Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada
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Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI Curso de Gestão e Prática de Obras de Conservação e Restauro do Patrimônio Cultural JOSÉ ANTÔNIO BOTELHO DE ARAUJO RELATÓRIO DE VISITA TÉCNICA O FUTURO DE NOSSAS CIDADES DO PASSADO São Luís 2013 2 Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI Curso de Gestão e Prática de Obras de Conservação e Restauro do Patrimônio Cultural RELATÓRIO DE VISITA TÉCNICA Aluno: José Antônio Botelho de Araujo Relatório das Visitas Técnicas apresentado ao Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada como parte do Módulo Presencial da 12º Edição do Curso de Gestão e Prática de Obras de Conservação e Restauro do Patrimônio Cultural Edificado. São Luís 2013 3 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 4 2 DESCRIÇÃO DAS VISITAS 4 2.1 IGARASSÚ – PE 4 2.1.1 IGREJA DOS SANTOS COSME E DAMIÃO 4 2.1.2 CONVENTO DE SANTO ANTONIO 6 2.1.3 CONVENTO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS 8 2.1.4 RUÍNAS DA MISERICÓRDIA 9 2.2 GOIANA - PE 10 2.2.1 IGREJA MATRIZ DE GOIANA 10 2.3 JOÃO PESSOA - PB 12 2.3.1 CONVENTO DE SÃO FRANCISCO 12 2.4 CABEDELO - PB 15 2.4.1 FORTALEZA DE SANTA CATARINA 15 2.5 LUCENA - PB 17 2.5.1 IGREJA DE NOSSA SENHORA DA GUIA 17 2.6 TIRADENTES - MG 19 2.6.1 IGREJA DE NOSSA SENHORA DAS MERCÊS 19 2.6.2 MATRIZ DE SANTO ANTÔNIO 20 2.7 SÃO JOÃO DEL REY - MG 22 2.7.1 ESTAÇÃO FERROVIÁRIA 22 2.8 CONGONHAS - MG 24 2.8.1 BASÍLICA DO BOM JESUS DE MATOSINHOS 24 2.8.2 IGREJA DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO 26 2.9 CACHOEIRA - MG 27 2.9.1 IGREJA DE NOSSA SENHORA DE NAZARÉ 27 3 CONCLUSÃO 29 4 INTRODUÇÃO Como parte do módulo presencial da 12ª Turma do Curso de Gestão e Prática de Obras de Conservação e Restauro do Patrimônio Cultural Edificado houve algumas visitas técnicas que são o objeto deste Relatório. Visitamos alguns monumentos em Igarassú e Goiana em Pernambuco, João Pessoa, Cabedelo e Lucena na Paraíba e as demais visitas ocorreram durante a viagem de estudos em Minas Gerais. As aulas do referido módulo começaram em Recife no dia 02 de novembro de 2012 e se estenderam até o dia 23 de novembro, neste período em que tivemos aula em Recife fomos a Igarassú e Goiana no dia 10 (sábado) e fomos a João Pessoa, Cabedelo e Lucena no dia 17 (sábado). Chegamos a Belo Horizonte no dia 25 e começamos a nossa viagem de estudos pelas cidades mineiras no dia 26 e encerramos esta viagem e o módulo presencial no dia 30 de novembro. Decidi fazer um único relatório com todas as visitas com a pretensão de fazer uma única conclusão contemplando todas as visitas. A sequência abaixo é a descrição destas visitas por cidades e monumentos. 2 DESCRIÇÃO DAS VISITAS 2.1 IGARASSÚ – PE 2.1.1 Igreja dos Santos Cosme e Damião Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI José Antônio Botelho de Araújo 5 Esta é uma das mais antigas do Brasil. Erguida no ano de 1535 e durante o período da invasão holandesa foi depredada e reconstruída em 1654. É um monumento neoclassizado. Após uma restauração no ano de 1950, em que o monumento ficou mais Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI José Antônio Botelho de Araújo 6 próximo das características iniciais foi tombado pelo IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em 1951. Nesta reforma feita pelo Iphan, as cantarias foram valorizadas, ou seja, desnudadas. O piso é em tijoleiras, mas estas se encontram assentadas com argamassa de cimento. Depois deste restauro já passou por uma grande intervenção no telhado assim como para a implantação de um sistema de segurança onde foram instalados sensores e câmaras, onde para este serviço o reboco foi rasgado para a colocação das tubulações. Nos anos 70, o Iphan utilizou um tipo de impermeabilizante sobre as cantarias e isto além de causar uma alteração cromática nas pedras, tornando-as acinzentadas, maximizou ainda mais as patologias já existentes. Todos os torneados de madeira dos púlpitos foram praticamente refeitos. 2.1.2 Convento de Santo Antônio Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI José Antônio Botelho de Araújo 7 Desde a primeira hora do IPHAN vem sofrendo grandes transformações. Na década de 1980 passou por uma obra que durou quase uma década e em seguida recebeu outras intervenções na azulejaria e cantaria. Como no monumento anterior parte das instalações elétricas foi embutida nas alvenarias. Apesar das cantarias serem autênticas este monumento não apresenta outros elementos autênticos. As ferragens das portas, as tijoleiras e o reboco foram todos mexidos e as escadas foram refeitas em cantaria. Na sacristia, a intervenção nos azulejos foi feita nos anos 90 por Roberto Carneiro que de forma sábia, nas partes faltantes, demarcou a área de cada peça de azulejo sobre argamassa de cal e areia e no barramento da azulejaria utilizou um azulejo de outra cor (amarelo). O piso de tijoleira também foi refeito com rejunte de cimento. No andar da pinacoteca existiam alvenarias em taipa de pilão que dividiam os dormitórios, mas o IPHAN as retirou mantendo apenas algumas destas. Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI José Antônio Botelho de Araújo 8 2.1.3 Convento Sagrado Coração de Jesus Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI José Antônio Botelho de Araújo 9 O madeiramento da cobertura é autêntico (caibros roliços e ripas de imberiba). Forro canjicado. O piso da igreja não é autêntico, foi cimentado e os retábulos foram caiados. O térreo é todo em alvenaria de pedra ou tijolo e o piso superior é todo em taipa. É uma técnica construtiva do primeiro momento da colonização. 2.1.4 Ruínas da Misericórdia Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI José Antônio Botelho de Araújo 10 Necessita de um plano de conservação urgente. É um monumento importantíssimo, mas com sérios riscos de ser perdido se medidas urgentes não forem tomadas. A própria área das ruínas é contígua a outras construções, onde só se sabe onde uma começa e a outra termina pelo contraste entre as construções. 2.2 GOIANA – PE 2.2.1 Igreja Matriz de Goiana Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI José Antônio Botelho de Araújo 11 Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI José Antônio Botelho de Araújo 12 A obra de restauração desta igreja encontra-se paralisada e pelas informações que nos foi passado infelizmente ela deve permanecer assim por tempo indeterminado. O mais preocupante é que não está acabado, tudo está por fazer ou por concluir. Muita coisa desmontada, como retábulos, altares, arcos, colunas, etc. Um verdadeiro quebra cabeças. Muitas peças em madeira. Aparentemente parece tudo catalogado. 2.3 JOÃO PESSOA – PB 2.3.1 Convento de São Francisco Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI José Antônio Botelho de Araújo 13 Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI José Antônio Botelho de Araújo 14 Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI José Antônio Botelho de Araújo 15 Sofreu grande intervenção de Restauro entre 1976 e 1983. Percebe-se diferença na conservação entre o lado leste e oeste dos azulejos. Muitos danos nos azulejos são em decorrência de jatos d’água. Muitas peças da azulejaria externa sofreram com vandalismo e a restauração não usou técnicas tradicionais, usou resina. Os ladrilhos hidráulicos da entrada foram trocados na última restauração. O painel de azulejo do adro (o maior do Brasil) foi objeto de intervenção há quatro anos e foi utilizado o hxtal. O forro da Igreja, que na década de 70 tinha um nível de autenticidade muito grande já foi objeto de intervenção. É o melhor forro ilusionista existente no Brasil. Os painéis de azulejo interno não foram objeto de intervenção, pois ainda apresentam um bom estado de conservação. A intervenção nas pias de água benta foi feita por Mário Mendonça, o qual usou betonita para sugar o sal que tinha dentro do material, o Prof. Tinoco acredita que as lacunas existentes deveriam ter sido preenchidas com carbonato de cálcio, mas esse preenchimento não foi feito. Os púlpitos são os mais monumentais do Brasil. O telhado do claustro foi todo refeito, o original era em caibros roliços e no restauro colocaram tirantes para conter o esmagamento das colunas. Nesta visita o Prof. Tinoco chamou a nossa atenção para a identificação das tábuas novas do assoalho, as quais por serem serradas apresentam um “melhor” acabamento que as antigas. 2.4 CABEDELO – PB 2.4.1 Fortaleza de Santa Catarina Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI José Antônio Botelho de Araújo 16 Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI José Antônio Botelho de Araújo 17 Esta fortaleza é pós-invasão holandesa e foi um forte português dos anos 1700. Nos anos 1970 ocorreu uma grande intervenção (restauro) com reconstruções e utilizou mão de obra militar e carcerária. Atualmente a estrutura em pedra argamassada está aparente, mas originalmente possuía reboco que foi retirado durante esta intervenção com a intenção de mostrar a mais valia do monumento. Apresenta restaurações inclusive de concreto. Foi uma restauração que teve como orientação de restauro a Carta de Veneza (utilização de materiais diferentes). Todas as esquadrias e ferragens foram reconstituídas. O acesso ao forte que outrora ocorria através de uma ponte corrediça foi refeito em concreto. Na área interna ainda é possível encontrar pedras (isto é indício de outras construções) com a marcação do Cantel. Observa-se refazimento em concreto nas cantarias. A casa de pólvora apresenta certo nível de autenticidade com exceção do telhado que foi todo refeito. Em termos de patologia é uma construção em pedra com presença de alveolização, vegetação e sujidade. As tijoleiras da casa de pólvora estão assentadas na forma clássica, ou seja, faixa da tabeira, do cordão e assentamento central a 45º. Este piso sofreu intervenção de restauro estando assentadas em concreto magro. 2.5 – LUCENA – PB 2.5.1 Igreja de Nossa Senhora da Guia Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI José Antônio Botelho de Araújo 18 Teve a sua construção iniciada em fins do século XVI, passando depois por fases de reconstrução. Sua fundação é obra dos frades Carmelitas, religiosos que pertenciam à Ordem de Nossa Senhora do Carmo e chegaram a Paraíba em 1591. Feita em estilo denominado barroco tropical (é considerada a única no Brasil), o que tem de grande valor é a sua fachada com desenhos extravagantes, como as figuras popularmente Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI José Antônio Botelho de Araújo 19 conhecidas como “anjos deformados”. Há também, frutos tropicais, coroas, cetros, armas do Império Colonial Português, entre outros motivos, como uma caveira em pedra calcária. A ornamentação é bastante ingênua e esta é a sua grande característica. É um dos mais representativos monumentos da arquitetura colonial na Paraíba e é considerada a igreja que contém o maior altar construído em pedra calcária do Brasil. Todo o telhado foi restaurado. Lamentavelmente não conseguimos entrar no monumento, pois a pessoa que foi contatada para abrir a Igreja para nós não apareceu e apenas fizemos um passeio acompanhado pela explanação do Prof. Tinoco ao redor da Igreja. 2.6 – TIRADENTES – MG 2.6.1 Igreja de Nossa Senhora das Mercês Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI José Antônio Botelho de Araújo 20 Construída na segunda metade do século XVIII, a Igreja de Nossa Senhora das Mercês é representante do estilo rococó, que exibe pinturas, esculturas e adornos visualmente menos intensos do que as obras barrocas. O interior da igreja possui uma bela e dourada capela-mor, além de pinturas raras, com representações de santos e também de anjos que glorificam Nossa Senhora das Mercês. A fachada chama a atenção pela presença de um único sino. A igreja está passando por um processo de restauro que tem a duração prevista para um ano e quatro meses e conta com três restauradores e cinco auxiliares. O forro foi todo desmontado para restauro e o nivelamento foi feito com gesso + PVA + Água e antes do nivelamento foi feito a descupinização. Para a fixação do forro a estrutura foi utilizado parafusos de latão e para o acabamento será feito uma pintura sobre os parafusos para mimetiza-los. Nesta restauração do forro está sendo utilizada a técnica do pontilhismo para diferenciar a pintura atual da original e até o douramento está seguindo esta orientação. Está sendo usado a mica para a pintura dourada (não está sendo usado a folha de ouro), paralóide B72. A ideia é fazer a mínima intervenção possível com a intenção de possibilitar a identificação do que é novo. A base de um bom nivelamento é uma boa consolidação e vice-versa. Com relação ao restauro do forro nos foi dito que a madeira nova tem que estar no mesmo sentido da madeira antiga. 2.6.2 Matriz de Santo Antônio Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI José Antônio Botelho de Araújo 21 Tiradentes tem dentre suas igrejas a Matriz de Santo Antônio, construída em 1710 é a segunda igreja em ouro do Brasil, sendo a primeira em Salvador (BA), é uma das mais belas construções barrocas do país. No interior do templo há um órgão datado de 1788, considerado um dos quinze mais importantes do mundo. Inicialmente ela foi uma capela dos bandeirantes. Em 1810 acontece a renovação da fachada (é demolida a fachada original e transformada em estilo rococó). O pórtico foi feito por Salvador de Oliveira e construído em pedra sabão. Um estilo bem diferente do de Aleijadinho que é autor da fachada da igreja. O Cordeiro de Deus foi feito posteriormente, meados do século XIX. As paredes mestras originalmente são de taipa, por cima do óculo é em pau a pique, a fachada em alvenaria sendo a parte Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI José Antônio Botelho de Araújo 22 superior em tijolo queimado. Na década de oitenta foi feita uma intervenção em concreto armado para estabilizar o arco cruzeiro e o altar mor que apresentavam deformações. A estrutura da cobertura é em tesoura canga de porco. Na parte inferior das paredes uma boa parte do reboco foi retirado, mas há muitas partes originais. 2.7 – SÃO JOÃO DEL REY – MG 2.7.1 Estação Ferroviária Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI José Antônio Botelho de Araújo 23 A Estação Ferroviária de São João del Rey preserva a arquitetura de uma construção típica do século 19. A inauguração ocorreu em 1881 e uma rede que tinha quase 700 km, hoje possui apenas 12 km que liga São João a Tiradentes. É a única ferrovia no Brasil que tem a bitola de 76cm. Em 2001 houve uma restauração das Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI José Antônio Botelho de Araújo 24 edificações, locomotivas e vagões. É possível que esta estação seja a única no Brasil que ainda tenha telha de zinco e mesmo assim neste momento estão sendo retiradas e substituídas por telha de alumínio, sem terem pensado em recuperar as telhas existentes. Está prevista a abertura de um edital para a restauração de toda a edificação que em alguns momentos recebeu intervenções inadequadas por empresas não especializadas que comprometeram a sua autenticidade e o exemplo disto é o que está acontecendo com a substituição das telhas. O edifício da estação foi tombado em 1938 e o complexo em 1989. Foi só a partir da década de 1990 que se instalaram os departamentos técnicos do IPHAN nas cidades históricas. Antes disto o IPHAN estava instalado apenas em Belo Horizonte. O crescimento rápido da cidade coloca em risco o seu patrimônio e isto exige que o IPHAN reveja o perímetro de tombamento da cidade. Está previsto um projeto museológico para o complexo e a locomotiva que D. Pedro viajou quando da inauguração está localizada na edificação que no futuro será um museu. Neste complexo nos deparamos com uma Rotunda (possivelmente a maior existente no Brasil) com um bom estado de conservação. 2.8 – CONGONHAS – MG 2.8.1 – Basílica Bom Jesus de Matosinhos Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI José Antônio Botelho de Araújo 25 No início da cidade, Congonhas tinha vocação agrícola e depois surgiu a exploração do minério de ferro o que ocorre até os dias atuais, com isto a cidade teve o seu apogeu econômico o que prejudicou a preservação do seu sítio histórico, pois quem tinha dinheiro destruía o antigo e construía o novo. A impressão que se tem é que o que restou de todo o patrimônio da cidade foi o conjunto dos doze profetas esculpidos em pedra sabão por Aleijadinho, dispostos harmoniosamente no adro do Santuário e as seis capelas com as obras de Aleijadinho, isto porque poderia ser muito maior do que este conjunto que por si só já é tão grandioso. Visitamos todas as seis capelas onde estão expostas sessenta e quatro esculturas de Aleijadinho. São seis capelas e sete temas como descrito abaixo: 1ª Capela – Capela da Ceia 2ª Capela – Horto das Oliveiras – é nesta que está exposta o Anjo que é considerado a obra prima de Aleijadinho. 3ª Capela – Capela da Prisão 4ª Capela – Flagelação e Coroação de espinhos Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI José Antônio Botelho de Araújo 26 5ª Capela – Crua as costas 6ª Capela – Crucificação 2.8.2 – Igreja de Nossa Senhora da Conceição Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI José Antônio Botelho de Araújo 27 A visita a esta igreja não estava programada, mas o funcionário do Iphan que nos recebeu em Congonhas fez questão de nos levar até lá. Para a nossa surpresa a restauração da cantaria dos portais da entrada principal estava sendo executado com pedras semelhantes a pedra existente, ou seja, uma prática que durante todo o curso vimos como anacrônica, já que o CECI tem trabalhado com argamassas. Esta prática nos foi apresentada como sendo uma prática bem sucedida e quando o prof. Tinoco falou que em breve a peça estaria como uma colcha de retalhos e pessoa não soube o que dizer. No telhado também está sendo utilizada a famosa manta e mais uma vez o professor questionou o uso de tal material e nos mostrou o quanto essa manta é inflamável e está colocando o monumento em risco. 2.9 CACHOEIRA - MG 2.9.1 Igreja de Nossa Senhora de Nazaré Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI José Antônio Botelho de Araújo 28 Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI José Antônio Botelho de Araújo 29 Esta igreja não estava no roteiro, mas conhecemos um arquiteto em Ouro Preto que está fazendo a restauração deste monumento e ele fez questão de nos levar até lá e também esta visita foi muito boa apesar de ter acontecido quase no final da viagem quando já estávamos bastante exaustos. Nesta restauração verificamos os mesmos procedimentos que já tínhamos acompanhado em outras igrejas, mas com uma dinâmica bem interessante, ou seja, percebi o mesmo ritmo da restauração da Igreja de Nossa Senhora das Mercês em Tiradentes. Muito trabalho, toda a equipe empenhada e alguns trabalhos já concluídos e outros bastante adiantados. Durante os trabalhos descobriram uma pintura no forro por baixo da pintura feita em 1900 e tudo indica que eles não iriam descobrir a pintura original, pois a comunidade já está acostumada com a pintura feita em 1900. O retábulo já estava todo descupinizado e consolidado. 3 CONCLUSÃO É tarefa difícil concluir este relatório já que ele está implicado com todo o Curso, pois a quantidade de informações recebidas ao longo das disciplinas e principalmente durante todo o módulo presencial tendo a sua culminância nas visitas técnicas e viagem de estudo quando tivemos a oportunidade de perceber in loco tudo o que estudamos e discutimos ao longo de todo esse tempo é muito grande. Confesso que quando concluímos as aulas em Recife eu fiquei assustado com a quantidade de informações recebidas e cheguei a pensar que, diante do panorama que o Brasil nos apresenta em termos de preservação, conservação e restauro do patrimônio construído, talvez tivesse sido melhor não ter estudado, não ter aprendido, pois sem o conhecimento Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI José Antônio Botelho de Araújo 30 o olhar continuaria sendo de um leigo, onde só a beleza ainda que muitas vezes falsa, é admirada. A partir de então com o conhecimento adquirido, a crítica, estava implantada. Mas a crítica de que, do que e a quem? Dos métodos, das gestões, aos proprietários do patrimônio, dos critérios, da forma, do zelo, do (des)conhecimento e até da falta de trato para com o patrimônio construído. Eu não conhecia as cidades históricas das Minas Gerais e por tudo que eu sempre ouvi a expectativa era muito grande e quando eu cheguei a Tiradentes, com o conhecimento agora adquirido, tive um choque: Percebi que eu estava em uma cidade cenográfica e os questionamentos voltaram. O que fizeram também com esta cidade? E a angústia desta pergunta só era diminuída quando tínhamos contato ou com os trabalhos que tinham sido exitosos ou com práticas com boas intenções. Ao longo deste relatório se percebe situações que vão desde uma obra paralisada sem previsão de retomada até práticas anacrônicas que colocam o monumento em risco. O que nos leva a refletir sobre o futuro de nossas cidades do passado. Será que as cidades do passado ainda existem ou será que as nossas cidades que achamos serem as do passado terão futuro? A mesma Tiradentes que em um primeiro momento me decepcionou, em outro momento me faz repensar as coisas quando visitamos a Matriz de Santo Antônio, esplendorosa e ao mesmo tempo salva pela facilidade que o homem tem de se reinventar. E através do exemplo da Matriz de Santo Antônio eu percebo que no momento em que o monumento está comprometido, o que interessa é salvá-lo (quando tem verba), não importa as técnicas ou se vai ou não comprometer a autenticidade. Portanto, o que pensar em termos de preservação e autenticidade, o que prevalece? Acredito que em termos de patrimônio não podemos pensar de forma radical, tem que haver flexibilidade e isto nos levará a perdas e a ganhos. Talvez o que é preciso pensar é que tais perdas e tais ganhos não são de um ou de outro, mas de uma coletividade que vive agora ou outra coletividade que usufruirá do futuro de nossas cidades do passado. Não é novidade a morosidade dos órgãos responsáveis pela preservação do patrimônio construído, mas é lamentável a lentidão destes órgãos. Assistir um bem cultural tombar ou assistir um bem cultural ser deformado por práticas ultrapassadas é assistir ao império da insensatez humana. Depois deste Curso passei a pensar nos monumentos como obras de arte e uma obra de arte não se rasga para inserir novos elementos ou para ver o que está por trás Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI José Antônio Botelho de Araújo 31 como se faz com o patrimônio construído que se rasga para embutir tubulações, se desnuda para ver como foi feito e etc, por isso tenho questionado se no Brasil se faz restauros ou se faz reformas no patrimônio cultural edificado. E para fazer reformas é possível que não precisasse existir tanta formalidade, tanta gente e tanta estrutura que consome tanto dinheiro. Sempre acreditei que em obras, muitas vezes o mal feito sai mais caro que o bem feito. No nosso caso, é possível que o dinheiro estivesse sendo mais bem utilizado se os órgãos responsáveis tivessem mais critérios na execução de seus projetos. Critérios estes que vão deste a contratação de empresas e pessoas especializadas até o domínio e conhecimento destes órgãos naquilo a que se propõem. Talvez os monumentos sejam vítimas do desconhecimento, do despreparo, da falta de sensibilidade e da ignorância cultural do brasileiro. Quanto ao futuro das nossas cidades do passado acredito ser incerto como é incerta a retomada da obra de restauração da Matriz de Santo Antônio em Goiana – PE, como é incerto o resultado de práticas que são consequência do desconhecimento de quem as executa. Mas nem por isso a humanidade deixa de caminhar...... Por último gostaria de ressaltar o espírito de grupo que todos os participantes da 12ª edição do Curso construiu o que nos levou a compartilhar e dividir todas as informações e conhecimentos assim como a experiência de uma convivência muito boa pautada na amizade recíproca. Ressalto também a generosidade e a disponibilidade de todas as pessoas que nos receberam em todas as visitas que fizemos. Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI José Antônio Botelho de Araújo