- Editora Pragmatha

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PREFEITURA MUNICIPAL DE BALNEÁRIO PINHAL
Secretaria Municipal de Educação, Cultura e Desporto
RAÍZES DE BALNEÁRIO PINHAL
XXI ENCONTRO DOS MUNICÍPIOS ORIGINÁRIOS
DE SANTO ANTÔNIO DA PATRULHA
Organizadoras
Maria Cardoso Faistauer
Maria Jaqueline de Moraes
Neusa Maria Carvalho
Véra Lucia Maciel Barroso
2012
Copyright: dos autores
1ª edição: 2012
Autor do símbolo do Raízes de Balneário Pinhal
Pedro Amaral
Iconografia:
Dos autores
Participação especial na organização da obra
Shyrley Terezinha Poffal
Revisão dos originais
Maria Jaqueline de Moraes
Maria Cardoso Faistauer
Véra Lucia Maciel Barroso
Editoração e arte final
Pragmatha Laboratório de Ideias & Gestão de Projetos
R. Ivo Janson, 260, 302, Porto Alegre/RS
www.pragmatha.com.br
Impressão
Gráfica Noschang
(Dados Internacionais de Catalogação na Fonte-CIP)
R161
Raízes do Balneário Pinhal / organizadoras Maria Cardoso
Faistauer … [et al.]. Porto Alegre : Pragmatha, 2012.
4 v. : il. ; 14 x 21 cm.
ISBN 978-85-62310-32-4
1. Rio Grande do Sul - História. 2. Balneário Pinhal. I. Faistauer,
Maria Cardoso. II. Moraes, Maria Jaqueline de. III. Carvalho,
Neusa. IV. Barroso, Véra Lucia Maciel.
CDU 981.652 (Balneário Pinhal)
Bibliotecária Responsável: Débora Dornsbach Soares CRB-10/1700
Classificação CDU edição-padrão internacional em língua portuguesa
Sumário
Prefácio
Jorge Fonseca / 21
A importância da História, da Memória e da Cultura para a
Educação
Neusa Carvalho / 23
Apresentação
Maria Cardoso Faistauer / 26
Desfile de cavalarianos na abertura do XXI Raízes,
Conduzindo as bandeiras dos municípios do
Quadrante Patrulhense / 28
Objetivos e justificativa do Raízes de Balneário Pinhal / 31
PRIMEIRA PARTE
BALNEÁRIO PINHAL - PASSADO E PRESENTE
TOMO I - Balneário Pinhal e o contexto regional: História,
Arqueologia e Pertencimento
Balneário Pinhal: origens e lembranças
O Pinhal do Balneário
Jacy Waldyr Fischer / 34
Origens de Balneário Pinhal
Jorge Roberto Menti e aluna da Turma 71 da
E.M.E.F. Calil Miguel Allem / 36
Os primeiros moradores de Balneário Pinhal
Natália Machado Mergen / 38
Balneário Pinhal: histórias para se guardar no coração
Maria Cardoso Faistauer / 41
Imigrantes e descendentes na conformação da
cidade de Balneário Pinhal
Egiselda Brum Charão / 43
A cidade e a constituição da identidade do sujeito
Catarina Lima de Carvalho e Neusa Maria Carvalho / 51
O processo de emancipação de Balneário Pinhal
Jacy Waldyr Fischer / 53
As mulheres no processo emancipacionista do município
Márcia Rosane Tedesco de Oliveira /58
Resgatando as origens do Túnel Verde
Rosane Moura /59
A história dos veraneios em Balneário Pinhal
Maria Jaqueline de Moraes / 61
História de Balneário Pinhal contada pelos avós
Cássia Carniel Pereira e alunos do 1º ano da
E.M.E.F. Calil Miguel Alem / 70
Moradores mais antigos de Balneário Pinhal
Lídia Graziela da Rosa e Tayline Agert Daruy e Grupo Agente Jovem
de Multiplicação IV / 70
O osso da baleia
Juliana Costa e Grupo Agente Jovem de Multiplicação IV / 72
Análise de dados estatísticos de Balneário Pinhal
Jorge Luis Fernandes/ 73
Pinhal e o Litoral Norte: achados arqueológicos
Histórico da arqueologia dos sambaquis no Litoral Norte do RS
Gustavo Peretti Wagner / 76
A ocupação indígena pré-colonial na região dos
Balneários Pinhal e Quintão
Jairo Henrique Rogge / 85
Pesquisas arqueológicas no entorno da
Igreja Nossa Senhora da Conceição - Osório/RS
Sérgio Leite / 90
Afrodescendentes no Litoral Norte: reconhecimento e
identidade
As cores do litoral: existências escravas no Litoral Norte do RS
Paulo Roberto Staudt Moreira / 100
O último escravo
Bento Luiz Luz / 118
Pinhal e o Litoral Norte
Conhecendo o espaço norte-litorâneo: geologia, hidrografia,
relevo e outras marcas de sua identidade geofísica
Paulo Jolar Pazzini Galarça / 122
Os Pinto Bandeira da estância da Nossa Senhora
da Boa Viagem do Quilombo
Miguel Frederico do Espírito Santo / 127
Raízes do Litoral - um olhar atento
Leda Saraiva Soares / 132
Litoral Norte e a Revolução Farroupilha
Emiliano J. K. Limberger / 164
O positivismo e a historiografia do Litoral Norte do RS: uma
reflexão sobre os municípios de Balneário Pinhal, Imbé e
Tramandaí
Catiane Alves da Silva, Leidiane Ávila Quintanilha e
Natália Moraes de Melo / 171
1958 em Cidreira e Pinhal: vivências praianas
Marco Antônio Velho Pereira / 179
Litoral Norte gaúcho em fotos
Pedro Gonçalves / 182
O Boizinho da Praia
Ivan Therra / 184
De remembranças e versos: em remembrança ao escritor
Guido Muri
Ivan Therra / 189
O Litoral Norte busca um passado: a importância da emergência
da memória na construção de uma história plural
Luis Alejandro Peres Schwartzbold / 191
Costureiras do Litoral Norte
Luiza Maria da Gloria Brufatto / 194
Rota açoriana e o Litoral Norte do Rio Grande do Sul
Ivo Ladislau / 196
Reunião de Família
Santo Antônio da Patrulha: município trisavô
Véra Lucia Maciel Barroso / 201
Osório: município bisavô
Pascoalino Lopes Ribeiro / 204
Tramandaí: município avô
Leda Saraiva Soares / 204
Cidreira: município mãe
Ivan Therra / 207
Balneário Pinhal na família patrulhense
Maria Cardoso Faistauer / 209
Cidades do mel
A “abellina” e seu precursor em Rio Pardo
Emiliano J. K. Limberger / 213
O mel em Cambará do Sul
Celso de Macedo e José Carlos Ferreira de Lima / 215
O mel em Balneário Pinhal
Vilmar Furini / 217
Festimel - ou quando a paixão virou amor
Jo Palombini / 220
Pinhal em Prosa e Verso
Acrósticos sobre Balneário Pinhal
Nilva Souza Leal / 223
Trilhas e raízes
Gilberto Luiz Pissete de Assumpção Filho / 228
Pinhal, Balneário das Tradições
Pedro José Vicente / 232
Cavalgada do Mar
Pedro José Vicente / 233
A cavalgada continua
Pedro José Vicente / 234
Raízes em poesia
Ariadne Leal Wetmann e alunos das Turmas 62 e 63 da
E.M.E.F. Barão de Santo Ângelo / 235
Balneário Magistério: nosso orgulho
Richard William Pott Espíndola / 237
Esteiras nas dunas e pelos versos
Fabiana Fraga da Rosa / 239
Pioneiras do Pampa II - a mulher imigrante
Egiselda Brum Charão / 242
Balneário Pinhal
Iva Silva / 244
Balneário Pinhal - acróstico
Bianca Leal Tassoni / 245
O marco das águas
Celso Oliveira / 245
TOMO II - Balneário Pinhal: biografias, famílias, economia
e associativismo
Personagens, famílias e memórias de Balneário Pinhal
A liderança de uma mulher: Maria Cardoso Faistauer
Lézia Maria Lino Cardoso / 22
Maria Faistauer: professora e diretora que marcou épocas e vidas
Lara Cardoso Faistauer da Rosa / 25
A família Faistauer
Eloise Cardoso Faistauer de Borba / 32
Família Leindecker: lembranças da casa da esquina
da Rua 27 (1974-2010)
Dália Tavares Leindecker / 40
A chegada dos baianos em Pinhal e as mudanças desde 1994
Joceli de Souza Silva / 60
Memórias de famílias: o resgate da história através de entrevistas
Maria Jaqueline de Moraes e turma 70 da E. M .E. F. Calil Miguel Allem / 63
José Correia Rost: o vendedor de puxa-puxa
Joice Gomes dos Santos / 73
Como cheguei ao Balneário Pinhal
Jacira Maria Franco / 83
Omar Quintanilha: um grande homem, um grande avô e sua trajetória
Vanessa Mesquita Quintanilha Kreceski / 86
Seis homens e uma família
Aurora Ramos Lopes / 92
Antônio Leopoldo Baierle e Balneário Pinhal: uma história de amor que
vale a pena ser contada
Maria S. Baierle / 94
Minha história em Balneário Pinhal
Sirlei Francisca da Silva Andrade / 97
Minha trajetória de vida e história de amor por Balneário Pinhal
Ana Patrícia Maia Moutinho da Silva / 98
O Pinhal que eu conheci: década de 1960
Alba Maria da Costa Maia / 101
Eu e Pinhal: um amor à segunda vista!
Jo Palombini / 102
Fausto Borba Prates e a cidade praieira do Pinhal
Maria Cardoso Faistauer / 104
Minha história em Balneário Pinhal
Élida Terezinha Barreto dos Santos / 111
Verlei da farmácia
Marlene Lápis Lopes / 115
Minhas raízes em Balneário Pinhal
Cássia Carniel Pereira / 119
Dona Sissa e Zecão: o Natal da criança de 1984
Angela Duarte e Gustavo Dias Herzog / 120
Minha trajetória na praia do Magistério, no município de Balneário
Pinhal
Mário Pereira Machado / 122
Minha história em Pinhal
Pedro Silveira da Rosa / 123
A chegada da família Duarte em Balneário Pinhal
Kamila Duarte / 124
Trajetórias de vidas: Deoclides Pacheco Daniel, Laerte Bueno Silveira e
Gilberto Milton Wieser
Maria Cardoso Faistauer / 127
Seu José Bonami Rodrigues dos Santos: trajetória de vida
Maria Cardoso Faistauer / 131
Pinhal e as histórias que encontrei
Dileta Maria Rodrigues de Almeida / 133
Vinda para Pinhal e o propósito de Deus para a família
Maristela Pereira Pavão / 135
A chegada da família Simor em Balneário Pinhal
Anaiara Patrícia Meira Simor / 137
Balneário Pinhal: chegada de famílias
Luciene Simões Pontes e alunos da Turma 41 da
E.M.E.F. Luiz de Oliveira/ 144
Fernando e Natalina Cardoso: trajetórias de vida
Maria Cardoso Faistauer / 148
Registro civil e pertencimento na cidade: Balneário Pinhal
Eliete de Lucena Leão e Liliana dos Santos Scheffer / 150
Economia de Balneário Pinhal
O início da pecuária na Fazenda do Pinhal
Lindolfo Alves de Almeida / 155
Habitasul e o início do povoamento do Túnel Verde
Eliane Ferreira Scherner / 157
História da Flosul
Cláudia Simoni Marques e alunos da 7ª série d
E.M.E.F. Barão de Santo Ângelo / 170
O início do comércio local no Sindipolo
Mara Luz dos Santos e alunos da turma 61 da
E.M.E.F. José Antônio da Silva / 172
Frutos de uma terra fértil
Joel Porto Erling / 173
Meneguetti: comerciante pioneiro no ramo em Balneário Pinhal
Sirlei Teresinha Quintanilha de Borba / 180
Pescadores artesanais do Balneário Pinhal: aspectos
do trabalho e vivência
Sonia Teresinha Siqueira Campos e Neusa Maria Bonna Secchi / 186
Considerações sobre a família do pescador artesanal
Neusa Maria Bonna Secchi / 192
Objetos que fizeram parte da história do Balneário Pinhal. Quem disse
que os objetos não possuem história?
Eloise Faistauer de Borba e alunos do EJA da
E.M.E.F. Calil Miguel Allem / 196
Transportes Fábio
Julio Norberto Cezar da Silva / 200
Entidades, associações e serviços de Balneário Pinhal
Conselho Comunitário de Balneário Pinhal: voluntariado e altruísmo
Carlos Edmundo Kuhn / 203
Nossa Brigada Militar: ontem e hoje
Fátima Florence / 207
ACISP: histórico da Associação Comercial, Industrial, de Serviço e Pesca
Eron Ferreira / 210
Centro Social e Beneficente Pastor Gervásio da Rosa
José Luiz dos Santos Dalke / 211
TOMO III - Balneário Pinhal: Educação, Cultura,
Tradições, Religiosidade
Educação em Balneário Pinhal
Assim começaram os trabalhos da Secretaria de Educação e Cultura de
Balneário Pinhal: Departamento de Cidadania, Esporte e Turismo
Ruth Elizabeth Rocha Barbosa / 21
Raízes do Ensino Superior em Balneário Pinhal - Universidade Aberta
do Brasil: UABBP, começando a contar a sua história
Paula Fogaça Marques / 24
Alimentação escolar, uma viagem no tempo
Mare Ecila Homem dos Santos / 29
E.M.E.I. Peixinho Dourado: história e trajetória
Raquel de Carvalho / 32
E.M.E.I. Estrelinha do Mar: um depoimento de quem vive esta história
há dez anos
Ana Cristina da Silva Mello Armichi / 39
O patrono e a Escola Calil Miguel Allem
Tatiana Costa e Grupo Agente Jovem de Multiplicação III / 41
A estrutura familiar e a educação no Balneário Pinhal: o caso da
E.M.E.F. Calil Miguel Alem
Airton Luiz Cardoso Bitencourt, Jaqueline Oliveira, Marineia Mesquita Couto e
Elida Terezinha Barreto dos Santos / 47
Quem são os alunos do PROEJA FIC da E.M.E.F. Luiz de Oliveira
Airton Luiz Cardoso Bitencourt, Fabiano Campos, Ismael Elenito, Rovani Xavier,
Rogério Kersting e Gilney Radde / 49
Projeto Raízes em sala de aula: a motivação na produção de textos para
publicação: Turmas 64, 70, 71 e 81 da E.M.E.F. Calil Miguel Allem
Maria Jaqueline de Moraes / 50
Primeiros passos de uma professora
Liege da Silva Ferreira / 72
História da E.M.E.F. Luiz de Oliveira
Karina da Silva Garnize / 75
História da E.M.E.F. Luiz de Oliveira através de entrevistas
Ana Cristina da Silva Mello Armichi e alunos da turma 41/ 79
Era uma vez a Escola Barão de Santo Ângelo
Cheila da Rosa Silva Auth / 83
Contextualização histórica, cronológica e curricular da
E. E. E. M. Diogo Penha
Alberto Nunes Pinto, Eliete de Lucena Leão e Catarina Dalk / 94
Cinquentenário da E.E.E.M. Diogo Penha
Eliete de Lucena Leão / 95
De favo em favo uma nova história
Cátia Cilene Barcelos dos Santos / 96
E.M.E.F. Antonio Francisco Nunes: 27 anos de história
Luisa Meneses Coelho / 99
Balneário Pinhal: situação atual da população e educação
Ana Clara Ogando e Airton Luiz Cardoso / 101
Lazer, Cultura, Turismo, Esportes e Tradições em Balneário
Pinhal
Como nasceu a nossa biblioteca
Sérgio Guimarães / 104
Boa Viagem, Papai Noel
Tatiana Rita Weissheimer / 105
Histórias e lendas de nossa terra
Janice Garcia e alunos da E.M.E.F. Calil Miguel Allem / 106
Os blocos carnavalescos em Pinhal
Vanessa Quintanilha Kreceski e alunos da Turma 70 da
E.M.E.F. Calil Miguel Allem / 110
O Bloco das Virgens do Pinhal
Josué Lourenço dos Santos / 114
O arrastão das virgens de Balneário Pinhal
Josué Lourenço dos Santos / 121
DTG Marco das Águas: raízes do nome
Zuleide Maciel Cézar da Silva / 123
Onze anos de história do Consulado Colorado (1999-2010)
Jober Luís da Silva Nunes / 124
Benzedeiras do mar
Daniel Maíba / 127
Minha avó benzedeira
Rita de Cássia Gaviragh / 129
Banda Diogo Penha: uma história de amor
Carine Martins Campos e Paulo Ricardo da Silva Costa / 130
Brinquedos e brincadeiras da infância
Luis Henrique Soares Noggi / 133
Brincando com teatro
Elza Neusa Pospichil Lima / 135
Do início dos passeios às grandes cavalgadas
Dilson Veiga Lima / 141
O princípio das vivências tradicionalistas em Balneário Pinhal:
CTG Vaqueanos da Praia do Pinhal
Alice Ana Guadagnin Martins / 150
Piquete Tradicionalista Gaúcho Tapera das Prendas
Valdirene Auler / 152
O compromisso de um tradicionalista
José Augusto Melo da Fonseca / 156
PTG Túnel Verde sonha e realiza o Rodeio Estadual de Balneário Pinhal
Nadine Torres Ogando / 161
Terno de Reis em Cidreira e no Litoral Norte
Zeno Andrade / 162
Lara - Magistério - Fest Dança - Balneário Pinhal
Lara Rosa Lindenmeyer / 164
História da tematização de Balneário Pinhal
Tatiana Rita Weissheimer / 170
Religiosidade em Balneário Pinhal
Paróquia Santo Antônio de Pádua
Gladis Portella Custódio / 173
Pré-história da Paróquia Santo Antônio de Pádua
Rene Christiano Weissheimer / 182
História, memória e patrimônio
As fontes documentais para escrever sobre a história local
Ana Inez Klein / 195
Um povo, uma pátria: a origem do RS representada em Balneário Pinhal
Eduardo Martinez / 200
A ‘Árvore de Anita’: um símbolo de respeito e cidadania - o contexto
histórico e social da Árvore de Anita em Balneário Pinhal
Maria Jaqueline de Moraes e Turma 51 da E.M.E.F. Calil Miguel Allem / 202
A memória silenciosa da cidade: Cemitério Municipal de Cidreira/Pinhal
- Fazenda das Pitangueiras
Egiselda Brum Charão / 217
A história local diante da história internacional: semelhanças e diferenças
entre dois mundos: Brasil - Balneário Pinhal e Argélia - Tamanrasset
(África)
Jane de Moraes Branco / 228
SEGUNDA PARTE
TOMO IV
DO LITORAL NORTE
AOS CAMPOS DE CIMA DA SERRA:
O QUADRANTE PATRULHENSE REVISITADO
A imigração italiana cria “outra” Lagoa Vermelha: o distrito mais
longínquo do primitivo município de Santo Antônio da Patrulha
Pércio de Moraes Branco / 22
Paróquia São Paulo da Lagoa Vermelha: aspectos históricos
Davino Valdir Rodrigues Nepomuceno / 28
São Sebastião: uma devoção dos pecuaristas de Bom Jesus
Lucila Maria Sgarbi Santos / 34
Ponto de cultura: saberes locais e vozes da imigração
de Antônio Prado
Ciane Fochesato, Diogo Scopel e Edson Luiz Carra / 37
Oliveira Balen: história de vida em São Marcos
Leiva Teresinha Ramos Bossardi / 46
Centro Ocupacional Sol Nascente/São Marcos: 30 anos
Patrícia Camassola Tomé / 69
APAE São Marcos: 30 anos
Patrícia Camassola Tomé / 71
Associação de Idosos de São Marcos: 30 anos
Patrícia Camassola Tomé / 75
Histórico da Festa do Divino Espírito Santo de Criúva
Luiz Cezar Vacchi / 77
Itaimbezinho e Fortaleza em Cambará do Sul:
expoentes dos parques nacionais
Anita Licks Carvalho, Elga Trindade Prestes e Gesmar Borges / 80
Contextualização dos parques nacionais de
Aparados da Serra e Serra Geral
Deonir Geolvani Zimmermann e Adão da Costa Güllich / 85
Simbiose de Corticeiras, Corucacas e Sequoias em
Cambará do Sul
Nathana Aparecida Machado da Silva / 88
As remotas origens saltenhas (Salto, Uruguai) da
Família Pedrozo de Bom Jesus
Pedro Paulo Pedrozo e Justerso Rui Pedrozo / 90
A maior cavalgada de prendas em Cambará do Sul
Joseandra Suzin Pereira / 92
Rolinho-de-gila: doce típico de Cambará do Sul
Gesmar Borges / 93
Família Manique em São Francisco de Paula
Iva da Silva / 96
Família patrulhense no Juá/São Francisco de Paula
Luiz Antônio Alves / 110
Identificando meus antepassados: Velho e Ferrazzo
Artur Ferrazzo Velho / 131
O Passo do Rapozo e sua ponte histórica: tentativa de salvar um
patrimônio histórico e um espaço ambiental
Marilia Daros / 135
Catedral de Pedra em Canela: uma das sete maravilhas do Brasil
Pedro Oliveira / 153
O majestoso Mundo Novo: trilhando os caminhos do futebol
de 1915 a 2010
Luiz Carlos Ebert / 159
As brincadeiras antigas em Nova Hartz
Denise Groff / 172
Nos trilhos da história: memórias do trem na antiga Nova Hartz
Vânia Inês Avila Priamo / 189
2010: quarenta anos do 8º Batalhão de Polícia Militar em Osório
Marina Raymundo da Silva / 206
Presença dos tropeiros na Festa do Divino em Osório
Ildo Trespach Monteiro e Pascoalino Lopes Ribeiro / 211
Um mascate libanês em Palmares do Sul
Marieta da Silva Braga / 220
Segurança Pública em Cidreira
Alírio Cláudio de Souza / 224
A tradição gaúcha em Cidreira
Alírio Cláudio de Souza / 225
Alguns fatos de Cidreira
Alírio Cláudio de Souza / 226
Banda Municipal de Cidreira
Marcos Cardoso Purin / 230
Duas Cruzes - o filme
Lizzi Barbosa / 234
As lavadeiras de Arroio do Sal
Marta Maria da Silva / 236
Capela curada da Paróquia de Santo Antônio da Patrulha
Jaime Nestor Müller / 248
Taberna Rosa Geronima em Santo Antônio da Patrulha
Sandra Maria Schmith Alves / 256
Um crime desvendado
Renato José Lopes / 258
Os seguidores da fé: religiosidade e curandeirismo
em Santo Antônio da Patrulha
Erotildes Fofonka Cunha / 265
Do recado da porta ao jornal eletrônico
Nilza Huyer Ely / 266
Notícia na praia? Via aérea... A Folha do Litoral
Walter Galvani / 277
Filho de Santo
Ivan Therra / 280
Intimidades do presidente Getúlio Vargas e o Litoral Norte /
Eduardo Martinez e José Dias / 284
O Cural da Contagem
Eduardo Martinez / 285
Um povo, uma pátria
Eduardo Martinez / 286
Moções Raízes de Balneário Pinhal:
XXI Encontro dos Municípios Originários de Santo Antônio
da Patrulha / 289
BALNEÁRIO PINHAL E O
CONTEXTO REGIONAL:
História, Arqueologia
e Pertencimento
TOMO I
Personagens, famílias
e memórias
A liderança de uma mulher:
Maria Cardoso Faistauer
Lézia Maria Lino Cardoso
Museóloga e historiadora
Porto Alegre/RS
A palavra liderança deriva de líder, ou seja, designa aquele que
ocupa posição proeminente numa sociedade. É o guia, o condutor.
Origina-se do inglês “leader”. Já liderança é um substantivo
feminino, que designa “a função de líder”.
A liderança, algo inato, forte na mulher. Ela é líder no lar
como mãe, como chefe de família. Todos dependem dela. É o esteio
de uma casa, de um lar. É na sua falta que seu papel é intensamente
sentido. Ela agrega os membros da prole. Vela seu sono e seus
sonhos. Acalenta. Seus braços são refúgios de segredos, dores,
dúvidas e alegrias. Eis a mescla que funde numa só: mulher e mãe! O
seu pequeno-grande mundo, já com o passar do tempo, ouve sons,
ruídos, imagens do outro lado, do mundo exterior e estes aos poucos
transformam-se em clamores. Fora de suas quatro paredes também
há necessidade deste ser de luz, capaz de gerenciar caminhos de
outros seres fora de sua esfera familiar. Desde a execução de
trabalhos mais simples, humildes, até altos escalões. Elas estão
presentes nas salas de aula, dirigindo a escola, fazendo a merenda,
limpando o colégio, orientando o aluno, administrando a secretaria
da escolinha de interior do país às universidades, como a ex-reitora da
UFRGS - Wrana Panisi. Nas Câmaras de Vereadores apresentam e
lutam por projetos que irão promover, alavancar a existência de
outras mulheres e de seus filhos. Administram municípios com
firmeza e visão de futuro, como Rita Sanco faz em Gravataí. Em
meio de controvérsias com o poder político que lhe foi conferido,
Yeda Crusius administrou nosso Estado. No legislativo gaúcho
mulheres como Sueli Oliveira, a primeira deputada eleita do Rio
Grande, Dercy Furtado, Maria do Carmo, Jussara Cony, Manuela
D'Ávila, entre outras, deixaram suas marcas. Ali representaram todo
o universo feminino/masculino que confiaram parte da
administração estadual. Na segurança, além de serviço burocrático,
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patrulham ruas, escolas...
No judiciário, mulheres como Ellen Gracie, Berenice Dias,
julgam atos que interferem em toda sociedade. Já na esfera federal
elas ocupam cargos explosivos e até sonham e lutam para se
tornarem a primeira mulher presidenta do Brasil, como ocorre
nestas eleições de outubro de 2010 onde Dilma Rousseff e Marina
Silva disputam tão almejada posição.
Ampliando nossa visão, temos em vários países mulheres
que comandam o destino de seus territórios e também interferem na
segurança e na paz mundial, como Hillary Clinton, Margareth
Thatcher e tantas outras.
Uma mulher que mudou o rumo da cultura e das artes no
Brasil foi Tarsila do Amaral, nas letras citamos a professora e poetisa
gaúcha Luciana de Abreu, que ao nascer foi enjeitada na roda dos
expostos, porém a vida lhe deu outra chance, que ela agarrou com
todas as forças e reverteu sua história.
A enfermeira Ana Nery destacou-se com bravura e
dedicação ao cuidar dos enfermos produzidos pela guerra. A história
do Brasil destaca como grandes líderes que levaram outros a elas se
unirem em prol de objetivos comuns, como a Princesa Leopoldina e
seu papel na independência do nosso país, a Princesa Isabel, ao
concluir o processo abolicionista do afro-descendente e Anita
Garibaldi - a heroína de dois mundos - que ao lado de seu amado
Giuseppe lutou na Guerra dos Farrapos. Seus feitos até hoje são
pesquisados, cantados em prosa e verso, em atitudes: mulheres
gaúchas criaram o Instituto Anita Garibaldi.
Em Capivari do Sul temos uma integrante de seu núcleo:
Maria Cardoso Faistauer, patrulhense de nascimento, pinhalense de
coração. A nossa Maria Cardoso, gaiteira, folclorista, professora,
nasceu na localidade de Vila Palmeira, em Santo Antônio da Patrulha,
no dia 5 de setembro de 1947. Filha de Alberto Luiz Cardoso e de
Benta da Silva Cardoso, tem um irmão adotivo, Antonio Anacleto
Reinheimer, o Tatá. Estudou na Escola Cândido de Barros, na
mesma localidade onde nasceu. Mais tarde concluiu seus estudos
ginasiais no Colégio Santa Teresinha, em Santo Antônio da Patrulha.
Iniciou o Curso Normal na Escola Cruzeiro do Sul, de Porto Alegre,
concluindo-o na Escola Adventista de Taquara. Tem os seguintes
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cursos superiores: Estudos Adicionais pela Universidade de Caxias
do Sul; Pedagogia com Especialização em Supervisão Escolar na
Faculdade N. S. da Conceição de Viamão (Fafinc); Pós-Graduação
em Folclore; Pós-Graduação em Psicopedagogia pela Universidade
Castelo Branco do Rio de Janeiro e cursa, atualmente, o Mestrado em
Memória Social e Bens Culturais na UNILASALLE, de Canoas.
Casou-se com Jose Faistauer e tem uma filha, Lara Cardoso Faistauer
da Rosa, casada com Mauro Ferreira da Rosa. Seus netos Inaê e
Murilo completam esta árvore afetuosa.
Formou-se professora de música (Teoria, solfejo e
Instrumental Acordeon).
Foi a primeira Secretária de Educação do Balneário Pinhal. É
coordenadora do 21º Raízes 2010 - Raízes do Balneário Pinhal.
Destacamos ainda em seu currículo:
Supervisora Escolar e Assessora Cultural da 11º CRESECRS;
Assessora Cultural da Prefeitura Municipal de Balneário
Pinhal;
Membro efetivo Comissão Gaúcha de Folclore;
Conselheira Titular Conselho Estadual de Cultura;
Cadeira Nº2 Núcleo Balneário Pinhal Partenon Literário;
Diretora Cultural 23º RT-MTG;
Integrante do núcleo Capivari do Sul Instituto Anita
Garibaldi;
Diretora da Escola Estadual Diogo Penha Balneário Pinhal;
Pesquisadora e Palestrante na área do Folclore e do
tradicionalismo;
Avaliadora de festivais musicais e danças tradicionais gaúchas
no Litoral Norte e Vacaria;
Organizadora de concursos artísticos e de primeiras prendas
de rodeios (Tramandaí, Santo Antônio da Patrulha, Cidreira e
Osório);
Membro do CTG Pedro Elesbão de Santo Antônio da
Patrulha, em seus primórdios;
Destaque Cultural Comenda A. Colméia/2009;
Título de Honra ao Mérito do Legislativo Municipal de
Balneário Pinhal;
Troféu Ana Terra/RS, 2009, representante do Litoral Norte
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do RS.
Eis nossa Maria Cardoso Faistauer, a líder na Escola Cândido
de Barros, Vila Palmira, em Santo Antônio da Patrulha, que com seu
acordeon comandava, dirigia seus pares, seus colegas nas danças
gauchescas no início do CTG Pedro Elesbão. As crianças e jovens
ficavam atentos ao sinal de iniciar a dança dado pela menina de
cabelos castanhos, longa trança para o lado, encimada por uma flor.
Nós que a assistíamos olhávamos encantados com a beleza da
menina de longa trança, que, com segurança e grande alegria
estampada no rosto, abria a gaita e o som da gaita nos envolvia. A
gaiteira era uma menina que passava tranquilidade, segurança e
firmeza a todos com quem convivia.
A liderança que hoje a tornam em destaque na cultura de
nosso estado nasceu com a menina gaiteira, alegre e vibrante lá na
Vila Palmeira em Santo Antônio da Patrulha e, hoje, na 21ª Edição do
Raízes, viemos encontrar aglutinando em tornos de ideais comuns à
Comunidade de Balneário Pinhal. Parabéns e obrigada pinhalenses
por receberem aqui com tanto carinho a nossa Maria Cardoso
Faistauer.
Maria, obrigada por existires!
Um abraço de teus amigos patrulhenses que aqui vieram
abraçar-te.
Maria Faistauer, professora e
diretora que marcou épocas e vidas
Lara Cardoso Faistauer da Rosa
Filha e professora
Balneário Pinhal/RS
Nasci em Santo Antônio da Patrulha e vim morar na Praia do
Pinhal em 1975. Meus três anos de vida já foram comemorados aqui.
Cresci nesta praia. Minha infância foi marcada por episódios e fatos
“promovidos” principalmente pela Escola Rural da Praia do Pinhal,
25
hoje Escola de Ensino Médio Diogo Penha.
Quase todos gostam de relembrar e contar sobre sua
infância. A minha foi muito feliz. Tenho vontade de voltar no tempo
e reviver tudo novamente, da mesma maneira.
Minha história escolar iniciou em 1977, quando ingressei na
1ª série do 1º grau. Onde me socializei, me fiz valer como gente, me
descobri, obtive amigos, venci minhas barreiras, foi na Escola, na
minha Escola de Pinhal. Mas esses aspectos relevantes ao qual me
refiro não se deram somente pela simples convivência escolar. O que
fazia toda a diferença era a Direção que conduzia a escola, que
contava com a Professora Maria Cardoso Faistauer. Ela fazia a
diferença. Fazia da Escola uma referência social na comunidade
Pinhalense. Na época, a Praia do Pinhal, como era chamada, era
apenas um distrito de Tramandaí. O Executivo localizava-se na sede,
distante de Pinhal. A impressão que dá é que éramos carentes de
líderes, e a professora Maria assumiu logo essa liderança por suas
características e pelo cargo de Diretora da Escola.
A escola realizava entre outras atividades, jantares, bailes,
festas juninas, concursos de Mais Bela Prenda da Escola, torneios de
bocha, torneios de bolão, Terno de Reis, teatro, aulas de música,
torneios de vôlei e futebol, sessões dominicais de cinema, excursões
todo final de ano a Porto Alegre, visitando os principais pontos
turísticos da cidade e campos de futebol da dupla Grenal. Sem falar
na criação da banda Escolar, que a Professora Maria mesmo regia.
Eram muitas atividades que envolviam toda a comunidade escolar:
26
alunos, pais, professores, funcionários e comunidade pinhalense
também. A aquisição dos instrumentos da Banda, bem como do
uniforme para a mesma, foi adquirido com promoções e eventos
promovidos pela escola.
Lembro-me dos filmes “Fuscão Preto” e de um do
Teixeirinha que foram passados nas sessões de cinema. Como era
legal! Não tínhamos acesso aos grandes cinemas; então o Cinema
vinha até nós.
Outro fato que me marcou foram os deslocamentos que a
nossa Banda Escolar fazia nos dias de Desfile Cívico. Íamos a
Tramandaí, Cidreira, Capivari, entre outros locais, além de desfilar
aqui em Pinhal. A integração entre os componentes da Banda era
muito boa. Nós nos divertíamos muito. Bem, os desfiles cívicos eram
muito esperados. Eu nem dormia na noite que os antecediam.
E as aulas de teatro? “A Bruxinha que era boa”, de Maria
Clara Machado, além do sucesso que fez nas apresentações locais,
nas outras cidades foi emocionante também.
E tudo isso criado pela professora Maria. Como não nos
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28
encantar com a sua preocupação com o lazer, com o desenvolvimento
da criatividade, com o compromisso em querer o melhor para seus
alunos numa cidade na época tão provinciana? Tudo isso era realizado
em Pinhal, década de 1970 e 1980. Não estamos falando de cidades
grandes e mais populosas. Estamos falando de um pequeno distrito
de Tramandaí, com poucos moradores e
de uma cidade
aparentemente sem “nada” para fazer.
Realmente, a diretora Maria fazia da Escola uma extensão da
sua casa. Ela não cumpria somente um cargo, um horário, ela estava
constantemente preocupada com o melhor para sua escola,
entusiasmo raro de se ver num profissional. E é preciso registrar que
ela nunca havia sido diretora anteriormente de nenhuma instituição, e
viera de uma outra cidade onde suas origens, seus pais ficaram lá, sem
vir junto com ela.
Mas teve um episódio que foi inesquecível e é imprescindível
ser registrado neste momento. Foi em fevereiro de 1985. Ficando
sabendo da visita do então Governador do Estado Jair Soares às
praias de Magistério e Quintão para inauguração de uma Avenida,
uma estrada nova que ligava estas praias, a Diretora Maria planejou
uma estratégia para atrair o governador até a Escola. A intenção era de
solicitar a implantação das séries finais do 1º grau, já que a escola
contara com 1º grau incompleto. (É importante ressaltar que há
alguns anos já havia feito o pedido, levando os papéis necessários para
este fim, mas nenhuma resposta obtivera. Esses processos
geralmente são lentos).
Bem, com o apoio do CPM (Círculo de Pais e Mestres) da
escola, cujo presidente era o Sr. Antônio Bibi dos Santos, foi
organizada na escola uma super recepção para o Governador do
Estado e toda sua comitiva. Toda a comunidade escolar e a
comunidade pinhalense se mobilizaram para este fato. A Banda
Escolar a postos, os pais e alunos com bandeirinhas nas mãos, bateria
de foguetes pronta para ser estourada; aparelhagem de som
necessária para possíveis discursos; espumante no gelo, bolo,
salgados para coquetel para a “festa” SE” Jair Soares fosse até a
escola após o término do compromisso a que se destinara por essas
bandas.
Quando estava quase chegando a Pinhal, a Comitiva deparouse com faixas convidativas que escalonavam o percurso de Km em
29
Km, com frases do tipo: “Governador, a Escola Rural da Praia do
Pinhal te saúda.” “A comunidade escolar conta com sua ilustre
presença” .
Encurtando a história, posso dizer que o Governador Jair
Soares, seja por generosidade ou curiosidade, não sei ao certo, veio à
escola após cumprir sua agenda de compromissos a que se destinara
naquela data. Foi uma festa linda, de arromba, como se diz. Houve
discursos, a banda tocou, os pais e alunos acenavam as bandeirinhas
confeccionadas, cantavam; um mimo foi oferecido ao Governador.
A professora Maria solicitou no microfone o que os anseios
para escola, na frente de todos. Depois ele falou e se comprometeu,
diante de todos, a atender às solicitações feitas. De quebra, ainda deu
um uniforme novo à Banda escolar.
Fico pensando na liderança de Maria Faistauer, na sua
ousadia, na sua credibilidade com os pais do CPM, com os outros
pais, com os alunos, com a comunidade em geral, com a sua coragem,
com a sua autoconfiança e, principalmente, me refiro na sua
dedicação a tudo que fez e faz e na força de vontade, não desistindo
enquanto suas metas não eram alcançadas.
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Feliz daquele aluno que, como eu, teve a felicidade de
conviver e aprender com ela. Seu exemplo de vida, sua retidão de
caráter, sua força, sua presença de espírito, seu otimismo, sua alegria,
fizeram dela uma pessoa ímpar. Em cada um de nós ficou o orgulho
muito grande de poder dizer: “ Eu fui aluno da Escola Diogo Penha
quando a professora Maria Faistauer foi diretora”!
Muitos anos já se passaram. Seus ex-alunos já podem filhos
na escola e alguns netos, e ela continua encantando outras pessoas,
agora por todo nosso Rio Grande do Sul.
Parabéns Maria Faistauer, não só pelo teu currículo invejável,
mas principalmente pela pessoa que és. Jamais te perdeste de ti
mesma, jamais esqueceste da tua essência! Sinto-me feliz por esta
oportunidade de reverenciá-la.
Tua filha, Lara.
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A família Faistauer
Eloise Cardoso Faistauer de Borba
Professora
Balneário Pinhal/RS
Era uma vez uma família, cuja história iniciou ao mesmo
tempo em ue nasceu uma cidade. A nossa narração começa assim:
Em 5 de dezembro de 1964, Manoel Eloir Faistauer e
Vanderny Ferrão Ferreira casaram-se na Igreja de Nossa Senhora da
Saúde, na Praia de Cidreira, e foram residir em Osório.
Neste mesmo ano, Cidreira realizou a maior transação
imobiliária do ano: adquiriu Pinhal, envolvendo uma quantia
superior a meio bilhão de cruzeiros. O compromisso de compra e
venda foi firmado pelos senhores Luís Amaral e Paulo Moreira,
ambos de Pinhal, e Fausto Prates, diretor do Agro Territorial da
Cidreira Ltda.
Alcindo José Ferreira, sogro de Eloir, viu a Praia do Pinhal
como um lugar promissor e o incentivou a instalar um
estabelecimento comercial.
Em 20 de dezembro de 1968, Manoel Eloir Faistauer decidiu
vir morar e estabelecer um comércio na Praia do Pinhal. Trouxe no
seu caminhão Ford F600, verde, ano 1961, sua esposa Vanderny, sua
filha Eloise, de dois anos de idade, seu irmão João Marinho Faistauer
e uma “ninhada” de gatos.
Assim iniciava a história da família Faistauer, que se entrelaça
ao desenvolvimento da Praia do Pinhal.
Manoel Eloir, em 1971, inaugurou a sua sede própria. Nascia
M. E. Faistauer Materiais de Construções Ltda, que muito veio
contribuir com o progresso dessa praia.
A vida no litoral não era fácil. A luz era transmitida através de
geradores que eram desligados às 22 horas. A água era de poço. O
acesso ao município somente era feito pela beira da praia. Não havia
médicos, apenas o farmacêutico Verlei, que fazia o papel de médico.
Alguns poucos comércios, como o Armazém e Açougue Ponto
Chave, os Hotéis Marisa e Estrela do Mar e o Posto de combustível
Shell, do Sr. Zino Bolzan.
Eloir era muito mais do que um comerciante. A comunidade
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era pequena, todos se conheciam e se ajudavam. Com isso,
presenciou a evolução e forneceu o material para o crescimento dessa
cidade. No início, a infraestrutura era precária. Muitas vezes, Eloir
socorreu doentes, levando gestantes para cidades vizinhas e até nos
momentos tristes, de morte, doava madeiras para a construção de
caixões. Ajudou, também, na construção da Escola Diogo Penha e da
Igreja Santo Antônio, doando materiais.
Um dos maiores acontecimentos da cidade foi a
pavimentação da Av. Castelo Branco e sua arborização. Este
acontecimento valorizou a entrada da cidade e o acesso à Madeireira
Faistauer. Como o comércio era conhecido dos seus clientes, o Sr.
Teobaldo é que foi o responsável pelo plantio das casuarinas, que por
um longo período embelezou e serviu de sombra para aqueles que se
dirigiam à praia, dando significado ao nome do nosso município.
Infelizmente, hoje não as temos mais.
Com o progresso da praia e por acreditar nessa nova cidade,
Eloir decidiu convidar seus irmãos a virem morar em Pinhal.
Em 1974, José e Maria Faistauer instalaram-se em Pinhal.
Vanda Carvalho Faistauer, em 1975, veio juntar-se à família Faistauer.
Veio com o marido José Carvalho e os filhos Josandra, Carlos
Norberto e Carla. Em 1977, foi a vez de Carlos Renato Faistauer se
juntar a nós. João Marinho casou-se e com Marlene Faistauer e,
juntos, assumiram a Madeireira São Francisco, no distrito de
Magistério. Em 1990 passaram a fazer parte do comércio da Praia do
Pinhal com a Ferragem São Francisco.
Depois de 43 anos, descobrimos que o mais importante de
tudo é saber que foi aqui que crescemos, nós, os filhos, netos e
sobrinhos de Manoel Eloir Faistauer. Foi através de um homem que
acreditou e investiu nessa comunidade que hoje nós somos filhos
dessa cidade. Aqui fomos crianças, estudamos nas escolas da nossa
praia, participamos dos tradicionais carnavais da SAPP, tiramos fotos
com a Walquíria e com o Claudio Tadeu, realizamos primeira
comunhão, participamos das festas de Santo Antônio - onde até
marido arrumamos e, casamos.
Hoje somos nós que contribuímos para o crescimento do
Balneário Pinhal.
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“Somos todos anjos de uma asa só,
precisamos nos abraçar para alçar voo.”
(Mário Quintana)
Árvore genealógica da família
Manoel Eloir Faistauer e Vanderny Ferreira Faistauer
Filhos: Eloise, Viviane, Liliane e Arlindo
Netos: Daniel, Larissa e Anna Laura
Genro: Daniel Soares Borba
Vanda Faistauer Carvalho e José Carvalho (falecido)
Filhos: Josandra, Carlos Norberto, Carla, Ezequiel e Raquel
Netos: Vanessa, Thiago e Arthur
Genros e noras: Juarez Gonçalves, Juliano Noronha e Cristiane
Dalke
José Faistauer e Maria Cardoso Faistauer
Filha: Lara
Netos: Inae e Murilo
Genro: Mauro da Rosa
João Marinho Faistauer e Marlene Faistauer
Filhos: João Marinho Junior e Juliano
Netos: Bruno
Nora: Eloisa Morais
Carlos Renato Faistauer
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Família Leindecker: lembranças da casa
da esquina da Rua 27 (1974-2010)
Dália Tavares Leindecker
Mestre em História
Porto Alegre/RS
A casa da esquina da Rua 27 com a atual travessa S. Lucas, foi
construída em madeira, com paredes duplas, telhas francesas e
alpendre no lado leste e sul, no lote 7 da quadra 23-c2, conforme a
planta geral do loteamento do Balneário Pinhal, pertencente ao
município de Osório. O projeto está em nome do Eng. e Urb. L. A.
Ubatuba de Farias e dos Arquitetos Gustavo Martins Costa e Cláudio
Machado Rizzato, sendo o loteamento e sua comercialização
responsabilidade da Imobiliária Pinhal Ltda., com sede em Porto
Alegre, encarregada da urbanização da praia. De 1960 a 1974 o lote
pertenceu a Rudá Silveira de Oliveira Freitas, a Júlio Severgnini e a
Sérgio Manoel Pereira dos Santos de quem compramos o imóvel em
26 de novembro de 1974. Neste ano, o Pinhal pertencia ao município
de Tramandaí.
A casa nos primeiros tempos
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A cena da Rua 27 nos primeiros tempos
Quando chegamos na Rua 27 em 1974 havia apenas cinco
casas nas duas primeiras quadras. Os donos eram o Sr. Isolan, a D. Ida
e Sr. Nei, a de D. Selda Gil, a de D. Elzira Terra e nós. Com exceção
do Sr. Isolan, todos éramos veranistas. Segundo os vizinhos mais
antigos, a nossa teria sido a primeira casa a ser construída, em 1960.
A casa da família Gil Fontes localizada na travessa hoje
denominada de S. Lucas, foi construída em 1963 pelo Sr. Augusto
Francisco Wander, padrasto de D. Selda Silva Fontes, casada com
João Gil Fontes. Lá passaram muitos veraneios os três filhos do casal:
Gilberto com a esposa Isabel e os filhos Marisa e Gilnei; Gilson e
Vera com as filhas Andréia e Adriane. Gilmar, o mais novo com a
esposa Nelma e os filhos Jerson e Gisele. Ainda hoje a casa pertence
a família.
Na esquina com a 27, ao lado dos Gil, havia a casa verde de D.
Ida e Sr. Nei, com os filhos Neida e Nélio. Esta casa foi vendida para o
Sr. Osmar, esposo de D. Edite, antigo funcionário da CEE que em
1993 construiu a nova casa de alvenaria. Esta casa após seu
falecimento continuou com uma de suas filhas. Do lado do mar foi
construída em alvenaria uma casa no fundo do terreno de
propriedade do sr. Nilo Vaz que passou a casa para sua irmã Vilma
Vaz que a ampliou no pós 2.000. Esta casa aparece no filme curta
metragem “Chá de Frutas Vermelhas”, dirigido por Duca Leindecker
em 2007, veiculado pela RBS e Canal Brasil de TV.
De frente para a travessa e para o mar estava a casa alaranjada
de D. Elzira e do Sr. Terra, com a filha Iria e cinco netos. Esta casa foi
adquirida pelo Sr. Veimar Reis e desmanchada. No terreno foi
construída uma casa de alvenaria onde moram Jorge Luís dos Santos
Dalke, morador de grande participação na vida da cidade, integrando
o “Bloco das Virgens” tradicional bloco carnavalesco da cidade. Sua
esposa Jussara T. Pisseti Assumpção também tem grande
participação na vida cultural da cidade como coordenadora da Banda
Municipal ou preparando com muito esmero as atividades culturais e
festivas de iniciativa da Prefeitura Municipal. Sua filha Cristiane,
nascida nesta casa em 1984, mãe de Artur nascido em 2005 que já é
professora e leciona no município. A casa seguinte, na calçada da rua
27, foi construída ainda nos anos 70 já em alvenaria pelo atual
morador Sr. Veimar Reis que continua veraneando e visitando
41
frequentemente a praia com a esposa D. Neli e os filhos.
Completando o casario do lado contínuo da 27 temos a casa de D.
Nair e Sr. Jaques construída em alvenaria em 1976 e em seguida na
esquina, a grande casa construída em dois terrenos, da 27 até a 28 em
alvenaria, a mais imponente do núcleo. Segundo o Sr. Darci de
Borba, ela teria sido construída em 1970. Era conhecida como a casa
da Viúva Cestari. Esta casa pertenceu ao primeiro Secretário
Municipal do Meio Ambiente de Porto Alegre, no governo de
Guilherme Socias Villela (l975-1982), o jornalista Roberto Eduardo
Xavier. Mais tarde, a casa passou para o Sr. Russo, o mecânico na
cidade. Com o vendaval de 2009, a casa ficou completamente
danificada e hoje está vazia e abandonada a espera de comprador. Na
entrada da rua havia uma casa vermelha onde residia durante todo o
ano o Sr. Santo Giovani Izolan, pai do professor Benito Izolan, de
Osório. Esta casa era de propriedade do Sr. Marconi Izolan, irmão do
Sr. Santo. Depois desta fase, vieram veranear naquela casa o irmão do
professor Benito, Augusto Izolan e sua esposa Vera Racier. Todas
estas casas eram de madeira. Hoje, a casa é de alvenaria e nela residem
todo o ano, desde 2001, D. Edite Pasemann e seu filho Moacir
Guilherme Pasemann, moradores muito cuidadosos que além de
manterem a casa com muitas flores e uma bela horta, estão sempre
atentos em relação a conservação e segurança da nossa rua.
Na quadra 23, onde só existia nossa casa de madeira,
surgiram logo após a nossa chegada, no lado norte, as casas de
alvenaria do Sr. Jacobino e D. Ceci Vieira, da Teresinha Ernestina
Hispanhol, ainda nos anos 70. A terceira casa do lado norte foi
construída em 1995, pela minha cunhada Lecy Leindecker Pereira e
seu marido Dirceu Pereira que lá veranearam até 2008 com os filhos
Gustavo e Caroline, completando o povoamento da quadra 23. No
lado leste, em 1979, Fausto e Iara Libardi e sua família, construíram a
casa nos dois terrenos para as filhas Ângela, Helena e Gisele. Ali
cresceram os netos Francisco e Ronaldo, filhos da Ângela e
recentemente as trigêmeas Caroline, Luciana e Giovana, da filha mais
nova Gisele.
Ainda na primeira quadra de entrada da rua, em 1980 foram
construídas as casas do Sr. Pedro Burgel e D. Heloísa e a do Sr.
Douglas Del Pino (1929-1999), esposo de D. Deoclides Vaz Del
Pino, nascida em 1924, e ainda hoje é uma saudável veranista. Ali
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veraneavam o filho José Cláudio com sua esposa Terezinha, ambos
professores e os filhos Rodrigo e Alessandra. A filha Elaine, o
esposo Cândido e o filho Pedro, todos muito animados nos jogos de
vólei na praia naqueles primeiros anos da casa.
A compra da casa
Em 1973 havia um jogo que prendia a atenção de grande
parte dos brasileiros. Era a Loteria Esportiva com a Zebrinha
indicando as apostas improváveis. O apostador devia escolher os
times ganhadores nos jogos de futebol da semana e acompanhar as
partidas torcendo pelos times de suas escolhas.
Naquele ano meu pai estava morando conosco para tratar
um câncer. Com o objetivo de manter meu pai animado e suportar o
sofrimento, meu marido Sati Seno Leindecker, advogado trabalhista
do Sindicato do calçado de Novo Hamburgo, trazia as cartelas para
jogar com ele. Quem via de fora, poderia pensar que eram dois
fanáticos por futebol. E tanto jogaram que acabaram ganhando um
pequeno prêmio que serviu para comprar um Aero Willys que
acabou servindo para dar a entrada do pagamento da casa de Pinhal.
Eu havia concluído meu curso de História, em 1971, mas já
trabalhava como professora desde 1969. Como professora, eu passei
a ter férias grandes no verão podendo acompanhar as férias dos
filhos.
Meu marido e eu éramos contra a compra de pedaços do
planeta. Achávamos que éramos simples passageiros nesta vida e
não carecia estarmos nos apropriando de um patrimônio público.
Ocorria, no entanto, que o nosso segundo filho, o Duca,
tinha problemas respiratórios e seguidamente tinha as amígdalas
inflamadas. O médico sugeriu que o levássemos à praia para que se
fortalecesse. Com esta receita resolvemos encontrar um lugar perto
do mar para as férias e feriados das crianças. Frequentamos
Tramandaí em casa alugada nos primeiros tempos. Quando nos
ofereceram esta casinha em Pinhal, concordamos em comprá-la,
pois tínhamos o dinheiro da loteria para a entrada e o restante seria
pago em 10 prestações de valor fixo e não eram cobrados juros.
Avaliamos que teríamos menos despesas e maior aproveitamento, já
que poderíamos aproveitá-la nos dias de feriados e em fins de
semana, além de termos garantidas a casa para as férias de verão.
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Os veraneios
Naquela época tínhamos muitas crianças no nosso grupo de
família e amigos. Logo a casa se encheu de gente, sendo grande parte
crianças.
Tinha fila para o banho e sorteio de cartões numerados para
o bife. Os pais faziam pandorgas e lideravam as pescarias. Comíamos
muitos peixes, principalmente o papa-terra e os mariscos brancos
que existiam em grande quantidade. Era uma festa a colheita dos
mariscos. Depois era a limpeza e fazer os bolinhos. Todos ajudavam
nas tarefas e principalmente a comer os bolinhos com gotas de limão.
Que delícia era comer os bolinhos e viver a vida de pés descalços
naquela imensidão de areia ao som do retumbar das ondas. A
paisagem era toda de infinitos, a praia aberta para o norte e para o sul
e no leste a imensidão do mar. O céu parecia estar perto de nossas
cabeças nas noites estreladas. O sol e a lua pareciam ao alcance das
mãos quando surgiam levantando-se do mar. Nos gabávamos pra
toda gente que o sol e a lua nasciam primeiro na nossa casa e só
depois iam para o resto do mundo. Para quem não queria comprar
um pequeno pedacinho do planeta agora não se acanhava em se
adonar do nascer do sol e da lua!
Pescarias
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As pescarias tinham início quando o Vô Armando
Leindecker posicionava sua carretilha e banquinho na beira do mar
antes do nascer do sol. Depois de conseguir colocar as iscas, vinha em
casa para preparar o Chimarrão e levá-lo para a beira da praia. A
criançada se acordava e corria para a praia arrodeando o pescador em
busca de mariscos e conchas. Depois da chegada do Sol vinham
tomar o café da manhã e vestir as roupas de banho.
Naquele tempo tínhamos entre 6 e 10 crianças para
administrar nas ondas da beirinha. O banho era precedido de uma
longa caminhada pela beira da água, indo até o centro ou até o Clube
de Pesca.
O trajeto possibilitava a observação da natureza e dos
acontecimentos ao longo do caminho. As conversas eram o forte do
veraneio. Não tínhamos televisão nem outro aparelho de som. A
música era cantada pela turma e a diversão noturna era garantida
pelos jogos e os passeios ao centro para ver o povo, tomar um sorvete
ou brincar de pegar na pequena pracinha que havia junto à CEEE.
O Osso da Baleia era novo e havia também costelas ao longo
da calçada na rua principal. As calçadas da rua do Clube eram
cobertas de gramas e largas, nelas caminhava o grupo todo. Quando
o vento estava forte, vindo do Nordeste, sofríamos para chegar em
casa devido as areias que voavam contra os nossos olhos.
Não havia carros nem telefones. Usávamos os ônibus e tudo
era muito bem combinado previamente. Nos primeiros tempos,
quando alguém conseguia um carro para entrar na rua 27, era certo
que ficaria atolado nas areias. A turma já corria para socorrer
portando enxada e tábuas, era uma diversão. O calçamento das ruas
só viria em 1987 realizado pela empresa Servipal e pago pelos
proprietários.
Devido a presença de banhados com vegetações, tínhamos as
serenatas dos sapos e o desfile de cobras que se alimentavam naqueles
locais. Eu tinha um medo ancestral de cobras, mas procurava
disfarçar e deixava a gurizada organizar uma coleção delas dentro de
vidros com álcool. Esta parte ficava com os pais e as crianças. Eu
fotografava de longe com a nossa Kodak.
Nos cômoros ao redor da casa, os guris brincavam nas tardes
soltando pandorgas, descendo com tábuas as encostas do morro de
areia ou caçando os ratos brancos que faziam ali suas tocas. Quando
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conseguiam aprisionar um deles, as crianças em meio a grande
algazarra, o colocavam numa bacia grande, observavam-no e depois
o soltavam.
Havia naquela época muitas pessoas que iam para a praia e
acampavam nos cômoros perto do mar. Nós fornecíamos água
quando nos pediam e quando o acampamento era abandonado
fazíamos uma inspeção no local para recolher o lixo com vidros e
latas de conservas para evitar risco para a turma que passava o verão
de pés no chão.
A casa foi construída nos anos sessenta em cima das areias
que chegavam até a janela da cozinha. Com o vento, as areias foram
mudando de lugar e os pés da casa foram descobertos, obrigando os
moradores a fazerem uma escada bem alta, pois, a casa se
transformou em uma verdadeira palafita. Quando a ventania era
muito forte a casa fazia um ligeiro balanço.
Na década de setenta nós só conseguimos pintar a casa e
continuamos sem muro e sem calçada. Quando viajávamos de férias
nos programas do SESC ou íamos para Minas Gerais rever os
parentes, nós deixávamos a casa para alugar com a D. Edite Borba na
Imobiliária do Nei Zang. No verão de 1977/78 apenas os nossos
amigos Ione Silveira e Danilo Asp ficaram na praia cuidando as
crianças enquanto Sati e eu permanecemos em Porto Alegre com o
Luciano, que ainda era muito pequeno, fazendo exames de saúde em
busca de resposta para o emagrecimento repentino e para as dores
que ele sentia nas costas. Fomos a Novo Hamburgo onde Sati
trabalhava e realizamos os exames com o médico que era seu colega
no Sindicato dos Trabalhadores da Indústria do Calçado de Novo
Hamburgo, Dr. Solon Grobocopatel, gastroenterologista que
identificou um tumor próximo a um dos rins e o encaminhou para o
Dr. Renato Amaral para fazer a Biopsia no Hospital de Clínicas de
Porto Alegre. Estávamos em 21 de março de 1978 quando tivemos o
diagnóstico do câncer e a expectativa de apenas mais 3 meses de vida
para Sati. O ano de 78 foi de tratamento com Radioterapia e
Quimioterapia. No final do ano foi feito uma Radiografia
Computadorizada, tecnologia nova que permitia uma avaliação mais
precisa da situação do doente. Dr Adalberto Broecker Neto foi o
dedicado médico que o atendeu neste período. Não tendo mais
nenhuma esperança, resolvemos ir para Pinhal para que ele visse o
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mar que tanto gostava. Ficamos dois dias e retornamos a Porto
Alegre. Na volta para casa descobrimos que as crianças haviam
pegado piolho. Eu não conhecia piolho, pois, no meu tempo de
criança não havia piolhos lá em Minas. Foi um susto! Passei o
primeiro remédio indicado e o resultado foi outro susto, pois o Duca
era alérgico ao produto e ficou todo vermelho.
No final de janeiro de 1979, completamente lúcido, Sati
faleceu no Hospital Ernesto Dorneles, no final da tarde do domingo
dia 29.
Naquele ano, nós não voltamos ao Pinhal e nas férias fomos
para Minas e deixamos a casa alugada. Houve uma ressaca muito
grande e os inquilinos ficaram ilhados como se a casa fosse um navio.
A família que alugou a casa era do Marcelo Maresia que muito tempo
depois foi ser meu aluno na FACOS de Osório.
Nesta década de 1980 fizemos uma pequena garagem de 18
metros quadrados e um muro, obra do Senhor Darci Borba, esposo
de D. Edite e do Denis seu filho que estreou na construção civil ali
em casa. A necessidade da garagem era uma evidência do aumento do
número de carros e passava a ser uma condição exigida pelos
inquilinos que já vinham motorizados com seus Fuscas ou suas
Brasílias.
Em 1980 resolvi comprar um Fusca para poder ir no inverno
à praia com os guris. Nas primeiras viagens na RS-040, cheia de
buracos, tivemos os 4 pneus furados, pois o fusca era de 1970 e eu
não tinha nenhuma experiência com carro. Quem resolvia o
problema era o Adriano que em apenas 10 minutos conseguia trocar
um pneu. Íamos com muitos agasalhos e quando andávamos a pé
pelas ruas desertas, levávamos um cajado para nos defender dos
cachorros que vagavam pelas ruas e pela praia. Havia também uma
mulher conhecida como Marusca, a espanhola, que passava pela
praia acompanhada por muitos cachorros. Ela morava na terceira
quadra da rua 27 apenas com seus cachorros.
Havia muito poucas pessoas na cidade no inverno e o
comércio era quase inexistente. No verão passavam ciganos
oferecendo roupas de cama, passava diariamente o vendedor de
“Puxa-puxa” que além de garantir uma sobremesa saudável, brindava
a todos que via com seus versinhos:-”Olha o Puxa-puxa, Puxa-puxa
colorido, você fica satisfeito e eu fico agradecido”. Era o Sr. José
47
Horst que trazia os doces de Santo Antônio da Patrulha para vender
em Pinhal, durante muitos anos, nas temporadas de praia. O nosso
mercado era o “TAI”, próximo ao “Praia Atlântico Clube”, PAC,
que ficava na Rua 29. A família do Sr Ângelo Lanzarini e D.
ErcildeLanzarini era proprietária do mercadinho e também
administrava o Bar da Rodoviária desde o início dos anos 70. Na
década seguinte o filho Marne abriu a “Casa de Pesca DUNGA”, que
depois da morte dos pais e da saída do Marne e sua família do Pinhal,
ainda continua com as portas abertas no centro da cidade.
A turma que cresceu à beira do mar
O único da família que permanece na cidade, atualmente, é o
Leandro Lanzarini Lauer, filho de D. Maria, irmã de Sr. Ângelo.
Depois de ter trabalhado com o tio no “TAÍ” de 80 a 94, abriu o
”MERCADO AVENIDA” na rua 30, onde continua trabalhando
com sua esposa Luciana até hoje.
Quando íamos ao Pinhal fora do verão, as crianças e eu
parecíamos personagem de um filme chamado “Para onde foram
todos”, em que um professor e seus alunos saíam de uma caverna que
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visitavam e encontravam a cidade toda vazia, após ter havido uma
explosão, apenas os cachorros perambulando famintos pelas ruas
desertas. Usávamos um Cajado para nos defender dos cães, o que nos
fazia parecer uma tribo bíblica a vagar no deserto.
A nossa casa apenas recebia uma pintura dada pela gurizada e
a turma grande quando chegava o verão. Nils Asp que gostava muito
de trabalhar com madeira dava uma ajuda para o Adriano ou o Vô
Armando na parte de reparos na madeira. As telhas francesas nunca
davam problemas. Para isto não deixávamos que faltasse as tábuas
dos beirais protegendo-as da ventania que era constante.
Surf e adolescência
A turma que frequentava a casa, nesta época, era a família
Asp , o pai Danilo, a mãe Ione e os filhos Gustavo, Nils e Francisco. A
família do Tio Délio Tavares com Tia Vilma Procknow e seus três
filhos: Raquel, Lúcia e Fernando. Do Tio Miguel Dirceu Tavares que
morava no Rio de Janeiro tínhamos a Tia Magda com seus dois filhos
João e Júlio e o filho de Dirceu, Dario e seu irmão por parte da mãe
Aurora Coentro, Maurício, que fez em Pinhal as suas primeiras
experiências com o Surf. Além destes da família, consideramos os
49
Asp como da família, compareciam os vizinhos de Porto Alegre e os
colegas de escola dos guris e de trabalho dos pais. Em 1981 tivemos a
casa cheia com a presença do padrinho do Adriano, o jornalista
Carlos Monteiro, com sua esposa Ilka Gisele e as filhas Cláudia e
Aline. O casal Roberto e Elisabete Bohn também participaram das
alegrias daquela casa. A dona da pensão onde ficamos ao chegar de
Minas em 1959, Ilma Teixeira de Melo, também esteve conosco
naquele verão. Foi um verão inesquecível!
As despesas eram pagas por todos, a partir de um valor
estipulado pelos próprios visitantes, que calculavam a diária depois
da primeira semana de compras. Todos contribuíam com o valor e
com a lavação de pratos e a administração das malas para evitar que se
perdessem coisas. Como as pessoas eram muitas e a casa era
pequena, a disciplina era naturalmente obedecida, pois, sem ela não
haveria chance de convívio. A pequenez da casa era compensada pela
imensidão de espaços na praia e as diversas atividades esportivas que
favoreciam a convivência harmoniosa de toda aquela tribo.. Os Asp
passaram os primeiros 25 verões de suas vidas conosco naquela casa
de Pinhal. Ali se construiu uma ligação muito forte que tem se
mantido mesmo depois do falecimento dos pais Ione e Danilo e da
mudança dos filhos para Florianópolis e para Bragança no Pará.
O incêndio
50
O tempo da garagem
A música que nasceu na beira do mar
Em 1985, a música entrou na história da casa de Pinhal.
Depois de fazer as primeiras 10 composições, Duca começou a tocar
guitarra com a Banda Prize que participou de um disco gravado pela
ACIT chamado Roque Garagem II. A música era “Tua voz” de
autoria de Francisco Cunha Neto que foi muito tocada naquele
verão. Depois veio a participação na Bandalieira com Fugueti Luz
com muitos sucessos como “Nosso lado animal”, “Campo Minado”,
“Falta pouco” que era uma música que se referia a eleição direta e a
volta da democracia no posperíodo militar. Em 87 e início de 88 foi
gravado o disco solo do Duca, posteriormente lançado pela ACIT.
Deste trabalho houve uma música instrumental “Por si mesma” que
também foi muito tocada na época. A rádio Ipanema dava um grande
apoio aos músicos iniciantes e isto foi muito importante para que
seguissem carreira.
Em 1989, na companhia do baterista Cau Hafner, surgiu a
Banda Leindecker que logo depois das primeiras apresentações se
tornou a Cidadão Quem, incluindo ai a participação do Luciano
responsável pelo Baixo e de Cau Neto nos teclados.
A década de 1990 trouxe na música três trabalhos da Banda:
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Outras Caras, Lente Azul e Spermatozoon. Este último foi lançado
logo após o falecimento de Cau Hafner num desastre de paraquedas
em 10 de julho de 1999.
O tempo da garagem
Em 1996, em 23 de novembro, depois de pintarmos a casa
para o verão, uma pessoa ensandecida colocou fogo em quatro casas
da Rua 27 e entre elas estava a nossa casa de madeira que ficou
completamente destruída. Naquele ano, nós havíamos aumentado a
construção da garagem anexando um banheiro e churrasqueira e o
espaço da primeira peça foi transformada em sala quarto.
No final do ano fizemos um grande reunião no pátio vazio,
com a presença dos frequentadores da casa e dos vizinhos para
inaugurar a nova etapa renascida das cinzas da casinha de madeira.
Todos trouxeram contribuições para refazer a casa. Móveis, pratos,
panos. Até geladeira trouxeram duas, sendo uma para doação. O
fogão continuou sendo o da minha sogra, trazido de Santa Maria em
1959, quando a família se mudou para Porto Alegre. Como ele estava
de reserva na garagem, acabou ficando a salvo. É um fogão Geral
esmaltado que ainda está em uso na casa nova. O outro da casa de
madeira que foi queimado, era um Wallig comprado no tempo do
casamento em 1965.
A nova geração
52
O sobradinho
Aí teve início a era da garagem, que durou dez anos: l996 a
2006. O nosso núcleo familiar era de 8 pessoas em 96, pois só
tínhamos a Joana, filha do Adriano e da Adriana, nascida em 1994, a
primeira da nova geração da casa. Os outros quatro netos vieram
neste período em que veraneamos na garagem.
Em 1999, Duca lançou seu primeiro livro “A casa da
Esquina”, pela Editora LPM, na 45a. Feira do Livro de Porto Alegre.
Gabriela nasceu em 1997, Isabela em 1999, Guilherme em
2003 e Júlia em 2004. Neste período faleceram os avós Armando e
Helma Leindecker, em 1993, e a amiga Ione, em 1994. Os filhos de
Ione, Gustavo e Francisco passaram a morar em Florianópolis e Nils
que estava em Rio Grande fazendo Oceanologia, continuou conosco
em Pinhal nos períodos de férias. Mesmo depois do doutorado na
Alemanha e da aprovação em concurso para a Universidade do Pará,
onde trabalha e mora atualmente, Nils continuou frequentando a
casa de Pinhal quando vem com a filha Luciana passar dias nas férias.
Dario, o sobrinho carioca e seu irmão Maurício hoje estão com suas
famílias. Dario trabalhando no Rio, onde fez doutorado em Física e
Maurício é Promotor público em Aracaju onde mora com a esposa e
um casal de filhos. Com eles estamos sempre em contato.
53
Na década de 1990 as casas passaram a ser construídas em
alvenaria. Surgiram várias casas, ocupando quase todos os terrenos
das duas quadras até a praça que também ganhou “casas buraco” para
morada das Corujas que vieram para a nossa rua.
Em 2002, as crianças se vestiram de orientais, para o Carnaval
na SAPP. Apesar de continuarmos sem televisão, recebemos uma
nova integrante da família, a Ingra Liberato, uma baiana que naquela
ocasião estava trabalhando na novela “O Clone”. No mesmo ano, na
48a. Feira do Livro de Porto Alegre, também pela Editora LPM, Duca
lançou o segundo livro “A Favor do Vento” ambientado na casa de
Pinhal.
O sobradinho
Em 2005 iniciamos a construção da casa nova que ficou
concluída em 2006. Nesta casa continuamos recebendo muitas
pessoas, agora ligadas pelos casamentos que trouxeram mais três
grupos pertencentes às famílias das noras: Adriana Machado, esposa
de Adriano, Roberta Silva, esposa do Luciano e Ingra Liberato,
esposa do Duca.
Outro integrante do grupo que merece ser lembrado nesta
história é o doutor em Biologia Paulo Henrique Ott, o nosso “Lique”,
integrante do quadro de professores e pesquisadores da UERGS,
presença importante na casa desde a década de 70.
A construção da casa da frente foi projetada pelo arquiteto
Waldir Franco e executada pelo Sr. Paulo Souza e seu filho Waldir
Souza. No verão de 2006, nos transferimos da garagem para a casa
nova, toda em azul e branco em homenagem à casa em que nasci no
interior de Minas Gerais, em 1942, no município de Maravilhas,
construída em 1901 pelo meu avô e que até hoje está lá com a família
mineira.
Em 2008, a Banda Cidadão Quem parou suas atividades e
teve início o projeto Pouca Vogal, que é uma junção com a
Engenheiros do Havaí. Humberto Gessinger e Duca Leindecker,
com sobrenomes de poucas vogais, cantam músicas das duas Bandas
e outras específicas do projeto Pouca Vogal. Com esta dupla, a
música “Pinhal” tem sido cantada de norte a sul do Brasil e
apresentada na Internet em várias versões.
Em l9 de novembro de 2009, um vendaval atingiu a rua 28,
54
jogando os destroços na rua 27, o que causou grandes danos
materiais nas casas das duas primeiras quadras. Felizmente não
tivemos pessoas atingidas. Passamos este último verão consertando a
casa e pretendemos concluir os reparos para o próximo veraneio,
quando esperamos receber mineiros, cariocas, sergipanos, bahianos
e paraenses, e quem mais queira apreciar as belezas infinitas desta
praia grande deste jovem município de Balneário Pinhal que
completa neste ano de 2010 seus 15 anos de emancipação.
Para comemorar a data foram entregues pelo Sr. Prefeito
Jorge Fonseca, medalhas às pessoas que contribuíram para o
desenvolvimento ou divulgação do município.
Para nossa satisfação e orgulho tivemos a honra de receber
uma destas medalhas atribuída ao Duca pela divulgação do
município através da música “Pinhal” e dos seus livros.
Também foi de grande importância para o povo de nossa
casa, e em especial para o Duca, o convite para que fosse o Patrono
da XII Feira do Livro de Pinhal, ocasião em que foram inauguradas as
novas instalações da Feira, na Avenida Itália, com a presença da
comunidade em uma grande festa da cultura.
O ano trouxe ainda o Encontro “Raízes” coordenado pelas
professoras Véra Barroso e Maria Faistauer, juntamente com as
Secretarias do município. O encontro aconteceu na Sociedade
Amigos da Praia do Pinhal, num ambiente acolhedor e de muita
emoção, onde o balneário pinhalense e veranistas contaram suas
histórias e mostraram através dos relatos de memórias, de
apresentações artísticas o quanto esta comunidade produz e o
quanto está empenhada no seu desenvolvimento.
Vizinhas queridas
Este relato para se completar não podia deixar de registrar
algumas histórias de vizinhas como a D. Edite Maria Soares de
Borba, nascida em 1942, casada com seu Darci Nunes de Borba que
conhecemos na imobiliária Navegantes em 1973, quando alugamos
uma casa e passamos nosso primeiro veraneio em Pinhal. Durante
todos os anos que ela e sua família viveram na casa próxima a nossa,
bem na beira do mar após a terceira travessa da rua 27, D. Edite fazia
uma enorme caminhada para ir de sua casa até o trabalho
enfrentando o vento e a chuva, sem faltar nunca e além de atender a
55
casa e a sua família, sempre atendia com grande amabilidade aos
clientes das imobiliárias por onde trabalhou. Sua força e persistência
sempre me encantaram. Sua história e a da família Borba vem na
narrativa de sua filha Eloísa, contada a seguir:
“O pai é de Rio do Sinos, Santo Antônio da Patrulha, a mãe é
natural de São Francisco de Paula. Morávamos na cidade baixa de
Santo Antônio próximo às pedreiras. O pai trabalhava em uma
cooperativa de arroz em Santo Antônio e a mãe foi doméstica por
alguns anos. Conforme os filhos iam crescendo, começamos a fazer
pasteis em casa para eles venderem junto com as famosas rapaduras
de Santo Antônio. Os meninos também vendiam jornais e eram
engraxates. Mas começou a ficar difícil pois éramos em 7 filhos.
Resolveram então apostar em outra cidade, e o pai veio passar um
verão no Pinhal trabalhando na madeireira Faistauer. Terminado o
verão voltou a Santo Antônio, mas retornou para morar
definitivamente em Pinhal com toda a família em dezembro de 1970.
A mãe conseguiu emprego na madeireira e imobiliária do seu Hugo
Barth e da sua filha Rosa Barth, depois foi trabalhar na imobiliária do
Nei Zang. E o pai começou a trabalhar como construtor autônomo,
com isso poderia levar os filhos para ajudar. O pai construiu junto
com os filhos a casa da beira da praia onde moramos por
aproximadamente uns 20 anos. Depois da vinda de Santo Antônio, a
mãe adotou uma criança: Adelaide e depois teve mais uma filha, a
Fernanda. Morávamos todos os 9 filhos na beira da praia, os
meninos iam ajudar o pai na construção e as meninas se “cuidavam”
e tomavam conta da casa: almoço, limpeza, etc. Estudamos na Escola
Diogo Penha.
O pai, como já falei, trabalhou sempre na área da construção,
mas parou cedo devido a um câncer de pele. A mãe trabalhou em
imobiliária: passou pela imobiliária Barth, Imobiliária Nei Zang,
Edite imóveis, e por ultimo Sirlei Imóveis da nora, esposa do Leonel
que no mesmo prédio tem a madeireira comercial Fritz. Devido ao
progresso da cidade, todos estão estabelecidos na cidade. Deniz tem
uma pousada, Leonel, madeireira, Daniel, caminhoneiro, Hélio,
falecido neste ano, era construtor, Helena tem um prédio de
apartamentos de aluguel, Valter é construtor. Eloisa trabalhou
muitos anos no posto telefônico e hoje tem uma loja de roupas.
Adelaide é funcionária de um comercio local e Fernanda é do lar.
56
Alguns dos netos foram fazer vida fora, mas a maioria continua em
Balneário Pinhal.”
D. Edith Hilda Vier, moradora da casa da esquina da rua 27
em frente à Praça das Corujas. D. Edite nascida em 17-5-1925 no
município de Estrela, filha de Maria Luíza Grings e Augusto Alfredo
Sulzbach, veio para Pinhal em 1967. Nos primeiros anos era
veranista e vinha com o casal de filhos Célia e Tony. Em Porto Alegre
morou até 2000, na rua Moura Azevedo, no Bairro São Geraldo num
apartamento que mais tarde foi cenário para o filme de Jorge Furtado
“O Homem que copiava”, onde foi gravado um incêndio.
Edith, hoje é membro do Grupo de Terceira Idade de Pinhal
Laços da Amizade e brinda a todas com seus quitutes deliciosos nos
encontros semanais e eventos realizado pelo grupo. Ela é muito
alegre e está sempre disponível para uma boa conversa e um
chimarrão servido aos que chegam em sua área de frente para a praça
e para o mar.
Dona Blanca Assuena Imienta Viesley, quando a
conhecemos, era proprietária da padaria da beira da praia. Na década
de setenta, se encontrava além do pão, os famosos alfajores
tipicamente uruguaios pois D. Blanca era uruguaia, nascida em 3010-1932. Dos seus 75 anos de vida, 25 deles passou no Pinhal. Após a
separação do esposo, ela vendeu o prédio da padaria e passou a viver
sozinha numa casa pequena no lote ao lado. Ela perguntava sempre
pelos meninos que iam comer os seus doces e ficava muito orgulhosa
de lembrar que havia visto o crescimento dos músicos da nossa casa.
Ela cuidava várias casas dos vizinhos veranistas e cuidava também os
gatos, cachorros e pombos que haviam pelas redondezas. Ela era
muito comunicativa e corajosa e não temia passar o inverno naquela
solidão. Na primavera de 2007, D. Blanca faleceu vítima de um AVC.
Seu funeral foi acompanhado por sobrinhos que vieram da sua terra
natal e pelos vizinhos que lhe prestaram socorro nos seus últimos
momentos. Como era desejo dela, suas cinzas foram jogadas no mar
em frente à sua casinha. Conta o nosso vizinho Moacir Pazemann
que, no momento em que as cinzas foram jogadas ao mar, houve
uma revoada dos pombos que viviam em sua casa e que estes
pássaros não mais retornaram à casa vazia.
Indo pela praia em direção ao centro encontramos uma casa
grande, na esquina da Avenida Perimetral, onde antes da casa de
57
Vizinha querida, Dona Ceci Vieira
alvenaria com uma pequena janela de sótão tinha uma casa de
madeira que chamávamos de “Castelinho Vermelho”. Nela habitava
a professora Brunilda Copetti Finger, conhecida de todos os
professores dos Colégios Pio XII e da Escola Técnica Parobé. Ela
nasceu em 26/41916 em Santo Ângelo. Quando pequena viveu na
casa dos avós da família PIPPI numa casa que hoje é o hospital da
cidade de Ivorá. Depois de casada foi viver em Porto Alegre onde
viveu e criou seus cinco filhos, viu crescer os netos e faleceu aos 94
anos em 16/6/2010.
Em Pinhal, D. Brunilda era sempre muito cordial com os
vizinhos e não deixava de fazer a caminhada na praia todas as
manhãs. Muitas vezes fui tomar chimarrão e escutar suas histórias
sentadas na área de sua casa.
Dentre as histórias de D. Brunilda estava a história de Maria
Ester Vieitz, carinhosamente chamada de Marusca por ela. Esta
senhora morava na quinta quadra da rua 27 e era dona de inúmeros
cachorros que lhe acompanhavam em suas caminhadas pela beira da
praia. Nós a chamávamos de “Mulher dos cachorros”. Ela era
extremamente misteriosa para nós.
Através de D. Brunilda vim a saber que se tratava de uma
espanhola que havia saído aos 16 anos de seu país com a mãe, duas
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irmãs e dois irmãos, por ocasião da Guerra Civil Espanhola de 1935,
e ido morar em Buenos Aires. Seu pai e o irmão mais velho haviam
morrido na guerra. Em Buenos Aires ela viveu e trabalhou com sua
irmã nos primeiros tempos, aproveitando para pagar um curso de
dança a noite. Através deste curso ela veio para Porto Alegre, onde
acabou ficando pois a dança não agradava a família que considerava a
atividade imprópria para moças de família. Após dançar em casas
noturnas da cidade ela abriu sua escola de dança, a primeira na Av.
Independência e depois nas proximidades do Gasômetro,onde
ensinou por 30 anos. Ali ela fez uma grande amizade com D.
Brunilda que era sua vizinha.
Ao se aposentar, ela mudou-se para Pinhal e ficou morando
na rua 27 até sua morte em 2005. Foi sepultada pela Brigada Militar
no cemitério de Tramandaí, depois de dias de seu falecimento,
quando os vizinhos notaram sua falta. Ela estava com 85 anos. A casa
em que morava ficou abandonada e acabou sendo invadida.
Outras vizinhas muito queridas também foram D. Lúcia
Grings, irmã de D. Edith Vier e D. Nair esposa do Sr. Jaques,
falecidos antes de venderem a casa para D. Lúcia em 1998.
Lembro-me ainda, com muito carinho, de D. Ceci Vieira,
protetora dos animis abandonados da praia, juntamente com seu
marido Jacobino Vieira, músico do Exército, aposentado que passou
a morar na praia para atender os cachorros que adotou, entre eles o
denominado Tramandaí que foi cuidado com toda a atenção até
morrer de velho. Todas as pessoas tinham grande estima por D. Ceci,
pela sua maneira doce de tratar os que com ela se encontravam. D.
Ceci faleceu em 12 de outubro de 1999, deixando saudades e um belo
exemplo de cordialidade, muita alegria e amizade.
Nestes mais de trinta anos de vivência naquela área da
cidade, aprendemos a admirar a força de mulheres que moraram ou
veranearam ao nosso redor, e que nos acolheram com todo carinho
e foram e são exemplos de cordialidade e amor à vida.
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A chegada dos baianos em Pinhal
e as mudanças desde 1994
Joceli de Souza Silva
Pedagoga
Balneário Pinhal/RS
No mês de maio de 1994, um morador de Pinhal, o Sr.
Osvaldo, mais conhecido por Russo, viajava constantemente para o
nordeste do país, levando e trazendo carga em seu caminhão. Sempre
que passava pelo estado da Bahia parava para descansar na cidade de
Gandu, localizada na região sul do estado, e ficava no bairro
chamado Dois de Julho, numa rua que tinha todos os tipos de
serviços de manutenção automotiva.
O Sebastião e o Luis Carlos eram proprietário de uma destas
oficinas de manutenção com serviços de mecânica, chapeação e
pintura. O Sr. Osvaldo, conhecendo os serviços feitos por eles,
convidava-os insistentemente para virem para o Pinhal abrir uma
oficina com ele, de serviços especializados. Eles resolveram aceitar a
proposta e conhecer a cidade. Vieram com ele de caminhão e ao
chegarem aqui, ficaram meio frustrados com o que viram. A cidade
tão comentada pelo Sr. Osvaldo era um distrito de Cidreira com
poucas casas e a maioria, fechadas, era de veranistas, pessoas que só
vinham para praia no verão. Também se assustaram com um frio
intenso como eles nunca tinham visto, e com o vento,
principalmente à noite.
Mas já estavam aqui, e o Sr. Osvaldo insistia que ia dar certo.
O prédio era bem localizado e eles começaram a trabalhar. No
momento em que os clientes começaram a aparecer, eles viram que
precisavam de ajuda e foram trazendo mais rapazes para trabalhar na
oficina. Em todas as viagens para o nordeste ele trazia dois, até
formar uma boa equipe de trabalho com mecânicos, chapeadores,
pintores, preparadores, montadores, e vendedores de peças
automotivas, entre outros.
O tempo foi passando e aumentando os clientes e a procura
pelos serviços prestados por eles. Então resolveram buscar as
famílias que ficaram na Bahia e passariam uma temporada por aqui.
Em 1º de setembro de 1994 chegamos a Pinhal. Era muito frio,
60
mesmo com os dias de sol intenso, mas gostamos muito da cidade,
que ainda era distrito, muito tranquila, as escolas perto, as crianças
podiam brincar nas ruas sem movimento de carros... Fomos bem
acolhidos pelos moradores da cidade. A Deane, nora do Sr Osvaldo,
foi uma parceira em todos momentos. Passeávamos muito e
fotografávamos tudo para mandar para os parentes e amigos que
ficaram. Pensávamos que logo voltaríamos para a Bahia.
O verão chegou e com ele muita gente. A cidade ficou cheia
as noites muito movimentadas as casas fechadas se abriram e fomos
aos poucos nos adaptando ao clima e ao lugar, conhecendo pessoas,
fazendo amigos. Morávamos todos juntos, as duas famílias, a do
Sebastião e a do Luis Carlos. No verão separamos. Cada família, com
quatro pessoas, foi para uma casa. Os solteiros eram doze ao todos
paravam na pousada da professora Maria Faistauer, onde faziam
muitas festas, deixando os vizinhos irritados com o barulho.
Eles se divertiam nos sábado à noite numa danceteria
chamada Blueiwe, que ficava no centro, ao lado do Osso da Baleia,
hoje Lancheria BisBis.
Aos domingos todos almoçavam juntos, fazendo muita
farra. Depois saíam para passear pela praia de bicicleta, pelas lagoas e
dunas. Tudo era festa e diversão.
As compras eram feitas nas fruteiras do Joel e no Pavão, lojas de
confecção e calçados que ficavam abertas no inverno a da Tucum
(Filha Única) e da Eneida.
Quando o verão passou, o movimento começou a diminuir,
alguns resolveram voltar, outros mudaram para outras cidades para
trabalhar, o Sebastião e o Luis já tinham conquistado sua clientela,
abriram sua própria oficina, a Oficina dos Baianos, e foram trabalhar
com os que ficaram e construíram suas vidas neste lugar.
As mudanças que ocorreram no município desde 1994
Meu nome é Juceli de Sousa, sou natural de Valença, região
sul da Bahia, moro em Balneário Pinhal, e esta é uma pequena parte
da nossa história.
Quando chegamos aqui em Pinhal, o distrito de Cidreira era
quase deserto no inverno. Havia poucos moradores, todos se
conheciam ou eram parentes. As ruas não tinham calçamento e os
colégios tinham poucos recursos. O posto de saúde só atendia de
61
segunda a sexta, das 9 às 17h. Os moradores mais antigos, não
conformados com o descaso do prefeito, resolveram criar o
movimento para emancipar e tornar Pinhal um município
independente. Em 1995 conseguiram emancipar Pinhal, que passou
a se chamar Balneário Pinhal. Daí em diante a cidade começou a
tomar forma e vem crescendo a cada dia em número de população e
infraestrutura.
Balneário Pinhal, aos quinze anos, não é só conhecida como
uma Praia de Amigos. É também a cidade das abelhas, a cidade mais
doce do Litoral Norte Gaúcho.
Sinto muito orgulho por ter participado dessa transformação
e crescimento deste município, que considero minha estância.
Homenagem especial aos baianos que passaram por Pinhal e
deixaram suas marcas ou lembranças; Luis Carlos Sebastião, Geilson,
Laerte, Evandro, Rasemar, (Ba) Edinaldo, Ramilton (Rambo), Nei,
Genildo (Gene), Renato, José Jorge (Ressaca) (Ninga) (Marajá)
Gerson e família .
Alguns dos baianos que vieram e criaram raízes nesta terra: Sebastião Ferreira e família, Luiz
Carlos Teixeira e família, Paulo Almeida Neto e família, Geilson Pires, Rosemar Bispo, Evandro
Varela, Edinaldo Santos e José Jorge da Silva
62
Memórias de famílias: o resgate da
história através de entrevistas
Maria Jaqueline de Moraes
Professora e alunos da turma 70 da E.M.E.F. Calil Miguel Allem
Balneário Pinhal/RS
O trabalho resgata aspectos gerais da história de nosso
município (primeiros comércios e serviços, moradores mais antigos,
transportes, beira mar, pesca, vestimenta, diversões, carnaval...),
através de entrevistas com pessoas mais antigas na comunidade,
resgate de memórias (narrativas) e apresentação de fotos arrecadadas
junto às famílias dos alunos. Tal projeto foi desenvolvido através de
atividades pedagógicas, a partir da motivação e orientação em sala de
aula, na disciplina de Língua Portuguesa.
Aluna: Alessandra Grazielle Miguel de Almada, aluna da turma 70 - 7ª ano
1) Nome: Iraci Santos de Oliveira
2) Idade: 71 anos
3) Tempo que reside em Balneário Pinhal: 45 anos
4) Como era o Balneário Pinhal antigamente?
Poucas casas. Quando ela veio morar aqui havia só três casas.
Era tudo mato e dunas. No lugar das casas era mato ou lagoa.
Quando ela foi fazer a casa dela, os pedreiros tiraram os peixes da casa
dela pra comer, pois a casa dela era uma lagoa. A água do mar ia até a
igreja. Os gados das fazendas invadiam toda essa área de Pinhal.
5) Como eram as ruas?
Cheias de mato, não tinham calçada, só era mato.
6) Como era a praia?
Natural, limpa, bonita, cheia de peixe, marisco. Não tinha
pessoa para poluir a praia.
7) Como as pessoas se sustentavam? Alguns eram
pescadores, outros trabalhavam em obras. Naquela época não tinha
emprego nenhum. Só começou a ter depois que começaram a
construir comércios, hotéis, mercados. Depois que começou a vir
mais gente pra cá. Ela por exemplo, já trabalhou em tudo. Tinha
poucos empregos, então os que apareciam ela trabalhava.
8) Quais eram os comércios? Não tinha. Depois de muito
63
tempo fizeram uma farmácia, que era a farmácia Teobaldo Matos. E
o armazém do seu Carmelo. Ela inaugurou o primeiro Bailão de
Pinhal.
9) Tinha muitos moradores? Poucos, por isso todos se
conheciam e se ajudavam. Só tinha dois carros em Balneário Pinhal e
eles eram velhos, feios. Um era sem banco, só tinha o do motorista.
10) As pessoas que vinham morar aqui eram todas gaúchas?
Não, tinha gente de todo o canto: catarinense, português, turco,
grego, italiano e espanhol.
11) Tinha iluminação pública? E água?
Luz era de gerador e só tinha até as 22h. A água era de poço.
12) Tinha escola, delegacia, posto de saúde?
Escola era numa igreja super pequena de uma peça. Só tinha
uma professora. Quando chovia a professora mandava os alunos
embora, pois tinha medo que a igreja desabasse em cima delas. Era só
até a 3ª série. Depois tinha que estudar em Porto Alegre. Quem não
tinha dinheiro não estudava. Ônibus era três vezes. Ele vinha pelo
mar e quando a maré tava cheia não tinha ônibus. Delegacia era uma
peça pequena, com dois policiais e um deles era o marido dela, o Sr.
Almedorino. Posto de saúde não tinha. As pessoas iam a Cidreira.
13) Quem foi o primeiro prefeito? Quantos anos ele ficou na
prefeitura? Foi o Furini e ficou oito anos.
14) O que sabe sobre Calil Miguel Allem ou de Calixto, como
era mais conhecido? Ele era libanês e foi um dos primeiros
moradores de Pinhal. Era casado e querido por todos. Era
proprietário da rodoviária, do hotel Estrela do Mar, que era grande,
todo de madeira.
15) Onde a escola Calil começou? No CTG Vaqueanos e era
bem pequena, com poucos alunos.
16) O que pode nos contar sobre o seu salão de bailes, o
primeiro “bailão” de Pinhal? Chamava-se “Salão duas irmãs”, tocava
fandango e música sertaneja; na época recebi conjuntos famosos:
Serranos, Danúbio Azul, Argel e Maria Leci, Portãozinho e
Chiquinha. Funcionava duas vezes por semana, sábado e domingo;
no sábado as bandas tocavam ao vivo e domingo som era mecânico;
começava às 20h e ia até as 8h da manhã. Tinha gente que vinha de
outras cidades, só para o baile. O salão era alugado para festas de
aniversário, 15 anos e casamentos.
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17) Tinha idade específica para
poder ir ao bailão? Não! Podiam ir
pessoas de todas as idades, os casais
iam e levavam seus filhos.
18) Quanto tempo durou? 10
anos. Fechou quando começou os
bares, botecos, os outros bailes e as
drogas.
Verley e Marlene, donos da primeira farmácia do Pinhal; Marona e Dalila, donos de uma loja de
roupa na época; Fátima: filha da Dona Araci e proprietária de uma loja de roupas em Magistério
(Caminhos das Ondas); Denizarte, marido da Fátima, foi sub-prefeito e Secretário de Obras de
Balneário Pinhal; Lena e Leonel (Fritz da madeireira - Comercial Fritz); Edite e Darci, pais do
Donizete; Iraci, dona do Primeiro Bailão do Pinhal (Salão Duas Irmãs) e uma das primeiras
moradoras; Ameldorino, esposo de Iraci - foi um dos primeiros policiais do Pinhal. Crianças: Tareco,
empreiteiro; Tukum foi a dona da primeira telefônica de Pinhal e hoje é proprietária da loja Filha
Única; Flávia, filha de Iraci, que foi Conselheira Tutelar e hoje é Agente de Saúde. Essa foto foi tirada
dia 15/ 03/1980.
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Senhor Almedorino e dona Araci dançando no baile
Um dos conjuntos que animava o baile
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Um bom exemplo é o meu padastro “Zé”, ele com o seu jeito
tímido conquistou a morena mais desejada da praia, “a minha mãe”,
que decidiu largar emprego, casa, família e vir embora para Pinhal,
morar com o seu grande amor, o Zé.
É, hoje vivemos felizes em Balneário Pinhal e amamos
morar aqui.
Balneário Pinhal há alguns anos atrás...
Aluna Kaliandra de Abreu, 13 anos, T 70
Bom, o que eu sei de Balneário Pinhal não é muita coisa. Eu
sei que em Balneário Pinhal existiam poucas casas e muitas dunas. As
pessoas adoravam ir para as dunas para brincar a para se divertir.
Também sei que, ali onde são as dunas hoje, já existem
muitas casas e ruas e mais outras coisas. Onde é a faixa, ali eram as
dunas, só que um dia de repente veio uma tempestade de areia e
soterrou as casas. Quase não deu tempo das pessoas saírem das casas,
mais pelo que eu sei muitas coisas foram perdidas; aí não deu
Um exemplo para mim
Anielly de Oliveira de Mello, 14 anos, T 81
Desde pequeno criado em condições não muito boas, José
da Rosa Muniz, hoje com 42 anos, morador fixo de Balneário Pinhal,
cultua as tradições de seu pai, Antônio Francisco Nunes, que foi o
primeiro morador de Figueirinhas, sendo um ótimo pescador e
dando exemplo de vida para muitas pessoas.
Zé Pescador, como é conhecido, hoje tem um sério
problema de saúde, que vem se agravando mais, devido ao tempo
que ele tem essa doença, chamada epilepsia. Ele tem essa doença
desde os dois anos de idade, mas isso não atrapalha ele de conseguir o
que quer: ser um pescador e ser um exemplo de vida hoje para muitas
pessoas.
Criticar todos criticam, mas nunca ninguém conhece as
pessoas realmente para dizer do que elas são capazes de conseguir o
que querem.
Tempo de tirar nada de dentro das casas, eu não sei se alguém
morreu; só que agora as dunas, estão lindas onde elas estão e eu
espero que elas nunca saiam dali.
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Eu também já sei que o mar já foi até o Gabi Lanches, só que
daí ele foi indo devagar pra trás, e agora chegou onde ele está.
É isso que eu sei de Balneário Pinhal, quem me contou foi a
minha vizinha, a Cintia Ingracio Pinto, da Madechave.
Entrevista com minha mãe
Giovani Martins Moreira, T 71
Nome: Terezinha de Jesus Martins
Idade: 60 anos.
1 - Quantos anos mora no Balneário Pinhal? Faz 22 anos.
2 - Porque veio para Balneário Pinhal? Mais emprego e
sossego.
3 - De onde veio? Porto Alegre. Morava em Sapiranga.
4 - Mora onde? Bairro do Sindipolo, na divisa de Costa do
Sol.
5 - O primeiro lar? Foi atrás da casa, o segundo foi duas
quadras depois de minha casa.
6 - Quantos filhos? Seis filhos.
7 - Trabalha em que? Doméstica, lado da casa.
Aluno Heleodoro Miguel Nunes Vargas, T 81
Nome da entrevistada: Rosa Vargas Borges
Idade: 57 anos
Rosa diz ter vindo a Balneário Pinhal com 29 anos. Ela já
mora aqui há 28 anos. Rosa mora em uma casa, hoje em um bairro
bem parado. O nome do bairro é Centro, Rua Bezerra de Menezes.
Em frente a sua casa se localiza uma praça. Ela diz que no lugar dessa
praça era somente dunas e nada mais, das dunas a sua casa a distância
era de 100 metros e eram cercadas de taquaras, para evitar que as
dunas invadissem as casas, com força do vento. Hoje em dia a
distância das dunas e sua casa é de 300 metros.
Relembrando um pouco do atual lugar que hoje em dia é o
centro de Balneário Pinhal, no lugar do parque era tudo local de
pizzaria e salão de danças, em frente o Osso da Baleia não havia
postos de saúde. O único lugar de atendimento médico era em
Cidreira; madereira só havia a Madechave, lojas de bazar em
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Cidreira. Perto da rodoviária havia um salão chamado Choupanas Bar.
Ônibus então era uma vez por dia, e o nome era o São José. Havia
baile no prédio do Osso da Baleia, em frente o mar; isso antes de ser
Mercado do Otacílio.
Balneário Pinhal evolui muitíssimo em 28 anos, tanto em
popularidade quanto em recursos materiais. Antes Balneário Pinhal
era um lugar esquecido por tudo e todos. “Hoje Balneário Pinhal é
gente perto do que era antes” - disse Rosa Vargas Borges. Ela é uma
senhora com muita experiência de vida e muito batalhadora. Eu me
“espelho” muitas vezes nessa pessoa.
Entrevista com minha mãe, Ana Beatriz
Aluno Luiz Gustavo da Silva, T 71
Quando eu era criança eu ia ao colégio, mas demorava
bastante pra chegar, porque nossa família morava no meio de uma
mata e tínhamos que atravessá-la.
Às vezes tínhamos que acordar de madrugada para ir ao
colégio (eu e meus irmãos) e chegávamos sempre molhados por causa
do sereno da mata, e quando chovia era bem pior.
Eu sempre era sozinha, sem amigos e sofria o que hoje é
bullyng, por ser gordinha, mas muito bonita. Acho que era um pouco
de inveja.
Eu adorava Roberto Carlos, Vanderléia, Erasmo Carlos, era fã
dele naquele tempo, e até hoje gosto dele, mas mudei bastante e esse
foi um pouco do meu tempo.
Aluna Sindi de Cassia Silva da Rocha, 15 anos, T 81
Bom, há oito anos atrás eu morava em Santo Antônio da
Patrulha, com o meu pai, que se chama Sérgio, e minha mãe, que se
chama Fabiana. Eu sou filha única e minha mãe não tem muita
vontade de ter outro filho.
Quando eu fiz sete anos meus pais resolveram se mudar para
Balneário Pinhal, pois a família da minha mãe morava aqui e do meu
pai também.
Primeiro nós morávamos lá perto do Asun. Logo depois nós
viemos para a rua da escola, onde eu moro até hoje, e eles me botaram
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para estudar no Calil. Foi tudo ótimo. Conheci muitas pessoas legais,
que eu falo até hoje. Naquele tempo, tudo parecia ser mais fácil.
Sempre tinha empregos, as pessoas eram mais próximas, não havia
muita fofoca como hoje há, as pessoas não inventavam tanta coisas
ruim das pessoas.
Meu pai sempre diz que no tempo dele, em que ele teve uma
danceteria que se chamava “Blue Wave” ele sempre diz que aquela
época foi a melhor da vida dele. Se eu não me engano, era por 70 ou
80. Ele diz não existia muita miséria, todo mundo tinha mesa farta e
não existiam muitos catadores de lixo.
Meu pai disse que meu avô, Seu Pedro Rocha (também
conhecido por Pedro Armador, Pedro Esteira) sempre foi um ótimo
pescador e que desde pequeno ele sempre gostou de acompanhar
meu avô nas pescarias. Eles se acordavam às cinco horas da manhã
pra ver o sol nascer e tirar a rede. Hoje em dia é meu pai que pesca e
vende o peixe. Ele trabalha em obras também, mas adora pescar. Já
fui inúmeras vezes com o meu pai pra praia, mas não pra ajudar a tirar
a rede, claro. Só pra observar e é lindo o que se vê.
Bom, resumindo, Pinhal é um lugar ótimo de viver, é
tranquilo e tem muitos amigos. Não nasci aqui, mas me sinto uma
parte muito grande daqui.
Nomes: Lecilda da Silva, 58 anos, e Juarez do Nascimento
Rodrigues, 55 anos
Profissão: Pescadores
Aqui no Balneário Pinhal não existia posto de saúde, para ir
ao posto tinha que ir a Cidreira.
Não existia água da Corsan; era de poço artesiano. Existia luz
até as 22h, fornecida por um gerador. O veraneio era intenso, de
dezembro a março. O fato marcante quando veio melhoria para a
escola Diogo Penha. Outro fato marcante foi quando a filha se
formou (professora Rita de Cássia Gaviraghi). O lazer era um
pequeno parque com um palco, onde era a diversão das pessoas. Aqui
era tudo dunas, existiam poucas casas. Os automóveis eram raros
aqui. O que mais tinha no dia a dia eram as carroças puxadas por boi.
A dificuldade era por médicos. Um bom farmacêutico próximo se
chamava Verley. Tinha farmácia no Osso da Baleia, a primeira
70
farmácia em Balneário Pinhal. O primeiro restaurante de Balneário
Pinhal foi o “Barra Vento” e a primeira Igreja construída em 1915,
chamada Igreja Nossa Senhora do Carmo, no Túnel. Dona Lecilda
conhece Balneário Pinhal há 46 anos. Morava em Viamão e veio pra
cá quando tinha 12 anos.
Nome: Lothar Klostermeier, 76 anos, caseiro.
No lugar do clube de pesca tinha sido construído um lugar
chamado “Mirage”, construção em 1962. No dia 23 de abril, os
fundadores do hotel Mirage, com cinco fundadores, um chamava
Staffani, vieram pra cá para pescar, construíram alguns quartos. Aí
foram aumentando os fundadores. Aumentou para 25 fundadores
que construíram no chalé 10 quartos. Aumentou os fundadores para
50 fundadores. Aí foram aumentando os quartos e os fundadores
resolveram montar um clube de pesca, fizeram um clube de torneios,
começaram a chegar sócios para alugar os quartos, chegaram a 100
sócios hoje. O calçamento era da Itália a farmácia Lima Duarte. Não
tinha supermercado, apenas dois, um do lado do pavão e outro
chamado Itapai: só lá tinha gás. Existia luz muito precária, carros
raramente: Ford ou Chevrolet.
Nossas Raízes em Balneário Pinhal
Aluna Fernanda Pereira Stormovski, T 81
Entrevistada: Joana Malinverno. Em meados de 1990,
Balneário Pinhal parava para tão esperava Festa de Santo Antonio.
Era a data em que se comprava e mandava fazer roupas novas, e não
se faltava a uma noite de baile. Para as crianças a atração era o
concurso Rainha dos Bonecos. Cada festeiro escolhia de três a quatro
meninas e quem vendesse mais votos levava o título. O dinheiro
arrecadado ficava para a paróquia. Os comércios da cidades eram
diferentes, como por exemplo o Samy. Era uma pequena fruteira, que
se localizava no atual Shopping Galeão. Nesta época as crianças
valorizavam outras coisas, como andar de carroça, brincar de areia e
de ser professora. Por volta de 1997 foi transferido para o Balneário
Pinhal o Osso da Baleia, que foi encontrada na antiga praia da
Cerquinha, hoje distrito Magistério. Ela foi encontrada por
71
funcionários do Daer, que há época construíram a rodovia RS 040,
que liga o litoral com Porto Alegre. Os funcionários trouxeram a
baleia da praia da Cerquinha para a praia de Balneário Pinhal, e então
resolveram por uma das costelas da baleia na esquina do centro.
Passando o tempo, o osso se deteriorou e muitas veranistas acabavam
levando pedacinhos como lembrança. As pessoas que cortavam os
ossos da baleia queriam na verdade trazer algumas peças de ossos
para expor na cidade, pois trouxeram uma vértebra que ficou em
frente ao edifício na praça, então passou a ficar conhecida como “
Osso da Baleia”
Nome: Pedro da Silva Pacheco, 60 anos, construtor civil
Suelen Maciel Lopes, T 81
1- Há quanto tempo você mora no Pinhal? Há 30 anos.
2- Como era Pinhal antigamente? Muito pequeno, mas era
movimentado no verão.
3- Quando você veio morar Pinhal já existia luz elétrica? Sim,
mas com motor.
4- E saneamento básico? Não.
5 - Porque você veio morar em Balneário Pinhal? Porque
meus pais moravam em Pinhal.
6 - Que lugares você costumava frequentar?
7 - Você se lembra do osso da baleia? Como era? Sim era uma
vértebra.
8 Existia escola na época em que você veio para Pinhal? Sim,
uma pequena escolinha que tinha na igreja católica.
9- Você estudou em alguma? Não
10- Qual seu grau de escolaridade? 5° ano.
11- Qual era o sistema hospitalar? Não existia. As pessoas se
deslocavam de Pinhal para o município de Osório.
12 - E como eram os comércios? Bares, e um mercado que
ficava no lado do clube.
13- Em que aspectos você acha que Pinhal melhorou? Na
educação, na saúde, no comércio.
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José Correia Rost: o
vendedor de puxa-puxa
Joice Gomes dos Santos
Professora de História
Balneário Pinhal/RS
O presente trabalho pretende fazer conhecer a história
vivida pelo senhor José Rost, vendedor de puxa-puxas que, apesar de
ter escolhido Santo Antônio da Patrulha para morar, demonstrou
através de sua trajetória ter adotado Pinhal como sua segunda casa.
Além de características pessoais, destacarei sua importância como
testemunha de mais de trinta anos de varaneios nos balneários de
Tramandaí e Pinhal; tempo em que conquistou muitas amizades e
que de forma improvisada, mas criativa; recitava versos encantando a
todos com sua simplicidade e originalidade.
José Correia Rost, natural de Caraá, era filho de agricultores,
senhor Dorvalino Correia Rost e de Clarinda José Rost. Nascido aos
vinte e oito dias do mês de novembro de 1951, em uma família
humilde que vivia essencialmente do cultivo de produtos como
aipim, batata, feijão, milho e também cana de açúcar, que mais tarde
passa a ser comercializada, gerando uma importante fonte de renda
para a família.
Único filho homem, era portanto o mais cobrado, aquele que
tinha de assumir responsabilidades desde muito cedo.
O trabalho pesado em lavouras e canaviais deixou algumas
marcas no menino José Rost, entre estas o fato de não ter tido a
possibilidade de seguir estudando. Com dificuldade conseguiu
frequentar até a 4ª série do Ensino Fundamental.
Para chegar até a escola mais próxima, de sua casa, fazia um
trajeto de aproximadamente 10 km a pé, e, após assistir à aula,
retornava para a lida nos canaviais, onde, por ser muito novo e
inexperiente, acabava se machucando quase que diariamente, sendo
esta atividade muito sofrida.
Deixou os estudos quando a necessidade de trabalhar fora
falou mais alto.
Seu pai, o Sr. Dorvalino, de tempos em tempos sofria de
perturbações mentais, tendo crises extremamente fortes. Quando
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este era acometido por estas crises, perdia a noção da realidade,
expulsava os filhos de casa e somente após alguns dias podiam
retornar.
José Rost e as três irmãs cresceram presenciando as crises do
pai, acompanhavam a polícia imobilizá-lo e removê-lo até o hospital
psiquiátrico São Pedro em Porto Alegre, sempre que ficava
transtornado.
Com isso, o trabalho pesado era ofício de José, que devia
trabalhar para suprir a falta do pai e garantir o sustento da família.
Com doze anos de idade já fazia carregamentos de cana de açúcar
para a empresa Açúcar Gaúcho S/A AGASA, se utilizando de
carretas e ou carros de bois.
Em uma dessas idas para a AGASA, José ouviu pessoas
falando que na praia havia mais oportunidades de trabalho e que por
lá podia se ganhar muito bem.
Foi num desses momentos que o menino que carregava cana
de açúcar conduzindo bois que eram maiores do que o próprio;
apresentando dificuldades inúmeras, resolve deixar a casa dos pais e
se aventurar, rumando para o litoral, em busca de melhores
condições.
Como todo início e devido à falta de conhecimento, foi
muito difícil sair sem rumo certo, contando apenas com a sorte para
lhe conduzir à realização de seus sonhos.
Apesar da pouca idade, José tinha determinação e espírito de
luta. Foi se utilizando do dito: “Quem tem boca vai a Roma”, que
chegou até a antiga rodoviária de Tramandaí, onde se alojou por
entre os bancos, portando apenas uma mochila com documentos e
uma peça de roupas.
Os primeiros dias foram desesperadores. Sentia frio, fome e
também medo por estar só, longe de casa. Mas, sem perder as
esperanças, José enfrentou com bravura tais situações adversas e em
seguida conseguiu um trabalho ali mesmo na rodoviária, como
engraxate.
Num primeiro momento tal atividade lhe entusiasmava, uma
vez que o pouco que ganhava garantia pelo menos duas refeições por
dia. Estabeleceu vários contatos, fez amizades e foi convencido de
que poderia ganhar mais desenvolvendo outras atividades.
Certa manhã apareceu na estação rodoviária um menino que
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aparentava ter a sua idade; entre 13 e 14 anos, que vendia doces e
rapaduras e conseguia vender muito bem. José fez amizade, quis
saber como o menino de nome João conseguiu aquele trabalho,
onde morava e quem fazia tais doces, além, é claro, de querer saber
quanto João conseguia ganhar em média pela venda dos doces.
José ficava fascinado com a atividade que desenvolvia seu
mais novo amigo; afinal era um trabalho que também poderia
desenvolver. Diante disso, João percebe que José demonstrava
interesse e se dispôs a levá-lo até a casa da senhora Maria Bertollini,
que acolhia os meninos com a finalidade de que estes vendessem os
doces feitos por ela mesma.
Após conhecerem-se, José Rost, finalmente, passou a ter um
lar. Inicia-se aí sua trajetória como vendedor de doces, rapaduras e as
puxa-puxas tão bem aceitas pelos moradores em geral.
Constituir-se vendedor
Com muita fé, José foi aos poucos se adaptando com a nova
situação que se colocava. Sem possuir nenhuma experiência no trato
com pessoas e com vendas, teve dificuldade, como timidez, falta de
conhecimento da cidade, o que por vezes ocasionava transtornos
por não saber voltar para casa.
Os meninos que estavam mais acostumados com a vendas
saíam bem cedinho e vendiam nas redondezas os doces com
facilidade. José, no entanto, saindo mais tarde, não obtinha êxito em
suas vendas, pois a clientela, sendo a mesma, já havia comprado mais
cedo. Isto sem dúvida deixava Dona Maria chateada, pois não vendia
quase nada.
Diante da situação, José percebe que para ter sucesso em
suas vendas precisava fazer algo diferente, teria de encontrar uma
maneira mais criativa para garantir boas vendas.
Os anos foram passando; José tornou-se um pouco mais
experiente, reconhecia que o resultado das vendas tinham de ser
positivos, pois antes do valor recebido pelas vendas, considerava
fundamental o fato de ter casa para morar, cama, roupas,
alimentação. Isto tudo fazia com que se dedicasse cada vez mais ao
trabalho que desenvolvia.
Certo dia, bem cedinho, José vai em direção às praias, sendo
que sua intuição foi exitosa, pois realizava boas vendas. Aos poucos,
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outros aparecem na praia vendendo uma série de objetos, gêneros
alimentícios, doces, balas e até mesmo puxa-puxas. Estes fatores
contribuíram para a formação de uma concorrência que mais uma
vez torna a atividade um pouco mais difícil.
José, por sua vez, enfrenta os obstáculos encontrados com
bravura e por ter crescido ouvindo um tio fazer trovas e versos
rimados, desenvolveu certa facilidade e capacidade de improvisação.
Resolve então também fazê-los como forma de se destacar dentre os
demais vendedores. Dessa forma, José conseguia fazer boas vendas e
bons amigos por onde passava, pois seus versos eram encantadores.
Dona Maria resolveu ensinar José a fazer seus puxa-puxas, embalálos e seguir vendendo e rimando porque a forma adotada por ele para
atrair a atenção dos clientes era original e muito criativa.
Algumas pessoas compravam para ajudá-lo, outras porque
ficavam gratas pela visibilidade dada a estes através dos versos. Dessa
forma é que José se constitui como vendedor de puxa-puxas,
consegue uma clientela fiel e amiga que esperava sempre pelo moço
dos versos, dispensando outros vendedores que oferecessem o
produto.
Chegava ao final do dia rouco de tanto falar, cansado de
caminhar, muitas vezes enfrentando chuva forte ou sol quente, mas
seguia firme e confiante de que aos poucos a situação melhoraria.
Animada com o sucesso das vendas, Dona Maria torna-se
mais atenciosa com José, criam laços fortes de amizade e de certa
forma isto gerou alguns conflitos entre os outros garotos que
vendiam menos, já que a preferência era pelo que vendia José Rost.
A partir do que foi apontando até o momento, vale considerar todo o
esforço, garra e persistência demonstrados por José até mesmo nos
momentos mais complicados, soube superar as dificuldades sem
perder o foco, sem deixar de sonhar.
É como propôs Thompsom (1997) quando disse: “[...] nada
nos garante que o que ganhou foi sempre melhor, ou o caminho mais
fácil é sempre o melhor caminho.
Com isso notamos que as atitudes do vendedor de puxapuxas foram sempre compatíveis com seus propósitos. Sendo assim,
demonstram-nos que para chegar à realização de nossos sonhos,
apesar dos obstáculos que por ventura surgirem no percurso, não se
pode em momento algum desistir da luta. Necessário é que
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encaramos a luta diária com coragem e firmeza de propósito, se
orgulhando do passado para poder projetar o futuro.
Com 18 anos de idade, José torna-se independente, pois ele
próprio fazia seus puxa-puxa e vendia-os com facilidade. Nesta
época, Dona Maria Bertollini, por motivos de saúde fragilizada,
decide acompanhar seus filhos que moravam no interior do estado
para realizar tratamento e descansar junto aos seu familiares.
Seus pupilos já adultos seguem diferentes caminhos. Alguns
retornaram à casa dos pais, outros, como José, continuam com as
vendas de doces e puxa-puxas.
Relações familiares
Em meados de 1969, José conhece aquela que seria a mãe de
seus filhos, casaram-se e foram morar na cidade de Osório, onde
devido às responsabilidades aumentadas, passou a trabalhar como
vigilante no Parque Marechal Osório.
Paralelo a isto, José continuava aos finais de semana
vendendo seus puxa-puxas em festas e bailes, para garantir as
condições mínimas de sobrevivência à sua família.
Este casamento durou dezesseis anos. Devido às cobranças e
aos constantes desentendimentos, resolvem separar. José fica com a
guarda dos filhos e com a certeza de que o sol viria após a
tempestade.
A rotina de José se tornava cada dia mais árdua, já que tinha
sob sua responsabilidade seus filhos, aluguel, enfim. Nos finais de
semana José seguia vendendo seus puxa-puxas para completar sua
renda.
Ao longo de sua trajetória, José desempenhou outras
atividades, como pedreiro, vigilante, segurança de bailes. Ttambém
trabalhou em fábricas de calçados e foi desta forma que viu seus
filhos crescerem e se tornarem independentes.
Passado algum tempo, José Rost encontra Cinara, com quem
inicia um novo relacionamento. Os atritos com os filhos de José
foram inevitáveis num primeiro momento, mas aos poucos foram se
firmando laços de amizade, respeito e dedicação entre a nova família.
Cinara é uma mulher forte. Quando criança foi deixada na
porta da casa de uma família em Osório, onde cresceu sem conhecer
seus pais biológicos. Portanto, desde cedo trabalhou como
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empregada doméstica, sendo muito explorada pelos lugares que
passou.
Ao encontrar José, sua vida mudou, encontrou uma família, à
qual se dedicou muito. Da união com Cinara, José teve mais uma filha,
Graciéle, hoje com 17 anos, como pode ser visto na fotografia
abaixo.
Escolheram Santo Antônio da Patrulha para fixar residência,
exclusivamente pela questão do emprego, não tendo nada a ver com a
fama de “Terra da Rapadura”.
José Rost e Pinhal - uma relação de amor
Enquanto José ganhava a vida trabalhando em fábrica de
calçados, Cinara preparava as puxa-puxas para que nos finais de
semana pudesse vendê-las aos amigos, moradores e veranistas da
praia do Pinhal.
Por falar em Pinhal, importante é relatar todo o carinho que
José, o vendedor de puxa-puxas, teve pela cidade e praia, onde sentiase acolhido. Além disso, fez muitas amizades, considerava Pinhal seu
segundo lar, além é claro de conquistar uma boa clientela.
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José Rost reconhecia que suas vendas melhoraram e muito a
partir do momento em que ganhou de uma veranista um mega fone,
o que muito contribuiu para que continuasse a se inscrever na história
de Pinhal através da utilização de sua voz.
Muito realizado com o carinho da amiga, José considerou
importante o resultado do seu gesto para a atividade que desenvolvia,
pois não teria condições de adquirir um megafone e tinha a
necessidade de continuar trabalhando. Além disso, preservava sua
voz, que por muito tempo foi seu instrumento de trabalho.
A história vivida por José Rost é uma de muitas histórias de
luta e coragem na busca por dias melhores. Precisam ser contadas,
registradas e compartilhadas com todos e principalmente com a nova
geração de historiadores que surge, demonstrando a estes que nosso
papel é uma tentativa de recuperar lágrimas e risos, desilusões e
esperanças, fracassos e vitórias, resultados de que estes sujeitos que
estão inseridos na sociedade enfrentando situações adversas, muitas
vezes parecem estar invisíveis para o corpo social, como descreveu
certa vez o poeta Ferreira Gullar.
O mesmo ainda acrescentou dizendo que “o canto não pode ser
uma traição a vida e só é justo cantar se o nosso canto arrasta as pessoas e também
as coisas que não tem voz.”
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De tudo isto fica a motivação para seguir dando voz aos que
constroem suas vivências a partir de situações cotidianas. Não
figuram nos livros como heróis, personalidades ou grandes vultos.
Entretanto, estarão sempre contribuindo para que o saber ultrapasse
as barreiras do que pode ser comprovado cientificamente e se assente
por meio de projetos que têm a finalidade de dar voz às pessoas
comuns, ao estudo de caso, como o “Raízes” dos municípios do
litoral.
De posse do seu megafone, José amplia sua clientela e
consequentemente suas vendas, dedicando diferentes versos a quem
se dispusesse a ouvir, como os que seguem:
Olha o puxa-puxa
Tropical e gravação
Vendo no Pinhal, Cidreira e Praia do Quintão.
Você corre atrás do peixe
De caniço, rede e anzol
Alegrando as veranistas
Do Pinhal à Costa do Sol.
Olha o puxa-puxa
Na maré alta e maré mansa
Vendo para os adultos e
Também para as crianças.
Olha o puxa-puxa
Vem chegando novamente
Quem comer meu puxa-puxa
Está sempre alegre e contente.
Olha o puxa-puxa
Puxa-puxeiro no Pinhal
Vamos comer bastante
Pra pular no carnaval.
Olha o puxa-puxa
Puxa-puxa colorido
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Você fica satisfeito
E eu fico agradecido.
Olha o puxa-puxa
Puxa-puxa estou rimando
Vem comprar meu puxa-puxa
Que agora vem chegando
Olha a puxa-puxa
Puxa-puxa estou vendendo
Enquanto você descansa
Eu estou me defendendo.
Olha o puxa-puxa
Vai passando puxa-puxeiro
Quem não comprar meu puxa-puxa
É porque não tem dinheiro.
Olha o puxa-puxa
Puxa-puxa vitaminado
Faz bem para os gremistas
E também para os colorados.
Olha o puxa-puxa
Puxa-puxa que é tão bela
Vendo para a garota
Espiando na janela.
Olha o puxa-puxa
Puxa-puxa enquanto é bom
Compre logo o puxa-puxa
Para comer com chimarrão.
Olha o puxa-puxa
Puxa puxeiro se mexe cedo
Desejo felicidades ao
Garotinho João Pedro.
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Olha o puxa-puxa
Puxa-puxeiro que não anda muito ligeiro
Desejo felicidades para o servente e o pedreiro.
Olha o puxa-puxa
Puxa-puxa vai e vem
Desejo felicidades
Para os amigos do 'Cidadão Quem'.
Apesar de toda força de vontade, toda garra e perseverança,
José também sofreu com o preconceito de algumas pessoas, que se
utilizavam de xingamentos e ofensas para demonstrar mau humor,
incompreensão e falta de consideração com o outro que, somente
por existir, já merece respeito e, de mais a mais, estava o senhor José
trabalhando honestamente.
Desenvolveu a atividade primeiro por necessidade, e por fim
porque fazia o que gostava, se alegrava com as pessoas. Sentia-se feliz
por fazer sorrir e também por ter encontrado em sua trajetória
pessoas que realmente fizeram a diferença, possibilitaram-lhe o êxito
na vida pessoal e profissional.
Devido à saúde debilitada, José encerrou sua caminhada
como vendedor no verão de 2008, quando iniciou tratamento
contínuo para combater a Hepatite B.
Com 58 anos de idade, em 11 de setembro de 2009, José
Correa Rost não resistiu, vindo a falecer no hospital da Santa Casa em
Porto Alegre.
Deixa saudades, mas também boas lembranças e grandes
ensinamentos. Não mais poderá percorrer as praias e rever os amigos,
mas certamente continuará no imaginário daqueles que acreditam
que na vida, para se ter sucesso, é preciso de muito trabalho e
coragem.
Ao longo deste trabalho, tentei mostrar a importância da
figura do senhor José Rost para a construção de uma nova
abordagem historiográfica, onde os estudantes, principalmente os
dos cursos de História, possam olhar a sua volta, voltarem-se aos
ensinamentos de Jacques Le Goff acerca da memória, passem a dar
voz às pessoas desprovidas de instrução e informação, mas que
82
possuem o fundamental, a memória, isto é, o retrato de uma época da
qual viveram.
Lembrando sempre que em uma investigação histórica,
partimos do presente e nos remetemos ao passado através da
memória, colhemos informações importantes para a análise do
objeto de estudo, e após retornamos ao presente a fim de
compreendê-lo e dar movimento à História.
As informações contidas neste trabalho foram resultado de
entrevistas feitas com o senhor José Rost, sua esposa Cinara e a filha
de Graciele, em setembro de 2005.
Como cheguei ao Balneário Pinhal
Jacira Maria Franco
Aposentada
Balneário Pinhal/RS
Conhecemos Balneário Pinhal através de meu sogro Mario
Rios Franco, que deve ter vindo pela primeira vez há mais de oitenta
anos. Antes dele, seu pai espanhol já vinha.
Sou natural de Encantado/RS. Saí de lá muito nova, morei
em Canoas e após em Porto Alegre. Sempre veraneamos no
Balneário Pinhal. Adorava! Mas adorava veranear, mesmo! Meu
marido começou a trabalhar aqui há mais de 25 anos e eu trabalhava
no Ministério da Saúde. Então, nos víamos somente no final de
semana.
Hoje sinto saudades daquele tempo em que as dunas
entravam em nossa casa. Ao chegar, todos precisavam ajudar a tirar
areia, pois a cozinha ficava intransponível. Que expectativa! Tudo
que é adolescência carrega saudades. Era o não fazer nada. Nada!
Hoje ficar ociosa vendo televisão, já me vejo perdendo tempo,
desperdiçando segundos, jogando tempo pela janela. Meu
metabolismo, hoje letárgico, me impede de vasculhar a geladeira
como nas férias de adolescente, quando me empanturrava de leite
moça como se não houvesse calorias no mundo. Nunca pensei em
83
morar aqui. Dizia: nunca vou me aposentar, assim tenho um motivo
para não ir morar na praia. Mas, o óbvio aconteceu. E, chegando
nessa cidade querida, que antes nem era tão querida assim, custei a me
adaptar. Afinal trabalhei trinta anos em plena Borges de Medeiros,
coração de Porto Alegre. Adorava o movimento, o empurra,
empurra, lojas, confusões. Hoje, quando tenho que passar dias longe
do Balneário, me sufoco, preciso voltar, quero voltar, pois amo morar
aqui.
No fundo, todos querem qualidade de vida, relações
pessoais, capacidade de se comunicar, de compreender e se fazer
compreender. Tenho isso tudo aqui. Um mar lindo, ainda que nem
sempre tão azul, festas e amigos. Ah! Os amigos! Eles são especiais.
Na rua, os carroceiros me cumprimentam pelo nome o que me enche
de satisfação. Ser amigo, amigo de todos. Sei que quando aqui
cheguei, era, digamos desabitado. Mas chegou a emancipação e, com
ela, homens dispostos a enfrentar preconceitos e pensar em
desenvolvimento. Conseguiram.
Hoje nosso Balneário é uma cidade. Temos aqui quase tudo o
que precisamos. Uma vida em harmonia com a natureza e com a
razão humana. Gestores com justiça, coragem e autocontrole, que
são consideradas virtudes fundamentais.
84
Segundo Epícuro (321-271 a.C), “a mais alta felicidade
consiste em uma vida cheia de prazer e alegria, sem dor, medo ou
inquietação.”
Amigos, temos aqui. Por vezes nos queixamos de algumas
coisas, mas em tão pouco tempo Pinhal se tornou um paraíso. Na
minha casa, os pássaros voam sem pedir licença. Minha horta cresce
me saudando e não tenho coragem de comê-las, de lindas que são.
Minha jornada é bem ativa. Falta tempo. Preciso ler (amo), ver um
bom filme, escrever matérias semanais para o Jornal Pinhalense,
escrever minhas palestras para a Sociedade Espírita onde vou duas
vezes na semana, por três horas, ver amigos, usar da reciprocidade,
afetividade, comprometimento e consistência.
Numa cidade grande, esbarram ou desviam de nós. Aqui
você ganha bom dia até de desconhecidos que, na verdade, se
consideram irmãos por termos orgulho de morar no mesmo lugar.
Talvez não tenhamos trabalho para todos que aqui vivem, pois nossa
economia não é consolidada. Mas temos alguns pré-requisitos que há
alguns anos não existiam. Temos faculdades, colégios e sempre falo:
só não estuda aqui no Balneário quem não quer. Por alguns dos
motivos acima expostos e outros não citados, é que gosto, amo sentir
o cheiro do mar, caminhar tranquilamente, receber saudações. A
85
sensação que tenho de tudo isso é que a semente foi plantada, está
florindo e dando frutos. Acredito que não é por acaso que estamos
aqui. Aqui nessa praia abençoada, fomos escolhidos, e agradeço a
Deus por me dar esse cantinho de luz, paz e amor.
Omar Quintanilha: um grande homem,
um grande avô e sua trajetória
Vanessa Mesquita Quintanilha Kreceski
Professora
Balneário Pinhal/RS
Escrevo essa história não só para homenagear esta cidade
que tanto gosto e que também escolhi para morar, mas também para
homenagear pessoas muito importantes para mim, como meu avô
Omar Quintanilha e meu pai Genilcio Quintanilha.
86
Vou contar aqui as raízes de Omar Quintanilha e sua família,
que vieram para Pinhal (assim chamado na época, quando ainda
pertencia a Tramandaí) há quarenta anos atrás.
Meu avô nasceu numa barraquinha à beira mar, em Cidreira,
na madrugada de 02 de novembro de 1927, e recebera este nome
porque ao perceber que estaria dando a luz sua mãe olhou para o mar
e pediu que se corresse tudo bem seu filho se chamaria Omar.
Ele cresceu no rancho velho, casou-se e formou família. Em
1970, segundo minha avó Deolinda Quintanilha, eles vieram para
Pinhal para trabalhar; ela no clube de pesca com o Sr. Osório, como
auxiliar de cozinha, e meu avô como pipoqueiro para o proprietário
do Mercado Reis. Assim escolheram Pinhal para morar e criar seus
filhos. Então comprou um terreno da Imobiliária Pinhal, em 36
prestações, e trouxeram sua casinha de madeira puxada por um
trator. Contam que não havia água encanada, não tinha luz, e que não
tinha infraestrutura. Mesmo assim era um bom lugar para morar.
Vovô foi o primeiro e único pipoqueiro morador de Pinhal
com registro de vendedor ambulante de pipoca, datado de 24 de
dezembro de 1973. Ele trabalhou dois anos em conjunto com o
senhor do Mercado Reis, e, após, decidiu ter seu próprio negócio.
87
Então foi a Viamão e comprou material para construir seu próprio
carrinho de pipocas madeira, folha de alumínio, vidros, panela.
Conta meu pai que foi meu avô que construiu a tampa de sua
primeira panela de pipocas.
Ele trabalhava durante o dia de carroça, fazendo aterros,
carretos, cortando junco, etc., e à tardinha se dirigia para o centro
para vender suas pipocas.
Meu tio Cleomar Quintanilha (que também contribuiu para
que eu escrevesse esse texto) e meu pai contam que tinham que
ajudar o vô a levar o carrinho, pois não havia estrada. Tinha apenas
calçamento até o clube de pesca e depois eram dunas. Só podiam
locomover-se pela praia, onde eles precisavam empurrar o carrinho e
até mesmo puxar com corda para conseguirem chegar ao seu destino.
Contam que era muito bom, naquela época, e que quando era
carnaval, festa de Iemanjá ou outras atividades, iam até tarde da noite
vendendo pipocas.
Para ajudar em casa, meu pai e meu tio trabalhavam como
táxi de carroça, na rodoviária, transportando as pessoas até
Magistério e Quintão; também faziam carretos. Contam que também
tinham que trabalhar rigorosamente dentro das normas de proteção
aos animais, pois havia uma senhora que fiscalizava.
Meu pai conta também que meu avô, ele, e seu primo Nena
foram os primeiros a trabalharem como pedreiro, tendo também o
registro de pedreiro.
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Meu avô era uma pessoa muito justa (adorava esta palavra, e
mesmo doente não deixava de pronunciá-la), honesta, respeitada,
não gostava de maldades, fosse com pessoas, animais e ou plantas.
Era membro da Igreja Evangélica Assembléia de Deus.
Meu avô trabalhou muito. Foi pipoqueiro, pedreiro,
trabalhou no calçamento de ruas e, por último, era caseiro de alguns
veranistas que o escolhiam com muita confiança para cuidar de suas
casas.
89
Com seu trabalho e esforço, meus avôs compraram outros
terrenos e construíram casas de aluguel.
Gostava de andar de bicicleta pela cidade, passear com seus
cachorros, e, mesmo com idade avançada, não se deixava abater e
continuava trabalhando. Lembro de meu pai e meus tios lhe dizendo:
- chega pai, você não precisa mais disso, é perigoso ficar subindo em
árvores para podá-las, não corte grama no sol, não isso, não aquilo. E
ele muitas vezes chorava dizendo: - quero fazer. Será que não presto
para mais nada? Vou fazer.
Minha avó, meu pai e o tio Cleomar, contaram-me que havia
muito poucas casas aqui; eram muitas dunas. Os comércios
existentes, na época, eram o Ponto Chave, o do Sr. Faistauer, o Clube
de Pesca, a padaria Santo Antonio, o Hotel Estrela do Mar e outros.
Contaram-me, também, que a entrada de Balneário Pinhal foi
modificada três vezes pelas dunas. Ou seja, o atual é o terceiro trajeto.
Meu pai também contou que foram eles que removeram as areias do
local, onde hoje é a Praça Osso da Baleia.
Meu avô nasceu aqui por perto, escolheu esta cidade para
viver e, também, para partir, nos deixando cheios de saudades.
Quando meu avô adoeceu, já no último ano, o levamos para Palmares
para a sua chácara, da qual também gostava muito, pensando que era
lá que ele gostaria de ficar. Porém pediu para vir embora e, no dia
seguinte, 26 de janeiro de 2009, ele partiu.
Somos hoje uma família numerosa em Balneário Pinhal. Ela
é constituída de seis filhos, quatorze netos, quatro bisnetos. Todos
nós escolhemos esta cidade para permanecer morando, construir
nossas famílias e estamos vendo-a crescer. E, acima de tudo, somos
90
todos orgulhosos de nossas raízes e de nosso patriarca Omar
Quintanilha.
Agradeço a contribuição de minha avó Deolinda
Quintanilha, meu pai Genilcio Quintanilha e meus tios Cleomar
Quintanilha e Sirlei Quintanilha de Borba, para escrever a história
do meu avô e homenageá-lo.
Fotos antigas e o bilhete de um veranista que alugava a casa
91
Seis homens e uma família
Aurora Ramos Lopes
Moradora
Balneário Pinhal/RS
Sou Aurora Ramos Lopes, tenho 77 anos, casada há 61 anos
com Honório Teixeira Lopes, mãe de seis filhos (dois já falecidos),
avó de 14 netos e bisavó de 11 bisnetos, moradora do Balneário
Pinhal no mesmo endereço desde 1969.
Vou relatar sobre a chegada da minha família aqui nessa
região litorânea, no ano de 1954.
Viemos de Santana do Livramento, cidade que faz divisa com
Rivera, Uruguai, uma distância de mais ou menos 600 quilômetros,
que para época era como mudar-se para outro estado, com sotaque e
costumes diferentes, que fomos dividindo e aprendendo com as
famílias que íamos conhecendo e tornando-se amigas. Éramos
citados “os castelhanos”.
Chegamos aqui um grupo de pessoas, entre parentes e
amigos, trazidos pelo tio do Honório, Pedro Alcântara Teixeira, ainda
vivo, que veio para administrar a enorme Fazenda do Pinhal. A sede
da fazenda era onde hoje é a firma da Flosul, no Túnel Verde.
Eu era a única mulher do grupo, casada, com dois filhos
pequenos (dois e quatro anos) e grávida do terceiro. Fixamos
moradia na Rondinha, que era parte da fazenda, localizada há mais ou
menos oito quilômetros daqui, à esquerda, em direção ao Túnel
Verde e três quilômetros distante da estrada. Estrada essa de difícil
acesso, pela qual era feito o transporte de ida e vinda até a capital
(Porto Alegre), hoje RS 040.
Moramos na Rondinha doze anos. Tive em casa o filho que
esperava, com ajuda da parteira, e depois os outros três.
Para quem chegou de uma região distante, da campanha, de
costumes e hábitos diferentes, encontramos aqui um povo acolhedor
e amigo, que aos poucos foi se tornando parte da nossa família, pois a
nossa de sangue estava muito distante. Notícia era rara, por carta e
com toda dificuldade. Era só saudade e eu tentava me conformar,
porque estava diante da família que tinha formado: marido e filhos, e
92
havia encontrado pessoas prestativas, bondosas e amigas; fica difícil
citar nomes, pois são muitas e algumas já não estão mais entre nós.
E com uma vida pela frente a seguir, seis filhos para criar e
educar, com toda dificuldade que fazia parte da época. Transporte,
carros... eram poucos os moradores que tinham, então os recursos
eram cavalo, carroça ou carreta; água de poça, luz de vela, fogão à
lenha, banho de bacia, remédio caseiro e muita benzedura, que com
fé, curava. Enfim, tantas outras coisas que só quem viveu naquela
sabe o quanto era difícil.
Aí foi que a Praia do Pinhal, hoje o município do Balneário
Pinhal, começava a contribuir na renda das famílias da zona rural.
A palavra turismo existia só no dicionário e não se imaginava
que ela seria a grande transformação do futuro e que a partir dali tudo
estava iniciando, pois as férias de verão já eram aguardadas, porque já
tinham as famílias que vinham da capital passar a temporada,
veranear, aproveitar a praia e o banho de mar, traziam seus
mantimentos necessários, pois aqui era difícil de encontrar e mais
caro.
Mas o leite e as hortaliças eram os moradores do campo que
se preparavam com os plantios, para colher e ir vender na praia. Os
quitandeiros, como eram chamados, sortiam sua carroça ou carreta
de tudo que colhiam: frutas, verduras, legumes, ovos, banha de
porco, se possível até carne fresca e alguns quitutes feitos pelas
esposas: pães, biscoitos, bolachinhas de milho, rapadurinhas... tudo
que podia ser vendido e os clientes eram certos, aguardavam e alguns
deles queriam ser os primeiros para fazer a melhor escolha.
E o Honório, que tinha umas vacas leiteiras, também ia
vender leite para eles. Foi o segundo leiteiro da praia. Como recordo!
Não vou dizer com saudade, mas com a responsabilidade que
tínhamos em acordar cedo dia após dia, nas madrugadas, muitas frias,
outras chuvosas, com os guris mais velhos, ir para a mangueira,
manear as vacas, tirar o leite, coar, engarrafar e ter o cuidado ao
colocar na carroça ou na mala de garupa para não quebrar os litros.
Isso é apenas uma parte do que passei. Teria inúmeras citações
verídicas vivenciadas por mim para contar.
Quando que eu, com 21 anos de idade, saindo da minha terra
natal casada, com dois filhos e o terceiro na barriga, imaginaria que
não voltaria nunca mais para ali morar? E para onde estava indo?
93
Sabia que era próximo do mar. Mar?! Quem conhecia? Com tanta
distância, no pouco que tinha estudado, aprendi que era uma enorme
extensão de água e que era salgada. E como diz o velho ditado:
“Quem bebe da água do mar, não vai mais embora.”
Para mim e à minha família foi verdade. Esta praia nos
acolheu e nós a escolhemos para nela morar e viver honestamente.
Não ficamos ricos de dinheiro, mas a nossa riqueza foi a família que
constituímos, que está na quarta geração, e os amigos sinceros que
fizemos e mantemos até hoje, graças a Deus!
Obrigada aos organizadores deste evento, em especial a
Maria Faistauer, particularmente minha amiga, por permitir esta
oportunidade e poder dizer: eu também fiz parte do “Raízes de
Balneário Pinhal”, com uma pequena parte da história da minha
vida. Muito obrigada!
Antônio Leopoldo Baierle e
Balneário Pinhal: uma história de
amor que vale a pena ser contada
Maria S. Baierle
Secretária Executiva
Balneário Pinhal/RS
Quando compraram uma casa na praia mais próxima de
Porto Alegre, no dia 13 de junho de 1984, a ideia do casal Gladis e
Antonio era apenas ter um lugar para passarem os finais de semana,
pois ainda trabalhavam em Porto Alegre e costumavam ir a Pinhal
nas férias, hospedando-se em casa de amigos ou pousadas.
No verão de 1997, já aposentados, decidiram fixar residência
no Balneário, pois Gladis foi convidada para exercer o cargo de
Diretora da Escola Municipal Calil Miguel Allem. Começou aí o
envolvimento de Toninho - como era chamado - com a comunidade.
94
Participava das atividades da escola e ajudava no que podia, até
plantando verduras para a sopa das crianças. A vontade de cooperar
com a esposa fez com que ele conhecesse melhor as crianças da vila
próxima à escola e suas famílias, mas sua vontade era ajudar a
comunidade de forma mais abrangente. Com seu jeito simples e
comunicativo, foi tratando logo de ampliar seus relacionamentos,
conhecer pessoas e conquistar amigos. Uma de suas primeiras
iniciativas foi fundar a Associação Protetora dos Animais, que ainda
não existia em Pinhal, preocupado com a defesa de animais
maltratados, muitas vezes por seus próprios donos.
Foi agente de jornais da região. O primeiro foi a Folha de
Capivari e, posteriormente, a Folha de Palmares. Era responsável
pelas notícias de Balneário Pinhal e Cidreira, que enviava para
veiculação. Fazia questão de distribuir os jornais, entregando-os na
mão do próprio assinante, ocasião em que dizia: “Vou te dar a notícia
de cocheira”. Dona Aurora, moradora antiga, lembra que já o
esperava com um cafezinho e pão feito em casa, seguido de uma boa
prosa. Assim, foi conhecendo também veranistas que assinavam os
jornais e fazendo amizade com muitos deles. Paralelamente, ajudava a
Brigada Militar como fotógrafo oficial, fotos que publicava na página
policial do jornal. Com seu jeito brincalhão, fazia os meliantes se
arrumarem para “aparecer bonito no jornal”, como dizia aos mesmos
na hora de bater as fotos.
Mas, sua preocupação maior era com as crianças,
principalmente as carentes e desprotegidas, razão pela qual participou
da criação e fundação do Conselho Municipal dos Direitos da Criança
e do Adolescente COMDICA - de Balneário Pinhal. Na primeira
gestão da entidade, foi vice-presidente. Seu empenho e dedicação
motivaram, na gestão seguinte, sua eleição para presidente, cargo que
ocupou em dois mandatos, até o ultimo dia de sua vida. Vale lembrar
também a parceria do COMDICA com a Brigada Militar no
Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência PROERD, no qual teve ativa participação.
Foi um dos idealizadores do projeto da Casa de Passagem,
tendo em vista que a sede da mesma, naquela ocasião, era em uma
pequena casa alugada, que muitas vezes não tinha espaço suficiente
para abrigar as crianças.
Quando tomou conhecimento do Programa FIA - Fundo da
95
Infância e Adolescência - patrocinado pela Petrobrás e destinado a
projetos sociais, tratou logo de cadastrar a obra da Casa de Passagem
de Balneário Pinhal. Nos meses seguintes, foi várias vezes a Osório
para saber como estava o andamento de sua solicitação. Em
dezembro de 2004 recebeu a notícia da aprovação por parte da
Petrobrás. No dia 28 do mesmo mês, como presidente do
COMDICA, foi à sede da empresa, no Parque Osório, juntamente
com o Prefeito de Balneário Pinhal, onde assinaram o Convênio de
Parceria entre a Administração Municipal, o COMDICA e a
Petrobrás.
A obra começou no dia 7 de março de 2005, na Rua do Sol,
423. Ele estava muito feliz, animado e cheio de planos, querendo
participar de todas as etapas da construção. Infelizmente não pode
ver a execução, nem a conclusão da obra. Faleceu no dia 8 de março,
um dia depois. Tinha manifestado aos amigos sua vontade de que a
entidade se chamasse Santa Rita de Cássia, porém, por unanimidade,
a Câmara de Vereadores aprovou um projeto que havia sido
apresentado sugerindo o nome de Casa de Passagem Antonio
Leopoldo Baierle. Foi uma homenagem que julgaram ser justa a
alguém que trabalhou com disposição e entusiasmo pela causa das
crianças e adolescentes da comunidade.
A inauguração ocorreu no dia 18 de julho de 2005, às 16
horas, e contou com a presença do Prefeito Municipal, Secretários
Municipais, representantes da Petrobrás, membros do COMDICA,
Promotor da Vara da Infância e Juventude de Tramandaí, demais
autoridades, familiares e amigos de Antonio e pessoas da
comunidade. Mais tarde, o nome mudou para Casa de Acolhida
Antonio Leopoldo Baierle, administrada pela Prefeitura Municipal,
que dá todo apoio e assistência a crianças e adolescentes necessitados
de ajuda por problemas familiares ou de outra natureza.
De algum lugar, Toninho está vendo seu sonho realizado,
agradecendo à comunidade que o acolheu com tanto carinho e onde
ele foi muito feliz.
96
Minha história em
Balneário Pinhal
Sirlei Francisca da Silva Andrade
Professora
Balneário Pinhal/RS
Em 1998 foi meu primeiro passo nesta cidade, pois comecei
com um contrato para dar aula para primeira série na escola Calil
Miguel Allem. Trabalhei durante um ano nesta escola onde a
Secretaria de Educação atual era supervisora e a diretora era a Gladis.
Na abertura do ano letivo a supervisora Neusa era a nova Secretaria
de Educação e me convidou para fazer parte do quadro da escola das
Figueirinhas.
Fiquei preocupada para não dizer assustada, mas perguntei: como faço para chegar até lá? Ela me respondeu sorrindo diga que
sim que farei com que chegues até lá.
Foi um experiência bastante significativa para minha
aprendizagem, lá conheci a Elisa que era a Diretora, professor
Alberto hoje vereador desta comunidade e professor Ronaldo.
Em 2000 foi realizado concurso e novos profissionais vieram
até nossa escola. Alguns não se adaptaram e foram embora. Mas, o
professor Cristian ficou e me fez companhia nesta caminhada, pois
muitas vezes caminhamos a pé da prefeitura velha até a escola e no
caminho conversávamos muito sobre nossos alunos e até orações
fazíamos durante este trajeto. A clientela era barra pesada, pois eram
alunos com defasagem em idade e série. Alguns se recuperaram
outros se perderam. Ao longo desta caminhada veio integrar o
quadro, a psicopedagoga Elisete que acrescentou muito neste
processo de aprendizagem.
Na escola tinha duas alunas surdas e nós não conseguíamos
comunicação com elas, na época eu cursava pedagogia na ULBRA
Canoas e lá descobri que tinha curso de libras, comentei com a Eliete
e ela não teve duvidas e disse vamos fazer o curso. Lá fomos nós,
começou então o encanto pela classe especial, digo por crianças com
características diferentes, o grupo da escola Figueirinhas começa
então a fazer o curso de classe especial oferecido pela APAE em
97
Osório.
Licenciada em Pedagogia / Supervisão Escolar retornei
para a Escola Calil, ficando mais algum tempo e novamente fui
enviada para a escola das Figueirinhas.
Hoje trabalho com uma turma com dificuldades, defasagem
idade e série e alguns portadores de características diferentes.
Acredito muito no potencial do Ser Humano e cada vez mais sinto a
importância de estarmos preparados para trabalharmos com
educação; esta é coisa séria que deve ser repensada.
Hoje faço parte da escola Antônio Francisco Nunes, nas
Figueirinhas, e posso dizer que tenho orgulho de fazer parte desta
escola, onde o amor faz a diferença. E, acredito que todo profissional
deveria passar por esta escola e fazer desta um porto seguro onde
pudesse atracar e daqui tirar novas experiências para sua vida
profissional e repensar suas praticas pedagógicas.
Minha trajetória de vida e história
de amor por Balneário Pinhal
Ana Patrícia Maia Moutinho da Silva
Funcionária pública
Balneário Pinhal/RS
Sou filha de Valquíria Rupert Maia (In Memoriam) e Ciro
Roberto Moutinho da Silva.
Desde que me conheço por gente frequento esta tão querida
praia. Meu pai, proprietário da Urbanizadora e Construtora Servipal,
começou no fim da década de setenta com a urbanização (calçamento
e construção civil) em Pinhal, estendendo-se logo depois para
Quintão. Sempre frequentávamos a Praia do Pinhal, nas épocas de
veraneio (inesquecíveis temporadas...). Vínhamos de Porto Alegre, já
no início de dezembro, em Kombis lotadas (roupas, alimentos, sofás,
colchões, etc) e ficávamos aqui até o finalzinho de fevereiro, início de
março. A impressão que dá é de que naquela época o verão era mais
98
duradouro, de dezembro a março.
E assim os anos foram passando... até que em 1994, por
problemas de saúde, minha mãe teve que vir morar aqui, por ser um
local mais tranquilo e o ar mais puro do que o da Capital.
Em 1995, eu e meus irmãos viemos definitivamente morar
em Pinhal. Concluímos o Ensino Médio na Escola Raul Pilla, em
Cidreira.
Já em 1996, eu e minha irmã prestamos vestibular para o
curso de Administração, na FACOS, e cursamos por dois anos, mas
por falta de recursos não conseguimos concluir. No mesmo ano,
comecei a trabalhar, como recepcionista, na Câmara de Vereadores
de Cidreira, local onde conheci meu querido e saudoso amigo,
vereador Luiz Carlos Ramos Lopes (Sapo), que me convidou para
trabalhar na Câmara de Vereadores do recém emancipado Município
Balneário Pinhal.
No dia 02 de janeiro de 1997, comecei a trabalhar na Câmara
de Balneário Pinhal, sendo a primeira servidora do Poder Legislativo
do Balneário Pinhal.
Os anos foram passando, conheci meu amado esposo, Paulo
Ricardo, em 1999, casamos, e, 2005, fiquei sabendo que a Prefeitura
do Balneário Pinhal tinha firmado um Convênio com a Universidade
Luterana do Brasil - Ulbra, de Torres, e que abriria uma turma de
extensão do Curso de Pedagogia. Prestei vestibular, passei e comecei
então a cursar Pedagogia. Estava muito contente, pois poderia assim
realizar meu sonho de concluir o Ensino Superior. Conheci muitas
pessoas, que até hoje são meus amigos.
Em dezembro de 2006, fui convidada pelo Chefe de
Gabinete e pelo Prefeito para trabalhar na Prefeitura, no Gabinete do
Prefeito Jorge Fonseca, onde trabalho até hoje.
Em 29 de agosto de 2009, consegui realizar a tão sonhada
formatura e confesso que foi o momento mais feliz da minha vida.
Senti de verdade que o meu sonho tinha sido concretizado.
Ainda em 2009, logo após a formatura, me inscrevi no Curso
de Pós-Graduação Lato Sensu de Supervisão Pedagógica,
Orientação Educacional e Gestão Escolar, pela Faculdade Capivari,
no Município de Osório, concluído em 15 de março de 2010.
Foi assim que desenvolvi, até o presente momento, minha
trajetória de vida e minha história de amor por Balneário Pinhal.
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Tenho muito amor por esta terra, pois foi aqui que realizei meus
sonhos de estudos, que vivi momentos inesquecíveis com minha
querida mãe e irmã (já falecidas), conheci meu esposo e verdadeiros
amigos.
100
O Pinhal que eu conheci:
década de 1960
Alba Maria da Costa Maia
Professora
Balneário Pinhal/RS
O Pinhal que eu conheci (era assim chamada naquela época a
nossa cidade) era uma praia pequena, com poucos recursos e muito
simples.
Um fato interessante era como chegava a correspondência
por aqui, no veraneio. Todos os dias vinha um teco-teco e lançava a
correspondência no terreno onde hoje fica o parque de diversões.
Era uma festa para nós, adolescentes, e para a gurizada em geral. Eu
era uma das tantas que aguardava ansiosa a chegada, porque recebia
cartas de Porto Alegre.
Outro fato singular era a luz, ou melhor, como funcionava o
fornecimento de energia elétrica naquela época. Tinha um gerador
instalado no terreno onde hoje é a CEEE. Ele funcionava até a meia
noite. Depois disso só luz de vela ou lampião. Para mim e meus
amigos isso tudo era motivo de festa, porque fugia da nossa realidade
de moradores da capital.
Os cômoros de areia (dunas) eram bem altos, na entrada da
cidade. Nós subíamos neles e ficávamos aguardando os ônibus, que
avistávamos lá pros lados da Figueirinha.
Os anos passaram, a cidade cresceu, se emancipou, mudou
até o nome. Não é mais aquela cidade do meu tempo de adolescente,
porque eu também não sou mais a mesma menina.
Hoje sou moradora daqui e tenho uma visão muito diferente
da visão daquela época.
Mas, nossa cidade guarda, ainda, um pouco daquela
simplicidade que sempre me atraiu nos tempos de menina.
101
Eu e Pinhal: um amor
à segunda vista!
Jo Palombini
Colunista
Balneário Pinhal/RS
A primeira vez que estive em Pinhal foi para ver uma casa que
pensávamos comprar. Viemos em nosso carro, com o corretor de
imóveis nos acompanhando. Quando entramos na praia fiquei
apavorada com o aspecto de abandono. Quando chegamos na casa
nem desci do carro e voltamos para Porto Alegre. Pensei: Pinhal,
nunca mais!
A segunda vez, viemos com amigos que estávamos visitando
na Costa do Sol comprar pães na Padaria Sto. Antônio, próximo à
SAPP, por ser considerado o melhor pão da praia. Vimos então, um
edifício ainda em construção, defronte ao mar. Meu esposo se
encantou e fomos direto na Reenco Construções, que era a
responsável pelo prédio. Lá, num impulso que me deixou um pouco
assustada, ele fez as primeiras tratativas para a compra de um
apartamento. Isto era sábado. Segunda-feira, em Porto Alegre,
formalizamos a compra! Loucura! Não tínhamos ninguém
conhecido em Pinhal. Bem, era só esperar a entrega do apartamento,
que depois de algumas confusões nos foi entregue no dia 21 de
dezembro de 1990.
Vim para cá e iniciei a montagem do apartamento dia 24 de
dezembro, véspera de Natal, minha mãe, meu esposo e eu estávamos
ceiando no ap. Muito trabalho depois, comecei a veranear e a olhar
com mais atenção tudo o que me cercava.
Adorei meu cantinho! A praia era tranquila, limpa, muito
alegre. A beleza dos jovens, surfistas, famílias que passava em direção
à praia foram me encantando. Meus vizinhos se aproximaram, muito
prestativos. Da mesma forma, abri minhas portas. Fui descobrindo
um jeito novo de veranear, de conviver. Conhecendo pessoas ótimas,
formando rapidamente um grande círculo de amigos, vivendo
momentos inesquecíveis. Para culminar, no dia de meu aniversário,
tinha em minha casa festejando comigo mais de 50 pessoas!
Para quem não conhecia ninguém foi um progresso e tanto!
102
Uma praia de amigos! E finalmente, quando me dei conta, estava
perdidamente apaixonada por Pinhal! Dali para frente Pinhal passou
a fazer parte de minha vida, e cada vez era mais difícil viver longe
dele. Não demorou muito, passei a fazer parte de Pinhal - vim morar
aqui.
Hoje, uma das coisas que mais gosto é viajar por este
mundão, mas retornar ao Pinhal é voltar para o ninho. Vi Balneário
Pinhal nascer como município. Acompanhei seus primeiros passos e,
agora, vibro com este adolescente bonitinho, esperto, conquistando
seu lugar entre grandes. Eu o vejo como um filho querido.
Por isto quero tudo de bom para ele com a certeza de que
nunca vou abandoná-lo.
103
Fausto Borba Prates e a cidade
praieira do Pinhal
Maria Cardoso Faistauer
Historiadora e professora
Balneário Pinhal/RS
Na década de 1950, a Fazenda do Pinhal tem novos
proprietários: Fausto Borba Prates e seus sócios, que, segundo seu
capataz Pedro de Alcântara Teixeira, eram João Belchior Goulart e
Ari Alcântara.
Em depoimento, o Sr. Pedro, mais cinco homens
identificados com a vida campeira, vieram de Santana do
Livramento de a cavalo: um pouco cavalgando, um pouco de trem,
um pouco nadando, puxando... para aqui se achegar.
A Fazenda, logo teve vida própria. Com a habilidade do
capataz Pedro e do posteiro Honório Lopes, as atividades
agropecuaristas se desenvolviam francamente.
104
Sr. Fausto projeta uma cidade à beira mar: seria a Praia do
Pinhal!
A denominação estava ligada à Fazenda do Pinhal, por estar
dentro da área desta, e que mais tarde serviu de referência para o
nome do município de Balneário Pinhal.
Contratou urbanista de competência reconhecida, Ubatuba
de Farias, e o Sr. Arboit, agrimensor, que fez os trabalhos de
nivelamento e traçado das ruas. Destinou espaço para praças, para a
Igreja e mais tarde para a sociedade recreativa que deu origem à
Sociedade Amigos da Praia do Pinhal - SAPP e ainda para a então
Escola Rural Isolada da Praia do Pinhal, que funcionou inicialmente
na capela, passando por outros locais até seu prédio próprio (a atual
Escola Estadual de Ensino Médio Diogo Penha).
Seu Fausto era um desbravador cheio de otimista e
convicção. Foi o fundador e idealizador da “Cidade Praieira”, que
deu origem à cidade sede do Município de Balneário Pinhal.
Seu projeto urbanístico contou com uma ampla divulgação,
incluindo excursões vindas de Porto Alegre para conhecer a praia e
adquirir terrenos.
105
O Sr. Osvaldo Vasques Pereira trabalhava na Imobiliária
Pinhal, aqui na Praia, empresa referencial para os negócios.
Costumava registrar as atividades do seu novo cotidiano num
pequeno diário. Tive acesso aos estes emocionantes escritos, através
de seus filhos Flávio e Sérgio, que me presentearam com este
pequeno grande tesouro. Neste, é possível acompanhar a expectativa
e o propósito firme de construir a cidade sonhada pelo Sr. Fausto.
Conforme registros, semanalmente chegavam na “Praia do
Pinhal” excursões vindas de Porto Alegre, trazendo visitantes
interessados em adquirir terrenos e construir. Estas excursões eram
organizadas por categorias de profissionais, como por exemplo
bancários do Banco do Brasil, advogados, dentistas, médicos,
funcionários públicos, etc... Isso fortalecia os vínculos de amizade e
daí a origem do slogam muito conhecido: “A Praia dos Amigos.”
O tempo ia passando e o projeto urbanístico se processando.
Os empreendimentos se sucediam e a cidade começava a dar sinal de
realidade: um pequeno hotel, algumas casas de veranistas, ruas
abertas, um gerador de luz, ônibus uma ou duas vezes por semana,
casa de comércio e esperança, certeza, convicção.
Sr. Osvaldo, filho Sérgio e diretor da Imobiliária
106
107
108
Dizem os “remanescentes” da era Fausto que a cidade
cresceu e se formou rapidamente, como fermento.
Passados aproximadamente sessenta anos, temos uma cidade
plena, com boa infra-estrutura, população ativa, sede de Município
de Balneário Pinhal. Centenas de construções alimentando o
comércio e a construção civil em larga escala. Centenas de
quilômetros de rede elétrica, de encanamento de água, transporte
público, atividades comerciais, sociais, escolares, inclusive com nível
universitário. Para termos esta realidade, houve um começo. Um
começo ousado que seguiu a batuta de um empreendedor aguerrido,
entusiasmado, organizado e com senso humanitário.
O que ouço das pessoas que conviveram, que trabalharam ou
que participaram dos projetos do Sr. Fausto é só elogios: generoso,
habilidoso, visionário, organizado, preocupado e atento com a
estruturação da cidade, com a preservação da natureza, com a
sociabilidade....
Foi um homem simples, mas seus projetos tiveram
excelência, tanto na área profissional como cidadã. Seu trabalho
pioneiro foi fundamental para a existência da Cidade Praieira da Praia
do Pinhal.
Fausto Borba Prates já partiu desta vida, assim como a
maioria de seus confiáveis funcionários, mas seu projeto está aqui,
vivo, presente em cada rua, em cada empreendimento, em cada sinal
de natureza, em cada morada, em cada rosto, nos alicerces do
município de Balneário Pinhal.
A realidade é resultado de seu passado e este pretérito está
intimamente vinculado a seu idealizador: e por questão de justiça, o
nome de Fausto de Borba Prates deve ser destacado, ter
reconhecimento, ser dado a conhecer, receber menção.
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Folha do diário
110
Minha história em Balneário Pinhal
Élida Terezinha Barreto dos Santos
Professora da E.M.E.F. Calil Miguel Allem
Balneário Pinhal/RS
Eu, Elida Terezinha Barreto dos Santos, professora
aposentada do Estado, e faltando pouco para me aposentar pelo
Município, estou aqui para contar um pouquinho de minha história.
Cheguei aqui há vinte anos atrás. Antes disso só vinha aqui na época
das férias escolares, de inverno e de verão.
Meu pai, em 1968, comprou um armazém, como se dizia
naquela época, em Figueirinhas. Ele era aposentado da Brigada
Militar, mas tinha residência em Osório e se dividia entre Osório e
Figueirinhas.
Em 1981, meu pai nos ofereceu a gerência do armazém, por
motivo de saúde e por já estar cansado. Nessa época, eu já estava
casada com Antônio dos Santos, o Bibi, e tinha três filhos: Adriano
Junior dos Santos, Sabrina Barreto dos Santos e Gilmar Antônio dos
Santos, de quem eu estava de licença maternidade.
Aceitamos a proposta de meu pai e em julho viemos de muda
de Osório para Figueirinhas. Como só tinha uma escola na Praia do
Pinhal, como era chamada na época, eu vim trabalhar nela pelo
Estado e pelo Município, pois tinha duas nomeações.
Figueirinhas era um lugar bonito. Os moradores eram
famílias boas. Também tinha casa de veranistas que no verão eram
companheiros do chimarrão e fregueses do comércio.
O transporte para chegar ao Pinhal era somente três vezes ao
dia: às oito horas, às doze horas e trinta minutos e dezenove horas.
Em Pinhal só havia a escola Estadual Diogo Penha. As crianças das
Figueirinhas estudavam nessa escola e vinham e voltavam a pé. A
carona, quando conseguiam, era de carroça ou bicicleta.
Através do comércio, e por eu ser professora, criou-se um
círculo de amizade e confiança entre a comunidade. Nos finais de
semana, as mulheres se reuniam para conversar, tomar chimarrão
enquanto os homens jogavam bocha ou jogavam futebol na beira da
lagoa.
111
Com o passar dos anos, a comunidade foi crescendo,
aumentando o número de crianças o que nos levou a nos reunirmos
em nosso comércio para estudar a possibilidade de irmos até
Tramandaí para conversar com o Prefeito e com a Secretária de
Educação para abrir uma escola. Dessa reunião já ficaram decididos
dia, hora e quem iria até o Prefeito.
O Bibi acompanhou os pais, que se prontificaram a ir até
Tramandaí, onde foram muito bem recebidos pelo Prefeito da época,
Senhor Elói Brás Sessim e Secretária de Educação, Terezinha
Silveira. Ficou decidido, então, que a Secretária viria visitar a
comunidade para ver o local e estudar o que poderia ser feito.
Na terceira reunião marcou-se o local onde seria construída a
escola e o local onde iriam começar as aulas até a escola ficar pronta.
As atividades escolares iniciaram em uma casa alugada na
comunidade, por poucos meses, até estar pronta a escola. A
comunidade ficou feliz e agradecida com uma escola perto de suas
casas, para que seus filhos pudessem estudar com mais segurança.
Esta história foi muito marcante em minha vida, pois é a
minha área de trabalho e ao mesmo tempo pude ajudar muitas
crianças a estudar. Hoje, muitos desses alunos que passaram por esta
escola são casados, já formados, e outros estão na faculdade. Tenho
boas recordações, inclusive dos professores e dos funcionários com
quem convivi.
No início do ano de 1988, iniciei outra caminhada, ainda
morando em Figueirinhas. Fui convidada pela Secretária de
Educação, Terezinha, para ajudá-la a abrir uma escola na sede da
Praia de Pinhal, na qual eu seria a diretora. Precisava de um local para
iniciar as aulas, um local para construir a escola, uma professora e dez
alunos. Procurei a professora Eloise Faistauer e contei a ela a
proposta da Secretária e convidei-a para ser a Diretora, pois não tinha
prática de direção, mas me comprometi que ajudaria no que
precisasse. A professora aceitou o desafio e liguei para a Secretária e
fomos à luta.
Conversamos com algumas mães e conseguimos o número
de alunos suficiente. Conversamos com o Patrão do CTG, que era o
Senhor Vitor Esperotto, para que nos cedesse o CTG durante a
semana para que os alunos tivessem aula ali até que a escola ficasse
pronta. A funcionária era a Dona Celita dos Santos, que já trabalhava
112
para o município. Tudo organizado, iniciamos o ano letivo.
Hoje, olhando as fotos dos alunos daquela época, vimos
muitos deles trabalhando no município, como a professora Simone
Santos, a professora Greice Ferreira, a professora Fabiana Fonseca, o
vereador Luizinho, a técnica em enfermagem, Sabrina dos Santos e
muitos outros.
Até a escola ser construída, as aulas eram no CTG
Vaqueanos da Praia do Pinhal.
É com orgulho que falo desta história, porque foi mais uma
sementinha que pude ajudar a plantar para as crianças de nossa
comunidade. Desde esta data estou na Escola Calil Miguel Allem.
Em 1999 fui convidada pela Secretária de Educação, Neusa
Maria Carvalho e pelo Prefeito Vilmar Furini para ser a diretora. Em
março deste mesmo ano assumi, procurando fazer um trabalho que
contemplasse as expectativas da comunidade. Na direção permaneci
por seis anos, escolhida sempre pelos professores e funcionários da
escola. Tenho ótimas recordações desse tempo e tenho certeza de
que de alguma forma também provoquei boas recordações.
Uma marca muito importante na minha vida foi quando
voltei aos bancos escolares, incentivada e apoiada pela Secretária
Neusa. Cursei o Curso de Pedagogia e mais tarde fiz Pós-Graduação
em Supervisão Escolar. Nossa amizade sempre foi muito forte e serei
sempre grata a ela por tudo que conquistei.
No primeiro dia que cheguei à escola para trabalhar, a
diretora era a professora Maria Faistauer, que estava de licença nojo,
pois havia perdido o pai e as colegas haviam ido visitá-la. Foi aí que a
conheci.
Em 1995 fui diretora da Escola Estadual Diogo Penha, na
qual procurei fazer um bom trabalho, tendo ao meu lado ótimos
professores e funcionários e tendo como supervisora a professora
Maria Faistauer, que me ensinou muito com seu exemplo, sua e
dedicação e sua experiência.
De 2007 a 2008 trabalhei na Secretaria de Educação ao lado
da Secretária Suzana Werlang e do atual Prefeito, Jorge Fonseca.
Aprendi muito com a Secretária e sua equipe e neste período pude
conhecer todos os funcionários e professores da rede escolar do
município. Para mim foi muito importante este conhecimento.
Hoje, nosso município é emancipado e todos os governantes
113
trazem em primeiro lugar no seu plano de governo a Educação, pois
é dela que precisamos.
Eu e minha família viemos morar aqui com a intenção de ser
por pouco tempo, mas os filhos foram crescendo. OBibi entrou na
política porque é do que ele gosta e eu, na minha carreira pude ajudar
muitas crianças. E aí fomos ficando, ficando e estamos aqui até hoje,
morando na sede.
Hoje, com este rico trabalho que é o Projeto Raízes, tive a
oportunidade de contar um pouquinho de minha história no
município.
Nestes vinte e nove anos que estou aqui procurei ser uma
professora amiga e parceira, fazendo com que meu trabalho fosse
reconhecido por todos.
Quando iniciei este texto, eu dizia que estava de Licença
Gestante: tinha nascido meu filho Gilmar e que eu estava retornando
às atividades escolares. Hoje escrevo esta narrativa com o coração
triste por ele não estar mais aqui conosco. Mas, por outro lado, me
sinto feliz por sentir que ele deixou a todos boas lembranças e pôde
ajudar a quem precisou dele. Como motorista da SAMU e ENSEG,
muitas vidas ele socorreu e ajudou a salvar da morte.
Onde meu filho estiver, ele pode ter certeza de que nunca
será esquecido por esta comunidade onde cresceu, viveu e nos
deixou. Embora Gilmar tenha nos deixado, sei que os meus outros
filhos, genro, nora, netos e meu marido Bibi continuaremos a contar
esta história até quando Deus quiser.
Encerro minha narrativa com as palavras do escritor Jorge
Amado: “Viver é muito mais importante do que escrever. O que eu
escrevo nasce da vida que eu vivo.”
114
Verlei da farmácia
Marlene Lápis Lopes
Aposentada
Balneário Pinhal/RS
Em julho de 1970, meu esposo, Verlei de Souza Lopes veio
passar as férias com os filhos em Cidreira, numa casa que tínhamos
lá. Fez amizade com o Sr. Afrânio Cidade Pozo, dono de uma
farmácia em Cidreira. Em meio às conversas e bate papo surgiu a
ideia de abrir uma filial na Praia do Pinhal, visto que a cidade
começava a se expandir. Conversou comigo e ficou resolvido que
ele iria logo tratar do negócio e eu iria com os meninos no final do
ano, nas férias. Larguei meu emprego, meus estudos, vendemos um
fusquinha que tínhamos, móveis e começamos vida nova na Praia do
Pinhal.
115
Foi alugada uma peça grande na Rua General Osório,
próximo à rodoviária, e dividida para a instalação da farmácia e para
moradia. Com ajuda do meu sogro, fizemos as prateleiras e os
balcões e se organizou a farmácia. Levei um susto quando vi que a
casa para morar era tão pequena, mas agradeci a Deus e pedi forças
para poder vencer este desafio.
Foram três anos de grande sacrifício, pois tínhamos que
buscar os remédios em Cidreira porque lá era a matriz e tudo era
comprado pelo Sr. Pozo, que atendia as necessidades conforme os
pedidos.
Havia poucos moradores, apesar de aumentar a população
no verão, com a chegada dos veranistas. Mas só dava para as despesas
da casa e manter os meninos na escola onde o mais velho estudava na
escola Militar em Porto Alegre, com apoio de minha irmã e minha
mãe.
Mesmo com as condições mínimas fazíamos o possível para
atender bem a clientela, que aos poucos iam chegando e usufruindo
daquilo que dávamos com muita atenção e carinho.
Depois de três anos, arrisquei uma proposta para comprar a
farmácia e apresentei ao Sr. Pozo. Ele aceitou, dando-nos um longo
prazo para o pagamento total. Graças a Deus tudo correu bem e
116
antes do prazo acordado quitamos a compra. Para isto
trabalhávamos muito, sem hora de fechar, sem férias, sem
empregados, só nos dois. Não medíamos esforços para atender bem
as pessoas: com segurança e presteza fomos conquistando amizades
e confiança.
Fui fazer um curso de enfermagem para melhor atender a
população. Vimos a cidade ir crescendo.
Passado mais algum tempo, alugamos uma casa para moradia
e instalamos um ambulatório dentário e médico nos fundos da
farmácia, pois na época só havia estes profissionais em Tramandaí.
Isto tudo dificultava, pois dependia de ônibus que circulava em
horários escassos.
Aprendemos a valorizar a amizade, as pequenas conquistas e,
sobretudo criamos raízes nesta terra que tanto amo.
Meu esposo Verlei adorava este lugar e se dava muito bem
com todos. Conhecia as preferências de cada um, as dores, as
enxaquecas, as crises, os resfriados. Gostava de ensinar chás e era um
grande incentivador do uso do limão. Costumava dizer que quem
tivesse um pé de limão na sua casa não precisaria de farmácia. Tal era
a eficácia do limão: curava gripes, dores de garganta, limpava o
sangue, bom para o fígado, para os rins e por aí afora. Mais tarde
nossa situação estava bem melhor e montamos uma bonita farmácia
em outro prédio mais central, com mobiliário novo, onde ficamos
um bom tempo.
Nossa relação com a comunidade ia crescendo a cada dia. As
famílias iam se formando, crescendo e todos eram nossos amigos.
Muitas vezes o Verlei saía de casa em meio à noite para
prestar socorro, aplicar injeções, ajudar a quem estivesse precisando.
Os tempos foram passando e a conhecida “Farmácia Verlei” era a
referência da cidade. As pessoas chegavam a levar as receitas para ver
se a medicação era mesmo aquela, tal a confiança que depositavam
em nós, principalmente no Verlei.
Mas a doença chegou para o Verlei, que se viu
impossibilitando de tocar o negócio, pois já era difícil estar presente
na farmácia e dar a atenção necessária aos clientes. Foi então que
resolvemos vender a farmácia. Verlei se aposentou e eu abri uma
imobiliária e um escritório de contabilidade.
Nas caminhadas pela cidade era comum o Verlei ser
117
“consultado” por alguém. Não se negava e brincava com pessoas,
principalmente com as crianças e jovens que viu nascer e crescer sob
seus cuidados. Sempre tinha uma palavra de incentivo e de
orientação. Contam os amigos uma passagem que consideram
interessante e que serve para ilustrar suas atitudes certeiras frente aos
perigos: certo dia, ao entardecer, em uma lanchonete da cidade,
todos se encontravam para contar bravatas do cotidiano. Era um
ambiente agradável e animado. De repente um dos presentes grita e
gesticula desesperadamente com as mãos na orelha. Com muita dor
e impaciente, pede socorro e os amigos não sabem o que fazer. Foi
algo inesperado e muito intrigante. O jovem senhor fica desatinado
de dor. Quando chega um carro para levá-lo à cidade mais próxima,
o Verlei interfere e diz: “Para! Traga-me de lá um pouco de azeite
quente, morno.” Correram e logo estava com o pedido em mãos.
Aproxima-se do amigo e retirando as mãos da orelha, pinga algumas
gotas do óleo no ouvido. Para espanto de todos e para alívio do dito
cujo, eis que sai sorrateiramente um grande cascudo do ouvido do
homem.
Era assim o Verlei: brincalhão, mas seguro e prestativo e,
sobretudo sábio. Como era quente, os insetos vieram contra as luzes
e um dos cascudos entrou no ouvido do homem e causou um grande
tumulto.
Com certeza existem muitas outras histórias para contar do
Verlei da Farmácia e de mim mesma, sua esposa, companheira que
aqui vivo, agora sem o Verlei, que faleceu no ano de 2000, mas feliz
por morar na cidade que conheci desde o início da urbanização. Sou
grata por fazer parte desta comunidade e desfrutar do respeito e da
amizade de todos.
Passei algum trabalho, mas valeu a pena. Sei que contribuí
com o crescimento da cidade e continuo atuando nela como agente
deste processo chamado cidadania vivificada em Balneário Pinhal.
Verlei de Souza Lopes, natural de Jaguarão - RS, nascido em
27/06/1935 e falecido em 10/06/2000.
Marlene Lapis Lopes, natural de Porto Alegre - RS, nascida
em 26/01/1939, residente na Av. Itália, 3631 - Balneário de Pinhal.
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Minhas raízes em Balneário Pinhal
Cássia Carniel Pereira
Professora
Balneário Pinhal/RS
Família materna
Otacílio de Almeida Carvalho e Alzira Rodrigues de Almeida
= Dileta Maria Rodrigues de Almeida.
No início da década de 1960, meus avós maternos vieram
morar na Fazenda da Cerquinha, que pertencia ao Senhor
Epaminondas e sua esposa Rosinha, que eram então cunhado e irmã
do meu avô Otacílio. Na fazenda havia plantação de arroz e criação
de gado. Meu avô era quem gerenciava a fazenda e os empregados.
Meus avós tiveram dez filhos, que moraram na Fazenda da
Cerquinha, durante a infância. A família da minha mãe morou lá
cerca de 10 anos e depois veio morar na “praia” quando a fazenda foi
vendida para a Flosul. Meu avô permaneceu trabalhando na fazenda
por mais um período de 2 anos e então resolveram morar em Campo
Bom.
Durante os anos em que moraram em Balneário Pinhal,
minha mãe e meu pai se conheceram, e começaram a namorar.
Família paterna
Giácomo Carniel e Maria Carniel = Irineu Angelo Carniel
A família de meu pai é de origem italiana. Residia no
município de Taquara, onde trabalhava no ramo madeireiro. Parte da
família veio morar em Cidreira, Meu pai resolveu se estabelecer em
Balneário Pinhal e, não fugindo da tradição, resolve constituir uma
empresa de materiais de construção, onde meus pais vieram a se
conhecer.
Em 1973 meus pais se casaram, continuaram morando em
Balneário Pinhal e tiveram três filhos. Moramos aqui desde o
nascimento, somos frutos desta terra, embora não possamos dizer
que nossa origem natural seja Pinhalense, o que nos daria muito
orgulho, pelo fato de não haver aqui uma maternidade. Hoje eu
119
continuo morando aqui em Balneário Pinhal, sou casada, sou
professora, tenho duas filhas, eu e meu marido, assim como meus
pais, atuamos no ramo de materiais de construção.
Tenho muita gratidão por este lugar que nos acolheu, a mim
e à minha família, onde vivo e pretendo ver nossa família continuar
por muitas gerações.
Dona Sissa e Zecão: o Natal
da criança de 1984
Angela Duarte
Moradora
Balneário Pinhal/RS
Gustavo Dias Herzog
Estudante
Porto Alegre/RS
Todos os anos a senhora Deneci da Silva (mais conhecida
como Sissa, já falecida) e o senhor José Campos Bandeira (Zecão),
proprietários do Turis Hotel, localizado no centro de Pinhal (Av.
Castelo Branco, onde hoje é o shopping Galeão), distribuíam
brinquedos, balas, chocolates, refrigerantes e cachorro-quente para
as crianças, na época de Natal.
Às vezes Zecão se vestia de Papai Noel, outras vezes
contratava ou solicitava que outra pessoa colocasse a fantasia e
entregasse os presentes para as crianças, que achavam o máximo
ganhar brinquedos da mão do próprio Papai Noel.
Sissa salientava que independente da classe social “criança é
criança”, e muito antes da política esta festa era realizada no
município, sendo uma tradição da família. No dia do Natal não ficava
nenhuma criança sem presente.
Orfelino Duarte era brigadiano aposentado e veio trabalhar
120
de pedreiro na construção da SAPP (Sociedade de Amigos da Praia
de Pinhal), inclusive ele e sua família moravam no próprio local.
Esta história foi narrada por Angela Duarte, filha de
Orfelino Duarte, e escrita por Gustavo Dias Herzog, bisneto de
Orfelino Duarte e Adelaide Medina Duarte.
Gustavo mora com os pais em Porto Alegre, tem 11 anos e é
estudante da 5ª série da Escola Santa Doroteia.
A avó Afonsina: mãe de Sissa (sentada ao fundo);
o bebê no colo do Papai Noel é o filho mais novo
de Sissa e Zecão: José Campos Bandeira Júnior; à
direita do Papai Noel: Daniela Duarte (psicóloga);
à esquerda: Carine Duarte (administradora de
empresas) e Karina Duarte (que inclusive já
trabalhou na secretaria de turismo do município);
os dois sentados na frente são Ednei Duarte
(saudades eternas, querido filho...) e Aline
Duarte (graduada na área de meio ambiente).
Todas “crianças” citadas na foto são netas de
Orfelino Duarte, que chegou na cidade em 1974,
com sua família.
O casal ao fundo, de pé: Sissa (Deneci da
Silva, já falecida) e Zecão (José Campos
Bandeira)
121
Ednei Duarte (saudades eternas,
querido filho).
Minha trajetória na praia do Magistério:
município de Balneário Pinhal
Mário Pereira Machado
Vereador
Balneário Pinhal/RS
Quando vim para Balneário Pinhal, mais precisamente para a
praia Magistério, foi aproximadamente em 1970. Eu vinha sempre de
carona para veranear. Um tio meu tinha casa em Magistério e sua
casa era onde hoje é a Rua São Jerônimo, rua da Escola Luiz de
Oliveira. Não existia a Av. Paraguassu. Ela era só cômoros de areia e
não tinha água e luz.
A luz era de um lampião de liquinho e a água era de poço
artesiano com bombadas a mão. Até acho que era por isso que meu
tio fazia questão que eu viesse pois todos nós bombeávamos água
para uma caixa d'água. Assim podíamos tomar banho, fazer comida e
muitas vezes não conseguíamos ir até a casa porque o carro atolava
na areia. Aí tínhamos que deixar o carro perto do armazém do Roxo.
Ele tinha esse nome porque o bar era pintado de roxo, e ficava onde
hoje é a Rodoviária de Magistério. O proprietário chamava-se Luiz
de Oliveira e sua esposa Maria Bereta.
A Avenida Luciana de Abreu era por onde se chegava,
portanto era a Avenida principal do centro e para chegar até lá fazia
uma curva em “S” ou então se ia pela beira da praia até Magistério.
Havia o Supermercado Solemar, que era de propriedade do senhor
Solemar Fonseca, e da senhora Luiza Fonseca. Na frente desse
supermercado, onde hoje é o Bar do Boto, tinha um supermercado
chamado de Super Santos, que mais tarde foi comprado pelo senhor
Jorge Fonseca. Depois o senhor Solemar Fonseca comprou uma
madeireira que existe até hoje, que é a Madeireira Fonseca. Quem
trabalha nela hoje é a senhora Simone Fonseca, nora do Falecido
Solemar Fonseca e da senhora Luiza Fonseca. Simone trabalhava
antes no caixa do supermercado que era administrado por Jorge
Fonseca, seu esposo. Hoje é ele o prefeito desse município.
Quando eu vinha para a praia vinha sempre para casa do meu
tio João Ângelo Manenti. Mas em um veraneio, em janeiro, a casa do
122
meu tio estava lotada. Como eu gostava da praia vim para uma casa
que eu aluguei bem em frente ao condomínio da Shell. E dentro desse
condomínio tinha o Clube da Shell, que se chamava de M. P. C.
Magistério Praia Clube. Mais tarde, minha mãe comprou uma casa na
Rua Venâncio Aires, no mês de outubro 1982, do lado de um terreno
que era uma lagoa. Aí já tinha água e luz. Minha mãe faleceu no dia 17
novembro de 1982, um mês após ter comprado um terreno. A casa
ficou para mim, pois eu era filho único. Mais tarde, em 1987, o
terreno, que tinha 08 lotes, foi aterrado, e nesse terreno muitas vezes,
na temporada de verão, bem ao lado da minha casa, estacionava um
parquinho de diversões. Eu moro nesta casa até hoje. Mas, desde
1982 eu ficava dias na casa e dias em Porto Alegre até vir
definitivamente para cá, desde 2000. Essa é a minha trajetória no
município de Balneário Pinhal, na praia de Magistério.
Minha história em Pinhal
Pedro Silveira da Rosa
Comerciante
Balneário Pinhal/RS
Em 1977 passei o verão em Balneário Pinhal. Então arrumei
um serviço na SAPP.
Quando cheguei em Pinhal, a maioria das ruas não era
asfaltada. Havia menos casas e a cidade era menor. Apesar disso,
Pinhal era movimentado. O clube (a SAPP) era lotado de gente, das
oito da manhã até a meia noite, durante todo o verão. Eram vendidas,
em média, oitenta viandas por dia.
O clube era totalmente diferente do que é hoje. Era bem mais
simples e menor do que é agora. Tinha uma cancha de bocha, vôlei,
ping pong, mas não tinha piscina.
Depois de ter trabalhado como empregado, comprei a
instalação do meu patrão e fiquei como ecônomo da SAPP por onze
anos. Em maio de 1988 comecei a construir o meu restaurante, que
123
ficou pronto em dezembro do mesmo ano. Dia nove de dezembro
de 1988 inaugurei o meu restaurante e nele trabalho até hoje.
As lembranças que ficaram do tempo que eu trabalhava na
SAPP foram as amizades que conquistei, as festas que fazíamos
junto com os funcionários da CEEE no encerramento das
temporadas, e outras coisas boas que aconteceram naquele tempo.
A chegada da família
Duarte em Balneário Pinhal
Kamila Duarte
Estudante
Pelotas/RS
Em meados de 1974, chegava às terras pinhalenses Orfelino
Duarte e sua família, para trabalhar como mestre de obras,
juntamente com seu irmão, Geraldo Duarte, tesoureiro da diretoria
da SAPP (Sociedade de Amigos da Praia do Pinhal). Ambos
trabalharam na construção da antiga sede da SAPP. A família de
Orfelino residia nesta sociedade. Vera Duarte, filha de Orfelino, lá
trabalhava como secretária: confeccionava carteiras dos sócios,
convites de eventos e fazia os cartazes das festas e outros eventos.
Além de construir, Orfelino trabalhava como segurança à
noite, durante os bailes. Adelaide Medina Duarte, sua esposa,
trabalhava cuidando o toalete feminino, também durante os bailes
(segundo a filha Vera, ela não limpava os banheiros e era contratada
só para alcançar o papel higiênico para as moças, porque o presidente
da SAPP naquela época não queria nenhum tipo de desperdício).
Depois de alguns anos a família passou a residir perto da
“Madechave”, que na época era chamada de Ponto Chave, um
supermercado. Por ser morador há muito tempo, Orfelino foi
homenageado ao nomearem a rua onde ele residia com seu próprio
nome.
124
Vera Medina Duarte, em desfile cívico
Atualmente residem nesta rua seus filhos Albino Renato
Medina Duarte e Rudinei Medina Duarte (ambos policiais militares,
salva vidas muito conhecidos) e veraneia sua viúva, a dona Adelaide.
As filhas Vera Maria Duarte Kuhn e Angela Maria Duarte Dias
também residem no município. O filho Rogério Medina Duarte
reside em Pelotas, é policial civil e trabalha aqui na Operação Verão;
Maria Célia Medina Duarte também reside em Pelotas e veraneia
aqui; Tais Clarete Medina Duarte mora em Tapes.
A neta de Dona Adelaide, Karina Duarte Lopes trabalhou na
Secretaria de Turismo do município.
Primeira sede da Sapp,
construída pelo Sr. Orfelino
Duarte e local onde a família
residia
125
Este texto foi narrado por Adelaide Medina Duarte (viúva do
senhor Orfelino Duarte), elaborado e redigido por Kamila Duarte,
neta do casal.
Churrasco de inauguração da construção da SAPP, em agosto de 1976.
À direita, ao fundo, o sr. Orfelino Duarte
Vera Duarte e seu irmão
Rudinei, em época de desfile cívico
126
Trajetórias de vidas:
Deoclides Pacheco Daniel,
Laerte Bueno Silveira e
Gilberto Milton Wieser
Maria Cardoso Faistauer
Historiadora e professora
Balneário Pinhal/RS
Deoclides Pacheco Daniel
Morador de Balneário Pinhal há mais de 42 anos. Foi
funcionário público, o primeiro motorista do então distrito da Praia
do Pinhal.
Seu "Quida", como é conhecido, sabe como ninguém
histórias do lugar. Conhece a palmo sua comunidade e faz questão de
dizer que aqui é sua verdadeira terra.
Casado com Dona Ana da Silva Daniel, curte seus netos,
presenteados por seus filhos, Paulo e Marcelo, que estudaram na
Escola Estadual Diogo Penha, alunos que integraram a Banda da
Escola, as equipes esportivas e outras tantas atividades.
127
Seu Quida é um artista na arte da música. Muitas serenatas
fez por aí. Ele compõe, toca, canta e encanta. Escreveu um poema,
que musicou também, especialmente para o Raízes, por se sentir na
obrigação de contribuir com tão importante acontecimento. Eis a
arte:
Recordando o passado de Balneário Pinhal
Olhando os barcos pesquerios, nas águas verdes do mar
contemplando a natureza, resolvi homenagear
o grito das gaivotas, nativas do litoral,
e o clarão da lua cheia, refletindo nas areias
do Balneário Pinhal.
Muitos vieram de longe, para uma terra desconhecida
plantaram suas raízes, construíram suas vidas.
Eu sou um dos pioneiros, cuja memória desenha
nestes versos deixo claro, onde meus filhos estudaram
na Escola Diogo Penha.
Tem gente que ainda fala, não conhecessem o passado
hoje nós temos estrada e ônibus prá todo lado
temos onde fazer as compras, em vários supermercados
temos posto de saúde, com doutores prá consultar
também temos ambulância, se o doente precisar.
Esquecer este passado, podes crer, eu não consigo
deixo que fiquem falando, prá esta gente eu não ligo
era um simples vilarejo, guardo as lembranças comigo
fiz estes versos, especial, homenageando Pinhal
Esta cidade de amigos.
Na RS 40, prá quem vem da capital
passando o túnel Verde, modifica o seu astral
e o Pontal das Figueirinhas, é um bairro tradicional
todos se sentem seguros, respirando ar puro
do Balneário Pinhal.
128
Laerte Bueno Silveira
Natural de São Borja, mora e trabalha há mais de vinte anos
em Balneário, com Salão de Cabelereiro. Ali, faz papel de barbeiro,
cabelereiro, corta, pinta, ajeita, a contento dos clientes.
Sempre que há campanha de solidariedade, lá está o Laerte,
com sua tesoura, pronto para partilhar. Rotineiramente comparece
aos bancos de sangue como doador, ajudando assim quem necessita.
Presta ajuda a muita gente.
Com seu jeito bonachão, gaúcho da terra dos Presidentes,
não deixa faltar o chimarrão e até cafezinho aos seus clientes e
amigos. Diz que também se sai bem na cozinha.
Bom de prosa como ele só.
Atualmente, seu irmão Claudio dá um costado seguro no
Salão, e já tem até preferências entre os dois: um muito falante, outro
mais compenetrado, ambos “Boa Gente”.
129
Gilberto Milton Wieser
Natural de Porto Alegre, conheceu “Pinhal” como veranista
e como comerciante, quando montou uma pista de patins, numa
quadra, ao lado da Igreja de S. Antônio. Lembra que foi um bem
negócio e muito divertido.
Alemão Gilberto, como é conhecido pelos amigos, tem
participação ativa na comunidade. Foi um dos fundadores do “Bloco
das Virgens”, compositor das músicas enredo, e também o puxador
do Bloco, cantando e encantando o público.
Com Sandra, sua esposa, mora há mais de 35 anos em
Balneário Pinhal, acompanhando as transformações que faz da
pequena Praia, mais um dos Município do Rio Grande.
Faz questão de se identificar como ex-Patrão do CTG
Vaqueanos da Praia do Pinhal, e sócio patrimonial.
Mesmo tendo nascido e se criado na capital, sempre apreciou
a cultura gaúcha.
No ano de 1983, no encerramento dos festejos farroupilhas,
Gilberto brindou o público presente com uma apresentação musical,
com letra, música e interpretação sua.
A repercussão da canção foi tão significativa que, conforme
Ata da Entidade, nº 30/1983 passou a representar o “Hino do CTG
Vaqueanos da Praia do Pinhal.”
O gaúcho e o mar
Você que é de estância nascido lá no rincão
não sabe que aqui na Praia se cultiva a tradição.
Saindo lá da querência no rumo do litoral
na certa vai encontrar os Vaqueanos de Pinhal,
pois vindo de Porto Alegre
passando por Viamão
seguindo pela estrada
chega no nosso Galpão.
Nós temos aqui o gado
o peixe e o pinheiral
tem o nosso Túnel Verde
Na Fazenda do Pinhal.
Vocês têm o verde das matas
Nós temos o azul do mar
também o churrasco gordo
e o chimarrão prá lhe ofertar.
Aqui fica esta mensagem do gaúcho e o mar
Seu José Bonami Rodrigues dos Santos:
trajetória de vida
Maria Cardoso Faistauer
Historiadora e professora
Balneário Pinhal/RS
É o verdadeiro nativo da costa litorânea. Muito pequeno já
trilhava as areias do hoje Balneário Pinhal. Conhece cada canto do
município e as muitas histórias presenciadas por aqui.
Seu avô, Sr. Albano, foi o primeiro morador do Pontal da
131
Figueirinha, que naquela época, metade do século passado, era uma
mata nativa rodeada por areia e muito animal alçado ou selvagem,
como porco, gado, cães.
Seu Bona, como é conhecido, conheceu a colônia japonesa
que tinha na Fazenda do Pinhal, onde plantavam muito tomate,
dentre outras hortaliças. Conta que o grupo era muito reservado e os
casamentos eram realizados com grandes festas. O noivo só
conhecia a noiva no dia do casamento e isso era estranho para os
moradores.
Conta, também, que ele era um dos que esperava o jornal
Correio do Povo, jogado pelo avião Teco Teco, na beira da praia,
para, então, ir entregar aos veranistas que, agradecidos, lhe davam
uma gorjeta.
Mas o que mais recentemente Sr. Bona resgatou da história
foi uma casca de bala, ou seja, um cartucho de bala, de arma pesada.
Estava ele tirando grama de um campo na localidade da Roça
Velha, no distrito do Túnel Verde, para fazer um gramado na praia,
quando sentiu que a lâmina da pá bate em algo forte e resistente.
Curioso, continuou a vasculhar, e para sua surpresa, era um cartucho
de bala, calibre 43. Logo associou com o acontecido por ali, na época
da Revolução Federalista, quando se travou um encontro de forças
políticas opositoras, com tiroteio fechado.
Guardou o tal cartucho e o ofereceu ao Prefeito, para que
faça parte do acervo do futuro Museu Histórico Municipal.
Se o assunto for pescaria, aí sim que tem assunto. Dentre
estes, tem as histórias fantásticas com jipes voando à beira mar, com
clarões ajudando os pescadores, com artimanhas de muitas
contações.
Conta também da estada de Brizola, aqui na praia, quando
fugiu para o Uruguai. Diz que ficou por uns dias na Fazenda do
Pinhal, pois um dos proprietários, na época, era seu cunhado João
Goularte, e depois veio para a praia onde um pequeno avião o
apanhou à beira mar.
José Bonami é um personagem muito sábio da comunidade.
Trabalha como motorista, como pescador, pedreiro, mecânico,
plantador de grama e outros tantos afazeres. Sua família tem raízes
nesta terra e ele, com memória privilegiada, representa uma
enciclopédia de saberes populares.
132
Pinhal e as histórias que encontrei
Dileta Maria Rodrigues da Silva
Comerciante
Balneário Pinhal/RS
Em novembro de 1962, eu, meus pais e meus nove irmãos
nos mudamos de Triunfo para a Fazenda da Cerquinha, em Pinhal,
município de Osório.
A fazenda que meu tio (agrônomo e natural de Mostarda),
comprou, meu pai foi 'capatazear'. Era bem grande e se criava muito
gado. Tinha mais de quatro mil cabeças, mais de quatrocentas cabeças
de ovelhas e cavalos e plantava-se muitas quadras de arroz. As terras
eram muito férteis. Para consumo dos oito famílias que moravam na
fazenda, plantava-se milho, mandioca, batata, cebola, moranga,
abóbora e melancia, além de hortaliças. Etinha carne e leite, tudo para
consumo interno.
A fazenda era bem equipada com máquinas possantes.
Cortadeiras, trilhadeiras, tratores grandes, arados, carretas de tração
animal e motores possantes para irrigar a lavoura. Mas, no ano de
1968, mais ou menos por dois anos seguidos, o arroz teve uma peste
chamada Brusone, e a lavoura foi toda perdida. Os bancos cobravam
os empréstimos e os juros eram muito altos; e a fazenda foi vendida.
Meu pai então veio morar aqui no Pinhal. Aqui era muito tranquilo, as
pessoas eram muito simples e simpáticas. Eram pescadores no
inverno e pedreiros no verão. Pinhal, em 1971, já tinha tratamento de
água, posto de gasolina, hotel, rodoviária, armazém. Ou seja, contava
com uma estrutura para atender aos veranistas que descobriram que
aqui era a praia mais perto de Porto Alegre e era tudo muito tranquilo.
Todos os moradores se conheciam, eram amigos ou parentes.
Em 1972, aqui no Pinhal só tinha dois moradores
afrodescendentes: o Sr. Jamel e o Sr. Paulo, o que me chamou
atenção.
As construções aumentaram e vieram as madeireiras. A
oferta de trabalho na construção civil e a população fixa aumentaram.
Mas tudo isso teve altos e baixos com a economia do nosso país.
Mas, voltando à vida que tínhamos no campo, eu quero dizer
133
que tínhamos na fazenda uma escolinha onde todas as crianças eram
alfabetizadas por uma professora que ensinava até a 4ª série. As aulas
de história eram muito reais, pois a casa da fazenda foi construída na
época da escravatura, e encontravam-se restos desse tempo, como
panelas de barro e depósitos de conchas e ossos.
A casa da fazenda era muito grande. Nas paredes grossas e
altas tinham correntes penduradas no teto, onde um dia foram
pendurados lustres. Os corredores eram grandes e as salas e quartos,
enormes. Nos fundos da casa tinha uma cozinha com um fogão de
barro, onde uma antiga dona criava mais ou menos uns cem
cachorros e o nome era “Casa dos Cachorros”. Também tinha a casa
dos escravos, o poço de água, e parecia que alguém estava tirando
água. A gente olhava e não tinha ninguém. Ouviam-se gritos,
gemidos e choro de crianças. Sentia-se o cheiro de vela queimando.
Na casa da fazenda tinha um quarto com um cabide na parede onde
estava escrito: Quarto da Geni
Para ir da casa da fazenda até a lagoa tínhamos que atravessar
um mato nativo muito bonito, com muitas orquídeas de todas as
cores, pássaros de cores lindas e a impressão de que alguém estava
nos olhando. Ouvia-se barulho de folhas e galhos e depois o silêncio.
Lá era tudo mágico. Teve uma semana em que todos da casa estavam
com dor de barriga, e uma mulher apareceu para a minha prima e
disse: “Vocês não vão sentir mais nada, pois estou indo embora”. E
foi o que aconteceu. Nas noites de lua cheia aparecia uma noiva
embaixo da figueira. Dizem que o noivo morreu na lagoa e ela ficou
louca.
Mas, a história do Serapião era quase real, pois contavam que
ele era dono de todas as terras de Mostardas até Tramandaí. E
quando morreu ficou assombrando os trabalhadores da lavoura,
pois em vida gostava de dar carona no seu jipe. Ele escolhia o destino.
E depois que morreu, e de vez em quando ele pregava uma peça em
alguém. Meu pai, pela manhã, quando ia dar a pegada para os peões,
uma vez ou outra tinha um molhado sujo de barro. Eles contavam
que estavam indo para casa e um homem num jipe dera carona.
Fizeram voltas e mais voltas pelos campos e quando acordaram
estavam no banhado e o Serapião tinha ido embora. Era tudo muito
mágico e divertido.
134
Vinda para Pinhal e o propósito
de Deus para a família
Maristela Pereira Pavão
Empresária
Balneário Pinhal/RS
Meu sogro, Nelson Pavão, foi o primeiro da nossa família a
vir morar no município, em 1988, com seu amigo Pepe, hoje já
falecido. Tinham ouvido falar que aqui havia poucos comércios e que
uma colônia de férias (a dos químicos e farmacêuticos) pretendia
colocar um pequeno armazém para fornecer produtos aos seus
associados. Então, ele e seu amigo abriram um armazém nesta
colônia.
Minha sogra, Vilsa Pavão, e seus três filhos, Ivan, Jean e
Jander Pavão, vinham aos finais de semana para ajudar, e eu, inclusive!
Foi assim durante quatro anos. E como o negócio deu certo, a própria
colônia construiu um prédio com moradia para o mercado, na Av. das
Flores, onde nasceu o Mercado Pavão I. E, com isto, a família fixou a
residência aqui com o filho mais novo, Jander.
Em 1991, me casei com Ivan Pavão. Morávamos e
trabalhávamos em Porto Alegre. Após meses ficamos
desempregados, os dois juntos. Neste meio tempo, meu cunhado
Jander comprou um armazém na General Osório, e nos convidou
para sermos sócios. Visto que não tínhamos nada a perder, recém
casados e sem filhos, fechamos nosso apartamento em Porto Alegre,
colocamos algumas coisas no carro e partimos em direção a
Balneário Pinhal, para iniciarmos a maior aventura de nossas vidas,
com muitos planos e sonhos em nossa mente. Mas, Deus já tinha
todos os dEle traçados em seu coração para nós! Aí surgia o Mercado
Pavão II, localizado na Av. General Osório, centro.
A Bíblia, que é a palavra de Deus, diz: “Hoje ou amanhã
iremos a tal cidade e ali ficaremos um ano fazendo negócios e
ganhando muito dinheiro! Vocês não sabem como será a sua vida
amanhã, pois vocês são como uma neblina passageira, que aparece
por algum tempo e, logo depois, desaparece. O que vocês deveriam
dizer é isto: Se Deus quiser, estaremos vivos e faremos isto ou aquilo."
Tiago 4.13-15.
135
Em 1994, após quatro anos de casados, decidimos ter filhos.
O Vinícios, 16 anos, foi nosso primeiro presente de Deus, e, logo em
seguida, nasceu o segundo, Diogo, 15 anos, estudantes do Ensino
Médio na Escola Diogo Penha.
Neste mesmo período, meu outro cunhado, Jean Pavão, veio
morar definitivamente aqui, montou seu próprio comércio, o
Mercado Pavão III, na Av. Itália, Pinhal Sul, juntamente com sua
esposa, Marlene, e seus dois filhos, Rodrigo, 13 anos, e Vitória, 9 anos.
No ano de 1996, mesmo com todo sucesso financeiro,
passávamos por uma crise conjugal, sentíamos um grande vazio que
o dinheiro, os bens, carros, não preenchiam. Faltava algo, faltava
alguém, faltava um objetivo para valer a pena ser vivido. Foi quando
nos foi apresentado o Propósito de Deus para nossa vida. Deus
queria se reconciliar conosco através do seu Filho Jesus Cristo!! Nos
arrependemos de uma vida vivida somente para nós mesmos e nos
convertemos a Jesus e ao seu Evangelho.
A partir daí, começamos a testemunhar o que Deus estava
fazendo conosco, e não demorou muito para que outras pessoas
também recebessem Jesus como Senhor e Salvador de suas vidas,
formando assim a Comunidade de Jesus no Balneário Pinhal.
Vinícios Pereira Pavão, Ivan Carlos Pavão, Diogo Pereira Pavão e Maristela Pereira Pavão
136
Acredito que Deus coloca sonhos em nossos corações, Ele
planta estes sonhos. Ele nos criou e concedeu talentos e dons para
alcançarmos estes sonhos. Os nossos sonhos e planos eram sermos
bem sucedidos financeiramente, termos uma vida estabilizada, viver
bem. Deus trilhou outros caminhos para nós, onde isto faz parte,
mas não é a prioridade. Mas não importa o que fazemos ou que
grandes coisas alcancemos. Isto não seria nada se não tivéssemos
amor uns pelos outros. E precisamos de Deus para recebermos este
amor. Se deixarmos o amor de Deus fluir através de nós, poderemos
causar um impacto sobrenatural aonde vivermos. É isto que Deus
quer ensinar a todos nós, desde o princípio. Deus diz “Eu sei o que
estou fazendo, tenho tudo planejado. Tenho planos para lhes dar o
futuro que vocês esperam.” Jeremias 29.11.
Deus é fascinante! Ele quer que alcancemos nosso sonhos.
Tudo que temos que fazer é deixar que Ele assuma o comando. E
você? Sabe qual o propósito de Deus para sua vida?
A chegada da família Simor
em Balneário Pinhal
Anaiara Patrícia Meira Simor
Professora e diretora da E.M.E.F. Luiz Antonio de Oliveira
Balneário Pinhal/RS
Em janeiro de 1990, o senhor Claus Edgar Simor, conhecido
como Seu Simor, veio para Balneário Pinhal passar as férias. No
entanto, recebeu uma proposta de trabalho na temporada de verão na
Padaria Santo Antônio, ao lado da SAPP, localizada em um lugar
centralizado e privilegiado, por estar duas quadras do mar. Esta é uma
das padarias tradicionais de Balneário Pinhal.
Em fevereiro de 1990 trouxe sua esposa Jeanete Meira Simor
e seus filhos Anaiara Meira Simor, Elisandro Meira Simor e Anaiane
Meira Simor para junto dele. Sua vinda para Pinhal, como era
137
chamada esta cidade, deu-se pela tranquilidade que a praia oferecia, e
pelo fato de ter a oportunidade de realizar o sonho de se tornar
proprietário da sua padaria, pois ser padeiro era uma profissão
escolhida desde a adolescência. Ele realmente gostava do que fazia,
mas queria algo seu e que a família trabalhasse junto.
Seu Simor no verão de 1990, quando chegou em Balneário Pinhal
Depois da temporada, sua filha mais velha começou a
trabalhar na Rodoviária de Pinhal. Fez o Ensino Médio em Cidreira e
em 1993 ingressou na Faculdade em Osório (FACOS). Aí começou o
sacrifício de todos, principalmente de Seu Simor. O dinheiro não
dava. Além de seu salário, ainda tinha que fazer doces em casa para
ajudar nas despesas. A família também aumentou com a chegada de
mais um bebê, Graziele Meira Simor (1994), chegando num
momento de extrema dificuldade. Todos sofriam muito, pois
estavam num lugar longe de familiares, onde havia apenas
conhecidos. No entanto, estes filhos de Balneário Pinhal receberam
Seu Simor e família de braços abertos, com a hospitalidade de
verdadeiros gaúchos, colocando-os como parte destas raízes. Seu
Simor ficou quatro anos na Padaria Santo Antônio. Depois decidiu
sair, pois não estava vendo perspectiva em realizar o sonho de
trabalhar para si. Então resolveu, diante das necessidades, que iria
retornar a sua cidade natal, Passo Fundo.
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Primeira padaria própria, com prédio alugado. Padaria e confeitaria Simor - 1995
Seu Simor e o Sr. Valerino Dias, proprietário da Padaria Santo Antônio em 1990
139
Fazendo encomendas em casa - 1994
Jarbas e Seu Simor na produção de pães - 1996
140
Seu Simor já na tão sonhada padaria em prédio próprio - 1999
Em 2 de dezembro de 1995, na última semana, arrumando
tudo para a viagem de retorno, fazia mais algumas entregas de doces
para pagar algumas dívidas e conseguir dinheiro para a mudança da
família. Por ironia do destino, ao chegar em Pinhal Sul, com sua
bicicleta de entrega, uma senhora lhe ofereceu um prédio para alugar
e colocar a tão sonhada padaria. Não acreditava que, depois de tanto
batalhar, na última semana viu a oportunidade bater em sua porta.
Sem pensar duas vezes, chegou com a notícia em casa e, conversando
com sua família, mudou seus planos.
Todos se uniram para que este projeto desse certo. Seu Simor
trabalhava dia e noite para atender todas as encomendas. Neste
tempo, repassou também os ensinamentos da sua profissão e
técnicas de panificação para muitos. Um de seus aprendizes foi o
Jarbas, que hoje possui um estúdio fotográfico em Balneário Pinhal.
Este rapaz era considerado como filho, pois sabia que, além de
responsável, podia contar sempre com ele. Havia um respeito
incondicional. Mesmo nas dificuldades estava sempre presente para
que os objetivos de Seu Simor fossem alcançados.Tudo parecia
141
muito difícil, pois o capital era pouco para que pudesse ter um
retorno significativo. Foi então que a família decidiu se desligar
totalmente do que tinha em Passo Fundo, vendendo terreno e casa e
investindo num prédio próprio em Balneário Pinhal. A partir daí
sabia que tudo deveria dar certo, pois nada mais tinha a não ser o que
investiria na praia. Após a venda do imóvel, iniciou-se a construção
do futuro comércio e moradia na Av. Maristela, Pinhal Sul. Nesta
fase, as coisas pareciam mais perto da realidade, pois tudo estava se
concretizando através dos investimentos e realização dos sonhos.
Em 1997, o prédio estava pronto e por longo tempo Seu
Simor sustentou sua família com este comércio. Muitos bolos, tortas,
pães e salgados vendeu em Balneário Pinhal, onde até hoje as pessoas
lembram da qualidade e do amor com que fazia seus produtos. Os
filhos tomaram alguns rumos diferentes, mas com muito incentivo
do Seu Simor, pois pregava sempre caráter e humildade para seus
filhos.
Sua filha, Anaiara Simor, mora em Balneário Pinhal com suas
duas filhas (Sarah Simor de Oliveira e Flávia Simor de Oliveira). É
formada em Letras e atua como diretora da Escola Luiz de Oliveira
em Magistério (2010/2011/2012). Elisandro Meira Simor mora em
Canasvieiras/Florianópolis, desde 2000. Casou-se e tem uma filha de
três anos (Laura Simor). Anaiane Cristina Meira Simor mora em
Balneário Pinhal, faz faculdade de Ciências Biológicas e se forma em
agosto de 2012. Graziele Meira Simor mora com os pais em
Balneário Pinhal.
142
Seu Simor está com 61 anos, já enfrentou dois infartos e três
cateterismos, mas se sente realizado, por seus filhos estarem
encaminhados, e é muito orgulhoso da sua família, pois Deus
mostrou que seu esforço não foi em vão. Ainda conta para suas netas,
Sarah e Flávia, suas histórias e experiências, acreditando nos valores
que foram passados para ele quando criança. Faz acreditar que nem
sempre as coisas acontecem como queremos, mas quando cremos
num sonho, não devemos desistir. Ele é prova deste pedacinho de
sonho à beira mar que deu certo. Diante das dificuldades e problemas
familiares que foram enfrentados, existiram areias que sustentaram e
firmaram a família: Deus, força de vontade, fé e esperança. Parabéns
Seu Simor por acreditar em si, passar esta força e ser esta base
rochosa que trouxe lá das suas origens de Passo Fundo a coragem e
humildade, multiplicando-as a todos que passaram na sua vida.
“Obrigada aos meus pais, Seu Simor e Jeanete Meira Simor,
por fazerem parte do que somos hoje e passar para as netas o que nos
ensinaram. Que Deus lhes dê muita saúde para aprendermos cada
vez mais com vocês.” (Seus filhos)
143
Balneário Pinhal: chegada
de famílias
Luciene Simões Pontes
Professora e alunos
da Turma 41 da E.M.E.F. Luiz de Oliveira
Balneário Pinhal/RS
O trabalho foi desenvolvido com os alunos no ano de 2010.
Este trabalho tinha por finalidade fazer com que os alunos
conhecessem a sua história a partir do município em que moram.
Também pretendia oportunizar, aos alunos, o diálogo com suas
famílias, através de entrevistas, para conhecerem as suas origens e
como chegaram ao Balneário Pinhal.
Participaram deste projeto os alunos Adriana, Amanda,
Bianca, Bianca Samara, Ezequias, Franciele, João Vítor, Josiane,
Mariana, Robert, Vitória, bem como a professora da turma, Luciane
Pontes.
Cada um contou a sua história:
- Adriana: “Eu morava em Pinheiro Machado, mas a minha
mãe sempre vinha aqui no Magistério para visitar a minha tia, que
veio para cá em 2002. Já faz oito anos que ela mora aqui. Daí viemos
visitar e gostamos daqui. Meus pais gostaram daqui e viemos para cá
no dia 28/3/2010. Aqui a minha família se sente bem, feliz, porque
no verão tem bastante trabalho, têem escolas e estudos muito bons.
Eu me sinto bem aqui, mas quando acabam as aulas vou embora. Eu
não queria ir embora. Mas vou ter que ir porque a vida é um rio; não
pode parar porque o peixinho tem que andar.”
- Amanda: “Há muitos anos atrás, um senhor com o
sobrenome Tipio resolveu sair navegando pelas lagoas do litoral
norte e acabou chegando aqui, onde chamamos de Pinhal. Eu e
minha família chegamos no ano de 2008, por acaso, pois meu pai e
minha mãe viriam residir no litoral quando meu pai se aposentasse,
em 2012. Muito obrigada por alguém ter indicado esse Balneário,
pois vindo morar aqui eu e meu irmão tivemos a liberdade de brincar,
sem ser no interior do pátio da nossa residência.
Obrigada pela educação e pela saúde. Agradecemos à
144
administração atual e, também, muito obrigada ao senhor Tipio por
ter descoberto Pinhal.”
- Bianca: “Moramos desde 2003, viemos para cá porque meu
avô estava doente.
- Bianca Samara: “Viemos para cá em 2002, porque meu pai
e minha mãe gostaram daqui.”
- Ezequias: “Minha avó estava morando na praia e o meu pai
em Gravataí. Ele veio à praia para morar junto com a minha avó. A
minha mãe morava em Porto Alegre. Ela gostou da praia e começou a
morar em Balneário Pinhal, para morar com o meu pai. Minha família
e eu moramos há oito anos aqui em Balneário Pinhal.”
- Franciele: “Tudo começou quando minha mãe tinha dois
anos e veio morar em Magistério com meus avós, Osvaldo e Alzira.
Minha mãe passou toda adolescência morando e estudando aqui. Aos
21 anos ela conheceu meu pai, Luis Carlos Kaipper dos Santos,
também com 21 anos. Namoraram um ano e depois casaram e
ficaram morando aqui no Magistério. Quando fazia um ano de
casamento nasceu minha irmã Francine, no Hospital Nossa Senhora
da Conceição, em Torres. Quando minha irmã tinha um ano, minha
mãe começou a trabalhar na Prefeitura de Balneário Pinhal, onde
trabalha até hoje. Quando minha irmã tinha seis anos, eu nasci no
Hospital da ULBRA, em Tramandaí. Quando eu tinha quatro meses,
meu pai foi embora de casa com outra mulher, no dia 05 de março de
2000. Minha mãe nos criou sozinha até o dia 22 de maio de 2008; eu
com 7 anos e minha irmã com 13 anos. Neste dia, minha mãe casou
novamente com Moises R. M., natural de Porto Alegre. Há cinco
meses ganhamos uma nova irmã, Natally da Silva, que minha mãe
adotou. Atualmente somos sete pessoas na casa: os pais do meu
padrasto, vó Conceição e vô Androvando, Moisés, a mãe, a Francine,
a Natally e eu.”
- João Vítor: “Meu avô materno é natural de Torres e minha
avó materna é de Santa Catarina. Conheceram-se em Mostardas,
onde tiveram seus filhos, no caso, meus tios. Em seguida vieram para
o Magistério, em 1968, antiga Cerquinha. Meus bisavós maternos
também vieram viver aqui. No Magistério nasceu meu tio mais novo e
minha mãe. Meus avós ficaram aqui devido à pesca e, logo depois,
meu avô trabalhou nas demarcações de terrenos. Minha avó era
funcionária da escola, na época pertencente a Tramandaí. Meus tios
145
mais velhos contam que as aulas, antes da construção da escola, eram
nas casas de veranistas. Depois passaram a estudar no salão da Shell,
uma sociedade ainda existente aqui. Quando fundaram a escola só
tinha até a quarta série do Fundamental. Depois continuavam os
estudos no Pinhal. Sem transporte, precisavam ir a pé até lá. Minha
avó conta que quando vieram para o Magistério não existiam
estradas. Os ônibus e os caminhões passavam pela beira da praia,
inclusive o caminhão, que trazia alimentos. O caminhão passava
mensalmente. Alguns produtos eram comprados com dinheiro e
outros trocados por peixes. Nasci em Capão da Canoa, em 2001, e
moro em Magistério desde então. Moro com meu irmão Vinicius,
minha mãe, que é funcionária da Prefeitura Municipal e trabalha na
E.M. E. F. Luiz de Oliveira. Meu pai trabalha em Porto Alegre, numa
empresa de pavimentação. Estudo no 4º ano da E. M. E. F. Luiz de
Oliveira. Gosto de jogar futebol, brincar com meu irmão, amigos e
estudar. Vivemos aqui até hoje, para ficar perto de nossa família e por
ainda ser um lugar tranquilo de se morar. Aqui temos laços de
amizade.”
- Josiane: “Eu estou em Balneário Pinhal há pouco tempo.
Eu cheguei aqui por causa da minha família. Aqui está a minha tia
morando há um ano. Estou aqui desde o dia cinco de junho de 2010.
Eu tenho pouca coisa para contar, pois eu morava em Porto Alegre e
vim para cá. Eu gosto de morar aqui; é bom e calmo. Minha mãe veio
para cá para trabalhar e meu padrasto também. Eu gosto de estudar
na escola Luiz de Oliveira, e pretendo ficar na escola.”
- Mariana: “Minha história em Balneário Pinhal começou
em 1992, quando minha mãe comprou a casa na praia. Todos os
verões e feriados nós vínhamos curtir a praia. Em 1998, eu vim num
feriadão e ajudei minha irmã no seu trabalho. Logo fui convidada
para trabalhar e decidi vir morar e trabalhar em Balneário Pinhal. Na
época, eu era casada com o pai dos meus dois lindos filhos, João
Pedro, que nasceu em Porto Alegre em 1997. No ano em que me
separei tive a feliz notícia de que estava esperando a minha princesa,
que se chama Mariana Tassoni Rocha de Castro, nascida em 21 de
dezembro de 2000; uma belezona, com 52 cm e 4,220 kg, enorme,
linda. Agora éramos eu, minha mãe e meus dois filhos. Nossas raízes
acabaram por se espalhar, pois meus três irmãos também fixaram
moradia em Balneário Pinhal e vieram meus sobrinhos. Hoje minha
146
doce Mariana tem nove anos e escolhemos Balneário Pinhal para
viver porque é um lugar calmo, bonito, alegre, com ar puro e muitos
amigos.” (Relato da Bianca, mãe da Mariana).
- Robert: “Os meus dindos vieram para cá em 2010, porque
eles estavam desempregados e queriam dar uma vida melhor para
aminha prima nenê Giovana e arrumar um trabalho melhor, no
comércio.
Os meus avós vieram para cá em 1995, porque o meu avô se
aposentou. Veio para a praia, abriu um mercado e deu certo, e até hoje
está dando tudo certo.
Eu vim para o Magistério em agosto de 2000. Nasci em
Alvorada em 2000. Moro com a minha mãe, que é funcionária da
Prefeitura Municipal. Meu pai trabalha de segurança em Porto
Alegre.
Aqui é um lugar bom para se morar.”
- Vitória: “Eu moro aqui no Magistério faz seis anos. Eu e a
minha família viemos trabalhar no verão e ficamos aqui. Antes de
virmos para cá, morávamos em Porto Alegre. Vim para cá com sete
anos.
Antes de virmos para cá, minha bisavó já tinha uma casa aqui
no Magistério. Minha avó decidiu morar aqui. Ela deixou a casa para a
minha mãe e as minhas tias. Depois ela decidiu vender a casa. Minha
mãe ficou grávida, deixou meu irmão completar um ano e ligou para
a minha avó e disse que passaria alguns dias. Decidiu ficar e até hoje
nós moramos aqui. Assim é a minha história.”
- Luciane Pontes (professora): “A minha história com o
Balneário Pinhal começou em outubro de 1993, quando passamos a
veranear aqui; na época, ainda pertencente a Cidreira. Só em 1999 é
que passei a morar aqui, juntamente com o meu marido, Luiz
Armando, e meus filhos, Fábio e Bruno. O que motivou a fixar
moradia aqui foi a entrada do meu filho mais velho, Fábio, na escola.
Em Porto Alegre ele era eliminado pelo sistema, por não ter a idade
de 6 anos e 9 meses para ingressar na 1ª série. Consegui a matrícula na
Escola Estadual Diogo Penha, que o aceitou como aluno. A ideia era
transferi-lo para a escola de Porto Alegre. Porém, me inscrevi para
contrato na Secretaria de Educação, sendo chamada para trabalhar
no município, tanto como professora como psicóloga. Comecei
147
atuando na Equipe Multidisciplinar e também dando aula na Escola
Municipal de Ensino Fundamental Luiz de Oliveira e na Escola
Municipal de Ensino Fundamental Calil Miguel Allem. Matriculei,
então, o meu filho mais novo, Bruno, no Pré B, na Creche Peixinho
Dourado.
Em 2000, após o concurso público para professor, fui
nomeada. Com a nossa vinda para a praia veio a minha prima,
Candice, que também atua no município como professora de
turismo. Depois vieram meus pais, Fernando e Carmen, morar na
praia. Hoje dou aula de Relações Humanas, Ensino Religioso e
Anos/séries iniciais. Meu marido dá aula no Ensino Técnico, na
Escola Estadual Raul Pilla, em Cidreira. Meus filhos concluíram o
Ensino Médio, e estudaram sempre na mesma escola. Vejo o
Balneário Pinhal como o lugar ideal para as famílias criarem os filhos
com liberdade e alegria.”
Fernando e Natalina Cardoso:
trajetórias de vida
Maria Cardoso Faistauer
Professora e historiadora
Balneário Pinhal/RS
Fernando da Silva Cardoso, 77 anos, natural de Cidreira, e
Natalina Francisca S. Cardoso, 75 anos, natural de Santo Antônio da
Patrulha, são moradores do município de Balneário Pinhal, desde
1968.
O casal morou em Sapucaia do Sul, onde o Sr. Fernando
trabalhou na Siderúrgica Riograndense por algum tempo. Lá
nasceram seus primeiros filhos, Alziro e Paulo. Contudo, as raízes
interioranas e a saudade das lides da terra foi mais forte, trazendo-os
de volta ao litoral.
Foi com expectativa que se achegaram na Praia do Pinhal, que
se mostrava cheia de esperança.
Fixaram residência no distrito de Figueirinhas, com
148
atividades pastoris, especificamente com um “tambo de leite”, onde
toda a produção era vendida na cidade, que crescia a cada dia. Seus
amigos de época, Vitor Sperotto, Alcebíades, Antonio Israel,
Tenente Penha, Hilário Zim e outros, foram importantes para
efetivar as vendas de leite, que era trazido engarrafado, na garupa de
cavalo.
A vida se encarregaria de mostra-lhes mais opções. Foi
nestas investidas, que o casal que já tinham mais três filhos, Catarina,
Claudete e Natalino, mudaram-se para a cidade da Praia do Pinhal.
O Sr. Fernando comprou uma carroça, com dois cavalos e
trabalhou na coleta de lixos, como funcionário da Prefeitura de
Tramandaí, que era a sede do município. Também trabalhou muito
fazendo fretes para as madeireiras. Diz-se que foi o primeiro, ou um
dos primeiros carroceiros a trabalhar em Balneário Pinhal.
Mais tarde, depois, com a emancipação política de Cidreira,
Seu Fernando trabalhou na Assistência Social do município,
responsável pela distribuição de leite às famílias e também como
vigilante.
E D. Natália, como é conhecida, trabalhou como cozinheira
na Creche Peixinho Dourado, por mais de oito anos.
Hoje, Seu Fernando e D. Natalina, desfrutam da
comodidade que o trabalho lhes proporcionou e das muitas
amizades que conquistaram, graças ao caráter responsável,
perseverante e generoso, atributos presentes na vivência de sua
prole.
Afirmam, de coração aberto, que aqui é o lugar mais perfeito
para viver.
149
Registro civil e pertencimento na
cidade: Balneário Pinhal
Eliete de Lucena Leão
Supervisora Educacional
Balneário Pinhal/RS
Liliana dos Santos Scheffer
Professora Graduada em História
Osório/RS
Nossa comunicação apresenta uma coletânea de entrevistas
realizadas com os alunos da E.M.E.F. José Antonio da Silva. A
entrevista consiste em apontar a naturalidade, suas raízes familiares e
responder as seguintes questões:
Onde eu nasci?
Quando alguém te pergunta de onde tu és, o que tu
respondes?
De onde os teus pais são?
A experiência realizada com os alunos nos levou a falar
sobre o sentimento de pertencimento e de legalidade estabelecida
nas certidões de nascimento de nossas crianças.
É neste rumo que faremos nossa comunicação divulgando
os resultados obtidos através dos alunos do 5ª ano e demais alunos
da escola.
Nosso trabalho de coleta de dados iniciou-se através da
apresentação do conceito de nacionalidade e naturalidade para os
alunos entrevistados na roda de conversa.
Segundo, Hilton Japiassú, “naturalidade precede um direito
natural e direito natural; se origina da natureza humana.”
A palavra naturalidade foi trabalhada na sua raiz conforme
faixa etária das crianças, sendo que ao longo da conversa
significamos o conceito de naturalidade. Ou seja, trata-se da
qualidade do que é natural, o modo de ser conforme a natureza;
singeleza e simplicidade. Ou ainda, a qualidade de ser oriundo de um
país ou região; nascimento. A terra onde alguém nasce, a pátria,
refere-se a todos da mesma naturalidade.
Tudo isto que foi conversado durante a entrevista coletiva
resultou na legalidade que se apresenta na certidão de nascimento,
150
que é um documento cujo conteúdo é extraído do assento de
nascimento lavrado em um livro depositado aos cuidados de um
Cartório de Registro Civil.
A nossa primeira entrevistada foi a aluna Gabrielle Borcelli
Pacheco, que assim relatou: ”Sou da praia, mas nasci no hospital de
Osório. Não sei dizer porque, mas eu sou da praia. Meu pai é de
Gravataí e minha mãe é de Porto Alegre. Eles vinham veranear e se
conheceram. Então se casaram e ficaram morando aqui.
Já a aluna Bruna Mattos relatou:
“Sou moradora de Balneário Pinhal, mas nasci na
maternidade de Capão da Canoa e fui registrada em Cidreira. Meu pai
nasceu em Osório e minha mãe nasceu em Porto Alegre. Também
sou da praia.”
A aluna Jordana Pinto, relata que o pai é de Porto Alegre e a
mãe é de Taquari e ela nasceu em Osório, no Hospital São Vicente de
Paulo e foi registrada no município de Cidreira, e diz: “Eu sou da
praia.”
Nesse mesmo contexto obtivemos o relato de Alysson que
nasceu no Posto 24h de Balneário Pinhal, pois não houve tempo para
chegar até a maternidade de Tramandaí. Neste caso detectamos
também que o município não necessita somente de um cartório, mas
também de uma maternidade.
Portanto, crianças filhas de Balneário Pinhal nascem e são
registradas em municípios vizinhos.
Notamos neste momento da fala dos alunos entrevistados, o
surgimento do sentimento de pertencimento à terra onde vivem.
Mas, por um fator social, político e administrativo de um município
que se encontra em desenvolvimento, ainda não temos um cidadão,
de direito, de Balneário Pinhal.
Encerramos nosso trabalho com a seguinte questão: Quem
vai ser o primeiro cidadão, de direito, de Balneário Pinhal?
151
152
153
Economia de
Balneário Pinhal
O início da pecuária
na Fazenda do Pinhal
Lindolfo Alves de Almeida
Pecuarista
Balneário Pinhal/RS
Sou natural de Maquiné e me criei no Passo do Maquiné, nas
terras que foram adquiridas por meus antepassados no ano de 1815,
anos antes da independência do Brasil. A escritura pública está
guardada como documento oficial e histórico da família.
Nesta área predominou a exploração agrícola, sendo
também praticada a pecuária, apesar de serem os campos baixos e
alagadiços.
Meu avô dedicou-se à pecuária. E meu pai, Manoel Gomes
de Almeida, conhecido por Mariante, se dedicou à criação de gado
vacum, ovelhas e cavalos. Na época das enchentes, o rebanho era
levado para outro campo, também de propriedade de meu avô, na
localidade onde hoje é Capão da Canoa. Eram 139 ha de campo
aberto.
Esta atividade foi promovida até o ano de 1942 quando as
terras foram vendidas. A partir de então, por intermédio de amigos e
conhecidos, como Leôncio Marques e Osvaldo Bastos, meu pai
passou a arrendar campos na região de Cidreira para trazer o gado na
época da cheias.
Nos primeiros dois anos ele arrendou terras de Ângelo
Famer, localizadas na Fortaleza onde Chico Teixeira era o capataz.
Com ele, meu pai fez novas amizades na região e passou a arrendar a
Fazenda da Rondinha e a Fazenda do Pinhal, de propriedade do Dr.
Fábio e Fausto Prates respectivamente (propriedade atual de
Humberto Brum Ferreira).
No ano de 1948, meu pai comprou de Antonio Chicon Ortiz,
genro do Sr. Paco, uma área na Fazenda do Pinhal, propriedade que
temos até os dias atuais.
Nesta área foi plantada a primeira lavoura de arroz da região,
sob os cuidados de Manoel Espanhol, familiar do Sr. Paco, que era
casado com a Srª Mosa, filha de José Marfiza, dono da chácara que
hoje pertence ao Sr. Tula Gil.
155
A partir dos anos 1960, houve uma significativa expansão da
plantação de arroz na região, com os levantes de água do Sr. Fausto
Prates, que juntamente com Emílio Rafaelli plantaram os campos da
Fortaleza, Fazenda do Pinhal e Roça Velha. E, na nossa área, a água
vinha por Cristiano Coelho, do Rio Palmares, que cortava muitos
campos, até chegar na nossa propriedade, que era a última a ser
irrigada.
Com a plantação de arroz, os campos tiveram uma boa
melhoria para a pecuária, que aumentou, em grande escala, a criação
de gado e a sua qualidade.
Nos campos dos Cristinos, para os lados de Palmares do Sul,
na pessoa do Celso Braga, que gerenciava a pecuária, fizeram
cruzamento da raça Charolês com Nelore, resultando um gado de
primeira qualidade. O Sr. Quinio Capela fez cruzamento com a raça
Devon, que foi também muito bom. E, assim, outros foram
aprimorando os rebanhos.
O Sr. Fausto Prates também se dedicou à criação de gado,
mas sem raça definida, porque seu interesse estava voltado para o
florestamento, projeto pioneiro na região. O primeiro plantio
aconteceu entre 1964 e 1966, nas proximidades da antiga sede, na
direção dos levantes de água.
Nos anos 1970, quando comecei a trabalhar definitivamente
na Fazenda do Pinhal, foram adquiridos os primeiros touros,
reprodutores puros, da raça Devon. Mais adiante, talvez em 1973,
compramos uma tropa de 40 novilhas na Fazenda da Ponta do Mato,
de propriedade do Dr. Aldo Carvalho Vieira. Assim apuramos um
dos melhores lotes bovinos da época. Mais tarde, cruzamos com a
raça charolês, o que foi bom para dar mais desenvolvimento ao gado.
Nos dias atuais, continuando o sistema herdado de meu pai,
permanecemos com a atividade pecuária, no sistema extensivo.
Destacamos a pessoa de Fausto Borba Prates, cujo nome
deveria estar a frente de diversos lugares, tanto no distrito do Túnel
Verde como na sede do município, a então Praia do Pinhal, projetada
e concretizada graças ao seu empenho e espírito investidos.
O Sr. Fausto foi quem trouxe a Empresa Flosul para Pinhal e
foi ele quem plantou a primeira área de mato de eucaliptos da
empresa, que se estendia desde a sede da Fazenda do Pinhal até a
Estrada de Guaíba, e na direção ao Rancho Velho. Ele também tinha
156
a Agro Territorial Cidreira, que prestou serviços a outras partes do
nosso litoral. Mais tarde, talvez pelos ano de 1980, ele arrendou a
empresa para a Habitasul Florestal que ampliou o florestamento com
extensão paralela da atividade pecuária, bem desenvolvida com a
sistemática da recria, isto é, trazia terneiros de outras fazendas para se
criarem e comercializarem o gado para o abate ou mesmo para
invernadores.
Para finalizar, registro que é lamentável o esquecimento
daqueles que assentaram as bases do povoamento do nosso
município, bem como não se pode permitir que continuem
devastando o nosso meio ambiente. Com exemplo cito as dunas
depredadas e no Túnel Verde, as florestas dando lugar ao deserto. E,
nessa direção, é de se questionar a identificação do município como
Capital do Mel. Com as árvores derrubadas, terminando-se
gradativamente com o que resta da floresta fica a pergunta: do quê e
como as abelhas vão fazer o mel?
Habitasul e o início do
povoamento no Túnel Verde
Eliane Ferreira Scherner
Educadora Social - CRAS
Balneário Pinhal/RS
A Habitasul começou história no distrito do Túnel Verde em
uma época em que o Balneário Pinhal não era emancipado. Muitos
dos moradores vieram morar aqui por causa desta indústria, que se
instalou nesta região pelo grande e vasto número de árvores a serem
exploradas no comércio da marcenaria.
Muitas pessoas à procura de emprego vieram morar no Túnel
Verde, trabalhadores estes que vieram de vários lugares, já com o
emprego garantido nesta empresa. A própria empresa de
reflorestamento deu a estes funcionários casas para que se
instalassem perto de seu trabalho, formando uma vila. Com o passar
157
do tempo, outras empresas foram explorando este vasto lugar de
eucaliptos, como por exemplo a Flosul, existente até os dias atuais.
Algumas ruínas do que foi a Habitasul, no distrito de Túnel Verde
A Habitasul acabou fechando suas portas e muitos dos seus
empregados, além de perder o emprego, perderam suas casas, pois a
vila foi desfeita. Alguns conseguiram emprego na Flosul, outros em
pequenas marcenarias (como a que hoje existe onde foi a instalação
da Habitasul).
A população do Túnel Verde deu-se basicamente pela
instalação da Habitasul e mesmo com o seu fechamento hoje ainda
há diversos moradores por lá, pois muitos não tiveram para onde ir e
158
outros ficaram por ali, já que conseguiram ingressar em novas
empresas. Estes fatos foram contados por D. Margarida Ferraz de
Vargas, moradora há vários anos e uma das funcionárias que
trabalhou na Habitasul.
Transcrição da entrevista nº 1
Dados de Identificação: Neroci
Idade: 63 anos
Arte de Conviver - Na verdade nós, as crianças do PETI,
gostaríamos de saber um pouquinho do senhor. Quando o Túnel
Verde surgiu? Como era naquela época lá atrás, seu Nerocí? Quanto
tempo o senhor mora aqui?
Antigo refeitório com cozinha e banheiros
Caixas d´água que abasteciam a Habitasul
159
Sr. Neroci: Moro uns 30 anos.
Arte de Conviver: E como era o Túnel Verde há 30 anos
atrás?
Sr. Neroci: Era bom.
Arte de Conviver: O que tinha naquela época?
Sr. Neroci: Eu morava lá na Fortaleza, aí vim trabalhar em
lavoura.
Arte de Conviver: Não tinha nem a Habitasul ainda?
Sr. Neroci: Não, não tinha, era o véio Fausto; Depois é que
começou. Aí dispois eu comecei a trabalha com o véio Fausto, na
obra aí de lá viemo pra serraria dele aqui onde era a Habitasul. Daí
fomo ficando por aí.
Arte de Conviver: Sim, e o senhor chegou a trabalhar na
Habitasul mesmo?
Sr. Neroci: Eu trabalhei.
Arte de Conviver: O senhor sabe dizer assim, que ano que ela
abriu?
Sr. Neroci: Não sei.
Arte de Conviver: Mas faz muitos anos isso?
Sr. Neroci: Faz, muitos muitos não, mas faz.
Arte de Conviver: E que ela fechou mais ou menos quanto
tempo?
Sr. Neroci: Faz uns 20.
Arte de Conviver: Uns 20 anos?
Sr. Neroci: É fechou aqui né.
Arte de Conviver: Hoje é a Trevo que funciona ali?
Sr. Neroci:Não, não ali é o Clóvis. Até nem sei qual o nome da
firma. Agora ta o Clóvis ali, onde que ela fechou. Ele levou nós tudo,
onde que nós compramos essas coisas aqui pra morar, pra se esconde.
Arte de Conviver: Meninas vocês querem perguntar?
Arte de Conviver/Yasmim: Como que surgiu a ilha?
Sr. Neroci: A ilha? Ali, botaram um trator de esteira dentro,
foi cavando e fez aquela taipa na vorta.
Arte de Conviver/Ranioli: Como surgiu o Túnel?
Sr. Neroci: O túnel, ah o túnel era da minha idade, mais diz
que plantaram os eucalipto depois intorto com o vento, e surgiu o
túnel.
Arte de Conviver: Quando o senhor veio para cá na verdade
160
Entrada de acesso pela rodovia
161
já tinha algumas pessoas morando aqui ou não tinha muita gente?
Sr. Neroci: Não tinha ninguém, tudo aqui era lavoura de
arroz, agora é que não tem mais nada disso aí, é só Pinos né.
Arte de Conviver: Hum, sim. Mais perguntas?
Arte de Conviver: Tinha luz, água encanada, como eram as
coisas antigamente?
Sr. Neroci): Tinha, luz sempre tinha, água encanada não.
Água não. A água é de um tempo para cá né? Há pouco tempo que
construíram.
Arte de Conviver: Estas caixas d'água que tem ali perto do
CRAS não tinham antigamente?
Sr. Neroci: Não.
Arte de Conviver: Essas plantações de pinos não existiram
sempre aqui, eram só lavouras mesmo?
Sr. Neroci: Só lavouras.
Arte de Conviver: Quem é que começou a plantar esses pinos
aqui?
Sr. Neroci: Foi o véio Fausto que começou, isso aí né. Até os
primeiros pé de pinos, quem botou na terra fui eu o Maneca, meu
irmão, ali, o Ronildo, nós três.
Arte de Conviver: Vocês três então começaram ali.
Sr. Neroci: Comecemo. Comecemo lá na resineira, que agora
é resinera.
Arte de Conviver: Então o senhor foi um dos primeiros
moradores daqui na verdade?
Arte de Conviver: Como faziam para a saúde para sair daqui,
meio de transporte para se deslocar para cidade?
Sr. Neroci: A cavalo, nóis ia na Cidrera.
Arte de Conviver: Era tudo por Cidreira?
Sr. Neroci: É, era lá na Cidrera que tinha, aí o recurso era lá.
Onde que é o asilo dos véio é que era o hospital.
Arte de Conviver: É eu lembro.
Sr. Neroci: Nós corriia pra lá.
Arte de Conviver: O senhor veio para cá com família ou veio
sozinho?
Sr. Neroci: Sozinho, eu era molecão, tinha uns 15 anos.
Arte de Conviver: O senhor veio da onde?
Sr. Neroci: Fortaleza.
162
Arte de Conviver: Fortaleza, ali fora? Ali em Cidreira?
Sr. Neroci: É. Nascido ali.
Arte de Conviver: Bom, se o senhor tiver mais alguma coisa
para acrescentar, mas basicamente era isso que agente queria saber,
um pouquinho do Túnel Verde. Então a gente já sabe, né, que na
história veio isso primeiro, os arrozeros, só plantação mesmo e
depois os pinos.
Sr. Neroci:Sim, sim.
Arte de Convive: Então era isso seu Neroci. A gente
agradece. O senhor hoje está com quantos anos?
Sr. Neroci: 63 anos.
Arte de Conviver: Obrigada!
Transcrição da entrevista nº 2
Dados de Identificação: Adão Bernardo da Silva
Idade: 78 anos
Arte de Conviver: Como é todo o seu nome?
Sr. Adão: É Adão Bernardo da Silva.
Arte de Conviver: Seu Adão, quantos anos o senhor têm?
Sr. Adão: Eu tenho 78.
Arte de Conviver: Seu Adão, o que a gente soube é que o
senhor é um dos moradores mais antigos daqui. E a gente queria
saber como é que começou o Túnel Verde. Quando é que o senhor
veio para cá? Como era o Túnel antigamente?
Sr. Adão: Olha, o Túnel não tinha nada aí, esses
assentamento aí não tinha nada.
Arte de Conviver: Não tinha essas casas que tem hoje, nada,
nada?
Sr. Adão: Nada, nada, nada. Aí isso aqui começou, eu to aqui
acho uns 30 anos mais ou menos e não tinha nada aí. Isso aqui foi
di...(pausa). A data que começou a formar isso aí acho que 91
começou aí.
Arte de Conviver: O senhor veio para cá da onde? De onde o
senhor era antes de vir para cá?
Sr. Adão: Venâncio Aires, a minha zona e eu vim pra cá aí eu
morava em Canoas, tinha casa em Canoas. Eu vim pra cá em 1980, faz
163
Entrada pelos fundos
164
Entrada pelos fundos
165
Entrada pelos fundos
166
uns 30 anos.
Arte de Conviver: O senhor veio para o Túnel em busca de
emprego?
Sr. Adão: Já vim com emprego arrumado.
Arte de Conviver: E o senhor veio para trabalhar no quê?
Sr. Adão: Eu vim pra trabalha com serraria, na produção, era
encarregado de serraria.
Arte de Conviver: Mas quando o senhor veio para trabalhar já
existia a Habitasul ou não?
Sr. Adão: Eu vim trabalha, comecei a trabalha no véio Fausto
em 1980, e aí depois o véio Fausto vendeu e eu fui pra Habitasul, aí a
Habitasul eu tinha 16, 17 anos.
Arte de Conviver: O senhor sabe mais ou menos quando foi
que a Habitasul abriu?
Sr. Adão: A Habitasul abriu de 83 pra 84 que a Habitasul
abriu, aí era o véio Fausto que comandava, essas floretas aí tudo foi
ele que plantou.
Arte de Conviver: E foi ele quem plantou também?
Sr. Adão: É isso aí tinha incentivo fiscal né, então ele que fez
de toda essa plantação aí.
Arte de Conviver: Em que ano mais ou menos a Habitasul
fechou?
Sr. Adão: Aqui ela fechou... Eu saí com 27, olha ela fechou
mais ou menos aí no ano 2000.
Arte de Conviver: Não faz assim tanto tempo? Faz uns 10
anos só, mais ou menos.
Sr. Adão: Mais ou menos. Eu saí dali em 97 ela inda fuciono
mais uns tempo. 2000 mil foi que ela fechou aí, 2000.
Arte de Conviver: Quando o senhor veio pra cá, o senhor
veio com a sua família ou o senhor veio sozinho?
Sr. Adão: Eu vim com a minha esposa, as minhas gurias, eu
tinha duas filhas já eram casadas, lá em Porto Alegre. Veio eu e a
minha esposa.
Arte de Conviver: Já tinha alguém morando aqui quando o
senhor veio pra cá, ou o senhor foi uma da primeiras famílias?
Sr. Adão: Não, quando eu vim pra cá tinha o assentamento
que ficava o pessoal da vila da Habitasul, no meio do campo. Ali tinha
uma vila que era só operário da Habitasul. Era do véio Fausto, depois
167
passou pra Habitasul. Aí eu morei um tempo lá, depois eu comprei
aqui uma propriedade.
Arte de Conviver: Então o senhor morou naquela vila ali,
junto com o pessoal que trabalhava na Habitasul. Então já tinha um
pessoal morando ali quando o senhor veio pra cá.
Sr. Adão: Morei ali acho que uns três, quatro anos, depois eu
comprei aqui.
Arte de conviver: Quando o senhor veio pra cá já existia estes
eucaliptos, esses pinos todos ou ainda não?
Sr. Adão: Eucalipto já existia tudo, o Túnel Verde, o Túnel
existia, tudo existia isso aí.
Arte de Conviver: Por que a gente conversou com o seu
Neroci e ele comentou que quando veio pra cá era só arrozeira, não
existia os pinos. O senhor quando veio pra cá já tinha os pinos.
Sr. Adão: É ele se criou por aí, não sei aonde.
Arte de Conviver: É ele é da Fortaleza.
Sr. Adão: É ele se criou aí por lado da Fortaleza ele se criou aí,
ele e essa plantação de pino ele acompanhou, quando a gente veio já
tava.
Arte de Conviver: Como é que era a saúde para vocês ir no
hospital quando o senhor veio morar aqui, a questão do transporte?
Sr. Adão: Ah era ruim, não tinha.
Arte de Conviver: Como é que vocês faziam para ir até o
hospital?
Sr. Adão: Quando adoecia a pessoa tinha que ser por
Cidreira. Isso aqui era município de Cidreira, Pinhal, era ruim, muito
ruim, a saúde isso aí não tinha, depois de um tempo foi começa esse
posto aí depois que Pinhal passou a município, ai normalizou isso aí.
Arte de Conviver: Vocês já tinham luz, água aqui? Como é
que funcionava, a questão da luz, a água encanada?
Sr. Adão: Água encanada não, a luz quando eu comprei aqui
já tinha, luz tinha, água encanada não.
Arte de Conviver: E o senhor viu a construção aqui da ilha,
participou da ilha ali da Santa, Chegou a tá participando disso na
época, sabe me dizer como é que foi que surgiu a idéia de fazer aquela
ilha ali.
Sr. Adão: Já tava pronta quando eu vim, já tinha a ilha, que
168
aquilo ali formo uma ilha ali muito organizado, tinha barquinho tinha
tudo, mas no correr do tempo.
Arte de Conviver: Mas não tinha a Santa ainda?
Sr. Adão: É, não, eu sei dizer que já tinha a ilha.
Arte de Conviver: Tem mais alguma coisa assim, alguma
curiosidade aqui do Túnel que o senhor gostaria de falar? Alguém
quer fazer uma pergunta?
Arte de Conviver/Lutiano: Quanto tempo o senhor ta
morando aqui?
Sr. Adão: Aqui? 27 anos que eu moro aqui, esses arvoredo aí
tudo fui eu que plantei, 27 anos que eu moro aqui. Eu vim de Porto
Alegre pra cá.
Arte de Conviver/Yasmim: Quando o senhor veio para cá já
tinha a escola?
Sr. Adão: Tinha, tinha a escola, já tinha, meia ruim a escola,
mas tinha, tinha escola, quando nós veio pra cá já tinha, é o mesmo
colégio lá, só depois foi melhorando, arrumando, agora ta lindo
aquele colégio. O colégio era pequeno, agora não, agora ta muito
lindo o colégio, mas era muito pequeno o colégio.
Arte de Conviver/Yasmim: Tinha a creche?
Sr. Adão: A creche não tinha, A creche não tinha, quando eu
vim pra cá não tinha.
Arte de Conviver/Lutiano: O senhor lembra quantos anos
faz que começaram a fazer a creche?
Sr. Adão: Ah, a creche parece que começaram quando Pinhal
passou a município, não sei quantos anos faz.
Arte de Conviver/Lutiano: Quando o senhor veio a morar
aqui no Túnel Verde era município de Pinhal ou não, ou sempre foi
Túnel Verde e Pinhal?
Sr. Adão: Não, quando eu vim pra cá isso aqui pertencia pra
Cidreira, era município de Cidreiras, depois passou a município do
Pinhal, então município de Pinhal.
Arte de Conviver/Camila: Como era o comércio
antigamente?
Arte de Conviver: Como era a questão do comércio local, já
existiam esses mercadinhos? Como é que vocês faziam para comprar
as coisas?
Sr. Adão: Olha, tinha dois mercado, o mercado do Gilmar
169
Bandas agora, era do pai dele e tinha um mercado que era do, ali do,
só que ta fechado ali, eu não me lembro, mas tinha o mercado do véio
Bandas, tinha perto do colégio.
Arte de Conviver/Lutiano: Tinha médico?
Sr. Adão: Não tinha, aqui não tinha médico, só veio médico
pra cá depois que passou a município.
Arte de Conviver/Yasmim: Já tinha igreja na época?
Sr. Adão: A igreja tinha, tinha a igreja sim, a igreja já tinha.
Arte de Conviver/ Yasmim: Seu Adão, quanto tempo a
Flosul existe aqui?
Sr. Adão: A Flosul quando eu vim pra cá já existia a Flosul, a
Flosul já existia, tinha a Flosul, a Flosul já funcionava.
Arte de Conviver/Lutiano: Quando o senhor veio morar pra
cá isso aqui era tudo mato ou só era campo assim?
Sr. Adão: Era campo.
Arte de Conviver/Lutiano: Quando o senhor veio morar
pra cá já tinha alguns carros que vieram morar pra cá?
Sr. Adão: Tinha, tinha, já tinha dono de sítio.
Arte de Conviver:- Então era isso seu Adão.
História da Flosul
Cláudia Simoni Marques
Professora e alunos da Turma 7a série
da E.M.E.F. Barão de Santo Ângelo
Balneário Pinhal/RS
A Flosul foi fundada em 1970, quando Renner Hermann,
Sul-brasileiro e Carll Birdemann se uniram e compraram uma área de
6.000 hectares com a finalidade de formar maciços florestais
aproveitando incentivos fiscais deduzidos do imposto de renda de
Pessoas Jurídicas.
Esta empresa teve a denominação de Flosul Florestamentos
do Sul Ltda, tendo como sede administrativa e comercial, seu parque
e maior reserva florestal localizados no km 84 da Rodovia Estadual
170
RS 040 no município de Capivari do Sul. Após a fundação, teve
sucessivos projetos de florestamentos aprovados pelo Instituto
Brasileiro de Desenvolvimento Florestal - IBDF, posteriormente
substituído pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente - IBAMA.
Foram plantados ao longo de cinco anos os 6.000 hectares de
florestas de eucaliptos (gênero predominante) e pinus. O
estabelecimento e manutenção destas florestas geraram variadas
formas de matéria prima florestal, induzindo a uma verticalização na
empresa, surgindo assim atividades industriais diversificadas.
Em 1981 foi construída uma unidade de desdobro de toras
denominada Serraria, que produzia uma quantidade pequena de
madeira serrada, e, na medida em que a oferta de toras pela floresta ia
aumentando, em conseqüência aumentava a produção da serraria,
transformando-se, na década de 90, o principal negócio da empresa,
e também uma das maiores unidades do país em produção de
madeira bruta de eucaliptos.
Em 1982 foi instalada a usina de tratamento de madeira, com
processo de tratamento no sistema de vácuo-pressão. Esta unidade
caracteriza-se por ter recursos tecnológicos de ponta em tratamento
e principalmente quanto à segurança ambiental.
A partir da década de 1990, a empresa diversificou sua linha
de produtos tratados (construção civil, setor agropecuário,
floricultura e playground) que no início era dominada pela
eletrificação.
No segundo semestre de 1983 a empresa passou a ser
controlada por Renner Hermann S.A., e a partir daí foram feitos
vários investimentos em melhoramentos e aprimoramento técnico.
Em 1987, a Flosul retomou seus plantios, sob um moderno
programa de reposição florestal. As novas técnicas de produção de
florestas, desde o melhoramento genético até os tratos silviculturais
de desbaste e poda, são largamente usados neste programa.
No início de 1992 a razão social foi alterada, passando a ser
Flosul Ind. Com. Mad. LTDA. sem, no entanto, ter ocorrido
modificação na composição dos sócios. Em dezembro de 1995 foi
aprovado o estudo de viabilidade de novas plantas de manufatura,
sua implantação iniciou em 1996 e seu “Star Up” foi implantado em
setembro de 1997.
Esta nova unidade consiste em um complexo de secagem
171
artificial e uma planta de manufatura e beneficiamento de madeiras,
cujos produtos principais são componentes para indústria moveleira
e da construção civil, atingindo os mercados interno e externo.
Em 2003 teve início o programa de melhoramento genético,
visando mudas de alta qualidade, uniformidade e crescimento,
preparando a empresa para as novas demandas do mercado.
No ano de 2007 foi inaugurada a nova serraria,
completamente reestruturada e contando com o que há de mais
moderno em maquinário e processos produtivos.
Em meados de 2010 uma nova unidade foi inaugurada pela
Flosul Madeiras, a sua subsidiária Flosul Móveis, que fabricará
móveis de eucalipto de alto padrão.
Hoje a empresa conta com 120 funcionários próprios e
aproximadamente 80 terceirizados para atender sua demanda em
todo estado do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná,
vendendo produtos para pecuaristas, silvicultores, construção civil e
eletrificação, destacando-se empresas terceirizadas junto a CEEE e
de telefonia junto a Brasil Telecom.
Durante todo este crescimento, a Flosul tem se mantido
atenta a sua imagem, buscando a melhoria contínua, dedicando aos
seus clientes todos os seus esforços e nunca esquecendo o respeito à
comunidade, ao meio ambiente, cultivando uma integração cada vez
melhor.
O início do comércio local no Sindipolo
Mara Luz dos Santos
Professora e alunos da Turma 61
da E.M.E.F. José Antonio da Silva
Balneário Pinhal/RS
A Escola Municipal de Ensino Fundamental José Antonio
da Silva está localizada na Rua Miguel Calil Allem, n° 130, Balneário
Pinhal/RS e foi criada através da Lei Municipal n° 264/92, datada de
06 de Outubro de 1992. Na ocasião, a escola era denominada como
172
Escola Municipal de 1º Grau Incompleto Duque de Caxias, vindo a
ser desativada no dia 3 de março de 1994 pelo Decreto nº 015/94.
Então passou a ser denominada Escola Municipal de Ensino
Fundamental José Antônio da Silva, que recebeu este nome em
homenagem ao senhor José, conhecido como José Porfírio.
Nossa contribuição para XXI Raízes em Balneário Pinhal é a
de trazer fatos e relatos de alunos e professores juntamente com a
comunidade do Sindipolo. São trazidas algumas informações sobre o
início do comércio a partir das indagações feitas aos alunos da turma
61 sobre os moradores antigos que pudessem informar como iniciou
o comércio local. A partir desse diálogo o aluno Bruno se identificou
como trineto do patrono da escola e assim começaram nossas
descobertas. Logo, toda a turma saiu a campo para entrevistar a avó
(antiga comerciante) de Bruno e filha de José Antônio da Silva.
José Antonio da Silva: pai e patrono da escola
Rosa Luzia da Silva: filha
Terezinha da Silva Lima: neta
Ana Paula Lima dos Santos: bisneta
Bruno Lima dos Santos: trineto e aluno
Terezinha da Silva Lima tinha um armazém na sala de casa.
O 1º comércio no Sindipolo foi da Dona Maria Lauer “Armazém Taí”, com venda a granel e no caderno. Outras
informações serão trazidas em outra oportunidade.
Frutos de uma terra fértil
Joel Porto Erling
Empresário
Balneário Pinhal/RS
Iniciamos nosso trabalho na Praia do Pinhal (na época
distrito de Cidreira) em dezembro de 1990. Começamos o nosso
negócio em sociedade com o Sr. Adão da Silva Melo, em uma
pequena fruteira que situava-se no terreno onde hoje funciona o
parque de diversões em frente à praça do Osso da Baleia. Na época
173
presenciamos algumas melhorias de nosso município, tais como a
transformação da rua general Osório em avenida e o aumento da
mão dupla em toda a avenida Castelo Branco.
Lembro-me que o primeiro prédio que alugamos era
extremamente antigo, de madeira, alto, e com muitos buracos no
telhado. Por este motivo colocamos lona preta como forro para
impedir a entrada do sol nos produtos. Um mês depois desocupamos
o espaço, pois a Justiça havia decretado a interdição do prédio
(imagine a situação do imóvel). Imediatamente nos mudamos para o
prédio do Sr Nilson Santos (na época vice prefeito de Cidreira) onde
hoje funciona o Gabi Lanches, a apenas vinte metros de distância de
onde estávamos. Passamos a primeira temporada, e apesar do
começo tumultuado, conseguimos sobreviver.
Em março de 1991 retornei para a cidade de Capão da Canoa
para trabalhar como gerente de um supermercado, deixando o sr
Adão da Silva durante o inverno responsável por nosso pequeno
negócio. Regressei a Pinhal em dezembro de 1991, convicto de que
essa era a terra que eu queria para construir o meu futuro. Passamos
mais uma temporada no mesmo local, e no início do inverno de 1992,
em busca de um espaço maior, nos mudamos para o Prédio do
Meneguete e desfizemos nossa sociedade. Fiquei com a loja da
Castelo Branco e meu sócio iniciou aqui em Pinhal uma nova
empresa. Vendo que o meu comércio permanecia pequeno, fiquei
174
apenas dois anos no ponto e novamente resolvi mudar de endereço.
Construí um prédio em um terreno baldio na esquina da Av. Castelo
Branco com a Av. Itália, (o terreno eu aluguei). Esse terreno havia
sido adquirido pelo Sr Adão (proprietário da madeireira Madesul) e
em maio de 1994 nos mudamos. Os negócios melhoraram e agora já
era um sacolão econômico e sacolão de frutas.
No ano seguinte, devido a problemas familiares, tive de
repartir o pouco que tinha adquirido, e novamente as coisas ficar
ruins. E como se não bastasse, o dono do terreno pediu o imóvel.
Consegui convencê-lo a me alugar por mais um ano. No meio dessa
turbulência toda, conheci a mulher de minha vida, Michele, que,
apesar de muito jovem, teve idoneidade para suportar todas as
adversidades que vieram. Neste meio tempo conheci também uma
pessoa que foi muito mais do que uma funcionária, Dona Marina
Zoe, que nos ajudou com sua experiência e dedicação,
permanecendo ao nosso lado sem medir esforços.
175
Um ano passou rápido e quando vimos o prazo havia
acabado. Desta vez nos mudamos para um lugar menor e pior, mas
mesmo assim não desistimos. Em setembro de 1996 começamos
nossas atividades numa pequena loja no prédio do antigo hotel Turis.
Não desanimamos e para nossa surpresa pouco tempo depois a
nuvem começou a se dissipar e os negócios começaram a melhorar.
Percebendo a mudança no comportamento dos clientes que davam
preferência às lojas onde todos os produtos são encontrados em um
só local, resolvemos alugar o prédio da Dileta, na Av. Castelo Branco,
próximo à caixa d água e abrimos um mini-mercado com o nome
Boa Compra. Em dezembro de 1998 inauguramos com fruteira,
açougue e padaria. Parecia muito bom, agora tínhamos um sacolão
de frutas e um minimercado, mas as coisas não saíram como
previmos e embora todas as dificuldades, tínhamos a convicção que
iríamos crescer.
176
Em julho do ano de 2000, dez anos após ter pisado nesta
terra, vendemos nosso carro, pegamos dinheiro emprestado,
atrasamos pagamentos de fornecedores e conseguimos comprar o
nosso tão sonhado “ponto comercial”. Adquirimos um prédio
antigo e abandonado, que reformamos com muito sacrifício e em
dezembro de 2000 inauguramos a empresa Comércio de alimentos
Samy Ltda, o nosso “Supermercado Samy”.
Em fevereiro de 2001 começamos as atividades ainda com
uma loja modesta e pequena, porem em prédio próprio. Passamos
por momentos de aperto financeiro e em abril de 2001 resolvemos
fechar o minimercado Boa Compra, pois o mesmo já estava nos
dando prejuízo há algum tempo. Em março de 2002 fechamos
também o sacolão Samy, porque entendemos que não havia
necessidade de possuirmos dois comércios, um em frente ao outro.
Vendo que precisaríamos continuar crescendo para nos manter no
mercado, resolvemos procurar a Rede Unisuper para consolidar
nossa empresa e concorrermos com as grandes redes. Neste mesmo
ano, adquirimos o terreno dos fundos e começamos o aumento da
loja.
Em março de 2003, com a obra de ampliação ainda em
andamento, recebemos a primeira visita do Sr Paulo Valmir (na época
presidente da rede Unisuper), que ao vistoriar a nossa loja não quis
aprovar o nosso ingresso na rede, pois a nossa loja estava muito fora
dos padrões exigidos. Com a tentativa de persuadi-lo a nos aprovar, o
177
levei ao interior da obra de ampliação nos fundos da loja. Ao ver que
a loja dobraria de tamanho e que estávamos dispostos a nos adequar
às normas e padrões da Central, nos aprovou como Associado da
Central de Compras Unisuper. Em outubro de 2003 terminamos a
ampliação da loja e passamos a fazer parte da maior rede de
associativismo do Rio Grande do Sul.
O ano de 2003 foi um ano de muitas mudanças e muitas
conquistas, porém a maior delas foi na minha vida pessoal, motivado
pela minha reconciliação com o meu Deus. Essa decisão mudou a
minha vida, minha família, meus negócios, meu modo de agir, de
pensar, e minhas atitudes perante a minha família e a sociedade.
Nesse mesmo ano, procuramos essessoria de empresas
especializadas, começamos implantar sistemas operacionais que nos
proporcionaram maior equilíbrio financeiro, permitindo que
passássemos a recolher nossos tributos (ou os tributos dos
contribuintes) de forma correta e íntegra. Estamos no final de 2010 e
este é um ano muito especial para nós, pois estamos completando 20
anos em Balneário Pinhal, 10 anos de Supermercado Samy e sete
anos de Rede Unisuper.
Quando começamos em 1990 em uma fruteira, o capital
inicial era de aproximadamente 300 dólares e sem nenhum
funcionário. Hoje empregamos 35 funcionários no inverno baixa
temporada e 60 no verão, alta temporada. Recentemente recebemos
178
dois prêmios da AGAS (Associação Gaúcha de Supermercados):
maior faturamento por metro quadrado de área de venda entre os
supermercados com faturamento até R$ 12 milhões anual e o maior
faturamento por check out no ano de 2009 no Rio Grande do Sul.
Sou imensamente agradecido ao meu Deus pelo êxito que
tivemos até aqui, sabemos que a história ainda não acabou,
acreditamos num crescimento iminente do nosso município, e
mesmo sabendo que poderemos passar por alguma turbulência
temos a certeza de que conseguiremos contornar as situações agora
com mais sabedoria, porque aprendemos com nossos erros, e temos
a certeza que colheremos bons frutos, pois plantamos em terra fértil.
Agradecimentos finais
Agradeço à minha querida esposa e aos meus filhos, que
suportaram as privações e souberam esperar. Agradeço a minha mãe
Maria Porto, que muito orou por mim e me apoiou nos momentos
difíceis da minha vida.Agradeço a minha segunda mãe, Marina Zoé,
que tanto nos apoiou e nos ensinou durante tantos anos. Agradeço
ao meu irmão João Erling, que esteve presente em muitos momentos
da minha caminhada, muitos deles me emprestando recursos para
cumprir meus compromissos. Agradeço meu cunhado Antônio,
minha irmã Beatriz e sobrinhos, que são agricultores, porém em
algumas temporadas deixaram suas lavouras e vieram trabalhar
conosco, trazendo seu caminhão, o que nos foi muito útil, e também
pelos recursos que nos emprestaram ao longo dessa caminhada.
Agradeço à minha irmã Raquel Erling e meu cunhado Carlos
Leites, que me ajudaram e me ajudam até hoje com seu trabalho e
dedicação. Agradeço a todas as minhas outras irmãs e meus
cunhados, que de uma forma ou de outra me estenderam a mão.
Agradeço aos pais da minha esposa Eva Jandira e Valdir Silveira, que
tanto nos apoiaram, especialmente no início do nosso
relacionamento.
Da família da minha esposa agradeço ainda aos meus
cunhados, cunhadas e concunhados, especialmente aqueles que
fazem parte da nossa equipe de trabalho e têm se dedicado de forma
ímpar na construção da nossa empresa. E não posso deixar de
agradecer a toda nossa equipe que eu chamo de Família Samy pela
dedicação e empenho prestados durante nossa trajetória.
179
Se esqueci de alguém, me perdoe, pois saiba que você é você
mesmo que está se sentindo esquecido também foi extremamente
importante em nossas vidas.
Joel Porto Erling,
casado com Michele de
Almeida Silveira Erling.
Pai de três filhos biológicos:
Samuel Melo Erling, 19 anos;
Luiz Eduardo Silveira Erling,
12 anos; Ana Luiza Silveira
Erling, 1 mês,
e uma filha do coração
Meneguetti: comerciante pioneiro no
ramo em Balneário Pinhal
Sirlei Teresinha Quintanilha de Borba
Professora
Balneário Pinhal/RS
Balneário Pinhal é um palco com cujos cidadãos formam o
cenário, e cada um contribui com seu quinhão para que este palco se
fortaleça cada vez mais, e que seus personagens sejam sempre
protagonistas de sua história.
Meneguethi é um dos comerciantes pioneiros, ou talvez o
único, que permaneceu com o mesmo ramo de comércio em
Balneário Pinhal. Um cidadão batalhador que acredita que o sucesso
180
só acontece através do trabalho honesto e perseverante. Por conta
disso, suas metas projetadas para seu futuro e da sua família surtiram
resultados.
Aldo Meneguethi Ferreira é natural de Osório, RS, tem 56
anos e é pai de quatro filhos, avô de três netas.
Escolheu Pinhal para fixar moradia porque, segundo ele, sua
história começou aqui e quer que termine aqui.
Seu comércio existe desde 1968, localizado no mesmo lugar
que hoje se encontra, porém com outro nome “Artesanato
Meneguethi” que, na época, se chamava “Casa das Palhas”,
localizada na Av. General Osório, em frente à rodoviária, que já
existia, e o hotel Estrela do Mar.
181
Seu pai tinha casa em Cidreira, onde eles paravam durante a
temporada de veraneio para trabalhar.
A tenda ficava aqui no Pinhal, na qual eram armazenadas as
mercadorias vindas de Osório, Taquara e de outras localidades.
Algumas mercadorias eram “fabricadas” artesanalmente por sua mãe
e até eles mesmos a ajudavam na confecção desses produtos (palhas
trançadas, cordas que se modelavam em porta cuia, descanso de
panelas, peneiras, chapéus, etc.). Estes trabalhos eram feitos em sua
casa, situada em Osório.
A mercadoria mais procurada pelos clientes era a cadeira de
palha, depois veio o boné lembrança, que foi um sucesso na época.
Para chegar até aqui era muito difícil. Vinham de duas carroças de
quatro rodas, cheias de mercadorias. As estradas eram precárias.
Muitas vezes tinham que vir pela beira mar e se a maré subisse teriam
que adiar a viagem.
Na tenda ficava um empregado de seu pai e seu irmão para
atender ao público que lá chegava. O Meneguethi sortia sua carroça
de mercadorias e saía pelas ruas de Cidreira, Pinhal, Magistério e
Quintão, oferecendo-as às pessoas dessas comunidades. Nesse
tempo só existia dinheiro, não se vendia fiado, só no dinheiro.
182
Essa atividade comercial iniciava-se, todo o ano, na véspera
do Natal e terminava em 1º de março. Quando chegava esse mês,
todos os comércios fechavam. Os moradores com melhores
condições financeiras compravam alimentos de “fora” e outros
produtos de primeiras necessidades para estocarem, por algum
tempo, devido à falta desses produtos. Esses suprimentos eram
transportados a cavalo em bolsas adequadas ao lombo do mesmo.
Balneário Pinhal, na época Pinhal, passava por muitas
dificuldades. Infraestrutura praticamente não existia: a água era de
poço, com bomba manual; o meio de transporte era só o ônibus,
eram tracionados, tinham um ou dois dias da semana e, muitas vezes
atolavam na areia e usavam os tratores para desatolá-los. Também as
carroças eram usadas como meio de transporte, tipo táxi, nas quais
carregavam as pessoas e suas bagagens que chegavam de ônibus. Os
183
mais conhecidos, na época, eram o seu Zé Miliano e seu irmão,
Bento, depois vieram outros. Os carros dos veranistas, quando
atolavam, eram puxados a boi; na parte da saúde, encontrava-se o
farmacêutico chamado Pozzo, que atendia os doentes, vindos de
Quintão e outras localidades, em sua farmácia em Cidreira. Se
precisasse operar, ele também fazia essa prática. O Meneguethi foi
um dos pacientes que precisou ser operado por ele; a anestesia não
existia, teve que morder uma bucha de pano e deixar fazer o serviço
cirúrgico, quase “morreu” de dor. Depois de 1970 veio o Verlei, que
substituiu os serviços do Pozzo, com sua farmácia e suas prescrições
médicas.
Hoje Balneário Pinhal mudou em todos os aspectos, desde as
variedades de produtos com características diferentes daquelas,
como também na sua parte estrutural: os produtos importados
tomaram o lugar do produto artesanal; se beneficia de saneamento
básico de boa qualidade. Quanto à saúde temos bons médicos e
pessoas capacitadas para atender a comunidade; em relação à
educação o município é um privilegiado, pois até universidade ousou
conquistá-la. Enfim, Balneário Pinhal é uma cidade que tem vida
própria. Podem morar aqui pessoas de todos os níveis, já que aqui se
encontra tudo que se precisa para viver.
Meneguethi fala que o esporte dele, hoje, é a participação em
rodeios, e por sinal já competiu com grandes campeões brasileiros e
desses ganhou troféus. Participou de grandes rodeios em diversos
lugares, inclusive em São Paulo.
Por onde passa, representa orgulhosamente o município.
Entre suas bandeiras está a do município, registrando e enaltecendo a
presença do mesmo.
Foi um dos fundadores da “Cavalgada do Mar”. Fala com
muito orgulho de ser o criador e patrocinador desse grandioso
evento.
Na Cavalgada do Mar, que teve seu trajeto do Forte de São
Miguel, do Uruguai a Torres, participaram Romera e Jarbas Lima.
Com a participação de Ari Almeida, fez a cavalgada de Viamão,
Curitiba, Sorocaba, São Paulo, aproximadamente 1300 quilômetros a
cavalo. Também esteve presente na “Cavalgada Piá”, da qual
participaram 70 crianças.
Meneguethi, um pai exemplar, tem filhos adultos, um filho
184
pequeno e três netas. Tem um jeito especial de orientar e educar seus
filhos e assim eles são responsáveis e assumem seus compromissos,
tendo o pai como espelho.
Meneguethi fala que agora não se envolve mais com o seu
comércio. A esposa assumiu sua parte e lhe é muito grato por isso.
Segundo ele, sua esposa Deise é a sua vida. É uma pessoa que lhe dá
liberdade de fazer o que ele gosta: como a lida de seus cavalos,
participar de seus rodeios, etc.
Tem muito carinho e admiração pela professora Maria
Faistauer, pelo vasto conhecimento e amor que ela dedica à cultura
gaúcha.
Ele deixa registrada sua saudação aos administradores do
município, bem como aos moradores e aos veranistas, pois sem essas
pessoas não seria possível a sua permanência, e nem de sua família
neste município.
O que mais me chamou a atenção para que eu fizesse este
trabalho foi o fato de que este trabalhador, comerciante, cidadão
contribuinte na formação desta cidade - continua no pleno exercício
do ramo e no mesmo endereço. Porém, hoje, os tempos são outros, a
cidade cresceu inclusive seu nome, de “Pinhal” para ”Balneário
Pinhal” e ele, Meneguethi, também prosperou, com perseverança,
honestidade, respeito e dignidade. E melhor ainda, conquistou vários
amigos.
Gosta muito daqui e torce para que Balneário Pinhal
continue com bons gestores na sua frente, e com os quais
possibilitando-lhe sempre a caminhada para o desenvolvimento, em
todos os aspectos.
“Minha história começou no Pinhal e quero que termine aqui.”
(Meneguethi)
185
Pescadores artesanais do Balneário
Pinhal: aspectos do trabalho e vivência
Sonia Teresinha Siqueira Campos
Folclorista, membro da Comissão Gaúcha de Folclore
Porto Alegre/RS
Neusa Maria Bonna Secchi
Folclorista, membro da Comissão Gaúcha de Folclore
Porto Alegre/RS
Devido ao tempo exíguo, para fazer um estudo mais
aprofundado desse importante segmento da sociedade como um
todo, bem como utilizar técnicas mais adequadas de pesquisa, o
presente trabalho é uma pequena amostragem de como alguns
pescadores, pescadoras e artesãs exercem o trabalho cotidiano, sua
principal meta de vida.
A área de atuação, localizada no Litoral Norte do Rio
Grande do Sul (município do Balneário Pinhal), situa-se entre o mar
e as lagoas costeiras, com a maior concentração de famílias
pesqueiras de toda a orla litorânea do Estado, isto é, distrito de
Magistério, Figueirinha e Sede de Pinhal.
Segundo o censo da EMATER, há no município 76 famílias
de pescadores, com 137 pessoas. Isto é, 35 famílias em Magistério; 7,
em Figueirinha, 30 famílias na sede e 4, em Pinhal Sul.
Dentre as inúmeras lagoas, são citadas as do Magistério,
Cerquinha, do Relógio, Branca, dos Fundos, das Bombas, da Nica,
Lagoa Azul (antiga Rincão das Éguas), do Pinhal, Quintão, nem
todas localizadas no município, pois há necessidade do
deslocamento. Rios, Capivari e Tramandaí. O peixe escasseando,
obriga o pescador a distanciar-se na busca de melhor safra.
Adentrando no mar, lagoas ou rio, os pescadores de Pinhal,
em seus frágeis barcos, enfrentam tormentas, muitas vezes à casa
retornando com pouco ou quase nada a oferecer como produto de
seus ingentes esforços. “Vão ao mar de parceria, três ou quatro
pessoas, cada um com sua rede, pois no mar não pode se ir sozinho;
um ajuda o outro.” Eis uma demonstração de solidariedade! Muitos
já salvaram seus companheiros de afogamento, mesmo sem saber
186
nadar. Atiram-se ao mar, se nem ao menos imaginar que eles
próprios estão arriscando suas vidas.
Quanto ao extermínio do camarão nas lagoas, tornou-se
necessário ir buscá-lo aonde ele se encontra: no mar, em uma
competição de extrema desigualdade com a pesca industrial,
predatória e sem controle. “Os barcos de arrasto pegam antes de
chegar na costa.O camarão não nada, ele se esconde; conforme as
correntes, eles chegavam. Mas elas não estão trazendo, pode ser
mudança climática.”
Há consenso no emprego da rede “miudera”, isto é, aquela
com malha pequena “quando a gente bota uma rede miudera, vem
muito peixe miúdo. Praticamente proibida.” Aumenta o
desequilíbrio da reprodução e desenvolvimento do pescado.
Nas lagoas costeiras, segundo depoimento, já foi pescada
uma carpa pesando 16 kg, causando preocupação, visto ser esta
espécie estranha ao meio ambiente.
A captura do peixe depende de épocas determinadas. “O
vento sul puxa o peixe pra costa. Não se põe rede nesta fase.” “O
vento nordeste é bom pra pesca.” A influência da lua: ”Lua cheia é
pra pescar no mar. Na água doce, ela estraga o peixe. Melhor é a
minguante.” Igualmente, à época do defeso (reprodução) que, no
momento, estende-se de 1º de outubro a 1º de janeiro, a prática fica
interditada. Na costa, a proibição vai de abril a dezembro. No mar, a
pesca é liberada por não haver a piracema.
Os pescadores entrevistados utilizam diversos tipos de
pesca, sendo a de cabo muito utilizada: “uma âncora (poita),
colocada aproximadamente a 300 m da costa, de onde parte um cabo
(corda grossa que puxa a âncora pequena) fixado na praia e no qual,
no momento adequado do mar, é fixada à rede que, pela força d'água,
sobre o cabo e a rede, é levada até a zona da pesca com a soltura de
mais extensão de cabo. O raio de ação da pesca é limitado pela
distância até a âncora, que prende o cabo.”*
As redes mais citadas, tarrafa, “aviãozinho”, espinhel, rede
de espera, escassear, de arrasto, são confeccionadas pelos próprios
pescadores, verdadeiros artesãos na arte de lidar com os panos para
entralhar as malhas, resultando em peças de todos os tamanhos,
algumas alcançando de 45 a 150m ou mais para pesca no mar.
Antigamente, havia necessidade de uma equipe de 8 a 10 homens
187
para puxá-las: hoje, o sarilho (peça cilíndrica com barras ou raios nos
extremos, para fazerem girar e que, movendo-se, vai envolvendo em
si uma corda, que sustenta um peso a ser elevado) ou um veículo a
motor, no caso, jipe, substituiu-os.
Uma das artes empregadas pelo pescador desembarcado, o
espinhel, consiste “numa extensa corda em que se prendem, de
distância em distância, linhas curtas, armadas de anzol.” Igualmente,
a tarrafa, “de forma circular com arpoeira (corda de rede) e pesos na
orla, lançada com impulso da mão.”
Na explicação de uma pescadora, o irmão faz a rede, com sua
ajuda: “Pega um pedacinho de madeira, faz um tipo de um malheiro
(pauzinho que mede o tamanho da malha), enche uma agulha de
nylon, e passa por um malheiro, pra não ficá uma malha maior que a
outra. E o conserto, a gente faz no oio.”
Todos dominam a arte de fabricar os próprios barcos. Após
construí-los, são pintados de verde e registrados num órgão da
Marinha. Por vezes, dão-lhes apelidos carinhosos: Negrinha, Bocage,
Moscão, ou seus próprios nomes.
Por ter sido uma experiência que não resultou em êxito, a
implementação de botes infláveis foi abandonada e até mesmo
proibida, devido ao perigo de afogamento, pois furava com
facilidade. “Era um bote salva-vidas”.
O pescado, antes abundante, vem diminuindo, o que
preocupa a comunidade que dele depende para sua sobrevivência.
Apesar disso, a diversidade de peixes, recolhida nas redes como a
tainha, cará, traíra, jundiá, violinha da lagoa, cascudo, peixe-rei, ainda
os impele a continuar em seu trabalho, sendo o peixe mais valorizado,
jundiá e, o mais barato, tainha.
A fim de carregar o material necessário para ida às lagoas,
servem-se da “gaiola”, espécie de pequeno caminhão, também,
como pouso provisório.
Caso acontecer algum ferimento, em decorrência do
trabalho (alguns mariscos se agarram nas cordas e cortam as mãos de
quem as puxa), tratam-no com remédios caseiros, como a babosa e
álcool.
Os pescadores em questão não acreditam em mitos: “Visão é
mirage.” Todos se declararam religiosos, fazendo suas preces, antes
de começar as atividades rotineiras. Ao entrarem no mar ou nas
188
lagoas, invocam a proteção de Deus, Jesus, N.ªS.ª Aparecida, São
Pedro.
Há uma certa prosperidade, quanto à moradia e itens
domésticos. Carros, bicicletas e implementos para o trabalho foram
relatados.
No tocante à agregação de valores à sociedade em que vivem,
as mulheres pescadoras, num fazer constante, tanto as cadastradas
quanto as informais, revelaram-se práticas e laboriosas. Estando a
serviço da pesca, quer nas lagoas, ou no mar bravio, enfrentam, em
igualdade de condições com seus parceiros, desafios quase
humanamente impossíveis ante sua fragilidade física. “Pra quem é
pescador, não tem feriado, não tem domingo: o dia que dá, que o
tempo convida.” “Começava a tarrafeá às 7 da noite. Às vezes,
dormia molhada na beira da lagoa.” “Um pescador tava se afogando,
a pescadora pegou o caíque, foi lá e salvou ele.”
Solidárias, ajudam a quem delas precisam: “emprestei o bote
inflável pro amigo”. Além dos próprios filhos, muitas acolhem
outros a seus cuidados.
Companheiras, mães, donas de casa, complementam a renda
familiar muitas vezes costurando; verdadeiras artistas do artesanato,
aproveitam o que no meio ambiente sobeja para criar, modelar e
vender suas obras de arte. Algumas ultrapassam a capacidade de
tanto laborar e constroem suas próprias e belas residências.”
Aprenderam com a vida”.
Hortas e jardins foram vistos, também animais domésticos,
que requerem cuidados: gansos, galinhas angolistas, cavalos, tudo sob
responsabilidade delas.
O grupo pesqueiro visitado é longevo, em sua maioria,
esbelto e forte, denotando uma qualidade de vida que o satisfaz;
preservam o meio ambiente, pois depende intrinsecamente de sua
conservação.
Tranquilidade e parcimônia demonstram ao contato com
outrem, porém soltam o riso, ouvindo as histórias dos companheiros:
“Um camarada tava pescando um peixe tão grande; quando ele
puxou o açude secou!” “Uns pescadores se reuniram num buteco.
Tinha dois num canto falando da pescaria. Chegou um senhor de
mais idade, ficou num canto parado, escutando. Então, um
perguntou:
189
-Tu conhece aquele rio, tem aquela figueira? Pois é, fui lá
pescá e o meu lampião caiu dentro dágua. Cabo de uma semana, fui lá
e o lampião tava aceso! Mergulhei e o lampião aceso!
Daí, o senhor de idade, que tava no buteco, disse:
- Naquele mesmo rio, eu peguei uma traíra com 28 k!
Aí, o cara do lampião:
- Pô, cara, mas uma traíra com 28 k? Não dá pra baixá o peso?
É muito pesado!
Daí, o senhor disse:
-Tu apaga o lampião, que eu abaixo o peso da traíra!”
Reivindicam direitos que, a eles, são negados como uma
burocracia exacerbada, demanda de exigências das instituições
governamentais, “pra fazer uma nota fiscal aqui, usam a nota do
produtor; tem que ter o bloco do pescador”; desrespeito ao seu
trabalho por muitos segmentos da população flutuante; falta de
conscientização do valor que lhes é inerente.
“O pescador depende do veranista, assim como este
necessita do pescado. É uma cadeia. A única coisa que atrapalha é que
alguns cortam os cabos, que estão numa área de pesca, que vai de
Inhaúma a Quintão. No verão, nem o pescador de cabo (no mar),
nem o da lagoa pesca. A maioria tem que tirar o cabo.”
Quanto ao esforço da Prefeitura em atender suas
reivindicações, é reconhecido e considerado positivo.
Devido a pouca remuneração que lhe é paga durante o defeso
(três salários mínimos por ano), o grupo vê-se obrigado a fazer
biscates, principalmente, na construção civil.
Jovens pescadores, desestimulados, abandonam a pesca e a
ela retornam quando caem na informalidade. Seus empregos são
temporários e sem garantias, pois dependem do veraneio. “Só tem
uma geração antiga de pescadores. A nova já não acredita mais que vá
sobreviver do que está disponibilizado pela natureza.”
Líderes comunitários, num esforço conjunto, estão
procurando soluções que melhorem a situação, tanto dos recursos
lacustres, como do pescador: problema das barragens, construídas
pelos agricultores, impedindo o fluxo e refluxo dos peixes, muitas
vezes ainda filhotes, tragados pelas bombas de sucção das lavouras de
arroz; o problema da sobrepesca, a depleção das lagoas, o conflito
com os surfistas e pescadores; a documentação excessiva, exigida
190
pelas autoridades.
Órgãos do governo como a Secretaria do Planejamento, em
convênio com a Universidade Federal do RS, a EMATER, o
SEBRAE e outros, estão disponibilizando cursos, voltados ao
interesse da classe, porém exigindo diplomas sem interesse para o
trabalhador em questão.
Pescadores precisam estar mais otimistas; já possuem sede
para sua Associação e, líderes preocupados com suas necessidades
prementes.
Projetos serão buscados no aprimoramento de técnicos.
Fóruns estão acontecendo. Estudos, voltados à reposição e
repovoamento das lagoas. Planejamento técnico para implemento de
linhas de produção com o reaproveitamento do que sobra do peixe.
Culinária mais elaborada do pescado; enfim há uma vontade e
interesses conjuntos da liderança e das instituições governamentais,
para que todos esses projetos se tornem realidade.
Aos informantes, abaixo relacionados, portadores da
memória cultural do Balneário Pinhal, o nosso agradecimento:
Ademar Ferreira da Costa, morador de Magistério; Alenir Custódia
Jacobowiski (59 anos), moradora de Magistério; Aristo de Castro
Borba (71 anos), morador de Magistério; Cláudio (34 anos), morador
de Figueirinha; Diva de Espíndola (65 anos), moradora de
Magistério; Dirlei Ribeiro da Cunha (62 anos), moradora de
Figueirinha; Jaci Kepler da Cunha (70 anos), morador de Figueirinha;
Jorge Peixoto da Cunha, morador de Magistério; Palmira da Silveira
Borba, moradora de Magistério; Lindomar Pereira de Sousa, Técnico
Agrícola; Vergínia Celestina de Oliveira, (85 anos) moradora de
Magistério e Wilson Hopkins, Líder Comunitário.
Referências
Pesquisa de campo realizada com pescadores artesanais. Balneário Pinhal. Outubro, 2010.
* “Pesca de Bote” entre os pescadores profissionais artesanais do Litoral Norte do RS (Marcos
Aurélio Sandes, Decio Souza C., Fabio Martins Cortes). EMATER.
AGRIFOLIO, Rose Marie et al. Contribuições luso-açorianas. Porto Alegre: Comissão Gaúcha de
Folclore, 2002.
MARQUES, Lilian Argentina Braga. O pescador artesanal do sul. Rio de Janeiro: MEC-SEAC/Funarte:
Instituto Nacional de Folclore,1980.
NASCENTES, Antenor. (Elab.). Dicionário Ilustrado da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Bloch, 1981.
191
Considerações sobre a família
do pescador artesanal
Neusa Maria Bonna Secchi
Folclorista, membro da Comissão Gaúcha de Folclore
Porto Alegre/RS
Não há quem não inveje a paisagem e a tranquilidade da
vivência dos membros de uma comunidade pesqueira - sua
proximidade com o mar ou lagoas - , um paraíso longe da agitação da
cidade grande. Mas, no contato direto com a natureza, a
tranquilidade é apenas aparente e, de perto, mal dá para esconder a
vida dura, incerta e perigosa dos pescadores e de sua família.
Das observações feitas em algumas famílias de pescadores
artesanais do município, constatamos o limitado espaço físico em
que está sediada sua residência, não possibilitando plantio de árvores
frutíferas ou nativas e a criação de animais e aves; plantio de
hortaliças para complemento do cardápio familiar.
Chamou-nos a atenção o consumo quase diário de carne
vermelha em vez do pescado. Quando apresentado no cardápio
familiar, o peixe é sempre frito ou ensopado. Assado, apenas em
ocasiões especiais, juntamente com o churrasco, e como doçaria o
que predomina são o pudim e o sagu.
A mulher na família tem participação. Corajosas, são
verdadeiros alicerces que atuam nas mais diversas atividades. Mães
responsáveis por uma grande prole exercem a atividade rude e
pesada da pesca, trabalhando desde o nascer do sol, em lugares
muitas vezes insalubres, sem roupas adequadas ao trabalho e clima
rigoroso. Retornando para sua casa, além dos afazeres domésticos,
atenção aos filhos, preparam peixes (beneficiamento) para a venda.
A vida social dessas famílias resume-se em encontros
familiares, participação na Festa do Santo Padroeiro, missas e outras
atividades prazerosas, que aparecem conforme calendário da região,
e na época do veraneio.
As crendices e superstições, a cultura popular tradicional viva e espontânea dessa comunidade - , estão voltadas aos valores
materiais e simbólicos na atividade da pesca: promessas, orações,
192
benzeduras, oferendas a Iemanjá, deusa das águas. As orações são de
agradecimentos para Deus, que guardou e zelou pelos pescadores
livrando-os das tempestades, viradas de barcos e de todos os perigos
enfrentados. Também pedem proteção a São Pedro, santo protetor
dos pescadores.
Uma senhora, mãe e pescadora, falou sobre benzeduras e
coisas que acredita: “Benzeduras para acalmar tempestade - Fazer
uma cruz de sal na mesa e olhando para cruz rezar o Pai Nosso,
pedindo a Deus a calma da tempestade e a volta do pescador”.
“Queimar uma haste de palma, benta no Domingo de Ramos, para
acalmar a tempestade”. “Mulher grávida ou com suspeita de gravidez
não pode pegar a rede ou passar sobre ela, porque não dá peixe”.
“Lua cheia não é recomendável a pesca na lagoa, porque fica claro e
não dá peixe”.
A benzedeira “A” aprendeu a benzer com sua avó e sente-se
gratificada ao praticar o ato de benzer, fazer uma simpatia, breves,
chás. Benze para quebrante, mau jeito, hemorragia, inveja, e abrir
caminhos. Utiliza para fazer benzeduras galhos verdes, água, brasas,
tesoura. Benze em qualquer lugar, hora e não cobra. Nos sábados e
domingos não faz benzeduras porque os “anjos descansam”. Na sua
residência tem um lugar especial: uma mesa, santos, bíblia, rosário e
Cruz do Senhor. A sua avó benzeu o Presidente Getulio Vargas.
Simpatia (curar espasmo)
Colocar um pano de secar louças, quente, no lugar do
músculo afetado. Pano de prato, porque tem gordura. Volta na
mesma hora.
Prece da benzedeira “A”
“Que nessa hora sagrada eu ponho a mão no seu corpo para
retirar inveja, olho grande, quebrante, todas as coisas ruins que se
encontram no seu corpo. Nossa Senhora vai levar pro fundo do mar
salgado, onde não se encontra vinho e nem pão nem rastro de cristão
batizado. Que o senhor lhe cuide, lhe defenda, lhe guarde, lhe cubra
de glória, lhe tire todos os males da terra. É o que eu peço com a fé
que eu tenho. Em nome de Jesus Cristo, Nosso Senhor. Amém Jesus
e Amém”.
193
Benzedor “B”
Sua mãe era benzedeira e acredita que benzer é um dom de
Deus. Faz benzeduras, simpatias e o Responso de Santo Antônio. É
vidente, ajuda achar coisas perdidas e roubadas. Curou muita gente de
bronquite fazendo simpatias; benze para curar cobreiro, erisipela,
coluna (rendidura), inveja, mordida de aranha. Não cobra, porque
cobrando não faz efeito. Rezar sempre antes do sol entrar e nos dias
de semana de “feira”. Sábado e domingo não são dias propícios.
Chegou benzer mais de 15 pessoas diariamente.
O benzedor tem dom e precisa de muita fé e a parte espiritual
reforçada pelo guia “preto velho”. Tem um lugar para benzer: uma
capelinha com Santa Rita e Nossa Senhora Aparecida. Durante as
benzeduras utiliza a faca para cortar o olho grande; agulha para
costurar rendiduras; tesoura para corte do cobreiro, água para dor de
cabeça e o facão para acabar com temporal. Suas benzeduras não
podem ensinadas; ninguém entenderia o seu murmúrio (oração), mas
basta ter muita fé.
Simpatia para curar bronquite (fazer em três sextas-feiras)
Pegar três peixes, cuspir três vezes na boca de cada peixe e
soltar de volta para seu habitat. Rezar o Pai Nosso e virar as costa sem
olhar para trás.
Simpatia para dor de coluna
Cortar uma taquara do reino com nove gomos e pedir para
um benzedor fazer uma oração. Depois colocar embaixo do colchão
por nove dias. Nunca mais vai sentir dor na coluna.
Benzedura para dor de cabeça
Colocar garrafa com água morna, com o bico para baixo, na
parte de cima da cabeça, dizendo a oração: “Deus é sol, Deus é lua, Deus é
claridade. Assim como o sol tem a quentura; a lua tem a friagem. Que o ar do sol,
que o ar da lua, que o ar da terra saia do teu corpo para sempre. Amém, Jesus.
Rezar um Pai Nosso e Ave Maria”.
Artesanato
O que caracteriza é a transformação da matéria prima em
objetos, peças úteis realizadas por pessoas que apresentam
194
habilidades e criatividade voltadas às artes. Esta atividade é
desenvolvida de forma prática ou informal, não havendo uma
associação que estimule e proporcione orientações, aprendizagem
ao artesão com aptidão e habilidade para tal. A atividade artesanal
entre essas mulheres, das quais tive contato, não é costumeira nem
intensa. Não existe incentivo e há falta de hábito para trabalhar nas
artes, aproveitando os recursos naturais que o meio ambiente
proporciona.
Encontrei uma senhora que faz um trabalho comunitário,
ministrando oficinas de artesanato tradicional, o crochê, tricô,
pintura, tear de prego e o popularesco. Utiliza o reaproveitamento
de materiais, confeccionando objetos de decoração e utilitários.
Trabalha com o artesanato tradicional, fazendo bijuterias e flores
com escamas de peixe. Os encontros semanais são realizados no
Salão Paroquial, proporcionando a integração, servindo como uma
terapia e muitas já contribuem na renda familiar.
A senhora “Divina”, mulher pescadora, dona de casa
habilidosa, faz maravilhas com retalhos que são doados. Aprendeu
costurar aos treze anos, quando trabalhava com as freiras. Sabe
bordar a mão e à máquina tricô, crochê, trabalho em madeira e artes
em quadros com sementes. Hoje faz colchas, almofadas, puffs,
fronhas, cobertores reversíveis, tapetes, tudo em retalhos. Não faz
moldes, as ideias de como fazer vem pela manhã, no amanhecer.
Trabalha umas três horas diárias e à noite, enquanto assiste TV, faz
corte das peças.
Suas peças são bem aceitas e vendidas para conhecidos e
veranistas. Já vendeu colcha para os Estados Unidos. A renda
mensal média é de um salário mínimo, que contribui com a renda
familiar na compra de alimentos e roupa aos filhos e netos.
Encontrei outra “Divina” que não é integrante da família de
pescador, mas reside no balneário do Magistério. Mulher guerreira,
forte e comunicativa, tão habilidosa e criativa, quanto à criadora de
peças com retalhos. Faz porque gosta, tem prazer. Seu lazer é a
agulha de gancho e a linha. Sua residência é o mundo do crochê:
cortinas, almofadas, tapetes, guardanapos, quebra luzes, colchas,
toalhas o outras. Habilidade não é só no crochê: pinta, faz
patchwork, confecções de bonecas, animais (coelhos, abelhas)
colagem, arranjos e decorações a para casa.
195
O artesanato é pouco explorado como meio sustentação de
renda. Não existe uma associação na comunidade dos pescadores
para incentivar, promover cursos, com o objetivo de preparar mão
de obra e dar condições a pessoas habilidosas desenvolver sua arte,
possibilitando melhores condições de vida, aumento da renda
familiar, e o incentivo à participação das filhas na melhora da
autoestima e valorização da atividade pesqueira. Pescadores
relataram que as redes são feitas e consertadas por outras pessoas.
Isso poderia ser incentivado na comunidade, criando os mestres na
confecção de redes e arte.
Os pescadores vivem como regime de economia familiar. A
atividade exercida pelos membros da família (pai, mãe e filhos) são
indispensáveis à própria subsistência, exercida com condições de
mútua dependência e colaboração entre os componentes. É preciso
que seja feito um trabalho no sentido de valorização e abertura de
novas oportunidades de trabalho dentro do mesmo segmento
(pesca) para dar continuidade ao trabalho familiar tradicional.
Agradecimento a todos os informantes que possibilitaram a
realização desta pesquisa: Amália da Costa e Silva, Diva de
Espíndola, Isabel Catarina da Silveira, Virgínia Celezina de Oliveira,
Lenir Custódia Jacobowiski, Luiza de Souza Fonseca, Maria Helena
Oliveira da Silveira, João Olício e Jorge Peixoto da Silveira.
Fontes: Pesquisa de campo - técnica da entrevista.
Objetos que fizeram parte da história
de Balneário Pinhal. Quem disse que os
objetos não possuem história?
Eloise Faistauer de Borba
Professora e alunos do EJA da E.M.E.F. Calil Miguel Allem
Balneário Pinhal/RS
Iremos desmistificar essa ideia, contando através da história
desses objetos a evolução do nosso município.
196
Quando a Praia do Pinhal foi criada, muitas pessoas
decidiram investir neste local. Foram montando suas casas e
comércios. Trouxeram objetos que iriam fazer parte das suas vidas.
Registradoras, cofres, utensílios domésticos, calculadoras, máquinas
de escrever, balanças e muito mais. Mesmo com a evolução existem
pessoas que ainda mantêm guardados alguns desses objetos e serão
eles que nos ajudarão a contar um pouquinho da história do lugar
onde vivemos.
Registradora
Acervo Manoel Eloir Faistauer
Manoel Eloir Faistauer iniciou na Praia do Pinhal um
comércio no ramo de materiais de construção no ano de 1968. Em
1971 M. E. Faistauer Materiais de Construções LTDA passou a ter
sede própria e adquiriu uma registradora que irá fazer parte da sua
história.
197
Balança
Acervo Madechave
Em 1979, o Sr. João Luis Ingracio, decidiu instalar um
comércio: Materiais de Construção Madechave. Esta balança fez
parte do seu mobiliário e por muitos anos pesou pregos, cal,
cimentos, etc.
Balança
Acervo Fruteira Ki-Fruta
A partir de 1980, a Fruteira Ki-Fruta do Sr. José Enulce
Ramos da Silva passou a fazer parte dos veraneios da Praia do Pinhal.
Esta balança fez parte, desde o início, dessa história de 18 anos.
Atualmente, o Mercado Ki-Fruta atende inverno e verão.
198
Máquina de Costura
Acervo Rejane da Silva
Esta máquina foi comprada pela Dona Maria há mais de 45
anos. Foi presenteada a Rejane C. da Silva que a utiliza, desde 1992.
Esta máquina já costurou muitas roupas da sua família e ajudou na
confecção de vestidos de prendas para apresentação de escola.
Mesas e cadeiras
Acervo Restaurante Gabriela
O primeiro comércio instalado por Vilmar e Vera Furine foi
uma lancheria e um armazém, em 22 de dezembro de 1988. Em 1992
tornou-se Restaurante e Pizzaria Gabriela. O armazém mudou-se
para um prédio ao lado. Em 1994, usando o espaço do armazém, foi
criada a galeteria que foi se unir ao restaurante e à pizzaria. Hoje ainda
são utilizadas as mesmas mesas e cadeiras que iniciaram a história
desse comércio.
199
Macaco a ar
Acervo Borracharia Chimarrão
João Olício Bernardo de Oliveira trouxe de Osório um
macaco a ar comprado de um amigo. Em 3 de setembro de 1986
instalou na Praia de Pinhal, a Borracharia Chimarrão.
Transportes Fábio
Julio Norberto Cezar da Silva
Vendedor
Balneário Pinhal/RS
Em 31 de maio de 1991 foi inaugurada a linha de transportes
de Magistério a Salinas e vice e versa. Esta é a primeira linha de
transportes coletivos de passageiros do município de Cidreira, que,
200
na época, integralizava os municípios de Balneário Pinhal e de
Cidreira.
A denominação chamava-se Transportes Fabio, sendo o
primeiro horário às 6h30min e o último às 10h30min. O transporte
surgiu da ideia do Sr. Julio Norberto, que, vindo a residir em
Magistério, viu a necessidade de um transporte na região. Ele era
efetuado, na ocasião, pelo transporte São José, que fazia a linha
Quintão-Osório e Quintão-Tramandaí, em poucos horários, não
abrangendo, assim, as necessidades da população.
Com o incentivo do prefeito Carniel, que procurava alguém
para efetivar o transporte de sua população, este encontrava
dificuldades para solucionar o problema, pois a empresa
concorrente achava inviável economicamente de aumentar as linhas.
Haja vista que o último horário da São Jose, de Cidreira a Magistério,
era às 17h15min. Após este horário, a população trafegava somente
de carona ou pagando táxi. Uma peculiaridade do Transportes Fábio
era não deixar nenhum passageiro na estrada por não ter dinheiro da
passagem. Deste modo, as duas kombis que iniciaram o traslado
transformaram-se em pouco tempo em quatro, mais um microônibus de 21 lugares. Sucesso absoluto, na ocasião!
O Transportes Fabio, além de fazer seu transporte habitual,
muitas vezes servia como ambulância, transportando gestantes e
pacientes para o hospital, além de nos finais de semana fazer o
transportes dos atletas para irem jogar em outros municípios.
Com o passar do tempo, aquela linha, que era inviável
economicamente, passou a ser motivo de cobiça de outras
transportadoras. Desta maneira, com o aval do prefeito da época,
Heloi Braz Sessim, o Transportes Fabio, que tanto ajudou a região
esquecida, foi excluída de suas atividades.
201
Entidades, associações
e serviços de
Balneário Pinhal
Conselho Comunitário de
Balneário Pinhal: voluntariado e altruísmo
Carlos Edmundo Kuhn
Presidente do Conselho
Balneário Pinhal/RS
Há dois tipos de idealistas no mundo: o primeiro grupo é
composto por pessoas que querem ver um mundo melhor, acabar
com as desigualdades e as injustiças sociais, com os problemas que
afligem uma comunidade, e gastam parte de seu tempo como
voluntário e se engajam em campanhas e ações, das mais diversas e
nos mais diversos campos de atuação, com um único objetivo: serem
agentes de solidariedade, ajudando na realização de coisas e
superação de dificuldades.
O outro grupo é daqueles que, impedidos de executar as
ações, colaboram para que elas se realizem, como faz o conselho
comunitário de Balneário Pinhal, há quase quatro décadas.
O altruísmo é a situação em que seres humanos se dedicam
uns aos outros, muitas vezes abdicando de interesses pessoais em
203
favor do benefício dos outros: seu ideal é ser útil.
O Conselho Comunitário de Balneário Pinhal foi fundado
em 1971, por força de Decreto de nº 09/71 da Prefeitura Municipal
de Tramandaí, pelo Prefeito Onil Xavier dos Santos, juntamente com
o de Cidreira.
Suas competências e atribuições eram as de estudar as
questões de desenvolvimento das comunidades, propondo medidas
administrativas ou legislativas, consideradas indispensáveis para tal.
Funcionavam como se fossem Câmaras de Vereadores Distritais.
Essa foi a raiz do nosso Conselho Comunitário, atuante desde aquela
época ininterruptamente e prestando inestimáveis serviços à nossa
comunidade. E o Conselho Comunitário, como tal descrito,
transformou-se em raiz para 23 Conselhos Municipais instalados no
município, sendo o mais recente o Conselho Municipal da
Juventude.
Ações e participações do Conselho Comunitário
Desde a sua criação, o Conselho Comunitário participou de
diversas ações, das quais destacamos algumas, nestes 39 anos de
existência participativa:
204
• identificar e dar nome às ruas e praças; Praça Dr. Alvimar
Pieri (2009).
• doação e plantio de mudas de árvores, casuarinas e
extremosas;
• estabelecimento de critérios de regularização de áreas
públicas;
• projeto para paradas de ônibus, de madeira, em parceria
com a Flosul;
• colocação de lixeiras na Av. Osório e na beira da praia;
• projeto de construção de abrigos, em paradas de ônibus;
• participação na elaboração da Lei Orgânica do município;
• doação de livros para constituir o acervo da Biblioteca
Pública, com a parceria da Livraria do Advogado e da FAPA;
• manutenção e obras na Delegacia de Polícia local;
• fornecimento de coletes à prova de balas para Brigada
Militar;
• doação de cadeiras de rodas, através do conselheiro José
Antonio Bruno e esposa, bem como um mimeógrafo;
• promoção de debate entre candidatos à eleição de Prefeito
Municipal;
• participação na composição de Conselhos Municipais;
• doação de máquinas de escrever, pelo conselheiro René
Luiz Horn;
• participação na elaboração e revisão do Plano Diretor
municipal;
• participação na elaboração do Código de Posturas do
município; Entrega do Projeto do Código de Posturas do município
(2009).
• promoção de eventos comemorativos junto às escolas
municipais, em especial as EMEF Antonio Francisco Nunes, do
Pontal das Figueiras e José Antonio da Silva, do Sindipolo;
• promoção da participação de adolescente da Casa de
Passagem, por ocasião dos seus 15 anos, em Baile de Debutantes, em
Canoas (RS);
• participação nas demandas da comunidade referentes à
instalação de Posto de Coleta da ECT, no Túnel Verde, de instalação
de agência do Banco do Brasil, da instalação de sede de Comarca, em
205
Balneário Pinhal, moção ao DAER solicitando manutenção e
conservação da RS 786, da duplicação da RS 040.
Outras tantas foram desenvolvidas, neste espaço de tempo,
todas elas voltadas sempre ao exercício democrático e cidadão de um
voluntariado comprometido com o crescimento e o
desenvolvimento de Balneário Pinhal, sendo legítimo protagonista
de um controle social efetivo, diretamente por suas ações ou,
indiretamente, através de sua participação na composição legal em
diversos Conselhos Municipais e regionais, a exemplo do COREDE
do Litoral Norte.
Dos conselhos municipais
Os Conselhos Municipais, previstos no Art. 80 da Lei
Orgânica do município, são órgãos governamentais que têm por
finalidade auxiliar a administração na orientação, planejamento,
interpretação e julgamento de matéria de sua competência.
Estas entidades prestam inestimável colaboração para a
Administração Pública, já que, representando a sociedade civil
organizada, elas atuam de maneira autônoma, de forma consultiva,
deliberativa e fiscalizadora, vindo a se constituir em legítimas
representantes do terceiro setor junto ao controle social. Saudação
• O Conselho Comunitário de Balneário Pinhal, por seus
membros, cumprimenta os idealizadores deste evento pelo quanto
de histórico ele representa, sendo oportuna a sua realização durante
as comemorações do 15º aniversário do município, o que lhe dá
maior relevância.
• Para a Administração Pública, na pessoa do Senhor
Prefeito Jorge Luis de Souza Fonseca, apresentamos os nossos
cumprimentos pela data e por suas realizações, garantindo-lhe nosso
apoio e colaboração em tudo o que for de interesse de nossa
comunidade.
Presidentes do Conselho Comunitário
• 2000: Jacira de Andrade
• 2001/2002: José Antonio Linck Leite
• 2003: Jô Palombini
• 2004/2005: Maria Helena W. Marcello
206
• 2006: João Carlos P. Bitcheriene
• 2007: Paulo Ermindo de Deus
• 2008/2010: Carlos Edmundo Kuhn
Nossa Brigada Militar: ontem e hoje
Fátima Florence
Professora
Balneário Pinhal/RS
Este breve histórico contou com o relato de três servidores
militares que prestaram serviço ao nosso município durante muitos
anos.
Estou falando dos senhores José da Silva Dias, conhecido na
comunidade pinhalense como “Zequinha” e tendo como nome de
guerra “Dias”, Luiz Antônio Palharim, mais conhecido como
Palharim e Gelson Rogério Florence, conhecido por todos como “Zé
Maria”.
José da Silva Dias, Zequinha, chegou ao nosso município em
janeiro de 1978 para morar e servir a nossa comunidade como
soldado militar. Nesta época aqui havia apenas três policiais militares
que já eram efetivos desde os anos de 1964/1965. Eram eles os
soldados Almendorindo, Eugênio Taupá e o cabo Grazziolino. Em
1978, quando o soldado Dias começou a trabalhar para esta
comunidade, o cabo Grazziolino foi embora para outra cidade,
permanecendo aqui no balneário apenas ele, Almendorindo, e
Eugênio, que veio falecer pouco tempo depois.
Ficaram na comunidade apenas os soldados Dias e
Almendorindo, os quais na época estendiam o policiamento do
Túnel Verde a Quintão. Os mesmos não possuíam viaturas, mas
contavam com a colaboração e amizade da população, que cedia de
bom grado seus carros particulares para eles buscarem nos arredores
os infratores, que permaneciam na carceragem da Polícia Civil até
serem transferidos para outra cidade.
207
Lá pelos anos 1980, o soldado Almendorindo foi transferido
para Porto Alegre, permanecendo aqui até o ano de 1985 somente o
soldado Dias. Nesse mesmo ano vieram novos soldados para compor
o efetivo, ainda deste ano foi inaugurado o Grupo de Policiamento
Militar do Pinhal (GPM). Quando da abertura do GPM do Pinhal, o
cabo José Carlos veio como comandante do mesmo, que teve ainda à
sua frente o Sargento Alencar, Sargento Cruz e o Sargento Martins.
Por muitas vezes a comunidade buscava auxílio e orientação
direto na residência dos soldados, uma vez que eram poucos para
ficarem no GPM e fazer o policiamento ao mesmo tempo. Em 1987,
veio para o Pinhal o soldado Luiz Antonio Palharim, solicitado
através do Conselho Comunitário. Nesta época ainda eram precárias
as condições de trabalho do efetivo que aqui prestava serviço, pois
ainda não possuíam viaturas e o 190 era o único número de telefone
para uso da comunidade e a maior via de comunicação entre os
soldados era o rádio amador.
Quando da chegada do soldado Palharim, o policiamento era
feito a pé. Mais tarde o GPM recebeu 4 bicicletas que foram doadas
pela comunidade e um pouco mais para frente receberam as primeiras
viaturas, um Fusca e uma moto, para finalmente auxiliar no
policiamento e para melhorar a condição de trabalho de nossos
servidores.
Palharim, como era conhecido na comunidade,
desempenhou seu trabalho com muito carinho e dedicação,
vencendo os obstáculos que surgiam e prestando o serviço de
proteção aos cidadãos, ao patrimônio dos mesmos, que nesta época
eram os comércios locais, escolas e as casas dos poucos moradores e
veranistas que vinham para o litoral somente na alta temporada,
causando assim um aumento da população local e por consequência
um aumento de efetivo que vinha de outras cidades para reforçar o
quadro de servidores durante o verão e com isso melhores condições
de trabalho.
Em 1995, quando do início da luta pela emancipação do
município, o soldado Palharim, por ser um servidor militar da
comunidade, optou por não fazer parte desta comissão, mas
colaborou no decorrer de todo o processo, cedendo o local onde
aconteciam as reuniões e auxiliando de todas as formas possíveis.
Em 1996, o soldado Palharim se afastou da Brigada Militar
208
para concorrer a uma cadeira na Câmara de Vereadores deste
município. Em 1993, o GPM do Pinhal recebeu o soldado Gelson
Rogério Florence, que ficou conhecido em toda a comunidade como
Zé Maria, vindo de Porto Alegre para cá transferido para fixar
residência e prestar serviço ao município.
Quando de sua chegada para o pelotão do Pinhal, o mesmo
tinha como comandante o 3º Sargento Lair Cruz, possuía uma
viatura (Gol 1145) e havia um bom número de efetivo. Já nesta época
eram feitas patrulhas, rondas, policiamento nas escolas, nas ruas da
comunidade e também nos eventos organizados pela prefeitura, do já
então emancipado município de Balneário Pinhal, que ocorreu no
ano de 1995. O posto da Brigada Militar do Magistério Túnel Verde e
o da sede possuíam um efetivo fixo.
Com o tempo, a população do Balneário Pinhal foi
crescendo, não só na época de veraneio, mas também fora dele. Em
virtude deste aumento populacional os servidores da Bbrigada
receberam treinamento e cursos de capacitação para melhor proteger
seus moradores, patrimônios públicos, particulares e assim
desempenhar suas atividades com mais habilidade e segurança.
Atualmente, a Brigada Militar do Balneário Pinhal conta com
em efetivo fixo, viaturas e melhoria nas condições de trabalho dos
servidores para cada vez mais atender nossa população com
segurança e rapidez.
José da Silva Dias, “Zequinha”, serviu como policial militar
de Balneário Pinhal durante 28 anos, tendo ido para a reserva em
outubro de 2004 como 2º Sargento.
Luiz Antônio Palharim, “Palharim”, serviu a esta
comunidade por 10 anos, indo para a reserva em 1997. Atualmente é
Secretário da Saúde e vice-prefeito deste município.
Gelson Rogério Florence, “Zé Maria”, também se encontra
na reserva como 2º sargento desde maio do corrente ano (2010), e
aproveitam aqui para agradecer à comunidade, autoridades e colegas
do Balneário Pinhal pela colaboração, amizade e zelo dispensados
aos mesmos durante o tempo em que com carinho e dedicação
serviram a este município.
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ACISP: histórico da Associação Comercial,
Industrial, de Serviço e Pesca
Eron Ferreira
Empresário
Balneário Pinhal/RS
Em 12 de novembro de 1996, reuniram-se um grupo de
comerciantes e profissionais liberais, do recém emancipado município de
Balneário Pinhal, para a fundação da ACISP Associação Comercial,
Industrial, Agropecuária e Serviços de Balneário Pinhal. Na ocasião foi lido
e aprovado seu Estatuto Social e lavrada a Ata nº 1 da entidade. Foi
convidado a ser o primeiro presidente o Sr. João Francisco Micelli Vieira,
por ter sido o mentor da ideia de fundar a entidade e também por suas
experiências e participação em entidades afins. Este declinou do convite
por questões éticas e profissionais. Foi eleito, então, como primeiro
presidente o comerciante José Joaquim Peliçoli Pereira e demais membros
da Diretoria Executiva, bem como os membros do Conselho Fiscal.
Em 16 de novembro de 1998 foi eleita a segunda diretoria, tendo
como presidente o comerciante Sérgio Teodoro Gagki, reeleito para uma
segunda gestão em 08 de novembro de 2000.
Em 10 de dezembro de 2002 assumiu a Associação Comercial o
comerciante Luiz Alejandro Perez Schwartzbold, que dirigiu a entidade até
15 de dezembro de 2004, quando assumiu como presidente Régis
Alexandre da Silva Araújo.
Em 07 de julho de 2007, numa eleição que contou com o
cadastramento de mais de 200 comerciantes, industriais e profissionais
liberais, com a participação de 150 sócios votantes, foi eleita a nova
diretoria, tendo como presidente Eron Carlos Nunes Ferreira, reeleito em
15 de abril de 2009 para uma segunda gestão.
Uma das realizações desta gestão foi a fundação da CDL Câmara
de Dirigentes Lojistas de Balneário Pinhal e do SPC - Serviço de Proteção
ao Crédito, em 25 de março de 2008, uma antiga reivindicação dos
comerciantes da cidade, que até então dependiam do banco de dados de
outros municípios.
A ACISP, em parceria com a Prefeitura Municipal, realizou no ano
de 2011 a Expolitoral RS, evento de caráter regional que objetiva a mostra
das riquezas do litoral norte do Rio Grande do Sul, a economia, o turismo, a
cultura, as etnias e demais potencialidades da região.
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Centro Social e Beneficente
Pastor Gervásio da Rosa
José Luis dos Santos Dalke
Comerciante
Balneário Pinhal/RS
Um grupo de mais de 50 comunitários da então Praia do
Pinhal reuniu-se na residência da senhora Jovelina Costa dos Santos
com o fito de fundar uma entidade para atuar em prol dos menos
favorecidos da localidade.
Era o dia 27 de fevereiro de 1988, conforme ata registrada.
Após muitos comentários e projetos explanados foi definido o nome
da entidade como Centro Social e Beneficiente Pastor Gervásio da
Rosa, pelo exemplo de vida deste homem, membro da Igreja
Evangélica, em grandeza de caráter, generosidade e devoção cristã.
Após as deferências e propostas foi eleita por aclamação a
diretoria que assim ficou constituída: Presidente Jovelina Costa dos
Santos; Vice Presidente Weimar Tusts Reis; Secretária Susana
Silveira Saraiva; Tesoureiro Jose Luiz dos Santos Dalke; Diretora
Cultura Maria Cardoso Faistauer; Diretor Social Plauto Jesus
Nunes; Diretor de Relações Públicas José Eurico Bitencourt
Machado e o Conselho Fiscal José Silva, Jorge Kuiz dos Santos
Dalke e Jose Silva Dias.
O Centro Social e Beneficente Pastor Gervásio da Rosa
realizou muitas ações na comunidade, prestando apoio filantrópico,
cultural e social às famílias e às crianças. Contou com apoio irrestrito
do então prefeito de Cidreira (na época Pinhal era distrito) Remy João
Carniel, que cedeu terreno para construção da sede, por reconhecer o
mérito da entidade.
A Confederação Evangélica do Brasil foi parceira,
repassando verbas para a construção da sede e para aquisição de
agasalhos, alimentos e inclusive uniforme escolar para todos os
alunos da Escola Estadual Diogo Penha.
Era bonito de ver os escolares usando a saia e ou calça azul
marinho e camisas brancas, o que foi muito aplaudido no Desfile
Cívico Patriótico daquele ano.
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Através de articulações da Srª Jovelina, presidente,
recebemos a visita do Pastor João de Deus Antunes, na época
Deputado Federal, que visitou a entidade e a escola. E vale registrar
que o atendimento não se restringia aos dias de atendimento na sede,
pois a casa da Dona Jovelina estava sempre aberta e acolhedora aos
que ali chegavam.
As comemorações eram motivo de agregação social. As
festas às mães, aos pais, às crianças, e Natal, a festa cristã, reunia
gentes de todos os cantos e sempre eram bem vindos.
Do Centro Social e Beneficente Pastor Gervásio da Rosa
temos hoje a saudade, pois foi encerrado devido às dificuldades de
manutenção e falta de apoio político. Mas ficou a certeza de que foi
um grande trabalho realizado.
A Srª Jovelina relembra com saudades os empreendimentos
realizados e a alegria por ter ajudado a tantos necessitados e,
sobretudo, por promover ações sociais, culturais e beneficentes que
são lembradas com carinho.
Os anos passaram, os tempos mudaram, a Praia do Pinhal
virou município e muitos novos moradores sequer imaginam que
aqui teve uma entidade que trabalhou prestativamente.
Os integrantes da diretoria relembram com orgulho do Centro Social
e Beneficiente Pastor Gervásio da Rosa e dizem: que bom termos
esta oportunidade de torná-lo público, na atualidade, fazendo parte
do livro Raízes de Balneário Pinhal!
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