COMPLICAÇÕES DO DIABETES MELLITUS: UMA REFLEXÃO

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COMPLICAÇÕES DO DIABETES MELLITUS: UMA REFLEXÃO
COMPLICAÇÕES DO DIABETES MELLITUS: UMA REFLEXÃO ACERCA DA
ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO
Jennifer Yohanna Ferreira de Lima Antão1; Maria Natália Leite Dantas; Ana Aline Andrade
Martins
RESUMO
1
Enfermeiras especialistas
Refletir acerca do processo de trabalho dos enfermeiros frente a complicações do diabetes,
destacando as ações de prevenção e promoção da saúde. Trata-se de uma revisão de literatura
consubstanciada em fontes secundárias pertinentes à temática, referentes ao processo de
trabalho em saúde, diabetes e ações de prevenção e promoção da saúde. A coleta de dados foi
desenvolvida a partir de duas bases de dados: Biblioteca Virtual em Saúde –BVS/Bireme e a
Scientific Eletronic Library - Scielo. A busca foi realizada por meio do método integrado,
utilizando-se os termos: diabetes, enfermagem e complicações, assim como: diabetes,
enfermagem e promoção da saúde. O ano de publicação foi delimitado entre 2000 a 2012,
sendo encontrados 67 artigos, após leitura minuciosa, foram utilizados apenas 28 para
realização deste estudo, tendo como critério de exclusão para o restante, as teses e
dissertações. Foram utilizados também alguns livros, já que esta análise foi consubstanciada
por livros, artigos e manuais do ministério. Para chegar até os resultados, optou-se pela
análise temática, das quais emergiram duas categorias temáticas: 1) estratégia saúde da
família e atuação do enfermeiro (a) e 2) diabetes mellitus: prevenção e promoção da saúde.
Apreendeu-se que a atenção básica é o nível de atenção que busca a forma mais humanizada e
mais resolutiva possível, para aproximar-se do indivíduo. Quanto às ações de prevenção e
promoção ficou identificado que são de suma importância, pois o diabetes quando não
tratado, eficazmente, leva ao aparecimento de diversas complicações. Portanto, ficou claro a
relevância dessas ações para melhoria da qualidade de vida de pacientes com diabetes,
destacando a importância do enfermeiro como profissional detentor do cuidado holístico. Ter
o conhecimento acerca dessas ações, buscando a reflexão do processo de trabalho dos
enfermeiros, pode contribuir para reorientações das práticas e reorganização dos serviços de
saúde, a fim de esclarecer alguns encaminhamentos que maximizem a tomada de decisões na
área de saúde, possibilitando que os enfermeiros reflitam sobre sua realidade de atendimento,
a fim de promover estratégias que aperfeiçoem a qualidade e, consequentemente, a
resolutividade de sua atuação.
Palavras-chave: Diabetes. Prevenção. Promoção. Enfermagem.
ABSTRACT
e-ciência, v.1, n.1, out. 2013
Reflect on the process of nurses' work against diabetes complications, highlighting the actions
of prevention and health promotion.This is a literature review substantiated secondary sources
relevant to the topic related to the work process in health, diabetes prevention and health
promotion. Data collection was developed from two databases: Virtual Health LibraryBVS/Bireme and Scientific Electronic Library - SciELO. The search was performed using the
integrated method using the terms diabetes, nursing and complications, such as diabetes,
nurses and health promotion. The year of publication was delimited between 2000-2012 and
found 67 articles, after reading, only 28 were used for this study, with the exclusion criteria
for the rest, theses and dissertations. Some books were used, since this analysis was
substantiated in books, articles and manuals ministry. To get the results, we chose a thematic
analysis, from which emerged two thematic categories: 1) the family health strategy and
performance of nurses (a) and 2) diabetes mellitus: prevention and health promotion. It was
learned that primary care is the level of attention seeking more humane and more resolute
possible to approach the individual. With regard to prevention and promotion was identified
that are of paramount importance, because diabetes when not treated effectively leads to the
appearance of several complications. Therefore, it was clear the relevance of these actions to
improve the quality of life of patients with diabetes, highlighting the importance of the
professional nurse as holder of holistic care. Having knowledge about these actions seeking to
reflect the process of working nurses can contribute to reorientation of practices and
reorganization of health services in order to clarify some referrals that maximizes the
decision-making in healthcare enabling nurses to reflect on its reality of care in order to
promote strategies that improve the quality and hence the resolution of it’s performance.
Keywords: Diabetes. Prevention. Promotion. Nursing.
1 INTRODUÇÃO
e-ciência, v.1, n.1, out. 2013
Diabetes mellitus (DM) é um distúrbio metabólico, de caráter crônico- degenerativo e
de etiologia múltipla, associado à deficiência relativa ou absoluta de insulina, clinicamente
caracterizada por alterações metabólica, vascular e neuropática. Além da hiperglicemia, o DM
também envolve alterações no metabolismo dos lipídeos e proteínas (ALMINO; QUEIROZ;
JORGE, 2009).
De acordo com Alves Ferreira e Gonçalves Ferreira (2009), a prevalência abrupta do
DM está intimamente relacionada ao crescimento e envelhecimento populacional, maior
urbanização, crescente prevalência da obesidade, modificações nos padrões dietéticos,
sedentarismo e maior sobrevida do paciente diabético. Estima-se que cerca de 173 milhões de
pessoas sejam acometidas pela doença. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde
(OMS), o número de pessoas com diabetes mellitus atingirá a marca de 366 milhões em 2030,
mais do que o dobro do número registrado em 2002 (QUEIROZ et al., 2011).
Há uma grande preocupação com o controle dos níveis glicêmicos, visto que em longo
prazo, a hiperglicemia culmina em processos patológicos intensos, podendo causar disfunção,
danos e falência de múltiplos órgãos e, portanto, comprometer a autonomia e a qualidade de
vida do indivíduo acometido (ANGELO et al., 2010).
Tendo em vista essa realidade, destaca-se a importância de políticas de saúde voltadas
para promoção e prevenção, uma vez que possibilitará redução das possíveis complicações
resultantes desta patologia e que, por sua vez, poderá minimizar os gastos quando comparados
às despesas da hospitalização decorrente de uma complicação do paciente.
Nesse sentido, é que se destaca a necessidade dos profissionais enfermeiros estarem
aptos para desenvolver ações de promoção que visem, acima de tudo, a melhoria da qualidade
de vida destes usuários, evitando assim complicações inerentes ao diabetes.
O enfermeiro, sendo detentor do cuidado holístico, deve abordar o paciente de uma
forma geral, desenvolvendo habilidades e motivando o mesmo para o autocuidado, de forma
que o indivíduo possa adquirir maior adesão ao tratamento e prevenir qualquer tipo de
complicação. Destaca-se então a importância do profissional de enfermagem nesse contexto e
as possíveis ações que precisa desenvolver para atender as necessidades dos diabéticos, em
especial, as possíveis complicações.
Diante desses aspectos, acredita-se na relevância de se refletir acerca do processo de
trabalho dos enfermeiros frente às complicações do diabetes, destacando as ações de
prevenção e promoção da saúde, visando a implementação de propostas efetivas e eficazes no
combate àquela patologia..
e-ciência, v.1, n.1, out. 2013
Nessa perspectiva, apresenta-se uma reflexão acerca da atuação dos enfermeiros diante
de pacientes com diabetes na busca da prevenção de complicações e os desafios que se
colocam na busca de uma atenção de qualidade que atenda as necessidades de saúde da
população.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Com a mudança no perfil demográfico da população, houve um aumento da
expectativa de vida e a queda da fertilidade, resultando em um declínio das doenças
infectocontagiosas e um aumento das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), tudo isso
relacionado às mudanças nos hábitos alimentares, ao sedentarismo, ao excesso de peso, além
de outras mudanças comportamentais (FRANCISCO et al.,2010). Conforme Viana e
Rodriguez (2011) o diabetes mellitus (DM) tinha uma média de 171 milhões de portadores em
todo mundo, o equivalente a 2,8% em 2000. A previsão para 2030 é que chegue a 633
milhões, atingindo 4,4% da população.
Com o envelhecimento populacional as pessoas ficam mais susceptíveis às DCNT.
Devido a este fato, há uma grande preocupação de como será a qualidade de vida das mesmas,
visto que essas doenças são altamente limitantes e reduzem os anos de vida da população
gerando mortes prematuras. Dentre estas doenças, destaca-se o diabetes mellitus (DM) como
um grande problema de saúde pública. Estima- se que entre 2000 e 2030 o número de
indivíduos com diabetes passará de 4,5 milhões para 11 milhões, sendo que a metade desta
população desconhecerá o diagnóstico (MIELCZARSKI; COSTA; OLINTO, 2012).
O diabetes mellitus (DM) é visto como um problema de saúde pública, devido à
magnitude do número de casos, já que é considerada a segunda doença crônica mais comum
na infância e adolescência, trazendo grandes prejuízos aos cofres públicos devido ao alto
custo do tratamento, uma vez que os indivíduos diabéticos têm 2,4 vezes mais despesas
médicas que os não diabéticos do mesmo sexo, idade e raça. A incapacitação produzida pelo
diabetes impõe diminuição de sua produtividade no trabalho, limitando suas capacidades
funcionais, resultando em aposentadoria precoce (REMPEL et al., 2010).
Corrobora-se com Lucas et al. (2010) ao afirmarem que a presença de uma
complicação pode trazer impacto negativo para o indivíduo e sociedade, uma vez que a nova
situação em que o portador se encontra envolve mudanças importantes na vida do mesmo que
necessitará de compreensão e apoio não só da equipe de saúde como também da família e
comunidade.
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Nesse contexto, a atenção básica constitui a porta de entrada preferencial do indivíduo
ao serviço de saúde, proporciona assistência que vai além do corpo biológico, alcançando os
seres humanos em sua complexidade e integralidade; é tida como um conjunto de medidas
que visam a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o
tratamento, a reabilitação e a manutenção da saúde (BRASIL, 2007).
A Estratégia Saúde da Família (ESF) foi criada como uma reorientação do modelo
assistencial à saúde, ou seja, sai de linha o modelo biomédico, assistencial e curativista, e
passa a dar ênfase na promoção da saúde com fortalecimento das ações intersetoriais, equipes
multiprofissionais e o envolvimento da comunidade por meio dos agentes comunitários de
saúde (ACS), sendo o atendimento prestado na unidade básica de saúde ou no domicílio,
pelos profissionais que compõem as equipes da ESF (LINARD et al., 2011).
A promoção da saúde apresenta-se como estratégia de mudança nos modelos
assistenciais, contribuindo para que os sujeitos possam melhor compreender o processo
saúde-doença, sinalizando a construção de outras possibilidades e a configuração de novos
saberes, melhorando a qualidade de saúde da população. Dessa forma, os profissionais, sendo
atuantes, firmes nesse processo de capacitação do indivíduo, irão contribuir com subsídios
para que os mesmos tornem-se sujeitos participantes do processo e assim minimizar os
agravos decorrentes do DM (SILVA et al., 2009).
Para Sampaio et al. (2008), sendo o enfermeiro principal atuante da equipe
multidisciplinar no que diz respeito à promoção da saúde, é necessário que o mesmo trace um
plano de cuidados para cada paciente, de forma individual, avaliando o seu comportamento e
suas reações diárias. Nesse sentido ficará mais fácil para o portador realizar suas ações de
autocuidado e melhorar sua condição de saúde.
O enfermeiro, enquanto educador, precisa incentivar a realização de grupos de apoio,
incluindo a família, pois é ela que conhece o indivíduo em sua singularidade, possibilitando
maior diálogo e reflexão dos mesmos. Sendo necessário que o processo seja de acordo com a
realidade de cada um, ressaltando a importância de uma assistência multiprofissional e
qualificada (PEIXOTO; SILVA, 2011).
Desta forma, é necessário que os profissionais enfermeiros entendam a sua
importância na prevenção dessas complicações e que promovam a saúde dos seus usuários de
forma a melhorar a qualidade de vida dos mesmos.
3 ASPECTOS METODOLÓGICOS
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Trata-se de uma revisão de literatura de caráter reflexivo acerca do diabetes mellitus
(DM), consubstanciada em fontes secundárias da literatura pertinente à temática, que
correspondem a artigos de periódicos nacionais e internacionais e livros referentes ao
Processo de Trabalho em Saúde, atuação do enfermeiro em pacientes com diabetes e ações de
prevenção e promoção.
A coleta de dados foi desenvolvida a partir de duas bases de dados: Biblioteca Virtual
em Saúde –BVS/Bireme e a Scientific Eletronic Library - Scielo. A busca foi realizada por
meio do método integrado, utilizando-se os termos: diabetes, enfermagem e complicações,
assim como: diabetes, enfermagem e promoção da saúde.
O ano de publicação foi delimitado entre 2000 a 2012, sendo encontrados 67 artigos,
após leitura minuciosa, foram utilizados apenas 28, para realização deste estudo, tendo como
critério de exclusão para o restante, as teses e dissertações. Foram utilizados também alguns
livros, já que esta análise foi consubstanciada por livros, artigos e manuais do ministério. Para
análise do material empírico, utilizou-se a técnica de análise de conteúdo temática, de onde
emergiram duas categorias temáticas: estratégia saúde da família e atuação do enfermeiro (a)
e diabetes mellitus: prevenção e promoção da saúde.
4 ANÁLISE E DISCUSSÃO
4.1 Estratégia Saúde da Família e atuação do enfermeiro (a)
A atenção primária em saúde (APS) veio para organizar os sistemas de saúde de
acordo com as necessidades da população, configurada como direito social e regulamentada
de acordo com as diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), abrangendo a universalidade,
integralidade e equidade, com ações voltadas a promoção, prevenção, tratamento e
reabilitação (GIOVANELLA et al., 2009).
Conforme Ministério da Saúde (2007 p.12-13):
A atenção básica considera o sujeito em sua singularidade, na complexidade, na
integralidade e na inserção sócio-cultural e busca a promoção de sua saúde, a
prevenção e tratamento de doenças e a redução de danos ou de sofrimentos que
possam comprometer suas possibilidades de viver de modo saudável. A Atenção
Básica tem a Saúde da Família como estratégia prioritária para sua organização de
acordo com os preceitos do Sistema Único de Saúde (MINISTÉRIO DA SAÚDE,
2007 p.12-13).
Segundo Costa et al. (2009), a Estratégia Saúde da Família (ESF) busca, de forma
mais humanizada e mais resolutiva possível, aproximar-se do individuo, da família e da
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comunidade, com vistas a uma melhor atenção aos mesmos. Como resultado dessa
aproximação, existem os agentes comunitários de saúde (ACS), que atuam como elo entre os
profissionais e a comunidade.
De acordo com Rodrigues e Anderson (2011) a ESF tem como profissionais atuantes,
médico, enfermeiro, cirurgião-dentista, técnicos de enfermagem e agentes comunitários de
saúde; esta diversidade de pessoas trabalhando em prol da comunidade deixa o serviço com
mais qualidade e mais resolutivo, já que a equipe desenvolve ações de educação, promoção da
saúde e prevenção de agravos.
Destaca-se, pois, a promoção da saúde como um instrumento que tem como finalidade
capacitar os indivíduos e comunidades, a fim de modificar os determinantes de saúde,
beneficiando a qualidade de vida, reduzindo a vulnerabilidade e risco à saúde. Essas ações
não devem focar os indivíduos e as famílias de maneira isolada, mas devem levar em
consideração os aspectos sociais, econômicos e culturais. Para tanto, torna-se necessária a
atuação de profissionais com suporte para a realização desse feito (SILVA; ARAÚJO, 2007).
Ainda segundo os mesmos autores, a promoção de saúde deve ser uma estratégia de
cunho multidisciplinar e interdisciplinar, visto que a união de vários profissionais de áreas
diferentes irá possibilitar uma melhor compreensão do processo saúde-doença e os fornecerá
autonomia suficiente para a tomada de decisões.
A promoção de saúde é vista como toda e qualquer ação voltada à educação do
indivíduo, família e comunidade sobre determinado problema de saúde, para que, a partir
dessa capacitação, ocorram mudanças no perfil epidemiológico da população. É necessário
que essas ações práticas potencializem o empoderamento do paciente, para que os mesmos
possam atuar de forma consciente (SILVA, et al., 2009).
Nessa perspectiva, atuando na equipe de saúde da família, destaca-se o profissional
enfermeiro, como ator relevante para implementação dessas ações educativas. Corrobora-se
com Potter (2009), quando afirma que a enfermagem é uma arte e uma ciência que tem como
foco o cuidar do indivíduo, da família e comunidade. Torna-se imprescindível para a
construção de uma assistência de qualidade, visto que tem uma visão holística que vai além
do corpo biológico, de modo que a mesma não atua na doença em si, mas sim nas respostas
dos indivíduos a qualquer problema de saúde.
4.2 Diabetes mellitus: prevenção e promoção da saúde
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Como consequência da hiperglicemia duradoura, o diabetes mellitus tem a capacidade
de alterar a função de vários tipos de células, incluindo as endoteliais, as musculares lisas e as
plaquetas. Embora todas as células em um portador de diabetes estejam expostas à
hiperglicemia, o dano hiperglicêmico se limita àqueles tipos celulares que desenvolvem
hiperglicemia intracelular, como as células endoteliais. (AGUIAR; VILLELA; BOUSKELA,
2007).
O endotélio vascular é responsável por várias funções, como a manutenção do tônus
vascular, regulação da agregabilidade plaquetária, modulação da fibrinólise, dissolução de
trombos intravasculares formados e modulação da inflamação através da regulação da adesão
e ativação de leucócitos e de quimiocinas. Isso ocorre porque o mesmo é capaz de secretar
óxido nítrico (NO), prostaciclina (PGI2) e fator hiperpolarizante, que atuam regulando as
funções supracitadas. A disfunção endotelial ocasionada pelo diabetes causa uma redução na
síntese e secreção desses fatores protetores e estas alterações propiciam um estado próconstritor, pró-inflamatório e pró-agregante ao vaso sanguíneo, os mesmos estarão propensos
a vasoconstrição, trombose e inflamação. (AGUIAR; VILLELA; BOUSKELA, 2007). .
Deste modo, o diabetes melittus quando não tratado eficazmente pode propiciar o
aparecimento de complicações decorrente dessa hiperglicemia, podendo estas ser
macrovasculares ou microvasculares.
Partindo
deste
pressuposto,
Smeltzer
e
Bare
(2009)
definem
alterações
macrovasculares como lesões em vasos sanguíneos de calibre médio a grande. As paredes
vasculares sofrem espessamento, esclerose e os vasos se tornam ocluídos pelas placas que
aderem às paredes.
Ainda segundo os mesmos autores, as lesões microvasculares caracterizam-se por
espessamento da membrana basal capilar. Esta membrana circunda as células endoteliais do
capilar. Estudos mostram que os níveis glicêmicos aumentados reagem através de uma série
de respostas bioquímicas para espessar a membrana basal em várias vezes a sua espessura
normal.
Dentre as complicações macrovasculares decorrentes do DM, destacam-se a doença
arterial coronariana (DAC), o acidente vascular cerebral (AVC) e a doença vascular periférica
(DVP).
Considerando, deste modo, que o diabetes mellitus (DM) quando não tratado
eficazmente leva ao aparecimento de complicações, destaca-se a educação em saúde como um
instrumento da saúde muito importante para os pacientes diabéticos, pois é com o controle
rigoroso da hiperglicemia que se pode descartar a hipótese de qualquer tipo de complicação
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pela doença a longo prazo. Nesse sentido, o enfermeiro como educador deve buscar
juntamente com o paciente, estratégias para que o mesmo possa compreender da melhor
forma possível as limitações impostas pela doença e aplicar essas ações na prática cotidiana
(FRANCIONI; SILVA, 2007).
De acordo com Rêgo, Nakatani e Bachion (2006), a enfermagem atua como a
profissão detentora da educação em saúde, sendo responsável pela capacitação do paciente
com DM e por prevenir as complicações advindas da doença, melhorando seu prognóstico e
dando-lhe a oportunidade de ter um estilo de vida mais saudável.
Ainda segundo os mesmos autores, uma estratégia bastante eficaz é a organização de
atividades em grupo, pois propicia uma interação com troca de informações entre profissional
e cliente, estimulando a participação ativa dos sujeitos e o conhecimento ultrapassa o simples
ato de ensinar e aprender.
Para Peixoto e Silva (2011), as atividades em grupo destacam-se sobremaneira, pois
estimulam o entendimento do cliente sobre a patologia e o mesmo pode refletir sobre as
consequências da não adesão ao tratamento. Vale ressaltar a importância da família nesse
processo de atividade grupal, pois serão os familiares juntamente com os portadores que irão
buscar estratégias que minimizem o sofrimento diário, e contribuam para melhoria da
qualidade de vida do portador de diabetes.
As ações a serem abordadas com os pacientes diabéticos devem enfocar
principalmente o seguimento da dieta, manejo no preparo e administração de insulina, como
também estabelecer horários fixos para as medicações orais, como detectar se está entrando
em estado de hiper ou hipoglicemia, realizar atividades físicas, monitorar os níveis
pressóricos e a dislipidemia, dar apoio psicossocial. Tudo isso irá contribuir para evitar
complicações crônicas (ALMEIDA; SOARES, 2010).
Destaca-se a educação para o autocuidado como uma das estratégias mais adequadas e
indicadas para o tratamento dos indivíduos com diabetes. Estudos mostram que para que
ocorra um controle eficaz da glicemia e, consequentemente uma prevenção das complicações
do diabetes, torna-se relevante a existência de programas educativos para orientar as
habilidades de autocuidado (TORRES; PACE; STRADIOTO, 2010). Sendo assim, para
Baggio, Mazzola e Marcon (2011), as mudanças no estilo de vida, sobretudo em relação à
prática alimentar e de atividade física, constituem a base para o tratamento e o controle da
doença.
Nesse contexto, as ações de autocuidado englobam uma mudança radical no estilo de
vida e no comportamento do paciente, como a prática de exercícios físicos regularmente,
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alteração dos hábitos alimentares, uso de medicação, etc... A adesão não pode ser pensada
como um construto unitário, mas, sim, multidimensional, pois as pessoas podem aderir muito
bem a um aspecto do regime terapêutico, mas não aderir aos outros, dificultando assim o
controle da doença. Existem ainda, cinco fatores principais que poderão influenciar a adesão
ao autocuidado: características pessoais; condição socioeconômica e cultura; e aspectos
relacionados ao tratamento, à doença, ao sistema de saúde e à equipe profissional (BOAS et
al., 2011).
Reconhecendo que os portadores de diabetes estão vulneráveis a complicações e que
essas poderão trazer risco de amputação, a equipe interdisciplinar deverá avaliar o risco, de
modo que intervenções apropriadas sejam tomadas no momento adequado. No momento da
consulta, o enfermeiro deve realizar um exame minucioso dos pés, levando em consideração
as características da pele e fâneros, avaliar as calosidades na região plantar, examinando os
pulsos distais e na sua ausência, comunicar ao médico da equipe para devida referência à
cirurgia vascular, tratamento que muitas vezes evitará uma amputação dos membros inferiores
(OCHOA-VIGO; PACE, 2005).
Vale ressaltar a importância de capacitar os pacientes em relação ao cuidado com os
pés, destacando a importância da higiene local, hidratação e uso de calçados apropriados,
avaliação diária dos pés à procura de possível lesão, como também verificar o interior dos
calçados antes de colocá-los nos pés, orientando para que os mesmos realizem essas ações
diariamente (OCHOA-VIGO et al., 2006).
Ainda segundo os mesmos autores, deve-se esclarecer aos pacientes qual o melhor
calçado a se usar, visto que o calçado é um fator de risco para o desenvolvimento de úlceras
plantares. Calçados apertados e de ponta fina aumentam a pressão nas laterais do antepé e
podem produzir isquemia na pele, se este estresse for aplicado continuamente. Por outro lado,
calçados folgados podem criar áreas de atrito, que favoreceriam a formação de bolhas ou,
inclusive, o ingresso de pequenos objetos no interior dos mesmos, na fase da marcha.
Conforme Rocha, Zanetti e Santos (2009) o paciente também deve atentar-se quanto
ao corte inadequado das unhas dos pés, unha encravada, ressecamento e fissuras, elevação do
dorso plantar, formigamento, cãibras e etc. Essas alterações devem ser mencionadas pelo
paciente ao enfermeiro durante o atendimento para que o mesmo possa agir da melhor forma
possível.
Segundo Travagim et al. (2010), para realizar o rastreamento da doença renal crônica
(DRC), complicação importante do diabetes, é necessário que o enfermeiro solicite
regularmente exames para medir a dosagem de creatinina no sangue e a análise da urina,
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como também monitorar a proteinúria e a pressão arterial, pois servirão para avaliar o
prognóstico e controlar os fatores de risco para doença cardiovascular. O enfermeiro deve
empregar seus conhecimentos, estimulando seu paciente à prática de exercícios físicos, a
adesão à dieta, para poder contribuir na prevenção da DRC, já que as complicações do
diabetes estão diretamente relacionadas ao conhecimento para o autocuidado diário e ao estilo
de vida saudável.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando a Estratégia Saúde da Família (ESF) como o modelo de reconstrução do
processo de trabalho dos profissionais de saúde, com foco nas ações de promoção da saúde e
prevenção das doenças, ficou claro a importância dessas ações para melhoria da qualidade de
vida de pacientes com diabetes.
Nesse sentido, evidenciou-se que para que se alcance um controle do diabetes é
necessária uma rotina regrada e cheia de limitações impostas pela doença, o seguimento de
dietas, a prática de exercícios físicos e o uso correto da medicação constituem a base para o
tratamento desta patologia. Assim, é que se destaca a importância do enfermeiro na vida
desses pacientes, visto que são esses profissionais que irão buscar estratégias que minimizem
o sofrimento diário de forma a contribuir incansavelmente no tratamento dos seus clientes.
Portanto, vale ressaltar que esse estudo mostrou a grande importância de realizar a
promoção da saúde dentro da ESF aos portadores de doenças crônicas, especialmente o
diabetes, já que esta é a principal atividade do enfermeiro nesse nível de atenção, onde não
deve predominar a visão curativista. Deste modo contribui-se para qualidade de vida dessas
pessoas que, quando vítimas de complicações, acabam transformando a sua rotina
drasticamente. Em consequência disso haverá maior adesão dos usuários às atividades
propostas pelos profissionais e uma melhora no padrão de saúde da população.
Ter o conhecimento acerca dessas ações buscando a reflexão do processo de trabalho
dos enfermeiros, pode contribuir para reorientações das práticas e reorganização dos serviços
de saúde, a fim de promover estratégias que aperfeiçoem a qualidade e a resolutividade de sua
atuação.
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e-ciência, v.1, n.1, out. 2013
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