a adaptação intralingual em “jane eyre”

Transcrição

a adaptação intralingual em “jane eyre”
CENTRO UNIVERSITÁRIO ADVENTISTA DE SÃO PAULO
CAMPUS ENGENHEIRO COELHO
CURSO DE TRADUTOR E INTÉRPRETE
GABRIELA COLOMBARI DRUN MARTINI
A ADAPTAÇÃO INTRALINGUAL EM “JANE EYRE”
ENHEIRO COELHO
2013
GABRIELA COLOMBARI DRUN MARTINI
A ADAPTAÇÃO INTRALINGUAL EM “JANE EYRE”
Trabalho de Conclusão de Curso do Centro
Universitário Adventista de São Paulo, do
curso de Tradutor & Intérprete, sob a
orientação da Profa Draa Ana Maria de
Moura Schäffer.
ENGENHEIRO COELHO
2013
Trabalho de Conclusão de Curso do Centro Universitário Adventista de São
Paulo, do curso de Tradutor & Intérprete, apresentado e aprovado em 26 de
novembro de 2013
_____________________________________________________
Orientadora: Profa. Draa. Ana Maria de Moura Schäffer
______________________________________________________
Segunda Leitora: Profa.. Ms. Sônia Mastrocolla Gazeta
AGRADECIMENTOS
• A Deus, pela misericordiosa graça que me tem concedido;
• Ao meu esposo, porque mesmo em meio a tantas incertezas ele sempre
confiou no meu sucesso e sempre me incentivou a não desistir;
• Aos meus pais, por todo o apoio necessário para que eu concluísse esse
projeto;
• À minha orientadora, Professora Ana, por toda a ajuda e paciência no
decorrer desse processo, e pelo exemplo profissional que desejo seguir
demonstrado em todos os momentos.
RESUMO
Adaptações e traduções podem ser consideradas tipos de reescritura, e ambas são
importantíssimas na disseminação de cultura e saber para diferentes gerações de
leitores. No entanto, há muita controvérsia sobre como classificar o processo de
adaptação. Há quem diga que ela empobrece a obra original, mas há também
aqueles que defendem que ela é uma forma de incentivar camadas mais jovens à
leitura dos clássicos. Considerando a importância das traduções literárias para o
desenvolvimento e estabelecimento das culturas nacionais, a problemática desse
trabalho direciona-se ao questionamento sobre a importância das adaptações de
obras literárias (AMORIM, 2005), no contexto infanto-juvenil, com o propósito de
desmistificar a noção de que as adaptações são textos pobres, quando comparando
suas características com as das traduções. Diante disso, o objetivo geral buscou
discutir a validade das adaptações para o contexto literário infanto-juvenil,
justificando-o com a realidade vivenciada na maioria das escolas; isto é, muitas
crianças e jovens não desenvolvem o gosto da leitura, muitas vezes por falta de
incentivo, mas também por falta de material interessante, criativo e bem escrito. As
adaptações podem suprir essa necessidade, visto que na maioria são adaptações
dos clássicos da literatura universal, textos que ultrapassam a barreira do tempo e
permanecem obras primas pelo conteúdo, ou pela forma, ou pelo impacto que causa
na vida dos leitores. Além disso, buscamos entender melhor esses dois tipos de
reescritura (LEFEVERE, 2007), com o objetivo de identificar semelhanças e
diferenças, ao fazermos uma comparação entre um capítulo da obra completa “Jane
Eyre”, de Charlotte Brontë, e o mesmo da obra adaptada; portanto uma análise
intralingual, visto termos trabalhado com as obras em inglês.
Palavras-chave: Adaptação; Tradução; Reescritura; “Jane Eyre”.
ABSTRACT
Adaptations and translations can be considered types of rewriting and both are very
important to culture and knowledge dissemination for different generations of
readers. However, there is a lot of controversy on how to classify the adaptation
process. Some say that it impoverishes the original work, but there are also those
who argue that it is a way to encourage younger people to read classic books.
Considering the importance of literary translation to the establishment and
development of national cultures, the premise of this work is directed to questions
about the importance of adaptations of literary works (Amorim, 2005), in the child and
adolescent context, in order to demystify the notion that adaptations are poor texts
when comparing the characteristics of adaptations and translations. Thus, the
general purpose sought to discuss the validity of adaptations to the child and
adolescent literary context, justifying it with the reality experienced in most schools,
that is, many children and young people do not develop a taste for reading, often for
lack of incentive, but also for lack of interesting, creative and well written material.
Adaptations can meet this need, since most are adaptations of the classics of world
literature, texts that go beyond the barrier of time and remain masterpieces for their
content, or shape, or the impact it causes in the lives of readers. In addition, we seek
to better understand these two types of rewriting (Lefevere, 2007), with the aim of
identifying similarities and differences by making a comparison between a full chapter
of the book "Jane Eyre", by Charlotte Brontë, and the same one of the adapted book;
therefore an intralingual analysis, since we have worked with the books in English.
Keywords: Adaptation, Translation, Rewriting, “Jane Eyre”.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 7
2 METODOLOGIA ........................................................................................................ 9
3 ADAPTAÇÃO E TRADUÇÃO ................................................................................. 11
3.1 Adaptação e tradução: duas faces da mesma moeda? .................................. 13
4 CONTEXTUALIZANDO A OBRA “JANE EYRE” .................................................. 17
4.1 Sobre a autora Charlotte Brontë ....................................................................... 17
4.2 Como a crítica via as obras de Brontë .............................................................. 20
4.3 Sobre o contexto histórico e literário ............................................................... 21
4.4 Comentário sobre a obra “Jane Eyre” .............................................................. 22
5 ANLISE DA OBRA ADAPTADA “JANE EYRE” .................................................... 24
5.1 Notas sobre a adaptação intralingual (JAKOBSON, 1974) de “Jane Eyre” .. 22
5.2 Comentário final sobre a análise da adaptação “Jane Eyre” ......................... 28
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 29
7 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 31
ANEXO A – CAPÍTULO 23 DE “JANE EYRE” ......................................................... 32
ANEXO B - CAPÍTULO “A PROPOSAL” DA OBRA ADAPTADA “JANE EYRE” .. 44
7
1. INTRODUÇÃO
Essa pesquisa insere-se na área de Estudos de Tradução, especificamente
sobre as noções dos termos “adaptação” e “tradução”, suas características
individuais, diferenças e semelhanças. Selecionamos este tema porque tínhamos
interesse em entender melhor o que é, de fato, adaptação e qual sua relação com a
tradução. Além disso, as divergências de opiniões com respeito ao tema também
justificam a nossa escolha. Autores como Borges (2001) acreditam que quando um
texto é adaptado muito se perde do original, levando a um “empobrecimento” da
obra. Entretanto, autores como Cony (2006) e Amorim (2005) não partilham da
mesma opinião, sendo a favor da adaptação como uma forma eficiente de
reescritura, ratificando o que afirma Lefevere (2007), ao defender que tanto
adaptações quanto traduções são formas de reescrituras e estão sujeitas às
mesmas coerções e limitações; em momento algum, o autor inferioriza a adaptação
em relação à tradução. Ao contrário, ele as coloca no mesmo nível. Considerando a
importância das traduções literárias para o desenvolvimento e estabelecimento das
culturas nacionais, a problemática desse trabalho direciona-se ao questionamento
sobre a importância das adaptações de obras literárias, no contexto infanto-juvenil,
com o propósito de desmistificar a noção de que as adaptações são textos pobres,
quando comparando suas características com as das traduções.
Portanto, o objetivo geral dessa pesquisa é discutir a validade das adaptações
para o contexto literário. Pois como justificativa, temos o fato de que muitas crianças
e jovens não desenvolvem o gosto da leitura, muitas vezes por falta de incentivo,
mas também por falta de material interessante, criativo e bem escrito. As
adaptações podem suprir essa necessidade, visto que na maioria são adaptados
clássicos da literatura universal, textos que ultrapassam a barreira do tempo e
permanecem obras primas pelo conteúdo, ou pela forma, ou pelo impacto que causa
na vida dos leitores.
A motivação principal da pesquisa é tentar problematizar as críticas em
relação ao processo de adaptação de clássicos literários, levantando questões que
8
apontem para a validade dessas reescritas para leitores não tão habituados a ler
grandes obras.
Já como relevância social a pesquisa tem como objetivo conscientizar
professores e pesquisadores de que para motivar a leitura de clássicos em alunos
não tão habituados a ler, que uma obra adaptada pode ser um elemento motivador
da leitura entre adolescentes. Outro aspecto relevante diz respeito à validade das
adaptações como processos legítimos de tradução e que em muito têm contribuído
para o avanço do sistema literário brasileiro.
O estudo será desenvolvido a partir primeiramente de uma teorização sobre
os conceitos de tradução e adaptação, levando em conta que ambas são tipos de
reescrituras e qual a sua importância para a comunidade de leitores. A seguir,
faremos uma análise de um capítulo da obra adaptada “Jane Eyre” com um capítulo
da versão original. Com isso tentaremos propor que a adaptação é sim uma
produção de grande importância e que não tenta substituir a obra original, mas sim
chamar a atenção de um leitor, que ainda não está maduramente preparado, para
que ele se interesse pela leitura e futuramente sinta vontade de ler a versão original.
9
2. METODOLOGIA
Nossa pesquisa se voltou para o estudo das noções de tradução e adaptação
comparando as duas definições, com base em autores como Britto (2012), Lefevere
(2007), Machado (2002), Cony (2006), Borges (2007) e principalmente nos escritos
de Amorim (2005).
Após esse embasamento teórico tratamos de oferecer uma contextualização
sobre a vida e a obra de Charlotte Brontë, o contexto histórico da época em que a
autora viveu, e um breve comentário com informações e características da obra
“Jane Eyre”.
Essa contextualização é importante para que o leitor possua uma base teórica
para a próxima etapa do projeto, que consiste em uma análise detalhada
comparando um capítulo do texto original em inglês de “Jane Eyre” com o capítulo,
referente que foi adaptado para pré-adolescentes, também em inglês. A obra original
usada foi a versão da Arcturus, publicada em 2009, a obra adaptada também tem
como título “Jane Eyre” e foi recontada por Anna Claybourne para a coleção
Usbourne Classics Retold da editora Usbourne. Essa versão é o que Jakobson
(1974) classifica como “adaptação intralingual”, pois é feita na mesma língua da
versão original. O capítulo escolhido foi o de número 23, do original, e o seu capítulo
respectivo “A Proposal”, da versão adaptada. Uma cópia de cada capítulo se
encontra nos anexos deste trabalho.
O formato da análise seguiu os passos na análise feita por Ana Cristina César
(1999) do conto “Bliss”, de Katherine Mansfield, que consiste de notas enumeradas
em ordem de aparição.
É Importante ressaltar que, pensando em um leitor que não entenda Inglês,
traduzimos para o português a maioria das palavras e frases retiradas dos textos.
Outra observação é que, em alguns casos, colocamos frases ou palavras das duas
versões juntas, lado a lado. Nesses casos, a primeira frase é sempre referente ao
livro original, e a segunda, à adaptação.
10
Foi escolhido fazer uma análise para que pudéssemos, a partir dela, prover
argumentos que consolidem a teoria de que adaptações são obras válidas e que
podem desempenhar um papel importante no desenvolvimento do hábito da leitura
em leitores mirins.
11
3 ADAPTAÇÃO E TRADUÇÃO
Em minha primeira graduação em Letras, meu trabalho de conclusão de curso
foi sobre a importância da leitura dos clássicos adaptados para crianças e
adolescentes. Por meio da pesquisa, foi possível descobrir que muitos alunos do
ensino fundamental da escola com a qual tivemos contato mal sabiam o que era um
clássico universal. Grande parte desses alunos não possuía o hábito da leitura,
contudo ao se fazer a mesma pesquisa em uma escola que trabalhava
constantemente com a adaptação de clássicos e comparar os resultados, observouse que o nível de leitura dos estudantes e o gosto pela mesma eram maiores.
Ana Maria Machado, em seu livro “Como e por que ler os clássicos universais
desde cedo” escreve sobre a necessidade de se difundir mais a leitura desse tipo de
livro entre jovens e crianças, ainda que em forma de adaptações; para Machado
(2002), é provável que se perceba cada vez mais gerações com dificuldades na
compreensão da literatura atual por desconhecimento dos clássicos. Ou seja, os
leitores menos experientes não conseguirão, ou pelo menos não terão uma
experiência de leitura mais aprofundada, ao lerem um livro com referências clássicas
por não compreenderem a intertextualidade ali presente, já que não leram, nem
sabem da existência de tais obras clássicas.
Após percebermos junto a Machado (2002) essa grande lacuna no processo
de leitura por falta do conhecimento dos clássicos e já ter desenvolvido um trabalho
enfatizando a importância dos clássicos adaptados para tentar minimizar tal
desconhecimento, fomos motivadas a entender melhor como se dá o processo de
adaptação de obras. Afinal, o que é a adaptação no contexto da literatura? Seria
uma tradução? Qual sua relação com a reescritura e sua importância como
literatura? Para responder ou talvez levantar mais questionamentos sobre o assunto,
fundamentamos as buscas em autores que tem problematizado essas questões.
Entre eles, enfatizamos Amorim (2005), que em sua obra “Tradução e adaptação”,
discorre sobre o assunto a partir de pesquisas realizadas para sua pesquisa de
doutorado.
12
É interessante observar que mesmo na área de Estudos da Tradução, as
tentativas de se estabelecerem conceitos de tradução e de adaptação são
consideradas polêmicas e recorrentes, pois, para alguns, a adaptação empobrece a
obra original (BORGES, 2001); já, para outros, ela possibilita que leitores
monolíngues tenham contato com autores canônicos da literatura universal, de uma
forma acessível (CONY, 2006).
Amorim (2005, p. 119) também discute estas divergências, afirmando que,
devido à grande polêmica em torno da adaptação, ela “pode ser associada tanto à
noção de ‘enriquecimento’ quanto à de ‘empobrecimento’”. Mais adiante, o autor
tenta definir a adaptação, expondo que esta seria “um processo de transformação
que [...] possibilitaria veicular imagens e estilos que poderiam ser considerados ‘fiéis’
ao texto de referência” (AMORIM, 2005, p. 120).
Mas o que é uma adaptação literária? Foquemos primeiro então, no sentido
convencional do termo. Segundo Houaiss, “adaptar significa basicamente ajustar ou
acomodar”; mas além dessa definição o dicionário traz uma outra mais específica
com relação à obras escritas: “modificar para tornar mais de acordo com o público a
que se destina.
Outro autor que tem abordado o assunto é Lefevere (2007), que na obra
“Tradução, reescrita e manipulação da fama literária” introduz e explica o termo
reescritura, importante para a compreensão do que é adaptação, já que segundo o
autor, toda reescritura é um tipo de adaptação. Grandes escritores têm “recontado”
os clássicos, e para Lefevere (2007, p. 9), os processos de recontar, adaptar e
traduzir são, de certa forma, semelhantes: “O mesmo processo de reescritura
funciona na tradução, na historiografia, na elaboração de antologias, na crítica e na
edição. Obviamente que atua, inclusive, em outras formas de reescritura, como nas
adaptações para o cinema e televisão”.
Para exemplificarmos melhor o que é uma adaptação, tomemos o exemplo de
um gênero que é bastante familiar; um filme baseado em um livro. Falemos então,
sobre o clássico de Victor Hugo “Os Miseráveis”, que foi recentemente reproduzido
para o cinema. O livro é bastante extenso, para então, que a história coubesse em 3
horas de duração, foram necessárias muitas alterações, eliminando boa parte dos
detalhes, falas, e até ações. E mais, essa última versão foi produzida em formato de
13
musical, o que precisou de mais alterações para que nas partes cantadas, o
espectador pudesse entender o que estava se passando. Entretanto, mesmo com
todas as alterações, o filme não deixa de transmitir a essência do livro, e quem
assiste, mesmo sem ter lido a obra, pode entender tranquilamente a história.
Em adaptações literárias, principalmente as infanto-juvenis, acontece
basicamente o mesmo que nas adaptações cinematográficas. É preciso eliminar
muitos detalhes no vocabulário e na escrita, mas sem deixar de passar a ideia
principal do livro. O roteiro é diminuído, mas os fatos principais e essenciais são
mantidos. O que muda é a forma como eles são escritos. Isso é extremamente
necessário pois o vocabulário precisa encaixar no vocabulário apropriado para a
faixa etária dos leitores, e também porque se a obra a ser adaptada for muito
extensa, ela precisa ser diminuída, visto que o tamanho do livro muitas vezes
assusta esses jovens leitores acostumados com livros pequenos e cheios de
gravuras.
Diante disso, pode-se dizer que uma boa adaptação deve prezar pela história
no geral, ao adaptar na íntegra a forma em que o livro foi escrito para a forma como
o leitor receptor da adaptação está acostumado. Como toda a adaptação é
atravessada pelas marcas de quem a faz, o que pode levar a mudanças
inconscientes e por razões ideológicas, justifica-se pelas suas características o
porquê de ser considerada uma reescritura, conforme nomenclatura de Lefevere
(2007). É o texto original adaptado, reescrito, reformulado, com o objetivo de atingir
determinado público-alvo.
3.1 Adaptação e tradução: duas faces da mesma moeda?
A partir das considerações sobre o pressuposto de que toda tradução e
adaptação são tipos de reescritura (LEFEVERE, 2007), neste tópico, discorreremos
sobre a relação entre “adaptação e tradução”.
Ler um livro na língua em que ele foi escrito é uma atividade que poucas
pessoas são capazes de realizar. A literatura de outros países sempre esteve
difundida em todas as culturas. Um leitor não se contenta somente com livros
escritos na sua língua, é viável porém, que alguém consiga ler em alemão, francês,
14
inglês, espanhol, mas em todas as línguas é impossível. Assim, se uma pessoa não
entende alemão, espanhol, francês, mas gostaria de ler Goethe, Cervantes e Victor
Hugo, a tradução é a forma mais simples e fácil de se conhecer a literatura desses
autores e de muitos outros. Logo, a tradução se faz necessária para difundir
culturas, ampliar conhecimentos e trazer prazer para alguém que não pode ler em
várias línguas. E já que, como vimos, a tradução é uma reescritura, confirma-se
então a afirmação de Lefevere (2007, p. 21) de que as reescrituras “são
responsáveis pela recepção geral e pela sobrevivência de obras literárias em nossa
cultura global”. Sem as traduções, muitos leitores ficariam sem conhecer autores de
outras nacionalidades, o que num mundo globalizado é praticamente inaceitável.
Trazendo para o contexto das adaptações literárias infanto-juvenis, elas
funcionam para esse público basicamente como as traduções para o público mais
adulto. As adaptações trazem para esses leitores inexperientes, livros e histórias
que devido ao grau de complexidade na escrita e interpretação, eles só
conseguiriam ler e entender anos mais tarde.
Para leigos e desavisados as atividades de tradução e de adaptação podem
parecer simples. Essas pessoas categorizam as duas da seguinte maneira: tradução
seria a simples “reprodução” de um texto-fonte em outra língua, levando em
consideração alguns aspectos literários; e a segunda como a “recriação” de um texto
em outro, com mais liberdade de escrita.
É com essa categorização em mente que surge a ideia de inferioridade da
adaptação em relação à tradução, que as adaptações são por vezes infiéis, com
conteúdo facilitado e que descaracterizam o livro original.
Entretanto, Rodrigues (apud AMORIM, 2005) defende que ambas “Traduções
e adaptações envolvem transformação e são construídas de acordo com certas
convenções e restrições dependentes do tempo e lugar em que são realizadas,
assim como o público a que se destinam”. Para fundamentar mais ainda a tese de
que as noções de tradução e adaptação são mais complexas e obscuras do que
parecem, consideremos o que diz AMORIM (2005, p.29): o autor defende que a
tradução
...recontextualiza a obra literária original, gerando outras imagens –
reinscrevendo-a numa outra realidade na qual é concebida, como um
processo por meio do qual se transforma o texto original, tornando-o
15
aceitável do ponto de vista da poética vigente em torno do autor e da
obra que é traduzida.
Tendo em mente a definição de Amorim, é possível afirmar que a adaptação
também reescreve uma história em outra realidade, levando também em
consideração aspectos culturais, estilísticos e linguísticos para torná-la aceitável
perante seu público-alvo.
Outro aspecto que é muito discutido é o de que o tradutor deve tentar ao
máximo se aproximar da meta de fidelidade. Como ratificam autores como Arrojo
(2007) e Britto (2012), é impossível reproduzir determinado texto de uma língua para
outra sem alterações por razões diversas; e essa impossibilidade exige que sejam
feitas modificações necessárias para que a literariedade do original não seja
afetada, e não para o tradutor fazer-se visível ao leitor. É preciso fazer modificações
para que características literárias do autor e da obra, o grau de sintaxe, o tipo do
vocabulário, o grau de formalidade, as conotações e muitas outras coisas, sejam
reproduzidas na tradução, e para que o leitor tenha a mesma experiência ao ler uma
tradução que ao ler a obra no idioma original.
Já Amorim (2005, p. 46) nem leva em conta essas modificações, pois afirma:
“Na tradução, legitimam-se interferências justamente pelo fato de não serem
reconhecidas como tais, já que são consideradas apenas meios de se alcançar a
suposta ‘essência’ do original”. Ou seja, essas alterações são tão necessárias para
apropriar o texto à língua para a qual se está traduzindo, que simplesmente pelo fato
de as línguas serem diferentes, transformações na escrita são fundamentais.
Da mesma forma, as modificações de uma adaptação também deveriam ser
aceitáveis, visto que essa é uma outra leitura, uma outra criação, que não difere em
muita coisa da chamada tradução livre. Mas ainda assim, muitos acreditam que
essas modificações, embora conscientes e autorizadas, são transgressões,
violações do texto original. Mas Amorim (2005) acredita que ambas as atividades
estão
extremamente
interligadas
nessa
confusão
de
categorização.
Para
exemplificar isso, ele cita dois casos de tradução que se assemelham à noção de
adaptação.
Ana Maria Machado possui uma tradução de “Alice no País das Maravilhas”,
de Lewis Carrol,, classificada pela editora um resultado com muitas alterações na
escolha dos poemas-paródias encontrados no original. (quem diz isto? Referenciar)
16
A autora “adaptou-os” para cantigas do folclore brasileiro, que não podem ser
chamadas de equivalentes, visto que as referências culturais e linguísticas do
público-alvo dos dois livros, crianças britânicas e crianças brasileiras, são muito
diferentes. E mesmo assim, o livro é classificado como uma tradução, mesmo
havendo elementos drasticamente alterados, o que muitos chamariam de
transgressões tradutórias.
O outro exemplo é o do escritor tcheco Milan Kundera que, decepcionado
com algumas traduções de sua obra para o inglês, decidiu ele mesmo traduzi-la,
omitindo mais de cinquenta passagens, retirando referências à história tcheca e
alterando personagens, além de deixar de mencionar tais alterações no prefácio do
livro. No entanto, a obra de Kundera foi classificada como tradução. Para Amorim:
Exemplos de Machado e Kundera, considerados traduções dos
originais, sugere que embora um determinado trabalho apresente-se
como tradução’, certamente promove a recriação de imagens,
valores e tendências em relação ao texto original de forma tão
decisiva, ‘transgressora’ e, ao mesmo tempo, ‘aceitável’ (para uma
determinada sociedade, prática discursiva ou público-alvo) quanto
qualquer ‘adaptação’ poderia fazer (AMORIM, 2005, p. 46).
Com isso, percebemos que em alguns casos, é complicado classificar uma
obra em adaptação ou tradução pois delimitar o que faz parte do domínio da
adaptação e o que faz parte do domínio da tradução é uma atividade bastante
complexa.
17
4 CONTEXTUALIZANDO A OBRA “JANE EYRE”
Neste capítulo, iremos trazer uma contextualização sobre a vida e a obra de
Charlotte Brontë, o contexto histórico da época em que a autora escreveu a obra
“Jane Eyre” e um breve comentário com informações e características do livro.
4.1 Sobre a autora Charlote Brontë
Filha do clérigo anglicano irlandês Patrick Brontë e Maria Branwell, Charlotte
Brontë nasceu em Thorton, Yorkshire, Inglaterra, em 1816. A terceira de seis irmãos,
possuía duas irmãs mais velhas, Maria e Elizabeth; um irmão, Patrick Branwell, e
duas irmãs mais novas, Emily e Anne. Quatro anos após o nascimento de Charlotte,
seu pai fora nomeado reverendo em Haworth, uma pequena e típica vila situada
entre as charnecas frias e ventosas de Yorshire, lugar para onde a família se mudou.
Mas como era típico da época, a falta de encanamento e de um bom fornecimento
de água normalmente levava a doenças e enfermidades e infelizmente, um ano após
terem se mudado, sua mãe morreu de câncer. Charlotte tinha apenas cinco anos e,
a partir desse momento, se transformou na figura amiga e maternal das irmãs. Uma
tia por parte de mãe, Elizabeth, ficou encarregada de ajudar o pai com a educação
das crianças e então, eles decidiram que as meninas mais velhas frequentariam
uma escola confessional chamada Clergy Daughter’s School, em Cowan Bridge.
Foi uma época muito difícil para as meninas. As condições da escola eram
precárias e afetaram permanentemente o crescimento físico de Charlotte e levaram
suas duas irmãs à morte. Com isso, Charlotte voltou para casa e juntamente com
seus outros irmãos começaram a criar histórias durante suas brincadeiras. As
crianças liam muito e sua imaginação voava em meio às paisagens idílicas de onde
moravam. Chegaram até a criar países, e escrever sobre os habitantes e as lutas de
seus reinos imaginários. Charlotte e o irmão escreviam crônicas sobre Angria, e
Emily e Anne poemas e artigos sobre Gondal. Parte das histórias são encontradas
hoje em forma de manuscritos. São rebuscadas e elaboradas, e instigaram os
18
irmãos desde a infância e adolescência, o que os preparou para o início de suas
carreiras literárias.
Charlotte continuou sua educação na Roe Head School, em Mirfield, de 1831
a 1832. Durante esse período, ela escreveu a novela “The Green Dwarf”, usando o
pseudônimo Wellesley. Charlotte voltou à escola como professora em 1835, e
permaneceu ali até 1839. Depois disso, trabalhou como governanta para várias
famílias de Yorshire até 1841. No ano seguinte, ela e Emily viajaram até Bruxelas
para trabalhar no internato dirigido por Constantin Heger e sua mulher. Charlotte
ensinava inglês e Emily música como pagamento pelas aulas a que elas assistiam
de francês, alemão e literatura. Elas faziam isso com o objetivo de um dia abrirem
sua própria escola. Pouco tempo depois, as meninas tiveram que voltar para casa
por causa da morte da tia Elizabeth; depois Charlotte voltou sozinha ao internato
para ocupar um cargo de professora. Alguns escrevem que, enquanto morou na
Bélgica, Charlotte se sentia muito sozinha e com saudades de casa. Sensível,
começou a se apaixonar por Constantin. Acabou voltando para casa e, em 1944,
escreveu os romances “Villete” e “O Professor”, publicados posteriormente. Alguns
acreditam que esses livros foram inspirados em suas experiências no internato.
Dois anos depois, Charlotte, Emily e Anne publicaram uma coleção de
poemas em conjunto e de modo independentes com os pseudônimos Currer, Ellis e
Acton Bell. Os pseudônimos protegiam a identidade das irmãs mesmo tendo as
iniciais de cada uma. O sobrenome Bell veio do vigário de Haworth, Arthur Bell
Nicholls, com quem Charlotte se casaria alguns anos mais tarde. O livro não fez
sucesso, mas as irmãs continuaram a escrever e publicaram seus primeiros
romances sob a proteção dos pseudônimos. Charlotte disse certa vez que elas
usavam nomes diferentes pois não gostavam de chamar atenção, e nem de se
declararem mulheres, uma vez que suspeitavam que a maneira com que escreviam
e seus pensamentos não eram o que se poderiam considerar femininos para os
padrões da época.
O primeiro manuscrito de Charlotte, “O Professor”, não conseguiu publicação,
mas o segundo, com o título “Jane Eyre – Uma Autobiografia” foi publicado após
apenas seis semanas, em 1847. Houve muita especulação quanto à identidade de
Currer Bell, pseudônimo de Charlotte, se este seria um homem ou uma mulher,
depois que Emily publicou “O Morro dos Ventos Uivantes” e Anne “Agnes Grey”,
19
também sob pseudônimos. Dos três livros, o que fez mais sucesso na época foi o
livro de Charlotte; daí tanta especulação com respeito a sua autoria. Alguns críticos
passaram a classificar a obra como grosseira, quando começaram a suspeitar que
esta poderia ter sido escrita por uma mulher. Contudo, as vendas do livro não
pararam, ao contrário, elas aumentaram por causa da reputação de livro “impróprio”.
Com o sucesso de “Jane Eyre”, a autora começou a trabalhar em outro
manuscrito, “Shirley”. O livro se diferenciava do primeiro, por ser escrito em terceira
pessoa. Porém o ano de 1848 foi um ano triste para os Brontë. O único filho homem
morreu de bronquite crônica, causada pelo alcoolismo, em setembro. Seguido de
Emily, que morreu em dezembro de tuberculose. E em maio do ano seguinte, foi a
vez de Anne, que também morreu da mesma doença que a irmã.
Charlotte ficou muito abalada com a falta dos irmãos. A partir da publicação
de “Shirley”, notou-se uma mudança no tom de escrita de Charlotte e as críticas do
livro foram variadas. Alguns acharam que o livro não era tão chocante e que faltava
o imediatismo emocional do primeiro. Mas Charlotte, após ter se revelado a autora
do sucesso “Jane Eyre”, passou a frequentar Londres, a conselho de seu editor, e
começou a fazer parte de círculos literários. Neles, conheceu muitos autores como
William Thackeray e Elizabeth Gaskell, a última escreveria uma biografia sobre
Charlotte após a morte da amiga.
O terceiro livro publicado durante a vida de Charlotte foi “Vilette”, no qual ela
volta a escrever em primeira pessoa e também coloca alguns elementos biográficos.
O livro foi considerado por alguns como potente e sofisticado, mas outros o
classificaram também como grosseiro e pouco feminino na descrição dos desejos da
personagem principal.
Antes da publicação de “Vilette”, Charlotte recebeu uma proposta de
casamento de Arthur Bell Nicholls, que já era apaixonado por ela havia algum
tempo. Ela no primeiro momento recusou a oferta, e seu pai foi contra devido à
situação financeira de Nicholls não ser muito satisfatória. Sua amiga Elizabeth
Gaskell encorajou Charlotte a considerar os aspectos positivos da união. Charlotte,
nesse meio tempo, começou a se atrair pela atenção demonstrada por Arthur, e em
Janeiro de 1854, ela aceitou a proposta do clérigo. Seu pai por fim abençoou a união
e eles se casaram em junho.
20
A escritora engravidou pouco depois do casamento, mas não foi uma gravidez
tranquila. Gaskell, na biografia que escreveu sobre Charlotte, diz que ela sofria muito
com as náuseas e desmaiava com frequência. Em março de 1855, Charlotte morreu
sem chegar a dar à luz, aos 38 anos. As causas de sua morte são incertas, em sua
certidão consta que morreu de tuberculose, mas muitos defendem que ela possa ter
morrido de desidratação e subnutrição, e outros afirmam que ela adquiriu febre
tifoide, contraída de uma criada da família que morreu pouco antes dela.
Seu primeiro manuscrito, “O Professor”, foi publicado depois de sua morte,
em 1857. E um fragmento no qual ela estava trabalhando já foi terminado por
autores recentes, a versão mais famosa é de Clare Boylan, “Emma Brown: A Novel
from the Unfinished Manuscript by Charlotte Brontë”. Muitos dos materiais sobre
Angria também foram publicados.
4.2 Como a crítica via as obras de Brontë
A mais prolífica das irmãs Brontë, Charlotte escreveu um dos maiores
clássicos românticos da literatura inglesa. De caráter complexo, a autora é descrita
pelo crítico David Cody (1987) como possuidora de um caráter complexo; cheia de
integridade e determinação, honesta, tenaz e independente, mas ao mesmo tempo
demonstrava ser emocionalmente insegura, tímida, sensível e frágil. A autora
colocava muito de si em suas personagens, todas as características são
encontradas nas suas criações. Suas mulheres são independentes e trabalhadoras,
porém no interior são inseguras e sensíveis. Até mesmo as características físicas,
Charlotte transportava para elas, como por exemplo Jane Eyre, que é descrita como
simples e de nenhuma beleza notória. Assim Charlotte se via fisicamente.
O crítico Cody (1987, internet) também escreveu sobre suas ficções serem
intensamente românticas, com ênfase no gótico e no sobrenatural, de intensa
sexualidade, embora imperceptível a alguns da época, e sua sátira implícita a alguns
costumes e ideias da época. Ele diz que Charlotte colocava muito de suas
experiências pessoais em seus livros. Suas histórias tendiam para o “conto de
fadas”, devido ao fato de Charlotte só ter se apaixonado realmente uma vez e esse
amor ter sido proibido e condenado, mas como já dito antes, talvez isso nem tenha
21
acontecido. As personagens de suas histórias do país Angria são todas heroínas
apaixonadas, ardentes, condenadas, sensíveis e solitárias. Sobre Charlotte, a
escritora Virginia Woolf comentou que “Toda a sua força, […], vai para as
afirmações: "eu te amo", "eu odeio", "eu sofro".
A história das irmãs Brontë é muito trágica, e Charlotte, por ter visto todos,
exceto seu pai, morrerem foi quem mais sofreu e demonstrou isso em seus escritos.
Escrever para ela era uma necessidade de livramento, de afastamento da sua vida
cheia de luto. Mas mesmo transpondo muito de si e sua vida em suas histórias, ela
faz isso de maneira belissimamente artística.
4.3 Sobre o contexto histórico e literário
Charlotte Brontë se insere no contexto do governo da Rainha Vitória, a
chamada Era Vitoriana. Cláudio Vicentino, em seu livro de história geral, afirma que
“O Século XIX foi marcado pelo predomínio econômico inglês”. E diz mais: “[...] foi
marcado pelo desenvolvimento econômico capitalista, pelo triunfo do liberalismo e
do imperialismo, bem como pela efervescência do sentimento nacionalista e da
doutrina socialista” (VICENTINO, 2006, p. 306).
Era uma época de muitas teorias, mas também de muita pobreza e injustiça.
A fé e a moral estavam abaladas por conta do surgimento de alguns novos
pensamentos, como a teoria de Darwin e o socialismo de Marx. Porém, mesmo com
todos esses novos ideais, alguns assuntos ainda eram tabus, como o sexo. Ainda
que surgisse o “novo”, o “velho” era exigência obrigatória. A família, o
comportamento da mulher e a literatura permaneciam tradicionais. O puritanismo
ainda era vigente na época. As irmãs Brontë surgiram então, com intuito de quebrar
alguns desses ideais, que elas achavam antiquados e retrógrados.
O estilo literário das irmãs era o estilo característico da época. O novel
(romance) era o formato mais usado. Por serem muitas vezes lidos em família e em
rodas literárias, muito cuidado se tinha em não publicar conteúdo que ferisse os
princípios moralistas. Alguns autores tinham até o costume deles próprios narrarem
suas histórias; Charles Dickens foi quem mais ficou famoso por ser exímio contador
de suas histórias. Outros autores desse período também se eternizaram como
22
William Thakeray, Thomas Hardy, Conan Doyle com seu Sherlock Holmes e Lewis
Carol com sua Alice para as crianças.
Os trabalhos das irmãs Brontë eram muito apreciados pela sociedade, mas
uma vez que revelado sua autoria, Charlotte enfrentou problemas, como
mencionado anteriormente, pelo conteúdo grosseiro e comportamento pouco
feminino de Jane Eyre para os padrões puritanos da época.
4.4 Resumo da obra “Jane Eyre”
A personagem principal que dá nome ao romance é órfã de pai e mãe, por
isso é enviada pela tia, que a odeia, para um internato de meninas, precariamente
administrado. Após seis anos como aluna e mais dois como professora, a jovem
encontra uma posição na propriedade Thornfield Hall como preceptora de uma
criança, a menina Adèle, pupila de Edward Rochester.
Conforme o tempo vai passando, e conforme Jane e Rochester, através de
conversas sérias, enquanto a menina Adèle brinca, ambos se apaixonam
perdidamente, mas nenhum revela o amor ao outro. Jane se martiriza por não se
achar digna de Rochester; Rochester por conter um segredo que só é revelado perto
do final do livro.
Depois de um tempo, Rochester se declara e pede Jane em
casamento. Ela aceita e tudo parece perfeito até o dia do casório quando um homem
aparece na cerimônia e revela que Rochester já é casado com sua irmã. Isso de fato
era verdade, mas Rochester explica que fora enganado pelo pai, sogro e cunhado. A
esposa que lhe arrumaram quando jovem era louca e perigosa, devendo ficar
trancada num quarto escondido na casa onde moram.
Jane, muito decepcionada, foge sem rumo no dia seguinte. Faminta e quase
morrendo é acolhida por uma família, que após um tempo com eles, descobre que
são seus primos e que recebeu uma herança de um tio seu. St. John, o primo vigário
da paróquia local, decide partir para a Índia ser um missionário, e Jane se oferece
para ir junto, mas ele só a levaria se ela se casasse com ele. Jane hesita muito, mas
23
quando está quase aceitando, como num sonho, ela escuta a voz de Rochester, o
qual ela nunca esquecera, chamando seu nome.
Ela decide descobrir o que acontecera a Rochester e porque o chamado
parecia tão suplicante. Ao chegar em Thornfield Hall, se depara com a casa toda
destruída por um incêndio. A tragédia fora ocasionada pela esposa louca de
Rochester, que morrera ao cair de cima da casa, e esse se encontra cego, sem uma
das mãos e pobre, aos cuidados de dois criados fiéis, em uma casa pequena
próxima dali. Como agora é viúvo, Jane se permite casar com ele. Os dois vivem
felizes, e até uma parte da visão de Rochester é restaurada quando seu primeiro
filho nasce.
24
5 ANÁLISE DA OBRA ADAPTADA “JANE EYRE”
Nesta parte do trabalho encontra-se uma análise detalhada comparando um
capítulo do texto original em inglês de “Jane Eyre” com o mesmo da adaptação,
também em inglês, “Jane Eyre” feita por Anna Claybourne.
5.1 Notas sobre a adaptação intralingual (JAKOBSON, 1974) de “Jane Eyre”
NOTA 1
Em ambos os primeiros parágrafos as autoras iniciam descrevendo o
entardecer de verão de um dia não especificado, nos jardins da propriedade
Thornfield. Charlotte é extremamente detalhista ao descrever a pureza do céu, os
que cercavam Thornifield, a superioridade das árvores escuras contrastadas com as
clareiras ao redor. A adaptadora manteve uma importante palavra do original
“midsummer-eve”, importante pois é a partir dela que sabemos que se trata do
entardecer de verão, mas transformou para a forma de escrita corrente
“midsummers’eve”, contudo ela foi bem mais concisa em sua descrição, falando
somente do ar, do cheiro das flores, e acrescentando o canto de um rouxinol.
Charlotte é muito detalhista com respeito às paisagens e pensamentos, e
todas as suas descrições são belamente literárias, os recursos são altamente
descritivos e às vezes até um pouco cansativos. Dessa maneira, visando o público
alvo, repetir todos os detalhes e todas as informações que Charlotte usa,
provavelmente levariam o leitor jovem a se desinteressar pelo livro, pois esse
público normalmente prefere muito mais ação do que descrição literária. Logo, creio
que a adaptadora fez bem em diminuir bastante as descrições, mas ainda assim ela
coloca alguns elementos simples mas altamente descritivos ao escrever: “O ar
estava abafado, e o cheiro das flores e o doce cantar do rouxinol me cercavam”.
A adaptadora também exclui a informação de que Adèle, tendo colhido
morangos à tarde, havia ido dormir com o sol ainda à vista, e somente depois que
ela fora dormir é que Jane saiu para o jardim. Após isso Charlotte descreve mais um
25
pouco o pôr-do-sol se pondo no penhasco. Mais uma vez, a adaptadora evitou
exagerar nas descrições e foi direto para a próxima informação.
NOTA 2
Outra informação que a adaptadora excluiu é que Jane, ao perambular pelo
jardim, sente um conhecido cheiro de charuto, e isso para a leitora sensível é
extremamente estimulante pois é possível adivinhar que o cheiro pertence ao amado
de Jane, Sr. Rochester.
Após sentir o aroma, Jane fica preocupada achando que alguém,
principalmente seu patrão, poderia estar observando-a, e para evitar que fosse vista,
ela se dirige ao orquidário. Ali Charlotte abusa mais uma vez de descrições
detalhadas sobre os cantinhos escondidos do lugar, as árvores, os caminhos
projetados pela grama, uma castanheira-da-índia gigante circulada por um banco, na
qual alguém poderia ficar sem ser visto.
A adaptadora pula todas as descrições, e simplesmente diz que Jane ao virar
uma esquina se depara com o Sr. Rochester, que ele estava inclinado mexendo em
algo, e que Jane acredita que ele não a tinha visto. Já a autora, traz novamente o
cheiro do charuto; Jane então procura de onde vem o cheiro, e ela se auto-reprime,
afirmando que precisa fugir dali. E é quando ela começa a se movimentar, o Sr.
Rochester chega, ela se esconde e fica o observando, esperando que ele vá
embora. Como ele se demora analisando uma mariposa, ela tenta sair escondida
achando que, por ele estar tão entretido, não a veria, visto também que já estava um
pouco escuro pois a lua já apareceria. E é nesse momento que Rochester se dirige a
ela calmamente: – “Jane, venha ver essa companheira”.
Na adaptação, mesmo não tendo a descrição da lua, e a movimentação de
Jane, o fato de Jane tentar sair sem ser vista, e a surpresa do chamado são
mantidos com a frase “Eu achei que ele não tinha me visto, mas ele chamou: ‘Venha
ver essa mariposa, Jane”’.
26
NOTA 3
Rochester começa a puxar assunto com Jane, mas ela sente dificuldades em
responder, visto que está lutando internamente, pois ela não gostaria de ficar
andando tão tarde com ele no orquidário sombrio, mas não vê razão para ir embora.
Na adaptação, esses pensamentos são omitidos.
Rochester começa a fazer uma série de perguntas a Jane sobre do que ela
sentiria falta com respeito à propriedade e às pessoas quando fosse embora. Na
adaptação, a adaptadora criou somente uma pergunta com respeito a isso. Mas a
pergunta de Jane — “Devo abandonar Thornfield?” — “Devo ir embora logo?” — é
mantida.
NOTA 4
Em ambos os casos, logo após a pergunta de Jane, Rochester começa a
discorrer sobre o fato que irá casar e que Jane não poderá ficar mais na casa. No
original essa fala é bem mais longa e detalhada do que no adaptado. No primeiro,
ele fala que ira casar dentro em breve, sobre sua noiva, e nesse momento, por ele
repreender Jane que estava olhando para outro lado, percebemos a angústia que a
jovem sente ao ele falar da Senhorita Blanche. Após isso ele a relembra que foi ela
quem disse que não poderia ficar em Thornfield após o casamento e que ele a
ajudaria a arranjar um emprego antes que ele se casasse, e que já tinha até um em
mente, com a Senhora O’Gall, na Irlanda. Nesse momento Jane afirma que a Irlanda
fica muito longe da Inglaterra,, de Thornfield, e quando Rochester pergunta: — “E
então?”— ela fala que fica — “De você, senhor” — e começa a chorar de leve, mas
sem ser ouvida.
Na adaptação, Rochester simplesmente afirma: “Estarei casado dentro de um
mês, e já encontrei um trabalho para você, com a Senhora O’Gall, na Irlanda”.
Assim, a provocação de Rochester, quando ele fala sobre Blanche, e a angústia de
Jane, não são observadas. Mas, a fala de Jane com respeito a Irlanda ser muito
distante, e Rochester ficar perguntando: “Longe de quê?” até que ela fala: — “De
você, senhor” —, são reproduzidas quase na íntegra. Entretanto, na adaptação,
Jane pensa: — “Eu podia sentir as lágrimas começando a aparecer”—, antes de
afirmar que ficará longe dele.
27
NOTA 5
Sobre a principal parte do capítulo, o diálogo, podemos afirmar que é o clímax
do livro e é reproduzido com bastante similaridade no sentido mas possui bastantes
alterações na ordem das falas e até eliminação de algumas delas. No original,
Rochester primeiro instiga Jane, dizendo que quando ela for para a Irlanda, eles
nunca mais se verão; e depois que ele sente que ambos possuem uma ligação e
que essa ligação será perdida e ela o esquecerá. Jane afirma que isso nunca
acontecerá. Depois ele chama a atenção dela para o rouxinol que canta. E ao ouvir,
Jane começa a chorar convulsivamente e ela se abre, falando que ama Thornfield,
que teve uma vida completa e cheia de prazer ali, que ela nunca se sentiu presa e
sim estimulada por conviver com uma pessoa como Rochester, e que ela sente
muito que será afastada de tudo isso por causa do casamento dele com a Senhorita
Blanche. E é nesse momento que ele diz não ter nenhuma noiva. Ela diz que ele um
dia terá e que ela não aguentará ser nada para ele, que só porque ela é pobre,
simples, obscura e pequena ela não significa que ela não possua sentimentos, e
com isso vemos a força que Charlotte coloca nas personagens femininas. Jane
afirma que são os espíritos deles que estão interligados e que eles são iguais. E ele
então, concorda com ela sobre o fato de eles serem iguais, a prende em seus
braços e a beija nos lábios.
Na adaptação, a ordem das falas é um pouco diferente, mas a emoção do
momento é reproduzida. Aqui, Rochester também a instiga mas bem rapidamente,
falando que eles nunca mais se veriam, e após isso ela já explode em lágrimas.
Então ele fala da ligação que ele sente em relação a ela e que se ela fosse embora
ela o esqueceria. Ela afirma que isso nunca aconteceria e se abre, falando: —
“Minha vida aqui tem tudo que eu sempre esperei, conforto, gentileza, e, em você,
verdadeiro companheirismo. Quando penso em ir embora, é como se eu pensasse
em morrer”. Com bem menos palavras, a adaptadora explica o que Jane sente em
relação a Rochester e a sua vida em Thornfield, sem perder muito do original. Ele
então pede que ela não vá embora, o que não acontece no original, e ela fala então
que precisa ir por causa da noiva dele, pois ela sabe que ele não a ama, que
simplesmente porque ela é pobre e simples não significa que ela não possua alma e
sentimentos, mas que seus sentimentos são tão fortes como os dele. Ele então a
puxa para si e beija sua face.
28
Vemos aqui, que mesmo a adaptadora tendo feito algumas alterações, a
essência do momento não foi perdida. Alguns itens muito importantes foram
mantidos, como a caracterização da autora como pobre e simples, e isso é
importante pois remete ao fato de que Charlotte Brontë acreditava ser simples e
modesta, e que ela colocava muito de si em suas personagens. O beijo nos lábios
só aparecerá quando Jane aceita o pedido de Rochester. A autora pode ter alterado
isso para não passar a ideia de que Rochester a beija à força, visto que o públicoleitor são crianças e adolescentes.
NOTA 6
Após o beijo, no original, Jane ainda tenta argumentar com Rochester de que
eles são iguais, mas ao mesmo tempo não, pois ele vai se casar com uma mulher
que não ama e ela desprezaria tal união; ela então pede que ele a deixe ir pois ela já
havia falado tudo que queria e poderia ir para qualquer lugar que quisesse. Ele diz
para ela não lutar como um pássaro desesperado. E nessa parte ela diz uma das
frases mais divulgadas e fortes do livro: –"Eu não sou um pássaro, e nenhuma rede
me prende. Sou um ser humano livre com vontade própria". Com isso Rochester
oferece sua mão, seu coração e uma parte de todas as suas posses, mas Jane acha
que ele está brincando com ela. Ele continua pedindo que ela passe o resto da vida
ao seu lado e ela continua argumentando, e ele pedindo por muito tempo. Até que
ele explica que não se casará com a senhorita Ingram pois ele a enganou, enquanto
estava vestido de cigana, dizendo que sua fortuna não era nem um terço do que era
especulado, e ela então começou a tratá-lo com frieza. Ele diz para Jane que a ama,
mesmo pobre, obscura, simples e pequena. Ela pede então para analisar seu rosto.
E depois de argumentar mais um pouco sobre a honestidade dos sentimentos de
Rochester ela diz: – “Então, senhor, eu me casarei contigo”. Ele pede que ela o
chame de Edward e ela o faz.
Já na versão adaptada, Rochester simplesmente pede que Jane não vá
embora, depois de ela se abrir sobre seus sentimentos, e ela diz que não pode vê-lo
se casando com a senhorita Blanche. Ele diz então, que se casará com ela (Jane),
Ela acha que ele está brincando com ela e então ele explica a questão da cigana e
da fortuna, e que os preparativos para o casamento são para Jane. Ela olha para
29
seu rosto e o analisa; e logo em seguida diz: “– “Então, senhor, a resposta é sim”.
Ele pede que ela o chame de Edward e eles se abraçam e se beijam.
Aqui vemos que a autora diminuiu bastante o diálogo entre os dois
personagens, alguns elementos importantes foram retirados, como o fato de ele falar
que a ama mesmo sendo obscura, simples pobre e pequena, características
fundamentais para o contexto da autora Charlotte Bronttë; a conhecida frase de
Jane, que mostra novamente a força e independência que Charlotte gosta de
transmitir em suas personagens femininas e o desespero de Rochester também não
foi reproduzido fielmente. Contudo, a autora manteve parte dos argumentos de Jane,
reproduziu, os argumentos de Rochester para não se casar com Blanche, e também
na fala de Jane, ao aceitar o pedido, o pronome de tratamento “senhor”, que é
importante pois no decorrer da história, vemos que há uma submissão exagerada da
parte de Jane para com Rochester, e no momento que ele pede que ela o chame
por Edward, essa submissão é quebrada.
NOTA 7
Após Jane aceitar o pedido, no original ela e Edward permanecem mais um
pouco no orquidário conversando sobre como ninguém pode atrapalhar a união dos
dois. Eles decidem entrar, e no caminho, Charlotte descreve bastante a noite, a lua e
a chuva que começara a cair. Quando eles chegam em casa, a senhora Fairfax
acaba vendo os dois se beijando, mas Jane só percebe o olhar “sério, pálido e
admirado” da viúva depois. Jane pensa que a senhora poderia ter uma opinião
errada do que acabara de ver, mas ela só explicaria depois. Na manhã seguinte,
Adèle a acordou dizendo que a castanheira-da-índia havia sido atingida por um raio
e metade dela havia se separado.
Na versão adaptada, esse trecho é bem similar, com exceção das descrições
excessivas que a adaptadora mais uma vez eliminou. Eles decidiram entrar na casa,
e no caminho a chuva começou a cair. Eles chegaram na casa de braços dados e
Rochester beija Jane novamente. E antes que Jane pudesse subir para seu quarto
ela vê a senhora Fairfax a encarando com assombro. Ela pensa que as explicações
ela daria depois. Quando ela acordou na manhã seguinte, Adèle entra no quarto
30
para contar que a grande castanheira-da-índia tinha sido atingida por um raio e se
partira em duas.
Vemos que, afora a eliminação das descrições, a adaptadora foi bem fiel,
mantendo o assombro da senhora Fairfax ao ver o recém casal se beijando, e o mau
presságio da castanheira sendo atingida por um raio
NOTA 8
No original, o capítulo se encerra com o presságio. Já na adaptação, a autora
uniu os dois capítulos seguintes, fazendo simplesmente uma separação entre o
presságio e a próxima ação da história.
5.2 Comentário final sobre o processo de adaptação de “Jane Eyre”
Charlotte Brontë conseguiu o que poucos escritores conseguem, criar um
clássico em todos os sentidos: enredo interessante com personagens fortes,
marcantes e carismáticos, em um nível de escrita excelente e com mensagens
importantes para o público. Adaptar um livro desse não é tarefa fácil mas a partir da
análise acima, pode-se dizer que Anna Claybourne fez um bom trabalho.
Saindo do contexto do capítulo analisado e entrando na obra no geral, a
adaptadora Claybourne trouxe a sua adaptação todos os elementos principais do
original. No que tange às construções dos personagens principais, ela enfatizou as
principais características; em sua “Jane Eyre”, encontramos a mesma jovem simples
e modesta, inteligente, mas insegura, determinada e fiel aos seus princípios que
temos na “Jane Eyre” de Charlotte. No personagem Rochester encontramos um
senhor sério, fechado, autoritário, mas ansioso por carinho e atenção.
Com respeito ao roteiro, Claybourne também não deixou passar nenhum
detalhe considerado por ela como importante como: a rejeição na casa da tia que a
adotara, a ida para o colégio de meninas e o difícil tempo passado lá; o
desenvolvimento do relacionamento com Rochester e a luta de Jane para reprimir
31
seus sentimentos; o relacionamento falso com a senhorita Blanche Ingramm, o
pedido de casamento e a trágica descoberta do segredo de Rochester. A fuga de
Jane, o acolhimento por parte dos irmãos Rivers. O pedido de casamento de St.
John e o chamado de Rochester. E por fim, o reencontro dos dois em meio à miséria
decorrida do incêndio em Thornfield. Esses acontecimentos são fundamentais para
o entendimento da obra; talvez seja por isto que nenhum deles fora eliminado.
A partir da análise feita, podemos concluir que Claybourne, além de manter as
partes importantes do roteiro, também mantém alguns elementos essenciais
característicos da autora. Palavras importantes do original que caracterizam os
personagens foram mantidas, como a descrição de Jane como “Simples, pequena,
obscura e modesta”, e o decorrente uso de “Senhor”, referindo-se a Rochester”.
Uma característica literária importante de Brontë são as ricas descrições dos
cenários e dos pensamentos de Jane. A adaptadora, para não deixar o livro extenso,
elimina grande parte destas descrições, mas em nenhum momento, deixa de
descrever algum elemento, como o entardecer, o cantar do rouxinol, a chuva que
começa a cair, etc. Quanto aos pensamentos de Jane, ela os limita bastante, mas
sempre buscando manter a principal ideia.
Quanto à emoção transmitida nas principais partes do livro, obviamente que
para um leitor maduro, que tenha lido a obra na íntegra, a adaptação fica muito
aquém do original. Contudo, para um leitor inexperiente, cremos que o nível de
emoção colocado seja suficiente. Sem contar as ilustrações presentes na versão
usada que também transmitem vivacidade à obra.
Com respeito à mensagem do original, consideramos que o livro se destina
especialmente às mulheres e passa mensagens especiais para elas: a de que as
mulheres devem focar em desenvolver suas habilidades intelectuais; devem ser
independentes e ter opiniões próprias; devem manter-se fiéis aos seus princípios; e,
quando encontrar um homem digno de seu amor, precisam conservar-se até o
momento certo; e por fim respeitar e auxiliar o companheiro em todas as
dificuldades. Acreditamos que essas mensagens ficam evidentes também na versão
adaptada.
Portanto, mesmo que a adaptadora tenha feito muitas alterações e diminuído
o conteúdo do livro original, nem o roteiro, nem os personagens, nem a mensagem
32
final foram prejudicados. A adaptação “Jane Eyre”, cumpre o seu propósito de inserir
um clássico universal feminino de maneira leve, sucinta, fiel, e bonita para um
público infanto-juvenil.
33
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na área de Estudos da Tradução, as tentativas de estabelecer conceitos de
adaptação, quando comparados aos de tradução, são bastante polêmicas, visto que
para alguns autores, como Borges (2001), a adaptação empobrece a versão original,
mas para outros, ela possibilita que leitores mais jovens e menos experientes
tenham contato com autores consagrados por suas obras classificadas como
clássicos universais.
Como objetivos de pesquisa, tínhamos em mente problematizar diferenças e
semelhanças entre os conceitos de tradução e adaptação, com base em autores
como Lefevere (2007) e Amorim (2005). E a análise da obra original e da versão
adaptada “Jane Eyre” nos ajudou a aprofundar nossa tese de que, conforme
Machado (2002), as obras adaptadas bem escritas provêm um primeiro encontro
com uma obra, e desse primeiro encontro pode brotar o gosto da leitura nos leitores
jovens e abrir caminho para a leitura do original e de outros clássicos da literatura
posteriormente.
A partir da análise também pudemos fortalecer a tese de que adaptações não
são textos empobrecidos. No geral, eles sofrem modificações para se enquadrarem
nos padrões do público-alvo a que se destina. E para isso são necessárias várias
modificações, como: encurtamento do roteiro, que envolve eliminação de detalhes
desnecessários para o entendimento geral da obra, junção de capítulos, alteração
na ordem de falas ou ações dos personagens; alteração no vocabulário e a forma
como algumas ações são colocadas na obra original; e por fim, alterações no estilo
de escrita, considerando-se que quem está fazendo a adaptação é outro autor, o
que torna natural e esperado estilos diferentes daqueles do autor do original.
Após analisar os capítulos escolhidos e as duas versões, o original e a
adaptação, no geral, vimos que o encurtamento do roteiro foi necessário, pois no
caso de “Jane Eyre” e também de muitos outros clássicos, o livro é bastante longo, e
uma adaptação muito extensa poderia desanimar um leitor não experiente. As
crianças que estão sendo inseridas na leitura começam esse processo com livros
pequenos e com muitas gravuras, e os adolescentes ainda não acostumados a ler,
34
não se interessariam por um livro muito grande, com um conteúdo que não é voltado
especificamente para eles. A junção de capítulos e a alteração na ordem das falas e
ações se devem justamente por causa do encurtamento da história, para que a
sequência de ações, agora reduzidas, faça total sentido. As alterações vocabulares
são necessárias para que, tanto a criança quanto o adolescente tenha total
compreensão da obra. É claro que um bom livro infanto-juvenil não possui somente
palavras conhecidas desse público, mas busca também instigá-los a descobrir o que
são as palavras desconhecidas presentes no texto. Mas mesmo assim, é preciso
fazer uma adequação vocabular para a faixa-etária a qual o livro se destina. Já o
estilo de escrita precisa ser alterado algumas vezes, pois a maneira como o autor
escreve pode se tornar um pouco cansativa para os leitores não experientes, como
no caso da obra analisada que é cheia de descrições, por vezes enfadonhas.
Mesmo com todas as alterações identificadas, é possível sentir na adaptação
as emoções e a perspicácia do autor clássico. Isso pôde ser feito por meio de
palavras-chave da obra original que se mantiveram na adaptação, além da tentativa
de seguir o estilo de escrita do autor, o que não é tarefa fácil. No entanto, mesmo
com algumas diferenças no estilo e nas cenas pouco modificadas, a obra manteve
grande parte dos diálogos ou situações importantes para o desfecho e a
compreensão da obra.
Assim, conquanto as alterações feitas na obra adaptada não prejudiquem a
compreensão da história e mantenham as características principais do autor do
original, uma adaptação não pode ser considerada como uma versão facilitadora ou
mesmo empobrecida da obra completa, visto que são necessárias para se
enquadrar ao público-leitor. E essas adaptações, conforme Machado (2012), podem
cumprir o difícil papel de cativar o leitor pouco afeito à leitura, fazendo com que o
mesmo adquira o gosto pela leitura e se interesse por outros livros. Dessa maneira,
no futuro, quando estiver mais bem preparado intelectualmente, se sentirá motivado
a ler os clássicos, não mais na versão adaptada, mas o próprio original. Logo,
concluímos que o processo de adaptação tem seus objetivos bem definidos e não
deve ser considerado inferior pelo fato de sofrer alterações que provocam a
diminuição das páginas, se o seu objetivo básico de incentivar a leitura dos clássicos
entre os infanto-juvenis for alcançado.
35
7 REFERÊNCIAS
BORGES, Jorge Luis. Translators of The Thousand and One Nights. . London:
Penguin Books, 2001.
BRITTO, P. H. A Tradução Literária. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012.
CODY, David. Charlotte Brontë: an appreciation. 1987. Disponível em:
<http://www.victorianweb.org/authors/bronte/cbronte/brontbio1.html>. Acesso: 29 jun.
2013
CONY, Carlos Heitor. As adaptações dos clássicos e a voz do Senhor. São
Paulo: Scipione, 2006. Disponível em:
<http://www.scipione.com.br/scipione_educacao>. Acesso em out. de 2013.
JAKOBSON, Roman. Aspectos Linguísticos da Tradução.São Paulo: Editora
Cultrix, 1970.
LEFEVERE, A. Tradução, Reescrita e Manipulação da fama literária. London:
Routledge, 1992.
MACHADO, Ana Maria. Como e por que ler os Clássicos Universais desde cedo.
Rio de Janeiro: Objetiva, 2002.
MENDES, Oscar. Estética Literária Inglesa. Belo Horizonte: Editora Itatiaia
Limitada, 1983
POPOVIÈ, A. The concept “shift of expression in translation analysis. In
HOLMES, J., HAAN, F., POPOVIÈ, A. (Ed.) The nature of translation. The Hague:
Mouton, 1970.
VICENTINO, Cláudio, História Geral. São Paulo: Scipione, 2007.
36
ANEXO A – CAPÍTULO 23 DE “JANE EYRE”
A splendid Midsummer shone over England: skies so pure, suns so radiant as
were then seen in long succession, seldom favour even singly, our wave-girt land. It
was as if a band of Italian days had come from the South, like a flock of glorious
passenger birds, and lighted to rest them on the cliffs of Albion. The hay was all
got in; the fields round Thornfield were green and shorn; the roads white and baked;
the trees were in their dark prime; hedge and wood, full-leaved and deeply tinted,
contrasted well with the sunny hue of the cleared meadows between.
On Midsummer-eve, Adèle, weary with gathering wild strawberries in Hay
Lane half the day, had gone to bed with the sun. I watched her drop asleep, and
when I left her, I sought the garden.
It was now the sweetest hour of the twenty-four: ‘Day its fervid fires had
wasted,’ and dew fell cool on panting plain and scorched summit. Where the sun had
gone down in simple state – pure of the pomp of clouds – spread a solemn purple,
burning with the light of red jewel and furnace flame at one point, on one hill-peak,
and extending high and wide, soft and still softer, over half heaven. The east had its
own charm or fine deep blue, and its own modest gem, a casino and solitary star:
soon it would boast the moon; but she was yet beneath the horizon.
I walked a while on the pavement; but a subtle, well-known scent – that of a
cigar – stole from some window; I saw the library casement open a handbreadth; I
knew I might be watched thence; so I went apart into the orchard. No nook in the
grounds more sheltered and more Eden-like; it was full of trees, it bloomed with
flowers: a very high wall shut it out from the court, on one side; on the other, a beech
avenue screened it from the lawn. At the bottom was a sunk fence; its sole
separation from lonely fields: a winding walk, bordered with laurels and terminating in
a giant horse-chestnut, circled at the base by a seat, led down to the fence. Here one
could wander unseen. While such honey-dew fell, such silence reigned, such
gloaming gathered, I felt as if I could haunt such shade for ever; but in threading the
flower and fruit parterres at the upper part of the enclosure, enticed there by the light
the now rising moon cast on this more open quarter, my step is stayed – not by
sound, not by sight, but once more by a warning fragrance.
37
Sweet-briar and southernwood, jasmine, pink, and rose have long
been yielding their evening sacrifice of incense: this new scent is neither of shrub nor
flower; it is – I know it well – it is Mr. Rochester's cigar. I look round and I listen. I see
trees laden with ripening fruit. I hear a nightingale warbling in a wood half a mile off;
no moving form is visible, no coming step audible; but that perfume increases: I must
flee. I make for the wicket leading to the shrubbery, and I see Mr. Rochester entering.
I step aside into the ivy recess; he will not stay long: he will soon return whence he
came, and if I sit still he will never see me.
But no – eventide is as pleasant to him as to me, and this antique garden as
attractive; and he strolls on, now lifting the gooseberry-tree branches to look at the
fruit, large as plums, with which they are laden; now taking a ripe cherry from the
wall; now stooping towards a knot of flowers, either to inhale their fragrance or
to admire the dew-beads on their petals. A great moth goes humming by me; it
alights on a plant at Mr. Rochester's foot: he sees it, and bends to examine it.
‘Now, he has his back towards me,’ thought I, ‘and he is occupied too perhaps,
if I walk softly, I can slip away unnoticed.’
I trod on an edging of turf that the crackle of the pebbly gravel might not betray
me: he was standing among the beds at a yard or two distant from where I had to
pass; the moth apparently engaged him. ‘I shall get by very well,’ I meditated. As I
crossed his shadow, thrown long over the garden by the moon, not yet risen high, he
said quietly, without turning ‘Jane, come and look at this fellow.’
I had made no noise: he had not eyes behind – could his shadow feel? I
started at first, and then I approached him.
‘Look at his wings,’ said he, ‘he reminds me rather of a West Indian insect; one
does not often see so large and gay a night-rover in England; there! he is flown.’
The moth roamed away. I was sheepishly retreating also; but Mr. Rochester
followed me, and when we reached the wicket, he said ‘Turn back: on so lovely a
night it is a shame to sit in the house; and surely no one can wish to go to bed while
sunset is thus at meeting with moonrise.’
It is one of my faults, that though my tongue is sometimes prompt enough at
an answer, there are times when it sadly fails me in framing an excuse; and always
the lapse occurs at some crisis, when a facile word or plausible pretext is specially
38
wanted to get me out of painful embarrassment. I did not like to walk at this hour
alone with Mr. Rochester in the shadowy orchard; but I could not find a reason to
allege for leaving him. I followed with lagging step, and thoughts busily bent on
discovering a means of extrication; but he himself looked so composed and so grave
also, I became ashamed of feeling any confusion: the evil – if evil existent or
prospective there was – seemed to lie with me only; his mind was unconscious
and quiet.
‘Jane,’ he recommenced, as we entered the laurel walk, and slowly strayed
down in the direction of the sunk fence and the horse- chestnut, ‘Thornfield is a
pleasant place in summer, is it not?;
‘Yes, sir.’
‘You must have become in some degree attached to the house, – you, who
have an eye for natural beauties, and a good deal of the organ of Adhesiveness?’
‘I am attached to it, indeed.’
‘And though I don't comprehend how it is, I perceive you have acquired a
degree of regard for that foolish little child Adèle, too; and even for simple dame
Fairfax?’
‘Yes, sir; in different ways, I have an affection for both.’
‘And would be sorry to part with them?’
‘Yes.’
‘Pity!’ he said, and sighed and paused. ‘It is always the way of events in this
life,’ he continued presently: ‘no sooner have you got settled in a pleasant restingplace, than a voice calls out to you to rise and move on, for the hour of repose is
expired.’
‘Must I move on, sir?’ I asked. ‘Must I leave Thornfield?’
‘I believe you must, Jane. I am sorry, Janet, but I believe indeed you must.’
This was a blow: but I did not let it prostrate me.
‘Well, sir, I shall be ready when the order to march comes.’
‘It is come now – I must give it to-night.’
39
‘Then you are going to be married, sir?’
‘Ex-act-ly – pre-cise-ly: with your usual acuteness, you have hit the nail
straight on the head.’
‘Soon, sir?’
‘Very soon, my – that is, Miss Eyre: and you'll remember, Jane, the first time I,
or Rumour, plainly intimated to you that it was my intention to put my old bachelor's
neck into the sacred noose, to enter into the holy estate of matrimony – to take Miss
Ingram to my bosom, in short (she's an extensive armful: but that's not to the point –
one can't have too much of such a very excellent thing as my beautiful Blanche):
well, as I was saying – listen to me, Jane! You're not turning your head to look after
more moths, are you? That was only a lady-clock, child, “flying away home.” I wish
to remind you that it was you who first said to me, with that discretion I respect in you
– with that foresight, prudence, and humility which befit your responsible and
dependent position – that in case I married Miss Ingram, both you and little Adèle
had better trot forthwith. I pass over the sort of slur conveyed in this suggestion on
the character of my beloved; indeed, when you are far away, Janet, I'll try to forget it:
I shall notice only its wisdom; which is such that I have made it my law of action.
Adèle must go to school; and you, Miss Eyre, must get a new situation.’
‘Yes, sir, I will advertise immediately: and meantime, I suppose–’ I was going
to say, ‘I suppose I may stay here, till I find another shelter to betake myself to:’ but I
stopped, feeling it would not do to risk a long sentence, for my voice was not quite
under command.
‘In about a month I hope to be a bridegroom,’ continued Mr. Rochester; ‘and in
the interim, I shall myself look out for employment and an asylum for you.’
‘Thank you, sir; I am sorry to give–’
‘Oh, no need to apologise! I consider that when a dependent does her duty as
well as you have done yours, she has a sort of claim upon her employer for any little
assistance he can conveniently render her; indeed I have already, through my future
mother-in-law, heard of a place that I think will suit: it is to undertake the education of
the five daughters of Mrs. Dionysius O'Gall of Bitternutt Lodge, Connaught, Ireland.
You'll like Ireland, I think: they're such warm-hearted people there, they say.’
40
‘It is a long way off, sir.’
‘No matter – a girl of your sense will not object to the voyage or the distance.’
‘Not the voyage, but the distance: and then the sea is a barrier–’
‘From what, Jane?’
‘From England and from Thornfield: and–’
‘Well?’
‘From you, sir.’
I said this almost involuntarily, and, with as little sanction of free will, my tears
gushed out. I did not cry so as to be heard, however; I avoided sobbing. The thought
of Mrs. O'Gall and Bitternutt Lodge struck cold to my heart; and colder the thought
of all the brine and foam, destined, as it seemed, to rush between me and the master
at whose side I now walked, and coldest the remembrance of the wider ocean –
wealth, caste, custom intervened between me and what I naturally and inevitably
loved.
‘It is a long way,’ I again said.
‘It is, to be sure; and when you get to Bitternutt Lodge, Connaught, Ireland, I
shall never see you again, Jane: that's morally certain. I never go over to Ireland, not
having myself much of a fancy for the country. We have been good friends, Jane;
have we not?’
‘Yes, sir.’
‘And when friends are on the eve of separation, they like to spend the little
time that remains to them close to each other. Come, we'll talk over the voyage and
the parting quietly half-an-hour or so, while the stars enter into their shining life up in
heaven yonder: here is the chestnut tree: here is the bench at its old roots. Come, we
will sit there in peace to-night, though we should never more be destined to sit there
together.’ He seated me and himself.
‘It is a long way to Ireland, Janet, and I am sorry to send my little friend on
such weary travels: but if I can't do better, how is it to be helped? Are you anything
akin to me, do you think, Jane?’
I could risk no sort of answer by this time: my heart was still.
41
‘Because,’ he said, ‘I sometimes have a queer feeling with regard to you –
especially when you are near me, as now: it is as if I had a string somewhere under
my left ribs, tightly and inextricably knotted to a similar string situated in the
corresponding quarter of your little frame. And if that boisterous Channel, and two
hundred miles or so of land come broad between us, I am afraid that cord
of communion will be snapped; and then I've a nervous notion I should take to
bleeding inwardly. As for you, – you'd forget me.’
‘That I never should, sir: you know–’ Impossible to proceed.
‘Jane, do you hear that nightingale singing in the wood? Listen!’
In listening, I sobbed convulsively; for I could repress what I endured no
longer; I was obliged to yield, and I was shaken from head to foot with acute distress.
When I did speak, it was only to express an impetuous wish that I had never been
born, or never come to Thornfield.
‘Because you are sorry to leave it?’
The vehemence of emotion, stirred by grief and love within me, was claiming
mastery, and struggling for full sway, and asserting a right to predominate, to
overcome, to live, rise, and reign at last: yes, – and to speak.
‘I grieve to leave Thornfield: I love Thornfield: – I love it, because I have lived
in it a full and delightful life, – momentarily at least. I have not been trampled on. I
have not been petrified. I have not been buried with inferior minds, and excluded
from every glimpse of communion with what is bright and energetic and high. I have
talked, face to face, with what I reverence, with what I delight in, – with an original, a
vigorous, an expanded mind. I have known you, Mr. Rochester; and it strikes me with
terror and anguish to feel I absolutely must be torn from you for ever. I see
the necessity of departure; and it is like looking on the necessity of death.’
‘Where do you see the necessity?’ he asked suddenly.
‘Where? You, sir, have placed it before me.’
‘In what shape?’
‘In the shape of Miss Ingram; a noble and beautiful woman, – your bride.’
‘My bride! What bride? I have no bride!’
42
‘But you will have.’
‘Yes; – I will! – I will!’ He set his teeth.
‘Then I must go: – you have said it yourself.’
‘No: you must stay! I swear it – and the oath shall be kept.’
‘I tell you I must go!’ I retorted, roused to something like passion. ‘Do you think
I can stay to become nothing to you? Do you think I am an automaton? – a machine
without feelings? and can bear to have my morsel of bread snatched from my lips,
and my drop of living water dashed from my cup? Do you think, because I am
poor, obscure, plain, and little, I am soulless and heartless? You think wrong! – I
have as much soul as you, – and full as much heart! And if God had gifted me with
some beauty and much wealth, I should have made it as hard for you to leave me, as
it is now for me to leave you. I am not talking to you now through the medium of
custom, conventionalities, nor even of mortal flesh; – it is my spirit that addresses
your spirit; just as if both had passed through the grave, and we stood at God's feet,
equal, - as we are!’
‘As we are!’ repeated Mr. Rochester – ‘so,’ he added, enclosing me in his
arms. Gathering me to his breast, pressing his lips on my lips: ’so, Jane!’
‘Yes, so, sir,’ I rejoined: ‘and yet not so; for you are a married man – or as
good as a married man, and wed to one inferior to you – to one with whom you have
no sympathy – whom I do not believe you truly love; for I have seen and heard you
sneer at her. I would scorn such a union: therefore I am better than you – let me go!’
‘Where, Jane? To Ireland?’
‘Yes – to Ireland. I have spoken my mind, and can go anywhere now.’
‘Jane, be still; don't struggle so, like a wild frantic bird that is rending its own
plumage in its desperation.’
‘I am no bird; and no net ensnares me; I am a free human being with an
independent will, which I now exert to leave you.’
Another effort set me at liberty, and I stood erect before him.
‘And your will shall decide your destiny,’ he said: ‘I offer you my hand, my
heart, and a share of all my possessions.’
43
‘You play a farce, which I merely laugh at.’
‘I ask you to pass through life at my side – to be my second self, and best
earthly companion.’
‘For that fate you have already made your choice, and must abide by it.’
‘Jane, be still a few moments: you are over-excited: I will be still too.’
A waft of wind came sweeping down the laurel-walk, and trembled through the
boughs of the chestnut: it wandered away – away – to an indefinite distance – it died.
The nightingale's song was then the only voice of the hour: in listening to it, I again
wept. Mr. Rochester sat quiet, looking at me gently and seriously. Some time passed
before he spoke; he at last said ‘Come to my side, Jane, and let us explain and
understand one another.’
‘I will never again come to your side: I am torn away now, and cannot return.’
‘But, Jane, I summon you as my wife: it is you only I intend to marry.’
I was silent: I thought he mocked me.
‘Come, Jane – come hither.’
‘Your bride stands between us.’
He rose, and with a stride reached me.
‘My bride is here,’ he said, again drawing me to him, ‘because my equal is
here, and my likeness. Jane, will you marry me?’
Still I did not answer, and still I writhed myself from his grasp: for I was still
incredulous.
‘Do you doubt me, Jane?’
‘Entirely.’
‘You have no faith in me?’
‘Not a whit.’
‘Am I a liar in your eyes?’ he asked passionately. ‘Little sceptic, you shall be
convinced. What love have I for Miss Ingram? None: and that you know. What love
has she for me? None: as I have taken pains to prove: I caused a rumour to reach
her that my fortune was not a third of what was supposed, and after that I presented
44
myself to see the result; it was coldness both from her and her mother. I would not – I
could not – marry Miss Ingram. You – you strange, you almost unearthly thing! – I
love as my own flesh. You – poor and obscure, and small and plain as you are – I
entreat to accept me as a husband."
‘What, me!’ I ejaculated, beginning in his earnestness – and especially in his
incivility – to credit his sincerity: ‘me who have not a friend in the world but you – if
you are my friend: not a shilling but what you have given me?’
‘You, Jane, I must have you for my own – entirely my own. Will you be mine?
Say yes, quickly.’
‘Mr. Rochester, let me look at your face: turn to the moonlight.’
‘Why?’
‘Because I want to read your countenance – turn!’
‘There! you will find it scarcely more legible than a crumpled, scratched page.
Read on: only make haste, for I suffer.’
His face was very much agitated and very much flushed, and there were
strong workings in the features, and strange gleams in the eyes ‘Oh, Jane, you
torture me!’ he exclaimed. ‘With that searching and yet faithful and generous look,
you torture me!’
‘How can I do that? If you are true, and your offer real, my only feelings to you
must be gratitude and devotion – they cannot torture.’
‘Gratitude!’ he ejaculated; and added wildly – ‘Jane accept me quickly. Say,
Edward – give me my name – Edward – I will marry you.’
‘Are you in earnest? Do you truly love me? Do you sincerely wish me to be
your wife?’
‘I do; and if an oath is necessary to satisfy you, I swear it.’
‘Then, sir, I will marry you.’
‘Edward – my little wife!’
‘Dear Edward!’
45
‘Come to me – come to me entirely now,’ said he; and added, in his deepest
tone, speaking in my ear as his cheek was laid on mine, ’Make my happiness – I will
make yours.’
‘God pardon me!’ he subjoined ere long; ‘and man meddle not with me: I have
her, and will hold her.’
‘There is no one to meddle, sir. I have no kindred to interfere.’
‘No – that is the best of it,’ he said. And if I had loved him less I should have
thought his accent and look of exultation savage; but, sitting by him, roused from the
nightmare of parting – called to the paradise of union – I thought only of the bliss
given me to drink in so abundant a flow. Again and again he said, ‘Are you happy,
Jane?’ And again and again I answered, ‘Yes.’ After which he murmured, It will atone
– it will atone. Have I not found her friendless, and cold, and comfortless? Will I not
guard, and cherish, and solace her? Is there not love in my heart, and constancy in
my resolves? It will expiate at God's tribunal. I know my Maker sanctions what I do.
For the world's judgment – I wash my hands thereof. For man's opinion – I defy it.’
But what had befallen the night? The moon was not yet set, and we were all in
shadow: I could scarcely see my master's face, near as I was. And what ailed the
chestnut tree? it writhed and groaned; while wind roared in the laurel walk, and came
sweeping over us.
‘We must go in,’ said Mr. Rochester: ‘the weather changes. I could have sat
with thee till morning, Jane.’
‘And so,’ thought I, ‘could I with you.’ I should have said so, perhaps, but a
livid, vivid spark leapt out of a cloud at which I was looking, and there was a crack, a
crash, and a close rattling peal; and I thought only of hiding my dazzled eyes against
Mr. Rochester's shoulder.
The rain rushed down. He hurried me up the walk, through the grounds, and
into the house; but we were quite wet before we could pass the threshold. He was
taking off my shawl in the hall, and shaking the water out of my loosened hair, when
Mrs. Fairfax emerged from her room. I did not observe her at first, nor did
Mr. Rochester. The lamp was lit. The clock was on the stroke of twelve.
46
‘Hasten to take off your wet things,’ said he; ‘and before you go, good-night –
good-night, my darling!’
He kissed me repeatedly. When I looked up, on leaving his arms, there stood
the widow, pale, grave, and amazed. I only smiled at her, and ran upstairs.
‘Explanation will do for another time,’ thought I. Still, when I reached my chamber, I
felt a pang at the idea she should even temporarily misconstrue what she had seen.
But joy soon effaced every other feeling; and loud as the wind blew, near and deep
as the thunder crashed, fierce and frequent as the lightning gleamed, cataract-like as
the rain fell during a storm of two hours' duration, I experienced no fear and little awe.
Mr. Rochester came thrice to my door in the course of it, to ask if I was safe and
tranquil: and that was comfort, that was strength for anything.
Before I left my bed in the morning, little Adèle came running in to tell me that
the great horse-chestnut at the bottom of the orchard had been struck by lightning in
the night, and half of it split away.
47
ANEXO B – CAPÍTULO “A PROPOSAL” DA OBRA ADAPTADA “JANE EYRE”
That night was midsummer’s eve, and I went walking in the orchard at dusk.
The air was warm, and the scent of flowers and the sweet song of the nightingale
surrounded me. I felt I could wander there forever.
As I came around a corner, I saw Mr. Rochester. He was leaning over peering
closely at something. I thought he hadn’t seen me, but he called: “Look at this moth,
Jane. It’s so big, it reminds me of the insects I used to see in the West Indies.”
I joined him, and we walked down to the great old horse chestnut tree at the
bottom of the orchard.
“Will you miss Thornfield, Jane?” he asked.
“Of course,” I said quietly. “Must I leave soon?”
“I’m afraid so,” he said. “It’s all arranged. I hope to be a bridegroom within a
month, and I have found a job for you – with a Mrs. O’Gall, in Ireland.”
“Ireland? That is a long way away, sir!”
“From what?”
“From Thornfield… from England…” I could feel myself starting to cry. “From
you, sir”
“If you go to Ireland, Jane, you know we will never meet again.”
At this, I could hold in my grief no longer. I burst into tears, and sobbed
helplessly.
“Indeed,” he said, “perhaps you should not go…”He was silent for a moment.
Then he said: “Because I have a strange feeling about you, Jane – as if your heart is
tied to mine, under our ribs, with an invisible string. And if you went to Ireland, I’m
afraid the string would break, and my heart would bleed, and you would forget about
me.”
I looked up at him, no longer trying to hide my tearstained face. “I would never
forget you,” I said. “My life here has had everything I could ever wish for – comfort,
kindness and, in you, a true companion. When I think about leaving, it is like thinking
about dying.”
48
“Then don’t leave,” he said.
“I have to leave,” I sobbed. “I cannot bear to, but nor can I bear to stay here, to
become nothing to you. Do you think I can tolerate seeing you with a wife you do not
love? Do you think I have no feelings? Do you think, because I am poor and plain,
that I have no soul? Well, you are wrong! I have just as much soul as you – my
feelings are just as strong as yours!” I shouted, gasping for breath. But, before I could
go on, he grabbed my arm, pulled me towards him, and kissed my face. I struggled
and pulled away.
“Don’t leave,” he said. “Stay, Jane, stay with me.”
“I must go!” I cried. “I cannot watch you marry her.”
“Then I will marry you,” he said.
“What? You are tormenting me!” I cried.
“No, I will have no bride but you, Jane. I am not going to marry Miss Ingram.”
“But – why not?
“Well, as you so rightly say, I don’t love her. Furthermore, she doesn’t love me.
After I told her, disguised as the gypsy, that my fortune was just a third of what it
really is, she was nothing but rude to me. I have known for a long time that I do not
want to marry her. The carriage, the preparations – they are for you. I love you, Jane.
Please say yes.”
I looked into his face, and saw that he was not teasing me. He meant it.
“Then, sir, the answer is yes,” I said at last.
“Call me Edward – call me by my name.”
“Yes Edward, I will marry you!” I said.
And we embraced tightly and kissed, as the first drops of rainstorm began to
fall around us.
We went inside, arm in arm, and Mr. Rochester kissed me again to bid me
goodnight before I went up to my room. I saw Mrs Fairfax staring at us in
amazement, but I decided I would explain later.
49
When I awoke the next morning, before I got up, Adele burst into my room to
tell me that the great horse chestnut in the orchard had been struck by lightning, and
had split in two.