Antes apenas com competições de topo
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Antes apenas com competições de topo
21 Dezembro 2011 DESPERTAR DE UM GIGANTE Antes apenas com competições de topo sediadas no Brasil, a América do Sul começa a ver a ascensão da Argentina como grande praça do esporte a motor O Almanaque WARM UP é a coletânea impressa das melhores matérias da edição online da Revista WARM UP. Imagens ilustrativas Compre já a sua!!! COMPR E AQUI! R$ 24 ,90 + envio Carta do Editor Dois países sem fronteiras A Argentina é logo ali, haveria de dizer o outro, mas cada vez mais a gente vê de perto alguém que estava adormecido para o automobilismo ter força preponderante na América do Sul. Desde que assumiu o governo, a presidenta Cristina Kirchner adotou uma política muito clara de abertura do país ao turismo para fortalecer a economia local, e o esporte foi um caminho simples e fácil, além de natural. Começou com o rali mais importante do mundo, e aproveitando que o Dacar deixou a rota que terminava na capital do Senegal, tratou de fazer da nação vizinha a base desta nova fase da competição — algo que o continental e plenamente afeito Brasil ainda não conseguiu. Na competição dos supercarros, o circuito de San Luís mantém-se firme no calendário do GT1. Um acordo foi costurado e alardeado, e a MotoGP retorna ao país em 2013. E circuitos são feitos pensando em reabrigar a F1. Diante deste faz-e-acontece da Argentina, o Brasil parou — e claro que detalhar as razões nesta abertura torna-se desnecessário porque a resposta encontra-se em três letras. A etapa do GT1 foi rifada. O WTCC, apesar de constar na temporada, é cada vez mais dúvida porque não há quem banque a corrida — a mentalidade tacanha das empresas aposta apenas na presença de pilotos brasileiros. A MotoGP só ensaia uma volta, os dirigentes demonstram otimismo e fé, mas até agora nada de concreto surgiu. Gente do universo do rali visita o país, só que não há meio de confirmar nenhum ponto como base para o abraço do Dacar ou mesmo do WRC. A bem da verdade, o Brasil vive de F1 e Indy por questões mais particulares que por méritos: na primeira, a grana que a prefeitura dá e a promoção da Globo bancam a corrida em Interlagos; a CBA foi afastada do negócio. Na categoria americana, as relações com a empresa brasileira Apex e seus patrocínios explicam a etapa do Anhembi no calendário. Se não está igual, a Argentina vai chegando ao mesmo nível de importância do Brasil. E as duas também se equivalem nos problemas, bastante delicados quando se referem a acidentes fatais. O ano não foi bom neste sentido para ambas, com as mortes de Gustavo Sondermann e Guido Falaschi, respectivamente. O modus operandi de quem deveria cuidar para evitá-los também se assemelha. Assim, é possível dizer que, se houvesse um mapa, não haveria fronteiras entre os dois países. A relação Brasil-Argentina é o tema principal desta edição final de 2011 da WARM UP, e conta com o apoio especial do jovem repórter Bruno Tarulli, que trouxe boa parte das informações e entrevistas realizadas em seu país. Por aqui, Fernando Silva comandou a reportagem. E aproveito este resto de espaço não mais para detalhar as outras matérias — a lei da mordaça no automobilismo, a eleição dos melhores no esporte em 2011 e o futuro da Caterham na F1. Quero fazer, à Maguila, alguns agradecimentos. Chegamos ao fim desta segunda temporada da WARM UP, com as algumas dificuldades, as mesmas do ano anterior, mas principalmente satisfeitos e agraciados por termos ganhado o Troféu ACEESP com a reportagem 'Resultado muito adverso', edição 13, que relatava a maquiagem do doping de Tarso Marques e o acobertamento da CBA e de seus aliados. É absolutamente gratificante saber que uma revista nova, online, que não pertence a esta grande imprensa — que passa por uma crise existencial e se transformou na prática em uma assessoria de imprensa, de agrado de seus 'clientes —, já tem essa importância no cenário nacional. Junto com o Grande Prêmio, a WARM UP deixa o iG após 21 edições e vai para uma casa nova, maior, com mais respaldo, mas, sobretudo, com o mesmo intuito: levar ao público um conteúdo de qualidade, comprometido absolutamente com a verdade dos fatos. Pautado pelos princípios da casa, e obviamente particulares, nossa missão, seja onde for, é informar e opinar — e aos que acham que somos instrumentos de incentivo a iniciativas ou eventos, lamento em nome de todos decepcioná-los. Nós estamos aqui, provavelmente, para incomodá-los. Victor Martins Editor Chefe Expediente Ano II - número 21 Projeto e Coordenação Editorial: Bruno Mantovani, Ivan Capelli e Victor Martins ndice Editor-chefe: Victor Martins Editores: Bruno Mantovani e Fernando Silva Revisão: Victor Martins Repórteres: Evelyn Guimarães Felipe Giacomelli Felipe Paranhos Juliana Tesser Paula Gondim Mauro de Bias Victor Martins 14 Arte e projeto gráfico: Bruno Mantovani Assistente de arte: Rodrigo Berton Jornalista Responsável: Victor Martins (MTb 44.629) Agência Warm Up Diretor-geral: Flavio Gomes Editor-chefe: Victor Martins Editores: Evelyn Guimarães Repórteres: Felipe Giacomelli Fernando Silva Juliana Tesser Paula Gondim A Revista Warm Up é uma publicação da Warm Up Informações Especializadas S/C Ltda. Sede: Av. Paulista, 807, conj. 802, São Paulo/SP, Brasil. Fone: (11) 3284.2956 E-mail: [email protected] Periodicidade: Mensal 36 64 10 60 70 Grandes Entrevistas Click Coluna Fernando Rees DINHEIRO APENAS NÃO BASTA! Pegando o gancho das minhas colunas passadas sobre as possibilidades de o Bruno Senna correr na Renault (agora oficialmente Lotus) em 2012, finalmente sabemos que, pelo menos no feirão da Renault, existiam interesses maiores que o dinheiro que ele e seus patrocinadores estavam dispostos a levar para a equipe. Kimi Raikkonen estava mesmo em outro patamar nas negociações: campeão do mundo, comprovadamente competente (quando está a fim de pilotar), e com uma capacidade admirável de encontrar parceiros comerciais para suas aventuras como piloto. O que surpreendeu foi a decisão por Romain Grosjean em vez de Vitaly Petrov ou o Bruno. Grosjean é francês, faz parte do programa de pilotos da Renault há muitos anos, e tem apoio pessoal da Total, empresa francesa patrocinadora e fornecedora de combustíveis da Lotus, e que também controla a Elf, parceira da Renault desde sempre. Esse caso ilustra muito bem os impedimentos ao profissionalismo de pilotos no automobilismo contemporâneo: nem mesmo o dinheiro, que determina quem é quem na F1 de hoje, é capaz de garantir êxito em negociações. Questões com relação ao 'talento' dos pilotos nem sequer existem mais. Esse atributo, que uma vez foi tão importante para separar os vencedores dos perdedores, se tornou tão diluído em negócios que acontecem longe dos cockpits que nem sequer como ator figurante ele aparece nas cenas de negociação da F1 atual. Nas dezenas de artigos que li sobre quem seria o parceiro do Raikkonen no ano que vem, persistia uma verdadeira honestidade geral em nunca considerar questões como o 'talento' ou a competência dos pilotos em sua 'profissão' de pilotar. Isso simplesmente não importa mais, e não faz sentido: 'talento' faz parte do passado. O que todos os artigos falavam sobre era o dinheiro – quantos milhões de euros cada um dos candidatos estava disposto a pagar para se passar de 'piloto profissional' naquela equipe em 2012. Mas e não é que nem o dinheiro puro e simples resolveu a questão dessa vez? Dificilmente algum piloto cercando a F1 teria mais dinheiro para colocar do que o Petrov (apoiado pelo país russo) ou o Bruno (apoiado pelo sobrenome e seus derivados). Milhões e mais milhões foram oferecidos para a Renault por ambos, mas os interesses do feirão da Renault eram outros. Aparentemente, resolveram dar uma segunda chance a seus próprios investimentos feitos no Grosjean, a esperança do automobilismo francês (coitada da França, quem imaginaria tal coisa). Nas contas da Renault, os negócios entre os franceses rendeu mais do que os milhões de euros que russos e brasileiros estavam dispostos a gastar (ou 'investir', que dá um ar mais positivo). De fato, dar mais uma chance à ressurreição do automobilismo francês foi o interesse maior da Renault – uma causa certamente mais respeitável e nobre do que simplesmente abocanhar a grana dos caras que se colocaram na posição de pagadores. Sendo assim, como é possível se tornar um 'piloto profissional' na F1 de hoje? Profissional no sentido de ganhar a vida pilotando, fazendo da pilotagem a sua profissão, porque qualquer pilotinho de F3 hoje em dia é apresentado como 'piloto profissional' por quem insiste em mistificar a realidade. Você não tem a opção de não pagar do seu bolso ou do bolso de parceiros a sua ascensão a caminho da F1: paga no kart, paga nas categorias de base, paga nas categorias de acesso. Pilotos que pagam para correr na própria F1 também não faltam hoje. E nessas condições, como é que se convence uma equipe de que você não deve pagar, quando se está cercado de caras oferecendo suas carteiras abertas às equipes o tempo todo? Se 'talento' valesse algo nessa equação, ficaria infinitamente mais fácil, mas não é o caso. Aliás, os melhores pilotos que eu conheci desde o começo da minha carreira, os mais 'talentosos', foram forçados a fazer outras coisas com suas vidas – uma vergonha para todos que dizem 'ama' o automobilismo. Eu diria, portanto, que essa diluição do valor do 'talento' em meio a todos os acertos de contas e interesses financeiros significa o maior impedimento hoje para o profissionalismo de pilotos no automobilismo. Ainda existem outras feiras abertas para a F1 de 2012. Esses caras simplesmente pagadores vão correr com suas malas de dinheiro atrás dessas agora, e alguns vão ter êxito e outros não, baseado pura e simplesmente na quantidade de euros que oferecerem. Mas os verdadeiros amantes do automobilismo devem valorizar a decisão da Renault de focar em seus próprios interesses e dizer 'não' aos interesses alheios de pagar para correr. Soa muito mais justo e honesto, e dá um pouco de esperança para os pilotos que estão na luta para subir e chegar a algum lugar realmente profissional. Somente o dinheiro levado não pode ser o fator determinante. Se hoje vivenciamos a morte do 'talento', então pelo menos que existam interesses maiores em algo conhecido como um 'esporte' do que o dinheiro que se dispõe a pagar para fazer parte do show. Fernando Rees é piloto há 15 anos e compete na Le Mans Series desde 2007. É formado em Jornalismo desde 2008 e mestre em Comunicação Internacional na Universidade Americana de Paris (AUP). A combinação resultou nesse piloto-jornalista. “Nas colunas aqui, vou tentar ao máximo combinar esses dois elementos’, diz. Grandes Entrevistas - Binho Carcasci “O PILOTO PRECISA DA FAMÍLIA PARA AMADURECER ANTES DE IR PRA EUROPA” JULIANA TESSER, de São Paulo inho Carcasci pode ser considerado um dos pais da BSeletiva de Kart da Petrobras. Anualmente, a gigante brasileira promove um torneio que premia o vencedor com R$ 110 mil e ajuda jovens pilotos no sonho de chegar às categorias máximas do automobilismo mundial. Envolvido com a Seletiva desde o início, Carcasci agora se prepara para lançar mais uma categoria que pretende fortalecer a base do automobilismo. Ao lado do irmão, Paulo, Binho trabalhou no conceito da Fórmula +, certame que vai utilizar monopostos fabricados na Itália e que será a ponte entre o kart e categorias como F-Futuro e F3 Sul-americana. Binho conversou com a WARM UP sobre sua experiência à frente da Seletiva, analisou o momento do kart nacional e falou um pouco sobre a nova Fórmula +. WARM UP: Você está envolvido com a Seletiva de Kart da Petrobras desde a criação do evento em 1999. O que mudou ao longo do tempo? Binho Carcasci: Desde o início, nós sempre tentamos colocar alguma coisa nova no evento, seja na parte promocional e de divulgação ou na técnica e desportiva, mas a ideia original, que é apoiar a base do automobilismo e valorizar o talento dos pilotos permanece a mesma. As mudanças feitas foram sempre para nos aproximarmos mais deste objetivo ou corrigir eventuais injustiças que nosso regulamento pudesse acarretar aos participantes. WUp: Nesse período, você sentiu alguma diferença no preparo dos pilotos? BC: Sim, e tem uma explicação: hoje eles chegam mais jovens para disputar a Seletiva. Nos primeiros anos eles chegavam na categoria Graduados A, usada na época para classificação para a nossa final, com 16 anos de idade, depois de passarem pela Graduados B. Hoje, só existe uma Graduados e a Seletiva de Kart Petrobras permite que o piloto dispute a final no ano em que completar 14 anos. Esta é uma grande diferença, principalmente na formação pessoal do piloto, são três anos que representam muito neste estágio de formação. WUp: A Seletiva Petrobras é a maior vitrine para impulsão dos pilotos mais jovens? BC: Claro que sou suspeito pra falar do meu evento, mas acredito que sim. Eu tenho certeza de que a Seletiva de Kart Petrobras é o evento de kart que mais investe em divulgação no Brasil, e isso é uma coisa importante para o piloto que pretende sair do kart e passar pro carro. Também não tenho dúvida que, entre os 12 finalistas de cada ano, estão os melhores pilotos de kart daquele momento, e isso ajuda a valorizar e projetar o grupo todo. WUp: O automobilismo brasileiro não vive uma de suas melhores fases. Você acha que o kart está cumprindo seu papel de categoria de base? BC: Depende do ponto de vista: como porta de entrada para o automobilismo ele está cumprindo, sim. Comparado com alguns anos atrás, existem muito mais praticantes de kart no Brasil participando dos inúmeros campeonatos regionais que têm por aí, e muitos destes pilotos vão passar pro automobilismo nos próximos anos. Mas, do ponto de vista técnico, eu acho que hoje o kart brasileiro não prepara tão bem os pilotos como já o fez no passado. Sei que a questão da idade é um agravante já que hoje os pilotos saem do kart com 15 anos e há 20 anos eles saiam com 18 ou 19, mas outros fatores contribuem para a formação limitada dos nossos pilotos. WUp: Você fez parte da Comissão Nacional do Kart. O que motivou a sua saída? BC: Falta de tempo para me dedicar como gostaria. Naquele período eu cuidava de um piloto que estava indo correr na Europa, além da Seletiva de Kart Petrobras no Brasil, e percebi que não poderia me dedicar como gostaria e deveria, então achei melhor abrir espaço para alguém que pudesse fazer isso. WUp:: Qual o seu relacionamento hoje com o grupo da CNK e da CBA? O projeto que você vinha desenvolvendo morreu? BC: Meu relacionamento com eles é bom, como já era antes. Eu não tinha um projeto específico sendo desenvolvido, apenas algumas ideias para tentar melhorar o kart de um modo geral. WUp: Você aceitaria retomar sua função CNK? BC: Não neste momento. A função demanda tempo que eu não tenho agora. WUp: Tem vontade de assumir algum outro cargo diretivo? BC: Vontade sim, mas não vejo como fazer isso neste momento. WUp: Você acredita que o kart brasileiro está sendo bem administrado hoje? BC: Confio que sim. Técnica e desportivamente falando, existem coisas que eu faria de outra forma, mas cada um tem uma maneira de ver o esporte, e é por isso que o Cleyton Pinteiro, Presidente da Confederação Brasileira de Automobilismo, criou uma comissão com várias pessoas. WUp: Quais as ideias que você vê como essenciais para que volte a fornecer pilotos para chegar à F1? BC: São muitas coisas a serem feitas, mas principalmente uma acredito ser essencial: fortalecer as categorias de base de monopostos no Brasil. Depois do pioneirismo do Emerson, o Ayrton Senna foi o único brasileiro que chegou até a F1 que não correu de fórmula no Brasil antes de ir pra Europa. Todos os outros tiveram oportunidade de correr de Formula V, F-Ford, F-Renault e F3. Não acho coincidência, acredito ser necessário o piloto ficar perto da família e no seu país para amadurecer antes de ir pra Europa. Ainda mais hoje, quando os pilotos começam a correr de carro com 15 anos de idade. Outras coisas importantes para o Brasil voltar a ter pilotos na F1 são: tentar conseguir mais apoio da mídia para o automobilismo, com isso virão os tão necessários patrocinadores; contar com apoio profissional no acompanhamento dos pilotos nas categorias de base, seja no Brasil ou no exterior; e ter na cabeça que o talento não é suficiente para chegar até a F1, isso vai fazer com que o piloto cumpra melhor cada estágio intermediário. WUp: Você acredita que exista uma disparidade muito grande entre o kartismo brasileiro e aquele praticado lá fora? BC: Acredito, sim, mas nem tanto pelo lado técnico. Nossos equipamentos hoje são similares aos utilizados lá. Mas culturalmente a diferença é grande e se resume aos nossos pilotos que correm no Brasil não darem a importância devida ao aprendizado, mas sim aos títulos e troféus que conseguem levar pra casa. WUp: Recentemente a CRG reclamou da política da CBA de barrar a entrada de karts estrangeiros no país. Você acredita que esse comportamento da entidade seja positivo? BC: Este assunto é delicado e deve ser bem pensado para não trazer prejuízo para o kart brasileiro. Eu A Formula + apresentará maiores detalhes nos próximos dias pessoalmente sou a favor da importação, mas acho que devem existir regras e que devem ser seguidas rigorosamente. WUp: Recentemente você anunciou a criação da Fórmula +. O que motivou este projeto? BC: Assim como fazemos com a Seletiva de Kart Petrobras, queremos tentar com a Fórmula + contribuir com a formação dos nossos pilotos. Queremos que ela seja uma ferramenta para o piloto aprender a trabalhar com as variáveis de um monoposto, como suspensão, aerodinâmica, balanço de freio, etc., mas com custo baixo e no ambiente que ele está acostumado, acreditando que assim ele possa assimilar mais as novas informações. WUp: As categorias de base como F-Futuro e F3 SulAmericana tiverem grids muito pequenos nesta temporada. Como você pretende atuar para que o mesmo não aconteça com a Fórmula +? BC: Baixo custo de participação é claro que será uma coisa importante para o sucesso da Formula +, mas existem atrativos técnicos que serão divulgados na oportunidade da apresentação do carro que são o diferencial. Mas também gostaria que a Fórmula + pudesse, a médio e longo prazo, ajudar a alavancar os grids da F-Futuro e da F-3, na medida em que pudermos mostrar a importância de “segurar” os pilotos no Brasil até que eles possam estar mais maduros para encarar os desafios de viver em um país desconhecido e longe da família. WUp: Já há uma estimativa de custo da categoria? BC: Todos os detalhes, incluindo os custos, serão apresentados junto com o carro nos próximos dias. Também estou ansioso pra poder fazer isso. WUp: Você tem experiência com a Seletiva Petrobras e com o Super Kart Brasil (SKB), que são dois eventos que oferecem prêmios aos participantes. A Fórmula + terá essa mesma proposta? BC: Não estou diretamente envolvido com o SKB, apenas com a Seletiva de Kart Petrobras, mas estamos em negociações com patrocinadores que podem sim viabilizar prêmios aos participantes da categoria. Mas também gostaria de apresentar a Formula + como opção principalmente de aprendizado e aprimoramento para o piloto, e assim o prêmio em dinheiro não deve ser considerado o mais importante. Desejamos um feliz natal e um próspero ano novo aos mais de 800 mil leitores que estiveram ao nosso lado neste ano. E em 2012 vem mais. Muito mais. Box A SALA DE TROFÉUS A WARM UP perguntou e você decidiu que Sebastian Vettel, Dario Franchitti, Casey Stoner e Cacá Bueno estão entre os grandes nomes do esporte a motor em 2011 FELIPE GIACOMELLI de Brasília e senhoras, respeitável público! A temporaSdaenhoras 2011 do automobilismo mundial chegou ao fim, e a WARM UP orgulhosamente apresenta aqueles que fizeram história ao longo do ano. Como não poderia deixar de ser, o mês de dezembro é a época de definir quem foram os melhores – e os piores – nos diversos campeonatos do esporte a motor. E é aí que você, leitor, entra. Pelo segundo ano consecutivo, por meio do voto popular, a WARM UP escolheu os destaques de 2011 em dez diferentes categorias: Melhor piloto de F1, Melhor piloto da Indy, Melhor piloto da Moto, Melhor piloto de Rali ou Turismo, Melhor piloto do automobilismo brasileiro, Revelação do ano, Decepção do ano, Corrida do Ano, Cena do ano e Piloto do ano. Mesmo com uma temporada fraca em termos de resultado para os brasileiros, a F1 foi unanimidade em quase todos os quesitos. A Indy, por sua vez, também mostrou força graças ao emocionante fim de corrida das 500 Milhas de Indianápolis. Enquanto isso, Sébastien Loeb, novo octocampeão do WRC, continua ditando as regras no rali. Ainda na F1, os leitores não gostaram dos resultados de Felipe Massa. Com o brasileiro sem conseguir terminar uma corrida entre os quatro primeiros colocados, os eleitores tiveram a chance de mostrar a insatisfação com o piloto da Ferrari. Sebastian Vettel, por outro lado, transformou a histórica temporada de 2011 em votações expressivas. Casey Stoner e Sébastien Loeb, ambos também patrocinados pela Red Bull, foram líderes absolutos em suas classes, Moto e Rali, respectivamente. No Brasil, os títulos da Stock Car e do Trofeo Linea garantiram mais um título para Cacá Bueno, enquanto Guilherme Silva se destacou ao ser indicado também à revelação do ano, mas sem obter a vitória. Foto: Getty Images O mais jovem bicampeão do mundo da F1 e detentor do recorde de maior número de pole-position em um só campeonato dominou tanto a escolha de Melhor piloto da F1 do ano quanto de melhor atleta. A votação ainda coroou Sergio Pérez como novato do ano na F1, ao superar Paul di Resta por uma margem bastante apertada. O resultado foi o oposto da tabela de pontos onde o piloto da Force India conseguiu quase o dobro da pontuação do rival. Melhores do Ano Mais que óbvio Se o bicampeonato da F1 deixou Sebastian Vettel em uma boa posição para ser o piloto do ano da categoria, a forma com que a taça foi obtida trouxe requintes de crueldade ao campeonato. O piloto da Red Bull sobrou na pista e não encontrou adversários à altura durante a maior parte das etapas e, pelo segundo ano seguido, vence a votação da WARM UP. Ao todo, Vettel conquistou o recorde de 15 poleposition em 19 etapas, venceu 11 vezes e foi o segundo colocado em outras cinco oportunidades. No final, vantagem de 122 pontos para Jenson Button, e o título comemorado com folga desde o GP do Japão, em outubro. O domínio do piloto da Red Bull refletiu na eleição, e Vettel garantiu o bicampeonato também na votação para Melhor piloto de F1. Jenson Button ficou com o vice graças às boas atuações debaixo de chuva, quando conseguiu desafiar o germânico, enquanto Fernando Alonso foi o terceiro, ao levar o fraco carro da Ferrari à vitória no GP da Inglaterra. Adrian Sutil merece menção honrosa por terminar 2011 na nona colocação geral com o bom carro da brava Force India. Foto: Getty Images 1) Sebastian Vettel - 57% 2) Jenson Button - 28% 3) Fernando Alonso - 11% 4) Lewis Hamilton - 2% 5) Adrian Sutil - 2% O rei dos ovais Assim como aconteceu durante a temporada, a eleição para Melhor piloto da Indy também terminou de forma apertada. Will Power e Dario Franchitti – os dois que disputaram o título – encerraram a apuração muito próximos, mas com o escocês conquistando a vitória devido ao tetracampeonato da categoria. Mas a diferença para o ano passado diminuiu bastante. Se a vitória de Franchitti se deu por 42% a 25% em 2010, a diferença nesta temporada despencou de 17 para 6 pontos percentuais. Power, por sua vez, bem que tentou estragar a festa do rival, mas precisou se contentar com o segundo posto. O piloto da Penske teve um ano de 2011 cheio de altos e baixos. Voltou a apresentar um desempenho dominante nos circuitos mistos, mas sofreu nos ovais. Em Indianápolis, por exemplo, em momento 1) Dario Franchitti - 33% 2) Will Power - 27% 3) Tony Kanaan - 23% 4) Dan Wheldon - 16% 5) Oriol Servià - 1% algum brigou pela primeira colocação. Em New Hamphire, protagonizou a inesquecível cena de reclamação depois de um acidente com a pista molhada. E olha que tudo isso depois de o australiano comemorar a vitória em uma das corridas no Texas. Pela primeira vez correndo sem a Andretti, Tony Kanaan também foi bem lembrado pelos leitores da WARM UP. Agora na KV, o brasileiro conseguiu boas apresentações ao longo ano e por muito pouco não conquistou a primeira vitória da equipe de Jimmy Vasser na categoria. A vitória nas 500 Milhas de Indianápolis de forma impressionante também rendeu alguns votos a Dan Wheldon, que mesmo participando apenas de três etapas, foi o responsável pelos momentos mais intensos do campeonato. Foto: Getty Images Melhores do Ano Melhores do Ano Passagem de trono Casey Stoner foi o Sebastian Vettel das duas rodas em 2011. Assim como o alemão, o australiano conquistou o segundo título mundial da carreira de forma dominante. Foram dez vitórias e 12 pole-positions em 17 corridas e apenas uma prova longe do pódio. A vantagem de Stoner foi contar as quedas dos principais rivais – Jorge Lorenzo e Dani Pedrosa – para abrir vantagem na tabela de pontos. Com os adversários perdendo corridas para a recuperação, coube ao australiano confirmar o favoritismo e conquistar a taça. Os leitores da WARM UP referendaram a conquista para dar ao piloto da Honda o título de Piloto do ano MotoGP, diferente do que aconteceu no ano passado, quando Valentino Rossi, que não fora campeão, continuou na preferência do público. Rossi, aliás, sequer foi lembrado na atual temporada. Depois de trocar a Yamaha pela Ducati, o italiano não conseguiu fazer um bom ano e foi apenas o sétimo colocado na tabela dos pontos. Na votação, foi preterido em razão de nomes como os de Andrea Dovizioso e de Marc Márquez, da Moto2. Mesmo polêmico, Marco Simoncelli conquistou uma série de fãs ao longo do ano, que ficaram chocados com a morte do piloto. Ainda assim, o italiano foi homenageado por uma parcela dos eleitores. Foto: Getty Images 1) Casey Stoner - 55% 2) Jorge Lorenzo - 25% 3) Marco Simoncelli - 11% 4) Andrea Dovizioso - 6% 5) Marc Márquez - 3% Rali é só com ele Existe uma máxima no esporte a motor que indica o ser humano sendo incapaz de conquistar mais que sete títulos mundiais na carreira. Nomes como Michael Schumacher, Valentino Rossi (contando apenas 500cc e MotoGP), Dale Earnhardt e Richard Petty são alguns exemplos de atletas que pararam na incrível marca do heptacampeonato. Sébastien Loeb fazia parte dessa lista. Fazia. É bem verdade que em 2011 o francês enfrentou uma pedreira na disputa do WRC. Até a última etapa o 1) Sebastian Loeb - 75% 2) Martin Tomyczk - 10% 3) Tony Stewart - 7% 4) Sébastien Ogier - 5% 5) Nasser Al-Attiyah - 3% companheiro de equipe, o jovem Sébastien Ogier, brigou para ficar com a taça, mas a Citroën se posicionou em favor do Seb mais velho e tornou possível o épico octocampeonato. Os títulos de Tony Stewart na Nascar – com direito a cinco vitórias nas dez etapas do Chase – e de Martin Tomczyk no DTM, ao triunfar mesmo com um carro de 2008, também foram lembrados, embora Loeb tenha finalizado a eleição com a votação mais expressiva de todas: 75%. Foto: Getty Images Melhores do Ano Melhores do Ano O melhor do Brasil De acordo com o próprio Cacá, essa possibilidade existe, mas não para o próximo ano. O piloto afirmou estar focado em defender os títulos obtidos nas principais categorias brasileiras de turismo. Entre os melhores momentos do carioca em 2011, estão as poles para todas as etapas dos playoffs da Stock Car e o título por antecipação do Linea. A taça da Stock Car veio após ter uma vantagem confortável 1) Cacá Bueno - 54% 2) Thiago Camilo - 21% 3) Max Wilson - 15% 4) Ricardo Maurício - 8% 5) Guilherme Silva - 2% em relação a Max Wilson antes da última etapa no Velopark. Como o piloto da RC teve problemas ao longo da prova, coube ao piloto da Red Bull poder comemorar o título mesmo tendo abandonado a última corrida do ano após uma disputa com Marcos Gomes na volta final. No ano passado, Cacá venceu apertado a competição. Neste ano, foi com folga: 55%. Thiago Camilo foi lembrado por boa parte dos eleitores devido à liderança na primeira parte da temporada da Stock Car, à vitória na Corrida do Milhão e ao título no Brasileiro de Marcas. Guilherme Silva, por sua vez, foi o único piloto indicado que não compete de turismo. O campeão da F-Futuro, no entanto, teve a votação menos expressiva entre os brasileiros. Foto: Duda Bairros/VICAR Cacá Bueno fez o que quis nas pistas brasileiras em 2011 ao conquistar os títulos do Trofeo Linea e da Stock Car. Além disso, o carioca ainda começou o ano participando da etapa do WTCC em Curitiba, terminando no pódio. Com tamanho domínio, é natural imaginar quando o piloto vai tentar arriscar a carreira fora do país. Melhores do Ano Ligeirinho Pérez Na pista, Maldonado e D'Ambrosio não puderam mostrar bons resultados devido à fragilidade dos carros de Williams e Virgin, respectivamente. Assim, o duelo para Revelação ficou restrito a Pérez e Di Resta. O escocês se saiu melhor na tabela ao marcar 27 pon- 1) Sérgio Perez - 45% 2) Paul di Resta - 40% 3) Esteban Gutiérrez - 8% 4) James Hinchcliffe - 4% 5) Guilherme Silva - 3% tos contra apenas 14 do mexicano. Mas o leitor da WARM UP entendeu que Pérez foi melhor e por isso foi eleito a revelação de 2011. Curiosamente, é a segunda vez que um piloto da Sauber ganha nesta categoria — em 2010, a primazia foi do japonês Kamui Kobayashi. James Hinchcliffe, da Indy, e Esteban Gutiérrez, da GP2, foram os melhores novatos de suas respectivas categorias e por isso foram indicados ao prêmio. Por fim, Guilherme Silva, campeão da F-Futuro, se tornou o primeiro brasileiro a participar da eleição para novato nesses dois anos. Foto: Getty Images A geração de novatos da temporada 2011 da F1 não era tão empolgante quanto a de anos anteriores. Afinal, havia muitas dúvidas rondando Sergio Pérez, Pastor Maldonado e Jérôme D'Amborsio, já que eles chegaram à categoria máxima por conta do dinheiro dos patrocinadores. O outro estreante era Paul Di Resta, que foi contratado pela Force India após garantir o título do DTM. O bi que ninguém quer A votação para Decepção do ano de 2011 elegeu mais um bicampeão. Só que este sem motivos de comemoração. O leitor da WARM UP novamente não gostou do fraco desempenho de Felipe Massa ao logo da temporada da F1. Embora tenha começado o ano de maneira promissora ao terminar duas das primeiras três etapas na frente de Fernando Alonso, Massa não conseguiu manter a média quando oz carro da Ferrari melhorou de desempenho. O brasileiro encerrou o ano com a quinta colocação como melhor resultado obtido e muito, muito distante do companheiro. Na tabela de pontos, enquanto espanhol marcou 257, o companheiro obteve apenas 118. 1) Felipe Massa - 57% 2) Mark Webber - 28% 3) Lewis Hamilton - 11% 4) Valentino Rossi - 2% 5) Helio Castroneves - 2% Para piorar a situação de Felipe, se em 2010 a votação poderia ter sido motivada pelo lance no GP da Alemanha, quando o brasileiro permitiu que Fernando Alonso assumisse a liderança da corrida, em 2011 ficou claro que o motivo da insatisfação é o fraco rendimento nas pistas, principalmente quando comparado ao do companheiro de equipe. A segunda colocação de Mark Webber reforça essa briga interna nas equipes. Enquanto Sebastian Vettel venceu 11 vezes para conquistar o bicampeonato, o australiano não entrou na briga pela taça e só conseguiu vencer uma vez por conta de um suposto problema na caixa de câmbio do alemão na corrida brasileira, a última do ano. Foto: Getty Images Melhores do Ano Chuva, peço que caia Se existir uma receita para uma corrida ideal para o fã do automobilismo é que ela fique indefinida até a última volta. Melhor ainda se houver uma ultrapassagem pela liderança no giro final. Independente do que tiver acontecido no restante do dia, a imagem que fica guardada é da emoção dos instantes finais. A eleição da Corrida do ano referendou essa máxima. Tanto o GP do Canadá quanto as 500 Milhas de Indianápolis tiveram como vencedor o piloto que entrou na última volta ocupando a segunda colocação. A instabilidade climática deu o tom da corrida em Montreal. A prova canadense foi bastante disputada desde o início, com Lewis Hamilton acertando Mark 1) GP do Canadá - F1- 50% 2) Indy 500, Indy - 30% 3) GP de Mônaco, F1 - 9% 4) Corrida do Milhão, Stock Car - 6% 5) GP da Inglaterra, MotoGP- 5% Webber na segunda curva e depois se envolvendo em uma batida com o seu próprio companheiro de equipe, Jenson Button. Button seguiu na corrida e se aproveitou do melhor desempenho do carro com a pista secando para superar Sebastian Vettel na última volta, depois que o alemão errou e quase rodou o tangenciar uma curva. Esses foram os únicos metros liderados pelo inglês em toda a corrida. A vice-campeã Indy 500 também teve o final de prova surpreendente. Com J.R Hildebrand acertando o muro no fim da corrida e permitindo que Dan Wheldon entrasse na história da categoria. Foto: Getty Images Melhores do Ano A última curva das 500 milhas Para comprovar que torcedor gosta mesmo é de ultrapassagem na volta final, o final das 500 Milhas de Indianápolis foi o grande vencedor da Cena do ano do automobilismo em 2011. A emocionante decisão da tradicional prova americana começou a se desenrolar com o erro da Chip Ganassi quanto ao consumo de combustível de Dario Franchitti. Com o escocês – que havia dominado a corrida até então – fora de combate, Danica Patrick e Bertrand Baguette chegaram a liderar a prova, mas quem recebeu a bandeira branca – indicação de última volta – na frente foi J.R. Hildebrand. O americano passou ileso até chegar ao trecho Sul da pista, quando tentou desviar do retardatário Charlie Kimball e foi parar no muro. Com metade do carro destruído, Hildebrand ainda tentou colocar o que restou em linha reta e acelerar até a linha de chegada. Quase deu certo. Ele recebeu a bandeira quadriculada em segundo. Sendo supera- do apenas por Dan Wheldon, que ninguém viu de onde surgiu, mas pôde comemorar a segunda vitória em Indianápolis. Hildebrand falhou ao entrar para história como um dos vencedores em Indianápolis. Wheldon, por sua vez, viu a história mudar ao rapidamente ser elevado ao posto de piloto mais popular da categoria. O inglês passou a desenvolver o novo carro da Dallara, estava prestes a assinar o retorno à Andretti e ganhou o direito de disputar o prêmio de US$ 5 milhões na etapa de Las Vegas. A cena da morte do inglês, com o carro sendo catapultado pelo de Pippa Mann para um voo de 300 metros até acertar o alambrado e se tornar uma bola de fogo ficou com a segunda colocação na votação. No que pese o leitor da WARM UP ter escolhido se lembrar de Wheldon pelo triunfo na Indy e não pela tragédia em Las Vegas. 1) Final da Indy 500, Indy - 41% 2) Morte de Wheldon, Indy - 26% 3) Minuto de caos em Valência para homenagear Simoncelli, MotoGP - 13% 4) Ultrapassagem de Vettel sobre Alonso no GP da Itália, F1 - 12% 5) Morte de Simoncelli, MotoGP - 8% Foto: Getty Images Melhores do Ano Melhores do Ano Sebastian, you are the champion Czasey Stoner teve um ano fantástico na MotoGP. Tony Stewart fez história na Nascar ao vencer cinco das dez corridas do Chase. Sébastien Loeb se tornou octacampeão do WRC e Jenson Button colocou Lewis Hamilton no bolso, como diz a expressão popular. Mas o melhor piloto de 2011 foi mesmo Sebastian Vettel. O alemão conquistou 11 vitórias, 15 poleposition e 17 pódios para se tornar o mais jovem bicampeão da história da F1. Marcas impressionantes de alguém que já faz o retorno a um domínio similar ao da Era Schumacher ser temido. Os leitores da WARM UP decidiram. Então, Sebastian Vettel, você pode fazer cara de mau e erguer seu dedo indicador porque você o Piloto do ano. De novo. Foto: Getty Images 1) Sebastian Vettel - 61% 2) Jenson Button - 21% 3) Casey Stoner - 8% 4) Sébastien Loeb - 7% 5) Tony Stewart - 4% Estepe QUEM TUDO KERS TUDO TEM Ambiciosa, a agora Caterham se firma na F1 como a melhor das novatas e, sem essa pecha, já se vê liderando o pelotão intermediário do grid até 2014. O diretor-técnico Mike Gascoyne, sonha alto, mas só vai começar a ter os pés realmente no chão com uma coisa: a bateriazinha do Kers EVELYN GUIMARÃES de Interlagos e Curitiba e novata a integrante quase frequente do pelotão Sintermediário do grid da F1, a Lotus, que atende por Caterham oficialmente desde o último dia 14, quer mais. A equipe capitaneada por Tony Fernandes deixou as duas outras estreantes para trás e, com um melhor desempenho nas últimas duas temporadas, já se vê candidata a um lugar cativo entre a outra Lotus — agora única —, Toro Rosso, Williams, Force India e Sauber. É bem verdade que o time não somou ponto algum nestes dois primeiros campeonatos de sua história, mas não há como negar que a equipe mostrou enorme evolução de 2010 para 2011, vista primeiramente no ousado contrato com a Renault para o fornecimento de motores e no investimento maciço em aerodinâmica, além da nova sede na Inglaterra. Mesmo que neste ano não tenha conseguido lutar de igual para igual com as cinco equipes citadas, o time malaio se esforçou para entrar no seleto grupo e foi visto até com certa frequência, ainda que apenas com um carro, à frente de pelo menos um dos times do grupo intermediário do grid nas corridas. O passo contido tem uma razão de ser e ficou bem explícito na entrevista que o diretor-técnico Mike Gascoyne deu nos boxes da equipe em Interlagos, com a presença da WARM UP: “É a ausência do Kers”, diz umas tantas vezes. O sistema de reaproveitamento de energia cinética, introduzido na F1 em 2009, teve um ano sabático na temporada passada e voltou com tudo em 2011. É claro que os pneus Pirelli e a adoção da asa móvel proporcionaram um aumento significativo no número de ultrapassagens durante as corridas, mas o dispositivo também foi decisivo para as disputas de posições e altamente impressionante nas largadas. A Caterham, entretanto, ainda não pôde usar o sistema. De acordo com Gascoyne, a opção pelo não uso do recurso se deu ainda na estreia e é justificada pelo alto investimento que o Kers exige em termos de desenvolvimento. Consciente da ausência do Kers, a Caterham se debruçou na aerodinâmica e atribuiu o sucesso ao grande desenvolvimento feito no, talvez, mais importante setor de um carro na F1 atual. Mesmo diante de uma avaliação positiva, o dirigente bate na tecla que o time precisa mesmo do Kers, se quiser fazer frente aos adversários mais próximos. Para Mike, a utilização do sistema será indispensável em 2012. O time vai usar o sistema desenvolvido pela Red Bull no próximo ano. Gascoyne tem cara de que mal dorme pensando só na sigla de quatro letras — chegou a repeti-la pelo menos 11 vezes ao se referir aos planos futuros. “A decisão de não ter o Kers veio do ano passado, por sermos ainda um time muito novo, e o desenvolvimento requerer muito dinheiro e também a atenção de todos. Então achamos que, em um primeiro momento, isso seria demais para nós — e realmente foi muito difícil”, fala. “Mas nas últimas seis ou sete corridas, posso dizer que nos tornamos muito mais competitivos e estivemos mais perto de equipes como a Renault, a Williams e a Toro Rosso. Por isso, acho que o fato de não termos o Kers neste início não tenha nos afetado tanto assim. A energia cinética na F1 vai ser vital a partir de 2014, segundo Gascoyne, por será o ano em que os carros usarão energia elétrica dentro do pit-lane. “Portanto, as dificuldades de desenvolvimento serão ainda maiores”, diz o dirigente. Foto: Getty Images Quem tudo KERS A alma do negócio “Agora temos de seguir em frente”. A frase é de Mike Gascoyne ao comentar a mudança no nome da Lotus para Caterham, companhia de propriedade de Tony Fernandes. Depois de uma disputa judicial com a Lotus Renault, pelo direito de usar o Team Lotus, Fernandes decidiu em um acordo amigável abrir mão da marca. A alteração, inclusive, já foi aceita pelas demais equipes do grid e pela FIA. A questão da identidade da equipe parece sanada pelos lados da Lotus. Para Mike Gascoyne, a mudança será benéfica e vai ajudar o time a fortalecer sua identidade no grid. “A identidade de um time é certamente uma coisa muito importante. É claro que quando entramos na F1, a nossa intenção era permanecer como Lotus. Mas não foi possível por diferentes razões. Na F1, você também precisa ser capaz de desenvolver o seu nome e se não consegue isso, sua vida fica bastante difícil. Mas acho que a mudança agora será benéfica”, afirma Gascoyne, acrescentando, entretanto, que nunca houve, dentro da equipe, qualquer confusão quanto ao nome. “Nós nos vimos diante de uma grande oportunidade com a Caterham. Quer dizer, teremos uma chance de realmente fortalecer a nossa marca. E alteração no nome é legal, porque não teremos mais duas equipes com o mesmo nome”, diz. “De qualquer forma, posso dizer que nunca fizemos confusão com os nomes. Nós entramos aqui e trouxemos o nome Lotus de volta à F1. E foram outras pessoas que decidiram fazer outras coisas. Mas acho que, agora, temos de seguir em frente, especialmente diante da grande oportunidade que temos pela frente. Foi uma pena, claro, mas isso é a vida”, completa. Gascoyne também elogia o trabalho de Fernandes à frente da equipe malaia. O diretor-técnico atribui grande parte do sucesso do time à personalidade excêntrica do executivo, que transformou a Air Asia em uma grande companhia aérea, depois de começar a carreira na indústria da aviação na rival Virgin. Sem medo de arriscar, Fernandes, além do envolvimento no automobilismo, também é dono do clube inglês Queens Park Rangers. Para o dirigente inglês, empresários como Fernandes são essenciais à F1. “Eu conheço o Tony há dois anos e meio apenas. E ele realmente possui uma personalidade totalmente diferente daquilo que vemos na F1. Posso dizer que é algo realmente inovador. E ótimo que aconteça isso com a F1”, fala Mike. “Ele possui um grande conhecimento das mídias e sabe muito bem como usá-las, basta ver o que faz com o Twitter e o Facebook. O mais importante, e que acho que tem sido fundamental para o crescimento da equipe, é essa maneira inovadora, dinâmica e sem medo com que ele lida com isso tudo.” Foto: Getty Images Quem tudo KERS Quem tudo KERS Falando em desafiar as equipes do bolo mediano, Gascoyne vê a Lotus efetivamente dentro desse grupo já na temporada de 2012. Mas a previsão mais otimista do dirigente é para daqui “dois ou três anos”, quando a equipe malaia surgir liderando o pelotão, apenas atrás das quatro grandes equipes do momento. Gascoyne crê que a Caterham vai lutar constantemente por posições no top-10. “Acho que, neste ano, demos um grande passo em termos de competitividade na comparação com as outras duas novas equipes. Posso dizer também que tive muito mais tempo para me dedicar ao time. Além disso, demos passos importantes com relação à aerodinâmica. Tivemos mais tempo para trabalhar e desenvolver esse setor dentro da fábrica. Para nós, isso foi realmente encorajador”, avalia Gascoyne. O engenheiro, que já trabalhou na McLaren, na Tyrrell, na Sauber, na Jordan, na Renault e mais recentemente na Toyota, já percebe na Lotus uma estrutura sólida, sem a desconfiança do primeiro ano. “Nós também ficamos mais perto dos times já estabelecidos, como a Toro Rosso e a Williams. Acho que, em 2010, tudo foi muito difícil para nós. Tivemos pouquíssimo tempo para projetar e desenvolver o carro. Em 2011, nós tivemos novas pessoas nos departamentos de design e aerodinâmica e, pela primeira vez, nós já trabalhamos com mais calma para o próximo ano — porque já temos uma base e teremos as mesmas pessoas trabalhando na equipe, ou seja, conse- guimos certa estabilidade”, diz. “Além disso, temos mais recursos técnicos e de pessoas no trabalho do setor aerodinâmico. E teremos o Kers também. Por isso, acredito que, em 2012, daremos um passo ainda maior com relação ao desenvolvimento dos nossos carros e seremos certamente muito mais competitivos”, garante. Diante das novidades para 2012 e do alto investimento técnico que a equipe tem feito, Gascoyne já rechaça estar no comando de uma escuderia estreante. “Fora das pistas, a equipe trabalha arduamente para aumentar os recursos técnicos, e a parceria com a Caterham tem sido fundamental deste ponto de vista. Teremos também uma nova fábrica, que nos trará diversas facilidades. Estamos ampliando a nossa atuação em várias áreas. Muito se fala nos novos times e nas equipes já estabelecidas. mas neste momento posso dizer que já nos sentimos uma equipe estabelecida, devido, principalmente, a essa grande evolução que tivemos neste ano. Nós, na verdade, conquistamos isso na pista”, afirma. No olhar de Gascoyne, a F1 está dividida entre equipes independentes e equipes de fábrica. “Williams, Sauber, Force India, Toro Rosso são exemplos de equipes independentes e acho que, em 2012, poderemos entrar em disputa mais direta com esses times — quer dizer, seremos um deles. A intenção é lutar no pelotão intermediário com essas equipes constantemente no próximo ano. Nós sentimos que podemos fazer isso.” A Caterham é ambiciosa e tem pressa. Gascoyne aposta alto no desenvolvimento do time e revela que o plano é liderar o pelotão intermediário em breve. “Acho que seremos o topo na comparação com essas equipes. E creio que conseguiremos isso dentro de todo o trabalho que estamos fazendo desde já, na pista e também na fábrica. Realmente, eu me sinto bastante confiante de que vamos atingir esse objetivo. Eu confio na equipe de pessoas que temos agora. Temos engenheiros experientes, que já trabalharam em equipes vencedoras, como a Renault e a McLaren. Então, só posso dizer que confio no talento e no trabalho das pessoas que temos ao nosso lado agora”, completa o diretor. Aliás, falando nas “pessoas que a Caterham têm agora”, Gascoyne faz questão de deixar claro que não existe razão para pensar, ao menos por enquanto, na troca da atual dupla de pilotos. Mike garantiu a permanência de Heikki Kovalainen e de Jarno Trulli para 2012. Só que o italiano está em uma posição mais Foto: Getty Images Ao falar do rendimento da então Lotus em 2011, o diretor elogia a evolução aerodinâmica vivida pela equipe, mas tornou a citar o tema. “Nas últimas seis ou sete corridas, nós nos aproximamos muito do pelotão intermediário do grid graças ao desenvolvimento das partes aerodinâmicas. Mas sentimos que ainda perdemos um pouco em alguns pontos, e a ausência do Kers é um deles. Definitivamente, saímos perdendo sem o Kers na briga com essas equipes”, insiste. “Nas corridas não conseguimos também superar os carros que possuem o Kers, e acabamos ficando atrás e sem ter como atacá-los. E se estamos à frente, não conseguimos nos defender, pois é grande a vantagem de quem tem o sistema. Quer dizer, não é só um problema de quando se está atrás, mas também quando se quer atacar ou se defender”, completa. E quando indagado onde estaria a escuderia com o desejado Kers, Gascoyne avalia que seriam “três ou quatro posições à frente”. “E isso é doloroso para nós. Felizmente teremos o Kers no próximo ano”, acrescenta em tom de reza. Quem tudo KERS Mas Mike desconversa. “Nós estamos muito felizes com os pilotos. Como um novo time, acho que tomamos uma decisão correta em chamar dois pilotos extremamente experientes para a equipe neste início de trabalho, ao invés de apostar em jovens pilotos apenas por razões financeiras”, afirma. “Acho que os dois têm sido de grande valia para nós e trouxeram muitos benefícios. Você percebe isso no dia-a-dia o quanto os dois contribuem para a evolução da equipe. Eles não cometem erros, nunca estão envolvidos nas confusões das primeiras voltas. Por isso, posso dizer que estamos muito contentes com ambos e com essa experiência nesses últimos dois anos na F1. Portanto, não vejo razão para mudar a dupla de pilotos agora, diante dos avanços que ainda teremos pela frente no próximo ano.” Apesar da contundência de Gascoyne, é crescente também o rumor de que a equipe possa sacar o experiente italiano em prol de um representante do programa de jovens pilotos da Red Bull. Mais precisamente Daniel Ricciardo, que neste ano disputou as últimas onze corridas da temporada pela HRT. O tão desejado Kers, desenvolvido pela equipe austríaca, pode configurar um peso contra Jarno. E dado o fascínio explícito pela bateria que injeta potência no motor que, se os taurinos quiserem colocar uma latinha de energético no cockpit, terão seu pedido prontamente aceito. Foto: Getty Images delicada. Apesar da grande experiência na F1, Trulli vira e mexe se vê no alvo de rumores sobre uma eventual saída. As constantes reclamações do piloto com relação à problemática direção hidráulica do T128 não foram vistas com bons olhos pela direção da equipe, o que provocou, inclusive, a substituição do italiano pelo reserva Karun Chandhok, no GP da Alemanha. Tempo ao tempo Luiz Razia também foi tema da conversa com Mike Gascoyne. O brasileiro de 22 anos atuou como reserva da Lotus nesta temporada. Andou em duas sessões de treinos livres de sexta-feira. China e Brasil foram as pistas escolhidas. Razia também participou de um dia dos testes de pré-temporada em Barcelona e, recentemente, foi um dos pilotos responsáveis pelos treinos de novatos com a equipe malaia em Abu Dhabi. Além do trabalho como terceiro piloto, Luiz disputou sua terceira temporada na GP2, com a equipe júnior do grupo, a AirAsia. O baiano viveu um campeonato difícil, em que somou apenas 19 pontos e fechou o ano em 12°, com dois pódios e uma pole. A campanha não serviu para convencer a cúpula da equipe a promovê-lo a titular em 2012, vagas que ainda estão nas mãos de Jarno Trulli e Heikki Kovalainen. Gascoyne acha que o jovem brasileiro ainda precisa de mais algum tempo na categoria de acesso. Na verdade, o dirigente ainda não vê Razia preparado para a F1. Mike entende que o piloto precisa, antes do passo maior na carreira, disputar regularmente vitórias na GP2 e, principalmente, brigar pelo título da categoria de acesso. “Acho que Luiz aprendeu muito neste ano, nessa convivência com a equipe. Ele fez um ótimo trabalho na GP2 e um trabalho fantástico nesta última corrida da GP2 em Abu Dhabi”, comenta Gascoyne. “Faltou um pouco de sorte em algumas situações também. Ele ainda fez um excelente trabalho com os treinos na F1. Ficamos realmente felizes com as informações que ele nos passou dos testes com o carro.” Mas o passo à frente ainda é prematuro. “Eu gostaria de vê-lo fazer mais um ano de GP2 conosco. Seria ótimo que ele tivesse uma temporada mais competitiva, com vitórias e na disputa do título. E, depois disso, quem sabe o que pode acontecer?”, questiona Gascoyne, que logo responde. “Na verdade, espero que ele continue na equipe. Acho que ele gosta e se sente feliz aqui. De repente, para o próximo ano, ele pode entrar mesmo na disputa do título da GP2 e fazer mais alguns treinos de sexta-feira com a gente.” A ideia de Razia, entretanto, é outra. O piloto já demonstrou que não pretende fazer nova temporada na categoria de acesso e que tem como meta para 2012 apenas estreitar os laços com a Lotus, visando a chance de ocupar uma das vagas para 2013. "Vamos esperar boas notícias brevemente, estamos trabalhando em vários aspectos na carreira e, pessoalmente, obrigado a todos que estão conosco", escreveu Luiz, em seu perfil no Twitter, sobre os planos para o próximo ano. Quem tudo Kers Carro-chefe DESPERTAR DE UM GIGANTE FERNANDO SILVA, de Sumaré BRUNO TARULLI, de Buenos Aires A ntes apenas com competições de topo sediadas no Brasil, a América do Sul começa a ver a ascensão da Argentina como grande praça do esporte a motor nos últimos anos. Se por enquanto há a F1, a Indy, e em 2012, o Mundial de Endurance e o WTCC, o país vizinho não fica atrás. Desde 2009 sediando o Rali Dacar, o mais importante do mundo, os argentinos voltaram a abrigar o WRC no começo desta década, além do Mundial de GT. Nos próximos anos, a expansão ganhará ainda mais corpo com as inclusões do WTCC em 2012 e, no ano seguinte, o retorno da MotoGP. Essa marcha em direção ao lado meridional da América faz dela um dos grandes centros do esporte a motor mundial, assim como já aconteceu em um passado já um pouco distante. Tradicionais, Brasil, com economia pujante, e a Argentina, mesmo ainda com dificuldades financeiras, lutam cada um a sua maneira e por meios bem diferentes para permanecer com grandes eventos do automobilismo e do motociclismo. Paralelamente, ao mesmo passo em que Brasil e Argentina voltam a atrair os interesses dos dirigentes, ávidos por sediarem suas categorias em solo sulamericano, os dois países têm seus problemas internos e estruturais para resolver. Nada é perfeito, claro. Assim como acontece por aqui, lá há uma grande dificuldade para desenvolver uma nova geração de pilotos. E nos dois países, o debate sobre a segurança nas pistas, outrora esquecido, voltou à tona com as mortes de Guido Falaschi, em novembro, e de Gustavo Sondermann, em janeiro. A análise da WARM UP se concentra no momento do automobilismo nas duas praças, suas semelhanças e diferenças, os pontos positivos e negativos e o que deve vir pela frente. Despertar de um gigante 'Hermanos', com prazer Ambos os países vivem momentos semelhantes no esporte a motor atual. O Brasil, com Stock Car, Copa Marcas, GT Brasil, Trofeo Linea, Porsche Cup e Mercedes Challenge, tem cada vez mais predominância de corridas em categorias turismo. Apenas a F-Futuro, certame promovido por Felipe Massa, e a F3 Sulamericana — embora o nome sugira, é na prática uma F3 brasileira, por enquanto — figuram como categorias de monopostos, mas com grids cada vez com menos carros. do nas mãos de duas associações: o Automóvil Club Argentino (ACA), que não apenas supervisiona, mas promove e organiza todas as categorias do automobilismo do país, com exceção de uma, o Turismo Carretera — comandada por uma entidade própria, a Asociación Corredores Turismo Carretera (ACTC). A curiosidade é que o ACA é o órgão responsável por fiscalizar e coordenar o turismo e o trânsito da Argentina. A grosso modo, é como se a CBA (Confederação Brasileira de Automobilismo) exercesse a função do Detran aqui no Brasil. Por aqui, o poder é descentralizado. Embora a supervisão de todas as competições, desde o kart até a Stock Car, seja de responsabilidade da CBA, cada certame tem sua promoção e organização a cargo de uma empresa. A Vicar cuida da Stock Car e do Brasileiro de Marca, a F-Truck se autogerencia, e até uma parceria no caso do Racing Festival (Trofeo Linea e FFuturo), que é comandado por Carlinhos Romagnoli e Titônio Massa, donos da RM Racing. O Brasil segue assim a Argentina, que sempre foi forte neste tipo de campeonato. O popularíssimo Turismo Carretera, que data de incríveis sete décadas — a mais antiga do mundo em atividade —, o TC 2000, a Top Race V6 e o Turismo Nacional detêm grande popularidade no país. O único certame destinado ao monoposto deles é a F-Renault 2.0, que, ao contrário da brasileira F-Futuro, conta com grids abarrotados em suas etapas. Mesmo sendo uma categoria destinada a formar pilotos, a F-Renault costuma, sim, revelar jovens valores, mas estes não vão para uma F3 Sul-americana ou mesmo para o automobilismo europeu. Eles se transferem para o turismo, o que diminui muito as possibilidades da Argentina em ter um piloto na F1 no futuro. Os ralis têm grande importância, mas as motos têm menos competições do que por aqui, com a Moto1000GP e a Superbike 600, por exemplo. Se no automobilismo interno, o envolvimento do ACA e da ACTC na Argentina é quase onipresente e o da CBA no Brasil poderia (e deveria) ser maior, a chegada das principais competições do esporte a motor mundial aos países pouco ou nada têm a ver com as entidades. Mas os responsáveis pela vinda das categorias top para a América do Sul diferem muito em relação aos dois países. Traçando um paralelo com o automobilismo brasileiro, a Argentina tem caráter muito mais centralizador. O poder, se é que se pode assim dizer, fica concentra- São três os pilares que colocam o Brasil na rota das principais categorias do automobilismo mundial: poder público, iniciativa privada e as emissoras de A julgar apenas pela estrutura do automobilismo interno brasileiro, a CBA, como órgão máximo, não incentiva eventos e categorias de base, como o kart. São raras as competições que contam com incentivo direto da entidade, como algumas no kart e no endurance, e quando tal situação ocorre, a estrutura e os regulamentos são, via de regra, questionáveis. Foto: TC2000 Para um torcedor ou um 'hincha', o termo até pode sonhar como uma heresia, principalmente em se tratando de futebol, esporte que envolve admiração e rivalidade entre os dois países vizinhos do ConeSul. Claro que há algumas diferenças pontuais entre as duas nações, mas quando o assunto é esporte a motor, as coisas mudam de figura totalmente. Até porque o cenário atual é bem parecido. Largada da TC2000 no circuito de Rio Hondo, que passará por uma reforma para receber a MotoGP em 2013 televisão. O GP do Brasil de F1, principal evento do esporte a motor no país, é organizado pela Interpro e conta com amplo apoio da Rede Globo, responsável pela divulgação e transmissão da etapa na TV. A Prefeitura de São Paulo também ajuda na organização. É o órgão público o responsável por negociar as renovações de contrato — válido, por enquanto, até 2014 — com a FOM (Formula One Management) e Bernie Ecclestone, e também cuida da estrutura e eventuais reformas do autódromo de Interlagos, patrimônio da prefeitura local. A equação é semelhante quando se trata da Indy em São Paulo. O município tem influência crucial, uma vez que a categoria faz uso de vias públicas, como a Marginal Tietê e o Sambódromo do Anhembi no circuito de rua que leva o mesmo nome. O evento é promovido pelo Grupo Bandeirantes, que transmite todos os eventos relacionados à competição em suas emissoras, aberta e por assinatura. A SP Indy 300 foi patrocinada neste ano pela Cervejaria Petrópolis e também pela Nestlé. O contrato com a capital paulista é válido até 2019. Criado neste ano pela FIA (Federação Internacional de Automobilismo), o Campeonato Mundial de Endurance vem para suprir a falta do antigo Mundial de Marcas e tem como principal proposta levar para todo o planeta um pouco do espírito das míticas 24 Horas de Le Mans. E a nova categoria terá uma etapa em São Paulo, que será a única cidade a sediar três dos principais certames do automobilismo mundial. As 6 Horas de São Paulo, marcadas para 16 de setembro de 2012, vão contar com o apoio da prefeitura da capital paulista, bem como de Emerson Fittipaldi e da empresa Momentum Sports. Quarta na ordem de importância, o WTCC, que por pouco também não foi realizado em São Paulo neste ano, tem sua sede cravada em Curitiba, que abriga o Mundial de Carros de Turismo desde 2006. Nos últimos anos, a prova teve bom aporte financeiro do banco HSBC, principal patrocinador da prova. A prefeitura local e o estado do Paraná são partes importantes para a realização do evento, que em 2011 foi apoiada pela Vicar, empresa que promove e organiza a Stock Car. As duas categorias andaram juntas durante o fim de semana. Despertar de um gigante A nova referência À WARM UP, Mauricio Gallardo, jornalista especializado em automobilismo e comentarista dos canais Fox Sports da Argentina, falou que a influência do poder público para atrair as maiores competições do automobilismo pretende fazer do país uma referência mundial. “Sem dúvida que Argentina conta com grandes eventos internacionais pela iniciativa do Governo Nacional, que fomenta o turismo como uma marca do país. Mas também é certo que tudo isso é possível porque temos muitas pessoas idôneas aqui para encarar esses desafios”, diz Gallardo. “Ter o Dacar, WRC, Mundial de Enduro e, em breve, a MotoGP, é algo muito importante. E também, o Governo de San Luís também apostou forte com o circuito de grau 2 [da FIA] de Potrero de los Funes e as corridas do FIA GT1”, completa. Dentre todas as categorias top, apenas uma, o WRC, tem alguma influência do ACA, principalmente por sua tradição. O rali é uma das modalidades mais antigas do país, que sedia o Mundial desde 1980. Os eventos mais recentes só foram (ou serão) trazidos à nação por intermédio do Governo Federal, confirma o jornalista portenho, que cobra mais firmeza dos dirigentes locais. “A iniciativa do Governo Nacional tem de encontrar eco nas entidades automobilísticas, isso é o mínimo. Hoje, o WRC é a única categoria internacional que chega ao país pela gestão da ACA e pela histó- ria. Quanto ao restante, o ACA supervisiona, mas as iniciativas são externas, e isso deveria ser repensado, não depender apenas do Governo para poder estar no mapa do automobilismo mundial”, declara o comentarista. Claro, os governos, nem os mandatos dos políticos, são eternos. Preocupações à parte, quem está feliz da vida com a volta da MotoGP à Argentina, 15 anos depois, é Sebastián Porto. Natural de Santa Fé, o argentino foi o último a fazer sucesso no país no Mundial de Motovelocidade, onde chegou a ser vice-campeão da categoria 250cc (hoje equivalente à Moto2), mas se aposentou dois anos depois para correr de carro. Hoje no grid do TC Pista (subdivisão do Turismo Carretera), o piloto de 33 anos está ansioso para a chegada da MotoGP ao circuito de Termas de Río Hondo em 2013 e já faz planos. “Estou muito feliz pela volta da MotoGP, e é algo tão sonhado para todos os fãs do motociclismo. Há muitos planos para formar uma equipe argentina. A ideia é criar uma equipe, mas o mais certo é que eu não seja o piloto, mas, sim, parte da equipe. Tomara que tudo isso possa acontecer”, diz Porto à WARM UP antes da etapa final do Turismo Carretera, no circuito Oscar y Juan Gálvez, em Buenos Aires. A etapa argentina da MotoGP foi confirmada no último dia 13 e teve a presença de Henry Meyer, Ministro do Turismo — o que só reforça o fato de que Kirchner quer aproveitar o esporte a motor para gerar imagens do país para todo o mundo —, e também de Gerardo Zamora, governador de Santiago del Estero, província onde fica Termas de Río Hondo, que passará por reformas para receber a categoria. O evento ainda teve como convidado Andrea Dovizioso, além do próprio Porto. Fotos: Felipe Tesser Em nenhum dos quatro eventos brasileiros existe qualquer influência ou tipo de apoio do governo federal. Situação muito diferente acontece na Argentina, onde a presidenta Cristina Fernández de Kirchner tem papel fundamental. Foto: Indy.com Guerrieri não é bem uma revelação, mas deve estrear na Indy em 2012 Despertar de um gigante ACA apoia revelação Fortíssima no automobilismo interno, a Argentina tem apenas dois pilotos militando no exterior. O mais famoso é Esteban Guerrieri. A verdade é que, com 26 anos, o portenho nem pode mais ostentar a alcunha de revelação. O piloto reúne passagens pela F-Renault argentina e europeia, F3 inglesa e Europeia, World Series, AutoGP, Superliga e, em 2011, disputou a temporada da Indy Lights, onde foi bem e terminou como vice-campeão, atrás de Josef Newgarden. Esteban almeja uma vaga na Indy, o que tem boas chances de acontecer em 2012 — provavelmente será anunciado como companheiro de Tony Kanaan na KV. O outro é Facundo Regalia. Este, sim, é revelação. Mas Facu não foi formado em seu país-natal. Desde a adolescência, vive na Espanha. Com passagens pela F-BMW, e na última temporada, na F3 Italiana — décimo lugar, com dois pódios e uma pole — e também na F3 europeia, Regalia almeja voos mais altos em 2012, e para isso, conta com o apoio do ACA. E para chegar à F1, o piloto espera ter ao seu lado o Governo Nacional, em uma situação semelhante há de 2009. Há dois anos, a FIA definiu as quatro novas equipes do grid da F1: Team 1Malaysia (depois Lotus, e a partir do ano que vem, Caterham), Campos (que virou HRT), Virgin (Marussia em 2012), e a USGP. Esta teria como base a cidade norte-americana de Charlotte. José Maria López, que à época tinha algum nome no cenário internacional, conseguiu patrocínio do governo federal argentino e garantiu uma vaga na nova equipe. No entanto, o time fechou as portas sem ao menos construir seu carro, e lá se foi o sonho argentino de voltar a ter um piloto na categoria. Regalia planeja disputar a AutoGP em 2012 depois de um ano correndo na Itália e se mostra otimista e satisfeito com o futuro, em curto e também em longo prazo. “A verdade é que eu, como argentino que sou, estou supermotivado, principalmente pelos projetos que estão saindo. Espero que a Argentina, além do crescimento que está alcançando, também, de alguma maneira, possa apostar em algum piloto e ajuda-lo economicamente, e espero que possa ser eu, já que meu objetivo final e meu sonho é a F1, e é por isso que vou lugar passo a passo”, declara Facu à WARM UP. Mesmo sem ter ninguém na F1 desde 2001, com o limitado Gastón Mazzacane, a F1 encontra audiên- cia no país, principalmente por sua história vencedora, graças a nomes como Juan Manuel Fangio, Jose Froilán González e Carlos Reutemann. Mas a força do automobilismo local demonstra a influência do esporte. “Basicamente, o argentino compra muito carro de turismo, então é mais rentável para as empresas patrocinarem os carros nessa categoria, justamente porque são mais populares. O povo gosta da F1, mas isso não se estende para o resto das categorias monopostos do país, que aqui são consideradas meramente promocionais”, fala Gallardo. “O rali tem muitos fãs, principalmente em Córdoba, mas essa paixão se estende a todos os fãs do país. Acho que, definitivamente, para a maioria da Argentina, a escala é: turismo (TC, TC2000, TRV6, TN), F1 e rali”, diz. A cruzada pela da segurança Nem tudo são flores nas terras de Dilma Rousseff e Cristina Kirchner. Ao mesmo tempo em que o mundo do esporte a motor mostra cada vez mais interesse em cruzar o Atlântico e desembarcar na América do Sul, questões bem mais graves estão postas à mesa de pilotos, equipes, dirigentes e federações. A maior delas é a segurança — ou a falta de. Brasil e Argentina viveram duas tragédias bastante parecidas em 2011. Em abril, na prova de abertura da temporada da Copa Montana, em Interlagos, uma grande chuva desabou no circuito paulista no começo da etapa. Com pouquíssima visibilidade, Tiago Geromini tocou no carro 44 de Gustavo Sondermann no fim da volta 4. O paulista bateu na curva do Café e foi ricocheteado de volta à pista, sendo acertado em cheio por Pedro Boesel, a temida batida em T. Sondermann não resistiu aos ferimentos e morreu. Renasceu uma discussão em torno da falta de segurança na curva do Café, que já vira o passamento, cerca de três anos e meio atrás, de Rafael Sperafico. Desde então, uma comissão de pilotos foi criada para ser a voz de quem faz o espetáculo frente à Vicar e também à CBA. Aliás, o tema do debate não ficou restrito apenas às condições da pista de Interlagos. Ela foi muito mais ampla e abordou a inércia dos dirigentes e também a arquitetura dos carros da categoria. Sete meses depois da tragédia que vitimou Sonder- mann, os fãs pelo automobilismo argentino provaram deste gosto amargo. Era domingo, 13 de novembro, última volta da etapa de Balcarce, no circuito Juan Manuel Fangio. Na tentativa de se desvencilhar do retardatário Leonel Larrauri, que havia escapado da pista logo à frente dos líderes, Mauro Giallombado e Guido Falaschi, ambos da Ford, tentaram manobras para evitar a batida. Mauro conseguiu escapar, mas 'El Príncipe' não teve a mesma sorte e bateu de frente na barreira de pneus. Assim como aconteceu com Sondermann, Falaschi, com o impacto, voltou à pista e foi acertado em cheio na lateral pelo Chevrolet de Guillermo Ortelli. Para piorar, Néstor Girolami, com Torino, deu a batida que apenas sacramentou a morte do jovem piloto de 22 anos. O clima foi de consternação pela tragédia com alguém tão jovem se mesclou à indignação com os dirigentes que regem a categoria, leia-se ACTC. Oscar Aventin, presidente da entidade, defendeu o circuito e, de certa forma, minimizou as críticas sofridas pela falta de segurança nos carros do Turismo Carretera ao dizer que o acidente de Falaschi foi uma fatalidade. A declaração do dirigente suscitou uma avalanche de críticas de quem faz o espetáculo. Claudio Kohler, da subcategoria TC Pista, não poupou ninguém e afirmou perante a imprensa local que os pilotos “são uns cagões”, cobrando mais união da classe. Quem também falou sobre a falta de engajamento e envolvimento dos pilotos com a segurança da categoria foi Leonel Pernía. Experiente piloto do Turismo Carretera e também do TC 2000 — representante da equipe oficial da Honda Petrobras, equipe por onde foi vice-campeão em 2009 e 2010 —, o corredor é filho de Vicente Pernía, craque do Boca Juniors nas décadas de 70 e 80. Leo, mesmo, foi futebolista mediano, com passagens também pelo Boca, embora sua carreira nas quatro linhas tenha sido construída nos Estados Unidos. Guido Falashi durante prova da Turismo Carretera À WARM UP em Buenos Aires, local da última etapa do TC, Leo também clama por maior união entre os pilotos, sugerindo postura mais cautelosa por parte de alguns, em discussão semelhante com a que emergiu no Brasil depois da tragédia com Sondermann. “Com o que aconteceu em Balcarce, peço a todos os pilotos que coloquemos a mão na consciência, porque estamos pilotando muito além do limite do carro, e em situações como esta, temos de nos atentar e ter mais cuidado entre nós”, diz Pernía. “Nessas situações e depois, temos de trabalhar em conjunto com as categorias e os autódromos para que haja mais segurança”, brada. Gallardo, que era muito próximo de Guido, é mais duro com os dirigentes e critica duramente a falta de estrutura dos autódromos e a inércia das entidades que regem o automobilismo argentino. “É simples: exceção feita a alguns novos circuitos, o resto dos autódromos argentinos, bem como suas medidas de segurança, estão planejados para um automobilismo de duas décadas atrás”, relata. “Hoje os carros são muito potentes, são muito mais rápidos, mas as pistas contam com a segurança de 20 anos atrás. E lamentavelmente, os interesses econômicos muitas vezes fazem com que corridas se realizem onde é impossível. A respeito de Guido, foi uma reação de cadeia, foi uma soma de fatores de muitas coisas que estavam mal e em um lugar que não estava em condições”. Despertar de um gigante Conhecedor como poucos da estrutura do automobilismo argentino, Gallardo analisa a postura dos dirigentes sobre a morte de Falaschi, em discurso que muito se assemelha ao que foi dito pela imprensa crítica e séria do Brasil depois da tragédia que vitimou Sondermann em abril deste ano. “Negar os problemas é negar a realidade, por isso é preciso haver também um fortalecimento do corpo de dirigentes, incorporando jovens, profissionais, entusiastas, técnicos que podem dar nova perspectiva, com outro tipo de compromisso, com novas ideias. Quanto à segurança, segundo me explicou um profissional da aeronáutica, há muitos pontos em que é possível copiá-la. Eles iniciaram um caminho de segurança preventivo, enquanto o automobilismo trabalha de maneira reativa, ou seja, quando algo já aconteceu, e isso se extingue com o tempo”, afirma. Não basta somente construir carros de alta performance. É preciso haver preocupação em proporcionar um cenário para que esses carros possam desenvolver seu potencial, segundo o jornalista. “A respeito dos pilotos, os dirigentes fiscalizadores devem ser mais sérios e exigir determinados níveis de desempenho para determinadas categorias. Em síntese, não está de todo o mal, é preciso potencializar o que é bom e fazer o que falta. É questão de avaliar os critérios e mãos à obra”, finaliza Gallardo, ainda abatido com a perda do amigo Falaschi. Contatados pela WARM UP, tanto a Secretaria dos Esportes da Argentina, bem como os dirigentes do ACA e da ACTC, não responderam às perguntas sobre o atual momento do automobilismo local até o fechamento desta edição. Foto: Divulgação/Turismo Carretera Para Gallardo, as entidades locais não avançaram. “Esse desequilíbrio é evidente no fato de que no país há uma série de pistas inutilizáveis, mas que, ainda assim, continuam sendo usadas. Pilotos e equipes estão lá para correr e fazer seus negócios. As entidades estão lá para organizar o automobilismo, pistas, segurança, etc. Levando em conta que, para as entidades, as prioridades são outras, os protagonistas diretos devem se impor um pouco mais”, sugere o jornalista, indicando que a solução é buscar a mesma solução encontrada no Brasil, ou seja, a criação de uma comissão de pilotos, de modo a garantir a representatividade perante à ACTC ou ao ACA. Despertar de um gigante O renascimento da verdadeira F3 Sul-americana A F3 Sul-americana deve voltar ao que era antes graças à união com a Top Race V6. A categoria de base fez a preliminar do certame argentino no circuito de Paraná. Alejandro Urtubey, presidente da Top Race, se mostrou decepcionado com a atual situação da F3, que contou com apenas dez carros no grid no país. Urtubey se reuniu com dirigentes da categoria e também com Augusto Cesário, dono da equipe com mais vitórias e títulos na história do certame. Foto: F3 Sudam No último mês de outubro, Urtubey, o organizador Dilson Motta e Cesário se reuniram na sede da Top Race para tratar do retorno das equipes argentinas à categoria e chegaram a um acordo. Alejandro comprou oito carros e vai criar quatro equipes com quatro carros cada. Esses bólidos serão guiados apenas por pilotos argentinos, o que preenche a lacuna de espaço para o desenvolvimento de jovens valores do país vizinho, hoje limitados apenas à F-Renault. O calendário da F3 Sul-americana para 2012 deve contar com quatro corridas na Argentina, três no Brasil e mais uma no Uruguai, todas, assim como neste ano, compostas por rodadas triplas no fim de semana. A etapa uruguaia deve ser realizada no badaladíssimo balneário de Punta del Este, formando evento suporte da Top Race V6. Superfinal LIBERDADE CONDICIONAL As redes sociais se tornaram nas mãos dos pilotos um canal aberto de interação, sem intermediários, com fãs, torcedores, jornalistas e... chefes. As opiniões são atentamente acompanhadas por milhares de pessoas, repercutem e muitas vezes geram consequências, como punições aos autores de eventuais críticas. O que representa uma enorme contradição e quase um atentado à liberdade de expressão EVELYN GUIMARÃES de Interlagos e Curitiba cada vez mais notório que o Twitter, o Facebook e as Édemais redes sociais tomaram as o povo das pistas. Nas mãos dos pilotos, iPhones, Blackberrys, Androids e afins ajudam a ampliar a rede, a expandir a informação e a interagir, em suma. É a foto do capacete, é a nova pintura do carro, é o passeio pelo circuito antes da corrida. E talvez seja a interação mais completa e direta com o torcedor, com o fã, com o jornalista e até mesmo com a cúpula de quem gere o esporte. Uma revolução, sem dúvida. Às vezes, vira glamorização. A questão esbarra severamente nos limites. Ou na chamada linha tênue, no caso entre a liberdade de expressão e a crítica desvelada. Um exemplo: Helio Castroneves. Nesta temporada, o piloto da Penske foi multado pela direção da categoria norte-americana em US$ 30 mil (pouco mais de R$ 50 mil) por ter criticado publicamente, inclusive via Twitter, o diretor de prova, Brian Barnhart, por conta de uma punição aplicada pelo dirigente na etapa de Motegi, no Japão. O brasileiro achou a medida injusta e usou o microblog para expressar sua desaprovação. “Foi um erro da Indy”, garante, sem arrependimentos. A atitude de Helio, como se nota, não foi vista com bons olhos pelos comandantes da Indy, que permitiram que a pena do brasileiro zfosse paga em eventos, estes em que se faz presença. Outro caso, também na mesma Indy, foi do companheiro de Castroneves na Penske, Will Power. O australiano também manifestou seu desagrado com a direção da categoria pelo Twitter — e não só por meios digitais, diga-se. Power chiou com a decisão de Barnhart de reiniciar a corrida de New Hampshire, mesmo diante dos protestos dos pilotos em função da chuva fraca que atingia a pista na ocasião. Assim como o colega, Will foi punido. Em nenhum dos casos os pilotos tiveram a chance de defesa. Porém, não há punições previstas no livro de regras da Indy que apontem para um, digamos, mau comportamento virtual de seus competidores. Entre informações triviais e cumprimentos, surgem as críticas. Nem tudo são flores. Aí vêm as reclamações. Ás vezes, estão carregadas de ironia. Em outras, de forma clara, cristalina e direta. “É um absurdo”, “é uma vergonha uma pista como essa”, “fui tirado da corrida e a princesa de sempre não foi punida”. São mensagens retiradas de episódios diversos envolvendo pilotos de várias categorias neste ano. São manifestações que tiveram consequências, ainda que veladas. Os pilotos afirmam que não. Mas situações como as punições na Indy são exemplos de que as categorias se preocupam, sim, com o que eles escrevem e em casos mais específicos, os punem. É quase uma vigília constante, 24 horas, e nós acompanhamos as câmeras sabendo que o chefe do jogo está atento a tudo — do contrário, Power e Castroneves não teriam sido alvos. Às vezes os limites são menos notórios, mas estão lá. É uma espécie de Big Brother na internet. E não só as categorias, mas as equipes também se preocupam. Basta perceber que, na F1, boa parte do grid possui perfil no Twitter, embora pouquíssimos sejam assíduos adeptos do microblog. Rubens Barrichello, um dos pioneiros na utilização do recurso, ainda é um dos que melhor trabalha com a ferramenta. Mesmo assim, notam-se posts sempre polidos, elogiosos, brincadeiras e enxurradas de fotos. Os pilotos da Ferrari, por exemplo, sequer estão inseridos nas redes sociais, o que por si só já reafirma a máxima sobre o ambiente mais frio, profissional ao extremo, restrito e pouco harmonioso da principal categoria do automobilismo. Não é uma regra, claro, mas é uma luz sobre a revolução que as redes sociais provocaram, só que ao contrário. A maioria das categorias não tem essa mesma rigidez da F1. As competições norte-americanas se revelem como o ambiente mais livre nos 140 caracteres. Os EUA possuem como uma de suas bases a premissa da liberdade de expressão. O Twitter e as demais redes viraram uma grande oferta de manchetes para o jornalismo. “Já vi várias matérias publicadas pela imprensa com declaração, fotos, vídeos de coisa que eu coloquei lá”, confirma Tony Kanaan à WARM UP. Ou seja, em um primeiro olhar, é um ambiente livre de censura, limite ou qualquer tipo de controle. “Ninguém tem qualquer influência no Foto: Getty Images Liberdade condicional meu Twitter, e isso é legal”, completa o piloto da KV. Kanaan e Castroneves, os dois principais pilotos brasileiros da Indy e tuiteiros vorazes, especialmente o primeiro, garantem que não existe qualquer tipo de controle por parte da categoria com relação ao que os pilotos escrevem ou à maneira como se expressam nas redes sociais diversas, ou até mesmo em entrevistas corriqueiras. Mas por que, então, Helio teve de pagar US$ 30 mil? “Não, não existe qualquer tipo de censura, nem da categoria, nem da Penske. O que existe é a responsabilidade de cada um no sentido de saber que uma mensagem, seja ela um bom dia ou uma crítica, vai ser vista por milhares de pessoas”, enfatiza à WARM UP Castroneves, que revela que as reclamações que fez contra Barnhart não foram frutos da cabeça quente com a situação. “Eu senti a necessidade de falar com meus fãs, naquela ocasião através do Twitter, sobre uma coisa que eu não achava justa. Não fiz aquilo de cabeça quente ou de forma irresponsável, nada disso. Fiz com convicção de que estava abrindo meu coração para um grupo muito grande de pessoas que, mesmo acompanhando a gente nas corridas, às vezes não sabe o que rola nos bastidores”, explica o piloto, que, embora tenha visto como um erro a postura da Indy, afirma que a atitude não o preocupa. “Não me arrependo. O fato de a categoria ter me punido com uma multa de US$ 30 mil, por me expressar, acho que foi um erro dela, mas isso também não me preocupa. O importante é que pude dizer às pessoas o que estava sentindo e vou continuar fazendo isso, toda vez que achar necessário”, completa. Kanaan também compartilhou da opinião do compatriota. “O Twitter renovou a forma de interação com os fãs. Eles sabem que é a gente mesmo que escreve, que fala com eles, então, isso nos aproximou muito. Realmente virou uma ferramenta indispensável hoje. Mas não controlam nada do que falo [a Indy]. É totalmente pessoal”, salienta o piloto da KV. Não há, como se percebe, até em conversas da reportagem com outros pilotos-tuiteiros, uma espécie de lei da mordaça explícita, embora as reações da Indy digam o contrário. Mas há, por outro lado, uma apreensão dos competidores com a alta exposição nas redes sociais. Os pilotos se preocupam com o que escrevem e para quem escrevem. “O Twitter, por exemplo, é como se estivesse falando comigo pessoalmente, a gente dá credibilidade. 95% é positivo [do público], mas tem 5% que sempre tem uma piadinha idiota, uma crítica sem fundamento... Não bloqueio aquele que me critica com respeito, mas se perder a linha, já era. Teve gente que foi fazer piada após o que aconteceu com o Dan (Wheldon), vê se pode?”, diz Tony. Castroneves tem cada vez mais se impressionado com o alcance do Twitter. “As pessoas realmente estão ligadas, e basta você lançar um bom dia, por exemplo, que gente do mundo todo interage, enviando mensagens, brincando, fazendo pedidos, perguntando coisas”, fala o piloto da Penske. “Eu estou sempre atento e me divirto bastante, além de me informar. É claro que nem tudo é 100%, pois tem sempre um ou outro meio deselegante. Mas eu diria a você que 99,99% das pessoas que interagem comigo o faz com muito carinho e é uma curtição”, completa. Liberdade condicional A queda de Barnhart É interessante perceber que a repercussão das atitudes, muitas vezes desastrosas, de Brian Barnhart ao longo do ano surtiu efeito. Recentemente, Randy Bernard, presidente da Indy anunciou uma série de mudanças no comando da categoria. Dentre as principais alterações, o destaque maior acabou sendo o afastamento de Barnhart do cargo de diretor de provas da catergoria O dirigente, no entanto, segue trabalhando no campeonato, na função de presidente de operações, em que vai cuidar da logística e de questões operacionais, mas não terá mais poder de decisão sobre o que acontece na pista. Foto: Getty Images Barnhart foi constantemente criticado ao longo da temporada de 2011 devido à falta de critérios nas punições. Em diversas ocasiões, os pilotos alegavam que o dirigente punia determinados atletas, mas acobertava outros, em incidentes muito parecidos. O ápice da crise foi durante a etapa realizada no oval de New Hampshire, que Brian liberou o reinício da prova, quando a pista ainda estava molhada. A mordaça brasileira Se na Indy não há no livro de regras nada que aponte punição eventuais declarações negativas dos pilotos, no Brasil a banda toca de forma diferente. Por aqui, algumas categorias procuram incluir em seus regulamentos itens que pedem certo controle por parte dos envolvidos no campeonato. No regulamento esportivo da Stock Car e também do Brasileiro de Marcas, duas das principais categorias do esporte a motor no Brasil, na parte que fala sobre a inscrição dos pilotos dos ditos campeonatos, a letra 'd' afirma que “tem ciência da proibição de manifestação por parte do piloto ou equipe através de qualquer de seus membros, por qualquer meio, que venha a agredir, ofender, deixar dúvidas quanto ao comportamento ou posicionamento de outros pilotos, equipes, direção de prova, comissários da prova, bem como comentários negativos sobre o desempenho ou qualidade dos produtos fornecidos tais como pneus, freios, carrocerias, motores, combustíveis, etc. O não cumprimento deste item implica na pena de suspensão ou desclassificação além de uma multa de 100 (cem) up's”. Na prática, a situação é distinta. E até surpreende. Embora haja, de fato, a preocupação das categorias com aquilo que os pilotos falam à imprensa ou escrevem em seus perfis em redes sociais, os próprios competidores garantem que não há nenhum tipo de censura por parte da promotora, a Vicar, ou da própria CBA, a Confederação Brasileira de Automobilismo. Por outro lado, os pilotos ressaltam que também têm certa preocupação pessoal com aquilo que escrevem ou dizem e que procuram evitar expressar opiniões de Foto: Fernanda Freixosa/Vicar Liberdade condicional cabeça quente ou que possam gera polêmica. Apesar de não possuir perfil nas redes sociais, Cacá Bueno, atual campeão da Stock Car e um dos principais pilotos do automobilismo nacional, é reconhecido por externar opiniões fortes e muitas vezes críticas com relação às categorias em que corre e também no que diz respeito à gestão do esporte no país. Bueno se faz ouvir por meio da imprensa. E como ele mesmo colocou, “tudo que digo sempre acaba tendo um espaço e uma repercussão maior”. O agora tetracampeão da Stock admitiu que já “pagou o preço” pelas declarações, mas reiterou que nunca recebeu qualquer sanção por conta de suas palavras mais ácidas. “Nunca vi ninguém ser punido aqui por ter emitido opinião”, afirma Cacá à WARM UP. “Mas é lógico que quando a gente fala alguma coisa que desagrada, eles também não gostam e estão no direito deles.” O que há, para Cacá, é uma compreensão de cada um daquilo que não seria correto falar. “É lógico que há um pedido, mas, ao mesmo tempo, eu sempre tive liberdade para falar o que eu penso. E muitas vezes, e não foram poucas, eu desagradei com as minhas opiniões. Acho que até paguei o preço por isso em alguns momentos, mas nunca foi por meio de punição. O preço é não ter mais um bom relacionamento com A ou B. Mas punição mesmo, isso eu nunca vi”, completa o piloto. Sem apreço pelas redes sociais, Cacá também vê na interação que elas proporcionam um terreno perigoso. “Eu acho que a gente já deixa escapar para a imprensa algumas opiniões de cabeça quente, que depois, passadas duas ou três horas, já não diríamos da mesma forma. Por isso, acho que, às vezes, o Twitter acaba sendo um facilitador de besteiras. E isso permite muitas vezes que as pessoas emitam opiniões não muito bem elaboradas, opiniões de momento, de cabeça quente e que muitas vezes não condiz a realidade. Eu vejo muito mais notícias de pessoas que arrumaram problemas no Twitter do que soluções”, diz o piloto. Os irmãos Sperafico, que também não possuem contas em nenhuma das redes sociais, afirmam que nunca sofreram com qualquer tipo de censura. “Isso não existe”, disse Rodrigo à WARM UP. “Às vezes, o que acontece é que a gente não fala, mas é porque não tem certeza do que aconteceu em determinada situação”, continuou Ricardo. “Mas é normal a gente falar das punições e daquilo que acontece na pista. Não há nada nisso”, assegura. Thiago Camilo está em situação diferente de Cacá e dos Speraficos, já que é um usuário frequente das redes sociais, especialmente do Twitter. O atual campeão de Brasileiro de Marcas também usa, além da imprensa, o microblog para externar suas opiniões, mas diz que procura evitar polêmicas e reconhece o poder de repercussão que a ferramenta proporciona. E repete que nunca foi repreendido em nenhuma das categorias, por exteriorizar seus pensamentos no microblog ou até mesmo via imprensa. “Nunca me falaram absolutamente nada. Nunca. Até porque nunca falei nada demais”, fala Camilo à WARM UP. “Eu acho que o Twitter é bacana até para o pessoal que acompanha as corridas porque é uma forma de fazer as pessoas entenderem e conhecerem um pouco mais dos bastidores. Às vezes, a pessoa que gosta e que assiste não tem muita ideia do que acontece por trás das coisas, do que acontece antes do carro alinhar ali no grid. E isso acaba estreitando a nossa relação com o público”, diz. Por mais que evite a crítica, Thiago opta pela verdade. “Eu sempre procuro ser o mais sincero possível. Se eu acho que tenho de falar alguma coisa, eu falo mesmo. Nunca pensei em censura e nem nada disso”, afirma. “Tudo que eu acho da categoria, seja ela qual for, positivo ou negativo, eu vou falar, porque entendo que isso também é parte do respeito que tenho pelas pessoas que me acompanham, que torcem por mim. Eu só procuro não criar polêmica porque também não faz muito parte do meu perfil. Mas quando me perguntam alguma coisa, eu tento responder de maneira sincera, especialmente quando entendo do assunto. Quando não entendo não dou palpite.” Pesa na questão o fato de Camilo representar algumas marcas. “Existem diversas maneiras de se interpretar uma discussão e eu procuro levá-las da maneira mais profissional possível. Além disso, hoje você também tem sua imagem ligada a outras coisas, como os patrocinadores, por exemplo. E você também tem de pensar bem naquilo que vai falar, porque isso, de certa forma, pode se refletir no seu patrocinador. Mas, de modo geral, nunca tive esse tipo de problema. Nem com o patrocinador e nem com categoria alguma”, reitera. Também tuiteiro, Allam Khodair, piloto da Stock Car, do Brasileiro de Marcas e do GT Brasil, corroborou com a opinião dos colegas e ressaltou que não existe nas competições nacionais qualquer censura por parte da direção das categorias. Khodair admitiu, entretanto, que os pilotos tomam cuidado com aquilo que escrevem. “Temos de tomar alguns cuidados sim, pois você está publicando coisas que podem ser usadas contra você. Temos de ser coerentes”, conta o paulista à WARM UP. “Nunca tive nenhum tipo de problema com isso [eventual controle das categorias em compete] e não acredito que tenha censura”, acrescenta. “Liberdade de expressão não pode ser censurada”, completa. Falando em liberdade, Cacá reconhece que a preocupação dos dirigentes também está na imagem das competições e que ninguém quer ver seus atletas apontando o dedo para os erros. O piloto até entende a posição dos comandantes, mas reafirma que os competidores são livres para expressar suas opiniões. “O que há é uma preocupação de que não se estrague a imagem de uma categoria. E não estou aqui falando só da Stock. Isso acontece em qualquer categoria”, salienta. “A gente tem liberdade”, insiste. Foto: Duda Bairros/Vicar Liberdade condicional Click Getty Images 21 Dezembro 2011 MELHORES DE 2011
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