O Código de Da Vinci - um best

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O Código de Da Vinci - um best
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O Código de Da Vinci - um best-seller mentiroso
06-Oct-2004
O livro de Dan Brown O Código Da Vinci é uma novela de ficção anti-católica que está a ser um êxito de vendas em todo
o mundo. Porém, este livro não está a ser vendido como uma novela de história-ficção do passado ou de uma Europa
imaginária. O Código Da Vinci está a ser vendido como suposto resultado de investigação histórica e um trabalho sério de
documentação, o que é falso como se pode concluir no desenvolvimento da notícia: os erros, as invenções, as deturpações e
as simples confusões abundam por todo o romance. A pretensão de erudição cai por terra quando se analisa a bibliografia
utilizada: os livros sérios de história ou de arte escasseiam, prevalecendo as para-ciências, o esoterismo e as pseudohistórias conspirativas.
O Código de Da Vinci é uma novela de ficção anti-católica que está a ser um êxito de vendas em todo o mundo. Com
mais de 30 milhões de exemplares vendidos, traduzida em 30 idiomas e com os direitos para filme vendidos à Columbia
Pictures e ao director Ron Howard (sendo Russell Crowe o actor principal), trata-se de um acontecimento próprio da
cultura de massas. Os protagonistas vêm-se envolvidos num thriller de aventura, decifrando a simbologia secreta numa
pintura de Leonardo Da Vinci. E a mensagem transmitida no livro é a seguinte:
1) Jesus não é Deus: nenhum cristão pensava que Jesus era Deus até que o imperador Constantino o deificou no
concílio de Niceia (ano 325).
2) Jesus teve como companheira Maria Madalena; os seus filhos, portadores do seu sangue, são o Santo Grial (sangue
de rei), fundadores da dinastia Merovíngia em França (e antepassados da protagonista do livro).
3) Jesus e Maria Madalena representavam a dualidade masculina-feminina. Os primeiros seguidores de Cristo
adoravam “o sagrado feminino”; esta adoração ao feminino está oculta nas catedrais construídas pelos
Templários, na secreta Ordem do Priorato de Sião - a que pertencia Leonardo Da Vinci - e em mais mil códigos culturais
secretos.
4) A malvada Igreja Católica, inventada por Constantino no ano de 325, perseguiu os tolerantes e pacíficos adoradores do
feminino, matando milhões de bruxas na Idade Média e no renascimento, destruindo todos os evangelhos gnósticos que
não gostavam, deixando apenas os quatro evangelhos que lhes convinham. Nesta novela, o maquiavélico Opus Dei
trata de impedir que o segredo seja descoberto, ou seja, que Graal é o filho de Jesus e Madalena e que o primeiro deus
dos “cristãos” gnósticos era feminino.
Impressionante é o facto deste livro não estar a ser vendido como uma novela de história-ficção do passado ou de uma
Europa imaginária. O Código Da Vinci está a ser vendido como suposto resultado de investigação histórica e um trabalho
sério de documentação.
Numa nota escrita no início do livro, o autor Dan Brown declara : “todas as descrições de arte, arquitectura,
documentos e rituais secretos feitas neste romance são fidedignas”. Como veremos, isto é falso: os erros, as
invenções, as deturpações e as simples confusões abundam por todo o romance. A pretensão de erudição cai por terra
quando se analisa a bibliografia utilizada: os livros sérios de história ou de arte escasseiam, prevalecendo as paraciências, o esoterismo e as pseudo-histórias conspirativas.
Isso não impede a imprensa de louvar o “trabalho histórico” que existe por detrás do livro. Por exemplo, o
Chicago Tribune maravilhava-se pelo facto de o livro conter uma “história fascinante e documentada especulação
que serviria para vários doutoramentos.”; o New York Daily News referia que “a sua investigação é
impecável”; o crítico do El Periódico de Catalunya (12/12/2003), Ramon Ventura, referia que “interpretar a
novela como um panfleto anti-cristão é não perceber a ideia do livro: um relato de aventuras por espaços pouco
conhecidos da história, onde se combinam os mistérios da religião com os enigmas da arte”; Dan Brown escreve
com a paixão e a erudição de Matilde Asensi no El Último Catón”.
Aránzazu Sumalla, responsável pela edição em Espanha, e que encontrou uma mina de ouro para a sua pequena
editora “Umbriel” (O Código Da Vinci vende 2 400 livros por dia em Espanha, e nos primeiros 50 dias
vendeu 125 000 exemplares), não entende que a página web do Opus Dei critique negativamente o livro, que apresenta
o Opus Dei como uma seita destrutiva disposta ao assassínio e outras técnicas mágicas, com o detalhe de que o
assassino Silas é numerário e levava um cilício. Segundo a editora “trata-se de uma obra de ficção”. Mas
Dan Brown, na sua página web, diz bem claro que não escreveu só um romance cheio de despropósitos para se divertir:
“como comentei antes, o segredo que revelo sussurrou-se durante séculos. Não é meu. É certo que pode ser a
primeira vez em que o segredo se revela com formato de um thriller popular mas, a informação veiculada não é nova. A
minha sincera esperança é que O Código Da Vinci, para além de entreter toda a gente, sirva como uma porta aberta para
que comecem as investigações.
O resultado é que as vendas de livros pseudohistóricos sobre a Igreja, os evangelhos gnósticos, a mulher no cristianismo,
as deusas pagãs, entre outros dispararam: o site Amazon.com é o primeiro beneficiado, vendendo o Código Da Vinci
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juntamente com livros de pseudohistória neopagã, femininista radical e New Age. A ficção é a melhor forma de educar as
massas, e disfarçada de ciência (história da arte e das religiões, neste caso) engana bem os leitores. De facto, os leitores
acabam sempre por reter algumas ideias de uma calúnia, sendo que a influência é tanto maior quanto mais o autor
conseguir convencer acerca da veracidade das suas fontes e dos dados que utilizou.
Constantino inventou o cristianismo ?
Toda a base histórica de Brown assenta sobre um facto: o concílio de Niceia do ano 325. Segundo a sua tese, antes
desta data, o cristianismo era um movimento muito aberto que aceitava “o divino feminino”, que não via
Jesus como Deus, que escrevia muitos evangelhos.
Neste ano, de repente, o imperador Constantino, um adorador do culto – masculino – ao Sol Invicto
apoderou-se do cristianismo, desterrou a “deusa”, converteu o profeta Jesus num deus-heroi solar e
montou uma estratégia à maneira estalinista para fazer desaparecer os evangelhos que não gostava.
Para qualquer leitor com alguma cultura histórica, esta hipótese revela-se absurda, pelo menos, por duas razões:
1 - Temos textos que demonstram que o cristianismo antes do ano 325 não era como diz a novela e que os textos
gnósticos eram tão alheios aos cristãos como são actualmente as publicações New Age: parasitários e externos.
2 - Inclusivamente, se Constantino tivesse pretendido alterar desse modo a fé de milhões, como poderia fazê-lo num
concílio sem que se dessem conta não só milhões de cristãos como centenas de bispos? Muitos dos bispos de Niceia eram
veteranos sobreviventes das persiguições de Diocleciano, e traziam sobre o seu corpo as marcas da prisão, da tortura e
dos trabalhos forçados por manterem a sua fé. Iriam deixar que um imperador mudasse a sua fé? A resistência cristã a
ser assimilados como mais um culto? Acaso não era essa a causa das perseguições desde Nero? De facto, se antes de
325 o cristianismo tivesse sido tal como o descrevem as personagens de Brown e muitos neognósticos actuais, nunca
haveria sofrido perseguições já que se teria encaixado perfeitamente com tantas outras opções pagãs. O cristianismo foi
sempre perseguido por não aceitar as imposições religiosas do poder político e proclamar que só Cristo é Deus, com o Pai
e o Espírito Santo.
Jesus é Deus?
Na novela, o personagem do historiador inglês Teabing afirma que em Niceia se estableceu que Jesus era "o Filho de
Deus". Uma vista de olhos aos evangelhos canónicos, escritos quase 250 anos antes de Niceia, mostra cerca de 40
passagens onde se menciona a Jesus como Filho de Deus. O que Brown está a fazer é copiar de um dos livros
pseudohistóricos que mais plagiou para fazer o seu best-seller, Holy Blood, Holy Grial, no qual se afirma que "em Niceia
decidiu-se por voto que Jesus era um deus, não um profeta mortal".
A verdade é outra. Os cristãos sempre consideraram que Jesus é Deus e assim figura nos Evangelhos e nos escritos
cristãos muito anteriores a Niceia. Por exemplo, e para desgosto de mormons, Testemunhas de Jehová ou muçulmanos
(três credos actuais que negam que Jesus era Deus) podemos ler como Tomé disse ao ver a Jesus ressuscitado:
[João 20,28] Ho Kurios mou ho Theos mou (Meu Senhor e Meu Deus)
Ou em Romanos 9,5: carta ditada por S. Paulo a Tércio em casa de Gayo, em Corinto, no Inverno de 57 a 58 d.C:
"deles [dos judeus] são os patriarcas, e como homem surgiu de entre eles o Cristo, que é Deus, e está acima de todas
as coisas".
Ou em Tito 2,13:
"esperamos que se manifeste a glória do grande Deus e salvador nosso Jesus Cristo".
Ou em 2Pedro1,1:
"Simão Pedro, servo e apóstolo de Jesus Cristo, a aquelos que pela justiça do nosso Deus salvador Jesus Cristo
receberam uma fé tão preciosa como a nossa".
E saíndo dos Evangelhos temos os textos de alguns Padres da Igreja muito anteriores a Niceia:
"Pois nosso Deus, Jesus Cristo, foi segundo o desígnio de Deus, concebido no ventre de Maria, da estirpe de David,
mas pelo Espírito Santo" [Carta aos efésios de S. Inácio de Antioquía, c.35-c.107 d.C].
"Se tivesses entendido o que foi escrito pelos profetas, não terias negado que Ele [Jesus] era Deus, Filho do único, não
gerado, insuperável Deus" [Diálogo com Trifão, S. Justino Mártir, c.100-c.165 d.C].
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"Ele [Jesus Cristo] é o santo Senhor, o Maravilhoso, o Conselheiro, o Formoso em aparência, e o Poderoso Deus,
vindo sobre as nuvens como juiz de todos os homens" [Contra os herejes, livro 3, S. Ireneu de Lyon, c. 130 -200 d.C].
"Só Ele [Jesus] é tanto Deus como Homem, e a fonte de todas as nossas coisas boas" [Exortação aos gregos, de S.
Clemente de Alexandria, 190 d.C].
"Só Deus está sem pecado. O único homem sem pecado é Cristo, porque Cristo também é Deus" [A alma 41:3, por
Tertuliano, ano 210 d.C].
"Posto que [o Filho] era Deus, tomou carne; e tendo sido feito homem, permaneceu como era: Deus" [As doutrinas
fundamentais 1:0:4; por Orígenes, c.185-c.254 d.C.].
Estas citações – e muitas outras – demonstram que os cristãos tinham clara a divindade de Cristo muito
antes de Niceia. De facto, em Niceia o debate era sobre os ensinamentos de Arrio, um sacerdote herético de Alexandria
que desde 319 ensinava que Jesus não era Deus, mas um deus menor. De cerca de 250 bispos, apenas dois votaram a
favor da posição de Arrio, enquanto que o resto afirmou o que hoje se recita no Credo, que o Filho de Deus foi gerado,
não criado e que é da mesma natureza (substância, homoousios) que o Pai, ou seja, que Deus Filho é Deus, da mesma
maneira que Deus Pai também é Deus, um mesmo Deus mas diferentes Pessoas. Apesar desta unanimidade dos
padres conciliares, o historiador Teabing diz na novela que Cristo foi "designado Deus" por uma estreita margem de
votos!
Um historiador que não sabe História
Teabing também diz uma série de coisas sobre como o cristianismo inventado por Constantino não era mais que
paganismo. "Nada no cristianismo é original", diz a personagem. Escrevemos em baixo sublinhadas as afirmações d'O
Código Da Vinci e a seguir comentamos cada uma.
-"Os discos solares egípcios converteram-se em auréolas de santos católicos."
A arte cristã tem que expressar conceitos bíblicos, como as caras luminosas de Moisés (no Sinai) e de Jesus (na
Transfiguração).
Para isso usam um recurso comum, as auréolas ou nimbos que já usava a arte grega e romana. Os imperadores
romanos, por exemplo, aparecem nas moedas com cabeças radiantes.
-"Os pictogramas de Isis a amamentar o seu milagroso bebé Horus foram o modelo para as imagens da Virgem Maria
com o Menino Jesus."
A imagem de uma mãe a amamentar é comum a egípcios, romanos, aztecas ou qualquer cultura que represente a
maternidade. Ísis, nos primeiros séculos da nossa era, já não era uma deusa popular da agricultura egípcia, mas um
culto mistérico de tipo iniciático para elites greco-romanas, culto que não incluia os rituais sexuais que tanto aprazem
ao autor. Os artistas cristãos, à hora de representar Maria com Jesus (uma mãe com um filho), usaram os modelos
artísticos da sociedade em que estavam.
-"A mitra, o altar, a doxologia e a comunhão, o acto de comer a Deus, foram tomados directamente de religiões pagãs
mistéricas anteriores."
A mitra dos bispos dificilmente pode estar inspirada em religiões misteriosas antigas: não aparece no Ocidente até
meados do século X e no Oriente não se usa até à caída de Constantinopla em 1453.
O altar é – como o próprio cristianismo – de origem judia, não pagã. Há 300 referências a altares no
Antigo Testamento. O altar dos sacrifícios do Templo de Jeresualém é o ponto de referência do judaísmo antigo e do
simbolismo cristão. Não tem nada a ver com cultos pagãos.
A doxologia (doxa=glória; logos=palavra) não é mais do que a oração do Glória: "Glória a Deus nas alturas e na Terra paz
aos homens; louvamos-Te, bendizemos-Te, adoramos-Te" usa linguagem puramente cristã, com conceitos trinitários e
utilizando continuamente passagens dos Novo Testamento. Nada tem a ver com cultos mistéricos pagãos.
A comunhão e "comer a Deus": parece que nos níveis superiores do culto a Mithras existia uma refeição sagrada de pão e
água ou pão e vinho. Não há dados que indiquem que os mitraístas considerassem que nessa comida "comiam um
deus" nem nada semelhante. Novamente, a origem de benzer e partilhar o pão é judia, como explica com detalhe Jean
Danielou no seu estudo A Bíblia e a Liturgia. Parece que Jesus instituiu a Eucaristia cristã durante uma chabourá, uma
refeição sagrada judia. Não há relação com cultos mistéricos pagãos.
-"O Domingo, dia sagrado cristão foi roubado aos pagãos"
Falso. Desde o princípio, os cristãos viram o dia depois do Sabbath, ou seja, o primeiro dia de cada semana, como o
mais importante, dia da sua reunião. Já o faziam na época de S. Paulo (ver Actos 20,7: "E no primeiro dia da semana,
quando estávamos reunidos para partir o pão." ou 1 Cor 16,2, quando Paulo pede para reunir as colectas e os dízimos
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no primeiro dia da semana".
Danielou, n'A Bíblia e a Liturgia dedica todo o seu capítulo 16 a falar do "oitavo dia", com citações de Inácio de Antioquia,
da Epístola de Barnabás, da Didake, todos autores dos finais do século I e princípios do século II. Todos falam do "dies
domenica" (dia do Senhor). S. Justino, pelo ano 150 d.C. é o primeiro cristão a usar o nome latino de Dia do Sol para
referir-se ao primeiro dia da semana.
Já no concílio de bispos hispanos de Elvira em 303 d.C. proclamou-se: "Se alguém na cidade não vem à igreja três
Domingos seguidos será excomungado um tempo curto para que se corrija. Só 20 anos depois, em 321, Constantino
declara oficialmente o Domingo como dia de descanso e abstenção de trabalho. Ou seja, o Domingo é uma "invenção"
cristã, que posteriormente adoptou a sociedade civil, e não uma festa pagã roubada por cristãos, precisamente o
contrário do que diz a novela de Brown.
-"Também ao deus hindu Krishna, recém nascido, se ofereceu ouro, incenso e mirra"
Extraído, segundo parece, do livro de pseudohistória The World's Sixteen Crucified Saviours, [Os 16 Salvadores do
Mundo Crucificados] escrito por Kersey Graves em 1875, e criticado inclusivamente por ateus e agnósticos, ainda que
muito popular e copiado na Internet. Graves não dá nunca documentação das suas afirmações. Esta do ouro, incenso e
mirra parece simplesmente uma invenção. Na literatura hindu não sai em nenhum lado. O Bhagavad-Gita (s.I d.C.) não
menciona a infância de Krishna. Nas histórias sobre o menino Krishna do Harivamsa Purana (cerca de 300 d.C) e de
Bhagavata Purana (cerca de 800-900.dC.) também não aparecem presentes.
-"O deus Mithras, nascido a 25 de Dezembro como Osíris, Adonis e Dionísios, com os títulos "Filho de Deus" e "Luz do
Mundo", enterrado na rocha e ressuscitado três dias depois inspiraram muitos elementos do culto cristão. "
Na realidade, a festa pagã de 25 de Dezembro em Roma foi inventada pelo Imperador Aurélio em 274, muitos anos
depois dos cristãos latinos celebrarem 25 de Dezembro como festa do nascimento de Cristo.
Ainda que na novela falem de Mithras como um deus "morto, enterrado na rocha e ressuscitado 3 dias depois", esta
afirmação não aparece em nenhum texto nem tradição antiga sobre Mithras. Segundo parece é outro dos empréstimos
retirados do panfleto de Kersey Graves em concreto do capítulo 19. Evidentemente, Graves não dá documentação.
Gnosticismo ao serviço do feminismo radical
Porque é que o mundo vai tão mal, há guerras, violência e contaminação? A resposta do feminismo radical e d'O Código
da Vinci é simples, a culpa é do cristianismo que é machista:
"Constantino e os seus sucessores masculinos converteram com êxito o mundo desde o paganismo matriarcal até à
cristandade patricarcal mediante uma campanha de propaganda que demonizou o sagrado feminino, eliminando a
deusa da religião moderna." Como consequência, "A Mãe Terra converteu-se num mundo de homens, e os deuses da
destruição da guerra levam o seu tributo. O ego masculino passou dois milénios sem equilibrar-se pela sua balança
feminina. Uma situação instável, marcada por guerras alimentadas com testosterona, uma plétora de sociedades
missógenas e uma crescente falta de respeito pela Mãe Terra".
Isto ter-se-ia evitado se se tivesse seguido o "cristianismo" gnóstico, alguns de cujos grupos e tendências consideravam
o divino como masculofeminino, relações harmónicas de opostos (ying-yang), ou inclusivamente andrógino. Jesus –
segundo os gnósticos do século II e os newagers feministas do século XX – necessita um oposto feminino que o
complete; a a sua consorte seria Maria Madalena. E uns documentos que o avalem: os evangelhos apócrifos, textos
gnósticos imaginativos sem base histórica.
Enquanto que os evangelhos canónicos são do século I, nenhum texto gnóstico é anterior ao século II. Muitos são do
século III, IV ou V. A meados do século II a Igreja já tinha claro que os evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João
eram os inspirados pelo Espírito Santo e só duvidava no canon de dois ou três textos. É falsa a ideia da novela de que em
325 com Constantino, de entre "mais de 80 evangelhos considerados pelo Novo Testamento", só se escolheram 4: estes
quatro já estavam seleccionados 200 anos antes, como lemos nos textos de Justino Mártir (150 d.C.) e de S. Ireneu.
N'O Código Da Vinci há material de muitos tipos: new age, ocultismo, teorias conspiratórias, neopagãos, wiccas,
astrologia, empréstimos orientais e ameríndios. Mas o cocktail gnósticofeminista é a base do livro. Há pouca invistigação
verdadeira sobre o Santo Graal mas muita sangria.
Assim, cita-nos um texto que existe de verdade, o evangelho de Maria Madalena, uma obra gnóstica tardia, escrita por
autores de uma seita gnóstica fora do cristianismo. Nele, Maria beija Jesus na boca e isso causa a inveja dos apóstolos.
Segundo Teabing, o historiador da novela, "Jesus é o primeiro feminista. Atendia a que o futura da sua igreja estivesse
nas mãos de Maria Madalena".
O que ninguém cita é o versículo 114 do famoso texto gnóstico Evangelho de Tomé, aonde Jesus diz que Ele fará de
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Maria Madalena "um espírito vivente" que se pareça a vós, homens. Porque cada mulher que se faça a si mesma homem
entrará no reino dos céus". O gnosticismo antigo é reciclado por antagonistas da Igreja actual, mas para isso vão
recusar algumas coisas do gnosticismo antigo, que na verdade era machista, elitista, desprezava o corpo e tudo o que
era material e é difícil de vender como "o autêntico cristianismo".
Assim, o entusiasmo do autor pelos "ritos de fertilidade", que tanto admiram – e praticam – os
protagonistas, não tem nada a ver com a fertilidade, obviamente, mas com o prazer sexual. É um sinal dos tempos, mas
também uma herança gnóstica e cátara: gerar, dar vida a novos corpos, é mau. Precisamente o contrário do
cristianismo! Sexo sem concepção. É de esperar que a próxima novela trate da clonagem, ou seja, de concepção sem sexo.
Outros muitos erros
Sandra Miesel, uma jornalista católica especializada em literatura moderna popular, não pôde deixar de fazer uma lista de
erros variados do livro, como por exemplo, a sua "impecável" documentação.
a) Diz-se que o planeta Vénus move-se desenhando um pentagrama, o chamado "pentagrama de Ishtar", simbolizando
a deusa (Ishtar é Astarté, ou Afrodite). Ao contrário do que diz o livro, a figura não é perfeita e não tem nada a ver com
as Olimpíadas. As Olimpíadas celebravam-se cada quatro anos e em honra de Zeus, nada tendo a ver com os ciclos de
Vénus nem com a deusa Afrodite.
b) O novelista diz que os cinco anéis das olimpíadas são um símbolo secreto da deusa; a realidade é que quando se
desenharam para as primeiras olimpíadas modernas o plano era começar com um e ir acrescentando um anel em cada
edição, mas ficaram pelos cinco.
c) Na novela apresenta-se a comprida nave central e ôca de uma catedral como um tributo secreto ao ventre feminino,
com as nervuras como pregas sexuais, etc. Está retirado do livro de pseudohistória The Templar Revelation, onde se
afirma que os templários criaram as catedrais. Evidentemente isso é falso: as catedrais foram encomendadas pelos
bispos e os seus cónegos, e não pelos templários. O modelo das catedrais era a igreja do Santo Sepulcro ou as antigas
basílicas romanas, edifícios rectangulares de uso civil.
d) O Priorato de Sião realmente existe, é uma associação francesa registada desde 1956, possivelmente originada após a
II Guerra Mundial, embora reclamem ser herdeiros de maçons, templários, egípcios, etc. Não é crível a lista de GrãoMestres que dá a novela: Leonardo Da Vinci, Isaac Newton, Victor Hugo.
e) A novela diz que o tetragramatão YHWH, o nome de Deus em letras hebraicas, vem de "Jehová, uma união física
andrógina entre o masculino Jah e o nome pre-hebreu de Eva, Havah". Pelos vistos, ninguém explicou a Brown que
YHWH (que hoje sabemos que se pronuncia Yahvé) começou a pronunciar-se "Jehová" na Idade Média ao interpolarse entre as consoantes as vogais de "Adonai".
f) As cartas de tarot não ensinam doutrina da deusa; inventaram-se para jogos de sorte no século XV e não adquiriram
associações exotéricas até aos finais do século XVIII. A ideia de que os diamantes do baralho francês representam
pentáculos é uma invenção do ocultista britânico A.E. Waite. Que dirão os exotéricos do baralho espanhol com as suas
copas – símbolos sexuais femininos - e as suas espadas – símbolos fálicos, quiçá como os garrotes?
g) O Papa Clemente V não eliminou os templários num plano maquiavélico nem deitou as suas cinzas ao Tibre: o Tibre
está em Roma e Clemente V não, porque foi o primeiro papa em Avignon. Toda a iniciativa contra os templários foi do
rei francês, Filipe, o Formoso. Maçons, nazis e agora os neognósticos pretendem ser herdeiros dos templários.
h) A Mona Lisa não representa um ser andrógino, mas a Madonna Lisa, esposa de Francesco di Bartolomeo del
Giocondo. Mona Lisa não é um anagrama dos deuses egípcios Amón e Isa (Ísis).
i)Na última ceia de Leonardo, não aparece o cálice e aparece o jovem e elegante S. João, o discípulo amado. A novela
diz que o jovem é na realidade Maria Madalena, e que ela é o Graal. A verdade é que não aparece o cálice porque o
quadro está a descrever a última ceia tal como é descrita no Evangelho de S. João, sem instituição da Eucaristia, e
mais em concreto quando Jesus avisa "um de vós me atraiçoará" (Jo 13,21).
j) A novela diz que Leonardo recebeu muitos encargos da Igreja e "centenas de lucrativas comissões vaticanas". A
realidade é que Leonardo passou pouco tempo em Roma e praticamente não lhe encomendaram qualquer trabalho.
k) A novela apresenta Leonardo como homosexual ostentoso. Na realidade, ainda que na sua juvetude tenha sido
acusado de sodomia, a sua orientação sexual não está de todo clara.
l) A heroína, Sophie Neveu, usa o quadro de Leonardo "A Madonna das Rochas" como um escudo e aperta-o tanto ao
seu corpo que se dobra: é assombroso, porque se trata de uma pintura sobre madeira, não sobre lenço, e de quase dois
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metros de altura.
m) Segundo os protagonistas da novela, "durante trezentos anos a Igreja queimou na estaca a assombrosa cifra de
cinco milhões de mulheres". Este é um número repetido na literatura neopagã, wicca, new age e feminista radical,
embora noutras webs e textos de bruxaria actual se fale de nove milhões. Os neopagãos necessitam da sua própria
"shoah".
Quando vamos a historiadores sérios, calcula-se que entre 1400 e 1800 foram executadas na Europa entre 30000 e
80000 pessoas por bruxaria. Nem todas foram queimadas. Nem todas eram mulheres. E a maioria não morreu nas mãos
de oficiais da Igreja, nem sequer de católicos. A maioria das vítimas foi na Alemanha, coincidindo com as guerras de
camponeses e protestantes do século XVI e XVII. Quando uma região mudava de denominação, abundavam as acusações
de bruxaria e a histeria colectiva. Os tribunais civis, locais e municipais eram especialmente entusiastas, sobretudo nas
zonas calvinistas e luteranas. De qualquer forma, a bruxaria foi perseguida e castigada com a morte por egípcios,
gregos, romanos, vikings, etc... O paganismo sempre matou bruxos e bruxas. A ideia do neopaganismo feminista de que
a bruxaria era uma religião feminista precristã não tem base histórica.
E poder-se-ía continuar a dissecar os erros e os simples enganos deste best-seller mentiroso. Para não falar da sua
qualidade literária. Mas vale a pena tanto esforço por uma novela? A resposta é que sim: para milhares de jovens e
adultos, esta novela será a seu primeiro contacto com a história antiga da Igreja, uma história regada pelo sangue dos
mártires e a tinta dos evangelistas, apologetas, filósofos e Padres. Não seria digno dos cristãos do século XXI ceder sem
luta nem resposta ante o neopaganismo, o espaço que os cristãos dos primeiros séculos ganharam com a sua fidelidade
comprometida a Jesus Cristo.
Notas do Autor
Para este artigo utilizei muito material de Carl Orlson, um dos responsáveis pelo magnífico site
www.envoymagazine.com
Para quem leia inglês recomendo a visita de http://www.envoymagazine.com e de todos os seus links sobre as relações
entre cristianismo, gnosticismo e paganismo.
Fonte: ACI - http://www.aciprensa.com/controversias/davinci.htm
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