A íntegra da revista Financeiro está disponível em arquivo pdf, cuja

Transcrição

A íntegra da revista Financeiro está disponível em arquivo pdf, cuja
edição
85
mar
Ele sabe
o que diz
Antonio Delfim Netto
Com sua habitual inteligência e capacidade de síntese, o
ex-ministro da Fazenda esbanja mordacidade ao fazer uma
acurada análise da conjuntura do Brasil
Montadoras apostam no crédito para ter sucesso em 2014
2 financeiro março 2014
conteúdofinanceiro
8
36
16
8
Páginas Azuis
16
Crédito
40 Cultura
O ex-ministro Antonio Delfim
Netto faz uma análise acurada
sobre aspectos econômicos e
políticos do Brasil
Casa das Rosas, espaço para a
poesia e a literatura em
São Paulo
44 Educação
O escritor Pedro Bandeira fala
como os pais podem estimular
o hábito da leitura entre os
filhos
O financiamento é a grande
esperança da indústria
automobilística para 2014
29
Novo Associado
Banco CNH Capital, 62º
integrante da Acrefi
34
Terceiro Setor
Fundação Gol de Letra
comemora 15 anos e já atende
1.300 crianças e jovens
Artigos
14
Aquiles Diniz
19
Jairo Saddi
21
Dorival Dourado
25
Igor Tamasauskas e
Pierpaolo Bottini
Planos Econômicos
Crédito
Crédito2
Anticorrupção
40
36
Fora do Expediente
Louis Bazire, presidente do BNP
Paribas Brasil, é um mecenas
das artes na melhor acepção da
palavra
55
Alberto Borges Matias
Análise e Perspectiva
66
Nicola Tingas
Palavra Final
março 2014 financeiro
3
expediente
ISSN 1809-8843
Publicação da acrefi – Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento
Rua Libero Badaró, 425 – 28°andar – São Paulo – SP
Tel: (11) 3107-7177 fax: (11) 3106-6082 – www.acrefi.org.br
Presidente
Érico Sodré Quirino Ferreira
Vice-presidentes
Aquiles Diniz, Carlos Alberto Samogin, Claudio Messias Ferro, Décio Carbonari de Almeida, Élcio Azevedo, Felicitas Renner e
Mauro Roberto Vasconcellos Gouvêa
Tesoureiro
Alexandre Teixeira
Diretores regionais
José Agnelo Seger, Leonardo Dadauto, Luiz Carlos do Nascimento, Paulo Dalla Nora, Paulo Henrique Pentagna Guimarães, Pedro da Costa Carvalho e
Sebastião Cunha
Diretores executivos
João dos Santos Caritá Júnior e Rubens Bution
Montadoras
Edson Froes, Edson Ueda, Eduardo Varella, Gunnar Murilo, Joelcyr Carmello e Nelson Aguiar
Diretores conselheiros
José Carlos Alves e Victor Loyola
Conselho consultivo
Alkindar de Toledo, Manoel de Oliveira Franco e Ricardo Malcon (membros natos); Décio Carbonari de Almeida, Flávio Antonio Meneghetti, Ilídio
Gonçalves dos Santos, Miguel José Ribeiro de Oliveira, Ricardo Loureiro e Rogério Pinto Coelho Amato (membros)
Conselho fiscal
Domingos Spina e Sérgio Darcy (efetivos), Geraldo Lima Wandalsen e Marcus André de Oliveira (suplentes)
Diretor superintendente
Antonio Augusto de Almeida Leite (Pancho)
Controller
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Consultora Jurídica
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Economista-chefe
Nicola Tingas
Auditoria
Deloitte Touche Tohmatsu
Assessoria contábil
AG Silveira Contabilidade
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Publisher
Sergio Tamer
Redação
Editores
Theo Carnier e Gilberto de Almeida
Editor assistente
Gustavo Girotto
Repórteres
Eliane Santos, Elisa Polonio, Evandro Ribeiro, Geyse Alencar e Liliana Liberato
Fotografia
Régis Filho e Gabriel Kosman
Arte
Moacyr MW, Rafael Pascoal e Evaldo Bragança
Revisor
Vicente dos Anjos
Impressão
Eskenazi Gráfica
4 financeiro março 2014
editorial
Copo meio cheio,
meio vazio
O ano começou sob o espectro de incertezas
sipada, mas não há dúvidas de que foi um passo na direção correta.
e previsões de marasmo na economia, tendo em
Da mesma forma, foi muito bem recebida a decisão da presidente Dilma
vista principalmente a Copa do Mundo que teremos
Rousseff de comparecer, nos primeiros meses deste ano, a eventos como
em breve e as eleições de outubro. Os primeiros
a reunião anual do Fórum Econômico Mundial, em Davos, e ao encontro do
meses mostraram, no entanto, que os negócios
Mercosul com a União Europeia, em Bruxelas. Foi outra sinalização importante,
estão mais aquecidos do que se previa, o que levou
que mostrou na prática a disposição do governo de se abrir mais para o mundo
a questionamentos: será que as estimativas foram
de uma maneira estrategicamente correta.
pessimistas demais? A economia brasileira criou
Há outras indicações de que o governo está disposto a adotar as medidas
resiliência suficiente para se manter ativa em que
necessárias para reforçar a confiança do empresariado nos rumos da política
pesem as expectativas pessimistas?
econômica, entre as quais destacam-se a prioridade do combate à inflação
As respostas a essas questões nos remetem à
(com a elevação dos juros básicos mesmo em um ano eleitoral) e a aproxima-
figura do “copo meio cheio, copo meio vazio”. Em
ção mais estreita com o Congresso para evitar que se leve o País a viver uma
outras palavras, as diferentes situações podem ser
indesejável “farra fiscal”.
vistas de um ponto de vista pessimista ou de uma
Evidente que essas posturas, mesmo que positivas, estão longe de eliminar
perspectiva otimista, a depender do viés que dire-
focos de apreensão com o comportamento da economia (o copo “meio vazio”).
ciona essas visões.
Mesmo levando em conta essas incertezas, no entanto, o panorama está longe
Sob essa óptica, é possível dizer que, sim, o
de ser desalentador. Temos motivos para continuar apreensivos, mas temos
copo está “meio vazio” já que o Brasil enfrenta um
também fatos que nos levam a pender para o otimismo. Pode-se até considerar
período de grandes desafios e a economia certa-
que o copo está meio vazio, mas parece haver ainda mais razões para que se
mente sente os efeitos desse cenário, ao qual se
veja que o copo está meio cheio. O que não pode haver é paralisia. Mas quem
somam eventos do porte da Copa do Mundo e das
vive na economia brasileira sabe muito bem que é preciso ser dinâmico e que
eleições, que têm potencial de “paralisar” par-
se deve trabalhar sempre com muito otimismo.
cialmente o País por um período. Mas, ao mesmo
cheio” –, que nos animam a tocar nossos negócios
e renovar a esperança de dias melhores.
Um exemplo que nos leva a considerar que o
copo está “meio cheio” foi o anúncio, pelo governo,
da meta de alcançar superávit primário equivalente
a 1,9% do PIB este ano. Trata-se de uma iniciativa
mais do que bem-vinda, principalmente por se
tratar de uma sinalização de que o governo está
empenhado em melhorar a situação fiscal. Claro
Érico Sodré Quirino Ferreira,
Presidente da Acrefi
Foto: Flávio Roberto Guarnieri
tempo, há também sinais positivos – o copo “meio
que há alguns reparos e que a desconfiança dos
agentes econômicos ainda não está totalmente dismarço 2014 financeiro
5
nossasassociadas
ACFI - Aymoré Crédito,
Financiamento e Investimento S.A.
Banco Safra S.A.
Kredilig S/A Crédito,
Financiamento e Investimento
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Agiplan Financeira S.A. CFI
Banco Semear S.A.
Lecca Crédito, Financiamento e
Investimento S.A.
Banco A.J. Renner S.A.
Banco Toyota do Brasil S.A.
Banco Volkswagen S.A.
Mercantil do Brasil Financeira
S.A. - Crédito, Financiamento e
Investimentos
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S.A.
Midway S.A. - Crédito,
Financiamento e Investimento
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Funchal (Brasil) S.A.
Múltipla CFI S/A
Banco Carrefour S.A.
Banco Cifra S.A.
BMW Financeira S.A. CFI
Negresco S/A Crédito,
Financiamento e Investimentos
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BV Financeira S.A. - Crédito,
Financiamento e Investimento
Omni S.A. - Crédito,
Financiamento e Investimento
Caixa Econômica Federal
Parati Crédito Financiamento e
Investimento S.A.
Banco Bonsucesso S.A.
Banco Bradesco Financiamentos
S.A.
Banco Cacique S.A.
Banco Citicard S.A.
Banco CNH Capital
Banco Daycoval S.A.
Caruana S.A. Sociedade de Crédito
Financiamento e Investimento
Banco De Lage Landen Financial
Services Brasil S.A.
Cetelem Brasil S.A - Crédito,
Financiamento e Investimento
Banco do Brasil S.A.
Cred Capixaba S/A Soc. Crédito,
Financiamento e Investimento
Banco Ficsa S.A.
Credifibra S/A CFI
Pernambucanas Financiadora
S.A. - Crédito, Financiamento e
Investimento
Portocred S.A. - Crédito,
Financiamento e Investimento
Portoseg S.A. - Crédito,
Financiamento e Investimento
Banco Fidis S.A.
Banco Gerador S.A.
Dacasa Financeira S.A. - Socied.
de Crédito, Financiamento e
Investimento
Banco GMAC S.A.
Banco Honda S.A.
Banco Intermedium S.A.
Finamax S.A. - Crédito,
Financiamento e Investimento
Financeira Alfa S.A. - Crédito,
Financiamento e Investimentos
Banco Itaú S.A.
Financeira BRB
Santana S.A. - Crédito,
Financiamento e Investimento
Sax S.A. Crédito, Financiamento e
Investimento
Socinal S.A. Crédito,
Financiamento e Investimento
Sorocred Crédito, Financiamento e
Investimento S.A.
Banco Itaucard S.A.
Herval Financeira S.A. CFI
Banco Panamericano S.A.
Banco PSA Finance Brasil S.A.
Banco Rodobens S.A.
6 financeiro março 2014
HSBC Bank Brasil S.A. Banco
Múltiplo
Sul Financeira S.A. - Crédito,
Financiamento e Investimento
Todescredi S/A - Crédito,
Financiamento e Investimento
março 2014 financeiro
7
entrevistadomês
“O homem nasceu
para o ócio!”
Há tempos Antonio Delfim
Netto deixou de ser ministro,
deputado federal e professor
da USP. Mas ele é um caso
clássico de rei que não
perdeu a majestade: continua
trabalhando a pleno vapor em
um casarão no Pacaembu,
bairro nobre de São Paulo, e
sua palavra é considerada
uma das mais acuradas na
análise do Brasil. Foi em seu
escritório que Delfim recebeu
a revista “Financeiro” para
uma conversa em que, bem
ao seu estilo mordaz, falou
praticamente sobre tudo
relacionado à economia e à
política.
Por
Theo Carnier e
Gustavo Girotto
Fotos: Régis Filho
8 financeiro março 2014
Revista Financeiro: Os dados da economia sinalizam que
o Brasil vive uma intitulada ‘recessão técnica’ em 2014. O que o
governo deveria fazer para recuperar a confiança dos agentes
econômicos?
Delfim Netto - Na verdade não sei se estamos em uma recessão técnica. Ainda é preciso esperar um pouco mais para
avaliar. No fundo, é uma convenção imaginar que dois trimestres negativos constituem uma recessão. É uma coisa desagradável, mas não é nenhuma tragédia e a recuperação é possível.
Acho que hoje realmente há uma grande desconfiança entre o
setor empresarial privado e governo, que foi construída ao longo de três ou quatro anos – por incompreensão dos dois lados.
Quando o governo fez as intervenções no setor elétrico, depois
nos portos e o fracasso dos leilões de concessão, deu a impressão que ele [governo] era contra o lucro, ou seja, no fundo
também o setor privado entendeu que a modicidade tarifária
sinalizava um lucro zero. O setor privado ficou horrorizado com
o governo que, por sua vez, também ficou horrorizado com o
setor privado – que o considerou um bando de egoístas. Foi um
erro de comunicação!
Financeiro - Mas o senhor acredita que controle tarifário ou
essa intervenção são necessários?
Delfim Netto - Modicidade tarifária ou controle são necessários em qualquer concessão. Porque a concessão transfere
o monopólio público para o privado. Nós sabemos que o monopólio do governo é frouxo. Já o monopólio privado é cruel mesmo e, quando você transfere o público para o privado, é preciso
manter a integridade de contratos bem elaborados. É necessário manter a estabilidade financeira do contrato e, para isso,
é preciso de agências que não sejam aparelhadas por companheiros de passeata, mas, por gente absolutamente competente. São instituições de Estado e não do governo de plantão.
Como o aparelhamento dessas agências não foi da melhor
qualidade, não se deu muita confiança; acabaram cortando-se
verbas de funcionamento. Daí o setor privado percebeu que os
projetos não são de boa qualidade, não têm garantias de que
emergências sejam levadas em conta no equilíbrio econômico
e financeiro do contrato, e ele respondeu: não vamos
entrar nesse negócio. Essa é a opinião deles! Por outro lado, o governo entendeu que a forma de fazer
estava correta, mas o método de como fazer, não.
Nesse sistema você pode fixar prioridades, exemplo:
eu quero uma AutoBan no estilo alemão, por 25 anos,
que vai atender ao aumento da demanda de tráfego
e, depois do tempo concedido, você vai me devolver
intacta e atendendo a toda a demanda – só que é preciso ter um projeto correto. Para que isso ocorra, é
preciso atrair um número viável de competidores e
decidir quem vai ganhar por meio de
um leilão, que foi onde a teoria econômica mais avançou. Não é coisa de
amador, é coisa de profissional e o governo demorou para entender.
Financeiro - Então, qual a saída
honrosa para esse imbróglio entre
público e privado?
Delfim Netto - No início, quando
o governo fixava a taxa de retorno, a
resposta do setor privado era: “com
essa taxa de retorno é somente essa
porcaria que eu lhe posso apresentar”. Felizmente isso foi superado no
ano passado, na segunda metade
do ano, e graças a uma intervenção
dos Ministros Gleisi Hoffmann, Guido
Mantega e César Borges, isso foi superado.
Financeiro - Empresários e investidores reclamam que não conseguem
ver um horizonte de longo prazo na
política econômica. Qual é a sua opinião sobre isso?
Delfim Netto - O que qualquer país
deseja? O nosso, está na nossa Constituição: queremos uma república,
uma democracia em que a igualdade
de oportunidades continue crescendo. Ela [constituição] diz que basicamente faremos isso através dos
mercados, do uso dos mercados. Eles são construções humanas, não foram inventadas por ninguém,
é uma forma de conciliar objetivos contraditórios.
O homem deseja liberdade, igualdade, e precisa de
eficiência produtiva, por quê? O homem não nasceu
para produzir, nasceu para o ócio! Quanto mais eficiente ele for em produção, mais tempo terá para ser
homem e realizar sua humanidade. O homem saiu
da África há 140 mil anos e foi procurando uma for-
ma de organização que combinasse esses três objetivos não combináveis, que
são contraditórios, e o mercado é o pior de todos os sistemas – tirando todos os
outros. Cada vez que um cérebro peregrino inventou um curto-circuito, terminou
na Rússia, na China no Pol Pot (revolucionário comunista que liderou o Khmer
Vermelho, governante do Camboja, responsável pelo genocídio cambojano), o que
acontece? É um processo de evolução quase natural. Esse sistema que está vai
continuar, ele nunca é permanente. O capitalismo não é uma coisa, é um processo
histórico, que vai passar por que o homem continuará procurando organizações
capazes de produzir esses valores de forma razoável. Quando não há perspectivas, é por que nós mesmos as destruímos. Esse desentendimento entre o setor
empresarial privado e o governo criou uma dúvida muito grande e, mais, os fatos ocorridos em que você teve uma
inclusão social muito importante
criaram uma diferença do que pensa esse setor empresarial e os que
foram beneficiados nesse processo
distributivo.
Financeiro - O senhor falou do
problema nas tarifas públicas, mas
um exemplo foram as de ônibus, vistas pela sociedade como um dispositivo arbitrário?
Delfim Netto - Isso tudo é uma
incompreensão, pois as pessoas
querem coisas gratuitas. A gratuidade só pode ser para o indivíduo, pois
para sociedade não há nada gratuito. Eu sempre dizia ao Montoro (André Franco Montoro, governador de
São Paulo falecido em 1999), que foi
meu professor de Direito Privado e
grande amigo, que esse negócio de
colocar nos ônibus “Transporte: um
direito do cidadão e um dever do
Estado” estava errado. Transporte é
um direito do Pedro, pago pelo Mário. Para a sociedade não tem lanche
grátis, para um indivíduo até pode
ter. Quando você faz um movimento
como esse, é preciso decidir. Ou põe
no tesouro e aumenta impostos e todos pagam para o João andar de graça, ou o
mesmo João terá que pagar. Os dois sistemas são eticamente discutíveis, mas é
mais razoável o João pagar, do que todos pagarem para o João.
Financeiro - Alguns economistas afirmam que a inflação subirá ainda mais
nos meses da Copa do Mundo. O senhor também tem falado que o brasileiro precisa começar a pagar o preço real da energia, dos combustíveis e do transporte.
O que falta para isso acontecer?
Delfim Netto - Isso significa que a inflação dará um pulo e voltará ao normal. Se tivéssemos uma indexação plena seria muito grave. O que quer dizer: no
mês de julho explodiria, em agosto subiriam todos os salários, mas já não é mais
março 2014 financeiro
9
entrevistadomês
assim... Essas posições, digamos, do Ministério da
Justiça, de que você tem que tabelar, não funcionam.
Ela é até demonstrável fisicamente, um exemplo é
aqui em São Paulo e nós assistimos isso. Um bom
programa do atual prefeito convenceu alguns consumidores de crack a trabalhar – deram uniforme,
um pouco de instrução, eles trabalharam e no fim de
semana receberam uma ‘graninha’. No dia seguinte,
o preço do crack tinha dobrado. Por que isso? Porque a oferta não tinha se preparado para o aumento
de demanda. O que parece é que estamos iludidos
sobre a possibilidade de fazermos algumas coisas e
esquecemos que o politicamente correto é o fisicamente impossível.
Financeiro - O que o senhor acha que vai acontecer durante a Copa?
Delfim Netto - O povão vai assistir à Copa de casa, dos bares.
No estádio é para gringos e uma
minoria que tem renda, mas eu
pergunto: há outra saída? Não! Se
não existisse televisão seria algo
brutal, pois o povão que pagou
teria que ficar chupando o dedo
do lado de fora dos estádios para
ouvir se era tiro ou gol. O avanço
tecnológico acalma um pouco com
a injustiça desse processo, mas,
de qualquer forma, o que estamos com dificuldade de entender
é que esse sistema que está aí
não foi inventado por ninguém.
Ele é um sistema muito eficiente
para alocação dos fatores, mas ele
tem defeitos: é muito competitivo,
cria desigualdades. Por isso que
na Constituição diz “igualdade de
oportunidades”, ou seja, nessa corrida – que é o sistema – todo mundo precisa sair do
mesmo lugar. A justiça é na saída, não na chegada.
Não importa se você nasceu em uma família muito
rica ou se foi fabricado em uma noite de sábado, no
Museu do Ipiranga. Depois de concebido você precisa ter direito à saúde e à educação – para o ponto de
partida, ou seja, precisa ser equivalente àquele que
nasceu em berço de ouro. Sua chegada dependerá
de sua sorte, do seu DNA, mas o importante é que
você tenha o mesmo ponto de partida. É por isso
que a Constituição Brasileira tem um negócio, que
parece utópico, como “saúde e educação universais
e gratuitas”. O Brasil não possui nenhuma das duas,
mas esse é um objetivo absolutamente importante
para produzir igualdades e oportunidades.
Financeiro - O senhor acredita que o Brasil será um país desenvolvido?
Delfim Netto - É claro que chega, o Brasil melhorou dramaticamente, não vamos ter ilusão. Pergunto: por que a Dilma tem 47% de aprovação? Se ela fosse
ter voto na classe empresarial privada teria 2%. São dois mundos distintos e é
aquilo que o jornalista Elio Gaspari chama, com muita graça, de “andar de baixo”. O andar de baixo melhorou demais, não só em ascensão econômica e social,
ele mudou sua forma de pensar. Quando você vê uma empregada doméstica se
sacrificando para educar seus filhos, é por que ela entendeu que só existe um
mecanismo de ascensão social que, como sempre digo – é o pior de todos, com
exceção de todas as outras, que é a educação. Esse mundo está mudando, criou-se uma classe média importante – que hoje constitui um mercado que dá suporte para o crescimento. Ou entendemos isso, ou não vamos para lugar algum.
Quando o sujeito melhora, principalmente em educação, ele quer mais. Tudo isso
– esses movimentos na rua – tem gosto de quero mais. O que acontece? Vai mesmo mudar a estrutura de poder, não tem remédio. Isso tudo é um aperfeiçoamento do processo. O governo escolheu mal as prioridades! As pessoas entenderam,
porque estão mais educadas, que com o mesmo cimento
e ferro que se constroem um estádio, também se faz um
metrô e um hospital. Isso é um progresso espetacular e
que vai ter consequências...
“Não importa
se você nasceu
em uma família
rica ou se foi
fabricado em
uma noite
no Museu do
Ipiranga. Depois
de concebido
você precisa ter
direito à saúde e
à educação.”
10 financeiro março 2014
Financeiro - Até que ponto lhe preocupa a economia
do País da forma como está sendo conduzida?
Delfim Netto - Não há nenhuma indicação do ponto
de vista social de que estamos piorando, mas do ponto de vista econômico nossa situação é desconfortável,
embora não estejamos às vésperas de um apocalipse,
ele não está na esquina. O déficit público é alto, em torno de 58% do PIB. Ele é muito maior que o dos países
emergentes, com nosso nível de renda. 60% maior praticamente! Mas por que ele é desconfortável? Primeiro
porque exige mais juros, porque ele valoriza o câmbio
e a demanda excedente produz uma porção de problemas. A maior importância é que se houver uma crise
de verdade, e você tiver que usar outra vez uma política
pública em um sistema anticíclico, não há mais espaço.
É uma coisa devastadora? Não! Nos últimos 10 anos,
praticamente, a relação dívida bruta PIB ficou constante.
Mesmo com todos os erros do governo em 2002, aquela
cooperação brutal de alquimia, os erros de previsão do governo em relação a
ter um superávit primário de 2,5%, depois baixa para 1,9%, em seguida 1,5%.
Ou seja, não causamos nenhum desastre. O déficit público também cresceu um
pouquinho agora no final, mas está em torno de 3 a 3,5%, o que é perfeitamente
razoável quando o País cresce. Ela é desconfortável sim, mas não produz uma
tragédia. O que produz um efeito muito ruim é a acumulação dessas armas de
destruição de política fiscal que estão acumuladas no Congresso...
Financeiro - O Senado disse na grande imprensa que começou a se movimentar contra a chamada “contabilidade criativa” nas contas públicas. O que de
prático pode ser feito?
Delfim Netto - O governo abdicou disso. A visita da Dilma a Davos e à União
Europeia significa uma mudança profunda no comportamento do governo. A reunião do ministro Guido Mantega com analistas financeiros mostra que o governo
Dilma se comprometeu a fazer um superávit primário de 1,9%. Que é mais que o
suficiente para reduzir ligeiramente a dívida pública e mantê-la sob controle. No fundo não podemos
dar nenhuma demonstração de que não estamos
cuidando, de forma absoluta, do equilíbrio fiscal.
Estamos sob ameaça de uma redução do nosso rating e, nesse momento, isso seria uma tragédia...
Financeiro - O senhor falou da importância de a
presidente Dilma ter ido a Davos e a Bruxelas. Mas
o Brasil não está cometendo erros estratégicos em
sua política internacional?
Delfim Netto - Nós apostamos no Atlântico Sul,
que hoje é um cemitério. O Atlântico Sul, atualmente, somos apenas nós e a África. Nós precisamos renovar esse sistema e nos ligar ao mundo outra vez.
Perdemos aquela ousadia que tivemos no passado,
de ampliar as exportações e fazer um trabalho de
verdade. Basta ver o seguinte: de 1981 a 1984, Brasil, Coreia do Sul e China exportavam a mesma coisa, 1,2% das exportações do mundo. Hoje, o Brasil
exporta 1,3%, a Coreia 3,5% e a China, 12%.
Financeiro - Por que a inflação está desde 2008 no nível de 6% ao ano?
Delfim Netto - Cada vez que você tem meta inflacionária com banda, o Banco Central namora com a banda de cima. E não é só no Brasil. Mas é preciso
lembrar que esse processo de valorização excessiva do câmbio foi feito com
um enorme aumento do salário nominal e com uma enorme compressão do
câmbio nominal. Isso tinha que desabar em algum lugar – ou em inflação ou em
déficit de contas-correntes. A inflação de 5%, 6% ao ano não é nada trágico. Ela
não vai explodir, não vai acontecer nada. Mas ela é desagradável, é o dobro do
nível de muitos dos nossos competidores. Mas não tem nada dessa história de
que a inflação vai explodir, vai voltar a níveis de 30 anos atrás.
Financeiro - Então, por que a inflação se mantém nesse nível?
Delfim Netto - A rigor, nunca terminamos o Plano Real. Nunca fizemos o
ajuste necessário da política fiscal. Todos os governos depois de 1988 se recusaram a ajustar as finanças públicas às exigências da Constituição, que persegue o tempo todo o vetor de igualdade de oportunidades.
Financeiro - O panorama externo parece estar melhorando, com a retomada
dos Estados Unidos. O Brasil não ganha com isso?
Delfim Netto - O Brasil vai se beneficiar sim. Somos parte do mundo, e temos os ônus e os bônus de fazer parte do mundo. O grande problema hoje é a
Argentina, principalmente para a indústria automobilística brasileira. Se você
não achar um mecanismo para ajustar isso, só esse problema já vai tomar mais
ou menos 0,5% do PIB brasileiro este ano.
Financeiro - O que falta para o Brasil liderar esse bloco do Mercosul?
Delfim Netto - Na verdade isso não é um bloco. É uma mixórdia. O Mercosul teve um papel muito importante, foi um fator decisivo para eliminar a
maior tensão entre Brasil e Argentina, uma tensão militar enorme. Mas hoje
não tem mais. O Mercosul não é um mal em si. Ele nunca deveria ter sido o
que foi, deveria ter sido um tratado de livre comércio, eliminar as tarifas entre
nós e cada um levar sua vida.
Financeiro - Os acordos bilaterais do Brasil não
são lá algo para se orgulhar...
Delfim Netto - Temos três acordos bilaterais e
quando se olha para eles é fácil ver o ridículo: com o
Egito, com a Autoridade Palestina e com Israel. Fica
claro que o Brasil não entendeu as mudanças do
sistema produtivo que ocorreram a partir de 2002.
Ninguém mais produz tudo sozinho.
Financeiro - Como foi essa mudança do sistema
produtivo?
Delfim Netto - Você pega, por exemplo, uma caneta. A tinta é produzida na Indonésia, a ponta na
China, o plástico nos Estados Unidos. A caneta é
apenas montada na China. Jogamos fora três coisas
que tínhamos, fora um câmbio relativamente desvalorizado, um sistema em que crescia o valor adicionado e um sistema de draw back verde-amarelo
que permitia a importação de praticamente tudo o
que você quisesse importar. O Brasil não foi perseguido por ninguém, foi perseguido por si mesmo.
Financeiro - A presidente Dilma é favorita nas
pesquisas para vencer as próximas eleições presidenciais. O senhor considera que, se ela for realmente eleita, a tendência é de mudanças estruturais na política econômica?
Delfim Netto - A mudança já está acontecendo
sob os nossos olhos. Obviamente demorou para se
entender o processo, mas está acontecendo. Ninguém pode insistir no que não deu certo.
março 2014 financeiro
11
entrevistadomês
Financeiro - Se o senhor tivesse que sugerir medidas microeconômicas,
quais seriam suas sugestões?
Delfim Netto - Não tem que sugerir nada. O Brasil tem pouca sugestão e pouca
“fazeção”.
Financeiro - O senhor tem uma ligação muito próxima com a presidente...
Delfim Netto - Não tem nada isso. Por acaso você acredita na imprensa? Isso
é um mito. Tenho grande admiração pela presidente Dilma. Acho que ela é profundamente correta, tem uma extraordinária boa vontade, com ideias muito firmes, faz tudo certo, de maneira errada.
Financeiro - O que falta para fazer da maneira certa?
Delfim Netto - No fundo é uma angústia de fazer depressa.
Financeiro - É uma questão de personalidade, de formação?
Delfim Netto - Não acredito. Veja a questão da energia, em que ela fez tudo
certo, não houve violação nenhuma de contrato. Três empresas não aceitaram e
tinham o direito de não aceitar. Mas a execução... é claro que ficaram uma porção
de problemas no meio do caminho e agora, ainda por cima, o clima não ajuda.
Mas não tenha dúvida de que a baixa do custo de energia era fundamental e infelizmente não aconteceu.
Financeiro - Ministro, o Copom marcou duas reuniões para o período pós-eleição,
o que é raro. O senhor enxerga alguma intenção de elevar os juros nessa decisão?
Delfim Netto - Não, não tem nada a ver. O Copom sinalizou que vai continuar
mantendo seu calendário, de reuniões a cada 45 dias. O Brasil está em condições
normais de pressão e temperatura.
Financeiro - O senhor considera que será melhor se a presidente Dilma for
reeleita?
Delfim Netto - Eu confio na presidente Dilma. Ela tem muito boas intenções,
tem disposição. Essas últimas manifestações dela estão na direção correta. É só
verificar, por exemplo, que no segundo semestre de 2013 correram muito bem as
concessões. Há uma compreensão muito maior do setor privado sobre ela e dela
em relação ao setor privado.
Financeiro - Mas parece que a compreensão está em estágio muito inicial. E
há a base aliada no Congresso.
Delfim Netto - Só quem está sentado lá, naquela cadeira da presidência, é que
sabe. E existe uma verdade, os inimigos estão sempre dentro de casa. Os inimigos que estão fora de casa não trazem nenhuma amolação.
Financeiro - Em relação à balança comercial, como fica a situação do Brasil?
Delfim Netto - Essa foi uma escolha nossa. Agora, a exportação do agronegócio não é um mal. Pelo contrário, é um grande bem. Mal foi termos abandonado a
indústria. O agronegócio resistiu aos erros do governo. Resistiu, por exemplo, ao
erro de não se corrigir o preço do petróleo, que destruiu o setor de etanol, acabou
com o biodiesel, e não aproveitou até agora toda a energia que está acumulada
nas usinas de São Paulo, que são maiores que a de uma hidrelétrica. E, além
disso, tem custo muito pequeno porque basta ligar na rede.
Financeiro - O senhor tem dito que o brasileiro precisa pagar os preços das
coisas, como combustível, energia...
Delfim Netto - Você tem que respeitar o sistema de preços. Queremos liber12 financeiro março 2014
dade de ação e condições isonômicas para funcionar.
Agora, está-se começando a entregar de volta as
condições isonômicas. Destruímos a infraestrutura do Brasil nos últimos 30 anos. Não houve investimento. Quando o Brasil crescia, a carga tributária
era de 24% do PIB e o investimento do governo era
5% do PIB. Hoje, a carga é 36% e o investimento não
chega a 2%.
Financeiro -No começo do governo Dilma, a presidente deu sinalizações que foram elogiadas por
economistas. Depois, é que mudou, o que aconteceu?
Delfim Netto - Quando assumiu, a presidente
fez o que era correto, por que estávamos em uma
expansão que era insustentável. Depois, acho que o
governo errou, ela teve que corrigir. Agora, não precisava ter desenvolvido essa diferença entre o setor
empresarial privado e o governo. Isso foi criado pelo
próprio governo. Durante anos, o que ele queria era
taxa de retorno que produzisse modicidade tarifária.
O objetivo era absolutamente legítimo, só que a diretriz era absolutamente errada. Demorou até que
as coisas andassem. Voltamos ao problema: quando
você tem duas variáveis ligadas, é preciso fixar uma,
outra sai da ligação. Nesse caso você tinha duas variáveis, que eram a taxa de retorno e a qualidade do
investimento. Agora, isso está superado. Veja o leilão
de Libra. Alguns dizem que foi um fracasso. Fracasso
coisa nenhuma: aconteceu exatamente o que o governo gostaria que acontecesse.
Financeiro - Por que o senhor avalia que o leilão
de Libra foi um sucesso?
Delfim Netto - É simples. Alguém pode imaginar,
quando se coloca a Petrobras no meio de um leilão
desses, e é obrigatório ela ter 30% de qualquer um
dos projetos e escolhe alguns dos parceiros, que alguém vai entrar contra o consórcio? Só se for louco,
porque vai ser vítima da maldição do vencedor. A Petrobras sabe muito, muito mais sobre nossa geologia
do que todos os outros juntos. Cometeram-se muito
erros em relação à Petrobras, mas está sendo feita
agora uma arrumação. Tenho admiração pela presidente da Petrobras, Maria das Graças Forster. Ela é
correta, honesta, não fala uma mentira. A Petrobras
é uma instituição de alta qualidade. A política de preços do Executivo é que foi um equívoco.
Financeiro - O senhor critica muito essa política de
preços de combustíveis.
Delfim Netto - Não se poderia fazer uma política dessas sob a justificativa de ganhar alguns pontinhos na inflação. Ora, não ganha esses pontinhos.
Ninguém consegue, com truques, baixar a inflação.
Financeiro - Qual é a sua previsão para crescimento do PIB em 2014?
Delfim Netto - Acho que em 2014 teremos crescimento abaixo de 2%. É um
ano de transição. Espero que o acordo fiscal feito pela presidente junto com o
Congresso funcione, e que o Congresso não vote nenhum aumento de despesa
e nenhuma redução de receita. É dar tempo para que não se perca o nível de
rating e para que, depois da eleição – haja o que houver, ganhe quem ganhar
– se ponha um ponto final em tudo isso. Vai ter que, de fato, construir uma sociedade em que a liberdade de iniciativa seja mais plena, em que a intervenção
econômica seja menor, e assim por diante. Mas eu insisto: o Brasil não está à
beira de um precipício, não está para enfrentar o apocalipse.
Financeiro - O Brasil caminha para se tornar um país desenvolvido?
Delfim Netto - Não tenho a menor dúvida. Estamos caminhando obviamente para ter uma sociedade mais civilizada. A despeito de tudo o que acontece
na rua, o processo civilizatório está em marcha, a ascensão social é visível. O
mais humilde cidadão entendeu que só há um mecanismo de ascensão social,
a educação. Isso é uma mudança muito profunda, que está funcionando. Só
o Estado de São Paulo tem hoje mais de 400 universidades. Não são iguais à
USP, nem ao MIT, mas representam um upgrade fundamental.
“O mais humilde
cidadão entendeu
que só há um
mecanismo de
ascensão social, a
educação.”
Financeiro - As pesquisas mostram que o brasileiro quer mudanças na próxima eleição, mas com Dilma no governo.
Delfim Netto - A presidente Dilma tem a confiança do andar de baixo. O
nosso sistema é um jogo dialético, entre a urna e o mercado. Quando o mercado exagera em seu economicismo, a urna vem e corrige. E quando a urna exagera em seu otimismo, o mercado vem e corrige. O tempo para essa correção
é que é o problema. Não chegou o momento ainda. A urna ainda vai falar: “Eu
quero esse processo distributivo feito de forma mais inteligente”. É isso que a
oposição não está entendendo. O sentimento é “não quero a volta ao passado,
quero isso que está aí, só que mais bem feito”.
Financeiro - Se a presidente Dilma realmente vencer, ela terá logo que dar
um choque, trocar talvez um ministro, não é?
Você apenas transfere a data em que a inflação vai
aparecer. O velho Eugenio Gudin dizia uma coisa
muito boa sobre isso: inflação é igual gravidez; um
dia, inexoravelmente, ela aparece. Então, vai ter
que enfrentá-la em 2015, 2017, quando for. Não
valeu a pena gastar mais de 1% do PIB para economizar, talvez, 0,1% de inflação ao longo de quatro
ou cinco anos.
Financeiro - Onde foi o maior erro?
Delfim Netto - Foi um erro de avaliação. Não é
só um problema da Petrobras. É uma questão também do que fizemos com a energia alternativa. Nós
jogamos fora uma ideia. O etanol é uma invenção
praticamente brasileira, a tecnologia do etanol, a
tecnologia do flex fuel, é tudo nacional. Causamos
prejuízos monumentais a investidores que acreditaram no governo. Já fizemos isso com o Proálcool
no passado. A verdade é que o empresário, apesar
de tudo o que se diz dele, não resiste à tentação de
tentar de novo.
Delfim Netto - Nesse negócio de choque, nem a Eletrobras funciona. Mas,
acho irrelevante discutir troca de ministros. Pelo contrário, acho Guido Mantega um bom ministro. Repito, o importante é o que a urna está dizendo: “Presidente Dilma, um pouco mais, mas com menos”.
Financeiro - Falando sobre o setor automobilístico, ele é motivo de preocupação nos últimos tempos. O senhor acha necessário um mecanismo de
crédito para esse setor.
Delfim Netto - O setor está muito bem protegido. Tanto é verdade que temos 20 montadoras atualmente no País. O mais importante é que haja concorrência. O grande problema do Brasil, o erro fundamental, foi criar oligopólios, a
tal teoria de “vencedores globais”. É tudo empulhação, para a criação de oligopólios, que são menos voltados para a eficiência e exercem poder econômico
descabido.
Financeiro - Mas a criação de oligopólio vem de anos, por exemplo, do “milagre” econômico.
Delfim Netto - Não, não. Você tinha câmbio razoável, tarifa razoável. Há
oligopólios naturais. Ninguém produz, por exemplo, 150 toneladas de aço por
dia. O que você não pode é construir a sociedade em cima dos oligopólios. Você
fica muito vulnerável.
março 2014 financeiro 13
artigoplanoseconômicos
Fantasmas dos Planos Collor,
Bresser e Verão
Por Aquiles Diniz
A hipótese de tirar o amparo constitucional das
leis, que deram sustentação jurídica aos planos
econômicos criados nas décadas de 1980 e 90 para
combater a inflação, representa um risco sistêmico aos bancos públicos e privados e pode provocar
grande turbulência na economia brasileira.
Quase 400 mil ações questionam a correção monetária e pedem ressarcimento por supostas perdas na caderneta de poupança, já que as medidas
congelaram e tabelaram preços. As pessoas que entraram com ações individuais pedem que a correção
seja feita com base na inflação
medida pelo Índice de Preços
ao Consumidor (IPC). Entidades também ingressaram com
ações coletivas (ações civis públicas), que podem beneficiar
os poupadores que fazem parte
dessas ações.
Caso seja votada, a mudança pode colocar em cheque
marcos regulatórios importantes, com perda da segurança
Aquiles Diniz:
jurídica e gerar descrédito invice-presidente da
ternacional. Até mesmo o rating
Acrefi
do crédito soberano brasileiro
pode ser rebaixado, perdendo o
País o tão sonhado “investment
grade”. Com isso, o custo internacional aumenta e o
dólar dispara, dificultando a captação de recursos,
trazendo pressão inflacionária.
O prejuízo causado às instituições financeiras
pode chegar a R$ 150 bilhões, segundo estimativa
do Banco Central. O custo final, porém, com a adesão de novos poupadores animados com uma eventual vitória pode chegar a 600 bilhões de reais. Com
esse rombo, a oferta de crédito no Brasil diminuiria
em pelo menos nove vezes o valor perdido, cerca
de R$ 5 trilhões, e, consequentemente, haveria a
14 financeiro março 2014
redução da atividade econômica e impacto no
emprego e na renda.
Até que Supremo Tribunal Federal (STF)
julgue os processos, o cenário econômico brasileiro ficará em suspense. Dependendo dessa
decisão, reflexos negativos surgirão nas áreas
fiscais e monetárias, tendo a mesma magnitude daquelas desencadeadas pelos mais
violentos choques externos, podendo levar à
insolvência instituições de porte.
Enfrentar ameaças à estabilidade da economia no presente e no futuro faz parte do
jogo, mas, buscar no passado uma crise desestabilizadora, é desmoralizar a sociedade.
Como constatou Pedro Malan, ministro da Fazenda do governo Fernando Henrique Cardoso: “No Brasil até o passado é incerto”.
Caso os bancos sejam derrotados no julgamento sobre a correção, o governo pode ser
levado a aumentar impostos ou criar novas
contribuições, é o que adverte a Advocacia-Geral da União (AGU). Nesse contexto, a União
terá que agir para garantir a estabilidade econômica, com a certeza de que os contribuintes
terão que arcar com esta conta.
Em 2000, o STF determinou a correção
dos saldos do FGTS em apenas dois planos e,
após aquela decisão, foi criada a multa de 10%
desse fundo para os casos de demissões sem
justa causa dos trabalhadores, para pagar os
correntistas beneficiados com essa decisão.
Esse cenário negativo faria desabar a
bolsa de valores e desvalorizar outros ativos
financeiros desses mesmos poupadores que
recorreram à justiça. Neste momento, o que o
Brasil mais precisa é de um choque positivo de credibilidade, gerando estabilidade e
equilíbrio. Fazer o contrário é dar com os
burros n’água. f
março 2014 financeiro 15
análisedemercado
Montadoras
apostam no
crédito
A expectativa é de que o financiamento de veículos
impulsione os licenciamentos em 1,1%, levando as
vendas para 3,81 milhões de unidades
O crédito é a grande esperança da indústria automobilística para que 2014 seja um ano favorável ao
setor. Em um ambiente em que a produção deve crescer 0,7%, na estimativa da Anfavea (a associação das
montadoras), e depois da queda de 0,9% nas vendas
em 2013, para 3,77 milhões de veículos novos – primeiro recuo em 10 anos – a expectativa é de que o
financiamento de veículos impulsione os licenciamentos em 1,1%, levando as vendas para um total de 3,81
milhões de unidades.
O presidente da Anfavea, Luiz Moan, não deixa dúvidas de que as esperanças das montadoras repousam sobre um crescimento do crédito para compra de
veículos: “Tenho convicção de que em 2014 o estoque
de crédito vai aumentar entre 4% e 5%, representando um estímulo para a nossa atividade”, prevê Moan.
Se a previsão se confirmar, as concessões deverão
superar R$ 180 bilhões este ano, já que somaram R$
173,3 bilhões em 2013, de acordo com levantamento
da Cetip.
Um dos motivos para o otimismo dos fabricantes
16 financeiro março 2014
é a queda da inadimplência, que se mostrou consistente ao longo do ano passado
e deve ter comportamento semelhante em 2014. No ano passado, a inadimplência
dos compradores de veículos recuou para 5,2%, depois de registrar 6,4% em 2012,
de acordo com dados do Banco Central. Para Túlio Maciel, chefe do Departamento
Econômico do BC, o recuo da inadimplência deve continuar, em consequência de
fatores como educação financeira e aumento da renda, embora a queda deva ser
mais moderada este ano.
Assim, os financiamentos seriam a alternativa para que as vendas de veículos
tenham crescimento, compensando variáveis menos positivas para o setor, como
a redução do incentivo via IPI e a previsão de crescimento modesto (entre 1,5% e
2%) do PIB este ano.
As montadoras contam com esse aumento no volume de empréstimos também para que se confirme a estimativa de produção na casa de 5 milhões de veículos novos em 2018.
Os volumes de concessão de crédito para compra de veículos justificam essa
aposta das montadoras. O Banco Central constatou que o volume dessas operações para pessoas físicas cresceu de R$ 7,7 bilhões em janeiro do ano passado
para R$ 9,4 bilhões em dezembro (veja gráfico). Além disso, as taxas médias de
juros anuais nesses empréstimos, que chegaram a 21,6% em setembro, fecharam
o ano em 21,3%.
A perspectiva é positiva também para o financiamento de veículos usados. A
Fenauto (Federação Nacional das Associações de Revendedores de Veículos Automotores) prevê que este
será o ano do carro usado. Com o IPI mais alto para os
carros zero quilômetro e a redução da inadimplência
(que deve resultar em maior flexibilidade na concessão de crédito), a entidade espera que as vendas cresçam entre 4,5% e 5% em 2014, o que significa algo
em torno de 13 milhões de unidades. Ao contrário do
que aconteceu com os novos, o segmento de usados
fechou 2013 com elevação das vendas: foram comercializadas 12,4 milhões de unidades, total 4,7% acima
do registrado no ano anterior.
Para confirmar esse otimismo, 2014 começou
com números animadores: em janeiro foram vendidas 299.768 unidades (ou mais de 13.600 por dia,
incluindo automóveis e comerciais leves), recorde
para o mês e 1% mais do que em janeiro de 2013. É
certo que a maior parte desses carros foi fabricada
no ano passado, quando o IPI era menor e portanto
o preço era mais baixo. Mesmo assim, e apesar das
incertezas do cenário econômico e da renda do consumidor, o mercado animou-se também com os dados da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição
de Veículos Automotores), que reúne cerca de 7.600
concessionárias, segundo as quais foram emplacados 463.233 veículos em janeiro, em comparação a
456.068 unidades no mesmo mês do ano passado,
levando em conta todos os segmentos (automóveis,
comerciais leves, caminhões, ônibus, motocicletas e
implementos rodoviários).
Na avaliação de Aleciana Gusmão, técnica da coordenação de serviços e comércio do IBGE, é preciso
lembrar as características do setor de veículos para
se chegar a uma conclusão mais acurada sobre as
tendências: “Os veículos são um bem durável, não se
troca de carro a toda hora. Além disso, o consumidor
foi se acostumando desde 2008 com a redução do IPI
(Imposto sobre Produtos Industrializados). Dessa forma, o efeito da medida foi se dissipando com o tempo”.
Ela ressalta também o quadro referente ao crédito
para a compra de veículos: “As condições de crédito
estão facilitadas, embora atualmente o período de financiamento esteja menor e os juros estejam maiores
do que há alguns meses”.
Feitas as ressalvas, os dados mostraram que a
produção de veículos também trouxe indicadores positivos. Embora a indústria em geral tenha mostrado
desempenho negativo em dezembro do ano passado,
de acordo com dados do IBGE, divulgados em janei-
ro, a produção de veículos foi na contramão, com crescimento de 7,2% no
ano, puxada principalmente por caminhões e outros veículos de transporte
de mercadorias.
Estudos do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) mostraram que o setor puxou a
alta da produção no ano passado. Segundo os dados do instituto, a produção industrial cresceu 1,2% no período, e a atividade que puxou a expansão
foi a produção de veículos automotores, graças ao aumento da produção,
na maioria, dos produtos pesquisados
no setor (63%).
Na expectativa
2014
começou
com
números
animadores:
em janeiro
foram
vendidas
299.768
unidades
Na análise de Letícia Costa, especialista no setor automotivo e Diretora de Pós-Graduação Lato Sensu do
Insper, os indicadores referentes a
veículos deverão, este ano, ser semelhantes aos de
2013, tanto em produção quanto em vendas. “A previsão é de que os volumes fiquem no mesmo nível do
ano passado, com pequena variação de 1% tanto para
cima como para baixo. A demanda não deverá crescer
acentuadamente, até porque o PIB também terá crescimento modesto”.
A especialista recorda que o crédito vai continuar exercendo papel fundamental no desempenho do
Dados de setor de veículos em janeiro
de 2014
1,531 milhão
de unidades vendidas
557.637
financiados
36,4%
fatia de financiados
em relação aos
vendidos
março 2014 financeiro 17
análisedemercado
setor este ano e lembra que a demanda por empréstimos não deve ser muito aquecida, em vista do nível
de endividamento das famílias, dos juros em alta e da
possibilidade de inflação elevada. No entanto, ela considera que os preços dos veículos não terão a alta prevista pelas montadoras, até pela competição acirrada
para conquistar a preferência do consumidor.
Ela prevê também que em 2014 produção e vendas de veículos deverão “estar mais sincronizados”,
depois de, no ano passado, a produção ter crescido em
ritmo mais acelerado. Quanto aos resultados de janeiro, ela afirma que é preciso fazer uma análise cuidadosa já que o mês foi atípico, mas ressalta: “Este ano
será atípico, de maneira geral, e não apenas no setor
automobilístico. Teremos a Copa do Mundo e eleições
presidenciais, que se somarão a oscilações em geral
no quadro econômico”.
Na mesma linha, René Martinez, sócio da EY (antiga Ernst & Young) especializado no mercado automobilístico, enfatiza que, em vista dos grandes eventos
deste ano, as montadoras estão especialmente atentas às margens e ao volume de vendas que esteja em
linha, entre outros pontos, com o “novo consumidor”,
ou seja, os compradores e potenciais consumidores
de veículos que ascenderam socialmente e que continuarão nessa trajetória nos próximos dez anos. “O
desejo do consumidor mudou nos últimos anos e vai
continuar mudando. Ele está mais atento a itens como
segurança, conforto e conectividade”, lembra Martinez.
Nessa faixa, o financiamento é ainda mais importante para o setor, afirma o especialista: “O crédito é
fundamental para os carros de entrada e para os veículos médios. Como a renda das famílias está com
crescimento modesto e os juros subiram, será preciso que a indústria redobre sua atenção para atender essa faixa sem perder rentabilidade”. Ele recorda
que os compradores desses veículos levam em conta
principalmente “se a prestação cabe no bolso”.
René Martinez acredita que as montadoras farão
um esforço nessa direção e que poderão ser bem-sucedidas: “O histórico da indústria é favorável. Mesmo
trabalhando com itens como alta carga tributária, o
Brasil se colocou em lugar de destaque no cenário automobilístico mundial”. Essa também é a avaliação de
Letícia Costa, do Insper, para quem, apesar de todas
as dificuldades, o mercado brasileiro ainda é relevante para o setor automotivo global e continuará a atrair
18 financeiro março 2014
mais montadoras. Mesmo com essa atratividade, no entanto, o desafio do setor é
grande, segundo ela: “A indústria busca encontrar meios para voltar a ter crescimento vigoroso no setor automotivo. Tivemos, em 2011 e em 2012, anos favoráveis
às montadoras, mas 2013 foi mais de acomodação. Para alcançar essa meta de
retomada vigorosa, entretanto, o grande desafio é aumentar a competitividade”.
Quanto às exportações, Letícia Costa aponta como principal incerteza a situação da Argentina, que viveu um início de ano agitado na área econômica, cujos desdobramentos ainda se observarão nos próximos meses. Pelo lado da importação,
na avaliação dela, o quadro é mais favorável para o setor automotivo, tendo em
vista o efeito cambial que tem levado à desvalorização do real em relação ao dólar.
No cenário externo, a especialista lembra que a economia dos Estados Unidos
deve manter a tendência de retomada econômica e que a Europa continuará dando
sinais de recuperação, o que torna a disputa por mercados ainda mais difícil: “O
desafio da indústria automobilística instalada no Brasil é ser mais competitiva. Isso
depende também da promoção de reformas macroeconômicas, que se reflitam no
mercado automobilístico”. f
Mais recursos para financiamentos
Concessões de crédito com recursos livres para
pessoa física – R$ bilhões - 2013
10.000
9.000
8.000
7.000
6.000
5.000
4.000
3.000
2.000
1.000
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
artigocrédito
A importância do FGC e o
aumento do limite de cobertura
Por Jairo Saddi
Artigo enviado em 05/02/2014
Jairo Saddi
membro do Conselho de
Administração do FGC
A criação do Fundo Garantidor de Créditos
(FGC) veio preencher uma lacuna da política
de saneamento do sistema financeiro. Por
meio da criação do “seguro depósito”, foram,
pela primeira vez, estabelecidos os limites da
proteção, permitindo assim uma nova etapa
no desenvolvimento financeiro nacional, muito
diferente da proteção que prevalecia à época
da reserva monetária, que, na Carta de 1988,
transformou o IOF num imposto arrecadatório
de transações financeiras. Ademais, a proteção do depositante passou a ser custeada pelas próprias instituições, sem a utilização de
recursos públicos, como estava estabelecido
pelo texto constitucional (inciso VI do artigo
192), mais tarde alterado pela Emenda Constitucional nº 40, de 29 de maio de 2003.
O FGC protege 99,73% de todos os depositantes brasileiros, pequenos e grandes investidores, com depósitos e investimentos em
conta-corrente, poupança, depósitos a prazo,
letras de câmbio, letras de crédito do agronegócio, letras imobiliárias, letras de crédito
imobiliário e letras hipotecárias, até o limite
da garantia ordinária, R$ 20 mil à época da
sua criação, e, hoje, R$ 250 mil por CPF.
Esse aumento de cobertura foi fundamental para o FGC cumprir seu papel, ainda que
não tenha havido aumento na contribuição
mensal das instituições financeiras, que se
mantém no percentual de 0,0125%, aplicado
sobre o montante dos saldos das contas correspondentes aos objetos da garantia.
Três aspectos justificam o aumento. Primeiro, dar maior segurança aos depositantes
e aos demais credores das instituições financeiras, alinhando esse valor aos limites praticados em países de economias desenvolvidas.
Esse é o principal objetivo do FGC: facilitar a
estabilidade monetária à medida que reduz
impactos potenciais na base monetária decorrentes das quebras de instituições financeiras,
bem como dos efeitos da contaminação e da
propagação do pânico bancário em virtude
das corridas aos bancos.
Mas o aumento da cobertura também
permite uma competição mais eficiente entre
as instituições financeiras. Na ausência de
um sistema garantidor de créditos bancários,
instituições maiores tendem a ser avaliadas
como mais seguras; podendo ocorrer o mesmo com as mais antigas, ou, ainda, com instituições estrangeiras perante as nacionais. Na
presença de um sistema de garantia, os depositantes tendem a nivelar sua percepção de
risco, facilitando a distribuição de recursos e
agilizando a competição entre as instituições
financeiras.
Finalmente, os institutos garantidores de
depósitos protegem os depositantes, mormente os pequenos, ou aqueles cujo custo
de informação e avaliação do risco é maior,
tendo em vista que não dispõem de condições
para avaliar ou obter corretamente todos os
dados necessários para a tomada de decisão.
Dito de outra forma, funcionam para aqueles
agentes econômicos que não podem (ou não
querem) arcar com maiores custos de transação.
A ampliação da cobertura para R$ 250
mil faz com que o FGC seja de fato um bom
sistema de seguro-garantia para a economia
brasileira. Ao ampliar a confiança do público
e contribuir para a formação da poupança e
o desenvolvimento de um sistema financeiro estável, o FGC cumpre sua função pública
de participar na construção de um melhor e
maior sistema financeiro. Assim, o mecanismo de seguro-garantia de créditos bancários
e financeiros concorre decisivamente para
a segurança do sistema financeiro, uma vez
que tranquiliza os agentes econômicos quanto ao destino de seus recursos, vale dizer,
onde seus recursos estão sendo aplicados. f
março 2014 financeiro 19
20 financeiro março 2014
artigocrédito2
Após alta volatilidade,
inadimplência tende a se estabilizar
Por Dorival Dourado
Artigo enviado em 26/02/2014
A despeito da piora em boa parte dos fundamentos da economia em 2013, crédito dos consumidores, com reflexos inclusive soo mercado de crédito teve um ano razoável. De fato, o ano passado pode ser bre o ritmo de crescimento da demanda das famílias.
considerado mais como um ano de ajustes, em virtude do elevado crescimento Ademais, bancos mais seletivos na aprovação de crédos indicadores de inadimplência no passado recente. Os ofertantes de crédito dito continuarão priorizando modalidades de menor
mantiveram maior seletividade nas concessões (principalmente para o consu- risco, levando a uma melhora na composição da carmo) e as modalidades com menor risco, como o financiamento imobiliário e o teira das pessoas físicas no curto e no médio prazos,
crédito consignado, passaram a ter maior atenção tanto dos bancos privados contribuindo para a redução dos não pagamentos.
Por outro lado, a retomada do aperto
quanto dos públicos.
monetário e a desaceleração da atividaAjustes costumam ser dolorosos e tendem a mudar
de econômica costumam impactar negao comportamento dos agentes, mesmo que por um curtivamente na capacidade de pagamento
to espaço de tempo. Mas, ao mesmo tempo, ajustes condos consumidores. A elevação dos juros
tribuem, em geral, para a geração de um novo equilíbrio,
básicos já vem pressionando os juros
mais sólido e eficiente.
finais ao consumidor, em todas as moDe fato, tais ajustes trouxeram uma boa notícia: o redalidades de crédito, e seus efeitos socuo da inadimplência. Tanto nos indicadores absolutos de
bre a inadimplência são uma questão de
novos registros de inadimplentes quanto nos indicadores
tempo. A redução do ritmo da atividade
do Banco Central (que medem a taxa de inadimplência)
econômica, da mesma forma, afeta a
observamos significativa melhora. Depois de anos de alta
capacidade de pagamento dos consuvolatilidade, estamos prestes a assistir a um período de
midores na medida em que traz efeitos
estabilidade nos níveis de inadimplência para pessoa físisobre o mercado de trabalho. Depois de
ca em 2014. A última vez em que observamos taxas mais
anos de crescimento da renda real e de
estáveis foi entre março de 2007 e abril de 2008, período
queda nas taxas de desemprego, a acopré-crise financeira. Naquele período, as taxas variaram
modação parece inevitável.
muito pouco, em valores próximos a 7%, ligeiramente suDorival Dourado,
Independentemente do resultado a
periores aos valores observados hoje. Ciclos de crescipresidente da Boa Vista
ser
consolidado, a combinação desses
mento e recuo têm sido a regra da série histórica do Banco
Serviços
fatores
nos permite traçar perspectivas,
Central (veja gráfico a seguir) .
que, se não são favoráveis por não conE por que acreditamos que deva ser diferente neste
ano? Temos presentes fatores que têm contribuído para a queda da inadimplên- tarem com maiores recuos das taxas de inadimplência, pelo menos apresentam-se mais estáveis e precia e outros que devem pressionar o seu crescimento.
De um lado a maior seletividade na oferta do crédito e a maior cautela do visíveis. Por si só, já é uma boa notícia para aqueles
consumidor devem continuar moldando a concessão e reduzindo a demanda por que respiram o mercado de crédito. f
março 2014 financeiro 21
análisedemercado
Foto: Divulgação
Próximos desafios da
indústria automotiva
O mercado de automóveis passa por um período que exige muita atenção e flexibilidade de todos
os que compõem o setor, incluindo a concessão de
crédito. Esse foi o principal tema do seminário
“Economia e Negócios – A Indústria Automobilística em Discussão”, realizado em 24 de fevereiro
pela Acrefi, em São Paulo.
O quadro para esse segmento é influenciado tanto por fatores macroeconômicos quanto por questões ligadas
diretamente ao setor. Como lembrou Tereza Fernandez, especialista em indústria
automobilística da MB Associados, em
palestra durante o evento, concorrentes
do Brasil, como o México, têm previsão
de contar com quatro novas fábricas de
veículos nos próximos anos, o que deve
aumentar as exportações mexicanas para
os Estados Unidos, com a vantagem de
acompanhar a evolução tecnológica exigida pelo mercado norte-americano. Ela
recordou que deverá haver excesso de
Tereza Fernandez,
produção no Brasil pelo menos até o final
consultora da MB
da década, e, com isso, fica uma dúvida: o
Associados
que fazer com esse excedente. Para ela,
provavelmente as fábricas passarão a rodar em apenas um turno e não mais em
dois, e as montadoras poderão postergar
o início das operações.
Outra mudança, lembrada por Tereza Fernandez,
foi a entrada de várias marcas no mercado, “o que
traz uma grande alteração estrutural”. Entre os desafios trazidos por esse novo quadro, ela lembrou a
necessidade de o varejo mudar as regras de financiamento, com diminuição do repasse do spread e
queda na margem de comercialização. Apesar desses desafios, o mercado ainda é atraente, na avaliação de Fernandez.
22 financeiro março 2014
Na mesma linha, Rodrigo Amâncio, gerente de
Produtos da Cetip, disse em sua palestra no evento que o quadro é novo também no financiamento
de veículos: “O volume de crédito para compra de
veículos cresceu bastante até 2008, depois se retraiu e ensaia um retorno de aquecimento, embora
em níveis menos elevados”, afirmou. “A boa notícia
é que a inadimplência, depois de alcançar 7,22%,
recuou para o nível atual de 5,17%.” Ele considera
que, com base nos dados da Cetip, as instituições
financeiras deixaram de ter como foco principal a
participação de mercado e passaram a privilegiar
a eficiência “com menos custos, melhores processos e mais informações para tomar decisão de
concessão de crédito”.
Na estimativa de Rodrigo Amâncio, o mercado de automóveis usados deve ter aquecimento
este ano, até como recuperação desse segmento,
“já que em 2004 para cada veículo novo eram financiados cinco usados, nível que caiu de um novo
para 2,6 usados em 2013”. O varejo de automóveis
também está mais competitivo e com as alterações nas regras de financiamentos e a diminuição
do repasse para essas empresas do spread concedido ao “correspondente bancário”, assim como da
queda de margem na comercialização de automóveis novos, as empresas têm perdido margem de
rentabilidade. A meta é recuperar esses valores.
O resultado da comercialização de automóveis em 2013, que apresentou uma queda de
3,0%, não deveria surpreender. Nos últimos dez
anos, o crescimento de vendas nesse segmento
do setor automotivo vinha apresentando evoluções fortes, tendo crescido 119% nesse período. Um ano mais fraco depois de desempenhos
tão bons é absolutamente normal. O importante
é pensar o que será esse mercado a partir de
agora, quando as projeções para 2014 e 2015 in-
dicam anos mais fracos, em um momento em que
investimentos estão sendo concluídos, novos investimentos estão sendo anunciados e se projeta uma
capacidade de produção de aproximadamente 4,5
milhões de automóveis no Brasil até 2017.
Nas nossas projeções de demanda doméstica,
com um crescimento médio de 3% ao ano, em 2017
teremos um excedente de automóveis que pode atingir 1,5 milhão de unidades.
A primeira constatação que fazemos é que há um
acirramento na tentativa de conquista de mercado
pelas chamadas “newcomers”, o que naturalmente
derruba a participação das quatro marcas mais tradicionais no Brasil (gráfico), uma tendência que veio
para ficar. O segundo ponto importante para ser avaliado é referente à possibilidade de excesso de produção, a partir de 2017. A exportação do excedente
será limitada, levando-se em consideração o tipo de
automóveis que estaremos produzindo naquele momento e a demanda do mercado mundial. A América
Latina, com certeza, será o nosso grande mercado,
lembrando que, à exceção da Argentina, os demais
países demandam poucos automóveis.
O atraso ou desistência de alguns investimentos
já anunciados poderá alterar o cenário, tornando a
vida das montadoras aqui instaladas, bem como das
concessionárias, mais fáceis. Aliás, o segmento das
concessionárias está passando por um momento de
desafios.
Além de estabelecer um novo relacionamento
com as montadoras quanto a transferência de carros
para os seus pátios e negociar uma margem melhor
para as vendas dos veículos novos, os concessionários precisam avançar de forma profissional na sucessão, bem como no ajuste das empresas no que se
refere a custos, na qualificação contínua de pessoal
e na utilização correta da internet como instrumento
de resultados, associada à utilização de TI em geral.
Mais que o citado acima, é importante uma definição da estratégia de médio e longo prazos em
multifranquias, como forma de minimizar riscos
com as mudanças previstas de market share no
Brasil. A escolha das marcas não é uma decisão
simples, assim como a decisão de nova oportunidade de concessão ou aquisição de uma marca
já em operação também não é tão simples neste
momento, pois as oportunidades estão em ambos
os casos. Não esquecer, no caso de aumento de in-
Seminário promovido
pela Acrefi mostra que
o setor de automóveis
passa por um período
que exige muita
atenção e flexibilidade
vestimentos, da adequação desses valores à capacidade de geração de caixa
para evitar endividamento que comprometa a operação.
O mercado de automóveis vai apresentar mudanças importantes nos próximos anos. Os agentes que operam nesse mercado, inclusive na concessão de
crédito, deverão estar atentos às mesmas, em um momento em que os juros
estão subindo, o câmbio se desvalorizando, a economia crescendo menos e,
em especial, uma massa salarial com variações inferiores às que tivemos nos
últimos anos. O desafio é interessante e – como em todos os cenários – virão
novas oportunidades. f
Do ponto de vista da oferta, a participação das quatro
grandes vem decrescendo
março 2014 financeiro 23
24 financeiro março 2014
artigoanticorrupção
Primeiras impressões sobre
a nova lei anticorrupção
Fotos: Divulgação
Por Pierpaolo Cruz Bottini e Igor Sant´Anna Tamasauskas
Artigo enviado em 30/01/2014
Pierpaolo Bottini e Igor Tamasauskas:
sócios do escritório Bottini & Tamasauskas Advogados
Mês passado entrou em vigor a Lei 12.846/13, a chamada Lei
de Combate à Corrupção, talvez uma das iniciativas mais importantes do Poder Legislativo nos últimos tempos. Os menos avisados podem se perguntar sobre o que há de novo nessa lei, uma
vez que a corrupção já era proibida em nosso ordenamento. Mas
há uma diferença: as regras anteriores puniam apenas as pessoas
físicas que cometiam a corrupção, deixando de lado a empresa, em
regra a mais favorecida com o ato. Punia-se o particular, impune
ficava a instituição beneficiada.
Agora as empresas também serão responsabilizadas por atos
de corrupção e outros similares praticados em seu benefício. A lei
prevê penas duras, como multas de 0,1 a 20% do faturamento bruto, vedação de contratar com o poder público, e até a dissolução
compulsória, uma espécie de pena de morte empresarial.
Talvez a inovação mais significativa – e polêmica – seja a
previsão da responsabilidade objetiva da empresa. Com isso, a
corporação será punida mesmo que seus dirigentes não tenham
autorizado o ato ilícito. Basta que um funcionário, parceiro, contratado ou consorciado tenha oferecido ou pago vantagem indevida
a funcionário público, e as penas serão aplicadas. Desde, claro,
“A ideia do
legislador é que
a empresa cuide
não apenas de
sua probidade,
mas também
se assegure do
comportamento
ético daqueles
com os quais
trabalha”
que a empresa seja beneficiada pelo ato. Assim, se
uma corporação contrata um serviço de terceiro
para obter licença ambiental, e esse pague propina
para obter o resultado, ambos serão punidos, contratante e contratado.
A ideia do legislador é que a empresa cuide
não apenas de sua probidade, mas também se assegure do comportamento ético daqueles com os
quais trabalha. Claro que isso tem o limite do bom
senso, dada a impossibilidade de se conhecer integralmente o caráter de seus parceiros ou empregados. Mas a ideia é incentivar a corporação a desenvolver sistemas de controle internos que façam
checagens periódicas sobre seus colaboradores,
assegurando-se de que todos mantêm uma postura correta em suas relações com o poder público.
Nessa linha, a lei prevê a redução da sanção
para a empresa que mantiver mecanismos internos de prevenção a atos ilícitos, códigos de ética,
auditorias regulares e canais para denúncias. Bus-
março 2014 financeiro 25
artigoanticorrupção
ca-se, com isso, estimular o compromisso empresarial com uma cultura ética.
Busca-se, ainda, evitar que a organização empresarial trate seus dirigentes como material fungível, substituindo-os como se fossem mais um insumo de sua cadeia produtiva. A partir dessa nova
lei, a entidade empresarial será responsabilizada
pelos atos, inclusive com a possibilidade de dissolução, como acima destacado.
Os impactos da lei já foram sentidos. É notável como boa parte das
corporações revisou ou criou regras
de boas condutas, estabeleceu padrões rígidos de comportamento, e
passou a colaborar com investigações sobre atos ilícitos praticados
em suas dependências. Ao contrário
de tantas leis que “não pegam”, esta
já surtiu efeitos mesmo antes de entrar em vigor.
É claro que existem problemas.
O primeiro diz respeito à amplitude
dos órgãos com competência para
apurar os atos de corrupção das empresas e para aplicar sanções. Pelo
texto da lei, a instauração e o julgamento de processo administrativo
para a apuração da responsabilidade
das empresas cabem à autoridade
máxima de cada órgão ou entidade
dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.
Ou seja, os poderes da União, Estados e Municípios terão competência para determinar penas
de multas, cujos espaços variam de 0,1% a 20%
do faturamento bruto das empresas. Ou seja, uma
enormidade de servidores com capacidade de investigar, fazer acordos de leniência, julgar administrativamente e determinar o valor das sanções.
Nessa seara, excessos, arbítrios e conflitos de competência
podem ocorrer. Por isso, é importante que a CGU (Controladoria-Geral da União) – órgão designado pelo legislador para
expedir o decreto regulamentar da lei – fixe critérios precisos para a dosimetria da multa, do contrário, a confusão
reinante poderá afetar toda a racionalidade que se espera na
aplicação do novo texto legal.
Uma segunda questão diz respeito ao bis in idem. A lei
em análise aponta que sua incidência não
afasta a improbidade administrativa (Lei
8.429/92) nem a responsabilidade pelos
ilícitos em licitações (Lei 8.666/93). Isso
significa que será necessário um esforço
para identificar quando tais normas têm
seu espaço autônomo de aplicação e quando existirá superposição, caso em que haverá um conflito aparente de normas a ser
solucionado pelos mecanismos próprios de
interpretação.
Criticas à parte, a lei é boa. Vale sempre
lembrar que não se trata de norma penal.
Não tem a contundência inútil da ameaça de
prisão, mas a racionalidade de identificar
os reais beneficiários do ato de corrupção e
puni-los, afetando seu setor mais sensível:
o faturamento. Ademais, ao prever a colaboração das empresas na identificação ou
na repressão aos ilícitos que possam ser
praticados em seu benefício, o poder público faz uma espécie de prevenção geral
positiva, forçando a incorporação de novos valores na organização corporativa.
Se tal estratégia é adequada, o tempo dirá. Mas criar dispositivos que incentivem a cooperação dos agentes privados
na prevenção ao ilícito parece mais eficiente do que a velha e
fracassada política de aumentar penas ou transformar tudo
o que incomoda em crime hediondo, como se isso, num passe de mágica, reduzisse a pó o crime organizado. f
Ilustração: Rafael Pascoal
“Ao contrário
de tantas
leis que ‘não
pegam’,
a Lei de
Combate à
Corrupção já
surtiu efeitos
mesmo
antes de
entrar em
vigor.”
26 financeiro março 2014
realidadedigital
Judiciário on-line
Não há como retroceder. O Poder Judiciário
finalmente ingressou na era digital. Em 17 de dezembro do ano passado, o Conselho Nacional de
Justiça aprovou a regulamentação do Processo
Judicial Eletrônico (PJe), que exige que tribunais
de todo o País, a partir de agora, adotem o sistema digital, em substituição ao processo físico. Ou
seja, aquelas pastas recheadas de documentos podem um dia se transformar em relíquias no arquivo
morto dos Estados. Os burocráticos despachos e
petições ganham celeridade com o uso da assinatura eletrônica. Uma das mais entusiasmadas com a
informatização dos processos judiciários é a advogada Elizete Scatigna, sócia da Carvalho e Advogados Associados, que desde 2004 aboliu o papel nos
milhares de processos em que o escritório atua. “O
que antes precisávamos de 24 horas para dar andamento, hoje gastamos no máximo 10 minutos”,
afirma Elizete. “Como a documentação dos bancos
também já está digitalizada, os processos ganham
no trâmite processual cerca de 30 dias”, garante a
especialista em cobrança de crédito.
Assim como em toda mudança, haverá sempre
resistências naturais à modernização. Mas, essa
“oposição” pode perder força diante da redução de
custos financeiros, com a redução de horas dedicadas ao andamento do processo, com eliminação
dos gastos para locomoção do advogado até o fó-
rum, com cópias das peças processuais, entre outras despesas. Além disso, ainda há o ganho real de
tempo, com as audiências podendo ser realizadas
via Skype – tecnologia que já é adotada com sucesso pela ministra Nancy Andrighi, do Superior Tribunal de Justiça, que despacha com os advogados por
meio do programa de telefonia com vídeo
pela internet. A ministra reúne em sua
mesa, no gabinete, aproximadamente 15
petições e memoriais, discutidos em audiências virtuais com os advogados. Na
hora marcada, ela se “encontra” com o
representante legal e dá início à audiência. Tudo pode ser filmado e gravado.
“Ao comparar com os anos anteriores, fomos da petição manuscrita à máquina de escrever, à máquina elétrica,
ao computador, à internet, e o processo
Elizete Scatigna:
judicial eletrônico é uma consequência
“Antes
precisávamos
de 24
natural da evolução”, pondera Elizete
horas para dar andamento no
Scatigna. “É evidente que é novo, que
processo, hoje gastamos apenas
exigirá um período de adaptação. No
10 minutos”
entanto, as dificuldades e as eventuais
falhas serão superadas durante a transição gradativa. Não podemos, porém, deixar a estagnação
tecnológica tomar conta do Poder Judiciário”,
avalia a sócia do escritório Carvalho e Advogados
Associados. f
Foto: Divulgação
Conselho Nacional de Justiça
aprova regulamentação do
Processo Judicial Eletrônico, que
exige que tribunais de todo o País
adotem o sistema digital, em
substituição ao processo físico
março 2014 financeiro 27
perfil
Pronta para
o futuro
A gestão do Grupo Herval é focada na estratégia
de diversificação de negócios, por meio da sinergia
entre as suas marcas. Uma das necessidades era
de inserir no conjunto de operações uma instituição
do sistema financeiro para se integrar à administradora de consórcios, que já alavancava vendas e
trazia rentabilidade para o grupo. Era o que faltava
para um negócio “apoiar” o outro dentro do mesmo
guarda-chuva.
Assim, a HS Financeira nasce em 2007, a partir
de oportunidade de expansão dos negócios. A criação de uma financeira também serviria para facilitar as vendas de colchões, móveis, computadores e
outros produtos comercializados pelo conglomerado
de empresas, sediado em Dois Irmãos (RS), município a 58 quilômetros de Porto Alegre.
“Em pouco tempo, percebemos que o serviço
de uma financeira seria essencial para atender os
nossos clientes de forma mais abrangente”, conta a
gestora Dilvânia Airoldi. A ideia inicial foi estabelecer uma parceria com um banco especializado em
operações de crédito. Mas a proposta evoluiu e o
Grupo Herval optou por criar sua própria financeira. “Não foi um caminho fácil de trilhar, mas os resultados foram extremante satisfatórios”, lembra
Dilvânia. Isso por que o Grupo manteve em suas
mãos um dos maiores patrimônios construído em
seus 54 anos de trabalho: a carteira de clientes –
atualmente um de seus ativos mais valiosos.
28 financeiro março 2014
Atenta às oportunidades apresentadas pelo mercado, a HS Financeira
procura oferecer seus produtos (letras de câmbio, capital de giro, créditos pessoal e consignado, CDC, autocrédito, seguros e cartão de crédito
HS Card) com taxas e prazos competitivos em relação aos índices praticados pelo mercado. “O nosso principal
diferencial é trazer para o pequeno e
médio varejista a mesma possibilidade de recursos na área financeira que,
hoje, os grandes lojistas têm, visando,
ainda em 2014 expandir a emissão
de novos cartões HS Card”, destaca a
gestora da HS Financeira.
Dilvânia Airoldi,
Também, com sinergia, a IF Solugestora do Grupo Herval
ções Planejadas, empresa de móveis
planejados do Grupo Herval, atua
com a HS Financeira para atender as
lojas espalhadas em todo o País, oferecendo à marca um diferencial competitivo, pois
são poucos os concorrentes deste segmento que
possuem sua própria financeira para favorecer
as vendas. Em 2013, a HS Financeira obteve uma
receita bruta de R$ 55 milhões, 10,67% maior do
que o resultado obtido no ano anterior. São números que demonstram seu potencial crescimento
nos próximos anos. f
Foto: Divulgação
Fundada há sete anos, a HS
Financeira ganha espaço
no plano de crescimento do
grupo gaúcho Herval
associadoacrefi
CNH Capital,
seja bem-vindo!
Com sede em Curitiba, o 62º associado da Acrefi
inaugura unidade em Belo Horizonte e passa a
atender à montadora Iveco
Brett Davis,
presidente do
CNH Capital
excelentes resultados e iniciar 2014 atendendo mais uma grande
marca, a Iveco “, avalia Davis.
Com o mercado aquecido, a demanda por crédito deve seguir estável. Diante dessa perspectiva, Brett Davis projeta incrementar ainda
mais neste ano suas ações voltadas ao agronegócio, aos investimentos em obras civis e de infraestrutura e aos veículos de transporte. f
Fotos: Divulgação
A Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi) comemora
a adesão do seu 62º associado: o Banco CNH Capital.
Essa conquista acontece em sintonia com a recente notícia de que a instituição passou a atender, em
2014, a marca Iveco, tradicional montadora de caminhões e ônibus, que tem fábrica em Sete Lagoas e
sede em Nova Lima, ambas em Minas Gerais. Para
administrar as novas demandas, o Banco CNH acaba de inaugurar em Belo Horizonte uma unidade que
cuidará, no início, das operações de retail (financiamento a clientes finais) e, depois, de wholesale (financiamento direto aos concessionários).
Fundado há quatro décadas e com presença no
Brasil há mais de 14 anos, o Banco CNH Capital possui uma carteira de 25 mil clientes ativos, sem contar a carteira de clientes da marca Iveco. Atualmente
suas operações são voltadas ao financiamento de
máquinas agrícolas e equipamentos de construção
da CNH Industrial e veículos de transporte. Com sede
em Curitiba, o banco tem, além da nova unidade na
capital mineira, representantes comerciais distribuídos em todo o Brasil.
“É com enorme satisfação que acolhemos o Banco CNH Capital entre os nossos associados. Isso se
torna ainda mais importante quando sabemos que a
instituição passa por período de expansão”, festeja
o presidente da Acrefi, Érico Sodré Quirino Ferreira.
Para Brett Davis, presidente do CNH Capital, os recentes êxitos do banco fazem parte do momento promissor vivido pelo Brasil, que cada vez mais ganha representatividade na economia mundial, e são também,
resultados do trabalho realizado nos últimos anos
por todo o grupo. “O trabalho de todo o time do banco
resultou no atual momento que vivemos, é uma enorme satisfação para mim encerrar o ano de 2013 com
março 2014 financeiro 29
panoramacetip
6,7 milhões de veículos
foram financiados em 2013
Como faz regularmente, a Cetip acaba de consolidar os dados
acumulados em 2013 relacionados ao financiamento de veículos.
Segundo Marcus Lavorato, gerente de relações institucionais da
Unidade de Financiamentos da Cetip, as concessões de crédito
para a compra de veículos subiram de R$ 170 milhões, em 2012,
para R$ 173 milhões no ano passado. Em 2013, foram financiados 6,7 milhões de veículos, entre automóveis de passeio e comerciais leves, motocicletas e pesados. Os números são do Sistema Nacional de Gravames (SNG), base privada de informações,
que reúne o cadastro das restrições financeiras de veículos, utilizada como garantia em operações de crédito em todo o Brasil.
O SNG impede que o processo de financiamento de veículos seja
suscetível a fraudes. São levados em consideração financiamentos por meio de crédito direto ao consumidor (CDC), leasing e
30 financeiro março 2014
autofinanciamento (consórcio).
A Cetip adota alguns critérios para calcular o montante liberado para financiamentos de veículos. Para o cálculo do volume
financiado são consideradas apenas inclusões de gravames de automóveis leves com financiamento de até R$ 200 mil e cujos prazos
não sejam superiores a 120 meses; para motocicletas, o montante
limite é de R$ 50 mil. A metodologia também restringe em R$ 500
mil as inclusões de gravames de pesados. Dessa forma, a Cetip
desconsidera operações com valores e prazos destoantes com as
práticas do mercado. Além disso, o cálculo considera repasses do
BNDES via Finame. É importante salientar que os números não são
diretamente comparáveis com os divulgados pelo Banco Central,
pois a instituição contempla apenas operações de CDC e de arrendamento mercantil.
Marcus Lavorato
gerente de Relações
Institucionais da Cetip
Foto: Divulgação
março 2014 financeiro 31
tecnologia&inovação
Ninguém inova por que gosta
Silvio Meira, pesquisador em engenharia de software
no Brasil, diz que os investimentos em tecnologia
são essenciais para as instituições que pretendem
sobreviver à competição global
Por Gustavo Girotto
O primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, em um
de seus discursos no Fórum Econômico Mundial,
em Davos, afirmou que “a reforma e a inovação fornecem uma força propulsora inexaurível para o desenvolvimento do país”. Essa evolução que transita
pelos inúmeros aspectos relacionados à criatividade
humana, em momentos de instabilidade econômica,
pode alterar os ventos de uma dificuldade interna.
As inovações possibilitam o aumento dos níveis
de emprego e de renda, além do acesso ao mundo
globalizado, contribuindo de maneira direta com momentos favoráveis de crescimento de riquezas. Para o
cientista chefe do C.E.S.A.R (Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife), Silvio Meira, notável pesquisador na área de engenharia de software no Brasil,
o mercado brasileiro é um dos mais regulamentados
do mundo. “Isso evitou que entrássemos na crise de
2008. Por outro lado, esse cuidado excessivo cria um
atraso estrutural no desenvolvimento de mecanismos
de inovação”, alertou Meira.
Um exemplo de praticidade, segundo ele, é o
banco norte-americano Simple, que nasceu para facilitar os serviços dos usuários. Transferências para
pessoas, compras com um cartão de débito ou ainda
creditar um cheque apenas tirando uma foto dele com
32 financeiro março 2014
o celular é possível nesse novo conceito de operação. “É um banco no
qual você começa a se registrar pelo Facebook. Ele existe on-line e é
uma das coisas mais maravilhosas que alguém já fez”, exemplificou.
No movimento do mobile payment, a empresa Dwolla que permite transferências de dinheiro ou pagamentos pelo celular, também é
vista positivamente pelo especialista. “Você deposita um valor na conta
da empresa e, por meio de um software, é possível efetuar pagamentos de consumo como café, táxis e coisas do dia a dia. Dinheiro é
informação sobre poder de compra. Os sistemas podem evoluir em
velocidade muito grande ou catastrófica, uma vez que não se
deve limitar seu desenvolvimento natural”, afirmou Meira.
Outra novidade citada é a M-Pesa, lançada no Quênia, onde o
dinheiro é transferido de uma pessoa para outra por meio de um
sistema telemóvel. “Um elemento importante dessa inovação é a
capacidade de adaptação às especificidades locais, uma vez que o
regulador financeiro não interfere em seu desenvolvimento. Isso
simplifica a vida das pessoas”, considera o especialista.
Quando o assunto é Brasil, Meira não esconde sua inquietação
com o atraso dos meios de evolução por excesso de regulamentação. “Os Estados Unidos e a China sobressaem-se em todas essas
frentes, até por que o desenvolvimento de seus marcos regulatórios
transita em sintonia com as necessidade locais. No Brasil, o sistema
financeiro age dentro de um escopo em que tudo precisa ser explicitamente permitido. Se algo não está dentro de uma regulamentação,
o resultado é que não pode ser feito. Já nos Estados Unidos e em
Em contrapartida, ele classifica a Embraer como uma empresa
de ponta com olhares voltados
para o mundo. “O Brasil importa
15% do seu Produto Interno Bruto
(PIB). A média da América Latina
é 25%; a China é 29%. A nossa
Embraer é uma das nossas maiores importadoras e exportadoras,
faz parte das duas listas, por
isso a classifico como uma grande empresa inovadora”, elogiou
Meira, lembrando que “o setor
de eletroeletrônicos – que é todo
fechado e com reserva de mercado – tem deixado um déficit na
balança comercial acima de 35
milhões de dólares, nos últimos
Silvio Meira, cientista chefe do
dois anos. Ele não importa para
C.E.S.A.R (Centro de Estudos e
exportar, mas sim para consumir
Sistemas Avançados do Recife)
e isso traz reflexos”.
Uma solução mediante o problema, segundo ele, seria criar
bases nacionais para competir internacionalmente.
“Esse é o nosso principal problema. A Embrapa é
extremamente competente, mas não é ela que planta e cole a soja. O problema não é ter a competência nos institutos de pesquisa e nas universidades,
pois é preciso ter competência na economia. Quando
olhamos para grandes sistemas, como o financeiro,
agropecuário e o industrial – a competitividade é
uma parte do que o produtor ou o agente de mercado
faz. A outra, é tão somente o que o sistema permite”,
analisou Meira.
Em termos de controle de um sistema, no mundo atual, o especialista considera um entrave. “Hoje
é preciso pensar globalmente. Não estamos isolados
do mundo e precisamos pensar em liderar algumas
frentes, aumentando fluidez em nossas nas transações”, disse Meira. Para ele, é preciso localizar-se,
observando dados como os de grandes economias de
primeiro mundo. “Em 1960, a produtividade em serviços dos Estados Unidos era três vezes maior que no
Brasil. Em 2010, o País ficou cinco vezes mais produtivo. Vamos mudar realmente de patamar quando, em
vez de montar produtos, o Brasil possa ter a capacidade própria de desenvolvê-los e conseguir baixar
seus custos nessa cadeia produtiva”, finalizou. f
Foto: Gabriel Kosman
parte da China só não há sequência quando, efetivamente, algo é proibido. Isso cria um grau de liberdade extra para os agentes de mercado, uma vez que
podem ir avançando e, se algo sair fora do contexto
macro ou legal, ocorre uma interferência espontânea
dos agentes”, defendeu Meira.
Para ele, é preciso que o sistema financeiro da
América Latina olhe os exemplos de sucesso de outros países. “É um problema da região, uma vez que
não se vê uma consolidação de bancos na América
Latina. Os que temos no Brasil, praticamente, só
existem por aqui – além das instituições estatais
quem têm capilaridade no setor – já o resto são bancos europeus. Não vemos bancos brasileiros consolidando o segmento bancário da América Latina, nem
à mão inversa. À medida que o mundo se globaliza,
vamos ficando isolados”, pondera Meira.
Ele avalia que há sempre razões para inovar
e isso faz parte de decisões. “Ninguém inova por
que é gostoso e, muitas vezes, é até parte de uma
decisão dramática. Custa o envolvimento continuado de instituições inteiras, em períodos longos
de tempo, sendo que depende da profundidade da
inovação que se vai fazer. Ninguém inova por que
gosta, na verdade, é a combinação de duas coisas: ser forçado ou puxado. O primeiro exemplo
é aquele em que se muda por que todos o estão
fazendo, ou seja, se eu não fizer, tão logo desapareço. Já ser puxado é quando ninguém mudou
e você vislumbrou uma oportunidade de mudar:
isso lhe move e lhe coloca em um patamar diferenciado”, disse o especialista, citando Peter
Drucker, que diz: “inovação é uma fonte de vantagem competitiva sustentável”.
Ainda em relação ao grande dragão asiático,
Meira lembra que o China Construction Bank (CCB)
adquiriu o banco brasileiro BicBanco, instituição financeira voltada ao segmento de pequenas e médias empresas. “Eles o compraram para aprender
sobre o mercado nacional, uma vez que é uma economia com grande liquidez. O que custa para eles
se estabelecerem como um grande banco no Brasil,
até por que são os nossos maiores compradores de
commodities?!”, questionou-se o especialista, afirmando que “em um sistema internacional todo conectado, não adianta muito se proteger da inovação
sistêmica, pois é impossível controlar tudo e precisamos acordar para o mundo”.
março 2014 financeiro 33
terceiro
Fazer o bem faz bem!
Por Elisa Polonio
O diretor-geral da Fundação Gol de Letra, Sóstenes
de Oliveira, fala sobre os avanços conquistados pela
entidade fundada há 15 anos pelos ex-jogadores Raí e
Leonardo – e como as empresas podem colaborar com
os seus projetos sociais
Usar o esporte como forma de inclusão social, fomentando a participação da
comunidade como multiplicadora do conhecimento e da prática socioeducativas
e, ao mesmo tempo, participar do desenvolvimento do jovem. Esse conceito não é
apenas um discurso ilustrativo. Ele é levado à risca diariamente por toda a equipe
da Fundação Gol de Letra. A entidade, que
acaba de completar 15 anos de atividades,
34 financeiro março 2014
atende a 1.300 crianças e jovens em São
Paulo e no Rio de Janeiro.
Sóstenes de Oliveira, irmão de Raí e
diretor-geral da entidade, lembra que os
avanços obtidos pela entidade nos últimos anos permitem projetar um futuro
promissor para a organização. “Em 2010,
criamos o Programa de Disseminação,
que nos possibilitou dar saltos no relacionamento com comunidades do Brasil afo-
ra. Chegamos a atender 1.000 crianças e
jovens”, conta Sóstenes. Um dos exemplos
de ação de sucesso é o Projeto Ginga Social, realizado em parceria com a Adidas,
que busca por meio do esporte oferecer
formação e capacitação a agentes educacionais e a jovens carentes de comunidades em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto
Alegre, Belo Horizonte, Salvador e, em
breve, Brasília.
Outra grande conquista foi a formação de monitores esportivos, desenvolvida nos programas da fundação. Nessa
dinâmica, jovens da comunidade, que
normalmente já passaram pelos programas, voltam à quadra esportiva: porém,
dessa vez, recebendo capacitação em
diferentes áreas e ajudando os educadores nas atividades. Desse modo, eles se
tornam referências para os mais novos,
gerando mais responsabilidade e fazendo com que a missão da entidade seja
cumprida: a de contribuir para a formação cultural e educacional de crianças e
jovens para atuar com autonomia na
transformação de suas realidades.
As experiências bem-sucedidas na
atuação social renderam recentemente o
prêmio Itaú-Unicef de Educação Integral
à Fundação, em função de seu programa
Virando o Jogo, que promove atividades
artísticas, culturais e corporais a 240
crianças e jovens de São Paulo. Além disso, em 2001, a Fundação Gol de Letra havia sido reconhecida pela UNESCO como
modelo de atendimento às crianças em
situação de vulnerabilidade social.
Captação de recursos – O orçamento
anual da entidade é de R$ 5 milhões, captados, principalmente, por meio de empresas parceiras (25%), eventos (24%) e
doações via Lei de Incentivo Fiscal (22%).
“As empresas passaram a fragmentar
seu investimento social, e isso, além de
ser benéfico a elas por proporcionar uma
inclusão social na comunidade de atuação, é uma grande mola propulsora para
as atuações das entidades”, destaca Sóstenes, acrescentando que as empresas
podem contribuir para a Fundação Gol de
Letra por quatro maneiras: doações diretas, doações via Lei de Incentivo Fiscal,
campanhas de mobilização de produtos
e serviços – em que uma porcentagem é
doada à Fundação – e até mesmo em torneios promovidos pela entidade.
Na última modalidade, ganha destaque o Torneio Gol de Letra: trata-se não
somente de uma via de captação de recursos, mas também uma ação de RH
das empresas com os seus colaboradores. No campeonato, que em 2014 vai
para sua 11ª edição, empresas diversas
inscrevem seu time de colaboradores,
que disputam entre si o título que costuma ser decidido em grandes finais
no Morumbi (SP) e no Maracanã (RJ).
Realizado anualmente, o torneio reúne
também atletas, ex-atletas e personalidades, proporcionando dois fins de semana de plena interação, descontração,
e, claro, networking entre as empresas
participantes.
“Para as empresas que querem colaborar com a Fundação Gol de Letra, as
portas estão abertas. Recebemos cada
empresário individualmente, mostramos a entidade, e, caso a caso, discorremos sobre as possibilidades de doação”,
declara Sóstenes, acrescentando que a
Fundação também recebe doações de
pessoa física. “Muitas empresas parceiras promovem campanhas entre seus
funcionários, o que também é uma forma de captação de recursos”. A Fundação Gol de Letra é auditada pela KPMG
e apresenta, anualmente, às empresas
parceiras o balanço da entidade. f
Fotos: Divulgação
março 2014 financeiro 35
Foto: Luciana Prezia
foradoexpediente
Semeador
das artes
Louis Bazire, presidente do
Banco BNP Paribas Brasil, usa
seu olhar refinado para revelar
o talento de artistas brasileiros
que ainda são desconhecidos
do grande público
Por Gilberto de Almeida
36 financeiro março 2014
Num fim de tarde, um motorista e seu patrão
trocam impressões sobre arte contemporânea,
enquanto estão presos no trânsito de uma grande
metrópole. A cena, aparentemente incomum, poderia fazer parte do roteiro de um filme do diretor
franco-suíço Jean-Luc Godard. No entanto, essa
situação é real e faz parte do cotidiano de dois brasileiros: o motorista chama-se Wagner Gregório e
seu patrão é Louis Bazire, presidente no Brasil do
Banco BNP Paribas, uma das maiores instituições
bancárias do mundo.
Esse interesse de Wagner pelas artes plásticas é apenas uma pequena amostra do resultado
do trabalho realizado há dez anos no Brasil pela
Fundação BNP Paribas. Porém, o empenho de Bazire na difusão das artes vai muito além do bate-papo cultural com seu motorista. Ele mergulha
nessa atividade de corpo e alma. É um mecenas
na melhor acepção da palavra, aquele que é capaz
de identificar artistas e projetos que só ganham a
merecida atenção se tiver a sua dedicação pessoal
e o respaldo do banco. “A nossa fundação está presente em vários países e tem critérios para definir
os projetos que receberão o apoio do banco, mas eu
faço questão de participar pessoalmente de todas
as etapas de seleção”, conta Bazire. “Se você quer
fazer um a trabalho consistente, precisa traçar
uma diretriz forte e segui-la à risca.”
Esse trabalho consistente começa por uma sólida parceria que a Fundação Cultural BNP Paribas
mantém há anos com o MAM (Museu de Arte Mo-
derna de São Paulo), que permite não só que o banco realize eventos reservados para clientes e amigos nas dependências do museu, como também
franquia a entrada de seus funcionários e familiares em qualquer exposição montada no prestigiado
espaço da marquise do Parque do Ibirapuera. Basta apresentar o crachá e entrar.
Foi aí, provavelmente, que Bazire semeou
o interesse de Wagner pelas artes.
Bazire sabe perfeitamente o poder
transformador que uma visita a um museu
pode provocar na vida das pessoas. Nascido no Rio de Janeiro, filho de pai francês
e mãe americana, ele não se esquece da
primeira vez que entrou num museu, aos
12 anos de idade. Foi no Louvre, em Paris,
logo após mudar-se para a França com
seus pais. De lá para cá, essa paixão pelas
artes só cresceu. Embora não tenha conquistado habilidade com os pincéis e as
tintas, desenvolveu um olhar certeiro para
identificar novos talentos e abrir portas
para artistas que ainda não tiveram sua real oportunidade no mercado das artes. “Como se faz para
‘fabricar’ esse olhar, eu não tenho ideia. Quem sabe
vendo muitas coisas. Tudo é muito subjetivo”, tenta
explicar Bazire. “Eu olho não só a obra de arte, mas
o jeito como ela é feita, depois é uma questão de
sensibilidade.”
Foi assim que Bazire encantou-se com o trabalho da artista plástica Lara Donatoni Matana, que
“Se
você quer
fazer um
a trabalho
consistente,
é preciso
traçar uma
diretriz forte
e segui-la à
risca.”
Foto: Divulgação
Museu de Arte Moderna de São Paulo:
parceria do BNP Paribas que permite que os funcionários do banco e seus
familiares entrem gratuitamente em qualquer exposição montada no espaço
março 2014 financeiro 37
foradoexpediente
cria painéis cubistas a partir de finas lâminas de
madeira reflorestada, provocando sensação de
movimento, profundidade, ondulação, etc. Aliás, a
obra da artista “Expansão em Perspectiva” atrai a
atenção daqueles que, por alguns minutos, aguardam na recepção do salão de almoço do banco. Outro artista capaz de magnetizar o olhar de quem
visita a sede do BNP Paribas, em São Paulo, é o
capixaba Hilal Sami Hilal, que, com uma delicada
escultura em papel artesanal provoca instigantes
efeitos cinéticos, como definiu, em 1998, a crítica
de arte Angélica de Moraes. Esses são apenas dois
exemplos de trabalhos que fazem parte da coleção
do BNP Paribas no Brasil que merecem destaque
na decoração do escritório do banco.
A proximidade de Louis Bazire às criações de
Hilal aconteceu por meio de outra parceria que o
banco mantém com a galerista Marilia Razuk, que
cuida da carreira do escultor capixaba. “O Bazire
é um apaixonado por arte. Ele tem uma visão diferenciada sobre o que está acontecendo no mercado”, destaca Marilia. “Se fica encantado com o
trabalho de um artista, ele leva catálogos para o
exterior, mostra e fala para os amigos. Ou seja, ele
faz acontecer, tudo motivado pela paixão que tem
pelas artes”, lembra a marchand.
Esse entusiasmo faz com que aproveite cada
instante livre da sua pesada agenda de executivo
para pingar nos olhos novas gotas de conhecimento. No entanto, às vezes, chega até a perder
a noção do tempo diante de tantas atrações. Em
janeiro deste ano, por exemplo, depois de participar de um seminário do banco em Lisboa, aproveitou para ficar mais um dia na cidade apenas para
apreciar a coleção do Museu Berardo, próximo do
Centro Cultural de Belém. “Achei tudo tão legal e
atraente que por pouco não perdi o avião de volta
para o Brasil”, conta Bazire. A pressa, porém, não o
impediu de trazer na bagagem mais catálogo para
a sua coleção particular. “Sei que a minha mulher
fica chateada com essas compras. Não temos mais
espaço em casa para essas coisas. Ainda bem que,
desta vez, eu trouxe apenas um catálogo e não um
quadro novo”, brinca ele.
Mesmo quando não resiste e compra uma nova
obra para o seu acervo particular, Bazire nunca faz
a aquisição de olho no lucro que a peça que possa
render no futuro. “Compro porque gosto; detesto
falar em arte como moeda de negociação”, afirma
38 financeiro março 2014
Louis Basire:
diante de uma das obras da artista plástica Lara Donatoni Matana
o executivo acostumado a tomar decisões profissionais
com base nos frios números do setor financeiro. “Não me
desfaço de nada, nem acompanho o sobe e desce dos artistas no mercado internacional.” Com lágrima nos olhos,
sensibilidade rara entre os banqueiros, ele diz: “Pode ser
que eu tenha comprado quadros há 20 anos que hoje valem muito mais, mas não quero me desfazer. Eles são a
minha paixão e espero deixá-los para as minhas filhas.
Embora elas não morem no Brasil, assim que chegam
aqui pedem logo para conhecer as novidades.”
Com o mesmo carinho que dedica à sua coleção particular, Bazire participa ativamente da seleção de quatro a seis projetos que a Fundação BNP Paribas Brasil
apoia anualmente entre mais de 300 propostas recebidas. Além de enquadrados na Lei Rouanet, os projetos
devem estar focados na preservação do patrimônio cultural brasileiro, por meio de exposições, publicações de
livros, concertos ou recitais. Para 2014, a programação
da Fundação BNP Paribas no Brasil já está praticamente
fechada, com a realização de um concerto, em parceria
com o Centro da Cultura Judaica, do pianista israelense
Boris Giltburg, vencedor do disputado Concurso Internacional Rainha Elisabeth, organizado na Bélgica em 2013;
a exposição de Marcos Bretas, pintor brasileiro radicado
em Paris e ainda pouco conhecido por aqui; a exposição
Foto: Luciana Prezia
Foto: Divulgação
Hilal Sami Hilal:
um dos artistas que recebeu apoio da
Fundação BNP Pariba Brasil
de Lucia Mindlin Loeb – neta do bibliófilo José Mindlin, falecido em 2010 –; a publicação do livro “A
Flor da Floresta Amazônica”, do fotógrafo paulista
Rodrigo Petrella; e a publicação de um guia inédito
sobre os museus da São Paulo.
Por meio de iniciativas semelhantes a essas, há
dois anos, a fundação também bancou a edição do
livro “Villa de Paraty”, com fotos de Dom João de
Orleans e Bragança. “Tudo aconteceu muito rápido. O editor Pedro Corrêa do Lago me procurou e
disse que não tínhamos, até então, um bom livro
sobre a história de Paraty. Avaliei o projeto e achei
que ele estava dentro dos objetivos da fundação”,
conta Bazire. Algo semelhante aconteceu com Ângela Gutierrez, fundadora do Museu do Oratório de
Ouro Preto, que precisava do nosso incentivo para
renovar o catálogo da instituição. “Existem pessoas
que gostam de carros antigos, eu tenho predileção
por pintura, fotografia e música”, compara o executivo. “Às vezes, chego um pouco mais tarde em casa
por que estou envolvido com os projetos da fundação, mas esse esforço é totalmente recompensado
quando consigo surpreender alguém com o trabalho de um artista ainda desconhecido do grande
público”, completa Bazire. f
março 2014 financeiro 39
cultura
Casarão
dos versos
Reinaugurada em 2004, a Casa das Rosas ganhou
a designação Espaço Haroldo de Campos de
Poesia e Literatura, em homenagem a um dos
mais importantes poetas brasileiros e coautor do
movimento concretista. A coleção de livros do ensaísta
e tradutor faz parte do valioso acervo do museu
Por Eliane Santos
Fotos: Gabriel Kosman
40 financeiro março 2014
Encravada no coração financeiro de São Paulo,
uma imponente mansão do século passado sobrevive
em meio aos grandes edifícios comerciais. Emoldurada pelo quadrilátero formado pela Avenida Paulista,
Alameda Santos e as ruas Leôncio de Carvalho e Doutor Rafael de Barros, o casarão de quatro andares, que
foi ponto de encontro da oligarquia dos barões do café,
– hoje tombado pelo Patrimônio Histórico em 1985 e
reinaugurada em 1991 – abriga o rico acervo da Casa
das Rosas, um mais importantes espaços culturais da
cidade, dedicado à difusão da poesia e da literatura.
Pela entrada da Avenida Paulista, a fachada do
Museu Casa das Rosas mescla, em perfeita harmonia, os contrastes de dois períodos arquitetônicos: o
novo e o velho. Na frente, destaca-se um sobrado de
1935 e um lindo jardim; na parte de trás do terreno,
um moderno prédio recoberto por vidro espelhado.
Embora antagônico, o projeto valoriza os contornos
do casarão, criado pelo arquiteto Ramos de Azevedo e
oferecido de presente de casamento à filha Lucia e ao
genro Ernesto Dias de Castro, que por ali viveram com
seus herdeiros por duas gerações.
Após uma crise financeira, em 1985, a família
vendeu o imóvel e o terreno ao empreendedor Mário
Pimenta Camargo e ao arquiteto Júlio Neves, que tinham planos mais ousados que contrastavam com a
urbanização daquela região. Naquele período, o casarão foi tombado pelo CONDEPHAAT (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Arqueológico, Artístico e
Turístico) e tornou-se um bem cultural da cidade. Mas,
por meio de projeto de lei criado na época, que permite destinar as áreas não construídas do terreno de um
imóvel tombado a novos projetos imobiliários, o projeto foi dividido em duas partes. A casa foi restaurada
e o seu famoso jardim foi conservado. A parte livre
do terreno de 5.500 metros quadrados, que tem saída
para a Alameda Santos, abriu espaço para uma torre
de 21 andares.
Depois de funcionar como galeria de arte por quase dez anos, a casa fechou para restauro e foi reinaugurada em dezembro de 2004. Com o mesmo nome,
mas com uma nova designação, ela passou a se chamar Casa das Rosas – Espaço Haroldo de Campos de
Poesia e Literatura. O nome é uma homenagem ao tradutor, poeta e ensaísta brasileiro, Haroldo de Campos.
“A casa passou a funcionar como um espaço dedicado
à poesia e à literatura, abrigando toda a coleção de
O acervo da biblioteca
abriga mais de 20 mil
títulos da coleção do
poeta Haroldo de Campos
Integração:
Espigão de 21 andares que fica ao
fundo da Casa das Rosas
março 2014 financeiro 41
cultura
Cerca de 85 mil visitantes
por ano participam
dos eventos culturais
promovidos pela casa
Frederico Barbosa:
diretor da Casa das Rosas
livros do poeta”, conta o diretor do Museu, Frederico Barbosa.
À frente da instituição desde a inauguração, Barbosa relembra com orgulho como participou de cada detalhe desse projeto. “Quando assumi, a casa
estava necessitando de manutenção. As portas foram arrancadas para reforma e eu mesmo fiz a recolocação. Recebemos a ajuda de seis voluntários que
trabalharam, gratuitamente, por seis meses”. Em 2008, esses e outros voluntários, fundaram a organização social POIESIS – Instituto de Apoio à Cultura, à
Língua e à Literatura.
A Casa das Rosas, que recebe em média 85 mil visitantes por ano e abre
espaço para diversas manifestações culturais, exposições intermitentes de
arte contemporânea e uma exposição permanente, intitulada ‘Bibliocasa’, com
42 financeiro março 2014
mais de 20 mil títulos de livros de Haroldo de Campos. Os livros são expostos por temas, atualizados
a cada três meses. Todo o acervo doado pela família do poeta foi catalogado e está disponível para
visitação on-line, por meio do site da instituição
(www.casadasrosas.org.br).
Quem visita o centro de poesia e literatura tem
acesso a saraus, eventos literários, seminários,
festivais, cursos e um núcleo voltado para formação de escritores, o Centro de Apoio ao Escritor
(CAE). O projeto oferece uma série de atividades
educativas, palestras e projetos culturais. Só o Curso Livre de Preparação do Escritor recebe aproximadamente 500 inscrições para 30 vagas oferecidas anualmente.
Segundo o diretor, o espaço ainda recebe muitos
pedidos para realização de lançamentos de livros
e exposições. “É bacana você ter uma casa, em um
ponto bem localizado, que foi construída para a elite
e hoje esse espaço ser compartilhado por diferentes
classes sociais”, completou Frederico Barbosa. f
artigoexterior
março 2014 financeiro 43
educação
“Deixe seu filho
subir a escada do
conhecimento com
os próprios pés”
Por Gilberto de Almeida
Fotos: Divulgação
Pedro Bandeira é um escritor para quem a conversa flui
tranquila, como água que nasce na fonte. Aos 72 anos,
com 80 títulos dedicados ao público infanto-juvenil, ele
fala sobre o papel dos pais em estimular o hábito da
leitura entre as crianças
Revista Financeiro: A que você atribui a sua
afinidade e o seu sucesso com o público infanto-juvenil?
Pedro Bandeira: Quando você escreve para um
público mais jovem é preciso partir do pressuposto
de que ele não sabe nada sobre aquilo. Ele desconhece o que foi a época de Getúlio Vargas ou a de
Juscelino Kubitschek, muito menos o que significou o assassinato de John Kennedy, em 1963. Ele
não sabe nada, está chegando agora. Então o encaminhe, não venha com desafios. Pouquíssimos
meninos podem se interessar por um assunto tão
distante deles. Quando eu era criança, Washington
Luís era tão distante de mim quanto Álvares Cabral.
Ou seja, é preciso inseri-lo no contexto da história.
RF: Mas, existe também uma preocupação
com a linguagem?
Pedro Bandeira: Você adapta a sua linguagem
de acordo com o seu interlocutor. Se entrar aqui
44 financeiro março 2014
uma criança, você vai dizer que gracinha, que belezinha. Você vai falar como
um bobo para ela. Agora, se entrar aqui o embaixador do Reino Unido, você vai
dirigir-se a ele como excelência e provavelmente ficará de pé. É a mesma coisa
quando você escreve. Isso foi uma coisa que aprendi quando ainda era jornalista. Se eu estou trabalhando na revista Claudia, eu sei que a minha leitora é
uma dona de casa, uma mulher bem enfatizada, mas não necessariamente
uma intelectual. Eu levo tudo isso em conta quando estou escrevendo.
RF: Quais foram outros benefícios que você trouxe do jornalismo?
Pedro Bandeira: O jornalismo foi uma escola perfeita para mim. Isso porque o repórter é obrigado a não ter uma maneira de escrever. A não ser
quando você fica velho, torna-se o bacana, conquista seu espaço de cronista
e passa a escrever do seu jeito. Até lá, esses jornalistas comeram muita
poeira. Eu tive que trabalhar nas editorias de esportes, polícia, política, fiz
até horóscopo durante as férias de um colega. Além disso, você aprende no
jornalismo a respeitar uma coisa sagrada que é o prazo. O horário do fechamento ninguém discute. Outra coisa, você é levado a escrever sobre diferentes assuntos. Você ganha um cultura geral que lhe permite saber um pouco
de tudo. Depois de 10 anos de jornalismo, você fala sobre qualquer assunto,
até culinária, se for o caso.
RF: Como os pais podem instigar nos filhos o
hábito da leitura?
Pedro Bandeira: É
importante que esse pai
mostre as coisas que ele
considera boas para o filho ler? Não, o filho tem
que ler o que ele quiser
ler. Será bom aquilo que
ele achar bom, não aquilo
que você acha bom. Não,
meu filho tem que ler
“Memórias Póstumas de
Pedro Bandeira:
Brás Cubas”. Não. É um
” Nos países adiantados,
livro maravilhoso, mas
não existe adoção de livros
você acha que um garoto
de literatura nas escolas.
de 14, 15 anos vai gostar
Por quê? Não precisa
de “Memórias Póstumas
porque o papai, a mamãe, a
de Brás Cubas”? Nunca,
madrinha compram livros
jamais. Então o deixe ler o
que ele quiser. Para você,
para as crianças.
a escolha dele pode ser
uma porcaria. Ele está
numa escala de conhecimento. Não adianta puxá-lo para um
degrau acima. Deixe-o subir a escada com os próprios pés. Não
faça com que ele trilhe os caminhos que você trilhou. Ele não
tem a sua biografia. O seu DNA não significa que ele tenha a sua
biografia. Se ele tiver liberdade de acesso ao conhecimento, ele
gostará de ler.
gem telegráfica. É extremamente humano, perfeito... Por que
não? Agora, quando ele quer mergulhar num pensamento, passará a aceitar naturalmente a forma culta. Eu só uso norma culta
e tenho livros publicados há 30 anos, desde quando lancei, em
agosto de 1984, a minha série de maior sucesso, “Os Karas”, com
K. Na época não havia internet, não havia celular, não havia nada
nesse sentido. Hoje, o livro vende mais do que quando foi lançado. Isso se explica, porque a literatura não tem tempo. O livro não
precisa ser igual à vida que a criança leva? Não, o livro tem que
ser igual ao sonho que ela tem.
RF: E qual é o papel do professor em estimular o prazer da
leitura nos alunos?
Pedro Bandeira: Nos países adiantados, não existe adoção
de livros de literatura nas escolas. Por quê? Não precisa porque
o papai, a mamãe, a madrinha compram livros para as crianças. Elas têm em casa o exemplo do pai lendo um livro. Como
não existe isso no Brasil, coube à escola essa tarefa. Em minha
opinião, a escola pode fazer muitas coisas, mas não pode suprir
um papel que a família não cumpriu. Existem pais que preferem
gastar R$ 1 mil em um tênis para o filho do que pagar R$ 30
num livro.
RF: Como o legado cultural dos pais pode ser repassado
para os filhos?
Pedro Bandeira: Não duvide da capacidade do seu filho. Não
tente amarrá-lo, pois estará limitando a capacidade dele de assimilar coisas novas. Você pode até orientar, sugerir... se ele não
gostou da sugestão, recue. Deixe-o não gostar da sua sugestão.
Hoje não dá para uma criança ler Monteiro Lobato. São personagens que moram num sítio, com jabuticabeira. Para um menino
de hoje, a jabuticaba é no máximo a fruta que a mãe traz dentro
de um saquinho do supermercado. 90% da população brasileira é
urbana. É difícil sentir-se atraído por um ambiente que tem vaca,
porco, sabugo de milho. Isso não faz parte da realidade deles.
Hoje, o menino mora em um prédio e não quer ouvir falar em
vaca mocha ou burro falante. Pode ser que você queira que o
seu filho assista o “Grande Ditador”, do Chaplin. Para o menino, o
filme pode ser chato. É claro que é uma grande obra-prima. Um
dia, já adulto, ele vai ver o filme e descobrirá que é uma obra-prima. Mas, não force o seu filho a odiar o Chaplin. f
RF: O que você diria para os pais que ficam apavorados
quando veem seus filhos escrevendo cifrado na internet?
Pedro Bandeira: Antigamente, os telegramas eram cobrados
por letra. Usava-se a linguagem cifrada para pagar menos. Você
era VC. Era a chamada linguagem telegráfica. Então as crianças,
para andarem depressa na internet, usam essa mesma lingua-
RF: Por falar nisso, como nascem os seus livros?
Pedro Bandeira: Eu sou muito instintivo na entrada. Você
descobre alguma coisa que é importante contar, só que a partir
daí começa o trabalho. É costurar, é virar até que a ideia fique de
pé. Um livro bem antigo surgiu da cadelinha de um amigo. Ela
teve cinco cachorrinhos, que vinham pedir agrado. E um deles
fazia aquele ganido para pedir carinho, que parecia um miado de
gato. Pensei: ‘que engraçado, um cachorro que mia’. Era uma situação que poderia ser explorada para falar de preconceito. Essa
era a entrada do livro. O resto é desenvolvimento. O cachorrinho
miou porque era amigo de um gato. O que o pai dele, um cachorrão machão, vai achar disso? Só por que ele está miando poderia
ser chamado de gay? Pronto, aí é trabalho. Eu vou precisar de
um pouco de humor no começo, depois uma dose de suspense,
para depois a criança refletir sobre uma situação diferente. Por
que um cachorro não pode miar? Por que meu colega de escola
não pode ser gordinho? Eu estou tratando, de forma indireta, do
bullying. A eventual adequação educacional do livro passa a ser
um papel do professor ou do pai. Eu só instigo.
março 2014 financeiro 45
negócio&lazer
Refúgio das
águas
O Grande Hotel
São Pedro
se reinventa
sem perder
o charme e
se mantém
como uma
das principais
referências
turísticas do
interior paulista,
desde a época
dos cassinos
Por Evandro Ribeiro
46 financeiro março 2014
Fotos: Divulgação
Imagine só. Você
faz uma reserva em um
hotel e, antes de sua
“As vilas do
estadia, um mordomo
liga para saber qual é
golfe são os
seu tipo de travesseiro
nossos produtos
preferido, qual é a texpremium. É o
tura ideal da sua roupa
de cama, se tem alguque de melhor
ma restrição alimenpodemos
tar, qual o seu jornal
predileto, o seu vinho
oferecer aos
favorito, entre outros
hóspedes”.
mimos. Ao chegar ao
Graziela Zanin,
hotel, em vez daquela
gerente geral
experiência protocolar
e burocrática, o hóspede é recepcionado com
uma taça de champanhe, pelo mesmo mordomo que, alguns dias antes,
quis saber das suas preferências pessoais. Essas
são sutilezas que tornam o Grande Hotel São Pedro
– Escola Senac, em Águas de São Pedro, a 180 km
da capital paulista, uma das principais referências
turísticas do Estado desde a época dos cassinos.
O cliente que gosta de exclusividade e não abre
mão da privacidade, a sugestão é optar por um dos
confortáveis e espaçosos bangalôs (chamados de
vilas), no refúgio da Vila do Golfe, em área reservada em torno de um campo de golfe de 9 mil metros quadrados. Quem se hospeda lá tem direito à
atenção de um mordomo ao longo da estadia, café
da manhã no quarto até ao meio-dia, menu de filmes – acompanhados de pipoca –, miniadega climatizada, ofurô, entre outros cuidados. “As vilas do
golfe são os nossos produtos premium. É o que de
melhor podemos oferecer aos hóspedes”, garante
Graziela Zanin, gerente geral do hotel. As regalias
são tantas que o cliente não precisa nem desfazer
as malas. As outras suítes do hotel, apesar de não
contarem com todos esses serviços, também são
confortáveis, charmosas e tranquilas.
Rodeado por jardins e bosques e com instalações em estilo art déco, o hotel foi inaugurado, em
1940, pelo empreendedor Octávio de Moura Andrade, um visionário que apostou no potencial turístico das fontes termais da região. A cidade naquela
época nem existia, as primeiras casas surgiram só
depois da fundação do hotel. Hoje, o Grande Hotel
evoluiu, está supermoderno, sem perder a tradição.
O poder medicinal das águas foi ampliado e agora oferece um spa completo para cuidados com a
Foto: Gabriel Kosman
Bangalô:
Vila do Golfe, área em torno de um campo de golfe de 9 mil m²
Foto: Gabriel Kosman
Jardim de inverno:
Momentos de leitura e descontração
Fotos: Divulgação
Interior:
Preservação do estilo art déco
março 2014 financeiro 47
negócio&lazer
Sob a administração do Senac São Paulo,
o Grande Hotel São Pedro tornou-se uma
das referências nacionais na formação de
profissionais voltados para hotelaria e alta
gastronomia
Foto: Gabriel Kosman
Bosque:
Ar puro e tranquilidade
saúde e com a beleza. Além das três piscinas
distribuídas na área comum do hotel, o hóspede pode se energizar com o clássico banho
de imersão em águas sulfurosas, fazer massagens terapêuticas e tratamentos estéticos
faciais e corporais. Se ainda sobrar disposição,
ele pode movimentar-se nas quadras de tênis,
vôlei e basquete.
Sob a administração do Senac São Paulo,
o Grande Hotel São Pedro tornou-se também
uma das primeiras referências nacionais na
formação de profissionais voltados para hotelaria e para a alta gastronomia. Esse perfil
educacional foi uma das estratégias usadas
para manter o glamour dos anos 40, quando
o hotel abrigava em seus salões um concorrido cassino, que atraía artistas e a aristocracia
paulista. Contudo, em 1946, com a proibição
do jogo no Brasil, o Grande Hotel buscou algumas alternativas e o conceito hotel/escola, já
em 1969, foi o que se mostrou mais atraente
e lucrativo. Segundo Graziela Zanin, 80% dos
funcionários saíram dos cursos profissionalizantes ministrados ali, inclusive ela.
Com um quadro de colaboradores tão preparado, o restaurante do hotel oferece aos hóspedes diversas alternativas gastronômicas. No
Engenho das Águas, ele pode experimentar o
Cabra Safado, guisado de bode com massapê
de mandioca, purê que faz alusão ao barro tí-
Foto: Gabriel Kosman
Arquitetura:
Atmosfera dos anos 40
48 financeiro março 2014
Foto: Divulgação
pico do Ceará. Também conhecer ingredientes típicos nacionais,
como maxixe, pirarucu, priprioca (erva da região amazônica) e
aviú (microcamarão abundante nas águas dos rios do Pará). Para
variar, no dia seguinte, o hóspede pode optar por capeletti de codorna com creme de abóbora. Na seleção dos doces, o chef Jorge da Hora sugere um petit gâteau, preparado com cacau 70% da
Bahia, acompanhado de sorvete de maracujá. Além disso, o menu
tem outras tentações: quindim, arroz-doce com aroma de capim
cidreira, manjar de coco com calda de ameixa, torta de castanha
e sorvete de tapioca.
Como Águas de São Pedro é uma cidade muito pacata, o hotel tem uma programação de lazer organizada de acordo com as
faixas etárias dos hóspedes. “As nossas atividades são divididas
por segmentação. Temos o miniclube, que reúne a criançada de 3
a 6 anos, o grupo dos pré-adolescentes, de 6 a 12 anos, depois o
dos adolescentes e dos jovens, o pessoal adulto e os clientes mais
experientes, conhecidos carinhosamente como da melhor idade,
explica Graziela Zanin, gerente geral do hotel. A área de lazer tem
opção para todo mundo, para quem não quer fazer nada o dia inteiro e para quem quer praticar esporte o tempo todo. Pensamos
até naqueles que desejam ficar abraçando uma das 1,2 milhão
árvores espalhadas no nosso parque”, brinca Graziela.
São tantos os encantos do Grande Hotel São Pedro que o livro
Gastronomia & História revela que a música Café da Manhã, sucesso de Roberto Carlos, foi composta, em 1978, entre os lençóis de
uma das suítes. Já o escritor Ignácio de Loyola Brandão fez do lugar o cenário ideal da lua de mel de Rosa e José, protagonistas no
romance Zero. Se gostou da dica, faça as malas e venha viver a sua
história nesse ambiente cheio recordações, beleza e conforto. f
Spa personalizado:
Além das três piscinas, o hóspede pode se energizar com o banho de imersão em águas sulfurosas
Serviço
Grande Hotel São Pedro
Parque Dr. Octávio de Moura Andrade, s/n
Águas de São Pedro – SP
www.grandehotelsenac.com.br
Tel. (19) 3482-7600
março 2014 financeiro 49
happyhour
Cheers!
Um brinde ao verão
Nas happy hours ou nos encontros informais de
negócios, os drinques refrescantes são ótimas
opções para tornar o bate-papo mais agradável
Foto: Gabriel Kosman e Mauro Holanda
Por Liliana Liberato
Que tal substituir o uísque ou até mesmo a cerveja – uma das
paixões nacionais nesses dias quentes de verão – por um drinque
que possui um mix de sabores das frutas típicas da estação, com
bebidas que relaxam e também refrescam? Os dias mais longos e
de temperaturas mais elevadas são convidativos a essa experiência. Para vivenciá-la, bares e restaurantes dispõem de muitas opções que, seguindo algumas recomendações, podem ser feitas e
saboreadas com a família e com os amigos, nos momentos de descontração e lazer.
Quem desvenda os segredos desses drinques é o tarimbado
barman Derivan Ferreira de Souza, titular do Bar Número, em São
Paulo, que soma 42 anos de profissão, oito publicações sobre o
tema e muitos prêmios, como o Mundial de Coquetelaria. “Os drinques de verão têm um apelo especial, tanto no preparo quanto no
50 financeiro março 2014
Mestre Derivan:
barman de Frank Sinatra, Bono
Vox, Hebe e Pelé
Serviço
Bar Número – Rua da
Consolação, 3585 – Cerqueira
César – São Paulo (SP),
tel.: 55 11 3161-3995.
modo de servir. A estação pede frutas frescas, bebidas
de baixo teor alcoólico, água gaseificada e sucos. Antes
da escolha, no entanto, é preciso identificar o momento
a ser servido. Para cada ocasião há um momento que
harmoniza. Os aperitivos para antes das refeições. Os
digestivos após. Os long drinks nas horas de distração
e os hot drinks nos dias frios”, revela.
Outro segredo – compartilhado por quem já preparou drinques para Frank Sinatra, Bono Vox, Hebe
Camargo, Pelé e Adoniran Barbosa – é o ato de preparar e servir. “Ao descrever os ingredientes e o modo
de preparo aos nossos convidados, temos que buscar
surpreender o paladar, despertar os sentidos, aguçar
a saliva, a vontade de provar”, complementa Derivan.
Clássicos & Contemporâneos
É também no verão que muitos drinques clássicos e atemporais ganham uma
releitura e voltam ao topo dos mais pedidos. A caipirinha é um deles que, na
repaginação do Mestre Derivan, recebeu o nome de Caipiry. Todo verão também
tem uma novidade. Em 2014, a novidade coube ao Café Oden Spritz, concebido em
um dos bares da histórica Plaza San Marco, em Veneza, na Itália. De lá, já ganhou
fama mundial e, atualmente, está entre os mais pedidos aqui no Brasil.
Outras sugestões do barman são o Clericot, com baixo teor alcoólico; o Rouge,
para quem não consome bebida alcoólica, e o Mosaico, para os que fazem questão de acompanhar as tendências. Entre os clássicos, mantém-se o Sex on the
Beach, além do Dry Martini, do Manhattan, do Blood Mary e do Negroni. De acordo
com o barman, seguir as recomendações indicadas é certeza de elogios. Então,
escolha o seu, prepare, e confira se, de fato, tem razão. Cheers! f
Café Oden Spritz
Caipiry
40 ml de Aperol
60 ml de espumante brut
20 ml de água com gás
40 ml de cachaça
1 tangerina em cubos
1 colher de açúcar
15 ml de St. Rémy
Modo de preparo
Em um copo para vinho Bordeaux,
coloque gelo. Quando mais gelo, mais
refrescante. Em seguida, coloque os
ingredientes. Misture bem e decore
com uma fatia de laranja.
Rouge
3 morangos
3 amoras
2 cerejas em conserva
Complete com água
tônica
Modo de preparo
Em um copo long, coloque as frutas
e amasse bem. Em seguida, coloque
bastante gelo. Complete com água
tônica.
Modo de preparo
Em um copo para caipirinha, coloque
a tangerina e o açúcar. Pressione delicadamente. Em seguida, coloque a
cachaça e complete com gelo. Decore
com fatias de tangerina no copo.
Sex on the Beach
40 ml de vodca
15 ml de Peach Stock
80 ml de suco de laranja
1 lance de Kaly Grenadine
Modo de preparo
Em um copo long drink, coloque gelo
e em seguida a vodca, o licor e o suco
de laranja. Misture bem. Decore com
uma fatia de laranja e uma cereja, finalize com o Kaly Grenadine.
Clericot
1 maçã-verde picada
com casca sem sementes
2 rodelas de abacaxi picadas
1 carambola pequena fatiada
1 laranja picada sem pele e
sem sementes
20 ml de licor Curaçau
300 ml de soda limonada
500 ml de vinho branco
Açúcar a gosto
Modo de preparo
Em uma jarra de 2 litros, coloque as
frutas, o licor e os outros ingredientes. Em seguida, gelo à vontade. Misture tudo e sirva em copos de vinho
branco.
Mosaico
1 cubo pequeno de gelatina de limão com
vodca
1 cubo pequeno de gelatina de cereja com cassis
1 cubo pequeno de gelatina neutra
com curaçau blue
1 cubo pequeno de gelatina de uva
simples
Espumante gelado para completar
1 fatia de carambola para decorar
Modo de preparo
Siga as instruções de preparo da gelatina e, na finalização, acrescente a
cada uma o correspondente a 100 ml
de cada bebida solicitada. Conserve-a
na geladeira e, no momento de usar,
corte em cubos ou utilize uma colher
de chá para enformar. Em uma taça
flute, previamente gelada, coloque
as gelatinas e em seguida complete
com o espumante brut. Decore com a
carambola.
março 2014 financeiro 51
qualidadedevida
É preciso saber viver
Por Geyse Alencar
Imagine as situações. Você faz uma ligação e,
minutos depois, o motoboy entrega seu jantar, enquanto perde horas a fio no trânsito de São Paulo.
Um jovem workaholic infarta, aos 27 anos, e cai no
chão impecavelmente vestido com sua camisa de
algodão egípcio. Um profissional heavy user em
tecnologia saca do bolso sua caneta digital que detecta, na hora, a necessidade diária de minerais do
organismo. Caso a taxa esteja insuficiente, o acessório alerta e indica a pílula que deve ser ingerida
imediatamente.
Essas situações fictícias, que chamam a atenção para o ritmo frenético em que mundo está
caminhando, é o ponto de partida do livro “Desacelera, Mundo! Na contramão para viver melhor”,
terceira obra do advogado, administrador e consultor tributário Mário Shingaki e a primeira voltada
para as questões ligadas à qualidade de vida.
O livro está dividido em áreas, como tecnolo-
52 financeiro março 2014
gia, comportamento, consumo e sustentabilidade. Com uma proposta de leitura leve
e descontraída, Shingaki faz questionamentos sobre estilo de vida e a busca da
tão almejada felicidade. Ao mesmo tempo,
sugere estratégias para pequenas mudanças na rotina diária que resultarão em ótimos benefícios. “Muitas vezes, a correria
para dar conta de todos os afazeres não
permite desacelerar para perceber os pequenos prazeres e ‘viver melhor’”, explica
Shingaki.
“Em uma tarde de segunda-feira chuvosa, comecei a fazer alguns questionamentos sobre meu estilo de vida, a forma
como conduzo meu dia e se isso me deixa
feliz ou triste. A partir dessa análise, surgiu
a ideia de escrever sobre o assunto”, conta
Shingaki, num tom de voz calmo e pausa-
Mario Shingaki:
“dar conta de todos os
afazeres não permite
desacelerar para perceber
os pequenos prazeres”
Foto: Divulgação
Livro “Desacelera, Mundo!”
desafia os leitores a uma
revisão do seu estilo de vida
do, características que lhe são naturais e que
O segredo
procura levar para todas as situações da vida.
O infarto fulminante de um amigo durante o da qualidade
expediente foi o gatilho que despertou a consde vida está
ciência de Vinicius Branco, 57 anos, advogado e
no equilíbrio:
sócio do escritório Levy & Salomão, em relação
profissional,
à qualidade de vida. “Eu sempre tive vontade de
fazer um ano sabático, mas depois desse inci- social, saúde,
dente, eu percebi que o mesmo poderia aconteespiritual e
cer comigo, a qualquer momento, em função do
familiar
ritmo de trabalho: doze horas por dia, sete dias
por semana. Eu tinha vontade, tinha dinheiro,
mas me sentia refém do das atividades profissionais”, relembra. “No mundo, tempo é dinheiro. No
mercado financeiro, isso é ainda mais intenso”, define Branco, que também foi executivo do Citibank e do
Bank of Boston.
Esse fato traumático foi um divisor de águas e
mudou o rumo da vida de Branco. Ele pediu licença
do trabalho e, ao lado da esposa, tirou um período sabático de um ano e foi para o Alasca de carro. Todas
Trilha da longevidade
as experiências dessa aventura podem ser conferidas no site www.vbranco.com.br.
Depois deste tempo de tranquilidade, o retorno
A comunidade médica, de forma uníssona, recomenda a prática
ao mercado foi bem diferente. As longas jornadas
regular de exercícios físicos. É notório que a atividade libera
de trabalho foram substituídas por uma programaendorfina, que gera bem-estar. Além disso, há outras dicas
ção mais organizada e equilibrada do tempo dedipráticas e realistas que podem ajudar no aperfeiçoamento da
cado ao expediente profissional. “Continuo trabaqualidade de vida:
lhando com a mesma eficiência, mas parei de levar
para casa projetos que ocupam parte dos meus
fins de semana. Sigo em frente, mas não no mesmo
• Alimentar-se de forma saudável: “Comer como rainha no
café da manhã, como princesa no almoço e como mendigo à
ritmo”, alegra-se Branco.
noite”, segundo Kofhiro Otoni.
“As doenças relacionadas ao esforço repetitivo
• Ter vida afetiva satisfatória (família, amigos, colegas).
e aos transtornos mentais, como depressão e sín• Analisar itens de consu mo: será realmente necessário
drome do pânico, lideram os afastamentos do tratrocar de celular ou de carro?
balho protocolados na Previdência Social”, conta o
• Aprender a dizer não.
• Delegar mais ao time de trabalho.
médico sanitarista e do trabalho, Koshiro Otani, 64
• Estabelecer agenda de compromissos culturais. “Comprar
anos, sendo 38 dedicados à medicina.
ingressos para temporadas é uma boa dica”, sugere
Otani analisa o estilo da sociedade contemporâVinicius Branco.
nea: “Vivemos de forma apressada. As pessoas não
• Repensar seus sonhos. Estão distantes? Encurte-os.
estão na correria apenas para conquistar um salário
• Ajudar mais o próximo com tempo e trabalho e não com
no fim do mês, mas pelo simples fato de correr e se
dinheiro. “Realizar uma atividade pro bono por ano. É
compensador”, garante Mário Shingaki.
acostumam a isso. Longas jornadas comprometem o
•
Fazer curso sobre assuntos que não estão relacionados
bem-estar físico e mental, prejuízos que podem levar
à sua profissão. Aumentar o repertório em outras áreas
a doenças físicas e emocionais”.
do conhecimento oxigena a rotina e contribui para a
O segredo da tão esperada qualidade de vida
criatividade.
está no equilíbrio: profissional, social, saúde, espi• Lutar pela felicidade de quem você ama, sem egoísmo.
ritual e familiar. Como diz a composição de Roberto
e Erasmo Carlos e, posteriormente também interpretada pelo grupo Titãs, “É preciso saber viver”. f
março 2014 financeiro 53
54 financeiro março 2014
bancodedadosinepad
Incertezas ou oportunidades
O mercado de crédito brasileiro
está em foco devido à sua alta expansão nos últimos anos. Principalmente, após a crise de 2008, quando
o estímulo ao crédito foi utilizado pelo
governo como medida de resgate ou
fortalecimento da economia frente às
ameaças externas.
Nota-se que o crescimento da carteira das pessoas físicas (PF) foi superior ao das pessoas jurídicas (PJ) nos
anos de 2009 e 2010, considerando-se
as medidas de estímulo à demanda e
a desaceleração das atividades empresariais em decorrência do cenário
internacional pessimista. Porém, com
um cenário já mais otimista a partir de
2011 e 2012, ocorreu um maior crescimento da carteira das PJ, como pode
ser visto no gráfico 2.
Contudo, ao analisar o período que
vai de dez/07 a dez/13 (gráfico 1),
percebe-se que há um maior crescimento da carteira de PF, passando de
R$ 432,4 bilhões para R$ 1,25 trilhão,
ou seja, um crescimento real de 108%.
Já a carteira de PJ passou de R$ 511,5
bilhões para R$ 1,46 trilhão, crescimento de 105%.
Há, também, de se levar em consideração o crescimento total da carteira, que passou de R$ 944 bilhões
em dez/07 para R$ 2,7 trilhões em
dez/13, o que representa um crescimento real de 106%. Porém, mesmo
com esse crescimento, a relação crédito/PIB brasileira, de 68%, ainda é
inferior ao de países como Espanha,
Alemanha, Estados Unidos e China que
apresentam, todos, relações crédito/
PIB superiores a 100% em 2012, segundo dados do WorldBank.
Também se notam menores índices
de crescimento do mercado de crédito
nos anos de 2012 e 2013, sendo 2013 o
ano com menores índices para as carteiras de PF e PJ. Isso remete a uma
indicação do mercado, uma vez que o
governo manifestou preocupação com
o fechamento fiscal dos bancos públicos. Dessa forma, essas instituições,
que foram vitais para a expansão do
mercado de crédito, passariam a ter
uma atuação mais conservadora no
mercado, levando, talvez, a uma retração no mercado de crédito.
Foto: Divulgação
no mercado de crédito brasileiro
Por Prof. Dr. Alberto
Borges Matias,
com colaboração de
João Gabriel Sehn
Gráfico 1 – Saldo das Carteiras de PF e PJ
março 2014 financeiro 55
bancodedadosinepad
Gráfico 1 – Saldo das Carteiras de PF e PJ
Elaborado pelo
Centro de Pesquisas
do INEPAD - Núcleo
CEPEFIN
Elaboração:
Agora, com o foco para o crédito pessoal, percebe-se uma evolução de 112% na carteira total entre dez/07 e dez/13, passando de R$ 88 bilhões para R$ 319 bilhões. Crescimento, em suma, devido à expansão do consignado, que apresentou 133% de crescimento
real no seu volume no mesmo período, passando de R$ 54 bilhões para R$ 222 bilhões. Já
o crédito pessoal não consignado apresentou variação mais modesta, de 76%, passando
de R$ 35 bilhões para R$ 98 bilhões.
Gráfico 1 – Saldo das Carteiras de PF e PJ
Alberto Borges Matias
– Diretor Presidente
do INEPAD. Professor
titular do Departamento
de Administração da
Faculdade de Economia,
Administração e
Contabilidade da
Universidade de São Paulo
no campus de Ribeirão
Preto. Livre docente em
Finanças, atuando nos
programas de graduação,
pós-graduação e MBAs da
Universidade
Apoio:
João Gabriel Sehn
– Pesquisador do
Centro de Pesquisas
do INEPAD – Núcleo
CEPEFIN. Graduando em
Economia Empresarial
e Controladoria pela
Faculdade de Economia,
Administração e
Contabilidade da
Universidade de São Paulo
no Campus de Ribeirão
Preto
Um bom reflexo dessa expansão do crédito é o maior acesso a linhas de crédito por
parte dos consumidores, assim tendo reflexo nos indicadores de endividamento das famílias. Nota-se que os níveis de endividamento, quando considerado o crédito habitacional,
passaram de 29,2% em nov/07 para 45,5% em nov/13. Já quando é desconsiderado o
crédito habitacional, os níveis são menores, passando de 25,2% para 30% no mesmo período. Nota-se que o crescimento da série com o crédito habitacional é de 16,3 p.p., sendo,
56 financeiro março 2014
então, maior que o crescimento de 4,8 p.p. da série que exclui o crédito habitacional. Com
isso percebe-se um perfil positivo do endividamento, com crescimento do crédito voltado
para a aquisição da casa própria, por exemplo.
Gráfico 1 – Saldo das Carteiras de PF e PJ
Também
se notam
menores
índices de
crescimento
do mercado
de crédito
nos anos de
2012 e 2013,
sendo 2013
o ano com
menores
índices para
as carteiras
de PF e PJ
Já no lado da oferta, o reflexo da expansão de crédito está no crescimento das vendas
(gráfico 5). O índice de volume de vendas no varejo passou de 103,2 em dez/07 para 150,1
em dez/13. Vale ressaltar que os níveis de dezembro são sazonais devido às compras de
fim de ano. Porém, mesmo as médias anuais aumentaram bastante, passando de 73,2 em
2007 para 113 em 2013. f
Gráfico 1 – Saldo das Carteiras de PF e PJ
março 2014 financeiro 57
bancodedadosinepad
Taxas Médias: geral
DATA
Aplicações
Var. p.p.
Captações
Var. p.p.
Spread
Var. p.p.
dez/12
jan/13
fev/13
mar/13
abr/13
mai/13
jun/13
jul/13
ago/13
set/13
out/13
nov/13
dez/13
18,0
18,6
18,7
18,5
18,5
18,1
18,5
19,1
19,3
19,5
19,8
20,0
19,7
-0,9
0,6
0,1
-0,2
0,0
-0,4
0,4
0,6
0,2
0,2
0,3
0,2
-0,3
6,5
6,4
6,7
6,8
6,8
6,9
7,6
7,7
8,0
8,2
8,2
8,5
8,6
-0,1
-0,1
0,3
0,1
0,0
0,1
0,7
0,1
0,3
0,2
0,0
0,3
0,1
11,5
12,2
12,0
11,7
11,7
11,2
10,9
11,4
11,3
11,3
11,6
11,5
11,1
-0,8
0,7
-0,2
-0,3
0,0
-0,5
-0,3
0,5
-0,1
0,0
0,3
-0,1
-0,4
Variação
dez-dez
1,7
2,1
-0,4
Fonte: BC / INEPAD
Taxas Médias: Pessoa física
DATA
dez/12
jan/13
fev/13
mar/13
abr/13
mai/13
jun/13
jul/13
ago/13
set/13
out/13
nov/13
dez/13
Variação
dez-dez
Aplicações
Var. p.p.
Captações
Var. p.p.
Spread
Var. p.p.
24,3
24,7
24,9
24,5
24,3
24,0
24,2
25,1
25,2
25,6
26,2
26,1
25,6
-0,8
0,4
0,2
-0,4
-0,2
-0,3
0,2
0,9
0,1
0,4
0,6
-0,1
-0,5
6,6
6,7
7,0
7,1
7,0
7,1
8,0
8,2
8,6
8,8
8,8
9,1
9,2
-0,2
0,1
0,3
0,1
-0,1
0,1
0,9
0,2
0,4
0,2
0,0
0,3
0,1
17,7
18,0
17,9
17,4
17,3
16,9
16,2
16,9
16,6
16,8
17,4
17,0
16,4
-0,6
0,3
-0,1
-0,5
-0,1
-0,4
-0,7
0,7
-0,3
0,2
0,6
-0,4
-0,6
1,3
2,6
-1,3
Fonte: BC / INEPAD
Taxas Médias: Pessoa física
DATA
dez/12
jan/13
fev/13
mar/13
abr/13
mai/13
jun/13
jul/13
ago/13
set/13
out/13
nov/13
dez/13
Variação
dez-dez
Aplicações
Var. p.p.
Captações
Var. p.p.
Spread
Var. p.p.
13,3
14,0
14,0
14,0
14,0
13,5
14,1
14,4
14,7
14,7
14,8
15,2
15,1
-0,9
0,7
0,0
0,0
0,0
-0,5
0,6
0,3
0,3
0,0
0,1
0,4
-0,1
6,3
6,2
6,4
6,5
6,6
6,7
7,3
7,3
7,5
7,7
7,8
8,1
8,2
-0,1
-0,1
0,2
0,1
0,1
0,1
0,6
0,0
0,2
0,2
0,1
0,3
0,1
7,0
7,8
7,6
7,5
7,4
6,8
6,8
7,1
7,2
7,0
7,0
7,1
6,9
-0,8
0,8
-0,2
-0,1
-0,1
-0,6
0,0
0,3
0,1
-0,2
0,0
0,1
-0,2
58 financeiro março 2014
1,8
1,9
-0,1
Fonte: BC / INEPAD
Consignados: saldo de operações de crédito
crédito consignado (R$ milhões)
Crédito pessoal
Mês/Ano
Não
consignado
dez/12
jan/13
fev/13
mar/13
abr/13
mai/13
jun/13
jul/13
ago/13
set/13
out/13
nov/13
dez/13
90.225
91.079
91.627
92.940
94.042
94.904
95.634
95.736
96.486
97.579
98.605
99 391
97 614
Fonte: BC / INEPAD
Taxa de Juros %a.a.
Total
Consignado
116.039
117.713
119.680
121.674
124.091
126.450
128.603
130.421
132.123
133.439
134.936
136 349
137 157
16.244
16.391
16.535
16.811
16.964
17.223
17.401
17.504
17.727
17.860
17.950
17 965
17 941
56.595
58.062
59.219
60.356
61.412
62.706
63.386
64.181
65.102
65.536
65.893
66 314
66 743
188.878
192.166
195.434
198.841
202.467
206.379
209.390
212.106
214.952
216.835
218.779
220 628
221 841
279.103
283.245
287.061
291.781
296.509
301.283
305.024
307.842
311.438
314.414
317.384
320 019
319 455
Consignado
24,5
24,5
24,7
24,6
24,3
24,2
24,2
24,4
24,5
24,3
24,6
24,5
24,4
Crédito
Diferença
Pessoal
36,9
37,3
37,9
37,2
36,8
36,7
38,0
39,8
39,7
40,3
42,2
41,7
41,3
12,4
12,8
13,2
12,6
12,5
12,5
13,8
15,4
15,2
16,0
17,6
17,2
16,9
março 2014 financeiro 59
bancodedadosinepad
Saldo da carteira de crédito - pessoa física
18.288
20.046
20.800
20.244
21.220
21.118
20.478
20.962
21.086
22.025
22.058
21.244
20.154
-8,4
9,6
3,8
-2,7
4,8
-0,5
-3,0
2,4
0,6
4,5
0,1
-3,7
-5,1
126.614
126.273
122.107
122.141
123.598
126.433
125.372
129.369
130.019
131.437
133.682
135.236
144.738
CRÉDITO
PESSOAL NÃO
CONSIGNADO
VINCULADO À
DÍVIDA
6,0
-0,3
-3,3
0,0
1,2
2,3
-0,8
3,2
0,5
1,1
1,7
1,2
7,0
21.480
21.551
21.562
21.609
21.662
21.773
21.764
21.721
21.739
21.558
21.500
21.416
21.195
CRÉDITO PESSOAL
VARIAÇÃO Crédito
Variação Crédito pessoTOTAL
EM % pessoal não
al consignado Variação
em %
em
%
total
consignado
2,4
0,3
0,1
0,2
0,2
0,5
0,0
-0,2
0,1
-0,8
-0,3
-0,4
-1,0
90.225
91.079
91.627
92.916
93.944
94.945
95.663
95.736
96.787
97.579
98.605
99.391
97.614
-0,9
0,9
0,6
1,4
1,1
1,1
0,8
0,1
1,1
0,8
1,1
0,8
-1,8
188.879
192.166
195.434
198.825
202.469
206.309
209.304
212.106
214.728
216.835
218.779
220.628
221.842
0,6
1,7
1,7
1,7
1,8
1,9
1,5
1,3
1,2
1,0
0,9
0,8
0,6
279.104 0,1
283.245 1,5
287.061 1,3
291.741 1,6
296.412 1,6
301.254 1,6
304.967 1,2
307.842 0,9
311.515 1,2
314.414 0,9
317.384 0,9
320.019 0,8
319.456 -0,2
Fonte: BC / INEPAD
dez/12
jan/13
fev/13
mar/13
abr/13
mai/13
jun/13
jul/13
ago/13
set/13
out/13
nov/13
dez/13
CHEQUE VARIAÇÃO CARTÃO DE VARIAÇÃO
CRÉDITO
EM %
EM %
ESPECIAL
VARIAÇÃO
EM %
MÊS / ANO
recursos livres - (R$ milhões)
Saldo da carteira de crédito - pessoa física
ARRENDAMENTO
MERCANTIL
Veículos
193.215
193.474
192.763
192.795
192.490
192.060
191.979
193.946
194.008
193.106
193.026
193.078
192.816
Variação
em %
1,3
0,1
-0,4
0,0
-0,2
-0,2
0,0
1,0
0,0
-0,5
0,0
0,0
-0,1
203.665
203.968
203.185
203.225
202.988
202.717
202.783
204.825
205.078
204.029
204.133
204.246
204.237
1,4
0,1
-0,4
0,0
-0,1
-0,1
0,0
1,0
0,1
-0,5
0,1
0,1
0,0
17.913
16.762
15.738
14.746
13.732
12.809
12.040
11.167
10.410
9.724
9.064
8.498
7.906
Outros bens Variação
em %
10.450
10.494
10.422
10.430
10.498
10.657
10.804
10.879
11.070
10.923
11.107
11.168
11.421
2,8
0,4
-0,7
0,1
0,7
1,5
1,4
0,7
1,8
-1,3
1,7
0,5
2,3
VARIAÇÃO
EM %
-6,1
-6,4
-6,1
-6,3
-6,9
-6,7
-6,0
-7,3
-6,8
-6,6
-6,8
-6,2
-7,0
DESCONTO
DE
CHEQUES
1.673
1.637
1.650
1.634
1.590
1.583
1.587
1.525
1.553
1.538
1.524
1.575
1.550
-0,7
-2,2
0,8
-1,0
-2,7
-0,4
0,3
-3,9
1,8
-1,0
-0,9
3,3
-1,6
OUTROS
CRÉDITOS
LIVRES
23.870
24.053
24.635
25.032
25.941
25.923
26.250
26.279
26.417
25.700
25.167
25.699
25.988
0,6
0,8
2,4
1,6
3,6
-0,1
1,3
0,9
0,5
-2,7
-2,1
2,1
1,1
Fonte: BC / INEPAD
VARIAÇÃO
EM %
VARIAÇÃO
EM %
dez/12
jan/13
fev/13
mar/13
abr/13
mai/13
jun/13
jul/13
ago/13
set/13
out/13
nov/13
dez/13
TOTAL
AQUISIÇÃO
VARIAÇÃO
EM %
MÊS / ANO
recursos livres - (R$ milhões)
recursos direcionados - (R$ milhões)
VARIAÇÃO - FINANC.
IMOBILIVARIAÇÃO
MÊS /
CRÉDITO RURECURSOS
LIVRES
(R$ Milhões)
ANO
dez/12
jan/13
fev/13
mar/13
abr/13
mai/13
jun/13
jul/13
ago/13
set/13
out/13
nov/13
dez/13
RAL TOTAL
EM %
ÁRIO TOTAL
EM %
FINANC. RECURSOS DO BNDES
VARIAÇÃO
EM %
MICROCRÉDITO TOTAL
VARIAÇÃO
EM %
OUTROS CRÉDITOS
DIRECIONADOS
VARIAÇÃO
EM %
90.655
90.480
90.964
92.705
94.192
97.014
101.736
99.448
103.181
105.950
108.036
110.966
115.354
4,9
-0,2
0,5
1,9
1,6
3,0
4,9
-2,2
3,8
2,7
2,0
2,7
4,0
255.367
261.344
266.577
273.917
281.343
289.652
298.396
306.493
314.896
319.441
326.403
333.878
341.466
2,7
2,3
2,0
2,8
2,7
3,0
3,0
2,7
2,7
1,4
2,2
2,3
2,3
29.172
30.221
31.156
32.146
32.991
32.839
33.119
33.527
34.086
34.504
35.026
35.688
37.149
2,5
3,6
3,1
3,2
2,6
-0,5
0,9
1,2
1,7
1,2
1,5
1,9
4,1
3.798
3.823
3.824
3.879
3.936
4.027
4.170
4.116
4.158
4.188
4.423
4.873
5.395
6,4
0,7
0,0
1,4
1,5
2,3
3,6
-1,3
1,0
0,7
5,6
10,2
10,7
4.174
3.937
4.039
4.454
4.491
4.573
4.755
5.109
5.314
6.074
6.169
6.343
6.708
5,0
-5,7
2,6
10,3
0,8
1,8
4,0
7,4
4,0
14,3
1,6
2,8
5,8
Fonte: BC / INEPAD
60 financeiro março 2014
Fonte: BC / INEPAD
Saldo da carteira de crédito - pessoa física
Gráfico do crédito pessoal
Data
jun/07
jul/07
ago/07
set/07
out/07
nov/07
dez/07
jan/08
fev/08
mar/08
abr/08
mai/08
jun/08
jul/08
ago/08
set/08
out/08
nov/08
dez/08
jan/09
fev/09
mar/09
abr/09
mai/09
jun/09
jul/09
Saldo
59.085
61.639
63.483
64.990
66.842
67.089
68.259
69.758
71.083
72.900
74.510
75.967
76.744
77.987
79.161
80.137
81.916
81.761
82.853
83.203
81.393
83.665
87.384
89.592
91.998
94.475
Taxa de Juros
51,06
50,61
49,89
49,43
48,88
46,75
45,80
53,08
52,59
50,48
50,60
48,39
51,39
53,59
54,49
56,31
57,42
59,88
60,44
56,51
54,49
50,84
48,78
46,62
45,64
44,78
Data
ago/09
set/09
out/09
nov/09
dez/09
jan/10
fev/10
mar/10
abr/10
mai/10
jun/10
jul/10
ago/10
set/10
out/10
nov/10
dez/10
jan/11
fev/11
mar/11
abr/11
mai/11
jun/11
jul/11
ago/11
set/11
Saldo
97.297
99.518
101.735
103.450
107.283
109.248
111.396
115.128
117.580
119.875
121.546
123.631
126.750
128.691
131.057
133.419
136.312
139.246
141.840
142.150
143.935
145.738
147.892
150.587
154.027
155.626
Data
out/11
nov/11
dez/11
jan/12
fev/12
mar/12
abr/12
mai/12
jun/12
jul/12
ago/12
set/12
out/12
nov/12
dez/12
jan/13
fev/13
mar/13
abr/13
mai/13
jun/13
jul/13
ago/13
set/13
out/13
nov/13
dez/13
Taxa de Juros
44,29
44,71
45,74
43,64
44,35
44,83
43,81
42,69
42,87
43,04
41,97
42,21
41,96
41,63
43,55
41,99
44,11
48,32
47,96
43,01
44,34
44,56
44,52
45,01
44,52
44,64
Fonte: BC / INEPAD
Saldo
157.277
159.117
159.349
161.858
164.769
167.349
170.256
174.031
177.161
179.884
183.040
182.506
185.434
187.712
188.879
192.166
195.434
198.825
202.469
206.309
209.304
212.106
214.728
216.815
218.958
220.628
221.842
Taxa de Juros
45,34
43,64
42,4
44,8
45,2
43,9
41,4
39,3
38,2
38,6
38
37,7
37,8
37,1
36,9
37,3
37,9
37,2
36,8
36,7
38,1
39,8
39,7
40,4
42,2
41,7
41,3
Fonte: BC / INEPAD
Saldo da carteira de crédito - pessoa física
MÊS / ANO
Saldo (R$ milhões) e percentual (%) da carteira de crédito com recursos livres PF Total e com atraso entre 15 e 90 dias
dez/12
jan/13
fev/13
mar/13
abr/13
mai/13
jun/13
jul/13
ago/13
set/13
out/13
nov/13
dez/13
CRÉDITO PESSOAL
Saldo total
271.628
275.565
278.776
279.104
283.245
287.061
291.741
296.412
301.254
304.967
307.842
311.515
314.414
AQUISIÇÃO DE VEÍCULOS
Com atraso de % sobre saldo
da carteira
15 a 90 dias
10.811
12.097
12.155
12.141
12.774
11.655
11.465
11.797
11.719
12.656
12.375
11.869
13.425
3,98%
4,39%
4,36%
4,35%
4,51%
4,06%
3,93%
3,98%
3,89%
4,15%
4,02%
3,81%
4,27%
Saldo total
190.167
190.419
190.778
193.215
193.474
192.763
192.795
192.490
192.060
191.979
193.946
194.008
193.106
AQUISIÇÃO DE OUTROS BENSSOAL
Com atraso de % sobre saldo
da carteira
15 a 90 dias
16.012
15.843
16.064
17.351
16.736
16.539
15.925
15.707
15.000
15.704
15.768
15.424
14.946
8,42%
8,32%
8,42%
8,98%
8,65%
8,58%
8,26%
8,16%
7,81%
8,18%
8,13%
7,95%
7,74%
Saldo total
9.794
9.982
10.162
10.450
10.494
10.422
10.430
10.498
10.657
10.804
10.879
11.070
10.923
Com atraso de % sobre saldo
da carteira
15 a 90 dias
672
732
802
874
855
810
787
785
764
756
780
782
720
6,86%
7,33%
7,89%
8,36%
8,15%
7,77%
7,55%
7,48%
7,17%
7,00%
7,17%
7,06%
6,59%
março 2014 financeiro 61
bancodedadosinepad
Fonte: BC / INEPAD
Juros
Taxa média de juros das operações de crédito com recursos livres - Pessoa Física
AQUISIÇÃO DE BENS - VEÍCULOS
AQUISIÇÃO DE BENS - OUTROS
MÊS / ANO
CRÉDITO PESSOAL
R$ Milhões
% am
Varição
p.p
dez/12
188.879
2,65
-0,01
36,90
-0,20
193.215
1,51
-0,05
19,75
-0,72
10.450
4,74
0,17
74,36
3,42
jan/13
192.166
2,68
0,02
37,30
0,40
193.474
1,57
0,05
20,53
0,78
10.494
4,55
-0,19
70,57
-3,79
Saldo
total
Saldo
total
Taxa de juros
% aa
Varição
p.p
R$ Milhões
Saldo
total
Taxa de juros
% am
Varição
p.p
Taxa de juros
% aa
Varição
p.p
R$ Milhões
% am
Varição
p.p
% aa
Varição
p.p
fev/13
195.434
2,71
0,04
37,90
0,60
192.763
1,56
0,00
20,46
-0,07
10.422
4,49
-0,07
69,30
-1,27
mar/13
198.825
2,67
-0,04
37,20
-0,70
192.795
1,51
-0,05
19,73
-0,73
10.430
4,45
-0,03
68,63
-0,67
abr/13
202.469
2,65
-0,02
36,80
-0,40
192.500
1,53
0,01
19,92
0,19
10.503
4,43
-0,02
68,25
-0,38
mai/13
206.309
2,64
-0,01
36,70
-0,10
192.060
1,51
-0,01
19,73
-0,19
10.657
4,32
-0,11
66,20
-2,05
jun/13
209.304
2,72
0,08
38,00
1,30
191.979
1,49
-0,02
19,47
-0,26
10.804
4,33
0,01
66,40
0,20
jul/13
212.106
2,83
0,11
39,80
1,80
193.946
1,55
0,06
20,28
0,81
10.879
4,39
0,06
67,49
1,09
ago/13
214.728
2,83
-0,01
39,70
-0,10
194.008
1,60
0,04
20,92
0,64
11.070
4,39
0,00
67,55
0,06
set/13
314.414
2,86
0,04
40,34
0,64
193.106
1,64
0,05
21,60
0,68
10.923
4,43
0,03
68,17
0,62
out/13
317.384
2,98
0,11
42,23
1,89
193.026
1,59
-0,05
20,83
-0,77
11.107
4,58
0,16
71,19
3,02
nov/13
320.019
2,95
-0,03
41,72
-0,51
193.078
1,62
0,03
21,28
0,45
11.168
4,65
0,07
72,57
1,38
dez/13
319.456
2,92
-0,02
41,32
-0,40
192.816
1,62
0,00
21,29
0,01
11.421
4,93
0,28
78,13
5,56
Fonte: BC / INEPAD
Atividade Econômica
DATA
"Taxa da Utilização
da Capacidade
Instalada"
Var. p.p.
DATA
"Índice de
Produção Física
Média Móvel
Trimestral"
Var. %
dez/12
jan/13
fev/13
mar/13
abr/13
mai/13
jun/13
jul/13
ago/13
set/13
out/13
nov/13
dez/13
81,7
83,1
82,7
82,4
83,0
82,3
82,3
82,3
82,1
81,9
82,1
81,9
81,4
-1,20
1,40
-0,40
-0,30
0,60
-0,70
0,00
0,00
-0,20
-0,20
0,20
-0,2
-0,5
dez/12
jan/13
fev/13
mar/13
abr/13
mai/13
jun/13
jul/13
ago/13
set/13
out/13
nov/13
dez/13
125,91
127,12
127,62
128,0
127,74
127,87
128,39
127,38
127,26
126,66
127,06
127,17
125,6
-0,25%
0,96%
0,39%
0,31%
-0,22%
0,10%
0,41%
-0,79%
-0,09%
-0,47%
0,32%
0,09%
-1,23%
-0,3
Variação
Dez-Dez
Variação
Dez-Dez
62 financeiro março 2014
-0,31
Taxa de Desemprego
Rendimento
Inepad & IBGE
Taxa de Desemprego (%)
DATA
jan/13
fev/13
mar/13
abr/13
mai/13
jun/13
jul/13
ago/13
set/13
out/13
nov/13
dez/13
jan/14
10%
9%
8%
Brasil
Var. p.p.
7%
6%
5,4%
0,8
5,6%
0,2
5%
5,7%
0,1
4%
5,8%
0,1
3%
5,8%
0,0
6,0%
0,2
2%
5,6%
-0,4
1%
5,3%
-0,3
0%
5,4%
0,1
4,0
5,2% jan/13 fev/13
-0,2 mar/13
4,6%
-0,6
4,30%
-0,3
3,5
4,80%
0,5
1,0
0,8
SP
Var. p.p.
0,6
Taxa de Desemprego
0,4
6,4%
1,200
Inepad & IBGE 0,2
6,5%
0,100
10%
6,3%
-0,200
0,0
9%
6,70%
0,400
8%
-0,2
6,30%
-0,400
7%
6,60%
0,300
-0,4
6%
5,80%
-0,800
5%
-0,6
4%
5,40%
-0,400
3%
-0,8
5,80%
0,400
2%
5,60% mai/13 -0,200
abr/13
jun/13 jul/13 1%ago/13 set/13 out/13 nov/13 dez/13 jan/14
4,70%
-0,900
0%
4,40%
-0,3
jan/13 fev/13 mar/13 abr/13 mai/13 jun/13 jul/13 ago/13 set/13 out/13
5,00%
0,6
Brasil
Rendimento Médio Real Habitualmente Recebido - B
SP - (mil R$)
In
São Paulo
Var. p.p.
0,2
IBGE
jan/13
fev/13
mar/13
abr/13
mai/13
jun/13
jul/13
ago/13
set/13
out/13
nov/13
dez/13
jan/14
1,9
1,9
2,0
2,0
2,0
1,9
1,7
1,8
1,8
1,9
1,9
1,9
1,9
Var. p.p.
1,5
-0,10
1,00,00
0,10
0,00
0,50,00
-0,10
-0,20
0,0
0,10
0,00
0,10
0,00
0,00
0,00
SP
3,5
3,3
3,7
3,7
3,6
3,5
3,2
3,4
3,4
3,5
3,4
3,4
3,50
-0,10
-0,20
0,40
0,00
-0,10
-0,10
-0,30
0,20
0,00
0,10
-0,10
0,00
0,10
IBGE
4,0
3,5
3,0
2,5
2,0
1,5
1,0
0,5
0,0
SP
SP
Brasil
Brasil
Anfavea
Produção - Automóveis de Passageiros, Mistos, Veículos Comerciais, Leves e Pesados
(em unidades)
Produção
Média Trim.
Var. Mensal
jan/13
fev/13
mar/13
abr/13
mai/13
jun/13
jul/13
ago/13
set/13
out/13
nov/13
dez/13
jan/14
Variação
Jan-Jan
292.152
240.796
329.093
352.355
344.547
323.880
317.855
342.757
322.350
322.514
293.189
230.892
237.491
284.398
264.104
287.347
307.415
341.998
340.261
328.761
328.164
327.654
329.207
312.684
282.198
253.857
32.788
-51.356
88.297
23.262
-7.808
-20.667
-6.025
24.902
-20.407
164
-29.325
-62.297
6.599
Var. Mensal
(%)
12,6%
-17,6%
36,7%
7,1%
-2,2%
-6,0%
-1,9%
7,8%
-6,0%
0,1%
-9,1%
-21,2%
2,9%
-18,71%
Produção - Automóveis Leves e Pesados
Inepad & Anfavea
400.000
350.000
300.000
Unidades
Data
250.000
200.000
150.000
100.000
50.000
0
jan/13 fev/13 mar/13 abr/13 mai/13 jun/13
Var. p
-0,6
Rendimento Médio Real Habitualmente Recebido - Brasil e
Inepad &
SP - (mil R$)
Var. p.p.
São Pa
-0,2
-0,8
nov/13 dez/13 jan/14
jul/13 ago/13 set/13 out/13 nov/13 dez/13 jan/14
março 2014 financeiro 63
Brasil
0,0
-0,4
2,5
Rendimento Médio Real Habitualmente Recebido (R$)
2,0
Brasil
0,6
0,4
3,0
DATA
1,0
0,8
bancodedadosinepad
Exportação de Autoveículos montados (em unidades)
Data
Exportações
jan/13
fev/13
mar/13
abr/13
mai/13
jun/13
jul/13
ago/13
set/13
out/13
nov/13
dez/13
jan/14
Variação
Jan-Jan
Média Trim.
36.233
31.743
43.529
52.771
48.620
49.444
54.096
64.071
45.441
51.819
45.234
43.298
25.779
38.865
41.194
36.233
31.743
43.529
52.771
48.620
49.444
54.096
64.071
45.441
51.819
45.234
Var. Mensal
Var. Mensal
(%)
-4.961
-4.490
11.786
9.242
-4.151
824
4.652
9.975
-18.630
6.378
-6.585
-1.936
-17.519
Exportação de Autoveículos Montados
Fonte:
Inepad & Anfavea
-12,04%
-12,39%
37,13%
21,23%
-7,87%
1,69%
9,41%
18,44%
-29,08%
14,04%
-12,71%
-4,28%
-40,46%
-28,85%
70.000
60.000
50.000
40.000
30.000
20.000
10.000
0
Exportações
Média Trimestral
Fonte: Anfavea / INEPAD
Licenciamento por Categoria Automóveis
Fonte: Inepad & Anfavea
Licenciamento de Automóveis Nacionais e180.000
Importados - (em unidades)
160.000
Data
Total
1000cc
% no
Total
+1000cc a
2000cc
% no
total
jan/13
fev/13
mar/13
abr/13
mai/13
jun/13
jul/13
ago/13
set/13
out/13
nov/13
dez/13
jan/14
231.343
172.080
209.797
246.379
232.974
233.277
250.685
242.479
222.155
239.590
223.748
259.211
228.670
97.475
68.814
85.683
98.563
93.970
96.715
99.838
94.689
85.937
89.442
88.745
101.512
86.481
42,1%
40,0%
40,8%
40,0%
40,3%
41,5%
39,8%
39,1%
38,7%
37,3%
39,7%
39,2%
37,8%
132.707
102.250
122.993
146.066
137.426
135.298
149.235
146.205
134.794
148.753
133.291
155.889
140.452
57,4%
59,4%
58,6%
59,3%
59,0%
58,0%
59,5%
60,3%
60,7%
62,1%
59,6%
60,1%
61,42%
Licenciamento por Categoria Automóveis
140.000
% no
+2000cc
120.000
total
100.000
1.161
1.016
1.121
1.750
1.578
1.264
1.612
1.585
1.424
1.395
1.712
1.810
1.737
0,5%
80.000
0,6%
60.000
0,5%
0,7%
40.000
0,7%
20.000
0,5%
0,6%
0
0,7%
0,6%
0,6%
0,8%
0,7%
0,76%
Fonte: Inepad & Anfavea
180.000
160.000
140.000
120.000
100.000
80.000
60.000
40.000
20.000
0
1000cc
1000cc
+1000cc a 2000cc
+2000cc
+1000cc a 2000cc
+2000cc
Fonte: Anfavea / INEPAD
Macro
64 financeiro março 2014
Previsões Econômicas
Ano de 2014
"PIB Total
% a.a."
"PIB Agropecuário
% a.a."
"PIB Indústria
% a.a."
"PIB Serviço
% a.a."
"Produção Industrial
% a.a."
Previsão 21/02/2014
(2014/2014)
3,29
1,82
1,93
1,74
1,74
1 semana antes 14/02
3,44
1,89
1,95
1,81
1,85
1 mês antes 21/01/2014
2,88
1,87
1,97
1,99
2,09
Ano de 2014
"Selic
Taxa anual"
"IGP-DI
% a.a."
"IPCA
% a.a."
"Taxa de Cãmbio
R$ / US$"
"Saldo
Comercial
US$ bilhões"
Previsão 21/02/2014
(2014/2014)
11,20
5,89
5,98
2,49
250,02
1 semana antes 14/02
11,21
5,81
5,92
2,49
249,97
1 mês antes 21/01/2014
10,83
5,93
6
2,47
252,98
março 2014 financeiro 65
artigopalavrafinal
Desalavancagem
do Crédito ao Consumo
Por Nicola Tingas
Com a divulgação pelo IBGE do crescimento de
2,3% do PIB em 2013, evidenciou-se o fim do ciclo
de crescimento liderado pelo consumo das famílias.
Atualmente, as famílias devem manter ritmo mais
moderado de consumo, deixando parte da propulsão
do PIB para ser realizada por investimento e exportações. Também não será o consumo do governo que
poderá impulsionar significativamente o ritmo de
crescimento, dadas as crescentes restrições orçamentárias e fiscais que ele tem de normalizar. Tem
ocorrido gradual redução de oferta e demanda do
crédito à pessoa física, evidenciando um processo de
desalavancagem do crédito ao consumo.
No gráfico 1 pode-se verificar uma queda no ritmo de consumo no varejo e uma redução no crédito
total do Sistema Financeiro Nacional (pessoa jurídica
e pessoa física) expressivas em termos de redução
na demanda por crédito ao consumo.
Gráfico 1 - Evolução Crédito Total e Vendas ao Varejo
comprometimento da renda (ampliação acima do habitual
no endividamento, carga tributária crescente, novos hábitos de consumo, sobretudo de maior utilização de
serviços); e redução do poder aquisitivo (aumento e
persistência de inflação elevada, com maior efeito
para o orçamento das famílias de baixa renda, dada
a diferente composição de sua cesta de consumo).
O orçamento de muitas famílias não foi capaz
de suportar o conjunto de restrições financeiras
vis-à-vis à sua renda líquida, resultando em crescimento expressivo da inadimplência a partir de
2011. Como consequência, desde 2012 tem havido intenso esforço das famílias em buscar saídas
Por Nicola Tingas,
para a deterioração de suas finanças pessoais;
Economista-chefe
movimento acompanhado pelo sistema financeiro
da Acrefi
nacional na busca de solução para os [email protected]
mente endividados, inicialmente na forma de mutirões de reestruturação de dívida, depois diretamente nos
bancos e financeiras. Ocorreu também a utilização de outras formas de financiamento de prazo mais longo (crédito
consignado, crédito pessoal com lastro imobiliário), além
da maior oferta de recursos pelos bancos públicos. Como
resultado desses esforços, a taxa de inadimplência tem recuado substancialmente, como ilustra o gráfico 2.
Esse movimento gradual, mas de firme proposição dos
tomadores em reduzir seu comprometimento de renda, resultou na demanda por linhas de crédito de liquidez para
sanear seus passivos ou alongar seu fluxo de caixa familiar em detrimento das linhas de consumo. f
Essa perda de robustez do consumo e, por consequência, da demanda por crédito tem sido causada por vários fatores: fim do ciclo de expansão
da renda real (salário mínimo maior, aumentos salariais expressivos, aumento da oferta de emprego,
benefícios de renda social e isenções tributárias que
expandem renda direta ou indiretamente); maior
66 financeiro março 2014
Artigo enviado em 28/2/2014
Gráfico 2 – Inadimplência Total Recursos Livres Pessoa Física
março 2014 financeiro 67
68 financeiro março 2014

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