A_Moreninha

Transcrição

A_Moreninha
OBRA ANALISADA
GÊNERO
AUTOR
A Moreninha
Narrativo
Joaquim Manuel de Macedo
DADOS BIOGRÁFICOS
Nascimento: 24 de junho de 1820,
Itaboraí, RJ.
Morte: 11 de abril de 1882, Rio de
Janeiro.
BIBLIOGRAFIA
Romance
A Moreninha, 1844
O Moço Loiro, 1845
Os Dois Amores, 1848
Rosa, 1849
Vicentina (1853)
O Forasteiro, 1856
Os Romances da Semana - contos, 1861
O Culto do Dever, 1865
Memórias do Sobrinho de meu Tio, 1868
A Luneta Mágica, 1869
O Rio do Quarto, 1869
Nina, 1869
As Vítimas Algozes, 1869
A Namoradeira, 1870
Mulheres de Mantilha, 1871
Um Noivo e Duas Noivas, 1871
Os Quatro Pontos Cardeais e A Misteriosa,
1872
A Baronesa do Amor, 1876.
Teatro
O Cego, 1849
Cobé, 1852
O Fantasma Branco, 1856
O Primo da Califórnia, 1858
A Carteira do meu Tio, 1855
O Sacrifício de Isaac e Amor e Pátria,
1859
Luxo e Vaidade, 1860
O Novo Otelo, 1860
A Torre em Concurso, 1861
Lusbela, 1862
Romance de uma Velha, 1870
Remissão dos Pecados, 1870
Cincinato Quebra-Louça, 1871
Vingança por Vingança, 1877
A Moreninha, 1877
Antonica da Silva, 1880.
Poesia
A Nebulosa, Poema-Romance, 1857.
Vários
Um Passeio pela Cidade do Rio de
Janeiro, 1862-1863
Memórias da Rua do Ouvidor, 1878
Ano Biográfico Brasileiro, 1876.
RESENHA
O livro é de domínio público e já tem
versão, para leitura, na internet.
Em 1844, inaugura o romance no
Romantismo brasileiro; fala dos
namoricos de quatro estudantes de
medicina, na ilha de Paquetá.
Augusto, Leopoldo e Fabrício passam um
final de semana juntos na casa da avó de
Filipe, a convite dele. É véspera de
Sant’Ana. Uma aposta: Filipe desafia
Augusto. Se no período de um mês, não
iniciasse um namoro entre ele e uma das
mocinhas... a prenda seria a criação de
um romance e narrar a sua história.
ATENTE!
Em 1584, o Papa Gregório XIII fixou a
data da festa de Sant'Ana - foi mãe da
Virgem Maria e avó de Jesus Cristo - em
26 de julho.
E de qual gostarás mais, da pálida, da
loira ou da moreninha?...
— Creio que gostarei, principalmente, de
todas.
— Augusto é incorrigível.
— Não, é romântico.
Carolina, a Moreninha – típica heroína
brasileira;
é irmã de Filipe e conhece Augusto que,
sem perceber, foi tocado pela flecha do
cupido assim que a viu.
O romance inicialmente foi atrapalhado
com o assédio de outras jovens ao belo
rapaz.
Nos saraus, os olhares se cruzam. Uma
aula de bordado e Augusto afirma o
cumprimento da promessa: o lenço
pronto, mas não era fruto de seu curso.
Fora comprado de uma velha senhora,
excelente bordadeira. Esperto, esse
rapaz.
FIDELIDADE A UM AMOR DE INFÂNCIA
Os dois não se recordam, mas fizeram um
juramento ainda na infância: um objeto o
simboliza - o camafeu. Durante um
passeio, a revelação. Eis o clímax!
Os jovens saem do sonho e voltam à
realidade – família e estudos.
Trama converge para um “happy end” –
típico dos românticos.
O amor perdurou mesmo com a saudade,
a distância. O pai do jovem observa sua
angústia e decide pedir a mão da jovem
em casamento. A cena, um clima bem
romântico: a declaração do amor eterno e
duradouro; agora solidificado.
Não ocorreu a perda da aposta, mas o
romance já havia sido escrito enfim.
ESTILO DE ÉPOCA
Romantismo
CARACTERÍSTICAS ROMÂNTICAS
herói [Augusto] + heroína [Carolina] =
mito do sentimento enamorado
Obstáculo inicial para a realização desse
romance: promessa na infância.
VEROSSIMILHANÇA
O artista recria ou cria suas histórias,
tempo, espaço, lugar, a partir do que é
verossímil, ou seja, do que é possível que
aconteça, do que é plausível.
ROMANCE URBANO
Interesse pelo mundo circundante /
aristocracia burguesa do Brasil do século
XIX
Joaquim Manuel de Macedo retrata os
usos e costumes da sociedade carioca na
década de 40 [1840]: suas festas e
tradições. Isso dá uma
interessante contribuição ao
entendimento de como vivia este grupo
social específico.
Crítica do TEMPO e ESPAÇO: os conflitos
que envolvem os personagens estão
distantes da dura realidade, das
amarguras e decepções que a vida nos
reserva. Afinal, sonhar não faz mal a
ninguém.
É importante lembrar que o best-seller na
corte era destinado ao público feminino.
Por quê? Eram elas que faziam leituras
de livros em voz alta, em torno da mesa
da sala de jantar.
Suas personagens são sempre
superficiais, com diálogos construídos
numa linguagem simples.
Não há uma penetração psicológica.
Tanto "A Moreninha" como os outros
romances de Joaquim Manuel de Macedo
possuem as características do romancefolhetim, um gênero de narrativa que irá
marcar definitivamente a história do
romance brasileiro em seus primórdios.
"Folhetim" [> francês feuilleton
[feuil.le.ton] = 'pequeno caderno de oito
páginas compostas do terço da folha
impressa']
Isso mesmo!! Em seção literária de um
jornal, a narrativa seriada chegava à
mãos dos leitores de forma parcial e
sequenciada. Sempre que o enredo
alcançava o clímax - os acontecimentos
centrais ganhavam o máximo de tensão –
, o texto era interrompido. Claro!!! Ao
final de cada capítulo, havia sempre uma
cena que servia de "gancho" para o
capítulo seguinte, para que os leitores
desejassem ardentemente o próximo
folhetim.
Tal como em nossas novelas atuais, a
continuação estaria na edição do dia
seguinte. O conteúdo é apresentado em
narrativa ágil, repleta de desdobramentos
intencionalmente voltados para prender a
atenção do leitor. Eis o modelo adotado
pelo rádio, quando de seu surgimento, na
década de 30 [1930]. Assim se
popularizou o novo veículo de
comunicação, fórmula repetida na
segunda metade do século pela televisão.
A leitura desses folhetins era uma das
principais diversões da época: era motivo
de reuniões sociais - os inesquecíveis
saraus.
LINGUAGEM NA OBRA
Boas narrações e descrições da ilha, mas
sua linguagem é mais simples; jamais
comparada à de José de Alencar.
- Alguns estrangeirismos:
fazer pé-de-alferes: namorar.
pagodear: divertir-se, pandegar.
C’est trop fort!: expressão francesa que
significa: É demais!; Isto é demais!
robe de chambre: expressão francesa que
significa roupão.
Quantum satis: expressão latina que
significa o suficiente, o satisfatório, o
quanto basta, largamente empregada nas
formulações médicas.
TEMPO CRONOLÓGICO: três semanas e
meia
INTERTEXTUALIDADE
A mais famosa lenda da ilha de Paquetá é
a da "Moreninha", uma fábula
indígena. O cenário desse mito foi a
"Pedra da Moreninha", grande pedra
arredondada, que está de frente para a
ilha de Brocoió. A estória primitiva fala
Ahy e Aoitin, jovens índios tamoios
grandemente apaixonados.
No romance de Macedo, Augusto e
Carolina, um jovem casal de namorados
do século XIX.
A Pedra da Moreninha foi retratada
num
óleo sobre madeira, por Carlos Balliester,
1910.
Há outra lenda: a da "Pedra dos
Namorados" - um grande rochedo
arredondado que fica na Praia José
Bonifácio; sobre ele, uma grande
quantidade de seixos e de pedrinhas. Diz
a lenda que a namorada ou namorado,
que venham à ilha pela primeira vez
devem se colocar de pé na areia da praia,
e de costas para a essa pedra, lançar 3
pedrinhas sobre ela, enquanto memoriza
a pessoa amada. Se alguma dessas
permanecer sobre a ela. É sorte no amor.
Poema “Moreninha”, de Casimiro de
Abreu.
- Moreninha,
Se um dia tu fores minha,
Que amor, que amor não terás!
Eu dou-te noites de rosas
Cantando canções formosas
Ao som dos meus ternos ais.
Morena, minha sereia,
Tu és a rosa da aldeia,
Mulher mais linda não há:
Ninguém t'iguala ou t'imita
Co'as tranças presas na fita,
Co'as flores no samburá!
Em 1915, uma versão; em 1970, outra
adaptação para o cinema, dirigida por
Glauco Mirko Laurelli, no formato de um
romance musical.
Observe os trajes de época!
Toda a história se passa na paradisíaca
Ilha de Paquetá centrada em Carolina e
Augusto. Amigos da família reúnem-se
para um sarau na casa de Carolina. Lá,
ela vai reencontrar aquele amor dos
tempos de criança, com quem trocou
juras de amor e um camafeu, peça
fundamental para que eles se
reconheçam.
A obra também foi duas vezes adaptada
para a tevê – telenovelas:
1965, de Graça Mello.
1975: a primeira novela em cores, por
Marcos Rey, dirigida por Herval Rossano.
AMBIENTE: Marcos recriou a ilha numa
cidade cenográfica em Barra de
Guaratiba.
TRAMA / PERSONAGENS
Essa adaptação livre do romance teve
como eixo narrativo uma história de
amor. A trama evoca as mudanças sóciopolíticas que marcaram o Rio de Janeiro
no final do século XIX. Marcos Rey optou
por localizar a ação da novela entre 1866
e 1868. Objetivo? A inserção de
referências a fatos históricos importantes:
a Guerra do Paraguai e a luta
abolicionista.
- Os encontros promovidos pela jovem
Carolina são os eventos mais concorridos
e comentados da Ilha de Paquetá. No
solar em que vive com a avó Donana, ela
recebe amigas e jovens estudantes da
corte para saraus e passeios dominicais,
nos quais é o centro das atenções e a
moça mais cortejada pelos rapazes locais,
embevecidos pela sua beleza e alegria.
Ela, entretanto, dispensa delicada e
pacientemente os admiradores. O seu
grande sonho é poder reencontrar um
rapaz que conheceu na infância e que se
tornou objeto de seu amor platônico. O
que Carolina não sabe é que o jovem está
mais próximo do que ela imagina: é
Augusto, o colega de quarto de seu irmão
Felipe na Pensão Estrela, no Rio de
Janeiro, e um dos frequentadores do
solar.
- Felipe é um poeta romântico, que sonha
em estudar direito na mesma faculdade
de São Paulo na qual estudou seu famoso
antepassado Álvares de Azevedo.
- Augusto é um estudante de medicina,
admirador de Castro Alves e suas ideias
abolicionistas. É um boêmio, com grande
fama de conquistador, embora no fundo
seja um romântico. Como? Isso!
Apaixona-se por Carolina assim que a vê,
mas não consegue se aproximar; é
insistentemente assediado por uma das
amigas da moça, a bela Clementina - a
grande musa de Felipe. Depois de uma
série de aventuras românticas, Carolina e
Augusto ficam juntos.
- Outro estudante que mora na mesma
pensão e frequenta os saraus de Carolina
é Leopoldo. Estudante de medicina, ele
abandona o curso para participar da
Guerra do Paraguai. Enfim, volta. Está
decidido a se tornar jornalista e a ajudar
a defender as ideias abolicionistas e
republicanas; torna-se líder de um
movimento pela libertação dos negros.
- Leopoldo é um dos estudantes que
ajuda a abrigar Simão, um escravo
fugitivo perseguido implacavelmente pelo
capitão-do-mato João Bala. Em
represália, o feitor sequestra Quininha,
prima de Carolina e namorada de
Leopoldo. No esforço para salvar
Quininha, o rapaz morre nas mãos de
João Bala.
- Outro personagem que tem um final
trágico é Felipe. À maneira dos poetas
românticos, morre vítima da tuberculose,
um mal incurável na época.
Fonte: Memória Globo
TRILHA SONORA – novela de 1975
Sonoplastia: Guerra Peixe Filho
Normalmente as trilhas sonoras
contribuem com o desenrolar da
narrativa. Creio que esta seleção não terá
menor valor. Se conseguir as letras...
A Moreninha, de Waltel Branco [maestro,
compositor e arranjador paranaense.]
Sonho, de Waltel Branco e Paulo Pinheiro
Sem ti, a vida é nada, de João Melo
VISÃO CRÍTICA
Joaquim Manuel de Macedo pecou ao ter
como único objetivo escrever seus
romances para agradar a classe média
brasileira, principal consumidora dos
folhetins.
Macedo não teve inocência ao optar por
criar uma personagem como A
Moreninha: “é uma aurora que nos
promete um belo dia (...) O estilo é fino,
irônico e singelo. Ordem, luz, graça e
ligação o tornam de uma transparência
cristalina (... )”
Carolina é a primeira expressão literária
da beleza feminina, tipicamente
brasileira.
Quando o autor ressalta a cor dos cabelos
e da pele da Moreninha, nada mais faz do
que exaltá-la diante da palidez de suas
primas, ou seja, valorizando as
características físicas e raciais presentes
na jovem nação brasileira, através de
Carolina, em detrimento do modelo de
beleza importado da Europa que cultivava
as peles alvas e os cabelos claros.
Fonte: ANDRADE REIS, A. L. R. O
Romance de folhetim no Brasil do
século XIX – modelos e inovações.
Abralic. 2006.

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