Obediência: “Salmodiai”

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Obediência: “Salmodiai”
Obediência: “Salmodiai”
E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito,
falando entre vós com salmos, entoando e louvando de coração ao Senhor com hinos e cânticos
espirituais (Efésios 5:18, 19).
Entender o significado das palavras é necessário para apurarmos as verdades bíblicas. Considerando que o Novo Testamento foi escrito
originalmente em grego e foi traduzido para o
português séculos depois, o dicionário da língua
portuguesa não é a melhor fonte para estudarmos
as definições de palavras bíblicas.
As palavras do grego koinê, o grego usado no
Novo Testamento, não podem ser em todos os casos definidas por palavras que aparecem na Septuaginta (LXX), o grego ático usado por escritores
clássicos, ou pela literatura grega de um período
posterior. A língua é progressiva. Os significados
de palavras podem diferir de uma região do mundo para outra e de uma geração para outra.
Algumas pessoas buscam justificar o uso de
instrumentos musicais na adoração com base em
definições de palavras gregas em épocas diferentes da época do Novo Testamento. Por exemplo,
o verbo ya¿llw (psallo), que antes implicava o uso
de um instrumento musical, é precisamente traduzido na maioria das versões em português por
“cantar” ou “salmodiar”. Todavia, os instrumentalistas, buscando apoio para suas preferências e
práticas, muitas vezes apelam para um grupo de
sinônimos que aparece após a definição da palavra u¢mnoß (humnos, “hinos”) num famoso léxico:
Embora a ideia principal de yalmo֧ [psalmos]
seja um acompanhamento musical e a de u¢mnoß
[humnos] louvor a Deus, w∆dh [ode] é a palavra
geral para cântico, acompanhado ou não, de
louvor ou sobre qualquer outro assunto. Por isso
era bem possível que o mesmo cântico fosse ao
mesmo tempo yalmo÷ß e u¢mnoß e w∆dh÷.1
1 J. B. Lightfoot, The Epistles of Saint Paul, vol. 3, Saint
Paul’s Epistles to the Colossians and to Philemon, rev., 2d ed.
Os que utilizam da afirmação acima como um argumento ignoram o propósito dos sinônimos no
léxico. Esses sinônimos não fornecem significados
no contexto do Novo Testamento; mas apresentam usos clássicos para comparação, mostrando
a direção e o grau de alteração no significado das
palavras.2
No corpo do léxico, as seguintes definições
são apresentadas para o verbo psallo no uso neotestamentário: “cantar um hino, celebrar louvores
de Deus em cântico”3. A definição do substantivo
psalmos conforme seu uso no Novo Testamento é
“um cântico pio, um salmo”4.
O verbo psallo é traduzido por “cantar” (Romanos 15:9; 1 Coríntios 14:15; Tiago 5:13), exceto
em Efésios 5:19, onde é vertido para “salmodiai”.O
substantivo psalmos é traduzido por “salmos” ou
“Salmos” (Lucas 20:42; 24:44; Atos 1:20; 13:33;
1 Coríntios 14:26; Efésios 5:19; Colossenses 3:16).
Alguns escritores pensam que “salmos” refirase aos salmos do Antigo Testamento e, portanto,
que significa cantar com acompanhamento musical.
Para provar essa ideia, precisariam mostrar que os
instrumentos musicais eram inerentes aos salmos
no tempo do Antigo Testamento, ou que eram usados juntamente com o canto no primeiro século.
Alguns presumem que Paulo usou “salmos”,
“hinos” e “cânticos espirituais” com três significados distintos. A maioria dos comentaristas
Londres: Macmillan & Co., 1876, p. 225; citado em C. G. Wilke
e Wilibald Grimm, A Greek-English Lexicon of the NewTestament, trad. e rev. Joseph H. Thayer. Edinburgh: T. & T. Clark,
1901; reprint, Grand Rapids, Mich.: Baker Book House, 1977,
p. 637.
2 Thayer, p. viii.
3 Ibid., p. 675.
4 Ibid.
1
destaca a dificuldade de se tentar defini-los dessa
maneira.
Embora Paulo traga três termos juntos com
uma força particular (salmos, hinos, cânticos espirituais), é quase impossível determinar alguma diferença musical ou textual entre eles.5
O sentido original de psallo era “tanger” ou
“dedilhar”. A mudança progressiva desse significado é evidente nas seguintes explicações, começando pelo uso em obras antigas:
3. psallo primeiramente parece significar
“tocar”, depois assume o sentido de “tanger”
(uma corda” e finalmente significa “tocar” (um
instrumento).6
Na época do Novo Testamento, esse era o suo
de psallo:
Em Efésios 5:19 o louvor é direcionado ao Senhor, tendo a obra salvadora de Deus novamente
como tema. Há ênfase no v. 19 nos verbos “cantai e salmodiai” (cg. Salmos 27:6). Psallontes não
denota agora tocar literalmente um instrumento
de cordas, e os salmos, hinos e cânticos espirituais dificilmente referem-se a tipos de textos distintos. Em 1 Coríntios 14:26 psalmos é um cântico
cristão que o indivíduo canta em adoração...
3. Romanos 15:9 interpreta o verbo psallo
de Salmos 18:49 como doxazo em apoio bíblico
ao louvor dos gentios à misericórdia de Deus.
Jeremias 5:13 usa psallo para o grato louvor a
Cristo7.
Observe a frase “não denota agora tocar literalmente um instrumento de cordas”. Antes
da época do Novo Testamento, psallo [psallontes]
significava tocar um instrumento, mas quando o
Novo Testamento foi escrito, tocar um instrumento já não estava incluso em seu significado.
O consenso da maioria dos léxicos e comentários é que psallo significa “cantar” no Novo Testamento.
Embora seu sentido original envolvesse tanger
um instrumento de cordas, psallo significa aqui
fazer música cantando..., por isso não há referência neste versículo [Éfésios 5:19] a acompa5 H. M. Best e D. Huttar, “Music, Musical Instruments”,
The Zondervan Pictorial Encyclopedia of the Bible, ed. Merrill C.
Tenney Grand. Rapids, Mich.: Zondervan Publishing House,
1975, vol. 4, p. 316.
6 Geoffrey W. Bromiley, Theological Dictionary of the New
Testament, ed. Gerard Kittel and Gerhard Friedrich, abr.
Grand Rapids, Mich.: Wm. B. Eerdmans Publishing Co.,
1985, p. 1225.
7 Ibid., p. 1226.
2
nhamento instrumental.8
[E. A.] Sófocles, um grego nativo e professor de
língua grega na Harvard University por trinta e
oito anos... declara que por todos [os primeiros
séculos da igreja], não houve um único exemplo
de psallo envolvendo ou implicando o uso de um
instrumento; o termo sempre significou por todo
esse período, “entoar, cantar hinos religiosos”9.
Peter T. O’Brien concordou com isto:
... alguns pensam que yalmo/ß inevitavelmente
significava um cântico cantado com o acompanhamento de um instrumento de cordas; mas
essa restrição é desnecessária.10
Um comentário mais recente contém esta afirmação:
Embora psallo originalmente significasse “tanger
com os dedos” como numa harpa, no primeiro
século o vocábulo geralmente significava “cantar” e não implicava necessariamente o uso de
um instrumento musical.11
CONCLUSÃO
Aqueles que argumentam em favor do acompanhamento musical como uma possível definição de psallo no período do Novo Testamento o
fazem sem justificativa. Estão confiando em definições de períodos e localidades diferentes.
Owen D. Olbricht
Perguntas Frequentes
P: Os instrumentos musicais não são mencionados no Novo Testamento?
R: O Novo Testamento contém referências a instrumentos, mas estas não estão relacionadas à música
religiosa. Nenhuma passagem do Novo Testamento
afirma ou implica que instrumentos musicais eram
usados nas reuniões de adoração dos cristãos.
Jesus, com respeito às reações das pessoas a
8 Andrew T. Lincoln, Ephesians, Word Biblical Commentary, vol. 42. Dallas: Word Books, Publisher, 1990, p. 346.
9 E. A. Sophocles, Greek Lexicon of the Roman and Byzantine Periods (from B.C. 146—A.D. 1100) Boston: Little, Brown,
and Co., 1870), 1178; James Elvin Jackson, “Singing in Early
Christian Worship from the New Testament Period to 180
A.D.” (Tese de Mestrado, Harding Graduate School of Bible
and Religion, Memphis, Tenn., 1961), p. 65.
10 Peter T. O’Brien, Colossians, Philemon, Word Biblical
Commentary, vol. 44. Waco, Tex.: Word Books, Publishers,
1982, p. 209.
11 Kenneth L. Boles, Galatians & Ephesians, College Press
NIV Commentary. Joplin, Mo.: College Press Publishing Co.,
1993, p. 309.
João e a Ele mesmo, disse: “Mas a quem hei de
comparar esta geração? É semelhante a meninos
que, sentados nas praças, gritam aos companheiros: Nós vos tocamos flauta, e não dançastes; entoamos lamentações, e não pranteastes” (Mateus
11:16, 17; veja também Lucas 7:31, 32). Esta afirmação sobre cantar e dançar nada tem a ver com
adoração.
Na parábola do filho pródigo, Jesus mencionou a música tocada quando o filho voltou (Lucas 15:25). Como nada é dito sobre a música ser
religiosa ou secular, nenhuma conclusão pode ser
tirada a respeito dos instrumentos na adoração
com base nessa afirmação.
Com a destruição da meretriz chamada “a
grande Babilônia”, representando a Roma antiga (Apocalipse 17:1, 2, 5, 9, 15, 18), João declarou
que a festança alegre dentro da cidade teria fim.
“E voz de harpistas, de músicos, de tocadores de
flautas e de clarins jamais em ti se ouvirá” (Apocalipse 18:22a).
Apocalipse é um livro de símbolos. Por exemplo, as sete estrelas representam sete anjos e os
sete candeeiros representam sete igrejas (1:20). A
menção dessas harpas (5:8; 14:2; 15:2) não significa que eram usadas na adoração cristã. Os símbolos religiosos deste livro não são representantes da
adoração neotestamentária, mas são reflexos da
adoração vétero-testamentária. Entre esses símbolos estão os candeeiros de ouro (1:20; 4:5; veja
Êxodo 25:31); uma mar (4:6; veja 1 Reis 7:23); um
altar (6:9; 8:3; veja Êxodo 27:1); um incensário de
ouro (8:3; veja Levítico 10:1; incenso (11:19; veja
Êxodo 25:10); e o tabernáculo ou templo (15:5;
veja Êxodo 26:1; 1 Reis 6:14).
Além disso, na verdade, não é declarado que
harpas eram tocadas. O som era de uma voz
“como” (wßJ, hos) de harpistas quando tangem
a sua harpa (14:2). Cantar, e não tocar, é tudo o
que é mencionado em 14:3. Nem se especifica
que as harpas foram tocadas em 15:2, embora os
vencedores são descritos como “tendo harpas de
Deus”.
Trombetas são mencionadas no Livro de Apocalipse para descrever certos sons (1:10; 4:1), para
anunciar eventos eminentes (8:2, 6, 13; 9:14) e
para mostrar a totalidade da destruição da cidade
simbólica de Babilônia (18:22). Nesses contextos,
os instrumentos musicais não estavam sendo usados na adoração.
Owen D. Olbricht
Psallo: Estudo de Palavras
Importantes dicionários de grego surgiram nos
tempos modernos, e alguns passaram por repetidas revisões. Um dos mais renomados é a obra de
Walter Bauer, que foi impresso pela primeira vez
na Alemanha em 1928 e agora se encontra na sexta
edição. A quarta revisão, distribuída em 1952, foi
traduzida para o inglês por William F. Arndt e F.
Wilbur Gingrich em 1957. Revisões da tradução inglesa foram impressas em 1979 e 2000.
Embora os léxicos sejam excelentes ferramentas no estudo bíblico, algumas vezes eles geram
confusão em relação ao significado de certas palavras. Este é, infelizmente, o caso quando traçamos a história lexical de psallo.
Na quarta revisão por Bauer, a definição dada a
psallo é “cantar”. A definição abaixo é da tradução
de um erudito alemão do verbete nessa edição:
Louvar com cânticos—cantar louvores a, com o dativo da pessoa, para quem o cântico de louvor
é direcionado... Efésios 5:19. Nesta passagem,
aparece um segundo dativo... de coração... e em
contraste com isso... [cantar] louvores num estado
de êxtase causado pelo Espírito e com uma mente clara. 1 Coríntios 14, 15. Absoluto: fazer um som de
louvor ressoar, Tiago 5:13.1
Na primeira edição, Arndt e Gingrich acrescentram à definição de Bauer de psallo a ideia de
usar acompanhamento musical:
...em nossa [literatura], conforme o uso [do Antigo Testamento], cantar (ao acompanhamento
de uma harpa), cantar louvor [com o dativo] a
quem o louvor é direcionado...2
Quando indagados sobre a inserção de “ao
acompanhamento de uma harpa”, os editores
omitiram a frase na segunda edição (1979), mas
a reinseriram na terceira edição (2000). Vejamos
alguns trechos de uma tradução desse verbete:
...em nossa [literatura], conforme o uso [do Antigo Testamento], cantar (cânticos de louvor, com
ou sem acompanhamento instrumental, cantar,
1 James D. Bales, Instrumental Music & New Testament
Worship. Searcy, Ark.: Truth for Today World Mission School,
1973, pp. 151–52.
2 Walter Bauer, A Greek-English Lexicon of the New Testamentand Other Early Christian Literature, 2d ed., rev. William
F. Arndt e F. Wilbur Gingrich. Chicago: University of Chicago Press, 1957, p. 899.
3
cantar louvor [com o dativo] a quem o louvor é
direcionado... O [sentido] original de ya/ llw era
“tanger”, “tocar” (um instrumento de cordas)...
Na LXX [ya/ llw frequentemente] significa “cantar”, com ou sem o acompanhamento de um instrumento (Salmos 32:2; 97:5...), como geralmente
é o caso (Salmos 7:18; 9:12; 107:4...). Este foco em
cantar continuou até ya/ llw em [grego moderno]
significar “cantar” exclusivamente; ... psaltes =
cantor, entoador [com] nenhum [referência]
a acompanhamento instrumental. Embora o
[Novo Testamento] não emita oposição a música
instrumental, tendo em vista a resistência cristã
a cultos místicos, bem como a aversão farisaica
a instrumentos musicais na adoração.. é provável que seja este o sentido entendido aqui nesta
[passagem de Efésios]. Os que são favoráveis
a “tocar”... podem estar confiando demasiada-
mente no [significado] mais antigo de ya/ llw.3
O verbete da atual (sexta) edição alemã,
editada por Danker e comumente citado como
Bauer-Aland, não contém uma referência a acompanhamento instrumental. Este é novamente um
reconhecimento que foi acrescentado sem explicações.
Owen D. Olbricht
3 Walter Bauer, A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early Christian Literature, 3d ed., rev. e ed.
Frederick W. Danker. Chicago: University of Chicago Press,
2000, p. 1096.
Obediência Hoje: Ao Antigo ou ao Novo Testamento?
A adoração neotestamentária a Deus rompe
claramente com as práticas do Antigo Testamento. Se olharmos para Moisés, ele aponta para Jesus
(Deuteronômio 18:18; João 5:46; Atos 3:22, 23), o
autor da fé cristã (Hebreus 2:10; 12:2). Reconhecer as diferenças entre os dois testamentos facilita
compreendermos por que os cristãos não devem
buscar no Antigo Testamento as orientações para
a adoração. Se uma parte da Lei estiver em vigor,
toda ela deve estar (Gálatas 3:24, 25; 5:3). O Livro
de Hebreus mostra a superioridade da nova aliança
(veja 7:19, 22).
Perdão & Sacrifícios
A Lei exigia muitos sacrifícios (conforme descrito em Levítico), mas estes não podiam remover
pecados (Hebreus 10:4). O verdadeiro perdão vem
pela morte de Jesus (1 Pedro 2:24). A salvação é
obtida através da obediência a Jesus (Hebreus 5:9)
quando a pessoa crê no evangelho, arrepende-se,
confessa a fé em Cristo, é batizada (Marcos 16:15, 16;
Atos 2:38; Romanos 10:10) e continua a andar na luz
(1 João 1:7–9). Os sacrifícios dos cristãos devem ser o
fruto de lábios e boas ações (Hebreus 13:15, 16).
Festas, Festividades e o Sábado
A Lei também exigia que Israel observasse dias
de festa (Números 28:16–25; Deuteronômio 16:16;
2 Crônicas 8:13). O dia especial para os cristãos é o
Dia do Senhor (veja Apocalipse 1:10). Sob o Novo
Testamento, temos este dia especial de adoração
em honra a Jesus Cristo. O termo “dia do Senhor”
era usado na igreja primitiva referindo-se a domin4
go, o primeiro dia da semana (Atos 20:7; 1 Coríntios 16:2), no qual ela se reunia para se lembrar de
Jesus através da observância da santa ceia.
O Lugar da Adoração
Deus esperava que Israel fosse até Jerusalém
para adorar. A adoração cristã não está limitada
a um local específico. Jesus ensinou que haveria
uma mudança para que a adoração não se limitasse mais a um único lugar (João 4:21–24).
As Ofertas
Debaixo da Lei, o dízimo não era opcional,
mas era para ser pago como um imposto a cada
três anos (Deuteronômio 14:28, 29; 26:12). Em
nenhuma passagem o dízimo é ordenado aos
cristãos. Os membros da igreja devem dar suas
ofertas todo primeiro dia da semana, segundo
sua prosperidade e o que tiverem proposto no coração (1 Coríntios 16:2; 2 Coríntios 9:7).
O Sacerdócio
Israel tinha que se relacionar com Deus através dos sacerdotes, descendentes de Arão, da tribo de Levi (Êxodo 28:41; 29:9). Hoje, os cristãos
se relacionam com Deus por meio de Jesus, nosso
único mediador (1 Timóteo 2:5). Agora todos os
cristãos, homens e mulheres, são sacerdotes (1 Pedro 2:5, 9; Apocalipse 1:6; 5:10).
Debaixo da nova aliança, os cristãos devem ser
uma “raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo
de propriedade exclusiva de Deus” (1 Pedro 2:9).
Owen D. Olbricht
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