Gestação múltipla exige cuidados e traz alegria em tamanho família

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Gestação múltipla exige cuidados e traz alegria em tamanho família
JC Online - Recife - PE
05/04/2015 - 06:00
Gestação múltipla exige cuidados e traz alegria em
tamanho família
Pais e mães que foram surpreendidos com a notícia de que, em vez de um filho,
seriam brindados com quatro ou cinco gêmeos se sentem abençoados. Nesses
casos, gravidez requer atenção especial
Cinthya Leite
Foram cinco anos vivenciando tentativas para engravidar
naturalmente. Todas frustradas. E o desejo de ter um filho
nunca deixou de ser imenso, mesmo diante desse ciclo
de experiências sem sucesso. Sem deixar de lado a
paciência e a perseverança, a dona de casa Hildeane
Carneiro, 38 anos, e o pintor jatista Valmir Carneiro da
Silva, 33, decidiram enfrentar uma fila de quase três anos
"Não consigo me ver sem eles?, conta
para realizar o sonho de conceber um bebê com uma
Ana Cristina Belfort, mãe dos quíntuplos
mãozinha do Serviço de Reprodução Humana Assistida
adolescentes Marcos, Lucas, Felipe,
Andréa e Débora
do Instituto de Medicinal Integral Professor Fernando
Figueira (Imip), no bairro da Boa Vista, área central do
Recife. Passaram por todo o processo de assistência em planejamento familiar e tratamento
para reprodução assistida gratuitamente.
André Nery/JC Imagem
No dia 6 de fevereiro, uma ultrassonografia comprovou a gestação. “Deu para visualizar três
bebês. Passados 13 dias, um novo ultrassom confirmou que espero cinco filhos. Fiquei
anestesiada, e meu marido teve crises de riso. Foi a forma que expressamos a nossa
felicidade”, conta a dona de casa. Esse tipo de gestação múltipla é raríssimo na medicina,
mesmo no caso de Hildeane, que passou por uma fertilização in vitro – procedimento em que a
mulher recebe estímulo para produção e retirada de óvulos, que são fertilizados em laboratório
e colocados em seu útero. Popularmente, conhecemos essa técnica como bebê de proveta,
responsável por uma grande fatia dos 51 mil bebês múltiplos que nascem anualmente no Brasil,
segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para se ter ideia, uma em cada
cinco mulheres que engravidam por meio de tratamento dá à luz mais de um bebê, como
Hildeane.
No caso dela, a curiosidade ainda é maior porque dois dos três embriões implantados se
dividiram dentro do útero da paciente – um fenômeno que, na medicina, é conhecido como
gemelaridade monozigótica. São os chamados gêmeos idênticos. Uma gravidez com dois
pares de univitelinos resultantes da colocação de três embriões é um fenômeno extremamente
raro, segundo explica a ginecologista Madalena Caldas, chefe do Serviço de Reprodução
Humana Assistida do Imip.
“Fiz uma varredura na literatura médica e só encontrei cinco casos dessa natureza publicados
em todo o mundo: quatro na Europa e um no Brasil, no Rio Grande do Sul”, informa a médica,
que tem acompanhado o pré-natal de Hildeane e traz uma boa notícia: os quíntuplos da dona
de casa estão se desenvolvendo muito bem. A ultrassonografia mais recente, realizada no
último dia 24, apresentou um cenário desejado por médicos que têm pacientes com gestação
múltipla. “Os embriões que se dividiram em dois dividem a mesma placenta, mas estão em
sacos amnióticos separados. Para elucidar melhor, vamos pensar que os fetos dividem o
mesmo quarto, mas não compartilham o mesmo berço. Isso facilita muito o desenvolvimento
desses gêmeos univitelinos”, frisa Madalena Caldas.
Outro detalhe importante é que Hildeane está na 13ª semana de gestação – a partir dessa fase,
o risco de aborto é reduzido. Além disso, a translucência nucal (um ultrassom de rotina, feito no
primeiro trimestre da gravidez com o objetivo de ajudar a detectar o risco de síndrome de Down
e outras problemas cromossômicos) não apresentou indicações de possibilidade da presença
de alguma malformação. “Está tudo normal. Esperamos que continue assim. A paciente está
recebendo toda a assistência para a gestação evoluir bem”, assegura.
A médica acrescenta que o Imip ofereceu uma casa de apoio próxima à instituição onde
Hildeane possa ficar, com um acompanhante, a partir das 18 semanas. “Como a paciente mora
no Cabo de Santo Agostinho, Região Metropolitana do Recife, é importante que ela se mude
para um local próximo ao Imip com o avançar da gestação. Se houver qualquer contratempo, já
está perto do serviço.”
QUÍNTUPLOS ADOLESCENTES
A sensação que Hildeane vivencia agora já foi experimentada pela advogada Ana Cristina
Belfort, 45, há 15 anos, quando ela soube que ganharia cinco filhos, logo após uma fertilização
in vitro. São gêmeos não idênticos, que se desenvolveram independentes um do outro, em
placentas diferentes. “Lembro que me senti muito abençoada quando fui informada que
ganharia logo cinco de uma vez. Apesar das dificuldades enfrentadas, não me canso de dizer
que foi o maior presente que Deus me deu. Não consigo me ver sem eles”, conta Ana Cristina.
Os quíntuplos recifenses Lucas, Marcos, Felipe, Andréa e Débora são o orgulho da família e
dos professores.
Livros espalhados por toda a casa é o que não falta. “Cada um tem que estudar num lugar
diferente porque, juntos, não conseguem se concentrar. Tem hora que fica difícil deixar o
apartamento arrumado, mas é uma bagunça gostosa”, diz a mãe do quinteto. Disciplinados e
divertidos, seguem uma rotina que inclui os estudos, as brincadeiras com os amigos e os
encontros da igreja, que religiosamente acontecem em casa, sempre às quartas-feiras.
Conseguem reunir cerca de 15 jovens para discutir sobre os princípios presbiterianos.
Quando questionados sobre a profissão que pretendem abraçar, as meninas não pensam duas
vezes: querem seguir os passos do pai, o oftalmologista Rômulo Belfort, 57. Quem ganha o
título de mais estudiosa é Andréa. “Ela estuda 18 horas por dia. Nunca vi igual”, diz, entre risos,
Felipe, considerado o mais treloso pelos irmãos. “Ele também é muito modesto”, brinca Lucas,
que ganha o título de mais cabeça fria dos quíntuplos. Entre eles, o atributo de galanteador é
dado, por Andréa, a Marcos.
“São muito unidos; só saem juntos. Isso me deixa muito tranquila, pois mostra o quanto um
cuida do outro. Já tentei separá-los da turma no colégio e não deu nada certo. Eles têm que
ficar juntos em sala de aula. O rendimento é melhor”, diz Ana Cristina, que se recorda do tempo
em que eram recém-nascidos. Cada um tinha um enxoval de cor diferente para facilitar a rotina
de cuidados. “Foi esse tipo organização que adotei no primeiro ano de vida. Contei também
com o apoio da minha mãe, de cinco babás e duas auxiliares de enfermagem. Eram muito
miudinhos quando nasceram, aos 6 meses de gestação, e precisavam de um apoio intenso
quando chegaram em casa. A mais magrinha, Andréa, veio ao mundo com 1,2 kg. Está aqui
linda, saudável e aplicada ao estudo”, conta.
Após o parto, os cinco foram para a unidade de terapia intensiva (UTI) neonatal, como todos os
bebês que chegam antes do tempo. Depois de 60 dias, todos já estavam em casa. Foram
alimentados exclusivamente com leite materno por cerca de três meses. “Eles tiveram mais de
20 mães de leite. Várias mulheres nos ajudaram. Acho uma pena ter perdido o caderninho com
o nome e telefone de todas elas, a quem sou muito agradecida”, diz Ana Cristina.
Quando o leite em pó precisou ser introduzido, o pai precisou comprá-los por atacado. Eram
latas e mais latas por semana. Aliás, ainda hoje a feira é feita em grosso. “Não dá para fazer
feira a varejo. O saldo final não compensa”, acrescenta a matriarca, que vive a gabar a trupe
que deixa a casa sempre em clima de festa.
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