. Qual é a imagem da mulher brasileira veiculada e produzida pelos meios de comunicação diariamente? A psicóloga e feminista Rachel Moreno, que em fevereiro deste ano lançou o livro “A imagem A psicóloga Rachel Moreno, do Observatório da Mulher, fala sobre a atuação dos movimentos feministas na democratização da comunicação no país. da mulher na mídia”, destaca que o monopólio dos meios de comunicação no país compromete a divulgação de outros pontos de vista que não seja os dos setores majoritários, normalmente conservadores e repetidores de estereótipos que hegemocontinua>> 15 nizam uma visão social de mundo e diminuem as lutas dos movimentos sociais organizados, inclusive o das mulheres. “A comunicação é uma luta das mulheres. Nos damos conta que, na verdade, os avanços feministas estão sendo retardados e há uma reprodução de preconceitos que só atrapalham as conquistas das mulheres no mundo e no Brasil. Para a gente avançar, temos que ser retratadas devidamente em nossa diversidade e pluralidade e com as nossas demandas específicas”, explica Rachel, que atua no que também atua no Observatório da Mulher. O movimento feminista defende que, a produção e veiculação de conteúdos pela mídia dominante legitimam e naturalizam a discriminação, o machismo e a violência contra a mulher no Brasil. A psicóloga explica que há um agravante na forma como a mídia retrata as mulheres, pois existe o interesse comercial no segmento. “No caso das mulheres, elas correspondem a 85% das decisões de consumo no país, então eles precisam dialogar conosco, não podem nos ignorar. Compramos desde fralda, a cuecas e cremes. Para você ter uma idéia, o Brasil é o terceiro consumidor mundial de cosméticos, e as mulheres brasileiras são aquelas com a maior diferença salarial em relação ao homem. Então eles nos bombardeiam com um ideal de beleza associado à felicidade. O ideal de ser jovem, branca, magra e de cabelo liso”. Sobre a possibilidade da construção de uma mídia não machista, Rachel Moreno destaca que sim é possível, mas que a luta é difícil. As entidades representantes do movimento feminista atuam em conjunto com o movimento social e outras entidades da sociedade civil organizada em busca da democratização da comunicação no país. Partici- 16 O monopólio dos meios de comunicação do país compromete a divulgação de outros pontos de vista que não seja os dos setores majoritários param da construção e da elaboração das resoluções da I Conferência Nacional de Comunicação, realizada em 2009, que reuniu representantes do governo, da sociedade e do empresariado para debater a regulamentação do setor da comunicação no Brasil. “Em um primeiro momento reagimos à publicidade, às músicas ofensivas, e, em um segundo momento, fizemos um trabalho conjunto em relação à imagem da mulher no rádio e na TV. Ajudamos a organizar a Confecom para criar um novo marco regulatório da comunicação para dar pluralidade e a diversidade de espaços para as perspectivas de gênero, classe, raça e orientação sexual. No entanto, tudo ficou parado. O Ministério das Comunicações diz que não haverá tempo hábil para a discussão do projeto ainda neste governo. A sociedade discorda e por isso vamos construir e apresentar um projeto de lei de iniciativa popular para um novo marco regulatório. É possível avançar”. Rachel Moreno ressalta que o movimento reivindica o controle social da imagem da mulher na mídia: “A democratização do acesso à informação e da mídia deve estar a serviço das causas maiores, é uma demanda essencial e deve passar pelo controle social. Controle não é censura. É a garantia de que os acordos que forem feitos, de maneira consensual pela sociedade, sejam seguidos, e, caso não, tenham suas conseqüências”. Fonte: FNDC Projetos que dão certo Se ligue e recicle A cada dia, a natureza sofre as consequências do modelo consumista imposto pela sociedade capitalista. Modelo esse que torna tudo descartável, tudo rapidamente ultrapassado. Como em nenhum momento anterior da história, o mundo necessita de ações de preservação e conservação dos seus recursos naturais. É com esse propósito que é desenvolvido o projeto Se ligue e recicle, realizado nas escolas Olga Benário e Professor José Antonio da Costa, ambas da Rede Municipal de Ensino de Aracaju. Num ambiente participativo e colaborativo, estudantes e professores promovem um trabalho de conscientização da comunidade escolar sobre a importância da preservação ambiental, numa perspectiva de atuação e propagação da importância de cada indivíduo nesse processo. O projeto é dividido em etapas – “Se ligue”, “Selecione”, “Recicle e Reutilize” e “Divulgue”-, que são articuladas com o objetivo de despertar a responsabilidade e o compromisso de cada um com a preservação ambiental. Durante as etapas, estudantes e professores conhecem de forma mais aprofundada os problemas ambientais locais, discutem estratégias de superação desses problemas e desenvolvem tecnologias sociais que contribuem para a comunidade. Para a coordenadora do projeto, a professora Itamara Leite, um dos pontos fundamentais da ação é o diálogo entre professores, estudantes e direção das escolas. “Sem esse espaço para o diálogo e sem a participação coletiva desde as tomadas de decisões até a execução das atividades é muito difícil o desenvolvimento de um projeto desta natureza”, afirma. Itamara Leite relata que a idéia de desenvolver o projeto surgiu na disciplina de Língua Portuguesa, à época ministrada pela professora Maria Renilde Matos, e buscava organizar a coleta seletiva na escola. Ao ser apresentada à proposta, Itamara – que exercia a função de coordenadora administrativa – se sentiu instigada e provocou os idealizadores: “depois que fizéssemos a coletiva seletiva o Estudantes, professores e comunidade desenvolvem ações de preservação ambiental que seria feito com o que foi coletado? Como seria feito o processo de conscientização da comunidade escolar, já que todos teriam que participar do processo?”. Dessas inquietações o projeto foi tomando corpo, forma e se ampliando. Não somente a coleta seletiva, mas um trabalho inovador de preservação ambiental estava se desenvolvendo. Sabão feito a partir da reutilização de óleo de cozinha e fogão solar foram algumas das inovações construídas durante o projeto, que conta também com palestras, oficinas, mini-cursos, confecção de materiais, visitas e parcerias com organizações ambientais. Reconhecimento nacional O caráter inovador do projeto Se ligue e recicle foi reconhecido inclusive nacionalmente. No início deste ano, a professora Itamara Leite foi uma das finalistas do 3º Concurso Aprender e Ensinar – Tecnologias Sociais, promovido pela Revista Fórum e Fundação Banco do Brasil. O concurso recebeu 4.698 inscrições de professores de todo o país, mas apenas 64 experiências participaram da etapa nacional, em que foram apresentados projetos e propostas desenvolvidas em escolas da rede pública, a partir do uso de tecnologias sociais e com participação da comunidade local. 17 Este é o espaço dedicado à produção do COLETIVO SABER E POESIA DO SINTESE, um grupo de professores da rede pública que une a força da militância à sabedoria poética. Visite nosso blog: http://coletivosaberepoesia.blogspot.com.br Dia da Mulher! Diga NÃO à Violência! Autora: “Maria Bonita” A cada 15 segundos Uma mulher é agredida Quantas ainda terão Trajetória interrompida É dia de advertência Dizer NÃO à Violência Ao longo de nossa vida! Dar um basta na opressão É algo de grande urgência Até quando optar Pelo medo e permanência?! Rejeitar os dissabores Não queira bombons, nem flores Queira o fim da Violência! Não queira ser objeto Nem comparar-se a uma fruta Igualdade de Direitos Não se trata de disputa Hoje a mulherada grita Que uma Mulher Bonita É aquela Mulher que luta! Combater a Violência: Uma das grandes batalhas Queremos que a Sociedade Pare de ocultar as falhas Mais do que um ramalhete Mulher é digna de banquete Não merece só migalhas. Este é um dia que marca Grande mobilização Pois lá em São Petesburgo (1917) Por uma melhor condição Tecelãs reivindicaram Elas desencadearam A Russa Revolução. Seja a Violância Física Ou Violência Moral Violência Psicológica Até patrimonial Não mantenha-se calado Tráfico ou cárcere privado Não é coisa natural. 08 de março, não é Data comemorativa É momento de debate Hora muito sugestiva Pra Violência acabar É combater e dialogar De maneira Educativa. Hoje há mulher na Polícia Pilotando carro e moto Há mulher que, em sua casa Tem o controle remoto Muita mulher, hoje em dia Nem sabe que não podia Sequer ter direito ao voto. 18 Há mulheres na Marinha Mulheres na Previdência No Senado, na Assembleia Ou na própria residência Atrizes e Vendedoras Juízas e Professoras Tem Mulher na Presidência. Marias, Joanas, Lívias, Maristelas e Adrianas Anas, Júlias e Patrícias Manuelas, Julianas Negras, loiras ou mulatas Cantoras ou acrobatas Agnósticas ou ciganas. O fato é que as mulheres Os espaços, tem ocupado Mas, em combate à “Violência” O relógio está parado Bastante tempo passou E muito se transformou Mas há muito a ser mudado. Violência contra Mulher Meto minha colher, sim! Ou a Sociedade acorda Ou sua Vida chega ao fim Todos tem sua parcela Não admito contra ela Não aceito contra mim! Nos dados da Violência Nada é de brincadeira O dano que ela causa Não é coisa passageira Enfrentamento, requer Pois quem bate na Mulher Machuca a família inteira. A verdadeira heroína Valente, brava, guerreira Faz da luta, uma constante A derrota, passageira Não pode ser vitimada Precisa ser valorizada Durante a vida inteira. Não precisa ser mulher Para ser contra o machismo Não precisa ser anti-homem Pra falar em feminismo Prezar pela igualdade É levar a Sociedade Para longe do abismo. Não é saco de pancada Não é pra viver infeliz É pra ter dignidade Ser dona do seu nariz Menina, não “durma de toca” Mulher é pra beijar na boca Respeitar, fazer feliz! Dia da Mulher guerreira Que batalha, se empenha Da Mulher que é oprimida Omite-se, se desdenha Pra quem vive esse tormento Tem um grande fundamento: A Lei Maria da Penha. Ela coíbe a Violência Doméstica e familiar Dispõe sobre a criação De Juizados para atuar Convenção pra prevenir Erradicar e punir Dentro ou fora do seu lar. Não se pode aceitar Que a mulher sofra agressão Em sua casa ou no trabalho Seja fruto de opressão No lugar que ela estiver Entre homem e mulher Só quem bate é o coração. São as nossas atitudes A violência combater Orientando nossos filhos A forma de proceder Nós devemos ensinar: Todo Homem a respeitar Não a Mulher a temer. Raízes da luta: Três meses sem receber salário, perda de direitos, e nada pára a luta dos educadores de São Cristóvão. Em baixo da sombra da histórica Algaroba da Praça Fausto Cardoso, em Aracaju, buscam forças e apoio dos deputados para as suas reivindicações. Março de 2013 CAROLINE SANTOS Imagens da Luta 19 20