Entendendo o Oriente Médio

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Entendendo o Oriente Médio
SOLUÇÃO PARA A PAZ
ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO
PAZ - Book AF.indb 1
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Solução para a paz : entendendo o Oriente Médio / [organização: Comissão Nacional de Direitos Humanos;
coordenação Abraham Goldstein] . – São Paulo : Associação Beneficente e Cultural B’nai B’rith do Brasil, 2009.
Vários autores.
Bibliografia.
1. Conflito Árabe-Israelense 2. Judeus - História 3. Oriente Médio - Condições econômicas 4. Oriente
Médio - Condições sociais 5. Oriente Médio -História 6. Sionismo I. Comissão Nacional de Direitos Humanos.
II. Goldstein, Abraham.
09-04473
CDD-956
Índice para catálogo sistemático:
1. Oriente Médio : História 956
Associação Beneficente e Cultural B´nai B´rith do Brasil
Organização: Comissão Nacional de Direitos Humanos
Coordenação: Abraham Goldstein
Textos: Adriana Dias,
Claudio Silberberg,
Eric Calderoni,
Gisele Valdstein,
Lia Bergmann,
Tounée Rosset
Colaboração: José Simantob Netto
Capa: Marcelo Seiko Higa
Projeto gráfico e diagramação: DG
Impressão: Gráfica SKY
ISBN: 978-85-62655-00-5
1.ª edição publicada em junho de 2009.
Reprodução permitida desde que citada a fonte.
Associação Beneficente e Cultural B´nai B´rith do Brasil
Rua Caçapava, 105 – CEP: 01408-010 – São Paulo – SP
Tel.: (11)3082-5844
www.bnai-brith.org.br
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“Todas as pessoas nascem livres e iguais em
dignidade e direitos. São dotadas de razão
e consciência e devem agir em relação umas
às outras com espírito de fraternidade.”
Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948)
Apoiamos a excelente iniciativa de divulgação deste
material que inspira a paz e a coexistência em homenagem
às vítimas da violação dos direitos humanos.
FUNDAÇÃO FILANTRÓPICA ARYMAX
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SUMÁRIO
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SUMÁRIO
1
2
3
4
5
Oriente Médio: o que é e onde fica
6
Lia Bergmann
Israel: 3.700 anos de história
17
Lia Bergmann
O Islã: 1.300 anos de história
25
Lia Bergmann
O antissemitismo a partir do século XIX e o Holocausto
34
Adriana Dias
A independência do Estado de Israel contemporâneo
e sua realidade hoje
45
Lia Bergmann, Gisele Valdstein e Claudio Silberberg
6
7
8
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Os judeus nos principais países da Liga Árabe
59
Tounée Rosset
Solução para a paz: dois Estados para dois povos
71
Eric Calderoni
Linha do tempo: Terra de Israel e principais eventos
mundiais
92
Lia Bergmann
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Lia Bergmann
CAPÍTULO
1
ORIENTE MÉDIO: O QUE É
E ONDE FICA
Introdução
Ponto de convergência das três grandes religiões da atualidade – judaísmo,
cristianismo e islamismo –, o Oriente Médio é uma área geográfica que engloba
países do sudoeste da Ásia e do nordeste da África. Grande parte deles é banhada
pelo Mar Vermelho, Mar Mediterrâneo, Golfo Pérsico, Mar Negro e Mar Cáspio.
Vamos conhecer melhor essa região, que abriga grande diversidade étnica, cultural, social e política, como se depreende das tabelas 1 e 2, com dados básicos
e essenciais sobre cada um dos países do Oriente Médio, território marcado por
conflitos políticos e religiosos que só podem ser compreendidos à luz da realidade histórica e geográfica.
Para começar, encontramos diferentes conceituações sobre quais países fazem parte do Oriente Médio. Não há fronteiras definidas e consensuais. Alguns
autores falam em treze países, outros afirmam que são dezesseis, e outros ainda
estendem mais, por afinidade cultural e política, a abrangência da região.
Os primeiros historiadores e geógrafos europeus modernos dividiram o
Oriente em três partes, de acordo com a distância que as separam da Europa:
Extremo Oriente (China, Japão etc.), Oriente Médio e Oriente Próximo. Hoje os
dois últimos são sinônimos, e o nome Oriente Médio, que começou a ser usado
depois de 1900, se afirmou durante a Segunda Guerra Mundial.
Vamos considerar Oriente Médio os Estados que correspondem ao Platô Persa:
Irã; à antiga Mesopotâmia: Iraque; à Península Arábica: Arábia Saudita, Kuwait,
Iêmen, Omã, Bahrein, Catar, Emirados Árabes Unidos (EAU); ao Levante: Israel,
Jordânia, Líbano e Síria; à Anatólia: Turquia; ao norte da África: Egito; e ao Mar
Mediterrâneo: Chipre1.
Embora não sejam um Estado legalmente constituído, temos os territórios
palestinos, que incluem a Faixa de Gaza, controlada hoje pelo grupo extremista
palestino Hamas, e a Cisjordânia, sob o controle da Autoridade Nacional Palestina, formada majoritariamente por membros do Fatah (veja Capítulo 3).
Para ter uma ideia das dimensões, os países situados na costa do Mar Mediterrâneo – Israel, Líbano, Jordânia e Síria – têm uma área equivalente à do Estado
do Maranhão. As nações localizadas no Golfo Pérsico – Kuwait, Bahrein, Catar e
Emirados Árabes Unidos – possuem, ao todo, uma área pouco menor que a do
Estado de Pernambuco. Mas há também países como o Irã, cujo tamanho é pouco maior do que todo o Nordeste brasileiro, ou a Arábia Saudita, maior do que
a Amazônia, que possui cerca de 1.600.000 km2. Em comparação, o Estado de
Israel é menor do que Sergipe: tem apenas 20.700 km2.
1 Cia. World Factbook 2008.
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Dimensões de Israel e dos países árabes.
ORIENTE MÉDIO: O QUE É E ONDE FICA
Conforme é possível verificar na Tabela 1, o Oriente Médio corresponde a uma área superior a 7.000.000 km2, tem mais de 350 milhões de habitantes e apresenta grande diversidade de população.
Os grupos étnicos mais numerosos da região são os árabes, concentrados, principalmente,
na Arábia Saudita, Bahrein, Catar, Emirados Árabes Unidos (EAU), Iêmen, Iraque, Jordânia,
Kuwait, Líbano, Omã e Síria; os turcos, encontrados basicamente na Turquia e em Chipre; e os
iranianos ou persas, no Irã. Os minoritários incluem os judeus (Israel), curdos e palestinos.
Como vemos também na Tabela 1, a independência de muitos países do Oriente Médio
se deu após 1940, com o fim do domínio dos ingleses e franceses na região, o que legitimou o surgimento dos novos Estados. Assim, com exceção de pequenas nações da Península
Arábica, independentes após 1971, a maior parte dos países do Oriente Médio obteve sua
independência do Reino Unido e da França depois da década de 1940.
Nos dias de hoje, o Oriente Médio possui grande importância política e econômica no
mundo, por sua posição estratégica no globo e por suas reservas de petróleo.
O mapa a seguir e os dados da tabela 1 mostram as dimensões dos diversos Estados que
compõem o Oriente Médio, dando uma ideia do que representa o tamanho de Israel em
meio aos países árabes que o rodeiam e/ou fazem parte da Liga Árabe.
http://cheekymax.blogspot.com/2006/07/max-on-middle-east.html
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SOLUÇÃO PARA A PAZ
Tabela 1 – Países do Oriente Médio e dados básicos sobre
sua composição2
Nome do país
População
(em milhões)
Área em km2
Arábia Saudita
2.149.690
25,3
Bahrein
720
0,766
Catar
11.521
0,856
Chipre
9.251
0,864
Egito
1.001.449
76,8
Emirados
Árabes Unidos
83.600
4,5
Iêmen
527.968
23,1
Irã
1.648.195
72,2
Iraque
434.128
29,5
Israel
20.700
7
Jordânia
88.778
6,1
Kuwait
17.818
2,9
Líbano
10.400
4,1
Omã
309.500
2,7
Síria
185.180
20,4
Turquia
783.562
75,8
Governo
Capital
Ano da
independência
Monarquia
Islâmica
(reinado)
Monarquia
Constitucional
Monarquia
Riad
1932
Manama
1971
Doha
1971
República
Presidencialista
República
Presidencialista
Federação de
Monarquias
Islâmicas
(emirados)
República mista
Nicósia
1960
Cairo
1923
Abu Dhabi
1971
Sanaa
1918
República
Islâmica
Presidencialista
País sob
ocupação
República
Parlamentarista
Monarquia
Parlamentarista
Monarquia
Islâmica
(emirado)
República
Parlamentarista
Monarquia
Islâmica
(sultanato)
Ditadura militar
desde 1970
República
Parlamentarista
Teerã
1921
Bagdá
1932
Jerusalém
1948
Amã
1946
Cidade do
Kuwait
1961
Beirute
1941
Mascate
1951
Damasco
1946
Ancara
1922
Comparativo com números do Brasil
Nome do país
Brasil
Área (em km2)
8.514.876
População
(em milhões)
194,2
Governo
República
Presidencialista
Capital
Brasília
Ano da
independência
1822
2 UNDP – United Nations Development Program/Human Development Report 2007/2008.
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ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO
1
Tabela 2 – Dados essenciais para compreender os países
do Oriente Médio3
Arábia
Saudita
Bahrein
Chipre
Egito
Emirados
Árabes
Unidos
Iêmen
Irã
Iraque
Israel
Jordânia
Kuwait
Líbano
Omã
Catar
Síria
Turquia
Fecundidade
(filhos por
mulheres)
Expectativa
de vida
– homens
Expectativa
de vida
– mulheres
Mortalidade
infantil
Analfabetismo
(mortes
%
por mil)
3,3
71
75,4
19
17
0,812
13.980
2,27
1,6
2,87
2,28
74,4
76,6
69,3
77,2
77,6
81,7
73,8
81,5
11
6
29
8
13,5
3,2
28,6
11,3
0,866
0,903
0,708
0,868
19.350
23,27
1.360
26.210
5,44
2,02
4,21
2,73
3,08
2,17
2,19
2,95
2,64
3,04
2,13
61,3
69,5
58,4
78,7
70,9
76,1
69,9
74,3
75,3
72,4
69,5
64,6
72,8
62,1
82,9
74,6
79,9
74,3
77,6
76,5
76,2
74,7
58
30
79
5
19
8
22
12
8
16
27
45,9
17,6
–
2,9
8,9
6,7
11,7
18,6
11
19,2
12,6
0,508
0,759
–
0,932
0,773
0,891
0,772
0,814
0,875
0,724
0,798
760
2.930
–
20.170
2.650
30.630
5.580
11.120
80.900
1.560
5.400
IDH*
Renda per
capita (em
dólares)
Comparativo com números do Brasil
Nome
do país
Brasil
Fecundidade
(filhos por
mulheres)
2,23
Expectativa
de vida
– homens
68,9
Expectativa
de vida
– mulheres
Mortalidade
infantil
(mortes
por mil)
Analfabetismo
%
76,2
23
11,4
IDH*
0,8
Renda per
capita (em
dólares)
4.710
* Índice de Desenvolvimento Humano.
3 UNDP – United Nations Development Program/Human Development Report 2007/2008.
ORIENTE MÉDIO: O QUE É E ONDE FICA
Nome
do país
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SOLUÇÃO PARA A PAZ
Países do Oriente Médio
ARÁBIA SAUDITA – 2.149.690 km2
O Reino da Arábia Saudita localiza-se na Ásia. O país tem fronteiras com Jordânia, Iraque,
Kuwait, Catar, Emirados Árabes Unidos, Omã e Iêmen. Está situado na Península Arábica, da
qual ocupa grande parte. Sua capital é Riad, e a língua falada no território é o árabe. O regime de governo adotado é o de monarquia absoluta, e sua independência foi declarada em
janeiro de 1926. O país ocupa uma área de 2.149.690 km2, onde vivem mais de 25 milhões
de pessoas. É o país de origem da religião islâmica; por causa disso, milhões de seguidores
se dirigem às duas cidades sagradas todos os anos, Medina e Meca.
BAHREIN – 720 km2
O Reino do Bahrein, que significa Reino dos Dois Mares, é um arquipélago formado por
mais de trinta ilhas e ilhotas que fica no Golfo Pérsico, tendo a leste a Arábia Saudita e a
noroeste o Catar. A maior das ilhas é a “dhkle Bahrein”, com 16 km de extensão no sentido
leste-oeste e 48 km no sentido norte-sul. Uma estrada liga a ilha principal às de Muharraq e
Sitra, e, em 1986, foi inaugurada a ponte que faz a ligação do Bahrein com a Arábia Saudita. O país tem superfície total de 720 km². A população é predominantemente muçulmana
(81,2%), dividida em xiitas4 (55%) e sunitas5 (45%); entre as minorias há 9% de cristãos,
uma grande comunidade de iranianos e uma pequena comunidade judaica. Sua riqueza
econômica deriva do petróleo e das pérolas. A religião oficial do regime monárquico constitucional é o islamismo.
CHIPRE – 9.251 km2
A República do Chipre é um país insular situado no lado oriental do Mar Mediterrâneo,
a leste da Grécia, a oeste do Líbano, Síria e Israel, ao sul da Turquia e ao norte do Egito. Atrai
mais de 2,4 milhões de turistas por ano. Tornou-se uma república independente em 1960,
passando a fazer parte da União Europeia em 2004. Sua população é formada majoritariamente por gregos (70%), e as principais religiões são grega ortodoxa (78%) e muçulmana
(18%).
4 Xiitas – Defensores de que Ali, primo e genro do profeta Mohamed (Maomé), era seu sucessor. São maioria no
Irã. Veja mais no Capítulo 3.
5 Sunitas – Seguidores da “suna” (prática) do profeta Mohamed, tal como relatado por seus companheiros. Representam 85% dos muçulmanos. Veja mais no Capítulo 3.
10
PAZ - Book AF.indb 10
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ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO
1
EGITO – 1.001.449 km2
A República Árabe do Egito é um país do norte da África que inclui também a Península
do Sinai, na Ásia, o que o torna um Estado transcontinental. Limita-se a oeste com a Líbia,
ao sul com o Sudão e a leste com a Faixa de Gaza e Israel. O litoral norte é banhado pelo Mar
Mediterrâneo; o litoral oriental, pelo Mar Vermelho; e a Península do Sinai, pelos golfos de
Suez e de Acaba. Sua capital é a cidade do Cairo. O Egito é um dos países mais populosos da
África. A grande maioria dos 76,8 milhões de habitantes vive nas margens do Rio Nilo, a
única área cultivável do país, com cerca de 40.000 km2. Em 2000, o índice de analfabetismo
era de mais de 44% da população; hoje, é de 28,6%. A religião controla vários aspectos da
vida social, como em outros estados árabes, tendo apoio na legislação. Embora com 90% de
muçulmanos, o Egito possui a maior comunidade cristã do Oriente Médio (cerca de 10%
da população, dos quais 90% são da Igreja Católica Ortodoxa, Igreja Ortodoxa Copta de
Alexandria, Igreja Evangélica Copta e denominações protestantes coptas).
Os Emirados Árabes Unidos (EAU) situam-se no sudoeste da Ásia, têm costa no Golfo
de Omã e no Golfo Pérsico e fronteiras com Omã e Arábia Saudita. Sua localização estratégica no Estreito de Ormuz faz com que sejam um ponto de trânsito vital para o petróleo
bruto mundial. Consistem em uma federação de sete emirados (Abu Dhabi, Dubai, Sharjah,
Ajman, Umm al-Qaiwain, Ra’s al-Khaimah e Fujairah) e foi oficialmente estabelecida em
dezembro de 1971. O Sheikh Khalifa bin Zayed Al Nahyan foi eleito presidente dos EAU
em novembro de 2004, após a morte do Sheikh Zayed bin Sultan Al Nahyan, que governou
o país desde a fundação do Estado. Cada emirado tem as próprias instituições de governo,
e foi estabelecida uma Constituição provisória determinando os poderes que deveriam ser
atribuídos às novas instituições federais, respeitando as particularidades de cada emirado. O
novo regime de governo inclui o Conselho Supremo, o Gabinete ou Conselho de Ministros,
o Conselho Nacional Federal (Parlamento) e o Poder Judiciário.
IÊMEN – 527.968 km2
A República do Iêmen (Al-Jumhuriya al-Yamaniya) tem uma população de mais de 23
milhões de pessoas, a maioria de árabes iemenitas, e os demais divididos em outros árabes,
afro-árabes e sul-asiáticos. Possui uma forma mista de governo, e sua capital é Sanaa. O
idioma oficial é o árabe, e a religião de Estado, o islamismo. A maioria de seus habitantes
(99,9%) se divide em sunitas (53%) e xiitas (46,9%). Localiza-se a sudoeste da Ásia. Há liberdade de culto, existindo até uma pequena comunidade judaica, mas, a exemplo de outros
países muçulmanos conservadores, o proselitismo é considerado ilegal. Sua independência
foi conquistada em 1918. Possui grande nível de analfabetismo (45,9% da população) e índice de mortalidade infantil de 58 por mil. A unificação política do Iêmen do Sul (regime republicano, de orientação marxista) e do Norte (república constitucional) se deu em 1990.
ORIENTE MÉDIO: O QUE É E ONDE FICA
EMIRADOS ÁRABES UNIDOS – 83.600 km2
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SOLUÇÃO PARA A PAZ
IRÃ – 1.648.195 km2
A República Islâmica do Irã é um país asiático que se limita ao norte com a Armênia, o
Azerbaijão, o Turcomenistão e o Mar Cáspio, a leste com o Afeganistão e o Paquistão, a oeste
com o Iraque e a Turquia e ao sul com o Golfo de Omã e o Golfo Pérsico. A capital é Teerã
e a língua oficial, o persa. Conhecido no Ocidente até 1935 como Pérsia, o país passou a
ser chamado de Irã, que significa “terra dos arianos” (no sentido étnico do termo). O islamismo xiita é a religião oficial e compreende 89% da população. A Constituição iraniana
reconhece três minorias religiosas: os zoroastrianos, os judeus e os cristãos. Os bahá’is são
perseguidos e muçulmanos que se convertem a outra religião são instados a ser mortos pelos próprios parentes.
A história moderna do Irã começa em 1921, com o golpe militar liderado por Reza Khan
(1878-1944) contra o governo da dinastia Kajar. Em 1925, foi proclamado xá da Pérsia,
denominando-se Shah Reza Pahlevi. Em 1935, mudou o nome do país para Irã. Em 1941,
o país foi ocupado por forças britânicas e soviéticas e Reza Pahlevi abdicou do poder em
nome de seu filho, Mohamed Reza Pahlevi (1919-1980), que se voltou para o Ocidente. Em
1951, o primeiro-ministro Mohammad Mossadegh (1882-1967) nacionalizou o petróleo
iraniano, contrariando interesses ingleses e norte-americanos e iniciando um confronto
com o xá, que deixou o país. Em 1953, sob influência dos Estados Unidos, o governo de
Mossadegh foi derrubado. Em 1975, instituiu-se o unipartidarismo no Irã, o que, somado
às perseguições promovidas pelo governo, intensificou a oposição dos muçulmanos xiitas,
que condenavam a ocidentalização do país. Em 1977, os protestos se intensificaram e os
manifestantes exigiram a volta do aiatolá Ruhollah Khomeini (1902-1989), líder religioso
xiita exilado do Irã desde 1963. Após inúmeros confrontos, Khomeini retornou ao país,
enquanto o xá fugia para o exterior. O aiatolá assumiu o poder, e o Irã tornou-se uma república islâmica que estimula o fanatismo religioso, consagra o terrorismo e prega a guerra
santa contra os opositores do regime, sobretudo os Estados Unidos, vistos como a causa dos
males do planeta.
IRAQUE – 438.317 km2
Com uma população de cerca de 30 milhões de habitantes, o Iraque é um país em que
predominam os muçulmanos (97%), 32% a 37% deles sunitas. Os demais englobam minorias religiosas: cristãos (católicos, ortodoxos), bahá’is e outros. A antiga Mesopotâmia
foi o berço de importantes culturas, como a dos sumérios, babilônios, caldeus e assírios,
dos quais resta apenas uma pequena minoria. Depois, esteve sob domínio persa, grego e
romano. Nos séculos VIII e IX, constituiu-se em expressivo centro do Império Árabe. Bagdá,
sua capital, foi fundada pelos árabes em 762, mas o atual Iraque surgiu na década de 1920,
após o desmembramento do Império Turco-Otomano, tornando-se a partir de 1932 uma
monarquia independente do Mandato Britânico.
Em 1958, a monarquia foi derrubada por um general, que instaurou um regime nacionalista. A partir desse ano, a descoberta do petróleo e a presença curda no Norte provocaram
golpes de Estado, revoltas e massacres de milhares de curdos (1974-1975). Em 1979, com
um golpe de Estado, o vice-presidente Saddam Hussein assumiu a presidência, transforman-
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ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO
1
do-se em ditador. Em 1980, o Iraque invadiu o Irã, com o apoio de potências ocidentais e
árabes, temerosas de que a revolução fundamentalista do aiatolá Khomeini se expandisse em
outros países petrolíferos. A guerra durou oito anos e deixou 300 mil iraquianos e 400 mil
iranianos mortos. Em 1990, o Iraque invadiu o Kuwait, anexando-o como a décima nona
província, mas, após tentativas diplomáticas fracassadas para que se retirasse de lá, o país foi
invadido, em janeiro de 1991 (Guerra do Golfo), por uma coalizão de trinta nações liderada
pelos Estados Unidos. Em poucos dias de guerra, estima-se que o número de mortes tenha
sido de 100 mil soldados e 7 mil civis iraquianos, 30 mil kuwaitianos e 610 soldados norte-americanos e aliados. Saddam iniciou uma guerra de represália contras os separatistas curdos do Norte. Foram impostas ao Iraque uma série de sanções, como a proibição da venda
de petróleo, e uma missão de inspetores internacionais para fiscalizar se estaria fabricando
armas de destruição em massa. Em março de 2003, o país foi invadido pela “coalizão” formada pelos Estados Unidos, Reino Unido e outras nações. Em 1.º de maio, o governo do
partido Ba’ath foi destituído e o presidente Saddam Hussein, deposto. Capturado em 14 de
dezembro de 2004, foi julgado e morto, ao mesmo tempo que se dava início ao processo
de transição de poderes à população iraquiana. As línguas faladas no Iraque hoje são o árabe
(oficial), curdo, turcomano, siríaco, caldeu e armênio.
O Estado de Israel está localizado no oeste da Ásia, ao longo da costa oriental do Mar
Mediterrâneo, limitando-se ao norte com o Líbano, a leste com a Síria e a Jordânia, ao sul
com o Egito e a oeste com o Mar Mediterrâneo. Está situado no ponto de encontro de três
continentes: a Europa, a Ásia e a África. Com sua forma longa e estreita, o país tem 470 km
de comprimento (ou seja, pouco mais do que a distância entre as cidades de São Paulo e
do Rio de Janeiro) e mede 135 km em seu ponto mais largo (o que corresponde a pouco
mais do que a distância de São Paulo às cidades paulistas de Americana ou Santos). Embora
pequeno em tamanho, Israel apresenta a variedade topográfica de um continente, e nele se
encontram desde montanhas cobertas de florestas e verdes vales férteis até desertos montanhosos; a planície costeira e o vale do Jordão semitropical, sem falar no Mar Morto, o ponto
mais baixo da Terra. Aproximadamente metade da área do país é semiárida, sendo um dos
poucos do Oriente Médio que não possuem petróleo.
Só para ter uma ideia, Israel possui uma área de 20.700 km², menor do que o Estado de
Sergipe ou o equivalente a três vezes a área da Grande São Paulo. As principais cidades são:
Jerusalém, Tel-Aviv e Haifa. Conta com um clima mediterrâneo e a densidade demográfica
é de 299 hab./km2. Israel é uma democracia, com liberdade religiosa e de expressão. Veja
mais dados no Capítulo 5.
ORIENTE MÉDIO: O QUE É E ONDE FICA
ISRAEL – 20.700 km2
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SOLUÇÃO PARA A PAZ
JORDÂNIA – 88.778 km2
A Jordânia limita-se ao norte com a Síria, a leste com o Iraque, a leste e ao sul com a
Arábia Saudita e a oeste com o Golfo de Acaba (através do qual faz fronteira marítima com
o Egito), Israel e Cisjordânia. Sua capital é Amã. Possui 88.778 km2 e mais de 6 milhões de
habitantes. Em 1946, foi criado o Reino Hashemita da Transjordânia, após a saída dos britânicos da região. Mais de 70% do território do Mandato Britânico da Palestina, a leste do Rio
Jordão, era conhecido como Transjordânia. Em 1950, passou a se denominar Jordânia. Na
Guerra da Independência de Israel, o país anexou a Samaria e Judeia, território conhecido
como Cisjordânia, reconquistado em 1967 pelos israelenses e hoje sob administração da
Autoridade Palestina.
KUWAIT – 17.818 km2
Esse pequeno país limita-se ao norte e a oeste com o Iraque, a leste com o Golfo Pérsico,
do outro lado do qual se estendem as costas do Irã, e ao sul com a Arábia Saudita. Sua capital
também se chama Kuwait. A forma de governo é o emirado, sendo o chefe de Estado designado por emir ou xeque. É dominado quase totalmente por desertos.
LÍBANO – 10.400 km2
A República Libanesa foi criada em 1926 e se tornou Estado independente em 1941.
Hoje possui mais de 4 milhões de habitantes. Sua capital é Beirute. Limita-se ao sul com
Israel, ao norte e a leste com a Síria e a oeste com o Mar Mediterrâneo.
OMÃ – 309.500 km2
O país margeia o Mar da Arábia, o Golfo de Omã e o Golfo Pérsico, entre o Iêmen e os
Emirados Árabes Unidos. É composto por árabes, balúchis, sul-asiáticos (da Índia, Paquistão,
Sri Lanka e Bangladesh) e africanos, que em sua maioria são muçulmanos ibaditas (75%),
dividindo-se o restante (25%) em muçulmanos sunitas, xiitas e hindus. O idioma oficial é
o árabe.
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ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO
1
CATAR – 11.521 km2
Monarquia árabe, situa-se na pequena Península de Catar, no Golfo Pérsico e em algumas
ilhas ao redor. Tem apenas pequenas fronteiras terrestres ao sul, com os Emirados Árabes
Unidos e a Arábia Saudita. As fronteiras marítimas são com o Irã, ao norte, e com o Bahrein,
a oeste. O país, cuja capital é Doha, possui 11.521 km2. Independente desde 1971, rico em
petróleo e gás natural, possui a maior renda per capita do mundo: US$ 80.900 (2007). Sua
taxa de mortalidade infantil é de oito por mil, equivalente, no Oriente Médio, à dos Emirados Árabes Unidos e à do Kuwait e maior apenas do que a de Israel, que é de cinco por mil.
O islamismo é a religião predominante: 10,13% são sunitas e 80,7%, xiitas. A maioria dos
que não são cidadãos vem do sul e do sudeste da Ásia e de países árabes como trabalhadores
temporários em empregos sob contrato, em alguns casos acompanhados pela família. Entre
eles há também cristãos, hindus, budistas e bahá’is.
SÍRIA – 185.180 km2
TURQUIA – 783.562 km2
A República da Turquia fica no sudeste europeu e sudoeste da Ásia. Faz fronteira com oito
países: Bulgária a noroeste, Grécia a oeste, Geórgia a nordeste, Armênia, Irã e Azerbaijão a
leste e Iraque e Síria a sudeste. É banhada pelos mares Negro, ao norte, Egeu e de Mármara,
a oeste, e Mediterrâneo, ao sul. Sua capital é Ancara. Segundo sua Constituição, a Turquia
é uma república democrática, secular e constitucional, cujo sistema político foi estabelecido em 1923, após o fim do Império Otomano. Embora apenas uma pequena parte de seu
território fique na Europa, busca tornar-se membro pleno da União Europeia. Possui uma
localização geográfica estratégica, controlando o Estreito de Bósforo, o Mar de Mármara e o
Estreito de Dardanelos, que ligam o Mar Negro e o Mar Egeu. A Turquia e os Estados que a
antecederam no local foram uma ponte entre as culturas ocidental e oriental e o centro de
diversas grandes civilizações.
ORIENTE MÉDIO: O QUE É E ONDE FICA
As principais cidades da República Árabe da Síria são Alepo, Damasco (capital) e Homs.
O país tem 20 milhões de habitantes, entre árabes sírios, curdos, circassianos, turcos e armênios. A religião da maioria da população é o islamismo (74% sunitas e 12% xiitas); 8,9% são
cristãos e 3% são drusos. A forma de governo é república presidencialista (ditadura militar
desde 1970).
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SOLUÇÃO PARA A PAZ
TERRITÓRIO PALESTINO
Conforme acordos estabelecidos internacionalmente, mas não aceitos na integralidade
pelos representantes dos palestinos, o território está distribuído em duas regiões:
• Cisjordânia 6 – Com área de 5.860 km2, tem cerca de 2,5 milhões de habitantes, entre os
quais 75% são muçulmanos sunitas, 17% judeus e 8% cristãos e outros. Sua capital administrativa é Ramalah. Hoje a região está sob o controle político da Autoridade Nacional
Palestina (ANP), comandada pelo Fatah e apoiada pela Organização das Nações Unidas e
seus principais membros.
• Faixa de Gaza 7 – Ocupa uma área de 360 km2 e possui cerca de 1,5 milhão de habitantes
(2007), sendo 99,3% muçulmanos e 0,7% cristãos. Sua principal cidade chama-se Gaza
e tem sido controlada, desde 2005, pelo Hamas, partido de oposição ao Fatah. O Hamas
é um movimento fundamentalista islâmico intolerante, considerado pela União Europeia
e pelos Estados Unidos uma organização terrorista.
Os palestinos têm renda per capita de US$ 1.100 por ano.
Lia Bergmann Formada em História pela Universidade de São Paulo e jornalista com pós-graduação pela Faculdade
Cásper Líbero, Lia Bergmann é assessora de comunicação e de direitos humanos da B’nai B’rith do Brasil. Este Capítulo
contou com a colaboração dos demais autores desta obra. Agradecimento especial a Adriana Dias, que elaborou as
tabelas 1 e 2.
6 Dados da Folha Online.
7 Dados do jornal Folha de S.Paulo.
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Lia Bergmann
CAPÍTULO
2
ISRAEL: 3.700 ANOS
DE HISTÓRIA
“Sábio é aquele que aprende com todos os homens.” (Pirkei Avot 4,11)
Introdução
A Terra de Israel está ligada indissoluvelmente ao povo judeu. Foi onde a his-
tória desse povo teve início, há 3.700 anos, e durante todos esses séculos nela se
manteve presente. Mesmo quando escravizados, expulsos, vivendo no exílio ou
na Diáspora (dispersão), os judeus nunca se esqueceram de sua terra e sempre
sonharam com o retorno. Apesar de essa região ter sido ocupada por numerosos
conquistadores, nenhum outro povo ali viveu de forma independente ou a considerou o centro de sua existência nacional.
Apenas 1.700 anos depois do estabelecimento dos judeus na Terra de Israel,
esta foi conquistada pelos árabes, no século VII d.C., ou seja, 700 anos depois
do nascimento de Jesus e 400 do advento do cristianismo. Jesus nasceu, viveu e
morreu como judeu, na época do domínio romano.
A Terra de Israel recebeu diversos nomes no decorrer do tempo. Na Antiguidade era chamada de Canaã, depois de Judeia2, a terra dos judeus (de Judá), e
muito mais tarde, sob o domínio romano, no século I d.C., foi denominada pela
primeira vez Palestina. Na época, era a pátria dos judeus, habitantes majoritários
da Judeia, e, portanto, o termo “palestino” se referia aos judeus que lá nasciam
e moravam. Mesmo assim, nos séculos seguintes a região era conhecida como
Terra Santa ou Terra de Israel.
A cidade de Jerusalém se tornou a capital da Terra de Israel há cerca de 3 mil
anos, com o rei David, e até hoje nunca foi a capital de outro povo que não o
judeu. É mencionada mais de setecentas vezes nas Escrituras Sagradas (Bíblia
– Antigo Testamento), mas aparece apenas uma vez no Corão, o livro sagrado dos
muçulmanos. É a cidade mais sagrada para o judaísmo e a terceira para o islamismo, depois de Meca e Medina. Em todas as orações os judeus se voltam para
Jerusalém; os muçulmanos, para Meca. Hoje, é uma cidade sagrada para judeus,
cristãos e muçulmanos, que têm seus locais históricos e de culto preservados
pelas autoridades israelenses.
1 Pirkei Avot – Ética dos Pais. 5. ed. São Paulo: B’nai B’rith do Brasil, 1990. O texto foi escrito há mais
de 2 mil anos.
2 Judeia (do latim Judaea, Terra de Judá) – O nome aparece no tempo dos macabeus, passando, em
62 a.C., a designar toda a Palestina. Em 153 d.C., após a derrota da revolta judaica de Bar Kochba,
foi rebatizada de Palestina pelos romanos. Judeia também se aplica à parte meridional do país.
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SOLUÇÃO PARA A PAZ
Para o povo judeu, a própria cidade é santa. Escolhida por Deus em sua aliança com
David, Jerusalém é a essência e o centro da existência e continuidade espiritual e nacional
judaicas. Há quase 2 mil anos os judeus se voltam na direção de Jerusalém e do Monte do
Templo quando rezam, onde quer que estejam.
Assim como os muçulmanos devem peregrinar para Meca, o Muro Ocidental, conhecido
como Muro das Lamentações (remanescente do Segundo Templo de Jerusalém) por ser o local mais sagrado do judaísmo, é o lugar de peregrinação (como era na Antiguidade) nas três
principais festas do calendário religioso judaico: Pessach (fim da escravidão do Egito), Shavuot
(Pentecostes, a “Festa das Semanas”) e Sucot (Festa da Colheita). No Pessach, a narrativa que
lembra a libertação dos judeus da escravidão no Egito termina com as seguintes palavras:
“No ano que vem em Jerusalém”.
Na Terra de Israel o povo judeu formou sua identidade cultural, religiosa e nacional e nela
manteve ininterruptamente sua presença física. Mesmo depois da Diáspora, o exílio forçado,
não deixou de ter forte ligação com sua terra, cuja independência foi recuperada em 1948.
Durante esse período sempre houve comunidades judaicas na Terra de Israel.
A presença dos judeus na Terra de Israel
Período bíblico (século XVIII a.C.)
A Bíblia, em especial o Antigo Testamento, é uma das principais fontes de conhecimento sobre a origem do povo judeu, também conhecido como hebreu ou israelita. A ela se
somam fontes da antropologia histórica, como a geografia, a climatologia e a arqueologia
bíblica, com importantes descobertas, entre elas a dos Manuscritos de Qumran, ou Pergaminhos do Mar Morto, datados do século I a.C., e outras que atestam a presença judaica na
região do Oriente Médio, ou ainda os relatos do historiador Flávio Josefo, na época do rei
Herodes (40-4 a.C.), que descreve, em minúcias, o Segundo Templo de Jerusalém, o local
mais sagrado para os judeus.
De acordo com o primeiro livro bíblico, o Gênesis, há quase 4 mil anos Abraão, o patriarca do povo judeu, se estabelece em Canaã, respondendo ao chamado de um Deus único, e,
com seus descendentes, dá início à história da religião judaica. José Jobson de A. Arruda e
Nelson Piletti, em Toda a História, descrevem: “Pesquisadores afirmam que, por volta do século
XVIII a.C., os hebreus teriam chegado a seu destino (a Terra Prometida)”.
Em torno de 1800 a.C., a seca força os judeus a emigrar para o Egito, onde passam por
400 anos de escravidão. Após a revolta conduzida por Moisés para a libertação de seu povo,
tem início o Êxodo, provavelmente em 1250 a.C. Os judeus vagam durante quarenta anos no
deserto antes de chegar a Canaã, quando então é criada a nação de Israel. Pelos 2 mil anos
seguintes, Israel estará sob a soberania ou administração judaica.
Em 1020 a.C., estabelece-se a monarquia e, em 1000 a.C., o rei David torna Jerusalém a
capital do reino (este, na época, fazia fronteira com o Egito e o Mar Vermelho e se estendia
até as margens do Rio Eufrates, onde hoje é o Iraque). Ao sucedê-lo, o rei Salomão constrói
o Primeiro Templo de Jerusalém, que se tornará o centro da vida nacional e religiosa do
povo judeu.
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ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO
2
A fé judaica: a vida é o bem mais sagrado
ISRAEL: 3.700 ANOS DE HISTÓRIA
A fé judaica tem origem no chamado divino que leva Abraão a deixar
sua terra natal, indo para Canaã, e a transformar-se no pai de uma nação.
Após a libertação do Egito, os judeus vagam por quarenta anos no deserto,
e durante essa peregrinação Moisés recebe no Monte Sinai as Tábuas da Lei,
ou os Dez Mandamentos, um código de leis, de conduta e de ensinamentos
que constitui a base espiritual do povo judeu. Os Dez Mandamentos valorizam a verdade e a vida acima de tudo e se tornam a base da ética do mundo
ocidental. A ideia de um Deus único – o monoteísmo – adotada pelos judeus
foi uma verdadeira revolução na sociedade, que até então cultuava ídolos,
tornando-se mais tarde também a base do cristianismo e do islamismo.
A experiência religiosa judaica é descrita em uma série de livros sagrados.
O mais importante deles é a Torá, composta pelos cinco livros de Moisés, os
primeiros livros do Antigo Testamento, ou Pentateuco. A Torá é lida diariamente, até os dias de hoje, nos serviços religiosos nas sinagogas.
O termo “sinagoga” começou a ser empregado após a destruição do Primeiro Templo de Jerusalém pelos babilônios, passando a ser um espaço destinado às orações das comunidades judaicas dispersas.
Da Torá surgiu, mil anos depois, um largo corpo de tradições rabínicas,
o Talmud, lei oral que trata de assuntos legais, éticos e históricos. Obra enciclopédica de grande envergadura, foi elaborada durante oito séculos (de
300 a.C. até 500 d.C.). O mais popular é o Talmud Babilônico, publicado na
Babilônia em 499 a.C. O Talmud de Jerusalém foi compilado no final do século III a.C.
O judaísmo é uma religião sem um sistema dogmático, que valoriza o livre-arbítrio de cada indivíduo. Tem como princípios fundamentais o Tikkun
Olam, a ideia de que Deus criou o mundo e cabe ao homem melhorá-lo
– portanto, é missão do ser humano fazer deste um mundo melhor para todos – e a Tzedaká, justiça social e ajuda ao próximo. Outra máxima judaica é:
“Não faças aos outros o que não queres que façam a ti mesmo”.
Para o judaísmo, a vida é sagrada e está acima de tudo; todas as tradições podem deixar de ser observadas para salvar um ser humano e mesmo
um animal.
Segundo a tradição judaica, Deus criou o mundo em seis dias e no sétimo
descansou. Por isso, o sétimo dia, o Shabat, é santificado. Nesse dia todos
devem descansar. Na Antiguidade, quando existia escravidão, os servos e os
animais também tinham garantido seu dia de descanso. A cada sete anos, a
terra tinha de permanecer um ano sem uso, e os cantos das plantações não
deviam ser colhidos, para que os necessitados pudessem se alimentar. Essas
foram as primeiras leis de direitos humanos do mundo.
A sobrevivência do povo judeu e do judaísmo é um fenômeno ímpar. Com
todas as perseguições e reveses, há 3.700 anos os judeus vêm mantendo suas
tradições e sua fé inabalável em um Deus único, um Deus de bondade, de
amor e de justiça.
Como já dito, Jerusalém, onde estão situados o Monte do Templo e o
Muro Ocidental (Muro das Lamentações), é a cidade sagrada do judaísmo.
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SOLUÇÃO PARA A PAZ
Períodos persa e helenístico (586-142 a.C.)
O reino de Israel se organiza em doze tribos e divide-se em dois: Israel e Judá. Israel é
devastado pelos assírios e Judá conquistado pelos babilônios em 586 a.C, quando o Templo
de Jerusalém é destruído e os judeus levados como escravos para a Babilônia.
Depois, o rei persa Ciro permite que os judeus retornem do exílio para a Terra de Israel.
Durante quatrocentos anos, mesmo sob o domínio dos persas e depois dos gregos, há uma
independência e um renascimento nacional, com o país sendo dirigido segundo as leis judaicas. Reconstrói-se o Templo de Jerusalém (Segundo Templo) e cria-se a Haguedolá (Grande
Assembleia), que é hoje o Knesset, o Parlamento do Estado de Israel.
Em termos comparativos, é bom lembrar que o Brasil não tem, ainda, duzentos anos de
independência, o que demonstra como é histórica a presença judaica na Terra de Israel.
A partir do século III a.C., com a assimilação da língua e dos gêneros literários gregos,
muitos textos judaicos também são traduzidos. O mais importante é, sem dúvida, a mais
antiga tradução da Bíblia hebraica para o grego, a chamada LXX, que continha o Pentateuco
(os cinco livros de Moisés ou os livros das leis), datada de 285 a.C.
Império Romano (63 a.C.-313 d.C.)
A Terra de Israel torna-se província do Império Romano. Nasce Jesus de Nazaré, cujos ensinamentos, tais como se encontram reunidos nos Evangelhos, dão origem ao cristianismo
(Concílio de Niceia, em 325 d.C., na atual Turquia), que também é uma religião monoteísta.
Jesus viveu e morreu como judeu, tendo os romanos escrito em sua cruz “INRI”, sigla
em latim que significa “Jesus de Nazaré, Rei dos Judeus”. À semelhança do judaísmo e do
islamismo, o cristianismo é considerado uma religião abraâmica, ou seja, originária do patriarca Abraão.
No ano 70 d.C., o general romano Tito (depois imperador) arrasa Jerusalém e destrói o
Segundo Templo. Tem início uma nova Diáspora (dispersão), em que os judeus se espalham
pelo mundo. Mesmo assim, as instituições políticas, econômicas e espirituais da comunidade
judaica continuarão existindo na Terra de Israel por, pelo menos, mais trezentos anos.
Em um esforço para apagar as marcas da milenar presença judaica na região, após sufocar
uma revolta dos judeus em 153 d.C., o imperador romano Adriano muda o nome da Terra
de Israel, então chamada de Judeia (a terra dos judeus ou de Judá), para Palestina e proíbe o
acesso dos judeus à antiga Jerusalém.
No entanto, monges, médicos, viajantes, historiadores romanos, judeus e muçulmanos,
entre outros, relatam os percalços das gerações de judeus que lá permaneceram durante
quase 2 mil anos, a despeito das inúmeras perseguições étnicas e religiosas, das invasões e
conquistas, sem nunca deixar o solo sagrado nem se esquecer de sua Jerusalém, de Sion, na
qual foram proibidos de entrar em diversos períodos de sua história. E, segundo cronistas
de várias épocas, sempre houve uma comunidade judaica ao pé do Monte do Templo, em
Jerusalém3.
3 BAHAR, Vinte Séculos de Vida Judaica na Terra de Israel - As Gerações Esquecidas.
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ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO
2
Na Terra de Israel ou na Diáspora, o anseio de voltar a Jerusalém permanece vivo nas
orações, na literatura, no coração e na alma dos judeus em todos os tempos. É preciso ressaltar, também, que, se não fossem as invasões romanas e de outros impérios, Israel teria
hoje 3 mil anos.
Uma obra muito importante para a compreensão da história de Israel dessa época foi
escrita pelo historiador Flávio Josefo, nascido em Jerusalém em 37 ou 38 a.C. Na famosa
História dos Hebreus, ele descreve a Torá como o grande código cultural, moral, social e político
dos judeus. Posteriormente, Josefo se alia aos romanos, mas seu livro é um relato interpretativo da presença dos judeus na Terra de Israel durante o Império Romano.
Império Bizantino (313-636)
Nesse período, o cristianismo torna-se a religião de Estado e o Sinédrio (corte de Justiça
judaica) é abolido, sendo construídas inúmeras igrejas em Belém, em Jerusalém e na Galileia.
Os judeus que permaneceram em sua terra passam por diversas fases, umas com florescimento de vida cultural e religiosa e outras com muitas dificuldades, incluindo a destruição
de sinagogas, perseguições e a proibição de visitar Jerusalém.
Sete anos após a morte do profeta Mohamed, criador do islamismo, a região foi conquistada pelos muçulmanos. No início, os judeus tinham garantia de vida e de propriedade,
além de liberdade de culto. Depois vieram as restrições aos não muçulmanos, e os judeus
foram obrigados a deixar suas propriedades nas áreas rurais, passando a viver nas cidades
ou abandonando o país. Os judeus foram, portanto, expropriados e expulsos pelos árabes.
A região nunca foi exclusivamente árabe. O idioma árabe tornou-se o mais falado ali depois
das invasões muçulmanas do século VII. Essas permitiram a construção do Império Otomano em todo o Oriente Médio.
Cruzadas (1099-1291)
As Cruzadas foram expedições militares, em nome da Igreja Católica, realizadas na Idade
Média contra o domínio do Islã, combatendo os “infiéis”, denominação dada na época aos
que não fossem cristãos. A Primeira Cruzada, ordenada pelo papa Urbano II, para libertar Jerusalém, teve início em 1095. Os cruzados tomaram a cidade em 1099, dizimando também
a população judaica local. Formou-se o Reino Latino dos Cruzados. Com a abertura das rotas
de transporte da Europa, multiplicaram-se as peregrinações à Terra Santa e muitos judeus
retornaram a sua pátria, entre eles trezentos rabinos da França e da Inglaterra. Em 1187,
quando o exército muçulmano de Saladino derrotou os cruzados, foi possível aos judeus
voltar a morar em Jerusalém, onde permaneceram até a chegada dos mamelucos.
ISRAEL: 3.700 ANOS DE HISTÓRIA
Período árabe (639-1099)
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SOLUÇÃO PARA A PAZ
Período mameluco (1291-1516)
Os mamelucos, casta militar muçulmana que conquistou o poder no Egito, passaram a
dominar a Terra de Israel, transformando-a em província arrasada, com a sede de governo
em Damasco, que é hoje a capital da Síria. No final da Idade Média, com a destruição dos
portos de Acco e Yafo (Jafa), além de epidemias, pragas e terremotos, os judeus viveram em
total penúria.
Império Otomano (1517-1917)
Em seu auge, o Império Otomano compreendia a Anatólia, o Oriente Médio, parte do
norte da África e do sudeste europeu. Sua capital era a cidade de Constantinopla, tomada
do Império Bizantino em 1453. Sob o domínio otomano, que durou quatrocentos anos,
a região recebeu melhorias e incentivo à imigração judaica. Safed era um centro têxtil, de
intensa atividade intelectual e de estudo da Cabala (mística judaica). Com o declínio do
Império Otomano, a região ficou novamente abandonada, no final do século XVIII. Áreas
produtivas transformaram-se em deserto ou pântano. No século XIX, houve uma revitalização, com rotas marítimas regulares, e a abertura do Canal de Suez, que tornaram a região um
ponto comercial. Em 1860, a população de Jerusalém extrapolou seus muros, estabelecendo
a Cidade Nova, com mais sete bairros. Em 1880, a população judaica constituía a maioria
local. Em todo o país, terras compradas se transformaram em colônias rurais (kibutzim4) e o
hebraico voltou a ser a língua falada no cotidiano. No final do século XIX, começou nova
onda de imigração de judeus para a Terra de Israel, fugindo dos massacres e da discriminação que estavam sofrendo na Europa, especialmente na Rússia.
Mandato Britânico (1918-1948)
Com o declínio do Império Otomano, no século XIX, e
após a Primeira Guerra Mundial, na qual foi derrotado, seu
território foi dividido entre potências europeias, vencedoras da guerra, que passaram a exercer mandatos na região.
O Mandato Francês foi exercido sobre o que na época era
denominado Síria, que englobava tanto a atual Síria como o
que é hoje o Líbano, enquanto o Mandato Britânico se estendeu sobre a Terra de Israel (na época chamada Palestina) e
o Iraque. No mapa ao lado, é possível observar como estava
dividida a região na segunda década do século XX.
Em 1917, a Grã-Bretanha aprovou a Declaração Balfour,
comprometendo-se com a criação de uma pátria judaica na
Terra de Israel. Em 1922, a Sociedade das Nações atribuiu a
administração da Terra de Israel ao Reino Unido da Grã-Breta-
4 Kibutzim (plural de kibutz, que em hebraico significa “reunir”) – Colônias comunitárias em Israel, no início predominantemente agrícolas.
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ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO
2
ISRAEL: 3.700 ANOS DE HISTÓRIA
-nha e Irlanda do Norte, que de fato já vinha administrando-a desde 1917. Nesse ano, a Grã-Bretanha decidiu dividir a Terra de Israel em Emirado Hashemita da Transjordânia (atual
Jordânia, que se tornou independente em 1946, pouco antes de Israel) e Palestina, tendo o
Rio Jordão por fronteira.
Apenas após a Segunda Guerra Mundial e com as evidências do Holocausto praticado pela
Alemanha nazista contra os judeus, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas
aprovou o estabelecimento na região de dois Estados, um judeu e um árabe. A Resolução
181, de 20 de novembro de 1947, em sessão presidida pelo embaixador brasileiro Osvaldo
Aranha, foi aprovada por 33 votos a 13 e ficou conhecida como “Partilha da Palestina”.
Cópia da ata da votação da Partilha da Palestina e criação do Estado de Israel
contemporâneo5.
5 BAHAT, Vinte Séculos de Vida Judaica na Terra de Israel - As Gerações Esquecidas.
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SOLUÇÃO PARA A PAZ
Bibliografia sugerida
ARRUDA, José Jobson de A.; PILETTI Nelson. Toda a História. 13. ed. São Paulo: Ática, 2007.
BAHAT, Dan. Vinte Séculos de Vida Judaica na Terra de Israel – As gerações esquecidas. São Paulo: B’nai B’rith do Brasil, 2002.
BEREZIN, Rifka (Org.). Caminhos do Povo Judeu. São Paulo: Vaad Hachinuch, 1982.
BLECH, Benjamin. Judaísmo. São Paulo: Sêfer, 2004.
EBBAN, Aba. História do Povo de Israel. Rio de Janeiro: Bloch, 1971.
Enciclopédia Judaica.
GRANADOS, Jorge Garcia. Assim Nasceu Israel. São Paulo: Sêfer, 2008.
“Israel: 4.000 anos de história”. Revista da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Israel, São
Paulo, 2001.
Revista Shalom.
UNTERMAN, Alan. Dicionário Judaico – Lendas e tradições. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999.
WOOL, Danny; YUDIN, Yefin. O Ano Judaico. São Paulo: Sêfer, 2007.
Sites
Estudos Bíblicos: http://www.panoramabiblico.blogspot.com.
Estudos Judaicos: http://www.estudosjudaicos.blogspot.com.
História das Religiões e Religiosidades: http://www.religioesereligiosidades.blogspot.com
Língua Hebraica: http://www.linguahebraica.blogspot.com.
Lia Bergmann Formada em História pela Universidade de São Paulo e jornalista com pós-graduação pela Faculdade Cásper Líbero, Lia Bergmann é assessora de comunicação e de direitos humanos da B’nai B’rith do Brasil.
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Lia Bergmann
CAPÍTULO
3
O ISLÃ: 1.300 ANOS
DE HISTÓRIA
A Península Arábica antes do islamismo
A geografia da Ásia possui três grandes penínsulas: a Indochina, a Índia e a
Arábia. A Península Arábica, localizada no sudoeste asiático, é o centro de confluência de três continentes. É uma unidade geográfica na forma de um trapézio,
com cerca de 2.590.000 km2, e, atualmente, está dividida nos seguintes Estados:
Arábia Saudita, Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Catar, Kuwait, Omã e Iêmen.
Limita-se ao norte com a Jordânia e o Iraque, a leste com os golfos Pérsico e de
Omã, ao sul com o Mar da Arábia (Oceano Índico) e a oeste com o Mar Vermelho.
O território, que foi denominado pelos historiadores de Região Pré-Islâmica, situa-se numa área desértica, e suas características impediram o desenvolvimento da
agricultura; por conta disso, a população
que povoou essa região do século II ao
VI dedicou-se, quase exclusivamente, ao
pastoreio. É importante salientar que, durante todo esse período não houve nesse lugar um poder político centralizado,
originado na região, que, sob o Império
Romano, na época de Trajano, foi dividida
em três grandes grupos: a Arábia Pétrea, a
Arábia Desértica e a Arábia Feliz.
• A Arábia Pétrea foi assim denominada por causa de suas características geológicas: situada ao norte, era uma região muito escarpada, com inúmeras colinas rochosas e muitos desfiladeiros. Todas as caravanas vindas do sul em
direção ao Mar Mediterrâneo passavam por essa região, que, nos relatos dos
viajantes e exploradores, muitas vezes era tratada como muito perigosa, em
razão de suas dificuldades naturais.
• A Arábia Desértica correspondia à parte da região habitada por tribos de
nômades denominados beduínos. Esses grupos, dedicados ao pastoreio, reuniam-se em torno de poços e oásis e, por conta de muitas disputas, nas quais
guerreavam entre si e contra os impérios Romano e Persa, eram tidos como
belicosos. Eram politeístas e costumavam guardar objetos de adoração de seus
deuses em Meca. Cada tribo adorava seus ancestrais com imagens. O deus
principal era Alá, simbolizado pela “pedra negra”, que, segundo eles, havia
sido enviada dos céus. Seu principal elemento de sobrevivência era o camelo,
animal do qual retiravam seu alimento (leite e carne) e vestimentas (feitas
com o pelo).
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SOLUÇÃO PARA A PAZ
• A Arábia Feliz (em latim, Arabia Felix) era um território da Ásia que correspondia aos
atuais Iêmen e Omã, formada por tribos sedentárias cujas principais atividades econômicas eram a agrícola e a mercantil, nas regiões litorâneas da Península Arábica. Na
Antiguidade, a Arábia Feliz se diferenciou como grande exportadora de mirra. A água
nessa região, ao contrário das outras duas, não era escassa, tendo sido muito aproveitada no cultivo dos campos.
A unificação política – Mohamed (570-632)
Mohamed (Maomé) nasceu em Meca, parte de uma linhagem pobre da tribo coraixita,
e dele surgiu uma nova religião, o islamismo, que garantiu a unidade política à Arábia. Mohamed era órfão e foi criado por um avô e um tio. Aos 20 anos, quando começou sua vida
de pastor, empregou-se na caravana de uma rica viúva chamada Kadidja. Mais tarde ela se
tornaria sua esposa. Durante suas caravanas, conheceu as duas grandes religiões monoteístas
da época – o judaísmo e o cristianismo –, das quais retirou elementos para fundar uma nova
religião monoteísta.
O islamismo acredita que, depois de um período de isolamento no deserto, Mohamed
recebeu mensagens de Deus, por intermédio do Arcanjo Gabriel. Nessas mensagens, Deus
desaprovava o politeísmo idólatra, fonte de disputas entre os árabes, e defendia o monoteísmo instituído na submissão a Alá e na leitura rigorosa do Corão, livro sagrado dos muçulmanos. Por conta de conflitos econômicos, os coraixitas de Meca receavam que a nova
religião reduzisse as inúmeras peregrinações à Caaba, prejudicando assim seus negócios.
Mohamed sofreu ameaças e acabou expulso de Meca em 622 (essa data é considerada muito
importante para os muçulmanos e demarca o início do calendário islâmico), dirigindo-se
para a cidade de Yatreb, episódio conhecido como Hégira (fuga).
Rapidamente Mohamed atraiu uma legião de adeptos que, em 630, conquistou Meca.
Surgia a religião monoteísta imposta pelos adeptos de Mohamed, elemento determinante
para a unificação política da região. É importante salientar: Mohamed, além de chefe religioso, também era chefe político dos árabes. Em 632, com a morte de Mohamed, os califas
seguidores do profeta passaram a governar em seu lugar.
A expansão do islamismo
No final do século VII, motivada por seu enorme crescimento demográfico, a população
islâmica utilizou como justificativa para a expansão territorial um preceito religioso: para
eles, todo seguidor de Mohamed deveria agir como um guerreiro encarregado de levar a fé a
todos os “infiéis” (o que recebeu o nome de jihad). Comandados pelos califas, os seguidores
dessa religião expandiram seus locais de domínio por vastas áreas do Mediterrâneo, até serem detidos na Europa por Carlos Martel, do reino franco, em 732. Durante quase mil anos
controlaram a navegação e o comércio no Mediterrâneo, bloqueando o acesso dos europeus
ao comércio com o Oriente. Em meados do século VIII, o Império Islâmico começou a dar
os primeiros sinais de decadência. Isso se deveu a vários fatores: primeiro, porque as diversas dinastias muçulmanas brigavam pelo poder dos califados, e, quando a dinastia principal,
a Omíada, responsável pelo apogeu expansionista, foi substituída pela dinastia dos Abássidas, o Império foi totalmente fragmentado, em califados independentes. Houve também o
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ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO
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grande movimento das Cruzadas, ciclo de lutas religiosas e econômicas, iniciado no século
X pelos cristãos, que tentava derrotar os muçulmanos, o que contribuiu para fragilizar o
Império. Por fim, os turco-otomanos, recém-convertidos ao islamismo, guerrearam com os
árabes pelo domínio político e econômico da região mediterrânea.
A expansão islâmica e suas divisões
Para entender a expansão islâmica, é importante perceber a assimilação que essa cultura
fez de muitos elementos de diversas culturas e das outras duas religiões monoteístas: o judaísmo e o cristianismo. No campo das ciências, os muçulmanos desenvolveram pesquisas
na matemática, aprimorando a álgebra e a geometria e criando o sistema numérico, na astronomia e na química. Muitas foram suas contribuições para a cultura universal.
No entanto, diversos conflitos se sucederam após a morte do profeta, em 632, quando,
em inúmeros confrontos, surgiram os sunitas, seguidores da tradição do profeta, a suna,
e os xiitas, partidários de Ali, primo e genro de Mohamed, que o consideravam seu único
herdeiro legítimo.
A fé islâmica
1. A crença em Alá (Allah), único Deus existente.
2. A crença nos Anjos, seres criados por Alá.
3. A crença nos Livros Sagrados (o Livro de Ibrahim, que se perdeu, a Lei de Moisés, ou
seja, a Torá, os Salmos de David, denominados Zabur, e o Evangelho de Jesus, chamado
Injil). O Corão, para o islamismo, é o último e mais completo livro sagrado, que completa todos os outros, e é o registro dos preceitos revelados por Alá ao profeta Mohamed.
É o livro que os muçulmanos acreditam ser a palavra literal de Deus (Alá) revelada ao
profeta Mohamed ao longo de um período de 22 anos. A palavra “Corão” procede do
verbo árabe que denota a ideia de declamar ou recitar; Corão, ou Alcorão, é, portanto,
uma “recitação” ou algo que deve ser recitado.
4. A crença em vários profetas enviados à humanidade. Personagens bíblicos bem conhecidos, como Adão, Noé, Abraão, Moisés, Jesus, Maria (a mãe de Jesus) e João Batista, são
mencionados no Corão como profetas do Islã, dos quais Mohamed é o último e mais
importante.
5. A crença no dia do Julgamento Final, no qual as ações de cada pessoa serão julgadas por Alá.
6. A crença na predestinação, tradução em português da palavra qadar, cujo sentido mais
preciso é “medir” ou “decidir quantidade ou qualidade”. Para o islamismo, Deus, criador
de tudo, incluindo os seres humanos, sabe exatamente como são as características de cada
elemento de sua obra. Dessa forma, os muçulmanos acreditam que tudo, absolutamente
tudo, que acontece a uma pessoa é determinado por Deus.
O ISLÃ: 1.300 ANOS DE HISTÓRIA
O mais importante fundamento da fé islâmica é a crença rigorosa no monoteísmo. Cada
capítulo do Corão (com exceção de um) principia com a frase “Em nome de Deus, o beneficente, o misericordioso”. O islamismo destaca seis grandes elementos cruciais de fé:
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SOLUÇÃO PARA A PAZ
No islamismo não existem grandes hierarquias religiosas e a prática do Islã é constituída por cinco elementos,
denominados os cinco pilares.
O primeiro deles é a shahada, profissão de fé, que demarca a entrada para o islamismo. Na conversão, o muçulmano repete, na frente de uma testemunha: “Não existe
nenhum Deus exceto Deus, e Mohamed é o mensageiro de Deus”, ou, em árabe, “Wa la ilaha illa’llah Muhammad
rasulu’llah”. Embora possa ser dita em qualquer idioma,
muitos muçulmanos optam por usar o árabe, por ser a
língua do Corão.
O segundo pilar é a oração, realizada cinco vezes por
dia: pouco antes do amanhecer, ao meio-dia, no meio da O Corão, século XII.
tarde, pouco depois de o Sol se pôr e à noite. Alguns versos Fonte: Washington University.
do Corão são declamados, em árabe, durante as orações,
que são diferentes umas das outras.
O terceiro pilar é o ato de caridade. Todo muçulmano deve doar cerca de 2,5% de sua
renda a uma mesquita ou a um centro de caridade locais.
O quarto pilar se refere ao Ramadã, o mês do jejum. Durante esse período, espera-se que
todos os muçulmanos, do nascer do Sol ao entardecer, se abstenham de comer e beber, evitem atividade sexual, mantenham sua mente limpa de pensamentos impuros e demonstrem
compaixão e respeito profundos. Uma das datas mais sagradas para o islamismo é a festa em
que se comemora o fim do jejum no Ramadã. Nessa festa eles sacrificam um cordeiro, para
lembrar o momento em que Abraão lidou com uma dor profunda: por ordem de Deus, ele
teria de sacrificar seu filho Ismael. Para os muçulmanos, Ismael, filho de Abraão com Agar,
e não Isaac, seria sacrificado.
O quinto e último pilar é a peregrinação à cidade de Meca, na Arábia Saudita, quando
há condições físicas e financeiras.
As divisões do islamismo
As principais divisões ou correntes islâmicas são a sunita e a xiita, e sua maior diferença
é determinada pela interpretação da sucessão de Mohamed. Durante sua vida, o profeta não
determinou nem quem o sucederia, nem como seria a escolha do sucessor. Isso causou a divisão do islamismo, quando a comunidade islâmica mergulhou numa guerra civil, após a morte
de Mohamed, que deu origem a três grupos: os sunitas, os xiitas e os caridjitas.
• Os sunitas, que representam 85% dos muçulmanos, aceitaram essa sucessão, denominada tradição do profeta (suna), tal como relatada por seus companheiros (a sahaba).
• Os xiitas defendiam que Ali, primo e genro de Mohamed, deveria ser o grande califa, que
em árabe quer dizer “sucessor”.
• Os caridjitas primeiro apoiaram a posição dos xiitas, atribuindo a Ali o lugar de único
sucessor legítimo de Mohamed. Decepcionados com Ali, por não ter declarado guerra
ao califa sunita, entenderam que isso representava uma traição a seu legado por Deus.
Posteriormente, Ali foi assassinado pelos caridjitas com uma espada envenenada.
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ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO
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Diferenças importantes
O islamismo hoje
A religião islâmica, que conta com 1,3 bilhão de fiéis em todo o mundo, encontra nos
sunitas sua maioria, cerca de 85% do total. Um equívoco muito comum é a confusão entre
árabe e muçulmano. O termo “árabe” se refere a uma etnia (de onde surgiu a língua árabe)
e o termo muçulmano se refere ao adepto da religião islâmica. Os árabes1 são o maior grupo
étnico do Oriente Médio. São maioria no Egito, Jordânia, Síria, Líbano, Iraque, nos países da
Península Arábica e nos territórios sob a Autoridade Palestina. Também estão presentes nos
países do norte da África, reunindo ao todo 350 milhões de pessoas.
Os muçulmanos, seguidores da fé islâmica, estão espalhados por todo o mundo. O Oriente Médio reúne apenas 18% da população muçulmana mundial – sendo que turcos, afegãos
e iranianos (persas) não são árabes. Outros 30% de muçulmanos estão no subcontinente indiano (Índia e Paquistão), 20% no norte da África, 17% no sudeste da Ásia e 10% na Rússia
e na China. Há minorias muçulmanas em quase todas as partes do mundo.
1 Originários da Península Arábica, os árabes se espalharam, a partir do século VII, em uma grande corrente migratória provocada pela expansão do islamismo. O principal fator que os une, porém, não é a religião, mas a língua,
que pertence ao tronco semítico, assim como o hebraico.
O ISLÃ: 1.300 ANOS DE HISTÓRIA
O movimento xiita sempre exerceu influência decisiva sobre o islamismo, a despeito de
ser minoritário. Com o passar dos séculos, os xiitas dividiram-se em diversas seitas parecidas, entre as quais a dos ismaelitas. O anseio de que os descendentes de Ali formassem os
líderes do mundo islâmico jamais se concretizou, mesmo porque os sunitas sempre foram
mais numerosos e expressivos. Os muçulmanos xiitas estão espalhados por todas as partes
do mundo, mas alguns países têm uma concentração particularmente forte: o Irã é quase
totalmente xiita, e no Iraque, país onde cerca de 95% da população é muçulmana, cerca de
dois terços são xiitas. Os xiitas são maioria também no Bahrein.
Em termos teológicos, há diferenças entre sunitas e xiitas. Os dois ramos compartilham
apenas três doutrinas: a individualidade de Deus, as revelações de Mohamed e a ressurreição
do profeta no Dia do Julgamento Final.
A compreensão do islamismo é diferente para sunitas e xiitas. Os primeiros dão grande
importância à peregrinação a Meca, enquanto os segundos dão também muita importância
a outras peregrinações. Os xiitas se valem comumente do termo “imã”, que designa suas
autoridades religiosas, exclusivamente para Ali e seus descendentes, ao contrário dos sunitas. Os xiitas acreditam que os imãs, como descendentes de Mohamed e Ali, são seres com
algo de divino. Os sunitas, por seu lado, creem em tradições baseadas em escolas teológicas
e jurídicas que envolvem analogias do Corão e da tradição.
Algumas características particulares dos xiitas: a camuflagem da fé em público, de modo
a impedir problemas sociais, é admitida, desde que conservada na privacidade; é possível
contratar um casamento temporário, estabelecido por um período entre um dia e 99 anos,
no qual podem existir ou não sexo e/ou o pagamento em dinheiro, e o homem que alcançar quatro casamentos desse tipo garante um lugar no Paraíso.
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SOLUÇÃO PARA A PAZ
Os árabes na Palestina
O nome
Existem duas versões para a origem do nome “Palestina”. A primeira é que a palavra
viria do hebraico “Peleshet”, que significa divisor, invasor. Ela é traduzida como “Falastin”,
denominação que os árabes usam atualmente para “Palestina” (na língua árabe não há o
som de “p”). No século I d.C., os romanos destruíram o reino independente da Judeia.
Após uma revolta frustrada dos judeus no segundo século, o imperador romano Adriano
determinou que a identidade de Israel com a região fosse negada/obscurecida, impondo o
nome “Palestina” para toda a terra judaica e rebatizando Jerusalém de “Aélia Capitolina”.
Os romanos mataram milhares de judeus e expulsaram ou venderam como escravos outras
centenas de milhares.
A outra versão é que a palavra “Palestina” derivaria do grego “Philistia”, nome dado pelos autores da Grécia Antiga a essa região, devido ao fato de em parte dela se terem fixado no
século XII a.C. os filisteus. Os filisteus não eram semitas e sua provável origem é creto-miceniana, oriundos, portanto, do litoral sul do Mar Mediterrâneo, de tal forma que os filisteus
não poderiam ser ascendentes dos atuais palestinos, que são de etnia semita (árabe).
É muito importante notar: os judeus viviam na Terra de Israel havia mais de 3.700 anos,
os judeus é que eram chamados de “palestinos” na época dos romanos e não há nenhum
povo na Palestina hoje que se origine no litoral sul do Mar Mediterrâneo.
A história
A área que correspondia ao Mandato Britânico da Palestina foi dividida pelos ingleses,
tendo o Rio Jordão como fronteira, criando-se a Transjordânia, hoje Jordânia. O restante,
correspondente à Palestina até 1948, encontra-se hoje dividido em três partes: uma delas integra o Estado de Israel e as duas outras abrangem a Faixa de Gaza e a Cisjordânia, de maioria
árabe-palestina, que deveriam integrar um Estado Palestino a ser criado, de acordo com a
lei internacional, bem como as determinações das Nações Unidas e da anterior potência
colonial da região, o Reino Unido.
A Terra de Israel, por conta de sua localização, um estreito trecho de favorável passagem
entre África, Ásia e Europa, sempre foi almejada por muitos conquistadores, pelos mais variados povos, por se constituir num corredor natural para os antigos exércitos.
A presença de árabes na Terra de Israel iniciou-se no ano 614, quando a região foi conquistada pelos persas sassânidas, que mantiveram seu domínio até 628, sendo sucedidos em
638 pelo domínio árabe muçulmano. De 1517 a 1917, o Império Otomano controlou toda
a região (incluindo Síria e Líbano).
Durante a Primeira Guerra Mundial, o Império Otomano apoiou a Alemanha e acabou
derrotado com a ajuda de povos árabes que auxiliavam as tropas aliadas. Esses povos árabes
receberam a promessa da constituição de um Estado árabe independente no Oriente Médio. Foram criados vários Estados árabes após o período de mandatos britânico e francês. A
Assembleia Geral das Nações Unidas determinou a Partilha da Palestina (os 25% ainda em
disputa) entre um Estado judeu e outro árabe com base na concentração das populações,
por meio da Resolução 181.
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ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO
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Com o desenvolvimento proporcionado pelos judeus, que adquiriram terras, implantaram saneamento básico e abriram novas possibilidades de trabalho, muitos árabes
de países vizinhos foram para a Palestina. Em 15 de maio de 1948, um dia depois da
fundação do Estado de Israel, sete exércitos de países da Liga Árabe atacaram Israel,
e, durante a guerra que se seguiu (que durou quinze meses), a maioria da população
árabe de lá fugiu para os países vizinhos (Líbano, Jordânia, Síria e Egito) em busca de
segurança. Passado algum tempo, muitos dos refugiados foram expulsos desses países
de acolhimento, dirigindo-se para o sul do Líbano, onde permanecem em campos de
refugiados até hoje. Na Jordânia, o rei Hussein mandou matar cerca de metade dos
palestinos de seu país, no episódio conhecido como Setembro Negro. Os sobreviventes
foram expulsos para o Líbano.
Em 1964, o Alto Comissariado da Palestina solicitou à Liga Árabe a fundação da Organização para a Libertação da Palestina (OLP). Em 1988, a OLP proclamou o estabelecimento
de um Estado palestino. O principal líder da organização foi o egípcio Yasser Arafat, falecido
em 2004. Arafat, após anos de luta contra Israel, iniciou as negociações que levaram aos
acordos de paz de Oslo. Desde 1994, os territórios palestinos estão sob a administração da
Autoridade Nacional Palestina, como resultado dos acordos. No entanto, estes não puderam
ser implantados em sua totalidade, pois Arafat e seus dirigidos promoveram vários atentados
terroristas ou foram coniventes com eles. Muitos atentados em ônibus, mercados, restaurantes deixaram centenas de mortos e feridos em Israel, entre eles árabes israelenses. A mídia
palestina sempre desenvolveu grandes manifestações contra o direito de Israel de existir. E
nas escolas árabes e palestinas o ódio a Israel e aos judeus é ensinado desde cedo. Infelizmente, Arafat, no ano 2000, não aceitou a proposta de paz intermediada pelo presidente
dos Estados Unidos, Bill Clinton, e abandonou seu compromisso de repudiar o terrorismo,
marcando o início de uma segunda revolta, com muitas vítimas, conhecida como Segunda
Intifada.
Os árabes que permaneceram em Israel, por outro lado, têm direitos civis, como cidadãos, podendo votar e ser votados, além de usufruir o avançado sistema de saúde do país.
Hoje há dois partidos árabes no Parlamento israelense.
A Irmandade Muçulmana
Dentro do islamismo, uma das interpretações mais radicais das práticas religiosas
foi concebida pela Irmandade Muçulmana.
Fundada no Cairo, em 1928, por Hasan al-Bana e seus colegas de estudo, defendia,
inicialmente, reformas morais e espirituais.
Suas principais formas de atuação concentravam-se na educação e na propaganda,
especialmente durante sua primeira década
de existência. Seu matiz ideológico principal constitui-se na união de credo e Estado
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Os refugiados palestinos
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SOLUÇÃO PARA A PAZ
(livro e espada), juntamente com o retorno à pureza do Islã, o sacrifício extremo pela
causa, a unificação do mundo islâmico sob a autoridade exclusiva do Corão, a rejeição aos
valores e ao colonialismo das potências ocidentais. Em oposição às ideias leigas, modernas
e ocidentais, essa interpretação afirma que, a fim de formar um Estado islâmico puro, os
valores da tradição e religião islâmicas devem desempenhar papel central na vida econômica, social e política.
O principal objetivo da Irmandade Muçulmana era libertar a pátria islâmica do controle
dos estrangeiros e infiéis, estabelecendo um Estado islâmico unificado (o califado) em todos os territórios que estiveram em alguma época sob o domínio árabe, como, por exemplo, a Espanha. A Irmandade foi um dos primeiros grupos a invocar a jihad contra todos os
não seguidores do islamismo. Jihad é um conceito essencial da religião islâmica. Pode ser
entendida como a luta, mediante vontade pessoal, para buscar e conquistar a fé perfeita.
Há opiniões divergentes quanto às formas de ação que são consideradas jihad. O fenômeno
do fundamentalismo islâmico, uma forma de oportunismo político de alguns grupos, se
aproveitou da noção de jihad, desvirtuando o Islã para torná-lo um fator de ação política em
proveito próprio. O lema da Irmandade Muçulmana era: “Alá é o nosso objetivo. A mensagem é o nosso líder. O Corão é a nossa lei. A Guerra Santa é o nosso caminho. Morrer no
caminho de Alá é a nossa maior esperança”.
Os movimentos islâmicos na Palestina
Existem muitos grupos islâmicos na Palestina, entre eles o Fatah, o Hamas e a Jihad
Islâmica. Alguns surgiram de metamorfoses internas da Irmandade Muçulmana, como o
Hamas (sigla, em árabe, de Movimento de Resistência Islâmica), que é uma organização paramilitar e um partido político. O grupo surgiu em 1987 como uma resposta da Irmandade
Muçulmana ao crescimento da Jihad Islâmica, cuja popularidade aumentara na Palestina por
causa das condições de sofrimento dos habitantes da região e das denúncias de corrupção
do Fatah. Um texto do documento de fundação do Hamas afirma: “O Dia do Juízo não vai
acontecer até que os muçulmanos venham a lutar contra os judeus (matando os judeus)”.
A Irmandade Muçulmana cresceu muito na Palestina durante a década de 1980. Em dezembro de 1987, a Intifada eclodiu na Faixa de Gaza e, posteriormente, na Cisjordânia. A
Intifada foi uma revolta preparada pela Irmandade Muçulmana, que, na véspera do primeiro
ataque, estabeleceu no Hamas uma organização adjunta.
Os grupos políticos na Palestina
A Autoridade Nacional Palestina é uma instituição que governa a Cisjordânia e a Faixa de
Gaza. Esses dois territórios fizeram parte dos acordos de Oslo entre a OLP e Israel.
Em 1964 surgiu o Fatah (sigla, em árabe, de Movimento de Libertação Nacional da Palestina), organização política e militar fundada por Yasser Arafat e Khalil al-Wazir (Abu Jihad),
juntamente com a criação da OLP. Os membros desse grupo defendiam, no início, a luta armada para destruir Israel e jogar os judeus no mar. Posteriormente, reconheceram o direito
de existência do Estado de Israel. Após muitas denúncias de corrupção, o Fatah foi derrotado
pelo Hamas nas últimas eleições para o Parlamento palestino. Após a contagem final, em 28
de janeiro de 2006, o Hamas conquistou 74 das 132 cadeiras do Parlamento.
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ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO
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O Hamas se utiliza de atentados suicidas e de lançamento de mísseis, e é por isso considerado uma organização terrorista pelo Canadá, União Europeia, Israel, Japão e Estados
Unidos, além de ter sido banido da Jordânia. Os Estados Unidos e a União Europeia têm
implementado medidas restritivas contra o Hamas em nível internacional.
Em seu documento de fundação, o Hamas estabeleceu como objetivo “trabalhar para
impor a palavra de Alá sobre cada centímetro da Palestina” (artigo 6.º). Para ele, a Palestina
deve incluir todo o território de Israel, Gaza e Cisjordânia. O Hamas não aceita o Estado
de Israel e, no artigo 7.º do mesmo documento, recorda que o profeta Mohamed afirmou:
“O julgamento final não virá até que os muçulmanos lutem contra os judeus e os matem”.
Também nesse documento o Hamas diz não acreditar em acordos de paz, vendo a jihad como
a única solução.
O Hamas tem atacado duramente a população civil de Israel há muitos anos, lançando
mísseis e foguetes da Faixa de Gaza (de onde Israel se retirou em busca da paz). Em dezembro de 2008, o governo israelense decidiu reagir, objetivando destruir a capacidade armamentista do Hamas, que infelizmente lança seus mísseis e instala seus quartéis-generais e
seu armamento em meio aos civis palestinos, não poupando escolas, hospitais e casas de
família, com o apoio de países como o Irã, que paga um valor determinado por foguete
lançado contra Israel e fornece auxílio e armas aos militantes do Hamas. Durante a operação
israelense foram destruídas dezenas de túneis que serviam para o contrabando de armas.
Essa foi mais uma crise no permanente cenário de tensão, desacordo, influência e difícil
acordo entre as partes diretamente envolvidas.
Bibliografia sugerida
Lia Bergmann Formada em História pela Universidade de São Paulo e jornalista com pós-graduação pela Faculdade Cásper Líbero, Lia Bergmann é assessora de comunicação e de direitos humanos da B’nai B’rith do Brasil.
O ISLÃ: 1.300 ANOS DE HISTÓRIA
BARD, Mitchell G. Mitos e Fatos – A verdade sobre o conflito árabe-israelense. São Paulo: Sêfer,
2004. Disponível em: http://www.scribd.com/doc/4902428/MITOS-E-FATOS-Mitchell-G-Bard.
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Adriana Dias
CAPÍTULO
4
O ANTISSEMITISMO A
PARTIR DO SÉCULO XIX E O
HOLOCAUSTO
O antissemitismo do século XIX
Com o advento da Revolução Francesa e o desenvolvimento do nacionalismo moderno, que desencadeou a formação dos Estados nacionais, uma
nova abordagem se espalhou pelo mundo: ao lado do racionalismo, o Ocidente
desenvolveu ideias racistas, que dividiam as raças humanas em superiores e
inferiores. Embora hoje saibamos que só existe uma raça, a humana, naquela
época a produção de textos “científicos” a respeito das raças buscava nas línguas e culturas elementos classificatórios. No século XIX, o preconceito aos judeus mudou sua temática: passou a ser conduzido por uma ideologia motivada
pelo discurso racial, o antissemitismo, e cresceu, fortemente, em toda a Rússia
e Europa.
A palavra “antissemitismo” foi empregada pela primeira vez pelo escritor alemão Wilhelm Marr, em 1873, para traduzir a ideia de “Judenhass”, que significa
“ódio aos judeus”. O ódio aos judeus era muito forte em toda a Europa, como
demonstra a literatura da época, que os descrevia de forma pejorativa ou rancorosa. Mas, depois do discurso antissemita, a situação ficou cada vez mais grave.
A extrema esquerda via nos judeus uma ameaça a sua liga internacional, porque
eles estavam presentes em diversas nações, muitos deles ocupando postos-chave
de Estado. Por outro lado, a extrema direita via nos judeus uma ameaça ao Estado
nacional, que deveria se constituir apenas de pessoas da mesma raça. Não havia
lugar para a convivência pacífica. Na Áustria, por exemplo, leis posteriores a
1882 negavam aos judeus direitos de cidadania, concedidos apenas aos cristãos.
Aconteceram, em muitas localidades, diversos pogroms, perseguições sangrentas
cujo objetivo era o massacre em massa. Em abril de 1903, em outro exemplo,
turbas enfurecidas na Rússia, incentivadas pelas autoridades locais, assassinaram
brutalmente 45 judeus e feriram setecentos, destruindo centenas de casas e lojas.
Por conta desse quadro grave, expandiu-se a imigração de judeus da Europa para
a Terra de Israel (então Palestina).
Para compreender o antissemitismo, é preciso entender, como informou Sartre, grande filósofo do século XX, que o antissemitismo e o racismo não são
atividades racionais; portanto, não são opiniões. O antissemita e o racista condicionam seu objeto de ódio a um estado de desconhecimento: eles não querem
sequer conhecer o outro, para permanecer no ódio que sentem por ele. Disso se
conclui que o antissemitismo e o racismo se desenvolvem apenas na mente de
quem os defende; o judeu e os grupos que sofreram ou sofrem racismo, como
os negros, jamais podem ser responsabilizados pelo ódio alheio. O antissemita e
o racista negam ao objeto de seu ódio a condição humana e, por isso, são profundamente destrutivos.
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O caso Dreyfus
O antissemitismo continuou crescendo por toda a Europa, de maneira vigorosa. Um
dos mais fortes exemplos desse crescimento pode ser observado em um caso considerado
por muitos o mais severo erro judiciário dos tempos modernos: o caso Dreyfus. O drama
do capitão Alfredo Dreyfus, judeu, oficial do Estado-Maior francês, se iniciou, no final de
1894, com a acusação de que ele estaria fornecendo documentos militares aos alemães. O
veredicto, condenatório, determinou a pena de deportação perpétua para a Ilha do Diabo.
O mais grave no caso – o processo fraudulento conduzido a portas fechadas, que culmi-
O ANTISSEMITISMO A PARTIR DO SÉCULO XIX E O HOLOCAUSTO
Como o discurso e a prática antissemitas cresceram tanto? A Alemanha estava destruída
pela Primeira Guerra Mundial e com muitos problemas sociais e econômicos. Aproveitando esse cenário, e para atingir seu objetivo, os nazifascistas, com intensa propaganda, em
programas de rádio e em filmes para cinema, usaram algumas estratégias. A primeira delas
era culpar suas vítimas de maneira quase compulsória pelas coisas que eles mesmos faziam
ou esperavam fazer; os judeus estariam, mentiam os nazistas, destruindo a raça ariana e a
economia da nação.
Em segundo lugar, construíram a suspeita de que os judeus teriam manipulado os poderes internacionais, por meio de partidos políticos e comunicações, recorrendo à ideia de que
realmente haveria muita coisa que a população não sabia, atiçando o rancor e a revolta das
massas, tornando-as potenciais delatoras dos judeus. As pessoas foram habilmente levadas a
crer que a iniciativa estava com elas e que, para salvar a Alemanha, era preciso denunciar os
judeus. O emocionalismo consciente e enfático também fez parte dessa terrível arquitetura:
era o terceiro elemento do discurso. Movida por paixões estimuladas pela propaganda, a população se rendia à falta de racionalidade do antissemitismo. Os gestos histéricos de Hitler
serviam de modelo para as condutas com as quais ele pretendia contagiar o povo, movidas
por ódio, vingança, rancor. Em quarto lugar, o antissemitismo vivia de reafirmar a própria
inocência; o povo alemão estaria sujeito à constante perseguição, às ameaças e conspirações
de seus inimigos, afirmavam as propagandas fascista e nazista. Esse elemento era associado a
uma exaltação ao cinismo e ao sadismo, o que o tornava ainda mais cruel. Outros elementos no nazismo também ajudaram a compor a catástrofe: os arianos eram descritos como
infatigáveis (deveriam repousar apenas depois da vitória sobre o inimigo, o judeu) e mensageiros da natureza, dos deuses (a mitologia nórdica foi bastante enfatizada), substituindo-se
muitas vezes símbolos cristãos por pagãos; os líderes defendiam uma Alemanha grande, o
que mexia com desejos de poder, reprimidos, da população; e, finalmente, mas não menos
importante, cinicamente, tudo isso era emoldurado pelo fato de que estariam promovendo
o bem humano, o bem dos alemães.
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SOLUÇÃO PARA A PAZ
nou na condenação unânime de Dreyfus e em sua difamação pública – foi o fato de que,
mesmo quando se provou a inocência do acusado e que toda a condenação se baseava em
documentos falsificados, os coordenadores do processo, oficiais de alta patente franceses,
ainda decidiram, por todas as formas, ocultar o terrível e absurdo erro judicial. A definitiva
revisão do processo de Dreyfus aconteceu em 1906, quando se revelou, finalmente, que
Charles-Ferdinand Walsin Esterhazy, também oficial do Exército francês, escrevera as cartas
erroneamente atribuídas a Dreyfus e era, portanto, espião dos alemães. Contudo, embora
reconduzido à vida militar, os anos de prisão de Dreyfus não lhe foram restituídos como
tempo de carreira, o que o obrigou a uma dolorosa demissão em 1907.
A formação do sionismo moderno
Em 1897, aconteceu o Primeiro Congresso Sionista, promovido por Theodor Herzl na
Basileia, Suíça, que defendia a construção de uma pátria judaica. A proposta era restaurar o
lar nacional judaico na Terra de Israel, a Palestina, de modo que os judeus de todo o mundo
pudessem nele encontrar refúgio. A isso se associaria a autodeterminação do povo judeu
para promover o renascimento nacional de sua civilização e cultura.
Em 1917, a Grã-Bretanha aprovou a Declaração Balfour, proclamando-se a favor do estabelecimento, na Palestina, de um lar nacional para o povo judeu e comunicando que se
empenharia em favor desse objetivo.
O Holocausto
No entanto, com a ascensão do Partido
Nazista na Alemanha, o antissemitismo se
tornou uma função do Estado. As bases para
o Holocausto haviam sido lançadas.
Apesar do aumento da imigração de judeus para a Palestina, as maiores comunidades judaicas estavam na Europa, algumas
desde a época do Império Romano. Com o
advento do nacional-socialismo, a Alemanha
se tornou um regime nazista. Durante a Segunda Guerra Mundial, o antissemitismo do
regime hitlerista levou mais de 6 milhões de Milhões de judeus foram aprisionados nos
judeus (dois terços da população judaica da campos de concentração nazistas.
Europa) à morte, em campos de concentração e extermínio, fato que ficou conhecido historicamente como Holocausto. A forte e perversa propaganda nazista induziu a população alemã ao ódio pelos judeus, de modo a convencer as pessoas a denunciá-los, objetivando sua
eliminação. Em 1933, na Alemanha, promulgou-se a lei que retirava dos judeus qualquer
proteção do Estado. Como consequência, não era necessário nenhum motivo para prendêlos e enviá-los aos campos de concentração.
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“Holocausto” é uma palavra de origem grega que significa “sacrifício pelo fogo”. Para os
estudiosos do tema, ela descreve a perseguição e o extermínio sistemáticos dos judeus, promovidos pelo governo nazista. Este defendia a ideia da “superioridade racial” dos arianos e também que os judeus ameaçavam essa superioridade, por serem uma “raça inferior”. Os judeus
foram descritos pela propaganda e pela ideologia nazistas como elementos que deveriam ser
destruídos para preservar o povo ariano.
Outros grupos foram exterminados pelo governo hitlerista, quer por seu comportamento
político ou ideológico, quer por seu comportamento social ou religioso, tais como os comunistas, os socialistas, as testemunhas de Jeová, os homossexuais e os ciganos.
Para aprisionar suas vítimas, a Alemanha nazista estabeleceu, entre 1933 e 1945, cerca
de 20 mil campos, nos quais foram detidos mais de 20 milhões de vítimas. Havia campos de
trabalho forçado, de transição, que serviam como estações de passagem, e de extermínio,
usados, principal ou exclusivamente, para assassinatos em massa. Outra forma de eliminação
de vítimas eram as marchas: levavam-se prisioneiros, sob intenso frio e neve, a caminhadas
desumanas infindáveis, que atravessavam países, com o objetivo de torturá-los e assassiná-los.
A destruição em massa de judeus foi realizada pelos nazistas, sobretudo, em enormes campos de extermínio na Polônia, o país com a maior população judaica, compondo uma verdadeira indústria de morte. Chelmno, o primeiro campo de extermínio, começou a operar em
dezembro de 1941; nele, judeus e ciganos eram assassinados por envenenamento em furgões
com canos de escapamento que soltavam gás para dentro dos veículos nos quais eles eram
amontoados. Em 1942, os nazistas edificaram os campos de extermínio de Belzec, Sobibor e
Treblinka para matar ainda mais sistematicamente os judeus e suas outras vítimas.
Durante o Holocausto, os prisioneiros eram identificados com triângulos costurados nas
roupas. As cores definiam a espécie de “acusação” a eles imposta pelo nazismo:
• amarelo: judeus – dois triângulos sobrepostos, para formar
a estrela de davi, com a palavra “Jude” (judeu) inscrita;
• vermelho: dissidentes políticos, incluindo comunistas;
• verde: criminosos comuns;
• púrpura: testemunhas de Jeová;
• azul: imigrantes;
• castanho: ciganos roma e sinti;
• negro: lésbicas e antissociais (alcoólatras e indolentes);
• rosa: homossexuais.
Posteriormente, nos campos de extermínio surgiram as câmaras de gás, cujo objetivo era
tornar o processo de assassinato em massa mais eficiente, rápido e menos pessoal para os
executores. Nelas, imensos espaços fechados que recebiam gás letal, pessoas eram amontoadas para morrer por asfixia. Somente no campo de Birkenau existiam quatro câmaras de gás,
dentro do complexo de Auschwitz. Para descrever essa perseguição violentíssima, cunhou-se, depois da Segunda Guerra Mundial, o termo “genocídio”. A Itália, sob o fascismo, também promulgou leis raciais, a partir de 1938, perseguindo e matando judeus.
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O ANTISSEMITISMO A PARTIR DO SÉCULO XIX E O HOLOCAUSTO
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SOLUÇÃO PARA A PAZ
Raul Hilberg, um dos mais importantes historiadores do Holocausto, identificou nele
quatro etapas:
1. Identificação/definição – Produziam-se
listas de judeus, e estes eram identificados e discriminados; vários direitos
civis lhes eram negados.
2. Discriminação econômica e separação
– Instalavam-se os judeus identificados
em guetos em precárias condições e
sem acesso à Justiça.
3. Concentração – Milhares de acusados
eram levados aos campos.
4. Extermínio
Os guetos eram locais imundos onde os judeus ficavam confinados e morriam de inanição e doenças; os que sobreviviam eram amontoados em vagões de carga que os transportavam até os campos de concentração e extermínio. Lá chegando, eram despojados de
tudo: roupas, cabelos, que eram raspados, nomes, porque passavam a ser identificados por
números, em geral marcados com ferro quente na pele; tudo para que perdessem a identidade individual e coletiva. Todos os direitos civis e políticos lhes eram negados. Esquecer
seu número de identificação, por exemplo, podia ser motivo de fuzilamento, contam sobreviventes do Holocausto. Primo Levi, um deles, indaga, em seu livro É Isto um Homem?, como
seres humanos puderam fazer isso com outros seres humanos.
Após a derrota de Hitler, quando todos souberam dos horrores a que fora submetido o
povo judeu, ganhou força, no mundo inteiro, a ideia de que os judeus tinham direito legítimo a um território no qual pudessem reconstruir seu Estado. Finalmente, em 1948, a ONU
definiu que esse Estado seria na Palestina.
Em memória das vítimas do Holocausto, foi inaugurada, em 2005, no Museu do Holocausto, em Jerusalém, a Galeria dos Nomes. Nela encontram-se milhares de registros
das histórias das pessoas que viveram na época. Há relatos provenientes de cadernos, fotos
de família e também muitos itens pessoais de judeus de quando estavam em campos de
concentração.
O crime de genocídio
O conceito de “crime de genocídio”, expressão cunhada em 1943 pelo polonês Raphael
Lemkin, foi adotado pela Convenção da ONU aprovada, em Paris, em 9 de dezembro de
1948, entrando em vigor em 12 de janeiro de 1951, após a ratificação por 22 países. O
Brasil o fez em 15 de abril do ano seguinte, promulgando-o com o Decreto 30.822, de 6
de maio de 1952.
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A palavra “genocídio” designa, em Direito Internacional, o maior crime contra os direitos
humanos, “um crime que ataca um direito fundamental de qualquer ser humano: o direito
de ser diferente. Professar uma religião diferente, pertencer a uma outra raça, etnia ou grupo
nacional, defender ideias políticas contrárias ou ter uma cultura diversa são os motivos que
levam um grupo a querer exterminar outro”, segundo a Convenção da ONU. A prática do
crime de genocídio percorreu, infelizmente, toda a história da humanidade, numa alusão
direta a quanto é particularmente difícil à espécie humana desenvolver a tolerância.
São tidos como genocídios os crimes provocados pelos seguintes motivos, previstos no
Direito Internacional:
• nacionais;
• étnicos;
• raciais;
• religiosos.
A mesma convenção determinou a investigação dos crimes de genocídio caso sejam
cometidos com a intenção de destruir totalmente ou em parte um grupo nacional, étnico,
racial ou religioso, utilizando-se dos seguintes meios:
• o assassinato;
• os atentados graves à integridade física e mental;
• a submissão intencional de membros do grupo a condições de existência que levam a sua
destruição física total ou parcial;
• as medidas visando a impedir os nascimentos dentro do grupo;
• a transferência forçada de crianças de um grupo para o outro.
Ruanda e Bósnia, entre outros países, já tiveram julgamentos internacionais e mais de
vinte condenações por genocídio. Quem julga os crimes de genocídio é o Tribunal Penal
Internacional, e da denúncia de genocídio devem constar: a acusação criminal, as razões
históricas para essa denúncia, as provas do crime cometido, o nome dos responsáveis e acusados e a jurisdição do Tribunal Penal Internacional envolvida no caso.
Muitos extermínios aconteceram na trajetória da humanidade. Recordemos alguns exemplos dessa infeliz história:
• morte, no Brasil, de cerca de 5 milhões de índios pela colonização portuguesa e de 10
milhões pela colonização espanhola e inglesa;
• extermínio de mais de 200 mil aborígines na Austrália, depois de sua colonização;
• morte de 200 mil hutus, bantos do Burundi, em 1972, e de mais 600 mil em oito anos
pelos tútsis;
• chacina, em Ruanda, de cerca de 1 milhão de tútsis, hutus moderados e minoria twa,
constituída por pigmeus, pelos radicais hutus que dominavam as Forças Armadas, em
1994;
• entre 1975 e 1979, extermínio, pelo Khmer Vermelho, exército liderado por Pol Pot, de
2 milhões de habitantes no Camboja (25% da população);
• morte de 1,5 milhão de armênios na Primeira Guerra Mundial;
• assassinato de 300 mil membros de minorias no Kosovo, entre 1991 e 1999.
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SOLUÇÃO PARA A PAZ
Um dos piores crimes contra os direitos humanos nos dias atuais acontece na região
de Darfur, no oeste do Sudão. O conflito surgiu da oposição entre os janjawid, milicianos
recrutados entre os baggara, tribos nômades africanas de língua árabe e religião muçulmana, e os povos não árabes da área. O governo sudanês, apesar de negar publicamente seu
apoio ao movimento janjawid, é o maior fornecedor de armas e assistência para esse grupo e
compartilha seus ataques. O conflito causou a morte de milhões de pessoas e deixou outras
desabrigadas.
A mídia descreve o conflito como um caso de “limpeza étnica” e de “genocídio”, embora
o Conselho das Nações Unidas ainda não o tenha considerado genocídio. Um dos motivos
para essa demora é o fato de a China ser grande parceira comercial do governo sudanês e
defender o país em todos os fóruns internacionais que tratam do tema. Várias indicações de
intervenção militar internacional propostas pela ONU foram rejeitadas por veto chinês.
Em julho de 2008, a Corte Criminal Internacional (CCI), por meio do procurador do Tribunal Penal Internacional, o argentino Luis Moreno Ocampo, solicitou aos juízes que emitissem um mandado de prisão contra o chefe de Estado do Sudão pelos crimes cometidos na
região de Darfur. Omar al-Bashir, o acusado, rejeitou todas as acusações. O promotor da CCI
desenvolve investigações no momento em quatro países africanos: República Democrática
do Congo, Uganda, Sudão e República Centro-Africana. Até agora requereu doze ordens de
prisão e prossegue buscando sete suspeitos foragidos.
Luis Moreno Ocampo declarou, por ocasião de sua eleição como primeiro procurador
do Tribunal Penal Internacional pela Assembleia da ONU, em Nova York, em 22 de abril de
2003: “Eu espero profundamente que os horrores que a humanidade sofreu durante o século XX sirvam-nos como uma dolorosa lição, e que a criação do Tribunal Penal Internacional
nos auxilie a prevenir que essas atrocidades sejam repetidas no futuro”.
Para que seu desejo, e também de todos que trabalham pela paz, se torne realidade, é
preciso vencer as raízes da intolerância e do preconceito.
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ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO
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Conflito
N.º de mortos
Afeganistão versus Rússia
Chechênia versus Rússia
Afeganistão – guerra civil
Argélia – independência
Argélia – pós-independência
Bangladesh
Bósnia
Indonésia
Irã
Iraque
Líbano
Somália – guerra civil
Sudão – Darfur
Timor Leste
Iêmen
1.200.000
200.000
1.000.000
750.000
100.000
1.600.000
150.000
400.000
800.000
1.700.000
130.000
400.000
2.600.000
150.000
125.000
Total
11.305.000
Fonte: Maariv; números geralmente aceitos pelas partes envolvidas.
Árabes e outras etnias muçulmanas matando-se entre si totalizam 8,5 milhões de mortos em
disputas de cunho político, territorial (petróleo), religioso (seitas islâmicas, tais como xiitas versus sunitas) e racial (contra negros muçulmanos).
O antissemitismo contemporâneo
Nos anos 1980, o antissemitismo, especialmente nos Estados Unidos, na Europa e na
Rússia, voltou a crescer. Muitos movimentos que evocam a possibilidade de reconstruir o
ideal ariano se revestem de uma força renovadora: avaliações estimam em cerca de 450 mil
o número de pessoas que leem literatura produzida pelos movimentos racista, revisionista
e neonazista, apenas nos Estados Unidos. Desse montante, em torno de 25 mil, em 1995,
eram considerados “membros militantes radicais”, observados por órgãos governamentais
por práticas de ódio racial. Os crimes que envolvem ódio racial, apenas nos Estados Unidos,
crescem cerca de 8 mil casos por ano.
Na Espanha, especialistas da Guarda Civil estimam em pelo menos 10 mil os jovens cadastrados em grupos ultradireitistas e neonazistas; apenas a organização Sangre y Honor,
uma das mais radicais, afirma possuir mais de 50 mil simpatizantes. Bandas neonazistas
ilegais, como Hammerskin, Blood and Honour e Volksfront (também denominada Frente
Popular), atraem multidões de jovens em seus shows, nos quais postulam a supremacia da
raça branca, a veneração a Adolf Hitler e o ódio explícito aos judeus, negros, imigrantes e
homossexuais. O neonazismo cresce, de maneira preocupante, segundo a ONU, no Leste
Europeu, na Rússia, no Japão e na África do Sul.
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Árabes e islâmicos em geral mortos após
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SOLUÇÃO PARA A PAZ
No Brasil, crimes de ódio racial ainda são precariamente resumidos em dados específicos, muitas vezes assinalados apenas como lesão corporal, injúria ou até homicídio e não
enfatizados como crimes de racismo, embora a Constituição brasileira de 1988 o defina
como imprescritível e inafiançável. Ainda assim, as estatísticas dos movimentos antirracistas
apontam para o fato de que pelo menos 150 mil pessoas sejam simpatizantes do movimento
racista, cerca de um terço delas apenas no Estado de Santa Catarina. Há grupos neonazistas
organizados em São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná, Brasília e Belo Horizonte. No país, há centenas de casos de agressões a negros e judeus, principalmente relacionadas com esses grupos. Investigações contra eles são realizadas pelo Ministério Público
Federal e por Delegacias de Intolerância Racial. Em 2008, foram presos seis integrantes do
grupo Carecas do ABC, e seguem investigações a respeito do Front 88, do White Power São
Paulo e dos Sulistas SS.
Aproveitando o surgimento e a expansão de novas formas de comunicação, especialmente as que nascem da internet, como sites, blogs, listas de discussão, canais de IRC e fóruns,
o neonazismo tem crescido de maneira intensa, infelizmente. Nos grupos, duas características se destacam: o “negacionismo” (chamado por seus defensores de “revisionismo”),
que identifica o discurso direcionado para invalidar a veracidade histórica do Holocausto,
a perseguição e morte dos judeus, o número de mortos, enfim, que pretende uma revisão
da história, a partir dos agentes nazistas; e o cultivo de símbolos nazistas, com especial ênfase a seus aspectos do paganismo nórdico. Há mais de 15 mil sites neonazistas em língua
espanhola, inglesa e portuguesa. Os subversivos grupos neonazistas preferem a internet por
dois motivos principais: o formato da rede garante anonimato e a extensão permite alcançar
milhares de pessoas ao mesmo tempo, num período muito menor do que o necessário por
outro veículo, o que amplia essa forma de sociabilização. A tentativa desses grupos, em sua
propaganda de ódio, é retomar símbolos, mitos e propostas jurídicas, religiosas e políticas
do nacional-socialismo, valendo-se do negacionismo para tentar se livrar do retrato de destruição que a presença deste deixou na história. Desse modo, pretendem eles, segundo afirmam, “proteger a raça ariana”, que estaria correndo perigo iminente, da “contaminação”
por religiões “naturais” (como o judaísmo e o cristianismo), por casamentos inter-raciais,
por adoção de crianças negras em famílias brancas, pela divulgação de heróis e esportistas
negros e homossexuais. Seu objetivo é divulgar um ódio enorme contra todas as minorias.
Paralelamente, surgem também grupos islâmicos radicais que negam o Holocausto. Fazem isso por motivação política, para tentar negar aos judeus o direito a seu Estado. Um
dos piores exemplos é o presidente do Irã, o ultraconservador Mahmoud Ahmadinejad, que
afirma, repetidas vezes, que o Holocausto é um mito. Isso causa enorme sofrimento a todos
os que perderam milhões de parentes na tragédia que o Holocausto, de fato, foi. E choca
toda a humanidade que tal defesa seja feita em nome do ódio. Em momentos de conflitos no
Oriente Médio, infelizmente, multiplicam-se ataques a cemitérios judaicos e sinagogas por
todo o mundo. Exemplos dessa triste prática são os ataques a sinagogas francesas e, aqui na
América do Sul, na Venezuela, a invasão à principal sinagoga de Caracas por quinze pessoas
armadas, que picharam em suas paredes mensagens de ódio e juramentos de morte, em janeiro de 2009, e, no Brasil, ataques a sinagogas e pichações em Campinas (SP), Santo André
(SP) e Santa Maria (RS), entre outros. É preciso defender a humanidade desses radicais.
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ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO
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Bibliografia sugerida
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1.1. Os judeus e a modernidade europeia: a visão sociológica de Victor Karady
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_____. Os Afogados e os Sobreviventes. São Paulo: Paz e Terra, 1990.
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2004. Disponível em: http://www.scribd.com/doc/4902428/MITOS-E-FATOS-Mitchell-G-Bard.
Filmes
O Pianista. Direção: Roman Polanski. Inglaterra/Polônia, 2002. 148 min.
Sunshine – O despertar de um século. Direção: István Szabó. Alemanha/Áustria/Canadá/Hungria, 1999. 180 min.
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Em português:
http://ensinandodesiao.org.br/anussim/index.php?option=com_content&task=view&id=33&Ite
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http://www.bnai-brith.com.br
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http://www.ushmm.org/museum/exhibit/focus/portuguese (Museu do Holocausto)
http://www.visaojudaica.com.br
Em inglês:
http://www.adl.org
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http://www.icc-cpi.int/library/about/officialjournal/Rome_Statute_English.pdf
Adriana Dias Doutoranda em Antropologia Social pela Universidade de Campinas, membro da Associação Brasileira de Antropologia e da Latin American Jewish Studies Association.
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Lia Bergmann, Gisele Valdstein e Claudio Silberberg
CAPÍTULO
5
A INDEPENDÊNCIA DO ESTADO
DE ISRAEL CONTEMPORÂNEO E
SUA REALIDADE HOJE
A formação do atual Estado de Israel
O retorno à condição de uma nação independente aconteceu quando o Estado de Israel foi proclamado
em 14 de maio de 1948, de acordo
com o Plano de Partilha da ONU de
1947. Assim que nasceu o Estado
de Israel contemporâneo, as forças
militares de diversos países da região (Egito, Jordânia, Síria, Líbano
e Iraque) invadiram o território israelense. Para garantir a sobrevivência e soberania recém-readquiridas,
Israel reagiu ao ataque, no episódio
que ficou conhecido como Guerra
da Independência de Israel.
Essa guerra durou quinze meses, e
em suas batalhas morreram cerca de
6 mil israelenses (aproximadamente
1% da população judaica no país na
época). Após diversas negociações,
conduzidas pela ONU, os invasores
(exceto o Iraque, que não negocia
com Israel até os dias atuais) estabeleceram um acordo a respeito das
terras da região: a planície costeira, a Península do Sinai, regiões da Judeia e Samaria.
Galileia e todo o Negev ficariam sob soberania israelense; a Judeia e a Samaria (a
margem ocidental), sob domínio da Jordânia; a Faixa de Gaza, sob administração
egípcia; a cidade de Jerusalém ficou dividida, cabendo à Jordânia o controle da
parte oriental, incluindo a Cidade Velha, e a Israel o setor ocidental.
Entre 1948 e 1952, aconteceu a imigração em massa dos judeus da Europa e
dos países árabes para Israel e, ao celebrar seu décimo aniversário, a população
do país ultrapassava os 2 milhões de habitantes.
Em outubro de 1956, concretizou-se uma aliança militar tripartite entre o
Egito, a Síria e a Jordânia, o que fez com que, novamente, se evidenciasse a ameaça à existência de Israel. O líder egípcio Gamal Abdel Nasser desejava a total
nacionalização do Canal de Suez, que era estratégico, como única passagem para
o Mar Vermelho e possibilidade de irrigação do Deserto do Negev. No curso de
uma campanha militar de oito dias (Campanha do Sinai), envolvendo ingleses e
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SOLUÇÃO PARA A PAZ
franceses, os israelenses ocuparam a Faixa de Gaza e toda a Península do Sinai, detendo-se
a 16 km a leste do Canal de Suez. Novos acordos foram realizados, para que a região fosse
devolvida gradativamente.
Em 1967, o Egito violou acordos alcançados após a Campanha do Sinai de 1956, solicitando
à ONU que retirasse as tropas internacionais e deslocando todo o poderio de seu exército para
as fronteiras com Israel, restaurando o bloqueio do Estreito de Tirã. Israel utilizou seu direito
inerente de autodefesa e realizou um ataque preventivo contra o Egito, no sul (5 de junho de
1967), seguido por um contra-ataque à Jordânia, no leste, e pela expulsão das forças sírias
entrincheiradas nas Colinas de Golã, ao norte. Depois dos seis dias de combates, as antigas linhas de cessar-fogo tinham sido substituídas por novas; a Judeia, a Samaria, Gaza, a Península
do Sinai e as Colinas de Golã estavam agora sob o controle de Israel. Jerusalém, que estivera
dividida entre Israel e Jordânia desde 1949, foi reunificada sob a autoridade israelense.
Depois da Guerra dos Seis Dias, houve outras batalhas na região, sempre provocadas por
grupos que não reconhecem o direito dos judeus de ter seu Estado.
Em 1973, o Egito e a Síria lançaram a Guerra do Yom Kippur, assim chamada porque o
Egito tomou de surpresa as tropas israelenses acantonadas no Sinai, na margem do Canal de
Suez, no dia mais sagrado da tradição judaica, o Dia do Perdão – Yom Kippur. Israel, após
sofrer grandes baixas, reagiu e retomou as regiões perdidas, inclusive o Golã, na fronteira
com a Síria, e chegou a poucos quilômetros do Cairo e de Damasco, quando um novo cessar-fogo, com a intervenção da ONU, foi assinado.
Em novembro de 1977, o presidente do Egito, Anwar Sadat, fez uma viagem histórica a
Jerusalém, a convite do primeiro-ministro israelense, Menachem Begin, iniciando a consolidação de um processo formal de reconhecimento e de paz.
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Quando, em novembro de 1978, foram negociados os acordos de Camp David1, definiram-se as linhas gerais para uma paz abrangente no Oriente Médio e uma proposta de
autogoverno para os palestinos. Os dois acordos de paz de Camp David foram assinados por
Anwar Sadat e por Menachem Begin e formaram um só tratado. Em suas disposições havia a
definição da busca de uma solução pacífica de controvérsias, a extinção de boicotes econômicos e a definição de direitos de passagem.
A OLP (criada em 1964, a Organização para a Libertação da Palestina deveria ter como
objetivo a criação de um Estado palestino), cujo principal líder foi o egípcio Yasser Arafat,
promoveu, durante as décadas de 1970 e 1980, muitos conflitos contra Israel. Um dos mais
importantes aconteceu depois da guerra civil que se deu no Líbano entre a minoria cristã
e os muçulmanos. A OLP de Yasser Arafat utilizou a anarquia no país e ampliou os ataques
contra Israel, usando o território libanês como abrigo. Como era necessário se defender
desses ataques, Israel invadiu o Líbano em junho de 1982 e cercou Beirute (lugar do quartel-general da OLP).
Posteriormente, em 9 de dezembro de 1987, eclodiu uma revolta (denominada Revolta
das Pedras) em todos os territórios ocupados e nos setores árabes de Jerusalém. Essa rebelião
ficou conhecida como Intifada. A população civil palestina participou da revolta atirando
pedras contra os militares israelenses, em especial no campo de refugiados de Jabaliyah, no
extremo norte da Faixa de Gaza.
Em 1993, Israel e a Autoridade Nacional Palestina assinaram os acordos de Oslo, nos
quais definiram um compromisso de estabelecimento de um processo de paz a ser atingido
ao longo de alguns anos de entendimentos progressivos.
Desde 1994, parte da Palestina está sob a administração da Autoridade Nacional Palestina,
como resultado dos acordos. No entanto, estes não puderam se concretizar: Arafat e seus dirigidos empreenderam vários atentados terroristas ou foram coniventes com eles. A educação
aplicada às novas gerações palestinas promove o ódio a Israel e aos judeus, assim como o
valor de agir como mártir da causa que objetiva destruir o Estado de Israel. Nos mapas utilizados nos programas escolares, o Estado de Israel não existe e o território palestino se estende
do Rio Jordão ao Mar Mediterrâneo. A mídia palestina sempre desenvolveu grandes manifestações contra o direito de Israel de existir. Infelizmente, Arafat, no ano 2000, na segunda parte
dos acordos de Camp David, não aceitou a proposta de paz intermediada pelo presidente dos
Estados Unidos, Bill Clinton, e abandonou seu compromisso de repudiar o terrorismo.
Novos conflitos
Em 27 de setembro de 2000, um atentado palestino provocou a morte de um colono
judeu na vila de Netzarim, na Faixa de Gaza. Era o começo de várias manifestações de ódio
na região, que por fim deram início a uma segunda revolta, com muitas vítimas, conhecida
como Segunda Intifada. Os episódios de violência se reproduziram constantemente, e, em
15 de fevereiro de 2006, quando foi feito um levantamento pela ONU, o número de mortos
chegava a 4.995, dos quais 3.858 eram palestinos e 1.022, israelenses.
1 Receberam esse nome por conta do local das negociações, todas realizadas na casa de campo do presidente dos
Estados Unidos em Maryland, denominada Camp David.
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A INDEPENDÊNCIA DO ESTADO DE ISRAEL CONTEMPORÂNEO E SUA REALIDADE HOJE
ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO
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PAZ - Book AF.indb 47
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SOLUÇÃO PARA A PAZ
Durante as últimas décadas, muitos grupos radicais dividiram a direção política dos
palestinos, desde o Fatah, que é uma organização política e militar, fundada por Yasser
Arafat e Khalil al-Wazir (Abu Jihad), juntamente com a criação da OLP, até o Hamas.
Os membros do Fatah defendiam, no início, a luta armada para expulsar os israelenses.
Posteriormente, reconheceram o direito de existência do Estado de Israel. Após muitas
denúncias de corrupção, o Fatah foi derrotado pelo Hamas, nas eleições de 2006, quando
conquistou a maioria das cadeiras do Parlamento. Os grupos armados palestinos, Hamas
e Fatah, se envolveram, então, em grandes confrontos violentos. Israel, Estados Unidos e
União Europeia consideram o Hamas uma organização terrorista.
O Hamas, que não reconhece o direito de Israel de existir, declarou que não abandonará as armas. Muitos analistas políticos defendem a ideia de que a imensa frustração com
o papel do Fatah nos últimos anos e os inúmeros casos de corrupção (desvio das verbas
recebidas de organizações internacionais, muitas vezes, para contas pessoais dos líderes
do movimento) revoltaram a população empobrecida dos territórios palestinos. Isso explicaria, segundo os analistas, a vitória do Hamas, muito mais que o apoio a seus preceitos
fundamentalistas.
Israel retirou todas as suas colônias da Faixa de Gaza, entregando-a à Autoridade Nacional
Palestina (ANP) em busca da paz, que não veio. Como resultado, a população civil das cidades israelenses próximas à fronteira, como Sderot, Ashkelon e Ashdot, entre outras, ficou
sob fogo constante de foguetes disparados por militantes do Hamas a partir de bases móveis
na Faixa de Gaza, por vezes localizadas no telhado de casas de família. Houve dias em que
mais de cem foguetes foram lançados após o Hamas ter lutado contra seus irmãos palestinos
da Fatah, à qual pertence o presidente da Autoridade Nacional Palestina, expulsando-os e
assumindo o total controle sobre a Faixa de Gaza.
É preciso lembrar que o Estado de Israel é menor do que o Estado de Sergipe, que ao
longo dos anos o alcance e o poder de destruição dos foguetes lançados pelos liderados do
Hamas vêm aumentando e que, a cada foguete lançado contra Israel, o Irã paga determinado
valor, pois todos esses fatores incentivam a continuidade do terrorismo.
A vida de crianças, jovens, adultos e idosos se vê ameaçada diariamente sob constante
terror. Ao final de 2008 e início de 2009, Israel realizou uma operação em Gaza para destruir bases de lançamento, arsenais de armas e túneis por onde estas eram contrabandeadas
a partir do Egito. Infelizmente, o Hamas usou escudos humanos, infiltrando armamento e
terroristas em mesquitas, escolas, hospitais e em meio à população civil, colocando-a deliberadamente sob risco. No entanto, ao contrário do que foi divulgado pela mídia, embora
depois desmentido, mesmo sem as manchetes e o destaque das notícias iniciais, nenhuma
escola da ONU foi atingida pelos israelenses.
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Israel: uma democracia no Oriente Médio
Lia Bergmann
Introdução
Em sessenta e um anos, o Estado de Israel transformou os desertos e pântanos em terras
férteis, tornando-se grande exportador de flores e frutas; absorveu milhões de imigrantes
sem recursos, dando-lhes estabilidade, educação gratuita de alto nível, sistema de saúde
pública, gerando uma das economias mais desenvolvidas do mundo, criando avançadas
tecnologias nas diversas áreas do conhecimento, como medicina, informática, agricultura,
meio ambiente, entre outras, sendo um exemplo para o mundo. Essa realidade não se vê
nos jornais.
Estrutura política
O Estado de Israel é uma democracia parlamentarista, com os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário. As instituições do Estado incluem a Presidência e o Knesset (Parlamento),
o governo (gabinete de ministros) e o Judiciário. O sistema se baseia na separação dos três
poderes e o braço executivo (governo) está sujeito à confiança do braço legislativo (Knesset),
que tem o poder de depor o primeiro-ministro, e a independência do Judiciário é garantida
por lei. O Knesset possui 120 deputados. Seu nome e número baseiam-se na antiga Haguedolá
(Grande Assembleia), órgão representativo judaico convocado em Jerusalém pela primeira
vez no século V a.C.
Todos os cidadãos israelenses – judeus, árabes, cristãos, drusos, entre outros – podem ser
eleitos para o Parlamento, que tem contado, ao longo de sua história, com partidos, deputados e até mesmo ministros e embaixadores árabes israelenses.
Sociedade pluralista
Meninas beduínas diante de um computador
distribuído pelo programa “Um computador
para cada criança”.
A natureza da sociedade israelense é pluralista. Sua população é formada por diferentes
etnias, religiões e culturas. Dos 7,1 milhões
de habitantes, 75,8% são judeus, 19,9% árabes (em sua maioria muçulmanos) e os 4,3%
restantes dividem-se entre drusos, circassianos e outros, como os beduínos, que habitam o Deserto do Negev. Os idiomas falados
no país são o hebraico (oficial), o árabe e o
inglês.
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A INDEPENDÊNCIA DO ESTADO DE ISRAEL CONTEMPORÂNEO E SUA REALIDADE HOJE
ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO
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SOLUÇÃO PARA A PAZ
Imigração judaica: porto seguro
Israel foi estabelecido como pátria do povo judeu, como um porto seguro para um povo
alvo de diversas perseguições religiosas, políticas e raciais no decorrer da história. Tem por
base ser um Estado permanentemente aberto à imigração judaica, para que os judeus perseguidos, como aconteceu no Holocausto nazista, tenham para onde ir. Nesse sentido, tem
absorvido centenas de judeus, incluindo etíopes, nas últimas décadas.
Liberdade religiosa e de expressão
A liberdade de expressão e de imprensa é garantida por lei. Israel escolheu deliberadamente adotar os princípios de liberdade, igualdade e proteção aos direitos humanos a todos
os indivíduos dentro de suas fronteiras, sem distinção de religião, etnia, sexo ou cultura. A
visão estabelecida na Declaração de Independência de Israel, promulgada em 1948, constitui os fundamentos do caráter de Israel, os princípios de acordo com os quais o Estado
é governado, outorgando liberdade a todos os cidadãos. A liberdade religiosa é um direito
garantido. Cada comunidade religiosa é livre por lei e na prática para seguir suas tradições.
Os locais sagrados de todas as religiões são preservados, o que não aconteceu quando Jerusalém, cidade santa para judeus, cristãos e muçulmanos, esteve dividida sob o domínio da
Jordânia, de 1948 a 1967.
Igualdade de gênero, direitos
das crianças e adolescentes
Em 1951, o Parlamento aprovou a Lei de
Igualdade de Direitos da Mulher, que vem
ocupando cargos proeminentes nas instituições democráticas de Israel, desde a primeira-ministra Golda Meir (1969-1974)
até Tzipi Livni, vice-primeira-ministra e
ministra de Relações Exteriores até o início
de 2009. As leis de proteção às crianças começaram a ser promulgadas em 1954 e têm
sido aprimoradas até a atualidade. Existe até
mesmo a Lei dos Direitos do Aluno.
Igreja do Santo Sepulcro: peregrinação
constante.
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Direitos ao cuidado maternal e ao bem-estar da criança
Os direitos ao cuidado maternal e ao bem-estar da criança, também incorporados pela
legislação israelense, são garantidos pelo sistema de saúde e serviços médicos altamente desenvolvidos. Há clínicas gerenciadas pelo governo para a mãe e para a criança em todo o país,
como parte dos serviços de saúde pública. A eficiência desse sistema se comprova pelos dados
de vacinação: entre 91% e 96% de todos os segmentos da população estão vacinados.
Educação gratuita
Desde 1949, o ensino é obrigatório dos 6 aos 16 anos, sendo gratuito até os 18. A taxa de
analfabetismo é a menor de todo o Oriente Médio: 2,9%. O Brasil tem hoje 11,4% de analfabetos, isso sem contar os analfabetos funcionais, que não têm os conhecimentos mínimos
necessários para exercer sua plena cidadania.
O índice de desenvolvimento humano (IDH) em Israel é de 0,932 e a renda per capita, de
20.170 dólares.
Saúde
O sistema de saúde pública de Israel fornece ampla rede de serviços, incluindo hospitais,
a todos os residentes no país. O investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D) tem
como resultado uma medicina de ponta com tecnologia e procedimentos entre os mais
avançados do mundo, como hospitais, clínicas e centros de medicina preventiva e de reabilitação, e cirurgias de cérebro, medula óssea e transplantes. A Maguem David Adom é o
serviço de emergência médica, equivalente à Cruz Vermelha.
O kibutz e o moshav
Estrutura social e econômica única no mundo, o kibutz é uma comunidade igualitária, no
início predominantemente agrícola, criada pelos pioneiros no começo do século XX. Nos
primeiros anos foi fundamental para o estabelecimento dos milhares de imigrantes no país.
Depois passou a englobar indústrias e empresas de serviços. O moshav tem a mesma filosofia
de trabalho coletivo do kibutz, mas no início os filhos ficavam em uma casa separada nos
kibutzim, o que não acontecia nos moshavim desde sua criação, nos anos 1920.
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A INDEPENDÊNCIA DO ESTADO DE ISRAEL CONTEMPORÂNEO E SUA REALIDADE HOJE
ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO
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SOLUÇÃO PARA A PAZ
Agricultura e meio ambiente
Israel possui convênios com a África, ajudando o continente a combater a desertificação,
e fornece especial atenção às tecnologias alternativas para geração de energia e aos cuidados
com o meio ambiente. Com largos desertos e poucas fontes de água, desenvolveu uma agricultura pujante e aplica os mais avançados métodos para o cultivo e a agroindústria.
Turismo
O turismo é uma importante fonte de renda e de emprego para Israel e cresce a cada ano.
O turismo religioso, também de brasileiros que visitam os lugares sagrados para cristãos e
judeus, tem registrado aumentos consecutivos. Entre as belezas naturais encontra-se o Mar
Morto, o mais baixo do mundo. Uma completa infraestrutura hoteleira e de transportes está
à disposição dos visitantes.
Costa do Mediterrâneo.
Mar Vermelho na cidade de Eilat.
Tel-Aviv – Jafa.
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Israel – educação, ciência e tecnologia
Gisele Valdstein e Claudio Silberberg
“A pesquisa científica e suas conquistas deixaram de ser mero objetivo
intelectual abstrato [...] são fator central na vida de todo povo civilizado.”
Investimento contínuo em educação e pesquisa:
buscando desenvolver produtos de excelência
1870 – Criação da Escola Mikve Israel, primeira instituição de pesquisa agrícola. Tornou-se posteriormente o Instituto Volcani,
hoje principal instituição de pesquisa e desenvolvimento agrícola em Israel. Atualmente Israel exporta tecnologia de irrigação para
diversos países, entre eles o Brasil, possibilitando aumento da produção agrícola com
gerenciamento de recursos hídricos.
1901 – Estabelecimento, em Jerusalém, da
Teva Pharmaceutical Industries Ltda., pioneira no desenvolvimento de medicamentos genéricos, hoje com mais de 20 filiais em todo
o mundo.
1924 – Inauguração do Instituto de Tecnologia Technion, em Haifa.
1925 – Início das atividades da Universidade
Hebraica de Jerusalém, período em que se
formaram as bases para o Hospital Hadassah,
uma das mais importantes instituições de
pesquisa médica de Israel.
David Ben-Gurion, primeiro chefe de governo
do Estado de Israel contemporâneo (1948).
1934 – Centro de Pesquisa Daniel Sieff, fundado em Rehovot, que, posteriormente, em
1949, se tornou o Instituto Weizmann de Ciências.
2009 – Atualmente existem oito universidades reconhecidas pelo governo, incluindo as
acima citadas: Universidade de Tel-Aviv, Universidade de Haifa, Universidade Bar-Illan, Universidade Ben-Gurion do Negev, Universidade Aberta de Israel. Juntas, produzem um dos
maiores índices de graduação e publicações científicas per capita do mundo.
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A INDEPENDÊNCIA DO ESTADO DE ISRAEL CONTEMPORÂNEO E SUA REALIDADE HOJE
ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO
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SOLUÇÃO PARA A PAZ
Ciência e tecnologia
Prioridade de governo desde a criação do Estado de Israel para enfrentar a falta de recursos naturais e a hostilidade dos países vizinhos, a área de ciência e tecnologia é a principal
ferramenta para o crescimento nacional, criando mecanismos para estimular a atuação da
iniciativa privada de forma competitiva. Hoje, destaca-se nos setores de alta tecnologia, aviônica, telecomunicações, manufatura, equipamentos médicos eletrônicos e de fibra óptica.
A indústria de alta tecnologia de Israel responde por 12% do produto interno bruto (PIB)
e por mais de 80% das exportações. Israel é o segundo país, depois dos Estados Unidos, com
empresas negociadas na Nasdaq (Bolsa de Tecnologia de Nova York).
1950 – Início das atividades da IBM Corporation em Israel, desenvolvendo aplicações computadorizadas para as áreas de medicina, agricultura, irrigação e elaboração de modelos para
políticas em fertilização.
– Primeira unidade da General Electric (GE).
1964 – Motorola Israel Ltda., que emprega atualmente 4 mil funcionários espalhados em
cinco centros de desenvolvimento de tecnologia para sistemas de comunicação móvel.
1974 – Intel Israel – microprocessadores e componentes de memória para computador.
1981 – Rad Data Communications Ltda. – sistemas sofisticados de comunicação sem fio.
1989 – Microsoft Corporation, primeira subsidiária fora dos Estados Unidos.
1994 – 3G.COM Technologies – alta tecnologia de comunicação de dados.
2006 – Alcatel-Lucent de Israel – hardware, software e serviços de ponta em telecomunicações.
1981 a 2009 – Mais de 160 companhias de biotecnologia em atividade.
2009 – Cerca de 173 empresas de alta tecnologia em telecomunicações.
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A INDEPENDÊNCIA DO ESTADO DE ISRAEL CONTEMPORÂNEO E SUA REALIDADE HOJE
ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO
Alguns exemplos da criatividade israelense na prática
A M-Systems foi pioneira no desenvolvimento de memória flash DiskOnKey e DiskOnChip (conhecidos como
pen drive e chip de memória), permitindo a ágil transferência, transporte e armazenamento de informações.
Israel é o pioneiro na tecnologia de
armazenamento portátil de memória
(pen drive) e em chips de memória.
A GE Healthcare Israel lançou o primeiro equipamento
miniaturizado de ultrassom cardíaco portátil do mundo.
O scanner de tomografia computadorizada Philips Brilliance faz um diagnóstico abrangente do paciente em poucos
instantes, nas salas de emergência, onde cada segundo é
vital.
Equipamento portátil de ultrassom
cardíaco.
A empresa israelense Lumus Optical criou os vídeo-óculos PD2, para assistir a programas de TV e vídeos em
qualquer lugar.
Vídeo-óculos, para assistir a seu filme
preferido onde quer que esteja.
A telefonia pioneira pelo protocolo IP foi lançada pela Vocaltec (VOIP, sigla em
inglês de transmissão de voz por internet – ex.: Skype).
A tecnologia de compressão de arquivos ZIP foi desenvolvida por dois professores
do Instituto de Tecnologia Technion, de Haifa. Permite, por exemplo, comprimir
grande quantidade de imagens sem nenhuma perda de qualidade ou integridade,
facilitando seu arquivamento e envio.
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SOLUÇÃO PARA A PAZ
A pílula endoscópica com microcâmera foi lançada pela
Given Imaging, que permite visualizar todo o trato digestivo.
Pílula endoscópica com microcâmera.
A ferramenta ICQ, do AOL Instant Messenger, foi desenvolvida, em 1996, por quatro
jovens israelenses.
Os microprocessadores Centrino e Pentium-4 Dotan foram desenvolvidos pela Intel Israel.
Microprocessador Centrino, usado
também em notebooks.
A Keter Plastic, empresa israelense com 23 fábricas espalhadas pelo mundo, é considerada a maior empresa de produtos de plástico da Europa.
Dois professores do Instituto de Tecnologia Technion ganharam o Prêmio Nobel de
Química, em 2004. Seu trabalho de identificação da proteína Ubiquitin é uma inovação nas pesquisas do câncer, doenças degenerativas do cérebro e muitas outras.
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Universidade Hebraica de Jerusalém.
Universidade de Haifa.
Instituto de Tecnologia Technion.
Intel – microprocessadores.
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A INDEPENDÊNCIA DO ESTADO DE ISRAEL CONTEMPORÂNEO E SUA REALIDADE HOJE
ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO
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SOLUÇÃO PARA A PAZ
Israel – História e desenvolvimento por um mundo melhor
Bibliografia sugerida
Revista Notícias de Israel.
Sites
http://www.mfa.gov.il/MFA – Ministério das Relações Exteriores de Israel
http://www.mfa.gov.il/MFA/Visual+Media/General+Videos.htm (vídeos do tipo “você sabia?”)
http://www.science.co.il/Computer Science.asp
http://www.israel21c.com
Lia Bergmann Formada em História pela Universidade de São Paulo e jornalista com pós-graduação pela Faculdade
Cásper Líbero, Lia Bergmann é assessora de comunicação e de direitos humanos da B’nai B’rith do Brasil.
Gisele Valdstein Fonoaudióloga, foi presidente da B’nai B’rith de São Paulo.
Claudio Silberberg Administrador e membro da B’nai B’rith.
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Tounée Rosset
CAPÍTULO
6
OS JUDEUS NOS PRINCIPAIS
PAÍSES DA LIGA ÁRABE1
Entre 1948 e 1968, cerca de 850 mil judeus foram forçados a abandonar alguns
países da Liga Árabe, onde viveram por vários séculos, expulsos ou fugindo de condições de discriminação e intolerância. Deixando todos os seus pertences para trás,
essa multidão teve de recomeçar a vida em países como Israel, França e Brasil.
Até hoje essa história é pouco conhecida pela comunidade internacional. Por
isso, mais de quarenta entidades judaicas lançaram, em novembro de 2006, a Campanha Internacional por Direitos e Reparação, para os judeus dos países árabes.
O êxodo silencioso
Dos 848 mil judeus que moravam nos países da Liga em 1948, restavam apenas 7.800 em 2001.
Quantidade de judeus nos países da Liga Árabe por ano
Países
Líbano
Síria
Líbia
Iêmen
Egito
Tunísia
Iraque
Argélia
Marrocos
Total
1948
1958
1968
1976
2001
5.000
30.000
38.000
55.000
75.000
105.000
135.000
140.000
265.000
6.000
5.000
3.750
3.500
40.000
80.000
6.000
130.000
200.000
3.000
4.000
100
500
1.000
10.000
2.500
1.500
50.000
400
4.500
40
500
400
7.000
350
1.000
18.000
100
100
0
200
100
1.500
100
0
5.700
848.000
474.250
72.600
32.190
7.800
Comparação entre a situação dos árabes em Israel
e a dos judeus nos países da Liga Árabe
Em 1948, havia algo entre 600 mil e 950 mil árabes no território que passou a
integrar o Estado de Israel. Na Guerra da Independência, aproximadamente 156 mil
desses palestinos permaneceram em Israel, enquanto os demais deixaram o país.
Os árabes que permaneceram em Israel e seus descendentes hoje são mais de
1,4 milhão e possuem cidadania israelense. Ou seja, a população árabe palestina
residente em Israel aumentou quase 900% de 1948 até hoje e goza de plenos
direitos, inclusive elegendo deputados. Os árabes com cidadania israelense são
20% da população de Israel.
1 Este capítulo é uma versão ampliada e adaptada por Tounée Rosset do texto publicado em www.
judeusdospaisesarabes.com.br, incorporando também sugestões de Abraham Goldstein e dos autores dos diversos textos desta obra.
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PAZ - Book AF.indb 59
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SOLUÇÃO PARA A PAZ
Por sua vez, a população palestina residente na Faixa de Gaza e na Cisjordânia hoje é de
mais de 4 milhões de pessoas, sem contar os 4,5 milhões a 5 milhões de palestinos que
vivem em outros lugares além de Israel e territórios palestinos. Esse número é muito maior
do que o de palestinos que viviam em toda a Terra de Israel antes da criação do Estado de
Israel.
Isso significa que, ao contrário do que pessoas mal-intencionadas dizem, não existe genocídio generalizado contra palestinos. A verdade é que tanto em Gaza e na Cisjordânia
como no próprio território de Israel a população palestina tem se multiplicado, e muito.
Situação muito diferente ocorreu nos países da Liga Árabe, onde a população judaica foi
expulsa ou teve de fugir da violência e da discriminação: dos 848 mil judeus que moravam
em países como Líbano, Síria, Líbia, Iêmen, Egito, Tunísia, Iraque, Argélia e Marrocos, 840
mil haviam saído até o ano 2001, ou seja, só sobrou menos de 1%.
O gráfico a seguir compara a evolução da população de palestinos vivendo em Israel
desde o final da Guerra da Independência até hoje, possuindo cidadania israelense, com a
situação dos judeus em nove países da Liga Árabe, onde têm sido tratados como dhimmis.
Evolução da população árabe em Israel e da população judaica
em nove países da Liga Árabe
Situação das comunidades judaicas nos países
da Liga Árabe
Os judeus vivem no Oriente Médio, no norte da África e na região do Golfo há vários
séculos. Houve presença ininterrupta de grandes comunidades judaicas no Oriente Médio desde tempos remotos, mais de 2.500 anos antes do nascimento dos Estados árabes
modernos.
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Após a conquista da região pelos muçulmanos, os judeus passaram a ser considerados
cidadãos de segunda classe, mas a eles foram dadas, durante determinado período, liberdade
religiosa e oportunidades educacionais, profissionais e de trabalho, embora limitadas.
Isso mudou no século XX, quando ocorreu um padrão de perseguição consistente e
difundido e violações em massa dos direitos humanos das minorias judaicas em países da
Liga Árabe. Decretos e legislações oficiais aprovados pelos regimes árabes negaram direitos
humanos e civis aos judeus e a outras minorias; suas propriedades foram desapropriadas;
foram privados de sua cidadania e de seu sustento. Os judeus eram frequentemente vítimas
de assassinato, prisões e detenções arbitrárias, tortura e expulsões.
Com a declaração do Estado de Israel, em 1948, o status dos judeus nos países árabes
piorou drasticamente à medida que muitos desses países apoiavam a guerra ou a declaravam
contra Israel. Os judeus foram, então, expulsos dos países onde residiam havia anos e tornaram-se reféns políticos do conflito árabe-israelense.
Os judeus residentes em países da Liga Árabe passaram a ser atacados física e legalmente
pelos governos e pela população de modo geral. Na Síria, por causa das perseguições antijudaicas em Alepo, em 1947, dos 10 mil judeus da cidade, 7 mil fugiram do terror. No Iraque,
o “sionismo” tornou-se crime capital. Mais de 70 judeus foram assassinados por bombas
na região judaica do Cairo, no Egito. Depois de os franceses terem desocupado a Argélia, as
autoridades emitiram uma variedade de decretos antijudaicos que induziram os quase 160
mil judeus a fugir prontamente do país. Após a Resolução da Assembleia Geral das Nações
Unidas sobre a partilha da Palestina, em 1947, amotinadores muçulmanos deram início a
perseguições sanguinárias em Áden, no Iêmen, que acabaram causando a morte de 82 judeus. Em diversos países os judeus foram expulsos ou tiveram sua cidadania revogada (por
exemplo, na Líbia). Inúmeros judeus fugiram de dez países da Liga Árabe. Eles se tornaram
refugiados em uma região predominantemente hostil aos judeus.
As restrições sancionadas pelo Estado, frequentemente associadas à violência e repressão,
forçaram um deslocamento em massa dos judeus. Resultado: mais de 850 mil judeus foram
expulsos das terras em que eles e seus ancestrais viveram por várias gerações.
Dhimmis
Durante muitos séculos, membros de várias etnias, entre elas judeus, mas também gregos
e armênios, viveram dentro do Império Otomano, sob uma denominação que lhes determinava um lugar à parte no mundo social: dhimmis (em árabe, protegidos). Esses grupos eram
submetidos a uma tributação especial (jizya), ao uso de uma rodela de cor amarela no peito
e outros sinais distintivos, além de outras formas de discriminação.
Os judeus mais afetados foram os do Marrocos, do Iêmen e da Pérsia: eram sujeitos a
graves humilhações, expropriação de bens, julgamentos injustos, assassinatos etc.
Mas, no geral, em troca do pagamento da jizya, os judeus, que estavam acostumados a
sobreviver a situações adversas, após séculos de perseguições dos impérios Romano e Bizantino, viram nas conquistas islâmicas apenas uma substituição de poder.
A conversão voluntária ao islamismo foi muito rara; os judeus conseguiram preservar a
fé em todas as terras muçulmanas.
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OS JUDEUS NOS PRINCIPAIS PAÍSES DA LIGA ÁRABE
ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO
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SOLUÇÃO PARA A PAZ
EGITO
Os judeus têm vivido no Egito desde os
tempos bíblicos. As tribos israelitas mudaram-se durante o reinado do faraó egípcio
Amenhotep IV (1375-1358 a.C.). Ao longo
dos anos, os judeus buscaram abrigo e habitaram o Egito. Em 1897, havia mais de
25 mil judeus no Egito, a maior parte deles concentrada nas cidades do Cairo e de
Alexandria. Em 1937, a população alcançou
63.500 judeus.
Na década de 1940, com o crescimento
do nacionalismo egípcio e os esforços do Bar-mitzva de gêmeos – Cairo, Egito, 1930.
movimento sionista para recriar um lar nacional judaico na Terra de Israel, as atividades antijudaicas começaram a surgir com mais intensidade. Em 1945, as agitações começaram: dez judeus foram mortos, 350 ficaram feridos
e uma sinagoga, um hospital judeu e um lar para idosos foram incendiados. Após o sucesso
do movimento sionista em estabelecer o Estado de Israel, medidas violentas e repressoras
vindas do governo e dos cidadãos egípcios tiveram início em meados de 1948. Bombas foram colocadas em um quarteirão judaico, matando mais de setenta pessoas e ferindo cerca
de duzentas. As agitações nos meses que se seguiram resultaram em várias outras mortes.
Dois mil judeus foram presos e muitos tiveram suas propriedades confiscadas.
Em 1956, o governo egípcio usou a Campanha do Sinai como pretexto para expulsar
aproximadamente 25 mil judeus egípcios do país e confiscar suas propriedades. A eles foi
permitido levar apenas uma mala e uma pequena quantidade de dinheiro, e todos foram
obrigados a assinar documentos “doando” suas propriedades ao governo egípcio. Aproximadamente outros mil judeus foram presos ou mandados para campos de concentração.
Em 23 de novembro de 1956, um manifesto, assinado pelo ministro de Assuntos Religiosos e lido em voz alta nas mesquitas de todo o Egito, declarava que “todos os judeus
são sionistas e inimigos do Estado” e prometia que todos seriam, em breve, expulsos
(Associated Press, 26/11/1956; New York World-Telegram, 29/11/1956).
Em 1957, a população judaica no Egito já tinha caído para 15 mil. Em 1967, depois da
Guerra dos Seis Dias, houve nova onda de perseguições, e a comunidade judaica diminuiu
para 2.500. Na década de 1970, após ser dada aos judeus remanescentes a permissão de
deixar o país, a comunidade reduziu-se a algumas poucas famílias.
Os direitos dos judeus foram finalmente recuperados em 1979, depois que o presidente
egípcio Anwar Sadat assinou o primeiro acordo de Camp David com Israel. Somente então
foi permitido à comunidade estabelecer laços com Israel e com a coletividade judaica no
mundo. Os quase duzentos judeus deixados no Egito são agora idosos, e a comunidade
judaica do país, outrora orgulhosa e crescente, está praticamente extinta.
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ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO
6
Iraque é a designação moderna para o
país estabelecido com as antigas Babilônia e
Assíria e a parte sul da Turquia após a Primeira Guerra Mundial. É o lugar da mais antiga
diáspora judaica, a de história contínua mais
longa, uma faixa de tempo de 2.670 anos.
No século III, os judeus prosperaram no
que era então a Babilônia por 1.200 anos antes da conquista muçulmana, em 634 d.C.
Sob o domínio dos muçulmanos, a situação
da comunidade judaica tornou-se instável.
Enquanto alguns judeus possuíam altos
Cerimônia em memória de Menahem Salah
cargos de governo ou prosperavam com o Daniel, líder da comunidade judaica de Bagdá.
comércio e as trocas, outros eram submetidos a taxas especiais e restrições em suas atividades profissionais. Sob o controle britânico,
que começou em 1927, os judeus iam bem economicamente, mas esse progresso cessou
quando o Iraque conquistou sua independência, em 1932.
Comerciantes judeus de Bagdá.
Em junho de 1941, o golpe de Rashid Ali, de apoio aos nazistas e inspirado pelo Mufti,
iniciou uma série de manifestações e perseguições em Bagdá. Multidões de iraquianos armados assassinaram 180 judeus e feriram mil.
Insurreições adicionais com manifestações antijudaicas ocorreram entre 1946 e 1949.
Após o estabelecimento de Israel, em 1948, o sionismo tornou-se crime capital.
OS JUDEUS NOS PRINCIPAIS PAÍSES DA LIGA ÁRABE
IRAQUE
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SOLUÇÃO PARA A PAZ
Em 1950, foi permitido aos judeus iraquianos deixarem o país em um ano caso desistissem de sua cidadania. Um ano mais tarde, no entanto, as propriedades dos judeus que
emigraram foram congeladas e restrições econômicas foram impostas aos que permaneceram no país. De 1949 a 1951, 104 mil judeus foram expulsos do Iraque na Operação Ezra
e Nehemiah e 20 mil retirados clandestinamente pelo Irã. Assim, uma comunidade que
chegara a 150 mil pessoas em 1947 rapidamente se reduziu a 6 mil depois de 1951.
Em 1952, o governo do Iraque proibiu a imigração de judeus. Com a ascensão de facções
rivais do partido Ba’ath em 1963, restrições adicionais foram impostas aos judeus iraquianos remanescentes. A venda de propriedades foi proibida e todos os judeus foram forçados
a carregar cartões de identidade amarelos. As perseguições continuaram, especialmente após
a Guerra dos Seis Dias, em 1967, quando muitos dos 3 mil judeus restantes foram presos
e demitidos de seus empregos. Nessa época, medidas mais repressoras surgiram: propriedades judaicas foram tomadas; contas bancárias foram congeladas; judeus perderam cargos
públicos; lojas foram fechadas; licenças comerciais foram canceladas; telefones foram desligados. Os judeus passaram a viver em prisão domiciliar por longos períodos ou restritos às
próprias cidades.
As perseguições chegaram ao limite máximo no final de 1968. Grupos de judeus eram
presos sob a alegação de descobertas de “grupos de espiões” compostos por empresários
judeus. Catorze homens, onze deles judeus, foram sentenciados à morte em julgamentos
encenados e, em 27 de janeiro de 1969, enforcados em praças públicas de Bagdá; outros
morreram sob tortura.
Em resposta às pressões internacionais, o governo de Bagdá silenciosamente permitiu
que a maior parte dos judeus restantes emigrasse no início da década de 1970, mesmo enquanto outras restrições eram mantidas. Em 1973, os judeus iraquianos estavam, na maioria, velhos demais para sair do país e foram pressionados pelo governo a entregar títulos,
sem compensações, de propriedades judaicas no valor de mais de 200 milhões de dólares
(The New York Times, 18/2/1973).
Atualmente, cerca de 60 judeus permanecem em Bagdá. O que fora um dia uma comunidade crescente de judeus no Iraque hoje encontra-se extinta (Associated Press, 28/3/1998).
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ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO
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LÍBIA
Bairro dos judeus em Trípoli.
OS JUDEUS NOS PRINCIPAIS PAÍSES DA LIGA ÁRABE
A comunidade judaica da Líbia tem suas
origens ao século III a.C. Na época da ocupação italiana, em 1911, havia apenas 21 mil
judeus no país, a maior parte em Trípoli.
No final da década de 1930, leis antijudaicas foram gradualmente reforçadas, e os
judeus foram submetidos a repressões terríveis. Ainda assim, em 1941, eles respondiam
por um quarto da população de Trípoli e
mantinham 44 sinagogas.
Em 1942, os alemães ocuparam o bairro
judeu e tornaram tudo muito difícil para os
judeus na Líbia, e as condições não melhoraram após a liberação. Durante a ocupação
britânica, o crescimento do nacionalismo
árabe e do fervor antijudaico foram as principais razões por trás de uma série de perseguições, a pior das quais, em novembro de
1945, resultou no massacre de 140 judeus
em Trípoli e regiões próximas e na destruição de cinco sinagogas (Howard Sachar, A
History of Israel).
O estabelecimento do Estado de Israel levou muitos judeus a deixar o país. Em junho
de 1948, em protesto contra o novo Estado,
manifestantes assassinaram 12 judeus e destruíram cerca de 280 de seus lares. Ainda que
a emigração fosse ilegal, mais de 3 mil judeus
conseguiram fugir para Israel. Entre 1949,
quando os ingleses legalizaram a emigração,
e 1951, ano em que a Líbia conquistou a
independência e se tornou membro da Liga
Árabe, demonstrações hostis e manifestações
antijudaicas causaram a partida de cerca de
30 mil judeus para o norte do país (Norman
Stillman, The Jews of Arab Lands in Modern Times).
Família judia da Líbia.
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SOLUÇÃO PARA A PAZ
ARGÉLIA
No século XIV, com a deterioração das condições na Espanha, muitos judeus espanhóis
mudaram-se para a Argélia. Após a ocupação
francesa do país, em 1830, os judeus gradualmente receberam a cidadania francesa.
Em 1934, os muçulmanos, incitados por
eventos ocorridos na Alemanha nazista, se
agitaram em Constantina, matando 25 judeus e ferindo muitos outros. Antes de 1962,
havia 60 comunidades judaicas, cada uma
mantendo os próprios rabinos, sinagogas e
instituições educacionais. Depois da inde- Família celebrando o Seder de Pessach
pendência da Argélia, em 1962, o governo – Oran, 1930.
argelino atormentou a comunidade judaica e privou os judeus de seus direitos econômicos,
resultando na emigração de quase 130 mil judeus argelinos para a França e, desde 1948, de
25.681 para Israel.
A independência da Argélia foi o evento-chave na expulsão da comunidade judaica.
Como consequência do desejo do governo
e dos argelinos de juntarem-se à onda de
nacionalismo e pan-arabismo que varria o
norte da África, os judeus não mais se sentiam bem-vindos após a partida francesa. O
Código de Nacionalidade Argelino de 1963
deixou isso bem claro, dando a cidadania
argelina como direito apenas àqueles cujos
pais e avôs paternos possuíssem algum sta- Professores e rabinos da Escola Etz Haim
tus pessoal muçulmano na Argélia. Em ou- – Oran, 1927.
tras palavras, ainda que a Frente Libertadora Nacional na Argélia fosse conhecida pelo slogan
“Um Estado secular democrático”, ela seguia critérios religiosos rígidos ao dar a cidadania,
fortificando assim sentimentos antijudeus e anti-Israel no país.
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ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO
6
As primeiras evidências documentadas de judeus vivendo onde é hoje a Tunísia vêm de
antes do ano 200. Após a conquista árabe da Tunísia no século VII, os judeus viviam em condições satisfatórias, apesar de algumas medidas discriminatórias, como taxas.
Em 1948, a comunidade judaica na Tunísia chegava a 105 mil pessoas, com 65 mil vivendo somente em Túnis. Depois que a Tunísia conquistou sua independência, em 1956, uma
série de decretos antijudaicos foi promulgada. Em 1958, o conselho da comunidade judaica
na Tunísia foi abolido pelo governo, e sinagogas, cemitérios e bairros judaicos antigos foram
destruídos sob a alegação de “renovação urbana”.
Em condições similares às dos judeus na Argélia, a ascensão do nacionalismo tunisiano
levou a legislações antijudaicas e, em 1961, grande número de judeus deixou o país. A situação de instabilidade crescente fez com que mais de 40 mil judeus tunisianos emigrassem
para Israel. Em 1967, a população judaica caiu para 20 mil.
Durante a Guerra dos Seis Dias, os judeus foram atacados em agitações árabes, e várias
sinagogas e lojas foram queimadas. O governo denunciou a violência e apelou à população
judaica para que ficasse; ainda assim, não proibiu os judeus de deixarem o país. Logo depois, 7 mil judeus emigraram para a França.
Mesmo em 1982 houve ataques a judeus em cidades como Zarzis e Ben Guardane. Hoje,
cerca de 2 mil judeus vivem na Tunísia.
SÍRIA
Os judeus têm vivido na Síria desde os tempos bíblicos, e a história da comunidade é
mesclada à história dos judeus na Terra de Israel. A população judaica aumentou significativamente após a expulsão dos judeus da Espanha, em 1942. Através das gerações, as principais comunidades judaicas encontravam-se em Damasco e Alepo.
Em 1943, a comunidade judaica na Síria possuía 30 mil membros, a maioria distribuída
entre Alepo (17 mil) e Damasco (11 mil). Em 1945, em uma tentativa de impedir esforços
para estabelecer um lar nacional judaico, o governo restringiu a emigração para Israel, e
propriedades judaicas foram queimadas e saqueadas. Perseguições antijudaicas começaram
a acontecer em Alepo em 1947, fazendo com que 7 mil dos 10 mil judeus que ali viviam
fugissem por medo. O governo então congelou as contas bancárias e confiscou as propriedades dos que permaneceram no país.
Logo após a independência de Israel, uma política de discriminação econômica na Síria
foi posta em prática contra os judeus. Virtualmente, todos os cidadãos judeus civis empregados pelo governo sírio foram demitidos. A liberdade de movimentos foi praticamente
abolida e postos especiais de fronteira foram estabelecidos para controlar o movimento dos
judeus (The New York Times, 16/5/1948).
Em 1949, os bancos receberam instruções para congelar as contas dos judeus e confiscar
todos os seus pertences. Ao longo dos anos que se seguiram, o padrão contínuo de estrangulamento político e econômico fez com que um total de 15 mil judeus deixasse a Síria,
emigrando para os Estados Unidos e para Israel.
OS JUDEUS NOS PRINCIPAIS PAÍSES DA LIGA ÁRABE
TUNÍSIA
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SOLUÇÃO PARA A PAZ
IÊMEN
Os judeus do Iêmen têm várias lendas relacionadas com sua chegada ao país; a mais
conhecida delas diz que chegaram antes da
destruição do Primeiro Templo. A primeira
evidência histórica de sua presença no Iêmen data do século III.
Os judeus começaram a deixar o Iêmen
por volta de 1880, quando aproximadamente 2.500 rumaram para Jerusalém e Jafa. Mas
foi após a Primeira Guerra Mundial, quando o Iêmen se tornou independente, que o
sentimento antijudaico no país transformou
a emigração em uma necessidade. Leis antissemitas, que tinham ficado esquecidas por Família iemenita estudando hebraico.
anos, foram trazidas à tona. Em um tribunal,
as evidências de um judeu não eram aceitas diante das evidências de um muçulmano.
Em 1922, o governo do Iêmen reintroduziu uma antiga lei islâmica que exigia que órfãos judeus menores de 12 anos fossem convertidos ao islamismo. Quando um judeu decidia emigrar, ele deveria deixar todas as suas posses. Apesar disso, entre 1923 e 1945, um
total de 17 mil judeus iemenitas deixou o país e foi para a Palestina.
Após a Segunda Guerra Mundial, milhares de outros judeus iemenitas queriam migrar
para a Palestina, mas o Livro Branco dos britânicos ainda estava em vigor, e aqueles que deixassem o Iêmen acabariam em morros abarrotados de gente em Áden, onde revoltas graves
aconteceram em 1947, depois que as Nações Unidas decidiram pela Partilha da Palestina
em um estado judaico e um estado árabe. Muitos judeus foram mortos, e o bairro judeu foi
completamente incendiado. Apenas em setembro de 1948 as autoridades britânicas em Áden
permitiram que os refugiados fossem para Israel.
Em 1947, após a decisão pela Partilha, revoltosos muçulmanos deram início a uma sangrenta perseguição em Áden que matou 82 judeus e destruiu centenas de casas judias. A
comunidade judaica em Áden, que contava com 8 mil pessoas em 1948, foi forçada a fugir.
Até 1959, mais de 3 mil já haviam chegado a Israel. Muitos fugiram para os Estados Unidos
e Inglaterra. Atualmente não há judeus remanescentes em Áden.
Na época da fundação de Israel, a comunidade judaica no Iêmen estava economicamente
paralisada, já que a maioria das lojas e negócios judaicos foi destruída. Essa situação cada
vez mais perigosa levou à emigração de toda a comunidade judaica iemenita – quase 50 mil
Judeus – entre junho de 1949 e setembro de 1950, na chamada Operação Tapete Mágico.
Uma emigração em menor escala foi permitida até 1962, quando uma guerra civil trouxe
um final abrupto ao êxodo judaico.
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PAZ - Book AF.indb 68
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ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO
6
Os judeus apareceram pela primeira vez
no Marrocos há mais de dois milênios, viajando em parceria com negociantes fenícios.
A primeira colonização dos judeus ocorreu
em 568 a.C., quando Nabucodonosor destruiu Jerusalém.
Por volta de 1948, essa antiga comunidade judaica, a maior no norte da África,
contava com 265 mil pessoas. Em junho de
1948, após a constituição do Estado de Israel, manifestações sanguinárias em Oujda
e Djerada mataram 44 judeus e deixaram
outros feridos. No mesmo ano, um boicote
econômico não oficial foi incitado contra os
judeus marroquinos.
A emigração para Israel começou com a
iniciativa de pequenos grupos que lá chegaram na época de sua independência. Entretanto, a maior emigração, que levou mais de
250 mil judeus marroquinos para Israel, foi
induzida por medidas antijudaicas executadas em resposta à constituição do Estado de
Israel. Em 4 de junho de 1949, ocorreram
manifestações no norte do Marrocos, matando e ferindo dezenas de judeus. Logo depois,
os judeus começaram a deixar o país.
Entre 1955 e 1957, mais de 70 mil judeus
marroquinos chegaram a Israel. Em 1956, o
Marrocos declarou sua independência, e a
emigração de judeus para Israel foi suspensa.
Em 1959, atividades sionistas tornaram-se
ilegais no país. Durante esses anos, mais de
30 mil judeus fugiram para a França e para
as Américas. Em 1963, a proibição da emigração para Israel foi revogada, levando mais
de 100 mil para a costa.
Hoje, a comunidade judaica do Marrocos
é menos de 10% de seu tamanho original.
Dos 17 mil judeus que restam, dois terços
vivem em Casablanca.
Menino celebrando seu Bar-mitzva a caminho
da sinagoga com seus familiares e amigos
– Fez, Marrocos, 1940.
Mulheres judias em festa com músicos.
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MARROCOS
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SOLUÇÃO PARA A PAZ
LÍBANO
Os judeus têm vivido no Líbano desde os tempos antigos. O rei Herodes, o Grande, no
século I, manteve a comunidade judaica em Beirute.
Durante a primeira metade do século XX, a comunidade judaica desenvolveu-se amplamente por causa da imigração da Grécia, da Turquia e, depois, da Síria e do Iraque. Em
meados dos anos 1950, aproximadamente 7 mil judeus viviam em Beirute. Em comparação
com os países islâmicos, as regras árabe-cristãs, características da estrutura política do país,
conduziam uma política de relativa tolerância à população judaica. Todavia, por estarem tão
próximos do “Estado inimigo” Israel, os judeus libaneses se sentiram inseguros e, em 1967,
decidiram emigrar para a França, Israel, Itália, Inglaterra e América do Sul.
Em 1974, 1.800 judeus permaneciam no Líbano, a maioria concentrada em Beirute. A
guerra civil muçulmano-cristã destruiu o bairro judeu, danificando muitos lares, negócios
e sinagogas. A maior parte dos judeus libaneses restantes emigrou em 1976, temendo que a
presença da Síria no Líbano impedisse sua liberdade de partir. Hoje, um número estimado
de 150 judeus permanece no Líbano.
Sites
http://www.judeusdospaisesarabes.com.br (em português)
http://en.wikipedia.org/wiki/Dhimmi (em inglês)
Tounée Rosset Formada em Ciências Econômicas pela USP, é membro da Loja Horácio Lafer e foi presidente da
B’nai B’rith de São Paulo. Atualmente faz parte da Comissão de Direitos Humanos da B’nai B’rith.
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Eric Calderoni
CAPÍTULO
7
SOLUÇÃO PARA A PAZ: DOIS
ESTADOS PARA DOIS POVOS
Dezenas de projetos já foram propostos para o conflito entre Israel e seus
vizinhos. Entre os mais famosos estão a Partilha da Palestina, aprovada pela ONU
em 1947, o Road Map (cuja tradução mais comum é “mapa da estrada”, mas
também poderia ser “caminho para a paz”), os acordos de Oslo, a proposta da
Arábia Saudita, a iniciativa árabe e o acordo de Genebra. Cada partido político ou
facção da região ou governo de outro país do restante do mundo tem sua filosofia e suas opiniões, que mudam com o decorrer do tempo. No entanto, diante de
tanta diversidade, é possível agrupar as propostas que são mais frequentemente
defendidas hoje em dia em três grandes grupos:
A) Solução de dois Estados para dois povos.
B) Proposta de um Estado para dois povos.
C) Projetos de um Estado para um povo.
Quando se fala em apoiar os palestinos ou a “causa palestina”, muitas pessoas
logo concordam, pois se trata de um povo sofrido. Contudo, é importante saber de
que “causa” estão falando e para o que exatamente estão pedindo seu apoio, ou seja,
qual encaminhamento para o conflito a pessoa está promovendo: a solução de dois
Estados para dois povos, que pode levar à paz; um projeto inviável de um Estado
binacional; ou um projeto extremista de um único Estado para somente um povo?
Passamos agora a comentar cada um desses grupos de propostas.
A) Solução de dois Estados para dois
povos: a solução para a paz
Na solução de dois Estados para dois povos, coexistiriam, lado a lado, dois
países. Um deles seria o Estado de Israel, que manteria maioria judaica; o outro,
um Estado palestino, que abrigaria, em sua maioria, famílias árabes que habitam
a região desde antes da constituição do Estado de Israel.
Esses dois países então poderiam viver em paz, exercendo relações diplomáticas e comerciais. Livres de ataques terroristas, teriam fronteiras abertas para a
circulação de pessoas e mercadorias, assim como ocorria antes da Segunda Intifada, entre Gaza, Cisjordânia e Estado de Israel.
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SOLUÇÃO PARA A PAZ
A solução de dois Estados para dois povos respeita as necessidades nacionais tanto
dos judeus, que, em razão do antissemitismo
histórico, desejam e necessitam que exista
no mundo pelo menos um país de maioria
judaica, como da população árabe daquela
região.
A solução de dois Estados para dois povos foi adotada em 1947 pela Organização
das Nações Unidas (ONU), que determinou
a Partilha da Palestina, ou seja, justamente a
divisão do território para a constituição de
um Estado judeu e de outro país árabe na região, que seria o Estado palestino. Por aquela
resolução da ONU, Jerusalém ficaria sob jurisdição internacional. A solução para a paz
consiste justamente em aceitar os princípios
gerais daquilo que já foi decidido há mais de
sessenta anos.
A Partilha da Palestina, contudo, não foi
aceita pelos países árabes, que exigiam ficar com 100% do território. Uma coalizão
árabe atacou Israel assim que os britânicos
deixaram a região com a intenção de destruir
Israel, que no entanto venceu a guerra e Resolução da ONU pela Partilha da Palestina
assim conseguiu sobreviver. Ao término do (1947).
Fonte: Revista Shalom, 356 (VIII), 13/2/2006.
conflito, que ficou conhecido como Guerra
da Independência de Israel, os países da Liga Árabe Egito e Jordânia ocuparam os territórios da Faixa de Gaza e da Cisjordânia, respectivamente, situação que se manteve
entre 1948 e 1967, e decidiram não criar neles o Estado palestino. É por isso que não
foi criado o Estado palestino já naquela época: por falta de interesse dos próprios países
árabes vizinhos.
Hoje, o governo de Israel e o partido palestino Fatah, bem como a maioria dos países
do mundo, apoiam uma solução de dois Estados para dois povos na região. Essa solução foi
aceita nos acordos de Oslo, assinados em 1993 e em 1995 entre Israel e a Organização para
a Libertação da Palestina (OLP), e reiterada na Conferência de Anápolis, em 2007, tanto pelo
governo de Israel como pela Autoridade Nacional Palestina (ANP).
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O autor do presente capítulo ostenta bandeiras de Israel e da Palestina pela convivência
pacífica entre os povos em uma solução de dois Estados para dois povos – Memorial da América
Latina, São Paulo (SP), 18/1/2009.
Para a implementação da solução de dois Estados para dois povos, seria necessário definir
as fronteiras exatas. Quanto a isso, sempre haveria motivos para discordâncias. Em primeiro
lugar, teria de se acertar uma base, que, no Road Map, defendido pelo chamado “quarteto”
(comissão composta por representantes dos Estados Unidos, da União Europeia, da Rússia e
da ONU), são as fronteiras de antes da guerra de 1967. Definida a base, passar-se-ia a discutir as exceções. Não mais se tomaria como base as fronteiras que haviam sido planejadas em
1947, mas sim as que ficaram depois da Guerra da Independência, que são mais ou menos
as mesmas que separam hoje em dia judeus e palestinos.1
Outra questão referente às fronteiras diz respeito às colônias judaicas na Cisjordânia, que
teriam de ser entregues aos palestinos ou então ter seu território negociado em troca de
compensação territorial em outro local ou compensação de outra espécie com que as partes
concordassem. A Figura 1 apresenta uma solução de dois Estados para dois povos, com as
prováveis fronteiras que teriam.
1 A Resolução 242 da ONU, de 22/11/1967, estabelece o retorno às fronteiras de antes da Guerra dos Seis Dias,
como ficou conhecida a guerra travada em 1967.
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SOLUÇÃO PARA A PAZ: DOIS ESTADOS PARA DOIS POVOS
Foto: Carla Regina Calderoni
ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO
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SOLUÇÃO PARA A PAZ
Figura 1 – Solução de dois Estados
para dois povos
Montagem sobre mapa fornecido pela
Embaixada de Israel à Revista Shalom.
Os palestinos que hoje habitam a Faixa de Gaza e a Cisjordânia manter-se-iam
onde estão e aqueles que moram em campos
de refugiados nos países vizinhos seriam
transferidos para o território palestino. Os
palestinos que vivem em outros países teriam como opção emigrar para o Estado
palestino.
Poderia haver compensação financeira aos
palestinos que perderam suas casas durante
o período de construção do Estado de Israel,
mas não haveria o direito de retornarem aos
locais onde habitavam naquela época. Restaria ver daí se, em contrapartida, também
teriam direito a compensações os mais de
840 mil judeus que viviam nos países da Liga
Árabe que perderam o que tinham quando
foram expulsos ou tiveram de fugir.
As Colinas de Golã, território militarmente estratégico, pois pode servir de barreira
natural ou de plataforma para artilharia, que
foram conquistadas da Síria por Israel na
Guerra dos Seis Dias em 1967, provavelmente seriam devolvidas à Síria em troca de sua
aceitação dessa solução e de seu compromisso em não atacar Israel.
A solução de dois Estados para dois povos,
baseada nas fronteiras anteriores a 1967, é defendida por Israel e, atualmente, também pelo
partido palestino Fatah e pela Autoridade Nacional Palestina (cujo presidente, Mahmoud
Abbas, pertence ao Fatah).
Na solução de dois Estados para dois povos, tal como aqui exposta, Israel permaneceria como o único país de maioria judaica
do mundo, enquanto seria constituído na
Faixa de Gaza e na Cisjordânia o 46.º país
de maioria muçulmana.
Uma questão que precisaria ser melhor
detalhada na solução de dois Estados para
dois povos diz respeito à descontinuidade
territorial do Estado palestino a ser criado,
pois hoje a Faixa de Gaza e a Cisjordânia não
têm ligação sem passar por dentro de Israel.
Soluções possíveis para o problema da descontinuidade territorial poderiam envolver
rodovias e ferrovias especiais, sob autoridade palestina, para ligarem Gaza e Cisjordânia. Uma das propostas seria a construção de
um túnel semelhante ao Eurotúnel, que liga
Londres a Paris, que manteria a separação
com Israel mais rígida; outras propostas dão
preferência a obras de superfície por serem
mais baratas e de mais fácil integração com a
malha viária israelense.
Mais uma questão que se coloca é a da segurança do Estado de Israel em relação ao que
aconteceria se palestinos baseados no território palestino continuassem atacando Israel e
as autoridades palestinas não fossem eficientes (ou não tivessem empenho) para impedir.
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PAZ - Book AF.indb 74
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ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO
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Ainda outra questão é o status de Jerusalém, que é a cidade mais sagrada para o judaísmo
e também é sagrada para o Islã (a terceira cidade mais sagrada depois de Meca e Medina).
Alguns alegam que Jerusalém deveria ficar sob jurisdição internacional, mas Israel considera
que isso não é necessário, pois sempre garantiu aos judeus, aos muçulmanos e aos cristãos
o livre acesso a seus locais sagrados.
Por fim, a questão mais fundamental envolvida na solução de dois Estados diz respeito ao
direito de retorno palestino. Abordaremos essa questão logo após a explicação e análise da
proposta de criação de um Estado para dois povos, que nos ajudará a entendê-la.
Na proposta da criação de um único Estado para dois povos, ou seja, um Estado binacional, judeus e palestinos viveriam em um mesmo país.
Essa proposta foi defendida pelo grupo palestino Fatah de 1974 a 1988, como forma de garantir
pleno direito de retorno aos palestinos que foram deslocados no contexto da criação do Estado
de Israel. A proposta recebe até hoje apoio de alguns intelectuais e de grupos extremistas.
Para quem vive no Brasil, um país multiétnico com tradição de convivência relativamente
pacífica e tolerante entre pessoas de diferentes etnias, religiões etc., é simples, às vezes, simpatizar com a ideia, à primeira vista.
A ideia de que judeus e palestinos poderiam se respeitar plenamente, sob o mesmo Estado, sem qualquer forma de distinção, tem forte apelo emotivo. O cantor John Lennon, dos
Beatles, compôs em 1971 a música “Imagine”. A letra tem uma passagem que, livremente
traduzida, diz: “Imagine que não existam países. Não é difícil. Nenhuma causa pela qual matar ou pela qual sacrificar a própria vida. E tampouco exista qualquer religião. Imagine todas
as pessoas vivendo a vida em paz. Você pode dizer que eu sou um sonhador, mas eu não sou
o único. Espero que algum dia você se junte a nós. Daí o mundo será unido”.
A letra da música faz sentido, e pouca gente discorda que seria maravilhoso morarmos
num mundo tão unido assim. Todavia, infelizmente, para que o sonho de John Lennon possa
se tornar realidade, se é que algum dia poderá, sua concretização precisaria ser buscada lenta
e gradualmente e enfrentaria muitos problemas práticos ligados à realidade atual.
Não há registro de que duas nacionalidades diferentes, com valores religiosos e culturais
distintos, tenham conseguido compartilhar um mesmo território e estabelecido um governo unificado estável e democrático.
Existem no mundo diversas experiências nas quais a separação de um país em dois ou
mais foi a única capaz de produzir a paz, quando os Estados bi ou multinacionais estavam
promovendo conflitos étnicos ou tinham potencial para o conflito.
Durante a independência, a Índia, que também era domínio britânico, foi dividida em
dois territórios, ficando a atual Índia, de maioria hindu, separada do Paquistão, de maioria
muçulmana. Não quer dizer que a relação entre os vizinhos seja sempre pacífica, mas, pelo
menos, não há constante guerra civil. Atualmente, o maior conflito entre Índia e Paquistão é
justamente pela disputa da Caxemira, região de maioria muçulmana que ficou sob controle indiano. Quando se tenta juntar povos diferentes que não desejam ficar juntos, a tendência é a de
conflito, a menos que haja uma ditadura muito poderosa que os possa manter unidos à força.
SOLUÇÃO PARA A PAZ: DOIS ESTADOS PARA DOIS POVOS
B) Proposta da criação de um único Estado para
dois povos (Estado binacional)
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PAZ - Book AF.indb 75
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SOLUÇÃO PARA A PAZ
Na Iugoslávia ocorreu um dos maiores massacres étnicos da história da humanidade na
década de 1990, quando a Sérvia tinha como objetivo tentar manter unida uma região onde
a maioria queria se separar, até que se obteve a paz pela solução de dividi-la em vários países (Sérvia, Croácia, Eslovênia, Bósnia-Herzegovina, Macedônia, Montenegro e Kosovo). Em
âmbito menor, municípios emancipam-se, mas continuam ligados um ao outro em relações
comerciais e com liberdade de ir e vir entre eles.
O Líbano é um país onde o conflito entre árabes cristãos e árabes muçulmanos leva a
assassinatos de líderes políticos, entre outros problemas.
Outra questão que fica é: sim, no universo imaginário de John Lennon não deveriam
existir fronteiras, mas por que começar justamente com Israel, o único país judeu do mundo, que tem uma população tão pequena em relação à de seus vizinhos?
A primeira iniciativa de superar as fronteiras com o livre deslocamento dos cidadãos de
várias etnias e religiões tem ocorrido na União Europeia, formada por países que, por séculos, se enfrentaram. Hoje, após aprender duramente com a devastação da Segunda Guerra
Mundial (1939-1945), e sem lançamento de foguetes e educação pelo ódio, muito esforço
vem sendo feito para superar o desafio cultural das fronteiras. Todavia, franceses, ingleses,
alemães, italianos, espanhóis, portugueses e outros não deixam de promover e manter suas
culturas históricas e seus valores, sem alteração de seu território e fronteiras nacionais.
A função da existência do Estado de Israel é justamente a de representar a autodeterminação do povo judeu, bem como servir de abrigo e proteger todos os judeus que estejam
sendo perseguidos em outras partes do mundo (além de ameaçados em Israel, por exemplo,
por mísseis e atentados suicidas). Assim, antes de passar a cogitar um Estado para dois povos, seria necessário construir, de fato, as condições de paz, acabando com as perseguições
étnicas. Daí, sim, quem sabe, as fronteiras perderão parte de seu sentido.
A realidade da perseguição aos judeus é extremamente concreta tanto no passado longínquo e no passado recente como atualmente. Há pouco mais de apenas sessenta anos, ou
seja, ainda existindo pessoas para contar a história, séculos de perseguições aos judeus na
Europa (e em outros lugares), que haviam tomado a forma de pogroms (massacres), culminaram num genocídio contra os judeus sem paralelo na história da humanidade, envolvendo
um sistema industrial de extermínio, sem que os judeus representassem qualquer ameaça
aos genocidas, não os tendo atacado, não promovendo guerras, não disputando território.
Esse foi o Holocausto.
Israel foi criado justamente pelo ideal do sionismo, que objetiva existir, no mundo, pelo
menos um país judeu, na Terra de Israel, que possa apoiar, proteger e abrigar os judeus
que venham a ser perseguidos em outros países. Por exemplo, Israel resgatou da Etiópia os
falashas, judeus negros que estavam passando por situação difícil. Ofereceu uma nova oportunidade aos judeus da antiga União Soviética de viverem com sua identidade judaica. Que
Estado no mundo dará abrigo aos judeus se o antissemitismo continuar agravando-se na
Venezuela, onde as sinagogas são depredadas e pichadas com frases como “Fora, judeus”?
O presidente e a imprensa ligada ao governo reivindicam a “dissolução do Estado de Israel”
e ao mesmo tempo culpam os judeus venezuelanos por muitos dos males que ocorrem no
país, propondo boicotes contra os judeus que lá vivem.
Temos episódios contínuos de discriminação e expulsão de judeus dos países árabes. Estamos diante de um país como o Irã, que nega que o Holocausto tenha existido e propaga
mentiras conspiratórias contra os judeus, ao mesmo tempo que constrói sua bomba atô-
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mica. Em diversos países, inclusive no Brasil, tem havido alguns atos de vandalismo contra
sinagogas, como em Santo André, Várzea Paulista e Campinas em 2006 e em Passo Fundo
em 2009. Antes de pensar em descaracterizar a existência de um lar nacional judaico, seria necessário acabar com esse tipo de discriminação e intolerância. Se o Estado de Israel
contemporâneo existisse de forma independente antes, não teriam perecido 6 milhões de
judeus na Europa durante o Holocausto.
A grande maioria dos judeus é contrária à solução de um Estado para dois povos em
Israel por, em termos práticos, isso acabar implicando a destruição do Estado de Israel, por
meio da chamada “bomba demográfica”.
É que não existe nenhum genocídio ocorrendo na região, muito ao contrário: há grande
crescimento da população palestina, maior do que o crescimento da população israelense.
Somando a população palestina residente em Gaza (1,5 milhão de pessoas), na Cisjordânia
(2,5 milhões), palestinos espalhados pelo mundo, sobretudo em países vizinhos (entre 4,5
milhões e 5 milhões), com a população de palestinos cidadãos de Israel (1,4 milhão), totalizam-se cerca de 10 milhões de palestinos, o que é maior do que a população de judeus
israelenses (5,4 milhões)2.
População de Israel
(setembro de 2006)
Judeus
Árabes muçulmanos
Árabes cristãos
Outros
5.393.400 (76%)
1.267.200 (18%)
149.100 (2%)
310.000 (4%)
TOTAL
7.166.700 (100%)
Fonte: Israeli CBS 2007.
População palestina (2004)
Cisjordânia
Faixa de Gaza
Árabes israelenses (cidadãos
de Israel)
Países árabes
Outros países
2.517.047 (24,5%)
1.499.369 (14,5%)
1.436.300 (14%)
TOTAL
10.346.109 (100%)
4.350.685 (42%)
542.708 (5%)
Fonte: PCBS, Mid-year 2004 estimates, Statistical Abstract,
n. 6, 2005.
Além disso, os casais palestinos têm mais filhos em média do que os casais judeus de Israel. O crescimento médio da população de judeus israelenses tem sido de 1,5% ao ano, e a
dos árabes israelenses, 2,6%.3 Assim, a diferença populacional (maior para o lado palestino)
aumenta a cada ano.
Portanto, um Estado binacional teria maioria palestina e não judaica. Não existiria nenhum país com maioria judaica no mundo, e teríamos o 46.º país com maioria muçulmana.
Os judeus ficariam sem pátria, seriam um povo que não desfrutaria de seu direito à autodeterminação.
2 Note que a população total de Israel é menor do que a da cidade de São Paulo, que é de aproximadamente 11
milhões de habitantes, sem contar a população da Grande São Paulo.
3 Veja as fontes dos dados no site da Sociedade Acadêmica Palestina para o Estudo de Assuntos Internacionais:
http://www.passia.org/palestine_facts/pdf/pdf2008/Population.pdf.
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SOLUÇÃO PARA A PAZ: DOIS ESTADOS PARA DOIS POVOS
ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO
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PAZ - Book AF.indb 77
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SOLUÇÃO PARA A PAZ
Na Figura 2a está representada a ideologia
que prega que um único Estado binacional
não seria nem judaico nem árabe, possibilitando a convivência pacífica e a prosperidade
de ambos os povos.
Figura 2a – Descrição utópica do
Estado binacional
Já na Figura 2b abaixo está representado
que, na prática, esse seria apenas mais um
país de maioria árabe como tantos outros
que existem, deixando os judeus sem nenhum país no mundo de maioria judaica e
promovendo conflitos internos entre a maioria árabe e a minoria judaica no país.
Figura 2b – Realidade prática de
um Estado erroneamente chamado
de “binacional”
Diante da quantidade de conflitos envolvendo muçulmanos hoje no mundo, diante do
crescente aumento da porcentagem de fundamentalistas entre os muçulmanos e diante do fato
de o Hamas ter sido eleito pelos palestinos, não há razão que permita assegurar aos judeus que
a maioria árabe-muçulmana de seu país binacional não votaria em leis prejudiciais à minoria
judaica e muito menos que daria plena garantia de segurança aos judeus de todo o mundo
contra eventuais perseguições.
A não aceitação da solução de um único Estado binacional não implica discriminação;
significa apenas a crença de que cada um deva ter sua independência. Por exemplo, é como
defender que cada família tenha a própria casa, que seja seu lar; isso não quer dizer que as
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famílias não possam conviver bem entre si nas praças do bairro, que os vizinhos não possam se dar bem, e até é provável que um vizinho seja bem-vindo na casa do outro para uma
celebração ou que se ajudem mutuamente em caso de necessidade.
A ideia de um Estado de maioria judaica em Israel não significa que o país seja intolerante com as demais culturas. Embora evoque também aspectos ligados à religiosidade, a
Declaração de Independência justifica o Estado de Israel não em função da religião, mas sim
evocando o direito de autodeterminação, comum a todos os povos.4
Israel inclui e acolhe todas as crenças, etnias e orientações sexuais, como no Brasil, independentemente de cada cidadão ser ou não mais ou menos religioso e da religião que ele
siga ou não siga. No Brasil, alguns feriados de importância para o cristianismo são respeitados, em tribunais e câmaras de vereadores se afixam crucifixos e a festa junina recebe o
nome de um santo, São João. Isso não faz do Brasil um país religioso nem muito menos um
país racista, independentemente de poder existir racismo por outros motivos e de muitas
pessoas serem contrárias mesmo a essas pequenas ligações entre Estado e religião.
O Estado de Israel, embora respeite o dia semanal do descanso (Shabat) e algumas regras
sobre alimentação e as festas religiosas judaicas, é um país que garante plena liberdade religiosa e de culto, diferentemente de alguns países muçulmanos (nem todos), que impõem
a Sharia (lei islâmica).
4 Seguem trechos da Declaração de Independência de Israel:
“A terra de Israel é o local de origem do povo judeu. Aqui a sua identidade espiritual, política e religiosa foi moldada. Aqui eles primeiro atingiram a formação de um Estado, criaram valores culturais de significância nacional
e universal e deram ao mundo o eterno Livro dos Livros. Depois de serem forçosamente exilados de sua terra, o
povo conservou consigo sua fé durante sua Dispersão e nunca deixou de rezar e sonhar com o retorno para sua
terra e com a restauração, lá, de sua liberdade política.
[...]
Este é o direito natural de o povo judeu ser mestre de seu próprio destino, como todas as outras nações, em seu
próprio Estado soberano.
[...] por virtude de nossos direitos naturais e históricos e pela força da resolução da Assembleia Geral das Nações
Unidas, aqui declaramos o estabelecimento do Estado judeu em Eretz-Israel, a ser conhecido como Estado de
Israel.
O Estado de Israel [...] patrocinará o desenvolvimento do país para o benefício de todos os seus habitantes; será
baseado na liberdade, justiça e paz como imaginado pelos profetas de Israel; garantirá liberdade de religião, consciência, língua, educação e cultura; respeitará os lugares sagrados de todas as religiões; e será fiel aos princípios
da Ata das Nações Unidas.
O Estado de Israel está preparado para cooperar com agências e representantes das Nações Unidas a implementar
a resolução da Assembleia Geral de 29 de novembro de 1947 [...].
[...]
Nós fazemos um apelo – em meio ao duro ataque lançado contra nós há meses – aos habitantes árabes do Estado
de Israel para manter a paz e participar da construção do Estado na base de igual e completa cidadania e através
de representação em todas as suas instituições provisórias e permanentes.
Nós estendemos nossa mão a todos os Estados vizinhos e seus povos, numa oferta de paz e boa vizinhança, e
apelamos a eles para o estabelecimento de laços de cooperação e ajuda mútua com o soberano povo judeu, estabelecido em sua própria terra. O Estado de Israel está preparado para fazer a sua parte em um esforço comum
para o desenvolvimento de todo o Oriente Médio.
[...]”
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SOLUÇÃO PARA A PAZ: DOIS ESTADOS PARA DOIS POVOS
ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO
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SOLUÇÃO PARA A PAZ
Presença da religião na Constituição de países cujo maior
grupo religioso é o muçulmano
Da mesma forma que no Brasil, em Israel as minorias integram-se à vida nacional com
todos os direitos. Israel abriga ampla minoria de 20% da população com cidadania israelense sendo árabe. Esses árabes com cidadania israelense pertencem às famílias que permaneceram em território israelense no contexto de criação do Estado de Israel e seus descendentes.
Um quinto, ou seja, 20% dos cidadãos de Israel, é árabe, e a bancada árabe no Parlamento,
bastante volumosa, influencia com grande peso as decisões.
Em termos comparativos, existem 45 países do mundo com maioria muçulmana; em
35 deles mais de 80% da população é muçulmana, atingindo mais de 95% em 21. Em
boa parte desses países, os judeus são ou perseguidos ou tolerados como dhimmis, ou seja,
cidadãos de segunda classe com menos direitos e mais deveres do que os muçulmanos.
Além de Israel, não existe nenhum país no mundo que chegue sequer a 2% de população
judaica.
A ideia de um Estado binacional hoje não recebe apoio de nenhuma parcela significativa
nem da população judaica nem da palestina. Quase sempre a proposta de um único Estado
para dois povos é defendida somente por pessoas que não vivem lá, pois quem vive lá não
quer isso. A proposta de um único Estado para dois povos não é colocada nem pela coalizão
do governo de Israel, nem por nenhum dos principais partidos políticos palestinos, que são
o Fatah e o Hamas, nem pelos grupos extremistas de nenhum dos dois lados, nem pelos
países árabes. No entanto, a ideia de um único Estado para os dois povos circula com certa
frequência no Brasil.
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PAZ - Book AF.indb 80
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ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO
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O chamado “direito de retorno” palestino consiste na reivindicação de que Israel deveria
permitir o retorno de todos os palestinos que deixaram o território de Israel durante seu
processo de independência, concedendo-lhes cidadania israelense.
O direito de retorno equivaleria à solução de um Estado binacional, caso fosse criado apenas um Estado na Terra de Israel, o que já seria injusto, pelas razões expostas anteriormente.
No entanto, para aumentar a injustiça, muitos grupos alegam que se deveriam criar dois
Estados: um deles seria exclusivamente palestino e o outro, Israel, concederia direito de
retorno aos palestinos. Ou seja, trata-se de um projeto de dois Estados no qual, além de ser
criado um Estado palestino, o Estado de Israel se tornaria binacional.
É muito importante frisar que a ideia do direito de retorno na solução de dois Estados
não consiste no direito dos palestinos de retornarem ao Estado palestino, mas sim dos palestinos de retornarem ao Estado de Israel. Por isso, alguns críticos chamam essa proposta de
“um Estado e meio” para os palestinos, que ficariam com 100% do próprio Estado e ainda
compartilhariam do Estado vizinho.
Outra questão a considerar é o direito de retorno ou de compensação para os judeus que
foram expulsos de países da Liga Árabe, totalizando, na época, cerca de 840 mil pessoas5. O
retorno desses judeus, mesmo se aceitassem, não alteraria o perfil das sociedades dos países
de sua origem nem de seus sistemas de governo existentes.
Indo ainda mais fundo, no entanto, devemos nos lembrar da demografia. Assim, chamar
essa solução de “um Estado e meio” seria ainda irreal, pois suporia condições de igualdade
entre judeus e palestinos no Estado de Israel. Pelo que já foi apresentado, todavia, ficou claro
que seria provável que em pouco tempo o Estado de Israel se tornasse também um país de
maioria palestina.
Portanto, seria “dois Estados de maioria palestina” a expressão que melhor descreveria
as consequências práticas do projeto de dois Estados com direito de retorno palestino ao
Estado de Israel.
A reivindicação do direito de retorno dos palestinos ao Estado de Israel é um seriíssimo entrave à paz, pois isso eliminaria a ideia de partilha, descaracterizando o Estado de Israel como
lar nacional judaico. Na proposta de um Estado palestino mais um Estado de Israel descaracterizado pelo direito de retorno palestino a seu território, a definição de Israel como Estado
judeu e democrático ficaria impossível, uma vez que os palestinos seriam maioria da população, de tal forma que o Estado só poderia se manter judaico se deixasse de ser democrático, o
que seria inconcebível, deixando, assim, de ser judaico. Os palestinos ficariam, portanto, com
dois Estados para seu povo.
A solução coerente com a filosofia de dois Estados para dois povos inclui frequentemente
indenizações para os palestinos que perderam suas casas. Com essa indenização, eles poderiam
construir uma bela casa e prosperar no país palestino, mas não teriam o direito de retornar ao
local original que habitavam no passado caso este passasse a pertencer ao Estado de Israel.
5 http://www.judeusdospaisesarabes.com.br.
SOLUÇÃO PARA A PAZ: DOIS ESTADOS PARA DOIS POVOS
A reivindicação de um direito de retorno palestino:
grande entrave para a paz
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PAZ - Book AF.indb 81
01.06.09 15:02:22
SOLUÇÃO PARA A PAZ
É muito importante estarmos atentos a esse “detalhe”. Alguns grupos árabes dizem que
“reconhecem, sim”, o direito de existir de Israel e a solução de dois Estados. No entanto,
muitos deles reivindicam o direito de retorno dos palestinos ao território israelense, com
cidadania israelense; portanto, seu reconhecimento do direito de existir de Israel é apenas
fachada, já que, se concedido o direito de retorno tal como eles reivindicam, seu projeto
implica manter somente Estados de maioria árabe-muçulmana no Oriente Médio.
As negociações entre Israel e a Autoridade Nacional Palestina-ANP fracassaram no ano
2000 principalmente pelo fato de os palestinos terem insistido em seu direito de retorno ao
território de Israel (embora tenha havido também outras razões), apesar de 95% das solicitações territoriais terem sido aceitas por Israel.
De 1993 a 1995, o líder da Organização para a Libertação da Palestina-OLP, Yasser Arafat,
firmou com Israel os acordos de Oslo, reconhecendo o direito de existir de Israel e aceitando uma solução com dois Estados. Como decorrência desses acordos, houve cinco anos de
relativa paz entre palestinos e israelenses e a construção dos alicerces do Estado palestino,
com a fundação da Autoridade Nacional Palestina (espécie de presidência da república palestina que estava ainda sendo criada) e a transferência gradual do controle dos territórios
palestinos para ela.
No entanto, em 2000, na hora de detalhar como funcionaria a solução de dois Estados,
Arafat, na época presidente da ANP, insistiu no direito de retorno dos palestinos ao Estado
judeu, destruindo, assim, o processo de paz e levando a uma nova onda de conflitos (chamada de Segunda Intifada), e, em razão dessa sua insistência, até hoje não pôde ser criado o
Estado palestino, que melhoraria muito a vida dos palestinos.6
Apenas na Conferência de Anápolis, realizada em 2007 com a presença do Brasil, após o
falecimento de Arafat, a Autoridade Nacional Palestina aceitou conversar sobre a possibilidade de concordar com a existência de Israel com maioria judaica convivendo em paz ao lado
do Estado palestino, ou seja, aceitou conversar sobre a possibilidade de trocar o direito de
retorno por alguma forma de compensação.
No entanto, não há ainda consenso tranquilo sobre a questão, proliferando documentários, cartazes, cartas e documentos em que palestinos continuam insistindo no direito de
retorno ao Estado de Israel, com cidadania israelense e não palestina.
6 Veja histórico detalhado da busca de Israel pela paz no livro A Busca de Israel pela Paz, disponível gratuitamente em:
http://www.ajc.org/atf/cf/%7B42D75369-D582-4380-8395-D25925B85EAF%7D/A_Busca_de_Israel_pela_
Paz_2007.
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PAZ - Book AF.indb 82
01.06.09 15:02:22
ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO
A Figura 3a mostra a aparência mais superficial da divisão entre dois Estados com
direito de retorno palestino a Israel. Nessa
representação ingênua, Israel é desenhado
como se fosse continuar como Estado judeu.
Essa figura é idêntica à Figura 1, exceto pelo
ponto de interrogação na legenda.
A Figura 3b mostra que no projeto de
retorno palestino a Israel, Israel tornar-se-ia
um Estado binacional, enquanto os palestinos teriam um Estado somente deles constituído na Faixa de Gaza e na Cisjordânia.
Figura 3b – Projeto de dois Estados
com direito de retorno dos
palestinos a Israel – versão otimista
SOLUÇÃO PARA A PAZ: DOIS ESTADOS PARA DOIS POVOS
Figura 3a – Projeto de dois Estados
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SOLUÇÃO PARA A PAZ
Por fim, a Figura 3c revela as consequências práticas do projeto de constituição de
dois Estados com direito de retorno dos palestinos a Israel. O nome “Israel” não aparece
no mapa nem na legenda, pois provavelmente seria trocado pela maioria árabe do país.
Projeto de três Estados
Existe uma proposta, hoje em desuso,
conhecida como “solução de três Estados”,
que dá conta da descontinuidade territorial,
propondo que Gaza fique controlada pelo
Egito, e a Cisjordânia, pela Jordânia, que são
países árabes, tendo a Jordânia sido criada
em 1946, ou seja, mais ou menos na mesFigura 3c – Consequência do
ma época que Israel, ficando com 70% do
projeto de dois Estados com direito território que correspondia à Palestina, sob
de retorno dos palestinos a Israel
Mandato Britânico.
Note-se que, nessa solução, os três Estados seriam Israel, Jordânia e Egito, isto é, não
se criaria um Estado palestino. A chamada
“solução de três Estados”, hoje muito pouco aceita por qualquer grupo, considera que
não existiria um povo palestino, mas sim
que, em vez disso, sua identidade seria simplesmente árabe, não importando em qual
Estado os palestinos ficariam, desde que fosse um Estado árabe, ou seja, um Estado árabe
não necessariamente apenas palestino, e não
necessariamente o mesmo Estado incluiria
tanto a Faixa de Gaza como a Cisjordânia.
A solução de três Estados fazia mais sentido algumas décadas atrás, lembrando que foi
a Jordânia, e não Israel, que ocupou a Cisjordânia entre 1949 e 1967, e que foi o Egito e
não Israel que ocupou Gaza durante aqueles
mesmos anos. Se Jordânia e Egito tivessem
tido interesse, ou se houvesse reivindicação
dos palestinos nesse sentido naquela época, o
Estado palestino poderia ter sido criado pelo
Egito e pela Jordânia a qualquer tempo.
Hoje em dia, a situação é inversa: não parece haver interesse do Egito e da Jordânia de
receberem como cidadãos os palestinos da
Faixa de Gaza e da Cisjordânia, e existe um
movimento organizado entre os palestinos
pela criação de um Estado palestino. Por essas razões, atualmente muito pouco se ouve
falar dessa proposta de anexar Gaza ao Egito
e a Cisjordânia à Jordânia.
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ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO
7
Outra solução de três Estados – um deles um Estado de maioria judaica (Israel) e dois
Estados palestinos independentes, um em Gaza e outro na Cisjordânia – apenas começou a
ser colocada publicamente em 2009, quando o Fatah acusou o Hamas de querer promover
um separatismo na Palestina, ou seja, tornar Gaza e Cisjordânia independentes uma da outra, de tal forma que o Hamas ficasse com o controle sobre a Faixa de Gaza e o Fatah com o
controle sobre a Cisjordânia, perenizando o que vem ocorrendo.
Hoje o Fatah governa na Cisjordânia e o Hamas, em Gaza. Tal divisão resultou do acordo de
paz entre os dois partidos posterior à onda de violência causada pelo Hamas, que perseguiu a
oposição assim que venceu as últimas eleições, em 2005. O presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, do Fatah, afirma que não aceita qualquer separatismo7.
As soluções de um Estado para somente um dos povos apenas podem ser realizadas por
meio de uma guerra total e não de negociações pacíficas, pois implicam que o outro povo
interessado no mesmo território seja eliminado ou expulso.
Essas soluções são defendidas por radicais extremistas dos dois lados, geralmente motivados por um fundamentalismo religioso, mas em alguns casos também por pessoas não
muito religiosas. Do lado israelense, existem radicais que têm uma interpretação fundamentalista da Torá (cinco livros de Moisés, do Antigo Testamento), considerando que toda a Terra
de Israel foi prometida por Deus ao povo hebreu. Eles utilizam a expressão “Grande Israel”
para designar o território que consideram deveria ser o do Estado de Israel, que englobaria
também a Cisjordânia e a Faixa de Gaza.
É preciso não perder de vista as dimensões reais dos territórios em questão. O Estado de
Israel tem hoje 20.700 km2, sendo menor do que o Estado de Sergipe, e pode ser percorrido
de ponta a ponta em nove horas, de carro, sendo circundado por países árabes, com mais
de 7 milhões de km2.
Portanto, para os judeus europeus do século XIX e início do XX, era compreensível o
pensamento sobre a Grande Israel, pois não conheciam bem quem habitava a região, muitos
acreditando que ela era pouco habitada e não estava ainda dividida da forma como o foi a
partir da Primeira Guerra Mundial, de tal modo que não existia uma identidade palestina
como foi se formando no processo de separação entre os países árabes da região. Ou seja,
uma divisão da terra em países árabes ou país árabe e país judeu justificaria que o minúsculo
Israel, mesmo que “Grande” ainda sendo pequeno, pudesse ficar para um povo, enquanto
todo o resto do Oriente Médio ficaria sob controle árabe.
Já hoje em dia o pensamento sobre a Grande Israel perde adesão entre a grande maioria dos
judeus, tanto por razões pacifistas negociais históricas, baseadas no princípio de abrir mão de
terras em troca de paz, como já ocorreu com a Jordânia e o Egito, quanto pelo fato de não se
desejar incorporar uma maioria não judaica com cidadania israelense, nem se desejar criar
cidadãos de segunda classe (algo análogo, por exemplo, aos dhimmis do mundo muçulmano).
Como os palestinos são discriminados pelos países árabes vizinhos, não sendo aceitos por eles
em seu território com cidadania, a solução real é que venham a constituir o próprio Estado.
7 Veja notícia da denúncia do Fatah de que o Hamas deseja promover separatismo na Palestina em:
http://www.estadao.com.br/internacional/not_int311272,0.htm.
SOLUÇÃO PARA A PAZ: DOIS ESTADOS PARA DOIS POVOS
C) Projetos de um Estado para somente um povo
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SOLUÇÃO PARA A PAZ
O fato é que tais radicais hoje são ínfima minoria em Israel. Desde a Declaração de Independência, Israel já afirmou seu compromisso com a Partilha da Palestina. Nos acordos de
Oslo, a intenção de promover dois Estados para dois povos foi reafirmada, e Israel começou
a tomar os passos nessa direção. Em 2005, como forma de promover a paz, Israel decidiu
entregar a Faixa de Gaza ao controle palestino, desmantelando todas as colônias israelenses
que haviam sido estabelecidas nela.
O problema foi que, assim que Israel tomou essas medidas em favor da constituição do
Estado palestino, a população palestina elegeu o partido Hamas, que tem como bandeira
de luta a destruição do Estado de Israel, ou seja, fundar um Estado islâmico em toda a Terra
de Israel. Assim que empossado, o Hamas começou a perseguir, prender, torturar e matar
membros do partido de oposição Fatah pelo fato de ele ser atualmente favorável a firmar a
paz com Israel por meio de uma solução de dois Estados para dois povos. Israel estabeleceu um bloqueio econômico e logístico para impedir que armas e dinheiro chegassem ao
Hamas, enquanto este constantemente lançava, contra o sul de Israel, mísseis cada vez mais
sofisticados, de maior alcance.
Grupos terroristas fundamentalistas como o Hamas, o Hezbollah e a Jihad Islâmica são
os mais famosos na luta pela criação de um Estado islâmico em toda a Terra de Israel. O Irã,
país que financia esses grupos terroristas, também defende a destruição do Estado de Israel
e faz propaganda para afirmar que não houve matanças de judeus durante a Segunda Guerra
Mundial.
As trágicas incursões das Forças de Defesa de Israel ao Líbano em 2006 e à Faixa de Gaza
na virada de 2008 para 2009 foram necessárias para combater, respectivamente, o Hezbollah e o Hamas, que havia anos estavam lançando mísseis contra a população civil em
Israel. Grupos como esses atrapalham as negociações entre os palestinos que desejam a paz e
Israel, impedindo a criação do Estado palestino que reconheça a legitimidade da existência
de Israel como Estado judeu.
Além disso, mentem, distorcem e obscurecem ao se fazerem de vítimas perante a imprensa. Durante a incursão ao Líbano, dezenas de fotos de supostas atrocidades que teriam
sido cometidas por Israel foram lançadas na mídia, o que um mês depois começou a se
revelar falso8. Em 2008, Israel foi acusado de bombardear uma escola da ONU em Gaza, e
novamente um mês depois a ONU confirmou que nunca existiu tal ataque9; já o Hamas,
sim, roubou alimentos da ajuda humanitária da ONU10. O Hamas mantém os palestinos
na miséria, como forma de conseguir apoio ao oferecer uma alternativa radical e distribuir
cestas básicas para o povo.
A luta desses grupos não é apenas contra Israel e contra os judeus, mas também contra
todas as pessoas que não seguem a religião islâmica de maneira estrita. Os grupos fundamentalistas islâmicos são contrários ao estilo de vida “ocidental”, desejando instalar a Sharia (lei muçulmana), e cultuam o suicídio como forma de atingir seus objetivos políticos
e encontrar lugar no paraíso pós-morte. Grupos fundamentalistas islâmicos promoveram
um atentado a bomba na Argentina, derrubaram prédios comerciais com aviões nos Estados
Unidos (o famoso “11 de Setembro”), explodiram o metrô lotado de passageiros em Ma8 Veja exemplos de fotos falsas usadas na mídia para exagerar e distorcer fatos sobre os contra-ataques israelenses
contra grupos extremistas islâmicos que usam civis como escudos humanos em: http://www.maozisrael.com.
br/shira/especial/Informativo_Setembro.pdf.
9 http://www.haaretz.com/hasen/spages/1061189.html.
10 http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/02/090204_gaza_consfisco_rc.shtml.
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dri, na Espanha, e mataram dezenas de inocentes em ações em Mumbai, na Índia, em 2008,
apenas para dar alguns exemplos. Será que o Brasil será alvo? Há denúncias de que existe em
operação um campo de treinamento terrorista na região da Tríplice Fronteira para promover
atentados sobretudo no Brasil e na Argentina. Cabe aos governos da região tomarem as medidas em tempo, investigando e atuando para evitar ações terroristas islâmicas.
Observe o contraste entre a Declaração de Independência de Israel, citada em nota de
rodapé, e a carta constitutiva (estatuto) do Hamas, cujo artigo 7.º dispõe: “O dia do juízo
final não virá até que os muçulmanos lutem contra os judeus (matando os judeus), quando
os judeus se esconderão atrás de pedras e árvores. As pedras e árvores dirão ó, muçulmanos,
ó Abdullah, tem um judeu atrás de mim, venha e mate-o...”.
Infelizmente, existem fanáticos no mundo inteiro que defendem a destruição do Estado
de Israel. Alguns deles são muçulmanos fundamentalistas; outros, grupos socialistas com
uma interpretação equivocada da situação, que pensam que apoiar os interesses do fundamentalismo islâmico contribuiria para o enfraquecimento do sistema capitalista global.
A existência de tantas pessoas contra Israel e contra os judeus somente reforça a necessidade de um lar nacional judaico que possa servir de abrigo e proteção contra as pessoas que
odeiam e desejam destruir os judeus e/ou impedi-los de realizar seus direitos humanos,
como o direito à autodeterminação.
Veja, por exemplo, foto de uma manifestação realizada no Masp, em São Paulo, em 11 de
janeiro de 2009, na qual militantes árabes e grupos políticos extremistas brasileiros reivindicam a destruição do Estado de Israel queimando bandeiras do país, em:
http://noticias.uol.com.br/album/090111protestos_album.jhtm?abrefoto=14.
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SOLUÇÃO PARA A PAZ: DOIS ESTADOS PARA DOIS POVOS
ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO
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SOLUÇÃO PARA A PAZ
A importância da educação
Muito do extremismo que causa o conflito na região do Oriente Médio tem origem na
educação, pela qual se transmite o ódio às novas gerações. A constituição de dois Estados para
dois povos é condição necessária para a paz, mas
não suficiente. Podem bem existir dois Estados
sob constante tensão, como foi o relacionamento entre Israel e seus vizinhos árabes até
pelo menos 1978. Outra condição necessária
para a paz é que se eduquem as crianças para
cultivá-la. Com a divisão territorial em dois
Estados que respeitem cada um o modo de ser
de seus respectivos povos e uma educação para
a paz, teremos as condições suficientes para o
desenvolvimento de uma paz duradoura.
Os princípios judaico-cristãos pregam a
valorização da vida e o amor ao próximo. No
entanto, segundo interpretações literais do
Corão, o livro sagrado muçulmano, é dever
de todo muçulmano lutar pelo que chamam
de “guerra santa” (jihad, em árabe), que é o
esforço por converter o mundo todo ao Islã e
matar quem não aceitar se converter. Existem
também interpretações do Corão que veem
nele uma mensagem de amor e harmonia com
outros povos, mas têm crescido os adeptos da
interpretação que vê no livro um chamado para
a guerra total. Grupos como o Hamas, o Hezbollah e a Jihad Islâmica utilizam-se de escudos
humanos nas guerras, ou seja, escondem-se
em meio à população civil para causar o maior
número de notícias na mídia sobre mortes de
palestinos e treinam terroristas para cometer
atentados suicidas. Muitas crianças palestinas
são desde cedo doutrinadas a odiar Israel e os
judeus e a realizar treinamentos militares11.
11 Veja vídeo sobre treinamento das crianças palestinas pelo Hamas em:
http://www.youtube.com/watch?v=TkwthDpeZWk.
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O ratinho Farfour ensina às crianças que se deve atirar com metralhadoras contra Israel e os
judeus, no episódio número 103 do programa Os Pioneiros do Amanhã, exibido na emissora
Al-Aqsa, a TV do Hamas.
O Hamas, partido político palestino, classificado como organização terrorista, que causou a incursão de Israel em Gaza, possui um canal de televisão em que exibe programas
infantis, além de usar a internet e uma revista na Grã-Bretanha, para ensinar às crianças o
ódio aos judeus e glorificar o terrorismo com ataques suicidas. Em um desses programas,
chamado Os Pioneiros do Amanhã, o personagem Farfour, um ratinho muito semelhante ao Mickey Mouse, ensina à criançada que se deve morrer combatendo os judeus como forma de
obter o paraíso após a morte para si e para toda a família do suicida.
Em Israel, algumas iniciativas educacionais reúnem crianças judias e palestinas para que
cresçam em paz. Esse é o caminho que deve ser incentivado.
No Brasil, é muito importante promover uma educação em prol da tolerância e amizade
entre os dois povos, sendo imprescindível transmitir informações corretas sobre a realidade
e a história.
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SOLUÇÃO PARA A PAZ: DOIS ESTADOS PARA DOIS POVOS
ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO
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SOLUÇÃO PARA A PAZ
O exemplo brasileiro
Judeus e árabes tradicionalmente se deram bem no Brasil, sejam os árabes cristãos, sejam
muçulmanos. Aqui, é comum a amizade entre pessoas dessas duas origens, motivo pelo qual se
costuma dizer que o Brasil dá ao mundo um exemplo de tolerância, convivência e amizade.
Representantes das comunidades judaica e muçulmana enfatizam a necessidade de não
“importar o conflito”, isto é, trazer a violência para dentro do país.
No Brasil, líderes de várias religiões publicaram em janeiro de 2009 uma nova declaração
pela paz:
LÍDERES RELIGIOSOS REAFIRMAM
COMPROMISSO COM A PAZ
Preocupados com a crescente escalada do conflito no Oriente Médio, nós,
líderes religiosos, unimo-nos para pedir o estabelecimento e a manutenção da
paz na região.
Reafirmamos nossa opção pelo diálogo entre as partes como caminho para a
solução do conflito.
No Brasil, os representantes das diferentes comunidades contam com um canal
permanentemente aberto de conversação. Desejamos que a relação fraterna entre
povos de diferentes credos e culturas que se desenvolveu com mais intensidade
nas últimas décadas em solo brasileiro se fortaleça, cada vez mais, e sirva de
inspiração para outras sociedades ameaçadas em sua convivência pacífica.
Com desejos de Paz, Salam e Shalom!
Dom Raymundo Damasceno Assis – Presidente do Conselho Episcopal
Latino-Americano
Padre José Bizon – Casa da Reconciliação
Armando Hussein Saleh – Xeque Missionário pela Paz Mundial
Bayram Dagdeviren – Comunidade Turca no Brasil
Ruben Sternschein e Michel Schlesinger – Rabinos da Congregação
Israelita Paulista
Monja Coen – Comunidade Zen Budista
Reverendo Gustavo Alberto C. Pinto – Monge Budista da Tradição Terra Pura
Iya Sandra Epega – Sacerdotisa da Tradição de Orixá
No entanto, infelizmente, há motivos para preocupação, pois recentemente alguns grupos que se dizem “pró-palestinos”, em vez de reivindicar a construção de um Estado palestino que conviva em paz com Israel, têm pregado o ódio contra Israel e os judeus no Brasil.
Além de divulgarem fatos distorcidos e fazerem demonstrações com cartazes com frases em
favor da violência, eles vêm praticando vandalismos contra sinagogas (templo religioso judaico), como os que ocorreram em Campinas e Santo André em 2006 e em Passo Fundo em
2009. Traz grande perigo o campo de treinamento de terroristas que foi montado na região
da Tríplice Fronteira, para promover ataques principalmente no Brasil e na Argentina.
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ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO
7
Bibliografia sugerida
Livros
BARD, Mitchell G. Mitos e Fatos – A verdade sobre o conflito árabe-israelense. São Paulo: Sêfer,
2004. Disponível em: http://www.scribd.com/doc/4902428/MITOS-E-FATOS-Mitchell-G-Bard.
COMITÊ JUDAICO AMERICANO. A Busca de Israel pela Paz, 2007. Disponível gratuitamente em:
http://www.ajc.org/atf/cf/%7B42D75369-D582-4380-8395-D25925B85EAF%7D/A_Busca_de_
Israel_pela_Paz_2007.pdf.
DERSHOWITZ, Alan. Em Defesa de Israel. São Paulo: Nobel, 2004.
GODGRUB, Franklin Winston. O Antissionismo: de esquerda, direita, liberal, islâmico. São Paulo:
Samizdat, 2008.
KAMEL, Ali. Sobre o Islã – A afinidade entre muçulmanos, judeus e cristãos e as origens do
terrorismo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007.
Dossiê sobre fotos falsificadas veiculadas durante a incursão de Israel ao Líbano em 2006
SORKO-RAM, Shira. “Fotos do Líbano: uma grande farsa montada”. Maoz Israel, Elul-Tishrei
5766-5767, 2006. Disponível gratuitamente em: http://www.maozisrael.com.br/shira/especial/
Informativo_Setembro.pdf.
Artigo em espanhol
DÉS, Mihály. “El antisemitismo posmoderno”. Lateral Revista de Cultura, n. 107, nov.
2003. Disponível gratuitamente em: http://www.circulolateral.com/revista/revista/editorial/
107antisemitismo.html.
Revista semanal
Revista Shalom (http://www.revistashalom.com.br)
Sites
Em português:
http://blogandodeisrael.blogspot.com
http://etnografianovirtual.blogspot.com
http://namiradohamas.blogspot.com
http://netjudaica.blogspot.com
http://veja.abril.com.br/blogs/reinaldo
http://www.bnai-brith.com.br
http://www.deolhonamidia.org.br
http://www.jornalalef.com.br
http://www.owurman.com/blog
http://www.pletz.com
http://www.visaojudaica.com.br
Em inglês:
http://jta.org
http://www.adl.org
http://www.bnaibrith.org
http://www.imra.org.il
http://www.israelnationanews.com
http://www.israelpolitik.org
http://www.jpost.com
http://www.pmw.org.il
http://www.wiesenthal.com
http://www.youtube.com/user/idfnadesk
Eric Calderoni Doutor em Psicologia Social, é diretor de projetos do Instituto Brasil Ambiente, professor da
Universidade Anhembi-Morumbi, pesquisador do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Trabalho e Ação Social
da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e membro da Comissão Nacional de Direitos Humanos da
Associação Beneficente e Cultural B’nai B’rith do Brasil. Colaboraram para a confecção deste capítulo o coordenador
e os demais autores desta obra, além de Wolf Ejzenberg, Daniel Douek e José Calderoni, que contribuíram para
a revisão de versões anteriores do texto. Agradecimento especial a Roberta Zrycki pela assistência administrativa.
SOLUÇÃO PARA A PAZ: DOIS ESTADOS PARA DOIS POVOS
Filme
A Lista de Schindler. Direção: Steven Spielberg. Estados Unidos, 1993. 195 min.
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Lia Bergmann
CAPÍTULO
8
LINHA DO TEMPO: TERRA DE
ISRAEL E PRINCIPAIS EVENTOS
MUNDIAIS
Séculos XVII-VI a.C. – Época bíblica
Século XVII a.C.
O patriarca do povo judeu, Abraão, cria o monoteísmo, crença em um Deus único,
e se estabelece na Terra de Israel. A fome força os israelitas a emigrar para o Egito.
Século XIII a.C.
Êxodo dos israelitas (hebreus ou judeus), que deixam o Egito, conduzidos por
Moisés, e vagam no deserto durante quarenta anos.
Moisés recebe os Dez Mandamentos, no Monte Sinai.
Século XIII-XII a.C.
Os israelitas retornam à Terra de Israel.
1020 a.C.
A monarquia judaica é estabelecida; Saul é o primeiro rei.
1000 a.C.
Jerusalém torna-se a capital do Reino de David.
960 a.C.
O Primeiro Templo, centro nacional e espiritual do povo judeu, é construído em
Jerusalém pelo rei Salomão.
930 a.C.
Divisão do reino: Judá e Israel.
722-720 a.C.
O Reino de Israel é destruído pelos assírios; dez tribos exiladas (as “Dez Tribos Perdidas”).
586 a.C.
O Reino de Judá é conquistado pela Babilônia. Jerusalém e o Primeiro Templo são
destruídos; maioria dos judeus exilada e escravizada.
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536-142 a.C. – Períodos persa e helenístico
538-515 a.C.
Muitos judeus retornam da Babilônia; o Templo é reconstruído.
332 a.C.
Alexandre Magno conquista o país; domínio helenístico.
166-160 a.C.
Revolta dos macabeus (Hasmoneus) contra as restrições à prática do judaísmo e a profanação
do Templo.
142-129 a.C.
Autonomia judaica sob a liderança dos Hasmoneus.
129-63 a.C.
Independência judaica sob a monarquia dos Hasmoneus.
63 a.C.
Jerusalém é capturada pelo general romano Pompeu.
63 a.C.-313 d.c. – Domínio romano
37 a.C.-4 d.C.
O rei Herodes, vassalo romano, governa a Terra de Israel. O Templo de Jerusalém é reformado.
66
Revolta dos judeus contra Roma.
70
Destruição de Jerusalém e do Segundo Templo. Início da Diáspora, dispersão dos judeus pelo
mundo.
73
Queda do último bastião da resistência judaica, em Massada.
LINHA DO TEMPO
20-33
Jesus de Nazaré prega o que mais tarde viria a ser o cristianismo.
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SOLUÇÃO PARA A PAZ
132-135
Revolta de Bar Kochba contra os romanos.
135
O imperador romano Adriano muda o nome da Judeia (a terra dos judeus, de Judá) para Palestina.
313-636 – Domínio bizantino
614
Invasão persa.
636-1099 – Domínio árabe
691
O Domo da Rocha é construído em Jerusalém pelo califa Abd el-Malik no local dos Templos
(Primeiro e Segundo).
1099-1291 – Domínio cruzado (Reino latino de
Jerusalém)
1291-1516 – Domínio mameluco
1492
Expulsão dos judeus da Espanha.
1536
Início da Inquisição em Portugal.
1517-1917 – Domínio otomano
1859
Extinção do Tribunal do Santo Ofício, pondo fim à Inquisição, que vigorou por mais de trezentos anos na Europa, perseguindo judeus e cristãos novos, inclusive no Brasil.
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ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO
8
1860
Primeiro bairro construído fora dos muros de Jerusalém.
1882-1903
Primeira Aliá (imigração para Israel, em grande escala), principalmente da Rússia.
1897
Primeiro Congresso Sionista, reunido por Theodor Herzl em Basileia, Suíça; fundação da
Organização Sionista.
1904-1914
Segunda Aliá, principalmente da Rússia e Polônia.
1909
Fundação de Degânia, o primeiro kibutz (comunidade agrícola de idelogia socialista), e
de Tel-Aviv, a primeira cidade moderna completamente judaica.
1914-1918
Primeira Guerra Mundial.
1917
Quatrocentos anos de domínio otomano chegam ao fim com a conquista britânica; Lord
Balfour, ministro de Relações Exteriores britânico, declara o apoio ao estabelecimento de
“um lar nacional judaico na Palestina”.
1918-1948 – Domínio britânico
1919-1923
Terceira Aliá, principalmente da Rússia.
1921
Fundação do primeiro moshav (comunidade agrícola), Nahalal.
1922
A Liga das Nações confia à Grã-Bretanha o Mandato sobre a Palestina (Terra de Israel); três
quartos da área são entregues à Transjordânia (atual Jordânia), deixando apenas um quarto para
o Lar Nacional Judaico.
Criação da Agência Judaica, representante da comunidade judaica diante das autoridades
do Mandato.
LINHA DO TEMPO
1920
Fundação da Histadrut (Federação Geral dos Trabalhadores) na Terra de Israel.
A comunidade judaica cria o Vaad Leumi (Conselho Nacional) para dirigir seus assuntos
internos.
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SOLUÇÃO PARA A PAZ
1924
Fundação do Technion, o primeiro instituto de tecnologia de Israel.
1924-1932
Quarta Aliá, principalmente da Polônia.
1925
Inauguração da Universidade Hebraica de Jerusalém, no Monte Scopus.
1929
Massacre dos judeus de Hebron por militantes árabes.
Quinta Aliá, principalmente da Alemanha.
1932
Independência da Arábia Saudita e do Iraque.
1935
A Pérsia passa a ser chamada de Irã.
1936-1939
Distúrbios antijudaicos na Palestina instigados por militantes árabes.
1939
O Livro Branco britânico limita drasticamente a imigração judaica.
1939-1945
Segunda Guerra Mundial; Holocausto na Europa, com a morte de 6 milhões de judeus pelo
nazismo, que perseguiu e assassinou também testemunhas de Jeová, ciganos, homossexuais,
presos políticos, deficientes, considerados “inferiores”.
1944
Formação da Brigada Judaica, como parte das forças britânicas que lutam contra o nazismo
na Segunda Guerra Mundial.
1945
Independência do Líbano. A República Libanesa havia sido criada em 1926.
1946
Criação do Reino Hashemita da Transjordânia, denominado em 1950 de Jordânia.
Independência da Síria.
1947
A ONU propõe o estabelecimento de dois Estados, um árabe e outro judeu, o que ficou
conhecido como a Partilha da Palestina.
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ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO
8
1948
Fim do Mandato Britânico e proclamação do Estado de Israel (14 de maio).
Invasão de Israel por cinco exércitos árabes (15 de maio).
Guerra da Independência (maio de 1948-julho de 1949).
Criação das Forças de Defesa de Israel (FDI).
1949
Assinatura de acordos de armistício com Egito, Jordânia, Síria e Líbano.
Jerusalém é dividida, sob domínio de Israel e da Jordânia.
Eleição do primeiro Knesset (Parlamento).
Israel é aceito como o 59.º membro da ONU.
1948-1952
Imigração em massa da Europa e dos países árabes.
1951
Independência da Líbia.
1956
Campanha do Sinai.
Independência do Sudão.
1961
Independência do Kuwait.
1962
Adolf Eichmann é julgado e executado em Israel por sua participação no Holocausto.
1964
Completado o Conduto Nacional, para trazer água do Lago Kineret, no norte, ao sul semiárido.
1967
Guerra dos Seis Dias; reunificação de Jerusalém.
1973
Guerra do Yom Kippur.
1975
Israel torna-se membro associado do Mercado Comum Europeu.
1977
O Likud forma o governo após as eleições para o Knesset; fim de 30 anos de governo trabalhista.
Visita do presidente egípcio Anwar Sadat a Jerusalém.
LINHA DO TEMPO
1968-1970
Guerra de Desgaste do Egito contra Israel.
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SOLUÇÃO PARA A PAZ
1978
Os acordos de Camp David apresentam as linhas gerais para uma paz abrangente no Oriente
Médio e uma proposta de autogoverno para os palestinos.
1979
Assinatura do Tratado de Paz Israel-Egito. O primeiro-ministro Menachem Begin e o presidente
Anwar Sadat são agraciados com o Prêmio Nobel da Paz.
1979
O aiatolá Khomeini promove a Revolução Islâmica no Irã, que passa a se chamar República Islâmica do Irã
1981
A Força Aérea israelense destrói o reator atômico do Iraque pouco antes de sua entrada em
operação.
1982
Completam-se as três etapas de retirada de Israel da Península do Sinai.
A Operação Paz para a Galileia expulsa do Líbano os terroristas da OLP (Organização para a
Libertação da Palestina).
1984
Formado um governo de unidade nacional (Likud e Trabalhista) após as eleições. Operação
Moisés: imigração dos judeus da Etiópia.
1985
Assinado o Acordo de Livre Comércio com os Estados Unidos.
1987
Distúrbios violentos e generalizados (Intifada) irrompem nas áreas administradas por Israel.
1988
Governo do Likud após as eleições.
1989
Israel propõe uma iniciativa de paz de quatro pontos.
Início da imigração em massa dos judeus da antiga União Soviética.
1990
Unificação do Iêmen.
1991
Israel é atacado por mísseis Scud do Iraque durante a Guerra do Golfo.
Reúne-se em Madri a Conferência de Paz para o Oriente Médio.
A Operação Salomão traz a Israel, por via aérea, mais judeus da Etiópia.
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ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO
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1992
Estabelecimento de relações diplomáticas com a China e a Índia.
1993
Israel e a OLP, representante do povo palestino, assinam a Declaração de Princípios sobre
os procedimentos do autogoverno interino para os palestinos.
Entre 1993 e 1995, nasce a Autoridade Nacional Palestina (ANP), chefiada por Yasser Arafat.
1994
Implementação do autogoverno palestino na Faixa de Gaza e na região de Jericó.
Plenas relações diplomáticas com a Santa Sé.
Marrocos e Tunísia estabelecem escritórios de representação de interesses.
Assinatura do Tratado de Paz Israel-Jordânia.
Yitzhak Rabin, Shimon Peres e Yasser Arafat são agraciados com o Prêmio Nobel da Paz.
1995
Ampliação do autogoverno palestino implementado na Margem Ocidental (Cisjordânia)
e na Faixa de Gaza; eleição do Conselho Palestino.
Assinatura dos segundos acordos de Oslo, pelo primeiro-ministro de Israel, Yitzhak Rabin, e pelo
presidente da OLP, Yasser Arafat, testemunhado pelo presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton.
Assassinato de Yitzhak Rabin, num comício em prol da paz. Shimon Peres torna-se o primeiro-ministro de Israel.
1996
Escalada do terrorismo árabe fundamentalista contra Israel.
Operação Vinhas da Ira, em retaliação aos ataques terroristas do Hezbollah ao norte de Israel.
O partido de direita Likud sobe ao poder após as eleições para o Knesset.
1997
Assinatura do Protocolo de Hebron entre Israel e a Autoridade Palestina.
Século XXI
2001
Em fevereiro, Ariel Sharon assume como primeiro-ministro de Israel, pelo Likud.
2002
Apresentação do Road Map (“mapa da estrada”), proposta de paz feita pelo “quarteto” –
Estados Unidos, União Europeia, Rússia e ONU –, com vários passos para a criação de um
Estado palestino independente.
LINHA DO TEMPO
2000
Visita do papa João Paulo II a Israel.
Início da Segunda Intifada.
Recrudescimento dos ataques terroristas em Israel, atingindo ônibus, escolas, restaurantes, entre
outros.
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SOLUÇÃO PARA A PAZ
2004
Morte de Yasser Arafat, presidente da ANP. Assume Mahmoud Abbas, do mesmo partido de
Arafat, Fatah (antiga OLP).
2005
O grupo terrorista Hamas (Movimento de Resistência Islâmico), que não aceita a existência do
Estado de Israel, ganha as eleições da ANP e Ismail Haniyeh assume como primeiro-ministro.
Abbas continua sendo presidente.
Fundação do partido Kadima (de centro) por Ariel Sharon, em Israel.
Decretada a Lei de Implementação do Plano de Retirada, para remover todas as colônias israelenses da Faixa de Gaza e quatro no norte da Cisjordânia. Em 12 de setembro, não há mais nenhum judeu na Faixa de Gaza. A saída unilateral é vista como forma de chegar mais rapidamente
à paz com os palestinos.
2006
Ariel Sharon sofre um derrame cerebral (AVC) e entra em coma.
Ehud Olmert assume como primeiro-ministro de Israel.
Sequestro de soldados israelenses pelo Hamas e pelo Hezbollah, que invadiu o território israelense.
Israel lança operação no Líbano para diminuir capacidade de fogo do Hezbollah, que atua em
meio aos civis.
2007
Crescente tensão entre partidários do Fatah e do Hamas leva à criação de um governo de coalizão da Autoridade Nacional Palestina, na Cisjordânia e em Gaza. O Hamas assume o controle de
Gaza, após luta com o Fatah, impondo um governo fundamentalista sunita.
Realizada a Conferência de Anápolis, reunindo Estados Unidos, o governo de Israel e a Autoridade Palestina. O Brasil participa do encontro.
2008
Trégua de seis meses com o Hamas faz com que o lançamento de foguetes contra civis ao sul
de Israel diminua.
2008-2009
Depois de oito anos de ataques ininterruptos de mísseis por palestinos ao sul de Israel, que recrudescem com o domínio da Faixa de Gaza pelo Hamas, Israel lança uma ofensiva contra Gaza,
para neutralizar a ação do Hamas contra civis israelenses no sul do país.
2009
O Partido Likud assume o governo em Israel.
Lia Bergmann Formada em História pela Universidade de São Paulo e jornalista com pós-graduação pela Faculdade Cásper Líbero, Lia Bergmann é assessora de comunicação e de direitos humanos da B’nai B’rith do Brasil.
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Apoio
Fundação ARYMAX
Boris e Bella Wainstein
Raul Hacker
Loja Bertie Levi
Hanus Klinger
Loja David Ben Gurion
Loja Yehuda Halevi
Salomon Katz
Dr. Ronaldo Golcman
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Associação Beneficente e Cultural
B´nai B´rith do Brasil
2009
www.bnai-brith.org.br
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