Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada

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Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada
Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada - CECI
Curso de Gestão e Prática de Obras de Conservação e Restauro do
Patrimônio Cultural
JOSÉ ANTÔNIO BOTELHO DE ARAUJO
RELATÓRIO DE VISITA TÉCNICA
O FUTURO DE NOSSAS CIDADES DO PASSADO
São Luís
2013
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Curso de Gestão e Prática de Obras de Conservação e Restauro do
Patrimônio Cultural
RELATÓRIO DE VISITA TÉCNICA
Aluno: José Antônio Botelho de Araujo
Relatório das Visitas Técnicas apresentado
ao Centro de Estudos Avançados da
Conservação Integrada como parte do
Módulo Presencial da 12º Edição do Curso
de Gestão e Prática de Obras de
Conservação e Restauro do Patrimônio
Cultural Edificado.
São Luís
2013
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO
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2 DESCRIÇÃO DAS VISITAS
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2.1 IGARASSÚ – PE
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2.1.1 IGREJA DOS SANTOS COSME E DAMIÃO
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2.1.2 CONVENTO DE SANTO ANTONIO
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2.1.3 CONVENTO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS
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2.1.4 RUÍNAS DA MISERICÓRDIA
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2.2 GOIANA - PE
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2.2.1 IGREJA MATRIZ DE GOIANA
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2.3 JOÃO PESSOA - PB
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2.3.1 CONVENTO DE SÃO FRANCISCO
12
2.4 CABEDELO - PB
15
2.4.1 FORTALEZA DE SANTA CATARINA
15
2.5 LUCENA - PB
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2.5.1 IGREJA DE NOSSA SENHORA DA GUIA
17
2.6 TIRADENTES - MG
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2.6.1 IGREJA DE NOSSA SENHORA DAS MERCÊS
19
2.6.2 MATRIZ DE SANTO ANTÔNIO
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2.7 SÃO JOÃO DEL REY - MG
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2.7.1 ESTAÇÃO FERROVIÁRIA
22
2.8 CONGONHAS - MG
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2.8.1 BASÍLICA DO BOM JESUS DE MATOSINHOS
24
2.8.2 IGREJA DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO
26
2.9 CACHOEIRA - MG
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2.9.1 IGREJA DE NOSSA SENHORA DE NAZARÉ
27
3 CONCLUSÃO
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INTRODUÇÃO
Como parte do módulo presencial da 12ª Turma do Curso de Gestão e Prática de
Obras de Conservação e Restauro do Patrimônio Cultural Edificado houve algumas
visitas técnicas que são o objeto deste Relatório. Visitamos alguns monumentos em
Igarassú e Goiana em Pernambuco, João Pessoa, Cabedelo e Lucena na Paraíba e as
demais visitas ocorreram durante a viagem de estudos em Minas Gerais. As aulas do
referido módulo começaram em Recife no dia 02 de novembro de 2012 e se estenderam
até o dia 23 de novembro, neste período em que tivemos aula em Recife fomos a
Igarassú e Goiana no dia 10 (sábado) e fomos a João Pessoa, Cabedelo e Lucena no dia
17 (sábado). Chegamos a Belo Horizonte no dia 25 e começamos a nossa viagem de
estudos pelas cidades mineiras no dia 26 e encerramos esta viagem e o módulo
presencial no dia 30 de novembro. Decidi fazer um único relatório com todas as visitas
com a pretensão de fazer uma única conclusão contemplando todas as visitas. A
sequência abaixo é a descrição destas visitas por cidades e monumentos.
2 DESCRIÇÃO DAS VISITAS
2.1 IGARASSÚ – PE
2.1.1 Igreja dos Santos Cosme e Damião
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Esta é uma das mais antigas do Brasil. Erguida no ano de 1535 e durante o
período da invasão holandesa foi depredada e reconstruída em 1654. É um monumento
neoclassizado. Após uma restauração no ano de 1950, em que o monumento ficou mais
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próximo das características iniciais foi tombado pelo IPHAN – Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional em 1951.
Nesta reforma feita pelo Iphan, as cantarias foram valorizadas, ou seja,
desnudadas.
O piso é em tijoleiras, mas estas se encontram assentadas com argamassa de
cimento.
Depois deste restauro já passou por uma grande intervenção no telhado assim
como para a implantação de um sistema de segurança onde foram instalados sensores e
câmaras, onde para este serviço o reboco foi rasgado para a colocação das tubulações.
Nos anos 70, o Iphan utilizou um tipo de impermeabilizante sobre as cantarias e
isto além de causar uma alteração cromática nas pedras, tornando-as acinzentadas,
maximizou ainda mais as patologias já existentes.
Todos os torneados de madeira dos púlpitos foram praticamente refeitos.
2.1.2 Convento de Santo Antônio
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Desde a primeira hora do IPHAN vem sofrendo grandes transformações. Na
década de 1980 passou por uma obra que durou quase uma década e em seguida recebeu
outras intervenções na azulejaria e cantaria. Como no monumento anterior parte das
instalações elétricas foi embutida nas alvenarias. Apesar das cantarias serem autênticas
este monumento não apresenta outros elementos autênticos. As ferragens das portas, as
tijoleiras e o reboco foram todos mexidos e as escadas foram refeitas em cantaria. Na
sacristia, a intervenção nos azulejos foi feita nos anos 90 por Roberto Carneiro que de
forma sábia, nas partes faltantes, demarcou a área de cada peça de azulejo sobre
argamassa de cal e areia e no barramento da azulejaria utilizou um azulejo de outra cor
(amarelo). O piso de tijoleira também foi refeito com rejunte de cimento. No andar da
pinacoteca existiam alvenarias em taipa de pilão que dividiam os dormitórios, mas o
IPHAN as retirou mantendo apenas algumas destas.
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2.1.3 Convento Sagrado Coração de Jesus
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O madeiramento da cobertura é autêntico (caibros roliços e ripas de imberiba).
Forro canjicado. O piso da igreja não é autêntico, foi cimentado e os retábulos foram
caiados. O térreo é todo em alvenaria de pedra ou tijolo e o piso superior é todo em
taipa. É uma técnica construtiva do primeiro momento da colonização.
2.1.4 Ruínas da Misericórdia
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Necessita de um plano de conservação urgente. É um monumento
importantíssimo, mas com sérios riscos de ser perdido se medidas urgentes não forem
tomadas. A própria área das ruínas é contígua a outras construções, onde só se sabe
onde uma começa e a outra termina pelo contraste entre as construções.
2.2 GOIANA – PE
2.2.1 Igreja Matriz de Goiana
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A obra de restauração desta igreja encontra-se paralisada e pelas informações
que nos foi passado infelizmente ela deve permanecer assim por tempo indeterminado.
O mais preocupante é que não está acabado, tudo está por fazer ou por concluir. Muita
coisa desmontada, como retábulos, altares, arcos, colunas, etc. Um verdadeiro quebra
cabeças. Muitas peças em madeira. Aparentemente parece tudo catalogado.
2.3 JOÃO PESSOA – PB
2.3.1 Convento de São Francisco
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Sofreu grande intervenção de Restauro entre 1976 e 1983. Percebe-se diferença
na conservação entre o lado leste e oeste dos azulejos. Muitos danos nos azulejos são
em decorrência de jatos d’água. Muitas peças da azulejaria externa sofreram com
vandalismo e a restauração não usou técnicas tradicionais, usou resina. Os ladrilhos
hidráulicos da entrada foram trocados na última restauração. O painel de azulejo do adro
(o maior do Brasil) foi objeto de intervenção há quatro anos e foi utilizado o hxtal. O
forro da Igreja, que na década de 70 tinha um nível de autenticidade muito grande já foi
objeto de intervenção. É o melhor forro ilusionista existente no Brasil. Os painéis de
azulejo interno não foram objeto de intervenção, pois ainda apresentam um bom estado
de conservação. A intervenção nas pias de água benta foi feita por Mário Mendonça, o
qual usou betonita para sugar o sal que tinha dentro do material, o Prof. Tinoco acredita
que as lacunas existentes deveriam ter sido preenchidas com carbonato de cálcio, mas
esse preenchimento não foi feito. Os púlpitos são os mais monumentais do Brasil. O
telhado do claustro foi todo refeito, o original era em caibros roliços e no restauro
colocaram tirantes para conter o esmagamento das colunas. Nesta visita o Prof. Tinoco
chamou a nossa atenção para a identificação das tábuas novas do assoalho, as quais por
serem serradas apresentam um “melhor” acabamento que as antigas.
2.4 CABEDELO – PB
2.4.1 Fortaleza de Santa Catarina
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Esta fortaleza é pós-invasão holandesa e foi um forte português dos anos 1700.
Nos anos 1970 ocorreu uma grande intervenção (restauro) com reconstruções e utilizou
mão de obra militar e carcerária. Atualmente a estrutura em pedra argamassada está
aparente, mas originalmente possuía reboco que foi retirado durante esta intervenção
com a intenção de mostrar a mais valia do monumento. Apresenta restaurações
inclusive de concreto. Foi uma restauração que teve como orientação de restauro a Carta
de Veneza (utilização de materiais diferentes). Todas as esquadrias e ferragens foram
reconstituídas. O acesso ao forte que outrora ocorria através de uma ponte corrediça foi
refeito em concreto. Na área interna ainda é possível encontrar pedras (isto é indício de
outras construções) com a marcação do Cantel. Observa-se refazimento em concreto nas
cantarias. A casa de pólvora apresenta certo nível de autenticidade com exceção do
telhado que foi todo refeito. Em termos de patologia é uma construção em pedra com
presença de alveolização, vegetação e sujidade. As tijoleiras da casa de pólvora estão
assentadas na forma clássica, ou seja, faixa da tabeira, do cordão e assentamento central
a 45º. Este piso sofreu intervenção de restauro estando assentadas em concreto magro.
2.5 – LUCENA – PB
2.5.1 Igreja de Nossa Senhora da Guia
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Teve a sua construção iniciada em fins do século XVI, passando depois por fases
de reconstrução. Sua fundação é obra dos frades Carmelitas, religiosos que pertenciam à
Ordem de Nossa Senhora do Carmo e chegaram a Paraíba em 1591. Feita em estilo
denominado barroco tropical (é considerada a única no Brasil), o que tem de grande
valor é a sua fachada com desenhos extravagantes, como as figuras popularmente
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conhecidas como “anjos deformados”. Há também, frutos tropicais, coroas, cetros,
armas do Império Colonial Português, entre outros motivos, como uma caveira em
pedra calcária. A ornamentação é bastante ingênua e esta é a sua grande característica. É
um dos mais representativos monumentos da arquitetura colonial na Paraíba e é
considerada a igreja que contém o maior altar construído em pedra calcária do Brasil.
Todo o telhado foi restaurado.
Lamentavelmente não conseguimos entrar no monumento, pois a pessoa que foi
contatada para abrir a Igreja para nós não apareceu e apenas fizemos um passeio
acompanhado pela explanação do Prof. Tinoco ao redor da Igreja.
2.6 – TIRADENTES – MG
2.6.1 Igreja de Nossa Senhora das Mercês
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Construída na segunda metade do século XVIII, a Igreja de Nossa Senhora das
Mercês é representante do estilo rococó, que exibe pinturas, esculturas e adornos
visualmente menos intensos do que as obras barrocas. O interior da igreja possui uma
bela e dourada capela-mor, além de pinturas raras, com representações de santos e
também de anjos que glorificam Nossa Senhora das Mercês. A fachada chama a atenção
pela presença de um único sino.
A igreja está passando por um processo de restauro que tem a duração prevista
para um ano e quatro meses e conta com três restauradores e cinco auxiliares. O forro
foi todo desmontado para restauro e o nivelamento foi feito com gesso + PVA + Água e
antes do nivelamento foi feito a descupinização. Para a fixação do forro a estrutura foi
utilizado parafusos de latão e para o acabamento será feito uma pintura sobre os
parafusos para mimetiza-los. Nesta restauração do forro está sendo utilizada a técnica
do pontilhismo para diferenciar a pintura atual da original e até o douramento está
seguindo esta orientação. Está sendo usado a mica para a pintura dourada (não está
sendo usado a folha de ouro), paralóide B72. A ideia é fazer a mínima intervenção
possível com a intenção de possibilitar a identificação do que é novo. A base de um
bom nivelamento é uma boa consolidação e vice-versa. Com relação ao restauro do
forro nos foi dito que a madeira nova tem que estar no mesmo sentido da madeira
antiga.
2.6.2 Matriz de Santo Antônio
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Tiradentes tem dentre suas igrejas a Matriz de Santo Antônio, construída em
1710 é a segunda igreja em ouro do Brasil, sendo a primeira em Salvador (BA), é uma
das mais belas construções barrocas do país. No interior do templo há um órgão datado
de 1788, considerado um dos quinze mais importantes do mundo. Inicialmente ela foi
uma capela dos bandeirantes. Em 1810 acontece a renovação da fachada (é demolida a
fachada original e transformada em estilo rococó).
O pórtico foi feito por Salvador de Oliveira e construído em pedra sabão. Um estilo bem
diferente do de Aleijadinho que é autor da fachada da igreja. O Cordeiro de Deus foi
feito posteriormente, meados do século XIX. As paredes mestras originalmente são de
taipa, por cima do óculo é em pau a pique, a fachada em alvenaria sendo a parte
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superior em tijolo queimado. Na década de oitenta foi feita uma intervenção em
concreto armado para estabilizar o arco cruzeiro e o altar mor que apresentavam
deformações. A estrutura da cobertura é em tesoura canga de porco. Na parte inferior
das paredes uma boa parte do reboco foi retirado, mas há muitas partes originais.
2.7 – SÃO JOÃO DEL REY – MG
2.7.1 Estação Ferroviária
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A Estação Ferroviária de São João del Rey preserva a arquitetura de uma
construção típica do século 19. A inauguração ocorreu em 1881 e uma rede que tinha
quase 700 km, hoje possui apenas 12 km que liga São João a Tiradentes. É a única
ferrovia no Brasil que tem a bitola de 76cm. Em 2001 houve uma restauração das
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edificações, locomotivas e vagões. É possível que esta estação seja a única no Brasil que
ainda tenha telha de zinco e mesmo assim neste momento estão sendo retiradas e
substituídas por telha de alumínio, sem terem pensado em recuperar as telhas existentes.
Está prevista a abertura de um edital para a restauração de toda a edificação que em
alguns momentos recebeu intervenções inadequadas por empresas não especializadas
que comprometeram a sua autenticidade e o exemplo disto é o que está acontecendo
com a substituição das telhas. O edifício da estação foi tombado em 1938 e o complexo
em 1989. Foi só a partir da década de 1990 que se instalaram os departamentos técnicos
do IPHAN nas cidades históricas. Antes disto o IPHAN estava instalado apenas em
Belo Horizonte. O crescimento rápido da cidade coloca em risco o seu patrimônio e isto
exige que o IPHAN reveja o perímetro de tombamento da cidade. Está previsto um
projeto museológico para o complexo e a locomotiva que D. Pedro viajou quando da
inauguração está localizada na edificação que no futuro será um museu. Neste complexo
nos deparamos com uma Rotunda (possivelmente a maior existente no Brasil) com um
bom estado de conservação.
2.8 – CONGONHAS – MG
2.8.1 – Basílica Bom Jesus de Matosinhos
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No início da cidade, Congonhas tinha vocação agrícola e depois surgiu a exploração
do minério de ferro o que ocorre até os dias atuais, com isto a cidade teve o seu apogeu
econômico o que prejudicou a preservação do seu sítio histórico, pois quem tinha
dinheiro destruía o antigo e construía o novo. A impressão que se tem é que o que
restou de todo o patrimônio da cidade foi o conjunto dos doze profetas esculpidos em
pedra sabão por Aleijadinho, dispostos harmoniosamente no adro do Santuário e as seis
capelas com as obras de Aleijadinho, isto porque poderia ser muito maior do que este
conjunto que por si só já é tão grandioso. Visitamos todas as seis capelas onde estão
expostas sessenta e quatro esculturas de Aleijadinho. São seis capelas e sete temas como
descrito abaixo:
 1ª Capela – Capela da Ceia
 2ª Capela – Horto das Oliveiras – é nesta que está exposta o Anjo que é
considerado a obra prima de Aleijadinho.
 3ª Capela – Capela da Prisão
 4ª Capela – Flagelação e Coroação de espinhos
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 5ª Capela – Crua as costas
 6ª Capela – Crucificação
2.8.2 – Igreja de Nossa Senhora da Conceição
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A visita a esta igreja não estava programada, mas o funcionário do Iphan que nos
recebeu em Congonhas fez questão de nos levar até lá. Para a nossa surpresa a
restauração da cantaria dos portais da entrada principal estava sendo executado com
pedras semelhantes a pedra existente, ou seja, uma prática que durante todo o curso
vimos como anacrônica, já que o CECI tem trabalhado com argamassas. Esta prática
nos foi apresentada como sendo uma prática bem sucedida e quando o prof. Tinoco
falou que em breve a peça estaria como uma colcha de retalhos e pessoa não soube o
que dizer. No telhado também está sendo utilizada a famosa manta e mais uma vez o
professor questionou o uso de tal material e nos mostrou o quanto essa manta é
inflamável e está colocando o monumento em risco.
2.9 CACHOEIRA - MG
2.9.1 Igreja de Nossa Senhora de Nazaré
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Esta igreja não estava no roteiro, mas conhecemos um arquiteto em Ouro Preto
que está fazendo a restauração deste monumento e ele fez questão de nos levar até lá e
também esta visita foi muito boa apesar de ter acontecido quase no final da viagem
quando já estávamos bastante exaustos. Nesta restauração verificamos os mesmos
procedimentos que já tínhamos acompanhado em outras igrejas, mas com uma dinâmica
bem interessante, ou seja, percebi o mesmo ritmo da restauração da Igreja de Nossa
Senhora das Mercês em Tiradentes. Muito trabalho, toda a equipe empenhada e alguns
trabalhos já concluídos e outros bastante adiantados. Durante os trabalhos descobriram
uma pintura no forro por baixo da pintura feita em 1900 e tudo indica que eles não iriam
descobrir a pintura original, pois a comunidade já está acostumada com a pintura feita
em 1900. O retábulo já estava todo descupinizado e consolidado.
3 CONCLUSÃO
É tarefa difícil concluir este relatório já que ele está implicado com todo o
Curso, pois a quantidade de informações recebidas ao longo das disciplinas e
principalmente durante todo o módulo presencial tendo a sua culminância nas visitas
técnicas e viagem de estudo quando tivemos a oportunidade de perceber in loco tudo o
que estudamos e discutimos ao longo de todo esse tempo é muito grande. Confesso que
quando concluímos as aulas em Recife eu fiquei assustado com a quantidade de
informações recebidas e cheguei a pensar que, diante do panorama que o Brasil nos
apresenta em termos de preservação, conservação e restauro do patrimônio construído,
talvez tivesse sido melhor não ter estudado, não ter aprendido, pois sem o conhecimento
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o olhar continuaria sendo de um leigo, onde só a beleza ainda que muitas vezes falsa, é
admirada. A partir de então com o conhecimento adquirido, a crítica, estava implantada.
Mas a crítica de que, do que e a quem? Dos métodos, das gestões, aos
proprietários do patrimônio, dos critérios, da forma, do zelo, do (des)conhecimento e até
da falta de trato para com o patrimônio construído.
Eu não conhecia as cidades históricas das Minas Gerais e por tudo que eu
sempre ouvi a expectativa era muito grande e quando eu cheguei a Tiradentes, com o
conhecimento agora adquirido, tive um choque: Percebi que eu estava em uma cidade
cenográfica e os questionamentos voltaram. O que fizeram também com esta cidade? E
a angústia desta pergunta só era diminuída quando tínhamos contato ou com os
trabalhos que tinham sido exitosos ou com práticas com boas intenções.
Ao longo deste relatório se percebe situações que vão desde uma obra paralisada
sem previsão de retomada até práticas anacrônicas que colocam o monumento em risco.
O que nos leva a refletir sobre o futuro de nossas cidades do passado. Será que as
cidades do passado ainda existem ou será que as nossas cidades que achamos serem as
do passado terão futuro?
A mesma Tiradentes que em um primeiro momento me decepcionou, em outro
momento me faz repensar as coisas quando visitamos a Matriz de Santo Antônio,
esplendorosa e ao mesmo tempo salva pela facilidade que o homem tem de se
reinventar. E através do exemplo da Matriz de Santo Antônio eu percebo que no
momento em que o monumento está comprometido, o que interessa é salvá-lo (quando
tem verba), não importa as técnicas ou se vai ou não comprometer a autenticidade.
Portanto, o que pensar em termos de preservação e autenticidade, o que
prevalece? Acredito que em termos de patrimônio não podemos pensar de forma
radical, tem que haver flexibilidade e isto nos levará a perdas e a ganhos. Talvez o que é
preciso pensar é que tais perdas e tais ganhos não são de um ou de outro, mas de uma
coletividade que vive agora ou outra coletividade que usufruirá do futuro de nossas
cidades do passado.
Não é novidade a morosidade dos órgãos responsáveis pela preservação do
patrimônio construído, mas é lamentável a lentidão destes órgãos. Assistir um bem
cultural tombar ou assistir um bem cultural ser deformado por práticas ultrapassadas é
assistir ao império da insensatez humana.
Depois deste Curso passei a pensar nos monumentos como obras de arte e uma
obra de arte não se rasga para inserir novos elementos ou para ver o que está por trás
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como se faz com o patrimônio construído que se rasga para embutir tubulações, se
desnuda para ver como foi feito e etc, por isso tenho questionado se no Brasil se faz
restauros ou se faz reformas no patrimônio cultural edificado. E para fazer reformas é
possível que não precisasse existir tanta formalidade, tanta gente e tanta estrutura que
consome tanto dinheiro. Sempre acreditei que em obras, muitas vezes o mal feito sai
mais caro que o bem feito. No nosso caso, é possível que o dinheiro estivesse sendo
mais bem utilizado se os órgãos responsáveis tivessem mais critérios na execução de
seus projetos. Critérios estes que vão deste a contratação de empresas e pessoas
especializadas até o domínio e conhecimento destes órgãos naquilo a que se propõem.
Talvez os monumentos sejam vítimas do desconhecimento, do despreparo, da falta de
sensibilidade e da ignorância cultural do brasileiro.
Quanto ao futuro das nossas cidades do passado acredito ser incerto como é
incerta a retomada da obra de restauração da Matriz de Santo Antônio em Goiana – PE,
como é incerto o resultado de práticas que são consequência do desconhecimento de
quem as executa. Mas nem por isso a humanidade deixa de caminhar......
Por último gostaria de ressaltar o espírito de grupo que todos os participantes da
12ª edição do Curso construiu o que nos levou a compartilhar e dividir todas as
informações e conhecimentos assim como a experiência de uma convivência muito boa
pautada na amizade recíproca. Ressalto também a generosidade e a disponibilidade de
todas as pessoas que nos receberam em todas as visitas que fizemos.
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