MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS MACHADO DE ASSIS

Transcrição

MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS MACHADO DE ASSIS
Natureza: TD de Literatura – 1o Bimestre
Aluno(a):
Turma:
Ano: 2o/EM
Professor: Maryval
MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS
MACHADO DE ASSIS
Nome: Machado de Assis
Nascimento: 21/06/1839
Natural: Rio de Janeiro-RJ
Morte: 29/09/1908
(...) Assim são as páginas da vida,
como dizia meu filho quando fazia versos,
e acrescentava que as páginas vão
passando umas sobre as outras,
esquecidas apenas lidas.
“Suje-se Gordo!”
Joaquim Maria Machado de Assis, cronista, contista,
dramaturgo, jornalista, poeta, novelista, romancista, crítico
e ensaísta, nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 21 de
junho de 1839. Filho de um operário mestiço de negro e
português, Francisco José de Assis, e de D. Maria Leopoldina
Machado de Assis, aquele que viria a tornar-se o maior escritor do país e um mestre da língua, perde a mãe muito
cedo e é criado pela madrasta, Maria Inês, também mulata,
que se dedica ao menino e o matricula na escola pública,
única que frequentará o autodidata Machado de Assis.
De saúde frágil, epilético, gago, sabe-se pouco de
sua infância e início da juventude. Criado no morro do Livramento, consta que ajudava a missa na igreja da Lampadosa.
Com a morte do pai, em 1851, Maria Inês, à época morando em São Cristóvão, emprega-se como doceira num colégio do bairro, e Machadinho, como era chamado, torna-se
vendedor de doces. No colégio tem contato com professores e alunos e é até provável que assistisse às aulas nas
ocasiões em que não estava trabalhando.
Mesmo sem ter acesso a cursos regulares, empenhou-se em aprender. Consta que, em São Cristóvão, conheceu
uma senhora francesa, proprietária de uma padaria, cujo
forneiro lhe deu as primeiras lições de Francês. Contava,
No Questões: —
Data:
também, com a proteção da madrinha D. Maria José de
Mendonça Barroso, viúva do Brigadeiro e Senador do Império Bento Barroso Pereira, proprietária da Quinta do Livramento, onde foram agregados seus pais.
Aos 16 anos, publica em 12-01-1855 seu primeiro trabalho literário, o poema “Ela”, na revista Marmota Fluminense,
de Francisco de Paula Brito. A Livraria Paula Brito acolhia
novos talentos da época, tendo publicado o citado poema
e feito de Machado de Assis seu colaborador efetivo.
Com 17 anos, consegue emprego como aprendiz de
tipógrafo na Imprensa Nacional, e começa a escrever durante o tempo livre. Conhece o então diretor do órgão,
Manuel Antônio de Almeida, autor de Memórias de um sargento de milícias, que se torna seu protetor.
Em 1858 volta à Livraria Paula Brito, como revisor e
colaborador da Marmota, e ali integra-se à sociedade lítero-humorística Petalógica, fundada por Paula Brito. Lá constrói o seu círculo de amigos, do qual faziam parte Joaquim
Manoel de Macedo, Manoel Antônio de Almeida, José de
Alencar e Gonçalves Dias.
Começa a publicar obras românticas e, em 1859, era
revisor e colaborava com o jornal Correio Mercantil. Em 1860,
a convite de Quintino Bocaiúva, passa a fazer parte da redação do jornal Diário do Rio de Janeiro. Além desse, escrevia também para a revista O Espelho (como crítico teatral, inicialmente), A Semana Ilustrada (onde, além do nome,
usava o pseudônimo de Dr. Semana) e Jornal das Famílias.
Seu primeiro livro foi impresso em 1861, com o título
Queda que as mulheres têm para os tolos, onde aparece
como tradutor. No ano de 1862 era censor teatral, cargo
que não rendia qualquer remuneração, mas o possibilitava
a ter acesso livre aos teatros. Nessa época, passa a colaborar em O Futuro, órgão sob a direção do irmão de sua futura
esposa, Faustino Xavier de Novais.
Publica seu primeiro livro de poesias em 1864, sob o
título de Crisálidas.
Em 1867, é nomeado ajudante do diretor de publicação do Diário Oficial.
Agosto de 1869 marca a data da morte de seu amigo
Faustino Xavier de Novais, e, menos de três meses depois,
em 12 de novembro de 1869, casa-se com Carolina Augusta
Xavier de Novais.
Nessa época, o escritor era um típico homem de letras brasileiro bem sucedido, confortavelmente amparado
por um cargo público e por um casamento feliz que durou
35 anos. D. Carolina, mulher culta, apresenta Machado aos
clássicos portugueses e a vários autores da língua inglesa.
Sua união foi feliz, mas sem filhos. A morte de sua
esposa, em 1904, é uma sentida perda, tendo o marido
dedicado à falecida o soneto Carolina, que a celebrizou.
Seu primeiro romance, Ressurreição, foi publicado
em 1872. Com a nomeação para o cargo de primeiro oficial da Secretaria de Estado do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, estabiliza-se na carreira burocrática que seria o seu principal meio de subsistência durante
toda sua vida.
Rua Des. Leite Albuquerque, 1056 – Aldeota – CEP: 60.150-150 – Fone: 4008-2342 – Fortaleza-CE • e-mail:[email protected]
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TD de Literatura – 2o/EM – 1o Bimestre
BIBLIOGRAFIA:
No O Globo de então (1874), jornal de Quintino
Bocaiúva, começa a publicar em folhetins o romance A mão
e a luva. Escreveu crônicas, contos, poesias e romances
para as revistas O Cruzeiro, A Estação e Revista Brasileira.
Sua primeira peça teatral é encenada no Imperial
Teatro Dom Pedro II em junho de 1880, escrita especialmente para a comemoração do tricentenário de Camões, em
festividades programadas pelo Real Gabinete Português de
Leitura.
Na Gazeta de Notícias, no período de 1881 a 1897,
publica aquelas que foram consideradas suas melhores crônicas.
Em 1881, com a posse como ministro interino da Agricultura, Comércio Obras Públicas do poeta Pedro Luís Pereira de Sousa, Machado assume o cargo de oficial de gabinete.
Publica, nesse ano, um livro extremamente original,
pouco convencional para o estilo da época: Memórias Póstumas de Brás Cubas – que foi considerado, juntamente
com O Mulato, de Aluísio de Azevedo, o marco do realismo
na literatura brasileira.
Extraordinário contista, publica Papéis Avulsos em
1882, Histórias sem data (1884), Várias Histórias (1896), Páginas Recolhidas (1889), e Relíquias da casa velha (1906).
Torna-se diretor da Diretoria do Comércio no Ministério em que servia, no ano de 1889.
Grande amigo do escritor paraense José Veríssimo,
que dirigia a Revista Brasileira, em sua redação promoviam
reuniões os intelectuais que se identificaram com a ideia de
Lúcio de Mendonça de criar uma Academia Brasileira de
Letras. Machado desde o princípio apoiou a ideia e compareceu às reuniões preparatórias e, no dia 28 de janeiro de
1897, quando se instalou a Academia, foi eleito presidente
da instituição, cargo que ocupou até sua morte, ocorrida
no Rio de Janeiro em 29 de setembro de 1908. Sua oração
fúnebre foi proferida pelo acadêmico Rui Barbosa.
É o fundador da cadeira nº 23, e escolheu o nome de
José de Alencar, seu grande amigo, para ser seu patrono.
Por sua importância, a Academia Brasileira de Letras
passou a ser chamada de Casa de Machado de Assis.
Dizem os críticos que Machado era “urbano, aristocrata, cosmopolita, reservado e cínico, ignorou questões sociais como a independência do Brasil e a abolição da escravatura. Passou ao longe do nacionalismo, tendo ambientado
suas histórias sempre no Rio, como se não houvesse outro
lugar. ... A galeria de tipos e personagens que criou revela o
autor como um mestre da observação psicológica. ... Sua
obra divide-se em duas fases, uma romântica e outra
parnasiano-realista, quando desenvolveu inconfundível estilo
desiludido, sarcástico e amargo. O domínio da linguagem é
sutil e o estilo é preciso, reticente. O humor pessimista e a
complexidade do pensamento, além da desconfiança na razão (no seu sentido cartesiano e iluminista), fazem com que
se afaste de seus contemporâneos.”
Comédia
• Desencantos, 1861.
• Tu, só tu, puro amor, 1881.
Poesia
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Crisálidas, 1864.
Falenas, 1870.
Americanas, 1875.
Poesias completas, 1901.
Romance
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Ressurreição, 1872.
A mão e a luva, 1874.
Helena, 1876.
Iaiá Garcia, 1878.
Memórias Póstumas de Brás Cubas, 1881.
Quincas Borba, 1891.
Dom Casmurro, 1899.
Esaú e Jacó, 1904.
Memorial de Aires, 1908.
Conto
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Contos Fluminenses,1870.
Histórias da meia-noite, 1873.
Papéis avulsos, 1882.
Histórias sem data, 1884.
Várias histórias, 1896.
Páginas recolhidas, 1899.
Relíquias de casa velha, 1906.
Teatro
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Queda que as mulheres têm para os tolos, 1861
Desencantos, 1861
Hoje avental, amanhã luva, 1861.
O caminho da porta, 1862.
O protocolo, 1862.
Quase ministro, 1863.
Os deuses de casaca, 1865.
Tu, só tu, puro amor, 1881.
Algumas obras póstumas
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Crítica, 1910.
Teatro coligido, 1910.
Outras relíquias, 1921.
Correspondência, 1932.
A semana, 1914/1937.
Páginas escolhidas, 1921.
Novas relíquias, 1932.
Crônicas, 1937.
Contos Fluminenses – 2º volume, 1937.
Crítica literária, 1937.
Crítica teatral, 1937.
Histórias românticas, 1937.
Páginas esquecidas, 1939.
Casa velha, 1944.
Diálogos e reflexões de um relojoeiro, 1956.
Crônicas de Lélio, 1958.
Conto de escola, 2002.
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Antologias
Personagens
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Brás Cubas – narrador – morto aos 64 anos – “ainda próspero e rijo”, fidalgo. Peralta quando criança, mimado pelo
pai, irresponsável quando adolescente, tornou-se um homem egoísta a ponto de discutir com a irmã pela prataria
que fiou de herança do pai e tornar-se amante de seu amigo, Lobo Neves, se bem que nesse romance não se pode
dizer propriamente que alguém é amigo de outro.
Obras completas (31 volumes), 1936.
Contos e crônicas, 1958.
Contos esparsos, 1966.
Contos: Uma Antologia (02 volumes), 1998
VISÃO I
MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS,
Virgília – filha do comendador Dutra, segundo o pai de Brás,
Bento Cubas A “Ursa Maior” amante de Brás Cubas casa-se
com Lobo Neves por interesse. Mulher bonita, ambiciosa,
que parece gostar sinceramente de Brás Cubas, mas jamais
se revela disposta a romper com sua posição social ou dispensar o conforto e o reconhecimento da sociedade.
DE MACHADO DE ASSIS
Análise da obra
É a obra inaugural da fase realista de Machado de
Assis, representando uma verdadeira revolução de ideias e
formas: de ideias, porque aprofunda o desprezo pelas
idealizações românticas, fazendo emergir a consciência nua
do indivíduo, fraco e incoerente; de formas, pela ruptura
com a linearidade da narrativa e pelo estilo “enxuto”. É também obra inaugural do romance psicológico no Brasil.
É a partir de Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881)
que Machado de Assis atinge o ponto mais alto e equilibrado da ficção brasileira.
É o drama da irremediável tolice humana. São as
memórias de um homem igual a tantos outros, o cauto e
desfrutador Brás Cubas, que tudo tentou e nada deixou. A
vida moral e afetiva é superada pela existência biologicamente satisfeita, e as personagens se acomodam cinicamente ao erro.
Damião Lobo Neves – casado com Virgília, homem frio e
calculista. Marido de Virgília, homem sério, integrado ao
sistema, ambicioso, mas muito mais supersticioso, pois recusou nomeação pra presidente de uma província só porque a referida nomeação aconteceu num dia 13.
Quincas Borba – menino terrível que dava tombos no paciente professor Barata, colega de escola de Brás que o encontrará mais tarde mendigo que rouba-lhe um relógio mas retorna-o ao colega após receber uma herança. Amigo de infância do
protagonista. Desde criança era de um temperamento ativo,
exaltado, querendo ser sempre superior nas brincadeiras. Cubas diz que ele é impressionante quando brinca de imperador.
Quando adulto, passa pelo estado de mendigo, evoluindo
depois para filósofo e desenvolve um sistema filosófico, denominado Humanitismo, que pretende superar e suprimir todos
os demais sistemas até tornar-se uma religião.
Estrutura da obra
A estrutura de Memórias Póstumas de Brás Cubas tem
uma lógica narrativa surpreendente e inovadora. A sequência
do livro não é determinada pela cronologia dos fatos, mas
pelo encadeamento das reflexões do personagem. Uma lembrança puxa a outra e o narrador Brás Cubas, que prometera contar uma determinada história, comenta todos os outros fatos que a envolvem, para retomar o tema anunciado
muitos capítulos depois.
Organizados em blocos curtos, os 160 capítulos de
Memórias Póstumas de Brás Cubas fluem segundo o ritmo
do pensamento do narrador. A aparente falta de coerência
da narrativa, permeada por longas digressões, dissimula
uma forte coerência interna, oferecendo ao leitor todas as
informações para conhecer a visão de mundo de um homem que passou pela vida sem realização nenhuma, apenas ao sabor de seus desejos.
Logo nas primeiras páginas, o escritor brinca com a
expectativa do leitor de chegar logo às ações do romance.
Machado de Assis, por intermédio do seu narrador, se dirige diretamente ao leitor, metalinguisticamente, para comentar o livro. Diz Brás Cubas:
Marcela – Segundo grande amor de Brás Cubas, uma prostituta de elite, cujo amor por Brás duraria quinze meses e onze
contos de réis. Mulher sensual, mentirosa, amiga de rapazes e
de dinheiro. Ganha muitas joias do adolescente Brás Cubas.
Contrai varíola e fica feia, com a pele grossa como uma lixa.
Sabina – irmã do narrador e que, como ele, valoriza mais o
interesse pessoal e a posição social do que amizade ou
laços de parentesco.
Eugênia – Filha de Eusébia e Vilaça, menina bela embora
coxa. Era moça séria, tranquila, dotada de olhos negros e
olhar direito e franco. Tinha “ideias claras, maneiras chãs,
certa graça natural, um ar de senhora, e não sei se alguma
outra cousa; sim, a boca exatamente a boca da mãe”.
Nhã-loló – moça simplória, tinha dotes de soprano – morre
de febre amarela.
Cotrim – casado com Sabina, irmã de Brás; ambos interesseiros.
“Veja o leitor a comparação que melhor lhe quadrar,
veja-a e não esteja daí a torcer-me o nariz, só porque ainda
não chegamos à parte narrativa destas memórias. Lá iremos.
Creio que prefere a anedota à reflexão, como os outros leitores, seus confrades, e acho que faz muito bem.”
Nhonhô – filho de Virgília.
D. Plácida – empregada de Virgília confidente e protetora
de sua relação extra conjugal.
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Enredo
e transição (cap. 9, em que o narrador faz uma reflexão
metalinguística e retoma o fio narrativo, cronológico de sua
vida, a partir de seu nascimento em 1805). A partir do
cap.10, a vida de Brás Cubas é contada de forma sucessiva: nascimento, batizado, infância, juventude.
Relata um episódio de 1814 quando, aos nove anos,
delata uma cena de beijo entre Dr. Vilaça, “casado e pai” e
D. Eusébia, uma “robusta donzela”. É aluno do mestre
Ludgero Barata, “calado, obscuro, pontual” e colega de
Quincas Borba, “uma flor”, o menino “mais gracioso,
inventivo e travesso”.
Em 1822, data da independência política do Brasil,
torna-se o prisioneiro amoroso de Marcela, “amiga do dinheiro e de rapazes”, em quem dá o primeiro beijo e cuja
paixão dura “quinze meses e onze contos de réis”. Obrigado pelo pai, vai para a Europa, estudar. Em Coimbra, torna-se bacharel, “mediocremente”.
Na história de sua vida, são intercalados capítulos
como O almocreve (cap. 21) e A borboleta preta (cap. 31),
que são puramente filosóficos.
Quando a mãe adoece, Brás Cubas volta ao Brasil,
para velá-la, em seus últimos dias.
Tendo aprendido na universidade a ornamentação da
História e da Jurisprudência, e não sua essência, passa a
usá-la para viver na superficial sociedade em que vivia. Seu
pai quer que se torne deputado e lhe arranja uma noiva,
Virgília, filha do Conselheiro Dutra, 15 ou 16 anos, atraente
e voluntariosa. No entanto, Brás Cubas vai visitar Eusébia, a
mesma do episódio de 1814, que tinha uma filha de dezessete anos, Eugênia, “coxa de nascença”, uma “Vênus
manca”. Brás Cubas a corteja, mas opta por Virgília, “uma
joia, uma flor, uma estrela, uma coisa rara”. Brás Cubas encontra Marcela, envelhecida, rosto marcado pelas “bexigas”,
com um pequeno comércio na rua dos Ourives. Ao encontra-se com Virgília, tem uma alucinação e vê a namorada
com o rosto marcado como o de Marcela, mas passa.
Virgília, no entanto, ambiciosa, casa-se com Lobo
Neves, um homem que lhe pareceu mais promissor que Brás
Cubas. O pai de Cubas, desgostoso, morreu, inconformado.
Brás Cubas, a irmã Sabina e o cunhado, Cotrim, disputaram a herança do pai e em tudo pode-se observar o interesse material determinando o comportamento das pessoas.
Brás Cubas torna-se recluso, escrevendo política e fazendo
literatura, chegando a alcançar reputação de polemista e
poeta.
Luis Dutra, um primo poeta de Virgília, avisa Brás
Cubas de que Virgília e Lobo Neves tinham regressado de
São Paulo. Brás Cubas começa a frequentar a casa deles e
torna-se amante de Virgília. À mesma época, encontra, na
rua, o Quincas Borba, seu colega de infância, que vivia como
mendigo. Ajuda-o com cinco mil réis e este lhe rouba o
relógio, ao despedir-se.
Quando algumas pessoas começam a desconfiar do
relacionamento de Brás Cubas e Virgília, estes montam uma
casinha, no recanto de Gamboa, cuja caseira era D. Plácida, uma antiga agregada da casa de Virgília.
Lobo Neves, marido de Virgília aguarda sua nomeação para presidente da província e convida Brás Cubas para
ser seu secretário. Este reluta em aceitar.
O romance é a autobiografia de Brás Cubas, narrador-personagem (1ª pessoa) que, depois de morto, na condição de “defunto-autor”, resolve escrever suas memórias. Por
estar morto, Brás Cubas assume uma posição transtemporal,
de quem vê a própria existência já de fora dela, “desse outro lado do mistério”, de modo onisciente, descontínuo e
sem a pressa dos vivos.
O fato de Brás Cubas colocar-se como um “defunto-autor”, isto é, como alguém que conta a sua vida de além-túmulo, dá-nos a impressão que se trata de um relato caracterizado pela isenção, pela imparciabilidade de quem já
não tem necessidade de mentir, pois deixou o mundo e
todas as suas ilusões. Essa é uma das famosas armadilhas
machadeanas, contra a credulidade do leitor ingênuo e romântico de sua época.
Os fatos são narrados à medida que afloram à memória do narrador, que vai tecendo suas digressões, refletindo sobre seus atos, sobre as pessoas, exteriorizando uma
visão cínica, irônica e desencantada de si mesmo e dos
outros.
Espécie de antimodelo, de personagem-símbolo da
ironia machadeana quanto ao ideal burguês de “vencer na
vida”, a figura de Brás Cubas constitui uma inversão da travessia de heróis burgueses, tematizados pela literatura realista.
Machado de Assis ao escolher a situação fantástica
de um morto que conta histórias, e que mesmo estando do
outro lado da vida procura mais “parecer” do que “ser”, isto
é, na mente, ilude e distorce os fatos, escondendo suas
misérias para que sejam vistas como superioridades, questiona tanto a forma quanto o conteúdo do realismo tradicional.
Brás Cubas conta a história de sua vida, a partir de
sua morte. Seu ouvinte é o leitor virtual, cinco ou dez leitores, segundo acredita (cap. 34), Virgília, que espera venha a
ler o livro (cap. 27), ou um cavalheiro (cap.87), narrador
diferente da leitura romântica a quem o narrador das obras
anteriores se dirige.
Brás Cubas nasceu em 20/10/1805, no Rio de Janeiro, filho de Bento Cubas, da família burguesa que se enriqueceu com o comércio. Tinha uma única irmã, Sabina,
casada com Cotrim, com quem teve uma filha, Venância.
Seus tios eram João, oficial da infantaria, Ildefonso, padre,
e Emerenciana, a maior autoridade de sua infância. Ao falecer, tinha 64 anos (...expirou às duas da tarde de uma sexta-feira de agosto de 1869), era solteiro e seu enterro teve 11
pessoas. Sua morte foi assistida por 3 mulheres: a irmã
Sabina, a sobrinha e Virgília, um de seus amores não concretizados.
Nos nove primeiros capítulos, Brás Cubas descreve a
sua morte (cap. 1), o emplasto (uma ideia fixa que teve, ao
final da vida, de inventar um “medicamento anti-hipocondríaco”, isto é, que curasse a mania de doença das pessoas),
sua origem (cap. 3), a ideia fixa do emplasto (cap. 4), sua
doença (cap. 5), a visita de Virgília (cap. 6), o delírio (pesadelo que teve antes de morrer em que lhe aparece Natureza
ou Pandora, dona dos bens e dos males humanos, dentre
os quais, o maior de todos é a esperança, cap. 7), razão
contra a sandice (em que a razão expulsa a sandice, cap. 8)
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cepção do domínio do amor sobre todas as outras paixões;
afirmava-se a possibilidade de construir um grande livro sem
recorrer à natureza, desdenhava-se a cor local, um autor colocava-se pela primeira vez dentro dos personagens.
O humorismo começa pela dedicatória do narrador:
“Ao verme que primeiro roeu as frias carnes de meu cadáver
dedico como saudosa lembrança estas Memórias póstumas.” Em seguida, como que preparando o leitor para a
revolução estética que o espera, Brás Cubas anuncia o espírito inusitado de sua obra: “Escrevia-a com a pena da
galhofa e a tinta da melancolia”. A visão irônica dos acontecimentos e dos pensamentos do narrador mesclada a comentários amargos e cínicos sobre a existência produz uma
concepção de mundo absolutamente singular que estrutura
todas as obras de segunda fase de Machado de Assis.
Além disso, Brás Cubas adverte que também o seu
modo de narrar é inovador: “Trata-se, na verdade, de uma
obra difusa”. O enredo de ações trepidantes, que vai num
crescendo até o clímax, é completamente abandonado, cedendo lugar a episódios mais ou menos soltos, que se
alicerçam em pormenores aparentemente banais, em considerações filosóficas abusadas e em tiradas humorísticas,
tudo ilusoriamente desvinculado da história central. Brás
Cubas usa um estilo de vaivém, interrompendo o fluxo da
intriga para brincar com o leitor ou tecer algum comentário
de fingida irrelevância. Quando, no entanto, o romance se
fecha, os inúmeros episódios formam uma unidade, dando
a este mesmo leitor a noção de um conjunto harmonioso e
convincente.
Aspecto importante nas Memórias é o gosto pela citação que o narrador exibe. A cultura de Brás Cubas é enciclopédica, passando por todo o conhecimento geral da
época. Esta cultura, entretanto, é examinada sob o ângulo
da paródia. Todas as citações e referências são extraídas
de seu contexto específico e remetidas para o contexto
pessoal do narrador, como se este debochasse da tradição
histórica e religiosa, colocando o saber culto de seu tempo
de cabeça para baixo.
A escolha de um defunto autor para relatar a obra
pode ser interpretada de vários ângulos. Alguns críticos veem
a morte de Brás Cubas como um símbolo do fim da concepção romântica que ainda se fazia presente nos romances de primeira fase de Machado de Assis. Outros sugerem
um enfrentamento do escritor com as propostas do Realismo / Naturalismo, então em plena voga, já que uma fala
vinda do túmulo contrariava os princípios de racionalidade
e verossimilhança, obrigatórios aos autores daquela escola. Indiscutível, no entanto, é a ideia machadiana de que só
um morto poderia apresentar os fatos de sua existência sem
escrúpulos, sem fantasias e sem o temor da opinião pública. Só um morto – por não ter nada a perder – revelaria os
seus intuitos mesquinhos, o seu egoísmo, a sua impotência
para a vida prática e a sua desesperada sede de glória.
Brás Cubas não é a tradução ficcional de Machado
de Assis. Esta confusão entre o autor e seu personagem
advém da narrativa ser feita em primeira pessoa. Contudo,
Brás Cubas visivelmente representa uma classe social que
não é a de Machado. O ângulo com que o narrador examina o mundo é o dos grandes proprietários: trata-se de alguém que não trabalha, que vive parasitamente, de alguém
cheio de caprichos, enredado com a falta de perspectivas
Virgília tem um filho, Nhonhô, do marido, mas Cubas
sonha ter um filho com ela.
Brás Cubas recebe uma carta de Quincas Borba que
lhe devolve o relógio roubado e quer lhe expor sua teoria
filosófica do Humanitismo, o princípio das coisas.
Lobo Neves recebe denúncias da traição da mulher.
É nomeado Presidente da Província e o casal parte, terminando aí o romance proibido entre Virgília e Brás Cubas.
Quincas Borba visita Brás Cubas, conta-lhe da fortuna herdada de um tio de Barcelona, mas só se ocupa de
sua doutrina filosófica, o humanitismo, uma paródia das teorias científicas no final do século XIX. Brás Cubas fica seduzido pela teoria do Humanitismo, identificando-se com
sua explicação materialista da existência humana.
Outros motivos que lhe compensaram a perda de
Virgília foram a tentativa da irmã de casá-lo com Nha Loló e
a ambição política. Aquela no entanto, morre, aos 19 anos
de febre amarela. Brás Cubas torna-se deputado, atuando
ao lado de Lobo Neves. Em 1855, Brás Cubas encontra
Virgília, num baile. Ele a acha magnífica, mas nada mais
ocorre entre eles.
Ao chegar ao 50 anos, Brás Cubas perde o interesse
pela vida, que é o amor. Quincas Borba o convence de que
era a idade da ciência e do governo, mas Brás Cubas perde
sua cadeira de deputado e, consequentemente, a paixão pelo
poder. Sua única companhia é Quincas Borba, com quem
filosofa sobre a vida e a existência humana através de observações da realidade, como uma luta de cães por um osso.
Brás Cubas recebe um bilhete de Virgília que pede-lhe para socorrer D. Plácida, que está a morrer. Ele dá-lhe
algum dinheiro e a interna na Misericórdia, onde falece.
Resolve publicar um jornal, de oposição ao governo,
que contraria Cotrim, seu cunhado. Pouco mais de seis meses
depois, o jornal deixa de sair.
Lobo Neves morre, na iminência de ser ministro. Brás
Cubas vai-lhe ao enterro e vê que Virgília chorava “lágrimas verdadeiras”.
Brás Cubas reconcilia-se com o cunhado Cotrim, ingressa na ordem, para dar alguma utilidade a sua vida, segundo ele, foi a fase mais brilhante de sua vida. No hospital
da ordem, viu morrer a ex-namorada, a linda Marcela, agora feia, magra, decrépita; também encontrou, num cortiço,
outra ex, Eugênia, a filha de D. Eusébia e do Vilaça, tão
coxa como antes e mais triste.
Quincas Borba, que havia partido para Barcelona, volta, mais louco ainda, morrendo pouco tempo depois. O último capítulo, Das negativas, finaliza a obra com o tom cético e
realista que atravessa toda a obra: Brás Cubas não se torna
famoso por seu emplastro, não foi ministro, nem califa, nem se
casou. Em compensação, não comprou o pão com o suor do
rosto, pois nunca teve de trabalhar. Não morreu como D. Plácida, Marcela, Eugênia e tantos outros, nem se tornou louco
como Quincas Borba. Ao morrer, chega ao outro lado, sentindo-se um pouco credor, pois não teve filhos e portanto, não
transmitiu “a nenhuma criatura o legado de sua miséria”.
Notas
O autor, nesta obra, acabou com o sentimentalismo,
o moralismo superficial, a fictícia unidade da pessoa humana, as frases piegas, o receio de chocar preconceitos, a con5
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de sua existência. A própria técnica de narrar de Brás Cubas, misturando irreverência e desrespeito a tudo e a todos, corresponde à desfaçatez da classe dominante brasileira do século XIX. Assim, os erros e transgressões do personagem expressariam o arbítrio e a falta de significado
ético de uma elite historicamente condenada à destruição.
O procedimento básico de Brás Cubas em relação a
sua vida é o do desmascaramento. Entre a norma social e a
opinião pública, de um lado, e as intenções e desejos
escusos do personagem, de outro lado, forma-se uma zona
obscura que o narrador trata de esclarecer. Os “bons sentimentos são a máscara hipócrita” do egoísmo, do interesse
e da luta pela glória. Instaura-se um terrível relativismo moral e emerge com frequência certa noção da gratuidade e
mesmo do caráter absurdo de certos gestos humanos. Episódio revelador desta dimensão inexplicável de alguns atos
ocorre, por exemplo, no capítulo A borboleta preta. A borboleta invade o quarto de Brás Cubas e este, sem nenhuma
razão plausível, a abate com uma toalha. Depois, ele tenta
justificar a sua ação dando-lhe uma forma socialmente aceitável: “Também por que diabo não era ela azul?” Falsas
racionalizações como esta são emitidas o tempo inteiro pelo
narrador.
Personagem de grande significação na obra é Quincas
Borba, antigo colega de Brás Cubas. Convertido em mendigo cleptomaníaco e filósofo, Quincas Borba expõe com
hilariante seriedade um sistema de ideias designado como
Humanitismo. A teoria do Humanitas é uma caricatura feroz
ao positivismo e ao cientificismo dominantes na época.
Paradoxalmente, o ridículo discurso filosófico de Quincas
Borba, próximo da insanidade, – cujo lema darwinista é “Ao
vencedor as batatas” – parece expressar a própria concepção machadiana de mundo, centrada na luta selvagem do
indivíduo para estabelecer algum tipo de supremacia sobre
os demais.
No capítulo O almocreve, Brás Cubas está sendo arrastado por um jumento, pois tinha sido jogado fora da sela
ficara com o pé preso no estribo. Possivelmente morreria
não fosse a corajosa intervenção de um almocreve (condutor
de bestas de carga), que deteve o animal. A primeira intenção do narrador foi a de presentear o seu salvador com cinco moedas de ouro, depois pensou dar-lhe duas, uma moeda de ouro. Acabou metendo na mão do almocreve uma
moeda de prata, mas ao afastar-se pensou com remorso que
deveria ter-lhe dado apenas uns vinténs, racionalizando que
o homem não tinha em mira nenhuma recompensa ao salválo, cedendo apenas a um impulso natural.
O mais célebre capítulo do livro, porém, é O delírio.
Em estado de transe causado pela febre, Brás Cubas é arrebatado por um hipopótamo que o leva à origem dos séculos. Surge então uma mulher imensa de contornos indefinidos que diz-se chamar Natureza ou Pandora. Quando, por
fim, Brás Cubas vê de perto o rosto da estranha, percebe-lhe a impassibilidade egoísta e sua eterna surdez, ou seja
trata-se de algo ou alguém indiferente ao clamor humano.
Ela conduz o defunto autor ao alto de uma montanha e lhe
permite contemplar a passagem dos séculos e entender o
absurdo da existência, sempre igual, centrada apenas no
egoísmo e na luta pela conservação. O personagem vê a
história como uma eterna repetição.
VISÃO II
Nesta história narrada em primeira pessoa, por um
defunto autor, Machado de Assis nos mostra através da
pretensa superioridade de seu protagonista – Brás Cubas –
a precariedade da espécie humana.
I – NARRADOR
Os romances de Machado de Assis escondem várias
armadilhas ao longo do processo de leitura, especialmente
quando se trata de um leitor romântico, acostumado a confiar sem questionamentos na onisciência do narrador – nas
narrações em terceira pessoa – e na sua autoridade como
testemunha ocular da história contada, no caso específico
das narrações em primeira pessoa.
Memórias póstumas de Brás Cubas pertence a este
caso, isto é, tem a narração em primeira pessoa: o foco
narrativo centraliza-se no personagem-narrador, tornando-se difícil, assim, recusarmos-nos a crer no que conta.
Entretanto, uma das chaves para a leitura deste grandioso romance está justamente em desconfiarmos do narrador.
Ao colocarmos em dúvida a veracidade do ato narrativo,
começaremos a entender a estrutura do romance. Vejamos
por quê: de um lado é um defunto autor, que conta a história
de sua vida do além-túmulo, e assim dá a impressão de máxima isenção, de uma imparcialidade absoluta. De outro lado,
simultaneamente, vai espalhando pelo texto algumas pistas
que denunciam suas mentiras e seus exageros.
Vamos analisar, sob este aspecto, as partes iniciais
dos capítulos I e II.
Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias
pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar
o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar
seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não
sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor,
para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o
escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que
também contou a sua morte, não a pôs no introito, mas no
cabo: diferença radical entre este livro e o Pentateuco.
Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de
Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos. Onze amigos! Verdade é que não houve cartas nem anúncios. Acresce que
chovia – penetrava uma chuvinha miúda, triste e constante,
tão constante e tão triste, que levou um daqueles fiéis da
última hora a intercalar esta engenhosa ideia no discurso que
proferiu à beira de minha cova: – “Vós, que o conhecestes,
meus senhores, vós podeis dizer comigo que a natureza parece estar chorando a perda irreparável de um dos mais belos caracteres que têm honrado a humanidade”. Este ar sombrio, estas gotas do céu, aquelas nuvens escuras que cobrem o azul com um crepe funéreo, tudo isso é a dor crua e
má que lhe rói à Natureza as mais íntimas entranhas; tudo
isso é um sublime louvor ao nosso ilustre finado.
Bom e fiel amigo! Não, não me arrependo das vinte
apólices que lhe deixei.
(capítulo I – Óbito do autor)
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Com efeito, um dia de manhã, estando a passear na
chácara, pendurou-se-me uma ideia no trapézio que eu tinha no cérebro. Uma vez pendurada, entrou a bracejar, a
pernear, a fazer as mais arrojadas cabriolas de volatim que
é possível crer. Eu deixei-me estar a contemplá-la. Súbito,
deu um grande salto, estendeu os braços e as pernas, até
tomar a forma de um X: decifra-me ou devoro-te.
Essa ideia era nada menos que a invenção de um
medicamento sublime, um emplasto anti-hipocondríaco, destinado a aliviar a nossa melancólica humanidade. Na petição de privilégio que então redigi, chamei a atenção do
governo para esse resultado, verdadeiramente cristão. Todavia, não neguei aos amigos as vantagens pecuniárias que
deviam resultar da distribuição de um produto de tamanhos
e tão profundos efeitos. Agora, porém, que estou cá do
outro lado da vida, posso confessar tudo: o que me influiu
principalmente foi o gosto de ver impressas nos jornais,
mostradores, folhetos, esquinas, e enfim nas caixinhas do
remédio, estas três palavras: Emplasto Brás Cubas. Para
que negá-lo? Eu tinha a paixão do arruído, do cartaz, do
foguete de lágrimas. Talvez os modestos me argúam esse
defeito: fio, porém, que esse talento me hão de reconhecer
os hábeis. Assim, a minha ideia trazia duas faces, como as
medalhas, uma virada para o público, outra para mim. De
um lado, filantropia e lucro; do outro lado sede de nomeada. Digamos: – amor da glória.
importância, que talvez seja lido por cinco leitores. E vai
além, dizendo, aos que gostarem do livro, que é sorte de
quem o lê: se não gostarem, lhes dá um “piparote” ( pancada com o nó do dedo).
Brás Cubas conta sua história através de uma postura irônica, o que exige que leiamos o romance percebendo o avesso das palavras nele escritas. Assim, podemos
descobrir a forma pela qual esconde a verdade de uma
trajetória inglória, dando-lhe sempre um tom de superioridade, criando uma espécie de “jogo” com o leitor.
Este jogo, fundamentalmente baseado na ironia, afasta as Memórias póstumas da típica narração realista, cujo
caráter documental, fotográfico, racionalista não combina
com a situação fantástica de um morto que conta histórias,
extrapolando a verossimilhança dos fatos, exagerando, falseando e algumas vezes agredindo frontalmente o leitor.
Por outro lado, se não é um tradicional narrador realista, por certo Brás Cubas é um narrador realístico, na medida em que o desvendamento de suas ironias permite-nos
reconhecê-lo imperfeito e contraditório.
Em conclusão, o romance, como de resto toda a
obra de Machado de Assis, tem um realismo peculiar, que
se aprofunda no mergulho da busca do real, indo além das
aparências, que desde o foco narrativo desafia a percepção do leitor pela “não confiabilidade” do ato narrativo.
É importante, então, distinguirmos o específico do
narrador desta obra em relação aos narradores realistas.
Enquanto estes pretendem contar de maneira realista, objetiva, e imparcial, aquele, com a ironia crítica de que se utiliza, coloca em “xeque” tal objetividade, ao denunciar em si
mesmo as imperfeições e as fraquezas humanas que normalmente tentamos esconder.
(capítulo II – O emplasto)
Os exageros e mentiras do narrador estão bem claros nestes trechos. A invenção de um remédio que curaria
todos os males, uma espécie de panaceia universal, o seu
“Emplasto Brás Cubas”, é evidentemente uma mentira bem
colocada. Mesmo partindo de um morto que está narrando
sua história, esta afirmação não pode ser aceitável, na medida em que o que a move é o lucro, a sede de nomeada,
o amor da glória, e até a filantropia, pouco convincente
em relação aos outros motivos, nenhum deles, entretanto,
ligados a qualquer preocupação e/ou formação científica.
Este exemplo mostra que a pista que nos revela Brás
Cubas como mentiroso já está colocada por ele mesmo
nos primeiros capítulos.
Ao leitor, resta, então, a tarefa de manter-se constantemente atento, percebendo os momentos em que a narração cai nos exageros, nas invenções e nas mentiras. Podemos surpreender o narrador, várias vezes, no difícil trabalho
de encobrir uma verdade, uma fraqueza, que ele, sem querer, acabou revelando ao leitor.
Quando fala de seu enterro, no capítulo I, ele diz ter
sido acompanhado ao cemitério por onze amigos. Este é
um féretro um tanto íntimo para quem, algumas linhas atrás,
equiparou-se a Moisés. Parece que, ao notar que revelou
sua falta de importância ao leitor, tenta escondê-la. Para
justificar a ausência de mais amigos, inventa desculpas, não
houve anúncios de morte e, ainda, chovia (ou garoava, como
ele mesmo confessa) durante o enterro. Temos então uma
pessoa que se acha muito importante, mas ninguém fica
sabendo de sua morte a não ser que seja avisado.
Através deste exemplo, verificamos que se trata de
um narrador narcisista, inclusive pela petulância com que
se coloca em posição de superioridade perante o leitor. É
assim que, no prólogo do romance, confessa não ter muita
II – ENREDO
Sempre lembrando que Brás Cubas é um narrador
de ótica própria, que deforma a história, vamos conhecê-la
em alguns episódios significativos.
No capítulo XI do romance – O menino é o pai do
homem – Brás Cubas relata sua infância: cresci, naturalmente, como crescem as magnólias e os gatos. Entretanto, tal
“naturalidade” é negada pelo próprio narrador, segundo o
qual talvez os gatos são menos matreiros e, com certeza,
as magnólias são menos inquietas do que eu era na minha
infância.
O menino matreiro e inquieto, merecedor do apelido
de menino diabo, maltrata os escravos, mente, esconde os
chapéus das visitas, coloca rabos de papel em pessoas
graves, puxa cabelos, dá beliscões, enfim, possui um comportamento maligno contando invariavelmente com a cumplicidade do pai e as orações inúteis da mãe. Sim, meu pai
adorava-me. Minha mãe era uma senhora fraca, de pouco
cérebro e muito coração, assás crédula, informa-nos Brás
Cubas. O tio cônego também não obtém resultados quando critica esta educação baseada na superproteção paterna e na omissão materna.
A mediocridade e a frouxidão do tio cônego, que
entretanto, tinha virtudes exemplares, contrapõe-se à vida
galante, à língua solta e às obscenidades do tio João, que
tal como o pai mima o menino, ensinando-lhe muitas anedotas e malícias e, assim, conseguindo a sua preferência.
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Brás Cubas desenvolve-se neste contexto familiar que
lhe favorece e justifica as traquinagens, e que prenuncia o
adulto egocêntrico em que se transforma, como ele mesmo
reconhece irônica e criticamente em relação à própria educação, no capítulo mencionado.
Na juventude, envolve-se com Marcela, uma cortesã
espanhola por quem se apaixona mas que o ama durante
quinze meses e onze contos de réis. Quando o pai toma
conhecimento dos gastos do filho, manda-o à Europa para
estudos aos quais pouco se dedica. Ao retornar, Brás Cubas almeja casar-se com Virgília, num negócio arranjado
pelo pai, também preocupado em torná-lo deputado.
Ambos os projetos falham: Brás Cubas perde a noiva
e o cargo para Lobo Neves. Mais tarde, quando suas intenções são de ser ministro, o que consegue é o amor adúltero de Virgília e, em vez do ministério, o cargo de deputado.
Virgília engravida, mas o filho dela e de Brás Cubas morre
antes de nascer, o que separa os amantes.
Nhã-loló (Eulália), a noiva arranjada pela irmã – Sabina
– morre vitimada por uma epidemia e Quincas Borba, seu
colega de infância que se diz filósofo, rouba-lhe o relógio e
desaparece. Retorna tempos depois, enriquecido por uma
herança, devolve o relógio e mais tarde enlouquece.
Assim, de fracasso em fracasso se conduz a travessia
de Brás Cubas, personagem-símbolo da ironia machadiana
quanto ao ideal burguês de “vencer na vida”, especialmente percebida através do humanitismo: teoria filosófica criada por Quincas Borba.
Inventar um emplasto contra a hipocondria, um remédio miraculoso que curaria os males da humanidade, constitui a última tentativa de Brás Cubas, o seu último projeto –
sem sucesso como todos os outros – ironicamente impedido pela morte do protagonista, que contrai pneumonia ao
sair de casa a fim de patentear o invento.
vamos comentar os personagens secundários do romance,
vistos no que representam para o protagonista e narrador.
Marcela, sua primeira paixão, é descrita como uma
cortesã interesseira que acaba sendo atacada pela varíola.
Brás Cubas parece sentir um prazer mórbido na descrição
das marcas no rosto da espanhola. Sua descrição da personagem assemelha-se, assim, a uma vingança, sugerindo
ao leitor que mesmo os raros que conseguem enganá-lo
são castigados até pelo destino.
O homem que lhe toma a noiva e o mandato de deputado – Lobo Neves – aparece como um supersticioso inconsequente. O cunhado Cotrim, com quem tivera que repartir a herança do pai, aos olhos do narrador é submisso
aos poderosos e interesseiros. Um dos raros amigos que
tem, Quincas Borba, é retratado inicialmente como um
mendigo ladrão de relógios e depois como um filósofo
doido.
Uma das poucas personagens que não lhe merecem
palavras azedas é Virgília, embora seja retratada como mulher fraca, submissa ao destino e, assim, a ele também.
Neste sentido, o egocêntrico Brás Cubas sente-se tão forte
quanto o destino. O fato de que Virgília se torna sua amante
é usado por Brás Cubas para disfarçar a frustração que teve
com a primeira derrota, quando iria casar-se com ela. É
como se dissesse ao leitor que Virgília estava fadada a ser
sua, que nada pode se opor aos seus desejos e, mais cedo
ou mais tarde, ele os acaba concretizando.
IV – LINGUAGEM
Para tornar mais funcional o nosso trabalho de análise da linguagem do romance, vamos dividi-lo em itens representativos de seus elementos mais importantes.
CONVERSA COM O LEITOR
III – PERSONAGENS
Começo a arrepender-me deste livro. Não que ele me
canse; eu não tenho que fazer; e, realmente, expedir alguns
magros capítulos para esse mundo sempre é tarefa que distrai um pouco da eternidade. Mas o livro é enfadonho, cheira
a sepulcro, traz certa contração cadavérica; vício grave, e
aliás ínfimo, porque o maior defeito deste livro és tu, leitor. Tu
tens pressa de envelhecer, e o livro anda devagar; tu amas a
narração direita e nutrida, o estilo regular e fluente, e este
livro e o meu estilo são como os ébrios, guinam à direita e à
esquerda, andam e param, resmungam, urram, gargalham,
ameaçam o céu, escorregam e caem...
E caem! – Folhas misérrimas do meu cipreste, heis
de cair, como quaisquer outras belas e vistosas; e, se eu
tivesse olhos, dar-vos-ia uma lágrima de saudade. Esta é a
grande vantagem da morte, que, se não deixa boca para rir,
também não deixa olhos para chorar... Heis de cair.
Brás Cubas – protagonista e narrador do romance – egoísta, egocêntrico, entediado e como vimos petulante, irônico, pretensamente superior, constitui uma espécie de inversão feita por Machado de Assis da trajetória típica dos heróis do mundo burguês, tematizados na literatura realista.
Tais heróis, como por exemplo nos romances de Stendhal e
Balzac, caracterizam-se pela ascensão social geralmente
relativizada pelo fracasso no plano afetivo. Brás Cubas, por
sua vez, não tem sucesso em nenhum setor, tornando-se
uma espécie de antimodelo através do qual Machado de
Assis ironiza impiedosa e ceticamente os valores burgueses
em particular e os valores humanos em geral. Além disso,
questiona os modelos ideológicos e literários importados
pelo Brasil, fazendo-o não só através da negação do herói
tradicional da literatura realista, mas também da
ridicularização das doutrinas positivistas e deterministas,
através do humanitismo e de seu criador, o filósofo-maluco
Quincas Borba.
(capítulo LXXI – O senão do livro)
Neste trecho, como em vários outros, o narrador dirige-se ao leitor e, de um modo sarcástico e até agressivo,
faz comentários sobre a sua escrita. Aqui, fala sobre as expectativas do leitor e sobre a sua própria linguagem, acentuando as diferenças entre ambas.
SECUNDÁRIOS
Pela ótica demolidora e narcisista de Brás Cubas,
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O leitor da época, consumidor do folhetim romântico, é criticado; exige-se dele uma leitura mais pausada e
mais crítica, não preocupada com a mera sucessão dos
fatos, mas atenta aos pequenos detalhes que compõem a
narrativa machadiana.
Essas reflexões aproximam a obra do escritor das inquietações da literatura moderna. Em Machado, como atualmente, é essencial entender as reflexões do narrador à luz do próprio texto, comparando o que ele fala com o que ele faz. Nas
Memórias póstumas de Brás Cubas, Machado insiste na leitura
mais realista, fornecendo ao leitor as pistas para que ele leia
no romance não apenas a história de alguém que está morto,
mas a própria tragédia do homem diante de si mesmo e que
ainda assim não consegue se olhar com honestidade.
“verdadeiros” europeus, até que dois deles se esquecem
de continuar representando os seus papéis. De refinados e
progressistas adeptos do capitalismo moderno, eles se mostram senhores de escravos, defensores de uma ordem social tão injusta quanto atrasada. A ironia desse episódio está
justamente no descompasso entre uma festa europeia e um
diálogo brasileiro demais...
HUMOR E PESSIMISMO
O “humor fino”, caracterizado como “britânico”, é quase um lugar-comum na análise da obra de Machado de
Assis. É possível identificá-lo, por exemplo, no episódio da
festa napoleônica em que, em vez de fotografia realista,
reveladora da aparência, faz uma radiografia dos fatos, ao
mesmo tempo repleta de humor e de pessimismo.
Ao humor obviamente percebido na revelação do
descompasso, a qual denuncia simultaneamente a indigência de nossa oligarquia rural e a sua hipocrisia em desconhecer a si própria – atrelada que estava à cultura e às ideias
do liberalismo europeu – soma-se o pessimismo machadiano, que perceberemos em toda a sua extensão, através
da análise de um fragmento do último capítulo do romance, sugestivamente intitulado Das negativas.
Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa,
não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado destas
faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com
o suor do meu rosto (...) Somadas umas coisas e outras,
qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e consequentemente que sai quite com a vida. E imaginará mal, porque ao chegar a este outro lado do mistério,
achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa neste capítulo de negativas: não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria.
Ao se referir ao último capítulo do livro que escreve,
o narrador inicialmente faz uma afirmação – Este capítulo é
todo de negativas – para em seguida demonstrá-la, fundamentá-la, através de fatos-exemplos: Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não
conheci o casamento.
Além de enumerar os motivos, as causas das negativas que percebemos se referirem à vida, uma vida de fracassos tanto no plano profissional quanto no plano afetivo,
o narrador ironiza tais fracassos mostrando que se por um
lado houve faltas de sua parte por outro coube-lhe a boa
fortuna de não comprar o pão com o suor de seu rosto...
ou seja, não venceu mas em compensação não lutou, isto
é, não fez o “jogo” do sistema, não obedeceu às regras do
mundo burguês segundo as quais o trabalho – comprar o
pão com o suor do rosto – dignifica e enobrece o homem.
O enfoque irônico, crítico, presente neste trecho, intensifica-se profundamente no final: a “lei das compensações” de que se utiliza o narrador pode dar ao leitor uma
impressão de “empate”, de que ele saiu quite com a vida.
Impressão errônea, na medida em que “do outro lado do
mistério”, isto é, da perspectiva do além-túmulo, o narrador
descobre que tem pequeno “saldo” perante a vida. Este
saldo, paradoxalmente, corresponde à derradeira negativa
do capítulo de negativas: Não tive filhos, não transmiti a
nenhuma criatura o legado de nossa miséria.
A NARRAÇÃO FRAGMENTÁRIA
A narração fragmentária de Machado de Assis convida o leitor à participação, exigindo dele um esforço
organizador. Além dos detalhes que compõem a coerência
da obra, a própria sequência narrativa deve ser costurada.
Há capítulos que explicam ou exemplificam um outro. Este
pode vir tanto antes quanto depois daqueles, e o leitor é o
responsável por organizá-los coerentemente.
Assim como exemplo, podemos discutir o capítulo XXXI,
em que Brás Cubas conta uma pequena história acerca de
uma borboleta preta. Aparentemente, este episódio não tem
nada a ver com o que se conta da própria vida do narrador.
Mas é só aparentemente. A história da borboleta pode ser
vista como uma alegoria: os seres mais fracos (entenda-se os
animais) são usados e destruídos pelos mais fortes (leia-se o
homem). Acontece que, neste tempo, Brás Cubas tentava-se
aproveitar de Eugênia, uma moça pobre, um tanto bonita,
mas manca. A alegoria da borboleta ajusta-se perfeitamente
ao caso: os mais fortes (leia-se “ricos”) podem usar os mais
fracos (leia-se “pobres”). Mas a incompetência de Brás Cubas
é tanta que ele não consegue realizar seus propósitos.
Há outros casos, em que a fragmentação do texto é
mais radical, como o capítulo LV (O velho diálogo de Adão
e Eva) e o capítulo CXXXIX (De como não fui ministro
d'Estado). Ambos são totalmente compostos de sinais de
pontuação, deixando a cargo do leitor completar o espaço
vazio de palavras, mas sugestivo de ideias, várias delas,
aliás, presentes nos capítulos precedentes. Esta fragmentação do ato de narrar, aliada à quebra da linearidade do
enredo, é outra técnica literária moderna anunciada no século XIX por Machado de Assis.
O DUPLO SENTIDO IRÔNICO
Há um segundo sentido em relação à aparência, que
se revela aos poucos, pelos detalhes que o leitor vai percebendo.
Uma passagem sutil em Memórias póstumas de Brás
Cubas ilustra o duplo sentido irônico: os pais de Brás Cubas dão uma festa para comemorar a queda de Napoleão,
na França. Os convidados comentam a questão, uns colocando-se a favor, outros contra. No meio da festa, dois deles trocam informações sobre uma partida de escravos que
estava para chegar ao porto nos próximos dias. Revela-se
aí justamente a face hipócrita e envergonhada de nossa classe dominante. Os convivas estavam se comportando como
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Vingando-se da vida através da recusa a seu principal valor – a continuação da espécie humana – e passando
da primeira pessoa do singular (não tive) para a primeira do
plural (nossa miséria), o narrador estende a todos os homens a sua miséria, o que a universaliza. Na realidade é o
que o leitor pode pressentir desde o início do romance:
Brás Cubas não é “qualquer pessoa” mas a síntese de muitas, se não de todas as pessoas, cujos fracassos não assumidos e escamoteados Machado de Assis analisa com rara
capacidade de penetração psicológica.
o comportamento deles, vai desmascarando um por um,
por meio de suas atitudes.
Outra inovação fora de série para a época é o capítulo “De como fui ministro de Estado”. Pontos no lugar de
palavras, indicam a total falta de motivos para Brás não ter
sido ministro.
Até então, todas as biografias seguiam uma cronologia linear. Machado inova quando inverte tudo e começa
seu livro pelo fim – a morte e o enterro. Só então, volta ao
nascimento e, a partir daí, os acontecimentos seguem a
linha do tempo. O romance volta e termina exatamente onde
iniciou, ou seja, a narrativa tem uma estrutura circular.
Em vez de descrever a burguesia carioca da classe
burguesa, Machado é sutil. Monta quadros de comportamento hipócrita, para criticar os relacionamentos por interesse. A conclusão não poderia ser outra, o pessimismo em
relação à humanidade – contido no capítulo final.
VISÃO III
O AUTOR
Atrás daquela aparência simples, as atitudes tímidas
escondiam um dos maiores gênios de nossa literatura – um
escritor universal, culto e inovador.
Machado de Assis foi um dos fundadores da Academia
Brasileira de Letras. Mas isso não aconteceu do dia para noite. A consagração e a perfeição artística vieram com paciência
e muita dedicação. Em uma sociedade marcada por divisões
sociais rígidas, seu destino seria determinado pela origem e
raça. Machado era mulato. Menino de subúrbio fascinado pela
vida intelectual da corte, ele passou a maior parte de seu tempo trabalhando na rua do Ouvidor, onde acabou provando à
alta sociedade que seu nome era insuperável.
Na virada do século XIX, Machado de Assis beirava
os 60 anos. Sem ser rico, vivia com conforto e era uma das
figuras mais ilustres de nossa literatura. Consta que nunca
fora bonito e, ainda por cima, gaguejava. Mesmo assim,
teve (e quem nunca sonhou com isso?) um grande amor
que foi correspondido durante praticamente toda a sua vida.
Era Carolina, com quem viveu casado por 30 anos, a quem
confessara um dia: “Eu vivo e morro por ti”.
Machado vinha de uma família humilde – neto de escravos alforriados, filho de um pintor de paredes e de uma
dona-de-casa açoriana – e contava que, desde cedo, sentia “umas coisas estranhas”. Talvez fossem os primeiros sintomas de epilepsia.
O garoto pobre do Morro do Livramento, cuja obra
atravessou fronteiras para consagrá-lo internacionalmente, viu
morrer a única irmã aos 6 anos e, quatro anos depois, a mãe.
Apesar de tudo, o garoto – como qualquer outro de sua idade
– adorava se esquecer da vida nas ruas do Rio de Janeiro,
onde nasceu (1839), viveu, amou, escreveu e morreu (1908).
O LIVRO
Boa família, dinheiro, estudos, noiva e carreira. Brás
confessa que teve tudo isso, mas deixou escapar as melhores oportunidades de sua vida. Na época de romances
melosos, poucos entenderam esse livro revolucionário. Um
morto é o personagem principal.
Brás Cubas, o personagem principal, conta a história
de sua vida no momento de sua morte – um balanço sem
paixões, sentimentos nem julgamentos. Homem de poucos
amigos, só onze lhe prestaram as últimas homenagens. Entre
eles, Virgília, a mulher mais importante de sua vida. Depois,
a narrativa volta ao começo: filho de família rica, mimado e
protegido, Brás aprontou muito na infância. Aos 17 anos,
apaixonou-se por Marcela, uma linda prostituta espanhola
que lhe arrancou muito dinheiro. O pai descobriu o caso e
despachou o rapaz para Portugal.
Cursou Direito em Coimbra, mais preocupado em curtir a vida e passear pela Europa do que em estudar. Atendendo ao pedido do pai, voltou ao Rio a tempo de assistir aos
funerais da mãe. Depois, escondeu-se na Tijuca para ficar só,
mas, ao fim de uma semana, cansado da solidão, conheceu
Eugênia, filha de uma antiga amiga da família. A garota, bonita e inteligente, era coxa. Com medo de se apaixonar, ele
pulou fora. O pai tinha planos para ele: carreira política e
casamento vantajoso. Brás concordou em conhecer Virgília
e deu razão ao pai. Ela era linda mesmo. Já a considerava
sua namorada quando Lobo Neves apareceu e roubou tudo
que ele queria – a noiva, a carreira e o dote.
Casados, Lobo e Virgília foram morar em São Paulo.
Voltaram ao Rio e Brás constatou que Virgília estava ainda
mais linda. Depois de alguns jantares e festas, tornaram-se
amantes. Para evitar suspeitas, alugaram uma casinha onde
viveram momentos de paixão. O romance teve de esfriar,
pois o marido de Virgília começou a desconfiar dos dois.
Lobo Neves foi nomeado presidente de uma província no
Norte, e o casal partiu de novo. Ele se consolou com outra
– Nhã-Loló, que morreu poucos meses depois, aos 19 anos.
Quando Virgília voltou, tornaram a se ver, mas não se
envolveram mais. Brás agora se limitava a receber o amigo
de infância, Quincas Borba, mendigo e filósofo. A estas alturas ele já havia passado por vários fracassos: quis ser ministro de Estado, mas não conseguiu; abriu e fechou um
jornal de oposição; ingressou numa Ordem Terceira e até
LITERATURA E ESTILO
Memórias póstumas de Brás Cubas é um marco na
literatura brasileira. Inaugurou o Realismo no Brasil (1881)
ao lado de O mulato, de Aluísio Azevedo. Nessa obra, a
primeira do movimento, Machado de Assis introduz inovações de altíssima qualidade.
Entre as inovações, uma delas é o foco narrativo. Pela
primeira vez na literatura brasileira, um livro é escrito na primeira pessoa, por um personagem morto, como se fosse
uma autobiografia. Daí a ironia de Machado em seu trocadilho: não é um autor defunto, mas um defunto autor.
O autor não busca apenas retratar o real com fidelidade nem focalizar somente os exageros patológicos do
Naturalismo. Machado faz mais. Apresenta uma brilhante
análise psicológica de seus personagens: em vez de criticar
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exerceu alguns cargos, mas desistiu. Finalmente, tentou fazer um emplastro que salvasse a humanidade da hipocondria,
pegou uma pneumonia e morreu.
No balanço final de sua vida, Brás conta que havia
encontrado Eugênia, a coxa, morando em um cortiço; que
Lobo Neves e Marcela tinham morrido; e que Quincas Borba
enlouquecera e morrera seis meses antes dele. Depois de
tanta desilusão, conclui que houve um saldo positivo: o de
nunca ter tido filhos. Assim, não transmitiu a herança da
miséria humana.
Brás vai se lembrando de um por um e de tudo que
viveu, a partir da infância.
II. Marcela, a linda prostituta espanhola, foi a primeira paixão de Brás. Quando o pai descobriu o caso e mandou
o rapaz para a Europa, ele tentou comprar a moça com
uma presilha de três diamantes. Ela aceitou a joia, mas
não fugiu com ele.
III. Na Gamboa, então um bairro portuário do Rio de Janeiro, uma casinha modesta abrigava os encontros de Brás
e Virgília. Lá, viveram uma grande paixão, pensando que
jamais alguém suspeitaria deles.
QUEM É QUEM?
IV. Brás reencontra Quincas Borba, seu melhor amigo da
época de escola. Quincas tornara-se um mendigo. Apesar de ter ficado chocado com a situação, Brás ficou
feliz por tê-lo encontrado e deu dinheiro a Quincas. Eles
se despediram com um forte abraço. Quincas aproveitou a ocasião e roubou o relógio do amigo, que devolveu mais tarde.
Nada de heróis românticos nem heroínas sem defeitos. Brás Cubas relembra sua vida e a dos que a cercaram,
tentando ser o mais realista possível – sem emoções nem
meias verdades.
1. BRÁS CUBAS – Nasceu em 1805 e morreu aos 64 anos.
Era rico e bonito: “os olhos, vivos e resolutos, eram minha feição máscula.” Estudou em Coimbra, passeou pela
Europa e, na volta, encontrou o futuro traçado pelo pai.
O bom casamento não aconteceu e os projetos não deram certo. Sua história é a de um homem que quis e
“quase foi” muitas coisas: não conseguiu ser ministro de
Estado, não se casou com Virgília, não teve filhos e não
fabricou o emplastro que lhe daria dinheiro e fama.
CENÁRIO
Conheça alguns bairros cariocas e lugares famosos
do Rio de Janeiro onde Brás Cubas morou, passeou e namorou.
I. GAMBOA, O BAIRRO PORTUÁRIO – Centro importador e exportador, o Rio de Janeiro não tinha porto apropriado. A Gamboa, bairro popular da orla marítima, servia de área de desembarque de mercadorias. A falta de
habitação para os trabalhadores levou os donos dos terrenos a construir quartos e casas pequenas. Era lá que
Brás e Virgília se encontravam escondidos. O cais foi
aterrado e, em 1910, deu lugar a um porto moderno.
2. VIRGÍLIA – Aparência frágil e atitudes arrojadas, “era
bonita, fresca, clara, cheia de uns ímpetos misteriosos”.
Não se casou com Brás porque preferiu a condição social
do marido. Amorosa com ele, traía-o com Brás Cubas.
3. QUINCAS BORBA – “Uma flor, o Quincas. Nunca, em
toda a minha vida, achei um menino mais gracioso,
inventivo e travesso.” Amigos de infância, eles se reencontram adultos. Quincas Borba, tinha virado mendigo
e filósofo.
II. PHAROUX, UM BOM LUGAR PARA AFOGAR AS MÁGOAS – O francês Louis Pharoux montou um dos endereços mais elegantes do Rio de Janeiro, no século XIX.
Era o Hotel Pharoux, com vista para a baía da Guanabara.
A cordialidade do dono, a ótima culinária e as bebidas
especiais transformaram o hotel no point da época. Lá,
podia-se tomar um bom vinho francês – iguaria rara, pois
aqui só se bebia vinho português.
4. MARCELA – A linda prostituta que foi o primeiro amor
de Brás Cubas: “Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis.” Brás tentou convencê-la a
fugir com ele para a Europa. Não conseguiu.
5. EUGÊNIA – Duplamente discriminada, a jovem era coxa
e também filha de um relacionamento clandestino. Brás
quase namorou com ela, mas não teve coragem de enfrentar os preconceitos.
III. PASSEIO PÚBLICO, O ORGULHO CARIOCA – Quando
D. Pedro II resolveu remodelar a área, o jardim de 1783
estava abandonado. O imperador encomendou o projeto
ao paisagista francês Auguste François Marie Glaziou, que
fez um traçado de influência chinesa: muitas curvas, lago
artificial e larga rua do Passeio. Reaberto ao público em
1862, o local voltou a ser um lugar agradável e fresco, no
centro do Rio de Janeiro. É visitado até hoje, mas sem os
encantos nem os cuidados de outrora.
6. PERSONAGENS MENCIONADOS
a) OS PAIS DE BRÁS – Achavam graça em tudo que o
menino fazia. O pai queria uma boa posição social e
um casamento sólido para o filho.
b) DR. DUTRA – Pai de Virgília: homem de prestígio e bem
relacionado, preferia Lobo Neves a Brás como genro.
c) SABINA E COTRIM – Irmã e cunhado de Brás Cubas.
d) DONA PLÁCIDA – Encobre o caso, tem vergonha
dos amantes, mas aceita o dinheiro que Brás lhe dá.
À MODA DA CASA
Fumar charuto era um hábito elegante – a moda pegou, e as mansões até tinham seus fumódromos. Conheça
alguns hábitos “modernos” do século XIX.
CENAS IMPERDÍVEIS
I. CHARUTO – A BAFORADA CHIQUE – Durante a Regência e o Segundo Império, fumar charuto era o máximo. Os palacetes até tinham um lugar especial para os
fumantes, chamado de “fumoir”. Lá, os homens bebiam,
conversavam e davam suas baforadas. Apesar de os eu-
I. Brás observa o próprio velório. Homem de poucos amigos, só onze deles compareceram. Virgília, a mulher que
mais amou, estava lá. Sem paixão nem ressentimentos,
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ropeus fumarem cachimbo, o costume não pegou aqui,
por preconceito, pois os escravos também “pitavam”.
intelectuais brasileiros. De 1577 a 1822, Coimbra
diplomou 2.464 alunos nascidos no Brasil – entre eles,
os poetas Gonçalves Dias e Gregório de Matos Guerra e
o jornalista Hipólito José da Costa. Em 1826, D. Pedro I
criou duas escolas de direito – em São Paulo e em Olinda.
Os cursos começaram dois anos depois e o modelo era
Coimbra, de onde vieram os primeiros professores.
II. CURANDEIROS E TRAPACEIROS – No Brasil do século XIX, charlatães e curandeiros ganhavam dos médicos
em preferência popular. Com seus emplastros e chás,
diziam-se herdeiros dos pajés indígenas ou da “escola”
africana trazida pelos escravos.
II. NAPOLEÃO, O CONQUISTADOR MILITAR QUE SE
COROOU IMPERADOR – Em 1804, os franceses assistiram a uma das solenidades mais importantes do século
XIX. Napoleão Bonaparte (1769-1821) consagrava-se imperador. Do aluno medíocre da École Militaire ao título
de imperador, ele construiu uma carreira vitoriosa. Em
20 anos de guerras, conquistou territórios da Polônia a
Portugal. Foi derrotado por sua obsessão de poder ao
enviar 700 mil homens a Moscou, em 1812. O exército
foi aniquilado, e um ano depois, Paris foi invadida pelos
exércitos inimigos. Napoleão começava seu declínio.
III. TUDO PELAS COMPOTAS – Dos conventos portugueses às cozinhas brasileiras, as quituteiras levaram adiante essa doce tradição culinária. As compotas – frutas da
estação embebidas em calda de açúcar – eram a paixão
de Brás Cubas. Acompanharam toda sua vida, desde
menino até os lanches com a amante Virgília.
IV. HOMEOPATAS E BOTICAS – A homeopatia foi
introduzida no Brasil do Segundo Reinado. Na prática,
misturava soluções, ervas e resinas das curas afro-brasileiras e indígenas. Em Campinas, em 1857, de cinco
médicos, dois eram homeopatas. As boticas homeopáticas, populares e poderosas, publicavam enormes anúncios nos jornais da época.
III. VITÓRIA: A RAINHA QUE VIROU ESTILO – O longo
governo da rainha Vitória (1831-1901) foi marcado pelo
desenvolvimento da indústria e pela expansão colonialista
na Ásia e na África. A Inglaterra transformou-se na maior
potência econômica do século XIX. Nascia a burguesia,
a classe social dos novos ricos, que fazia questão de
aparentar riqueza e nobreza.
EM QUE ANOS ESTAMOS – BRASIL
Durante a vida de Brás Cubas, fatos como esses
marcaram as páginas da história do Brasil.
I. BRASIL, ASILO DE RICOS – Em 1807, as tropas de
Napoleão invadiram Portugal. D. João, sua família e a
corte, cerca de 15 mil pessoas – fugiram baratinados
para o Brasil, enchendo os porões dos navios com tudo
que puderam carregar. A primeira coisa que D. João fez
foi abrir os portos às nações amigas, principalmente a
Inglaterra, para que o Brasil comerciasse, coisa proibida
até então. Depois, vieram outras melhorias: o Jardim
Botânico, o Banco do Brasil, a Imprensa Régia, os tribunais, as escolas e as manufaturas.
IV. AS INVENÇÕES DO SÉCULO
A) 1816 – ESTETOSCÓPIO – O aparelho médico de auscultação foi inventado pelo francês René Theophile
Hyacinthe Laennec.
B) 1846 – SAXOFONE – Antoine - Joseph Sax patenteia
o instrumento de sopro que havia desenvolvido e já
era usado em algumas bandas.
C) 1848 – MANIFESTO COMUNISTA – Karl Marx e
Friedrich Engels lançam Manifesto Comunista, a base
de uma nova ideologia social.
D) 1867 – DINAMITE – As experiências com a nitroglicerina levam o químico sueco Alfred Nobel a criar a dinamite.
II. O DONO DA VERDADE – Ao assumir o trono, D. Pedro
II, com 14 anos, centralizou o poder. Ele nomeava os
presidentes das províncias e os senadores; podia dissolver a câmara de deputados e, com isso, fazer o
revezamento dos dois partidos – o conservador e o liberal; e também dava a palavra final na escolha dos senadores. Sabe quais eram as exigências básicas para se
candidatar a esse cargo? Ser homem, branco, e ter uma
renda superior a 1600 mil réis.
LIGAÇÕES SABOROSAS
Machado de Assis descrevia a alma de seus personagens. Outros fizeram o mesmo, nos mais diversos setores
do conhecimento humano e das artes.
III. IMPRENSA TARDIA – Portugal não queria críticas. Por
isso, nosso primeiro jornal, O Correio Brasiliense, só foi
impresso em 1808, em Londres. O proprietário, Hipólito
José da Costa, fazia de tudo – da redação à edição. D.
João criou A Gazeta do Rio de Janeiro, primeiro jornal
impresso aqui. A partir daí, a imprensa pode se desenvolver, funcionando inclusive como oposição aos governos desses monarcas.
I. FREUD – ABRINDO CABEÇAS – Psiquiatra e neurolista
austríaco, Sigmund Freud (1856-1939) foi o fundador da
psicanálise. Seus estudos, básicos para entender o
psiquismo humano, influenciaram a arte e várias outras
áreas de conhecimento.
II. BOCAGE – O TALENTOSO POETA PORNOGRÁFICO
– A família de Brás Cubas festejava a queda de Napoleão
com um banquete, quando um dos convidados disse que
conversou com o poeta em Lisboa. Todos se espantaram. É que Manuel Maria Barbosa du Bocage (1765- 1805),
o libertino das rodas boêmias, autor dos sonetos satíricos Rimas, não era uma figura bem-vista em público.
EM QUE ANO ESTAMOS – MUNDO
O século XIX viu crescer uma nova classe social e
maravilhou-se com a glória desses dois nomes de peso:
Napoleão Bonaparte e a rainha Vitória.
III. MUNCH – DO ESCÂNDALO AO RECONHECIMENTO –
Pintor e gravador nascido na Noruega, Edvard Munch
(1863-1944) exerceu forte influência sobre a pintura dos
I. COIMBRA DOS CHORÕES – A Universidade de
Coimbra, em Portugal, era o grande centro formador de
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expressionistas alemães do fim do século XIX e começo
do XX. Os artista dessa escola deformavam a realidade
por meio de cores fortes e figuras disformes. Munch dizia que “devemos pintar pessoas que respiram, sentem,
sofrem e amam”. Foi o que fez. O Grito, é a sua tela mais
famosa.
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IV. TCHAIKOVSKY E A DERROTA FRANCESA – Em 1812,
o Exército francês invadiu a Rússia. Foi abatido pelo inverno e pela fome – o povo incendiou Moscou para não
abrigar o inimigo. Inspirado nesse tema, Piotr Ilyich
Tchaikovsky (1840-1893 ) compôs a Abertura 1812. Com
canhões, sinos e rajadas de vento, a música conta a
vergonhosa retirada dos soldados de Napoleão.
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ANOTAÇÕES COMPLEMENTARES:
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BOM DESEMPENHO!
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