Restaure - Universidade Federal de Minas Gerais

Restaure – Um Sistema de Informação Multimídia sobre Conservação e Restauração de Bens
Culturais Móveis
FLÁVIO HUMBERTO CABRAL NUNES1
LUIZ ANTÔNIO CRUZ SOUZA2
ARNALDO DE ALBUQUERQUE ARAUJO1
MARCELO ALBUQUERQUE CORREA2
1
DCC – ICEx UFMG , Av. Antônio Carlos, 6657, Belo Horizonte, MG, Brasil, 31270-901
{fhcnunes, arnaldo}@dcc.ufmg.br
2
CECOR – EBA – UFMG, Av. Antônio Carlos, 6657, Belo Horizonte, MG, Brasil, 30130-010
[email protected], [email protected]
Resumo: Este trabalho descreve o desenvolvimento de um sistema de informação multimídia que visa preservar
e divulgar o acervo sobre conservação e restauração pertencente ao CECOR. São discutidas as vantagens que o
sistema proporciona ao CECOR e aos pesquisadores da área e as ferramentas e técnicas da computação
utilizadas neste trabalho.
1 Introdução
O CECOR – Centro de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis – é um órgão vinculado à Escola de Belas
Artes da Universidade Federal de Minas Gerais e desenvolve trabalhos na área de conservação e restauração de bens
culturais móveis. A metodologia de trabalho envolve a documentarção de cada passo do processo de conservaçãorestauração. Durante 21 anos de funcionamento, a instituição conseguiu reunir um representativo acervo sobre as obras
restauradas. O acervo contém informações sobre artistas, técnicas e materiais utilizados em suas obras, documentação das
obras através de métodos físicos e físico-químicos de análise que, pela sua diversidade e quantidade de informação sobre
conservação-restauração e tecnologia de produção de bens culturais constitui uma rica fonte de pesquisa para
profissionais da área como historiadores da arte, conservadores, cientistas, etc, sendo inédito no Brasil e na América
Latina. O acervo é composto, principalmente, de fichas, fotografias e slides.
Até o desenvolvimento do presente projeto, a maneira como era feita a documentação e a pesquisa do acervo possuía
várias desvantagens. Primeiro, o trabalho era feito manualmente. Segundo, o acesso ao acervo era restrito a um pequeno
número de pessoas da instituição. Um pesquisador externo ao CECOR que estivesse interessado em informações do
acervo tinha que se deslocar até lá e pedi-las aos funcionários autorizados. E finalmente, o problema de manipulação
direta e excessiva do acervo que podia deteriorá-lo.
Figura 1: Amostra do acervo a ser digitalizado.
O objetivo deste trabalho foi desenvolver um sistema de informação multimídia sobre conservação e restauração que
permitisse ampliar, agilizar e simplificar o processo de manipulação e acesso aos dados sobre obras restauradas no
CECOR, tendo também a preocupação de preservar o acervo da manipulação excessiva. Este trabalho procurou atender
tanto as necessidades do usuário que realiza o cadastro das obras quanto do pesquisador.
2 O Acesso aos Dados
Antes deste sistema, os documentos eram armazenados em fichas guardadas em arquivos. O pesquisador devia fazer a
pesquisa das informações de seu interesse manualmente. Este trabalho era bastante cansativo e monótono por mais
organizadas que as fichas estivessem. Se o pesquisador não trabalhasse no próprio CECOR, ele teria que se deslocar até a
instituição e pedir aos funcionários as informações de que necessitava.
As ferramentas de banco de dados se mostraram como uma alternativa para uma forma mais eficiente de recuperar e
armazenar os dados deste acervo. A finalidade de um sistema de banco de dados é simplificar e facilitar o acesso aos
dados [1]. Dessa forma, o trabalho de pesquisa e organização do acervo passava a ser feito totalmente pelo computador.
A utilização de um sistema gerenciador de banco de dados (SGBD) possui várias vantagens. Ele permite o controle
de redundância, isto é, evita que um mesmo dado seja armazenado duas vezes no banco de dados e que seus valores sejam
inconsistentes. Ele também permite a existência de várias interfaces de usuários, possibilitando que o usuário possa
manipular o seu conteúdo de forma clara e simples. Outra vantagem é o suporte de múltiplas visões. Cada categoria de
usuário que tem acesso ao banco de dados não precisa ter o conhecimento global do banco de dados. O acesso de cada
grupo pode ser restringido a apenas uma parte de todo o sistema [2].
A Internet, rede mundial de computadores, trouxe a possibilidade de acessar e manipular informação situada em
locais de todo o mundo utilizando-se microcomputadores com poucos recursos adicionais de hardware e software [3].
Devido a sua grande difusão, a Internet é considerada um meio ideal para a divulgação de conhecimento e para a
democratização do acesso à informação [4]. Assim, a Web constituiu-se numa importante candidata para permitir que um
grande número de pessoas possam acessar ao conjunto de informações do acervo do CECOR.
3 A Digitalização do Acervo
A manipulação direta e desnecessária pode ocasionar a degradação dos documentos. Uma solução para este problema foi
digitalizar o acervo, constituído principalmente de fotografias e slides. As principais vantagens da digitalização são a
preservação de originais que constantemente são consultados e manipulados, comprometendo a integridade física do
original, e a possibilidade de melhorar a qualidade dos documentos apresentados aos usuários ou realçar aspectos
interessantes dos mesmos com a utilização de técnicas de processamento digital de imagens (PDI) como controle de
brilho, contraste e realce de bordas, sem alterar o documento digitalizado original [4]. Neste caso, o usuário passa a
manusear a cópia digital do documento e não mais o original. Entretanto, arquivos digitais são incrivelmente
vulneráveis, não somente pela fragilidade da mídia, mas também pela rápida evolução da tecnologia [5]. Como o
processo de digitalização é caro, era desejável adotar uma metodologia que minimizasse esse processo o máximo possível
e visasse preservar os arquivos digitais.
Figura 2: Imagem obtida através de raio x.
Uma metodologia interessante foi gerar imagens matrizes do documento original da qual originam todas as outras
imagens para os mais diferentes usos. Para isso é importante que a matriz seja digitalizada com a maior resolução
possível. Com uma resolução de 600 dpi (dots per inch) já se consegue imagens matrizes de boa qualidade. Outra
característica das matrizes é que elas não podem possuir nenhum tipo de tratamento ou compressão, sendo extremamente
fiéis ao original. Os formatos utilizados são os não comprimíveis, como Tagged Image File Format (TIFF), que
preservam todas as características digitais do original [6].
Um dos usos das imagens é para sua visualização via Web. Neste caso, as imagens matrizes não podem ser
utilizadas, pois o seu tamanho é enorme sendo da ordem de megabytes. Portanto, as imagens de acesso devem ser de
formatos que possuam algum tipo de compressão. O formato utilizado é o Joint Photographic Experts Group (JPEG) que
possui uma boa taxa de compressão e pode ser visualizado em um grande número de navegadores (browsers), sendo esta
uma importante característica em um ambiente bastante heterogêneo como a Internet [7]. A sua compressão elimina
dados imperceptíveis para o olho humano, reduzindo o tamanho do arquivo; conseqüentemente não deve ser usado como
o arquivo matriz de documento.
4 A Construção do Sistema
Inicialmente, várias entrevistas com os potenciais usuários do sistema foram feitas para se ganhar um entendimento mais
completo do que precisava ser feito e o que o aplicativo deveria realizar para atender os objetivos da aplicação. Esses
usuários compreenderam restauradores, professores, funcionários e o pessoal técnico do Laboratório de Ciências da
Conservação (LACICOR), localizado no CECOR.
Um estudo do método de documentação do processo de restauração foi feito. Dessa forma, pode-se capturar os
principais requisitos e funcionalidades que a aplicação deveria possuir. Ao fim deste estudo, pode-se dividir o método de
documentação em três grupos ou visões:
•
Restauração – Processo de restauração propriamente dito que ocorre nos ateliês do CECOR.
•
Orçamento – Trabalho feito na secretaria da instituição, onde são calculados os custos e taxas dos trabalhos de
restauração.
•
Laboratório – Compreende os processos de análise físicos e físico-químicos a que são submetidas as amostras
retiradas das obras em restauração.
Figura 3: Tipo de informação obtida no laboratório (corte estratigráfico).
O próximo passo foi modelar o banco de dados. Utilizou-se para isso o modelo de dados entidade-relacionamento
(E-R) que é um modelo que descreve os dados como entidades, relacionamentos e atributos [2]. Esta modelagem consistiu
da construção de um diagrama E-R, cuja notação segue a notação presente em [2]. O diagrama simplificado do banco de
dados pode ser visto na Figura 4. Nele também podem ser vistas as visões principais em que se divide o banco de dados.
Orçamento
Restauração
ORÇAMENTO
OBRA
AMOSTRA
ETAPAS DE
TRABALHO
FOTOGRAFIA
ESTRATIGRAFIA
Laboratório
CAMADAS
ANÁLISES
Figura 4: Diagrama E-R simplificado do banco de dados.
Pela figura pode ser ver claramente a divisão em visões que a estrutura do banco de dados possui. Em seguida, este
modelo foi implementado em um SGBD. Inicialmente, o SGBD em uso era MS-Access. Mas devido as várias limitações
que ele apresentou, um estudo sobre a viabilidade de migração dos dados para o MySQL foi realizado. Um dos motivos
para a escolha do MySQL foi o seu baixo custo já que é gratuito. Ele também é bastante eficiente, sendo esta uma
importante característica, pois na Internet o tempo de resposta de uma aplicação é determinante para a sua aceitação. A
eficiência do MySQL não existe sem sacrifícios. Devido a isso, o MySQL possui várias limitações. Mas essas limitações
podem ser resolvidas via programação.
Finalmente, o projeto e a implementação dos formulários foram feitos. Como a plataforma em uso é Microsoft,
optou-se por utilizar uma ferramenta também da Microsoft. As tecnologias Active Server Pages (ASP) e ActiveX Data
Objets (ADO) foram as escolhidas para interligar o banco de dados à Internet e prover a interface com o usuário. ASP
permite que os scripts sejam executados no servidor, tornando o sítio independente do navegador. A tecnologia ASP foi
utilizada na construção da interface Web do sistema e ADO permitiu a interligação do banco de dados com esta interface.
O projeto dos formulários se baseou em princípios de Engenharia de Software e de Usabilidade, visando tornar a
aplicação de fácil manutenção e utilização. Também se teve a preocupação com a navegabilidade do sítio na tentativa de
reproduzir os mesmos passos do processo de restauração que é adotado no CECOR.
5 Conclusões
Este trabalho utilizou ferramentas de banco de dados e de processamento digital de imagens para auxiliar na
documentação do acervo do CECOR e ainda está em andamento, devido à grande quantidade de obras a serem
digitalizadas. Os formulários das visões da restauração e orçamento já estão sendo testados e os formulários do
laboratório ainda estão sendo projetados e logo já devem estar disponíveis para testes. Em breve, também deve iniciar o
processo de migração dos dados já armazenados no banco de dados do MS-Access para o MySQL.
Com base nos estudos sobre o funcionamento do CECOR, pode-se entender os principais requisitos do sistema e um
modelo E-R foi projetado e implementado no SGBD. A metodologia de digitalização adotada permitiu a visualização de
documentos de boa qualidade, resguardando os originais da manipulação desnecessária.
O sistema vem cumprindo bem seu objetivo maior que é automatizar o processo de documentação das obras que são
restauradas no CECOR. Por enquanto, o acesso ao sistema está restrito ao pessoal do CECOR, uma vez que se está
trabalhando na definição de categorias de usuários.
6 Referências
[1] Silberschatz, A., Korth, H. F. and Sudarshan, S., Sistemas de Banco de Dados, 3a. Ed., São Paulo: Makron, 1999.
[2] Elmasri, R. and Navathe, S. B., Fundamentals of Database Systems, Third Edition, Reading, Mass: Addisson –
Wesley 2000.
[3] Paula Filho, W. P., Multimídia: Conceitos e Aplicações, Rio de Janeiro: LTC – Livros Técnicos e Científicos Editora
S. A., 2000.
[4] De Andrade, N. S., Araújo, A. A., Um Sistema de Informação Multimídia para Recuperação de Documentos
Históricos, I Workshop em Tratamento de Imagens, Belo Horizonte, 2000.
[5] Valle Junior, E. A.,Araújo, A. A., Amorim, E. D., Andrade, N. S, A Web Multimedia Information System for Arquivo
Público Mineiro, I Workshop em Tratamento de Imagens, Belo Horizonte, 2000.
[6] http://www.libtiff.org (TIFF).
[7] http://www.jpeg.org (JPEG).