Atas do ESADR 2013

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Atas do ESADR 2013
de Conhecimento
P11 Sistemas
e Inovação para o
Desenvolvimento Agrícola e Rural
Atas Proceedings
ISBN 978-989-8550-19-4
P11 · Sistemas de Conhecimento e Inovação
para o Desenvolvimento Agrícola e Rural
Coordenadores
Timothy Koehnen
(UTAD / CETRAD) [email protected]
Alberto Baptista
(UTAD / CETRAD) [email protected]
A agricultura, o meio rural e os seus actores vivem num contexto de forte mudança, de
ajustamento ao mercado, às necessidades dos consumidores e aos condicionalismos ambientais. Neste contexto de exigência, os agricultores necessitam de acesso ao conhecimento,
informação, formação e educação, que facilitem e suportem as suas actividades. A questão
essencial é saber, como, onde e quem pode apoiar os agricultores a obterem informação
fiável e pertinente, conhecimento, formação e apoio técnico, para evoluírem e darem resposta, com sucesso, às expectativas externas e oportunidades de desenvolvimento. Conceitos
como Agricultural Knowledge and Innovation Systems (AKIS), Farm Advisory Systems (FAS),
usados em inúmeros documentos da UE, traduzem a importância dada ao tema. O objetivo
do painel temático é compreender os atuais modelos e canais de produção de conhecimento e inovação, procurando saber quem são os atores, como funcionam, quem os suporta, e
compreender impactos na agricultura e no meio rural.
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DIAGNÓSTICO DE CURSOS DE CAPACITAÇÃO OFERTADOS
POR UM ÓRGÃO DE EXTENSÃO RURAL BRASILEIRO: UMA
ABORDAGEM DIALÓGICA
LUÍS FERNANDO SOARES ZUIN
Prof. Doutor do Departamento de Engenharia de Biossistemas da Faculdade de
Zootecnia e Engenharia de Alimentos, USP. [email protected]
POLIANA BRUNO ZUIN
Profa. Doutora da Faculdade de Tecnologia, Educação e Ciências.
[email protected]
RESUMO
Ao longo das últimas décadas a extensão rural brasileira foi demarcada pelo
desenvolvimento de práticas de ensino hierarquizadas e cunhadas no modelo tradicional
de educação. O objetivo desta pesquisa foi diagnosticar e analisar os processos de
capacitações rurais ofertados por uma organização de extensão rural governamental, que
fomenta cursos para agricultores brasileiros. Para a realização da pesquisa foram
entrevistados onze extensionistas rurais (pertencentes a mesma organização) e nove
agricultores de uma mesma região atendidos por esse grupo de extensionistas. O método
empregado para a coleta dos dados foi o estudo de caso (Yin, 2001). Esta pesquisa foi
realizada com o suporte financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de
São Paulo, processo no. 2011/12912-9. As questões para as entrevistas foram abertas,
onde procurou-se verificar como eram as relações entre os extensionistas e agricultores;
como era encaminhado o processo de ensino e aprendizado; e como se dava a
comunicação entre esses sujeitos para a implementação de uma nova tecnologia. Os
dados coletados a campo apontam que vários são os formatos de cursos de capacitação
ofertados pelo órgão, sendo esses realizados em seus escritórios municipais e regionais,
associações de agricultores e/ou nas propriedades rurais, com a duração de duas a oito
horas. Os cursos são ministrados por pesquisadores convidados ou pelos próprios
extensionistas. Tais resultados apontam que as relações entre os extensionistas e os
agricultores poderiam ser mais próximas e dialógicas, necessitando de um maior
conhecimento dos extensionistas sobre o mundo dos agricultores. Alguns extensionistas
relataram que gostariam de receber formação em práticas de ensino para serem usadas
em seus cursos. Tais resultados vão ao encontro das enunciações dos próprios
extensionistas, evidenciando o quanto é necessário repensar as práticas educativas na
extensão rural brasileira. Para isso é essencial que a metodologia de ensino seja
adequada a cada contexto produtivo, por isso é relevante conhecer o mundo e o olhar
dos agricultores.
PALAVRAS-CHAVE: extensão rural; cursos de capacitação; dialogia.
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VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente
e Desenvolvimento Rural
INTRODUÇÃO
Atualmente, nas agências brasileiras de extensão rural observa-se uma forte
tendência no desenvolvimento de programas que visam a agroindustrialização da
produção agropecuária nas propriedades rurais. Esses programas possuem o objetivo de
aumentar a renda do produtor rural, por meio da transformação de suas matérias-primas,
derivadas da sua produção. Para alguns produtos essa transformação leva em conta os
saberes-fazeres historicamente constituídos pelos sujeitos, que compõem um território
rural (Zuin, L.F.S. & Zuin, P.B., 2008).
Entretanto, o sucesso da implementação dos programas de agroindustrialização
na produção agropecuária depende de vários fatores, um deles se refere ao conjunto de
conhecimentos que o produtor rural precisa dominar, para que o seu empreendimento
possa sobreviver. A produção e comercialização desse tipo de produto envolve o
domínio de conjuntos de conhecimentos de origens tanto técnicas quanto gerenciais
(Zuin & Queiroz, 2006). Uma das formas que as agências brasileiras que prestam
serviços de extensão rural, a fim de garantir o sucesso desses programas, seria por meio
da oferta de cursos de formação continuada para os produtores rurais, seus familiares e
funcionários. Um dos caminhos pedagógicos que pode ajudar o desenvolvimento e
aplicação desses cursos de formação continuada é o emprego do referencial teórico
dialógico, tanto Freiriano (Fernandes & Terra, 1994) como Bakhtiniano (Bakhtin,
2010).
O objetivo desta pesquisa foi diagnosticar e analisar os processos de
capacitações rurais ofertados por uma organização de extensão rural governamental
brasileira, a qual fomenta cursos para agricultores brasileiros.
METODOLOGIA DA PESQUISA
Para a realização desta pesquisa foi empregado como método o estudo de caso
(Yin, 2001), onde foram coletados dados e informações junto aos agricultores e
extensionistas. No total foram entrevistados vinte sujeitos, onze extensionistas
pertencentes à organização e nove agricultores. Esse grupo de agricultores tiveram
contato frequente com os extensionistas por meio da oferta de cursos de capacitação.
Esse grupo de extensionistas encontram-se alocados tanto na sede da organização, como
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também em escritórios do órgão de algumas cidades, ao qual prestam serviços aos
produtores rurais. Cada entrevista teve duração entre 90 e 120 minutos. As entrevistas
com os extensionistas foram realizadas na sede da organização, e nos seus escritórios
em alguns municípios. Quanto aos agricultores as entrevistas foram feitas em suas
propriedades rurais.
As questões que nortearam as entrevistas foram abertas, considerando as
temáticas condizentes aos objetivos propostos para a pesquisa, em que se procurou
verificar como era a relação entre os extensionistas e agricultores; como se davam os
encaminhamentos relativos aos processos de ensino e aprendizado; e, por fim, como se
realizava a comunicação entre esses sujeitos para a implementação de uma nova
tecnologia, uma nova forma de gerenciar o empreendimento, bem como os
desenvolvimentos de novos produtos.
Para uma melhor contextualização, nas entrevistas junto aos agricultores foram
observadas uma relativa diversidade de produtos e serviços oriundos de suas
propriedades rurais. De produtos verificou-se que os agricultores cultivam
predominantemente frutas, como: figo, caqui, pêssego, morango e uva. Quanto aos
serviços foi observado a introdução do turismo rural, com a oferta de refeições típicas
da região nas propriedades aos turistas, durante os finais de semana e feriados. Nas
entrevistas observou-se que um grupo de agricultores começaram a beneficiar a uva em
suas propriedades, fabricando e disponibilizando vinho e suco da fruta para o mercado
consumidor local.
RESULTADOS
Os extensionistas e agricultores se constituem e são constituídos pelo outro nos
seus territórios rurais, ou seja, pelos caminhos interacionais os quais são historicamente
percorridos na relação entre esses sujeitos, como discorre Bakhtin (2003). Neste
momento buscar-se-á descrever as interações historicamente constituídas entre os
sujeitos que trabalham (extensionistas) e as pessoas (produtores rurais) que recebem os
serviços da Organização de Extensão Rural Brasileira pesquisada. Também será exposto
os formatos e encaminhamentos dos cursos ofertados pelos extensionistas da
organização para com os agricultores de sua região.
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OS SUJEITOS ENTREVISTADOS E ALGUNS DOS SEUS CONTEXTOS
SOCIOECONÔMICOS
Tanto nas entrevistas com os extensionistas rurais como com os agricultores,
buscou-se coletar os seus sentidos historicamente constituídos em seus territórios rurais,
relativos aos contextos socioeconômicos, métodos de ensino-aprendizado e as suas
interações com a organização de extensão rural pesquisada.
Nos relatos dos onze extensionistas foi observado que todos esses sujeitos
possuem o terceiro grau completo de nível de escolaridade, sendo em sua maioria
engenheiros agrônomos, apenas um dos entrevistados apresentou graduação em
zootecnia. Um dos extensionistas entrevistados buscou um maior nível de
especialização, cursando e obtendo o título de mestre em uma universidade brasileira.
Quanto ao tempo de trabalho na organização a maioria dos extensionistas (nove
entrevistados) trabalha nela há mais de dez anos, apenas dois sujeitos são funcionários
deste órgão nos últimos cinco anos.
Nas entrevistas realizadas junto aos agricultores observamos que quatro deles
estudaram por onze anos; três sujeitos por oito anos; e duas pessoas até quatro anos. Um
dos agricultores entrevistados, com 54 anos, por exemplo, estudou somente por três
anos. Na época necessitava ajudar os pais e por essa razão não podia frequentar a
escola. Ele ainda relatou que havia uma professora no bairro rural que o ensinava a ler e
escrever fora do horário das aulas, por causa do trabalho na propriedade rural. Por tal
fato, esse sujeito considera que a inteligência é subjetiva, adquirida por habilidades
comunicativas, cooperativas e práticas. Quanto ao aprendizado, todos os sujeitos são
educadores e educandos, tendo o que aprender e também o que ensinar, sejam os
conhecimentos baseados em um ensinamento escolar, ou mesmo aquele passado de
geração para geração (Freire, 2006).
Também é interessante salientar que em algumas localidades os filhos desses
agricultores já possuem curso superior (em média quinze anos de estudo) ou mesmo o
ensino técnico (onze anos de estudo). Como é o caso de um jovem agricultor
entrevistado, de 22 anos, solteiro, que possui ensino médio e técnico em metalurgia.
Esse sujeito, após a sua formação, tentou a vida na cidade, onde permaneceu durante
dois anos trabalhando em uma indústria. Retornou ao campo, por volta de quatro anos a
fim de “trabalhar com o pai e não para os outros”, como relatou. O “sítio de sua
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família”, tal como denomina, possui 96.000 m2, sendo tocado pelo pai, mãe e ele. Em
sua propriedade são cultivados figo, caqui, pêssego e uva.
Nota-se em um dos relatos de um dos agricultores, com idade de 52 anos, que
ele não gostaria que os filhos retornassem à propriedade rural para trabalhar diretamente
na lavoura. Por outro lado esse agricultor aceitaria que o filho gerenciasse o negócio da
família. Esse agricultor estudou por oito anos. Os seus dois filhos são graduados em
cursos de computação e gestão de negócios. O produtor rural relatou que os seus filhos
não possuem interesse em trabalhar na propriedade, embora ele acredite que no futuro
eles acabarão administrando-a, até porque ele está utilizando nos seus processos
produtivos, de forma significativa, conjuntos de tecnologias, citando o exemplo das
colheitadeiras de frutas mecanizadas a serem adquiridas em um futuro próximo. Indo ao
encontro deste relato, foi constatado durante os diálogos com o jovem agricultor de 22
anos entrevistado, que este retornou à propriedade para trabalhar junto com os seus pais,
a partir da visualização de que conseguiria uma renda maior na própria propriedade, do
que trabalhando para terceiros. O mesmo ocorreu com outros dois irmãos agricultores.
Ambos são jovens com idade entre 24 a 30 anos e completaram onze anos de estudo.
Após trabalharem no comércio de sua cidade como vendedores, passaram a se interessar
pela propriedade onde foram criados e cresceram. Decidiram investir na produção de
vinho fino e de suco de uva, e vem realizando cursos de capacitação frequentemente a
fim de melhorar a qualidade dos seus produtos.
No conjunto das entrevistas também foi observado que os agricultores, pelo
fato de possuírem em média um grau de escolaridade maior, do que em grande parte das
regiões brasileiras, visualizam a importância do estudo como caminho para o aumento
da renda familiar. A importância e o incentivo ao ato do estudo ajuda aos pais e filhos
tecerem uma relação dialógica, em que esses participam ativamente do processo de
tomada de decisão na propriedade rural (Zuin, L.F.S. & Zuin, P.B., 2013). Essa postura
faz com que muitos dos produtores procurem informações a respeito da oferta de novos
produtos, participando de cursos ofertados pela organização de extensão rural,
principalmente os relativos à gestão do seu empreendimento. Em um dos relatos dos
produtores foi observado que durante os cursos de formação o contato frequente entre
os agricultores resultaram parcerias, onde foi criada uma cooperativa de produtores de
frutas em um dos territórios rurais estudados.
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e Desenvolvimento Rural
A primeira constatação nos enunciados dos extensionistas, foi que ao longo das
últimas duas décadas ocorreram alterações significativas nos objetivos e modos de
conduzir os trabalhos de extensão rural, prestados pela organização nos territórios no
qual atuam. Neste sentido, a organização passou a ser um agente que planeja, oferece e
capacita os agricultores em projetos de desenvolvimento rural, de amplo escopo
produtivo. Esse cenário proporcionou aos seus extensionistas pouco tempo para a oferta
de assistência técnica direta no campo para os agricultores. Alguns extensionistas
entrevistados, principalmente os mais novos na instituição, acham pertinente essa nova
abordagem, pois acreditam que as atuais empresas que vendem os insumos agrícolas
realizam um bom trabalho de pós-venda. Esse conjunto de extensionistas concordam em
ser um dos agentes que promovem políticas públicas voltadas aos processos de
desenvolvimento tecnológico nos territórios rurais. Entretanto, alguns extensionistas
mais antigos de casa sentem falta da proposta anterior da organização, isto é, de estarem
juntos e com os agricultores, acompanhando-os em suas propriedades rurais, prestando
assessoria e consultoria técnica.
Para a organização a atribuição principal do seu extensionista é ser um
mediador entre as várias fontes (organizações de pesquisa governamentais e privadas)
de conhecimento (técnico e gerencial) para com os agricultores, promovendo para isso
encontros entre especialistas e agricultores. Desta forma, os extensionistas buscam
mediar a oferta de cursos de organizações governamentais e privadas, a fim de fornecer
informações técnicas e de gerenciamento para os produtores rurais.
Foi observando nos relatos dos agricultores, que os técnicos da organização são
frequentemente procurados e inqueridos a relatarem uma opinião sobre um novo
produto ou processo, ofertados a eles pelas empresas de insumos. Neste contexto de
tomada de decisão, o papel dos extensionistas da organização é o de ser uma das fontes
de consulta sobre a eficácia de novas tecnologias ofertadas pelas empresas de insumos
agropecuários (privadas ou governamentais). Nesta atividade o produtor rural busca no
extensionista a validação das informações contidas nas propagandas dessas empresas.
Foi constatado durante as entrevistas que os agricultores procuram em vários sujeitos
conjuntos de informações a fim de tomarem a decisão de adquirirem ou não uma nova
tecnologia, principalmente o conhecimento sobre os insumos que serão usados em suas
rotinas produtivas. Os sujeitos vão em busca:
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¥ de agricultores tanto de fora como de sua região, que já utilizaram os
insumos questionados;
¥ da opinião de vendedores e/ou agrônomos de grandes empresas de
insumos agropecuários de quem confiam e possuem uma relação de
longa data;
¥ de buscadores de informações na internet (ex. Google), bem como
programas de televisão e rádio;
¥ de extensionistas da organização estudada neste artigo a fim de sanarem
suas dúvidas e colherem informações;
¥ de opiniões de profissionais pertencentes a outros órgãos de extensão
rural, a fim de se informar com um técnico (Engenheiro Agrônomo), cuja
relação de confiança já é existente;
¥ de informações em cursos e palestras promovidos por organizações
(privadas e governamentais) de pesquisa e divulgação de novas
tecnologias agropecuárias;
¥ de consulta a pessoas próximas como vizinhos e familiares que possuem
propriedades rurais em sua região; e
¥ de informações de vendedores de confiança nas Casas Comerciais de
Vendas de Insumos de sua região.
De acordo com os relatos dos agricultores, extensionistas e de alguns autores
(Zuin, L.F.S & Zuin, P.B., 2013), esses sujeitos possuem essa postura inquisitiva quanto
a oferta de novas tecnologias pois, ao longo de suas vidas, adquiriram novos produtos e
processos, os quais historicamente determinaram prejuízos significativos ao seu
empreendimento. Algumas vezes o prejuízo foi tão intenso que alguns agricultores
pensaram em mudar de profissão, desejaram vender a sua propriedade e mudar para a
cidade. Alguns extensionistas brasileiros de formação difusionista constantemente
relatam, que de forma geral, o agricultor brasileiro de pequeno e médio porte é muito
tradicional nos seus modos produtivos, aceitando muito pouco a mudança. E criticam
ativamente essa postura tradicional e pouco aberta a adoção vertical de novas
tecnologias. Um dos agricultores entrevistados relatou que não podem se dar ao luxo de
errarem nos seus processos produtivos, pois uma decisão errônea irá comprometer
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e Desenvolvimento Rural
diretamente a sobrevivência de sua família. Muito da postura tradicional dos
agricultores possui origem neste fato, relatado nas entrevistas.
No que se refere ao volume de oferta de novas tecnologias aos agricultores.
Um dos extensionistas entrevistados relatou que atualmente aumentou muito a oferta de
pacotes tecnológicos, disponibilizados pelas empresas de insumos aos agricultores de
sua região. Esse extensionista acredita que parte dessas novas tecnologias não se
encontram maduras o suficiente para serem empregadas nas culturas e propriedades de
sua região, aumentando ainda mais a desconfiança dos agricultores para com essa oferta
de novas tecnologias pelas empresas de insumos privadas e governamentais.
Como podem ser observados nos relatos dos agricultores. O processo de
tomada de decisão de comprar ou não um novo produto é preponderantemente
dialógico. O agricultor vai nos relatos das várias fontes a fim de constituir um novo
sentido para uma nova tecnologia e quanto mais dialógico for esse processo, mais
seguro o agricultor irá se sentir em adquirir ou não uma nova tecnologia.
OS FORMATOS E CAMINHOS PEDAGÓGICOS DOS CURSOS MINISTRADOS E
FOMENTADOS PELA ORGANIZAÇÃO PESQUISADA
Diversos fatores atuarão neste meio de dialogicidade nos cursos de
capacitação, como aqueles que permeiam cada agricultor, como os seus: desejos,
necessidades, suas dúvidas pessoais, entre outros. Dúvidas as quais muitas vezes não
sentem liberdade e intimidade suficientes para expô-las e saná-las com os
extensionistas. Na comunicação dialógica esses fatores se mostram menos acentuados,
pois lida-se com o sujeito diretamente, frente a frente no mundo concreto, gerando
novos sentidos em que os sujeitos entendam os seus propósitos nos sistemas produtivos.
Quando indagamos aos agricultores e extensionistas entrevistados sobre a
abordagem pedagógica empregada nos assuntos trabalhados nos cursos, verifica-se que
uma ampla variedade de conteúdos, que vão desde assuntos relativos à gestão do
empreendimento, tais como: técnicas produtivas, até como solicitar corretamente o
crédito agrícola junto às organizações financeiras privadas e governamentais, entre
outros.
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Como pôde ser observado, alguns cursos possuem um formato mais
monológico, enquanto que outros tendem a ser dialógicos. De acordo com o relato dos
extensionistas, constatou-se a presença de quatro formatos relativos aos processos de
ensino-aprendizado realizados pela organização, sendo:
1. Encontros - com duração de duas a três horas, ocorre por meio de
reuniões do extensionista com os agricultores de sua região nos escritórios
municipais e regionais da organização;
2. Palestras - com a mesma carga horária, de duas a três horas,
extensionistas, assim como outros sujeitos (pesquisadores e especialistas da
própria organização ou de outra) realizam palestras sobre um tema
específico de interesse dos agricultores;
3. Dias de campo – se configura por um período geralmente de oito horas,
em um dia inteiro, em que a organização de extensão expõe novas
tecnologias e processos em propriedades rurais modelos, as quais já a
adotaram e fazem parte de suas rotinas produtivas com sucesso; e
4. Curso - com duração mais longa, de oito a dezesseis horas, se destina
apenas para os extensionistas rurais da organização capacitações que visam
atualizá-los no planejamento e desenvolvimento dos projetos de
agroindustrialização que estão sendo implementados nos seus territórios
rurais.
Foi observado em alguns dos cursos e encontros fomentados pela organização,
que a comunicação percorre um caminho baseado nos modelos de comunicação do
difusionismo-tecnológico, cujo o conteúdo da comunicação percorre um caminho linear
que vai de um sujeito (Fonte) para outro indivíduo (Receptor), cabendo a esse
decodificar e interpretar o conteúdo das palavras que foram a ele encaminhadas em uma
ação (Van Den Ban & Hawkins, 1996). Na proposta da comunicação dialógica, descrita
por Bakhtin (2003), a produção de sentidos entre os sujeitos durante a comunicação,
ocorre de forma horizontal e quase que simultânea. Para o autor no momento em que o
locutor expressa uma palavra, imediatamente o interlocutor começa a realizar um ato
que é denominado de memória de futuro. O interlocutor neste instante busca em suas
vivências e experiências sentidos historicamente constituídos relacionados a palavra
dita. Esse conjunto de sentidos fazem parte de um auditório social, sendo composto por
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e Desenvolvimento Rural
infindáveis vozes, as quais o sujeito teve contato durante a suas vivências. O auditório
social apresenta também um encadeamento desses sujeitos como uma infinidade de
outros sujeitos e assim sucessivamente ao longo do tempo em suas interações. Muitas
vezes durante o processo de produção de sentidos, denominado de significação, tanto o
locutor como o interlocutor não possuem controle de como será esse processo, e em
qual momento ele irá ocorrer. Na comunicação dialógica se sobressai o encontro e
interação entre os sentidos, que os interlocutores disponibilizam um para o outro. Por
outro lado, a comunicação difusionista se apresenta como uma imposição de conceitos
do sujeito que é a fonte para o indivíduo receptor, caracterizando um contexto onde
comunicação é monológica.
Outro ponto que diferencia a comunicação dialógica da difusionista,
empregadas nos cursos de capacitações nos territoriais rurais brasileiro, seria a
intensidade que cada um dá para o contexto em que se encontram os sujeitos durante o
diálogo. No arcabouço teórico difusionista o contexto socioeconômico e ambiental é
pouco considerado na formulação dos cursos de capacitação, pois as informações e
caminhos pedagógicos contidos nos cursos, onde são ofertados os pacotes tecnológicos,
visam justamente a sua adoção desta tecnologia de forma completa pelo agricultor,
sendo esse um dos principais indicadores de desempenho de seu sucesso (Zuin, L.F.S.
& Zuin, P.B., 2013). A comunicação difusionista a qual visa a persuasão dos sujeitos a
adotarem uma nova tecnologia (Roggers, 1983) é por si só monológica, unidirecional e
hierárquica. Por outro lado, a comunicação dialógica considera intensamente o contexto
em que se encontra os interlocutores, parte essencial do entendimento do processo de
significação. A produção de sentidos na comunicação dialógica ocorre por meio das
interações contidas dentro dos contextos, os quais os interlocutores se encontram
(Bakhtin, 2003).
A metodologia de comunicação deve ser adequada a cada contexto, por isso é
determinante que o extensionista conheça e interaja com os agricultores. Mas como
fazer isso? Por meio de um diagnóstico (Freire, 2006). Com o intuito de analisar os
conteúdos sabidos do público com o qual se está trabalhando, três extensionistas
entrevistados relataram, que no início de alguns cursos, é realizada uma atividade de
diagnóstico com os agricultores, em que se busca saber o quanto do assunto no qual irá
ser tratado no curso os sujeitos ali presentes dominam. Este método foi ofertado pela
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organização aos seus extensionistas em cursos. Essa metodologia é um exercício cujo
extensionista da organização pergunta para os agricultores, através de um painel, o que
eles sabem do assunto que irá ser tratado. Conforme os sujeitos vão respondendo as
perguntas, é escrito as palavras-chave contidas nas respostas, que depois são agrupadas
e colocadas em um painel, chamado “nuvem de ideias”. Quando se esgotam as
respostas, é tirada uma fotografia do painel e caso seja necessário se faz um novo
questionamento aos agricultores, reiniciando o processo. As informações originárias
desta atividade de diagnóstico são usadas tanto no decorrer do curso como também em
sugestões para outros encontros, que possam porventura serem ofertados pelo órgão.
Esse tipo de diagnóstico visa apenas conhecer conceitos e significados mais amplos de
um determinado assunto. Todavia, não é realizado um diagnóstico visando conhecer os
sentidos sobre o assunto que possuem cada um dos sujeitos que compõem àquele grupo.
Como observa Libâneo (1987) as identificações dos sentidos e conteúdos a serem
trabalhados são importantes para o planejamento e condução dos trabalhos do
extensionista-educador. Entretanto, o conhecimento profundo da realidade (contexto)
desses sujeitos é o que permitirá uma prática de ensino-aprendizado significativa
(Freire, 2006). Pois somente pela internalização e aproximação dos sentidos das
palavras proferidas pelos sujeitos nos cursos é que se dará o entendimento do conteúdo
trabalhado nesses encontros (Zuin, L.F.S. & Zuin, P.B., 2013). Além disso, a condução
da prática dialógica possibilita o estabelecimento de uma relação de confiança entre os
sujeitos, essencial ao processo de aprendizado (Clot, 2003).
Quanto ao conteúdo e formato das lâminas, os extensionistas relataram que elas
geralmente apresentam pouco texto, muitas fotos e vídeos. Os agricultores relataram
que não ficam a vontade com lâminas que apresentam o conteúdo do assunto em forma
de gráficos. Os extensionistas observaram também que os agricultores gostam que os
capacitadores exponham pequenos filmes, acham o formato interessante e visualmente
melhor para o entendimento da situação proposta. O emprego de fotos também foi
destacado pelos entrevistados como um bom recurso didático para os cursos, ou seja,
quando a situação é pontual, o emprego deste material, se apresenta mais relevante,
como afirmou um dos extensionistas “os agricultores são bem São Tomé, ver para crer!
Nesses encontros busca-se mostrar uma nova tecnologia e mostrar como se aplica essa
tecnologia”.
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e Desenvolvimento Rural
Indo ao encontro da preferência dos agricultores de ver a tecnologia sendo
ofertada na prática nas rotinas produtivas, os extensionistas entrevistados acreditam que
o curso no formato de dia de campo é mais impactante para os agricultores. Quando
comparados com palestras expositivas. Um dos extensionistas entrevistados aponta um
dos motivos dos cursos no formato de dias de campo serem bem quistos para os
agricultores “eles podem ver na prática como os aparelhos ou produtos, como
defensivos, funcionam e qual tecnologia poderão ter em suas propriedades”. O
entrevistado cita também que esses saberes técnicos adquiridos na experiência desses
indivíduos em suas rotinas produtivas se revelam em uma desconfiança do grupo,
quando comparada essa experiência historicamente constituída com relação à inovação
técnica, advinda da oferta de grande número de novos pacotes tecnológicos pelas
empresas de insumos. Por este motivo a utilização de métodos demonstrativos e visuais,
são uma escolha interessante para este tipo de abordagem de curso, diminuindo a
desconfiança dos agricultores.
Para um dos extensionistas entrevistados, o formato do dia de campo facilita o
entendimento e a troca de informação nos diálogos informais entre todos os sujeitos que
participam dele. Para alguns dos extensionistas entrevistados, o formato desde tipo de
capacitação obedece frequentemente aos seguintes encaminhamentos metodológicos:
¥ frequentemente, é escolhida uma propriedade rural pertencente ao
território rural da maioria dos sujeitos que compõem o público do curso;
¥ a tecnologia que vai ser trabalhada no curso, referente ao um novo
processo ou produto, deve já fazer parte das rotinas produtivas da
propriedade rural escolhida, pois se comprovou no local que foi interessante
adquiri-la por causa de seus benefícios, como aumento de produtividade,
diminuição do custos, entre outros aspetos;
¥ quando há mais uma tecnologia a ser exposta aos público são montadas
estações, onde cada inovação é apresentada e demonstrada ao público;
¥ em alguns dias de campo os agricultores são convidados a manusear as
tecnologias que são apresentadas nas estações;
¥ entre as estações há tempo para que os agricultores dialoguem, neste
momento iniciam o processo de significação, gerando os seus sentidos sobre
a nova proposta produtiva ofertada;
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¥ ao final das estações e demais demonstrações é realizado uma
confraternização, por meio da oferta de um almoço ou jantar, sendo este
momento importante para que os sujeitos dialoguem criticamente os seus
sentidos que foram gerados durante o curso; e
¥ geralmente nesse formato de curso não ocorre uma aula teórica sobre o
assunto apenas se observa a parte prática da tecnologia.
Porém, esse formato de curso é realizado em menor número, quando
comparados com os cursos nos moldes de palestras. Um dos motivos seria a dificuldade
dos agricultores em abandonarem com frequência as rotinas produtivas nas suas
propriedades durante todo um dia.
Um dos extensionistas entrevistados da organização relatou uma forma
inovadora de dia de campo promovido por uma empresa de insumos agropecuários.
Inovadora não na metodologia empregada, mas no material didático distribuído entre os
agricultores. Neste dia de campo, quando esses sujeitos chegavam no local da realização
deste processo de ensino, eram recepcionados por um grupo de monitores e monitoras,
em que era dado para cada agricultor um aparelho do tipo tablete, com um fone de
ouvidos. No momento em que os agricultores chegavam nas estações, o tablete era
ativado e imediatamente aparecia em sua tela um palestrante (geralmente um
pesquisador renomado da área), relatando as vantagens de se utilizar a determinada
tecnologia apresentada naquela estação. O extensionista observou que neste formato de
dia de campo os agricultores quase não se falavam, indo rapidamente de uma estação a
outra. Esse sujeito ainda observou ao chegar no final do circuito das estações, que o
agricultor encontrava um grupo de vendedores da empresa e somente depois do contato
com esse grupo, o agricultor era direcionado para o almoço de confraternização.
Quando o extensionista foi questionado a respeito do que sentiu quando colocou os
fones de ouvido e iniciaram as apresentações no aparelho, relatou: “eu me senti muito
sozinho”. Frequentemente, para que o processo de transferência difusionista de
tecnologia, nos territórios rurais, ocorra da forma mais eficiente possível para os
capacitadores, pressupõe-se o emprego de modelos de ensino monológicos. Como pode
ser observado no relato deste dia campo, a empresa sobrepõe o seu pensamento ao dos
agricultores, abafando as demais vozes (do seu auditório social e outros agricultores)
que poderiam dialogar. Este tipo de comunicação monológica impede a propagação do
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VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente
e Desenvolvimento Rural
conhecimento historicamente constituído, entre os sujeitos pertencentes aos vários
territórios rurais, dificultando que ocorra a troca de sentidos proposta pela abordagem
dialógica.
No entanto, atualmente o método de ensino monológico ainda é o mais
frequentemente empregado em boa parte dos cursos de capacitação nos territórios rurais
brasileiros, pelas empresas de insumos, cujo extensionista na figura de um educador,
transmite aos demais uma ideia finalizada. Nessa abordagem os agricultores são tratados
como se fossem recipientes vazios, pois desconsidera-se suas visões de mundo e
vivências, uma vez que se impõe conhecimentos prontos a esses indivíduos sem que os
mesmos possam refletir e apropriar-se do que lhes é passado (Freire, 2006).
Para que se possa empregar a metodologia dialógica de ensino-aprendizagem,
voltadas ao desenvolvimento conjunto de conhecimento nos territórios rurais, ambos os
sujeitos durante um diálogo devem estar abertos à percepção e entendimento da
realidade do outro, tanto quanto ao do mundo que os cerca. Esta metodologia de ensinoaprendizado facilita a abordagem dos diferentes pontos de vista, pois ela leva em
consideração as diferenças culturais e níveis escolares, por mais distintas que suas
realidades historicamente constituídas se apresentem. Por outro lado, podem ocorrer em
algumas situações interpretações distorcidas do conteúdo dos cursos, quando este
diálogo começa a apresentar sentidos distantes e conceitos diferentes da enunciação dos
interlocutores (Bakhtin, 2003; Freire, 2006). Diante de tal fato, quanto maior for o
conhecimento da realidade contextualizada do educando, isto é, de sua leitura de
mundo, maior será a aproximação de sentidos e, portanto, a compreensão entre os
sujeitos.
Entretanto, estar aberto ao conteúdo dos cursos não significa que não haverá
durante os processos de ensino-aprendizagem o embate de sentidos entre os
interlocutores. O ato correspondente ao embate de sentidos é que irá determinar o
sucesso ou insucesso do processo de conscientização entre os sujeitos sobre um
determinado tema (Bakhtin, 2010). Sem o embate de sentidos corre-se o sério risco que
os sujeitos sintam-se resignados, a aceitar de forma monológica, um determinado
conceito presente em um sentido. A resignação é uma atitude temporal nos sujeitos,
enquanto que a conscientização apresenta uma postura que tende a ser atemporal nos
indivíduos.
3638 | ESADR 2013
14 Sistemas de Conhecimento e Inovação para o Desenvolvimento Agrícola e RuralP11
Como relatado, um momento importante do curso que os extensionistas
entrevistados relataram são os intervalos para tomar um café (ocorrendo na metade do
tempo das palestras), e também durante o almoço ou jantar de confraternização no final
do curso. Eles observaram que nestes momentos acontece uma interação entre os
participantes e capacitador, e entre os próprios agricultores, ocasião em que ocorre a
significação de novos sentidos a respeito de suas rotinas de trabalho, bem como quais os
conteúdos dos cursos poderiam ser empregadas nos seus processos produtivos. Os
extensionistas entrevistados relataram que quando eles trazem palestrantes, como por
exemplo pesquisadores que os agricultores não conhecem, durante a exposição dos
conteúdos há uma retração dos ouvintes. Tal como pode ser observado pelo relato de
um dos extensionistas entrevistados: “os agricultores ficam envergonhados em falar
algo para pessoas de fora, que não conhecem, nos cursos”. Sendo assim, este momento
prova a dificuldade dos agricultores em dividir suas vivências de um modo mais
sociável através do diálogo, durante as palestras. Essa postura pouco a vontade dos
agricultores em dialogar diretamente com o palestrante, durante a realização do curso, e
demais sujeitos presentes, também foi observada nas entrevistas que foram realizadas
junto aos agricultores. Conforme relato desse grupo, eles preferem tirar dúvidas com os
palestrantes durante a hora do intervalo, ou durante a refeição, que geralmente é servida
depois desses encontros, mais frequentemente em forma de churrascos.
Uma forma de contornar este problema, de inibição dos agricultores, usada
pelos extensionistas da organização, foi o emprego de um novo formato de curso que foi
realizado no escritório regional do órgão. O curso durou dois dias, em um total de 16
horas, onde foram convidados vários extensionistas da organização e pesquisadores de
diversos assuntos relacionados a novas tecnologias para o empreendimento rural. As
palestras eram de curta duração, 20 a 30 minutos, cujo palestrante expunha
sucintamente um conteúdo. Depois de terminadas a exposição do conteúdo, os
agricultores interessados eram encorajados a conversar com os palestrantes em outra
sala, ao lado de onde eram realizadas as palestras. Os extensionistas que promoveram
esse curso observaram que os agricultores acharam muito interessante este novo
formato. O produtores rurais relataram que o encontro ficou mais dinâmico e menos
monótono. Os dois extensionistas observaram ainda que os agricultores não gostam de
ficar muito tempo sentados e assistindo aos cursos sem que possam manifestar as suas
15 Atas Proceedings | 3639
VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente
e Desenvolvimento Rural
opiniões. Esse formato de curso apresenta-se mais dialógico, pois permite que os
agricultores entrem em contato direto, e de forma voluntária, com os palestrantes. Neste
momento é importante o olhar dos extensionistas para as reações de seu público. Não
somente sabendo administrar o diálogo, mas também percebendo e analisando as
informações que não são ditas necessariamente em palavras. Analisar a postura e a
linguagem gestual dos agricultores, assim como o próprio silêncio é importante nessa
relação pedagógica, pois esses sinais fazem com que o educador, na figura do
extensionista, vá mediando o processo de aprendizagem e modificando a sua prática
sempre que houver necessidade (Vygotsky, 2001; Bakhtin, 2010).
A respeito das palavras empregadas pelos palestrantes em seus cursos, os
agricultores entrevistados relataram que é freqüente que palestrantes venham de
universidades ou órgãos de pesquisa governamentais e, por essa razão, muitas palavras
enunciadas, seja na linguagem oral ou escrita, não fazem sentido a eles. Para
exemplificar, um dos agricultores relatou que gostaria de ver o palestrante “falar do
jeito caipira”, um dialeto do território, para que eles possam entender os conteúdos
ofertados a eles nesses encontros. De acordo com Bakhtin (2010), um enunciado é
composto por palavras (possuidoras de sentidos), contexto (determinado pelas
interações entre sujeitos no mundo concreto) e uma tomada de valor (um
posicionamento responsivo perante o outro) frente a este contexto. Quando
confrontamos os dizeres do agricultor com os elementos bakhtinianos que compõem os
enunciados, observamos que muitos dos palestrantes, não se preocupam de como o
público está gerando novos sentidos a partir da exposição dos seus conteúdos. Uma vez
que de forma premeditada ou não o palestrante emprega palavras em que os sentidos
não são conhecidos pelo público. Pois esses sentidos são também gerados pelo contexto
ao qual estão inseridos, provocando no público um juízo de valor sobre o conteúdo das
palestras. Para se ter um curso que apresente um processo de ensino-aprendizado
significativo para os agricultores, o palestrante deve buscar compreender e adaptar o
conteúdo do seu curso aos sentidos, contextos e juízos de valor de seu público, a fim de
que se possa fazer entender.
Por fim, alguns dos extensionistas entrevistados relataram dificuldades em
alguns momentos em suas práticas junto aos agricultores, devido à ausência de uma
formação pedagógica mais sólida, necessária para atuar junto aos produtores rurais. Tal
3640 | ESADR 2013
16 Sistemas de Conhecimento e Inovação para o Desenvolvimento Agrícola e RuralP11
como salientou um dos extensionistas entrevistados, em que atua junto a organização há
dezenove anos: “quando cheguei não tinha experiência para lidar com os trabalhos
que envolvem a extensão rural. Eu não aprendi isso durante o meu curso de
graduação”. Interessante salientar que a ampla maioria dos cursos de Graduações,
Mestrados e Doutorados das universidade brasileiras, destinados à formação de
profissionais das áreas técnicas, não abarcam com a ênfase necessária os conteúdos e
disciplinas, que possam dar suporte às práticas de ensino e, consequentemente, ao
processo de aprendizagem nos territórios rurais.
CONCLUSÕES
As informações coletadas a campo demonstram que o produtor rural ainda
mostra-se preocupado com outras questões, além daquelas relacionadas as técnicas e
rotinas produtivas do seu cultivo. A sua preocupação é relativa ao gerenciamento do seu
empreendimento, como a inserção de seus produtos no mercado e o desenvolvimento de
novas formas de negócios (turismo rural), visando garantir a sua sobrevivência e de sua
família.
Outro ponto de destaque nas enunciações dos agricultores é o fato de que quase
todos neste conjunto de sujeitos, apresentaram historicamente algum insucesso com a
incorporação de novas tecnologias, que nem sempre deram certo em sua propriedade
rural. Visualiza-se nestes casos o uso frequente da comunicação monológica, empregada
por alguns extensionistas rurais pertencentes as organizações de vendas de insumos
agropecuários, o que reflete no atual comportamento dos agricultores. Muitos dos
agricultores são desconfiados e sabem que o caminho de garantir um maior sucesso na
aquisição de uma nova tecnologia é de se informar em várias fontes, a fim de diminuir
as incertezas neste processo de tomada de decisão. A ausência de um processo dialógico
mais profundo e significativo entre os extensionistas e agricultores ocorre pela falta de
formação voltada a uma prática horizontal de ensino-aprendizado. Uma vez que grande
parte dos extensionistas brasileiros receberam uma formação técnica pautada no
difusionismo-tecnicista nos seus cursos de graduação.
Quanto às metodologias dos cursos ofertados pela organização pesquisada aos
agricultores, foi observado uma variedade de formatos e métodos empregados pelos
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VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente
e Desenvolvimento Rural
seus extensionistas rurais. Alguns formatos como palestras expositivas apresentam um
viés mais monológico e difusionista. Embora, quando essas palestras são mescladas
com encontros entre palestrante e produtores rurais, esses cursos apresentam uma
abordagem dialógica e horizontal, como no caso dos relatos das palestras de curta
duração (20 a 30 min) realizadas no escritório regional da organização. Entretanto, o
formato de curso preferido por alguns agricultores entrevistados seria aquele que
ocorrem atividades práticas, como no caso os dia de campo.
Nos relatos de alguns agricultores foi observado que o conteúdo e
encaminhamentos metodológicos dos cursos mais significativos que haviam sido
realizados na organização, estavam relacionados a alguns fatores socioeconômicos,
didáticos e interacionais, os quais percebem já durante a sua participação, como:
¥ a clara diminuição dos seus custos de produção e comercialização;
¥ o tema do curso apresentou uma perspectiva de aumento significativo da
produtividade por meio da apresentação de uma nova tecnologia ou
trato produtivo;
¥ o extensionista possui profundo conhecimento sobre o tema tratado no
curso;
¥ o extensionista emprega as palavras e demais encaminhamentos didáticos
que façam sentido para eles;
¥ a ocorrência durante o curso de intenso diálogo entre todos os sujeitos
presentes;
¥ a escuta atenta do extensionista relativa à produção de sentidos que
ocorre no momento do curso destinado a eles agricultores; e
¥ o extensionista que ministra o curso possui uma relação de confiança
historicamente constituída com os agricultores.
Por fim, desenvolver processos de ensino-aprendizado dialógicos voltados para
as rotinas produtivas dos territórios rurais brasileiros é uma atividade premente das
organizações que prestam serviços de extensão nos territórios rurais, visando um
empreendimento sustentável e socialmente justo.
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18 Sistemas de Conhecimento e Inovação para o Desenvolvimento Agrícola e RuralP11
AGRADECIMENTOS
A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP-Brasil)
pelo apoio financeiro a esta pesquisa, processo FAPESP no 2011/12912-9. As opiniões,
hipóteses e conclusões ou recomendações expressas neste material são de
responsabilidade dos autores e não necessariamente refletem à visão da FAPESP.
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Bakhtin, M. (2010). Marxismo e filosofia da linguagem, Editora Hucitec, São Paulo.
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Zuin, L. F. S.; Zuin, P. B. (2008). Produção de alimentos tradicionais: extensão rural,
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Zuin, L. F. S; Zuin, P. B. (2013). “Comunicação dialógica na gestão ambiental: novos
caminhos metodológicos para a extensão rural”, In Palhares, J. C. P.; Gebler, L.
(Orgs.). Gestão Ambiental na Agropecuária. Embrapa Informação Tecnológica,
Brasília, v. 2, 1-33. (no prelo)
19 Atas Proceedings | 3643
3644 | ESADR 2013
ESTUDO DO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM EM
BOAS PRÁTICAS DE FABRICAÇÃO DE FUNCIONÁRIOS
PERTENCENTES A DOIS FRIGORÍFICOS BRASILEIROS
LUÍS FERNANDO SOARES ZUIN
Prof. Dr. da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos - Universidade de São
Paulo - Brasil, [email protected]
HELOÍSA VALARINE BATTAGIN
Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos - Universidade de São Paulo Brasil, [email protected]
POLIANA BRUNO ZUIN
Profa. Dra. Faculdade de Faculdade de Tecnologia Ciências e Educação - Brasil,
[email protected]
RESUMO
Nas últimas décadas, os consumidores brasileiros tem se tornado cada vez mais
exigentes no que se refere a segurança físico-química e microbiológica dos alimentos,
assim. Essa pressão dos consumidores fez com que as empresas aprimorassem os seus
produtos e processos. Nos frigoríficos, uma forma de aprimorar seria o desenvolvimento
de novos processos, os quais são voltados para um maior controle relativo as
contaminações que os alimentos podem sofrer durante as rotinas produtivas. Por isso, a
importância dos treinamentos para os funcionários vem sendo uma forma eficaz de
controlar a qualidade dos seus produtos. Nas etapas de desossa e fases de processamento
de carcaças, estes treinamentos estão relacionados à conscientização dos funcionários a
respeito das atividades que compõem os manuais de Boas Práticas de Fabricação (BPF).
O objetivo da pesquisa aqui relatada foi descrever e analisar os processos de ensinoaprendizagem em BPF de funcionários pertencentes a dois Frigoríficos Brasileiros. Para
tanto, o método de coleta de dados foi o estudo de caso (Yin, 2001). Foram
entrevistadas duas capacitadoras e cinco funcionários pertencentes aos frigoríficos onde
se procurou diagnosticar por meios de seus relatos os métodos de ensino-aprendizado
empregados nos cursos de BPF. Os resultados observados nos relatos indicaram que o
grau de compreensão dos funcionários sobre a temática abordada foi diretamente
dependente da metodologia de ensino usada nos treinamentos. Os métodos de ensino
que envolvem a interação horizontal entre as pessoas foram indicados como os mais
eficientes. Notou-se que em grupo à conscientização dos sujeitos quanto às normas de
BPF foi mais rápida que individualmente. O uso de comparações entre o ambiente de
trabalho e as casas dos funcionários, feito pelas capacitadoras, bem como entre os
consumidores e suas famílias, gerou uma conscientização que resultou em melhorias nas
posturas dos empregados. Este projeto de pesquisa recebeu para o seu desenvolvimento
uma bolsa de iniciação científica da Reitoria da Universidade de São Paulo.
PALAVRAS-CHAVE: treinamento, frigorífico, Boas Práticas de Fabricação, dialogia.
Atas Proceedings
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VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente
e Desenvolvimento Rural
INTRODUÇÃO
Com o desenvolvimento de novas tecnologias e crescimento da preocupação
com o meio ambiente nas últimas décadas, o consumidor vem tornando cada vez mais
informado e exigente quanto àquilo que espera da indústria alimentícia. No caso dos
produtos agropecuários, de acordo com Ludtke et al. (2010), as preocupações se
definem sobre aspectos que englobam desde o bem-estar do animal que será abatido e
até a definição dos processos empregados na industrialização e comercialização,
visando segurança do alimento.
As empresas, para manterem-se competitivas, necessitam se adequar àquilo que
é esperado pelo consumidor. Nesse sentido, os frigoríficos vêm buscando inovação
embasada no aperfeiçoamento de seus planos de autocontrole, referentes às boas
práticas de manejo e fabricação empregadas nos processos de produção. A busca por
melhorias contínuas exige alterações nas rotinas de produção, e essas mudanças agem
principalmente sobre os funcionários, tirando-os de sua zona de conforto alicerçada na
prática e exigindo-lhes um novo comportamento. A fim de reeducá-los, as empresas
oferecem cursos de capacitação, para se adaptarem a um novo ambiente de produção,
mas também para entenderem os motivos da mudança.
Nesses cursos de formação continuada é comum que a equipe de garantia da
qualidade enfrente uma certa dificuldade: a resistência à mudança de como fazer as
atividades nas rotinas produtivas as quais são ofertadas aos funcionários. Outro gargalo
é a falta de embasamento teórico por parte dos funcionários. Neli (2006) explica este
último problema pela exigência mínima de escolaridade dos funcionários pelos
frigoríficos, o que ocorre em função do trabalho no chão-de-fábrica ser repetitivo,
manual, pouco complexo e significativamente desgastante. Cêa et al. (2009) afirmam
que este cenário complexo e fisicamente desgastante é observado em grande parte dos
frigoríficos brasileiros.
Com base nessa problemática, as equipes que planejam e ministram os cursos
procuram desenvolver métodos de ensino-aprendizado eficientes, principalmente
alicerçados em diálogos e imagens. Dessa forma, cabe ao capacitador-educador orientar
os funcionários a se relacionar e participar de diálogos com outros sujeitos em buscar o
conhecimento. A comunicação, porém, não deve terminar com o entendimento, que é
apenas um primeiro passo, e deve ser seguido pela atuação, ou seja, o diálogo como
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Sistemas de Conhecimento e Inovação para o Desenvolvimento Agrícola e RuralP11
método de ensino deve ser precursor de transformação (Braga et al., 2010). No caso dos
frigoríficos, essa transformação remete à melhora da qualidade dos processos, produtos
e serviços prestados pelos funcionários.
A pesquisa aqui apresentada tem como objetivo descrever e analisar os processos
de ensino-aprendizagem em Boas Práticas de Fabricação (BPF) de funcionários
pertencentes a dois frigoríficos do estado de São Paulo, tomando como referências os
estudos de Paulo Freire, Bakhtin e Vygotsky. O artigo está estruturado da seguinte
forma: em primeiro lugar, apresentam-se as empresas estudadas; na sequência, seus
métodos de ensino; em seguida há uma discussão de como os cursos impactaram nas
rotinas dos funcionários; e, finalmente, conclui-se sobre as implicações teóricas e
práticas dos métodos usados, a fim de nortear o desenvolvimento de novos métodos de
ensino.
AS EMPRESAS ESTUDADAS
Dois frigoríficos do estado de São Paulo, no Brasil, se submeteram ao estudo de
caso (Yin, 2001) para essa pesquisa ar, onde o diagnóstico dos seus métodos de ensinoaprendizado ocorreu in loco. As entrevistas das capacitadoras, pertencentes as duas
organizações, observamos que foram aplicados cursos de capacitação para os
funcionários durante os seis meses anteriores a entrevista. Em ambas as empresas, as
capacitações foram ministradas por estagiárias, pertencentes às equipes de garantia da
qualidade das duas organizações. As duas estagiárias eram acadêmicas do curso de
Engenharia de Alimentos de uma faculdade do estado de São Paulo.
O primeiro frigorífico estudado, o A, atua na desossa de bovinos e cordeiros,
também produz alimentos embutidos e carne reestruturada e, em média, processa dez
toneladas de matéria-prima por dia. É habilitado pelo Serviço de Inspeção Federal (SIF)
a comercializar produtos em todo o Brasil. O frigorífico B possui como única atividade
a desossa de bovinos, e processa entre quinze e vinte toneladas de carne por dia. Além
de ser habilitado pelo SIF, também comercializa os seus produtos em outros países.
Visando relacionar o grau de compreensão dos operários com os métodos usados
em cada treinamento, os instrumentos metodológicos da pesquisa foram entrevistas com
os empregados e observações diretas nos frigoríficos. A pesquisa é caracterizada como
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Atas Proceedings | 3647
VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente
e Desenvolvimento Rural
qualitativa, descritiva e exploratória, e o método de coleta de dados e informações foi o
estudo de caso, com viés sócio-histórico (Amorin, 2004).
Ao todo foram entrevistados cinco funcionários pertencentes aos dois
frigoríficos. Todos eram dos setores de produção, alfabetizados e pertencentes às classes
econômicas C e D. Cada um desses sujeitos foi entrevistado individualmente e os
relatos foram coletados após o término do período de seis meses de estágio das
monitoras da garantia da qualidade nas empresas. Os funcionários responderam a um
conjunto de questões abertas, relativas às estruturas dos cursos, seus impactos nas
rotinas de trabalho durante e após o expediente e a didática empregada pelas estagiárias
enquanto educadoras.
MÉTODOS DE ENSINO-APRENDIZAGEM USADOS NOS FRIGORÍFICOS
ESTUDADOS
Em ambos os frigoríficos, as capacitações admissionais, ministradas aos
funcionários que ingressavam nas empresas, eram realizadas de forma individual e os
ingressantes as recebiam no primeiro dia de trabalho, antes do início de suas atividades
nas linhas de produção. Com duração aproximada de uma hora, em termos dos
caminhos didáticos, o conteúdo do curso era disponibilizado de duas formas para os
funcionários. A primeira, por meio de uma apresentação digital, sendo disponibilizada
nos computadores das empresas, contendo um conjunto de slides que eram lidos pela
estagiária responsável. O segundo caminho, era através de uma versão impressa, com
textos mais aprofundados sobre os tópicos abordados, disponibilizados para que os
funcionários o levassem para suas casas após o curso.
O segundo tipo de encontro para capacitação, a “reciclagem”, era realizado nos
refeitórios das empresas e consistia numa apresentação de slides projetada nas paredes
da sala, onde se buscava que o público dialogasse sobre o assunto tratado (incluindo a
capacitadora). No Frigorífico A, os 60 funcionários eram divididos em duas turmas de
30 pessoas, compartilhando um espaço do refeitório. Na empresa B, todos os 55 sujeitos
eram capacitados juntos. Nestes cursos, com duração aproximada de três horas, além
dos temas abordados nos encontros admissionais, incluíam-se também outros assuntos
mais complexos relacionados as rotinas produtivas.
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Sistemas de Conhecimento e Inovação para o Desenvolvimento Agrícola e RuralP11
O conteúdo dos slides nos treinamentos de reciclagem era apresentado por meio
de muitas figuras, alguns vídeos e quase nenhum texto, apenas o suficiente para fazer
referências às imagens. Não usaram gráficos e tabelas em nenhum treinamento para
evitar que os ouvintes com menor grau de escolaridade tivessem dificuldades em
acompanhar o curso. Distribuíram-se ainda versões impressas do treinamento, que os
funcionários puderam levar para casa a fim de consultar quando quisessem.
Os diálogos durante os cursos sempre foram levados em consideração pelas
capacitadoras. Elas tentaram ao máximo mantê-los com os alunos durante os encontros,
com os objetivos principais de tirarem as dúvidas dos funcionários e haver
compartilhamento de experiências entre os colegas.
Descritas as duas formas de treinamento empregadas, em seguida serão relatados
os impactos gerados por esses encontros, resultados estes, obtidos pelas entrevistas com
os funcionários.
IMPACTOS DOS CURSOS NAS ROTINAS DOS FUNCIONÁRIOS
O primeiro assunto abordado com todos os entrevistados foi a importância das
capacitações nas BPF. Inicialmente, houve um senso comum de que se todos os
funcionários tivessem uma boa instrução anterior aos cursos, saberiam as corretas
atividades enquanto manipuladores das carcaças nos frigoríficos, onde as capacitações
seriam mais bem aproveitadas. O problema é que nem todos os funcionários possuíam
esse conhecimento prévio e alguns dos entrevistados destacaram em seus relatos que
alguns colegas, de menor nível de escolaridade, não davam a devida importância nem
mesmo aos tópicos iniciais abordados nos treinamentos, que são os menos profundos,
como lavagem de mãos com frequência e corretamente, bem como o uso de
equipamentos de proteção individual.
Neste momento é então que surge a primeira discussão: como tratar de um
mesmo assunto dialogando com pessoas que possuem diferentes graus de instrução,
vivências e experiências? Para Vygotsky (1988a) e Bakhtin (2003), a consciência
depende da linguagem para formar e manifestar. É por isso que o capacitador busca
exercer o papel de mediador, incentivando o diálogo para despertar interesse em todos
os participantes. Para isso, pode-se levar em consideração que o diálogo é uma forma de
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Atas Proceedings | 3649
VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente
e Desenvolvimento Rural
compartilhamento de universos histórico-culturais (Vygotsky, 1988b). Isso foi
observado claramente nas falas dos trabalhadores ao enunciarem diferentes opiniões
sobre os temas abordados conforme suas experiências de vida. No contexto dos
frigoríficos, enquanto para alguns os assuntos tratados nos cursos era novidade, outros
descreveram que pôr em prática os conceitos teóricos abordados, dependia apenas do
bom senso do funcionário. Bakhtin (1992) explica que somente compreendemos e
reagimos às palavras que nos despertam ressonâncias que se apresentam à vida, ou seja,
dos objetos humanizados reconhecidos pelos sujeitos no mundo concreto. Morin (2010)
fortalece essa argumentação bakhtiniana, afirmando que um saber só se torna
significativo ao sujeito se esse é capaz de situá-lo em um contexto. Percebendo isso, o
capacitador nos frigoríficos, na função de mediador, pode conduzir o diálogo,
incentivando o aluno a relacionar fatos de sua vida cotidiana aos assuntos trabalhados
no curso, como foi feito nas duas empresas.
Esta consciência que relaciona as atitudes tomadas no ambiente de trabalho e
aquelas tomadas em casa, bem como o que é aprendido no trabalho pode ser estendido
ao ambiente externo do frigorífico, foi percebida em todas as entrevistas. Uma das
respostas pertencente a primeira entrevistada do Frigorífico B foi que, para ela, BPF é
uma ferramenta tão importante, que pode e deve ser empregada em qualquer
estabelecimento onde há manipulação de alimentos. Disse “Quando eu trabalhava
numa padaria, até a mocinha que fatiava presunto e queijo sabia da importância das
BPF”, e acrescentou que depois de ter mais contato com a temática, seu domínio do
assunto cresceu significativamente e suas opiniões amadureceram sobre o assunto. Para
Bakhtin (1992), quando os sujeitos expressam suas ideias sobre um dado tema, elas se
reformulam e restabelecem no interior do seu auditório social, gerando novos sentidos
sobre o tema tratado nas enunciações.
Da mesma maneira, outros avanços foram notados nos processos de ensinoaprendizado estudados. Um dos entrevistados relatou que ele e alguns colegas não
possuíam nenhum conhecimento prévio sobre o tópico e não se importavam, mas
convivendo e dialogando com outros sujeitos dentro do frigorífico, mudaram seu
pensamento e os de outros funcionários, “para os caras da manutenção o que
importava era as máquinas funcionarem, agora eles consertam e deixam tudo limpinho
para a gente poder usar”.
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Porém, não é com a frequência desejada que os sujeitos mudam o seu ponto de
vista e passam a adotar novas regras e rotinas de trabalho. É comum haver uma
resistência à mudança. Uma funcionária do Frigorífico A explica que o trabalho é
estressante: “O ambiente é frio e barulhento, você tem que trabalhar em pé e o trabalho
é desgastante”. Entende-se, assim, que mudanças exigidas do trabalhador depois que ele
aprende e utiliza uma certa rotina em seu trabalho são mais difíceis de serem alteradas
depois. Essa resistência as mudanças nas rotinas produtivas também foi observada por
Miller & Cangemi (1993) e Liu (1998), de forma prejudicial, na implantação da
Gerência da Qualidade Total. Hernandez & Caldas (2001) mencionam:
“Os modelos prevalecentes de resistência à mudança tendem a
considerar que os indivíduos resistem de forma homogênea.
Essa hipótese desconsidera o fato de que, na maior parte das
vezes, os indivíduos percebem os objetos e os acontecimentos
de forma pessoal e distinta e, assim, seria de se esperar que as
suas reações individuais seguissem o mesmo padrão.”
(Hernandez & Caldas, 2001, p. 36).
Isso explica por que alguns funcionários são menos resistentes à mudança que
outros: cada indivíduo tem percepções diferentes das mudanças que surgem em suas
rotinas enquanto trabalhadores, dependentes de sua personalidade e fatores
sociológicos. Em outras palavras, há dois conjuntos de variáveis (individuais e
situacionais) que geram a percepção (Hernandez & Caldas, 2001).
Autores da administração com abordagem positivista-tecnicista como Kotter e
Schlesinger (1979) apresentam seis estratégias genéricas para se superar essa resistência
à mudança: a) educação e comunicação; b) participação e envolvimento; c) facilitação e
suporte; d) negociação e acordo; e) manipulação e cooperação; f) coerção explícita e/ou
implícita. Para os autores, alcançar a superação da resistência de maneira pacífica dos
funcionários faz-se o uso capacitação por meio da comunicação, e o incentivo ao
envolvimento foram as estratégias propostas pelas equipes da garantia da qualidade.
Essa postura produtiva foi observada nas duas empresas estudadas. Um diagnóstico
inicial indicou, no entanto, a falta de um conjunto de conhecimentos técnicos e
científicos dos funcionários que facilitariam os processos de ensino-aprendizado, pois
alguns deles não frequentaram escolas de ensino fundamental e médio que
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Atas Proceedings | 3651
VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente
e Desenvolvimento Rural
proporcionariam esse conhecimento. Essa dificuldade na capacitação, que é largamente
notada, é um dos principais motivos deste estudo.
Uma vez que parte dos funcionários possui um grau de escolaridade baixa, o
melhor caminho para fomentar novos sentidos entre os sujeitos seria o uso de recursos
midiáticos que não envolvem leitura e escrita, como vídeos, imagens e o diálogos entre
todos os presentes nos cursos. Todos os funcionários entrevistados concordaram que as
melhores formas de apresentação do conteúdo abordado nos treinamentos foram as já
citadas, os sujeitos mostraram-se interessados em receber outros treinamentos (com
outros temas) usando os mesmos métodos. De fato, Winkel (2012, p. 81) acredita que “a
tecnologia só será plenamente aproveitada em todas as suas potencialidades se estiver
inserida na realidade de cada organização ou comunidade, afinada com sua história,
suas necessidades e expectativas”.
Para conectar as experiências vividas pelos funcionários durante o trabalho com
o contexto da capacitação (e as implicações em mudança que ele traz), nos dois
frigoríficos usaram-se fotos tiradas nas próprias linhas de produção para apresentação
do conteúdo trabalhado. Para Motta & Fontanari (2002, p. 35), “a fotografia é um corte
específico no tempo e no espaço”, enxergando a imagem como um signo (sentido) que
representa o sujeito. A fim de potencializar o entendimento dos funcionários sobre as
atividades corretas e incorretas no ambiente de trabalho, as fotos tiradas revelaram
imagens de atitudes inadequadas observadas nas rotinas produtivas. Os capacitadores
tomaram o cuidado para não expor a identidade do indivíduo que cometia o erro. Sobre
essa técnica de ensino, todos os sujeitos entrevistados indicaram que é muito
interessante o modo como se ensina a postura correta, apresentando fotos de erros
cometidos por seus pares: “Mostrar fotos com nossos erros é muito legal. Quando a
gente vê de novo na produção, já sabe que está errado e arruma!”.
Uma entrevistada afirmou que se lembra das expressões daqueles que nunca
haviam participado de treinamentos coletivos: “A pessoa que erra faz careta e fica com
vergonha quando vê que tem um hábito errado”. Apesar do funcionário responsável
pelo erro nunca aparecer nas imagens, isso pode ser intimidador no momento do
treinamento, quando está próximo dos colegas.
Outros dois funcionários da empresa B indicaram que slides carregados de textos
não prenderiam a atenção dos ouvintes e que os analfabetos não conseguiriam
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Sistemas de Conhecimento e Inovação para o Desenvolvimento Agrícola e RuralP11
acompanhar os encaminhamentos do curso. Nas palavras de um deles: “Se tivesse coisa
escrita no slide, eu ia ter sono. Sem contar que tem gente que não sabe ler”. O outro
relatou: “Vendo as fotos eu continuo lembrando muito tempo depois”, o que comprova a
eficiência da técnica usada. Uma terceira funcionária complementa a argumentação
afirmando que “O melhor do treinamento é que tem muita figura, isso não deixa
cansativo, e as figuras de coisas erradas ficam na cabeça”. O funcionário entrevistado
por último foi questionado quanto à sua opinião sobre a presença de tabelas e gráficos, e
a resposta foi: “Não tinha tabela, não, ainda bem! Mas o que é um gráfico?”.
Considerando que esta era uma das pessoas que possuía oito anos de estudo, não saber o
que é um gráfico não era esperado, e indica a inadequação do emprego de gráficos e
tabelas em métodos de ensino para funcionários de baixa escolaridade. Assim, dentre os
possíveis recursos envolvendo imagens, a fotografia se apresenta como um melhor
instrumento, que gera entendimento mais aprofundado. Isto se explica pelo texto de
Andrelo & Oliveira (2012), onde relatam que em alguns casos a fotografia pode ser
considerada um extensão da própria vida do sujeito que a observa.
Todos os entrevistados concordaram que o diálogo foi outra ferramenta muito
adequada e bem empregada, pois direcionamentos e sentidos distintos levam a
diferentes entendimentos e pontos de vista, gerando diálogos e assuntos que não seriam
abordados nas capacitações individuais. Para um funcionário do Frigorífico B, cada
indivíduo é capaz de aprender com o erro do colega, então o treinamento coletivo é mais
eficiente que o individual. Além disso, outra funcionária afirma que “Vendo todo mundo
perguntar fica mais fácil falar também, a gente perde a vergonha”. Assim, se permite
que todos os funcionários possam ter a mesma oportunidade de se expressar e
desenvolver seu raciocínio sobre o tema estudado. Andrelo & Oliveira (2012) em seus
estudos relatam que essas atividades incentivam os sujeitos a serem mais participativos
e críticos:
“A mídia-educação, ou Media Literacy, como é chamada na
visão inglesa, é conceituada como as atividades capazes de
desenvolver nos cidadãos habilidades específicas para acessar,
analisar, produzir informação, ter capacidade de argumentar e
saber como influenciar leitores ativos das mídias, a fim de
torná-los cidadãos mais participativos, críticos e conscientes”
(Andrelo & Oliveira, 2012, p. 102).
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Atas Proceedings | 3653
VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente
e Desenvolvimento Rural
Depois de vários anos trabalhando na mesma empresa, dois funcionários do
Frigorífico B passaram por diversos treinamentos, e assentiram nas entrevistas que os
mais produtivos foram aqueles que tiveram mais participantes. Isso ocorre devido à
capacidade do diálogo de envolver o funcionário no desenvolvimento do raciocínio
sobre o tema abordado. Há ainda, para o capacitador, a certeza de que o funcionário o
está acompanhando na produção de sentidos, uma vez que participa enunciando seu
ponto de vista para todos. Para Bakhtin (1992), o diálogo não é somente a um processo
que alternar as vozes dos falantes, mas é preponderantemente o encontro e a
incorporação de inúmeras vozes. Para o autor a enunciação seria o resultado da
interação de dois sujeitos socialmente organizados, assim, admite-se que a construção
do indivíduo como pessoa, ou neste caso, o trabalhador de um frigorífico, se dá a partir
de sua convivência e interação com outros sujeitos, pertencentes ou não a organização
que trabalham. Vygotsky (1988a) também participa da mesma discussão, tratando a
linguagem como intermédio de relações sociais que levam à construção do indivíduo,
sendo a oralidade vista como mediadora das relações entre o homem e o mundo:
“A função primordial da fala é a comunicação, o intercâmbio
social. Quando o estudo da linguagem se baseava na análise em
elementos, também esta função foi dissociada da função
intelectual da fala. Ambas foram tratadas como funções
separadas, até mesmo paralelas, sem se considerar a interrelação de sua estrutura e desenvolvimento” (Vygotsky, 1998a,
p. 6).
Bakhtin (1992) acrescenta que a palavra quando está dentro ou fora dos sujeitos,
nas interações, sempre será possuidora de um sentido vivencial. É possível dizer, então,
que a linguagem possui função organizadora do pensamento e está em constante
evolução, assim como os sujeitos que interagem e se transformam conforme suas
interações com outras pessoas. Para o autor a palavra e seus sentidos é que irão mediar
as interações do sujeito com o mundo concreto. Assim, a evolução da linguagem e das
pessoas se dá paralelamente, com o emprego da comunicação cotidiana na construção
do indivíduo.
No caso dos treinamentos incluindo mais de trinta pessoas, como nos casos dos
frigoríficos, nem todas participam ativamente dos diálogos, mas Bakhtin (1992, p. 17)
acredita que a enunciação, “ela não existe fora de um contexto social, já que cada
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Sistemas de Conhecimento e Inovação para o Desenvolvimento Agrícola e RuralP11
locutor tem um “horizonte social”. Há sempre um interlocutor, ao menos potencial”.
Afirma ainda que a compreensão nem sempre é fruto da comunicação em voz alta,
podendo se tratar de um discurso interior, com a oposição da palavra do locutor por
meio de uma contrapalavra, que nem sempre é exteriorizada também na forma de
palavra. No ambiente dos frigoríficos, isso se revela quando, no momento dos
treinamentos os alunos não se manifestam em voz alta, mas aprimoram seus atos
durante o trabalho com base nos assuntos discutidos anteriormente, mostrando a
compreensão do diálogo na forma de ato. Bakhtin (1993) observa que o sensível (o
mundo dado) e o inteligível (a apreensão do mundo) estão necessariamente integrados.
Isso significa que a ação de maneira concreta é resultado da organização dos
pensamentos acerca do conteúdo dos atos.
Outro fator-chave para utilizar do diálogo como ferramenta para a educação é a
forma como o capacitador, em sua função de mediador, aborda o conteúdo do curso.
Não somente para promover o entendimento, mas até mesmo convencer o sujeito que
está sendo capacitado de que o assunto merece atenção, a abordagem deve ser baseada
no respeito e horizontalidade dos diálogos, segundo os entrevistados. Em outras
palavras, os alunos têm a expectativa de que não se imponham informações, mas que
sejam apresentadas de forma clara, permitindo o entendimento e renovação do
conhecimento. Freire (1967) considera essencial o uso do diálogo dessa maneira,
coordenando e horizontal, e jamais imposto e vertical em suas relações.
Quanto a esta abordagem, que envolve a interação da equipe treinada e os
momentos corretos de cada pessoa falar, uma funcionária da empresa B relatou que o
diálogo com a estagiária seguiu sempre horizontalmente, sem que a educadora
impusesse informações ou regras. Nas palavras dela: “A moça me deixou à vontade para
perguntar. Não fiquei com vergonha, porque sei que é melhor perguntar uma coisa
boba pra ela do que fazer alguma coisa que estrague tudo depois”. Complementando, a
funcionária concordou com as afirmações de todos os entrevistados, de que a estagiária
possuía um postura horizontal e aberta ao diálogo durante todo o treinamento e também
durante as rotinas dos trabalhos nas linhas de produção.
Os funcionários em seus relatos observaram que entendem que o trabalho das
estagiárias é monitorá-los para realizar as atividades de forma correta, e isso pode
ofender alguns sujeitos, conforme a maneira como eles eram abordados ao serem
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Atas Proceedings | 3655
VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente
e Desenvolvimento Rural
flagrados cometendo uma atividade fora do padrão. A opinião de uma funcionária do
Frigorífico. Um dos funcionários entrevistado relatou sobre a capacitadora que “Ela é
atenciosa e quando vai chamar atenção do povo, ninguém se sente diminuído”.
Nota-se, portanto, uma necessidade de métodos diferentes dos convencionais
que se empregam atualmente no ensino de jovens de ensino fundamental e médio e
incluem pouco diálogo. Cury (2010, p. 44) explica que “o saber adquirido nas escolas é
muitas vezes questionado em relação à sua aplicabilidade, e somente passa a ter
sentido quando compreendido no contexto geral”. Isso significa que é necessária uma
troca de informações, vivências e experiências, em que não somente o capacitador
ensina, mas também o aluno (funcionários dos frigoríficos), ao apresentar relatos de
experiências por ele vividas e ideias por ele constituídas, também contribui fortemente
com o processo de ensino aprendizado. Bubnova et al. (2011, p. 271) ilustra essa
necessidade de interação, argumentando que “a onipresença da voz é equiparável à
ubiquidade do outro em nossa existência”. Este intercâmbio de informações proposto
fortalece as relações entre os interlocutores, e novas ideias podem ser tecidas em
conjunto. Dessa forma, passa a existir um acordo entre os indivíduos, e não apenas
alunos que aceitam informações e mudam seus atos apenas por ser necessário. Pessoas
que têm ideais e objetivos em comum trabalham melhor juntas, e a convivência entre as
estagiárias e os funcionários realmente melhorou muito após os treinamentos, segundo
os entrevistados. Na visão Bakhtiniana (Bakhtin, 1992):
“A verdadeira substância da língua não é constituída por um
sistema abstrato de formas lingüísticas, nem pela enunciação
monológica isolada, nem pelo ato psicofisiológico de sua
produção, mas pelo fenômeno social da interação verbal,
realizada através da enunciação ou das enunciações” (Bakhtin,
1992, p. 123).
Ao contornar as boas relações no ambiente de trabalho, é possível estender o
contato entre os colegas de trabalho ao ambiente externo da empresa, e até mesmo o
emprego dos conteúdos dos treinamentos, uma vez que os caminhos utilizados no
processo de ensino aprendizado permitem que o educando visualize a aplicabilidade do
conteúdo dos cursos num contexto multidimensional. Freire (1967) e Morin (2010), da
mesma forma, acreditam na eficiência de um método de ensino dialógico que
proporcione a compreensão e o aprimoramento das capacidades intelectuais.
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Sistemas de Conhecimento e Inovação para o Desenvolvimento Agrícola e RuralP11
Ao serem questionados sobre a aplicação de conceitos adquiridos na empresa
fora dela, as opiniões dos entrevistados variaram. De maneira geral, em aspectos como a
higiene pessoal e manipulação de alimentos, os funcionários passaram a tomar mais
cuidados mesmo fora do ambiente de trabalho, e também cobram a mesma postura de
seus familiares. Uma das funcionárias do Frigorífico A afirmou que depois da
capacitação dá muito mais atenção à higienização dos alimentos que manipula em sua
casa. Outra entrevistada, porém, disse que nada mudou, porque já cuidava muito bem de
sua higiene pessoal e da sua casa. Um terceiro, que divide a casa em que mora com
colegas de trabalho do Frigorífico A, afirmou que em sua casa as pessoas passaram a
tomar mais cuidado com o lixo e a higiene da cozinha. Nesta residência, quando alguém
cozinha, usam-se facas diferentes para alimentos distintos, evitando contaminação
cruzada, como pode acontecer nas suas rotinas produtivas no frigorífico.
Além das mudanças dos funcionários nos hábitos de higiene pessoal e de suas
casas, uma das entrevistadas do Frigorífico A apontou a menor incidência de insetos
(baratas e moscas) em sua casa após começar a aplicar melhor manejo do lixo,
conhecimento este adquirido num dos treinamentos. Dessa forma, percebe-se que o
funcionário que realmente incorpora o conhecimento trabalhado nos cursos o emprega
em sua vida dentro e fora da empresa.
Comentando ainda sobre as relações dos funcionários com seus familiares e
colegas, os entrevistados dos dois frigoríficos mencionaram que alguns operários se
sentem incomodados ao descumprirem as regras e serem corrigidos por seus colegas.
Todos os entrevistados assentem que, de maneira geral, preferem ser abordados pela
monitora da garantia de qualidade do que por outros colegas ou chefes. Isso ocorre
devido às formas de corrigir os erros cometidos. Para os entrevistados, as estagiárias são
mais humildes nesta posição do que pessoas com cargos superiores. Freire (1979, p. 15)
mostra a importância de lidar humildemente com a educação dos funcionários quando
afirma “[...] não podemos nos colocar na posição do ser superior que ensina um grupo
de ignorantes, mas sim na posição humilde daquele que comunica um saber relativo a
outros que possuem outro saber relativo”.
Quanto às conversas sobre os assuntos do frigorífico fora do ambiente de
trabalho, uma funcionária afirmou que alguns assuntos são levados até as redes sociais,
principalmente quando ocorrem fatos que fogem à rotina da linha de produção, como
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VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente
e Desenvolvimento Rural
quando há visitas técnicas e supervisão do estabelecimento. Da mesma forma, no
Frigorífico B, uma funcionária entrevistada afirmou que as mulheres comentam
eventualmente, no vestiário, sobre boas práticas que não deveriam ser esquecidas. Um
rapaz lembrou que até durante as partidas de futebol que os funcionários jogavam aos
finais de semana, muitos deles deixaram de usar pulseiras e colares, pois notaram,
depois do treinamento, como poderiam se ferir por causas tão pequenas. Para os
entrevistados desse frigorífico, as imagens e vídeos apresentados convenceram-lhes de
que o que era ali apresentado realmente tinha importância e que seguir as regras não
faria bem somente à empresa, mas também aos trabalhadores. Morin (2010, p. 7) relata,
porém, que “o conhecimento completo é impossível: um dos axiomas da complexidade é
a impossibilidade de uma onisciência”, assim, é necessária a incessante busca pelo
conhecimento e que os treinamentos sejam periódicos, como o proposto pelas empresas,
de haver treinamentos periódicos semestralmente.
CONCLUSÃO
Os treinamentos envolvendo um maior número de pessoas foram mais eficientes
que os individuais com relação à conscientização do público quanto às normas de BPF a
serem seguidas e sua importância. Em grupo, o conteúdo do curso foi internalizado mais
significativamente, houve mais embates e discussões sobre os temas abordados e os
assuntos foram mais aprofundados. O uso de comparações entre o ambiente de trabalho
e a casa dos funcionários, bem como entre os consumidores e suas famílias, gerou uma
maior conscientização dos funcionários para com as BPF.
A dialogicidade e a ênfase da oralidade nos cursos permitiu a participação de
todos os funcionários em um mesmo nível durante o curso, mesmo os que não sabiam
ler e escrever. Certamente esses sujeitos não compreenderiam o conteúdo da mesma
forma se houvesse o emprego de textos. Estes sujeitos, por sua vez, consideraram menos
cansativas as apresentações com imagens e vídeos, quando comparadas àquelas
carregadas de textos. Outros pontos importantes dos treinamentos foram ausência de
gráficos e tabelas (que os funcionários admitem não estarem aptos a interpretar), e a
horizontalidade das interações e dos diálogos. Este último fator é importante também
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Sistemas de Conhecimento e Inovação para o Desenvolvimento Agrícola e RuralP11
para a diminuição do estresse dos funcionários durante o trabalho, pois as suas rotinas
produtivas são significativamente desgastantes fisicamente.
Em ambos os frigoríficos houve indicações de que as boas relações interpessoais
são imprescindíveis para nos processos de ensino-aprendizado em BPF. Largamente
observada em todas as entrevistas, foi a importância que os funcionários atribuem o
respeito do educador pelo educando. Um fator determinante para que o educando crie
interesse pelos assuntos abordados é que o educador saiba orientar sem haver
imposições, e depois, ao cobrar de forma correta o que foi ensinado.
AGRADECIMENTOS
A Reitoria da Universidade de São Paulo pela bolsa de Iniciação Científica da
acadêmica Heloísa Valarine Battagin.
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Sistemas de Conhecimento e Inovação para o Desenvolvimento Agrícola e RuralP11
A FUNÇÃO DE PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA AGREGADA DO
ESTADO DO TOCANTINS: em uma região periférica da Amazônia
NILTON MARQUES DE OLIVEIRA
Doutorando em Desenvolvimento Regional e Agronegócio – Unioeste, Professor do
Curso de Ciências Econômicas da UFT - Palmas-TO - Rua da Faculdade, 2550 Jardim Santa Maria. Toledo-Paraná. CEP: 85903-000 - e-mail:
[email protected]
.
UDO STRASSBURG
Doutorando em Desenvolvimento Regional e Agronegócio – Unioeste, Professor do
Curso de Ciências Contábeis – UNIOESTE - Cascavel – PR - Rua da Faculdade, 2550.
Jardim Santa Maria. Toledo-Paraná. CEP: 85903-000. e-mail:
[email protected]
CAMILI DEL PAI
Doutoranda em Desenvolvimento Regional e Agronegócios – UNIOESTE, Mestre em
Desenvolvimento Regional – UFMT - e-mail: [email protected]
ISABELA BARCHET
Doutorando em Desenvolvimento Regional e Agronegócio – Unioeste, Mestre em
Engenharia de Produção – UFSM - Rua da Faculdade, 2550 - Jardim Santa Maria.
Toledo-Paraná. CEP: 85903-000 - e-mail: [email protected]
RESUMO
O objetivo deste trabalho foi estimar e analisar a função de produção agropecuária
agregada dos 139 municípios do Estado de Tocantins. O referencial teórico utilizado foi
a função da produção Cobb-Douglas, obtida a partir dos dados Censo Agropecuário de
2006. Para o modelo empírico o Método dos Mínimos Quadrados Ordinários (MQO).
Os resultados obtidos indicaram que as variáveis área total, capital e mão de obra foram
significativas para explicar a produção no estado e, este se encontra no estágio II
(estágio racional) onde o produto total cresce a taxas decrescentes até seu máximo.
Pode-se concluir que o Tocantins está alocando eficientemente os recursos produtivos
na produção agropecuária.
PALAVRAS – CHAVE: Cobb-Douglas, retorno crescente; elasticidade de produção;
agricultura.
Atas Proceedings | 3661
VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente
e Desenvolvimento Rural
The AGGREGATE AGRICULTURAL PRODUCTION FUNCTION
OF THE STATE OF TOCANTINS: in a peripheral region of the
Amazon
AGGREGATE AGRICULTURAL PRODUCTION FUNCTION IN
TOCANTINS STATE: in peripheral region the Amazon
ABSTRACT
The aim of this study was to estimate and analyze the function of aggregate agricultural
production of the 139 municipalities in the state of Tocantins. The theoretical
framework used was the function of Cobb-Douglas production, the data obtained from
the 2006 Agricultural Census. To empirical model was used the Method of Ordinary
Least Squares (OLS). The results indicated that the total area variables, capital and labor
were significant in explaining the production in the state, and it is at stage II (stage
rational) where the total output grows at decreasing rates to its maximum. It can be
concluded that the Tocantins is allocating productive resources efficiently in agricultural
production.
KEYWORDS: Cobb-Douglas, increasing returns, elasticity production, agriculture
INTRODUÇÃO
Este trabalho pretende estimar e analisar a função de produção agropecuária
agregada do Estado do Tocantins, com intenções de verificar e identificar os principais
fatores determinantes da produção. Especificamente, analisar as elasticidades parciais
dos diversos insumos de produção, bem como o valor da produção média, as
produtividades marginais desses fatores e verificar os retornos à escala. A base de
dados para aplicação do presente estudo foi a matriz do censo agropecuário de 2006.
A questão central deste artigo é, se o Estado do Tocantins está alocando
eficientemente os recursos produtivos do setor agropecuário. Este tem um papel
fundamental no desenvolvimento regional, nota-se a importância do agronegócio para a
economia brasileira, no que tange a sua participação na formação da renda nacional, na
geração de empregos e na adaptação e desenvolvimento de novas tecnologias para o
mundo rural.
O setor agropecuário, segundo Bacha (2012) têm funções determinante no
processo de desenvolvimento econômico, tais como: gerar divisas; produzir matérias
primas e alimentos para o mercado local e exterior; transferir mão de obra e capital do
setor agrícola para o não-agrícola e demandar produtos do setor industrial.
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Desta
forma,
o
crescimento
do
setor
agropecuário
representa
um
transbordamento para outras atividades, constituindo uma mola propulsora para o
crescimento e desenvolvimento econômico. As atividades do agronegócio apresentam
um dos maiores índices de encadeamento para frente e para trás e os melhores canais
para a transmissão dos efeitos dessas ligações na estrutura da economia brasileira,
indicando ser este conjunto de atividades importante para receber estímulos que visam o
crescimento sustentado da economia.
O desempenho futuro do setor agrícola brasileiro está relacionado com a criação
de novas alternativas de apoio à produção, de forma a manter a atividade competitiva
com possibilidades de ampliação, via modernização das estruturas produtivas.
A estimativa da função de produção agropecuária agregada para o Tocantins é
também uma agregação de tecnologias, em diferentes estágios. Assim, a agregação
representa a média desses diferentes estágios dos municípios que compõem o Estado e
pode-se dizer que é necessário para a caracterização tecnológica do setor agropecuário
(ALVES, 2002).
Diversos autores vêm, estimando funções de produção do tipo Cobb-Douglas,
com o propósito de compreender como os fatores de produção estão combinados em
determinado sistema produtivo.
Lemos et al (1984) apud Alves (2002) analisaram as elasticidades parciais de
produção e os valores das produtividades marginais e médias, para os fatores terra,
capital e trabalho para os estados brasileiros. Curi (1997) apud Alves (2002) fez uma
análise da eficiência alocativa dos fatores de produção da agropecuária mineira,
evidenciando que os mineiros usam os fatores de produção menos onerosos ao processo
produtivo.
Oliveira e Marques (2002) estimaram essa função para o Estado de Mato
Grosso; Alves (2002) fez um estudo para o Estado do Paraná, determinando os valores
dos coeficientes das elasticidades de produção, os valores dos produtos marginais da
terra, trabalho, investimento e capital.
Dias e Oliveira (2004) entre outros de seus objetivos, fizeram uma análise da
eficiência alocativa dos fatores de produção utilizados pela agropecuária goiana, usando
uma função de produção Cobb-Douglas, evidenciaram que a variável investimento e
financiamento foi a que apresentou maior sensibilidade, indicando que qualquer
3
Atas Proceedings | 3663
VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente
e Desenvolvimento Rural
incentivo em aumentar o financiamento resulta numa variação crescente da produção
para o Estado de Goiás.
Assim sendo, este estudo centra-se no Estado do Tocantins, criado em 05 de
outubro de 1988, considerando as duas mesorregiões Ocidental e Oriental e as oito
microrregiões: Araguaína, Bico do Papagaio, Gurupi, Miracema do Tocantins, Rio
Formoso, Dianópolis, Jalapão e Porto Nacional. Subdivide-se em 139 municípios de
acordo com a divisão adotada pelo IBGE (2011). Com uma área de 277.620,9 Km²,
participa com 7% em relação à área da região Norte (3.869.637) e 3,3% do território
nacional, sendo Palmas a capital do estado. Limita-se ao norte com os Estados do
Maranhão e do Pará; ao sul com o Estado de Goiás; a leste com os Estados do
Maranhão, do Piauí e da Bahia; e a oeste com os Estados do Pará e do Mato Grosso. Em
território tocantinense, as distâncias máximas são de 899,5 km na direção norte-sul, e
entre os pontos extremos leste-oeste são 615,4 km.
O potencial agrícola do Tocantins é elevado, pois 60% da superfície do Estado
são de solos agricultáveis e mais de 25% apresentam condições de produção, se for
utilizada a tecnologia já disponível. Cerca de 430 mil hectares são utilizados para
atividades agrícolas, principalmente na produção de soja, frutas, cana-de-açúcar, milho,
algodão e arroz irrigado. Dados do IBGE (2010) revelam que a sojicultura, principal
produto agrícola, apresentou no ano de 2012, 52% na participação das principais
culturas temporárias em termo de área colhida. A produção de soja do Tocantins
aumentou em mais de seis vezes entre 2000 e 2009 (144 mil toneladas em 2000 para
875 mil toneladas em 2009). A área colhida cresceu 14% ao ano, em quase duas
décadas, e a produtividade média ficou em 2,5 toneladas por hectare (FEITOSA, 2011).
Houve, também, uma reintrodução do cultivo da cana de açúcar, nos últimos
anos, levando à instalação de uma unidade da Bunge Açúcar e Álcool no município de
Pedro Afonso. Além disso, a plantação de milho vem apresentando crescimento
constante, desde 2001, uma vez que é plantado como cultura rotativa nas áreas de arroz
e de soja.
No entanto, apesar da expansão das últimas décadas, a produção agrícola
tocantinense é modesta, quando comparada à nacional. Exceção do arroz, que ocupou a
quinta posição no ranking nacional, em 2011, já a produção de melancia e de abacaxi
ficou entre as dez maiores do país. A produção de melancia, 88.135 t, obteve a 8ª
4
3664 | ESADR 2013
Sistemas de Conhecimento e Inovação para o Desenvolvimento Agrícola e RuralP11
posição e a de abacaxi com 48.657 mil frutos, ocupando o 9º lugar entre os estados
produtores. O milho representa 0,5% da produção nacional, a soja representa apenas
1,5% e a cana de açúcar 0,1% (IBGE, 2011).
As pastagens, por sua vez, ocupam a maior parte das terras do Tocantins, com
56%. A criação do gado bovino concentra-se na parte norte, principalmente na região de
Araguaína, aparecendo como a principal atividade agropecuária. Em 2010, o estado
contava com 8 milhões de hectares de pastagens e com um rebanho de 6 milhões de
cabeças, com elevada participação das raças gyr para corte e leite, e nelore para corte.
Em 2012, o rebanho atingiu 7,6 milhões de cabeças, um crescimento médio anual de
7,8%, número bem acima da média nacional que foi de 6%; na região Norte, a taxa de
crescimento médio foi de 9%. (IPEA, 2012)
As condições naturais são consideradas essenciais para o sucesso da
agricultura, assim como a logística do escoamento, por meio do transporte multimodal
em fase de implantação, mais especificamente dos meios hidro-ferroviários. Contudo, a
maior parte da produção agrícola produzida ainda é vendida in natura e transportada via
Rodovia Belém-Brasília.
Destarte, dada a relevância do conhecimento das peculiaridades do setor a
estimação da função de produção Cobb_Douglas se faz necessária para analisar as
características da produção agropecuária agregada para o Estado do Tocantins.
Isso posto, este artigo está divido em 4 partes, além desta introdução. A seguir
será apresentada a seção 2, que trata dos procedimentos metodológicos, enquanto a
seção 3 apresenta os principais resultados e discussão. As considerações finais
sumarizam o trabalho.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Modelo Teórico
A teoria utilizada neste trabalho foi a Teoria da Produção, que consiste em uma
análise de como os agricultores combinam os vários insumos para obter determinado
volume de produção de forma economicamente eficiente. A Função de Produção pode
ser definida como sendo a relação que indica a quantidade máxima que se pode obter de
um produto, por unidade de tempo, a partir da utilização de uma determinada
5
Atas Proceedings | 3665
VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente
e Desenvolvimento Rural
quantidade de fatores de produção, e mediante a escolha do processo de produção mais
adequado (Varian, 2000).
A função de produção é utilizada para a identificação da ineficiência dos
recursos produtivos utilizados no processo, ou até identificar as unidades produtivas
eficientes e as ineficientes. Descobrindo assim as melhores práticas e as melhores
formas de utilização dos recursos tecnológicos disponíveis.
De acordo com Varian (2000) e Alves (2002), matematicamente, a função de
produção pode ser representada por:
(1)
Y=f(
, ......
,
)
Onde Y é a variável dependente que corresponde a quantidade produzida;
,...,
,
são as variáveis independentes, representando os fatores de produção.
Fazendo-se a derivada parcial da função de produção em relação ao fator,
obtém-se o Produto Marginal do fator
(Pmg ), mantendo os demais fatores
constantes (DEBERTIN, 1986):
(2)
=
PMg
|
= constante
O Produto Médio do fator
(PMe ) é a relação entre as quantidades do
produto e o fator em análise:
(3)
PMe
=
A elasticidade parcial de produção
é igual à variação percentual do produto
dividida pela variação percentual de insumo. Também é igual à relação entre o PMgx i e
PMexi:
(4)
=
=
6
3666 | ESADR 2013
Sistemas de Conhecimento e Inovação para o Desenvolvimento Agrícola e RuralP11
A elasticidade de produção consiste na razão entre variações relativas na
produção e nos fatores. Indica a resposta em produção, provocada por variações nos
fatores, isto é, mede a sensibilidade da produção em relação à mudança do nível de uso
dos fatores.
Em uma função tipo Cobb-Douglas, a elasticidade de produção é dada pelos
coeficientes de regressão, pois a elasticidade de uma função exponencial é dada pelo seu
expoente. O parâmetro de retorno à escala, também chamado de função coeficiente por
Debertin (1986) é dado pela soma das elasticidades parciais de produção dos n(s)
fatores da função de produção:
(5)
No presente trabalho foi utilizada a função Cobb-Douglas, a qual é uma
ferramenta que melhor auxilia na obtenção de informações que subsidiam estudos como
este. Para estudos desta natureza a literatura indica a utilização da função do tipo CobbDouglas, visto que proporciona resultados importantes do ponto de vista da agregação.
Isto facilita a interpretação, pois a função poder se tornar linear na forma logarítmica e,
se tornar de fácil ajustamento. A forma funcional da produção tipo Cobb-Douglas é
dada pelo modelo descrito abaixo:
(6)
ou, expressa nos logaritmos, como é utilizada no presente trabalho:
(7)
onde
Y = produção total;
A = parâmetro de eficiência;
7
Atas Proceedings | 3667
VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente
e Desenvolvimento Rural
n = número de variáveis independentes;
ai = elasticidade-parcial de produção em relação ao i-ésimo fator;
Xi = quantidade da i-ésima variável explicativa;
ui = termo aleatório.
A função do tipo Cobb-Douglas possui características tais que permitem a
realização de uma regressão linear múltipla.
A elasticidade parcial de produção identifica qual é o estágio da produção, na
época de sua realização, destacando, o estágio de produção que a mesma foi realizada,
se em situação economicamente racional ou irracional, ou seja, ela quantifica a variação
do volume de produção, relacionando com as variações na utilização dos insumos.
Se a elasticidade parcial é (p  1) a produção está sendo realizada no estágio I,
onde o produto total cresce a taxas crescentes e decrescentes até o ponto em que a
produtividade marginal do fator variável iguala a produtividade média deste fator em
seu máximo, isto é, corresponde aos rendimentos médios crescentes dos insumos.
Se 0  p  1, a produção está sendo realizado no estágio II. Nesse estagio o
produto total cresce a taxas decrescentes até seu máximo, sendo a produtividade
marginal do fator variável sempre decrescente até o ponto onde ela iguala-se a zero,
correspondendo a rendimentos médios decrescentes.
Se p  0 está sendo realizado no estágio III em que o produto total é decrescente
sendo a produtividade marginal do fator variável decrescente e negativa, isto significa
que há unidades adicionais do insumo variável neste estágio provocando declínio no
produto total. Os estágios I e III são, portanto, considerados irracionais. Desse modo, a
produção deve ocorrer entre os limites do estágio II (VARIAN, 2000).
Outra vantagem da função do tipo Cobb-Douglas é a natureza dos rendimentos
de escala que pode ser determinada pela soma dos coeficientes estimados pela
regressão. Segundo Oliveira (1966) apud Alves (2002) as principais características da
função tipo Cobb-Douglas são:
a) permite produtividade marginal constante, crescente e decrescente, mas só
pode avaliar uma fase de cada vez;
b) estima uma elasticidade de produção constante, dada pelos coeficientes de
regressão;
c) a soma dos coeficientes indica os retornos à escala;
d) a produtividade marginal de um recurso depende do nível dos outros
recursos;
8
3668 | ESADR 2013
Sistemas de Conhecimento e Inovação para o Desenvolvimento Agrícola e RuralP11
e) um recurso nunca pode ser completamente substituído por outro;
f) conduz a uma Taxa Marginal de Substituição (TMgS) constante quando os
fatores variam em proporções fixas, isto é, a TMgS é constante na linha de
escala;
g) facilita a derivação de produtos marginais;
h) permite maiores facilidades de computação porque poderá ser usada na
forma logarítmica;
i) pode-se estudar grande número de variáveis sem que o processo estatístico
se torne muito complicado; e
j) a TMgS é dada pela relação inversa das elasticidades de produção, isto é,
multiplicando-se os coeficientes pela relação direta dos fatores considerados.
Dito de outra forma a função Cobb-Douglas permite uma série de inferências,
possibilitando a análise e interpretação de quais são os procedimentos e tecnologias que
estão influenciando a produção no Estado do Tocantins.
Modelo Empírico
A função de produção agropecuária agregada para o Estado do Tocantins dos
139 municípios tendo como referência os dados do censo agropecuário de 2006 o qual é
expressa no modelo empírico de equações (8 e 9):
(8)
VPT = A * ATβ1 * K β2 * MO β3
ou, expressa nos logaritmos, como é utilizada no presente trabalho:
(9)
LVPTi = βj + βj LATi + βj LKi + βj LMOi + µi
onde,
• LVPTi é o logaritmo natural do valor da produção total agregada do setor
agropecuário (animal e vegetal), em cada um dos municípios, medido em R$
(reais);
• LATi é o logaritmo natural da área total (lavouras permanente e temporária;
pastagens natural e plantada; matas natural e plantada), utilizada para os
municípios, medida em hectares;
• LKi é o logaritmo natural do fluxo de capital (financiamento/investimento) total
que compreende todas as modalidades de crédito ou financiamento, segundo a
9
Atas Proceedings | 3669
VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente
e Desenvolvimento Rural
origem (bancos, entidades governamentais e outras fontes) e a finalidade
(investimento, custeio e comercialização), medido em R$ (reais);
• LMOi é o logaritmo natural do fluxo de serviços da força de trabalho total
ocupada que abrange todas as pessoas, com ou sem remuneração, que na data do
Censo
encontravam-se
executando
serviços
ligados
às
atividades
do
estabelecimento. Os valores foram convertidos em equivalente-homem
adotando-se a seguinte ponderação: homens acima de 14 anos (1,0); mulheres
acima de 14 anos (0,7).
• βj é o parâmetro associado à variável explicativa j = 0, 1, 2, 3;
• µi é o resíduo associado à observação do município i; e
• i é município = 1, 2, 3, 4,..., 139.
Usou-se, nas estimativas o método de mínimos quadrados ordinários (MQO),
levando-se em consideração os seguintes pressupostos (GUJARATI, 2000):
i) L VPT i = β0 +β1LATi + β2LKi + β3LMOi + µi
ii) E(µi) = 0,
iii) E(
)=
i = 1, 2, 3,.....139;
i = 1, 2, 3,.....139;
,
i = 1, 2, 3,......139;
iv) E(µi, µj) = 0,
i ≠ j;
v) LVPTi são fixas
vi) há ausência de relação linear entre as variáveis explicativas;
vii) µ ~ N(0,
)
i = 1, 2, 3,......139;
Espera-se que os parâmetros β1 > 0; β2 > 0; β3 > 0 sejam positivos e atendam as
seguintes hipóteses a serem testadas neste trabalho:
i)
ii)
iii)
espera-se que um aumento (redução) na área total plantada tende a
aumentar (reduzir) o valor da produção, e;
um aumento (redução) no capital (financiamento e investimento) tende a
aumentar (reduzir) o valor da produção, e;
um aumento (redução) na mão de obra tende a aumentar (reduzir) o valor
da produção.
Esperam-se sinais positivos para todos os coeficientes das variáveis ATi Ki MOi
mas com magnitude dos números entre 0 e 1, pois acima de 1 e negativos estar-se-á nos
estágios irracionais, conforme descrito no modelo teórico.
Atenta-se para o produto marginal do fator (PMgxi), o qual não deve ser
confundido com o valor do produto marginal do fator (VPMg xi), uma vez que se
10
3670 | ESADR 2013
Sistemas de Conhecimento e Inovação para o Desenvolvimento Agrícola e RuralP11
trabalhou com o valor da produção, pois é praticamente impossível trabalhar uma
função agregada de produção em termos de unidades físicas de produto.
Para a realização da regressão e os testes econométricos, que são o teste t de
student e o teste F, foi utilizado o software Econometric EViews versão 5.0.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nesta seção serão apresentados e discutidos os resultados obtidos pela estimativa
da função de produção Cobb-Douglas agregada. O modelo mostrou-se relevante para os
fins analíticos pretendidos. Na primeira parte apresenta-se as estatísticas descritivas das
variáveis utilizadas, a seguir a estimativa da função de produção bem como a análise
econômica.
Na Tabela 1 estão sumarizadas as estatísticas descritivas das variáveis
utilizadas no modelo. A média do valor da produção agropecuária do Tocantins foi de
R$9.860,19. O município que apresentou o maior valor de produção foi Campos Lindo
com R$60.302,00, nesse encontra-se grandes produtores rurais cultivando soja com
multinacionais instaladas para armazenamento do produto como Cargil e Bunge. Desde
2005, o município é campeão estadual de exportação de soja, em 2008 a produção de
soja representou cerca de 26% da produção estadual. O município Rio da Conceição
apresentou o menor valor de produção com R$56,00. É considerado o portal do Jalapão
cercada de cachoeiras, rios e habitado pelos índios Xerente, sua economia está centrada
no turismo e na agricultura de subsistência, com pouco valor agregado.
A área total utilizada no Estado apresentou média de 56.647,55 hectares.
Observou-se que o município Paranã apresentou a maior área utilizada com 494.154
hectares e o município de Combinado com a menor área, 166 hectares.
A média do capital (investimento e financiamento) no Tocantins foi de
R$4.103,71. O município de Campos Lindos, maior produtor de soja, apresentou o
maior investimento e financiamento num total de R$31.162,00, em contrapartida Lagoa
do Tocantins apresentou a menor média de capital, investido na propriedade, ficando na
ordem de R$201,00.
11
Atas Proceedings | 3671
VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente
e Desenvolvimento Rural
TABELA 1 – Descrição estatística das variáveis utilizadas
Variável
Amostra
Valor da Produção Agrícola (R$)
Área Total (ha)
Capital (Investimento/financiamento) (R$)
Mão de Obra
Fonte: Resultado da Pesquisa
139
139
139
139
Média
Valor
Máximo
60.302,00
494.154
31.162,00
3.107
Valor Mínimo
9.860,19
56.647,55
4.103,71
1.027
59,00
166
201,00
79
A média de mão de obra dos 139 municípios do Tocantins foi de 1.027
trabalhadores (homens e mulheres acima de 14 anos). O município de Arraias
apresentou o maior número de trabalhadores no campo com 3.107 e o município com
menor número de empregados rurais foi Xambioá 79.
Os resultados econométricos estimados da função de produção do tipo CobbDouglas indicaram que 52% da variação total ocorrida no valor da produção se
explicam pelas variações dos fatores terras totais, capital (financiamento/investimento) e
mão
de
obra.
Os
coeficientes
das
variáveis
área
total,
capital
(financiamento/investimento) e mão de obra mostraram-se estatisticamente diferentes de
zero, o que demonstra a importância deles em termos de política agrícola para o Estado
do Tocantins (Tabela 2).
TABELA 2 - Estimativa da função de produção do setor agropecuário agregado, para o
Estado do Tocantins, 2006.
Variável
Coeficientes
Erros-Padrão
t- Statistic
Constante
0,1416
0,7119
0,1988
LAT
0,4114
0,0903
4,5530*
LK
0,2542
0,1080
2,3523**
LMO
0,3300
0,1313
2,5132**
2
R = 0,52
Estatística F = 49,36971
DW=2,11
Multicolinearidade FIV menores que 5
Fonte: Resultado da pesquisa
Notas: (*) significativo a 1%, (**) significativo a 5%. Nos testes econométricos (White Heteroscedasticidade, FIV e
de normalidade dos resíduos) aceitou-se Ho , significando que o modelo está sem problemas econométricos.
A estatística F (49, 3697) demonstra a validade explicativa do conjunto das
variáveis satisfazendo todas as pressuposições teóricas básicas do modelo de regressão
linear clássico. O teste t-student estimados para cada variável independente, foram
significativos a 1% e 5% rejeitando assim H o para cada variável isolada, implicando que
12
3672 | ESADR 2013
Sistemas de Conhecimento e Inovação para o Desenvolvimento Agrícola e RuralP11
cada variável independente exerce explicação sobre o valor da produção. Para o teste de
Durbin-Watson observa-se que o dc = 2,11 encontra-se na área de aceitação (com α =
5%), indicando que não há autocorrelação serial dos resíduos. Por meio do teste de
White constatou-se que o modelo não é heterocedástico. Os erros ui que aparecem na
regressão populacional são homocedásticos, ou seja, as observações têm a mesma
variância.
Com relação ao teste de normalidade dos resíduos, elaborado através do teste
de Jarque-Bera, apresentou o Valor-P de 25% de probabilidade de aceitar a H o, de que
os resíduos possuem distribuição normal. Para verificar a multicolinearidade foi
aplicado o teste FIV (Fator da Inflação da Variância), com o qual contatou-se que o FIV
calculador foi menor que 5 em todas as etapas. A matriz de correlação entre as variáveis
explicativas apresentou coeficientes de correlação relativamente baixo (r < 0,75),
mostrando que não existe multicolinearidade no modelo.
Na Tabela 3 estão expostas as elasticidades parciais de produção para cada fator,
sua produtividade média, sua produtividade marginal e retornos à escala.
TABELA 3 – Elasticidade parcial de produção, valor do produto médio e do produto
marginal de cada fator de produção e retorno à escala para o setor agropecuário
agregado,Tocantins 2006
Variável
Área (ha)
Capital (Financiamento/Investimento)
Mão de Obra
Retorno à escala
Fonte: Resultado da pesquisa
Elasticidade Parcial
VPMe
VPMg
0,41
0,25
0,33
0,99
0,17
2,40
9,60
-
0,07
0,60
3,80
-
As elasticidades parciais de produção para cada fator são dadas diretamente aos
fatores na função Cobb-Douglas, na qual seus valores são: 0,41; 0,25 e 0,33 para os
fatores área, capital e mão-de-obra respectivamente. Percebe-se que todos os fatores
analisados na regressão, indicam que estão na região racional de produção (estágio II de
produção), em que o valor de seus produtos marginais são positivos e suas elasticidades
estão entre zero e um. Tem-se ainda que o valor da variável área total apresentou maior
elasticidade parcial de produção (0,41) (Tabela 3).
A elasticidade total de produção é 0,99, o que traduz retornos constantes à escala
(Estágio II); dessa maneira, quando todos os fatores de produção forem aumentados em
13
Atas Proceedings | 3673
VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente
e Desenvolvimento Rural
mil unidades, o valor da produção aumentará em R$990,00. O fator terra (área em ha)
apresentou elasticidade parcial de 0,41%, ou seja, para cada um 1% de aumento nesse
fator, a produção tende a aumentar em 0,41%. O valor da produção é medido em
R$1.000,00, isto quer dizer que o último hectare plantado contribuiu para o aumento no
produto médio em R$170,00 e R$70,00 no produto marginal. A elasticidade parcial do
capital (financiamento/investimento) indica que o aumento de 1% provoca acréscimo de
0,25% no valor da produção. A unidade do fator R$1.000,00 de capital (investimento e
financiamento) tende a aumentar o valor do produto médio em R$2.402,00 e R$600,00
no valor do produto marginal.
Em relação à mão de obra, observa-se que o acréscimo de uma unidade tende a
aumentar o valor da produção em 0,33%, o valor do produto médio em R$9,60 e R$3,80
no valor do produto marginal. No caso do fator mão-de-obra, os dados dos dois últimos
censos mostram queda do pessoal ocupado em atividades agropecuárias em todo o
Brasil, esse fenômeno também foi constatado no Tocantins, mas ainda a mão de obra é
relevante na produção agropecuária no Estado, mesmo com a modernização agrícola.
Em fim a evidência indica que o retorno à escala é de natureza constante a
crescente, tendo como fator principal a área total, mão de obra e capital
(financiamento/investimento) que foi de caráter expressivo. Os resultados deste estudo
corroboram com os resultados encontrados por Alves (2002), Dias e Oliveira (2004)
quando estes analisaram a função de produção agropecuária agregada para o estado do
Paraná e para o Estado de Goiás respectivamente, com dados do censo agropecuário de
1995-1996.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo estimar e analisar a função de produção
agropecuária agregada do Estado do Tocantins, especificamente pretendeu identificar os
principais fatores determinantes da produção e em que estágio de produção o estado se
encontra.
Pela estimação de uma função de produção Cobb-Douglas agregada para o
Estado do Tocantins, o coeficiente de determinação (R2), foi da ordem de 52%, o que
constitui evidência de um coeficiente relativamente bom.
14
3674 | ESADR 2013
Sistemas de Conhecimento e Inovação para o Desenvolvimento Agrícola e RuralP11
Analisando os 139 municípios do Estado do Tocantins, o estudo da função de
produção agropecuária leva ao conhecimento das variáveis importantes que podem
afetar a produção do Estado. Decisões políticas podem ser tomadas analisando-se a
utilização racional dos recursos que oferecem maiores retornos.
De acordo com os resultados a variável área total foi a que apresentou a maior
sensibilidade. Isto indica que qualquer incentivo em aumentar área resulta numa
variação crescente da produção, sua elasticidade parcial foi 0,41. A variável mão de
obra apresentou a menor elasticidade parcial de 0,33, pode-se inferir que a agricultura e
pecuária do Estado do Tocantins possui alto grau utilização dessa variável. Para a
variável capital (financiamento/investimento) a elasticidade mostrou-se significativa
indicando que políticas de financiamento tente aumentar a produção no Estado,
principalmente de soja, milho e cana de açúcar.
Os fatores se mostraram satisfatórios dentro do estágio racional de produção
(estágio II) na premissa ceteris paribus, com retornos constantes à escala (conforme
testado estatisticamente) para a função de produção. Os resultados deste trabalho
refletem o momento econômico do Tocantins, com uma economia em formação, mas
com grande potencial de produzir alimentos para o Brasil e o mundo.
Este trabalho não esgota o assunto, sugere para futuras pesquisas uma análise
nacional e que inclua outras variáveis como, mecanização, educação, transporte de
carga e comercialização. Outra sugestão é analisar com mais profundidade a questão da
redução de mão de obra no meio rural.
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VARIAN, Hal R. (2000). Microeconomia: Princípios básicos. Rio de Janeiro: Campus,
5.ed.
16
3676 | ESADR 2013
Sistemas de Conhecimento e Inovação para o Desenvolvimento Agrícola e RuralP11
INOVAÇÃO E EMPREENDEDORISMO NO MEIO RURAL. IDENTIFICAÇÃO
E DIVULGAÇÃO DE BOAS PRÁTICAS NOS SECTORES AGRÍCOLA E
AGRO-INDUSTRIAL
CÁTIA RIBEIRO, LUIS MIRA DA SILVA, CRISTINA MOTA CAPITÃO
INOVISA – Associação para a Inovação e o Desenvolvimento Empresarial (Tapada da
Ajuda 1349-017 Lisboa, Portugal)
[email protected]; [email protected]; [email protected]
Resumo
A inovação e o empreendedorismo são conceitos quase sempre omnipresentes no
discurso do desenvolvimento económico e social, usando-se e abusando-se dos mesmos,
como se o facto de os usarmos muitas vezes pudesse melhorar as condições sociais e
económicas de um sector de actividade ou de uma região desfavorecida. Contudo,
pouco ou nada foi ainda feito para tentar compreender os resultados reais dos
investimentos que têm sido feitos nesta área e sobre os impactos da inovação e
empreendedorismo no meio rural.
O objectivo deste trabalho é analisar e compreender o papel da inovação e do
empreendedorismo no desenvolvimento rural, com particular enfoque nos sectores
agrícola e agro-industrial, mais especificamente nas fileiras das frutas, flores e
hortícolas, olival e vinha, e estabelecer boas práticas para que a inovação e o
empreendedorismo possam ter um papel, no futuro, cada vez mais importante.
Com vista a atingirem-se os objectivos propostos, foram realizadas visitas e entrevistas
a empresas “modelo” dentro do sector, tanto nacionais como internacionais. Com base
nas mesmas construiu-se um inquérito que foi realizado presencialmente a mais de 100
empresas do sector, com o intuito de fazer a sua caracterização, com enfoque na
inovação. Essa informação foi tratada estatisticamente e posteriormente foi cruzada com
dados financeiros de algumas dessas empresas.
Chegou-se assim a vários resultados interessantes, entre os quais o facto de cerca de 90
% das empresas que apostam na inovação simultânea de produtos, processos e
marketing, exportarem os seus produtos, fazendo-o para mercados muito diversificados,
como para a América Latina, América do Norte e Ásia. Pelo contrário, das empresas
que assumem não inovar, apenas 22 % exportam e todas para mercados semelhantes ao
mercado português, na europa mediterrânica. Outros resultados da análise efectuada
serão apresentados nesta comunicação.
Palavras-chave: desenvolvimento rural, inovação, empreendedorismo, exportação.
Atas Proceedings | 3677
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VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente
e Desenvolvimento Rural
Introdução
Este projecto, financiado pelo programa PRRN (Programa para a Rede Rural Nacional,
do PRoDeR), foi realizado em parceria pelo Instituto Superior de Agronomia (ISA /
Universidade de Lisboa), INOVISA – Associação para a Inovação e Desenvolvimento
Empresarial e AJAP - Associação de Jovens Agricultores de Portugal. O trabalho
efectuado teve por objectivo geral identificar e divulgar boas-práticas nos sectores
agrícola e agro-industrial e analisar e compreender o papel da inovação e do
empreendedorismo no desenvolvimento do mundo rural, com particular enfoque nos
sectores agrícola e agro-industrial e mais especificamente nas fileiras das frutas, flores e
hortícolas, olival e vinha. Pretendeu-se, igualmente, estabelecer boas-práticas para que a
inovação e o empreendedorismo possam ter um papel, no futuro, cada vez mais
importante. Em termos mais concretos, o projecto visava atingir os seguintes objectivos:
analisar modelos de inovação e empreendedorismo no meio rural, a nível internacional;
analisar o impacto da inovação e do empreendedorismo no desenvolvimento rural em
Portugal, nos sectores agrícola e agro-industrial, particularmente nas fileiras das frutas,
flores e hortícolas, olival e vinha; estabelecer e divulgar boas-práticas de inovação e
empreendedorismo, tendo em vista o desenvolvimento social e económico das zonas
rurais.
Este projecto é um projecto de ordem prática, suportado por informação concreta e real,
com objectivos muito específicos que teve uma calendarização própria decidida a
priori. Assim, nunca houve a presunção de ser um projecto académico nem tão pouco
de cariz científico. Deste modo alerta-se para o facto de não se ter feito qualquer revisão
bibliográfica, nem se ter seguido rigorosamente uma metodologia específica, nem tão
pouco se tenha procurado realizar uma análise estatística muito robusta.
Não se fez nada disto porque não eram esses os objectivos do projecto, tendo cada tipo
de estudos o seu próprio lugar no que se refere a outputs relevantes para o aumento do
conhecimento geral.
Em vez de uma revisão bibliográfica, fez-se um levantamento de informação e de
projectos anteriormente realizados, ou a decorrer, nesta área e foi-se ao terreno
“perceber” a realidade. Em detrimento da utilização rigorosa de uma metodologia,
“criou-se” uma que permitisse atingir os objectivos da forma mais expedita possível
2
3678 | ESADR 2013
Sistemas de Conhecimento e Inovação para o Desenvolvimento Agrícola e RuralP11
com a informação que se conseguiu obter. A análise estatística de dados robusta foi
substituída por uma análise simples mas “sincera”, em que não existiu “manipulação”
de dados.
Metodologia
No início deste projecto foram realizadas entrevistas (essencialmente com perguntas
abertas) a empresas consideradas exemplares em termos de boas-práticas de inovação e
empreendedorismo no meio rural, tanto nacionais como internacionais.
Com base nestas entrevistas construíram-se inquéritos (essencialmente com perguntas
fechadas) que foram realizados a explorações agrícolas e a agro-indústrias, por técnicos
da AJAP e da INOVISA. Com estes inquéritos recolheu-se informação qualitativa e
quantitativa sobre as empresas, com especial enfoque na área da inovação (quadro I).
As empresas/explorações inquiridas foram escolhidas tendo por base o facto de
utilizarem um software de gestão específico (desenvolvido pela empresa Agrogestão),
de modo a ser possível, numa fase posterior, recolher e analisar os seus dados
financeiros.
Posteriormente, os dados dos inquéritos foram analisados utilizando uma estatística
muito simplificada e, numa fase subsequente, foram cruzados com os dados financeiros
(indicadores financeiros). Foi possível assim cruzar a informação directamente
fornecida pelas empresas / agricultores (de carácter qualitativo) com os resultados
financeiros realmente obtidos (ou seja, na prática, procurando medir de forma muito
objectiva o impacto da inovação e do empreendedorismo).
Por fim, e porque se achou necessário, após a análise de toda a informação recolhida,
escolheram-se duas empresas, de duas fileiras distintas, para se obter respostas às
perguntas que foram surgindo com a análise da informação – case studies.
3
Atas Proceedings | 3679
VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente
e Desenvolvimento Rural
QUADRO I – Informação recolhida através dos inquéritos
Recursos Humanos
Exportação
Tempo de existência das empresas
Empresas exportadoras
Origem da entidade
Nº de produtos exportados
Capital
Colaboradores dedicados à exportação
Tipo de empresa (por VN)
Peso da exportação no VN (%)
Tipo de empresa (por nº de colaboradores)
Destinos das exportações
Hectares de produção própria
Modo de exportar
Colaboradores por faixa etária
Certificação que possui
Grau de formação académica dos
colaboradores
Entraves à exportação
Inovação
Inovam, em pelo menos, 1 das três áreas
Finalidade da melhoria/inovação?
Colaboradores dedicados à inovação
Possui página Web
Nº de produtos em portfólio
O que permite fazer a página?
Existência de produtos inovadores
Marketing: que alterações introduziu nos
últimos 2 anos?
Quem desenvolve os produtos inovadores
Inovar nas 3 áreas
Os produtos distinguem-se verdadeiramente
da concorrência?
Produtos inovadores lançados nos últimos 2
anos.
Inovar nas 3 áreas
Possuir processos inovadores.
Modalidades de protecção
Financiamento em inovação com retornos
positivos
Processos inovadores desenvolvidos/aplicados nos últimos 2 anos.
4
3680 | ESADR 2013
Sistemas de Conhecimento e Inovação para o Desenvolvimento Agrícola e RuralP11
Caracterização da amostra
Foram inquiridas 114 empresas, no entanto, após uma primeira análise verificou-se que
apenas 111 inquéritos estavam passíveis de fazerem parte do estudo.
Do universo de amostragem, 68% das empresas são inteiramente agrícolas, 10% são
agro-indústrias e 22% operam em ambos os ramos de actividade. Existem empresas que
especializaram os seus serviços actuando numa única fileira, enquanto outras possuem
actividades em duas ou três fileiras, sendo que pouco mais de um terço actua na fileira
da pecuária e/ou do vinho (Quadro II). Em relação ao capital, este é maioritariamente
português (em 98% dos inquiridos).
QUADRO II – Percentagem de empresas amostradas por ramo de actividade e por
fileira
Ramos de actividade
Agrícola
68%
Agro-industrial
10%
Agrícola e agro-industrial
22%
Fileira de actuação
Pecuária
38%
Vinha
37%
Cereais
27%
Hortofrutícolas e floricultura
22%
Olival
21%
Os recursos humanos amostrados são “jovens” (maioritariamente entre os 30 e os 49
anos) e “instruídos” (a maioria das empresas possui pelo menos um colaborador com
formação superior), denotando-se alguma transferência sistemática de conhecimento
entre universidades e as empresas, como se comprou nas entrevistas aos case study.
Verifica-se, também, que as fileiras do olival e da vinha são as que mais inovam tanto
ao nível dos processos, como dos produtos e do marketing. Mais de metade das
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Atas Proceedings | 3681
VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente
e Desenvolvimento Rural
empresas destas fileiras inova nestes parâmetros, contra cerca de um terço (ou menos)
das empresas das fileiras da pecuária e dos cereais. A fileira da hortifruticultura e flores
apresenta-se como um caso intermédio, uma vez que em relação a inovações de
marketing perfila pelas fileiras menos inovadoras, mas no que diz respeito aos
processos, assemelha-se às fileiras do olival e da vinha (Quadro III). A percentagem de
empresas que inova a nível dos produtos situa-se entre os valores dos dois grupos
(40%). Curiosamente, ou não, as fileiras que mais inovam são também as que possuem
maior percentagem de empresas com página web e as que possuem algum tipo de
modalidade de protecção, sendo a eleita o registo de marca. Apenas uma das empresas
possui registo de marca.
QUADRO III- Percentagem de empresas que inovam em cada um dos parâmetros por
fileira
Fileira
Olival
Vinha
Hortofrutícolas
Cereais
Pecuária
Produtos
Inovadores
69,6%
68,3%
41,7%
20%
23,8%
Processos
Inovadores
52,2%
65,9%
54,2%
36,7%
31,0%
Alterações no
Marketing
52,2%
63,4%
25%
13,3%
19%
Página
Web
68,2%
82, 9%
31, 8%
13, 8%
22,5 %
Independentemente da fileira em que operam, a finalidade da introdução das inovações
prende-se com a melhoria da qualidade (40%) e com o aumento de eficiência que
conduz a uma redução de custos (cerca de 30%).
Em relação à exportação, cerca de 50% das empresas amostradas exportam, sendo a
fileira da vinha a que fileira que mais exporta. Os principais destinos de exportação são
a Europa Central e do Norte (68%) e a Europa Mediterrânea (57%). Contudo, os
destinos de exportação dos produtos agrícolas e agro-industriais são tão distintos como
os países da América do Norte, da América Latina, da Ásia (oriente) e da África.
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3682 | ESADR 2013
Sistemas de Conhecimento e Inovação para o Desenvolvimento Agrícola e RuralP11
Apesar de muito se exportar, existindo empresas cujo volume de negócios provém
sobretudo das exportações, foram apontados vários entraves às mesmas, entre os quais
as dificuldades burocráticas e administrativas e a concorrência internacional.
Resultados
Após a caracterização da amostra total dividiu-se a mesma em empresas inovadoras e
empresas conservadoras (entendendo-se aqui como conservadoras as empresas que não
são inovadoras). A amostra das empresas inovadoras é composta pelas empresas que no
inquérito responderam que realizam inovações com regularidade (pelo menos nos
últimos dois anos) a pelo menos em um dos três níveis: produtos, processos ou
marketing. A amostra das empresas conservadoras é composta por todas as empresas
que admitiram não inovar em nada.
Utilizando apenas a informação recolhida nos inquéritos tentou-se perceber se existem
características diferenciadoras entre os dois extremos da inovação: as empresas que
inovam a todos os níveis (produtos, processos e marketing) e as empresas que não
inovam em nada. Obtiveram-se resultados muito interessantes no que diz respeito a este
assunto (Quadro IV).
Por um lado, em corroboração com o que foi descrito anteriormente, a maioria das
empresas inovadoras pertencem à fileira da vinha e do olival. O extremo oposto
(empresas conservadoras) é composto, sobretudo, por empresas das fileiras da pecuária
e dos cereais.
Caracterizando as empresas inovadoras, 33% das mesmas possuem mais de 5
colaboradores com formação superior, todas possuem página web, todas estão
protegidas pelo registo de marca e 89% das mesmas exporta. No extremo oposto
(empresas conservadoras), 22% não possuem qualquer colaborador com formação
académica, 91% não possuem qualquer modalidade de protecção, só 4,3% possui página
web e apenas 22% exporta.
Contudo os resultados mais interessantes prendem-se com a ligação nítida entre inovar e
exportar. Para além da diferença nas percentagens de exportações (a maioria das
empresas inovadoras exporta, contra um terço das empresas conservadoras) existe uma
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Atas Proceedings | 3683
VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente
e Desenvolvimento Rural
grande diferença nos destinos de exportação: as empresas inovadoras exportam para os
4 continentes, sendo os principais destinos a América Latina e do Norte e a Ásia,
enquanto as empresas conservadoras apenas exportam para a Europa Mediterrânea
(quadro IV e V).
Quadro IV – Diferenças mais relevantes entre empresas que inovam a nível dos
produtos, processos e do marketing e entre empresas conservadoras
Variáveis
Inovadoras *
Conservadoras
Colaboradores com
formação superior
5% não possui
22% não possui
33% possui mais de 5
Possuem página web
100%
4,3 %
Possuem alguma
modalidade de protecção
100%
8%
Exportam
89%
21,5%
Presente em todos os mercados
100 % - apenas
para a Europa
Mediterrânea
Destinos de exportação
81% - América Latina e do Norte;
75% - Ásia;
62,5% - Filo-Escandinávia; Europa
Mediterrânea
*Empresas que inovam tanto ao nível em todas as áreas: produtos, processos e
marketing
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3684 | ESADR 2013
Sistemas de Conhecimento e Inovação para o Desenvolvimento Agrícola e RuralP11
QUADRO V – Percentagem de empresas que exportam para cada destino.
Destinos
Percentagem
(%)
Europa Central e do Norte (Alemanha, Holanda, Inglaterra,
Luxemburgo, Suíça, Irlanda e Bélgica, França)
67,9
Países de Leste (Polónia, República Checa, Eslovénia, Letónia,
Áustria, Croácia, Letónia, Ucrânia, Lituânia, Estónia)
19,6
Europa Mediterrânea (Espanha, Itália)
57,1
Escandinávia (Finlândia, Suécia, Noruega, Dinamarca)
39,3
PALOP (S. Tomé, Cabo Verde, Moçambique e Angola)
41,1
Países Africanos (Marrocos, Quénia, África do Sul)
7,1
América Latina (Brasil, Guatemala, Argentina, Venezuela)
53,6
América do Norte (EUA e Canadá)
53,6
Oriente (China, Tailândia, Hong-Kong, Macau, Taiwan, Indonésia,
Singapura, Japão)
48,2
Outros (Austrália, Rússia e Guiné-Bissau)
7,1
Por outro lado, a informação financeira revelou resultados pouco interessantes.
Comparou-se o desempenho financeiro das 5 empresas mais inovadoras com o das
restantes empresas da amostra (que facultaram informação financeira dos últimos 5
anos), através de indicadores financeiros (autonomia financeira, rentabilidade líquida de
capitais próprios, rentabilidade do activo e taxa de crescimento anual).Os indicadores
foram escolhidos tendo por base os indicadores utilizados pelo IAPMEI para o ranking
da PME líder.
Observando os resultados dessa comparação, verifica-se que a inovação não traz,
aparentemente, benefícios concretos e observáveis em termos financeiros, sendo
excepção a média da taxa de crescimento (do volume de negócios): as empresas
inovadoras apresentam, para a média dos cinco anos, crescimentos na ordem dos 23%,
enquanto as restantes empresas apresentam taxas de crescimento na ordem dos 5%.
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Atas Proceedings | 3685
VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente
e Desenvolvimento Rural
QUADRO VI – Indicadores financeiros: resultados médios para 5 anos das empresas
inovadoras e das outras
Autonomia Financeira
Inovadoras
0,38
Outras
0,43
Taxa de Crescimento do Volume de Negócios
Inovadoras
0,23
Outras
0,05
Rentabilidade dos Capitais Próprios
Inovadoras
0,00
Outras
0,06
Rentabilidade Liquida do Activo
Inovadoras
0,01
Outras
0,07
Rentabilidade Liquida por Trabalhador (milhares de euros/trabalhador)
Inovadoras
-704
Outras
-1447
Conclusões
Com este estudo foi possível chegar a algumas conclusões inesperadas sobre o tema da
inovação no sector. Por um lado, e apesar da amostra estar longe de representar o sector
agrícola e agro-industrial nacional, surpreendem pela positiva as características das
empresas inquiridas. De facto, são empresas que têm estruturas jovens (as idades dos
colaboradores situam-se sobretudo entre os 30 e os 50 anos), “instruídas” (a maioria das
empresas possui pelo menos um colaborador com formação superior), e verifica-se que
em muitos casos começa a existir uma transferência sistemática de conhecimento entre
as universidades e as empresas.
Além disso, a juventude e a instrução correlacionam-se, segundo o estudo efectuado,
com a capacidade das empresas em desenvolver inovação. Esta correlação, apesar de ser
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3686 | ESADR 2013
Sistemas de Conhecimento e Inovação para o Desenvolvimento Agrícola e RuralP11
expectável, é fundamental para justificar e defender a aposta em medidas que apoiam os
jovens que queiram desenvolver actividades no sector. A questão da formação também
é muito importante. Numa altura em que a agricultura é tida como uma possível opção
para quem está desempregado, é importante referir que a actividade agrícola e agroalimentar não é para todos, que é uma actividade especializada, e que a formação é
muitas vezes condição necessária para o sucesso.
Outra conclusão a referir é que ambos os sectores (agrícola e agro-industrial) se
aperceberam de que ou apostam na diferenciação dos seus produtos e/ou serviços, ou
“morrem” (são ultrapassados pela concorrência). Deste modo, verifica-se que a
transformação destes sectores tem-se vindo a dar no sentido de aliar a tradição e o
conhecimento empírico secular às novas tecnologias e a uma produção mais sustentável
(redução de custos e/ou aumento da produtividade) e diferenciadora. Quem inova fá-lo
sobretudo porque percebe que a competitividade nesta área não se pode fazer por via
dos preços reduzidos. Não conseguimos baixar os custos dos factores de produção para
valores que nos tornem competitivos à escala global. Quando o mercado é cada vez
mais internacional, isto é, quando dentro e fora do país e da Europa competimos com
produtos provenientes de todos os cantos do mundo, torna-se premente que nos
consigamos diferenciar de algum modo.
Não temos também capacidade de competir com a mão-de-obra barata de alguns países
da Ásia, da América Latina e de África, ou com climas e solos que permitem duas
colheitas ao ano, como as vindimas no nordeste brasileiro. Assim, urge encontrar uma
via para a competitividade, e essa via só pode ser a da qualidade e da diferenciação dos
produtos: conjugar boa matéria-prima com a tradição e o saber secular e transformá-las
em algo único. Foi a esta conclusão que chegaram todas as empresas consideradas
inovadoras deste estudo. Por isso, é natural que os inquiridos dizem que “ou inovam ou
morrem”, porque já se aperceberam que este pequeno rectângulo a que chamamos
Portugal não pode ser a linha de horizonte de comercialização e, mesmo em Portugal, já
lá vai o tempo em que estávamos protegidos do que se produzia e comercializava no
resto do mundo.
De acordo com o referido acima, e tal como revelam os dados, o grande beneficio da
inovação é justamente a abertura de novos mercados. Quem se recusa arriscar, testar e
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Atas Proceedings | 3687
VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente
e Desenvolvimento Rural
alterar vai-se mantendo à tona de água mas apenas e até ser ultrapassado pela
concorrência com preços mais atractivos, no mercado interno e em mercados
semelhantes ao nosso e com os quais concorremos directamente (por exemplo, países
mediterrâneos).
À primeira vista, em termos financeiros (e mais uma vez olhando para os resultados
obtidos), poder-se-ia dizer que a inovação piora os resultados financeiros das empresas.
Contudo, numa observação mais detalhada dos dados, e após discutir os resultados com
as empresas mais inovadoras (case studies), percebe-se que esta não só abre mercados,
como permite que, em épocas de crise, como as que se vivem actualmente, estas
empresas continuem a ter, em média, uma melhoria continuada e sistemática dos seus
indicadores financeiros, além de possuírem taxas de crescimento superiores às que
apostam menos na inovação.
Existe, assim, uma justificação dada pelos inquiridos dos casos de estudo para esta
dissonância entre inovação e resultados financeiros: o facto das empresas inovadoras
serem, sobretudo, empresas jovens ou recentemente restruturadas e, como tal, terem
sido sujeitas a fortes investimentos nos últimos anos. Estes investimentos não advêm
exclusivamente de capitais próprios e, por isso, estas empresas apresentam resultados
menos favoráveis do que as empresas que não investiram na criação ou restruturação do
negócio nos últimos anos e/ou que não investem com regularidade em I&D. Outro
aspecto que se poderia ter analisado e comparado, mas que terá de ficar para uma
oportunidade posterior, é a dívida que as empresas têm a fornecedores, assim como
perceber quando é que cada uma delas sofreu uma restruturação.
Por fim, outro dado interessante observado neste estudo é o facto de a inovação ser
quase sempre de várias tipologias (produto, processo, posicionamento,..), mas prende-se
muito, nomeadamente na produção, com a optimização dos processos. Há, de facto,
uma clara aposta na optimização dos processos pelas empresas, que atinge normalmente
um duplo objectivo: redução de custos – electricidade, consumos de água, produtos
aplicados,… e redução da pegada ecológica, com claros benefícios para a imagem.
Deste modo, a tecnologia é posta ao serviço de uma empresa ambientalmente
sustentável e mais eficiente, permitindo que, para um dado nível de qualidade e
produtividade, os custos associados ao produto sejam menores.
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3688 | ESADR 2013
Sistemas de Conhecimento e Inovação para o Desenvolvimento Agrícola e RuralP11
Também se observa que as empresas mais inovadoras reduzem geralmente o risco de
inovarem porque não são, por regra, líderes da criação de algo, são seguidores. Além
disso, a maioria das mudanças que fazem na produção, comunicação, e posicionamento
de produto, fazem-no em parcerias, oficiais ou não, com fabricantes de equipamentos,
com outras empresas do sector, ou com universidades. A tendência geral é ver como os
outros fazem, dentro do país e além-fronteiras, testar, e discutir… e só depois avançar.
Assiste-se também muitas vezes, em resultado da aposta na inovação por parte da
empresas, a uma união de vários agentes destes sectores e a uma desconstrução da ideia
de rivalidade entre concorrência.
O futuro da inovação no sector agrícola e agro-industrial passa, portanto, em grande
parte, pela capacidade de união dos vários intervenientes, por transferir conhecimento
entre universidades e empresas, e por colocar a tecnologia e a inovação ao serviço da
tradição e qualidade das matérias-primas que temos e das características únicas do clima
e do solo em Portugal, com vista à obtenção de produtos de qualidade e diferenciados,
mas sempre de modo eficiente, ambientalmente sustentáveis e ao mais baixo custo
possível, tornando-nos competitivos dentro e fora das nossas fronteiras. É para aí que
caminhamos rumo ao futuro. O caminho é longo e difícil, mas como foi verificado neste
projecto, muitas das empresas já estão preparadas para o percorrer, existindo neste
momento uma oportunidade única, em termos de apoios, para apostar na inovação.
13
Atas Proceedings | 3689
VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente
e Desenvolvimento Rural
Bibliografia
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EUROPEU E AO CONSELHO relativa à parceria europeia de inovação
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14
3690 | ESADR 2013
Sistemas de Conhecimento e Inovação para o Desenvolvimento Agrícola e RuralP11
UN.(1987).Report of the World Commission on Environment and Development: Our
Common Future. (Documento on-line: http://www.un-documents.net/our-commonfuture.pdf, Acesso em: 4.Junho.2012).
15
Atas Proceedings | 3691
3692 | ESADR 2013
AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOBRE CONHECIMENTO E A
CAPACITAÇÃO: UMA PROPOSTA DE MODELO
DANIELA VIEIRA MARQUES
M.Sc. em Geografia, Analista
[email protected]
MIRIAN OLIVEIRA DE SOUZA
M.Sc. em Estatística e Métodos Quantitativos, Pesquisadora
[email protected]
GRACIELA LUZIA VEDOVOTO
M.Sc. em Desenvolvimento Sustentável, Analista
[email protected]
Secretaria de Gestão Estratégica - SGE
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa
Edifício Sede, Parque Estação Biológica, Av. W3 Norte final, 70770-901, Brasília, DF
RESUMO
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa possui uma longa
experiência acumulada nos estudos de avaliação de impactos econômicos, sociais e
ambientais, utilizando metodologias específicas, que possibilitam uma análise
multidimensional dos impactos gerados por suas tecnologias. A avaliação de impactos é
antes de tudo um instrumento que permite, a partir dos resultados obtidos, definir os
rumos da pesquisa de modo a corrigir efeitos negativos e a maximizar os benefícios
transferidos à sociedade e, mais particularmente nesse caso, já que se trata de
conhecimento, à comunidade científica. Com o intuito de ampliar essas análises, a
Empresa tem direcionado esforços para aprimorar a metodologia de avaliação dos
impactos em outras dimensões não tradicionais. Nesse contexto, este artigo tem por
objetivo apresentar uma proposta de aprimoramento da metodologia de avaliação expost de impactos sobre conhecimento e a capacitação. O uso de uma metodologia capaz
de avaliar os impactos sobre o conhecimento, capacitação e político-institucional,
gerados pelos centros de pesquisa da Embrapa, proporciona resultados que permitam
aos pesquisadores avaliar em que medida a pesquisa está tomando a direção desejada, se
está cumprindo seu papel na promoção do bem-estar social ou de desenvolver insumos
para novas pesquisas e, em muitos casos, podem servir também de base para a
formulação e orientação de políticas públicas para o setor agropecuário. Ressalta-se
também que, em termos institucionais, um dos maiores ganhos para a Embrapa com a
avaliação de impactos é torná-la, sobretudo para as unidades de pesquisa que tratam de
temas básicos, um processo internalizado e sistematizado. Assim, inovações
metodológicas devem ser uma prática das instituições, principalmente as de cunho
multidimensional, para que o maior número de benefícios possíveis sejam captados e
demonstrados à sociedade.
PALAVRAS-CHAVE: Avaliação de impacto, Conhecimento, Capacitação
Atas Proceedings | 3693
1
VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente
e Desenvolvimento Rural
1. INTRODUÇÃO
Avaliar é um processo fundamental para o contínuo desenvolvimento das
instituições, pois age como um instrumento de gestão e planejamento que permite
conhecer o alcance e o retorno dos produtos gerados, desenvolvidos e adotados.
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa, enquanto instituição
pública de pesquisa voltada para o desenvolvimento de inovações para atender ao meio
rural, tem buscado avaliar os impactos gerados por seus produtos há mais de uma
década. O intuito dessa prática tem sido demonstrar à sociedade seus resultados,
justificando os investimentos recebidos. Além disso, avaliar de possibilitar perceber a
realidade, planejar o futuro, além de dar subsídios para a prestação de contas dos
investimentos feitos na pesquisa, bem como oferecer um aprendizado sobre todo o
contexto de geração, transferência e adoção da tecnologia avaliada.
Outro efeito a ser medido é a construção da qualidade da tecnologia, pois as
avaliações podem apresentar, de forma permanente e integrada, subsídios para a
melhoria das pesquisas e da transferência dessa tecnologia.
Como a Embrapa tem direcionado seus esforços para aprimorar a metodologia
de avaliação dos impactos gerados por suas tecnologias, outras dimensões nãotradicionais como conhecimento, capacitação e político-institucional, também são alvos
de estudos, buscando avaliar seus resultados sob um caráter multidimensional e
alinhado com seus objetivos enquanto instituição de pesquisa. Dessa forma, com o
intuito de contribuir com o constante aprimoramento metodológico realizado, este artigo
tem por objetivo apresentar uma proposta de aprimoramento da metodologia de
avaliação ex-post de impactos sobre o conhecimento e a capacitação.
Nesse contexto, o artigo compõe-se da seguinte forma: a Seção 2 traz a
experiência da Embrapa em avaliação de impactos, a proposta metodológica para
avaliação de impactos sobre o conhecimento e a capacitação é apresentada na Seção 3 e,
a Seção 4, encerra o estudo com as conclusões.
2. A EXPERIÊNCIA DA EMBRAPA EM AVALIAÇÃO DE IMPACTOS
A Embrapa é uma instituição formada por uma rede de centros de pesquisa
classificados segundo suas missões e o objeto de pesquisa, como: Unidades de pesquisa
3694 | ESADR 2013
2
Sistemas de Conhecimento e Inovação para o Desenvolvimento Agrícola e RuralP11
de produto (15 centros) e Unidades de pesquisa ecorregionais (13 centros), como pode
ser visto na Figura 1.
Fonte: EMBRAPA, 2013a.
Figura 1: Distribuição das unidades (centros de pesquisa) da Embrapa pelo território
nacional
A Embrapa ainda possui outro tipo de centro de pesquisa, chamados de
Unidades de pesquisa de temas básicos (9 centros), que geram tecnologias de difícil
mensuração quando utilizadas somente as metodologias existentes, conforme figura já
citada.
A avaliação de impactos realizada na Embrapa já é um processo antigo iniciado
com estudos pontuais, nas décadas de 1980/90, principalmente relacionados aos
impactos econômicos, como pode ser visto em Avila et al. (2008). A partir de 2001, a
avaliação de impactos de tecnologias geradas e adotadas foi institucionalizada, usando
nesse processo uma metodologia de referência desenvolvida e adaptada à realidade da
Empresa. Os resultados gerados pelas avaliações de impactos das tecnologias são
divulgados anualmente no Balanço Social da Empresa (EMBRAPA, 2013b). Assim, ao
longo desse período de mais de 10 anos de experiência foram avaliados, anualmente, os
impactos de uma amostra de tecnologias geradas, sob o ponto de vista econômico,
3
Atas Proceedings | 3695
VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente
e Desenvolvimento Rural
social, ambiental e também sobre conhecimento, capacitação e político-institucional,
conforme será apresentado a seguir.
2.1. A avaliação multidimensional de impactos: breve apresentação
A existência de feedback, conhecido por meio da avaliação de impactos, entre a
pesquisa e o sistema produtivo é um traço central do processo de inovação (KLINE &
ROSENBERG, 1987).
A criação e a utilização de métodos de avaliação de impactos de programas
tecnológicos fazem parte desse instrumental, pois se revela como ferramenta para a
orientação de atividades de pesquisa e participação no processo de inovação (PAULINO
et al., 2003).
A longa experiência acumulada em diversos estudos de avaliação de impactos
econômicos, sociais e ambientais realizados na Embrapa nas últimas décadas foi
fundamental para que metodologias fossem aperfeiçoadas e o exercício de avaliar os
impactos de suas tecnologias pudesse ser internalizado, sistematizado e realizado
anualmente, tornando-se um processo constante na Empresa.
Cabe ressaltar que metodologias para avaliação de impactos de qualquer ordem
têm sido muito utilizadas em estudos pontuais nos quais, na maioria das vezes se avalia
um único impacto, primordialmente, econômico ou ambiental, no atendimento de
demandas específicas e muitas vezes sazonais. Nesse contexto, a inovação introduzida
pela Embrapa em tal processo, foi à análise multidimensional e periódica de tais
impactos. Por isto a experiência da Embrapa tem servido de modelo para outras
instituições de pesquisa no Brasil e no exterior.
O processo de avaliação de impactos revelou elevados níveis de benefícios
econômicos para os produtores adotantes das tecnologias, um significativo número de
empregos gerados para a sociedade, melhorias importantes sob os aspectos relacionados
a meio ambiente, saúde, nutrição, renda e qualidade de empregos.
Os impactos econômicos, sociais e ambientais – principalmente de produtos – já
são demonstrados a partir do uso de metodologias adequadas, desenvolvidas por
pesquisadores da própria Embrapa. As metodologias, encontradas em Avila et al.
(2008),
usadas
nas
avaliações
das
inovações
tecnológicas
foram
aprimoradas/desenvolvidas por tipo de impacto gerado. Para avaliação do impacto
3696 | ESADR 2013
4
Sistemas de Conhecimento e Inovação para o Desenvolvimento Agrícola e RuralP11
econômico é usado o método do Excedente Econômico, aprimorado para atender as
peculiaridades das tecnologias desenvolvidas. Para avaliação dos impactos sociais e
ambientais foi desenvolvido o Sistema de Avaliação de Impacto Ambiental da Inovação
Tecnológica Agropecuária – Ambitec Social e Ambitec Agro, dividido em Agricultura,
Produção Animal e Agroindústria.
A partir da experiência em avaliação de impactos dos últimos anos, pôde-se
observar que as metodologias para a avaliação de impactos das tecnologias na Embrapa
têm se demonstrado bastante eficientes para tecnologias desenvolvidas pelos seus
centros de pesquisa que desenvolvem, por exemplo, variedades de cultivares, raças
melhoradas geneticamente, vacinas para animais, máquinas e equipamentos, sistemas de
produção e insumos, temas avaliados com facilidade por tais metodologias.
Dessa forma surgiu a necessidade de se desenvolver mais uma metodologia que
auxiliasse no processo de avaliação de tecnologias, surgindo assim à avaliação de
impactos sobre o conhecimento, capacitação e político-institucional.
2.2. A atual metodologia de avaliação de impactos sobre conhecimento, capacitação
e político-institucional da Embrapa
O Grupo de Estudos e Organização da Pesquisa e Inovação – Geopi, da
Universidade de Campinas – Unicamp, tem desenvolvido trabalhos na temática de
avaliação de impactos, inclusive desenvolvendo metodologias para esse fim. Uma das
metodologias desenvolvidas a partir da experiência do Geopi/Unicamp foi a
metodologia Esac. Esse método, segundo Furtado (2003), integra a avaliação das
dimensões econômica, social, ambiental e de capacitação (Esac). O método Esac de
Avaliação de Impactos da Pesquisa consiste na mensuração ex-post da intensidade das
transformações que um determinado programa de pesquisa e suas consequentes
inovações desencadeiam em certos atores sociais.
Segundo os criadores da metodologia Esac, a concepção do método de avaliação
de impactos procurou inspiração na tentativa de ir além das medidas convencionais – a
relação input/output, a análise bibliométrica e a avaliação de retornos econômicos, por
exemplo. Tal método contribuiu muito para a atual avaliação dos impactos sobre o
5
Atas Proceedings | 3697
VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente
e Desenvolvimento Rural
conhecimento da pesquisa da Embrapa. Avila et al. (2008) apresentam maiores
informações sobre o método Esac e sua influência na metodologia utilizada na Empresa.
Para avaliar os impactos sobre o conhecimento, capacitação e políticoinstituicionais, utilizou-se uma variação da dimensão “capacitação” do método Esac,
uma vez que a metodologia:
a) é comprovadamente eficiente para avaliar impactos dessa natureza;
b) é adequada à realidade da Embrapa; e
c) envolveu vários técnicos da Embrapa na realização do projeto.
A metodologia de avaliação adotada na Embrapa, apresentada na Figura 2,
mostra a estrutura das dimensões avaliadas nos quesitos conhecimento, capacitação e
político-institucional (políticas públicas ou gestão institucional).
Fonte: AVILA et al., 2008.
Figura 2: Estrutura de impactos das dimensões conhecimento, capacitação e políticoinstitucional.
Para manter certa coerência com o método Ambitec usado na avaliação de
impacto nas dimensões ambiental e social, foi utilizada, neste método, a mesma escala
que varia de -3 a + 3 estruturada da seguinte forma, conforme descrito na Tabela1:
Tabela 1: Descrição da escala utilizada na avaliação das dimensões conhecimento,
capacitação e político-institucional
Coeficiente
Efeito
Descrição
de alteração
muito negativo
-3
redução superior a 75 %
negativo
-1
redução entre 25 % e 75 %
sem alterações que representem reduções ou
sem mudança
0
aumentos inferiores a 25 %
positivo
1
aumento entre 25 % e 75 %
muito positivo
3
aumento superior a 75 %
Fonte: AVILA et al., 2008.
3698 | ESADR 2013
6
Sistemas de Conhecimento e Inovação para o Desenvolvimento Agrícola e RuralP11
A escala descrita (-3, -1, 0, +1, +3) é utilizada para averiguar o coeficiente de
alteração atribuído por pesquisadores, professores ou analistas, consultados acerca da
tecnologia e possuam vínculo direto ou indireto com a mesma.
Para compor a média final de cada indicador, referente aos impactos abordados,
a tecnologia deve ser avaliada, no mínimo, por três pessoas.
A diferença principal entre esse método e o sistema Ambitec, é o fato de naquele
não ser gerado um índice final para os diferentes tipos de impactos, mas apenas médias
por indicador de cada impacto avaliado.
3.
AVALIAÇÃO
DE
IMPACTO
SOBRE
O
CONHECIMENTO
E
A
CAPACITAÇÃO
A criação e a utilização de métodos de avaliação de impactos de programas
tecnológicos é um instrumental para as instituições de forma geral, pois constitui uma
ferramenta para a orientação de atividades de pesquisa e participação no processo de
inovação (PAULINO et al., 2003).
A construção de uma metodologia para avaliação de impactos sobre o
conhecimento e demais deve ser uma ferramenta e não um fim em si mesmo. Por isso, o
método deve ser discutido no contexto do gerenciamento e da avaliação de políticas, e
sua construção deve se apoiar em claras definições dos objetivos que justificam sua
utilização. A questão não é simplesmente utilizar uma lista de indicadores, por exemplo,
mas criá-los de modo a responderem a determinadas necessidades analíticas do processo
de tomada de decisão sobre programas científicos ou tecnológicos. No caso da
Embrapa, a avaliação dos outros impactos ajuda a demonstrar os impactos gerados pelos
centros que trabalham com temas básicos da pesquisa.
A diferença básica entre a metodologia apresentada no item anterior e o método
proposto para avaliação dos outros impactos é que na nova metodologia será gerado um
índice baseado em indicadores pré-definidos ponderados pelos coeficientes de alteração,
e também esses impactos poderão ser quantificados. Nessa proposta optou-se por
trabalhar apenas com dois tipos de impactos, conhecimento e capacitação. Assim, essa
proposta metodológica leva em consideração a qualificação e a quantificação dos
Impactos sobre o Conhecimento e a Capacitação, metodologia que passa a ser
7
Atas Proceedings | 3699
VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente
e Desenvolvimento Rural
denominada como Sistema de Avaliação de Impactos sobre o Conhecimento e a
Capacitação da Inovação Tecnológica Agropecuária – AICC.
A proposta metodológica apresentada nesse estudo está baseada na metodologia
desenvolvida e aplicada nas avaliações de tecnologias já mencionada anteriormente, o
Ambitec.
Dois são os procedimentos de avaliação proposto neste estudo, o primeiro, usado
para captar as mudanças subjetivas provocadas pela adoção da tecnologia, apoiada no
segundo procedimento destinado a quantificar os avanços sobre o conhecimento e a
capacitação ocorridos após essa adoção.
O AICC consiste em solicitar aos responsáveis pelo desenvolvimento e
transferência da tecnologia que indiquem o percentual e a quantidade de alteração para
cada atributo decomposto dos indicadores avaliados. A fonte dos dados usados na
avaliação são pesquisadores, analistas, estagiários, consultores, professores e pessoas de
outras instituições que estejam diretamente relacionadas ao desenvolvimento da
tecnologia ou que conheçam seus efeitos referentes aos impactos desta natureza.
Para gerar o índice de impacto sobre o conhecimento e a capacitação, busca-se
expressar as mudanças promovidas pela tecnologia por meio de uma escala que varia de
1 a 5 (Tabela 2), associada a um percentual de mudança, observado pela adoção da
tecnologia avaliada, que varia de 0 a 100%, conforme pode ser visto a seguir:
Tabela 2: Descrição da escala utilizada na avaliação das dimensões conhecimento,
capacitação e político-institucional
Descrição
Escala
até 20% de impacto
1
entre 20% e 40% de impacto
2
entre 40% e 60% de impacto
3
entre 60% e 80% de impacto
4
acima de 80% de impacto
5
Fonte: Organizado pelas autoras
Após a quantificação descrita, os indicadores são considerados em seu conjunto,
por tipo de impacto, para composição dos índices finais de impacto sobre conhecimento
e capacitação da inovação tecnológica agropecuária. Primeiro, pondera-se os
coeficientes de impacto para cada indicador, obtidos pela expressão:
  ∑
  
3700 | ESADR 2013
(1)
8
Sistemas de Conhecimento e Inovação para o Desenvolvimento Agrícola e RuralP11
em que: CIi = coeficiente de impacto do indicador i; Aji = coeficiente de alteração do
variável j do indicador i; Pji = fator de ponderação para importância do componente j na
composição do indicador i; m = número de componentes do indicador i.
No processo de avaliação, quando algum atributo e/ou indicador for considerado
como sem efeito, deve-se considera-lo como Não se Aplica e o seu peso redistribuído
para as demais variáveis do indicador, conforme pode ser visto no exemplo apresentado
na Tabela 3:
Tabela 3: Exemplo de Tabela de coeficientes de alteração da variável
Variável 1 Variável 2 Variável 3
Indicador
Fatores de ponderação
Se sem efeito: marcar com X
Escala
Coeficiente de impacto = (coeficientes
de alteração x fatores de ponderação)
0,5
0,3
0,2
0
0
0
Averiguação
fatores de
ponderação
1
0,0
Fonte: Organizado pelas autoras
O índice final de impacto da inovação tecnológica agropecuária é obtido pela
expressão:
  ∑
  
(2)
em que: II = índice de impacto (conhecimento ou capacitação) da tecnologia; CIi =
coeficiente de impacto do indicador i; Pi = fator de ponderação para importância do
indicador i na composição do índice de impacto da tecnologia; m = número de
indicadores.
Assim, a mensuração dos impactos ao tornar-se um procedimento padronizado
auxilia no entendimento da dimensão das mudanças que uma tecnologia causa ao ser
adotada. A seguir serão descritos os atributos e os indicadores de cada um dos impactos
abrangidos por essa metodologia.
3.1. Impacto sobre o Conhecimento
Segundo Furtado (2003) um projeto ou programa de P&D costuma gerar, em
primeiro lugar, resultados científicos e tecnológicos, os quais são produtos
intermediários do processo de inovação, antes que esses conhecimentos venham a ser
aplicados em atividades socioprodutivas.
9
Atas Proceedings | 3701
VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente
e Desenvolvimento Rural
A dimensão conhecimento, neste estudo, é composta de sete indicadores que
abordam questões relacionadas ao tipo de conhecimento gerado e às formas de
transferência desse conhecimento, demonstrados no organograma na Figura 2.
Os indicadores adotados na análise desse impacto abrangem: a geração de novos
conhecimentos; inovação de técnicas; intercâmbio de conhecimentos; diversidade de
conhecimento; patentes protegidas; artigos publicados em periódicos indexados e teses
desenvolvidas. Cada um desses indicadores é formado por variáveis/atributos que
permitem construir um índice por indicador que ponderados geram o índice final de
Impacto sobre o Conhecimento, como será detalhado nos itens a seguir.
Geração de novos conhecimentos
Geração de novos
conhecimentos
Influência dos novos conhecimentos
Abrangência dos novos conhecimentos
Técnicas inovadas
Inovação de técnicas e
metodologias
Grau de inovação das técnicas
Metodologias inovadas
Grau de inovação das metodologias
Intercâmbios com outras Instituições
C ONHECIMENTO
Intercâmbio de
conhecimentos
Intercâmbios com outras Embrapas
Diversidade de
conhecimentos
Áreas afetadas pelo conhecimento
Diversidade de conhecimento
Patentes protegidas no Brasil
Propriedade
intelectual
Patentes protegidas no exterior
Cultivares protegidas no Brasil
Cultivares protegidas no exterior
Artigo em periódico indexado
Artigo em anais de congresso
Produção
técnico
científica
Resumo em anais de congresso
Livro/Série Cocumento/Texto para Discussão
Capítulo de livro técnico-científico
Tese/ Dissertação defendida
Fonte: Organizado pelas autoras
Figura 2: Estrutura de impactos da dimensão conhecimento.
3702 | ESADR 2013
10
Sistemas de Conhecimento e Inovação para o Desenvolvimento Agrícola e RuralP11
3.1.1- Geração de novos conhecimentos
O indicador geração de novos conhecimentos é composto por três variáveis,
quais sejam: geração, influência e abrangência dos novos conhecimentos.
Na geração de conhecimentos, com peso 0,5 busca-se apontar, por meio da
escala já definida, a produção de novos conhecimentos acerca da temática da tecnologia
gerada.
A influência desses conhecimentos sobre as demais áreas do conhecimento e de
pesquisa pode ser medida no terceiro atributo desse indicador (peso 0,3).
O terceiro atributo trata da abrangência (peso 0,5) que esses novos
conhecimentos gerados atingiram antes (fase de pesquisa) e depois da adoção da
tecnologia.
3.1.2- Inovação de técnicas e metodologias
As variáveis que compõem esse indicador com seus respectivos pesos: técnicas
inovadas, com peso 0,3; grau de inovação das técnicas, com peso 0,2; metodologias
inovadas, com peso 0,3; e grau de inovação das metodologias, com peso 0,2.
A inovação de técnicas consiste em demonstrar a quantidade de técnicas criadas
a partir da tecnologia, referentes apenas ao ano de análise da mesma. Além de
quantificar tais técnicas, também é possível qualificar essa inovação no atributo grau de
inovação das técnicas.
A quantidade de metodologias criadas é um importante instrumento que ajuda a
complementar os dados da inovação trazida pela tecnologia avaliada. Metodologias já
existentes, também podem ser afetadas pela tecnologia, por isso, essa evolução da
metodologia também pode ser mensurada no atributo grau de inovação das
metodologias.
3.1.3– Intercâmbio de conhecimentos
Os novos conhecimentos criados acerca de uma nova tecnologia não podem e
nem devem se restringir aos pesquisadores envolvidos com a geração da tecnologia.
Esses conhecimentos precisam alcançar outras instituições, pesquisadores e adotantes de
11
Atas Proceedings | 3703
VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente
e Desenvolvimento Rural
forma geral. Os atributos que compõem esse indicador são: intercâmbio com outras
instituições, com peso 0,6 e intercâmbio com outras unidades da Embrapa, com peso
0,4.
Dessa forma, medir o intercâmbio de conhecimentos é um fator importante no
diagnóstico da transferência e disseminação desses conhecimentos, tanto para outras
unidades da Embrapa, criando e fortalecendo redes dentro da Empresa, quanto para
outros tipos de instituições, seja ou não de pesquisa.
3.1.4– Diversidade de conhecimentos
A diversidade de conhecimentos e as áreas afetadas por ele são os atributos que
ajudam a entender como o conhecimento tem sido afetado pela criação e adoção de uma
nova tecnologia. Os atributos têm pesos 0,6 (áreas afetadas pelo conhecimento) e 0,4
(diversidade de conhecimento gerados).
3.1.5– Propriedade intelectual
O indicador propriedade intelectual compreende o direito de inventores ou
responsáveis auferir, ao menos por um determinado período de tempo, recompensa pela
própria
criação.
É
composto
por
três
atributos:
patentes,
cultivares
e
marcas/símbolos/imagens/nomes com seus respectivos pesos, 0,3, 0,3 e 0,2. As
patentes, cultivares e marcas/símbolos/imagens/ abrangem apenas aquelas legalmente
protegidas nos órgãos competentes nomes protegidas no Brasil e no exterior.
3.1.6– Produção técnico científica
A quantificação da produção técnico-científica relacionada à tecnologia avaliada
é composta dos seguintes atributos: artigos em periódico indexado, segundo a
classificação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior –
CAPES, (CAPES, 2010), com peso 0,35; artigos publicados em anais de congresso com
peso 0,15; resumos publicados em anais de congresso, peso 0,05; livro técnico-
3704 | ESADR 2013
12
Sistemas de Conhecimento e Inovação para o Desenvolvimento Agrícola e RuralP11
científico/Série Documento, peso 0,2; capítulo de livro, 0,1 e por fim, tese/dissertação
defendidas com peso 0,15.
Devem ser contadas como teses e dissertações defendidas apenas aquelas cujas
defesas tenham acontecido ao longo do ano avaliado.
3.1.7 – Índice de Impacto sobre o Conhecimento
Para a construção do índice final do impacto sobre o conhecimento é aplicado
um fator de ponderação para cada um dos indicadores descritos.
A Tabela 1 mostra a distribuição dos pesos para cada um dos indicadores que
compõem o impacto sobre o conhecimento. Efetuada a ponderação e soma dos
indicadores, chega-se ao índice final que mostrará o impacto da nova tecnologia gerada
sobre o conhecimento.
Tabela 1: Índice de Impacto sobre o Conhecimento
(P)
Coeficiente
de impacto
(CI)
P x CI
Geração de novos conhecimentos
0,2
0,00
0,00
Inovação de técnicas e metodologias
0,15
0,00
0,00
Intercâmbio de conhecimentos
0,15
0,00
0,00
Diversidade de conhecimento
0,05
0,00
0,00
Propriedade intelectual
0,2
0,00
0,00
Produção técnico-científica
0,25
0,00
0,00
Indicador
Índice Final de Impacto sobre o Conhecimento
Peso
1,00
0,00
3.1.8. Quantificando o impacto sobre o Conhecimento
Os impactos sobre o conhecimento foram apresentados até o momento de forma
qualitativa, conforme detalhado nos itens 3.1.1 a 3.1.7. A partir de agora, buscar-se-á
mostrá-los também de forma quantitativa, na qual são levantados os impactos
produzidos pela tecnologia em cada um dos indicadores e seus atributos.
Os indicadores passíveis de quantificação dentre aqueles analisados na
perspectiva qualitativa da avaliação de impactos sobre o conhecimento. Os indicadores
são: inovação de técnicas e metodologias, intercâmbio de conhecimentos, propriedade
13
Atas Proceedings | 3705
VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente
e Desenvolvimento Rural
intelectual e produção técnico-científica. A quantificação desses indicadores busca
apontar a contribuição da tecnologia avaliada no âmbito da unidade e da própria
Embrapa com vistas a demonstrar à sociedade a contribuição da tecnologia na geração
de impactos sobre o conhecimento.
3.2. Impacto sobre a Capacitação
A dimensão capacitação é composta de seis indicadores que abordam as
questões voltadas à capacidade da unidade geradora da tecnologia em se relacionar com
outras instituições formando redes e/ou parcerias, compartilhando infraestrutura e
informações, bem como, capacitando pessoas para um maior desenvolvimento e
disseminação da tecnologia gerada e avaliada.
Os indicadores adotados na análise desse impacto, capacidade de se relacionar
com o ambiente externo; capacidade de formar redes e de estabelecer parcerias;
capacidade de compartilhar equipamentos e instalações; capacidade de trocar
informações e dados codificados; capacitação da equipe técnica e capacitação de
pessoas externas são mostradas na Figura 3.
O índice geral do Impacto sobre a Capacitação é formado pelos indicadores
citados, que por sua vez, são constituídos por variáveis/atributos, como será detalhado
nos itens a seguir.
3.2.1 – Relacionamento com o ambiente externo
A geração de uma nova tecnologia provoca alterações na capacidade da unidade
em se relacionar com o ambiente externo. Tais interações são medidas pelo atendimento
ao público realizado pessoalmente na unidade (peso 0,4), pelo serviço de atendimento
ao cliente feito via internet (peso 0,3) e por carta e telefone (0,3).
3706 | ESADR 2013
14
Sistemas de Conhecimento e Inovação para o Desenvolvimento Agrícola e RuralP11
Relacionamento
com o ambiente
externo
Atendimento ao público na unidade
Serviço de Atendimento ao Cliente (internet)
Serviço de Atendimento ao Cliente (carta/telefone)
Parcerias internacionais
Formação de redes e
estabelecimento de
parcerias
Parcerias nacionais
Redes nacional/internacional
Redes nacionais
C APACITAÇÃO
Compartilhamento de
equipamentos e
instalações
Equipamentos compartilhados
Instalações compartilhadas
Troca de informações e
dados codificados
Dados codificados trocados
Informações trocadas
Captação de recursos nacionais públicos
Capacidade de
captar recursos
Captação de recursos nacionais privados
Captação de recursos internacionais públicos
Captação de recursos internacionais privados
Curso - Treinamento
Transferência de
Tecnologia
Dia de campo
Palestra - Seminário
Workshops
Outros eventos
Folder/Folheto/Cartilha Produzido
Difusão de
imagem
Vídeo/DVD produzido
Vitrine Tecnológica/Unidade Demonstrativa/Observação
Prosa Rural
Matéria Jornalística
Fonte: Organizado pelas autoras
Figura 3: Estrutura de impactos da dimensão capacitação.
3.2.2 – Formação de redes e estabelecimento de parcerias
A formação de redes e o estabelecimento de parcerias é uma capacidade que
surge no desenvolvimento da tecnologia e segue enquanto a tecnologia está sendo
adotada. O impacto desse indicador é contado pelo número de redes e parcerias
15
Atas Proceedings | 3707
VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente
e Desenvolvimento Rural
formadas. As redes nacionais/internacionais têm peso 0,35, já as redes nacionais e as
parcerias internacionais têm ambas peso 0,25 e, as parcerias nacionais, peso 0,15.
As redes podem ser constituídas pelo conjunto de diversos tipos de entidades
fora do âmbito da Embrapa e também por outras unidades da empresa. Podem ser
formadas por entidades nacionais, e também por uma rede mista, envolvendo entidades
nacionais e internacionais.
As parcerias se dividem em nacionais e internacionais e é uma relação de
colaboração entre pessoas e/ou instituições com vista à realização de um objetivo
comum. Tanto a formação de redes quanto o estabelecimento de parcerias podem ser
estabelecidas na construção do projeto, desenvolvimento da tecnologia e também no
processo de transferência da mesma.
3.2.3 – Compartilhamento de equipamentos e instalações
O compartilhamento tanto de equipamentos quanto de instalações é um
indicador que mostra a capacidade da unidade da Embrapa em maximizar o uso de
estruturas e a partir dela estabelecer contato com outras instituições no sentido de
criar/desenvolver uma tecnologia. Esse indicador é medido pelos equipamentos (peso
0,6) e instalações (peso 0,4) compartilhados.
3.2.4 – Troca de informações e dados codificados
A troca de informações e dados codificados demonstra a capacidade da unidade
em se relacionar com vistas a ampliar, discutir e divulgar os resultados relativos à
tecnologia desenvolvida e avaliada. Os atributos dados e informações codificados
trocados compõem esse indicador, com pesos 0,6 e 0,4, respectivamente.
A quantidade de informações trocadas é um atributo medido qualitativamente de
acordo com o desenvolvimento do projeto e da adoção da nova tecnologia.
No atributo dados codificados são contados o número desse tipo de dado que é
trocado entre as instituições envolvidas com a tecnologia avaliada.
3708 | ESADR 2013
16
Sistemas de Conhecimento e Inovação para o Desenvolvimento Agrícola e RuralP11
3.3.5 – Capacidade de captar recursos
A demanda por diferentes fontes financiadoras para a geração/transferência da
tecnologia avaliada é um indicador na medida em que mostra a versatilidade da unidade
em buscar novas fontes de financiamento. Os atributos que formam esse indicador são:
captação de recursos nacionais públicos advindos de fontes federais, estaduais e
municipais (peso 0,2) e fundos privados (peso 0,3); captação de recursos internacionais
públicos (0,25) e privados (0,25).
3.2.6 – Transferência de tecnologia
A partir do desenvolvimento da nova tecnologia, surge a necessidade de se
promover a transferência e a capacitação dos interessados em adotar/disseminar tal
tecnologia. Para tanto podem ser desenvolvidos diversos tipos de ações que atendam a
necessidade
do
momento,
tais
como:
cursos/treinamentos
(peso
0,3),
palestras/seminários (peso 0,2), workshops (peso 0,2), outros eventos (peso 0,2) e dias
de campo (peso 0,1).
3.3.7 – Difusão de Imagem
O lançamento de uma tecnologia no mercado implica numa promoção da
imagem da Embrapa provocando um impacto positivo na divulgação do nome da
empresa nos meios de comunicação em geral. Os atributos que compõem esse indicador
são: matéria jornalística nacional e internacional, ambas com peso 0,3 e,
folder/folheto/cartilha e vídeo/DVD produzido, cada um com peso 0,2.
3.2.7 – Índice de impacto sobre a capacitação
Na construção do índice final de impacto sobre a capacitação é aplicado um fator
de ponderação para cada um dos indicadores descritos.
Como pode ser visto com a Tabela 2, a cada indicador é atribuído um peso. Após
a ponderação dos dados e soma dos indicadores analisados tem-se o índice de impacto
sobre a capacitação gerado pela nova tecnologia.
17
Atas Proceedings | 3709
VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente
e Desenvolvimento Rural
Tabela 2: Índice de impacto sobre a capacitação
Indicador
Peso
Relacionamento com o ambiente externo
Formação de redes e estabelecimento de parcerias
Compartilhamento de equipamentos e instalações
Troca de informações e dados codificados
Capacidade de captar recursos
Transferência de Tecnologia
Difusão de imagem
(P)
0,15
0,20
0,20
0,15
0,10
0,10
0,10
Índice Final de Impacto sobre a Capacitação
1,00
Coeficiente
de impacto
(CI)
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P x CI
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3.2.8 – Quantificação do impacto sobre a Capacitação
Os impactos sobre a capacitação foram apresentados até o momento de forma
qualitativa, conforme detalhado nos itens 3.2.1 a 3.2.7. Além disso, tal impacto também
pode ser quantificado.
Os indicadores passíveis de quantificação dentre aqueles analisados na
perspectiva qualitativa da avaliação de impactos sobre a capacitação são:
relacionamento com o ambiente externo, formação de redes e estabelecimento de
parcerias, compartilhamento de equipamentos e instalações, captação de recursos,
transferência de tecnologia, e difusão de imagem. A quantificação desses indicadores
busca apontar a contribuição da tecnologia avaliada no âmbito da unidade e da própria
Embrapa com vistas a demonstrar a sociedade a contribuição da tecnologia na geração
de impactos sobre a capacitação.
4. CONCLUSÃO
Os processos de avaliação ajudam a legitimar a tecnologia e por consequência a
própria ciência, comprovando de forma mais efetiva que há correlação positiva entre
produção científica e bem-estar econômico e social.
O uso de uma metodologia capaz de avaliar os impactos sobre o conhecimento,
capacitação, gerados pelos centros de pesquisa da Embrapa, proporciona resultados que
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Sistemas de Conhecimento e Inovação para o Desenvolvimento Agrícola e RuralP11
permitem aos pesquisadores avaliar em que medida a pesquisa está tomando a direção
desejada, se está cumprindo seu papel na promoção do bem-estar social ou de
desenvolver insumos para novas pesquisas e, em muitos casos, podem servir também de
base para a formulação e orientação de políticas públicas para o setor agropecuário.
O desenvolvimento da metodologia AICC teve como intuito, especialmente,
avançar nos processos de avaliação de impactos das unidades de pesquisa de temas
básicos da Embrapa, uma vez que a experiência dos últimos anos em avaliação da
pesquisa na empresa revelou a dificuldade das metodologias tradicionais em captar os
benefícios gerados pela pesquisa de centros dessa natureza.
É importante destacar que a partir da análise dos relatórios de impactos
disponibilizados por todos os tipos de Centros de Pesquisa da Embrapa foi observado
que a metodologia tem sido eficiente para avaliar os impactos sobre conhecimento,
capacitação e político-institucionais da pesquisa gerada também pelas unidades de
pesquisa de produtos e pelas unidades agroflorestais ou agropecuárias nas ecorregiões
brasileiras.
No entanto, os resultados levantados não estão sendo divulgados à sociedade por
meio do Balanço Social da Embrapa, como são feitos com os outros impactos. Por isso,
a metodologia proposta nesse estudo buscou dar mais um passo nessa perspectiva de dar
visibilidade ao maior número de impactos quantos sejam possíveis. Nesse contexto a
metodologia do AICC se coloca como uma ferramenta muito importante.
Ressalta-se também que, em termos institucionais, um dos maiores ganhos para
a Embrapa com a avaliação de impactos sobre o conhecimento e a capacitação é tornar a
avaliação de impactos dessa natureza, sobretudo para as unidades de pesquisa de temas
básicos, um processo internalizado e sistematizado. A avaliação de impactos é antes de
tudo um instrumento que permite, a partir dos resultados obtidos, definir os rumos da
pesquisa de modo a corrigir efeitos negativos e a maximizar os benefícios transferidos à
sociedade e, mais particularmente nesse caso, já que se trata de conhecimento e
capacitação, à comunidade científica.
Portanto, as inovações nas metodologias de avaliação de impactos devem se
tornar uma prática das instituições voltadas para a pesquisa, principalmente as
avaliações de cunho multidimensional, para que o maior número de benefícios sejam
captados e demonstrados à sociedade.
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Atas Proceedings | 3711
VII Congresso da APDEA, V Congresso da SPER, I Encontro Lusófono em Economia, Sociologia, Ambiente
e Desenvolvimento Rural
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Avila, A. F. D.; Rodrigues, G. S.; Vedovoto, G. L. (ed.). (2008). Avaliação dos
impactos de tecnologias geradas pela Embrapa: metodologia de referência. Brasília, DF:
Embrapa Informação Tecnológica. 189 p.
Capes. (2010). Qualis Periódicos. Disponível em <http://www.capes.gov.br/avaliacao/
qualis> Acesso em 9 jun.
Embrapa. (2013a). Mapa das unidades da Embrapa no Brasil. Disponível em:
<http://www.embrapa.br/a_embrapa/enderecos/mapa1_uni_br_simpl_v2.jpg/image_vie
w_fullscreen>. Acesso em: 15 jul.
Embrapa. (2013b). Balanço Social da Pesquisa Agropecuária Brasileira. Brasília, DF:
Embrapa, Secretaria de Comunicação, Secretaria de Gestão Estratégica.
Furtado, A. T. (2003) Políticas públicas para a inovação tecnológica na agricultura do
estado de São Paulo: métodos para avaliação de impactos de pesquisa, dimensão
capacitação. Campinas, SP: UNICAMP – GEOPI. p. 45-60.
Kline, S. e Rosenberg, N. (1987). An overview of innovation. In: Landau, R.;
Rosenberg, N. (ed.). The positive sum strategy. Washington, DC: National Academy of
Press. p. 275-306.
Paulino, S. R.; Rodrigues, G. S.; Salles-Filho, S. L. M.; Bin, A. (2003) Impactos
ambientais na agricultura: um método de avaliação de programas tecnológicos. In:
Seminario Latino-Iberoamericano de Gestión Tecnológica - Altec, 10. 2003, Cidade do
México. Anais... Cidade do México: Altec. p.1-16.
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Sistemas de Conhecimento e Inovação para o Desenvolvimento Agrícola e RuralP11
USO DE ANÁLISE MULTIVARIADA NA CONSTRUÇÃO DOS
ÍNDICES DE IMPACTOS SOCIAIS E AMBIENTAIS DAS
TECNOLOGIAS DA EMBRAPA
MIRIAN OLIVEIRA DE SOUZA
M.Sc. em Estatística e Métodos Quantitativos, Pesquisadora
[email protected]
DANIELA VIEIRA MARQUES
M.Sc. em Geografia, Analista
[email protected]
GERALDO DA SILVA E SOUZA
Ph.D. em Estatística, Pesquisador
[email protected]
GRACIELA LUZIA VEDOVOTO
M.Sc. em Desenvolvimento Sustentável, Analista
[email protected]
Secretaria de Gestão Estratégica - SGE
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa
Edifício Sede, Parque Estação Biológica, Av. W3 Norte final, 70770-901, Brasília, DF
RESUMO
A metodologia usada atualmente na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária –
Embrapa para avaliar os impactos sociais e ambientais das tecnologias geradas pelos
seus centros de pesquisa é denominada Sistema de Avaliação de Impacto de Inovações
– Ambitec. Esta metodologia é composta por indicadores ponderados que são
dependentes de critérios subjetivos, não permitindo avaliar a influência de cada
indicador sobre os demais e nem sobre o índice final gerado. Desse modo, a proposta
deste artigo é definir novos pesos na construção dos índices de impacto social e
ambiental das tecnologias da Embrapa por meio do uso de métodos estatísticos de
análise multivariada, buscando oferecer uma alternativa de análise ao método usado
atualmente na Empresa. A abordagem metodológica aqui utilizada padroniza todas as
variáveis, com o intuito de eliminar a influência de localização e escala. Essa
padronização é feita subtraindo-se de cad